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A InterfacEHS é uma Publicação Científica do Centro Universitário Senac que publica artigos científicos originais e inéditos, resenhas, relatos de estudos de caso, de experiências e de pesquisas em andamento nas áreas de Saúde, Meio Ambiente e Sustentabilidade. ISSN 1980-0894 Confira nesta edição o dossiê "Cosméticos Sustentáveis" e artigos relacionados aos assuntos: - Resíduos sólidos no Brasil - Queimadas e Doenças respiratórias - Veículos automotores e os efeitos sobre a saúde pública Entre outros! Acesse a revista na íntegra! http://www3.sp.senac.br/hotsites/blogs/InterfacEHS/
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ISSN 1980-0894 Editorial, Vol.8 Nº3, Ano 2013
EDITORIAL
A revista InterfacEHS que completa 8 volumes e 22 números, procurou despertar
a atenção aos temas focados em saúde, meio ambiente e sustentabilidade. No vigésimo
terceiro número do oitavo volume, as discussões acadêmicas e profissionais estão
centradas no debate e na geração de conhecimento sobre a gestão da saúde.
Essa direção se mantém no conjunto das contribuições apresentadas agora.
Trazendo temas de reflexão empírica e teórica sobre reinternações hospitalares por
doenças respiratórias em menores de 12 anos e as queimadas em Porto Velho-RO,
Amazônia Ocidental, de Marcela Milrea Araújo Barros, Karen dos Santos Gonçalves e
Sandra de Souza Hacon. Os assuntos abordados por estes autores nos retêm reflexões
quanto ao monitoramento e a compreensão do binômio saúde e ambiente frente as
queimadas e o impacto respiratório sobre o grupo de crianças de 29 dias a 12 anos.
Mencione-se ainda a participação de Fabiana Alves Fiore e Emilia Wanda
Rutkowski, com aportes na necessidade de combinação das classificações de resíduos
sólidos para a determinação das ações de gestão e gerenciamento, assim como o uso de
nova categoria, já em fase embrionária no país, para a efetivação dos sistemas de
logística reversa dos materiais.
Este número também traz uma discussão importante na área de Saúde Pública em
relação à poluição do ar e seus efeitos a saúde humana. Apresenta-se um estudo de caso
que mostra a correlação entre a frota de veículos do tipo ciclo Otto e Diesel e dados de
saúde (doenças do sistema respiratório) frente as condições climáticas.
Seguindo-se a revista, grandes contribuições científicas nas áreas da cosmética e
estética incluem-se no dossiê com foco em sustentabilidade. Inicialmente, a proposta de
trabalho realizado com os alunos de iniciação científica júnior do Senac possibilitou
discutir criticamente a legislação orgânica em relação aos cosméticos de origens
orgânica e natural e somou-se também neste trabalho, a investigação científica na
prática do consumo por meio de aplicação de questionário com os funcionários e alunos
do Senac. Resultado interessante permitiu observar e discutir o comportamento humano
quanto ao uso. O trabalho “Estudo da consciência do consumidor com relação aos ativos
sintéticos e ativos naturais presentes nos cosméticos” focou-se a realizar um
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levantamento bibliográfico, comparando-se os cosméticos que utilizam, em sua
composição, ativos de origem sintética e os que utilizam ativos de origem natural tal
como destacar os benefícios ou dificuldades estabelecidos por cada tipo.
Seguindo-se com a mesma proposta de trabalhos, o próximo discutiu-se o tema
nutricosméticos com enfoque na legislação nacional. Os autores objetivaram a despertar
e compreender melhor o conceito de nutricosmético, bem como, a legislação pertinente
(ao tema), com a finalidade de contribuir para os estudos sobre o setor de cosméticos e
alimentos. Por fim, com olhar para o campo da estética, o trabalho “Indicação de uso de
espécies vegetais para o tratamento da celulite com fins cosméticos” visou realizar um
levantamento bibliográfico sobre a ação de substâncias ativas fitoterápicas no
tratamento da celulite, procurando uma alternativa não invasiva para o tratamento.
No mais, vale ressaltar, na seção de resenhas sobre “O uso racional de cosméticos
e o seu descarte consciente e apelo do uso por produtos de origens orgânica e natural”
sob autoria do professor Célio Takashi Higuchi.
A Seção Tradução é destacada sobre “Delivery of drugs applied topically to the
skin” dos autores Vânia Rodrigues Leite-Silva, Mariana Mandelli de Almeida Aurélie
Fradin, Jeffrey Ernest Grice e Michael Stephen Roberts, artigo publicado na Expert Rev.
Dermatol. 7(4), p. 383–397, 2012.
Esperamos que o conteúdo da revista enriqueça o seu aprendizado.
Tenham uma boa leitura!
Os Editores.
Emília Satoshi Miyamaru Seo
Célio Takashi Higuchi
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ISSN 1980-0894 Dossiê, Vol.8 Nº3, Ano 2013
DISCUSSÃO CRÍTICA DA LEGISLAÇÃO ORGÂNICA APLICADA AOS
PRODUTOS COSMÉTICOS SUSTENTÁVEIS E INVESTIGAÇÃO
CIENTÍFICA NA PRÁTICA DO CONSUMO
CRITIC DISCUSSING OF THE LEGISLATION APPLIED ORGANIC
COSMETIC PRODUCTS SUSTAINABLE AND SCIENTIFIC RESEARCH IN
THE PRACTICE OF CONSUMING
Danila Aparecida Souza Yamada1
Leilaine Rodrigues de Lima2
Samuel do Nascimento Santos3
Alice Fushako Itani4
Letícia de Cássia Valim Dias5
Célio Takashi Higuchi6
Resumo
O setor de cosméticos se desenvolve de maneira crescente, com uma oferta cada
vez maior de produtos. Da mesma forma, há uma demanda de produtos cosméticos
dentro da indústria da beleza que alavanca o consumo. No ambiente empresarial,
produzir de forma sustentável é condição sine qua non para garantir a competividade no
mercado e, em alguns casos, a própria sobrevivência do negócio. A indústria cosmética
também tem feito sua parte, investindo em tecnologias mais limpas, no
1 Graduada em Direito pela Universidade Ibirapuera, São Paulo, SP; 2 Técnico em Contabilidade, Senac, SP; 3 Técnico em Contabilidade, Senac, SP;
4 Doutora em Sociologia pela Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales e Mestre em Psicologia Social pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, docente em Metodologia da Pesquisa, Senac, SP;
5 Especialista em Estética pela UGF, SP, Tecnóloga em Estética e Cosmética pela UNIPAR, PR e docente em
Estética e Cosmética, Senac, SP;
6 Mestre e farmacêutico pela UNESP, Araraquara, e pesquisador responsável pela linha de pesquisa “Cosméticos
Sustentáveis”, Senac, SP. E-mail: [email protected]
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desenvolvimento de produtos com menor impacto ambiental e esforçando-se, assim
como acontece em outros setores, para transmitir esses valores ao consumidor. A
proposta do trabalho foi diagnosticar/verificar os problemas relativos às certificações
emitidas perante ao registro de cosméticos orgânicos e/ou naturais e, além disso, a falta
de informação ao não indicar de forma fidedigna em rótulos de produtos cosméticos
para definir se é orgânico ou não. Além disso, aplicou-se também um questionário para
determinar a prática do consumo. A partir da pesquisa conclui-se as empresas tem
criticado a falta de regulamentação para este setor e que o público, em geral, não sabe
distinguir quais são as principais diferenças entre um cosmético natural ou orgânico,
sustentável ao sintético ou químico.
Palavras-chave: cosmético orgânico, regulamentação orgânica e indústria cosmética.
Abstract
The cosmetics industry grows increasingly so with an increasing number of
products. Likewise, there is a demand for cosmetic products within the beauty industry
that leverages consumption. In the business environment, sustainably produce is sine
qua non to ensure competitiveness in the market and the very survival of the business.
The cosmetic industry has also done its part by investing in cleaner technologies in
developing products with less environmental impact and striving as well as in other
sectors to transmit these values to the consumer. The purpose of this study was to
detect/verify the problems related to the certificates issued before the registration of
cosmetics organic and/or natural and moreover the lack of information by not reliably
indicate on labels of cosmetic products to determine whether it is organic or there.
Furthermore, it is also applied a questionnaire to determine the practice of consumption.
From the research it appears companies have criticized the lack of regulation for this
industry and geral public can not tell what are the main differences between a natural
cosmetics or organic, sustainable or the synthetic chemist.
Key words: organic cosmetic, organic regulations and cosmetic industry.
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ISSN 1980-0894 Dossiê, Vol.8 Nº3, Ano 2013
1. Introdução
O setor de cosméticos se desenvolve de maneira crescente, com uma oferta cada
vez maior de produtos. Da mesma forma, há uma demanda de produtos cosméticos
dentro da indústria da beleza que alavanca o consumo (POLI NETO & CAPONI, 2007
modificado). Além disso, este ramo da atividade se internacionalizou rapidamente nas
últimas décadas (GARCIA, 2005). Com o crescimento do setor e maior variedade de
produtos, apresenta-se sempre a questão da sustentabilidade diante da quantidade de
insumos que consome e resíduos que produz em seu processo.
No ambiente empresarial, produzir de forma sustentável é condição sine qua non
para garantir a competividade no mercado e, em alguns casos, a própria sobrevivência
do negócio. A indústria cosmética também tem feito sua parte, investindo em
tecnologias mais limpas, no desenvolvimento de produtos com menor impacto
ambiental e esforçando-se, assim como acontece em outros setores, para transmitir esses
valores ao consumidor. Cresce também o desenvolvimento de produtos que utilizam
ingredientes derivados de insumos naturais, assim como a opção por embalagens feitas
com materiais reciclados ou recicláveis. Nesse contexto surgiu, nos últimos anos, o
conceito de formulação verde (ou química verde), cuja proposta é fazer uso de
processos que minimizem os riscos à saúde das pessoas e ao meio ambiente, como foco
na maior eficiência dos recursos utilizados e no menor desperdício (Cosmetics &
Toiletries, março/abril, v. 23, n. 2, 2011). Os cosméticos considerados “ecologicamente
corretos” estão os orgânicos, fabricados com ingredientes que seguem normas de
qualidade e sustentabilidade estabelecidas por agências certificadoras capazes de
garantir, ao consumidor final, a qualidade orgânica dos produtos adquiridos. No Brasil,
as agências que certificam os cosméticos orgânicos são o Instituto Biodinâmico (IBD
Certificações) e Ecocert Brasil (Cosmetics & Toiletries, set/out, v. 22, n. 5, 2010).
É fato que o cosmético para ser sustentável precisa, antes de tudo, atender às
necessidades do consumidor. Contudo, as necessidades podem ser atendidas dentro de
estratégias incorporadas ao próprio produto, ou seja, precisa ser seguro (RATHS &
CANAES, 2009; BOU-CHACRA & OHARA, 2003) e eficaz (GONÇALVES &
CAMPOS, 2009), dentro de normas de segurança também reguladas pelo Ministério da
Saúde/Anvisa.
Para a Organização das Nações Unidas, ONU, define-se sustentabilidade como o
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atendimento das necessidades das gerações atuais, sem comprometer a possibilidade de
satisfação das necessidades das gerações futuras e, segundo o dicionário reference.com,
“sustentabilidade é a habilidade de sustentar ou suportar uma ou mais condições,
exibida por algo ou alguém. É uma característica ou condição de um processo ou de um
sistema que permite a sua permanência, em certo nível, por um determinado prazo”.
Segundo a Associação de Agricultura Orgânica (2013), AAO, trata-se de um
processo produtivo comprometido com a organicidade e sanidade da produção de
alimentos vivos para garantir a saúde dos seres humanos, razão pela qual usa e
desenvolve tecnologias apropriadas à realidade local de solo, topografia, clima, água,
radiações e biodiversidade própria de cada contexto, mantendo a harmonia de todos
esses elementos entre si e com os seres humanos. Esse modo de produção assegura o
fornecimento de alimentos orgânicos saudáveis, mais saborosos e de maior
durabilidade, não utilizando agrotóxicos, preserva a qualidade da água usada na
irrigação e não polui o solo nem o lençol freático com substâncias químicas tóxicas, por
utilizar sistema de manejo mínimo do solo assegura a estrutura e fertilidade dos solos
evitando erosões e degradação, contribuindo para promover e restaurar a rica
biodiversidade local e por esse conjunto de fatores a agricultura orgânica viabiliza a
sustentabilidade da agricultura familiar e amplia a capacidade dos ecossistemas locais
em prestar serviços ambientais a toda a comunidade do entorno, contribuindo para
reduzir o aquecimento global.
A ecodesenvolvimento.org (2013) define cosméticos sustentáveis como produtos
naturais e orgânicos desenvolvidos em uma produção feita de maneira sustentável
envolvendo comunidades e que se destaca também por não fazer testes em animais.
No Brasil, de acordo com as legislações regidas, implantou-se a lei 7.802 de 11 de
julho de 1989 que regulamentou a produção orgânica no país e o decreto 4.074 de 4 de
janeiro de 2002 que propôs a complementar em alguns critérios de qualidade.
Posteriormente, a lei 10.831 de 23 de dezembro de 2003 venho regulamentar cada fase
da produção orgânica.
Em 27 de dezembro de 2007, regulamentou-se o decreto 6.323, criando o Sistema
Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica, composto pelo Ministério da
Agricultura, órgãos de fiscalização dos Estados e organismos de avaliação da
conformidade orgânica. A regulamentação permitiu produzir paralelamente, na mesma
propriedade, produtos orgânicos e não orgânicos, desde que houvesse uma separação do
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processo produtivo. Estabeleceu-se também que não poderia haver contato com
materiais e substâncias cujo uso não fosse autorizado para a agricultura orgânica. De
acordo as regras, os agricultores familiares passariam a receber autorização para a venda
direta ao consumidor, desde que estivessem cadastrado junto ao órgão fiscalizador. O
regulamento alterou-se, em parte, pelo decreto 7.048 de 23 de dezembro de 2009.
A agricultura orgânica no Brasil foi normatizada, regulamentada, avaliada,
fiscalizada e acreditada (referenciada) por diversos órgãos do governo brasileiro, bem
como por instituições a eles diretamente ligados como indicados:
- Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA);
- Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA);
- Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa);
- Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC);
- Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial
(Inmetro);
- Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama);
- Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa);
- Banco do Brasil.
Dentro da agricultura orgânica, cada entidade segue dentro do ramo de atuação
específica e suas diretrizes são instruídas pelas Normas Regulamentadoras.
O papel do Ministério da Agricultura é servir como elo na ampliação do diálogo
entre os diversos parceiros da produção orgânica de alimentos com o setor público e
acompanhar as ações que identifiquem os gargalos impeditivos ao desenvolvimento,
articulando agentes públicos e privados definindo, se necessárias, ações prioritárias de
interesse comum visando à atuação sistêmica e integrada dos diferentes segmentos
produtivos.
Em 2004, o MAPA criou o Programa de Desenvolvimento da Agricultura
Orgânica (Pró-Orgânico) por meio da Portaria 158 de 8 de julho de 2004 com o intuito
de estabelecer e reger o artigo 1. A proposta é a execução do Programa de
Desenvolvimento da Agricultura Orgânica, PRO-ORGÂNICO e que seja assessorado
pela Comissão Nacional da Produção Orgânica, CNPOrg e pelas Comissões da
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Produção Orgânica nas Unidades da Federação, CPOrg-UF.
Além disso, o artigo 05, V e VI determinou a competência dos CPOrgs em
acompanhar as atividades das certificadoras, com atuação no âmbito da Unidade da
Federação, observando o cumprimento das disposições legais vigentes e representar à
autoridade competente aos casos de descumprimento das normas legais vigentes para a
adoção das providências cabíveis.
Por fim, o Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica tem o
papel de credenciar, acompanhar e fiscalizar os agentes certificadores. Já as
certificadoras, precisarão de prévia habilitação do MAPA para atuarem, com isto farão a
certificação da produção orgânica e deverão através do cadastro nacional de produtores
orgânicos, estarem atualizando as informações dos produtores no cadastro nacional.
Estes órgãos, antes de receberem a habilitação do Ministério, passarão por processo de
“acreditação” através do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial, Inmetro.
Em decorrência das legislações, verificou-se que foram criados mecanismos de
fiscalização na criação de cosméticos sustentáveis, elaborados por produtos orgânicos
ou naturais e com esta decorreram as certificações que são emitidas pelas certificadoras
autorizadas registradas no Ministério da Agricultura.
De acordo com Higuchi (2012), no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância –
ANVISA, não se posiciona ou reconhece os conceitos destes produtos e, por
consequência, a aceitação do registro. Por outro lado, países da Europa e os EUA tem-se
empenhado em compreender melhor a inserção deste mercado e o estudo quanto a
regulamentação.
A certificação é de extrema importância, já que conquista a confiança do
consumidor e dá à certeza de adquirir produtos verdadeiramente orgânicos (Ambrosano,
1999). Atualmente, ainda há poucas leis nacionais e internacionais relacionadas
diretamente ao conceito orgânico no setor cosmético, diferentemente da alimentícia.
Segundo Guerra e Nodari (2004), o melhor modo para seguir no caminho da
sustentabilidade seria aquele em que cada individuo ou consumidor em potencial,
agindo com base em seus próprios valores e critérios de qualidade, em sua própria
expectativa de vida, fazendo escolhas que sejam as mais compatíveis com as
necessidades. Os produtos mais compatíveis com o ambiente, contribuem para uma
nova cultura industrial com as necessidades ambientais.
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Para garantir a sustentabilidade na extração dos insumos vegetais, a Natura
estabeleceu parceria com o Instituto Biodinâmico (IBD) e a Imaflora, ONG que
representa no Brasil o FSC (Forest Stewardship Council) e implementou o "Programa
de Certificação de Ativos Naturais ou Vegetais". Trata-se de um instrumento que
promove o manejo sustentável de áreas florestais e de cultivo, envolvendo critérios do
FSC e do SAN (Sustaintable Agriculture Network) (PASTOR, 2000).
Necessário ainda destacar que não se vislumbra facilmente, mesmo em doutrina,
abordagem relativa ao tema proposto, motivo pelo qual após a abordagem das normas
regulamentadoras e/ou legislações aplicadas, será usada a metodologia investigativa
para consolidar o entendimento.
Muitas empresas vendem seus produtos baseadas no argumento de que eles são
cosméticos naturais. Em vários casos isso não é verdade, pois seus produtos possuem,
além dos ingredientes com ativos naturais, formulação química tradicional,
conservantes e aditivos químicos em sua composição (SEBRAE, 2013). A proposta do
trabalho é diagnosticar/verificar os problemas relativos às certificações emitidas perante
ao registro de cosméticos orgânicos e/ou naturais e, além disso, a falta de informação ao
não indicar de forma fidedigna em rótulos de produtos cosméticos para definir se é
orgânico ou não.
2. Objetivos
2.1. Objetivo geral
Realizar um estudo investigativo para confrontar a lei implantada na agricultura
orgânica e verificar se o mesmo aplica-se aos cosméticos, uma vez que não há
normas específicas para registro, gerando, por consequência, dúvidas ao público
consumidor.
2.2. Objetivos específicos
Selecionar empresas que julgam comercializar cosméticos orgânicos e, a partir
disso, avaliar criteriosamente se estão dentro das normas estabelecidas pelas
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certificadoras IBD e ECOCERT e se realmente cumprem com os padrões de
qualidade, em particular, os rótulos dos produtos comercializados;
Levantar os diferentes perfis de consumidores de cosméticos sustentáveis a
partir de uma pesquisa de campo realizada com os alunos do Centro Universitário
Senac Santo Amaro, SP, e verificar quais são as razões que os levam a consumir
esse tipo de produto.
3. Justificativa
Para consideramos um cosmético sustentável, este deve respeitar todo o processo
de produção sustentável, desde a agricultura orgânica até o produto final.
Ocorre que atualmente as empresas lançam seus cosméticos no mercado de
consumo como produtos sustentáveis, porém desrespeitando os processos de
sustentabilidade e sendo facultativa a apreciação de seus produtos pelas certificadoras
existentes acabam não passando pelos severos critérios de qualidade.
4. Metodologia
Pesquisou-se a certificação de qualidade da ECOCERT com o intuito de verificar
a abrangência dos métodos utilizados pelas empresas certificadoras autorizadas que
adotam os critérios de sustentabilidade, desde a agricultura orgânica até o produto final.
Em caso negativo, fez-se a avaliação crítica do método utilizado.
Além disso, aplicou-se o questionário com o intuito de levantar as práticas de
consumo de cosméticos entre os alunos e funcionários do Centro Universitário Senac –
Santo Amaro, SP:
1. Quais tipos de cosméticos você costuma usar normalmente?
(A) Natural ou Orgânico;
(B) Sustentável;
(C) Sintético ou químico.
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2. Que razões levam você a consumir um tipo de produto?
(A) Um produto que dá melhores resultados;
(B) Um produto de qualidade e que atende minhas necessidades;
(C) Um produto que tem melhor relação custo e benefício.
3. Quantos produtos cosméticos você costuma usar diariamente?
(A) entre um e cinco;
(B) entre cinco e dez;
(C) mais que dez.
4. Você costuma consumir produtos cosméticos sustentáveis pensando em
contribuir com o meio ambiente?
(A) sim;
(B) não, mas gostaria de contribuir;
(C) não.
5. Você considera importante consumir cosméticos sustentáveis?
(A) sim, é importante;
(B) sim, é importante, não pratico;
(C) não é importante.
6. Você compraria um cosmético sustentável para ajudar o meio ambiente, mesmo
se o preço não seja acessível?
(A) sim;
(B) não.
7. Você considera importante consumir produtos mais naturais?
(A) sim;
(B) não.
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8. Você considera que os cosméticos produzidos com recursos naturais da
Amazônia são sustentáveis?
(A) sim;
(B) não.
9. Você indicaria um cosmético sustentável para familiares e amigos?
(A) sim;
(B) não.
Os questionários aplicados foram aprovados pelo Comitê Interno de Ética em
Pesquisa, CEP/Senac, sob os pareceres nº 103.14.12. e nº 103.15.12.
5. Resultados e Discussão
No Brasil, de acordo com a empresa certificadora ECOCERT, tramita em
discussão a regulamentação de cosméticos orgânicos e, diferentemente o que ocorre na
Europa, os órgãos regulamentadores já elaboraram um referencial para cosméticos
orgânicos chamado COSMOS que vigorará a partir de 2014.
O papel da ECOCERT é analisar todos os ingredientes que compõem o produto,
independente da natureza da matéria-prima, e faz-se um controle rígido com as
informações técnicas repassadas, e, em caso de orgânico, exige a apresentação de
certificado de conformidade orgânica junto com a ficha de segurança. Caso seja um
ingrediente de origem natural e não certificado como orgânico exige-se um questionário
junto ao fabricante o qual necessita repassar uma série de informações como, por
exemplo, o solvente que ele usa na extração dos processos químicos e físicos utilizados
e encaminhar juntamente com a ficha técnica dos ingredientes, e, em alguns casos,
quando se tratar de extrato aquoso, solicita a quantidade de água e glicerina.
Diferentemente dos produtos naturais, não é possível um controle tão rígido quanto o
orgânico.
É consensual que o público em geral preocupa-se relativamente em utilizar os
cosméticos orgânicos ao não-agressão do local de aplicação ou ligada a saúde do que
necessariamente ao meio ambiente, entretanto esta é a grande preocupação das
certificadoras.
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Quanto ao informe (rótulo/comercial), qualquer produto rotulado com
ingredientes orgânicos deve seguir rigorosamente a legislação e a normativa
correspondentes, porém não há normativa no Brasil que exigem. Assim as próprias
certificadoras criam normas e requisitos mínimos para estes produtos. Contudo, estes
requisitos variam de uma certificadora a outra.
De maneira geral, as empresas tem ciência e conhecem a norma
regulamentadora da empresas certificadoras para tornarem em cosméticos orgânicos
como rege e indicam em seus rótulos que o produto é certificado. Entretanto, as
empresas tem criticado a falta de regulamentação para este setor. A Lei Orgânica que
regulamentaria os cosméticos orgânicos, especificamente, não existe ainda. Atualmente,
esta lei é de responsabilidade do MAPA e funciona relativamente bem para os produtos
com fins alimentícios, em geral, porém os cosméticos são fiscalizados pelo Ministério
da Saúde que até então pouco se envolveu no processo, desconhece os reais atributos
dos cosméticos orgânicos e não tem agilizado o processo de elaboração e assinatura das
respectivas Instruções Normativas destes produtos.
Segue-se abaixo o resultado do questionário aplicado para verificar as práticas de
consumo de cosméticos entre os alunos e funcionários do Centro Universitário Senac –
Santo Amaro, SP:
Gráfico 1: Resultado expresso em porcentagem das questões 1 a 5 respondidas pelo
público feminino.
40%
19%
74%
45%
77%74%
16%
54%
25%
30%
9%12%
3%0%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
Questão 1 Questão 2 Questão 3 Questão 4 Questão 5
A
B
C
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Os valores que apresentaram maior porcentagem nas questões 1 a 5 foram,
respectivamente, 1) a; 2) b; 3) a; 4) b e 5) a. A questão 1 buscava saber qual era o tipo
de cosmético consumido pelo público feminino. Foram explicados os três tipos de
cosméticos existentes: químico, natural e sustentável e, a partir desta explicação, 40%
do público feminino num total de 31 mulheres entrevistadas respondeu que costuma
usar produtos cosméticos naturais/orgânicos, já na questão 2 buscava-se saber quais
razões os levavam a consumir esse tipo de produto. 74% das entrevistadas responderam
que consumiam produtos que tivesse qualidade e ao mesmo tempo atendessem suas
expectativas. A questão 3 buscava saber quantos produtos cosméticos esse público usa
diariamente. 74% das mulheres responderam que usam de 1 a 5 cosméticos ao dia, a
questão 4 questionava o consciência dos consumidores ao usar esses produtos,
procurava-se saber se a porcentagem do publico que respondeu que usava cosméticos
sustentável se preocupava com o meio ambiente ao consumi-lo e observou-se que 54%
das entrevistadas não pensam no meio ambiente, mas gostariam de contribuir, por fim, a
questão 5 queria saber se as entrevistadas consideravam importante consumir
cosméticos sustentável. As porcentagens mostraram que 77% das entrevistadas acham
importante consumir esse tipo de cosmético.
Por outro lado, as questões que apresentaram menores porcentagens foram nas
mesmas alternativas C, que na questão 1 a resposta se referia ao uso de cosméticos
químicos, na questão dois produto com melhor custo e beneficio, na questão 3 o
consumo de mais de 10 cosméticos ao dia, na questão 4 não para o consumo consciente
dos cosméticos sustentáveis e na questão 5 não para a importância do consumo de
cosméticos sustentáveis.
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Gráfico 2: Resultado expresso em porcentagem das questões 1 a 5 respondidas pelo
público masculino.
No gráfico 2, aponta, em relação ao público masculino, que tanto os homens como
as mulheres tem quase a mesma porcentagem de consumo de cosméticos sustentáveis,
também estavam no mesmo intuito em relação aos que os levavam a consumir
cosméticos de qualidade que atendia as suas necessidades e 89% do total de 29
entrevistados usam de 1 a 5 cosméticos ao dia, uma porcentagem razoavelmente
significativa para esse público. Verificou-se também que graficamente em relação aos
homens, 55% dos entrevistados tem consciência da importância do consumo de
cosméticos sustentáveis e também julgam importante consumir tomando consciência e
preocupação com o meio ambiente.
37%
31%
89%
34%
62%
28%
58%
13%
55%
34%34%
10%
0%
10%
4%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Questão 1 Questão 2 Questão 3 Questão 4 Questão 5
A
B
C
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Gráfico 3: Resultado expresso em porcentagem das questões 6 a 9 respondidas pelo
públicos masculino e feminino.
No gráfico 3, aponta os resultados das questões de 6 a 9 em relação aos públicos
masculino e feminino. Na questão 6, questionou se você compraria um cosmético
sustentável para ajudar o meio ambiente, mesmo se o preço não seja acessível. 38% das
mulheres disseram “sim” contra 30% dos homens. Por outro lado, na questão 7, se você
considera importante consumir produtos mais naturais, os homens tem apontado mais
importância que as mulheres. Na questão 8, se você considera que os cosméticos
produzidos com recursos naturais da Amazônia são sustentáveis. 12% a mais de
mulheres em relação aos homens julgaram que os cosméticos são sustentáveis.
Provavelmente, o resultado obtido seja que as mulheres tenham mais interesse e
informação para se posicionar a afirmação. Na questão 9, se você indicaria um
cosmético sustentável para familiares e amigos. Neste última questão, tanto os homens e
as mulheres indicariam o uso dos cosméticos sustentáveis.
Podemos considerar que o público, em geral, não sabe distinguir quais são as
principais diferenças entre um cosmético natural ou orgânico, sustentável ao sintético ou
químico. Um dos motivos que ainda há falta de informação ao repassar ao público por
meio da indicação através da rotulagem dos produtos, clareza da diferença entre um
cosmético ao outro e falta de repasse de informação do profissional para o cliente de
forma fidedigna. Em geral, a população espera de um produto qualidade e que atenda as
38%
12%
43%
2%
42%
10%
50%
2%
30%
20%
55%
0%
30%
18%
47%
0%0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não
Questão 6 Questão 7 Questão 8 Questão 9
Feminino
Masculino
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necessidades básicas e funcionais no local que será aplicado, acima da relação custo e
benefício. Tanto cosmético orgânico como sintético não se diferenciam na escolha
decisiva quando se propõe qualidade. A qualidade pode ser alcançada para ambos. A
diferença recai na biocompatibilidade dos componentes das matérias-primas e os
possíveis efeitos colaterais que podem acometer.
De acordo com a ABIHPEC (2010), em média, a população da União Europeia
costuma usar diariamente 12 a 15 produtos cosméticos e o Brasil, 6 a 8. Na pesquisa,
apontou-se valor próximo ao consumo. É de considerar que, cada vez mais, a população
brasileira consome mais. Um dos motivos principais é o aumento do poder aquisitivo da
classe social de baixa renda e a acessibilidade de produtos cosméticos de grandes
marcas.
Muitos motivos tem apontado na baixa demanda de venda de cosméticos
orgânicos ou naturais os quais incluem-se ao não interesse sobre o conceito
sustentabilidade ao que se aplica ao cosmético, a falta de regulamentação sobre o
registro de cosméticos orgânicos não fideliza o consumidor, preço mais elevado em
relação ao produto de concorrência de origem sintética e que atingem a mesma proposta
de ação e, por fim, falta de informação mais clara nos rótulos.
6. Conclusão
As empresas tem criticado a falta de regulamentação para este setor. A Lei
Orgânica que regulamentaria os cosméticos orgânicos, especificamente, não existe
ainda. Atualmente, esta lei é de responsabilidade do MAPA e funciona relativamente
bem para os produtos com fins alimentícios, em geral, porém os cosméticos são
fiscalizados pelo Ministério da Saúde que até então pouco se envolveu no processo,
desconhece os reais atributos dos cosméticos orgânicos e não tem agilizado o processo
de elaboração e assinatura das respectivas Instruções Normativas destes produtos.
Conclui-se que a partir dos resultados obtidos do questionário, pode-se considerar
as seguintes afirmações:
- O público, em geral, não sabe distinguir quais são as principais diferenças entre
um cosmético natural ou orgânico, sustentável ao sintético ou químico;
- Falta repasse de informação do profissional para o cliente de forma fidedigna
perante aos cosméticos orgânicos, naturais ou sustentáveis;
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- Falta credibilidade ou fidelidade para que o usuário continue a comprar
cosméticos orgânicos, naturais ou sustentáveis;
- A população espera de um produto qualidade e que atenda as necessidades
básicas e funcionais no local que será aplicado, acima da relação custo e
benefício, independemente ser orgânico ou não.
7. Referências
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1989, que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e
rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial,
a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o
registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus
componentes e afins, e dá outras providências.
Decreto 6.323 de 27 de dezembro de 2007. Regulamenta a Lei no 10.831, de 23 de
dezembro de 2003, que dispõe sobre a agricultura orgânica, e dá outras providências.
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Decreto 7.048 de 23 de dezembro de 2009. Dá nova redação ao art. 115 do Decreto no
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a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos
resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização
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Recebido dia 30/10/2013
Aceito dia 06/12/2013
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ESTUDO DA CONSCIÊNCIA DO CONSUMIDOR COM RELAÇÃO AOS
ATIVOS SINTÉTICOS E ATIVOS NATURAIS PRESENTES NOS
COSMÉTICOS
STUDY OF CONSUMER AWARENESS IN RELATION TO SYNTHETIC
AND NATURAL SUBSTANCES PRESENT IN COSMETICS
Flavia Gimenez1
Letícia de Cássia Valim Dias2
Célio Takashi Higuchi3
Resumo
Como o mercado de cosméticos está entre os que obtiveram maior crescimento na
última década, estando o Brasil em terceiro lugar no ranking mundial quando se trata de
produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, o presente projeto tem por
finalidade fazer um levantamento comparativo entre os cosméticos, sua composição,
ativos de origem sintética e os de origem natural. Podendo, ao final, estabelecer
conclusões sobre a consciência do consumidor com relação a cada um deles, tal como
destacar os benefícios ou dificuldades estabelecidos por cada tipo. O estudo será feito por
meio de levantamento e revisão de literatura científica já existente.
Palavras-chave: ativos sintéticos, ativos naturais, mercado de cosméticos
1 Graduanda do curso Tecnologia em Estética e Cosmética no Centro Universitário Senac. 2 Professor (a)/Orientador (a) do Curso de Tecnologia em Estética e Cosmética – Centro Universitário Senac – São
Paulo e-mail: [email protected] 3 Mestre e farmacêutico pela UNESP, Araraquara, e pesquisador responsável pela linha de pesquisa “Cosméticos
Sustentáveis”, Senac, SP. E-mail: [email protected].
