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Página 1 Boletim 573/14 – Ano VI – 30/07/2014 Serviço ganha peso na indústria sem agregar valor, aponta estudo Por Denise Neumann | De São Paulo O setor de serviços vem ganhando peso crescente na produção de bens manufaturados. Em 2000, o consumo intermediário de serviços equivalia a 55% do valor adicionado da indústria. Onze anos depois, em 2011, a soma de custos financeiros, energia, água, propaganda, royalties, manutenção e outros já representava, em média, 65% da parte que cabia à indústria na produção de um automóvel, um sapato, uma calça jeans ou uma tonelada de aço. Essa participação se assemelha a dos países ricos. Nas estatísticas mundiais mais recentes, de 2005, o peso dos serviços no valor adicionado da indústria era de 68% nos Estados Unidos e de 90% na França. No caso do Brasil, contudo, essa alta participação é uma notícia ruim, porque os serviços mais consumidos não são aqueles que agregam valor ao bem industrial, defende o professor da Universidade de Brasília (UnB), Jorge Arbache. Ele concluiu um estudo a pedido da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que destrincha as relações entre serviços e indústria. O estudo, que será apresentado amanhã em seminário na sede da entidade, conclui que a baixa produtividade e o alto custo do setor de serviços afetam a competitividade industrial.

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Boletim 573/14 – Ano VI – 30/07/2014

Serviço ganha peso na indústria sem agregar valor, aponta estudo Por Denise Neumann | De São Paulo O setor de serviços vem ganhando peso crescente na produção de bens manufaturados. Em 2000, o consumo intermediário de serviços equivalia a 55% do valor adicionado da indústria. Onze anos depois, em 2011, a soma de custos financeiros, energia, água, propaganda, royalties, manutenção e outros já representava, em média, 65% da parte que cabia à indústria na produção de um automóvel, um sapato, uma calça jeans ou uma tonelada de aço. Essa participação se assemelha a dos países ricos. Nas estatísticas mundiais mais recentes, de 2005, o peso dos serviços no valor adicionado da indústria era de 68% nos Estados Unidos e de 90% na França.

No caso do Brasil, contudo, essa alta participação é uma notícia ruim, porque os serviços mais consumidos não são aqueles que agregam valor ao bem industrial, defende o professor da Universidade de Brasília (UnB), Jorge Arbache. Ele concluiu um estudo a pedido da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que destrincha as relações entre serviços e indústria. O estudo, que será apresentado amanhã em seminário na sede da entidade, conclui que a baixa produtividade e o alto custo do setor de serviços afetam a competitividade industrial.

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Arbache fez um detalhado cruzamento de dados entre a Pesquisa Anual de Serviços (PAS) e a Pesquisa Industrial Anila (PIA), ambas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "Essa alta participação dos serviços no valor adicionado da indústria decorre de uma mudança nos preços relativos. Ao longo dos anos, o preço dos serviços subiu muito acima dos demais preços na economia", diz Arbache. Nos últimos dez anos, enquanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 71%, o grupo de serviços dentro do indicador subiu 98%, segundo série do Banco Central. "Ao contrário do que ocorre nos países ricos, e que tem sido parte da nova dinâmica da produção industrial, no Brasil o setor de serviços pouco contribui para elevar a competitividade da indústria", diz Arbache. Entre os serviços mais consumidos pelo setor estão os financeiros (25,9% do total), os industriais e de manutenção (19,3%) e os transportes (15,9%). Esses serviços, na maioria, diz Arbache, aumentam o custo, mas não agregam valor ao produto. Juntos, royalties e assistência técnica e despesas de propaganda, que contribuem para diferenciar um produto e dar valor a ele, representam apenas 17,5% do total, pondera Arbache.

Essa situação vem mudando ao longo dos anos, mas o consumo da indústria ainda é muito dependente dos serviços que não acrescentam valor ao seu produto. O peso das despesas financeiras, por exemplo, era de 41% na média dos anos de 1996 a 1998, e passou para 27,8% na média de 2009 a 2011, queda de 32%. O peso de royalties e assistência técnica (que envolvem marca), passou de 2,3% para 9% na mesma comparação, alta de 292%.

