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Revista InterfacEHS edição completa Vol. 6 n.3

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A InterfacEHS é uma Publicação Científica do Centro Universitário Senac que publica artigos científicos originais e inéditos, resenhas, relatos de estudos de caso, de experiências e de pesquisas em andamento nas áreas de Saúde, Meio Ambiente e Sustentabilidade. Confira artigos relacionados aos assuntos: - Sustentabilidade na gestão de resíduos sólidos - Tecnologia do hidrogênio na geração de energia elétrica. Entre outros! Acesse a revista na íntegra! http://www3.sp.senac.br/hotsites/blogs/InterfacEHS/

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Volume 6, Número 3, 2011 Revista de Saúde, Meio Ambiente

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SUSTENTABILIDADE NA GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS: PANORAMA DO SEGMENTO ELETRO ELETRÔNICOS

Emília Satoshi Miyamaru Seo1 e Natalia Noschese Fingerman2

1 Professora e Pesquisadora do Centro Universitário Senac e do Instituto de Pesquisa Energéticas e Nucleares, São Paulo, Brasil.2 Professora e Pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Sustentabilidade do Centro Universitário Senac, São Pau-lo, Brasil.

RESUMO

O descarte de Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos – REEE é uma das principais preo-cupações de acadêmicos, estudiosos e ativistas ligados a questão do desenvolvimento sustentável na esfera internacional. Por meio da discussão do marco regulatório europeu - Waste from Electronic and Electrical Equipment (WEEE) e Restriction of Hazardous Substances (RoHS) e do brasileiro - Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), esse artigo busca debater os ganhos a redução de descartes sólidos com a inserção do conceito de Responsabilidade Ampliada do Produtor, além de mostrar os pros e contras em se adotar uma política de responsabilização coletiva versus uma política de responsabilização individual.

ABSTRACT

Scholars, researchers and practitioners, who are involved in sustainable development at the in-ternational level, are mainly concerned about the Waste of Electrical and Electronic Equipment (WEEE). By analyzing the European policy, called Waste from Electronic and Electrical Equip-ment (WEEE) and Restriction of Hazardous Substances (RoHS) and the Brazilian policy, named Po-lítica Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), the paper aims to debate the reduction of waste through the adoption of the concept of Extended Producer Responsibility (EPR), besides it shows the compa-nies ‘costs and benefits of implementing a collective responsibility versus an individual responsibility.

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INTRODUÇÃO

O descarte de resíduos sólidos é uma das principais preocupações de acadêmicos, estudiosos e ativis-tas ligados a questão do desenvolvimento sustentável na esfera internacional. Em particular, o descar-te de Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos – REEE que cresce exponencialmente nos países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Pesquisas recentes mostram que hoje é descartado aproximadamente de 20 a 50 milhões de toneladas de REEE no mundo por ano, sem passar por nenhum processo de re-ciclagem ou reutilização (ONGONDO et al 2011, GUTIERREZ et al 2008). Esses produtos contêm uma grande quantidade de materiais (chumbo, ferro, alumínio, entre outros) e substâncias tóxicas (mercú-rio, cádio, plúmbeo, entre outros) que causam danos irreversíveis ao meio ambiente e a saúde humana.

O conceito de Responsabilidade Ampliada do Produtor - Extended Producer Responsibility (EPR) aliado a novas técnicas de Logística Reversa mostrou-se efetivo em reduzir a geração de descarte de REEE nos países europeus. O conceito de ERP responsabiliza os produtores e fabricantes por impac-to ambientais em todo ciclo de vida do produto, ou seja, torna-os responsáveis pelo produto após o seu consumo. Por meio da consolidação das Diretrizes WEEE – Waste from Electronic and Electrical Equi-pment e RoHS – Restriction of Hazardous Substances, os países europeus conseguiram implementar os princípios de EPR e facilitar o design de produtos mais “verdes” com o incentivo ao chamado Ecodesign.

No Brasil, sabe-se que a situação é um pouco diferente, pois somente em agosto de 2010 foi sancio-nada uma diretriz ao nível nacional, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), para o descarte de resíduos sólidos, a qual não considera nenhuma especificidade ao descarte de REEE. A PNRS, no entanto, também parte dos princípios da EPR e insere a visão de responsabilidade compartilhada entre produtores, importadores, autoridades públicas e consumidores. Além disso, a política incentiva os fabricantes e im-portadores na contratação de catadores no processo de coleta e reciclagem, porém sem definir se o custo de manejo (take-back cost) é de responsabilidade individual ou coletiva dos produtores e importadores.

Por meio da discussão dos marcos regulatório europeu e brasileiro, esse artigo busca debater os ga-nhos a redução de descartes sólidos, em especifico REEE, com a inserção do conceito de Responsabilidade Ampliada do Produtor, além de mostrar os pros e contras em se adotar uma política de responsabiliza-ção coletiva versus uma política de responsabilização individual. Na primeira parte do texto, apresenta--se a metodologia utilizada nessa pesquisa. Em seguida, relata-se o debate em torno da questão ambiental numa perspectiva histórica de regulamentações adotadas na esfera internacional. Na terceira parte, mos-tra-se a importância do conceito de Responsabilidade Ampliada do Produtor para consolidar uma estra-tégia de redução sustentável de descartes de resíduos sólidos no longo prazo. Na quarta parte, apresen-tam-se dados internacionais sobre a quantidade de descarte de REEE no mundo. Em seguida, discute-se a diretriz da União Européia que adotou os princípios de ERP para rapidamente avançar na redução da geração de REEE em seus países, contrapondo logo depois com o marco regulatório brasileiro, a PRNS.

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METODOLOGIA

Para entendimento e análise das legislações WEEE, RoHS e PNRS, a metodologia ado-tada foi de uma abordagem descritiva, bibliográfica e qualitativa. Para Lakatos e Marco-ni (2002) a pesquisa descritiva aborda quatro aspectos: descreve, registra, analisa e interpre-ta os fenômenos ou situações atuais objetivando seu funcionamento no presente. As descrições, registros, análises e interpretações acerca das legislações citadas serão apresentadas ao longo do trabalho.

Investigar com reflexão implica em envolver seres humanos, de modo geral, como um fenômeno so-cial, que integra a sociedade como um todo. As ciências que pressupõem a ação humana devem levar em conta a liberdade e a vontade humanas e estas sempre interferem no curso dos fatos e dão significados muito diversos à ação, são típicas que envolvem as pesquisas qualitativas, conforme Chizzotti (2008, p.28).

Para entendimento sobre as legislações e sustentabilidade buscaram-se vários textos da lite-ratura técnica. Tal procedimento de pesquisa é caracterizado como pesquisa bibliográfica, que se-gundo Oliveira Netto (2008, p. 30) significa “princípio básico do conhecer as diferentes for-mas de contribuição científica que se realizaram sobre determinado assunto ou fenômeno”. Para Ludwig (2009, p. 51) é uma das formas de investigação mais freqüentes em todas as áreas do conhe-cimento e é também um pré-requisito de qualquer pesquisa científica, que a define como o ato de pro-curar, recolher, analisar, interpretar e julgar as contribuições teóricas já existentes sobre certo assunto.

A QUESTÃO DO MEIO AMBIENTE

Os problemas ambientais têm sido discutidos internacionalmente desde 1960 (ELLIOTT, 1994) com o advento do Clube de Roma em 1968. De acordo com Nobre e Amazonas (2002) o surgimento da proble-mática ambiental na década de 60 teve a sua especificidade, a idéia de que, no caso da utilização dos recur-sos naturais, perseguir egoisticamente os próprios interesses não conduz à utopia liberal do crescimento incessante da riqueza nacional, mas sim à catástrofe sem volta da destruição do planeta. Neste período também, em 1962, teve o marco significativo com a publicação de Silent Spring de Rachel Carson, que aponta os danos causados ao meio ambiente através do uso freqüente de pesticidas químicos nas plantações.

Em 1970, o problema de desenvolvimento sustentável foi tratado na reunião do Clube de Roma de uma ma-neira muito particular, somente discutindo a problemática do crescimento econômico demográfico desenfrea-do, tema muito estudado por Malthus (BRUSEKE, 1995). Já em 1972, foi realizada a primeira Conferência Mun-dial sobre o Meio Ambiente, em Estocolmo, na qual se consolidou o marco político na conscientização mundial dos problemas ambientais, produzindo como principal documento, a Declaração sobre o Ambiente Humano.

A década de 70 pode ser considerada como início das reflexões das questões ambientais, principalmente após a realização da primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental (1977), reali-zada em Geórgia. Nesta Conferência, define-se as seguintes diretrizes à Educação Ambiental: (i) a edu-cação ambiental deve ser contínua a todas as fases da vida do cidadão, (ii) conter caráter interdisciplinar, (iii) perfil pluridimensional – econômico, político, cultural, social e ecológico, (iv) envolver a participa-ção social, (v) resolver problemas ambientais e por fim, (vi) mudar valores, atitudes e comportamentos sociais (LIMA, 1999). Neste sentido, a Conferência mostra que é necessário o desenvolvimento de uma consciência em relação aos diversos problemas ambientais que cercam as empresas públicas e priva-

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das, ou seja, é necessário que elas desenvolvam inovação de materiais, produtos e processos construtivos para não causar danos aos homens e, possivelmente, reduzir os impactos negativos ao meio ambiente.

No entanto, o termo desenvolvimento sustentável somente surgiu em 1980 e foi consagrado em 1987 pela Comissão das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), no Relató-rio Brundtland, que menciona a definição desta noção e dos princípios que lhe dão fundamento. Esse re-latório enuncia a questão ambiental como um problema mundial que não pode ser separada das discus-sões de desenvolvimento econômico e social (PEREIRA, 2011). Conhecido como Nosso futuro comum, o relatório destaca o papel do desenvolvimento sustentável como processo de transformação, no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro, afim de atender às neces-sidades e aspirações das futuras gerações. Conforme destacado, o relatório define desenvolvimento sus-tentável como “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades” (nosso futuro comum, 1991, p. 9). Neste con-texto Nobre (1999) enfatiza que desenvolvimento sustentável significa, de um lado, a concretização de alianças em termo de um consenso mínimo a respeito da problemática ambiental, e, de outro, a tentativa de aproveitar um ambiente mundial de relativa distenção e de intensa mobilização social em torno das questões ecológicas para levar a questão ambiental ao primeiro plano da agenda política internacional.

Vinte anos depois, em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas sobre MeioAmbiente e Desenvolvimento (CNUMAD), realizada no Rio de Janeiro, foram assinados importantes docu-

mentos, tais como: a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Agenda 21, Princípios para a Administração Sustentável das Florestas, Convenção da Biodiversidade e a Convenção sobre a Mudança do Clima.

O primeiro passo do governo brasileiro, com relação à preocupação ambiental, foi a cria-ção da Secretária Especial do Meio Ambiente (SEMA), em 1973, com o propósito de consoli-dar as metas traçadas na Conferência de Estocolmo (COSTA, 1998). Porém, o processo de de-gradação ambiental no Brasil vem de longas datas, desde a colonização portuguesa que não teve responsabilidade social com os nativos, a exploração desenfreada de pau Brasil, as imposições de mo-noculturas intensivas e pela forma dependente de recursos metrópole-colônia (PEREIRA, 2011).

Além de se notar inúmeros marcos e discussões que envolvem sobre o desenvolvimento sustentável, o termo desenvolvimento sustentável tem sido definido mais de 100 vezes por diferentes autores da literatura técnica (AHMED e STEIN, 2004). Conforme Pereira (2011), a sustentabilidade é a derivação da noção de desenvolvi-mento sustentável e se desdobra para as mais diversas áreas como um efeito de spill over sobre o conceito. Não há consenso no conceito de sustentabilidade na literatura técnica, mas observa-se a relevância temática desde 1970.

Atualmente, a sustentabilidade é a palavra da “moda” em vários canais de comunicação e pelas empresas por um planeta sustentável; e, os discursos sobre sustentabilidade vêm crescendo ao longo dos anos, especificamente após ECO 92, que se integraram governos, empresas e sociedade civil em busca do desenvolvimento sustentável. Neste contexto, é importante entendermos sustentabilidade quando se fala em resíduos, uma vez que as deficiências no sistema de coleta e disposição final dos resíduos sólidos causam graves danos ambientais e a saúde humana.

RESÍDUOS E SUSTENTABILIDADE

Segundo o relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA, apenas 25% de todos os resíduos no mundo são reutilizados ou reciclados; e a projeção de geração de resíduos urba-nos é de 13 bilhões de toneladas em 2050 (JARDIM e MACHADO FILHO, 2011). Neste sentido, PNU-MA enfatiza que o mundo precisará investir cerca de US$ 108 bilhões/ano no “esverdeamento” do

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setor de resíduos, ou seja, a redução em 85% da quantidade de rejeitos encaminhados aos aterros sani-tários. De acordo com o levantamento da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Re-síduos Especiais (ABRELPE), os moradores e empresas localizadas nos centros urbanos geraram cer-ca de 1,03Kg/dia de resíduos por dia, um aumento de 5,3% comparado a 2010 (TAVARES, 2011).

Diante deste cenário, nota-se que a prevenção e o manejo de resíduos sólidos são os principais desafios da sus-tentabilidade na atualidade. Há a necessidade de se repensar o descarte dos resíduos e investir em novas tecnologias de processos produtivos, utilizando menos recursos naturais, melhorando os atuais processos instalados e até influenciando nos modos de consumo da sociedade (JARDIM e MACHADO FILHO, 2011 e TAVARES, 2011).

Em particular, para os produtos eletro eletrônicos têm-se observado aumento da geração de resíduos provenientes dos descartes pós-consumo. Segundo Cooper (2005), tal fato tem ocorrido devido à rápida ino-vação tecnológico e a redução do tempo de vida útil dos produtos, associado à criação de novas necessidades e desejos. Há pertinência nas colocações feitas por Cooper, no entanto a grande velocidade de descarte dos produtos pós-consumo ocorre pela falta de canais de disposições e destinação, o que acarreta no desequilíbrio entre as quantidades descartadas e as reaproveitas, conseqüentemente, gerando um enorme aumento de des-cartes de produtos pós-consumo. Soma-se, portanto, a importância de se pensar na Logística Reversa – LR.

De acordo com o autor LEITE (2003, p. 16), a Logística Reversa é:

“[...] a área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômico, ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros.”

Já para Stock (1998), a Logística Reversa refere-se ao papel da Logística no retorno de produtos, redução na fonte, reciclagem, substituição de materiais, reutilização de materiais, disposição de resíduos, reforma, reparação e remanufatura. O enfoque dados por esses autores, portanto, destacam a responsabilidade que os produtores e fabricantes têm pelo produto eletro eletrônico mesmo após o fim de sua vida útil, ou seja, eles devem ter plena noção das conseqüências ambientais de seus produtores e fabricantes, planejando estraté-gias para reaproveitar e/ou descartar os resíduos, sem gerar danos ambientais (STOCK, 1998 e LEITE, 2003).

A visão da Logística Reversa enfatiza, portanto, o conceito de Responsabilidade Ampliada do Produ-tor - Extended Producer Responsibility (EPR) - sob todo o ciclo de vida de seu produto e substitui a tra-dicional visão de fim- de -linha (end –of- pipe approach), a qual limitava a ação do produtor à criação de tecnologias ambientais para evitar a formação de poluentes durante o processo de produção e tecnologias de fim-de-linha para reduzir a libertação no ambiente dos poluentes (VAN ROSSEM et al 2006; NNOROM e OSIBANJO 2008). Portanto, pode-se dizer que a EPR amplia o Princípio do Poluidor-Pagador, uma vez que o produtor que antes era responsabilizado somente pelos custos ambientais gerados durante a sua pro-dução passa a ser também responsável pelos produtos após o seu consumo, e inclui a responsabilização do importador no pós- consumo. Conforme destaca a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a EPR é “an environmental policy in which producers´ responsibility for a product is extended to the post-consumer stage of a products life cycle including its final disposal” (OCDE, 2001 p.9)

As metas gerais da EPR são conservação/redução no gasto dos recursos naturais, redução dos des-cartes/lixo, criação de produtos mais sustentáveis e conclusão do ciclo de vida dos materiais para gerar desenvolvimento sustentável. Dessa forma, as políticas de EPR são, normalmente, implantadas atra-vés de mecanismos administrativos, econômicos e informativos (NNOROM e OSIBANJO, 2008 p.846):

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Administrativos: Coleta ou retorno de produtos descartados (take-back), definição de metas de reutilização e reciclagem, estabelecimento de metas de emissão, metas de reparação e padrão técnico mínimo do produto.

Econômicos: Tributação de materiais/produtos, subsídios, sistema de descar-te cobrado, sistema de depósito- reembolso, combinação de sistema de tributação e subsídios.

Informativos: Relatórios ambientais, certificação ambiental, fornecimento de informa-ção para os recicladores das substâncias utilizadas nos produtos e informação da rede de coleta.

RESÍDUOS DE EQUIPAMENTOS ELETRO ELETRÔNICOS - REEE

No que tange ao descarte de Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos – REEE1, a aplicação de uma política nos moldes da EPR é essencial para se atingir o desenvolvimento sustentável. O REEE é um dos produtos que causam maior dano ao meio ambiente. Além disso, a quantidade de materiais tó-xicos na sua composição pode trazer sérios riscos à saúde humana, por exemplo, ao analisar a composi-ção de um monitor de computador sabe-se que este contém em média 1-2 kg de chumbo, o que equivale a uma grande quantidade de material tóxico e 20% de seu peso (NNOROM e OSIBANJO, 2008 p.847).

Atualmente, estima-se que aproximadamente 20-50 milhões de toneladas de REEE sejam descartadas anualmente no mundo, sendo que 12 milhões de toneladas são dispensadas diretamente na Ásia2 (ON-GONDO et al, 2011 p. 715). Também, sabe-se que os países desenvolvidos são os responsáveis pela maior quantidade de descarte de REEE, enquanto nos países em desenvolvimento há uma menor geração de REEE dispensado devido à maior porcentagem de produtos que são reparados e reutilizados pelas camadas so-ciais mais baixas. Nesse contexto, a União Européia, por exemplo, declara que dispensa aproximadamente 6,5 milhões de toneladas por ano e prevê que essa quantidade dobre até 2015 (ONGONDO et al, 2011 p. 716). Em termos de geração de REEE per capita, o Reino Unido é o país com maior geração, atingindo a quantidade de 15,8 kg por habitante, seguido pela Alemanha com aproximadamente 13,3kg por habitante. Já os Estados Unidos, a geração de descarte de REEE declarada é mais baixa, 7,5 kg por habitante, devido à diferença na relação de produtos considerados como REEE pelo país (TV, celulares e computadores) em re-lação aos países europeus (todos produtos eletro eletrônicos domésticos). No Brasil, a geração de REEE per capita é muito mais baixa que esses países, 3,5 kg por habitante, por dois fatores: (i) há um maior número de itens que são reutilizados ou reparados e (ii) há uma menor quantidade de itens que são declarados como REEE no descarte (telefones fixos e celulares, TVs, PCs, rádios, maquinas de lavar, geladeira e congelador).

O REEE é um dos principais problemas ambientais do século XXI e para lidar com isso, Hil-ty (2005) mostra que desde 1994 alguns países da União Européia vêm implementando de ma-neira independente legislações para gerenciar o exponencial crescimento dos REEE, destacando--se como referência mundial de políticas públicas e de ações voltadas ao EPR para enfrentar os problemas de toxicidade humana e ambiental. Já no ano de 2000, os países da União Européia começa-ram a discutir a consolidação de uma mesma política de REEE a todos os membros. Dessa forma, em

1 REEE são considerados aqueles produtos da linha branca (geladeira, maquina de lavar, fogão etc), equipamentos telefônicos e TI, televisão, DVD, lâmpadas, ferramentas eletrônicas e elétricas, entre outros.2 Estima-se que a alta quantidade de descarte na Ásia seja decorrente não somente de seu consumo interno, mas também de importação ilegal de resíduos de países desenvolvidos. (ONGONDO et al, 2011 p. 715).

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janeiro de 2003 o Parlamento Europeu aprovou a Diretiva 2002/96/CE (WEEE – Waste from Eletro-nic and Electrical Equipament) e Diretiva 2002/95/CE (RoHS – Restriction of Hazardous Substances).

As legislações européias têm influenciado a elaboração de legislações semelhantes em outros países, como os EUA, Canadá, o bloco dos países asiáticos e outros países em desenvolvimento como o Paquis-tão, Índia e África (RODRIGUES, 2007). Em específico no Brasil, após 20 anos de tramitação no Congres-so Nacional, aprovou-se finalmente em agosto de 2010 a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). A PNRS, apesar de não ser especificamente voltada a REEE, também parte do conceito de Responsabi-lidade Ampliada do Produtor, a qual vem sendo efetivamente implantada com as diretrizes européias.

WASTE FROM ELECTRONIC AND ELECTRICAL EQUIPMENT - WEEE

A diretiva WEEE, aprovada em 2003 pelos Estados- membros da União Européia, tem como ob-jetivo, prioritariamente, a prevenção de resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos (REEE) e, adi-cionalmente, a reutilização, reciclagem e outras formas de valorização desses resíduos, de modo a reduzir a quantidade de resíduos a eliminar. Pretende igualmente melhorar o comportamento am-biental de todos os operadores envolvidos no ciclo de vida dos equipamentos elétricos e eletrônicos, por exemplo, produtores, distribuidores e consumidores, e, em especial, dos operadores diretamen-te envolvidos no tratamento de REEE (DIRETIVA 2002/96/CE, 2003). Aliada ao conceito de EPR que responsabiliza os produtores pelos impactos ambientais durante todo o ciclo do produto, a Di-retriz definiu dez categorias de equipamentos elétricos e eletrônicos (DIRETIVA 2002/96/CE, 2003):

1. Grandes eletrodomésticos;2. Pequenos eletrodomésticos;3. Equipamentos informáticos e de telecomunicações;4. Equipamentos de consumo;5. Equipamentos de iluminação;6. Ferramentas elétricas e eletrônicas (com exceção de ferramentas industriais fixas de grandes dimensões);7. Brinquedos e equipamento de desporto e lazer;8. Aparelhos médicos (com exceção de todos os produtos implantados e infectados);9. Instrumentos de monitoramento e controle; e10. Distribuidores automáticos.

Verifica-se que a diretiva WEEE cobre uma gama enorme de tipos de produtos eletroeletrônicos, ou seja, se aplica a todos os equipamentos que dependem de corrente elétrica ou campos eletromagné-ticos. Segundo a diretiva, o produtor é definido como fabricante, revendedor de marca própria ou im-portador. Portanto, os distribuidores de equipamentos manufaturados fora da União Européia tam-bém são afetados pela legislação. Da mesma forma que os varejistas passam a ter a responsabilidade de garantir que o consumidor possa retornar o lixo equivalente de forma convenientemente e sem custo.

A presente diretiva é aplicável sem prejuízo da legislação comunitária no domínio das normas de se-gurança e de saúde e do direito comunitário específico em matéria de gestão de resíduos. Os equipa-

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mentos associados à defesa dos interesses de soberania dos Estados-Membros, tais como: armas, mu-nições e outros materiais de guerra ficaram excluídos do âmbito de aplicação da presente diretiva.

Além disso, a Diretriz afirma que os Estados-Membros da União Européia devem incentivar a con-cepção e produção de equipamentos elétricos e eletrônicos que facilitem o desmantelamento e valo-rização, em especial a reutilização e reciclagem de REEE, seus componentes e materiais. A esse pro-pósito, os Estados-Membros devem tomar medidas adequadas para que os produtores não impeçam, através de características de concepção ou processos de fabrico específicos, a reutilização dos REEE, a menos que essas características ou processos de fabrico específicos apresentem vantagens de maior relevo, por exemplo, no que respeita à proteção do ambiente e/ou aos requisitos de segurança.

RESTRICTION OF HAZARDOUS SUBSTANCES – RoHS

A diretiva RoHS tem por objeto aproximar as legislações dos Estados-Membros em maté-ria de restrições ao uso de substâncias perigosas em equipamentos elétricos e eletrônicos e contri-buir para a proteção da saúde humana e para uma valorização e eliminação, em boas condições am-bientais, dos resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos (DIRETIVA 2002/95/CE, 2003).

A diretiva foi estabelecida na União Européia a fim de reduzir o impacto ambiental dos equipamentos eletro- eletrônicos, quando estes atingem o fim de suas vidas úteis. Neste aspecto são requeridas substituição de algumas substâncias levando em conta os problemas ambientais durante a disposição e reciclagem de lixos eletrônicos.

A referida diretiva é aplicada a seguintes elementos tais como: chumbo, mercú-rio, cádmio e cromio hexavalente isentas dos requisitos estabelecidos no parágrafo 1 do ar-tigo 4o da RoHS, sendo distribuídas da seguinte forma (DIRETIVA 2002/95/CE, 2003):

1. Mercúrio em lâmpadas fluorescentes compactas que não ultrapasse 5 mg por lâmpada;2. Mercúrio em lâmpadas fluorescentes clássicas de utilização geral que não exceda: halofosfato 10 mg, trifosfato de duração normal 5 mg e trifosfato de longa duração 8 mg;3. Mercúrio em lâmpadas fluorescentes clássicas para fins especiais;4. Mercúrio noutras lâmpadas não especificamente mencionadas ;;5. Chumbo no vidro de tubos de raios catódicos, componentes eletrônicos e lâmpadas fluorescentes;6. Chumbo como elemento de liga em aço contendo até 0,35 % de chumbo em peso, alumínio contendo até 0,4 % de chumbo em peso e como liga de cobre contendo até 4 % de chumbo em peso;7. Chumbo contido em soldas de alta temperatura de fusão (isto é, soldas de ligas de estanho e chumbo com mais de 85 % de chumbo); chumbo contido em soldas para servidores, sistemas de armazenagem de dados e de arrays de armazenagem (isenção concedida até 2010); chumbo contido em soldas para equipamento de infra-estrutura de rede para comutação, sinalização, transmissão e gestão de redes de telecomunicações; chumbo contido em componentes electrónicos de cerâmica (por exemplo, dispositivos piezelétricos);8. Banho de cádmio exceto para aplicações proibidas ao abrigo da Diretiva 91/338/CEE do Conselho que altera a Defectiva 76/769/CEE relativa à limitação da colocação no mercado e da utilização de algumas substâncias e preparações perigosas;

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9. Cromio hexavalente como anticorrosivo de sistemas de arrefecimento de aço ao carbono em frigoríficos de absorção; e10. No âmbito do procedimento referido no no 2 do artigo 7o, a Comissão deverá avaliar prioritariamente as aplicações de:

· Deca BDE;· Mercúrio em lâmpadas fluorescentes clássicas para fins especiais;· Chumbo em soldas para servidores, sistemas de armazenagem de dados e de arrays de

armazenagem, bem como; em soldas para equipamento de infra-estrutura de rede para comutação, sinalização, transmissão e gestão de;redes de telecomunicações (com o objetivo de fixar um prazo específico para esta isenção);

· Lâmpadas de incandescência a fim de determinar o mais rapidamente possível se estes pontos devem ser alterados em conformidade.

De acordo com Miguez (2010), a maior implicação desta diretiva é o incentivo que ela oferece aos fa-

bricantes para produzirem eletros eletrônicos mais “verdes”. Para respeitar a legislação, os produtores têm que substituir de substâncias perigosas e tóxicas por substâncias mais amigáveis ao meio ambien-te. Além disso, a diretriz enfatiza a elaboração de produtos com design que facilite o desmonte e auxi-lie no processo de reciclagem. Este autor ressalta que apesar da diretiva RoHS fazer parte da legislação européia, sua implementação teve ramificações globais ao considerar o importador como um produtor. Dessa forma, o autor mostra que fabricantes de eletrônicos japoneses já tomaram a iniciativa de se ade-quar a esta diretiva (Miguez, 2010). Neste caso, algumas empresas com atuação mundial vem interna-lizando os princípios da diretiva RoHS para todas as suas fábricas, mesmo aquelas fora de Europa.

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOSA Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) foi regulamentada em 2 de agosto de 2010, sancionada como

projeto de lei 12.305 e estabelecida sob decreto No7404 de 23 de dezembro de 2010.O principal objetivo da PNRS é instituir diretrizes gerais aplicáveis em todo o território nacional no manejo de resíduos sólidos, obrigando os produtores a implementar a logística reversa em sua cadeia de produção. Antes desta lei, os estados e municípios brasileiros eram responsáveis pela a criação de suas próprias legislações, o que gerava lacunas no tratamento de resíduos sólidos, em particular, no tratamento do lixo eletrônico, mercadoria altamente tóxica ao meio-ambiente.

A PNRS é uma lei que responsabiliza todos os agentes da cadeia de produção e consumo no pro-cesso de logística reversa e parte do conceito da EPR, enfatizando a necessidade de se estabelecer uma re-lação de cooperação entre o produtor, distribuidor, vendedor e consumidor para atingir maior eficiência no processo. De acordo com Miguez (2010) e Pereira et al.(2011), os principais pontos dessa política são:

É de responsabilidade dos Municípios e do Distrito Federal a gestão de resíduos sólidos em seus ter-ritórios. Eles deverão ter acesso à recursos da União, para elaborarem Planos de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, onde deverão mapear a situação dos resíduos sólidos, identificarem locais de dispo-sição final adequada, elaborar indicadores e desenvolver políticas de tratamento dos resíduos sólidos;

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Compete ao gerador do resíduo sólido acondicionar, disponibilizar para a coleta, coletar, dar tra-tamento e disposição final ambientalmente adequada aos rejeitos. Mesmo que o gerador do resí-duo contrate outra empresa para realizar os serviços, ele permanece responsável perante os proces-sos. As empresas devem coletar os resíduos e dar destinação ambientalmente adequada aos mesmos;

A PNRS enfatiza a importância da logística reversa e propõe a promoção de ações que garantam o fluxo de resíduos sólidos a sua própria cadeia produtiva ou para outras cadeias produtivas. Neste caso, os catadores estão inseridos na PNRS, nas ações que envolvem o fluxo de resíduos sólidos, favorecen-do-os a trabalharem de forma legalizada e estruturada. Ainda, oferece compromisso aos fabricantes para análise do ciclo de vida do produto, da sua produção, utilização pelo consumidor e responsabilidade do descarte e reciclagem das embalagens. Assim, o fabricante é responsável pela coleta, destinação e reu-tilização das embalagens pós-consumo (responsabilidade compartilhada). Portanto, a PRNS enfatiza a obrigatoriedade no tratamento dos resíduos gerados, ou reaproveitamento destes em novos produtos;

Nesta política, os consumidores também têm papel importante, ou seja, de-vem realizar a coleta seletiva dos resíduos sólidos e disponibilizá-los para a cole-ta das empresas titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos.

Além disso, as empresas são responsáveis para a implementação da estrutura necessária para garantir o fluxo de retorno dos resíduos sólidos reversos, oriundos dos serviços de limpeza urbana e ainda, dispo-nibilizar postos de coleta para estes resíduos e dar destinação final ambientalmente adequada aos rejeitos;

A PNRS proíbe o descarte dos resíduos sólidos nos corpos hídricos, no solo, quei-ma a céu aberto ou em recipientes e deverão deixar de existir os “lixões”;

Aplicação da taxa ambiental, ou seja, as inovações de produtos sustentáveis terão incen-tivos fiscais. lei abrange os produtos importados com as mesmas regras dos nacionais; e

A próxima etapa da lei é o pacto com o segundo setor para um ci-clo de produção sustentável, avaliando o impacto da fabricação e operação.

No que tange aos acordos setoriais são atos de natureza contratual, firmados entre o Poder Públi-co (se iniciados por este poder deve ter editais de chamamento) e os fabricantes, importadores, dis-tribuidores ou comerciantes (se for iniciados por este grupo, apresentar proposta formal pelos inte-ressados ao Ministério e Meio ambiente), visando a implantação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto. O procedimento para implantação da logística reversa por meio de acor-do setorial poderá ser iniciado pelo Poder Público ou pelos fabricantes, importadores, distribuido-res ou comerciantes dos produtos e embalagens. Neste sentido, Departamento de Meio Ambien-te (DMA) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) vem promovendo oficinas de esclarecimento sobre acordos setoriais, um dos principais aspectos da PNRS 12.305/10 e Decreto 7404/10.

De acordo com Tavares (2011) há cinco grupos de resíduos: eletro eletrônicos, medicamentos, em-balagens, resíduos e embalagens de óleos lubrificantes, lâmpadas de vapores mercuriais, sódios e mista, que a princípio serão implementadas ações e procedimentos de coleta, reciclagem, reutilização e descarte.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A PNRS, inspirada pelo conceito de Reponsabilidade Ampliada do Produtor , amplamente utilizado na WEEE, busca responsabilizar todos os participantes das indústrias, como empresas fabricantes, revende-dores, governo em todas as esferas, catadores, recicladores e consumidores (MIGUEZ, 2010). O principal desafio da PNRS é a responsabilidade compartilhada, que pressupõe a participação de todos os atores en-volvidos no processo, além de melhor esclarecimento de como se dará a sua fiscalização. A lei, por exemplo, orienta a busca de uma nova política de inclusão de catadores, na qual eles devem ser treinados e habilitados para arcar com o processo de coleta e reciclagem, porém na estabelece de que maneira isso deve ser realiza-do pelas empresas ou municípios. A lei também responsabiliza o consumidor, que não pode mais descartar os resíduos em qualquer lugar, porém não coloca nenhuma penalidade direta caso isso não seja realizado.

Por outro lado, a lei coloca como responsabilidade dos municípios organizar a coleta dos resíduos e erra-dicar com os “lixões”, sem claramente definir as penalidades ou o processo de fiscalização que será realizada pela União caso isso não seja cumprido. Em relação às empresas, pressupõe-se que elas devam se organizar e realizar a tarefa com sinergia em todos os aspectos da logística para viabilizar o processo com um custo mais baixo (PEREIRA et. al., 2010). No entanto, estudos na Europa da diretriz WEEE mostram que a responsabili-dade coletiva, ou seja, o compartilhamento dos custos na coleta (take-back costs) não foi adotado por diversas empresas grandes, como Electrolux, IBM e Nokia, que optaram por se responsabilizar individualmente por todo ciclo de vida de seus produtos. A adoção de política de responsabilidade individual por parte de grandes empresas aumenta o controle de cada uma delas no processo como um todo, e incentiva as empresas a elabo-rarem produtos com menor custo de desmonte para reciclagem. De acordo com essa perspectiva, as empre-sas que dividem os custos de reciclagem não tem nenhum incentivo para alterarem seus produtos e tornarem mais cost-effective o processo, pois não sabem se a outra fará o mesmo(NNOROM e OSIBANJO , 2008 p. 848). Nnorom e Osibanjo (2008), contudo, destacam que esse modelo inviabiliza a internalização da logística rever-sa por pequenas e médias empresas que normalmente optam por uma política de responsabilidade coletiva.

Além disso, vale destacar que a PRNS deveria dar uma atenção especial no caso de REEE pela sua alta toxicidade ao meio ambiente e à saúde humana. Sabe-se que após um ano da regulamentação da PNRS, as empresas já internalizaram a lei e estão neste momento estabelecendo parcerias com provedores de tecnologias e sistemas para que possam aplicar no país, no entanto nada foi reforçado pelo setor de REEE e como esse mesmo adotará a regulamentação (TAVARES, 2011). Ainda não foi relatado se o se-tor de eletro- eletrônicos irá adotar, como na Europa, uma responsabilidade individual ou coletiva pela coleta e reciclagem de seus produtos. Tampouco há uma integração da cadeia de suprimentos também para que fluxo reverso de produtos seja considerado na coordenação logística entre as empresas. Con-forme Pereira et al. (2011) destaca as empresas ainda não reconhecem os impactos das suas atividades no meio ambiente, sendo necessário ainda realizar uma maior conscientização do setor como um todo.

As medidas da PNRS, além de visarem a preservação ambiental, possibilitam os empresários cria-rem novos negócios sustentáveis, que podem ser lucrativos nas suas atividades. Além disso, a PNRS permite que as instâncias públicas acompanhem de perto a sustentabilidade de sua cidade, de seu esta-do e de seu país, incentivando sempre a participação do consumidor. No entanto, o sucesso da PNRS depende uma conscientização de todos envolvidos que devem compreender que não existe mais “lixo”, e que tudo que é caracterizado como resíduo pode ser caracterizado como um bem econômico.

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Desempenho socioeconômico ambiental de comunidades internas às plantações agrícolas certificadas segundo as Normas da Rede de Agricultura Sustentável: Estudo de caso –

Fazenda Recanto, Machado, Minas Gerais.

Socioeconomic and enviromental performance of agricultural communities built to the plantations certified according to the standards of the Sustainable Agriculture Network:

Case Study – Recanto Farm, Machado, Minas Gerais

Hélio César Silva de Oliveira – Dr. Comunicação e SemióticaAllana Cardoso Bittencourt – Bacharel em Administração com Linha de Formação Específica em Gestão Am-bientalViviane Pisano Motta – Bacharel em Administração com Linha de Formação Específica em Gestão Ambiental

ResumoO artigo investiga a relação entre um empreendimento certificado pelo selo agrícola Rain-

forest Alliance Certified e a melhora na qualidade de vida dos colaboradores que habitam a fa-zenda. Na averiguação da hipótese de melhora na qualidade de vida após a certificação, o estudo analisa o modelo de certificação agrícola no que diz respeito ao atendimento das necessidades socio-econômicas ambientais da comunidade interna à Fazenda Recanto em Machado, Minas Gerais. A hi-pótese teórica baseia-se nos conceitos de Responsabilidade Socioambiental Empresarial e certificação, debatidos por autores como, Hasnas, (1998); Borges; Júnior V. (2006); Barbieri e Cajazeira (2009) e La-ville (2009); que defendem em seus estudos o fato de que para incorporação efetiva da dimensão socio-ambiental ao processo de gestão empresarial é necessária a participação de todas as partes interessadas.

Os achados da pesquisa apontam que a certificação agrícola estudada é capaz de ele-var o nível de qualidade de vida dos trabalhadores/moradores; contudo ainda encontra--se em um estágio inicial do desenvolvimento da Responsabilidade Sócio Empresarial.

Palavras-chave: Selo Raiforest Alliance, Comunidade Interna, Qualidade de Vida e Participação

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Abstract: The paper investigates the relationship between a business certified by the Rainforest Allian-

ce Certified seal and the improvement in quality of life of people who live and work in the farm. In verifying the hypothesis of improvement in life`s quality after the certification, the research

analyzed the model of agricultural certification and its relationship with the achievement of socioecono-mic and environmental needs of the internal community of Recanto Farm in Machado, Minas Gerais.

The theoretical hypothesis lies on the concepts of Corporate Environmental Responsibility and cer-tification, as discussed by authors like Hasnas, (1998); Borges Júnior V. (2006), Barbieri and Cajazei-ra (2009) and Laville (2009) who argue that, to aim an effective incorporation of the environmen-tal dimension to the business management process, is required the participation of all stakeholders.

The research findings indicate that the studied Farm certification is able to raise the quality of workers/residents` lives, but is still at an initial stage of the development of Corporate Social Responsibility.

Keywords: Raiforest Alliance Seal, Community Affairs, Quality of Life and Participation

Endereço do autor principal

Rua Paris, 356, SP – SP CEP 01257-040

Introdução

Com o maior rigor da legislação ambiental e pressão social para um comportamento mais respon-sável, a dinâmica no ambiente dos negócios se altera. Isto é, os potenciais riscos e custos associados às penalidades administrativas e judiciais passaram a ser mais relevantes às corporações. No início da dé-cada de 70, surge nos Estados Unidos as primeiras experiências de auditoria ambiental (SALES, 2001). No intuito de evitar multas, indenizações e reparação de danos ecológicos, as organizações passa-ram a realizar tais auditorias como ação preventiva, dessa forma a disseminação e incorporação da prá-tica entre as organizações de diferentes países teve caráter basicamente voluntário (JUNIOR, 2007).

