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1 Aposentadoria Especial *Rúbia Zanotelli de Alvarenga Sumário: 1. Aspectos legais da aposentadoria especial; 2. Perfil profissiográfico previdenciário; 3. Agentes nocivos; 3.1 Atividades insalubres; 3.2 Atividades penosas; 3.3 Atividades perigosas; 4. Carência; 5. Data de início do benefício; 6. Conversão de atividade especial em atividade comum; 7. Conversão de atividade especial; 8. Do retorno à atividade 1. Aspectos legais da aposentadoria especial A aposentadoria especial é uma espécie de aposentadoria por tempo de contribuição devida ao segurado que tiver laborado durante toda a jornada de trabalho, de forma não ocasional nem intermitente, em locais considerados nocivos à sua saúde ou à sua integridade física ou mental, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos. Ensinam com maestria Saliba e Corrêa (2009, p. 201), que a aposentadoria especial visa a “compensar o trabalhador, que labora em condições que prejudiquem a sua saúde ou integridade física, conferindo-lhe a aposentadoria em menor tempo”. A aposentadoria especial requer, além do tempo de trabalho permanente, não ocasional nem intermitente, a efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou à associação de agentes capazes de acarretar danos à sua saúde e à sua integridade física no ambiente de trabalho durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos. Para ter direito à aposentadoria especial, o segurado deverá comprovar, além do tempo de trabalho (15, 20 ou 25 anos), a efetiva exposição aos agentes nocivos físicos, químicos, biológicos, bem como de qualquer associação de agentes prejudiciais à sua saúde ou à sua integridade física de acordo com o período exigido para a concessão do benefício. *Mestre em Direito do Trabalho. Professora de Direito do Trabalho, Processo do Trabalho e Direito do Trabalho da Faculdade Face de Aracruz-ES. Advogada.

Rubia Alvarenga Aposentadoria Especial

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Aposentadoria EspecialAspectos legais da aposentadoria especial; 2. Perfil profissiográfico previdenciário; 3. Agentes nocivos; 3.1 Atividades insalubres; 3.2 Atividades penosas; 3.3 Atividades perigosas; 4. Carência; 5. Data de início do benefício; 6. Conversão de atividade especial em atividade comum; 7. Conversão de atividade especial; 8. Do retorno à atividade

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    Aposentadoria Especial

    *Rbia Zanotelli de Alvarenga

    Sumrio: 1. Aspectos legais da aposentadoria especial; 2. Perfil profissiogrfico previdencirio; 3. Agentes nocivos; 3.1 Atividades insalubres; 3.2 Atividades penosas; 3.3 Atividades perigosas; 4. Carncia; 5. Data de incio do benefcio; 6. Converso de atividade especial em atividade comum; 7. Converso de atividade especial; 8. Do retorno atividade

    1. Aspectos legais da aposentadoria especial

    A aposentadoria especial uma espcie de aposentadoria por tempo de

    contribuio devida ao segurado que tiver laborado durante toda a jornada de

    trabalho, de forma no ocasional nem intermitente, em locais considerados nocivos

    sua sade ou sua integridade fsica ou mental, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou

    25 (vinte e cinco) anos.

    Ensinam com maestria Saliba e Corra (2009, p. 201), que a aposentadoria

    especial visa a compensar o trabalhador, que labora em condies que prejudiquem

    a sua sade ou integridade fsica, conferindo-lhe a aposentadoria em menor tempo.

    A aposentadoria especial requer, alm do tempo de trabalho permanente, no

    ocasional nem intermitente, a efetiva exposio do segurado aos agentes nocivos

    qumicos, fsicos, biolgicos ou associao de agentes capazes de acarretar

    danos sua sade e sua integridade fsica no ambiente de trabalho durante 15

    (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos.

    Para ter direito aposentadoria especial, o segurado dever comprovar, alm

    do tempo de trabalho (15, 20 ou 25 anos), a efetiva exposio aos agentes nocivos

    fsicos, qumicos, biolgicos, bem como de qualquer associao de agentes

    prejudiciais sua sade ou sua integridade fsica de acordo com o perodo exigido

    para a concesso do benefcio.

    *Mestre em Direito do Trabalho. Professora de Direito do Trabalho, Processo do

    Trabalho e Direito do Trabalho da Faculdade Face de Aracruz-ES. Advogada.

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    Trata-se de um benefcio social devido em razo da comprovao do exerccio

    de trabalho pelo segurado de atividade considerada gravosa sua sade fsica ou

    mental. Quanto mais desgastante for o labor executado pelo segurado, menor ser o

    tempo de servio necessrio para o mesmo se aposentar.

