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Revista InterfacEHS edição completa Vol. 8 n2

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A InterfacEHS é uma Publicação Científica do Centro Universitário Senac que publica artigos científicos originais e inéditos, resenhas, relatos de estudos de caso, de experiências e de pesquisas em andamento nas áreas de Saúde, Meio Ambiente e Sustentabilidade. Confira na edição Vol. 8 n.2 o dossiê “Biotecnologia” e artigos relacionados aos assuntos: - Cosmetologia genética - Alternativas para redução de CO2 - Sistema de captação de água pluvial Entre outros! Acesse a revista na íntegra! http://www3.sp.senac.br/hotsites/blogs/InterfacEHS/

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ISSN 1980-0894 Vol. 8, n. 2, 2013

EDITORIAL

Fico muito feliz em escrever o editorial deste segundo número do volume 08 de

InterfacEHS – Revista de Saúde, Meio Ambiente e Sustentabilidade, que tem como

Dossiê “Biotecnologia”. Satisfeita porque, a revista continua mantendo excelente

padrão de qualidade com artigos sendo avaliados por “peer review”. Outro motivo da

minha alegria é o fato de estarmos cumprindo o compromisso de produzir uma

publicação que abrange as áreas de saúde, meio ambiente e sustentabilidade.

O leitor poderá confirmar por si o Dossiê sobre Biotecnologia tratado pelos

artigos: “Implantação de wetlands construídas em escala real para o tratamento de

esgoto sanitário em residências da Barra do Ribeira no município de Iguape – São

Paulo” e “Dimensionamento de um reator anaeróbio de fluxo ascendente para

tratamento de efluente de suinocultura”.

O conteúdo desta publicação é, ainda, ricamente abordado o estudo de caso de

uma empresa certificada com manejo florestal, seguindo o dimensionamento de um

sistema de captação de água pluvial para uso doméstico em são Bernardo do Campo –

SP e a atuação da cosmetologia genética sobre os tratamentos antienvelhecimento.

Segue a Seção InterfacHES contendo artigos produzidos por dois alunos do Curso

de Bacharelado em Engenharia Ambiental e Sanitária, intitulados: “Processos de

preparação de restos mortais humanos: Identificação dos contaminantes químicos e dos

resíduos da saúde” e “Células a combustível como alternativa para redução de CO2

equivalente na frota de veículos leves”.

Boa leitura a todos!

Emília Satoshi Miyamaru Seo

Editor

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IMPLANTAÇÃO DE WETLANDS CONSTRUÍDAS EM ESCALA REAL

PARA O TRATAMENTO DE ESGOTO SANITÁRIO EM RESIDÊNCIAS DA

BARRA DO RIBEIRA NO MUNICÍPIO DE IGUAPE – SÃO PAULO

IMPLEMENTATION OF CONSTRUCTED WETLANDS IN REAL SCALE

FOR THE TREATMENT OF WASTEWATER IN RESIDENCES OF BARRA

DO RIBEIRA AT MUNICIPALITY OF IGUAPE - SÃO PAULO

BUENO, R. F.1

FIORE, F. A.2

VICTORETTI, M.3

INÁCIO, A. R.4

CAPELLARI, B.5

CHAGAS, R. K.6

RESUMO

Sistemas de tratamento de esgotos que integram a tecnologia de tratamentos

naturais como as wetlands construídas são alternativas ao tratamento de esgotos

sanitários provenientes de comunidade isoladas, ou seja, residências de baixa renda ou

de pequenas coletividades, sob a perspectiva da descentralização. O presente estudo

1 Doutorando em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo; Professor Pesquisador do Centro Universitário Senac. Avenida Engenheiro Eusébio Stevaux, 823 - Santo Amaro, São Paulo – SP. E-mail: [email protected] 2 Doutora em Engenharia Civil pela Universidade de Campinas; Coordenadora do curso de Engenharia Ambiental do Centro Universitário Senac. 3 Graduação em Engenharia Ambiental pelo Centro Universitário Senac. 4 Graduação em Engenharia Ambiental pelo Centro Universitário Senac. 5 Doutor em Geografia pela Universidade de São Paulo; Professor Pesquisador do Centro Universitário Senac. 6 Doutor em Dinâmica Florestal pela Universidade de São Paulo; Professor Pesquisador do Centro Universitário Senac.

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demonstra a técnica e materiais utilizados na construção de sistemas de wetlands

construídas na Barra do Ribeira, município de Iguape, no estado de São Paulo. Esta

tecnologia possui custos reduzidos para implantação e manutenção, e mostra-se

eficiente na remoção de poluentes, afirmando sua aplicação em regiões onde não há

coleta e tratamento de esgotos.

Palavras-chave: Zonas de raízes, wetlands construídos, saneamento descentralizado,

tratamento de esgoto sanitário.

ABSTRACT

Sewage treatment systems that integrate the technology of natural treatments

such as constructed wetlands are alternatives to the treatment of wastewater from

isolated community, other words, low-income households or small communities, from

the perspective of decentralization. The present study demonstrates the technique and

materials used in the construction of constructed wetlands systems in Barra do Ribeira,

municipality of Iguape, in the state of São Paulo. This technology has reduced costs for

implementation and maintenance, and proves efficient in removing pollutants, affirming

its application in areas where there is no collection and treatment of sewage.

Key-words: Root zones, constructed wetlands, decentralized sanitation, wastewater

treatment.

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1. INTRODUÇÃO

Os recursos hídricos têm implicações importantes para uma série de campos

com interesses convergentes em reduzir “vulnerabilidades" e "resistências crescentes",

incluindo desenvolvimento comunitário, gestão de ecossistemas, preparação para

desastres, sustentabilidade e saúde pública. A rápida expansão das áreas urbanas e

industriais é frequentemente associada com grande volume de geração de efluentes, que

requer tratamento extensivo antes da disposição final em sistemas aquáticos.

Nos países em desenvolvimento, apenas uma pequena parcela de esgotos

produzidos é tratada por estações de tratamento de esgotos. A disposição contínua de

esgotos podem produzir danos irreversíveis ao meio ambiente e à saúde humana. O

lançamento de esgotos domésticos sem tratamento ou parcialmente tratados nos cursos

d´água são fatores de risco, em decorrência da presença de patógenos presentes nos

excretas e do excesso de nutrientes. A remoção do nitrogênio e do fósforo existente no

esgoto sanitário tem sido cada vez mais necessária dada à necessidade de se controlar o

processo de eutrofização dos corpos d’água, cujos efeitos maléficos são amplamente

conhecidos.

As cidades pequenas, médias e nas metrópoles no Brasil, onde não há espaço e

nem recursos para investimento para construção de grandes estações de tratamento de

esgotos, além da ocupação em áreas de risco por comunidades de baixa renda, há uma

necessidade crescente de investimento em inovação e em tecnologias. Dentre as

tecnologias disponíveis os processos naturais de tratamento mostram-se promissores. As

condições climáticas no Brasil favorecem a aplicação de sistemas naturais como as

wetlands construídas e podem ser aplicados de acordo com o contexto local,

apresentando diversas vantagens como: auxílio na gestão integrada dos recursos

hídricos; reciclagem de nutrientes; auxílio no ciclo da água; redução dos impactos das

enchentes na drenagem urbana; melhoria do microclima local com a recuperação de

habitats em áreas próximas a córregos, rios e represas.

Dentro deste contexto, este estudo de caso refere-se a uma discussão sobre os

materiais e técnicas utilizados na implantação de unidades demonstrativas em escala

real de sistemas de tratamento de esgoto por meio de wetlands construídas em

residências da Barra do Ribeira do município de Iguape, São Paulo.

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2. REVISÃO DA LITERATURA

No Brasil, os investimentos em sistemas descentralizados ainda são escassos e o

mesmo acontece para o uso de tecnologias simplificadas. O clima tropical do Brasil

pode ser uma vantagem para o tratamento de esgotos por processos naturais e sistemas

descentralizados com baixos custos de construção, gestão e manutenção. Dentre os

principais processos naturais estão: 1) Tecnologias anaeróbicas, tais como lagoas

anaeróbias e reatores UASB; e 2) Tecnologias fotossintéticas, como lagoas facultativas,

maturação e sistemas de zonas de raízes “wetlands construídas”. Os sistemas wetlands

ocorrem em ecossistemas naturais (mangues, pantanal, zonas de raízes com transição

entre ecossistemas aquáticos e terrestres) em todos os continentes, com exceção da

Antártica.

No Brasil, as “wetlands” são reconhecidas como as várzeas dos rios e brejos e

podem ser encontradas na bacia do rio Amazonas, no Pantanal, em formações lacustres

de baixa profundidade, em zonas úmidas de regiões tropicais e subtropicais como os

manguezais brasileiros. Como característica principal dessas áreas naturais tem-se a

saturação com água, de forma permanente ou sazonalmente, de tal forma que ela

assume as características de um ecossistema distinto com vegetação característica e

adaptada às condições originais do solo como as macrófitas ou plantas aquáticas (Salati

et al., 2009; Keddy, 2010).

Quanto aos sistemas de wetlands construídos, os mesmos foram projetados para

terem funcionamento semelhante ao que ocorre nos sistemas naturais, mas dentro de um

sistema com mais controle (Wang et al., 2009). Muitos estudos confirmaram os

benefícios dos sistemas de wetlands construídos tais como a eficiência elevada de

purificação, consumo de CO2 e produção de O2, o custo relativamente baixo, fácil

manutenção, além de ser uma tecnologia sustentável e integrada ao manejo de recursos

hídricos, auxiliando na manutenção do ciclo hidrológico (Gross et al., 2008).

De acordo com Cole (1998), o uso de sistemas de wetlands construídos está bem

consolidado na Europa, onde a tecnologia se originou há cerca de 30 anos na Alemanha,

sendo que a norma estabelece o uso de sistemas de fluxo subsuperficial, pois o

tratamento é mais intensivo e em menor espaço em regiões com restrição de área. De

fato, na Europa, há preferência para sistemas de tratamento de esgotos compactos e

descentralizados, onde o espaço aberto é limitado. Na Dinamarca existem cerca de 150

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sistemas de wetlands construídos em pequenas cidades e vilarejos para o tratamento de

esgotos domésticos. Na Polônia existem cerca de 100 sistemas.

Os sistemas de wetlands construídos na América do Norte foram concebidos

principalmente para o tratamento de esgotos domésticos em grande escala. Por meio de

uma pesquisa em 1993, cerca de 300 sistemas de wetlands construídos foram avaliadas

para o tratamento de esgotos, demonstrando o desempenho para a mistura de tipos de

sistemas, sendo que a Demanda Bioquímica de Oxigénio (DBO) foi reduzida de 73%

para 8 mg/L, sólidos totais em suspensão foram reduzidos em 72% (13 mg/L),

nitrogênio total foi reduzido em 53% (4,5 mg/L), e de fósforo total foi reduzido em 56%

(1,7 mg/L). Desde os anos 90, cerca de 70 sistemas de wetlands construídos foram

implantados em escala real para tratamento de efluentes industriais, agrícolas,

escoamento de drenagem pluvial e de efluentes de atividades agropecuárias. Esses

foram desenvolvidos para tratar efluentes de suínos, gado e produção de laticínios,

predominantemente, no estado de Kentucky (EUA). Na Flórida, o sistema de wetland

foi implementado para controle de águas pluviais como reservatórios de contenção,

promovendo a restauração de habitats e da biodiversidade (Cole, 1998).

Gross et al. (2008) verificaram a eficiência na redução da concentração da DBO,

sólidos em suspensão e dos nutrientes como Nitrogênio e Fósforo, além de contribuir na

redução de metais, compostos químicos orgânicos e de patógenos. Além disso,

observaram que os sistemas de wetlands construídos estão integrados à paisagem,

fornecem habitat para os seres vivos e para a qualidade de vida dos seres humanos.

Dentre alguns dos benefícios indiretos estão: a redução do impacto das chuvas em áreas

de drenagem; aplicação de tecnologia natural para a gestão integrada de recursos

hídricos em bacias hidrográficas; e inovação em tecnologia para melhoria do

microclima com o aumento de áreas úmidas em escala local.

Entretanto, tais sistemas precisam de manutenção adequada, pois a falta de

componentes operacionais pode levar a uma sobrecarga de oxigênio, perda da eficiência

da remoção de demanda bioquímica de oxigénio (DBO) e de compostos nitrogenados,

resultando na produção de odor e formação de criadouros de mosquitos vetores (Mara,

2004).

Vários estudos foram realizados em diversas regiões do mundo, utilizando o

sistema de wetland construído para o tratamento de esgotos em nível secundário e

terciário (Gomez Cerezo et al., 2001; Rousseau et al., 2004; Greenway, 2005; Toet et

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al., 2005). Outros estudos focaram no tratamento de esgoto bruto e esgotos domésticos

(Ansola et al., 2003; Belmont et al., 2004; Solano et al., 2004; Brix and Arias, 2005),

para água de chuva (Walker, 2001), (Dierberg et al., 2002), escoamento de aquacultura

(Tilley et al., 2002), escoamento em rodovias (Shutes et al., 1999), efluente da

agroindustria (Knight et al., 2000) e chorume de aterros sanitários (Bulc et al., 1997).

Diversos são os tipos de sistemas de wetland construídos que podem ser

empregados no tratamento de esgotos como: wetlands com plantas flutuantes, wetlands

com plantas emergentes, sistemas de macrófitas com fluxo superficial, sistema de

wetland de fluxo horizontal subsuperficial, sistema de wetland de fluxo vertical,

sistemas com macrófitas fixas submersas, sistemas de wetlands com solos filtrantes e

sistemas de wetlands combinados (Kivaisi, 2001; Griggs & Grant 2001; Weedon, 2001;

Salati et al., 2009).

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Caracterização da área de estudo

O projeto foi realizado no bairro Barra do Ribeira, na cidade de Iguape,

localizada no Vale do Ribeira, que compreende a bacia hidrográfica do rio Ribeira de

Iguape com área de 24.980 km2 abrangendo 23 municípios paulistas e 5 paranaenses

(ISA, 2001). A cidade de Iguape encontra-se no litoral sul do Estado de São Paulo e é

tombada como patrimônio histórico pelo Condephaat. Devido a sua beleza histórica e as

riquezas naturais da cidade, o turismo torna-se sua principal fonte de renda (Ministério

do Turismo, 2013). Iguape é considerada uma ilha artificial por ter sido originada pela

abertura de um canal de ligação entre o Mar Pequeno e o Rio Ribeira de Iguape em

1832 (LIMA, 2010), e serviu de porta de entrada para o interior do Estado, através do

Rio Ribeira. Segundo Queiroz (1999), a região é caracterizada por restinga, que

necessita da manutenção do seu equilíbrio natural para fixar as dunas, estabilizar

mangues e proporcionar um ambiente de reprodução para muitos animais aquáticos.

O bairro Barra do Ribeira, localizado a 20 km do centro de Iguape, está cercado

de belezas naturais, atraindo turistas à praia da Juréia, trilhas, cachoeiras, rios, lagos e

fica próxima a entrada da Estação Ecológica Juréia-Itatins, onde a visitação pública é

proibida, por ser uma Unidade de Conservação de uso integral (Ministério do Turismo,

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2013).

O bairro em questão é um exemplo de comunidade isolada e carente em

saneamento básico. A baixa renda predomina entre os moradores, advinda da pesca e/ou

do turismo. O bairro não possui rede coletora de esgoto, tampouco tratamento

adequado, o esgoto gerado no bairro é direcionado à ‘fossas negras’, que são buracos

abertos no solo, sem qualquer impermeabilização e que possibilitam a infiltração do

esgoto, e o lençol freático encontra-se próximo à superfície, condições que

proporcionam a contaminação do solo e corpos d’água da região (BRAGA, 2005;

Comitê da Bacia Hidrográfica do Ribeira de Iguape e Litoral Sul, 2011; ITESP, 2008;

PAIVA, 2009; VON SPERLING 1996).

Nos períodos de alta temporada do turismo, nos quais a população aumenta

extraordinariamente, são notáveis o mau odor e a proliferação de doenças (WILDERER,

2001; QUEIROZ, 1999).

3.2 Escolha do local de implantação dos sistemas de tratamento

Após avaliação técnica e socioeconômica foram escolhidas 02 residências no

Bairro da Barra do Ribeira em Iguape para implantação dos sistemas de tratamento de

esgoto. Os principais critérios de escolha foram: necessidade de tratamento, ou seja,

residências sem nenhum tipo de tratamento de esgoto, moradores locais e renda

familiar.

As duas residências se encontram a 200 metros da praia da Juréia, enquanto a

residência 2 ainda encontra-se a 150 metros do rio Ribeira de Iguape, evidenciando a

necessidade do tratamento adequado do esgoto gerado. As famílias residentes nas casas

escolhidas possuem baixa renda familiar vinda, principalmente, da pesca e, não

possuíam qualquer sistema para disposição do esgoto, nem mesmo a ‘fossa negra’, o

esgoto era encaminhado para fora da residência e disposto na superfície do solo,

gerando mau cheiro e possibilitando o desenvolvimento de vetores de doenças.

3.3 Dimensionamento dos sistemas de tratamento

O projeto propôs, para as duas residências, a construção de um sistema

constituído de caixa de gordura, tanque séptico, filtro anaeróbio, wetland construído

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(WC) seguido de sumidouro. Esclarece-se aqui, que o dimensionamento seguiram as

recomendações previstas nas normas da ABNT/NBR 7229 (1993) e ABNT/NBR 13969

(1997) respectivamente. Devido ao amplo conhecimento do dimensionamento dos

sistemas de tanque séptico e filtro anaeróbio o estudo abordará os critérios de escolha

das WC.

3.4 Wetlands Construídos (WC)

Os wetlands construídos (WC) podem apresentar 2 regimes de escoamento:

superficial e subsuperficial. No primeiro, a lâmina d’água permanece acima do material

filtrante, formando uma lâmina livre, enquanto no segundo, a lâmina d’água permanece

logo abaixo do limite do material filtrante. Para compor os sistemas propostos nesse

projeto foi escolhido o regime de escoamento subsuperficial que diminui,

significativamente, a possibilidade de desenvolvimento de animais vetores de doenças,

como mosquitos e moscas, além de evitar o mau cheiro e dificultar o contato direto

entre as pessoas e o esgoto. Wetland de escomento subsuperficial podem apresentar-se

em 3 modalidades de fluxo: horizontal, vertical (neste caso, descendente) e, híbrido que

associa os dois anteriores.

Nos WC de fluxo horizontal o esgoto a ser tratado é inserido na zona de entrada

do leito, e, impulsionada por uma declividade de fundo do leito, percola pelo material

de enchimento horizontalmente até a zona de saída. Esta configuração possui, de forma

geral, boa performance na remoção da matéria orgânica e sólidos (Cooper et al., 1996),

além de apresentar simplicidade e baixo custo construtivo e operacional. Porém,

conforme citado por Philippi & Sezerino (2004), esse tipo de sistema possui uma

limitada capacidade de transferência de oxigênio, que limita o processo de nitrificação.

Nos WC de fluxo vertical o esgoto a ser tratado é inserido intermitentemente

sobre a superfície do filtro e percolado verticalmente. Da mesma forma que nos

wetlands de fluxo horizontal, seu interior é preenchido por material filtrante e as

macrófitas são plantadas diretamente sobre ele. O efluente tratado é coletado no fundo

por um sistema de drenagem. Segundo Drizo et al. (1997 apud CAMPOS), a remoção

de nitrogênio é muito dependente do suprimento de oxigênio do sistema, e nos wetlands

de fluxo vertical a aplicação intermitente de carga proporciona maior oxigenação do

sistema, e com o interior do sistema em condições aeróbias, o processo de nitrificação é

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beneficiado.

Os WC híbridos são constituídos de uma associação em série dos wetlands de

fluxo horizontal e vertical. Nestes sistemas, as vantagens e desvantagens dos FV e FH

podem ser combinadas de maneira a complementar cada um deles individualmente. É

possível produzir um efluente com baixa concentração de matéria orgânica,

completamente nitrificado e parcialmente desnitrificado. (PHILIPPI & SEZERINO,

2004)

A vantagem dessa associação é obter boa taxa de nitrificação no sistema de fluxo

vertical, uma vez que são bem oxigenados, e, no sistema de fluxo horizontal, obter boa

taxa de desnitrificação, pois nesse tipo de sistema é encontrada uma condição de anoxia,

que favorece o processo.

3.5 Escolha da vegetação

As macrófitas são vegetais superiores que apresentam adaptações morfológicas

e/ou fisiológicas que permitem a sobrevivência e desenvolvimento em ambientes

saturados de água. Para os WC das casas 1 e 2 foram escolhidas macrófitas de acordo

com sua resistência, se eram nativas, e apresentação estética, visando um ambiente

agradável na casa receptora do sistema de tratamento. As espécies foram cedidas pelo

Viveiro Itubanaiá localizado no município de Miracatu, próximo ao local de estudo.

As espécies foram: Rainha-do-lago (Potenderia cordata L.) que é tolerante ao

frio, multiplica-se rapidamente, é nativa da América tropical e apresenta flores violeta-

arroxeadas; Lírio-do-brejo (Hedychium coronarium), apresenta flores brancas e

perfumadas, nativa das Américas; Papirinho (Cyperus prolifer), tem grande efeito

ornamental, pouco sensível a baixas temperaturas; Inhame-preto (Colocasia esculenta

var. aquatilis) de folhagem decorativa, flexibilidade de cultivo a pleno sol ou a sombra;

Inhame-imperial (Colocasia esculenta var. illustris) apresenta flexibilidade de cultivo a

pleno sol ou a sombra (LORENZI & SOUZA, 2008).

As macrófitas foram plantadas alternando-se as espécies e obedecendo ao critério

de 4 mudas a cada m² , conforme literatura. Na figura 1 é possível observar as principais

espécies utilizadas no estudo.

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Figura 1: Exemplo das Macrófitas utilizadas no estudo

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Sistemas de tratamento

Mediante os princípios do projeto foram construídos 02 sistemas de tratamento de

esgoto sanitário para no máximo 5 habitantes/ dia. Cada wetland construída (WC) teve

como pré-tratamento caixa de gordura, tanque séptico e filtro anaeróbio. A WC da

residência 1, foi de fluxo horizontal com alimentação sub-superficial onde se obterá

somente a remoção de material orgânico e a WC implantada na residência 2 foi híbrida,

com fluxo vertical seguida de fluxo horizontal onde se obterá a remoção conjunta de

matéria orgânica e nutrientes.

A Tabela 1 mostra as principais dimensões das unidades de tratamento levando

em conta as instruções normativas e conhecimento da literatura.

Tabela 1: Principais dimensões e características dos sistemas de tratamento

implantados

ETAPA DE TRATAMENTO RESIDÊNCIA 1 RESIDÊNCIA 2

Caixa de Gordura 20 litros 20 litros Tanque Séptico 1000 litros 1000 litros Filtro Anaeróbio 1000 litros 1000 litros

Wetland Construída 10 m2 10 m2 * A área das wetlands foi considerada de ± 2m2/hab., valor recomendado pela

literatura.

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A construção dos sistemas é relativamente simples. A construção das wetlands

pode ser realizada por meio de lona plástica, no entanto o material deve garantir a

impermeabilização do solo. Esse tipo de material é recomendado onde há uma grande

variação do lençol freático garantindo uma resistência mecânica no sistema. A

alternativa é a construção em alvenaria, essa mais recomendada, pois permite uma

melhor impermeabilização e resistência ao tempo.

Em relação ao tanque séptico e ao filtro biológico, os sistemas podem ser

realizados com material alternativo, como é o caso do uso de containers de transporte de

líquidos, bombonas de poliuretano, etc. No entanto, recomenda-se o uso de alvenaria

clássica devido à durabilidade e manutenção do sistema ao decorrer dos anos, conforme

disposto na ABNT/NBR 13969 (1997).

O sistema implantado na residência 1 foi realizado em alvenaria, tendo como

meio suporte no filtro anaeróbio e na WC pedra britada número 2. Na residência 2, os

sistemas foram realizados em alvenaria, com exceção da WC de fluxo horizontal que foi

realizada com lona plástica Agrofort 250 micras. A declividade do solo no interior das

wetlands foi ajustada a uma queda de 3% para promover o escoamento satisfatório do

esgoto dentro da unidade. Seguindo as dimensões sugeridas, os custos de materiais

para cada sistema de tratamento (completo) foi em média de R$1.500,00 (um mil e

quinhentos reais), desconsiderando a mão de obra, a qual foi realizada pelos próprios

moradores locais. A Figura 2 mostra os sistemas de tanque séptico e filtro anaeróbio

implementados nas residências.

Figura 2: Tanque séptico e filtro anaeróbio fase de implantação.

Residência 1 (A) e Residência 2 (B).

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4.2 Wetlands construídos

O sistema de alimentação da WC de fluxo horizontal implantado na residência 1

foi instalado sob o regime subsuperficial, onde o tubo de alimentação foi colocado cerca

de 10cm da superfície do material de enchimento. A drenagem do esgoto percolado é

feita por meio de drenos que foram instalados no fundo do WC. Ao redor dos drenos

foram colocados resíduos de construção civil, que devido a maior granulometria

potencializam a ação dos drenos. No WC-Híbrido implantado na residência 2, o módulo

de fluxo horizontal teve o mesmo princípio do sistema anterior. Já no fluxo vertical a

alimentação foi realizada por tubos perfurados colocados na superfície do sistema e a

drenagem do esgoto percolado foi semelhante ao do WC de fluxo horizontal. A Figura 3

mostra os sistemas de tratamento de WC em fase de construção nas residências 1 e 2 e a

Figura 4 se observam as principais características do sistema de alimentação e de

drenagem dos WC´s implantados nas residências.

Figura 3: WC de fluxo horizontal (Residência 1) e WC-Híbrida (Residência

2)

Figura 4: Sistema de drenagem da WC de fluxo horizontal e sistema de

alimentação do fluxo vertical da WC-Híbrida

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Para sustentação do módulo horizontal da WC-Híbrida foi instalado uma armação

feita com peças recicladas. No entanto, essa armação pode ser suprimida sem

problemas. A Figura 5 mostra a instalação da armação e disposição da lona

impermeabilizante do solo. Todas as wetlands foram preenchidas com pedra britada e

na parte superior com a própria terra do local. Para separar as camadas foi utilizada tela

mosquiteiro, impedindo que a areia ocupe os espaços vazios entre as pedras, o que

causaria uma rápida colmatação do módulo.

Figura 5: Construção do módulo de fluxo horizontal do WC-Híbrido.

Armação de sustentação (A) e lona de impermeabilização com pedra britada

(B)

Na Figura 6 pode-se observar o sistema de WC em operação. A figura mostra o

sistema de WC-Híbrido implantado na residência 2. O WC implantado na residência 1

foi semelhante ao representado na Figura 6 (B). Os WC são eficientes na remoção de

matéria orgânica podendo atingir remoções de DBO, coliformes termotolerantes e

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sólidos superiores a 90%. Em relação à remoção dos nutrientes, a WC-Híbrida pode

atingir elevadas eficiências o que dificilmente se atinge nas WC de fluxo horizontal.

Figura 6: Sistema de WC-Híbrido em operação (C) implantado na residência

2. Módulo de fluxo vertical (A) e fluxo horizontal (B).

5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Pode-se concluir que os sistemas de tratamento de esgotos que integram as

wetlands construídas apresentaram potencial de utilização a fim de minimizar

problemas correlacionados ao déficit de saneamento básico, com elevada eficiência de

tratamento.

Os custos associados à construção destes aparatos podem ser reduzidos pela

utilização de materiais alternativos, possibilitando desta forma, maior acessibilidade

para as populações não atendidas por sistemas convencionais de tratamento de esgotos

em terem seus direitos assegurados e evidentes melhorias em suas vidas.

6. AGRADECIMENTOS

À Prefeitura de Iguape pelo apoio; ao Centro Universitário Senac pelo transporte

dos alunos e financiamento do projeto; aos alunos do 8º período noturno da Engenharia

Ambiental que participaram ativamente do planejamento à execução deste projeto; à

coordenação do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária; ao Viveiro Itubanaiá pela

doação das mudas; à AMBAR – Associação de Moradores da Barra do Ribeira, e aos

moradores pela recepção e participação durante toda a fase de implantação do projeto.