No decorrer da década de 90 a cultura de auditorias ambientais foi se enraizando e com isso veio o desenvolvimento de modelos sistêmicos que serviram como ferramentas metodológi-cas para a prática da gestão ambiental nas organizações (JUNIOR, 2007). Auxiliando e direcionan-do a crescente fiscalização das organizações a respeito de suas práticas desde os anos 1990, tem--se valorizado e surgido novas certificações, que se configuram no cenário de Responsabilidade Sócio Empresarial (RSE) como importantes ferramentas de indicativo de uma gestão responsável.

Existem duas principais formas de certificação. Um delas é o modo compulsório, isto é, aquele regu-lamentado por lei ou portaria de um órgão regulamentador que prioriza as questões de segurança, saú-de e meio ambiente, permitindo a comercialização apenas com a certificação dos produtos listados nas regulamentações (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA, 2001). A outra é a certificação vo-luntária que, neste caso, não possui qualquer regulamentação de órgão oficial, é desenvolvida espontane-amente pela organização. Segundo Rossetto (2007) ela acaba por restringir a comercialização de produtos

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de baixa qualidade, mostra o comprometimento da empresa com a qualidade nas suas diferentes esfe-ras, gerando assim uma boa reputação para marca e se tornando uma eficiente ferramenta de marketing.

Barbiere (2006) aponta que a certificação voluntária se insere no debate da responsabilidade social e da gestão ambiental organizacional como importante ferramenta de controle e equilíbrio, uma vez que, pré de-termina que as ações e procedimentos sociais, que foram ou serão adotados, tenham uma gestão mais organi-zada e pontual dentro das organizações. Dessa forma é possível perceber a relação direta e a interdependên-cia entre as certificações socioambientais, os conceitos e a cultura da Responsabilidade Sócio Empresarial.

Com o objetivo de investigar a relação entre os empreendimentos com certificação e a melhora na qualida-de de vida dos colaboradores que trabalham em empresas certificadas o artigo analisa o modelo de gestão da propriedade agrícola Fazenda Recanto, localizada em Machado, Minas Gerias, certificada pelo selo Rainforest Alliance Certified, e os impactos na qualidade de vida dos trabalhadores que moram no local. A investigação se concentrou em avaliar o modelo da certificação agrícola baseado nas normas RAS (Rede de Agricultura Sustentável) no que diz respeito ao atendimento das necessidades socioeconômicas ambientais das comu-nidades internas à fazenda certificada Recanto. Para compreender este processo recorreu-se aos conceitos que envolvem o tema certificação ambiental inserido no debate sobre Responsabilidade Social Empresarial.

Como argumento central da hipótese de pesquisa, a fundamentação teórica foi de que para a incorporação efetiva da dimensão socioambiental ao processo de gestão empresarial é fundamental a participação de todas as partes interessadas no processo de desenvolvimento, implementação e controle dos processos produtivos.

A escolha por analisar um empreendimento agrícola, Fazenda Recanto, se deve pela importância do setor no ambiente econômico e socioambiental. O potencial agrícola brasileiro, a quantidade de pessoas atuantes nesse segmento, e as precárias condições de vida de grande parte dos trabalhadores rurais são fatores que revelam a relevância da pesquisa. No ano de 2007, o maior destaque de participação no PIB (Produto Interno Bruto) foi a agropecuária com 7,2% (FUNDAÇÃO SISTEMA ESTADUAL DE ANÁ-LISE DE DADOS - SEADE, 2007). A grande participação, o forte efeito multiplicador da agroindús-tria no PIB, e o alto índice de exportações (BRAZIL BUSINESS, 2005) são indicadores da importância do setor no país, que até 2006, ocupava expressivos 329 941 393 ha do território nacional (IBGE, 2006).

A parte de toda a movimentação e estabilidade econômica trazida pelo setor de agronegócios é preciso que se considerem todos os danos socioambientais por ele causados e potencializados. Os sistemas agrícolas mais primi-tivos consomem muitos recursos naturais, provocando o desmatamento, perda de solos, redução da fertilidade natural, erosão, entre outros (EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA, s/d).

Apesar do número de população ativa no meio rural ter diminuído substancialmente nas ultimas décadas devido ao êxodo rural (IBGE, 2000) a quantidade de pessoas relacionadas ao setor ainda é bastante elevada, dessa forma é preciso atentar para os problemas trazidos pela má gestão das lavouras. O emprego incorreto de agrotóxicos, maquinário e ferramentas e a falta de uso de EPI´s (Equipamentos de Proteção Individual) podem acarretar em danos a saúde dos trabalhadores e da comunidade local, seja por doenças ocupacionais, acidentes no campo ou contaminações por produtos químicos, caracterizando riscos reais que precisam ser gerenciados.

Responsabilidade socioambiental e as certificaçõesAo abordarem o conceito de Responsabilidade Social Empresarial – RSE, especialis-

tas e teóricos como Hasnas, (1998); Borges; Júnior V. (2006); Barbieri e Cajazeira (2009); e La-ville (2009) que discutem o tema da sustentabilidade socioambiental, recorrem principalmen-te aos conceitos da teoria dos acionistas, de todas as partes interessadas e do contrato social.

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A teoria dos acionistas tem sua origem com a afirmação do economista Milton Fridemam de que a responsabilidade das organizações se restringe aos acionistas. Para este autor doações e contribuições com outras finalidades que não signifique maximizar o lucro dos acionistas seria considerado uso inde-vido dos recursos das organizações. Como apontam Barbieri e Cazajeira (2009) na sociedade pós indus-trial os conceitos da teoria dos acionistas tornam-se insuficientes para responder ao novo ambiente de ne-gócios. Inicia-se então o debate sobre o conceito da teoria das partes interessadas na década de 1980. O conceito das partes interessadas com diversas definições tem como princípio básico a idéia de que as em-presas se relacionam com vários grupos de interesse (político, governo, fornecedores, empregados, con-sumidores, grupos ativistas, etc.) sendo o desafio, atender as demandas dos diversos atores envolvidos.

Com a incorporação de novos valores por parte da sociedade, tais como valorização da qualidade de vida e do ser humano e preservação ambiental (TENÓRIO e NASCIMENTO, 2004), as empresas tem se adaptado a uma gestão cada vez mais abrangente, englobando os diferentes stakeholders envolvidos direta ou indire-tamente em suas atividades. Segundo Barbieri e Cajazeira (2009) a gestão é realizada de acordo com o grau de interdependência entre os stakeholders e a empresa, dependendo do nível de relação e dependência entre ambos, muda a maneira como se dão as relações e as estratégias de influência em relação aos recursos da organização. A relação com as partes interessadas é de tamanha relevância que passou a ser considerada es-sencial para que haja faturamentos significativos e conseqüente sucesso das organizações (HASNAS, 1998).

A principal fragilidade e crítica a teoria das partes interessadas é a equidade de participação dos grupos de interesses. Surge então, mais recentemente, no debate da RSE a teoria do contrato social. Com o argumen-to central, no bem-estar social e justiça, a teoria do contrato social aposta na idéia de que por meio de um pacto social entre as instituições e o estado torna-se possível uma relação mais igualitária na relação de par-ticipação dos grupos de interesses na dinâmica da sociedade. A principal diferença em relação a teoria das partes interessadas é de que neste caso o principio da diferença e da igualdade de oportunidade prevalecem.

No debate entorno das teorias dos acionistas, das partes interessadas e do contrato social como conceitos de responsabilidade social das organizações está longe de existir consenso e tem cada vez mais provocado tensões entre economistas e especialistas no assunto. Abramovay (2010) em um artigo recente intitulado “Responsabilidade socioambiental: as empresas no meio ambiente, o meio ambiente nas empresas” siste-matiza o debate em torno da responsabilidade socioambiental empresarial e apresenta os argumentos das duas principais vertentes sobre o tema. Um primeiro grupo economistas como David Henderson, Anant K Sundaram e Andrew C. Inpek defendem a idéia de que o lucro é o indicador da contribuição da empresa para o bem-estar-social. E uma segunda vertente se exprime nas freqüentes denúncias de que a responsabi-lidade socioambiental não passa de propaganda enganosa. Para Abramovay, a dicotomia entre o papel do Estado e o do Mercado precisa ser revista, isto é, o funcionamento dos mercados é tributo da vida social.

Outro olhar crítico sobre a insuficiência da teoria das partes interessadas como forma de participação efetiva está presente nas análises de Flores (2009). Para o autor, este conceito tem sua origem no governo de Margareth Thatcher como proposta de política pública. Segundo o autor isto fez parte de sua estratégia de “capitalismo popular”, no contexto de uma visão individualista do social. Para Flores, o conceito das partes interessadas não dá conta da participação efetiva dos atores sociais, pois, os stakeholders estão atravessa-dos por relações de poder, normalmente assimétricas e hierárquicas, e baseadas nas lógicas da dominação.

No Brasil a inserção da prática de responsabilidade social surge, principalmente, em 1996 com o trabalho desenvolvido pelo IBASE Instituto Brasileiro de Análises Sociais – em que lançou uma campanha convocando os empresários para um maior engajamento e uma maior participação na promoção de melhorias nas condi-ções de vida da população e na superação da pobreza. Em seguida surgem outras associações empresarias tais como o GIFE – Grupo de Institutos Fundações e Empresas, O Instituo Ethos, o PNBE – Pensamento Nacional das Bases Empresariais, a Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e o Conselho Empresarial Brasileiro

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para o Desenvolvimento Sustentável. Finalmente, em 2010, com a participação do Brasil na organização, con-cluísse a construção da norma ISO 26000 – Norma de responsabilidade desenvolvida com um caráter multis-takeholder (com representantes de empresas, governos, trabalhadores, ONGs, consumidores e outros) e ampla participação de pessoas e organizações de todos os continentes (mais de 400 envolvidos) a norma ISO 26000 se propõe a ser a grande referência sobre responsabilidade social em todo o mundo. A norma não será certifi-cável; apenas trará orientações para todas as organizações (não só empresas) a respeito de como devem assu-mir responsabilidade sobre os impactos de suas atividades e sobre seus relacionamentos na sociedade. A ISO 26000 define responsabilidade social como: “A responsabilidade de uma organização pelos impactos de suas decisões e atividades na sociedade e no meio ambiente, por meio de um comportamento ético e transparente”.

Pelos benefícios que traz no que diz respeito a reconhecimento, melhoria de imagem e melhores condições de competição no mercado, um número cada vez maior de empresas vem investindo, espontaneamente, recur-sos no desenvolvimento social de seus funcionários e das comunidades nas quais estão inseridas. De acordo com Relatório de Práticas e Perspectivas da Responsabilidade Social Empresarial no Brasil – 2008, divulgado em conjunto pelo Instituto Akatu e Instituto Ethos, de um total de 56 práticas avaliadas 50% das empresas pesquisadas afirmam exercer ao menos 22 delas, o que indica um aumento de quase 50% do envolvimento das empresas nos últimos quatro anos. Configura-se atualmente um mercado cada vez mais exigente e preocupa-do com a qualidade, confiabilidade, contaminação e assimetria de informações dos produtos que consomem e os seus conseqüentes danos a saúde, ao meio ambiente e à sociedade (CARVALHO et. al, 2009). Segundo pesquisa realizada pelo Penn Schoen e Berland Associetes (PSB) 50% dos brasileiros entrevistados acham que ter uma classificação verde é de extrema importância para as características de uma empresa. Para a maioria dos brasileiros, meio ambiente é atualmente a questão mais importante da sociedade (IMAFLORA, 2009).

Existem hoje diferentes certificações de sistema de gestão que asseguram ao consumidor a qualidade sobre diferentes aspectos do produto, proporcionando, simultaneamente, às organizações todos os aspec-tos positivos trazidos pela certificação voluntária. Algumas das mais conhecidas no contexto de RSE são as Ambientais – ABNT NBR ISO 14001, a de Saúde e Segurança – OHSAS 18001, de Responsabilidade Social – ABNT NBR 16001 (ROSSETTO, 2007), e a emergente ISO 26000. Há ainda as certificações agrí-colas de responsabilidade socioambiental que ganham cada vez mais visibilidade no Brasil. Segundo da-dos fornecidos pelo Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola) o número de em-preendimentos que contam com certificações agrícolas, concedidas pelo mesmo, aumentou de apenas um empreendimento certificado em 2003 para 100 até agosto de 2009 (IMAFLORA, 2009) (Gráfico 1).

Gráfico 1- Evolução Acumulada da Área Certificada

Fonte: Imaflora, 2009

 

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As principais certificações voluntárias do meio rural que defendem tanto aspectos ambientais quan-to sociais são o Certificado IBD/FOAM Accredited de produtos orgânicos destinados a alimenta-ção e cosméticos, garantindo que foram produzidos respeitando o meio ambiente e o trabalhador e es-tão livres de contaminação química; o selo Fair Trade Brasil (comércio justo) significa que se levou em conta o bem-estar de trabalhadores e produtores rurais no cultivo do produto, além do pagamento jus-to de todos os envolvidos na produção; o selo FSC garante que produtos como papel, madeira e casta-nhas tenham vindo de áreas de reflorestamento ou de mata nativa com manejo controlado. A certi-ficação UTZ Certified assegura a qualidade em todos os elos da cadeia produtiva, compreendendo requisitos como segurança alimentar, preservação ambiental, social e econômica (BERRY, 2009).

Dentre essas, há a certificação no qual o presente trabalho recorreu para a pesquisa, o Rainforest Alliance Certified, concedido através do Imaflora, organização brasileira sem fins lucrativos, que compreende ativida-des que vão desde o controle do uso de agrotóxicos até a relação com a comunidade vizinha. As propriedades por ele certificadas garantem ao consumidor que o produto foi cultivado respeitando práticas socioambien-tais, e por conseqüência a sustentabilidade local (IMAFLORA, s/d). Do ponto de vista do negócio a certi-ficação possibilita uma diferenciação de mercado com maiores resultados financeiros para os produtores.

Com a intensificação do debate sobre RSE no ambiente dos negócios, o reconhecimento do agronegócio como setor de extrema importância econômica e estratégica para o país, e a pressão externa de compradores, fez com que esse segmento passasse também a preocupar-se e buscar atualizar-se em relação a questões socioambientais. A pressão imposta pelos compradores do agro-produto, especialmente os pertencente à União Européia, tem demandado dos produtores brasileiros e de empresas do agronegócio a revisão de suas práticas e prioridades. A cobrança vai além da legislação vigente, incorporar ações socioambientais responsáveis tem se tornado cada vez mais vital na proteção dos lucros e acesso a importantes mercados compradores (AGROAMBIENTE, 2009).

A relação entre as propriedades agrícolas e as populações rurais conta com um históri-co de conflitos e diversos exemplos atuais de desrespeito a qualidade de vida e condições dig-nas de trabalho para os moradores do campo. A falta de instrução e equipamentos de prote-ção individual (EPIs) para a aplicação de agrotóxicos é recorrente em diversas regiões do país (DOMIGUES, et al. 2004); assim como a contaminação das comunidades vizinhas, ocasionada pelo des-carte ou armazenamento inadequado de produtos tóxicos utilizados na lavoura (MOREIRA, et al. 2002).

Os impactos são diversos passando desde pagamento injusto até alojamentos precários, sem condições de saneamento ou conforto1, fazendo com que o trabalhador/morador da fazenda fique preso em um ciclo vicio-so onde não consegue progredir ou melhorar sua qualidade de vida, sendo muitas vezes alheio aos seus direi-tos quanto ser humano e trabalhador. Dessa forma o selo Rainforest Alliance se propõe a defender o bem es-tar e a qualidade de vida do trabalhador/morador da fazenda certificada, trazendo em sua norma base (RAS) princípios e respectivos critérios, tais como Tratamento justo e boas condições de trabalho; Saúde e seguran-ça no trabalho e Relações com as comunidades (NORMA PARA AGRICULTURA SUSTENTÁVEL, 2009).

Além dos avanços promovidos para os envolvidos no processo de gestão responsável é importante desta-car que o debate sobre Responsabilidade Socioambiental em empreendimentos agrícolas avança no sentido de se tornar uma oportunidade de negócio, garantindo e conquistando um mercado cada vez mais exigente. Por ser um produto bastante apreciado pela União Européia (Gráfico 2), mercado que demanda uma com-provada gestão socioambiental dos seus fornecedores, as fazendas de café são as que hoje mais procuram o selo Rainforest Alliance e as mais numerosas na lista de empreendimentos certificados pelo Imaflora.

1 Informação oral concedida durante entrevista com DA SILVA, Nobre Ana Cristina, responsável pela Área Social - Imaflora

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Gráfico 2 - Destino do café brasileiro produzido segundo a norma RAS (2008)

Fonte: RA Marktplace, 2008.

Segundo informações fornecidas por Cascalles (2010), responsável por projetos e mercados agrí-colas do Imaflora, o número de hectares de café certificado pela norma RAS no Brasil mais do que quadruplicou do ano de 2005 até 2010 (Gráfico 3), mostrando um novo e acentuado interes-se do mercado europeu que tem comprado a cada ano mais sacas desse tipo de produto (Gráfico 4).

Gráfico 3 - Evolução do número de hectares de café certificado (RAS) no Brasil

Fonte: Imaflora, 2010.

 

 

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Gráfico 4 - Número de sacas (60 kg) vendidas de café brasileiro certificado RAS

Fonte: Imaflora, 2009

Concluída a revisão bibliográfica e discutidos os conceitos de RSE o texto seguirá para a investigação da re-lação entre a certificação, da norma RAS, e melhora na qualidade de vida da comunidade da Fazenda Recanto.

O Caso da Fazenda RecantoO estudo de caso trazido pela pesquisa foi o da fazenda Recanto, produtora de café certifica-

do Rainforest Alliance. Localizada na cidade de Machado, região sul de Minas Gerais, atua no ramo de cafés finos destinados a exportação, conta com uma área de 137 hectares ocupados por cafe-zais e possui atualmente 70 funcionários fixos que em épocas de safra chegam a aproximadamen-te 140 com os temporários. Produtora de café a mais de 100 anos procurou a certificação agrícola por sugestão de um de seus maiores compradores que passou a exigir, além da qualidade do grão, a garan-tia de produção que incorpore práticas socioambientais em todas as etapas do processo de gestão.

Tendo em vista os princípios e critérios, trazidos pela Norma RAS, que incorporam tanto questões ambientais quanto sociais no processo de certificação, bem como o crescente interesse mercadológico que o selo Rainforest Alliance vem adquirindo realizou-se um estudo de caso a fim de possibilitar a ve-rificação das diretrizes da certificação sendo colocadas em prática. Através de visitas, entrevistas e apli-cação de questionários foi possível compreender o comprometimento da fazenda segundo o que é defini-do pela certificação e o nível de evolução que o empreendimento se encontra no que diz respeito a RSE.

Num primeiro momento foram realizadas entrevistas com técnicos, das áreas social, de mer-cado e administrativa do Imaflora com o objetivo de compreender a certificação e seu funcio-namento bem como os principais problemas enfrentados e a forma como as práticas são ava-liadas nas fazendas certificadas. Lá foram colhidas informações gerais sobre a fazenda Recanto que auxiliaram na elaboração dos questionários que foram aplicados durante a visita.

A fim de averiguar a participação dos diversos atores sociais no negócio da fazenda foram aplica-dos questionários específicos para cada uma delas. Na investigação sobre a melhora na qualidade de vida dos trabalhadores foram utilizados os conceitos desenvolvidos por Barreto et al. (2005), que en-globam em suas questões uma lista de variáveis, considerando aspectos econômico-sociais, ambien-

 

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tais e de capital social. Aplicadas diretamente aos trabalhadores que residem na fazenda Recanto, trou-xeram resultados sobre saúde, educação, habitacional, condições sanitárias e higiene, econômico, lazer.

Para a administração da fazenda, os proprietários e a consultora, foi aplicado um questionário baseado nos Indicadores Ethos – SEBRAE de Responsabilidade Social Empresarial para Micro e Pequenas Empresas (2007) que visou avaliar o nível de participação das partes interessadas na gestão da fazenda, e outro para compreender as mudanças na qualidade de vida dos trabalhadores/moradores depois da certificação. Com-posto por questões fechadas avaliou diversos indicadores e a importância dada pela fazenda a eles, tais como: balanço social; cuidados com a saúde, segurança e condições de trabalho; benefícios adicionais; relação com o sindicato; educação e conscientização ambiental; critérios de seleção e avaliação de fornecedores; atendi-mento, dúvidas, sugestões e reclamações; e gerenciamento do impacto da fazenda na comunidade do entorno.

Com o objetivo de investigar as vozes dos demais atores envolvidos na ges-tão do negócio, o mesmo questionário baseado nos Indicadores Ethos (2007) foi adapta-do e aplicado ao presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Assalariados e Agriculto-res Familiares do município de Machado e Carvanópoles e ao coordenador técnico da cooperativa COOPLAN que é fornecedora de equipamentos, produtos agrícolas e serviços técnicos da fazenda Recanto.

Todos os questionários aplicados foram subsidiados por perguntas abertas que visaram traçar um perfil geral de cada uma das partes interessadas e complementar informações obtidas através do questionário fechado baseado nos Indicadores Ethos (2007), além de visita e observação da estrutura e funcionamento da fazenda e de seus docu-mentos administrativos e também as entrevistas que ocorrem num primeiro momento com técnicos do Imaflora.

Análise dos Resultados

Os questionários aplicados apontaram resultados para os dois eixos de investigação da pesquisa. O que foi baseado no elaborado por Barreto et al. (2005) apontou objetivamente a melhora na qualidade de vida dos moradores/trabalhadores da fazenda Recanto após a certificação e a consciência que essa comu-nidade tem sobre a sua própria realidade. Os questionários baseados nos Indicadores Ethos, que foram aplicados tanto para a administração da fazenda (proprietários e consultora) como para os stakeholders (sindicato dos trabalhadores e cooperativa fornecedora de produtos e serviços - COOPLAN) subsidia-ram a investigação sobre o modelo de gestão no que diz respeito à participação das partes interessadas.

Análise da Qualidade de Vida do Trabalhadores/Moradores da Fazenda Recanto

O número de trabalhadores presentes na fazenda Recanto varia durante o ano. Na época de safra são apro-ximadamente 140 colhedores de café parte vindos da Bahia e Paraná, que se hospedam em alojamentos locali-zados na própria fazenda, uma vez que a mão de obra da região não é capaz de absorver a quantidade de serviço que surge nessa época do ano. Durante o restante dos meses, inclusive na entressafra o número de colhedores cai para 70, uma parte deles reside na cidade de Machado e conta com transporte próprio da fazenda Recanto para ir e vir da lavoura para a cidade, outras 10 famílias moram em casas construídas dentro da propriedade.

O questionário aplicado aos trabalhadores/moradores compreendeu o conceito de qualida-de de vida com base nos aspectos trazidos pelo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) que con-sidera o grau de evolução de dada comunidade a partir da avaliação da educação, renda e expec-

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tativa de vida do local. O referido questionário decorre do entendimento de que para averiguar os diferentes indicadores de qualidade de vida desses moradores fez-se necessário considerar aspectos mais abrangentes do que os tomados pelo IDH (BARRETO et al. 2005). Dessa forma, foram aplica-dos uma série de indicadores que trazem aspectos importantes para a avaliação da fazenda Recanto.

No Indicador de Saúde constatou-se que apesar de não haver serviço médico fixo na fazen-da, ou atendimento por agente de saúde os trabalhadores se sentem seguros no que diz respei-to ao atendimento de primeiro socorros, há a capacitação de um grupo de pessoas para esse tipo de conhecimento além de um sistema de comunicação rápida, caso alguém necessite de socorro.

Quanto ao Indicador de Educação os trabalhadores/moradores questionários disseram não ter pro-blemas no acesso de seus filhos a educação. Não há escola interna a fazenda, porém a administração fa-cilita o transporte que é oferecido duas vezes por dia para as escolas mais próximas a propriedade.

Segundo dados da pesquisa o Indicador Habitacional é o mais desenvolvido em compa-ração a outras fazendas da região que não contam com o selo Rainforest Alliance. Na fazen-da Recanto são oferecidas habitações construídas com bloco, reboco, piso e iluminação elétri-ca, cabendo a cada um dos moradores zelar por ela e pela sua manutenção. São permitidos os cultivos de hortaliças, verduras e os animais de criação. O novo assentamento, ainda em construção, terá boa ventilação, número de banheiros compatível com a quantidade de moradores, espaço bem planejado e dividido para acomodar cada um dos trabalhadores temporários que lá habitam por cerca de 6 meses.

No Indicador de Condições Sanitárias e de Higiene observou-se que o esgotamento doméstico antes des-tinado a fossas negras, no processo de certificação, passou a ser direcionado a fossas sépticas que realizam a depuração do material evitando a contaminação do solo ou lençóis freáticos. Dos trabalhadores entrevista-dos 80% afirmaram filtrar a água antes de consumi-la, a água para consumo humano vem das próprias minas que existem dentro da propriedade, sendo que são realizados testes periódicos de qualidade de água, onde se verifica sua potabilidade. Os resíduos domiciliares por sua vez são separados e destinados para reciclagem.

As respostas obtidas para o Indicador de Lazer mostram que a fazenda dispõe apenas de um dos itens de infra--estrutura para lazer apresentada pelo questionário, o televisor que se encontra no refeitório, e que os trabalhadores adquirem para suas residências por conta própria, sem poder contar com campos de futebol ou salões de festa.

O Indicador Econômico demonstra que a fazenda paga e ofere-ce os benéficos trabalhistas de forma justa aos seus funcionários.

Observou-se, que os trabalhadores/moradores que foram questionados a cerca da qualida-de de vida proporcionada pelo empreendimento, se mostraram extremamente coerentes en-tre si e em comparação as perguntas feitas à administração, mostrando domínio sobre sua pró-pria realidade, sendo capazes de explicar em detalhes os processos e práticas questionadas.

Análise da Participação das Partes Interessadas no Processo de Gestão da Fazenda Recanto

A fim de possibilitar uma melhor análise dos dados obtidos com a aplicação dos questioná-rios elaborou-se uma tabela que divide cada um dos indicadores avaliados e expõe as pergun-tas que os compunham mostrando as respostas dadas por cada um dos stakeholders questionados.

A tabulação cruzada possibilita confrontar os dados e produzir considerações a res-peito, principalmente, das questões que apresentam divergência de respostas. Segue abai-xo as tabulações realizadas com o questionário fundamentado nos Indicadores Ethos – SE-BRAE de Responsabilidade Social Empresarial para Micro e Pequenas Empresas (2007) aplicado a

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administração da fazenda Recanto, ao Coordenador Técnico da COOPLAN e ao Presidente do Sindicato.

Legenda das TabelasFORN. PROD. SERV = Fornecedora de Produtos e ServiçosS = SimN = NãoGP = Grande parteEP = Em partesNS = Não soube responderI) Indicador: Balanço Social

FAZENDAFORN. PROD.

SERV. SINDICATOA empresa tem informações sobre balanço social? S EP NSA fazenda acredita que o balanço social pode ajudá-la a medir o impacto de suas

S N NS

operações sobre as pessoas e o meio ambiente e a divulgar seus compromissosfuturos em relação a esses temas?A fazenda elabora balanço social? S N NSA fazenda divulga seu balanço social em murais, locais de grande circulação, jornal regional e etc. para: Público interno? S NS NSeus consumidores e clientes? S NS NSSeus fornecedores? S NS NSA comunidade do entorno? S NS N

Nas respostas relativas ao Índice de Balanço Social notou-se que enquanto a fazenda afir-ma ter um controle efetivo sobre seu balanço social o fornecedor de produtos e serviços e o sindicato, demonstra ter poucas informações a esse respeito, o que evidencia uma falha na transmissão das mes-mas para as partes interessadas. Percebeu-se que os conhecimentos técnicos e o conceito em si so-bre o que é de fato um balanço social não são detidos pelos stakeholders externos entrevistados.

Apesar de ficar clara, no momento da pesquisa, a pouca participação e interesse do sindicato nos assuntos relativos a fazenda, é possível observar que falta proatividade por parte do empreendimento certificado que poderia se manifestar entre esses atores a fim de chamá-los para a gestão interna. Segundo Cordioli (2001) o envolvimento de todas as partes interessadas é problemático, seja por resistência ex-terna, pela falta de estrutura ou de métodos participativos é preciso que haja ferramentas que encorajem a participação nos processos de decisão e a troca de experiências dos stakeholders com a organização.

II) Indicador: Critérios de seleção e avaliação de fornecedores

FAZENDAFORN. PROD.

SERV. SINDICATOPara contratar um fornecedor a fazenda avalia se ele mantém práticas de responsabilidade social? S N SVerifica se atendem a legislação trabalhista? S S SVerifica se atendem a legislação ambiental? S S NSProcura saber quais os princípios seguidos pelos seus fornecedores? S S NS

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Especificamente tratando dos fornecedores tal indicador averigua se a fazenda se importa com as práticas de seus fornecedores e divulga o fato para seus stakeholders. Diante das respostas obtidas e dos do-cumentos aos quais o acesso foi permitido, é possível observar a real averiguação da responsabilidade dos fornecedores que tem que atender uma lista de requisitos de responsabilidade socioambiental antes de firmar contrato com a fazenda. A incorporação das práticas dos fornecedores se mostra relevante num processo de gestão responsável, uma vez que serve como ferramenta de cobrança para a implementação de normas de respeito ao consumidor e aos seus dependentes, (NETO E FROES, 2002) fazendo com que a RSE da fazenda Recanto seja mais abrangente. Os conhecimentos dos outros stakeholders envolvidos, inclusive o da coopera-tiva que é distribuidora de tais fornecedores mostram, entretanto, que a comunicação de tal ação não é efetiva.

III) Indicador: Atendimento

FAZENDAFORN. PROD.

SERV. SINDICATOA fazenda possui canal formal de comunicação com seus clientes, vizinhos e traba-

S S GPlhadores, como caixa de sugestões, email ou telefone formal para tal finalidade?A fazenda sempre disponibiliza informações claras sobre como entrar em contato com ela? S S S

IV) Indicador: Dúvidas, sugestões e reclamações

FAZENDAFORN. PROD.

SERV. SINDICATOA fazenda analisa dúvidas, sugestões e reclamações recebidas e as utiliza como instrumento para aperfeiçoar suas atividades? S NS SCria formulários para documentar as informações? S NS NSAnalisam melhorias que possam ser implantadas? S NS NSResponde e esclarece dúvidas que são encaminhadas? S NS NSEstipula metas e prazos para solucionar os problemas apontados? S NS NS

A postura aberta é um importante indicador de que a fazenda está disposta a atender, consi-derar e prestar satisfações para qualquer interessada em sua gestão. A resposta de todos interes-sadas em relação à disponibilização de um meio de comunicação dinâmico e transparente mos-tra que o empreendimento não está fechado a diálogos com as partes interessadas em seu negócio.

A fazenda afirma fornecer documentos e informações sempre que solicitados, porém em um sistema partici-pativo é preciso que haja o envolvimento real de cada grupo nas atividades, as decisões são tomadas coletivamente onde o próprio grupo de partes interessadas estabelece as normas para gestão e controle (CORDIOLI, 2001), nesse sentido falta iniciativa da fazenda em demonstrar informações e documentos mesmo quando não é requisitada.

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V) Gerenciamento do impacto da fazenda na comunidade do entorno

FAZENDAFORN. PROD.

SERV. SINDICATOA fazenda se preocupa de estar em contato com a comunidade do entorno,

S S Sprocurando minimizar os impactos negativos que suas atividades possam causar?Realiza pesquisas com a comunidade do entorno para prevenir ou levantar possíveis

S NS NSproblemas causados por sua atuação?Convida moradores da região para participar de reuniões que abordem temas de interesse coletivo? S NS SCompra produtos ou contrata serviço de empreendedores do entorno? S S SContrata trabalhadores que vivem nas proximidades? S S S

Segundo informações colhidas a comunidade vizinha ao empreendimento certificado é bastante proativa no que diz respeito a buscar informações e requisitar conhecimentos detidos pela fazenda Recanto mostrando um alto índice de respostas positivas quanto ao relacionamento com a comunidade do entorno. O empreendi-mento por sua vez tem a prática de dialogar com os vizinhos e incorporando-os as suas atividades a fim de evitar impactos, já que depois dos funcionários e moradores eles são os que sofrem diretamente influencia da fazenda.

Segundo Oakley, Claytone (2003) a participação dos menos privilegiados implica no envolvimen-to das negociações, no controle e na garantia das organizações que afetam suas vidas. Todos se tor-nam partes interessadas da fazenda Recanto ou de qualquer outra organização uma vez que es-sas têm influência direta e indireta nas questões socioambientais e no desenvolvimento sustentável.

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Considerações Finais

A fim de averiguar se os resultados obtidos, através dos critérios trazidos pela certificação Rainfo-rest Alliance, atendem de modo satisfatório as necessidades socioeconômicas ambientais das comunida-des internas as propriedades agrícolas que possuem o selo, realizou-se uma pesquisa como os trabalha-dores/moradores da fazenda recanto, produtora de café certificado localizada em Machado, Minas Gerais.

Com base na hipótese teórica defendida pelos diversos autores trazidos pelo estudo, de que para que haja uma incorporação efetiva da dimensão socioambiental ao processo de gestão em-presarial é necessária a participação de todas as partes interessadas, os achados da pesquisa apon-tam que a certificação agrícola estudada é capaz de elevar o nível de qualidade de vida dos mora-dores da propriedade, porém no que diz respeito à incorporação dos outros stakeholders requer maior proatividade dos empreendimentos em chamar os outros atores para a gestão interna.

O questionário aplicado aos trabalhadores da fazenda Recanto – baseado no Índice de Susten-tabilidade (BARRETO, 2009) – apresentou constatações que confirmam a eficácia da certificação no que diz respeito ao desenvolvimento humano dos trabalhadores que também habitam a fazen-da. Os indicadores avaliados mostram que os trabalhadores têm acesso facilitado a saúde, educação, condições sanitárias e de higiene, as moradias apresentam plenas condições de conforto bem como o atendimento satisfatório do fator econômico, que provoca uma baixa procura pelo sindicato.

A incorporação dos fatores defendidos pelo IDH (com exceção da expectativa de vida) e a ampliação dos conceitos por ele trazidos mostra que a certificação Rainforest Allian-ce, no caso da fazenda Recanto, proporciona uma melhor qualidade de vida para a comu-nidade interna, bem como possibilita a tomada de consciência sobre a própria realidade.

Os questionários aplicados que visam verificar o nível de participação dos stakeholders no processo de gestão da fazenda, mostra a falta de conhecimento a cerca dos processos internos do empreendimento. A falta de respostas consistentes dadas tanto pelo sindicato como pela COOPLAN evidencia a falha na comu-nicação e na participação efetiva dos atores externos ao empreendimento. Apesar de estar sempre aberta para sugestões, questionamentos e demandas a fazenda recanto ainda se encontra no estágio inicial da RSE.

Os conceitos desenvolvidos por Laville (2009) e as observações feitas durante o estudo mostram que a fazenda Recanto se encontra entre a 1° e a 2° fase da Responsabilidade Sócio Empresarial, quando as orga-nizações tomam consciência que não podem usufruir de um meio ambiente natural e social em decadência (1° fase) e quando há o comprometimento de conduta, o firmamento de documentos que definem metas de mudança das práticas internas (2° fase). Porém ainda não alcançou a 3° fase, onde vai além das práticas institucionais, inserindo o desenvolvimento sustentável em sua missão, visão e no serviço ou no produto em si. Para que haja a incorporação efetiva da RSE é ainda necessária a participação de todos os stakehol-ders no processo de gestão (BARRETO e CAJAZEIRA, 2009; HASNAS; BORGES; JÚNIOR V. (2006)).

Para se avançar para a 3° fase de RSE o estudo sugere que a fazenda Recanto desenvolva estratégias para en-volver os atores externos na gestão do empreendimento, mesmo que não haja a demanda por parte deles, pois este é um dos princípios da RSE. É importante ressaltar que por se tratar de um empreendimento familiar e de pe-queno porte as dificuldade financeiras e de estrutura organizacional são elementos limitadores para um maior avanço na RSE. Desta forma, a pesquisa sugere a continuidade da investigação em outros empreendimentos de maior porte que possibilite um aprofundamento da análise da relação entre melhora na qualidade de vida dos colaboradores e da comunidade local e a oportunidade de negócio para o empreendimento com a cerificação.

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Sustentabilidade: A tecnologia do Hidrogênio na geração de energia elétrica.

Everton Bonturim(1, a, *); Reinaldo Azevedo Vargas(2, a); Marco Andreoli(3, a); Emília Satoshi Miyamaru Seo(4, a, b)

Químico, MestrandoEngenheiro, DoutorandoTécnicoDoutora, pesquisadora

INSTITUTO DE PESQUISAS ENERGÉTICAS E NUCLEARES, IPEN-CNEN/SP. Centro de Ciência e Tecnolo-gia de Materiais – CCTM. (b) Centro Universitário SENAC/SP

*Av. Professor Lineu Prestes, 2242, Cid. Universitária, São Paulo/SP, 05508-000.* [email protected]

RESUMOAtualmente a sociedade vem se preocupando cada vez mais com os problemas ambientais causados pelo

seu próprio desenvolvimento não sustentável. Com os avanços tecnológicos, também vieram as máquinas, as fábricas, os automóveis e, com tudo isso, o desejo de avançar cada vez mais. Esse tema nos remete ao foco da tec-nologia de desenvolvimento de Células a Combustível (CaC), um sistema de geração de energia elétrica, com baixa emissão de poluentes associada a uma alta eficiência, se comparada ao motor a combustão, por exemplo. A necessidade de avançarmos no âmbito de geração e distribuição de energia se tornou uma tendência mundial e os estudos voltados para a melhora na produção de energia pode favorecer o sistema sustentável. A tecnologia de Células a Combustível (CaCs) é apresentada neste artigo como um instrumento de adaptação as nossas ne-cessidades e demandas, contribuindo para o uso de recursos mais limpos e renováveis, tais como o Hidrogênio.

Palavras-chave: Células a Combustível, Sustentabilidade, Geração de energia.

ABSTRACTCurrently the society has been increasingly concerned with environmental problems caused by its own

unsustainable development. With technological advances, also came the machines, factories, automobiles, and with all this, the desire to move more and more. This theme reminds us to focus the technology develo-pment of fuel cells (FC), a system of power generation with low emissions associated with a high efficiency, compared to the combustion engine, for example. The need to move in generation and distribution has be-come a worldwide trend and studies aimed at the improvement in energy production can encourage sustai-nable system. The technology of fuel cells (CACs) is presented in this article as an instrument of adaptation to our needs and demands, contributing to the use of cleaner and renewable resources, such as hydrogen.

Keywords: Fuel Cells, Sustainability, Power Generation.

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INTRODUÇÃO

Começamos a observar o mundo com outra visão, principalmente depois que tivemos a certeza de que não estamos no caminho certo. Muitos de nós já ouvimos falar de sustentabilidade, um termo que de ta-manha sobrecarga de conceitos, acabou se tornando pouco descritivo. Na lógica do desenvolvimento, em busca de uma sociedade moderna e financeiramente estável, traçamos um caminho que pouco respeitou os recursos naturais finitos, usando-os como ferramentas para se atingir um objetivo maior, o progresso.

