44

Revista Reformador de Agosto de 2004

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Meditações para o dia – Juvanir Borges de Souza 5 O Espiritismo em sua vida – André Luiz 7 Conquista da sabedoria – Joanna de Ângelis 8 Deus e a Humanidade – Tobias Barreto 9 Deus atende? – Richard Simonetti 10 É e será – Casimiro Cunha 12 Ainda o problema das drogas – Eurípedes Barbosa 13

Citation preview

Page 1: Revista Reformador de Agosto de 2004
Page 2: Revista Reformador de Agosto de 2004
Page 3: Revista Reformador de Agosto de 2004

R e v i s t a d e E s p i r i t i s m o C r i s t ã oAno 122 / Agosto, 2004 / No 2.105

Fundada em 21 de janeiro de 1883

Fundador: Augusto Elias da Silva

ISSN 1413-1749Propriedade e orientação daFederação Espírita Brasileira

Direção e RedaçãoAv. L-2 Norte – Q. 603 – Conj. F (SGAN)

70830-030 – Brasília (DF)Tel.: (61) 321-1767; Fax: (61) 322-0523

Home page: http://www.febnet.org.brE-mail: [email protected]

[email protected]

Para o BrasilAssinatura anual R$ 30,00Número avulso R$ 4,00Para o ExteriorAssinatura anualSimples US$ 35,00Aérea US$ 45,00

Diretor – Nestor João Masotti; Diretor-Substituto e Edi-tor – Altivo Ferreira; Redatores – Affonso BorgesGallego Soares, Antonio Cesar Perri de Carvalho,Evandro Noleto Bezerra e Lauro de Oliveira SãoThiago; Secretária – Sônia Regina Ferreira Zaghetto;Gerente – Amaury Alves da Silva; REFORMADOR:Registro de Publicação no 121.P.209/73 (DCDPdo Departamento de Polícia Federal do Ministério daJustiça), CNPJ 33.644.857/0002-84 – I. E. 81.600.503.

Departamento Editorial e GráficoRua Souza Valente, 17

20941-040 – Rio de Janeiro (RJ) – BrasilTel.: (21) 2589-6020; Fax: (21) 2589-6838

Capa: Alessandro Figueredo

Tema da Capa: DEUS ATENDE. Todavia, a con-cessão divina leva em conta as necessidades doEspírito imortal e não as do corpo perecível.

EDITORIAL 4O valor da oração

ENTREVISTA: JEAN-PAUL EVRARD 16O Espiritismo na Bélgica

PRESENÇA DE CHICO XAVIER 18Poderá a Ciência substituir a Religião? – Weimar Muniz de Oliveira

Deus – Dario Veloso 19

ESFLORANDO O EVANGELHO 21Servicinhos – Emmanuel

A FEB E O ESPERANTO 26Ideal esperantista – Affonso Soares

O Futuro é hoje! – Vicente P. Werneck 27

FEB/CFN – COMISSÕES REGIONAIS 30

Reunião da Comissão Regional Norte

PÁGINAS DA REVUE SPIRITE 33

O Futuro do Espiritismo – Um filósofo do outro mundo

Sobre a alimentação do homem – Lamennais 34

SEARA ESPÍRITA 42

Meditações para o dia – Juvanir Borges de Souza 5O Espiritismo em sua vida – André Luiz 7Conquista da sabedoria – Joanna de Ângelis 8Deus e a Humanidade – Tobias Barreto 9Deus atende? – Richard Simonetti 10É e será – Casimiro Cunha 12Ainda o problema das drogas – Eurípedes Barbosa 13Divergências religiosas – Washington Borges de Souza 14O destino está escrito? – Ronaldo Miguez 15Em dia com o Espiritismo – II – Marta Antunes Moura 20Justiça e aflição – João Martins e Martins da Silva 22Renovação – Rodrigues de Abreu 24O espírito da caridade – Inaldo Lacerda Lima 25Esquecimento do passado – Perguntas e respostas – 28

Mauro Paiva FonsecaAntes de chegar – Hilário Silva 29Geminiano Brazil – Zêus Wantuil 35Todos nós – Dulcídio Dibo 37Victorien Sardou – o precursor do teatro espírita – 38

Lúcia Loureiro“Perdoa as nossas dívidas” – Umberto Ferreira 41

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 3

Page 4: Revista Reformador de Agosto de 2004

4 Reformador/Agosto 2004282

Uma das questões comuns à vida do homem na Terra diz respeito à prece. Deve-se orar ou não?Já que Deus conhece as nossas necessidades, não poderia atendê-las independentemente da

prece que façamos? Deus atende quando apelamos ao seu socorro?

A Doutrina Espírita nos esclarece (O Livro dos Espíritos – Allan Kardec – Parte 3a, cap. II,questões 658 e 660) que “a prece é sempre agradável a Deus, quando ditada pelo coração, pois,para ele, a intenção é tudo”. E observa, também, que “a prece torna melhor o homem, porquan-to aquele que ora com fervor e confiança se faz mais forte contra as tentações do mal e Deus lheenvia bons Espíritos para assisti-lo. É este um socorro que jamais se lhe recusa, quando pedidocom sinceridade”.

A Doutrina Espírita ensina e a vida prática nos tem demonstrado a veracidade dessas obser-vações. O hábito da oração proporciona ao homem maior intercâmbio com os Espíritos Supe-riores, ensejando reais benefícios para aqueles que o cultivam e fortalecendo-os para os naturaisdesafios da vida. Observa-se, também, que, embora a Providência Divina conheça as nossas ne-cessidades, somente nos ajuda quando manifestamos um sincero interesse na superação das difi-culdades – que enfrentamos de acordo com a nossa realidade espiritual e moral –, demonstran-do que o nosso aprimoramento é responsabilidade pessoal, que reclama auxílio mas não dispensaa nossa participação.

Merecem destaque, finalmente, os benefícios sociais da oração, pois a prece, quando feita comsinceridade, isoladamente ou em grupo, é sempre uma manifestação de amor a Deus, ao próxi-mo e ao que a faz.

O cultivo da prece, pois, torna melhor o homem e também a sua vida. “Recomendam-na to-dos os Espíritos. Renunciar alguém à prece é negar a bondade de Deus; é recusar, para si, a suaassistência e, para com os outros, abrir mão do bem que lhes pode fazer.” (O Evangelho segundo oEspiritismo – Allan Kardec – cap. XXVII, item 12.)

EditorialO valor da oração

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 4

Page 5: Revista Reformador de Agosto de 2004

Hoje é um novo dia, um novotempo; é a vida que se desdo-bra, com novas possibilida-

des, com esperança. É preciso culti-var a alegria, o otimismo e o bomânimo.

Se ontem é o dia que se foi,sem retorno, hoje podemos retificarerros e enganos do passado, depen-dendo de nossos pensamentos evontade de acertar, cumprindo de-veres e obrigações perante nós mes-mos, diante de nossos semelhantese de nosso Criador.

Se não há possibilidade de re-gresso no tempo, a Sabedoria Divi-na, em compensação, estabeleceuque, a partir de hoje, cada indivi-dualidade pode retificar e compen-sar os atos e pensamentos equivoca-dos do passado, com realizações nobem.

A educação dos sentimentos le-va o Espírito imortal à compreen-são de que há uma Justiça indefec-tível que conduz cada criatura àretificação de todos os desvios dopassado, ao mesmo tempo que lheproporciona o crescimento espiri-tual-moral e intelectual.

Hoje pode ser o dia do desper-tamento daquele que está iludido,desviado do caminho certo, queren-do encontrar uma felicidade quelhe foge diante de buscas ilusórias,equivocadas.

Mas hoje é também o dia dacontinuação do trabalho fecundopara aqueles que já encontraram orumo certo, que já despertaram eestão conscientes de que seus esfor-ços, sua inteligência, sua liberdade,seus poderes estão sendo utilizadosna direção correta, para seu bem epara o bem de seus semelhantes.

Para estes, mesmo o peso dacruz do dia-a-dia, desde que repre-sente serviço e ajuda a si mesmos ea outros companheiros da jornada,é o preço da alegria de viver, quepagam satisfeitos e felizes.

Mas, para chegar a essa com-preensão, a alma precisa de deter-minados conhecimentos sobre atrajetória do Espírito imortal, quesó a Consoladora Doutrina dos Es-píritos proporciona.

Um desses esclarecimentos é ode que cada criatura renasce nestePlaneta diversas vezes, sempre vin-culada ao seu passado.

Assim, o dia de hoje, sem repe-tir o que já foi vivido, mantém al-guma ligação com o ontem, seja daatual ou de outras vidas.

Por isso, o seguidor da Doutri-na Espírita sabe e não estranha aocorrência de dificuldades, de mo-léstias, de desafios, de pobreza ma-terial e de inúmeras outras pontua-ções difíceis em sua vida atual,reclamando-lhe esforço, compreen-são e bom ânimo.

...Todas as atividades mentais das

criaturas humanas, encarnadas ou

desencarnadas, relacionam-se, de al-guma forma, com seus sentimentos.

A educação dos sentimentos, nosentido do bem, que cada individua-lidade desenvolve, resulta no seupróprio aperfeiçoamento moral.

Na luta cotidiana, diante dasmais diferentes situações que a vidaoferece, o Espírito desperto precisaestar consciente e vigilante para nãose deixar impregnar pelos sentimen-tos inferiores do ciúme, da inveja,da raiva, do ódio, da agressividade.

O amor, síntese dos sentimen-tos superiores, no ensino de Jesus,assemelha-se a um sol a ilumi-nar permanentemente a alma que ocultiva, gerando pensamentos eações elevados, sempre no sentidodo bem.

São faces luminosas do amor atolerância e a compreensão, a frater-nidade e a caridade, a gentileza e operdão sem limites, no relaciona-mento com os companheiros dejornada, sem que tais sentimentosimpliquem em concordância com oerro alheio.

Assim, bondade, indulgência,clemência, benevolência, benigni-dade, funcionando em favor dos se-melhantes, constituem, ao mesmotempo, verdadeira higiene mentalpara a fonte de onde promanam.

Por isso o Cristo recomendou,como regra de conduta, para todasas horas, todos os dias, todos ostempos, a lição permanente: “Amai--vos uns aos outros como eu vosamei.”

Como nos lembra Emmanuel,

Reformador/Agosto 2004 5283

Meditações para o diaJuvanir Borges de Souza

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 5

Page 6: Revista Reformador de Agosto de 2004

“Às vezes, fustigando aqueles quenos ofendem, a pretexto de servir àverdade, quase sempre faltamos aonosso dever de amor.”

O sentimento do amor deve,na sua pureza, sobrepor-se a todasas circunstâncias, tal como ensi-nou e exemplificou o Cristo deDeus.

Os homens, na sua imensamaioria, estão ainda muito distan-tes da vivência do amor soberano.

Nas sociedades humanas daatualidade, há tendências relativis-tas, utilitaristas e subjetivistas mui-to difundidas, com pretensões delegitimidade social e cultural.

Essas tendências prejudicam osensinos morais das religiões, ressus-citando princípios filosóficos preju-diciais à evolução humana.

O Espiritismo, mostrando arealidade da vida e sua extensãoalém do plano físico, visa a evitar apredominância daquelas tendên-cias.

Não pode prevalecer o relati-vismo do conhecimento diante dalei moral superior do Amor, quepromana do Criador, ensinada pe-lo Cristo.

De outro lado, o utilitarismo eo subjetivismo são desvios perigo-sos de filosofias e de interpretaçõesinfelizes, contra os quais os ensinosdo Cristo e do Consolador estãosempre presentes.

Hoje é tempo de fazer-se o me-lhor.

À luz do Consolador, mesmoreconhecendo-se em minoria, o es-pírita não deve omitir-se diante doerro e das ilusões de filosofias ultra-passadas que continuam cultivandoo egoísmo.

Há necessidade de difundir-se averdade revelada pelos Espíritos Su-

periores, apesar das dificuldades detoda ordem. Essa é uma obrigaçãoque todo espírita contrai, pelo fato deconhecer a realidade. É uma das for-mas de manifestar seu amor ao pró-ximo, como determina a lei divina.

O privilégio do conhecimentoespírita traz consigo não só a res-ponsabilidade de vivenciá-lo, comotambém a de difundi-lo.

O serviço de amparo moral ede esclarecimento ao próximo nãoé exclusivo dos oradores, dos escri-tores, dos dirigentes das Casas Es-píritas.

Um simples entendimento,dentro das diretrizes de boa von-tade, ajuda muitas pessoas.

Quantas vezes uma conversa-ção sincera, expressando compreen-são e vontade de ajudar, extingueangústias e verdadeiros incêndiosinteriores!

Um desvio, um mal-entendi-do, uma antipatia e mesmo umainimizade podem ter fim com umapalavra sincera, uma frase, um en-tendimento, uma prece.

Na vida cotidiana há muitasoportunidades para servir. O espí-rita sincero deve aproveitá-las paraa prática do que aprende na Dou-trina. É uma forma de vivenciá-la,de difundi-la.

Cérebro e coração do espírita

devem estar sempre despertos paradoar-se, ajudar.

O esforço constante para pra-ticar os ensinos evangélicos e as leisnaturais, que a Revelação Espíritacoloca ao alcance dos que queremmelhorar-se, é também meio eficazpara estancar sofrimentos oriundosda ignorância e da irresponsabilida-de em ambientes comuns na cros-ta terrestre.

Eis alguns lembretes, aqui re-sumidos, que o Amigo espiritualAndré Luiz nos oferece, em pági-na recebida em 1955, constantesdo livro Instruções Psicofônicas(Ed. FEB, p. 240), muito úteis pa-ra nos manter vigilantes todos osdias:

1 – Preservar-se contra a calú-nia e a maledicência.

2 – Evitar as palavras indignas no vocabulário.

3 – Não se fixar nas faltas alheias, preferindo auxiliar, onde houver falhas.

4 – Cumprir o dever em cada dia, em favor da auto-dis-ciplina e da auto-educação.

5 – Arranjar tempo para asboas leituras.

6 – Evitar a cólera, a levianda-de, o desânimo e os desejos infelizes.

7 – Manter o otimismo e a boavontade.

8 – Evitar a queixa.9 – Cultivar o constante auxí-

lio desinteressado aos ou-tros.

10 – Cultivar a fé e a oração, co-mo energias mentais paraservir em nome de Deus.

Lembretes como esses e outros,que nós mesmos podemos transfor-mar em hábitos permanentes paraa auto-ajuda, favorecendo nosso

6 Reformador/Agosto 2004284

Cérebro e coração

do espírita devem

estar sempre

despertos para

doar-se, ajudar

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 6

Page 7: Revista Reformador de Agosto de 2004

próximo, são manifestações deamor e formas de praticar a carida-de, tão necessárias ao crescimentoespiritual e ao conhecimento de nósmesmos.

São formas de vivenciar aDoutrina, exemplificando seus en-sinos morais e disseminando seusprincípios.

Como sabemos, todas as for-mas como se apresenta o bem con-duzem à harmonia entre os seres,com sua expansão e crescimento,enquanto o mal é sempre atraso e

desequilíbrio para as fontes que oproduzem.

Embora o conhecimento daDoutrina Consoladora, com a pro-fusão de informações que traz ao se-guidor o torne amadurecido e segu-ro quanto às realidades da vida, ocultivo dos sentimentos, do coraçãoé difícil para todos, mesmo para oadepto sincero.

Por isso, o Cristo legou à Hu-manidade ensinos morais que facili-tam a conduta correta do ser huma-no, deixando aos próprios homens o

aprofundamento dos conhecimen-tos científicos de todos os gêneros.

O Espiritismo, como retornodo Cristianismo puro, depois dassombras da Idade Medieval e das dú-vidas sistemáticas de tantas filoso-fias ligadas ao materialismo multifá-rio, aí está para a renovação da Terra.

Que todos os espíritas sinceros,compreendendo os tesouros dotempo, possamos aproveitar, hoje,as riquezas do amor e do conheci-mento, sem os erros e enganos deontem.

Reformador/Agosto 2004 7285

Reflita na importância do Espiritismo em suaencarnação. Confrontemo-lo com as circunstânciasdiversas em que você despende a própria existên-cia.

Corpo – Engenho vivo que você recebe com ostributos da hereditariedade fisiológica, em caráter deobrigatoriedade, para transitar no Planeta, por tem-po variável, máquina essa que funciona tal qual o es-tado vibratório de sua mente.

Família – Grupo consangüíneo a que você for-çosamente se vincula por remanescentes do pretéri-to ou imposições de afinidade com vistas ao burila-mento pessoal.

Profissão – Quadro de atividades constrangen-do-lhe as energias à repetição diária das mesmas ope-rações de trabalho, expressando aprendizado com-pulsório, seja para recapitular experiências imper-feitas do passado ou para a aquisição de competên-cia em demanda do futuro.

Provas – Lições retardadas que nós mesmos acu-mulamos no caminho, através de erros impensadosou conscientes em transatas reencarnações, e que so-mos compelidos a rememorar e reaprender.

Doenças – Problemas que carregamos conosco,criados por vícios de outras épocas ou abusos de ago-ra, que a Lei nos impõe em favor de nosso equilíbrio.

Decepções – Cortes necessários em nossas fan-tasias, provocados por nossos excessos, aos quais nin-guém pode fugir.

Inibições – Embaraços gerados pelo comporta-mento que adotávamos ontem e que hoje nos cabesuportar em esforço reeducativo.

Condição – Meio social merecido que nos faci-lita ou dificulta as realizações, conforme os débitos ecréditos adquiridos.

Segundo é fácil de concluir, todas as situações daexistência humana são deveres a que nos obrigamossob impositivos de regeneração ou progresso. Mas aDoutrina Espírita é o primeiro sinal de que estamosentrando em libertação espiritual, à frente do Uni-verso, habilitando-nos, pela compreensão da justiçae pelo serviço à Humanidade, a crescer e aprimorar--nos para as Esferas Superiores.

Pense no valor do Espiritismo em sua vida. Eleé a sua verdadeira oportunidade de partilhar a imor-talidade desde hoje.

André Luiz

Fonte: XAVIER, Francisco C., VIEIRA Waldo. Estude e Viva. 9. ed.,Rio de Janeiro: FEB, 2001, 229-230.

O Espiritismo em sua vida

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 7

Page 8: Revista Reformador de Agosto de 2004

Asabedoria é bênção que nãochega total e completa paraninguém.

No transcurso das diversas exis-tências cada Espírito desenvolve aescala de valores morais que lhecumpre atender, harmonizando oconhecimento com o sentimento,o intelecto com a emoção, a razãocom a bondade.

Trata-se de um empreendi-mento de longo e demorado curso,que se origina interiormente e seexpande preenchendo os espaçosmentais e emocionais do ser.

Ninguém é o que aparenta.A sabedoria encontra-se em

germe em todos os indivíduos,aguardando os fatores que lhe propi-ciem a exteriorização das possibili-dades latentes, que se transformarãoem atitudes e comportamentos su-periores.

Semelhante a uma semente, éinvisível o seu fanal, que o tempodesvela e permite agigantar-se, al-cançando a finalidade essencial.

Quem contemple uma se-mente, jamais poderá perceber omilagre que oculta.

Ninguém vê o vegetal em quese transformará, as flores que es-pocarão perfumadas, os frutos sabo-rosos ou não que se apresentarãomultiplicados, as futuras semen-tes...

Imprescindível esperar que osfatores mesológicos e a intimidadedo solo façam brotar a plântula queoculta, a fim de tornar-se a reali-dade que se encontra adormecida.

