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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ. INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS. FACULDADE DE MATEMÁTICA. Giovanni Almeida Marques. INVESTIGAÇÃO HISTÓRICA NO ENSINO DE MATEMÁTICA: OS NÚMEROS FIGURADOS PLANOS. BELÉM - PA 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ.

INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS.

FACULDADE DE MATEMÁTICA.

Giovanni Almeida Marques.

INVESTIGAÇÃO HISTÓRICA NO ENSINO DE MATEMÁTICA: OS NÚMEROS FIGURADOS PLANOS.

BELÉM - PA

2014

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ.

INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS.

FACULDADE DE MATEMÁTICA.

Giovanni Almeida Marques

INVESTIGAÇÃO HISTÓRICA NO ENSINO DE MATEMÁTICA:

OS NÚMEROS FIGURADOS PLANOS.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Matemática pela Faculdade de Matemática da Universidade Federal do Pará.

Orientador: Prof. Dr. João Cláudio Brandemberg Quaresma

BELÉM-PA

2014

CERTIFICADO DE AVALIAÇÃO.

GIOVANNI ALMEIDA MARQUES.

INVESTIGAÇÃO HISTÓRICA NO ENSINO DE MATEMÁTICA: OS NÚMEROS FIGURADOS PLANOS.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Matemática, pela Faculdade de Matemática da Universidade Federal do Pará, julgado pela seguinte banca examinadora:

________________________________________________

Prof. Dra. Amanda Suellen Sena Corrêa Leão.

Faculdade de Matemática, UFPA.

________________________________________________

Orientador: Prof. Dr. João Cláudio Brandemberg Quaresma.

Faculdade de Matemática, UFPA.

_________________________________________________

Prof. M.Sc. José Augusto Nunes Fernandes.

Faculdade de Matemática, UFPA.

DATA DA AVALIAÇÃO: ____/____/____

CONCEITO: ______________________________

Dedicatória

À Deus, pela força e sabedoria, assim

como a minha estimada família pelo

incentivo e apoio ao longo de

minha trajetória acadêmica.

Agradecimentos

À Deus, pelo dom da vida e por estar ao meu lado em todos os momentos,

me dando força para superar as dificuldades, me concedendo sabedoria e

iluminando sempre meus caminhos.

Ao professor João Cláudio Brandemberg Quaresma, pela amizade, seriedade,

paciência e ao conhecimento que adquiri mediante a orientação deste trabalho.

Aos professores Amanda Suellen Sena Corrêa Leão e José Augusto Nunes

Fernandes, por aceitarem avaliar este trabalho e contribuir para a melhoria do

mesmo.

À minha família, principalmente a minha mãe Denize, minha avó Lourdes e

minha irmã Aline, que sempre me apoiaram e acreditaram em meu potencial, assim

como respeitaram minha vontade de vencer todos os obstáculos para chegar neste

instante tão especial que estou vivenciando.

Aos meus colegas de trabalho, Fábio, Gleisiane, Herculano e Eva que a todo

instante me transmitem uma força positiva, no exercício de nossa profissão nos

laboratórios de ensino do Curso de Enfermagem, na Universidade do Estado do

Pará (UEPA).

À Darciane, minha namorada, pelo o amor, carinho e atenção doada, além de

ser um modelo para mim de estudo e dedicação.

À Universidade Federal do Pará por ter aberto portas e por estar me dando

agora a oportunidade de uma profissão.

À Faculdade de Matemática por oferecer um curso de Licenciatura em

Matemática de grande renome em toda região amazônica, me capacitando ter uma

ótima qualificação.

A todos os colegas e amigos que caminharam comigo nesta importante etapa

de minha vida acadêmica.

A todos os professores da Faculdade de Matemática que contribuíram com a

minha formação ao longo destes cinco anos.

A todos que aqui não citados, mas que estiveram ao meu lado e torceram por

mim para a conclusão deste curso de graduação.

"Todas as coisas são números."

(Pitágoras)

ResumoNeste trabalho, temos como objetivo descrever e apresentar propostas de atividades em sala de aula, com foco na metodologia de investigação histórica no ensino de Matemática. A preocupação central do trabalho está relacionada com a exploração dos conceitos, propriedades e relações fundamentais dos números figurados planos, de forma que leve a uma reflexão da História com a aprendizagem do conteúdo em Matemática, e assim se torne uma importante ferramenta didática. Essas atividades envolvem os alunos em um trabalho dinâmico em que os mesmos têm a oportunidade de formular questões, fazer conjecturas e de compartilhar com os colegas os resultados dos trabalhos. No desenvolvimento do trabalho, o papel do professor é apenas o de mediador e assim, os alunos passam a ser responsáveis pela construção do conhecimento.

Palavras- Chave: atividades, investigação, Matemática, números, alunos

AbstractIn this work, we aim to describe and present proposals for investigative activities in the classroom, focusing on historical research methodology in the teaching of mathematics. The central concern of the work is related to the exploration of the concepts, properties and fundamental relations of numbers figured plans so that leads to a reflection of history with learning mathematics content, and thus become an important teaching tool. These activities involve students in a dynamic work in which they have the opportunity to ask questions, make conjectures and to share with colleagues the results of the work. In developing this work, the teacher's role is only that of a facilitator and so, students become responsible for the construction of knowledge.

Keywords: activities, research, math, numbers, students

Lista de FigurasFigura 1: O tetractys................................................................................................22Figura 2: O surgimento dos números triangulares..................................................25Figura 3: O surgimento dos números quadrados....................................................25Figura 4: O surgimento dos números pentagonais.................................................26Figura 5: Decomposição em dois números triangulares.........................................26Figura 6: Formação do gnomon..............................................................................27Figura 7: Sucessão de gnomons............................................................................29Figura 8: Os cinco primeiros números figurados triangulares................................32Figura 9: O quarto número triangular.....................................................................32Figura 10: O primeiro número triangular................................................................33Figura 11:T 4 e T 5 com o gnomon destacado........................................................33Figura 12: O gnomon de um retângulo..................................................................34Figura 13:Triângulo de Pascal..............................................................................35Figura 14: O interior de T 4e de T 5.........................................................................36Figura 15: Triângulos nos números triangulares...................................................36Figura 16: Número quadrado.................................................................................37Figura 17: Os quatro primeiros números quadrados.............................................37Figura 18: O primeiro número quadrado...............................................................37Figura 19: O gnomon de um número quadrado....................................................38Figura 20:Q5=T 5+T 4.........................................................................................38Figura 21:Q5=2Q4+5........................................................................................39Figura 22: Uma decomposição do quadrado.........................................................40Figura 23: Números retangulares do primeiro tipo.................................................40Figura 24: O gnomon de um número retangular....................................................41Figura 25: Uma decomposição do número retangular...........................................41Figura 26: Números retangulares do segundo tipo................................................41Figura 27: Uma decomposição de R4....................................................................43Figura 28:R4=(Ob)4+4......................................................................................43Figura 29: Pentágonos encaixados........................................................................44Figura 30: O gnomon de um número pentagonal...................................................44Figura 31: Os cinco primeiros números pentagonais.............................................45Figura 32: Decomposição de um número pentagonal............................................45Figura 33: Hexágonos encaixados.........................................................................46Figura 34: Os cinco primeiros números hexagonais..............................................46Figura 35: O gnomon de um número hexagonal....................................................47Figura 36: Uma decomposição de um número hexagonal.....................................48Figura 37: Conjectura geométrica em torno do número hexagonal.......................48Figura 38: Diagrama explicativo............................................................................56Figura 39: Diagrama generalizado ........................................................................57Figura 40: Decomposição de um número pentagonal e suas relações com os números triangulares e quadrados.........................................................................59Figura 41:Quadro demonstrativo com números triangulares e quadrados...........75Figura 42: Representação dos números triangulares, usando latas......................76Figura 43: Representação geométrica de um número triangular, usando bolas de bilhar.......................................................................................................................77Figura 44: Relação entre o número quadrado e o número triangular, usando bolas de gude........................................................................................................................77

Figura 45: Decomposição do número quadrado com bolas de gude................78Figura 46: Número triangular usando tabuleiro de xadrez................................78Figura 47: Número quadrado usando tabuleiro de xadrez................................79Figura 48: Números triangulares com cubinhos de madeira.............................82Figura 49: Números quadrados com cubinhos de madeira..............................82Figura 50: Números triangulares com pontos ligantes.....................................83Figura 51: Números quadrados com pontos ligantes......................................83Figura 52: Observação de propriedade de número quadrado, por meio de pontos ligantes............................................................................................................84Figura 53: Formulário de preenchimento 1 apresentado ao aluno.................85Figura 54: Formulário de preenchimento 2 apresentado ao aluno.................85

Conteúdo

INTRODUÇÃO......................................................................................................... 13

CAPÍTULO 1: A EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E A HISTÓRIADA MATEMÁTICA...........................................................................................................15

1.1 Panorama Geral .............................................................................................15

1.2 A História da Matemática e sua origem .........................................................16

1.3 A História da Matemática, como uma ferramenta metodológica da Educação Matemática ...............................................................................................................18

CAPÍTULO 2: NÚMEROS FIGURADOS PLANOS..........................................21

2.1 Os números e sua origem grega, segundo a filosofia pitagórica....................21

2.2 O surgimento dos números figurados planos.................................................23

2.3 Não há um teorema de “Pitágoras” e sim triplas pitagóricas..........................28

2.4 Os números pares e ímpares..........................................................................31

2.5 Propriedades Fundamentais dos números figurados planos..........................31

2.5.1 Números Figurados Triangulares..........................................................32

2.5.2 Números Figurados Quadrados............................................................37

2.5.3 Números Figurados Retangulares........................................................40

2.5.4 Números Figurados Pentagonais..........................................................44

2.5.5 Números Figurados Hexagonais...........................................................46

2.6 Relações Fundamentais dos Números figurados............................................48

CAPÍTULO 3: EXPLORANDO OS NÚMEROS FIGURADOS PLANOS POR MEIO DE ATIVIDADES HISTÓRICAS E INVESTIGATÓRIAS NO ENSINO DE MATEMÁTICA...........................................................................................................65

3.1 A Investigação Histórica no Ensino de Matemática........................................65

3.2 A Utilização de Atividades Investigatórias no Ensino de Matemática............68

3.3 Orientações para a ação docente...................................................................70

3.4 Sugestões de atividades de investigação histórica com os números figurados planos........................................................................................................................72

CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................86

REFERÊNCIAS........................................................................................................87

Introdução

O processo investigatório possui suas particularidades. Na investigação em

História da Matemática, essa particularidade reside na sua capacidade de

proporcionar a prática reflexiva em Matemática e em educação Matemática.

Em História da Matemática, percebemos que a prática investigatória se

desenvolve em diferentes frentes que apresentam como temas principais: o

desenvolvimento histórico de um conceito matemático, biografia de matemáticos, as

relações da Matemática com outras áreas do conhecimento e a aplicabilidade da

História dentro do contexto de sala de aula. Destacamos que o propósito da

investigação em História da Matemática é segundo Lima Filho (2011, p.5):Obter o máximo de subsídios que contribuam com o processo ensino aprendizagem. Naturalmente a pesquisa histórica resgatará a essência da problemática vivida na antiguidade, como essa problemática mobilizou aquela sociedade e como essa essência do passado pode ser conectada com o pensamento e as necessidades na atualidade.

Esta contribuição da investigação em História da Matemática no processo de

ensino e aprendizagem está ligada ao papel da História da Matemática como fonte

teórica de geração de conhecimento matemático. A investigação permite que as

informações históricas sejam “adaptadas”, de modo a serem utilizadas no contexto

de sala de aula, servindo como facilitador de aprendizagem.

Desta forma, nesse trabalho temos uma pesquisa em torno dos números

figurados planos, visualizando a relação que há entre a geometria e os números,

desenvolvendo uma proposta didática que seja de fácil apresentação e aplicação, e

que leve os alunos a refletir os porquês de alguns conteúdos de Matemática e

possam recorrer a algumas ferramentas que estão inseridas no contexto da História

da Matemática.

No primeiro capítulo deste trabalho, iremos discutir em relação à História da

Matemática como uma tendência importante no contexto da Educação Matemática,

dando ênfase a sua origem e seus objetivos, que levam a um bom êxito no processo

de ensino aprendizagem de Matemática, e assim se tornar uma importante

ferramenta metodológica, que permita levar o aluno a participar mais efetivamente

na busca das soluções de suas dúvidas nessa disciplina.

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No segundo capítulo, faremos uma retrospectiva dentro da História da

Matemática, para situar o cenário do surgimento dos números figurados planos,

onde Pitágoras, juntamente com outros matemáticos de sua época, contribuíram

para essa descoberta. Não deixando de destacar os matemáticos neoplatônicos e

neopitagóricos, que tiveram suma importância no desenvolvimento de propriedades

e relações fundamentais que os regem, e que nos dias atuais são primordiais para a

compreensão de muitos conteúdos vistos em sala de aula de Matemática, que

muitas vezes, causam curiosidade e levam à busca de certos porquês, que

dificultam o processo de aprendizagem.

No terceiro e último capítulo, o foco é mostrar a importância e o uso de

atividades históricas e investigatórias no ensino de Matemática, explorando o ensino

dos números figurados planos, de modo a responder à seguinte questão: é possível

utilizar recursos pedagógicos e a História da Matemática como meio de construção

do conhecimento matemático escolar?

A História da Matemática pode estar presente na sala de aula em vários

contextos diferentes, e pode ser apresentada de forma contextualizada e integrada

com aos conteúdos de Matemática, visando quebrar os esquemas tradicionais, com

uma “nova” forma de ensinar, e assim oferecer informações que possam solucionar

dúvidas e que estimulem à investigação, a partir de situações problemas, sejam elas

materiais ou não, mas que ampliem o seu domínio cognitivo.

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CAPÍTULO 1

A EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E A HISTÓRIA DA MATEMÁTICA

1.1 – PANORAMA GERAL

A Educação Matemática é considerada uma atividade essencialmente pluri e

interdisciplinar, constituindo-se de estudos e pesquisas dos mais diferentes tipos,

cujas finalidades principais são: desenvolver, testar e divulgar métodos inovadores

de ensino; elaborar e implementar mudanças curriculares além de desenvolver e

testar materiais de apoio para o ensino da Matemática (MENDES, 2009).

As relações entre a História da Matemática e a Educação Matemática vêm se

configurando como um fecundo campo de investigação, evidenciando-se dentre as

diversas tendências da Educação Matemática.

Assim, a História da Matemática na formação do professor de Matemática

apresenta-se, nos dias atuais, como uma das principais preocupações de muitos

educadores matemáticos.

Desta forma, a História da Matemática permite compreender a origem das

idéias que deram forma à cultura e observar também os aspectos humanos do seu

desenvolvimento, como por exemplo, os homens que criaram essas idéias e estudar

as circunstâncias em que elas se desenvolveram.

