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Fundada embvespirita.com/Revista Reformador - 2004 - Setembro... · Espíritas, honremos nossa tarefa! ... Reynaldo Leite 40 O Espiritismo em Congresso na Itália 41 Setembro 2004.qxd

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R e v i s t a d e E s p i r i t i s m o C r i s t ã oAno 122 / Setembro, 2004 / No 2.106

Fundada em 21 de janeiro de 1883

Fundador: Augusto Elias da Silva

ISSN 1413-1749Propriedade e orientação daFederação Espírita Brasileira

Direção e RedaçãoAv. L-2 Norte – Q. 603 – Conj. F (SGAN)

70830-030 – Brasília (DF)Tel.: (61) 321-1767; Fax: (61) 322-0523

Home page: http://www.febnet.org.brE-mail: [email protected]

[email protected]

Para o BrasilAssinatura anual R$ 30,00Número avulso R$ 4,00Para o ExteriorAssinatura anualSimples US$ 35,00Aérea US$ 45,00

Diretor – Nestor João Masotti; Diretor-Substituto e Edi-tor – Altivo Ferreira; Redatores – Affonso BorgesGallego Soares, Antonio Cesar Perri de Carvalho,Evandro Noleto Bezerra e Lauro de Oliveira SãoThiago; Secretária – Sônia Regina Ferreira Zaghetto;Gerente – Amaury Alves da Silva; REFORMADOR:Registro de Publicação no 121.P.209/73 (DCDPdo Departamento de Polícia Federal do Ministério daJustiça), CNPJ 33.644.857/0002-84 – I. E. 81.600.503.

Departamento Editorial e GráficoRua Souza Valente, 17

20941-040 – Rio de Janeiro (RJ) – BrasilTel.: (21) 2589-6020; Fax: (21) 2589-6838

Capa: Alessandro Figueredo

Tema da Capa: O CAMINHO – que, indicado porJesus e pela Doutrina Espírita, nos conduz à con-quista da Verdade e à plenitude da Vida.

EDITORIAL 4Indulgência e vigilância

ENTREVISTA: MARLENE R. S. NOBRE 11Associações Médico-EspíritasSua evolução no Brasil e no Exterior

ESFLORANDO O EVANGELHO 21

O tesouro maior – Emmanuel

PRESENÇA DE CHICO XAVIER 22

Chico Xavier – Psicografia de 1927 a 1931 Elias Barbosa

A FEB E O ESPERANTO 28

Divaldo Pereira Franco e o Esperanto – Affonso Soares

PÁGINAS DA REVUE SPIRITE 33

Sobre a expiação e a prova – Allan Kardec

FEB/CFN – COMISSÕES REGIONAIS 35

Reunião da Comissão Regional Centro

SEARA ESPÍRITA 42

O caminho – Juvanir Borges de Souza 5Caminho de redenção – Auta de Souza 7Empresas – Joanna de Ângelis 8Espíritas, honremos nossa tarefa! – Ismael Ramos das Neves 10Irmão – João de Deus 13Repensando Kardec – Da Lei do Trabalho – 14

Inaldo Lacerda LimaTrabalho e Educação – Allan Kardec 15A aparência e a essência – Richard Simonetti 16Solução natural – Hilário Silva 18A vida além da morte: memórias de uma psiquiatra – 19

João Luiz RomãoMorte – Martins Peralva 20Henrique Magalhães – desencarnação 26Homenagem a Kardec na FEB/Rio 27O destino está escrito? – Ronaldo Miguez 29A Reencarnação na visão espírita – José Passini 30Lei – Constâncio Alves 32Congresso homenageará Allan Kardec 38José Dias Inocêncio 39Retorno à Pátria Espiritual – Reynaldo Leite 40O Espiritismo em Congresso na Itália 41

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4 Reformador/Setembro 2004322

No livro Brasil,Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, psicografado por Francisco C. Xavier,Humberto de Campos, tratando das dificuldades que a Doutrina Espírita enfrenta na sua divul-

gação, observa que “nas suas fileiras respeitáveis, só a desunião é o grande inimigo”.1

Procedendo a uma verificação geral nos problemas que o Movimento Espírita enfrenta, consta-tamos que as observações do referido autor espiritual estão apoiadas na realidade. A preocupação ex-cessiva relacionada com o que os companheiros de trabalho pensam, falam ou comentam a nosso res-peito e a respeito do que estamos fazendo, bem como os comentários que nós também fazemos comrelação aos demais companheiros, tornam-nos extremamente vulneráveis a toda ordem de interferên-cias, que alimentam os atritos pessoais e prejudicam a tarefa.

Os Espíritos contrários à difusão do Espiritismo manifestam-se, muitas vezes, surpresos com a fa-cilidade que encontram em alimentar a discórdia entre os trabalhadores espíritas. A ausência de umamaior compreensão para com as falhas alheias e a invigilância com nossos comentários alimentam, co-mumente, conclusões e pensamentos que não correspondem à realidade, mas que provocam desgastes,desvios e retardamento na execução do trabalho.

Faz-se, pois, necessário o constante esforço de cada trabalhador espírita em práticar os princípiosda tolerância, da indulgência e da compreensão, a fim de que não nos tornemos, mesmo contra anossa vontade, dóceis instrumentos dos que pretendem retardar o estudo, a difusão e a prática daDoutrina Espírita.

Bem observou o Espírito de Verdade em sua mensagem “Os Obreiros do Senhor”2, quando nosconvida a que “trabalhemos juntos e unamos nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontreacabada a obra, porquanto o Senhor lhes dirá: ‘Vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós que sou-bestes impor silêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias, a fim de que daí não viesse dano para a obra’.”

A bem da verdade, não se pode pretender um bom resultado nas atividades espíritas se elas nãoforem marcadas pela prática, entre companheiros, da recíproca indulgência, que é uma das carac-terísticas da caridade, tal qual a entendia Jesus.3 Indulgência para com os outros e vigilância em re-lação aos nossos sentimentos e pensamentos representam a chave para a preservação da união, uniãoesta fundamental na execução das tarefas voltadas à difusão da Doutrina Espírita.

1Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, 29. ed., FEB, cap. XXIX, p. 228.2O Evangelho segundo o Espiritismo, 2. ed. especial, FEB, cap. XX, item 5.3O Livro dos Espíritos, 83. ed., FEB, q. 886.

EditorialIndulgência e vigilância

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Os postulados e as revelações daDoutrina Espírita, assentan-do-se nas leis divinas, que se

tornam agora conhecidas, dão aoseguidor sincero da novel doutrinaa segurança de que encontrou ocaminho certo para a felicidade,cumprindo-lhe todo o esforço pararetificar os desvios do passado e otrabalho incessante no Bem, paraa construção do futuro.

O Cristo de Deus já ofereceraà Humanidade a indicação dessecaminho, com os ensinos e exem-plos constantes de seu Evangelho –“Eu sou o caminho, a verdade e avida”.

Referia-se Ele à Mensagem quedeixou aos homens como o roteirocorreto para a ascensão espiritual decada um.

Prometeu também enviar ou-tro Consolador, para relembrar seusensinos, com o acréscimo de coisasnovas.

Esse Consolador se corporifi-cou no mundo, caracterizado pelosprincípios científicos, filosóficos,morais, religiosos, educacionais esociais advindos da EspiritualidadeSuperior e codificados pelo missio-nário Allan Kardec, em pleno sécu-lo XIX, após cerca de 1.850 anos davinda do Cristo.

Uma Nova Era se descerra pa-

ra os habitantes deste planeta, naconjugação da Mensagem do Cris-to, na sua pureza original, com oConsolador prometido e enviadopor Ele.

A Doutrina Espírita, profunda-mente consoladora na sua essência,é também libertadora, no sentidodo conhecimento da Verdade aces-sível aos homens, com diretrizes se-guras para a vida eterna do Espíritoque todos somos.

Torna-se, assim, conhecido ocaminho a ser trilhado para a as-censão humana, caminho seguro,real, sem as ilusões criadas pelas in-terpretações equivocadas da Men-sagem de Jesus e sem os desvios pe-rigosos das filosofias e religiõestradicionais.

A Terra, mundo material ondevivem bilhões de Espíritos encarna-dos em corpos materiais, caracteri-za-se por ser vista sob múltiplos as-pectos.

Para aqueles que cultivam osconhecimentos astronômicos, ela éum planeta do sistema solar, gravi-tando eternamente em torno doSol; para os sociólogos é um mun-do diversificado nas organizaçõessociais das raças que a habitam; pa-ra diversas religiões, ultrapassadasem suas concepções, é o centro doUniverso e o único mundo habita-do; já para a Doutrina Espírita, éum dos orbes da Criação Divina,onde vivem bilhões de Espíritos emcorpos materiais, buscando repararsuas imperfeições, em vidas sucessi-

vas e purificando-se em busca da fi-nalidade para a qual foram criados.

Para essa ascensão, há um ca-minho que se ajusta às leis divinas.Quanto mais cedo o Espírito reco-nhece essa senda e se dispõe asegui-la, tanto mais rapidamenteatinge os objetivos para os quais foicriado.

As luzes do Amor e do Conhe-cimento iluminam permanentemen-te esse caminho. O caminheiro pre-cisa sustentá-las ante as trevas, sobpena de desviar-se.

O caminho atravessa muitaspaisagens diferentes. Por vezes seguepor planícies infindáveis. Depara-secom vales sombrios e com monta-nhas difíceis. Por isso o viajor nãopode desanimar ante os obstáculos,seguindo sempre à frente.

As dificuldades encontradas nocaminho são formas de avaliação dobom ânimo do caminhante.

...As verdades e os esclarecimen-

tos do Consolador avivaram nos es-píritas a luz que o Cristianismo pu-ro do Cristo trouxe à Humanidade,há muitos séculos.

Com os conhecimentos novosdo Cristianismo Redivivo, as novasrevelações dos Espíritos Superiorestornaram clara a significação da vi-da humana na Terra, que deixou deser um simples processo de usoe gozo de um corpo carnal, até amorte, quando a alma vai parao céu, para o inferno, ou para o pur-

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O caminhoJuvanir Borges de Souza

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gatório, no ensino das Igrejas deno-minadas cristãs; ou quando tudodesaparece no nada, na concepçãomaterialista.

A Nova Revelação reinterpretaos Evangelhos e o Velho Testamen-to, em seus sentidos espirituais,profundamente modificados pelasinterpretações literais e pelos acrés-cimos e supressões feitos pelos tra-dutores dos originais.

A Doutrina Espírita, revelandotantas coisas novas a respeito do ho-mem, Espírito imortal, de Deus, oCriador do Universo, e de Jesus,o Cristo, como sendo o caminho aser seguido, para a renovação con-tínua de cada individualidade, en-riquece extraordinariamente os co-nhecimentos humanos a respeito davida.

Ao lado desses conhecimentos,reafirma a novel Doutrina a neces-sidade do aprimoramento constan-te dos sentimentos, que o Cristo re-sumiu no Amor, para que a criaturapossa renovar-se e crescer continua-mente, em demanda do Bem in-finito.

Os cristãos que seguem os en-sinos das Igrejas tradicionais, que jáaceitam os ensinos morais do Cris-to, dispõem, agora, de novos co-nhecimentos que a Doutrina Espí-rita oferece em substituição aosdogmas impróprios criados peloshomens.

Aceitar, pois, o CristianismoRedivivo – a Doutrina Consolado-ra dos Espíritos – é um avanço con-siderável no conhecimento da ver-dade e da vida. É trilhar o caminhoque o Cristo ensinou, com o traba-lho construtivo no bem, desde quea criatura ponha em prática os co-nhecimentos adquiridos.

Dizer-se cristão, ou espírita,

mas manter-se nas ilusões das mar-gens do caminho, ou enveredar pe-los desvios, é renúncia e estagnaçãoda criatura, que deixa de aproveitaroportunidade especial de cresci-mento e prosperidade espiritual.

É evidente que não basta o co-nhecimento da senda para que o serpossa alcançar sua transformaçãopara melhor. Todo aperfeiçoamen-to reclama esforço, luta, persistên-cia, fé.

Diante das dificuldades do ca-minho que, por vezes, parecem au-mentar, torna-se necessário apren-der a esperar, confiando sempre naDivina Providência, pairando sem-pre acima das aparências enganosas.Por isso, o viajor não deve permitirque os imprevistos e as inquieta-ções o perturbem, ao ponto delevá-lo ao desânimo e à desistênciada luta.

Toda realização depende do es-forço, de energia aplicada. E “a ca-da dia o seu trabalho”, como ensi-nou o Mestre.

A “senda estreita” e a “porta es-treita”, referidas por Jesus em seusensinos, são as múltiplas dificulda-des do caminho; cabe-nos manterfidelidade às obrigações assumidas,quando aceitamos as verdades queconduzem sempre mais à frente.

A “estrada” e a “porta larga”, aocontrário, correspondem ao atendi-mento dos caprichos pessoais, à in-disciplina e à inércia no cumpri-mento dos deveres assumidos pe-rante a própria consciência, esclare-cida pelos sentimentos nobres resu-midos no Amor.

Palmilhando o caminho, per-cebemos que a uma estrada segue--se outra, o que ocorre em umamesma existência corporal, em maisde uma, ou nos intervalos de liber-

tação do Espírito com relação à vi-da corpórea.

O viajor, fiel ao compromissotomado perante sua própria cons-ciência e perante as leis divinas queregem a vida, leva consigo, perma-nentemente, a riqueza do tempo,que espera sempre.

O presente, o agora, permitemsejam expurgados os erros do passa-do e as lembranças amargas, quepodem ser transformados em expe-riências e aprendizados úteis, desdeque, hoje, os objetivos a serem al-cançados estejam no rumo certo deconquistas enriquecedoras do cora-ção e do intelecto.

Para servir com o Mestre, se-guindo o caminho que Ele nos en-sinou, precisamos construir, em nósmesmos, um coração amoroso, des-culpando e perdoando os ofensores,respeitando os que criam proble-mas, prestigiando as causas justas,ainda que originárias dos que diver-gem de nós, auxiliando as boasobras, mesmo que partam de quemnão partilha de nossas idéias.

Na tarefa do auto-aperfeiçoa-mento, em que cada individualida-de reconhece as próprias imperfei-ções, seja no campo intelectual, sejano plano moral, a escolha do meio,do método ou da forma para al-cançá-lo tem sua importância. Masé a Verdade a grande causa quetransparece sempre para aquelesque se deparam com a necessidadede crescer espiritualmente.

É ela, a Verdade, representandoas realidades que já podemos perce-ber, que indica os caminhos incon-fundíveis do Amor, da Justiça, da Ca-ridade e dos conhecimentos, comoconquistas que se confundem com opróprio objetivo visado de uma vidaplena, em sentido espiritual.

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Ninguém cresce e se aperfeiçoasem o relacionamento com o outro.O Espírito foi criado para a vida derelação. O amor ao próximo comoa nós mesmos, como lei natural,pressupõe que, na obra divina daCriação, todos somos complemen-tos uns dos outros.

Essa verdade palpável explicapor que Jesus retificou a lei antigados hebreus, que excluía os inimi-gos do alcance do amor. Ninguémpode ser excluído do amor-com-preensão. Tanto os amigos quantoos inimigos são nossos semelhantes,nossos irmãos, filhos do mesmoCriador. Não há progresso integralsem o cumprimento das leis deDeus.

A fé, apoiada na razão, gerado-ra do bom senso e da prudência, éa luz do caminhante, que vai adian-te, iluminando a senda, proporcio-nando-lhe esperanças renovadas,coragem e bom ânimo, virtudessem as quais se torna impossível acaminhada.

O caminho indicado pelo Cris-to há dois mil anos, reafirmado pe-lo Consolador, para que possa serseguido, requer aprendizagem lon-ga e difícil.

As idéias advindas de filosofiase religiões, o materialismo há mui-to presente em nossas vidas, gera-ram convicções assentes em nossasmentes, que precisam ser removi-das, para que as verdades cristãs-es-píritas, com seus valores espirituais,ocupem seus lugares.

Os Espíritos Superiores, naNova Revelação, oferecem-nos re-cursos especiais, objetivos e claros,para que possamos repensar nossavida, o que somos, e o nosso futuro.

A idéia de Deus, o conheci-mento de nós mesmos como Espí-

ritos imortais, a multiplicidade dasexistências, neste e em outros pla-netas materiais, o conhecimentodas leis morais que regem a vida, aresponsabilidade individual pelospensamentos e ações, dentre outrosesclarecimentos que a Doutrina Es-pírita oferece, são realidades com-ponentes da grande Verdade quetodos buscamos.

A lógica e a beleza da Doutri-na dos Espíritos assentam-se nasLeis Divinas, nas realidades que setornam conhecidas, na medida emque o Espírito desperta e verifica asilusões que tem cultivado por mi-lênios.

É a marcha do progresso, co-mo lei divina, tanto no que diz res-peito à matéria, quanto ao espíri-

to, os dois componentes do Uni-verso.

O conhecimento do Espiritis-mo, estudado em todos os seus as-pectos, assemelha-se à “bússola, naviagem rude e longa” necessária atodos os viajores, na imagem felizde Casimiro Cunha (Cartilha daNatureza – 3. ed., FEB, p. 19).

Como diz o poeta:

“Nas rudes experiênciasDa romagem terrenal,Não se pode prescindirDo rumo espiritual.”

“Se caminhas neste mundo,Sejas moço, sejas velho,Não esqueças, meu amigo,A bússola do Evangelho.”

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Caminho de redençãoEste o caminho da ascensão sublimeE o carro excelso para a luz da glória:A subida de angústia transitóriaE a cruz do amor a que o amor se arrime...

Segue, viajor, sem que te desanimeA visão da paisagem merencóriaFormada em pedra da terrestre escória,Nem te detenha a voz que te lastime.

Segue amparado à fé serena e pura,No bem que a nada fere nem censura,No amor que em tudo habite ou sobrenade...

Ama somente, ajuda, serve e guiaE chegarás triunfante e livre, um dia,À redenção do amor na Eternidade.

Auta de Souza

Fonte: XAVIER, Francisco C. Auta de Souza, 9. ed., Araras (SP): IDE, 2001, p. 68.

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No mundo moderno, atulhadode alta tecnologia e de muitaextravagância, os conceitos da

simplicidade e da abnegação tor-nam-se combatidos tenazmente, demaneira a cederem lugar à automa-ção, à excentricidade e aos interes-ses do lucro imediato.

Tecnocratas e executivos de al-to porte digladiam-se para alcançarmetas cada vez mais audaciosas, emlutas renhidas, embora o respeitoque nos merecem os seus esforços epessoas, objetivando projeção e in-saciável poder.

Transformam situações de bon-dade em lugares de investimento eos seus procedimentos sempre sefirmam em inversões e programasde rendas como essenciais.

Fixados em tabelas estatistica-mente comprovadas e movimen-tando com habilidade os cálculosdo mercado através das Bolsas, es-tabelecem prazos de usura em todosos negócios e entregam-se às aqui-sições de alta rentabilidade.

