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REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO Número 33 – JUNHO de 2010 ISSN 1981-7770 Edição Eletrônica 85º. aniversário

REVISTA IHGM 33

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Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, n. 33, junho de 2010

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REVISTADO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO

Número 33 – JUNHO de 2010 ISSN 1981-7770

Edição Eletrônica 85º. aniversário

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ISSN 1981 – 7770

REVISTADO INSTITUTO HISTÓRICO E

GEOGRÁFICO DO MARANHÃO

NO 33 – JUNHO – 2010EDIÇÃO ELETRÔNICA

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REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO – IHGM

Rua de Santa Rita, 230 – CentroEdifício Prof. Antonio Lopes – 2º. AndarCEP – 65015.430 – SÃO LUÍS – MAFone (0xx98) 3222-8464Fax (0xx98) 3232-4766E.mail: [email protected]

As idéias e opiniões emitidas em artigos ou notas assinadas são de responsabilidade dos respectivos autores.

Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, v.1, n.1 (ago. 1926) - São Luís: IHGM, JUNHO 2010.

n. 33. Edição eletrônica ISSN: 1981-7770

1. História – Maranhão – Periódicos 2. Geografia – Maranhão - Periódicos

p.

CDD: 918.21 CDU: 918.121 + 981.21

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INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃOFundado em 20 de novembro de 1925, registrado no Conselho Nacional de Serviço Social sob no. 80.578/75, de 14 de setembro de 1955Reconhecido de Utilidade Pública pela Lei Estadual no. 1.256, de 07 de abril de 1926Reconhecido de Utilidade Pública pela Lei Municipal no. 3.508, de junho de 1996

Cartório Cantuária Azevedo – Registro Civil de Pessoas Jurídicas – reg. no. 180, registro em microfilme no. 31063, São Luís, 23 de agosto de 2007

GESTÃO 2008/2010CHAPA: TEMÍSTOCLES DA SILVA MACIEL ARANHA

DIRETORIA:

Presidente:Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo

Vice-Presidente:Joseth Coutinho Martins de Freitas

1º Secretário:Raul Eduardo de Canedo Vieira da Silva

2º Secretário:Carlos Alberto Santos Ramos

1º Tesoureiro:Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo

2º Tesoureiro:Dilercy Aragão Adler

Diretor de Patrimônio:José Marcelo do Espírito Santo

Diretor de Serviço de Divulgação:José de Ribamar Fernandes

CONSELHO FISCALJosé Ribamar Seguins

Edomir Martins de OliveiraRaimundo Cardoso Nogueira

SUPLENTES:Ilzé Vieira de Melo Cordeiro

Carlos Orlando Rodrigues LimaKalil Mohana

EDITORLeopoldo Gil Dulcio Vaz

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APRESENTAÇÃO

Mais um ciclo se encerra. No próximo mês de julho, na data magna do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão deverá ser transmitida a direção para a nova gestão, a ser eleita no próximo dia 141.

Neste ano em que se comemoram os 85 anos de existência deste sodalício, a mudança de diretoria abre novas perspectivas de sobrevivência e de o IHGM voltar às suas glórias...

Da atual administração, nada se tem a dizer que a macule. Foi dirigida condignamente por duas das mais brilhantes intelectuais da geração atual de pensadores deste estado. O simples ato de manter, finalmente, a periodicidade da Revista demonstra o sucesso da atual gestão em bem conduzir a Casa.

Certo que ainda não conseguimos atingir a todos os Sócios. Pelo fato de a maioria não se valer dos modernos meios de comunicação e informação... Não usar a Internet! Hábitos antigos e enraizados são difíceis de abandonar. Para aqueles que foram criados na geração em que a TV e o telefone eram o máximo da tecnologia, a utilização da rede de relacionamentos parece algo assustador.

Mas as duas dirigentes souberam entender que os tempos são outros. Que documentos em papel, além de caros, agridem o meio ambiente... E a falta de recursos – e patrocínios –impede de se ter a Revista publicada no formato tradicional.

O que oferecemos, ainda não é o ideal, e é pouco amigável. Mas é o possível neste momento. Se conseguíssemos integrar a rede do SEER, de editoração de periódicos eletrônicos, talvez ficasse mais fácil e houvesse maior acesso. Mas não é essa a principal dificuldade, é o hábito de não se usar a Internet como meio de comunicação.

Nem todos os Sócios têm um endereço eletrônico. Alguns o têm, e informam, mas voltam por erro; outros, o têm, mas não abrem, logo não lêem... E assim caminha a humanidade.

Chegamos ao número 33. Com data de junho de 2010. Poucas contribuições. Nem mesmo as palestras proferidas em algumas datas nos são encaminhadas para publicação. Daí termos de volta as tradicionais palestras em nossas reuniões, mas os poucos que se arriscam a subir as escadas são os ouvintes. Aos leitores...

Buscamos noticias nas mídias. As reproduzimos. Mas até mesmo isso escasseia. Não está havendo visibilidade dos trabalhos dos sócios. Mesmo livros publicados por alguns, nem ao menos são dados conhecimentos, à Assembléia, de seu lançamento que dirá de um resumo...

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Editor responsável pela presente edição

1 Não houve chapa inscrita para as eleições. Portanto, foram adiadas. Em reunião do dia 14/07 a Assembléia decidiu pela nomeação de uma Junta Governativa, composta de três membros, para receber o IHGM e providenciar uma nova eleição, num prazo de até 90 (noventa) dias.

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SUMÁRIO

Diretoria – Gestão 2008-210 4

APRESENTAÇÃO 5

Sumário 6

Galeria de Fotos 8

REGULAMENTO PARA ELEIÇÃO DA DIRETORIA E DO CONSELHO FISCAL DO IHGM PARA O BIÊNIO 2008/2010 9

PALAVRA DA PRESIDENTE

RELATÓRIO12

Ciclo de Palestras comemorativas aos 85 anos do IHGMCHRÔNICA DA CAPOEIRA(GEM) – “UMA RAIZ DA CAPOEIRA É A RINGA-MORINGUE MALGACHE?”

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZE. JAVIER RUBIERA CUERVO

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ARCEBISPO DOM LUÍS – O SÃO-BENTUENSE LUZ E GLÓRIA DE SEU TEMPOÁLVARO URUBATAN 55

ARTIGOS INÉDITOSA IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NO CURSO DE FORMAÇÃO DO EDUCADOR

DILERCY ARAGÃO ADLER73

E DEUS CRIOU A MULHER!AYMORÉ DE CASTRO ALVIM 86

SÃO JOÃO, PADROEIRO DA MAÇONARIAOSVALDO PEREIRA ROCHA 88

A FORMAÇÃO DO EDUCADOR NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEADILERCY ARAGÃO ADLER 89

IHGM NA MÍDIAA POÉTICA NO DISCURSO DO DOMINADOR... – de Dilercy Adler

Comentário de JOÃO BATISTA DO LAGO 96

SER PROFESSOR: UMA PROFISSÃO EM CONSTRUÇÃOTELMA BONIFÁCIO DOS SANTOS REINALDO 97

OS BIG-BROTHERS DE CADA DIA NAS SOCIEDADES CAPITALISTAS DILERCY A. ADLER 102

O RADIO, A GRANDE PAIXÃOCARLOS ALBERTO LIMA COELHO 104

TRINCHEIRA DA MARANHENSIDADE: DISCURSO DE JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS AO RECEBER O TÍTULO DE CIDADÃO RAPOENSE

JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS113

AS NOSSAS FESTAS JUNINAS & O MERCADO DA GLOBALIZAÇÃO CULTURAL!

JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS115

PADRE ARIAS CRUZ: SUA VIDA NO MARANHÃOTELMA BONIFÁCIO DOS SANTOS REINALDO 117

OS HOLANDESES E OS PALMARESLEOPOLDO GIL DULCIO VAZ 120

O QUE MEU PRIMO MARCONI CALDAS REPRESENTOU PRA MIMMHARIO LINCOLN 123

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SOBRE A POÉTICA DE MARCONI CALDASJOÃO BATISTA DO LAGO 127

NO RASTRO DE CLIO: UMA ANALISE CRÍTICA DA PRODUÇÃO HISTORIOGRAFICA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO (RESUMO – PESQUISA EM ANDAMENTO)

RAFAEL AGUIAR DOS SANTOS

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PERFIL DOS SÓCIOS EFETIVOS 132Cadeira nº 23 - JOÃO FRANCISCO BATALHA 133Cadeira no. 50 - CLAUBER PEREIRA LIMA 134

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REGULAMENTO PARA ELEIÇÃO DA DIRETORIA E DO CONSELHO FISCAL DO IHGM PARA O BIÊNIO

2010/2012As normas para eleição da Diretoria e do Conselho Fiscal do IHGM têm por base o Estatuto da Entidade.

CAPÍTULO ILOCAL, DIA E HORA DA VOTAÇÃO

Art. - 1° Constarão no Edital de Convocação, a ser publicadas pelo menos sete dias antes da eleição a data, local e hora prevista para início e fim da votação.

CAPÍTULO II

DO ELEITORArt. - 2° Somente os Sócios Efetivos que estiverem em dia com suas mensalidades, até o mês de junho de 2010, terão o direito a voto, conforme o parágrafo 2° do Art. 4° do Estatuto da Entidade.

CAPÍTULO III

DOS CANDIDATOSArt. - 3° Os Sócios Efetivos só poderão ser candidatos à Diretoria ou ao Conselho Fiscal do IHGM, se observado o disposto no Art. 2° deste Regulamento, em perfeita consonância com o parágrafo 2° do Art. 4° do Estatuto da Instituição.

PARÁGRAFO ÚNICO - A Tesouraria do Instituo estará à disposição dos Sócios Efetivos que desejarem pagar as mensalidades, até setenta e duas horas antes da votação, a fim de dar condições à Secretaria de preparar a listagem dos Sócios aptos a votar.

Art. - 4° Os candidatos a cargos eletivos solicitarão à Secretaria do IHGM, declaração em que conste sua condição de poder votar e ser votado, conforme prevê o Estatuto da Entidade.

Art. - 5° Na última reunião de Assembléia Geral Ordinária, que anteceder as eleições, os candidatos à Presidência da Diretoria terão direito de usar a palavra, durante o tempo de 10 minutos, para expor os seus planos de trabalho.

CAPÍTULO IV

DO REGISTRO DA CHAPAArt. - 6° Para registro da chapa serão necessários:

I. Declaração de cada candidato permitindo a inclusão de seu nome na composição de chapa e respectivo cargo conforme Art. 6° do Estatuto do IHGM.II. Declaração da Secretaria do IHGM, ouvida a Tesouraria, dizendo estarem os candidatos em condições de votar e ser votados.Art. - 7° O registro de chapa concorrente à eleição do IHGM será solicitado ao Presidente do Instituto, por requerimento assinado pelo candidato à Presidência do IHGM, acompanhado da documentação prevista nos incisos I e II do Art. 6°, deste Regulamento.

PARÁGRAFO ÚNICO – O Prazo fixado para o registro de chapa é improrrogável, no período 30 de junho, 02 e 03 de julho de 2010 das 14:00 às 17:00 horas.

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Art. - 8° As chapas concorrentes á eleição poderão ser registradas com nomes de sócios da instituição já falecidos.

Art. - 9° Deverão constar, nas chapas concorrentes, os nomes dos candidatos que ocuparão os cargos da Diretoria e do Conselho Fiscal, nos termos do Estatuto do IHGM, a saber: Presidente, Vice-Presidente, 1° e 2° Secretários, 1° e 2° Tesoureiros, Diretor de Patrimônio e Diretor de Serviço de Divulgação e do Conselho Fiscal: três membros efetivos e três suplentes, não permitida inclusão de nome de candidato já figurante em outra chapa concorrente e já registrada, mesmo em se tratando de cargo diferente, inclusive para os membros do Conselho Fiscal.

PARÁGRAFO ÚNICO - Não é permitido o registro de chapa com ausência de candidato a quaisquer dos cargos da Diretoria ou Conselho Fiscal.

CAPÍTULO V

DA VOTAÇÃO

SEÇÃO I

DO MATERIAL DA VOTAÇÃO

Art. - 10° Deverá, pela Secretaria do IHGM, ser fornecida à Mesa Receptora e Apuradora de Votos, relação nominal de todos os sócios em condições de votar, cédula de votação e demais materiais necessários aos trabalhos de votação.

SEÇÃO IIDA CÉDULA DE VOTAÇÃO

Art. - 11 Na cédula de votação deverá constar:

I. A chapa concorrente que receberá o número segundo a ordem de registro.II. Ao lado do nome da chapa estará indicado local especifico em que o eleitor assinalará com um “X” sua preferência.III. Na cédula de votação deverá constar a rubrica do Presidente e do Secretário da Mesa Receptora de votos.

SEÇÃO III

DA URNAArt. - 12 Sobre a Mesa Receptora e Apuradora de Votos será aposta a respectiva urna coletora de votos, devidamente lacrada que deve ser examinada pelos candidatos ou seus representantes.

SEÇÃO IV

DA CABINEArt. - 13 A fim de ser mantido o sigilo do voto fica assegurada a utilização de cabine indevassável, separada da Mesa Receptora e Apuradora.

PARÁGRAFO ÚNICO - No caso de registro de uma única chapa poderá ocorrer a eleição por aclamação.

CAPÍTULO VI

DA PRESIDÊNCIA DA ASSEMBLEIA GERAL E DA MESA RECEPTORA E APURADORA DE VOTOS

SEÇÃO I

DA COMPOSIÇÃO DA MESA

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Art. - 14 Para a Presidência da Assembléia Geral da eleição, o Presidente do IHGM convidará o sócio efetivo mais antigo presente apto a votar e não candidato que após assumir a direção dos trabalhos, convocará, dentre os sócios efetivos presentes, não candidatos, um Secretário e dois Escrutinadores para comporem a Mesa Receptora e Apuradora dos Votos.

SEÇÃO II

DA ORDEM DOS TRABALHOS Art. - 15 Composta a Mesa Receptora e Apuradora dos Votos, o Presidente determinará ao Secretário:I. Leitura do Edital de Convocação da Assembléia Geral de Eleição, publicado na imprensa local.II. Leitura da relação dos sócios aptos a votar.Art. - 16 O Presidente realizará o fechamento da urna onde serão coletados os votos, lacrando-a.

DOS CASOS PENDENTESArt. - 17 Em existindo, casos pendentes o Presidente da Eleição submeterá à apreciação e decisão da Assembléia Geral de Eleição.

CAPÍTULO VII

DO INÍCIO E TÉRMINO DA VOTAÇÃOArt. -18 A votação será iniciada pelos integrantes da Mesa Receptora e Apuradora de Votos, dando em seguida, o Presidente, seqüência à mesma, chamando, pela Relação Nominal o sócio eleitor que após assinar a folha de votação, receberá das mãos do Secretário a cédula de votação devidamente rubricada por ele e pelo Presidente, dirigindo-se a seguir, à cabine indevassável para votar.

Art. - 19 Retornando da cabine, o eleitor exibirá ao Presidente a cédula fechada e a colocará na urna coletora de votos.

Art. - 20 Encerrada a votação, o Presidente da Mesa determinará aos Escrutinadores, a apuração dos votos.

CAPÍTULO VIII

DA APURAÇÃO DOS VOTOSArt. - 21 Finda a apuração dos votos o Presidente declarará em seguida, o resultado da eleição.

§ 1° Havendo empate será considerada vencedora a chapa encabeçada pelo sócio mais antigo.

§ 2° Persistindo, todavia, o empate, será considerada vencedora a chapa encabeçada pelo sócio mais idoso.

CAPITULO IXDA PROCLAMAÇÃO DOS ELEITOS

Art. - 22 Encerrada a apuração dos votos e conhecido o resultado da eleição, o Presidente proclamará os eleitos e solicitará ao Secretário da Mesa a lavratura da ata, em livro próprio, na qual deverá constar o número de sócios votantes e o registro de todas as ocorrências havidas durante a votação, suspendendo a sessão pelo tempo necessário para lavratura da Ata.

CAPÍTULO X

DO ENCERRAMENTO DOS TRABALHOSArt. - 23 Reiniciados os trabalhos o Presidente:

I. Determinará ao Secretário da Mesa que faça a leitura da ata.II. Submeterá a mesma à apreciação e votação dos presentes colhendo, a seguir, as suas respectivas assinaturas nesse documento.III. Encerrará os trabalhos da Assembléia Geral de Eleição,

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PALAVRA DA PRESIDENTERELATÓRIO DAS ATIVIDADES REALIZADAS NO PERÍODO DE

JULHO DE 2008 A JUNHO DE 2010.

O Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, através de sua Diretoria, relata as atividades realizadas desde o mês de julho de 2008 até a presente data, 30/06/2010, dando continuidade às ações do biênio anterior, quando em todos os momentos de atuação os objetivos estatutários estiveram em primeiro lugar.

Visando a perfeita eleição foram alterados alguns itens do Regulamento, já existente, uma vez que foram constatadas necessidades de atualização de alguns itens, por ter sido criado o Conselho Fiscal. Foi apresentado na Assembléia Geral, realizada, em 20/05/2008, aprovado por todos os presentes e nele baseado e publicado o Edital de Convocação para a Eleição, biênio: julho 2008/2010.

Durante a Assembléia Geral de 25/06/2008 foi lido o Relatório das Atividades da Diretoria (28/07/2006 a 25/06/2008).

Após a apresentação a Presidente comunicou ser candidata a reeleição e contar com o apoio de todos dos sócios. Usou os dez minutos para apresentar um resumo das metas principais a serem seguidas no biênio: 2008/2010.

O título da Chapa: “Temístocles da Silva Maciel Aranha”, em homenagem ao Patrono da Cadeira nº. 44, que ocupa. Leu o nome dos integrantes da chapa com os respectivos cargos. Agradeceu a todos pelo apoio recebido no biênio.

Na data de 14 de julho de 2008, foi realizada a eleição com a única chapa inscrita.

A posse da nova Diretoria foi realizada em 28/07/2008, na sede da Instituição.

A Diretória Eleita:Presidente: Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo;Vice-Presidente: Joseth Coutinho Martins de Freitas;1º Secretário: Raul Eduardo de Canedo Vieira da Silva;2º Secretário: Carlos Alberto dos Santos Ramos;1º Tesoureiro: Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo;2º Tesoureiro: Dilercy Aragão Adler;Diretor de Serviço de Divulgação: José Ribamar Fernandes;Diretor de Patrimônio: José Marcelo do Espírito Santo.

CONSELHO FISCALJosé de Ribamar SeguinsEdomir Martins de Oliveira

Raimundo Cardoso NogueiraSUPLENTES

Ilzé Vieira de Melo CordeiroCarlos Orlando Rodrigues Lima

Kalil Mohama

No presente relatório estão registradas as:A – Atividades Culturais.B – Atividades Administrativas;C – Atividades Patrimoniais;D – Atividades Financeiras.

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A – ATIVIDADES CULTURAIS - AS POSSES REALIZADAS FORAMSÓCIOS EFETIVOS:

1- Leopoldo Gil Dúlcio Vaz, em 02/09/2008, cadeira nº. 40 Patrono: João Dunshees de Abranches Moura, apresentado pelo sócio Raimundo Gomes Meireles.

2- João Francisco Batalha, em 28/02/2009, Cadeira nº. 23, Patrono: Luís Antônio Vieira da Silva, Apresentado pelo sócio: José Ribamar Fernandes.

3- Gilberto Matos Aroucha, em 29/04/2009, Cadeira nº. 13, Patrono: Raimundo de Sousa Gayoso, apresentado pela Presidente: Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo.

4- Manoel dos Santos Neto, em 13/05/2009, Cadeira nº. 11, Patrono: Sebastião Gomes da Silva Belfort, apresentado pela Presidente: Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo.

5- Clauber Pereira Lima, em 14/08/2009, Cadeira nº. 50, Patrono: Padre Antônio Pereira, apresentado pelo sócio: Raimundo Gomes Meireles.

6- Candido José da Silva Oliveira, Cadeira nº. 35, Patrono: Domingos de Castro Perdigão em 24/10/2009, apresentado pelo sócio: José Marcio Soares Leite.

SÓCIOS HONORÁRIOS:Arno Weling – Presidente do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, em

20/11/2008.Carlos Humberto Pederneiras Corrêa – Presidente do Instituto Histórico e

Geográfico de Santa Catarina, em 20/11/2008.

COMEMORAÇÕES1- “200 anos da chegada da Corte Portuguesa ao Brasil”, realizada nos dias

20 e 21 de novembro de 2008, para estender a comemoração ao aniversário de 83 anos do IHGM. Conferencistas: Arno Wehling, Presidente do IHGB e Carlos Humberto Pederneiras Corrêa, Presidente do IHGSC, Dr. Natalino Salgado Filho, Magnífico Reitor da UFMA, representado pelo Sócio Efetivo: José Marcio Soares Leite. Professoras Dras. da UFMA: Regina Faria e Ester Marques.

SEMINÁRIO“O Maranhão na Primeira Década do Século XXI” realizado no período de 04,

05 e 06 de agosto de 2009, contou com Palestrantes, todos do quadro de Sócios do IHGM. A freqüência foi restrita, entretanto, já constatado que os objetivos foram alcançados, os pontos críticos apontados estão sendo tratados pela imprensa local e alguns já estão sendo corrigidos pelas autoridades competentes.

REVISTA DO IHGM Nº. 28/2008Comemorativa de 200 anos da chegada da Corte Portuguesa ao Brasil.Nossa gratidão ao Magnífico Reitor da Universidade Federal do Maranhão,

José Augusto Silva Oliveira, que constatando a dificuldade do IHGM para a

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publicação de sua revista mandou publicar-la pela gráfica da UEMA – 500 exemplares.

Dadas as dificuldades de encontrar quem patrocinasse a publicação da Revista e o volume de trabalhos a serem publicadas, as revistas deveria ser publicado trimestralmente, o sócio Leopoldo Gil Dúlcio Vaz deu a idéia, discutida na Assembléia Geral de 28/10/2009 e autorizada a divulgação das Revistas por meio eletrônico, parecer dos sócios “por ser meio mais rápido e menos oneroso”. Já estão circulando os números. 30, 31, 32, e 33.

LANÇAMENTO DE LIVROS DE SÓCIOS

Osvaldo Pereira Rocha, lançou: “Carnaval de minha juventude e outras crônicas”.

José Fernandes, lançou: Gente e Coisas da Minha Terra - 12/07/2008. Raimundo Cardoso Noqueira, lançou: Historiografia de Municípios

Maranhenses – São José dos Matões e Parnarama - 2008 Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo, lançou a 2º edição de seu livro:

“Organização do Espaço Agrário Maranhense” – na Feira do Livro, realizada pela Secretaria de Cultura do Município de São Luís – outubro de 2008.

Dilercy Aragão Adler, lançou seu livro: “Flores de Plásticos, Libidos, Licores Liquidificados” – na Feira do Livro organizada pela Secretaria de cultura do Município de São Luís – outubro de 2008 e “Receitas Poéticas” – ano 2008.

Paulo Oliveira, lançou: “Guimarães em Poema” e “Cronologia da História de Guimarães” – Homenagem aos 250 anos da criação do Município, “Reino das Nuvens “ na data 20/11/2009.

Carlos Orlando Lima, lançou em diferentes datas: “História do Maranhão Colônia”, “História do Maranhão Império” e “História do Maranhão República”.

PALESTRAS Mário Línconl dos Santos, em 24/09/2008, sobre “Meios de Comunicação

Instantânea” e “Portal Mário Línconl do Maranhão”. Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo, representou o IHGM no Colóquio de

Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – IHGB – período de 22 a 24/11/2008, na cidade do Rio de Janeiro. Apresentou Relatório a Assembléia Geral IHGM, realizada em 29/10/2008 e o Trabalho lá apresentado.

Dilercy Aragão Adler apresentou palestra sobre suas obras já publicadas, livros de poesias e a Tese de Doutorado em Educação, Assembléia Geral de 24/06/2009.

José Ribamar Fernandes, Diretor de Serviço de Divulgação apresentou a “Mensagem Natalina”, Assembléia Geral 17/12/2008.

Joseth Coutinho Martins de Freitas está escrevendo um trabalho com o título “Ilustres Maranhenses. Esquecidos” e iniciou com a apresentação de dados biográficos do Senador Sebastião Archer da Silva, o único sócio Benemérito do IHGM.

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Álvaro Urubatan Melo, apresentou: “Adesão do Maranhão a Independência do Brasil”, Assembléia Geral – 28/07/2009.

Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo, na qualidade de Presidente compareceu ao “Colóquio Ibero Sul Americano de História“, realizada pelo IHG de Santa Catarina, período de 07 a 10 de Setembro de 2009, apresentou o trabalho, “O Continente Sul Americano e a Evidente Integração do País” – publicado nos Anais do Colóquio recebido em abril de 2010 (3) três exemplares e um CD. Apresentou trabalho perante a Assembléia Geral 30/09/2009, e leu o discurso do Governador de Santa Catarina, apresentado na inauguração do Centro de Convenções deCiência e Tecnologia “Renato Bayma Archer” (Assembléia Geral -11/09/2009).

Osvaldo Pereira Rocha – palestra comemorativa dos 84 anos do IHGM, Assembléia Geral – 26/11/2009.

Maria de Lourdes Lauande Lacroix – Professora. Historiadora, convidada, discorreu sobre fatos e acidentes geográficos que dão origens as cidades de um modo geral até chegar a fundação da cidade de São Luís, local de instalação, os acontecimentos a partir daí até a colonização portuguesa. Assembléia Geral 26/11/2009.

Eneida Viera da Silva Ostria de Canedo – Homenagem a D. Pedro II, em comemoração ao dia 02/12/2009, quando o IHGM completou 84 anos de sua fundação.

Joseth Coutinho Martins de Freitas – Vice – Presidente, apresentou a mensagem natalina. Assembléia Geral em 02/12/2009. Prestou homenagem a Joaquim Nabuco pelo centenário de falecimento –Assembléia Geral em 30/01/2010. Prestou homenagem ao saudoso Sócio Antenor Mourão Bogéa pelo centenário de nascimento – Assembléia Geral – 28/01/2009

Jornalista e Publicitário Paulo Roberto Melo Sousa, convidado –apresentou seu livro sobre “História da Casa de Nagô”. Assembléia Geral 20/02/2010.

Professor Josemar Bezerra Raposo, apresentou Homenagem ao Ilustre Político Brasileiro, Tancredo Almeida Neves. Assembléia Geral 31/03/2010.

Luís Fernando Bayma, jornalista e publicitário – apresentado pelo sócio José Ribamar Fernandes, apresentou seu trabalho “Projeto Memória” visando parceria com o IHGM, conforme decisão da Diretoria “devera apresentar projeto escrito com itens detalhado”. Reunião da Diretoria realizada nas datas 10/03/2010.

Leopoldo Gil Dúlcio Vaz, apresentou “Uma Raiz da Capoeira e a Ringa Moringue Malgache”, 28 de abril de 2010.

Antônio Rufino Filho, palestra sobre Homenagem ao dia da mulher, 26 de maio de 2010.

CONDECORAÇÕES

- Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo e Joseth Coutinho Martins de Freitas, foram homenageadas e condecoradas em solenidade do grupo de Estudo e Programas sobre Educação do curso de Pós-Graduação em Educação da UFMA.

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Receberam a medalha “Professora Laura Rosa” e o Diploma pelo justo reconhecimento aos saberes legados ao Território Educacional Maranhense- Joseth Coutinho Martins de Freitas, membro do Conselho Estadual de Educação do Maranhão recebeu a medalha “Ana Maria Saldanha” pelos relevantes serviços prestados a Educação do Estado do Maranhão, em 09/10/2008.- Aymoré de Castro Alvim foi agraciado com a condecoração “Palma de Ouro” pelo Curso de Medicina da UFMA.- Raimundo Cardoso Nogueira – Recebeu o título de Prof. Emérito da UEMA, em 27/12/2009.

REPRESENTAÇÃOO Sócio Álvaro Urubatam Melo foi indicado para representar o IHGM junto ao

Conselho Regional de Medicina em solenidade de Posse do Dr. José Alburquerque de Figueiredo Neto e Homenagem ao Dr. Expedito Aguiar Bacelar, em 30/09/2009.

Posse do Sócio em outra Instituição Álvaro Urubatam Melo foi eleito e tomou posse como Presidente da

Federação da Academia de Letras do Maranhão - set/2009.

DivulgaçãoO Diretor de Serviço de Divulgação José Ribamar Fernandes proporcionou ao

IHGM matéria publicada no jornal “Estado do Maranhão” reportagem que divulgou o IHGM e suas instalações, em especial a Biblioteca.

Mandou encadernar números da Revista nº. 1/1926, já bastante danificadas, dando aspecto melhor.

O Sócio Manuel dos Santos Neto, jornalista, freqüentemente publica notícias do IHGM no Jornal Pequeno.

ATIVIDADES ADMINISTRATIVAS

1- Quadro de ServidoresComposto de duas servidoras colocadas à disposição do IHGM pela

Prefeitura Municipal de São Luís, desde 1º de agosto de 2007, até 1º de novembro de 2009, quando o Prefeito João Castelo chamou-as de volta. Apesar de novos contatos não houve forma para retorno.

Nova tentativa foi realizada junto ao Secretário Municipal de Educação, indicando o nome de uma funcionária concursada. Entretanto por não ter cumprido o estágio probatório não foi possível atender à solicitação.

No último mês de maio foi contratado por três meses o Jaycon Roberto com recursos do IHGM.

Os esforços para conseguir uma Bibliotecária não deram resultado, pois para maior segurança de efetivo exercício não foi conseguido uma já conhecida e experiente. As com experiência já estão pensando na aposentadoria.

DESLIGAMENTO DE SÓCIOO Sócio efetivo Cloves Verde Saraiva ocupante da Cadeira nº. 43,

Patroneado por Augusto Tasso Fragoso, pediu desligamento do quadro de Sócio do IHGM, por motivos superiores, o pedido foi submetido a Assembléia Geral, realizada em 29/07/2009 e aprovado por unanimidade.

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CARTAA Vice – Presidente Joseth Coutinho Martins de Freitas, comunicou não poder

apresentar a Palestra que apresentaria no seminário, “O Maranhão na Primeira Década do Século XXI”, intitulada “Centenário da Educação Profissional do Maranhão”.

POR MOTIVO SUPERIORO Sócio Clauber Pereira Lima não pode apresentar a palestra intitulada “Os

Escritos de Dom Paulo Ponte, Uma Releitura a Partir da Última Década”, por encontrar-se no exterior e não ter conseguido passagem para a data. Comprometendo-se a faze-lo em data posterior, 14/08/2009.

REGISTROA Ata de Eleição e Posse para o período 2008/2010, na forma exigida foi

registrada no Cartório Cantuária.

DOAÇÕES DE LIVROS E REVISTASDurante o período 2008/2010, o Instituto recebeu inúmeros de exemplares de

livros e revistas doadas pelos demais IHG’s e Instituições Públicas e Particulares, relação em anexo.

O IHGM por sua vez distribuiu a todos os IHG’s e as Bibliotecas conhecidas, números das Revistas 27/2007 e 28/2008 e CDs referentes ao Seminário: “O Maranhão no Século XXI” e as Revistas já de forma eletrônica de nº. 29 e 30.

MEDALHAS E COLARESDos colares restantes – 2008/2010 – foram adquiridos pelos Sócios que

tomaram posse, em número de seis (6) e no valor de R$ 200,00 (duzentos reais) cada. Sendo dispensada cobrança de taxa prevista no Estatuto.

Restam 17 (dezessete) colares e 17 (dezessete) medalhas, guardadas na caixa, no armário do Gabinete da Presidência.

ATIVIDADES PATRIMONIAISAproveitando o levantamento Patrimonial do IHGM, realizado pelo Tesoureiro

2006/2008 – Raimundo Cardoso Nogueira, foram acrescentados as novas aquisições. Relação em anexo.

DOAÇÃOO IHGM recebeu do Historiador e Pesquisador Kenety Light, quadro resultado

de suas pesquisas “Chegada da Família Real ao Rio de Janeiro”. O IHGM mandou emoldurar em duas visões - frente a imagem, e costa a carta de oferta. Moldura custou R$ 70,00 (setenta reais).

RECUPERAÇÃO DE CADEIRASO Sócio José Ribamar Fernandes conseguiu junto a Federação das Industrias

do Estado do Maranhão – FIEMA, a quantia de R$ 960,00 (novecentos sessenta reais) para restauração de 23 (vinte e três) cadeiras de palhinha.

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QUADROA Srª. Helena Morais Corrêa doou ao IHGM dois quadros, madeira e gesso,

com efígies, pertenceram ao escritório do saudoso Sócio Almir Morais Corrêa. Assembléia Geral.

DEPOSITO EM BANCO REALO pesquisador Hilton Martins Mendes, doou ao IHGM a quantia de R$ 370,00

(trezentos e setenta reais), depositado na conta do IHGM no Banco Real em novembro de 2009, conforme extrato, consta da Ata da Assembléia Geral, realizada em 02 de dezembro de 2009.

EQUIPAMETOSA Aquisição de tribuna e mesa para portaria. Placa com nome da Instituição

no hall de entrada do prédio, Equipamentos informática para melhoria do funcionamento do computador, Reparo nos ventiladores e duas cadeiras da Secretaria. Mês fevereiro de 2009

Adquiridas duas cadeiras e uma mesa para colocação no mesanino, com a finalidade de descanso no percurso da escada (mês de maio de 2010).

SITUAÇÃO DO QUADRO DE SÓCIOSFoi levado ao conhecimento da Assembléia Geral o problema que atinge o

IHGM em seus principais objetivos e normas: o não cumprimento do prazo de posse para os candidatos, a infreqüência e inadimplência de Sócios Efetivos (art. nº. 14 do Estatuto).

A Assembléia Geral realizada em 24/06/2009, designou comissão para estudar o caso, constituída pelos Sócios : José Ribamar Seguins , Edomir Martins de Oliveira, Raimundo Cardoso Nogueira, Antônio Rufino Filho, Raimundo Gomes Meireles e José Ribamar Fernandes.

José Ribamar Seguins, José Ribamar Fernandes e Edomir Martins de Oliveira, por motivos superiores não puderam fazer parte da Comissão.

O trabalho da Comissão, com conclusão e sugestões chegou assinado pelos Sócios: Raimundo Cardoso Nogueira, Raimundo Gomes Meireles e Antônio Rufino Filho.

PRÉDIO DA RUA DE SANTA RITA Nº. 230O prédio concluído no ano de 1975 tem apresentado problemas. No início de

2009 (jan. e fev.), passou por novos reparos no teto. Colocação de placas de cimento. O prédio termina com paredes sem cobertura, protegidas por rebocos ou coisa semelhante, devido ao tempo, desgastaram-se, causaram infiltrações. As paredes demonstravam o exposto. A colocação de placas melhorou bastante. Entretanto a calha com emendas, apesar de reparos anuais apresenta, ainda, vazamento em determinados pontos: do gabinete da Presidência. Foram substituídas telhas e feitos reparos na calçada (mês: Janeiro e fevereiro de 2009).

O prédio está sendo pintado: o auditório, corredor que dá acesso ao auditório, o mesanino e parte ocupada pela escadaria de acesso ao 2º andar. Consta da prestação de contas nos meses de maio e junho de 2010.

Foram realizados reparos no computador, adquirido no inicio de 2006, com aquisição de peças básicas para melhoria do funcionamento. Sanitário masculino,

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com reparo de torneira e dispositivo de encanamento de água para descarga, reposição de azulejos (fevereiro de 2010).

Fica lembrada a necessidade, após inverno, de reposição de ripas e outros madeirames do teto do prédio, e separação do fornecimento de água prédio ao lado, Rua de Santa Rita, que até já abriga um restaurante.

Fica, ainda, esclarecido que o aumento das despesas com limpeza deve-se a extensão de todo o prédio e não apenas o 2º andar.

PRÉDIO DA RUA PEREIRA RÊGO, Nº. 122O prédio foi objeto de exaustivos contatos dos dirigentes do IHGM com

autoridades públicas e emprensas particulares, por cerca de 20 anos.Comissão designada pela Assembléia Geral realizada, em 24/06/2008.Sócios Efetivos: Célio Gitay Vaz Sardinha, José Marcelo do Espírito Santo,

Raul Eduardo de Canedo Vieira da Silva e Raimundo Gomes Meireles. Este último não pode comparecer por motivo de viagem.

A comissão Coordenada pelo Sócio Célio Gitay Vaz Sardinha, Bacharel em Direito e Engenheiro apresentou relatório elaborado, minuciosamente nos aspectos técnicos e até especificando a situação em que se encontrava o prédio. Falhas que acarretariam prejuízos ao IHGM, quando ocupado, além do alto custo de utilização. Assuntos sempre levados ao conhecimento e debatidos nas Assembléias e Diretorias.

Além de Periódicas correspondências mantidas entre o IHGM e a Fundação Rio Bacanga, na data de 16/08/2009. O IHGM recebeu Ofício com o demonstrativo de despesas data de entrega do prédio e alegações da não conclusão da restauração do mesmo.

Na data de 03/09/2009 a Presidente recebeu, em sua residência, telefonema do Setor de patrimônio do Estado do Maranhão, comunicando, que a Direção do Rio – Bacanga havia lá comparecido para entregar as chaves do Prédio. Não receberam, uma vez que o Governo do Estado havia cedido o prédio ao IHGM.

Respondi ao Sr. João Rego que havia transmitido o cargo a Vice –Presidente, por estar de viagem marcada para representar o IHGM no Colóquio Ibero Sul Americano de História, a realizar-se em Florianópolis – SC, mas que no dia seguinte a Vice – Presidente e um membro do Conselho Fiscal compareceriam para tratar do assunto. Realmente lá compareceram.

Reassumindo o cargo, na data de 14 de setembro de 2009, tomei a providência, conforme pareceres de Assembléias anteriores de desenvolver o prédio não concluído.

Através de Ofício ao Governo do Estado do Maranhão, exposição de motivos e álbum de fotografias complementando a situação em que se encontrava o prédio quando devolução ao Patrimônio do Estado.

Recebemos, devidamente assinado pelas autoridades competentes o “Distrato do Prédio”.

Essas decisões procuraram sanar um grande entrave, de mais de vinte anos, na manutenção e desenvolvimento do IHGM. Sempre na esperança de receber o prédio terminado.

Espero que outros Presidentes não aceitem prédios velhos e sem condições de habitabilidade e lutem para melhoria prédio que é de propriedade da Instituição.

Esclareço que todos os documentos referentes ao prédio da Rua Pereira Rego, estão arquivados em pasta própria.

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Pomo-nos ao dispor do Conselho Fiscal ou qualquer Sócio Efetivo para maiores esclarecimentos de todo o exposto.

São Luís 30 de junho de 2010

Eneida Vieira de Silva Ostria de Canedo

Presidente

RECURSOS ORÇAMENTÁRIOSAs atividades são custeadas com recursos advindos dos associados, conforme

previsto nos Estatutos, com valores propostos pela Diretoria que atualmente está em R$

40,00 (quarenta reais) mensais.

RECUSOS HUMANOSOs membros da Diretoria prestam serviços sem nenhuma remuneração. A entidade

não possui empregados contou com a colaboração do Governo do Estado que disponibilizou

pessoal para dar apoio para execução das tarefas administrativas.

APRESENTAÇÃO DO RESULTADOBALANÇO LEVANTADO EM 30 DE ABRIL DE 2010

ATIVO PASSIVO

ATIVO CIRSULANTE Patrimônio Líquido

DISPONIVEL Lucro ou Prejuízo Acumulado 14.245,59

Caixa 1.760,93 Lucro ou Prej. do Exercício 3.917,03

Banco Real (Poupança) 3.001,35

Banco Real Corrente 3.298,16

ATIVO PERMANENTE

IMOBILIZADO

Móveis e utensílios 4.421,00

Máquinas e Equipamentos 9.783,98

(-) Dep de Móveis e utensílios (1.494,10)

(-) Dep de Máq e Equipamentos (2.608,70)

TOTAL DE ATIVOS 18.162,62 TOTAL PASSIVO 18.162,62

As Demonstrações Contábeis foram elaboradas e apresentadas em conformidade com a Legislação, adaptada a entidades filantrópicas que apresentou o resultado destacado.

