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Revista Linguística Rio Volume 1, Número 2, 2015 ISSN 235846826 Editores Thiago Oliveira da Motta Sampaio Isabella Lopes Pederneira Nathacia Lucena Ribeiro André Felipe Cunha Vieira Conselho Editorial Prof. Dr. Aniela Improta França Priscilla Thaiss de Medeiros

Revista Linguística Rio n2 2015

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Segundo número da Revista Linguística Rio - UFRJ, publicado em janeiro de 2015 em homenagem a Yone Leitte

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    !Revista(Lingustica(Rio(Volume!1,!Nmero!2,!2015!ISSN!!235846826!!!!

    Editores(Thiago!Oliveira!da!Motta!Sampaio!Isabella!Lopes!Pederneira!Nathacia!Lucena!Ribeiro!Andr!Felipe!Cunha!Vieira!!!!Conselho(Editorial!Prof.!Dr.!Aniela!Improta!Frana!Priscilla!Thaiss!de!Medeiros!!!!

    ((((((!! !!!

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    Universidade(Federal(do(Rio(de(Janeiro(Programa(de(Ps(Graduao(em(Lingustica(!A!revista!Lingustica!Rio!!uma!revista!online!dedicada!ao!corpo!discente!do!Programa!de!Ps!Graduao!em!Lingustica!da!Universidade!Federal!do!Rio!de!Janeiro!(UFRJ)!!!

    Endereo(eletrnico:!www.linguisticario.weebly.com!!Endereo(para(correspondncias:!Av.!Horcio!Macedo,!s/n,!Faculade!de!Letras!!UFRJ,!sala!F321,!Cidade!Universitria,!Rio!de!Janeiro/RJ,!CEP:!21.9414598!!!!

    (SOBRE( A( REVISTA:! A!Revista!LingusticaRio! foi! idealizada! em!maro!de!2014!junto! com! os! Seminrios! Permanentes! do! Programa! de! Ps! Graduao! em!Lingustica!da!UFRJ!e!fundada!em!abril!do!mesmo!ano.!!Aps!as!mudanas!no!Programa!para!o!ano!de!2015,!a!Revista!assume!o!modelo!de!Working!Papers,!buscando!divulgar!e!discutir!os!projetos!desenvolvidos!pelos!ps!graduandos!do!Programa.!!A!proposta!inicial!prev!publicaes!semestrais!de!trabalhos!que!sigam!as!linhas!de!pesquisa!do!Programa!de!Ps!Graduao!em!Lingustica!da!UFRJ,!a!saber!:!

    Linha(1:!Gramtica!na!Teoria!Gerativa!Linha(2:!Estudo!das!Lnguas!Indgenas!Brasileiras!Linha(3:!Modelos!Funcionais!Baseados!No!Uso!Linha(4:!Linguagem,!Mente!e!Crebro!Linha(5:!Tecnologia!e!Inovao!em!Lingustica!Linha(6:!Variao!e!Mudana!Lingustica!!!!!

    REVISTA(LINGISTICA(RIO,(VOLUME(1,(NMERO(2(ISSN!!2358U6826(Publicado:!26!Janeiro!de!2015!Programa!de!Ps!Graduao!em!Lingustica!Universidade!Federal!do!Rio!de!Janeiro!Saiba!mais!sobre!o!Programa!de!Ps!Graduao!em!Lingustica!da!UFRJ:!http://www.letras.ufrj.br/poslinguistica/!

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    ! !SUMRIO(

    (

    (((( Editorial(

    (

    01!(((1( ENTREVISTA:(Jos(de(Morais(

    Thiago!Oliveira!da!Motta!Sampaio!

    (

    04!(((2( Os(verbos(psicolgicos(do(Portugus(do(Brasil(

    Jannine!Vieira!Soares!

    !

    09!(((3( O(redobro(de(pronomes(no(Crioulo(Guineense(

    Pollyanna!Pereira!de!Castro!

    !

    16!(((4( Estudo( da( fala( conectada( na( regio( metropolitana( do( Rio( de(

    Janeiro(

    Jamille!Vieira!Soares!

    !

    24!

    (((5( Metfora( e(Metonmia:( estratgias( discursivas( nas( construes(

    das(manchetes(jornalsticas(

    Flvia!Clemente!de!Souza!

    33!(((( ( !(((6( Quantificao( nominal( em( Karaj:( Estudo( experimental( do(

    distributivo(sohojiUsohoji(

    Cristiane!Oliveira!

    !

    42!

    (((7( Sobre(o(qued(da(Yonne(

    Carta>poema!de!Miriam!Lemle!!Homenagem!a!Yonne!Leite!

    52!

  • Revista Lingustica Rio, Volume 1, Nmero 2, Janeiro de 2015 ISSN 2358-6826 1"

    Editorial)" O" ano" de" 2014" foi" especial" para" o" corpo" discente" do" Programa" de" Ps"Graduao" em" Lingustica" da" UFRJ." Nele" os" Ps" Graduandos" tiveram" um" pouco"mais"de"voz"no"Programa."Foi"um"ano"em"que"pudemos"conhecer"melhor"uns"aos"outros," tanto" pessoalmente" quanto" academicamente." Os" Seminrios* Permanentes"nos"deram"a"oportunidade"de"discutir"nossos"trabalhos"e"tambm"de"sair"de"nossa"zona"de"conforto,"aprendendo"um"pouco"mais"sobre"cada"uma"das"outras"linhas"de"pesquisa" ao" longo" dos" ltimos" dois" perodos" de" maior" convivncia" e" de" boas"discusses." Obviamente," como" todo" projeto" em" fase" inicial," tivemos" imprevistos"durante" o" ano," culminando" em" alguma" falhas." Infelizmente," isso" resultou" na"anulao"do"seu"status"de"seminrio"oficial"ao"final"do"ano"letivo."Apesar"de"tudo,"ficou"a"experincia"e"a"certeza"de"que"os"Ps"Graduandos"de"nosso"Programa"tm"maturidade" e" responsabilidade" para" assumir" uma" posio"mais" ativa" na" vida" de"nossa"Universidade."E"uma"das" evidncias" "o" lanamento"da"Revista"Lingustica"Rio." Aps" sete" meses" de" preparao," o" primeiro" nmero" da" revista" foi"disponibilizado"online"no"dia"25"de"Setembro"de"2014."Um"ms"depois,"a" revista"teve" seu" lanamento" oficial" no" dia" 23" de" Outubro." Na" ocasio," contamos" com" a"presena"do"Professor"Jos"de"Morais,"da"Universidade"Livre"de"Bruxelas,"que"nos"presenteou" com" a" palestra:" A* leitura* hbil* e* seu* impacto* na* Percepo* e* na*Cognio." Das" seis" linhas" de" pesquisa" existentes" no" Programa," cinco" estiveram"presentes" naquele" nmero," sendo" quatro" squibs" e" uma" entrevista" com" nossa"professora"Maria"Luiza"Braga.""Quatro"meses"depois,""o"momento"de"dar"prosseguimento"a"este"trabalho."Primeiramente," gostaramos" de" informar" que" a" Comisso" Editorial" esteve"trabalhando"neste"perodo"para"prosseguir"nossa"srie"de"entrevistas."Acreditamos"que" ouvir" a" voz" dos" pesquisadores" mais" experientes" " de" extrema" importncia"para" inspirar" e"motivar"nossos" futuros" linguistas."A"primeira" entrevista"de"2015"ficou" a" cargo" da" editora" Isabella) Pederneira) com" nossa" professora" Miriam)Lemle.) Esta" entrevista) foi" gravada" em" vdeo" e" pode" ser" encontrada" na" pgina"inicial"do"nosso"site."J"a"entrevista"escrita"a"ser"publicada"neste"segundo"nmero"da"revista"foi"realizada"pelo"editor"Thiago)Motta)Sampaio"que"conversou"com"o"

  • Revista Lingustica Rio, Volume 1, Nmero 2, Janeiro de 2015 ISSN 2358-6826 2"

    professor" Jos) de)Morais." Psiclogo"de" formao," Jos" " atualmente"professor" e"pesquisador"da"Universidade"Livre"de"Bruxelas"na"Blgica,"onde"coordena"projetos"relacionados"ao"letramento."Por"esta"razo,"Jos""frequentemente"consultado"por"polticos" e" educadores" de" diversos" pases," incluindo" o" Brasil," para" o"desenvolvimento"de"polticas"de"ensino."O" trabalho" obviamente" no" ficou" apenas" por" conta" dos" editores." Neste"mesmo"perodo," ao"menos" cinco"Ps"Graduandos" tambm" trabalharam"bastante."Recebemos"seis"submisses"para"este"nmero"dos"quais"apenas"cinco"esto,"neste"momento," prontos" para" a" publicao." Abriremos" este" nmero" com"uma" srie" de"trabalhos"com"orientaes"na"linha"de"Gramtica"na"Teoria"Gerativa."No"primeiro"squib"desta"edio,"Jannine)Vieira)Soares"utiliza"como"base"terica"o"modelo"da"Morfologia"Distribuda"para"nos"apresentar"a"uma"proposta"de"decomposio"dos"eventos"psicolgicos"em"estruturas"de"eventos."Em"seguida,"Pollyanna)Pereira)de)Castro" apresenta" uma" anlise" do" redobro" pronominal" do" Crioulo" Guineense" em"construes"A_barra"e"em"sentenas"subordinadas."Na" rea" da" Fonologia," Jamille) Vieira) Soares" nos" apresenta" a" nova"abordagem" no" estudo" da" fala" conectada." Em" sua" pesquisa," a" autora" utiliza" uma"anlise" fontica"experimental"para" tratar"do" fenmeno"do"sndi"voclico"externo"na" fala" da" regio"metropolitana" do"Rio" de" Janeiro." Em" seguida,"mudamos" o" foco"para"os"Modelos"Funcionais"Baseados"no"Uso"com"o"squib"de"Flvia)Clemente)de)Souza.) Neste" trabalho," Flvia" realiza" um" estudo" diacrnico" dos" processos" de"metfora" e" metonmia" nas" capas" de" jornais," evidenciando" que" as" construes"utilizadas"nos"ttulos"das"matrias"no"so"realizadas"de"forma"aleatria.""Para" fechar"este" segundo"nmero,"Cristiane)Oliveira)nos" traz"o"primeiro"trabalho" transversal" da" revista." Seu" projeto," alocado" nos" Estudos" das" Lnguas"Indgenas" Brasileiras," possui" fortes" base" e" metodologia" psicolingustica," o" que"permite" que" tambm" seja" alocado" na" linha" de" Linguagem,"Mente" e" Crebro." Sua"pesquisa" nos" traz" dois" experimentos" piloto" offline" cujos" resultados" parecem"desafiar" as" atuais" descries" do" numeral" distributivo" sohoji:sohoji" proposto" nos"estudos"da"lngua"Karaj."Ao"final"desta"edio,"gostaramos"de"lamentar"a"recente"e"profunda"perda"que"tivemos"com"o"falecimento"da"Professora"Yonne)de)Freitas)Leite"no"ltimo"22"de"dezembro."A"carreira"de"Yonne"se" iniciou"na"UFRJ"onde"se"graduou"em"Letras"

  • Revista Lingustica Rio, Volume 1, Nmero 2, Janeiro de 2015 ISSN 2358-6826 3"

    Neolatinas"em"1957."Seu"doutorado"foi"concludo"em"1976"na"University"of"Texas"at"Austin."Aps"voltar"ao"Brasil,"Yonne"deixou"sua"marca"na"lingustica"nacional"ao"ser" uma" das" fundadoras" dos" estudos" das" lnguas" indgenas" brasileiras," com" a"influncia"do"Summer"Institute"of"Linguistics1."Especialista"nas" lnguas"da" famlia"Tupi_Guarani,"que"estudou"por"mais"de"40"anos," seu" trabalho"de"excelncia"seria"consagrado" com" a" presidncia" da" ABRALIN" entre" 1979" e" 1981," e" com" prmios"como"a"medalha"Oscar"Nobling"de"honra"ao"mrito"lingustico"e"filolgico"em"1976"e"a"Comenda"Nacional"do"Mrito"Cientfico"em"2002."Nesta"edio,"a"Revista"Lingustica"Rio"abre"espao"para"a"publicao"de"um"poema_carta" escrito" pela" Professora" Miriam" Lemle," que" acompanhou" toda" a"carreira"da"professora"Yonne"Leite,"desde"seus"primeiros"dias"no"Museu"Nacional"e"da"criao"do"primeiro"programa"de"ps"graduao"em"lingustica"do"pas."Ao" fim" desta" rpida" apresentao," gostaramos" de" agradecer" a" todos" que"colaboraram"de"alguma" forma"com"a" revista," como"aos"autores"que" submeteram"seus"trabalhos"e"a"todos"os"pareceristas"que"nos"auxiliaram"na"edio"e"avaliao"da" revista." E" especialmente," gostaramos" de" agradecer" a" Yonne" Leite" por" tudo" o"que"fez"pelo"nosso"programa"e"pela"lingustica"no"Brasil."Temos"certeza"que"Yonne"ser"eternamente"fonte"de"inspirao"para"todos"ns." "Os"Editores"

    """"""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""1"Ver"entrevista"com"Miriam"Lemle"na"pgina"inicial"da"Lingustica"Rio""

  • Thiago'Oliveira'da'Motta'Sampaio'3'ENTREVISTA''Jos'de'Morais'!

    Revista Lingustica Rio, Volume 1, Nmero 2, Janeiro de 2015 ISSN 2358-6826 ! 4!

    Entrevista

    Jos de Morais (Universidade Livre de Bruxelas)

    Thiago Oliveira da Motta Sampaio !!!

    !Foto:!Thiago!Motta!Sampaio!!

    !Primeiramente,! a! Revista! Lingustica! Rio! gostaria! de! agradecer! a!disponibilidade! de! Jos! de! Morais! para! nos! conceder! esta! entrevista.! A! ttulo! de!apresentao,! Jos!!Psiclogo!de! formao!e!atua!como!professor!e!pesquisador!na! Universidade! Livre! de! Bruxelas! na! Blgica,! onde! coordena! projetos!relacionados! ao! letramento.! Por! esta! razo,! Jos! ! frequentemente! consultado!por! polticos! e! educadores! de! diversos! pases,! incluindo! o! Brasil,! para! o!desenvolvimento!de!polticas!de!ensino.!Por!trabalhar!com!neurocincia!e!estar!bastante!envolvido!com!educao!e!letramento,!acreditamos!que!Jos!de!Morais!! a! pessoa! certa! para! nos! trazer! sua! experincia! sobre! questes! relativas! a!interdisciplinaridade!e!questes!polticas!envolvendo!a!educao.!!!! !!!!!!!!!