O dinamismo de um sistema como o nosso planeta é algo que dificilmente podemos prever, mas cer-tamente já temos uma avaliação da situação atual, temos um grande problema com a gestão de re-cursos naturais e a sua aplicação de forma pouco limpa e eficiente. As ações sustentáveis que espe-ramos atingir com a implementação de uma tecnologia de geração de energia menos poluente, mais eficiente e eficaz podem contribuir para com o desenvolvimento de uma sociedade melhor adapta-da as condições e recursos disponíveis no planeta sem prejudicar o equilíbrio natural dos mesmos.

Nesse sentido, este artigo tem como objetivo apresentar, de forma clara e abrangente, o uso da tecnologia de Células a Combustível como meio favorável a diminuição do consumo de combus-tíveis fósseis em substituição por um vetor energético menos poluente, o Hidrogênio. Além dis-so, apresentar as principais características da utilização do Hidrogênio em prol de um desenvolvi-mento mais limpo e democrático, no sentido da disponibilidade desse recurso em todo o planeta.

O MUNDO DEMANDA SUSTENTABILIDADE

O mundo de hoje em dia só fala e discute a respeito de sustentabilidade. Porém, para cons-truir um que seja realmente sustentável, devemos mudar a forma como geramos nossa ener-gia, principalmente a energia que é obtida com o uso dos combustíveis fósseis, como o petróleo.

O conceito de sustentabilidade está diretamente relacionado com a continuidade dos aspec-tos econômicos, sociais, culturais e ambientais de toda a sociedade humana, abrangendo vários ní-veis de organização: desde um único indivíduo, seus parentes e amigos, passando pela vizinhança local até o planeta como um todo e possui como objetivo ser um meio de configurar a civilização e to-das as atividades humanas de tal forma que a sociedade, todos os seus membros e suas economias pos-sam preencher as suas necessidades e expressar o seu maior potencial, ao mesmo tempo em que preserve a biodiversidade e os ecossistemas naturais, planejando e agindo para atingir eficiência na ma-nutenção de todos esses ideais (ACSELRAD, 1999, p.79; DIEGUES, 1992, p.22; JACOBI, 2003, p.189).

A sustentabilidade depende da forma como utilizamos a energia elétrica atualmente e, por isso, está intima-mente ligada com o desenvolvimento de tecnologias que geram energia alternativa de forma limpa, eficiente, segura e com custo acessível. As células a combustível são um desses dispositivos, gerando a energia que pre-cisamos, utilizando hidrogênio, não gerando poluentes e abrindo novos horizontes para construir um mundo realmente sustentável(BROUWER, 2010),(STAMBOULI, A.B.; TRAVERSA, E., 2002), (CHEN et al., 2011).

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AS CÉLULAS A COMBUSTÍVEL

O termo Célula a Combustível, também conhecido no Brasil como Pilha a Combustí-vel, começou a ser pronunciado atualmente com maior frequência, embora esta tecnologia ain-da não esteja bem estabelecida comercialmente. Estas células produzem eletricidade de uma forma mais ecológica, praticamente sem emissão de substâncias nocivas ao meio ambiente.

As células a combustível são conhecidas pela ciência há mais ou menos 150 anos. Embora tenham sido consideradas uma grande curiosidade do século XIX, elas foram alvos de intensas pesquisas inicialmente du-rante a Segunda Guerra Mundial. Entretanto, por volta de 1800, os cientistas britânicos William Nicholson e Anthony Carlisle descreveram o processo de usar a eletricidade para decompor a água (H2O) em moléculas de hidrogênio (H2) e oxigênio (O2) em um processo conhecido como Eletrólise da Água. A primeira suposta cé-lula desse tipo foi construída em 1801, por Humphrey Davy. Os estudos se intensificaram realmente um pouco mais adiante, com o advogado e cientista inglês Sr. William Robert Grove em 1839. Ele teve uma ideia durante os seus experimentos com a eletrólise da água imaginando de que forma seria o processo inverso desta reação, ou seja, reagir hidrogênio com oxigênio, formando água e gerando eletricidade. O termo, “Célula a Combus-tível” foi empregado pela primeira vez por Ludwig Mond e Charles Langer, em 1889(VILLULLAS, et. al. 2002).

O cientista e fundador do campo da físico-química, Friedrich Wilhelm Ostwald, con-tribuiu com muitas das teorias sobre essas células. Em 1893, ele determinou experi-mentalmente os mecanismos de funcionamento de vários componentes de uma célula.

Na primeira metade do século XX, o cientista suíço Emil Baur, juntamente com seus estu-dantes, conduziu uma grande quantidade de pesquisas com vários tipos de tecnologias de cé-lulas a combustível. No final da década de 1930, Francis Thomas Bacon começou pesqui-sando células de eletrólito alcalino de alta pressão. Durante a Segunda Guerra Mundial, Bacon trabalhou no desenvolvimento de células que foram testadas nos submarinos da Marinha Inglesa.

Embora fossem extremamente caras, as células de Francis Bacon provaram ser suficientemente confiáveis para atrair a atenção da Pratt & Whitney. Esta empresa se uniu com a Energy Conversion, que tinha Bacon como consultor e licenciou o trabalho dele para utilizá-lo no desenvolvimento de um sistema de geração de energia para as missões espaciais Gemini e Apollo da NASA. Após as missões, a construção de novas células alcalinas operando em altas pressões foi paralisada e tornou-se evidente, levando em conta esse tipo de célula, que sua comercialização tinha como principais obstáculos o alto custo e a pequena vida útil(KORDESCH, et.al., 1996).

Entenda a Tecnologia

É interessante perceber que os estudos com células a combustível (CaC) podem ser considerados antigos, embora a evolução dessa tecnologia tenha sido paralisada devido a avanços em tecnologias dependentes de de-rivados do petróleo. Mais tarde, com os problemas ambientais que a sociedade passou a sofrer em decorrência do aquecimento global, e com novas políticas de preservação do meio ambiente, além da busca de um planeta sustentável, a comunidade acadêmica, empresas automobilísticas e outras empresas, reativaram as pesquisas. Atualmente, as células a combustível (CaC) apresentam grande evolução em durabilidade, diminuição dos custos e são uma das principais soluções energéticas ambientalmente amigáveis. É só uma questão de tempo para que esta tecnologia esteja fazendo parte da vida das pessoas como ocorreu com os computadores pessoais.

As CaCs pode ser conceituada como sendo um dispositivo eletroquímico que converte diretamente a

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energia química fornecida por um combustível e por um oxidante em energia elétrica e vapor de água, que ainda fornece energia térmica (calor) para diversas finalidades, inclusive para gerar mais energia elétrica.

A estrutura básica de uma célula unitária consiste de uma camada de eletrólito (centro da célula) em contato com mais duas camadas (ânodo e cátodo), um de cada lado, como se fosse uma pilha. O ânodo (ele-trodo negativo) é alimentado continuamente com um gás combustível (idealmente hidrogênio), enquanto o cátodo (eletrodo positivo) recebe um gás oxidante (oxigênio do ar). A reação eletroquímica que ocorre produz o que conhecemos como corrente elétrica. Um esquema dos componentes é mostrado na figura 1.

Para entender melhor, vamos fazer uma analogia com uma pilha ou bateria convencional. Ambas pos-suem duas extremidades, uma positiva e a outra, negativa e em seu interior, existe um reagente químico para reagir e gerar carga elétrica para uma determinada aplicação. Na célula a combustível, a extremidade nega-tiva é o ânodo e a positiva o cátodo. Enquanto uma pilha ou bateria convencional acumula e libera energia elétrica armazenada quimicamente, uma célula a combustível produz energia a partir da reação entre um combustível e o oxigênio, alimentados de forma contínua. A pilha ou bateria, eventualmente irá deixar de ter energia, tendo por isso de ser recarregada ou inutilizada, enquanto que a célula a combustível continuará a funcionar e a produzir energia, até que lhe seja interrompido o fornecimento de combustível ou oxigênio.

Fig. 01 – Esquema simplificado dos componentes de uma célula unitária de Célula a Com-bustível. Adaptado de: http://www.hydrogenfuelcelluk.com/images/cell_diagram_small.jpg

As células a combustível, de uma forma geral, não possuem aplicações práticas utilizando somente células unitárias, pois existe a necessidade de quantidades adequadas de potência (Watt) para nossas aplicações, e por isso, devem ser conectadas em série para produzir as quantidades de voltagens requeridas. Uma série dessas células recebe a denominação de stack, ou empilhamento. Um componente conhecido como interconector ou separador bipolar conecta o ânodo de uma célula ao cátodo da célula seguinte. Os stacks podem ser configura-

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dos em série, paralelo, em ambos, ou em unidades simples, dependendo da aplicação a que serão solicitados.A grande vantagem do uso das células a combustível está em sua alta eficiência e na ausên-

cia de emissão de compostos poluentes quando se utiliza o hidrogênio em seu estado mais puro. É também uma forma de geração de energia silenciosa e extremamente confiável(LINARDI, 2010).

Tipos de Células a Combustível

Existe atualmente uma grande variedade em tecnologia de Células a Combustível , diferenciada princi-palmente pelo tipo de eletrólito empregado e pela temperatura de operação, como é mostrado na tabela 1.

Tabela 01 – Principais tipos de Células a Combustível

Fonte: WENDT, Hartmut; GOTZ, Michael   and  LINARDI, Marcelo. Tecnolo-gia de células a combustível. Quím. Nova [online], vol.23, n.4, p. 538-546, 2000.

De um modo geral, dentro da célula a combustível, o gás hidrogênio (H2) pressurizado é bombeado para o terminal negativo, o ânodo. O gás é forçado a atravessar o catalisador (substância que acelera a ve-locidade de uma reação química). Quando a molécula de hidrogênio entra em contato com o catalisador, ela se separa em dois íons de hidrogênio (H+) e dois elétrons (e-) (H2 → 2H+ + 2e-). Os elétrons são con-duzidos pelo ânodo, contornando o eletrólito até atingirem o circuito externo, onde, por exemplo, acen-dem uma lâmpada ou acionam um motor elétrico, retornando depois para o terminal positivo, o cátodo.

O oxigênio (O2), extraído do ar, entra na célula pelo terminal positivo, o cátodo. O gás é forçado a se dispersar no catalisador. O catalisador separa a molécula de oxigênio em dois átomos de oxigênio. Cada átomo de oxigê-nio atrai dois íons H+ pelo eletrólito. Estes íons H+ se combinam com o átomo de oxigênio mais dois elétrons

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provenientes do circuito externo, para formar a molécula de água (O2 + 2H+ + 2e- → H2O) e liberar energia. Após a reação, se tem então o vapor de água. O vapor pode ser utilizado para aquecimento, ou ser integrado a uma turbina ou micro-turbina a vapor para gerar mais eletricidade (processo conhecido por co-geração).

HIDROGÊNIO COMO VETOR ENERGÉTICO

O hidrogênio é o mais simples e abundante elemento químico do universo. Compõe 75% da massa e 90% das moléculas, existentes. Em seu estado natural e sob condições normais é um gás incolor, inodoro e insípido. Possui grande capacidade de armazenar energia e, por este motivo, sua utilização como fonte renovável de energia elétrica e térmica vem sendo amplamente pesquisada. Se produzido a partir de fontes renováveis (etanol e água, por exem-plo) ou de tecnologias renováveis, como a energia hidráulica, torna-se um combustível ecologicamente correto.

O Hidrogênio quando queimado com oxigênio puro, os únicos produtos de reação são ca-lor e água. Quando queimado com ar, constituído por cerca de 68% de nitrogênio, al-guns óxidos de nitrogênio (NOX) são formados. Mesmo assim, a queima de hidrogênio des-se modo produz muito menos poluentes atmosféricos que a queima de combustíveis fósseis.

A grande parte de hidrogênio produzido atualmente é utilizada como matéria-prima para fabricação de pro-dutos como fertilizantes derivados de amônia, na hidrogenação de óleos orgânicos comestíveis feitos de sementes de soja, peixes, amendoim e milho, para converter o óleo líquido em margarina, fabricar o polipropileno e resfriar geradores e motores (Figura 02). Quando está ligado em compostos orgânicos e na água, constitui 70% da super-fície de nosso planeta. A quebra destas ligações nos permite produzi-lo e então utilizá-lo como um combustível.

Muitas vezes, o hidrogênio utilizado na célula a combustível não está na sua forma mais pura. Ele se encontra na forma de hidrocarbonetos misturados a outros elementos presen-tes dentro de um combustível e tem que ser extraído. Nesse processo é utilizado um reforma-dor, equipamento capaz de extrair o hidrogênio de uma fonte como, por exemplo, o gás natural.

Atualmente, metade da produção de hidrogênio no mundo provém do gás natu-ral, e a maior parte da produção em escala industrial é pelo processo de reforma a vapor. Ou-tros métodos conhecidos de produzir hidrogênio são: eletrólise da água, eletrólise a va-por e processos fotoeletroquímicos, biológicos e fotobiológicos utilizando bactérias e enzimas.

Armazenamento de Hidrogênio: o desafioSe um desafio do hidrogênio é a sua produção, outro é como armazená-lo; um dos principais obs-

táculos para o estabelecimento de uma infra-estrutura (Figura 02). Além da questão de seguran-ça, a capacidade de armazenamento é importante, pois o hidrogênio tem a menor densidade no esta-do gasoso e o segundo ponto de ebulição mais baixo de todas as substâncias conhecidas. Com essas características, temos dificuldades para armazená-lo. Quando em forma de gás, necessita de um sis-tema de contenção de grande volume e, no estado líquido, precisa da utilização de sistemas crio-gênicos, ou seja, operando em baixíssima temperatura (aproximadamente -253°C)(NETO, 2005).

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Fig. 02 – Infraestrutura para obtenção, armazenamento e utilização do Hi-drogênio. Adaptado de: http://hcc.hanwha.co.kr/english/pro/ren_hsto_idx.jsp

A baixa densidade do hidrogênio, seja no estado líquido ou gasoso, também resulta em uma baixa densida-de de energia. Por isso, certo volume de hidrogênio contém menos energia que o mesmo volume de qualquer combustível em condições normais de temperatura e pressão (0°C/1atm). Isto faz com que o volume ou a pressão do tanque aumente, pois certa quantidade de hidrogênio é necessária para que um veículo atinja uma boa autonomia. A vantagem de utilizá-lo numa célula a combustível é a alta eficiência desta tecnologia com relação aos motores à combustão interna, precisando de menos combustível para realizar o mesmo resultado.

Existem atualmente cinco meios principais de se armazenar o hidrogênio: reservatórios de gás hidrogênio comprimido; reservatórios para hidrogênio líquido; hidretos metálicos; adsor-ção de carbono e micro-esferas. Além desses tipos de armazenamento, existem pesquisas para compressão de hidrogênio em cilindros que suportem altíssimas pressões(ZÜTTEL, 2003).

Algumas restrições existem para armazenamento de combustível em larga esca-la. Uma opção seria armazenar o hidrogênio em tanques subterrâneos, onde se pode-ria aproveitar a experiência obtida com o desenvolvimento de armazenamento de gás natural.

Nos setores de distribuição e entrega, o capital de investimento é o maior empecilho para uma economia base-ada no hidrogênio. Sistemas de distribuição de gás já existem em algumas partes dos Estados Unidos em redes de gasodutos e entregas diretas por meio de transporte de superfície. Mas se comparado aos gasodutos de gás natu-ral, a rede de hidrogênio é cerca de 300 vezes menor. Tecnicamente, os gasodutos de hidrogênio não são diferen-tes dos de gás natural quando se fala em instalação e manutenção, mas a diferença está realmente em seu custo.

Embora o hidrogênio seja inflamável, a sua dispersão rápida faz com que raramente atinja uma concentra-ção de combustão ao ar livre ou em espaços fechados, mas ventilados. Diversas pesquisas demonstram que o hidrogênio apresenta menos riscos referentes à segurança com seu uso que outros combustíveis, incluindo a gasolina, o propano, o diesel, o álcool e também o gás natural. Se for manejado adequadamente, o ciclo de vida do hidrogênio deverá ser mais seguro que todos os outros. A produção e transporte seriam de menor risco, já que li-nhas de dutos e caminhões de hidrogênio apresentam menos riscos públicos que caminhões pipa com petróleo.

O hidrogênio pode se tornar uma importante fonte de energia no futuro. Uma das principais ra-zões, por exemplo, de não termos uma produção em massa de automóveis abastecidos por hidro-gênio é exatamente pela falta de infra-estrutura. Entretanto, algumas iniciativas de se criar estra-das com postos de hidrogênio estão sendo desenvolvidas nos Estados Unidos, Europa e Japão.

Sabe-se que ainda estamos caminhando para uma infra-estrutura de comercializa-ção do hidrogênio, mais investimentos estão ocorrendo em pesquisas sobre armazenamen-

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to e transporte do mesmo. Grandes empresas de energia, como a Petrobrás, Shell, BP, TotalFina-lElf, ARAL, Texaco e entre outras, estão investindo bilhões de dólares para encontrar soluções que viabilizem esta infra-estrutura, juntamente com montadoras de automóveis e muitos governos.

No Brasil, o etanol deverá ser a principal fonte de hidrogênio, primeiro pela infra-estrutura já montada para este combustível, depois porque o país é atualmente o segundo maior produtor de etanol no mundo, com ten-dências de crescimento devido ao aumento de exportação e em também por ser uma fonte de energia renovável. Por estes motivos, diversas pesquisas sobre produção, armazenamento e distribuição de hidrogênio, além de células a combustível que utilizem o etanol e a biomassa como fontes de combustível estão sendo realizadas.

BENEFÍCIOS SUSTENTÁVEIS

Um automóvel com alto desempenho e sem liberação de poluentes na atmosfe-ra é uma importante solução para o problema da qualidade do ar nos grandes centros urba-nos. Os principais benefícios ambientais são: minimizar nossa dependência em produtos de-rivados do petróleo; emitir menos gases causadores do efeito estufa; possuir mais eficiência na geração e consumo de energia e reduzir o armazenamento de pilhas e baterias nos aterros sanitários.

Uma grande quantidade de células a combustível instalada numa determinada região, por exemplo, traria benefícios como maior segurança em energia, melhora na qualidade do ar e do meio-ambiente. Consumidores de energia elétrica e também as próprias companhias de energia poderão aproveitar os benefícios através da melhora na confiabilidade do sistema elétrico, diminuindo principalmente diversos problemas de linhas de transmissão.

A comercialização em massa representa uma excelente oportunidade de desenvolvimento econômico para o país e, as regiões que adotarem esta tecnologia poderão criar indústrias de desenvolvimento, fabri-cantes, fornecedores, comerciantes e companhias de manutenção, além de gerar muitos benefícios sociais, como: redução da emissão de poluentes no ar e melhora na qualidade da saúde, especialmente em áreas urbanas que já apresentam problemas de baixa qualidade do ar, como a cidade de São Paulo; redução da emissão de gases causadores do efeito estufa (GEE); crescimento econômico, desenvolvimento e criação de empregos; redução da sobrecarga nas linhas de transmissão, possibilitando direcionar os investimentos para outras áreas, como a geração de energia distribuída, melhorando a eficiência energética; aumento da segurança de energia; redução da poluição atmosférica e diminuição dos prejuízos na agricultura atra-vés da redução da chuva ácida e dos níveis de concentração de ozônio próximo à superfície; redução da poluição sonora, da contaminação do lençol freático e da emissão de partículas poluidoras na atmosfera.

No Brasil, país com enorme potencial energético em várias fontes de energia, no qual a ener-gia hidráulica se destaca, diversas pesquisas envolvendo células a combustível estão caminhan-do por meio da iniciativa de algumas empresas, institutos de pesquisa e universidades, apoia-das financeiramente por agências de fomento, concessionárias de energia e pelo governo.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As bases apresentadas neste texto nos permitem avaliar as necessidades e condições que temos para alavancar um sistema realmente sustentável no âmbito das aplicações da energia renovável e não emisso-ra de gases de efeito estufa (GEE). Sobre os aspectos relevantes que devemos levar em consideração, po-demos destacar a utilização das Células a Combustível como parte integrante e complementar ao nosso sistema de fornecimento de energia, sob um ponto de vista mais sustentável e ambientalmente correto.

Os desafios a serem transpostos para a obtenção e armazenagem de Hidrogênio resumem-se em segurança e efi-ciência, sabemos que as tecnologias disponíveis já podem criar sistemas seguros, mas precisamos atingir um nível maior de eficiência em estocagem e distribuição, principalmente devido às características deste vetor energético.

O uso de um sistema que favoreça a distribuição e energia por todo o país, como é o caso das Células a Combustível, pode favorecer a população que vive distante dos grandes centros urbanos, aonde as linhas de transmissão não chegam. A possibilidade de manter esse dispositivo com um vetor energético encontrado em todo o mundo também pode ser considerada como estratégia para um desenvolvimento mais democrático.

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REFERÊNCIAS

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Soft Law como instrumento para aplicação de Gestão do Conhecimento no suporte à tomada de decisão em contextos ambientais

Garcia-Nunes, P. I.1

Rei, F.2

ResumoA procura por embasamento técnico-científico para a adequada aplicação das leis, a fim de garantir a preser-

vação dos sistemas ecológicos por meio do condicionamento oriundo do Direito Ambiental, esbarra na moro-sidade e falta de eficiência da abordagem da Ciência tradicional frente à incerteza e complexidade das questões referentes ao ambiente. Nesse contexto, a opção por um paradigma científico Pós-Normal, que sugere uma Gestão de Conhecimento para construção de uma racionalidade que ofereça suporte à tomada de decisões mais acertivas, encontra no conceito de Soft Law um instrumento para a obtenção de soluções para a problemática ambiental. A proposição de um modelo de processo decisório que não se atenha à mera conformidade legal se apresenta como alternativa adequada para agilidade na Gestão Ambiental do meio complexo e problemático.

Palavras-chave: Ciência Pós-Normal, Gestão do Conhecimento, Soft Law

AbstractThe Environmental Law requires a search for scientifically based knowledge for the proper enfor-

cement of laws to ensure the preservation of ecological systems. This logic generates difficulties due the slowness and inefficiency of the traditional approach of science in the treatment of uncertain-ty and complexity intrinsic to environmental issues. In this context, appears the possibility of a Post--normal science paradigm that suggests a Knowledge Management for construction of a rationality that supports better making decisions. The use of concept of a soft law as an instrument for obtaining solu-tions to the environmental problems proposes a model of decision-making process that goes beyond the mere legal compliance, suggesting a suitable alternative for agile Environmental Management.

Keywords: Knowledge Management, Post-normal Science, Soft Law

INTRODUÇÃO O Direito Ambiental desempenha papel relevante para a garantia da preservação dos sistemas ecológi-

cos, particularmente no momento em que as preocupações referentes à sustentabilidade empresarial embasam as discussões estratégicas que, por sua vez, influenciam as diretrizes para a exploração de matérias-primas, consumo/produção de bens e descarte de resíduos. É necessário considerar que a lógica jurídica e a definição das políticas, em matéria de responsabilidade ambiental, mantêm como prerrogativa a busca por vínculos entre causas e efeitos, o chamado nexo de causalidade. Sendo assim, e até mesmo como característica do Direito Ambiental, essencial é a procura por substrato técnico-científico para a adequada aplicação das leis.

Em contrapartida, se observarmos, assim como Odum (1983), um sistema que compreende o am-1 Mestrando da Faculdade de Tecnologia, Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP.2 Professor Visitante da Faculdade de Tecnologia, Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP.

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biente, os seres, bem como a interação entre eles, perceberemos grande complexidade no que diz respeito às questões ambientais, cercadas por grande incerteza associada à dificuldade de identificação dos víncu-los causais. Dessa maneira, se apresentam desafios que acabam por delimitar a capacidade de interven-ção sobre as práticas vigentes, principalmente, pelo fato das legislações ambientais se basearem sobre uma abordagem científica nada eficiente e pouco adequada para análise de sistemas complexos (PORTO, 1997).

A complexidade ambiental Um sistema complexo é composto por processos dinâmicos que interconectam diversos ele-

mentos, que, por sua vez, compõem e interagem com outros subsistemas. Assim, a união do comporta-mento individual das inúmeras partes corrobora para um comportamento geral peculiar (LIMBURG et al., 2002). Nesse contexto, o grande número de atores envolvidos em um evento acaba por denotar um sistema dotado de evidente pluricausalidade e, em muitos casos, impede a dissociação entre cau-sa e efeito. É o que ocorre quando da análise e equacionamento de questões ambientais e seus inúme-ros partícipes contidos nas esferas Antrópica e Biótica. Nesse momento, a atuação sobre problemas re-ferentes ao meio ambiente — na tentativa de buscar aparato técnico — se depara com uma fronteira estabelecida pelas limitações paradigmáticas do modelo científico Normal, denunciado por Kuhn (1962).

Por muitos séculos, a Ciência ocidental foi regida pelo logocentrismo e mecanicismo que incentiva-vam metodologias especializadas baseadas na simplificação e consolidação do conhecimento, reconhecido por resultados e fundamentos, cujo estabelecimento e superação demandam, necessariamente, longo prazo de tempo (ASSIS, 2000). Considerando que a robustez desse paradigma implica uma morosidade inade-quada à urgência da temática ambiental — que exige maior agilidade no tratamento das questões para uma tomada de decisão mais ampla, que contemple inferências de caráter holístico, mais eficiente na análise de incerteza e complexidade — Funtowicz e Ravetz (1990, 1992, 1993, 1994) propuseram uma metodologia que vislumbra estratégias para a obtenção de soluções por meio da contextualização dos problemas em uma lógica interdisciplinar, a partir de discussões qualitativas inseridas em uma sugestão de Ciência Pós-Normal.

Comunidades do Conhecimento Leff (2007) propõe que essa reflexão epistemológica se estabeleça sobre um arcabouço composto pela

possibilidade de construção de conhecimento de maneira colaborativa, por meio da integração das diver-sas disciplinas e práticas científicas para o fomento de uma racionalidade que ofereça suporte à tomada de decisão contida em uma gestão ambiental adequada, que produza ações de impacto, submetidas às técnicas e regras provenientes da análise das circunstâncias incertas (WALLACE; VAN FLEET; DOWNS, 2011).

Desse modo, o processo colaborativo de construção de um novo paradigma científico se dá por meio da interação entre os vários saberes em um contexto de Gestão do Conhecimento, no qual o processo decisório deve ser apoiado pela informação decorrente da estruturação formal de um grupo de trabalho (KEITH; DEMIRKAN; GOUL, 2010). Quando um conjunto de pessoas — que se relacionam em torno de um objetivo comum — compartilha suas impressões, opiniões e visões, está constituída, segundo Kimble e Bourdon (2008), uma Comunidade de Prática. Sob essa lógica comunitária é construído um entendi-mento capaz de oferecer diretrizes para ações mais acertivas, sobretudo por meio da melhor compreensão das questões referentes à própria comunidade representada pelo grupo de trabalho que nela, também, está inserido. Essa estratégia de Gestão do Conhecimento aplicada à análise ambiental traduz bem o conceito de “Comunidade Ampliada dos Pares”, necessário para a avaliação crítica e, por conseguinte para a institui-ção de um controle de qualidade nos empreendimentos científicos (FUNTOWICZ; RAVETZ, 1997, 2006).

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Soft Law À medida que as incertezas crescem no tocante à complexidade do sistema que define um problema am-

biental, surge — para o incremento da qualidade da pesquisa científica — a proposta de ampliação dos grupos de debate, tradicionalmente restritos. Contudo, devido à ambigüidade dos próprios fatos, não se pode exigir pre-cisão na previsão de resultados, muito menos estabelecer a obrigatoriedade de normas muito rígidas. Para tal, a definição de políticas contundentes deve ser dirigida, necessariamente, pela consideração de valores brandos (FUNTOWICZ; RAVETZ, 1997). No Direito, essa normatividade relativa pode ser garantida pela utilização de instrumentos flexíveis, conhecidos como Soft Law, que normatizam o comportamento dos atores do siste-ma de maneira menos constringente e criam expectativas com relação à conduta daqueles que participam do processo decisório. Essa interferência se dá por meio de disposições genéricas, exortações e recomendações, que se valem da divergência de interesses para incentivar a colaboração e a união de esforços (NASSER, 2005).

Nessa idéia se baseiam as propostas de instituição de Painéis Mundiais, Assembléias In-ternacionais, responsáveis pela transferência de conhecimento dentro de um determinado con-texto que consiste de todos aqueles que participam do problema e cujo envolvimento resul-ta a geração de atas finais, comunicados conjuntos e relatórios diplomáticos. Essa informação produzida a partir dessas Comunidades de Prática possui um caráter pré-droit, isto é, define uma regra que pode vir a se tornar obrigatória por seu grande potencial de persuasão e justificativa oriundo da re-presentatividade de que goza por resultar do concerto sobre interesses difusos (HILLGENBERG, 1999).

Estudo de Caso A instituição de Comunidades de Prática como estratégia para “internalização” de uma dimensão

ambiental — a fim de garantir capacidade de contextualização aos saberes técnicos (LEFF, 2007), por meio da produção de conhecimento e informação — auxilia a proposição e representação de um modelo de to-mada de decisão mais preciso no tratamento de riscos e incerteza. A introdução do conceito de Soft Law ao processo de confecção de políticas, bem como sua aplicação conjunta às normas de caráter obrigatório e vinculante (Hard Law) — resultado de comunidades restritas e aportes científicos rígidos e especializa-dos — permitem à Lei-Informação trazer agilidade à obtenção de soluções para os problemas ambientais.

METODOLOGIA A necessidade de suporte a decisões cada vez mais complexas passou a exigir inferências baseadas em

um pensamento sistêmico componente de uma pesquisa operacional mais flexível (Soft OR). Nesse contexto, a Cibernética, ao estudar a maneira pela qual os fluxos de informação de um sistema o influenciam, deu ori-gem à Dinâmica dos Sistemas. Essa metodologia, proposta por Jay Forrester1, fundamenta-se na afirmação de que o comportamento de um sistema complexo é resultado de relações de fluxo, atraso e retro-alimentação de informação entre os elementos de um sistema, cujos relacionamentos podem ser representados por equações diferenciais (MINGER; WHITE, 2010). Essas equações podem ser representadas em um diagrama, exempli-ficado na Figura 1, que consiste de estoques (variáveis de estado), fluxos e variáveis ou constantes auxiliares.

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Figura 1 – Diagrama Estoque-Fluxo

A Dinâmica dos Sistemas obteve muito sucesso a partir da proposição de um modelo para a eco-nomia mundial, confeccionado a pedido do Club de Roma2, culminando na edição do livro “Limites do Crescimento” em 1972. Esse método possibilita a identificação da estrutura de um problema orientando so-luções que direcionem a implementação de políticas (SALEH et al., 2010). Como Thompson e Bank (2010) enfatizam, uma das vantagens dessa abordagem é permitir a modelagem das interações existentes entre os atores do sistema, capturando o comportamento humano por meio da incorporação de fatores “soft”.

Modelo de processo decisório Propõe-se a utilização da Dinâmica dos Sistemas para a verificação de um modelo para

o processo decisório, composto de um problema sobre o qual a tomada de decisão determina-rá um resultado. Esse modelo é simulado no software STELLA® em três momentos distintos.

Primeiramente, a ausência de políticas determina a falta de regulação sobre o pro-cesso decisório. Como pode ser visualizado na Figura 2, a tomada de decisão é represen-tada por um fluxo que interrelaciona os estoques referentes ao problema e ao resultado.

Figura 2 – Tomada de decisão

Essa interrelação entre os fluxos e estoques que represen-tam o processo de decisório pode ser denotada pelas equações a seguir.

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Em um segundo momento, ilustrado pela Figura 3, a regulação se dá pela definição de legisla-ção (Hard Law) amparada pelo aporte científico proveniente de uma Comunidade Restrita de Pares.

Figura 3 – Regulação do processo decisório

Esse modelo e todas as interrelações existentes entre os estoques e fluxos, bem como o embasamento que uma Comunidade Restrita de Pares oferece à Legislação e fluxos podem ser descritos por meio das seguintes equações:

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Sendo que, o suporte científico oferecido por uma comunida-de restrita de pares para a aplicação das leis pode ser denotado da seguinte maneira:

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Por fim, como é possível observar na Figura 4, a tomada de deci-são também é regulada pela introdução do conceito de Soft Law, provenien-te de uma Comunidade Ampliada de Pares, instituindo, assim, uma Comunidade de Prática.

Figura 4 – Aplicação de Soft law

É possível descrever essa decisão que busca o melhor entendimento acerca de deter-minada problemática, além do mero atendimento às leis, por meio das equações a seguir.

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Onde,

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Para viabilização de simulações, foram estabelecidos valores aos objetos que represen-tam os parâmetros de entrada do sistema. Esses valores constituem uma escala semântica — ex-pressa pelo intervalo de 0 a 100 — descrita na Tabela 1, que atribui ao Problema o valor máximo.

Tabela 1 - Parâmetros para simulação

Objeto Valor JustificativaProblema 100 -

Comunidade Am-pliada

50 + Comunidade Restrita

Ao considerar todos os partícipes do sis-tema, permite uma

melhor compreensão do problema, além

de não desconsiderar a Comunidade Res-trita (FUNTOWICZ;

RAVETZ,1997; LEFF, 2007).

Comunidade Res-trita

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A visão especializada e parcial impede a

compreensão integral do problema, sendo ineficiente para o tra-tamento de incerteza

e complexidade (FUN-TOWICZ; RAVETZ, 1997; LEFF, 2007)

O software STELLA® simula os resultados, inserindo os parâmetros de entrada nas equa-ções que descrevem o modelo. Essas equações são submetidas ao método de integração de Eu-ler, que realiza iterações em intervalos de unidade de tempo pré-estabelecidos (dt = 0,25).

RESULTADOS No primeiro momento analisado na Seção 2.2, como pode ser observado no grá-

fico da Figura 5, toda a informação correspondente ao problema é — depois de determi-nado tempo — transferida para o resultado, traduzindo uma tomada de decisão nada efe-

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tiva na busca por soluções para as questões que se apresentam no contexto ambiental.

Figura 5 – Processo decisório (desregulado)

Em seguida, o processo decisório é condicionado por meio da inserção de um elemen-to que representa o conceito de Hard Law. O gráfico da Figura 6 ilustra que, nesse caso, a infor-mação que diz respeito ao problema é transferida inicialmente para o resultado. Entretanto, após a ação de um objeto regulador, esse fluxo decai, de modo que todo o estoque do problema acaba por ser eliminado sem que haja transferência para o resultado obtido a partir de determinada decisão.

Figura 6 – Processo decisório regulado (Hard Law)

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Por fim, foi proposto um modelo no qual há a aplicação conjunta de elementos de Hard e Soft Law. Como pode ser visualizado no gráfico da Figura 7, apenas parte do fluxo de informação pro-veniente do estoque do problema é transferida para o resultado da tomada de decisão, ainda as-sim esse fluxo é drenado — isto é, o problema é solucionado — em um intervalo de unidade de tem-po muito menor do que nos modelos em que as Comunidades de Pares não são consideradas.

Figura 7 – Processo decisório influenciado por Soft Law

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CONCLUSÃO O Direito Ambiental se apresenta como instrumento disciplinador, que tem no condicionamen-

to de condutas individuais e coletivas a fim de garantir a preservação do meio complexo e problemáti-co sobre o qual atua, sua principal função. Essa atuação, que evita ou atenua o desarranjo sistêmico, se dá majoritariamente por meio de evidências amparadas pela técnica científica Normal. É nesse momen-to em que a exigência da mera conformidade legal, de cumprimento das legislações e o atendimento dos padrões normativos, falha e se torna ineficiente diante da não-linearidade dos problemas ambientais.

Nesse contexto, defende-se uma vez mais a proposição da gestão do conhecimen-to no âmbito de uma Ciência Pós-Normal, sobre um conceito de “saber ambiental”, mais flexí-vel, embora não menos especializado, que se oferece como alternativa às limitações do para-digma calcado em aportes científicos mais robustos e, portanto, menos ágeis no tratamento da emergência das questões referentes ao ambiente. Desse modo, a regulação da interação existente entre ho-mem e natureza estaria acomodada sobre um modelo de Ciência, cujo conhecimento pode ser constru-ído, gerido por meio da consideração de valores dinâmicos, numa lógica interdisciplinar e colaborativa.

A exigência desses parâmetros é satisfeita pela Gestão do Conhecimento em sua proposta de Co-munidades de Prática, formulada sobre a idéia de ampliação do debate por toda a cadeia composta por aqueles que estão envolvidos, direta ou indiretamente, na problemática. A prospecção de soluções exigirá uma tomada de decisão que precisará ser recepcionada pelo Direito, já que afetará o ecossistema e seus componentes. Assim, a idéia de “comunidades ampliadas de pares” poderá gerar disposições que possam oferecer suporte ao processo decisório, por meio da aplicação de ferramentas mais flexíveis e dinâmicas, incorporadas ao conceito de Soft Law, adequado ao requisito da celeridade na obtenção de resultados.

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Notas1 Jay Wright Forrester (14 de julho de 1918) é um engenheiro da computação estadunidense e professor emérito da Sloan School of Management do Massachussets Institute of Techno-logy (MIT). Em 1982, venceu o prêmio de Pioneiro da Computação do IEEE. Em 1989, foi condecorado com a Medalha Nacional de Tecnologia.

2 Club de Roma é um grupo internacional composto por profissionais de diversas áreas da sociedade que se reúne a fim de discutir temas relevantes que traduzem preocupações acerca do futuro global. Essas discussões objetivam influenciar o processo de tomada de decisão por meio da sensibilização dos líderes mundiais, utilizando-se de uma abordagem que prioriza análises focadas no longo prazo.

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Análise ambiental da fase de acabamento do jeans

Environmental analysis of finishing process of jeans

Me Camila Santos Doubek Lopes. Centro Universitário Senac.

Resumo

É devido às constatações dos sérios danos causados pela ação do homem ao meio ambiente que muitos pesquisadores têm se voltado ao estudo dos impactos ambientais resultante das ações do homem. Tal pa-norama é fruto do nosso modelo de desenvolvimento baseado na crença de fontes inesgotáveis de recursos naturais e dos limites de absorção de subprodutos dessa produção pela natureza. Com a indústria têxtil não é diferente, e em especial com a produção de jeans, de forte relevância de estudo, pois somos o segundo maior produtor mundial de denim. Dentro do conceito de análise de ciclo de vida, a fase analisada nesta pesquisa foi a produtiva, mais especificamente a de “lavanderia” industrial ou desbote do jeans. Para o desenvolvi-mento deste trabalho foi realizada pesquisa bibliográfica exploratória qualitativa com o objetivo de fazer o levantamento e estudo das substancias envolvidas neste processo, e através da análise de suas fichas químicas (documento normatizado pela ABNT-NBR 14725-1), para revelar o real risco oferecido. Foram verificados os procedimentos necessários para evitar as não-conformidades ambientais, como tratamento de efluentes e uso de EPI (Equipamento de Proteção Individual) pelos operadores. Posteriormente foram pesquisadas e analisadas as alternativas de baixo impacto ambiental disponíveis no mercado, como ferramenta de cons-cientização do consumidor para que o consumo responsável seja possível. A pesquisa mostrou como, de fato, esta fase do ciclo de vida do jeans tem forte potencial de agressão ao meio ambiente e o trabalhador. Por outro lado as alternativas disponíveis são de menor impacto e mais segura para o operador, porém custosas.

Palavras-chave: Denin, Lavanderia, Impacto ambiental têxtil, desbote.