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Data de Recebimento 23/9/13

Data de Aceite 24/9/13

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DIMENSIONAMENTO DE UM REATOR UASB PARA O TRATAMENTO DE

ÁGUAS RESIDUÁRIAS DE SUINOCULTURA

SIZING OF A UASB REACTOR FOR THE TREATMENT OF SWINE

WASTEWATER

CAPASSI, C. M.1

COSTA, J. C.2

CANTIL, M. E. S.3

NAVARRO, R. S.4

ROMERA, Y. F.5

SUBTIL, E. L.6

CHAGAS, R. K.7

RESUMO

O Brasil possui o quarto plantel de suínos do mundo, porém o baixo índice de

tratamento das águas residuárias geradas pelo setor é um dos graves problemas para o

meio ambiente e para a sociedade. O reator anaeróbio de fluxo ascendente (UASB)

utiliza um processo biológico de tratamento com biomassa dispersa, no qual os

compostos orgânicos são biodegradados e digeridos por meio de uma transformação

anaeróbia, resultando na remoção de altas cargas orgânicas e aproveitamento energético

do biogás. Neste trabalho avaliou-se a viabilidade técnica de utilizar o reator UASB

para tratamento de 89 m³/dia de águas residuárias de suinocultura provenientes de um

plantel com 3.835 suínos, situado no município de Pedranópolis-SP. Os resultados

apresentaram alta eficiência para remoção de DQO e DBO, 67% e 75%,

1 Graduação em Engenharia Ambiental pelo Centro Universitário Senac. 2 Graduação em Engenharia Ambiental pelo Centro Universitário Senac. 3 Graduação em Engenharia Ambiental pelo Centro Universitário Senac. 4 Graduação em Engenharia Ambiental pelo Centro Universitário Senac. 5 Graduação em Engenharia Ambiental pelo Centro Universitário Senac. 6 Doutor em Engenharia Hidráulica e Ambiental pela Universidade de São Paulo; Professor Pesquisador do Centro Universitário Senac. 7 Doutor em Ecologia de Ecossistemas Terrestres e Aquáticos pela Universidade de São Paulo; Professor Pesquisador do Centro Universitário Senac. [email protected]

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respectivamente. Além disso, considerando o teor de 75% de gás metano, a água

residuária apresenta um potencial de vazão de 451,13 m3/dia de metano e 601,5 m3/dia

de biogás total. O reator UASB é uma alternativa viável para tratamento de águas

residuárias de suinocultura, porém é necessário pós-tratamento para alcançar maior

eficiência.

Palavras chave: Reator UASB; Águas residuárias; Suinocultura; Tratamento

Anaeróbio.

ABSTRACT

Brazil has the fourth herd of pigs in the world, but the low treatment rate of

effluents is one of the serious problems for the environment and for society. The upflow

anaerobic reactor (UASB) using for a process a biological treatment biomass disperses,

in which the organic compounds are biodegradable and digested by anaerobic

transformation, resulting in the removal of high organic loads and energy use of biogas.

Tis study evaluated the technical feasibility of using UASB reactor for treatment of 89

m3/day of effluent from a squad with 3,835 pigs, located in the county of Pedranópolis-

SP. The results showed high efficiency for the removal of COD and BOD, 67% and

75%, respectively. Moreover, considering the level of 75% methane, the effluent has a

potential flow of 451.13 m3/day of methane and biogas total 601.5 m3/day. The UASB

reactor is a viable alternative for the treatment of effluent from pig, but it is necessary

post-treatment to achieve greater efficiency.

Keywords: UASB Reactor, Wastewater, Swine, Anaerobic Treatment.

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1. INTRODUÇÃO

O Brasil possui o quarto plantel de suínos do mundo, sendo a suinocultura um

setor que contribui de maneira significativa para a economia do país. No entanto, é um

setor com baixa qualidade ambiental, poluindo as águas, os solos, afetando a qualidade

do ar através da emissão de maus odores, e pela proliferação descontrolada de insetos,

ocasionando desconforto ambiental às populações (BELLI et al., 2001).

Existem diversos tratamentos para águas residuárias provenientes da

suinocultura, um deles é o uso de reatores anaeróbios de fluxo ascendente (reator

UASB), objeto desta pesquisa.

O reator UASB (Upflow Anaerobic Sludge Blanket), foi desenvolvido na década

de 70 pelo Dr. Gatze Lettinga e colaboradores na universidade Wageningen na Holanda.

Originalmente foi desenvolvido para o tratamento de efluentes industriais de alta

concentração a partir de estudos anteriores efetuados com o filtro anaeróbio ascendente.

No Brasil o reator é utilizado desde a década de 80 no Paraná (SANEPAR) e em São

Paulo (CETESB) e atualmente, é o país que mais faz uso dessa tecnologia devido às

suas características técnicas e econômicas (FAEDO, 2010).

O reator UASB é um processo que consiste no fluxo ascendente de esgotos

através de um leito de lodo denso e de elevada atividade (Figura 1). O perfil de sólidos

no reator varia de muito denso e com partículas granulares de elevada capacidade de

sedimentação, próximas ao fundo (leito de lodo), até um lodo mais disperso e leve,

próximo ao topo do reator (manta de lodo) e a estabilização da matéria orgânica ocorre

em todas as zonas de reação (leito e manta de lodo), sendo a mistura do sistema

promovida pelo fluxo ascensional do esgoto e das bolhas de gás (CHERINCHARO,

2007).

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Figura 1: Fluxo ascendente em um reator com leito de lodo denso.

Um dos princípios fundamentais do processo é sua habilidade de desenvolver

uma biomassa de elevada atividade. Essa biomassa pode apresentar na forma de flocos

ou de grânulos (1 a 5 mm). Os reatores UASB apresentam elevado tempo de resistência

hidráulica, o que é uma característica dos sistemas de alta taxa, além disso, o sistema

deve ter um separador trifásico bem projetado, capaz de separar de forma adequada o

biogás, o liquido e os sólidos, liberando os dois primeiros e permitindo a retenção do

último (CHERINCHARO, 2007; SOUZA, 2008).

Este tratamento possui facilidades operacionais e hidrodinâmica mais eficiente

que outros tratamentos, boa adaptação às condições climáticas do Brasil e produz biogás

com elevada concentração de metano (BELLI et al., 2001).

Dessa maneira, o objetivo desde trabalho é verificar a viabilidade técnica

do reator UASB para tratamento de águas residuárias de suinocultura no setor de

reprodução de suínos (matrizes e leitões, a fase dos leitões termina quando atingem o

tamanho ideal para venda, 25 kg), em sistema intensivo (fechado), composto por 1.300

matrizes.

2. JUSTIFICATIVA

Segundo o IBGE (2009), o plantel brasileiro de suínos é estimado em 36 milhões

de cabeças, com equivalente populacional médio, em termos de demanda bioquímica de

oxigênio (DBO5,20) de 3,5 habitantes por suíno (MIRANDA, 2005).

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A alta geração de resíduos provenientes da suinocultura tem como principal

destino a simples deposição no solo e essa prática origina o excesso de nutrientes,

metais e organismos patogênicos no solo, contribuindo para a degradação dos corpos

d'água superficiais e subterrâneos pela lixiviação e/ou percolação dos resíduos

(PERDOMO; OLIVEIRA; KUNZ, 2003).

O interesse pelo tratamento anaeróbio, de resíduos líquidos e sólidos

provenientes da agropecuária e da agroindústria, tem aumentado nos últimos anos por

apresentar vantagens significativas quando comparado aos processos comumente

utilizados de tratamento aeróbio de águas residuárias ou aos processos convencionais de

compostagem aeróbia de resíduos orgânicos sólidos (MORAES; PAULA-Jr., 2004).

Estimativas recentes indicam que os dejetos de animais são responsáveis por 5 a

10% das emissões de metano no mundo, contribuindo para o aumento da concentração

atmosférica dos gases de efeito estufa, considerado outro grave problema ambiental

(PEREIRA, 2009).

O baixo índice de tratamento adequado à grande quantidade de dejetos

produzidos é justamente um dos graves problemas que a intensificação da produção de

suínos trouxe para o meio ambiente e para a sociedade (GALBIATTI et al., 2010).

O reator UASB é um importante equipamento destinado ao tratamento de

efluentes com alta carga orgânica, como é o caso das águas residuárias provenientes da

suinocultura, que comparadas com o efluente doméstico possuem concentração de DBO

até 260 vezes superior, enquanto a DBO para esgoto doméstico é de 200 mg/litro, a

DBO dos dejetos de suínos oscila entre 30.000 e 52.000 mg/litro (GALBIATTI et al.,

2010).

Dentre as vantagens apresentadas pelo reator UASB, pode-se destacar: não

emissão de odores; não proliferação de insetos; baixa produção de lodo biológico; e o

lodo em excesso já sai estabilizado e com elevada concentração, podendo ser secado

diretamente em leitos de secagem. Além disso, sua operação e manutenção são

extremamente simples podendo ser realizada por pessoal não especializado (SOUZA,

2008).

Do ponto de vista econômico, a digestão anaeróbia é uma solução de baixo custo

para o tratamento de águas residuárias com elevadas cargas orgânicas, com as vantagens

da baixa produção de lodo, da conservação dos nutrientes e da produção de biogás, além

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de ser uma solução apropriada para regiões de clima tropical (CAMMAROTA, 2003).

A produção de biogás a partir do reator UASB além de produzir energia

necessária às atividades agropecuárias, pode gerar um excedente energético que pode

ser comercializado com concessionárias de energia (PECORA et al., 2006).

Segundo CHERNICHARO (2007), o projeto de reator UASB é simples, não

demandando a implantação de equipamentos sofisticados ou meio suporte para a

retenção da biomassa, porém é de fundamental importância que os diversos critérios e

parâmetros de projeto sejam expressos de uma forma compreensível e sequencial,

permitindo o dimensionamento das câmaras de reação, decantação e captura de gases.

Os reatores UASB possuem facilidades operacionais, hidrodinâmica mais

eficiente que outros sistemas convencionais e boa adaptação às condições climáticas do

Brasil (BELLI et al., 2001). Este reator utiliza um processo biológico de tratamento com

biomassa dispersa, no qual os compostos orgânicos são biodegradados e digeridos por

meio de uma transformação anaeróbia, resultando na produção de biogás e na

manutenção de um consórcio de microrganismos (PEREIRA-RAMIRES et al., 2004).

O desenvolvimento do reator anaeróbio de fluxo ascendente (UASB) combina

vantagens, as quais possibilitaram a sua utilização para uma grande variedade de águas

residuárias e, consequentemente, adoção em larga escala. Esse tipo de reator pode ser

construído e operado de forma a minimizar os custos do tratamento com baixa produção

de sólidos (SOUZA, 2008).

Os estudos acerca do reator estão crescendo por todo mundo para aplicação no

tratamento de esgoto sanitário e águas residuárias agropecuárias. Alguns autores

afirmam que os trabalhos utilizando o reator UASB ainda são limitados (DUDA;

OLIVEIRA, 2011). No entanto, conforme observa-se na Tabela 1, a seguir, estudos

recentes realizados no Brasil com reatores UASB em escala piloto, tratando águas

residuárias de suinocultura, indicam que o reator é uma alternativa de tratamento viável,

dispensando o tratamento preliminar.

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Tabela 1: Eficiência no tratamento de águas residuárias de suinocultura com reator UASB em escala piloto.

Estudo COV gDQOtotal (L.d)-1

Eficiências de remoção de

DQOtotal (%) Autor

1 34,4 73 RAMIRES, 2005

2 26 86 SANTANA, 2008

1. CARACTERIZAÇÃO DAS ÁGUAS RESIDUÁRIAS DE

SUINOCULTURA

A quantidade de dejetos líquidos oriundos da suinocultura varia de acordo com

desenvolvimento ponderal dos animais, cerca de 8,5 a 4,9% do seu peso vivo/dia, para a

faixa de 15 a 100 kg, sendo a produção de urina um aspecto importante na quantidade

de dejetos líquidos produzidos (DARTORA; PERDOMO; TUMELERO, 1998).

O termo dejetos refere-se aos excrementos frescos, incluindo fezes e urina, mais

o material de cama, restos de alimento, água e produtos de limpeza, utilizados para a

lavagem dos confinamentos. A quantidade de resíduo produzido varia com vários

fatores como: porte do animal, tipo de alimentação, quantidade de água ingerida,

quantidade de água utilizada para a lavagem das instalações, água da chuva,

evaporação, estação do ano, entre outros (CAMPOS et al., 2006).

Quando comparado com bovinos e considerando a mesma base (450 kg de peso

vivo), os suínos excretam 1,9 vezes mais dejetos que um bovino de corte e 1,3 vezes

mais que um bovino leiteiro (aproximadamente 16 ton.ano-1) (ENSMINGER;

OLDFIELD; HEINEMANN, 1990).

Dartora, Perdomo e Tumelero (1998) afirmam que a Demanda Bioquímica de

Oxigênio (DBO5) dos dejetos de suínos chega a apresentar valores de até 52.000 mg.L-1,

enquanto no esgoto humano a DBO5 é cerca de 200 a 300 mg.L-1, pois o suíno é um

animal monogástrico e aproximadamente 30% dos seus alimentos tornam-se dejetos

(Tabela 2).

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Tabela 2: Característica das águas residuárias de suinocultura. Categoria Esterco

(kg/dia) Urina

(kg/dia) Esterco + Dejetos líquidos

(litros/dia)

Estrutura de estocagem m³/animal/mês

Esterco + Urina

Dejetos

Líquidos Suínos 25-100 kg 2,30 4,90 7,00 0,16 0,25

Porcas Gestação 3,60 11,00 16,00 0,34 0,48 Porcas lactação+leitões 6,40 18,00 27,00 0,52 0,81

Cachaço 3,00 6,00 9,00 0,18 0,28 Leitões na creche 0,35 0,95 1,40 0,04 0,05

Media 2,35 5,80 8,60 0,17 0,27 Fonte: adaptado de Konsen (1983), Oliveira (1983), Fernandes e Oliveira (1995), apud Santos (2000).

Contudo, a produção total dos dejetos provenientes da suinocultura é muito

variável, levantamentos realizados pelo Serviço de Extensão Rural de Santa Catarina –

UFF, em 1999, citados em CAMPOS et al. (2005), mostram que apenas 10 a 15% dos

produtores de suínos possuem sistemas de tratamento ou aproveitam os dejetos em

alguma atividade agrícola, e mostram ainda que cerca de 85% das fontes de água no

meio rural das regiões produtoras estão contaminadas por coliformes fecais oriundos do

lançamento de dejetos sem qualquer tratamento em corpos hídricos receptores.

Os dejetos brutos de suínos apresentam, em média, 25.625 mg.L-1 de DQO e

10.250 mg.L-1 de DBO (EMBRAPA/CNPSA, 1980 apud ABREU-NETO, 2007). Para

cada fonte de matéria orgânica temos uma produção diferente de biogás (CAMPOS et

al., 2005), o potencial de geração de biogás a partir de resíduos da suinocultura varia de

acordo com a atividade explorada, obtendo maior produção no sistema de reprodução,

em média, 0,933 m³/animal/dia (COLDEBELLA, 2006).

3. METODOLOGIA

4.1. Área de estudo

O estudo baseou-se no dimensionamento de um sistema anaeróbio, reator

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UASB, para tratamento de águas residuárias de suinocultura localizada em uma Fazenda

com criação de suínos, situada no município de Pedranópolis, São Paulo.

O munícipio de Pedranópolis faz parte da microrregião de Fernandópolis.

Localiza-se a uma latitude 20º14'51"S, uma longitude 50º06'37"W e uma altitude de 475

metros em relação ao nível do mar.

Segundo estudo da Secretaria Estadual de Saúde, a microrregião de

Fernandópolis possui um clima tropical semi-úmido com inverno seco e verão chuvoso,

com precipitações médias em torno de 1362 mm. As temperaturas mínimas e máximas

atingem, respectivamente, 17 ºC e 33,5 ºC, com oscilações bruscas durante o ano

(FERNANDÓPOLIS, 2013).

A área da propriedade é de 726 hectares, considerando a atividade de

suinocultura com 1.300 matrizes, tem-se um total de 3.835 suínos.

4.2. Coleta e tratamento dos dejetos

O processo de coleta e tratamento dos dejetos provenientes da suinocultura

iniciará a partir do piso das baias liso e que possui uma leve declividade, cerca de 2% a

partir do corrimão (baia publicitária), facilitando a coleta dos dejetos no fosso situado na

parte mais baixa da baia.

Os dejetos coletados no fosso (por gravidade) passam, inicialmente por uma

grade grossa com espaçamento de 40 mm entre barras com 10 mm de espessura para

remoção de sólidos grosseiros (ex. galhos de arvores) evitando a obstrução do sistema,

em seguida um desarenador remove a areia contida no efluente, que danifica

equipamentos eletromecânicos, seguido de uma Calha Parshall que mantém a

velocidade “constante” (regime laminar) facilitando a vazão afluente variável.

O efluente é finalmente bombeado para uma caixa de equalização (utilizada para

superar os problemas operacionais advindos das variações que são observadas na vazão

e nas características dos efluentes líquidos) direcionando o efluente para o reator UASB.

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4.3. Dimensionamento do reator

Conforme metodologia adaptada a partir de CHERNICHARO (2007), os cálculos

de dimensionamento, a partir de dados secundários, de um reator UASB em escala real

para o tratamento de desejos de suínos estão demonstrados nas equações (1 a 10).

A vazão máxima é calculada em função de dois coeficientes de maior consumo e

da vazão média afluente, como segue:

𝐷𝑚á𝑥 = 𝐾1 ∗ 𝐾2 ∗ 𝐷𝑚é𝑑. [1]

Onde:

Qmáx: vazão máxima afluente (m³/dia)

Qméd.: vazão média afluente (m³/dia)

K1 = coeficiente do dia de maior consumo (1,2)

K2 = coeficiente da hora de maior consumo (1,5)

O coeficiente no dia de maior descarga é a relação entre a descarga que ocorre

entre a média do dia e a média do ano. E o coeficiente da hora de maior descarga é a

relação entre a descarga que ocorre entre a média da hora máxima e da média do dia. Os

valores de K1 e de K2 antes apresentados (1,2 e 1,5) são os recomendados pela NBR

9649 (ABNT, 1986).

A estimativa das concentrações diária de DBO e DQO no afluente são obtidas a

partir da igualdade entre ambos, ou seja:

𝐶𝑑𝐵á𝑟𝐵𝑎 = 𝐷𝑚é𝑑𝐵𝑎 ∗ 𝐶 [2]

Onde:

Cdiária: concentração diária de DBO ou DQO no afluente (Kg/dia)

Qmédia: vazão média do afluente (m³/dia)

C: concentração de DBO ou DQO (Kg/m³)

O tempo de detenção hidráulica (TDH) varia conforme a temperatura do

ambiente, sendo mais utilizado na faixa de 8 a 10 horas. Considerando uma a

temperatura média anual em torno de 23ºC o TDH recomendado é de 8 horas.

Consequentemente, o volume é calculado em função do tempo de detenção

hidráulica do sistema, logo:

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𝑉 = 𝑇𝐷𝐻 ∗ 𝐷𝑚é𝑑𝐵𝑎 [3]

Onde:

V: volume total do reator (m³)

TDH: tempo de detenção hidráulico (h)

Qmédia: vazão média afluente (m³/h)

A carga hidráulica volumétrica (CHV) é a quantidade (volume) de esgotos

aplicados diariamente ao reator, por unidade de volume dos mesmos (CHERNICHARO,

2007), dada da seguinte forma:

CHV = Qmédia V

[4]

Onde:

CHV: carga hidráulica volumétrica (m³/m³.d)

Qmédia: vazão média afluente (m³/dia)

V: volume total do reator (m³)

A carga orgânica volumétrica (COV) é a quantidade (massa) de matéria orgânica

aplicada diariamente ao reator, por unidade de volume do mesmo:

COV = Qmédia ∗S0V

[5]

Onde:

COV: carga orgânica volumétrica (KgDQO/m³.d-1)

Qmédia: vazão média afluente (m³/dia)

V: volume total do reator (m³)

So: concentração de substrato afluente (KgDQO/m³)

O TDH da vazão máxima é calculado através da equação abaixo:

𝐷𝑇𝐻𝑄𝑚á𝑥. = 𝑉𝑄𝑚á𝑥𝑖𝑚𝑎

[6]

Onde:

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DHQmáx: tempo de detenção hidráulico da vazão máxima (horas)

V: volume total do reator (m³)

Qmáxima: vazão máxima afluente (m³/dia)

A velocidade de escoamento pode variar de 0,5 m/h a 0,7 m/h, contudo a

velocidade adotada será um valor médio de 0,6 m/h, dessa maneira, é possível calcular a

altura do reator UASB em função da velocidade de escoamento:

𝐻 = 𝑣 ∗ 𝑇𝐷𝐻 [7]

Onde:

H: altura (m)

v: velocidade (m/h)

TDH: tempo de detenção hidráulico (horas)

Da mesma forma, é possível calcular a área total do reator, de acordo com a

equação abaixo:

𝐴 = 𝑉𝐶

[8]

Onde:

A: área útil do reator (m²)

H: altura (m)

v: velocidade (m/h)

Em função da área, tem-se o diâmetro do reator:

𝐴 = 𝜋 ∗ 𝑑²4

[9]

Onde:

A: área útil do reator (m²)

d: diâmetro do reator (m)

3,14

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A correta distribuição do esgoto, de modo a garantir um contato efetivo com a

biomassa presente no reator, constitui-se em um dos aspectos mais importantes para o

correto funcionamento do reator. O número de distribuidores é determinado em função

da área da seção transversal do reator e da área de influência adotada para cada

distribuidor, como segue:

𝑁𝑑 = 𝐴𝑡𝐴𝑑

[10]

Onde:

Nd: número de dutos (unidade);

At: da área da seção transversal do reator (m²);

Ad: área de influência de cada distribuidor (m²).

Portanto, a área de influência de distribuidores de vazão em um reator

UASB é determinada em função do tipo de lodo e das cargas orgânicas aplicadas no

sistema.

O lodo proveniente dos dejetos de suinocultura foi classificado como

denso e floculento, para uma carga orgânica aplicada maior que 2 KgDQO/m³.d-1, a área

de influência de cada distribuidor variou de 2 a 3 m², adotando-se a área de 2 m².

4.4. Estimativa de eficiência do reator

A estimativa de remoção de DQO e DBO é calculada a partir das equações 11 a

14, e permitem estimar a eficiência de reatores UASB operando na faixa de 20 a 27 0C,

em função do tempo de detenção hidráulica:

𝐸𝐷𝑄𝐷 = 100 ∗ (1 − 0,68 ∗ 𝑡−0,35)

[11]

Onde:

EDQO: eficiência do reator UASB, em termos de remoção de DQO (%);

t: tempo de detenção hidráulica (h);

0,68: constante empírica;

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ISSN 1980-0894 Dossiê, Vol. 8, n. 2, 2013

0,35: constante empírica.

𝐸𝐷𝐷𝐷 = 100 ∗ (1 − 0,70 ∗ 𝑡−0,50)

[12]

Onde:

EDBO: eficiência do reator UASB, em termos de remoção de DBO (%);

t: tempo de detenção hidráulica (h);

0,70: constante empírica;

0,50: constante empírica.

A partir da eficiência esperada para o sistema, pode-se estimar a

concentração de DQO e de DBO no efluente final, como a seguir:

𝑆 = 𝐸 ∗ 𝑆0100

[13]

Onde:

S: concentração de DQO ou de DBO efluente (mg/L);

S0: concentração de DQO ou de DBO afluente (mg/L);

E: eficiência de remoção de DQO ou de DBO (%).

A concentração de sólidos suspenso totais (SST) no efluente final de reatores

UASB é calculado através da equação:

𝐶𝑆𝑆𝑇 = 102 ∗ 𝑡−0,24 [14]

Onde:

CSST: concentração de Sólidos Suspensos Totais no efluente (mg/L)

t: tempo de detenção hidráulica

102: constante empírica

0,24: constante empírica

Para avaliar a produção de biogás é necessário estimar a carga de DQO afluente

no reator, que é convertida em gás metano. De maneira simplificada, segundo

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CHERNICHARO (2007), a determinação da parcela de DQO convertida em gás metano

pode ser feita, como a seguir:

𝐷𝐷𝐷𝐶𝐶4 = 𝐷 ∗ (𝑆0 − 𝑆) − 𝑦 ∗ 𝐷 ∗ 𝑆0

[15]

Onde:

DQOCH4: carga de DQO convertida em metano (KgDQOCH4/d);

Q: vazão média afluente (m³/dia);

SO: concentração de DQO afluente (KgDQO/m³);

S: Concentração de DQO efluente (KgDQO/m³);

Y: coeficiente de produção de sólidos no sistema, em termos de DQO (0,11 a 0,23

KgDQOlodo/KgDQOapl).

A conversão da massa de metano (KgDQOCH4/d) em produção volumétrica

(m³CH4/d) pode ser feita utilizando-se as equações 16 a 18, seguintes:

𝑓𝑇 = 𝑃∗𝐾𝐵𝐷𝑄𝑂𝑅∗ (273+𝑇)

[16]

Onde:

P: pressão atmosférica (1 atm)

KgDQO: DQO correspondente a um mol CH4 (64 gDQO/mol);

R: constante dos gases (0,08206 atm.L/mol.K);

T: temperatura operacional do reator (°C)

𝐷𝐶𝐶4 = 𝐷𝑄𝐷𝐶𝐶4𝑓(𝑇)

[17]

Onde:

QCH4: produção volumétrica de metano (m³/d);

f(T): fator de correção para a temperatura operacional do reatar (kgDQO/m³)

Uma vez obtida à produção de metano, pode-se estimar a produção total de

biogás, a partir do teor esperado de metano, de acordo coma a equação de 18:

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𝐷𝐷𝐵𝐵𝐵á𝑠 = 𝑄𝐶𝐶4𝐶𝐶𝐶4

[18]

Onde:

Qbiogás: produção volumétrica de biogás (m³/d);

QCH4: produção volumétrica de metano (m³/d);

QCH4: produção volumétrica de metano no biogás, usualmente da ordem de 70 a

80% (m³/d);

Os teores de metano no biogás encontram-se entre 70 a 80% (CHERNICHARO,

2007), neste trabalho foi considerado um valor médio em torno de 75% de metano no

biogás.

4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A Tabela 3 apresenta os resultados obtidos nesta pesquisa.

Tabela 3: Resultados do dimensionamento do Reator UASB para tratamento de águas residuárias de suinocultura.

Parâmetros Resultados

Q (m³/mês) 2.663,60

Qmédia (m³/dia) 89

Qmáxima (m³/dia) 160,2

Volume (m³) 29,6

TDH (horas) 8

CHV (m³/m³.dia) 3

COV (KgDQO/m³.d1) 2,3

CDBO (KgDBO/dia) 912,25

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CDQO (KgDQO/dia) 2.280,60

EDBO (%) 75

EDQO (%) 67

CSSTefluente (KgSST/dia) 5,51

Qmetano (m3/dia) 451,13

Qbiogás (m3/dia) 601,5

A vazão de águas residuárias de suinocultura é de aproximadamente 2.663,6 m3

de dejetos líquidos com uma vazão média afluente de 89 m3/dia e a máxima de 160,2

m3/dia.

As águas residuárias provenientes de suinocultura têm altas taxas de cargas de

DBO e DQO, neste estudo estas são da ordem de 912,25 e 2.280,60 Kg/dia,

respectivamente.

Considerando que o TDH é de 8 horas, tratando cerca de 89m³/dia de águas

residuárias de sionocultura, utilizando como tratamento anaeróbio o reator UASB, a

estimativa de eficiência de remoção de DBO é de 75% e 67% para DQO. Porém, é

importante ressaltar, no entanto, que as equações utilizadas para calcular a eficiência de

DBO e DQO em função do tempo de detenção hidráulica são limitadas devido ao

número bastante limitado de dados utilizados para a determinação das constantes

empíricas, que entre si apresentam grandes desvios.

O reator tem capacidade para operar com volume de 29m³, possuindo 4,8m de

altura, 2,8m de diâmetro e área total de 6,2m², conforme mostra a Figura 2.

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Figura 2: Reator anaeróbio de manta de lodo.