  • Thiago'Oliveira'da'Motta'Sampaio'3'ENTREVISTA''Jos'de'Morais'!

    Revista Lingustica Rio, Volume 1, Nmero 2, Janeiro de 2015 ISSN 2358-6826 ! 5!

    No!Brasil,!o!termo!Cincias(Cognitivas!no!possui!a!mesma!fora!que,!ao!menos!pra!mim,!parece!possuir!em!outros!pases!como!na!Frana!onde!estive!estagiando!h!algum! tempo.! Puxando! um! pouco! pra! minha! linha! de! pesquisa,! na! verdade! !bastante!curioso!que!por!mais!que!tenhamos!um!laboratrio!de!Neurocincia!da!Linguagem!no!prdio! da! Letras,! no! senso! comum,! se! fazemos! Lingustica! somos!relacionados!!rea!de!Letras!e!Artes;!Se! trabalhamos!com!Neurocincias!somos!relacionados! ! rea! da! Sade.!Mas! se! fazemos! Neurocincia! da! Linguagem,! j! !algo! inconcebvel! para! muita! gente,! afinal! ! algo! que! no! ! exatamente! Sade,!nem!Letras...!e!no!fim!do!dia!acaba!sendo!interpretado!como!Psicologia!por!falta!de!uma!"rea!de!concentrao",!afinal!!o!que!temos!de!mais!prximo!de!uma!rea!de!Cincias!Cognitivas!aqui!no!Brasil.!!Em!seu!trabalho!aqui!no!Brasil,!voc!j!teve!algum!problema!com!essa!tendncia!a!encapsular!as!reas!de!conhecimento?!! Sobre! o! encapsulamento! das! reas! do! conhecimento,! tenho! realmente!verificado!esta! tendncia.!Porm,!ela!no!!exclusiva!do!Brasil.!H!poucos!dias!estive! em! uma! reunio! da! comisso! de! avaliao! de! projetos! de! psicologia! da!Blgica! francfona! e! tambm! notei! que! h! uma! tendncia! ao! encapsulamento!nestes!projetos.!Esta!tendncia!no!!s!da!Fundao!de!pesquisa,!mas!tambm!das!pessoas!que!apresentam!os!projetos.!Onde!talvez!eu!mais!claramente!tenha!encontrado!isso!pode!ter!sido!na!comisso!cientfica!do!SHS!(Cincias!Humanas!e!Sociais)!na!Frana,!que!inclui!muitas!disciplinas.!A!tendncia!!as!pessoas!das!humanidades! e! das! cincias! sociais! se! fecharem! relativamente! quilo! que! tem!ligao! com! as! cincias! da! vida,! como! por! exemplo! os! estudos! da! conscincia,!tanto!na!Neurocincia!quanto!nas!Cincias!Cognitivas,!seja!na!cognio!humana!ou! na! cognio! animal,! embora! a! compreenso! desse! objeto! de! pesquisa! e! de!muitos! outros! fosse! certamente! beneficiada! por! estudos! que! combinassem! as!perspectivas!e!as!metodologias!de!diversas!disciplinas.!Acontece!que!muitos!dos!projetos! apresentados! tendem! a! jogar! estes! temas,! no! para! fora! das! cincias!humanas! e! sociais,! mas! para! as! fronteiras.! Eles! os! jogam! por! motivos!relacionados! s! exigncias! das! instituies! que! distribuem! os! fundos! e! s!demandas!de!financiamento!dos!candidatos.!!!Quais! seriam! suas! sugestes! para! que! possamos! atingir! uma! maior! interao!entre!as!reas!do!conhecimento?!!! Na!verdade!me!parece!que!seria!mais!interessante!que,!ao!invs!de!haver!essa! competio! e! concorrncia,! houvesse!mais! procura! de! estabelecer! pontos!em!comum!e!criar!projetos!na!interseo!entre!as!reas.!Para!isso!seria!preciso!ultrapassar!a!atuao!de!defesa,!que!parece!ter!origem!no!receio!relativamente!ao! outro.! Este! receio! conduz! a! uma! situao! de! competio! que! contrariam!possveis! colaboraes.! No! ! fcil! dar! sugestes.! Talvez! esta:! que! cada! um!procure! refletir! de! maneira! sistemtica! e! precisa! sobre! como! melhorar! a!qualidade!da! sua! contribuio! ! cincia.!Quem!est! seguro!de! seu! trabalho,! da!contribuio! que! pode! dar,! no! tem! medo! de! colaborar! com! parceiros!igualmente! seguros!de! si,! vindos!de!outras!disciplinas.! Isto!parece!uma!receita!de!psiclogo!mas!!justa.!No!se!trata!de!criar!uma!iluso!de!competncia!para!poder!colaborar!sem!receio,!trata[se!de!ser!competente!mesmo.!!

    Ao!observar!o!seu!trabalho,!percebo!que!voc!tem!uma!ateno!especial!!aplicao!do! conhecimento! cientfico!na! vida!prtica,! no! caso!utilizandoSo! como!'tecnologia'!para!auxiliar!as!polticas!de!alfabetizao.!Mas!mais!do!que!isso,!voc!traz!estes!conhecimentos!!tona!ao!mesmo!tempo!que!integra!conhecimentos!de!reas! distintas! em! um! objetivo! comum.! Para! voc,! qual! a! importncia! deste!

  • Thiago'Oliveira'da'Motta'Sampaio'3'ENTREVISTA''Jos'de'Morais'!

    Revista Lingustica Rio, Volume 1, Nmero 2, Janeiro de 2015 ISSN 2358-6826 ! 6!

    trabalho!de!aplicao?!! Na! verdade!meu! interesse! principal! ainda! ! a! pesquisa! fundamental.! A!questo! da! aplicao! veio! depois.! Me! pediram! pra! escrever! um! livro! sobre!leitura,! at! esse! momento! eu! no! tinha! me! debruado! sobre! questes! de!aplicao,! mas! esse! livro! seria! muito! interessante! para! o! pblico! em! geral,! e!seria!publicado!por!uma!editora!francesa!com!muita!difuso,!a!Odile!Jacob.!Ento!aceitei! fazer! o! LArt' de' Lire! (Arte! de! Ler)! que! teve! uma! influncia! enorme! na!minha! vida.! Ele! acabou! fazendo! sucesso,! fiquei! conhecido! do! Ministrio! de!Educao!e! fui! convidado!a! fazer!parte!do!Observatrio!Nacional!da!Leitura.!E!assim!acabei!por!estar!implicado!nas!questes!da!aplicao.!Comeou!ento!um!novo! aspecto! da! minha! vida! acadmica! mas! minha! orientao! de! pesquisa!continua!sendo!fundamental.!!Ainda! assim,! apesar! do! meu! gosto! e! prazer! principal! ser! a! pesquisa!fundamental,!penso!que!ns,!os! fundamentalistas,! temos!algumas!obrigaes.!Se!adquirimos! conhecimentos! sobre! coisas!da!mente!que!podem!ser!utilizadas!para! melhorar! a! educao,! ! nossa! responsabilidade! comunicar! esses!conhecimentos! s! pessoas! que! tomam! decises! sobre! educao! e! aos!educadores.! Tudo! isso! conduz! a! uma! questo! que! :! para! sabermos! qual! a!influncia! da! literacia! na! educao! e! no! processamento! da! linguagem,! vamos!precisar! estudar!o!que! acontece!quando!algum!se! alfabetiza,! por! exemplo,! na!idade! adulta.! Por! essa! razo! estou! envolvido! na! criao! de! um! curso! de!alfabetizao! que! seja! coerente! com! aquilo! que! sabemos! sobre! o! processo! de!aprendizagem! da! leitura! e! da! escrita.! Claro! que! nosso! estudo! pode! ter!consequncias! na! educao,! e! espero! que! venha! a! ter,! mas! o! nosso! objetivo!principal,!enquanto!pesquisadores!!no!de!ouro!mas!de!cincia,!que!para!ns!!paixo! mais! forte! ,! ! examinar! como! o! crebro! ! ativado! ao! longo! deste!processo.!!Por! exemplo,! em! uma! de! nossas! pesquisas! que! estamos! comeando,!examinamos! como! funciona! o! crebro! antes! da! aprendizagem! da! escrita.! A!aprendizagem,! essa,! est! prevista! para! durar! trs!meses.! Durante! este! tempo,!vamos! verificar! como! funciona! o! crebro! dos! voluntrios! quando! lhes! so!apresentados! estmulos! escritos! e! outros,! tais! como! faces,! que! tm! uma!representao! cerebral! muito! prxima! da! das! palavras! escritas,! para! enfim!comparar!o!seu!funcionamento!antes!e!ao!longo!desses!meses!com!o!estgio!final!da!aprendizagem:!portanto,!antes,!durante!e!depois.!Trabalhando!para!alcanar!este! objetivo,! estamos! ao!mesmo! tempo! criando! instrumentos! que! podem! ter!uma!aplicao!prtica.!!

    Para!voc!como!um!Psiclogo!que!trabalha!com!Psicologia!e!com!a!Neurocincia!para! entender!mais! sobre!a! Linguagem!em!especial! sobre!a! alfabetizao,! como!seria!possvel!ajudar!a!nossa!educao!que! tem!recebido! ndices! to!alarmantes!de!proficincia!de!leitura?!

    ! Podemos!fazer!muita!coisa!para!ajudar!a!Educao.!!uma!das!razes!que!me!tm!feito!vir!tantas!vezes!ao!Brasil.!Agora!a!ideia!!justamente!de!transmitir,!na!medida!do!possvel,!alguns!desses!conhecimentos,!no!apenas!aos!cientistas!mas! tambm! aos! professores! do! ensino! primrio.! Eu! tenho! colaborado! com!gente!que!est!claramente!com!o!objetivo!de!ajudar!a!melhorar!a!alfabetizao.!No!Brasil!tem!havido!muitas!tentativas!para!mudar!a!situao!da!leitura.!S!que!est! demorando! tempo! demais.! Mas! temos! de! ajudar! e! no! ter!medo! de! agir.!Insisto!na!expresso!medo'de'agir.!No!!fcil!agir!quando!pensamos!que!existe!uma!espcie!de!doutrina!sobre!o!ensino!da!leitura!e!da!escrita!que,!no!tendo!a!menor! fundamentao! cientfica,! foi! aceita! pelo! Ministrio! e! agora! ! doutrina!

  • Thiago'Oliveira'da'Motta'Sampaio'3'ENTREVISTA''Jos'de'Morais'!

    Revista Lingustica Rio, Volume 1, Nmero 2, Janeiro de 2015 ISSN 2358-6826 ! 7!

    oficial.!E!muita!gente!tem!medo!de!ir!contra!o!que!!oficial,!contra!a!autoridade.!Ora! a! nica! autoridade! que! temos! de! respeitar! ! o! que! pensamos! depois! de!termos! analisado! tudo! muito! bem,! incluindo! o! que! a! cincia! tem! mostrado.!Tenho!criticado!muito!os!documentos!do!Ministrio!com!orientao!pedaggica!para!os!professores!porque!me!parece!que!neles!h!um!desconhecimento! total!da! cincia.! Na! Universidade,! vejo! gente! disposta! a! dizer! coisas! na! direo! de!mudar! a! educao,! mas! que! as! vezes! tem! um! certo! medo! de! agir,! e! isso! !compreensvel.!A!presso!da!ideologia!oficial!!muito!forte!!No!podemos!aceitar!essa! presso! porque! todas! as! ideias! podem! ser! discutidas! e! devem! ser!discutidas.!E!se!quisermos!melhorar!a!Educao!devemos!criar!liberdade!para!a!discusso!destas!ideias.!!!Aps! estes! dez! anos! de! formao,! eu! ainda! desconheo! este! termo! Cincia! da!Leitura,!poderia!falar!um!pouco!mais!sobre!o!assunto?!! Sim,!existe!uma!Cincia!da!leitura!e!conta!com!muitos!autores!no!mundo.!Eu! contribu! h! uns! nove! anos! para! um! livro! que! se! chama! The' Science' of'

    Reading'Handbook!(Cadernos!da!Cincia!da!Leitura).!Na!realidade!ela!no!existe!como! disciplina,!mas! tem! havido! uma! convergncia! de! vrias! disciplinas! para!estudar!a!leitura!e,!por!isso,!se!fala!hoje!em!uma!Cincia!da!Leitura.!E!tudo!isso!que!tem!sido!feito!com!mtodos!cientficos!sobre!a!leitura!ainda!!desconhecido!de! muitos! universitrios,! mesmo! quando! se! ocupam! da! linguagem! e! at! da!leitura.! Volto! aos! documentos! do! Ministrio.! Se! eles! citassem! e! discutissem!corretamente!os!argumentos!estaria!tudo!bem,!mas!a!malandrice!!que!eles!ou!ignoram! completamente! os! trabalhos! da! Cincia! da! Leitura,! ou! os! deturpam.!Ainda!assim,!acredito!que!a!questo!da!Educao!ainda!vai!dar!certo.!!Esta! revista! da! qual! voc! est! participando! ! o! resultado! de! seis! meses! de!reunies! semanais! entre! os! alunos! das! seis! linhas! de! pesquisa! do! Programa.!Apesar! das! adversidades,! essa! iniciativa! pioneira! de! alguns! alunos! nem! sempre!tem!a!adeso!do!Programa!como!um!todo.!Que!conselho!voc!poderia!nos!dar!para!que!a!gente!consiga!uma!maior!mobilizao!em!torno!das!reunies!e!tambm!da!revista!?!! Minha! primeira! reao! a! esta! pergunta! :! eu! sou! incapaz! de! dar! tais!conselhos.! ! Acredito! que! vocs! sabero! o! que! fazer.! E! se! por! acaso! tiverem!dvidas,! vo!descobrir!o!que! fazer!ao! longo!do!caminho,!que!ainda!!a!melhor!maneira!de!chegarmos!aos!nossos!objetivos.!!Pensando! um! pouco! melhor,! meu! conselho! seria! o! de! no! afunilar.!Alarguem!a!perspectiva! interdisciplinar.!Tratando!e! abarcando!vrios!aspectos!abordados! em! nossa! conversa.! Abram! espao! para! assuntos! relacionados! a!Cognio,! a! Linguagem!e! a!Educao.!Acho!que!estes! trs! temas!podem!reunir!muitas! pessoas,! sejam! linguistas! sejam! os! no! linguistas! interessados! em!linguagem.!Mas!certamente! ir!atrair!muitos! linguistas!e! ser! realmente!muito!interessante.!Alarguem!em!termos!do!objeto,!e!tambm!nos!termos!das!relaes!entre!estes!objetos.!Se!eu!pudesse!dar!um!conselho,!seria!este.!!Para!terminar,!voc!gostaria!de!dar!alguma!palavra!ou!conselho!para!os!futuros!mestres!e!doutores!em!Lingustica!da!UFRJ?!