Segundo Siqueira (2007), a Educação Matemática apresenta algumas

tendências pedagógicas, tais como a Modelagem Matemática, Etnomatemática,

Resolução de Problemas, entre outras, destacamos a História da Matemática, por

ter como finalidade, auxiliar o processo de ensino-aprendizagem e o interesse dos

alunos. Com esse trabalho, temos a perspectiva de auxiliar as instituições de ensino

a romper a ideologia que a Matemática é uma ciência que a maioria das pessoas

não consegue aprender por ser abstrata.

A História da Matemática é um dos elementos fundamentais que envolvem

leitura e Matemática. Segundo Lopes (2010), as leituras de textos em aulas de

15

Matemática buscam fazer com que os alunos construam um novo olhar para a

linguagem Matemática. Um olhar que não seja preso a metodologias que estejam

presas a álgebra pura ou a cálculos que muitas vezes apenas professores e poucos

“bons alunos” conseguem resolver.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática de 5ª a 8ª séries

(1998), indicam o uso da História no ensino da Matemática sendo uma forma dos

alunos aprenderem os conceitos matemáticos por meio do passado e do presente,

compreendendo assim a construção de diversas fórmulas na Matemática.

Verificamos a importância do uso da História no ensino da Matemática, pois

segundo Freire (1996), educar é muito mais que realizar a prática da educação

bancária que apenas treina o educando, mas é acima de tudo buscar novas

metodologias de ensino para que a sala de aula de Matemática torne-se um local de

investigação, produção de conhecimentos e de experiências.

Sendo assim, o uso da História da Matemática é fundamental para as práticas

pedagógicas na sala de aula de Matemática, pelo fato do sentido dos fatos

matemáticos estarem presentes na realidade dos alunos.

1.2 - A HISTÓRIA DA MATEMÁTICA E SUA ORIGEM

A Matemática é uma ciência que está na vida do homem desde os tempos

antigos, assim os conhecimentos em História da Matemática permitem compreender

como chegamos aos conhecimentos atuais e o porquê de se aprender um conteúdo,

como estudar desde as necessidades que levaram o homem de uma época a

pensar sobre um assunto, com o objetivo de atender os seus anseios, até as

aplicações práticas nos dias atuais que leva o aluno a se motivar mais, e ter mais

prazer, pois fica sabendo que surgiu do nada, e é fruto de um processo que supriu a

necessidade do homem antigo e o beneficia até hoje, através das tecnologias. Visto

que nossa sociedade tem uma grande tendência a olhar para o futuro, onde

podemos destacar assuntos emergentes, do tipo como, a exploração do espaço e as

revoluções ocasionadas pela cibernética, assim parece se ter pouco interesse no

passado. Na verdade, pode-se indagar: O que o passado tem a proferir a um futuro

professor de Matemática? Segundo Mendes e Fossa (1996), os professores de

Matemática tendem a agir como se a História da Matemática não fosse importante

16

para a aprendizagem dessa disciplina. A Matemática é um assunto técnico, parece

ser o argumento, e, portanto, basta entender os algoritmos para usá-la

corretamente.

Em contrapartida, os apologistas da História e muitos matemáticos afirmam

que o conhecimento histórico desperta o interesse do aluno e tem o poder de

modificar a sua atitude em relação à disciplina, pois a apresenta sob um ângulo de

visão que tem importância para a sua vida.

Nesse contexto, podemos analisar que as construções dos conceitos

matemáticos prontos e acabados surgiram de um longo processo histórico, e que

como cita Kremer (2011, p.3):Conhecendo a História da Matemática percebemos que as teorias que hoje aparecem acabadas e elegantes resultaram sempre de desafios que os matemáticos enfrentaram, que foram desenvolvidas com grande esforço e, quase sempre, numa ordem bem diferente.

Com esta análise, o educando vai passar a perceber que a Matemática

passou por diversas transformações ao longo do processo histórico, compostas de

erros e acertos, e não como verdades absolutas. Desta forma, notamos que ela

passa a ser uma disciplina com mais significado na vida cotidiana, concreta e real.

Nessa perspectiva, entendemos que, com a História da Matemática, temos a

possibilidade de buscar outra forma de ver e entender a disciplina, tornando-a mais

contextualizada e integrada com as outras disciplinas.

Conforme explica Fonseca e Cardoso (2005), para poder interpretar os

problemas matemáticos, o aluno precisa, acima de tudo, compreender do que se

trata o texto, em uma linguagem clara e coerente. Para ele, ter esta compreensão é

preciso que a leitura e a compreensão de textos sejam bem trabalhadas nas aulas,

seja ela de Matemática ou de língua portuguesa.

Contudo, constatamos uma escassez de materiais disponíveis para a

compreensão dos textos, assim Mendes (2001), nos fala que os livros didáticos de

Matemática muito pouco ou nada apresentam assuntos em relação a da História da

Matemática, reduzidos a biografia de célebres matemáticos, fato este que comprova

o pouco interesse de muitos autores pelas tendências da Educação Matemática.

Consideramos que a organização da disciplina Matemática deve buscar a

interdisciplinaridade e a contextualização para possibilitar ao aluno uma visão mais

ampla sobre essa disciplina, já que o seu ensino-aprendizagem deve permitir ao

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aluno dar conta de gerir sua vida pessoal e profissional, tomar decisões, ter

condições de enfrentar múltiplos e complexos desafios da vida contemporânea, e

assim, conduzir o aluno de forma a torná-lo apto a enfrentar as novas

transformações da sociedade, contribuindo para deixá-la mais justa, igualitária e

solidária.

1.3- A HISTÓRIA DA MATEMÁTICA COMO FERRAMENTA METODOLÓGICA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

Ensinar Matemática de forma isolada das demais áreas do conhecimento, e

explorar conhecimentos matemáticos apenas como pré-requisitos para depois

ensinar mais Matemática, não contribui muito para a formação do aluno.

Segundo Cavalcante (2002), a Matemática traz grandes contribuições para o

desenvolvimento do aluno, pois ela tem relações estreitas com diversas áreas do

conhecimento e da atividade humana.

Desta forma, é necessário que a História da Matemática, no processo de

aprendizagem, para que esta ferramenta instigue e possibilite um melhor

entendimento do estudo da Matemática. Há um crescente movimento em busca de

novas metodologias de ensino, e a História da Matemática é uma dessas, pois ela

auxilia na construção do conhecimento e na evolução dos conceitos matemáticos. É

importante frisar que a construção do que é estudado hoje, passou por um longo

processo histórico, até chegar a atualidade, e que muitas descobertas que foram

feitas há muito tempo vem sendo usadas hoje, no entanto, este estudo vem a

mostrar que a Matemática vem inovando seu modo de ensinar, para que professores

tenham novas maneiras de transmitir o conhecimento matemático, demonstrando a

partir desses princípios que a Matemática faz parte do cotidiano ao longo da

evolução histórica da humanidade.

A História da Matemática é fundamental para expor como teorias e práticas

em Matemática foram criadas, e cada uma em seu determinado tempo, contribuindo

para o aprimoramento e a valorização do aprendizado matemático,como também

auxiliando a desenvolver uma motivação maior por parte dos alunos em relação ao

que está sendo estudado. De acordo com Groenwald (2004, p.47).

18

O enfoque histórico é uma proposta metodológica que permite ao aluno descobrir a gênese dos conceitos e métodos que aprenderá em aula. Em outras palavras este enfoque permitirá ao aluno fazer relação das idéias Matemáticas desenvolvidas em sala de aula com suas origens. O conhecimento da História da Matemática proporciona uma visão dinâmica da evolução dessa disciplina, buscando as idéias originais em toda a sua essência.

A dissociação entre a Matemática e sua História é extremamente

desagradável por vários razões, onde aqui mencionaremos algumas. Em primeiro

lugar, o conhecimento matemático, em contraste com o de outras ciências, é de

natureza cumulativa. A Matemática é construída, incessantemente, sobre as bases

já construídas. Em conseqüência, o aluno precisa, no processo de aprendizagem,

repensar o que já foi pensado por outros, ou seja, é necessário que o aluno se

aproprie do que já foi elaborado por matemáticos anteriores. Esse processo de

apropriação é semelhante à atividade de escalar uma montanha, pois o professor

pode indicar quais são as trilhas mais apropriadas ou mais fáceis, mas é o aluno que

tem de subi-la com seus próprios esforços. Em conseqüência, a História da

Matemática é, talvez, mais relevante ao ensino da Matemática do que para a maioria

das outras disciplinas. Em segundo lugar, não queremos alunos que saibam apenas

manipular algoritmos com algum sucesso. Queremos alunos que tenham uma

compreensão profunda e crítica das partes da Matemática que estudam.

Segundo Skemp (1976), estes fatos se classificam em duas distinções, como

compreensão instrumental e compreensão relacional. A compreensão instrumental é

o conhecimento mecanizado, que nos permite executar atividades rotineiras com

muito sucesso, no entanto, não contribui muito ao desenvolvimento da capacidade

de enfrentar situações novas, resolver problemas novos ou avaliar situações

complexas. Para tanto, precisa-se das habilidades críticas e metacognitivas da

compreensão relacional. Um exemplo de compreensão relacional seria a

investigação histórica da Matemática, por ser uma atividade que auxilia o

desenvolvimento das habilidades Matemáticas que queremos que sejam alcançadas

por todos os nossos alunos, sejam eles futuros professores de Matemática ou não.

Devemos ressaltar que muitos alunos consideram interessantes os tópicos da

História da Matemática. Assim, a História pode ser usada como um fator motivador

na apresentação de conteúdo novo, podendo isso ocorrer de duas formas distintas,

onde primeiro, a História da Matemática revela as ligações da Matemática com

19

outros aspectos da cultura humana, como já havíamos mencionado anteriormente, e

segundo, onde se lembra que matemáticos anteriores se interessaram por certos

conceitos e problemas. Assim, vários alunos também acharão os mesmos

problemas empolgantes e desafiantes quando se depararem com os mesmos nos

seus estudos. Infelizmente, muitas das tarefas que nós, professores de Matemática,

lecionamos aos nossos alunos são repetitivas, enfadonhas e sem inspiração. A

História da Matemática é uma fonte rica de problemas interessantes e desafiantes

que podem ser incorporados ao ensino da Matemática, especialmente na forma de

atividades de redescoberta ou de resolução de problemas.

Infelizmente, a História da Matemática é frequentemente usada na sala de

aula como uma mera curiosidade ou, ainda pior, como uma maneira de fugir

temporariamente da Matemática. Seu verdadeiro uso como um instrumento

metodológico, porém, somente ocorre quando conceitos e problemas históricos são

integrados na rotina diária da sala de aula e se tornam parte da experiência

Matemática do aluno. As façanhas do passado, pelo menos na Matemática, não são

monumentos a serem admirados pasmadamente; são possibilidades excitantes a

serem vividas e o aluno precisa lidar com elas, analisando-as, avaliando-as e até

tentando melhorá-las.

20

CAPÍTULO 2

NÚMEROS FIGURADOS PLANOS.

2.1 - Os números e sua origem grega, segundo a filosofia pitagórica

Conforme Roque (2012, p. 108), a ciência era dividida, primeiramente em

duas partes: uma que tratava dos números; outra das grandezas. Cada uma era

subdividida em duas outras partes: a aritmética estudava as quantidades em si

mesmas; a música, as relações entre as quantidades; a geometria, as grandezas em

repouso; e a astronomia, as grandezas em movimento inerente. O conhecimento

sobre esse aspecto da doutrina pitagórica vem da Metafísica de Aristóteles, que

viveu aproximadamente dois séculos depois dos pitagóricos e pretendia usar suas

teses para criticar Platão. Para Aristóteles, a filosofia pitagórica, que teria pontos em

comum com a filosofia platônica, parte de uma semelhança estrutural vagaentre as

coisas e números para afirmar que as coisas imitam os números.

Para compreender a verdadeira natureza das coisas existentes, explica

Aristóteles, os pitagóricos se voltavam para os números e as razões das quais todas

as coisas são feitas. Nada podia ser conhecido sem os números. Tanto as

quantidades quanto as grandezas deviam ser finitas e limitadas a fim de servirem de

objeto para a ciência, uma vez que o infinito e o ilimitado, segundo os pitagóricos,

não convinham ao pensamento.

Ainda segundo Aristóteles, deve-se a algum membro da escola pitagórica a

doutrina da dualidade, listadas a seguir: Limitado – Ilimitado; Ímpar – Par; Um –

Muitos; Esquerda – Direita; Macho – Fêmea; Repouso – Movimento; Reto – Curvo;

Luz- Escuridão; Bom – Mau; Quadrado – Oblongo.

Os primeiros termos da dualidade devem serentendidos como a do “melhor”.

A inclusão do Movimento, como segundo termo em uma das dualidades, deve-se a

tudo que é ilimitado, e ao fato que justifica os segundos termos na dualidade, se

justifica aos princípios que são negativos, ou indefinidos. Esse aspecto da filosofia

pitagórica era destacado por Aristóteles para fundamentar sua conclusão de que há

21

uma linha de continuidade entre os pitagóricos e platônicos. De fato, ele usava essa

dualidade de opostos para criticar a separação binária platônica segundo a qual, de

um lado, temos o igual, imóvel e harmônico e, de outro, o desigual, movente e

desarmônico. Enquanto o ilimitado produziaa progressão ao infinito, o crescimento e

a diminuição, a desigualdade e toda a sorte de diferenças entre as coisas que gera.

Segundo os ensinamentos de Aristóteles, podemos conjecturar que os

triângulos retângulos mereciam destaque na doutrina pitagórica, já que são os

únicos a conter um ângulo reto. Mas existiam práticas Matemáticas independentes

da filosofia que usavam triângulos retângulos na soma das áreas, o que forneceria

uma explicação mais empírica para o estudo dessas formas geométricas. Com o fim

de aproximá-los da filosofia platônica, Aristóteles cita os pitagóricos como os

primeiros a considerar a Matemática a partir de princípios, ou seja, os primeiros a

relacionar Matemática e filosofia. A teoria dos números dessa escola seria produto

de seus estudos matemáticos. No entanto, admite-se atualmente que essa teoria

dos números tinha um grande componente não matemático e não seguia uma

estrutura dedutiva.

SegundoRoque (2012) apud. Burket, essa aproximação entre os pitagóricos e

platônicos foi uma construção de Aristóteles. A fim de contestar essa tese, explica-

se que o núcleo da sabedoria para os pitagóricos derivava do tetractys, constituído

pelos números figurados que podem se associar aos nossos 1, 2, 3 e 4, que somam

10, número representado pelo triângulo perfeito, ou também o número do universo,

por representar a soma de todas as possíveis dimensões geométricas.