O professor da UnB pondera que o setor de serviços é muito heterogêneo e, provavelmente, o mais diverso da economia brasileira. Ele reúne desde tecnologia da informação até serviços de limpeza. Na média, em 2011, o salário pago a um profissional do setor era de R$ 1.368, mas esse funcionário gerava, para a empresa, um valor adicionado de R$ 4.326.

Apesar da situação de baixa produtividade e custo elevado, o professor da UnB não considera correto dizer que a indústria está em dificuldades, porque o segmento de serviços é seu vilão. "É quase um abraço de afogados", diz ele. Sobre o setor incide uma pesada carga tributária - de acordo com dados da Confederação Nacional de Serviços (CNS) citados por Arbache, o setor de serviços privados não financeiros recolheu 24% do seu Produto Interno Bruto (PIB) na forma de impostos e contribuições - e os salários, nos últimos anos foram diretamente afetados pela política de aumento real do salário mínimo.

No estudo, Arbache não atribui todo aumento do peso dos serviços no valor adicionado da indústria ao setor. A indústria, diz, também reduziu o valor que ela gera na produção ao usar uma parcela crescente de insumos importados. Assim, o custo dos serviços subiu e ele passou a pesar mais sobre um valor gerado menor, explica.

O professor da UnB também fez a conta do peso dos serviços no valor bruto da produção: 17,6%. Arbache, porém, prefere olhar para a conta do valor adicionado, porque ela elimina a dupla contagem e mostra dentro de uma etapa da produção - como a montagem de um

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veículo, por exemplo - qual o peso dos serviços no valor adicionado pela montadora ao juntar pneus, bancos, aço e transformar tudo isso em um automóvel.

Olhando para a diversidade do setor de serviços, Arbache observa que é muito difícil desenhar uma política de apoio ao setor. Ao mesmo tempo, para romper com a armadilha do baixo crescimento e ganhar espaço nas cadeias globais de produção, é fundamental que o país aposte em serviços que agreguem valor e diferenciem produtos. O Brasil já está atrasado nessa "disputa", diz Arbache, que acrescenta uma preocupação: nas negociações mundiais de livre comércio, Estados Unidos e União Europeia já estão focando seus esforços em garantir que serviços (isolados ou embutidos nos bens industriais) possam circular sem tarifas.

Justiça afasta Imposto de Renda sobre terço de féri as

Procurador João Batista de Figueiredo: o terço constitucional de férias deve ser tributado porque representa um aumento efetivo de renda

Por Bárbara Mengardo | De Brasília Profissionais ligados a pelo menos cinco entidades de classe estão isentos de pagar o Imposto de Renda (IR) sobre o terço constitucional de férias. A possibilidade, concedida por decisões de primeira e segunda instâncias, refletem uma discussão polêmica. Atualmente, há pelo menos 16 ações sobre o tema em andamento, com decisões conflitantes. Entre as associações que conseguiram o benefício estão as que representam delegados da Polícia Federal, técnicos e auditores da Receita Federal.

A discussão tributária, que deve ser uniformizada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), preocupa a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), que vê um "poder multiplicador" nessas demandas. De acordo com estimativas da procuradoria, o não recolhimento do Imposto de Renda sobre o terço de férias pelos setores públicos e privados nos próximos três anos traria impacto de R$ 13,37 bilhões aos cofres públicos.

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Nos processos judiciais, as entidades pedem que seus associados não tenham que recolher o IR - com alíquota de até 27,5% - sobre o adicional de férias, correspondente a um terço do salário. O percentual é retido na fonte pelos empregadores.

Na Justiça, os debates têm girado em torno da natureza da verba trabalhista. Caso o terço constitucional seja considerado uma indenização, não haveria incidência do imposto. Por outro lado, se a verba for salarial, seria devido o IR. "Uma verba considerada indenizatória está cumprindo o papel de repor um dano anterior. Desta forma, o trabalhador não está auferindo uma renda nova", diz a advogada Letícia Prebianca, do Siqueira Castro Advogados.

Ao decidirem sobre o tema, alguns magistrados têm considerado que o STJ já deu a palavra final sobre a natureza da verba em fevereiro. Na época, ao finalizar o julgamento de um processo da Hidrojet, os ministros da 1ª Seção da Corte entenderam, por unanimidade, que não incide contribuição previdenciária sobre o adicional.