    Segundo Martins (2009, p. 353), a aposentadoria especial um benefcio de

    natureza extraordinria, tendo por objetivo compensar o trabalho do segurado que

    presta servios em condies adversas sua sade ou que desempenha atividade

    com riscos superiores aos normais.

    Os beneficirios da aposentadoria especial so o segurado empregado, o

    trabalhador avulso e o contribuinte individual, este somente quando cooperado

    filiado cooperativa de trabalho ou de produo.

    A regra acima consubstanciada representa flagrante violao ao princpio da

    isonomia por restringir a concesso da aposentadoria especial apenas a trs

    categorias de segurados do regime geral de previdncia social (RGPS). Ora, o art.

    57, caput, da Lei n. 8.213/91 no estabelece os tipos de segurados que tero direito

    ao benefcio; ao contrrio, discorre de forma generalizada acerca do direito ao

    benefcio desde que o segurado labore em condies especiais.

    Veja-se: A aposentadoria especial ser devida, uma vez cumprida a carncia exigida nesta Lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condies especiais que prejudiquem a sade ou a integridade fsica, durante, quinze, vinte ou vinte e cinco anos, conforme dispuser a lei.

    Certamente, h um vasto grupo de trabalhadores no subordinados que, devido

    sua profisso, submetem-se ao trabalho sob condies especiais. Naturalmente,

    qualquer segurado que esteja em contato permanente com agentes prejudiciais ou

    nocivos sua sade deve receber a proteo legal lanada pelo art. 57, caput, da

    Lei n. 8.213/91.

    Assim, descreve Ledur (1998, p.91): "[...] o Direito uma cincia normativa e

    social. Deve, em conseqncia, recolher na realidade social a fonte inspiradora para

    dar dignidade da pessoa humana o contedo reclamado.

    A consubstancializao da dignidade humana no Direito Previdencirio sinaliza

    o reconhecimento de que todo segurado possui - o direito de ser includo na

    condio de verdadeiro cidado. Isto posto, inconcebvel a cidadania sem a

    extenso de forma plena do benefcio de aposentadoria especial a todos os

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    segurados do regime geral de previdncia social (RGPS) que laboram em locais

    considerados nocivos sua sade ou sua integridade fsica ou mental. Logo,

    sonegar direitos diminuir o homem, o que significa restringir a sua verdadeira

    condio de postular uma vida satisfatria em toda a sua integralidade. Alm disso,

    o Estado possui o importante papel de, ao positivar as normas jurdicas, estimular o

    bem-estar da populao e o desenvolvimento social e humano.

    Como bem assevera Marques (2007, p. 25): A condio de trabalho reflete o seu ambiente, que pode condicionar a capacidade produtiva da pessoa humana, com violao ou no da sua integridade, em decorrncia dos fatores que interferem na execuo da atividade de labor, tais como agentes qumicos, fsicos, biolgicos, entre tantos outros.

    Acerca da atividade habitual ou permanente, a mesma compreende a atividade

    exercida de forma no ocasional nem intermitente. aquela em que a exposio ao

    agente agressivo no desvinculada da produo do bem ou da prestao do

    servio.

    Segundo Ibrahim (2009, p. 554): O tempo de exposio ser importante para observar o grau de nocividade do agente a identificao da atividade como nociva depender da relao de intensidade do agente com o tempo total de exposio quanto maior a concentrao do agente nocivo, menor o tempo necessrio de exposio, e vice versa.

    Como bem aponta Martins (2009, p. 356), na atividade habitual ou permanente,

    o segurado deve ficar diariamente exposto a agentes nocivos, fsicos, qumicos e

    biolgicos ou associao de agentes.

    Em conformidade com o mesmo autor, verifica-se tambm que o trabalho no

    ocasional nem intermitente aquele em que no houve interrupo ou suspenso

    do exerccio de atividade com exposio aos agentes nocivos, e no foi exercida, de

    forma alternada, atividade comum e especial.

    Em razo disso, observa Ibrahim (2009, p. 557) que: Devido a esta comprovao, aliada necessidade de atividade permanente, que, apesar de inexistir restrio legal expressa, o benefcio aposentadoria especial acaba restrito a empregados e, eventualmente, a avulsos. A concepo adotada pelo INSS de atividade permanente infere a necessidade de a atividade desempenhada demandar algum grau de subordinao, inerente determinada atividade, que configure razovel de grau de risco, no que diz respeito exposio aos agentes nocivos. Os fatores de risco so vistos como algo inerente ao processo produtivo.

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    No caso especfico do contribuinte individual, este somente quando filiado

    cooperativa de trabalho ou de produo, ser preciso fazer prova da atividade

    especial, contratando profissional habilitado para a confeco do laudo tcnico, ou,

    se preferir, poder requerer junto ao INSS, por intermdio do mdico perito, a

    elaborao do laudo, para fins de comprovao do exerccio do labor em atividade

    considerada especial.