Na juventude, quando irrom-pem as energias dominadoras, a ar-rogância predomina em a naturezahumana, tornando o indivíduo,não raro, exigente, intolerante, agres-sivo. À medida que as experiênciasexornam o caráter com paciência,a sabedoria se apresenta nas suasprimeiras manifestações, que po-dem ser identificadas como humil-dade, gentileza, compreensão, tole-rância...

Essa operação ocorre no ser in-terior, que se torna compassivo egeneroso, por compreender que ascriaturas são diferentes e transitamem níveis de desenvolvimento inte-lecto-moral muito diversificados.

Muitas vezes, é dolorosa, por-que exige humildade e coragempara reconhecer-se quando se estáerrado e se deve pedir desculpas.

Todos erram, aprendendo pormeio das experiências perturbado-ras como não reincidir no desequi-líbrio.

A imaturidade psicológica, po-rém, tem dificuldade em reconhe-cer os próprios equívocos e teimo-samente busca defendê-los median-te recursos pouco lisonjeiros.

Quando se vai despojando dasinjunções da ignorância e da pre-sunção, descobre a felicidade de serautêntico, de poder identificar osenganos e repará-los, não se afligin-

do com a aparência, que é sempresecundária no seu processo de cres-cimento interior.

A sabedoria aumenta na razãodireta em que a consciência hu-manista se desenvolve e percebea finalidade da sua existência nomundo.

...

O verdadeiro sábio ignora-se,enquanto o ignorante exorbita naexibição do pretenso conhecimen-to, que não passa de superficiali-dade.

Mediante a conquista da sabe-doria, o indivíduo faz-se mais sim-ples e acessível, gentil e compassivo.

Conhecendo os desafios queteve de enfrentar e os que ainda sur-girão pelo seu caminho evolutivo,não exige transformações moraisnos outros, nem se esquiva de cres-cer sempre.

A existência humana é rica desurpresas, de acontecimentos nãoprevistos, que exigem sabedoria afim de os enfrentar e administrar,quando negativos ou perturbadores.

Ninguém nasce sábio, masapenas portador da sua semente.

Fixando experiências, umas de-pois de outras, reúne o cabedal deconhecimentos e de vivências que otornam mais lúcido.

Valorizando o tempo e suaslições preciosas, o homem e a mu-lher que ambicionam o desenvolvi-mento da semente que conduzemno íntimo, utilizam-se bem de cadainstante que lhes é concedido para

8 Reformador/Agosto 2004286

Conquista da sabedoria

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 8

Page 9: Revista Reformador de Agosto de 2004

aprender, para ensinar, para melho-rar a própria condição, bem comoa qualidade de vida a que se en-tregam.

Narra-se que, ao retornaremdo santuário de Delfos, após con-sultarem o deus Apolo, a respeitode quem seria o homem mais sábioda Grécia, alguns filósofos atenien-ses buscaram Sócrates e pergun-taram-lhe com certa ironia:

– Tu foste indicado por Apolocomo o homem mais sábio da Gré-cia. Tens algo a dizer?

Ao que ele teria respondido:– Talvez isso seja verdade, por-

que sou, possivelmente, em Atenas,o único homem que sabe que nadasabe.

Não havia qualquer presunçãonem espírito de exibicionismo naresposta, senão um gesto de nobrehumildade diante da grandeza daVida e de todos os dons que a per-meiam.

A sabedoria sorri, enquanto avacuidade e o conhecimento estul-to se exibem, porque superficiais,logo se esvanecendo diante das ques-tões profundas da existência hu-mana e da realidade do ser.

Felizmente, mesmo ignorandoesse processo de crescimento, que énatural e automático, as criaturashumanas dão-se conta da necessi-dade de buscarem o aperfeiçoa-mento moral e espiritual, a fim dese tornarem plenas.

A plenitude é meta que se devealcançar e que se encontra ínsita emtodos os seres pensantes.

Quando se tem coragem de re-ceber as injunções difíceis sem re-clamações nem conflitos, abrindo--se às experiências da evolução,estão em desenvolvimento os pró-dromos da sabedoria que terminará

por predominar no comportamen-to mental, moral e emocional doser.

A sabedoria busca sempre hori-zontes mais amplos até perder-se nainfinitude, sem afastar-se da reali-dade em que se deve fixar.

...

O amor desempenha um papelfundamental para a conquista dasabedoria. Por meio dele os senti-mentos se ampliam, abraçando osdemais seres sencientes que encon-tra pela frente e não deixando pe-gadas de amargura ou de ressenti-mento pelos caminhos percorridos.

Logo depois, o conhecimento

que decorre do estudo, da obser-vação, dos diálogos, da reflexão e doaprofundamento no contexto dasinformações encarrega-se de ilustraro indivíduo que, amoroso, em-preende a marcha do saber para serlivre, encontrando a verdade.

Sabedoria é uma experiênciafeliz em favor do tornar-se, per-mitindo que o Deus interno dominetodas as paisagens do ser externo.

Joanna de Ângelis

(Página recebida pelo médium DivaldoPereira Franco, no Centro Espírita Cami-nho da Redenção, em 1/1/2003, em Sal-vador, Bahia, Brasil.)

Reformador/Agosto 2004 9287

Deus e a Humanidade– Pára! – repete a voz. – Espera! Aguça o ouvido!... –O homem prossegue, entanto, a passo turbulento...– Pára! Não sigas mais! Ouve! Sê comedido!... –Ele teima, rebelde, e vara a sombra e o vento...

– Pára! Detém-te, agora! Escuta, precavido!... –Desce a noite profunda e invade o firmamento...– Pára! Que já retumba o funesto alarido!... –E rosna o temporal pelo bulcão violento...

– Pára! Atende, afinal! Busca a bênção da prece!... –Mas o surdo viajor ri-se e desobedece,Satiriza, gargalha e afronta o céu vulcâneo...

Como quem foge à voz do socorro divino,Avança para a dor do seu próprio destino...E mais além um raio espedaça-lhe o crânio...

Tobias Barreto

Fonte: XAVIER, Francisco C., VIEIRA, Waldo. Antologia dos Imortais. 4. ed., Riode Janeiro: FEB, 2002, p. 129-130.

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 9

Page 10: Revista Reformador de Agosto de 2004

Lucas, 11:5-13 e 18:1-8

Ohóspede chegou inesperada-mente, por volta de meia--noite.

Como não havia pão parapreparar-lhe um lanche, nem mer-cado vinte-e-quatro-horas, o donoda casa procurou um amigo quemorava nas vizinhanças.

Bateu à porta.– Quem é?– Sou eu. Venho pedir-lhe três

pães emprestados. Estou com umvisitante e nada tenho para lhe ofe-recer.

Meio complicado, uma pessoade nosso círculo de amizade baterem nossa porta, altas horas, parapedir pão.

Do lado de dentro, o moradorreagiu:

– Ora, isso são horas para in-comodar-me?! Já me recolhi commeus filhos.

Nosso herói não era homemde desistir facilmente.

– Por favor – reiterava, baten-do à porta. – Não me falte! Precisodesses pães!

E tanto insistiu que o amigoresolveu atendê-lo para ver-se livredele.

Levantou-se e lhe deu quantospães pedia.

...

Este curioso episódio poderiafazer parte de uma antologia da in-conveniência, dos malas-sem-alça,pessoas de desconfiômetro desliga-do. Não percebem que são inopor-tunos.

Pedir pão emprestado, à meia--noite!…

Na verdade, trata-se de uma pa-rábola contada por Jesus, num con-texto em que ele se refere à oração.

Parece estranho.Então Deus é como um dono

de padaria, não muito disposto anos dar os pães que atendam àsnossas necessidades, mas pode mu-dar de idéia se insistirmos?!

Obviamente, não!O Mestre usava com freqüência

a hipérbole. Trata-se de uma imagemexagerada sobre determinada idéia,para chamar a atenção e fixá-la.

Esperei uma eternidade…Morri de medo…Sofri como um condenado…Derramei lágrimas de san-gue…Comi o pão que o diabo amas-sou…

O que Jesus quer dizer nessahipérbole é que devemos orar comconvicção, com firmeza e persistên-cia, conscientes de que Deus, quenão é um simples padeiro, nem temas limitações humanas, certamenteacolherá nossa oração, em qualquercircunstância, em qualquer hora.

E sempre nos atenderá!

...

A parábola é pouco conhecida. Famosa é a conclusão de Jesus:

– Por isso vos digo:Pedi, e dar-se-vos-á.Buscai, e achareis.Batei, e abrir-se-vos-á.Pois qualquer que pede recebe.Quem busca, acha.E a quem bate, abrir-se-lhe-á.Qual o pai dentre vós que, se o

filho lhe pedir pão, lhe dará umapedra?

Ou se lhe pedir peixe, lhe daráuma serpente?

Ou, se lhe pedir um ovo, lhedará um escorpião?

Se vós, pois, sendo maus, sabeisdar boas dádivas aos vossos filhos,quanto mais dará o Pai celestial(...) àqueles que lho pedirem?

Muito mais que um padeiro,Pai de imenso amor e misericórdia,Deus sempre nos ouvirá e atenderácom o melhor, desde que o pro-curemos.

Jesus fala em bater, pedir ebuscar.

Todos os que oram estão ba-tendo – querem o contato comDeus pela oração.

E sempre pedem algo.Raros, porém, empenham-se

em buscar o objeto da oração,conscientes dos caminhos que de-vem trilhar para a concretização deseus desejos.

10 Reformador/Agosto 2004288

Deus atende?Richard Simonetti

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 10

Page 11: Revista Reformador de Agosto de 2004

Em O Evangelho segundo oEspiritismo, capítulo XXVII, Kar-dec apresenta um exemplo muitoclaro a esse respeito.

Um homem perdido no deser-to e torturado pela sede imploraajuda ao Céu. Nenhum Espírito lhetrará água.

No entanto, se estiver dispostoa caminhar, enfrentando a sede e ocalor inclemente, receberá inspira-ção quanto ao rumo que deverá to-mar para encontrar água.

O desempregado que ora ar-dentemente poderá esperar umaeternidade, sem que o emprego lhebata à porta. Mas se sair a campo, osbons Espíritos o ajudarão a encon-trar lugar no mercado de trabalho.

Importante “bater” e “pedir”,estabelecendo contato.

Imperioso “buscar”, cultivandoa iniciativa.

Então o Céu nos ajudará.

...

Dois amigos conversam:– Você acha que Deus conhece

os nossos mais secretos pensamen-tos? Lê nossa alma como um livroaberto?

– Claro! Um dos atributos deDeus é a onisciência.

– Bem, se Deus tudo sabe, co-nhece melhor que nós mesmos nos-sas necessidades. Para que, portan-to, orar?

Dúvida ponderável.Ocorre que o objetivo da ora-

ção não é trazer Deus até nós, nemchamar a sua atenção para nossosproblemas. Ele está presente em tu-do e em todos.

O objetivo é nos colocar emcontato com Ele, preparando o co-ração para assimilar suas bênçãos.

Um homem pode morrer de

sede dentro de uma piscina, se nãoabrir a boca para beber a água. Damesma forma, embora mergulha-dos nas bênçãos de Deus, é precisoabrir a boca espiritualmente, paraque possamos sorvê-las.

...

Jesus diz que Deus atende àsnossas orações.

Aparentemente, nem sempreacontece.

A jovem pede um príncipe en-cantado e tudo o que consegue éencantar-se com a sobrinhada.

O doente pede a cura e quemo atende é a morte.

A mulher pede um filho e aesterilidade se faz sua compa-nheira.

Para entendermos que não hácontradição alguma, Jesus nos con-ta outra parábola.

Em certa cidade havia um juizmau caráter, homem iníquo, quenão temia a Deus nem respeitavaos homens.

Relapso, deixava acumularem--se pilhas de processos, sem que sepreocupasse.

Uma viúva o procurava cominsistência, para resolver uma pen-dência com alguém. E lhe pe-dia:

– Defende-me do meu adver-sário.

O juiz não lhe dava atenção.O tempo ia passando… A viú-

va a perseverar, rogando:

– Defende-me do meu adver-sário.

Ele acabou ficando preocupa-do. E conjeturava:

– Se bem que eu não tema aDeus, nem respeite os homens; to-davia, porque esta viúva me im-portuna, far-lhe-ei justiça, paraque ela não venha a molestar-me.

Alguns exegetas consideramque molestar pode ser traduzidopor “acertar o olho” ou “dar um so-co no olho”. A tradução, então, se-ria, “vou atendê-la para que não meacerte o olho”.

Jesus teria feito humor em tor-no do assunto. Numa sociedademachista como a judaica, há de tersido hilário que aquele juiz severo,que não temia a Deus nem respei-tava os homens, houvesse cedido aomedo de sofrer violência da partede uma mulher.

Jesus conclui a parábola, dizen-do:

Atentai ao que disse este juizinjusto e indigno.

Não fará justiça Deus aos seusescolhidos, que a Ele clamam dia enoite, embora pareça demorado emsocorrê-los?

Digo-vos que bem depressalhes fará justiça.

Assim como na primeira pará-bola, Jesus nos diz que Deus aten-de àqueles que o procuram, seja dedia ou à noite, a qualquer momen-to.

Pode parecer estranho compa-rar Deus, o Onipotente, SupremoJuiz, com um juiz relapso e insigni-ficante, não habituado a cumprirseus deveres.

Mas é simples entender.Além da hipérbole, Jesus usa

aqui uma técnica, expressa numaforismo latino: a minori ad maius,do menor para o maior. >

Reformador/Agosto 2004 11289

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 11

Page 12: Revista Reformador de Agosto de 2004

Se num caso menor, um juiziníquo promove a justiça em favorde uma mulher insistente, tantomais, no caso maior, Deus, em suagrandeza, nos ajudará de pronto,não porque o importunemos, masporque ele é o nosso Pai, de infini-to amor e misericórdia.

...

Atentemos na observação de Je-sus: Deus atende às nossas orações,mas fazendo justiça, isto é, dando--nos de conformidade com nossosméritos e necessidades.

Deus age como um pai quenão dá tudo o que o filho pede.Apenas o que será realmente provei-toso para ele, ajudando-o em seucrescimento como ser pensante.

Enxergamos apenas parte darealidade, aquela que nos permitemnossos acanhados sentidos.

Se a nossa visão espiritual se di-latasse e pudéssemos conhecer opassado, verificaríamos que os ma-les têm a sua razão de ser. Estão as-sociados ao nosso passado, e sur-gem, não como castigo divino, mascomo medida educativa.

As limitações que enfrentamos,sob o ponto de vista físico, psicoló-gico, mental, social, profissional,sentimental, são instrumentos divi-nos para conter e eliminar nossastendências inferiores...

Quem se compraz com a ma-ledicência pode ter problemas naexpressão de suas idéias...

O fumante terá problemas pul-monares…

O alcoólatra terá fígado frá-gil…

O toxicômano ressurgirá comdebilidade mental…

O violento sofrerá em corpodebilitado…

A mulher que praticou o abor-to terá esterilidade…

O viciado em sexo sofrerá deimpotência congênita…

Nesses casos, Deus abrandaráas nossas dores, mas não as elimina-rá, porquanto são indispensáveis ànossa redenção.

...

É importante considerar queDeus nos atende de conformidadecom nossas necessidades legítimas,como Espíritos imortais, a fim denão imaginarmos que faça ouvidosmoucos às nossas rogativas.

A propósito, vale lembrar aoração de um atleta americano queencontrou Deus a partir de doloro-sa experiência.

Ficou paralítico aos vinte equatro anos, em plena vitalidade,belo e forte, cheio de planos para ofuturo.

Pedi a Deus força para executarprojetos grandiosos,E ele me fez fraco para conservar--me humilde.

Pedi a Deus saúde para grandesfeitos.E ele me deu a doença para com-preendê-lo melhor.

Pedi a Deus riqueza, para tudopossuir,E ele me deixou pobre para não seregoísta.

Pedi a Deus poder para que os ho-mens precisassem de mim.E ele fez-me humilde para que de-les precisasse.

Pedi a Deus tudo o que me permi-tisse desfrutar a vida,

E ele me ensinou a desfrutar a vi-da com tudo o que tenho.

Senhor, não recebi nada do que pe-di,Mas deste-me tudo de que eu pre-cisava.

E, quase contra a minha vontade,As preces que não fiz foram ouvi-das.

Louvado sejas ó meu Deus.Entre todos os homens, ninguémtem mais do que eu!

12 Reformador/Agosto 2004290

É e seráMeu amigo, em cada golpeDa luta que nos reclama,A divisa em toda a parteÉ sempre: “perdoa e ama”.

Perante qualquer assaltoDo mundo que nos magoa,A legenda, cada dia,Será sempre: “ama e perdoa”.

À frente de toda injúria,Em forma de pedra e lama,A fórmula do caminhoÉ sempre: “perdoa e ama”.

Em toda dificuldadeNa fé que nos abençoa,A senha, no amor do Cristo,Será sempre: “ama e perdoa”.

Casimiro Cunha

Fonte: XAVIER, Francisco C. CorreioFraterno, por Diversos Espíritos. 5.ed., Rio de Janeiro: FEB, 1998, cap.28, p. 70.

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 12

Page 13: Revista Reformador de Agosto de 2004

Temos visto e ouvido, comgrande ênfase, através dosmeios de comunicação, alertas

sobre as conseqüências do uso dedrogas.

A Humanidade tem convividode forma direta com o problemadas drogas. Os meios de comunica-ção de massa, ao mesmo tempoque as combatem, contribuem pe-remptoriamente para o alastramen-to desse flagelo destruidor, seja pe-las fascinantes propagandas estimu-lando o uso de bebidas alcoólicas,seja por notícias sobre o narcotráfi-co, através de informações sobrecrimes hediondos, como tambémestimulando o uso abusivo de tran-qüilizantes e remédios para emagre-cer.

A curiosidade, a indução doprazer, o aumento da interação so-cial, o fácil acesso e a impressão deque elas podem abolir lembrançasdesagradáveis, resolver os problemasou amenizar a ansiedade, são osprincipais fatores que levam o indi-víduo a experimentar ou usar oca-sionalmente as drogas. Pura uto-pia!... As drogas só conseguem dis-farçar e encobrir as emoções.

A dependência química leva aproblemas familiares, profissionaise, principalmente, causa distúrbiosfísicos, morais e espirituais. É umadoença social.

As drogas podem causar aci-dentes de trânsito, acidente no tra-balho, ocorrências policiais, aban-dono de menores, desintegraçãofamiliar, além de serem importantecausa de novos casos de AIDS, pelouso de seringas e agulhas contami-nadas. Apesar disso, a cada dia émaior o número de dependentesquímicos. O uso das drogas arrojaa mente humana para primitivos es-tados vibratórios, intoxicando ocorpo espiritual. Irmão X, no livroCartas e Crônicas, capítulo 4, nosfala que “(...) as vítimas da cocaí-na, da morfina e dos barbitúricosdemoram-se largo tempo na cela es-cura da sede e da inércia”.

As drogas, ao penetrarem noorganismo, entram na corrente san-güínea, atingem o cérebro, fazendocom que a pessoa experimente “sen-sações diferentes”, que são prazero-samente percebidas, e que muitas

vezes levam à repetição da primeiraexperiência. A dependência é evi-denciada quando o uso continuadode uma substância representa maispara o usuário que os problemascausados por tal uso.

A necessidade incontroláveldessa substância sobrepõe-se aossignificativos problemas físicos,emocionais, sociais, financeiros etc.A síndrome de dependência quími-ca manifesta-se pela necessidadepsicológica e/ou física da droga.Elas exercem uma verdadeira tiraniasobre seus adeptos.