    ! O!estudo!da!Linguagem!em!todos!os!seus!aspectos!!muito!excitante!!!preciso! sentir! profundamente! aquilo! que! ns! estudamos.! Se! no! for! assim! !melhor! desistir! e! mudar! de! rea.! Quando! fazemos! o! que! gostamos! de! fazer,!sentimos! uma! coisa! extraordinria! e! excitante,! que! queremos! saber! cada! vez!

  • Thiago'Oliveira'da'Motta'Sampaio'3'ENTREVISTA''Jos'de'Morais'!

    Revista Lingustica Rio, Volume 1, Nmero 2, Janeiro de 2015 ISSN 2358-6826 ! 8!

    mais!para!podermos!acrescentar!algo!ao!conhecimento!da!rea.!Acho!que!isso!!fundamental!para!determinar!se!!isso!o!que!devemos!fazer!ou!no.!No! importa! o! que! escolhemos! pesquisar,! mas! tem! ser! atravs! dos!mtodos!cientficos.!Repare!que!por!mtodos!cientficos!eu!no!quero!dizer!que!devemos! necessariamente! usar! os! equipamentos! mais! precisos! que! existem,!pois! isso! muda! com! o! tempo,! numa! velocidade! estonteante.! Os! paradigmas!tambm! mudam! e! aparecem! outros.! Quando! aparece! algo! novo,! os!equipamentos! e! paradigmas! antigos! se! tornam! ultrapassados.! O! que! !verdadeiramente!essencial!no!mtodo!cientfico!!o!que!seria!melhor!traduzido!pelo!termo!dmarche!em!francs,!que!neste!caso!tem!a!ver!com!a!conduo!da!verificao.! Ns! sempre! iniciamos! nossos! trabalhos! elaborando! uma! hiptese!com!base!no!conhecimento!adquirido!e!descrito!na!literatura.!Buscamos!dissecar!e!analisar!completamente!o!nosso!objeto!e!ento!o!grande!problema!passa!a!ser!o!como!proceder!para!verificar!aquela!hiptese.!Isso!!geral!a!todas!as!cincias:!pensar! em!uma! situao! que! nos! permitam! verificar! a! nossa! hiptese.! Depois,!devemos!pensar!em!quais!as!predies!que!podemos! fazer!dada!esta!hiptese.!Acho!que!!sempre!preciso!refletir!sobre!o!processo!de!verificao!de!hipteses!e! tambm! refletir! se! estamos! aplicando! corretamente! este! processo! de!verificao.!O!resto!passa!a!ser!uma!mera!(mas!s!vezes!complicada)!questo!de!tratamento!de!dados.!Isso! tudo!! importante,!mas!digamos!que!esta! ! a! ideia! fundamental:! a!cincia! comea! quando! colocamos! uma! questo.! A! partir! de! ento! pensamos!numa!hiptese.!Depois,!num!processo!de!verificao!de!hiptese!e,!feita!a!anlise!dos! dados,! logo! voltamos! para! a! questo,! visto! que! os! resultados! podem! vir! a!mostrar! que! ns! no! nos! dirigimos! ! questo! da! maneira! correta.! A! cincia!trabalha! com! uma! sucesso! de! questes,! no! meio! a! gente! tem! que! trabalhar,!pensar,! verificar,! construir! algo! para! verificar.! Esta! verificao! nem! sempre! !experimental! mas!muitas! vezes! .! Mas! os! verdadeiros!marcos! no! caminho! da!cincia!no!so!os!resultados,!mas!sim!as!questes!e!as!subquestes!sucessivas!que! a! gente! vai! colocando.!A'Cincia'' isso,' conseguir'colocar'novas'questes.! O!resto!deixa!de!ter!interesse!pois!a!gente!j!sabe,!j!no!!to!excitante.!Acho!que! isso!!essencial! transmitir!para!quem!est!comeando!e!quer!ser!um!futuro!pesquisador.!Colocar!questes!que!so!cada!vez!mais!profundas!e!vo! cada! vez! mais! longe! na! nossa! interrogao! sobre! o! mundo,! a! natureza,! a!mente!e!a!linguagem.!!A!Revista!Lingustica!Rio!agradece!a!ateno!e!a!disponibilidade!do!Prof.! Jos!de!Morais! para! esta! entrevista.! Agradecemos! a! conversa,! os! esclarecimentos,! e!tambm!os!conselhos!para!os!nossos!futuros!linguistas.!!!!

    REFERNCIAS:!MORAIS,!Jos!de.!LArt'de'Lire."Paris":"ditions"Odile"Jacob"1994.!MORAIS,!Jos!de;!KOLINSKY,!Rgine.!Literacy!and!cognitive!change.!In:!M.!Snowling!&!Ch.!Hulme!(Eds.),!The'Science'of'Reading':'a'Handbook.!Oxford!:!Blackwell.!2005!!

  • Gramtica)na)Teoria)Gerativa))Jannine)Vieira)Soares)

    Revista Lingustica Rio, Volume 1, Nmero 2, Janeiro de 2015 ISSN 2358-6826 9"

    Gramtica na Teoria Gerativa

    Os verbos psicolgicos do Portugus do Brasil

    Jannine Vieira Soares

    RESUMO: Os verbos psicolgicos do tipo objeto-experienciador so verbos que incluem em

    seu significado um estado mental (psicolgico) que seu argumento interno passa a ter como

    decorrncia de um evento causador relacionado. Tendo como arcabouo terico a Morfologia

    Distribuda (HALLE; MARANTZ, 1993; MARANTZ, 1997, 2001), a proposta tentar

    decompor tais verbos em uma estrutura de evento representada sintaticamente (RAMCHAND,

    2003; PYLKKNEN, 2002; CUERVO, 2003; LIN, 2004; MARANTZ, 2007; HALE;

    KEYSER, 1993; etc.). Esses verbos apresentam certas propriedades sintticas e semnticas,

    como por exemplo, permitirem parfrases envolvendo nomes dos quais, com frequncia, so

    morfologicamente derivados: apavorar/causar pavor e animar/causar nimo. possvel que a

    raiz ou o nome de base em tais verbos nomeie estados psicolgicos e que haja uma relao

    sinttica e semntica (HALE; KEYSER, 1993), estabelecida por um morfema (um prefixo),

    entre o nome ou raiz que nomeia tal estado psicolgico e o complemento do verbo, seu

    argumento interno. Defendemos que a estrutura morfolgica possa dar alguma explicao (i)

    sobre como os verbos psicolgicos selecionam seus argumentos e como eles so interpretados e

    (ii) que relao h entre a forma do verbo e a estrutura de evento com a qual ele est

    relacionado.

    PALAVRAS-CHAVE: Verbos psicolgicos; objeto-experienciador; sintaxe; estrutura de

    evento.

    ABSTRACT: Object-Experiencer verbs include in their meaning a (psychological) mental state

    that its internal argument gets as a result of a related cause event. Assuming the theoretical

    framework of Distributed Morphology (HALLE; MARANTZ, 1993; MARANTZ, 1997, 2001),

    I try to decompose such verbs in a syntactically represented event structure (RAMCHAND,

    2003; PYLKKNEN, 2002; CUERVO, 2003; LIN, 2004; MARANTZ, 2007; HALE;

    KEYSER, 1993; etc.). These verbs have certain syntactic and semantic properties: they allow

    paraphrases involving nouns from which they are often morphologically derived: fear/cause

    fear, worry/cause worry. It is possible that the root or base noun in such verbs denote

    psychological states and that there is a syntactic and a semantic relationships established by a

    morpheme (prefix), between the noun or root and the complement of the verb, its internal

    argument. We argue that the morphological structure can give us some explanation about: (i)

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    Revista Lingustica Rio, Volume 1, Nmero 2, Janeiro de 2015 ISSN 2358-6826 10"

    how the psychological verbs select their arguments and how they are interpreted and (ii) what

    relationship exists between the form of the verb and the event structure with which it is related.

    KEYWORDS: psychological verbs; object experiencer; syntax; event structure.

    !

    Introduo!

    ! Os" verbos" psicolgicos" do" tipo" objeto5experienciador" (doravante" ObjExp)"denotam" um" estado" mental" (ou" psicolgico)" no" referente" de" seu" argumento"interno;" tradicionalmente," dizemos" que" o" argumento" interno" recebe" o" papel"temtico"de"experienciador."Esses"verbos" tm"recebido" tratamentos"diversos"por"apresentarem" propriedades" que" os" diferenciam" dos" demais" verbos" transitivos."Nossa" proposta" consiste" em" observar" propriedades" sintticas" e" semnticas" dos"verbos"psicolgicos"do"tipo"objeto5experienciador"utilizando"como"fundamentao"terica"a"Morfologia"Distribuda1."Nossa"intuio"de"falante"ser"nossa"fonte"para"a"observao"dos"dados"do"Portugus"do"Brasil."Uma" das" peculiaridades" apontadas" pela" literatura" para" verbos" que"descrevem" estados" psicolgicos" de" um" modo" geral" " a" alternncia" na" posio"sinttica" em" que" o" argumento" experienciador" ocorre," isto" ," o" ser" animado" que"experimenta"o"estado"mental" (ou"psicolgico)"pode"vir"ora"na"posio"de"sujeito,"ora"como"objeto"direto,"ora"como"objeto"indireto."Observem5se"os"exemplos:""(1)!"Joo"teme"a"presena"do"leo.""(2)!"A"tempestade"amedrontou"a"menina.""(3)!A"palestra"agradou"aos"participantes"do"evento."""Na"sentena"(1),"o"referente"do"sujeito"experimenta"um"estado"psicolgico"(temor"do"leo);"na"sentena"(2),"o"referente"do"objeto"direto""quem"experimenta"o"medo;"j"em"(3),""o"objeto"indireto"quem"se"agrada"com"a"palestra2.""Os" verbos" psicolgicos"ObjExp" podem" ser" associados" a" nomes" de" estados"mentais." Por" exemplo," amedrontar" (medo)," apavorar" (pavor)," atormentar"!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!1!Este" trabalho""um"resumo"da"minha"dissertao"de"mestrado,"defendida"em"2014."Gostaria"de"agradecer""Capes"que"financiou"a"minha"pesquisa"durante"o"mestrado"em"Lingustica,"e""UFRJ"(a"equipe"responsvel"pela"organizao"desta"revista)"que"me"cedeu"este"espao"de"discusso."2"Voltaremos,"aqui,"nossa"ateno"para"os"verbos"psicolgicos"do"tipo"objeto5experienciador,"sendo"este"um"objeto"direto,"como"no"exemplo"(2).""!

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    Revista Lingustica Rio, Volume 1, Nmero 2, Janeiro de 2015 ISSN 2358-6826 11"

    (tormento)," aterrorizar" (terror)," animar" (nimo)," etc." Tambm" " comum"permitirem"parfrases"de"frases"com"os"verbos"em"questo"envolvendo"os"nomes"correspondentes,"como"os"exemplos"a"seguir"mostram:""(4)!O"filme"apavorou"a"plateia.""(5)!O"filme"causou"pavor""plateia."""Isso" pode" ser" observado," tambm," na" estrutura" morfolgica" de" certos"verbos:"a)pavor)ar,!a)sust)ar,!a)terror)izar"etc.""A" proposta" deste" trabalho" " tentar" mostrar" possveis" relaes" entre" sua"morfologia" e" propriedades" sinttico5semnticas" apontadas" na" literatura."Tentaremos" estabelecer" uma" possvel" estrutura" de" eventos" associada" a" esta"morfologia." De" uma" estrutura" morfolgica" semelhante" " natural" que" haja"interpretao" e" comportamento" sinttico" semelhantes." No" entanto," procuramos"mostrar" que" uma" mesma" morfologia" pode" trazer" estruturas" morfossintticas"subjacentes" diferentes," e" consequentemente," acarretam" interpretao" e"comportamento"sinttico"diferentes."""As" abordagens" de" Idan" Landau" (2010)" e" Hale" e" Keyser" (1993;" 2002)"serviro" de" base" para" esta" proposta." De" Landau," aproveitaremos" a" ideia" de" o"experienciador" ser" visto" como" um" lugar" onde" se" d" ou" acontece" um" estado"psicolgico." De"Hale" e" Keyser" (1993," 2002)," a" ideia" de" que" um" prefixo" pode" ser"entendido"como"uma"preposio"incorporada"dentro"da"estrutura"de"uma"palavra."As"propostas"acima"sero"modificadas"e"adaptadas"para"o"arcabouo" terico"que"considera" possvel" haver" estruturas" subjacentes" distintas" para" uma" mesma"representao"morfofonolgica:"a"Morfologia"Distribuda.""1!! Apresentao!da!proposta!

    ! As"perguntas"que"nortearam"nosso"trabalho"foram:"(i) Como"os"verbos"psicolgicos"selecionam"seus"argumentos"e"como"eles"so"interpretados?""Baseados" na" proposta" de" Landau" (2010)," assumimos" que" o" objeto5experienciador" dos" verbos" psicolgicos" seja" interpretado" como" um" locativo3." Na"!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!3!No"trabalho"de"Landau"(2010),"o"experienciador""interpretado"como"um"lugar."Objetos"experienciadores"so,"de"fato,"PPs"locativos.!