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Abstract
As the cosmetics market is among the highest growth achieved in the last decade,
Brazil being the third in the world rankings when it comes to personal care products,
perfumes and cosmetics, this project aims to make a comparative study between
cosmetics they use, in its composition, active synthetic origin and those using active
natural origin. May, in the end, to draw conclusions on consumer awareness with
respect to each of them, such as highlighting the benefits or difficulties established for
each type. The study will be done through survey and review of existing scientific
literature.
Keywords: synthetic actives, natural actives, cosmetics market
1. Introdução
Um cosmético, mesmo possuindo em sua composição somente ativos naturais,
pode apresentar algum tipo de alergia ao consumidor? Em termos de segurança, qual
pode ser mais confiável: um cosmético com ativos naturais ou um com ativos
sintéticos?
Para responder essas e outras perguntas, é necessário entender alguns conceitos
sobre pele, ativos presentes nos cosméticos, índices atuais de mercado e de toxicologia.
Segundo levantamento realizado pela União para Bio Comércio Ético (UEBT,
2012), no Brasil cerca de 70% dos entrevistados mostraram preocupação em conhecer
a origem dos ingredientes naturais usados para fabricar cosméticos, demostrando
consciência com a preservação da fauna e flora. Além do mais, 69% deixariam de
comprar um produto caso soubessem que o fabricante não se atenta às boas práticas na
cadeia de abastecimento.
Este estudo mostra como o brasileiro está cada dia mais preocupado com os ativos
existentes na composição de um cosmético e, em decorrência disso, cada vez mais
exigente na escolha de um produto.
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1.2. Conceituando pele
Não há como falar de cosméticos sem primeiro entender o correto funcionamento
da fisiologia da pele humana.
A pele representa 12% do peso seco total do corpo, com peso de
aproximadamente 4,5 quilos, e é de longe o maior sistema de órgãos expostos ao meio
ambiente. Um pedaço de pele com aproximadamente 3 cm de diâmetro contém: mais de
3 milhões de células, entre 100 e 340 glândulas sudoríparas, 50 terminações nervosas e
90 cm de vasos sanguíneos. Estima-se ainda, 50 receptores por 100 milímetros
quadrados, num total de 640.000 receptores sensoriais. O número de fibras sensoriais
oriundas da pele que entram na medula espinhal por via de raízes posteriores é superior
a meio milhão (BJORKSTEIN, 1983 apud GUIRRO e GUIRRO, 2004).
Pela resistência e flexibilidade da pele, determina-se a plasticidade cutânea.
Caracteristicamente dinâmica, a pele apresenta alterações constantes, sendo dotada de
grande capacidade renovadora e de reparação, e de certo grau de impermeabilidade.
Tem como função maior e vital a conservação da homeostasia: termorregulação,
controle hemodinâmico e produção e excreção de metabólicos (AZULAY, 2008).
Segundo Vivier (1997), a pele pode exercer diferentes funções:
Manutenção da sua própria integridade e da integridade do organismo;
Proteção contra agressões e agentes externos (físicos, químicos e biológicos);
Absorção e secreção de líquidos;
Controle de temperatura;
Barreira à prova d’água;
Absorção de luz ultravioleta, protegendo o organismo de seus efeitos nocivos;
Metabolismo de vitamina D;
Funções estéticas e sensoriais.
A pele é composta por duas camadas principais: a epiderme, camada superficial
composta de células epiteliais intimamente unidas e a derme, camada mais profunda
composta de tecido conjuntivo denso irregular. O limite entre a epiderme e a derme não
é regular, mas caracteriza-se pela presença de saliências e reentrâncias das duas
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camadas que se ajustam entre si, formando as papilas dérmicas (GUIRRO e GUIRRO,
2004).
Sob a derme, está a tela subcutânea (subQ). Também denominada de hipoderme,
essa tela é constituída dos tecidos conjuntivos areolar e adiposo. As fibras se estendem
da derme fixando a pele à tela subcutânea, a qual, por sua vez, se conecta aos tecidos e
órgãos subjacentes. A tela subcutânea serve como um depósito para armazenar gordura
e contém os grandes vasos sanguíneos para irrigação (TORTORA e GRABOWSKI,
2006).
Como funções estéticas e sensoriais, consideram-se a aparência, o toque, a
maciez, a exalação de odores, a coloração e a sensibilidade da pele, responsáveis pela
atração física e social do homem (HARRIS, 2003).
Esses tecidos, como quaisquer outros, gradualmente passam por mudanças de
acordo com a idade, sendo que, na pele, essas alterações são mais facilmente
reconhecidas. Atrofia, enrugamento, ptose e lassidão representam os sinais mais
aparentes de uma pele senil (ORIA, 2003).
Desde os primórdios da civilização, os cuidados com a pele fazem parte de um ritual
muito além da higiene. Egípcios, romanos e gregos tinham no banho um sofisticado
prazer. Tornaram-se pioneiros no desenvolvimento de tratamentos estéticos ligados ao
relaxamento. No Egito, as mulheres costumavam se banhar várias vezes ao dia, alternando
águas quente e fria. Os banhos eram seguidos de massagens com óleos aromáticos. Em
Roma, as mulheres eram atendidas por escravas conhecidas como cosmetae cujos nomes
dariam origem, não acidentalmente, a palavra cosmética. Os gregos, por sua vez, seriam
responsáveis pela invenção dos cremes faciais contra rugas. Sua fórmula de sucesso
incluía cera derretida, azeite de oliva, rosas esmagadas para proporcionar um aroma
agradável e lanolina extraída da lã de ovelhas, ingredientes usados pela cosmetologia até
hoje (SAGGIORO, 1999).
O uso de cremes, géis, loções e tônicos para limpar a pele deve fazer parte das
atribuições diárias do indivíduo contemporâneo. O resultado será bem gratificante e, em
médio e longo prazo, econômico, podendo adiar tratamentos mais caros e invasivos
(KEDE et al., 2010 apud LUCA et al., 2013).
Até o início da década de 1960, teorias científicas sugeriam, os ingredientes
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cosméticos raramente penetram nas camadas da pele. Entretanto, hoje muitos
especialistas suspeitam que a penetração ocorra com a maioria dos ingredientes
(FARAHMAND e MAIBACH, 2012 apud LUCA et al., 2013). A definição penetração
cutânea é usada para produtos com ação tópica, ou seja, formulações cosméticas e
dermatológicas. Enquanto, a permeação cutânea têm sido mais empregada para produtos
de ação sistêmica, ou seja, transdérmicos. A substância pode permear através da pele
por meio de difusão ativa e atravessar a epiderme intacta ou através dos apêndices da
pele, porém ocupam pequena porcentagem da superfície toda, por isso, a permeação é
considerada pequena (LEONARDI, 2008 apud LUCA et al., 2013).
Como consumidores e profissionais de saúde têm se tornado mais esclarecidos no
que concerne à segurança, a penetração cutânea de componentes de fragrância e de
ingredientes cosméticos tem sido de grande interesse. Por conseguinte, a indústria tem
procurado formas de estimar a penetração de estruturas químicas através da pele
humana (FARAHMAND e MAIBACH, 2012 apud LUCA et al., 2013).
1.3. Mercado de cosméticos
Atualmente, o Brasil compreende a terceira posição no mercado mundial de
higiene pessoal, perfumaria e cosméticos (ABIHPEC, 2012), ficando atrás somente dos
Estados Unidos e do Japão.
A participação crescente da mulher brasileira no mercado de trabalho aliada à
utilização de tecnologia de ponta e o consequente aumento da produtividade são os
principais fatores para o excelente crescimento do setor. Além desses fatores, também
merecem destaque os lançamentos constantes de novos produtos, atendendo cada vez
mais às necessidades do mercado, e o aumento da expectativa de vida, trazendo a
necessidade de conservar uma impressão de juventude (CORRÊA, 2006).
A relação do brasileiro com o cosmético é proveniente de uma cultura de
miscigenação de raças tornando o culto ao corpo saudável explicável pelo clima tropical
e a utilização de trajes leves que deixam as partes do corpo à mostra; à fascinação das
mulheres brasileiras pelos cabelos; a utilização de maquiagem diariamente, ao menos
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pelo uso do batom; à higiene pessoal, através do banho diário, da utilização de
desodorantes, deocolônias e à busca pela juventude da pele (OLIVEIRA, 2010).
Verifica-se que as grandes empresas do setor de cosméticos e, principalmente, as
empresas transnacionais adotam estratégias definidas com relação ao desenvolvimento
de novos produtos investindo em centros próprios de Pesquisa e Desenvolvimento
(P&D) e/ou parcerias extramuros e com processos de gestão do conhecimento
estruturados. Já as pequenas e médias empresas, muitas vezes não dispõem de capital
necessário para a realização de investimentos de P&D ou de uma situação econômico-
financeira que permita assumir os riscos inerentes ao desenvolvimento de novos
produtos. Muitas dessas empresas também não dispõem de uma gestão do
conhecimento. No Brasil, embora seja predominante a presença das grandes empresas
internacionais do setor, pode-se observar a existência de um grande número de
empresas de capital nacional, algumas das quais vem realizando atividades de
desenvolvimento de produto no país, adotando estratégias no sentido de incrementar sua
participação no mercado nacional e também no mercado internacional (AVELAR e
SOUZA, 2005).
Sendo um mercado extremamente crescente e com consumidores cada vez mais
preocupados com a origem e os tipos dos ativos encontrados nos cosméticos, observou-
se o aumento, nas últimas décadas, no consumo de produtos formados por ativos
naturais.
Esse é o resultado da preocupação da sociedade contemporânea com a
preservação do meio ambiente, da constituição de um estilo de vida mais saudável e do
desenvolvimento da consciência de sustentabilidade.
Para Gomes (2009), a questão ambiental ganhou uma dimensão maior e universal
na virada do século XX, e a preocupação com a qualidade de vida passou a ser
praticamente assunto de saúde pública: consumir produtos naturais passou a ser visto
como uma questão moderna, de caráter atual, símbolo de uma nova fase no mundo do
consumo.
Segundo Miguel (2011), estudos indicam o mercado internacional de produtos
naturais para cuidado pessoal tem um crescimento médio anual avaliado em torno de 8 a
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25%. E esses mesmos estudos também indicam para os mercados de produtos sintéticos,
do mesmo setor, uma taxa média de crescimento inferior: girando em torno de 3 a 10%.
1.4. Percepção do consumidor
A percepção é o processo pelo qual o indivíduo seleciona, organiza e interpreta as
informações recebidas, para atribuir significado ao meio em que vive. No livro
Administração de marketing, o autor norte-americano, Philip Kotler, explica: o
comportamento do consumidor é influenciado por quatro fatores principais: cultural
(cultura, subcultura e classe social); social (grupos de referência, família, papéis e
posições sociais); pessoal (idade e ciclo de vida); e psicológico. Esses fatores fornecem
subsídios para entender o consumidor de maneira efetiva (FRANQUILINO, 2013).
O consumo é um processo contínuo e vai muito além da troca de uma quantia
financeira por uma mercadoria ou serviço. Envolve questões e influenciam o
consumidor antes, durante e depois da compra, e também todo o processo de busca,
escolha e tomada de decisão. Quando se fala de consumo, se fala não só de objetos
tangíveis, mas de experiências, ideias e características intangíveis (SOLOMON, 2002).
A compreensão da relação entre indivíduos e objetos de consumo, suscita o
entendimento do Homem como um ser dotado de necessidades sociais que sobrepujam
as necessidades naturais. As suas escolhas apresentam uma lógica social pautada nos
significados do grupo ao qual pertence. O homem satisfaz suas necessidades
fundamentadas nos significados sociais da sua cultura. A natureza (instinto) determina o
que não pode deixar de ser feito para assegurar a sobrevivência dos indivíduos, mas é o
convívio social, o fator determinante dos objetos a serem consumidos pelo grupo
(MELO et al., 2005).
Segundo Melo et al. (2005), os cosméticos estão associados a imagens, como a
saúde, a preservação ou mesmo, a recuperação da juventude. As relações entre beleza e
saúde são recorrentes nos anúncios de cosméticos. Nas mensagens publicitárias, as
marcas desse setor comunicam, não somente o corpo perfeito, a saúde, mas também a
beleza e a juventude comparecem como mercadorias simbólicas anunciadas, subliminar
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e conjuntamente, com a mercadoria concreta: o produto cosmético. Com a adoção de
novos hábitos alimentares, a prática de atividades físicas, a utilização de recursos
técnicos que embelezam o rosto, corpo, pele, cabelos, além da aplicação diária do
produto, os resultados benéficos prometidos podem ser conquistados.
Para Souza (2013), o fato de um cosmético ser uma mercadoria a qual não precisa
necessariamente de uma indicação e ainda o pesado marketing apresentado por esses
produtos, gera-se o aumento do consumo. Muitas vezes desnecessário e, ainda partindo
do pressuposto do cosmético poder ser usado por um longo período, é necessário a
garantia da segurança desses itens.
Em geral, um consumidor que tem problema com cosmético tentará
primeiramente substituir o produto por outro. Somente quando o produto suspeito não
pôde ser identificado ou quando a dermatite persiste após o produto suspeito ter sido
substituído, o consumidor consulta um médico clínico geral, e raramente um
dermatologista (DOOMS-GOOSSENS, 1993).
1.5. Os ativos presentes nos cosméticos
Em nível mundial cresce a chamada “onda verde”, isto é, o interesse pela
utilização de produtos vegetais, tanto do ponto de vista farmacológico como do
cosmetológico. Essa utilização abrange:
Extratos: são preparações líquidas obtidas pela extração de seus ativos por
diversos métodos, veiculados geralmente em propilenoglicol, dando origem aos
extratos glicólicos, muito utilizados em produtos cosméticos;
Óleos fixos vegetais: são obtidos dos frutos ou apenas das sementes e são ricos
em triglicerídeos (fração saponificável). A fração insaponificável é heterogênea, e
nela encontra-se: esqualeno, fitosterois, provitaminas e vitaminas lipossolúveis,
principalmente as vitaminas A e E. É uma fração muito importante para a
cosmética, e muitos dos óleos utilizados têm seu valor exatamente por conter essa
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fração. São utilizados na cosmética, principalmente, por suas propriedades de
emoliência, evitando o ressecamento da pele;
Manteigas: são ricas em ácidos graxos, esteróis e vitaminas. As principais são:
Manteiga de cupuaçu: obtida das sementes da Theobroma grandiflorum. É um
produto da Amazônia, naturalmente refinado;
Manteiga de oliva, manteiga de abacate, manteiga de manga: têm ação
antioxidante, auxiliando no tratamento da pele envelhecida, graças à suas
propriedades emolientes e revitalizantes;
Manteiga de cacau: obtida de sementes do cacau, é constituída principalmente de
glicéridos do ácido palmítico e oleico. Tem propriedades emolientes;
Manteiga de karité: obtida de sementes da Butyrospermum parkii K (Shea), árvore
de origem africana. Rica em lipídios (45% A 55%), constituídos por uma mistura
equilibrada de ácido oleico e esteárico. O uso da manteiga de karité como um
unguento para massagem corpo, emoliente para cabelo, suavizantes de ferimentos
e eritema é uma antiga tradição na África. É nutritivo (antirrugas), emoliente,
protetor solar e coadjuvante na elasticidade cutânea;
Manteiga de shorea (Shorea butter): cera sólida, tem uso similar ao da manteiga
de karité. Não é oleosa ao tato e é suave à pele;
Manteiga de bacuri (Plantonia insigns): é indicada para hidratar peles cansadas e
também apresenta eficácia em tratamento contra acne;
Manteiga de ucuuba (Virola surinamensis): por sua comprovada ação anti-
inflamatória, cicatrizante e antisséptica, é indicada para peles oleosas e acneicas.
Seguindo toda essa tendência do aumento no consumo de produtos naturais, o uso
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desenfreado de cosméticos deste gênero, tendo em mente serem 100% seguros, pode ser
um dado um tanto quanto preocupante.
Assim, é importante o entendimento claro do conceito de ativo, seja qual for sua
procedência: natural ou sintético.
Uma formulação ou composição cosmética, contém substâncias ou grupos de
substâncias com as seguintes categorias: veículo ou excipiente, ativos, conservantes,
corretivos, corantes, pigmentos e ainda perfumes ou óleos essenciais.
Os ativos são substâncias químicas ou biológicas (sintéticas ou naturais) com
atividade comprovadamente eficaz sobre a célula do tecido. Enquanto o veículo é
responsável pelo transporte, pela forma cosmética e finalmente por garantir a melhor
penetração na pele, o ativo promove a ação específica sobre a célula, podendo ser de
várias formas, por exemplo, hidratação, nutrição, cicatrização, revitalização, entre
outros (BORGES, 2010).
Desta forma, há cosméticos de ação adstringente, com ativos de extratos vegetais
ricos em taninos, de ação anti-inflamatória; com alfa-bisabolol, de ação antisséptica,
como é o tea tree oil, dentre outros. Podem ser de origem vegetal, animal, obtidos
sinteticamente ou por biotecnologia (REBELLO, 2011).
Após a criação de uma fórmula cosmética, é importante a procedência de alguns
testes antes de fabricá-la e comercializá-la.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2008), conforme a
legislação brasileira vigente e harmonizada no Mercosul, exige a apresentação dos
dados de Controle de Qualidade (especificações) no ato da regularização de um produto
cosmético. Nas inspeções, é exigida a apresentação das especificações, dos métodos de
ensaio e dos registros das análises. A empresa deve cumprir o estabelecido no Termo de
Responsabilidade, constante do dossiê de registro/notificação, por meio do qual declara
que os produtos atendem aos regulamentos e outros dispositivos legais referentes ao
controle de processo e de produto acabado, e aos demais parâmetros técnicos relativos
às Boas Práticas de Fabricação.
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1.6. Perigo: o uso incorreto de cosméticos
Os cosméticos são formulados utilizando ingredientes apropriados de alto perfil
de segurança e em níveis de concentração adequada. Muitos desses ingredientes foram,
de início, introduzidos para uso na indústria farmacêutica e, posteriormente, para
cosméticos. Embora não seja a unanimidade, pode-se afirmar que os cosméticos são
produtos seguros quando utilizados de maneira adequada e seguindo recomendações do
fabricante (OLIVEIRA, 2010).
Um cosmético regulamentado como natural, é formado por 95% de ingredientes
naturais (ECOCERT, 2012), e não isenta o seu consumidor de desenvolver um processo
de irritabilidade em decorrência do seu uso.
Segundo Pinto (2013), a correta formulação de cosméticos à base de plantas é
mais complexa e de eficácia mais imprevisível comparadas a moléculas definidas,
provenientes de síntese química. Parte dos produtos cosméticos naturais possuem um ou
mais ingredientes vegetais para justificar o marketing ecológico, após o qual se pode
esconder a presença de componentes químicos ativos cuja segurança e eficácia
proporcionam a satisfação do usuário. Os ingredientes de origem vegetal chegam às
mãos do formulador, quase sempre procedentes de indústrias intermediárias,
utilizadoras de uma complexa tecnologia extratora e estabilizadora, acompanhada, por
vezes, de biotecnologias modificadoras das moléculas vegetais para torná-las mais
adequadas para uma determinada indicação.
Com o crescimento da indústria cosmética, juntamente das pesquisas
desenvolvedoras de ativos dermatológicos e bases diferenciadas, observa-se, ainda
assim, não raros os casos de intoxicação por cosméticos. O grande problema é feito pelo
usuário nunca ou quase nunca relacionar seu processo alérgico ou sua intoxicação ao
uso destes produtos. Isso porque o consumidor acredita no cosmético e nos benefícios
associados por ele, não aceitando que possa causar algum dano à saúde, tamanha a
crença colocada neste tipo de produto (SOUZA, 2013).
O grande problema da questão da toxicidade nos cosméticos talvez seja o grande
número desses produtos usados no cotidiano, estando eles em contato direto com o
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corpo humano, podendo assim afirmar que é possível ficar exposto num só dia a uma
série de substâncias químicas de natureza e comportamento específicos (SANTOS,
2008).
Muitas irritações presenciadas por vezes na pele podem ser definidas como
intolerâncias locais, podendo corresponder a reações de desconforto, variando sua
intensidade desde ardor, coceira e pinicação. Podendo chegar até a corrosão e destruição
do tecido (CHORILLI et al., 2006).
Perfumes e conservantes são os alérgenos mais frequentemente encontrados em
cosméticos embora, evidentemente, outros tipos de ingredientes possam estar
envolvidos. Por conseguinte, são necessários extensos e investigativos testes de alergia
para identificar todos os alérgenos em potencial (GOOSSENS e LEPOITTEVIN, 2003).
Rancé (2011) explica como os alérgenos presentes nos cosméticos podem chegar
à pele de várias maneiras diferentes: por aplicação direta, por ocasional contato com a
superfície contaminada com alérgeno, por contato aerotransportado (por exemplo,
vapores ou gotas), por transferência pelas mãos às áreas mais sensíveis (por exemplo, as
pálpebras), por um produto usado pelo parceiro (ou qualquer outra pessoa), ou ser
fotoinduzida, resultantes do contato com um foto-alérgeno e exposição à luz solar, em
particular luz UV-A.
Assim, independente do grau de risco que o produto cosmético apresenta, este
deve ser seguro. Entende-se por segurança de cosméticos a ausência razoável de risco
de lesão significativa em condições de uso previsíveis, ou seja, defini-se segurança em
termos de probabilidade de que o produto não provoque danos significativos. Quando se
fala em segurança de produtos cosméticos, deve-se entender: não existe 100% de
segurança em nenhuma substância química, pois a água pode ser perigosa se
administrada em quantidades inadequadas (CHORILLI et al., 2007).
1.7. Toxicologia
A ciência responsável por estes estudos de intoxicação é a Toxicologia. É a
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ciência multidisciplinar que estuda a interação entre o organismo e um agente químico
capaz de produzir respostas nocivas, levando ou não à morte ou mesmo comprometendo
uma função orgânica (SANTOS, 2008).
Os conhecimentos sobre toxicologia datam de registros egípcios de 1500 a.C.,
onde o homem tinha conhecimentos tóxicos do efeito do veneno extraído de variedades
de plantas e animais (OLIVEIRA, 2010).
Gomes (2013) levantou alguns possíveis componentes ativos, de origem sintética
e natural, eventualmente sensibilizadores da pele:
Bálsamo de Peru: ativo natural presente em perfumes, cremes, loções e águas de
colônia;
Lanolina: ativo natural usado para hidratação, presente em cremes e loções;
Triclosan: ativo sintético com função antisséptica, presente em desodorantes e
antiperspirantes;
Hidroquinona: ativo de origem sintética ou natural com função clareadora,
presente em fotoprotetores e bronzeadores;
Cera de carnaúba: ativo natural com propriedade de coloração, presente em bases
para maquiagem e batons;
Cera de abelha: ativo natural com função emoliente, moldante,
impermeabilizante, cicatrizante e anti-inflamatória, presente em máscaras e cremes
depilatórios;
Folhas de Henna: ativo natural com propriedade de coloração, presente em
tinturas para cabelo;
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Óleo de menta: ativo natural com propriedade constritora, analgésica e
bactericida, presente em cremes de barbear;
Óleo de coco: ativo natural com função umectante e auxiliadora de hidratação,
presente em xampus e cremes de barbear.
2. Objetivos
O objetivo deste levantamento comparativo entre cosméticos constituídos por
ativos de origem sintética e cosméticos constituídos por ativos de origem natural é
estudar a visão do consumidor com relação a esses dois tipos de produtos, e a sua opção
de compra.
3. Justificativa
Existe uma preocupação da sociedade contemporânea com a qualidade de vida. O
aumento do consumo de produtos naturais, tal como do aumento na procura por
cosméticos, de uma forma geral, os quais retardem o envelhecimento e superem
dificuldades nas características físicas do indivíduo, trazendo assim beleza e jovialidade.
Assim, o intuito do presente projeto é desenvolver um estudo que oriente o
consumidor quanto ao uso correto dos cosméticos como um todo, sendo eles de origem
natural ou não-natural.
4. Metodologia
O presente projeto foi desenvolvido por meio de levantamento bibliográfico e
demais literaturas científicas já existentes sobre o tema, abordando o âmbito de tendências
do mercado de cosméticos, farmacologia dos ativos, toxicologia e ainda fisiopatologia
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dermatológica. Sendo realizada uma revisão sobre o assunto com base em todo o material
levantado e encontrado.
5. Considerações finais
Visto o mercado de cosméticos estar em crescente ascensão, faz necessário o seu
correto entendimento, bem como uma devida atenção a utilização correta de produtos
deste âmbito. Visando assim a genuína eficácia proposta pelos artigos cosméticos nas
propagandas feitas ao consumidor.
Informar, conscientizar, além das demais funções propostas por esses tipos de itens:
são parâmetros de suma importância ao comercializar-se um cosmético.
Usar produtos específicos e que se adaptem a cada tipo de fisiologia é
imprescindível na prevenção de patologias, a exemplo de dermatites de contato e
eritemas.
Cada consumidor é único e com características físicas e genéticas próprias. Por isso,
o uso de cosméticos deve ser de forma responsável e respeitosa das características de cada
um. Devendo-se sempre procurar um médico em cada de qualquer tipo de alergia ou
patologia mais grave.
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Aceito em 16/12/2013
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NUTRICOSMÉTICOS – LEGISLAÇÃO NACIONAL
NUTRICOSMÉTICS – NATIONAL LAW
Silvia Midori Izumi Morimoto1
Letícia de Cassia Valim Dias2
Célio Takashi Higuchi3
RESUMO
O mercado de cosméticos apresenta-se como um dos setores de maior crescimento
na última década. Aliado a este crescimento com desenvolvimento científico e
tecnológico nos últimos dez anos foram surgindo novos conceitos no segmento do
mercado de cosmética, como é o caso de nutracêuticos, cosmecêuticos e mais
recentemente os nutricosméticos. São produtos com novas categorias e conceitos, uma
vez não é nem cosméticos e nem alimentos. Porém, por se tratar de um tema novo,
pouco estudo tem a respeito principalmente na esfera jurídica. O presente estudo tem
por objetivo de levantar o conceito de nutricosmético, bem como, a legislação pertinente
(ao tema), com a finalidade de contribuir para os estudos sobre o setor de cosméticos e
alimentos.
Palavras chaves: Nutricosmético, alimentos funcionais, legislação brasileira
1 Acadêmica do Curso de Tecnologia em Estética e Cosmética – Centro Universitário Senac – São Paulo
2Professor (a)/Orientador (a) do Curso de Tecnologia em Estética e Cosmética – Centro Universitário Senac – São
Paulo email: [email protected]
3 Professor (a)/Orientador (a) do Curso de Tecnologia em Estética e Cosmética – Centro Universitário Senac – São
Paulo email: [email protected]
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ABSTRACT
The cosmetics market is presented as one of the fastest growing sectors in the last
decade. Allied to this growth with scientific and technological development in the last
ten years new concepts have emerged in the market segment of cosmetics, such as
nutraceuticals, cosmeceuticals and more recently nutricosmetics. They are products with
new categories and concepts, since it is neither cosmetic nor food. However, because it
is a new theme, few study has about it mainly concerned in the legal field. The present
study aims to bring the concept of nutricosmetics, as well as the pertinent legislation, in
order to contribute to studies on the cosmetics and food industry.
Keywords: nutricosmetic, functional foods, Brazilian legislation
INTRODUÇÃO
O mercado de cosméticos tem um papel destaque na economia brasileira com
grande crescimento, transformando o mercado mundial do setor. Atualmente, o Brasil
ocupa a terceira posição do mercado mundial de produtos de higiene pessoal,
perfumaria e cosméticos. Os dados foram divulgados pela Associação Brasileira de
Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC) divulgou
recentemente os dados do Euromonitor Internacional.
Conforme a tabela da ABIHPEC, o mercado brasileiro foi o que mais cresceu,
com um aumento de 18,9%, somente no período entre 2010 e 2011. Uma comparação
pode ser feita em relação aos países de maior mercado cosmético, que é o norte-
americano e o japonês. Nos Estados Unidos houve um crescimento de 3,9% e no Japão,
de 9% desse mercado, nesse período. Isso represente para o país, um faturamento de
US$ 43 bilhões no ano de 2011. No Japão esse faturamento chegou a US$ 47, 2 bilhões
e nos Estados Unidos, chegou à cifra de US$ 63 bilhões (ABIHPEC 2010).
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Tabela 1 – Mercado Mundial de Produtos de Higiene Pessoal, Perfumes e
Cosméticos
Higiene Pessoal, 2010 2011
Perfumaria e US$ Milhões US$ Milhões
Cresciment
o
Participaçã
o
Cosméticos
(Preço ao
consumidor)
(preço ao
consumidor) % %
Mundo 387.727,10 425.866,50 9,8
1 Estados
Unidos 60.774,00 63.086,40 3,9 14,8
2 Japão 43.381,70 47.267,70 9 11,1
3 Brasil 36.186,90 43.028,50 18,9 10,1
4 China 23.879,40 27.704,30 16 6,5
5 Alemanha 17.730,30 19.419,90 9,5 4,6
6 França 16.079,10 17.294,70 7,6 4,1
7 Reino Unido 15.592,80 17.019,80 9,2 4
8 Rússia 12.373,00 14.187,00 14,7 3,3
9 itália 12.158,10 12.964,70 6,6 3
10 Espanha 10.473,30 11.007,40 5,1 2,6
Top Tem 258.598,60 272.980,40 9,9 64,1
Fonte: ABIHPEC 2011
Em relação ao mercado mundial de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos, o
Brasil é o primeiro mercado em perfumaria e desodorantes; segundo mercado em
produtos para cabelo, produtos para higiene oral, masculinos, infantil, proteção solar; e
o terceiro em produtos cosméticos; quarto em depilatórios; quinto em pele, conforme
dados do Euromonitor (ABIHPEC, 2011). Nesse mercado de cosméticos em
transformação, também surgem novos produtos, bem como novos conceitos, criando
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novos nichos e segmentos. Nesta última década apareceram os cosméticos com
conceitos de sustentabilidade, de saudáveis como orgânicos e também os
nutricosméticos.
Nos últimos dez anos foram surgindo novos conceitos no segmento do mercado
de cosmética, como é o caso de nutracêuticos, cosmecêuticos e mais recentemente os
nutricosméticos. São produtos com novas categorias e conceitos, uma vez não é nem
cosméticos e nem alimentos. O presente estudo tem por objetivo de levantar essa nova
categoria e o conceito de nutricosmético, bem como, a legislação pertinente ao tema,
com a finalidade de contribuir para os estudos sobre o setor de cosméticos e alimentos.
NUTRICOSMÉTICOS
O termo nutricosméticos deriva da combinação do conceito de alimento, fármaco
e cosmético (GRAMMENOU, 2008 apud CORREIA, 2012), sendo como a última
tendência da indústria da beleza, caracterizado pela ingestão de alimentos com o
propósito de melhorar os aspectos estéticos e também a saúde. Para Mellage (2008),
nutricosméticos são produtos para administração oral, formulados e comercializados
especificamente para propósitos de beleza, podendo ser apresentados na forma de
pílulas, alimentos, líquidos ou comprimidos.O conceito de beleza de dentro para fora,
são caracterizados pelo uso de dieta e de suplementos orais para produzir benefícios na
aparência física (DRAELOS, 2010). Assim, surge uma nova classe de produtos no
mercado, os nutricosméticos.
Partindo deste conceito de beleza, a indústria cosmética procura a emergência de
produtos cujo objetivo é prevenir o envelhecimento cutâneo sem abordagens invasivas
(peeling químicos, físicos, lasers, injeções de preenchimentos, entre outros). Desde
então, indústrias começaram a lançar suplementos em cápsulas para a beleza no
mercado mundial. Quando esses primeiros produtos foram desenvolvidos, os objetivos
eram estimular a drenagem excedente de fluídos para reduzir o aspecto da celulite.
Hoje, diferentes categorias de suplementos alimentares têm sido desenvolvidas,
direcionadas às diferentes necessidades da pele, tanto dermocosméticas quanto
dermatológicas (RONA e BERARDESCA, 2008).
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Rona e Berardesca (2008) apud Anunciato (2011), dispõe que a abordagem
racional para o tratamento da pele é baseado no efeito sinérgico das substâncias
funcionais aplicadas localmente, onde o problema se estabelece, e outros agentes com
ação interna que corrigem, restauram funções alteradas ou condições para garantir a
correta ingestão de nutrientes ou substâncias ativas.
A deficiência nutricional de vitaminas, minerais ou ácidos graxos essenciais acaba
ocasionando problemas cutâneos. A moderna ciência nutricional está desenvolvendo
uma nova compreensão na relação entre ingestão de alimentos e a saúde, bem como, o
interesse nas dietas e ingredientes específicos, bem como, os suplementos na redução de
riscos para aparência da pele. (BOELSMA, 2001). Desta forma, as indústrias
cosméticas, em parceria com a indústria de alimentos, colocou uma nova categoria de
produtos que prometem melhorar a aparência da pele, dos cabelos e unhas. Esses
produtos são formulados com vitaminas C e E, ácidos graxos ômega 3 e ômega 6,
coenzima Q10, chá verde, entre outras substâncias, prometendo prevenir o
envelhecimento, a queda dos cabelos, o fortalecimento de unhas e até a diminuição da
celulite (BOELSMA, 2001; RONA e BERARDESCA, 2008; DRAELOS, 2010;
ANUNCIATO, 2011). Os benefícios atribuídos a este compostos incluem redução do
envelhecimento cutâneo, fortalecimento dos anexos da pele como unhas e cabelos e
redução da adiposidade (FROST e SULLIVAN apud CORREIA, 2012).