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PARECERAnalisando os Demonstrativos Contábeis do Instituto Histórico e Geográfico

levantado em 30 de abril de 2010, referentes ao período de Gestão até está data, da

administração da Presidente Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo, sob a qual

expressamos nossa opinião.

Nossos exames foram conduzidos de acordo com as normas de auditoria e

compreenderam entre outros procedimentos o planejamento dos trabalhos, o sistema

contábil e de controles internos da entidade. A constatação, com base em testes, das

evidências e dos registros que suportam os valores e as informações contábeis divulgados;

e a avaliação das práticas e estimativas contábeis mais representativas adotadas pela

administração da entidade, bem como da apresentação das demonstrações contábeis

tomadas em conjunto.

Em nossa opinião, as demonstrações contábeis acima referidas, representam

adequadamente em todos os aspectos relevantes, a posição patrimonial e financeira do

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO ESTADO DO MARANHÃO, em 30 de abril

de 2010, o resultado de suas operações, as mutações de seu patrimônio líquido e as

origens e aplicações de seus recursos, foram elaboradas de acordo com os Princípios

Fundamentais da Contabilidade.

A documentação comprobatória da despesa foi emitida conforme a legislação

vigente, a movimentação bancária está demonstrada através dos extratos bancários, os

recursos geridos foram movimentados em conta bancárias específicas da Entidade e a

documentação comprobatória da receita e da despesa encontra-se arquivada em ordem

cronológica.

São Luís, 30 de abril de 2010.

Eulália das Neves Ferreira

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CHRÔNICA DA CAPOEIRA(GEM) –

“UMA RAIZ DA CAPOEIRA É A RINGA-MORINGUE MALGACHE?” 2

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Mestre em Ciência da InformaçãoSócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão/Brasil

[email protected]. JAVIER RUBIERA CUERVO

Técnico Especialista en Electricidad y ElectrónicaPresidente de FICA/Espanha

www.capoeira-fica.org

“o segredo da verdade é o seguinte: não existem factos, só existem histórias” 3

João Ubaldo RibeiroRESUMOBusca-se a ancestralidade da Capoeira, comprovada africana não apenas pelo perfil étnico predominante dos capoeiras brasileiros do passado, mas, sobretudo, pela existência na África, de práticas similares, como o Moringue no Oceano Índico – Ilha de Reunião, Madagascar, Moçambique etc. Palavras-chave: Capoeira. História. Moringue.

Para esta série de artigos, temos entendido ‘crônica” como:

“Chrônica (do latim) é termo que indica narração histórica, ou registro de fatos comuns, feitos por ordem cronológica; como também é conjunto das notícias ou rumores relativos a determinados assuntos.” 4

Javier Rubiera, da “Agrupación Española de Capoeira” e Presidente da FICA5

- Federação Internacional de Capoeira – me convida a fazer uma análise de

imagens sobre a Capoeira(gem), a partir das gravuras de Rugendas6, fazendo uma

2 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A Carioca. In REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO

MARANHÃO, São Luís, n. 31, novembro de 2009, p. 150-175, disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/ihgm_31_novembro_2009

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CHRONICA DA CAPOEIRA(GEM): ERAM OS ‘BALAIOS’ CAPOEIRA?3 Jorge Bento, citando João Ubaldo Ribeiro , in ARAÚJO, Paulo Coelho de. ABORDAGENS SÓCIO-

ANTROPOLÓGICAS DA LUTA/JOGO DA CAPOEIRA. (Porto): Instituto Superior Maia, 1997, p. 74 DICIONÁRIO AURÉLIO, 1986, p. 502.Ver também:VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; RUBIERA CUERVO, E. Javier. CHRONICA DA CAPOEIRA(GEM): algumas

considerações. Pesquisa em andamento5 Federação Internacional de Capoeira6 Johann Moritz Rugendas (Augsburgo, 29 de março de 1802 — Weilheim, 29 de maio de 1858) pintor

alemão que viajou por todo Brasil durante 1822-1825 e pintou povos e costumes. Rugendas era o nome que usava para assinar suas obras. Cursou a Academia de Belas-Artes de Munique, especializando-se na arte do

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correlação entre os movimentos encontrados na(s) Capoeira(s) e outras

manifestações da lúdica e do movimento, encontrada em outras terras. Vem

reunindo uma série de “pranchas” buscando as raízes da Capoeira 7. Informa Javier:

Encontramos en nuestra pesquisa los artes marciales indicados en el mapa que se encuentran justamente en los lugares de las rutas de los navíos de los imperios coloniales así como en las ruta ancestra de los malayos e hindúes que poblaron Madagascar.12

desenho. Pintor de cenas brasileiras, nasceu em Augsburg, em 29 de março de 1802 e faleceu em Weilheim, em 29 de maio de 1858. De família de artistas, integrou a missão do barão de Georg Heinrich von Langsdorffe permaneceu no Brasil três anos. IN http://pt.wikipedia.org/wiki/Rugendas

7 “[...] data a Capoeiragem, de 1770, quando para cá andou o Vice-Rei Marques do Lavradio. Dizem eles também que o primeiro capoeira foi um tenente chamado João Moreira, homem rixento, motivo porque o povo lhe apelidou de ‘amotinado’.” in VIEIRA, Sérgio Luis de Sousa. Capoeira – origem e história. Da Capoeira: Como Patrimônio Cultural. PUC/SP – Tese de Doutorado – 2004. Disponível em http://www.capoeira-fica.org/.

12 http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/; http://asi-afri.blogspot.com/; http://afroasia-bras.blogspot.com/ ; http://asia-brasil.blogspot.com/; http://cap-dep.blogspot.com/; http://cap-ang.blogspot.com/; http://cap-reg.blogspot.com/; http://ladja-martinica.blogspot.com/. http://moraingy-malgache.blogspot.com/;http://moringue-reunion.blogspot.com/;

1498-Vasco de Gama llega a Kerala-Cuna del Kalaripayatu (2) 1500-1600-MOZAMBIQUE-Colonos de Brasil -India y Portugal (1) 1500-1700-Pilotos de Navios Portugueses en Indico de India-Guzarate-Madagascar y Brasil (1)1500-BRASIL-DESCUBRIMIENTO- Viajaban un moro de India-un Guineano y un Angolano (1) 1509-1641- MALACA -Ocupación portuguesa por Diego Lopez de Siqueira (1) 1511-***Bersilat practicado en los Ejercitos Malayos (2) 1580-1668-***Marinheiros Asiaticos na Marinha Portuguesa-Ruta Brasil (1) 1595-***Marineros Asiaticos enrolados con Hutman llegan Brasil y Madagascar (1) 1596-Holadeses convatidos en Indonesia con el Pentjak-Silat (1) 1598-Lenjuaje MALAYO entre marineros holandeses (1) 1598-Oliver Van Noort ataca Santos (1) 1601-(fatos reais) Navío Goa-Lisboa con marineros de Corea Japón y Mozambique (1) 1602-***Indigenas de Molucas esclavos soldados Holandeses (3) 1602-SANTE HELENA-Navío Portugués seguido de naviós Holandeses procedentes de Indonésia liberan esclavos de los portugueses (1) 1613-Holandeses se asientan en TIMOR(Silat) (1) 1616-Nueva ruta de los holandeses de Indonesia al Cabo Buena Esperanza. (1) 1619-Holandeses fundan Batavia-Java (2) 1624-***Asalto de Holandeses a Bahía(3500 hombres) (2) 1625-***BAHIA-Soldado portugués indiánico recogido en Angola por holandeses se alistó con ellos para Pernambuco. (1) 1625-BAHIA-Joao Da Silva varios cargos en BAHÍA-INDIA Y MOZAMBIQUE (1) 1630-Holandeses en Olinda (1) 1641****Holandeses ocupan Angola-Indios Brasileños acompañan (2) 1641-Holandeses en Malaca (2) 1644-1651-Holandeses en Molucas y Pernambuco (1) 1650-AMSTERDAM-Africanos y javaneses (1) 1652-(JAN VAN RIEBEEK) Esclavos malgaches y malayos en Ciudad del Cabo recién libertos(colononia holandesa)-El padre de JAN VAN RIEBEEK murió en Recife (2) 1662-***Pará-Soldados abandonados por los Holandeses (1)

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1665-BAHÍA-Comerciantes bahianos cambian en Madagascar de esclavos por tabaco (1) 1673-Batavia-(cuna del Pencak Silat)- Mardijkiers-Malayo Portugues-Brasil (1) 1678-MALACA-Habitada por Portugueses Holandeses Malayos Hindúes Mestizos etc (1) 1700-( hasta el siglo XIX)-ASIA Soldados Brasileños hacen carrera miliar en Asia (1) 1719- ***Propuesta de esclavitud en Madagascar para Brasil (2) 1719-***Orden regia muda comercio de esclavos para Ilha de Sao Lourenço (1) 1719-BAHÍA Capitán baiano trafica con esclavos malgaches para Bahía (1) 1720-***Malgaches bautizados es Brasil (5) 1723- MARTINICA-Primeras plantas de café(Después fueron a Brasil) (1) 1723-Llegada de esclavos a Reunión (1) 1723-PARÁ-Llega el café desde Surinam(Holandeses-Malayos) (1) 1724-1736-***Esclavos de Madagascar enterrado en Brasil (1) 1724-Fin de la piratería en el Indico-esclavos malgaches a Brasil y Antillas (2) 1724-MARTINICA-Ladja descrito port el Padre Labat (2) 1727-BRASIL-Llega el café desde Sumatra (1) 1730-1830-***Esclavos Malgaches en Brasil (3) 1733-CAROLINA DEL SUR -Posible práctica de Capoeira (¿Ringa ó Moringue) (1) 1735-***Mandioca de Brasil en Mascarenas para alimentas esclavos. (1) 1736-1770-Gran comercio entre Brasil y Angola con mercancias de India (2) 1736-MATO GROSSO- Varapau força e rara intrepidez de un Franciscano (1) 1738-Macarenas afirma que na Carreira da India os melhores sao os marinheiros pretos de Moçambique (2) 1746-Lacarins Indo-Portugueses tripulantes de Navíos en Londres (1) 1750-Asiaticos soldados en Brasil (1) 1750-Cipayos en el ejercito colonial francés (1) 1752-***Trafico de esclavos de Africa Oriental y Mascarenas para BrASIL (3) 1752-Navios de Asia hacia metrópoli paran en Brasil y Africa (1) 1753-MOZAMBIQUE- Kaporo condición de esclavo (1) 1755-1764-***Entrega tierra Brasil oriundos Goa Mozamb y Macao (1) 1760-***Esclavos malgaches en Rio de Janeiro (1) 1760-***Soldados de degradados procedentes de Brasil y Goa en Mozambique (1) 1760-Reconcavo Bahiano-Proceso de decadencia caña de azucar-inicio cultivo tabaco (1) 1761-Comercio entre Mozambique -India y Brasil (1) 1761-Trafico de Esclavos Mascarenas a Brasil (1) 1768-Berimbau en Isla Mauricio (2) 1770-*** expansão do tráfico escravos pelos franceses das Mascarenhas e pelos brasileiros costa oriental africana - ilha de Moçambique -Querimbas (1) 1780-1800-Gran comercio de esclavos para Mauricias y Brasil (1) 1780-81-PERNAMBUCO-Lundús similares a Fandangos (Sega de Isla Reunión) (2) 1780-Familia Silva Guedes trafica esclavos de Moçambique a Mauricias y Brasil (1) 1793-***Baneanes venden esclavos a al ejercito portugues en Mozambique (1) 1795-1843-RIO-Esclavos de Africa del Este en Rio (1) 1800-***Esclavos de Mascarenas en Brasil (2) 1800-***Franceses se juntan a Brasileños-Cubanos y Norteamericanos en el trafico de esclavos de Macarenas(2) 1803-NITEROI -Logia Masónica se afilia a la Isla Maurício (1) 1808 26-febr-BAHÍA-Dom Pedro descubre la Capoeira al son del Tambor y del Berimbau -Twang de una sola cuerda.(19-JANEIRO) (1) 1808-***Comercio entre Goa-Mozambique Rio de Janeiro (2) 1808-1820-***Esclavos de Mauricias para Brasil (1) 1810-Conde de Rio Pardo Governador en India- Mozambique y Brasil (1) 1813-Degredados de Brasil enviados para India ó Moçambique (1) 1817-1820-RIO Identificada danza SEGA (Chica) de origen en Mascarenas (1) 1817-Gran comercio Brasil-Mozambique-Mauricias-India (1) 1819-Nace Benedito mestre de Pastinha (Africa ó Brasil?) (1) 1820-1833-BREST-Navios de la Armada frecuentando BRASIL -MARTINICA Y BOURBON(Artes Marciales)(1) 1820-BAHÍA-Jogo da Capoeira semejante al Moringue malgache (1) 1821-Malgaches en Rio de Janeiro(Moringue-Diamanga) (1) 1822-HAITÍ- Bobre-berimbau de Mascarenas (1)

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1823-***Frances al mando del Cuerpo de Extranjeros en Rio de Janeiro(mercenarios) (1) 1830-Negreros de Mozambique se asientan en Brasil (Hijos estudiaron en Mauricio-Moringue) (1) 1831-1846-***Entran en Brasil 300 mil esclavos de contrabando (1) 1834-esclavos ILEGAIS PODEN SER deportados ó LIVERTOS depois de 14 anhos de servicio ao goberno (1) 1834-RUGENDAS -dibuja la Capoeira ó Moringue ? (1) 1837-Rio de Janeiro Capoeira Berimbau y Chica (Sega de Mascarenas) (4) 1841-ISLA REUNIÓN-Danza Sega(Chega)-Berimbau de boca (1) 1841-RIO-Esclavo hablando 5 idiómas y con cartas de navegación de Islas Mascarenas (1) 1841-RIO-Esclavos de Madagascar en la ciudad (1) 1842-Brasileños negocian esclavos en sultanato de Angoche. (1) 1842-Pueblo Sakalava(Madagascar) practicante de Moringue -esclavos Brasil (1) 1845-***Ingleses asaltaban navios negreros para liberar esclavos en costas de Brasil (1) 1850-***Trabajadores Inmigrantes en Brasil por falta de mano de Obra Esclava (1) 1850-MADAGASCAR-Posible cuadro de Ringa Malgache (1) 1857-REUNIÓN- Navio CHARLES et GEORGE parte a reclutar negros libres a Madagascar Comores y Mozambique (1) 1858-MOZAMBIQUE-Brasileño en Mozambique implicado en el caso del navío "Charles et Gerge" (1) 1859-BRASIL Danza llamada capoeira al mson del Urugongo(Similar va la danza Sega) (1) 1860-ISLA REUNIÓN Bobre-Berimbau(Danza Sega) (1) 1862-RIO -Navío CHARLES et GEORGE con engajados ILEGALES (1) 1870-1907 -202 begin_of_the_skype_highlighting 1870-1907 -202 end_of_the_skype_highlighting.679 inmigrantes de origen desconocido en Brasil. (1) 1871-Frances na Lapa-preso por Capoeira (1) 1876-78-NORDESTE-La Gran Seca -hambrunas y éxodo poblacional (1) 1879-RIO DE JANEIRO 145 Indo-Mauritians trabajadores (1) 1885-Sakalavas(MORINGUE)-ejercito francés (2) 1888-BAHÍA-Grán sequía-emigración (1) 1888-Franceses y ex-combatientes en Paraguai - Policia de Sao Paulo(otros estranjeros) (1) 1890-Prohibición de entrada de Asiaticos y Africanos en Brasil (1)1890-BELEM-Capoeiras europeos baianos cearenses y pernambucanos (1) 1895-aumento de indígenas Soldados en Java) (1) 1909-Hindúes y Barbadianos en Rondonia (1) 1918-Tiradores Malgaches (Francia) entrenando especie de SAVATE Ó DIAMANGA (2) 1940-ANTROPÓLOGO Herskovits Compara la Capoeira con Moringue (1) 1979-1989-BAHÍA -Recuerdo de la Cultura Malgache en el Carnaval (1) 2001-BAHIA -descendiente de Malgaches funeral Jorge Amado (1)

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LLEGARON EN MARANHAO-BRASIL LOS SOLDADOS INDONESIOS DEL EJERCITO HOLANDÉS?

HIPÓTESIS DE LA PESQUISA (RUBIERA CUERVO, 2009)

A - Jogo Malayo - Bersilat versión demostración (técnica de malicia)Lucha Malaya-Bersilat versión lucha-del juego malicioso a la Lucha (versión lucha)13

B - Jogo Malgache (Hablar de malgaches es hablar de malayos, primeros habitantes de Madagascar (Lucha Diamanga, Ring-Morainguy afro-malgache-Bantú).14

13 El sistema de combate particular era el Bersilat, cuyo origen lo tiene en las artes marciales Chinas.Parece que dichas técnicas proceden de la isla de Sumatra y penetran en 1511 de practicas en los Ejércitos de los sultanes malayos a partir de la guerra del Ten-Tera. El Bersilat, tiene dos versiones:Silat Pulat (movimientos predeterminados de uso en demostraciones). Silat Buah (movimientos de combate real, de practica en privado). Consta de 44 técnicas de enseñanza secreta, de uso de piernas y manos volteos y cambios de cuerpo, posee Silat-buah (Katas). Usa un arma de complemento que es un plato corto y un cuchillo llamado Kris. Hay una evolución del Bersilat que permite una salida deportiva y que sirve como ejercicio físico.http://afroasia-bras.blogspot.com/search/label/1511-***Bersilat%20practicado%20en%20los%20Ejercitos%20Malayos

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C - Jogo de Angola - Moringue Malgache versión demostración (mantenida por Pastinha) e o jogo dos bosquimanos ao suL de angola

D - Jogo de Regional - Moringue Malgache versión Lucha como escisión del Moringue Malgache promovida por Bimba por influencia de Cisnando (jiu-jitsu) buscando una Lucha Brasileña sin tener en cuenta el Fair Play.

E - Jogo da Capoeira Deportiva: Rescate de la versión Juego de las dos técnicas ancestrales del Bersilat teniendo en cuenta el Fair Play. Recordando palabras de Cajiquinha” la capoeira no tiene fín hasta que no esté deportivizada”.

REFLEXIÓN: Cuando la Capoeira Deportiva, como tal, sea reconocida como deporte a nivel mundial, podremos, rescatar la versión lucha (Bersilat, capoeiragem de rua (savate), lucha de navaja(faca, sardinha) pero primero debemos tener en cuenta el FAIR PLAY y seguidamente rescataremos la Capoeira como Lucha en un contexto deportivo reglado. En esta situación Cajiquinha vería realizada su reflexión.

Indo mais adiante, Rubiera Cuervo envia-me mensagem eletrônica em que

provoca:

“[...] Se você concorda que uma raiz da Capoeira é a Ringa-Moringue malgache 15 depois dos fatos de minhas pesquisas relatemos num artigo. A partida da redação são as gravuras de Rugendas [...].” 16

14 A "fagnorolahy"Vá para o campo para medir a força e habilidade. Desde os primórdios do tempo, durante o retorno da safra de inverno, nas margens de Sofia, cada aldeia ressoa no final do dia "hazomanga"Chamar os corajosos jovens para competir. É hora da revanche" Moraingy ", o equivalente a"ringa"Ou"Diamanga"Ou"Tolon". Outras regiões. Analalava A (Noroeste), parte do tradicional "Moraingy" Interrompe a domingo calmo e inativos. Na praça central é, então, formaram um círculo em torno deles e incentiva os jogadores. Os jovens vêm desafio, juntamente com os punhos levantados piercing apitos, possíveis candidatos a um duelo rápido, mas intenso. O "Moraingy" é sobretudo um significado cultural, antes de uma actividade desportiva. Menos brutal que o boxe, pede agilidade, velocidade e flexibilidade. Ela deve tocar primeiro a mostrar que seu adversário é mais forte, mais bravo. Grandes desvios, a recepção nas mãos, pernas latejando, para o deleite da população feminina que vem especificamente para apreciar e ogle o homem do futuro do seu coração. Este desporto espectacular e física era uma vez uma forma de treinar para o combate. http://le.phoenix.mg.site.voila.fr/sports/moraingy.html15 O malgaxe (malagasy) é uma língua malaio-polinésia falada por praticamente toda a população de

Madagascar. Em Madagascar, a língua malgaxe é considerada a língua nacional, mas divide a condição de língua oficial com o francês, que continua sendo a língua principal nos meios escritos e na educação. Existem também alguns falantes de malgaxe na ilha francesa de Mayotte e em comunidades originárias de Madagascar assentadas em Reunião (França), Comores e outros países. IN http://pt.wikipedia.org/wiki/Malgache

16 Correio eletrônico recebido de Javier Rubiera - Presidente, Presidente General de FICA www.capoeira-fica.org, Agrupación Española de Capoeira, http://aecfica.blogspot.com/,, NIF G74237405, através do endereço FICA. [[email protected]], enviada dia 4/9/2009 13:30 para Leopoldo Gil Dulcio Vaz [email protected].

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Prancha 18 – JOGO DA CAPOEIRA - 1820/1835 – publicada em 1835-

Comentário do autor da obra:

“os negros tem ainda um outro folguedo guerreiro mais violento, a ‘capoeira’: dois campeões se precipitam contra o outro, procurando dar com a cabeça no peito do adversário que desejam derrubar. Evita-se o ataque com saltos de lado e paradas igualmente hábeis; mas lançando-se um contra o outro mais ou menos como bodes, acontece-lhes chocarem-se fortemente cabeça com cabeça, o que faz com que a brincadeira não raro degenere em briga e que as facas entrem em jogo, ensangüentando-a”.(p. 75)[...]

Araújo e Jaqueira (2008) tecem o seguinte comentário: “Dentro do contexto da luta brasileira, este é a imagem mais referenciada

em documentos de origens diversas, talvez por ser a primeira iconografia publicada, mas não a única, que mais explicitamente identificou a presença do jogo denominado Capoeira num dos períodos históricos brasileiros e, igualmente descrita pelo autor com uma série de adjetivações, que vão desde um folguedo guerreiro de cariz violento ou mesmo uma brincadeira e por fim um jogo, o que nos faz refletir sobre as suas possíveis características de expressividade no período colonial do Brasil – luta, jogo, dança”. (p. 75-76)

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Prancha 27 - SÃO SALVADOR - 1820/1835 – publicada em 1835:

“A iconografia denominada São Salvador, apresenta-se como um dado histórico que nos possibilita interpretações de alguns factos dos costumes dos grupamentos marginais da sociedade imperial brasileira, mais concretamente da Capoeira [...] a imagem de Rugendas, busca fundamentalmente retratar uma panorâmica da cidade do Salvador, apresentando-nos em primeiro plano, uma cena característica de um dos costumes baianos, o jogo da Capoeira, tornando esta iconografia de capital importância para a reescrita e/ou reinterpretação da história desta expressão corporal, visto ser este tipo de documento dentre tantos outros, até ao momento, o primeiro, mas não o único que confirma ter existido tal expressão corporal na sociedade soteropolitana, isto para os contextos históricos colonial, imperial e da 1ª república. [...]” (ARAUJO e JAQUEIRA, 2008m, p. 69)

“Apesar de Rugendas não referir-se explicitamente nesta obra sobre a exercitação da capoeira pelos indivíduos enfocados, não podemos deixar de concluir pela presença de elementos de cariz corporal que bem podem evidenciar na imagem, isto pelos conhecimentos por nós adquiridos sobre esta expressão, trata-se estes, de gestuais específicos da luta, onde a cabeçada, ginga e esquivas se podem visualizar, não nos permitindo inferir acerca da sua forma de emanação – jogo; luta, aprendizagem. Destarte não haver indicações do autor sobre este enfoque, e considerando a sua descrição sobre a iconografia ‘Jogo da Capoeira’, nos conduz na admissão de estarmos na presença de jogo ou de aprendizagem, quando associamos as condutas miméticas de alguns, brejeiro e de admiração de outros personagens presentes na cena.[...] O que mais podemos extrair desta

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imagem, é a presença de uma movimentação rítmica configurada pelo movimento alternado das pernas e conhecida contemporaneamente por ginga, isto, sem qualquer auxílio de instrumentos musicais para a sua exercitação, indiciando portanto, a não obrigatoriedade destes no seu contexto de expressividade, e muito menos a subordinação ao berimbau”.(ARAUJO e JAQUEIRA, 2008m, p. 72-73) 17.

Em nota de pé-de-página, Araujo e Jaqueira (2008) referem-se a outras obras, desse mesmo período, que retratam o movimento identificado como Capoeira no Brasil:

“No período de 1820/25 foram igualmente elaboradas mais duas imagens que retratam a prática de uma manifestação de luta dos negros e, posteriormente, identificada como Capoeira em face das movimentações corporal presentes, e sustentadas pelas descrições de Rugendas. Este mesmo artista foi o autor de outra obra em que se pode visualisar (sic) na Bahia, uma forma de expressão corporal, que não identificando-se nominalmente com manifestação da luta brasileira, não nos podemos furtar de assim reconhecê-la. A outra imagem é a denominada “Negros brigando nos Brasis’ de autoria de Augustus Earle”. (ARAUJO e JAQUEIRA, 2008, nota de pé-de-página, fls. 75-76, obra citada).

PRENCHA 7 – NEGROS BRIGANDO NOS BRASIS (NEGROES FIGHTING, BRAZILS) 1822

Negroes fighting, Brazil”” c. 1824. Autor Augustus Earle (1793-1838) - Painting by Augustus Earle depicting an illegal capoeira-like game in Rio de Janeiro (1824)

17 ARAUJO, Paulo Coelho de; JAQUEIRA, Ana Rosa Fachardo. DO JOGO DAS IMAGENS ÀS IMAGENS

DO JOGO – nuances de interpretação iconográfica sobre a Capoeira. Coimbra-Portugal: Centro de Estudos Biocinéticos, 2008

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Comentário do apresentador da obra18: “Dois negros moços entregues ao ‘jogo da capoeira’, enquanto outros contemplam de uma casa própria e um policial colonial prepara-se para saltar uma cerca, afim de sustar a luta”

Comentários sobre a obra:“[...] as figuras apresentadas por Rugendas foram e ainda são as mais representativas para o contexto da capoeira, principalmente aquela que foi acompanhada pela descrição [...] A imagem de Augustuis Earle [...] apesar de ter sido elaborada no mesmo período das iconografias de Rugendas, foi durante muito tempo relegada ao esquecimento [...] Earle retratou uma cena típica dos costumes urbanos da cidade do Rio de Janeiro [...] ao tipo de exercitação visualizada pela imagem [...] entendemos ser esta, manifestadamente, a expressão corporal denominada Capoeira [...] onde depreendemos estarmos diante de dois movimentos conhecidos no contexto atual da luta brasileira, como ginga e benção/escorão/chapa [...]”.(ARAÚJO e JAQUEIRA, 2008, p. 80-87)12

Araújo e Jaqueira (2008) analisaram também a obra de Frederico Guilherme Briggs –Negros que vão levar “açoutes”, estampa avulsa: tipos de rua e caricaturas:

FIGURA 20, OBRA DO ANO DE 1832/1836, PUBLICADA EM 1984:

Negros que vão levar açoutes Briggs del. Litho. R.B. Rua do Ouvidor nº 118. Source: Biblioteca Nacional, acervo de gravuras sobre escravatura

Negros que vão levar açoutes, 1832/1836, publicada em 1984

18 Não foram encontradas descrições de Augustus Earle sobre a obra, mas somente, a denominação atribuída à

imagem como sendo; “Negros brigando nos Brasil” – (Negros fighting, Brazils). ARAUJO e JAQUEIRA, 2009, p. 80-81

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Os autores se valem da obra de TURAZZI (2002) 19, que comenta:“Se as imagens podem ser tomadas como uma ‘narrativa’, as estampas de tipos de rua da Litografia Briggs nos permitem várias leituras [...] Para tanto, eles adotaram como estratégia uma figura de linguagem empregada com freqüência na fala dos cariocas. Mas a substituição de nome próprio por perífrase (isto é, a designação de alguém ou de algo que dê relevo a uma de suas qualidades, e não por seu nome) tem sido, historicamente, um dos traços mais marcantes da linguagem popular do Rio de Janeiro. Pois é exatamente esse estilo de linguagem, saído das ruas, o recurso adotado pelos litógrafos da oficina Briggs para representar e legendar as figuras de suas estampas”.( TURAZZI, 2002, citada por ARAÚJO e JAQUEIRA, 2008, p. 94-95)

Em resposta ao desafio, respondi20 que tenho escrito sobre Capoeira(gem), e

agora me vejo na contingência de escrever sobre a relação da Capoeira(gem) e as

‘capoeiras’ 21, melhor, sobre a lúdica e o movimento das populações trazidas para o

que hoje chamamos de Brasil, dos diversos recantos do antigo Império português22.

19 TURAZZI, Maria Inez (org.). Tipos e cenas do Brasil imperial: a Litografia Briggs na Coleção Geyer.

Petrópolis: Museu Imperial, 2002.20 http://cev.org.br/comunidade/lusofonia/debate/capoeira/21 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Jornal do Capoeira http://www.capoeira.jex.com.br/, Edição 47: 30 de Outubro à

05 de Novembro de 2005, Jornal do Capoeira - www.capoeira.jex.com.br; Edição 64 - de 12 a 18/Mar de 2006, disponível em

http://www.capoeira.jex.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=905Jornal do Capoeira - Edição 44: 22 a 28 de Agosto de 2005, EDIÇÃO ESPECIAL estendida - CAPOEIRA &

NEGRITUDE, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/ainda+sobre+a+punga+dos+homens+-+maranhao

Jornal do Capoeira - Edição 42: 8 à 14 de Agosto de 2005, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/notas+sobre+a+capoeira+em+sao+luis+do+maranhao

22 O Império Português foi o primeiro império global da história, com um conjunto de territórios repartidos por quatro continentes, sob soberania portuguesa. Foi também o mais duradouro dos impérios coloniais europeusmodernos, sob o nome "Império Colonial Português" na primeira metade do Estado Novo; abrangeu quase seis séculos desde a tomada de Ceuta em 1415 à independência de Timor, em 2002 in BOXER, Charles. The Portuguese Empire: 1415-1825 in http://pt.wikipedia.org/wiki/Imp%C3%A9rio_Portugu%C3%AAs.

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E aceitando a Capoeira como uma atividade física - vamos chamá-la por hora

assim - de criação nacional, tem-se buscado suas origens na África, considerando

ser esta a terra de origem dos escravos para cá trazidos, esquecendo-se de que,

aqueles a que se chamava de ‘negros’ estavam para além dessa territoriedade - a

Mãe-África23.

23 JACINTO, Cristiane Pinheiro Santos. Fazendeiros, negociantes e escravos: dinâmica e funcionamento do

tráfico interprovincial de escravos no Maranhão (1846-1885). In GALVES, Marcelo Checvhe; COSTA, Yuri (org). O MARANHÃO OITOCENTISTA. Imperatriz: Ética; São Luis Editora UEMA, 2009, p. 169-194.

ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O TRATO DOS VIVENTES – formação do Brasil no Atlântico Sul, Séculos XVI e XVII.São Paulo: Cia. Das Letãs, 2000;

MELLO, José Antônio Gonçalves de. TEMPO DOS FLAMENGOS – influência da ocupação holandesa na vida e na cultura do norte do Brasil. 4 ed. Rio de Janeiro: Topbooks; Recife: Instituto Ricardo Brennand, 200(5).

COSTA E SILVA, Alberto da. UM RIO CHAMADO ATLÂNTICO – A África no Brasil e o Brasil na África. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003.

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34

Fonte: CAMARGO NETO, 2002, p. 27524

Além das características da lúdica e movimento existentes na África, identificadas as semelhanças com os movimentos da(s) Capoeira(s) - Angola, Regional, e/ou Contemporânea -, há as que chamei de “capoeiras primitivas”25 -

24 Fernão Pompêo de Camargo Neto. Tese de Doutoramento apresentada ao Instituto de Economia da

UNICAMP para obtenção do título de Doutor em Ciências Econômicas –área de concentração: Política Econômica, sob aorientação do Prof. Dr. José Ricardo Barbosa Gonçalves. CPG, 22/02/2002, p. 275

25 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; LACÉ LOPES, André Luis; RIBEIRO, Milton César. ATLAS DA CAPOEIRA(GEM) NO BRASIL. Pesquisa em construção.

LACÉ LOPES, André. Capoeiragem.in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 386-388

LACÉ LOPES, André. Capoeiragem.in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 386-388

LACÉ LOPES, André. Capoeiragem.in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 386-388

LACÉ LOPES, André Luiz. A VOLTA AO MUNDO DA ARTE AFRO-BRASILEIRA DA CAPOEIRAGEM -Ação Conjunta com o Governo Federal – Estratégia 2005 - Contribuição do Rio de Janeiro - Minuta de André Luiz Lace Lopes, com sugestão de Mestre Arerê (ainda sem revisão).

LACÉ LOPES, André Luiz. PÁGINA PESSOAL : http://andrelace.cjb.net/LACÉ LOPES, André. Capoeiragem.in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO

BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 386-388LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. Literatura de Cordel.

Rio de Janeiro,2004LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO E NO MUNDO. – histórias & fundamentos,

Administração geral, administração pública, jornalismo. Palestras e entrevistas de André Lacé Lopes, edição elertrônica em CD-R. Rio de Janeiro, 2004.

LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. 2 ed. Amp. E list. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro, 2005

LACÉ LOPES, André Luiz. L´ART DE LA CAPOEIRA À RIO DE JANEI, AU BRÉSIL ET DANS LE MONDE. Littérature de Cordel. Rio de Janeiro, 2005

Page 35: REVISTA IHGM 33

35

tiririca26, batuque27, pernada(s), punga28, carioca29, etc. e mais recentemente, o ‘agarre marajoara’… ainda temos30 o N´golo, a savate, o fado português, o frevo, o

LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. 4 ed. Literatura de

Cordel. Rio de Janeiro, 2007.LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM. Palestras e entrevistas de André Lacé Lopes, edição eletrônica

em CD-R. Rio de Janeiro, 2006LACÉ LOPES, André. Capoeiragem.in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO

BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 386-388VER AINDA:ARAÚJO, Paulo Coelho de. ABORDAGENS SÓCIO-ANTROPOLÓGICAS DA LUTA/JOGO DA

CAPOEIRA. Maia: Instituto Superior de Maia, 1997. Série Estudos e Monografias.O ensino da capoeiragem no início do século XX, ver crônica do folclorista Carlos Cavalheiro onde comenta a

repercussão em jornal de Sorocaba, São Paulo, sobre a abertura de Academia de Capoeira no Rio de Janeiro, em 1920. A matéria trouxe a chamada "Um Desporto Nacional", disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/

Notas sobre a Punga dos Homens - Capoeiragem no Maranhão: crônica por Leopoldo Gil Dulcio Vaz, in Jornal do Capoeira - Edição 43: 15 a 21 de Agosto de 2005, EDIÇÃO ESPECIAL- CAPOEIRA & NEGRITUDE, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/

Ainda sobre a Punga dos Homens – Maranhão - Visita à Câmara Cascudo: crônica por Leopoldo Gil Dulcio Vaz, in Jornal do Capoeira - Edição 44: 22 a 28 de Agosto de 2005 EDIÇÃO ESPECIAL estendida -CAPOEIRA & NEGRITUDE, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/

26 Pernada de Sorocaba - ver crônica do folclorista Carlos Cavalheiro, em que faz uma análise da relação entre danças-luta (pernada, tiririca etc.) com a Capoeira no interior Paulista. In http://www.capoeira.jex.com.br/

Capoeira, Pernada e Tiririca in Crônica sobre Capoeira, com algumas informações sobre a Pernada de Sorocaba e a Tiririca da capital paulista, ambas uma espécie de "capoeira primitiva" do Estado de São Paul, por Miltinho Astronauta, in Jornal do Capoeira Edição AUGUSTO MÁRIO FERREIRA - Mestre GUGA (n.49) de 13 a 19 de Novembro de 200, disponível em www.capoeira.jex.com.br

Tiririca, Capoeira & Barra Funda, por Elaine Muniz Pires, sobre a história dos bairros paulistanos, em especial a Barra Funda, onde acontecia a Tiririca, uma espécie de Capoeira Primitiva, disponível em www.capoeira.jex.com.br

27 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CHRÔNICA DA CAPOEIRA(GEM): ERAM OS ‘BALAIOS’ CAPOEIRA? (inédito)

28 Notas sobre a Punga dos Homens - Capoeiragem no Maranhão: crônica por Leopoldo Gil Dulcio Vaz, in Jornal do Capoeira - Edição 43: 15 a 21 de Agosto de 2005, EDIÇÃO ESPECIAL- CAPOEIRA & NEGRITUDE, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/

Ainda sobre a Punga dos Homens – Maranhão - Visita à Câmara Cascudo: crônica por Leopoldo Gil Dulcio Vaz, in Jornal do Capoeira - Edição 44: 22 a 28 de Agosto de 2005 EDIÇÃO ESPECIAL estendida -CAPOEIRA & NEGRITUDE, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/

29 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A Carioca. In REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, São Luís, n. 31, novembro de 2009, p. 150-175, disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/ihgm_31_novembro_2009

30 FREGOLÃO, Mário Sérgio. A CAPOEIRA NA HISTÓRIA LOCAL: DA VELHA DESTERRO À FLORIANÓPOLIS DE NOSSOS DIAS. Florianópolis, julho 2008. Nota enviada por Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA el 8/18/2009, disponível em http://www.capoeiraunb.com/textos/FREGOLAO,%20MS%20-%20A%20capoeira%20na%20historia%20local.pdf

SOARES, Carlos Eugenio Líbano. Dos fadistas e galegos: os portugueses na capoeira. In Análise Social, vol. xxxi (142), 1997 (3.º), 685-713 disponível em http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1221841940O8hRJ0ah8Vq04UO7.pdf

CAVALCANTI, Gil. Do lenço de seda à calça de ginástica. Ter, 17 de Junho de 2008 16:44 Gil Cavalcanti (Mestre Gil Velho), disponível em http://portalcapoeira.com/Publicacoes-e-Artigos/do-lenco-de-seda-a-calca-de-ginastica

FALCÃO, José Luiz Cirqueira. Fluxos e refluxos da capoeira: Brasil e Portugal gingando na roda. In Análise Social, vol. XL (174), 2005, 111-133, disponível em http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/aso/n174/n174a05.pdf

TINHORÃO, José Ramos. HISTÓRIA SOCIAL DA MUSICA POPULAR BRASILEIRA. Rio de Janeiro: Editpora 34, 2001, disponiverl em

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36

semba, o samba... e, os movimentos encontrados nas Reuniões, nas Antilhas…Influencias européias e asiáticas. Traço de união? Portugal…

Fonte: CAMARGO NETO, 2002, p. 27231

Para Cavalheiro (2005), o fenômeno das academias baianas trará uma nova

conformação à própria história da capoeira, uniformizando (no que tange às

tradições, hábitos, costumes, rituais, instrumentação, cantigas etc.) sua prática,

especialmente após a migração de mestres para o sudeste brasileiro:

Isso foi um dos motivos pelos quais a capoeira conhecida e praticada hoje é a baiana. Infelizmente, por outro lado, foram-se apagando pouco a pouco as práticas regionais anteriores como a pernada, a

http://books.google.es/books?id=8qbjll0LmbwC&printsec=frontcover&source=gbs_v2_summary_r&cad=0#v=onepage&q=&f=false

31 CAMARGO NETO, Fernão Pompêo de. Tese de Doutoramento apresentada ao Instituto de Economia da UNICAMP para obtenção do título de Doutor em Ciências Econômicas –área de concentração: Política Econômica, sob a orientação do Prof. Dr. José Ricardo Barbosa Gonçalves. CPG, 22/02/2002, (p. 272)

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tiririca, o cangapé, a punga, o bate-coxa... Que não puderam oferecer resistência e nem conseguiram criar condições para competir com a capoeira baiana. (Carlos Carvalho Cavalheiro, in Jornal do Capoeira)32.