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    Revista Lingustica Rio, Volume 1, Nmero 2, Janeiro de 2015 ISSN 2358-6826 12"

    sentena,"A!tempestade!amedrontou!a!menina,"uma"parfrase"possvel"envolve"um"nome"de"base"e"um"objeto"locativo:""A"tempestade"causou"medo"na"menina.!""" " " """""""""""""""""""""""""estrutura!locativa""

    (ii) Que" relao" existe" (se" houver)" entre" a" morfologia" do" verbo" e" a" estrutura" de" evento"associada"a"ele?"""Verbos" psicolgicos" do" tipo" ObjExp" e" verbos" location/locatum" possuem"morfologia" semelhante" (prefixo" mais" nome" de" base)." " o" caso," por" exemplo," de"apavorar!!prefixo"a5"e"o"nome"de"base"pavor;"enraivecer!"prefixo"en5,"e"o"nome"raiva4;"etc." E"engarrafar" " prefixo" en5"mais" o" nome"de" base"garrafa;"acarpetar" "prefixo"a5,"nome"carpete;"etc.""Teorias" como" a" Morfologia" Distribuda" (HALLE," MARANTZ," 1993;"MARANTZ"1997," entre" outros)" assumem"a" existncia" de"uma" sintaxe"no" interior"das" palavras." Se" assumirmos" que" a"morfologia" dos" dois," que" " semelhante," est"indicando" a" mesma" estrutura" sinttica" subjacente," esperaramos" como"consequncia"que"os"dois"grupos"tivessem"o"mesmo"comportamento"sinttico."No"entanto,"isso"no""verdade."Uma" propriedade" sinttica" divergente" entre" os" verbos" psicolgicos" e" os"location/locatum" " a" possibilidade" de" construes" com" voz" passiva" em" todos" os"verbos"location/locatum:"(6)""Os"legumes"foram"encaixotados"(pelo"atendente).""(7)"O"prisioneiro"foi"acorrentado"na"(cadeia)."" " (8)""O"documento"foi"envelopado"(pelo"correio).""No"entanto,"em"muitos"verbos"psicolgicos"a"voz"passiva"fica"comprometida:!(9)""*A"me"foi"preocupada"pela"filha."(10)"*O"pai"foi"aborrecido"pelo"Joo."(11)*A"criana"foi"apavorada"pelos"morcegos."!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!4!E!um!sufixo!ec0!

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    Revista Lingustica Rio, Volume 1, Nmero 2, Janeiro de 2015 ISSN 2358-6826 13"

    Com" base" no" que" foi" descrito" acima," a" nossa" proposta" considera" a"possibilidade" de" haver" duas" estruturas" sintticas" subjacentes" para" os" verbos"psicolgicos"ObjExp,""representadas"abaixo:""

    ""No" esquema" arbreo" de" nmero" (12)," o" complemento" de" V" ser" uma"pequena"orao"(small"clause"5"SC)."O"DP"a"plateia""o"objeto5experienciador."Esse"P" " uma" preposio," que" atribui" caso" para" o" DP" (a" plateia)." O" prefixo" a/" se"incorpora"ao"nome"de"base" pavor."E"depois"dessa" incorporao," (a"+"pavor)" se"movem"para"a"posio"de"V,"formando"o"verbo"apavorar."V""um"verbalizador"com"semntica"estativa"(o"vezinho"BE"de"Harley"em"vrios"trabalhos)."""Sintaticamente," a" ideia""de"que"haja"uma"preposio"que" se" incorpora"ao"verbo" e" que" seleciona" e" atribui" caso" ao" objeto" experienciador." Dessa" relao" da"preposio" com" o" complemento," forma5se" uma" estrutura" locativa:" pavor! na!plateia,!por"exemplo."Assim,"o"objeto","de"fato,"indireto"e"o"caso"oblquo,"o"que"faz"com"que"a"passivizao"seja"impossvel"ou"marginal"(??"a"plateia"foi"apavorada"pelo"filme)."No"componente"morfolgico,"a"preposio"se"incorpora"ao"verbo"como"um"prefixo"e"vira"parte"do"verbo."E"a"preposio,"por"ser"incorporada"ao"verbo,"faz"com"que" na" morfologia" (Morphological! Structure)," o" caso" morfolgico" dos" verbos" do"tipo" objeto5experienciador" transitivos" diretos" (classe" 2" para" Landau" e" Belleti" &"Rizzi)" seja" acusativo," ainda" que," sintaticamente," o" caso" seja" oblquo" (segundo"LANDAU,"2010)."J"a"pronncia"ser"verbo!mais!complemento:"apavorar!a!plateia.""Para" alguns" verbos" psicolgicos" que" no" tm" leitura" psicolgica" (ver"Landau," 2010)," e," portanto," admitem" voz" passiva," como" por" exemplo," em" (a"multido"foi"acalmada"pelo"guarda),"proponho"em"(13)"uma"estrutura"semelhante""de"Hale"&"Keyser" (2002)"para"os"verbos"do" tipo" locatum," com"uma"preposio"indicando"mudana"de"posse."Conforme"j"mencionado,"temos"como"embasamento"

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    Revista Lingustica Rio, Volume 1, Nmero 2, Janeiro de 2015 ISSN 2358-6826 14"

    terico"a"Morfologia"Distribuda."De"Hale"&"Keyser"(1993,"2002)"adotamos"a"ideia"de" uma" estrutura" sinttica" interna" aos" itens" aqui" estudados" que" envolve" uma"preposio"realizada"por"um"prefixo.""importante"ressaltar"que"o"processo"que"faz"a" preposio" ocorrer" no" verbo" como"um"prefixo" " um"movimento"morfolgico" e"no" sinttico."Na"Morfologia"Distribuda," estrutura" sinttica" alimenta" a" estrutura"morfolgica.""Com"a"nossa"proposta," explicamos"por"que" certos" verbos"psicolgicos" so"estruturalmente" ambguos" e," por" isso," permitem" duas" leituras:" agentiva" e"psicolgica,"como""o"caso"do"verbo"acalmar.""A"ideia""de"que"haja"duas"estruturas"sintticas"subjacentes"diferentes"para"tratar"desses"verbos."Na"estrutura"sinttica"subjacente" estativa," o" experienciador" " visto" como" um" locativo" (ARAD," 1997;"LAUDAU," 2010)," introduzido" pela" preposio." Quando" o" verbo" tem" argumento"externo" agente," aceitar" a" passivizao," e," segundo" nossa" proposta," ter" uma"estrutura"sinttica"subjacente"como"a"dos"verbos"location/locatum"(exemplo"13).""Em" outras" palavras," uma" estrutura" morfolgica" pode" ter" duas" estruturas"sintticas"subjacentes"distintas."Assim,"mostramos"que"(1)"apesar"da"semelhana"morfolgica," verbos" location/locatum" e" verbos" psicolgicos" constituem" classes"distintas," e" (2)" a" leitura" psicolgica" do" verbo" no" decorre" da" existncia" de" um"argumento"experienciador,"no"sentido"discutido"neste"trabalho.""Consideraes!finais!"Nossa"pesquisa"teve"como"objeto"de"estudo"um"grupo"de"verbos"chamado"de"verbos"psicolgicos"do"tipo"Objeto5experienciador"e"a"estrutura"de"evento"que"supostamente"subjaz"a"eles."A"Morfologia"Distribuda"foi"a"teoria"usada"em"nossa"anlise."Procuramos"considerar"os"diversos"trabalhos"j"existentes"na"literatura,"e"acreditamos"que,"com"essa"abordagem,"nos"aproximamos"de"uma"explicao"para"as"questes"discutidas"anteriormente."""As"propostas"de"Landau"(2010)"e"Hale"e"Keyser"(1993,"2002)"fundamentam"o"tratamento"sinttico"dado"aos"verbos"psicolgicos"do"tipo"objeto5experienciador."Explicamos" diferentes" propriedades" desses" verbos," como"o" fato" de" alguns" terem"interpretao" ambgua" (agentiva" e" estativa)," mostrando" que" uma" mesma"morfologia" verbal" pode" estar" associada" a" duas" estruturas" sintticas" subjacentes,"

  • Gramtica)na)Teoria)Gerativa))Jannine)Vieira)Soares)

    Revista Lingustica Rio, Volume 1, Nmero 2, Janeiro de 2015 ISSN 2358-6826 15"

    alm" de" certos" comportamentos" sintticos" especficos," como" a" resistncia" "passivizao"de"muitos"verbos"do"conjunto"analisado."""REFERNCIAS:!BELLETI,"Adriana"&"RIZZI,"Luigi."Psych"Verbs"and"Theta"Theory."Natural!Language!and!Linguistic!Theory,"6,"p."2915352,"1988."BOUCHARD," Denis." The! semantics! of! syntax:! A! minimalist! approach! to! grammar."Chicago:"University"of"Chicago"Press."1995"CANADO,"Mrcia." Uma" aplicao" da" Teoria" Generalizada" dos" Papis" Temticos:"verbos"psicolgicos."Revista!GEL."Nmero"Especial:"Em"memria"de"Carlos"Franchi."Eds."Altman"C.,"M."Hackerott"e"E."Viotti."So"Paulo:"Humanistas/Contexto,"2002"CANADO,"Marcia;"GODOY,"L."Representao"lexical"de"classes"verbais"do"PB."Alfa,"So"Paulo,"56"(1):"1095135,"2012"HALE," Kenneth;" KEYSER," Samuel" Jay." On" Argument" Structure" and" the" Lexical"Expression"of"Syntactic"Relations." In"Hale,"K."and"S." J."Keyser"eds.,"The!View!From!Building!20,"Cambridge:"the"MIT"Press,"535109,"1993"______________________________." Prolegomenon" to" a" Theory" of" Argument" Structure."Cambridge,"the"MIT"Press,"2002"HALLE,"M;"MARANTZ,"Alec."Some"Key"Features"od"Distributed"Morphology,"1994"HARLEY,"Heidi;"NOYER","Rolf."Distributed"Morphology."Glot!International,"Volume"4,"Issue"4,"april"1999"LANDAU,"Idan."The!locative!syntax!of!Experiencers.!Cambridge:"the"MIT"Press,"2010"LARSON,"Richard"K."On" the"Double"Object" Construction."Linguistic! Inquiry," 19," p."3355391,"1988"MARANTZ,"Alec"P."No"escape"from"syntax:"don't"try"morphological"analysis"in"the"privacy" of" your" own" lexicon," in" A.Dimitriadis," L." Siegel" et" al.," eds." University" of"Pennsylvania" Working" Papers" in" Linguistics," vol." 4.2," Proceedings" of" the" 21st"Annual"Penn"Linguistics"Colloquium,"p."2015225."1997."MEDEIROS," Alessandro" Boechat" de." Traos! Morfossintticos! e! Subespecificao!Morfolgica!na!Gramtica!do!Portugus:!Um!estudo!das!Formas!Participiais.!Tese"de"Doutorado,"UFRJ,"2008"PYLKKNEN,"Liina."Introducing!Arguments."Tese"de"doutorado,"MIT,"2002!

  • Gramtica)na)Teoria)Gerativa))Pollyanna)Pereira)de)Castro)!

    Revista Lingustica Rio, Volume 1, Nmero 1, Outubro de 2014 ISSN 2358-6826

    16!

    Gramtica na Teoria Gerativa

    O redobro de pronomes no crioulo guineense

    Pollyanna Pereira de Castro

    !

    RESUMO:! Com! base! nos! pressupostos! tericos! da! Teoria! Gerativa! e! nos! dados!coletados!junto!a!um!falante!nativo!de!crioulo!dou!prosseguimento!!investigao!sobre! a!questo!do! redobro!de!pronomes!no! somente!nas! construes!A?barra,!como! tambm! nas! oraes! subordinadas.! Alm! dessas! questes! tambm! estou!interessada! em! outros! fatos! gramaticais! da! lngua! que! merecem! investigao,!como!a!constituio!interna!do!Sintagma!Complementizador!(CP)!e!as!construes!traduzidas!como!passivas!que!no!possuem!caractersticas!gramaticais!de!passivas!em!outras!lnguas!naturais.!!PALAVRAS,CHAVE:/redobro!de!pronomes;!Marcao!Excepcional!para!Caso!(ECM);!CP!cindido;!voz!passiva!/

    ABSTRACT:/Based!on!Generative!Grammar!and!on!the!data!collected!from!a!native!speaker! of! Guinea?Bissau! Creole,! I! intend! to! continue! the! research! on! Pronoun!Doubling,! not! only! in! A?bar! constructions! but! also! in! Subordinate! Clauses.! In!addition,! Im! also! interested! in! some! other! grammatical! phenomena! of! the!language,! such!as! the! internal! structure!of!CP!and! the! sentences! that! are!usually!translated!as!passives,!but!do!not!have!the!grammatical!features!found!on!passive!constructions!in!other!natural!languages.!KEYWORDS:/pronoun!doubling;!Exceptional!Case!Marking!(ECM);!split!CP;!passive!voice!/

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    Introduo/A! lngua! crioula! de! Guin?Bissau! (doravante! CG)! apesar! de! j! estar! bem!descrita!por!Couto!(1994),!sob!uma!tica!estruturalista,!apresenta!vrios!aspectos!gramaticais! interessantes! dos! pontos! de! vista! descritivo! e! terico! que! ainda!precisam! ser! investigados.! Dentre! esses! aspectos,! podemos! citar:! o! redobro! de!pronomes! em! estruturas! A?barra! e! em! oraes! subordinadas! e! as! construes!traduzidas!como!passivas.!!Na! minha! pesquisa! de! Mestrado,! descrevi! e! investiguei! o! estatuto! das!construes!de!redobro!de!sujeito!e!de!objeto!em!vrios!tipos!de!interrogativas,!de!construes! de! tpico! e! de! foco.! Esta! pesquisa! teve! inicialmente! uma! natureza!descritiva! e! focalizou! a! constituio! interna! do! CP,! ! luz! das! projees!estabelecidas! pelo! projeto! cartogrfico! de! Rizzi! (1997,! 2004).! Percebi! que! o!redobro!de!pronomes!pode!ser!obrigatrio,!opcional!ou!bloqueado,!dependendo!da!estrutura!A?barra!envolvida.!!obrigatrio!na!topicalizao!do!sujeito!e!do!objeto!direto.! No! ! permitido! nas! interrogativas! de! sujeito! e! de! objeto! direto! e! nas!clivadas!de!sujeito.!!opcional!na!interrogativa!e!na!topicalizao!de!objeto!indireto!e! nas! clivadas! de! objeto! direto! e! indireto.! Esses! diferentes! comportamentos! dos!pronomes! resumptivos! me! levou! a! afirmar! que! h! nessa! lngua! construes! A?barra?! interrogativa,! tpico! e! clivada! (foco)?! que! so! geradas! por! movimento!sinttico! e! outras! geradas!na! base.!Utilizando! testes! com! ilhas! sintticas,! propus!que!algumas!estruturas!A?barra!no!envolvem!movimento.!Ainda!nessa!pesquisa,!foi!possvel! fornecer!evidncias!para!a!existncia!de!quatro!posies!na!periferia!esquerda!do!CG:!fora,!tpico!alto,!foco,!tpico!baixo!e!finitude.!Com! base! nos! pressupostos! tericos! da! Teoria! Gerativa! e! nos! dados!coletados! junto! a! um! falante! nativo! de! CG,! da! etnia! pepel,! Eliseu,! aluno! da!Faculdade! de! Letras! da! UFRJ,! dou! prosseguimento! com! a! investigao! sobre! a!questo!do!redobro!de!pronomes.!Existem!na! literatura!propostas!de!anlise!que!identificam! diferentes! tipos! de! resumptivos.! McCloskey! (2006)! (apud! ASUDEH,!2007),! por! exemplo,! sugere! a! existncia! de! trs! tipos! de! resumptivos:! os!pronominais! gerados! na! base,! os! spell)outs! de! vestgios! e! os! usados! para!processamento! sem! funo! gramatical.! Sendo! assim,! um! dos! meus!questionamentos!!saber!quais!destes!tipos!de!resumptivos!seriam!representados!em!quais! construes!da! lngua?!Nas! construes! traduzidas!no!Portugus! como!

