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UNIVERSIDADE GAMA FILHO Coordenação de Pós-Graduação e Atividades Complementares ( CEPAC ) MBA PORTOS E LOGÍSTICA SISTEMA DE TRANSPORTES NO BRASIL O Multimodalismo como Opção Logística Autora: Simone de Oliveira Orientador: Eduardo Martins Fernandes Rio de Janeiro 2004

SISTEMA DE TRANSPORTES NO BRASIL - Marinha do Brasil · de transporte no Brasil, suas vantagens e desvantagens, e como a integração desses modais, através do multimodalismo, pode

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UNIVERSIDADE GAMA FILHO

Coordenação de Pós-Graduação e Atividades Complementares

( CEPAC )

MBA PORTOS E LOGÍSTICA

SISTEMA DE TRANSPORTES NO BRASIL

O Multimodalismo como Opção Logística

Autora: Simone de Oliveira

Orientador: Eduardo Martins Fernandes

Rio de Janeiro

2004

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SISTEMA DE TRANSPORTES NO BRASIL

O Multimodalismo como Opção Logística

Simone de Oliveira

Monografia submetida ao corpo docente da Coordenação de Pós-Graduação e

Atividades Complementares da Universidade Gama Filho como requisito parcial para

a conclusão do MBA PORTOS E LOGÍSTICA ( curso de pós-graduação lato sensu )

Aprovada por:

_________________________________________ Prof. Eduardo Martins Fernandes - Orientador M.Sc. em Administração - COPPEAD/UFRJ

Rio de Janeiro

2004

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Oliveira, Simone de.

Sistema de Transportes no Brasil - O Multimodalismo como Opção

Logística / Simone de Oliveira - Rio de Janeiro, 2004.

vii, 100 f.:il

Monografia MBA Portos e Logística (Pós-Graduação Lato Sensu).

Universidade Gama Filho, 2004.

Orientador: Eduardo Martins Fernandes

1. Logística. 2. Multimodalismo 3. Monografia ( MBA - CEPAC / UGF )

I. Fernandes, Eduardo Martins (Orientador). II. Universidade Gama Filho.

III. Sistema de Transportes no Brasil - O Multimodalismo como Opção

Logística.

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OLIVEIRA, Simone de. Sistema de Transportes no Brasil - O Multimodalismo como

Opção Logística. Orientador: Eduardo Martins Fernandes. Rio de Janeiro:

Universidade Gama Filho, 2004. Monografia (MBA Portos e Logística - Pós-

Graduação Lato Sensu).

O Sistema de Transportes no Brasil tem-se mostrado insuficiente ao crescimento da

demanda decorrente do desenvolvimento do mercado brasileiro e do comércio

internacional. Isso deve-se, principalmente, às distorções encontradas na matriz de

transportes do país, que possui uma cultura basicamente rodoviária, apesar de sua

grande extensão territorial e características geográficas, que favorecem a utilização

de outros modais, do tipo de carga transportada, de sua vocação marítima, e dos

altíssimos custos decorrentes da utilização do modal rodoviário. Os altos custos

com distribuição de produtos e matérias-primas no país, decorrentes desta logística

ineficiente, prejudica a competitividade do produto brasileiro, que além de mais

caros, possuem maiores prazos de entrega.

Neste estudo, são mostradas e comparadas as características dos diferentes modais

de transporte no Brasil, suas vantagens e desvantagens, e como a integração

desses modais, através do multimodalismo, pode ser uma solução para a logística

de distribuição dos produtos no país, pois procura associar as vantagens de cada

modal, melhorando assim, a relação custo-benefício, tornando possível uma matriz

de transporte mais balanceada, e o país menos dependente do modal rodoviário.

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OLIVEIRA, Simone de. Sistema de Transportes no Brasil - O Multimodalismo como

Opção Logística. Orientador: Eduardo Martins Fernandes. Rio de Janeiro:

Universidade Gama Filho, 2004. Monografia (MBA Portos e Logística - Pós-

Graduação Lato Sensu).

The Transport System in Brazil has being insufficient for the increasing demand

provided by brazilian market development and the international commercial as well.

It is caused, mainly, for distortions in the transport matrix of the country, which

carries a basically trucking culture, no matter of the country's large extension or its

geographical characteristics, or it's maritime vocation, or the kind of the

transported cargo, which favors the utilization of other transport modals, or the

higher costs of using the trucking transport. The high costs with the final products

and raw material distribution through the Brazil, resultant from this unsuitable

logistics, hinders the brazilian products conditions in the market, which are more

expensive and needs higher delivery time.

In this study, it's being showed and compared, the characteristics of the different

transport modals in Brazil, their advantages and disadvantages, and how the

integration of these modals, through the multimodalism, can be the solution for the

logistics of product distribution in the country, because it looks for associate the

advantages of each modal, increasing the relation cost x benefit, making a more

balanced transport matrix, and the country, less dependent of trucking modal.

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Sumário

1. Introdução ................................................................................ 1 2. A Logística no Mundo e no Brasil .................................................. 3 3. Geopolítica de Transportes no Brasil ............................................. 6 3.1 Fatores Geográficos ................................................................... 6 3.2 Fator Custos.............................................................................. 6 3.3 Matriz de Transporte................................................................... 9 3.3.1 Matriz Européia.......................................................................... 10 3.3.2 Matriz Norte-Americana............................................................... 11 3.3.3 Matriz Asiática............................................................................ 12 3.3.4 Matriz Sul-Americana.................................................................. 13 4. Transporte Rodoviário no Brasil.................................................... 16 4.1 Histórico.................................................................................... 16 4.2 Aspectos Atuais do Transporte Rodoviário e seus Principais Problemas 17 4.3 Principais Tipos de Equipamentos Rodoviários................................. 27

4.4 A Malha Rodoviária Brasileira ....................................................... 28

5. Transporte Ferroviário.................................................................. 31 5.1 Histórico.................................................................................... 31 5.2 Aspectos Atuais do Transporte Ferroviário e seus Principais Problemas 34 5.3 A Malha Ferroviária Brasileira........................................................ 38 5.3.1 América Latina Logística – ALL...................................................... 38 5.3.2 Estrada de Ferro Tereza Cristina – EFTC......................................... 39 5.3.3 Estrada de Ferro Paraná Oeste – Ferroeste..................................... 39 5.3.4 Ferrovia Bandeirante – Ferroban................................................... 39 5.3.5 MRS Logística ............................................................................. 40 5.3.6 Estrada de Ferro Vitória-Minas – EFVM .......................................... 40 5.3.7 Ferrovia Centro-Atlântico- FCA ..................................................... 40 5.3.8 Ferronordeste ............................................................................ 41 5.3.9 Ferrovia Norte-Sul – Valec............................................................ 41 5.3.10 Estrada de Ferro Carajás – ETC .................................................... 42 5.3.11 Estrada de Ferro Amapá – EF........................................................ 42 5.3.12 Ferronorte.................................................................................. 42 5.3.13 Ferrovia Novoeste....................................................................... 43 5.4 Principais Tipos de Equipamentos Ferroviários................................. 43 6. Transporte Aéreo........................................................................ 44 6.1 Histórico.................................................................................... 44 6.2 Aspectos Atuais do Transporte Aéreo............................................. 44 6.3 Órgãos Reguladores.................................................................... 49 7. Transporte Dutoviário.................................................................. 50

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7.1 Conceito e características............................................................. 50 7.2 Principais Dutos Existentes no Brasil.............................................. 50 7.2.1 Oleodutos.................................................................................. 50 7.2.2 Gasodutos.................................................................................. 51 7.2.3 Minerodutos............................................................................... 51 8. Transporte Fluvial........................................................................ 52 8.1 Histórico.................................................................................... 52 8.2 Aspectos Atuais do Transporte Fluvial............................................ 52 8.3 As Principais Hidrovias do Brasil ................................................... 53 9. Transporte Marítimo – Cabotagem ................................................ 57 9.1 Conceito.................................................................................... 57 9.2 Histórico.................................................................................... 57 9.3 O Conteiner................................................................................ 59 9.3.1 Carga Geral,,,,,,,,........................................................................ 61 9.3.2 Conteineres Térmicos................................................................... 61 9.3.3 Conteineres Tanques ................................................................... 62 9.3.4 Conteineres para Granel Seco....................................................... 62 9.3.5 Conteineres Plataformas e Flat Racks............................................. 62 9.4 A Cabotagem no Brasil – Aspectos Principais .................................. 62 9.4.1 Principais Produtos Transportados 65 9.4.2 Principais Problemas do Setor 65 9.5 A Lei 8.630 de 26/02/1993 - Lei de Modernização Portuária.............. 68 9.6 Os Fretes Marítimos..................................................................... 70 10. Transporte Multimodal.................................................................. 73 10.1 Histórico..................................................................................... 73 10.2 Conceito - Multimodalidade e Intermodalidade................................. 74 10.3 Regulamentação.......................................................................... 75 10.3.1 Responsabilidades do OTM – Operador de Transporte Multimodal ...... 77 10.3.2 Responsabilidades do Embarcador................................................. 78 10.4 Transportadores Multimodais......................................................... 79 10.5 Integração entre os Modais........................................................... 80 10.6 Vantagem do Transporte Multimodal.............................................. 83 10.7 O Multimodalismo no Brasil........................................................... 86 11. Conclusão.................................................................................. 92

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Agradecimentos

Em primeiro lugar, agradeço a Deus e aos meus pais, pela minha vida e por me

darem condições de superar todos os obstáculos e crescer. Agradeço ao meu

marido, pela compreensão, companheirismo e paciência durante esse curso e a

confecção desse trabalho, pois foram muitas horas com a minha ausência.