Figura 1: O Tetractys. Fonte: ROQUE, 2012, p.111

Pois, segundo Boyer (1996), os pitagóricos levaram ao extremo a adoração

pelos números, onde o número 1 é o gerador dos números e o número da razão; o 2

22

é o primeiro número par,ou feminino, o número da opinião; 3é o primeiro número

masculino verdadeiro, o da harmonia, sendo composto de unidade e diversidade,

enquanto o número 4 é o número da justiça ou retribuição indicando o ajuste de

contas; já o número 5 é o número do casamento, união dos primeiros números

verdadeiros feminino e masculino; e o número 6 é o número da criação.

Para Aristóteles, isso indicaria a presença de seres abstratos. Pois a partir do

tetractys, os pitagóricos teriam obtido as entidades abstratas: ponto, reta, plano e

sólido. No entanto, essa tese estava em franca contradição com outra afirmação do

próprio Aristóteles, a saber, que não havia entre os pitagóricos a noção de ponto, no

sentido geométrico do termo. As unidades, desenhadas como pontos nos números

figurados, possuem espessura, na verdade pedrinhas.

Os pitagóricos não separavam os números do mundo físico, como fez Platão,

pois eles viam os números como a natureza profunda de tudo o que podia ser

percebido e mostrar o poder de tornar compreensível a ordem e a harmonia do

mundo empírico. Eles acreditavam que os números apareciam com maior ocorrência

no contexto dos jogos, acompanhados de interpretação e reverência, do que no de

uma pura teoria, de natureza abstrata, caracterizada por um tratamento dedutivo.

Apesar de ser inseparável do ideal filosófico de explicar o mundo por meio de

números, os números pitagóricos não eram entidades abstratas.

2.2 – O surgimento dos números figurados planos

A Matemática atribuída a Pitágoras é uma aritmética de pontinhos, que não se

sabe ao certo se ela é uma criação realmente do próprio Pitágoras e de integrantes

de uma escola antiga chamada de pitagórica,ou dos neoplatônicos e neopitagóricos

da Antiguidade, como Jâmblico, Nicômaco, Teon de Smyrna e Nicomachus de

Gerasa.

A concepção dos pitagóricos sobre a natureza parte da idéia de que há uma

explicação global que permite simbolizar a totalidade do cosmos, e essa explicação

é dada pelos números. O mundo é determinado, antes de tudo, por um arranjo bem

ordenado e tal ordem se baseia no fato de que as coisas são delimitadas e podem

ser distinguidas umas das outras. Quando se diz que as coisas podem ser

distinguidas não significa que elas não possam ser diferentes, e sim separadas

23

umas das outras, logo as coisas do mundo podem ser contadas. Se isso for viável,

ainda que seja muito difícil contá-las, as gotas de água do mar seriam passíveis de

serem contadas, pois para os pitagóricos todas as coisas que compõem o cosmos

gozavam dessa propriedade, o que os levou a considerar que as coisas consistem

de números. Como uma das características principais das coisas reside no fato de

poderem ser organizadas e distinguidas, as propriedades aritméticas das coisas,

para eles, constituem o seu ser propriamente dito, e o ser de todas as coisas é o

número.

Os pitagóricos, contudo, embora sejam vistos como os primeiros a considerar

o número do ponto de vista teórico, e não apenas prático, não possuíam, de fato,

uma noção de número puro. Diferentemente de Platão, os pitagóricos não admitiam

nenhuma separação entre número e corporeidade, entre seres corpóreos e

incorpóreos. Logo, não é lícito dizer que o conceito pitagórico de número fosse

abstrato. De certo ponto de vista, dado seu caráter espacial e concreto, poderíamos

afirmar que os números pitagóricos não eram os objetos matemáticos que

conhecemos hoje, isto é, entes abstratos. Os números figurados dos pitagóricos

eram constituídos de uma multiplicidade de pontos que não eram matemáticos que

remetiam a elementos discretos: pedrinhas organizadas segundo uma determinada

configuração.

Assim, todos os números, ou seres, teriam evoluído a partir do um, onde este

era ao mesmo tempo par e ímpar, ser bissexuado a partir do qual os outros números

se desenvolveram, visto que o par e o ímpar representavam o limitado e o ilimitado.

Par e Ímpar por serem elementos dos números, e já limitado e ilimitado devido a

oposição cósmica primordial por trás do mundo, expresso em números,e assim da

união do par e ímpar, análoga a um casamento, teria sido responsável pela a origem

do mundo. O limitado, princípio positivo, macho, e o ilimitado, fêmea, que existiam

antes de qualquer coisa, e desse casamento surgiu o um, que não consideravam

como um número.

Os números eram divididos em tipos associados aos diferentes tipos de

coisas. Para cada tipo, havia um primeiro, ou menor número, considerado sua “raiz”.

As relações entre os números não representavam, portanto uma cadeia linear na

qual todas as relações internas eram semelhantes. Cada arranjo designava uma

ordem distinta, com ligações próprias. Daí o papel dos números figurados na

24

Matemática pitagórica. Esses números eram, de fato, figuras formadas por pontos,

como as que encontramos em um dado. Não é uma cifra, como 3, que serve de

representação pictórica para um número, mas a delimitação de uma área constituída

de pontos, como uma constelação.

Os primeiros números figurados são dados pelos números triangulares, nos

quais os pontos formam figuras triangulares que são coleções de bolinhas indicando

pedrinhas:

Figura 2: O surgimento dos números triangulares. Fonte: ROQUE, 2012, p.105

Os números triangulares representados na figura 2 podem ser associados aos

nossos números1 ,3 ,6 ,10 ,15e21, que possuem, respectivamente, a ordem

n=1 ,2 ,3 ,4 ,5 e6. Em linguagem usual, o número triangular de ordem né dado pela

soma da progressão aritmética 1+2+3+…+n=n(n+1)2

.

Em seguida, temos os números quadrados, que, em nosso simbolismo,

podem ser escritos como n2 .

Figura 3: O surgimento dos números quadrados. Fonte: ROQUE, 2012, p.106

As configurações da figura 3, podem ser associadas aos nossos números

quadrados 1 ,4 ,9 ,16=12 ,22 ,32 ,42. Para finalizar, segue o exemplo dos números

pentagonais.

25

Figura 4: O surgimento dos números pentagonais. Fonte: ROQUE, 2012, p.106

Na figura 4, os arranjos corresponderiam. Respectivamente, aos nossos

números 1, 5, 12 e 22. É possível enxergar em tais exemplos, a primeira ocorrência

do estudo das sequências numéricas. No entanto, a concepção de sequências dos

matemáticos pitagóricos partia da observação visual, sendo um tipo particular de

aritmética figurada, distinta da praticada hoje. Os números eram considerados uma

coleção discreta de unidades. Dessas configurações numéricas, os pitagóricos

podiam obter, de forma visual, diversas conclusões aritméticas, como:

a) Todo número quadrado é a soma de dois números triangulares

sucessivos:

Figura 5: Decomposição em dois números triangulares. Fonte: ROQUE, 2012, p.107

b) É possível passar de um número quadrado a um número quadrado

imediatamente maior adicionando-se a sequência dos números

ímpares. Na figura 6, os números são dados pelos contornos em

forma de L, os gnomons dos pitagóricos:

26

Figura 6: Formação do gnomon. Fonte: ROQUE, 2012, p.107

Apesar de os pitagóricos não atribuírem esse significado a tais conclusões,

poderíamos traduzir os enunciados das figuras 5 e 6, para a linguagem atual, e

teríamos, respectivamente, as regras:

a) n=n(n+1)

2+ (n−1 )n

2

b) 12+3=22

22+5=32

….

n2+(2n+1)=(n+1)2

Até aqui, descrevemos como a Matemática pitagórica concebia os números. É

possível distinguir pelo menos três funções diferentes para essas entidades, sobre

as quais as doutrinas pitagóricas foram construídas: designavam posição ou ordem;

determinavam uma forma espacial através dos números figurados, e finalmente

exprimiam razões que permitiam compreender as leis naturais. Trata-se de noções

distintas, que podem ser associadas a Matemáticas diferentes que conviviam no

seio da escola.

Como vimos, para os pitagóricos, todas as propriedades das coisas, bem

como seus modos e seus comportamentos, podiam ser reduzidas a propriedades

que as coisas têm a sua virtude de serem contáveis, Em seguida essas coisas eram

comparadas por meio da razão (logos) entre seus números. O emprego do termo

27

logos em seu sentido matemático, significando razão, é atribuído a Pitágorase devia

designar a comunicação de algo essencial sobre alguma coisa, por exemplo, a

relação 3:4:5 determinava a forma do triângulo retângulo. Mas não apenas os seres

matemáticos eram definidos por razões. A razão exprimia uma relação entre

números que se encontrava escondida em alguma coisa e por meio dessa relação

tal coisa podia ser descrita.

2.3 - Não há um teorema “de Pitágoras” e sim triplas pitagóricas

O enunciado mais famoso associado ao nome de Pitágoras é o teorema que

estabelece uma relação entre as medidas dos lados de um triângulo retângulo: “O

quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos.” Hoje se sabe

que essa relação era conhecida por diversos povos mais antigos do que os gregos e

pode ter sido um saber comum na época de Pitágoras. No entanto, não é nosso

objetivo mostrar que os pitagóricos não foram os primeiros na Históriaa estabelecer

essa relação. O objetivo é investigar de que modo esse resultado podia intervir na

Matemática praticada pelos pitagóricos, com as características anteriormente

descritas. A demonstração desse teorema, encontrada nos Elementos de Euclides,

faz uso de resultados que eram desconhecidos na época da escola pitagórica. Não

se conhece nenhuma prova do teorema geométrico que tenha sido fornecida por um

pitagórico e parece pouco provável que ela exista.

Roque (2012) apud. Burket afirma que o teorema “de Pitágoras” era um

resultado mais aritmético que geométrico. Quando falamos de aritmética nos

referimos ao estudo de padrões numéricos que estavam no cerne da Matemática

pitagórica e que dizem respeito aos números figurados. Não deve ter havido um

teorema geométrico sobre o triângulo retângulo demonstrado pelos pitagóricos, e

sim um estudo das chamadas triplas pitagóricas. O problema das triplas pitagóricas

é fornecer triplas constando de dois números quadrados e um terceiro número

quadrado que seja soma dos dois primeiros. Essas triplas são constituídas por

números inteiros que podem ser associados às medidas dos lados de um triângulo

retângulo.

28

Figura 7: Sucessão de gnomons. Fonte: ROQUE, 2012, p.113

Provavelmente, os pitagóricos chegaram a essas triplas por meio do gnomon,

que era sinônimo de números ímpares, formados pelas diferenças entre números

quadrados sucessivos. Os gnomons, que podem ser vistos como esquadros,

forneciam uma técnica para a realização de cálculos. Observando a figura 7,

podemos calcular a sequência dos quadrados com o deslocamento do esquadro,

procedimento equivalente a somar a sequência dos números ímpares. Por exemplo,

para obter o 4 a partir do 1, adicionamos o gnomon de três pontos; para obter o 9 a

partir do 4, adicionamos o próximo gnomon, que é o próximo número impar, 5.

Seguindo esse procedimento, chega-se a uma figura na qual o gnomon também é

um número quadrado, constituído por nove pontinhos. Obtém-se, assim, a igualdade

16 + 9 = 25, que dá origem à primeira tripla pitagórica: (3,4,5).

Esses seriam os procedimentos aritméticos usados para se obter as triplas

pitagóricas. Ou seja, a fórmula de Pitágoras pertenceria ao contexto dos números

figurados. Na tradição, poucas triplas são mencionadas e (3, 4, 5) tem um papel

especial, pois 3 é o macho; 4, a fêmea; e 5, o casamento que os une no triângulo

pitagórico.Essa afirmação também encontramos em Alves (2012)apud. Popper

(1972), onde fornece sua perspectiva pessoal, onde menciona que:[...] ao que parece, o fundador da ordem ou seita pitagórica estava profundamente impressionado com duas descobertas, a de que um fenômeno aparentemente qualitativo, como a harmonia musical, dependia de razões numéricas – 1 : 2; 2 : 3; 3 : 4; e a de que o ângulo “reto” refletia as razões numéricas 3 : 4 : 5 ou 5 : 12 : 13 (os lados de um triângulo retângulo). Estas duas descobertas teriam levado Pitagóras à generalização algo fantástica de que todas as coisas são, em essência, números ou proporções, de que o número é a razão, a essência racional das coisas, da sua natureza real (ALVES apud. POPPER, 1972, p.104).

Segundo Proclus, havia dois métodos para se obter triplas pitagóricas: um de

Pitágoras , outro de Platão. O primeiro começa pelos números ímpares. Associando

um dado número ao menor dos lados do triângulo que formam o ãngulo reto,

tomamos o seu quadrado, subtraímos a unidade e dividimos por 2, obtendo o outro

29

lado, que forma o ângulo reto. Para obter o lado oposto, somamos a unidade

novamente ao resultado. Seja 3, por exemplo, o menor dos lados. Toma-se o seu

quadrado e subtrai-se a unidade, obtendo 8, e extrai-se a metade de 8, que é 4.

Adicionando a unidade novamente, obtemos 5, e o triângulo retângulo que

procuramos é o de lados 3, 4 e 5.

O método platônico começa por um número par, considerando um dos lados

que formam o ângulo reto. Primeiro dividimos esse número por 2 e fazemos o

quadrado da metade. Subtraindo 1 desse quadrado, obtemos o outro lado que forma

o ângulo reto e, adicionando 1, o lado restante. Por exemplo, seja 4 o lado.

Dividimos por 2 e tomamos o quadrado da metade, obtendo 4. Subtraímos 1 e

adicionamos 1, obtendo os lados restantes: 3 e 5.

Chegamos à estranha conclusão de que o famoso teorema “de Pitágoras”

era, para a escola pitagórica, um resultado aritmético e não geométrico, cujo

significado ia além do estritamente matemático. O método usado para encontrar

triplas pitagóricas não é suficiente para assegurar a validade geométrica do teorema

“de Pitágoras” em todos os casos. Tal método permite gerar algumas triplas, como

(3, 4, 5) mas não todas as triplas de números que podem medir os lados de um

triângulo retângulo, sobretudo porque essas medidas não são necessariamente

dadas por números naturais.

Ao que parece, os pitagóricos estavam interessados na relação “aritmética”

expressa pela triplas em um sentido particular. Logo, pelo contexto em que esse

resultado intervém, não é possível dizer que o conhecimento aritmético das triplas

pitagóricas seja o exato correlato do teorema geométrico atribuído a Pitágoras, daí

as aspas empregadas aqui ao falarmos do teorema “de Pitágoras”.