Trata-se de uma tendência que está a ganhar popularidade em todo o mundo
devido ao desejo crescente dos consumidores irem além correlação às soluções
convencionais de beleza. A combinação de fatores como, as pressões ambientais e
sociais e o surgimento da “cultura do corpo”, associadas ao envelhecimento da
população e maior educação para a saúde, são susceptíveis de conduzir a uma
aceleração ainda maior desse ritmo (KING, 2011 apud CORREIA, 2012). Por se tratar
de um produto relativamente novo no mercado brasileiro, os nutricosméticos não se
enquadram nem na categoria de cosméticos e nem na categoria de alimentos. A Anvisa
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o órgão fiscalizador tanto alimentos, como
para os cosméticos, e enquadra os nutricosméticos na categoria de alimentos funcionais.
No trabalho apresentado por ANUNCIATO (2011, apud MELLAGE, 2008), os
nutricosméticos é uma intersecção das indústrias de cosméticos e alimentos (figura 1).
Outras áreas de intersecção são apresentadas, como os cosmecêuticos, formados pelas
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indústrias de cosméticos e medicamentos, e os nutracêuticos, resultado da convergência
das indústrias de medicamentos e alimentos.
Figura 1
Convergência entre nutricosméticos, nutricêuticos e cosmecêuticos
Fonte: MELLAGE, 2008
Destacamos alguns produtos lançados no Brasil, publicado na Cosmetics &
Toiletries (2011):
Cosméticos
Medicamentos Alimentos
Nutricosmético Cosmecêutico
Nutracêuticoo
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- Beauty’In, a linha de “aliméticos” é composta de três variantes: beatycandy
(balas a base de colágeno hidrolisado), beatydrink (bebida com vitaminas e minerais),
e a última a do portifólio, a beautybar (cereais em cubos, com colágeno, vitaminas e
antioxidantes). Há uma versão especial, com ácido fólico, para gestantes.
- Biolab, o Reaox, com ação antioxidante direcionada à prevenção da formação
de radicais livres, é o primeiro nutricosmético da linha dermatológica da empresa. O
produto é formulado com luteína purificada, um agente antioxidante que aumenta a
hidratação e a elasticidade da pele.
- Biomarine, a marca destaca a criação do primeiro nutricosméticos em spray
oral do mundo, o Bioinova. A formulação traz licopeno, geleia real, vitamina C e E e
colágeno hidrolisado.
- Biotec Democosméticos, o Bio-Arct provém da Chrondus Crispus, alga
vermelha que vive nas profundezas do Mar Ártico, cuja sobrevivência só é possível
devido à concentração de peptídeos, que tem a finalidade de proteger a pele contra as
agressões externas, auxiliar na cicatrização cutânea, hidratar e estimular o crescimento
celular, proporcionando produção de colágeno.
- Imedeen, o último lançamento é o Imedeen Radiant Complexion. O produto
combina o complexo biomarinho (que estimula a síntese das fibras de colágeno e
elastina para melhorar a densidade e a estrutura da pele).
- Innéov, o Nutri-Care é um concentrado com ômega-3 que protege a fibra
capilar contra as agressões externas, amenizando a queda dos cabelos.
- Nutricé, a tecnologia Actilease confere ao Nutricé Sun Rescue a absorção dos
componentes da formulação, que traz licopeno, betacaroteno e vitamina E. As cápsulas
preparam a pele para exposição ao sol e oferecem contra os efeitos dos raios UV.
- Nutrilatina, a Rennovee Beauty Solution, um dos 15 itens da linha Rennovee, é
um suplemento que combina as vitaminas A, C e B6 e E com biotina, cobre, zinco e
cromo. A proposta é fortalecer os cabelos, as unhas e firmeza da pele.
COSMECÊUTICOS
Os cosmecêuticos enquadram-se na interseção das indústrias cosméticas e
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farmacêuticas. Os termo cosmecêutico foi estabelecido por Albert Klingman no
National Scientific Meeting of de Society of Cosmetic Chemiss (1984) referindo-se a
produtos topicamente que não são meramente cosméticos (que enfeitam ou camuflam a
pele), pois são capazes de alterar o status da pele, não sendo porém, considerados
medicamentos (KLIGMAN, 2005 apud ANUNCIATO, 2011).
Reszko, Berson e Lupo (2009 apud ANUNCIATO, 2011), dividem os
cosmecêuticos em sete categorias principais de produtos: fotoprotetores solares,
antioxidantes, anti-inflamatórios, clareadores, reparadores de colágeno, esfoliantes e
reparadores da barreira/hidratantes. Os consumidores da geração denominada como
baby-boomers, indivíduos nascidos entre 1946 e 1964, caracterizados pela avidez na
redução de sinais do envelhecimento e na suavização de outras imperfeições cutâneas,
são os maiores influenciadores para o crescimentos dos cosmecêuticos (KUMAR, 2005
apud ANUNCIATO, 2011).
Os cosmecêuticos podem proteger a pele contra o fotodano e, em alguns casos,
repará-la por meio de estímulo de produção de colágeno novo. Além disso, associado à
prescrição de retinóides e fotoprotetores, podem ser usados como coadjuvantes no
processo de rejuvenescimento cutâneo (CHOI; BENSON, 2006 apud ANUNCIATO,
2011).
NUTRACÊUTICOS
O termo nutracêutico foi definido por Stephen DeFelice, fundador e presidente da
Fundação para Inovação em Medicina (Foundation for Innovation in Medicine –FIM)
como “um alimento ou parte de alimento que proporciona benefícios médicos para
saúde incluindo a prevenção e/ou tratamento de doença. Tais produtos podem variar
desde nutrientes isolados, suplementos dietéticos e dietas, a alimentos geneticamente
modificados, alimentos funcionais, produtos herbais e alimentos processados tais como
cereais, sopas e bebidas” (ANUNCIATO, 2011).
Vários nutracêuticos podem ser produzidos através de métodos fermentativos com
o uso de microorganismos considerados como GRAS (Generally Recognized as Safe).
Os nutricêuticos podem ser classificados como fibras dietéticas, ácidos graxos, poli-
insaturados, proteínas, peptídeos, aminoácidos ou cetoácidos, minerais, vitaminas
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antioxidantes e outros antioxidantes (glutationa, selênio) (ANDLAUER E FÜRST, 2002
apud MORAES e COLLA, 2006).
Segundo Moraes e Colla (2006), o alvo dos é significativamente diferente dos
alimentos funcionais, por várias razões, enquanto que a prevenção e o tratamento de
doenças (apelo médico) são relevantes aos nutracêuticos, apenas a redução de risco da
doença estão envolvidos como os alimentos funcionais. Aos nutracêuticos incluem
suplementos dietéticos e outros tipos de alimentos, os alimentos funcionais devem estar
na forma de um alimento comum (KWAK e JUKES, 2001 apud MORAES e COLLA,
2006).
Com base nas acima informações, o Quadro 1 apresenta uma visão geral das
principais diferenças entre os produtos comercializados com os conceitos de
nutricosméticos, nutracêuticos e cosmecêutico (ANUNCIATO, 2011).
Quadro 1 – Principais diferenças entre nutricosméticos, nutracêuticos e
cosmecêuticos
Nutricosméticos Cosmecêuticos Nutracêuticos
Forma de
apresentação
Suplementos em
cápsulas
Formulações
cosméticas
Suplementos em
cápsulas
ao consumidor ou alimentos como como cremes, loções, ou alimentos como
bebidas, balas e sprays, xampus. bebidas, balas,
iogurtes.
Iogurtes
Apelos Apelos de beleza: Apelos de beleza: Apelos médicos:
antiruga, anticelulite, antiruga, anticelulite, Cardioprotetores
antiacne, antiqueda antiacne, antiqueda Neuroprotetores
Capilar capilar Osteoprotetores
Via de administração Oral Tópica Oral
Fonte: ANUNCIATO, 2011
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ALIMENTOS FUNCIONAIS
O termo necessidade nutricional pode ser definido como as quantidades de
nutrientes e de energia disponíveis nos alimentos que um indivíduo sadio deve ingerir
para satisfazer suas necessidades fisiológicas normais e prevenir sintomas de
deficiências. Assim, as necessidades nutricionais representam valores fisiológicos
individuais que ser expressam em médias para grupos semelhantes da população
(CUPPARI, 2005).
A seleção de alimento é muito complexa e influenciada por vários fatores. Embora
se saiba que quando os alimentos não estão disponíveis é bem provável que ocorram
deficiências, por outro lado a abundância por si só não assegura ótima nutrição devido
ao componente comportamental que determina a escolha de alimentos (CUPPARI,
2005).
Nos anos 1960, surgiram os primeiros estudos científicos que comprovaram a
ligação entre alimentação e saúde, apontando para os impactos negativos do excesso de
gordura e açúcar. Na década de 1980, os produtos diet e light começaram a ser
comercializados, com sucesso (RAUD, 2008).
De acordo com Heasman e Mellentin (2001 apud RAUD, 2008), foram os
japoneses que "inventaram" os alimentos funcionais. O médico Minoru Shirota
descobriu os benefícios da bactéria Lactobacillus casei para a regulação do trânsito
intestinal na década de 1930, quando trabalhava junto aos população carente e
desnutridos. Ele fundou a Companhia Yakult Honsha em 1955 e começou a produzir as
garrafinhas de 65 mililitros de leite fermentado que conheceram progressivamente um
sucesso mundial.
O termo alimento funcional foi inicialmente introduzido pelo governo do Japão
em meados de 1980 como o resultado de esforços para desenvolver alimentos de
possibilitassem a redução dos gastos com a saúde pública (STRINGHETA et al, 2007).
O Japão foi pioneiro na formulação do processo de regulamentação específica
para os alimentos funcionais. Refere-se a alimentos processados, similares em aparência
aos alimentos convencionais, usados como parte da dieta normal e que demonstraram
benefícios fisiológicos e, ou, reduziram o risco de doenças crônicas, além de suas
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funções básicas nutricionais (STRINGHETA et al, 2007).
Os alimentos ou nutrientes funcionais são aqueles que, além das funções
nutricionais básicas produzem efeitos metabólicos e/ou fisiológicos benéficos à saúde
(MOREIRA e CHIARELLO, 2008). Para Silva e Mura (2010), alimentos funcionais são
aqueles que, em razão das propriedades fisiologicamente ativas de seus componentes
alimentícios, oferecem benefícios à saúde que vão além da nutrição básica, ou seja,
além de fornecer os nutrientes, podem prevenir ou tratar algumas doenças.
Alguns alimentos funcionais, quando consumidos de maneira adequada,
mostraram benefícios na prevenção e no tratamento de várias doenças, principalmente
as cardiovasculares, por meio de diferentes mecanismos, entre eles: redução dos níveis
de colesterol sanguíneo, diminuição na formação de placas de gordura nas artérias e
redução na formação de radicais livres (SILVA e MURA, 2010).
Como é o caso da aveia Quaker®, em 1997, a Administração de Alimentos e
Remédios (Food and Drug Administration – FDA) aprovou a primeira alegação de
saúde nos Estados Unidos para um produtos alimentício. A Quaker® comprovou que o
consumo de 3 gramas de fibra beta-glucana presente em 40 gramas de farinha de aveia
ou 60 gramas de farelo de aveia poderia reduzir em 5% a taxa do colesterol no plasma
(UNNEVEHR; HASLER, 2000 apud FRANCO, 2012).
Pode-se dizer que essa forma de rever o alimento é o resultado do
desenvolvimento científico e tecnológico que levou à necessidade de reconhecimento
das relações entre os vários componentes dos alimentos e de seu papel na manutenção
da saúde do ser humano que os consome (CUPPARI, 2005).
LEGISLAÇÃO NACIONAL
Constituição Federal
A Constituição Federal foi promulgada em 05/10/1988, no art. 196, assim dispõe:
“A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
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universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”
(BRASIL1).
Com a Constituição, o direito à saúde foi elevado à categoria de direito subjetivo
público, num reconhecimento de que o sujeito é detentor do direito e o Estado o seu
devedor, além, é obvio, de uma responsabilidade própria do sujeito que também deve
cuidar de sua própria saúde e contribuir para a saúde coletiva. Hoje, compete ao Estado
garantir a saúde do cidadão e da coletividade (SANTOS, 2005).
No Brasil, a saúde é um direito social, inscrito na Constituição Federal de 1988,
que também instituiu o Sistema Único de Saúde (SUS) como meio de concretizar esse
direito. O art. 200 da Constituição Federal estabelece, em seus incisos I e VI, a
competência do SUS para controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias
de interesse para a saúde, e também fiscalizar e inspecionar alimentos, bebidas e águas
para consumo humano (LUCCHESE, 2013).
Para regulamentar a estrutura e o funcionamento do SUS foi aprovada a Lei
Orgânica da Saúde – Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990 – que dispõe sobre as
condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, e a organização e o
funcionamento dos serviços correspondentes. Essa lei afirma, em seu art. 6º, que estão
incluídas, no campo de atuação do SUS, a vigilância epidemiológica, a vigilância
sanitária, a saúde do trabalhador e a assistência terapêutica integral, inclusive
farmacêutica (LUCCHESE, 2013).
As ações da vigilância sanitária tem exatamente o propósito de implementar as
concepções e atitudes éticas a respeito da qualidade das relações, dos processos
produtivos, do ambiente e dos serviços. Por este motivo é que se entende que esta área é
um instrumento importante, tanto para a reversão do nosso antigo modelo assistencial
de saúde, quanto para alimentar ou enriquecer os processos indispensáveis à construção
da cidadania em nosso país (LUCCHESE, 2013).
Código de Defesa do Consumidor
A Lei 8.078 de 11/09/1990, institui o Código de Defesa do Consumidor (CDC)
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(BRASIL2). Destacamos aqui, os principais artigos no que concerne relação de
consumidor de nutricosmético.
Ao fornecedor cabe assegurar que os produtos ou serviços postos no mercado de
consumo sejam seguros, não causem danos, de qualquer espécie, aos consumidores. O
CDC tem várias normas a respeito. O art.6º, tratando dos direitos básicos do
consumidor, estabelece a proteção da vida, saúde e segurança contra o risco provocados
por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos.
O art. 8º, a seu turno, consigna: “Os produtos e serviços colocados no mercado de
consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os
considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-
se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas
a seu respeito” (BRAGA NETTO, 2012).
Na ocorrência de dano, segundo o art. 12, a responsabilidade será do fabricante, o
produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem,
independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem,
fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como
por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. Bem como,
o comerciante é igualmente responsável, caso os fabricante, construtor, produtor ou
importador não puderem ser identificados. (BRASIL2).
O CDC dispõe ainda em seu art. 36, que a publicidade seja veiculada de modo que
o consumidor perceba que está diante de um anúncio publicitário. Há, nas mensagens
publicitárias, evidente e legítimo interesse de vender o produto ou serviço. São por isso
mesmo, informações encharcadas de parcialidades. O consumidor tem o direito
subjetivo de identificar a mensagem que vê ou lê ou ouve é publicitária (BRAGA
NETTO, 2012). Esse dispositivo legal adota o princípio da identificação da publicidade,
ou seja, não pode haver publicidade camuflada: precisa estar evidente para o
consumidor que ele está assistindo um anúncio publicitário (RIOS et al, 2001).
Segundo o parágrafo único do art. 36, o fornecedor deve guardar consigo
elementos técnicos, fáticos, científicos que comprovem as qualidades apregoadas do
produto ou serviços. Não se trata, naturalmente, de obrigar o fornecedor a fornecer
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segredos próprios da atividade empresaria. A lei não exige isso, e seria absurdo se
exigisse. O que se busca é fazer com que as informações publicitárias sejam dotadas,
realmente, de verdade e correção. Isto é, que o fornecedor não aluda a propriedade
inexistentes ou fantasiosas do produto ou do serviço. Temos, mais uma vez, o princípio
da boa-fé objetiva permeando as relações de consumo (BRAGA NETTO, 2012).
Seja por necessidade ou desejos, é de suma importância para o consumidor que
sua expectativa com o consumo não se transforme em uma frustação (SILVA, 2008).
Assim, como o conceito de nutricosmético implica na promoção da beleza através de
um corpo saudável (CORREIA, 2012), necessário que o consumidor seja
adequadamente informado para que não seja induzido a erro (BRAGA NETO, 2012),
uma vez que a compra é efetuada sem a supervisão médica.
Decreto-Lei 986/69
O Decreto-Lei 968 de 21/10/1969 (BRASIL3), instituiu as normas básicas de
alimentos, e no seu artigo art. 1º dispõe que a defesa e a proteção da saúde individual ou
coletiva, no tocante a alimentos, desde a sua obtenção até o seu consumo.
O art.º 2, define todos os tipos de alimentos, mas os que nos interessa é o alimento
enriquecido, disposto no inciso IV, como todo alimento que tenha sido adicionado de
substância nutriente com a finalidade de reforçar o seu valor nutritivo (BRASIL3).
Sendo este controle, registro e fiscalização pelos órgãos competentes do Ministério da
Saúde.
Muito embora, neste período não houvesse muitos estudo sobre alimentos
enriquecidos, bem como, a definição de alimento funcionais tenha surgido somente na
década de 1980, há uma preocupação do legislador com este tipo de alimento e que o
mesmo necessidade de fiscalização.
Lei nº 6.360 de 23/09/1976
A lei nº 6.360/76, dispõe sobre a vigilância sanitária a que ficam sujeitos os
medicamentos as drogas, os insumos farmacêuticos e correlatos, cosméticos, saneantes
e outros produtos (BRASIL4).
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No artigo 1º, além dos itens anteriormente citados, são também sujeitos a
vigilância sanitária, os produtos de higiene, os cosméticos, perfumes, saneantes
domissanitários, produtos destinados a correção estética (BRASIL4).
Mais adiante no artigo 3º, define cada um dos itens relacionados na legislação, e
no seu inciso II, traz a definição de nutrimentos, como substâncias constituintes de
alimentos de valor nutricional, incluindo proteínas, gorduras, hidratos de carbono, água,
elementos minerais e vitaminas (BRASIL4).
Aqui novamente podemos notar a preocupação do legislador ao definir
nutrimentos, e entender que esta classe de alimentos necessita de uma atenção especial
com relação a fiscalização e registro.
Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária
A lei 9.782 de 26/01/1999, define o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, e
criada a ANVISA, vinculado ao Ministério da Saúde (BRASIL5), regulamentado pelo
Decreto nº 3.571, de 21/08/2000 (BRASIL6).
Desta forma, a ANVISA é criada para coordenar o Sistema Nacional de
Vigilância Sanitária, para fomentar e realizar estudos e pesquisas no âmbito de suas
atribuições, conceder registro de produtos, proibir fabricação, cancelar registro, etc.
Incube a ANVISA, regulamentar, controlar e fiscalizar os produtos e serviços que
envolvam risco à saúde pública, como é o caso de alimentos, inclusive bebidas, águas
envasadas, seus insumos, suas embalagens, aditivos alimentares, limites contaminantes
orgânicos, resíduos de agrotóxicos e medicamentos veterinários; cosméticos, produtos
de higiene pessoal e perfumes; quaisquer produtos que envolvam a possibilidade de
risco à saúde, obtidos por engenharia genética, por outro procedimento ou ainda
submetidos a fontes de radiação (BRASIL5).
Considerando que, o nutricosmético não é nem cosmético nem alimento, a
ANVISA enquadra os produtos nutricosméticos na categoria de alimentos funcionais,
porque produzem efeitos metabólicos ou fisiológicos por meio da atuação de um
nutriente na manutenção do organismo. Para ANVISA, o cosmético age topicamente,
portanto, só é aprovado para uso externo. Assim, produtos ingeridos não são
considerados cosméticos e necessitam de outro tipo de registro, bem como, de normas
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mais criteriosas.
A legislação brasileira não define alimentos funcionais. Define a alegação de
propriedade funcional e alegação de propriedade de saúde e estabelece as diretrizes para
sua utilização, bem como as condições de registro para os alimentos com alegação de
propriedade funcional e, ou, de saúde (STRINGHETA, et al 2007).
A ANVISA aprovou as seguintes regulamentações que trata das os alimentos
funcionais:
a) Resolução nº 16/1999, que trata de procedimentos para registro de alimentos e
ou novos ingredientes, cuja característica é de não necessitar de um Padrão de
Identidade e Qualidade (PIQ) para registrar um alimento, além de permitir o registro de
novos produtos sem histórico de consumo no país e também novas formas de
comercialização para produtos já consumidos (BRASIL7).
Segundo a ANVISA, alimentos e, ou novos ingredientes são alimentos ou
substâncias sem histórico de consumo no país, ou alimentos com substâncias já
consumidas, e que, entretanto venham a ser adicionadas ou utilizadas em níveis muito
superiores aos atualmente observados nos alimentos utilizados na dieta regular. Os
alimentos que vierem a ser consumidos nas formas de cápsulas, comprimidos ou outras
formas farmacêuticas, e que não apresentem alegação de propriedade funcional e/ou
saúde cientificamente comprovada devem ser trazer no rótulo a afirmação “O Ministério
da Saúde adverte: Não existem evidências científicas comprovadas de que este alimento
previna, trate ou cure doenças”. (STRINGHETA et al, 2007)
b) Resolução nº 17/1999, aprova o regulamento técnico que estabelece as
diretrizes básicas para avaliação de risco e segurança de alimentos que prova, baseado
em estudos e evidências científicas, se o produto é seguro sob o ponto de vista à saúde
ou não (BRASIL8).
c) Resolução nº 18/1999, aprova o regulamento técnico que estabelece diretrizes
básicas para análise e comprovação de propriedades funcionais e/ou saúde, alegadas em
rotulagens de alimentos (BRASIL9).
A alegação de propriedades funcionais e/ou de saúde é permitida em caráter
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opcional. O alimento ou ingrediente que alegar propriedades funcionais ou de saúde
pode, além das funções nutricionais básicas, quando se tratar de nutriente, produzirem
efeitos metabólicos e ou fisiológicos e ou efeitos benéficos à saúde, devendo ser seguro
para o consumo sem a supervisão médica (BRASIL9).
As alegações podem fazer referências à manutenção geral da saúde, ao papel
fisiológico dos nutrientes e não nutrientes e à redução de risco de doenças. Não são
permitidas alegações de saúde que façam referência à cura ou prevenção de doenças
(BRASIL9; BRASIL10).
São permitidas alegações de função ou de conteúdo para nutrientes e não
nutrientes, podendo ser aceitas aquelas que descrevem o papel fisiológico do nutriente
ou não nutriente, no desenvolvimento e funções normais do organismo, mediante
demonstração de eficácia. Para os nutrientes com funções plenamente reconhecidas pela
comunidade científica não será necessária a demonstração de eficácia ou análise da
mesma para alegação funcional na rotulagem (BRASIL9).
Assim, a alegação de propriedade funcional, é aquela relativa ao papel metabólico
ou fisiológico que uma substância (seja nutriente ou não) tem no crescimento,
desenvolvimento, manutenção e outras funções normais do organismo humano.
Já a alegação de propriedade de saúde, é aquela que afirma, sugere ou implica a
existência de relação entre o alimento ou ingrediente com doença ou condição
relacionada a saúde, porém, não são permitidas alegações de saúde que façam referência
à cura ou prevenção de doenças.
d) Resolução nº 19/1999, aprova o regulamento técnico de procedimentos para
registro de alimentos com alegação de propriedades funcionais e ou de saúde em sua
rotulagem (BRASIL10).
O registro de um alimento funcional só pode ser realizado após comprovada a
alegação de propriedades funcionais ou de saúde com base no consumo previsto ou
recomendado pelo fabricante, na finalidade, condições de uso e valor nutricional,
quando for o caso ou na evidência(s) científica(s): composição química ou
caracterização molecular, quando for o caso, e ou formulação de produto; ensaios
bioquímicos; ensaios nutricionais e ou fisiológicos e ou toxicológicos em animais de
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experimentação; estudos epidemiológicos; ensaios clínicos, evidências abrangentes da
literatura científica, organismos internacionais de saúde e legislação internacionalmente
reconhecidas sob propriedades e características do produto e comprovação de uso
tradicional, observado na população, sem associação de danos à saúde (BRASIL10).
e) Resolução nº 23/2000, estabelece procedimentos básicos para o registro e
dispensa da obrigatoriedade de registro de produtos pertinentes à área de alimentos. No
item 5.2, dispõe sobre a obrigatoriedade de registro dos alimentos do Anexo II,
constando os alimentos com alegações de propriedades funcionais e/ou de saúde no
código 4300032 (BRASIL11).
Os formulários devem ser protocolizados na Vigilância Sanitária do Estado, do
Distrito Federal, ou do Município. A validade do registro é por 5 (cinco) anos em todo
território Nacional, devendo ser revalidada até 60 (sessenta) dias, antes da data do
vencimento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O nutricosmético deriva da combinação do conceito de alimento, fármaco e
cosmético, sendo como a última tendência da indústria da beleza, caracterizado pela
ingestão de alimentos com o propósito de melhorar os aspectos estéticos e também a
saúde. É um produto relativamente novo no mercado brasileiro, inexplorado com renda
suficiente, ávidos por produtos que tragam benefícios para pele, cabelos, e unhas.
A proposta do nutricosmético é proporcionar beleza de dentro para fora, isto é,
que complementem o uso dos cosméticos nos cuidados da pele, cabelos e unhas.
Considerando que existe uma mudança na abordagem do setor cosmético que até então
era somente de uso tópico e hoje o associa com ingestão oral para atuarem no
tratamento antienvelhecimento, antirrugas, anticelulite, queda de cabelos, etc.,
necessário se faz a criação de uma nova categoria na legislação existente. Assim,
acreditamos que o consumidor estará mais protegido e informado, uma vez que, a
legislação atual está confusa, pois não há uma diferenciação entre nutricosméticos e
alimentos funcionais.
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Recebido em 30/10/2013
Aceito em 21/11/2013
61
ISSN 1980-0894 Dossiê, Vol.8 Nº3, Ano 2013
INDICAÇÃO DE USO DE ESPÉCIES VEGETAIS PARA O
TRATAMENTO DA CELULITE COM FINS COSMÉTICOS
INDICATION OF USE OF PLANT FOR TREATING CELLULITIS FOR
COSMETIC PURPOSES
Beatrice Helfstein de Magalhães1
Monica Fernandes de Camargo2
Célio Takashi Higuchi3
Resumo
A celulite acomete mais mulheres em idade pós-puberal do que homens, causando
alterações topográficas na região ginóide cuja aparência se assemelham ao aspecto
“casca-de-laranja”. É caracterizado por uma sobrecarga de gordura localizada
decorrente do número de adipócitos (hipertrofia dos adipócitos) ou devido à associação
dos dois fenômenos aos quais se somam uma acumulação de toxinas e de água. Já os
produtos naturais têm desempenhado um papel importante nos tratamentos estéticos, em
geral, devido ao fato de que as plantas possuem uma ampla variedade de metabólitos
secundários. O presente estudo visa um levantamento bibliográfico sobre a ação de
substâncias ativas fitoterápicas no tratamento da celulite, procurando uma alternativa
não invasiva para o tratamento. Foram utilizados livros e artigos científicos específicos
da área para a realização desta pesquisa. São encontrados em ambas das literaturas a
utilização dos extratos da Coffea arabica; Paullinia cupana; Lycium barbarum; Vitis
vinifera; Melilotus officinalis; Centella asiatica; Aesculus hippocastanum; Zingiber
1 Especialista em Cosmetologia aplicada à Estética, Senac, SP, farmacêutica pela Unisa, SP; 2 Especialista em Cosmetologia aplicada à Estética, Senac, SP, farmacêutica pela Universidade São Francisco, SP;
3 Mestre e farmacêutico pela UNESP, Araraquara, e pesquisador responsável pela linha de pesquisa “Cosméticos
Sustentáveis”, Senac, SP. E-mail: [email protected].
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officinale e Rosmarinus officinalis para o tratamento e/ou prevenção. Em todos os
extratos, há substâncias que reduzem a permeabilidade vascular, além de antioxidantes,
antiinflamatórios e calmantes.
Palavras-chave: Celulite, cafeína e ativos fitoterápicos.
Abstract
Cellulite affects most women in post - pubertal age than men, causing topographic
changes in gynoid region whose appearance resemble the look "orange -peel". It is
characterized by an overload of fat located due to the number of adipocytes (adipocyte
hypertrophy) or due to the association of the two phenomena to which are added an
accumulation of toxins and water. Natural products have already played an important
role in aesthetic treatments in general due to the fact that plants have a wide variety of
secondary metabolites. This study aims to review the literature on the action of herbal
active substances for the treatment of cellulite looking for a non-invasive alternative for
treatment. Specific books and scientific articles in the field were used for this research.
Both of them are found in the literature the use of extracts of Coffea arabica, Paullinia
cupana; Lycium barbarum, Vitis vinifera, Melilotus officinalis, Centella asiatica,
Aesculus hippocastanum, Zingiber officinale and Rosmarinus officinalis for the
treatment and /or prevention. In all the extracts, there are substances that reduce
vascular permeability include antioxidants, anti-inflammatory and soothing.
Key words: Cellulitis, caffeine and herbal active.
1. Introdução
O termo celulite foi descrito pela primeira vez em 1920. Palavra de origem latina,
Cellulite, foi utilizada para descrever uma alteração estética da superfície da pele.
Celulite não seria o termo mais apropriado, pois a derivação da palavra significa
inflamação celular e estudos sugerem que não foram encontrados sinais de inflamação
no tecido em questão (GIMENEZ, 2001).
Diversos são os termos utilizados para definir estas alterações do tecido
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subcutâneo, na tentativa de adequar às alterações histomorfológicas, sendo eles:
Lipodistrofia, Lipoedema, Fibroedema Geloide, Hidrolipodistrofia, Hirolipodistrofia
Ginoide, Paniculopatia edemato fibro esclerótica, Paniculose, Lipoesclerose Nodular,
Lipodistrofia Ginoide (SCHNEIDER, 2010).
A celulite é considerada um problema esteticamente preocupante para milhões de
mulheres. Uma das possibilidades do surgimento da celulite é, em consequência, pelo
aumento do número e o volume dos adipócitos e, por fim, a ação do estrogênio
(hormônio sexual secundário feminino) durante a puberdade. Este hormônio é
responsável por reter líquidos ricos em sódio (GOMES & DAMAZIO, 2009;
LEONARDI, 2008). A celulite é uma infiltração edematosa do tecido conjuntivo
subcutâneo, não inflamatório, seguido de polimerização da substância fundamental, que,
infiltrando-se nos traumas, produz uma reação fibrótica consecutiva, ou seja, os
mucopolissacarídeos que a integram sofrem um processo de geleificação (CIPORKIN &
PASCHOAL, 1992). A celulite é considerada uma patologia multifatorial por ser
determinada por efeitos hormonais, predisposição genética, inatividade, dietas
inadequadas, obesidade, distúrbios posturais, bem como o tabagismo (TOGNI, 2006).
Uma das hipóteses atribuída à celulite é a possível alteração na microcirculação,
envolvendo compressão dos sistemas venoso e linfático (RAWLINGS, 2006; SMALLS
et al 2006, RAO et al, 2005). Esta alteração circulatória está relacionada com a
obesidade, uma vez que, durante a fase inicial de desenvolvimento celulite, os
adipócitos estiveram associados ao edema e à dilatação dos vasos linfáticos
(TERRANOVA et al, 2006).
Como a celulite afeta quase exclusivamente mulheres, o fator hormonal merece
atenção neste sentido. A distribuição de celulite na mulher ocorre em regiões específicas
e segue o mesmo padrão que o depósito de tecido adiposo (de GODOY & de GODOY,
2009).
Um estudo concluiu que fatores mecânicos podem afetar a aparência da celulite,
tais como: alterações ortostáticas, descalço e alterações da coluna lombar, como a
hiperlordose (SANDOVAL, 2003). Além disso, houve relato na literatura que, nas áreas
onde a celulite foi evidente, a aparência da pele mudou em função da posição do
membro inferior (AVRAM, 2004; QUATRESOOZ, 2006).
A celulite se caracteriza pela presença de depressão na pele, assemelhadas à
textura da casca de laranja ou do queijo cottage, observadas regularmente nas coxas e
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nádegas (TREU et al., 2009). É uma condição fisiopatológica mais prevalente em
mulheres independentemente do peso corpóreo do que nos homens. A principal
alteração histológica é a hipertrofia ou, inversamente, o enfraquecimento dos fios do
tecido conjuntivo que sustenta os adipócitos encontrados, caracterizando-se por uma
desordem do metabolismo lipídico e no fluxo de líquidos do organismo, e ocorre
quando há problemas na microcirculação sanguínea fazendo com que os resíduos
adiposos acumulem-se na região hipodérmica. Esta afecção produz importantes
alterações que deixam um aspecto pouco agradável visualmente, pois modifica
profundamente a estrutura histológica da pele, dificulta o aporte nutritivo e a possível
tendência ao agravamento do quadro (SANCHEZ, 1990; PIÉRARD et al., 2006). A
FEG é classificada em quatro tipos de formas clínicas: dura ou compacta, flácida ou
branda, edematosa e mista. Para cada tipo, há variação na consistência e natureza da
celulite e incidência prevalente em diferentes períodos durante a vida (KEDE, 2010).
Além disso, a FEG passa a ser considerada como uma patologia dependendo do estágio
ou grau evolutivo, distinguindo-se em quatro estágios os quais se baseiam na avaliação
anatômica e na semiologia, pois são de demarcação difícil e imprecisa já que a celulite
ocorre de forma gradual e progressiva, intercalando por períodos de estagnação e de
reatividade (SABARÁ et al., 2008; MURAD, 2006; CIPORKIN & PASCHOAL,
1992).