Abstract

It is due to the findings of the serious harm caused by human action to the environment that many researchers have turned to the study of environmental impacts resulting from the actions of man. This pa-norama is the result of our development model based on the belief inexhaustible sources of natural re-sources and limits absorption of products of such production by nature. With the textile industry is no different, especially with the production of jeans, a strong relevance of the study, because we are the second largest producer of denim. Within the concept of life cycle analysis, the phase analyzed in this research was productive, more specifically that of “laundry” industrial or fading of the jeans. To develop this work was performed exploratory qualitative literature in order to make the survey and study of the substances involved in this process, and through analysis of their chemical forms (standardized document-by ABNT NBR 14725-1) to reveal the real risk posed. We checked the procedures necessary to prevent environmen-

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tal non-compliances, such as wastewater treatment and use of personal protective equipment) operators. Later were surveyed and analyzed the alternatives of low environmental impact on the market as a tool for consumer awareness for responsible consumption is possible. The research showed how, in fact, this phase of the life cycle of jeans has a strong potential for harm to the environment and the worker. On the other hand the available alternatives have less impact potential and are safer for the operator, but costly.

Keywords: denim, laundry, textile environmental impact, fading

1. Introdução

O denim é o tecido mais consumido do mundo. Desde a década de 70, aproximadamente, as peças con-feccionadas com jeans são vendidas com aspecto de desgaste e desbote, por fatores ligados às tendências de moda e conforto. O processo de beneficiamento do jeans que ocorre nas lavanderias industriais é de grande importância comercial, pois atribui ao produto aspecto estético ligado à moda, e gera milhares de empregos. Por outro lado, é de ampla divulgação o risco de impacto de tal processo à saúde do trabalhador, do meio-ambiente e da população local, devido às emissões gasosas, mas principalmente dos efluentes que causam danos aos rios (BOTTOS, 2007; CANELADA, 2011; HEISE, 2009; KNOLL, 2011 e TAVARES, 2011).

A importância desta pesquisa se dá pelo fato de o Brasil, segundo publicação da ABIT (2011) ser o segundo maior produtor de jeans, tendo produzido em 2010 mais de 320 milhões de peças. Ten-do em vista esse volume produtivo, faz-se de suma importância o presente levantamento para que atitudes diversas em prol do trabalhador e meio ambiente sejam consideradas de forma objetiva.

Este trabalho objetiva, em âmbito geral, investigar e apontar os verdadeiros riscos do beneficiamento do jeans e mostrar as principais alternativas a eles. Tal base servirá de parâmetro para o consumidor res-ponsável que, analisando os impactos produtivos de seus produtos poderá fazer a opção por aquele que teve menor carga de impacto ambiental até aquele momento. Quanto aos objetivos específicos, a pesqui-sa procura analisar as fichas de informações de segurança de produtos químicos (FISPQ) das substâncias utilizadas na etapa de beneficiamento para verificar seu grau de periculosidade e necessidade de uso de EPIs (Equipamento de Proteção Individual). Também serão descritas as principais alternativas a essas téc-nicas, para constatar ou não sua veracidade quanto a não agressão ao meio ambiente e ao trabalhador.

A metodologia de pesquisa empregada foi a bibliográfica exploratória qualitativa, primeira-mente em literatura especializada no intuito de levantar os métodos e reagentes empregados na fase de beneficiamento em questão, assim como as alternativas ditas “ecológicas”. Posteriormen-te, objetivando a padronização das análises de impacto dos produtos utilizados no processo de lavanderia ao meio ambiente e à saúde do trabalhador, assim como medidas de proteção (EPIs), foi consultado a FISPQ, de empresas conceituadas, normatizada pela ABNT NBR 14725/2010.

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2. Fundamentação teórica

2.1 Ecodesign

2.1.1 A análise de ciclo de vida

Estudar o ciclo de vida de determinado produto ou serviço significa analisar todas as fases de sua vida, do “berço ao túmulo”, com relação ao conjunto de inputs e outputs de matéria, ener-gia e emissão de cada fase “com a finalidade de avaliar as conseqüências ambientais, econômi-cas e sociais” (MANZINI; VEZZOLI, 2002, p. 92). Esses processos podem ser classificados em pré-produção, produção, distribuição, uso e descarte. Este trabalho se foca na fase de produção do je-ans, quanto ao emprego de substâncias com potencial risco à saúde ambiental. Um dos focos deste es-tudo é a minimização de uso de recursos ao longo da produção, notadamente água e energia elétrica.

2.1.2 O consumo consciente

Segundo Manzini e Vezzoli (2002), a conscientização dos consumidores acerca dos problemas socio-ambientais tem aumentado junto ao aumento do acesso às informações acerca do atual nível de degra-dação de nos encontramos. “A preocupação ambiental deve ser entendida como um processo cognitivo que pode ativar comportamentos e atitudes favoráveis ao meio-ambiente” (DIAS, 2009, p.29), e englobam diferentes ações ecológicas como consumo responsável, utilização racional dos recursos naturais, etc., sempre com a intenção de proteger o meio-ambiente ou beneficiá-lo (STERN, 2000 apud DIAS, 2009).

Assim, ao tornar o consumidor mais informado sobre o teor de impacto de cada pro-cesso produtivo, ele terá base para escolher o produto com menor impacto ambiental.

2.2 O jeans e a moda

O jeans possui várias datas e locais de criação, conforme o autor consultado. Tavares e Arnt (2011) atri-buem a idealização do tecido de denin azul com rebites metálicos em 1873 pelo alemão Levi Straus e o letão Jacob David. Criado originalmente para suprir a demanda por uma vestimenta resistente para mineradores, o jeans passou pelo imaginário Western dos anos 30, e pela rebeldia juvenil da década de 50, com James Dean e Marlon Brando. Hoje, o tecido de 174 anos de idade continua sendo forte símbolo da juventude. Segundo Heise (2009), o urdume do denin era tingido originalmente com plantas índigo (anil) até o final do séc.

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XIX. Em 1880, Karl Heumann sintetizou o índigo, cuja fórmula foi patenteada pela Bayer. O francês René Bohn, em 1901 conseguiu sintetizar uma substância similar que foi patenteada pela concorrente alemã Basf.

Originalmente feito em 100% algodão, hoje o denim é encontra-do nas mais diversas proporções com o poliéster (média de 50% cada componen-te), podendo conter baixas porcentagens de elastano (de 2 a 4%) SENAI-CETIQT, (2004).

O jeans é consumido globalmente e possui a democracia como forte característica, pois todo mundo usa, independente de classe social. Segundo relatório da ABIT (2011), o Brasil é o segun-do maior produtor de jeans, tendo produzido, em 2010, mais de 320 milhões de peças. Ainda se-gundo Tavares (2011), hoje o Brasil é o segundo maior consumidor de denin, ficando atrás somen-te dos Estados Unidos. Estes dados nos fazem refletir sobre os impactos do beneficiamento das peças.

Os principais pólos brasileiros produtores de jeans estão em Pernambuco e São Paulo (maior pro-dutor), com destaque para Toritama (PE) onde existem 2.500 fábricas e responde por 16% da produ-ção nacional, com produção anual de aproximadamente 5 milhões de peças, sendo grande gerado-ra de empregos e poluição, devido à falta de tratamento generalizado dos efluentes (jeans alterou a cor do Rio Capibaribe). Até 2005 os efluentes eram despejados no Rio sem nenhum tipo de tratamen-to. A partir desta data todas as 56 lavanderias da cidade foram regularizadas (TAVARES; ARNT, 2011).

2.3 O desgaste do jeans como elemento da moda

O denim possui uma fase “extra” de beneficiamento quando comparado com outros teci-dos, que ocorrem nas chamadas “lavanderias”. Após tecido ter sido beneficiado, ele é confecciona-do e retorna para o amaciamento e desbote para adquirir aparência de usado, gasto ou “vintage”.

No início, as calças jeans eram vendidas em seu estado bruto. O consumidor adquiria a calça no tom azul-marinho ainda enrijecida pela goma, sendo que ela amaciava ao longo das lavagens, aos poucos. En-quanto lavavam desbotavam, encolhiam e se moldavam ao corpo. A partir da década de 60, por questões de conforto e moda, surgiu a tendência de comprar o jeans macio e com aparência gasta. No início, o des-gaste era feito com sucessivas lavagens, sem catalizador (objetos e/ou substâncias para acelerar o proces-so de desbote como pedra, cloro, calor, enzimas), consumindo enormes volumes de água e onerando o processo. Segundo Lee (2009), a partir dos anos 70, o “stone washed”, desenvolvido por Marithé François Girbaud, consagrou o uso de pedras (primeiramente com pedra-pomes, hoje, argila expandida) e alve-jantes para conferir efeitos nas calças, personalizando-as e ganhando enorme apelo mercadológico pelos profissionais de moda. Existem hoje aproximadamente 45 tipos de acabamentos para o jeans. Os mais co-nhecidos são: Stone Wash, Acid Wash, Destroyed, Lixado, Detonado, Used, Sand washed e Enzyme wash.

Quanto ao consumo de água na produção textil de forma geral sabe-se que duran-te os processos de preparação, tingimento e acabamento são diretamente dependen-tes de água. No caso específico do jeans, Tavares e Arnt (2011, p. 35) fazem a seguinte análise:

“[...] se todos os jeans produzidos no mundo fossem calças Levis 501 de tom médio, o 1,5 bilhão de jeans confec-cionados anualmente consumiria 5,2 trilhões de litros d’água - nada menos do que o equivalente a 11 horas initerrup-tas da vazão média do Rio Amazonas no mar (133.000m3/segundo) de acordo com a agência nacional de águas.”

Na fase de lavanderia, são utilizados 120 litros de água para o beneficiamento de um par de jeans (TAVARES; ARNT, 2011).

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2.4 O beneficiamento do jeans

Entende-se por beneficiamento, segundo IPT (2003), os processos seguidos à tecelagem que pos-suem o objetivo de melhorar a aparência e o toque do tecido para aumentar o seu valor agrega-do. Os principais são: (i) pré-tratamentos, que preparam o tecido para o segundo estágio; (ii) se-cundários, que são os tingimentos ou estamparia, e (iii) beneficiamentos finais ou acabamentos.

2.4.1 O desbotamento

De modo geral, segundo Heise (2009), o objetivo do desbotamento é a retirada de parte de corante que en-contra-se na superfície do tecido. A fase de desbote em lavanderia pode ser dividida em duas fases: o amacia-mento e de desbote geral e outro de desbote localizado. A Figura 1 mostra o jeans antes e depois da lavanderia.

Figura 1: o jeans antes e depois dos tratamentos da lavanderia. Fonte: Rosa Clube (2011, p .1)

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A primeira fase é tradicionalmente realizada com argila expandida em banho de água aquecida, cloro e peróxido de hidrogênio. O objetivo é a retirada da goma (amaciamento) e a retirada parcial do corante que se encontra ligado ao tecido por interações químicas. No caso da argila expandida (produzida em fornos rotati-vos onde argilas especiais se expandem a temperaturas aproximadas a 1100grausC), a retirada do corante se dá por atrito. A intensidade do desbotamento está relacionada com o tamanho da lavadora, do volume de argila expandida adicionada, temperatura da água e os catalizadores utilizados. Segundo BUCHERT, J. et al. (2000) as desvantagens desse processo são a dificuldade de remoção dos fragmentos de argila das peças de roupa, os estragos causados no maquinário pelo atrito e o entupimento das vias de escoamento da água no processo. É devido a esses problemas que a técnica alternativas, como as enzimas, por exemplo, foram desenvolvidas.

As enzimas, segundo Knoll (2011) são facilitadoras do desbote, ou catalizadoras, e foram utilizada pela pri-meira vez no processo de desbote em 1987. Elas agem diretamente sobre a celulose do denin, o algodão. Existem três tipos de enzimas utilizadas nesse processo: as ácidas, neutras e híbridas. Segundo BUCHERT, J. et al. (2000), esse processo é standard em muitos países com legislação ambiental rígida e alta tecnologia aplicada. Especi-ficamente as celulases são enzimas que degradam a celulose, gerando cadeias curtas de polímeros e glucose.

Após o desgaste geral, a peça passa para a segunda fase de debote: os efeitos localizados, popularmente co-nhecidos por “bigode”, para conferir maior realismo ao aspecto de usado da peça. Trata-se de faixas horizontais ou diagonais que simulam o desgaste natural da barra da calça, da movimentação das pernas, na área dos joelhos e na parte superior, e nos cotovelos também. Este efeito é tradicionalmente conferido com lixados, perman-ganato de potássio e jateamento de areia (que possui cristais de sílica) ou óxido de alumínio (Canelada, 2011).

A aplicação do permanganato nas peças se dá de duas maneiras: a primeira é na forma de giz, que é passado nas áreas de desgaste naturalmente maior em uma caça: costuras, bolsos e detalhes; a segun-da é a aplicação com pistola industrial para o clareamento localizado. Dependendo do caso, as áre-as a serem desbotadas são antes lixadas com lixa d’água para melhor definir as áreas de desbote.

3. Resultados e discussões

3.1 Impactos ao trabalhador e ao meio ambiente

A fase de lavanderia é conhecida como grande consumido-ra de energia, mas principalmente consumidora e contaminante de águas.

A argila expandida remove o corante e também fragmentos do tecido, que se jun-tam ao banho. As próprias pedras soltam fragmentos de argila, adquirindo a coloração do ba-nho. Esse efluente tem alto impacto ambiental se não forem tratadas adequadamente.

A pedra pome, já pouco utilizada, se desgas-ta logo na primeira lavagem, gerando muitos resíduos (KNOLL, 2011).

Os dois alvejantes mais utilizados são à base de cloro (mais permanganato de potássio) e peróxido de hidrogê-nio (água oxigenada). Este não é tóxico para o meio ambiente, mas custa entre duas a seis vezes mais que o cloro.

A seguir serão analisadas as substâncias citas acima conforme as respectivas FISPQs segundo o perigo que ofere-ce à saúde humana, as EPIs (equipamentos de proteção individuais) necessárias e os impactos ao meio ambiente.

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3.1.1 Cloro (Cl)

O cloro (Cl) em altas concentrações é tóxico e há preocupações “... que reações secundárias levem à produção de uma série de AOX (halogênios orgânicos absorvíveis) incluindo triclorometano e precur-sor de dioxina.” (LEE, 2009 p. 89). Segundo a FISPQ elaborada por White Martins (2007), o cloro é for-temente agressivo (tanto na forma líquida como na gasosa), sendo que seus efeitos são proporcionais à sua concentração e tempo de exposição. A inalação pode causar lesões brônquicas e a permanência em local contaminada pode levar a edema pulmonar agudo, levando invariavelmente à morte. Em contato com os olhos o cloro causa queimaduras e irritações, e com a pele, vermelhidão e bolhas. Para a prote-ção do trabalhador faz-se necessário o uso de EPI – óculos de proteção contra gases e respingos, luvas de borracha, máscara panorâmica com filtro químico, máscara de fuga, capuz, capacete, macacão e bo-tas de borracha. Em contato com o meio ambiente polui a flora (através da queima), rios e cursos d’água. A fauna que entrar em contato com o gás (tóxico venenoso) cloro terá a saúde profundamente afetada.

3.1.2 Peróxido de hidrogênio (H2O2)

Segundo a Quimiclor (2009), a inalação deste gás pode causar irritação das vias respiratórias. Em contato com a pele, conforme concentração e tempo de exposição causa irritação ou queimadu-ras. Em contato com os olhos causa irritação ou queimaduras, sendo que o contato na forma víqui-da, vapor ou aerosol pode causar danos à córnea. A ingestão causa queimadura ao trato gastrointesti-nal. Quanto à proteção do trabalhador, o local de trabalho deve ser bem ventilado, deve ser usada luvas de alta resistência, usar óculos de proteção assim como roupa de neoprene, borracha e botas. Quanto ao contato com o meio ambiente, o peróxido de hidrogênio se degrada rapidamente em oxigê-nio e água quando em contato com solo e água, portanto não é agressivo ao meio ambiente.

3.1.3 Enzimas

Quanto ao uso das enzimas, vista como alternativa ecológica de desbote atua “[...] através do ata-que direto aos corantes e fibras do tecido. Embora em menores proporções também provocam efluen-tes ricos em cor e sólidos.” (HEISE, 2009 p. 35). Segundo BUCHERT et al., (2000), a enzima é am-plamente utilizada no processamento do denin. Ainda Segundo a Planitrade (2009), as soluções enzimáticas são consideradas substância de baixo risco, sendo que apesar de não irritante, os efei-tos nocivos ao trabalhador ao contato intendo com o produto causa: dermatite à pele, vermelhidão aos olhos e sintomas similares àqueles da asma caso haja inalação intensa, sendo, portanto recomendá-vel o uso de EPIs básicos (máscara simples, luvas de borracha ou plástico, óculos de proteção e avental) para a sua manipulação. Ao meio ambiente não oferece nocividade por ser facilmente biodegradável.

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3.1.4 Permanganato de potássio (KMnO4)

O segundo informações da FISPQ elaborada por Eletroquemical (2007), esta substância é forte oxi-dante, podendo causar incêndio quando em contato com outros materiais. Quanto à saúde do traba-lhador causa irritação ao sistema respiratório de inalado. O contato com a pele causa envelhecimen-to, dor e queimaduras severas, sendo que o contato prolongado pode causar dermatite. O contato da poeira do permanganato com os olhos causa irritação severa, vermelhidão, visão borrada e podem causar danos sérios, com possíveis sequelas. Para a proteção da pele o trabalhador deve utilizar bo-tas, luvas, avental e proteção completa do rosto devido à liberação de pó. Quanto à disposição no meio--ambiente, o permanganato dissolvido em solução aquosa pode ser tóxica para a vida aquática. Como se observa na Fig. 2, o trabalhador opera sem proteção alguma o permanganato de potássio em pó.

Figura 2: operário manuseando permanganato sem nenhum EPI.

Fonte: Lavanderia Lifem (2011, p .1)

3.1.5 Hidróxido de sódio (NaOH) ou soda cáustica

As substâncias utilizadas variam conforme a técnica criada segundo as tendências da moda. O efeito “Ultra hiper”, por exemplo, objetiva deixar a peça num tom claro acinzentado, clareia a peça usando mais um redutor: o hidróxido de sódio ou soda cáustica. Segundo a FISPQ da Canexus (2011), quando inalado pode provocar irritação severa no nariz e garganta. Pode resultar em edema pulmonar. O contato com a pele e olhos pode causar queimaduras químicas. Para a proteção do trabalhador deve ser obrigatório respirador com cartuchos químicos apropriados ou respirador com pressão positiva para reduzir a exposição. As luvas devem ser mais resistentes que as convencionais e um protetor de rosto completo é o ideal, com cobertura re-sistente a respingos de produtos químicos. Roupas e botas resistentes também são recomendadas. É perigoso ao meio ambiente se depositado em leitos d´água devido ao alto grau de toxidade que está ligado ao seu PH.

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3.1.6 Pó de sílica

O jateamento de areia, por conter pó de sílica pode entrar nos pulmões dos trabalhadores, mesmo com o uso de EPIs. Segundo Canelada (2011), este processo foi criado na Itália na década de 80, mas logo foi banida de toda Europa, devido aos efeitos nocivos ao trabalhador. Porém a técnica continua operante nos países onde as lavanderias migraram como Turquia (que hoje já proibiu a prática também), China, Tunísia e Bangladesh. Segundo a Casquimica (2008), a sílica cristalina é classificada como carcinogênica, isto é, substância com alto potencial cancerígeno (pulmão). Também pode causar silicose, que é causada devi-do à inalação de poeira contendo partículas de sílica. Ela pode demorar meses para se manifestar, porém com evolução progressiva e irreversível. Pode provocar tuberculose, invalidez e óbito. Por estes motivos o jateamento de areia é proibido no Brasil desde 2004, através da Potaria SIT/DSST Nº 99, de 19/10/2004 (AREASEG, 2004), que conclui: “Fica proibido o processo de trabalho de jateamento que utilize areia seca ou úmida como abrasivo.” Porém tal procedimento ainda é comum em inúmeras lavanderias no país. Para a proteção do trabalhador (ainda que operando o jateamento na ilegalidade) é recomendada a utilização de óculos de proteção e máscara contra poeira. Muitos estilistas e lavanderias estão começando a conscienti-zação através da proibição da prática ou adoção de equipamentos mais seguros como o da figura 3. Apesar de tamanha toxidade ao ser humano não apresenta impactos quando em contato com o meio ambiente.

Figura 3: operário operando em câmara para jateamento de areia.

Fonte: Blastex (2011, p .1)

3.1.7 Óxido de alumínio (Al2O3)Trata-se de um pó branco e inodoro, quimicamente trata-se de um composto químico de oxigênio e alumí-

nio. Segundo a ficha de informações de segurança de produtos químicos (FISPQ) da NBR 14725-2010 elabo-rada por ALCOA (2007), quanto aos impactos à saúde do trabalhador, em contato com os olhos e pele o óxido de alumínio pode causar ligeira irritação, e quando inalado pode causar asma e doença crônica dos pulmões. É necessário o uso de luvas, máscara e óculos de segurança. Quando em meio aquoso não causa perigo para a água.

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3.2 As alternativas de baixo impacto ambiental disponíveis no mercado

Foram encontradas na literatura disponível duas alternativas para o desbote geral (ozônio e frag-mentos de pneus usados) e uma para aqueles localizados (laser), que estão descritos a seguir.

3.2.1 O ozônio (O3)

O ozônio, ou trioxigênio é uma molécula instável composta de três átomos de oxigênio, e é naturalmente encontrado na atmosfera e nos protege de raios solares nocivos. A sua formação acontece quando moléculas de O2 se rompem sob a ação de raios ultravioleta, de modo que os átomos separados se unem a outras moléculas de oxigênio (HEISE, 2009). O O3 é tido como o mais rápido e poderoso oxidante existente. No processo de desbote do jeans, o condutor do ozônio é a água, que, quando circula no gerador fica ozonizada. Depois disso ela passa para a lavadora, onde as peças, ao receberem a água com ozônio começam a ser modificadas e desbotadas. O fator determinante para conseguir os diferentes efeitos em ambos os processos é o tempo de trabalho nas peças.

Segundo Invectiva (2009), o processo de desbote do denin pelo ozônio foi lançado no Brasil durante a 7ª. Feira Internacional de Máquinas, Equipamentos, Produtos e Serviços para Empresas de Lavanderia, em São Paulo. Trata-se do desbotamento utilizando água ionizada e pode também ser aplicado a outros tecidos, mas encontra no denin o maior mercado de aplicação. Uma máquina de ozônio para debote têxtil tem a capacidade de processar, em média, de 60 a 80 peças por ciclo, em cerca de 15 minutos (maquinário mais moderno), tempo que inclui o carregamento das peças na máquina. O custo médio é de R$ 115 mil.

Grande parte dos corantes utilizados no tingimento do urdume do denin tem natureza orgâni-ca, “... e boa parte deles não resiste à ação oxidativa do ozônio, que interage modificando a estrutu-ra molecular e faz com que as características cromógenas deixem de existir” (HEISE, 2009, P. 35).

Assim, no processo, o ozônio que desbota o índigo também oxida o corante que migrou para a água do banho, fazendo com que essa saia límpida. Como o ozônio residual retorna à forma de oxigênio, a água do ba-nho sai do processo sem coloração nem resíduos químicos, pronta para o reaproveitamento, sendo então ne-cessária a utilização de apenas um volume de água para o banho e não é necessário o enxágüe (HEISE, 2009).

O processo possui inúmeras vantagens em termos ambientais quando compa-rado às técnicas convencionais de desbote, as principais delas são (HEISE, 2009):

1. Devido à menor quantidade de banhos na fase de desbote e da possibilidade do reaproveitamento de água no processo, existe e redução de até 90% do volume de água consumido no processo e conseqüente redução de efluentes. No processamento convencional são consumidos de 80 a 100 litros por par de calças jeans, e no sistema por ozônio são consumidas de 10 a 20 litros (considerando o reaproveitamento de água na batelada seguinte).

2. Todo o processo com o ozônio acontece à temperatura ambiente, dispensan-do o custo e consumo de recursos naturais para gerar calor. Como nas lavanderias é mui-to comum a queima de combustíveis fósseis para gerar calor, e algumas vezes de madeira ilegal, o processo do ozônio colabora com a não-emissão de gases de efeito estufa e queima de madeira.

3. O desgaste com argila, por atrito, causa danos nas peças de denim as-sim como na própria lavadora. Com o ozônio esses danos praticamente desaparecem.

4. Economia nas ETEs (Estações de Tratamen-

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to de Efluentes) devido ao menor volume de água necessária no processo.Ocasionalmente será necessário remover alguns componentes resultantes do pro-

cesso oxidativo. O consumo energético para a geração do gás ozônio é de 3kw/h.Apesar das inúmeras vantagens ambientais, o ozônio apresenta algumas periculosidades ao trabalhador,

como constatado na FISPQ de Airliquide (2010): no estado gasoso é tóxico se inalado, podendo causar náusea, irritação dos olhos, nariz, garganta e anorexia. A exposição ao gás de mais de 20ppm de concentra-ção por 1 hora pode ser fatal. O ambiente a ser operado o ozônio deve ser muito bem ventilado e o opera-dor usar EPIs resistente a ácidos. Quando em contato com o meio ambiente é completamente inofensivo.

3.2.2 Fragmentos de pneu

Segundo Knoll (2011), o método de uso de fragmentos de pneu para substituir a pedra pome e a argila expandi-da não é recente, porém é pouco empregado nas lavanderias. Esta técnica usa pedaços de pneus usados, que após cortados são tratados com um ácido para ficarem mais rígidos, melhorando as condições de atrito com o jeans.

Além do pneu, ainda segundo Knoll (2011), é aconselhado adiciona-do determinada enzima ácida como catalizadora do processo de estonagem.

3.2.3 O laser

É usado para fazer aspectos localizados de uso intensivo, “detonados” e bigodes. Invecti-ca (2009) diz que esta técnica chegou ao mercado pela primeira vez em 1990, na Espanha. Inicialmen-te era utilizada para imprimir “tatuagens” e as logomarcas nas peças. Em 2008, 6% da produção mun-dial de jeans (aproximadamente 300 milhões de peças) utilizou a técnica do laser. Segundo Bottos:

O processo de marcação a laser [...] tem como princípio modificar a superfície de um material sem alterar suas propriedades volumétricas. Os processos de marcação são aqueles onde o laser colore a superfície pela degradação do material exposto ao feixe, de um modo limpo, rápido e garantindo a confiabilidade (reprodutibilidade) necessária ao processo. [...] existem vários mecanismos de marcação, como por exemplo: carbonização (preto) e descoloração da superfície [...] (2007, p.1).

O processo de desbote a laser tem o ônus de ser menor poluente, consumir menos água, maior flexibilidade de processamento, além de conferir um material de qualidade supe-rior quando comparado com os materiais de desbote convencionais (ORTIZ-MORALEZ, 2003).

No processo a laser, o grafismo (Fig. 4) é definido em software específico, que posteriormen-te é transferido para sistemas de CAD/CAM. O corante é retirado através da queima controla-da da fibra. O laser produz efeitos autênticos no jeans sem causar danos à saúde do operador tam-pouco ao meio-ambiente e sem desgaste de ferramentas de corte. Segundo Invectiva (2009), uma máquina a laser possui alta produtividade, podendo processar até 3 mil peças diariamente.

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Figura 4: exemplo de grafismo a ser aplicado à laser em calça.

Fonte: Leo Design (2011, p .1)

A tecnologia à laser possui um enorme ganho social, já que o modo tradicionalmen-te empregado, o jato de areia traz muitos riscos de saúde ocupacional, como mostra o quadro 1.

Processo Laser Lixado manual Jato de areiaProdutividade Alta: 60-

120 jeans/hora

Baixa: 10 jeans/hora Média: 30 jeans/hora

Segurança e saúde

Fácil de operar e totalmente segura

Movimentos repetitivos e intensos podem causar problemas relacionados a músculos, tendões e ossos (L.E.R.)

Perda auditiva, silicose, câncer e L.E.R.

Fonte: Invectiva, 2009.

Quadro 1: Comparação dos três processos de desgaste localizado quanto à produtividade e saúde ocupacional.

As primeiras máquinas de marcação à laser chegaram ao mercado na década de 90, sendo que a espanhola GKF desenvolveu a tecnologia. Segundo Invectiva, (2009) em 2008 a tecnologia foi empregada em 300 milhões de peças.

O estilista François Girbaud lançou uma coleção com o desbote a laser chamada “Wattwash”, com o slogam “Use light, save water” em 2010, com grande repercussão mundial. A grande bandeira do lança-mento foi que economiza 97% de água e reduz a contaminação de efluente dos químicos tradicionalmente utilizados para o desbote. Existe também o menor consumo energético, pois se trata de nova tecnologia.

No Brasil o maquinário é vendido pela Gravo Mak. A mesma máquina que grava as marcas de des-bote em jeans marca plástico, metais. O serviço já é encontrado nas lavanderias mais sofisticadas.

“O sistema diodo produz uma grande quantidade de partículas de inverter a laser de quitação, pulso forte em função do Q-interruptor de modo a eficiência da transformação de elétron-luz é alto” Gravomak, (2011, p.1).

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4. Conclusão

Tendo em vista o conteúdo pesquisado, pode-se concluir que:

- Verificou-se que a fase de beneficiamento do jeans convencional tem alto potencial de impacto pois en-volve substâncias altamente tóxicas. Para ser utilizadas exigem uso de EPIs e intenso tratamento de efluentes.

- Determinadas substâncias podem ser substituídas por ou-tras menos impactantes, porém mais custosas ou de eficácia reduzida.

- A soda cáutica foi a substância que apresentou risco máximo ao homem e natureza.- As enzimas são as menos prejudiciais empregadas no processo.- O processo de jateamento apesar de proibido ainda é empregado no país, mostrando o grau de pre-

cariedade de fiscalização de órgãos competentes do governo assim como falta de ética dos produtores.- A alternativa de desgaste com O3 é eficiente e menos impactante ao meio ambien-

te, porém oferece alto risco à saúde ocupacional se não for tomas as devidas precauções. - A alternativa de desgaste com fragmentos de pneus apresentou-se extremamente benéfica ao meio am-

biente, pois consome menos água que a pedra pome/argila expandida e estende a vida útil da borracha do pneu.- A alternativa a laser é tida como eficaz e tem como maior barreira de amplo uso o alto custo do equipamento.

Essa pesquisa abre algumas possibilidades de continuação de investigação. Traçar um panorama dos princi-pais pólos de lavanderia industrial no Brasil (São Paulo, Americana, Toritama) e no mundo (Marrocos, Turquia e países da Ásia) a avaliar quais os impactos que ocorrem efetivamente seria pesquisa de enorme colaboração para o meio científico e até para a tomada de atitudes no âmbito legal em prol da defesa da saúde ambiental.

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TRABALHO E SAÚDE: O CASO DOS TRABALHADORES TEMPORÁRIOS DA INDÚSTRIA CANAVIEIRA EM LAGOA DA PRATA, MINAS GERAIS, BRASIL

WORK AND HEALTH: THE TEMPORATY WORKER’S CASE OF THE SUGAR CANE INDUSTRY AT LAGOA DA PRATA, MINAS GERAIS, BRAZIL

RESUMOO trabalhador braçal da agroindústria da cana-de-açúcar está sujeito aos impactos sociais, econômicos e

ambientais provenientes dessa monocultura, especialmente pelas condições de trabalho existentes, que in-cidem sobre sua qualidade de vida e saúde. Utilizando uma metodologia de natureza qualitativa este estudo buscou investigar aspectos relativos às condições de vida, trabalho e saúde do trabalhador temporário da agroindústria canavieira de Lagoa da Prata, município de Minas Gerais. Para a coleta de dados utilizou-se a entrevista semi-estruturada, sendo a amostra delimitada através do critério de saturação e as informações foram tratadas através da análise de conteúdo de Bardin. Constatou-se a predominância de trabalhadores jo-vens e do sexo masculino e a presença de trabalhadores migrantes e reincidentes de outras safras. As mulheres parecem desempenhar as atividades laborais de forma igualitária em relação aos homens, logicamente dentro de suas limitações físicas. O poder aquisitivo dos trabalhadores parece ser insuficiente, sendo também cons-tatada uma evidente evasão de capitais oriundos do trabalho do corte de cana com os safristas migrantes. Não houve evidências claras de expropriação de pequenos proprietários para a zona urbana aumentando o êxodo rural. O trabalho informal estava presente no cotidiano desses trabalhadores, que na época da entressafra se valiam de oportunidades variadas para suprir suas necessidades. Embora os trabalhadores mostrassem ter ciência sobre a importância da utilização dos EPI’s, constatou-se a necessidade de um melhor conhecimento no que se refere aos riscos e problemas de saúde a qual estavam expostos em função das condições de trabalho.

Palavras-chaves: açúcar, trabalhador temporário, trabalho, saúde

ABSTRACTThe farm workers of the sugar cane agroindustry are subject to the social, economic and environmental

impacts coming from that plantation, especially by the existing working conditions which fall upon their life quality and health. Using a methodology of qualitative nature, this study aimed to investigate aspects relative to the life, work and health conditions of the temporary worker of the sugar cane agroindustry of Lagoa da Prata, town of Minas Gerais. For the data collection, the semi-structured interview was used, the sample being limited through the informational redundancy criteria and the information were dealt through the Bardin content analysis. The predominance of young and male workers and the presence of migrant workers and recurrent from of other crops were found. Women seem to perform the working activities mostly in the same way that men, logically within their physical limitations. The worker’s purchasing power seems to be insufficient, an evident escape of capitals coming from the sugar-cane cutting with the migrant temporary workers. There was no apparent evidence of expropriation of small farms to the urban area increasing rural exodus. Informal work was present in these worker’s every day, which at the off-season time made use of di-fferent opportunities to meet their needs. Although, the workers showed to be aware of the importance of the utilization of the equipment for individual protection, the need of an improved knowledge as far as the heal-th risks and problems to which they were exposed due to their working conditions are concerned was found.

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INTRODUÇÃO

O Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar (Saccharum sp) do mundo, com uma área plantada de aproximadamente 10 milhões de hectares (IBGE, 2011). Em Minas Gerais, a atividade sucroalcooleira este-ve durante muitos anos concentrada nas regiões da Zona da Mata e Sul. Após os anos 90 expandiu-se para o Triângulo Mineiro, principalmente devido aos investimentos realizados pelos principais grupos empre-sariais nordestinos, atraídos pelas condições topográficas, o clima e a proximidade com o estado de São Paulo, que atualmente é o maior produtor. Com isso, Minas Gerais aumentou gradativamente sua partici-pação na produção de cana-de-açúcar, especialmente pela concentração de indústrias associadas à mono-cultura nas mesorregiões Noroeste, Central Mineira, Oeste de Minas, Triângulo Mineiro e Alto Paranaí-ba que são, atualmente, as principais regiões produtoras (SINDAÇÚCAR, 2003; SIQUEIRA; REIS, 2008).

Localizado na região centro-oeste do Estado de Minas Gerais, o Município de Lagoa da Prata apresenta-se como um importante pólo de produção sucroalcooleira, que embora tenha somente uma usina de produção de álcool e açúcar, atingiu no ano de 2010 um patamar de 12.000 hectares de área plantada com cana-de-açúcar, com uma produção de 840.000 toneladas, representando cerca de 1,24 % da produção mineira (IBGE, 2010).

Paralelamente à geração de empregos e renda, essa produção tem provocado relevantes impactos sociais, principalmente no que se refere à questão dos trabalhadores rurais temporários, que são admitidos e demiti-dos ciclicamente todos os anos. Segundo Brasil (1986), sob a denominação “trabalhador rural” existem duas distintas categorias: o trabalhador direto identificado pela consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), que é aquele contratado por tempo indeterminado ou definitivo e o trabalhador rurícola braçal, contratado em re-gime temporário por um período de um ano. Caso as atividades da safra terminem antes deste tempo de um ano, automaticamente o contrato é rescindido e o trabalhador temporário é demitido a qualquer momento.

Paralelamente à geração de renda e emprego gerado por esse tipo de atividade, vários estudos desenvolvidos no Brasil e especialmente em São Paulo (ALESSI; NAVARRO, 1997; SCOPINHO et al., 1999; ALVES, 2006; NOVAES, 2007; ALVES, 2008; RUMIN; SCHMIDT, 2008; RIBEIRO; FICARELLI, 2010; ROCHA et al., 2010) têm discutido a problemática que envolve a questão social e ambiental relacionada aos trabalhadores da cana de açúcar, entretanto, para o Estado de Minas Gerais pesquisas dessa natureza são ainda incipientes. Ainda as-sim, independente do local onde foram conduzidos os estudos, os trabalhos, em sua totalidade, são unânimes em apontar sérias questões relacionadas a esse labor. Nesse sentido, citam como fatores que geralmente afetam negativamente a saúde e qualidade de vida desses trabalhadores: a baixa remuneração, a carência de organiza-ção sindical, a exploração do trabalhador através do ganho por produtividade, as condições precárias de mo-radia e alimentação e ainda, as condições ambientais rigorosas a que esses indivíduos encontram-se expostos.

Devido a relevância dessa temática e da escassez de estudos na região investigada, buscou-se, através de uma pesquisa exploratória de natureza qualitativa, analisar a percepção do trabalhador temporário da indústria ca-navieira de Lagoa da Prata no que se refere a alguns aspectos relacionados às condições de vida, trabalho e saúde.

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METODOLOGIA

O Município de Lagoa da Prata está localizado na região centro-oeste de Minas Gerais, no Alto São Francisco, com área de 442 km² e cerca e 46.000 habitantes, a 211 km de Belo Horizonte, capital do es-tado (IBGE, 2010). Sua economia é baseada na agropecuária voltada principalmente para laticínios e usina de açúcar e álcool. As áreas rurais periféricas da cidade estão atualmente ocupadas pela mono-cultura da cana-de-açúcar, na maioria das vezes em terrenos arrendados de antigos produtores rurais.

O estudo realizado baseou-se numa pesquisa exploratória qualitativa, o que permitiu a análise da percep-ção do trabalhador temporário da indústria canavieira no que se refere a aspectos relacionados às condições de vida, trabalho e saúde. Utilizou-se, como instrumento de coleta de dados a entrevista semi-estruturada, aplicada aos trabalhadores temporários que atuavam durante a safra de 2010 na única agroindústria sucroal-cooleira do município de Lagoa da Prata – MG. Trata-se de uma multinacional que tem cerca de 1500 funcio-nários (761 temporários e 739 permanentes), com capacidade de moagem de aproximadamente 2,4 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por safra. Sua produção por safra atinge em média 3,5 milhões de sacas (50kg) de açúcar e mais 90 milhões de litros de etanol. Além dos produtos derivados da cana-de-açúcar, a exportação de energia elétrica, gerada a partir da queima do bagaço da cana, ultrapassa os 70.000 megawatt-hora por ano.

A entrevista buscou, através de questões norteadoras, abordar temáticas que envolviam o perfil sócio--econômico do trabalhador temporário na agroindústria da cana-de-açúcar, assim como aspectos relacio-nados à saúde, desafios e dificuldades desse tipo de trabalho. A seleção dos entrevistados foi realizada à partir de um cadastro de trabalhadores disponibilizado pela empresa estudada e também por um banco de dados fornecido pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lagoa da Prata, totalizando 761 trabalhadores temporários que estavam atuando na safra do período do estudo (maio e junho de 2010). Os candidatos foram selecionados através de sorteio e convidados posteriormente. Um entrevistado inicialmente eleito poderia ser substituído por outro subseqüente, caso este não se dispusesse a participar da pesquisa ou de-monstrasse baixo grau de cooperação. Anteriormente ao processo de realização das entrevistas foi reali-zada uma entrevista-piloto para verificar a adequação das questões elaboradas aos objetivos da pesquisa.