O precedente foi utilizado pela Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, que conseguiu decisão favorável em outubro de 2013. Para o juiz Bruno César Bandeira Apolinário, da 3ª Vara Federal do Distrito Federal, não é possível fazer a diferenciação entre o IR e a contribuição previdenciária. "O caso do Imposto de Renda não se distingue das contribuições previdenciárias porque, possuindo natureza indenizatória, a verba não traz acréscimo patrimonial ao trabalhador", afirma na decisão.

A advogada que representa a associação no processo, Ana Maria Vaz de Oliveira, do Torreão Braz Advogados, defende na ação que não existe previsão legal para cobrança do Imposto de Renda. "O escopo [do terço constitucional] é indenizar o servidor que trabalhou o ano todo, para que ele possa descansar, sem prejuízo de suas despesas cotidianas", diz.

Também já conseguiram decisões favoráveis o Sindicato Nacional dos Técnicos da Receita Federal (Sindireceita), a Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Unafisco Nacional), a União dos Advogados Públicos Federais do Brasil (Unafe) e o Sindicato dos Servidores Públicos Federais no Distrito Federal (Sindsep/DF).

O entendimento, entretanto, nem é sempre favorável ao trabalhador. Exemplo disso é uma decisão do juiz José Márcio da Silveira e Silva, da 7ª Vara Federal do Distrito Federal, dada em processo proposto pela Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (Fenaprf). "Afirma a autora, para sustentar a inexigibilidade do Imposto de Renda, que a parcela teria natureza indenizatória. No entanto, pergunto, qual seria o prejuízo, o dano, que o terço constitucional de férias visaria indenizar?", questiona o magistrado.

A posição é defendida também pela PGFN. Para o procurador João Batista de Figueiredo, coordenador-geral da representação judicial da PGFN, o Imposto de Renda e a contribuição previdenciária têm finalidades diferentes e, portanto, não seria possível comparar as hipóteses de incidência. "Entendemos que não existe como enquadrar [o terço

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constitucional] como de natureza indenizatória. Ele representa um aumento efetivo de renda", diz.

O tema poderá, em breve, ser pacificado pelo STJ. Em março, após receber recurso interposto pelo Estado do Amapá, o ministro Benedito Gonçalves encaminhou o assunto à 1ª Seção, responsável por uniformizar o entendimento da Corte.

No processo, que envolve uma pessoa física, o Estado do Amapá conseguiu provar que existem entendimentos divergentes entre a Turma Recursal dos Juizados Especiais do Estado do Amapá - que decidiu pela tributação - e decisões anteriores do próprio STJ pela não incidência sobre o terço de férias.

Para o advogado Leonardo Mazzillo, do WFaria Advogados, se julgar pela não tributação, o STJ manteria a "coerência". "O fato de a discussão envolver um tributo ou outro não altera a natureza do terço constitucional de férias", afirma.

Destaques Horas extras

O Tribunal Superior do Trabalho (TST) negou provimento a agravo da DNP Indústria e Navegação contra decisão que a condenou a pagar horas extras por considerar nula uma cláusula de acordo coletivo relativa a banco de horas. O acordo foi firmado em negociação direta com os empregados. O sindicato da categoria rejeitou a cláusula. Na reclamação trabalhista, o operador de produção, assistido pelo sindicato, pediu a declaração de nulidade da aplicação de banco de horas para a compensação de horas extras no lugar do pagamento do trabalho extraordinário. A DNP, em contestação, defendeu que a flexibilização da jornada de trabalho por meio do banco de horas foi implantada conforme acordo coletivo firmado com os próprios empregados, após as entidades sindicais se recusarem a negociar. Também sustentou que as cláusulas do acordo não podem ser analisadas isoladamente. A Vara do Trabalho de Rio Claro (SP) considerou nulo o banco de horas adotado e condenou a DNP a pagar as horas extras. O Tribunal Regional do Trabalho de Campinas manteve a sentença por considerar inválido sistema de compensação instituído diretamente com os trabalhadores, uma vez que a Constituição dispõe, no artigo 8º, ser obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações.

(Fonte: Valor Econômico dia 30-07-2014).