Quanto a sua localização, ela afeta várias regiões do corpo, mas, em destaque, na
região glútea, na região lateral, a face interna e posterior da coxa, o abdômen, a parte
posterior e lateral dos braços e a face interna dos joelhos (LEONARDI & CHORILLI,
2010; GOLIK, 1995). Leonardi (2008) afirma que, na região dos quadris, os adipócitos
tem seu volume aumentado durante o período gestacional e da amamentação. Na
menopausa também ocorre uma enorme variação hormonal o que poderá predispor ao
aparecimento de ondulações. Por esse motivo, é preciso muita atenção para as diferentes
fases da vida (menarca, gravidez e menopausa) para a construção de um projeto de
prevenção e dentre as medidas se faz necessário à aplicação de produtos tópicos, com
substâncias ativas capazes de alcançar a camada da hipoderme, para que ocorra a
diminuição seletiva e bem sucedida dos adipócitos e descreve que a formação deste
processo, geralmente parte da combinação de vários fatores. Essa tese gênese
multifatorial, Kede (2010) ressalta os vários fatores responsáveis pelo aparecimento da
FEG, entre eles, a herança genética, etnia, fototipo de pele, alimentação inadequada,
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falta de prática de atividades físicas, uso de nicotina e o uso de determinados
medicamentos como terapia de reposição de estrógenos, anticoncepcionais,
corticosteroides, antialérgicos, antitireoidianos e betabloqueadores podem agravar a
situação. Eles ativam o receptor alfa 2 adrenérgico, diminuindo a ação lipolítica e
quanto maior o número de receptores, maior é a dificuldade de realizar a ação,
independente da localização da célula (RIBEIRO, 2010; LEONARDI, 2008). O
agravante neste caso, em especial, é o estresse, pois também promove a retenção de
toxinas (ILIES, 2002; GOLIK, 1995).
A esteticista pode avaliar e constatar de forma mais precisa o estágio da celulite,
solicitando que o paciente permaneça em posição ortostática (CARNEIRO et al., 2010;
MORAES et al., 2010).
Há outras maneiras de diagnosticar a celulite, como macrofotografia (método
fotográfico); medidas antropométricas (medidas de peso, altura, circunferência e pregas
cutâneas); bioimpedanciometria (método que permite acessar o tecido através de
corrente elétrica); xenografia (avalia os tecidos por radiotransparência ou radio-
opacidade); ecografia bidimensional (analisa a morfologia do tecido subcutâneo);
tomografia computadorizada (método pouco acurado na avaliação do tecido adiposo);
Ressonância Nuclear Magnética (possibilita detalhamento das imagens e tecidos);
fluxometria de Doopler por Laser (avalia a microcirculação tecidual); biópsia de pele
seguida de exame histopatológico (acessa direta e invasivamente o tecido subcutâneo
normal ou alterado e analisa sua microestrutura). No entanto não existe método melhor
ou aceito unanimemente, pois tais conceitos dependem de variáveis como custo, grau de
invasão, riscos, acessibilidade e outros (AFONSO et al., 2010).
Após a avaliação do quadro, indicam-se cuidados de forma multidisciplinar. No
campo e na proposta estética ocorra de forma não curativa, tenha finalidade de corrigir
as causas, previna complicações e diminua a gravidade do quadro (GUIRRO &
GUIRRO, 2010). A drenagem linfática tem como princípio realizar movimentos
manuais, suaves e precisos com o objetivo de drenar o líquido excedente que banha as
células, mantendo o equilíbrio hídrico nos espaços extracelulares e auxiliando no
retorno venoso; o ultrassom (3MHz) emite ondas mecânicas que são convertidas na pele
em energia térmica, estimulando o metabolismo celular e a circulação dermo-
hipodérmica local e, além disso, aumentar a permeabilidade cutânea a substâncias
ativas. A combinação do ultrassom com outros métodos, como a endermologia e
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massagens, trazem resultados favoráveis na redução de medidas, associada a melhora no
tônus, textura e aparência; a endermologia ou vacuoterapia é uma técnica francesa que
associa drenagem linfática e massagem. O aparelho succiona a pele como ventosas.
Esta sucção, associada a massagem, estimula a circulação local, diminui a viscosidade e
a drenagem linfática; a eletrolipólise sem agulha utiliza placas que emitem corrente
elétrica de baixa intensidade. Esta corrente atravessa a pele e atua diretamente nos
adipócitos, fazendo com que haja uma excitação celular, aumentando na produção do
AMPc e estimulando, desta forma, a lipólise, além de aumentar a circulação local; a
radiação infravermelha longa penetra profundamente na superfície do corpo e aumenta
lentamente a temperatura, induzindo a um incremento do metabolismo corporal e
dilatação dos capilares; a radiofrequência unipolar trata-se de ondas hertzianas (de
rádio), produz radiação eletromagnética de 40 MHz e induz oscilações rotacionais nas
moléculas de água. Tais efeitos físicos produzem aquecimento que se dissipa nos
tecidos subjacentes e leva a uma retração tecidual local entre derme e fáscias e, por fim,
a prática de exercícios físicos.
Complementa-se ao melhora do quadro clínico da celulite, o uso de produtos
cosméticos de origem natural ou sintético que têm desempenhado um papel importante
por diferentes mecanismos de ação nos tratamentos estéticos em geral com resultados
eficientes e satisfatórios. A formulação para obtenção de cosméticos naturais significa
dar a preferência, sempre que possível, aos derivados vegetais, evitando a sua
substituição por substâncias sintéticas (RODRIGUES, 2001).
Nos últimos anos, pesquisa de plantas medicinais tem atraído muito a atenção
global para fins alimentícios, medicinais e cosméticos como, por exemplo, Coffea
arabica, Vitis vinifera e Zingiber officinale. As plantas são ricas em uma ampla
variedade de metabólitos secundários. Diversas classes desses compostos podem ser
citadas: fenois e polifenois, quinonas, flavonois, flavanonas, flavanonois, flavonoides,
taninos, cumarinas, terpenoides, óleo essencial e alcaloides (SHER, 2009; ALMEIDA et
al., 2002).
1.1. Fitocosméticos
A utilização de extratos vegetais é cada vez mais empregada, pois o conhecimento
de sua atividade é baseado na medicina popular e é acessível a todos. Eles são
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incorporados a concentrações que variam entre 3 a 10% de inúmeros fitocosméticos em
função de sua atividade como, por exemplo, em antirrugas, regeneradores, anti-acne
entre outras (PEYREFITTE et al., 1998). Os vegetais possuem um grande número de
compostos ou substâncias ativas, onde alguns destes são entidades químicas definidas
ou misturas de substâncias que formam grupos verdadeiros, devido a seus caracteres
físicos (CIPORKIN & PASCHOAL, 1992).
Várias plantas estão ganhando aceitação por parte dos profissionais da área
cosmética e dos consumidores, sendo que o uso de extratos vegetais em produtos
cosméticos tem sido cada vez mais motivado pelos pesquisadores e formuladores da
área, porém é preciso cautela e um estudo minucioso da eficácia de cosméticos
contendo extratos vegetais para a obtenção de produtos de alta qualidade (DWECK,
2001).
Os produtos fitocosméticos destinados ao tratamento da FEG podem atuar em
diversos aspectos desta afecção, sendo em locais que sofrem acometimento da
microcirculação, perda de elasticidade da pele, diminuição endógena da atividade
lipolítica e alteração do relevo cutâneo (LEONARDI & CHORILLI, 2010; GUIRRO &
GUIRRO, 2010; AFONSO et al., 2010).
2. Objetivo geral
O objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento bibliográfico, indicando os
principais princípios extratos vegetais com ação anticelulítica e apontar os mecanismos
de ação e seus efeitos. Além disso, demonstrar os benefícios do uso de plantas
medicinais respeitando suas concentrações, modo de usar e indicação, e justificando que
a associação da mudança nos hábitos alimentares e a prática de atividades físicas são
extremamente interessantes em benefício ao tratamento da celulite.
3. Metodologia
A metodologia utilizada foi a pesquisa de livros específicos e revistas científicas
nas áreas cosmética e estética e sites de busca como Scielo e Pubmed.
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4. Levantamento de literatura
Cafeína
Coffea arabica
A análise fitoquímica dos grãos de café registra a cafeína como sua substância
ativa, também encontrado em outras partes da planta com exceção das raízes,
acompanhada de teofilina e teobromina, hemicelulose e outros carboidratos, ácido
clorogênico e trigonelina (ácido-metil-nicotínico), ácidos graxos, esteróis, fenóis, ácidos
fenólicos, proteínas e taninos. As folhas contém, além destes mesmos componentes, os
ácidos benzóico, cinâmico e ascórbico, quercetina e outros flavonóides (LORENZI &
MATOS, 2008).
A cafeína é um composto químico de fórmula C8H10N4O2 — classificado como
alcalóide do grupo das xantinas e designado quimicamente como 1,3,7-trimetilxantina.
É extraído do Coffea arabica, mas também pode ser encontrado nas folhas e talos da
Ilex paraguariensis; nas folhas da Camellia sinensis, nos frutos da Theobroma cacao e
nos frutos da Paullinia cupana (SIMÕES et al., 2003).
O uso de produtos tópicos a médio e longo prazo indutores da lipólise derivados
de extratos vegetais ajudam a melhorar inclusive a aparência da pele. Dentre as
substâncias utilizadas com este propósito, destacam-se a utilização do Amarashape® o
qual é composto por sinefrina, uma substância extraída de laranja amarga (Citrus
aurantium) e cafeína (Coffea arabica), tipicamente presentes em produtos cosméticos
destinados ao tratamento da celulite. No sentido de ultrapassar o estrato córneo que
constitui a principal barreira à penetração da cafeína e, atingir o tecido subcutâneo, os
pesquisadores desenvolvem formulações cosméticas, constituídas por substâncias que
promovam a penetração cutânea, utilizando-se veículos, como a incorporação em
lipossomas, que depositam os ingredientes ativos no local de ação, de uma forma
direcionada e em maior quantidade. Sabe-se que além de manter a estabilidade dos
ativos, os lipossomas aumentam a absorção pelas camadas da pele (CHORILLI et al.;
2007; LEONARDI & CHORILLI, 2008; PIRES-DE-CAMPOS et al., 2008;
RAMALHO & CURVELO, 2006).
Há registros de outros ativos cosméticos que apresentam a cafeína associados para
o tratamento da celulite como, por exemplo, o Biotannicol® (associado a teofilina,
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glicina, extrato de semente de cola); Cafeisilane® (associado ao metilsilanol manurato);
Glycosan cafeína® (em ciclodextrina) e o Unislim® (associado com mate) (RIBEIRO,
2010).
No caso do Slimbuster® (associado com fitoesteróis de canola de Brassica
campestris L.), estudos mostram a capacidade de estimular significativamente a lipólise,
a síntese de leptina em cultura de adipócitos humanos, colágeno, elastina e
glicosaminoglicanas (GAGs) em cultura de fibroblastos humanos, a contração de
fibroblastos em gel de colágeno, bem como promover a melhora das características
histológicas gerais da pele em ensaios ex-vivo (STASI et al., 2009).
A cafeína, associada ao tiratricol (ácido triiodotiroacético), segundo estudos
experimentais, atuam por inibição da fosfodiesterase, enzima que induz a degradação de
AMPc transformando-o em 5'AMP inativo, acarretando na manutenção da taxa de
AMPc que ativa a proteinoquinase A e, consequentemente, a lipase hormônio sensível
(LHS), induzindo a lipólise através da mobilização de ácidos graxos e glicerol
(EASTWOOD, 2011).
A ação da cafeína pode ser potencializada pela coenzima A e aminoácido L-
carnitina os quais potencializam os efeitos da cafeína por aumentar o consumo e a
quebra dos ácidos graxos livres, induzindo o seu transporte ativo através da membrana
mitocondrial, que libera ATP, aumentando a eficiência da triglicéride lipase, facilitando
a hidrólise dos triglicérides (LEONARDI & CHORILLI, 2010).
Guaraná
Paullinia cupana K.
O guaraná extraído na espécie Paullinia cupana K. é usado na indústria
farmacêutica e na fabricação de refrigerantes, xaropes, sucos, pó e bastões. São
atribuídos ao guaraná, entre outras, as seguintes propriedades: estimulante, afrodisíaco,
adstringente, ação tônica cardiovascular, combate a cólicas, diarreias crônicas,
nevralgias e enxaquecas e ação diurética e febrífuga (LORENZI & MATOS, 2008;
SIMÕES et al., 2003).
A análise fitoquímica das sementes registra a presença de pequena quantidade de
um óleo formado de constituintes voláteis e fixos, 30% de amido, 15% de proteína, 12%
de taninos e até 5,8% de cafeína acompanhada de pequenas quantidades de teofilina,
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além de resina, ácido málico, saponinas, catequina, epicatequina e alantoína (LORENZI
& MATOS, 2008).
Há séculos, por via oral, o extrato de guaraná vem sendo utilizado como
estimulante do sistema nervoso central, e tal propriedade pode ser associada
especialmente à cafeína, um das substâncias ativas mais abundantes nesse extrato, além
da possibilidade de se usar topicamente. Além de possuir compostos por bases
xantínicas (cafeína, teofilina e teobromina), inclui-se saponinas e taninos em altas
concentrações, sendo que estes apresentam atividade antioxidante (MURAD, 2006;
ESPINOLA, 1997).
Dessa forma, sugerem-se o uso em formulações tópicas para o tratamento da
celulite. No entanto, a eficácia do uso do extrato de guaraná topicamente ainda não foi
comprovada na literatura científica, sendo às vezes empregada a cafeína em
formulações tópicas para o tratamento e a prevenção, sendo concentração usual da
cafeína até 8% e das outras metilxantinas até 4% (GAMA, 2010; CHORILLI et al.,
2004; ACCÚRSIO, 1999; DI SALVO, 1996).
Goji berry
Lycium barbarum
Estudos de GROSS (2005) confirmam que as bagas de Goji da espécie Lycium
barbarum despertaram interesse na comunidade científica ocidental pela sua riqueza
nutritiva e ação antioxidante. Conhecido como Goji (ou wolfberry) no mercado, L.
barbarum é popular por suas propriedades nutritivas e é chamado de "super frutas" ou
"Super alimento" (Karp, 2009; McLaughlin, 2006; Sohn, 2008). L. barbarum,
distribuídos predominantemente em todo o Mediterrâneo e da Ásia, é um arbusto de
folha caduca que é amplamente cultivada na província de Ningxia no noroeste da China
para fins comerciais.
Contêm o espectro completo de carotenoides, incluindo o betacaroteno,
zeaxantina e a luteína. Além disso, elas apresentam 500 vezes a quantidade de vitamina
C em comparação com a laranja, e são ricas em B1, B2, B6 e E. As bagas maduras
contêm -sisterol, sesquiterpenoides como a ciperona, solavetivona, tetraterpenoides,
betaína e fisalina. Um polissacarídeo demonstrou ser um poderoso estimulante da
regeneração celular (MIGUEL, 2007). Estudos têm demonstrado efeitos benefícios da
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L. barbarum relacionadas ao envelhecimento, neuroproteção, bem-estar geral, fadiga /
resistência, controle glicêmico em diabéticos, glaucoma, imunomodulação,
citoproteção, atividade antitumoral e antioxidante (State Pharmacopoeia Committee,
2010).
Uva vermelha
Vitis vinifera L.
As partes utilizadas da espécie Vitis vinifera L. são as folhas, os frutos e as
sementes e, em cosméticos, as sementes (SCHLEIER, 2004). As uvas vermelhas
possuem em sua composição: flavonoides (ação antioxidante), leucocianidinas, pró-
cianidinas que auxiliam no aumento da permeabilidade das vesículas microarteriais e
linfáticas) e taninos que auxiliam na redução da peroxidação lipídica. As frutas contêm
diversos ácidos, como o oxálico, málico, tartárico e racêmico. Nos produtos tópicos, o
óleo essencial é usado na concentração de 2 a 7% (LEONARDI & CHORILLI, 2010;
GAMA, 2010; MAFFEI FACINO et al., 1994).
Trevo amarelo
Melilotus officinalis
A parte da planta do trevo amarelo da espécie Melilotus officinalis que se
encontram os princípios ativos são as folhas e flores. Um dos componentes do extrato
vegetal é a cumarina que reduz o edema linfático e diminui a permeabilidade capilar. É
comum a recomendação para pacientes com insuficiência venosa crônica e congestão
linfática, condições que se acredita estar associada à celulite. A concentração
recomendada é de 2 a 5% (LEONARDI & CHORILLI, 2010).
Centela
Centella asiática
A parte da planta utilizada da espécie Centella asiatica é as folhas as quais seus
extratos são compostos por 40% de asiaticosídio, 30% de ácido madecássico, 30% de
ácido asiático, além de derivados triterpênicos como madecasósido e terminolósido. A
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união dessas substâncias atuam no tecido conjuntivo, nos fibroblastos e bem como na
microcirculação (LEONARDI & CHORILLI, 2010; GAMA, 2010).
Castanha da Índia
Aesculus hippocastanum
A composição fitoquímica da Castanha da Índia varia de saponinas triterpênicas
(principalmente aescina, aesculina e aescigenina), flavonoides (quercetina, canferol,
rutina, astragalin, quercetrina e esculina), heterosideos cumarínicos (fraxina, escopolina,
aesculetina, aesculosídeo e aesculina), óleos fixos (ácidos oléico, linoléico, palmítico,
esteárico e linoleico), vitaminas (B, C e provitamina D), ácidos graxos (2-5%), proteínas
(8-10%), fitosterol, açúcar e taninos (ácido esculitânico, epicatequina, leucocianidina e
leucodelfinina) (GAMA, 2010). A principal ação farmacológica da Castanha da Índia é
sobre o sistema circulatório, particularmente sobre o sistema venoso. Seus ativos
aumentam a resistência e o tônus das veias, diminuindo a fragilidade e a permeabilidade
dos capilares. Essa ação resulta em vasoconstrição periférica, ativa a circulação
sanguínea e favorece o retorno venoso. Suas indicações na fitocosmética variam na
formulação de cremes e loções para embelezamento de pernas. Também indica-se como
tônicos capilares e xampus voltados ao tratamento de queda de cabelo (MULTI
VEGETAL, 2012).
Na fitoterapia, as indicações são diversas, em casos de flebites, na prevenção de
varizes, em tratamento de processos reumáticos, para o alívio dos sintomas das
hemorroidas, graças a presença da escina e o esculósido presentes no extrato. Eles
apresentam ações venotônicos e estimuladores da resistência capilar, aliviando dores e
inflamações (SIRTORI, 2001).
Os derivados cumarínicos agem nos distúrbios vasculares periféricos e nos
edemas proteicos, retiram as proteínas do interstício e promovem a drenagem linfática.
A escina é o principal componente em formulações cosméticas para a celulite, pois
demonstram a capacidade de reduzir a atividade enzimática lisossomal, além de reduzir
a permeabilidade capilar. A concentração usual recomendada é de 1 a 3% (LEONARDI
& CHORILLI, 2010; MIGUEL, 2007).
Os flavanoides possuem ação anti-inflamatória, por inibirem o ciclo da
lipoxigenase e cicloxigenase. Como resultado destas funções, não há liberação dos
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principais mediadores inflamatórios (prostaglandinas e leucotrienos), com redução da
permeabilidade capilar, redução da inflamação e da dor, além de possuir a capacidade
de melhorar o fluxo sanguíneo ao preencher buracos microscópicos em vasos
sanguíneos. Ao reforçar estas veias, ocorre a prevenção de danos futuros no sistema
circulatório (NÈGRE-SALVAYRE et al., 1991).
A rutina é um flavonóide com potente ação sobre o endotélio capilar. Atua na
bioquímica da via do ácido araquidônico, inibindo a síntese de prostaglandinas e da
ciclooxigenase, inibindo a ação dos leucotrienos pela lipoxigenase. Como consequência
desse bloqueio, ocorre a lipólise estimulada pelas catecolaminas e hormônios lipolíticos,
reduzindo os processos inflamatórios por diminuição da histamina e diminuição da
permeabilidade capilar e ação vasoconstritora por bloqueio da síntese dos leucotrienos.
Atua também na formação de um complexo, com os radicais livres, protegendo as
estruturas vasculares contra sua ação lesiva, pois possui ação antilipoperoxidante,
impedindo a oxigenação das gorduras. Sua ação também se verifica no colágeno,
elastina e proteoglicanos, aumentando a síntese destes nas paredes dos vasos tornando-
as mais resistentes (NEVES & PAES, 1998).
Gengibre
Zingiber officinale R.
Seus rizomas são utilizados como especiarias para temperos de carnes e bebidas.
Pode ser utilizada medicinalmente para asma, bronquite, menorreia, estimulante
digestivo, anti-inflamatória, antirreumática, antiviral, antimicrobiana, antitussígena,
antitrombose, cardiotônica, antialérgica, colagoga, protetora do estômago e da garganta.
Sua análise fitoquímica mostrou a presença de 1 a 2,5% de óleos voláteis, sendo estes os
citral, cineol, borneol e os sesquiterpenos zingibereno e bisaboleno, além de um óleo-
resina rico em gingeróis. Outros constituintes são os açúcares, proteínas, vitaminas do
complexo B e C (LORENZI & MATOS, 2008).
O canfeno, felandreno, zingibereno e zingerona são óleos essenciais encontrados
no gengibre para promover o aquecimento dos membros frios, sendo utilizados para
ativarem a circulação de áreas afetas pela celulite (Plant cultures: botany, history and
uses of ginger 2011; Hearth-Care-Clinic, 2011).
74
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Alecrim
Rosmarinus officinalis L.
As folhas, flores e frutos secos de alecrim são utilizados em temperos de carnes e
massas quando triturados. Seu uso medicinal em forma de chá (folhas) é utilizado para
os casos de má digestão, gases no aparelho digestivo, dor de cabeça, hipertensão,
problemas digestivos, perda de apetite, dismenorréia, fraqueza e memória fraca. É
utilizado também nos tratamentos tópicos como em reumatismo, cicatrizante e anti-
inflamatório. A análise fitoquímica registrou para as folhas a presença de óleo essencial
constituído de uma mistura de componentes voláteis que é responsável pelo odor típico,
dentre os quais os principais são cineol, alfa-pineno e cânfora e, entre os compostos não
voláteis, o ácido caféico, ácido rosmárico, diterpenos amargos, flavonoides e
triterpenoides (LORENZI & MATOS, 2008).
Quando o extrato aquoso de alecrim foi analisado, sua composição química
revelou a presença de muitas substâncias cujas propriedades antioxidantes e anti-
lipoperoxidante tem sido demonstradas nos quais podem citar o ácido rosmarínico,
ácido caféico, ácido clorogênico, ácido carnosólico, rosmanol, diterpenos carnosol,
rosmari-diphenol, rosmariquinona e muitos outros antioxidantes naturais, ácido
ursólico, ácido e do alcaloide rosmaricina glucocólico. O óleo de alecrim contém ésteres
(2-6%) em grande parte como borneol, cineoles e vários terpenos (SENA et al,. 1999).
5. Discussão
O resultado mais expressivo encontrado foi a substância ativa cafeína extraída da
espécie Coffea arabica, muito utilizado para o tratamento anticelulítico. Pode ser
associado com outros ativos com mesmos fins. As associações de substâncias ativas
naturais tem como propostas presentes atuarem em diferentes vias e mecanismos de
ação para tornarem mais efetivos.
Os metabólitos secundários mais presentes com apelo de ação anticelulítica
encontrados são os alcaloides (cafeína, teofilina e teobromina) como, por exemplo, o
extrato vegetal de Paullinia cupana. Como ação antioxidante, os flavonoides, taninos ou
óleos essenciais são exemplos encontrados nas espécies Vitis vinifera, Aesculus
hippocastanum, Lycium barbarum, Paullinia cupana, Zingiber officinale e Rosmarinus
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officinalis. O extrato de Centella asiatica auxilia na melhora do quadro do tecido
conjuntivo, estimula a síntese de colágeno e na microcirculação. A cumarina extraída do
Melilotus officinalis é uma substância que auxilia na redução do edema local linfático e
também diminui a permeabilidade capilar.
Segue-se abaixo, na tabela 1, os agentes ativos do tratamento tópico da celulite
com base no seu mecanismo de ação mais usualmente indicados de acordo com as
espécies pesquisadas:
Ação cosmética Espécie vegetal Metabólito (ativo presente)
Antioxidante Paullinia cupana taninos
Lycium barbarumvitaminas e -sisterol
Vitis vinifera flavonoides e taninos
Rosmarinus officinalis óleos essenciais voláteis
Permeabilidade capilar Melilotus officinalis cumarina
Lipólise Coffea arabica metilxantinas (cafeína)
Paullinia cupana metilxantinas (cafeína, teobromina e teofilina)
Aesculus hippocastanum escina e rutina
Termoterápica Zingiber officinale óleos essenciais voláteis
Restauração dérmica Centella asiática asiaticosídio
ácido madecássico, asiático e derivados
triterpênicos
Tabela 1: Agentes ativos do tratamento tópico da celulite com base no seu mecanismo de ação
6. Conclusão
Conclui-se que para um tratamento eficaz contra a celulite torna-se necessário, a
princípio, consultar um dermatologista e/ou outro profissional da área de saúde para
fazer a avaliação e a recomendação de qual substância ativa incorporada num
fitocosmético é o melhor indicado para o caso específico em si, pois, às vezes, somente
com mudança de hábitos de vida associadas a uma alimentação saudável, sem vícios e
com a prática de algum esporte, poderá melhorar o aspecto celulítico.
As substâncias ativas fitoterápicas extraídas da Coffea arabica; Paullinia cupana;
Lycium barbarum; Vitis vinifera; Melilotus officinalis; Centella asiatica; Aesculus
hippocastanum; Zingiber officinale e Rosmarinus officinalis são eficazes no tratamento
76
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da celulite, pois melhoram o aspecto "casca de laranja".
Acredita-se que a tendência seja a procura de outras substâncias ativas
fitoterápicas que atuam em todas as vias de tratamento e/ou prevenção da celulite.
7. Referências
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Recebido em 29/10/2013
Aceito em 11/12/2013
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REINTERNAÇÕES HOSPITALARES POR DOENÇAS RESPIRATÓRIAS EM
MENORES DE 12 ANOS E AS QUEIMADAS EM PORTO VELHO-RO,
AMAZÔNIA OCIDENTAL
READMISSIONS FOR RESPIRATORY DISEASES IN CHILDREN
UNDER 12 YEARS AND BURNED AT PORTO VELHO-RO, WESTERN
AMAZON
Marcela Milrea Araújo Barros1
Karen dos Santos Gonçalves2
Sandra de Souza Hacon3
RESUMO
Este estudo tem por objetivo analisar a relação entre focos de queima e as
reinternações em um hospital infantil e internações na Unidade de Terapia Intensiva
Pediátrica (UTIP) por doenças respiratórias (DR) em menores de 12 anos. Trata-se de
um estudo descritivo, com dados do serviço de arquivo médico e estatístico (SAME),
livros de registro da UTIP e mapa nosológico, através das autorizações de internações
hospitalares (AIH’s) do Hospital Infantil, referentes ao período 2007-2010, em um
município na Amazônia Ocidental. Os dados de focos de calor foram obtidos do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE e Sistema de Informações Ambientais
– SISAM. Foram construídos dois fluxogramas, um para reinternações hospitalares por
DR, a partir dos bancos de dados das internações hospitalares, e outro, das internações
na UTIP, divididos em períodos de seca e chuva, de acordo com sexo, faixa etária e
localização anatômica. Utilizou-se os softwares SPSS versão 16.0 e o Microsoft Excel
1 Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente – PGDRA.Universidade Federal de Rondônia – UNIR.
Rua José Vieira Caúla, 5301. Res. Marina Casa. Porto Velho-RO. Email: [email protected] 2 Mestre em Saúde Pública e Meio Ambinte. Pesquisadora colaboradora, Departamento de Endemias Samuel Pessoa.
Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz 3 Doutora em Geoquímica Ambiental. Professora e pesquisador, Departamento de Endemias Samuel Pessoa. Escola
Nacional de Saúde Pública, Fiocruz, Rio de Janeiro, RJ.
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versão 2007 para análise dos dados. Houve um incremento de reinternações no Hospital
Infantil e internações na UTIP por DR no período da seca, com ênfase em 2010 para as
reinternações, quando se pôde considerar uma elevação no número de focos de calor. As
pneumonias corresponderam a 54% das causas de reinternação (203 registros). As
crianças do sexo masculino tiveram 56% das reinternações por DR. Os óbitos na UTIP
também foram superiores no período da seca quando comparados ao período chuvoso.É
relevante considerar o monitoramento e a compreensão do binômio saúde/ambiente
frente as queimadas e o impacto respiratório sobre este grupo suscetível.
PALAVRAS-CHAVE: Doenças Respiratórias, Crianças, Internações, Reinternações
hospitalares.
ABSTRACT
This study aims to analysze the relationship between foci and burning in a
children's hospital readmissions and hospital in the Pediatric Intensive Care Unit (PICU)
for respiratory diseases (RD) in under 12 years. This is a descriptive study using data
from medical files and statistical (SAME), the register of PICU and nosological map
through authorizations for hospital admissions (AIH) Children's Hospital, for the period
2007-2010 in a county western Amazon. The data of hotspots were obtained from the
National Institute for Space Research - INPE and Environmental Information System -
SISAM. We constructed two flow charts, one for readmissions for DR from the
databases of hospital admissions, and another of admissions to the PICU, divided into
periods of drought and rain, according to sex, age and anatomical location. We used the
SPSS version 16.0 and Microsoft Excel 2007 version for data analysis. There was an
increase of Children's Hospital readmissions and admissions to the PICU for DR in the
dry season, with an emphasis on 2010 to readmissions, when one might consider an
increase in the number of hotspots. Pneumonia accounted for 54% of the causes of
readmission (203 records). The male children had 56% of readmissions by DR. The
deaths in the PICU were also higher in the dry season compared to the rainy season. It is
important to consider the monitoring and understanding of the health / environment
facing fires and respiratory impact on this susceptible group.
KEYWORDS: Respiratory Diseases. Children. Hospitalizations. Readmissions.
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INTRODUÇÃO
Estudos epidemiológicos têm apresentado evidencias entre a exposição a
poluentes atmosféricos e as doenças respiratórias (DOCKERY et al., 1993; .POPE,
BATES e RAIZENNE, 1995; ROSA et al., 2008). Os impactos na saúde da poluição do
ar dependem diretamente de fatores como: o tipo de poluente e a composição quimica, a
concentração, tempo de exposição e a susceptibilidade individual (ARBEX et al., 2004).
Algumas áreas urbanas na Amazônia além de serem impactadas pela fumaça da
queima de biomassa, também estão expostas a elevadas concentrações de poluentes
oriundos da queima de combustível fóssil devido ao expressivo aumento de veículos
pesados e leves, processos industriais e queima de combustíveis para geração de
energia, como é o caso de Porto Velho, capital de Rondônia, que além de uma
termoelétrica em funcionamento teve um aumento considerável de veículos após a
construção das usinas de Santo Antonio e Jirau, ambas na capital.
Na região Amazônica e em especial no estado de Rondônia, as informações sobre
o perfil da morbimortalidade e sua relação com os problemas ambientais são escassas,
especialmente acerca da possível influência dos ciclos comuns de seca e chuva. Em
razão das queimadas liberarem poluentes para a atmosfera, a qualidade do ar é
modificada e em muitos casos, afetam diretamente os grupos mais suscetíveis, como as
crianças menores de cinco anos, idosos e aqueles com doenças pré-existentes (POPE,
2000; SALDIVA et al., 1995). E, dependendo da localização dos grupos urbanos, dos
níveis de exposição aos poluentes, das condições socioeconômicas, das complicações e
da gravidade das doenças respiratórias, há a necessidade de internações e reinternações
hospitalares, especialmente nos grupos etários abaixo de 5 ano s(MELLO, DUTRA e
LOPES, 2004).
Acredita-se que essa suscetibilidade biológica, no caso das crianças, esteja
relacionada às diferenças na imaturidade do sistema respiratório e imunológico desta
faixa etária conjugado com o comportamento toxicodinâmico e toxicocinético dos
poluentes oriundos das queimadas (GLINIANAIA et al., 2004). Os poluentes
comprovadamente iniciam e/ou agravam um processo inflamatório no aparelho
respiratório, alterando a permeabilidade das vias aéreas inferiores e possibilitando,
assim, o acesso e a progressão de micro-organismos patogênicos (CORREIA-DEUR,
2007).
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Porto Velho (RO), área do estudo, está situado no trajeto de dispersão de
poluentes que além de receber fumaça dos municípios e estados vizinhos, em 2010,
chegou a registrar 8.431 focos de queimadas (INPE, 2011). O município está inserido
na Amazônia Ocidental e possui ciclos bem definidos de seca e chuva. Neste sentido, a
compreensão das internações e reinternações por DR relacionadas aos focos de
queimadas no grupo etário suscetível, representa um importante indicador para o
conhecimento do processo saúde-doença da região.
O estudo tem por objetivo analisar a relação entre focos de queima e os dados de
reinternação hospitalar e internação na UTIP em crianças menores de 12 anos por DR.
Esta pesquisa é parte integrante do Programa INOVA-ENSP da FIOCRUZ, assim
como do Programa de Mudança Climáticas e Saúde e da Sub- Rede Clima- Saúde
coordenado pela FIOCRUZ ENSP/ICICT, tendo como coordenação geral o INPE/MCT.