Enriquecem e promovem a al-tos níveis as Empresas para as quaistrabalham sob altos estipêndios ecompensações, com sofreguidãoe estresse, até quando são desaloja-dos pela aposentadoria, pela velhi-ce e pela morte...

Empresas não têm alma nempulsa, nos seus mecanismos auto-máticos, qualquer tipo de coração.

As criaturas, que nelas se esfal-fam, são peças da sua engrenagem,e por mais importantes que se fa-çam, são sempre substituíveis por

outras mais produtivas para o con-junto em incessante renovação, de-corrência natural dos novos instru-mentos apresentados pelas indús-trias de promoção e de atualização.

O pensamento empresarial é li-near, direto, calculista, destituído desentimento de amor, de misericór-dia, de compaixão.

Às vezes, a Empresa começa nofundo do quintal e torna-se pode-rosa com o tempo e o exaustivo tra-balho, sem que os seus iniciadores,que se exauriram, logrem fruir-lhesos benefícios que passam para as ge-rações que os sucedem.

É verdade que facultam o pro-gresso na Terra, mas também res-pondem por muitas misérias e vio-lências morais, econômicas e so-ciais...

As Empresas formidandas, queinvestem parte dos seus lucros emprograma de educação, de higiene,de saúde em favor de vidas, nãopoucas vezes sugam outras tantasque se lhes submetem como escra-vas, com salários miseráveis, na ân-sia de incessante aumento de pro-dução.

São valiosas essas contribuiçõesempresariais, embora também res-ponsáveis por competições destru-tivas, espionagem sórdida, prepo-tência dramática, comportamentosabsurdos.

Certamente é inevitável a mar-cha e o avanço da cultura, da ciên-cia e da tecnologia, das Empresas emonopólios perversos, hediondos.

Suas regras e delineamentos in-

vejáveis são próprios para o seu sel-vagem desenvolvimento, mas nãodevem ser aplicados em todos os la-bores que se realizam na Terra, es-pecialmente naqueles de origem es-piritual, que têm compromisso como Amor e a Verdade, pelo menosatravés dos seus objetivos.

...

Com Jesus a Empresa é de so-lidariedade, de benevolência, de paz.

Nela não há lugar para os rigo-res nem as exigências que ferem afraternidade, o respeito pelas vidas,pelo sofrimento, pelos operáriosmenos valiosos, aqueles que não sãohábeis ou se apresentam mais mo-rosos...

A tentação de trazer para o ser-viço do Mestre as técnicas esdrúxu-las, os códigos frios e as atitudes au-toritárias dos empresários domina-dores faz-se de contínuo, ameaçan-do a vera caridade, que deve sempreser a bandeira erguida por aquelesque se Lhe dedicam.

Vota-se com entusiasmo paraequipar-se o ninho de amor e deauxílio recíproco, de socorro aosque buscam servir embora se en-contrem sob terapias libertadoras,em depressões profundas e desequi-líbrios deploráveis, incluindo oscooperadores-máquinas habilido-sos, não poucas vezes insensíveis,igualmente destituídos de compro-misso com a proposta do Amigo in-comum e do Seu Evangelho.

Pensando-se sempre em ga-nhar-se mais dinheiro, em melho-rar-se a aparência do trabalho, emutilizar-se as técnicas de propagan-da para tornar-se conhecido o labor,na condição de produto de venda ede exportação, em projetar-se as

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Empresas

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imagens trabalhadas pela maquia-gem do mercado explorador, ficamem plano secundário, senão esque-cidos, os compromissos com a sim-plicidade do sentimento e a humil-dade do comportamento.

Vigia as nascentes do coraçãode onde brotam os bons como osmaus pensamentos, e tem cuidado.

Não te deixes arrastar pelospalradores e mercadológicos, entu-siastas em favor das transformaçõesimperiosas e imprudentes, sonha-dores do mundo que não conhe-cem as regras do Evangelho nem aconduta espírita.

A empresa de Jesus é diferente,preservadora da união de todos seusmembros, sem jamais ter lugar ocampeonato da dissensão.

No seu estatuto, o maior ésempre quem melhor serve e nãoaquele que mais se exalta.

Na disputa pelas posições derelevo, que, afinal não existem, o es-forço prevalece para ser o mais bemdevotado servidor.

Esse candidato que chega, nãoelimina aquele que se encontravano trabalho, antes se lhe torna co-operador. Por sua vez, sem temerquem se aproxima, aquele que estáa serviço lhe facilita a compreensãodo serviço entrosando-o no grupofraternal onde deseja mourejar.

Não dispensa os servidores de-bilitados, mas providencia para quesejam encaminhados para outrasáreas quando equivocados e inca-pazes.

Não abre espaço para a ingra-tidão àquele que ofereceu o melhorda sua existência trabalhando nosalicerces da obra, e hoje, cansado,desatualizado, é deixado no paredãodo abandono.

Nunca olvida os sofredores,

pensando apenas no azinhavre de-corrente do acumular de maismoedas.

Alarga a caridade que socorre anecessidade e ilumina o ser, liber-tando-o da ignorância.

O respeito pelo outro é nor-mativa de conduta permanente, ea consideração para com o ausen-te impede o desenvolvimento damaledicência, da calúnia, da per-seguição gratuita, decorrentes daantipatia que possa viger no gru-po.

A empresa de Jesus, na atuali-dade, ainda deve inspirar-se no pro-grama e na ação da Casa do Cami-nho, erguida por Simão Pedro emJerusalém nos dias apostólicos.

São estes, certamente, novos eoutros tempos, bem como diferen-tes as suas leis.

As criaturas humanas, no en-tanto, são quase que as mesmas, vi-vendo condições e situações bemequivalentes.

Respeitar a modernidade, sim,porém, não permitir que alguns dosseus métodos de comportamentominem os compromissos para coma bondade e o bem.

Precauções argentárias e cuida-dos previdenciários devem ser ob-servados, nunca porém o esqueci-mento do apoio da ProvidênciaDivina, que jamais falta.

Amealhar para não faltar é ati-tude correta, nunca porém acumu-lar enquanto o crime e a morte vi-giam a miséria para arrebatá-la.

Nessa Empresa, a de Jesus, osmétodos são especiais e não compa-tíveis com os daquelas organizaçõesmundanas.

Se o membro da equipe vai-seembora, não o impeças, todavia, ja-mais o dispenses, porque aparente-

mente podes substituí-lo por outroque será contratado, remuneradofinanceiramente...

Apesar de alguns serem necessá-rios, como é compreensível, na Em-presa de Jesus as ambições são espi-rituais, evitando-se os riscos daquelesestabelecidos pelos Sindicatos e legis-lações que nunca se bastam...

...

O meu reino não é deste mun-do, afirmou Jesus com ênfase.

Não te enganes, não iludas aninguém.

Vem hoje trabalhar na minhavinha, convidou com segurança,propondo o dever do serviço aopróximo e à auto-iluminação.

Digno é o trabalhador do seusalário, estabeleceu como funda-mental; mas na Sua obra o salárioserá sempre a caridade para consi-go mesmo e para com o seu próxi-mo.

Tem cuidado com o mundo eas suas armadilhas!

Leva Jesus a ele, mas não o tra-gas, nem implantes os seus métodosna Sua empresa.

Joanna de Ângelis

(Página psicografada pelo médium Dival-do P. Franco, na reunião mediúnica danoite de 9 de junho de 2004, no CentroEspírita Caminho da Redenção, em Sal-vador, Bahia.)

Reformador/Setembro 2004 9327

Retificando...Na mensagem A Pedagogia

de Jesus, de Joanna de Ângelis,publicada na edição de julho(p. 14, terceiro parágrafo), ondese lê André Morin, leia-se:Edgar Morin.

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Segundo o texto bíblico, JoãoBatista enviou dois emissáriosa Jesus, indagando se o Naza-

reno era o Messias Prometido. ODivino Mestre respondeu: “Ide eanunciai a João que os cegos vêem,os paralíticos andam e aos pobres éanunciado o Evangelho.”(Lucas,7:18-22)

Por outro lado, após o regres-so vitorioso de Jesus ao Plano Espi-ritual, o apóstolo Pedro, certo dia,encontrava-se meditativo e acabru-nhado, quando, num lance esplên-dido, vê que, ao longo do cami-nho, Jesus se aproximava. Pedrorecobrou as energias, com um júbi-lo indescritível, pois, certamente, oMestre vinha ao seu encontro. Fi-cou expectante. Contudo, o Celes-te Amigo, silencioso, demonstrouque não se dirigia a Pedro: ia tran-sitando. O apóstolo, atônito, excla-mou: “Senhor”. Foi quando Jesuslhe disse: “Pedro, eu vou à Casa doCaminho”. Num átimo, o apósto-lo compreendeu: o imperativo dahora era o serviço desinteressadoaos semelhantes. Pedro, de imedia-to, acompanhou o Mestre, com-preendendo a grandeza do ensina-mento.

Nós, os espíritas, que tivemos

a graça de conhecer a Codificaçãode Allan Kardec – a qual interpre-ta, em Espírito e Verdade, a Mensa-gem augusta de Nosso SenhorJesus-Cristo –, devemos preocu-par-nos, na hora que passa, com astarefas que nos são próprias e paracujo desempenho temos a confian-ça dos nossos Mentores espirituais,sem perdermos tempo em discutiridéias divergentes acerca de mensa-gens mediúnicas ou de livros fantás-ticos, que falam de outros mundos,ou de cogitar que entidades espiri-tuais elevadíssimas que transitarampela Terra tenham sido a reencarna-ção de personagens ancestrais na re-trovisão (às vezes obumbrada) dossubsídios que determinados pesqui-sadores nos ofereceram em suaspublicações.

Na Terra, embora a evidênciade uma civilização repleta de avan-ços tecnológicos e indiscutível de-senvolvimento científico, a fome di-zima milhões de irmãos nossos, queo egoísmo humano sitiou em bol-sões de miséria e prostituição, ren-teando com antros de criminalida-de e desespero. Por essa razão, namedida de nossas possibilidades,devemos socorrer os famintos eacender a chama da fé nos coraçõesangustiados, honrando, assim, asluminosas tarefas que nos identifi-cam como servidores de Jesus, re-gistrando em nossos tímpanos espi-

rituais a resposta do Celeste Amigoao apóstolo: “Pedro, eu vou à Casado Caminho”.

Sabemos que é necessário pes-quisar, indagar, refletir, em síntese,analisar as mensagens e estabelecer,entre nós, a conversa franca sobrenossas dúvidas, identificando ospossíveis enganos e omissões emque, por vezes, temos permanecido.Mas guardemos a certeza de que, aolongo do tempo, ante o sol da ver-dade, que a evidência dos fatos vaidesdobrando, a nossa visão perce-berá que a névoa da ignorância sedissolverá ante o fulgor da Luz Di-vina, à medida que os nossos mere-cimentos – mesmo conquistadoscom suor e lágrimas –, se desen-volverem.

Não nos compete emitir julga-mentos apressados ou tirar conclu-sões de fatos ainda inabordáveis ànossa percepção espiritual, uma vezque estamos transitando da sombrapara a luz e, pelos ensinamentos re-cebidos na imensa bibliografia espí-rita, os homens estão longe de al-cançar a explicação de determina-dos aspectos da vida extrafísica maispróxima da Terra.

Vamos, pois, com entusiasmoe fé, à execução de nossas tarefas,recordando as palavras de Emma-nuel, através do médium FranciscoCândido Xavier: “O nome de Jesusestá empenhado em nossas mãos.”

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Espíritas, honremos nossa tarefa!

Ismael Ramos das Neves

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P. – Qual foi sua inspiraçãopara a proposta inicial de fundaçãodas Associações Médico-Espíritas?

Marlene – Meu compromissocom as Associações Médico-Espíri-tas surgiu, primeiramente, com afundação da AME-São Paulo, ocor-rida a 30 de março de 1968, quan-do fiz parte de sua primeira Direto-ria. Um pouco antes, em janeiro domesmo ano, a convite do Dr. LuizMonteiro de Barros, havíamos nosreunido no Sanatório Antonio LuizSayão, em Araras, para prepararmosos Estatutos, sob a orientação deadvogados amigos, entre eles, meumarido, Freitas Nobre. Creio que jáhavia, de nossa parte, um compro-misso firmado na espiritualidade,porque, quando o amigo SpartacoGhilardi, médium orientador dacriação da AME-SP, foi levar a Chi-co Xavier a notícia da fundação daentidade, ele quis saber quais eramos cargos que eu e o Dr. Monteirohavíamos assumido na nova insti-tuição.

P. – Como se desenvolveu otrabalho com a Associação?

Marlene – Mais de duas déca-das se passaram. Eu era, então, Pre-sidente da AME-SP, quando, noinício de dezembro de 1990, cercade quinze dias após a desencarnaçãodo meu marido, recebi a orientação

direta de nosso Benfeitor Dr. Bezer-ra de Menezes para realizar, no anoseguinte, um congresso de âmbitonacional, conclamando os colegas àfundação da entidade brasileira.Realizamos o Mednesp, nosso 1o

Congresso, em maio de 1991, emSão Paulo, e depois a cada doisanos, fundando a Associação Médi-co-Espírita do Brasil a 17 de junhode 1995. Analisando o histórico dasAMEs, vemos que, desde longa da-ta, o Dr. Bezerra constituiu-se nopatrono desse movimento, confor-me revelações de Spartaco e Chico;junto a nós, porém, sua orientaçãodeu-se mais diretamente, como mereferi, a partir de 1990, e permane-ce até hoje, embora as minhas reco-nhecidas deficiências na captação

das mensagens. Temos certeza deque ele é a grande força propulsorado nosso movimento, porque so-mente sua tutela espiritual poderiaexplicar o fato de termos passado de9 para 32 AMEs, em menos de 10anos.

P. – Na sua opinião, qual osignificado da obra de André Luizpara o Movimento Espírita?

Marlene – Como toda revela-ção espiritual, a obra de André Luiztem diferentes interpretações e sig-nificados, conforme o grau de inte-resse e maturidade que os leitorespossuam ou desenvolvam ao longoda existência. Há quem veja o autorcomo simples repórter, mero repe-tidor ou contador de histórias, ou-tros como aluno aplicado ou cien-tista emérito; tudo depende doclima mental em que a pessoa vive.Isto, porém, pouco importa, por-que se trata de uma obra transfor-madora, revelada ao mundo paradar frutos suculentos e inusitados,de forma progressiva e constante.Um trabalho interessante para osuniversitários espíritas, por exem-plo, seria o de rastrear o número deinstituições “Nosso Lar” existentesno País, analisando, igualmente, otipo de assistência social que se de-senvolveu no Brasil e fora dele, ten-do como fonte inspiradora a cole-

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Associações Médico-Espíritas Sua evolução no Brasil e no Exterior

Marlene Rossi Severino Nobre relata a evolução das Associações Médico-Espíritas em sua atuaçãonos níveis nacional e internacional, e destaca o papel das obras de André Luiz neste contexto

Marlene Rossi Severino Nobre

ENTREVISTA: MARLENE R. S. NOBRE

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ção André Luiz. Mas há muito maisa observar sobre a ação dessa obramagnífica sobre o Movimento Es-pírita como um todo. O tempo re-velará.

P. – Como você analisa a atua-lidade médica da obra de AndréLuiz?

Marlene – Para falar sobre esteassunto, tenho de me referir a al-guns livros meus; peço-lhes descul-pas por esta ousadia. No meu livroNossa Vida no Além, tive oportuni-dade de demonstrar essa atualidade,cotejando as explicações de AndréLuiz sobre a vida espiritual com asexperiências vividas pelos que mor-reram e foram ressuscitados e quetiveram seus relatos de Experiênciade Quase Morte (EQM) enfeixadosem livros, por pesquisadores dosEstados Unidos e Europa. O médi-co desencarnado, porém, vai maislonge, porque descreve, cientifica-mente, as diversas etapas do morrer,abrindo maiores perspectivas depesquisa no campo da tanatologia.No meu livro A Obsessão e SuasMáscaras, ressaltei a importância doestudo que ele faz, em 14 de suasobras, acerca das patologias orgâni-cas e psicológicas ligadas à obsessão,bem como a necessidade de os pro-fissionais da saúde inteirarem-sedessa realidade, para mais facilmen-te integrarem Espiritualidade aotratamento. Também em O Cla-mor da Vida, livro em que faço re-flexões contra o aborto provocado,valho-me de informações de diver-sos autores, entre eles, André Luiz,garimpando, especialmente, suamagnífica obra Evolução em DoisMundos, para estudar as origens davida e ressaltar a definição espíritade pessoa – pontos básicos para aconduta bioética. Na minha última

obra, A Alma da Matéria, analiso,de forma suscinta, a contribuiçãodo Espiritismo à Medicina, valen-do-me, para tanto, de toda a cole-ção André Luiz, no estudo daanamnese, da reencarnação, do pe-rispírito, da bioética etc. E há mui-to mais a garimpar. Veio o final daprimeira parte do Projeto Genomae André Luiz continua firme e for-te, atualíssimo, em suas revelaçõessobre genes e proteínas; estão sur-gindo as inúmeras descobertas emneurociência e as suas revelações so-bre a glândula pineal, a casa men-tal etc., permanecem insuperadas.Ele instiga tantos trabalhos científi-cos às AMEs, que nos sentimos empasso de tartaruga diante do trem--bala.

P. – Qual a contribuição quea Doutrina Espírita poderia ofere-cer à Bioética?

Marlene – Conforme temaque apresentei no VI CongressoMundial de Bioética, em Brasília,em novembro de 2002, e que foipublicado em seus Anais, a nossaconduta baseia-se no paradigma per-sonalista espírita e tem enorme con-tribuição a dar à Bioética, por tercomo norma o respeito ao conti-nuum, isto é, à vida humana, desdeo zigoto ao velho, passando por to-das as etapas do desenvolvimento.A conduta bioética espírita nãoaceita a diluição dos confins da pes-soa, como acontece na conduta uti-litarista que menospreza o embriãoe o ser humano adormecido, quan-do este está desprovido de consciên-cia, o que geralmente ocorre nosinstantes finais da existência. Infe-lizmente, este paradigma materialis-ta vem ganhando cada vez mais ter-reno nos hospitais e universidadesdo mundo, e a ele é preciso fazer

forte oposição, esclarecendo, combase na própria Ciência, acerca doverdadeiro significado da vida e dapessoa.

P. – Como está a implantaçãodas Associações Médico-Espíritasnos Estados?

Marlene – Hoje, são poucos osEstados onde não há AME: somen-te no de Mato Grosso, e nos dos an-tigos Territórios. Em compensação,há Estados, como os do Rio Gran-de do Sul, Paraná, São Paulo, Mi-nas Gerais e Paraíba, onde já há re-gionais, e, em alguns, várias delas.Temos 32 AMEs até o momento.

P. – Como as Associações Mé-dico-Espíritas disponibilizam fun-damentação espírita para os profis-sionais da área da saúde?