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Metalúrgicos da Embraer querem 12,98% de reajuste

Agências

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Foi aprovada ontem em assembleia dos metalúrgicos da Embraer em São José dos

Campos o início de campanha salarial, em que cobram da empresa reajuste de 12,98%,

redução de jornada de trabalho e estabilidade no emprego. Segundo o Sindicato dos

Metalúrgicos de S. José dos Campos, onde está a principal fábrica da Embraer no Brasil, a

campanha salarial é unificada com os sindicatos de Campinas, Limeira e Santos, que

juntos representam 157 mil trabalhadores. A Embraer emprega cerca de 12 mil

metalúrgicos em duas unidades em São José dos Campos, diz o sindicato.

(Fonte: DCI dia 30-07-2014).

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A terceirização saiu do âmbito do TST

José Pastore e Eduardo G. Pastore

Em 19 de maio de 2014, o recurso extraordinário com agravo da empresa Celulose Nipo-Brasileira S.A. (Cenibra) levou o Supremo Tribunal Federal (STF) a se posicionar sobre a constitucionalidade da Súmula 331 do Tribunal Superior do Trabalho (TST), que proíbe a terceirização de atividade-fim.

A empresa foi condenada pela Justiça do Trabalho por ter contratado com terceiros a extração de madeira, considerada pelo TST como atividade-fim.

O ministro Luiz Fux, na sua manifestação inicial, considerou que a restrição imposta pela referida súmula é matéria de índole constitucional, pois fere a liberdade de contratar, violando inclusive o Inciso II do artigo 5.º da Constituição federal, que diz que "ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei".

Esse não é o único processo que a Alta Corte examina neste campo. Em 30 de maio de 2014, o ministro Marco Aurélio suspendeu a eficácia do acórdão do Tribunal Regional do Trabalho da 3.ª Região que proibiu a Superintendência de Limpeza Urbana de Belo Horizonte de terceirizar serviços de coleta de lixo na capital mineira.

Em 27 de junho de 2014, o STF reconheceu por unanimidade a procedência do recurso extraordinário com agravo da empresa Contax S.A., que foi condenada pelo TST por ter contratado serviços de telefonia com terceiros, sob a mesma alegação.

Como se vê, o Supremo está vigilante no exame de sentenças dos demais tribunais que, sem base legal, impõem restrição à liberdade de contratar.

Mas, é claro, ninguém sabe qual será a decisão final nos processos em tela.

No caso da Cenibra, parece haver duas possibilidades. Na primeira, o STF viria a considerar a proibição do TST como inconstitucional e inválida, gerando consequências para o próprio TST, pois, nessa hipótese, as empresas condenadas poderão entrar com ações de indenização por perdas e danos, com desdobramentos econômicos e sociais imprevisíveis. Uma grande confusão!

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Na segunda possibilidade, o STF reafirmaria a necessidade de lei para restringir a terceirização, mas, em lugar de julgar imediatamente, suspenderia os trabalhos, dando um tempo para o Congresso Nacional aprovar um diploma específico, a exemplo do que fez no caso dos mandados de injunção relativos ao aviso prévio proporcional - o que precipitou a aprovação da Lei n.º 12.506/2011 estabelecendo o adicional de três dias por ano trabalhado com teto de 60 dias.

Resta saber se uma eventual restrição imposta por nova lei pode resolver os problemas atuais.

Dizemos isso porque o Projeto de Lei n.º 4.330/2004 restringe a terceirização a "parte das atividades da contratante".

A imprecisão dessa expressão traz mais dúvidas do que soluções: qual é a parte que pode e a que não pode ser terceirizada? Quem vai definir isso? E se o TST achar que não podem ser terceirizadas partes referentes às atividades-fim? Ficamos na mesma? A nova confusão poderá ser maior do que a atual.

Mais consistente com a liberdade de contratar assegurada pela Carta Magna é a posição do Projeto de Lei n.º 87/2010 do Senado Federal, que confere à contratante o direito de terceirizar quaisquer atividades.

De toda forma, parece claro que a proibição de contratação por via de súmula chegou ao fim. Oxalá assim seja e se adote uma lei moderna que permita ao Brasil enfrentar o futuro com mais realismo, pois a terceirização é uma forma imprescindível de divisão do trabalho.

Para que se evite a condenável precarização do trabalho humano, será importante garantir por lei - e na prática - o respeito rigoroso às proteções dos trabalhadores que participam do processo de terceirização tanto do lado da contratante quanto da contratada.

Nesse campo, os projetos de lei acima citados atendem a essa necessidade.