Devido à alta carga de matéria orgânica presente no afluente e a correta

distribuição do esgoto, de modo a garantir o contato efetivo com a biomassa presente no

reator, a distribuição do afluente no reator é feita a partir da base através de 3 tubos que

se ramificarão a partir do coletor principal.

Com relação à produção de biogás, às características das águas residuárias de

suinocultura, favorecem a geração de biogás. Considerando o teor de 75% metano, o

afluente apresenta um potencial de vazão de 451,13 m3/dia de metano e 601,5 m3/dia de

biogás total, podendo ser utilizado para geração de energia.

5. CONCLUSÕES

Analisando os resultados obtidos, o reator UASB apresenta condições favoráveis

para o tratamento de águas residuárias de suinocultura, além disso, este tipo de

tratamento requer menor área de instalação, baixo custo e sua operação e manutenção

são extremamente simples. É importante destacar, também, que o reator UASB tem

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baixa produção de lodo e o lodo em excesso já sai estabilizado e com elevada

concentração, podendo ser secado diretamente em leitos de secagem.

6. REFERÊNCIAS

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Data de Recebimento 11/7/13

Data de Aceite 25/9/13

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ISSN 1980-0894 Artigo, Vol. 8, n. 2, 2013

DIMENSIONAMENTO DE UM SISTEMA DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA

PLUVIAL PARA USO DOMÉSTICO EM SÃO BERNARDO DO CAMPO - SP

SCALING OF A RAINWATER HARVESTING SYSTEM FOR DOMESTIC

USES IN SÃO BERNARDO DO CAMPO – SP

INÁCIO, A. R1

DINIZ, A. F.2

CANDIA. M. M.3

OLIVEIRA, T. M.4

CHAGAS, R. K.5

RESUMO

Há pouca quantidade de áreas verdes para percolação da água das chuvas nos

centros urbanos, pois, ao longo dos anos, os mesmos sofreram com a impermeabilização

do solo , o que contribui com o aumento da velocidade da água escoada

superficialmente, originando enxurradas e enchentes. O Sistema de Captação de Água

Pluvial por Gravidade (SCAP) é uma alternativa viável para melhoria desses problemas.

No Estado de São Paulo a Lei nº 12.526/07 estabelece que em lotes edificados ou não

com área superior à 500m² o SCAP seja implementado. Esse estudo visa dimensionar

1 Graduanda do último período de Engenharia Ambiental pelo Centro Universitário Senac. Monitora, pelo Centro Universitário Senac, das disciplinas de Prevenção e Controle de Poluição Hídrica I, e Projeto Interativo VIII com foco em Biomonitoramento. Avenida Engenheiro Eusébio Stevaux, 823 - Santo Amaro, São Paulo – SP. E-mail: [email protected].

2 Graduanda do último período de Engenharia Ambiental pelo Centro Universitário Senac.

3 Graduanda do último período de Engenharia Ambiental pelo Centro Universitário Senac.

4 Graduanda do último período de Engenharia Ambiental pelo Centro Universitário Senac.

5 Doutor em Ecologia de Ecossistemas Terrestres e Aquáticos pela Universidade de São Paulo; Professor Pesquisador do Centro Universitário Senac.

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41

ISSN 1980-0894 Artigo, Vol. 8, n. 2, 2013

um sistema de captação para uma residência com 525m², no município de São Bernardo

do Campo, ou seja, trata-se de um estudo de caso, considerando a Lei Estadual nº

12.526 e uma vazão de 76,86L/h, cujo volume captado pode chegar a 1844,64 L,

possibilitando diversos usos não potáveis para a água captada, como vaso sanitário,

máquina de lavar, lavagem de carros e regas em jardins. Para a construção desse

sistema, pode ser utilizada tubulação de PVC facilmente encontrada no comércio,

atendendo as especificações da NBR 10.844/89. O SCAP é um sistema promissor, que

também poderá ser utilizado para residências com menor dimensão.

Palavras – Chave: Sistema de Captação de Água Pluvial, impermeabilização do solo,

enchentes, Lei Estadual nº 12.526.

ABSTRACT

There is little amount of green areas for rainwater percolation in urban centers

because, over the years, they have suffered from soil impermeability, what contributes

to the increase of surface runoff speed, causing great superficial stream of water and

floods. The Rainwater Harvesting System by gravity (RHS) is a viable alternative to

improve these problems. In the state of São Paulo, the 12.526/07 Act establishes that, in

lands for constructions, built or not, with an area greater than 500m ² RHS should be

implemented. This study aims to calculate a Rainwater Harvesting System for a

residence with 525m², in São Bernardo do Campo. Therefore, it is a case study

considering the 12.526/07 Act and a flow rate of 76,86 L/h, in which the collected

volume can reach 1844,64 L, allowing different non-potable uses for the rainwater

harvested, such as in toilets, washing machines, washing cars and watering gardens. For

the construction of this system, it can be used PVC pipings, easily found in the

market,which meets the ISO 10.844/89 technical specifications. The RHS is a promising

system which can also be used for smaller houses.

Keywords: Rainwater Harvesting System, soil impermeability, floods, 12.526 Act.

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1. INTRODUÇÃO

A água é o símbolo comum da humanidade, respeitada e valorizada em todas as

religiões e culturas, tornou-se também um símbolo da equidade social, pois a crise da

água é, sobretudo, de distribuição, conhecimento e recursos, e não de escassez absoluta

(VASCONCELOS & FERREIRA, 2007).

As técnicas de captação e reúso de águas pluviais são alternativas sustentáveis,

que além de contribuírem para um consumo racional, proporcionam a conservação dos

recursos hídricos. Além disso, com a captação de águas pluviais, eventos como

alagamento e enchentes poderão ser minimizados, pois o volume de água escoada na

superfície é reduzido significativamente se um sistema de captação for implantado nas

residências. Por isso tecnologias e projetos são desenvolvidos, a fim de minimizar os

possíveis efeitos de uma redução de água potável (TAJIRI; CAVALCANTI;

POTENZA, 2012).

No Brasil, a gestão dos recursos hídricos segue a Lei das Águas n° 9.433/97, entre

outras, que defende a conservação e o uso racional da água sob a Política Nacional de

Recursos Hídricos. Um de seus principais objetivos é assegurar a disponibilidade de

água, em padrões de qualidade adequados, bem como promover uma utilização racional

e integrada de tais recursos. O Estado de São Paulo foi pioneiro em implantar uma lei

estadual que defendesse os recursos hídricos. A Lei Estadual nº 7.663/91 estabelece

normas de orientação à Política Estadual de Recursos Hídricos bem como ao Sistema

Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo.

Ainda no estado de São Paulo, como medida de caráter mandatório, surgiu a Lei

Estadual nº 12.526, vigente desde 2007, que torna obrigatória a implantação de sistema

para captação e retenção de águas pluviais em lotes edificados ou não que possuam área

impermeabilizada superior a 500 m², visando à redução do escoamento superficial em

áreas impermeabilizadas para minimização de enchentes, e que diretamente, contribui

para o uso e conservação dos recursos hídricos, uma vez que com os sistemas de

captação de água da chuva é possível utilizar água pluvial em fins não potáveis, ou em

fins potáveis quando recebido tratamento prévio.

Dessa maneira, o dimensionamento técnico, considerando as variáveis ambientais

é necessário antes da implantação do sistema de captação de água pluvial, portanto o

trabalho tem como objetivo promover o dimensionamento de um sistema de captação de

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água pluvial para uma residência hipotética, cuja área de cobertura é de 525m², situada

no município de São Bernardo do Campo, atendendo à legislação pertinente ao

reaproveitamento de água pluvial no estado de São Paulo.

2. JUSTIFICATIVA

Segundo ANNECCHINI (2005), vários países sofrem com a escassez da água, em

decorrência do desenvolvimento desordenado das cidades, da poluição dos recursos

hídricos, do crescimento populacional e industrial, gerando aumento na demanda de

água potável. É crescente a necessidade de encontrar meios de conservar os recursos

hídricos, onde as alternativas para aumentar a quantidade e a qualidade da água passam,

necessariamente, por uma revisão do uso já em meios urbanos, objetivando a redução

do consumo, melhorando a qualidade e distribuição desse recurso natural.

No Estado de São Paulo, tem-se a Lei Estadual nº 12.526/2007, que determina a

implantação de sistemas de captação e águas pluviais, em lotes edificados ou não, com

área de superfície de 500m² ou mais, visando ganhos ambientais em relação ao consumo

de água, bem como na ocorrência de enchentes, uma vez que com a implantação destes

sistemas, diminui-se também a quantidade de água escoada.

O Município de São Bernardo do Campo sofre com o crescimento desordenado,

ocupação irregular, e ações antrópicas, como a impermeabilização do solo, fazendo com

que a cidade tenha grandes problemas em relação à ocorrência de enchentes,

principalmente nos meses mais chuvosos (Sumário de Dados, 2010).

Estudos realizados por Tajari, Cavalcanti e Potenza (2012) apontam que dos 3,4

bilhões de litros de água/dia produzidos para a cidade de São Paulo, 30% são perdidos

em vazamentos nas tubulações e por problemas relacionados a medições e fraudes. Um

cidadão brasileiro gasta em média de 50 a 200 litros de água tratada diariamente em sua

residência, dependendo da região em que habita, sendo a maior quantidade decorrente

do uso do chuveiro, responsável por 55% do consumo, contabilizando gastos de água

em torno de 27,5 a 110 litros (Tajiri, Cavalcanti e Potenza, 2012).

Entre os usos não potáveis da água, ou seja, que não necessitam de um tratamento

anterior para alcançar padrões de potabilidade destacam-se o uso de bacias sanitárias

convencionais que consomem até 12 litros de água por ciclo de descarga, e máquinas de

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44

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lavar roupa, que gastam em média 155 litros por lavagem (Tajiri, Cavalcanti e Potenza,

2012).

Para padronizar e regularizar os sistemas de captação de água pluvial foi

implementada em 2007 a NBR 15.527 que dispõe sobre o aproveitamento de água da

chuva de coberturas em áreas urbanas para fins não-potáveis após um tratamento

adequado. A norma estabelece que o estudo do sistema de captação deve ter o alcance

do projeto, a população que utilizará a água pluvial e a demanda da projeto. Além disso,

institui a necessidade de elaborar um estudo sobre a precipitação da região onde será

implantado o aproveitamento de água da chuva para uma melhor concepção do sistema.

Sistemas de captação de água da chuva captam volumes que caem e escoam

sobre telhados ou lajes que, depois é conduzida até o ponto de armazenagem através de

calhas e condutores, passando por equipamentos de filtragem e descarte de impurezas.

Após passar pelo filtro, a água é armazenada em um reservatório e é bombeada a um

segundo reservatório (caixa d’água), onde tubulações irão distribuir a água não potável

para o consumo na edificação (JÚNIOR & PÊGO, 2012).

A Organização Mundial de Saúde – OMS, não recomenda o reúso direto de águas

da chuva para fins potáveis, uma vez que pode expor a saúde humana a riscos de

diversas naturezas, sempre de elevado grau de periculosidade. Desta forma, o reúso de

águas pluviais, para que não haja ingestão pelo ser humano, terá finalidade não potável,

como rega de jardins, descargas sanitárias, lavagens de pisos, reservas contra incêndios,

lagoas artificiais, lavagens de carros e espelhos d’água (PALAZZOLO et. al, 2010).

“Um sistema de captação de água da chuva possui os

seguintes componentes: (i) Área de captação da água da

chuva (telhado do imóvel);(ii) Calhas e Condutores: do

telhado a chuva migra para as calhas e em seguida para os

condutores, os quais devem ser fabricados com de

materiais inertes, como o PVC; (iii) Mecanismos de

Remoção de Impureza: utilizado para o tratamento da

água, como o filtro lento de areia, que é constituído de um

leito de areia o qual está apoiado por um leito de cascalho;

(iv) Reservatório: local para armazenamento da água da

chuva; (v) Bomba: usada para bombear a água captada e

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armazenada no reservatório inferior para um reservatório

elevado; (vi) Válvula de retenção: utilizada após a bomba

para que a água não retorne” (JUNIOR & PÊGO, 2012).

Com um sistema constituído desta forma, é possível fazer a distribuição da água

por gravidade, uma vez que a água captada e filtrada ficará armazenada, no final do

processo, em um reservatório elevado. Isto diminui gastos em relação à implantação do

projeto, uma vez que com um reservatório elevado, necessita-se apenas de uma bomba

para bombear a água do reservatório inferior para o reservatório superior e assim

distribuir a água por gravidade, como dito anteriormente.

3. MÉTODO DE TRABALHO

3.1. Caracterização da área de estudo

São Bernardo do Campo se localiza no Planalto Paulistano, nos contrafortes da

Serra do Mar, numa posição intermediária entre o Porto de Santos e a Capital do Estado

de São Paulo (Figura 1). Simultaneamente, com os municípios de Santo André, São

Caetano do Sul, Diadema, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra e Mauá, compõe a Sub-

Região Sudeste da Região Metropolitana de São Paulo. A geomorfologia do município

divide-se em Planalto Atlântico (com cerca de 5.000 km², e altitudes médias entre 715 e

900 m) e Serra do Mar (Sumário de Dados, 2010).

Figura 01 - Localização do Município de São Bernardo do Campo na Região

do Grande ABC. Fonte: Adaptado de Sumário de Dados, 2010.

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Todas as águas do município pertencem a duas bacias hidrográficas fundamentais:

Bacia da Baixada Santista e Bacia do Tietê, a qual se apresenta sob dois aspectos, sendo

eles Sub-Bacia do Tamanduateí e Sub-Bacia do Pinheiros. Em relação à vegetação, o

município apresenta três áreas distintas: região próxima à Serra do Mar, com alta

densidade de cobertura vegetal nativa, composta por Mata Atlântica secundária em

estágio inicial de regeneração e Mata Atlântica primária ou secundária nos estágios

médio e avançado de regeneração; região de vegetação secundária (área desmatada,

abandonada e regenerada) de média densidade, com predominância de capoeiras, áreas

de intervenção antrópica, compostas por gramíneas e arbustos baixos e esparsos,

principalmente nas vertentes da Bacia do Sistema Billings; e região correspondente ao

restante da área do município, caracterizada pela ausência de mata, intensamente

urbanizada e vegetação restrita a praças e canteiros (Sumário de Dados, 2010).

De acordo com o Sumário de Dados (2010), o índice pluviométrico do

município é de 1607 mm/ano. O município possui dois períodos distintos no que se

refere à pluviosidade, a saber:

i) Período mais chuvoso, de outubro a março, variando os meses mais

chuvosos entre janeiro, fevereiro e março.

ii) Período mais seco, de abril a setembro, em que junho é,

predominantemente, o mês mais seco.

A Figura 02 mostra a distribuição mensal de chuvas no município de São

Bernardo do Campo:

Figura 02: Média mensal de pluviosidade (mm) São Bernardo do Campo,

2000, 2005, 2009. Fonte: Sumário de Dados, 2010.

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Considerando uma residência hipotética com área de 525 m² (21m x 25m), no

município de São Bernardo do Campo, pretende-se dimensionar um sistema de captação

de águas pluviais, considerando os seguintes aspectos descritos nas equações de 1 a 19

abaixo descritas:

(i) Área de captação de água da chuva

Pode ser obtida multiplicando-se a largura e o comprimento do telhado, como

pode ser visto na equação (1):

A =L x C (1)

(ii) Volume de água captada

Para o cálculo de volume de água captada adotou-se o Método Prático

Australiano descrito na NBR 15.527, conforme pode ser visto na equação (2):

V = IxAxC1000

(2)

Onde:

V = volume de água captada, em m³

I = precipitação, em mm/h

A = área de captação, em m²

C = Coeficiente de Runoff

1000 = fator de conversão

Segundo Carvalho e Silvia (2006), a estimativa da vazão de água captada da

chuva é essencial para o dimensionamento das tubulações e calhas. Existem várias

equações para estimar esta vazão, porém o método racional é o mais usado mesmo o seu

uso sendo limitado a pequenas áreas (até 80 ha).

Este método racional foi desenvolvido pelo irlandês Thomas Mulvaney em

1851, sendo utilizado quando há grande disponibilidade de dados pluviométricos e

poucos registros sobre vazão de água da chuva. A equação racional estima a vazão

máxima de escoamento de água sobre determinada área quando a mesma estiver sujeita

a máxima intensidade de precipitação, com determinado tempo de concentração. No

entanto, o volume de água que pode ser aproveitada não corresponde integralmente

àquele que foi precipitado. Para corrigir essa dissintonia faz-se uso do Coeficiente de

Runoff que representa a razão entre a água que escoa superficialmente pelo total da

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água precipitada (Oliveira, 2008). O coeficiente de Runoff varia entre 0,90 a 0,67,

porém, para telhas de cerâmicas e de metal varia de 0,80 a 0,90. Neste caso,

considerando um telhado cerâmico de 525m², considera-se C = 0,80, o que significa

uma perda de 20% da quantidade de água pluvial que precipita para o que é aproveitada

(TOMAZ, 2003).

(iii) Calha e tubulação externa

O material utilizado nas calhas e tubulações na residência foi o PVC, assim os

cálculos consideraram esse tipo de material e as respectivas dimensões seguem os

requisitos estabelecidos pela norma ABNT NBR 10.844/89. Dessa forma, uma

cobertura com comprimento de 25 m – caso da situação presente - deverá ter uma calha

com largura (L) de 0,5 m, e altura (H) de 0,16 m, permitindo calcular a área (A) e o

perímetro molhado (P) da calha pelas equações (3) e (4):

A =L x H (3)

P =L+2 x H

(4)

Com o valor do perímetro molhado, é possível determinar então o raio

hidráulico (RH) da calha, pela equação (5):

RH = AP

(5)

De acordo com a NBR 10.844/89, utilizando a fórmula de Manning-Strickler é

possível dimensionar a vazão máxima que esta calha suportará, a partir da aplicação da

equação (6):

Qmáx= 60.000 x �An� x RH

2/3 x S1/2 (6)

Onde:

Qmáx = vazão máxima

60.000 = fator de conversão

A = área da calha

n = coeficiente de rugosidade de Manning (para PVC = 0,011)

RH = raio hidráulico

S = declividade (0,005 m / m)

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Para o dimensionamento da tubulação vertical deve-se considerar a vazão

calculada anteriormente, utilizando a maior pluviométrica mensal: ou seja, neste caso

aquela registrada ao longo do mês de dezembro, de 300 mm/mês (0,403 mm/h). De

acordo com a NBR 10.844/89 o diâmetro mínimo de uma tubulação vertical é 70 mm

(7cm), dessa forma, é necessário verificar se esse diâmetro mínimo atende a vazão

calculada anteriormente. Sendo assim, primeiramente calcula-se a área da tubulação (A)

pela equação (7):

A= Π x d2

4 (7)

Em seguida, calcula-se a velocidade de escoamento (V) dividindo-se a vazão (Q)

pela área da tubulação (A) – nos termos da equação (8), verificando se o diâmetro é

condizente com à vazão do projeto.

v= QA

(8)

Para o redimensionamento da vazão e da velocidade da tubulação vertical, adotou-

se as informações de chuva crítica do município de São Paulo para averiguação da

adequação do diâmetro de uma tubulação com diâmetro de 70 mm. Dessa maneira,

conforme o estudo das Equações de Chuvas Intensas no Estado de São Paulo elaborado

pelo DAEE, Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos de São Paulo,

em 1999 ocorreu uma precipitação crítica com duração de 30 minutos, com tempo de

recorrência de 10 anos e precipitação média de 92 mm/h. Para esta precipitação, aplica-

se novamente a equação 2, obtendo-se um novo volume de água captada, onde

posteriormente verifica-se qual será a vazão resultante deste volume em uma hora.

Considerando tal vazão obtida e um condutor vertical de 5 m é possível verificar qual é

o diâmetro necessário para suportar a vazão da chuva crítica utilizando o gráfico de

diâmetro interno mínimo dos condutores verticais que consta na NBR 10.844/89.

(iv) Filtro lento de areia

A filtragem da água de chuva é um processo necessário para a retirada dos

elementos em suspensão que são arrastados pela água da chuva ao passar pelas

coberturas das edificações. Uma alternativa de baixo custo é o filtro lento de areia, que

pode ser de construído em alvenaria, PVC ou fibra de vidro, composto de material inerte

de granulometria diferente, desde o mais fino até o mais grosso (OLIVEIRA, 2005 apud

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TORRES, MORAES e JÚNIOR, 2012). Além disso, os filtros lentos de areia também

apresentam potencial de remoção de microrganismos, o que contribui para a melhoria

da qualidade da água (FARIAS, 2011).

De acordo com Murça (2011) para um funcionamento adequado do filtro lento de

areia, ainda que a taxa de filtração seja variável, esta deve ser no máximo de 6

m³/m².dia. Dessa forma, adotou-se a taxa de filtração de 3m³/m².dia e,

consequentemente, um filtro com área de 2,25 m² , uma vez que com tal dimensão será

possível filtrar 4,08 m³/dia, valor este que representa a precipitação considerada mais

crítica no município de São Bernardo do Campo.

(v) Reservatórios

Serão considerados dois reservatórios para o SCAP, uma vez que se faz necessário

um reservatório que receba a água filtrada do filtro lento de areia, e um reservatório

elevado onde haverá a dosagem de cloro e posterior distribuição da água por gravidade.

Considerando o Método Prático Inglês (NBR 15.527, 2007) para dimensionamento de

reservatórios, chegou-se a um volume anual de captação aproximado de 42m³, através

da equação 9:

V =0,05 x P x A (9)

Onde:

V = Volume do reservatório, em L

P = Precipitação média anual, em mm

A = Área de captação, em m²

Considerando que São Bernardo do Campo possui 6 meses de chuva intensa, e

adotando que tal reservatório deve suportar a vazão destes meses, adotou-se como fator

de segurança, reservatórios com volume de 7 m³ cada (1,4m x 2m x 2,5m), com uma

vazão de saída (Q) dos reservatórios sendo obtida pela divisão do volume (V) pelo

tempo (T):

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Q = VT

(10)

(vi) Tubulação interna

De acordo com o Zocoler et. al (2004), o dimensionamento da tubulação de

recalque para escoamento não contínuo é feito pela equação de Forchheimer:

∅ =1,3 x T 0,25 x �Q

(11)

Onde:

∅ = diâmetro

1,3 = fator de conversão

T = tempo de horas trabalhadas

Q = vazão que sai do reservatório em m³/s

De acordo com Mello e Carvalho (1998), a rugosidade do PVC é de 0,06 mm,

ou seja, 0,00006 m. Sabendo-se esta informação e o diâmetro da tubulação, é possível

calcular a rugosidade relativa do material pela equação (12), que é necessária para a

determinação do fator de atrito quando correlacionado ao número de Reynolds no

Diagrama de Moody, que será abordado no item vii.

Rugosidade relativa = E PVC∅

(12)

(vii) Bomba

Para a residência considerada nesse estudo é adequado a utilização de uma

bomba para transportar a água do reservatório 1 para o reservatório 2 consequentemente

para calcular a potência da bomba os seguintes fatores, deverão ser considerados nas

equações de 13 a 19.

O número de Reynolds expressa a relação entre força de inércia e força viscosa.

A partir do Número de Reynolds e da rugosidade relativa é possível calcular o fator de

atrito através do Diagrama de Moody.

Re = ∅ x Vv

(13)

Onde:

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Re = Número de Reynolds

∅ = diâmetro da tubulação

V = velocidade de escoamento

v = viscosidade cinemática da água (1 . 10-6 m²/s)

O fator de atrito ou coeficiente de resistência de Darcy-Weisbach, por vezes

citado como fator de fricção (f), é outro parâmetro adimensional utilizado para calcular

a perda de carga em uma tubulação devido ao atrito. As perdas de carga da sucção e do

recalque da bomba também devem ser calculadas, pois as sobre pressões podem

acarretar, nos casos mais críticos, ruptura de canalizações que não apresentam

coeficientes de segurança suficientes (SOUZA, 2009). Para calcular a perda de carga da

sucção (Hs), utiliza-se a equação (13) descrita por Gomes et al. (2010):

Hs =f x L ∅

x V2

2.g

(14)

Onde:

Hs = perda de carga da sucção

f = fator de atrito

L = comprimento dos trechos retos, em metros (reservatório até a bomba)

∅ = diâmetro da tubulação

V = velocidade de escoamento em m/s

g = força gravitacional, adotado como 10 m/s²

Para cálculo do comprimento dos trechos retos (L), somam-se todas as perdas de

carga dos componentes hidráulicos desde a bomba até o reservatório 2. Para situação

objeto da presente avaliação, foram adotados valores de perda de carga que constam na

NBR 5.626/1998. Nesse estudo, somaram-se os valores referentes à válvula de retenção

hidráulica, curva de 90º, trecho reto e saída, como se pode ver na equação (15):

L = válvula de retenção hidráulica + curva 90º + trecho reto + saída

(15)

Semelhante à sucção, a perda de carga do recalque (Hr) pode ser calculado pela

equação (16) descrita por GOMES et al. (2010):

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Hr =f x L∅

x V2

2.g

(16)

Onde:

Hr = perda de carga do recalque

f = fator de atrito

L = recalque

∅ = diâmetro da tubulação

V = velocidade de escoamento em m/s

G = força gravitacional, adotado como 10 m/s²

Dessa forma, a perda de carga total será a somatória da perda de carga da sucção

e perda de carga do recalque (Hr).

De acordo com Souza (2009), a altura manométrica total pode ser obtida pela

somatória da altura geométrica (Hg) e perda de carga total, ou seja, a altura

manométrica corresponde à energia por unidade de peso que o sistema solicita para

transportar o fluido do reservatório de sucção para o reservatório de descarga, com uma

determinada vazão. Essa energia será fornecida por uma bomba, que será o parâmetro

fundamental para o selecionamento da mesma. No entanto, é preciso primeiramente

calcular o N.P.S.H. (Net Positive Suction Head) da bomba afogada, pois é necessário

saber qual é a energia ou carga total na entrada da bomba.

O N.P.S.H. pode ser obtido pela equação (17) descrita pela NBR 12.214/1992:

NPSH=Z+Hatm+Hv+ ∆Hs

(17)

Onde:

NPSH = energia ou carga total na entrada da bomba

Z = posição da bomba em relação ao solo

Hatm = pressão atmosférica

Hv = pressão de vapor d’água para uma determinada temperatura

∆Hs = perda de carga na sucção

Para se obter a altura manométrica da bomba, utiliza-se a Equação de Bernoulli,

descrita por MOREIRA (2007):

H-h= � P2ρ . g

+Z2 +V2

2

2 . g� - � P1

ρ . g+Z1 +

V12

2 . g� (18)

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Onde:

H = altura manométrica da bomba que se deseja obter

h = perda de carga total

P = pressão atmosférica (no ponto 1 e 2)

Z = altura

ρ = densidade da água (1.00 g/cm³)

g = força gravitacional, adotado como 10 m/s²

Finalmente, de posse dos valores para as demais variáveis será então possível

calcular a potência da bomba (Pot) pela equação (19):

Pot= 9,8 x Q x Hn

(19)

Onde:

Pot = potência da bomba

Q = vazão em m³/s

H = altura manométrica da bomba

n =eficiência da bomba

Para verificar se esta bomba é viável comercialmente, é necessário saber sua

potência em CV (cavalos), transformando a potência obtida de kW para W, ou seja,

multiplicando-o por 1000 e dividindo-se por 735 (fator de conversão) para encontrar o

valor em cavalos.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os cálculos realizados demonstraram que a vazão de captação de água pluvial

será de 0,07686 m³/h, ou seja, 76,86 L/h. Através deste resultado, estima-se, então, que

em um dia consiga ser captado um volume total de 1.844,64 L considerando a média

pluviométrica para o município de São Bernardo do Campo. Na Figura 03 é possível ver

os principais elementos dimensionados para o SCAP.

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Figura 03 - Sistema de Captação de Água da Chuva.

Para o dimensionamento da calha de captação, considerou-se o valor de

referência, ou seja, 0,5m e 0,16m de altura. Contudo, os cálculos de área, perímetro

molhado, raio hidráulico, considerando a vazão do mês mais chuvoso, levam a uma

vazão máxima que calha suportará de 6.485 l/min. Porém, a vazão é muito superior à

projetada, 1,281L/min, ou seja, a calha poderia ser redimensionada em função da vazão.