Não se sabe, contudo, se no meio grego da época de Pitágoras eram

conhecidas outras provas a partir de uma teoria das razões e proporções simples.

Os triângulos retângulos podiam ser usados para somar áreas e o resultado

expresso pelo teorema “de Pitágoras” podia ser útil por possibilitar encontrar um

quadrado cuja área fosse a soma das áreas de dois quadrados.

30

2.4 – Os números pares e os ímpares

Conforme, Mendes(2006), a categorização do número como sendo par ou

ímpar é uma das classificações historicamente mais antiga de número. Geralmente

se aprende os conceitos de números pares e ímpares através de definições como

um número par é um número que é divisível por 2 ou um número par é um número

que tem 2 como um fator. Tais definições, para um aluno, claramente pressupõem o

conceito de divisão e, portanto, a princípio, não seriam úteis na apresentação da

referida operação no processo de ensino aprendizagem.

Seguindo Teon e Nicomachus, podemos representar números por coleções

de objetos pequenos, como botões ou até sementes, por exemplo, de feijão. Então,

com base nos ensinamentos desses dois neopitagóricos, números pares são os que

podem ser repartidos em dois grupos iguais. Enquanto, os números ímpares, em

contraste, não podem ser repartidos em dois grupos iguais.

2.5 - Propriedades Fundamentais dos Números Figurados Planos

O historiador e matemático Howard Eves (1969, p.53) explica que “os antigos

gregos faziam a distinção entre o estudo das relações conceituais entre os números

e a arte prática de contagem”. Ele recorda que os pitagóricos falavam de números

que pretensamente possuíam propriedades místicas.

Entretanto, nesta seção, nosso objetivo é o estudo dos números figurados

planos que, de acordo com Eves (1969, p. 54) se originaram com os primeiros

membros da sociedade pitagórica. Em essência, os números figurados

apresentavam as ligações entre a Aritmética e a Geometria.

Conforme os comentários de Alves (2012) apud Popper (1972), observamos

as propriedades que surgem a apartir das disposições geométricas, no qual há o

emprego do raciocínio indutivo em alguns argumentos, todavia, não se aplica o

princípio da Indução Matemática que constitui um dos axiomas de Peano (ALVES,

2012 apud. LIMA, 2010, p.34). Além disso, do ponto de vista histórico, os gregos

desconheciam o modelo de verificação e demonstração Matemática baseado na

Indução Matemática, sistematizado pelo matemático Giuseppe Peano (1858-1932).

31

Assim, podemos falar das várias relações notáveis entre os gnomons dos

números poligonais. Embora não sejam evidentes à primeira vista, são inerentes nas

fórmulas recursivas que veremos a seguir, e mais importante para o aluno, nos

registros escritos que deve elaborar, para que possam compreender as

propriedades e relações entre os números figurados planos.

2.5.1 - Números Figurados Triangulares

Os números figurados triangulares são definidos como o número de pontos

que são necessários para formar uma seqüência de triângulos, necessariamente

dispostos na forma de um triângulo eqüilátero, conforme a figura 8.

Figura 8: Os cinco primeiros números figurados triangulares.

Fonte: MENDES, 2006, p.155

Podemos destacar a relação geométrica, como é mostrada na figura 9, por

ligar os centros dos círculos exteriores ou por circunscrever a figura com um

triângulo eqüilátero.

Figura 9: O quarto número triangular. Fonte: MENDES, 2006, p.155

É possível usar outros tipos de triângulos para obter tipos diferentes de

números triangulares, mas isso fica a cargo do aluno se quiser experimentar

32

com os outros. Caso se fizer, este deverá fazer uma listagem das vantagens e

desvantagens de cada tipo.

Conforme mostrou a figura 8, os primeiros cinco números triangulares.

O número 1 é um caso degenerado e, portanto, talvez seja mais eficaz

apresentá-lo inscrito em um triângulo como na figura 10.

Figura 10: O primeiro número triangular. Fonte: MENDES, 2006, p.155

Será interessante informar ao aluno que os pitagóricos consideraram o

1 como o princípio de tudo. Mais adiante, quando abordarmos os números

quadrados , o 1 pode ser apresentado como inscrito em um quadrado (ver

figura 18) que comparado com a figura 10, o que deve esclarecer o conceito.

Um dos mais notáveis aspectos da figura 8 é que os números

triangulares formam uma sequência. Assim, dado um número triangular, há

um próximo na sequência e, portanto, faz sentido usar a notação T n para

designar o n-ésimo número triangular. É também evidente, da figura 8, que

dado um número triangular, o próximo da sequência terá um lado que é uma

unidade a mais. Isso significa que o “gnomon” de um número triangular é o

lado do triângulo anterior mais 1, como ilustrado na figura 11.

Figura 11: T 4 e T 5 com o gnomon destacado. Fonte: MENDES, 2006, p.156

Recordando, que a palavra “gnomon” foi usada originalmente para se

referir ao “ponteiro” de um relógio de sol, ou seja, à parte que fica em pé e

33

cuja sombra marcava a hora. Assim, foi associada à idéia de

perpendicularidade em geral e, em especial, foi usada para significar a região

de forma L, ver a figura 12, que é acrescentada a um retângulo para obter um

retângulo maior, ou visto de outra maneira, a região retirada para obter um

retângulo menor.

Figura 12: O gnomon de um retângulo. Fonte: MENDES, 2006, p.156

Segundo, um termo técnico da Matemática grega, a palavra “gnomon”

significa simplesmente o que é acrescentado ou retirado de uma figura ou um

número figurado para obter a próxima ou a anteriorà ela. Assim na figura 11, o

gnomon que é acrescentado a T 4 para obter T 5 é um lado de T 5, ou seja, um

conjunto de cinco elementos. Esse resultado é completamente generalizado e

pode ser escrito recursivamente da seguinte forma:

T n+1=T n+(n+1)

ondeT n é o triângulo de ordem n e n é a medida do lado do triângulo, ou seja,

o número de pontos que representam o lado.

Porém, se retirarmos uma unidade do sub-índice de T n+1, podemos

generalizar por:

T n=T n−1+n

Por exemplo, para determinar o triângulo de ordem 3, ou seja, T3 teremos:

T 3=T 3−1+3

Assim,34

T 3=T 2+3=3+3=6.

Logo, T3 é o número triangular construído com 6 pontos, e estes

podem ser encontrados na terceira diagonal do triângulo de Pascal.

Figura 13: Triângulo de Pascal.

Fonte: http://pt.wikibooks.org/wiki/Matemática_divertida/Triângulo_de_Pascal

Observando o triângulo de Pascal, podemos também generalizar, para os 7

primeiros números triangulares.

No entanto, deve-se perceber que na construção da sequência dos números

triangulares, estamos somando sucessivamente os números naturais em

ordem. Logo, o n-ésimo número triangular é a soma dos primeiros n números

naturais, ou seja:

T n=∑i=1

n

i

Porém, não é necessário que o aluno, use esse formalismo. Basta usar

a expressão clara e inteligível aos seus pares, e de fácil entendimento para a

sua compreensão.

Seria ótimo, que muitos alunos investigassem os padrões que se

evidenciam nos números triangulares. Mencionaremos aqui, alguns exemplos,

começando com T 4, a seqüência de números triangulares que parece se

35

repetir no interior dos próprios números triangulares, isto é, o interior de T 4 é

T 1 e o interior de T 5 é T 2.

A figura 14, mostra que alguns números triangulares têm uma pedra

central, enquanto outros não a têm. É possível determinar quais têm e quais

não têm pedra central?

Figura 14: O interior de T 4 e de T 5. Fonte: MENDES, 2006, p.158

Os primeiros 10 números triangulares são 1, 3, 6, 10, 15, 21, 28, 34,

45, 55,..., o que indica que a seqüência é ímpar, ímpar, par, par, ímpar, ímpar,

par, par e assim por diante. Será que isto continuará para sempre? Na figura

15, ligamos os centros de círculos adjacentes dos cinco primeiros números

triangulares da seqüência acima citada. No caso de T 1, não há círculos

adjacentes e, portanto, o processo não gera triângulo algum. No caso de T 2, o

processo gera um único triângulo, enquanto para T 3, T 4 e T 5 são gerados,

respectivamente 4, 9, 16 triângulos.

Figura 15: Triângulos nos números triangulares. Fonte: MENDES, 2006, p.158

A quantidade de triângulos gerados parece ser sempre um número

quadrado. Podemos conjecturar que o processo gerará para T n,(n−1)2

36

triângulos. Isso demonstra apenas um processo aritmético que transpassa

pela a geometria e a análise combinatória.

2.5.2 - Números Figurados Quadrados

Os números figurados quadrados são definidos como o número de

pontos necessários para formar uma seqüência de quadrados.

Figura 16: Número quadrado. Fonte: MENDES, 2006, p.159

Note que, a sequência de números quadrados é formada pela soma

consecutiva dos números ímpares, como por exemplo,

1+3=4 ;1+3+5=9 ;1+3+5+7=16.

Figura 17: Os quatro primeiros números quadrados.

Fonte: http://www.alunosonline.com.br/matematica/numeros-figurados.html

Assim como os números triangulares, os números quadrados formam

uma sequência e, portanto, usamos Qn para denotar o n-ésimo número

quadrado. Deve ser claro que Qn=n2. De novo, n=1 é um caso degenerado,

que deve ser apresentado conforme a figura 18.

37

Figura 18: O primeiro número quadrado.Fonte: MENDES, 2006, p.159

Dado um número quadrado, pergunta-se qual o gnomon que produzirá

o próximo número quadrado. Inicialmente, precisamos de um quadrado com

uma linha e uma coluna a mais, que conforme a figura 19, nos mostra

novamente um gnomon em forma de L. Contudo, podemos ainda quebrar o

gnomon em 3 partes, como na figura 19, que nos mostra a fórmula recursiva.

Qn+ 1=Qn+2n+1

Lembramos, no entanto, que Qn+ 1=(n+1)2 e Qn=n2, assim obtemos:

(n+1)2=n2+2n+1

Figura 19: O gnomon de um número quadrado. Fonte: MENDES, 2006, p.159

Em primeiro lugar, como a figura 20 nos mostra, todo número

quadrado, maior do que 1, é a soma de dois números triangulares

consecutivos, ou seja,

Qn+1=T n+1+Tn

38

Figura 20: Q5=T 5+T 4. Fonte: MENDES, 2006, p.160

Se retirarmos uma unidade do sub-índice de Qn+1, podemos generalizar

por:

Qn=T n+T n−1

Novamente, se destacarmos a diagonal, o número quadrado será

decomposto em dois números triangulares iguais e um segmento, resultando

na relação aritmética, conforme a figura 21.

Qn+1=2∙ T n+(n+1)

Figura 21: Q5=2 ∙Q4+5. Fonte: MENDES, 2006, p.160

Esta última relação nos sugere uma analogia geométrica, a

decomposição do quadrado em triângulos congruentes, conforme a figura 22.

Observamos que é apenas uma analogia, pois números figurados são objetos

discretos, enquanto figuras geométricas, como o quadrado, são objetos

contínuos. A diferença deve ser levada à atenção do aluno e a razão da

39

diagonal ao lado do quadrado pode ser aproximada através da mensuração

de quadrados com lados diferentes. Note bem, que o aluno não chegará a

uma compreensão imediata dos números reais , porém o preparará para uma

compreensão mais profunda, posteriormente quando estudar geometria plana

axiomática.

Figura 22: Uma decomposição do quadrado. Fonte: MENDES, 2006, p.161

2.5.3 - Números Figurados Retangulares

Os números figurados retangulares são definidos como o número de

pontos necessários para formar uma sequência de retângulos. Sua

configuração caracterizam os números que não representavam quadrados

perfeitos, chamados também de Oblongos.

Os pitagóricos não somente se interessavam em números poligonais

que correspondiam aos polígonos regulares, mas também investigavam

números figurados que correspondiam a retângulos.Analisando rapidamente

duas sequências de números retangulares, onde a primeira inicia com um

segmento de duas pedras, enquanto a segunda inicia com um segmento de

três pedras.

Denotaremos os elementos da primeira sequência por (Ob)n , advindo

de sua denominação de Oblongo. Como pode ser visto, um segmento inicial

da mesma é dado, conforme a figura 23

40

.

Figura 23: Números retangulares do primeiro tipo.

Fonte: MENDES, 2006, p.166

O gnomon de um número retangular é simplesmente o que tem a forma

de L, já encontrada na figura 12. Eles admitem uma decomposição em fatores

consecutivos, como vemos a seguir.

(Ob)n+1=n ∙(n+1)

.A decomposição desse gnomon sugere a relação recursiva, conforme

a figura 24:

(Ob)n+1=(Ob)n+n+(n+1)+1

¿(Ob)n+2 (n+1 ) paran∈N e n≥1

Sendo no lado menor do retângulo(Ob)ne(n+1) o seu lado maior.

Figura 24: O gnomon de um número retangular. Fonte: MENDES, 2006, p.167

Um número retangular desse tipo pode ser decomposto em dois

números triangulares iguais, como mostra a figura 25.

41

Figura 25: Uma decomposição do número retangular.

Fonte: MENDES, 2006, p.167

E isso, nos leva a relação:

(Ob)n=2∙ T n

Se observarmos, por analogia, um retângulo geométrico é decomposto

em dois triângulos congruentes pela diagonal.

Podemos perceber, por exemplo, que o segundo número retangular da

sequência pode ser determinado por(Ob)2=2∙ T 2. Como T 2=3, então

(Ob)2=2∙3=6. Assim também ocorre, para (Ob)3=2∙ T 3, onde T 3=6 , levando a

(Ob)3=2.

A outra sequência de números retangulares que podemos investigar é

a que começa com um segmento de três pedras, em vez de duas. Os

primeiros elementos dessa sequência, que denotaremos por Rn, são

mostradas a seguir na figura 26.

Figura 26: Números retangulares do segundo tipo.

Fonte: MENDES, 2006, p.167

42

Como se verifica, no caso com números retangulares, o gnomon será

dois lados adjacentes do retângulo, o que nos leva a seguinte relação

recursiva:

Rn+1=Rn+2n+3

onden é o lado menor de Rn

Todo retângulo geométrico é decomposto em dois triângulos

congruentes pela diagonal. Mas esse tipo de número retangular, como mostra a

figura 27, não pode ser decomposto em dois números triangulares iguais, que de

fato, corresponde à diagonal nesse tipo de número retangular.

Figura 27: Uma decomposição de R4. Fonte: MENDES, 2006, p.168

O que nos leva a refletir novamente sobre as diferenças entre números

figurados e figuras geométricas. Do ponto de vista educacional, no entanto, o fato de

que as analogias entre a aritmética e a geometria nem sempre nos levam a

resultados corretos, pois as analogias não proporcionam ao aluno, simples exemplos

rotineiros, mas problemas em abertos, que requerem investigação crítica. Assim,

mais uma vez, vemos que a Históriada Matemática nos conduz a atividades

substanciais, que podem aguçar o interesse do aluno.