    A aposentadoria especial est regulamentada no art. 201, 1, da CF/88; art. 57

    e 58 da Lei n. 8.213/91 e art. 64 a 70 do regulamento da previdncia social (Decreto

    n. 3.048/99) e no pode ser acumulada com nenhum outro benefcio previdencirio

    do regime geral de previdncia social (RGPS), especialmente com o auxlio acidente

    e com a aposentadoria, pois o art. 124, inciso II da Lei n. 8.213/91 probe a

    acumulao de mais de uma aposentadoria. E o seu pagamento consiste numa

    renda mensal equivalente a 100% do salrio de benefcio, conforme preceitua o art.

    57, 1, da Lei n. 8.213/91.

    A aposentadoria especial no se submete ao fator previdencirio. O fator

    previdencirio aplica-se to somente aposentadoria por idade e aposentadoria

    por tempo de contribuio.

    2. Perfil profissiogrfico previdencirio

    A partir de 1/1/2004, a comprovao da efetiva exposio do segurado aos

    agentes nocivos prejudiciais sua sade ou sua integridade fsica deve ser feita

    mediante o preenchimento, pela empresa, de formulrio prprio, denominado perfil

    profissiogrfico previdencirio PPP.

    Consoante ensina Martinez (2006, p. 76): Perfil profissiogrfico consiste em mapeamento atualizado das circunstncias laborais e ambientais, com fiel descrio das diferentes funes do empregado, em face dos agentes nocivos, relato da presena, identificao e intensidade dos riscos, referncia periodicidade da execuo do trabalho, enfim, relatrio eficiente do cenrio de trabalho, concebido para fins previdencirios.

    O perfil profissiogrfico previdencirio deve ser elaborado pela empresa, tendo-

    se como base o laudo tcnico de condies ambientais do trabalho - LTCAT,

    expedido por mdico do trabalho ou engenheiro de segurana do trabalho, nos

    termos da legislao trabalhista. No laudo tcnico, devero constar todas as

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    informaes necessrias sobre a existncia de tecnologia de proteo coletiva ou

    individual que diminua a intensidade do agente agressivo a limites de tolerncia e

    recomendao sobre sua adoo pelo estabelecimento respectivo.

    Assim tambm ensina Ibrahim (2009, p. 559): [...] a percia mdica do INSS dever analisar o formulrio elaborado pela empresa e o laudo tcnico, podendo, se necessrio, inspecionar o local de trabalho do segurado para confirmar as informaes contidas nos referidos documentos.

    No caso especfico do associado de cooperativa de trabalho, o perfil

    profissiogrfico previdencirio dever ser elaborado pela prpria cooperativa.

    Ainda conforme magistrio de Ibrahim (2009, p. 554), O objetivo do PPP propiciar, indiretamente, a melhoria das condies de trabalho dos obreiros, pois o PPP que demonstre a negligncia com a medicina e segurana do trabalho poder gerar a responsabilidade civil e penal do empregador. Este documento ser utilizado pelo segurado para fazer prova frente ao INSS da exposio aos agentes nocivos.

    O perfil profissiogrfico previdencirio um documento histrico-laboral que

    descreve a vida laboral do trabalhador e que visa a reunir dados administrativos,

    registros ambientais e resultados de monitorao biolgica, entre outras

    informaes, durante todo o perodo em que o segurado exerceu as suas atividades.

    Esclarece Ibrahim (2009, p. 555) que [...] a idia que em futuro prximo a empresa tenha de elaborar o PPP para todos os trabalhadores, funcionando o mesmo como um histrico laboral completo, permitindo ao INSS mapear as condies de trabalho dos segurados em geral.

    Convm salientar que o fornecimento de equipamento de proteo individual ou

    coletiva (EPI/EPC) no exclui a hiptese de exposio do segurado aos agentes

    nocivos prejudiciais sua sade. Apenas ser extinta a situao de reconhecimento

    de atividade especial, quando os equipamentos de proteo individual ou coletiva

    eliminar, de forma absoluta, a intensidade da exposio do segurado aos agentes

    prejudiciais sua sade ou sua integridade fsica.

    Nesse enleio, preciso que seja constatada, durante o preenchimento de

    formulrio prprio, a possvel existncia, ou no, de equipamento de proteo

    coletiva ou individual que diminua a intensidade da exposio do segurado aos

    agentes prejudiciais sua sade. E quando da resciso do contrato de trabalho ou

    da desfiliao da cooperativa (contribuinte individual filiado cooperativa de trabalho

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    ou de produo), que dever ser fornecida cpia autenticada do perfil

    profissiogrfico previdencirio sob pena de multa administrativa.