Agradeço à minha irmã por dividir o seu espaço e me dar condições físicas de fazer

esse trabalho em casa.

Agradeço também e imensamente ao DPC, por ter tido participação decisiva na

conclusão do meu curso, financiando os meus estudos e, permitindo com isso, o

meu crescimento profissional e o alcance de objetivos e metas na minha vida, cujos

frutos, certamente, já estou colhendo. Obrigada.

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1. Introdução

Em um país com dimensões continentais como o Brasil, com 8.511.965 km2,

considerado a décima maior economia do mundo, é fundamental o desenvolvimento

de uma estrutura de transporte e distribuição, capaz de atender às necessidades de

sua economia, alcançando, assim, todas as regiões do país, formando uma logística

bem desenhada, que otimize os recursos e meios de transporte, simplificando os

processos, visando principalmente três pontos: a redução de prazos de entrega, a

redução do estoque e, principalmente, a redução de custos de distribuição,

permitindo produtos com preços mais competitivos, o que resultaria no

desenvolvimento de toda a economia brasileira.

Essa logística estruturada passa, principalmente, pela integração dos diversos

modais de transporte, o que chamamos de multimodalismo, que é o tema principal

deste trabalho, e consiste em um passo importante para a reestruturação do

sistema de transporte no Brasil, montando-se assim, uma nova matriz de

transporte, mais equilibrada, com o desenvolvimento e otimização dos diferentes

modais.

Hoje, no Brasil, temos uma extensa malha rodoviária, porém, insuficiente para

atender às necessidades de escoamento da produção e distribuição de bens pelo

país. Isso se deve, principalmente, à falta de verbas para o desenvolvimento do

setor, o que impede a construção de novas estradas, a continuação de obras

inacabadas, e permite que várias delas, especialmente as que cortam o interior do

Brasil, estejam praticamente sem condições de uso. A manutenção de toda essa

estrutura é muito cara, exigindo grandes verbas do governo federal, o que se torna

um importante gargalo para o desenvolvimento. Como conseqüência disso, as

viagens levam muitos dias, às vezes semanas, boa parte dos produtos se perde,

principalmente alimentos, a frota de caminhões tem vida útil cada vez menor e os

produtos ficam mais caros, e deixam de ser competitivos em outros mercados.

Por outro lado, o Brasil possui uma malha ferroviária sucateada, que começa,

agora, a se reestruturar, mas que necessitará de muitos bilhões de reais para

recuperar o tempo e o maquinário perdidos, e retomar o seu desenvolvimento;

apresenta um transporte hidroviário quase inexistente, apesar de possuir uma

grande parte dos seus rios navegáveis; e tem apresentado nos últimos anos um

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sensível crescimento da Cabotagem, modal aquaviário, que tem possibilitado uma

mudança na logística de transporte de grandes empresas, mas que ainda possui

alguns obstáculos importantes ao seu desenvolvimento.

A logística de transporte, com a melhor utilização de cada um dos modais, deve

possibilitar e simplificar o escoamento da produção crescente, para o mercado

interno e externo, tornando o produto brasileiro cada vez barato e mais competitivo

no mercado internacional, tanto pela redução de custos logísticos na exportação

quanto na importação de matérias-primas.

De acordo com recente pesquisa divulgada pela Coppead, no Rio de Janeiro,

intitulada “Transporte de Carga no Brasil – as Ameaças e Oportunidades para o

Desenvolvimento do Brasil” – set/2002 - (www.cel.coppead.ufrf.br), houve uma

sensível evolução no sentido da integração dos diversos modais, porém, apesar de

todos os problemas de infra-estrutura, das péssimas condições de grande parte das

estradas, principalmente as que alcançam o interior do país, como a

Transamazônica, o Brasil ainda concentra em torno de 60% do total de carga

transportada em um único modal de transporte, o rodoviário, o que, segundo o

mesmo estudo, está muito longe de atender às necessidades das empresas

brasileiras. Já nos Estados Unidos, a participação do transporte rodoviário é bem

menor, ficando em torno dos 26%, na Austrália, 24% e na China, 8%. Contudo,

neste mesmo estudo vemos alguns pontos positivos: o transporte ferroviário

cresceu 10,6% em 2001, devido às privatizações, o transporte hidroviário, de 1%

para 5% em sua utilização, e a cabotagem, 400% nos últimos 6 anos.

Para mudar este cenário, a exemplo dos Estados Unidos, o Brasil precisa promover

e consolidar, imediatamente, como já mencionado, o multimodalismo, com o

objetivo de reduzir custos, prazos e perdas na distribuição de seus produtos,

tornando-os mais competitivos.

O presente estudo tem como objetivo principal mostrar uma visão do cenário atual

da logística de transportes no Brasil, o Sistema de Transporte como um todo,

apresentando as vantagens e desvantagens de cada um dos modais, os problemas

encontrados e os avanços alcançados, os principais obstáculos para a consolidação

do multimodalismo no Brasil, assim como os benefícios que essa consolidação

poderá trazer para a economia brasileira.

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2. A Logística no Mundo e no Brasil

Observando-se a necessidade de coordenar de forma sistêmica o fluxo de matérias-

primas, produtos e informações dentro da organização, em função de garantir a

entrega de produtos no local desejado, no tempo estipulado e com menores custos,

dentro do conceito de supply chain management ou cadeias logísticas de

suprimento, os sistemas logísticos passam a ter como característica principal a

integração de todas as atividades logísticas, desde os fornecedores até os

consumidores finais (ROCHA, 2001).

Essa integração das atividades logísticas pelas empresas tem sido considerada

como um importante fator de competitividade, pois permite a redução dos custos

com estoque, custos logísticos de distribuição e armazenagem, assim como dos

prazos de entrega.

De acordo com Paulo César Rocha (ROCHA, op cit., p.33), três fatores externos são

considerados importantes para intensificação da logística no mundo, em especial

nos países industrializados:

• Demanda dos consumidores - o foco das empresas passa a ser o atendimento

aos seus clientes, visando, até mesmo, superar suas expectativas; com o

crescimento da oferta de produtos e serviços, os clientes tornam-se mais

exigentes. Com isso, as empresas procuram alcançar um diferencial

competitivo, através de preços reduzidos, maiores prazos de pagamento,

menores prazos de entrega e melhor qualidade de seus produtos;

• Globalização - com isto, deixam de existir as barreiras geográficas para a

competição mundial. Ao mesmo tempo, surgem novos concorrentes oriundos de

outros países, e novos mercados ainda não explorados. As empresas precisam

se capacitar para atender esses novos mercados, geograficamente distantes,

com tempos de entrega menores do que os antes esperados;

• Competição - O aumento contínuo da competição, cada vez mais acirrada entre

as empresas, leva a necessidade de um processo de inovações e soluções

criativas dentro da cadeia logística de suprimentos. Essa competição tem como

origem diversos fatores tais como: desenvolvimento tecnológico da indústria,

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intensificação do processo de globalização, enormes avanços no campo da

informática, capital de risco abundante e criação de novos negócios (ROCHA, op

cit., p.33).

O Brasil encontra-se ainda numa fase de transição e mudanças de conceito no que

diz respeito á logística. Ao mesmo tempo em que alguns setores estão se dando

conta da importância da aplicação dos conceitos de gerenciamento da logística, de

uma forma geral, eles são pouco utilizados. Porém, o país deverá ainda passar por

um longo caminho até alcançar o desenvolvimento da logística na indústria nacional

e dos transportes (ROCHA, op cit., p.35).

A Logística no Brasil encontra-se em fase de desenvolvimento de uma maneira

geral, onde as grandes empresas começam a estruturar suas atividades logísticas

utilizando esta nova perspectiva de integração. Em alguns setores, podemos

observar aplicações da logística empresarial, como nos setores automobilísticos, de

mineração e de exportação de produtos agrícolas (ROCHA, op cit., p.35).

Segundo Rocha (ROCHA, 2001, p.36), um dos setores que mais desenvolveu a

logística integrada no Brasil, foi o de produção de minério, principalmente ferro,

destinados à exportação. Foram desenvolvidas tecnologias de transferência de

modais, constituindo soluções integradas, desde a extração, passando pelo seu

carregamento mecanizado, por ferrovias eficientemente operadas até os portos, e

por operações portuárias mais modernas, fazendo com que o minério alcance

outros mercados do mundo a preços competitivos.