Observemos, que apartir da figura 27, isso nos leva a uma relação

interessante:

Rn=2∙ T n+n

Lembrando que (Ob)n=2∙ T n, obtemos a seguinte relação,conforme a figura

28, entre os dois tipos de números retangulares:

43

Rn=(Ob)n+n

Figura 28: R4=(Ob)4+4. Fonte: MENDES, 2006, p.168

Há outros tipos de números retangulares que podem ser investigados pelos

alunos em sala de aula.

2.5.4 - Números Figurados Pentagonais

Os números figurados pentagonais são definidos como o número de

pontos necessários para formar uma sequência de pentágonos.

Segundo as noções de Geometria Plana, os polígonos regulares de

lado n existem para todo número natural maior que 2. Assim, para cada n do

tipo mencionado, podemos construir uma sequência de números n-gonais.

Para enfatizar as analogias geométricas, podemos construir as referidas

sequências, tomando os polígonos encaixados, em que cada ponto está a

uma distância de uma unidade do ponto vizinho, como mostra a figura 29,

para os casos depentágonos. Observe que sempre o primeiro número da

sequência é 1

44

Figura 29: Pentágonos encaixados.

Fonte: http://www.atractor.pt/mat/numeros/pentagonais/

.

Para os pitagóricos, o gnomon dos números pentagonais consistia de 3

lados, e este podia ser decomposto em 4 partes, como mostra a figura 30, o

que nos leva a seguinte relação aritmética:

Pn+ 1=Pn+3 ∙n+1

Figura 30: O gnomon de um número pentagonal. Fonte: MENDES, 2006, p.163

A seguir, temos a sequência dos cinco primeiros números pentagonais,

que são exibidos na figura 31.

Figura 31: Os cinco primeiros números pentagonais. Fonte: MENDES, 2006, p.163

Onde podemos ver, por exemplo, a sequência de números figurados

pentagonais, considerando que o primeiro é dado por um ponto, e o segundo

número dado por:

P2=P1+3 ∙1+1, ou seja, P2=1+4, logo, P2=5

Conforme a figura 32 nos mostra , um número pentagonal pode ser

decomposto em um número quadrado e um número triangular, o que deduz a

relação:

45

Pn+ 1=Qn+1+T n

Lembrando, que os números quadrados são compostos de dois

números triangulares, obtemos:

Pn+ 1=(T ¿¿n+1+T n)+T n=T n+1+2 ∙T n ¿

Figura 32: Decomposição de um número pentagonal. Fonte: MENDES, 2006, p.163

Partindo dos resultados aritméticos, podemos conjecturar, por analogia,

que o pentágono regular pode ser decomposto em um quadrado e um

triângulo, ou em três triângulos. No entanto, cabe então ao aluno investigar a

veracidade dessas conjecturas, onde com o auxílio do professor terá a

oportunidade de definir a diferença entre o discreto e o contínuo, mas também

é uma ocasião para conversar um pouco sobre a noção de demonstração,

para que fique esclarecido essas relações gnomonicais entre os números

figurados.

2.5.5 - Números Figurados Hexagonais

Os números figurados hexagonais são definidos como o número de

pontos necessários para formar uma seqüência de hexágonos.

Como, o primeiro número figurado hexagonal é sempre um, ou seja,

um ponto. O segundo é o número de pontos necessários para construir o

polígono menor. O terceiro é construído a partir do anterior, acrescentando

um ponto a cada lado e, depois, completar até construir o resto do polígono.

46

Figura 33: Hexágonos encaixados.

Fonte: http://www.atractor.pt/mat/numeros/hexagonais/

Qualquer número hexagonal é também um número triangular e, portanto

também são encontrados na terceira diagonal do triângulo de Pascal.

Figura 34: Os cinco primeiros números hexagonais. Fonte: MENDES, 2006, p.164

A figura 34 nos mostra um segmento inicial da sequência dos números

hexagonais.

Figura 35: O gnomon de um número hexagonal.Fonte: MENDES, 2006, p.164

O gnomon desses números é quatro lados, conforme mostra a figura

35, que mostra que o mesmo pode ser decomposto de tal maneira que

descreve a relação aritmética:

H n+1=H n+4 ∙(n+1)–3=H n+4 ∙ n+1;

47

Para passar do número hexagonal de ordem n ao seguinte, H n+1,

precisamos juntar quatro lados de comprimento igual a n+1, não esquecendo

de descontar as três sobreposições nos cantos.

Assim, chegamos a fórmula recursiva:

H 1=1 e H n+1=Hn+(4n+1);

Do mesmo modo, para construir H n, juntamos 4 ∙n−3 bolas ao anterior:

H n=H n−1+4 ∙ n−3

No entanto, um número hexagonal pode ser decomposto em um

número quadrado e dois números triangulares, como mostra a figura 36, e o

que sugere a seguinte relações aritmética:

H n=Q n+1+2∙ T n=(Tn+1+Tn)+2∙ T n=T n+1+3 ∙T n

Figura 36: Uma decomposição de um número hexagonal.

Fonte: MENDES, 2006, p.164

Um fato interessante de investigação histórica e Matemática, seria a

busca de algumas conjecturas geométricas que envolva o número hexagonal.

Um deles, seria de ser levado a perceber que exatamente seis circunferências

cabem ao redor de uma dada circunferência e todas do mesmo raio, e outra

de que, o hexágono regular resulta quando ligamos sucessivamente os

centros das seis circunferências, como também devem perceber que o

hexágono regular é composto de seis triângulos equiláteros congruentes.

48

Figura 37: Conjectura geométrica em torno do número hexagonal.

Fonte: MENDES, 2006, p.165

2.6 - Relações Fundamentais dos Números Figurados Planos

Nesta seção, cabedemonstrar, algumas das proposições,teoremas e

corolários, que determinam relações fundamentais entre os números

triangulares, quadrados, pentagonais e hexagonais, assim como a existência

de números heptagonais e octogonais.

Teorema 2.6.1: Dadon∈N , com n≥1, um número triangular é dado pela

relação T n=n(n+1)

2

Demonstração:

De fato, temos através de um raciocínio indutivo que, T n+1=T n+(n+1),

para n≥1. Todavia, esta fórmula ainda apresenta sérios inconvenientes, uma

vez que, para calcular o número triangular T 100, por exemplo, necessitamos

saber o valor de T 99. Uma maneira eficiente de superar este problema

consiste em observar as somas, que deram origemaos 10 primeiros termos

da sequência dos números triangulares:

T 1=1;

T 2=T 1+(1+1)=1+2=3 ;

T 3=T 2+(2+1)=3+3=6 ;

49

T 4=T 3+(3+1)=6+4=10 ;

T 5=T 4+(4+1)=10+5=15 ;

T 6=T 5+(5+1)=15+6=21 ;

T 7=T 6+(6+1)=21+7=28 ;

T 8=T 7+(7+1)=28+8=36 ;

T 9=T 8+(8+1)=36+9=45 ;

T 10=T 9+(9+1)=45+10=55 ;

Note que;

T 1=1=1∙22

=1∙(1+1)

2;

T 2=3=2 ∙32

=2 ∙(2+1)2

;

T 3=6=3 ∙42

=3 ∙(3+1)2

;

T 4=10=4 ∙52

=4 ∙(4+1)

2;

T 5=15=5 ∙62

=5 ∙(5+1)2

;

T 6=21=6 ∙72

=6 ∙(6+1)2

;

T 7=28=7 ∙82

=7 ∙(7+1)

2;

T 8=36=8∙92

=8 ∙(8+1)

2;

T 9=45=9 ∙102

=9 ∙(9+1)2

;

T 10=55=10 ∙112

=10 ∙(10+1)2

;

50

Também é válido para os demais termos da sequência dos números

triangulares. Note que foi empregado apenas regras axiomáticas permissíveis nos

conjuntos numéricos. Deste modo, suspeitamos a pertinência da seguinte

propriedade, para um n∈IN qualquer.

Assim, temos que:

T n=1+2+3+. . .+n=n (n+1)2

Para verificar a mesma propriedade, e se esta é válida para o conjunto dos

números naturais, definimos um conjuntoH , como minha hipótese de indução, onde

H ∶={n∈N∨Tn=n (n+1)

2}e reparemos que {1 ,2 ,3 , ... }∈H ≠∅. A próxima etapa desta

demonstração por indução Matemática requer à verificação de que se n∈H , logo

tambémn+1∈HContudo, escrevemos, para obter a tese de indução ;

T n+1=1+2+3+…+n+(n+1 )=n(n+1)2

+(n+1)

¿(n+1 )(n+2)

2 =(n+1 )((n+1 )+1)

2

Pelo princípio de indução Matemática, concluímos que

n+1∈H ∶={n∈N∨T n=n (n+1 )

2}∴H=N ∎

Teorema 2.6.2: O único número figurado triangular primoT n é o 3, onden≥1.

Demonstração:

51

De fato, podemos verificar por indução Matemática, utilizando a relação

aritmética recursivaT n=n(n+1)

2, onden∈N .

Se considerarmos,nsendo um número natural par, temosn=2k, comk∈N ,

segue-se que:

T 2k=2k (2k+1 )

2=k (2k+1)

Assim, o único caso em que temos um número primo ocorre na condição em

que k=1ou quando(2k+1 )=1⇒ k=0o que não podeocorrer, segundo nossa

definição inicial.

Assim, só temos a possibilidade parak=1⇒ n=2 ∙1=2.

No entanto, T 2=2(2+1)

2=3

Na outra condição, temosnsendo um número natural ímpar,comn=2k+1, e

k∈N . Daí, escrevemos, T 2k+1=(2k+1 )(2k+2)

2 =(2k+1 )(k+1)

E neste caso, nenhuma das expressões pode ser unidade, ou seja:

(2k+1 )=1ou(k+1 )=1⇔k=0, que novamente não obedece a definição inicial.

Logo, o único número figurado triangular T n é 3.

Teorema 2.6.3: Dado n∈N , com n≥1, um número quadrado é dado pela

relação Qn+ 1=(n+1)2.

Demonstração:

A partir da fundamentação vista na seção 2.2.2, assim assumimos a seguinte

notação para o conjunto dos n primeiros números quadrados,

{Q1 ,Q 2,Q3 ,Q4 ,…}={1,4,9,16 ,…}= {12 ,22 ,32 ,42 ,…} e assim observamos a

propriedade de potências de 2.

52

Tomando como hipótese de indução, escrevemos,Qn=n2, assim Qn+ 1=(n+1)2

todavia,notamos que cada número quadrado pode ser obtido a apartir do seu

antecessor, conforme a propriedade com os números triangulares, dessa

forma, Q2=1+3, Q3=3+6, Q4=6+10=T3+T 4.

Notamos que paran≥1, podemos escrever:

n2=n2

2+ n

2+ n

2

2−n

2=n(n+1)

2+

(n−1 )n2

=Tn+T n−1

Por indução Matemática, estabelecemos:

Qn+1=Qn+(n+1 )+(n+1 )−1=Qn+2n+1=n2+2n+1=(n+1)2

Teorema 2.6.4 (Theon de Smyrna, 100 a.C.) : Todo número quadrado é a

combinação de dois números triangulares.

Demonstração:

Dadon>1, escrevemosQn=n2⇒Q n=T n+T n−1

Teorema 2.6.5 (R.B. Nelsen, 1997) : Dadon≥1, temos a relação

T 2n−1+T

2n=T n2

Demonstração:

Observemos as relações:

T 21+T

22=12+32=10=2∙5=

22(22+1)2

¿T22e

53

T 22+T

23=32+62=9+36=45=90

2=32 ∙10

2=32(32+1)

2¿T 32.

Usando a hipótese de indução, escrevemos T 2n−1+T

2n=T n2, emseguida,

analisamos a seguinte expressão:

T 2n−1+T

2n=(Tn−1+n)

2+(T n+(n+1))2

¿ [T 2n−1+T

2n ]+2n ∙T n−1+n

2+2 (n+1 ) ∙ T n+(n+1)2

¿ [T n2 ]+2n (n−1 )n

2 +n2+2 (n+1 )n(n+1)

2 +(n+1)2

¿ [T n2 ]+n (n−1 )n+n2+ (n+1 )n (n+1 )+(n+1)2

¿ [T n2 ]+ (n−1 )n2+n2+n (n+1)2+(n+1)2

¿n2(n2+1)

2+(n−1 )n2+n2+(n+1 ) (n+1 )2

¿n2[ (n2+1)2

+ (n−1 )+1]+ (n+1 ) (n+1 )2

¿n2[ (n2+1+2n)2 ]+ (n+1 ) (n+1 )2=n2[ (n+1)2

2 ]+ (n+1 ) (n+1 )2

¿(n+1)2[n2 ∙( 12 )+(n+1)]=(n+1)2[ n2+2n+2

2 ]¿(n+1)2[ n2+2n+1+1

2 ]=(n+1)2[ (n+1)2+12 ]=T (n+1 )2

Corolário 2.6.6: Dado, temos as seguintes relações:

a) 8 ∙ Tn+1=Q(2n+1)(Diophantus de Alexandria, 200 a.C.)

b) 8 ∙ Tn−1+4 n=Q2n

Demonstração:

No item (a) temos de imediato que:

54

8 ∙ Tn+1=8 ∙ n(n+1)2

+1

¿4 n (n+1 )+1=4n2+4 n+1=(2n+1)2=Q2n+1

E no item (b) escrevemos:

8 ∙ Tn−1+4 n=8∙ (n−1)n2

+4 n

¿4 n (n−1 )+4n=−4 n+4 n2+4n=Q2n

Segundo Alves (2012) apud. Burton(2006, p.100), temos os seguintes

padrões aritméticos:

13=1=T21 ;

13+23=1+8=9=T22 ;

13+23+33=1+8+27=36=T 23;

13+23+33+43=1+8+27+64=100=T 24;

Observa-se que, do lado direito das identidades, temos o quadrado de

números triangulares. Tal padrão possibilita conjecturar que a soma dosn

cubos de números é igual ao quadrado do n-ésimo número triangular, o que

nos proporciona enunciar o próximo teorema.

Teorema 2.6.7 (Nicomachus, 60 a.C): Dadon≥1, temos que :

13+23+33+…+n3=T 2n.

Demonstração:

Para tal,aconselha olhar as seguintes igualdades e somando-las, e assim

obter relações interessantes como indicamos abaixo:

55

1=13

3+5=23

7+9+11=33

13+15+17+19=43

21+23+25+27+29+31=53

.

.

.