MÉTODOS
Estudo descritivo, realizado no município de Porto Velho (RO), compreendendo o
fluxograma de reinternações hospitalares do Hospital Infantil Cosme e Damião (HICD)
e a transferência dessas crianças para a UTIP do Hospital de Base Dr. Ary Pinheiro e
sua possível correlação com os focos de calor, como indicador de exposição, em
crianças entre 29 dias e 12 anos de idade no período de 1º de janeiro de 2007 a 31 de
dezembro de 2010.
O município de Porto Velho, está localizado ao norte do estado de Rondônia, à
margem direita do Rio Madeira (afluente do rio Amazonas) com uma área total de
34.096 Km2, latitude sul com 08º 45’ 43” Sul e longitude a oeste de Greenwchi 63º 54’
14” com altitude de 85,2 metros. Seu clima é predominante equatorial, úmido e quente.
Situado na Amazônia Ocidental, com uma população segundo o Censo 2010, de
428.527 habitantes e uma densidade demográfica de 12,6 habitantes/Km2 (IBGE, 2011),
distribuídos por 66 bairros na área urbana e 12 distritos na área rural.
O HBAP é um hospital terciário, de referência, com capacidade instalada de 369
leitos. É um órgão público pertencente ao Poder Executivo Estadual de Rondônia. A
UTIP apresentou até agosto de 2010, capacidade somente para oito (8) leitos, sendo
acrescidos mais dois leitos, totalizando 10 (dez) leitos a partir deste período. É a única
87
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UTIP para todo o estado.
O HICD é referência para internação e atendimento de urgência e emergência para
crianças de todo o estado, também pertencente ao Sistema Único de Saúde (SUS),
classificado como médio porte e com capacidade instalada para 59 leitos de internação.
Os dados foram obtidos a partir da construção de dois bancos de dados de
internações hospitalares (um para o HICD e outro para a UTIP) através dos livros de
registro e prontuários do paciente provenientes do serviço de arquivo médico e
estatístico (SAME) da UTIP e mapa nosológico no HICD, por meio das autorizações de
internações hospitalares (AIH’s) do SUS.
As reinternações hospitalares e internações na UTIP das crianças procedentes do
HICD, foram classificadas de acordo com o Capítulo X da Décima Revisão da
Classificação Internacional de Doenças CID-10, códigos J00 a J99. As variáveis de
interesse incluíram: idade, sexo, município de residência, procedência (no caso da UTI
Pediátrica), dia/mês e ano de internação, idade, hipótese diagnóstica na admissão, alta,
óbito ou transferência quando este ocorreu.
Consideramos reinternação toda criança que tivesse o registro de mais de uma
hospitalização, independente do diagnóstico, idade e intervalo entre uma internação e
outra.
Como variável dependente os registros foram agrupados segundo a localização
anatômica de acordo com o Programa de Assistência e Controle de IRA (Infecção
Respiratória Aguda) do Ministério da Saúde (MS), tendo como limite a epiglote, em
dois grupos: Infecções das Vias Aéreas Superiores (IVAS) acima da epiglote e
Infecções das Vias Aéreas Inferiores (IVAI), abaixo da epiglote. Analisamos as
Pneumonias (IVAI) em separado, em virtude de seu maior número no que se refere às
causas por doenças respiratórias tanto em literaturas nacionais quanto internacionais.
Como variáveis independentes, os dados foram divididos por período em Seca:
Maio a Outubro e, Chuva: Novembro a Abril, a partir de focos de calor obtidos pelas
imagens AVHRR dos satélites polares NOAA-12, 14, 15, 16, 17, 18 e 19, além das
imagens MODIS dos satélites polares TERRA e AQUA e as imagens dos satélites
geoestacionários GOES-10 e MSG-2.
Os dados de focos de calor foram fornecidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais - INPE (http://sigma.cptec.inpe.br/queimadas/) e Sistema de Informações
Ambientais - SISAM (http://sisam.cptec.inpe.br/msaude/index.html).
88
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As taxas para internações por DR foram calculadas por 1.000 habitantes,
dividindo os quatro anos estudados e calculando-se uma média populacional,
correspondendo a 99.156 habitantes, excluindo-se os registros de outros municípios. As
internações no período neonatal foram excluídas em razão da importância do
componente da atenção ao pré-natal e parto na morbimortalidade do grupo etário.
Para análise das reinternações foram incluídas apenas as crianças que
reinternaram separadamente no período de seca ou no período de chuva. Aquelas que
reinternaram nos dois períodos foram excluídas da amostra analisada, evitando assim
fatores de confundimento. Excluímos 629 crianças que reinternaram nos dois períodos
simultaneamente.
Para tratamento e análise estatística dos dados foram utilizados os softwares
SPSS versão 16.0 e o Microsoft Excel versão 2007. Coeficientes de correlação de
Pearson foram calculados para se avaliar como as variáveis estudadas de internação
hospitalar e focos de calor foram correlacionadas entre si. A representação dos
resultados se deu através da descrição dos dados em porcentagem e taxa, além de
gráficos e fluxogramas.
A pesquisa iniciou-se somente após aprovação no Comitê de Ética e Pesquisa da
Universidade Federal de Rondônia, em 27 de Julho de 2010, n.º 2945.0.000.047-10.
RESULTADOS
Nos período de janeiro de 2007 a dezembro de 2010 foram registradas no
HICD 13.855 e na UTIP 1.156 internações hospitalares em crianças menores de 12 anos
procedentes de todo o estado de Rondônia. Das crianças residentes no município de
Porto Velho, as doenças do Aparelho respiratório foram responsáveis por 4.306
internações no HICD e 117 internações na UTIP, representando uma taxa de 10,9
internações por 1.000 habitantes para o HICD e 0,3 internações por 1.000 habitantes
para a UTIP e se destacaram como a primeira causa de internação em ambos os
hospitais pesquisados.
Analisados os dados da faixa etária em menores de 12 anos para o período
estudado, o HICD demonstrou que 84% de DR ocorreram em menores de 5 anos com
3.639 casos, seguido das crianças de 5 a 9 anos com 539 internações (13%), e 10 a 12
89
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anos com 128 (3%) internações. Na UTIP, as crianças menores de 5 anos também
evidenciaram o maior número de internações, com proporção de 69%, o equivalente a
81 registros. As crianças de 5 a 9 anos corresponderam 26 internações (22%) e as
crianças de 10 a 12 anos com 9% internações.
Objetivando uma análise descritiva do perfil destas crianças, considerando a
transferência do HICD e a internação da criança na UTIP como um agravamento do
estado geral, correlacionamos com as variáveis classificadas como seca e chuva, onde o
período de seca coincide com o período de queima de biomassa e redução do numero de
chuvas no município de Porto Velho e em toda região do bioma Amazônia.
Analisando as reinternações no HICD, encontramos o registro de 1.036
reinternações destes, 407 registros de reinternação corresponderam a 192 crianças que
retornaram ao hospital nos períodos classificados como chuva ou seca (Tabela 1).
Considerando as reinternações pelo número de vezes que a criança retornou ao
hospital, podemos perceber que 91% das crianças reinternaram duas vezes no HICD,
8% três vezes e 1% das crianças reinternaram quatro vezes. As crianças que retornaram
ao hospital para reinternar por quatro vezes foram superiores no período de seca nos
anos 2007, 2008 e 2010, assim como as crianças que retornaram ao hospital para
reinternar três vezes nos anos 2008 e 2010.
De acordo com a classificação das doenças respiratórias em IVAS, IVAI e PNM
e as variáveis, seca e chuva, observou-se que as Pneumonias corresponderam a 54% das
causas de reinternação (203 registros), seguida das IVAI com 142 registros ou 37% e as
IVAS com 9% ou 35 registros de reinternação. Os registros de Pneumonias foram
superiores no período de seca nos anos 2007, 2008 e 2010.
As crianças do sexo masculino corresponderam a 56% das reinternações ou 107
crianças. Para as crianças do sexo feminino, observamos 44% das reinternações, o
equivalente a 84 crianças.
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Tabela 1 – Reinternações por DR em menores de 12 anos, períodos Chuva e Seca.
Porto Velho - RO (2007-2010)
ANO /
PERÍODO
Nº de
crianças
internadas
Nº de
reinternações Sexo Localização
Total de
internações
registradas
(HICD)
2x
3x
4x M F IVAS IVAI PNM
2007 44 40 2 1 25 19 12 31 50 93
Chuva 22 20 2 0 10 12 6 17 23 46
Seca 22 20 1 1 15 7 6 14 27 47
2008 41 35 6 0 18 23 5 48 35 88
Chuva 18 16 2 0 10 8 1 20 17 38
Seca 23 19 4 0 8 15 4 28 18 50
2009 41 40 1 1 30 10 8 36 41 86
Chuva 22 22 1 0 16 5 2 22 21 46
Seca 19 18 0 1 14 5 6 14 20 40
2010 66 59 6 1 34 32 10 27 77 140
Chuva 33 32 1 0 13 20 6 6 29 67
Seca 33 27 5 1 21 12 4 21 48 73
TOTAL 192 174 15 3 107 84 35 142 203 407
Fonte: Serviço de Arquivo Médico e Estatístico (SAME/HICD). Porto Velho –RO.
2007 a 2010.
Na UTIP, encontramos o registro de 47 internações de crianças procedentes do
HICD, destas, 20 (43%) procederam das internações hospitalares e 27 (57%) foram
encaminhadas diretamente do ambulatório do referido hospital, não permitindo o
registro de internação.
Do total de crianças registradas na UTIP por DR, 31 receberam alta para a
enfermaria (66%) e 16 evoluíram a óbito (34%). Das crianças liberadas para a
enfermaria, 20 procederam do ambulatório (64%) e 11 procederam da internação do
HICD (36%).
Dos registros de óbitos, nove (56%) correspondiam a crianças procedentes da
internação e sete do ambulatório (44%). Ressaltamos que seis das crianças (67%) que
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internaram na UTIP, apresentaram registros de reinternação entre 2 e 4 vezes no HICD,
destas, cinco evoluíram a óbito (83%). (Figura 2)
Figura 2 – Fluxograma de Internações por DR no HICD e encaminhadas para a
UTIP. Porto Velho, RO (2007 a 2010).
Fonte: Serviço de Arquivo Médico e Estatístico (SAME/HICD); Livros de Registro
da UTIP/HBAP. Porto Velho –RO. 2007 a 2010.
Óbitos das crianças que
vieram do ambulatório
[7]
Alta das crianças que
vieram do ambulatório
[20]
Óbitos das crianças que
estavam internadas
[9]
Alta das crianças que
estavam internadas
[11]
Crianças residentes em Porto
Velho que internaram por
Doenças Respiratórias no HICD
nos anos de 2007 a 2010
[4.306]
Encaminhadas para
a UTIP
[20]
Alta
[3.270]
Óbito
[0]
Crianças internadas na
UTIP procedentes do
HICD
[47]
Encaminhadas direto do
Ambulatório do HICD para a UTIP
[27]
Óbitos
[16]
Alta
[31]
Reinternações
[1.036]
Crianças que reinternaram de 2 a 4x
no HICD antes de serem
encaminhadas para a UTIP
[6]
Óbitos
[5]
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Ao considerarmos as variáveis IVAI, Pneumonias e os períodos de seca e chuva
na UTIP, onde as IVAS não ocorreram, verificamos que o número de crianças
internadas tanto no período da seca quanto na chuva, atingiram a mesma proporção, 10
internações respectivamente.
Analisando as variáveis IVAI e Pneumonias no período estudado, observamos
que as pneumonias ocorreram em maior número no período da seca, correspondendo a
oito internações e contraposição às cinco internações no período chuvoso. (Figura 3)
Figura 3– Fluxograma de Internações na UTIP/HBAP por DR e as variáveis
IVAI, PNM, Seca e Chuva. Porto Velho, RO (2007 a 2010).
Fonte: Serviço de Arquivo Médico e Estatístico (SAME/HICD); Livros de Registro
da UTIP/HBAP. Porto Velho –RO. 2007 a 2010.
Crianças residentes em Porto Velho internadas
por Doenças Respiratórias na UTIP, procedentes
da internação do HICD nos anos de 2007 a 2010
[20]
Crianças internadas no
período da chuva
[10]
Crianças internadas no
período da seca
[10]
Crianças reinternadas no
HICD no período da chuva
(antes de serem
encaminhadas a UTIP)
[3]
Crianças reinternadas no
HICD no período da seca
(antes de serem
encaminhadas a UTIP)
[4]
Óbitos no período da
chuva
[4]
Óbitos no período da
seca
[5]
IVAI
[5]
PNM
[5]
IVAI
[2]
PNM
[8]
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Ao relacionar as reinternações registradas por DR no HICD com os registros de
focos de calor, umidade e temperatura verificamos uma correlação positiva e
significativa (0,695) entre as IVAS na UTIP e os focos de calor. Entretanto, não foi
observada correlação significativa entre as demais variáveis (Tabela 2).
Tabela 2 – Coeficiente de Correlação de Pearson para as principais variáveis
utilizadas. Porto Velho-RO (2007-2010)
DAR¹ DAR² IVAS¹ IVAS² IVAI¹ IVAI² PNM¹ PNM² FOCO UMID
TEMP
MED
TEMP
MAX
TEMP
MIN
DAR¹ 1 ,143 ,741** ,007 ,692** ,018 ,863** ,127 -,073 -,146 -,251 -,033 ,208
DAR²
1 ,065 ,325 ,284 ,076 ,128 ,874** ,116 -,017 ,222 ,029 -,128
IVAS¹
1 -,018 ,665** -,229 ,746** ,166 ,049 -,100 -,146 -,025 ,194
IVAS²
1 -,037 ,214 -,061 ,073 ,695** -,326 ,409 ,334 ,352
IVAI¹
1 -,101 ,465 ,320 -,235 ,193 -,313 -,359 -,280
IVAI²
1 -,029 -,401 ,192 ,006 ,201 ,132 -,002
PNM¹
1 ,144 -,030 -,070 -,182 ,009 ,313
PNM²
1 -,073 ,027 ,065 -,079 -,171
FOCO
1
-
,754** ,787** ,823** ,742**
UMID
1
-
,743**
-
,925**
-
,722**
TEMP
MED
1 ,870** ,475
TEMP
MAX
1 ,792**
TEMP
MIN
1
Fonte: Serviço de Arquivo Médico e Estatístico (SAME/HICD);Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais - INPE. Porto Velho –RO. 2007 a 2010.
Nota= ** Nível de significância de 0,01.
¹HICD – Hospital Infantil Cosme e Damião; ²UTIP – Unidade de Terapia Intensiva
Pediátrica, DAR – Doenças Respiratórias;; IVAI – Infecção de Vias Aéreas
Inferiores; IVAS – Infeccão de Vias Aéreas Superiores; PNM – Pneumonia; UMID
– Umidade; TEMP – Temperatura; MAX – Máxima, MED – Média, MIN –
Mínima.
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DISCUSSÃO
Os resultados demonstram que as doenças do aparelho respiratório para o
município de Porto Velho, representaram a primeira causa de internações no HICD e na
UTIP quando comparadas as demais doenças para os anos 2007 a 2010.
Gonçalves (2010) em estudo ecológico de série temporal também no HICD
analisou os atendimentos ambulatoriais por doenças respiratórias em crianças no
período de 2005 a 2008. Os resultados demonstraram as doenças respiratórias como a
primeira causa de atendimento ambulatorial em crianças, o que representou 41% de
todas as consultas registradas no período analisado.
Ambos os hospitais constituem-se única referência para o atendimento de
urgência e emergência com internação bem como a assistência a crianças gravemente
enfermos atendidos exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para todo o
estado. Neste sentindo, em virtude da dificuldade de acesso e pela qualidade da
assistência primária em saúde oferecidos em todo o estado (ausência de médicos
pediatras, medicação, exames de imagem ou laboratorial) a busca pelo atendimento
nestes hospitais, torna-os ponto de apoio para assistência às crianças com doenças
respiratórias.
A disponibilidade dos leitos na UTI Pediátrica também é fato preponderante e
completamente influenciador a ser descrito, pois pôde ter interferido no número de
internações hospitalares para o período estudado. Por se tratar de referência em
assistência a crianças gravemente enfermas, a UTI pediátrica conta com apenas oito
leitos para o atendimento a todas as crianças do Estado de Rondônia. Ou seja, não
atende a demanda do estado, principalmente nos meses de maior incidência de doenças
respiratórias.
Considerando o parâmetro mínimo de um leito para cada 10.000 habitantes e a
população do estado, seriam necessários 44,1 leitos de terapia intensiva pediátrica,
muito aquém do que a realidade comprova. Ou seja, pacientes que necessitaram de UTI
pediátrica em algum momento do período estudado, não puderam ser internados na
unidade, reduzindo a possibilidade de maior correlação entre doenças respiratórias e os
períodos de maior intensidade das queimadas.
Ao se avaliar os achados que se referem à faixa etária, as maiores taxas de
internações apresentadas foram de crianças menores de 5 anos e corroboram com outros
95
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estudos desenvolvidos (BENGUIGUI, 2003; DUARTE e BOTELHO, 2000; RUDAN et
al., 2004).
Considerando os dados referentes ao sexo das crianças reinternadas no HICD para
o município de Porto Velho com doenças respiratórias, observou-se que as crianças do
sexo masculino foram mais frequentemente internadas que aquelas do sexo feminino
(IWANE et al., 2004; KOCH et al., 2005). Para Macedo et al. (2007) as diferenças
anatômicas como, por exemplo, o menor calibre da via aérea entre os meninos, pode ser
um dos fatores a serem relacionados a este fenômeno.
Os estudos epidemiológicos evidenciam um aumento consistente de doenças
respiratórias e da mortalidade geral associadas à exposição de poluentes presentes na
atmosfera, principalmente nos grupos mais suscetíveis (CANÇADO et al., 2006;
IGNOTTI et al., 2007) influenciando assim, no perfil e na gravidade dessas doenças,
aumentando a demanda de internações. No entanto, são escassos os estudos que se
referem às doenças respiratórias como importantes causas de reinternação. Segundo
Lasmar et al. (2006) em estudo realizado em Belo Horizonte, 65% das crianças
hospitalizadas foram readmitidas pelo mesmo motivo no período de 18 meses.
Fator relevante que merece ser evidenciado diz respeito à complicação dos casos
quanto ao número de vezes que a criança retornou ao hospital, tornando-se necessário
uma nova internação (ou reinternação). Neste caso, aquelas que retornaram ao hospital
por mais de 3 ou 4 vezes foi superior no período de seca. A justificativa para isto é que
provavelmente no período chuvoso a umidade excessiva, determinada pela intensidade
das chuvas, pode propiciar o maior número de casos de doenças respiratórias, porém
com menor gravidade. Ao contrário no período seco, a má qualidade do ar inspirado,
irrita as vias aéreas e facilita o seu agravamento, resultando em maior número de
reinternações.
Outra evidencia que sugere a hipótese da gravidade das reinternações no período
da seca, compreende a ocorrência de reinternações por pneumonias terem sido
superiores no período da seca nos anos 2007, 2008 e 2010, quando comparados ao
período chuvoso. Apenas o ano de 2009 apresentou padrão divergente dos demais.
Entretanto, a diferença entre os períodos foi mínima e pouco representativa. O que
reforça que no período climático mais crítico do ano, as crianças sofrem mais com o
impacto das doenças respiratórias mais graves. Possivelmente, como resultado do
somatório do processo inflamatório que a própria infecção acarreta às vias aéreas, bem
96
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como a má qualidade do ar inspirado, fazendo com que a criança demore mais a se
recuperar (BOTELHO et al., 2003).
A pneumonia é a principal causa de morte em crianças no mundo inteiro. A cada
ano, mata cerca de 1,6 milhões, representando 18% das mortes de crianças menores de
cinco anos em todo o mundo ( WHO, 2010). O Brasil está entre os 15 países com maior
número de casos anuais de pneumonia em menores de 5 anos (1,8 milhão), com
incidência estimada de 0,11 episódio/criança/ano. Nesse grupo, são mais de 50% das
hospitalizações e 10 a 15% dos óbitos são atribuídos às IRA, sendo 80% destes por
pneumonia. Os custos com hospitalizações geram em torno de R$ 189 milhões, destes
20,5% com menores de 5 anos (CARDOSO, 2010).
Há ainda outro aspecto a ser considerado. A partir da queima de biomassa, as
partículas muito finas podem ficar mais tempo em suspensão no ar podendo atingir as
porções mais profundas do trato respiratório, causando efeitos adversos à saúde como o
aumento das internações por doenças respiratórias (WHO, 2010).
Observou-se que quando havia o maior número de focos de calor,
consequentemente aumentavam as reinternações por doenças respiratórias no período da
seca nos anos 2007, 2008 e especialmente no ano de 2010, caracterizado como o ano
que mais queimou no município de Porto Velho. O que reforça que estas características
climáticas comuns ao período seco do ano confirmam os resultados analisados
anteriormente.
No ano de 2010, a precipitação na estação seca foi baixa em toda a Amazônia,
com aparente semelhança à grande seca de 2005. Lewis et al.(2011) analisando uma
década de dados de precipitação obtidos por satélite, mostrou que 57% da Amazônia
apresentaram baixo índice pluviométrico em 2010, em comparação com 37% em 2005.
No ano de 2010, uma área de 3 milhões quilômetros quadrados foi atingida pela
estiagem, em contraposição aos 1,9 milhão de quilômetros quadrados em 2005. O que
nos indica que a seca de 2010 foi mais severa e generalizada que a seca de 2005.
Fatores de risco para a readmissão hospitalar das crianças incluem o número de
admissões anteriores, o baixo nível socioeconômico, a ausência de acompanhamento
regular para o tratamento da doença e a baixa escolaridade materna (LASMAR et al.,
2006).
Considerando as informações das crianças encaminhadas para a UTI Pediátrica é
interessante observar que 57% das crianças procederam diretamente do ambulatório, ou
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seja, passaram menos de 24 horas no hospital e foram encaminhadas à UTIP. No
entanto o que podemos ressalvar é que as proporções das crianças que procederam da
internação do HICD apresentaram implicações mais graves dentro da UTI pediátrica.
Ou seja, das crianças que evoluíram à óbito, 56% corresponderam a crianças
procedentes da internação e não do ambulatório. Destas, 67% já apresentavam histórico
de reinternação, com a proporção de 83% de evolução para óbito.
A fim de aprofundar o processo investigativo do perfil das crianças que se
internaram na UTI pediátrica e procederam do HICD em relação às internações por
doenças respiratórias e sua correlação com as variáveis períodos de “chuva” e “seca”,
verificamos que as proporções de internações encontradas tanto no período de chuva
quanto no período de seca foram as mesmas. Entretanto ao analisarmos as variáveis de
gravidade IVAI, Pneumonias e evolução para óbito, percebemos que no período da
seca, as pneumonias prevaleceram, bem como mais crianças evoluíram à óbito.
Acrescentamos ainda, o fato das crianças reinternadas no HICD e encaminhadas à UTI
pediátrica foram superior no período de seca quando comparados ao período chuvoso.
Estes achados apresentam similaridade com os descritos por Souza (2008) em
estudo desenvolvido no município de Rio Branco/AC. Apesar de não estudar as
reinternações, o autor analisa os padrões de aumento e redução dos incrementos
referentes às internações hospitalares por doenças respiratórias em menores de 5 anos,
as quais coincidem com os períodos de seca durante o período analisado, enfatizando a
possibilidade da forte influência das queimadas na prevalência dessas hospitalizações.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo assume importância relevante na medida em que sugere a associação
entre a sazonalidade da região, as queimadas e as internações por doenças respiratórias
graves. Indicando a necessidade da realização de novos estudos com o emprego de
métodos mais aprimorados, a fim de aprofundar as análises, uma vez que o devemos
levar em consideração que o período seco pode ser responsável não pela frequência de
atendimentos e sim pela maior gravidade das mesmas, em vistas a necessidade de
internação ou reinternação.
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ISSN 1980-0894 Artigo, Vol.8 Nº3, Ano 2013
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Recebido em 02/09/2013
Aceito em 07/11/2013
101
ISSN 1980-0894 Artigo, Vol.8 Nº3, Ano 2013
RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL – AFINAL, O QUE SÃO?
SOLID WASTE IN BRAZIL – WHAT ARE THEY?
Fabiana Alves Fiore1
Emilia Wanda Rutkowski2
RESUMO
São apresentadas neste trabalho as diferentes denominações dos resíduos sólidos
vigentes no Brasil, à luz dos instrumentos legais vigorantes na esfera federal e estadual,
até o ano de 2013. Além disso, são propostas novas definições relacionadas ao estágio
de evolução técnico e tecnológico. Aborda-se a necessidade de combinação das
classificações de resíduos sólidos para a determinação das ações de gestão e
gerenciamento, assim como o uso de nova categoria, já em fase embrionária no país,
para a efetivação dos sistemas de logística reversa dos materiais.
Palavras Chave: tipos de resíduos sólidos, PNRS, gestão de resíduos sólidos.
1 Professora do Centro Universitário SENAC/SP. Doutora em Saneamento e Meio Ambiente - UNICAMP/SP. Mestre
em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos - UFMG/MG. Engenheira Civil - UFMG/MG. Endereço(*):
Coordenação do Curso de Engenharia Ambiental – SENAC; Av. Engenheiro Eusébio Stevaux, 823 sala 153 – Santo
Amaro – São Paulo/SP – Brasil – CEP 04696-000. Tel: (11) 5682-7530; E-mail: [email protected]
2 Professora da Faculdade de Engenharia Civil da UNICAMP. Doutora em Arquitetura e Urbanismo – USP/SP.
Mestre em Limnologia - University of Stirling/Escócia. Bióloga - UFMG/MG.
102
ISSN 1980-0894 Artigo, Vol.8 Nº3, Ano 2013
ABSTRACT
Are presents in this paper the different denominations of the solid waste existing
in Brazil, in the light of the legal instruments invigorating at the federal and state levels
by the year 2013. It also new definitions are proposed related to the stage of technical
and technological developments. Addresses the need for combination of classifications
of solid waste for the determination of management actions and management, as well as
the use of new category, now in its infancy in the country, for the effectiveness of the
reverse logistics systems of materials.
Key words: types of solid waste, PNRS, solid waste management.
INTRODUÇÃO
A geração de restos é inerente à vida. Considerando os processos envolvidos na
obtenção da energia necessária à sobrevivência de cada um dos seres vivos, decerto
verificaremos a presença de sobras em diferentes etapas dos processos. Para atender a
suas funções biológicas, os organismos vivos consomem recursos naturais e eliminam
partes da matéria que não conseguem aproveitar. Num ecossistema em equilíbrio, esses
restos são aproveitados por outros organismos com necessidades e funções diferentes,
completando assim o ciclo da matéria com seu armazenamento (ODUM, 2007;
MILLER JR., 2005).
Em geral, os restos sem viabilidade de uso para o gerador são denominados
resíduos. Num ecossistema, a produção de resíduos é entendida como o descontrole
entre os fluxos de determinados elementos, implicando a instabilidade do próprio
sistema (ABNT, 1987; FIGUEIREDO, 1992).
A história do homem sobre a Terra é a história de uma
ruptura progressiva entre o homem e o entorno. Esse processo se
acelera quando, praticamente ao mesmo tempo, o homem se
descobre como indivíduo e inicia a mecanização do planeta,
103
ISSN 1980-0894 Artigo, Vol.8 Nº3, Ano 2013
armando-se de novos instrumentos para tentar dominá-lo
(SANTOS, M.,1994, p. 16).
Inicialmente, os restos produzidos pelo ser humano se limitavam ao atendimento
de suas necessidades biológicas e, portanto, eram facilmente reintegrados ao meio.
Esses restos começaram a se diferenciar daqueles gerados pelos demais seres vivos
quando o ser humano enfatizou o atendimento de seus desejos. À caracterização do lixo
como algo inerente à espécie humana subjaz sua caminhada pelas sendas da evolução,
reforçando o traço que o distingue dos outros seres vivos: seu potencial racional de
transformar artificialmente a matéria para gerar instrumentos e produtos (SCHNEIDER,
1994).
A busca pelo aprimoramento da qualidade de vida, fez com que a humanidade
desenvolvesse suas técnicas de transformação, principalmente da matéria inorgânica. A
quantidade, a sazonalidade e a heterogeneidade dos resíduos gerados ao longo do tempo
podem recriar a história vivida pela humanidade. Os resíduos, em princípio
exclusivamente orgânicos, foram reiteradamente substituídos por outros mais
complexos, a partir do domínio da técnica e tecnologia de extração dos diferentes
recursos naturais e da capacidade de beneficiá-los e usá-los. Mas Cechin (2010) ressalta
que isso não significa que a função das atividades econômicas seja a produção de lixo –
seu objetivo é a felicidade humana, o fluxo imaterial de bem-estar gerado pelo processo.
Nos últimos séculos, o sistema produtivo foi significativamente alterado pelo
desenvolvimento tecnológico. A industrialização gerou mudanças notáveis nas áreas
econômicas, sociais, políticas e tecnológicas, que podem ser confirmadas pelas
mudanças na paisagem das cidades e na vida das pessoas (BARTHOLO, 2005). O
desenvolvimento tecnológico também ensejou o aumento e a concentração populacional
em diversos territórios. A vida em sociedade deu origem a novas relações de poder, que
estabeleceram as bases políticas, econômicas e sociais das comunidades, e estas, por sua
vez, conformaram seus indivíduos.
A diversificação de materiais, o aumento populacional e a criação de grandes
centros evidenciaram os problemas ambientais, econômicos e sociais associados à
geração de restos pelas atividades humanas. Por serem inúteis estes restos foram,
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durante grande parte da história, simplesmente afastados até que os problemas
associados à sua disposição inadequada começaram a comprometer as atividades
humanas e sua tão sonhada qualidade de vida. A busca pela solução deste entrave passa
pelo entendimento de suas características fundamentais de: como, em quais
circunstâncias e quais restos são gerados pelas atividades humanas.
No Brasil, que desde os anos 1930 vem se urbanizando, apenas em 2010 passou
a vigorar um instrumento legal na esfera federal congregando diretrizes de gestão para
os resíduos gerados em seu território. Mas isso não significa que os problemas
vivenciados pelo país sejam pequenos ou que outros acordos sociais já não tivessem
sido elaborados para territórios e resíduos específicos. Evidencia, sobretudo, que a
questão precisa ser tratada em todo o território nacional sob as mesmas condições de
minimização de geração e reversão dos materiais cujas tecnologias sejam apropriáveis.
Considerada a mudança de ação prevista na Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS), Lei 12.305/2010, este trabalho teve por objetivo avaliar os conceitos
fundamentais referentes às denominações e classificações dos resíduos sólidos no
Brasil. Esta é um pesquisa descritiva3 que considerou os principias instrumentos legais
brasileiro, na esfera federal, cujo conteúdo está direta ou indiretamente relacionado aos
resíduos sólidos. As normas técnicas correlatas e as leis estaduais que estabelecem as
políticas nos principais estados brasileiros também foram avaliadas em duas diferentes
definições para o termo “resíduos sólidos”.
1. RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL
No Brasil, ao longo das ultimas três décadas, a definição de resíduos sólidos
sofreu mudanças significativas. Nas décadas de 1980 e 1990, a mais usada era a da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT):4
3 A pesquisa descritiva observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos colhidos da própria realidade, sem
manipulá-los. (CERVO; BERVIAN, 2002)
4 Norma Técnica 10004/1987, da Associação Brasileira de Normas Técnicas, com revisão em vigor desde 2004.
105
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Aqueles resíduos nos estados sólido e semissólido que
resultam de atividades da comunidade de origem industrial,
doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de
varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes
de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em
equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como
determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o
seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água,
ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente
inviáveis em face à melhor tecnologia disponível (ABNT, 2004,
p. 1).
Por essa definição, compreende-se que os resíduos são de origem
exclusivamente antropogênica em sociedade, e sua massa, composta por uma grande
variedade de materiais em diferentes estados físicos. Além de classificar os resíduos por
fonte geradora, esse conceito também explicitou a conivência com a inviabilidade de
tratamento de restos gerados pelas atividades humanas, ao incluir como resíduos sólidos
os líquidos não tratáveis por razões tecnológicas e econômicas.
Essa norma técnica também definia lixo como “o conjunto heterogêneo desses
resíduos sólidos, considerados pelos geradores como inúteis, indesejáveis ou
descartáveis”. Essa distinção entre resíduos e lixo punha sob responsabilidade do
gerador a determinação dos restos que se considerariam lixo e, além disso, não
reconhecia como lixo os restos homogêneos. Depois de sua revisão, em vigor desde
2004, essa definição foi excluída dessa norma técnica. Em suas primeiras versões,5 o
projeto de lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) definia lixo como:
[...] resíduos sólidos comuns, ou a essa classificação
equiparados, produzidos individual ou coletivamente, pela
atividade humana ou animal, ou por fenômenos naturais em
áreas urbanas, nocivos à saúde, ao meio ambiente e ao bem-estar
5 Anteprojeto proposto como substituto ao Projeto de Lei N0 203, de 1991, pelo relator deputado Emerson Kapaz, em
2002.
106
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da população, não enquadrados como resíduos perigosos
(BRASIL, 2002, p. 1).
Ela incluía a delimitação territorial para a discussão do que seria entendido como
resíduo e, apesar de não identificar o ser humano como único agente gerador,
apresentou o espaço de intervenção humana como o limite dessa geração.
Nessa definição, fica evidente que, no Brasil, os “resíduos sólidos” ditos “lixo”
eram os urbanos ou a estes equiparados, os quais os poderes públicos enfrentavam
dificuldades para gerenciar. Vale ressaltar que, em 2000, o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os dados da Pesquisa Nacional de Saneamento
Básico (PNSB) mostrando que, das “Unidades de Destino do Lixo” apenas 22% eram
aterros sanitários. Estes aterros recebiam cerca de 47% da massa de resíduos sólidos
gerada sendo os demais resíduos sólidos coletados dispostos em aterros controlados e
lixões.