Dessa maneira, para o redimensionamento da calha, adotou-se a largura usual de

0,3 m, chegando a uma vazão máxima que a calha suportará de 691,62 L/min,

aproximadamente.

Para o dimensionamento da tubulação vertical também é necessário utilizar a

vazão de água do mês mais chuvoso. Conforme descrito pela NBR 10.844/89 o

diâmetro mínimo dessa tubulação deverá ser de 70 mm, cuja velocidade de escoamento

obtida foi de 1,22 cm/s, ou seja, a tubulação de 70 mm suportará a vazão prevista

inclusive no mês mais chuvoso.

E, ainda uma tubulação com 70 mm será capaz de captar uma precipitação mais

intensa com 92 mm/h, duração de 30 minutos e tempo de recorrência a cada 10 anos.

Considerando uma tubulação vertical projetada de 5 m de comprimento o valor

de diâmetro mínimo necessário para a captação das águas pluviais e transporte até o

filtro lento de areia será de aproximadamente 62 mm.

Para o filtro lento de areia, adotou-se uma taxa de filtração de 3m³/m².dia, uma

vez que a mesma pode variar entre 1 e 6m³/m².dia, sendo este um valor à critério do

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projetista. Considerando o mês mais chuvoso, cuja vazão é de ou 4,08 m³/dia, o filtro

lento de areia deverá ter uma área de 2,25 m² para suportar a vazão do mês mais

chuvoso, porém esse dimensionamento não impede que o filtro funcione corretamente

com vazões menores.

Para os reservatórios 1 e 2, embora a vazão máxima de água pluvial captada seja

de 0,170 m³/h, o volume mínimo necessário em cada reservatório seria de 0,170 m³,

porém, considera-se necessário dimensionar reservatórios com volumes superiores ao

mínimo necessário, para armazenamento adequado em situações de chuvas intensas.

Dessa maneira, considerando o Método Prático Inglês, adotou-se um volume de 7m³

para ambos os reservatórios com uma vazão de saída de água de 0,00194 m³/s.

A tubulação interna deverá ser dimensionada seguindo as especificações da

ABNT para escoamento não contínuo, ou seja, através da equação de Diâmetro

Econômico, obteve-se o valor de 2,6 cm, porém foi adotado o valor de 3,175 cm que

equivale a 11/4, pois de acordo com a NBR 5.626/98 é possível trabalhar com tubulações

de 1 polegada, equivalente a 2,54 cm, porém não seria adequado para a vazão calculada,

sendo necessário utilizar um diâmetro superior, mais próximo do valor obtido, ou seja

3,175 cm.

Para calcular a velocidade de escoamento na tubulação interna considera-se a

rugosidade do PVC (0,06 mm) e a rugosidade relativa de 0,00189, que é a relação da

rugosidade do PVC com o diâmetro da tubulação, e a área da tubulação (5,3 x 10-4 m²),

obtendo-se então como um valor de 3,66m/s.

E finalmente, para calcular a potência da bomba, diversos fatores devem ser

levados em consideração, iniciando pelo Número de Reynolds, cujo valor obtido foi de

11,62 x 105 . e obtendo o fator de atrito de 0,03. Esse valor é necessário para calcular a

perda de carga da sucção, de 1,266 m , e a perda de carga do recalque, de 17,95 m.

A partir da perda de carga de sucção e de recalque, a perda de carga total será de

19,216 m. Somando-se a perda de carga total e a altura geométrica (diferença de nível

entre o reservatório 1 e 2) que é de 6 m , obtém-se então a altura manométrica, que será

25,216 m.

Para se obter a altura manométrica da bomba, é necessário, entre outros fatores,

saber a perda de carga total na entrada da bomba (NPSH), que é influenciada pela

posição da bomba em relação ao solo, pressão atmosférica e pressão de vapor d’água

para uma determinada temperatura. Considerando essas variáveis, o valor obtido para a

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perda de carga total foi de 8,345 m, e para a altura manométrica da bomba obteve-se o

valor de 20,386 m.

A potência da bomba foi calculada a partir da altura manométrica da bomba, e o

valor obtido foi 0,3876 kW, mas ainda é necessário transformar essa potência para

cavalos (CV), possibilitando encontrar modelos comerciais com uma potencia superior

a 0,5CV. O valor obtido a partir dos cálculos foi de 0,53 CV, ou seja, é possível

encontrar bombas com essa potência para aquisição no mercado.

5. CONCLUSÃO

Para uma residência de área de superfície de 525m² localizada no município de

São Bernardo do Campo, considerando uma vazão disponível de 76,86L/h estima-se

que em um dia seja captado 1844,64 L.

Em virtude de, em média, um vaso sanitário utilizar 12 L de água a cada uso, e

de uma máquina de lavar roupas consumir 155 L para cumprir suas funções, o total de

água captada permite utilizar o vaso cerca de 154 vezes e a máquina de lavar cerca de

12 vezes ao dia, respectivamente, ou seja, além da utilização da água para lavagem de

carros, rega de jardim e lavagem de área comum.

Uma das peculiaridades do SCAP é a necessidade do reservatório elevado ter

ligação com a rede pública de abastecimento de água para que em épocas de estiagem, o

abastecimento continue operando normalmente.

A utilização da tubulação de PVC é viável, pois os diâmetros calculados estão

disponíveis no mercado. Além disso, da tubulação externa que atende as especificações

da NBR 10.844/89, bem como, a potência da bomba necessária para bombeamento

entre reservatórios podem ser encontrados igualmente, itens de estoque em

estabelecimentos comerciais que atendem ao segmento de construção.

O sistema de captação de água pluvial é viável tecnicamente em residências com

área de 525m², sendo possível dimensioná-lo a partir de cálculos hidráulicos, ou seja, é

possível atender a Lei Estadual nº 12.526/07.

Além disso, de acordo com Cardoso (2010), um estudo realizado em um

condomínio de Habitações de Interesse Social destinado ao Programa ”Minha Casa

Minha Vida” do Governo Federal, localizado na cidade de Feira de Santana-BA,

proporcionou saber que em lotes de 170m² cada, o SCAP obtém resultados satisfatórios,

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pois a demanda nesta região para utilização de água não potável é maior que a captação

de água pluvial por este sistema utilizado em estudo, o que o significaria que toda água

captada é utilizada, gerando uma redução de aproximadamente 22% no gasto com água

potável que era consumida para fins não potáveis. Desse modo, a implantação do

sistema de aproveitamento de água de chuva em edificações com áreas menores também

é viável.

6. AGRADECIMENTOS

Agradecemos aos professores Sidnei Gobbi, Eduardo Licco e Rodrigo de Freitas

Bueno, bem como ao colega Humberto Carlos Ruggeri pelas orientações nos estudos

hidráulicos, e ao professor Eduardo Lucas Subtil pelas orientações para escolha e

desenvolvimento dos estudos referentes ao filtro lento de areia.

7. REFERÊNCIAS

ANNECCHINI, V.P.K. Aproveitamento da Água da Chuva Para Fins Não Potáveis

na Cidade de Vitória (ES). Dissertação (Mestrado em Engenharia Ambiental) -

Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental, Universidade Federal do

Espírito Santo, Vitória - ES, 2005.

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Janeiro, 1992.

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR nº 5.626 –

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR nº 15.527 –

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potáveis - Requisitos. Rio de Janeiro, 2007.

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CARDOSO, D.C. Aproveitamento de Águas Pluviais em Habitações de Interesse

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Data de Recebimento 11/7/13

Data de Aceite 18/9/13

Page 64: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 8 n2

63

ISSN 1980-0894 Artigo, Vol. 8, n. 2, 2013

A ATUAÇÃO DA COSMETOLOGIA GENÉTICA SOBRE OS

TRATAMENTOS ANTIENVELHECIMENTO

THE ROLE OF GENETICS ON COSMETOLOGY TREATMENTS

ANTIAGING

Cristiane de Luca1

Marcia Cristina Candeu Lopes Pires2

Sonia Corazza3

Célio Takashi Higuchi4

Resumo

Atualmente, o envelhecimento cutâneo é um assunto que ganha cada vez mais

atenção da população contemporânea a qual grande parte se preocupa com sua

aparência, saúde e bem estar. Para atender este público, a indústria cosmética tem

intensificado suas pesquisas na busca de ativos cosméticos com ação

antienvelhecimento com as seguintes atividades: de proteção e reparação do DNA

celular. Com o objetivo de compreender e discutir a utilização dos conhecimentos sobre

o código genético e o processo de envelhecimento biológico quanto à composição

cosmética e os mecanismos de ação sobre a pele foram realizados levantamentos

bibliográficos, utilizando-se principais revistas científicas nas áreas dermatológicas,

cosméticas e estéticas. Além disso, aplicou-se um questionário com estes profissionais

das áreas. Como resultado, observou-se que há distintas respostas e opiniões destes

profissionais no que tange informações quanto à formulação, estudo ou aplicação. O

conhecimento de cada um em função da área de atuação e a formação profissional leva

a acreditar em uma ação distinta do que se propõe o produto. Um dos motivos que se

1 Especialista em Cosmetologia aplicada à Estética, Senac, SP, docente coordenadora e técnica esteticista, Senac, SP; 2 Especialista em Cosmetologia aplicada à Estética, Senac, SP, docente no curso técnico em estética, Senac, SP; 3 Consultora técnica no segmento cosmético e engenheira química, ESQOC, SP; 4 Mestre e farmacêutico pela UNESP, Araraquara, e pesquisador responsável pela linha de pesquisa “Cosméticos Sustentáveis”, Senac, SP. E-mail: [email protected]

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64

ISSN 1980-0894

justifica é a ausência de publicações científicas e, além disso, as empresas cosméticas

detentoras da pesquisa e desenvolvimento publicarem seus resultados

confidencialmente.

Palavras-chave: cosmetologia genética, cosméticos com ação antienvelhecimento,

teoria do envelhecimento.

Abstract

Currently skin aging is a subject that has gained increasing attention from

contemporary population that largely concerned with their appearance, health and

wellness. One of reasons to look this consumer public, the cosmetic industry has

intensified its research in pursuit of anti-aging cosmetic active with following activities:

to protect and repair cellular DNA. To understand and discuss the use of knowledge

about the genetic code and the process of biological aging on the cosmetic composition

and mechanisms of action on the skin were performed bibliographic, using leading

scientific journals in the areas dermatological, cosmetic and aesthetic. Additionally, it

was applied a questionary with different professional areas. As a result, it was observed

that there are different answers and opinions of these professionals regarding

information on the composition, knowledge or professional application. Depending on

the knowledge of each area of expertise and training it was believed in action distinct

from propose of product. One reason that is justified is the absence of scientific

publications and also cosmetic companies possessing the research and development

publish their results itselves.

Key words: genetic cosmetology, cosmetic anti-aging action, theory of aging.

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ISSN 1980-0894 Artigo, Vol. 8, n. 2, 2013

1. Introdução

Onze milhões de anos depois do Big Bang, vários elementos se combinaram e

deram origem à vida na Terra e mais alguns milhões de anos, graças às descobertas da

ciência, puderam compreender a inter-relação entre os três principais elementos da vida:

origem, reprodução e evolução. Em 1831, começou a desenvolver-se a teoria da célula.

O botânico escocês Robert Brown observou o ponto de controle da célula e o chamou

de “núcleo” e identificou essa estrutura como elemento comum de todas as células

vegetais. Logo, os núcleos foram descobertos também em células animais. Dois

biólogos alemães, Schleiden e Schwann, em 1838 e 1839, escreveram que todas as

células se compõem de membrana, núcleo e corpo celular e são partículas elementares

de todas as plantas e animais (BRODY & BRODY, 2007).

Ao longo dos anos a teoria celular foi se aperfeiçoando. Em 1858, o médico

alemão Rudolf Virchow concluiu que toda célula tem sua origem em outra preexistente.

No decorrer do século XIX, foram encontradas no interior da célula estruturas

denominadas organóides, com a capacidade de realizar inúmeras funções e a teoria de

que a célula seria a menor parte viva de um ser vivo ganhou força passando a ser

denominada unidade morfológica e fisiológica de todos os seres vivos (BOSCHILIA,

2003).

Na década de 70, as pesquisas sobre as células atingiram uma fase importante com

o trabalho de Walther Flemming, médico e anatomista alemão. Ele aperfeiçoou os

corantes usados para revelar as estruturas celulares o que proporcionou observar

filamentos no núcleo que chamou de cromossomo. Segundo Brody e Brody (2007),

observando a divisão celular, Flemming mostrou que os filamentos encurtavam e se

dividiam longitudinalmente em duas metades, gerando duas novas células idênticas.

A citogenética é o campo da genética que estuda os cromossomos, sua estrutura,

composição e papel na evolução e no desenvolvimento de doenças. Em 1903, o

americano Walter Sutton e o alemão Teodor Boveri estabeleceram a Teoria

Cromossômica da Herança, propondo que o material genético está nos cromossomos

(RODRIGUES & CHIBA, 2007). A ciência citogenética pode ser considerada a base

fundamental deste trabalho, já que essas descobertas possibilitaram o surgimento das

teorias biológicas do envelhecimento que examinam o assunto sob a ótica da

degeneração da função e estrutura dos sistemas orgânicos e células (FARINATTI,

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66

ISSN 1980-0894

2002).

Células que desempenham as mesmas funções dão origem aos tecidos de vários

tipos que se agrupam para formar os órgãos cada qual com sua propriedade específica.

A união de vários órgãos forma um sistema com características próprias, a fim de

realizar um objetivo comum. Seguindo adiante, os sistemas se unem e integram para

fazer do organismo humano uma estrutura muito elaborada e eficiente (ZORZI et al,

2006).

Tomando-se a visão macro, a pele humana é uma reunião de células funcionais

que desempenham diferentes atividades biológicas para garantir proteção, nutrição e

hidratação da pele.

1.2. Conceituando pele

A pele forma uma barreira fina e extremamente sensível entre o organismo e o

mundo exterior. Além disso, reflete o estado de nossa saúde física e mental. Com base

em seu complexo funcionamento, a pele desempenha o papel vital de proteger o corpo

dos raios ultravioleta, da poluição, de agentes tóxicos, de temperaturas altas e baixas e,

por meio das glândulas sudoríparas, elimina toxinas e impurezas do organismo (KEDE

et al., 2010). A pele é dividida em dois tecidos principais: a epiderme (tecido epitelial

mais externo: do grego epi = sobre, derma = pele), e um tecido conectivo composto da

derme (a partir da qual a derme se origina) e da hipoderme, camada inferior contendo

gordura (hipo = inferior, derma = pele) (HARRIS, 2003).

A pele não é um simples invólucro que recobre o nosso corpo, soma-se com uma

arquitetura complexa, um verdadeiro órgão, que preenche funções múltiplas e bem

precisas (PEYREFITTE et al., 1998). De acordo com Harris (2003) é um importante

órgão de defesa do organismo, possuindo uma complexa estrutura permanentemente

renovada, que constitui a principal barreira contra a penetração de agentes nocivos ao

organismo, porém a defesa provida pela pele não é apenas física, mas também é

atribuída importante papel imunológica, tanto para respostas não especificas como

específicas, já que a pele possui um sistema imunológico próprio, complexo e eficiente.

Desde os primórdios da civilização, os cuidados com a pele fazem parte de um

ritual que vai muito além da higiene. Egípcios, romanos e gregos tinham no banho um

sofisticado prazer. Tornaram-se pioneiros no desenvolvimento de tratamentos estéticos

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ligados ao relaxamento. No Egito, as mulheres costumavam se banhar várias vezes ao

dia, alternando águas quente e fria. Os banhos eram seguidos de massagens com óleos

aromáticos. Em Roma, as mulheres eram atendidas por escravas conhecidas como

cosmetae cujos nomes dariam origem, não acidentalmente, a palavra cosmética. Os

gregos, por sua vez, seriam responsáveis pela invenção dos cremes faciais contra rugas.

Sua fórmula de sucesso incluía cera derretida, azeite de oliva, rosas esmagadas para

proporcionar um aroma agradável e lanolina extraída da lã de ovelhas, ingredientes

usados pela cosmetologia até hoje (SAGGIORO, 1999).

O uso de cremes, géis, loções e tônicos para limpar a pele deve fazer parte das

atribuições diárias do indivíduo contemporâneo. O resultado será bem gratificante e, em

médio e longo prazo, econômico, podendo adiar tratamentos mais caros e invasivos

(KEDE et al., 2010).

Até o início da década de 1960, a teoria sugeria que os ingredientes cosméticos

raramente penetravam na pele. Entretanto, hoje muitos especialistas suspeitam que a

penetração ocorra com a maioria dos ingredientes (FARAHMAND & MAIBACH,

2012). A definição penetração cutânea é usada para produtos que possuem ação tópica,

ou seja, formulações cosméticas e dermatológicas, enquanto que permeação cutânea têm

sido mais empregada para produtos de ação sistêmica, ou seja, transdérmicos. A

substância pode permear através da pele por meio de difusão ativa e atravessar a

epiderme intacta ou através dos apêndices da pele, porém ocupam pequena porcentagem

da superfície toda, por isso, a permeação é considerada pequena (LEONARDI, 2008

modificado).

Como consumidores e profissionais de saúde têm se tornado mais esclarecidos no

que concerne à segurança, a penetração cutânea de componentes de fragrância e de

ingredientes cosméticos tem sido de grande interesse. Por conseguinte, a indústria tem

procurado formas de estimar a penetração de estruturas químicas através da pele

humana (FARAHMAND et al., 2012).

Os estudos de permeação usando a pele humana são limitados devido à

dificuldades de obtenção do material, armazenagem, custos e variabilidade de

permeação. Já a pele retirada de animais pode variar em qualidade e permeabilidade,

pois a pele dos animais, em geral, é muito mais permeável que a humana (LEONARDI,

2008). Permeabilidade cutânea é a capacidade que a pele tem de deixar passar,

seletivamente certas substâncias em função de sua natureza química ou de determinados

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68

ISSN 1980-0894

fatores (BEZERRA & REBELLO, 2001).

1.3. Mercado cosmético com enfoque de produtos com ação

antienvelhecimento

De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal,

Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), o Brasil apresentou um crescimento médio de R$

4,9 bilhões em 1996 para R$ 34 bilhões em 2012. Vários fatores tem contribuído para

este excelente crescimento, tais como o aumento do poder aquisitivo das classes C, D e

E que passaram a ter acesso aos produtos do setor, a participação crescente da mulher

brasileira no mercado de trabalho, a utilização de tecnologia de ponta e o consequente

aumento da produtividade, favorecendo os preços praticados pelo setor, que tem

aumentos menores do que os índices de preços da economia em geral, lançamentos

constantes de novos produtos atendendo cada vez mais às necessidades do mercado e o

aumento da expectativa de vida, o que traz a necessidade de conservar uma impressão

de juventude. Em relação aos produtos com ação antienvelhecimento, cada vez mais o

mercado com esta ação se torna mais promissora. Segundo dados da ABIHPEC, as

vendas de produtos anti-sinais e anti-rugas representavam, em 2000, 27,5% do total de

itens de cuidados para o rosto. Em 2004, esse número pulou para 34,8%. Os dados da

associação mostram que o segmento de cuidados com a pele pode ter fechado 2005 com

faturamento de aproximadamente R$ 1,27 bilhão, representando um crescimento de

14% ante o resultado de 2004. Cerca de 50% dos produtos foram distribuídos por venda

direta, 32% pelo varejo, 16% por atacado e 2% por meio de franquias (ABIHPEC,

2012).

2. Objetivos

2.2. Objetivo geral

Discutir a utilização dos conhecimentos sobre o código genético e o processo de

envelhecimento biológico na formulação de cosméticos com ação antienvelhecimento e

sua relação com a pele.

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2.3. Objetivo específico

Aplicar um questionário elaborado aos diferentes profissionais (biólogo,

farmacêutico, químico, fisioterapeuta dermato-funcional, geneticista, fisiologista e

esteticista) do segmentos cosméticos e estéticos.

3. Justificativa

Atualmente, o Brasil é o terceiro maior mercado consumidor de produtos

cosméticos, segundo dados da Euromonitor International, que divulgaram o faturamento

da área em 2011 com mais de R$ 43 bilhões, sendo o país que mais cresceu dentre os

dez principais do mercado. Os protetores solares tiveram a maior alta com 20,2% de

aumento no faturamento. Visando à necessidade de corresponder as expectativas do

mercado consumidor, pesquisas em novas tecnologias e ativos cosméticos crescem na

mesma velocidade englobando inclusive a genética.

A fronteira entre cosméticos, cosmecêuticos e medicamentos está se tornando

muito tênue já que a indústria cosmética vem se sofisticando e oferecendo produtos de

última geração, como a maquiagem que hidrata, nutre e protege a pele, além de

embelezá-la. Os cosmecêuticos, por sua vez, querem avançar em seus efeitos

terapêuticos, usando princípios ativos que não necessitam prescrição médica (KEDE et

al., 2010 modificado).

A realização de pesquisas multiprofissionais tem sido uma tendência cada vez

maior no mundo da ciência. Isso sem dúvida tem permitido o crescimento e a evolução

científica da Cosmetologia, que por sua vez tem dado origem a ciência nova e

promissora, denominada, por muitos, de Cosmetologia Dermatológica (LEONARDI,

2008). Já os medicamentos tópicos só podem ser empregados sob orientações

dermatológicas, pois são produtos que provocam ações modificadoras na pele sob

indicação médica (KEDE, et al., 2010).

As primeiras discussões sobre o Projeto Genoma Humana (PGH) remontam a

década de 80 quando o Departamento de Energia dos EUA promoveu um workshop

para avaliar os métodos disponíveis para detecção de mutações durante o qual divulgou

a ideia de mapear o genoma humano. Neste mesmo período foi criado na França o

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Centre d’Etude du Polymorsphisme Humaine (CEPH), em português, Centro de

Estudos do Polimorfismo Humano. Este centro tem como objetivo coletar amostras de

sangue e tecidos de famílias extensa. Ele se tornou o principal fornecedor de material

para a elaboração dos mapas de ligação realizados pelo Généthon. O PGH tem como

objetivo identificar todos os genes responsáveis por nossas características normais e

patológicas. Os resultados a longo prazo certamente irão revolucionar a medicina,

principalmente na área de prevenção. Será possível analisar milhares de genes ao

mesmo tempo e as pessoas poderão saber se têm predisposição aumentada para certas

doenças, como diabete, câncer, hipertensão ou doença de Alzheimer, e tratar-se antes do

aparecimento dos sintomas (GOLDIM, 2000).

Além da medicina e da indústria farmacêutica, empresas do setor de cosméticos

investiram em pesquisas visando à elaboração de produtos que apresentassem ação

sobre as estruturas responsáveis por determinar o envelhecimento celular e a apoptose.

Por consequência, faria com que a pele se mantivesse jovem por mais tempo, não

apenas em sua aparência. Dessa forma, surgiu-se a definição mercadológica

denominada de genocosméticos, ou seja, produtos que desempenham a ação de inibir os

processos fisiológicos moleculares que causam os envelhecimentos intrínseco e

extrínseco.

Os estudos das propriedades antienvelhecimento das substâncias ativas vêm

despertando muito interesse de pesquisadores, considerando o aumento da expectativa

de tempo de vida observado nas últimas décadas e a busca da qualidade de vida durante

o processo de envelhecimento (IBGE, 2004).

Por esse motivo, a proposta do trabalho é responder questões quanto à

possibilidade da atuação de ativos de forma direta ou indireta sobre o DNA por meio de

pesquisa de trabalhos já realizados e analisar as teorias propostas sobre a ação dos

produtos existentes no mercado cosmético e as possibilidades de novos tratamentos,

principalmente os sinais de envelhecimento, para os próximos anos.

4. Metodologia

A base para o desenvolvimento das análises foi elaborada por meio de uma

pesquisa de cunho bibliográfico constituída essencialmente pela leitura de obras

especializadas em biologia celular, biologia molecular, citogenética, farmacologia e

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cosmetologia. A pesquisa para análise da ação dos produtos será realizada através da

comparação da atuação proposta pelos fabricantes sob a ótica de profissionais das

indústrias cosmética, farmacêutica, química e biológica.

Para complementar a pesquisa, elaborou-se um questionário contendo 12

perguntas e para cada uma 3 respostas (sim, não e não sei) e posteriormente aplicou-se

aos diferentes profissionais (biólogo, farmacêutico, químico, fisioterapeuta dermato-

funcional, geneticista, fisiologista e esteticista) dos segmentos cosméticos aplicados à

estética. O intuito da pesquisa foi ampliar a visão sobre a ação dos cosméticos-alvos da

pesquisa. O questionário aplicado foi aprovado pelo Comitê Interno de Ética em

Pesquisa, CEP/Senac, sob o parecer nº 103.26.12.

Segue-se abaixo o modelo do questionário aplicado:

Formação:________________________

Tempo de atuação:_________________

A pele é constituída por três camadas: epiderme (mais externa) - Formada por

maior quantidade de queratinócitos e sua principal função é de barreira; derme –

presença de fibroblastos que produzem colágeno e elastina dando sustentação,

preenchimento e elasticidade; hipoderme ou tela subcutânea – presença de adipócitos

que armazenam lipídeos. Auxilia no controle da temperatura e dá contornos ao corpo.

Sua permeação pode ser através das vias intercelular, transcelular e transanexial.

Uma das principais preocupações do mercado cosmético é a permeação de seus ativos

para que haja o efeito desejado e por isso, várias empresas investem em tecnologia para

a produção de novos veículos como lipossomas e nanosferas. Considerando essas

informações e seus conhecimentos na área você acredita que:

a) Cosméticos podem permear a pele até a derme?

( ) sim ( ) Não ( ) Não sei

b) Cosméticos podem agir através de comunicação celular?

( ) sim ( ) Não ( ) Não sei

c) Cosméticos podem estimular a síntese proteica?

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( ) sim ( ) Não ( ) Não sei

d) Cosméticos podem repor proteínas que deixam de ser sintetizadas com eficiência?

( ) sim ( ) Não ( ) Não sei

e) Cosméticos com células-tronco vegetais podem estimular o aumento do número

de fibroblastos?

( ) sim ( ) Não ( ) Não sei

f) Cosméticos podem proteger as células contra a ação de radicais livres?

( ) sim ( ) Não ( ) Não sei

g) Cosméticos podem estimular a síntese de RNA?

( ) sim ( ) Não ( ) Não sei

h) Cosméticos podem agir como enzimas fisiológicas?

( ) sim ( ) Não ( ) Não sei

i) Cosméticos podem estimular a síntese de telomerase?

( ) sim ( ) Não ( ) Não sei

j) Cosméticos podem proteger o DNA durante a mitose, evitando o encurtamento

dos telômeros?

( ) sim ( ) Não ( ) Não sei

k) Cosméticos e fármacos possuem bases similares, é possível que tenham

permeação também similar?

( ) sim ( ) Não ( ) Não sei

l) Além dos princípios ativos, cosméticos antienvelhecimentos terão melhores

resultados se em suas formulações contenham facilitadores de permeação?

( ) sim ( ) Não ( ) Não sei

5. Envelhecimento

Segundo Guirro & Guirro (2007), envelhecer é um processo natural que ocorre

desde que nascemos, porém fica mais evidente após a terceira idade e sumamente difícil

postular uma única hipótese teórica para explicar esse fenômeno. A partir desta

evidência a ciência propõe várias teorias para explicar o processo de envelhecimento. A

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velocidade do envelhecimento de um organismo depende da interação entre o genoma e

os fatores estocásticos. Por isso, podemos dividir as diversas teorias existentes em duas

categorias: teorias genéticas e estocásticas (MOTA, 2004).

5.2. Teorias genéticas

5.2.1. Teoria da velocidade da vida

Proposta por Pearl, em 1928, essa teoria considera que o consumo de energia

representa uma limitação na longevidade, pois a geração de espécies reativas de

oxigênio formados, principalmente, durante a respiração celular está envolvida na

senescência celular, ou seja, o indivíduo que gasta mais energia tende a envelhecer mais

rápido (TEIXEIRA & GUARIENTO, 2010). Essa teoria também ficou conhecida como

teoria da restrição calórica a qual foi verificada o aumento da longevidade em ratos com

dieta controlada (GENARO et al., 2009).