    Apenas no caso especfico de exposio a rudo o uso de equipamento

    individual, mesmo eliminando a insalubridade, no ir descaracterizar o tempo de

    servio prestado pelo segurado como especial, ainda que tal equipamento seja

    devidamente utilizado. A exposio habitual e permanente a nveis de rudo acima

    dos limites de tolerncia sempre caracteriza a atividade como especial,

    independentemente da utilizao, ou no, de EPI ou de meno, em laudo pericial,

    acerca da neutralizao de seus efeitos nocivos.

    Martinez (2006, p. 69) ressalta, ainda, que o simples fato de o nvel dos rudos

    ficarem aqum dos limites de tolerncia fixados na legislao no significa que

    ocorram os sinistros a serem evitados.

    imprescindvel que a empresa mantenha atualizado o perfil profissiogrfico

    previdencirio e descreva as atividades que so desenvolvidas pelo trabalhador no

    ambiente laborativo. Alm disso, a empresa que no mantiver laudo tcnico

    atualizado com referncia aos agentes nocivos existentes no ambiente de trabalho

    de seus trabalhadores ou que emitir documento de efetiva exposio em desacordo

    com o respectivo laudo estar sujeita multa varivel, descrita no art. 133 da Lei n.

    8.213/91. Convm ressaltar que as informaes falsas lanadas no perfil

    profissiogrfico previdencirio constituiro crime de falsidade ideolgica nos termos

    do artigo 297 do Cdigo Penal.

    Cabe, ainda, s cooperativas de produo ou de trabalho a demonstrao do

    exerccio da atividade em condies especiais. O perfil profissiogrfico

    previdencirio tambm dever ser emitido e atualizado pela cooperativa de trabalho

    ou de produo, no caso de cooperado filiado; pelo rgo Gestor de Mo-de-Obra

    (OGMO), no caso de trabalhador avulso porturio; e pelo sindicato da categoria, no

    caso de trabalhador avulso no porturio. O sindicato da categoria ou o OGMO

    esto autorizados a emitir o PPP somente para trabalhadores avulsos a eles

    vinculados.

    dever do empregador verificar o uso correto do equipamento de proteo

    individual no ambiente laboral. O art. 158, pargrafo nico da CLT, estipula a

    possibilidade de aplicao da penalidade mxima ao empregado justa causa

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    pela no utilizao do equipamento de proteo individual. Tal prerrogativa decorre

    do poder disciplinar do empregador.

    O poder disciplinar compreende a faculdade que atribuda ao empregador,

    destinada aplicao de penalidades disciplinares aos empregados, em situaes

    de descumprimento de regras contidas no contrato de trabalho, no regulamento da

    empresa, na norma coletiva e na Lei. O direito disciplinar se manifesta pela

    possibilidade de execuo de sanes ou faltas disciplinares aos trabalhadores cujo

    comportamento se revele incompatvel com os seus deveres profissionais.

    Ensina Barros (2005, p. 1006) que Quando o empregado admitido pelo empregador, leva consigo uma srie de bens jurdicos (vida, sade, capacidade de trabalho, etc.), os quais devero ser protegidos por este ltimo, com adoo de medidas de higiene e segurana para prevenir doenas profissionais e acidentes no trabalho.

    Toda empresa obrigada a fornecer aos empregados, gratuitamente,

    equipamentos de proteo individual adequados ao risco e em perfeito estado de

    conservao e funcionamento, sempre que as medidas de ordem geral no

    ofeream completa proteo contra os riscos de acidentes e danos sade dos

    empregados.

    Mas no basta apenas o fornecimento de tais equipamentos. Deve, a empresa,

    orientar e treinar os trabalhadores sobre o uso correto, sobre a guarda e a

    conservao dos equipamentos de proteo individual, bem como substitu-los

    imediatamente, quando da sua danificao ou extravio, responsabilizando-se pela

    sua higienizao e manuteno peridica.

    Deve-se, destacar, tambm, o estabelecido na Smula n. 289 do TST:

    O simples fornecimento do aparelho de proteo pelo empregador no o exime do pagamento do adicional de insalubridade, cabendo-lhe tomar as medidas que conduzam diminuio ou eliminao da nocividade, dentre as quais as relativas ao uso efetivo do equipamento pelo empregado.

    3. Agentes nocivos

    Os agentes nocivos compreendem a situao combinada, ou no, de

    substncias e de demais fatores de risco capazes de ocasionar danos sade ou

    integridade fsica em funo de sua natureza, sua concentrao e sua intensidade

    ou da exposio do segurado aos mesmos.