O tratamento da dependênciaquímica é tarefa árdua, cujo suces-so é diretamente proporcional àconscientização e aceitação pelo de-pendente de sua doença e ao desejode tratar-se. Muito podemos con-tribuir para alijar esse flagelo da fa-ce da Terra, como: realizar trabalhoeducativo voltado à prevenção. Co-mo terapia, não podemos olvidarda “liberdade com responsabilida-de”, da “valorização do trabalho”,além da “orientação moral segura,no lar e na escola”. Devemos pro-porcionar, principalmente aos jo-vens, ambientes sadios e leituras deconteúdos edificantes.

Finalizamos este artigo com aspalavras de Eurípedes Barsanulfoem Sementes da Vida Eterna, capí-tulo 50: “Aquele que encontrou Je-sus já começou o processo de liber-tação interior e de desobsessãonatural.”

Reformador/Agosto 2004 13291

Ainda o problema das drogasEurípedes Barbosa

“Aquele que

encontrou Jesus já

começou o processo

de libertação interior

e de desobsessão

natural”

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 13

Page 14: Revista Reformador de Agosto de 2004

Há variadas religiões e crençasna Terra, em todos os conti-nentes e nações. Variam mui-

to, também, os conceitos referentesa Deus, às Leis Naturais, à Criaçãoe à existência dos seres e das coisas.Por isso mesmo, são profundas asdivergências entre elas, dados osseus fundamentos e suas filosofias.

Muitas vezes as discrepânciasocorrem dentro das próprias reli-giões, dando ensejo ao aparecimen-to de novos agrupamentos religio-sos que se formam, com maior oumenor relevância. Ocorrem discor-dâncias sobre questões essenciais ousecundárias. É o que se observa emtodas, como se deu com o Cristia-nismo, após a partida de Jesus. Hádivergências até referentes aos fatos,seus relatos, ao modo de interpretá--los e quanto à sua autenticidade.Há distorções de boa e de má-fé emrazão das imperfeições humanas co-muns no ambiente terrestre.

É habitual pessoas desavisadasserem impulsionadas a divergirem,movidas pelos sentimentos subal-ternos da inveja e da vaidade. Nadaconstroem, mas gostam de modifi-car, movidas por essas e outras im-perfeições. Consciente dessa ten-dência, Jesus talvez nela tenha en-contrado um motivo para enfatizar:“Não vim destruir a lei, mas cum-

pri-la.” Há criaturas que investemcontra os próprios dispositivos divi-nos, como se Deus houvesse de terde consultá-las.

O personalismo é a causa dasdiscordâncias infundadas. As diver-gências geram, igualmente, divisõese ramificações nas religiões nosmundos Oriental e Ocidental. Mes-mo a respeito de verdades incon-cussas, variam os conceitos funda-mentais, contribuindo para o agra-vamento dos danos ocasionados aoser humano pela ausência de fé,enfraquecida pelas dissidências ecisões.

O Espiritismo não está preser-vado desse procedimento nocivo ede suas consequências. Freqüente-mente é alvo de incompreensões eda ação de inovadores, com inter-pretações divergentes dos seus pos-tulados irretocáveis. Seu próprio

Codificador, ainda hoje, é vítima deagravos e discordâncias desproposi-tados por parte de opositores e aço-dados que costumam esquecer queo emérito e inatacável Codificadorda Doutrina Espírita não é o seucriador. Ela tem fincas nas leis daNatureza, daí a sua pujança, e foitrazida ao mundo pelos emissáriosde Jesus. Portanto, deviam, primei-ramente, cultivar respeito e gratidãoao Consolador, dada a sua origem.Carecem, pois, do mínimo de bomsenso, que sobeja em Allan Kardec.

Há pessoas que não crêem naexistência de Deus e da alma. Sãomaterialistas, inteiramente incrédu-las, niilistas etc. Há, também, asque, não obstante serem religiosas,negam o princípio da reencarnaçãoou das vidas sucessivas dos Espíri-tos e a faculdade que têm de se co-municarem entre si e com os encar-nados. Outrossim, não admitemque Jesus tenha confirmado a reen-carnação ao asseverar: “Ninguémpode ver o reino de Deus se nãonascer de novo.” Essas pessoas sãoiguais às que costumam dizer quemesmo se vissem não acreditariam.Desse modo, somente o tempo,instrumento da Providência Divi-na, incumbir-se-á de elucidá-las.

É usual, ainda, adeptos de umacrença hostilizarem seguidores deoutra e até se odiarem mutuamen-te, chegando a ostensivos conflitos.O Divino Mestre previra tais emba-tes ao alertar: “Não vim trazer a paz,mas a espada.” Vaticinou, também,

14 Reformador/Agosto 2004292

Divergências religiosasWashington Borges de Souza

A Doutrina Espírita

está alicerçada nas

leis da Natureza e

foi trazida ao

mundo pelos

emissários de

Jesus

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 14

Page 15: Revista Reformador de Agosto de 2004

com precisão e sabedoria que nosambientes terrenos haveria falsosCristos e falsos Profetas. É, pois,comum, encontrar, dentro e forados templos, mistificadores de váriosmatizes, a confirmarem as prediçõesdo Cristo de Deus, com relação aosquais devemos estar prevenidos.

Por outro lado, observa-se quesempre houve desentendimentosentre a Ciência tradicional da Terrae as religiões. A partir do adventodo Espiritismo, a tendência é e seráa de harmonizarem-se, por força daLei do Progresso. Na medida emque se lança luz sobre as trevas e odesconhecido, os pontos de atritoe discordâncias diminuem. O pro-gresso inerente a várias questões élento, pode ser dificultado, mas ja-mais impedido de realizar-se.

Há crenças que se apóiam maisnos fenômenos e nos rituais do queno uso da razão e do discernimen-to. Quem observa as Leis Naturaispercebe, sem esforço, o caráter desimplicidade que apresentam. Tudona Natureza é solidário e harmôni-co e exprime racionalidade e sabe-doria. Em todo o Universo e em to-da a obra da Criação está impressae patente a presença divina.

O ser humano tem o dever ir-recusável de amar a Deus e ao pró-ximo. É sua obrigação indeclinávelharmonizar-se com seu semelhante.Para isso, o exercício da tolerância éo meio mais eficaz, pois sua práti-ca evita conflitos e dissensões. Ódiose desavenças são absolutamente in-compatíveis com a fé, os bons sen-timentos e as atividades religiosas.

A tolerância e o perdão in-condicional propiciam o convíviofraterno entre as pessoas. São fon-tes inesgotáveis de paz e de felici-dade.

Reformador/Agosto 2004 15293

Os fatalistas dizem que sim.Que Deus escreve de ante-mão todos os fatos de nossas

vidas. Mas para que admitíssemosessa teoria teríamos que admitirtambém que:1) Deus então seria o único res-

ponsável por todas as coisasmás que há no mundo, in-cluindo os atos nefandos dopior criminoso. Seriam todosexpressão de sua vontade e es-colha.

2) Se Deus fosse o autor do mal,não se poderia atribuir culpanem pecado a ninguém. Logo,não se poderia falar em castigoou condenação de qualquer es-pécie.

3) Se nós não temos o direito defazer escolhas, qual seria a uti-lidade das revelações religiosasque nos exortam ao arrependi-mento e à reconsideração denossos atos?

4) Se somos o enredo de umahistória já escrita, não há sen-tido em ter fé, já que nada doque venhamos a fazer ou ten-tar mudará uma só linha da vi-da que estamos fadados a vi-ver.

5) Se Deus é o único responsávelpela sorte das criaturas, é tam-bém o dispensador dos privilé-gios e prejuízos que se eviden-ciam desde o nascimento, fa-cilitando a vida de uns e difi-cultando a vida de outros semum motivo justo.Se nós não somos os respon-

sáveis por nossas ações, nada nospoderá ser cobrado em termos debem e mal, erro e acerto, virtude eimperfeição.

Mas como isso não faz o me-nor sentido, uma vez que sabemospor experiência que nossos atostrazem sempre uma conseqüênciaprevisível, direcionável portanto se-gundo escolhas pessoais, estamoslivres de pensar que nossas inte-ligências são inúteis. Sempre serápossível interferir criativamente noprocesso existencial, e essa é a ex-pressão clara e lúcida da vontade deDeus.

Por conseqüência, podemoslutar para superar adversidades,para alterar o rumo de circunstân-cias indesejáveis, estamos liberadospara sonhar e fazer projetos para ofuturo. Podemos empenhar-nos emconcretizar esses projetos, podemoscrer nas possibilidades que temosem mente, podemos lançar mão dafé como reforçador de nosso âni-mo.

Tudo que precisamos ter emmente em relação ao tema é queDeus não nos “fabricou” comoquem lança uma linha de robôssem vontade própria. Não. Ao ho-mem Ele concedeu a liberdade paraaprender com o resultado de suasações e descobrir aos poucos o ver-dadeiro sentido da vida. Como de-terminismo de sua Divina vontade,ficou para nós o existir, e existirnesse Universo maravilhoso quenos foi dado por moradia pelaeternidade afora.

O destino está escrito?Ronaldo Miguez

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 15

Page 16: Revista Reformador de Agosto de 2004

16 Reformador/Agosto 2004294

P. – Como e quando fizesteopção pelo Espiritismo?

Jean-Paul – Quando eu eracriança, meu pai me levou à Fede-ração Espírita da Província de Liè-ge, para assistir às aulas de Evange-lização da Infância; com o retornodele ao Mundo Espiritual, deixei defreqüentar o Centro Espírita, aosdoze anos de idade.

Vivendo sempre com minhamãe, certo dia, já com vinte anos,ao arrumar os armários de casa, en-contrei um livro de meu pai. Nãoera um livro espírita, mas, não seiporque, fui procurar minha mãepara saber se a Federação Espíritada Província de Liège ainda existia,e onde ficava. Ela me deu o ende-reço e fui a uma reunião. Desde en-tão, não mais deixei o Espiritismo,pois compreendi a importânciadessa filosofia e o trabalho que ti-nha a realizar.

P. – Que atividades desempe-nhas na União Espírita Belga?

Jean-Paul – Sou presidente daUnião Espírita Belga desde a suarestauração em 1999 e nos torna-mos membros do Conselho Espíri-ta Internacional (CEI), nesse mes-mo ano. As atividades consistemem redescobrir os diferentes gruposespíritas da Bélgica. Em nossos ar-quivos encontramos documentosmostrando que havia pelo menos

cem grupos espíritas na Bélgica an-tes da Segunda Guerra Mundial.Hoje, apenas dez grupos fazem par-te da União Espírita Belga! Tam-bém participo das reuniões do CEIe organizo conferências para a di-vulgação do Espiritismo.

P. – Qual a tua atividade norádio, TV e Internet?

Jean-Paul – Ainda não partici-pamos de uma transmissão de rá-dio, nem temos uma emissora derádio espírita na Bélgica. Entretan-to, em futuro próximo, espero fazercontatos com as rádios locais paralhes propor mostrar o que é o Es-piritismo. Acredito que é um meiode difusão que permite alcançarmuita gente e evita o dever de fazerdemonstrações, muitas vezes exigi-das pelas televisões. Já estivemos na

televisão por várias vezes; da últimavez, no início do ano, tivemos umasurpresa desagradável. O cineastacom quem nos encontramos apre-sentou o Espiritismo de maneiranegativa; misturou o Espiritismocom outras pessoas, que explicavamcoisas que nada tinham a ver com aDoutrina. Por isto seremos aindamais prudentes no futuro. Em rela-ção à Internet, temos um site –http://www.users.skynet.be/usb –onde é possível encontrar as refe-rências de nossos diferentes Cen-tros, bem como informações bási-cas concernentes ao Espiritismo.

P. – Quais são as atividadesprogramadas pela USB?

Jean-Paul – A USB organizaencontros entre grupos espíritasquatro vezes por ano, a fim de rea-lizar atividades conjuntas e parti-lhar a experiência de cada um. Gra-ças a essas reuniões preparamos onosso simpósio anual. A cada iníciode ano promovemos um encontrofraterno, que reúne os membros detodos os Centros Espíritas. A USBjá organizou um curso de formaçãopara atendimento fraterno e outrode expositor doutrinário. A partirde setembro de 2004 a USB daráinício a uma campanha de confe-rências de divulgação através daBélgica. Essa campanha dirige-se àspessoas que não conhecem o Es-

ENTREVISTA: JEAN-PAUL EVRARD

O Espiritismo na BélgicaO Presidente da Federação Espírita Belga fala a Reformador sobre: sua iniciação espírita; o

Espiritismo em seu país antes da Segunda Guerra Mundial e na atualidade; o importante papel doConselho Espírita Internacional; a missão de Allan Kardec

Jean-Paul Evrard

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 16

Page 17: Revista Reformador de Agosto de 2004

piritismo. Seu objetivo é tornar co-nhecida a filosofia espírita e encon-trar novas pessoas que desejem for-mar novos Centros Espíritas, depoisde devidamente orientadas com ba-se nos ensinos de Allan Kardec.Desde 1999 a USB participa dasreuniões do Conselho Espírita In-ternacional e edita uma revista tri-mestral – La Revue Spirite Belge.

P. – Que pensas do ConselhoEspírita Internacional?

Jean-Paul – O CEI é o órgãoque congrega os grupos espíritas domundo inteiro. Para mim é um ele-mento muito importante. O Espi-ritismo é uma filosofia, em que oamor fraternal deve ser o ponto es-sencial, o motor. Sem este amor éimpossível trabalhar em comum.Fazer parte do CEI é pôr em práti-ca os ensinos espíritas, realizando aunião dos espíritas através do mun-do. Como se diz em nosso país, aunião faz a força, e graças ao CEIestamos mais fortes. A realização deencontros em nível mundial per-mite-nos ter uma visão comum dadivulgação da filosofia espírita eoferecer um trabalho de melhorqualidade. Na Europa, as Federa-ções Espíritas de certos países ha-viam desaparecido. O CEI tambémvem auxiliar essas Federações Espí-ritas em suas reformas. Mas seu tra-balho não se limita a isto. De trêsem três anos o CEI organiza umCongresso Espírita Mundial, o pró-ximo dos quais ocorrerá em Pa-ris, em outubro de 2004. Será umacontecimento sem precedente pa-ra os espíritas de língua francesa e aíespero encontrar numerosos espíri-tas do mundo inteiro.

P. – Podes falar sobre as edi-ções das obras de Kardec, Denis eDelanne, na Bélgica?

Jean-Paul – Assim como o Es-piritismo, esses três autores sãomuito pouco conhecidos na Bélgi-ca. Há cerca de cinqüenta anos ha-via Centros Espíritas por toda par-te na Bélgica, os quais pouco apouco foram desaparecendo depoisda Segunda Guerra Mundial, res-tando poucos grupos atualmente. Épraticamente impossível encontrarlivros espíritas nas livrarias da Bél-gica, exceto os de Allan Kardec. Épor isto que esses autores são desco-nhecidos aqui. Felizmente a USB,que existe desde 1927, mantém embom estado a sua biblioteca, queencerra todos os livros básicos doEspiritismo e muitos outros. Temosmais de mil e quinhentos exempla-res, aos quais devem somar-se as re-vistas espíritas de diferentes grupose países desde 1859!

P. – Como consideras o papelde Allan Kardec para a Humani-dade?

Jean-Paul – O de um homemque desempenhou um papel ex-traordinário e que, a despeito de to-dos os obstáculos, levou a bom ter-mo a sua missão. Apesar das múl-tiplas dificuldades que enfrentou,prosseguiu até o fim o trabalho quehavia começado. A partir de fenô-menos materiais que teriam passa-do despercebidos, ele foi capaz dededuzir uma filosofia de grandezasem precedente para a Humani-dade. Trabalhou sem trégua paradar destaque a um ensino que per-mitirá ao homem libertar-se do ma-teralismo.

A filosofia que ele nos deu tor-nou e tornará possível ao homemsair da escravidão, das superstiçõese dos preconceitos dos séculos pas-sados, porque é simples e límpida!Sem dogmas, sem tabus e de uma

lógica implacável, é aberta a todose deve servir de base aos que procu-ram a verdade. Tudo o que ensina éconfirmado pelas últimas descober-tas científicas; e, estou certo, aqui-lo que ainda não foi descoberto pe-la Ciência, o será igualmente. De-vemos render homenagem a estehomem excepcional, pelos ensina-mentos que nos trouxe. É uma dasrazões pelas quais estarei presenteno próximo Congresso EspíritaMundial, em Paris, que comemora-rá os duzentos anos de nascimentodesse homem admirável.

P. – Tens outras coisas a acres-centar?

Jean-Paul – Sim. O Espiritis-mo será reconhecido por suas obras,dizia Allan Kardec. Daí porquemeu maior desejo é que cada espí-rita do mundo seja um exemplo.Um exemplo para os outros espíri-tas, mas, também e sobretudo, pa-ra os que ainda não o são. Não setrata aqui de ser perfeito, porquan-to, se o fôssemos, não estaríamos naTerra. Mas se cada um pudesse fa-zer o esforço de estender a mão aooutro, de ajudá-lo quando pudesse,o mundo já teria dado um grandepasso à frente.

O Espiritismo nos mostrou oobjetivo a atingir um dia e comochegar a ele. Sabemos que o cami-nho ainda é longo, por causa dasnossas muitas fraquezas. Nem sem-pre é fácil nos corrigirmos, mas se acada dia dermos um pequeno pas-so na boa direção, ao menos pode-mos ficar certos de que não viemosaqui para nada. Se o trabalho nosparece muito difícil, pelo menospodemos dizer uma coisa: o amorabre a porta de todos os conheci-mentos e de todas as sabedorias. Eisto está ao alcance de todos!

Reformador/Agosto 2004 17295

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 17

Page 18: Revista Reformador de Agosto de 2004

Reconhece-se, de algum tempoa esta data, que o acervo dou-trinário deixado por Francis-

co Cândido Xavier, mais de quatro-centas obras, através de sua mediu-nidade psicográfica, é de importân-cia tal que merece ser estudado,analisado e refletido por diversosângulos.

No campo da divulgação, porexemplo, a Doutrina teve um cres-cimento vertiginoso, ao longo dosmais de setenta anos de sua ativida-de mediúnica.

Pode-se dizer, sem exagero, queo Movimento Espírita, no Brasil eno Planeta, tem dois tempos: antese depois de Chico Xavier.

Por outro lado, a obra de quefora dócil e fiel intérprete pode, semdúvida, ser considerada como com-plementar da Codificação Karde-quiana.

Focalizemos, nesta oportunida-de, a questão que dá nome ao títu-lo acima.

Trata-se de uma das três inda-gações feitas aos Espíritos, por car-ta, através de Chico Xavier.

Quem registra o fato é o repór-ter Clementino de Alencar, em1935 (Especial para O Globo).

Ferindo temas de grande rele-vância, programamos transcrevê-las,

uma a uma, e, ao mesmo tempo, sepossível, comentá-las sucintamente.

Desta feita, transcrevemos ape-nas a primeira.

Considerando que a indagaçãoé sugestiva, suscetível de causarenorme curiosidade aos leitores,deixamo-la como título deste mo-desto trabalho.

As demais questões suscitadasnas perguntas, quase no início damediunidade de Chico, foram:

2a – “Sentem os desencarnadosos efeitos da cremação de seus des-pojos mortais?”

3a – “Qual a impressão do ho-mem no instante da morte?”

Porém, delas não cuidaremosdesta vez.

Na transcrição do texto de Cle-mentino de Alencar*, crê-se quepouco conhecido, conservamos osmesmos subtemas por ele usados,tornando-o mais simples e didático.