O número de entrevistados foi definido em função dos critérios de saturação, conforme proposto por Fon-tanella et al. (2008). Segundo esses autores, a amostragem por saturação constitui uma ferramenta conceitual freqüentemente empregada nos relatórios de investigações qualitativas, sendo utilizada para estabelecer ou fechar o tamanho final de uma amostra em estudo. Sendo assim, o fechamento amostral é definido quando os dados obtidos passam a apresentar, na avaliação do pesquisador, uma certa redundância ou repetição, não sendo considerado relevante persistir na coleta de dados. Com base nessa metodologia, foram entrevistados oito homens e duas mulheres, totalizando dez trabalhadores temporários, que foram previamente orienta-dos sobre a pesquisa e seus objetivos e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

O conteúdo das entrevistas foi transcrito e analisado tendo como base a metodologia qualitativa da Aná-lise do Conteúdo, conforme proposto por Bardin (1979). Esta metodologia é constituída por um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando, por meio de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, obter indicadores quantitativos ou não, que permitam a inferên-cia de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) das mensagens.

Por se tratar de uma pesquisa que envolve diretamente seres humanos (Resolução 196/96 CNS), o projeto da pesquisa foi encaminhado para o Comitê de Ética da Fundação Educacio-nal de Divinópolis - FUNEDI, obtendo aprovação em 04/06/2009, através do Parecer 51/2009.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

O perfil dos trabalhadores temporários entrevistados

O perfil dos trabalhadores temporários da cana-de-açúcar, entrevistados em La-goa da Prata, foi delineado por meio de características básicas como sexo, idade, escolari-dade, renda familiar, moradia, trabalhador local ou migrante, jornada de trabalho sema-nal, número de safras trabalhadas na empresa e tempo total de trabalho na usina (Tabela 1).

A idade dos trabalhadores entrevistados apresentou uma variação entre 19 e 44 anos, evidencian-do maior número de jovens, pois é um trabalho que exige força física e resistência. Em relação ao nível de escolaridade, todos os entrevistados sabiam ler e escrever, o que foi observado quando leram e assi-naram o TCLE, porém, todos os migrantes sazonais entrevistados apresentaram ensino fundamen-tal incompleto, com exceção do entrevistado de Japaraíba, que tinha o 2º grau completo. Dos demais trabalhadores entrevistados, quatro apresentaram ensino médio completo, inclusive um destes com curso técnico em segurança do trabalho e as duas mulheres apresentaram ensino fundamental in-completo (Tabela 1). Segundo Balsadi; Silva (2008), de um modo geral, a maioria aos trabalhadores temporários da agroindústria canavieira tem baixa escolaridade e são migrantes dos Estados mais po-bres do Brasil, sendo muitos desempregados e pequenos agricultores que abandonam suas terras.

TABELA 1Caracterização sócio-econômica, jornada e tempo de trabalho de trabalhadores temporários da agroindústria canavieira de Lagoa da Prata - MG.

Sexo/

Idade

Escolaridade Renda

Familiar

(salários)

Moradia Procedência

Jornada trabalho

(horas

semanais)

No de Safras trabalhadas

Tempo de trabalho na Usina (anos)

M/ 35 2º grau-Curso Técnico

4 própria Lagoa da Prata 36 8 8

F /34 5ª série 1 a 2 alugada Lagoa da Prata 44 4 4

M /44 2º grau 3 própria Lagoa da Prata 44 21 21

M/ 19 6ª série 1 a 2 própria Morrinhos - BA 44 1 1

M/ 25 7ª série 1 própria Morrinhos - BA 44 1 1

M/ 34 4º série 2 alugada Morrinhos - BA 44 2 2

M /41 4ª série 2 alugada Morrinhos - BA 44 2 2

M/ 22 2º grau 4 própria Lagoa da Prata 44 3 3

M /33 2º grau 3 própria Japaraíba-MG 44 14 14

F/ 40 4ª série 1 a 2 própria Lagoa da Prata 44 5 5

Fonte: Relatório de entrevistas. 2010. M = masculino; F = feminino

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Dos entrevistados, dois moravam em casa de aluguel. Oito trabalhadores afirmaram pos-suir casa própria e argumentaram que conseguiram o imóvel graças às safras já trabalha-das na usina sucroalcooleira (Tabela 1). Os migrantes nordestinos afirmaram nas entrevis-tas possuir residência própria na cidade de origem, onde retornavam após o período de safra.

Durante a safra (que geralmente ocorre de abril a novembro) os entrevistados tiveram uma ren-da familiar mensal variando entre um a quatro salários mínimos. A expectativa quanto à aquisição de bens de consumo duráveis (como veículos, máquinas de lavar roupa, televisão, etc...) por meio da re-muneração obtida durante a safra foi pequena, pois o que recebem geralmente não ultrapassa as des-pesas mensais para a manutenção da casa, aquisição de alimentos, remédios e pagamento de contas de luz, água, telefone e aluguel, no caso daqueles que não têm casa própria. O trabalhador solteiro espe-ra, na melhor das hipóteses, a compra de uma motocicleta com a renda acumulada durante a safra.

Depoimentos:Uso o dinheiro para manutenção da casa, comprar um móvel novo às vezes ou pagar conta mesmo.

Eu quero comprar uma moto.

Merece destaque o fato de que dos dez trabalhadores entrevistados, quatro eram procedentes da ci-dade de Morrinhos, sul da Bahia, evidenciando a presença do migrante de outros estados nesse tipo de labor. De acordo com Novaes (2007), os trabalhadores que chegam do Nordeste possuem um per-fil condizente com o que se precisa hoje para o corte manual. Por terem sido desde criança, socializa-dos no árduo e duro trabalho da agricultura na sua região de origem, o trabalho no canavial não os as-susta. Além disso, eles geralmente são preferidos pelos usineiros por serem mais dedicados ao trabalho e gratos aos empregadores pela oportunidade do emprego, geralmente inexistentes em suas regiões.

Ao descreverem sobre a jornada de trabalho, os entrevistados afirmaram que os trabalhadores temporá-rios do plantio, corte de cana e operadores de máquinas trabalham 44 horas semanais e recebem por produ-tividade nas horas estipuladas em contrato, enquanto que os trabalhadores temporários dos tratos culturais (como capina e adubação), trabalham por 36 horas semanais. Todos têm uma folga semanal, porém a forma como se realiza é diferenciada. Os trabalhadores locais trabalham de segunda-feira a sábado e recebem folga no domingo e os migrantes trabalham no sistema conhecido como “5 por 1”, que consiste em trabalhar cinco dias consecutivos na semana e receber a folga no sexto dia, previamente acordado entre as partes. Segundo Mendonça (2006), na folga 5 por 1, a cada dia de folga, só um pequeno grupo pode se reunir. Isso diminui o convívio social, familiar e a possibilidade de organização política, o que contribui para a manutenção das con-dições de trabalho existentes e dificulta a superação de suas dificuldades, pois historicamente, apenas as rei-vindicações coletivas costumam ser ouvidas e atendidas pelos empregadores. Somente os usineiros ganham com esse sistema, pois exclui a exigência de pagamento de horas extras nos finais de semana, efetivando-se na prática, como uma forma contraditória de não cumprimento de uma legislação mais ampla e pertinente.

Apesar da forma de pagamento por produtividade da colheita da cana-de-açúcar ser alvo de discussões no mercado de trabalho sucroalcooleiro, a remuneração por produção tem am-pla base legal. Ela está prevista no artigo 457, § 10 da Consolidação das Leis do Traba-lho (CLT), com incontroversa aceitação doutrinária e jurisprudencial (MORAES, 2007).

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No que se refere ao tempo de trabalho na usina, observou-se variação entre aqueles indivíduos que estavam em sua primeira safra (iniciantes) até aqueles com 21 anos de trabalho na empresa (Tabela 1). No trabalho de corte de cana, é comum haver reincidentes de outras safras - tal fato se deve especial-mente pela falta de alternativa no mercado de trabalho, uma vez que a maioria não apresenta qualifica-ção profissional e conseqüentemente têm suas chances diminuídas na disputa por outro tipo de emprego.

O trabalho na monocultura: condições, desafios e dificuldades

A delimitação dos aspectos concernentes às condições de trabalho e sua organização, especialmente no que diz respeito às dinâmicas das atividades da agroindústria canavieira, apresenta-se atualmente como ação necessária para reconhecimento dos processos que influenciam a vida do trabalhador temporário, nos levando a questionar alguns aspectos. Ao serem questionados sobre a função desempenhada na safra de 2010, oito trabalhadores temporários responderam serem cortadores de cana abrangendo as atividades de plantio e colheita. Um afirmou trabalhar no setor de tratos culturais e outro como operador de máquinas.

Depoimentos:Sou rurícola braçal, faço plantio, corte, capina, catação de bituca, os pedaços de cana que ficam para trás, mas este ano eles pararam com esta catação, mudaram muita coisa, cada ano que passa muda.

Sou cortador de cana, prá isso que eu fui contratado, só sei fazer isso.

De acordo com a CLT (BRASIL, 1986) o trabalhador rurícola braçal é aquele que é contratado em regime temporário para um período de um ano para cumprir tarefas variadas em um período de safra. Essas ativi-dades podem ser de corte de cana, plantio, colheita, aspersão de agrotóxicos, aspersão de vinhaça e ajudantes gerais. O trabalho de moenda e engenho, assim como o serviço de escritório e almoxarifado são geralmente executados por trabalhadores diretos. Decorre daí a variação de funções apresentadas pelos entrevistados.

Um dos grandes problemas enfrentados pelos trabalhadores temporários refere-se à possível dispensa no período da entressafra, que os leva a buscar outros tipos de serviços para a sua sobrevivência. A pes-quisa evidenciou que durante o período de entressafra os trabalhadores temporários que são dispensados pela empresa realizam tarefas de natureza diversas. Dentre essas atividades as mais citadas foram traba-lhos na agricultura e os chamados “bicos” que são trabalhos geralmente simples e de curta duração. Em seqüência foi citada a construção civil e, por fim, a tarefa de doméstica, no caso específico das mulheres.

Para Gomes (2009), uma das questões mais importantes da atualidade é a capacidade que o sistema de produção capitalista alcançou de descartar trabalhadores em massa como decorrência do processo de permanente reestruturação produtiva, que promove a integração, das maneiras mais diversas, de trabalha-dores com novas qualificações justapondo-se com as antigas. Nesse sentido, três dos migrantes entrevis-tados chegaram a afirmar que durante a entressafra não faziam nada, mas depois voltaram atrás e disse-ram que faziam “bicos”, uma modalidade de ocupação indefinida que supre necessidades momentâneas.

Ainda segundo Gomes (2009), o desemprego e a deterioração das relações de trabalho tendem a criar condições propícias à expulsão de trabalhadores do processo produtivo, obrigando-os a se so-marem ao exército industrial de reserva que, por sua vez, reforça as estruturas de controle social.

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Depoimento:A gente faz nada não. Espera aparecer o serviço (safra) de novo. Quer dizer faz qualquer coisa que tiver. Uns bicos. Não rende muito, mas, faz o que tem.

Embora duas entrevistadas considerem-se arrimo de família por responsabilizarem-se pe-las despesas de toda a família, suas falas não contrariam sua índole doméstica, nem eviden-ciam que elas almejem a participação na esfera civil e política, geralmente realizada pelos homens. Elas eram divorciadas e cuidavam sozinhas dos filhos, ocupando a priori posições socialmente reconhecidas como masculinas. Para as mulheres que desempenham trabalhos fora de sua esfera do-méstica, durante os períodos de entressafra, restam as atividades que são culturalmente aceitas como ex-tensão de suas lidas domésticas, como diaristas e domésticas, justificadas inconscientemente por não incompatibilizar com as tarefas de esposa e mãe. Aliado a isso, a carência de educação e infraestrutura certamente também contribuem para uma maior restrição das alternativas de trabalho para essas mulheres.

Depoimento:Trabalho de doméstica; faço limpeza para os outros; outra hora fico em casa mesmo, olhando os meninos, cui-dando da casa.

A formalidade no trabalho é vista pelos indivíduos como uma importante condição para a obtenção da aposentadoria, além de outros benefícios. A ocupação de ajudante de pedrei-ro ou construtor civil, sem regulamentação legal, na ótica dos entrevistados, não é diferen-te dos tipos de ocupação criados no setor informal da economia e tratados como “bicos”.

Embora os trabalhadores temporários da cana-de-açúcar sejam, em sua maioria migrantes, muitos ainda per-manecem ligados ao campo como pequenos agricultores. Dessa forma, a agricultura familiar percebida como ati-vidade extra-safra na vida de muitos trabalhadores temporários, tem sido praticada de forma rudimentar, na maio-ria das vezes, e classificada de lavoura de subsistência por geralmente não ter como finalidade básica o comércio.

Depoimento:Eu trabalho aqui na roça. Uma hora a gente planta, outra hora a gente mexe também só com a tiração de leite (pecuária leiteira) e vai levando.

Não houve evidência nas falas dos entrevistados de ter ocorrido expropriação de pequenos proprietá-rios para a zona urbana aumentando o êxodo rural, nem tampouco se configurou comprometimento da agricultura familiar como conseqüência de suposta expropriação. Dos entrevistados que disseram assu-mir o papel de agricultores durante a entressafra, apenas um vive na zona rural sem pretensão de ven-der suas terras para a empresa canavieira onde trabalha, apesar de já ter sido oferecido a ele tal proposta.

Procurando significados nos discursos proferidos a respeito de condições de trabalho, inferimos que estes trabalhadores temporários, na maioria das vezes, almejam igualar-se às condições dos trabalhadores ditos definitivos ou permanentes. A condição de permanentes (em detrimento a de temporários) significa colocar fim às instabilidades financeiras durante as safras e garantir a contribuição para a previdência social ininterruptamente, por tempo indeterminado. Dessa forma, no imaginário do trabalhador temporário, a safra é um trampolim para que ele se torne permanente na usina e que tenha a mesma seguridade garantida

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a seus colegas de trabalho - o ideal promissor de desenvolvimento social e econômico sob a tutela da “usina”.Os migrantes entrevistados, que foram contratados pela Instrução Normativa Nº65 de 19 de ju-

lho de 2006 (BRASIL, 2010), demonstraram estar conscientes das cláusulas contratuais. Porém, há aqueles que resistem em cumprir os termos do contrato segundo a IN Nº65, especialmente no que tan-ge ao retorno à localidade de origem do trabalhador no final da safra, conforme o relato a seguir:

Depoimento:

Da safra passada, ficaram doze migrantes que não quiseram ir embora com os outros. E hoje esses doze já so-mam uns sessenta, pois trouxeram as famílias.

O crescimento populacional absoluto de Lagoa da Prata parece estar relacionado com o desenvol-vimento dos postos de ocupações no setor da indústria sucroalcooleira e na oferta de mão-de-obra que se modifica a cada ano. Para a Fundação João Pinheiro (2008), esta cidade apresentou um cres-cimento de destaque na oferta de empregos no ano de 2008, acima da média existente na microrregião da cidade de Bom Despacho - MG. Porém, diante do crescimento da oferta de ocupação formal na in-dústria sucroalcooleira e de laticínios, constatada anteriormente, não se pode inferir que a mão-de--obra dos migrantes e de seus familiares que permanecem em Lagoa da Prata seja absorvida em sua totalidade por este setor, o que seria positivamente um arranjo social e econômico providencial.

Contudo, a guisa de apresentação de resultados, outros autores (SILVA, 2001; MARTINE, 2007) têm demonstrado o lado negativo dos movimentos migratórios sazonais que terminam em migração conven-cional, uma vez que o migrante geralmente não retorna ao seu lugar de origem. Nesse sentido, Martine (2007) chama a atenção para o impacto social e ambiental negativo que se configura no momento em que populações migrantes sem teto ocupam áreas de forma predatória nas cidades de destino. Nesse sentido, torna-se importante o planejamento do uso do solo urbano, por meio de políticas públicas que regularizem a ocupação dos imóveis no sentido de atender às necessidades dos pobres e evitar essa ocupação predatória.

Para os entrevistados, a forma de contratação e a existência das comodidades do alojamento dos migrantes é que diferenciam os dois grupos de trabalhadores temporários: os migrantes e os locais. Os migrantes vivem em um aloja-mento bem equipado, com tanques de lavar, quadra de esportes e dormitórios com armários e apenas quatro camas.

Depoimento:No alojamento tem de tudo, o alojamento dos baianos (migrantes) é muito bem equipado, tem tanques de lavar roupa, dormitórios de apenas quatro camas cada um, armários no dormitório, até quadra de esporte.

O panorama acima evidenciado parece não se aplicar ao que foi observado em pesquisas rea-lizadas principalmente no estado de São Paulo (ALESSI; NAVARRO, 1997; ALVES, 2006; NOVA-ES, 2007; RUMIN; SCHMIDT, 2008), que apontam que muitas agroindústrias sucroalcooleiras dis-ponibilizam acomodações precárias e/ou condições insalubres de trabalho aos seus empregados.

Uma forma de preconceito da população local em relação aos trabalhadores migrantes, constatada por essa pesquisa, refere-se à receptividade desses pelos comerciantes da cidade. Os depoimentos mostram que nas casas de comércio da cidade os funcionários, proprietários e atendentes, geralmente, olham os migrantes com descon-fiança. Tal fato pode estar ocorrendo, não exatamente pela condição espacial (de onde vêm?) que caracteriza esse trabalhador, mas pela condição transitória temporal (até quando fica na cidade?) que o caráter migratório encer-

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ra. A insegurança quanto ao saldo das dívidas pendentes e a possibilidade de aumento de clientes inadimplentes e conseqüente prejuízo é o que pode dificultar a confiança e conseqüentemente a flexibilidade dos crediários.

Depoimento:Eu queria comprar umas coisas, um celular. Mas tem que ter crédito. Sem dinheiro não compra e nós não temos crédito.

Neste cenário, vislumbramos um quadro significativo da evasão de capitais oriundos do traba-lho do corte de cana com os safristas migrantes, para as suas cidades de origem. Os migrantes que são consumidores em potencial, geralmente não adquirem bens de consumo na cidade a despeito de não possuírem crédito, nem despendem quantias substanciais em dinheiro para custos com despe-sas pessoais e moradia, pois à disposição dos mesmos há o alojamento equipado pela empresa. Portan-to, o saldo final de seus ganhos, na maioria das vezes, é utilizado nas regiões de origem desses migrantes.

Outro fator que se deve destacar na diferenciação das condições de trabalho do trabalhador temporário mi-grante e trabalhador temporário local se refere à alimentação: do salário do trabalhador migrante são desconta-dos R$33,00 por mês para custeio de alimentação, enquanto que o trabalhador local recebe um adicional mensal de R$50,00 como auxílio-alimentação. Ainda há uma terceira alternativa: se o trabalhador (migrante ou não) optar por fazer suas refeições na lanchonete da empresa, precisa contribuir com a quantia de R$12,00 por mês. Tal quadro coloca o trabalhador temporário local em desvantagem quando comprarado ao temporário migran-te, pois o desconto de R$33,00 para custeio de alimentação é bem mais vantajoso que o adicional de R$50,00 pago ao trabalhador local, valor que tende a ser insuficiente para tal fim. Entretanto, a melhor opção para ambos parece ser a terceira alternativa: fazer as refeições na empresa e contribuir com a quantia de R$12,00 ao mês.

No que se refere ao intervalo para refeição, a empresa proporciona uma hora de almoço com descanso obrigatório de uma hora, em cumprimento a uma exigência legal, além de dez mi-nutos a cada duas horas trabalhadas, para descanso muscular. À disposição dos cortadores de cana e demais trabalhadores da agricultura (excetuando os que fazem parte do quadro de tra-tos culturais), fica estacionado um ônibus equipado com toldo, dez conjuntos de mesas com qua-tro cadeiras, água refrigerada para consumo e lavatório para higienização antes e depois do almoço.

Neste contexto, em função das condições oferecidas na alimentação des-se trabalhador, o termo “bóia-fria”, tão apregoado em trabalhados acadêmicos, pare-ce não se aplicar ao caso, como se pode ver pelo depoimento de um desses trabalhadores:

Depoimento:Para alimentação o migrante paga 33,00 reais por mês para receber sua marmita e o trabalhador local recebe 50,00 para levar sua comida de casa. E o trabalhador da cidade só come marmita fria se quiser, pois a usina oferece uma marmita térmica.

Cabe ainda ressaltar, que nenhum trabalhador temporário entrevistado se autodenominou “bóia-fria” e tão pouco aceita com naturalidade que os outros o façam. Portanto, o termo parece soar com estranheza hoje, nas relações sociais que se estabelecem no corte de cana e trabalhos afins, inclusive entre os migrantes.

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Condições de trabalho e saúde

A delimitação das condições de trabalho e sua organização apresentam-se como ação orien-tada para o reconhecimento dos processos de agravo à saúde que atingem os trabalhadores tem-porários da agroindústria canavieira. Dessa forma, um dos aspectos investigados nessa pesquisa refere-se ao recebimento e utilização dos Equipamentos de Proteção Individual - EPI’s. Ao serem ques-tionados se recebiam material adequado para a realização do trabalho (aqui se inclui os instrumentos de trabalho e EPI’s), assim como instrução para utilizá-los, todos afirmaram positivamente. Neste contexto, as instruções sobre uso do EPI’s é oferecida pela empresa e promovida por membros do SENAR (Servi-ço Nacional de Aprendizagem Rural) e CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes). A utiliza-ção desses equipamentos é de uso obrigatório e os trabalhadores que não os utilizar durante as ativida-des laborais estariam sujeitos a advertência oral, escrita e despensa do emprego, caso fosse constatado não-uso do equipamento de forma completa e correta durante o trabalho, conforme depoimento abaixo:

Depoimento:É obrigado a usar o equipamento. Se for pego, por exemplo, faltando a bota ou outra coisa, o trabalhador é cha-mado a atenção e se repetir tem que assinar advertência e se continuar pode ser mandado embora.

Pela fala dos entrevistados verifica-se que a preocupação com a segurança do trabalhador temporário tem sido observada pela empresa. Em caso de ocorrência de acidentes de trabalho, seja pela falta do EPI ou mesmo com a utilização deste, o trabalhador é tratado no próprio campo de serviço e dependendo da gravidade da lesão é levado para o pronto-socorro local. Os casos mais comuns de acidentes relatados pe-los trabalhadores foram as estocadas no olho com pontas de cana, cortes nos dedos ou braços e tonturas.

Depoimento:Já tomei uma podãozada no pé. Levei cinco pontos. Antes era assim, a gente era levado para o ambulatório da usina, o médico fazia o serviço e aí ninguém denunciava para a medicina do trabalho como acidente de traba-lho. Para você entrar no prédio da empresa a gente tinha que entrar de botina, mas podia cortar cana descalço. Hoje não, a enfermeira vai lá ao campo e atende ou é trazido para a cidade no ônibus, para o pronto-socorro.

Durante as entrevistas foi questionado ao trabalhador temporário quais os principais ris-cos a que estes estariam sujeitos durante o trabalho. As respostas mais freqüentes foram cor-tes e machucados com podões no corte de cana (n = 7 indivíduos), riscos de lesões muscu-lares (n = 3), riscos de insolação (n = 2), alergias a poeira e fertilizantes (n = 2), picadas de animais peçonhentos (n = 1) e, por fim, quedas em buracos de tatu ou provocados por enxurrada (n = 1).

Apenas dois entrevistados afirmaram ter receio quanto à exposição a fertilizantes e herbicidas, porém não souberam precisar os tipos de produtos que os mesmos estariam expostos. Segundo Silva et al. (2005), a expo-sição a fertilizantes pode causar intoxicações graves. As intoxicações comumente registradas têm sido consi-deradas acidentais, podendo ser ocasionadas pelos produtos do grupo dos fosfatos, sais de potássio e nitratos.

Quanto às doenças adquiridas no período de permanência do trabalhador na empresa, as mais comuns rela-tadas pelos trabalhadores temporários foram lesões musculares (n = 3 indivíduos), problemas de coluna (n = 3), depressão (n = 2), tendinite e bursite (n = 2) e estafa física e mental (n = 2), causadas especialmente pela intensidade do ritmo de trabalho em função do ganho por produtividade e, ainda, pela incerteza quanto à continuidade no em-prego em safras posteriores. Um trabalhador disse nunca ter adquirido doença enquanto trabalhava na empresa.

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De acordo com Silva et al. (2005), as lesões musculares são patologias típicas dos trabalhadores rurais assalariados sendo causadas pela divisão e o ritmo intenso de trabalho com cobrança de produtividade, jor-nada de trabalho prolongada, ausência de pausas, entre outros aspectos da organização do trabalho. Dessa forma, no processo de avaliação de riscos e danos à saúde dos trabalhadores, além das análises das condições materiais de trabalho é importante avaliar, tanto suas condições fisiológicas, afetivas, como a experiência acumulada em relação à tarefa e às situações concretas de trabalho nas quais os trabalhadores estão inseridos.

Depoimento:O cortador de cana usa o braço direito (para os destros) como apoio para cortar a cana, é como um camaleão, ele se adapta às condições do trabalho exigido alongando a musculatura e os tendões, o que resulta em um braço mais longo que o outro. Todo cortador de cana desenvolve um braço mais que o outro.

No que se refere à organização desses trabalhadores, apenas três dos dez entrevistados afirmaram ser sindicalizados. Os acordos coletivos de trabalho são celebrados entre empresas e sindicatos repre-sentativos de categorias profissionais e cada negociação entre o sindicato e a empresa segue os costu-mes e a política geral de cada região. Geralmente, a categoria da empresa dita a categoria dos emprega-dos. Quanto aos empregados, eles não são obrigados a filiarem-se a um sindicato, mas se for da sua vontade, caberá ao empregador respeitar e acatar as prerrogativas de cada sindicato e seus filiados.

Ao serem questionados sobre o incentivo à qualificação profissional, houve unanimidade de que “a empre-sa não incentiva a qualificação profissional entre os trabalhadores temporários”. Dessa forma, infere-se que o trabalho temporário traduz a idéia de uma substituição ao trabalhador que esteja ausente, uma continuação do trabalho de alguém que o executou em safras passadas, ou a execução de trabalhos no posto de serviço de outro que ainda pode vir na próxima safra, sem perspectiva de estar no próximo ano para dar continuidade ao serviço. O empregado ocupado em uma atividade em um dado momento talvez não permaneça no ano seguinte, por-tanto, não se faz necessário um investimento continuado em um trabalhador que pode sair ao final de uma safra.

Sobre a distinção entre homens e mulheres no trabalho temporário da indústria da cana, verificou-se que não há separação nítida entre a qualidade de serviço entre os sexos, nem tampouco na forma de recebimen-to salarial. O que pode haver é uma priorização da mão-de-obra masculina em detrimento da feminina.

Depoimentos:Tem mulheres que cortam mais que homens, mas na média o rendimento é semelhante e perde por pouco. Inclu-sive elas têm mais persistência, vão trabalhando até a hora de ir embora, já a maioria dos homens, não.

Para a usina não tem homem nem mulher, tem o trabalhador.

Mendonça (2006) e Cyrino (2009) consideram a dimensão do trabalho como categoria central de aná-lise das relações de gênero, já que esta categoria incorpora, historicamente, visíveis relações de desigual-dade e de poder assimétrico entre homens e mulheres. Nesse sentido, a duplicidade de responsabilida-de – trabalho e família e a conseqüente aceleração de ritmos e cadências vivenciadas por mulheres que procuram manter-se no mercado de trabalho sem romper com seus antigos afazeres domésticos, funções tradicionais que as mulheres exercem secularmente e que permanecem como encargos específicos fe-mininos, têm um caráter de invisibilidade social, sendo desqualificadas e desvalorizadas socialmente.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As transformações e modificações nas relações de trabalho em empresas rurais na atualidade, como o pa-gamento por produtividade e o contrato para período de safra, tendem a potencializar a crise social e econô-mica observadas em países em processo de desenvolvimento e de economia agrária, como é o caso do Brasil.

Nesse contexto, a análise das condições de trabalho, vida e saúde do trabalhador rurícola braçal do se-tor canavieiro na atualidade significou uma busca de compreensão do lugar do ser humano em sua esfera social, buscando contribuir com dados empíricos para a análise sobre as relações sociais de produção. É preciso, portanto, deflagrar um processo de reflexão, crítica e autocrítica pelo pesquisador em quaisquer níveis de educação acadêmica e reacender o debate sobre a mais-valia no processo produtivo. A amplia-ção deste debate é um desafio que poderá incorporar os resultados auferidos nesta investigação que re-vela trabalhadores temporários rurícolas braçais reféns de um fetichismo globalizante e contemporâneo e mais atual que nunca, o contraditório fetichismo da estabilidade profissional. A contradição deriva da própria condição de transitoriedade a que estão sujeitos os trabalhadores temporários no desempe-nho de suas funções, entretanto, a estabilidade continua sendo uma realidade distante para os mesmos. Contudo, enquanto safristas, esta condição parece ainda ser a mais disponível e geradora de sacrifícios.

O estudo não identificou evidências claras de expropriação de pequenos proprietários para a zona urbana aumentando o êxodo rural e comprometendo a agricultura familiar em função de perda de espaço de agricul-tores para a empresa. Talvez porque esta expropriação já tenha ocorrido em tempos passados, quando se ini-ciou o processo da industrialização do setor canavieiro na região de Lagoa da Prata, ainda na década de 1940.

No que se refere às condições de alojamento oferecidas pela empresa aos trabalhadores temporários mi-grantes, verificou-se um quadro diferenciado ao comumente relatado em estudos similares realizados em outras agroindústrias sucroalcooleiras, onde geralmente há precariedade. Os entrevistados relataram a dis-ponibilidade de dormitórios com armários e quatro camas, tanques de lavar roupa e quadra de esportes.

A empresa também cumpre a lei no que se refere ao intervalo para refeição e descanso a cada duas horas trabalhadas. De forma semelhante, à disposição dos trabalhadores há um ônibus equipado com toldo, mesas, cadeiras, água refrigerada para consumo e lavatório para higienização. Nesse qua-dro, o termo “bóia-fria” parece não se adequar a realidade desses trabalhadores e nem tão pouco pare-ce ser aceito por eles. Entretanto, o trabalhador migrante, em função da condição transitória tempo-ral que o caráter migratório encerra, sofre com a falta de credibilidade por parte do comércio local.

O trabalho informal estava presente na realidade dos trabalhadores temporários, que na épo-ca da entressafra se valiam de oportunidades variadas para suprir suas necessidades financei-ras e com isto, engrossam as fileiras do exército industrial de reserva à espera da safra seguinte.

A empresa disponibilizava equipamentos de proteção individuais adequados e conscientizava sobre a im-portância da utilização dos mesmos através de cursos de integração profissional e treinamento, contribuindo para minimizar o índice de acidentes de trabalho aos quais eventualmente estavam expostos. Porém, em fun-ção da forma de execução do serviço, ou seja, o exercício corporal cíclico e repetitivo a que estão sujeitos, os cortadores de cana se submetem a uma série de riscos e problemas de saúde, tanto no dia-a-dia quanto no exer-cício da função ao longo do tempo. Apesar disso, não parece haver, por parte dos trabalhadores entrevistados, um conhecimento claro sobre as correlações que se estabelecem entre o trabalho desenvolvido e a sua saúde.

O conhecimento produzido por meio dessa pesquisa pode contribuir para o desenvolvimento de uma éti-ca transdisciplinar no sentido de uma economia que sirva ao ser humano e não o inverso como nos faz crer a cultura capitalista neoliberal. Em decorrência do dinamismo tecnológico e a aposta no maior lucro e produ-tividade em detrimento de programas sociais e estabilidade profissional, países de economia agrária, como o

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Brasil, são relegados à condição de subordinação às multinacionais de agronegócios para o cumprimento de seus papéis como exportadores de commodities. Portanto, tornam-se necessárias políticas de inclusão social através de medidas e projetos pensados em escalas local, regional, nacional e global, bem como, medidas de proteção ao meio ambiente buscando a sustentabilidade no trabalho e no equilíbrio sócio-econômico.

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DIAGNÓSTICO AMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE CUBATÃO (SP) COMO FERRAMENTA DE AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS SOBRE A SAÚDE PÚBLICA

Alejandro Jorge Dorado1,4; João Vicente de Assunção2,4 & Helena Ribeiro3,4

ResumoO objetivo geral deste trabalho foi diagnosticar a situação socioambiental do Município de Cubatão, SP,

através da utilização de sistemas de informação geográfica e do desenvolvimento de uma metodologia de identificação, caracterização e análise do vínculo entre as doenças respiratórias crônicas e cardiovasculares.

Palavras chave: Saúde Pública, Doenças Respiratórias Crônicas, Doenças Cardiovasculares

IntroduçãoAs metrópoles modernas são as mais complexas estruturas até agora construídas pelo homem. Apesar disso,

acostumamo-nos a vê-las unicamente como espaços econômicos, como ambientes físicos, como sedes do poder político, como lugares onde se codifica e decodifica a cultura, como fenômenos demográficos ou como estrutu-ras sociais ou administrativas. Raramente as vemos como ecossistemas artificiais, como sistemas complexos nos quais a forma física é sempre a resultante de longos processos de sedimentação cultural ou como lugares no espa-ço e no tempo nos quais se constrói e reconstrói incessantemente o habitat da espécie humana (ODUM, 1986).

É possível perceber um “trade off ” entre vantagens econômicas e sociais de um lado e cus-tos ambientais, de outro. A sociedade da atualidade apresenta um panorama das condições am-bientais bastante afetado pela ação humana, sendo que a degradação do meio ambiente chegou no nível de transformar o ecossistema global e colocar em risco a própria sobrevivência humana.

Nesse contexto, a qualidade de vida urbana e ambiental, apesar dos avanços tecnológicos e científicos não é satisfatória, pois existem as disparidades sociais que aumentam cada vez mais e que são muito visíveis nas metró-poles, já que estas concentram um maior contingente de população e apresentam desigualdades sociais extremas.

1.1 O diagnóstico sócio-ambientalSob o ponto de vista do desenvolvimento sustentável, qualquer projeto de intervenção humana deve

ser baseado na elaboração de um diagnóstico socioambiental, que fundamente as necessidades de aliar o desenvolvimento com o planejamento das ações de manejo e preservação ambientais das unidades de paisagem analisadas, sejam elas antropizadas ou não. Nesse contexto, é fundamental a definição da esca-la de trabalho e o conhecimento da área de estudo para subsidiar iniciativas de inserção local, através de projetos de atuação local. Assim, para conhecer e diagnosticar o ambiente na área em análise é necessá-rio elaborar um planejamento eficiente e orientado por subsídios técnico-científicos na forma de um diagnóstico que contemple as características físicas, biológicas e socioeconômicas da área em estudo.

1 Biólogo, mestre em ecologia, doutor em saúde pública2 Engenheiro, mestre em engenharia sanitária, doutor em saúde pública3 Geógrafa, mestre e doutora em geografia física4 Departamento de Saúde Ambiental. Faculdade de Saúde Pública. Universidade de São Paulo

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1.2 Doenças respiratórias e cardiovasculares e fatores ambientaisMuitos são os estudos que sistematizaram as relações entre as questões epidemiológicas e a qualidade do ar

(ANDERSON, 1967; HOLLAND et al., 1978; 1979; OMS, 1987; DUCHIADE, 1992). Esses estudos destacam que as condições meteorológicas afetam a interpretação dos dados de poluição do ar, podem aumentar a exposição aos poluentes e impedir sua dissipação. Além disso, as informações também são afetadas pelas ocupações em áreas poluídas e a dificuldade de identificar os poluentes que prejudicam a saúde, sua natureza e a forma na qual agem.

Porém, hoje é conhecida a relação dos diversos agentes poluidores sobre a saúde respirató-ria, tais como as partículas em suspensão, os óxidos de nitrogênio, os sulfatos e o ozônio, en-tre outros. Várias pesquisas nesta área basearam-se em dados de mortalidade, sobretudo de adultos.

Em 2006 havia no Brasil cerca de 5 milhões de portadores de doenças respiratórias obstrutivas, 15 milhões de asmáticos, 20 milhões com rinite alérgica e 45 milhões de fumantes (33º CONGRES-SO BRASILEIRO DE PEDIATRIA, 2006). Segundo Chiesa et al (2008) cerca de 13 milhões de crian-ças menores de cinco anos morrem anualmente no mundo por doenças do aparelho respiratório e, 95% delas ocorrem nos países em desenvolvimento. No Brasil, as doenças respiratórias são respon-sáveis por aproximadamente 10% das mortes entre os menores de um ano, a segunda causa de óbi-to na população de zero a um ano de idade e a primeira causa entre as crianças de um a quatro anos.

No Estado de São Paulo, em 2002, a mortalidade por causas respiratórias estava em quarto lugar en-tre as principais causas. Naquele mesmo ano, as doenças respiratórias foram responsáveis por 12% das internações, atrás somente de gestações e partos. Entre as causas de internação por fatores respirató-rios, em São Paulo no período de 2000 a 2005, foram 215.000 internações por asma. Só em 2005 foram gastos aproximadamente R$ 10.600.000,00, em São Paulo, com internações por asma (SEADE, 2008).

Ao mesmo tempo, são conhecidas três grandes formas de reação aos poluentes: efeitos agudos em pessoas sadias, manifestação de doenças pré-existentes em pessoas vulneráveis ou hipersensibilidade imunológica (DUCHIADE, 1992). Porém, os efeitos nocivos de episódios agudos de poluição de ar in-tensa sobre as vias respiratórias, são conhecidos não havendo dúvidas na relação estreita entre ambos.

Já para os efeitos ambientais no sistema cardiovascular são muitos os trabalhos epidemio-lógicos que relacionam seus efeitos com a exposição ao ar poluído (LIN et al., 1999; SALDI-VA et al., 1994; 1995; 2007; PEREIRA et al., 1998; 1999, BAIRD, 2002, WHO, 2006, MARIA-NI et al., 2009). Nesse sentido, tanto os efeitos decorrentes de variações agudas de poluentes do ar, assim como a exposição crônica têm sido demonstrados por vários estudos (POPE & DOCKERY, 2005).

Nos últimos anos muitos estudos epidemiológicos demonstraram associações positivas en-tre os níveis de poluentes no ambiente e mortalidade cardiovascular diária (ANDERSON et al., 1996; SAMET et al., 2000; POPE et al., 2004; GOODMAN et al., 2004; SAMET & KREWSKI, 2007), internações hospitalares, admissões ou atendimentos (DOMINICI et al., 2006; HSIEH et al., 2010; ZANOBETTI et al., 2000; ZANOBETTI & SCHWARTZ, 2005, 2006; YANG et al., 1998).

Hsieh et al. (2010) demonstraram que a exposição à poluição do ar está diretamente relacionada às admissões hospitalares para infartos de miocárdio, em estudos realizados na cidade de Taipei, Taiwan. Dados dos últimos onze anos mostram que níveis de ozônio e NO2 estão positivamente correlacionados, tanto para dias frios como quentes.

1.3 Doenças respiratórias crônicas e cardíacas e fatores ambientais na Baixa SantistaExemplo desta situação pode ser verificado na Região Metropolitana de Santos, onde se insere o Mu-

nicípio de Cubatão (Figura 1.1.a). Em Cubatão existe um grande adensamento industrial, que pode gerar sérios problemas de poluição do ar e que se agrava em função das características físicas locais (entre o mar e

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a serra e com clima tropical). O Município apresenta o menor Índice de Desenvolvimento Humano Muni-cipal (IDH-M) entre os nove municípios da Baixada Santista, sendo de 0,772; enquanto Santos tem o maior índice, 0,871 (IBGE, 2000). Ao mesmo tempo, Cubatão possui uma das rendas per cápita mais altas do Esta-do de São Paulo (IBGE, 2000). Por outro lado, embora a arrecadação de tributos anual do município ser de quase R$ 150 milhões, metade da população mora em favelas e apenas 30% do esgoto é tratado (IBGE, 2005).