Marlene – Temos trabalhadocom os temas dos Congressos, pu-blicados, em parte, em dois livros,Saúde e Espiritismo e Medicina eEspiritismo, com os vídeos resul-tantes dos 7 congressos realizados,o material de estudo desenvolvidonos Encontros Regionais e demaiseventos, com revista, boletins infor-mativos, página eletrônica etc. HáAMEs que baseiam alguns de seusestudos nos livros publicados peloscolegas das próprias AMEs, como osdo Dr. Decio Iandoli Jr., do Dr.Núbor Facure, dos vários de auto-ria dos companheiros de Minas Ge-rais, Espírito Santo, São Paulo etc.,e também os de minha autoria. Emtodos eles, são discutidas, especifi-camente, matérias de interesse domovimento médico-espírita.

P. – E em nível internacional?Marlene – Ainda temos pouco

material em outras línguas. A Almada Matéria, por exemplo, já foi pu-blicado em francês e espanhol. Noano passado, nossa irmã Cláudia

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Bonmartin editou, em francês, osAnais da 1a Jornada de Medicina eEspiritualidade, realizada no dia 16de novembro de 2003, em Paris.Desta publicação consta também oseminário do Dr. Sergio Felipe deOliveira sobre as funções da glân-dula pineal, com as fotos da teseque ele defendeu na USP, na áreade Ciências Biológicas. Como par-te da nossa apresentação na Europa,distribuímos também o primeironúmero da revista Saúde e Espiri-tualidade, editada pela AME-Inter-nacional, em versão inglesa e es-panhola. Para os Núcleos fundadosrecentemente, tanto no Reino Uni-do, quanto no de Montreal, na pro-víncia de Québec, Canadá, reco-mendamos o estudo dos livros dacoleção André Luiz, especialmenteEvolução em Dois Mundos, e a tra-dução dos mesmos para o inglês e ofrancês, a fim de que tenhamos to-dos o fortalecimento do embasa-mento teórico aos nossos estudos epesquisas.

P. – Qual a contribuição queas Associações Médico-Espíritas po-deriam prestar aos Centros Espíri-tas?

Marlene – Os médicos quecompõem as diretorias das AMEs,em sua grande maioria, já têm ati-vidades regulares nas Casas Espíri-tas, e, normalmente, estão ligados àobra assistencial desenvolvida porelas. Temos também uma contri-buição a dar no que se refere à ex-planação de temas específicos daárea médica aos trabalhadores dasCasas Espíritas. Com este trabalhoconjunto, esperamos contribuir,ainda que modestamente, para queo abnegado servidor possa cumprir,mais confiante, a sua importante ta-refa de agente da saúde humana.

Pensamos também que, talvez, istopossa influir para diminuir os casosde aconselhamentos errôneos, que,infelizmente, ainda ocorrem em al-gumas Casas Espíritas. É o caso,por exemplo, em que se recomendaao paciente de câncer, epilepsia,transtorno mental etc., que suspen-da a medicação passada pelo médi-co, redundando, algumas vezes, emconseqüências desastrosas para ele.Mas é preciso ressaltar uma parce-ria de enorme valia que deveria serincrementada, rapidamente, a doenriquecimento do prontuário dopaciente com a anamnese espiri-tual. O Centro Espírita forneceria

ao médico ou profissional da saúdeo relatório completo do tratamentocomplementar realizado, que in-cluiria fluidoterapia, sessões de de-sobsessão etc.; com isto, as AMEsteríam a possibilidade de fazer umbom levantamento estatístico emesmo de montar uma pesquisacientífica valiosa que incluiria aanamnese espiritual. Enfim, há umcampo enorme a ser trabalhado eessa união entre Centro Espírita eAME tende a ser cada vez mais útile proveitosa de parte a parte, assimcomo tem sido valiosa e frutífera anossa aliança fraterna com a Fede-ração Espírita Brasileira.

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IrmãoIrmão é todo aquele que perdoaSetenta vezes sete a dor da ofensa,Para quem não há mal que o bem não vença,Pelas mãos da humildade atenta e boa.

É aquele que de espinhos se coroaPor servir com Jesus sem recompensa,Que tormentos e lágrimas condensa,Por ajudar quem fere e amaldiçoa.

Irmão é todo aquele que semeiaConsolação e paz na estrada alheia,Espalhando a bondade que ilumina;

É aquele que na vida transitóriaProcura, sem descanso, a excelsa glóriaDa eterna luz na Redenção Divina.

João de Deus

Fonte: XAVIER, Francisco C. Correio Fraterno. Por Diversos Espíritos. 5. ed., Riode Janeiro: FEB, 1998, cap. 6, p. 22.

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Nesta parte de O Livro dos Es-píritos, que trata das LeisMorais, a necessidade e o li-

mite do trabalho tomam vulto es-pecial no capítulo III da Parte 3a daobra maior da Terceira Revelaçãode Deus à Humanidade.

Se nada mais escrevêssemosalém dessa análise reflexiva, já tería-mos dito o suficiente para que amissão de Allan Kardec fosse enca-rada por quem quer que a conhe-cesse como algo do mais sublimadoteor.

Nosso propósito, no entanto,com estes estudos é bem outro. Éaprofundar reflexões sobre mensa-gem tão luminosa quanto perfeitada Espiritualidade, cuja origem nãotemos condição de compreender se-não como emanada das planurascelestiais.

Recordamos, através da Histó-ria, que a ação de trabalhar era con-siderada de cunho tão ínfimo queos nobres não trabalhavam. Nadaexpressaria condição tão desprezívelpara um nobre como a de trabalha-dor; talvez por isso mesmo salienta-ra Jesus – “Meu Pai trabalha atéagora, e eu trabalho também” (João,5:17) – ao ser censurado pelos fari-seus por realizar uma cura num diade sábado.

Na verdade, quem observa aNatureza e o próprio Universo vê

que em tudo há trabalho. A própriavida, em si mesma, é uma açãocontínua de trabalho. E a históriadas civilizações premia-nos comexemplos magníficos de trabalhoem todas as áreas do progresso. Dohomem de nossos dias ao homemprimitivo, parece-nos a distância deum salto apenas! Efetivamente, sema bênção do trabalho estaríamos,ainda, na era da pedra lascada. Vê--se, pois, que na ação de trabalhar seencontra o principal fator que ar-rastou o homem primitivo à condi-ção do homo sapiens de nossos dias,retardando-o apenas em morali-dade.

Por trabalho, aqui, não enten-da ninguém apenas as ocupaçõesmateriais. Por isso enganavam-se osnobres, quando malsinavam, prin-cipalmente na Idade Média dos se-nhores feudais, o trabalho comoatividade inferior. Eles administra-vam seus bens e poderes, desconhe-cendo, por força do egoísmo, queisso também era ação de trabalhar.

É que o homem ainda ignoravasua condição de Espírito eterno, quesempre trabalha quando pensa,quando estuda, quando faz Arte,quando procura ser útil. O homemde mente elevada sente que o traba-lho se lhe impõe, como conseqüên-cia espiritual, no comando do corpo.Mas, só nisso? Claro que não! Na

Casa do Pai tudo trabalha, mesmoos Espíritos ainda de condição infe-rior trabalham (LE, questão 540).

Eis que sua alimentação, suasegurança e bem-estar estarão sem-pre na dependência de certa ativi-dade, e que essa atividade é traba-lho. Assim, quando extremamentefraco o homem, Deus lhe desenvol-ve a inteligência como compensa-ção da fraqueza, apontando-lhe re-cursos de ação criadora e produtiva,do que encontramos exemplos emtoda a parte.

Observemos uma vez mais aNatureza, no mundo dos seres sim-ples e irracionais. O que vemos éque não há inação em parte alguma.Tudo trabalha, a partir do átomocom seus elétrons e prótons em inin-terrupta movimentação no seio dascoisas, mesmo inorgânicas, estrutu-rando, assim, os seres do futuro.

Nas plantas, nos irracionais, nosseres mais pequeninos e simples, naterra e nos mares, tudo se agita, bus-cando vida e conservação. No ho-mem, porém, o trabalho tem duplofim: a conservação ideal do corpo –saúde e bem-estar – e o desenvolvi-mento da capacidade de pensar, derefletir, de aprender mais e mais.Atentemos, por exemplo, no que es-tá expresso no item 11 do capítuloXVII de O Evangelho segundo o Es-piritismo, para melhor reflexão.

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Repensando KardecDa Lei do Trabalho(Questões 674 a 685 de O Livro dos Espíritos)

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Eis que na questão 678, o Co-dificador do Espiritismo, numa in-dagação aos Espíritos Superiores,leva-nos a pensar nos mundos maisaperfeiçoados do Universo, ensi-nando-nos que lá também há ne-cessidades que só serão satisfeitasatravés do trabalho incessante.

O cientista de nossos dias asses-ta seus instrumentos de observaçãona direção do espaço cósmico, e aocaptar a imagem do nascimento deum sistema galático, há milhares deanos-luz, extasia-se e exclama: “Umbig-bang, é o nascimento do Univer-so!” Porque não tem, ainda, alcancepara entender que o Universo é açãoda plenitude infinita de Deus, e quea Criação é permanente, nunca seinterromperá!

Repitamos, mais uma vez, aafirmação de Jesus registrada porJoão (5:17): “Meu Pai trabalha atéagora, e eu trabalho também.”

Recordemos aqueles que, porexpiação ou prova, impossibilitadosse encontram de trabalhar. E Deus,na sublimidade de Seu Amor e Jus-tiça, manda-nos que, fraternalmen-te, lhes supramos as necessidades, àluz do Evangelho. Acentua, ainda,na questão 681, ser obrigação dos fi-lhos assistirem os pais, quando a es-tes faltarem forças para trabalhar; eadverte toda a sociedade do dever deamparar os que se incapacitarem.

Quanto ao limite do trabalhoe à necessidade do repouso, na ve-lhice, quatro questões ocuparam aatenção dos Espíritos Reveladores,que confirmaram ser o repouso,também, lei natural da vida, tendoem vista que, fisicamente, o traba-lho pode exercer desgaste na má-quina física do corpo.

Desse modo, o limite do traba-lho é decorrente do limite das for-

ças. Não obstante, quanto a isso,Deus deixa o homem entregue aoseu próprio arbítrio, sem isentá-loda responsabilidade de prover o quelhe for necessário, na ordem física,social e moral.

Na velhice, por exemplo, podeocorrer total incapacidade, no ho-mem, para trabalhar, diante do quenão lhe deve faltar assistência daprópria sociedade através do Esta-do. Pois, que há de fazer o velhoque já não pode trabalhar e precisasobreviver? Na verdade, infelizmen-te, há países de sociedades ainda tãoatrasadas moral e espiritualmente

que nem mesmo o poder público sefaz atento a esse tipo de compro-misso fraternal...

Gostaríamos de estender-nosmais sobre um melhor aprofun-damento em torno do pensamen-to do inspirado Missionário daDoutrina do Consolador. Em fa-ce, porém, de nossas deficiências,deixamos a cargo do leitor refle-tir bem nas indagações do mes-tre Allan Kardec a respeito doque compete à educação moral,social e cívica, tão necessária aodesenvolvimento espiritual do ho-mem...

333

Trabalho e EducaçãoNão basta se diga ao homem que lhe corre o dever de trabalhar.

É preciso que aquele que tem de prover à sua existência por meiodo trabalho encontre em que se ocupar, o que nem sempre acontece.Quando se generaliza, a suspensão do trabalho assume as proporçõesde um flagelo, qual a miséria. A ciência econômica procura remédiopara isso no equilíbrio entre a produção e o consumo. Mas, esse equi-líbrio, dado seja possível estabelecer-se, sofrerá sempre intermitências,durante as quais não deixa o trabalhador de ter que viver. Há um ele-mento, que se não costuma fazer pesar na balança e sem o qual a ciên-cia econômica não passa de simples teoria. Esse elemento é a educação,não a educação intelectual, mas a educação moral. Não nos referimos,porém, à educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de for-mar os caracteres, à que incute hábitos, porquanto a educação é o con-junto dos hábitos adquiridos. Considerando-se a aluvião de indivíduosque todos os dias são lançados na torrente da população, sem princí-pios, sem freio e entregues a seus próprios instintos, serão de espantaras conseqüências desastrosas que daí decorrem? Quando essa arte forconhecida, compreendida e praticada, o homem terá no mundo hábi-tos de ordem e de previdência para consigo mesmo e para com os seus,de respeito a tudo o que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atra-vessar menos penosamente os maus dias inevitáveis. A desordem e aimprevidência são duas chagas que só uma educação bem entendidapode curar. Esse o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, openhor da segurança de todos.

Allan Kardec

Fonte: O Livro dos Espíritos. Parte 3a, cap. III, questão 685a (Comentário).

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Lucas, 18:9-14.

Uma das características princi-pais dos fariseus, membros dapoderosa seita que implicava

com Jesus e acabou provocando suamorte, era o empenho em ostentarvirtudes que não possuíam.

Representavam uma falsa reli-giosidade. Bons atores, tinhamprestígio junto ao povo, que os con-siderava homens santos.

Um ditado popular poderia seraplicado a eles:

Por fora, bela viola; por den-tro, pão bolorento.

Jesus falava algo semelhante,ainda mais contundente:

Comparava-os a sepulcroscaiados. Brancos por fora, cheios deimundície por dentro. Imagem for-te, mas real. Nada mais lamentáveldo que a falsa religiosidade.

O farisaísmo ficou como sinô-nimo de hipocrisia religiosa, a piorde todas. Um religioso empenhadoem simular virtudes é uma obra--prima de desfaçatez e desonesti-dade.

...

Publicanos eram cobradores deimpostos, uma profissão normal emqualquer país. São funcionários dogoverno.

Ocorre que ao tempo de Jesusa Palestina estava sob domínio ro-mano e os romanos controlavam aarrecadação, ficando com boa parte.Isso irritava profundamente os ju-deus, que se sentiam espoliados.

Por isso os publicanos, recrutadosjunto à população, eram execrados co-mo traidores a serviço de Roma.

...

Para o povo, portanto, fariseuseram homens respeitáveis, virtuo-sos.

Publicanos eram homens semcaráter, desprezíveis, que se ven-diam ao dominador romano.

Jesus usa essas duas persona-gens para contar interessante pa-rábola.

Dois homens foram ao templopara orar.

Um fariseu e um publicano.O fariseu, ostentando sua su-

perioridade, sua proeminência, noseio da comunidade, orava em pé,proclamando em alta voz:

– Meu Deus, rendo-vos graçaspor não ser como os outros homens,que são ladrões, injustos e adúl-teros.

Graças vos rendo por não serpublicano, traidor do povo, explo-rador da bolsa popular.

Graças vos rendo porque cum-pro meus deveres religiosos até ofim. Dou o dízimo de tudo o quepossuo, jejuo duas vezes por sema-na, compareço fielmente ao Templo.

O publicano, por sua vez, con-servando-se afastado, humilde, nãoousava sequer erguer os olhos parao Céu. E dizia:

– Meu Deus, tem piedade demim, que sou pecador.

Proclama Jesus:

– Declaro-vos que o publicanovoltou em paz para sua casa, justifi-cado perante Deus, enquanto que ofariseu nada recebeu, porquantoaquele que se eleva será rebaixado eaquele que se humilha será exaltado.

...

Há, nessa parábola, preciosasorientações sobre a oração, envol-vendo vários aspectos:

Condição social.Não importa se temos prestí-

gio ou somos alguém menospreza-do.

Vale apenas o sentimento quevai dentro de nós.

O fariseu, com aquela encena-ção, nada tinha a receber do Céu,porquanto sua intenção era a pro-paganda de si mesmo.

Já o publicano, humilde, reco-nhecendo suas limitações, fazia pormerecer a ajuda do Céu.

As palavras.Não é preciso falar muito. Es-

sencial é que haja sentimento. O fariseu falou bastante. Apre-

goou uma superioridade que não

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A aparência e a essênciaRichard Simonetti

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Reformador/Setembro 2004 17

possuía e perdeu-se em palavrasvazias.

O publicano foi econômiconas expressões. Deixou falasse ocoração. O sentimento é o com-bustível que dá à oração o impul-so necessário para que suba às al-turas.

Num número fracionário te-mos o numerador, a parte de cima,que é divisível pelo denominador, onúmero de baixo.

Um terço de uma banana éuma banana dividida em trêspartes. O número um, numerador;o três, denominador.

Quanto maior o denominador,menor a fração. Um quinto de umabanana já é a banana divida em cin-co partes.

Consideremos, na oração, queo sentimento é o numerador. As pa-lavras que compõem a oração repre-sentam o denominador. Quantomais palavras, mais diluída e inex-pressiva ficará a oração.

Um Ai Jesus!, em momento dedificuldade, com plena mobilizaçãodo sentimento, funciona muito me-lhor que mil palavras, sem nenhu-ma vibração.

Isenção de ânimo.Para que a oração alcance o ob-

jetivo é preciso depurar o coração. Jesus é enfático nesse ponto.

– Se te aproximares do altarpara fazer tua oferta e te lembraresde que teu irmão tem alguma coi-sa contra ti, deixa a oferenda de la-do, vai procurar teu irmão e recon-cilia-te com ele. Depois vem fazera oferta. (Mateus, 5:23-24.)

Há uma lógica irretocável nes-sas palavras.

Impossível alcançar graças naoração se temos mágoa de alguém.Seja o que for que nos tenha feito,trata-se de um filho de Deus! Co-mo pedir algo ao Pai Celeste, detes-tando seu filho, nosso irmão?

Um homem foi abandonadopor sua esposa, envolvida com umrapaz. Sofreu muito. Perturbou-se.Foi ao Centro Espírita. A par daajuda mobilizada em seu benefício,foi orientado a buscar lenitivo naoração.

Ele reclamava que não lhe tra-zia nenhum benefício. O Céu pare-cia surdo aos seus apelos.

Consultado, um orientador es-piritual alertou:

– Digam-lhe que é preciso per-doar a esposa. O rancor e a mágoaem seu coração neutralizam nossosesforços em seu benefício. Enquan-to não os superar não recuperará atranqüilidade.

Perpetuam-se, crescentes, ossofrimentos decorrentes do mal quenos façam, quando não perdoamos.

Valorização. Oração é alimento.Ninguém pode passar muito

tempo sem ingerir alimentos. Sus-tentam o corpo. A oração sustentaa alma. Quando oramos é como se,sob o ponto de vista espiritual,abríssemos a boca para sorver asbênçãos de Deus.

Quem não ora vive ao sabordas circunstâncias, sem coragem pa-ra enfrentar as lutas da existência,sem inspiração para resolver os pro-blemas do cotidiano. E pior, semdisposição para superar suas pró-prias fraquezas.

Nas reuniões mediúnicas, decontato com Espíritos sofredoresque vivem perturbados e aflitos na

Espiritualidade, sem mesmo perce-ber sua condição de desencarnados,notamos que geralmente não estãohabituados à oração.