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    de!controle!de!objeto!e!de!Marcao!Excepcional!para!Caso! (ECM),!o! redobro!de!pronomes! tambm! pode! ser! obrigatrio,! opcional! ou! bloqueado.! Ento,! haveria!uma! correlao! entre! a! manifestao! do! redobro! nessas! estruturas! e! nas!construes!A?barra?!!Alm! dessas! questes! tambm! estou! interessada! em! outros! fatos!gramaticais!da!lngua!que!merecem!investigao,!como!as!construes!traduzidas!como! passivas! que! se! assemelham! ! voz! inversa! e! o! estatuto! informacional! das!projees!de!tpico!!direita!e!!esquerda!de!Foco.!Que!tipos!de!tpicos!abrigam!as!projees!de!TopP!alta!e!baixa?!!A! seguir! sero! apresentadas! as! questes! que! constituem! o! tema! de!investigao!do!presente!projeto./1/ A/marcao/de/Caso/em/oraes/subordinadas/! No!CG,!no!h! flexes!nos!verbos!e! tampouco!marcas!de!caso!morfolgico!nos!DPs.! Sendo! assim,! ! difcil! identificar! se!uma!orao! subordinada! ! finita! ou!infinitiva.!Porm,!atravs!das!formas!pronominais,!podem?se!identificar!as!oraes!subordinadas!infinitivas.!!1.1/ O/redobro/nas/construes/subordinadas:/ECM/ou/controle/de/objeto?!! Nas! oraes! de! controle! de! objeto,! o! objeto! da! orao! principal! ! o!antecedente!do!sujeito!PRO!da!orao!subordinada.!Em!CG,!contudo,!verbos!como!fala! dizer! e! pidi! pedir! expressam! fonologicamente! tanto! o! objeto! quanto! o!sujeito!da!orao!subordinada.!Os!complementos!desses!verbos!so! introduzidos!por!meio!do!complementizador!pa!,!conforme!indicam!os!exemplos:!1.! !Bu!!!!!fala?n!!!!!!pa////n!!bai!kasa!!!!!!!!!!!!!!!!!!! voc!!dizer?me!para!eu!ir!!!casa!! !!!!! Voc!me!disse!para!eu!ir!(para)!casa!!! !2.!! I!!!!!pidi?n//////pa!!!!!n//studa!!!!ku!!!!el!! !!!!!! Ele!pedir?me!para!eu!estudar!com!ele!! !!!!! Ele!me!pediu!para!estudar!com!ele!!/ Verbos! como!manda! "mandar"! e! fasi! "fazer"! atribuem! caso! acusativo! ao!argumento! externo!da!orao! subordinada,! isto! ! visto!pelo! fato!de!que!o! cltico!acusativo!agregado!ao!verbo!principal!!obrigatrio!em!tais!construes:!!!

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    ! !!3.!! El!!!i!!!!fasi?n!!!!!!!!kumpra!!!pon!! !!!!!!! ele!ele!fazer?me!comprar!!po!! !!!!!! Ele!me!fez!comprar!po!!!!!!!!!!!!! !!4.!! Nha!pape!manda?n!!!!!kumpra!pon!! !!!!!!! meu!pai!!!!mandar?me!comprar!po!! !!!!!! Meu!pai!mandou?me!comprar!po!!! Outra! possibilidade! de! expresso! dessas! construes! ! a! coocorrncia! do!sujeito! subordinado! com!o! cltico! acusativo.!Nesses! casos! tm?se! estruturas! com!aparente!redobro!de!cltico!! !!5.!! El!!i!!!!!fasi?n!!!!!n?kumpra!!!!pon!! !!!!!!! ele!ele!fazer?me!eu?comprar!po!! !!!!! !Ele!me!fez!eu!comprar!po!! !! !!6.!! Nha!!pape!manda?n/////n!!/!kumpra!!pon!! !!!!! meu!pai!!!!mandar?me!eu!!comprar!po!! !!!!! Meu!pai!me!mandou!comprar!po!!Se!o!cltico!acusativo!for!omitido,!a!sentena!torna?se!agramatical:!! !7.!! *El!!i!!!!!fasi!!!n?kumpra!!!!pon!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ele!ele!fazer!eu?comprar!po!!!!!!!!!!!!!!!!!!*Ele!me!fez!comprar!po!!! !8.! *!Nha!pape!manda!!n?kumpra!!!!pon!! !!!!!!!! !meu!pai!!!mandar!eu?comprar!po!! !!!!! !*Meu!pai!mandou?me!comprar!po!!! Acredito!que!as!construes!acima!so!do!tipo!ECM!pelos!seguintes!fatos:!(i)!tem!o!cltico!acusativo!obrigatrio!associado!ao!sujeito!da!orao!subordinada;!e!(ii)!o!sujeito!do!verbo!subordinado!em!forma!nominativa!(posio!pr?verbal)!!no!pode!ocorrer!sozinho,!sem!o!auxlio!do!cltico!acusativo.!! Sendo! assim,! pode?se! sugerir! que! verbos! como! manda! "mandar"! e! fasi!"fazer"! so! regentes! excepcionais! para! caso! e! atribuem! caso! acusativo! ao!argumento!externo!do!verbo!subordinado.!A!se!explica!a!ocorrncia!obrigatria!do!cltico!acusativo!agregado!ao!verbo!principal!e!a!excluso!da!expresso!do!sujeito!subordinado!sem!a!presena!do!cltico.!! Existe! um! problema! relacionado! a! tais! construes:! por! que! o! cltico!acusativo!e!o! sujeito!nominativo!podem!coocorrer.!A!minha!hiptese! inicial! !de!que! a! manifestao! do! sujeito! nominativo! seja! um! tipo! de! cpia! dos! traos! do!cltico!acusativo!que!!argumento!externo!do!verbo!subordinado.!!

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    1.2// O/redobro/em/construes/A,barra/

    / As!interrogativas!de!sujeito!e!de!objeto!no!admitem!redobro:!!!!!9!a! Ke!!!!!!!ku!!!!!abo!!!!bu!!!!!!kume?!!!!!!!!!! o!que!!!que!!voc!!voc!!comer!!!!!!! !O!que!que!voc!comeu?!!!!!!!!!!!!!b.!! *Ke!!!!!!!!!ku!!!!abo!!bu!!!!!!!kume?l?!!!!!!!!!!!!!!10!a! !kin!!!!!!ku!!!kume!fijon?!!!!!!!!!!!!! !quem!que!comer!feijo!!!!!!!!!!!!!! Quem!que!comeu!o!feijo?!!!!!!!!! !!!!!!!!b.!! *!kin!!!!!ku!!!el/!!kume!fijon?!! !!!!!!!O! redobro! ! observado! nos! demais! tipos! ! de! ! estruturas! ! A?barra.! ! Em!!alguns!casos!!opcional.!Em!outros,!!obrigatrio:!!a) Redobro/opcional:/!!!!!!!!!As!interrogativas,!topicalizaes!e!clivadas!envolvendo!!!PPs!!!tm!!!redobro!!opcional:!11!a.! !Pa!!!!!kin!!!!!!ku!!!!bu!!!!da!!!libru!?! !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! para!quem!que!voc!dar!livro!!!!!!!!!!! Para!quem!que!voc!deu!o!livro?!!!!!!!!!!!b.!! Pa!!!!!!kin!!!!ku!!!bu!!!!da!!!libru!!pa////el?! !!!!!!!!!!!!! para!!quem!que!2SG!dar!!livro!!para!3SG!!!!!!!!!!!! Para!quem!que!voc!deu!o!livro!para!ele?!!!!! !Em!(12),!a!palavra!interrogativa!no!!precedida!pela!preposio!e!tambm!pode!ser!redobrada!atravs!da!estratgia!de!abandono!de!preposio:!12!a.!!! kin!!!!!!ku!!!bu!!!!!da!!!libru?! !!!!!!!! quem!que!voc!dar!livro!!!!!!!!!!!! (Para)!quem!que!voc!deu!o!livro?!!!! !!!!!!!b.// kin!!////ku!!!bu!!!!!da!!!libru!pa!!!!el?! !!!!!!!!!!!!! quem!que!voc!dar!livro!para!ele!!!!!!!!!!!! (Para)!quem!que!voc!deu!o!livro!para!ele?!!!! Essas!mesmas!estratgias!so!observadas!nas!relativas!do!CG:!13!a.!! Jon!!!kunsi!!!!!!!!!badjuda!!!!ku!!!!Paulo!!d!!!!!anel?!!!!!!!!!!!! Joo!conhecer!!moa!!!!!!!!que!!!Paulo!!dar!!!anel!!!!!!!!!! !Joo!conheceu!a!moa!que!o!Paulo!deu!anel!!!!!!!!b.! !Jon!!!kunsi!!!!!!!!/badjuda//ku!!!!!Paulo!!d!!!!!anel!!!pa!!!!el!?!!!!!!!!!! !Joo!conhecer!moa!!!!!!!!que!!Paulo!!dar!!!!anel!!para!ela!!!!!!!!! !Joo!conheceu!a!moa!que!o!Paulo!deu!anel!para!ela!

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    21!

    !Observando!esses!exemplos,!pode?se!inquirir!sobre!como!se!d!a!derivao!de! estruturas! sem! a! preposio,! como! em! (12)! e! (13).! No! parecem! envolver!movimento.!Alm!disso,! em!casos! como! (11b),!qual! seria!o! estatuto!do!pronome!redobrado:! pronome! resumptivo! gerado! na! base! ou! expresso! de! traos! do!vestgio/!cpia!do!constituinte!movido?!!!b) Redobro/obrigatrio:/! As!construes!de!tpico!de!sujeito!e!de!objeto!exigem!redobro.!A!ausncia!do!pronome!gera!agramaticalidade:!!14!a.! Bu!!telefoni,!!Maria!da?n!!!!!!!!!!el! ! !!!!!!!!!!!! seu!telefone!Maria!dar?me!!!!!ele!!!!!!!! O!seu!telefone,!a!Maria!me!deu!ele!!!!!!!!!b.!! *Bu!telefoni,!Maria!da?n!!!!!!!!!!O!exemplo!acima!suscita!duas!questes.!A!primeira!!sobre!o!porqu!de!o!!redobro! ser! obrigatrio.! E! a! segunda! ! a! respeito! de! qual! posio! na! periferia!esquerda!esse!tpico!que!exige!redobro!est!associado.!!!

    2/ As/construes/passivas//

    / !!!!!!!No! CG,! as! construes! passivas! so! construdas! por! meio! do! sufixo! du!(particpio)!acrescentado!ao!verbo!principal.!!!!!!!!!15!a.!! Ami!n?fasi!!!!!!!sestas!!!!!!!!!!!!! eu!!!!!eu?fazer!cestas!!!!!!!!!!!! Eu!fiz!cestas!!! !!!!!!b.! Sestas!i!!!!!!fasidu/pa!!!mi.!!!!!!!!!!!!! cestas!ser!!feito!!!por!mim!!!!!!!!!! As!cestas!so!feitas!por!mim!!Os! exemplos! (15a)! e! (15b)! so! tidos! como! sentena! ativa! e! passiva,!respectivamente.!A!sentena!ativa!!sempre!com!um!verbo!transitivo!que!licencia!um! sujeito! e! um! objeto! direto! que! ser! o! sujeito! da! sentena! passiva.! Agora,!observe!o!exemplo!a!seguir:!!!

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    22!