Em torno de uma velhaanimosidade

“Eis como Emmanuel, comaquele admirável poder de sínteseque caracteriza suas mensagens, res-pondeu à primeira das indagaçõesacima”, informa o repórter:

– “Creio que, no futuro, vive-rá a Humanidade fora desse am-biente de animosidade entre a ciên-cia e a religião; julgo, contudo, queem nenhuma civilização pôde a pri-meira substituir a segunda. As suasantinomias serão eliminadas den-tro do estudo, da análise, do racio-cínio. [Grifamos.]

Nos tempos modernos, menta-lidades existem que pugnam pelodesaparecimento das noções religio-sas do coração dos homens. Pede-seuma educação sem Deus, o aniqui-lamento da fé, o afastamento dasesperanças de uma outra vida, amorte da crença nos poderes deuma providência estranha aos ho-mens. Essa tarefa é inútil. Os que seabalançam a sugerir semelhantesempresas podem ser dignos de res-peito e admiração pelos seus méri-tos científicos, mas assemelham-sea alguém que tivesse a fortuna deobter um oásis entre imensos deser-tos. Confortado e satisfeito dentroda sua felicidade ocasional, não vêas caravanas sem-número de infeli-zes, transitando sobre as areias ar-dentes, cheias de sede e de forme.

Experiência que fracassaria

O sentimento religioso é a ba-se de todas as civilizações. Pre-coniza-se uma educação pela inteli-gência, concedendo-se liberdade aosimpulsos naturais do homem. A ex-

18 Reformador/Agosto 2004296

PRESENÇA DE CHICO XAVIER

Poderá a Ciência substituir a Religião?Weimar Muniz de Oliveira

*“Notáveis Reportagens com CHICO XA-VIER” – IDE – 1a edição, páginas 207/209.

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 18

Page 19: Revista Reformador de Agosto de 2004

periência fracassaria. No dia em quea evolução dispensar o concurso re-ligioso, a Humanidade estará unidaa Deus pela ciência e pela fé entãoirmanadas.

A ciência e suas contradições:atestado da falibilidade humana

Em cada século o progressocientífico renova sua concepçãoacerca dos mais importantes proble-mas da vida.

Raramente os verdadeiros sá-bios são compreendidos por seus con-temporâneos. [Grifamos.] Se as con-tradições dos estudiosos são o sinalde que a ciência progride sempre,elas atestam igualmente a falibilida-de humana e a fraqueza e inconsis-tência dos seus conhecimentos.

O sublime legado

Diz-se que o pensamento reli-gioso é uma ilusão. Tal afirmativacarece de fundamento. Nenhumateoria científica, nenhum sistemapolítico, nenhum programa dereeducação podem roubar do mun-do a idéia de Deus e da imortalida-de do ser, inata no coração do ho-mem.

As ideologias novas não conse-guirão eliminá-la também.

A religião viverá entre as cria-turas, instruindo e consolando, co-mo um sublime legado.

Religião e religiões

O que se faz preciso, em vossaépoca, é estabelecerdes a diferençaentre religião e religiões.

A religião é o sentimento divi-no que prende o homem ao Cria-dor. [Grifamos.]

As religiões são as organizaçõesdos homens, falíveis, imperfeitascomo eles próprios; dignas de todoo acatamento pelo sopro da inspi-ração superior que as fez surgir, sãocomo gotas do orvalho celeste mis-turadas com os elementos da terraem que caíram. Muitas delas, po-rém, estão desviadas do bom cami-nho pelo interesse criminoso e pelaambição lamentável dos seus expo-sitores; mas a verdade um dia bri-lhará para todos, sem necessitar dacooperação de nenhum homem.[Grifamos.]

Acima de tudo estão a Sabedo-ria Integral e a Ordem Inviolável

Cabe-nos, pois, exclamar paratodos os que crêem e esperam:

–“Ó irmãos nossos que con-fiais na Providência dentro da es-

curidão do mundo!... Do portal declaridades do Além-Túmulo, nósvos estendemos as mãos frater-nas!... Nossa palavra corre sobre omundo como um poderoso soprode verdades! Dentro do Universomil laços nos unem. Sobre as ruí-nas, sobre os escombros das civili-zações mortas e dos templos des-moronados, nós viveremos eterna-mente. Uma justiça soberana, ín-tegra e misericordiosa preside aosnossos destinos. Na terra ou noespaço, unamos os nossos esforçospelo bem coletivo.

Guardai convosco o sagradopatrimônio das crenças, porque,acima das coisas transitórias domundo, há uma Sabedoria Integral,uma Ordem Inviolável. Lutemos,pois, com destemor e coragem, por-que Deus é justo e a alma é imortal.– Emmanuel.”

Reformador/Agosto 2004 19297

DeusPassa no oceano azul a resplendente frota,Brilham flâmeos pendões, de fragata em fragata...Relampeia o esplendor... É a luz que se desataDo coração da vida em clâmide remota.

Vejo a ronda dos sóis por divina cascata,Da Terra a que me prendo, – humilhada galeota.Cada estrela é canção, que a beleza pilota,Nos tênues brocatéis de púrpura e de prata.

Ah! estranho Universo!... Ah! glória que me esmagas!...Constelações, dizei!... Quem vos fez como vagasDe pétalas, bailando aos sublimes falernos?

Uma sílaba só freme, de mundo em mundo:Deus!... – o doce mistério altívolo e profundo!...Deus!... – o infinito Amor dos caminhos eternos!...

Dario Veloso

Fonte: XAVIER, Francisco C., VIEIRA, Waldo. Antologia dos Imortais. 4. ed.,Rio de Janeiro: FEB, 2002, p. 309-310.

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 19

Page 20: Revista Reformador de Agosto de 2004

Acompanhia britânica Xenovaanunciou, em março último,a possibilidade de produzir

uma vacina contra a nicotina e acocaína. Os testes iniciais consta-tam que o medicamento apresentao seguinte mecanismo de ação: pro-dução de anticorpos que impedemo deslocamento dessas substânciastóxicas do sangue do usuário paraa região do cérebro responsável pe-la satisfação. Nessas condições, odependente perde, paulatinamente,a compulsão para drogar-se, umavez que a nicotina e a cocaína nãosurtem efeito no organismo (Scien-ce, fev. 2004). Este anúncio faz-nosrefletir que, por força do progresso,chegará o dia em que os recursos daCiência serão canalizados para amanutenção do bem, e não para ocombate ao mal. A questão 780b,de O Livro dos Espíritos é escla-recedora: “O progresso completoconstitui o objetivo. Os povos, po-rém, como os indivíduos, só passoa passo o atingem. Enquanto não selhes haja desenvolvido o senso mo-ral, pode mesmo acontecer que sesirvam da inteligência para a práti-ca do mal. O moral e a inteligênciasão duas forças que só com o tem-po chegam a equilibrar-se.”

...

Alerta da Organização Mun-dial de Saúde, pronunciado na As-sembléia Mundial da Saúde, queaconteceu esta semana, em Gene-bra: “Os pobres estão morrendo ca-da vez mais rapidamente. 1,2 bi-lhão de pessoas carecem de águaadequada para o consumo, 40 mi-lhões vivem com a Aids, 1,3 bilhãose expõem a uma morte prematuradevido ao tabaco e 500.000 mulhe-res morrem ao ano durante a gravi-dez ou o parto. Some-se a isso,doenças que afligem principalmen-te os países miseráveis como a tu-berculose, a malária, e a desnutriçãomaterna e infantil.” (Boletim daOMS/maio 2004.) Allan Kardec as-sim nos elucida: “A pobreza é, paraos que a sofrem, a prova da paciên-cia e da resignação; a riqueza é, pa-ra os outros, a prova da caridade eda abnegação.

(...) A origem do mal reside noegoísmo e no orgulho: os abusos detoda espécie cessarão quando os ho-mens se regerem pela lei de cari-dade.” (O Evangelho segundo o Es-piritismo, cap. XVI, item 8.)

...

Vinte e dois estrangeiros, fun-cionários do complexo petrolífero deAl-Khobar, foram mortos, sábado29 e domingo 30 de maio, por reli-giosos fanáticos. A justificativa para

o homicídio, segundo nota difundi-da na internet, prende-se ao fato deque os referidos estrangeiros foram“considerados infiéis”.(Le Monde,31/5/2004.) Eis o que o Espiritismotem a dizer sobre o assunto: Que de-vemos pensar das chamadas guerrassantas? O sentimento que impele ospovos fanáticos, tendo em vista agra-dar a Deus, a exterminarem o maispossível os que não partilham desuas crenças, poderá equiparar-se,quanto à origem, ao sentimento queos excitava outrora a sacrificaremseus semelhantes? “São impelidos pe-los maus Espíritos e, fazendo a guer-ra aos seus semelhantes, contravêmà vontade de Deus, que manda amecada um o seu irmão, como a simesmo (...).” (O Livro dos Espíritos,questão 671.)

...

Objeto de inúmeras publica-ções recentes, científicas e leigas, oestudo das células-tronco (stemcells) oferece renovadora esperançano controle de doenças que afligema Humanidade. No entanto, a uti-lização definitiva das células-tronconecessita ser submetida ao crivo deséria discussão de natureza ética. Osespíritas, em especial, devem adotaruma conduta prudente, compatívelcom as orientações doutrinárias doEspiritismo e do Evangelho de Je-sus, perante as informações que noschegam de diferentes fontes.

20 Reformador/Agosto 2004298

Em dia com o Espiritismo– II – Marta Antunes Moura

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 20

Page 21: Revista Reformador de Agosto de 2004

Reformador/Agosto 2004 299 21

Servicinhos“Antes sede uns para com os

outros benignos.” – Paulo. (Efésios, 4:32.)

Grande massa de aprendizes queixa-se, por vezes, da ausência de grandes opor-

tunidades nos serviços do mundo.

Aqui, é alguém desgostoso por não haver obtido um cargo de alta relevância;

além, é um irmão inquieto porque ainda não conseguiu situar o nome na grande

imprensa.

A maioria anda esquecida do valor dos pequenos trabalhos que se traduzem,

habitualmente, num gesto de boas maneiras, num sorriso fraterno e consolador...

Um copo de água pura, o silêncio ante o mal que não comporta esclarecimentos

imediatos, um livro santificante que se dá com amor, uma sentença carinhosa, o

transporte de um fardo pequenino, a sugestão do bem, a tolerância em face de uma

conversação fastidiosa, os favores gratuitos de alguns vinténs, a dádiva espontânea

ainda que humilde, a gentileza natural, constituem serviços de grande valor que ra-

ras pessoas tomam à justa consideração.

Que importa a cegueira de quem recebe? que poderá significar a malevolên-

cia das criaturas ingratas, diante do impulso afetivo dos bons corações? Quantas

vezes, em outro tempo, fomos igualmente cegos e perversos para com o Cristo, que

nos tem dispensado todos os obséquios, grandes e pequenos?

Não te mortifiques pela obtenção do ensejo de aparecer nos cartazes enormes

do mundo. Isso pode traduzir muita dificuldade e perturbação para teu espírito,

agora ou depois.

Sê benevolente para com aqueles que te rodeiam.

Não menosprezes os servicinhos úteis.

Neles repousa o bem-estar do caminho diário para quantos se congregam na

experiência humana.

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Vinha de Luz. 20. ed., Rio de Janeiro: FEB, 2004, cap. 38, p. 87-88.

ESFLORANDO O EVANGELHOEmmanuel

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 21

Page 22: Revista Reformador de Agosto de 2004

22 Reformador/Agosto 2004

Ocapítulo V de O Evangelhosegundo o Espiritismo, de Al-lan Kardec, intitulado “Bem-

-aventurados os aflitos” – por sinal,um dos mais lúcidos estudos doCodificador da Doutrina Espírita,para a compreensão dos problemasdo ser, do destino e da dor – cons-titui verdadeira revelação àquelesque ainda não encontraram respos-tas concretas para a elucidação doporquê do sofrimento, distribuídodesigualmente entre as pessoas.

Uma leitura atenta do citadocapítulo, por si só, é auto-explicati-va. Longe de nós, portanto, a pre-tensão de querer acrescentar-lhequalquer adendo. Entretanto, acha-mos importante refletir um poucosobre o subtítulo “Justiça das afli-ções”, relativo ao item 3, que se des-dobra ante o leitor, oferecendo-lhediferentes ângulos para exame, co-mo pretendemos realçar.

Examinaremos inicialmente o

conceito de justiça e al-guns dos seus aspectos;em seguida faremos umconfronto entre as imper-feições da lei dos homense a infinita perfeição daLei de Deus; depois, refle-tiremos sobre as afliçõesque visitam as criaturas,para concluir que o sofri-mento é roteiro permitido

pela Divina Sabedoria, para que oinfrator do Bem reabsorva e extin-ga todo o mal que, por conta pró-pria, houver causado ao próximo,ou a si mesmo, em desrespeito àsLeis de Amor.

...

Sendo a Terra um orbe de pro-va e expiação, seus habitantes esta-giam ainda nos mais diferentesgraus de evolução. Enquanto algunsjá abrigam no íntimo a semente dobem, pautando sua conduta pelosditames da justiça, do amor e da ca-ridade, outros muitos permanecemchafurdados no mal, vivenciandoexperiências negativas, que irão exi-gir-lhes dolorosas reparações, emfuturo próximo ou remoto, atravésde sucessivas reencarnações ex-piatórias. E quando se lhes depara agrande oportunidade de resgataremseus débitos, nós outros, os circuns-tantes, por lhes não conhecermos opassado delituoso, espantamo-nosao ver pessoas aparentemente tãoboas, sofrendo tanto...

Quem assim se admira, o faz,porém, de forma superficial; sãocriaturas às vezes bondosas que, malobservando o presente, não vislum-bram ainda a causa real das afliçõesque visitam as pseudovítimas; nãocompreendem que a dor é sempreconseqüência de transgressões à Leide Deus, em passado próximo ouem vidas anteriores.

Iniciemos examinando Justiça,primeira palavra do título do nossopresente estudo: Justiça pode serentendida, à luz da Doutrina Espí-rita, como sendo “o respeito aos di-reitos de cada um”, segundo ensinaO Livro dos Espíritos, questão 875.

Ser justo é ter a virtude de dara cada um aquilo que é seu, emconformidade com o direito; e fa-zer justiça é a faculdade de julgar se-gundo o direito e melhor consciên-cia, registra o Dicionário Aurélio.

Bem-aventurado o homem queobserva o direito e pratica a justiça,disse o profeta Isaías (56:1).

As balizas da Justiça Divina pa-ra o ser humano estão contidas nosDez Mandamentos – essência dodireito de todos os povos – entre-gues a Moisés no Monte Sinai pe-los emissários de Jesus, com vistas ailuminar o percurso das criaturashumanas nas veredas da evolução.

O Decálogo estabelece normasfundamentais para o correto rela-cionamento da criatura com o seuCriador, do filho com os seus ge-nitores; do homem com os seus

300

Justiça e afliçãoJoão Martins e Martins da Silva

Justiça sugere lei; lei classifica infração;

infração demanda penalidade;penalidade possibilita cárcere;

cárcere gera aflição;aflição impele à reforma interior;

reforma interior objetiva a evolução;evolução conduz à perfeição;

perfeição aproxima de Deus as criaturas.

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 22

Page 23: Revista Reformador de Agosto de 2004

Reformador/Agosto 2004 23301

irmãos em Humanidade; e, em ul-tima análise, de cada um consigomesmo.

Relativamente ao Criador, esta-belece a Lei que o homem deve amara Deus acima de todas as coisas; emrelação aos genitores, determina queo filho, além de amar, deve tambémhonrar seu pai e sua mãe, “para quese prolonguem os seus dias na terraque o Senhor seu Deus lhe dá” (Êxo-do, 20:12); em relação aos seus ir-mãos em humanidade, dispõe a Leique tudo aquilo que queremos queos outros nos façam, antecipemo-nose façamos a eles, porque, como disseJesus, isto é a Lei e os Profetas (Ma-teus, 7:12).

Conseqüentemente, deve acriatura humana evitar fazer a ou-trem o mal que não gostaria que lhefizessem, não matando, não adulte-rando, não furtando, não apresen-tando falso testemunho, não cobi-çando o parceiro ou a parceira dopróximo, nem desejando coisa al-guma do seu irmão (cfr. Êxodo,20:1-17). Em relação a si próprio,adverte a Lei que todo aquele quefaz mal ao próximo, a si mesmo ofaz, pois terá de colher os frutos desua própria semeadura. Todavia, secumprir os mandamentos da Lei,estará abrindo para si mesmo asportas do Reino de Deus.

Jesus sintetizou maravilhosa-mente o sentido da Justiça de Deus,enfeixando-a num único verbo, overbo AMAR: “Amarás” – disse Ele– “ao Senhor teu Deus de todo ocoração e de toda a alma, e de todoo entendimento e de todas as tuasforças”; (...) e “amarás a teu próxi-mo como a ti mesmo” (Mateus,22:37-39).

Não se pode negar que a Hu-manidade vem-se esforçando por

estabelecer um conjunto de normasque assegurem a realização da Justi-ça, entre os homens, segundo aótica de cada povo. Para tanto, juris-tas e legisladores debruçam-se diu-turnamente sobre a legislação vi-gente, buscando aprimorar os prin-cípios do Direito e da Justiça, paraa manutenção de uma vida de rela-ção melhor e mais justa. Mesmo as-sim, a justiça terrena, embora per-fectível, ainda se encontra bemdistante da desejada perfeição. Mui-tas razões a afastam desse alvo,destacando-se as seguintes:

a) sendo mutável no tempo,deixa a lei de ser estável;

b) por ser falível como o pró-prio homem o é, pode a leitornar-se injusta;

c) mesmo procurando ser ca-suística, especificando pena-lidades para cada tipo de in-fração, nem sempre o casti-go consegue tocar a cons-ciência do culpado;

d) punindo com o foco natransgressão, nem sempre sepreocupa a lei com a educa-ção e a regeneração do trans-gressor...

A Justiça Divina, ao contrário,é eterna e por conseqüência imutá-vel; abrangendo o Universo, há queser imparcial; visando conduzir tu-do e todos à perfeição, preocupa-se,sobremaneira, com o arrependimen-to, a conversão e a reparação dosque se desviaram do reto caminho.Aliás, Jesus, o Bom Pastor, que aquiveio em busca das ovelhas desgarra-das do Bem, foi enfático ao dizerque “haverá mais alegria no céu porum só pecador que se converta, doque por noventa e nove justos quenão precisam de conversão” (Lu-cas,15:7).

Vejamos as diferenças acimaapontadas, mais detalhadamente:

1o – Se a lei dos homens é mu-tável no tempo e no espaço e, comotal, passível de falhas, uma vez queestá sujeita à diacronia1 dos quetêm poder para interpretá-la nocontexto histórico, a Lei de Deus,ao contrário, é eterna, infalível e,conseqüentemente, perfeita. Jesuscaracterizou bem essa diferença,confirmando a eternidade da Lei,ao repudiar o costume dos “anti-gos”, e ao esclarecer que não vierapara revogar a Lei, mas para dar-lhecumprimento. Segundo Ele, “maisfácil é passarem o céu e a terra doque se abolir um só pontinho daLei” (Lucas, 14:18).