Quando o salmista diz aindaque eu andasse pelo vale de sombrasda morte, não temeria mal algum,porque tu estás comigo, exprime aconfiança de quem não tem medo,porque está perto de Deus, culti-vando a oração.

Quando a pessoa está sob ten-são nervosa, enfrentando problemasexistenciais e perturbações, tem di-ficuldade para concentrar o pensa-mento e elevar o sentimento naoração.

Esse problema pode ser resolvi-do se nos habituarmos a conversarcom Deus ou com Jesus, comoquem conversa com um pai ou umirmão mais velho.

...

Às vezes há uma reação desa-gradável à oração.

Pessoas com problemas psíqui-cos, por exemplo, sentem, não raro,o agravamento de seus sintomas.

É que, conduzidas ao seu uni-verso íntimo pela introspecção de-corrente da oração, esbarram emseus próprios desajustes, como quemfosse levado ao contato com ummonturo.

A oração aqui se assemelha auma faxina que fazemos numa casaempoeirada. Em princípio levantapó, podemos experimentar umaalergia, mas é preciso insistir, atélimpar toda a poeira. Então, com acasa mental em ordem, haveremosde nos sentir melhor.

Podemos pensar, também, naoração como um remédio, que emprincípio provoca uma reação orgâ-nica, recrudescendo os sintomas.

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Por isso, é preciso insistir, até adepuração.

Detalhe importante:Se estamos sob influência espi-

ritual negativa, os nossos persegui-dores ampliarão sua pressão, pas-sando a impressão de que a oraçãonão está surtindo efeito. Até piora-mos…

Insistamos e eles acabarão de-sistindo.

...

Considerando que a oração ésentimento, uma conversa íntimacom Deus, nosso Pai, pergunta-se:

Será lícito pronunciar o Pai--Nosso, como uma forma de oração?

Claro que sim. Apenas deve-mos lembrar que não estamos dian-te de uma fórmula verbal. Trata-sede uma orientação de como orar,dos sentimentos que devemos mo-bilizar.

Diríamos que o Pai-Nosso de-ve ser um ensejo de reflexão sobre apresença de Deus em nossas vidas.

Algo semelhante que faz o Es-pírito José Silvério Horta, sacerdo-te desencarnado, em belíssima poe-sia intitulada Oração, psicografadapor Francisco Cândido Xavier…*

Pai Nosso, que estás nos Céus,Na luz dos sóis infinitos,Pai de todos os aflitosDeste mundo de escarcéus.

Santificado, Senhor,Seja o teu nome sublime,Que em todo o Universo exprimeConcórdia, ternura e amor.

Venha ao nosso coraçãoO teu reino de bondade,De paz e de claridadeNa estrada da redenção.

Cumpra-se o teu mandamentoQue não vacila nem erra,Nos Céus, como em toda a TerraDe luta e de sofrimento.

Evita-nos todo o mal,Dá-nos o pão do caminho,Feito na luz, no carinho Do pão espiritual.

Perdoa-nos, meu Senhor,Os débitos tenebrosos,

De passados escabrosos,De iniqüidade e de dor.

Auxilia-nos, também,Nos sentimentos cristãos,A amar nossos irmãosQue vivem longe do bem.

Com a proteção de Jesus,Livra nossa alma do erro,Sobre o mundo de desterro,Distante da vossa luz.

Que a nossa ideal igrejaSeja o altar da Caridade,Onde se faça a vontadeDo vosso amor… Assim seja.

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Os espíritos benfeitores já nãosabiam como atender à pobresenhora obsidiada.

Perseguidor e perseguida es-tavam mentalmente associados àmaneira de polpa e casca no fruto.

Os amigos desencarnados ten-taram afastar o obsessor, induzindoa jovem senhora a esquecê-lo, masdebalde.

Se tropeçava na rua, a moçapensava nele...

Se alfinetava um dedo emserviço, atribuía-lhe o golpe...

Se o marido estivesse irritado,dizia-se vítima do verdugo invisível...

Se a cabeça doía, acusava-o...Se uma xícara se espatifasse, no

trabalho doméstico, imaginava-seatacada por ele...

Se aparecesse leve dificuldadeeconômica, transformava a preceem crítica ao desencarnado infeliz...

Reconhecendo que a interessa-da não encontrava libertação, porteimosia, os instrutores espirituaisligaram os dois – a doente e oacompanhante invisível – em laçosfluídicos mais profundos, até queele renasceu dela mesma, por filhonecessitado de carinho e de com-paixão.

Os benfeitores descansaram.O obsessor descansou.A obsidiada descansou.O esposo dela descansou.Transformar obsessores em fi-

lhos, com a bênção da ProvidênciaDivina, para que haja paz noscorações e equilíbrio nos lares, mui-ta vez é a única solução.

Hilário Silva

Fonte: XAVIER, Francisco C. Luz no Lar,Diversos Autores Espirituais. 8. ed.,Rio de Janeiro: FEB, 1997, cap. 32,p. 82-83.

Solução natural

*XAVIER Francisco C. Parnaso de Além--Túmulo, por Diversos Espíritos, 16. ed., Riode Janeiro: FEB, 2002, p. 351-352 – EdiçãoComemorativa – 70 Anos.

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“Onde está, ó morte, a tua vitó-ria? Onde está, ó morte, o teuaguilhão?” Paulo (l Cor, 15:55.)

Em 1998 foi lançado no Brasilo livro A Roda da Vida: me-mórias do viver e do morrer,

da psiquiatra americana ElisabethKübler-Ross, que faz nesta obra suaautobiografia.

A partir de determinada fase desua vida profissional como médica,a Dra. Kübler-Ross se lançou comopioneira na investigação do fenô-meno da morte e do morrer, espe-cificamente em pacientes terminais.E após décadas de pesquisas, entre-vistas, livros publicados e a vivênciado dia-a-dia com a dor daquelesque estão morrendo, chega à se-guinte conclusão: a morte não exis-te!

Para nós, espíritas, é uma afir-mação mais do que natural. Mas,Elisabeth Kübler-Ross sofreu mui-tas perseguições e preconceitos apartir dessa postura, principalmen-te dos colegas de profissão.

Nessas memórias é relatado to-do o seu processo de descoberta dainexistência da morte, tendo parti-cipado de várias reuniões de inter-câmbio mediúnico a partir dos anos70, nas quais encontrou o estímulodos seus amigos desencarnados pa-

ra continuar sua principal tarefa: di-zer ao mundo que a morte nãoexiste.

Em determinado trecho do seulivro, no capítulo intitulado “A Vi-da Além da Morte”, relata que ape-sar de ter tratado durante váriosanos de doentes terminais e comeles convivido, não acreditava na vi-da depois da morte. Mas, os fatosviriam provar o contrário.

Por volta de 1973 a Dra. Kü-bler-Ross, junto com seus assisten-tes, tinham entrevistado, aproxima-damente, vinte mil pessoas à beirada morte. O interessante é que osrelatos eram muito semelhantes. Apartir deles chegou a uma nova de-finição de morte diferente da defi-nição tradicional como o fim de tu-do. Passou a considerar como prova

a de que o homem possui (ou é)um Espírito (ou alma) e que alémda existência física, algo sobreviviae continuava.

De acordo com suas entrevistasnotou que o processo do morrerocorria em diversas fases distintas,as quais resumiremos e nos fixare-mos na fase 4, que mais especial-mente nos interessa.

Na fase 1 (segundo seu relato)as pessoas, em determinado mo-mento, flutuavam fora de seus cor-pos e presenciavam tudo o que sepassava ao redor, inclusive ouvindoo que outras pessoas falavam entresi, testemunhando, após a volta aocorpo físico, o que tinham presen-ciado e escutado.

Na fase 2, elas se sentiam ex-tremamente reconfortadas ao des-cobrirem que nenhum ser humanomorre sozinho, encontrando ami-gos, familiares ou aqueles que deno-minavam como seus guias.

Na fase 3, guiados por seus“anjos da guarda”, os pacientes seviam entrando por lugares descritoscomo túneis, portões intermediá-rios, pontes, desfiladeiros de mon-tanhas, vales etc.

Na fase 4, Elisabeth relata que: “Neste estágio as pessoas passa-

vam por uma revisão de suas vi-das, um processo no qual se viamdiante da totalidade de suas vidas.

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A vida além da morte: memórias de uma psiquiatra

João Luiz Romão

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Elisabeth Kübler-Ross

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Repassavam cada ação, palavra epensamento. As razões de cada umade suas decisões, pensamentos e açõestornavam-se compreensíveis. Viamcomo suas ações tinham afetado ou-tras pessoas, até pessoas desconheci-das. Viam o que suas vidas pode-riam ter sido, o potencial que ti-nham. Era mostrado a elas de quemodo as vidas de todas as pessoasestão entrelaçadas, que cada pen-samento e ação tem o efeito de umaondulação e que esta atinge todasas outras formas de vida do plane-ta.” 1

Vemos em seus relatos um pa-ralelo importante com a DoutrinaEspírita. Allan Kardec, em O Livrodos Espíritos2 na questão 306, per-gunta aos Benfeitores espirituais:

306. O Espírito se lembra, por-menorizadamente, de todos os acon-tecimentos de sua vida? Apreende oconjunto deles de um golpe de vis-ta retrospectivo? R: Lembra-se dascoisas, de conformidade com asconseqüências que delas resultarampara o estado em que se encontracomo Espírito errante (...).

Nos itens a e b, da mesmaquestão, os Espíritos benfeitoresmostram que a lembrança de mui-tos acontecimentos em suas minu-dências é de grande importânciapara nós, desde que tenha utilidade.A pessoa compreende a necessidadede sua purificação em cada existên-cia, ou seja, o esforço para melho-rar-se moral e intelectualmente. Naquestão 307 continua:

307. Como é que ao Espíritose lhe desenha na memória a sua vi-da passada? Será por esforço da pró-pria imaginação, ou como um qua-dro que se lhe apresenta à vista? R:De uma e outra formas. São-lhecomo que presentes todos os atos de

que tenha interesse em lembrar-se(...).

Esse fenômeno, percebido porElisabeth Kübler-Ross em quase to-das as suas entrevistas, vai encontrarum respaldo mais detalhado em di-versos relatos contidos nos livros doEspírito André Luiz, que chamare-mos de visão panorâmica pós--morte. Em uma de suas obras3, nadesencarnação de Dimas, o assis-tente Jerônimo, junto de AndréLuiz, efetuando o desligamento fi-nal, assevera:

“(...) Por enquanto, repousaráele na contemplação do passado,que se lhe descortina em visão pa-norâmica no campo interior.”

As narrativas e os relatos efe-tuados pelos pacientes da Dra.Kübler-Ross vêm confirmar as res-postas dadas pelos Espíritos respon-sáveis pela codificação do Espiritis-mo: a de que a morte não existe eque a vida continua. Acrescentando,ainda, que no instante do trânsitopara “o lado de lá” somos convida-dos a um exame de todas as nossas

atitudes na última existência, bemcomo das conseqüências de nossasações e omissões. Conforme nosaponta o Espírito Emmanuel, comas palavras da sabedoria e da expe-riência:

“(...) a maior surpresa da mor-te carnal é a de nos colocar face aface com a própria consciência, on-de edificamos o céu, estacionamosno purgatório ou nos precipitamosno abismo infernal (...).” 4

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1KÜBLER-ROSS, Elisabeth. A Roda da Vida.

GMT: Rio de Janeiro: 1998, parte III, p. 214.

2 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 83.

ed., Rio de Janeiro: FEB, 2002, Parte 2a, cap.

VI, item “Recordação da existência corpórea”.

3XAVIER, Francisco Cândido. Obreiros da Vi-

da Eterna, pelo Espírito André Luiz. 2. ed. es-

pecial, Rio de Janeiro: FEB, 2003, cap. 13,

p 233.

4–––––– . Nosso Lar, pelo Espírito André Luiz,

2. ed. especial, Rio de Janeiro: FEB, 2003,

“Novo amigo”, p. 9.

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MorteAmorte é oportunidade para que pensemos na existência da alma, na

sua sobrevivência e comunicabilidade com os vivos da Terra,através dos médiuns, da intuição, ou durante o sono.

A morte é, ainda, ensejo para que glorifiquemos a IndefectívelJustiça, que preside a vida em todas as suas manifestações.

Na linguagem espírita, a morte é, tão-somente, transição de umapara outra forma de vida. Mudança de plano, simplesmente.

(...) a morte não é ocorrência aniquiladora da vida, mas, isto sim,glorioso cântico de Imortalidade, em suas radiosas e sublimes mani-festações.

Martins Peralva

Fonte: O Pensamento de Emmanuel. 7. ed., Rio de Janeiro: FEB, 2000, cap. 34,p. 210.

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O tesouro maior“Porque, onde estiver o vosso tesouro,

ali estará também o vosso coração.” – Jesus. (Lucas, 12:34.)

No mundo, os templos da fé religiosa, desde que consagrados à Divindade doPai, são departamentos da casa infinita de Deus, onde Jesus ministra os seus bensaos corações da Terra, independentemente da escola de crença a que se filiam.

A essas subdivisões do eterno santuário comparecem os tutelados do Cristo,em seus diferentes graus de compreensão. Cada qual, instintivamente, revela ao Se-nhor onde coloca seu tesouro.

Muitas vezes, por isso mesmo, nos recintos diversos de sua casa, Jesus recebe,sem resposta, as súplicas de inúmeros crentes de mentalidade infantil, contraditó-rias ou contraproducentes.

O egoísta fala de seu tesouro, exaltando as posses precárias; o avarento refere--se a mesquinhas preocupações; o gozador demonstra apetites insaciáveis; o faná-tico repete pedidos loucos.

Cada qual apresenta seu capricho ferido como sendo a dor maior.

Cristo ouve-lhes as solicitações e espera a oportunidade de dar-lhes a conhecero tesouro imperecível. Ouve em silêncio, porque a erva tenra pede tempo destina-do ao processo evolutivo, e espera, confiante, porquanto não prescinde da colabo-ração dos discípulos resolutos e sinceros para a extensão do divino apostolado. Nomomento adequado, surgem esses, ao seu influxo sublime, e a paisagem dos tem-plos se modifica. Não são apenas crentes que comparecem para a rogativa, são tra-balhadores decididos que chegam para o trabalho. Cheios de coragem, dispostos amorrer para que outros alcancem a vida, exemplificam a renúncia e o desinteresse,revelam a Vontade do Pai em si próprios e, com isso, ampliam no mundo a com-preensão do tesouro maior, sintetizado na conquista da luz eterna e do amor uni-versal, que já lhes enriquece o espírito engrandecido.

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, Verdade e Vida. 23. ed., Rio de Janeiro: FEB, 2003, cap. 64,

p. 143-144.

ESFLORANDO O EVANGELHOEmmanuel

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D e quando a quando líamos,aqui e ali, anotações de escri-tores e jornalistas desfavorá-

veis ao Espiritismo, apresentando omédium Francisco Cândido Xavierà feição de pastichador, simples-mente porque a imprensa do Brasile de Portugal lhe lançara o nome –F. Xavier – ao mundo das letras, emalgumas páginas de prosa e poesia,entre l929 e 1931, quando o mé-dium de Emmanuel mal chegaraaos vinte de idade.

Se Chico Xavier, desde a pu-blicação de “Parnaso de Além-Tú-mulo”, em 1932, nunca mais com-pareceu nos jornais e revistas, nacondição de autor de qualquer tra-balho literário, por que não investi-gavam a razão desse procedimentodiferente? Entendendo-se que aprodução extensa e preciosa que lheassinala a bagagem mediúnica per-dura, ininterrupta, no largo tempode sete lustros consecutivos, não se-ria justo considerar as páginas desua primeira juventude como en-saios dos próprios poetas desencar-nados a lhe exercitarem as faculda-des, através da inspiração? Por que

as diatribes dos inimigos do Espi-ritismo contra o médium, nessesentido, se trinta e cinco anos deação medianímica, segura e cons-trutiva, pesam sobre apenas doisanos de experimentos?

Tais perguntas vagavam emnossa mente, quando Reformadorde julho findo nos ofereceu o notá-vel artigo do Professor Ismael Go-mes Braga “Chico Xavier em 40anos” –, explicando como se verifi-cou a publicação das páginas pri-mitivas da psicografia de ChicoXavier. Entusiasmados com os es-clarecimentos trazidos à luz e hon-rando-nos hoje com a amizade e aconfiança do médium que reside,ao nosso lado, em Uberaba, e decujas faculdades mediúnicas temostido provas exuberantes, resolvemosouvi-lo sobre aquele recuado perío-do de suas atividades. De nossaconversação, que clareia ainda maisinformes do nosso caro ProfessorIsmael Gomes Braga, surgiu a pre-sente entrevista que tomamos a li-berdade de oferecer aos leitoresamigos e confrades espíritas, issocom vistas não só a observações va-liosas do presente, como tambémaos estudos que o futuro nos exijarealizar, em torno do trabalho ge-nuíno de nossos instrutores espiri-tuais, através das obras medianími-cas de nosso companheiro, a quemjustamente felicitamos pelos seusquarenta anos de mediunidade bemvivida, no Espiritismo com Jesus.

Passemos, pois, ao nosso in-quérito afetivo, cujas respostas reco-lhemos corretamente, atentos queestamos ao seu alto valor.

– Chico, estimaríamos ouvirVocê com respeito às informaçõesprestadas pelo nosso caro ProfessorIsmael Gomes Braga, em artigolançado pelo “Reformador” de ju-lho último. É verdade que Você, aprincípio, em seus trabalhos psico-gráficos, recebeu muitas páginasmediúnicas, sem assinatura dos Es-píritos que as elaboravam?

– Sim. O nosso querido con-frade Ismael Gomes Braga estámuito bem informado. Tivemos nósambos muitos contactos pessoais,quando me achava ainda em PedroLeopoldo, e tive oportunidade denarrar a ele muitos fatos curiosos dotempo em que me via com a me-diunidade começante sob os princí-pios espíritas cristãos.

– Poderá dizer-nos como acon-tecia a recepção dessas páginas?

– A pergunta me obriga a re-cordar os meus tempos de escolaprimária. Desde muito cedo, naatual reencarnação, achei-me dian-te dos amigos desencarnados. Mui-tas vezes em aula, quando criança,ouvia vozes dos Espíritos ou sentiamãos sobre as minhas, mãos que eusentia vivas, guiando meus movi-mentos de escrita, sem que os ou-tros as vissem. Isso me criava mui-

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PRESENÇA DE CHICO XAVIER

Chico Xavier – Psicografia de 1927 a 1931*Elias Barbosa

*Artigo publicado em Reformador de setem-bro 1967, p. 5(191)-8(196).