    !16.! !Jon//iasadu!!!!bulu!!!!!!!!! Joo!assado!!!bolo!!!!!!! O!bolo!foi!assado!por!Joo!!Est!claro!aqui!que!a!construo! traduzida!como!passiva!no!exemplo!(16)!no!tem!caracterstica!de!passiva,!mas!parece!ser!voz!inversa,!porque!a!funo!de!agente!no!se!encontra!no!caso!oblquo!como!em!(15b)!e!continua!na!posio!de!sujeito.!!3/ Projees/na/periferia/esquerda/

    / H! vrias! projees! na! periferia! esquerda! do! CG! para! diferentes! tipos! de!tpicos.!Esses!elementos!deslocados!ocorrem!!esquerda!e/ou!!direita!da!palavra!interrogativa!que!se!encontra!em!Foco:!!17.!! [TopP!Abo,[TopP!na!festa,![FocP!kin![FinP!ku![IP!bu!!!!!!odja?]]]]]!!!!!!!!!!!!!!!!!!!Voc!!!!!!!!!!!!na!festa!!!!!!!!!!!!quem!!!!!!!que!!!!voc!!!ver!!!!!!!!!!!!!!!!!!Voc,!na!festa,!quem!que!voc!viu?!! 18.!! [TopP!Abo![FocP!ke![TopP!sempri![TopP!na!merkadu![FinP!ku![IP!bu!ta!kumpra?!]]]]]]!!!!!!!!!!!!!!!!Voc,!o!que,!sempre,!no!mercado,!que!voc!compra?!!Uma! das! questes! levantadas! ! sobre! os! tipos! de! tpicos! que! essas!projees!apresentam.!Frascarelli! (2012)!sugere!que!os! tpicos!ocupem!posies!especficas! de! acordo! com! suas! propriedades! discursivas.! Assim,! a! autora!apresenta!a!seguinte!hierarquia!para!a!periferia!esquerda:!19.! [ForceP![ShiftP![ContrP![!IntP![FocP![FamP*![FinP![IP]]]]]]]]!!A! posio! ShiftP! seria! para! o! tpico! mais! alto! (Aboutness)Topic)! que!abrigaria! elementos! novos! ou! reintroduzidos! no! discurso! e! FamP,! para! o! tpico!mais!baixo!(Familiar!Topics)!que!constituiria!em!uma!informao!j!dada.!!Consideraes/finais/! O! CG!no! admite! redobro!de! pronomes!nas! interrogativas! de! sujeito! e! de!objeto.!O!redobro!!observado!nos!demais!tipos!de!estruturas!A?barra.!Em!alguns!caso! ! opcional,! como! nas! interrogativas,! relativas,! topicalizaes! e! clivadas!

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    23!

    envolvendo! PPs.! Em! outros,! ! obrigatrio,! como! nas! construes! de! tpico! de!sujeito!e!de!objeto,!visto!que!a!ausncia!do!pronome!gera!agramaticalidade.!! As!oraes!do!CG!que!envolvem!verbos!do!tipo!ECM,!apresentam!o!seguinte!padro:! sujeito! subordinado! no! caso! acusativo! e! sujeito! subordinado! redobrado!(casos!nominativo!e!acusativo)!na!presena!de!complementizador.!As!construes!com! controle! de! objeto! tambm! permitem! que! tanto! o! objeto! quanto! o! sujeito!subordinado!sejam!expressos.!Os!dados!evidenciam!a!ocorrncia!de!dois!tpicos!altos,!!esquerda!de!FocP!e!de!dois!tpicos!baixos,!!direita!de!FocP.! Isso!significa!que!a!periferia!esquerda!pode!ser!ainda!mais!complexa!do!que!como!proposto!por!Rizzi.!!Essas! e! outras! questes! relacionadas! ! atribuio! de! caso! nas! oraes!subordinadas,! redobro! obrigatrio,! passivas! sem! o! agente! no! caso! oblquo! e! o!estatuto! discursivo! dos! sintagmas! ! esquerda! ou! ! direita! de! foco! ainda! esto!sendo!investigadas.!!!REFERNCIAS:/ALEXANDRE,! Nlia.! Uma! anlise! de! CP! no! expandido! para! o! sistema! de!complementadores! do! Crioulo! de! Cabo! Verde.! In:! Textos! Seleccionados! do! XXV!ENAPL.!Lisboa:!Colibri,!2009.!ASUDEH,!Ash.! Three! kinds! of! resumption.!Resumptive! pronouns! at! the! interfaces.!ICS!&!SLALS,!Carleton!University,!2007.!COUTO,! Hildo! Honrio.! O! crioulo! portugus! da! Guin)Bissau.! Hamburg:! Buske,!1994.!FRASCARELLI,!Mara.!The!interpretation!of!discourse!categories:!cartography!for!a!crash?proof!syntax.!Enjoy!linguistics!!Papers!offered!to!Luigi!Rizzi!on!the!occasion!of!his!60thbirthday,!2012.!MCCLOSKEY,!James.!Resumption.!In:!EVERAET,!M.;!VAN!RIEMSDIJK,!H.!(eds.)!The!Blackwell!Companion!to!Syntax,!94?117.!Oxford:!Blackwell,!2006.!RIZZI,! Luigi.! The! fine! structure! of! the! left! periphery.! In:! HAEGEMAN,! L.! (ed.)!Elements!of!Grammar:!Dordretch,!Kluwer,!1997.!!!______________.! Locality! and! the! left! periphery.! IN:! Rizzi,! L! e! Belletti,! A! (eds)! .The!structure! of! CP! and! IP.! The! cartography! of! Syntactic! Structures.! Oxford,! Oxford!University!Press,!2004.!

  • Gramtica na Teoria Gerativa Jamille Vieira Soares

    Revista Lingustica Rio, Volume 1, Nmero 1, Outubro de 2014 ISSN 2358-6826 24#

    Gramtica na Teoria Gerativa Estudo da fala conectada na

    regio metropolitana do Rio de Janeiro

    Jamille Vieira Soares

    RESUMO: Este squib tem como tema o estudo da fala conectada na Regio Metropolitana do Rio de Janeiro. Tradicionalmente, este fenmeno denominado de sndi externo, pois a ocorrncia se d em fronteira de palavras. Dado o nmero de trabalhos com esse tema, achamos oportuno abordar esse assunto por uma outra perspectiva, no caso, uma anlise fontica experimental, a fim de tentar explicar e determinar quais fatores esto envolvidos na realizao do fenmeno, ou seja, o sndi voclico externo. Dentre os objetivos apresentados nesse artigo est, ainda, a comprovao da hiptese de o fenmeno no se limitar apenas queda de vogais tonas, como foi descrito em Souza (1979, 1981 e 1983), Bisol (1999). A abordagem fsica do fenmeno mostrou, portanto, que outras explicaes, fora do mbito da fonologia, podem ser oferecidas, trazendo no s evidncias recursividade prosdica, mas tambm colocando em perspectiva um campo frtil de discusses. PALAVRAS-CHAVE: dialeto carioca, sndi externo voclico, padres prosdicos.

    ABSTRACT: This squib has as its theme the study of connected speech in the metropolitan area of Rio de Janeiro. Traditionally, this phenomenon is called external sandhi, since the occurrence takes place in border words. Given the number of works with this theme, we thought appropriate to address this issue from another perspective, in this case, an experimental phonetics analysis in order to try to explain and determine which factors are involved in making the phenomenon, that is, the external vowel sandhi. Among the objectives presented in this article is also proof of the hypothesis of the phenomenon is not limited only to the fall of unstressed vowels, as described in Souza (1979, 1981 and 1983), Bisol (1999). The physical approach of the phenomenon showed, therefore, that other explanations, other than for phonology, may be offered, bringing not only the prosodic evidence recursion, as putting into perspective a fertile field of discussions.

    KEYWORDS: Rio dialect, vowel external sandhi, prosodic patterns.

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  • Gramtica na Teoria Gerativa Jamille Vieira Soares

    Revista Lingustica Rio, Volume 1, Nmero 1, Outubro de 2014 ISSN 2358-6826 25#

    Introduo*O# estudo# descrito# neste# artigo# trata# da# fala# conectada# na# Regio#Metropolitana# do# Rio# de# Janeiro.# Procurou;se# descrever# o# fenmeno# conhecido#como# sndi# voclico# externo,# j# que# sua# ocorrncia# se# d# entre# duas# vogais# em#fronteiras# de# palavras.# Apresentamos# uma# proposta# atravs# de# uma# anlise# de#fontica# experimental,# dessa# forma# tentaremos# explicar# e# determinar# os# fatores#que#esto#envolvidos#na#realizao#do#fenmeno1.## vlido# observar# que,# embora# estejamos# delimitando# nosso# objeto# como#dialeto#carioca,#os#dados#coletados,#por#vezes,#englobam#municpios#do#entorno#do# Rio# de# Janeiro,# abarcando# a# regio,# geograficamente,# denominada# regio#metropolitana#do#Rio.#### Foi# testada# a# hiptese# de# o# fenmeno# no# se# limitar# apenas# # queda# de#vogais#tonas,#como#foi#descrito#em#outros#trabalhos.##Dessa#forma,#foram#revistos#no# s# o# fenmeno# em# si,# como# os# casos# problemticos# focalizados# por# SOUZA#(1978,#1981#e#1983),#atravs#de#uma#perspectiva#que#leve#em#conta#um#tratamento#fontico;acstico# dos# dados.# Para# tanto,# recorremos# a# dois# programas# bsicos# #anlise:#Audacit*e*Praat*(BOERSMA,#WEENICK,#2013)2.*##1* Sobre*o*sndi*externo#Muitos# aspectos# do# Sndi# na# Lngua# Portuguesa# foram# abordados# por#Mattoso#Cmara#(1954),#principalmente#quando#ele#fala#sobre#vocbulo#fontico#e#fonolgico.#Ainda,#sobre#a#lngua#portuguesa,#o#autor#apresenta#em#linhas#gerais#o#que# acontece# em# ambiente# de# juntura# vocabular# quando# h# encontro# de# dois#vocbulos#terminados#e#iniciados#por#vogal#respectivamente.## Trabalhos#mais# recentes# trazem#algumas# variaes# em# torno#da# definio#de#sndi.#Cagliari#(2002:#105),#por#exemplo,#define#o#fenmeno#como:########################################################################### 1 Este squib baseado em minha dissertao de mestrado, defendida em 2014. 2 O Audacit foi utilizado para recortar gravaes com mais de vinte minutos de durao. J o PRAAT, alm de nos dar a possibilidade de ouvir as gravaes, nos deu uma anlise acstica dos dados, principalmente no que se refere aos formantes 1 e 2.

    O# sndi# # um# fenmeno# que# ocorre# nas# fronteiras# de#palavras# (juntura#vocabular).#Consiste#na# transformao#de#estruturas# silbicas#nesse# contexto,# causada,# em#geral,# pela#queda# de# vogais# ou# pela# transformao# de# ditongos# ou#mesmo#pela#ocorrncia#peculiar#de#certos#sons.#

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    Revista Lingustica Rio, Volume 1, Nmero 1, Outubro de 2014 ISSN 2358-6826 26#

    ######J#Bisol#(1999#:#232),#numa#outra#perspectiva,#assim#define#o#fenmeno#do#sndi:######Souza#(1979,#1981#e#1983)#seguindo#princpios#de#Chomsky#e#Halle#(1968)#sobre# atribuio# cclica# de# graus# acento# # frase# apresentou# um# estudo# em# que#propunha#uma#interface#sintaxe/#fonologia,#e#no#apenas#descreveu#os#fenmenos,#como# procurou# explic;los# de# forma# em# que# fossem# observados# os# seguintes#contextos:# o# tamanho#do# sintagma,# pela# qualidade#da# vogal# e# pela# velocidade#de#fala.#Ainda#argumenta#que#a#ocorrncia#do#sndi#atinge#no#apenas#a#degeminao,#mas#tambm#a#eliso#de#vogais#diferentes#da#vogal#/a/#em#diferentes#contextos.#A#abordagem#de#Souza#(1979,1981,#1983)#ao#fenomeno#de#fala#conectada,#refere;se#a#distribuio# de# graus# de# acentos# nas# frases.# Segue# a# aplicao# dos# graus# de#tonicidade:##1a## Paulo#adora#uva##########1#########1#######1################################2#######1######################2#########3######1########1b## Paulo#adoruva#doce##################1#########1####1#######1#####################################2######1################################2####3######1#####################2#########3####4######1##Verificou;#se#que#a#eliso#da#vogal#tona#final#pode#ou#no#ocorrer#dependendo#do#peso#do#sintagma#em#que#se#insere#o#grupamento#fonolgico.# Um#trao#em#comum#entre#os#trabalhos#recentes##a#citao#a#trabalhos#de#Bisol# (1999# e# 2002)# em# torno# desse# tema.# A# referida# autora,# numa# perspectiva#variacionista,# se# detm,# com# base# em# pressupostos# da# Fonologia# Prosdica,# a#descrever# dois# processos# bsicos:# a# ressilabificao# e# a# queda# da# vogal# em#processo# de# degeminao# e# eliso,# recorrente# no# interior# de# diferentes#constituintes#;#slaba,#p#mtrico,#palavra#fonolgica,#grupo#cltico,#frase#fonolgica,#frase#entonacional#e#enunciado#;#definidos#por#Nespor#e#Vogel#(1986).#

    O# sndi# # referido,#de#modo#geral,# como#um# fenmeno#de#fontica# sinttica# que# registra# alteraes# fonticas#ocasionadas#por#contato#de#formas#livres,#trasformando;as#em#formas#presas.##

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    Revista Lingustica Rio, Volume 1, Nmero 1, Outubro de 2014 ISSN 2358-6826 27#

    2* Sndi*voclico:*uma*abordagem*fontica*# A#opo#por#um#tratamento#acstico;fontico#pretendia#revelar,#na#verdade,#os# traos# caractersticos#das#vogais#que# se#encontram#no#processo#de# juntura.##A#abordagem# que# apresentamos# a# seguir# baseia;se# na# anlise# dos# formantes# das#vogais#em#causa,#a#fim#de#comprovar#a#queda#da#vogal#/u/e##da#vogal#/a/.#### O# corpus' da# pesquisa# conta# com# entrevistas,# leituras# de# frases# pr;selecionadas,#gravaes#de#programas#de#televiso.###Ambientes*analisados**

    #*consultores* Localidade* Tempo*de*gravao*

    Modo*de*gravao*

    Fala*controlada*

    10# Nova#Iguau#e#Zona#Sul#do#Rio#de#Janeiro# Aprox.#30#min.# Gravador#Sony#e#PRAAT#Fala*

    espontnea*6# Nova#Iguau#e#Zona#Sul#do#Rio#de#Janeiro# Aprox.#2h#e#30#min.# Gravador#e#PRAAT#

    Leitura*de*texto3*

    3# Nova#Iguau# Aprox.#15#min.# PRAAT#Tabela*1:#Descrio#do#Corpus'##A#metodologia# utilizada# para# anlise# deste# corpus# foi# distribuir# as# sentenas#por# grupos:# O# comportamento# da# vogal# /a/# nos# ambientes# # [v#v]# e[v#v]4;# o#comportamento#da#vogal#/u/#nos#mesmos#ambientes.##Para# uma# anlise# um# pouco# mais# apurada# contou;se# com# o# auxlio# de# dois#

    softwares,# Audacity# e# PRAAT,# que# so# usados# muitas# vezes# como# editores# e# ou#gravadores#de#udios#em#geral.**

    3* A*anlise**#O# trabalho# desenvolvido# enfocou# dados# de# diferente# natureza,# /a/,# e# /u/# em#ambientes# tonos# e# tnicos,# buscando# verificar# se# a# abrangncia# do# sndi# no#dialeto# carioca# se# d# como# descrito# em# Souza# (1979,# 1981# e# 1983)# a# fim# de#argumentar#a# favor#de#uma#ocorrncia#do#sndi#mais#estendida#do#que#dizem#as# 3 A leitura de texto descrita no corpus diferencia-se dos dados de fala controlada, pois so trabalhados contextos de enunciados maiores.