2o – Sendo falível, pode a leidos homens ser burlada; sendo bur-lada, torna-se injusta; tornando-seinjusta, perde de vista a essência doseu objetivo, dando oportunidade aque criminosos fiquem impunes ea que inocentes sejam condenados.O mesmo não acontece com a Leide Deus: sendo infalível, há de sersoberanamente justa e imparcial.Impossível, pois, burlá-la. Qualquertentativa nesse sentido redundaráem fracasso, pois toda transgressão,por menor que seja, implica auto-mático registro na consciência dotransgressor, a exigir-lhe a devida re-paração, mais cedo ou mais tarde.Ainda que um criminoso possa ver--se livre da condenação dos homens,em desencarnando, jamais conse-guirá safar-se do tribunal de suaprópria consciência, que passará aacusá-lo incessantemente à luz daDivina Justiça, até que ele se deixetocar pelo remorso e pelo arrepen-dimento. Então, buscará ele a opor-tunidade de reparar o seu erro, oque implicará concessão de um no-

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 23

Page 24: Revista Reformador de Agosto de 2004

24 Reformador/Agosto 2004302

vo corpo físico que, por algum tem-po, será o seu cárcere de aflição rela-tiva, donde não sairá “antes de pa-gar o último centavo”, conformeadvertência de Jesus (Lucas, 12:59).

3o – Enquanto a lei dos ho-mens é específica e casuística, arro-lando uma penalidade para cada ti-po de crime e contravenção, a Leide Deus, ao contrário, é ampla, ge-nérica, abrangente, misericordiosa-mente generosa e justa, vinculandoo efeito à respectiva causa, poden-do ser resumida em um só artigo:“A cada um segundo as suas obras”(Mateus, 16:27).

4o – Embora a justiça dos ho-mens encarcere os transgressores dalei, segregando-os do convívio fami-liar e social, a Justiça de Deus, aocontrário, antes de afastar o devedor,coloca-o exatamente em meio àque-les a quem prejudicou, oferecendo--lhe a oportunidade de resgatar osseus débitos, transmutando animo-sidade em fraternidade, vingançaem perdão, ódio em amor, estimu-lando-lhe a reconciliar-se com osseus adversários enquanto matricu-lados na escola da carne. Não pode-ria Jesus ser mais claro ao lecionarque “os inimigos do homem serãoos seus próprios familiares” (Mateus,10:36). Confirmando esta evidên-cia, Léon Denis orienta-nos que“(...) o homem tem de reparar, noplano físico, o mal que fez no mes-mo plano; torna a descer ao cadinhoda vida, ao próprio meio onde setornou culpado, para, junto daque-les que enganou, despojou, espo-liou, sofrer as conseqüências do mo-do por que anteriormente proce-deu” (O Problema do Ser , do Desti-no e da Dor, cap. XVIII, páginas294 e 295).

5o – É correto supor que, em-

bora a justiça dos homens seja ain-da passível de erros, tudo leva acrer que tenderá à perfeição, na me-dida em que o Espírito for evoluin-do, quer em sabedoria, quer emamor ao próximo. O esforço para aevolução deve partir do íntimo decada um: “Sede perfeitos, comoperfeito é o vosso Pai que está noscéus” (Mateus, 5:48); e, “esforçai--vos por entrar pela porta estreita”,estimulou Jesus aos seus seguidores(Lucas, 13:24). O objetivo final daJustiça Divina é conduzir o Espíri-to à perfeição. E Jesus, o responsá-vel por essa tarefa gigantesca no Pla-neta, prometeu que “não passaráum jota nem um ápice sequer daLei, até que tudo chegue à perfei-

ção”2. O meio oferecido pelo Cria-dor para o aprimoramento progres-sivo do Espírito em evolução é odas reencarnações sucessivas, deven-do cada um suportar as vicissitudesda existência corporal, para despo-jar-se de suas impurezas. “Necessá-rio vos é nascer de novo”, elucidouJesus a Nicodemos (João, 3:7).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1Diacronia: Nome com que se designa a trans-missão de uma língua através do tempo e dasgerações, sofrendo nesse transcurso mudançasfonéticas, mórficas, sintáticas, semânticas e léxi-cas. (Michaelis – Moderno Dicionário da Lín-gua Portuguesa.)

2Novo Testamento, Mateus, 5:18 – traduçãode Huberto Rohden.

RenovaçãoQuando o espinho buscar-te o coraçãoE puderes dizer – bendito sejas!Quando a pedrada visitar-te o peitoE exclamares – bendita sejas tu!

Quando a prova amargosa e redentoraRequisitar-te a casa ao pranto escuroE lembrares que há sombrasMais terríveis que a tua em muita gente;

Quando inclinares teus ouvidos calmosÀ irritação e à cólera dos outros,Perdoando as ofensas e esquecendo-as;

Quando a dor inspirar-teO canto excelso e doce da esperança;

Então tua alma içada à Luz Celeste,Sob a glória da vida superior,Viverá luminosa e preparadaPara o Reino do Amor...

Rodrigues de Abreu

Fonte: XAVIER, Francisco C. Correio Fraterno. Por Diversos Espíritos. 5. ed.,Rio de Janeiro: FEB, 1998, cap. 26, p. 67.

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 24

Page 25: Revista Reformador de Agosto de 2004

Reformador/Agosto 2004 25

Sempre que lemos ou ouvimosfalar sobre caridade, seja noslivros, nos púlpitos ou nas

conversações, quando alguém falaem caridade é, na maioria das vezes,no sentido de esmola, de tirar dobolso pequenina moeda e colocá-lanas mãos de um pedinte.

Não negamos, absolutamente,que nisso haja caridade, principal-mente quando essa moeda é dadacom amor, compreensão e respeito.Na verdade, o que muitas vezes ou-vimos daquele que dá, ou se recusaa dar, são expressões como: “Isso éum abuso...”, “aqui e ali estamossendo incomodados com esse maucostume de pedir!...”, “mulher ain-da nova, com filho nos braços, semcoragem de trabalhar para susten-tar-se”, etc.

O espírito da caridade, confor-me ensina Jesus, em seu Evangelho,não está apenas na esmola, quemuitas vezes humilha o pedinte. Es-tá muito acima disso. Está no Amorao próximo, e nele deparamos como significado maior da vida em so-ciedade.

A bem da verdade, nem sequerencontramos nos lábios de Jesus aexpressão caridade, mas constante-mente o termo Amor, em que se fazpresente o espírito caritativo.

Vejamos, no Sermão da Mon-tanha, quando ele profere a palavra

esmola: “Guardai-vos de fazer asvossas boas obras diante dos homenscom o objetivo de serdes vistos poreles (...).” E mais adiante: “Quan-do derdes esmola, não façais tocartrombetas diante de vós, como fa-zem os hipócritas nas sinagogas enas ruas (...).” (Mateus, 6:1-2.)

O espírito da caridade é, por-tanto, o Amor, tanto que alguns es-tudiosos usam as duas palavrassinonimicamente. Eis o que encon-tramos na Primeira Epístola doapóstolo João: “Conhecemos o amornisto: que ele, Jesus, deu a sua vidapor nós, e nós devemos dar a nossavida por nossos irmãos.” (3:16);“Quem tiver, pois, bens do mundo,e, vendo o seu irmão necessitadocerrar-lhe as entranhas, como esta-rá nele o Amor de Deus?” (3:17);“Amados, amemo-nos porque oamor é de Deus. Aquele que não

ama não conhece a Deus, porqueDeus é todo amor.” (4:7-8.)

Finalmente, pesquisemos emPaulo, desde o Atos dos Apóstolos epor todas as suas epístolas o que nosdiz sobre a caridade, mormente nocapítulo 13 de sua Primeira Epísto-la aos Coríntios, afirmando: “Denada me adiantaria, sem Amor,dar o corpo a ser queimado.”

Na condição, pois, de espíritas,exercitemos a caridade, enquantohá tempo, em todos os nossos atose pensamentos. Sim! pois não bas-ta, para sermos tidos como imper-feitos, errar apenas na ação. Tam-bém nossos pensamentos devem servigiados, quando observarmos aconduta dos homens, principal-mente na política – área sublimeque muitos deles desconhecem poregoísmo. Oremos muito mais ain-da pelos que escorregam tão desas-tradamente nesse campo importan-tíssimo do compromisso social.

Recordemos o que está escritono Evangelho segundo Mateus, emseu capítulo 24, e reflitamos sobreo versículo 22, e tudo quanto estáexpresso, ainda, nos versículos 32 a51.

Para incorporarmos o Espíritoda Caridade não precisamos sermédiuns, basta permanecermos emtodos os momentos de nossa vidaem sintonia com Deus, nosso Cria-dor e Pai, através de uma mente sa-dia, conforme nos sugeriu certa vezo poeta latino Juvenal (60-140,d. C.) “Mens sana in corpore sano”.

303

O espírito da caridadeInaldo Lacerda Lima

Na condição,

de espíritas,

exercitemos a

caridade, enquanto

há tempo, em todos

os nossos atos e

pensamentos

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 25

Page 26: Revista Reformador de Agosto de 2004

26 Reformador/Agosto 2004304

Otrabalho que abaixo transcre-vemos, traduzido do originalem Esperanto, foi apresenta-

do pelo autor, Ronald J. Glossop,ao 88o Congresso Universal de Es-peranto, realizado na cidade suecade Gottenburg, de 26 de julho a 2de agosto de 2003. Por sua objeti-vidade e singeleza, entendemos útilestendê-lo aos leitores de nossa Re-vista, na firme esperança de aindamais fortalecer-lhes a convicção deque o Esperanto transcende a for-ma visível em que se manifesta nomundo – uma língua genialmenteplanejada – para se afirmar comogeneroso ideal de aproximação dospovos e culturas por sobre todas asbarreiras que entre os homens setêm levantado ao longo do progres-so das civilizações, assim contri-buindo positivamente para a cons-trução dos novos fundamentos so-bre os quais se erguerá a fase univer-salista da vida em nosso planeta.

Eis o texto:

Por que se deveria aprender oEsperanto?

A resposta, naturalmente, nãoé a mesma para todos. Os motivossão diversos, e eu me proponho adiscutir alguns, enquadrando-os emtrês categorias: motivos práticos,motivos de enriquecimento mental,motivos morais.

O primeiro motivo de ordemprática diz respeito a entreteni-mento. Com o Esperanto, podemosconhecer e encontrar muitas pessoasafáveis, interessantes, cultas, enge-nhosas e talentosas, bem como via-jar pelo mundo inteiro visitandodiferentes países, participar de fes-tas verdadeiramente internacionais,ouvir música e praticar danças dediferentes culturas. O planeta in-teiro pode transformar-se em centrode nossas diversões.

O segundo motivo de ordemprática é o que nos proporciona o co-nhecimento de amigos co-idealistas, osquais nos saudarão com cumprimen-tos e boas-vindas em qualquer partedo mundo e até nos receberão emsuas mesas e nos acolherão em seuslares. É como afirmam, com freqüên-cia, os esperantistas: Se você quer ga-nhar dinheiro, estude o inglês; masse quer fazer amigos, aprenda o Es-peranto. Não há dúvida de que já seconstituiu num aforismo a expressãosegundo a qual os esperantistas têmamigos em toda a parte. Além disso,não nos esqueçamos de que em algu-mas ocasiões os esperantistas se ligamem casamento no seio mesmo da co-munidade esperantista.

O terceiro motivo de ordemprática, ligado especialmente àscrianças de fala inglesa e aos paísesasiáticos, prende-se ao fato de queo Esperanto se constitui num bomauxiliar para se aprender uma ou-tra língua além da língua mater-na. Diversas experiências eviden-

ciam que os estudantes aprendemmais rapidamente o regular Espe-ranto do que línguas européias co-mo o inglês e o francês. Com o tem-po se observa que os que estudamem primeiro lugar o Esperanto, emvez de línguas nacionais mais difí-ceis, depois aprendem outros idio-mas com mais interesse. Eles sentemque são capazes disso. Ao contrário,o estudo de línguas mais difíceis,como o inglês e o latim, sempre de-sencoraja a iniciativa de se apren-der outras línguas.

Passemos, agora, à segunda cate-goria de motivos para se aprender oEsperanto, isto é, o enriquecimento damente por meio de uma melhor com-preensão do mundo. Como bem ex-pressou o esperantista canadense Dr.Stevens Norvell, da Nova Escócia, oEsperanto é uma janela para o mun-do. Poder ler e entender em nossa lín-gua é poder informar-se sobre outrospaíses, outras culturas e outros crité-rios, por intermédio de livros, jornais,revistas, fitas sonoras e de vídeo, trans-missões de rádio e televisão, páginas emensagens eletrônicas. Pode-se ficarinformado, de um ponto de vista neu-tro, a respeito do que se passa nomundo, e não apenas sobre assuntosespecíficos. Também se adquire umamelhor visão do mundo, pelo fato denão mais se estar tão ligado a umapequena região da Terra e aos pontosde vista de uma única comunidadelingüística e cultural. Estabelecem-se,efetivamente, relações com a coletivi-dade humana inteira.

A FEB E O ESPERANTO

Ideal esperantistaAffonso Soares

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 26

Page 27: Revista Reformador de Agosto de 2004

Reformador/Agosto 2004 27

A terceira categoria de motivospara se aprender o Esperanto é, anosso ver, a mais importante. É denatureza moral e tem dois aspectos.

Em primeiro lugar, pode-se esta-belecer relações com outras pessoas, nomundo inteiro, em bases de igualdadee justiça, pois que é usada uma línguaneutra, planetária, em vez da próprialíngua nacional. Não exigiremos queoutros usem a nossa língua, da mesmaforma que não seremos obrigados ausar a língua de nossos interlocutores.Disso resulta um sentimento de igual-dade e justiça entre todos.

O segundo aspecto da motiva-ção moral para se aprender o Espe-ranto é o fato de que, como espe-rantistas, contribuímos para a cria-ção de uma comunidade mundialque evolui harmonicamente. Como Esperanto, fazemo-nos partícipesde um movimento histórico muitoimportante que impulsiona a soli-dariedade entre todos os homens.Constituímos, os esperantistas, umtipo inteiramente novo de comuni-dade universal, formada pelo usode nossa língua mundial. Agora,marcharemos, ao largo do interna-cionalismo do século XX, em dire-ção ao globalismo do século XXI.Nada obstante, também contribuí-mos para a preservação de inúme-ras línguas nacionais em diversaspartes do mundo, assim preservan-do a diversidade lingüística.

Existem, sem dúvida, outrosmotivos, aqui não mencionados,para se aprender o Esperanto. Espe-ramos, no entanto, que as idéiasaqui apresentadas ajudarão no sen-tido de se convencer outros homensa respeito da necessidade de queaprendam o Esperanto e cerrem fi-leiras em nossa progressista comu-nidade mundial.

305

Da Parte Terceira – Das LeisMorais – de O Livro dos Es-píritos depreende-se que a

Doutrina Espírita objetiva contri-buir para o aperfeiçoamento moralda Humanidade. A Doutrina cons-titui-se num instrumento a maispara auxiliar a efetivação desse ob-jetivo, do qual tão carentes estãotodos os quadrantes do nosso pla-neta.

No entanto, para atingir-seplenamente tal nobre objetivo, oEspiritismo precisa ser difundidoem escala planetária, isto é, ser le-vado a todos os povos da Terra. Ca-be a nós, espíritas, a responsabilida-de e o dever de fazer isto. Mas, aí,defrontamo-nos com uma enormebarreira: a multiplicidade de lín-guas usadas no Mundo!

Existem cerca de 6.000 línguasdiferentes!

Evangelização

Fala-se freqüentemente, e comacerto, no meio espírita, sobre a ur-gente necessidade e prioridade da“evangelização” – a divulgação dosensinamentos de Jesus. Ora, sendoo Espiritismo e a Evangelização decaráter universalista (...).

Eis aí o grande desafio. Todosos homens, de todos os povos, sãofilhos de Deus. Deve-se, pois, pro-porcionar a todos as benesses de co-nhecer o Espiritismo e o Evange-lho (...).

Problema Resolvido

A solução, para contornar ocaos lingüístico instalado no Mun-do, já existe de há muito e se en-contra à disposição de toda a Hu-manidade desde o século XIX,quando foi lançado o primeirolivro da “Língua Internacional”,de autoria do Doutor Esperanto(pseudônimo do médico e poliglo-ta polonês Dr. Lázaro Luís Zame-nhof); língua agora conhecida sim-plesmente como ESPERANTO. Éuma língua planejada especialmen-te para facilitar a intercompreensãoem ambientes multilíngues (...).

O Esperanto já dispõe de am-pla literatura, com centenas deobras originais e traduzidas, bemcomo centenas de periódicos; éfluentemente falado em congressosmundiais e nacionais, tanto parauso geral como em aplicações espe-cializadas. O Esperanto é um valio-so e indispensável meio de comuni-cação moderno. Veio para ficar eser útil, prestando auxílio na divul-gação das boas idéias e dos grandesideais. Por que não usá-lo e apro-veitá-lo em favor do Espiritismo? AFEB já percebeu que vale a penautilizar o Esperanto e, por isso, tempublicado obras doutrinárias e ma-terial didático para o estudo dessalíngua. O Mundo Espiritual já mui-tas vezes tem-se manifestado favo-rável ao Esperanto, mas muitas pes-soas ainda acham que o Esperantoé a “língua do futuro”; no entanto,para milhares de pessoas de visão,que utilizam o Esperanto para co-municar-se, o futuro já é hoje!

O Futuro é hoje!Vicente P. Werneck

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 27

Page 28: Revista Reformador de Agosto de 2004

28 Reformador/Agosto 2004

Écomum ouvirmos, de pessoasque ainda não se dedicaram aum estudo mais sério da Dou-

trina dos Espíritos, observaçõesque, à primeira vista, parecem lógi-cas, e que, no entanto, representamapenas o resultado do desconheci-mento sobre a realidade global davida terrena. Argumentam eles:

– Se existe a tão perfeita Justi-ça Divina pregada pelos espíritas,como poderá ela permitir que sofra-mos, se não sabemos o porquê des-se sofrimento? Todo réu tem o di-reito de saber por que está sendocondenado!

A dúvida é bastante compreen-sível, e antes de mais amplas consi-derações, iniciaremos a respostacom uma outra pergunta:

– Que benefício traria à criatu-ra conhecer os acontecimentos deseu passado encarnatório?

A Lei da Evolução a que somoscompulsoriamente submetidos visasempre as condições de vida quemelhores avanços proporcionemao nosso adiantamento. A simplescuriosidade nenhum interesse trariapara o progresso que devêssemosconquistar.

Apagando da memória espiri-

tual os acontecimentos do passado,Deus nos oferece um recomeço,sem os inconvenientes que advi-riam como conseqüência daquelesconhecimentos. Além disso, há umraciocínio primário a estabelecer: seaqui estamos encarnados, ocupan-do um envoltório material, será ób-vio admitir que precisamos concluirtarefas que ficaram inacabadas, oupendentes, em romagens terrenasanteriores, ou conquistar conheci-mentos ainda não incorporados aonosso acervo, ou mais ainda, exer-citarmos os elevados atributos mo-rais da alma, para fazermos jus àventura que nos aguarda no futuro.

A pluralidade das existências éa maneira de nos aperfeiçoarmosmoral e espiritualmente, através donascer, viver, morrer e renascer. Avida na Terra, pois, não é obra doacaso! Ela tem uma finalidade: oprogresso do Espírito! Ou será quealguém conhece outro objetivo quea justifique? Se o corpo material seextingue no túmulo, que outro ra-ciocínio poderá ser estabelecido pa-ra explicar a vida material? OuDeus poria no mundo suas criatu-ras para em seguida destruí-las, semnada restar delas?