Concordamos com o grupo que elaborou o projeto para o IPHAN, quando

afirma que esta expansão significa a possibilidade de congregar povos e propiciar o

diálogo intercultural. 33

MITO DAS ORIGENS REMOTAS34

No prefácio do catálogo de uma exposição de Neves e Sousa em Angola, no

ano de 1966 - “Da minha África e do Brasil que eu vi”, Câmara Cascudo

mencionava que o pintor “viu a ginástica do n´golo, batizada ‘capoeira’. Estava se

divulgando então, pela primeira vez no Brasil a teoria do ‘n´golo’ como luta ancestral

da Capoeira. Encampada a teoria de Neves e Sousa por Câmara Cascudo em seu

Folclore Brasileiro (1967) 35 e as explicações no Dicionário do Folclore brasileiro

(1972) 36.

32 CAVALHEIRO, Carlos Carvalho in RIBEIRO, Milton César – MILTINHO ASTRONAUTA. (Editor).

JORNAL DO CAPOEIRA, Sorocaba-SP, disponível em www.capoeira.jex.com.br (Artigos publicados)CAVALHEIRO, Carlos Carvalho. Capoeira em Porto Feliz. in La Insignia, 2007 disponível em

http://www.lainsignia.org/2007/julio/cul_037.htm).CAVALHEIRO, Carlos Carvalho - Cantadores - o folclore de Sorocaba e região (encarte de CD) - Linc - 200033 IPHAN, Assessoria de Imprensa do Iphan. A capoeira na história. in REVISTA DE HISTÓRIA DA

BIBLIOTECA NACIONAL, Ed. de Julho de 2008, disponível emhttp://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1871

34 Mito das origens remotas. In VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFRO-ASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82-118

35 Folclore do Brasil. Natal: Fundação José Augusto, 1980.(BAA / BN/BMCC)Folclore do Brasil. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1967. 252p. (PUC-RIO / BAA/ BUFRN/BMCC)Folclore. Recife, Secretaria de Educação e Cultura, 1975. 62p. (BMCC) 36 Dicionário do Folclore Brasileiro. 2ª edição. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1962.(BAA / BMR /

BCCBB / BPI/BFCRB/AN/BMCC)Dicionário do Folclore Brasileiro. 3ª edição. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1972.(BAA / BPI / PUC-RIO /

BE / BIFICS)Dicionário do Folclore Brasileiro. 4ª edição. São Paulo: Melhoramentos, 1976 (BFCRB)Dicionário do Folclore Brasileiro. 4ª edição. São Paulo: Melhoramentos: Brasília, Instituto Nacional do Livro,

1979.(BAA / BE/BMCC)Dicionário do Folclore Brasileiro. 5a. edição. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1984 (BN / BIFICS)Dicionário do Folclore Brasileiro. 5a. edição. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1984 (BCCBB)Dicionário do Folclore Brasileiro. 5a. edição. São Paulo: Melhoramentos, 1980 (BN)Dicionário do Folclore Brasileiro. 6ª edição. Belo Horizonte: Itatiaia: São Paulo, Universidade de São Paulo,

1988.(BAA / BN)Dicionário do Folclore Brasileiro. 7a edição. Belo Horizonte: Itatiaia, 1993. (BIFICS)Dicionário do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro: Ediouro, 1993 (BN)

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38

Já em sua obra Folclore do Brasil/ Pesquisas e Notas37 afirma que a capoeira é originária da África, e seria o N´golo, dança praticada no Sul de Angola. Escreve:

“[...] Entre os mucope do Sul de Angola, há uma dança da zebra, N´golo, que ocorre durante a Efundula, festa da puberdade das raparigas, quando essas deixam de ser muficuenas, meninas, e passam à condição de mulheres, aptas ao casamento e à procriação. O rapaz vencedor no N´golo tem o direito de escolher esposa entre as novas iniciadas e sem pagar o dote esponsalício (...) O N´golo é a Capoeira [...] (Câmara Cascudo, 1967, p. 184).

A unanimidade das fontes brasileiras indica a capoeira como tendo vindo de

Angola. Capoeira Angola, vadiação ou brinquedo, como dizem na cidade de

Salvador. (Câmara Cascudo, 1967, p 181).

Para Assunção e Peçanha (2009) 38 o ‘n´golo’ acabou transformado num mito

de origem – um “elo perdido” – da Capoeira. Até a década de 1960, ninguém tivera

Dicionário do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1954.(BAA / PUC-RIO / BCCBB

/ BFCRB / BE / RGPL / NA / BFGV)37 CÂMARA CASCUDO, Luís da. Folclore do Brasil / Pesquisas e Notas. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura,

1967; citado por PENTEADO JUNIOR, Wilson Rogério. A ARTE DE DISCIPLINAR. Jogando Capoeira em Projetos sócio-educacionais. Disponível em http://www.antropologia.com.br/divu/colab/d43-wjunior.pdf

38 ASSUNÇÃO, Matthias Röhrig; PEÇANHA, Cinésio Feliciano (Mestre Cobra Mansa). Elo perdido: A dança da zebra. In REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL. Março 2008, p. 14-21, disponível emwww.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1445

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39

conhecimento dessa ancestralidade, quando Pastinha recebeu a visita do pintor

angolano Albano Neves e Sousa. Este afirmou ter visto na África uma dança

semelhante ao tipo de Capoeira que o Mestre baiano ensinava. A memória oral não

registrava nenhuma prática ancestral específica. Em suas palestras pelo Brasil,

Albano Neves e Sousa conseguiu convencer alguns brasileiros de sua teoria, entre

eles o folclorista Câmara Cascudo, então presidente da Sociedade Brasileira de

Folclore.

Afirmam Assunção e Peçanha (2009) que se trata de um mito no mínimo

questionável:

“Para começar, não foi transmitido pelos mestres africanos aos seus alunos brasileiros via tradição oral. Aceitar literalmente o mito, um tremendo anacronismo, ou seja: como pode uma manifestação documentada apenas no século XX ser ‘a origem’ de uma capoeira que existe pelo menos desde o início do século XIX? Pensar que o n´golo teria sobrevivido inalterado desde a época do tráfico negreiro é ignorar as profundas mudanças pelas quais passaram as sociedades do território angolano nesse período”.[...] Surpreende que hoje, em Angola, o n´golo seja completamente desconhecido, assim como seu papel como mito fundador da capoeira.[...]”.

Para Lacé Lopes (2006) 39, a origem africana, entretanto, é evidente e

incontestável, comprovada não apenas pelo perfil étnico predominante dos

capoeiras brasileiros do passado, mas, sobretudo, pela existência na África, há

séculos, de práticas similares e, haja vista estudos recentes que apresentam

movimentos semelhantes à capoeira entre os bosquímanos, de Angola:40

“[...] También tuvieron una danza muy singular, que quizás convenga llamar la danza de acróbatas. En este sentido, brincar y saltar en un círculo, parecía como si sus esfuerzos fueran dirigidos a colocarse en todas las posiciones y contorsiones, el líder tomar su puesto en el centro, y en pasa a su alrededor, mientras que los bailarines se mueven en un círculo retorciéndose, hermanándose, y retorciendo su cuerpo divirtiéndose y la actitud poco común sugiere su fantasía; ahora sí ,en equilibrio con sus manos y tirando de sus las piernas hacia arriba hasta que sus cabezas estaban en la posición de un payaso mirando a través de un caballo en un circo, ahora de pie y sus cabezas, de nuevo el equilibrio caminan sobre sus manos con sus piernas lanzadas en el aire, en el estilo acrobático de verdad. Cambian de una postura

39 LACÉ LOPES, André. Capoeiragem. In DACOSTA, Lamartine (ORG.). ATLAS DO ESPORTE NO

BRASIL. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006, p. 10.2-10.4, disponível em http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/69.pdf

40 1952- Entre los Bosquimanos de Angola(jogo de Angola) in http://salavideofica.blogspot.com/2010/02/1952-entre-los-bosquimanos-de.html

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40

a otra, fueron rápidos y continuos, y todo el círculo estaba siempre en constante movimiento [...]” (GEORGE W. STOW, 1905., p. 118)41

SOCIAL CUSTOMS OF THE BUSHMEN, STOW, 1905 34

41 GEORGE W. STOW, F.G.S., F.R.G.S. A History of the Intrusion of the Hottentots and Bantu into the Hunting

Grounds of the Bushmen, the Aborigines of the Country WITH NUMEROUS ILLUSTRATIONS. In History of South África. New York : THE MACMILLAN CO.1905, disponibilizado por Javier Rubiera para Conexoes da Capoeira Angola el 2/28/2010

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41

Ver vídeos http://www.tvciencia.pt/tvcarq/pagarq/tvcarq02.asp?codaqv=80007

O Moringue no Oceano Índico – Ilha de Reunião42, Madagascar43,

Moçambique44 etc. – sem dúvida, é um bom exemplo.

42 Réunion ou Reunião é um departamento francês no Oceano Índico, localizado a leste de Madagáscar. A ilha

principal é uma das duas maiores Ilhas Mascarenhas, sendo o seu vizinho mais próximo a outra: a Maurícia. Reunião tem, no entanto, várias dependências, espalhadas em torno de Madagáscar, no Índico e no Canal de Moçambique. Capital: Saint-Denis. In http://pt.wikipedia.org/wiki/Reuni%C3%A3o_(Fran%C3%A7a)

43 Madagáscar ou Madagascar é um país africano que compreende a Ilha de Madagáscar e algumas ilhas próximas. Está situado ao largo da costa de Moçambique, da qual está separado pelo Canal de Moçambique. Os vizinhos mais próximos de Madagáscar são a possessão francesa de Mayotte, a noroeste, a possessão francesa da Reunião, a leste, e as suas dependências Ilhas Gloriosas (noroeste), Juan de Nova (oeste), Bassas da Índia e Europa (sudoeste) e Tromelin (leste), as Comores a noroeste e as Seychelles a norte. Sua capital é a cidade de Antananarivo. In http://pt.wikipedia.org/wiki/Madag%C3%A1scar

44 Moçambique é um país da costa oriental da África Austral, limitado a norte pela Zâmbia, Malawi e Tanzânia, a leste pelo Canal de Moçambique e pelo Oceano Índico, a sul e oeste pela África do Sul e a oeste pela Suazilândia e pelo Zimbabwe. No Canal de Moçambique, tem vários vizinhos, as Comores, Madagáscar, a possessão francesa de Mayotte e o também departamento francês de Reunião, através das suas dependênciasJuan de Nova, Bassas da Índia e Ilha Europa. In http://pt.wikipedia.org/wiki/Mo%C3%A7ambique

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42

Ao longo dos séculos a diversidade cultural da Ilha de Reunião possibilitou a

emergência de um esporte moderno, o “moring”, primo da Capoeira brasileira, tendo

como origem comum a África, entendida como uma tradicional dança de guerra e

arte marcial, tendo como antepassado a dança fabulosa “Combat” das Ilhas

Reunião, Madagáscar e África.

Gravura Cabeçada (Ilha Reunión) - Souvenirs D’’ un aveugle Escrito por Jacques Aragão.

http://books.google.com/books?id=jBt5rS1S874C&printsec=toc&hl=es&source=gbs_v2_summary_r&cad=0

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43

Gravura Cabeçada: (Moçambique)Viaje al rededor del mundo:(pag 60,61) recuerdos de un ciego ,Escrito por Jacques Aragão, François Aragão, Santiago Aragão, Publicado por Gaspar y Roig,

1851.http://books.google.com/books?id=y-Jh5z9lHeUC&hl=es

Credit: Studies of gestures and postures of wrestlers, from a Manga (colour woodblock print), Hokusai,

Katsushika (1760-1849) Libraryhttp://www.bridgemanart.com/image.aspx?key=&categoryid=2ccd2910-bd46-

4cd5-8ª43-

6d00e2c67b41&filter=CBPOIHV&thumb=x150&num=15&page=86&img=5f983efe5b6f489382b976748b8ebf

0b

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44

‘‘A NEGRO FIGHT IN SOUTH AMERICA’’ (VENEZUELA) herper´s weekli 1874.

Gravura de um belo “furdunço” entre capoeiras ocorrido no Rio de Janeiro, no final do século XVIII, publicada em uma revista da época. Fonte: SANTOS, Esdras Magalhães dos (Mestre Damião ). A VERDADEIRA

HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DA LUTA REGIONAL BAHIANA DO MESTRE BIMBA in http://www.capoeiradobrasil.com.br/liga_2.htm

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MÉTODO DE BURLAMAQUI –A CABEÇADA:

A cabeçada é dada muito simplesmente. Aproximando-se do adversário e abaixando-se repentinamente faz-se com que a cabeça bata ou na parte inferior dos queixos ou no peito, na barriga ou ainda no rosto. Este golpe é um segundo rabo de arraia pelas suas conseqüências porque, sendo bem dado, é demasiadamente terrível para quem o leva.

CAPOEIRA REGIONAL (MESTRE BIMBA) –A CABEÇADA:

Este golpe é uma verdadeira “marrada” desferida com violentíssimo impulso no meio da cara ou no peito do indivíduo. Sua aplicação requer muita malícia. O golpe em causa já existia desde a Capoeira primitiva (Angola).

Fonte: SANTOS, Esdras Magalhães dos (Mestre Damião ). A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DA LUTA REGIONAL BAHIANA DO MESTRE BIMBA in http://www.capoeiradobrasil.com.br/liga_2.htm

http://2.bp.blogspot.com/_VcRetvJqu_U/SxzxrdHOGaI/AAAAAAAAGbI/kTWDuR3_Qcc/s1600-

h/bimba.bmp

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46

CapoeiraCabecada_ST_05.jpg (800 × 600 pixel, tamanho do ficheiro: 110 KB, tipo MIME: image/jpeg)

Transmitido de pai para filho, por tradição oral, a “moring” não é mais

encontrada nos ouvidos de ouvir dizer que em todas as suas sutilezas e suas

belezas, até que Jean Rene DREINAZA45 a tirou das sombras e o esquecimento

cruel. Assistida no seu trabalho pelo historiador Sudel FUMA, ele encontrou nos

escritos de viajantes e outros escritores (apenas o moring trilha, especialmente em

Madagascar) a descrição de gestos, técnicas e rituais.

45 http://www.moringue-france.com/index.html.

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47

Para SUDEL (2004)46

“El moring: una capoeira criolla - El moring, arte marcial practicado todavía en Madagascar (moraingy), Comoras (mrengué), Mayotte, La Reunión y África, llegó a las islas del Océano Índico con los esclavos africanos y malgaches. Pariente cercano de la capoeira brasileña, el moring permitió a los esclavos reestructurar sus vidas y resistir a la opresión cultural colonial. La supervivencia de este rito ancestral recuerda a diario la extraordinaria riqueza de la cultura creole de los esclavos negros de las islas del Océano Índico.” (grifo nosso)

Fonte: Javier Rubiera [[email protected]] Enviado em: sexta-feira, 4 de setembro de 2009 08:28 Para: [email protected] Assunto: [Sala de Pesquisa - Internacional FICA] Capoera,el viaje de ida y

vuelta.

1724-MARTINICA-Ladja descrito port el Padre Labat. Fuente: libro: Padre LABATt ““Nouveau vogage ause iles de l’’Amérique””, París 1742 http://unesdoc.unesco.org/images/0003/000385/038520sb.pdf

46 Artículo publicado el 20 de febrero de 2004 en el diario L’Express de Mauricio, disponível em http://portal.unesco.org/es/ev.php-URL_ID=23885&URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTION=201.html

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48

Diamanga malgache journal: 1936/01/29 (A3,N144). formato original: http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k54276490.r=diamanga.langES

http://cap-

dep.blogspot.com/search/label/1890-

BRASIL-Capoeiragem%20prohibido

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49

Metodo Amorós (Savate)

Credit: Boxing Lesson by Charles Charlemont (1862-1942), 1906 (b/w photo), French Photographer, (20th century) / Bibliotheque des Arts Decoratifs, Paris, France / Archives Charmet / The Bridgeman Art Library

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FOTO:http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/2009/05/juego-de-imagenes-mujeres.html

Esse historiador se refere, ainda, em seu artigo, aos diversos povos

envolvidos, tanto em África quanto em Madagascar:

“Despojados de su linaje, nombre y genealogía, no se les permitía agruparse y, además, no siempre podían entenderse entre sí por hablar lenguas diferentes, poseer tradiciones distintas y pertenecer a etnias muy diversas del África y Madagascar – makuas, yaos, inhambanes, makondés, betsimisarakas, sakalavas, merinas, betsileos, etc.–, así como de la India, Malasia e Indonésia [...] Entre los tesoros legados por los esclavos que forman parte del milagro creole, tenemos la cocina, la artesanía, la farmacopea, los cuentos y leyendas, y sobre todo las músicas típicas de las islas del Índico – el sega y el maloya– que no sólo perpetúan la memoria de los antepasados en las ondas de las emisoras públicas y privadas de radio, sino que además se han puesto tan de moda entre los jóvenes como el arte marcial del moring [...]En la isla Borbón (La Reunión), las distintas etnias procedentes de Inhambanne (Mozambique) se designaron con el nombre de esta región geográfica.”

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47

Comme sports de combats traditionnels, les malgaches connaissent plus le Moraingy, la boxe du nord, et le Ringa, la lutte du sud. Pratiqué par l'élite, le diamanga est en passe de se démocratiser et

espère de nombreux transfuges des autres disciplines.48

As técnicas de combate são encadeamento de mãos e pés, seguindo o ritmo

da música e surgiram nas fazendas da Ilha onde os escravos do século XVIII a

praticavam em segredo até a sua abolição em 1848. Posteriormente, a condição de

muitos pequenos colonos brancos ou mestiços já não era melhor do que a dos

negros libertos de suas correntes, o “moring” se tornou uma distração alegre da

miséria nos bairros pobres de cidades ou campos de cana-de-açúcar.

47 http://3.bp.blogspot.com/_VcRetvJqu_U/SwwhFACgp9I/AAAAAAAAGXo/K5DMEv_eNG0/s1600/img00025.jpg

48 Diamanga é herdado de nossos ancestrais como os malaios, que importou os estilos" Pencak, ber-silat, calazar e Sikaran "budistas e indianos que impuseram" Kalaripayat. A pesquisa conduzida pela "Fototra Diamanga malgaxe" não ficar lá, parte histórica e filosófica já está concluída através de um manuscrito do livro. Mesmo se uma lista de diferentes estilos de técnicas "Diamanga" também já está estabelecido língua nacional da associação, esta continuará a ser procurado exaustivamente. http://www.madatsara.com/articles/detail-article/article/le-diamanga-fera-partie-des-arts-martiaux-pratiques-a-madagascar-2/rubrique/sports/news-browse/1/

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1820-BAHÍA-Jogo da Capoeira semejante al Moringue malgache,; 1834-RUGENDAS -dibuja la Capoeira ó Moringue ?, 1940-ANTROPÓLOGO Herskovits Compara la Capoeira con Moringue

disponível em http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/2009/08/1733-carolina-del-sur-boxeador-y.html

A tradição oral relatada “moringueurs” prestigiados, relacionados com a

história da ilha. Personagens como o "Lorenzo, o Diabo", "Inferno Coco", "Henry, a

Seta", "Cadine", "Couve-Flor", o “Café Marc”, voltam muitas vezes nas narrativas de

vida.

Hoje, graças a seu trabalho pioneiro, o moring é revivido como um esporte,

cultura e espetáculo de folclore da ilha da Reunião, sob a forma de dança

coreografada e muito espetacular. Desde 1996, o Comitê Reunião foi estabelecido e

começou a oferecer cursos que tenham feito rapidamente na íntegra e escolas de

toda a Ilha. Desde então, o moring tem investido na cidade. Ao expandir os esportes

reconhecidos pelo Ministério da Juventude e Desportos estabeleceu uma estrutura

para enfrentar o futuro com serenidade uma Federação Francesa de Moring. Um de

seus principais objetivos é descobrir este desporto como muitos a localizar em

diferentes regiões da metrópole.

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El Juego “Sisemba”- Islas Célebes - Its formal name is SISEMBA but it is occasionally called SEMBA.

Fonte: http://www.ethnographiques.org/2008/IMG/pdf/arKoubi.pdf por Javier Rubiera para Sala de Prensa Internacional 49

A TÍTULO DE CONCLUSÃO

Aceitamos, para este estudo o que afirmam Adid (2009) 50 e Luiz Renato

Vieira (1998) que antropólogos, como Herskovits, têm apontado para a existência de

“danças de combate” que trazem semelhanças com aquilo que conhecemos hoje

como capoeira, não só na África - como o Muringue, em Madagascar -, como

também em vários pontos da América, nos locais em que a diáspora negra se

instalou. Relatos sobre o Mani em Cuba, e a Ladja na Martinica são dois exemplos

dessas práticas. Sobre a Ladja, Vieira mostra a impressionante semelhança com a

capoeira, verificada não somente do ponto de vista da execução de movimentos e

golpes, como, o que é mais importante, o fato de congregar aspectos lúdicos,

musicais (pratica-se ao som de atabaques) e de combate corporal.

49 Celebes (Sulawesi, em indonésio) é uma das Grandes Ilhas da Sonda, na Indonésia, situada entre Bornéu e as

Molucas. Com cerca de 16,3 milhões de habitantes e 189 216 km², divide-se em cinco províncias: Gorontalo, Celebes do Norte (Sulawesi Utara), Celebes Central (Sulawesi Tengah), Celebes do Sul (Sulawesi Selatan) e Celebes do Sudeste (Sulawesi Tenggara). As maiores cidades de Celebes são Macáçar - possessão portuguesaentre 1512 e 1665 -, na costa sudoeste, e Manado, na ponta setentrional da ilha. Os primeiros europeus a alcançar a ilha foram os portugueses, em 1525. in http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9lebes

50 ABIB, Pedro Rodolpho Jungers. CAPOEIRA ANGOLA: CULTURA POPULAR E O JOGO DOS SABERES NA RODA. Origens de uma tradição, disponível em http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/2009/04/capoeira-angola_18.html

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Marcel Mauss: “Tudo são misturas, misturam-se as almas nas coisas, misturam-se as coisas nas almas, e é assim que as pessoas e as coisas misturadas saem cada qual de suas esferas e se misturam”.

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ARCEBISPO DOM LUÍS – O SÃO-BENTUENSE LUZ E GLÓRIA DE SEU TEMPO.

ÁLVARO URUBATAN

“À beira dos campos dos peris se debruça São Bento, a vetusta cidade em que tenho a honra de ter nascido e que se ufana com sobejas razões de seu maior título de glória de haver dado berço a um dos vultos mais notáveis da “Atenas Brasileiras”, uma das mais preclaras figuras do episcopado nacional, uma das mais eloqüentes vozes que já se fizeram ouvir na tribuna sagrada de nossa Pátria; Dom Luís Raimundo da Silva Brito. ”(51 [1]).

Luís Raimundo da Silva Brito foi um dos mais notáveis sacerdotes maranhenses. Natural da então vila de São Bento dos Peris nasceu aos 24 dias do mês de agosto do ano de 1840, dia de São Bartolomeu, numa humilde vivenda, parede de taipa e coberta de palha de babaçu. Ficava na Rua Grande (Deputado José Araújo), esquina com a Travessa São José. Seu pai, o então pequeno comerciante e criador Bernardino da Silva Brito, cidadão português, nascido em Santa Marinha de Vaz Pereira, no bispado de Lamengo, Sua mãe, Amália Francisca Pires,52 [2] natural de São Bento, de família humilde e de serviços domésticos, Avô natural paterno Mariano Leonardo Pereira. Avó natural materna Amicita Benedita Lopes (Anicota). Irmãos naturais maternos Servilio Clementino da Costa Leite, Joana Generosa da Costa Leite e José Teodoro Carneiro; legítimos Mariano da Silva Brito, Odorico da Silva Brito, Angélica Benedita da Silva Brito e Maria do Rosário da Silva Brito (Brito Passos) Ressalta-se que, no ano de nascimento de Dom Luís, outro ilustre são-bentuense, o famoso professor Filipe Benicio de Oliveira Conduru, o primeiro maranhense a estudar pedagogia na França, inaugurava em São Luís, a primeira Escola Normal, da qual foi de início diretor. Dom Luís batizou-se a três de setembro de 1840. Teve por padrinhos Joaquim Mariano Alves Serrão e Luisa Joaquina da Silva Botelho, prima de seu pai. A cerimônia foi oficializada pelo mestre-escola Luís Raimundo da Costa Leite. Fez sua primeira comunhão em 1850 e crismado em 1851, apadrinhado por Joaquim Brito, esposo de sua tia Rita Brito. Este ato ocorreu por ocasião da 2ª Visita Pastoral, celebrada pelo seu ilustre amigo, mestre-escola são-bentuense, na condição de cônego, vigário-capitular do bispado, dignidade do cabido. As primeiras aulas de catecismo lhes foram ministradas em casa, pela própria genitora.

51[1] Conferência do são-bentuense Dr. Domingos Quadros Barbosa Álvares, no Colégio Santa Cecília – RJ, a cinco de setembro de 1936, ocasião em que foi colocado o retrato do nosso arcebispo. 52[2] Atestado de óbito Cartório de São Bento.

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Aos seis anos, 1846, matricularam-no na escola pública da vila, ministrada pelo coronel Manuel Rodrigues de Oliveira, professor da 1ª cadeira do sexo masculino e, irmão imediato do pedagogo e gramático Felipe Conduru. No ano seguinte foi para escola particular do senhor Joaquim da Costa Leite, parente próximo, talvez irmão do seu protetor e guia. Em busca de centro mais evoluído para ampliar seus estudos e concluir seu curso, primário, viaja a 18 de fevereiro para capital. Estuda humanidades com o padre pernambucano Francisco Pedro de Sousa, latinista famoso. Esse curso realiza no Liceu Maranhense. Com 11 anos é admitido acólito “adido” da catedral da Sé – São Luís. Dando continuidade, inscreve-se em Lógica e é aprovado plenamente1854. Nesse curso tem por colega o futuro e culto advogado, vereador e deputado provincial são-bentuense Alfredo Augusto da Costa Leite. (Eclesiástico nº 53, de 1º de dezembro de 1854). Ainda com a companhia de Alfredo Augusto, como aluno externo, matricula-se nas

aulas de Retórica, Poética e Geografia, aprovado plenamente. (Eclesiástico nº 77, de 1º de dezembro de 1856). Volta ao Seminário a dois de fevereiro de 1858, matricula-se na classe de História sagrada e eclesiástica, aprovado com distinção a cinco de novembro. Nesse ano passa ser capelão cantor numerário da Sé. Em 1860, 13 de fevereiro, inscrevem-se em Teologia dogmática, aprovado com distinção a 13 de novembro seguinte. Logo no dia 30 desse mês é sagrado subdiácono. Aos 21 anos incompletos é promovido a “mestre de cerimônia”, do ilustríssimo e reverendo cabido do Maranhão. Desejoso de acelerar sua ordenação requer:

A 9 de julho de 1861. O subdiácono Luís Raimundo da Silva Britto, tendo necessidade das certidões dos exames por ele prestada no Seminário Episcopal, os quais se acham encontrados nos autos de sua habilitação para ordens, roga a V. Revdª a graça de lhes mandar entregar, dizendo translado. Nestes Termos.12.9.1861 – O subdiácono Luís Raimundo da Silva Britto tendo em cumprimento do respeitável despacho de V. Exª prestado exame sinodal, e devendo mostrar-se habilitado por certidão de o haveis feito, vem respeitosamente rogar de V. Exª Revª graça de lhe mandar passar. 15.9.1861. O subdiácono Luís Raimundo da Silva Brito tendo sido por V. Revdª admitido à próxima ordenação vem humildemente implorar a graça de para esse fim dispensar da habilitação.Prestou exame de teologia moral- dia 5 novembro de 1861; Liturgia – 7 novembro; 11 de novembro – canto gregoriano – aprovado plenamente. Em todos. , A 28 de setembro de 1861, sagrado diácono. Novembro de 1861, mês dos grandes testes. Dia 5 aprovado em moral (o terror dos seminaristas); dia 7, vitorioso em liturgia; dia 11, em canto gregoriano, em todos plenamente.O minorista Luís de Brito desejando ardentemente ascender ao sacerdócio vem humildemente rogar a V. Exª a graça de o admitir à ordem de subdiácono, dispensando-lhe os exames de teologia moral e liturgia, bem assim tempora moribus e a idade vista não ter ainda completado os vinte e um anos, portanto. (Documento 5503, de 24.11,1861. Pasta 178. Arquivo Público.

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BOLSA DE ESTUDOS

Lei nº 624, de 27 de setembro de 1861. Francisco Primo de Sousa Alencar, presidente da Província do Maranhão: Faço saber a toldos os seus habitantes que a Assembléia Legislativa Provincial decretou e eu sancionei a lei seguinte:Art. 1º - O presidente da Província fica autorizado a mandar estudar na Europa o subdiácono Luís Raimundo da Silva Brito, o colegial interno da Província Teodoro Antônio Pereira de Castro e o jovem João Duarte Peixoto Franco de Sá, sendo os dois primeiros em Roma o curso de direito canônico e o último o curso de botânica e agricultura, onde julgar mais conveniente.Art. 2º - Os referidos estudantes terão, os dois primeiros um subsídio anual igual ao que percebia o estudante José Raimundo Cunha, e com as mesmas condições, e o último terá a quantia decretada no art. 4, da lei Provincial nº10, de 5 de maio de 1835, com ágio da moeda do País onde for estudar.Art. 3º - Ficam revogadas as disposições em contrário.

São desconhecidas as razões por que não viajou?

Por desavença entre o bispo Dom Luiz da Conceição Saraiva e mestre-escola Costa Leite, aquele com espírito de impiedosa vingança contra seu desafeto, para maltratá-lo mais ainda, atinge seu pupilo e inquilino. Para melhor juízo do leitor, este registro (sic).

“Por ato espontâneo de S. Exª Rev. Dom Luiz da Conceição Saraiva, bispo diocesano, foi lavrado a portaria de 22 de dezembro de 1863, cassando a suspensão de Ordens, etc. que a menores fora dada ao Sr. Diácono Luís Raimundo da Silva Brito.

ORDENAÇÃO

Aprovado em todas as matérias, apresenta sua dissertação cumprido o prazo estabelecido de teste vocacional, requer a data de sua ordenação. Seu grande dia – 19 de junho de 1864. A igreja recebe um novo soldado de Cristo, sacerdote do hábito de São Pedro, como em seu tempo designavam os padres diocesanos. – esse soldado de Cristo. A futura honra da Religião Católica. Era sacerdote do hábito de São Pedro, como em seu tempo designavam os padres diocesanos. Entrou no seminário aos 12 anos, concluindo o curso de humanidades no Liceu do Maranhão.

VISITA SÃO BENTO

O dia maior ocorreria em São Bento, no seio de seus familiares, amigos e conterrâneosDe volta à terra de nascença, todo laureado e feliz, prepara-se para o indelével marco –, a celebração de sua primeira missa, mais um ato marcante e comum na vida do catolicismo do município. Canta a 24 de julho de 1864. O paroquiato que acabara de assistir a 1ª missa nova de outro sacerdote são-bentuense, padre Carneiro, realizada cinco de junho anterior. Os fiéisvoltam a lotar a igreja matriz, desta vez para ovacionar o padre Brito que chega precedido de todos os louvores. Imensa a concorrência do povo, os festejos da casa dos pais. Amigos e parentes vêm de distantes rincões. A multidão se comprime para ouvir o sermão do neófito celebrante. Do púlpito o novo soldado de Cristo, sob olhares absortos do pároco padre Zaqueu e da vista maravilhada do cônego Costa Leite, encanta o público, no discorrer do Evangelho,

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na concessão das bênçãos do Pai, com a bela e eloqüente voz que deleitou o mundo por onde pregou. . À noite, no jantar, afluem os convidados. Dos visitantes são-luisenses o deputadoAmérico Vespúcio Novais de Cascais, um dos integrantes da comitiva, discurso e declama. O juiz Dr. Benedito de Barros e Vasconcelos usa da palavra; outros oram. Ansiosos, todos já satisfeitos com a bonita homilia querem deleitar com a falação afável. Ele dominado pela notória comoção apenas agradece, sobretudo, a gratidão ao seu padrinho e amigo cônego Costa Leite. Permaneceu em São Bento até partir para a paróquia de São Luís Gonzaga, no Alto Mearim, em substituição ao titular. Ao retornar para não ficar inativo, inicia outra brilhante atividade – a de Educador. Funda em março de 1866 sua primeira e escola, chamada Imaculada Conceição que administra até ser nomeado vigário-encomendado de Rosário do Itapecuru, fato ocorrido pela lei de 26 de abril de 1869, época que o padre José Dias de Oliveira Falcão respondia pela vigarice de São Bento. Este sacerdote foi quem o substitui em Rosário. Em sua escola, durante um triênio, foram prestados 65 exames; 18 de Português do 1º grau, 11 de Francês, 7 de Inglês, 4 de Latim e 6 de Geografia. Teve 93 alunos, dos quais mais de 20 em regime de internato. De seus discípulos, destacaram-se o seu afilhado vimarense, o estadista Dr. Urbano Santos da Costa Araújo (depois juiz municipal da comarca, governador do Estado, senador da República, ministro de Estado e duas vezes, vice-presidente da República, com exercício na Presidência; o cônego Osório Ataíde da Cruz, vigário da capital federal e deputado provincial pelo Maranhão; o Dr. Manuel Ferreira da Mota, deputado provincial e renomado advogado e jornalista são-bentuense; professor Opilio Justino Lobato, mestre de brilhantes jovens que dignificaram a abençoada terrinha. Quando do funcionamento de sua escolar, requer:

O padre Luís Raimundo da Silva Brito tendo estabelecido um colégio com internato na Vila de São Bento, e desejando dar a seus alunos a melhor educação religiosa possível, requer a V. Exª. a graça de na casa onde funciona o seu colégio ter oratório e nele poder celebrar missas quotidianas.Nestes Termos.P. a V. Ex.ª Revma. e Sr.Bispo Diocesano lhe defira como requer. E. R. M.ce. São Bento, 14 de dezembro de 1866.Padre Luís Raimundo da Silva Brito. Ano de nascimento do Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e

sessenta e sete. Aos vinte e quatro dias do mês de janeiro do Dio ano, nesta cidade de São Luís do Maranhão e Câmara Episcopal autuei e preparei na forma do estilo em virtude do despacho do Ver. Senhor Bispo Diocesano, numa petição do requerente acima mencionado, que é a seguinte: do que para constar foi este termo, eu cônego magistral Manuel Tavares da Silva, secretário do Bispado e escrivão da Câmara Episcopal, o escrevi. Exmº e Ver. Senhor. Despacho: de somente poder gozar da graça depois que o número dos alunos internos chegarem a doze. Paço Episcopal do Maranhão, 24 de janeiro de 1867. B. Maranhão.

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Com sua ida para Rosário, assumiu a direção da escola a 7 de janeiro de 1869, o senhor Antônio Rodrigues de Melo, auxiliado por Satiro Farias Filho, Funcionou até junho de 1870, com o nome de Colégio de Sr. Melo. . .

VEREADOR

Sem pendores políticos, foi eleito em 1868, no lugar de seu irmão, o professor Mariano da Silva Brito, a vereador da Câmara Municipal de São Bento. Obteve 372 votos, a segunda votação. O primeiro lugar coube ao tenente Guilherme Luís de Araújo e Souza, chefe político abastado (avô do desembargador Sarney de Araújo Costa), deputado provincial, presidente da Câmara nessa e noutras legislaturas. Dentre seus pleitos, receber das mãos do presidente Guilherme, a 15 de outubro de 1868, por aprovação do presidente da Província a quantia de 343$4réis para cavação e limpeza do Lago do Capim. Construiu com a ajuda departiculares e a 26 de fevereiro de 1869, presta contas do auxílio angariado e devolva à Câmara, intacta, toda a quantia recebida de 343$400réis. Acreditem, era assim antigamente. .

VIGÁRIO DE ROSÁRIO

Transferido para a vila do Rosário em maio de 1869, lá desenvolve benéfico trabalho na área religiosa e educacional. Assenta a pedra fundamental para construção da capela em São Simão, em homenagem a Nossa Senhora da Conceição, santa de sua devoção. A 8 de dezembro preside a 1ª comunhão, sendo aprovados plenamente com distinção nessa solenidade cristã, dois futuros chefes de Estado: dr. Benedito Pereira Leite e Urbano Santos que o acompanha desde São Bento. Pouco tempo permanece nessa paróquia. A 7 de janeiro de 1870 é promovido vice-reitor do Seminário de Nossa Senhora das Mercês – São Luís com a missão de ensinar Latim e Direito Canônico.

VIGÁRIO DE CAXIAS

Conforme documento abaixo é nomeado por decreto imperial, canonicamenteinstituído vigário colado de Caxias, igreja de São Benedito e permanece até1877, Padre Brito se apresentou na freguesia de S. Benedito de Caxias, por decreto de 4 de dezembro de 1870, como mostra a carta imperial. Roga a E. Exª Redª marcar o dia e lugar para colação. (Doc. 5266, de 18.2.1871, Pasta 171. Arquivo Público).

Dom Pedro por graça de Deus e unânime aclamação dos povos, imperador constitucional e defensor perpétuo do Brasil. Faço saber a vós, reverendo bispo da Diocese do Maranhão que, conformando-lhe com a vossa proposta houve por em pelo meu imperial decreto de quatro de dezembro do ano passado, apresentar o padre Luís Raimundo da Silva Britto na igreja paroquial de S. Benedito de Caxias, dessa diocese e Província. Como, com efeito, o apresento e hei por apresentado, com a cláusula de que se poderá dividir esta igreja quando se julgar necessário. E vos encomendo que nela o confirmeis e lhe passeis vossas letras de confirmação na forma costumada em que se fará expressa menção de como confirmastes por esta minha apresentação e com a mesma igreja haverá o mantimento e mais emolumentos e proés e percalços que legitimamente lhe pertencer. Dado em Palácio do Rio de Janeiro, em 28 de janeiro de 1871.

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A sete de março de 1871, em São Luís assinou o termo de direito, pelo qual se obrigava a não fazer oposição alguma à divisão da freguesia de São Benedito de Caxias quando por ventura o governo imperial julgasse necessário. Foi colado pelo termo de 9 de março de 1871, às 12 horas na cidade de São Luís, na capela do Paço Episcopal, perante o bispo diocesano Dom Frei. Luís da Conceição Saraiva. Em Caxias reconstrói a igreja matriz, funda em 1875 o jornal “A CRUZ”, no qualescreve importantes artigos considerados notáveis e convincentes, quando defende com inexcedível brilho os bispos Dom Vital e Dom Macedo, na célebre questão religiosa contra a Maçonaria, luta que agitou o país.

DEPUTADO PROVINCIAL

Conhecido pelos seus dotes oratórios, inteligência ofuscante e prestígio é convocado pelo Partido Liberal, ala dissidente maísta, para concorrer à Assembléia Legislativa Provincial. Eleito para o biênio 1876/77, com a missão de enfrentar o famoso e competente deputado Dr. Augusto Olimpio Gomes de Castro, considerado em seu tempo, ao lado de Rui Barbosa, Joaquim Nabuco um dos dez melhores oradores parlamentares do Senado Imperial. Essa eleição lhe foi muito útil. Precisava da tribuna para esclarecer o episódio de que fora impiedosamente vítima, perseguido pelo presidente da Província, o então deputado Gomes de Castro.