Essa conotação pejorativa para o lixo concorreu para que o termo não mais
figurasse nos instrumentos legais atuais, embora se possam considerar sinônimos os
termos resíduos sólidos e lixo, respectivamente empregados na linguagem técnica e
coloquial.
Uma vez que a PNRS só foi aprovada em 2010, houve diversas definições de
resíduos sólidos, em diferentes instrumentos legais. Vale observar que muitas se
basearam em discussões que ocorreram na esfera federal, durante o trâmite do texto no
Congresso Nacional. No estado de São Paulo, a Política Estadual de Resíduos Sólidos
(PERS-SP) define resíduos sólidos como:
[...] os materiais decorrentes de atividades humanas em
sociedade e que se apresentam nos estados sólido ou
semissólido, como líquidos não passíveis de tratamento como
efluentes, ou ainda os gases contidos (SÃO PAULO, 2006, p. 1).
107
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Essa definição, que também classifica como resíduos sólidos os gases contidos,6
leva ao entendimento de que sempre haverá rejeitos na composição dos resíduos
sólidos. Em outras palavras, todos os efluentes líquidos e gasosos tratáveis podem ser
categorizados como tal, e todo o resto são resíduos sólidos.
No Brasil, grande parte das definições da expressão “resíduos sólidos”
especifica elementos comuns como o agente gerador, as atividades de geração, as
condições, as características e estado físico da matéria. No Quadro 1, enumeram-se
esses elementos em diferentes definições de instrumentos legais brasileiros.
Quadro 1 – Definições de resíduos sólidos no Brasil
Instrumento
legal
Definições
denominaçã
o
característica
s estado físico
agente
gerador
atividade de
geração
NBR
10004/1987
resto
rejeito
sem valor
indesejável
descartável
sólidos
semissólidos
lodos
líquidos não
tratáveis
comunidade
humana
indústria
domicílio
hospitais
agricultura
serviços
varrição
NBR
10004/2004 resto _ atividades
6 Os gases contidos já haviam sido incluídos na massa de resíduos sólidos na esfera federal, pela Resolução
CONAMA no 313/2002. Vale ressaltar que a United States Environmental Protection Agency (USEPA) já considera
os gases contidos desde 2001 (Resource Conservation and Recovered Act [RCRA], Seção 261.2).
108
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PERS-RJ
Lei no
4.191/2003
matéria
substância
capaz de
causar
poluição ou
contaminação
ambiental
atividades da
comunidade
indústria
domicílio
hospitais
comércio
agricultura
serviços
varrição
outras
PERS-MG
Lei no
18.031/2009
resíduos _ atividades
indústria
domicílio
hospitais
comércio
agricultura
serviços
varrição
PERS-SP
Lei no
12.300/2006
materiais
_
sólidos
semissólidos
líquidos (não
tratáveis)
gases contidos
atividades
humanas em
sociedade
urbana
industrial
serviços de
saúde
rural
especial
diferenciada
PNRS
(PL-1991)
descarte:
realizado
desejável
obrigatório
sólidos
gasosos
contidos
lodos
líquidos com
particulados
atividade
humana ou
animal
fenômenos
naturais
produção
transformaçã
o
utilização
consumo
109
ISSN 1980-0894 Artigo, Vol.8 Nº3, Ano 2013
PNRS
(PL-2007) resíduos _
sólidos
semissólidos
atividades
humanas
produtos
atividades
consumo
PNRS
Lei no
12.305/2010
material
substância
objeto
bem
destinação:
realizada
desejável
obrigatória
sólidos
semissólidos
líquidos (não
tratáveis)
gases contidos
atividades
humanas em
sociedade
atividades
Fonte: Informações extraídas de NBR 10004/1987, NBR 10004/2004, PERS-RJ –
Lei no 4.191/2003, PERS-MG – Lei no 18.031/2009, PERS-SP – Lei no 12.300/2006,
PNRS (PL-1991), PNRS (PL-2007) e PNRS (Lei no 12.305/2010).
Considerando todas as definições apresentadas, os resíduos sólidos poderiam ser
descritos como os restos de matéria presentes em objetos, bens ou materiais que o
detentor descarta por razões próprias ou imposição de outros, em estado sólido,
semissólido, de lodo, líquido não tratável ou com gases contidos, que decorrem de
atividades humanas em sociedade, inclusive os restos de animais e de fenômenos
naturais.
A partir da vigência da PNRS, a definição nacional de resíduos sólidos é:
[...] material, substância, objeto ou bem descartado
resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja
destinação final se procede, se propõe proceder ou se está
obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem
como gases contidos em recipientes e líquidos cujas
particularidades tornem inviável seu lançamento na rede pública
de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções
técnica ou economicamente inviáveis, em face da melhor
tecnologia disponível (BRASIL, 2010, p. 2).
110
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Essa lei coexiste com outros instrumentos legais, que, inclusive, podem alterar
seu teor, para serem mais restritivos, ou, em outros casos, por estarem desatualizados.
Assim, vale destacar que o consenso nacional é fundamental para possibilitar a gestão
regional dos resíduos e o atendimento aos acordos internacionais ratificados pelo Brasil,
no intuito de reduzir a poluição decorrente de sua disposição final.
No entanto, a abrangência da definição da PNRS pode não lograr englobar a
totalidade dos resíduos gerados na atualidade e com os quais os gestores e geradores
devem lidar em seu cotidiano. Sobre as definições de resíduos sólidos apresentadas,
destacam-se que:
a palavra “resto” é mais apropriado do que “material”, pois por si denota que,
para o processo ou a atividade, o material é inservível;
quando o limite de geração de resíduos sólidos é o território de ocupação
humana, podem-se incluir os restos gerados pelos demais seres vivos que o
ocupam, bem como os resíduos decorrentes de fenômenos naturais;
enquanto as definições abrangerem todos os restos não passíveis de tratamento,
não será viável recuperar todos os resíduos sólidos gerados.
Nesse contexto, considerando que a produção de resíduos é inevitável nos atuais
processos de produção e consumo, seria mais apropriado defini-los como restos gerados
nas áreas de ocupação humana que foram considerados descartáveis pelo detentor em
certo período e não podem ser tratados como efluentes líquidos ou gasosos.
A autonomia dada aos indivíduos para escolherem seus bens os torna, em
primeira instância, agentes definidores do que deve ser descartado. Essa aparente
liberdade de escolha não revela o norteamento político e econômico subjacente aos
diferentes arranjos sociais, fatores que são determinantes da conformação humana.
Nessa conjuntura, os padrões sustentáveis de produção e consumo, assim como a
avaliação do ciclo de vida dos produtos, são ações meramente estimuladas.7
O cerceamento da produção e do consumo, visando à redução da geração, é
difícil de ser garantido no modelo capitalista de desenvolvimento. Dessa forma, a
minimização dos resíduos passa pela necessidade de valorização econômica da matéria
7 É o que ocorre na Política Nacional Brasileira de Resíduos Sólidos.
111
ISSN 1980-0894 Artigo, Vol.8 Nº3, Ano 2013
e da conscientização ambiental.
Quando os resíduos sólidos forem considerados sob a perspectiva do ciclo de
vida da matéria, será mais apropriado defini-los como materiais sem viabilidade de uso
para a atividade. Essa nova concepção de restos locais apropriáveis por outros
processos ou atividades vem ao encontro dos princípios da ecologia industrial, na qual,
segundo Socolow et al. (1997), a integração dos processos de produção e consumo
garante a maximização do uso da matéria e a minimização da geração de resíduos.
1.1 Classificação de resíduos sólidos
Diversas classificações são adotadas no Brasil para viabilizar a categorização
dos resíduos sólidos: origem, periculosidade, reciclagem dos materiais, finalidade,
potencial de degradação, etc.
Descrita por várias instituições (ABNT, IPT/CEMPRE e IBAM, por exemplo)
desde a década de 1980, a classificação quanto à origem é uma das mais comuns na
determinação da responsabilidade pelas atividades de gerenciamento dos resíduos
sólidos. Revisada e ampliada, essa classificação passou a vigorar na PNRS com onze
classes claramente definidas: domiciliar, de limpeza urbana, urbanos, de
estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços, dos serviços de saneamento
básico, industriais, dos serviços de saúde, da construção civil, agrossilvopastoris, de
serviços de transporte e de mineração.
As principais categorias de resíduos sólidos em função da origem apresentadas
antes da vigência da PNRS estão no Quadro 2, onde se veem também as mudanças
trazidas pela Lei no 12.305/2010.
112
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Quadro 2 – Definições de resíduos sólidos quanto à origem
Fontes
geradoras de
resíduos
Definição
domiciliares
Aqueles originados em atividades diárias de residências8 urbanas.9
Ficam excluídos desta classificação os resíduos gerados em
assistências a saúde e os de construção civil.
comerciais
Originários de estabelecimentos de comércio e de serviços. Em geral,
os materiais que os compõe são semelhantes àqueles verificados nas
residências, no entanto, seu volume e composição gravimétrica
variam em função da atividade.10 A PNRS renomeou a categoria
como: “estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços”.
públicos
Provenientes da limpeza e manutenção de áreas públicas urbanas, nos
serviços de varrição, poda, capina, desobstrução de redes pluviais etc.
A PNRS dividiu esta categoria em: “limpeza urbana” e “serviços de
saneamento básico”.
urbanos
Somatória dos resíduos domiciliares, comerciais e de limpeza pública
gerados na área urbana. Esta classe de resíduos é largamente utilizada
para identificar os resíduos cuja responsabilidade de gerenciamento
compete ao poder público municipal.11 A PNRS retirou desta
categoria os resíduos comerciais, entretanto, deixou aberta a
possibilidade de equiparação destes com os resíduos domiciliares.
industriais
Oriundos de processos produtivos e de instalações industriais.
Inclusive os gerados durante a pesquisa e transformação de matérias,
mineração, extração, montagem ou manipulação de produtos e
atividades de apoio associadas.12 A PNRS retirou desta categoria os
resíduos de mineração (atividades de pesquisa, extração ou
beneficiamento de minérios) e, para estes, criou uma nova classe.
8 IPT/CEMPRE (2000). 9 Lei no 12.305/2010. 10 IBAM (2001). 11 Lei Federal no 11.445/2007 e Lei no 12.305/2010. 12 Lei Estadual Paulista no 12.300/2006.
113
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Quadro 2 (continuação) – Definições de resíduos sólidos quanto à origem
serviços de
saúde
Aqueles gerados na prestação de serviços relacionados com o
atendimento à saúde humana ou animal, inclusive em domicílios,
farmácias, laboratórios de pesquisa, em atividades de pós-vida e em
barreiras sanitárias.13
atividades rurais
Aqueles gerados pela agropecuária, inclusive os restos de insumos da
atividade. A PNRS incluiu nesta categoria os resíduos de silvicultura
e renomeou a classe como “agrossilvopastoris”.
construção civil Os resíduos gerados por construções, reformas, reparos, demolições e
preparação de terrenos.14
especiais
Aqueles que requerem procedimentos diferenciados para o manejo e
a disposição final. Exemplo: os resíduos provenientes de portos,
aeroportos, terminais rodoviários e ferroviários, postos de fronteira e
estruturas similares. A PNRS nomeou a categoria como “serviços de
transporte”.
Fonte: Informações obtidas em IPT/CEMPRE (2000); Lei no 12.305/2010, IBAM
(2001); Lei Federal no 11.445/2007, Lei no 12.305/2010, Lei Estadual Paulista no
12.300/2006, Resolução CONAMA no 358/2005, Resolução CONAMA no 307/2002
e Lei Estadual Mineira no 18.031/2009.
Ainda quanto à origem, é possível observar definições como a da Política
Estadual de Resíduos Sólidos do estado de Minas Gerais (PERS-MG), que classificou a
origem dos resíduos em:
difusa: resíduos produzidos, individual ou coletivamente, por geradores
dispersos e não identificáveis, por ação humana ou animal ou por fenômenos
naturais, abrangendo os resíduos sólidos domiciliares, os resíduos sólidos pós-
consumo e aqueles provenientes da limpeza pública; e
determinada: os produzidos por gerador específico e identificável.
Essa proposta integrou versões do Anteprojeto de Lei da PNRS, que também
classificava os resíduos sólidos quanto à forma de gerenciamento em:
comuns: referentes aos resíduos sólidos urbanos; e
13 Resolução CONAMA no 358/2005. 14 Resolução CONAMA no 307/2002.
114
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especiais: aqueles que demandavam gerenciamento específico (industriais e de
mineração, de serviços de saúde, rurais, de transportes, radioativos, da construção
civil, do comércio e de serviços, tecnológicos, pneumáticos, de explosivos e
armamentos, de embalagem e lodo de esgoto).
A despeito do largo uso da classificação de resíduos sólidos quanto à origem,
inclusive para a formulação de instrumentos legais, observa-se que nem todas as
categorias descritas se referem ao local de geração dos resíduos. Em alguns casos, elas
remetem a atividades ou à competência de gerenciamento, como acontece com os
resíduos de construção civil e dos resíduos sólidos urbanos, respectivamente.
A classificação dos resíduos sólidos quanto à origem é uma importante
categorização aplicável à gestão pública desses resíduos. As onze categorias propostas
na PNRS tendem a cobrir a totalidade de atividades desenvolvidas no território.
Todavia, em função da especificidade e heterogeneidade, os resíduos gerados em cada
atividade demandam nova categorização.
De acordo com a NBR 10004/2004, os resíduos são classificados segundo seus
riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública em:
classe I – perigosos
classe II – não perigosos
A PNRS também abordou a classificação quanto à periculosidade, caracterizando
os resíduos como perigosos ou não perigosos. Essa classificação é imprescindível para
nortear o gerenciamento dos resíduos sólidos em todas as atividades, e deveria ser
requisito obrigatório na categorização dos resíduos sólidos, inclusive os urbanos.
Vale ressaltar que, no Brasil, os resíduos das atividades de construção civil e de
saúde receberam classificações especiais, que também consideraram os potenciais riscos
à saúde humana e ao meio ambiente. As reclassificações determinaram classes
específicas para os resíduos perigosos.
A classificação dos resíduos sólidos quanto ao potencial de reciclagem, que os
A – não inertes
B – inertes
115
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distingue em recicláveis e não recicláveis, considera individualmente cada um dos
componentes da massa de resíduos em função da viabilidade técnica e econômica de sua
reintrodução na cadeia produtiva. Essa definição é muito semelhante à proposta no
Projeto de Lei da PNRS,15 que os classifica quanto à finalidade nas seguintes
categorias:
resíduos reversos: resíduos sólidos restituíveis, por meio da logística reversa,
visando seu tratamento e reaproveitamento em novos produtos, na forma de
insumos, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos; e
rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de
tratamento e recuperação por processos tecnológicos acessíveis e disponíveis, não
apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente
adequada.
Visando facilitar a compreensão por parte dos usuários, em muitos casos,
quando os resíduos sólidos urbanos são segregados apenas em recicláveis e não
recicláveis, adota-se a denominação “secos” e “úmidos”,16 bastante inadequada do
ponto de vista conceitual e de operacionalização dos serviços de triagem dos materiais
componentes da massa de resíduos sólidos, posto que:
nem todos os resíduos ditos secos são passíveis de reciclagem e nem todos os
resíduos recicláveis são segregados nas unidades de triagem, uma vez que o real
desvio de material dos aterros está associado ao potencial de comercialização dos
materiais;
a contaminação dos materiais que serão encaminhados para tratamento pode
onerar ou inviabilizar os processos; e
essa definição não tem uma categoria para os rejeitos, de modo que a parcela
úmida desses resíduos que está associada à presença de matéria orgânica e que é
passível de tratamento, em geral, traz consigo todos os contaminantes,
inviabilizando a reintegração desse material à cadeia produtiva.
Com vistas a maximizar a qualidade dos materiais recebidos nas unidades de
15 Projeto de Lei encaminhado à presidência da República em agosto de 2010. 16 Essa definição é comumente adotada pelos municípios brasileiros que fazem a coleta seletiva dos RSU,
e passou a ser requisito mínimo para a coleta seletiva, com a inclusão do inciso 2º do artigo 9º do
Capítulo II do Decreto no 7.404/2010, que regulamentou a PNRS (Lei no 12.305/2010).
116
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triagem e a minimizar esforços e custos, considera-se apropriado que, depois de
determinar sua composição gravimétrica e analisar a viabilidade técnica e econômica,
cada município determine metas de segregação, acondicionamento e coleta seletiva
exclusivamente dos materiais que serão, naquele período, encaminhados para
reintrodução na cadeia produtiva.
Sobre a classificação quanto a finalidade, vale ressaltar que, antes de considerar
rejeitos os resíduos não passíveis de beneficiamento, é importante verificar o contexto
socioeconômico local, pois, no Brasil, restituem-se restos sobretudo em função de
critérios econômicos, e não de viabilidade tecnológica.
Há ainda que ter em conta que, porquanto o principal objetivo dessa
categorização seja a minimização dos impactos ambientais decorrentes da disposição
final dos resíduos, a viabilidade de beneficiamento dos materiais deve ser avaliada por
critérios que vão além da viabilidade tecnológica de recuperação dos materiais,
contemplando também os custos ambientais envolvidos em cada processo. Além disso,
na atualidade, algumas técnicas de destinação final são consideradas formas de
tratamento de significativa parcela de orgânicos presentes na massa de resíduos, tal
como os processos de digestão anaeróbia ocorridos nos aterros sanitários.
Quanto ao potencial de degradação, os resíduos sólidos são classificados em
função das características dos materiais que compõem sua massa, uma vez que estes têm
características de degradabilidade específicas (BARROS, 2000). Essa classificação é
pouco utilizada no país, sobretudo porque demanda conhecimento dos processos físico-
químicos e biológicos implicados no tratamento e do comportamento de cada material
da massa de resíduos sólidos.
A degradação dos materiais dispostos em aterros mostra que eles funcionam
como digestores. As comunidades biológicas que degradam a matéria orgânica, os
processos físicos e químicos que descaracterizam o material inorgânico e o ambiente
propício a essas reações são elementos a serem especificados de modo a se controlarem
os processos ocorridos nos aterros/digestores.
Uma vez que nos processos de produção e consumo sempre há geração de
resíduos rejeitos que são encaminhados aos aterros, as análises de ciclo de vida (ACV)
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devem incluir a degradação do material ocorrida ali. Apesar de pouco usual, o potencial
de degradação dos resíduos sólidos pode aprimorar os resultados da ACV dos produtos,
pois permite descrever o comportamento dos rejeitos do túmulo até o berço.
Considerando que as classificações apresentadas são adotadas em atividades
específicas da gestão e do gerenciamento dos resíduos sólidos, a homogeneização da
terminologia é necessária à compreensão, à interpretação e à equiparação dos
resultados.
As classificações não são excludentes e devem ser consideradas conjuntamente
na elaboração dos planos de gerenciamento de resíduos sólidos, da seguinte forma: em
primeiro lugar, deve-se fazer a classificação quanto à origem e, a partir dela, verificar a
existência de instrumentos legais específicos que norteiem as atividades de
gerenciamento. Se isso não ocorrer, as ações serão norteadas pela classificação quanto à
periculosidade. É apropriado classificar por finalidade os resíduos considerados não
perigosos e avaliar o potencial de degradação do material dos rejeitos. Corroborando
essa ideia, o IBAMA publicou, em dezembro de 2012, a Instrução Normativa no 13, a
lista brasileira que classifica os resíduos sólidos por atividade em sua fonte geradora. A
partir dessas fontes, descrevem as principais características dos resíduos e se os
classifica quanto à periculosidade.
No contexto da ecologia industrial, que preconiza a não geração de resíduos, a
única classificação apropriada para os restos locais gerados em cada uma das atividades
é quanto à composição dos materiais. O embrião dessa nova classificação surgiu no
Brasil com a implantação de sistemas de logística reversa de alguns produtos e
embalagens. A efetiva minimização de geração passa pela retirada do poder do detentor
da matéria de qualificá-la e destiná-la como rejeito. O acordo coletivo sobre a
reintegração de materiais na cadeia produtiva, ainda que gradativa, pode levar à
recuperação efetiva da maior parte dos resíduos reversos.
Em função da necessidade de se determinarem critérios específicos de
gerenciamento, muitos dos produtos passíveis de logística reversa no Brasil receberam
denominação específica e não figuram em nenhuma das classificações oficiais adotadas
na PNRS, pois são tratados como produtos inservíveis, e não como resíduos. Os
principais resíduos dessa natureza estão relacionados no Quadro 3.
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Quadro 3 – Definições de resíduos sólidos quanto à composição
Resíduos
sólidos Definição
equipamentos
eletroeletrônic
os
Proveniente do desuso de aparelhos eletrodomésticos e de
equipamentos que contenham componentes eletroeletrônicos. Também
denominado lixo tecnológico, pode ser constituído, entre outros, de:
I. componentes e periféricos de computadores;
II. monitores e televisores;
III. acumuladores de energia (baterias e pilhas);
IV. produtos magnetizados.
Em função de sua composição, grande parte desses resíduos demanda
procedimentos diferenciados de manejo e destinação final.
radioativos
Aqueles sem viabilidade de uso gerados por atividades humanas, cuja
concentração de radionuclídeos é superior ao limite de isenção
estabelecido pela Comissão Nacional de Energia Nuclear.
pneumáticos
Os pneus inservíveis que, após o uso, apresentam danos irreparáveis
em sua estrutura e não se prestam mais a rodagem ou a reforma. Sua
destinação ambiental adequada passa pela descaracterizados de sua
forma inicial, sendo seus elementos constituintes passíveis de ser
reaproveitados, reciclados ou processados.
óleos
lubrificantes
Óleos lubrificantes acabados que, em decorrência de seu uso normal
ou por motivo de contaminação, tenham se tornado inadequados a sua
finalidade original. Considerados perigosos por ser tóxicos, esses óleos
coletados são destinados a reciclagem por meio do rerrefino.
agrotóxicos
Aquelas substâncias ou misturas de substâncias remanescente ou
existentes em alimentos ou no meio ambiente decorrente do uso ou da
presença de agrotóxicos e afins, inclusive quaisquer derivados
específicos, tais como produtos de conversão e de degradação,
metabólitos, produtos de reação e impurezas, consideradas
toxicológica e ambientalmente importantes.
Fonte: Informações extraídas de Lei Estadual Paulista no 13.576/2009, Resolução
CONAMA no 419/2009, Resolução CONAMA no 356/2005 e Decreto no 4.074/2002
da Lei no 7.802/1989.
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Pelas definições apresentadas, é possível verificar que esses materiais têm
composição comum, e essa é a classificação entendida neste trabalho como garantidora
de ações cuja meta é a sustentabilidade ambiental.
2. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resíduos sólidos e seus problemas estão ligados ao modo de produção, ao
estágio cultural e ao desenvolvimento tecnológico das sociedades, uma vez que sua
geração decorre sobretudo da inviabilidade do uso integral da matéria-prima (uso de
material impróprio, falta de gestão e gerenciamento e ineficiência do processo
produtivo), do término da vida útil ou da obsolescência do material. O aumento
populacional, o desenvolvimento de novos produtos, a concentração humana e os
hábitos de consumo exacerbados são variáveis de uma única equação de desequilíbrio,
cujo resultado é um elevado potencial de degradação ambiental decorrente da grande
quantidade de resíduos gerados pelo ser humano (FIGUEIREDO, 1992; FIORE;
RUTKOWSKl; MENDONÇA, 2008).
Desde os anos 1930, o Brasil vem se urbanizando, com uma crescente demanda
por serviços de saúde e saneamento. O acúmulo de pessoas nas cidades, o aumento do
poder de consumo de materiais rapidamente descartáveis e a falta de alternativas
adequadas de tratamento e disposição dos resíduos sólidos desencadearam um quadro
de degradação e poluição ambiental, com impactos nos meios físicos, bióticos e
socioeconômicos (VILLAÇA, 1999; SANTOS, J., 2005; FIORE, 2005). Os longos anos
de descontrole do gerenciamento dos resíduos sólidos deixaram passivos, de potencial
poluidor desconhecido, distribuídos pelo território. Os custos reais dessa negligência só
serão conhecidos por meio das limitações de uso do solo decorrentes dos impactos
irreversíveis.
O cumprimento dos objetivos e diretrizes da PNRS poderá estabelecer novos
rumos para a gestão e o gerenciamento dos resíduos sólidos no país, uma vez que a nova
lei incorporou ferramentas de minimização da geração de resíduos, de produção mais
limpa, de publicidade das informações, de análise do ciclo de vida dos produtos, de
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responsabilidade compartilhada no pós-consumo e de reversão de categorias específicas
de resíduos.
3. REFERÊNCIAS
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Recebido em 21/09/2013
Aceito em 18/11/2013
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FROTA DE VEÍCULOS AUTOMOTORES E SECA NO DISTRITO FEDERAL:
OS EFEITOS SOBRE A SAÚDE PÚBLICA
NUMBER OF AUTOMOTIVE VEHICLES AND DRY WEATHER
CONDITIONS AT FEDERAL DISTRICT: THE EFFECTS ON PUBLIC
HEALTH
Weeberb João Réquia Júnior1
Resumo
A poluição atmosférica e as condições de clima seco são fatores relacionados com
o impacto à saúde humana. Dentre as fontes de poluição, os meios de transporte se
destacam nos centros urbanos. Portanto, este estudo objetivou avaliar a correlação da
frota de veículos automotores do Distrito Federal (DF) e dos dados meteorológicos com
o número de pessoas internadas e o número de óbitos por motivo de doenças do sistema
respiratório. Para a análise dos dados, além da geração de informações descritivas de
cada variável, utilizou-se o teste estatístico de correlação de Pearson de três conjuntos
de dados - relacionados à saúde, às condições meteorológicas e à frota de veículos da
região do DF nos anos de 2007 a 2009, a cada mês. Foram observadas correlações
positivas medianas entre a frota de veículos automotores do DF e o número de óbitos e
internações hospitalares, porém com algumas exceções, como a correlação com o
número de internações de 2007 e com o número de óbitos de 2009, pois o valor de r foi
de -0,43 e -0,17, respectivamente.
Palavras-chave: Poluição atmosférica, transporte urbano, emissões atmosféricas,
veículos automotores.
1Engenheiro Ambiental; M.Sc. em Planejamento e Gestão Ambiental pela Universidade Católica de Brasília e
Doutorando em Geociências Aplicadas pela Universidade de Brasília. e-mail:[email protected]
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Abstract
Air pollution and dry weather conditions are factors related to the impact on
human health. Among the sources of pollution, transport stand out in urban centers.
Thus, this study aimed to evaluate the correlation of the fleet of vehicles of the Distrito
Federal (DF) and weather data with the number of people hospitalized and number of
deaths due to diseases of the respiratory system. For data analysis, as well as generating
descriptive information of each variable, we used the statistical test Pearson correlation
of three sets of data - related to health, weather conditions and the vehicle fleet in the
region of DF in years 2007 to 2009, every month. Positive correlations were observed
between the medians fleet of motor vehicles of the DF and the number of deaths and
hospitalizations, but with some exceptions, such as the correlation with the number of
hospitalizations in 2007 and the number of deaths in 2009, because the value of r was -
0.43 and -0.17, respectively.
Key-words: Air pollution, urban transport, atmospheric emission, automotive vehicles.
Introdução
A emissão de gases e partículas na atmosfera pela as atividades antrópicas
pontuais e difusas gera consequências negativas ao meio ambiente (PHALEN, 2012).
Podem-se citar os problemas gerados aos recursos hídricos (WU et al., 2012), ao solo
(WANG et al., 2012), ao clima (SINGH; PALAZOGLU, 2012), à vegetação (SANTOS
et al., 2012), e, sobretudo, ao ar (SOKHI, 2011; FULLER et al., 2012). O crescimento
das cidades atrelado com os sistemas de transportes e a mobilidade urbana são pontos
importantes para ter um melhor entendimento da relação entre as ações antrópicas e a
poluição atmosférica (SOOD, 2012).
A acessibilidade, o conforto, a rapidez, o preço são fatores importantes levados
em consideração pelas pessoas no momento de optarem por qual meio de transporte irão
utilizar (HENSHER; TON, 2002). Esses fatores são conjugados às variáveis
econômicas, políticas e culturais quando se avalia o crescimento dos veículos
particulares em alguns lugares (SONG et al., 2012; KATSOYIANNIS et al., 2012). Por
exemplo, no Brasil, o aumento da frota de automóveis particulares é uma tendência
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ocasionada pela elevação do poder aquisitivo da população, da deficiência do transporte
público, de incentivos fiscais do governo e das facilidades financeiras na aquisição de
veículos individuais (IPEA, 2011).
O predomínio do transporte individual em uma cidade é responsável pela geração
de congestionamento, além da contribuição significativa às emissões de poluentes do ar
(BRONDFIELD et al., 2012). De todas as fontes de emissões atmosféricas, as dos
sistemas de transporte são expressivas para o contexto total. Por exemplo, 25% do
dióxido de carbono (CO2) e do óxido de nitrogênio (NOx) presentes na atmosfera
global são provenientes dos meios de transporte (RAO et al., 2011; HÖNISCH et al.,
2012). Diante desse contexto, com objetivo de gerar uma melhor qualidade de vida para
as pessoas, e de tornar a mobilidade urbana um processo sustentável, econômico e
eficiente, o transporte público e o não motorizado têm sido as opções mais indicadas
(SOKHI, 2011; SANTANA et al., 2012).
Os efeitos desse processo, a ineficiência e a insustentabilidade dos sistemas de
transporte e de mobilidade de uma cidade, é intensificado ao bem estar das pessoas
(CAI et al., 2009; KIMBROUGH et al., 2012). O número de atendimentos hospitalares,
de internações e de óbitos são indicadores dos efeitos negativos da poluição atmosférica
sobre a saúde humana (WILSON et al., 2004; RÉQUIA; ABREU, 2011). Pesquisas
recorrentes mostram que as doenças do sistema respiratório e do sistema circulatório são
as mais representativas nessa análise (NANDASENA et al., 2012; CHEN et al., 2012).
Nesse sentido, percebe-se que o entendimento científico das relações entre os meios de
transporte, a mobilidade urbana, a poluição atmosférica e a saúde pública contribui para
as políticas que visam uma melhor qualidade de vida das pessoas (TRONCOSO et al.,
2012).
Além das justificativas ambientais e do bem estar humano que justificam as
pesquisas relacionadas à poluição atmosférica, vale destacar às de contextos
econômicos. Há uma relação em cadeia que impacta o sistema econômico do Estado. O
aumento das concentrações de poluentes gera mais doenças, mais internações e mais
óbitos, e assim, há um impacto significativo no sistema econômico de saúde do Estado
(ŠAUER; MÁDR, 2012; BRAJER et al., 2012).
O entendimento mais preciso sobre as questões relacionadas à poluição
atmosférica é dependente das características naturais e antrópicas de cada região
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(GALLARDO et al., 2012; MIZOTA et al., 2012). No Distrito Federal (DF) podem-se
citar cinco questões de maior significância, um polo industrial com fábricas de cimento,
o período seco, as queimadas, o relevo do tipo plano e o crescimento expressivo da frota
de veículos. Neste trabalho foram priorizadas as questões referentes aos sistemas de
transporte e à seca. Estudos em outros lugares já encontraram representatividades dessas
em estudos de poluição do ar (CHEN et al., 2012; LINDGREN et al., 2012).
Quanto ao sistema de transporte, o Detran (2012) mostrou que o aumento do
número de veículos do ano de 2008 para o ano de 2009 foi de 8,7%, o que significou
aproximadamente 91489 automóveis a mais. No ano de 2012 a proporção de número de
veículos com o número de habitantes foi de 1:1. Quanto à seca, dados do Inmet (2012)
mostram que na região do DF, nos meses de agosto a outubro a umidade relativa do ar
pode chegar a 10%.
Nesse sentido, este estudo teve como objetivo a avaliação da correlação da frota
de veículos automotores do Distrito Federal (DF) e dos dados meteorológicos com o
número de pessoas internadas e número de óbitos por motivo de doenças do sistema
respiratório.
Metodologia
Para este estudo utilizou-se três conjuntos de dados - relacionados à saúde, às
condições meteorológicas e à frota de veículos da região do DF nos anos de 2007 a
2009, a cada mês. A escolha dessas variáveis foi baseada em estudos similares já
realizados no Brasil e em outros países (CERVERO, 1996; HANSON; GIULIANO,
2004; WILSON et al., 2004; ALMEIDA-SILVA et al., 2011; RÉQUIA; ABREU, 2011;
KHEDAIRIA; KHADIR, 2012; KOO et al., 2012). Destaca-se, que nesses estudos os
autores utilizaram variáveis similares que as definidas pela presente pesquisa.
- Dados de saúde:
A base de dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde -
Datasus (DATASUS, 2012) foi a referencia utilizada para a coleta das informações
referentes à saúde como: o número de óbitos e internações por causas de doenças do
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sistema respiratório.
- Dados meteorológicos:
Para a coleta de dados dos parâmetros precipitação (mm), temperatura máxima
(°C), umidade relativa do ar (%) e velocidade do vento (m/s) fez-se uso da base de
dados do Instituto Nacional de Meteorologia – Inmet (INMET, 2012). O monitoramento
desses dados é diferenciado quanto a sua periodicidade, ou seja: a precipitação e a
temperatura são amostrados diariamente, a umidade e a velocidade do vento são
amostrados 3 vezes ao dia. Assim, foi gerada uma média aritmética mensal de cada
variável e tabulada de forma mensal.