Vários setores da economia desenvolveram soluções logísticas, otimizando e

integrando os seus processos, visando reduzir estoques, custos e prazos, tornando

mais próximas as fábricas das lojas de varejo, e tornando seus produtos mais

competitivos. Todo esse processo passa por uma remodelagem da estrutura de

distribuição. Temos ai, a importância do sistema de transportes brasileiro e do

desenvolvimento do multimodalismo como opção logística para a distribuição de

mercadorias no país, permitindo otimizar esse processo, utilizando o modal mais

apropriado para cada trecho, reduzindo o custo de toda a operação.

Portanto, podemos observar uma mudança no contexto da logística no Brasil, onde

há grandes perspectivas de expansão do setor. Um dos fatores que tem contribuído

para o crescimento dos setores ligados a logística no Brasil é o processo de

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privatização da economia brasileira, o que já ocorreu com a malha ferroviária, a

maior parte dos portos e as concessões de uso das principais rodovias do país

(ROCHA, op cit., p.41).

A privatização desses setores, principalmente do setor ferroviário, além de permitir

um avanço no setor, através de investimentos, prescinde de uma maior

agressividade das novas concessionárias em ampliar o leque de cargas

transportadas, pois atualmente, a ferrovia realiza, basicamente, o transporte de

minério.

Essa busca por novos mercados e por outros tipos de mercadoria deve ser feita

através de uma flexibilidade de se conseguir também parcerias com os operadores

logísticos e portuários e em disponibilizar pátios para transbordo de cargas para o

modal rodoviário ou aquaviário, envolvendo outros setores, integrando os modais,

permitindo a melhor utilização de cada um deles (ROCHA, op cit., p.41).

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3. Geopolítica de Transportes no Brasil

3.1 Fatores Geográficos

Com um território tão extenso (8.511.965 km2), que equivale a 47.7% do

continente sul-americano, as fronteiras terrestres brasileiras totalizam 15.179 km,

com as seguintes características geográficas: ao norte, o Brasil é delimitado pelo

Planalto das Guianas e pela Serra Imeri, que representam os pontos mais elevados

do território nacional, o que dificulta sua transposição terrestre; o noroeste é

tomado pela floresta amazônica, que se estende pelos países vizinhos e tem no Rio

Amazonas, com seus 24.000 km de vias navegáveis, o seu principal meio de

transporte e fator de integração nacional, que contudo, não alcança as principais

cidades e centros comerciais dos nossos países vizinhos além fronteiras; ao oeste,

a Cordilheira dos Andes coloca-se como obstáculo natural à transposição terrestre,

que somente é possível via Paso de Mendonza (Argentina); ao sudeste, a Planície

do Pantanal possui baixa declividade, com enchentes sazonais, o que dificulta o

transporte terrestre, porém, o sistema hidroviário dos rios Paraná e Paraguai

permite conexão fluvial com a Bacia do Prata; ao sul, as ligações rodoviárias e

fluviais com o Uruguai e a Argentina são boas, favorecendo as trocas comerciais

dentro do Mercosul; e a leste, temos o Oceano Atlântico, com 7.408 km de

extensão, que consiste em um grande elo que liga o Brasil aos seus principais

parceiros comerciais e aos maiores mercados do mundo (RODRIGUES, 2002).

Associado ao acima exposto, o Brasil possui, numa faixa de 400 km a oeste da

Costa, cerca de 80% do seu PIB. Isso mostra a vocação do país para o transporte

marítimo (COPPEAD, 2002).

3.2 Fator Custos

Para a maioria das indústrias, o transporte é o principal componente dos custos

logísticos. Sua importância pode ser medida através de pelo menos três indicadores

financeiros: custos, faturamento, e lucro. Nos países desenvolvidos, o transporte

representa, em média, 60% dos custos logísticos, pode variar entre 4% e 25% do

faturamento bruto, e em muitos casos, supera o lucro operacional. Em 1998, o

custo total de transporte nos Estados Unidos foi de US$ 529 bilhões representando

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59% de todos os custos logísticos e 6,2% do PIB. No Brasil estima-se que estes

custos estão na ordem de R$ 60 bilhões (NAZÁRIO, 2000).

É importante ressaltar que os valores acima apresentados podem variar

substancialmente, de setor para setor, e de empresas para empresa. A participação

no faturamento, que em média é de 3,5%, pode variar, por exemplo, de 0,8% no

caso da indústria farmacêutica, a 7,1% no caso da indústria de papel e celulose.

Como regra geral, quanto menor o valor agregado do produto, maior a participação

das despesas de transporte no faturamento da empresa (FLEURY, 2002).

Além disso, o transporte tem um papel preponderante na qualidade dos serviços

logísticos, pois impacta diretamente no tempo de entrega, na confiabilidade e na

segurança dos produtos. Portanto, a contratação do serviço de transporte deve

fazer parte de uma estrutura logística que busque a eficiência e a qualidade, com

base em relacionamentos de parceria.

Para se montar uma estrutura logística de distribuição, e a conseqüente

contratação dos serviços de transporte, o objetivo principal é, como já foi dito

antes, a eficiência e a qualidade na distribuição, isto é, a redução dos tempos de

viagem e prazos de entrega, segurança dos produtos, confiabilidade, associados ao

mais relevante de todos: a redução de custos, o que torna o preço do produto mais

competitivo. Comprovadamente, um dos fatores de ganhos em competitividade é a

contratação do modal de transporte que menos agregue custo ao produto durante o

percurso.

Tabela 1 – Custos Aproximados de Implantação dos Modais no Brasil (por

km)

Rodovia Ferrovia Hidrovia

R$ 600.000,00 R$ 700.000,00 R$ 100.000,00 Fonte: RODRIGUES,2002.

Como são mostrados na tabela 1, os custos de implantação do modal hidroviário /

aquaviário, em relação às distâncias que serão percorridas, é sensivelmente menor

do que rodoviário, além de não ser necessário grandes gastos com manutenção

destas instalações portuárias, que são construídas para durar em torno de 40 / 50

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anos, muito diferente do que temos hoje com as estradas brasileiras, que devido ao

grande fluxo de veículos, exigem manutenção constante, e devido a falta de

verbas, estão, em boa parte, sem condições de uso em parte de sua extensão. A

privatização das rodovias, em parte, corrigiu o problema das más condições das

mais importantes estradas brasileiras, porém gerou outro: o aumento considerável

no custo do transporte, devido aos altos preços dos pedágios.

O custo de manutenção e implantação da infra-estrutura de escoamento e

distribuição (rodovias, portos, ferrovias), através das tarifas, pedágios e impostos

torna se um importante fator comparativo entre os diferente modais.

Outro fator comparativo, e talvez, o principal deles é o custo energético de cada

modal. Segundo Ambrósio Rodrigues (RODRIGUES, op.cit, p.21) :

• "Uma carreta transporta, em média, 35 ton de carga, e consome cerca de 1 litro

de diesel a cada 1,2 km rodados, à velocidade média de 60km/h. Ou seja, gasta

cerca de 3.375 litros de combustível para cobrir uma distância rodoviária de

4.050 km, na rota ABC Paulista – Manaus". Considerando que os grandes

transportadores paguem U$0,40 por litro, totalizamos um gasto com diesel de

aproximadamente U$ 38,57 por tonelada transportada.

• Um navio de cabotagem com velocidade aproximada de 13 nós, abaixo da

velocidade média atual, e capacidade para 25.000 ton consome, em média, 15

ton de óleo pesado (MFO) e 2 ton de óleo diesel (MDO) por dia, totalizando um

consumo de 150 ton de MFO e 20 ton de MDO para cobrir a distância de 3.074

milhas na linha marítima entre Santos e Manaus, que corresponde a 5.693 km.

Considerando que o preço médio da tonelada do combustível marítimo esteja

em torno de U$ 106,00, temos um custo de U$ 0,64 por tonelada transportada.

• Um rebocador fluvial padrão tem capacidade para tracionar, em média, 20

barcaças fluviais de 400 ton, à velocidade de 8 nós, consumindo

aproximadamente 700 litros de óleo diesel por dia. Admitindo que este

rebocador percorresse a mesma distância já mencionada entre Santos e

Manaus, 3.074 milhas, teríamos um custo total de U$ 3.920,00, ou U$ 0,45 por

tonelada transportada."

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• Segundo dados obtidos com o Departamento de Logística da MRS Logística

S.A.(MRS LOGÍSTICA, 2003), um comboio ferroviário médio com cerca de 30

vagões, cada um carregando aproximadamente 70 ton de carga mais sua tara

de 25ton, totalizando uma capacidade máxima bruta de 2.850 ton, consomem

R$ 3,50 MTKB (1000 ton brutas/km). Sendo assim, seguindo as mesmas bases

anteriores, em uma viagem de 4.050 km, teremos o gasto de R$14.175 por

1000 ton, o que nos dá um custo de U$ 4,973/ton.

Na tabela 2, temos uma média desses custos para cada modal de transporte, onde

podemos observar grandes diferenças.