“Eis o fato: havia em Caxias uma firma exportadora de algodão, cuja marca era uma cruz (+) feita com zarcão vermelho. Casualmente esse sinal manchava o peito dos trabalhadores que operavam no transporte da sacaria. Foi o suficiente para a ignóbil campanha com o fito de implicar o pobre padre. Para desforro dos artigos dos jornais “A CRUZ”, denunciou seus adversários políticos ao presidente da Província, sobre uma revolução que iria eclodir em Caxias, conspirada pelo chefe sublevador, o padre Brito. Alegavam que foram vistos chegando à cidade, homens com a marca da CRUZ, símbolo dos revolucionários.

No intuito de satisfazer seus correligionários, mandou o Sr. presidente da Província

todo a ala direita do 5º batalhão, com armas insuficientes, num vagaroso vapor sufocar a falsa revolução, adrede e politicamente preparada. Para esclarecer a verdade, anuncia sua fala para a sessão de 14 de julho de 1876, para que o deputado Gomes de Castro pudesse assistir a ela. Foi uma das mais memoráveis da Assembléia Legislativa Provincial, ainda hoje comentada na história do parlamento estadual.

O deputado padre Brito ainda sem experiência política, assomou e assombrou da tribuna, destruiu com irrefutáveis argumentos e provas uma por uma as acusações e denúncias. Salienta-se que, naquela época o nosso conterrâneo apenas engatilhava na arte da oratória. Imaginem o bispo orador?! . Foi um debate entre dois expoentes da inteligência maranhense. Dois eminentes vultos que ilustram segundo ciclo dos plutarcos da “Atenas Brasileiras”. Na Assembléia, seus votos e pronunciamentos foram dignos, motivados pela razão, inspirados na verdade, com isenções demagógicas e passionais. Exemplos: sessão de 11 de julho de 1876, o deputado Leger Lobão apresenta projeto com solicitação de verba para construção da igreja de Coroatá. Em brilhante discurso de aparte, desmonta as justificativas ao alegar que, como sacerdote deveria ser o primeiro a defender a idéia, no entanto, como ocorreu em várias vilas (inclusive São Bento foi mencionada) as igrejas devem ser iniciadas com recursos particulares, pois elas se aproveitam da fonte primária da educação -, a Religião,

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e auferirão as grandes vantagens do curso. O projeto foi rejeitado com o seu voto e do padre Lusitano. Quando da votação do orçamento, posiciona-se contra uma verba destinada a São Bento para determinado fim, pois considerou a importância elevada e excessiva para obra, aprovada por valor menor. Que se irritem os ANÔES gatunos das verbas do orçamento da nossa terra. (1994) Lutou bravamente pela criação das Caixas Econômicas e Montes de Socorro, úteis as classes mais desprotegidas. Foi defensor dessa idéia – provavelmente debalde luta. Por ensejo da discussão do projeto que aumentava a taxação de escravos de qualquer idade, situa-se radicalmente contra, O raciocínio apresentado foi comovente do lado humano, incontestável, economicamente. Na Assembléia foi membro da Comissão de Petições. Por encontrar-se na Corte, pede licença com data de 26 de outubro de 1876. Retorna ao Rio a 7 de maio de 1877, no vapor “Maranhão”, com a missão de assumir a vice-reitoria do Colégio Imperial Pedro II, nomeado pela Princesa Isabel, pela portaria de 4 de julho. Três dias depois a Redentora o nomeia interinamente para exercer o lugar de lente substituto da cadeira de Religião e História Sagrada do dito colégio. Pela sua atuação no Parlamento estadual, ressalte-se, cumpriu apenas a metade do mandato, na primeira sessão. O ilustre historiador Milson de Sousa Coutinho, em seu livro “O Poder Legislativo do Maranhão, o inclui entre os vultos notáveis da Assembléia, século passado – XIX.

NA CORTE

Não sabemos quais os motivos de sua convocação à Corte, onde tão célere galga seguidamente, elevada funções. Já situado Rio de Janeiro, lotado no Colégio Pedro II, a portaria do Governo Imperial, datada de 14 de julho, dispensa a residência do seu benefício paroquial de São Benedito de Caxias desta Província e Diocese, enquanto exercer os cargos interinos recentemente nomeados. No ano seguinte, 1878 é nomeado cônego da Capela Imperial e passa a integrar a Colegiada da Capela Imperial do Brasil. A 17 de dezembro (1878) escolhido para fazer o elogio fúnebre do grande D. Fr. Vital de Oliveira profere na presença das maiores autoridades do clero brasileiro. Esteve acima de qualquer elogio, tão grande a impressão deixada que o levasse a falar em 19 circunstâncias, em diversas igrejas. Por nomeação de 3 de abril de 1879 torna-se reitor do Externato do Colégio Imperial, o que ocasiona solicitar demissão da vice-reitoria. Recebe em 1881, duas importantes e distintas nomeações. A primeira depropagandista e orientador em todo país da obra de Expiação e Perpétua Adoração do Santíssimo Sacramento. Visita várias paróquias do Brasil. Como grande e ótimo barítono, sempre escolhido para entoar o “Te Deum”; a segunda, o Santo Padre Leão XIII, designa teólogo consultor da Internunciatura Apostólica de nossa pátria, depois enaltecido com as prerrogativas de toda confiança, qual, a de confessor e diretor espiritual da Sereníssima Princesa Imperial D. Isabel de Orleans e Bragança.

VIGÁRIO DE NITERÓI

No decorrer 1882 assume a vigarice de São João Batista, em Niterói, onde há uma sala com seu retrato, inaugurado nas festividades de seu centenário de nascimento. Permanece

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nesse cargo até dezembro de 1883, quando é nomeado vigário geral do Bispado do Rio de Janeiro e exerce até 1890. Por portaria de 6 de abril de 1884, passa ser capelão do Ministério da Guerra e do Imperial Colégio Militar, professor da Escola Normal e do Colégio Militar. Ministra aos acadêmicos da Escola Politécnica, um curso superior de Apologética. Sempre envolvido com sua vocação educacional, funda a 9 de setembro de 1884, na Ladeira da Misericórdia, nº l, a Escola Mista de Instrução Primária de ensino gratuito, destinada à infância desvalida de ambos os sexos, aos pobres que habitavam no Morro do Castelo, a qual denominou Escola da Natividade de Nossa Senhora. Nesse ano de 1884 o Papa Leão XIII, volta a premiá-lo, nesse ensejo concede-lhe o título de Monsenhor Protonotário Apostólico ad Instar Participantum. É com o titulo de monsenhor Brito que se torna mais conhecido no Rio de Janeiro e desfruta de todo conceito. Em 1885 é nomeado titular das cadeiras que lecionava interinamente no Colégio Pedro II. Para sua tristeza, em 1887 recebe pesarosamente a triste notícia do falecimento seu pai, em São Bento. A 3 de maio de 1889 passa ser o capelão do Exército. No ano seguinte, 11 de março eleito delegado Nacional do Brasil, da solenidade de Jesus Cristo Redentor e faz Parte da Comissão Internacional.

BISPO de OLINDA Nomeado bispo de Olinda em 15 ou 18 de fevereiro de 1901. Sua sagração aconteceu a 5 de maio de 1904, na Catedral do Rio de Janeiro, por Dom Joaquim Arcoverde, então Arcebispo do Rio e onde o padre Luiz era cônego. Segue para Pernambuco, chega a Recife em 30 de maio. Recebido festivamente pelas autoridades e pelo povo. Há dados que ele fora escolhido a 29 de dezembro de 1900.

Sua posse como bispo de Olinda Sua posse ocorreu em 2 de junho de 1901, na Igreja da Sé de Olinda. Nessa solenidade estava presente o Arcebispo Primaz do Brasil D. Jerônimo Tomé de Souza. O tradicional Te-Deum foi cantado na Matiz do Corpo Santo - que ainda existia - em Recife, sendo o novo bispo saudado pelo Mons. José de Oliveira Lopes, reitor do Seminário de Olinda. Após haver tomado posse, no mesmo ano vai à Europa para participar da reunião dos bispos sul-americanos, Poliglota, falava corretamente inglês, francês, prega em Roma de improviso em latim e italiano. Em sua diocese funda o Círculo Católico e prestigia a fundação de o jornal “A Tribuna Religiosa”, depois denominada “A Tribuna”. A fundação do Jornal Tribuna Religiosa (A Tribuna); A elevação de Nossa Senhora do Carmo à Excelsa Padroeira do Recife;A construção do monumento à Nossa Senhora da Conceição do Morro, no subúrbio Recifense e incentivo às peregrinações anuais; Reorganização e criação de diversas Paróquias, saindo do centro para as periferias.

Incansável no governo do Bispado reorganiza paróquias, ampliando a de Olinda. Eleito na Bahia presidente da Comissão da Capital Federal no Congresso Católico maravilha os baianos, no discurso que termina na eloqüente apoteose a Bahia. (Bem afirmou nosso conterrâneo, jornalista e poeta Barnabé de Campos que se eles tinham Rui Barbosa, nós, Dom Luis. Tão grande sua fama de orador que a colônia portuguesa fretou um navio para que ele fosse celebrar no Rio de Janeiro, missa de réquiem alusiva à memória o Rei Dom Carlos e seu

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filho, mortos em 1908, em atentado do “Terreiro do Paço”. Fez doação da importância recebida.

ARCEBISPO – Foi em seu governo que, pelo Decreto da Sagrada Congregação Consistorial, Bula “Cum urbs Recife”, do Papa Bento XV, sua diocese a 5 de dezembro de 1910 foi elevada a arquidiocese e sede metropolitana É preconizado o 1º arcebispo de Olinda. A verifica-se a imposição do pallium a 16 ou 18 de março de 1912. Sob as gestões de Dantas Barreto (governador) e Eudoro Correia (prefeito), em 1912, foi demolida a Capela da Conceição dos Canoeiros, construída em 1851. Em 1913, foi demolido o Arco da Conceição, inaugurado em 1740, e a Matriz do Corpo Santo, edificada no século XVI, no local da Ermida de Santelmo, uma das mais antigas edificações do Recife, para dar lugar à ampliação do cais e modernização do atual bairro do Recife, fatos que deixaram consternados muitos fiéis. Não se tem notícias quais foram às compensações materiais obtidas pela diocese por essas desapropriações, mas o fato abriu precedentes para demolições de edifícios religiosos à posteriori. Como arcebispo cria 8 freguesias, ordena 67 sacerdotes e sagra vários bispos, dos quais D. Augusto Álvaro da Silva, posteriormente primaz do Brasil. Funda uma Escola, reconstrói a velha catedral da arquidiocese e um convento construído no começo de 1600. Nele há uma placa registrando o fato e o seu nome. Na restauração da catedral gastou quase a totalidade de seus bens pessoais. Foi presidente perpétuo do Instituto Histórico e Geográfico e Arqueológico de Pernambuco. Ao longo do seu bispado e episcopado (1901-1915), Dom Luiz Brito desenvolveu uma atividade pastoral que o levou a visitar toda a diocese, que então compreendia todo o Estado de Pernambuco, com jurisdição ainda sobre Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. De suas visitas pastorais veio como conseqüência a elevação de Olinda à condição de Arquidiocese, sendo o seu primeiro arcebispo, e o planejamento da reestruturação da Província eclesiástica de Pernambuco, com o desmembramento de paróquias que vieram a se tornar dioceses posteriormente, casos de Petrolina, Garanhuns, Nazaré da Mata e Floresta. A Diocese de Floresta, no Sertão do São Francisco, posteriormente teve sua sede transferida para Pesqueira.1913 A atuação de D. Luiz Brito estava em consonância com as orientações da Igreja durante a República Velha, na qual o papel da hierarquia se ateve a implantar instituições que ancorassem a sua inserção sociopolítica" in Entre o Tibre e o Capibaribe.

VISITA SÃO BENTO

A 8 de setembro de 1912, retorna a terra Natal para reaver irmãos, sobrinhos, familiares e amigos e abençoar o casamento de seu sobrinho, afilhado e herdeiro universal, o célebre são-bentuense Dr. Luís Raimundo Brito Passos, engenheiro responsável pelas mais importantes obras da capital São Luís, no início do século XX. Dele é um perfeito trabalho sobre levantamento de águas de São Luis, um trabalho técnico sobre a Vala Conduru e dos nossos campos. A chegada a São Bento foi apoteótica a receptividade prestada pelos seus conterrâneos. Segundo o memorialista e respeitado historiador oral da cidade, Joaquim Silvestre Trinta, confirmado pela senhora Esmeralda Brito Ribeiro, sua sobrinha, a nota desagradável foi o desaparecimento de seu chapéu de sol, cabo de ouro. Quando dessa estada, ouviu de dona Rita Conduru que ao visitar-lhe disse que seufilho queria ser padre. Colocou-o ao colo, botou o crucifixo ao peito e disse: esse menino será um bispo. E foi o famoso Dom Felipe Conduru Pacheco. Tempos depois, em reunião

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episcopal em São Luís, ao saber da presença de um são-bentuense no Seminário, afirmou:padre de São Bento só depois que eu morrer. Quase acerta- perdeu por 18 dias.

HINO. Solo. Já de Atenas a Musa desfira Grato canto com viva emoção A pulsar ledas cordas da lira, Lira eterna do seu coração Cante a aurora que surge ligeira, Vibrem raios fulgido sol, Doce brisa perpasse fagueira Na saudade do meigo arrebol.

Coro. Maranhão que as estrelas ascendes, De Deus sois ao constante brilhar, No fulgor do teu filho ora esplendes De luz que te vem exaltar!

Como arcebispo ainda retorna a São Luís, visita no Palácio dos Leões o |Governador Benedito Leite, seu aluno de catequese em Rosário, vai a fazenda do cunhado em Cajapió visitar a sua irmã Maria do Rosário Brito Passos e não chega a São Bento. Falece a 9 de dezembro de 1915 e seu corpo sepultado na Catedral de Olinda a 9 de dezembro. Todas as homenagens lhes foram prestadas me Pernambuco, vindas de várias partes do Brasil.

HOMENAGENS - Centenário de nascimento.

Rio de Janeiro – Diversas missas na matriz de Copacabana, Internato de São José, na Cruz dos Militares e Igreja de São Pedro. Solene Pontifical na igreja de São Francisco de Paula, oficiada pelo bispo de Niterói, com assistência do Exmº Sr. Cardeal. Na igreja de São Pedro da qual foi esforçado provedor, inauguração da placa comemorativa. No Liceu Português, sessão festiva, com discurso do orador dr. Domingos Barbosa. Na Casa dos Pobres, por ele fundada, sessão solene com inauguração do busto e placa comemorativa. Colégio Pedro II – sessão solene com a presença do Exmº Sr. DoutorMinistro da Educação.

Olinda – Uma vasta programação extensiva as outras regiões do Estado em que o arcebispo foi um grande líder, a ponto de um deputado afirmar que Dom Luís era tão querido e ser capaz de levar o povo a uma revolução.

Em São Luís. Na direção de Dom Felipe Conduru, promotor das solenidades, houve vários eventos. Sessão solene no Teatro Artur de Azevedo, com discursos de representantes de segmentos religiosos, políticos, administrativos. Uma edição quase especial de o jornal “O Maranhão”, com artigos de renomados homens do mundo cultural.

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Em São Bento – Festa na Prefeitura, missas celebradas pelo vigário padre Renê de Carvalho. O presidente da Comissão Organizadora, prefeito municipal José Maria Bragança Júnior lançou a idéia de um busto de bronze. A lista foi subscrita?

Falando de busto, em 1935, via artigo de antigo jornal da cidade, o “Legionário”, o Dr. Domingos Barbosa, lá do Rio de Janeiro, antecipou a proposta que fosse erguido um busto em homenagem ao arcebispo. Dom Felipe ao tomar conhecimento dessa sugestão, aconselhou em carta ao vigário a troca do busto por uma bolsa que, com os juros desta, fosse mantido um menino pobre no Seminário. A bolsa foi instituída com a denominação Bolsa Dom Luís, e em fevereiro de 1937, apresentava um saldo de CR$1.635,30.

HOMENAGENS POSTERIORES

Das prestadas em São Bento, apenas o Centro de Ensino do 2º Grau ostenta seu nome, graças à lembrança do ex-magnífico reitor da UFMA, Professor Jerônimo Pinheiro que o instituiu quando Secretário de Educação do Maranhão. Lamentável é que imensa maioria de seus alunos desconhecem os méritos do seu patrono.

Anteriormente a antiga Praça da Baixinha, denominada Praça do Açougue, por decisão dos camaristas recebeu o justo nome de Praça Dom Luís de Brito. Quando de sua reforma, final da década de 1960 passou, Injustificável e lamentavelmente a denominar-se Evandro Sarney, outro ilustre são-bentuense, merecedor de mais outras homenagens, desde que não sacrificasse um preito tão antigo e bastante merecido. Em 1934 o padre Osmar Palhano de Jesus fundou o Grêmio Dom Luís, certamente com o objetivo de substituir a Sociedade Literária Dom Luís, ativa em 1916, que tinha por forte meta a circulação de um jornal.

A partir de 1955, um grupo de jovens são-bentuenses, estudantes em São Luís, capitaneados por José Murilo Soares Dias, Luís Bittencourt, Ibraim Almeida, Sebastião Jorge, Raimundo Nonato Serra Padilha, Helson Brenha, Maria Nazaré Rodrigues, Terezinha Campos, Luís Gonzaga Aragão, José Anselmo Rodrigues, João Muniz Pereira, Álvaro Melo, Tomásia Reis Soares e outros fundaram o Grêmio Estudantil Dom Luís de Brito, com fins sociais, culturais, literários e esportivos. Por desavenças na escolha da diretoria, não passou do dia da posse, por sinal festiva com a exibição de uma peça teatral, no palco do Circo Teatro Reno que no final desabou.

Até pelos idos de 1900, nosso município era amplamente conhecido como “Terra de Dom Luís”. A Família Brito sempre teve fortes pendores para a pregação do Cristianismo, destacando-se os são-bentuenses padre Mariano Faria de Brito (sobrinho), o teólogo José S. Brito (falecido em Recife) e o teólogo e consagrado Pastor, professor José Brito Barros.

Quando da reconstrução da igreja de Sr, São Bento, pelo cônego Barros, Dom Luís colaborou com, a doação de um rico véu de ombro bordado em ouro, queimado por ocasião do incêndio ocorrido no altar-mor, na noite de 25 de junho de 1927.

Com devida vênia e profunda crença aos puros sentimentos das classes representativas, reiteramos aos senhores camaristas a sugestão de colocarem no recinto do auditório um retrato dele com uma placa alusiva lembrando a passagem de seu mais ilustre camarista que tanto honrou esse poder; outra no muro da casa Paroquial, com menção semelhante: aqui, a 24 de agosto de 1840, nasceu Dom Luis de Brito, 1º arcebispo de Olinda, uma das maiores glórias da igreja brasileira, o melhor orador sacro de seu tempo, luz do clero brasileiro, Reitor do Colégio Imperial Pedro II, Confessor e Conselheiro da Princesa Dona Isabel de Orleans e Bragança.

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O POETA

Dom Luís de Brito, ainda seminarista, distante da terra em que nascera, inspirou-se nos habitantes dos campos de sua infância e compôs este poema bucólico, cheio de força telúrica, ora em versos singelos, com rimas mistas, ora fracas ora fortes, redondilhas menores e nos versos maiores, em perfeitos hendecassílabos, em estilo romântico.

POESIA À MINHA TERRA.53 [3]

Qual jóia mimosa em virgíneo colo,Assim minha terra em seu virente solo.Brilhante, esplendente, se encontra engastada,Na imensa campina que a tem circundada.

A hora em que surge o claro arrebolLevantam altivos, aos raios do sol,Farfalhantes palmas coqueiros anosos,Cingindo-lhe a fronte de ramos virosos.

Deitada em um manto de tons amarelos,Bafeja-me a brisa em face louçã,Qual linda donzela de louros cabelos,Gozando a delícia da fresca manhã.

Soberbos outeiros, que a cercam de longe,Parecem gigantes que, sem descansar,Defendem essa filha, formosa inocente,Nos campos sozinha, constante a reinar.

Lavando-lhe os pés, Seus campos imensosSuaves aromasDe si exalando, Parecem espelhos Luzido, brilhante,Que o rosto formosoLhe está requestando.

No tempo do invernoO verde arrozal,Taboa, folhal,Também mururu Lhes formam uma c’oroaOrnada de flores, Composta ao demais, De Capim - Açu,

53[3] O Antístite D. Luís de Brito, de Álvaro Melo, páginas 23 a 26. Ed. 1994

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Debaixo das águas, nos lagos profundos,Lá dançam, mil peixes, lá folgam assim.Parece que vivem contentes saltando,Saltando nos lagos, volvendo o capim.

O negro cascudo, o luzidio jejuDas águas na lama seu ninho formado,Da prole fecunda esses campos enchendo,Ostentam seu brilho nas águas nadando.

O gordo anojado, o gostoso acará,Em densos cardumes os campos bordando,A piaba mimosa, com curimatá,De escamas a prata, alta luz ofuscando.

Traíras ferozes, daninhas, também Piranhas malvadas, piau saltador,A gran pirapema, soberba, briosa, São doces encantos do bom pescador.

De mil avezinhasO canto constante,Trinando sonora,Tocante canção,Parece uma liraInstante, vibrandoAs mais doces cordas Do seu coração.

Azul jaçanã,Cinzento socóEntoam seu cantoNo verde arrozal.Marreca formosaO negro carãoAlegram dos camposO denso juncal.

Os gansos mui nobres, As garças mimosasMil voltas nos aresSerenas rodando,Matizam os campos,Suas asas distendem,A vista dos homensAs flores roubando.

Per’longo tristonho,De corpo sem graça,Cabeça sem pelo,

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Pescando jejú,De todo alvacentoE bico de palmo,Passeia garbosoO bom tetejú.

Esbelto, soberbo,Sempre a passear,De peninhas brancasE pardo mantéu,Com seu penachinho Bem negro, bem fino,Soltando o seu gritoCaminha o tetéu.

Formando colunas,De destros soldados,Graúnas mimosasNos ares chilrando,Xexéus, pintassilgos,Guarás encarnadosConfundem seus cantosNos ares pairando.

Piaçoca mimosa,De cores diversas,O peito pintandoDe negro luzente, Amarelas asasE costa vermelha, Carmesim cabeçaQual c’roa ora assente,

Na verde campina,Seus tenros filhinhos,Contente, guiandoPor esse jardim,Cuidosa ou escondeDa vista inimigaDa forte rapinaNo denso capim.

Diversas manadas de gado brincando,Nas verdes pastagens alegres correndo,Rinchando o corcel, o forte touro urrando,A vaca amorosa seu filho lambendo.

O vivo novilho na terra escavandoE o tenro vitelo nos ares saltando,Confundem seus brincos com as aves e os peixes

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Dos campos imensos a vida exaltando.

Mil casas de palha nas margens mimosasDo campo que encerra riquezas sem par:Dos f’lizes vaqueiros moradas saudosas,Onde eles só sabem, ditosos amar.

Tal é minha terra – Rainha dos Campos –Deitada sozinha enlevada a cismar,A Deus nos parece que, em sua beleza,Te mesmo o ateu vem adorar.

Quisera, São Bento, em ti só eu viver!Quisera a ti mesmo minh’alma render!Quisera que a sorte – inimiga dos homens –Pra longe de ti me não fosse prender!

Dos campos divertem-se, cantam, passeiamDitosas famílias de aves mui diversas,Qual d’elas mais bela, mais rara, mais nobre,Folgando nos ares, das águas imersas.

REFERÊNCIAS Artur de Azevedo. Monsenhor Brito. Luís Raimundo da Silva Brito nasceu em 24 de agosto de 1840, na vila de São Bento dos Peris, na província hoje Estado do Maranhão. É filho legítimo de Bernardino da Silva Brito e dona Amália da Silva Brito. Terminou em 1861 o seu curso de Teologia no Seminário de Santo Antônio, que ainda existe na capital daquele Estado, mas, não tendo idade para concluir a ordenação, só em 1864 foi ordenado pelo bispo D. Frei Luis da Conceição Saraiva, de saudosa memória. Logo depois de ordenado voltou para a vila em que nascera, e ali fundou um colégio. Em 1868 foi nomeado vigário da freguesia de N. S. do Rosário; em 1870 reitor do Seminário de N. S. das Mercês, e em seguida professor da primeira cadeira de latim do mesmo seminário e lente de direito canônico no de Santo Antônio. No seguinte foi vigário colado da freguesia de S. Benedito de Caxias. Em 1875 elegeram-no deputado à Assembléia Provincial do Maranhão. Em maio de 1877 veio para o Rio de Janeiro por ter sido no mês anterior nomeado vice-reitor do Internato Pedro II. Aqui chegado, foi logo admitido a pregar na Capela Imperial, e em 1878, nomeado cônego honorário da mesma capela. Em 1880 pediu exoneração do cargo de vice-reitor. Em 1882 foi nomeado vigário de Niterói, e no ano seguinte vigário geral do Bispado do Rio de Janeiro. Em 1884 Leão XIII concedeu-lhe o título de Monsenhor Protonotário Apostólico ad Instar Participantium. Por esse tempo fundou no morro do Castelo o colégio da Natividade, onde muitas criancinhas pobres encontraram educação e asilo.

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Em 1885 foi nomeado professor de religião da Escola Normal, em 1888 reitor do Externato Pedro II, e nesse mesmo ano professor de religião do Colégio Militar, caro que deixou em virtude da separação da Igreja e do Estado. Em 1891 foi aposentado do cargo de reitor do Externato, já nesse tempo transformado pela República em Ginásio Nacional. “Não! – este ligeiro artigo poderá, quando muito, salientar o orador sagrado que todos admiram em monsenhor Brito, a apreciá-lo mais detidamente por esse especial talento, que lhe tem valido a grande popularidade que o seu nome goza. O ilustre pregador é herdeiro legítimo de Montalverne. Os seus sermões são artísticos; primam pela forma gramatical, e ao mesmo tempo pela elevação da idéia e sobriedade da frase. A sua palavra é correta, para que os letrados a admirem, e singela, para que o povo a entenda. A sua voz é sonora, fluente, vibrante e untuosa: derrama-se pela igreja como o incenso, languida e penetrante. Parece sair não de uma boca, mas de um turíbulo. Ouvindo-o, não há livre pensador que não se sinta um momento arrebatado para a idéia de Deus e dos santos. Os devotos, esses, quando o ouvem, mergulham-se ainda mais no lago profundo e sereno das suas crenças. Monsenhor Brito é o mais completo dos oradores sagrados. Na sociedade é um cavalheiro estimadíssimo, o verdadeiro tipo do padre moderno, virtuoso e austero, mas despido de toa hipocrisia, um salvado de almas que não impõe a fé religiosa aos espíritos rebeldes, nem traz, escondido na sotaina, um alfange de maometano disfarçado em cruz. Por esse rápido e fugitivo esboço biográfico, ou antes, simples e desguarnecida série de datas, podem ser avaliados os méritos do preclaro cidadão cujo retrato vem hoje honrar a galeria do Álbum. Na carreira eclesiástica as honras e as dignidades conquistam-se com mais esforço que noutra qualquer; o padre que aos 52 anos tem passado honroso de monsenhor Brito, não precisa de outro documento para que vale muito. Não cabe nos limites desta folha acompanhar o simpático sacerdote nas rudes batalhas que o feriu em defesa da fé; nos triunfos alcançados no púlpito, na tribuna parlamentar e na imprensa; nas suas glórias de sábio educador que foi austero e paternal; nos inúmeros atos de caridade, praticados na sombra mas divulgados pela indiscreta gratidão dos pobres.... Muitos se admiram de monsenhor Brito que tanto honra o clero brasileiro, não ser ainda bispo efetivo, tendo-o sido tantas vezes interino. Sê-lo-á em breve e ... Quem sabe?Um dia, se Deus lhe conserva a vida, receberá de Rosa o chapéu cardinalício. Publicado em “O Álbum”, ano 1, (1893) nº 7, órgão dirigido pelo maranhense Artur

Nabatino Gonçalves de Azevedo, autor deste artigo em homenagem ao Amigo. Artur como outros incluem Dom Luís no rol dos grandes maranhenses do primeiro ciclo. Agradeço ao Amigo e Professor Dr. Antônio Martins de Araújo, então presidente da Academia Brasileira de Filologia a remessa deste documento,

Austregésilo de Ataíde – Ecos centenário de Dom Luís – Jornal do Maranhão – trechos) Dom Luís Raimundo da Silva Brito foi no seu tempo, o primeiro dos oradores sacros do Brasil. Que força de expressão possuía aquele homem! Não se parecia com os pregadores portugueses, nem tinha nos brasileiros o padrão da eloqüência. Eram os mestres da oratória; as grandes figuras do púlpito da França que lhe davam a medida da inexcedível arte de falar. Ouvi-o, uma vez, muito criança ainda num Concílio em Fortaleza, em 1911... Era um homem corpulento e embota encanecido conservava no passo impressionante majestade.

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Dom Luís Raimundo não era somente ilustre pela eloqüência. Insignes e raras foram suas virtudes de sacerdote e notáveis as qualidades de professor. . É justo e digno celebrar-lhe a glória, como exemplo, não só para o clero, mas para todos os brasileiros, dos quais foi um expoente espiritual e uma forma de preservação e estímulo.

Dr. Domingos Barbosa – discursos desse são-bentuense proferido no Rio de Janeiro, pelo centenário de nascimento. “Eu lhe ouvi em São Luís, improvisar uma longa e formosa saudação em Latim, pose do bispo Dom Francisco, na arquidiocese de São Luís, lastima que não deixasse escritos – seus sermões, modelos que eram de imaginações e saber, de linguagem vernácula e de forma ética e que fizeram dele uma das glórias mais autênticas da oratória sacra do Brasil. ... o físico vigoroso, desempenado e imponente, a contratar nos derradeiros anos, com o prateado das cans; a voz forte, cheia e harmoniosa, de barítono, que nos cantos litúrgicos, enchia o templo mais amplo; o olhar cintilante; o ar bondoso; o gesto acolhedor; a lhaneza, igual para toda a gente; a memória prodigiosa que não esquecia a fisionomia nem o nome de ninguém, a palavra fácil, erudita, colorida, atraente, e, talvez, mais do que tudo, uma caridade tão larga quanto discreta, que se disfarçava e escondia, como se não fosse uma virtude excelsa.

Domingos Barbosa. Amigo pessoal do homenageado, discurso proferido no Colégio Santa Cecília – Rio de Janeiro. – os seus talentos, a sua cultura, os seus dotes oratórios, as suas virtudes conquistaram, sem dificuldades e sem detenças, cargos e homenagens que, aliás, não disputou nunca. (Jornal do Maranhão- agosto de 1940);Ribeiro do Amaral – Dicionário Geográfico e Etnográfico do Brasil – volume II. , “Dom Luís de Brito, justíssimo era, pois, que aqui incluíssemos o seu nome, entre os mais notáveis maranhenses já falecidos.

Trecho “O Imparcial, ano 1960. Maranhense notáveis. De descendência humilde, tem Dom Luís de Brito o supremo orgulho de haver alcançado, por si próprio, por seus únicos esforços, a posição culminante a que atingiu, fruto de uma inteligência lúcida e uma tenacidade rara.

Homenagem póstuma da Assembléia Legislativa do Maranhão, sessão de 7 de fevereiro de 1916.Deputado Luís de Carvalho – a morte do grande maranhense Dom Luís Raimundo da Silva

Brito, ilustre filho de São Bento, 1º arcebispo de Olinda, extraordinário orador sacro e ex-deputado provincial, onde se destacara por seus dotes de eloqüente orador. Disse o deputado Luis de Carvalho que o nome desse Príncipe da Igreja Católica havia figurado na lista enviada ao Vaticano para que fosse escolhido o primeiro cardeal da América Latina.

Antônio Lopes – Imparcial de 14 de setembro de 1931. História Imprensa Maranhense. Dom Luís de Brito 1840/1915. Jornalista católico e político. Escreveu em alguns jornais do Maranhão, durante a Questão Religiosa do reinado Pedro II. Publicou no Rio (Caxias) a “Cruz” para defender o clero brasileiro das violências da autoridade civil. Reiterou o Seminário das Mercês do Maranhão e dirigiu o Colégio Pedro II. -

Ainda de Antônio Lopes, transcrito Dicionário Histórico e Geográfico da Província do Maranhão, páginas- 262 c 263. “Conhecemo-lo de perto, já em idade avançada, no Recife e pudemos admirar-lhe o boníssimo coração, a vivacidade, a memória, o preparo, a virtude e a eloqüência que tanta lampejou em

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Pernambuco. Alcançou grande prestígio no seu tempo e deixou na história religiosa, parlamentar, jornalística do Brasil, particularmente do Maranhão, traços inapagáveis de sua luminosa trajetória. Não era Dom Luís de Brito somente uma figura maranhense, porém, nacional, pois seu nome se projetou para além das fronteiras do seu Maranhão, que ele pregava muitíssimo e na velhice se recordava com abundância de minúcias singular de conversação, sempre em presença de um conterrâneo ou alguma outra a pessoa, conhecedora do Maranhão. Ao mesmo tempo queria saber de tudo quanto se passava na terra natal, para onde sua a sua atenção vivia constantemente voltada. Era por vezes muito espirituoso e dele se contam casos pelos quais se revela este seu aspecto. Dentre alguns sabemos, deixamos aqui narrados, e se vai ler. Estudante maranhense sabendo-se muito fraco em estudo às vésperas de fazer exames de primeiro ano jurídico pediu-nos o levássemos à presença de Dom Luís de quem pretendia obter uma recomendação para o lente de Direito Romano, fervoroso católico e amigo do arcebispo. Chegados ao Paço da Soledade e apresentado nosso jovem colega, ouviu-o o grande maranhense e para atendê-lo com sua proverbial bondade escreveu num cartão de visita. “Meu prezado amigo Dr...... Paz no Senhor Jesus Cristo. O portador, meu conterrâneo e descendente de família ilustre e de minha muita amizade, está receoso dos perigos, por certo mui consideráveis, do exame de Direito Romano. Passe com ele o Rubicon e mo restitua enxuto e aprovado”. Era seu secretário um jovem padre maranhense que ele muito ajudara a se educar e ordenar. Certa vez, em nossa presença, Dom Luís recebeu um homem já de idade, que lhe pediu uma palavra em particular. Depois de ouvi-lo em outra sala, voltou ordenando ao secretário fosse buscar na gaveta da sua cômoda um conto de réis. Momentos depois padre voltava, dizendo-lhe que não encontrara sequer um níquel na gaveta. – Então vá buscar o livro de cheques. Encheu o cheque e, destacando-o do talão, deu ao seu idoso visitante. – V. Exª não tem mais dinheiro disponível para este mês no Banco e esse homem não é mendigo. – Fique sabendo que não é somente às portas das igrejas que se encontram pobre. Esse homem jogou dinheiro confiado à sua guarda e perdeu. – V. Exª permite que eu lhe pergunte se dar-lhe dinheiro não é animar o vício? –Mas a mulher e uma filha inválida que ele tem vão ficar com fome se o prenderem. Quanto a dinheiro, minha vocação para arcebispado, mas para algum mendicante”. Quiseram saber um dia qual o seu juízo acerca de Celso Magalhães. Respondeu-nos: jamais conheci ninguém mais talentoso. Em preparo há poucos homens no Maranhão de seu tempo, entre mais velhos e mais moços, capazes de o ombrearem. Como caráter ninguém mais nobre. Queria-o muito, porém, duas cousas não lhe perdoava. ? – O ateísmo e a feiúra. . . . Dom Luís foi um homem de atitudes desafiantes. Por gestões políticas um professor do Colégio Pedro II foi injustamente demitido. Os colegas fizeram um abaixo-assinado protestando do ato, Perguntaram se podia assinar- respondeu isso é um absurdo: só assino se for o primeiro, exatamente as linhas iniciais estavam em branco. Ninguém queria encabeçar.

A Enciclopédia da Diáspora Africana, de Néri Lopes, pg. 141 o define como “Preladocatólico e político brasileiro nascido em São Bento, MA e falecido em Recife, PE. Deputado provincial pelo Maranhão, foi cônego da capital imperial, vice-reitor e reitor do colégio Pedro II, professor do Colégio Militar e Escola Normal, em 1901, bispo de Olinda e Recife. José Honório Rodrigues o inclui em sua relação de “pretos e mulatos ilustres”. Gilberto Freire o descreve como mulatão gordo e cor de rosa”.

Escritores e biógrafos o designavam de “o mais recifense dos recifenses”

Aos 75 anos, sofreu um derrame cerebral, falecendo em 9 de dezembro de 1915, sendo sepultado na Catedral de Olinda, onde seus restos mortais ainda permanecem no Mausoléu dos Bispos.

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A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM – DA - NO CURSO DE

FORMAÇÃO DO EDUCADOR

DILERCY ARAGÃO ADLER54

RESUMOReflexão acerca da importância do estudo das dificuldades de aprendizagem no curso de formação do educador. Parte-se da análise histórica acerca do estudo das dificuldades de aprendizagem – DA -e intervenção psicopedagógica – IP-, demonstrando-se que não existem respostas mais conclusivas acerca das principais interrogações, até porque a grande maioria das teorias elaboradas é unidimensional, e geralmente, desenvolvem-se no mesmo campo de estudo do autor. A seguir são tecidas argumentações acerca do conceito de Dificuldades de Aprendizagem e da IntervençãoPsicopedagógica, realçando-se que no estudo das dificuldades de aprendizagem considera-se o contexto social e político como dimensão que deve, obrigatoriamente, ser considerada para não funcionar como um instrumento de reprodução do poder e da desigualdade. São, ainda, analisados outros conceitos essenciais ao estudo das DA, tais como, Despistagem ou Identificação do Potencial de Aprendizagem – IPA -; a Filosofia da Modificabilidade Cognitiva Estrutural - MCE - e os dois tipos de aprendizagem apontados por Feuerstein: Aprendizagem por Exposição Direta – AED - e Experiência de Aprendizagem Mediatizada - EAM. Fica demonstrada a importância da disciplina Dificuldades de Aprendizagem, no curso de formação do educador, por considerar-se, principalmente, que a mediação do professor, adequada às reais necessidades e características da criança e adolescente, resulta na otimização do seu desenvolvimento sensório-motor, afetivo-emocional, sociocultural e pedagógico.Palavras-chave: Dificuldades de aprendizagem. Intervenção pedagógica. Formação do educador.

INTRODUÇÃO

A inclusão de algumas disciplinas nos cursos de Formação do Educador, entre elas, a Dificuldades de Aprendizagem, é relativamente recente.

No entanto, o estudo das dificuldades de aprendizagem desde o seu conceito, ainda tão permeado por controvérsias teóricas, até as diferentes abordagens da etiologia e dos modelos de explicação das próprias dificuldades de aprendizagem, criam as condições pedagógicas facilitadoras para a compreensão acerca da prevenção e da superação das dificuldades de aprendizagem, tão comuns ainda nos dias atuais.

Assim, a inclusão da disciplina Dificuldades de Aprendizagem, no curso de formação do professor, é de fundamental importância para a prática pedagógica desse mesmo professor, por considerar-se, principalmente, que, a mediação do professor, adequada às reais necessidades e características da criança e adolescente, resulta na otimização do seu desenvolvimento sensório-motor, afetivo-emocional, sócio-cultural e pedagógico.

O Curso de Pedagogia da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco-UNDB, em São Luís-MA, entre suas ênfases curriculares oferece aos seus alunos a Psicopedagogia, dentre as

54 Psicóloga da Universidade Federal do Maranhão (UFMA); Professora da disciplina Orientação de Dificuldades de Aprendizagem da Unidade Superior Dom Bosco (UNDB), Doutora em Ciências Pedagógica-ICCP-Cuba, Mestre em Educação-UFMA, Especialista em Sociologia e Metodologia da Pesquisa em Psicologia-UFMA.

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áreas de formação, de modo que a matriz curricular foi construída a partir também dessa perspectiva.