- Dados de transporte:
Para as informações relacionadas ao transporte, considerou-se o número da frota
de veículos automotores disponíveis na base de dados do Departamento Nacional de
Trânsito - Denatran (DENATRAN, 2012). Ressalta-se, que o Denatran considera os
veículos automotores como todo tipo de veículo a motor de propulsão que circula pelos
próprios meios. Considerou-se nesta pesquisa os: automóveis - veículo automotor
destinado ao transporte de passageiros, com capacidade para até cinco pessoas;
caminhões - veículo automotor destinado ao transporte de carga com peso bruto total
superior a 3500 kg; camionetes - veículo automotor destinado ao transporte de carga
com peso bruto total até 3500 kg; microônibus - veículo automotor de transporte
coletivo com capacidade para até 20 passageiros; ônibus - veículo automotor de
transporte coletivo com capacidade para mais de 20 passageiros; e motocicletas -
veículo automotor de duas rodas, dirigido por posição montada.
- Análise de dados:
Para análise dos dados, além da geração de informações descritivas de cada
variável, utilizou-se o teste estatístico de correlação de Pearson para identificação da
relação de causa e efeito entre as variáveis do estudo.
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Resultados
Durante o período de 2007 a 2009 teve um total de 45.702 pessoas internadas e
2.116 pessoas que vieram a óbito, tanto as internações quanto os óbitos por motivos de
doenças respiratórias na região do Distrito Federal. A média de internações do ano de
2007 foi de 1.289,25 ± 174,173; do ano de 2008 de 1.252,83 ± 360,815; e do ano de
2009 de 1.266,42 ± 305,262. Já a média de óbitos do ano de 2007 foi de 61,50 ± 11,905;
do ano de 2008 de 58,42 ± 8,339; e do ano de 2009 de 56,42 ± 11,843. As médias
apresentadas permitem observar que os dados de internações e óbitos não obedecem a
uma padronização mensal, e o coeficiente de variação varia em torno de 15% a 25%, e
mostram que em certos períodos de cada ano as internações e os óbitos apresentam
variações significativas (Tabela 1).
A frota de veículos automotores do DF um crescimento de 21,92% durante os
anos de 2007 a 2009. Em média, o crescimento anual foi de 7,44% e o crescimento
mensal foi de 0,61%. A cada mês, foi acrescentada à frota do DF uma média de 7.202
veículos. Contudo, o ano de 2009 foi o que teve a maior média de frota, 1.109.160,75 ±
28.116,739 (Tabela 1).
O DF possui características climáticas bem definidas quanto às condições
meteorológicas. O período de estiagem na região ocorre entre os meses de julho a
outubro, é um exemplo. Durante a seca no DF, a umidade relativa do ar pode chegar a
valores baixos. Em agosto de 2008 a umidade relativa do ar apresentou o menor valor,
34,46%. Em média, a temperatura no DF foi de 28,22ºC ± 1,31 em 2007; 27,18ºC ±
1,79 em 2008; 26,74ºC ± 1,21 em 2009. Percebe-se que há pouca variação da
temperatura, mostrando uma padronização nos dados (Tabela 1).
Tabela 1 - Estatística descritiva das variáveis em estudo
ANO Mínimo Máximo Soma Média Desvio-
padrão
2007
Intern. 914 1.528 15.471 1.289,25 174,173
Mort. 44 83 738 61,50 11,905
Frota 897.623 973.949 11.224.644 935.387,00 25.312,844
Prec. 0,00 7,64 18,39 1,532 2,530
129
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Temp. 26,80 31,25 - 28,228 1,318
Umid. 35,07 76,14 - 57,085 13,781
Veloc. 1,29 4,08 - 2,407 0,807
2008
Intern. 592 1.887 15.034 1.252,83 360,815
Mort. 47 78 701 58,42 8,339
Frota 98.1724 1.057.486 12.272.561 1.022.713,42 25.900,912
Prec. 0,00 4,55 8,20 0,683 1,429
Temp. 24,33 30,40 - 27,185 1,792
Umid. 34,46 76,58 - 58,946 15,380
Veloc. 1,39 2,88 - 2,015 0,465
2009
Intern. 680 1592 15.197 1.266,42 305,262
Mort. 39 78 677 56,42 11,843
Frota 1.065.599 1.149.696 13.309.929 1.109.160,75 28.116,739
Prec. 0,00 4,69 12,34 1,028 1,644
Temp. 24,50 28,66 - 26,743 1,217
Umid. 47,51 78,54 - 66,052 9,757
Veloc. 1,11 2,27 - 1,545 0,386
Intern. = internações Prec. = precipitação (mm)
Mort. = mortalidade Temp. = temperatura (ºC)
Umid. = umidade relativa do ar (%) Veloc. = velocidade do vento (m/s)
Observaram-se correlações positivas entre a frota de veículos automotores do
DF e o número de óbitos e internações hospitalares, porém com algumas
exceções, como a correlação com o número de internações de 2007 e com o
número de óbitos de 2009, pois o valor de r foi de -0,43 e -0,17,
respectivamente. Contudo, não houve significância (p>0,005) nas correlações
geradas entre frota e mortalidade, internações (Tabela 2).
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Quanto às correlações com as variáveis meteorológicas, observou-se que a
precipitação e a umidade do ar foram as variáveis que apresentaram maior correlação.
Destacam-se os valores de correlação encontrados entre a precipitação e o número de
pessoas internadas em 2008, -0,759 (p=0,01), umidade e pessoas internadas em 2008, -
0,631 (p=0,05). Percebe-se, também, que em 2009 a variável internação teve um valor
de correlação igual a -0,570 com a temperatura (Tabela 2).
Tabela 2 - Matriz de correlação (valores r de Pearson)
ANO Intern. Mort. Frota Prec. Temp. Umid. Veloc.
2007
Intern. 1
Mort. 0,284 1
Frota -0,432 0,424 1
Prec. -0,467 -0,428 -0,173 1
Temp. 0,118 0,104 0,293 -0,525 1
Umid. -0,416 -0,417 -0,394 0,762** -0,381 1
Veloc. 0,279 0,459 0,230 -0,606* 0,052 -0,788** 1
2008
Intern. 1
Mort. 0,124 1
Frota 0,367 0,281 1
Prec. -0,759** -0,159 -0,556 1
Temp. -0,190 0,384 0,335 -0,021 1
Umid. -0,631* -0,479 -0,511 0,468 -0,291 1
Veloc. 0,151 0,759** 0,246 -0,055 0,200 -0,693* 1
2009
Intern. 1
Mort. 0,285 1
Frota 0,288 -0,175 1
Prec. -0,404 0,004 0,189 1
Temp. -0,570 -0,098 -0,090 0,438 1
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Umid. -0,411 -0,424 -0,113 0,465 0,293 1
Veloc. -0,137 -0,201 0,221 0,018 -0,218 -0,364 1
* p(0,005) Intern. = internações Prec. = precipitação (mm)
** p(0,001) Mort. = mortalidade Temp. = temperatura (ºC)
Umid. = umidade relativa do ar (%) Veloc. = velocidade do vento (m/s)
O presente trabalho utilizou o dado de transporte definido como o número de
automóveis na frota, pois se inferiu que os poluentes atmosféricos emitidos pelos
veículos prejudicam a saúde humana, conforme alguns estudos já realizados (LIPFERT
e MURRAY, 2012; RYAN e GRACE, 2007). Contudo, não houve correlações positivas
significativas do número de automóveis e a saúde das pessoas por esta pesquisa.
Provavelmente, se os dados estivessem mais bem delimitados, como por exemplo, a
estimativa da concentração de poluentes emitidos por meio de um inventário de
poluição atmosférica, as correlações poderiam estar semelhante com os resultados
encontrados em outros estudos (ÁLVARES JÚNIOR; LINKE, 2002; MMA, 2011;
UEDA; TOMAZ, 2011; WILLIAMS et al., 2012).
A elaboração desses inventários de poluição atmosférica a nível nacional no Brasil
já é comum. Órgãos de transporte e meio ambiente tem elaborado esses estudos (MMA,
2011). No entanto, a nível regional, poucos estudos foram desenvolvidos, pode-se citar
o realizado em Campinas-SP que teve resultados com correlações significativas
(UEDA; TOMAZ, 2011). Ambos os inventários identificaram contribuições expressivas
das emissões de gases e partículas na atmosfera oriunda do sistema de transporte. Por
exemplo, no Brasil, em 2010 os veículos automotores emitiram 180 milhões de
toneladas de dióxido de carbono (TOLEDO; NARDOCCI, 2011).
Em relação às variáveis meteorológicas, os parâmetros de maior correção com
os números de internações foram os dados de precipitação e de umidade. Essa relação
mostra a vulnerabilidade da saúde humana aos efeitos meteorológicos, nesse caso, o
clima seco. Estudos atuais encontraram essa mesma relação (PHALEN, 2012; REIS et
al., 2012). No DF, há um aumento maior que 50% nos atendimentos hospitalares no
período seco do ano. Já a relação entre a temperatura e o número de internações merece
132
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um estudo mais detalhado para a comparação com outras pesquisas que encontraram
influência significativa da temperatura à saúde humana (SAMET et al., 2000; BOKWA,
2011).
Outros estudos no Brasil quantificaram a relação entre saúde humana, transporte
público - metrô, e transporte particular. É o caso da região metropolitana de São Paulo.
Identificou-se que se o metrô da cidade parasse, aumentaria 75% dos casos de óbitos
por doenças respiratórias, o que geraria um prejuízo anual de 18 bilhões de dólares
(SILVA et al., 2012).
Conclusões
O estudo teve o objetivo de avaliar a relação entre a frota de veículo, dados
meteorológicos e saúde humana no DF. Foram encontradas correlações positivas dos
dados meteorológicos com a saúde humana. Quanto aos dados de transporte, devido à
característica da informação utilizada, não foi possível encontrar correlações positivas.
No entanto, não é descartada a hipótese de que a saúde humana é vulnerável ao
aumento do tráfego de veículos em uma cidade. No caso particular do DF ainda merece
ser investigada a relação entre os sistemas de transporte, a saúde humana e as variações
climáticas, que na região tem uma característica de clima seco na maior parte do ano.
Assim, sugere-se para os próximos estudos a elaboração de um inventário de poluição
atmosférica dos meios de transporte. Os resultados desse inventário iriam alimentar a
base de dados para análises mais precisas. Além, também, de ter o conhecimento
referente à concentração de poluente atmosférico de cada fonte, o que aumenta o
controle sobre a variável, permitindo uma melhor análise estatística.
Outra orientação para as próximas pesquisas é a geração de resultados que
representem um modelo espaço temporal do comportamento dos gases e partículas
suspensos no ar. A consolidação de dados históricos, a classificação dos dados
conforme cada estação do ano e a localização dos pontos de emissão na cidade são
variáveis importantes que podem ser utilizadas nessas pesquisas.
Portanto, devido à rede deficitária de monitoramento da qualidade do ar em
133
ISSN 1980-0894 Artigo, Vol.8 Nº3, Ano 2013
Brasília, e as poucas pesquisas que foram desenvolvidas na região, este estudo inicial
pode ser considerado um motivador para a continuidade de novas investigações
científicas e de investimentos públicos na área. Para gerenciar as atividades humanas no
combate à poluição, os Estados devem se dedicar à elaboração e aplicação de políticas,
planos e programas ambientais que limitam os efeitos e danos provocados pela
poluição, sobretudo do setor de transporte.
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Recebido em 07/10/2013
Aceito em 17/12/2013
138
ISSN 1980-0894 Resenha, Vol.8 Nº3, Ano 2013
O USO RACIONAL DE COSMÉTICOS E O SEU DESCARTE
CONSCIENTE E APELO DO USO POR PRODUTOS DE ORIGENS
ORGÂNICA E NATURAL
THE RATIONAL USE OF COSMETICS AND ITS DISPOSAL AND
AWARE OF APPEAL FOR USE PRODUCTS ORGANIC AND NATURAL
SOURCES
Célio Takashi Higuchi1
A cada ano, o setor de cosméticos tem crescido aceleradamente com a oferta de
inúmeros cosméticos com diferentes apelos de atividades contra inúmeras disfunções
estéticas. Além disso, este mercado tem incentivado o consumo compulsivo e, por esse
motivo, cada brasileira, em média, tem em torno de três produtos com mesmo atividade
cosmética.
Desta maneira, é possível que algum produto não acabado vença e seja
descartado no lixo comum, representando futuramente um grande poluente e risco
potencial ao meio ambiente. Alguns produtos cosméticos são extremamente tóxicos ao
meio e por esse motivo necessitam de maiores cuidados como, por exemplo, o batom,
esmalte, tintura e surfactante. Todos representam produtos que poluem extensivamente
e também podem trazer risco a saúde. O batom e a tintura apresentam, em sua
composição, metais pesados presentes (cádmio, cromo ou chumbo). Estes metais estão
ligados aos cânceres, mal de Alzheimer e também possivelmente afetar o sistema
nervoso central. Quanto ao esmalte se utiliza solventes que podem causar prurido e
vermelhidão no rosto e se inalados podem comprometer e causar problemas no sistema
respiratório.
Por esse motivo, o uso racional de cosméticos deve ser prioridade em seu
consumo tanto em benefício para o meio ambiente, assim como o resultado maléfico do
1 Mestre e farmacêutico pela UNESP, Araraquara, e pesquisador responsável pela linha de pesquisa “Cosméticos
Sustentáveis”, Senac, SP. E-mail: [email protected].
139
ISSN 1980-0894 Resenha, Vol.8 Nº3, Ano 2013
uso exagerado de produtos. Muitos deles se bioacumulam, podendo gerar graves
consequências no futuro quanto a saúde. Como exemplos, o BHT, BHA, DMDM
hidantoína e outros. Quanto ao meio ambiente, muitas empresas como a Terracycle tem
incentivado o descarte consciente. Esta empresa recebe os cosméticos e destina
juntamente com a empresas parceiras o seu destino correto ou também reaproveita para
geração de outros produtos de forma reutilizável.
Outra forma consciente de uso de cosméticos são os produtos orgânicos. Estes
produtos são caracterizados por matérias-primas de origem orgânica (certificada
organicamente pelas empresas IBD ou ECOCERT, embalagem sustentável, cadeia
produtiva sustentável (baixa geração de resíduos contaminantes, baixo consumo de água
e baixo consumo de energia), sem uso de animais em experimentos laboratoriais
(pesquisa pré-clínica) e maior compatibilidade com a pele. Para serem consideradas
matérias-primas orgânicas seguem-se os seguintes critérios:
De acordo com a ECOCERT:
• Para cosméticos naturais: mínimo 95% de ingredientes naturais ou de origem
vegetal (sobre o total de ingredientes);
• Para cosméticos orgânicos: mínimo 95% de ingredientes vegetais certificados
orgânicos sobre o total de ingredientes vegetais.
- De acordo com a IBD:
• Cosmético orgânico: apresenta, pelo menos, 95% de ingredientes orgânicos,
excluindo água e sal em seu cálculo;
• Cosmético produzido com ingredientes ou matérias-primas orgânicas: com pelo
menos 70% de ingredientes orgânicos, excluindo água e sal em seu cálculo;
• Cosmético natural: apresenta entre 5% a 70% de ingredientes orgânicos,
excluindo água e sal em seu cálculo.
As certificadoras IBD e ECOCERT que, em conjunto com um grupo de
profissionais europeus da área de cosméticos, desenvolveram o seu próprio referencial e
exigência para essa certificação. O referencial ECOCERT de cosméticos orgânicos e
naturais, registrado no Ministério da Indústria e Comércio da França, é reconhecido e
140
ISSN 1980-0894 Resenha, Vol.8 Nº3, Ano 2013
aceito pelos consumidores em mais de 80 países, em especial na Europa e nos Estados
Unidos. Logo, no mercado externo, tanto o selo da ECOCERT como também o do IBD
são, sem dúvida, importantes referências.
De acordo com a ECOCERT são produtos livres de:
• Corantes sintéticos;
• Fragrâncias sintéticas;
• Polietilenoglicóis (PEGs);
• Quaternários de Amônio;
• Preservantes sintéticos (parabenos);
• Derivados do petróleo.
Os cosméticos orgânicos são considerados bons produtos, pois apresentam os
seguintes pontos positivos:
• Respeito maior em função da compatibilidade da pele, causando menores
processos irritativos ou alérgicos por serem mais receptivos em função das
restrições de matérias-primas;
• Substituição de produtos a base de substâncias sintéticas por naturais com a
eficácia e menores efeitos tóxicos;
• Em sua grande maioria, as matérias-primas são consideradas biodegradáveis e
pouco poluentes.
Os seguintes pontos negativos são:
• Em alguns produtos o resultado esperado é menor para cosméticos orgânicos
como, por exemplo, baixa formação de espuma para produtos com fins de higiene,
fazendo com o público consumidor não compre por achar que não tenha
qualidade;
• Preços bem superiores que os cosméticos sintéticos que apresentem os mesmos
resultados finais.
141
ISSN 1980-0894 Resenha, Vol.8 Nº3, Ano 2013
As matérias-primas vegetais orgânicas são mais íntegras em função do baixo
processo de síntese química e desta forma contribui com mais possibilidade benéfica de
suas propriedades que uma substância sintética a qual apresenta somente uma
propriedade esperada.
Os óleos vegetais penetram na pele de forma mais efetiva que os óleos minerais.
Além disso, os óleos vegetais são ricos em nutrientes como vitaminas e sais minerais.
Por outro lado, os óleos minerais não penetram com facilidade e apresentam a sensação
de matéria-prima densa e de baixa espalhabilidade.
Os anti-idades faciais orgânicos apresentam eficácias comprovadas em função dos
benefícios de suas matérias-primas ricos em ácidos graxos essenciais orgânicos,
vitaminas A, C e E orgânicas. Em função de apresentarem maior compatibilidade com a
pele, os resultados são mais efetivos e menores contra-indicações.
Os protetores solares orgânicos tem a mesma eficiência dos tradicionais e, além
disso, são extremamente interessante, pois nos orgânicos são livres de filtros químicos
como, por exemplo, PABA e benzofenonas os quais foram já relatados serem potenciais
alergênicos e são formulados com óxido de zinco e dióxido de titânio micronizado e
antioxidantes naturais como óleo de semente de uva e chá verde.
Os produtos orgânicos para cabelos são realmente eficientes, pois apresentam
como, por exemplo, as seguintes composições: substituição do lauril éter sulfato de
sódio (LESS), matéria-prima extremamente agressiva e irritativa na pele por derivados
naturais como o milho ou cana-de-açúcar que realiza a função de limpeza e formação de
espuma de maneira mais suave e menos agressiva e, além disso, livres de sal e silicone,
deixando cabelos menos ressecados e menos densos.
Os cosméticos orgânicos são indicados para que tem suscetibilidade ao quadro
alérgico, pois em função seletiva de uso de matérias-primas como, por exemplo, seleção
de conservantes naturais, não uso de matérias-primas derivado do petróleo e matérias-
primas livres de agrotóxicos. Entretanto não se deve considerar que são hipoalergênicas,
mas neste sentido são necessários testes para comprovação.
Por fim, o uso racional de cosméticos envolve, por consequência, menores
gerações de poluentes ao meio ambiente e destino correto deles. Além disso, propor o
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ISSN 1980-0894 Resenha, Vol.8 Nº3, Ano 2013
uso de cosméticos orgânicos, garante maior respeito e biocompatibilidade dos
componentes do produto cosmético com a pele. Cada indivíduo deve fazer sua parte, e,
desta maneira, o meio ambiente agradece.
Recebido no dia 11/11/2013
Aceito no dia 11/11/2013
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ISSN 1980-0894 Tradução, Vol. 8, n. 3, 2013
ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS COM APLICAÇÃO TÓPICA1
Vânia Rodrigues Leite-Silva2
Mariana Mandelli de Almeida3
Aurélie Fradin4
Jeffrey Ernest Grice5
Michael Stephen Roberts6
O estrato córneo é uma formidável barreira física, ambiental e microbiológica,
capaz de proteger contra as agressões externas e mantendo a homeostase. A via tópica é
utilizada para aplicar medicamentos tópicos e para isso a barreira deve ser ulltrapassada,
mas normalmente isto pode ser realizado somente com pequenas moléculas
relativamente lipofílicas. Entre as estratégias para aumentar a variedade de substâncias
adequadas para a administração transdérmica e para melhorar a penetração de
substâncias específicas estão os produtos tecnológicos e o conhecimento aprofundado
dos ensaios físico-químicos.
Cada vez mais, nanopartículas estão sendo exploradas como carreadores para
veicular materiais como medicamentos, tinturas, vacinas ou fragmentos de genes a
1 Texto publicado originalmente no periódico Expert Reviews, Expert Rev. Dermatol. 7(4), 383-397 (2012).
2 Universidade Federal de São Paulo, Instituto de Ciências Ambientais Químicas e Farmacêuticas, Diadema SP,
Brasil e Universidade de Queensland, Centro de Pesquisa Terapêutica, Escola de Medicina, Princess Alexandra
Hospital, Woolloongabba, Queensland, Austrália.
3 Universidade de São Paulo, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Departamento de Farmácia, São Paulo, Brasil e
Fundação CAPES, Ministério Brasileiro da Educação, Brasilia-DF 70040-020, Brasil.
4 Universidade de Rennes 1, Faculdade de Farmácia, 35043 Rennes Cedex, França 5 Universidade de Queensland, Centro de Pesquisa Terapêutica, Escola de Medicina, Princess Alexandra Hospital,
Woolloongabba, Queensland, Austrália
6 Universidade de Queensland, Centro de Pesquisa Terapêutica, Escola de Medicina, Princess Alexandra Hospital,
Woolloongabba, Queensland, Austrália e Universidade do Sul da Austrália, Escola de Farmácia e Ciência Médica,
City East Campus, Adelaide, Sul da Austrália *Autor para correspondência: [email protected]
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ISSN 1980-0894 Tradução, Vol. 8, n. 3, 2013
células-alvo específicas para fins terapêuticos ou diagnósticos.
Palavras-chave: formulação, nanopartículas, penetração, barreira dérmica, estrato
córneo e aplicação tópica.
Por milhares de anos, substâncias medicinais vêm sendo aplicadas à pele, na
crença que pudessem tratar doenças, e nos últimos 60 anos houve avanços consideráveis
na compreensão dos mecanismos da absorção de compostos químicos pela pele [1].
Sabe-se que a pele é uma barreira formidável contra a passagem de substâncias, mas
também é uma interface de interação que pode ser manipulada para permiti-la tornar-se
uma via ideal para o transporte de medicamentos. Consequentemente, há um interesse
comercial e de pesquisa cada vez maior na rota transdérmica, que supera algumas
desvantagens da administração por via oral ou intravenosa, como a metabolização
rápida, biodisponiblidade limitada ou baixa tolerância [2]. As principais vantagens da
via de administração tópica incluem a eliminação dos metabólitos de primeira
passagem, administração prolongada do medicamento, menor frequência de
administração, efeitos colaterais reduzidos e maior cooperação do paciente [3]. Porém,
pouquíssimos medicamentos são adequados para administração pela rota tópica, com a
penetração passiva através da pele sendo normalmente limitada a moléculas pequenas
(<500 Da), que são neutras e relativamente lipofílicas[3,4].
Para aumentar a diversidade de produtos tópicos disponíveis comercialmente, este
trabalho concentrou-se em quatro aspectos: encontrar compostos adequados, aumentar a
penetração dos medicamentos candidatos com propriedades menos que ótimas,
direcionar os agentes penetrantes a áreas específicas dentro da pele ou além dela, bem
como garantir que isto seja feito com um mínimo de reações adversas na região dérmica
ou via sistêmica [2]. Porém, a avaliação experimental da administração tópica de
medicamentos pode demandar tempo, ser custosa, eticamente questionável, no caso de
experimentos in vivo, ou possuir aplicabilidade limitada, devido à falta de modelos
apropriados. Consequentemente, houve várias tentativas de desenvolver algoritmos
matemáticos para prever a permeabilidade da pele com base nas propriedades físico-
químicas do soluto, quando os dados experimentais eram indisponíveis, ou
alternativamente, eliminar a necessidade de tais dados [4-9]. Embora tais técnicas
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ISSN 1980-0894 Tradução, Vol. 8, n. 3, 2013
tenham obtido sucesso limitado e variado, e ainda seja necessário chegar a um modelo
globalmente aplicável de penetração dérmica, ainda assim o trabalho levou a uma maior
compreensão dos mecanismos que controlam a absorção dérmica. Este estudo analisará
as propriedades da pele e o veículo que pode influenciar a absorção percutânea de um
soluto em particular e o uso de formulações avançadas e outras tecnologias para
proporcionar a administração de medicamentos aprimorada ou direcionada.
Propriedades intrínsecas da pele que afetam a administração de medicamentos
A barreira dérmica
A pele funciona como uma barreira formidável contra a entrada de substâncias
exógenas, bem como para o controle da homeostase ao limitar a perda de água interna.
Esta função da barreira foi demonstrada pela primeira vez como presente no estrato
córneo (EC), ou camada córnea, no trabalho pioneiro de Winsor e Burch em 1944 [10] e
em alguns experimentos mais sofisticados de tape por Blank em 1953 [11]. Perda
transepidérmica de água (PATE), a taxa de evaporação da água da superfície da pele,
pode ser usada como medida da avaliação da barreira [12]. A PATE elevada é visto em
pacientes com pele seca e dermatite atópica, que possuem uma barreira dérmica
comprometida [13,14]. Adicionalmente, a função de barreira, avaliada pela PATE, foi
demonstrada como relacionada ao teor total de lipídios do EC, especialmente
esfingolipídios e esteróis livres, em vez de espécies não-polares [15]. Os lipídios, que
cercam os corneócitos são dispostos em camadas duplas lamelares altamente
organizadas [16,17], proporcionando integridade essencial da barreira. Como a principal
rota de penetração para medicamentos ou outras substâncias é através de lipídios
intercelulares [3], processos que extraiam lipídios ou causem desordem em sua
disposição têm a possibilidade de tornar a pele mais permeável a esses materiais. Este
conceito forma a base de muitas das estratégias de aprimoramento da penetração a
serem discutidas nas próximas seções.
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Hidratação da pele
Na pele normal, com a barreira intacta, aumentar o teor de água através de
tratamentos como à oclusão pode causar maior penetração de uma substância. Isto pode
ser devido a uma alteração na solubilidade do ativo no EC por aumentar o coeficiente de
partição do veículo na membrana [18]. Além disso, pode-se especular que a maior
hidratação da pele pode causar uma reestruturação dos lipídios,
resultando em aumento da penetração, embora não haja evidências experimentais neste
estágio. A oclusão pode ser garantida pelo uso de adesivos transdérmicos disponíveis
comercialmente [19]. Uma relação inversa entre o PATE e a hidratação do EC é bem
conhecida, e valores elevados de PATE, assim como os marcadores de atividade da
barreira dérmica correlacionados com a baixa hidratação do EC [18]. Os ingredientes de
algumas formulações comuns, como a ureia, também são efetivos no aumento da
hidratação da pele [20].
Local anatômico
A permeabilidade da pele em diferentes regiões do corpo foi estudada
extensivamente em diversas faixas etárias, de neonatos a adultos. Amplas diferenças de
permeabilidade foram observadas em diferentes locais anatômicos, e elas podem ser
devido a variações em propriedades da pele, como a espessura do EC (maior nas regiões
palmares das mãos e dos pés), densidade de folículos capilares, pH da pele, produção de
sebo e hidratação da pele [21,22]. Tais variações devem ser levadas em consideração
quando produtos são formulados para aplicações anatômicas específicas. As
implicações toxicológicas de aplicar produtos em áreas de alta permeabilidade, como os
lábios ou órgãos genitais, também devem ser consideradas.
Idade, etnia e sexo
O envelhecimento causa mudanças na estrutura da pele, com a epiderme
tornando-se mais fina e os queratinócitos menos aderentes uns aos outros. Além disso, a
derme torna-se atrófica e relativamente acelular e avascular, com alterações de
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colágeno, elastina e glicosaminoglicanos. Por outro lado, a função de barreira aparenta
ser inalterada pelo envelhecimento, ao menos em adultos, sem mudanças significativas
na espessura do EC [23,24] ou do teor de proteínas [25], além da permeação inalterada
de compostos como estradiol, cafeína, aspirina, nicotinatos ou água [26-28]. Porém, em
crianças, especificamente em neonatos, a função da barreira dérmica pode ser reduzida
significativamente [29].
A maioria dos estudos não apontaram diferenças significativas na função da
barreira dérmica em diferentes grupos étnicos [30,31]. De fato, as diferenças étnicas
aparentam ser bem menos profundas que as diferenças interindividuais dentro de
determinado grupo étnico [32]. Porém, algumas diferenças na composição de lipídios da
pele em grupos étnicos foram observadas, e sugere-se que elas possam influenciar no
predomínio de doenças e sensibilidade da pele [33].
Não foram vistas diferenças significativas entre os gêneros com relação à
espessura do EC, no teor de proteínas [25], ou no coeficiente de fricção dinâmica da
pele [34], embora tenha sido relatado que a função de barreira dérmica foi reduzida nos
dias anteriores ao início da menstruação [35].
Consequentemente, pouco levou-se em consideração os efeitos da idade, etnia ou
sexo sobre a administração transdérmica, embora a dose de medicamento e,
especialmente, o potencial para toxicidade em crianças, precise de avaliação adicional.
Ações de origem patológica
Embora muitos produtos tópicos devam ser aplicados sobre a pele adoecida, a
maioria dos estudos experimentais sobre a absorção dérmica são realizados sobre pele
saudável. Esta anomalia reforça a necessidade de obter dados diretamente relacionados
à condição particular sendo tratada. Uma adição muito útil a esta literatura é um estudo
recente de Chiang et al. [36]. Ele resume os dados disponíveis sobre a absorção
percutânea através da pele danificada, por exemplo, pelo método de abrasão, aumento
ou diminuição de temperatura congelamento ou aquecimento, deslipidização, irritação
química, irradiação UV e em doenças clínicas, inclusive psoríase, dermatite atópica e
cânceres de pele. Na maioria dos relatórios, o maior fluxo de agentes penetrantes de
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modelo particular foi vista através da pele danificada ou adoecida [36-39]. Além de um
maior fluxo de agentes penetrantes visto através da pele afetada por dermatite atópica,
vários estudos demonstram uma melhoria similar através da pele sem envolvimento dos
mesmos paciente de dermatite atópica [40-43]. Curiosamente, Moan et al. relataram
uma maior permeação de ácido aminolevulínico através da pele de camundongos
sobrepostas a tumores de uma linhagem celular implantada de adenocarcinoma de cólon
humano do que através de pele normal sem envolvimento [44]. Infelizmente, não houve
comparação histológica entre a pele em diferentes regiões. Porém, caso seja validada,
esta abordagem pode levar a um método de detecção de tumores, especialmente com
relação a como a penetração do ácido aminolevulínico ou à aparição de seu produto
metabólico, a protoporfirina IX, pode ser acompanhada de maneira não-invasiva através
de técnicas modernas de imagem microscópica [45].
Produtos tecnológicos
Grandes melhorias na administração transdérmica, além do que poderia ser
esperado de uma consideração das propriedades da pele e da molécula ativa, podem ser
alcançadas através de uma escolha apropriada do veículo e do tipo de formulação [46].
Os veículos podem ser importantes, uma vez que seus efeitos sobre a pele podem alterar
a interação do agente penetrante com a pele. Por exemplo, os autores demonstraram que
um veículo como o propilenoglicol pode alterar as propriedades do EC, de maneira que
a solubilidade do princípio ativo minoxidil na membrana seja aumentada [47]. A
importância da solubilidade da membrana foi observada em outro trabalho com fenóis,
em que foi descoberto que o fluxo máximo através de pele humana seccionada era
determinado por sua solubilidade no EC, que por sua vez foi influenciada pelo veículo
[48].
Além dos componentes do veículo, é importante lembrar que frequentemente uma
simples mudança de propriedades, como pH, viscosidade, quantidades relativas de óleo,
água ou surfactantes na emulsão, tamanho da gotícula, natureza iônica ou método de
preparo, podem influenciar o processo de absorção dérmica. Algumas dessas
propriedades serão discutidas neste artigo. A Tabela 1 apresenta mais exemplos de
produtos tecnológicos.
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Tipo de formulação
Muitas formas farmacêuticas são usadas como veículos. Os vários tipos de
formulações, como emulsões (ex., óleo em água, água em óleo, água em óleo em água
ou água em óleo em água ou óleo em água em óleo) ou géis (hidrófilos, lipofílicos ou
alcoólicos) são importantes, entre outros motivos, para adaptar a hidrofilicidade ou
lipofilicidade do medicamento ao veículo. O tipo do veículo escolhido será determinado
pelas propriedades do agente penetrante e pela área-alvo pretendida. Por exemplo,
Kurul e Hekimoglu compararam diferentes tipos de veículos quanto às suas capacidade
de causar permeação dérmica dos filtros UV, o lipofílico oxibenzona (log P 3.8) e o
relativamente hidrofílico sulisobenzona (log P 0.4) [49]. A ordem de permeação vista
com os diferentes veículos, da mais alta para a mais baixa, foi petrolato >emulsão de
óleo em água>gel de hidroxietilcelulose para oxibenzeno e o contrário para
sulisobenzona (gel de hidroxietilcelulose>emulsão óleo/água >petrolato). Portanto, para
minimizar a penetração dérmica, conforme exigido para um filtro solar, foram
necessários diferentes veículos para os diferentes filtros.