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tos constrangimentos. Lembrareium episódio curioso. Em 1922, eucontava doze anos de idade e fre-quentava o quarto ano do GrupoEscolar São José, em Pedro Leopol-do. Era o ano de muitas comemo-rações do primeiro centenário daindependência do nosso País. OGoverno do Estado de Minas Ge-rais instituiu prêmios para os alunosde todas as classes de quarto anodas escolas primárias, que apresen-tassem as melhores páginas sobre aHistória do Brasil. Era um concur-so a que todos nós, as crianças dequarto ano, em Minas, devíamoscomparecer. Nossa professora, D.Rosária Laranjeira, abnegada edu-cadora mineira, profundamenterespeitada nos círculos de magisté-rio em nosso Estado, desencarnada,há alguns anos, em Belo Horizon-te, e que lecionava, nesse tempo,em Pedro Leopoldo, marcou datapara a referida prova. Abertos ostrabalhos no dia indicado, quandocomeçávamos os preparativos paraa escrita, vi um homem, ao meu la-do, ditando como eu deveria es-crever. Assustei-me, pois pergunteiao meu companheiro de banco,Alencar de Assis, se ele estava ven-do essa pessoa, e ele me disse nãover ninguém, acrescentando que euestava com medo da prova e queera preciso sossegar-me. O homem,contudo, disse-me o primeiro tre-cho que eu deveria escrever. Tendoouvido claramente, pedi licença pa-ra levantar-me e fui ao estrado noqual a professora estava sentada.Então, disse a ela, em voz baixa:“Dona Rosária, perto de mim, nacarteira, eu vejo um homem ditan-do o que devo escrever.” Apesar deser ainda muito jovem, naqueletempo, era ela uma criatura de

imensa bondade e de profundacompreensão, sempre me ouvindocom grande paciência. Depois deescutar-me, perguntou igualmente,em voz baixa: “Que é que esse ho-mem está mandando você escre-ver?” Eu repeti o que ouvira do Es-pírito, explicando: “Ele me disseque eu devo começar a prova, con-tando assim: “O Brasil, descobertopor Pedro Álvares Cabral, pode sercomparado ao mais precioso dia-mante do mundo que logo passoua ser engastado na Coroa Portugue-sa...” Ela mostrou admiração no

semblante, mas me falou em vozmais baixa ainda: “Volte, meu filho,para a sua carteira e escreva a suaprova. A sala está repleta de pessoasque nos observam e agora não é omomento de você ver pessoas queninguém vê. Não acredite que este-ja escutando estranhos. Você estáouvindo a você mesmo. Dê atençãoao seu pensamento. Cuide de suaobrigação e não fale mais nisso.”Voltei e escrevi o que o Espírito di-tava, porque ou eu escrevia ou de-sobedeceria a ela, a quem respeita-va e amava muito. Nossas provasforam reunidas às outras de todo oEstado, na Secretaria da Educação,

em Belo Horizonte. Passados al-guns dias, o nosso Grupo em PedroLeopoldo recebeu a notícia de queas autoridades na capital mineirame haviam distinguido entre os alu-nos classificados com MençãoHonrosa, o que era demais paramim. Dona Rosária Laranjeira fi-cou muito satisfeita, mas, de minhaparte, sabia que as páginas nãoeram minhas. Amigos de PedroLeopoldo tomaram conhecimentodo assunto e houve quem dissesseque eu havia copiado o trabalho dealgum livro de História. DonaRosária acreditava em minha sin-ceridade, mas a nossa turma noGrupo ficou dividida. Alguns cole-gas admitiam que eu falava a verda-de, outros me consideraram men-tiroso. Muito me desgostavam asacusações que passei a sofrer na vi-da escolar, até que, um dia, em au-la, um colega afirmou que se eu vi-ra um homem do outro mundo,ditando a prova pela qual fora pre-miado, era natural que eu visse essehomem, outra vez, ali mesmo e na-quela hora, ao lado de todos, paraescrever sobre algum assunto que aprópria classe viesse a apresentar.Nesse justo instante, tornei a ver ohomem que os outros não viam ecomuniquei à professora que ele medizia estar pronto para escrever. Do-na Rosária Laranjeira hesitou emaceitar o oferecimento; entretanto,os meus colegas pediram em vozalta para que eu atendesse. A pro-fessora, então, me permitiu ir aoquadro-negro, a fim de escrever àvista de todos. “Qual é o tema parao Chico?” – perguntou um dosmeninos. Uma nossa colega, de no-me Ocarlina Leroy, lembrou: “Gos-taria que o tema fosse areia, porquetenho carregado muita areia para

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auxiliar uma pequena construçãode meu pai.” Todos os meninospresentes riram-se da lembrança eacharam que areia era uma coisadesprezível. Alguns fizeram piadas,mas o pedido de Ocarlina foi sus-tentado. Eu devia escrever umacomposição usando giz no quadro--negro, sobre areia. Lembro-me deque o Espírito amigo, ali, ao meulado, começou ditando: “Meus fi-lhos, ninguém escarneça da criação.O grão de areia é quase nada, masparece uma estrela pequenina refle-tindo o sol de Deus...” A composi-ção foi escrita com muitas idéiasque eu seria incapaz de concebernos meus doze anos de idade. Osmeninos ficaram em silêncio, poralguns instantes, e quando voltarama conversar, a nossa professora de-terminou o encerramento do as-sunto. Daí em diante, Dona Rosá-ria proibiu qualquer comentário naclasse sobre pessoas invisíveis. Nemeu podia dar notícias de coisas es-tranhas que eu visse e nem os meuscolegas deveriam perguntar-mequalquer coisa fora de nossos estu-dos.

Como é fácil de verificar, des-de a infância estou no meio dequem acredita e de quem não acre-dita no Mundo Espiritual, e asmensagens do Mundo Espiritualvão surgindo comigo, dando-me,cada vez mais, o conforto da fé navida além da morte...

– Dona Rosária Laranjeira, aprofessora, não procurou ouvir Vo-cê, em particular, sobre as suas ob-servações na classe?

– Sim, ela me ouvia semprecom muita bondade, mas orien-tou meu coração para atitude reli-giosa, dizendo que eu precisava de

muita confiança em Deus para vi-ver. Muitas vezes, ela conversou ameu respeito com o padre SebastiãoScarzelli, que me confessava fre-qüentemente, pedindo a ele parame ajudar.

– Dona Rosária era católica? – Era católica fervorosa.

– Como dirigia Você para aatitude religiosa?

– Dava-me escritos católicospara ler, infundia-me profundo res-peito aos ofícios da religião, argüía--me sobre o catecismo e me ensina-va o orar. Um dia perguntei a ela:“Dona Rosária, para quem devo re-zar mais? Para Jesus ou para NossaSenhora?” Ela se compadeceu deminha confiança infantil e me res-pondeu: “Chico, nós todos precisa-mos rogar a proteção de Jesus, masvocê ficou sem mãe muito cedo.Reze todas as noites, pedindo aNossa Mãe Santíssima para que teguarde e te proteja.”

– Dona Rosária Laranjeira tevemuita influência em sua infância?

– Muita. Ela era imensamentegenerosa. Um dia propôs a meu pailevar-me com ela para Belo Hori-zonte, onde se encarregaria de mi-nha educação, mas meu pai nãopôde consentir, porque eu já traba-lhava na Fábrica de Tecidos, em Pe-dro Leopoldo.

– Quer dizer que quando Vo-cê começou a receber páginas me-diúnicas sem assinatura, entre 1927e 1931, já estava familiarizadocom dúvidas e discussões?

– Sim.

– Como é que muitas dessas

produções foram parar na impren-sa não espírita?

– Meu irmão José CândidoXavier e alguns amigos de PedroLeopoldo, como, por exemplo, Ata-liba Ribeiro Vianna, achavam queas páginas deviam ser publicadascom meu nome, já que não traziamassinatura, e essas publicações co-meçaram no jornal espírita “Auro-ra”, do Rio de Janeiro, que era diri-gido, nessa época, pelo nosso con-frade Ignácio Bittencourt, a quemAtaliba escreveu perguntando se ha-via algum inconveniente em lançaras citadas páginas com meu nome.Ignácio Bittencourt respondeu quenão via inconveniente algum, des-de que as produções escritas porminhas mãos não trouxessem assi-natura. Ninguém poderia afirmar seeram minhas ou não, e que ele aspublicaria, não por meu nome, maspelas idéias espíritas que elas con-tinham. Aí começaram nossos ami-gos de Pedro Leopoldo a enviar es-sas produções para diversos setores,obedecendo ao entusiasmo pelostrabalhos nascentes da Doutrina Es-pírita, em nossa terra.

– Lembra-se de publicaçõesnão espíritas que divulgaram seustrabalhos mediúnicos?

– O “Jornal das Moças”, doRio, o “Almanaque de Lembran-ças”, de Portugal, o Suplemento Li-terário de “O Jornal” foram dos ór-gãos não espíritas que publicarammuitas dessas páginas, entre 1927e 1931.

– Tem no seu arquivo particu-lar algumas delas?

– Não tenho. A mediunidadecom a Doutrina Espírita absorveu--me todas as atenções, desde o apa-

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recimento de Emmanuel, em meucaminho, no ano de 1931, e perdio contacto com os frutos de minhasatividades iniciais.

– Recorda, de modo particular,alguma produção que ficasse ines-quecível em sua memória?

– Sim, recordo-me de um so-neto intitulado “Nossa Senhora daAmargura”, que, se não me enganoquanto à data, foi publicado pelo“Almanaque de Lembranças”, deLisboa, na sua edição de 1931. Euestava em oração, certa noite, quan-do se apoximou de mim o Espíritode uma jovem, irradiando intensaluz. Pediu papel e lápis e escreveu osoneto a que me refiro. Choroutanto ao escrevê-lo que eu tambémcomecei a chorar de emoção, semsaber, naqueles momentos, se meusolhos eram os dela ou se os olhosdela eram os meus. Mais tarde, sou-be, por nosso caro Emmanuel, quese tratava de Auta de Souza, a ad-mirável poetisa do Rio Grande doNorte, desencarnada em 1900**. Osoneto foi enviado a Portugal pormeu irmão José, em meu nome,tendo sido a página publicada etendo eu recebido de Lisboa umacarta de um dos colaboradores daformação do citado almanaque,com muitos elogios ao trabalho quenão me pertencia.

– Como passou a sua mediuni-dade psicográfica dessa fase de in-decisão para a segurança precisa?

– Isso aconteceu em 1931,quando o Espírito Emmanuel assu-miu o comando de minhas modes-

tas faculdades. Desde então, tudoficou mais claro, mais firme. Eleapareceu em minha vida mediúni-ca assim como alguém que viessecompletar a minha visão real da vi-da. Tenho a idéia de que, até a che-gada de Emmanuel, minha tarefamediúnica era semelhante a umacerâmica em fase de experiências,sem um técnico eficiente na dire-ção. Depois dele, veio a orientaçãoprecisa, com o discernimento e a se-gurança de que eu necessitava e deque, aliás, todos nós precisávamosem Pedro Leopoldo.

– Chico, Você não julga queessas produções esparsas, psicografa-das por Você, entre 1927 e 1931,devem ser reunidas num volumepara nossos estudos espíritas?

– Muitas vezes, penso nisso,mas o nosso abnegado Emmanuelafirma que aquela fase de trabalhoera de experimentação necessária eque devemos trabalhar sempre e ca-minhar para diante. E, nessa basedo “trabalhar sempre e caminharpara diante”, estou procurandoacompanhar o nosso querido orien-tador espiritual, há trinta e seisanos. Desde 1931, Emmanuel metolera e me utiliza para escrever,quase que diariamente, e isso nãome permite ocasião de voltar à reta-guarda para reexaminar as páginasmediúnicas do princípio.

– Sabe Você que os adversáriosdo Espiritismo se valem das produ-ções lançadas, com seu nome, entre1927 e 1931, tentando desacredi-tar os seus trabalhos psicográficos?

– Sei disso. A princípio muitome afligi com essas críticas, mas onosso Emmanuel acalmou-me di-zendo que dar muita resposta sobre

o caso, desde muito superado, seriaperder tempo. E acentuou que to-dos os inimigos do Espiritismo,quando sinceros, mudam de opi-nião depois de desencarnados. Issotem acontecido nestes meus pobresquarenta anos de mediunidade.Muitos inimigos gratuitos de nossaDoutrina, que tantas vezes nos ridi-cularizaram, me visitam atualmen-te em Espírito e me encorajam aservir na obra de Emmanuel, fazen-do-me, muitas vezes, chorar de re-conhecimento e emoção.

– Como acredita Você devamosproceder com os escritores e jorna-listas que nos perseguem?

– Diz-nos Emmanuel que de-vemos ter paciência e bondade pa-ra com todos eles, explicando sem-pre que eles não nos injuriam por-que sejam maus e sim por inexpe-riência, ante os assuntos da VidaEspiritual.

– Você, nestes quarenta anos demediunidade, foi procurado pormuitos escritores interessados na so-brevivência do Espírito?

– Sim, por alguns.

– Pode dizer-nos algo de suasrecordações junto deles?

– Sim, mas pediria para que asminhas lembranças sobre escritoresnão espíritas fossem deixadas paraoutra ocasião, porque a hora estáavançada.

Consultamos o relógio e con-cordamos. Vinte minutos depois dezero hora. Despedimo-nos de Chi-co Xavier e fixamos as presentesanotações para lembrar, estudar, ra-ciocinar e discernir.

Uberaba, 1o de agosto de 1967.

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**N.R. Data correta da desencarnação de Au-ta de Souza: 7 de fevereiro de 1901. (Ver Par-naso de Além-Túmulo.)

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Às 6 horas do dia 2 de julho docorrente ano, retornou aomundo espiritual, estando pa-

ra completar 104 anos de uma exis-tência toda dedicada à caridade, oEspírito de nosso muito queridocompanheiro Henrique Magalhães.

Seu corpo foi velado, duranteo dia 2, na sede da Instituição Ma-ria de Nazareth – Casa da Mãe Po-bre –, na rua Frei Pinto, 16, paraonde afluiu uma legião de amigos ede beneficiários de sua abençoadaobra, ocasião em que a Casa de Is-mael se fez representar por seu Di-retor Lauro de O. São Thiago e pe-lo ex-Presidente Juvanir Borges deSouza.

O enterro se deu no dia se-guinte, sábado, no Cemitério doParque da Colina, em Niterói (RJ),ali comparecendo, em nome da Fe-deração, o Diretor Affonso Soares,que se associou, com breve alocu-ção, às tocantes homenagens quelhe foram prestadas.

Henrique Alves da Cunha Ma-galhães nasceu em 4 de setembro de1900 (quatro meses após o passa-mento de Bezerra de Menezes), naFreguesia dos Telões, Conselho deAmarante, Distrito do Porto, emPortugal, filho de Manoel Alves daCunha Magalhães e de Ana Au-gusta da Cunha Coutinho. Aos 12anos de idade, na companhia deum casal de primos de seu genitor,

embarcou para o Brasil, chegandoao Rio de Janeiro em 11 de novem-bro de 1912. Até 1920, trabalhouarduamente no comércio para ga-nhar o pão de cada dia, mas as se-qüelas da “gripe espanhola”, con-traída em 1919, obrigaram-no aretornar à casa paterna. Durante aviagem a enfermidade cedeu porcompleto, e Henrique, após visitaros pais, regressou ao Brasil, onde seestabeleceu definitivamente comocomerciante. Em 1931, adoeceunovamente e fixou residência emTeresópolis, onde grassava uma epi-demia de meningite. Com a filhamais nova atingida pela terrível en-fermidade, Henrique, vendo-a pio-rar apesar dos desvelos do médico,aceitou a sugestão de obter uma re-ceita homeopática dos Espíritos,não obstante sua aversão ao Es-piritismo. Operou-se a “milagrosa”cura e Henrique começou a estudar

O Evangelho segundo o Espiritis-mo, de Allan Kardec, compreen-dendo o quanto andava distanciadode Jesus.

Em 1937, o Alto, através doEspírito Dr. João de Freitas, exor-ta-o a que, juntamente com outrosidealistas, empreenda a fundação,em 1941, da benemérita Institui-ção Maria de Nazareth – Casa daMãe Pobre, que passou a dirigir,desde quando, em 1946, substituiuseu primeiro Presidente, o Dr. Co-riolano de Góis, falecido naqueleano. Sob sua condução, as ativida-des da Instituição, inspiradas noamor da Mãe Santíssima, expan-dem-se sob a forma de serviços as-sistenciais de diversa natureza, pres-tados em Teresópolis – Creche eLar Isabel a Redentora, Mansão dosVelhinhos, Grupo Escolar Isabel aRedentora –, e no Rio de Janeiro –Hospital Maternidade e Ambulató-rio Dr. João de Freitas, AbrigoSylvia Penteado Antunes e Lar Lu-cílio Ribeiro Torres, Creche Mariet-ta Navarro Gaio.

Com o magnetismo das almasque tudo sacrificam pelo bem dopróximo e que confiam absoluta-mente na Providência Divina, semse descuidarem de cumprir os deve-res que lhes asseguram os favorescelestes, Henrique Magalhães, nãoobstante desprovido de grandes re-cursos, atraiu para a sua beneméri-ta obra o concurso de devotadosidealistas, assim assegurando, como indispensável sustento do Alto, acontinuidade de um serviço digno

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Henrique Magalhães – desencarnação

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do venerando Espírito que o haviainspirado – Maria de Nazaré, aMãe de Jesus.

O querido companheiro aindaencontrava tempo, em meio a umaintensa atividade, para escrever li-vros com que edificasse as novas ge-rações e as atraísse para a Seara doMestre, tendo saído de sua pena asobras A Casa da Mãe Pobre – 50anos de Amor, 1991; Como Fun-dar e Manter Obras Assistenciais,1995; Em Prol da Mediunidade –Pequena História do Espiritismo,1998.

A Conferência Espírita Brasil--Portugal (16 a 19/3/2000) pres-tou-lhe sentida homenagem, porocasião do seu centenário de nasci-mento, quando, por iniciativa deFrancisco Bispo dos Anjos, a Fede-ração Espírita do Estado da Bahiapublicou um folheto em que, entreoutros textos, figuram dados bio-gráficos de nosso homenageado.Também a Federação Espírita Bra-sileira, em júbilo pelo grato evento,dedicou-lhe, em Reformador de no-vembro daquele ano, o artigo “Hen-rique Magalhães no seu Centená-rio”, de cujos informes biográficosnos servimos para a presente notícia.

Henrique Magalhães semprefoi um inestimável amigo da Fede-ração Espírita Brasileira, tendo co-laborado para a construção da SedeCentral, em Brasília (DF), e do De-partamento Gráfico, no bairro deSão Cristóvão, no Rio de Janeiro(RJ), para não falar do serviço silen-cioso e fiel, de todos os dias, emprol dos ideais que norteiam os des-tinos da Casa de Ismael na Terra.Foi membro de seu Conselho Fiscaldurante vinte anos, membro de seuConselho Superior desde 1975 e re-presentante do Ceará no Conselho

Federativo Nacional, de 1951 a1985.

Já no fim de sua existência,Henrique Magalhães, carregando asnaturais limitações que a idade lheimpunha, afirmava feliz: “E conti-nuo trabalhando, com a graça deDeus”, com que oferecia a seus ir-mãos de lutas terrenas uma profun-da lição de bom ânimo e de perse-verança no bem.