Nesse contexto, a disciplina Orientação de Dificuldades de Aprendizagem-ODA,oferecida pela instituição aos seus alunos, apresenta conteúdos que passam por questões históricas do conceito, objeto de estudo, fatores etiológicos, a integração como filosofia educacional, o conceito de despistagem ou identificação do potencial de aprendizagem, a filosofia da modificabilidade cognitiva e a caracterização da criança com as principais categorias de dificuldade de aprendizagem.

O desenvolvimento da disciplina tem como objetivo precípuo enfatizar a inclusão, a partir de análises que tratam da integração como filosofia educacional, do conceito de despistagem ou identificação do potencial de aprendizagem, da filosofia da Modificabilidade Estrutural Cognitiva-MCE, viabilizada por meio da Experiência de Aprendizagem Mediatizada-EAM, introduzida por Reuven Feuerstein.

Os estudos desses conceitos e processos possibilitam ao aluno, ainda na sua formação, a aquisição de um verdadeiro sistema de crenças, o qual, por sua vez, implica na necessidade de mudanças de atitudes e de competências frente às crianças e adolescentes com comprometimento intelectual e dificuldades de aprendizagem.

Sabe-se que, apreender um determinado objeto de estudo de forma competente e humanizada resulta em êxito na aplicabilidade desse conhecimento, porque tão importante quanto a competência técnica, em uma determinada área do saber, é a existência da postura política consciente e de uma ética humanizada nessa competência.

Por entender-se que a temática Inclusão está entre as grandes preocupações dos educadores que buscam um projeto de sociedade mais justa é que se optou por trazer à baila, através deste artigo, mais dados acerca do estudo das dificuldades de aprendizagem, como mais um viés para fortalecer essa discussão, esperando que resulte no reforço das possibilidades do sucesso escolar, ainda não democratizado nas escolas dos dias atuais.

ANÁLISE HISTÓRICA ACERCA DO ESTUDO DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM-DA E INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA-IP

O tecido social, em última instância, é configurado pelo conjunto de suas instituições, e entre elas, a escola, ainda na atualidade, se apresenta como uma, dentre as mais importantes.

É no espaço da escola que se dá a mais contundente revelação dos atributos, competências e inabilidades da criança e do adolescente de qualquer estrato social.

Mas, nessa revelação, fica claro que, as condições materiais de existência de cada classe apresentam repercussão diferenciada em seus integrantes. Via-de-regra, as condições sócio-econômicas das crianças e adolescentes das famílias pertencentes às camadas pobres e trabalhadoras não são consideradas. Esse fato resulta em que, quase sempre, os casos de inadaptação, de algumas dessas crianças, são interpretados sem a devida vinculação a esses fatores. Somando à condição sócio-econômica, a atuação dos professores e os métodos adotados pela escola vão reforçar e cronificar as dificuldades dessa criança e adolescente.

No tocante ao estudo das Dificuldades de Aprendizagem, propriamente dito, constata-se que este tem sido permeado por controvérsias e, mesmo assim, ainda não existem respostas

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mais conclusivas acerca das suas principais interrogações. As teorias, em sua grande maioria, são unidimensionais, e geralmente, desenvolvem-se no mesmo campo de estudo do autor.

A análise histórica das Dificuldades de Aprendizagem pode ser equacionada paralelamente ao desenvolvimento das sociedades. É a partir de Rousseau e Diderot com “o ensino para todos e na base da diversidade”, e ainda, as idéias de Montessori, Decroly, Froebel, Dewey, Makarenko, Mendel, Freinet e outros, que é reforçada a idéia da escola aberta à vida e obrigatória para todos, não só para os filhos das camadas ricas.

É indubitável que a escola aos poucos foi estendendo o seu atendimento a um maior quantitativo de crianças, mas concomitantemente, implicou também, em um aumento dos vários processos de inadaptação.

Ainda, a transmissão de conhecimentos estereotipados, propícios à reprodução da ideologia dominante, faz com que a maioria das crianças não tenha acesso à cultura e à ciência, fim último da educação.

Esses modelos ideológicos e confusões conceituais complexificam o quadro do caos semântico que envolve os conceito das DAs e do Insucesso Escolar-IE. Este, por sua vez, termina revertendo-se em fracasso escolar, logo nas séries iniciais, de quantitativo razoável de crianças que freqüentam a escola.

As atuais teorias estão mais voltadas para a descrição do que para a prescrição, são mais centradas na busca das deficiências do que do potencial de aprendizagem e desempenho da criança.

As concepções iniciais são unidimensionais, tais como: modelos psiquiátricos, psicométricos, neuropsicológicos, pedagogizantes ou socializantes. Tais concepções estão marcadas por limitações interdisciplinares.

Os modelos teóricos explicativos das dificuldades de aprendizagem - DA, didaticamente, podem ser arrolados a partir de duas perspectivas, segundo Fonseca (1995, pp.13-58): os (Grandes) Pioneiros e Perspectivas atuais.

Os principais representantes dos pioneiros são:

a) Perspectivas lesionais cerebrais: Alfred Strauss, Heins Werner;b) Perspectivas Perceptivo-motoras: William Cruickshank, Newell Kephart,

Gerald Getman, Ray Barch, Marianne Frostig, Glen Doman e Carl Delacato;

c) Perspectivas de Linguagem: Samuel Orton, Katrina de Samuel Kirk e Helmer Myklebust;

d) Perspectivas Neuropsicológicas das DA: Artur Benton e Ralph Reitan;

e) Perspectivas de integração William Gaddes, Barbara Bateman, Cynthia Deutsch e Florence Schurmer, Douglas Wiseman, Grace Fernald e Woyne Otto e R. McMenemy.

Convém, neste estudo, explicitar que, Samuel Kirk é considerado uma das figuras mais relevantes no campo das DAs. De fato, é considerado pelos estudiosos da temática, o “pai das DAs”. Doutorado em Psicologia, pela Universidade de Chicago, trabalhou como professor numa escola de adolescentes delinqüentes e de deficientes mentais. Ficou conhecido por sua

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dedicação pedagógica a um aluno de 10 anos diagnosticado como aléxico (cego para palavras), tendo utilizado, com êxito um método de intervenção que o notabilizou e que inspirou o seu famoso Illinois Test of Psycholinguistic Abilities- ITPA.

O ITPA consta de 12 subtestes. Vários estudos têm sido realizados acerca do ITPA, mas independente das críticas, não restam dúvidas de que esse instrumento é valioso para a articulação indispensável entre o diagnóstico e os programas de intervenção nas DAs, tendo sido aplicado em diversos campos de estudos.

Os principais representantes das perspectivas atuais são:

a) Modelo Interacional de Adelman;

b) Teoria integrada da informação de Senf;

c) Teoria do desenvolvimento das capacidades perceptivas e cognitivas de Satz e Van Nostrand;

d) Teoria do atraso de Desenvolvimento da atenção seletiva de Ross;

e) Hipótese do Déficit verbal de Vellutino;f) Hipótese do educando inativo de Torgesen;

g) Modelo Hierarquizado de Wiener e Cromer. Uma outra abordagem com base na Psicologia sócio-histórica que se considera de

grande importância, mas que não está incluída na classificação acima, tem em Vygotsky, o seu principal representante, e segundo Enumo (2003, pp. 21-22):

Vygotsky valoriza as situações de aprendizagem que envolvam relações interpessoais e que sejam significativas no contexto sócio-cultural. Suas sugestões para a educação de alunos com deficiência já preconizam a “educação inclusiva”, no sentido de “provocar” e instigar o aluno para situações mais complexas.

Sua proposta é fundamentada teoricamente no Materialismo Histórico e Dialético e oautor parte do pressuposto de que o processo de desenvolvimento tem um curso mais lento e vai atrás do processo de aprendizagem, e esse pressuposto apresenta íntima conexão com o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal ou Próximo-ZDP.

ZPD é a distância entre o Nível de Desenvolvimento Real, o qual é configurado por comportamentos e habilidades já consolidadas, que são expressos pela criança com precisão e independência e o Nível de Desenvolvimento Potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes, ou seja, a criança pode realizar o que está em pauta satisfatoriamente, desde que tenha auxílio de um mediador.

Nessa perspectiva, um aspecto essencial do aprendizado é o fato de criar zonas de desenvolvimento proximal. Assim, o aprendizado desperta vários processos internos de desenvolvimento, que são capazes de operar somente quando a criança interage com pessoas em seu ambiente e quando em cooperação com seus companheiros. Uma vez internalizados esses processos tornam-se parte das aquisições do desenvolvimento independente da criança.

Desse modo, o aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer.

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Uma das conclusões das argumentações do autor é que, o aprendizado é um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas.

Vygotsky preconiza as situações de aprendizagem que envolvam relações interpessoais e que apresentem significado no contexto sócio-cultural. É considerado, ainda, um dos expoentes da defesa da “educação inclusiva”, no sentido de “provocar” e instigar o aluno para situações mais complexas. Critica a fixação do planejamento educacional em atividades simples, concretas, aparentemente mais fáceis.

É conveniente lembrar que este é um recorte sucinto no campo das abordagens teóricas acerca das dificuldades de aprendizagem. Assim, existem outros estudos além destes apresentados.

Por outro lado, seria impossível o arrolamento de todas as teorias, considerando de um lado, o quantitativo de interpretações acerca do fenômeno das DAs e de outro, que é conseqüência do primeiro, a indubitável complexidade desse objeto de estudo.

SOBRE O CONCEITO DE DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM-DA E DA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA-IP

No que diz respeito ao Conceito da Dificuldade de Aprendizagem, não existe, ainda, na área pedagógica, um consenso na definição das DAs, isto porque, principalmente, nesse contexto existem componentes sociais e políticos que vem se superpondo aos pressupostos científicos.

Por outro lado, o campo das DAs agrupa uma variedade de conceitos, critérios, teorias, modelos e hipótese, como já foi demonstrado anteriormente. Assim, a falta de uma teoria sólida e coesa nos paradigmas e pressupostos existentes e também, uma taxonomia pormenorizada se refletem na delimitação do objeto de estudo e nas intervenções educacionais correspondentes.

Resultante dessa vulnerabilidade conceitual é observada com freqüência, ainda hoje, certa negligência no atendimento de muitos portadores de DA, e até mesmo exclusão dos apoios escolares necessários.

O National Joint Committee of Learning Disabilities-NJCLD, (Comitê Nacional de Dificuldades de Aprendizagem), Estados Unidos da América, enuncia o Conceito de DA abaixo:

[...] é um termo geral que se refere a um grupo heterogêneo de desordens manifestadas por dificuldades significativas na aquisição e utilização da compreensão auditiva, da fala, da leitura, da escrita e do raciocínio matemático. Tais desordens, consideradas intrínsecas ao indivíduo, presumindo-se que sejam devidas a uma disfunção do sistema nervoso central, podem ocorrer durante toda a vida. Problemas de auto-regulação do comportamento na percepção social e interação social podem existir com as DA. (FONSECA, 1995, p. 71).

Essa assertiva demonstra a complexidade do fenômeno por agrupar efetivamente um grupo heterogêneo de sintomas.

Por outro lado, ainda são arrolados também pelo NJCLD cinco princípios que dão sustentação à definição adotada, são eles:

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1. As DAS são heterogêneas, inter e intra-individualmente;

2. As DAs pressupõem dificuldades significativas na aquisição e no uso da compreensão, da fala, da leitura, da escrita, do raciocínio e/ou das habilidades matemáticas;

3. As DAs são intrínsecas ao indivíduo;

4. As DAs podem ocorrer de forma concomitante com outros problemas que constituem, por si mesmos, uma DA;

5. As DAs não se originam por influências extrínsecas. (GARCÍA SÁNCHEZ, 2004, p. 22).

Apesar das DAs poderem ocorrer concomitante a outras deficiências (por exemplo, sensorial, mental, distúrbios sócio-emocional) ou por influências extrínsecas (diferenças culturais, insuficiente ou inapropriada prática de ensinagem), elas não são resultantes dessas condições.

Faz-se pertinente lembrar que, a criança ou jovem com DA apesar de apresentar condutas significativamente desviantes e atípicas em alguns aspectos no plano educacional em relação à população escolar em geral, é também, uma criança normal, nos demais aspectos.

Mais de 100 comportamentos específicos já foram listados, mas os mais freqüentes são: hiperatividade; problemas psicomotores; labilidade emocional; problemas gerais de orientação; desordens de atenção; impulsividade; desordens de memória e no raciocino; dificuldades específicas de aprendizagem: dislexia, disgrafia, disortografia e discalculia; problemas de audição e fala; sinais neurológicos ligeiros e equívocos e irregularidades no EEG, entre outros.

Por outro lado, a Intervenção Psicopedagógica-IP é entendida como fazendo parte integral das dificuldades de aprendizagem e estas só podem ser entendidas em relação à intervenção.

Falar de intervenção é falar de intervenção mais ou menos especializada, mas sempre fundamentada cientificamente em modelos teóricos e que supõe, em geral, uma implementação tecnológica.

Nessa perspectiva, a intervenção psicopedagógica é a que os psicopedagogos realizam. Nesse caso, é especializada, intencional e planejada, dentro de um certo nível de estruturação e de formalização e, a partir de modelos teóricos e tecnológicos próprios da disciplina psicopedagógica.

Mas, as intervenções também podem ser feitas por outras pessoas, como os próprios familiares (as mais freqüentes), também os professores ou, ainda, alguma instituição educacional pública, privada ou comunitária. Nestes casos, é de caráter natural e indireto.

Sintetizando, as intervenções podem ser: direta ou indireta, especializada ou não especializada, formal ou informal, intencional ou incidental, planejada ou espontânea, global ou específica, sistêmica ou parcial. Comumente, observa-se na prática a utilização de mais de uma modalidade de intervenção, de acordo com o caso ou necessidade.

No estudo das dificuldades de aprendizagem considera-se o contexto social e político como outra dimensão que deve, obrigatoriamente, ser considerada. Este, se não levado em conta, pode funcionar como um instrumento de reprodução do poder e da desigualdade à medida que apóia e justifica a ideologia dominante da escolarização.

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Nessa segunda perspectiva as DAs desempenham um papel na manutenção do status quo, no qual a distribuição desigual dos bens sociais aparece como “natural”, resultante de uma “igualdade social de oportunidades”, que se revela de fato, inverídica, na prática social. Ainda, fortalece a idéia de que a escola é de e para os que triunfam nela, ao mesmo tempo, responsabiliza, aqueles que não concretizam essa máxima, pelo próprio fracasso, eximindo, assim, a escola e a sociedade de qualquer responsabilidade.

Uma intervenção psicopedagógica politizada, que supere o discurso e a prática escolar marginalizadora dar-se-á, através de procedimentos tais como:

a) dar ênfase à aprendizagem cooperativa diante da competitiva;

b) flexibilizar a escolarização;

c) e dar ênfase à compreensão de que os alunos vão à escola com características e condições intelectuais, físicas, sociais, afetivo-emocionais, muito diferentes.

Percebe-se, no entanto, que o processo de ensinagem ainda não privilegia e não concretiza na prática essas modalidades de procedimentos, materializando a urgência da implementação de novas formas pedagógicas de proceder.

OUTROS CONCEITOS ESSENCIAIS NO ESTUDO DAS DAs

Um conceito de fundamental importância no trabalho psicopedagógico com aluno com dificuldade de aprendizagem é o de Despistagem e Identificação Precoce das dificuldades de aprendizagem que não se configura como um diagnóstico, mas trata-se de um processo de rastreio visando a uma intervenção pedagógica, a qual deve ficar a cargo do professor. Isso resulta em que, os problemas de aprendizagem podem ser solucionados mais adequadamente, com maior eficácia e sem a famigerada estigmatização da criança.

No decorrer da história da formação do professor as suas atribuições, de certo modo, foram processualmente diminuindo, ao dividi-las de modo inapropriado, com diferentes especialistas. Atualmente parece que o que mais cabe ao professor é a função de aplicar métodos pedagógicos.

No entanto, cabe ao professor, na ótica de uma pedagogia científica, estudar as variáveis que estão em jogo nas diferentes aprendizagens escolares, na medida em que, assim, se pode dar mais significação ao diagnóstico médico e psicológico. A tridimensionalidade desse problema pode facilitar a obtenção de uma linguagem comum e a troca de experiências, ao contrário dos que pensam que o diagnóstico cabe apenas ao campo médico ou ao psicológico. E, nessa perspectiva exige um processo de identificação que considere:

a) as variáveis das condições internas da criança exigidas pelas tarefas escolares;

b) as variáveis que se encontram afetadas e favorecidas (perfil intra-individual);c) os recursos pedagógicos disponíveis (condições externas) para selecionar os

meios de intervenção mais apropriados aos níveis de funcionamento evidenciados pela criança.

A identificação deve ser feita o mais precocemente possível. Estudos internacionais Wedell, (1975), Bindrim, (1978) apontam as séries iniciais como o momento mais conveniente para a identificação, a fim de garantir uma intervenção preventiva nos seguintes parâmetros de desenvolvimento:

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a) linguagem;

b) psicomotricidade;c) percepção auditiva e visual;

d) comportamento emocional.A identificação precoce elimina as condições que tendem agravar o desenvolvimento

total da criança, diminui os seus efeitos cumulativos, evita problemas em outras áreas como o afetivo-emocional.

Representa ainda para a esfera pública um ganho econômico quando diminui custos empregados com a permanência de crianças e adolescentes em mais anos escolares que os necessários.

Os sinais que não são detectados antes da entrada para escola podem ser responsáveis pelo insucesso escolar com conseqüente desajuste emocional.

A despistagem do problema, isto é, a Identificação do Potencial de Aprendizagem-IPAdeve ficar a cargo do professor, que deve tomar para si essa responsabilidade. O encaminhamento a psicólogos, médicos e outros especialistas justificar-se-á em etapa posterior.

O diagnóstico grosseiro é um perigo, assim como a classificação ou etiquetas, visto que está em jogo a otimização do potencial de aprendizagem.

Dessa forma, com a identificação precoce realizada pelo professor e na escola, os problemas de aprendizagem podem ser solucionados mais facilmente e evitados os conseqüente desajuste emocional.

A identificação a ser desenvolvida deve levar em conta vários fatores, tais como:

a) compreensão auditiva: compreensão do significado das palavras, discriminação de pares de palavras, discriminação de frases absurdas, compreensão de histórias lidas, memória de curto termo (palavras e frases), retenção da informação e execução de instruções verbais, etc.;

b) fala: vocabulário, organização gramatical, formulação de idéias (fluência), contar histórias,relatar fatos, experiências e acontecimentos, descrição de figuras e ilustrações, explicação e fundamentações de opiniões, qualidade da voz e entoação, reproduções de canções, rimas, etc.;

c) percepção visual: discriminação, identificação, complemento (gestalt), memória, coordenação visomotora, figura-fundo, constância da forma, escrutínio visual, etc.;

d) orientação: orientação espacial, apreciação das relações, lateralidade em si e nos outros, direcionalidade, ritmo, apreciação do tempo, etc.;

e) criatividade: espontaneidade, curiosidade, exploração, dramatização, modelação, pintura, desenho, invenção, imaginação, grafismo, etc.;

f) comportamento social: cooperação com outras crianças e com adultos,atenção, organização, auto-suficiência, atividade lúdica, responsabilidade, cumprimento de tarefas, etc.

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Um segundo conceito eleito por este estudo é o da Filosofia da Modificabilidade Cognitiva Estrutural-MCE. Segundo Fonseca (1995, p. 77), “a abordagem ativa à deficiência mental é um verdadeiro sis-tema de crenças (belive system). Tal abordagem não é fácil, nem sequer é um jardim de rosas, é algo que implica uma mudança de atitudes e de competências.”

A MCE é, de fato, um verdadeiro sistema de crenças que implica na necessidade de mudanças de atitudes e de competências frente às crianças e adolescentes com deficiência mental e dificuldade de aprendizagem que, por sua vez, é viabilizada por meio da Experiência de Aprendizagem Mediatizada (EAM), introduzida por Reuven Feuerstein.

A abordagem ativa implica, necessariamente, no combate às atitudes tradicionais. Nessa perspectiva cada caso é único e, conseqüentemente, requer um conhecimento diferenciado e intra-individual, exigindo no plano das atitudes do educador, psicólogo, médico e pais uma aceitação incondicional de que é possível verificar uma mudança estrutural no ato mental e na aprendizagem.

A abordagem ativa em contraposição à passiva é otimista, aposta na transformação, na modificabilidade e na superação dos Transtornos ou DAs.

A filosofia que compreende a MCE, introduzida por Reuven Feuerstein, é um movimento inovador que considera a criança deficiente mental ou com dificuldade de aprendizagem aberta à mudança, propondo novos processos de diagnóstico e de interação.

A filosofia da MCE além de esperar que as crianças deficientes sejam também letradas, aceita que o capital humano de adaptabilidade pode mudar em várias direções, desde que se procure os meios adequados.

É tradicional a atitude que:

a) defende a idéia de que as capacidades das crianças deficientes não passam de um nível previamente estabelecido, e conseqüentemente as segregam em “oficina protegida” ou internato;

b) não investe em termos de desenvolvimento cognitivo, justificando que o resultado obtido não valerá o quantitativo de trabalho empreendido;

c) submete à segregação essas crianças, por acreditar que não vale a pena expor tais crianças a situações de integração.

Diante do exposto vale ressaltar que, não basta proporcionar uma atmosfera relacional envolvente e encantatória, o que é efetivamente importante é ser persistente:

a) na busca de objetivos;b) na exploração de currículos;

c) na estruturação de tarefas;d) na seqüencialização de processos de informação e de interação;

e) na implementação minuciosa de sistema de reforço e de socialização, etc.As exigências devem ser estabelecidas sem serem abusivas. Elas são necessárias porque

o campo mental da criança deficiente se expande e transcende, por efeito da MCE que se vai operando.

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Segundo Fonseca (1995, pp. 79-80):

Todos têm direito à MCE [...], todos, sem exceção, devem ser promovidos cognitivamente e não apenas os supradotados ou oriundos de extratos sociais elevados. A MCE não aceita acriticamente as explicações e os determinismos despóticos da genética e da hereditariedade.

A modificabilidade cognitiva deve ser definida como estrutural, e não como esporádica ou acidental, ou seja, encerra uma mudança numa parte, mas que afeta o todo funcional da cognição. Trata-se de uma transformação do processo cognitivo em si próprio, no seu ritmo, na sua amplitude e na sua natureza auto-reguladora. A MCE, segundo Feuerstein, é, portanto, caracterizada pela sua permanência e consolidação central intrínseca.

O racional básico desta teoria é reforçar a natureza do ser humano, como um sistema aberto, sistema disponível e flexível à mudança durante toda a sua vida, embora se reconheçam naturalmente períodos ótimos e períodos críticos de desenvolvimento. Dentro de tais interações Feuerstein distingue dois tipos de aprendizagem: “Aprendizagem por Exposição Direta -AED e aprendizagem por experiência mediatizada-EAM.” Fonseca, (1995, p. 87),

Na AED, o indivíduo registra os estímulos e responde-lhes (base das teorias conexionistas de aprendizagem, com as de Thorndike, Guthrie, Hilgard, Tolman etc.) ou interage ativamente com os estímulos, face aos quais está diretamente confrontado (base piagetiana (E – O – R).

Um dado relevante é que não se pode esquecer que, a aprendizagem por exposição direta continua por toda vida como resultado da relação com os estímulos, donde, naturalmente, emergem muitas modificações no processo cognitivo. Embora seja de grande importância, esta aprendizagem não é suficiente para produzir níveis de padrões de desenvolvimento cognitivo, ela não basta por restringir a relação ao sujeito-objeto.

A experiência de aprendizagem mediatizada atinge níveis de desenvolvimento, hierarquização e complexidade cognitiva mais elevados, sendo responsável pelas principais mudanças estruturais da cognição humana.

Na experiência de aprendizagem mediatizada estão envolvidos:

a) o mediador, mediatiazador, medianeiro ou intermediário;

b) os estímulos;c) e a criança mediatizada.

Assim, o mediador, se interpõe e intervém com a intenção de mediar ou mediatizar os estímulos, adequando-os às necessidades específicas da criança.

O mediador, inicialmente a própria mãe, interpõe-se e intervém, modificando a relação entre o estímulo e a criança, afetando a sua intensidade, o seu contexto, freqüência, ordem, etc.

Na EAM, os estímulos não existem por si só; eles são filtrados, modulados, mediados, intercedidos, repetidos, reforçados, eliminados, etc. de acordo com as necessidades introduzidas e reguladas pelo mediador. Os estímulos estão sempre carregados de significação.

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A mediação é algo característico da espécie humana, algo que consubstancia o que habitualmente se designa de instinto maternal ou “vinculação”. De certa forma, explica o papel das experiências interativas no desenvolvimento cognitivo das gerações mais novas.

A exposição direta aos estímulos é fundamental para o desenvolvimento cognitivo, mas a interação mediatizada, isto é, a própria cultura é que permite o acesso a funções cognitivas superiores. O fenômeno cultural, ou seja, a EAM surge, assim, como fator que explica a evolução humana.

A modificabilidade não se limita à cognição, mas também à emoção e motivação, componentes essenciais da teoria da MCE e, segundo Feuerstein, a emoção, a motivação e a cognição são inseparáveis em termos de responsabilidade e de modificabilidade.

Também há algo no eu do mediador que se transforma quando o mediatizado atinge os objetivos. Este fator relacional é fundamental para a compreensão da filosofia da MCE e da EAM.

A EAM dá importância tanto ao perfil das áreas fortes como das áreas fracas, atuando em ambas, ampliando umas e modificabilizando outras, uma vez que o objetivo central é a modificação estrututural das suas competências.

Mesmo quando o indivíduo apresente dificuldade de contatar com outras pessoas e se isola, o mediador deve verificar se tal conduta facilita ou dificulta a sua adaptabilidade, neste último caso é obrigação do mediador transformar a situação.

Feuerstein utiliza o conceito de zona de desenvolvimento proximal de Vygotsky e atento às perspectivas abertas por Vygotsky, concretizou nesta ótica, dois grandes processos de mediação: o seu método de psicodiagnóstico, Learning Potencial Assessment Device-LPAD e o Programa de Enriquecimento Instrumental- PEI seu programa de intervenção psicopedagógica.

Para Feuerstein, a concretização de alguns destes pressupostos mediatizadores, avançados por Vygotsky, implica a integração sistêmica dos critérios básicos da EAM, são eles:

a) primeiro critério: Intencionalidade e reciprocidade;b) segundo critério: Transcendência;

c) terceiro critério: Significação;d) quarto critério: Sentimento de competência;

e) quinto critério: Regulação e controle do comportamento;f) sexto critério: Compartilhar comportamentos;

g) sétimo critério: Individuação e diferenciação psicológica;h) oitavo critério: Planificação e satisfação de objetivos;

i) nono critério: Procura da novidade e complexidade.Feuerstein foi discípulo de Jean Piaget e de Carl Jung, e esbanja otimismo quando o

assunto é inteligência e enfatiza que: “[...] qualquer pessoa pode aumentar a sua capacidade

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intelectual e mesmo crianças deficientes são capazes de se tornarem normais.” (ISTO É/1297, 1994, p.5).

Os estudos e análises rigorosos e profundos destes conceitos e processos são indispensáveis para uma prática pedagógica que resulte em sucesso escolar do aluno e, ainda, numa convivência mais prazerosa no ambiente escolar que ao invés de punitivo e castrador tornar-se-á reforçador positivamente e propício à realização do aluno enquanto aprendiz e como pessoa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Contrariando a atitude comum, de muitos estudiosos frente ao seu objeto de estudo, coloca-se como primeira argumentação, exatamente a clareza da não apreensão da totalidade deste tema. Isso se deve à sua intensa complexidade e configuração multifacetada e, ainda por apresentar-se, permeado por muitas indagações pedagógicas, psicológicas, biológicas e, principalmente ideológicas e sociais.

Sem querer simplificá-lo, mas objetivando reforçar algumas assertivas já existentes acerca da questão e, quiçá, expressando algumas novas, enunciam-se abaixo algumas considerações levantadas no presente estudo:

Como primeira evidência, reforça-se a constatação de que, a escola tradicionalmente ensina a pensar erradamente, fazendo com que, grande parte das crianças perca a sua espontaneidade e curiosidade. Além disso, a escola parece que mais deprecia, ameaça e desencoraja a criança, ao invés de reforçá-la positivamente, de modo a contribuir para a construção de uma auto-imagem e de uma auto-estima adequadas, estabelecendo, assim, as condições facilitadoras para a autoconfiança, a inquietação, a reflexão, a produção criativa, imprescindíveis para a aprendizagem.

Ainda, a transmissão de conhecimentos estereotipados e de interesses ideológicos dominantes faz com que a maioria das crianças não tenha acesso à cultura, fim último da educação.

Com base nessas premissas, no estudo das dificuldades de aprendizagem considera-se o contexto social e político como uma dimensão que deve, obrigatoriamente, ser considerada. Este, se não levado em conta, pode objetivar-se como um instrumento de reprodução do poder e da desigualdade, à medida que apóia e justifica a ideologia dominante da escolarização.

Uma outra constatação, que é também fundamental nesta reflexão, diz respeito às atribuições do professor que, de certo modo, ao longo da história da sua formação, foram processualmente diminuindo, ao dividi-las de modo inapropriado, com diferentes especialistas.

Nesse sentido, atualmente, parece que cabe ao professor, praticamente, a função precípua de aplicar métodos pedagógicos. No entanto, na ótica de uma pedagogia científica, é também da competência do professor, estudar as variáveis que estão em jogo nas diferentes aprendizagens escolares, na medida em que, assim, podem ser dadas mais significações ao diagnóstico médico e psicológico, nos casos de avaliação psicopedagógica.

Do exposto, pode ser indubitavelmente ratificada, a importância da competência do professor, na perspectiva, de uma pedagogia que possibilite uma prática de ensinagem democrática e inclusiva sustentada na observação e consideração das condições da

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singularidade da criança e adolescente dentro de uma pluralidade sócio, cultural, pedagógica e psicologicamente humana.

REFERÊNCIAS

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ASSUNÇÃO JOSÉ, Elizabete da; COELHO Maria Teresa. Problemas de aprendizagem. São Paulo: Ática, 2001.

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BOSSA. Nadia A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.

CARVALHO, Rosita Edler. Removendo barreiras a aprendizagem. Porto Alegre: Editora Mediação, 2004.

COOL, César; PALÁCIOS, Jesus; MARCHESI, Álvaro (orgs.). Desenvolvimento psicológico e educação. Psicologia da Educação, v. 2. Porto Alegre: Artes Médicas: 1995.

__________Desenvolvimento psicológico e educação: necessidades educativas especiais e aprendizagem escolar. Psicologia da Educação, v. 3. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

ENUMO, Sônia Regina Fiorim; QUEIROZ, Sávio S.; GARCIA, Agnaldo. Desenvolvimento humano e aprendizagem: algumas análises e pesquisas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.

FONSECA, Vitor da. Educação especial. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.__________. Dificuldades de aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.FOUCAMBERT, Jean. A leitura em questão. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.GARCÍA SÁNCHEZ, N. J. Dificuldades de aprendizagem e intervenção psicopedagógica.

Trad: Ernani Rosa. Porto Alegre: Artmed, 2004. ISTO É: revista semanal. São Paulo: Ed. Três. n. 1297, 10 de agosto,1994.SMITH, Corinne; STRICK, Lise. Dificuldades de aprendizagem de A a Z: um guia

completo para educadores. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001.SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Linguagem.e Educação. Belo

Horizonte: Autêntica, 2001.VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

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E DEUS CRIOU A MULHER!

AYMORÉ DE CASTRO ALVIMMembro do IHGM, da AMM e da APLAC

Parece, à primeira vista, tratar-se de algum comentário sobre o filme francês que tanta polêmica gerou e atraiu grande número de espectadores às salas de projeções, em fins da década de 50. Quem, assim, pensou se enganou.

Na verdade, quero com este tema prestar a minha homenagem à mulher: mãe e companheira, predicados estes que se interdependem, nessa instituição, que, em várias partes do mundo, neste dia, é reverenciada.

Criada, também, à sua imagem e semelhança, infundiu-lhe o Senhor Deus, no penúltimo dos longos dias da criação do universo, a sua força geradora de vida para que com o homem povoassem e sujeitassem a terra. Para tanto, deu-lhe graça, fê-la atraente, provocante, sedutora e bela, atributos essenciais à estabilidade da relação com o companheiro, condição primordial ao desempenho da sua sublime missão. E o Senhor viu que tudo que fizera era bom e os abençoou. Instituía, assim, naquele momento, a organização da família, unidade basilar que deveria assegurar a consolidação das sociedades futuras.

O Criador a distinguiu, ainda, com a dádiva maior que a enobrece e a eterniza, na memória das sucessivas gerações: a Maternidade. Parirás o teu filho na dor, disse-lhe o Senhor, ou seja, a tua vida será de desprendimento e doação total àquele que de ti nascer. Isto é amor. É a sublime opção da mulher ao cumprimento do mandamento divino. É a força propulsora que reforça o elo dessa cadeia que se projeta através dos séculos estruturando e consolidando civilizações com o escopo maior de povoar e submeter a terra.

Submetê-la ou dominá-la, no entanto, implicaria, nas palavras do Senhor, toda uma ação transformadora da natureza que viesse assegurar, pelo desenvolvimento científico e tecnológico, o pleno bem-estar social. Para tanto, foi instituído o trabalho: “no suor do teu rosto comerás o pão até que voltes à terra “. É uma ação, exclusivamente, humana com que o Criador dignificou as suas criaturas para que pudessem prover a sua descendência das condições necessárias à missão que lhes fora confiada: sede fecundos; multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a.

E, assim, na organização das sociedades através dos séculos, o trabalho sempre foi a atividade mais importante da produção social. E, à medida que crescia em complexidade, principalmente, quanto aos avanços obtidos, nos meios de produção, a mulher passou a se sentir mais segregada do processo, cabendo-lhe, conforme as diferentes culturas de cada povo, tarefas de menor importância às quais se somavam as domésticas e as de gerar e cuidar dos filhos.

A parceria estabelecida, no ato criador, parecia fenecer sob a hegemonia crescente do primado patriarcal. Restringiram-lhe a participação, no processo produtivo. Menoscabaram sua capacidade criadora e o seu potencial de trabalho. Atribuíram-lhe atividades secundárias, quase sempre, em condições perigosas, insalubres e exaustivas.

Mas, apesar de tudo, a mulher não desvaneceu. Na seqüência dos tempos, sem abrir mão da sua predestinação biológica e histórica, perseguiu com tenacidade os direitos que lhe são pertinentes como sujeito gerador de vidas e como agente, igualmente, da produção, no processo de transformação da natureza para o bem-estar da humanidade.

Essa é a mulher, centro das nossas homenagens. A mulher companheira sempre pronta a compartilhar como elemento essencial, na estrutura e na manutenção da organização e estabilidade familiar; a mulher que reflete, no ensinamento que orienta e no amor abnegado, a

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extrema sensibilidade e ternura para conduzir, no exercício da maternidade responsável, o desenvolvimento psicológico e moral da criança e do jovem com vista ao equilíbrio, nas suas relações sociais; a mulher trabalhadora que move e constrói, que participa e impulsiona as transformações que se operam, no tecido social, buscando para que, de forma equânime, haja a participação de todos, nos benefícios decorrentes da riqueza que pelo seu trabalho ajudou a produzir.

A essa guerreira, que hoje se levanta na busca do pleno direito que lhe confere a sua condição de cidadã, a nossa admiração, na parceria construtiva; o nosso afeto à companheira de cumplicidade, em todos os momentos, e o nosso amor à mulher mãe, causa primeira da nossa existência. E, assim, Deus criou a mulher. Viu, então, o Senhor tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. Houve tarde e manhã. Era o sexto dia da criação.

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SÃO JOÃO, PADROEIRO DA MAÇONARIA

OSVALDO PEREIRA ROCHA

Mestre do GOAM.Sócio Efetivo do IHGM, fundador da AMML e do IHMM,e membro efetivo da AMIL ([email protected])

A História da Igreja Católica Apostólica Romana registra que ela ao longo dos anos santificou centenas de pessoas, dentre estas 33 Joãos. Eis os nomes de alguns, além dos dois evangélicos São João Batista e São João Evangelista: São João de Deus, São João de Calibita, São João Esmoler, São João Crisóstomo, São João do Egito, São João de Jerusalém e São João Clímaco, entre outros.

Um desses é o Padroeiro da Maçonaria, em que pese a Maçonaria inglesa adotar São Jorge como seu Padroeiro, mas qual deles? O Ritual escocês antigo e aceito não o define. Trata-se de um São João indeterminado? Invocação apenas? Ou somente uma personagem ou uma lenda? O Ritual Adonhiramita se refere a São João de Jerusalém. Será este o nosso Padroeiro?

A seguir um pouco das biografias pesquisadas que mais conteúdo filosófico e esotérico maçônico: de São João Clímaco, São João Batista e São João Evangelista.

O primeiro nasceu por volta do ano 550 na Palestina, passou sua adolescência nos arredores do Mosteiro de Sinai, instruiu-se em Ciências Humanas e, com dez anos, juntou-se a um ancião de vida Santa de nome Martírio e com ele praticou vida monástica por quatro anos. Aos 75 anos foi reconhecido como homem Santo. Seu primeiro trabalho teve o título de “Clímax ou Escada”, que era a sua Escada do Paraíso, com trinta degraus, tendo por inspiração a Escada de Jacó, que continha os mistérios das virtudes cristãs e religiosas.

O segundo é dos personagens bíblicos mais carismáticos que surgiu depois de cinco séculos de verdadeira escassez de profetas. Muito contribuiu para os momentos de Paz, eis porque era chegado o momento do nascimento do Nazareno, o Messias, o Salvador Jesus Cristo. Batizou Jesus no Rio Jordão e depois se afastou da Galiléia pregando e anunciando a existência do Mestre Jesus. Muito tempo depois conheceu o Rei Herodes e este se incomodando com as suas professias, o mandou prender. Mais tarde, a pedido da mãe de Salomé, deceparia sua cabeça e a entregaria em uma bandeja à Salomé. Perplexos, osdiscípulos de João guardaram seu corpo em um túmulo e foram contar a Jesus o acontecido.

O terceiro, um dos discípulos de Jesus, quando da prisão de Jesus os soldados o reconheceram e tentaram agarrá-lo, ao segurarem suas vestes, uma túnica, João desprendeu-se deles e saiu em fuga, nu. Era um discípulo dócil, amado e acariciado por Jesus que, mais tarde, o entregou a Maria para cuidá-lo. João Evangelista foi pescador no Mar da Galileia onde conheceu João Batista. É denominado Apóstolo do Amor pela sua linguagem transcendente, a humildade e doçura; é o amor fraterno. A sua grande obra profética, o

Apocalipse, escrito em Patmos, narra a visão que teve sobre a nova vinda do Messias. Na noite de 25/06/2010, o Grande Oriente Autônomo do Maranhão – GOAM homenageará SÃO JOÃO, sendo que 24 de junho é a ele dedicado, com uma festa junina, a partir das 19h, na Rua General Arthur Carvalho, 123 – Miritíua – Turú, nesta cidade de São Luís do Maranhão, quando também comemorará o 1º ano da gestão Osvaldo Rocha e este lançará o livro Maçonaria – Uma Instituição Admirável.

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A FORMAÇÃO DO EDUCADOR NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

DILERCY ARAGÃO ADLER

A educação pode ajudar o homem a ser sujeito. Não qualquer educação, mas uma educação crítica, dirigida à tomadas de decisões e à responsabilidade política. Paulo Freire

No tocante à reflexão do papel do educador e, especificamente o que diz respeito

aos antecedentes da sua prática, que é a sua formação, faz-se pertinente lembrar que é certo

que a grande maioria dos educadores tem a clareza de que existem dissonâncias entre o

discurso e a prática pedagógica, já que prepondera ainda na instituição escolar das sociedades

industriais ocidentais, uma clara inclinação à manutenção dos pilares conservadores da escola,

tais como: organização burocrático-cartesiana e disciplinadora, centralização das decisões,

seletividade e exclusão do grande contingente populacional em idade escolar, avaliação

classificatória e um ensino que privilegia a dimensão conceitual em detrimento da dimensão

procedimental e, principalmente, da dimensão atitudinal, em todos os níveis de ensino.