As proporções nas quais os mesmos ingredientes são misturados podem
determinar as formas estruturais da formulação resultante. Por exemplo, diferentes
proporções de ingredientes como o PPG-5- Cetearil-20 (surfactante), dibutila adipato
(fase oleosa) e água, podem resultar em microemulsões, emulsões ou mesofases líquido-
cristal. Estudos in vivo realizados em porcos demonstraram que uma formulação
hexagonal de cristal líquido foi a mais efetiva para aumentar a permeação dérmica da
cafeína [50].
Concentração dos componentes da formulação
A determinação das percepções sensoriais das formulações tópicas são
importantes na determinação da escolha de produtos pelos consumidores ou para a
aderência ao tratamento, com emulsões modernas de óleo em água consideradas mais
aceitáveis que pomadas. Essas características podem ser integradas a uma formulação
sem comprometer sua eficácia. Por exemplo, Wirén et al investigaram o efeito das
alterações do teor de lipídios do veículo de emulsões óleo/água contendo dois
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ingredientes ativos: nicotinato de benzila e valerato de betametasona sobre eritema e
clareamento da pele humana in vivo [51]. A eficiência aumentada de ambos os
princípios ativos foi vista com as emulsões com o menor teor de lipídios (10%),
indicando que os produtos podem ser projetados tendo a eficiência e a aceitabilidade
tátil em mente.
Tabela 1. Sistemas de nanoadministração.
Técnica Princípio Administráveis Ref.
Nanoemulsão ou
microemulsão
Sistema de água, óleo e um
anfipático,que forma uma
única solução líquida
oticamente isotrópica
DNA plasmídeo,
cetoprofeno,
apomorfina, estradiol e
lidocaína
[134-138]
Lipossomos antibióticos e
adjuvantes
Vesículas formadas por uma
ou várias camadas duplas de
lipídios, compostas por uma
mistura de fosfolipídeos
Cosméticos, de vacinas
[139-141]
Niossomos Misturas de surfactantes não-
iônicos, colesterol e
fosfolipídeos
Tretinoína,
medicamentos peptídeos
e zidovudina
[142-144]
Etossomos Aumento da penetração
dérmica com o aumento da
elasticidade da vesícula
lipídica; contém até 20-45%
de etanol
5-ALA, salbutamol,
finasterida e terapia anti-
HIV [145-148]
Transferossomos Fosfolipídeos com
surfactantes que agem para
proporcionar elasticidade e
deformabilidade da vesícula
Vacinas, 5- fluorouracil,
IL-2 e IFN-α [149-151]
SECossomos ou
nanossomos
Mistura de surfactante, etanol
e colesterol
m-RNA [121]
SLNs Produzidos com um único
lipídio sólido e surfactantes,
CoQ-10,
glucocorticoides, [152-155]
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com trama cristalina perfeita minoxidil e oxibenzona
NLCs Produzidos com lipídios e
surfactantes sólidos e líquidos,
com trama cristalina perfeita
Administração dirigida a
tumor, inibidores de
fosfolipase A2,
benzocaína, lidocaína e
tratamento de psoríase
[156-159]
Nanopartículas
poliméricas
Consistem em micro e nano
esferas ou cápsulas
desenvolvidas por controlar a
liberação do medicamento
protegido
Clorexidina,
indometacina,
melatonina e
medicamentos com
pouca solubilidade
[160-163]
ALA: Ácido aminolevulínico; NLC: Portador de lipídeo nanoestruturado; SECossomo: Surfactante-
etanol-colesterol-ossomo; SLN: nanopartícula sólida de lipídeo.
Pele e pH da formulação
A película ácida da pele é reconhecida há muito tempo [52]. A superfície dérmica
possui pH de aproximadamente 4-6, e há um gradiente em direção ao pH neutro do
interior, que se estende até a epiderme [53].
Perturbações da película ácida resulta em elevação do pH da superfície dérmica
podem ser fatores que contribuem para a etiologia de doenças como dermatite de
contato, ictiose, psoríase e dermatite atópica [18]. A película ácida confere uma função
antimicrobiana à função da barreira dérmica, bem como a manutenção da defesa física
[54]. Como exemplo, a agregação de nanopartículas de poliestireno carboxiladas, é
promovida pelo ácido devido à redução das forças eletrostáticas, tornando-as menos
prováveis de penetrar a pele [55].
O pH do veículo e o pH na pele são importantes para a difusão de medicamentos,
pois as propriedades ácidas e básicas dos medicamentos influenciam a solubilidade e o
particionamento nas diferentes camadas dérmicas e, portanto, a penetração do
medicamento.
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Viscosidade
Em geral, acredita-se que as formulações viscosas reduzem o coeficiente de
difusão no veículo, assim retardando ou eliminando o particionamento da pele e a
absorção [56]. Porém, esse nem sempre pode ser o caso, e é necessário um exame
cuidadoso das condições experimentais para evitar interpretações falsas dos dados.
Cross et al, do laboratório dos autores, demonstraram que formulações mais
espessas impedem a penetração dérmica de benzofenona-3 sob condições de dosagem
infinita, enquanto as camadas finas de formulações aplicadas sob condições “em uso”
aumentaram a penetração dérmica [57]. Acreditava-se que isto era devido à formação de
uma camada oclusiva, que teria o efeito de aumentar a hidratação, levando a uma maior
difusividade do agente penetrante pelo EC. Os autores observaram que os pesquisadores
precisam estar cientes dos riscos em extrapolar resultados a partir de experimentos em
dose infinita para situações reais.
Para entender como a viscosidade de uma formulação pode afetar a permeação de
compostos ativos para a pele, Gallagher et al estudaram a liberação de cetoprofeno de
uma série de géis simples com teor cada vez maior de agente espessante em comparação
com o solvente [58] e sua penetração em pele suína e através dela [59]. Embora a
permeação do cetoprofeno e a distribuição dérmica tenham reduzido conforme a
viscosidade dos géis aumentou, conforme esperado, os autores demonstraram que isto
poderia ser atribuído ao aumento da ligação do medicamento ao agente espessante, em
vez de mudanças da viscosidade.
Carreamento
A carga final da emulsão geralmente é obtida de acordo com a carga do
surfactante primário. Os surfactantes podem ser iônicos, não-iônicos ou anfotéricos.
Surfactantes não-iônicos podem ter melhor tolerância dérmica e, apenas em poucos
casos específicos, os surfactantes anfotéricos são usados [60]. Os surfactantes catiônicos
frequentemente permitem melhor penetração dérmica, como visto no trabalho de Klang
et al [61], que dizia respeito à penetração córnea da indometacina, e no trabalho de
Kitagawa e Kasamaki [62], sobre a permeação de ânion salicilato através da pele dorsal
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seccionada de cobaias. Por outro lado, surfactantes catiônicos e aniônicos em várias
concentrações não causaram qualquer melhoria na absorção dérmica de finasterida no
trabalho de Javadzadeh et al [63]. A interpretação dessas diferenças é complicada pelo
uso de uma variedade de diferentes cossolventes e cosurfactantes nas várias
formulações.
A importância da carga superficial da emulsão é vista no trabalho de Klang et al
[61]. Com o uso de um emulsificador não-iônico e variando a carga com um surfactante
catiônico e ácido deoxicólico (lipídio aniônico), eles prepararam emulsões com carga
positiva e negativa. A emulsão carregada positivamente proporcionou penetração córnea
do medicamento signifcativamente mais alta que a emulsão carregada negativamente,
provavelmente devido ao prolongamento do tempo de residência da gota na camada
epitelial da córnea.
Tamanho da gotícula: nanoemulsões
A mistura de óleo, água e surfactante permite a formação de estruturas e sistemas
variáveis dependentes das características e da proporção dos componentes usados.
Sistemas microestruturados como cristais líquidos e microemulsões são usados para
encapsular medicamentos e princípios ativos em produtos farmacêuticos e cosméticos.
Graças à capacidade de administrar o medicamento através da pele, o sistema de
microemulsão deve ser um promissor transportador de medicamentos [64], com
expectativa de proporcionar uma formulação controlada e prolongada com maior
biodisponibilidade e menor toxicidade que os métodos convencionais [65,66], bem
como para penetrar as membranas [67]. Assim, espera-se que a biodisponibilidade seja
muito maior e varie menos entre indivíduos do que as formulações convencionais [66].
Além disso, esses sistemas já demonstraram ser efetivos em uma ampla gama de
formulações para a maioria das rotas de administração, inclusive oral, tópica e nasal.
A microestrutura única dessas emulsões, contendo componentes hidrofílicos e
hidrofóbicos com tamanho em nanômetros, pode permitir que uma ampla gama de
diferentes moléculas sejam solubilizadas e administradas à pele. Sua transparência
possibilita verificar se todos os componentes estão completamente solubilizados e sua
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estabilidade termodinâmica os permite ser guardados por longos períodos.
Os mecanismos pelos quais tais emulsões são capazes de melhorar a penetração
dérmica foram investigados. Com o uso da espectrometria infravermelha de
transformação de Fourier e a análise da pele tratada com nanoemulsões específicas por
calorimetria de varredura diferencial, Shakeel et al demonstraram que a permeação de
celecoxibo ocorria após a extração de lipídeos do EC através da nanoemulsão [68]. A
redução significativa na energia de ativação para permeação em pele de camundongos
indica que as camadas duplas de EC foram perturbadas de maneira significativa e
fotomicrografias demonstraram a perturbação e a extração de camadas duplas de
lipídeos como espaços vazios distintos. Estudos farmacocinéticos revelaram uma
medida significativamente maior de absorção que a formulação por cápsula oral.
Estudos recentes com a nanoformulação de medicamentos com nanopartículas de
quitosana aplicados a camadas individuais também apresentou perturbação da
membrana causada por interações eletrostáticas com proteínas paracelulares, resultando
na abertura de junções apertadas [69]. Diferentes medicamentos terapêuticos com
diferentes propriedades fisioquímicas podem ser carregados nos nanossistemas com o
uso de uma abordagem combinatória, sugerindo que as nanoformulações de dextrano
com base em princípios combinatórios são promissoras para a administração de uma
ampla variedade de medicamentos anti-cancerígenos [70].
Melhoria química da permeação dérmica
Conforme discutido anteriormente, sob condições normais, o número de
compostos capazes de penetrar a barreira dérmica em um grau significativo é limitado.
Uma abordagem comumente usada para aumentar a variedade de compostos disponíveis
ou para aumentar a penetração de um composto em particular é aplicar um ampliador
químico de penetração. Eles são substâncias que alteram as propriedades da pele e os
mecanismos pelos quais isto pode ocorrer incluem: rompimento da estrutura de camadas
duplas de lipídeos, extração de lipídeos da EC, maior solubilidade do particionamento
no EC, alteração da hidratação do EC, mudando assim a solubilidade do medicamento e
a interação com a queratina do corneócito [19].
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Um ampliador efetivo da penetração dérmica deve atender à seguintes exigências:
deve ser inodoro e incolor; deve ser específico em seu modo de ação; deve ser
farmacologicamente inerte; deve ser compatível com medicamentos e outros
excipientes; deve ser química e fisicamente estável; deve ser não-alergênico, não
irritante e atóxico; seu efeito sobre a barreira dérmica deve ser reversível e deve ter um
efeito rápido por uma duração previsível. Porém, é improvável que um composto em
particular seja capaz de atender a todos esses critérios.
Os ampliadores de penetração podem ser produtos naturais, como terpenos ou
ácidos graxos, ou materiais sintéticos. Alguns exemplos de ampliadores de permeação
incluem álcoois, terpenos, dimetil isossorbida, ureia e seus derivados, ácidos graxos,
fosfolipídeos, propileno glicol e isopropil miristato [71,72].
Uma questão fundamental ao considerar na escolha de um ampliador de
penetração é a segurança e, consequentemente, existem relativamente poucos em uso
comum com propriedades bem compreendidas. Novos métodos de triagem com alto
volume de processamento, com base na condutividade [73] ou resistência elétrica [74]
foram desenvolvidos para avaliar rapidamente painéis de produtos químicos para alta
eficiência de ampliação e baixo potencial de irritação dérmica.
Efeitos sinérgicos, provavelmente resultantes dos efeitos combinados de duas
substâncias agindo por mecanismos diferentes, foram demonstrados para várias
combinações, inclusive ozônio, terpenos, ácido oléico ou análogos da ureia e
cossolventes, como o propilenoglicol, transcutol ou álcoois. É provável que
cossolventes como o propilenoglicol funcionem para aumentar a concentração do agente
permeante e do ampliador no EC [19,75].
Técnicas de amplificação física
Várias técnicas físicas podem ser aplicadas antes da aplicação tópica ou durante
ela para aumentar a penetração dérmica. Elas podem ser categorizadas de acordo com
seu efeito sobre a pele (Tabela 2). Métodos mecânicos, como a abrasão dérmica e
“desgaste” reduzem a espessura do EC, enquanto a flexão, distensão ou massagem
enfraquecem a barreira de forma geral. Técnicas de injeção diretas (microagulhas e
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propulsão por jato) ultrapassam a barreira do EC. Técnicas abrasivas ou cavitacionais
introduzem poros em locais específicos com a aplicação de energia (térmica, ultrassom,
radiofrequência e outras) diretamente sobre a pele. Por fim, técnicas como iontoforese,
magnetoforese e ultrassom não cavitacional aumentam a força de impulso na molécula
penetrante. Como será visto, cada técnica possui vantagens que podem torná-la mais
adequada para fins específicos, bem como desvantagens. Combinações de ampliação
com a formulação otimizada, inclusive ampliadores físicos, são estratégias promissoras
que provavelmente serão usadas cada vez mais.
Injeção direta com microagulhas
Microagulhas são projetadas para ultrapassar a barreira dérmica para administrar
doses de carga precisa a uma profundidade e local específicos na pele. A capacidade de
transportar substâncias com alto peso molecular (PM) proporciona uma vantagem sobre
métodos convencionais de administração. Consequentemente, dadas as abundantes
células imunes presentes na pele [76], a maioria das aplicações bem sucedidas até hoje
são para a administração de vacinas [77-80]. Um aumento exponencial em registro de
patentes e literatura revisada ocorreu desde o primeiro registro, da Alza Corporation
(CA, EUA) em 1976 [201]. Parte desta expansão deveu-se aos avanços nas técnicas de
fabricação, estimulados por maiores financiamentos. A fabricação de microagulhas
permite que diversos modelos sejam desenvolvidos, inclusive agulhas sólidas com
revestimento a seco [77,81,82], microagulhas ocas [83,84] ou poliméricas dissolúveis
[85-87]. Porém, as microagulhas também podem ter problemas de custo, aderência e
segurança. Como ocorre com qualquer procedimento invasivo, há um potencial para
irritação ou infecção local no ponto da aplicação, ou morte celular local, como visto
com outras tecnologias invasivas [88].
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Tabela 2. Técnicas de ampliação físicas e elétricas.
Técnica Princípio Administráveis Ref.
Injeção direta com
microagulhas
Administrar substâncias
com a eficácia de uma
agulha em um adesivo
transdérmico
Vacinas contra gripe,
vírus Chikengunya,
papillomavirus
humano, vírus herpes
simples e vírus do
Oeste do Nilo
[77-80,82-
88,164]
Tecnologias de
cavitação
Eletroporação Aplicação de pulsos
elétricos de micro a
milissegunods para criar
poror aquosos na camada
dupla de lipídeos
Insulina e vacinas [94,96]
Fonoforese ou
sonoforese
A administração ampliada
por energia ultrassônica de
baixa frequência aumenta a
fluidez de lipídeos
Insulina, cetoprofeno e
vacinas
[93,95,165]
Tecnologias de força de inserção aprimorada
Iontoforese Administração transdérmica
por uma pequena corrente
direta
Moléculas carregadas,
peptídeos, proteínas e
indometacina
[97,98,166]
Dermaportação ou
magnetoforese
Administração com o uso de
campos magnéticos
estáticos ou variáveis
Ácido benzóico, sulfato
de terbutalina, 5-ALA,
Ala-Trp (dipeptídeo) e
naltrexona
[100-104]
ALA: Ácido aminolevulínico.
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Tecnologias cavitacionais
Incluem ablação térmica (com o uso de elementos de aquecimento, lasers e
radiofrequências), eletroporação (pulsos de alta tensão) e ultrassom de baixa frequência
(também conhecido como sonoforese ou fonoforese). Essas várias formas de energia são
aplicadas à pele para eliminar o EC em pontos definidos, introduzindo poros de
cavitação aquosa, ou microcanais. Isto torna essas técnicas particularmente adequadas
para o transporte de macromoléculas relativamente hidrofílicas, inclusive proteínas.
Exemplos de administração ampliada de macromoléculas com essas tecnologias
incluem hormônios de crescimento humano (radiofrequências) [89]; transferência de
genes (lasers) [90]; insulina por laser com pulsação [91], sonoforese [92] ou
eletroporação [93]; vacinas por sonoforese [94] ou eletroporação [95]. As desvantagens
das técnicas cavitacionais são a possibilidade de infecção devido a poros abertos e dores
(especialmente com a eletroporação). Embora tenham sido feitas tentativas de
comercializar essas tecnologias, obteu-se pouco sucesso.
Tecnologias de força de inserção adicional
Incluem a iontoforese (corrente elétrica) e dermaporação (ou magnetoforese, com
o uso de campos magnéticos estáticos ou variáveis). A iontoforese usa pequenas
correntes elétricas para repelir moléculas carregadas. Ela é particularmente efetiva na
inserção de pequenos medicamentos iônicos solúveis em água pelo EC, um resultado
muito difícil de obter para esses compostos sob condições passivas. Além de ampliar a
administração de substâncias com baixo MW, a iontoforese foi vista como bem-
sucedida com peptídeos e proteínas maiores [96,97]. Adicionalmente ao mecanismo de
repulsão direta, há dois outros mecanismos que contribuem para um maior fluxo da pele
sob iontoforese: efeitos eletrosmóticos em espécies deionizadas mas polares e maior
permeação da pele como resultado da corrente elétrica. Juntamente com a sonoforese, a
iontoforese é uma das poucas tecnologias de administração transdérmica com aplicações
clínicas claramente identificáveis, e é a única a gerar produtos aprovados pelo FDA dos
EUA [98].
Trabalhos iniciais de Murthy e Hiremath relataram que os campos magnéticos estáticos
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foram capazes de aumentar a penetração de ácido benzoico e sulfato de terbutalina
aplicados topicamente in vitro e in vivo em cobaias e humanos [99,100]. Foi sugerido
que os campos magnéticos aumentavam a força de inserção das moléculas e causavam
uma alteração temporária na estrutura dérmica. Mais recentemente, trabalhos realizados
na Austrália descobriram uma maior penetração de 5-ácido aminolevulínico [101], um
dipeptídeo, Ala-Trp [102] e naltrexona [103] através da epiderme humana excisada com
a aplicação de campos magnéticos pulsáteis. Adicionalmente, os campos magnéticos
causaram maior penetração de nanopartículas de ouro de 10 nm na epiderme viável da
pele humana excisada com espessura total [103]. O trabalho deste grupo prossegue com
campos magnéticos estáticos gerados por películas finas que podem ser facilmente
incorporadas em um adesivo transdérmico multifuncional. Essas tecnologias magnéticas
oferecem vantagens comerciais claras, uma vez que são pequenas e flexíveis, facilmente
incorporadas a dispositivos e improváveis de contribuir com efeitos dérmicos adversos.
É necessário trabalho adicional para verificar essas observações para moléculas com
uma maior variedade de propriedades e para elucidar os mecanismos que podem ser
responsáveis pelos efeitos relatados. Um relatório de 2011 do grupo de Murthy sugeriu
que o aumento da penetração mediado por campos magnéticos pode ocorrer através de
um caminho apendicial [104].
Flexão e massagem
Condições como flexão e massagem mecância são encontradas no cotidiano e seus
efeitos sobre a penetração dérmica foram investigados, especialmente para partículas.
Enquanto o foco deste estudo é a administração de medicamentos, partículas aplicadas
topicamente são relevantes devido ao seu potencial como transportadoras de
medicamentos, particularmente para a administração folicular [105]. A primeira
evidência dos efeitos da flexão veio de Tinkle et al em 2003 [106]. Com o uso da
microscopia confocal, eles demonstraram que 60 minutos de flexão mecânica de pele
humana excisada fez com que pequenas quantidades de bolhas de dextrano conjugadas
com fluoresceína e isotiocianato, de 0,5 e 1 µm, mas não de 2 e 4 µm, penetrassem a
epiderme e a derme. Eles também demonstraram o rápido acúmulo de bolhas em regiões
onde o EC era descontínuo, e penetração significativa nas camadas mais profundas
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quando o EC foi desgastado. Em contraste, o trabalho deste laboratório replicando o
aparato e as condições de flexão de Tinkle et al., com pele humana excisada e tratada
com nanopartículas de óxido de zinco de 35 nm foi incapaz de demonstrar a penetração
dérmica [Sanchez WH, Prow TW, Sarkar M, Grice JE, Roberts MS, dados não
publicados]. Posteriormente, estudos detalhados do grupo Monteiro-Riviere realizados
em pele porcina dermatomizada em vez de pele humana demonstraram que após a
flexão mecânica, foram detectados fulerenos modificados de 3,5 nm nas regiões
intercelulares da epiderme e da derme [107]. A falta de evidências conclusivas
disponíveis dos resultados in vitro contrastantes aumenta a necessidade de estudos in
vivo em humanos para lançar luz sobre o efeito da flexão sob condições normais, por
exemplo, com filtros solares contendo óxido de zinco e micro ou nanopartículas de
dióxido de titânio.
O folículo capilar é um importante local para administração de medicamentos,
uma vez que é facilmente acessível, sustentado por um denso leito capilar é intimamente
associado às células tronco e dendríticas [108]. Ele pode ser alvo preferencial, como
visto no trabalho deste laboratório, em que os autores demonstraram administração
folicular preferencial de cafeína in vivo [109] em tempos iniciais, bem como a
penetração dependente de minoxidil in vitro [47]. O grupo Lademann foi pioneiro em
muito do uso da penetração folicular dos medicamentos com o uso de nano ou
micropartículas como transportadores [105], avançando a abordagem que os folículos
podem ser usados como reservatórios e alvos para terapia medicamentosa, genética ou
imunoterapia. Eles demonstrarm que as nanopartículas de 40 nm foram transportadas
diretamente por células de Langerhans ao redor dos folículos quando as hastes capilares
foram removidas [110]. Com a massagem, eles perceberam profunda penetração
folicular de partículas com tamanho ótimo de aproximadamente 300-600 nm,
correspondendo aproximadamente à espessura da cutícula em cabelos terminais ou velo
(530 e 320 nm em pele humana e porcina, respectivamente) [111]. Eles hipotetizaram
que isto era devido às cutículas agirem como “engrenagens” para forçar partículas de
tamanho coincidente a pelos folículos conforme os cabelos são movidos sob massagem.
Foi proposto que um sistema de administração com base em nanpoartículas com uma
técnica física simples como a massagem resultará em tratamentos terapêuticos
aperfeiçoados.
161
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Desgaste
Um modo simples de aumentar a penetração dérmica de um soluto ou partícula é
reduzir gradualmente ou eliminar a barreira do EC através da aplicação e remoção de
fita adesiva sobre a pele (desgaste). Os primeiros estudos usando esta técnica foram
realizados no início da década de 1970 [112-114]. O fluxo pode ser aumentado como
resultado de menor espessura do EC, ou um agente penetrante pode ter acesso direto à
epiderme viável com a eliminação completa do EC. Conforme a espessura do EC é
reduzida, há uma maior perda de água na membrana, indicada por maior PATE [115].
Também há evidências que reduzir a espessura do EC através do desgaste expande o
tamanho da variedade possível de agentes penetrantes, como demonstrado por Tsai et al
que o corte do PM para a penetração dérmica de oligômeros de polietilenoglicol
aumentou em paralelo com a ruptura da barreira, demonstarda com o aumento de PATE
conforme a pele era desgastada [116]. Enquanto o desgaste é uma ferramenta
investigativa útil para examinar mecanismos da penetração dérmica e também pode ser
usado agentes penetrantes retidos no EC a fim de obter perfis cinéticos ou de
profunidade, ela possui pouco valor prático ou comercial como técnica de administração
de medicamento.
Sistemas de nanoadministração
Em anos recentes, o campo de administração de medicamentos com base em
nanomateriais para a pele progrediu a um ponto em que há ferramentas bem
caracterizadas, como nanopartículas de lipídeos sólidas ou flexíveis e dendrímeros com
capacidade para administração personalizada ou direcionada. Há nanopartículas para
aumentar ou reduzir o fluxo, customizar a localização e o tamanho do depósito do
medicamento e até para permeabilizar o EC seletivamente [55]. Para aperfeiçoar ainda
mais a permeação dérmica de moléculas encapsuladas, novas partículas, como
niossomas, etossomas e transferossomas foram desenvolvidas para melhorar algumas
das características dos lipossomas.
Os lipossomas geralmente são feitos de misturas de fosfolipídeos ou fosfolipídeos
e colesterol. Eles são vesículas formadas por uma ou várias camadas duplas de lipídeos
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que envolvem um ambiente aquoso. A deformabilidade do lipossoma depende
inversamente da quantidade de colesterol em sua composição, e pode ser carregada
negativamente ou positivamente [117]. Niossomas são feitos de misturas de surfactantes
não-iônicos, colesterol e, às vezes, pequenas quantidades de fosfolipídeos, e foram
desenvolvidos para aumentar a estabilidade dos lipossomas. Essas partículas são rígidas
e podem ser carregadas negativamente ou positivamente [118]. Os etossomas, contendo
até 20-45% de etanol, foram projetados para aumenta a penetração dérmica através do
aumento da elasticidade da vesícula lipídica. Suas camadas duplas de lipídeos são
fluidas e essas partículas geralmente têm carga negativa [119]. Transferossomas são
feitos de fosfolipídeos suplementados por surfactantes que agem como ativadores de
extremidades para proporcionar elasticidade e deformabilidade da vesícula. Eles são
ultradeformáveis e geralmente possuem carga negativa [56,120].
Em 2010, Geusens et al. Desenvolveram nanossomas, chamados de sur- factante-
etanol-colesterol-ossomas (SECossomas), que demonstraram excelente tamanho, carga
superficial, morfologia, deformabilidade, eficiência de transfecção, estabilidade e
capacidade de penetração dérmica após a complexação com siRNA [121]. A maior
flexibilidade nessas partículas aumenta em muito sua capacidade de cruzar a membrana
epidérmica humana intacta e descarregar seu conteúdo nas células epidérmicas
direcionadas.
Avanços adicionais na tecnologia de fabricação e na compreensão de como as
nanopartículas interagem com a barreira de EC, as características gerais da pele, como
sulcos e seus apêndices serão essenciais para o desenvolvimento de sistemas viáveis de
administração de medicamentos à base de nanopartículas. Esta informação, em conjunto
com uma compreensão da cinética de sequestro e eliminação de reservatórios como
sulcos e apêndices, permitirá que nanotransportadores sejam projetados com
propriedades específicas para a administração precisa de cargas em doses úteis para
alvos celulares. Ao mesmo tempo, é essencial que os efeitos toxicológicos de sistemas
de administração à base de nanopartículas sejam compreendidos antes que os
reguladores possam aprovar seu uso difundido [55].
163
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Análise da correlação de penetração dérmica in vivo e in vitro
Como discutido anteriormente, normalmente não é prático, ou mesmo possível,
avaliar a permeação dérmica de novos medicamentos ou terapias, cosméticos ou
substâncias diagnósticas em pacientes humanos, embora eles sejam os destinatários
propostos para tais tratamentos. Consequentemente, outros sistemas experimentais
devem ser usados, inclusive modelos animais vivos, que se tornam cada vez mais
inacessíveis, e pele humana e preparados celulares humano e animal in vitro. Uma
suposição vital nesta abordagem é que os modelos escolhidos sejam válidos e que as
predições in vitro sejam correlacionadas com as descobertas in vivo esperadas.
Um recente estudo da literatura disponível comparou as medidas in vitro de
absorção percutânea em pele excisada com resultados in vivo [122]. Os autores
concluíram que contanto que os estudos in vitro fossem rigidamente controlados para
duplicar adequadamente as condições in vivo, havia uma excelente correlação entre os
dois conjuntos de resultados. Porém, podem surgir dificuldades ao interpretar a validade
dos relatórios da literatura de estudos in vitro, que podem não ter sido suficientemente
bem controlados. Particularmente, eles enfatizaram a importância de usar pele de duas
partes idênticas do corpo e veículos de composição e dosagem idêntica.
Modelos de pele
Uma vez que experimentos in vitro são menos dispendiosos, oferecem mais
opções para variar os parâmetros de aplicação e causam menos problemas éticos, a
maioria dos experimentos de difusão dérmica foram realizados com o uso destes
métodos. Devido à disponibilidade limitada de pele humana excisada por motivos
regulatórios ou práticos, frequentemente usa-se pele de camundongos ou porcos,
embora a pele excisada de outras espécies mamíferas possa ser suficiente. A pele
porcina demonstra similaridade com a pele humana em termos de características de
morfologia e permeabilidade, enquanto a pele de camundongos pode ser usada devido à
maioria dos estudos regulatórios sobre toxicidade serem realizados nesta espécie.
Porém, a pele animal apresenta diferenças de permeabilidade em relação à pele humana,
e normalmente é mais permeável [123,124], o que pode resultar em superestimação da
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absorção percutânea da pele humana. O desenvolvimento bem sucedido de epiderme
humana reconstruída foi proposto como uma ferramenta alternativa para testes de
absorção percutânea. Até agora, experimentos utilizando equivalentes da epiderme
criados por bioengenharia resultaram em superestimação da penetração dérmica
[125,126]. Porém, deve-se reconhecer sempre que o melhor modelo para penetração
dérmica humana é a pele humana. Se não houver pele humana excisada disponível, os
experimentos podem ser realizados em células de difusão.
O desenvolvimento de técnicas não invasivas de imagens, exemplificado em um
recente estudo deste laboratório [45], melhora a capacidade de estudar situações de uso
real e prático.
In vivo
Até 2013, os EUA haviam se comprometido em eliminar os testes em animais
para cosméticos, dando assim maior proeminência ao estudo in vivo em humanos,
particularmente aqueles que possam ser realizados de maneira não-invasiva.
Para estudos humanos não-invasivos, tecnologias de imagem, como a microscopia
por varredura de laser confocal e tomografia multifotônica/microscopia por imagem de
fluorescência de tempo de vida, estão sendo usadas para visualizar a penetração de
materiais fluorescentes e gerar imagens dos efeitos das tecnologias de aprimoramento
físico sobre os processos metabólicos ocorridos na própria pele. Eles podem
proporcionar informações morfológicas e bioquímicas sobre a pele com a detecção da
autofluorescência de de fluoróforos endógenos da pele com poucos danos ao tecido,
especialmente com a tomografia multifotônica [127,128]. Estudos por imagem similares
também podem ser realizados com pele recentemente excisada por curtos períodos após
a excisão [129]. A imagem de fluorescência de tempo de vida é usada em conjunto com
a tomografia multifotônica para proporcionar informações sobre o estado ou ambiente
de um fluoróforo em particular, sendo útil para avaliar os efeitos de tratamentos físico
[130,131]. A contagem de fótons individuais com correlação temporal possui o
potencial de permitir estudos sobre a exposição e as consequências metabólicas de
produtos tópicos contendo nanopartículas em pacientes humanos sem a necessidade de
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biópsias dolorosas ou análise destrutivas. Lin et al avaliaram a contagem de fótons
individuais com correlação temporal para o monitoramento simultâneo de
nanopartículas de óxido de zinco e o estado metabólico, como mudanças de NAD(P)H
na pele do voluntário [132].
Outra tecnologia de imagem recente é a espectroscopia de Raman confocal, que
proporciona imagens não invasivas in vivo dos agentes penetrantes e componentes
dérmicos, com base em sua assinatura específica de infravermelho-Raman. Ela pode ser
usada para estimativa quantitativa de agentes penetrantes dérmicos [133].
Comentário do especialista
A aplicação tópica de substâncias para fins terapêuticos, profiláticos cosméticos
atraem muito interesse sob pontos de vista comerciais e de pesquisa, e uma considerável
compreensão sobre principais propriedades da pele, do agente penetrante e do veículos
foi obtida nos últimos 50 anos. A variedade de compostos disponíveis para o caminho
transdérmico é limitada, e grandes esforços foram empreendidos para ampliar essa
variedade, encontrar maneiras de aumentar a penetração de substâncias difíceis, como
compostos hidrofílicos ou macromoléculas, direcionamento eficiente a alvos celulares
específicos e redução de reações cutâneas adversas. Métodos químicos e físicos, ou
combinações dessas tecnologias, foram aplicados, com níveis variados de sucesso, para
alcançar esses objetivos. Grande parte da pesquisa recente concentrou-se no uso de
sistemas avançados de administração com base em nanomateriais sólidos ou flexíveis
para administrar cargas que anteriormente seriam impossíveis, como vacinas,
fragmentos genéticos e proteínas terapêuticas.
Visualização em cinco anos
O principal avanço em administração transdérmica que surgirá nos próximos 5 é o
direcionamento de células específicas para fins terapêuticos, profiláticos, diagnósticos
ou cosméticos. Em um futuro próximo, sistemas de administração de medicamentos
com base em nanocomponentes, possivelmente combinados com técnicas de melhoria
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física como iontoforese, sonoforese ou magnetoforese, permitirão a administração
aperfeiçoada de uma ampla variedade de substâncias pouco penetrantes a alvos
específicos na pele, inclusive células-tronco encontradas na região da saliência do
folículo capilar, células tumorais e células de Langerhans para triagem de antígenos.
Essas técnicas também permitirão a administração precisa de marcadores para
reconhecimento de tumores no local a fim de auxiliar no diagnóstico e na definição de
margens tumorais.
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