Vamos supor, como hipótese,que fosse dado ao encarnado desco-brir, em sua integralidade, os acon-tecimentos das vidas anteriores,com todo o realismo de seus por-

menores. Se isso acontecesse, cer-tamente passaríamos a conheceraqueles que foram nossos desafetosou agressores, como também aque-les a quem houvéssemos feito al-gum mal. As conseqüências daí de-correntes não serão difíceis de de-duzir. As hostilidades mútuas pode-riam ser restabelecidas; os constran-gimentos de parte a parte seriaminevitáveis; a vergonha pelos peca-dos, traições e crimes cometidos an-teriormente tornariam insuportávela convivência comum.

Por outro lado, sabendo a gra-vidade dos erros anteriores, conhe-ceríamos as penalidades a que esta-ríamos sujeitos, o que nos trariaextremas angústias e aflições; semnos referirmos aos mais fracos que,ao sabê-las, procurariam evadir-seda vida pela porta larga do suicídio.Verificamos, assim, que o esqueci-mento do passado, longe de seruma injustiça, é, pois, acréscimo demisericórdia de nosso Pai, que me-lhor sabe o que convém à nossa fe-licidade e à nossa paz. Além disso,Deus não forja sofrimentos paranós; eles são inscritos na naturezaintrínseca do nosso perispírito, pornós próprios!

Outra observação muito fre-qüente é ser questionada a bonda-de de Deus e seu amor pelas criatu-ras, alegando:

– Se os nossos erros e pecados

306

Esquecimento do passado Perguntas e respostas

Mauro Paiva Fonseca

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 28

Page 29: Revista Reformador de Agosto de 2004

Reformador/Agosto 2004 29

são resgatados a peso de sofrimen-to, cobrando-nos a Justiça Divina omal que fizemos alhures com outromal de intensidade proporcional aoque praticamos, não será isto umato de vingança? Não se caracterizaneste caso aplicação da lei do “olhopor olho, dente por dente”? Estenão é freqüentemente o modo deproceder dos homens, que infligemaos seus agressores sofrimentos emrepresália ao mal recebido?

Ainda aqui, iniciaremos a res-posta com uma pergunta:

Que outra maneira mais exatateria o Espírito de conhecer as con-seqüências dos sofrimentos, vicissi-tudes, aflições e infortúnios em ge-ral causados aos semelhantes, senãoexperimentando, ele próprio, o sa-bor daquelas amarguras impostasaos outros?

Ademais, o objetivo do auto-matismo da Justiça Divina não é

punir, mas fazer aprender. O PaiCelestial, em Sua soberania, não secompraz com os sofrimentos dassuas criaturas, o que seria um for-mal desmentido à sua infinita bon-dade mas deseja que a constataçãodo erro leve ao arrependimento e àcorreção conseqüente, vencendomais rápida e radicalmente as fra-quezas, os erros e as velhas chagasda alma, que mantêm os homenscativos da inferioridade e do mal.

307

Antes de chegar

Estávamos em tarefa de assistência, na grande na-ve aérea, que voava tranqüilamente. ..............Lá em baixo, as montanhas mineiras mostravam

a exuberância de sua vegetação.Aqui e ali, uma nuvem a espreguiçar-se, im-

passível.Lado a lado, conversavam dois amigos:– E você, que fará no Rio?– Vou tratar da saúde.– Você? O confidente dos “bons Espíritos”?– Como não? São bons amigos... Mas um ami-

go não pode apagar nossos débitos.– Mas, enfim, para que serve o Espiritismo?– Ajuda-me a viver preparado.– Para quê? – e sorriu, insolente, o companhei-

ro sarcástico. – Vocês, religiosos, só falam em ama-nhã e amanhã. Mas a vida é hoje, meu caro... Ateucomo sou, vivo muito melhor. Minha fazenda dá detudo. A corretagem é boa mina. Com ela, estouformando larga frota de caminhões em Brasília!Mas vocês, espíritas, são impressionantes. Pensamsomente em sessões e ilusões, com os olhos nooutro mundo...

– Não é tanto assim...– Que faz você, agora?– Como há dez anos, represento o comércio.– Muitos patrões?– Muitos patrões.

– Faça como eu. Nada de dependência. Sou li-vre, livre. Vou onde quero e faço o que quero. Nesteano, levantarei meu arranha-céu em São Paulo, tereiminha casa de repouso, no Eldorado, adquirirei ter-reno numa das praias de Santos e comprarei novasterras em Goiás. Mas, antes disso, quero visitar No-va Iorque. Darei uma espiada na América. Já estouprovidenciando passagem num Caravelle... Nada deoutra vida. Quero esta mesma...

Nesse ínterim, a grande cidade, embora ao lon-ge, apareceu de todo...

O Corcovado e o Pão de Açúcar ornavam a na-tureza da terra carioca.

– Veja a beleza do mundo! – acentuou o viajan-te materialista. – Isso é para ser desfrutado, gozado,aproveitado. E depressa. Nada de amanhã. Tudoé hoje. Se você quiser esquecer essa história de mor-tos comunicantes, dê à noite um pulo no meuhotel!...

Nisso, porém, a máquina poderosa começou ajogar.

Parecia um pássaro enorme em convulsões im-previstas.

E, antes que os passageiros dessem conta de si,o grande avião mergulhou no mar, com a desencar-nação de todos...

Hilário Silva

Fonte: XAVIER, Francisco C., VIEIRA, Waldo. Almas emDesfile. 10. ed., Rio de Janeiro: FEB, 2003, cap. 22, p. 191-193.

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 29

Page 30: Revista Reformador de Agosto de 2004

30 Reformador/Agosto 2004308

A Comissão Regional Nortedo Conselho Federativo Nacionalda FEB realizou sua Reunião Ordi-nária de 2004 em Belém (PA), noperíodo de 10 a 13 de junho, estan-do presentes cinco Entidades Fede-rativas da Região: Federação Espíri-ta do Estado do Acre, FederaçãoEspírita do Amapá, Federação Es-pírita Amazonense, União EspíritaParaense e Federação Espírita deRondônia; a Federação Espírita Ro-raimense justificou a ausência. AFEB compareceu com seu Presiden-te e mais onze membros. Total departicipantes: 80.

Sessão de Abertura

A Sessão de Abertura ocorreuna sede histórica da União EspíritaParaense – onde se desenvolveramtodos os trabalhos da Comissão –,às 19h30 de 10 de junho, quinta--feira, sob a direção do Presidenteda FEB. Após a prece e as saudaçõesaos participantes do evento, o Pre-sidente da UEP, Jonas da CostaBarbosa, proferiu excelente palestrasobre o Bicentenário de Nascimen-to de Allan Kardec, fazendo umaretrospectiva das existências anterio-res de Kardec e focalizando a suaatuação como educador e missioná-rio da Terceira Revelação.

Reunião Geral

Na manhã de sexta-feira, dia

11, instalou-se a Reunião Geral. OCoordenador prestou esclarecimen-tos gerais acerca da Pauta dos traba-lhos, sendo feita a apresentação in-dividual de todos os participantesdo encontro.

Teve inicio, em seqüência, oSeminário “Qualificação do Tra-balhador de Unifica-ção”, apresentado porAlberto Ribeiro deAlmeida, com exposi-ção através de data-show, na qual ressal-tou a necessidade de otrabalhador espírita in-ternalizar os valoresmorais e espirituais,expressos no amor a simesmo e ao próximo,adquiridos no estudoe vivência da Doutri-

na Espírita e do Evangelho de Jesus,com vistas à sua atividade nas tare-fas da Unificação. O assunto foidiscutido em vários grupos, comapresentação dos resultados em Ple-nário e conclusões pelo expositor.

A seguir, a Reunião Geral foisuspensa, para serem realizadas as

reuniões setoriais –dos Dirigentes e dasÁreas da AtividadeMediúnica, da Co-municação Social Es-pírita, do Estudo Sis-tematizado da Dou-trina Espírita, da In-fância e Juventude, doServiço de Assistênciae Promoção Social Es-pírita e da AssistênciaEspiritual no CentroEspírita.

FEB/CFN - COMISSÕES REGIONAIS

Reunião da Comissão Regional Norte

O Presidente Jonas Barbosa (UEP) inicia a Sessão de Abertura e faz a palestra pública

Alberto Almeida apresenta o Seminário

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 30

Page 31: Revista Reformador de Agosto de 2004

Reformador/Agosto 2004 31

Reunião dosDirigentes

Esta Reunião con-tou com os seguintesparticipantes: pela Fe-deração Espírita Brasi-leira – Nestor João Ma-sotti (Presidente), Alti-vo Ferreira (Coordena-dor), Alberto Ribeirode Almeida (Secretário)e Antonio Cesar Perride Carvalho (Secretá-rio-Executivo da Secre-taria Geral do CFN);pelas Federativas, os se-guintes Presidentes: Acre– Gasparina dos Anjosde Jesus (FEEAC); Amapá – Au-gusto Cezar Barbosa Brito (FEAP);Amazonas – Sandra Farias de Mo-raes (FEA); Pará – Jonas da CostaBarbosa (UEP) e Rondônia – PedroBarbosa Neto (FERO), além deassessores da UEP e FEA, e de diri-gentes de Casas Espíritas.

Proferida a prece, os trabalhosforam iniciados com a exposição,pelas Federativas, sobre o andamen-to e os resultados do curso “Capa-citação Administrativa para Diri-gentes de Casas Espíritas”, sob acoordenação de Cesar Perri, que in-formou acerca da situação do cursonas Regiões Nordeste e Sul.

Passou-se à discussão do assun-to “Recursos para a manutençãodas atividades espíritas: busca de so-luções”. O relato dos Dirigentes in-dicou que cada Federativa, de acor-do com as suas condições e pecu-liaridades, procurou captar os recur-sos financeiros necessários, atravésde eventos, aumento do quadro desócios, promoção de filmes e outrasiniciativas, sendo que a venda do li-

vro espírita, nas suas livrarias e emfeiras de livro é o maior suporte pa-ra a manutenção da atividade fe-derativa. O Presidente Nestor Ma-sotti expôs as diretrizes da FEB nosentido de dar às Federativas todo oapoio na área da distribuição e ven-da dos livros de sua Editora, obser-vada a realidade de cada uma delas.

O segundo assunto – “Planeja-mento orçamentário” – foi objetode minuciosa exposição pela Presi-dente da Federação Espírita Amazo-nense, ilustrada com transparências,na qual foi exemplificado o planeja-mento de um evento, com levanta-mento de custos e indicação dasfontes de receita. O Tesoureiro daUnião Espírita Paraense, RaimundoNonato Alves Dias, fez, também,circunstanciada exposição sobre oplanejamento orçamentário, abor-dando as fontes de receita para amanutenção das atividades da UEP.As demais Federativas informaramas medidas que estão adotando pa-ra seu planejamento orçamentário.

No item de Assuntos Diversos

foram relatadas as principais reali-zações das Federativas, verificando--se que, em todas, o destaque estásendo para as comemorações do Bi-centenário de Nascimento de AllanKardec, através de eventos e ampladivulgação por meio de outdoors,cartazes, banners, e de notícias emjornais, rádio e televisão.

A próxima Reunião será reali-zada em Porto Velho (Rondônia),no período de 26 a 29 de maio de2005, com os seguintes assuntos:1. “Movimento Espírita e EducaçãoEspírita”, cujo desenvolvimento in-clui seminários, cursos e outrasabordagens; 2. “Importância do cen-so espírita por áreas, para melhorconhecimento da realidade”.

Sessão Plenária

A Reunião Geral reiniciou-secom uma prece, na manhã de do-mingo, dia 13, como Sessão Plená-ria destinada aos relatos das ativida-des desenvolvidas nas seguintesreuniões setoriais: >

309

Grupo de Dirigentes (esq./dir.): Rondônia, Pará, Acre, FEB, Amazonas, FEB

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 31

Page 32: Revista Reformador de Agosto de 2004

32 Reformador/Agosto 2004

Área da Atividade Mediúnica,coordenada por Marta Antunes deOliveira Moura, com o apoio deEdna Maria Fabro. Assuntos da reu-nião: “1. Seminário – Reuniões me-diúnicas: tipos; características dosparticipantes encarnados e desencar-nados; comunicantes desencarnados;2. Comunicações Simultâneas”. AFEB apresentou o tema “Reuniãomediúnica à luz do Evangelho”. As-suntos da próxima reunião: “1. Opapel do dirigente na harmonizaçãoda Reunião Mediúnica; 2. O traba-lhador da área mediúnica e suas re-lações interpessoais”.

Área da Comunicação Social Es-pírita, coordenada por Sônia ReginaFerreira Zaghetto, na ausência, porrecomendação médica, de MerhySeba. Assunto da reunião: “Cursoteórico-prático sobre ‘Como elabo-rar projetos jornalísticos’ ”. Assuntopara a próxima reunião: “Comuni-cação Social Espírita e Unificação”.

Área do Estudo Sistematizadoda Doutrina Espírita, coordenadapor Maria Túlia Bertoni. Assunto

da reunião: “1. Avaliação da execu-ção das estratégias definidas naReunião da Comissão RegionalNorte/2002, em Boa Vista; 2. Re-lato das atividades desenvolvidaspelas Federativas para a dinamiza-ção da Campanha do Estudo Siste-matizado no Bicentenário de AllanKardec; 3. Resultado do II Encon-tro Nacional de Coordenadores doESDE na ação Federativa (avalia-ção)”. Assunto para a próxima reu-nião: “Campanha de interiorizaçãodo ESDE: Estratégias; Resultados”.

Área da Infância e Juventude,coordenada por Rute Vieira Ribei-ro, com o apoio de Miriam H. Ma-sotti Dusi. Assuntos da reunião: “1.Acompanhamento da Execução dosProjetos Elaborados no IV Encon-tro Nacional de Dirigentes de DIJ –1997; 2. Música na Evangelização”.Assunto para a próxima reunião:“Acompanhamento da Execuçãodos Projetos Elaborados no IV En-contro Nacional de Diretores deDIJ – 1997”.

Área do Serviço de Assistência

e Promoção Social Es-pírita, coordenada porJosé Carlos da Silva Sil-veira. Assuntos da reu-nião: “Apresentação detemas com base noconteúdo do Manualde Apoio, assim defi-nidos: 1. A sensibiliza-ção para o trabalho doSAPSE; 2. O voluntárioespírita e sua relaçãocom o assistido; 3. A vi-são jurídica da Assistên-cia Social Espírita; 4.Experiências de parce-ria”. Assunto para a pró-xima reunião: “Levan-tamento de Informa-

ções sobre a Utilização do Manualdo SAPSE pelos Centros Espíritas”.

Área do Atendimento Espiri-tual no Centro Espírita, coordena-da por Maria Euny Herrera Masot-ti. Assuntos da reunião: “1. Aten-dimento Espiritual Infantil (ATI);2. Capacitação de trabalhadores pa-ra a recepção e o atendimento fra-terno através do diálogo”. Assuntopara a próxima reunião: “O Traba-lhador Espírita como Instrumentoda Espiritualidade”.

Reunião dos Dirigentes: O Se-cretário Alberto Almeida fez relatodas principais atividades e conclu-sões dessa reunião.

Terminadas as exposições seto-riais, o Coordenador convidou osDirigentes das Federativas para faze-rem suas considerações finais e des-pedidas e, depois, passou a palavraao Presidente da FEB, que falou emseu nome e no de toda a equipe. Ostrabalhos foram encerrados comuma prece proferida por Pedro Bar-bosa Neto, Presidente da FERO, an-fitriã da Reunião de 2005.

310

Coordenadores das Áreas (esq./dir.): SAPSE, ESDE, DIJ, AECE, AM e CSE

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 32

Page 33: Revista Reformador de Agosto de 2004

Reformador/Agosto 2004 33

(Lyon, 21 de setembro de 1862– Médium: Sra. B...)

Perguntas-me qual será o futu-ro do Espiritismo e que lugarocupará no mundo. Não ocu-

pará somente um lugar, mas preen-cherá o mundo inteiro. O Espiritis-mo está no ar, no espaço, na Na-tureza. É a pedra angular do edifí-cio social. Podes pressagiar o seufuturo por seu passado e seu pre-sente. O Espiritismo é obra deDeus. Vós, homens, lhe destes umnome e Deus vos deu a razão quan-do chegou o tempo, porque o Espi-ritismo é a lei imutável do Criador.Desde que o homem teve inteligên-cia Deus lhe inspirou o Espiritismoe, de época em época, enviou à Ter-ra Espíritos adiantados, que ensaia-ram em sua natureza corpórea a in-fluência do Espiritismo. Se tais ho-mens não triunfaram foi porque ainteligência humana ainda não seachava bastante aperfeiçoada; masnem por isso desistiram de implan-tar a idéia, deixando atrás de si seusnomes e seus atos, quais marcos in-dicadores numa estrada, a fim deque o viajante pudesse achar seucaminho. Olha para trás e verásquantas vezes Deus já experimen-tou a influência espírita como me-lhoramento moral.

Que era o Cristianismo há de-zoito séculos, senão Espiritismo? Sóo nome é diferente, mas o pensa-

mento é o mesmo. Apenas o ho-mem, com o livre-arbítrio, desnatu-rou a obra de Deus. A natureza foipreponderante e o erro veio im-plantar-se nessa preponderância.Depois, o Espiritismo esforçou-sepor germinar, mas o terreno era in-culto e a semente partiu-se, ferindoa fronte dos semeadores que Deushavia encarregado de espalhá-la.

Com o tempo a inteligência cres-ceu, o campo pôde ser arroteado,porquanto se aproxima a época emque o terreno deve ser novamentesemeado. Todos admitem que o Es-piritismo se espalha; até os mais in-crédulos o compreendem e, se nãoo confessam, e se fecham os olhos,é que a luz ofuscante do Espiritis-mo os cega. Mas Deus protege asua obra, a sustenta com seu pode-roso olhar, a encoraja, e logo todosos povos serão espíritas, porque aíse encontra a universalidade de to-das as crenças.

O Espiritismo é o grande nive-lador, que avança para aplanar to-das as heresias. É conduzido pela

simpatia, seguido pela concórdia, oamor, a fraternidade; avança semabalos e sem revolução. Nada vemdestruir, nada vem subverter na or-ganização social: vem renovar tudo.Não vejas nisso uma contradição:tornando-se melhores, os homenscogitarão leis melhores; compreen-dendo que o operário é da mesmaessência que a sua, o patrão intro-duzirá leis mais amenas e mais sá-bias nas suas transações comerciais;as próprias relações sociais se trans-formarão muito naturalmente entrea fortuna e a mediocridade. Nãopodendo o Espírito constituir-seem herdeiro, sentirá o espírita quealgo há de mais importante para sique a riqueza, libertando-se da idéiade acumular, que gera a cupidez e,certamente, o pobre ainda aprovei-tará essa diminuição do egoísmo.Não direi que não haverá rebeldes aessas idéias e que todos crescerão,fecundados universalmente pela on-da do Espiritismo. Ainda existirãorefratários e anjos decaídos, poiso homem tem o livre-arbítrio e, adespeito de não lhe faltarem conse-lhos, muitos deles, não vendo senãode seu ponto de vista, que restringeo horizonte da cupidez, não quere-rão render-se à evidência. Infelizes!Lamentai-os, esclarecei-os, pois nãosois juízes e só Deus tem autorida-de para lhes censurar a conduta.