Faz-se pertinente lembrar nestas argumentações que, a forma em que se estabelece

a economia, a cultura e se organiza o poder (o sistema político) reflete-se diretamente na

projeção e organização do ensino. A escola, portanto, expressa uma íntima conexão com a

sociedade em seu conjunto.

Logo, todo Sistema de Ensino realiza e expressa de modo determinado, a

sociedade da qual é parte. Assim, institui-se não como realidade autônoma, mas, sim, como

uma expressão de um tudo social mais amplo.

A partir dessa premissa, o Sistema de ensino brasileiro, na atualidade, demonstra absorver e expor idéias, ideais e práticas neoliberais, conservando fortes traços da sociedade colonial escravista e marcada pelo predomínio do espaço privado sobre o público, principalmente no ensino universitário. As relações sociais nele estabelecidas, apresentam diferenças assimétricas que se refletem em desigualdades, as quais assumem formas de opressão configurando relações apoiadas no binômio: mando-obediência, como exemplo das demais relações das diferentes instâncias sociais.

Embora nas relações entre as diferentes pessoas, desde sua condição de gênero, raça, estrato social e outras, resultem em desigualdades, estas sofrem um processo de naturalização, banalizando e justificando a violência (tanto material como simbólica) e, ainda, fortalecendo um fascínio pelos signos de prestígios expressos no modelo dominante.

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A esse respeito, Paulo Freire afirma que o dominado é hospedeiro do dominador e, possivelmente, esta é a característica mais desestruturante da construção pedagógica, psicológica e social do indivíduo e a mais eficaz no impedimento das mudanças educacionais e sociais necessárias no sentido da construção de uma sociedade mais igualitária.

No caso do Brasil, em 1930, o “Manifesto da Educação Nova”, documento resultante do movimento político-pedagógico, que marcou, como poucos, a história brasileira, já destacava a educação como o mais importante e grave problema nacional, o qual perdura até os dias atuais.

Convém enfatizar que essa assertiva apresenta sua sustentação na lógica neoliberal e esta a sua vez, apresenta um discurso desvinculado de sua essência, ou seja, se a educação experienciada pela escola capitalista atender aos interesses de uma sociedade verdadeiramente democrática e mais justa para todos seus membros, desmontará, a ordem social vigente e isso não interessa à classe hegemônica. Disto resulta que:

O objetivo, desde 1946, de alfabetização em massa, continua intangível e a

universalização do ensino fundamental em oito anos, prevista pela Constituição de

1967, não foi alcançada [...] Ao contrário de outras nações que perceberam cedo a

relação entre desenvolvimento e educação, o Brasil- por erros de visão - busca

atacar o problema com medidas emergentes e de salvação [...] (NISKIER, 1997, pp.

7).

No que se refere à universidade, o modelo atual tem ainda as suas bases na reforma universitária (1968) do governo militar. Os governos que o sucederam, de algum modo, mantiveram, muitas dessas ações, configuradas em:

– desobrigação do governo cada vez mais crescente com o ensino universitário;

– fomento do ensino universitário privado;– semi-congelamento das vagas do ensino universitário; – ampliação do controle político sobre as instituições de ensino superior;– desestímulo à investigação, ou seja, toda investigação deve estar

articulada aos interesses das grandes empresas;– diminuição do potencial crítico dos segmentos da universidade.

O exposto denota a dimensão política de toda educação, segundo Charlot apud Gadotti (1975, p. 140):

Pode-se dar a idéia de que a educação é política, pelo menos em quatro sentidos que

se articulam uns como os outros: a educação transmite os modelos sociais, a

educação forma a personalidade, a educação difunde idéias políticas, a educação é

encargo da escola, instituição social.

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Essas colocações permitem a compreensão do modelo de homem e do modelo de sociedade configurados pela escola capitalista e os valores morais que estão imbuídos nas idéias por ela transmitidos e trabalhados.

No caso da sociedade estratificada em classes sociais, não ficam dúvidas a respeito de qual classe terá suas idéias e valores transmitidos de forma privilegiada. Assim, as camadas populares, no capitalismo, ficam excluídas do acesso aos níveis de ensino mais elevados.

A universidade, nesse contexto, tem em sua ação resultado decisivo para a formação ou não de profissionais do ensino, atentos às necessidades educacionais das camadas pobres, que, em última análise, na primeira opção, resulta de uma postura honesta e solidária para com a grande maioria da população. E, na perspectiva da formação de um profissional comprometido com a democratização da educação, não basta ensinar métodos e técnicas de ensinar, é necessário acima de tudo, formar um profissional humano, com visão social e política, de modo a configurar-se em um agente cultural, um mobilizador da população e não, como na maioria das vezes, um desmobilizador social, um policial da educação. Portanto, a responsabilidade da universidade na formação social de um professor consciente e mobilizador, cresce cada dia, frente à precariedade, cada vez mais acentuada, dos graus iniciais e médios.

Cumprindo o papel de orientar ao jovem universitário para uma prática pedagógica com as camadas populares, que é o grande contingente populacional da sociedadecapitalista, a Universidade deve colocá-lo frente à realidade social e ainda fortalecer as condições para uma vivencia mais solidária e honesta através da imersão nas condições reais de existência dessa grande maioria da população.

Em síntese, trata-se de que a universidade estabeleça diretrizes para a formação de um profissional do ensino dotado de consciência crítica, capaz de tomar decisões e assumir compromissos, desmontando o modelo do profissional da educação apenas como um técnico, quase sempre de “boa vontade”, embora ingênuo e tecnicista.

No referente à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional-LDB, Nº 9.394, promulgada em 20 de dezembro de 1996 que normatiza a educação escolar no país, estabelece entre os princípios e fins da educação, em seu 2º artigo que :

A educação é dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e

nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do

educando, sua preparação para o exercício da cidadania e sua qualificação para o

trabalho.

Em seu capítulo IV, que trata da Educação Superior, o centro das finalidades explicitadas se referem a:

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– estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do

pensamento reflexivo; – incentivar o trabalho de investigação científica, obtendo o desenvolvimento da ciência e tecnologia e da criação e difusão da cultura, desenvolvendo o entendimento do homem e do meio no que vive;– promover a divulgação de conhecimentos culturais, cientistas e técnicos e suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional; – estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular dos nacionais e regionais, emprestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade;

– promover a extensão, aberta à participação da população, contribuindo à

difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da investigação

científica e tecnológica geradas na instituição.

Em todo o discurso explicitado ao longo dos 9 (nove) títulos e 92 (noventa e dois) artigos da lei, percebe-se plena coerência com uma sociedade verdadeiramente democrática e atenta aos princípios de liberdade e respeito às diferenças, honesta e solidária. Entretanto, isto se contrapõe à realidade prática, percebe-se que destinar a uma sociedade estratificada, cujas camadas sociais não usufruem os mesmos direitos e não dispõem das mesmas condições objetivas, essa legislação passa a ser, segundo Severino apud Brzezinski (1997, p. 56), “estratagema ideológico, prometendo exatamente aquilo que não pretende conceder”.

Em outras palavras, apenas uma pequena parte da população em idade escolar universitária tem acesso à universidade; a grande maioria da população não tem e, além disso, também não usufrui dos benefícios e avanços produzidos no âmbito dessa mesmauniversidade. Ao mesmo tempo aqueles que têm o privilégio de ingressar no ensino superior não têm a garantia da superação do caráter ideologizante, em situações diversificadas do ambiente e práticas acadêmicas.

Entretanto, apesar das contradições existentes entre o texto e a realidade, não se pode deixar de considerar o importante papel que a lei desempenha na aplicabilidade e no próprio embate de uma política educacional.

Da mesma forma, não se pode deixar de registrar igualmente que, se a universidade insistir em manter em sua prática uma posição tradicional- conservadora, excluindo e marginalizando um grande segmento populacional, em vez de colocar-se como elemento central de desenvolvimento, estará ela mesma contribuindo a marginalidade e contribuindo para um suicídio social da nação brasileira.

Entre as contribuições mais importantes para subvencionar estas argumentações, encontra-se a tarefa de educar que, segundo alguns autores, não é apenas formar indivíduos tecnicamente capazes e de modos civilizados, além disso, é necessário, conduzir energias e estimular o desejo de aprender, desenvolvendo no indivíduo todos os aspectos de sua personalidade, fortalecendo seu caráter e estimulando sua criatividade.

Os sistemas educacionais vigentes fragmentam o conhecimento, dissociam o

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aspecto físico e material dos aspectos mental-emocional, intelectual-ético e psíquico-espiritual da personalidade, que compromete o desenvolvimento integrado das potencialidades do ser humano.

Os métodos educacionais, de modo geral, não dão a devida importância aos valores humanos e espirituais (e por isso mesmo não os têm em consideração), os quais devem ser a base de toda proposta educacional. A qualidade do trabalho educativo deve passar pela questão da capacidade técnica e política e da presença de uma dimensão ética nessa capacidade.

Paulo Freire (1983), na Pedagogia do Oprimido, trata principalmente de dois modelos de educação:

a educação bancária: a serviço da domesticação, da alienação para a reprodução das condições de produção de uma sociedade marcada pela dominação e exploração; nesta educação é realçada a contradição educador–educando; a educação libertadora/problematizadora, que objetiva a superação da opressão e da contradição educador-educando.

Ainda nessa obra, de alcance mundial, Paulo Freire enfoca a dialogicidade como essência da educação, como prática da liberdade, assim como o diálogo verdadeiro que implica em um pensar crítico, condição indispensável para a superação da contradição inerente a antidialogicidade.

Em “Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa”, Paulo Freire (1988) ensina a ensinar, materializando uma ética pedagógica e uma visão de mundo sobre as bases da rigorosidade, investigação, criticidade, risco, humildade, bom senso, tolerância, alegria, curiosidade, esperança, capacidade, disponibilidade, ou seja, demonstra em uma linguagem clara, a capacidade técnica e científica e o rigor de que o professor não deve renunciar no desenvolvimento de seu trabalho, e que isto não resulta incompatível com a afetividade necessária nas relações educativas.

Para Paulo Freire, o diálogo é uma exigência existencial que não pode reduzir-se a um ato de depositar idéias de um sujeito no outro, tampouco voltar-se simples mudança de idéias a ser consumidas pelos permutantes. “Não é também discussão guerreira, polêmica, entre sujeitos que não aspiram a comprometer-se com a pronúncia do mundo, nem procurando a verdade, a não ser impondo a sua” (FREIRE, 1990, p. 93).

O exposto reafirma a compreensão de que a escola, apesar de reproduzir massivamente os interesses da classe dominante, nela também estão representados osinteresses das classes subordinadas e, para estas, a escola pode constituir-se em instrumento de luta contra a dominação cultural, possibilitando o desenvolvimento de uma consciência política, acesso ao fortalecimento de valores éticos voltados para o estabelecimento de

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relações, nas quais o servilismo, o individualismo e o espírito de competitividade egoísta sejam superados.

Para a superação da atual educação “deseducadora”, é necessária a busca de novas metodologias e estratégias pedagógicas apoiadas em uma política social e humana para todos os membros da sociedade de acordo com as especificidades dessa mesma sociedade.

Com base nessas premissas, expõem-se, a seguir, alguns direcionamentos para a reflexão acerca do papel do educador e, especificamente o que diz respeito à sua formação, segundo ADLER (2005, p. 64):

Compreensão da existência de mudanças culturais e, em que medida, a escola através de seu trabalho educativo enfrentará o problema das crises e mudanças axiológicas;

Existência da preocupação com a formação do educador tomando em conta a capacidade técnica e política e, ainda, da presença de uma dimensão ética nessa capacidade;

Enfoque enfático na atuação do homem em seu mundo, com apoio em valores éticos compatíveis com uma sociedade justa;

Preocupação em contribuir para a formação de indivíduos não só tecnicamente capazes, mas em todos os aspectos de sua personalidade, enfatizando a necessidade de um trabalho educativo na área dos valores morais;

Preocupação com a construção de um corpo teórico, mediador entre os fundamentos filosóficos, históricos, sociológicos no âmbito dos estudos sobre o que fazer da prática educativa;

Necessidade da existência de uma ética pedagógica e uma visão demundo sobre as bases de rigorosidade, investigação, criticidade, tolerância, disponibilidade, entre outros.

Conhecimento profundo da própria realidade social, com respaldo teórico crítico, indispensável para uma apreensão da essência -além da aparência - dessa realidade, lembrando que é essencial, nessa perspectiva, uma capacidade de abrir-se ao mundo, aceitando-o ou negando-o para transformá-lo.

Auto-conhecimento, também profundo, lembrando que a singularidade de cada ser social tem um vínculo com seu coletivo; embora o desconhecimento dessa imbricada conexão “indivíduo-sociedade” impede muitas vezes, os avanços dos projetos coletivos, consusbstanciados pela tão bem engendrada ideologia dominante, disseminada com esse fim.

Elevação da auto-estima e da fé no potencial criador dos alunos, associadas à conscientização da necessidade de empregar esses talentos

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ao serviço do bem comum, da coletividade, estimulando o espírito de equipe, a solidariedade e a honestidade.

Compreensão da importância do papel do professor como mediador no processo de fortalecimento dos valores morais compatíveis com uma sociedade humanizada.

Compreensão da necessidade de utilizar estratégias reflexivas que permitam elevar o nível de consciência crítica dos alunos nas dimensões valorativas de um modo geral.

Compreensão, também, de que a felicidade é o estado natural do ser humano, portanto, incompatível com a preocupação do “Ter” em detrimento do “Ser”, e que o progresso individual só é viável no progresso social, no bem-estar coletivo, não apenas no individual.

Vivência do amor como pilar de sustentação da vida intra e interpessoal, dentro de um contexto social e histórico mais amplo.

Para finalizar lembra-se Leonardo Boff enfatizando:A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender, é essencial

conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer: como alguém vive, com quem convive, que experiências tem, em que trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam. Isso faz compreender a sua interpretação.

E exorta-se:A felicidade só nos será acessível se nos permitirmos a liberdade de ser o que

somos e estendermos ao outro essa possibilidade. Assim, derrubamos as barreiras do medo que nos amordaçam e nos prendem numa incompletude e infelicidade inenarráveis.

REFERÊNCIAS

ADLER, Dilercy Aragão TRATAMENTO PEDAGÓGICO DOS VALORES MORAIS: da compreensão teórica à prática consciente. São Luís/MA: Estação Produções, 2005.BOFF, Leonardo. A águia e a galinha. Petrópolis: Vozes,1998.

BRZEZINSKI, Iria (org.). LDB interpretada: diversos olhares se entrecruzam.São Paulo:

Cortez, 1997.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

____________. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.

GADOTTI, Moacir. Concepção dialética da educação. São Paulo: Cortez, Ed. 1975.

NISKIER, Arnaldo. A Nova Lei da Educação. São Paulo: Editora Edições Consultar, 1997.

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A POÉTICA NO DISCURSO DO DOMINADOR: a permanência dos franceses no Maranhão na narrativa de D’Abbeville – de Dilercy Adler, foi publicado também no sitio http://joaobatisdotalago.ning.com/forum/topics/a-poetica-no-discurso-do?commentId=2308804%3AComment%3A7628

Rede de Divulgação da Cultura, das Artes e da Literatura Maranhense

http://joaobatisdotalago.ning.com/

Caríssima Dilercy.Boa noite

Acabo de ler o teu excelente artigo. Obrigado por disponibilizá-lo e, assim, contribuir para que eu aprendesse um pouco mais.

Quanto à temática propriamente - A POÉTICA NO DISCURSO DO DOMINADOR - devo salientar que há um livro que sempre o leio, intitulado O POVO BRASILEIRO, de autoria do mestre Darcy Ribeiro, e que trata muitíssimo bem deste assunto...

Pessoalmente penso que a poética no discurso do dominador vem de priscas eras. Se tomarmos, por exemplo, como ponto de partida a velha Grécia, vamos encontrar ali uma imensa e farta literatura, sobretudo a poética, que se nos revelam esse "olhar estranho" em relação aos dominados.

Penso, por outro lado, que a Religião - e o Catolicismo em especial - só veio aumentar essa profissão de fé, ou seja, de dominação porque trabalha com o campo do fantástico, quer dizer, coloca em pauta a culpa como forma de opressão silenciosa sob a "imagem" de um Deus que é - ao mesmo tempo - opresssor e repressor, mas capaz da dádiva da salvação.

Ora, essa questão é singularíssima: retire-se a informação e a formação para que se possa atuar com maior tranquilidade no campo das dominações.

Não é à toa que dizemos, hoje, que quem detém a informação e a formação é, possivelmente, o grande Leviatã, ou seja, o grande dominador. E dentre todos os sujeitos, hoje, que detém a informação e a formação é o Estado nacional... Exatamente aquele que nos oprime e nos domina...

Eis, pois, esta minha contribuição para este debate, sabendo que o que aqui disse é muito pouco para explicar a dimensão do tema.

Receba carinhosamente um forte abraço.

João Batista do Lago

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SER PROFESSOR: UMA PROFISSÃO EM CONSTRUÇÃO

TELMA BONIFÁCIO DOS SANTOS REINALDO

Professora do Departamento de História da UFMA, integrante do Instituto Histórico Geográfico do Maranhão – IHGM, doutora em Ciências da Educação pela Unb.

Na sociedade contemporânea, as rápidas transformações no mundo do trabalho, o

avanço tecnológico configurando a sociedade virtual e os meios de informação e comunicação

incidem fortemente na escola e na formação dos professores, aumentando os desafios para

torná-la uma conquista democrática efetiva. Transformar práticas e culturas tradicionais e

burocratizadas através dos tempos na formação dos profissionais da educação não é tarefa

fácil e nem tampouco simples.

O grande desafio que se coloca a nossa frente é encontrar saída que nos permitam

trazer para a sala de aula dos cursos de formação de professores propostas educacionais que se

afine com a legislação oficial desses novos tempos e do mesmo modo valorizem a formação

dos profissionais do ensino escapando da racionalidade técnica que os considerava meros

executores de decisões alheias, substituindo essas velhas praticas por uma metodologia que

reconheça sua capacidade de agir na incerteza e decidir na urgência (PERRENOUD, 2000).

Entendendo que a democratização do ensino conforme pleiteia a Lei de Diretrizes

e Bases da educação (LDB 9394/96), passa pela formação dos professores, por sua

valorização profissional e por melhores condições de trabalho, pesquisadores têm defendido a

importância do investimento no seu desenvolvimento profissional. Esse processo envolve a

valorização da formação inicial e continuada, articulada, identitária e profissional.

Esse identidade profissional é epistemológica, ou seja, reconhece a docência como

um campo de conhecimento especifico configurado em quatro grandes conjuntos, a saber: i)

conteúdos especifico da área; ii)conteúdos didáticos-pedagogicos; iii) conteúdos ligados a

saberes do cotidiano e, iiii) conteúdos ligados a explicitação do sentido da existência humana

individual, com sensibilidade pessoal e social, destacando a docência como um campo

especifico de intervenção profissional na prática social, conforme nos aponta Pimenta (2008).

Dessa forma, para os profissionais que integram a área de conhecimento da

História, a substituição do currículo mínimo por um instrumento diferente é uma necessidade

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que se impunha a bastante tempo em virtude do baixo grau de profissionalização dos

professores em exercício na escola básica e uma pratica de ensino-aprendizagem que

contemplasse a pesquisa no exercício da docência.

Estas mudanças vieram também contemplar a aproximação entre bacharéis e

licenciados, pois com a modernização da base legal a pesquisa tornar-se principio educativo e

vem contribuir para uma construção identitaria do professor capaz de ter domínio da natureza

do conhecimento histórico e das praticas essenciais a sua produção e difusão, suprindo

demandas sociais relativas ao seu campo de conhecimento e aos setores culturais, políticos

educacionais

Em nossa sala de aula na Universidade Federal do Maranhão, no exercício da

docência do componente curricular Pratica de Ensino I temos colocado em pratica novas

metodologias que se afina com a base legal da educação brasileira e com as exigências do

mundo do trabalho objetivando contribuir para a construção de um profissional mais humano

e integrado a uma sociedade onde a indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão

transformou-se em preceito constitucional e institucional.

Ao construir o Plano de Disciplina, optamos por uma abordagem reflexiva

(Zcheiner, 1992), onde buscamos situar o licenciando nas múltiplas dimensões das

experiências dos sujeitos históricos, bem como na constituição de diferentes relações de

tempo e espaço, conforme as Diretrizes Curriculares dos Cursos de Graduação – área de

História (PARECER N.º:CNE/CES 492/2001).

Tomando como referencia a legislação oficial dividimos a dimensão prática em

módulos que contemplam:

1º Módulo - a leitura analise e interpretação da base legal da educação brasileira

(Constituição Cidadã de 1988, LDB 9394/96, Diretrizes Curriculares de História, Parâmetros

Curriculares da Educação Básica, Diretrizes Curriculares do Ensino Fundamental e Médio,

Lei 10.639/03 e Propostas Curriculares do Município e do Estado do Maranhão), objetivando

situar o futuro professor (a) na realidade educacional brasileira e maranhense, bem

instrumentaliza-lo no sentido de compreender o porque da necessidade de transformar as

praticas de sala de aula de História na Educação Básica.

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2º Módulo – objetivando contextualizar a base legal e as práticas docentes

desenvolvemos seminários de textos explicativos do sistema nacional de educação, tratamos

do planejamento educacional, do cotidiano escolar e da organização curricular, buscamos

entendimento da avaliação nacional da educação brasileira como processo necessário para

melhorar o ensino e incluímos sessões fílmicas e documentários ( Nenhum a menos, o Jarro,

Escritores da Liberdade; Edgar Morin e o pensamento complexo, Gardner e as inteligências

Multiplas) onde poder-se-á analisar experiências ficcionais ou reais de práticas educativas

com base nas orientações advindas dos PCN’s.

3º Módulo – tratamos de contemplar a pesquisa como recurso educativo

(DEMO,1998), utilizando a pedagogia de projetos para a montagem de uma proposta de

intervenção afim de visitar e conhecer o cotidiano das escolas de Educação básica do

Município de São Luis, o que pensam os gestores, educadores e alunos dessas escolas

escolhidas aleatoriamente, sobre o ensino de História, como atuam os egressos do curso de

História e qual suas expectativas em relação as mudanças oriundas da reforma educacional

contemplada na legislação oficial, ou seja, procuramos levar nosso aluno a incursionar no

campo da pesquisa com a base epistemológica do módulo anterior, demonstrando que o ato de

pesquisar carece de conhecimento teórico 9relação teoria X pratica).

O retorno dessa atividade orientada com instrumentos de investigação educativa é

coroado com uma oficina onde todos os alunos apresentam suas considerações a cerca da

intervenção nas escolas aos seus pares, recebendo criticas e contribuições para a confecção de

seu relatório de pesquisa, assim partindo do discurso da professora da cadeira sobre o cenário

real da escola brasileira e maranhense agora eles possuem um feed-back construído por eles

sobre o ambiente de exercício profissional dos mesmos no futuro bem próximo.

4º Módulo – nesse momento procuramos tratar do ensinar História tomando como

referencia o livro das professoras Maria Auxiliadora Schmidt e Marlene Cainelli publicado

pela Editora Scipione,2004, onde estão reunidas questões relativas a metodologia e prática do

ensino de História, abordadas com base na produção historiográfica e nas propostas

pedagógicas atuais. Organizada em forma de lições ou aulas o livro está estruturado em

seções , onde contempla a teorização, o debate, as atividades praticas , o retorno ao debate

para aprofundamento e por fim uma bibliografia comentada, enfim contribuições

significativas para a tarefa de ensinar História. A metodologia utilizada para que todos

conheçam a obra é de Seminários abertos onde em dupla os alunos se responsabilizam por

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cada temática contemplada no livro que vai desde a origem da disciplina História passando

pela construção do fato histórico, noções de tempo, conceitos e fontes históricas até conceitos

de historia oral, local, livro didático, cinema e musica como recursos para o ensino de Historia

e a problemática da avaliação do ensino de Historia.

Acreditamos com essa metodologia construir em nossos alunos a consciência de

que não existem verdades absolutas em matéria de História, que o bom historiador age como

detetive, que o estudo do presente é o começo de tudo além do que trabalhar com a

interdisciplinaridade amplia a visão dos alunos, pois eles captam informações, da mídia, dos

livros, dos amigos, dos educadores em exercício, de suas andanças pela rua e levam para a

sala de aula onde o professor ajuda-os a organizar essa coletânea de dos fragmentados por

meio do dialogo, do debate e da critica, esse papel do professor é catalizador e agregador de

particularidades, um verdadeiro quebra-cabeça onde as peças vão se encaixando, através de

questionamentos, pesquisas confrontando versões oficiais e de rotina, para finalmente

encontrar a sua melhor maneira de ensinar-aprender História.

Quanto à avaliação trabalhamos com o portfólio entendido como um dossiê, uma

coleção organizada e devidamente planejada dos trabalhos produzidos pelo aluno ao longo do

semestre letivo. Em nosso caso o mesmo é produzido a cada modulo contendo os trabalhos

produzidos, sejam resumos das aulas expositivas, resenhas de textos, comentários de filmes

ou documentários, analise da legislação oficial, trabalhos individuais ou de grupos de forma a

proporcionar uma visão pormenorizada dos diferentes componentes tratados em sala de aula e

desenvolver as habilidade redacionais e cognitivas do aluno (a).

Os trabalhos inseridos no portfólio devem trazer como anexos os documentos

pertinentes bem como fotos, charges, diagramas, desenhos, todos datados de forma a fornecer

informações progressivas da aprendizagem e experiências adquiridas pelo aluno. Para

organiza-lo o aluno (a) será orientado (a) pela professora, pois em se tratando de uma

atividade acadêmica deverá ter : índice, introdução, trabalhos desenvolvidos, comentários e

ou reflexões que serão as considerações finais, deverá ser encadernado pois servirá de guia

acadêmico na sua formação e profissionalização.

No portfólio será avaliado a sua organização, cuidados na seleção do material,

correção e adequação dos processos e produtos apresentados, reflexão sobre os trabalhos

desenvolvidos e sua evolução ao longo do semestre, afim de verificar as situações de melhor

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aprendizagem, descobrir áreas de interesse do aluno, perceber como o aluno se auto-avalia e

avalia o professor, desenvolver seu espírito critico, capacidade autonomia nos estudos e

crescimento individual e coletivo.

REFERENCIAS

BRASIL, Ministério de Educação. PARECER N.º:CNE/CES 492/2001.

DEMO, Pedro. Educar pela Pesquisa. Campinas, SP: Autores Associados, 1997.

PERRENOUD, Phillippe. Ensinar: agir na urgência, decidir na incerteza. Porto Alegre: ArtMed, 2000.

PIMENTA, Selma Garrido. Estágio Docência. São Paulo: Cortez, 2008.

SCHIMIDT, Maria Auxiliadora e CAINELLI, Marlene. Ensinar História. São PAULO: Scipione, 2004.

SHORES, Elizabeth e GRACE, Cathy. Manual de Portfólio: um guia passo para passo para o professor. Porto Alegre: ArtMed, 2001.

Zcheiner, Ken. Novos Caminhos para o Practicum: Uma Perspectiva para os Anos 90. In Nóvoa, A. (Coord.). Os Professores e a sua Formação. Lisboa: Publicações Dom Quixote/Instituto de Inovação Educacional,1992.

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OS BIG-BROTHERS DE CADA DIA NAS SOCIEDADES CAPITALISTAS

DILERCY A. ADLER

Psicóloga e Doutora em Ciências Pedagógicas, com especialização em Sociologia. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão- IHGMA

Como é do conhecimento geral, o big-brother é um reality show televisivo que é realizado em alguns países, e a versão brasileira apresenta objetivos e resultados similares, respeitadas as especificidades de cada país.

As opiniões ficam divididas entre críticas negativas contundentes e “engajamento idílico” no dia a dia dos confinados “na casa mais vigiada do Brasil”, segundo o seu apresentador, Pedro Bial.

O fato é que não pode ser negada nesse tipo de entretenimento a existência de interesses diversos inerentes ao capitalismo. Entre eles: econômico-comercial, promoção de imagens pessoais, modismos e, ainda, se configura como um fascinante instrumento de alienação, no momento em que desvia a atenção do povo brasileiro da análise e discussão de questões mais pertinentes à vida social, a exemplo daquelas de cunho político, econômico e social.

Durante o desenrolar do programa, expressivo contingente populacional faz as suas principais refeições, ocupa o pouco tempo livre disponível assistindo às “picuinhas” aos “romances sob os edredons” dos brothers.

Assim, analisando, poderíamos dizer que se trata de um programa que só traz prejuízos à população, a qual “perde” o seu tempo e se submete a mais uma forma de ideologização que já é tão perversa na nossa sociedade.

No entanto, atendendo aos pressupostos da metodologia dialética, pode-se tentar vislumbrar o outro lado do objeto analisado, através de uma interpretação de outra perspectiva.

O que significa esse big-brother glamouroso televisivo frente aos múltiplos e concomitantes big-brothers nos quais as pessoas das sociedades capitalistas estão arbitrariamente inscritos? A competitividade é a palavra de ordem nessas sociedades. Ser o melhor de todos, apontar e enfatizar o erro do outro (o próprio nunca), avaliar com fins de promover/rebaixar, aprovar/reprovar, não cumprindo os reais objetivos da avaliação que configuram em última instância o redirecionamento dos desacertos do objeto ou situação avaliada.

Os big-brothers diários se multiplicam. E o que nessas situações está sendo disputado? O amor da mãe, as melhores notas da classe, ser o mais bonito da turma de amigos, etc. São muitos e variados os prêmios, desde os materiais aos afetivos, dos mais minúsculos aos de grande tamanho e proporção, que por suas importâncias terminam por afetar a estabilidade emocional do sujeito.

Assim, as relações do dia a dia de cada pessoa são permeadas por insegurança e ansiedade no que diz respeito ao resultado de cada competição. E elas são sucessivas e intermináveis.

Como cada pessoa tem um limiar de tolerância à frustração e à tensão, a maioria fica muitas vezes como alguns dos brothers que confessam e, com certa frequência: “Lá dentro da casa é diferente, as emoções ficam à flor da pele.”

Mas pode ser afirmado, com uma margem segura de acerto, que não é só dentro daquela casa que isso acontece. Infelizmente, acredita-se que dentro de cada casa, de cada

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escola, de cada ambiente de trabalho, disputas, competitividades, stress, em maior ou menor grau se desenrolam e afetam de forma intensa as pessoas e lhes roubam a possibilidade da felicidade, da saúde afetivo-psicológica e as impedem de sentir o gosto do prazer maior de ser filho(a), irmão(ã), mãe/pai, amante, amigo.

Enquanto o ser humano viver em sucessivos e intermináveis big-brothers não poderá ser capaz de expressar plenamente atitudes permeadas por uma ética humanizada, nas quais a solidariedade, a honestidade e outros valores indispensáveis à vida coletiva sejam naturalmente experienciados.

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O RADIO, A GRANDE PAIXÃO

CARLOS ALBERTO LIMA COELHO

Cadeira 38

Todos os dias a mesma coisa. Em casa, no carro, no serviço, quando pinta uma oportunidade, o radinho de pilha ou o auto- rádio são meus companheiros. Não só por obra e graça da profissão que desde cedo aprendi a amar, mais, principalmente, para estar em dia com tudo o que acontece no mundo. As ondas sonoras mexem com a minha imaginação. Meu pensamento viaja quando, principalmente à noite, ouço emissoras de outros estados, de outros países. O radinho de pilha faz parte do meu cotidiano. Mesmo que esteja em meu leito, com a televisão ligada, estou sintonizado numa emissora, de preferência a que tem programas noticiosos ou comunitários no ar.

E a exemplo de muitos brasileiros, também costumo ouvir transmissões esportivas via rádio vendo o jogo pela TV. Ora, foram muitos anos como Plantão Esportivo, que me obrigava a ouvir vários jogos ao mesmo tempo para informar os gols, os resultados e outros acontecimentos para os ouvintes da nossa transmissão esportiva. Depois, essa necessidade virou hábito e não consigo mudar. Depois de plantonista, passei a repórter, a narrador de jogos pela TV, comentarista e apresentador de programas esportivos, no rádio e na TV. Como mudar, se essas atividades sempre aceleraram a minha vida?

Com o advento da televisão e mais tarde das rádios FMs, as emissoras AMs entraram numa fase de discriminação. Sabemos que os avanços tecnológicos correm com incrível rapidez. Que os veículos de comunicação têm passado por transformações necessárias para a melhoria da qualidade da imagem e do som. Infelizmente somos obrigados a acompanhar com tristeza certas mudanças na linguagem e no estilo de programas veiculados através do rádio e da TV, em nome dessa modernidade.

Na minha infância e de muitas outras gerações passadas existia a brincadeira da “língua do P”. Disse brincadeira. Não era levada a sério. Entretanto, por mais de uma década, nossos filhos, nossos netos, foram induzidos a aprender e até falar a “língua do X”, promovida pela TV Globo. Na vida, cada ser pensa e age da forma que lhe convier. Muita gente gosta dessa modernidade e empurra seus filhos ou netos para uma aprendizagem que deixa seqüelas, vícios que duram muito tempo, ao ter que conversar ou escrever certas palavras. Gosto não se discute.

O foco aqui, agora, é o aparelho de rádio. Esse que costumo chamar de amigo de todas as horas. Que coloca as pessoas em sintonia com o mundo. Um bom programa de rádio pode ser uma fonte de sabedoria, de entretenimento, formadora de opinião. Cada tipo de emissora tem o seu público e isso ninguém deve questionar, É uma questão de gosto, como já disse.

O que muita gente não sabe é que existem programações radiofônicas que superam a audiência da TV em muitos horários, principalmente depois da possibilidade de recebermos via satélite programas com excelente qualidade de som e muitos retransmitidos por emissoras de vários estados. Incluem-se nesse universo, programas religiosos, culturais, musicais e esportivos. Hoje se discutem a TV e Rádio Digital, mas é preciso também discutir

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programações, embora algumas vezes um fosse cópia do outro, mudando apenas no aspecto imagem e apresentadores. Basta lembrar que muitos profissionais, apresentadores, produtores e artistas, que fizeram o início da TV no Brasil, levaram a experiência do rádio AM.

Hoje se fala muito em rádios piratas, comunitárias, livres, corneta, cidadã. Poucos sabem defini-las, inclusive pessoas da área. Inegavelmente cada tipo tem a sua faixa de ouvintes, o seu público alvo. Aliás, esse termo pirata no Brasil, muito é usado para definir tudo aquilo que é ilegal, principalmente na área da indústria da produção cultural: música, vídeos, filmes cinematográficos, etc. ( o mercado informal está repleto de CDs, DVDs, calçados, roupas, etc., apesar da fiscalização. ) No que se refere à rádio, muitas nem são identificadas pelo público, são clandestinas, portanto, sem concessão do governo e podem interferir nas chamadas emissoras legais.

O professor do curso de Rádio e TV do Centro Universitário Municipal de São Caetano (IMES), Valdir Boffetti, aborda o assunto explicando que o termo pirata apareceu no fim dos anos 50, quando algumas emissoras de rádios que funcionavam em navios se instalaram na costa da Europa. "Naquela época, não havia emissoras comerciais. Todo sistema de radiofusão era público, ou seja, controlado pelos governos. Então, este tipo de transmissão ilegal foi um movimento que protestava contra este cenário. A transmissão de fora das águas territoriais visava escapar ao âmbito estatal". ( Pesquisa Internet)

A Rádio Comunitária é pleiteada geralmente por associações comunitárias e sua principal característica é não lucrar com a sua programação. Geralmente funcionam com a participação de pessoas leigas. É administrada por um conselho da comunidade, não pertence a religião, partido ou empresa e tem como objetivo o desenvolvimento da comunidade. A Rádio Comunitária opera em FM, e de acordo com a legislação ela tem que abrir espaço para todas as pessoas, todos os partidos e todas as religiões.

A Rádio Livre se parece com a Comunitária. Montadas por pessoas ou grupos com interesses próprios. Apareceu nos anos 70, na Europa, com o objetivo de “democratizar os meios de comunicação no mundo. Vamos pensar um pouco no que seriam as rádios livres funcionando num país de contrastes como o nosso. Vamos pensar nessas rádios criadas por grupos de esquerda, direita, religiosa, anarquista, comunista, socialista... com movimentos confrontando idéias. Quer dizer, queriam o direito de interferir na comunicação social. Essa idéia aportou por aqui dez anos depois, no momento em que havia clima de insegurança na política brasileira, o que motivou muita gente a criar sistemas de rádios próprios. A pressão na época foi muito grande, aliás, não muito diferente do que acontece nos dias de hoje devido a criação em massa de Rádios Comunitárias, apesar do surgimento da lei de radiodifusão comunitária regulamentada em 1998.

As chamadas rádios Corneta funcionam muito no interior e em ruas de intenso movimento comercial, propagando publicidade, música, utilidade pública e até notícias. Funcionam por meio de fios e cabos ligados a auto-falantes ou cornetas, presos e m postes, árvores ou paredes de prédios comerciais . Coisa de apaixonados por rádio que querem faturar um pouco com esse sistema de comunicação.

Rádio Cidadã é definida como emissora que tem sua programação voltada para as questões de cidadania, saúde, educação, meio ambiente e educação, segundo a Associação Mundial das Rádios Comunitárias, independentemente de situação financeira, qualidade ou tamanho.

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A grande rival da Rádio AM é a FM. Uma modalidade de freqüência modulada de boa qualidade sonora mas de alcance bastante limitado, alcançando cerca de 100 quilômetros com nitidez, ao passo que a de amplitude modulada ( AM ) cobre milhares de quilômetros. Surgiu no começo do século XX, nos EUA, depois que algumas empresas como AT&T e RCA contrataram cientistas e engenheiros eletrônicos para eliminar as interferências elétricas em amplitude modulada. O engenheiro americano Edwin Howard Armstrong descobriu o circuito generativo do super-heteróndino, que é a base dos receptores de rádio e do radar, em freqüência modulada, para uso do rádio e da televisão. Registrou patente em 1933. O sistema inventado foi utilizado na II Grande Guerra Mundial em telecomunicação a curta distância. O sistema era imune às interferências elétricas. Armstrong era professor de eletricidade na Universidade de Colúmbia. Montou sua própria estação em 1939, a primeira no mundo, em Nova Iork, ganhando conceito e popularidade. Em aproximadamente dez anos as emissoras de FM proliferaram no mundo.

Rádio-web não é radiodifusão e tampouco tem a recepção aberta e diversificada quanto a do rádio tradicional. Ela utiliza-se de características do rádio convencional e da internet, mas é um novo meio de comunicação, com suas peculiaridades, características, recursos tecnológicos e aplicações. Tecnicamente, uma web rádio é um sistema de transmissão de arquivos em tempo real, usando uma rede (no caso a internet) através de pacotes de informações (streaming). Ou seja, o arquivo é codificado, dividido em pacotes, transmitido para a rede, e o usuário que se conectar recebe esses pacotes de arquivo na medida em que é enviado para a rede. Um computador enviando dados (áudio, vídeo, não importa o conteúdo, tudo na internet é transformado em dados) pode ser acessado por usuários em qualquer ponto do planeta.