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    A relao dos agentes nocivos qumicos, fsicos, biolgicos ou a associao de

    agentes prejudiciais sade ou integridade fsica do segurado que ensejam a

    concesso da aposentadoria especial consta no Anexo IV do Regulamento da

    Previdncia Social (Decreto n. 3.048/99).

    Os agentes nocivos consubstanciados no Anexo IV do Regulamento da

    Previdncia Social so meramente ilustrativos. Desse modo, caso seja constatada a

    efetiva exposio do segurado a um determinado agente nocivo no previsto no

    respectivo regulamento, o segurado, ainda assim, ter direito contagem do tempo

    de servio especial.

    Podem ser caracterizados como nocivos sade ou integridade fsica do

    segurado nos ambientes de trabalho, em razo de caractersticas supra

    mencionadas, de acordo com sua natureza ou com suas propriedades, agentes:

    fsicos, qumicos e biolgicos.

    a) Agentes Fsicos

    Segundo Jnior (2009, p. 255), os agentes fsicos so as diversas formas de

    energia a que possam estar expostos os trabalhadores [...].

    Os agentes fsicos compreendem: rudos, vibraes, calor, presses anormais,

    radiaes ionizantes ou no ionizantes, eletricidade, eletromagnetismo, umidade,

    temperaturas anormais, iluminao, etc.

    b) Agentes Qumicos

    Ainda pela lio de Jnior (2009, p. 258), os agentes qumicos representam

    substncias, compostos ou produtos que possam penetrar no organismo pela via

    respiratria ou que, pela natureza da atividade de exposio, possam ter contato ou

    ser absorvidos pelo organismo atravs da pele ou por ingesto.

    Os agentes qumicos compreendem assim: poeiras, gases, vapores, nvoas,

    neblinas, fumos, leos contendo hidrocarbonetos, etc.

    c) Agentes Biolgicos

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    Os agentes biolgicos so os microorganismos, como: bactrias, fungos,

    bacilos, vrus, vermes, parasitas, etc.

    Tambm consoante ensina Jnior (2009, p. 259): Os trabalhadores que geralmente tm contato com agentes nocivos biolgicos so os da rea mdica, de enfermagem, funcionrios de laboratrio de anlise biolgica, lixeiros, aougueiros, lavradores, tratadores de gado, de curtume e de estao de tratamento de esgoto, dentre outros.

    Existindo mais de um agente nocivo no ambiente de trabalho, dever ser

    considerado, para a concesso da aposentadoria especial, aquele que conferir o

    direito aposentadoria especial com menor espao de tempo.

    Os perodos de descanso em que o segurado no esteja efetivamente exposto

    ao agente nocivo so considerados como tempo especial. Nesse sentido, podem-se

    considerar perodos de descanso: frias; afastamentos decorrentes de gozos de

    benefcios acidentrios por auxlio doena ou aposentadoria por invalidez; licena

    mdica derivada da presena de agentes nocivos; bem como a percepo de salrio

    maternidade, desde que, data do afastamento, o segurado esteja exercendo

    atividade considerada especial.

    3.1 Atividades insalubres

    Atividades ou operaes insalubres so aquelas que, por sua natureza,

    condies ou mtodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos

    sua sade acima dos limites de tolerncia fixados em razo da natureza e da

    intensidade do agente e do tempo de exposio aos seus efeitos, tais como: rudo

    de impacto, exposio a calor e a radiaes ionizantes, etc. A norma

    regulamentadora 15 da Portaria n. 3.214/78 descreve os agentes qumicos, fsicos

    ou biolgicos que caracterizam a exposio do segurado s atividades consideradas

    insalubres.

    Os agentes insalubres tambm so classificados, de acordo com sua natureza

    ou com suas propriedades, em agentes fsicos, qumicos, biolgicos e agentes

    associados.

    Como regra, todos os trabalhadores submetidos a condies insalubres esto

    amparados pela proteo legal da aposentadoria especial. O Anexo IV do Decreto

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    3.048/99 s capitula os agentes insalubres como agentes nocivos para fins de

    reconhecimento de aposentadoria especial.

    Segundo Jnior (2009, p. 255), a exceo a essa regra geral compreende o

    caso da iluminao deficiente que gera o pagamento do adicional, mas que no

    conta como tempo especial.

    Todavia, no razovel prosperar tal exceo no universo jurdico, pois a

    proteo jurdica sade representa um direito humano fundamental.

    O prprio autor em referncia enfatiza que a pouca iluminao pode causar

    gravame sade do trabalhador, como a reduo da acuidade visual (JNIOR,

    2009, p. 258).