Agora, liberado do cárcere físi-co, no pleno uso de sua liberdadeespiritual e animado pelo mesmoideal a que consagrou a sua vida in-teira, nosso irmão certamente terá

reafirmado, tanto às legiões lumino-sas que o aguardavam nas regiõesfelizes do mundo espiritual, comoaos pequeninos aos quais serviucom o seu inquebrantável amor, ocompromisso com Jesus, dizendo--lhes: “E continuarei trabalhando,meus irmãos, sempre com a graçade Deus!”

Deus o ilumine e ampare,Henrique Magalhães, caro Irmão eCompanheiro de Ideal Espírita, sãoos votos sinceros de todos os que naTerra pudemos desfrutar de suaamizade, de sua generosidade, deseu amor fraternal!

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Realizou-se na Sede Seccional da Federação Espírita Brasileira (Aveni-da Passos, 30 – Rio de Janeiro), às 16 horas do dia 8 de agosto, umapalestra pública de Divaldo Pereira Franco, comemorativa do Bicentenáriode Nascimento de Allan Kardec.

Na ocasião, Divaldo autografou o livro Impermanência e Imortali-dade, por ele psicografado, do Espírito Carlos Torres Pastorino, editadopela FEB.

Homenagem a Kardec na FEB/Rio

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Transcrevemos abaixo impor-tante manifestação do médiumDivaldo Pereira Franco, porta-

dora de singular alento aos que têmtrabalhado em favor do Esperantonos círculos espíritas. A inspiradapalavra de nosso irmão destaca, deforma assás inequívoca, o objetivoúltimo de toda a movimentação de-senvolvida em torno da genial cria-ção de Lázaro Luís Zamenhof, que éo de adotar o Esperanto como lín-gua para as relações internacionaisdos membros da crescente famíliaespírita mundial. E os primeiros pas-sos para que tão significativa con-quista venha um dia a se concretizardeverão efetivamente ser dados noórgão que coordena as relações in-ternacionais dos movimentos espíri-tas disseminados pelo mundo.

Nosso companheiro, sempresob alta inspiração, destaca o papeluniversalista da Doutrina Espírita areviver o puro Cristianismo que,implantando a universal linguagemdo Amor, promove a gradual des-truição das diversas barreiras quetêm separado os homens, inclusivea barreira dos idiomas, tanto maisrenitente quanto mais enraizada,mais cultivada e, por isso mesmo,menos sentida, não obstante consti-tuir-se em um dos mais resistentes

obstáculos ao franco progresso, ma-terial e espiritual, da Humanidade.E, sem dúvida alguma, o instru-mento para destruir essa barreira é oEsperanto, o único idioma apto àspráticas universalistas, implícitas eexplícitas no ideário espírita.

As palavras de Divaldo sãooportunas neste momento, quandoo Conselho Espírita Internacionalpromove, em outubro próximo, o 4o

Congresso Espírita Mundial.

Pronunciamento de DivaldoP. Franco para o Boletim no 1

do CEI – Europa (1998)

“Mais uma vez constatamos aexcelência da programática esta-belecida pela Divindade no mo-mento em que a comunidade eu-ropéia se levanta para apresentar aomundo o eurodólar, demonstrandoa necessidade de um intercâmbiomais profundo entre os países.

Depois de realizado o Conse-lho Econômico Internacional denatureza européia, os Espíritos doSenhor programam o Conselho Es-pírita Internacional através do qualé possível unir os espíritas dos di-versos países em torno da mesmabandeira da fraternidade.

Esse trabalho de coordenaçãotem por meta essencial unificar ca-da vez mais os espíritas, aproxi-mando-os nos diferentes países coma língua internacional do amor, re-

programada por Allan Kardec e vei-culada pelo pensamento de Jesus.

A Coordenação de Apoio doMovimento Espírita Europeu tempor meta contribuir de maneira efi-caz para que as diretrizes da Dou-trina Consoladora sejam viven-ciadas por todos os núcleos que jáexistem ou que venham a surgir nocontinente europeu, fazendo comque em breve em todo o mundo alíngua do vero Cristianismo resta-belecido pela Doutrina Espírita se-ja o idioma real dos corações, des-pertando as nações para uma eramelhor quando o mundo natural-mente estará melhor.”

Sobre as dificuldades na comu-nicação entre as diferentes lín-

guas dos países que compõem oConselho Espírita Internacional

“Para dirimir dificuldade destanatureza o Senhor da Vida provi-denciou que se reencarnasse emBialistok, na Polônia, o emérito Es-pírito Lázaro Ludovico Zamenhof,que percebendo na cidade em quevivia, as disparidades lingüísticas eos ódios raciais que se derivavam daintolerância ancestral, construiu,por inspiração superior, o idiomaEsperanto.

Apesar das vicissitudes experi-mentadas, da intolerância paterna,Zamenhof não desanimou e brin-dou o mundo com a língua neutra

A FEB E O ESPERANTO

Divaldo Pereira Franco e o EsperantoAffonso Soares

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internacional, através da qual se po-dem comunicar os homens semmaior sacrifício, estudando e preser-vando as raízes pátrias mediante oidioma nacional e estudando a lín-gua auxiliar, que seria o laço pro-fundo da fraternidade entre todas asnações.

O eminente professor IsmaelGomes Braga, oportunamente as-severou que o Espiritismo é o Es-perantismo das Religiões e que oEsperanto é o Espiritismo das Lin-guagens. Através desta perfeita iden-tificação não será de duvidar-se que,em breve, os membros do Conse-lho Espírita Internacional (...) este-jamos reunidos falando a línguaEsperanto para melhor nos enten-dermos sem que tenhamos de en-frentar os obstáculos das tradu-ções, as dificuldades opinativas,apresentadas, muitas vezes pelos in-térpretes, que não conheçam osidiomas em que se devem expressare menos ainda o conteúdo doutri-nário.......................................................

Os idiomas ainda são paredesinvisíveis que bloqueiam o inter-câmbio entre os povos. Com o Es-peranto ruem essas barreiras e nospoderemos melhor entender com alinguagem da Doutrina Espírita ea do Esperanto, podendo levar amensagem a todo mundo, com aautenticidade que verteu do alto ede que Allan Kardec se fez o emi-nente Codificador. Merece que nosrecordemos que tanto o Esperantocomo o Espiritismo vieram pratica-mente na mesma hora, com menosde 25 anos de diferença, para queambas as mensagens alcançassem omundo, estabelecendo a era da ver-dadeira fraternidade e da libertaçãode consciência.”

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Os fatalistas dizem que sim.Que Deus escreve de ante-mão todos os fatos de nossas

vidas. Mas para que admitíssemosessa teoria teríamos que admitirtambém que:

1) Deus então seria o únicoresponsável por todas as coisas másque há no mundo, incluindo osatos nefandos do pior criminoso.Seriam todos expressão de sua von-tade e escolha.

2) Se Deus fosse o autor domal, não se poderia atribuir culpanem pecado a ninguém. Logo, nãose poderia falar em castigo ou con-denação de qualquer espécie.

3) Se nós não temos o direitode fazer escolhas, qual seria a utili-dade das revelações religiosas quenos exortam ao arrependimento e àreconsideração de nossos atos?

4) Se somos o enredo de umahistória já escrita, não há sentidoem ter fé, já que nada do que ve-nhamos a fazer ou tentar mudaráuma só linha da vida que estamosfadados a viver.

5) Se Deus é o responsável pe-la sorte das criaturas é também odispensador dos privilégios e prejuí-zos que se evidenciam desde o nas-cimento, facilitando a vida de unse dificultando a vida de outros semum motivo justo.

Se nós não somos os responsá-veis por nossas ações, nada nos po-derá ser cobrado em termos de beme mal, erro e acerto, virtude e im-perfeição.

Mas como isso não faz o me-nor sentido, uma vez que sabemospor experiência que nossos atos tra-zem sempre uma conseqüência pre-visível, direcionável portanto segun-do escolhas pessoais, estamos livresde pensar que nossas inteligênciassão inúteis. Sempre será possível in-terferir criativamente no processoexistencial, e essa é a expressão cla-ra e lúcida da vontade de Deus.

Por conseqüência, podemoslutar para superar adversidades, pa-ra alterar o rumo de circunstânciasindesejáveis, estamos liberados pa-ra sonhar e fazer projetos para o fu-turo. Podemos nos empenhar emconcretizar esses projetos, podemoscrer nas possibilidades que temosem mente, podemos lançar mão dafé como reforçador de nosso âni-mo.

Tudo que precisamos ter emmente, em relação ao tema, é queDeus não nos “fabricou” comoquem lança uma linha de robôssem vontade própria. Não. Ao ho-mem Ele concedeu a liberdade pa-ra aprender com o resultado de suasações, e descobrir aos poucos o ver-dadeiro sentido da vida. Como de-terminismo de sua Divina vontade,ficou para nós o existir, e existirnesse Universo maravilhoso quenos foi dado por moradia pela eter-nidade afora.

O destino está escrito?Ronaldo Miguez

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30 Reformador/Setembro 2004

Avolta do Espírito ao mundocorpóreo é conhecida desdetempos remotos. Os egípcios,

os hindus e os gregos sabiam que aalma poderia voltar à Terra, usandoum novo corpo. Esses povos acredi-tavam que, por efeito de determina-da punição, essa volta à vida físicapoderia dar-se até num corpo ani-mal.

Também os judeus sabiam davolta do Espírito ao mundo corpó-reo, mas não há referências que ad-mitissem pudesse esse retorno dar--se num corpo que não fosse huma-no. A reencarnação, para eles, ocor-ria em algumas situações um tantoespeciais: ou para concluir o quenão tivessem conseguido terminarnuma vida, ou para serem punidos,em face de males praticados. Quan-do o doutor da lei perguntou aJesus: “Mestre, que farei para her-dar a vida eterna?” 1, não estaria elequerendo que Jesus lhe ensinasse al-guma fórmula especial, uma espé-cie de atalho, que o desobrigasse devoltar à Terra, numa nova encarna-ção? É difícil imaginar que o dou-tor da lei estivesse se referindo à ob-tenção da imortalidade, pois osjudeus tinham convicção profunda

a esse respeito. Tudo indica que elepretendia lhe ensinasse Jesus umprocedimento que o livrasse do re-torno aos trabalhos do mundo, co-mo acontece ainda hoje com pes-soas que, ao se inteirarem dareencarnação – sem levarem emconta a necessidade evolutiva –, so-licitam expedientes que lhes possi-bilitem não terem mais que voltar àTerra...

Há outra situação em que osjudeus julgavam ser possível a reen-carnação: o cumprimento de mis-são. O exemplo mais claro é o daesperada volta do Profeta Elias paraa preparação dos caminhos do Mes-sias, conforme atesta o próprio Mes-tre: “E, se quereis dar crédito, é es-te o Elias que havia de vir”2, re-ferindo-se a João Batista.

Coube ao Espiritismo trazer oconhecimento da reencarnação aomundo ocidental, e o fez dandouma visão muito mais ampla e pro-funda, demonstrando que todos osEspíritos reencarnam, não apenaspara a solução de equívocos de umavida passada, ou para o cumpri-mento de determinada missão, maspela necessidade inerente a toda aCriação: o imperativo do progresso,da evolução.

Em verdade, ainda que nãohouvesse nenhuma afirmação a res-peito da pluralidade das existências,ela seria depreendida como necessi-

dade absoluta, em face da ampli-tude do programa de aperfeiçoa-mento da alma apresentado porJesus, através do Evangelho. Dequantos milênios vamos necessitarpara pormos em prática, integral-mente, um ensinamento como es-se: “Eu, porém, vos digo: Amai osvossos inimigos; fazei o bem aosque vos odeiam, e orai pelos quevos perseguem e caluniam.”3 Dequantos milênios vamos necessitar,nós Espíritos ainda vacilantes entreo bem e o mal, que não sabemosamar plenamente nem os amigos?O Codificador demonstra sua visãolúcida a respeito do assunto, quan-do inquire os Espíritos: “Como po-de a alma, que não alcançou a per-feição durante a vida corpórea,acabar de depurar-se?”4

A reencarnação – opondo-sefrontalmente à salvação gratuita pe-la fé – dignifica o Espírito imortal,que vai galgando os degraus doaperfeiçoamento ao longo dos milê-nios sucessivos, crescendo em senti-mento e intelectualidade, num tra-balhoso processo de exteriorizaçãoda herança divina, concedida igual-mente a todos os Espíritos. No nas-cedouro, todos absolutamente iguais.As diferenças individuais, portanto,não decorrem de capricho divino,mas sim do empenho de cada Espí-rito no sentido de promover o seupróprio progresso. Nesse caminhar,

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A Reencarnação na visão espírita

José Passini

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vai recebendo, por justiça, os frutosde todo o bem semeado, e, em fun-ção dessa mesma justiça, é compeli-do a reparar os males praticados,mas não em igual medida, graças àmisericórdia divina.

O Espiritismo, ao revelar aomundo ocidental a reencarnação,prova que a verdade religiosa não éincompatível com a verdade cientí-fica, explicando que a evolução doEspírito caminha pari passu com aevolução física demonstrada porDarwin, ao tempo em que resgatadiante da consciência humana umdos atributos básicos de um SerPerfeito: a Justiça. Tudo provém deuma mesma fonte, todos partimosde um mesmo ponto, dotados damesma potencialidade evolutiva,conforme ensinaram os Espíritos:“(...) É assim que tudo serve, tudose encadeia na Natureza, desde oátomo primitivo até o arcanjo, quetambém começou por ser átomo(...).”5 Por conhecer essa luz divina,imanente em toda a criação, é queJesus lançou o desafio evolutivo:“Assim resplandeça a vossa luz dian-te dos homens (...).”6

A evolução do Espírito ficamuito evidente nas palavras de Je-sus: “Na verdade, na verdade vosdigo que aquele que crê em mimtambém fará as obras que eu faço, eas fará maiores do que estas (...).”7

Kardec, em brilhante ensaio8,defende, com argumentação irretor-quível, o imperativo da reencarnaçãosob a ótica da justiça e da misericór-dia de Deus. É um trabalho monu-mental, até hoje não contestado porfilósofo ou teólogo algum. Muitos li-vros foram escritos tendo como temaa reencarnação, mas não se conhecenenhum trabalho sério que rebata osargumentos ali apresentados.

Aos argumentos alinhados pe-lo Codificador, pode-se ainda acres-centar uma série de outros, graçasaos esclarecimentos trazidos peloEspiritismo:

Se o Espírito fosse criado jun-tamente com o corpo, como ficariaa Justiça Divina ante a flagrante di-ferença que existe entre as oportu-nidades deferidas ao homem e àmulher, na família, na sociedade eaté mesmo nas religiões? Seria o ca-so de a mulher perguntar – e mui-tas perguntam – por que Deus ascriou mulheres, sem as consultar,para sofrerem, em muitos casos,cerceamento de liberdade por partedos pais, e depois as exigências e,não raro, a brutalidade dos mari-dos, enquanto lhes pesam nos om-bros as sérias responsabilidades noencaminhamento e na manutençãoda saúde dos filhos? O Espiritismo,dentro de uma visão evolucionista,mostra que o Espírito não tem se-xo, podendo encarnar-se como ho-mem ou como mulher, segundo oseu livre-arbítrio.

De acordo com a doutrina daunicidade das existências, a criaçãode novas almas não seria decorren-te da vontade do Criador, mas esta-ria sujeita ao arbítrio dos casais,pois que poderiam usar um contra-ceptivo, impedindo Deus de usar oSeu poder de criar uma nova alma.O Espiritismo nos ensina que, aousar qualquer recurso anticoncep-cional, um casal apenas impede queum Espírito, já criado por Deus,que já se encarnou outras vezes, vol-te à Terra para uma nova etapa deaprendizagem.

No caso de um estupro, porque se valeria Deus de um ato deviolência, de ultraje, de desrespei-to, para criar um Espírito? Onde

estaria a Justiça Divina, se outrossão criados, ao contrário, em mo-mentos de amor sublime, como fi-lhos altamente desejados? Por queteria esse Espírito, fruto de umaviolência, de ficar estigmatizadopor toda a Eternidade? Através dosesclarecimentos da Doutrina Espí-rita, sabe-se que o acontecimentobrutal que se deu tem causas ante-riores, e que o Espírito que se reen-carna, aceitando ou sendo compe-lido a aceitar uma tal situação, temligações de natureza vária, estabe-lecidas no passado, principalmentecom aquela que lhe será mãe.

Se não houvesse experiênciasanteriores, como explicar a rebeldia,a brutalidade, o mau-caráter de umfilho que tem toda uma ancestrali-dade constituída de pessoas dignas?Alguém poderá objetar, dizendoque é herança genética de um pa-rente longínquo. Mas que culpatêm os pais? Por que Deus permiti-ria que esses gens danosos entras-sem na formação daquela alma? Aprosperar essa idéia, chegar-se-ia aoabsurdo de, no esforço de impedirDeus de criar Espíritos de mau-ca-ráter, dever-se-ia esterilizar todos osque não fossem portadores de vir-tudes. Seria assim fácil “aperfeiçoar”a raça humana, como pretenderam,no campo físico, os cultores da lou-ca teoria da raça pura.

O Espiritismo esclarece queninguém herda inteligência, virtu-des ou defeitos morais, por serematributos do Espírito, que os trazcomo bagagem própria, intransfe-rível quando reencarna. Se um ca-sal tem um filho que lhes nega as li-nhas morais da família, trata-se deum Espírito que foi por eles adota-do, em função do desejo de auxiliá--lo, ou o receberam como conse-

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qüência de um passado compro-metido com ele, “(...) porquanto oEspírito já existia antes da formaçãodo corpo”.9 Dentro dessa linha deraciocínio, chega-se à conclusão deque todos os filhos são adotivos, en-quanto Espíritos criados por Deus.O casal apenas “fornece o invólucrocorporal.”9 Diga-se, de passagem,que, para um ajustamento de lin-guagem, dever-se-ia dizer: filhosconsangüíneos e não-consangüíneos.

A doutrina reencarnacionista éa única que não é racista, pois de-monstra que Deus não seria justo secriasse um Espírito imortal dentrode uma raça. O Espírito é criadopor Deus e evolui, passando pelahumanização, no processo de ange-lizar-se. Ao humanizar-se, encarna--se inúmeras vezes, nas mais variadasraças, mas seu início, sua criaçãonão está vinculada a grupo étniconenhum. A bem dizer, todos os Es-píritos pertencemos a uma única ra-ça, pertencemos à raça divina, por-que somos filhos de Deus.

A doutrina das penas eternas éextremamente inconsistente e nãoresiste a um exame sério, porque,segundo ela, a misericórdia de Deusseria inferior à de suas próprias cria-turas, incapaz de resgatar um filhoque errou. Segundo esse ponto devista, Deus seria menos misericor-dioso do que um pai terreno decen-te que, malgrado a sua imperfei-ção, socorre o filho perdido que pe-de perdão e amparo. Pode a bonda-de de um pai terreno ser maior quea do Criador? (Lucas, 15:11-32). Aesse respeito, é pertinente sejamlembrados ensinamentos de Jesus,quando compara o pai terreno como Pai Celestial (Mateus, 7:9-11).