    4#Os#ambientes#representados#so#:#[v#v]#encontro#de#vogal#tona#em#fronteira#de#palavra#com#outra#vogal#tona#e#[v#v]encontro#de#tona#em#fronteira#de#palavra#com#outra#vogal#tnica.#.#

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    Revista Lingustica Rio, Volume 1, Nmero 1, Outubro de 2014 ISSN 2358-6826 28#

    propostas# recentes,# no# mbito# da# Fonologia# Prosdica,# e# atestar# ainda# a#permanncia#do#fenmeno#na#lngua.## A# comprovao# da# manuteno# e# queda# da# vogal# parte# da# anlise# dos#valores#em#hertz#do#formante1#e#do#formante2.#A#razo#de#no#colocarmos#em#jogo#o#formante1,#que#assenta#em#estreita#proximidade#as#vogais#/u/#e#/i/,#se##deve#ao#fato#de#o#formante#2#corresponder##posio#horizontal#da#lngua,#e#o#formante#1#corresponder##altura.##A#tabela5#na#qual#baseamos#nossos#dados##a#seguinte:##

    ## # ######'Tabela*2:#valores#em#hertz#dos#formantes#1#e#2#das#vogais####Passemos#aos#exemplos#analisados#no#PRAAT#em#que#so#atestados#os#formantes#encontrados#em#ambiente#de#juntura#vocabular.## 1# #Entra#pra#uma#espcie#de#clube.#######################onde*a*vogal*/a/*cai################### # ##Pruma#######################################################consultor:#sexo#feminino##

    5# Cf: Siqueira, B.P.S e Faria, J. A. de: Caractersticas dos sons das vogais do portugus falado no Brasil. Texto obtido on line, em verso pdf, e sem dados de referncia, tais como local de publicao e sites especficos.

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    Revista Lingustica Rio, Volume 1, Nmero 1, Outubro de 2014 ISSN 2358-6826 29#

    Time (s)

    Form

    ant f

    reque

    ncy (

    Hz)

    2.555 3.5120

    1000

    2000

    3000

    4000

    50002.967717772.97507767

    Pra uma espcie de clube( fala espontnea)

    Formante 1: 479.3 Formante 2: 1255.7'

    Figura*1*:#Espectograma#para#o#dado##de#fala#espontnea#Entra#pra#uma#espcie#de#clube6##Sobre# a#queda#da# vogal# /a/,# no#h#dvidas,# e# todos#os# trabalhos# sobre#o#sndi# recortam#para# o# /a/# o#mesmo# comportamento.# No# dialeto# carioca,# porm,#podemos#comprovar#que#a#vogal#/u/,#diferente#dos#referidos#trabalhos,#apresenta#comportamento#muito#prximo#ao#da#vogal#/a/.#Logo,#vamos#nos#deter#a#ilustrar#a#queda#da#vogal#/u/,#que#vai#alm#do#processo#de#degeminao.##2# Preciso#do#clculo#exato.############################Onde*a*vogal*[u]*sofre*queda###############################calculexato########################Consultor:#sexo#masculino##

    # # Time (s)

    Form

    ant fre

    quency

    (Hz)

    4.687 6.0440

    1000

    2000

    3000

    4000

    50005.625019615.66287831

    Preciso do clculo exato (fala espontnea)

    Formante 1: 523.1 Formante 2: 1209.4'

    Figura*2:#Espectograma#para#o#dado#de#fala#espontnea#preciso#do#clculo#exato##3## As#passeatas#parecem#um#ato#ensaiado.############Onde*a*vogal*[u]*cai###########################################################ati)saiado#####################Consultor#:#sexo#feminino# ## 6 As linhas pontilhadas verticais representam o ambiente em que se realizou o fenomeno de sndi, e ainda, no rodap da ilustrao encontra-se o nmero em Hertz dos formantes analisados.

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    Revista Lingustica Rio, Volume 1, Nmero 1, Outubro de 2014 ISSN 2358-6826 30#

    Time (s)

    Forma

    nt freq

    uency

    (Hz)

    0.2807 1.2270

    1000

    2000

    3000

    4000

    50000.6023679340.664278502

    ato ensaiado (leitura de texto)

    formante 1: 572.6 formante 2: 1366.3'

    Figura**3:#Espectograma#para#o#dado#de#leitura#de#texto##as#passeatas#parecem#um#ato#ensaiado## 4# #Roberto#adora#andar#de#skate.#############Onde*a*vogal*[u]*cai**#################################################### # ##robertadora###############################################Consultor:#sexo#feminino##

    ########## Time (s)

    Forma

    nt freq

    uency

    (Hz)

    0.4617 1.010

    1000

    2000

    3000

    4000

    50000.8048994970.86717957

    formante 1: 834.6

    roberto adora(leitura de texto)

    formante 2: 1305.6'

    Figura*4:#Espectograma#para#o#dado#de#fala#espontnea#roberto#adora#andar#de#skate## 5# #amo#esse#bairro###############################onde*a*vogal*/u/*sofre*queda**amesse************************************Consultor#:#sexo#feminino###

    Time (s)

    Form

    ant fre

    quenc

    y (Hz

    )

    0.01431 0.84790

    1000

    2000

    3000

    4000

    50000.292534820.320840872

    untitledAmo esse bairro ( fala espontnea)

    Formante 1: 456.3 Formante 2: 1848.5 #Figura*5*:##Espectograma#para#o#dado#de#fala#espontnea##amo#esse#bairro##Ao#observarmos#os#exemplos#acima,#atestamos#que#tanto#a#vogal#/a/#quanto#a#vogal# /u/# sofrem#queda#em#um#mesmo#ambiente,# ou# seja,# verificou;se# #que#no#grupamento#fonolgico#no#qual#ocorre#a#contiguidade#de#vogais#distintas,#a#eliso#

  • Gramtica na Teoria Gerativa Jamille Vieira Soares

    Revista Lingustica Rio, Volume 1, Nmero 1, Outubro de 2014 ISSN 2358-6826 31#

    da#vogal#tona#final#pode#ou#no#ocorrer#dependendo#do#peso#do#sintagma#em#que#se#insere#o#grupamento#fonolgico.##Diferente# da# vogal# /a/,# a# queda# do# /u/# #mais# esparsa,# porm,# quando# a#mesma#ocorre,# #constatamos#que#a#vogal#cai#nos#mesmos#ambientes#em#que#cai#a#vogal# /a/,# # ou# seja,# atesta;se,# aqui,# no#dialeto# em#estudo,# um# comportamento#do#/u/#diferente#do#que#se#prope#em#outros#trabalhos#sobre#o#sndi.##Consideraes*Finais#A#anlise#fsica#do#fenmeno#de#Sndi,#atravs#dos#dados#coletados,#buscou#comprovar# tanto#a#queda#dos# segmentos,# ao#analisarmos#os# formantes,#quanto#o#fator#que#estaria#condicionando#a#queda#ou#a#manuteno#dos#segmentos.#Constatou;se# que# o# comportamento# das# vogais# /a/# e# /u/# # semelhante,#como#que#se#havia#previsto#em#Souza#(1978,#1981,#1983).#Embora# tenham# sido# nossas# estratgias# de# anlise# diferentes,# podemos#reafirmar,# para# a# ocorrncia# do# sndi# no# dialeto# em# estudo,# certos# dados:# o#comportamento#semelhante#das#vogais#/a/#e#/u/.#A#explicao#para#esse#fato,#dada#por#Souza,#se#baseou#na#proximidade#dos#valores#do#segundo#formante#das#vogais#/a/#e#/u/,#pois,#dado#o#fato#de#os#graus#de#constrio#de#a#e#u#serem#relativamente#equivalentes,#j#que#o#grau#de#constrio#na#realizao#do#a##bem#pequeno,#quase#igual#ao#de#u,#isto#seria#acarretado#pela#proximidade#do#segundo#formante#dessas#vogais:#o#segundo#formante##o#mais#importante#na#caracterizao#das#vogais;#este#formante# aumenta# a# frequncia# da# vogal# se# o# ponto# de# constrio# avana# para#frente#da#boca#e#se#a#abertura#da#boca#for#cada#vez#maior.##Alm#dessa#explicao,#a#proximidade#entre#essas#vogais#est# tambm#nos#graus# de# intensidade:# as# vogais# /a/# e# /u/# contam# com# 24dbs,# a# vogal# /e/,# com#23dbs# e# a# vogal# /i/,# com# 22.# Talvez# esteja# nesses# valores# o# fato# de# a# queda# das#vogais#/a/#e#/u/#acontecer#nos#mesmos#contextos#.### Por#fim,#conclumos#que#o#sndi#no#s#atinge#processos#de#degeminao#e#eliso#das#vogais#/a/e#/u/,#nos#ambientes#de#juntura#de#duas#vogais#tonas,#ou#de#vogal#tona#seguida#de#vogal#tnica,#como#se#mantm#como#fenmeno#constante#na#lngua.##

  • Gramtica na Teoria Gerativa Jamille Vieira Soares

    Revista Lingustica Rio, Volume 1, Nmero 1, Outubro de 2014 ISSN 2358-6826 32#

    REFERNCIAS*:#ABAURRE,#M.# B.#M.# Elementos# para# uma# investigao# instrumental# das# relaes#entre#padres#rtmicos#e#processos#fonolgicos#do#portugus#brasileiro.#Campinas,#SP:#Editora#Unicamp,##Cadernos#de#Estudos#Lingusticos,#v,10,#1986##BISOL,# L.# Os# constituintes# prosdicos.# Introduo# a# estudos# de# fonologia# do#portugus#brasileiro.#Porto#Alegre,#RS:#EDIPUCRS,#1999#CAGLIARI,# Luiz# Carlos.# Anlise' fonolgica:' introduo' a' teoria' e' ' prtica,' com'especial'destaque'para'o'modelo'fonmico#;#Campinas,SP:#Mercado#de#letras,#2002####CMARA# JR,# J.# Mattoso.# Estrutura' da' Lngua' portuguesa.# 41# Ed.# Petrpolis,# RJ,#Vozes,#2008.#CHOMSKY,#N.#HALLE,#M.#The#sound#pattern#of#English.#New#York:#Harper#Row#eds,#1968####SOUZA,#T.#C.#C.#de.##O#sndi#externo#no#dialeto#carioca.#Dissertao#de#mestrado#(indito).#UFRJ,#1979.#___.#Sndi#Voclico#em#portugus:#homonmia#e#opacidade.#Anais#do#IV#Congresso#Nacional#de#Lingustica,#PUCRJ.#,#v.IV,#p.19#;#30,#1981.#___.#Das#mudanas#morfofonmicas#em#portugus.#Ensaios#de#Lingustica#9,#188;207,#UFMG,#1983.##Recursos*digitais*online*:*BOERSMA,#Paul#;#WEENINK,#David.#Praat:*doing*phonetics*by*computer*[Computer*program].*Version#5.3.51,##

  • Modelos'Funcionais'Baseados'no'Uso''Flvia'Clemente'de'Souza'!

    Revista Lingustica Rio, Volume 1, Nmero 2, Janeiro de 2015 ISSN 2358-6826 33!

    Modelos Funcionais Baseados no Uso

    Metfora e metonmia: estratgias discursivas nas construes das

    manchetes jornalsticas Flvia Clemente de Souza

    RESUMO: A partir da observao dos processos de metfora e metonmia nos ttulos das capas do jornal O Globo, em perspectiva diacrnica, abrangendo de 1930 a 2010, este estudo busca comprovar a hiptese de que estas construes no so utilizadas aleatoriamente, mas representam escolhas no-arbitrrias e so poderosos elementos de compreenso do texto jornalstico impresso. O trabalho aborda os conceitos tericos a partir da perspectiva dos principais autores que estudam metfora e metonmia, particularmente com suporte nas vises de Roman Jakobson e George Lakoff. PALAVRAS-CHAVE: metfora; discurso; jornalismo ABSTRACT: From the observation of metaphor and metonymy processes in the headlines of the O Globo Brazilian newspaper, in a diachronic perspective from 1930-2010, this paper seeks to prove the hypothesis that the constructions are not used randomly, but represent non- arbitrary choices and are powerful elements of understanding. This paper addresses the theoretical concepts from the perspective of the main authors studying metaphor and metonymy, particularly those formulated by Roman Jakobson and George Lakoff. KEYWORDS: metaphor; discourse; journalism

  • Modelos'Funcionais'Baseados'no'Uso''Flvia'Clemente'de'Souza'!

    Revista Lingustica Rio, Volume 1, Nmero 2, Janeiro de 2015 ISSN 2358-6826 34!