[n (n−1 )+1 ]+ [n (n−1 )+3 ]+…+ [n (n−1 )+(2n−1)]=n3

⟹1+3+5+7+…+[n (n−1 )+(2n−1)]=13+23+33+…+n3

Por outro lado, Alves (2012) apud. Burton (2006, p.100), aconselha observar

que:

[n (n−1 )+1 ]+ [n (n−1 )+3 ]+…+ [n (n−1 )+(2n−1)]

¿ [n2−n+1 ]+[n2−n+3 ]+…+[n2−n+(2n−1 ) ]

¿ [n2−n+1 ]+[n2−n+3 ]+…+[n2+n−1 ]

¿ [n2−n+1 ]+[n2−n+3 ]+…+[n (n+1 )−1 ]

¿2 ∙[n(n−1)2

+1]+ [n2−n+3 ]+…+[n (n+1 )−1]

Conclui-se escrevendo, que:

13+23+33+…+n3=[ n(n+1)2 ]

2

=T2

n

Teorema 2.6.8: Paran∈N , temos:

56

12+22+32+…+n2=n (n+1 )(2n+1)

6

Demonstração:

Desenvolveremos aidéia de Alves (2012) apud. Burton (2006, p.108), que

explica que “o mesmo resultado foi obtido também por Arquimedes (287-212

a.C)” Para o seguinte diagrama que envolve a idéia de somas de números

quadrados que passamos a descrever, conforme a figura 38:

Com esse objetivo, por meio de contagem e completando a figura 38 do lado

esquerdo, imaginamos do lado direito, as seguintes equivalências numéricas:

(12+22+32+42 )+(1+3+6+10 )=(1+2+3+4 ) ∙(4+1)

Figura 38: Diagrama explicativo. Fonte: ALVES, 2012 apud. BURTON, 2006, p.100

onde,

(12+22+32+42 )são os números quadrados;

(1+3+6+10 )são as linhas horizontais;

(1+2+3+4 )é a base do retângulo;

(4+1)é a altura

Em seguida, observa-se que:

(12+22+32+42 )+(1+3+6+10 )=10 ∙5

57

⇔ (12+22+32+42 )=50− (1+3+6+10 )

Ou seja, paran=4, temos:

(12+22+32+42 )=50−20=30=4 ∙5 ∙66 =

4 (4+1 )(2 ∙4+1)6

Em seguida, sugere um diagrama semelhante para prever o comportamento

padrão para a soma de12+22+32+42+52, e usando o mesmo raciocínio,

podemos escrever:

(12+22+32+42+52 )+(1+3+6+10+15 )=(1+2+3+4+5 ) ∙(4+2)

onde,

(12+22+32+42+52 )são os números quadrados;

(1+3+6+10+15 )são as linhas horizontais;

(1+2+3+4+5 )é a base do retângulo;

(4+2)é a altura

No entanto, observa-se que:

(12+22+32+42+52 )+(1+3+6+10+15 )=15 ∙6

⇔ (12+22+32+42 )=90−(1+3+6+10+15 )

Ou seja, paran=5, temos:

(12+22+32+42+52 )=90−35=55=5 ∙6 ∙116 =

5 (5+1 )(2∙5+1)6

58

Figura 39: Diagrama generalizado. Fonte: ALVES, 2012 apud. BURTON, 2006, p.101

Conforme a figura 39, dadon∈N , escreve-se:

S=12+22+32+42+…+n2

Alves (2012) apud. Burton (2006, p.109) observa que as dimensões do

retângulo no n-ésimo passo são de(1+2+3+…+n ) (n+1 ). E que a outra parcela

pode ser descrita por:

(1+3+6+…+ (1+2+…+n ) )=¿

¿ (1+(1+2 )+(1+2+3 )+…+ (1+2+…+n ) )=¿

Ou podemos escrever ainda:

¿( 1 ∙22

+ 2∙32

+ 3 ∙42

+…+n (n+1)

2 )

Agrupando todos os termos e usando a relação generalizada, baseada no

diagrama, temos:

S+(1 ∙22

+ 2∙32

+3 ∙42

+…+n(n+1)

2 )=(1+2+3+…+n ) (n+1 )=¿

¿ S+( 1 ∙22

+ 2∙32

+ 3 ∙42

+…+n (n+1)

2 )=n(n+1)2

∙ (n+1 )⇔

59

⇔S+ 12∙ (1 ∙2+2 ∙3+3 ∙4+…+n ∙ (n+1 ) )=n(n+1)2

2⇔

Ou ainda, reagrupando os termos desta soma:

⇔S+ 12∙ (1 ∙ (1+1 )+2 ∙ (2+1 )+3∙(3+1)+…+n∙ (n+1 ))=n(n+1)2

2

⇔S+ 12∙ (12+22+32+…+n2+(1+2+3+…+n))=n(n+1)2

2

⇔S+ 12∙(S+ n(n+1)

2 )=n(n+1)2

2

⇔S+( S2 +n (n+1)

4 )= n(n+1)2

2

⇔ 3 S2

=n(n+1)2

2−n(n+1)

4

⇔ 3 S2

= (n+1 ) ∙[2n (n+1 )−n]4

⇔ 3 S2

=(n+1 )(2n2+n)

4

Finalmente, conclui-se que:

⇔ 3 S2 =

n (n+1 )(2n+1)4

⇔S=n (n+1 )(2n+1)

6 ∎

Proposição 2.6.9: Dado n ∈IN, com n≥1, um número pentagonal é dado pela

relaçãoPn=n(3n−1)

2 ; e por conseguinte, que Pn=n+3Tn−1

Demonstração:

60

Nossa próxima discussãoenvolve as configurações da figura 40, que

caracterizam os chamados números pentagonais(Eves, 1969, p.55).

Se descrevermosos números pentagonais pelo conjunto dos primeiros termos

de sua seqüência, temos:

{P1 ,P2 , P3 ,P4 ,… }= {1,5,12,22 ,…}.

Figura 40: Decomposição de um número pentagonale suas relações com os

números triangulares e quadrados. Fonte: EVES, 1969, p.56

Mas reparemos que:

P1=1=1 ∙(3 ∙1−1)2

P2=5=1+4=1+(3 ∙2−2)=2 ∙(3 ∙2−1)2

P3=12=1+4+7=1+4+(3 ∙3−2)=3∙(3∙3−1)

2

P4=22=1+4+7+10=1+4+7+(3 ∙4−2)=4 ∙(3 ∙4−1)2

.

.

.

Por indução, conjecturamos que:

61

Pn=1+4+7+…+(3n−2)

No que segue, estabelecemos por indução Matemática que:

Pn=1+4+7+…+ (3n−2 )=n(3n−1)2

Por outro lado, Eves (1969, p.56) observa que:

Pn=n(3n−1)

2=n+3 ∙[ (n−1 )n

2 ]=n+3 ∙ T n−1

Que verifica a sua relação com os números triangulares.

Desta forma, observando a figura40, do lado direito, escrevemos:

T 1+Q 2=P3;T 2+Q3=P3 ;T3+Q4=P4 ;…;T n+Qn+1=Pn+1

Com base nestes resultados, demonstramosa seguir dois teoremas

Teorema 2.6.10: O único número pentagonal primo é o 5.

Demonstração:

Para n≥1, temos:

Pn=n(3n−1)

2

Supondo que n é par, digamos quen=2k; assim:

P2 k=2k (3 ∙2k−1)

2=k (6 k−1)

62

Consideremos os seguintes casos:

Para k=1, assimP2=1 ∙ (6∙1−1 )=5

Para k>1 , assim concluímos que não pode ser primo.

No entanto, analisando o caso em que n=2k+1 ,para que n seja ímpar,

observa-se que:

P2 k+1=(2k+1)(3∙(2k+1)−1)

2 =(2k+1 )(6k+2)

2 =(2k+1)(3k+1)

Chegando, novamente a conclusão que não pode ser primo, assim o único

número pentagonal primo é o 5.

Teorema 2.6.11: Qualquer número pentagonal é um terço de um número

triangular.

Demonstração:

Já vimos que, para n≥1, temos que :

Pn=n(3n−1)

2

Assim, fazendom=3n−1, por equivalência n=m+1

3 , logo:

Pn=(m+1

3 )(3∙(m+13 )−1)

2 =13 ∙m(m+1)

2 =13 ∙Tm∎

63

Proposição 2.6.12: Dado n ∈IN, com n≥1, um número hexagonal é dado pela

relação H n=Pn+T n−1, por conseguinte que, H n=n∙(2n−1)

Demonstração:

Descrevendo os números hexagonais pelo conjunto dos primeiros termos de

sua sequência, temos:

{H 1 ,H 2, H 3 ,H 4 ,… }={1,6,15,28,65 ,…}

A partir dela observamos que:

H 1=1=1∙ (2∙1−1 )

H 2=6=2 ∙ (2 ∙2−1 )

H 3=15=3 ∙ (2 ∙3−1 )

H 4=28=4 ∙ (2∙4−1 )

.

.

.

Por outro lado, para verificar que n+1∈R,empregamos as relações:

H 1=T 1;

H 2=P2+T 1;

H3=P3+T 2;

.

.

.

64

H n=Pn+T n−1=n(3n−1)

2+

(n−1 )n2

=¿

¿ 3n2−n+n2−n2

=2n2−n=n(2n−1)

Teorema 2.6.13: Todo número hexagonal é um número triangular.

Demonstração:

De fato, sabemos que:

H n=n (2n−1 )=n+4 ∙ Tn−1= (n+T n−1)+3∙ T n−1=T n+3∙ T n−1=¿

¿n(n−1)

2+

3n (n−1)2

=4n2−2n2

=(2n−1 )(2n−1+1)

2

Considerando, m=2n−1, temos:

H n=(2n−1 )(2n−1+1)

2 =m(m+1)

2 =Tm

Assim, temos um número triangular de ordem m.

Diante de todas as relações fundamentais que vimos até agora, enunciamos a

proposição a seguir

Proposição 2.6.14: Com relação aos números figurados, temos as seguintes

relações:

a) Pn=n+3 ∙T n−1

b) H n=n+4 ∙ T n−1

65

Demonstração:

No item (a), sabemos que:

Pn=n(3n−1)

2=3n2−n

2=2n+3n2−3n

2=n+3 ∙

(n−1 )n2

=n+3 ∙ Tn−1

No item (b), sabemos que:

H n=n (2n−1 )=2n (2n−1 )2

=4n2−2n2

=4 n2+2n−4n2

=4 n (n−1 )

2+ 2n

2=¿

¿n+4T n−1

Para concluir essa seção, Alves (2012) apud. Conway e Guy (1996, p.39),

descrevem uma maneira analítica e engenhosa de obtermos os números

heptagonais, octogonais, eneagonais, etc.

A partir das relações:

n+T n−1=T n

n+2T n−1=Qn

n+3T n−1=Pn

n+4T n−1=H n

n+5T n−1=Heptn

n+6T n−1=Octn

n+7T n−1=Enen

.

.

.

66

E desta forma, obtemos estas relações acima, a partir de um modelo

generalizado.

CAPÍTULO 3

EXPLORANDO OS NÚMEROS FIGURADOS PLANOS POR MEIO DE ATIVIDADES HISTÓRICAS EINVESTIGATÓRIASNO ENSINO DE MATEMÁTICA

3.1 - A investigação histórica no ensino de Matemática.

De acordo com Ponte et al. (2009), investigar é procurar conhecer o que não

se sabe. Para os matemáticos profissionais, investigar é descobrir relações entre

objetos matemáticos conhecidos ou não, procurando identificar as respectivas

propriedades. Para se trabalhar com essa metodologia, não são necessários

problemas ou questões difíceis, mas sim questões mais abertas e interessantes para

os alunos, provocando-os procurar sua solução.

Assim, a Históriada Matemática deve ser encarada como o princípio

unificador das faces cotidiana, escolar e científica da Matemática, cujo ensino deve

ser praticado por meio de atividades investigatórias focadas em seu

desenvolvimento histórico. Desta forma, pressupõe-se com isso, uma reconstrução

dos aspectos matemáticos a serem abordados na sala de aula, visto que as

informações históricas raramente são utilizadas como elemento gerador da

aprendizagem da Matemática, quer seja na ação pedagógica do professor de

Matemática, quer seja nos livros didáticos adotados por ele. Apenas alguns livros

paradidáticos contêm certas atividades que se aproximam do que proponho para o

ensino da Matemática. É necessário, entretanto, responder questões do tipo: O que

se entende por investigação histórica no ensino da Matemática? O que se entende

por atividade investigatória no ensino da Matemática?

Ensinar por meio da investigação histórica no ensino da Matemática é uma

das tendências atuais em Educação Matemática. De acordo com esta metodologia,

67

no desenvolvimento do trabalho na sala de aula, o aluno é chamado a ser partícipe

do trabalho tornando-se também responsável pelas as atividades. De acordo com

Ponte (2009), temos que:O conceito de investigação Matemática, como atividade de ensino-aprendizagem, ajuda a trazer para a sala de aula o espírito de atividade genuína, constituído por isso, uma poderosa metáfora educativa.O aluno é chamado a agir como um matemático, não só na formulação de questões e conjecturas e na realização de provas e refutações, mas também na apresentação de resultados e na discussão e argumentos com seus colegas e professores.(PONTE, 2009,p.23)

Segundo Mendes (2009), a atividade investigatória no ensino da Matemáticaé

como o encaminhamento didático dado ao processo de geração de conhecimento

matemático, que provoca a criatividade e o espírito desafiador do aluno para

encontrar respostas às suas indagações cognitivas e construir suas idéias sobre o

que pretende aprender. Seu uso em sala de aula pode ser orientado direta ou

indiretamente pelo professor, dependendo, para isso dos objetivos e procedimentos

presentes em cada atividade. Tal abordagem de ensino deve concretizar-se de

acordo com as condições ambientais estimuladoras e psicológicas do aluno e

pedagógicas do professor.Enquanto, as atividades investigatórias no ensino de

Matemática devem constituir um processo de construção contínua do conhecimento,

considerando os três modos de representar os conceitos matemáticos: físico/visual,

oral e simbólico, por meio de três níveis de atividades, de desenvolvimento, conexão

e abstração.

As atividades de desenvolvimento são as que permitem ao aluno

experimentar um conceito matemático e familiarizar-se com as condições formais de

descrição desse conceito. As de conexão dão seqüência à aprendizagem do

conceito matemático, desde que conectem as compreensões conceituais

representadas física e oralmente, buscando conduzir o aluno ao processo de

representação simbólica. As de abstração exploram mais profundamente a

representação simbólica de um conceito matemático, tendo em vista explorar a

capacidade do aluno em comunicar amplamente as suas idéias Matemáticas. Elas

são usadas adequadamente quando a exploração dos aspectos físico e oral de um

conceito matemático já tiver sido praticada intensivamente por meio das atividades

de desenvolvimento e conexão.