5.2.2. Teorias do Relógio Biológico

Em nível hormonal, os pesquisadores defensores afirmam que o organismo

apresenta um centro regulador situado no cérebro e acredita-se que atua de forma

simultânea com a síntese proteica.

5.2.3. Teoria da multiplicação Celular

Hayflick (1983) defende a tese que as células do organismo (exceto as cerebrais)

possuem uma capacidade intrínseca de se multiplicar e reproduzir de forma finita.

Testes com fibroblastos humanos in vitro demonstraram que estas capacidades vão

diminuindo até a sua inativação, porém, esta teoria, tem perdido espaço no âmbito

científico porque é vista como uma etapa do envelhecimento e não determina o

mecanismo desta diminuição na capacidade de multiplicação celular (GUIRRO &

GUIRRO, 2002). Do mesmo modo que o comportamento altera a probabilidade de

outros comportamentos (CATANIA, 1999), a atividade neural altera a probabilidade das

funções neurais. Uma das evidências para este fato é que tanto as situações de mera

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exposição à estimulação ambiental quanto às situações de treinamento sistemático em

aprendizagem resultam em alterações no comportamento e nos circuitos neurais

(ROSENZWEIG, 1996).

5.2.4. Teoria das relações cruzadas de macromoléculas

Essa teoria se fundamenta em alterações moleculares que ocorrem devido à idade

em moléculas que estão localizadas internamente das regiões extracelulares e

intracelulares. Sustenta-se também que essas mudanças ocorrem quando duas ou mais

moléculas se unem covalentemente. O entrelaçamento em moléculas como, por

exemplo, de colágeno podem diminuir a solubilidade, elasticidade e a permeabilidade,

podendo, dessa forma, aumentar a viscosidade no compartimento extracelular e impedir

processos metabólicos críticos como a liberação de hormônios (GAVA & ZANONI,

2005). Estes autores citam que esse entrelaçamento seja o primeiro acontecimento

molecular que conduz a maioria das alterações para o início do processo de

envelhecimento celular.

Estas moléculas perdem suas características, produzindo alterações tissulares que

condicionam à aparição do processo de envelhecimento. Entre os diversos agentes de

reações cruzadas no organismo estão a poluição, fumo, água, radiações (exógenos),

aldeídos e os radicais lipídicos (endógenos) (GUIRRO & GUIRRO, 2002).

5.2.5. Teoria da Mutagênese Intrínseca

Proposta por Burnet, em 1974, a teoria da mutagênese intrínseca considera que a

longevidade das diferentes espécies animais difere em virtude de uma constituição

genética específica, que regula a fidelidade do seu material genético e sua replicação.

De acordo com esta teoria, a longevidade do animal depende do menor número de erros

na replicação do seu DNA celular e da capacidade das respectivas enzimas reparadoras

do DNA (CRISTOFALO et al., 1994; MARTIN et al., 1980 apud NARDI, 2007).

Deste modo, o maior ou menor tempo de vida das diferentes espécies animais

estaria associado a uma maior ou menor acumulação de mutações nas respectivas

células somáticas. Quando a acumulação de mutações nas células somáticas

impossibilitasse a manutenção da fidelidade e replicação do material genético, a célula

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começaria a evidenciar um fenótipo de envelhecimento, de perda e de funcionalidade

(MOTA et al., 2004).

Segundo Nardi (2007), esta teoria parece não explicar o fenômeno de

envelhecimento uma vez que há poucas evidências experimentais que sustentem esta

hipótese.

5.2.6. Teoria dos Radicais Livres

Apresentada por Olszewer e tendo como autor Harman, esta teoria baseia-se na

participação dos radicais livres no envelhecimento celular o qual estudos realizados em

animais de laboratório sugeriram que as modificações químicas da membrana

mitocondrial condicionada pela participação dos radicais livres são a chave mais

importante para explicar o processo de envelhecimento (GUIRRO & GUIRRO, 2002).

Com o envelhecimento cronológico cutâneo, ocorre a modificação do material genético

por meio de enzimas, alterações proteicas e a proliferação celular decresce.

Consequentemente, o tecido perde a elasticidade, a capacidade de regular as trocas

aquosas e a replicação do tecido se torna menos eficiente. Oxidações químicas e

enzimáticas envolvendo a formação de radicais livres aceleram esse fenômeno de

envelhecimento (HIRATA et al., 2004). Estes radicais caracterizam-se como átomos ou

moléculas com um ou mais elétrons não pareados em seu orbital mais externo,

tornando-se altamente instáveis tentando de qualquer forma se parear. Nessa tentativa

de se estabilizar, os radicais livres cedem ou retiram elétrons de átomos ou moléculas na

sua vizinhança tornando-os, por sua vez, em novos radicais livres, ocorrendo

verdadeiras cascatas oxidativas (ZANELLA et al., 2007).

Para Hirata (2004), a formação dos radicais livres conduzirá ao estresse oxidativo,

processo no qual estes iniciarão uma cadeia de reações, originando alterações em

proteínas extracelulares e a modificações celulares. O maior dano causado pelo estresse

oxidativo é a peroxidação dos ácidos graxos constituintes da dupla camada lipídica que,

em última instância, leva à morte celular. Para evitar esse processo de depleção celular,

a pele possui seu próprio mecanismo de defesa, tais como: enzimas, vitaminas e agentes

quelantes de íons metálicos. Entretanto, a capacidade protetora desse mecanismo

diminui com o envelhecimento.

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76

ISSN 1980-0894

5.2.7. Teoria Neuroendócrina

Para Mota (2004) essa é uma das teorias genéticas mais relevantes e constitui uma

hipótese alternativa para explicar a degeneração funcional associada à idade. A teoria

neuroendócrina tem como postulado que o envelhecimento resulta de modificações que

ocorrem em funções neurais e endócrinas. Essas funções buscam manter o organismo

em um estado "ótimo" para a reprodução e sobrevivência, sendo essenciais na

coordenação da comunicação intersistêmica e no controle das respostas dos sistemas

fisiológicos aos estímulos ambientais (TEIXEIRA & GUARIENTO, 2010). De acordo

com esta teoria, o nível de envelhecimento é o resultado do declínio de diversos

hormônios do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal que controlam o sistema reprodutor, o

metabolismo e outros aspectos do funcionamento normal de um organismo. Esta teoria

defende que a atividade do hipotálamo depende da expressão de genes específicos os

quais, independentemente da influência dos fatores estocásticos, alteram a sua expressão

com a idade (MOTA et al., 2004). Assim, a esta teoria considera que a incapacidade

fisiológica do organismo associada à idade pode ser explicada com base na alteração

hormonal resultante da modificação da expressão genética (TEIXEIRA, 2006).

5.2.8. Teoria do encurtamento dos telômeros

Os cromossomos extremos normais são constituídos por estruturas denominadas

telômeros que desempenham um importante papel no seu comportamento, como, por

exemplo, impedir a união entre os cromossomos (GAVA & ZANONI, 2005). A

duplicação cromossômica normal produz um progressivo encurtamento dos telômeros,

até que, depois de um número de divisões celulares, os cromossomos se tornam

instáveis e a célula morre. Para Mota (2004), a divisão estanque das teorias biológicas

do envelhecimento surge da necessidade de estudar, isoladamente, as causas do

fenômeno. No entanto, a inter-relação entre os processos biológicos do organismo é tão

próxima que esta separação das teorias nas condições genéticas e estocásticas do

envelhecimento biológico torna-se absurda. Considerando apenas as teorias genéticas, o

papel dos telômeros poderá explicar, por exemplo, o envelhecimento do sistema

reprodutor, que, por sua vez, interfere com o sistema neuroendócrino, com processos

anabólicos e catabólicos e, ainda, com a eficiência do sistema de defesa do organismo.

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5.3. Teorias estocásticas

As teorias estocásticas trabalham com a hipótese de que o envelhecimento

dependeria do acúmulo de agressões ambientais que atingem um nível incompatível

com a manutenção das funções orgânicas e da vida. Alguns exemplos são as correntes

que defendem a existência de mutações genéticas somáticas progressivas ou erros da

cadeia de síntese proteica em virtude da influência de radiação ou substâncias

específicas (FARINATTI, 2002).

5.3.1. Teoria das Mutações Somáticas

As moléculas de DNA e RNA alteram-se ao longo do tempo e, ao falharem, nos

processos de transcrição e tradução das mensagens, produzem consequentemente erros

nas moléculas proteicas. Esses erros sintetizariam enzimas defeituosas que afetariam a

capacidade funcional das células. Essa hipótese foi baseada em duas teorias: “mutação

somática” e “erro catástrofe”. Na “mutação somática”, a proposta é que o genoma

celular acumula “erros” por meio da ação de processos ao acaso, uma vez que as células

utilizam apenas 4% da informação contida em seu DNA durante seu período de vida. As

causas da mutação somática podem ser radiações, mutagênicos, radicais livres que se

originam do metabolismo e erros de transcrição (GAVA & ZANONI, 2005).

As radiações ionizantes têm sido utilizadas como um mecanismo indutor de

desequilíbrios homeostáticos que ativam os mecanismos de defesa e de reparação. Elas

induzem a quebra de ligações ou dimerização das pirimidinas adjacentes do DNA,

causando mutações que repercutem na síntese e funcionalidade das proteínas. O

aumento das lesões oxidativas do DNA nas células expostas a radiações ionizantes tem

também sido utilizado para explicar a influência do estresse oxidativo no fenômeno de

envelhecimento, um dos mecanismos que maior aceitação tem vindo a adquirir pela

comunidade científica para a compreensão deste fenômeno (MOTA et al., 2004).

5.3.2. Teoria do Erro-catástrofe

Esta teoria envolve a tradução na síntese de proteínas. Gava apud Hirai (1982)

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aponta que o processo de síntese proteica envolve como, por exemplo, a enzima

aminoacil-sintetase que liga o aminoácido ao RNA. Quando essa enzima funciona de

forma incorreta, pode surgir erros na estrutura primária das proteínas. Verificou-se a

presença de formas termolábeis de duas desidrogenases em fibroblastos antigos e

evidenciou uma alteração na estrutura primária dessas proteínas, sendo assim, diferentes

proteínas celulares podem acumular erros em diferentes proporções (GAVA &

ZANONI, 2005).

5.3.3. Teoria da Reparação do DNA

Pela Teoria da Reparação, as possibilidades de reparação do DNA diminuem à

medida que a idade avança (AGOSTINHO, 2004). De acordo com os autores desta

teoria, Hart e Setlow (1974), a velocidade de reparação do DNA é determinada pelo

tempo de vida dos indivíduos da mesma espécie ou de espécies diferentes. Estas

condições foram retiradas com base na constatação de diferentes velocidades de

fibroblastos de sete espécies de mamíferos, em cultura, expostos à luz ultravioleta

(TEIXEIRA, 2006).

Diversos estudos constataram uma perda progressiva da capacidade de reparação

do DNA lesado pelas radiações ionizantes, com a idade acompanhada por uma

diminuição da velocidade de remoção dos produtos da lesão do DNA. Vários fatores

podem estar na origem da acumulação de lesões do DNA. De fato, o aumento do

peróxido de hidrogênio originou uma acumulação de produtos da lesão oxidativa do

DNA que inibiram a reparação do N-acetoxi-2-acetilaminofluoreno, um indutor da

reparação do DNA, em leucócitos humanos (MOTA et al., 2004). Estes estudos

demonstraram que o estresse oxidativo pode ser um dos mecanismos responsáveis pelo

aumento da acumulação de moléculas de DNA danificadas com a idade, não só porque

interagiu diretamente com as mesmas, como também porque inibiu os mecanismos de

reparação das lesões.

A maioria dos estudos que testaram a alteração da capacidade de reparação do

DNA ao longo do envelhecimento utilizou células mitóticas em cultura. Neste tipo de

células, a capacidade de reparação do DNA diminuiu com a proximidade do término da

cultura. No entanto, nas culturas de células diferenciadas, provenientes de tecido

nervoso e muscular, a capacidade de reparação do DNA lesado pelas radiações

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ionizantes foi pouco alterada com a proximidade do fim da cultura (TEIXEIRA, 2006).

5.3.4. Teoria da Quebra de Ligações

O pressuposto de que a acumulação de proteínas modificadas pode levar à

incapacidade funcional da célula normal foi defendida por essa teoria, a quebra das

ligações das proteínas pela glicosilação pode ser uma das causas do fenômeno do

envelhecimento celular (NARDI, 2007).

Esta teoria teve origem na constatação de um aumento da quebra de ligações em

macromoléculas como o DNA, colágeno e elastina e com a idade, associado ao declínio

dos processos fisiológicos. A quebra de ligações das proteínas pela glicosilação pode ser

uma das causas do fenômeno de envelhecimento celular (FERREIRA et al., 2008).

5.3.5. Teoria da Glicosilação

A glicosilação proteica é uma reação pela qual açúcares reduzidos, como a

glicose, se fundem com proteínas através de uma reação não-enzimática (CASTRO,

2006). Esta reação, designada “Reação de Maillard”, resulta da ligação covalente entre

um grupo aldeído livre do açúcar com um grupo amina livre, da proteína. Além dos

grupos amina das proteínas, também os grupos amina das bases de DNA são alvos

potenciais de glicosilação (MOTA, 2004). A “Teoria da Glicosilação” sugere que a

modificação de proteínas pela glicose e a associação de reações de Maillard levam à

formação de ligações cruzadas graduais no colágeno que são características nos

indivíduos idosos. Esta teoria postula que as ligações cruzadas, causadas pelo elevado

nível de glicemia e de glicose tecidual, conduzem à deterioração estrutural e funcional

dos tecidos (NARDI, 2007). Com a idade, os níveis de glicose sanguínea aumentam e a

possibilidade de ocorrerem reações de glicosilação é maior (CASTRO, 2006).

5.3.6. Teoria do Estresse Oxidativo

Nesta teoria geralmente se verifica uma relação inversa entre o tempo médio de

vida de um organismo e a sua velocidade metabólica. Este fenômeno pode danificar

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todos os componentes celulares, incluindo o DNA mitocondrial e celular. Esse dano é

mais notável nas extremidades teloméricas de DNA nuclear, pois esta zona de DNA

possui menos mecanismos de reparação (NARDI, 2007). Mota (2004) considera que o

fenômeno de envelhecimento é o resultado da acumulação de lesões moleculares

provocadas pelas reações dos radicais livres nos componentes celulares ao longo da

vida, que conduzem à perda de funcionalidade e à doença com o aumento da idade,

conduzindo à morte.

A pergunta chave atual é se este estresse oxidativo tem um peso tão importante, a

ponto de explicar o fenômeno do envelhecimento. Não há até o momento evidências

consistentes. Os estudos dos últimos anos demonstram um comportamento heterogêneo

do sistema de defesa antioxidante em relação ao envelhecimento, ou seja, ao contrário

do esperado, não se observa, necessariamente, deficiência do sistema conforme a

espécie se envelhece (FERREIRA & MATSUBARA, 1997).

5.4. O que nos envelhece?

O envelhecimento cutâneo consiste em dois componentes principais: fatores

genéticos (cronoenvelhecimento ou envelhecimento intrínseco) e fatores ambientais ou

externos, principalmente a exposição solar (fotoenvelhecimento, envelhecimento

extrínseco ou actínico) (HARRIS, 2009), porém atualmente se sabe que os mecanismos

celulares e moleculares são os mesmos, ou seja, o fotoenvelhecimento nada mais é que a

superposição dos efeitos biológicos da radiação UVA e UVB sobre o envelhecimento

intrínseco (SAMPAIO, 2008).

A produção de radicais livres é um fenômeno que desequilibra o organismo, e

sabe-se hoje, está na raiz do envelhecimento (MACEDO, 2005).

Os estudos de qualidade de vida em pacientes com dermatoses apontam essa

variável como fortemente prejudicada na vida das pessoas com afecções de pele

(LUDWIG et al., 2006). O estresse faz parte da vida, e é essencial à sobrevivência. Ele

nos permite reagir ao perigo iminente ou criar defesas contra microrganismos

(ZIMMERMAM & GIAMPAPA, 2005). Sabe-se também que é um fator relacionado

com o surgimento e desenvolvimento de doenças. Muitos pesquisadores têm buscado

aprofundar os conhecimentos sobre a relação entre o estresse e as doenças de pele.

Rodriguez (2002) refere que extensos estudos indicam que o estresse emocional pode

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exacerbar alguns eventos, por exemplo, na psoríase (LUDWIG et al., 2006).

Na sociedade moderna a principal fonte de estresse é a pressa devido ao excesso

de compromissos e estímulos constantes. Isso nos leva à mudanças sutis, porém,

crônicas nos níveis hormonais, principalmente o cortisol. Os altos níveis de cortisol

estão diretamente relacionados com alguns importantes fatores do envelhecimento

como: diminuição do colágeno e da elastina e aparecimento de rugas, acne, psoríase,

seborréia e alopecia. O estresse é visto como um importante gerador de radicais livres,

já que nessas situações as mitocôndrias aumentam a produção de energia para manter as

moléculas envolvidas na reação (GIAMPAPA & ZIMMERMAN, 2005).

Os cofatores mais importantes para o envelhecimento precoce da pele são o fumo

e o sol (BAGATIN, 2008). A busca pelo bronzeado perfeito, o tom de pele que a

estilista Coco Chanel fez virar moda na década de 1920, é hoje, paradoxalmente, um

dos grandes inimigos da beleza (MACEDO, 2005).

A pele possui mecanismos de defesa, reações para protegê-la das radiações UV,

como: eritema, o bronzeado (produção de melanina) e a hiperqueratinização

(DELAPORTE & SANCHEZ, 2008). Outro mecanismo é a síntese de ácido urocânico,

um dos componentes do suor, a partir da desintegração da histidina e com capacidade

para absorver a radiação actínica. Isso acontece por meio de um sistema antioxidante

cutâneo, constituído por reações envolvendo superóxido desmutase, catalase, peroxidase

e redutase de glutationa, também por sofisticados meios de reparação e replicação de

DNA. Ainda assim, como resultado dessa exposição danosa, ocorrem várias alterações

de pele como ressecamento, efeitos carcinogênicos, perda de elasticidade e tônus.

(CORAZZA, 2005).

O tabagismo também provoca alterações na pele; entretanto, os mecanismos

fisiopatológicos destas alterações são complexos. A fumaça do cigarro contém mais de

4.000 substâncias tóxicas, mas é a nicotina o composto mais nocivo. Ela é responsável

pela vasoconstrição, que gera diminuição do fluxo sanguíneo, cujo mecanismo ainda é

desconhecido; porém acredita-se que a nicotina estimule a vasopressina. Além disso, o

fumo atua no sistema nervoso simpático, que também causa vasoconstrição. Esses

fatores, em conjunto, geram hipóxia tissular significativa, ou seja, um único cigarro

determina vasoconstrição cutânea por mais de 90 minutos. A isquemia crônica dos

tecidos gera lesão das fibras elásticas e diminuição da síntese do colágeno (SUEHARA

et al., 2006).

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A nicotina tem um potencial tóxico para alterar algumas funções tissulares em

consequência de sua disseminação por via hematógena e também de sua rápida absorção

pelos tecidos moles da cavidade oral ainda pela propriedade de adesão às superfícies

dentárias. Estudos in vitro mostraram que a nicotina em baixas concentrações tem

capacidade de influenciar a aderência e orientação de fibroblastos sobre superfícies

radiculares, diminuir a proliferação celular e inibir a produção de fosfatase alcalina,

fibronectina e colágeno (MARTINEZ et al., 2002).

A fumaça do tabaco gera uma grande quantidade de radicais livres, elementos

químicos que danificam as membranas das células, alteram as informações genéticas,

afetam os capilares da derme e epiderme, levando a uma disfunção endotelial que

compromete a irrigação e nutrição destes capilares pelo sangue. Oxidações químicas e

enzimáticas envolvendo a formação de radicais livres aceleram o fenômeno do

envelhecimento por danos ao DNA e por atuarem na desidrogenação, hidroxilação e na

glicação protéica. A última reação envolve a perda das funções biológicas de proteínas,

como o colágeno e proteoglicanas, que resultam em alterações da estrutura da

membrana e aumento da flacidez da pele (HIRATA et al., 2004).

6. Resultados e Discussão

Após a aplicação do questionário elaborado com os profissionais envolvidos,

resultou-se as seguintes porcentagens, referentes as 10 perguntas, como apontado no

gráfico 1:

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Gráfico 1: Porcentagens obtidas do questionário aplicado. Pergunta 1:

Cosméticos podem permear e atingir até a derme?; 2: Cosméticos podem

atuar através de comunicação celular?; 3: Cosméticos podem estimular a

síntese proteica?; 4: Cosméticos podem repor proteínas que deixam de ser

sintetizadas com eficiência?; 5: Cosméticos com células-tronco vegetais

podem estimular o aumento do número de fibroblastos?; 6: Cosméticos

podem proteger as células contra a ação dos radicais livres?; 7: Cosméticos

podem estimular a síntese de RNA?; 8: Cosméticos podem agir como enzimas

fisiológicas?; 9: Cosméticos podem estimular a síntese de telomerase?; 10:

Cosméticos podem proteger o DNA durante a mitose, evitando o

encurtamento dos telômeros?

Por meio da entrevista, pode-se observar que a maioria dos profissionais

concordaram que os cosméticos permeiam e atingem até a derme, podem atuar através

de comunicação celular, podem estimular a síntese proteica e podem proteger as células

contra a ação dos radicais livres. Por outro lado, discordaram que os cosméticos podem

repor proteínas que deixam de ser sintetizadas com eficiência, podem estimular a síntese

de RNA e podem agir como enzimas fisiológicas. Por fim, não souberam responder se

os cosméticos estimulam a síntese de telomerase e se podem proteger o DNA durante a

mitose, evitando o encurtamento dos telômeros.

78%

67%

78%

22% 22%

78%

22%

33%

0% 0%

33%

22%

67%

44% 44%

33% 33%

11% 0% 0%

11%

33%

11%

33%

22%

56% 56%

0% 0% 0% 0%

11%

0% 0% 0%

11% 11%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Sim

Não

Não sabe

Não respondeu

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Muitos profissionais acreditam que os produtos cosméticos permeiam através das

camadas da pele e, por fim, alcançando a derme. Uma das justificativas que sustentam

esta afirmação são as tecnologias cosméticas e conhecimentos científicos da pele e dos

ativos. Há inúmeros trabalhos que demonstram que os lipossomas e as nanosferas

estejam presente em regiões da junções derme-epidérmica e também próxima à derme

em função da estrutura e, por consequência, possibilitando maior permeação. O peso

molecular dos ativos podem também influenciar na permeação cutânea.

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), os

cosméticos devem atuar exclusivamente com ação tópica. Entretanto, 80% dos produtos

comercializados no mercado cosmético nacional e internacional são considerados

cosmecêuticos (COSTA, 2012).

Os profissionais afirmaram que atualmente há ativos cosméticos que interagem

com receptores sensoriais e neuroreceptores presentes na camada córnea. Segundo eles,

há literaturas que demostram a ação mediada por citocinas na região da tela subcutânea,

e desempenham a ação lipolítica por meio da ativação dos receptores beta.

A grande maioria afirmou que os ativos podem estimular a síntese proteica desde

que atinjam concentrações mínimas para a atividade e se presentes, em excesso, podem

inativar os efeitos. Quanto a reposição proteica, a maioria apontou que a possibilidade

de permeação não é possível uma vez que as proteínas são consideradas

macromoléculas.

Na área cosmética, outros estudos foram realizados com células-tronco vegetais

originárias da maçã Uttwiler spätlauber. Estes estudos mostraram uma melhora

significativa na qualidade da pele, melhora do turn over celular e redução de rugas

aparentes. O ativo também apresentou uma atividade protetora frente às agressões da

radiação UV nas células da epiderme. Em cultura de fibroblastos também revelaram um

potencial aumento no número de fibroblastos na derme. Ensaios in vitro nem sempre

correspondem os in vivo, sobretudo quando se tratam de estudos investigativos que diz

respeito à permeação cutânea.

Os antioxidantes são bastante conhecidos como forma de prevenir a oxidação dos

ativos presentes no produto e também neutralizar os radicais livres formados por via

endógena. A radiação solar potencializa a formação dos radicais livres e, por

consequência, causar efeitos nocivos na pele. A adição de vitaminas e antioxidantes de

origem vegetal são exemplos de ingredientes presentes em fotoprotetores e hidratantes.

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Os ativos cosméticos potencialmente podem regenerar por meio celular como, por

exemplo, peptídeos e ácido glicólico. Em nível celular, a ação e a resposta bioquímica

mais prováveis são os estímulos à síntese proteica.

As enzimas podem atuar de diferentes mecanismos, como cofatores enzimáticos,

agonistas ou antagonistas por meio de comunicação celular. Pode-se interpretar que ao

estimular uma enzima, este ativo age de forma similar e, teoricamente, isso é possível,

uma vez que o cosmético tenha os aminoácidos necessários, ocorrerá a síntese proteica.

Ainda há muitas dúvidas em relação aos cosméticos que podem estimular a

síntese de telomerase e que podem proteger o DNA durante a mitose, evitando o

encurtamento dos telômeros. Determinado profissional relatou a informação que há

atividades com fatores de crescimento e peptídeos, aplicados às áreas de cicatrização,

clareamento e envelhecimento, porém os estudos apontam mais para um efeito

medicamentoso do que cosmético.

7. Conclusão

O conhecimento de cada um em função da área de atuação no mercado e a

formação profissional leva a acreditar em uma ação distinta do que se propõe o produto

antienvelhecimento. Um dos motivos que se justifica é a ausência de publicações

científicas e, além disso, as empresas cosméticas detentoras da pesquisa e

desenvolvimento publicarem seus resultados confidencialmente.

8. Referências

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ISSN 1980-0894 Artigo, Vol. 8, n. 2, 2013

EMPRESA CERTIFICADA COM MANEJO FLORESTAL DO TIPO

PLANTAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO

CERTIFIED ENTERPRISE WITH PLANTATION FOREST

MANAGEMENT: A CASE STUDY

Susanna Erica Busch1

Helena Ribeiro2

RESUMO

Os desmatamentos ocorridos no Brasil ampliaram a percepção da sociedade sobre

os problemas ambientais deles advindos. Em virtude dessa conscientização, as empresas

madereiras têm enfrentado o desafio de demonstrar aos consumidores seus esforços de

reduzir os impactos socioambientais de suas operações. Como estratégia de melhoria da

imagem e de negócios, muitas empresas fornecedoras de madeira buscam a certificação

como forma de demonstrar sua responsabilidade socioambiental. Este estudo teve por

objetivo analisar uma empresa do setor florestal certificada, como estudo de caso, para

averiguar se o processo de certificação florestal de plantação tem apresentado resultados

positivos em relação ao meio ambiente e à responsabilidade social. Este estudo indicou

que a certificação de manejo florestal trouxe avanços em relação à mitigação dos

1 Doutora em Saúde Pública, área de Concentração Saúde Ambiental, pela Faculdade de Saúde Pública da

Universidade de São Paulo.Vinculo Institucional : Tecnologista Pleno do Ministério da Ciência Tecnologia e

Inovação (MCTi). Endereço autor principal.Esplanada dos Ministérios, Bloco E, sala 268 CEP: 70067-900, Brasília,

DF.E-mail: [email protected]

2 Geógrafa, Livre-Docente em Saúde Pública.Vinculo Institucional: Professor Titular da Faculdade de Saúde Pública

da Universidade de São Paulo.

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93

ISSN 1980-0894 Artigo, Vol. 8, n. 2, 2013

impactos das operações florestais sobre o meio ambiente, trabalhadores florestais e a

comunidade local.

Descritores: Desenvolvimento Sustentável, Responsabilidade Social e Ambiental,

Conservação e Manejo Florestal, Certificação Florestal, Forest Stewardship Council.

SUMMARY

Deforestation occurring in Brazil increased society's perception of environmental

problems arising from them. Because of this awareness, lumber companies faced the

challenge of demonstrating to consumers how they are reducing the environmental

impacts of their operations. As a means of marketing, many suppliers of certified wood

advertise themselves as practitioners of environmental responsibility. This study aimed

to analyze a certified forest company, as a case study, in order to verify if the process

brought environmental benefits and social responsibility. Results indicated that forest

management certification has brought advances in mitigating the impacts of forestry

operations on the environment, forest workers and local communities.