Tabela 2 – Custos com combustível dos diferentes Modais no Brasil (por

ton)

Rodoviário Aquaviário Hidroviário Ferroviário

U$ 38,57 U$ 0,64 U$ 0,45 U$ 4,973

Fonte: RODRIGUES, 2002.

Mais uma vez, o resultados das pesquisas apontam para a necessidade do

desenvolvimento do modal marítimo, e a integração deste com os demais modais

de transporte, por apresentar, este modal, menores custos com combustível em

relação ao rodoviário, devido à sua grande capacidade de transporte, e a

possibilidade de alcançar os principais centros produtores e consumidores do Brasil,

igualmente ao rodoviário.

3.3 Matriz de Transporte

Fazendo um comparativo da matriz de transporte brasileira com as das grandes

economias mundiais, observamos importantes diferenças entre elas, e que

interferem diretamente na eficiência da distribuição da produção de cada país, e

consequentemente, no seu preço, tornando-os mais competitivos ou não. Esta

diferença tem suas bases na história de cada continente, movidos pelas

necessidades e interesses da época (RODRIGUES, op.cit, p.22).

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3.3.1 Matriz Européia

A história, nos primórdios da Europa, explica o importante desenvolvimento da

navegação neste continente, através, principalmente, do Mar Mediterrâneo,

possibilitando a grande expansão comercial via marítima entre os países europeus

meridionais e o norte da África. O controle do mar era vital para manter a

hegemonia dos povos europeus, através do controle do comércio com o continente

africano (RODRIGUES, op.cit, p.22).

A cerca de 3.000 anos antes de Cristo, os egípcios, primeiro povo a utilizar o mar

para fins comerciais, construíram os primeiros navios de que se tem registros, com

o objetivo específico de comercializar papiros e trigo em troca de preciosas

madeiras do Líbano. Posteriormente, os fenícios, aprenderam as artes náuticas e

passaram a dominar o Mediterrâneo por mais de 2.000 anos. Tiveram o seu poderio

reduzido aos poucos pela expansão da Grécia, que venceu os persas, e estabeleceu

uma ampla hegemonia marítima, até a conquista da região pelos romanos, em 64

a.C. (RODRIGUES, op.cit, p.22).

Os romanos, por sua vez, estenderam seus domínios até o Mar do Norte, fundaram

Londres, mantiveram os mares livres de piratas, construíram faróis, melhoraram os

portos, dragaram o velho canal entre o Rio Nilo e o Mar Vermelho, promovendo

grande desenvolvimento da navegação na região (RODRIGUES, op.cit, p.23).

Além do desenvolvimento da navegação marítima, a Europa desenvolveu uma total

integração desta com a navegação fluvial, motivada pelo enorme sistema fluvial

existente, formado pelos rios Schelde, Mosa, Weser e Elba, o que possibilita

inúmeros acessos ao interior, através da Bélgica, Holanda e Alemanha, explicando

assim, a relevância estratégico-comercial da navegação no Mar do Norte e no Mar

Báltico. (RODRIGUES, op.cit, p.23).

As hidrovias são prioritárias para o continente europeu, de tal modo, que em 1993

concluiu-se uma obra projetada no século passado, a ligação Reno-Meno-Ródano,

que cria inúmeras alternativas de transporte, destacando-se as ramificações para

os rios Sena e Danúbio (RODRIGUES, op.cit, p.23).

Porém, o mais importante modal utilizado na Europa, que cobre a grande extensão

territorial sem rios, e permite o fluxo de mercadorias e passageiros, alcançando

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todos os centros europeus é a ferrovia. Em 1994, foi concluída uma outra

importante obra projetada no início deste século, o Eurotunel, que possibilita a

ligação ferroviária subaquática entre a França e a Inglaterra, sob as águas do Canal

da Mancha. (RODRIGUES, op cit., p.22)

3.3.2 Matriz Norte-Americana

A expansão a oeste e a conclusão da integração nacional do território norte-

americano deveu-se em grande parte à utilização intensiva do sistema fluvial

Mississipi/Missouri (no eixo norte-sul), no qual exercem grande protecionismo à

navegação americana, permitindo que ali trafeguem somente embarcações norte-

americanas com tripulações americanas, e da ferrovia Transpacific Union (eixo

leste-oeste). Estas alternativas foram ampliadas, consolidando os diversos modais

para a integração econômica das diversas regiões. Ao longo da fronteira com o

Canadá foram cortados canais interligando os Grandes Lagos, para possibilitar que,

a despeito da restrição do congelamento do Rio São Lourenço durante o inverno, a

navegação de longo curso alcançasse cidades como Chicago e Detroit.

(RODRIGUES, op.cit., p.22).

Outro modal de fundamental importância para os Estados Unidos é a ferrovia. Lá, o

primeiro trem para passageiros circulou no dia 25 de dezembro de 1839, com

locomotiva importada da Inglaterra, entre Charleston e Hamburg, na Carolina do

Sul. Entre 1850 e 1860, o melhor negócio da América era o de construir e explorar

estradas de ferro. Grandes somas de dinheiro foram empregadas na compra de

ações de ferrovias, o que proporcionou um rápido desenvolvimento ferroviário

naquele país, que cresceu de forma desorganizada e heterogênea. (REVISTA DA

FERROVIA, 1999).

Nos Estados Unidos, o transporte ferroviário de carga está em sua grande maioria

no setor privado, enquanto o transporte de passageiros é totalmente administrado

por entidades públicas. Lá, como na maioria dos países europeus, o rápido

crescimento do comércio mundial tornou mais atrativo o transporte de carga via

ferrovia, especialmente a carga intermodal, devido às grandes distâncias envolvidas

no transporte internacional, e aos baixos custos da ferrovia para percorrer estas

distância, em relação ao transporte rodoviário (MALITORIS, 2000).

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No caso do transporte de passageiros, com o grande crescimento das viagens

aéreas, e o conseqüente congestionamento das estradas e dos aeroportos, a

ferrovia tornou-se muito importante no complemento dos percursos internacionais.

Além disso, a ferrovia de alta velocidade, em muitas vezes, tem substituído as

viagens aéreas de distâncias mais curtas.

Hoje, novos sistemas e tecnologias (principalmente de operações e comunicação)

estão sendo desenvolvidos, tanto pelo setor privado quanto pelo governo, com o

objetivo de expandir ainda mais a capacidade do sistema ferroviário nos Estados

Unidos.

O espírito desenvolvimentista e a praticidade econômica norte-americana não

permitem que eles admitam investimentos no transporte massivo de cargas por via

rodoviária.

3.3.3 Matriz Asiática

A estrutura de transportes da China desenvolveu-se em duas frentes:

• No interior, consolidando seu território através da construção da Muralha da

China, que além de proteger o território contra os invasores, facilitava o

abastecimento rápido e seguro das cidades interioranas;

• No litoral, estabelecendo sua hegemonia nos mares e colonizando várias

regiões, através de uma enorme frota de juncos e sampanas, verdadeiros

entrepostos comerciais flutuantes, apoiadas por embarcações guerreiras e

piratas, que além de defender o território e o poderio comercial chinês,

destroçava os inimigos, impedindo a concorrência comercial.

No caso do Japão, o desenvolvimento da navegação foi sempre fundamental,

tornando-se uma imposição geográfica para a consolidação do seu território,

formado por uma infinidade de ilhas montanhosas e vulcânicas, que impossibilitam

qualquer tentativa de desenvolvimento de outros modais (RODRIGUES, op cit.,

p.23).

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3.3.4 Matriz Sul-Americana

O grande problema verificado na América latina, principalmente no Mercosul, é a

desconexão entre os seus sistemas de transporte. Paraguai, Uruguai, Argentina e

principalmente o Brasil – que possui dimensões continentais – desperdiçam energia

e grande parte de suas divisas com compra de petróleo, porque privilegiam o

transporte rodoviário de carga em seus territórios, em detrimento da ferrovia e

hidrovia.

Em países com extensão territorial de dimensões continentais, o seu

desenvolvimento tem como elemento básico o transporte eficiente de carga e a

distribuição da produção ao menor custo possível. A despeito disto, o custo interno

do transporte no Brasil chega a ser o dobro do gasto em países de dimensões

semelhantes.

Como já foi dito, a longa faixa costeira do país contém a maior parte dos seus

recursos, de sua economia e de sua população. Esta economia litorânea se

concentra em duas sub-regiões: Norte-Nordeste e Sul-Sudeste. Estas duas sub-

regiões são separadas por longas distâncias, mas a despeito da possibilidade de

utilizarem a via marítima, mais barata e mais segura, interligam-se principalmente

por via terrestre, gerando elevados custos com transportes (RODRIGUES, op cit.,

p.24).