Todos os meios de comunicação causaram avanços tecnológicos e modificaram substancialmente a sociedade. Mas o impacto social causado pela internet é incomparável. O rádio via internet impõe transformações qualitativas. A origem dessa mudança está na sua própria criação, quando os militares criaram uma rede de comunicação sem um núcleo central. Daí nasce uma rede de comunicação totalmente fora de controle de quem quer que seja. E o rádio via internet vai surgir baseada nessa transformação. O internauta irá à busca do diferencial, e daí decorre uma grande segmentação de assuntos e identificação com os que falam na rede. Outra grande mudança qualitativa do radio pela internet é a interatividade. O rádio já é interativo por natureza, mas na internet essa interatividade é total. O ouvinte internauta não quer apenas ouvir o programa, ele quer falar, participar, ler mais informações sobre o assunto. Eles querem consultar arquivos, obter dados, ouvir programas já apresentados, comunicar-se com a rádio. As emissoras terão que pensar num público alvo cada vez mais específico, pois como é relativamente barato montar e administrar uma web rádio, a programação vai ser cada vez mais direcionada, e a cumplicidade e a busca do interesse comum são essenciais.

A programação da web radio deve ser pensada especialmente para o meio em que é difundida. O que acontece hoje em dia é a retransmissão das FMs locais pela web, para serem ouvidas de qualquer lugar do mundo. Isso não pode ser considerada web radio. Uma web radio de verdade pensa, cria e monta uma programação específica para a internet, considerando todas as características da rede. O material pesquisado pode e deve ser colocado no site, a disposição dos ouvintes. Outra característica é a transmissão ondemand, ou seja, o ouvinte acessa e escuta o programa que quiser na hora que quiser. Não é mais necessário esperar o programa na grade da emissora, você escolhe qual programa quer ouvir. Isso muda substancialmente a forma de administrar uma emissora. A publicidade deve ser pensada de

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acordo com o público alvo do programa, e não mais da emissora como um todo. (Apenas Rádio-web: Retirado de http://pt.wikipedia.org/wiki/R%C3%A1dio_Web )

Uma frase dita por um jovem, para seu vizinho que assistia a um jogo pela TV, ouvindo a transmissão através de um radinho de pilha, de que esse era um comportamento de velho, porque ele não se desgrudava do rádio. Que a linguagem era arcaica e que acriatividade dos narradores não batia com o que era visto na televisão, nos chamou a atenção. Foram palavras que nos levaram à reflexões positivas na busca de metodologias que permitam a valorização desse extraordinário veículo. Aquele senhor apenas disse que a emoção era maior e que se sentia à vontade utilizando esse velho “companheiro de todas as horas”. Que o Rádio AM ainda era uma das melhores invenções do homem, principalmente os receptores portáteis, que podem ser transportados para qualquer parte, sem prejuízo da qualidade do som.

Essa “coisa de velho”, de ouvir Rádio AM, vai continuar tocando em muitas gerações de novos que serão em breve velhos também. E esse sistema de comunicação que liga criança, jovens e velhos às coisas do mundo, que precisa sempre se adequar às mudanças, aos avanços da tecnologia da informação e da comunicação, há de resistir prestando valorosos serviços à humanidade.

MÁGICO UNIVERSO

Ainda na década de 60, quando comecei a fazer parte do rádio, o que chamo de mágico, fui aos poucos entendendo a cumplicidade entre o comunicador e o ouvinte. Uma espécie de “ fala que eu te escuto ou diga o que teu coração sente que eu te faço um mimo...” Quando me refiro a esse tipo de comportamento nada mais é do que para mostrar que a comunicação em estilo coloquial é capaz de reunir milhares de ouvintes em uma única sintonia. Foi em um desses programas, atuando como operador de áudio, que comecei a escrever as minhas primeiras crônicas amorosas e poesias, a pedido do locutor do “ Alma Brasileira “, Airton Reis, que “ falava aos noctívagos e principalmente para os românticos”.

Na verdade, através da música e da sua fala, procurava tocar intimamente nos radiouvintes, que mandavam cartas, falando sobre seus envolvimentos amorosos, suas alegrias ou decepções. “ ...Falando de amor e tocando no seu coração...”, como costumava dizer. Foi uma lição que também aprendi trabalhando em rádio. Tanto que até bem pouco, tempo tive o privilégio de apresentar programas parecidos em algumas emissoras de São Luis

“O que é o amor? O amor, ensina Diotima, nem é belo, nem feio, nem pobre nem rico, nem sábio, nem ignorante, nem mortal, nem imortal, nem homem, nem deus. O amor é um daimon, um gênio que serve de mediador entre os homens e os deuses. Sempre acompanhaAfrodite porque foi concebido na festa divina em honra a essa deusa. É filho de Poros (Recurso) e Penia (Pobreza), pelo lado paterno é astuto, sofista, filósofo e caçador; pelo lado da mãe de tudo carece. Longe de ser um deus poderoso é uma "força perpetuamente insatisfeita e inquieta" (Grimal).

Na tradição mitológica grega, a figura de Eros, deus do Amor, passa por uma evolução que vai da idade arcaica até a época alexandrina e romana. De acordo com as velhas teogonias, Eros nasceu ao mesmo tempo da Terra e diretamente do Caos primitivo. Também nasce do ovo primordial, engendrado pela Noite, que, em duas metades, faz a Terra e o Céu. É uma força vital que garante a continuidade das espécies e a coesão íntima do Cosmos. Sendo

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um deus, Eros recebe genealogias diferentes. Ora ele é filho de Ilitia, ou de Iris, ou de Hermes e Artemis ctônica. A tradição preponderante o faz filho de Hermes e de Afrodite.

Mas os mitólogos, que distinguem várias Afrodites, também distinguem vários amores: Eros, filho de Hermes e de Afrodite Urânia, Eros Antéros [Amor Contrário ou Recíproco], filho de Ares e Afrodite, filha de Zeus com Dione, Eros, filho de Hermes e de Ártemis, filha de Zeus e de Perséfone.

Sob a influência dos poetas, Eros muda de fisionomia. É representado como uma criança alada ou sem asas, que se diverte perturbando corações, que queima com suas tochas ou fere com suas setas. Os poetas alexandrinos gostam de mostrá-lo brincando com crianças divinas. Nas cenas infantis, ora é punido, ora posto de castigo pela mãe, ora ferido por espinhos de rosas que colheu etc. As pinturas de Pompéia tornaram esse tipo muito popular. Mas o que é constante é o fato de, sob a aparência de inocente, ser um deus de grande poder, capaz de ferir cruelmente.

(notas da conferência proferida na I Semana de Estudos Clássicos & Educação da Fac. de Educação da Univ. de São Paulo, 25-4-02) - Gilda Naécia Maciel de Barros

FEUSP “

Nem sempre entendemos situações extremas emanadas da razão e do coração. O popular tenta relacionar esse nobre sentimento, à figura do Cupido e sua flecha. Estudiosos nos ensinam que Cupido é o nome romano de Eros, o deus do amor, da mitologia grega. E que na arte, era retratado como um jovem alado, ligeiro e bonito, frequentemente com os olhos cobertos para simbolizar a cegueira do amor...

Talvez seja a voz do locutor, em tom coloquial, ou as músicas, que tocam na sensibilidade dos ouvintes, através das ondas do rádio, representem o cupido a despertar amores e paixões. Chega a ser comum romance entre comunicadores e ouvintes. Ou o despertar de amores platônicos, quando o imaginário cria certos mitos indescritíveis. É a força do rádio unindo sentimentos ou mudando comportamentos, anos após anos. Não há limite de idade. É um encantamento natural, que atravessa gerações.

Outro exemplo, visto ao longo das minhas atividades radiofônicas, são os programas ditos sentimentais, com consultas sobre problemas íntimos, feitas aos apresentadores. Estes passam a ser até confidentes de suas ouvintes. O ouvinte acredita na sua informação, na sua colocação, no texto que lê, nem sempre de sua autoria. É a magia do rádio que ainda nos dias de hoje é tido como o companheiro de todas as horas. Um veículo poderoso e às vezes pouco conhecido pelos seus dirigentes, seus proprietários, que não acompanham programação, preocupados com a vaidade empresarial e mercantilista que o veículo proporciona.

Lembro-me que certa vez, o dirigente de uma emissora de rádio mandou colocar no lixo todo o acervo de discos 78 rotações, que não serviam para nada, segundo ele. Além de outros objetos importantes que por si já contavam parte da história da empresa, porque era preciso modernizar tudo. Enquanto isso, li recentemente, que uma emissora de Minas Gerais, com mais de 50 anos de existência, possuía mais de dez mil itens, entre compactos, LPs e CDs, não mencionando o 78 rotações, mas já é um bom acervo.Quantas histórias não podem ser contadas através de uma música, uma gravação de depoimentos de pessoas importantes. O passado continua tão em sintonia com o presente que muitas gravadoras, sabendo da

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possibilidade de continuar conquistando o público, em especial as novas gerações com músicas de qualidade, reeditam sucessos e o volume de negócios chega a ser satisfatório. É esse tipo de modernidade que tem discriminado o rádio AM, que continua sendo um dos mais importantes veículos de comunicação inventados até hoje, pela sua capacidade de chegar a qualquer parte do planeta, dependendo da potência dos seus transmissores e da propagação do som. Como dizem os comunicadores “ saudade não tem idade...”

Disse, em outra oportunidade, que entre as décadas de 50 e 60, os serviços de auto-falantes estavam espalhados por vários bairros, na capital e no interior do estado. Que suas programações também eram importantes e que em determinados momentos a preferência por esse tipo de aparelho superava alguns programas radiofônicos. Eram sons que invadiam nossos íntimos e nos levava a muitos sonhos. Eu era uma criança que sentia saudades. Saudades do que? Inexplicável. As músicas da época mexiam de alguma forma com o meu íntimo e ficaram marcadas na minha mente para sempre. Cantores como Anísio Silva, Cauby Peixoto, Bievenido Grada, Ângela Maria, entre outros, que faziam sucesso antes da Jovem Guarda transmitiam encantamentos.

MEU VELHO RÁDIO

O meu velho rádio, na verdade não era meu. Era do meu pai Silvério, que permitia que eu sintonizasse várias emissoras em ondas curtas, não só para acompanhar os jogos do campeonato carioca, como também para ouvir musical e, principalmente, a Ave Maria e as crônicas de Júlio Louzada, ao cair da tarde, e radio-novelas, apresentadas logo em seguida. Era um Phillips, “Olho Mágico”, uma luz verdinha que aparecia no alto do canto esquerdo do receptor, que na parte baixa continha teclas que mudavam as faixas de ondas. Era uma ação empolgante, quase diária, para os meus oito anos de idade. A partir de então, o rádio praticamente passou a fazer parte do meu cotidiano. O gosto pela sintonia era evidente, e o que era mais importante, contava com o apoio dos mais velhos.

Os anos foram passando e fui me aperfeiçoando na sintonia, descobrindo as grandes emissoras, os grandes nomes da radiofonia brasileira e os famosos cantores populares. Aos doze anos, já manuseava com perfeição um pequeno rádio, à corrente, da marca Semp, em baquelite azul claro, onde sintonizava as emissoras do norte e nordeste. Passou a ser comum ouvir a Sociedade da Bahia, Clube e Jornal do Comércio, de Pernambuco, entre outras. Virou um fascínio na minha vida. O rádio parecia exercer certa magia, como meio de comunicação. Capaz de me fazer sonhar, viajar na imaginação, e sentir fortíssimas emoções, quer ouvindo músicas, mensagens, narrativas de jogos, etc.

Esse fascínio, esse amor, essa paixão, talvez tenham formado uma forte corrente positiva que acabou me conduzindo aos estúdios das emissoras. São mais de quatro décadas atuando na área. De foca, a operador de áudio, plantão esportivo, repórter, até chegar a diretor de jornalismo de algumas emissoras, foram longas caminhadas. Muitas barreiras para ultrapassar e, principalmente, sangue frio para suportar as adversidades da vida. Espero a paz no entardecer do meu tempo. Fascinação nos sonhos que ainda hão de vir. Ainda quero ouvir os sons melódicos dos pássaros em revoada. Ver o desabrochar dos botões em flores nas primaveras, o cair do pingo d’água na vegetação de minha chácara, para esquecer a solidão desses anos idos. Quero ainda contemplar o pôr-do-sol no entardecer dos sonhos, em forma de poesia e ver a aproximação da noite, e em seu véu escuro, assistir o cintilar das estrelas e de tantas outras luzes que o homem não conseguiu ainda desvendar o mistério. Quero sentir a brisa tocando em meu rosto envelhecido. Quero, sobretudo, ouvir a voz que chega ao meu

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receptor, o meu velho rádio, tentando explicar, em forma de poesia, no começo das madrugadas frias, as façanhas dos corações apaixonados, os sofrimentos causados pelas dores do amor não correspondido. Como disse certa vez um poeta: “poesia é elemento que nasce antes do verso e ultrapassa o sentido da palavra”. O amor não exige explicações. Simplesmente amamos, e nada mais. Quero imaginar a trajetória das ondas hertzianas, encurtando distâncias, trazendo alegria, alento, esperança e felicidade para muitos. Chegar ao meu receptor e invadir o meu íntimo para instalar sentimentos positivos.

Ah! Meu velho rádio, companheiro do meu amanhecer e anoitecer. Fonte que me proporciona também pautas para o meu dia-a-dia profissional sinalizando notícias que se transformam em matérias televisivas que vão ajudar a contar a história de muitas vidas. E que também me faz refletir sobre nossos comportamentos, enquanto comunicadores e formadores de opinião. Sobre a linguagem utilizada na hora da crítica devido os nossos interesses pessoais. Sobre o mau uso da gramática que nos leva a emitir frases ou pensamentos que não soam bem. Que nos levam às mancadas ou até mesmo que nos denunciam por não estarmos preparados para tão importante missão.

O RÁDIO E O FUTEBOL

Inegavelmente o rádio mexe com a emoção e de certa forma influencia gerações e ainda é referência na área no meio de comunicação de massa.

O futebol, em toda parte, deve muito ao rádio, e os dirigentes sabem disso, mesmo que criticados pela má administração dessa modalidade esportiva, em todos os seus segmentos. É comum, nas emissoras de rádio a veiculação de três programas esportivos diários, com certeza mídia gratuita para os clubes e federações, já que o futebol é divulgado maciçamente.

Quando me entendi, atuando como rádio escuta, ouvi nomes de consagrados narradores esportivos, repórteres, comentaristas e plantonistas, como os de Ari Barroso, Paulo Gracindo, Nelson Rodrigues, Armando Nogueira,Manuel Barcelos, Mário Filho, Carlos Frias; Oduvaldo Cozzi, Jorge Cury, Valdir Amaral, Haroldo Fernandes, Fiori Giglioti, Mário Viana, Doalcei Bueno de Camargo, Kleber Leite, Deny Menezes, Washington Rodrigues, Pedro Luís, Rebello Júnior, Edson Leite, Aurélio Campos, Renato Macedo, Ary Silva, Blota Júnior e Murilo Antunes Alves merecem destaque no rádio. Assim como Geraldo José de Almeida, Luciano do Valle, Galvão Bueno, Araken Patusca, Tomás Mazzoni, Otávio Gabus Mendes, César Rizzo, Clóvis Filho, Orlando Batista, Antônio Cordeiro e Raul Longras, João Saldanha, Luiz Mendes, Jairo de Souza, Osmar Santos, Oscar Ulisses, Gérson, “O canhotinha de ouro”, Rui Porto, Edson Mauro, Sergio Noronha, Gílson Ricardo, Cláudio Perrout, Antonio Carlos Duarte, Jorge Nunes, Wagner Menezes, André Ribeiro, José Trajano, Juca Kfouri , Paulo Vinicius Coelho, o qual tive o prazer de tê-lo como comentarista numa transmissão que fiz em Curitiba, pelo campeonato Brasileiro, num jogo entre Maranhão Atlético Clube e Coritiba, no começo da década de 80, Marcio Guedes e Fernando Calazans, Kfouri disse que o Paulo Soares, Paulo Eugenio Leal, Evaldo José, Carlos Eduardo Éboli, Marcelo Courrége, Rafael Marques, Maurício Moreira, Felippe Cardoso, Antônio Jorge, André Gonçalves, Sidnei Marinho, Cláudio Viviani, Waldir Luiz, Fábio Morais, Paulo Silva, Paulo César Rabelo, Alvacir José Márcio Nogueira, Wagner Luiz, Oscar Nora, Walter Cardoso, Edinho Silva e Walter Salles, Luiz Penido, além de muitos outros, que contribuíram para a evolução da narração esportiva no Brasil. Vozes que nos acostumamos a ouvir, que criaram estilos e detalhes que marcavam suas atuações e que tornavam seus trabalhos num verdadeiro espetáculo, proporcionando à nossa imaginação a criação de cenas como se estivéssemos nos

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estádios de futebol. Claro que não tivemos a oportunidade de ouvir Nicolau Tuma e Gagliano Neto, e mais alguns que os sucederam, os primeiro a narrar partidas de futebol no Brasil. Em todas as pesquisas que realizamos ao longo dos anos, o seus nomes sempre estiveram muito evidente na história da crônica esportiva brasileira.

Contam que a transmissão esportiva foi a principal responsável pelo desenvolvimento técnico em outros setores, principalmente no jornalismo, surgindo então as coberturas do radiojornalismo e as transmissões ao vivo dos jogos de futebol, contribuindo para o aparecimento dos repórteres em campo, carregando enormes equipamentos. Em 1948, no Rio de Janeiro, o primeiro repórter esportivo foi Geraldo Romualdo da Silva, na Rádio Globo, que usou o primeiro microfone-transmissor sem fio, pelo que se tem notícia. Um equipamento que mais tarde, depois de muitas mudanças técnicas para a sua melhoria, inclusive em tamanho e peso, ficou conhecido como BTP. Surgiram então outros nomes famosos como Luiz Fernando, Alfredo Raimundo, Geraldo Borges, Manuel Spezin Neto, o Bermuda, e Washington Rodrigues, entre muitos outros.

Fora as emissoras do eixo Rio-São Paulo-Minas Gerais e as da Região Sul, as do Norte e Nordeste também estiveram sintonizadas para que apurássemos melhor os resultados de toda parte. Rádios como a Sociedade da Bahia, Clube e Jornal do Comércio, de Pernambuco, Clube e Marajoara, de Belém, Verdes Mares, de Fortaleza, Pioneira e Clube, de Terezina, eram consideradas as principais sintonias para o serviço do plantão esportivo. Toda retaguarda de uma equipe esportiva tinha obrigação de ter o placar esportivo com todos os jogos que seriam realizados no Brasil e no exterior e acompanhar os resultados para divulgação durante a jornada esportiva e o balanço após a transmissão. No auge da Loteria Esportiva, entre as décadas de 70 e 80, quando os clubes do Maranhão eram incluídos, passávamos os boletins para as emissoras dos outros estado falando sobre as possibilidades das nossas equipes, para facilitar a aposta para o torcedor.

Interessante é que, às vezes atropelando a gramática, mas para usar expressões que se identificavam com o povão, muitas frases, chavões e apelidos retratam situações ou personalizam determinados jogadores. É comum o narrador dizer “ a bola passou raspando o travessão “, passou tirando a tinha do poste esquerdo ( ou direito ou na barra superior ), “ matou no peito”, “ desceu o pau”, “ pintou na área”, “ artilheiro “, “ isolou a bola “, “ a trajetória da bola”, “ fez um gol de letra ou gol de placa “, ( um belíssimo gol) , “ lá onde a coruja dorme”, “ balão de couro “, expressão hoje pouco usada,“ quicou no montinho artilheiro “, “ de trivela “, “ de voleio”, “ rabo de vaca “, “ alçou para a área”, “ tiro esquinado”, “ acertou em cheio “, “ bateu roupa “, “ de puxeta ou chilena“, “ uma bomba”, “ tirambaço “, “ na gaveta “, “ meia direita”, “ meia esquerda”, “ zaga”, “beques” “becões”, “goleirões”, “guardiões”, “ paredões”,” matador”, “maestros”, “ de bicicleta”, “ de sem pulo “, “ tocou a bola com o lado externo do pé direito ( ou esquerdo ), “ o jogador tem habilidade, chuta com os dois pés ( deveria explicar que com um de cada vez, dependendo da oportunidade. Se chutar com os dois ao mesmo tempo, com certeza vai cair ), “ a bola rechaçou na defesa adversária, “ é goooooooooooooool, que felicidade. O meu time é a alegria da cidade...”, etc.

Com certeza o ouvinte se sente como se estivesse nas arquibancadas de um estádio de futebol. E quando em campo, a maioria dos torcedores vê o jogo ouvindo a narração pelo rádio, o que causa estranheza a visitantes de outros países que acham ser desnecessário ouvir a transmissão, já que estão assistindo ao espetáculo futebolístico. É a força do rádio. É a

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confiança que tem o ouvinte nos repórteres, comentaristas e repórteres que muitas das vezes informam o que nem sempre está ao alcance dos olhos de quem está no estádio.

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TRINCHEIRA DA MARANHENSIDADE:DISCURSO DE JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS

AO RECEBER O TÍTULO DE CIDADÃO RAPOENSE55

Hoje Mais um Título para Maranhensidade: Cidadão Raposense

Transcreveremos trechos do nosso discurso que faremos hoje às 10 horas na Câmara Municipal de Raposa, quando estaremos recebendo o título de Cidadão Raposense.

Louros à Praia da Raposa: Praia da Raposa querida, das mais nobres tradições. / Terra humilde e hospitaleira, / tua maior riqueza são teus amores em nossos corações...

Hoje é um dia histórico para todos nós, agora como muito orgulho e satisfação podemos bradar: somos de direito Raposenses, porque de fato já éramos somados claro! De alma, coração e vida!

Coisas de poeta e trovador, logo elege seu torrão, a terra que lhe acolhe com amor e carinho e dela nutre o prosseguimento dos seus sinais poéticos. Assim, foi esta urbe com sua gente amiga e hospitaleira que nos abraçou como mais um de seus filhos queridos dentre esta gigante família que é a cidade de Raposa!

Prova maior do que acabamos de afirmar é a distinção deste Parlamento Municipal, que por unanimidade nos concedeu o garboso título que temos o privilégio de receber. Assim, queremos sinceramente agradecer tal honraria. Mas especificamente temos que efetuar as mais singelas e respeitosas gratidões a Vereadora Arlete Pontes autora do projeto, que culminou com este título tão almejado por nós! Mas, ainda temos que destacar os agradecimentos a um conjunto de Entidades da Sociedade Civil Organizada desta cidade, que em março de 2007, sugeriram o nosso nome para que este Poder Legislativo nos concedesse o título que hoje está sendo nos entregue. Dentre essas associações se destacou a Colônia de Pescadores da Raposa Z-53, na pessoa do seu presidente Pierre Oliveira; a Associação dos Estudantes de Raposa, na pessoa do seu presidente estudante Domingos Costa; o Sindicato dos Mototaxistas de Raposa, na pessoa do seu presidente Roberto Oliveira Saldanha da Silva e a Associação de Rendeiras da Praia da Raposa, na pessoa de sua presidente à época Raquel dos Santos Carmo.

Muitas pessoas entrarão e sairão de sua vida, mas apenas os amigos verdadeiros deixarão pegadas em seu coração. Sim, desta maneira, aconteceu conosco: os amigos que aqui nos receberam de início sem terem informações ou avais de quem seria aquele forasteiro, que pouco a pouco amava mais e mais a cidade de Francisco Carlos dos Santos - Chico Noca, ele inclusive foi um dos nossos primeiros e principais amigos por estas bandas da Ilha de Upoan-Açu.

Assim se seguiram Zé Hermínio Moreira; Cláudio Cabeça Branca; De Ouro; Compadre Arriba; Nivaldo Conceição; Uila e Marilene; Zé Silva; Francisco Inácio - General; Pierre de Oliveira; Dona Lulu; Paraíba - nosso atual Prefeito; Oliveira da Ducéu; Dona RosaSilva; Professor José França; José Laci - ex-Prefeito; Professora Maria Helena; Professora Cristina; Zé Maria Peba; Professor Cleison Adriano; Artista Plástico Jesiel Sousa; Professor Valdinaldo Pereira - Nana Marques; Antônio Teixeira de Melo; Professor Oseías de Sousa; artesão Flávio de Freitas; Dona Maria Bruno; os filhos de Chico Noca: Cauby; Francisquinho; 55 Transcrito do Jornal Pequeno – JP Turismo, edição de 26 de março de 2010. Disponível em http://www.jornalpequeno.com.br/2010/3/27/trincheira-da-maranhensidade-139962.htm

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Marié; Marilene, somados a outros filhos e netos; José Norton Sampaio; Capote; José Martins; Metal; Darinho; Dona Nega do Zeca Caçoeira e tantos outros compadres afilhados que se fossemos listar o tempo e espaço não daria.

Mas, se hoje estamos recebendo este título é com o aval de todos vocês nossos amigos que muitos estão aplaudindo já no Oriente Eterno e com outros tantos, queremos dividir as homenagens e responsabilidades que agora são bem maiores.

Não seremos, somos raposenses com direitos e deveres e jamais abriremos do nosso projeto maior de vida que é a defesa e preservação das nossas coisas e nossa gente! Agora mais do que nunca a nossa pena estará trabalhando sempre em prol de uma melhor cidadania para nossos conterrâneos raposenses.

Afirma a sapiência do populário: "diz com quem andas e eu te direi quem és!". Sim como é tão satisfatório para nós neste ato compartilharmos de um grupo tão seleto, que nesta ocasião recebe os direitos e deveres de Cidadãos desta pequena cidade, a menor em área territorial maranhense, o que confirma em que nos pequenos frascos é que estão os grandes perfumes. Sem melindres a outros que não temos ainda a honra de conhecer mais detalhadamente. Mas, o momento é oportuno para felicitarmos este Parlamento por fazer justiça não especificamente a nossa pessoa, mas ao autor do projeto de emancipação de nossa cidade - o então Deputado Pedro Vasconcelos de Sousa; ao ex-Governador Dr. José de Ribamar Fiquene, intelectual dos mais respeitáveis do nosso Estado, foi ele quem assinou a Lei de Criação do Município de Raposa - Lei nº. 6.132, de 10 de novembro de 1994 -; ao líder pescador e artesão dos melhores, produtor de velas e mini-embarcações, ex-presidente da Colônia de Pescadores Z-12 da Raposa, Esteclíades Ribeiro Marques - Seu Ester; a Francisco Saldanha da Silva - De Ouro, também ex-presidente da Colônia de Pescadores Z-12 da Raposa e um dos mais destacados líderes comunitários locais, inclusive somando no seu currículo mandatos de vereador de Paço do Lumiar via a Praia da Raposa; a Francisco da Silva Oliveira - Capote, líder comunitário, digno representante dos atrativos turísticos locais e considerados por nós um dos maiores povoadores desta cidade. Somados aos outros que complementam este conjunto de atuais cidadãos raposenses é uma inigualável distinção ainda maior estarmos aqui junto de pessoas tão merecedoras e honrados com estes títulos.

Mas, dentre tudo isto ficaram três coisas para refletirmos. Permita-nos Senhor Presidente, Senhores Vereadores, Senhoras Vereadores, conterrâneos em geral e convidados especiais, buscaremos o Mestre da Poética Fernando Pessoa para evidenciar estas três coisas que afirmamos: "A certeza de que estamos começando, / a certeza de que é preciso continuar, / a certeza de que seremos interrompidos antes de terminar. // Portanto devemos: / fazer da interrupção um caminho novo, da queda um passo novo de dança, / do medo, uma escada, / do sonho, uma ponte e / da procura, um encontro".

O grande poeta português nos inspira para não tão quanto sua poesia nos despedirmos embalados pelo nosso poema Raposa: Saudades do Meu Tempo de Criança: A velha Praia da Raposa e sua Capela de São Pedro / formavam ambas uma coisa só. /Ali seu povo uma grande família humana, / feita da mesma luz e do mesmo pó! // Em cima de uma grande morraria / vivia a esperar a semana inteira. /As bianas chegarem do alto mar. // Assim se buscava o tempo nas paragens da saudosa Vila que aqui era. // A roda viva da vida, em luta insana, / pulverizava o mar de azar e sorte. / Era o destino de cada um a cumprir. / Sinais de vida, sinais de morte! // Mas, o Santo era soberano./ A Vila inteira tinha como Padroeiro./ Pedro, o "Chaveiro do Céu!" // Se, é certo que saudade não engana / esta me prende à Velha Praia como um só nó / do crochê ou da renda de bilro / confeccionada na almofada da minha mãe / ensinada pelas mãos sábias da minha avó!

Muito Obrigado!

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AS NOSSAS FESTAS JUNINAS &O MERCADO DA GLOBALIZAÇÃO CULTURAL!

JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS

As nossas gentes conseguiram construir um dos mais invejáveis Patrimônios Culturais em quaisquer níveis, diversidade cultural esta que não é à-toa os títulos que são ostentados pela nossa Cidade dos Azulejos – Patrimônio da Humanidade; Capital Brasileira da Cultura, somado a outros tantos e um que nos orgulhamos demais: Musa de seus Poetas -, bem ai que pega! Não podemos confundir cultura com disputas politiqueiras, até porque a grande maioria dos intelectuais maranhenses está distante diretamente de tais disputas. Então, deixemos de omissões e vamos a luta! Sim, a situação de nossa gente precisa de que sejam tomadas posições para alcançarmos as mudanças e principalmente os conhecimentos devidos para preservarmos, pelo menos, uma herança cultural das mais invejáveis que nossos antepassados nos deixaram e não será justo que para contentar bestialidades de vaidades bobas, tenhamos que sacrificar, inclusive, as nossas tradições de uma cultura ameaçada pelo maior lucro via os mercados recém abertos pela globalização, através da ascendente economia da cultura, mercado prioritário dentre as transações internacionais da indústria turística.

Todos os anos mal iniciam os nossos tradicionais festejos juninos, voltamos à polêmica sobre as apresentações das brincadeiras juninas, com destaque para o Bumba-meu-boi, onde os grupos folclóricos se dividem entre os tradicionais e os estilizados (parafolclóricos), esses segundos estão mais parecidos com as tradicionais Escolas de Samba do Rio de Janeiro ou mesmo como nossa tia-avó Bembém, dizia quando as pessoas estavam bastante fantasiadas: “parecendo mais com o Boi de Seu Laurentino!”. Apesar da animação que se observa nas apresentações das brincadeiras juninas, as quais atraem consideráveis públicos, o que não deixa de elevar a auto-estima dos brincantes e dos assistentes. Logo de início das nossas observações temos que aplaudir duas ações tomadas pelos gestores culturais locais. Uma foi o retorno dos festivais de quadrilhas e outras brincadeiras, bem como a tentativa constante de interiorizar as festa juninas pelo menos que se não se igualar as da capital, chegue pelo menos a serem parecidas!

Mas, a conjuntura socioeconômica atual emerge um dos mais fortes componentes no mercado globalizado, que é o midiático, o qual na maioria das vezes determina através do maior índice de demanda um novo espaço, uma nova época e conseqüentemente um inovador movimento para as apresentações culturais, pesando ainda mais as transmissões e as tomadas da televisão ao vivo, fenômeno que acontece com as mais diversas manifestações populares brasileiras. Assim, as brincadeiras populares maranhenses não poderiam ficar de fora deste contexto, onde prevalece sério o jogo de interesses políticos e econômicos resplandecentes da economia global. Desta maneira, para os investidores – capitalistas – não é prioritário a conservação da tradição e sim o aumento da demanda e conseqüentemente maiores lucros. Na nossa suposição, antes de qualquer crítica, com referência às brincadeiras juninas maranhenses, a prioridade máxima é conhecer quais são as verdadeiras origens das nossas festas, folguedos e danças populares, de onde procedem tais manifestações e como chegaram aos nossos “brasis”. Tais informações necessitam de reflexões responsáveis e realísticas dos pesquisadores, comunicólogos, estudiosos e principalmente dos gestores responsáveis pela administração das políticas públicas para as culturas tradicionais. Porque na verdade o povo demanda a brincadeira, o folgar, o lazer festejando os santos juninos, os quais são muitos, praticamente, todo o dia, do mês de junho tem um santo homenageado, com destaque para os principais que todos conhecemos: Santo Antônio; São João; São Pedro e São Marçal.

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Na nossa concepção estes são os cenários atuais das nossas festas juninas, que se, por um lado temos que achar estratégias para ainda conseguir preservar o pouco de tradição que as nossas brincadeiras folclóricas, ainda cultivam, por outra vertente temos, queacompanhar a evolução dos tempos modernos, bem como, jamais castrar ou tentar interferir na criatividade dos nossos artistas, folcloristas. Claro, não estamos querendo que o Bumba-meu-boi de 1930, permaneça radicalmente no Século dos Saberes. Mas, é sumamente necessário conhecer para distinguir o joio do trigo. Necessitamos informar a verdadeira história de nossas atrações turístico-culturais, a começar no caso das festas juninas, pelos apresentadores dos arraiais que identifiquem que Boizinho Barrica é uma Companhia de Teatro de Rua, aliás, um grupo de artistas que enobrece as nossas tradições, mas que não é um Bumba-meu-boi de Maracanã; Maioba; Ribamar; Axixá e outros mais. No caso, para quem não é daqui o simples anúncio de que se trata do Boi tal vai fazer uma confusão das maiores na cabeça dos visitantes. Sim, porque até para os próprios maranhenses, o faz. Confusão esta para os conterrâneos, em virtude que o saudoso Mestre Nascimento Moraes tinha toda razão: “os maranhenses não conhecem o Maranhão!” Neste sentido tomamos a liberdade de sugerir: Campanhas nos colégios e universidades maranhenses levando as origens das nossas manifestações culturais; maior divulgação pela imprensa de maneira geral das verdadeiras origens do folclore maranhense; mais publicações sobre o assunto de preferência bilíngües (português e inglês ou português e francês); treinamentos para os agentes culturais, bem como, para os produtores das brincadeiras populares e outras tantas medidas que leve as verdadeiras caras do Brasil Maranhão, primeiramente, para a sua gente e em seguida para os que nos visitam, tendo sempre a prioridade de conhecer para preservar!

Desta forma, não é apenas criticar por criticar, mas entender a evolução dessas manifestações populares, situando-as nos diversos contextos socioeconômicos, as quais se encontram cada vez mais influenciadas pelas ações midiáticas da modernidade. A nossa intenção levantando tais estratégicas é que por aqui no Maranhão possamos inverter a intenção da globalização cultural, que ao contrário de extinguir as nossas culturas tradicionais, façamos uma conversão para atender as demandas de consumo dos nossos bens culturais, para o turismo e para mídia unindo as duas formas tradicionais e as modernas. Afinal, deixemos de tricas e futricas, somos todos maranhenses, irmãos: uma grande família humana; feita da mesma luz e do mesmo pó! Aqui como este ou aquele apelido o São João é mesmo do Povo, no Maior Arraial do Brasil! Eita Bumba-boi pai d’égua de bom!

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PADRE ARIAS CRUZ: SUA VIDA NO MARANHÃO56

TELMA BONIFÁCIO DOS SANTOS REINALDO

PADRE ARIAS DE ALMEIDA CRUZ - Primeiro ocupante da Cadeira patroneada pelo Padre Antonio Vieira, Arias Cruz foi sócio fundador do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão- IHGM. Nasceu em Caxias em 14 de novembro de 1893, era filho de José Castelo Branco da Cruz e de Martinha Nunes de Almeida, descendente de uma prole de dez filhos. Desde jovem demonstrou desejo de seguir a vocação religiosa, ingressando no Seminário Santo Antonio, em São Luis, e depois continuando a sua formação em Teresina, ordenando-se padre aos 24 anos, idade mínima para ordenação.

Celebrou sua primeira missa na cidade natal , Caxias onde ocupou vários cargos públicos, depois transferiu-se para São Luis onde foi Diretor de Instrução Pública, Diretor da Escola Normal, Diretor do Liceu Maranhense, exercendo também a docência no Liceu Maranhense, Colégio Santa Tereza, Colégio Rosa Castro e no Seminário Santo Antonio. Dentre as disciplinas que lecionou podemos destacar Religião, Língua Portuguesa, História Geral. Foi Capelão da Igreja da Sé, do Colégio Santa Tereza, do Hospital Português.

Destacou-se também como jornalista e orador sacro. Publicou sistematicamente por diversos anos nos jornais da capital, onde seus artigos e conferencias tratavam dos assuntos pertinentes a educação, trabalho, questões agrárias, acontecimentos históricos, dentre outros. Seus trabalhos também foram publicados em outros estados notadamente no Piauí, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Caxias sua terra natal. Podemos encontrar seus trabalhos nos jornais Gazeta de São Paulo, Gazeta de Porto Alegre, Gazeta do RIO DE janeiro, Jornal do Maranhão, Tribuna Caxiense, Correio de Timon, Pioneiro de CAXIAS E Diário da Manhã.

Proferiu importante conferencias entre as quais: Missionarismo Inaciano em São Paulo e no Maranhão, no Auditório da Gazeta de São Paulo e publicada por aquele jornal em 9 de janeiro de 1940. A Igreja e o Operariado, conferencia proferida na União Operária Maranhense em 19 de março de 1919, publicada pela Typografia Teixeira. Faleceu em Teresina em 12 de janeiro de 1970.

Entre os artigos escritos pelo Padre Arias Cruz podemos destacar:

Quanto pode a mulher? Ano XX .2 11 05- 1958Cem contos de Reis Ano XX .2 25 05-1958O jogo de azar Ano XX .2 01-06-1958Profissão sem Aprendizado Ano XX .8, 15 -06-1958

56 Publicado no Recanto das Letras em 28/05/2009, Código do texto: T1620611, disponível em http://recantodasletras.uol.com.br/biografias/1620611

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Riqueza e Generosidade Ano XX .8,18-05- 1958Discurso de paraninfo Ano XX .2, 11-01-1960Anita Costa Ano XIX .2 ,11 -01-1960O apoio de Carlos Prestes Ano XIX .4, 17-01-1960Todas não são Assim Ano XIX .6, 28-02-1960Contraste Ano XIX .2, 06- 03-1960Loucura ou Paixão? Ano XIX .6, 27 -03-1960Maldito Seja Ano XIX .6, 06-03-1960.Sem ELA Ano XIX 6, 27-03-1960O curso de geologia de Recife e mais Ano XIX 6,03 -04-1960Coração desumano Ano XIX 6, 15-05-1960“Consonância Pastoral” Ano XIX 6, 22-05-1960A feijoada Ano XIX 6, 29-05-1960Falsos profetas Ano XIX 6, 31- 01-1960Como, em nome da terra berço, Ano XIX 6, 21-02 1960Apertei a mão ao hóspede Urge uma revisão Ano XIX 6, 13-03-1960Capa sobre capa Ano XIX 6, 24, 04-1960O concílio Ecumênico Ano XIX 6, 06-06-1960Isto, Isso e Aquilo Ano XIX 4, 12-06 1960Enchova Inocente Ano XIX 6, 19 -06-1960Três quartos Ano XIX 6, 26 06 1960Terra até onde o sol mente 3, 06-02-1966Anunciado programa de bolsas de Mons. Arias Cruz 1, 29-05-1966Dias de intenso júbilo na princesa do Sertão 6, 16 -06 -1966

“Na obra o ‘Jogo de Azar”, critica a postura dos homens que se entregam á jogatina. Segundo o padre, neste ambiente “prolifera o vírus da ambição desenfreada, que termina por consumir o assassínio da pessoa da irmã”.Ele recomenda que os irmãos afastem-se deste ambiente, pois “jogatina é o homem sacudido em emoções e comoções brutais, até a sincope cardíaca (...) jogo de azar é astúcia, é manha, é sutileza que insensivelmente escorrega a mão no bolso do parceiro e o deixa bambo e vazio”.Interessante perceber que o autor crítica as autoridades que abusam do poder público para se autobeneficiar. “O abuso da autoridade é a profanação do poder”. Tendo em vista que o correto é honrar o posto no qual por delegação se instalou. Percebe - se o tom preocupado e conservador de suas palavras, ficando evidente a preocupação com o comportamento dos irmãos.