    No acrdo de 15/12/1996, proferido na Apelao Cvel n. 95.03.48.222-4 pela

    1 Turma do TFR da 3 Regio, tendo como Relator o Juiz Sinval Antunes, ainda se

    deve atentar para o estabelecido na smula n. 198 do extinto Tribunal Federal de

    Recursos: Atendidos os demais requisitos, devida a aposentadoria especial, se

    percia judicial constata que a atividade exercida pelo segurado perigosa, insalubre

    ou penosa, mesmo no inscrita no Regulamento.

    3.2 Atividades penosas

    O pagamento de adicional pelo trabalho em atividade penosa, embora previsto

    no inciso XXIII do art. 7 da Constituio Federal de 1988, que assegura ao

    trabalhador adicional de remunerao para as atividades penosas, at o presente

    no foi regulamentado no mbito trabalhista, para fins de pagamento do adicional;

    bem como no mbito previdencirio, para fins de concesso de aposentadoria

    especial. Trata-se de uma norma de aplicabilidade mediata e eficcia limitada, cujos

    preceitos normativos necessitam da atuao legislativa posterior para que possam

    gerar plenamente todos os direitos e todas as obrigaes nela contidos.

    Trabalho penoso um tipo de atividade que acarreta desgaste fsico ou mental

    ao trabalhador, alm dos padres normais de trabalho desenvolvidos no seu dia-a-

    dia laboral, provocando-lhe uma sobrecarga fsica e/ou psquica. Trata-se de um

    labor rduo e degradante, que agride a sade, a integridade fsica e, por

    conseguinte, a dignidade humana do trabalhador. Como exemplo, possvel citar a

    atividade desenvolvida pelo cortador de cana no horrio da tarde, que labora

    exposto ao Sol sob altas temperaturas.

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    Conforme ensina Marques (2007, p. 64), o conceito de trabalho penoso est

    relacionado [...] exausto, ao incmodo, dor, ao desgaste, concentrao excessiva e imutabilidade das tarefas desempenhadas que aniquilam o interesse, que leva o trabalhador ao exaurimento de suas energias, extinguindo-lhe o prazer entre a vida laboral e as atividades a serem executadas gerando sofrimento, que pode ser revelado pelos dois grandes sintomas: insatisfao e a ansiedade.

    Na lio da Marques (2007, p. 98),

    [...] a atividade laboral penosa traz consigo a constituio e a manifestao do desgaste mental e/ou fsico. O ritmo de trabalho acelerado, a ausncia de pausas para descanso, a concesso incorreta de folgas e as condies ambientais no local de trabalho acarretam desgaste, porque no h repouso fsico e mental adequado [...].

    A ilustre autora, ainda em seu brilhante estudo sobre a proteo ao trabalho

    penoso, cita, de forma exemplificativa, algumas profisses consideradas penosas, a

    saber: motorista e cobrador de nibus; motorista de txi; bancrio; telefonista,

    operador de telemarketing e digitador; metrovirio; trabalhador em jornada de turno

    ininterrupto de revezamento; piloto de avio de caa; alto executivo; trabalhador que

    opera na bolsa de valores; professor, etc. (MARQUES, 2007, p. 86).

    Segundo Martins (2009, p. 354): evidencia-se a penosidade, quando o trabalho

    desgastante, tanto fsica como mentalmente.

    Em sentido semelhante, est o magistrio de Jnior (2009, p. 259): a atividade

    penosa pode ser entendida como atividade que exija mais ateno e estado de

    alerta constante durante a sua execuo, causando maior desgaste fsico ou mental

    ao trabalhador [...].

    Martinez (2007, p. 24) ensina que atividade penosa todo esforo fsico

    produtor de desgaste no organismo, de ordem orgnica ou psicolgica, em razo da

    repetio de gestos, condies agravantes, presses ou tenses prximas do

    indivduo.

    Essas atividades no esto previstas no Anexo IV do Decreto 3.048/99. Tal

    omisso, contudo, no pode representar bice ao reconhecimento da prestao de

    servios nociva sade e integridade fsica do segurado para efeito de concesso

    da aposentadoria especial.

    A atividade laboral penosa pode acarretar inmeras consequncias fsicas e

    mentais aos trabalhadores, tais como: automao, desgaste mental e/ou fsico,

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    Sndrome Loco Neurtica (SLN), Sndrome de Burn-out, estresse e fadiga.

    (MARQUES, 2007, p. 98).

    Como bem destaca Martins (2009, p. 355): provando o segurado que trabalha

    em condies perigosas, insalubres ou penosas, ter direito ao benefcio.

    Nesse sentido, preciso reconhecer a atividade considerada penosa para

    efeito de concesso da aposentadoria especial como forma de proteo dignidade

    da pessoa humana do segurado que dedicou parte de sua vida profissional a tal tipo

    de labor.