68

Desta forma, a investigação histórica no ensino da Matemática, adotaessa

expressão para aquelas atividades investigatórias de ensino que conjugadas com o

desenvolvimento histórico da Matemática, trazem um significado mais profundo ao

conhecimento construído na sala de aula. Neste sentido, as informações históricas

devem enfatizar os porquês matemáticos que podem estar implícitos nos problemas

suscitados na atividade ou explícitos nos textos históricos resgatados de fontes

primárias ou secundárias, ou seja, de textos originais ou de livros de Históriada

Matemática.

Conforme Bisognin e Refatti (2010), essas atividades podem ser

manipulativas ou não, de acordo com o nível de complexidade do conhecimento

matemático a ser construído pelo aluno, independentemente do nível escolar em

que se encontra. É adequado, porém, o uso de atividades que favoreçam a

interatividade entre o sujeito e o seu objeto de conhecimento. Além disso, essa

abordagem deve sempre que possível, efetivar-se sob uma perspectiva

contextualizadora que evidencie os aspectos cotidiano, escolar e científico do

conhecimento a ser construído, desde que rearticulados ao longo do processo de

manuseio de qualquer material.

No entanto, uma forma de conceber o uso das informações históricas como

um elemento de geração da Matemática escolar por meio da investigação histórica

em sala de aula, e também tentando responder como as informações históricas

podem contribuir para a melhoria do ensino da Matemática, seria a busca de

respostas para essas questões, assim como outras que surgem, do tipo, se as

atividades históricas são mais eficazes do que as atividades que não usam a

Históriadurante as aulas de Matemática.

Contudo, uma proposta de trabalhar a Matemática em sala de aula, seria o

uso da investigação histórica no ensino da Matemática por meio de atividades que

pressupõe a participação efetiva do aluno na construção de seu conhecimento, que

constitui um aspecto preponderante no procedimento didático do ato de ensinar e

aprender, pois as relações interativas entre professor e alunos e entre alunos,

podem ser integradas na exploração de atividades investigatórias.

Para sustentar a proposta de investigação histórica como uma forma de

abordagem viável para o ensino da Matemática, que serão analisadas algumas

concepções teóricas que defendem o uso da Históriada Matemática como fonte

69

geradora do conhecimento matemático, considerando as contribuições dessas

concepções para a construção da proposta pedagógica pretendida e, além disso, vai

se esclarecer os pressupostos teóricos acerca do uso de atividades no ensino da

Matemática, baseados na investigação histórica da Matemática.

3.2- A utilização de atividades investigatórias no ensino de Matemática

O uso de atividades como recurso para a aprendizagem da Matemática

geralmente se inicia nas primeiras séries do ensino fundamental, devido à

concepção dos professores acerca do processo de construção desse conhecimento

pelos alunos. Entretanto, de acordo com o nível de complexidade do conhecimento a

ser construído pelos alunos, independentemente do nível escolar em que se

encontram, é adequado o uso de atividades que favoreçam a interatividade entre o

sujeito e o seu objeto de conhecimento, sempre em uma perspectiva

contextualizadora que evidencie três aspectos do conhecimento: cotidiano, escolar e

científico, principalmente quando são rearticulados ao longo do processo de

manuseio de qualquer componente da atividade, como o material manipulativo, as

orientações orais e escritas e o diálogo estabelecido durante todo o processo de

ensino e aprendizagem.

Segundo Bisognin e Trevisan (2006), o uso de diagramas, figuras e

esquemas assumem, na Matemática um papel preponderante, pois todos contêm

informações que permitem a visualização dos conceitos e processos matemáticos

envolvidos nas operações. A abordagem visual desempenha um papel importante

no trabalho com os conceitos matemáticos, pois pode gerar significados para a

aprendizagem dos mesmos.

Os métodos possuem um conteúdo visual que permitem uma

representação geométrica, cuja utilização é bastante proveitosa, tanto para a

articulação entre os conceitos e os métodos, quanto para a resolução de

determinadas situações-problema. Portanto, é essencial para a compreensão de um

determinado conceito matemático que se proceda a sua exploração de todas as

formas possíveis. Assim, se proporcionará aos alunos formas variadas de

representação de uma idéia Matemática e será permitido o desenvolvimento de

70

imagens mentais, que contribuem para o desenvolvimento do pensamento

matemático.

Do ponto de vista do ensino e da aprendizagem da Matemática, as

representações feitas pelos alunos sobre determinados conceitos permite ao

professor analisar o modo de pensar e raciocinar e, dessa forma, detectar erros e

corrigi-los.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), a

disciplina de Matemática tem por finalidade:

Desenvolver capacidades para usar a Matemática com o intuito de

interpretar e intervir no mundo real;

Desenvolver capacidades de criar e formular problemas;

Contribuir para uma atitude positiva frente a esta ciência;

Contribuir para o desenvolvimento de atitudes de autonomia e

responsabilidade;

A investigação no ensino de Matemática, enquanto metodologia de

trabalho na sala de aula, permite a criação de um ambiente de aprendizagem que

colabora para o desenvolvimento das capacidades previstas nos Parâmetros

Curriculares Nacionais (1998), e caracteriza-se pela proposição de uma questão,

cujo enunciado está pouco definido e, a partir de um conjunto de dados e

informações, procura-se formular questões mais precisas e propor conjecturas. À

medida que essas conjecturas são testadas, elas ganham credibilidade e, assim,

são validadas, somente então, é que se comunica o resultado da investigação. Esse

processo assume um papel fundamental na aprendizagem do aluno, pois ele se

torna agente participativo pelo trabalho a ser realizado.

De acordo com Pereira (2004), a diferença entre problema e

investigação no ensino de Matemática é pouco evidente. Em um problema, a

pergunta é bem precisa, feita pelo professor e o objetivo é buscar um caminho para

solucioná-lo. Na investigação, a questão é aberta e cabe ao aluno definir a sua

formulação, em que o objetivo é explorar o maior número de caminhos a partir da

mesma situação.

71

Existem quatro etapas que são características de uma investigação no

ensino de Matemática, definidas por Ponte, Oliveira, Brunheira, Varandas e Ferreira

(1999):

Formular a questão de investigação;

Formular conjecturas relativas a essa questão;

Testar as conjecturas e, se preciso, reformulá-las;

Validar e comunicar os resultados;

De acordo com Ponte, Brocado e Oliveira (2003), os exercícios são

tarefas de pouca dificuldade e de estrutura fechada, enquanto que os problemas têm

grau de dificuldade maior, mas também tem uma estrutura fechada, e já as

investigações no ensino de Matemática são tarefas de estrutura aberta e com grau

mais elevado de dificuldade que os anteriores.

Embora as abordagens sejam muito próximas, é importante observar a

diferença de atitude do professor e do aluno perante a resolução de problema e da

realização de tarefa de investigação. No problema, é o professor quem gerencia

todo o trabalho, e na investigação, é o aluno quem orienta todo o processo. O

professor tem um papel de mediador e orientador, fazendo perguntas e levantando

hipóteses.

3.3 -Orientações para a ação docente

Conforme Mendes (2009), o professor deve escolher alguns temas

matemáticos de interesse para o seu trabalho, em nosso caso, os números figurados

planos, e fazer um levantamento do material bibliográfico a esse respeito. Em

seguida, é importante que pesquise a vida dos matemáticos envolvidos, suas

filosofias, convicções, prestando atenção particular às descobertas e contribuições

Matemáticas deles para o desenvolvimento do tema selecionado. Para isso, deve

usar fontes da biblioteca, internet, jornais, entre outras.

O professor deve decidir o nível de orientação a ser encaminhado para cada

atividade, conforme as finalidades previstas e as necessidades da turma,

dependendo do tópico matemático a ser aprendido pelos os alunos. As ilustrações

72

utilizadas nos trabalhos podem ser desenhadas pelos alunos, exploradas por alguns

programas de computador ou extraídas de páginas na internet. Cada um deve

escolher o meio a utilizar, mas nunca deve deixar de mencionar a origem das

imagens, desenhos ou esquemas incluídos no seu trabalho final. Além disso, deve

sempre citar todas as referências utilizadas, pois dará mais valor e veracidade ao

estudo investigativo realizado.

É importante orientar a preparação de um trabalho final escrito, contendo sua

reflexão sobre o tema investigado historicamente, incluir um resumo global dos livros

pesquisados e mostrar o que foi aprendido na preparação e no desenvolvimento da

pesquisa. O trabalho escrito deve, ainda, evidenciar aspectos críticos de seus

autores, pois assim o trabalho final certamente terá muito mais credibilidade de

quem apreciar.

Por isso, a orientação docente deve esclarecer que a investigação histórica

pode mostrar as principais contribuições dos matemáticos e as pessoas que se

envolveram na construção e na evolução da Matemática. Além disso, oferece ampla

possibilidade de se construir um processo de aprendizagem independente, no qual o

aluno explora, descobre, investiga e aprende sobre a Matemática, a sociedade e a

cultura humana. Desse modo, poderá ser possível, ao aluno, fazer conexões entre a

Matemática e as outras disciplinas.

Há entretanto, uma variedade de atividades que poderão surgir durante o

exercício da pesquisa histórica em sala de aula. O professor deve ficar atento para

perceber algumas possibilidades de exploração da criatividade dos alunos, mesmo

que, em determinadas vezes, seja necessário reformular alguns dos temas

apresentados por eles. Para que essa prática se torne possível, é preciso utilizar as

mais diversas modalidades de investigação histórica na sala de aula, como as

atividades manipulativas extraídas diretamente, ou quando não adaptadas da

Históriada Matemática, como também a investigação de problemas históricos e os

estudos de textos históricos extraídos ou adaptados de fontes primárias.

Cada uma dessas modalidades de abordagem da investigação histórica nas

aulas de Matemática requer do professor um pouco de conhecimento do nível de

amadurecimento de seus alunos, do grau de aprofundamento a dar ao assunto a ser

abordado em sala de aula e do nível de autonomia dos alunos com relação à busca

da própria aprendizagem. Além disso, é necessário que se faça um levantamento

73

prévio do material a ser utilizada nas investigações, localização das fontes de

pesquisa ou, se for o caso, seleção de atividades a serem aplicadas em cada turma,

de acordo com o tópico da aprendizagem Matemática tomado como referência para

o desenvolvimento da investigação histórica.

Assim, pode-se concluir, então que a investigação histórica no ensino de

Matemática desenvolverá a perspicácia e o conhecimento do aluno sobre várias

áreas Matemáticas. Além disso, o estudo de vários tópicos matemáticos oferece

múltiplas oportunidades de aprender sobre outras áreas do conhecimento tão

importantes quanto a Matemática e que nem sempre são discutidas pela escola,

principalmente, nas aulas tradicionais de Matemática.

3.4 - Sugestões de atividades de investigação histórica com os números figurados planos

Apresento a seguir, algumas atividades que são de suma importância no

processo de ensino e aprendizagem referentes aos conteúdos da disciplina de

Matemática, com a abordagem dos números figurados planos na construção do

conhecimento acerca do assunto a ser trabalhado em sala de aula.

ATIVIDADE 1: Leitura de livros paradidáticos que mencionam os tópicos da

Históriada Matemática relacionando o conteúdo a ser trabalhado:

É indicado o livro paradidático “Platão Redimido: A Teoria dos números

figurados na Ciência Antiga e Moderna”, onde cada grupo de quatro ou cinco alunos

recebem um capítulo do livro para ler e estudar. Os alunos devem ler e interpretar a

Históriadescrita, refazer as atividades apresentadas pelo o livro e confeccionar um

material prático a partir das abordagens aritméticas que o livro leva. Cada grupo faz

a apresentação para a turma, do que estudou do livro.

ATIVIDADE 2: Projeto de contação de Histórias (da Matemática):

74

Nessa atividade, cada dupla de alunos recebem uma reportagem de

uma revista de circulação mensal, bimestral, trimestral ou quadrimestral, a qual

contenha alguma seção sobre um breve tópico da Históriada Matemática. Após

leitura, interpretação e discussão do texto, os alunos fazem um relato escrito do que

leram e, na seqüência, contam para a turma.

ATIVIDADE 3: Resolução de problemas históricos:

Nessa atividade, podem ser trabalhadas as propriedades e as relações

fundamentais dos números figurados, em forma de “enigmas”, desafios, maratona

ou gincana Matemática. Ao final da atividade, fica proposto aos alunos que

expliquem os seus procedimentos de resolução.

ATIVIDADE 4: Textos históricos para a introdução de um conteúdo:

O professor organiza textos sobre a construção histórica dos conceitos

a serem trabalhados, segundo o plano de ensino da série, como: números

triangulares, números quadrados, números retangulares ou oblongos, números

pentagonais e hexagonais, etc. Como por exemplo: “Construção histórica dos

números triangulares”, apresentado no material didático, distribuídas em folhas de

formato A4 livres e avulsas, produzidos para o 1º ano do ensino médio.

Apresenta-se esse material para leitura, interpretação e debate sobre o

texto temporal e abordando os nomes que contribuíram para que se chegasse ao

atual conceito, fórmulas e métodos para a resolução dos conteúdos trabalhados em

sala de aula.

ATIVIDADE 5: Pesquisa sobre os matemáticos da história:

Efetuada a apresentação do texto histórico, utilizado na atividade 4,

citar os matemáticos que contribuíram para a elaboração de alguns conceitos e

75

fundamentações a respeito dos números figurados, como por exemplo, Jâmblico,

Nicômaco, Teon de Smyrna e Nicomachus de Gerasa.

Em duplas, e numa brincadeira de “amigo secreto”, os alunos

sortearam o nome de um matemático citado no texto da atividade anterior. Cada

dupla deverá fazer uma síntese de sua Históriae depois apresentá-la para a turma.

ATIVIDADE 6: Uma cronologia da Históriada Matemática: “Uma viagem no

túnel do tempo”:

Solicita-se aos alunos que elaborem alguns slides apresentando a

cronologia da Históriada Matemática, possibilitando a observação da presença dos

matemáticos que desenvolveram os conceitos atuais de números figurados planos,

os espaços de tempos compreendidos entre um trabalho e outro em relação à

produção Matemática de nosso século atual.

A leitura e análise da cronologia abriram um leque de questionamentos

que se tornaram passíveis a muitos tipos de pesquisas e discussões. Indica-se que

atividade seja trabalhada com alunos do 3º ano do ensino médio.

ATIVIDADE 7: O uso de materiais manipulativos, esquemas e formulários de

preenchimento para uma redescoberta em torno dos números figurados planos:

Há muitas coisas interessantes que se pode fazer no estudo dos números

figurados no ensino fundamental. Muitos perguntam, "porque estudar números

figurados ?", afinal a maioria dos professores estudou, na sua formação escolar ou

universitária, apenas os números quadrados e cubos perfeitos.