Cubatão ocupa uma área de 148 km2 e situa-se a 57 km da capital paulista e a 16 km de Santos ou São Vicente. Historicamente o município sempre teve um papel de destaque no cenário da Baixada Santista, do Estado de São Paulo e do Brasil. Localizado no sopé da Serra do Mar, de onde jesuítas, comerciantes, tropeiros e autoridades do reino tomavam fôlego para atingir o Planalto, Cubatão tornou-se essencialmente um lugar de passagem.

Figura 1.1.a: Região Metropolitana da Baixada Santista.

Fonte: Novomilenio, 2010.

O Pólo Industrial de Cubatão, na região da Baixada Santista tem um histórico conhecido no vín-culo de fatores ambientais e doenças. Durante décadas foi apontada como uma das piores quali-dades do ar no Estado de São Paulo e do Brasil, com conseqüências na saúde pública e nos recur-sos naturais. Porém, nos últimos anos essa situação mudou produto de ações de controle nas fontes e inovações tecnológicas nos processos industriais (CETESB, 2003; 2006). Hoje, novos proje-tos, como a geração de energia pela queima de gás, trazem à tona os velhos problemas de anos passados.

1.4 O Geoprocessamento e a SaúdeO uso do geoprocessamento na área de saúde, no Brasil é relativamente recente. A disponibilida-

de de programas de baixo custo e bases de dados possibilitou sua difusão no início da década de 1990.Essa difusão na área de saúde traduziu-se no aumento do número de usuários desses siste-

mas para o mapeamento digital, organização de dados espaciais e produção de mapas temáti-cos. Especialmente os Sistemas de Informações Geográficas (SIG) têm sido apontados como instru-mentos de integração de dados ambientais e sociais com dados de saúde, permitindo uma melhor

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caracterização e quantificação da exposição, seus possíveis determinantes e os agravos à saúde.Uma das propostas mais conhecidas e com maior sucesso foi o estabelecimento de um fó-

rum específico, através da Rede Interagencial de Informações para a Saúde (RIPSA). No âmbi-to da RIPSA, com apoio da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) o Comitê Temáti-co Interdisciplinar sobre Geoprocessamento e Dados Espaciais em Saúde (CTIGeo) tem focado sua atuação na otimização do acesso às informações básicas e às ferramentas requeridas para o desenvolvi-mento de análise espacial em saúde voltado para as atividades das secretarias municipais de saúde.

Várias iniciativas importantes tiveram origem nesse fórum, tais como a incorpora-ção de módulos de mapeamento no aplicativo Tabwin (DATASUS), o desenvolvimen-to de uma plataforma no ambiente Terraview (INPE), para análises de dados espaciais em saúde.

A base dessas questões é a relação que existe entre o espaço geográfico e a situação de saúde. Assim, os territórios e os processos vinculados à saúde estão diretamente influenciados tanto pelas características eco-nômicas, naturais (clima, solos, relevo, ar, água, vegetação, etc.) como pela experiência biológica da popu-lação em contato com diversos agentes patógenos (DUBOS, 1989). Segundo Iñiguez Rojas (1998) o espaço geográfico populacional, sintetiza a história ecológica, biológica, econômica, comportamental, cultural e social que mostra o caminho para o conhecimento do processo saúde-enfermidade. A vantagem desse tipo de abordagem nos estudos da relação entre espaço e saúde é que ela permite organizar as informações por tipo de determinante (ambiental, biológico, comportamental e sistema de saúde), facilitando a formulação de hipóteses, a seleção de variáveis e a criação de indicadores, possibilitando a simulação de diversas situ-ações possíveis na busca dos principais determinantes de um dado problema de saúde. Essa abordagem facilita também a adoção de medidas ou ações de saúde enfatizando um ou outro aspecto determinante.

A análise de dados distribuídos pelo espaço geográfico vem sendo cada vez mais valorizada na gestão de saúde, por apontar novos subsídios para o planejamento e a avaliação das ações base-adas na análise da distribuição espacial das doenças, a localização dos serviços de saúde e dos ris-cos ambientais, entre outros (BARCELLOS e BASTOS, 1996; FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2007).

Ao contrário de outros campos de aplicação de SIG, os dados de saúde não são obtidos por meios remo-tos. O processo de adoecimento é invisível aos “olhos” de sensores remotos, orbitais e aerofotogramétricos. Dados sobre as condições de saúde das pessoas devem ser buscados ativamente através de inquéritos e cen-sos, ou passivamente através dos sistemas de vigilância epidemiológica. A própria representação da doença, que será captada por esses instrumentos é uma construção histórica e social (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2007). Esses dados são atributos de pessoas e todo o esforço tecnológico e metodológico desen-volvido nessa área tem sido voltado para captar e tratar esses dados como uma característica do território.

Essa transformação exige uma abstração e simplificação de processos sociais e ambientais presentes na determinação de doenças. Assim, as bases cartográficas digitais, que são muitas vezes o produto final de projetos de geoprocessamento, constituem apenas o ponto de partida para as análises espaciais de saúde.

Nesse contexto acima apresentado de processos vinculados à saúde de uma popula-ção é clara a importância de compreender sua inserção no espaço e nos processos produ-tivos que estão presentes na construção desse espaço durante um determinado período.

ObjetivosO objetivo geral deste trabalho foi diagnosticar a situação socioambiental do Município de Cubatão, SP,

através da utilização de sistemas de informação geográfica e do desenvolvimento de uma metodologia de identificação, caracterização e análise do vínculo entre as doenças respiratórias crônicas e cardiovasculares.

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MétodosDoenças respiratórias crônicas e cardíacasO estudo no Município de Cubatão, na Região Metropolitana de Santos incluiu o levanta-

mento de documentos, dados do sistema de saúde municipal e discussões incluindo a identi-ficação das variáveis intervenientes para a promoção da saúde ambiental, entre 2005 e 2009.

Em termos metodológicos foi definido e executado um inventário, amostragem, levantamento, homogenei-zação e análise estatística da ocorrência de doenças respiratórias crônicas (DRC) e cardíacas (DCV) nos dados levantados na rede de saúde pública do Município de Cubatão e confrontados com dados secundários adquiri-dos. Os procedimentos metodológicos, agrupados em obtenção e tratamento dos dados, são detalhados a seguir.

Obtenção dos dados

Definição da população alvo e estatísticaA variável a ser explicada foi a ocorrência das DRC e DCV na população en-

tre 2005 e 2009. Os outros dados coletados foram variáveis explicativas (dia, mês, ano, temperatura média diária, localização) e foi objeto de observações posteriores.

A fonte de informação para levantar esse dado foi a rede de atendimento de saúde do Município de Cubatão e seus registros, para definir a estratégia de amostragem adequada aos dados disponíveis e aos objetivos deste trabalho. Assim, foi realizado, em primeiro lugar, o inventário de todos os postos de atendimento municipal.

Com essa listagem que constitui a base para a obtenção da população estatística (o número total de pessoas com DRC e DCV atendidas na rede municipal), obteve-se a população alvo (o número total de pessoas com DRC e DCV).

A definição da estratégia de amostragem foi feita em função de análi-ses da estrutura de atendimento das unidades de saúde municipal. Como essa estru-tura é bastante homogênea, levou a uma estratégia de amostragem aleatória simples.

Foram levantados todos os postos de atendimento municipais, totalizando um universo de 19 Unidades (Tabela 3.1.a).

Tabela 3.1.a

Unidades de Saúde do Município de Cubatão, número de prontuários totais e amostra levantada

UNIDADE Total (2005-2009) Prontuários levantadosUBS Área 5 - A.J.C. 4.331 217UBS Bolsão 8 3.750 188UBS C.S.U. 4.121 206UBS Jd. 31 de Março (2) 14.700 735UBS Jd. Casqueiro 3.805 190UBS Vila Natal 4.847 242UBS Vila São José (2) 7.877 394USF Água Fria 4.020 201USF Conj. Mário Covas 2.877 144USF Cota 200 3.002 150USF Cota 95 3.890 195USF Morro do Índio 5.001 250USF Pilões (1) 522 26USF Pinhal do Miranda 9.203 460USF Sítio Novo/Ilha Bela 3.527 176USF Vale Verde (1) 580 29USF Vila dos Pescadores 4.330 217USF/UBS Ilha Caraguatá (2) 8.012 401USF Vila CAIC (2) 3.288 164Total 91.683 4.584

(1) Unidades com prontuários familiares

(2) Unidades de saúde onde não existia informação sobre o período

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Plano de amostragemNo método escolhido (aleatório simples) toma-se ao acaso e de for-

ma independente, n unidades de amostragem de uma população N de elemen-tos (cada elemento da população possui a mesma probabilidade de fazer parte da amostra).

Foram levantados todos os prontuários de cada unidade de atendimento de pacientes entre 2005 e 2009. Por amostragem aleatória simples, sortearam-se 5% desses prontuários, para constituir a amostra a ser le-vantada. Cada prontuário selecionado foi analisado em forma rigorosa em ficha de levantamento de dados.

Esse procedimento permitiu a geração de séries de dados numéricos multitem-porais sobre a ocorrência de doenças respiratórias crônicas e cardiovasculares.

Base de dados geocodificada - BDGPara a comparação da ocorrência de doenças respiratórias crônicas e cardíacas no Municí-

pio de Cubatão foram realizadas análises espaciais e temporais analisando informação dos lo-cais de residência dos distintos casos de ocorrência das doenças em foco. Foram elabora-das cartas temáticas sobre sua evolução no município, na escala 1:10.000, e comparadas com as fontes fixas de emissões, cadastradas pela CETESB e as observadas durante a execução desta pesquisa.

A primeira etapa foi a elaboração uma tipologia dos setores censitários do Município de Cuba-tão, para caracterizar as áreas com uma possível sensibilidade aos fatores sócio-ambientais.

A medição dos efeitos da poluição atmosférica na saúde do indivíduo enfrenta grandes obstáculos de ordem metodológica, dada a grande quantidade de variáveis envolvidas. Contudo, é possível identificar os grupos po-pulacionais mais vulneráveis que, submetidos a condições ambientais críticas, sofrerão de forma mais aguda os efeitos da exposição aos poluentes. É preciso considerar não somente os diferenciais de risco dados pela distribuição desigual da poluição, como também os diferenciais das condições materiais de vida (CMV) no espaço urbano.

A estratificação e o mapeamento do Município de Cubatão foram realizados por níveis de condições materiais de vida (IBGE, 2000) definida como uma aproximação à situação da infraestrutura de sanea-mento básico dos setores censitários, nível de escolaridade, renda dos chefes de domicílio e adensamento.

Os dados dos setores censitários receberam tratamento estatístico, tendo sido calculada a média ponderada de cada setor em cada variável selecionada, que representa a situação típica da mesma em cada setor. Em seguida, as variáveis componentes dos indicadores receberam os diferentes pesos para o cálculo. Chegou-se, então, ao seguinte esquema para compor as condições materiais de vida ou índice de qualidade ambiental de cada setor.

· Indicador de renda = Ingressos do chefe do grupo familiar

· Indicador de saneamento básico = acesso à água tratada + coleta e afastamento de esgoto + coleta de lixo

· Indicador de escolaridade = número de anos de escolaridade do chefe do grupo familiar

· Indicador de adensamento = número de pessoas no endereço

O indicador de saneamento básico foi construído com pesos diferenciados para seus três componentes. Assim, os acessos à água tratada e à coleta e afastamento de esgoto receberam peso 0,4 e a coleta de lixo peso 0,2.

Já o índice de qualidade ambiental considerou os indicadores de adensamen-to e renda com pesos iguais (0,2) e os indicadores de escolaridade e saneamen-to com pesos 0,3, por entender que os dois últimos têm um peso maior nas condições de vida.

A melhor condição possível recebeu o valor positivo 1 e a pior condição recebeu o valor de 0, con-siderando-se os percentuais existentes em cada fração das variáveis, de forma análoga ao cálcu-

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lo da média ponderada em termos absolutos. Com base nos conjuntos de indicadores, buscou-se es-tabelecer a relação entre eles para se chegar ao índice de qualidade ambiental para o setor censitário.

Os setores censitários foram comparados e chegou-se a um ranking de-les pelo estabelecimento dos diferentes potenciais de qualidade ambiental.

A identificação dos espaços críticos foi obtida relacionando a distância às fontes fi-xas de emissões no Município de Cubatão cadastradas pela CETESB, com os níveis de condi-ções materiais de vida, ou seja, os setores com piores condições de vida e próximos às fontes fi-xas de emissões e foram elaboradas cartas temáticas (saneamento, educação, renda e adensamento).

ResultadosNível de Saneamento Básico

Para a construção do plano de informação “Nível de Saneamento Básico” foram levantados dados relativos ao abastecimento de água, coleta e afastamento de esgoto e coleta de lixo. Foram estabelecidos pesos relativos a cada variável. Assim, os acessos à água tratada e à coleta e afastamento de esgoto receberam peso 0,4 e a coleta de lixo peso 0,2 (carta temática 4.1). Essa carta temática apresenta como resultado que, os setores censitários mais povoados são bastante homogêneos, em termos de acesso ao saneamento básico, embora esse índice não seja to-talmente satisfatório. Cabe lembrar que a variável considera coleta e afastamento do esgoto e não seu tratamento.

Nível de EscolaridadePara a construção do plano de informação “Nível de Escolaridade” foram levantados dados relativos

à educação do chefe da família (número anos de ensino). Foram estabelecidos pesos relativos para cada intervalo relacionado aos anos de estudo, em termos dos níveis de escolaridade (básico, médio, superior).

Nível de RendaPara a elaboração do “Nível de Renda” foram levantados dados relativos à ren-

da do chefe da família. Foram estabelecidos pesos relativos para cada intervalo relaciona-do aos ingressos anuais do endereço (Nível de Renda do Chefe do Endereço, no ano 2000). Para a renda foi calculado o número de salários mínimos recebidos pelo chefe de família.

AdensamentoFinalmente, para a elaboração da “Densidade Domiciliar” foram levantados dados relativos ao nú-

mero de pessoas dentro do endereço do setor censitário. Foram estabelecidos pesos relativos para cada intervalo relacionado ao número de pessoas na família, para a obtenção da Densidade Domiciliar no Setor Censitário, no ano 2000. Foram elaborados quatro intervalos: i) até duas pessoas; ii) entre 3 e 5 pessoas; iii) entre 5 e 10 e iv) mais de 10. Em destaque o centro urbano do Município de Cubatão.

Complementariamente, foi elaborada uma carta temática (4.2) com a den-sidade populacional, por setor censitário em Cubatão, para o ano 2000.

Finalmente, elabouro-se a Carta Temática 4.3, com o tipo de setor de ocupação ter-ritorial no município. Essa carta representa os locais onde existem ocupações especiais de aglomerados subnormais (favelas) e ocupações comuns ou não especiais (regulares).

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Carta Temática 4.1

Nível de Saneamento Básico dos Setores Censitários do Município de Cubatão – SP

Carta Temática 4.2

Densidade Populacional dos Setores Censitários do Município de Cubatão – SP – no ano 2000

Observa-se que a maioria das ocupações irregulares encontram-se ao longo das rodo-vias que atravessam o município, principalmente os bairros cota, na rodovia Anchieta.

Com esses dados de base foi possível estabelecer pesos relativos para cada variável (densidade, renda, escolari-dade e saneamento básico) para estabelecer um índice de susceptibilidade dos setores censitários do IBGE, para as mudanças ambientais. Esse plano de informação foi chamado de “Índice de Qualidade Ambiental”. Ele incor-pora as questões reconhecidas pela literatura, sobre as variáveis que mais influenciam a população, em relação com a vulnerabilidade para as doenças respiratórias crônicas e cardíacas, vinculadas a fatores sociais e ambientais.

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Assim, as cartas temáticas saneamento básico e nível de escolaridade receberam pesos relativos iguais, 0,3 para cada um e, as cartas temáticas nível de renda e adensamento, pesos relativos de 0,2. Esses valores tiveram peso igual ao tipo de moradia (regular ou irregular) na composição da Carta Temática 4.4 (Índice Socioambiental).

Claro está que outros fatores relacionados às características individuais das pes-soas e aos seus hábitos, como já comentado na apresentação deste trabalho, tam-bém têm importante contribuição na vulnerabilidade dos grupos populacionais estudados.

Carta Temática 4.3

Tipo de Ocupação nos Setores Censitários do Município de Cubatão – SP – no ano 2000

Carta Temática 4.4

Índice Socioambiental dos Setores Censitários do Município de Cubatão – SP – no ano 2000

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Os resultados possibilitam a elaboração de cenários futuros em termos de correlações com os atendimentos nas diferentes unidades de saúde municipais, vulnerabilidade dos setores censitá-rios e simulações para os modelos climáticos e de dispersão de poluentes no espaço em análise.

A etapa seguinte foi o cruzamento das informações já elaboradas e as que foram forne-cidas pela Secretaria da Saúde do Município de Cubatão, sobre o número de atendimen-tos para doenças respiratórias crônicas (2005-2009) e cardíacas no período 2006-2009.

Atendimentos para doenças respiratórias crôni-cas e cardíacas registradas no Município de Cubatão, entre 2005 e 2009.

Devido à inexistência de dados informatizados sobre saúde no município, foi estabeleci-da uma parceria entre o Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Públi-ca e a Prefeitura de Cubatão, para o levantamento dessas informações que possibilitaram a aná-lise do vínculo entre os atendimentos, fatores ambientais e tipologia dos setores censitários.

Assim, puderam-se elaborar cenários futuros, em termos de correlações, entre os atendi-mentos nas diferentes unidades de saúde municipais, a vulnerabilidade dos setores censitá-rios e simulações para os modelos climáticos e de dispersão de poluentes no espaço em análise.

Atendimentos por doenças cardíacas registradas no Município de CubatãoForam amostrados 4.584 prontuários, em todas as unidades de atendimento municipal, corresponden-

do a 5% do total de prontuários existentes, em cada unidade. O critério de seleção foi aleatório, sendo o prontuário escolhido sorteado do total existente em todas as unidades de atendimento do município. Em termos gerais não se observam concentrações de atendimentos. Porém, em 2005, durante os meses de ju-lho e novembro apresentaram-se os maiores valores relativos, com 12% dos atendimentos para o período.

Em todos os anos se observou um maior número de atendimen-tos para o sexo feminino, com uma tendência de aumento para o período.

Observou-se uma diminuição do número de casos em 2008 e 2009, em comparação com os anos de 2005, 2006 e 2007. Os maiores registros mensais foram para os meses de janeiro e setembro.

A figura 4.1, a seguir apresenta a incidência de doen-ças cardíacas nos pontos de atendimento para o quadriênio 2006 a 2009.

Figura 4.1

Incidência de Doenças Cardiológicas nos PS do Município de Cubatão entre 2006 e 2009

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Observam-se picos nos anos de 2007 (em janeiro e julho) e em 2008 (em junho e dezembro). A fi-gura 4.2 apresenta a incidência de doenças cardíacas nos pontos de atendimento, para o quadriênio 2006 a 2009, por faixa etária. Observa-se uma maior concentração na faixa etária entre 50 e 59 anos.

Figura 4.2

Incidência de DC nos OS do Município de Cubatão, por faixa etária, no período 2006 a 2009

Atendimentos por doenças respiratórias crônicas registradas no Município de Cubatão entre 2005 e 2009Nas figuras 4.3 e 4.4 são apresentados os dados para doen-

ças respiratórias relativas ao período 2006 a 2009, no Município de Cubatão.Na figura 4.3 observa-se um maior número de atendimentos, para o ano 2006, no mês de maio, seguido pe-

los meses de março, setembro e outubro. Em 2007 são os meses de março e junho onde se observa a maior inci-dência de DRC. Em 2008 em fevereiro e abril, com 10% dos atendimentos. Já em 2009, em abril, julho e agosto.

A figura 4.4 apresenta os dados de atendimento na rede pública de Cubatão, por faixa etária. Como era esperado, a incidência se concentra na faixa até 4 anos, com um pico para a faixa de 18 a 29 anos.

Após análise e cruzamento de planos de informação, entre a tipologia apresentada e os aten-dimentos para doenças respiratórias, em 2008, constatou-se que não existe uma clara relação en-tre essas variáveis. Talvez, no município, as condições sócio-econômicas da população sejam muito similares, fato que não permite uma segregação espacial dos dados sobre atendimentos.

A figura 4.5 apresenta os atendimentos mensais para doenças respiratórias crôni-cas, no Município de Cubatão, entre 2006 e 2009, nos prontos-socorros municipais. Ob-serva-se que não existem diferenças significativas entre os meses do período em foco. Há uma concentração de atendimentos, para as infecções nas vias aéreas superiores (IVAS).

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Figura 4.3

Incidência de doenças respiratórias nos Prontos Socorros, entre o quadriênio 2006/2009, no Município de Cubatão, S

Figura 4.4

Incidência de doenças respiratórias por faixa etária nos Prontos Socorros do Município de Cubatão entre 2006 e 2009

Figura 4.50

Atendimentos mensais para doenças respiratórias crônicas, no Município de Cubatão, entre 2006 e 20

A tabela 4.1 mostra a frequência relativa dos tipos de atendimento para o período 2006-2009. Verifica--se o predomínio das infecções das vias aéreas superiores (IVAS), como principal causa do atendimento.

Na Carta Temática 4.1 foram espacializados os endereços de origem para atendimentos de DRC, entre os anos 2006 e 2008, no Município de Cubatão. Nesse plano de informação foram acrescentadas distâncias contíguas de 500, 850 e 1.000 metros (buffers) para as fontes fixas de emissões cadastradas pela CETESB e foram identificados os endereços de origem dos atendimentos. Não se identificam correlações especiais para esses planos de informação.

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A título de exemplo, na Carta Temática 4.2 foi acrescentado o plano de informação relativo às fontes móveis, para o ano 2008. Assim, foram consideradas as principais rodovias que cortam o município. Pelo alto número de veículos que transitam 24h/d na região, essas fontes móveis foram consideradas cons-tantes (fixas) e a estrada como a origem da emissão. Foram também alocados todos os postos de saúde.

Tabela 4.1Incidência relativa dos diferentes tipos de DRC, nos postos de atendimento municipais em Cubatão, entre 2006 e 2009

Ano

Tipo de DRC2006 2007 2008 2009

Asma 9 8 8 5BCE 3 2 2 3BCP 13 9 9 3Bronquiolite 2 2 2 2Bronquite 9 16 12 12Dispneia 1 2 2 2DPOC 1 2 2 2IVAS 43 38 42 42Outras 19 21 21 29

ConclusõesO período analisado permite elaborar algumas considerações, para os OS, UBS,

USF e Especialidade adulto e infantil estudados e na comparação entre os anos quan-to ao total de atendimentos por mês para doenças respiratórias crônicas e cardíacas.

Nos casos de pessoas que foram aos Prontos-Socorros por motivos respiratórios, foi observada uma va-riação entre 2,7% e 9,6% entre os anos avaliados, sendo 2007 o ano de menor incidência e 2008 o de maior. A incidência de mulheres com doenças respiratórias foi maior nos quatros anos, com uma diferença de até 5%. Como já esperado, a faixa etária mais afetada foi a de zero a três anos. As infecções por vias aéreas su-periores (IVAS) representaram a maior incidência seguida de bronquite. Nas Unidades de Especialidades observou-se uma diferença mínima na quantidade total, por ano, de usuários avaliados com afecções respi-ratórias, sendo menor o ano de 2005 e 2008 o maior. A incidência por sexo foi variável sendo em 2005 e 2008 maior no sexo feminino e 2006, 2007 e 2009 maior no sexo masculino, chegando à diferença de até 20%.

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Carta Temática 4.1Fontes de emissões fixas, Unidades de Atendimento Hospitalar e endereços de origem de incidência para DRC, no Município de Cubatão – SP -, no triênio 2006 a 2008

Carta Temática 4.2Áreas e classes de exposição por proximidades às fontes de emissões móveis, fixas e endereços de origem de inci-dência para DRC, em Cubatão, em 2008

Por outro lado, nos Prontos Socorros, foi observada uma diminuição de 25% nos casos de pessoas que foram atendidas por motivos cardiológicos entre 2007 e 2009. O sexo feminino foi o de maior incidên-

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cia. Quanto à faixa etária observa-se um aumento gradativo de acordo com aumento da idade, com pico na faixa de 50 a 59 anos. A doença de maior incidência é a HAS que varia entre 84% a 93% dos casos.

Já nos prontuários avaliados nas Especialidades, observa-se um número baixo de casos atendidos por doenças cardiológicas, sendo que o ano de menor ocorrência é 2007 e o de maior é 2009. No ano de 2005 a incidência em mulheres foi maior e nos anos seguintes prevaleceu o sexo masculino. Ocorreram osci-lações quanto o número de casos por idade, sendo que nas crianças os casos atendidos são na maioria de sopro cardíaco e nos adultos a HAS. Nas unidades de saúde verifica-se um aumento anual dos atendimen-tos por doenças cardiológicas. O sexo feminino é o de maior incidência chegando até a 73%, em 2008. Na avaliação quanto à faixa etária observa-se um aumento gradativo de acordo com aumento da idade, sendo que a faixa etária de 50 a 59 anos é a de maior ocorrência nos anos de 2005 a 2008 e no ano de 2009 é na faixa dos 60 a 69 anos. A HAS é a causa mais atendida nas UBS/USF, 91% a 98% nos anos avaliados.

Em relação com a espacialização dos atendimentos se obser-va que as fontes de emissão móveis (rodovias), apresentam certa correlação espacial.

Esses diagnósticos são úteis para a elaboração de modelos de avaliação ambien-tal que ajudam na implementação de políticas de saúde ambiental de âmbito local.

Finalmente, neste trabalho a espacialização das ocorrências para doenças cardiovascu-lares (DCV) e respiratórias crônicas (DRC) demonstra-se de vital importância para en-tender causas e origens, assim como para estabelecer critérios para a adoção de políti-cas públicas vinculadas à saúde da população e as dinâmicas espacial e temporal envolvidas.

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A saúde do trabalhador: considerações sobre a gestão diante dos riscos e limites de tolerância à exposição da saúde

César Bittar1

João Carlos do Amaral Lozovey2

Alice Itani3 Luiz Alexandre Kulay4

Resumo As perspectivas de gerenciamento da saúde do trabalhador passa pela discussão da regulamentação pre-

videnciária e trabalhista. Para iniciar, atualmente, é relevante passar pelas regulamentações, especialmente quanto ao Regulamento da Previdência Social e a Norma Regulamentadora 15 – Atividades e Operações In-salubres. O FAP – Fator Acidentário de Prevenção e o NTEP – Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário são instrumentos importantes de inovações previdenciárias, embora recentes, com impactos positivos. Con-tudo, as dificuldades de gestão da saúde se apresentam diante dos limites de tolerância ocupacional à exposição a produtos químicos vigentes no país. Os limites de tolerância representam um dos alicerces da regulamen-tação previdenciária, e da saúde do trabalhador, mas requer atualização para o que se apresenta proposições.

Palavras chaves: saúde do trabalhador, regulamentação previdenciária, regulamentação trabalhis-ta, limites de tolerância, nexo técnico epidemiológico previdenciário, fator acidentário de prevenção.

AbstractThe present paper discusses the social security and labor regulations, especially regarding the Regula-

tion of Social Security and Regulatory Standard 15 - Unhealthy Activities and Operations. In this sense, the main focus was the considerations of the FAP – Prevention Accidental Factor, the NTEP – Social Se-curity Epidemiological Technical Connection, social security recent innovations, as well as the tolerance limits for occupational exposure to chemicals substances in Brazil, which were subject of presentations concerning relevant aspects to the topic hereinafter developed, and whose inter-relationship was subject of further discussion. The discussion carried out was able to show that the tolerance limits represent one of the foundations of social security regulations and safety and health of workers, who are weakened by the lack of updating of such limits, which is recommended on the final considerations of the present paper.

 Key words: occupational health, social security regulations, regulatory standards, tolerance limits for

occupational exposure, social security epidemiological technical connection, prevention accidental factor.

1 Mestre em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente SENAC.2 Universidade Federal do Parana3 UNESP e SENAC4 EPUSP

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Introdução

Uma das atividades mais complexas nas organizações está na gestão da saúde do trabalhador. A gestão da saúde se situa num espaço de entendimentos divergentes entre trabalhadores e dirigen-tes sobre direitos e processos. A saúde é um bem individual e coletivo que se desenvolve num pro-cesso de produção social (Itani, 2009). No entanto, o direito dos trabalhadores à vida e à saúde, como Berlinguer (2004) aponta, se situa no centro das relações de trabalho, e, portanto, uma das fon-tes de conflitos. As empresas buscam obter os objetivos da produção com uma maior produtividade.

Dentro desse conflito, uma das questões dessa relação está na definição dos níveis de riscos e de regras que possibilitem o desenvolvimento do trabalho com segurança nos ambientes de tra-balho. Os lapsos entre as atividades desenvolvidas pelo trabalhador e os ambientes de traba-lho podem conter riscos que podem produzir acidentes (EGGERS, GOEBEL; 2007) e doenças. Assegurar a integridade física, mental e moral do trabalhador nos espaços de trabalho é papel do Esta-do, por meio da legislação que estabeleça padrões de referências para as bases das relações de trabalho.

E o universo da saúde é sempre um lugar que requer constante discussão para sua produção. No caso da saúde do trabalhador, há, de um lado, tecnologias novas e crescentes de sistemas introduzidas no universo dos espaços de trabalho. De outro lado, um universo de centenas de novos compostos químicos são introduzidos anualmente nos processos produtivos e de consumo. São fatos que representam riscos e perigos à saúde e que requerem atenção tanto no delineamento das políticas públicas, como para a gestão da saúde em seus processos.

Compreende-se que determinadas atividades, situações e condições de trabalho são consideradas riscos à saúde do trabalhador, uma vez podem produzir danos ou agravos. Os impactos negativos relacionados à ativi-dade ocupacional que são classificados, a título de ordenação, em três categorias (TEIXEIRA; FREITAS, 2003):

Acidentes-tipo: decorrentes da atividade profissional desenvolvida pelo trabalhador;Acidentes de trajeto: ocorridos no traje-

to entre a residência e o local de trabalho, inclusive nos horários de refeições;Doenças do trabalho: ocasionados por doenças típicas de determinado ramo de atividades.

Compreende-se, pela legislação brasileira, acidente de trabalho como um fato negativo que ocorre no exercí-cio do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho, provocando lesão corporal, ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. Consideram-se como acidentes de trabalho, as doenças profissionais e as doenças do trabalho. Estão compreeen-didos, neste escopo, os fatos que ocorrem em situações de trabalho, como os acidentes de trajeto, que ocorrem por decorrência do deslocamento para o trabalho, e, portanto, equiparados a acidentes de trabalho (BRASIL, 1991).

Compreende-se doenças profissionais como aquelas desenvolvidas pelo exercício do trabalho caracte-rístico de determinada atividade (Rodrigues, 2007). Como exemplos de doenças profissionais, podem ser citadas a silicose, a asbestose, o saturnismo e a tenossinovite. Quando se constata uma doença no trabalha-dor, constante da relação prevista pela legislação editada pelos Ministério do Trabalho e Previdência Social, conforme previsto no inciso I do art. 20 da Lei 8.213/91, o nexo causal é presumido. Nestes casos, o exercício da atividade ratifica a relação entre atividade profissional e doença, pela existência de agente patogênico.

Doenças do trabalho são compreendidas por aquelas provocadas pelas condições em que o trabalho é desenvolvido. E ou que são relacionadas diretamente a determinado trabalho. São doenças que não estão relacionadas a um fator patogênico inerente à atividade. Estão relacionadas às condições do exer-cício do trabalho e ao local onde ele é efetuado. São condições impróprias ou insalubres, e que pro-piciam o desenvolvimento e ou a produção da doença. São doenças, consideradas comuns, ou não re-

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lacionadas ao trabalho, mas que podem se desenvolver dentro de determinadas condições ruins de trabalho. E, como tais, são consideradas como doenças e acidentes do trabalho (RODRIGUES, 2007).

Acidentes de trabalho devem fazer parte da preocupação da sociedade diante do impac-to negativo que provoca. Acidentes representam problemas para o trabalhador, como para a so-ciedade pelos problemas sociais que envolvem, como também pelas perdas da capacidade pro-dutiva de trabalho. Atualmente há cerca de 270 milhões de acidentes de trabalho em todo o mundo além de cerca de 2 milhões de mortes a cada ano, segundo dados da Organização Internacio-nal do Trabalho – OIT. Estima-se que os acidentes e doenças ocupacionais chegam a representar cerca de 4% do PIB. Nos países em desenvolvimento, isso pode chegar a 7% do PIB (SANTANA et al, 2006).

No Brasil, a quantidade de acidentes é muito alta. Há uma morte a cada três horas decorrentes de con-dições ambientais ruins de trabalho. E cerca de 14 acidentes ocorrem a cada 15 minutos na jornada diária, segundo dados do Ministério da Previdência Social do Brasil. Não há estimativa do custo social e econô-mico para o país. Os custos financeiros relacionados a acidentes e doenças do trabalho, além de aposenta-dorias especiais relacionadas às condições de trabalho representa mais de R$ 11,60 bilhões por ano. Con-siderando também as despesas operacionais do Instituto Nacional do Seguro Social - INSS e despesas na área de saúde e correlatas, esse custo representa para o país cerca de R$46,40 bilhões ano (BRASIL, 2009).

Isso significa que, em termos de custos financeiros do sistema previdenciário, os acidentes de traba-lho têm um alto impacto na economia do país. Esse aspecto já é suficiente para mostrar a importância da responsabilidade do Estado na prevenção de acidentes. Isso mostra também a necessidade e impor-tância de uma ação integrada entre empregadores, órgãos governamentais, representado pelo Ministério da Previdência Social, Trabalho e Emprego e Saúde na proteção da saúde do trabalhador. Nesse senti-do, uma análise da saúde e segurança do trabalhador diante da legislação merece ser objeto de reflexão.

O presente paper tem por finalidade analisar a regulamentação previdenciária bem como as do Trabalho e emprego relacionadas à proteção da segurança e saúde do trabalhador.

Regulamentação previdenciária e trabalhista

A saúde e segurança do trabalhador diante da legislação está situada entre dois as-

pectos relevantes: a regulamentação previdenciária e a regulamentação trabalhista.

Regulamentação previdenciária

No que tange à saúde e segurança do trabalhador, a legislação previdenciária tra-ta da gestão das questões que envolvem a seguridade social e os custos previdenciários re-lacionados a acidentes do trabalho. E que é objeto do Ministério da Previdência Social.

O financiamento da seguridade social recai sobre a sociedade como um todo, conforme o Regulamento da Previdência Social, definido pelo Decreto número 3.048 de 06 de maio de 1999 (BRASIL, 1999). Cada trabalhador assalariado paga o valor correspondente em média de até 11% do salário mensal descontado em folha de pagamento. Os trabalhadores autônomos pagam 20% diretamente. Os empregadores pagam o correspondente a 20% do total mensal da folha de pagamento. Inclui-se também contribuições relacionadas ao faturamento e ao lucro obtido, e contribuições tais como referentes ao financiamento da aposentado-

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ria especial. Estão incluídos os custos previdenciários em função do grau de incidência de incapacidade laborativa relacionada aos riscos ambientais do trabalho. Essa contribuição é representada pela aplicação de um percentual sobre o total da folha de pagamento, que é definido com base do grau de risco em que a empresa se enquadra. Esse percentual varia entre 1 e 3%. E se refere, aos níveis de risco leve, médio e grave, progressivamente. Esse percentual pode ter acréscimos se houver caracterização de aposentadoria especial. O grau de risco é definido com base na atividade econômica predominante e graus de risco relacionados.

Para o melhor equilíbrio dos custos previdenciários, desde 2007, dois novos instrumentos foram criados para o gerenciamento. As empresas que produzem mais acidentes e doenças e que sobrecarregam mais nos custos pre-videnciários pagam alíquotas maiores para a previdência. O Decreto N. 6.042 de 12/02/2007 regula o pagamen-to da contribuição empresarial incluindo dois instrumentos de gestão da saúde e segurança do trabalho: o Fator Acidentário de Prevenção (FAP) e o Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário (NTEP) (BRASIL, 2009).

O FAP é um multiplicador relacionado a alíquotas de impostos sobre riscos do trabalho. A alíquota va-ria entre 0,5000 e 2,0000. Trata-se de um composto por índices de gravidade, freqüência e custos. O índice de freqüência é calculado pelos registros de acidentes e doenças de trabalho informados por Comunica-dos de Acidente de Trabalho CAT e os auxílios acidentários definidos por nexos técnicos pela perícia do INSS. O índice de gravidade é calculado sobre todos os auxílios-doença e acidentes, aposentadoria por invalidez e pensão por morte. No caso do índice de custo, é calculado sobre os custos referentes a auxí-lios acidentários, baseados sobre o tempo de afastamento, quando se trata de auxílio-doença e projeção da expectativa de tempo vida do segurado, nos casos de morte ou invalidez parcial ou total. A divulgação do índice do FAP de cada empresa é feita anualmente pelo Ministério da Previdência Social (BRASIL, 1999).

O índice do FAP de cada empresa pode variar entre 50% do imposto devido e o dobro das alí-quotas. As empresas que possuem controles efetivos de prevenção e redução de doenças po-dem ter redução de até 50% do imposto devido. Por outro lado, as empresas responsáveis por al-tos indicadores de morbidade previdenciária ou indicadores mais freqüentes, graves e de maiores custos podem ter um aumento de até duas vezes as alíquotas. Com esses instrumentos de gerencia-mento, as empresas que produzem mais acidentes e doenças ficam com ônus maior uma vez que isso é resultado de gestão deficiente do modo produtivo e ambientes de trabalho (CORRÊA FILHO, 2005).

A perspectiva é que por meio desses instrumentos se inicie formas de regulação do gerenciamen-to dos acidentes incentivando ao mesmo tempo políticas de gestão que atuam nas formas de correção dos processos produtivos de maior risco eliminando fontes de agravos e danos. E ao longo do tem-po buscar formas de corrigir atitudes atuais de omissão na comunicação dos acidentes de trabalho, que é obrigatório. Essa comunicação deve ser efetuada pelas empresas mediante o preenchimento do CAT Comunicado de Acidente de trabalho e encaminhado ao Ministério da Previdência Social até o primei-ro dia útil subseqüente. Em caso de acidente fatal essa informação é também às autoridades competen-tes (BRASIL, 1991). Espera-se que esse comunicado passe a ser efetuado regularmente. E que se pos-sam registrar a alta quantidade de acidentes que não são atualmente comunicados, notificados. Previsto para ser uma fonte de informações acidentárias, o CAT passou a ser um instrumento de baixa notifica-ção, de omissão. Por decorrência dessa irregularidade, uma parte significativa de agravos ocupacionais à saúde têm sido caracterizado como doenças comuns (MOREIRA, ITANI, 2007). E isso deve deve ser corrigido com a utilização do NTEP, com ajustes sobre melhor caracterização de acidentes do trabalho.

O próprio NTEP foi criado com base nas informações existentes no Ministério da Previdência So-cial. O instrumento permite identificar a relação entre a lesão ou agravo à saúde e a atividade labo-ral. Pelo NTEP pode-se relacionar os auxílios doença atribuídos aos trabalhadores registrados no INSS, com a devida classificação do Código Internacional de Doenças (CID) e o Código Nacional de Ativida-de Econômica (CNAE). A relação entre esses três dados permite verificar que os agravos que se apre-

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sentam em determinada atividade econômica, bem como sua incidência. Incidências acima da mé-dia da população em geral indicam que, naquelas atividades econômicas, há fatores de risco para o trabalhador (MOREIRA, ITANI, 2007). Com base no NTEP, há possibilidades de caracterizar um aci-dente do trabalho, mesmo em situações em que a empresa não tenha emitido a correspondente CAT.