Pelo futuro que vos mostro pa-ra o Espiritismo, podeis julgar dainfluência que ele exercerá sobre asmassas. Como estais organizados,

311

PÁGINAS DA REVUE SPIRITE

O Futuro do Espiritismo

O Espiritismo é o

grande nivelador,

que avança para

aplanar todas as

heresias

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 33

Page 34: Revista Reformador de Agosto de 2004

34 Reformador/Agosto 2004

moralmente falando? Fizestes a es-tatística de vossos defeitos e de vos-sas qualidades? Os homens levianose neutros povoam boa parte da Ter-ra. Os benevolentes representam amaioria? É duvidoso; mas entre osneutros, isto é, entre os que estãocom um pé na balança do bem eoutro na do mal, muitos podempôr os dois na bandeja da benevo-lência, que é o primeiro degrau queos pode conduzir rapidamente àsregiões mais adiantadas. Ainda háno globo uma parcela de seres mausque, no entanto, tende a diminuira cada dia. Quando os homens es-tiverem perfeitamente imbuídos dopensamento de que a pena de Ta-lião é a lei imutável que Deus lhesinflige, lei muito mais terrível quevossas mais terríveis leis terrestres,bem mais apavorante e mais lógicaque as chamas eternas do inferno,em que não mais acreditam, teme-rão essa reciprocidade de penas epensarão duas vezes antes de come-ter um ato censurável. Quando, pe-la manifestação espírita, o crimino-so puder prognosticar a sorte que oespera, recuará ante a idéia do cri-me, pois saberá que Deus tudo vê eque o crime, ainda que ficasse im-pune na Terra, um dia ele terá quepagar muito caro por essa im-punidade. Então todos esses crimesodiosos, que de vez em quandovêm trazer sua marca indelével àfronte da Humanidade, desaparece-rão para dar lugar à concórdia, àfraternidade que há séculos vos sãoapregoadas. Vossa legislação seabrandará na razão do melhora-mento moral, e a escravidão e a pe-na de morte não permanecerão emvossas leis senão como uma lem-brança das torturas da Inquisição.Assim regenerado, poderá o ho-

mem ocupar-se mais com seus pro-gressos intelectuais; não mais exis-tindo o egoísmo, as descobertascientíficas, que muitas vezes exigemo concurso de várias inteligências,desenvolver-se-ão rapidamente, ca-da um dizendo: “Que importaaquele que produz o bem, contan-to que o bem se produza!” Porque,com efeito, quem muitas vezes de-tém os vossos sábios em sua marcha

ascendente para o progresso, senãoo personalismo, a ambição de ligarseu nome à sua obra? Eis o futuro ea influência do Espiritismo nos po-vos da Terra.

Um filósofo do outro mundo

Fonte: Revue Spirite (Revista Espírita) –junho de 1863. Tradução de Evandro No-leto Bezerra.

312

(Sociedade de Paris, 4 de julhode 1862 – Médium: Sr. A. Di-dier)

Osacrifício da carne foi severa-mente condenado pelos gran-des filósofos da antiguidade.

O Espírito elevado revolta-se à idéiado sangue e, sobretudo, à idéia deque o sangue é agradável à Divin-dade. E notai bem que aqui não setrata absolutamente de sacrifícioshumanos, mas tão-só de animaisoferecidos em holocausto. Quandoo Cristo veio anunciar a Boa Nova,não ordenou o sacrifício do sangue:ocupou-se unicamente do Espírito.Os grandes sábios da antiguidadeigualmente tinham horror a estasespécies de sacrifícios e eles própriossó se alimentavam de frutos eraízes. Na Terra os encarnados têmuma missão a cumprir; têm um Es-pírito, que deve ser nutrido peloEspírito, e um corpo, que deve seralimentado pela matéria; mas a na-tureza da matéria influi sobre a es-

pessura do corpo e, em conseqüên-cia, sobre as manifestações do Es-pírito, o que é facilmente com-preensível. Os temperamentos bas-tante fortes para viver como os ana-coretas fazem bem, porque o es-quecimento da carne leva mais fa-cilmente à meditação e à prece.Mas para viver assim, em geral se-ria necessária uma natureza mais es-piritualizada que a vossa, o que éimpossível com as condições ter-restres. E como, antes de tudo, aNatureza jamais age com disparate,é impossível ao homem submeter--se impunemente a essas privações.Pode ser-se bom cristão e bom es-pírita e comer a seu gosto, contan-to que seja razoável. É uma ques-tão um tanto leviana para os nossosestudos, mas não menos útil eproveitosa.

Lamennais

Fonte: Revue Spirite (Revista Espírita) –dezembro de 1863. Tradução de EvandroNoleto Bezerra.

Sobre a alimentação do homem

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 34

Page 35: Revista Reformador de Agosto de 2004

Reformador/Agosto 2004 35

Nos últimos anos de sua exis-tência entre os encarnados,Geminiano Brazil dedicou-se

ao estudo do Espiritismo, e diz oReformador de 1/6/1904 que, apartir do dia de sua conversão, a as-censão do seu espírito para o seio daverdadeira luz se fez sem recuo nemvacilações, consagrando ele, desdeentão, à difusão da Doutrina Espí-rita todas as energias acumuladasno reservatório de sua aprimoradainteligência.

Um trecho extraído do citadoReformador retrata a personalidadedaquele que por vezes semeou suasluzes nas páginas dessa revista, oracom seu próprio nome, ora sob opseudônimo de Aprendiz, daqueleque por seus predicados de coraçãomereceu a confiança dos Guias es-pirituais do “Grupo Ismael”, tantoque estes o indicaram para dirigir ostrabalhos dessa Oficina, em substi-tuição ao antigo diretor e fundador,Antônio Luís Sayão, desencarnadoem 31 de março de 1903; daqueleque numa prece ardente rogava:“Às entranhas do meu mesquinhoser, Senhor, enviai, por piedade, umraio do vosso amor, energias para

despojar-me do homem velho emarchar pelo caminho que nos tra-çastes a todos os crentes; fazei, divi-no Mestre, que no charco germinea flor, e conduzi-me para a fonted’água viva.”

Eis o mencionado trecho, quesintetiza as qualidades que coroa-ram a vida de Geminiano Brazil co-mo espírita:

“Acharem-se reunidos em ummesmo indivíduo os mais esclareci-dos dotes de inteligência e as maisnobres virtudes do coração, serempostas essas inapreciáveis qualidadesao desinteressado serviço de umacausa como o Espiritismo, em quenão se conhecem aplausos nem gló-rias, mas unicamente sofrimentos etrabalhos, apenas compensados pe-la certeza do dever cumprido – e sóDeus conhece em meio de que lu-tas e vicissitudes –, não é coisa quefacilmente se depare, sobretudo emum meio como o nosso, em que aindiferença ainda é o apanágio dagrande maioria, invalidando paraessas austeras jornadas todos quan-tos não sejam dotados de um forteespírito de resistência, de perseve-rança, em seu verdadeiro e elevadosentido.

Este foi um dos preciosos ca-

racterísticos do amoroso espíritoque acaba de libertar-se da escravi-dão da carne. Avançado em anos,não tendo ao seu dispor senão umorganismo já depauperado por lon-ga existência de atividade pública,e, mais que isso, pela enfermidadeque, desde os verdes anos, o vinhaalquebrando lentamente, apesardisso, desde que os olhos do seu es-pírito se abriram às claridades daDoutrina Espírita, foi para con-sagrar-lhe todas as energias que lherestavam, em uma suprema con-centração, que dele não pôde fazermais que um dos trabalhadores daúltima hora, mas dos mais diligen-tes, infatigáveis e perseverantes.

E, assim, quando a 22 de ju-lho de 1902 foi pela primeira vezinvestido do cargo de vice-presi-dente da Federação, na vaga desseoutro inolvidável apóstolo que foio Dr. Maia de Lacerda, a dedica-ção com que desde logo assinaloua sua grata permanência, em nos-so seio, demonstrou quão a sériotomava as suas novas responsabili-dades no concerto da propaganda.A ela consagrou então o melhor dasua atividade, acudindo com exem-plar pontualidade aos nossos estu-dos, interessando-se por todos osassuntos e prestando aos seus po-bres e obscuros companheiros oconcurso da sua experiência, dasua capacidade intelectual, e sobre-tudo do seu conselho esclarecido eavisado.

Estão ainda na memória recen-te de quantos tiveram a fortuna de

313

Geminiano BrazilZêus Wantuil

No trabalho que nos propomos apresentar aos leitores, sem serum estudo biográfico – que para tal exigiria pacientes investigações,e com reduzidas esperanças –, mas tão-somente um bosquejo mui-to imperfeito e incompleto, traremos à recordação a grande almado Dr. Geminiano Brazil de Oliveira Góis, ressaltando a sua vidaespírita.

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 35

Page 36: Revista Reformador de Agosto de 2004

36 Reformador/Agosto 2004

o ouvir naquelas sessões de terças--feiras, tornadas por esse motivomemoráveis, nas quais a sua palavradiscorria sobre os textos evangélicoscom uma profundeza de conheci-mentos e uma iluminada dialética,enriquecida de imaginosos concei-tos que tornavam um encanto essaslições, transportando-nos o espíritoàs altas regiões do pensamento e dosentimento, que ele possuía a singu-lar magia de tornar comunicativo,porque de todo ele irradiava, nosarroubos de uma espontânea e per-suasiva eloqüência.

Depois de Bezerra de Menezes,o inexcedível príncipe da oratóriaespírita, o velhinho sublime que, apoder dessa misteriosa força do sen-timento que palpitava em todas assuas manifestações, arrebatava as al-mas às alturas celestes, não tornára-mos a ouvir na Federação tão inspi-rado verbo. O esforço, todavia, quelhe era preciso fazer, vencendo a de-bilidade orgânica, que aumentavacom os progressos da minaz enfer-midade, para assim permanecer fielao seu compromisso, o sacrifícioque em tais condições lhe impunhaessa assiduidade, e que era umtriunfo do espírito sobre a matéria,constituem um dos mais altosexemplos que teve a felicidade e ogeneroso desinteresse de nos legar,legando-o particularmente àquelesque, mais bem dotados fisicamen-te, na força da idade e da saúde, tãoarredios contudo se conservam des-tes postos de evidência em que oseu concurso é um dever, de cujafalta os não absolve a equivocada eilusória modéstia que invocam, malencobrindo injustificável tibieza.

Não foi senão para assinalar es-se exemplo à imitação dos indeci-sos, que nos detivemos em indicar

esses detalhes. Porque nem de levepodíamos ter a pretensão de fazer opanegírico daquele que tanto pri-mava por uma real e verdadeiramodéstia, inimigo que sempre foide uma publicidade de serviços, in-compatível com a austeridade doseu espírito e com a singeleza deque procurava revestir todos os seusatos.”

A estas palavras, que, pelo esti-lo, julgamos escritas por Pedro Ri-chard, acrescentaremos as que Leo-poldo Cirne, então presidente daFederação Espírita Brasileira, ins-creveu no Relatório por ele apresen-tado à Assembléia Geral, em28/2/1905:

“Quem, dentre os que tivemosa fortuna de escutar a sua palavrapersuasiva e erudita, não guardarácomovidíssima saudade daqueles es-tudos das terças-feiras na Federação,ou aquelas amistosas palestras emque seu espírito, sempre moço emmeio da decrepitude orgânica, cin-tilava de encantadora bonomia oude meditada profundeza, nestes es-tudos em cujo convívio tão depres-sa se fez mestre?

Mas o que, sobre esses dotesnaturais, sagrou para sempre no

nosso respeito e carinho venerativosessa peregrina figura, foram as pro-vas de dedicação e amor ao traba-lho, de que ele foi a majestáticacorporificação. Contra os seus deci-didos e edificantes propósitos dedar à nossa Doutrina todas as ener-gias de sua alma, lutavam impoten-tes o peso dos anos e as deprimen-tes fadigas da moléstia cardíaca queo vinha abatendo desde longosanos.

E ali o tínhamos, fiel ao seucompromisso e firme no posto, re-partindo com os seus companhei-ros os frutos de sua longa experiên-cia e as claridades iluminadoras doseu descortino espiritual, e dandoaos moços, por sua pontualidade,que se não arreceava das própriasintempéries, o exemplo da perseve-rança e do sentimento profundo dodever.

O sacrifício era, porém, supe-rior às derradeiras reservas das suasenergias físicas. Assim, vimo-lo su-cumbir aos 21 de maio, honrandoa cadeira da vice-presidência, a quefora elevado, com aplausos gerais, a22 de julho de 1902, não tendo,por conseguinte, chegado a com-pletar dois anos de efetivo exercíciodesse cargo.

Quão benéfica não foi, entre-tanto, para todos nós sua grata per-manência em nosso meio, inda quetão pouco tempo! Ela bastou paracriar na Federação esses laços deafeto e de reconhecimento que a to-dos, para sempre, nos ligam ao seuespírito.”

...

À tarde de 21 de maio de1904, os despojos do ilustre cida-dão espírita deixavam o no 9-A darua Visconde de Figueiredo rumo

314

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 36

Page 37: Revista Reformador de Agosto de 2004

Reformador/Agosto 2004 37

ao cemitério de S. Francisco Xavier,seguidos de grande acompanha-mento de admiradores e beneficia-dos.

Neste mesmo dia, registou-sena Câmara dos Deputados, destaCapital, a seguinte ocorrência, con-forme os Anais daquela Casa:

“O Sr. Rodrigues Dória – Sr.Presidente, ao entrar há poucosmomentos nesta Casa, tive a tristenotícia do falecimento do Dr. Ge-miniano Brazil de Oliveira Góis, aqual me incumbe o penoso deverde anunciar à Câmara.

O que foi o Dr. GeminianoBrazil, como homem de talento, deerudição e lealdade política, bemconhece esta Câmara, da qual elefez parte em duas legislaturas nesteregime, tendo sido também depu-tado geral no regime monárquico,no qual militou nas fileiras do par-tido conservador.

Foi em Sergipe, seu Estado na-tal, deputado provincial em váriaslegislaturas, tendo prestado impor-tantes serviços como presidente daprovíncia, de que dá testemunho apopulação de Alagoas.

Era magistrado em disponibi-lidade, e nesta carreira distinguiu-sepelo saber e pela dignidade.

Venho, pois, pedir a V. Exa.que consulte a Casa se consente quena ata de hoje se consigne um votode profundo pesar pela morte doDr. Geminiano Brazil. (Muitobem; muito bem.)

O Sr. Presidente – O Sr. De-putado Rodrigues Dória requer quena ata da sessão de hoje seja lança-do um voto de profundo pesar pe-lo falecimento do Dr. GeminianoBrazil de Oliveira Góis, que repre-sentou nesta Casa o Estado deSergipe.

Os senhores que aprovam o re-querimento queiram levantar-se.(Pausa.)

Foi unanimemente aprovado.”Em homenagem ao valoroso

extinto, o grande poeta vassourenseCasimiro Cunha dedicou-lhe belís-simo soneto, chamando-lhe “o bomvelhinho” de “coração de pomba”.

O esforçado trabalhador daSeara Espírita logo ingressou, deimediato, na luminosa falange espi-

ritual de Ismael, passando, desdeentão, a desempenhar nova missãode esclarecimento, como o atestamsuas doces e instrutivas mensagensmediunicamente recebidas no Gru-po Ismael da Federação EspíritaBrasileira.

Fonte: WANTUIL, Zêus. Grandes Es-píritas do Brasil. 4. ed., Rio de Janeiro:FEB, 2002, p. 361-368.

315

Observamos que são sempresignificativas as expressões daFederação Espírita Brasileira

(FEB), ao afirmar que o “trabalhode união da família espírita e deunificação do Movimento Espírita,caracterizado pela prática da frater-nidade, liberdade e responsabilida-de, estende-se a todas as instituiçõesespíritas”. E na capa de Reformador(no 2.090-A, de maio/2003) cita afrase de Bezerra de Menezes: “(...)ninguém pode arrebentar um feixede varas que se agregam numaunião de forças”. A propósito, real-mente, a unificação torna-se funda-mental porque o espaço doutriná-rio é de todos nós: todos os espí-ritas conscientes e suficientementeinstruídos que militam no movi-mento doutrinário, direta ou indi-retamente, pela imprensa lida e es-crita, e, notadamente, na Casa Es-pírita. Neste sentido, observamosque existem muitos indivíduos quebuscam cursar ou freqüentar confe-rências e palestras e ler obras espíri-tas; outros procuram juntar-se com

a imensa massa de ouvintes e leito-res, tal como espectadores, comoem outras manifestações religiosas.É que, admitimos, infelizmente omundo da produção de bens deconsumo e de mercadoria em mas-sa tende a subjugar a cultura e o co-nhecimento!... Apesar disso, con-sideramos que o espaço doutriná-rio é, na verdade, de todos nós: to-dos os espíritas conscientes que mi-litam no movimento doutrinário.Repetimos: não podemos ser tão--somente espectadores, não-unidos,divorciados; muito pelo contrário.Somos co-participantes militantesdo Movimento!... Esse espaço deveser cada vez mais valorizado, pois éatravés dele que continuaremos sus-tentando com dignidade o conteú-do doutrinário espírita. Não pode-mos ser simples adeptos passivos:precisamos ser agentes ativos, pararesgatar o homem-cidadão que so-mos, de sua falência intelectual,submergido na cultura de massa!...E isto se consegue partindo inicial-mente pelos cursos de Espiritismoe conseqüente leitura de obras edi-ficantes, tendo como motivo fun-damental a necessidade de Unifica-ção: todos nós!

Todos nósDulcídio Dibo

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 37

Page 38: Revista Reformador de Agosto de 2004

38 Reformador/Agosto 2004

Autor dramático francês, nas-ceu em Paris a 5 de setembrode 1831 e desencarnou a 8 de

novembro de 1908. Filho do lexi-cógrafo e escritor Antoine LéandreSardou, estudou a princípio Medi-cina; depois se dedicou a trabalhosliterários. Tendo se casado com aatriz Mlle. de Brecourt (1858), con-tinuou a escrever para o teatro. Veioa ser um dos autores dramáticosmais fecundos e mais aplaudidos doseu tempo. Escreveu comédias, dra-mas, peças de grandes espetáculos elibretos de ópera. Nascido para oteatro, tinha o dom do movimen-to, da vida, do diálogo rápido e fá-cil. Sabia interessar e divertir, susci-tar o risco e a emoção com extremafacilidade. Mostrava uma destrezaextraordinária no emprego dos maisinsignificantes meios que julgavapróprios para prender a atenção dopúblico.

Sua primeira peça – “La Taver-ne des Étudiants” – estreou em 19de abril de 1854.

Apesar de dramaturgo notável,conviveu com a miséria até os 36anos de idade, quando conheceu aglória com “La Patrie” (1869). Teriasido, até então, vítima da incom-preensão dos seus contemporâneos,que não lhe deram o devido valor,muitos, talvez, irritados por identi-

ficarem, nas personagens criadas,seus caracteres, atitudes e idéias.

É vasta sua produção: “Les Pre-mières Armas de Figaro”(1859);“Monsieur Garat”(1860); “Piccoli-no”(1861);“Les Diables Noirs”(1863); “Les Pommes du Voi-sin”(1864); “La Famille Béviton”(1865); “Nos Bons Villageois”(1866); “Maison Neuve”(1867);“Séraphine”(1868); “Patrie!” (1869);“Fernanda”(1870); “Rabagas”(1872);“L’Oncle Sam”(1873); “La Hai-ne”(1874); “Ferreol”(1875); “Do-ra”(1877); “Madame Sans-Gêne”(1893); “Spiritisme”(1897). E mui-tas outras, num total de oitenta euma obras.

Victorien Sardou, polêmico ecombativo, nunca temeu afirmar depúblico as suas concepções sobrepolítica, costumes, ideologias, insti-tuições e personalidades. E era coma mesma coragem que confessava suacrença nos ensinamentos espíritas.