    Introduo*

    *! As! frequentes! metforas! e! metonmias! que! fazem! parte! do! universo! das!manchetes! dos! jornais! impressos! comprovam! seu! papel! relevante! para! a! edio!jornalstica.!Neste! trabalho,! aps!um!breve! resumo!dos! conceitos!utilizados!para!realizar! a! anlise,! pretendeBse! demonstrar,! atravs! de! exemplos,! como! se! do!algumas! das! escolhas! mais! prototpicas! feitas! pelos! jornalistas,! as! quais! se!enquadram!na! ideia!de!estratgias!discursivas!! termo!usado!aqui!para!realar!a!noBarbitrariedade!das!construes.!!! O!objeto!desta!anlise!so!os! jornais! impressos,!devido!!possibilidade!de!fazer!um!estudo!diacrnico,!pois!existem!exemplares!disponveis!ao! longo!de!um!intervalo!de!tempo!de!mais!de!um!sculo.!A!base!de!dados!!formada!pelas!capas!do!jornal!O*Globo,!impressas!entre!1930!e!2010.!A!amostragem!foi!selecionada!de!forma! aleatria.! Foram! coletados! todos! os! ttulos! da! capa! de! um! exemplar! por!dcada,!variando!o!ms!e!o!dia!da!semana!por!sorteio,!de!forma!a!garantir!que!o!corpus!no!seja!influenciado!pela!sazonalidade!ou!por!fatos!especficos!de!grande!impacto,!que!interferem!diretamente!no!contexto!das!edies.!!No! total,! 113! ttulos! foram! coletados.! Como! a! quantidade! no! pode! ser!considerada! representativa! para! anlise! estatstica,! os! processos! de! metfora! e!metonmia! existentes! foram! levados! em! considerao! qualitativamente.! A! ideia!central!!comprovar!que!ambos!os!processos!!metfora!e!metonmia!!so!usados!nas!manchetes!com!intencionalidade.!!1* Pressupostos*tericos*

    * Para! analisar! as! manchetes! dos! jornais,! ser! utilizada! a! abordagem!construcional,! que! se! mostra! adequada! porque! possibilita! interpretar! as!manchetes! de! forma! esquemtica,! o! que! permite! ir! alm! da! anlise! somente! do!contedo!semnticoBpragmtico.!A!noo!de!construo!apresentada!se!baseia!em!Goldberg!(2006:18):!!construes'so'pareamentos'simblicos'especficos'de'forma'e' significado' e' podem' ter' qualquer' tamanho' ' de' uma' clusula' complexa' a' um'

    afixo'.!Em!outras!palavras,!construes!so!as!unidades!bsicas!da!lngua.!Podem!

  • Modelos'Funcionais'Baseados'no'Uso''Flvia'Clemente'de'Souza'!

    Revista Lingustica Rio, Volume 1, Nmero 2, Janeiro de 2015 ISSN 2358-6826 35!

    existir!no!nvel!da!clusula,!frases,!colocaes,!palavras!e!morfemas!!todos!podem!ser!analisados!pelo!modelo!construcional.!!Como!fio!condutor!da!anlise,!estaro!os!conceitos!de!metfora!e!metonmia!e! o! de! domnio! conceitual.! Lakoff! e! Johnson! (1980:3)! afirmam! que,! apesar! de! a!metfora! ser! considerada!um!recurso! retrico!ou!estilstico,! e,!por! conta!disso,! a!maior! parte! das! pessoas! a! perceberem! como! algo! que! ! possvel! viver! sem,! na!verdade,! os! processos!metafricos! penetram! no! diaBaBdia! da! nossa! vida,! no! s!atravs! da! linguagem,!mas! nos! pensamentos! e! aes.! Nosso! sistema! conceitual!ordinrio,! em! termos! do! que! ns! pensamos! e! fazemos,! ! fundamentalmente!metafrico!em!sua!natureza!(LAKOFF,!JOHNSON,!1980:3).!!Uma! ideia! central!na!abordagem!construcional! ! a! rede! [network].!A! rede!representa!uma!metfora!inserida!na!noo!de!domnios!conceituais,!desenvolvida!pelos!linguistas!cognitivos,!com!destaque!para!George!Lakoff!(1980,!1987),!a!partir!de!um!paralelo!com!a!forma!de!processamento!da!mente!humana,!que!no!se!d!de!forma! linear! e! nem! estruturada! em! tipos.! A! rede! seria,! portanto,! uma! forma! de!representar! teoricamente!o!raciocnio!por!analogia!e! traar!paralelos!com!outras!formas! de! processos! cognitivos! gerais! da! mente! humana,! tais! como! a! viso! e! a!audio.! Esses! domnios! formam! campos! conceituais! atravs! dos! quais!organizamos!nossos!pensamentos!e!a!linguagem.!Metforas!conceituais!integram!os!dois!domnios!conceituais!(por!exemplo,!ARGUMENT! is!WAR! integram! o! domnio! discusso! ao! domnio! guerra).! Desta!viso! de! Lakoff,! vrios! autores! desenvolvem! suas! teorias! ligando! metfora! e!cognio! e! sobre! os! domnios! conceituais,! o! mapeamento! e! o! destacamento! de!domnios.!! Mapeamento!metafrico!envolve!um!domnioBfonte!e!um!domnioBalvo...!O!mapeamento! ! tipicamente! parcial.! Ele!mapeia! a! estrutura! no! domnioBfonte! em! uma! estrutura! correspondente! no! domnioBalvo.! Um!mapeamento!metonmico!ocorre!dentro!de!um!nico!domnio!conceitual,!o!qual!!estruturado!por!um!ICM!(*modelo!cognitivo!idealizado).!(LAKOFF,!1987:114)!!A!viso!de!Heine!se!mostra!consonante!com!os!principais!tericos!!a!de!que!a!metfora!opera!no!eixo!paradigmtico,!se!d!por!analogia,!na!interBrelao!entre!domnios! conceituais,! e! envolve! implicaturas! convencionais.! Quando! atua! no!processo!de!gramaticalizao,!o!que!ocorre!!a!abstratizao.!Um!significado!literal!comea!a!ser!transferido!para!outros!domnios!menos!conceituais.!Comea!a!haver!

  • Modelos'Funcionais'Baseados'no'Uso''Flvia'Clemente'de'Souza'!

    Revista Lingustica Rio, Volume 1, Nmero 2, Janeiro de 2015 ISSN 2358-6826 36!

    violao! das! regras! e! anomalias! semnticas! (por! exemplo,! um! verbo! de!movimento,!como!ir!no!requerer!mais!um!sujeito!humano).!Elementos!associados!ao! mundo! fsico! comeam! a! ser! usados! para! se! referir! a! conceitos! abstratos.!Costuma! trazer! caractersticas! de! ambiguidade! e! polissemia! porque! o! contexto!literal!ainda!est!presente.!!!!1.1 Metforas,*metonmias*e*os*jornais*

    *A!partir!da!viso!da!construo!de!metforas!como!estratgias!discursivas,!nos! deparamos! com! uma! questo! conceitual! relevante.! Existe! uma! contradio!intrnseca! s! definies! de!metfora! e!metonmia,! conforme! foram! apresentadas!aqui.!EncaraBse!a!metfora!como! locus!da! inovao,!como!a!contiguidade,!como!a!transferncia! entre! domnios.! Isso! quer! dizer! que! a! metfora! seria,!hipoteticamente,!o!lugar!das!polissemias,!mais!sujeito!s!mltiplas!interpretaes!possveis.! J! a! metonmia! seria! o! locus' da! funo! referencial,! no! haveria! uma!transferncia! entre! domnios! e! as! ideias! seriam! transmitidas! de! forma! a! gerar!menos! possibilidades! de! interpretao.! Seria! o! lugar! da! parfrase.!No! entanto,! a!interpretao! dos! pesquisadores!mostra! que! pode! se! dar! o! oposto! do! ponto! de!vista! cognitivo:! Lakoff! coloca! as! metforas! como! o! nosso! equipamento! para! a!compreenso! do! mundo.! Para! o! autor,! elas! traduzem,! sintetizam,! explicam! o!mundo! ! nossa! volta,! transformam! conceitos! complexos! em! entidades! simples.!Fazem!parte!do!nosso!sistema!conceitual!e,!dessa! forma,!se!naturalizam.!Existem!na!lngua!e!so!usadas!todo!o!tempo,!sem!serem!percebidas.!J!a!metonmia,!por!se!tratar!de!uma!interpretao!de!uma!realidade!a!partir!de!um!referente,!se!mostra!mais!abstrata,!menos!direta,!d!menos!capacidade!de!compreenso.!Ou!seja,!para!ambos! os! processos,! temos! definies! que! parecem! antagnicas,! mas! que,! no!fundo,! no! se! contradizem,! porque! sua! anlise! deve! se! ancorar! em! seu!funcionamento.!Essa!ideia!!de!fato!adotada!pelos!jornais,!de!forma!intencional.!Est!previso!no!Manual!de!Redao!da!Folha!de!S.!Paulo!(1996)1!(e!de!outros!jornais),!como!o!uso!de!metforas!e!metonmias!deve!ocorrer!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!1 Disponvel em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/circulo/manual_texto_m.htm (acesso em 24/6/2014)

  • Modelos'Funcionais'Baseados'no'Uso''Flvia'Clemente'de'Souza'!

    Revista Lingustica Rio, Volume 1, Nmero 2, Janeiro de 2015 ISSN 2358-6826 37!

    Metfora!B!Figura!de!linguagem!na!qual!a!significao!imediata!de!uma!palavra!!substituda!por!outra,!subentendendo!uma!relao!de! semelhana:! lbios! de! mel.! Pode* ser* til* para* tornar* um*texto*mais*didtico:!Placas!tectnicas!so!balsas!que!carregam!os!continentes!sobre!um!mar!de!rocha!incandescente.!Evite!metforas! desgastadas! pelo! uso! excessivo:! aurora! da! vida,!pgina! virada,! silncio! sepulcral,! o! presidente! prometeu! levar! a!nao! a! porto! seguro,! luz! no! fim! do! tnel.! Veja! cacoete! de!linguagem.!Metonmia! B! Figura! de! linguagem!que! consiste! em! substituir! um!termo!por!outro!com!base!em!contiguidade!semntica:!Ler! [uma!obra!de]!Machado!de!Assis;!Beber![o!contedo!de]!uma!garrafa.!Se*bem*usada,*pode*tornar*o*texto*mais*conciso.!(Manual!de!Redao!da!Folha!de!S.!Paulo,!1996,!grifo!nosso)!!

    *

    2.** Anlise*dos*dados*! Na! nossa! amostragem,! o! primeiro! ttulo! que! chamou! a! ateno! vem! da!dcada! de! 1930:! Abandonado' pela' esposa' que' desgraara,' abateuJa,' a' tiros,'covardemente!.!Neste!caso,!o!sujeito!nem!mesmo!aparece,!mas!a!metfora!!clara.!O! verbo! abater! encontraBse! no! domnio! blico! e! permite! vrias! leituras! a! partir!deste!domnio,!analisado!por!Lakoff!atravs!da!metfora!argument'is'war.!Lakoff!aponta! argument' como! domnioBfonte! e!war! como! domnioBalvo.! A! metfora! se!encontra!no!verbo,!mas!autoriza!a!leitura!do!sujeito!no!mesmo!sistema!conceitual.!!! Algumas!inferncias!que!podem!ser!feitas!a!partir!desse!domnio!so:!tratou!a!esposa!como!um!animal,!no!como!um!ser!humano;!existe!um!paralelo!entre!os!conceitos!caa/caador!e!vtima/agressor;!e!de!que!brigas!so!blicas.!Vale!ainda!lembrar! que! o! verbo! abater,! alm! de! fazer! parte! do! domnio! caa,! tambm! faz!parte! do! domnio! guerra,! o! que! refora! o! sentido! blico! que! o! jornal! quis! dar!(avies!de!guerra!so!abatidos,!os!msseis!abatem,!os!inimigos!so!abatidos).!!! Em! 1940,! encontramos! o! dado! As' proprias' machinas' se' encarregam' de'distribuir' a' correspondncia!.! Neste! caso,! temos! um! processo! claro! de!personificao,! que! se! d! no! verbo! escolhido! para! anunciar! o! que! as! novas!mquinas!dos!Correios! fazem:! se'encarregam.!Obviamente!que!as!mquinas! so!operadas!por!pessoas,!mas!o!interesse!do!jornal!!ressaltar!a!modernidade,!como!se! elas! funcionassem! sozinhas.! O! importante! a! ressaltar! aqui! ! que! o! sintagma!mquinas! poderia! acumular! traos! noBhumano! e! inanimado,! no! entanto,!percebeBse! claramente! que! se! apresenta! um! sujeito! agentivo! e! animado.! J! no!

  • Modelos'Funcionais'Baseados'no'Uso''Flvia'Clemente'de'Souza'!

    Revista Lingustica Rio, Volume 1, Nmero 2, Janeiro de 2015 ISSN 2358-6826 38!

    ttulo! de! 1980,! Cebola' na' feira' chega' a' Cr$' 90' o' quilo! temos! o!mesmo! tipo! de!construo,!na!qual!o!sujeito!!prototpico!do!ponto!de!vista!sinttico.!No!entanto,!seus!traos!no!o!so!(noBhumano/inanimado).!No!existe!a!menor!possibilidade!de! a! cebola! ser! agente,! a! no! ser! por! autorizao! do! processo! verbal,! que! !determinante! na! escolha! dos! sujeitos.! Neste! caso,! o! verbo! chegar! j! possui! o!sentido!!convencionalizado!nos!dicionrios!!de!atingir,!o!que!sanciona!sujeitos!menos!animados,!o!que!pode!apontar!para!uma!interpretao!deste!sujeito!como!um! caso! de! metonmia.! Por! outro! lado,! nos! dois! exemplos,! tanto! o! verbo!encarregar!(Bse)!quanto!o!verbo!chegar!so!prototpicos!de!processos!materiais.!O!uso! do!pronome! reflexivo! aumenta!mais! ainda! a! sensao!de! personificao!das!mquinas,! que! assumem! vida! prpria,! no! se! fazendo! necessria! a! presena!humana.! A! explicao! de! Lakoff! sobre! a! facilidade! de! apreenso! de! sentidos!atravs!do!tipo!de!metfora!apresentada!como!personificao!fica!evidente.!J! os! processos! metonmicos! se! mostram! de! fato! mais! referenciais!:! Em!1930,! encontramos! De' novo' entra' a' lavoura' paulista' numa' phase' de' processos'officiaes'e'ardiloso,!no!qual!a'lavoura'paulista!representa!genericamente!todos!os!lavradores! ! paulistas.! Em! Pintados'os'bronzes'artisticos'da'Bibliotheca'Nacional,!tambm!da!dcada!de!30,!h!outra!metonmia,!especificamente!sindoque!(a!parte!pelo!todo).!Os'bronzes!se!referem!s!esttuas!de!bronze!da!fachada!do!prdio.!Em! 1950,! temos! Ameaado' de' ruidoso' esfacelamento' o' PSD.! Neste! caso,!temos!uma!metfora!continer,!que!transforma!algo!abstrato!!um!partido!poltico!! em! algo! concreto,! como! um! objeto.! Com! a! metfora,! ! possvel! usa