O INSS possui a incumbência, conforme o Regulamento da Previdência Social (BRASIL, 1999), de atribuir a caracterização do acidente de trabalho, mediante perícia e com base na verificação da existên-cia de nexo entre a atividade laboral e o agravo. Há a perspectiva de que a utilização desse instrumento tende a melhorar a quantidade e qualidade das informações sobre os acidentes. Nesse entendimento, de acumular dados reais de casos de acidentes e doenças do trabalho, se pode delinear um melhor conheci-mento e, por conseguinte, fundamentos para uma ação por parte do Estado sobre a saúde do trabalhador.

Efetivamente, se pode verificar pela avaliação dos dados que, até o momento, dois anos de aplicação des-ses instrumentos, os resultados são positivos na melhoria dos dados de acidentes. Os dados do Ministério da Previdência Social mostram que houve um acréscimo de até 30% na quantidade de acidentes registra-dos. O número total de acidentes de trabalho chegou a atingir a casa de 747.663. A tabela 1 ordena esses acidentes segundo os grupos classificatórios já apresentados, e compara tal situação com o ano anterior.

Tabela 1

Acidentes de trabalho no Brasil no período entre 2006 e 2008ano total a c i d e n t e s

típicosacidentes de trajeto

doenças do trabalho

sem registro

2006 512.232 407.426 74.636 30.170 -2007 659.523 417.036 79.005 22.374 141.1082008 747.663 438.536 88.156 18.576 202.395

Fonte: Anuário Estatístico da Previdência Social 2008 (BRASIL, 2009)

Analisando os dados da tabela acima, é possível verificar que houve um acréscimo de 28,75% na quantidade de acidentes de trabalho, de 2006 para 2007. De 2007 para 2008 esse crescimen-to foi maior, com aumento de 13,36% em relação ao ano anterior. O aumento mais expressivo de 2006 para 2007 pode ser explicado por decorrência do início da aplicação do NTEP a partir de abril de 2007. Isso foi responsável pelo registro de 21,40% dos acidentes do ano de 2007. Em 2008 o NTEP foi responsável por 27,07% dos registros. Avalia-se que o impacto da aplicação desses instrumen-tos pode ser verificado pelo aumento de 46% na quantidade de acidentes informados, de 2006 a 2008.

A implantação do FAP e NTEP constituiu-se, assim, em avanço na perspectiva de proteção e gestão da saúde do trabalhador. Os critérios epidemiológicos passam a ser considerados na caracterização do agravo à saúde por motivo ocupacional. Além disso, a possibilidade de aumento de alíquotas de contribuição das empresas, relacionadas à ocorrência de acidentes e doenças ocupacionais, associadas à possibilidade de sua redução em função do estabelecimento de programas voltados à saúde e segurança dos trabalhadores, e con-seqüentes resultados, é um forte estímulo ao desenvolvimento de melhorias nesse setor pelos empregadores.

No Regulamento da Previdência Social, a Lista C do anexo II, relação de intervalos da Classifica-ção Internacional de Doenças – CID 10 e as classes da Classificação Nacional de Atividade Econômica – CNAE em que se reconhece o Nexo Técnico Epidemiológico. Vale destacar ainda que, nos casos em que se constatar negligência da empresa quanto ao cumprimento de normas para proteção individu-al e coletiva, caberá à Previdência Social propor ação regressiva contra os responsáveis (BRASIL, 1999).

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A concessão da aposentadoria especial depende da relação com as condições de traba-lho. Isto é, da exposição a agentes físicos, químicos ou biológicos que afetaram a saúde do traba-lhador. A comprovação dessa exposição ou da associação de agentes que afetaram a saúde a inte-gridade física, de forma permanente, durante longo tempo. Considera-se o tempo de 15, 20 ou 25 anos de exposição a agentes nocivos, condição suficiente para que prejudiquem a saúde. Es-ses agentes estão descritos no Anexo IV do Regulamento da Previdência Social (BRASIL, 1999).

Dentre os comprobatórios dessa exposição, inclui-se o laudo técnico de condições ambien-tais de trabalho. Esse laudo deve conter informações sobre a existência de tecnologia que elimi-ne, reduza ou mantenha sob controle e de acordo com os limites de tolerância previstos na le-gislação trabalhista em níveis superiores aos limites estabelecidos de exposição a agentes nocivos.

Verifica-se, dessa forma, estreita relação entre a legislação previdenciária e a re-gulamentação de limites de tolerância à exposição ocupacional a agentes químicos.

Regulamentação trabalhista

. No que tange à gestão da saúde do trabalhador, as normas regulamentadoras brasileiras na área da segurança e medicina do trabalho são de responsabilidade do Ministério do Trabalho e Emprego. As orientações são obrigatórias para empresas públicas e privadas, órgãos públicos da administração dire-ta e indireta e dos poderes Legislativo e Judiciário, que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT. Isso inclui a responsabilidade pela definição de limites de tolerância a agen-tes agressivos (BRASIL, 1977), conforme a Lei Federal 6514 de 22/12/1977, publicada no Diário Oficial da União em 23/12/1977, em seu artigo 190, é responsabilidade do Ministério do Trabalho e Emprego.

Contudo, essa é uma questão que merece considerações. Os riscos da exposição da traba-lhador a agentes tóxicos nos locais de trabalho estão esquecidos. A gestão de riscos é uma obri-gação das organizações. E, para essa gestão, visando a saúde do trabalho, isso requer uma ava-liação de riscos presentes em cada um dos processos específicos das atividades das empresas.

Para a avaliação da exposição humana a agentes tóxicos presentes no local de trabalho, há alguns instru-mentos desenvolvidos para essa medição, tanto de monitorização ambiental como de biomonitorização. Na monitorização ambiental, as concentrações das substâncias são verificadas periodicamente em amostras de água, solo e ar. Na biomonitorização humana, utiliza-se biomarcadores ou indicadores biológicos. Mede-se a substância ou o seu metabólito, ou o resultado de sua ação no organismo (KUNO, ROQUETTI, UM-BUZEIRO; 2009). A monitoração ambiental no local de trabalho é verificada normalmente no ar, exigindo o estabelecimento de valores de limites de tolerância para exposição ocupacional a produtos químicos.

No entanto,a questão que se apresenta é se tais limites de tolerância protegem efetivamente a saúde do traba-lhador. Os limites de tolerância definidos na Norma Regulamentadora 15 do Ministério do Trabalho e Emprego.

De acordo com a American Conference of Governmental Industrial Hygienists - ACGIH (2009), os valo-res limites de tolerância referem-se apenas às concentrações de substâncias químicas no ar. E, nesse sentido, compreende-se que os limites estabelecidos representem apenas as condições sob as quais a maioria dos tra-balhadores pode estar exposta, em sua atividade laboral diária, sem que ocorram efeitos adversos à sua saúde (AMERICAN CONFERENCE OF GOVERNMENTAL INDUSTRIAL HYGIENISTS, 2008). , No caso dos normativos da NR 15, foram definidos com base nos limites da American Conference of Governmental Indus-trial Hygienists – ACGIH, de 1977, com adaptações em função de jornadas semanais de 48 horas de exposição.

Compreende-se que cada região, cada país possui especificidades de exposições, de calor, temperatu-

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ra, ambientes, tipo de solo, água e ar diante dos riscos e perigos das populações de acordo com os há-bitos e formas de proteção da saúde e que entram na análise dos limites de tolerância à exposição.

Há três pontos a serem considerados. Um primeiro, do estabelecimento desses limites de tolerância para proteção e gestão da saúde dos agentes existentes nos processos produtivos e de consumo no país. Um segundo, de estabelecimento de limites de acordo com as necessidades e especificidades do país. No caso específico, os limites existentes estão de acordo com método proposto por Brief e Scala (1975), com uma adaptação para o Brasil efetuada mediante a utilização de um fator de redução de 0,78 (FREITAS, AR-CURI; 1998). Um terceiro ponto, da necessidade de atualização constante dos limites, não somente dos valores de cada agente tóxico, como dos limites dos diversos novos agentes e compostos que são introdu-zidos anualmente nos processos produtivos e de consumo. Em função das poucas atualizações efetuadas desde 1978, esses limites têm valor técnico reduzido (DELLA ROSA; SIQUEIRA; COLACIOPPO, 2008).

Riscos e limites da saúde

Há um descompasso em relação às regulamentações. Se de um lado, a regulamentação previdenciária vem recebendo a atenção institucional e contínuas atualizações, a regulamentação relacionada à segurança e saúde do trabalhador, especialmente no que se refere a limites de tolerância ocupacional previstos na NR 15, permanece desatualizada praticamente desde o seu estabelecimento (DELLA ROSA; SIQUEIRA; COLACIOPPO, 2008).

Pouco se sabe sobre as respostas biológicas dos organismos a produtos químicos bem sobre suas varia-ções. Uma boa parcela da população está exposta e pode apresentar uma suscetibilidade maior em decorrên-cia de sexo, idade, predisposição genética, condição de saúde, uso de medicamentos, sensibilização prévia ao produto e mesmo estilo de vida, em função do habito do tabagismo, uso de álcool, sedentarismo, etc. Além disso, variações na resposta biológica podem ocorrer em função do trabalho cardiovascular decorrente do tipo de atividade, e mesmo em função das condições ambientais do local de trabalho, tais como tempe-ratura e umidade. Dessa forma, embora a maioria dos trabalhadores possa estar segura quando o limite de tolerância é respeitado, é possível que alguns venham a sofrer efeitos da exposição a determinado pro-duto químico (AMERICAN CONFERENCE OF GOVERNMENTAL INDUSTRIAL HYGIENISTS, 2008).

O anexo II do Regulamento da Previdência Social (BRASIL, 1999) relaciona agentes patogênicos com trabalhos que contém o risco e, em sua Lista B, relaciona doenças com os agentes etiológicos ou fatores de risco de natureza ocupacional. Assim, a legislação estabelece a relação entre exposição a agentes etio-lógicos ou fatores de risco, como os produtos químicos, e as doenças de natureza ocupacional. A questão que se apresenta, no entanto, é, em que circunstâncias a exposição pode ser considerada a causa da do-ença. Nesse sentido, ganha importância a regulamentação de limites de tolerância ocupacional, cuja ob-servação pelas empresas, teoricamente, contribuiria para uma relativa garantia de segurança para a saúde dos trabalhadores. O próprio anexo IV do Regulamento da Previdência Social, em sua classificação dos agentes nocivos, fortalece essa observação, visto que, conforme já comentado, esclarece que o direito ao benefício depende da exposição ocorrer em nível de concentração superior aos limites legais estabelecidos.

Há, ainda, aspectos que merecem reflexão. Primeiro, há uma expressiva desatualização dos va-lores de limites de tolerância previstos na legislação brasileira que compromete a gestão. Se-gundo, tais valores pode apresentar, para muitos produtos químicos, valores impróprios para a saúde dos trabalhadores. Terceiro, são limites que afetam a própria base de sustentação do NTEP e FAP na medida em que pode facilitar a ocorrência de agravos à saúde do trabalhador.

No tocante ao direito do trabalhador, há, ainda, a considerar no que se refere a benefícios previdenci-

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ários. Os critérios para concessão de aposentadoria especial pela exposição a agentes nocivos nos atuais valores são sempre prejudiciais. A exposição que estiver dentro desses limites legais, não garantem uma condição segura de trabalho, pela referida falta de atualização. Mas, a doença que se produziu no local de trabalho fica debitada sobre a conta da vida do trabalhador. E isso produz, consequentemente, outros problemas de saúde coletiva e pública no âmbito da sociedade tanto pelo custo social quanto econômico.

Esse aspecto pode assumir proporções mais contundentes, quando se considera que limites de to-lerância são aceitos como aqueles seguros para a maioria dos trabalhadores, mas não todos. Ou seja, mesmo com a sua observação criteriosa, o agravo à saúde conseqüente à exposição pode ocorrer.

Espera-se o estabelecimento de programas voltados à saúde e segurança dos trabalhado-res, o que é uma conduta compatível com a obediência à legislação pertinente, ocorre que, confor-me já visto e comentado, a regulamentação brasileira pertinente encontra-se desatualizada, e aten-der a um limite legal poderá, na realidade, não isentar o trabalhador da exposição real a riscos.

Os custos produtivos recaem sobre a saúde publica com a caracterização de uma doença ocupacional em do-ença comum. Um acidente de trabalho considerado pela perícia médica do INSS, em função de nexo causal entre a atividade do trabalhador e o agravo, pode ser alvo de requerimento do empregador junto ao instituto com a fi-nalidade de não ser aplicado o nexo técnico epidemiológico ao caso, em função de comprovação da inexistência desse nexo (BRASIL,1999). E os prejuízos do conflito entre saúde e doença recaem sobre o próprio trabalhador.

A atenção sobre doenças ocupacionais relacionada à exposição a agentes tóxicos, so-bretudo compostos químicos, merece maior debate para que haja maior discussão so-bre os limites de tolerância, que se considere como uma tarefa urgente diante do aumen-to crescente de novos compostos introduzidos nos processos produtivos e de consumo.

Considerações finais

A definição de limites de tolerância ocupacional adequados é uma providência fundamen-tal e que se encontra na base da regulamentação legal relacionada à saúde e segurança dos trabalhado-res e, conforme já discutido para o Brasil, de previdência social. Essa legislação, embora abrangen-te e apresentando uma evolução positiva recente, com a introdução do FAP e NTEP, apresenta-se enfraquecida com relação a um de seus alicerces, considerando a possível inadequação da regulamen-tação brasileira relacionada aos referidos limites. Essa condição pode facilitar a ocorrência de agravos à saúde, pois a possibilidade de limites inadequados pode impactar de forma negativa a saúde dos tra-balhadores expostos. Adicionalmente, a discutida inadequação desses limites pode contribuir para a ocorrência de conflitos entre empregadores e trabalhadores, com eventual envolvimento judicial.

A atualização da NR 15, particularmente quanto aos limites de exposição ocupacional divulga-dos, mostra-se, seja pelos aspectos previdenciários, ou por aqueles relacionados à segurança e saú-de dos trabalhadores, uma necessidade . Essa tarefa, por definição legal deve ser conduzida pelo Ministério do Trabalho e Emprego, sendo recomendável garantir inserção dos inúmeros públicos interes-sados no tema, em especial representantes dos empregadores, dos empregados e da comunidade científica.

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Segurança do que e para quem? Desigualdades múltiplas e complexas e a política envolvida na segurança ambiental na Europa

Erika Cudworth1 e Stephen Hobden2

1 Doutora em Sociologia (Universidade de Leeds, Reino Unido), Professora Catedrática de Sociologia e Política (Faculdade de Direito e Ciências Sociais, Universidade de East London, Reino Unido) 2 Doutor em Política Internacional (Universidade de Aberystwyth, Reino Unido), Professor Catedrático de Políti-ca (Faculdade de Direito e Ciências Sociais, Universidade de East London, Reino Unido)

ResumoO presente artigo problematiza o discurso de securitização evidenciado na atual estrutura de políticas

ambientais da União Europeia. Consideramos diferentes abordagens da teorização de questões ambientais na política internacional, argumentando que elas tendem a reproduzir um entendimento dualista das re-lações entre os seres humanos e ‘o meio-ambiente’, no qual os seres humanos ou são ameaçados pela ‘na-tureza’, ou representam uma ameaça a ela. Além disso, o impacto de desigualdades múltiplas e complexas é subestimado. O artigo defende uma perspectiva de ‘ecologismo complexo’ que leve em conta as causas e efeitos diferenciais dos problemas ambientais. As políticas para mitigar problemas ambientais pressupõem que tanto os membros e regiões da Europa como as populações dos mesmos estão situados igualmente. Embora existam a retórica da ameaça ambiental e as iniciativas de securitização, a estrutura estratégica da política da UE enfatiza a mitigação das ameaças ambientais imediatas mais graves e adaptação às mu-danças das circunstâncias no longo prazo. Esses discursos entrelaçados não enxergam questões relativas à desigualdade social e são inadequados para fazer frente aos desafios da mudança ambiental mundial.

Palavras-chave: Segurança ambiental, desigualdades, política ambiental, União Europeia, ecologismo complexo

IntroduçãoO presente artigo avalia o discurso de securitização presente na atual estrutu-

ra de políticas ambientas da União Europeia. Ele argumentará que esse discurso é dualis-ta e centrado no Estado, o que corresponde à maior parte da literatura sobre segurança ambiental.

O artigo contém quatro seções. Na primeira, examinamos as diferentes maneiras pelas quais a segurança é considerada com relação a questões ambientais. Na segunda, fazemos uma série de críticas a essa literatura sobre segurança ambiental. A terceira seção propõe uma abordagem alternativa, que chamamos de ecologia complexa. Essa abordagem explora a teoria da complexidade e o ecologismo político para desenvolver uma estrutura que supera os problemas identificados na literatura sobre segurança ambiental. A quarta seção analisa uma série de documentos da UE através dessa estrutura. O artigo argumentará que, embora exista a retórica de ameaça e preocupação ambiental, a estrutura estratégica da política da UE está enquadrada no conceito de securitização e enfatiza a mitigação das ameaças ambientais imediatas mais graves e adaptação às mudanças das circunstâncias no longo prazo. Esses discursos entrelaçados não enxergam questões relati-vas à desigualdade social e são inadequados para fazer frente aos desafios da mudança ambiental mundial.

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Abordagens da Segurança Ambiental

O meio-ambiente emergiu como um elemento importante nas discussões sobre a segurança ‘mundial’ (DALBY 2002a, p. 95). As crescentes preocupações com o meio-ambiente, mais evidentes na questão da mudança climática, se combinaram a mudanças nas noções do que constitui a segurança. Contudo, ‘se-gurança ambiental’ é um conceito muito contestado. Como observa Levy, ‘tanto “meio-ambiente” como “segurança” são termos suficientemente flexíveis para significar quase qualquer coisa que se deseje’ (LEVY 1995, p. 37). Não há um consenso sobre o que se quer dizer com ‘segurança’ e sobre o que está incluí-do no termo ‘meio-ambiente’. A mudança ambiental mundial representa um enorme desafio para as abor-dagens atuais da segurança na disciplina de relações internacionais porque, como aponta Dyer (2001, p. 68), ela apresenta “preocupações que são qualitativamente diferentes das ameaças tradicionais à segurança”.

A ampliação da agenda de segurança tem tido implicações nas maneiras pelas quais o meio-ambien-te é visto. Apesar de abordagens da segurança centradas no Estado terem entrado no debate sobre segu-rança ambiental, noções expandidas do que constitui a segurança (particularmente a noção de segurança humana) também levaram ao desenvolvimento de análises com foco em grupos subestatais, como comu-nidades ou o indivíduo, em formações supraestatais, como organizações internacionais, ou na biosfera.

A despeito de uma ampliação da agenda de segurança, um enfoque mais tradicional do pensar nas ma-neiras pelas quais as questões ambientais podem afetar as relações globais está evidente: a degradação am-biental como causa de conflito. Esse foco no meio-ambiente como fonte de conflito tem sido não apenas uma preocupação de autores no campo de Relações Internacionais, como também um assunto discutido por políticos, pela mídia popular e por organizações internacionais. Um relatório do Programa Ambiental das Nações Unidas, por exemplo, citou as questões ambientais como centrais no conflito de Darfur (UNEP 2007, p. 8). Em uma análise recente da literatura sobre meio-ambiente e segurança, Detraz (2009) sugere que três abordagens principais podem ser identificadas: conflito ambiental, segurança ambiental e segu-rança ecológica. Essa tipologia é útil por distinguir abordagens bastante diferentes que anteriormente ha-viam sido todas incluídas no termo genérico “segurança ambiental” e que vão resumidas na tabela abaixo.

Referente / Nível de Análise

Perspectiva Fonte de Insegurança Exemplos Principais

Conflito Ambiental

Estado Realista Mudança ambiental ou esgotamento de recursos

Klare, Homer-Dixon

Segurança Ambiental

Indivíduo ou comunidade subestatal

Liberal Mudança ambiental ou esgotamento / degradação de recursos

Eckersley, ONU

Segurança Ecológica

Biosfera Ecológica Atividade humana Dalby

Um exemplo claro da literatura sobre conflito ambiental é a discussão, por Klare, das Guerras por Recursos. O acesso aos recursos está ‘se tornando uma característica cada vez mais importan-te da política de segurança dos Estados Unidos’ (KLARE 2001,p. 6). As guerras do futuro ‘serão em grande parte travadas pelo controle e posse de bens econômicos vitais – especialmente recursos ne-cessários ao funcionamento de recursos industriais modernos’ (KLARE 2001, p. 213). Para muitas pessoas, a invasão do Iraque pelos Estados Unidos e Grã-Bretanha constituiria um exemplo claro de guerra por recursos. O comentário de Paul Wolfowitz no sentido de que “economicamente, nós não tí-

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nhamos escolha no Iraque. O país esta nadando num mar de petróleo” (citado em KALDOR et al. 2007, p. 1) pareceria confirmar a invasão como um caso evidente de ‘petroimperialismo’ (JHAVERI, 2004).

Detraz (2009) usa o termo “segurança ambiental” como abrangendo a literatura mais influenciada pe-las discussões sobre segurança humana. Como Eckersley observa, essas análises refletem os novos “dis-cursos expansivos sobre segurança”. Esses novos discursos consideram uma gama mais ampla de fontes de insegurança (não somente geradas por conflito militar), retraçam um referente que inclui elementos não estatais, consideram uma gama mais ampla de respostas além do elemento militar e incluem uma consi-deração dos requisitos da segurança no longo prazo (ECKERSLEY 2009, p. 90). Essa literatura enfoca o indivíduo ou a comunidade imediata que estão em risco de mudança ou degradação ambiental. Em outras palavras, distancia-se de uma análise de conflito ambiental centrada no Estado. Um exemplo claro disso foi o desenvolvimento da noção de ‘segurança humana’. O termo tem origem em um Relatório do Pro-grama de Desenvolvimento das Nações Unidas intitulado New Developments in Human Security (Novos Desenvolvimentos em Segurança Humana) e publicado em 1994. Desde aquele ano, o termo foi inserido em discussões populares e acadêmicas sobre segurança, embora no mundo acadêmico ele tenha sido fonte de controvérsia considerável (vide, em particular, o debate em Security Dialogue (2004, 35/3). Em New Developments in Human Security, o meio-ambiente foi incluído em uma lista de sete questões que neces-sitavam ser abordadas para assegurar a segurança humana. Embora a literatura sobre segurança humana proporcione um bem-vindo alívio com relação ao caráter centrado no Estado de grande parte da análise, o foco muitas vezes permanece em ameaças provenientes do meio-ambiente, em vez de levar em conta a bio-sfera de forma mais abrangente e de pensar no impacto das atividades humanas nesse contexto mais amplo.

Segurança ecológica, em contraste, refere-se às análises com foco ‘nos impactos negativos que os com-portamentos humanos têm sobre o meio-ambiente’ (DETRAZ, 2009, p. 351). Consideramos a obra de Dal-by um exemplo dessa abordagem. Dalby (2002b) tem sido crítico de elementos de teorização dentro do campo de segurança ambiental e levantado questões importantes sobre a conceituação de problemas am-bientais em termos de segurança. Embora chegue até a sugerir que cogitemos a possibilidade de abando-nar totalmente a noção de ‘segurança ambiental’ (DALBY, 2009, p. 4), no fim ele retira essa sugestão. Ele argumenta que os seres humanos modificaram as ‘circunstâncias da vida’ a tal ponto, que o meio-ambien-te que estamos tentando proteger é cada vez mais artificial. Os modos de vida humanos modificaram o nosso ambiente na medida em que refizemos o contexto ambiental da nossa própria existência, e ele usa o termo de viés geológico desenvolvido por Crutzen, ‘o antropoceno’, para captar isso (DALBY, 2009, p. 97-104). O relato de Dalby é influenciado por certos tipos de ecologismo político e baseia-se em algumas abordagens da complexidade. Essa abordagem de ‘segurança ecológica’ representa um aprimoramento significativo da ‘segurança ambiental’ e, certamente, de abordagens que enfatizam o ‘conflito ambiental’. Não obstante, a sofisticada análise de Dalby subestima a importância política das diferenças sociais. Com-plexos sistemas de poder do mundo social se entrecruzam. Embora Dalby leve em conta em sua análise os efeitos problemáticos do capitalismo de consumo carbonífero e relações entre regiões e povos ricos e pobres, ele deixa de levar em conta o gênero. Nossa articulação de ecologismo complexo utiliza o con-ceito feminista de interseccionalidade social, ao tentar captar a gama de desigualdades múltiplas e com-plexas que moldam as relações humanas com ‘o meio-ambiente’ e as inseguranças ambientais resultantes.

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Problemas da ‘segurança ambiental’

A associação dos termos “meio-ambiente” e “segurança” tem custos em termos de associar ques-tões ambientais ao desenvolvimento e sobrevivência do Estado. Argumentamos que isso resul-tou em uma série de problemas: um foco em questões ambientais em nível estatal ou supraesta-tal e uma subestimação do impacto de desigualdades complexas cruzadas; a percepção de que o Estado ou uma ‘coisa semelhante a um Estado’, como a União Europeia, constituem o local de uma po-tencial solução para problemas ambientais, com o correspondente risco de buscar a militarização de solu-ções para problemas ambientais mundiais; e um dualismo entre a ‘sociedade’ humana e o meio-ambiente.

- Problemas mundiais e efeitos diferenciaisAs Relações Internacionais, com sua tradição de análise baseada no Estado, têm dificuldades para li-

dar com o caráter mundial de muitas questões ambientais. Tanto o caráter globalizado de alguns pro-blemas ambientais precisa ser levado plenamente em conta, como é necessária uma consciência do im-pacto diferencial dos efeitos dos problemas no contexto de desigualdades profundas e persistentes.

O aquecimento global é o exemplo mais claro e candente de problema ambiental mundial. Outras questões ambientais podem não ser tão ‘globais’ em termos de impacto. A poluição do solo costuma ser localizada; os seres humanos poluem o solo onde enterram resíduos industriais e de consumo ou onde situam o processamento industrial. No entanto, o comércio internacional de resíduos comerciais e indus-triais e as práticas de despejar resíduos em águas internacionais e em outros países dão a isso uma di-mensão mundial. A poluição dos mares é global, já que quase todas as águas marinhas são conectadas; o mesmo vale para a poluição do ar, que os ventos predominantes transportam por distâncias considerá-veis (YEARLEY 1996, p. 33-34). A perda de biodiversidade de espécies também veio a ser definida como um problema ambiental relativo à manutenção de ecossistemas saudáveis, sendo que o caráter generali-zado desse colapso da diversidade de espécies foi rotulado de ‘sexta extinção’ (LEAKEY; LEWIN 1996).

Isto posto, a maioria dos autores argumenta que os impactos da mudança climática global terão maior influência no sul. Devereux e Edwards afirmam que os efeitos do aquecimento global serão ‘glo-balmente estratificantes’. É provável que os países nos quais a seca já é um problema fiquem mais se-cos. Esses mesmos países são mais dependentes de uma agricultura na qual as possibilidades de diver-sificação são mais limitadas. É provável, eles argumentam, que ‘a prevalência e a intensidade da fome aumentarão nos países e grupos populacionais em que a segurança alimentar já é importante’ (Deve-reux e Edwards 2004, p. 28). Ademais, como aponta Rogers (2004, p. 99-100), eventos climáticos extre-mos tendem a ter um impacto muito mais drástico em países do sul em comparação com o norte. Gol-dblatt (1996) argumenta que a exploração do meio-ambiente no sul começou no período colonial e continuou após o fim dos impérios europeus. Nesse sentido, o ‘norte’ exportou muito de sua industria-lização ambientalmente danosa, tornando absurda a noção de segurança ambiental de base nacional.

Além disso, a medida na qual as desigualdades de gênero diferenciam as causas humanas das mudanças am-bientais e seus efeitos está ausente da maioria dos relatos na literatura sobre segurança ambiental. Salleh (2009, p. 11) argumenta que o impacto das desigualdades de gênero está ausente da noção de pegada ecológica, que tem sido usada de maneira essencialista, já que diferencia a humanidade apenas em termos de localização no norte ou no sul. Isso ignora as qualidades de gênero do trabalho pago e não pago, do transporte, do uso da energia e da feminilização da pobreza. Coletivamente, como observa Spitzner (2009, p. 218-222), essas desigualdades indicam que tanto as causas como as consequências do aquecimento global envolvem diferenças de gênero.

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- EstatismoAs organizações que mais frequentemente são capazes de implementar uma agenda de segu-

rança ambiental são o Estado (nação) e organizações políticas internacionais que são, elas pró-prias, compostas de Estados individuais. Ironicamente, os Estados territoriais são, em muitos aspec-tos, fundamentais para abordagens de securitização, mas, como observa Dalby (2002c, p. 5), tornar os Estados responsáveis pelo meio-ambiente pode ser um caso de raposas tomando conta das galinhas.

Os Estados têm sido indutores da modernização ao implantar a infraestrutura que tanto depende de combustíveis constituídos por carbono e de altos níveis de uso de recursos, e isso, em grande parte, ao es-tabelecer um sistema capitalista de relações de propriedade (LATOUCHE, 1993). O aumento da extração e utilização de recursos está no cerne de um sistema que depende da constante expansão do lucro (CLACK; YORK, 2005). Os recursos, incluindo paisagens naturais e várias espécies de plantas e animais, tornam--se parte da ordem política moderna e são reconstruídos como elementos de troca monetária, sujeitos aos direitos de propriedade impostos pelos Estados (LATOUR , 2004). A questão fundamental é se os Esta-dos e as organizações internacionais das quais eles são membros podem construir novas infraestruturas físicas e institucionais que nos afastem de um uso sempre crescente de recursos. Muito do que vimos em termos da internacionalização de políticas ambientais envolve o pressuposto de que o crescimento econô-mico pode ser compatível com a sustentabilidade ecológica e que “existe uma solução técnica-institucional para os problemas atuais” (HAJER 1995, p. 32). A política do ecologismo, porém, implica desvios radicais em relação às nossas práticas econômicas, políticas e sociais atualmente normativas nos Estados ocidentais e setentrionais e tem tido perspectivas extremamente pessimistas no que tange à capacidade dos Estados de gerar mudanças (SACHS et al., 1998). Eckersley (2004, p. 241) tem a convicção de que um declínio da governança baseada em territórios, que acompanha a globalização, associado a uma reforma institucional radical, possibilitará que se levem em conta as preocupações ecológicas. Ela sugere uma passagem das de-mocracias liberais para ‘democracias ecológicas’, nas quais as coletividades sujeitas a risco ecológico devem estar envolvidas ou representadas nas tomadas de decisões que envolvam ou gerem risco ecológico. Porém, é muito incerto que a globalização tenha de fato reduzido o poder dos Estados, e as reformas realizadas por Estados e instituições supranacionais tendem a ser processos nos quais as questões ambientais são inseridas em uma racionalidade burocrática de gerencialismo de recursos (LUKE, 1999). A lógica do desenvolvimen-to capitalista, embora associada à ‘sustentabilidade’, é fundamental para iniciativas de políticas ambientais.

- DualismoPor fim, a literatura sobre segurança ambiental tende a reproduzir um entendimento dualístico das re-

lações entre os seres humanos e ‘o meio-ambiente’, no qual ‘nós’, humanos ou somos ameaçados, ou re-presentamos uma ameaça à ‘natureza’ (BARNETT 2001, p. 67). Esse dualismo fica evidente na tipologia advogada por Detraz, na qual ou o ambiente é uma ameaça ao Estado (conflito ambiental) ou ao indivíduo (segurança ambiental), ou está ele mesmo sob ameaça (segurança ecológica). Vários autores abordaram esse dualismo. Para Latour (2004, p. 53), ‘os termos “natureza” e sociedade” não designam domínios da re-alidade: na verdade, eles se referem a uma forma bastante específica de organização pública’. Latour (2004) argumenta que precisamos adaptar as instituições atuais para dar voz a um único coletivo de seres humanos e não humanos. Semelhantemente, Walker (2006, p. 189) argumenta que a própria política é constituída por ‘uma profunda ruptura entre homem e natureza’. Em outras palavras, existe uma questão ontológica que a literatura sobre segurança ambiental trata com maior profundidade. O dualismo subestima as complexas interconexões presentes na biosfera, ao enfocar a segurança de um referente em vez de permitir uma análise

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que possibilite o exame dos processos complexos e sobrepostos que constituem os problemas ambientais. O próprio termo ‘meio-ambiente’ é uma categoria genérica que homogeneíza a diversidade da vida não humana e abrange uma multiplicidade de espécies de plantas e animais não humanos incrivelmente varia-da. Esse entendimento do ‘meio-ambiente’ e a distinção da espécie humana deste último são produtos de históricos e sensibilidades ocidentais (SOPER, 1995), sendo que houve diversas formações históricas de relações entre a sociedade e o meio-ambiente (McNEILL, 2000). As modificações humanas do(s) nosso(s) habitat(s) são moldadas por históricos de relações sociais, práticas econômicas e formações de poder político.

Consideramos que duas ações são necessárias para produzir um entendimento das questões ambientais que não seja fundamentalmente dualista e centrado no Estado e que não contenha certo essencialismo do ‘humano’. Primeiramente, precisamos de uma abordagem que compreenda a situação da espécie humana de inserção em redes e paisagens povoadas por não humanos. Em segundo lugar, precisamos de uma abor-dagem que possa representar diferentes tipos de relações de poder. Preconizamos um ecologismo social radical que leve em conta a nossa necessidade imperativa de cuidar da biosfera e também um entendi-mento das maneiras pelas quais desigualdades múltiplas e complexas moldam a segurança de diferentes populações. Argumentaremos que elementos da teoria da complexidade podem auxiliar em ambas as ações.

Em Direção à Ecologia ComplexaUma discussão completa dos conceitos subjacentes à noção de ecologia complexa está desenvolvida em

nosso livro a ser publicado sobre o meio-ambiente e/em relações internacionais (CUDWORTH; HOBDEN, 2011). Aqui, indicamos as características principais dessa abordagem. Uma abordagem das questões am-bientais nas relações internacionais inspirada pela complexidade constituiria uma forma distinta de análise em comparação com as abordagens de ‘conflito ambiental’ e de ‘segurança ambiental’. Essa abordagem prio-riza o desenvolvimento de um entendimento das relações sociais, políticas e econômicas como geradoras de impactos que vão além dos seres humanos. Embora os sistemas humanos e os não humanos tenham características diferentes, em última análise eles são coconstitutivos, se sobrepõem e se intercruzam. Em vez de ver uma separação entre o humano e o não humano, o ecologismo complexo vê o mundo humano como inserido no mundo natural, com a variedade de sistemas sociais humanos se intercruzando com a dos outros sistemas naturais. Sistemas sociais variados se sobrepõem e intercruzam, com as resultantes implicações em uma série de outros sistemas naturais (espécies, paisagens e a biosfera mais abrangente). A noção de panar-quia, descrita na seção anterior, oferece um retrato efetivo dos conjuntos de sistemas inter-relacionados.

Há algumas tentativas de utilizar a complexidade em ‘abordagens da segurança ecológica’. Harrison, por exemplo, identifica ‘quatro principais conceitos de complexidade adaptados a sistemas ecológicos’: agên-cia adaptativa, emergência auto-organizada, autoridade e abertura’ (2006, p. 55). Há duas dificuldades im-portantes na aplicação, por Harrison, dos conceitos de complexidade: o dualismo e a omissão das rela-ções de poder. Harrison discute o conceito de agência totalmente em relação às estratégias de adaptação e subjetividade dos seres humanos, no contexto da mudança ambiental. As agências de outras espécies, que supostamente estão coevoluindo com esses agentes humanos, estão ausentes. Em segundo lugar, em suas discussões sobre auto-organização e emergência, ele enfatiza os processos e interconexões que ocor-rem de baixo para cima, por exemplo, na elaboração de políticas ambientais. Nos sistemas interconectados e não lineares de Harrison, sistemas sociais e naturais são analiticamente distintos e a política é perdida – aqui, não há um entendimento do poder no mundo social nem de seu impacto em sistemas não humanos.

Embora a ‘segurança ecológica’ situe firmemente a análise de relações políticas, sociais e econômicas dentro do sistema ambiental mundial e dê atenção a diferenças regionais, ela não leva em conta toda a

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gama de desigualdades sociais complexas que moldam as relações humanas com os ambientes e dentro dos mesmos. A contribuição de uma abordagem de ecologia complexa é a possibilidade de analisar a in-terseccionalidade e múltiplas relações de poder. Como discutido acima, uma série de diferentes conjuntos de relações de poder tem sido analisada por ecologistas políticos. Eles representam a operação de dife-rentes conjuntos de sistemas, como os patriarcais, capitalistas, etnocentristas, e assim por diante, que po-dem ter impacto uns sobre os outros e têm implicações no meio-ambiente. Nós argumentaríamos que, embora possam ser considerados sistemas distintos, o caminho do desenvolvimento de cada um tem im-plicações nos outros sistemas. Isso permite o desenvolvimento de múltiplos níveis de análise, levando o foco para longe do Estado e em direção a níveis supraestatais (incluindo a biosfera) e a níveis subestatais. As questões ambientais podem, assim, ser analisadas por meio da operação em uma variedade de níveis.

O ecologismo complexo proporciona um meio de superar os pontos fracos da gama de abordagens de securitização ambiental discutida na primeira seção deste artigo. Ao se distanciar de uma estrutura focada no Estado e levar em conta uma panarquia de sistemas interconectados, os problemas ambientais podem ser tratados nos níveis mundial, regional e local. A própria biosfera é um sistema coconstitutivo com outros sistemas humanos e não humanos. A visualização dos sistemas humanos como inseridos em uma gama mais ampla de sistemas propicia a superação da dualidade inerente à maioria das abordagens do enten-dimento de questões ambientais dentro das relações internacionais. O ambiente não está “lá fora”; em vez disso, ele é constitutivo de sistemas humanos e reativo aos mesmos. Os sistemas humanos estão inseridos em uma série de sistemas não humanos, com a consequência de que desenvolvimentos em um sistema podem ter implicações em outras partes da panarquia. Assim, para dar um único exemplo, níveis maio-res de dióxido de carbono resultantes de uma maior industrialização podem ser associados à migração de espécies em sistemas ecológicos locais. Do mesmo modo, aumentos da temperatura global podem au-mentar o uso de energia em, por exemplo, sistemas de refrigeração, afetando sistemas econômicos (preços do petróleo), políticos (relações entre Estados) e étnicos (relações com populações islâmicas europeias).

A interconexão de sistemas complexos também permite que a análise passe de um foco na segurança para um foco na insegurança. O ecologismo complexo entende as interações e mudanças em sistemas humanos / naturais complexos como geradoras de riscos, perigos e incertezas, com os quais a política internacio-nal deve lidar. Uma característica importante das questões ambientais globais da atualidade é que muitas das pessoas que estão em situação de maior risco não são os autores das causas desse risco. As situações de risco ambiental enfrentadas por indivíduos, comunidades e sociedades são frequentemente consequ-ências de complexas inter-relações de poder. As sociedades mais desenvolvidas têm sido eficazes em ex-portar sua degradação ambiental, obtendo os benefícios da produção industrial sem os custos inerentes.