Por outro lado, se Deus é infi-nitamente misericordioso, como se

dará o seu perdão? Deus simples-mente apagaria as culpas daqueleque errou, esquecendo-as? Neste ca-so Ele não seria justo, pois agiria domesmo modo em relação à virtudee ao crime.

O Espiritismo ensina que operdão divino significa uma novaoportunidade ao Espírito falido dereconstruir tudo o que ele prejudi-cou, danificou, destruiu. Isto é, opecador deve fazer o bem em igualmedida ao mal anteriormente feito.Não se trata, entretanto, de puni-ção, mas de ação educativa. Essaposição está em perfeito acordocom a afirmativa “(...) porque oamor cobre a multidão de peca-dos.” (I Pedro, 4:8.)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1Lucas, 10:25.

2Mateus, 11:14.

3Mateus, 5:44.

4KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 83.

ed., Rio de Janeiro, FEB: 2002, item 166.

5––––––. item 540

6Mateus, 5:16.

7João, 14:12.

8KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 83.

ed., Rio de Janeiro: FEB, 2002, item 222.

9––––––. O Evangelho segundo o Espiritismo.

123. ed., Rio de Janeiro: FEB, 2004, cap. XIV,

item 8.

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LeiReencarnação!... Descer de mansão doce e flórea,Ninho tecido aos sóis qual fúlgida escumilha,Onde a vida pompeia excelsa maravilha,E afundar-se na sombra em lodacenta escória!

Ante o ser livre e belo – ave aos cimos da glória –Recorda o corpo escravo ascorosa armadilha;O berço – irmão do esquife – é a furna em que se humilhaTodo sonho ideal de ventura incorpórea.

Reencarnação, porém, é a Justiça Perfeita,A Lei que esmonda, ampara, aprimora e endireita,Por mais o coração inquira, chore ou trema!...

Alma, entre a lama e a dor da luta em que te abrasas,Crias teu próprio mundo e as tuas próprias asasPara galgar, um dia, a vastidão suprema!...

Constâncio Alves

Fonte: XAVIER, Francisco C. Poetas Redivivos. Diversos Espíritos. 3. ed., Rio deJaneiro: FEB, 1994, cap. 32, p. 57.

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Aexpiação implica necessaria-mente a idéia de um castigomais ou menos penoso, resul-

tado de uma falta cometida; a pro-va implica sempre a de uma inferio-ridade real ou presumida, porquan-to, aquele que chegou ao ponto cul-minante a que aspira, não mais ne-cessita de provas. Em certos casos,a prova se confunde com a expia-ção, isto é, a expiação pode servir deprova, e reciprocamente. O candi-dato que se apresenta para receberuma graduação, passa por uma pro-va. Se falhar, terá de recomeçar umtrabalho penoso; esse novo trabalhoé a punição da negligência queapresentou no primeiro; a segundaprova torna-se, assim, uma expia-ção. Para o condenado a quem sefaz esperar um abrandamento ouuma comutação, se bem se condu-zir, a pena é, ao mesmo tempo,uma expiação por sua falta e umaprova para sua sorte futura. Se, àsua saída da prisão, não estiver me-lhor, a prova é nula e um novo cas-tigo desencadeará uma nova prova.

Considerando-se, agora, o ho-mem na Terra, vemos que ele aí su-porta males de toda a sorte, muitasvezes cruéis. Esses males têm umacausa. Ora, a menos que os atribua-mos ao capricho do Criador, somosforçados a admitir que a causa este-

ja em nós mesmos, e que as misé-rias que experimentamos não po-dem ser o resultado de nossas vir-tudes; portanto, têm sua fonte nasnossas imperfeições. Se um Espíri-to encarnar-se na Terra em meioà fortuna, honras e todos os praze-res materiais, poder-se-á dizer quesofre a prova do arrastamento; parao que cai na desgraça por sua máconduta ou imprevidência, é a ex-piação de suas faltas atuais e podedizer-se que é punido por ondepecou. Mas que dizer daquele que,desde o nascimento, está em lutacom as necessidades e as privações,que arrasta uma existência miserá-vel e sem esperança de melhora,que sucumbe ao peso de enfermida-des congênitas, sem nada ter feito,ostensivamente, para merecer talsorte? Quer seja uma prova, ouuma expiação, a posição não é me-nos penosa e não seria mais justa doponto de vista do nosso correspon-dente, porquanto, se o homem nãose lembra da falta, também não selembra de haver escolhido a prova.Tem-se, assim, de buscar alhures asolução da questão.

Como todo efeito tem umacausa, as misérias humanas são efei-tos que devem ter uma causa; se es-ta não estiver na vida atual, deve es-tar numa vida anterior. Além disso,admitindo a justiça de Deus, taisefeitos devem ter uma relação maisou menos íntima com os atos pre-cedentes, dos quais são, ao mesmotempo, castigo para o passado e

prova para o futuro. São expiaçõesno sentido de que são conseqüênciade uma falta, e provas em relação aoproveito que delas se retira. Diz-nosa razão que Deus não pode ferir uminocente. Se, pois, formos feridos, éque não somos inocentes: o malque sentimos é o castigo, a maneirapor que o suportamos é a prova.

Mas acontece, muitas vezes,que a falta não se acha nesta vida.Então se acusa a justiça de Deus,nega-se a sua bondade, duvida-semesmo de sua existência. Aí, preci-samente, está a prova mais escabro-sa: a dúvida sobre a divindade.Quem quer que admita um Deussoberanamente justo e bom devedizer que ele não pode agir senãocom sabedoria, mesmo naquilo quenão compreendemos e, se sofremosuma pena, é porque o merecemos;é, pois, uma expiação. O Espiritis-mo, pela grande lei da pluralidadedas existências, levanta completa-mente o véu sobre o que esta ques-tão deixava no escuro. Ele nos ensi-na que se a falta não foi cometidanesta vida, o foi numa outra e, des-te modo, que a justiça de Deus se-gue o seu curso, punindo-nos poronde havíamos pecado.

A seguir vem a grave questãodo esquecimento que, segundo onosso correspondente, tira aos ma-les da vida o caráter de expiação. Éum erro. Dai-lhe o nome que qui-serdes: jamais fareis que não sejama conseqüência de uma falta. Se oignorais, o Espiritismo vo-lo ensi-

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PÁGINAS DA REVUE SPIRITE

Sobre a expiação e a prova

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na. Quanto ao esquecimento dasfaltas em si, não tem as conseqüên-cias que lhe atribuis. Temos de-monstrado alhures que a lembran-ça precisa dessas faltas teria incon-venientes extremamente graves,uma vez que nos perturbaria, noshumilharia aos nossos própriosolhos e aos do próximo; trariam umaperturbação nas relações sociais e,por isto mesmo, entravaria o nossolivre-arbítrio. Por outro lado, o es-quecimento não é tão absolutoquanto se supõe; ele só se dá na vi-da exterior de relação, no interesseda própria Humanidade; mas a vi-da espiritual não sofre solução decontinuidade. Quer na erraticida-de, quer nos momentos de emanci-pação, o Espírito se lembra perfei-tamente e essa lembrança lhe deixauma intuição que se traduz pela vozda consciência, que o adverte doque deve ou não deve fazer. Se nãoa escuta, é, pois, culpado. Além dis-so, o Espiritismo dá ao homem ummeio de remontar ao seu passado,se não aos atos precisos, pelo menosaos caracteres gerais desses atos, queficaram mais ou menos desbotadosna vida atual. Das tribulações quesuporta, das expiações e provas de-ve concluir que foi culpado; da na-tureza dessas tribulações, ajudadopelo estudo de suas tendências ins-tintivas e apoiando-se no princípiode que a mais justa punição é aconseqüência da falta, ele pode de-duzir seu passado moral; suas ten-dências más lhe ensinam o que res-ta de imperfeito a corrigir em si. Avida atual é para ele um novo pon-to de partida; aí chega rico ou po-bre de boas qualidades; basta-lhe,pois, estudar-se a si mesmo para vero que lhe falta e dizer: “Se sou pu-nido, é porque pequei”, e a própria

punição lhe dirá o que fez. Citemosuma comparação:

Suponhamos um homem con-denado a tantos anos de trabalhosforçados, sofrendo um castigo espe-cial mais ou menos rigoroso, deacordo com a sua falta; suponha-mos, ainda, que ao entrar na cadeiaperca a lembrança dos atos que pa-ra lá o conduziram. Poderá dizer:“Se estou na prisão, é que sou cul-pado, porquanto aqui não se põegente virtuosa. Tratemos, pois, deficar bom, para não voltarmosquando daqui sairmos.” Quer elesaber o que fez? Estudando a lei pe-nal, saberá quais os crimes que pa-ra ali conduzem, porque ninguém

é posto a ferros por uma levian-dade. Da duração e da severidadeda pena, concluirá o gênero dos quedeve ter cometido. Para ter umaidéia mais exata, terá apenas de es-tudar aqueles para os quais irá sen-tir-se instintivamente arrastado. Sa-berá, então, o que deve evitar daíem diante para conservar a liberda-de, e a isso será ainda estimuladopelas exortações dos homens debem, encarregados de o instruir e odirigir no bom caminho. Se nãoo aproveitar, sofrerá as conseqüên-cias. Tal a situação do homem naTerra, onde, tanto quanto o grilhe-ta, não pode ter sido posto por suas

perfeições, considerando-se que éinfeliz e obrigado a trabalhar. Deuslhe multiplica os ensinamentos deacordo com o seu adiantamento;adverte-o incessantemente e chegamesmo a feri-lo, para o despertar deseu torpor, e aquele que persiste noendurecimento não pode descul-par-se com sua ignorância.

Em resumo, se certas situaçõesda vida humana têm, mais particu-larmente, o caráter das provas, ou-tras têm, de modo incontestável, odo castigo, e todo castigo pode ser-vir de prova.

É um erro pensar que o caráteressencial da expiação seja o de serimposta. Vemos diariamente na vi-da expiações voluntárias, sem falardos monges que se maceram e sefustigam com a disciplina e o cilí-cio. Nada há, pois, de irracional emadmitir que um Espírito, na errati-cidade, escolha ou solicite uma exis-tência terrena que o leve a repararseus erros passados. Se tal existêncialhe tivesse sido imposta, não teriasido menos justa, apesar da ausên-cia momentânea da lembrança, pe-los motivos acima desenvolvidos.As misérias da Terra são, pois, ex-piação, por seu lado efetivo e mate-rial, e provas, por suas conseqüên-cias morais. Seja qual for o nomeque se lhes dê, o resultado deve sero mesmo: o melhoramento. Empresença de um objetivo tão impor-tante, seria pueril fazer de um jogode palavras uma questão de princí-pio. Isto provaria que se dá maisimportância às palavras que à coisa.

Allan Kardec

Fonte: Revue Spirite (Revista Espírita) –setembro de 1863, transcrição parcial.Tradução de Evandro Noleto Bezerra.

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É um erro pensar

que o caráter

essencial da

expiação seja

o de ser imposta

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Campo Grande se-diou a Reunião Ordi-nária de 2004 da Co-missão Regional Cen-tro, do Conselho Fede-rativo Nacional, no pe-ríodo de 25 a 27 de ju-nho, com a presença detodas as Federativas daRegião: Federação Espí-rita do Distrito Federal(9 participantes), Fede-ração Espírita do Esta-do do Espírito Santo(8), Federação Espíritado Estado de Goiás (9),Federação Espírita doEstado de Mato Grosso (11), Fede-ração Espírita de Mato Grosso doSul (9), União Espírita Mineira (7)e Federação Espírita do Estado doTocantins (7). A equipe da FEBcompareceu com o Presidente emais 14 membros. Como convida-do, esteve presente Eduardo Nani,

Presidente da Federação EspíritaBoliviana. Total de participantes: 76(mais a equipe de apoio).

Sessão de Abertura

Realizou-se na noite de sexta--feira, 25 de junho, a Reunião de

Abertura, no Centro Espírita Dis-cípulos de Jesus – sede de todos ostrabalhos da Comissão. A Presiden-te da Federação Espírita de MatoGrosso do Sul, Maria Túlia Berto-ni, abriu os trabalhos e saudou oscomponentes das Federativas visi-tantes, passando a direção ao Presi-

dente da FEB, Nestor JoãoMasotti, que fez a prece ecumprimentou os mem-bros das Federativas e osconfrades do Estado an-fitrião. A palestra pública,comemorativa do Bicente-nário de Nascimento deAllan Kardec, foi proferidapela confreira Maria ClaraSilva de Rezende Valle,que ressaltou o trabalhomissionário de Allan Kar-dec como codificador daDoutrina Espírita – novo

FEB/CFN - COMISSÕES REGIONAIS

Reunião da Comissão Regional Centro

Mesa da Sessão Plenária: Palavra do Presidente da FEB

Reunião dos Dirigentes: Aspecto parcial

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paradigma para a Humanidade naedificação do Mundo de Regene-ração. Representantes da Cruzadados Militares Espíritas, da Associa-ção de Divulgadores do Espiritismode Mato Grosso do Sul e da Asso-ciação Médico-Espírita (AME/Sul)prestigiaram o evento, que contoucom numerosa assistência.

Reunião Geral

Em seqüência à Sessão deAbertura, teve início a Reunião Ge-ral, quando o Coordenador prestouinformações sobre a Pauta dos tra-balhos da Comissão e procedeu àapresentação individual dos seusparticipantes, suspendendo os tra-balhos, para serem retomados namanhã de sábado, com as seguin-tes reuniões setoriais: a) dos Diri-gentes; b) das Áreas de AtividadeMediúnica, Comunicação SocialEspírita, Estudo Sistematizado daDoutrina Espírita, Infância e Juven-tude, Serviço de Assistência e Pro-moção Social Espírita e Atendimen-to Espiritual no Centro Espírita.

Reunião dos Dirigentes

Realizou-se no sábado, dia 26,com os seguintes participantes: pe-

la Federação Espírita Brasileira –Nestor João Masotti (Presidente),Altivo Ferreira (Coordenador) eAntonio Cesar Perri de Carvalho(Secretário, na ausência justificadade Umberto Ferreira); pelas Federa-tivas Estaduais: Distrito Federal –César de Jesus Moutinho (FEDF,Representante); Espírito Santo –Dalva Silva Souza (FEEES, Presi-dente); Goiás – Weimar Muniz deOliveira (FEEGO, Presidente); Ma-to Grosso – Lacordaire AbrahãoFaiad (FEEMT, Presidente); MatoGrosso do Sul – Maria Túlia Berto-ni (FEMS, Presidente) e JeronymoGonçalves da Fonseca, Presidentedo Centro Espírita Discípulos deJesus; Minas Gerais – HonórioOnofre de Abreu (UEM, Presiden-te); e Tocantins – Leila Ramos

(FEETO, Presidente). Como convi-dado, Eduardo Nani, Presidente daFederação Espírita Boliviana, alémde vários diretores e assessores dasFederativas.

Após a prece de abertura, a dis-cussão e aprovação da Ata da reu-nião anterior, foi feita a exposiçãosobre o andamento do curso “Ca-pacitação Administrativa para Diri-gentes de Casas Espíritas”, coorde-nada por Cesar Perri. Os Dirigen-tes relataram as providências adota-das em seus Estados, verificando-seque em todas as Federativas a Capa-citação está funcionando, sendoque, em algumas, o curso já alcan-çou os Centros Espíritas. O coorde-nador teceu considerações gerais so-bre os relatos e acerca do andamen-to do projeto nas demais Regiõesdo País. O Presidente da FEB enal-teceu o trabalho em andamento ereferiu-se à relação entre a gestãoadminstrativa, o atendimento à le-gislação da área assistencial e a par-ticipação nos Conselhos Estaduaise Municipais.

O assunto da reunião – “Co-mo preparar o Centro Espírita paraatender à família e integrá-la nassuas atividades” (avaliação da imple-mentação do projeto corresponden-te foi comentado e debatido pelos

Aspecto parcial da reunião do ESDE

Aspecto parcial da reunião do SAPSE

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Dirigentes, verificando-se que emtoda a Região foi dada ênfase aoatendimento à Família, com a rea-lização de encontros e cursos paratrabalhadores espíritas, criação, nasFederativas, de departamentos ouórgãos específicos voltados para afamília, ação educativa de combateàs drogas e reativação das Campa-nhas “Viver em Família” e “Em de-fesa da Vida”. O Presidente Nestorpropôs que se incentive a prática doEvangelho no Lar e que se consti-tua uma comissão no âmbito da Se-cretaria Geral do CFN com o obje-tivo de reunir os esforços existentese de aprimorar e atualizar o projetoda Campanha “Viver em Família”.

Em Assuntos Diversos, as Fe-derativas relataram sua programa-ção comemorativa do Bicentenáriode Nascimento de Allan Kardec,com ampla divulgação através deoutdoors, folders, cartazes e outrosmateriais aprovados pelo ConselhoFederativo Nacional e fornecidospela FEB em forma de impressos ouCDs. A Federativa de Mato Grossopropôs à FEB a criação de umaCoordenadoria de Eventos, comabrangência das principais ativi-dades de todas as Federativas. AFEEGO expôs, em datashow, a suaorganização federativa, com osConselhos Regionais Espíritas e osEncontros Zonais, que abrangemvários CREs de cada Zona do Es-tado e os respectivos Centros Es-píritas.

A próxima reunião será realiza-da em Palmas (TO), no período de13 a 15 de maio de 2005, com osseguintes temas: “1. Exposição so-bre: 1.1. – Reavaliação da Campa-nha “Viver em Família”; 1.2 – Ava-liação sobre o andamento do curso“Capacitação Administrativa para

Dirigentes de Casas Espíritas”; “2.Avaliação das atividades-meio nasustentação do trabalho federativo”(assunto da reunião).

Sessão Plenária

A Reunião Geral foi reiniciadana manhã de domingo, dia 27,com a Sessão Plenária. Proferida aprece de abertura, foram apresenta-dos os relatos das atividades desen-volvidas nas reuniões setoriais, dosquais destacamos:

Área da Atividade Mediúnica,coordenada por Marta Antunes deOliveira Moura, com o apoio deEdna Maria Fabro. Assunto da reu-nião: “Diálogo com os Espíritos”.Assunto para a próxima reunião:“Prática mediúnica: dificuldades esoluções – Critérios para a partici-pação na reunião mediúnica; O pa-pel da equipe de apoio; A posturaético-moral do participante; O per-fil do dirigente; As dificuldades daprática mediúnica; Reunião mediú-nica com Jesus e Kardec”.

Área da Comunicação SocialEspírita, coordenada por MerhySeba, com o apoio de Sônia ReginaFerreira Zaghetto. Assunto da reu-nião: “Kardec e a Comunicação So-cial Espírita: 1. Como entender a

CSE na visão de Kardec; 2. Difu-são, divulgação e proselitismo; 3. Otrabalhador espírita como mídia.”Assunto para a próxima reunião:Criatividade na Comunicação So-cial Espírita: da teoria à prática.