Tabela 3 – Comparativo entre as matrizes de transporte (%)

Países Marítimo Ferrovia Rodovia

Alemanha 29 53 18

Canadá 35 52 13

EUA 25 50 25

França 17 55 28

Rússia 13 83 4

Brasil (*) 14 21 60

(*) Aerovia + dutos = 5%

Fonte : RODRIGUES, 2002; GEIPOT, 2000

O sistema de transporte brasileiro, que ficou tantos anos sem receber

investimentos significativos do governo, e teve em decorrência disso, o

sucateamento de sua malha ferroviária e da estrutura portuária, tornando-se

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dependente do transporte rodoviário, dispendioso, mas sem recursos para mantê-lo

e desenvolvê-lo, está passando por uma importante mudança, no que se refere à

utilização de mais de um modal na movimentação de cargas, por toda a cadeia de

suprimentos. Isso ocorre, principalmente, devido à privatização de ferrovias e

portos, com a execução de obras de infra-estrutura, compra de maquinários e

equipamentos que permitem uma melhor produtividade e menores custos das

operações e ações em conjunto com a iniciativa de embarcadores e prestadores de

serviços logísticos (NAZÁRIO, P, op cit).

Historicamente, no Brasil, os tipos de produtos predominantemente transportados

por mais de um modal de transporte são commodities com baixo valor agregado,

como o minério de ferro, outros minérios, gesso, grãos e cimento. Além disso,

cargas transportadas basicamente a granel, como o petróleo, utilizam os modais

dutoviário e aquaviário. Portanto, para que estes produtos sejam competitivos é

indispensável um sistema de transporte eficiente, pois o custo de transporte é uma

parcela considerável do valor destes produtos (NAZÁRIO, P., op cit).

Para produtos de maior valor agregado, como eletroeletrônicos, maquinários e

alimentos, o fluxo de transporte por mais de um modal ainda é bastante incipiente

no Brasil. Porém, este quadro está se transformando rapidamente, com o recente

crescimento da Cabotagem, e a utilização do conteiner, que possibilita a unitização

da carga e a redução do manuseio da mesma, que permite redução de avarias,

perdas e roubos, sendo utilizado o mesmo equipamento desde a origem, passando

por modais diversos (rodoviário, ferroviário, aquaviário), até o seu destino final

(NAZÁRIO, P, op cit ).

"Nos Estados Unidos, o transporte rodo-ferroviário apresentou crescimento

acumulado de 50% nos últimos 10 anos, tendo transportado em 1998, cerca de 9

milhões de conteineres e carretas" (NAZÁRIO, P, op cit ).

Como o objetivo principal das empresas é a redução de custos, o que passa pela

redução dos custos logísticos, associada a uma maior confiabilidade no serviço

prestado, o uso de mais de um modal de transporte no Brasil surge como grande

oportunidade para as empresas tornarem-se mais competitivas, visto que o modal

rodoviário predomina na matriz de transporte do Brasil, mesmo para

produtos/trechos onde não é o mais competitivo.

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Embora se possa observar alguns exemplos de soluções logísticas baseadas na

utilização de mais de um modal, estas iniciativas ainda esbarram em questões de

infra-estrutura e de regulamentação, tais como: eficiência dos portos, terminais

para integração entre os modais e regulamentação da operação de transporte por

mais de um modal, com a criação do OTM (NAZÁRIO, P, op cit).

A infra-estrutura do sistema de transportes no Brasil, comparada a outros países,

ainda deixa muito a desejar, na relação entre estrutura rodoviária e ferroviária,

observada na tabela 4 (NAZÁRIO, P, op cit).

Tabela 4 – Comparativo entre os sistemas rodoviários e ferroviários de

diversos países.

Países

Área do Território

(km2) (A)

Rede Rodoviária Total (km)

(B)

Rede Ferroviária Principal (km) (C)

Extensão da Rede

rodoviária (B/A)

Extensão da Rede

ferroviária (C/A)

EUA 9.363.398 6.303.770 177.712 0,673 0,019

França 551.000 1.502.964 32.579 2,728 0,059

Japão 377.682 1.113.387 20.251 2,948 0,054

Índia 3.285.000 1.604.110 62.486 0,488 0,019

México 1.969.269 213.192 26.445 0,108 0,013

Itália 301.262 293.799 15.942 0,975 0,053

Espanha 504.750 237.904 12.601 0,471 0,025

Brasil 8.511.965 1.495.087 30.277 0,176 0,004

Argentina 2.792.000 207.630 34.059 0,074 0,012

Fonte : NAZÁRIO, 2000.

Podemos observar que os Estados Unidos tem feito grandes investimentos para

desenvolver sua malha ferroviária de forma que permita abranger todo o seu

extenso território, a exemplo da França e Japão, de dimensões bem menores. Por

outro lado, dentre todos os países tabelados acima, o Brasil é o que tem a menor

malha ferroviária, ficando atrás até mesmo da Argentina, com sua dimensão

territorial bem menor.

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4. Transporte Rodoviário no Brasil

4.1 Histórico

O transporte rodoviário no Brasil teve o seu primeiro passo com a construção, em

1926, da Rodovia Rio-São Paulo, a atual Rodovia Presidente Dutra, que até 1940

era a única pavimentada no país. A expansão rodoviária nacional começou em

1944, com a instituição do Plano Rodoviário Nacional (BNDES, 1999).

Até a década de 50, as poucas estradas existentes no Brasil eram bastante

precárias. Esse quadro mudou no governo de Juscelino Kubitchek, que adotou uma

política desenvolvimentista, que tinha o objetivo de interiorizar o crescimento

brasileiro, expresso no slogan “50 anos em 5”. Desta idéia, deu-se início um

período de importantes investimentos em infra-estrutura no país, iniciando-se com

a construção de Brasília, a nova capital. Logo, trouxe a indústria automobilística

para o país, e construiu estradas ao longo do território nacional, fomentando uma

demanda para o transporte rodoviário, que passou a ser visto como um fator de

modernidade, enquanto a ferrovia foi colocada de lado, tornando-se um símbolo da

estagnação e do passado (RODRIGUES, op cit., p.51).

Para garantir os recursos necessários às novas construções, pavimentações,

manutenção e conservação das rodovias, foi criado o Fundo Rodoviário Nacional,

formado pela arrecadação do Imposto Único sobre Combustíveis e Lubrificantes.

Este fundo financiou o desenvolvimento rodoviário por quatro décadas.

Posteriormente, ao longo do tempo, outros mecanismos de financiamento oriundos

da Taxa Rodoviária Única e dos Impostos sobre o Transporte de Passageiros e

Cargas foram agregados ao Fundo Rodoviário Nacional.

A construção de estradas requer menores custos de implantação por quilômetro e

menor prazo de maturação em relação à malha ferroviária. Isso foi um aspecto

fundamental que explica a rápida ampliação da infra-estrutura rodoviária e o

abandono da estrutura ferroviária no país. Essa rápida expansão resultou

surgimento de diversas empresas transportadoras, de diversos tamanhos, e

profissionais autônomos, com caminhões próprios.

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Nos anos 70, foi instituída a cobrança do pedágio, sob a administração do DNER. A

arrecadação era utilizada para amortizar os encargos com a construção da Ponte

Rio-Niterói, de alguns trechos da BR-116 (Rio-São Paulo e Rio-Teresópolis) e da

BR-290 (Osório-Porto Alegre) (BNDES, 1999). A partir desta época, com a

conclusão da conexão rodoviária entre todas as regiões brasileiras, o interesse no

transporte rodoviário cresceu de tal forma que, ao invés de se estruturar uma

matriz de transporte mais racional no país, utilizando os modais corretos para cada

região, visando otimizar os fluxos de mercadorias, passou-se a utilizar toda a

malha viária para o transporte rodoviário pesado, independente da região, ou da

carga (RODRIGUES, op cit., p.51).

A Portaria nr. 10/93 do Ministério dos Transportes criou o Programa de Concessão

de Rodovias Federais (Procrofe), com a finalidade de conceder ao setor privado a

exploração de aproximadamente 25% dos 52 mil km de rodovias pavimentadas da

rede rodoviária federal, delegando a esta a responsabilidade pela manutenção das

estradas e realização de obras, desonerando o Estado (BNDES, 1999).

4.2 Aspectos Atuais do Transporte Rodoviário e seus Principais Problemas

Devido à falta de planejamento e estruturação do sistema de transporte brasileiro,

o modal rodoviário, devido à sua simplicidade e flexibilidade, associados aos

investimentos do governo na construção de estradas, passou a ser utilizado para o

transporte de todo o tipo de carga, por todo o país, inclusive carga pesada, como

os minérios, para a qual ele não foi planejado.

A falta de planejamento e de investimentos em infra-estrutura no país, de forma a

estabelecer uma estrutura logística, com o desenvolvimento e a otimização dos

diversos modais e, consequentemente, a redução dos custos de transporte, tem

causado grandes problemas no setor como um todo. Este vem enfrentando sérios

problemas estruturais, que não só comprometem a saúde financeira das empresas

e sua eficiência operacional, como também, e principalmente, o desenvolvimento

econômico e social do país.