    A dignidade da pessoa humana deve ser considerada como ponto de partida

    principal para as interpretaes levadas a efeito pelo intrprete e aplicador do

    Direito. preciso dar exegese construtiva e valorativa s normas fundamentais no

    mbito previdencirio, para que se aperfeioem os fins teleolgicos deste ramo do

    Direito, pois a norma contida no art. 5 da Lei de Introduo ao Cdigo Civil refere-se

    interpretao finalstica utilizada pelo intrprete-aplicador na aplicao justa da lei.

    Conforme se depreende da leitura de seu texto: na aplicao da lei, o juiz atender

    aos fins sociais a que ela se dirige e s exigncias do bem comum.

    Assim, enquanto no existir uma regulamentao legal do trabalho penoso,

    tanto no mbito trabalhista, quanto no previdencirio, ficar a cargo do intrprete e

    aplicador do Direito decidir o caso de acordo com a analogia, com os costumes e

    com os princpios gerais do Direito.

    Conforme enfatiza Melo (2009, p. 254), o direito feito para o homem e no

    contra ele, pelo que a experincia humana que deve guiar o criador, o intrprete e

    o aplicador do Direito.

    E, ainda, como bem assevera Simm (2005, p. 121):

    O pleno exerccio da cidadania reclama o tambm pleno gozo dos direitos fundamentais da pessoa humana, dentre os quais os direitos sociais, especialmente aqueles que protegem o indivduo das vicissitudes da vida. O ser humano s se aperfeioa como tal, s se completa como gente, s se realiza como cidado, quando tem reconhecidos, respeitados e concretizados os seus direitos fundamentais, que so inerentes a ele como obra mxima da criao e que so mesmo anteriores e superiores ao prprio Direito e ao Estado. Sem acesso aos direitos fundamentais, seja de forma natural e espontnea, seja pela atuao judicial, no h cidadania.

  • 13

    3.3 Atividades perigosas

    Atividades ou operaes perigosas so aquelas que, por sua natureza ou

    mtodos de trabalho, impliquem o contato permanente com inflamveis ou

    explosivos em condies de risco acentuado. A norma regulamentadora 16 da

    Portaria n. 3.214/78 define quais so as situaes que iro caracterizar o contato e

    as condies perigosas do segurado nas atividades consideradas perigosas.

    As atividades perigosas no so consideradas especiais para efeito de

    concesso de aposentadoria especial. Convm ressaltar que o trabalho perigoso

    pode acarretar efetiva nocividade ao meio ambiente de trabalho do segurado,

    acarretando-lhe srios prejuzos sua integridade fsica e/ou mental. Se ficar

    evidenciada tal condio, a aposentadoria especial deve ser concedida.

    preciso destacar que o Direito Previdencirio funciona como um importante

    instrumento de valorizao e de promoo da pessoa humana, com o objetivo

    principal de assegurar segurana e bem estar aos que necessitam da sua proteo

    social.

    Como bem assevera Marques (2007, p. 21),

    Se a vida o bem jurdico mais importante do ser humano e o trabalho vital pessoa humana, deve-se respeitar a integridade do trabalhador em seu cotidiano, pois atos adversos vo, por conseqncia, atingir a dignidade da pessoa humana.

    Por isso, no se pode ignorar a realidade social e os valores que investiriam a

    atividade judicial e jurisdicional de maior justia e solidez. A soluo contida na lei

    no plena, sendo foroso recorrer a outras fontes e perseguir o chamado direito

    justo. A interpretao, como adequao da norma ao fato concreto, pode mudar de

    forma significativa a realidade social pela prevalncia dos Direitos Humanos sociais

    no mbito previdencirio.

    Assim, descreve Silva (2007, p. 289),

    [...] os direitos sociais valem como pressupostos do gozo dos direitos individuais na medida em que criam condies materiais mais propcias ao auferimento da igualdade real, o que, por sua vez, proporciona condio mais compatvel com o exerccio efetivo da liberdade.

  • 14

    4. Carncia

    Para os segurados inscritos a partir de 25/07/91, a carncia corresponde a 180

    (cento e oitenta) contribuies mensais. Os segurados inscritos antes dessa data

    devem obedecer Tabela Progressiva de Carncia apresentada abaixo e constante

    no art. 142 da Lei n. 8.213/91.

    Veja-se: TABELA 1

    TABELA PROGRESSIVA DE CARNCIA

    ANO DE IMPLEMENTAO DAS CONDIES MESES DE CONTRIBUIO EXIGIDOS

    1998 102 meses 1999 108 meses 2000 114 meses 2001 120 meses 2002 126 meses 2003 132 meses 2004 138 meses 2005 144 meses 2006 150 meses 2007 156 meses 2008 162 meses 2009 168 meses 2010 174 meses 2011 180 meses

    5. Data de incio do benefcio

    A data de incio da aposentadoria especial fixada:

    I ao segurado empregado,

    a) a partir da data do desligamento do emprego, quando requerida at

    essa data ou at 90 (noventa) dias depois dela; ou

    b) a partir da data do requerimento, quando for requerida aps 90

    (noventa) dias do desligamento ou quando no houver desligamento.