Área do Estudo Sistematizadoda Doutrina Espírita, coordenadapor Cecília Rocha, com o apoio deElzio Antônio Cornélio. Assunto dareunião: “Curso de Formação deMonitores”. Assunto para a próxi-ma reunião: “A interiorização doESDE: Estratégias; Resultados; Cen-so 2005”.

Área da Infância e Juventude,coordenada por Rute Vieira Ribei-ro, com o apoio de Miriam LúciaH. Masotti Dusi. Assunto da reu-nião: “Acompanhamento da execu-ção dos Projetos elaborados no IVEncontro Nacional de Diretores deDIJ”. Assunto para a próxima reu-nião: “Acompanhamento dos Pro-jetos elaborados no IV EncontroNacional de Diretores de DIJ: Apre-sentação de resultados; Avaliação;Próximas ações a serem desenvolvi-das”.

Área do Serviço de Assistênciae Promoção Social Espírita, coor-denada por José Carlos da Silva Sil-veira, com o apoio de Maria deLourdes Pereira de Oliveira. Assun-

Aspecto parcial da reunião do Atendimento Espiritual

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tos da reunião: “1. As Políticas Pú-blicas e a Assistência e PromoçãoSocial Espírita; 2. Sugestões de mo-delos de curso para elaboração deProjetos Sociais; 3. Experiências deprojetos sociais em sistemas de redee parcerias”. Assunto para a próxi-ma reunião: “Levantamento de in-formações sobre a utilização do Ma-nual do SAPSE pelos Centros Es-píritas”.

Área do Atendimento Espiri-tual no Centro Espírita, coordena-da por Maria Euny Herrera Masot-ti, com a colaboração de SuelyCaldas Schubert. Assunto da reu-nião: “Implantação do Atendimen-to Espiritual”. Assuntos para a pró-

xima reunião: “1. Atendimento Es-piritual do Adolescente e do Jovem– a família, o indivíduo e o meio; 2.Atendimento Espiritual da Infân-cia”.

Reunião dos Dirigentes: O re-lato dos principais assuntos tratadospelos Dirigentes foi efetuado porAntonio Cesar Perri de Carvalho,que secretariou esta reunião.

Concluídos os relatos, o Coor-denador concedeu a palavra aos Di-rigentes das Federativas, assim co-mo aos Presidentes da FederaçãoEspírita Boliviana e do Centro Es-pírita Discípulos de Jesus, para assuas considerações finais e despedi-das, cabendo ao Presidente Nestor

falar pela equipe da FEB. Foi ummomento de muita emoção, decor-rente do clima de fraternidade quereinou durante todos os dias do en-contro. A prece de encerramentofoi pronunciada por Leila Ramos,Presidente da FEETO, anfitriã daReunião de 2005.

Palestra de Suely Caldas

A Federação Espírita de MatoGrosso do Sul promoveu, na noitede sábado, dia 26, uma palestra deSuely Caldas Schubert, na sede doCentro Espírita Discípulos de Je-sus, com a presença de grandepúblico.

As comemorações do Bicentenário de Allan Kardecatingem seu auge com o 4o Congresso Espírita

Mundial, programado para o período de 2 a 5 deoutubro de 2004, em Paris. O evento é promovidopelo Conselho Espírita Internacional, com realizaçãoda União Espírita Francesa e Francofônica e execuçãoda Associação Kardec.

O Congresso será realizado na Maison de laMutualité (rue St. Victor, 24), em região central, nasproximidades da Sorbonne, e de fácil acesso, a umaquadra do Metrô Maubert-Mutualité.

Tendo por tema central “Allan Kardec – OEdificador de uma Nova Era para a Regeneração daHumanidade”, o programa desenvolve-se com mesas--redondas sobre as cinco principais obras do Codifi-cador, sobre a “Evolução do Movimento Espírita” e“Difusão da Doutrina Espírita” e as palestras de aber-tura e de encerramento a serem proferidas, respecti-vamente, por José Raul Teixeira e por Divaldo PereiraFranco. Para participação nas mesas-redondas já

estão confirmados: da Argentina: Juan AntonioDurante; Bélgica: Jean-Paul Evrard; Brasil: AlbertoAlmeida, Alexandre Sech, Altivo Ferreira, AntonioCesar Perri de Carvalho, César Soares dos Reis, Mar-lene Rossi Severino Nobre, Nestor João Masotti, Sér-gio Felipe de Oliveira; Canadá: Leo Gaudet; Colôm-bia: Fábio Villarraga; Espanha: Salvador Martin;França: Charles Kempf, Jérémie Philippe, Joel Ury,Karine Nguema, Michel Buffet, Michel Ponsardin,Roger Perez; Itália: Domenico Romagnolo; Panamá:Maria da Graça Simões de Ender; Portugal: ArnaldoCosteira. Haverá traduções simultâneas para ofrancês, português, espanhol, inglês e esperanto. Serámontada uma Exposição sobre a Vida e a Obra deAllan Kardec e outra sobre o Movimento Espírita noMundo e também uma livraria espírita internacional.

Participe. Leve a sua colaboração à difusão daDoutrina Espírita em todos os países. Informações edisponibilidade do programa completo: CEI – fone(61) 322-3024; Páginas eletrônicas: www.spiritist.org; www.spiritisme.org;[email protected]; Endereço eletrônico: [email protected]

Congresso homenageará

Allan Kardec

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José Dias Inocêncio nasceu nacidade do Rio de Janeiro, anti-go Distrito Federal, então capi-

tal do Brasil, aos oito dias de agos-to de 1920. Primogênito do casalde portugueses Felismina e JoaquimDias Inocêncio, à época residentesem Niterói (RJ), foi criado com ou-tros quatro irmãos.

Em 1941, por concurso públi-co, ingressou no Instituto de Apo-sentadoria e Pensões dos Industriá-rios (IAPI), sendo lotado no quadrode funcionários de Petrópolis (RJ).Convocado para treinamento porocasião da Segunda Guerra Mundial,desde logo passou a responder pelaCompanhia. Expedicionário comaguçado senso de observação, perce-beu que alguns companheiros de far-da se reuniam de maneira reservadae a eles procurou juntar-se, o que fezpor sentir que o seu coração assim oinduzia, até porque também secun-dado por convite que eles lhe fize-ram. O objetivo do grupo, que assimse reunia discretamente, era nadamais nada menos que reuniões deestudos do Evangelho e da DoutrinaEspírita, das quais, em pouco tem-

po, o recém-freqüentador admitidotornou-se o dirigente, aliás pororientação do Alto, que, em verda-de, foi quem o encaminhou a inte-grá-lo. O caso era que, enquantomuitos expedicionários convocadosseguiam para a linha de frente na ba-talha, na Itália, Inocêncio, devido aoexercício do seu cargo especial, per-manecia no quartel, atento ao quelhe era determinado pela Espiritua-lidade.

Cessadas as hostilidades béli-cas, retornou às atividades na Autar-

quia, na qual se engajou fazendo jusa promoções aos cargos de Agente,Presidente de Comissões de Inqué-rito, Chefe de Benefícios, em cujasfunções se manteve à altura do seueficiente desempenho. Aposentou--se após 45 anos de serviço.

Militando, quando de sua vol-ta, nas fileiras espíritas, e residenteem Niterói, filiou-se à FederaçãoEspírita do Estado do Rio de Janei-ro, onde envidou todos os seus es-forços, empenhando-se ao máximono sentido de dar o seu contributona construção da nova sede dessaFederativa. Colimada essa finalida-de, transferiu suas tarefas para aUnião da Mocidade Espírita de Ni-terói (UMEN), mais uma vez desta-cando-se na participação das obrasda moderna sede da Instituição,consolidando o conceito, que jádesfrutava, de laborioso obreiro doEspiritismo na cidade de Arari-bóia.

Posteriormente, em se deslo-cando para novas atividades, fixou--se no Grupo Espírita Leôncio deAlbuquerque, em cujo Departa-mento de Doutrina, como seu diri-gente, cumpriu a programação deestudos e trabalhos, priorizando aorganização das reuniões mediúni-cas, com desenvolvimento e forma-ção de médiuns, desobsessões, efei-tos físicos e receituário, sendo queos pacientes das prescrições médicasjá as recebiam com os respectivosmedicamentos.

Trabalhando profissionalmen-te na cidade do Rio de Janeiro, nos

José Dias InocêncioFaz um ano retornou aos planos da Espiritualidade o nosso que-

rido companheiro de lides espíritas, José Dias Inocêncio, que se tor-nou conhecido e admirado por quantos tiveram a ventura de ouvi--lo e ler seus artigos em Reformador. Se só agora publicamos osapontamentos biográficos abaixo, escritos pelo nosso inesquecícelAlberto Nogueira da Gama, é porque, na ocasião, lhe faltavam ou-tros dados que ele considerava importantes.

Prestamos, assim, merecida homenagem àquele cuja vida de-correu em benefício do próximo.

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horários dos lanches, aprazia-se emfreqüentar a Federação Espírita Bra-sileira, ensejos nos quais estreitavalaços de amizade com seus direto-res que, em percebendo-lhe estru-tura de sincero espiritista, o convi-daram a que escrevesse em Refor-mador, onde manteve por largo es-paço de tempo a coluna “Na Horado Testemunho”, interrompida emface da sobrecarga dos seus encar-gos, mas voltando, em outra opor-tunidade, com nova secção intitu-lada “Estudar para Elucidar”, man-tida até quando adoeceu, sem quepudesse recuperar-se. Além de cola-borador da revista da Federação Es-pírita Brasileira, veio a ser membrodo seu Conselho Superior em maisde dois mandatos de cinco anos.

Com participação ativa em al-gumas Sociedades Espíritas, JoséDias Inocêncio conseguiu congregarcompanheiros para a fundação daUnião da Mocidade Espírita deNiterói (UMEN), com realizaçãode palestras mensais, alternando-ascom as Agremiações congêneresprogramadas, também participantesdas Semanas Espíritas de Niterói, le-vadas a efeito, anualmente, no mêsde agosto, em cujo transcurso, con-fiáveis expositores discorriam sobreoportunos temas doutrinários.

Estudioso aplicado do Espiri-tismo, formou, em sua residência,apreciável biblioteca com pródigoacervo cultural, a que deu o nomede Sala Zarantuza, onde se compra-zia passar horas a fio lendo, pesqui-sando e elaborando, também, suaspalestras e artigos.

Expositor de largos recursosculturais, fazia-se ouvir, através deinspiradas conferências, em cidadesdo interior do Estado, como Além--Paraíba, São Gonçalo, Araruama,

Piraí (Ilha dos Pombos) e outras doseu diversificado itinerário, inte-grando caravanas visitadoras, cominvariável saldo positivo de orienta-ção, esclarecimento e reconforto aquantos lhe ouviam as preleçõeselucidativas e consoladoras.

Ante o desvelo com que pau-tou seus atos pelos padrões da con-duta espírita, o companheiro deideal correspondeu plenamente àcondição de fiel servidor da Causapor que propugnamos.

Às onze horas da manhã do dia18 de setembro de 2003, enquantouma de suas filhas lhe preparava amedicação, deixando-o em repou-so, ao retornar para ministrar-lho,deu-se conta de sua desencarnação.O ar de serenidade que lhe transpa-recia do semblante dizia bem de suasintonia com os desígnios da Espi-ritualidade.

Ao companheiro, nossas vibra-ções e preces pelo seu bem-estar noPlano Espiritual.

Reynaldo Leite

Desencarnou em São Paulo(SP), no dia 11 de maio deste ano,o confrade Reynaldo Leite, apósdois anos de grave enfermidade. Ovelório de seu corpo ocorreu noCemitério da 4a Parada, onde com-pareceram representantes e confra-des de Instituições Espíritas da Ca-pital e do Interior do Estado de SãoPaulo, para levar seu afeto e sua vi-bração de amor ao denodado com-panheiro que retornava à Pátria Es-piritual.

Reynaldo Leite era dedicado

trabalhador da seara espírita, comomédium e expositor, tendo leva-do sua palavra fundamentada noEvangelho e na Doutrina Espíritaaos espíritas de vários Estados bra-sileiros e de diversos países. Erafundador e dirigente da SociedadeCivil Arautos do Kardecismo, situa-da em São Paulo, no Bairro doTatuapé (Rua Fernandes Pinheiro,298), dedicada ao estudo, divul-gação e prática do Espiritismo.

Rogamos as bênçãos de Jesusao seareiro Reynaldo Leite, que vol-ta ao Mundo Maior com Espíritoliberto.

RETORNO À PÁTRIA ESPIRITUAL

Conheça o

ESPIRITISMO,UMA NOVA ERA

PARA A HUMANIDADE

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Foi realizado nos dias 28, 29 e30 de maio, na região da Verbânia,Norte da Itália, junto ao conheci-do Lago Maggiore e promovidopor várias instituições religiosasorientais e ocidentais e pela ONU(Organização das Nações Unidas),o Congresso Mundial de Medici-nas Tradicionais Integradas 2004,cujo tema central foi: Educação pa-ra a Paz para uma Saúde Melhor.

A convite da Comissão Orga-nizadora, o Espiritismo se fez re-presentar pelo expositor brasileiro,membro do Conselho Fiscal e Su-perior da FEB, Sérgio Thiesen, doRio de Janeiro, que discorreu sobreEspiritualidade na Saúde e naDoença.

Com a presença do LamaGangchen, muito conhecido emtodo o mundo e criador da “LamaGangchen World Peace Founda-tion”, e de representantes estran-geiros de diversas instituições queatuam no trinômio Paz, Saúde eEspiritualidade, o médico brasilei-ro falou sobre os postulados espí-ritas e sua importância fundamen-tal para uma Medicina que vise oEspírito eterno, para níveis maisprofundos de cura e prevenção.Procurou mostrar que a Medicinaque se avizinha, na Era do Espíri-to, precisa considerar a etiologiaespiritual das doenças físicas ementais e sua relação com o mun-do espiritual e a ação dos Espíritos

desencarnados. Divulgou, perantea distinta assembléia, os resultadosde suas pesquisas na tríplice fron-teira entre a Medicina, a FísicaModerna e o Espiritismo. Infor-mações adicionais sobre o evento

podem ser encontradas no sitewww.worldpeacecongress.net

O expositor realizou palestrasem outras cidades italianas comoTorino, Varese, Florença, Milão eAssis.

O Espiritismo em Congresso na Itália

Sérgio Thiesen (no centro) proferindo sua palestra

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Rio de Janeiro: Colégio de PresidentesA Federação Espírita do Estado do Rio de Janeiro rea-liza no dia 7 deste mês, em Piraí (RJ), a Primeira Reu-nião do Colégio de Presidentes da FEERJ, na qual se-rá homenageado o Dr. Bezerra de Menezes, compalestra de César Soares dos Reis.

Minas Gerais: Semana Universitária EspíritaA IV Semana Universitária Espírita de Minas Gerais eo I Congresso Universitário de Saúde e Espirituali-dade ocorreram, de 2 a 8 de agosto, na Faculdade deMedicina da UFMG, em Belo Horizonte, promovidospelo Núcleo Universitário da Associação Médico-Es-pírita de Minas Gerais, tendo entre os expositoresMarlene Rossi S. Nobre, Roberto Lúcio Vieira deSouza e Sérgio Felipe de Oliveira.

Argentina: Apoio às Atividades EspíritasA Confederação Espiritista Argentina está enviandogratuitamente às Casas Espíritas, pelo correio eletrô-nico, em espanhol, o seguinte Material de Apoio:ESDE – Programas 1 e 2; Manuais: “Diretrizes deApoio para as Atividades Espíritas” e “Preparação deTrabalhadores para as Atividades Espíritas”. O objetivoda CEA é difundir de maneira adequada os postula-dos da Doutrina dos Espíritos através do seu estudo.

Paraíba: Encontro Médico-Espírita do NordesteRealizou-se em Campina Grande, de 30 de julho a 1o

de agosto, o III Encontro das Associações Médico-Es-píritas do Nordeste, com o tema central Medicina,Ética e Espiritualidade. Coube a promoção à Asso-ciação Médico-Espírita Campinense, que efetuou, nomesmo período, a III JAMEC – Jornada Médico-Es-pírita de Campina Grande.

Paraná: Curso sobre Biblioteca EspíritaA Federação Espírita do Paraná oferece um Curso so-bre Biblioteca no Centro Espírita, na forma de uma“Conversa informal sobre biblioteca”. Até o mês demaio, 25 Centros Espíritas já haviam participado doCurso, atendendo 57 trabalhadores vinculados à Bi-blioteca e ao livro espírita, procedentes da Capital edo interior do Estado.

Ainda com o propósito de burilamento dos respon-sáveis pela Biblioteca no Centro Espírita, a FEP estápromovendo, a partir do mês de agosto, Oficina deRecuperação de Livros, que funciona aos sábados, das8h às 12h, tendo como público-alvo os trabalhadoresdos Centros Espíritas em Bibliotecas e Livrarias. Ins-crições: Telefone (41) 223-6174.

Semana Espírita Chico Xavier Realizou-se em Pedro Leopoldo (MG), no período de28 de junho a 4 de julho, a I Semana Espírita ChicoXavier, em homenagem ao inolvidável missionário daMediunidade, nascido naquela cidade. O evento, orga-nizado pela comunidade espírita local, contou com aparticipação do Presidente da FEB, Nestor JoãoMasotti, e sua esposa Maria Euny Herrera Masotti, doPresidente Honório Onofre de Abreu e Diretores daUnião Espírita Mineira. Constaram do programa:palestra de Marlene Nobre, na Câmara Municipal, Feirado Livro Espírita e visitas à Fazenda Modelo, ondeChico trabalhou, e ao Açude – local em que lhe apare-ceu pela primeira vez o seu Mentor Emmanuel.

Dinamarca: Estudos Espíritas O Grupo de Estudos Espíritas Allan Kardec (GEEAK)promove reuniões semanais de estudo da Doutrina Es-pírita, sob a direção de Silas Vilas Boas. Às sextas--feiras, às 18 horas, ocorre o Culto do Evangelho noLar, e no primeiro domingo de cada mês há umapalestra pública em língua dinamarquesa. Endereço:Skovsvinget 2, DK-2800 Lyngby – Dinamarca. Con-tatos pelos telefones 45 4084-8700 e 45 4495-5162,ou na página do GEEAK – www.geeak.dk.org (SEI.)

Encontro de Historiadores e Pesquisadores EspíritasOcorre em Belo Horizonte (MG), nos dias 4 e 5 destemês, o 3o Encontro Nacional da Liga de Historiadorese Pesquisadores Espíritas, que tem por objetivo a dis-cussão de trabalhos nas áreas de história/memória doMovimento Espírita e da pesquisa científica sobretemas espíritas. Durante o Encontro há lançamentode livros, painel com temas específicos, exposições,mesas-redondas e conferências.

SEARA ESPÍRITA

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