Estima-se que o Brasil vem desperdiçando, anualmente, dezenas de bilhões de

reais, com problemas inerentes ao atual sistema de transporte, como os gastos em

milhares de acidentes que ocorrem anualmente nas estradas brasileiras,

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ocasionando um número assustador de mortes. A esses números, devemos

contabilizar os prejuízos com os roubos de carga, cada vez mais freqüentes, a

ineficiência operacional e energética, e uso inadequado dos modais (COPPEAD,

2002).

Inúmeros estudos internacionais, inclusive alguns deles ratificados pela Associação

Brasileira de Logística, comprovam matematicamente que, em distâncias superiores

a um raio máximo de 500 km, o transporte rodoviário torna-se antieconômico pelo

elevado custo do consumo energético. Devido à sua grande flexibilidade, este

modal é indicado para a distribuição urbana, cujas transferências são de pequenas

distâncias, além de inevitáveis conexões com os demais modais (RODRIGUES, op

cit., p.53) .

Apesar disso, segundo pesquisa do GEIPOT (GEIPOT, 2000), cerca de 60% de toda

a carga transportada no país, segue no modal rodoviário, independente da carga,

das características das regiões de origem e destino, e das distâncias entre elas. Em

contrapartida, nos países mais desenvolvidos, como já vimos, o caminho segue

inverso. Visando tornar o seu sistema de transporte mais barato e mais rápido, e,

consequentemente, os seus produtos mais competitivos, esses países tem investido

mais em outros modais de transporte, desenvolvendo assim, o multimodalismo, e

reduzindo a participação do transporte rodoviário em sua matriz de distribuição.

Gráfico 1 – Participação do Modal Rodoviário na matriz de transporte - Comparação entre países de grande extensão territorial.

4%

8% 13%

24% 25%

60%

Rússia China Canadá Austrá lia EUA Brasil

Fonte : COPPEAD, 2002.

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De acordo com a pesquisa realizada pelo CNT, juntamente com a COPPEAD, a idade

média da frota brasileira se aproxima dos 18 anos, e que vem aumentando ao

longo dos anos. O desgaste natural de uma carreta, mesmo em países onde as

estradas são melhor conservadas, é de aproximadamente 20% ao ano. Para se

estabelecer uma condição saudável e segura para o funcionamento da frota, deve-

se trocá-la por uma mais nova a cada 5 anos. Porém, para as descapitalizadas

transportadoras brasileiras, fica cada vez mais difícil fazer esta troca, devido à

grande concorrência, aos baixos níveis de frete, e aos altos custos do investimento.

A situação do transportador autônomo é ainda pior, pois não tendo crédito e

nenhum subsídio, este vê o seu caminhão acabar-se nas estradas, sem poder

substituí-lo por um mais novo (CNT, 2000).

De acordo com o estudo da COPPEAD (COPPEAD, 2002), na década de 1990,

entraram no Brasil, em média, cerca de 50.000 veículos novos por ano.

Considerando-se a frota brasileira com aproximadamente 1.8 milhões de veículos,

seriam necessários 36 anos para substituir uma frota cuja idade já se aproxima dos

18 anos.

Gráfico 2 – Evolução da Idade Média da Frota Brasileira - Projeção (em

anos)

Fonte : COPPEAD, 2002.

Eduardo
Colocar somente a fonte da qual foi obtida a figura.
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20

Gráfico 3 – Fragmentação do Setor de Transporte Rodoviário

Frota Própria20%

Autônomos51%

Transportadoras29%

Fonte COPPEAD, 2002.

Na base dos problemas do transporte, estão as enormes deficiências de regulação,

o elevado custo de capital para investimentos em infra-estrutura necessária, além

de sua manutenção, e as políticas governamentais de investimento, que

combinados, levaram o país a uma dependência exagerada do modal rodoviário

(COPPEAD, 2002).

Embora apresente uma série de características positivas, como flexibilidade,

disponibilidade, velocidade, e facilidades logísticas, o modal rodoviário possui um

conjunto de limitações que crescem de importância em um país como o Brasil,

caracterizado por sua dimensão continental e uma forte participação de bens

primários na formação do produto interno bruto.

Dentre os principais problemas do modal rodoviário, destacam-se a baixa

produtividade, pois o transporte é feito em pequenos lotes de aproximadamente 30

tons, pequena eficiência energética, com altos custos, níveis elevados de emissão

de poluentes atmosféricos, e menores índices de segurança, devido ao crescimento

dos números de roubo de carga, quando comparado com outros modais

alternativos.

Eduardo
Colocar somente a fonte da qual foi obtida a figura. A pesquisa do COPPEAD está citada de forma diferente na bibliografia
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21

No caso do Brasil, o modal rodoviário apresenta, segundo estudo da COPPEAD

(COPPEAD, 2002), "uma série de distorções que afetam ainda mais seu

desempenho: elevada fragmentação da indústria, graves distorções concorrenciais,

insuficiência e baixa qualidade da infra-estrutura rodoviária". A soma desses

fatores, associado à situação econômica do país, recessiva, vem empurrando o

setor de transporte como um todo, para uma grave crise financeira e operacional.

Sob o ponto de vista da eficiência energética, o consumo da frota brasileira é em

torno de 29% maior do que o consumo nos EUA. Além disso, os níveis de emissão

de poluentes no Brasil é 2,6 vezes superior aos encontrados nos EUA (COPPEAD,

2002).

Porém, essa dependência excessiva do transporte rodoviário no Brasil traz um

efeito mais preocupante e alarmante para as autoridades brasileiras: a falta de

segurança, tanto no que diz respeito ao roubo de cargas, quanto aos altos índices

de acidentes e mortes nas estradas brasileiras.

O roubo de cargas no Brasil tem-se apresentado como um dos principais problemas

para o transporte rodoviário. Devido aos baixos índices de segurança, a distribuição

física da carga é feita, normalmente, durante o dia. Isso provoca grandes

congestionamentos nas principais ruas e avenidas das cidades, aumentando ainda

mais os índices de poluição e consumo energético. Já nos países desenvolvidos, a

distribuição física urbana ocorre no horário noturno, melhorando a produtividade da

frota de carretas, reduzindo os custos com manutenção e combustível e

desafogando o fluxo viário no período do dia (RODRIGUES, op cit., p.54).

O roubo de cargas nas estradas vem crescendo de forma bastante acelerada nos

últimos anos. Entre 1994 e 2001, o número de ocorrências por ano, cresceu de

3.000 para 8.000, assim como o valor das cargas roubadas, que subiu de R$ 100

milhões para R$ 500 milhões. A esse prejuízo, soma-se outros gastos, cada vez

maiores, resultantes da preocupação com a segurança: seguros mais altos,

roteirizações ineficientes, baixa utilização de capacidade para minimizar o risco,

gastos com segurança, escolta e sistemas de rastreamento dos veículos e das

cargas (COPPEAD, 2002).

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Gráfico 4 – Roubo de Cargas no Brasil - Ocorrências anuais.

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

8000

94 95 96 97 98 99 00 01

Fonte: Pamcary – baseado em estatísticas de cargas seguradas.

O efeito mais grave, contudo, são, certamente, os índices alarmantes de acidentes

e mortes nas estradas brasileiras, muito além dos encontrados nos países

desenvolvidos, e que tem como causa principal as péssimas condições em que se

encontram as rodovias do país.

Na pesquisa realizada pelo CNT, foram avaliadas 38.751 quilômetros de rodovias

federais pavimentadas (72,2% das rodovias federais) e 4.712 quilômetros

pertencentes a malha rodoviária estadual (7% do total), tendo sido constatado que

o estado de conservação geral das rodovias pesquisadas é considerado de péssimo

a deficiente em 80,3% da extensão avaliada (CNT, 2000).

Segundo Ambrósio Rodrigues (RODRIGUES, op.citi. p.53), "o custo médio para a

restauração de 1km de estrada é de R$ 100 mil, gerando uma demanda anual de

gastos (com manutenção de estradas) na ordem de R$ 530 milhões. Dependendo

do estado da pista, pode haver uma aumento no consumo de combustível de até

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50%, dobrando-se o tempo do percurso, sem falar no aumento do número de

acidentes".

Sendo assim, como temos cerca de 80% das estradas brasileiras com poucas ou

nenhuma condição de uso, o custo energético com este modal de transporte cresce

sensivelmente. E apesar dos valores cobrados pelos pedágios nas rodovias

brasileiras serem equiparados aos cobrados nas excelentes rodovias norte-

americanas, a qualidade do material usado no Brasil é muito inferior – cobertura

asfáltica ao invés de concreto – e totalmente inadequado às temperaturas

observadas na maior parte do país. Isto acarreta rápida deteriorização das

estradas, que necessitam de mais investimentos para sua manutenção

(RODRIGUES, op cit., p.53).

Avaliando os resultados da pesquisa mencionada, podemos relacionar os principais

problemas encontrados com relação às condições de segurança de tráfego nas

rodovias pesquisadas:

• más condições do asfalto, que não é o material apropriado para o recapeamento

das estradas, mas que continua sendo o mais usado para este fim, o que resulta

em estradas cheias de buracos e constantes obras de manutenção e

recapeamento, a custos altos.