Por fim, quando se enfoca a intersecção das relações de poder existentes em diferentes sistemas e entre os mesmos e a criação de risco que está associada às relações entre os sistemas, as possibilidades de uma mitigação do risco em toda a panarquia passa a ser a questão principal. A passagem da ‘segurança’ para o ‘alívio de risco’ implica que o foco da atenção esteja na reestruturação de atividades criadoras de risco, e não em tentativas de garantir proteção para grupos específicos. O rompimento dessa conexão como questão focada no Estado e, por outro lado, a concentração em uma análise focada em sistemas entrecruzados removem o foco em gru-pos sociais específicos e reorienta a análise em direção tanto a uma preocupação com a biosfera mais ampla, como à justiça social. Como muitas outras pessoas apontaram, o trabalho sobre mudança ambiental na teoria das relações internacionais tem tendido a modificar as abordagens existentes, ao incluir o meio-ambiente em estruturas pré-existentes, como a securitização. Perspectivas como a de ‘segurança ecológica’, que buscam um questionamento e uma transformação radicais dessa estrutura, não deixam de ser moldadas por ela. Precisa-mos ir além da securitização, mas, em termos de políticas, parece que a noção de segurança tem sido atraente e enquadra políticas ambientais lado a lado com iniciativas de ‘mitigação’ e ‘adaptação’ a ‘problemas’ ambientais.

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Segurança Ambiental e a UE

Esta seção trata de parte da literatura sobre políticas ambientais produzida pela UE. Aqui, demons-traremos o caráter dualista e centrado no Estado da análise relacionada à segurança ambiental e ar-gumentaremos em prol de abordagens que sejam cientes da inserção dos sistemas humanos em uma rede mais ampla de sistemas não humanos. Argumentaremos que as políticas para mitigar proble-mas ambientais pressupõem que tanto os membros e regiões da Europa como as populações dos mes-mos estão situados igualmente. Embora existam a retórica da ameaça ambiental e as iniciativas de securitização, a estrutura estratégica da política da UE enfatiza a adaptação a mudanças das circuns-tâncias. Esses discursos entrelaçados não enxergam questões relativas à desigualdade social e são ina-dequados para fazer frente aos desafios da mudança ambiental mundial que discutimos até agora.

A UE começou – apenas muito recentemente – a priorizar as políticas ambientais. Em 2005, por exem-plo, a mudança climática entrou no cerne da política da UE, sendo debatida regularmente em reuniões do Conselho Europeu (JORDAN, HUITEMA;VAN ASSELT 2010, p. 3). No entanto, a despeito desta muito recente ‘virada verde’, a UE, pelo menos em suas declarações de políticas, busca liderar o mundo na reação a problemas ambientais, como a mudança climática. Entre 1990 e 2000, observou-se uma mu-dança dramática, sendo que a Comissão Europeia afirmou, em 2000, que lidar com a mudança climáti-ca era o desafio central e primordial, em termos de políticas, que a UE enfrentava (OBERTHÜR; KELLY, p.2008). Algumas pessoas têm apresentado sérias afirmações no sentido da liderança europeia das po-líticas ambientais, alegando, por exemplo, que a intervenção da UE de fato ‘salvou’ o Protocolo de Kyo-to, após a retirada do apoio do governo dos Estados Unidos sob George W. Bush, em 2001 (BRETHER-TON; VOGLER, 2006, p. 110). A UE tem sido vista como assumindo um papel importante na arena internacional de políticas ambientais, em termos de pressionar por metas temporais definidas, imple-mentar o que é visto como instrumentos de políticas ‘novos’, como negociação de emissões de carbono, e promover diretrizes como o princípio da precaução (JORDAN, HUITEMA, VAN ASSELT, 2010, p. 7).

Mesmo assim, apesar dessas iniciativas e asserções, em termos concretos, como os níveis de emissões de dióxido de carbono, a UE parece estar indo totalmente na direção errada (HELM 2008, p. 214). A UE é uma emissora de dióxido de carbono razoavelmente grande, por exemplo (contribuindo com 10,5% das emissões mundiais em 2006, EEA, 2008). Há algo como um hiato, portanto, entre o compromisso aparente e o que é executado de fato. Além disso, para os Estados membros, a UE se tornou um foco principal de políticas ambientais, com a maior parte das políticas sendo feitas por ela ou em associação com ela. Assim, a partir de 2000, podemos falar em uma ‘europeização’ bem-sucedida das políticas ambientais (EEA, 2008, p. 7).

A política ambiental mais recente da UE está definida no programa de ação Ambiente 2010: O Nos-so Futuro, A Nossa Escolha. Esse documento se concentra em quatro áreas prioritárias: mudança climá-tica; natureza e biodiversidade; meio-ambiente e saúde; e recursos naturais e resíduos. Trata-se do últi-mo desenvolvimento dentro da estrutura do 6º Programa de Ação Ambiental, que foi adotado em julho de 2002 e prossegue até 2012. O Programa promoveu a integração de requisitos de proteção ambiental e desenvolvimentos sustentáveis em outras áreas da definição de políticas (como competitividade, empre-go, saúde e qualidade de vida). A UE fez da mudança climática a sua preocupação mais urgente; todavia, se considerarmos esse documento estrutural juntamente com as preocupações e estratégias articuladas no informe técnico de 2009 intitulado Adaptação à mudança climática: Em direção a uma estrutura europeia de ação, descobriremos que a política está estruturada por meio de conceitos de securitização ambien-tal, mas propõe reações que são menos radicais, numa leitura mais atenta, do que pode parecer de início.

O informe de 2009 define uma estrutura para reduzir a vulnerabilidade da UE ao im-

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pacto da mudança climática no contexto da Convenção Quadro das Nações Unidas so-bre Mudanças Climáticas (UNFCCC) e estabelece os parâmetros das políticas da UE de-pois de 2012. Duas principais políticas de reação à mudança climática são enfatizadas:

Primeiramente, e acima de tudo, devemos reduzir nossas emissões de gases do efeito estufa (i.e., to-mar medidas de mitigação) e, em segundo lugar, devemos tomar medidas de adaptação para lidar com os impactos inevitáveis. A legislação da UE sobre mudança climática, acordada recentemente, imple-menta as medidas concretas para atingir o compromisso da UE de reduzir, até 2020, as emissões para 20% abaixo dos níveis de 1990. Contudo, mesmo que o mundo tenha êxito em limitar e depois redu-zir as emissões de gases do efeito estufa, levará tempo para que nosso planeta se recupere dos gases do efeito estufa já presentes na atmosfera. Assim, enfrentaremos o impacto da mudança climática no mí-nimo pelos próximos 50 anos. Precisamos, portanto, tomar medidas para nos adaptar. (2009, p. 3)

As referências à UNFCCC reconhecem as causas humanas do dano ambiental – em particular, do aquecimento global. Nossa necessidade de nos adaptar e de mitigar está claramente definida no con-texto dos riscos e ameaças ambientais – do que é amplamente considerado uma noção radical de segu-rança ambiental. Todavia, a Comissão Europeia também considera que os riscos ambientais põem em risco a segurança dos Estados membros europeus e a própria União de maneiras mais tradicionais:

A não adaptação pode ter implicações em termos de segurança. A UE está, portanto, reforçan-do seus sistemas de advertência antecipada e de análise e integrando a mudança climática a suas ferra-mentas existentes, como mecanismos de prevenção de conflitos e reforma do setor de segurança. Os efeitos da mudança climática sobre os fluxos migratórios também devem ser levados em conta na re-flexão mais ampla, pela UE, sobre políticas de migração, desenvolvimento e segurança. (2009, p. 15)

O quadro da política ambiental é, assim, uma noção bastante convencional de securitiza-ção em relação a ameaças externas, tanto humanas como ‘naturais’. A Europa permanece como uma entidade que pode ser protegida nesse regime discursivo, e cujo tecido social está em risco.

As próprias noções de ‘mitigação’ e ‘adaptação’ são tiradas do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (2007). ‘Mitigação’ é ‘intervenção antropogênica’, como no exemplo acima de redução de ten-sões no sistema climático pela diminuição das emissões. ‘Adaptação’ é um tanto mais vago e seu signifi-cado tomado como um ‘ajuste em sistemas naturais ou humanos’ em reação a efeitos reais ou previstos do aquecimento global (HULME; NEUFELD 2010, p. 6). Talvez possamos, então, esperar, dado esse grau de retória política e o florescimento de documentação sobre políticas, que podem ser necessárias inicia-tivas assertivas e concretas de políticas em reação a algo que é claramente percebido como uma ameaça.

Entretanto, em sua encarnação nas políticas da UE, a adaptação parece significar que é necessária uma mudança mínima. Por exemplo, embora uma mudança nos padrões de investimento em direção à con-cretização de uma economia de baixo carbono seja vista como necessária, conceitua-se isso nos termos muito conservadores de: “promover a eficiência energética e a aceitação de produtos ecológicos” (2009, p. 6). Nessa literatura, os cidadãos aparecem como consumidores de ‘bens ambientais’, como ar, água e ali-mentos “isentos de poluição e contaminantes” e também, potencialmente, de produtos ‘mais ecológicos’:

As pessoas exigem que o ar que respiram, a água que bebem e os alimentos que comem es-tejam isentos de poluição e contaminantes; elas querem viver sem ser perturbadas por ba-rulho; e querem desfrutar da beleza do campo, de litorais preservados e de áreas monta-nhosas. Elas também querem um mundo que não esteja ameaçado pela mudança climática.

Um meio-ambiente saudável é essencial para a prosperidade e a qualidade de vida no longo prazo, e os cidadãos europeus exigem um alto grau de proteção ambiental. O desenvolvimento econômico fu-turo e o aumento da prosperidade pressionarão a capacidade do planeta de atender às demandas de re-cursos e de absorver a poluição. Ao mesmo tempo, altos padrões ambientais são um motor para a ino-

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vação e oportunidades de negócios. Em termos gerais, a sociedade deve trabalhar para dissociar os impactos e a degradação ambientais do crescimento econômico. Os negócios devem operar de manei-ra mais ecoeficiente, ou seja, produzindo quantidade igual ou superior de produtos com menos insu-mos e menos resíduos, e os padrões de consumo precisam ser mais sustentáveis. (Environment, 2010)

Reforçando essa noção de consumidor ambiental está a noção de um meio-ambiente puro e isen-to de ameaças, e a linguagem na qual essas noções estão enquadradas é uma linguagem de ‘ris-co’ e, em particular, de bens ambientais públicos ‘ameaçados’. Por outro lado, apesar de reconhe-cimentos periódicos de que os problemas ambientais, como as várias formas de poluição e, em particular, o aquecimento global, são causados por padrões do comportamento humano, a descrição do problema e a solução proposta articulam uma concepção dualista de meio-ambiente e ‘sociedade’.

Certamente, o não humano não pode assumir o centro do palco porque: “Deve-se dar priori-dade a medidas de adaptação que gerem benefícios sociais e/ou econômicos líquidos” (2009, p. 8). Isso inclui efetivamente metas ambientais em outras prioridades de políticas. Embora tenha-mos sugerido anteriormente neste artigo que questões de (in)justiça social estão intimamente liga-das à natureza dos problemas ambientais, medidas de adaptação não fazem frente a questões urgen-tes de desigualdade social em relação a comportamento, práticas e instituições sustentáveis. Em vez disso, ‘adaptação’ significa, em grande parte, manter as coisas como estão. Em especial, enfatiza-se que:

A adaptação deve entrar no cerne de todas as políticas externas da UE. Na política comercial, a adap-tação deve ser incorporada particularmente por meio da liberalização do comércio de bens e servi-ços ambientais e na elaboração de Acordos de Livre Comércio. Existe um enorme potencial para o co-mércio ecológico, que pode contribuir para aumentar o crescimento e criar empregos. (2009, p. 15)

A trajetória fundamental, então, é ‘tornar ecológicos’ os negócios e o comportamento do consumidor: Trabalhar junto ao mercado através dos interesses de empresas e consumidores contri-

buirá para uma produção e padrões de consumo mais sustentáveis. Os negócios não de-vem simplesmente ser penalizados por insucesso, mas devem ser introduzidos esquemas para premiar o bom desempenho. Os consumidores precisam de informações úteis que lhes permitam escolher produtos bons para o meio-ambiente, conduzindo, assim, o mercado. (Environment, 2010)

A noção de que a mudança ambiental tra-rá consigo maiores desigualdades é admitida de maneira apenas muito geral:

A adaptação exigirá solidariedade entre os Estados Membros da UE para as-segurar que regiões desfavorecidas e regiões mais afetadas pela mudan-ça climática sejam capazes de tomar as medidas necessárias para se adaptar. (2009, p. 6)

É notável que, no entanto, as diferenças de riqueza, de recursos e outros indicadores de desigualdade social estejam totalmente fora do planejamento da Comissão. Não há discussão de metas diferenciadas para a imple-mentação de políticas de mitigação, e pouco ou nada é dito sobre a necessidade de um entendimento e um plane-jamento diferenciados com relação à adaptação. Em vez disso, todos os Estados são responsáveis por cumprir as políticas de mitigação que a UE já tentou implementar, e os que não cumprem como poderiam são punidos sem que se leve em conta como os membros da UE estão situados dos pontos de vista econômico, social e político:

...muitos de nossos resíduos ainda vão para instalações mais antigas e não muito bem ge-ridas, em parte devido à não implementação, da forma devida, da legislação da Comunida-de sobre resíduos pelos Estados Membros. Os impactos da gestão e do transporte de resídu-os continuam, portanto, problemáticos em muitas áreas da Comunidade (Environment, 2010)

Ademais, o enquadramento estatista das trajetórias das políticas é explícita e intransigentemente liberal, sendo que certa aliança entre o protesto social ambiental e a liberalização serve para moldar a futura composição da União:

O protesto ambiental era uma característica da resistência aos velhos regimes nos Países Candida-

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tos do Centro e do Leste da Europa. Essa consciência precisa ser desenvolvida, mostrando-se que o meio-ambiente e o desenvolvimento econômico não são mutuamente excludentes. O que se deve fa-zer é passar a mensagem de que os Países Candidatos têm a oportunidade de construir uma socie-dade moderna e próspera que mantenha intactos o interior e as paisagens. (Environment, 2010)

A política ambiental da UE exemplifica todas as três articulações da noção de ‘segurança ambien-tal’ com as quais iniciamos o presente artigo. Primeiramente, no nível da retórica em si, há alguns ele-mentos da abordagem de ‘segurança ecológica’ delineada por Dalby. Na linguagem de ameaça e risco também há certo reconhecimento de que somos nós, humanos, enquanto espécie, que somos inseguros e tornamos inseguras outras espécies e mesmo a vida planetária por meio de nossas práticas econômi-cas e sociais. Na análise das ameaças às sociedades e espaços ‘naturais’ europeus, há elementos de uma abordagem de securitização mais tradicional, que emprega a linguagem do ‘conflito ambiental’. Por fim, a noção mais comum de ‘segurança ambiental’ é invocada em uma análise de políticas que vê as co-munidades humanas como ameaçadas pela mudança ambiental e o esgotamento dos recursos e ofe-rece soluções estatistas e supraestatistas para os problemas gerados por esses desenvolvimentos.

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Conclusão

Como vimos nas críticas da segurança ambiental, garantir a segurança para populações específi-cas é complicado, já que os problemas ambientais existem em um âmbito internacional ou, pelo me-nos, cruzam limites nacionais e regionais (Wynne 1993). Também exacerbam as disparidades existen-tes entre comunidades, regiões e Estados ricos e pobres e são resistentes a soluções tecnológicas (LUKE, 1999). Contudo, o mais significativo, como vimos, é que eles constituem um desafio importante às normas sociais vigentes, sendo que isso vale para o Ocidente e, cada vez mais, para todas as outras re-giões do globo. A trajetória fundamental da política ambiental na UE está resumida nesta afirmação:

A mudança climática é um desafio importante para a sociedade moderna. Ela deve ser tratada em nível internacional, com ações conjuntas e planejamento de longo prazo. Se a mudança climáti-ca for enfrentada da maneira correta, nosso empenho para limitá-la provavelmente gerará benefícios e oportunidades significativos para as empresas, bem como benefícios colaterais em termos de reduzir a poluição do ar. A indústria será ajudada a inovar, desenvolver novos produtos e serviços e ganhar no-vos mercados em escala mundial. Mas o que é mais importante é que o sucesso ajudará a garantir que as gerações futuras herdem um meio-ambiente viável e uma sociedade sustentável. (Environment, 2010)

Aqui, um ‘meio-ambiente viável’ e uma ‘sociedade sustentável’ são de suma importância – são subprodutos da ecologização do consumo e da produção capitalista. Em nossa opinião há, portan-to, uma disjunção radical no cerne da política ambiental na União Europeia. Por um lado, exis-te a aceitação de ameaças consideráveis à nossa própria espécie e a outras espécies e uma retó-rica de preocupação significativa e evidência de ação que pressiona por mudanças. Por outro, a política ambiental da União Europeia é a de literalmente, em grande parte, ‘manter as coisas como estão’.

Sugerimos que precisamos de uma nova estrutura política. O ecologismo complexo oferece uma po-lítica e uma análise que levam em conta a nossa necessidade imperativa de cuidar da biosfera e também um entendimento das maneiras pelas quais desigualdades múltiplas e complexas moldam a segurança de diferentes populações. A abordagem de segurança ambiental é importante por ter priorizado a ques-tão do ambiente global, mas o fato de ela priorizar o Estado e ver o meio-ambiente como algo ‘lá fora’, de onde se pode ter segurança, levou a limitações, como a maneira de ver as relações entre seres huma-nos e não humanos e de teorizar a política ambiental internacional. O ecologismo complexo ressalta a in-serção de sistemas humanos nos ambientes. Ele implica que o alívio de crises ambientais envolve não o oferecimento de segurança, mas sim uma reorientação da atividade humana que reduzirá os riscos para todos os sistemas dentro da biosfera. Não precisamos manter as coisas como estão. Em vez disso, são o capitalismo de consumo carbonífero e as injustiças e desigualdades sociais que vão ficar, proveitosa-mente, menos seguros na concretização de uma sociedade sustentável na Europa e no resto do mundo.

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Análise comparativa da qualidade da água para abastecimento na Floresta Nacional de Ipanema e das Comunidades Mursa e Smith

Comparative analysis of the quality of water supply in the National Forest of Ipanema and Communities Mursa and Smith

Fatoreto, A. Z.¹; Uslar, F.²; Kawazoe, L³; Ferlin, L.4; Amorim, L.5; Gobbi, E. S.6 e Seo, E.7

1 Graduando em Tecnologia em Gestão Ambiental - SENAC

2 Graduando em Tecnologia em Gestão Ambiental - SENAC

3 Graduando em Tecnologia em Gestão Ambiental - SENAC

4 Graduando em Tecnologia em Gestão Ambiental - SENAC

5 Graduando em Tecnologia em Gestão Ambiental - SENAC

6 Mestre em Geografia. Professor Centro UniversitárioSENAC

7 Doutora em Tecnologia Nuclear. Coordenadora Centro Universitário SENAC

Resumo O objeto desta pesquisa é a qualidade da água da Unidade de Conservação, Floresta Nacional de

Ipanema - FLONA, que possui um remanescente importante de Mata Atlântica do Estado de São Paulo administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ministério do Meio Ambiente (MMA). A FLONA está localizada entre as cidades de Araçoiaba da Serra/SP, Iperó/SP e Capela do Alto/SP, possui uma área de aproximadamente 5.000ha, na qual abriga cerca de 80 famílias, totalizando 270 pessoas. Deste total, dividem-se as famílias em duas categorias: Funcionários do ICMBio e Guias de Turismo. Nas residências de ambas as categorias, o abastecimento de água é realizado de duas formas: por meio de um poço artesiano central e da água oriunda do Rio Ribeirão do Ferro. O Rio Ri-beirão do Ferro, além de abastecer as famílias residentes na FLONA, abastece também duas comunida-des que extrapolam o limite da Floresta Nacional de Ipanema, que são a Comunidade do Smith e a Co-munidade do Mursa. Neste contexto, este artigo tem como objetivo apresentar os resultados da qualidade da água do Rio Ribeirão do Ferro e bem como do poço artesiano central localizado na FLONA. O es-tudo visa contribuir às comunidades que consomem esta água, visto que no local do objeto de pesquisa não possuem nenhum tipo de tratamento e também não contam com nenhum apoio da autoridade local.

Palavras chave: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversida-de, Ministério do Meio Ambiente, Floresta Nacional de Ipanema, Qualidade da água.

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Abstract

The object of this research is the water quality of the Conservation Unit, Ipanema National Fo-rest - National Forest, which has an important remnant of Atlantic Forest of São Paulo State administe-red by the Chico Mendes Institute for Biodiversity Conservation (ICMBio), Ministry of the Environment (MMA). The National Forest is located between the cities of Araçoiaba da Serra / SP, Iperó / SP and Ca-pela do Alto / SP, has an area of approximately 5,000 ha, in which about 80 families totaling 270 people. Of this total, the families are divided into two categories: officials and ICMBio Tourist Guides. In both categories of homes, water supply is done in two ways: through a central borehole and water coming from the Ribeirão River Iron. Ribeirão Rio Iron, in addition to supplying families residing in the Natio-nal Forest, also supplies two communities that go beyond the limit of the National Forest of Ipanema, which are the Community and the Community of Smith Mursa. In this context, this article aims to pre-sent the results of water quality Ribeirão River and Iron and the artesian well located in central Natio-nal Forest. The study aims to contribute to the communities that consume this water, since the location of the object of research do not have any treatment and did not have any support from the local authority.

Keywords: Chico Mendes Institute for Biodiversity Conservation, Minis-tery of Environment (Brasil), National Forest of Ipanema, quality of water.

IntroduçãoA água e o homem têm uma relação íntima, e o ciclo hidrológico representa a circulação, o movimento

das águas de um meio para outro no Planeta Terra. Segundo Macêdo (2002), a evapotranspiração repõe vapor d’água na atmosfera numa quantidade que chega à metade de toda a água que formam as chuvas da região. Isso demonstra um dos fatores de importância da água para a Vida, além de promover melho-ria na higiene e saúde da população, através de captação e tratamento adequados para abastecimento.

Segundo a SABESP (2009), um sistema de abastecimento de água é o conjunto de obras, equi-pamentos e serviços destinados ao abastecimento de água potável a uma comunidade para fins de consumo doméstico, industrial, serviços públicos e outros usos, ou seja, um sistema de abasteci-mento é algo extremamente importante para a sociedade, que necessita de água de qualidade para so-breviver, pois esta influenciará em aspectos sanitários como diminuição de incidência de doenças, por exemplo, e acaba por influenciar também em aspectos econômicos como o aumento da vida pro-dutiva da população economicamente ativa, diminuição de gastos públicos com saúde, entre outros.

Por reconhecer a importância disso, o foco principal da pesquisa é analisar e qualificar a água utili-zada pela comunidade que vive dentro dos limites da Floresta Nacional de Ipanema, bem como as duas comunidades que extrapolam o limite da mesma (Mapa 01), pois ambas utilizam água oriunda do Rio Ribeirão do Ferro para consumo sem nenhum tipo de tratamento. Tem o objetivo de melhorar a quali-dade de vida da população da região estudada, levando informações sobre a qualidade da água que uti-lizam e medidas de saneamento, bem como esclarecer sobre a relação da água com possíveis doenças.

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Mapa 01

Floresta Nacional de Ipanema

Delimitação da área de estudo. Fonte: Sistema Cartográfico Nacional. IBGE/Exército.

Folha Boituva, SP (1971). Desdobramento: SF-23-Y-C-I-4.

Legenda

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Materiais e MétodosOs métodos e procedimentos de coleta e análise desta pesquisa foram emba-

sados pelas seguintes resoluções e legislações: CONAMA nº 357 de 17/03/2005; ANVISA; e Manual de coletas, armazenamento e transporte da CETESB.

Para esta pesquisa se tornar possível, a obtenção da licença de pesquisa na Unidade de Con-servação Floresta Nacional de Ipanema através do sistema SISBIO do ICMBio é imprescindível.

Antes do início das coletas, foram feitas reuniões com as duas categorias de moradores da região para entendimento do esquema de abastecimento de água em suas casas. Após entrevistas com morado-res e trabalhadores da região de estudo para obtenção da base de dados, iniciaram-se as coletas de água.

Os materiais utilizados para as coletas de água da re-gião da Floresta Nacional de Ipanema e seu entorno foram os seguintes:

§ Medidor de PH para água (peagâmetro de bolso);§ Medidor de Oxigênio Dissolvido (Oxímetro);§ Luvas de látex;§ Bolsas térmicas para armazenar as amostras coletadas;§ Algodão;§ Álcool em gel;§ Isqueiro e fósforo;§ Pinça de laboratório;§ Frascos de 1000 ml para armazenamento da água coletada;§ Frascos de 100 ml (para análise de coliformes) estéreis para armazenamento da água coletada;

Os materiais utilizados para as análises das amostras de água coletadas foram os seguintes:§ Luvas de látex;§ Medidor de Oxigênio Dissolvido (Oxímetro);§ Álcool;§ Água destilada§ Pinça de laboratório;§ Pipetas de 1 ml e de 10 ml;§ Cubetas de 10 ml;§ Becker de 100 ml, 500 ml e 1000 ml;§ Balança de precisão;§ Espectrômetro;§ Estufa;§ Luz negra;§ Tigelas de 100 ml§ Geladeira;§ Água aerada;§ Ferro;

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§ Cálcio;§ Manganês;§ Fosfato;§ Reagentes para Coliformes, Cobre, Zinco, Amônia, Nitrito, Nitrato e Flúor;

Foram cinco dias de visita ao local, sendo que foram coletadas amostras de sete pontos (apresentados a seguir), em três dias diferentes. Os pontos de coleta foram:

1. Ribeirão do Ferro;2. Nascente do Ribeirão do Ferro;3. Caixa d’água de abastecimento do Centro de Visitantes da Floresta Nacional de Ipanema;4. Torneira da copa dos funcionários no Centro de Visitantes da Floresta Nacional de Ipanema;5. Bebedouro do Centro de Visitantes da Floresta Nacional de Ipanema;6. Torneira de uma das casas da Comunidade Mursa;7. Torneira de uma das casas da Comunidade Smith;Conforme as Figuras 02 e 03, figuramos o momento de uma coleta seguido de outro ponto, onde futuramente

haveria a necessidade de uma nova coleta. Antes de coletar as amostras dos pontos 4, 5, 6 e 7, os bicos das saídas de água foram esterilizados com fogo, a fim de eliminar possíveis contaminações não provenientes da água.

Figura 02 Figura03

Coleta de amostras – Rio Ipanema Local de coleta de amostras – Ribeirão do Ferro

Após cada dia de coleta a equipe de pesquisa dirigia-se ao laboratório, onde eram feitas as análises de qualidade das amostras de água, que foram baseadas no IQA – Índice de Qualidade das Águas. Para a CETESB, este índice determina a qualidade da água bruta, que contempla nove parâmetros de qua-lidade (temperatura da amostra, pH, oxigênio dissolvido, demanda bioquímica de oxigênio (5 dias, 20ºC), coliformes termotolerantes, nitrogênio total, fósforo total, sólidos totais e turbidez), a fim de que as análises fossem mais críveis e precisas, e para que pudéssemos comparar ao menos alguns parâ-metros com outros índices. Foram analisados também: flúor, cobre, zinco, amônia e cor verdadeira e aparente, além do IQA, totalizando assim quatorze parâmetros analisados para determinação da quali-

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dade da água para abastecimento na Floresta  Nacional de Ipanema e entorno diretamente relacionado.Segudo (Fonte: http://www.micronal.com.br/artigostecnicos/saude_agua.htm, acessa-

do em 09/05/2011), as análises realizadas dizem respeito as seguintes características da água:üAmônia (nitrogênio amoniacal): Nitrogênio amoniacal pode estar presente em água natural, em baixos

teores, tanto na forma ionizada (NH4 +) como na forma tóxica não ionizada (NH3) devido ao processo de degeneração biológica de matéria orgânica animal e vegetal. A Amônia tóxica somente é estável em águas alcalinas. Em águas ácidas seu efeito é bastante reduzido. Concentração excessiva de amônia é tóxica para a vida aquática, sendo que na forma não ionizada (NH3) mesmo em baixas concentrações podem ser fatais para os peixes, pois afetam o sistema nervoso central do animal, reduzindo sua capacidade de consumir oxigênio e diminuindo sua resistência a doenças. Em resumo, uma quantidade de 5 ppm a pH 6 é inócua para os peixes, mas a pH 9 pode rapidamente resultar em elevada mortandade no aquário. Por esta razão, deve-se determinar sempre em paralelo, pH e amônio.

üCobre: O cobre, em elevadas concentrações pode ser tóxico para os peixes. Valores altos de pH e alcalinidade irão complexar o cobre, ajudando na redução desta toxicidade.

üFósforo (Fosfatos): Os fosfatos estão presentes na água devido a várias fontes, eles são nutrientes essenciais na formação dos ossos e ingredientes primários em fertilizantes, níveis muito elevados podem levar a uma proliferação abundante de algas.

üNitrato (nitrogênio nítrico): Nitrato é a forma mais completamente oxidada do nitrogênio. Ele é formado durante os estágios finais da decomposição biológica, tanto em estações de tratamento de água como em mananciais de água natural. Sua presença não é estranha, principalmente em águas armazenadas em cisternas em comunidades rurais. Um máximo de 10 ppm de nitrato (nitrogênio) é permitido em água potável.

üNitrito (nitrogênio nitroso): O Nitrito, um estado intermediário do ciclo do nitrogênio, é formado durante a decomposição da matéria orgânica e prontamente oxidada a nitrato. Esses processos ocorrem em instalações de tratamento de água, sistemas de distribuição de água e águas naturais. Em águas superficiais a presença de nitritos pode indicar a decomposição parcial de matéria orgânica, descarga excessiva oriunda de estação de tratamento de água ou poluição industrial. Em águas poluídas a presença de nitrito pode indicar a presença de bactérias redutoras de nitrato quando as condições presentes são anaeróbias. Concentrações até 0,1 mg/l são inofensivas, já em concentrações entre 0,1 e 0,5 podem provocar danos a certas espécies de peixes. Existe perigo elevado em caso de concentrações superiores a 1 mg/L, pior ainda, se combinado com teores baixos de cloretos e de oxigênio dissolvido, podendo causar metemoglobinemia, também conhecida como doença do sangue marrom.

üOxigênio dissolvido: O nível de oxigênio dissolvido em águas naturais é, com freqüência, uma indicação direta de qualidade, uma vez que as plantas aquáticas produzem oxigênio enquanto microorganismos geralmente o consomem ao alimentarem-se de poluentes. O O.D é essencial para a subsistência de peixes e outras vidas aquáticas e auxilia na decomposição natural da matéria orgânica.

üpH : É a medida de concentração de íons H+ presentes na solução. É uma das determinações de qualidade da água mais freqüentemente executadas. Os peixes em geral adoecem rapidamente quando

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o valor de pH é inferior 4.5 (meio ácido) ou maior que 9.0 (meio básico). É também importante no controle da corrosão e de incrustações, visto que a solubilidade de muitos materiais presentes na água varia com o pH do meio. A maior preocupação com os valores de pH é como eles afetam outras substancias, incluindo nitrito e amônia.

üTemperatura: Importante parâmetro que sofre influências de inúmeros fatores potencialmente ambientais que a faz variar continuamente. Influi no retardamento ou aceleração da atividade biológica, crescimento e reprodução dos peixes e plantas, na absorção de oxigênio, na precipitação de compostos, na formação de depósitos, na filtração, na desinfecção por cloro, entre outros.

üTurbidez: Se um líquido contém substâncias sólidas não dissolvidas, a luz que atravessa o líquido fica em parte absorvida. A turbidez se deve a partículas em suspensão ou colóides. Um alto valor de turbidez prejudica a condição estética da água e estudos técnicos constatam o efeito de proteção física de microrganismos pelas partículas causadoras da turbidez, diminuindo a eficiência de tratamentos.

Nas imagens a seguir (Figuras 04, 05, 06 e 07), estão representadas as análi-ses sendo efetuadas através das coletas obtidas com o trabalho em laboratório.

Figura 04 Figura 05

Análise laboratorial das coletas Análise laboratorial das coletas

Figura 06 Figura 07

Análise de cor verdadeira/aparente Análise da turbidez

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O excesso ou a baixa concentração destes elementos na água devido a falta de tratamento pode acarretar diversos tipos de doenças. Segundo a Universidade Estadual Paulista - UNESP (http://www.feg.unesp.br/~caec/downlo-ads/4/aula2.doc) acessado em 09/05/2011, pode-se classificar as doenças relacionadas à água da seguinte maneira:

1. Doenças transmitidas pela água: CLÁSSICAS (febre tifóide e cólera) e NÃO CLÁSSICAS (hepatite infecciosa). Estas doenças podem ser evitadas com a desinfecção e proteção dos mananciais.

2. Doenças causadas pela insuficiência de água para higiene pessoal: PELE E OLHOS (escabiose e tracoma) e DOENÇAS DIARRÉICAS (desinteria bacilar). Estas doenças podem ser evitadas com melhor acesso a água e promoção da higiene pessoal.

3. Doenças baseadas na água com hospedeiro intermediário aquático: PENETRAM NA PELE (esquistossomose) e INGERIDAS (verme da Guiné). Estas doenças podem ser evitadas com proteção das pessoas e dos mananciais e combate aos hospedeiros.

4. Doenças transmitidas por insetos – vetor relacionado à água: PICAM PESSOAS PERTO DE MANACIAIS (doença do sono, oncocercose) e INSETOS PROLIFERAM NA ÁGUA (febre amarela, malária). Estas doenças podem ser evitadas com a melhoria e/ou suprimento de água e combate aos mosquitos.

5. Doenças relacionadas à disposição inadequada de esgoto: ancilostomose. Esta doença pode ser evitada com a disposição adequada de esgoto para uma estação de tratamento.

Resultados e Discussões

Os resultados obtidos de cada dia após as análises e os cálculos de Índice de Qualidade da Água foram os que se seguem nos Gráficos 01, 02 e 03 abaixo, seguido dos valores de qualificação do IQA (Tabela 01) fornecidos como parâmetros utilizados pela CETESB

Gráfico 01

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Gráfico 02

Gráfico 03

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Tabela 01

A partir dos resultados obtidos pode-se notar que, segundo os valores de qualificação do IQA, na maioria dos pontos a água apresenta qualidade boa, que são todos os pontos da coleta 1 e 3, e os pontos Caixa d’água, Bebedouro, Copa, Nascente e Curso do rio, da coleta 2, por apresentarem índices com valores entre 52 e 79.

Nos pontos Mursa e Smith da coleta 2, a qualidade foi considera-da ótima, por apresentar índices entre 80 e 100, os maiores índices das análises.

O menor resultado foi no terceiro dia de coleta, coleta 3, no ponto do bebedouro, que apresentou índice de 58.No ponto Smith da coleta 3, não foi possível fazer coleta. Para que a água che-

gue as residências desta comunidade, a forma utilizada é uma estação elevatória e por fi-car em um local alto (630m de altitude), em épocas de seca o abastecimento torna-se impossível.

A seguir têm-se as Tabelas 02, 03 e 04 dos dias das coletas, que comparam outros dois principais parâmetros que indicam qualidade de água, o da Portaria 518 do Ministé-rio da Saúde e o CONAMA 357. Os itens em vermelho indicam fora do padrão de qualidade.

Segundo o Ministério da Saúde (2004), a Portaria 518 estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabili-dade, e dá outras providências. Já, segundo o Ministério do Meio Ambiente (2005), a resolução do CO-NAMA 357 dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadra-mento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências.

Tabela 02

 

 

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Tabela 03

Tabela 04

No primeiro dia de análise (09/04/2011) pode-se constatar que no ponto do Ribeirão do Fer-ro, no ponto da Nascente e no ponto da Copa, o fosfato total e os coliformes fecais estão fora do pa-drão. No ponto do Bebedouro e do Mursa, apenas o fosfato está fora do padrão. No ponto da Caixa d’água o fosfato e o zinco estão fora do padrão e no ponto Smith o fosfato e o pH estão fora do padrão.

No segundo dia de análise (16/04/2011) pode-se observar que nos pontos Ribeirão do Ferro e Caixa d’água, apenas o fosfato apresenta concentrações acima do padrão. No ponto Nascente o fosfato e os co-liformes fecais estão fora do padrão. No ponto Copa, o fosfato e o OD (Oxigênio Dissolvido) estão fora do padrão. No ponto Bebedouro, o fosfato e o zinco estão fora do padrão. No ponto Mursa apenas o

 

 

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pH está fora do padrão. E por fim no ponto Smith percebe-se que o pH e o zinco estão fora do padrão.No terceiro dia de análise (07/05/2011) pode-se constatar que em todos os pontos a amônia, o

zinco, o cobre e o fluoreto não foram detectados pelo espectofotômetro, ou por estarem em conce-trações extremamente altas, ou por estarem em concentrações extremamente baixas. No ponto Ri-beirão do Ferro, o nitrato não foi detectado, pelo mesmo motivo do zinco, fluoreta e os outros citados acima, e o fosfato e o OD estão fora do padrão. No ponto Nascente, o fosfato, o OD e os coliformes fe-cais estão fora do padrão. No ponto Caixa o fosfato está fora do padrão. No ponto Copa o fosfato e os coliformes fecais estão fora do padrão. No ponto Bebedouro o fosfato, o OD, e os coliformes fecais es-tão fora do padrão. E para finalizar, no ponto Mursa, o fosfato, o pH e o OD estão fora do padrão.

Com base nos resultados obtidos as seguintes conclusões podem ser levantadas:A quantidade de fósforo em todos os pontos de coletas está muito acima do acei-

tado pela resoução analisada (CONAMA 357), ficando entorno dos 4mg/L, quan-do o aceitável é no máximo, para os corpos d’água analisados, de    0,02mg/L.

Devido a esse dado fora do comum para o fósforo total o IQA (CETESB) apresen-tou dados bons, quando o fósforo ficou dentro do range o valor do IQA obtido foi ótimo.

Devido aos resultados obtidos, que demonstram uma água para abasteci-mento fora dos padrões estabelecidos por lei, a intervenção do Estado no moni-toramento e controle da distribuição da água para o consumo se faz necessário.

Há possibilidade de melhoria para essa qualidade de água, com uma estação de tratamento de água, prin-cipalmente para as comunidades do Mursa e Smith que utilizam a água bruta coletada do Ribeirão do Ferro.

Os ambientes aquáticos são utilizados em todo mundo com diferentes finalidades, como o abaste-cimento para consumo, irrigação, aqüicultura, navegação, entre outros. Nos países em desenvolvimen-to, em virtude das precárias condições de saneamento e da má qualidade das águas principalmente pela falta de tratamento, as doenças diarréicas de veiculação hídrica, como, por exemplo, febre tifóide, cóle-ra, salmonelose, shigelose e outras gastroenterites, poliomielite, hepatite A, verminoses, amebíase e giar-díase, têm sido responsáveis por vários surtos epidêmicos e pelas elevadas taxas de mortalidade infantil, relacionadas à água de consumo humano, pois a irregularidade do abastecimento na rede de uma de-terminada área urbana pode também modificar a qualidade da água tratada com a introdução de agen-tes patogênicos na rede de distribuição, e o efeito da mistura de água de diferentes fontes tais como uma combinação de poços, fontes superficiais ou ambos, pode influenciar muito a qualidade da água na rede.

Assim percebe-se o quanto o cuidado e qualidade da água são importantes para a sobrevi-vência principalmente da espécie humana, muitas das doenças citadas anteriormente levar a morte de uma pessoa, fora muitas outras que estão relacionadas com sérios problemas de saú-de pública como abastecimento de água, coleta, tratamento e disposição de esgoto, coleta, trata-mento e disposição final de lixo, drenagem de águas pluviais no meio urbano e poluição ambiental.

Portanto, a solução para grande parte desses problemas estaria no saneamento ambien-tal, que traria melhorias para taxas de mortalidade, na expectativa de vida ao nascer, na longe-vidade e bem-estar da população, entre muitos fatores e ainda poderia impulsionar a econo-mia com água de qualidade para os diversos fins já citados e com a população mais saudável.

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