Segundo Bigode (1992), deve-se ter em conta que o estudo de padrões e

regularidades aritméticas, figurais ou algébricas, está sendo proposto como objetivos

a serem atingidos na maioria dos currículos implantados de países de todo o mundo,

o Brasil incluído. Nesses programas curriculares, se almeja que os alunos observem

relações entre variáveis, descrevam e criem uma ampla gama de padrões, com a

finalidade de dar um sentido matemático importante à idéia de generalização.

76

Estudos recentemente apresentados em congressos de Educação

Matemática, comprovam que os alunos aprendem álgebra com mais eficácia e sem

os traumas de outros tempos em que as regras eram aplicadas mecanicamente sem

se saber bem o porquê do que estavam fazendo. O trabalho com números figurados

(triangulares, quadrados, poligonais, piramidais), além de possibilitar uma aplicação

mais interessante de fatos e regras algébricas (produtos notáveis, fatoração,

potências, etc..), desenvolve as capacidades de visualização, argumentação e o

raciocínio algébricos dos alunos e explicita as ricas conexões entre as várias sub-

áreas da Matemática (aritmética, álgebra, geometria, ..). Contribui ainda para

preparar os alunos para o estudo de temas mais complexos que serão estudados no

ensino médio como funções, seqüências, PA, PG.

Como também, ocorre ao trabalhar com turmas de 6º ou 7º anos do ensino

fundamental, observando ou completando algumas configurações figurais,ou quando

não predizendo a quantidade de uma certa configuração figural. Aqui o professor

pode dispor de imagens (desenhos ou fotos) de pilhas de latas em supermercado,

pilhas de laranjas, bolas de gudes, grãos de arroz ou feijão ou melancias na feira,

pilhas de bolas de canhão (desenhos antigos), bolas de bilhar arrumadas no

triângulo de madeira (equilátero), etc..

Depois de observar cada seqüência os alunos são convidados a desenhar a

próxima figura da seqüência, e a próxima após esta, e assim por diante.

Figura 41: Quadro demonstrativo com números triangulares e quadrados.

Fonte: http://www.matematicahoje.com.br/telas/autor/artigos/artigos_view.asp?cod=38

Uma atividade mais complexa que pode ser proposta a seguir é pedir que os

alunos determinem - sem fazer uso de desenhos - quantas bolinhas (pontos,

77

laranjas, etc.)dependendo de como é composta a figura 41. Qual a configuração de

ordem 10, aquela que ocupa o 10º lugar na seqüência.O professor deve orientar

perguntando e registrando as estratégias que os alunos vão utilizar para responder

esta questão. No entanto, podemos orientar os alunos a resolverem os problemas

recolhendo as várias estratégias engenhosas e que tem relação com o se passou na

Históriada Matemática.

Para os números quadrados, os alunos devem observar que os números

consecutivos da sequência (1 ;4 ; 9;16 ; ...) diferem um do outro respeitando uma

regularidade que forma uma subseqüência dos números ímpares.

(1 ;4 ; 9;16 ; ...)+3 +5 +7 +9

Determinando o próximo termo, somando os termos 16+9=25

Uma parte do grupo pode perceber e enunciar a propriedade multiplicativa

dos quadrados perfeitos

Enquanto que para os números triangulares, não é difícil que os alunos

percebam a relação aditiva entre os termos consecutivos(1 ;3 ;6 ;10 ; ...)

Figura 42: Representação dos números triangulares,usando latas.

Fonte: http://www.matematicahoje.com.br/telas/autor/artigos/artigos_view.asp?cod=38

(1 ;3 ;6 ;10 ; ...)+2 +3 +4 +5

Assim não é difícil determinar o próximo número triangular somando

10+5=15.

Desta forma, verifica-se que um número triangular a partir de relações

multiplicativas não é muito usual nestas séries.

78

Se achar que o grupo responde satisfatoriamente o professor pode propor um

trabalho de investigação para ser feito casa, determinar o número de pontos da

figura de ordem 100, e isso pode ser facilmente observado, quando os alunos

geralmente fazem ao jogar bolas de gudes ou bolas de bilhar,empilhandoas mesmas

em forma de um triângulo,isto é, um arranjo, segundo a sequência dos números

triangulares planos.

Figura 43: Representação geométrica de um número triangular, usando bolas de bilhar.

Fonte: http://www.matematicahoje.com.br/telas/autor/artigos/artigos_view.asp?cod=38

Porém, uma atividade bastante fascinante, ao trabalhar com os alunos de 8º e

9º ano do ensino fundamental, seria se dispor de um ferramental algébrico que estão

em condições de justificar as descobertas propostas para os alunos das séries

anteriores e assim, propor que os alunos demonstrem a partir de figuras e da

linguagem algébrica.

a) A fórmula Iterativa: Qn=1+3+5+...+(2n−1)

Figura 44: Relação entre o número quadrado e o número triangular, usando bolas de gude.

Fonte: http://www.matematicahoje.com.br/telas/autor/artigos/artigos_view.asp?cod=38

Acompanhe a exploração, analisando a figura 44.

79

Considere a seqüência dos n primeiros números ímpares,

1+3+5+7++9+...+(2n−1), se retiramos uma unidade de cada um, geramos a

seqüência 0+2+4+6+8+...+(2n−2). Vamos guardar os n elementos que retirados do

meio do triângulo (aqui representados pela coluna vermelha do triângulo).

Como todos os termos da seqüência obtida são números pares, podemos

escrever desse modo 2 ∙(1+2+3+4+...+(n−1)), na figura 45 está representado

através de dois triângulos (azul claro e azul esverdeado) de ordem (n−1).

Combinando os dois triângulos T n−1 com os n elementos guardados (coluna

vermelha) obtemos, o quadrado Qn=2∙ Tn−1+n=(n−1)∙ n+n=n2−n+n=n2.

Figura 45: Decomposição do número quadrado com bolas de gude.

Fonte: http://www.matematicahoje.com.br/telas/autor/artigos/artigos_view.asp?cod=38

Confira para o caso de n=8;

T 8=1+3+5+7+9+11+13+15

T 8=2 ∙T (7)+8=2∙28+8=56+8=64

Mostrando, utilizando um tabuleiro de xadrez, como o teorema relativo aos

números triangulares, pode ser feito por um aluno, e este pode observar com mais

clareza como se procede a propriedade em questão.

80

Figura 46: Número triangular usando tabuleiro de xadrez.

Fonte: http://www.matematicahoje.com.br/telas/autor/artigos/artigos_view.asp?cod=38

Onde;

T ncorresponde ao triângulo com as tampas azuis;

(n+1 )corresponde a fileira das tampas vermelhas;

Pela fórmula Recursiva, temos:

T 1=1

T 2=3⇒T 1+2=1+2=3

T 3=6⇒T 2+3=1+2+3=6

T 4=10⇒T 3+4=1+2+3+4=10

.

.

.

T n+1=T n+(n+1)

Uma demonstração mais simples pode ser explorada, através da propriedade

dos números quadrados, para explorar dos alunos, os conhecimentos de fatoração e

produtos notáveis, com tampinhas de refrigerante ou água mineral, para serem os

pontos no tabuleiro de xadrez de cores diferentes, aqui foram usadas o vermelho e o

azul, dando um destaque de um fundo amarelo ao número quadrado de ordem 6.

Figura 47: Número quadrado usando tabuleiro de xadrez.

81

Fonte: http://www.matematicahoje.com.br/telas/autor/artigos/artigos_view.asp?cod=38

n2+(2n+1 )=(n+1)2

Onde;

n2corresponde ao quadrado com as tampas vermelhas;

(2n+1 )corresponde ao L com as tampas azuis;

Pela fórmula Recursiva, temos:

Para n=1 :

n2=12=1

(2n+1 )=2 ∙1+1=3

(n+1)2=(1+1)2=22=4

Assim; n2+(2n+1 )=1+3=4=(n+1)2

Para n=2 :

n2=22=4

(2n+1 )=2 ∙2+1=5

(n+1)2=(2+1)2=32=9

Assim; n2+(2n+1 )=4+5=9=(n+1)2

Para n=3 :

n2=32=9

(2n+1 )=2 ∙3+1=7

(n+1)2=(3+1)2=42=16

82

Assim; n2+(2n+1 )=9+7=16=(n+1)2

Para n=4 :

n2=42=16

(2n+1 )=2 ∙4+1=9

(n+1)2=(4+1)2=52=25

Assim; n2+(2n+1 )=16+9=25=(n+1)2

Para n=5 :

n2=52=25

(2n+1 )=2 ∙5+1=11

(n+1)2=(5+1)2=62=36

Assim; n2+(2n+1 )=25+11=36=(n+1)2

.

.

.

Qn+ 1=Qn+(2n+1)

Segundo Chiconello (2013), outra forma de trabalhar a investigação

Matemática sobre os números figurados e as sequências recursivas,

especificamente os números triangulares e quadrados, seria através de uma

83

atividade didática com materiais concretos e formulários de preenchimento, para que

os alunos possam através da redescoberta, identificar as propriedades dos números

figurados em questão.

Onde num primeiro momento a proposta da atividade (lição 1)é utilizar o

material concreto. Amanipulação de objetos nesta atividade com os cubinhos de

madeira é de fácil manuseio,estimula a introdução ao assunto, é bem aceita pelos

alunos e ainda, para os alunos doEnsino Médio, é uma atividade pouco explorada.

Na Parte A, os alunos devem, inicialmente, representar na carteira as

configurações dos cubos que se encontram na folha de lição. Aqui também está

sendo observada a maneira como esses alunos farão a representação física desses

cubinhos na carteira, já que na folha a representação é plana.

Além das representações foram criados três itens ((a), (b) e (c)), tanto para os

números triangulares quanto para os números quadrados, perguntando quantos

cubinhos amais foram colocados em relação à etapa anterior. A atividade convida o

aluno a iniciar opensamento recursivo.

Figura 48: Números triangulares com cubinhos de madeira.

Fonte: CHICONELLO,2013, p.30

84

Figura 49:Números quadrados com cubinhos de madeira.

Fonte: CHICONELLO,2013, p.31

Essa atividade tem o intuito geral de um primeiro contato com números

figurados e que, de modo intencional, explorar o manuseio de cubos de madeira

com a finalidade de usar materiais concretos na sala de aula instigando a percepção

de sequências e da recursividade, conforme as figuras 48 e 49.

Enquanto que atividade a seguir, tem dupla finalidade de estudar

representações algébricas egeométricas. Primeiro, a representação pictográfica no

papel de pontos. Essa atividade ébastante simples. O aluno deve seguir o modelo

proposto tanto para números triangularesquanto para os números quadrados. A

finalidade é fazer o aluno perceber padrões atravésdo apelo visual (geométrico).

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Figura 50: Números Triangulares com pontos ligantes

Fonte: CHICONELLO,2013, p.32

Figura 51: Números quadrados com pontos ligantes.

Fonte: CHICONELLO,2013, p.33

Embaixo de cada desenho ele deve fazer o trabalho algébrico. Colocar

aquantidade de pontos, como no modelo. Note que, nessa lição, já há um convite

àsimbolização, pois o aluno deve perceber que, por exemplo, T 3=6, representa a

quantidade depontos da terceira configuração dos números triangulares, Q2=4,

representa a quantidade depontos da segunda configuração dos números

quadrados. Importante destacar que essaatividade será aplicada a turmas que já

tiveram uma iniciação ao estudo de sequências etambém ao estudo de Progressões

Aritméticas.

Espera-se que os alunos consigam facilmente passar por essa lição, que

exploraa capacidade de visualização, representação e continuação dos modelos

dados. Quanto à partealgébrica basta, após o desenho, contar o número de pontos

desenhados e apresentar aresposta.

Por fim, a descrição das folhas de atividades encerra-se em última atividade

(lição 8). Essa lição inicia-se novamente com um apelo visual (geométrico). Tomam-

se os três primeiros números quadrados e pede-se que os alunos observem o

segmento de reta que separa os númerosquadrados em duas regiões formadas por

pontos que representam números triangulares. A lição é composta de três partes, A,

B e C. Na parte A, a atividade tem natureza geométrica.

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Figura 52: Observação de propriedade de número quadrado, por meio de pontos

ligantes. Fonte: CHICONELLO,2013, p.44

Figura 53: Formulário de preenchimento 1apresentado ao aluno.

Fonte: CHICONELLO,2013, p.45

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Figura 54: Formulário de preenchimento 2 apresentado ao aluno.

Fonte: CHICONELLO,2013, p.45

Segue os três exemplos dados no modelo, ou seja, separar com um

segmento de reta asregiões. Na parte B, mais algébrica, o aluno deve seguir o

modelo. Espera-se que ele percebaque a soma de dois números triangulares

sucessivos dá um número quadrado de ordem igualao maior triangular.

Na parte C, temos a generalização. Também é colocada a expressão para

onúmero triangular de ordem T n−1e de ordem T ne pede-se para que o aluno realize

asoma e confirme sua conjectura.

Esta última atividade visaconectar os números quadrados aos números

triangulares. Em outras palavras, propõe mostrara existência de uma relação entre

esses números poligonais.

Considerações Finais

Neste trabalho, verificamos que o uso do conteúdo histórico no ensino da

Matemática,como um dos elos da Educação Matemática, deve ser o elemento

provocador de investigação a ser explorado nas discussões de uma sala de aula,

por ser um fator esclarecedor dos porquês matemáticos tão questionados pelos

alunos de todos os níveis de ensino, e que dessas informações, o professor possa

abordar os aspectos cotidiano, escolar e científico da Matemática, desde que os

questionamentos sejam bem explorados e elaborados, de maneira que enfatize os

fatos e problemas que, ao longo da Históriada humanidade, provocaram a

indagação e o empenho humano.

Vale ressaltar, que a preocupação de se explorar os números figurados

planos, ocorreu devido a inter-relação que ocorre entre a geometria e os números,

onde os antigos matemáticos usaram objetos geométricos para modelar as relações

aritméticas mais abstratas, e dessa forma, proporcionam ao aluno modelos

geométricos perspicazes, que ajudam em sua compreensão e manipulação de

idéias mais elaboradas.

E desta forma, que as atividades investigatórias propostas tiveram de ser

apresentadas em uma sequência que preservasse a continuidade da aprendizagem

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dos alunos, de forma a impulsioná-los a explorar e construir seus próprios conceitos

matemáticos,em conjunção com materiais concretos e formulários de orientação e

acompanhamento em sala de aula, onde os resultados a se esperar são atividades

empolgantes que proporcionem exercícios de fixação, não- rotineiros, bem como

atividades que promovam o desenvolvimento do pensamento crítico e as habilidades

metacognitivas, levando-o assim a um desenvolvimento do seu senso de auto-

estima e confiança nos seus próprios poderes de observação e pensamento.

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