• más condições gerais nas sinalizações horizontal e vertical, registrando-se atos

de vandalismo e pichação de placas sinalizadoras;

• desaparelhamento das polícias rodoviárias;

• ausência ou precariedade de sistemas de pesagem dinâmica;

• necessidade de melhorias físicas e operacionais nos trechos de grande

incidência de acidentes;

• necessidade de conter invasões e favelizações de áreas contíguas às grandes

rodovias, que elevam o número de acidentes;

A malha rodoviária brasileira tem sido destroçada pelo transporte de carga pesada,

mais apropriada para ser transportada por outros modais, como o ferroviário ou

marítimo. Em contrapartida, por pressão das montadoras, o peso máximo que

incide sobre cada eixo tem sido flexibilizado. Em 1968, quando foi aprovada a lei da

balança, o limite era de 5 toneladas por eixo de roda simples. Atualmente, a carga

máxima é de 6.3 toneladas, com impacto cada vez pior sobre o estado de

conservação das rodovias (RODRIGUES, op cit., p.53).

Eduardo
Hoje quando ? Lembrar que o autor está falando de uma época específica.
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24

Segundo estudo do COPPEAD (COPPEAD, 2002), o programa de redução de

acidentes nas estradas do Ministério dos Transportes estima que os acidentes de

trânsito no Brasil ocupem o segundo lugar entre os problemas de saúde pública,

perdendo apenas para a desnutrição. Além disso, 62% dos leitos de traumatologia

dos hospitais são ocupados por acidentes de trânsito. Como resultado dessa

pesquisa, concluiu-se que o número de mortes por quilômetro em estradas

brasileiras é de 10 à 70 vezes maior do que nos países desenvolvidos, como os

EUA.

Ainda como resultado da pesquisa mencionada acima, tendo-se como base o índice

de 213 mortes por 1000 km de estradas pavimentadas, além do fato de que o

Brasil possui aproximadamente 160 mil km de estradas nessas condições, estima-

se que morrem no país, apenas nessas estradas, aproximadamente 34.000 pessoas

por ano.

Gráfico 5 –Índices de mortalidade em Estradas (1996) - por 1.000 km de

Rodovia - nos Principais do G7 em Comparação ao Brasil.

Fonte: COPPEAD, 2002

Esse problema grave, assim como os outros encontrados, tem como sua principal

causa o fato de, ao contrário de quase todos os países desenvolvidos, o Brasil se

caracteriza pela quase inexistência de regulamentação que discipline o modal

rodoviário, e a pouca regulamentação existente não é respeitada, nem pelos

Eduardo
Colocar somente a fonte da qual foi obtida a figura.
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transportadores, e muitas vezes, nem pelas autoridades competentes, responsáveis

por garantir o cumprimento da legislação, como é o caso da limitação de peso das

cargas transportadas, cuja fiscalização é totalmente ineficiente.

Figura 1- Regulamentação do Transporte Rodoviário de Carga no Brasil,

EUA e Espanha.

Fonte : COPPEAD, 2002

Essa falta de regulamentação, no que diz respeito, por exemplo, a limitação de

horas na direção ou turnos de trabalho, aspectos totalmente sem controle, permite

que qualquer pessoa, independente de idade, que possua licença de motorista

adequada, possa adquirir um veículo com qualquer idade, e em qualquer estado de

conservação, e passe a prestar serviço de transporte como autônomo. Isso mostra

que, praticamente, não existem barreiras para a entrada de pessoas neste setor.

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Em contrapartida, a baixa escolaridade média de quem está no setor,

principalmente como motorista autônomo (76% possuem apenas o primeiro grau),

impede ou pelo menos, dificulta que este saia em busca de uma melhor colocação

no mercado de trabalho, criando uma forte barreira de saída (COPPEAD, 2002).

O resultado disso é um constante crescimento do setor, que apresenta oferta cada

vez maior, não acompanhada pela demanda do serviço. Isso provoca um efeito

bastante prejudicial sobre os preços, sobre as práticas operacionais, com baixa de

qualidade, e dos padrões concorrenciais (COPPEAD, 2002).

Esse excesso de oferta, e a grande participação dos transportadores autônomos

tem contribuído para a redução significativa dos preços praticados pelo setor, que

já não são suficientes para cobrir o custo real do negócio. Para garantir um mínimo

de carga, o transportador autônomo acaba se sujeitando a trabalhar em condições

totalmente inadequadas, como dirigir mais de 24 horas seguidas, sem repouso, ou

viajar com excesso de carga, ou trafegar em velocidades acima das permitidas ou

inadequadas às condições de conservação das estradas, contribuindo diretamente

para os altos índices de acidentes e mortes nas estradas (COPPEAD, 2002).

Essa distorção com relação à oferta e demanda no setor rodoviário, pressiona os

preços para baixo, além de dificultar a captação de carga, devido à grande oferta.

Pressionados pelos baixos preços e pela ociosidade, o autônomo é levado às

práticas da concorrência predatória, através do transporte de carga com excesso de

peso, ao excesso de horas trabalhadas e de velocidade, aliados à falta de

manutenção adequada. O excesso de velocidade e de peso aumentam a capacidade

de transporte dos caminhões, reduzindo ainda mais o preço, reiniciando, assim, um

círculo vicioso. Como resultado disso, vemos as transportadoras passando por

sérios problemas financeiros, sem condições de renovar sua frota. E a produção

brasileira fica cada vez mais dependente do transportador autônomo. (COPPEAD,

2002)

Essa dependência excessiva do setor rodoviário poderia ser amenizada com o

desenvolvimento e utilização dos outros modais de transporte, desafogando o

gargalo do transporte rodoviário, reduzindo sensivelmente a maioria dos problemas

aqui já abordados.

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Porém, uma série de fatores históricos, como já vimos, e a própria característica do

modal rodoviário contribuíram para a falta de investimentos nos outros modais de

transporte. Por isso, hoje temos uma oferta insuficiente dos outros modais, em

termos de disponibilidade e qualidade de serviço, além de custos ainda altos,

devido à falta de fluxo de carga (COPPEAD, 2002).

Na verdade, o Brasil ainda convive com uma grande ineficiência de infra-estrutura

de transporte, em relação à extensão e à qualidade das vias. Conforme

comparativo na Tabela 4 (pág. 22), o Brasil possui uma extensão de vias muito

aquém dos demais países desenvolvidos. Essa baixa oferta de estrutura tem-se

constituído em uma poderosa barreira ao desenvolvimento regional e à

descentralização econômica.

4.3 Principais Tipos de Equipamentos Rodoviários

Segundo Ambrósio Rodrigues (RODRIGUES, op cit., p.54), oficialmente, os veículos

utilizados para o transporte rodoviário são classificados por sua capacidade de

carga, quantidade e distância entre os eixos, da seguinte forma:

• "Caminhão Plataforma - São utilizados para o transporte de conteineres e

cargas de grande volume ou peso unitário.

• Caminhão Baú - Sua carroceria possui uma estrutura semelhante a dos

conteineres, que servem para proteger a carga das intempéries.

• Caminhão tremonha ou com caçamba - Transporte de cargas a granel,

descarregado por gravidade, pela basculação da caçamba.

• Caminhão aberto - É utilizado para o transporte de mercadorias não perecíveis

e pequenos volumes. Em caso de chuva, são cobertos com encerados.

• Caminhão refrigerado - É utilizado no transporte de gêneros perecíveis. É

semelhante ao caminhão baú, porém possui mecanismos próprios para a

refrigeração e manutenção da temperatura no compartimento de carga.

• Caminhão tanque - Sua carroceria é um reservatório dividido em tanques,

destinados ao transporte de derivados de petróleo e outros líquidos a granel.

• Caminhão graneleiro ou silo - Possui carroceria adequada para o transporte de

granéis sólidos. Descarrega por gravidade, através de portinholas que se

abrem.

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• Caminhões especiais - Podem ser rebaixados e reforçados para o transporte de

carga pesada (carreta heavy lift); possuir guindaste sobre a carroceria (Munk);

cegonhas, projetadas para o transporte de automóveis, e outros.

• Semi-reboques - Carrocerias, de diversos tipos e tamanhos, sem propulsão

própria, para acoplamento a caminhões-trator ou cavalos-mecânicos, formando

os conjuntos articulados conhecidos como carretas. Este tipo de equipamento é

muito versátil, uma vez que podem ser desengatados e deixados em um

terminal de carga,liberando o cavalo mecânico para prosseguir em outros

serviços de transporte".

4.4 A Malha Rodoviária Brasileira

Segundo Rodrigues, (RODRIGUES, op cit., p.55), a malha federal é composta pelas

rodovias iniciadas pelo prefixo BR, conforme abaixo:

a) "Radiais – começam em Brasília, numeradas de 1 a 100;

b) Longitudinais – sentido norte-sul, numeradas de 101 a 200;

c) Transversais – sentido leste-oeste, numeradas de 201 a 300;

d) Diagonais – sentido diagonal, numeradas de 301 a 400;

e) De ligação – unem as anteriores, numeradas de 401 a 500".