Mons. ARIAS Cruz destaca a analogia entre riqueza e generosidade, para ele deve-se ter a consciência da importância da mesma, em que o rico não faz nenhum favor praticando o bem,

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pelo contrário á sua obrigação tendo em vista que “maior felicidade está em dar do que em receber”

E para aqueles que praticam a indiferença: “Não dou, vomita o coração de pedra, para não perder amanhã”. Fica claro que o padre condena a avareza dos que muito possuem e não ajudam ao próximo. Para ela, ser rico significa ter a obrigação em ajudar aos pobres.Discursa a respeito das funções da mulher, e este as restringe em constituir um lar e a ser educadora. E depois destaca a vocação religiosa, ressaltando que a mulher freira á tão somente a filha de Maria, esposa de seu Augusto Filho ou seja, do esposo ideal e único.Toda profissão é precedida da fase discente. Não há carreira liberal! Subordinada, no seu exercício, á posse de uma carta ou diploma que dispense a escola, ou a dureza dos bancos escolares.

Não se é alfaiate sem aprender, não se é ferreiro sem o prévio e djuturno contato com a forja, e o mesmo se diga dos demais ofícios, dentro de cada um Este senhor exerce a profissão de médico, esse a de bacharel, e aquele a de químico industrial? Anos e anos consumiram eles, freqüentando os respectivos centros de estudo para só depois, oferecer seus serviços, aos competentes setores, dentro ou fora do país, conforme a legislação.

Apenas uma carreira, no Brasil, rende fortuna e celebridade sem preparação, é a política por isso mesmo, pela facilidade com que diploma, alcunha de politicalha ou politicagem.Não é hipótese absurda ou coisa do outro mundo que o inspetor de quarteirão de ontem seja o chefe político de hoje, e amanha pela mão da docilidade incondicional, acompanhada do bom dinheiro, chegue a membro de legislativo estadual, sem obstáculo intransponível na reta para Tiradentes.

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OS HOLANDESES E OS PALMARES57

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Na Edição 69 – de 16 a 22 de Abril de 2006, do Jornal do Capoeira –www.capoeira.jex.com.br – André Pêssego pergunta “Por que Nassau não atacou a Palmares?”.

Pêssego (2006), no artigo citado, vale-se do argumento – Nassau não atacou Palmares – baseando-se de relatório de 1637, em que este reconhece a importância do Quilombo, “…ao fazer seu relatório de posse e plano de atuação reconhece a importância de Palmares -do contrário anunciaria planos para atacá-los, destruí-los.”

Mais adiante, ainda servindo-se da mesma carta:

“estabelecerei negócios com os quilombos, pois estes mais que todos, repudiam os portugueses, podendo ser nossos aliados… A Holanda já havia enviado uma delegação a Palmares, chefiada por ‘um pernambucano conhecedor dos Quilombos’. Em seguida, Bartolomeu Lintz, é feito embaixador holandês residente até o advento de 1640. (Tem sido dito de Lintz, um espião em Palmares. Bestagem, um holandês disfarçando-se junto a milhares de negros, em mocambos).”

Pêssego ainda se refere que Nassau renuncia ao seu posto de administrador do Brasil holandês por se recusar em atacar Palmares, ordem que teria recebido em 1643: “Nassau recebe ordens para ‘atacar seriamente a Palmares…’ Homem de alto caráter, Nassau se tornara amigo de Ganga Zumba, recusa. Renuncia, volta para a Holanda.

Mais cita as razões de Nassau não atacar a Palmares:

“a) o reconhecimento da instituição Quilombo, como tal. O Quilombo cumpre os itens do acordo: Não planta cana para produzir açúcar; não cria gado vacum, alem do necessário para produzir leite para consumo interno; não ataca; tem as oficinas do ferro, mas não vende armas.

57 Publicado em http://colunas.imirante.com/leopoldovaz/2010/05/02/os-holandeses-e-os-palmares/

Mestre Marco Aurélio enviou-me um excelente estudo sobre a Capoeira http://colunas.imirante.com/leopoldovaz/2010/05/01/uma-nova-luz-sobre-as-origens-da-capoeira/, indagando se ela não teria ‘nascido’ nos enfrentamentos (escaramuças) entre Holandeses, primeiro, e depois Bandeirantes contratados para destruir o(s) Quilombo(s) do(s) Palmares…

Há uns anos, escrevi sobre os Holandeses e os Palmarinos. Primeiro, os acordos entre esses dois povos, ocupantes de parte do Nordeste brasileiro, em dado período de nossa História. Depois, as escaramuças entre Holandeses, e depois Bandeirantes, nesses enfrentamentos. Disponível em Jornal do Capoeira -http://www.capoeira.jex.com.br/ Edição 71 - de 30/Abril a 06/Maio de 2006

Também publicado em http://cev.org.br/comunidade/historia/debate/os-holandeses-os-palmares/ em 02 de maio de 2010

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b) A possibilidade de trazer Gamga Zumba, para aliar-se à Holanda contra Portugal; o estilo de vida no Quilombo.

c) O interesse pelo conhecimento científico da flora e do conhecimento extrativo dos Palmarinos.”

Informa José Antonio Gonsalves de Mello – em “Tempos dos Flamengos” (4ª. ed. Rio de Janeiro: Topbooks; Recife: Instituto Ricardo Brennand, 2005?) que foi durante o período da dominação holandesa que tiveram condição para se desenvolver vários quilombos. Desde 1638 há referência a quilombos que se constituíam uma grave ameaça para as populações e os bens dos moradores. Havia, também, pequenos aldeamentos ou bandos de negros que roubavam e matavam pelos caminhos: os boschnegers, contra os quais era empregados capitães de campo brasileiros, já que os holandeses eram considerados incapazes para tal função. Vários capitães de campo foram empregados a soldo dos holandeses (Dag. Notule de 19 de dezembro de 1637; idem de 30 de dezembro de 1637; de 21 de setembro de 1638, em nota de pé-de-página de Mello, 2005(?), p. 192-193).

O domínio holandês no Nordeste brasileiro vai de 1630 a 1654, 24 anos; Nassau “reinou” de 1637 a 1644 – 7 anos.

O “Diário da viagem do capitão João Blaer aos Palmares em 1645” (in Mello, 2005(?), p. 193), dá-nos informes interessantes a respeito de alguns quilombos. Fica-se sabendo que, nas imediações do quilombo que Jan Blaer destruiu, tinham existido anteriormente mais dois outros. Nas palavras do autor do relatório, houve um “velho Palmares” que os negros tinham abandonado por estar situado em “local muito insalubre” e do qual se passaram para o “outro Palmares” ou “grande Palmares”, destruído por Reolof Baro e seus tapuias. Deste transferiram-se eles para o “novo Palmares”, que Blaer atacou … (p. 193).

Outros documentos informam a respeito dos Palmares … desde 1638, um deles causava sérias apreensões aos moradores de Alagoas, dos quais os quilombolas roubavam escravos e incendiavam as casas. O capitão Lodij foi encarregado de persegui-los, com mosqueteiros holandeses e com índios. Do resultado, nada consta dos documentos (Dag. Notule de 26 de fevereiro de 1638, em nota de pé-de-página de Mello, 2005(?), p. 193).

Em 1642, preparou-se nova expedição, deste vez chefiada por Manuel de Magalhães, pessoa conhecedora da região e respeitada pelos moradores portugueses, morador nas Alagoas. Concedeu-se-lhe autorização para a expedição, mas sobre o que posteriormente ocorreu, nada informam os documentos (Dag. Notule, de 20 de fevereiro, em nota de pé-de-página de Mello, 2005(?), p. 193).

Dois anos mais tarde, em 1644, Roelof Baro parte em expedição ao interior do país. Levava uma tropa de índios brasilianos (tupis), e os holandeses, inclusive Baro, eram quatro. Os documentos não dão permenores, mas o caso é quye os índios amotinaram-se e Baro desistiu de prosseguir. Reuniu à sua gente ins cem tapuias e resolveu atacar o que ele chamou de “pequeno Palmares”. Ouçamos o escrito de Mello (2005 (?), p. 194, com base no Dag. Notule de 2 de fevereiro de 1644 e Gen. Missive ao Conselho dos XIX, datada de Recife, 5 de abril de 1644) sobre o episódio:

“A 2 de fevereiro o conde de Nassau recebia notícias de Baro, por carta datada de Porto Calvo de 25 de janeiro de 1644.Contava ele que,

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pretendendo atacar o ‘pequeno Palmares’, achou-se imprevistamente em frente ao ‘grande Palmares’ que investiu em seguida. A luta pela posse do quilombo foi dura, tendo Baro contado cem negros quilombolas mortos. De seu lado houve um morto e quatro feridos. O sítio foi incendiado, tendosido feitos ali 31 prisioneiros, entre os quais sete índios tupis (brasilianos) e alguns mulatinhos (mulaetjens). O quilombo estava cercado por duas ordens de estacas, e ‘era tão grande que nele moravam quase 1.000 famílias, além dos negros solteiros’. Em volta da estacada ‘havia muitas plantações de mandioca e um número prodigioso (wonderbaer) de galináceos, embora não possuíssem qualquer outro animal de maior vulto’, sendo que ‘os negros viviam ali do mesmo modo que viviam em Angola’.” (p. 194).

Estas são as informações que Baro transmitiu ao Conde e que os documentos conservam…

Outros quilombos surgiram no período da dominação holandesa, mas são poucas as informações sobre eles. Um estava situado na “Mata do Brasil” e os seus elementos corriam a região, em bandos, roubando e matando. O governo holandês castigava exemplarmente os que conseguia capturar: eram enforcados ou queimados vivos (Carta do Conselho de Justiça do Brasil ao Conselho dos XIX, datada do Recife, 1º. De outubro de 1644 e outras, in Mello, 2005(?), p. 195).

Os Holandeses – e Nassau – atacaram os Palmares!

Fonte: MELLO, José Antonio Gonsalves de. TEMPO DOS FLAMENGOS. Rio de Janeiro: Topbooks; Recife: Instituto Ricardo Brannad, 2005(?).

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O QUE MEU PRIMO MARCONI CALDAS REPRESENTOU PRA MIM

MHARIO LINCOLN58

Meu primo Marconi desencarnou numa madrugada de sexta-feira. E ele gostava das madrugadas de sexta-feira para poetar e transmitir aos seus amigos e admiradores seus verdadeiros dons d’alma: poetar. Em “3 Atos para o Povo”, meu primo com algo em torno de 18 anos e já deputado estadual , tentou juntar a sua poesia humana ao desumano ato de politicar. Até mesmo antes de subir os degraus do Céu, me dizia que sua peça, em 3 atos, já não tinha a importância que teria à época de sua construção, ” o mundo mudou muito, Mhario”, me disse.

E como mudou Marconi. Quantas vezes nós dois, escondidos do Mundo naquele quarto só nosso, diante do gravador problemático da era digital, ou diante do vídeo-cassete que insistia em não retroceder, imitando o dono, na maioria das vezes, tu, com lágrimas nos olhos, me confidenciava os ardores da política maranhense; suas decepções. Mas, sobretudo, tua crença

58 É jornalista e editor-chefe do Portal e TVWEB Mhario Lincoln do Brasil. Sócio-correspondente do IHGM. Texto publicado em seu Portal, disponível em http://www.mhariolincoln.jor.br/maranhao/o-que-marconi-caldas-representou.html

Marconi Caldas é primo legítimo do jornalista Mhariio Lincoln, foi deputado estadual por cinco legislaturas, presidente da Casa entre 1982 e 1993 e vice-governador Constitucional do Estado. Também foi poeta e membro-fundador da Academia Maranhense dos Novos. Caldas foi autor do projeto de lei que criou o município de Açailândia.

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na vida pública, mesmo afastado dela desde 1986, quando encerrou seu último, dos muitos mandados parlamentares vividos em plena Casa de Beckman, o herói maranhense, o nosso Manoel Bequimão, insurgente contra a desumanidade inquisitora daqueles que tomaram nossa bela e inesquecível São Luís do Maranhão. Inesquecíveis serão teus atos e versos, soldados da távola, vigias do côncavo, mágico misterioso das nossas células:

CONSTATAÇÃO(*) Marconi Caldas

Estou em tiNo turbilhonamento do teu sangueNa magia misteriosa de tuas célulasEu sou o vento arrogante que redemoinha teus cabelos,A fonte onde bebesA sede dos teus lábios sedentos.Eu sou a cama onde deitas teu corpo e teus desmaiosE plantado em ti povôo o mundo.Sou o cacto do teu caminho,E sou o céu que imaginas teu.Sou tronco onde se nutre e floresce a orquídea do teu prazerEu sou a pedra que atiras impunimenteContra a vidraça do tempoSou a hóstia do teu absoluto momento de contriçãoEu brilho no teu escuroSou teu vagalumeSou tua sandália,Ando contigo e por ti.Sou a seda do Oriente que envolve o teu corpo de mulherE suga cada poro teuAo som de alucinados alaúdesSou tua janelaQue se abre com a mão da manhãTambém sou a paisagemQue toma de assaltoOs teus olhos indefesos.Sou locatário da tua saudadeE não aceito despejoEu sou…E quem sou eu?A me buscarEu sempre te descubroE espantado constatoEu sou TU.02-10-08

*****************

Uma vez te vi de longe no discurso histórico contra as metralhadoras da Ditadura que invadiram a tribuna santa do Povo; a Assembléia Legislativa, para prender parlamentares. A tua bravura as fez recuar. Nem um tiro foi disparado, mas tua voz vibrante, ecoava até mesmo na ladeira do Beco do Éden onde nascestes, “nasci no beco do Éden, na esquina do Paraíso”.

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Também vi teus olhos umedecerem quando a mesma Assembléia aprovava a criação do município de Açailândia-Ma, projeto teu, ao encontro dos anseios de dezenas de anos daquela população que te ama e fez de ti o grande ídolo político do sul do Maranhão. Vi teus olhos chorarem imensamente na perda irreparável do teu pai, meu padrinho Tácito da Silveira Caldas, o Gigante que Sorri; o desembargador-pai do município de Paço do Lumiar; também vi teus olhos verterem lágrimas tristes quando tia Viola, a fantástica Violeta Caldas, tua mãe, irmã da minha Flor de Lys, desceu a ladeira da eternidade.

Hoje estás com eles, com Alaíla, tua tia-mãe, com teus amigos inseparáveis, o príncipe Murilo Sarney, o fiel dr. Domingos Manteiga, o eloquente Carlos Cunha, o calmo José de todos os Santos, como tu chamavas carinhosamente teu tio e meu pai José Santos. Lá também encontrarás teu tio e teu ídolo, teu ícone, o ex-deputado Lister Caldas, que te fez homem, que te fez político, que te fez lutar nas trincheiras da guerra a favor de o teu povo. Deves estar sorrindo aquele sorriso lindo, puro, verdadeiro; sorriso de quem vence, de quem chora, de quem lamenta, de quem cai, de quem se conforma, de quem se entrega a Deus. Abraçado com teus amigos, parentes, pai e mãe, teu sorriso agora não trava entre as quatro paredes de teu quarto climatizado. Ele ultrapassa os umbrais da dormência e se perde no mergulho infinito das auras coloridas, do perfume Chanel número 05 de Violeta, no abraço sensível de Lalá, nas histórias de vida de Murilão ou nas tiradas espetaculares de Domingos Manteiga, após a poesia marcante de Carlos Cunha.

O piano do hotel do Moacir Neves – com ele ao lado – deve ter sido colocado na sala onde fostes recebido. Lá, Escurinho do Samba logo emendou um “quando eu morrer, não quero choro, nem vela…” estonteante para dançares com tua Violeta sob um tapete vermelho imensurável. Zé Hemetério olhou para Tácito e esse com um sinal o fez entoar Zorba, o Grego. Logo, de papel e lápis na mão, reescrevestes um de teus mais lindos sonetos: “D. Quixote de La Mancha”, onde ”todos estamos à procura de Dulcinéias”.

E sabe quem te preparou as entradas, limpou os salões, poliu os cristais das estrelas onde beberás o vinho de tua imensidão poética? Luis. Nosso inesquecível Luis.

Ele também está aí, te olhando por trás das grossas cortinas que descerram o palco de tua vida aqui na Terra. Do outro lado, de olhar em riste, teus tios Zé Mota e Vicente Costa ainda estão tão surpresos em te rever assim tão jovem, tão bonito, vestido no teu melhor paletó, como naquele dia em que cruzastes, em riste, toda a nave da Igreja para desposar teu único amor verdadeiro: Maria de Fátima Lyra dos Reis Caldas.

Sim, porque essa foi a mulher que te acompanhou até o teu sepulcro e por ti chorou tua ausência física. Ela é infinitamente forte ao sentir-te pulsante, dentro de suas entranhas – e para ela – tu escreveste, sob forte paixão: “Quando te beijo, meus lábios se enchem de mel“. Lembra-te do Dia dos Namorados em que comemorávamos todos juntos? E quando falastes o verso, no final repetistes com lágrimas nos olhos: “Adeus que eu parto com a hora morta, Para não ter partida nem regresso”. Antevias este momento e confiava no amor de tua esposa?

Vou contar essa:DOCE AMADAMarconi CaldasDoce amada,a catedral dos ventos se dissolveNo aroma infinito das orquídeas,

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Porque teu corpoDe brancas ondas feito,Se volatiza na luz ultra violeta.Agora que me vou sem rumo certo,Guarda o estandarte que ganhei pra ti,A rosa que fiz com teus perfumesE a corrente de metal douradoQue artesanei para atar-te os pés.Adeus que eu parto com a hora morta,Para não ter partida nem regresso. (Feliz Dia dos Namorados).

Para ela, a tua esposa e companheira, tua mulher, origem da filha Alekssandra e de teu neto José; José de todos os Marconis; Basta olhar nos olhos dele e ver os teus, Marconi. Olhar para tua filha e ver a tua alma nela, os teus lábios nela, nela, também, o teu velho sorriso inesquecível eternizado e ainda grudado em algumas paredes de Açailândia, datados de 1986, nos retratos de tua última campanha constituinte.

É Marconi. O tempo passa e com ele nossa vida por aqui parece um rolo de linha. Quanto mais rápido se puxa o fio, mais rápido ela se esvai. Mas acho que do outro lado da linha, impacientes, também estavam aqueles que te amam muito e estavam a tua espera. Uma a um foi subindo o Monte das Oliveiras. Deixaram migalhas do pão divino para que tu não esquecesses o caminho de ida. Tua mulher, tua filha, teu neto, teus primos e eu sabemos. Estavas prestes a compor um dos mais justos parlamentos do universo: o dos Céus.

Aqui embaixo também esperamos nossa hora de sermos chamados. Todos nós seremos chamados. Todos nós participaremos, ao final, da grande mesa e escutaremos os Cavaleiros do Apocalipse vindo nos convidar para essa viagem. E quando adormecermos nós pediremos para que os cavaleiros pisem de leve em nosso território, assim como descrevestes tão bem no soneto: Território:

TERRITÓRIO(*) Marconi CaldasDeverás descalçar tuas sandáliasPara que não esmagues as rosas do meu chãoAqui, não há lugar para os mesquinhosSó para o homem azul vestido de ternuraAqui, há uma virgem dormindona alcova de uma rosa.Pisa leve,não deves despertá-la.Esta é a pátria da serenidade,Meu território poético.Não há dragões com chibatas de fogoSó carícias de mãos brancas.E as rodas dos canhõesNunca sulcaram minha terraDeixa atrás de minhas fronteiras,A problemática do átomoE vem gravitar comigoNa órbita do sonho.

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Aqui, não há hoje,não há ontemNem amanhã. Aqui éO metafísico exercício do eterno.

O poeta João Batista do Lago, muito propriamente, te fez, ainda em vida, uma homenagem incrível. É bom recordar:

“Sempre que tomo uma poesia em minhas mãos sofro, como que por osmose, um processo de condicionamento reflexo: busco entender a alma da poesia em si dissociando-a do autor do discurso poético, para, somente depois, entender a alma do poeta; assim como procuro, também, atomizar a poesia, isto é, descobrir na alma de cada palavra dita a linguagem substancial nela contida. Sinceramente não sei onde nem com quem aprendi este “Método”.

SOBRE A POÉTICA DE MARCONI CALDAS

(*) João Batista do Lago

Há um tipo de aliteração na forma estruturante em BECO DO ÉDEN que muito me agrada porque provoca uma sonoridade rítmica das mais belas, das mais juvenis, das mais infantis. E mesmo que os “conservadores” digam que o poeta quebra a estrutura geral da poesia em si quando constrói as partes, não se lha tira a beleza, a leveza, a graça, a harmonia de toda a poesia… Ela (a poesia) se insere no verso não metrificado, que não atende a outro critério senão as pausas espontâneas do movimento lírico. E tomada por este aspecto, BECO DO ÉDEN, retraduz no campo onírico do autor toda a ludicidade poética. E ao agir assim ele brinca com a palavra:

Nasci no beco do Éden,Éden sem Eva, cinema,cujo porteiro, mulato,

rasgando entradas azuisoutras verdes, cor-de-rosa,

coloria com seus gestos,as fitas em branco e preto.

“Éden sem Eva, cinema”. A construção deste verso é exuberante e nos remete a duas dimensões: 1) para aqueles que conhecem a Ilha do Amor; e, 2) para aqueles que desconhecem-na. Mas não só isso. Caldas, com esta formação vérsica amplia de tal forma a sua poesia a ponto de universalizá-la, resgatando-a, assim, da sua unilateralidade específica, no instante em que ele não esquece que o Éden, como o Olimpo, é a origem natural da vida mítica. Mas ele não se deixa levar por essa metáfora e traz o leitor (e diria até de forma rude sem ser entretanto grotesco) de volta para o campo do real que se concretiza no cinema. E como isso acontece? Da seguinte maneira: para os que conhecem São Luis, o Éden não é o Paraíso, era um dos dois principais cinemas (o outro se chamava Roxy) que existiam na capital maranhense; para os que não conhecem é-lhes dada a vantagem de viajar nas asas da imaginação, onde podem construir de forma livre o seu campo trópico.

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Em SAPIENS, Marconi Caldas revela a dúvida filosófica do humano. Ele afirma esta dúvida quando assinala versicamente: “O que sou?/A agonia sem resposta”. Esta é a grande questão-problema posta pela Filosofia como uma hipótese até hoje ainda em discussão. Questão de todos nós. Que nos incomoda a todos. Será que somos os únicos neste cosmos infindável? É, aos mesmos olhos, esta a pergunta interdita no poema.

Finalmente, em JUIZO FINAL, Marconi Caldas retorna mais uma vez ao campo filosófico. Nesta poesia ele caminha entre o crer e o não-crer. Ele grita essa dicotomia quando se refere ao fogo (sabedoria) e aos cavalos alados (filósofos) que presumivelmente para uns o Senhor é uma realidade; para outros uma alienação do cristianismo. Diria que aqui ele revela uma simpática dúvida sobre o que disseram criticamente Éramos de Rotterdam (Elogio da Loucura) e F. Nietzsche (Assim Falou Zaratustra) “.

*******

Pois é primo Marconi Caldas, lembra que te liguei e passamos horas nos falando ao telefone? Eu aqui no frio de Curitiba e tu, aí, falando em ajustar o termosta do ar-condicionado até o ponto mais frio de teu quarto para acompanhar meu tremor, como parceiros-doadores de respeito e carinho entre parentes, entre primos-irmãos. Somos apenas três homens primos-irmãos, Tu, Wilson e eu, numa trilogia tão brutal, separados a ferro e fogo por circunstâncias inexplicáveis. Tu, em São Luís, Wilson Paulo Felix, em Brasília e eu em Curitiba. Passávamos dias, semanas até meses sem um só diálogo, sem uma só palavra. Mas quando a dor e a angustia batiam no peito, lembrávamos do metafísico do eterno e nosso caminho se iluminava tão imensamente quanto o teu premiado soneto de luz, chamado de:

SONETO DE LUZ PARA MINHA ESTRELA(*) Marconi CaldasContemplo os céus em noites vaporosas,constelado, rebrilhante, céu imenso,pontilhado de luz azúleo lençoonde dardejam estrelas luxuosas.E fitando a imensidade argentinaEu busco no vapor das nebulosasVer-te humilhada entre as numerosasEstrelas, minha estrela peregrina.Rebusco em vão e odeio o lampadário,Mas tu mergulhas na luz do argentárioPara fulgir somente no meu sonho.E perdida e sucumbida entre os milharesEflúvios perenais dos luminares,Num soneto de luz eu te acompanho

A tua vida não foi expiação. Foi doação. No dia em que nascestes no velho beco do Éden, Deus imprimiu em teu curriculum vitae: doação, dedicação, destemor. Essa foi tua vida. Mesmo com apagões, tua aura iluminou os desanuviados e desligou a cadeira elétrica de quemhavia sido condenado à morte. Teus desalinhos mostraram que ninguém sobrevive incólume às tentações do mundo. Tuas escorregadas nos deram vigor para levantarmos e mudar de rumo. Teus exemplos ficaram cunhados no bronze da benquerença, d’antes nunca fornicados.

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Teu carinho, respeito, amor e inocência também ficaram registrados no grande livro do gerúndio. Hoje sabes muito bem que foste perdoado por Deus e por quem te ama e que perdoaste com certeza, outros que por ventura tiverem te machucado.

Daí de cima ore por nós. Interceda por nós junto ao Santíssimo. Eu acredito e tenho Fé. A fé de vencer das lavadeiras com suas latas de querosene sobre a cabeça. As mesmas que tu descreveste tão bem em teu soneto onde descreves o teu nascimento e a tua esperança:

BECO DO ÉDEN(*) Marconi CaldasNasci no beco do Éden,na esquina do paraísopassava na tela antigaum filme com Errol Flynn.Nasci no beco do Éden,Éden sem Eva, cinema,cujo porteiro, mulato,rasgando entradas azuisoutras verdes, cor-de-rosa,coloria com seus gestos,as fitas em branco e preto.Nasci no beco do Éden,no alto de uma ladeira,que desce lá pro mercadopra mesa da preta-velha,que vende mingau de milho.Nasci no beco do Éden,em tarde branca de calma,nasci no fim de uma guerra,nos alvos braços da paz.Nasci no Beco do Éden,bem perto de um chafariz,onde muitas lavadeiras,com latas d’água sonorasbatendo nas pedras pardas,ritmavam meninice:orquestra de infância solta,na esquina do paraíso.Me batizei num domingo,nas águas das lavadeirase fui jorrando, correndo,por muitas ruas e praças.propriedade de mui gentee o povo me fez bandeira,depois de homem. Venci!Deixei no beco do Éden,na esquina do paraíso,tranças leves, flautas tontas,riscos breves, patinetes,paz de guerra, lavadeiras,nas ladeiras meu sorriso.

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E quando todos os teus parentes e amigos te derem uma folguinha aí por cima, busca a estrela mais alta, pega-a, beija-a e com cadencia, manda-a de volta à Terra. Nós estaremos aqui olhando o clarão da estrela e seu rastro prateado provando que tu Marconi Caldas estás bem. Assim todas as vezes que eu olhar para o Céu e vir uma estrela cadente saberei que estás em paz no conforto do Cajado do Senhor, sob a untagem do óleo em tua fronte. Nesse instante terei certeza da resposta que indagastes em teu último soneto em vida:

JUÍZO FINAL

(*) Marconi Caldas

Quando chegares, Senhor,com teus negros cavalos alados,

eu estarei aqui a tua espera,com uma pergunta entalada na goela

e um terço inútil no bolsodas minhas calças rotas.

***************Até mais se ver, primo...Mhario LincolnCuritiba, 22 de maio de 2010

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NO RASTRO DE CLIO: UMA ANALISE CRÍTICA DA PRODUÇÃO HISTORIOGRAFICA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO59

Autor: Rafael Aguiar dos Santos (Graduando em História-UFMA)[email protected]

Orientador: Prof Dr. João Batista Bitencourt (História - UFMA)

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo uma analise critica da produção discursiva

historiográfica do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, a partir da composição de

uma cartografia da produção historiográfica do mesmo. Utilizando-se das publicações dos

membros do IHGM, presentes nas 30 revistas publicadas pelo Instituto no período entre 1926

e 2010. Tendo como metodologia teórica os conceitos de analise do discurso de Michel

Foucault e re-presentação de Roger Chartier. Focalizando como o saber historiográfico do

Instituto foi construído, classificado e institucionalizado, trabalhando os jogos de força, as

relações de poder, as práticas e estratégias dos principais agentes que construíram a produção

discursiva historiográfica hegemônica no IHGM. Abordando também as rupturas e

continuidades presentes nesse discurso. Proporcionando assim uma maior compreensão do

papel desempenhado pelo IHGM na produção da escrita da história no Maranhão, e levando a

reflexão do papel do historiador na atualidade, enquanto agente construtor e legitimador de

discursos e saberes historiográficos.

Palavras Chave: Discurso Historiográfico, IHGM, Maranhão

59 Resumo para apresentação de comunicação oral no Seminário de Pesquisa Histórica e Arqueológica – UFMA 2010

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PERFIL DOS SÓCIOS EFETIVOS

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JOÃO FRANCISCO BATALHA

Cadeira nº 23

João Francisco Batalha é o titular da Cadeira nº 23 do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, patroneada pelo Visconde de Vieira da Silva.Nasceu na Tresidela do Bonfim, município de Arari/MA, em 08 de julho de 1944.

É o mais novo de oito filhos do casal João da Silva Batalha e Joana Prazeres Batalha. Foi comerciário, bancário, securitário e economiário. Exerceu a função de Gerente de Agência da Caixa Econômica Federal nas cidades de Grajaú, Presidente Dutra, Dom Pedro, Santa Inês e Açailândia, no interior do Estado; e da Agência Cidade dos Azulejos, no Monte Castelo e São Luís, no bairro do João Paulo. Foi Chefe de Legislação de Trânsito do DETRAN/MA e Chefe de Gabinete da Deputada Maura Jorge na Assembléia Legislativa do Estado. Graduado em Gestão de Recursos Humanos e pós-graduando em Gestão Pública, exerce, atualmente, a função de Chefe de Gabinete da Secretaria Estado da Ciência, Tecnologia, Ensino Superior e Desenvolvimento Tecnológico do Maranhão e de Conselheiro do Conselho Deliberativo Estadual do SEBRAE/MA.

Diplomado da Escola Superior de Guerra estudou primário nos institutos Nossa Senhora de Nazaré, de Vitória do Mearim; e Nossa da Graça, em Arari. O Ginásio e os cursos técnicos de Contabilidade e Administração no Colégio de São Luiz. História na Universidade Federal do Maranhão, jornalismo na Faculdade São Luís, Gestão de Recursos Humanos na Universidade Estadual Vale do Acaraú e Gestão Pública na Universidade Cândido Mendes.

Fundador da Academia Arariense/Vitoriense de Letras. Efetivo do Instituto Histórico da Maçonaria Maranhense é ocupante e patrono da Cadeira número 22 do mesmo sodalício. Titular da Academia Maçônica Maranhense de Letras, Academia Brasileira Maçônica de Artes, Ciências e Letras e Academia Maçônica Internacional de Letras, sendo presidente do Núcleo AMIL/Brasil/MA da International Masonic Literary Academy. Fundador e diretor atual da FALMA - Federação das Academias de Letras do Maranhão.

Mestre Maçom Instalado pertence às ARLS “Labor e Fraternidade” e “Guardiã da Fraternidade”. Loja de Estudos e Pesquisas “Afonso Augusto de Moraes” e Loja de Perfeição “Tiradentes”.

Jornalista registrado da DRT-MA e associado à ABI tem nove trabalhos publicados entre narração dos navegares do rio Mearim, livros de genealogia, discursos biográficos e coletâneas de artigos. Com lançamento previsto para 2010, livro da História do Município de Arari e outro sobre Maçonaria.

É casado. Tem três filhos e seis netos. Mora em São Luís, capital do Estado do Maranhão.

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CLAUBER PEREIRA LIMA

Cadeira 50

01. DADOS PESSOAIS

01.2. FILIAÇÃO: Justino Delmiro de Lima e Maria Pereira de Lima01.3. NASCIMENTO: 26 de dezembro de 196201.4. NACIONALIDADE: Brasileira01.5. NATURALIDADE: Pedreiras – Maranhão01.6. ESTADOS CIVIL: Solteiro01.7. PROFISSÃO: SACERDOTE E PESQUISADOR01.8. ENDEREÇO: Our Lady of Fatima Parish 4747 30th Street S.E. Calgary, Alberta T2B 3K5 Canada Tel: 0021 1 (403) 273-0621; Skype: clauberl

02. DOCUMENTOS DE IDENTIFICAÇÃO

02.1. CARTEIRA DE IDENTIDADE: 458.360, Expedição 01.08.89 SSPMa02.2. CPF-CIC 250143233-9102.3. CERTIFICADO DE RESERVISTA: 624624 Serie A 27a C.S.M.

03. GRADUAÇÃO

03.1. Licenciado em Teologia pelo CENTRO TEOLÓGICO DO MARANHÃO03.2. Licenciado em Filosofia pela turma de 1998.2 na Universidade Federal do Maranhão –UFMA

04. PÓS-GRADUAÇÃO

04.1. Mestrado em Antropologia Social e Cultural pela Université Catholique de Louvain Bélgica

04.2. Mestrado em Teologia pela Université Catholique de Louvain - Bélgica

05. LÍNGUAS CONHECIDAS:05.1. Fluente em Inglês, Francês, Espanhol05.2. Conhecimentos de Latim, Hebraico, Grego Bíblico, Italiano e Alemão

06. CONGRESSOS/SEMINÁRIOS/SIMPÓSIOS

- Participação e Organização da Primeira Semana Teológica no CENTRO TEOLÓGICO DO MARANHÃO com o tema: Teologia e Política em 1985;

- Coordenador-Adjunto da IX Semana Teológica: Fé e Problemas Parapsicológicos em 1996;

- Participação ativa como representante do CENTRO TEOLÓGICO DO MARANHÃO no 1o Encontro dos Dirigentes das Instituições de Ensino Superior no Auditório CEB Velho UFMA em 1997;

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- Coordenador-Adjunto da X Semana Teológica: O conceito de manipulação na problemática da Bioética e suas implicações na Moral Cristã em 1997;

- Semana de Humanidades na UFMA: Filosofia e Condição Humana em 1997;- Expositor no Seminário Internacional: O Legado Literário, Jurídico e Teológico do

Padre Antonio Vieira – a Missão do Maranhão de 4 a 5 de setembro de 1997 no Auditório da Academia Maranhense de Letras, apoiado pelo Consiglio Nazionale delle Richerche – CNR (Itália);

- Envio a Roma da Palestra: Profecia e Salvação dos Índios em Padre Antonio Vieira, a ser apresentada no Colóquio Internacional sobre Padre Antonio Vieira em Roma, de 18 a 19 de dezembro de 1997, sob os auspícios da Assoziane di Studi Latino-Americani – ASSLA;

- Seminário de Avaliação do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável Local de 16 a 17 de dezembro de 1997 em São Luís;

- Todo mês de outubro desde 1999 participa do “Study Days” na cidade de Banff, Alberta, Canadá que funciona como um Seminário de formação permanente do clero local.

- 2 de Junho de 2007: abertura da noite cultural caribenha sob os auspícios do Diretor Michael A. Dabreo, no Centro Cultural Português em Calgary, Alberta, Canadá.

- De 30 de agosto a 2 de setembro de 2007: sob os auspícios do Padre Manuel Cardoso Junior, Intercâmbio cultural-antropológico com a comunidade portuguesa da cidade de Victoria, na ilha de Vancouver, província da British Columbia, no centro cultural português situado no nº 4635, Elk Lake Drive – Victoria BC.

- Apoio ao Sr Consul Português Dr Carlos Sousa Amaro na sua presença consular em Calgary dias 6 e 7 de Maio de 2010 no Centro Cultural Português.

- Dia 8 de Maio de 2010: Início da Missa para a Comunidade Brasileira residente em Calgary, Alberta, Canadá, sempre aos Sábados ao meio-dia.

- 5 de Junho de 2010: abertura da noite cultural caribenha sob os auspícios do Diretor Michael A. Dabreo, no Centro Cultural Português em Calgary, Alberta, Canadá.

07. ARTIGOS PUBLICADOS

1. Jornal O Imparcial, 11 de outubro de 1997: A pertinência Teológica das discussões Bioéticas;

2. Jornal O Imparcial, 13 de dezembro de 1997: Profecia e Salvação dos Índios;3. Jornal O Estado do Maranhão, 5 de janeiro de 1998: A Ética Humana e a Moral Cristã

em Santo Tomás de Aquino – elogiado por um professor maranhense como um artigo consistente e cheio de perspicácia intelectual;

4. Jornal O Imparcial, 12 de fevereiro de 1998: A respeito do Ano Litúrgico C;5. Revista Eclesiástica Brasileira, fasc. 231 setembro de 1998: Vieira: Profecia e

Salvação, Petrópolis, Editora Vozes, 1998;6. Revista Eclesiástica Brasileira, fasc. 251 – julho – 2003: Sartre e transcendência,

Petrópolis, Editora Vozes, 2003. 7. Jornal Paroquial O Caminheiro, Ano III n. 32, setembro e outubro de 1998: O

Encontro de Casais e a Ceia Eucarística;8. Jornal O Estado do Maranhão, 21 de outubro de 1998: A UFMA em seu aniversário; 9 Jornal O Estado do Maranhão, 29 de março de 1999: Platão e a Política.10 Jornal do Brasil, 11 de Junho de 2005: O eu repleto de náuseas.11 Jornal do Brasil, 24 de Julho de 2005: Além do fato: os anjos da morte.

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12 O acidente da Gol: entre Pragmatismo e Racionalismo Filosófico, Publicado no site www.meiobit.com/miscelaneas/o acidente da gol nao deveria acontecer#comment-51692.

08. LIVROS PUBLICADOS

08.1.Sartre e a questão da Transcendência, Recife, Editora Livrorapido, 107 p. 2003.

09. EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL

09.1. Estagiário dos Colégios Bacelar Portela e Coelho Neto em dezembro de 1997;09.2. Professor de Filosofia e Teologia no CENTRO TEOLÓGICO DO MARANHÃO, 1995

a 1999;09.3. Vice-Diretor e Diretor Interino do CENTRO TEOLÓGICO DO MARANHÃO, 1995 a

1999;09.4. Assessor do CENTRO TEOLÓGICO DO MARANHÃO até abril de 1999;09.5. Foi Membro Titular do Conselho Diretor da Universidade Federal do Maranhão –

UFMA enquanto representante da Sociedade Maranhense de Cultura Superior –SOMACS até 1999 nomeado pelo Ministro Paulo Renato de Sousa onde fiz o Parecer do Conselheiro Pe. Clauber Pereira Lima ao Processo n. 5336/98-17, que contém a Planilha de Custo e Plano de Aplicação para o Primeiro Vestibular de 1999; Emendas ao Novo Estatuto da Universidade Federal do Maranhão;

09.6. Desde abril de 1999, convivência e análise antropológica de uma comunidade portuguesa açoriana no oeste do Canadá.

09.7. Tradução e participação no filme sobre o gado Angus em Maio de 2003.09.8. Trabalhos de tradução do Inglês para o Português na Universidade de Calgary, Alberta,

Canadá.09.9. Professor particular de Francês em Calgary: Junho de 2003. 09.10. Membro da Discernment of Spirit Commission junto ao bispo de Calgary, Alberta,

Canadá. 09.11. Apoio psicológico e espiritual dos membros da comunidade de língua portuguesa e de

língua inglesa na Paróquia Nossa Senhora de Fátima em Calgary, Alberta, Canadá.09.12. Colaborador junto ao Tribunal Diocesano de Calgary, Alberta, Canadá.09.13. Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão ocupando a cadeira de

número 50.

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LIVROS RECEBIDOS

Washington Maciel Cantanhede - Celso Magalhães – um perfil biográfico

Arno Wehling - “De formigas, aranhas e abelhas – reflexões sobre o IHGB”Autos do Processo-Crime da Baronesa de Grajaú;

Ministério Público do Estado do Maranhão, tomos: 2, 3, e 4Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão, no. 16-2009