    II para os demais segurados,

    a) a partir da data de entrada do requerimento.

  • 15

    6. Converso de atividade especial em atividade comum

    vedada a converso de tempo de atividade sob condies especiais em

    tempo de atividade comum. Mas possvel a converso de qualquer tempo de

    atividade sob condies especiais em tempo de atividade comum, para fins de

    concesso de aposentadoria por idade ou por tempo de contribuio.

    A converso de tempo de atividade sob condies especiais em tempo de

    atividade comum aplica-se ao trabalho prestado em qualquer perodo.

    Assim, a converso de tempo de atividade sob condies especiais em tempo

    de atividade comum dar-se- de acordo com a tabela seguinte.

    Veja-se: TABELA 2

    TEMPO A CONVERTER MULTIPLICADORES

    MULHER (PARA 30) HOMEM (PARA 35)

    DE 15 ANOS 2,00 2,33

    DE 20 ANOS 1,50 1,75

    DE 25 ANOS 1,20 1,40

    7. Converso de atividade especial

    Caso o segurado tenha exercido, sucessivamente, duas ou mais atividades

    sujeitas a condies especiais prejudiciais sua sade ou sua integridade fsica

    sem completar em qualquer delas o prazo mnimo exigido para a concesso da

    aposentadoria especial, os respectivos perodos sero somados aps a converso,

    conforme a tabela de converso a seguir, considerada a atividade preponderante do

    segurado.

    Veja-se:

  • 16

    TABELA 3

    TEMPO A CONVERTER MULTIPLICADORES

    PARA 15 PARA 20 PARA 25

    De 15 anos - 1,33 1,67

    De 20 anos 0,75 - 1,25

    De 25 anos 0,60 0,80 -

    8. Do retorno atividade

    Nos termos do art. 57, 8 da Lei n. 8.213/91, o aposentado especial que

    retornar atividade sujeita aos agentes nocivos prejudiciais sua sade ter seu

    benefcio suspenso.

    O retorno ao trabalho do aposentado especial somente possvel em outra

    atividade no enquadrada como especial. Nesse sentido, a aposentadoria especial

    ser suspensa, caso o segurado volte a trabalhar em atividade considerada

    especial. O aposentado especial somente poder voltar a trabalhar em atividade

    considerada comum.

    Destaca Martins (2009, p. 360) que A medida acertada, pois, se o segurado foi aposentado por trabalhar em condies especiais que lhe prejudicavam a sade, no se justifica se aposentar e continuar a exercer a mesma atividade prejudicial sade.

    Por fim, a aposentadoria especial compreende um direito irreversvel e

    irrenuncivel e, por isso, cessa apenas com a morte do segurado.

    importante ressaltar que os nicos benefcios e servios previdencirios que

    so garantidos ao aposentado por tempo de contribuio, especial ou idade pelo

    Regime Geral de Previdncia Social que permanece ou retorna atividade sujeita a

  • 17

    este regime so, respectivamente, salrio famlia, salrio maternidade e reabilitao

    profissional.

    9. Referncia Bibliogrfica

    BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. So Paulo: LTr, 2005.

    IBRAHIM, Fbio Zambitte. Curso de direito previdencirio. Rio de Janeiro: Impetus,

    2009.

    JNIOR, Miguel Horvath. Direito previdencirio. So Paulo: Quartier Latin, 2009.

    MARQUES, Christiani. A proteo ao trabalho penoso. So Paulo: LTr, 2007.

    MARTINEZ, Wladimir Novaes. Aposentadoria especial. So Paulo: LTr, 2006.

    ______. Aposentadoria especial: 920 perguntas e respostas. So Paulo: LTr, 2007.

    MARTINS, Srgio Pinto. Direito da seguridade social. So Paulo: Atlas, 2009.

    MELO, Raimundo Simo. Direito ambiental do trabalho e a sade do trabalhador.

    So Paulo: LTr, 2009.

    SALIBA, Tuffi Messias; CORRA, Mrcia Angelim Chaves. Insalubridade e

    periculosidade: aspectos tcnicos e prticos. So Paulo: LTr, 2009.

    SIMM, Zeno. Os Direitos Fundamentais e a Seguridade Social. So Paulo: 2005.

    SILVA, Jos Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. So Paulo:

    Malheiros, 2007.