Descriptors: Sustainable Development, Environmental and Social Responsibility, Forest

Management and Conservation, Forest Certification, Forest Stewardship Council.

Introdução

A responsabilidade social empresarial tem se tornado um tema debatido e

propagado pela mídia global e brasileira. Com isso, ela vem adquirindo crescente

importância nas estratégias de negócios de uma empresa. A sociedade deseja que uma

empresa forneça não apenas qualidade, preço e cumprimento da legislação, mas que

ajude a equacionar os problemas socioambientais da atualidade (BUSCH; RIBEIRO,

2009).

Não é diferente para o setor florestal. Os inúmeros desmatamentos em nível

mundial e a falta de políticas públicas eficientes no setor geram uma crescente

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94

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preocupação em relação às florestas remanescentes e em como evitar sua destruição,

buscando-se alternativas que promovam o seu uso sustentável, principalmente porque o

consumo de madeira não está diminuindo e ainda não foi desenvolvido um produto

alternativo que supra todas as suas utilidades.

Uma das alternativas propostas, para minimizar os problemas socioambientais

decorrentes do corte de florestas, foi a criação da certificação florestal, política de

mercado voltada à promoção do manejo florestal sustentável. A obtenção da certificação

é uma atitude voluntária da empresa, que passa a ser auditada por uma empresa ou

auditor externo que utiliza os princípios e critérios do sistema de certificação escolhido

para averiguação se o manejo florestal atingiu o nível de performance exigido. Se sim, o

produto da empresa será etiquetado como proveniente de uma área com manejo florestal

sustentável. Se o monitoramento detectar falhas no sistema de manejo, emite-se uma

ação corretiva (Corrective Action Requested - CAR), com prazo determinado para seu

cumprimento. Há, também, a certificação da cadeia de custódia, que é o rastreamento da

madeira desde sua origem na plantação florestal até a venda ao consumidor final. Essas

certificações são complementares.

Existem diversos sistemas de certificação, no entanto, todos são compostos de

elementos básicos.

Os primeiros elementos são os padrões de certificação, documentos nos quais as

exigências de manejo florestal estão descritas. Essas exigências devem ser levadas em

conta na avaliação da certificação (OSINGA, 2004, p. 1; NUSSBAUM, SIMULA, 2005,

p. 15). O órgão central do sistema de certificação elabora esses padrões (NUSSBAUM,

SIMULA, 2005, p. 15). Os padrões podem variar de acordo com o sistema utilizado,

podem ser empregados em todo o sistema de certificação, como também, podem ser

desenvolvidos padrões específicos para determinada região ou país.

O segundo elemento é a certificação propriamente dita, que é o processo de

verificação se um padrão foi ou não atingido. Alguns sistemas de certificação utilizam

auditorias internas para a certificação (realizadas pela própria empresa), porém, os

sistemas mais rigorosos são aqueles que passam pela verificação de terceiros – as

empresas certificadoras (MEIDINGER et al., 2003, p. 7).

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Um elemento necessário nos sistemas avaliados por terceiros é a credibilidade

das certificadoras, que são organizações avaliadas pelo órgão central do sistema de

certificação ao qual aquelas pretendem se filiar, visando à averiguação de sua

competência em produzir resultados confiáveis.

O terceiro elemento é a etiquetagem com selo. Cada sistema de certificação

possui regras próprias de etiquetagem.

Cada ator social possui um diferente interesse na certificação florestal (Quadro1).

Quadro 1- Interesses na certificação florestal, de acordo com o ator social.

Ator social Interesse na certificação florestal

Empresa ou proprietário

Marketing ambiental, acesso a mercado e demonstrar um bom manejo florestal e responsabilidade social.

Compradores e consumidores

Prever informação sobre os impactos dos produtos que estão comprando

Governo Instrumento de uma política branda para promover o manejo florestal sustentável e padrões de consumo

sustentável.

Movimento ambientalista

Meio de influenciar forma de manejo das florestas para promover a manutenção da biodiversidade e a

diminuição das taxas de desmatamento.

Movimento social

Meio de verificar se as empresas florestais respeitam as normas internacionais trabalhistas da ITTO* e se estão oferecendo condições mínimas de saúde, segurança e de

trabalho a seus funcionários.

Fonte: adaptado de RAMETSTEINER, SIMULA, 2003

Sistemas de certificação florestal atuantes no Brasil

O primeiro sistema de certificação, criado em 1994, foi o Forest Stewardship

Council (FSC). O FSC é uma organização não governamental independente e sem fins

lucrativos, sediada em Bonn - Alemanha e integrada por ambientalistas, pesquisadores,

engenheiros florestais, empresários da indústria e comércio de produtos de origem

florestal, trabalhadores, comunidades indígenas e outros povos da floresta e instituições

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certificadoras de 113 países (FOREST STEWARDSHIP COUNCIL).

A missão do FSC internacional é promover o manejo florestal ambientalmente

correto, socialmente justo e economicamente viável em todo o mundo, através do uso de

critérios e princípios elaborados pela organização.

O FSC elabora os critérios da certificação. Ela acredita as certificadoras,

conferindo-lhes licença para auditarem operações florestais e para procederem à

certificação em seu nome. O FSC regularmente avalia a performance das certificadoras.

O FSC possui princípios internacionais (FOREST STEWARDSHIP COUNCIL),

porém os países participantes desse sistema de certificação são incentivados a criarem

seus próprios princípios. Com isso, os princípios internacionais são adaptados às

necessidades locais.

No Brasil, O FSC Brasil foi oficializado em 1996, sob a coordenação da

organização não governamental WWF-Brasil (Fundo Mundial da Preservação da

Natureza). Em setembro de 2001, tornou-se independente dessa organização, fundando o

FSC Brasil, em Brasília, sob o aval do FSC Internacional. O FSC Brasil é considerado

uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) (FOREST

STEWARDSHIP COUNCIL BRASIL).

O FSC possui princípios para florestas naturais, florestas plantadas e produtos

madereiros. Atualmente, o Brasil possui 7.277.980 hectares de área certificada, 96

certificados de manejo florestal e 985 certificados de cadeia de custódia (FOREST

STEWARDSHIP COUNCIL, 2013).

Para este estudo de caso foram utilizados os padrões vigentes na época para

florestas plantadas- os Padrões FSC para Plantações Florestais versão 8.0 (versão de

2004). Estes são compostos por dez princípios. Cada princípio possui critérios para sua

auto-avaliação e cada critério possui indicadores para demonstrar seu cumprimento. Em

2009, houve uma revisão dos padrões do tipo plantação em nível internacional, devido a

uma gama de interpretações controversas (FSC Brasil). Isto desencadeou a revisão dos

princípios e critério do FSC Internacional que está em andamento, sem ter sido ainda

finalizado (FOREST STEWARDSHIP COUNCIL).

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Um segundo sistema de certificação florestal é o Programme for Endorsement of

Forest Certification (PEFC), um dos sistemas de certificação alternativos em nível

mundial. O PEFC é uma organização sem fins lucrativos que promove a

sustentatibilidade florestal através da utilização de um sistema de certificação feito por

um terceiro. Foi fundada em 1999. Inicialmente, promovia o reconhecimento mútuo dos

diferentes sistemas de certificação florestal nacionais da Europa, entretanto, expandiu-se

e passou a fazer o reconhecimento mútuo entre sistemas de certificação mundiais. No

Brasil, o PEFC endossa o sistema de certificação Programa Brasileiro de Certificação

Florestal (CERFLOR).

Em 1996, a Sociedade Brasileira de Silvicultura (SBS), em parceria com algumas

associações do setor, instituições de ensino e pesquisa, organizações não governamentais

e com apoio de alguns órgãos do governo, criou o programa de certificação voluntária

Cerflor No entanto, esse programa só foi lançado oficialmente em 2002 (INSTITUTO

NACIONAL DE METROLOGIA).

O Instituto Nacional de Metrologia (INMETRO) é o órgão executivo central

deste sistema de certificação. É ele que acredita as certificadoras. O Conselho Nacional

de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial (CONMETRO) é o órgão que

estabelece as políticas desse sistema. A Associação Brasileira de Normas Técnicas

(ABNT) é uma organização sem fins lucrativos reconhecida pelo CONMETRO como

Fórum Nacional de Normatização. Desse modo, a ABNT é o organismo responsável

pela elaboração e revisão das normas, como também, é responsável pelo treinamento dos

auditores de manejo florestal e da cadeia de custódia. Esse programa possui uma

subcomissão técnica composta por representantes de diferentes categorias:

representantes do governo (órgãos regulamentadores da área ambiental e florestal, dos

trabalhadores, da indústria e comércio, e das relações exteriores), representantes do setor

produtivo (da área de silvicultura, de celulose e papel, de madeira sólida, de carvão

vegetal), representantes de consumidores (da sociedade civil organizada, de

organizações não governamentais ambientais e sociais, etc.) e representantes de

entidades neutras (de órgãos de pesquisa e academia, de entidade de normalização, de

trabalhadores).

Os padrões da certificação CERFLOR para o manejo de plantações florestais

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foram elaborados em 2002, e os para floresta natural, em 2004. Ambos foram aprovados

em setembro de 2005. Há, também, critérios para a certificação da cadeia de custódia. O

CERFLOR possui 1.658,37 hectares de área certificada, 20 certificados de manejo

florestal e 62 certificados de cadeia de custódia (INSTITUTO NACIONAL DE

METROLOGIA).

VIANA (2002) comparou os dois sistemas de certificação de manejo florestal para

plantações florestais atuantes no Brasil e seu resultado está no Quadro 2.

Quadro 2- Análise comparativa dos padrões do FSC e normas do CERFLOR para

avaliação de sistemas de bom manejo para plantações florestais no Brasil

Tema Forest Stewardship Council Associação Brasileira de Normas Técnicas

Cumprimento da legislação

Exige o cumprimento da legislação nacional e internacional. Especifica diversos instrumentos da norma internacional (exemplo: CITES).

Especifica diversas exigências específicas (exemplo: Reserva Legal) Exige compromisso formal de adesão aos Princípios e Critérios.

Exige o cumprimento da legislação nacional pertinente.

Resolução de conflitos sociais

Exige evidências de ação objetiva e ágil para resolução de conflitos. Conflitos substanciais devem desqualificar para a certificação.

Exige evidências de ação efetiva para resolução de conflitos.

Respeito aos direitos legais das comunidades locais

Exige o cumprimento da legislação no respeito aos direitos legais e tradicionais sem qualificar os usos como predatórios ou não. Determina o controle das operações florestais pelas comunidades locais na medida do necessário para proteger os direitos.

Exige o cumprimento da legislação no respeito aos direitos legais e usos tradicionais não predatórios (não especifica quem deve fazer este julgamento nem como isso deve ser feito).

Respeito aos direitos legais das comunidades indígenas

Define princípios, critérios e indicadores específicos para comunidades indígenas. Determina o respeito e negociação direta quando a atividade florestal ocorrer em área adjacente à unidade de manejo florestal. Determina a recompensa pelo

Não distingue comunidades indígenas de comunidades locais. Não especifica o respeito aos direitos comunitários.

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uso de conhecimentos tradicionais.

Tema Forest Stewardship Council Associação Brasileira de Normas Técnicas

Plano de Manejo Exige um plano de manejo florestal atualizado e disponível para consulta pública e de mecanismos para a população local esclarecer dúvidas a esse respeito.

Exige um plano de manejo atualizado

Impactos ambientais

Exige caracterizar, analisar e estabelecer medidas para evitar ou minimizar impactos ambientais negativos na unidade de manejo florestal e na paisagem do entorno. Especifica estudos de flora, fauna, espeleologia, arqueologia e cultura. Limita o uso de corte raso em escala de microbacias.

Exige caracterizar, analisar e estabelecer medidas para evitar ou minimizar impactos ambientais negativos na unidade de manejo florestal. Não especifica abrangência e o escopo

Espécies ameaçadas de extinção

Exige o mapeamento, demarcação e restrição de acesso na área de ocorrências, listagem de espécies endêmicas e/ou ameaçadas de extinção, ações para impedir impactos de operações florestais, educação de trabalhadores e comunidade de entorno a esse respeito entre outros.

Exige o mapeamento, demarcação e restrição de acesso nas áreas de ocorrências.

Conversão de ecossistemas nativos em plantações

Impede a conversão de ecossistemas nativos em plantações, exceto quando representar uma porção muito limitada da unidade de manejo florestal, não ocorrer em áreas de alto valor para a conservação e quando resultar em benefícios de conservação claros, substâncias e adicionais. Áreas desmatadas após novembro de 1994 não podem ser certificadas, salvo quando o produtor não estiver direta ou indiretamente relacionado com a conversão.

Exige o cumprimento da legislação vigente.

Produtos químicos Determina ações para evitar uso de Exige procedimentos que

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para controle de pragas, doenças, e espécies vegetais invasoras

produtos químicos. Proíbe o uso de pesticidas classificados pela Organização Mundial de Saúde como tipo 1A e 1B e pesticidas à base de hidrocarbonetos clorados, entre outros. Determina a implantação de um programa de controle biológico de pragas.

visem minimizar o uso, sem definir horizontes de tempo nem qualidade dos produtos permitidos ou proibidos.

Florestas de alto valor de conservação

Define o conceito e estabelece princípio, critérios e indicadores. Condiciona a certificação à adoção de medidas para a proteção de florestas de alto valor de conservação.

Não define conceito de indicadores.

Material genético Exclui a possibilidade de uso de organismos geneticamente modificados. Sugere a utilização de clones, procedências e/ou espécies diversificadas. Determina cuidados especiais no uso de espécies exóticas.

Exige que a introdução de material genético, incluindo organismos geneticamente modificados, deva ser feita de acordo com as leis de biosegurança.

Fonte: VIANA 2002, p. 52 a 55

Objetivo

O presente artigo descreve resultados de pesquisa que teve como objetivo analisar

empresa do setor florestal de plantação certificada no Brasil, como um estudo de caso,

de forma a analisar seu processo de certificação e recertificação e os resultados

decorrentes, em termos de proteção ambiental e responsabilidade social. A empresa

objeto da pesquisa utilizou os principios e padrões do sistema de certificação de manejo

florestal do tipo plantação do FSC.

Justificativa

Os estudos de caso representam a estratégia preferida quando se encontram

questões do tipo “como” e “por que”, quando o pesquisador tem pouco controle sobre

os acontecimentos e quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos

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inseridos em algum contexto da vida real (YIN, 2005, p. 19), como é o caso da

certificação florestal.

Há poucos estudos sobre certificação florestal no Brasil. O programa foi descrito,

demonstrado como vinha sendo avaliado e como era percebido pelos diferentes atores

sociais envolvidos. Foram contatadas todas as empresas do setor florestal de plantação

certificadas nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, mas só uma concordou com a

realização da pesquisa.

Metodologia

Seleção da empresa

A lista de empresas com certificação florestal foi obtida do site do Forest

Stewardship Council Brasil (FSC Brasil). Em maio de 2005, existiam 53 certificados de

manejo florestal. Optou-se por empresas fornecedoras de madeira certificada do tipo

plantação e nas regiões sudeste e sul do país, onde há maior número de empresas e para

garantir a viabilidade econômica e de tempo para a execução da pesquisa no âmbito de

tese de doutorado. O critério de seleção da empresa constituiu em sua permissão (termo

de consentimento por escrito) para a realização da pesquisa em seu estabelecimento.

Atendendo à exigência da empresa, foi acordado que seu nome não seria revelado

(BUSCH, 2008).

Coleta de dados

Foram utilizadas as seguintes técnicas para a coleta de dados (BUSCH, 2008):

1) Entrevistas semi-estruturadas gravadas em fita cassete e posteriormente

transcritas com os diferentes atores sociais: funcionários, administrador da empresa,

chefes dos departamentos envolvidos no processo de certificação, organizações não

governamentais participantes, prestadores de serviço e órgão ambiental. Os

entrevistados possuíam a liberdade de não serem identificados, se assim solicitassem ou

se a empresa não permitisse suas identificações. Foi garantido que os entrevistados

poderiam a qualquer tempo, modificar, solicitar informações, ter acesso ao material

transcrito, suspender e/ou desistir da pesquisa, sem qualquer tipo de constrangimento

pessoal ou profissional. Foram realizadas entrevista com o administrador da empresa,

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com o chefe do departamento ambiental, com o chefe do departamento de segurança do

trabalho, com dezessete funcionários da organização e das empresas terceirizadas

prestadoras de serviço, com um representante do órgão ambiental e com nove membros

da comunidade local.

2) Visitas às instalações da empresa e análise dos documentos relativos à

certificação e recertificações. Duas etapas de trabalho de campo foram efetuadas na

empresa, em 2005 e 2007. Três dos onze parques de propriedade/posse da empresa

foram percorridos. O plano de manejo florestal, o plano de gestão ambiental e o resumo

público da certificação florestal da empresa foram acessados e estudados nestas

ocasiões. O acesso ao relatório integral da avaliação da certificação de manejo florestal

não foi permitido por conter dados confidenciais. Os resumos públicos de certificação

florestal da empresa mais recentes foram empregados para a atualização das

informações.

Caracterização da empresa

Trata-se de uma empresa privada internacional de grande porte, fabricante de

lápis, material para escritórios, pintura e desenho, e produtos cosméticos. A empresa

possuía duas unidades fabris no Estado de São Paulo e uma unidade de manejo florestal

de plantações certificadas no Estado de Minas Gerais, na microrregião de Uberlândia. A

empresa gerava 300 empregos diretos em sua indústria e 75 empregos indiretos na área

florestal.

A empresa instalou-se em Minas Gerais, em 1989, com o objetivo de produzir

madeira para lápis proveniente de madeira de reflorestamentos. Esta região foi escolhida

devido à sua localização estratégica em relação às unidades fabris do Estado de São

Paulo e pelo baixo preço das terras. A espécie Pinus caribaea var. hondurenses foi

selecionada em razão da adaptação à região e das boas características de desempenho na

fabricação de lápis.

A unidade de manejo era composta por um escritório, uma serraria que abastecia

as unidades fabris e onze parques florestais inseridos no Bioma Cerrado, um dos

hotspots mundiais (MYERS et al., 2000). Os parques possuíam área total de 9.494

hectares, sendo 6.687 hectares compostos de plantações de Pinus caribea var.

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hondurensis. Cerca de 65 % da área total explorada pela empresa era própria e 35% era

arrendada. Os plantios foram realizados em anos sucessivos entre 1989 e 1999,

certificados em 1999 e recertificados em 2004 e 2009. A área 9, de 1.324,46 ha, é

considerada uma Área de Alto Valor de Conservação3 por apresentar remanescentes de

vegetação nativa do Bioma Cerrado com diferentes fitofisionomias, importantes

nascentes e fauna diversificada, algumas com problemas de conservação. A área 11, de

506,77 ha, é uma Reserva Legal (RL) (RESUMO PÚBLICO, 2013).

A caracterização das áreas dos parques florestais está no Quadro 3.

Quadro 3 Caracterização das Áreas dos Parques Florestais da empresa em

hectares

Parques florestais

Área total (ha)

Área de plantio de Pinus (ha)

Posse e uso

1 1.732,94 1.376,10 Própria

2 762,35 619,00 Arrendada

3 774,98 652,50 Arrendada

4 604,19 495,90 Arrendada

5 549,73 335,70 Arrendada

6 1.533,95 1.135,80 Própria

7 627,41 479,50 Arrendada

8 942,47 612,80 Própria

9 1.324,46 913,90 Própria

10 135,08 65,69 Própria

11 506,77 ausente Própria

total 9.494,33 6.686,89

Fonte: PLANO DE GESTÃO AMBIENTAL DA EMPRESA, 2007

3 áreas que apresentam relevante significado e valor ambiental e social, podendo ser florestas ou partes delas que são criticamente importantes ou que têm uma importância extraordinária – em nível, local, regional, nacional ou global.

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Em 2005, o Departamento de Meio Ambiente era composto de poucos

funcionários. Os trabalhadores florestais menos especializados e os vigilantes da área

florestal eram terceirizados.

Os parâmetros utilizados, em 1999, para certificação florestal da empresa foram

os critérios do Programa de Conservação Florestal da Scientific Certification Systems

(SCS). Para a recertificação, em 2004, os princípios e critérios para plantações florestais

do FSC Brasil – versão 8.0, e, em 2009, os princípios e critérios para plantações

florestais do FSC Brasil – versão 9.0.

Resultados

Dimensão ambiental

O preparo do solo para o plantio respeitava as condições locais de tipo de solo,

declividade e fragilidade. Eram utilizadas técnicas de conservação como o “cultivo-

mínimo”, o alinhamento em curvas de nível e a construção de barreiras de contenção de

enxurradas. Somente a linha de plantio era revolvida e descompactada, promovendo o

desenvolvimento das mudas. O uso do fogo para a eliminação de resíduos da cultura

anterior era evitado.

Tratos silviculturais eram executados para que a madeira da plantação florestal

atendesse às propriedades pré-determinadas para a fabricação da tábua de lápis da

empresa: maior diâmetro das peças (toras); maior volume individual (por árvore) e ser

livre de nós. Porém, a certificadora estimou que o método empregado (desgalhamento)

não estava sendo eficiente e que deveria ser reavaliado. Em 2007, a empresa contratou

um consultor que sugeriu as modificações necessárias4.

Até 2001, a empresa realizava o desbaste sistemático. No entanto, como

recomendação da certificadora, a empresa passou a adotar o desbaste seletivo – a

retirada de árvores que não possuíam as propriedades pré-estabelecidas para a

4 Para minimizar resíduos de madeira, o comprimento de tora adotado pela empresa foi modificado para 2,40 m. Foi também realizado o detalhamento das melhores ferramentas a serem empregadas nesse desgalhamento. A primeira intervenção é realizada no segundo ano de idade da árvore, quando 50% da copa verde é retirada, e uma segunda intervenção, no quarto ano (a árvore deve ter no mínimo três metros de altura). Se a empresa desejar uma segunda tora da mesma árvore, ela deve realizar um desbaste na área e uma terceira poda nas árvores remanescentes (7°- 8° ano), sendo que a poda não pode ser maior que 50 % da copa.

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fabricação de lápis. Esta madeira era enviada para o mercado da biomassa e chapas

articuladas. Os galhos, as ponteiras e as acículas eram deixados no solo para a proteção

e ciclagem de nutrientes.

Uma empresa certificada deve buscar e desenvolver estudos sobre o uso de

espécies alternativas típicas da região para a fabricação de seu produto. A empresa havia

implantado um talhão experimental com a espécie nativa morototó (Didymopanax

morototoni), que possuía rápido crescimento e boa qualidade industrial para a

fabricação do lápis, entretanto, era suscetível às pragas e doenças.

Ações corretivas foram apontadas durante a certificação e recertificações da

empresa visando à melhoria do manejo florestal de suas plantações.

Em 1999, a empresa não apresentava um departamento ambiental próprio. Como

ação corretiva da certificação, esta deveria compor seu quadro funcional na área

ambiental; e seu corpo técnico deveria participar de treinamentos. No ano seguinte,

contratou um engenheiro florestal para a área de meio ambiente e inventário, e seus

funcionários receberam treinamentos sobre legislação ambiental e sobre a elaboração de

projetos de educação ambiental.

Outra ação corretiva advinda da certificação foi a elaboração e implementação da

Política Ambiental da Empresa na região, documento no qual a organização apontou

suas metas de curto, médio e longo prazo, e onde explicitou o seu plano quinquenal de

investimentos com a identificação dos projetos prioritários, dos mecanismos de parceria

e da proposta de articulações das ações em desenvolvimento.

A empresa também elaborou o seu Plano de Manejo Florestal, documento no qual

descreveu para a sociedade como eram efetuadas suas operações e o manejo de suas

plantações, e onde esta comunicou seu compromisso com os princípios e critérios da

certificação de manejo florestal do FSC Brasil.

Até 2001, a empresa usava motoniveladoras para a manutenção das estradas e

aceiros, o que provocava a compactação do solo. Como ação corretiva, a organização

passou a empregar métodos menos impactantes como a roçada mecânica e a capina

química pós-emergente.

Estudos ambientais são importantes para que uma empresa conheça o meio

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ambiente onde está inserida, minimize e monitore os impactos de suas operações. Os

resultados destes estudos devem ser incorporados ao plano de manejo da empresa.

Em relação à flora, a empresa realizou um mapeamento qualitativo de suas Áreas

de Preservação Permanente (APPs) e de Reserva Legal (RL) com o objetivo da

classificação da sua fitofisionômia, do estabelecimento da composição florística e do

grau de integridade das espécies presentes. Estudos sobre a fragmentação do habitat

também estavam inclusos.

Ao comprar ou arrendar propriedades, a empresa buscou áreas de pastagens ou de

reforma, sem vocação agrícola e que se localizassem em áreas descontínuas, visando à

diminuição do impacto socioambiental da implantação de suas áreas de manejo. No

entanto, esta não avaliou as irregularidades ambientais das terras adquiridas, e com isso,

teve que restaurar as APPs e RL em dois de seus parques florestais. Durante a

recertificação, em 2004, foi exigida uma nova ação corretiva por apresentar APPs e RL

localizadas erroneamente. Como consequência, a empresa formulou um plano de

adequação ambiental para cada parque florestal, com o respectivo programa de

restauração das áreas degradadas.

Em 2009, foi verificado que espécies exóticas estavam invadindo as APPs e RLs.

Um plano de adequação ambiental teve que ser realizado (RESUMO PÚBLICO, 2010)

Em 1992, a organização iniciou alguns estudos de fauna. Todavia, a partir de

2002, ela passou a realizar o inventário e monitoramento da mastofauna, avifauna,

herpetofauna e entomofauna em todos os seus parques florestais. Na recertificação de

2004, uma das ações corretivas exigidas foi que a empresa deveria implementar

corredores ecológicos. Isto ocorreu em 2009 (RESUMO PÚBLICO, 2010).

Na certificação, foram solicitadas ações corretivas em relação ao solo: exigiu-se a

elaboração e implementação de um programa de controle de erosões, como também, a

demarcação, o mapeamento, a caracterização e o tratamento específico destas áreas. Em

2007, a empresa construiu e reformou seus camalhões e instalou caixas de retenção nas

saídas de água para as APPs e RL, e em áreas internas dos plantios de Pinus onde havia

maior declividade, de modo a evitar o processo erosivo e o assoreamento dos cursos

d’água, nascentes e veredas.

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Como consequência da localização incorreta de suas APPs, a empresa deveria

readequar parte de sua malha viária. A densidade viária, a classes de solos e as

distâncias de transporte da madeira deveriam ser consideradas no planejamento das

novas estradas. Sua construção ocorreria na época de colheita da madeira.

O plano de colheita da madeira previa o corte raso aos 18 anos, no entanto, por

questões econômicas, este foi estendido para ser executado aos 25 anos (RESUMO

PÚBLICO, 2010).

Na recertificação de 2004 foi exigido que a empresa definisse um plano de gestão

de recursos hídricos (qualitativo e quantitativo) em seus principais parques florestais.

Desde 1999, uma empresa de consultoria vinha executando o monitoramento qualitativo

e, a partir de 2004, iniciou também a análise quantitativa dos cursos d’água. Aliado a

esse projeto, em 2005, a empresa se integrou ao Sistema Integrado de Preservação de

Mananciais (SIPAM), desenvolvido pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais

(COPASA).

Uma das ações corretivas exigidas na recertificação de 2004 foi a elaboração de

uma matriz de impactos potenciais e medidas mitigatórias de suas operações florestais

(Quadro 4) para que esta planejasse a melhor técnica e ferramenta a ser empregada em

suas operações.

Quadro 4- Matriz de impactos potenciais e medidas mitigadoras das operações da

empresa:

Impactos potenciais

Elementos Medidas mitigatórias

-Depreciação da qualidade do ar.

Ar -Usar combustível de qualidade e fazer constante manutenção das máquinas utilizadas, além de treinar os operários para a execução de tarefas.

-Assoreamento. -Depreciação da qualidade química da água superficial e subsuperficial. -Desregularização da vazão.