Victorien Sardou e o Espiritismo

Estava em moda, nos salões deParis, “o divertido lazer das mesasgirantes”. Victorien Sardou não sóparticipou das sessões experimen-tais, principalmente com a médiumEusápia Paladino, como tambémassistiu a sessões de escrita automá-tica com auxílio de cestas. Dacuriosidade passou à certeza, à con-

vicção. “Confesso – declara ele –que não posso aceitar, sem rir, apossibilidade da burla. Um lápisque salta com absoluta precisão eescreve corretamente, não tem ou-tra explicação possível: o fluidomagnético.

Amigo íntimo de Allan Kar-dec, freqüentou com este várias ses-sões e a Sociedade Parisiense de Es-tudos Espíritas. Não tardou muito,aflorou-lhe a mediunidade psico-pictográfica, através da qual recebeumagníficos desenhos do autor espi-ritual Bernard Palissy.

É o próprio Victorien Sardouque, em 1905, declara ao órgão Li-berté:

“(...) foi um dos primeiros a sedeclarar espírita, em uma época emque não havia nenhum mérito emfazer-se semelhante confissão.”

“Eu tinha em meu poder –narra o autor de ‘La Patrie’ – umapequena mesa redonda que, ao meucomando, caminhava através domeu apartamento e girava sobre simesma como o teria feito um cãobem treinado. Uma vez, rosas bran-cas caíram do forro sobre minha es-crivaninha e eu vi as teclas do pia-no se abaixarem e se erguerem, sobdedos invisíveis, executando umamelodia desconhecida.”

Certa feita, Victorien Sardounarrou a um douto da Academiaesses fatos que testemunhara. Es-

316

Victorien Sardou –o precursor do teatro espírita

Lúcia Loureiro

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:32 Page 38

Page 39: Revista Reformador de Agosto de 2004

Reformador/Agosto 2004 39

te, enquanto ouvia, balançava acabeça com incredulidade, o queimpacientou Sardou e o fez desis-tir:

“Eu vos contei o que, bem des-perto, vi ocorrer diante de mim,citei-vos os nomes de sábios céle-bres, que observaram as mesmascoisas e, entretanto, conservais sem-pre esse sorriso de desdém. Nestascondições, um de nós é um imbe-cil, e acredito não eu!”

“Uma tarde, por volta de duashoras, como de hábito, eu estavaassentado em minha escrivaninhae havia colocado, à minha frente,uma folha de papel de desenho, dedimensões comuns. Em vez de co-meçar a desenhar, a pena, obede-cendo a um súbito impulso de mi-nha mão, traçou bruscamente umalinha oblíqua, em toda a largura dafolha, que ficou inutilizada. Intriga-do, interroguei Bernard de Palissy,por processos comuns, e recebi estaresposta lacônica:

– Papel muito pequeno!Escolhi uma folha maior; foi

também inutilizada por um traço eo Espírito consultado, repetiu:

– Papel muito pequeno. À observação de que não pos-

suía papel maior, o Espírito orde-nou:

– Vai, pois, comprá-lo. Protestei, dizendo que estava

chovendo e que a papelaria, minhafornecedora, ficava muito longe doCais Saint-Michel, onde, então, euresidia.

– Vai à Praça Saint-André-des--Arts! Replicou Bernard de Palissy.

Apelei para a minha memória,localizando lugares; não tinha co-nhecimento de nenhuma papelarianaquela praça. Mas o Espírito, obs-tinado, repetiu:

– Sim, há uma! Há uma!Muito intrigado, coloquei o

chapéu e saí. Contornei a Praça eao regressar ao Cais Saint-Michel,aborrecido por ter sido enganadopelo Espírito, por acaso, meus olhosdetiveram em um anúncio quedizia: Vendas de papéis por ataca-do.

Entrei na casa e verifiquei, nãosem alguma surpresa, que o fabri-cante possuía papéis de todas as di-mensões imagináveis. Escolhi o quequeria e voltei para casa. Mal colo-quei a ponta do lápis sobre a folharecém-adquirida e minha mão es-creveu rapidamente: ‘Vês que eu ti-nha razão’. E Victorien Sardou exe-cuta uma das suas mais admiráveisobras mediúnicas – um desenho47x60cm cujo título é “A casa doProfeta Elias, em Júpiter”.

Com essa manifestação, encer-rou-se a sua mediunidade. O Espí-rito Bernard de Palissy não maisatendeu a qualquer evocação nemcompareceu espontaneamente. Dir--se-ia que Victorien Sardou não ne-cessitava de provas na imortalidade,tão firme a sua convicção.

Faziam parte de suas relaçõesde amizade, além de Allan Kardec,

Gabriel Delanne, Camille Flamma-rion, Eusápia Paladino, J. Malgras,Sarah Bernhardt e Victor Hugo.Com estes participou das mais va-riadas sessões experimentais e dou-trinárias.

Victorien Sardou foi o Presi-dente de Honra do Congresso Es-pírita e Espiritualista, realizado emParis no ano de 1900.

A respeito dos desenhos recebi-dos por Victorien Sardou, manifes-ta-se Kardec:

“O autor desta interessantedescrição é um desses adeptos fer-vorosos e esclarecidos que não te-mem confessar alto e bom som assuas crenças e colocam-se acima dacrítica daqueles que não crêem emnada que escape do seu círculo deidéias. Ligar seu nome a uma dou-trina nova, desafiando sarcasmo, éuma coragem que não é dada a to-dos. E nós felicitamos o Sr Sardouporque a possui.”

O próprio Kardec ofertou OLivro dos Espíritos a Victorien Sar-dou que, após ansiosa leitura, para-benizou o Codificador, através decarta, pela maneira como classifica-ra e coordenara a matéria fornecidapelos Espíritos: “tudo é perfeita-mente metódico, tudo se encadeiabem e vossa introdução é umaobra-prima de lógica, de discussãoe de exposição”.

Victorien Sardou e o Teatro Espírita

Além de um dos pioneiros doEspiritismo, a Victorien Sardouatribui-se o mérito de ser o primei-ro a utilizar um texto dramático nadivulgação dos postulados Espíritas.

Em 8 de fevereiro de 1897, érepresentada, no Teatro Renascen-

317

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:33 Page 39

Page 40: Revista Reformador de Agosto de 2004

40 Reformador/Agosto 2004

ça, a peça “Spiritisme”. O principalpapel feminino – Simone – foi de-sempenhado por Mme. Sarah Ber-nhardt, judia de origem e um dosmonstros sagrados do teatro. Ami-ga íntima de Victorien Sardou, es-pírita e médium de premonição, dematerialização e xenoglossia, SarahBernhardt via a obra de Allan Kar-dec com muito respeito e interesse.

“Spiritisme” é uma peça emtrês atos, cuja tradução em portu-guês recebeu o título de “AmargoDespertar”. É um lançamento daCasa Editora O Clarim no ano de1978. A tradução do texto, fiel aoestilo coloquial do século passado,foi realizada, diretamente do origi-nal francês, pela Sra. Maria Ampa-ro Leal de Andrade. Complementaa obra uma apresentação do confra-de Wallace Leal Rodrigues, que tra-ça um perfil detalhado e documen-tado de Victorien Sardou.

De sua vivência nos meios es-píritas, das análises e dos estudoscoletados da Doutrina, VictorienSardou elaborou a sua peça. Uti-lizando-se de um drama de suspen-se, transmite ao público, através deargumentos indiscutíveis, tudo oque assimilara sobre o novo co-nhecimento.

As personagens, umas convic-tas outras irônicas, outras incrédu-las ou indiferentes, dialogam a res-peito de temas como: mediunidade,materializações, processos de comu-nicação com os Espíritos, imortali-dade da alma etc. Para cada ironia,para cada incredulidade há umapersonagem convicta a contra-ar-gumentar, a esclarecer com fatoscomprobatórios irretorquíveis.

Observe-se a explicação da per-sonagem Davidson à incrédula per-sonagem Parisot, ao julgar que to-

dos os fenômenos mediúnicos eramproduzidos por charlatães:

“Ora, ora, estais mal informa-dos neste campo, colega! Quem? Aspessoas mais instruídas, as maiscompetentes, as mais autorizadaspor suas funções, seu caráter e seusaber. Para citar apenas a Inglaterra,médicos, fisiologistas, como Gully,Hare, Elliostson, físicos como Lod-ge; astrônomos como Challis; ma-temáticos como Morgam; natura-listas como Sir Alfred RusselWallace. São todos membros da So-ciedade Real ou professores de ciên-cias exatas nas Universidades deLondres, Oxford, Cambridge, Glas-gow, Dublin! E constataram os fe-nômenos “inexplicáveis” no estadoatual dos nossos conhecimentos! Osmais convictos são precisamenteaqueles que estudaram o Espiritis-mo com a deliberada intenção dedemonstrar o absurdo do assunto.”

Victorien Sardou não se de-tém, apenas, na fenomenologia; vaimais além. Trata, do mesmo modo,do aspecto moral da Doutrina Es-pírita. Desta vez é a personagemD’Aubenas que esclarece o trocistaParisot a respeito da reencarnação eda lei de causa e efeito.

“(...) É claro que isto parece pu-ra insanidade aos olhos de um ma-terialista como tu o és. Mas aqueleque admite que o Espírito tem vidaprópria e é, apenas, um prisioneirodo corpo que habita, nada maisaceitável que essas migrações do es-pírito humano, indo do pior para omelhor, de mais baixa categoria deseres à mais elevada, através de umasérie de mortes e renascimentos su-cessivos, nos quais a personalidadese reveste, em cada etapa, de umnovo corpo, como uma roupa deviagem, adaptada a sua nova exis-

tência. Eis, então, explicada a desi-gualdade revoltante das condiçõesimpostas ao homem pelo seu re-nascimento. São a conseqüência ri-gorosa do emprego do seu livre-ar-bítrio na existência precedente. Eleé, exatamente, o que faz de si pró-prio. Deve suportar, aqui na Terra,diferentes provações enquanto pre-dominarem, em si mesmos, os ins-tintos materiais, até o dia em que,depurado pelo sofrimento, pela lu-ta, pela expiação, for encontrar ou-tros destinos em um mundo menosmiserável e menos atrasado que onosso.”

Sutilmente, Victorien Sardou,através do conflito Simone/D’Au-benas, chama a atenção para a ne-cessidade do perdão das ofensas en-quanto caminhamos juntos aoscompanheiros de jornada e, não,apenas, como é de costume, quan-do estão mortos. É o que ele trans-mite no seguinte diálogo:

“Simone – Abençoada seja amorte, pois é ao meu Espírito quedás a alegria de ouvir-te. É a ele queperdoas. Serias menos clemente seeu me encontrasse ainda nestemundo?

D’Aubenas – Julgas-me tãoimpiedoso?

Simone – Oh! Não! Mas a in-dulgência é mais fácil para com osmortos.”

Bem se vê, por estes poucostrechos, que, apesar de “Spiritisme”ser uma obra do século XIX, não es-tá ultrapassada, não perdeu suaatualidade. Ironias, sarcasmos e in-credulidades sempre haverá porparte daqueles que não aceitam osprincípios da Doutrina Espírita.Se transportássemos a trama paranosso tempo (com algumas adapta-ções de cenário, linguagem e costu-

318

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:33 Page 40

Page 41: Revista Reformador de Agosto de 2004

Reformador/Agosto 2004 41

mes evidentemente), dir-se-ia umtexto de autor contemporâneo. Osdiálogos elaborados por VictorienSardou são os mesmos que nossospolemistas e debatedores utilizamem defesa do Espiritismo e, muitasvezes, com menos objetividade.

Entretanto, só conhecendo otexto em sua totalidade e a seguran-ça de suas afirmações através daspersonagens, perceberemos o quan-to Victorien Sardou, já àquela épo-ca, apreendeu o conteúdo da Dou-trina Espírita.

Não existe opinião de Kardecsobre a peça, uma vez que este jáhavia desencarnado desde 31 demarço de 1869, 28 anos, portanto,antes da estréia

Não podemos ignorar, tam-bém, o seu destemor a críticas e sar-casmos do público céptico. “Spiri-tisme” foi um sucesso. Em razão dorumoroso tema, foi a mesma incluí-da no índex do papa. Ao ter conhe-cimento do fato, Victorien Sardoudeclarou:

“– A Igreja tem contra si e eutenho ao meu favor os maiores filó-sofos, os maiores sábios, os maiorespensadores. Estou com eles contraa concepção feroz da eternidade daspenas, e jamais pude conceber, mes-mo em tenra juventude, que a Di-vindade, Suprema Justiça, punisseo crime temporário com um casti-go infindo.”

BIBLIOGRAFIAS:

JACKSON, W. M. Enciclopédia e Dicionário

Internacional. Inc. Editores; RJ: vol. XVII.

Reformador, No 1, Ano 78 – janeiro de 1960;

Edição FEB.

Amargo Despertar – texto teatral (Título origi-

nal francês: Spiritisme) de Victorien Sardou;

Casa Editora O Clarim (Matão); 1. ed., 1978.

319

Muitos espíritas – hoje traba-lhadores do MovimentoEspírita – ao fazer a oração

(Pai Nosso), em reuniões espíritas,dizem: “Perdoa as nossas ofensas as-sim como perdoamos aos nossosofensores”. Na tradução da Bíbliafeita por João Ferreira de Almeida,na tradução original grega feita pe-lo Reverendo Oswaldo Dias de La-cerda (Pastor da Igreja Presbiteria-na do Brasil e ex-professor de lín-gua e literatura gregas da Faculda-de de Letras e Educação da Univer-sidade Mackenzie de São Paulo) ena versão em inglês da NationalConference of Catholic Bishops e aUnited States Catholic Conferenceconsta a expressão “dívidas” e não“ofensas”.

De acordo com o Novo Au-rélio, ofensa significa “1. Injúria,agravo, ultraje, afronta”, enquantoque dívida significa “1. Aquilo quese deve”. Como se pode observar,não são sinônimas. “Dívida” é maisabrangente do que “ofensa”. Asubstituição de “dívidas’ por “ofen-sas” restringe, limita a amplitudedo pedido. “Dívidas” abrangem

também os débitos de outras exis-tências.

É ideal, pois, que todo espíri-ta se esforce para adquirir o hábi-to de usar a expressão mais har-mônica com os princípios doutri-nários.

É importante lembrar e realçarque Allan Kardec, ao escrever OEvangelho segundo o Espiritismo,optou por preservar as duas ex-pressões. Senão vejamos:

“Perdoa as nossas dívidas, co-mo perdoamos aos que nos devem.– Perdoa as nossas ofensas, comoperdoamos aos que nos ofenderam.”

Eis aí uma boa alternativa:Usar as duas expressões como suge-re Kardec.

BIBLIOGRAFIAS:

FERREIRA, Aurélio B. H. Dicionário Aurélio

da Língua Portuguesa. 3. ed., Rio de Janeiro:

Nova Fronteira, 1999.

KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espi-

ritismo. 121. ed., Rio de Janeiro: FEB, 2003,

cap. XXVIII, p. 391.

“Perdoa as nossas dívidas”Umberto Ferreira

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:33 Page 41

Page 42: Revista Reformador de Agosto de 2004

42 Reformador/Agosto 2004320

Ceará: Congresso EspíritaEstá programado para os dias 28 e 29 deste mês o IXCONECE – Congresso Espírita do Estado do Ceará–, no Palácio da Microempresa/SEBRAE, em Forta-leza, com a participação de Divaldo Pereira Franco eJosé Raul Teixeira, que desenvolverão suas exposiçõesem torno do tema central Atualidade de Kardec.

No mesmo período, ocorrerá o IV CONJECE –Congresso dos Jovens Espíritas do Estado do Ceará –,no Colégio Militar (Av. Santos Dumont). Raul Teixei-ra fará a palestra de abertura, no sábado, havendo, nodomingo, atividades em oficinas.

Espírito Santo: Encontro de TrabalhadoresA Federação Espírita do Estado do Espírito Santo rea-lizou na União Espírita Cristã, de Vila Velha, de 8 a9 de maio passado, o ENTRAE/Centro – Encontrode Trabalhadores Espíritas –, com cerca de 350 par-ticipantes. No sábado, houve um seminário sobre OPerdão, coordenado por Alberto Ribeiro de Almeida,de Belém (PA). No domingo, desenvolveu-se um pai-nel de relatores para apresentação de resultados dasreuniões dos seguintes setores: Gestão, Infância e Ju-ventude, Assistência e Promoção Social Espírita, Es-tudo Sistematizado da Doutrina Espírita, Comunica-ção Social Espírita, Orientação Mediúnica e Aten-dimento Espiritual, ocorrendo, ao final, debate comAlberto Almeida.

Vitória da Conquista: Semana EspíritaA União Espírita de Vitória da Conquista realizará,de 5 a 11 de setembro próximo, sua 51a Semana Es-pírita, evento tradicional, que reúne a média diáriade 1.800 participantes da Bahia e de outros Estados.O tema central – Educação dos Sentimentos – serádesenvolvido em palestras e seminários pelos exposi-tores Divaldo Pereira Franco (BA), José Raul Tei-xeira (RJ), Alberto Ribeiro de Almeida (PA), MarcelMariano (BA), Luiz Augusto dos Santos (MT), Cris-tian Macedo (RS) e Eduardo Guimarães (RJ).

Bolívia: Atividades da FEBOLA Federación Espírita Boliviana (FEBOL) tem-sedestacado na realização de atividades que, além de

promoverem a confraternização dos espíritas daque-le país, discutem temas diversos à luz do Espiritismo.Já está programada a realização do IV Encontro Es-pírita Boliviano, de 25 a 27 de março de 2005, nacidade de La Paz. Para a difusão da mensagem es-pírita, a FEBOL publica o boletim Camino de Luz,com notícias sobre o Movimento Espírita boliviano.Sede da Federação: Calle Libertad, 382, entre Seoanee Buenos Aires – Casilla de Correo 6756 – SantaCruz de la Sierra – Bolívia – telefone 337-6060 epágina eletrônica www.spiritist.org/bolivia (SEI).

Santa Catarina: Eventos sobre MediunidadeA Federação Espírita Catarinense promoveu na suasede, em Florianópolis, de 2 a 4 de julho, dois even-tos destinados à capacitação do trabalhador da áreamediúnica: a) Seminário com o tema Mediunidadeno Plano Espiritual – estudo de casos, a cargo deMarta Antunes Moura, Diretora da FEB; b) Curso deMultiplicadores de Monitores do Estudo e Educaçãoda Mediunidade, ministrado por Marta AntunesMoura e Edna Maria Fabro, também Diretora daFEB.

Campo Grande (MS): CME – Semana MauríciaSerá realizada no Colégio Militar de Campo Grande,nos dias 18 e 19 de setembro, a Semana Maurícia. Oevento é uma homenagem prestada todos os anos pe-la Cruzada dos Militares Espíritas (CME) ao seu pa-trono, Capitão Maurício, militar romano sacrificadojunto com seus comandados, por manterem-se fiéis aoCristo. A programação abrangerá exposição de livros,de pinturas, apresentações musicais e um semináriosobre o tema Família à luz do Espiritismo, desdobra-do em vários subtemas.

Divaldo Franco na Austrália e na ChinaA Casa Espírita Franciscana, de Sydney, Austrália, pro-moveu palestras de Divaldo Pereira Franco nos dias18, 19 e 20 de junho.

Na seqüência da sua viagem, o consagrado tri-buno espírita brasileiro esteve na China, entre 22 e26 de junho, proferindo conferências na cidade deBeijing.

SEARA ESPÍRITA

Agosto 2004.qxd 5/8/2004 14:33 Page 42

Page 43: Revista Reformador de Agosto de 2004
Page 44: Revista Reformador de Agosto de 2004