*José Pastore e Eduardo G. Pastore são, respectivam ente, professor da FEA-USP,

presidente do Conselho de Emprego e Relações do Tra balho da Fecomércio-SP e

membro da Academia Paulista de Letras, e advogado t rabalhista, mestre em direito

das relações sociais pela PUC-SP.

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Terceirizar atividade-fim: é eficiente limitar?

Sergio Lazzarini

O Supremo Tribunal Federal deve analisar, em breve, julgamentos trabalhistas condenando a prática de terceirização de atividades consideradas, em tese, como "fim" - por exemplo, empresas agroindustriais que contratam prestadores de serviço de plantio ou empresas de telecomunicações que contratam operadores especializados de call center. Como destacado em ótimo artigo por José e Eduardo Pastore em 29/7 no Estado, a decisão pode ter impacto fundamental na legislação trabalhista.

Os críticos da terceirização se baseiam no argumento de que a empresa estaria repassando processos essenciais para prestadores de serviço externos somente para demitir e pagar menores salários. Ainda segundo o argumento, atividades terceirizadas poderiam causar uma "precarização" das relações de trabalho. Esse argumento, no entanto, tem um problema fundamental: como definir com exatidão o que é uma atividade-fim?

Voltando a um dos exemplos acima, uma empresa que processa um produto de origem agrícola precisaria realmente se envolver em atividade de produção rural? Qual seria, afinal, a sua atividade-fim? O processamento e a venda do produto industrializado ou a produção agrícola? Justamente para evitar esse questionamento inconclusivo, há muito o ferramental técnico especializado no tema mudou o foco do debate. A unidade de análise deve ser a transação.

E as empresas deveriam organizar a transação da forma mais eficiente possível, independentemente se é considerada "fim" ou não.

Retornando novamente ao exemplo da empresa agroindustrial, imagine que a atividade de plantio ocorra só uma vez ao ano e exija um maquinário muito especializado. Pode ser muito ineficiente para a empresa fazer, ela própria, essa atividade.

Uma empresa terceirizada poderia não só usar o maquinário em mais clientes, tornando-o menos ocioso, como também aprender ao longo do tempo como melhor executar a operação por meio de múltiplos contratos de serviço.

Se os custos de desenhar, monitorar e fazer cumprir contratos entre o cliente e o fornecedor não forem muito elevados - os chamados "custos de transação", no jargão econômico -, então será mais eficiente para a empresa terceirizar.

Por outro lado, em alguns casos pode ser recomendável integrar uma atividade aparentemente não-fim. Por exemplo, muitos varejistas têm áreas internas de tecnologia de informação que poderiam, a princípio, ser terceirizadas. Mas, dependendo do grau de

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customização do serviço e do conhecimento exigido às necessidades da empresa, além dos riscos de vazamento de informação proprietária, os custos de transação podem ficar proibitivos.

Essa lógica baseada em custos de transação já rendeu ao menos três Prêmios Nobel em Economia (Ronald Coase, Douglass North e Oliver Williamson).

É verdade que esse argumento não diz nada sobre o risco de precarização apontado pelos críticos. Esse risco existe e deve ser cuidadosamente observado. Mas a pergunta relevante é: a precarização é causada pela terceirização ou pela falta de fiscalização de uma determinada atividade? Se uma empresa não adere a práticas trabalhistas adequadas, o melhor remédio é obrigar a empresa-cliente a integrar essa atividade ou punir a má conduta da empresa prestadora de serviço? Na mesma linha, a preocupação com os menores salários exige um entendimento mais detalhado sobre as suas reais causas.

Sabemos que salários respondem muito positivamente a investimentos em educação. Nesse sentido, os grupos organizados que se opõem à terceirização poderiam gerar um impacto muito mais duradouro nos salários se pressionarem por mais apoio ao treinamento e qualificação profissional dos funcionários de serviços terceirizados.

Em debates importantes como este, é preciso cuidar para não gerar "soluções" que podem até ter boa intenção, mas que deixam de atacar a raiz do problema e podem trazer efeitos deletérios para a produtividade do País.

*Sergio Lazzarini é professor titular do Insper, é autor de 'Capitalismo de Laços' e de 'Reinventing State Capitalism'. E-mail: sergiogl1@i nsper.edu.br.

(Fonte: Estado SP dia 30-07-2014).

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