Água -Recolher as embalagens vazias para não poluir o meio ambiente. -Verificar e corrigir vazamentos nos equipamentos. -Utilizar dosagem recomendada para aplicação de produtos químicos. -Buscar sempre a redução do uso de agroquímico. -Aferir os equipamentos de aplicação de agroquímicos. -Não lavar implementos em locais próximos, ou nos cursos d’água, evitando assim a poluição e contaminação do meio ambiente. -Usar sempre produtos aprovados pelos Órgãos

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Governamentais para uso em plantio de árvores. -Ter cuidados no recebimento, armazenagem e transporte até o local de aplicação dos agroquímicos. -Verificar as condições de clima no dia da aplicação de produtos químicos.

Impactos potenciais

Elementos Medidas mitigatórias

-Compactação. -Erosão. -Alterações na microflora e microfauna do solo.

Solo -Utilizar dosagem recomendada para aplicação de produtos químicos. -Buscar sempre a redução do uso de agroquímico. -Aferir os equipamentos de aplicação de agroquímicos. -Realizar a subsolagem em nível, evitando a ocorrência de erosões. -Realizar plantios em níveis. -Realizar plantio em cultivo mínimo. -Deixar as ervas daninhas cortadas na área da capina, evitando a ação direta do sol, vento e chuvas que causam erosões.

-Diminuição da diversidade. -Redução dos habitats. -Danos ao banco de propágulos.

Flora Terrestre

-Realizar plantio em cultivo mínimo. -Manter os galhos podados dentro dos talhões, para promover a reciclagem de nutrientes minerais e matéria orgânica no solo e como eventual coadjuvante para o surgimento de insetos e organismos decompositores, favorecendo maior diversidade de seres vivos e novas cadeias alimentares. -Implantar parques em áreas descontínuas.

-Comprometimento da vida aquática.

Flora Aquática

- Recolher as embalagens vazias para não poluir o meio ambiente. -Buscar sempre a redução do uso de agroquímico. -Aferir os equipamentos de aplicação de agroquímicos. -Utilizar dosagem recomendada para aplicação de produtos químicos.

-Afugentamento da fauna silvestre. -Comprometimento da fauna.

Fauna Terrestre

-Utilizar dosagem recomendada para aplicação de produtos químicos. -Aferir os equipamentos de aplicação de agroquímicos. -Manter todos os galhos com ninhos ativos e colmeias. -Manter os galhos podados dentro dos talhões para promover a reciclagem de nutrientes minerais e matéria orgânica no solo e como eventual coadjuvante para o surgimento de insetos e organismos decompositores, favorecendo maior diversidade de seres vivos e novas cadeias alimentares. -Parques implantados em áreas descontínuas.

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-Comprometimento da vida aquática.

Fauna Aquática

-Utilizar a dosagem recomendada para aplicação de produtos químicos. -Aplicar formicidas em sacos biodegradáveis.

-Artificialização da paisagem. -Impacto visual.

Paisagem -Implantar parques em áreas descontínuas. -Preservar corredores ecológicos (áreas de preservação permanente).

-Alteração na estrutura fundiária.

Estrutura Fundiária

-Implantar parques em áreas descontínuas. -Priorizar geração de emprego para a região.

-Êxodo Rural. -Geração de emprego e renda. -Geração de impostos municipais, estaduais e federais. -Dinamização da economia local.

Desenvolvimento Regional

-Priorizar geração de emprego para a região.

Fonte: ARAÚJO 2005, p. 74-76.

Uma das ações corretivas exigidas, na recertificação de 2004, foi a elaboração de

um Plano de Gestão Ambiental, documento no qual todos os programas ambientais da

empresa deveriam estar integrados. A coleta de dados dos estudos ambientais vinha

sendo executada, todavia, não havia sido realizada a coesão desses dados no contexto da

colheita das plantações florestais. Outra ação corretiva exigida, na recertificação de

2004, foi a implementação de um Sistema de Informação Geográfica (SIG) que

incorporasse o banco de dados ambientais. Em 2007, a empresa adquiriu o SIG Arcview

e, em 2009, o banco de dados foi incorporado, possibilitando a produção de mapas de

cada parque, facilitando o acompanhamento e o controle das variáveis ambientais

(RESUMO PÚBLICO, 2010).

Outra das ações corretivas exigidas na recertificação de 2004 foi que a empresa

deveria realizar estudos que promovessem a diminuição do uso de pesticidas. A

empresa passou a utilizar pesticidas de baixa toxicidade. Suas embalagens eram

recolhidas e encaminhadas ao seu fabricante. Os trabalhadores recebiam treinamento

quanto à aplicação e utilizavam equipamentos de proteção individual. Por

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recomendação da certificadora, a empresa divulgou-os para os seus vizinhos (Quadro

5).

Quadro 5- Pesticidas utilizados pela empresa

Nome Técnico Finalidade

Cupinicida (Neonicotinóide) Controle de cupim

Herbicida (Glifosate) Controle das ervas daninhas

Formicida (Sulfluramida) Controle de formigas

Fonte: Carta enviada aos vizinhos da empresa

A prevenção de incêndios era realizada da seguinte maneira: através de sistemas

de vigilância e procedimentos no caso de incêndio.

O sistema de vigilância das áreas florestais era realizado através da observação

realizada em duas torres de 30 m de altura instaladas em locais estratégicos, e através de

vigilância terrestre feita por motociclistas. No entanto, não havia o mapeamento de

locais potencialmente vulneráveis à ocorrência de atividades ilegais.

Diariamente era calculado o índice de perigo de incêndio e sempre que necessário,

havia a manutenção das estradas e aceiros. A empresa possuía um caminhão-bombeiro

com capacidade para oito mil litros de água. Os pontos de captação de água estavam

definidos e, a partir de 2009, passaram a ser sinalizados (RESUMO PÚBLICO, 2010).

A empresa possuía equipes de combate a incêndios treinadas e havia procedimentos a

serem seguidos no caso da ocorrência de um incêndio.

A empresa também cadastrou os vizinhos de todas as suas propriedades e

divulgou um telefone 0800 como um canal de contato e para avisar sobre a ocorrência

de incêndio.

Em 2005 foi verificado junto ao Instituto Estadual de Florestas (IEF) do

município, não havia nenhum protesto contra a empresa. Em 2009, também não havia

pendências administrativas ou jurídicas contra a empresa (RESUMO PÚBLICO, 2010).

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Dimensão social

Aspectos trabalhistas

Havia uma empresa terceirizada prestadora de serviços à empresa analisada. Ela

era especializada em serviços florestais e possuía uma unidade de manejo florestal de

plantações com o selo do FSC. No entanto, o treinamento dos funcionários era feito no

local.

Para avaliar a segurança de trabalho na empresa terceirizada, eram realizadas

inspeções nas frentes de trabalho de forma programada e não programada.

Os funcionários da área florestal não pernoitavam na área de trabalho, sendo

transportados diariamente por ônibus ou caminhão baú. Este último possuía gavetas

externas para a colocação dos equipamentos, compartimento para a colocação de óleo

diesel e outros combustíveis, e havia outras gavetas para colocação de marmitas e

garrafas de água. Com isso, no caso de um acidente, os equipamentos e alimentos não

entrariam em contato com seus passageiros.

A organização dava prioridade de emprego à comunidade local, só contratava

maiores de idade e relatava não haver nenhum tipo de discriminação. Uma empresa de

consultoria realizava os exames admissionais e periódicos, monitorando a saúde do

trabalhador florestal.

A empresa terceirizada realizava treinamentos sobre prevenção de acidentes,

primeiros socorros, saúde ocupacional, ergonomia, equipamentos de proteção individual

e legislação ambiental. Temas de educação ambiental também eram abordados.

Na palestra inaugural dos trabalhadores era informado que a empresa possuía a

certificação de manejo florestal e qual era o seu significado. Porém, este treinamento

não era totalmente eficaz. Quinze, entre dezessete trabalhadores entrevistados,

acreditavam que a certificação de manejo florestal versava exclusivamente sobre

elementos ambientais.

A empresa terceirizada somente oferecia melhoria ao acesso educacional de

funcionários de cargos de confiança, pagando 50% do valor do custo do curso.

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Havia, também, grandes disparidades entre os planos de saúde e odontológicos

oferecidos aos funcionários da empresa e os terceirizados. Por isso, uma das ações

corretivas exigidas para a recertificação de 2004 foi a melhoria da cobertura dos planos

citados para os terceirizados, que passaram a recebê-los a partir de 2005.

A sindicalização dos trabalhadores das empresas prestadoras de serviço foi uma

ação corretiva exigida para a recertificação de 2004. O acordo entre o sindicato de

trabalhadores rurais do município e da empresa terceirizada era o primeiro da região. No

entanto, somente alguns trabalhadores estavam filiados ao sindicato dos trabalhadores

rurais do município. A empresa deveria exigir da organização terceirizada o

esclarecimento aos trabalhadores quanto aos benefícios de ser um empregado

sindicalizado e quanto à forma pela qual o sindicato pode garantir que os direitos da

classe trabalhadora rural sejam respeitados.

A maioria dos trabalhadores achava que seu o salário era compatível com os da

região.

A política de demissões da empresa terceirizada variava de acordo com o

cronograma das operações florestais. Para diminuir o número de demissões em períodos

de baixa atividade, iniciou a prestação de serviços para outras empresas da região. Caso

houvesse a necessidade de demissões, no ano seguinte, a empresa terceirizada

contratava preferencialmente ex-funcionários. Três funcionários entrevistados haviam

sido demitidos e recontratados.

Todos os controladores patrimoniais da empresa pertenciam à comunidade do

município e possuíam curso de vigilante particular. A empresa oferecia-lhes

treinamentos sobre certificação florestal, educação ambiental, leis ambientais e uso dos

equipamentos de proteção individual (EPI).

Cada vigilante patrimonial era contratado por um período de seis meses,

podendo, indefinidamente, haver renovação por períodos iguais. Este tipo de contrato

oferecia instabilidade de emprego. Na época de seca, devido à maior probabilidade de

ocorrência de incêndio, a empresa contratava um maior número de vigilantes, enquanto

que, na época de chuvas, decrescia o número de contratações.

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Ações para a comunidade

Os projetos sociais da empresa eram voltados para o público infantil.

Em 1999, uma das ações corretivas exigidas era que a empresa deveria

apresentar programas de educação ambiental com seus trabalhadores e com a

comunidade do município onde está inserida. Em 2000, a organização contratou uma

empresa de consultoria para promover um treinamento de “Conscientização Ambiental”

do qual participaram funcionários da organização e das empresas prestadoras de serviço,

educadores da rede pública e particular e produtores rurais da região.

Em 2001, a empresa realizou uma parceria com a Secretaria de Educação e

Cultura do município e promoveu o “I Simpósio de Educação Ambiental do Município”

com a apresentação de trabalhos das escolas participantes. Esse Seminário passou a ser

promovido anualmente, sempre com um tema diferente A empresa realizava gincanas

entre as escolas e as melhores eram premiadas.

A empresa auxiliou no estabelecimento da primeira organização não

governamental (ONG) do município, que foi fundada em 2003, doando 75 mil reais

para a compra de equipamentos e melhoria de sua estrutura física. Entre seus projetos,

destacava-se o Projeto Tijolo Ecológico que visava a ajudar as famílias carentes na

fabricação de tijolos destinados à construção de suas próprias residências5, e o

desenvolvimento de cursos de capacitação e atividades com crianças e adolescentes.

Em 2005, a empresa realizou a reforma da creche municipal da cidade que

apresentava condições precárias. Com isso, as funcionárias e a comunidade passaram a

utilizá-la mais.

Foram entrevistadas, em 2005, nove pessoas da comunidade urbana do

município6. Foi mencionado nas respostas que a empresa priorizava a contratação de

5 A prefeitura do município fornece o terreno para a família, que, com a ajuda de uma máquina de fabricação de tijolos, constrói sua própria casa.

6 Foram três professores da rede estadual e municipal, a agente de desenvolvimento rural do município, duas pessoas relacionadas à creche municipal, a secretária de educação da cidade, a agente de desenvolvimento cooperativo e a economista do sindicado rural do município.

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mão de obra local, que incentivava o desenvolvimento educacional de seus funcionários

e que havia trazido um aprimoramento cultural, educacional e ambiental para o

município, sendo a pioneira na divulgação da conscientização ambiental.

Somente dois entrevistados sabiam o que era certificação florestal e que o plano

de manejo da empresa poderia ser consultado. Em 2008, a empresa, como ação corretiva

da recertificação de 2004, fez um folder sobre a certificação e sobre o resumo de seu

plano de manejo e distribuiu na sede do município.

Em setembro de 2007, como ação corretiva, a empresa iniciou um programa de

educação ambiental com os produtores rurais do entorno dos parques florestais para

diagnóstico de como trabalhar conjuntamente e para a averiguação se havia algum

impacto de suas operações florestais sobre as propriedades vizinhas.

Em 2009, foi observado que a empresa não realizava estudos sobre a relevância

histórico-arqueológica da região e não fazia referência ao importante sitio

paleontológico do município. Estes estudos deveriam ser inicializados (RESUMO

PÚBLICO, 2010).

Em 2009, como exigência para recertificação, a empresa deveria monitorar todos

os seus impactos socioambientais e todas as ações mitigatórias deveriam estar descritas

no plano de manejo (RESUMO PÚBLICO, 2010).

Em 2012, a empresa contratou os serviços de uma socióloga e estabeleceu um

projeto piloto no parque florestal onde há maior interação com a comunidade, para saber

sobre os impactos sociais de suas unidades de manejo. Foram definidas as medidas

mitigatórias para eventuais impactos negativos e os resultados foram incluídos no Plano

de Manejo da empresa (RESUMO PÚBLICO, 2013).

A empresa não participava de ações ligadas diretamente à saúde, mas atuava de

modo indireto, através da participação em campanhas de reciclagem. A empresa assistiu

a Secretaria da Saúde do município na compra de uma ambulância e a doação de um

gabinete de dentista.

A comunidade local podia se comunicar com a empresa de diversas maneiras:

através do seu site; do telefone 0800; do preenchimento de um relatório de não

conformidade ambiental (RNCA); na portaria da empresa; por cartas ou queixa relatada

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ao vigilante que realizava a ronda no parque florestal.

Discussão

A empresa ostenta certificação de manejo florestal de suas plantações há catorze

anos. Inicialmente, teve que contratar um funcionário especializado em meio ambiente

para o seu quadro funcional e, então, procedeu ao treinamento de funcionários próprios

e das empresas terceirizadas.

Para manter o selo de bom manejo florestal de suas plantações, a empresa

elaborou documentos de compromisso, como também, uma matriz dos impactos

socioambientais da presença da unidade de manejo na região e suas medidas

mitigatórias. A empresa estava realizando estudos e monitoramento da fauna, da flora,

dos recursos hídricos e solo. Para que houvesse maiores informações sobre o meio

ambiente local, esses estudos estavam se tornando cada vez mais complexos, auxiliando

a empresa na implantação de corredores ecológicos, na formulação do seu plano de

gestão dos recursos hídricos e de seu plano de gestão ambiental. A certificação de

manejo florestal exigiu que a empresa retirasse a malha viária das Áreas de Preservação

Permanente e Reserva Legal e promovesse sua restauração. A empresa também

modificou técnicas operacionais, optando pelo uso de equipamentos e produtos menos

impactantes ao meio ambiente. Como visto, a certificação da empresa fez com que ela

levasse em conta a variável ambiental em suas operações florestais.

A certificação florestal garantiu melhoria das condições de trabalho e

treinamento ministrados aos empregados florestais. A certificação exigiu, também, que

os empregados terceirizados tivessem ampliado o seu acesso aos planos de saúde e

odontológico, que obtivessem liberdade para a sua sindicalização, e que houvesse um

planejamento para minimizar suas demissões.

A certificação florestal também promoveu a melhoria do relacionamento da

empresa com a comunidade local. A empresa elaborou programas de educação

ambiental voltados ao público infantil, participou mais ativamente da sociedade local,

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realizou o cadastro e intensificou seu relacionamento com os vizinhos das unidades de

manejo florestal, divulgou como o manejo da empresa é realizado e como contactá-la,

além de dar à comunidade o privilégio da contratação. A comunidade do município

apoiava os projetos da empresa. A certificação também exigiu que a empresa realizasse

estudos sobre os impactos socioambientais de suas operações e medidas para sua

mitigação.

Em relação ao fator econômico, a certificação florestal exigiu da empresa a

otimização do uso dos recursos florestais, diminuição dos custos de produção e o

emprego das melhores técnicas existentes.

Desse modo, conclui-se que a certificação florestal de manejo de plantações

florestais da empresa promoveu a incorporação de variáveis socioambientais a seu plano

de manejo.

A responsabilidade social é um tema novo para as empresas florestais.

Entretanto, seus dirigentes reconhecem sua importância perante as novas demandas da

sociedade.

Apesar de a empresa utilizar-se da certificação florestal como estratégias de

melhoria de sua imagem corporativa e de negócios, ela contribuiu para um melhor

manejo florestal e para provimento de algumas benfeitorias aos trabalhadores e à

comunidade local, que minimizam um pouco o impacto de grandes monoculturas

florestais.

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Data de Recebimento 25/7/13

Data de Aceite 18/9/13

Page 120: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 8 n2

119

ISSN 1980-0894 Resenha, Vol. 8, n. 2, 2013

BIOTECNOLOGIA AO ALCANCE DE TODOS

Rubens Koloski Chagas1

Dentre as diversas tecnologias a biotecnologia tem se destacado em diversos

setores como produção e geração de energias alternativas, saneamento básico e controle

da poluição, produção de alimentos, entre outros. Alguns resultados relevantes são

observados em áreas como, por exemplo, cultura de células em plantas e humanos,

clonagem molecular e celular, terapia gênica animal, genômica, bioinformática,

bionanotecnologias, biorremediação, biomassa, bioenergia, etc. (Schenberg, 2010).

Nesse sentido, as pesquisas biotecnológicas, necessariamente acabam explorando os

recursos biológicos para utilização nos diversos setores da sociedade, a partir de

características interessantes comercializáveis ou com função social ampla. Contudo, a

biodiversidade, que instiga e promove o desenvolvimento biotecnológico, geralmente é

encontrada em regiões tropicais, cujos territórios, geralmente são subjugados ao

desenvolvimento capitalista que Lacey, (1998) distingue em “desenvolvimento

modernizador” e “desenvolvimento autêntico”. Para o desenvolvimento modernizador, o

estado de desenvolvimento é bem definido: é representado pelas instituições e valores

hegemônicos nos países industriais avançados, e os processos de desenvolvimento

envolvem crescimento econômico, industrialização, transferência de tecnologia

moderna, integração à economia capitalista mundial, etc. Para o desenvolvimento

autêntico, o que é bem definido não é o desenvolvimento, mas a condição presente dos

empobrecidos, que pode ser empiricamente mapeada e teorizada em termos de noções

tais como opressão e dependência. Portanto, o controle de informações estratégicas –

biotecnológicas – que permitem agregar valor a essas informações – ao agregarem valor

aos novos produtos e processos a partir daí gerados –, passa então a ocupar um dos

centros de disputa e de conflito no jogo de forças políticas e econômicas internacionais.

Tal controle pode ser exercido tanto com o domínio do acesso aos recursos da

biodiversidade, quanto por intermédio de instrumentos de proteção de direitos à 1 Doutor em Ecologia de Ecossistemas Terrestres e Aquáticos pela Universidade de São Paulo; Professor Pesquisador do Centro Universitário Senac. [email protected]

Page 121: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 8 n2

120

ISSN 1980-0894 Resenha, Vol. 8, n. 2, 2013

propriedade intelectual, seja sobre as modernas biotecnologias, seja sobre os

conhecimentos tradicionais de populações locais (Albagli, 1998). Pouco ou nada foi

feito na tentativa real de facilitar o acesso às pesquisas biotecnológicas para os países

provedores de recursos genéticos. As pesquisas continuam sendo desenvolvidas, em sua

grande maioria, nos países desenvolvidos. Tampouco podemos verificar qualquer tipo

de avanço no sentido de propiciar o acesso aos resultados e benefícios derivados das

biotecnologias por países em desenvolvimento, sendo que as poucas tecnologias que

chegam a estes países chegam na forma de produtos patenteados por grandes empresas

sediadas em países desenvolvidos. Dessa maneira, os projetos de pesquisa científica,

utilizando a biotecnologia estão encapsulados e há grande dificuldade para comparar e

integrar os diversos resultados de pesquisa, impossibilitando a integração e realização

de estudos biogeográficos e ecológicos, portanto faltam iniciativas integradas e

interdisciplinares direcionadas a investigar as interações entre a microbiota e biosfera,

efeitos das mudanças globais (de origem natural e antrópica) e relações inter-específicas

no ambiente (Canhos e Manfio, 2001).

Portanto, esta condição afeta, diretamente, possíveis conhecimentos que seriam

benéficos a toda a coletividade. Obter resultados que podem propiciar a toda a

humanidade qualidade de vida é também o objetivo da pesquisa. Deter informações que

contribuam para a qualidade de vida é, no mínimo, egoísta, já que não vai ao encontro

da sua própria essência.

De fato essa condição se torna clara quando de exame da Declaração sobre

Bioética e Direitos Humanos, adotada pela UNESCO em 2005 que define em seu artigo

15º

Os benefícios resultantes de qualquer investigação

científica e das suas aplicações devem ser partilhados com a

sociedade no seu todo e no seio da comunidade internacional,

em particular com os países em desenvolvimento (UNESCO,

2005).

E, ainda, indica que para dar efetivação a este princípio uma das condições seria o

(letra “e”) acesso ao conhecimento científico e tecnológico .

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121

ISSN 1980-0894 Resenha, Vol. 8, n. 2, 2013

Portanto, o compartilhamento biotecnológico visa integrar os diversos saberes

para a humanidade, independente de estar em um ou outro lado político-econômico. O

que deveria valer para a ciência e a vida. Vida das presentes e futuras gerações, por um

mundo melhor e mais justo.

4.3.1.1 ALBAGLI, SARITA, Da biodiversidade à biotecnologia: a nova fronteira da

informação. Ci. Inf. vol. 27 no. 1 Brasilia 1998 em http://dx.doi.org/10.1590/S0100-

19651998000100002 em 25/09/2013.

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122

ISSN 1980-0894 Seção, Vol. 8, n. 2, 2013

CÉLULAS A COMBUSTÍVEL COMO ALTERNATIVA PARA REDUÇÃO

DE CO2 EQUIVALENTE NA FROTA DE VEÍCULOS LEVES

FUEL CELLS AS ALTERNATIVE TO REDUCE CO2 EQUIVALENT IN

THE LIGHT VEHICLE FLEET

Luiz Henrique Targa Gonçalves Miranda1

Emília Satoshi Miyamaru Seo2

Alcir Vilela Junior3

Resumo

O aumento populacional e a demanda provocada pelos modernos sistemas de

produção, transportes e de conforto em geral, tornou crescente a busca por energia em

âmbito mundial. No Brasil a porcentagem de consumo de combustíveis fósseis em 2007

era de 51%, sendo que 60% deste total eram utilizados no setor de transporte. A frota

nacional, até dezembro de 2011, contemplava um total de 70.543.535 veículos

registrados. Só no Estado de São Paulo, os veículos leves representam 65% da frota

total, correspondendo a 30% das emissões. Medidas de controle dessas emissões

provenientes dos veículos vêm sendo estudadas para tentar diminuir os problemas

causados à saúde e ao meio ambiente, mas apenas estas medidas não estão sendo

suficientes para contribuir satisfatoriamente na redução das emissões de CO2

equivalente. Pensando em somar alternativas, a pesquisa objetivou analisar a potencial

contribuição das células a combustível (PEMFC) na redução das emissões pela frota de

veículos leves no Estado de São Paulo. Foram estudados três cenários para verificar a

potencial contribuição das células - conservador, realista e otimista. Os resultados

apresentaram redução nas emissões nos diferentes cenários, mas longe de atingir a meta 1 e-mail: [email protected]. Centro Universitário SENAC, São Paulo. 2 e-mail: [email protected]. Centro Universitário SENAC e Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares,

São Paulo. 3 e-mail: [email protected]. Centro Universitário SENAC, São Paulo.

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123

ISSN 1980-0894 Seção, Vol. 8, n. 2, 2013

da PEMC. Concluindo, a implantação das células na frota veicular leve contribui para a

redução das emissões, mas o real problema está no crescimento da frota e apenas essa

tecnologia não soluciona os problemas causados a saúde e ao meio ambiente, sendo

necessárias alternativas complementares.

Palavras-chaves: Energias renováveis, célula a combustível, emissões de CO2

equivalente.

Abstract

The population increase and the demand developed by the modern system of

production, transports and confort in general, have made increasing the search for

energy in the world wide. In Brazil the fossil duel percentage consumption in 2007 was

51%, with 60% of this total were used in the transportation sector. The national fleet by

December 2011, contemplated a total of 70,543,535 registered vehicles. Only in the São

Paulo state, the light vehicles account for 65% of the total fleet, accounting for 30% of

emissions. Measures to control these emissions from vehicles are already in process to

try to reduce the problems caused to health and the environment, but only these are not

enough to contribute satisfactorily in reducing emissions of CO2 equivalent. Thinking

about other alternatives, the research aimed to analyze the potential fuel cells

contribution in the reduction of emissions by light vehicle fleet in the São Paulo state. It

studied three scenarios to verify the potential cell contribution - conservative, realistic

and optimistic. The results showed a reduction in emissions in the different scenarios,

but far from achieving the goal of the PEMC. In conclusion, the implantation of the

cells in the light vehicle fleet contributes to reduce emissions, but the real problem lies

in the growth of the fleet and only this technology does not solve the problems caused to

health and the environment, requiring complementary alternatives.

Key words: Renewable energies, fuel cell, CO2 equivalent emissions.

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1. INTRODUÇÃO

O aumento populacional e a demanda provocada pelos modernos sistemas de

produção, transportes e de conforto em geral, tornou crescente a busca por energia em

âmbito mundial. Isso gerou a preocupação de como satisfazer as necessidades atuais e

futuras obtendo energia de forma técnica e economicamente viável, segura e com uma

eficiência aceitável.

Segundo o Balanço Energético Nacional (2010) as fontes não renováveis

correspondem a 81,5% da demanda anual mundial. Esta porcentagem refere-se apenas à

combustíveis fósseis (carvão natural, petróleo e derivados e gás natural), excluindo os

materiais nucleares (VECCHIA, 2010). Isso se dá pela alta densidade energética desses

combustíveis, ou seja, em um determinado volume de combustível é possível armazenar

grande quantidade de energia, de fácil transporte, armazenamento e manuseio. O

problema no emprego dos combustíveis fósseis está na emissão de poluentes para a

atmosfera tais como: monóxido de carbono, compostos nitrogenados, enxofre, fuligens

e entre outros, que degradam o meio ambiente e colocam em risco à saúde humana.

No Brasil, aquela porcentagem de consumo de combustíveis fósseis em 2007

atingiu 51%. Esta diminuição é devido ao grande potencial hidráulico e às extensas

produções de cana de açúcar, a qual tem como derivados o biodiesel e etanol

(BALANÇO ENERGÉTICO NACIONAL, 2010).

De toda energia consumida a partir dos derivados do petróleo, aproximadamente

60% é para transporte (BALANÇO ENERGÉTICO NACIONAL, 2010).

Segundo levantamento do Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN,

2011) o Brasil possuía uma frota total de 70.543.535 veículos registrados até dezembro

de 2011. Na Região Sudeste está concentrado mais de 50% desse total, sendo que São

Paulo é o Estado que possui a maior frota de veículos do país, cerca de 30% do total, ou

seja, quase 22 milhões de veículos automotivos, seguido por Minas Gerais (7.662.556) e

Paraná (5.558.521). Desta forma, os veículos automotivos são os maiores responsáveis

pela emissão de CO2, correspondendo a 55% do total de todas as fontes – esta se

implica em transporte, industrial, comercial, residencial, agropecuário, público, não

energético e energético amplo. Destes 55%, aproximadamente, 30% das emissões são

provenientes de automóveis leves, no Estado de São Paulo (figura 1).

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125

ISSN 1980-0894 Seção, Vol. 8, n. 2, 2013

Figura 1 - Porcentagens dos responsáveis das emissões de CO2 dentro da

classe de transportes no Estado de São Paulo.

(Fonte: Elaborado pelo autor, com base de dados da CETESB, 2011).

Algumas medidas de controle para a mitigação destas emissões estão sendo

tomadas. Um dos exemplos é o controle legal nos fabricantes, exigindo que os

automóveis saiam das fábricas com padrões de emissões aceitáveis, tendo como

referência o CONAMA 18 de junho de 1986 que estabelece o Programa de Controle da

Poluição do Ar por Veículos Automotores – PROCONVE e o CONAMA 315 de

outubro de 2002, que dispõe sobre novas etapas deste programa.

Outras medidas, envolvendo tecnologia, são a otimização da combustão da

gasolina e/ou diesel e o uso de materiais mais leves na fabricação dos veículos. Ainda

assim, criou-se, na cidade de São Paulo, outra medida de controle das emissões

veiculares, a inspeção veicular. Regulamentada pelo órgão ambiental, a Secretaria

Municipal do Verde e do Meio Ambiente (SMMA) de São Paulo, exige que as emissões

dos Gases de Efeito Estufa (GEEs) estejam nos padrões preestabelecidos com inspeções

periódicas.

Mas apenas essas ações não são suficientes para uma redução significativa de

emissões de GEEs. Com o intuito de melhorar este cenário, o Estado e o Município de

São Paulo estabeleceram metas por meio da Política Estadual de Mudanças Climáticas,

que visa a redução de 20% das emissões de dióxido de carbono, em relação a 2005, até

2020.

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126

ISSN 1980-0894 Seção, Vol. 8, n. 2, 2013

Para alcançar essa meta e propiciar melhor qualidade do ar, sem interferir no

conforto da população, outra medida é a substituição dos combustíveis fósseis por

combustíveis alternativos e novas tecnologia, como o biocombustível (etanol e

biodiesel), a introdução do carro elétrico com o armazenamento em baterias e/ou

híbridos e a tecnologia de célula a combustível. Esta última tecnologia perdeu enfoque,

pois os carros elétricos, com o armazenamento em baterias, são cada vez mais

abordados pelas empresas automobilísticas como uma alternativa sustentável, tornando-

o uma tecnologia comercialmente competitiva.

Neste contexto, o presente artigo pretende contribuir apresentando vantagens e

desvantagens da tecnologia de células a combustível, particularmente do tipo PEMFC,

como alternativa para redução das emissões de CO2 equivalente pela frota de veículos

leves no Estado de São Paulo.

2. METODOLOGIA

A metodologia do presente trabalho é apresentada por etapas, conforme a figura 2.

Buscou-se dados secundários sobre células a combustível em literaturas especializadas,

a fim de selecionar o tipo de célula a combustível aplicável em veículos leves. Foram

realizadas visitas ao Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, IPEN-CNEN/SP,

para o entendimento da tecnologia e auxílio na seleção da tecnologia.

Com o intuito de avaliar o impacto da tecnologia de célula a combustível com

relação à emissão de CO2 equivalente avaliou-se três cenários, sendo:

a. Cenário conservador (0% de introdução dos veículos de CaC);

b. Cenário real (10% de introdução dos veículos de CaC);

c. Cenário otimista (30% de introdução dos veículos de CaC);

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ISSN 1980-0894 Seção, Vol. 8, n. 2, 2013

Figura 2 – Metodologia adotada para desenvolvimento do presente

trabalho.

Fonte: Elaborado pelo autor.

3. CÉLULAS A COMBUSTÍVEL

A célula a combustível foi descoberta na década de 1830, mas na época esta

tecnologia não teve inicialmente grande repercussão. Atualmente, há grande

investimento de pesquisa no desenvolvimento dessas tecnologias e já há, em mercado

europeu e norte americano, veículos disponíveis para venda.

A questão principal para a disseminação da tecnologia ainda é o preço, que deverá

reduzir com a escala e inovação tecnológica na produção.

Atualmente, existem seis tipos de células a combustível em pesquisas e no limiar

da comercialização, cada uma com um processo químico de funcionamento,

classificadas pelo tipo de eletrólito utilizado e pela temperatura de operação. Estas são

as células a combustível com uso de Membrana Trocadora de Prótons (PEMFC),

Células a Combustível Alcalinas (AFC), Células a Combustível de Ácido Fosfórico

(PAFC), Células a Combustível de Carbono Fundido (MCFC), Células a Combustível

de Óxido Sólido (SOFC) e Células a Combustível de Metanol Direto (DMFC). Pode-se

´

Page 129: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 8 n2

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ISSN 1980-0894 Seção, Vol. 8, n. 2, 2013

observar, no quadro 1, os tipos de células com suas respectivas características, aplicação

e disponibilidade.

Quadro 1 - Características gerais dos diferentes tipos de células a combustível.

Fonte: Adaptado de SERRA, 2005; BERNARDI JUNIOR, 2011;

MARUYAMA, 2002.

O funcionamento da célula a combustível do tipo PEMFC (figura 3) consiste em:

o hidrogênio, sendo combustível, é alimentado ao ânodo da célula (terminal negativo),

onde é oxidado no catalisador, havendo a produção de dois elétrons livres e dois íons de

hidrogênio (H+), o hidrogênio em excesso que não tiver suas ligações rompidas será

realimentado posteriormente. Em seguida, estes elétrons produzidos são transportados

através de um circuito elétrico e utilizados para produzirem trabalho (corrente contínua).

Por sua vez, aqueles prótons produzidos são transportados do ânodo para o cátodo,

através do eletrólito (no centro da célula). No cátodo (terminal positivo), o oxigênio ou

ar é alimentado reagindo com os prótons (H+), transportados através do eletrólito, e com

os elétrons provenientes do circuito elétrico, tendo como produto final da reação o vapor

de água. Ou seja, o combustível deste sistema nada mais é que o elemento mais simples

e abundante, e a emissão é apenas vapor d’água.

Hidróxido de Potássio

H2 Pt/Ni/Ag 45 - 65 50 - 120Aparelhos portáteis , Transporte

Demonstração

Ácido Ortofosfórico

GN H2

Pt 40 - 50 180 - 210Geração

EstacionáriaComercial

Veículos Pré-ComercialGeração

EstacionáriaPesquisa

Ácido Sulfônico e

Sulfúrico em Polímero

Metanol Pt/Ru 40 - 50 45 - 100Transporte, Aparelhos Portáteis

Pesquisa, Demonstração

Carbonatos de Lítio e Potássio

GN Ni 50 - 65 600 - 800Geração

EstacionáriaDemonstração

Zincônia estabilizado

em Ytria

GN H2

Ni 50 - 65 500 - 1000Geração

EstacionáriaPesquisa

Metanol Direto (DMFC)

Carbonato Fundido (MCFC)

Óxido Sólido (SOFC)

Ácido Fosfórico (PAFC)

Membrana Trocadora de

Prótons (PEMFC)

Temperatura (ºC)

Aplicação Disponibilidade

Alcalina (AFC)

Ácido Sulfônico em

PolímeroH2

Pt Pt/Ru

35 - 55 60 - 110

Tipo de Célula Combustível

EletrólitoCombustível

PrincipalCatalizador

Eficiência (%)

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Figura 3 - Célula a Combustível com uso de Membrana Trocadora de

Prótons.

Fonte: MARQUES, 2004

De acordo com os autores Larminei, (2003) e Gomes Neto, (2005), as vantagens

que as células a combustível apresentam são:

Conversão de mais de 85% da energia contida em um combustível em energia

elétrica e térmica (calor), a partir de ciclo combinado;

Centrais de produção de energia através de células a combustível podem ser

implementadas junto aos pontos de fornecimento, permitindo a redução dos custos de

transporte e de perdas energéticas nas redes de distribuição.

Alternativa de energia em regiões onde há falta ou o acesso é precário.

Como este sistema não possui partes móveis, as células apresentam maiores

níveis de confiança em comparação aos motores de combustão interna, não sofrendo

paradas bruscas devido ao atrito ou falhas das partes móveis durante a operação;

Baixos custos de manutenção e ausência de ruídos na geração de energia,

também pela inexistência de partes móveis;

São modulares, ou seja, podem ser acrescidas diversas células em série,

interligando com pratos bipolares, e obter maior geração de energia;

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Podem ser flexíveis na questão do combustível, ou seja, algumas células

funcionam a partir de gás natural, gasolina, biodiesel ou outros combustíveis, não

sendo necessária a aplicação direta do hidrogênio. Isso ocorre com a instalação de

um reformador químico que produz hidrogênio com a reformulação do combustível

introduzido ou pela reformulação interna em algumas células;

Ganho ambiental pela implantação das células, uma vez que a emissão, caso o

combustível seja hidrogênio, é apenas água.

Gomes Neto (2005) ainda ressalta os ganhos sociais, ambientais e econômicos com

relação à aplicação das células a combustível, a saber:

Redução de até 50% da emissão de poluentes e gases causadores do efeito

estufa, como o CO2 e CH4, com relação a utilização de combustíveis fósseis, tendo

como consequência a melhoria do sistema respiratório, especialmente em áreas

urbanas e a preservação do meio ambiente;

Crescimento econômico, desenvolvimento e criação de empregos em diversas

áreas, desde o setor rural, com a produção de combustíveis renováveis, até o setor

industrial;

Redução da sobrecarga nas linhas de transmissão, possibilitando o

direcionamento dos investimentos para outras áreas;

Aumento da segurança nacional com relação à demanda energética,

minimizando a necessidade de racionamento em determinadas épocas;

Redução da poluição sonora;

Redução de lixo tóxico causado pelas baterias e pilhas, sendo as células a

combustível um potencial na substituição das mesmas, reduzindo, assim, suas

quantidades e evitando a contaminação dos solos e lençóis freáticos.

Minimização da dependência do petróleo e da importação deste combustível;

O hidrogênio não é um combustível tóxico, ou seja, caso ocorra algum

vazamento não contaminará o meio ambiente;

Interesses econômicos associados às indústrias de combustíveis fósseis.

Em contrapartida, como todo e qualquer sistema, existem suas desvantagens,

sendo elas:

Elevados custos, por ser uma tecnologia recém-pesquisada;

Vida útil curta e redução da eficiência relacionada;

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131

ISSN 1980-0894 Seção, Vol. 8, n. 2, 2013

Algumas necessitam da utilização de metais nobres, como a platina;

Problemas relacionados com transporte e armazenamento do hidrogênio, por ser

este um combustível extremamente inflamável;

O hidrogênio alimentado à célula deve ter um elevado teor de pureza podendo,

assim, minimizar a contaminação do catalisador.

Alguns tipos de células a combustível possuem melhor desempenho trabalhando

em geração estacionária e outras podem ser úteis em aplicações portáteis e móveis.

Cabe verificar a necessidade de projeto e sua viabilidade para tal.

No uso em veículos, existe a substituição do motor a combustão pelas células a

combustível, as quais fornecerão eletricidade para seu funcionamento. Esta eletricidade

fornecida é convertida em energia de movimento e em energia mecânica. Já o motor a

combustão utiliza a energia química contida nos combustíveis. Esta energia química é

convertida em calor através da combustão. A expansão dos gases resultante dessa

combustão, em altas temperaturas, fornece energia mecânica. Este processo envolve

muitas partes móveis e produz diversas emissões.

Para que as células sejam aceitas no setor de transportes, necessitam ter baixo

custo e peso, fornecerem alta densidade de potência, serem seguras e flexíveis para

diferentes tipos de combustíveis, serem compactas e fáceis de usar e de mantê-las. Para

os automóveis e motocicletas, em particular, deve estar em funcionamento logo quando

dada a partida, ou seja, operar em temperaturas baixas e responder perfeitamente a

partida, desligamento, acelerações e frenagens bruscas.

Em algumas cidades em países como Japão, EUA, China, Austrália, Islândia,

Alemanha, Espanha, Portugal e Inglaterra, circulam diariamente ônibus movidos por

célula a combustível.

O primeiro automóvel movido à célula a combustível foi desenvolvido por

Kordesch em 1960. Em 1970, Schwabe e colaboradores, montaram um ciclomotor com

células movidas a hidrazina e, posteriormente, um micro-ônibus VW. Os três eram

movidos com células alcalina (LINARDI, 2010).

A partir dessa inovação, grandes empresas automobilísticas começaram a

desenvolver protótipos elétricos (baterias, células ou ambos) e híbridos (elétrico +

combustão), como Daimlerchrysler/Mercedes-Bens, General Motors, Honda, Ford

Motors, Volkswagem/Audi, Toyota e até mesmo de maneira mais tímida as empresas

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Peugeot, Nissan, Hyundai, Fiat e Citroën

4. SELEÇÃO DO TIPO DE CÉLULA A COMBUSTÍVEL

O levantamento bibliográfico mostrou que existe uma série de células a

combustível, conforme apresentado anteriormente, que as diferem uma das outras em

termos de tipo de eletrólito e faixa de temperatura de operação.

Entre todas as células a combustível citadas, segundo Gomes Neto (2005), Serra

(2005) e Linardi (2010), as adequadas para aplicação em automóveis são as células a

combustível com baixa temperatura de operação (até 140ºC), pois proporcionam uma

partida rápida ao ligar o veículo e respondem com flexibilidade às variações de carga.

Estes tipos de células elimina a instalação de baterias adicionais para as necessidades

citadas.

Dessa forma, dentre todas as tecnologias citadas, considerou-se como mais

adequadas à aplicação veicular (figura 4):

• Célula a Combustível com uso de Membrana Trocadora de Prótons (Proton

Exchange Membrane Fuel Cell – PEMFC);

• Células a combustível Alcalinas (Alkaline Fuel Cell – AFC);

• Células a combustíveis de Metanol Direto (Direct Methanol Fuel Cell – DMFC);

• Células a Combustível de Etanol Direto (DirectEthanolFuelCell – DEFC);

Vale ressaltar que não foi abordada a questão da viabilidade econômica, apenas a

viabilidade técnica com relação à aplicação.

Ao efetuar pesquisas entre os fabricantes de automóveis com célula a

combustível, a tecnologia mais utilizada atualmente para esta aplicação é a membrana

trocadora de prótons (PEMFC).

A figura 4 apresenta os resultados obtidos na seleção da tecnologia de célula a

combustível aplicável em veículos.

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Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 4 - Escolha da tecnologia da célula a combustível para aplicação móvel.

De acordo com as informações obtidas, o trabalho teve seu embasamento da frota

veicular leve considerando veículos movidos por célula a combustível do tipo PEMFC,

cujas características gerais são: Temperatura de operação: 60 a 110 ºC; Eficiência: 35 a

55%; Eletrólito: Membrana polimérica; Catalizador: Platina – Pt; Combustível:

Hidrogênio puro.

Os ganhos ambientais envolvidos no uso final deste sistema, comparados com os

veículos à combustão são diversos, tais como: Redução da emissão de material

particulado, fuligem, gases poluentes e de efeito estufa (CO2, CH4, CO, NOx, entre

outros). O que reduz a poluição precipitada nas cidades, os problemas respiratórios

relacionados, a destruição do meio ambiente, consequentemente, a formação de

poluentes secundários, como o ozônio próximo a superfície; e a redução da poluição

sonora, uma vez que as células operam silenciosamente não envolvendo explosões

como os motores a combustão.

A partir destes resultados, procurou-se identificar e analisar as alternativas

tecnológicas para obter o H2, obter uma análise ambiental mais ampla e verificar os

ganhos ambientais com a implantação real das células.

Como a alternativa mais utilizada, devido fatores econômicos e tecnológicos, é a

reforma do gás natural, o presente trabalho partiu deste sistema para a produção de H2, o

qual foi utilizado como comparação dos gases gerados pela reforma do combustível

para a criação dos cenários de estudos e análises.

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5. REFORMA DO GÁS NATURAL E EMISSÃO TOTAL MÉDIA DE CO2

EQUIVALENTE POR QUILÔMETRO RODADO DE UM VEÍCULO

Serra et al (2005) apresenta os três principais processos de reforma do gás natural:

a vapor, por oxidação parcial e autotérmica.

A seguir é apresentada à reação da reforma a vapor, sendo que os reatores operam

na faixa de pressão entre 3 a 25 atm e temperaturas entre 700 e 850ºC.

CH4 + H2O ↔ CO + 3H2

Reação da reforma por oxidação parcial:

CH4 + ½O2 ↔ CO + 2H2

Após a reforma, o gás de síntese resultante, de ambas as reformas, é direcionado

para reatores de conversão, onde com a presença de água se obtém maior quantidade de

oxigênio. Esta reação ocorre abaixo dos 600ºC, podendo ocorrer até a 200ºC na

presença de catalisadores ativos. Por seguinte sua reação (SERRA et al., 2005):

CO + H2O CO2 + H2

Ao término dos três processos é necessário que o gás passe por um purificador

para eliminar o CO, pois existe o problema da contaminação do catalisador na célula a

combustível, como mencionado anteriormente.

Como o principal constituinte do gás natural fornecido pela COMGÁS

(distribuidora do Estado de São Paulo) é o metano, aproximadamente 90%, o presente

trabalho focou neste para obter o Hidrogênio, desconsiderando, assim, os outros gases.

Desta forma, tem-se pela reforma a vapor e reator de conversão:

Os 75% do hidrogênio foram obtidos pela reforma a vapor e 25% pelo reator de

conversão. Desta forma, para se obter 1 (um) quilograma de hidrogênio são necessário 2

(dois) quilogramas de metano, conforme reações abaixo:

Sendo o gás natural composto por 89% de metano, são necessários 2,22kg para se

obter 1 (um) quilograma de hidrogênio e, a partir do balanço de massa apresentado

acima, para se obter os mesmo 1 (um) quilograma de hidrogênio são emitidos 5,53kg de

CH4

+ H2O CO + 3H

2

16g/mol - 18g/mol - 28g/mol - 6g/mol

CO + H2O CO

2 + H

2

28g/mol - 18g/mol - 44g/mol - 2g/mol

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gás carbônico – desconsiderando os outros gases participantes da composição do gás

natural. Ou seja, para 1kg de H2 são necessários 2,22kg de gás natural e emitidos 5,53kg

de CO2.

A autonomia e capacidade do tanque foram obtidas por referência ao último

veículo da Mercedes-Benz movido por célula a combustível, denominado Classe –B F-

Cell, lançado em 2010. Possui uma autonomia de 400 quilômetros e uma capacidade de

armazenar 3,7kg de hidrogênio a 10.150 psi (700 bar). (DAIMLER, 2010)

Desta forma, é possível obter a emissão total média de CO2 equivalente por

quilômetro rodado de um veículo movido por célula a combustível do tipo PEMFC,

como apresentada na equação abaixo.

ECO2 eq

Km� = Consumo H 2Km� x

ECO2 eqKg H2�

Sendo:

• ECO2 eq

Km� : Emissão total de CO2 equivalente para cada quilômetro

rodado por um veículo movido por célula a combustível;

• ConsumoH2Km� : Consumo de hidrogênio para cada quilômetro rodado

por um veículo movido por célula a combustível;

• ECO2 eq

m³ H2� : Emissão de CO2 equivalente para cada metro cúbico de

hidrogênio consumido por um veículo movido por célula a combustível.

De acordo com a equação acima apresentada, criaram-se os cenários para

posteriormente analisar cada um deles e avaliar a implantação das células na frota

veicular, tendo como base dados fornecidos pelos fabricantes.

6. CENÁRIOS: CONSERVADOR, REAL E OTIMISTA

Os cenários foram criados a partir do crescimento anual da frota veicular leve do

Estado de São Paulo, com base nos anos de 2003 a 2011, por meio da interpolação da

linha de tendência até o ano de 2025 (tabela 1). Tais valores foram obtidos a partir de

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dados secundários disponibilizados pelo DENATRAN e ANFAVEA.

Tabela 1 - Estimativa da frota veicular até 2025, com base nos anos de 2003 a 2011. Ano Nº de Automóveis Ano Nº de Automóveis

2003

8.962.484 015

18.330.000

2004

9.348.042 016

19.560.000

2005

9.802.647 017

20.790.000

2006

10.379.679 018

22.110.000

2007

11.014.104 019

23.520.000

2008

11.753.856 020

24.930.000

2009

12.536.177 021

26.460.000

2010

13.334.875 022

28.080.000

2011

14.108.047 023

29.700.000

2012

15.090.000 024

31.440.000

2013

16.140.000 025

33.180.000

2014

17.220.000

Fonte: Elaborado pelo autor.

O Cenário Conservador levou em conta como se não houvesse a introdução de

veículos movidos por célula a combustível, ou seja, o presente crescimento dos veículos

movidos por combustão interna seria uma constante. Este cenário será um comparativo,

de emissão de CO2 equivalente, com relação aos outros dois.

Para que os resultados tenham maior veracidade, os veículos a combustão

contabilizado foram subdivididos em dois grupos, com diferentes combustíveis: os

veículos a gasolina e os bicombustíveis (flex) - mas considerando apenas o etanol como

combustível principal.

Segundo ANFAVEA (2011) os automóveis bicombustíveis, flex, atualmente

compõem uma grande parcela dos veículos. Seu lançamento em 2003 teve críticas

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positivas logo no segundo ano de vendas, saltando de 3,5% para 21,5%. Só no ano de

2010, o total de carros fabricados e vendidos bicombustíveis foi de 95%, contra 5% para

os de gasolina. Sendo assim, a frota veicular dividida é apresentada na figura 5 –

considerando uma constante desses 95%, de 2010 até o ano de 2025.

Figura 5 – Estimativa de frota veicular.

Fonte: Elaborado pelo autor com base de dados da Anfavea, 2011.

Os cenários Realista e Otimista consideraram a substituição de parte dos veículos

a combustão por veículos movidos por célula a combustível, compondo as porcentagens

da introdução desta tecnologia, com seu embasamento em um fato na Califórnia.

O filme “Who killed the electric car” (1996) apresenta esta situação real da

implantação dos veículos elétricos. Essa história parte do início do ano de 1990, em que

legisladores da Califórnia, EUA, decidiram que as montadoras de automóveis deveriam

oferecer veículos elétricos aos consumidores.

A California Air Resources Board – CARB, órgão do governo responsável por

monitorar a qualidade do ar no estado da Califórnia, definiu um limite de vendas de

veículos com emissão zero ou, em inglês, zero-emission--vehicle (ZEV). Essa cota de

fabricação partiria do ano de 1998 com 2% dos veículos fabricados, 5% em 2001 e 10%

em 2003. Os estados de Nova York e Massachusetts adotaram medidas semelhantes em

seguida. Entretanto, eram muitas as forças contrárias à iniciativa da CARB e como

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resultado dessas pressões, em 1996 a CARB repensou na proposta e postergou seu

cronograma.

Mesmo esta medida não tendo sucesso e sendo aplicado apenas para veículos

elétricos, tem-se uma ideia de como poderia ser a introdução dos veículos movidos por

célula a combustível na frota veicular.

Desta forma, os cenários Real e Otimista tiveram como início da introdução dos

veículos, valores idênticos, sendo para o ano de 2013, 2% da frota veicular e para o ano

de 2016 5%, assim como o histórico citado. O que se diferenciaram é que no ano de

2019 a porcentagem dessa introdução foi de 10% e 30%, respectivamente para os

cenários, mantendo constante esta porcentagem até 2025.

Vale ressaltar que os cenários foram criados com o total da frota veicular,

considerando como se todos os carros registrados pelo DENATRAN estivessem em

circulação e que a quilometragem média anual destes veículos e dos movidos por célula

a combustível são de 20.000 km/ano, aproximadamente 60 km/dia. (MATTOS, 2001 e

MMA, 2011).

Sendo assim, têm-se as frotas veiculares dos dois cenários, Realista e Otimista,

com a introdução dos veículos de célula a combustível, apresentados nas figuras 6 e 7.

Figura 6 - Estimativa de veículos com a introdução das células a combustível

para o Cenário Realista. Fonte: Elaborado pelo autor.

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Figura 7 – Estimativa dos veículos com a introdução das células a combustível

para o Cenário Otimista.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Como base de dados para as emissões dos veículos a combustão do tipo gasolina e

flex, utilizou-se informações do banco de dados da CETESB (Companhia Ambiental do

Estado de São Paulo), considerando apenas a opção etanol dos veículos flex.

A partir destes valores e informações obtidas no IPCC e GHG Protocol sobre a

equivalência dos gases com relação ao CO2, elaborou-se a estimativa das emissões de

CO2 eq. até 2025, considerando de 2011 até 2025 as mesmas emissões de 2010 como

base de cálculo.

Desta forma, é possível visualizar nas figuras 8, 9 e 10, as emissões de CO2eq.

para os Cenários Conservador, Real e Otimista.

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Figura 8 - Estimativa das emissões de CO2eq para o Cenário Conservador.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 9 - Estimativa das emissões de CO2eq. para o Cenário Realista.

Fonte: Elaborado pelo autor.

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Figura 10 - Estimativa das emissões de CO2eq. para o Cenário Otimista.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Como se pode observar, as emissões totais em 2020 de cada cenário são de

94.561,47 GgCO2eq. para o Conservador, 93.219,39 GgCO2eq. para o Realista e

91.834,65 GgCO2eq. para o Otimista.

Ao comparar os resultados obtidos, as emissões provenientes da reforma do gás

natural para a obtenção do hidrogênio (combustível das células) chega a ser de

aproximadamente 3 e 4 vezes menor que as emissões provenientes da combustão do

etanol e da gasolina, respectivamente. Tendo vista que a emissão de um veículo a

combustão a gasolina é de 4,26 toneladas de CO2 eq. por ano, a etanol é de 3,44

toneladas por ano e a reforma do gás natural é de 1,01 toneladas por ano.

Segundo o Inventário de emissões antrópicas de GEEs diretos e indiretos do

Estado de São Paulo (2011), as emissões de CO2 equivalente no ano de 2005 foi

estimado em 139.811 GgCO2eq, sendo que o setor de transporte representou 40.121

GgCO2eq neste mesmo ano. Deste total, 37.615,56 Gg. foram provenientes dos

automóveis leves, correspondendo 27% de todas as emissões.

A meta proposta pela Política Estadual de Mudanças Climáticas (PEMC) é a

redução de 27.962,2 GgCO2eq no período de 2005 para 2020, ou seja, em 2020 as

emissões de CO2 equivalente precisarão representar um total de 111.848,8 Gg.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista os resultados e a comparação dos três cenários, observou-se que a

introdução desta nova tecnologia contribuirá para a redução das emissões de CO2

equivalente.

Se considerar o crescimento da frota sem esta nova tecnologia (Cenário

Conservador) teríamos emissões de aproximadamente 94.561,47 Gg. de CO2 eq. em

2020, sendo que a meta proposta pela Política Estadual de Mudanças Climáticas

(PEMC), para este mesmo ano, considerando todas as fontes de emissões, estacionárias

e móveis, seria de 111.848.8 Gg..

Caso exista a introdução da tecnologia dos veículos movidos por célula a

combustível, totalizaria uma emissão de 93.219,39Gg. e 91.834,65Gg. de CO2 eq. para

os Cenários Realista e Otimista, respectivamente.

Mesmo com expressivas reduções nas emissões de CO2 eq. , 1.342,08 Gg.

(Realista) e 2.726,82 Gg. (Otimista), com relação ao cenário Conservador e os diversos

ganhos no seu uso final, apenas essa medida não será suficiente para atingir a meta

proposta. Percebe-se então, como um dos principais problemas é o excesso do número

de veículos, uma vez que prevalece o conceito do transporte individual, faltando

iniciativas, incentivos ou propostas da parte do poder público para mudar este conceito

de modelo e transforma-la em transporte coletivo, reduzindo, consequentemente, a frota

de veículos leves.

Alternativas complementares, como restrições de emissões em fontes

estacionárias e a introdução de alternativas de geração de energia, terão que trabalhar

em conjunto na redução das emissões para conseguir alcançar a meta proposta pela

PEMC, uma vez que essa montante de emissões apresentada é apenas relacionada aos

automóveis e a PEMC estabeleceu o critério de redução como emissão global

(contabilizando todas as fontes).

Por fim, recomendam-se novos estudos relacionados a esta tecnologia em questão,

tanto para ampliar a visão e incentivar pesquisas nesta área, quanto para elaborar

comparações e análises do ciclo de vida desta tecnologia e suas aplicações para

demonstrar a viabilidade técnica e os seus benefícios à saúde humana e ao meio

ambiente.

A conscientização e demonstração da existência de tecnologias alternativas, as

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quais visam minimizar o impacto ao meio ambiente, suprindo as mesmas necessidades

de outros elementos mais poluentes, se faz de extrema importância para a sociedade.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Data de Recebimento 16/4/13

Data de Aceite 18/9/13