Ainda de acordo com Rodrigues, (RODRIGUES, op cit., p.56), dentre as rodovias

federais consideradas de integração nacional, destacam-se as seguintes:

• "BR-101 – Cobre todo o litoral brasileiro, iniciando-se na cidade de Osório (RS),

passando pelas capitais litorâneas como o Rio de Janeiro (RJ), Vitória (ES),

Aracajú (SE), Maceió (AL), Recife (PE) e João Pessoa (PB), indo terminar em

Natal (RN).

• BR-116 – Começa em Jaguarão, na fronteira com o Uruguai e corre paralela à

BR-101, um pouco mais para o interior, passando por Porto Alegre (RG),

Curitiba (PR), em seu percurso até São Paulo incorpora a Régis Bitencourt -

conhecida como Rodovia da Morte, devido aos altos índices de acidentes fatais,

e também a Rodovia Presidente Dutra, certamente o trecho de maior

movimentação de carga no país, ligando São Paulo ao Rio de Janeiro, indo até a

cidade de Russas (CE), depois de cruzar Minas Gerais, Bahia e Pernambuco.

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• BR-153 – Esta é a única rodovia que atravessa as cinco grandes micro regiões

do país, através do centro-oeste brasileiro, iniciando na cidade de Acegua, na

fronteira com o Uruguai, cruzando o território dos Estados do Rio Grande do

Sul, Santa Catarina, Paraná, oeste de São Paulo e de Minas Gerais, Mato Grosso

do Sul, Goiás, Tocantins, até Marabá (PA), incorporando em seu percurso

trechos da Belém-Brasília".

Dentre as rodovias federais de caráter regional, destacam-se: (RODRIGUES, op cit.,

p.56)

• "Região Norte – BR-174, ligando Manaus a Boa Vista, prosseguindo até a

fronteira com a Venezuela, bifurcando-se em Boa Vista na BR-401 em direção à

Guyana;

• Região Nordeste – BR-407, ligando a cidade de Rui Barbosa (BA) à Paraíba (PI),

atendendo em seu percurso os portos fluviais de Juazeiro e Petrolina;

• Região Centro-Oeste – BR-070, ligando Brasília (DF) à Cuiabá (MT);

• Regiões Sul-Sudeste – São totalmente cobertas por rodovias federais e

estaduais, interligando praticamente todas as micro-regiões".

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Figura 2 – Malha Rodoviária Brasileira – Principais Rodovias Federais.

Fonte : Banco de Dados do PORTAL BRASIL, Ministério da Marinha, DAC, Editora

Abril e CNT – (http://www.portalbrasil.eti.br)

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5. Transporte Ferroviário

5.1 Histórico

As atividades de transporte ferroviário de carga no Brasil podem ser divididas

historicamente em três principais etapas. A primeira foi a da implantação das

primeiras ferrovias em território nacional. A exemplo das grandes nações do

mundo, que tinham o seu futuro voltado para o desenvolvimento de estradas de

ferro, em 1854 foi implantada no Brasil, pelo grande empreendedor e modernista

Irineu Evangelista de Souza - o Barão de Mauá - a sua primeira ferrovia,

denominada Estrada de Ferro Mauá, com 15 km de extensão, ligando a Praia da

Estrela a Petrópolis. A partir daí, outras ferrovias passaram a ser construídas no

país (PIRES, 2002).

Entre os anos de 1870 e 1930, as ferrovias brasileiras tiveram uma participação

muito importante no escoamento dos produtos agrícolas, principalmente o café,

produzidos no interior e levados até os portos através da linha férrea, com a

instalação da malha ferroviária paulista, financiada pelos cafeicultores do Estado de

São Paulo.

Essa fase foi caracterizada por um alto investimento de empresas internacionais -

com garantia de atraentes taxas de retorno por parte do governo brasileiro. Os

investimentos nessas estradas de ferro eram independentes e feitos com capital

privado, sem nenhuma preocupação com uma possível futura ligação entre essas

linhas, o que acarretou a implantação de linhas com bitolas diferentes,

impossibilitando a interligação dos sistemas ferroviários regionais (RODRIGUES, op

cit., p.59).

A Segunda fase histórica pode ser entendida como a da nacionalização gradual das

ferrovias brasileiras, processo que se iniciou no século passado e que teve como

marcos a constituição da Rede Ferroviária Federal S.A (RFFSA) pela lei nr. 3.115 de

1957 e a criação da Ferrovia Paulista S.A (Fepasa) pela lei estadual nr. 10.410 de

1971 (PIRES, op.cit., p.55).

Porém, nesse período, o Brasil voltava-se para o desenvolvimento e consolidação

do seu mercado interno, fomentado pelo início da produção de veículos para o

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transporte rodoviário, a substituição das importações e o protecionismo econômico,

e acelerado pela implantação do sistema rodoviário, através da construção de

estradas, obras mais rápidas e mais econômicas em relação aos demais modais.

Esses investimentos passaram a ser de caráter governamental para favorecer a

expansão das fronteiras agrícolas e o processo de industrialização do Brasil.

O fato de existirem estradas de ferro com bitolas distintas, de 1,00m, 1,435m e

1,60m, impossibilitando uma integração dos fluxos para escoamento de cargas via

ferroviária, foi decisivo para desmobilização de vários dos seus trechos, e

sucateamento das estruturas existentes, sendo amplamente substituídas pelos

veios rodoviários (RODRIGUES, op.cit., p.59).

Com isso, o nível de investimentos federais em conservação, manutenção e

ampliação do sistema ferroviário foi reduzido sensivelmente ao longo da década de

80, resultando em uma acentuada degradação da eficiência operacional e qualidade

dos serviços oferecidos na fase pré-privatização (PIRES, op.cit., p.55).

Finalmente, a terceira fase foi o processo de privatização iniciado pelo governo

federal, através do arrendamento por 30 anos desse sistema, passando a

responsabilidade pela malha e pelas operações ferroviárias de volta à iniciativa

privada. Essa fase teve como início, a inclusão, em 1992, da RFFSA no programa

nacional de desestatização e teve como marco fundamental a Lei das Concessões

de 1995 (lei 8.987/95). Paralelamente à estrutura ferroviária privatizada, nasceu a

Ferronorte, uma concessão de 90 anos outorgada em 1989 e com início de

operação em 1999 (PIRES, op.cit., p.55).

A herança deixada para as empresas privadas que arrendaram o sistema

ferroviário, foi uma rede com baixa integração intramodal e intermodal, pequena

extensão geográfica, baixa produtividade (com exceção da EFVM e a EFC) e de

pequenas distâncias médias percorridas - avaliadas em cerca de 590 km em média

(PIRES, op.cit., p.55).

5.2 Aspectos Atuais do Transporte Ferroviário e seus Principais Problemas

Apesar de ter um custo de implantação e manutenção elevados, a eficiência

energética desse modal é a sua principal vantagem. Porém, mesmo assim, este

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modal convive com uma série de dificuldades que apresentam barreiras

significativas ao seu desenvolvimento. Dentre elas destacam-se a pequena

extensão de sua malha e seu estado de conservação bastante precário,

constituindo-se um grande fator limitador, os altos custos de capital, necessidade

de grandes investimentos para ampliar a estrutura, assim como recompor aquela já

existente, a falta de regulamentação adequada, e a concorrência predatória do

modal rodoviário (COPPEAD, 2002).

Segundo pesquisa da COPPEAD (COPPEAD, 2002), "durante os 10 anos que

precederam a privatização, houve uma redução drástica dos investimentos na

malha ferroviária nacional. De um patamar de cerca de R$ 1,0 bilhão de

investimentos anuais, nos primeiros anos da década de 1980, a Rede Ferroviária

Federal reduziu seus investimentos para algo em torno de R$ 200 milhões por ano,

na segunda metade da década de 80, e cerca de R$ 50 milhões por ano, entre

1990 e 1995, ano em que teve início o processo de privatização. Ao assumirem a

operação da malha privatizada, os novos operadores encontraram a maioria das

linhas em estado lastimável de conservação. Até os dias de hoje é comum

encontrar trechos onde a velocidade média fica abaixo dos 15 km por hora, devido

ao péssimo estado de conservação".

Gráfico 6 – Investimentos governamentais na RFFSA (antes da

privatização)

Fonte : COPPEAD, 2002

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A distância e a densidade do tráfego são fatores determinantes para a viabilização

da ferrovia. Por suas características operacionais, este modal somente oferece

vantagens quando há grande quantidade de carga a ser transportada a longas

distâncias. O parâmetro internacional usual é destinar à ferrovia lotes de

mercadorias cuja distância de transporte exceder a 500 km. Portanto, pode-se

afirmar que este é o modal por excelência para grandes volumes de carga. Apesar

disso, conforme já exposto, a média de distâncias percorridas pelo transporte

ferroviário no Brasil, até hoje, é inferior a 600 km. Nos EUA, este número é em

torno de 1.350 km (RODRIGUES, op cit., p.60).

A oferta de transporte do modal ferroviário é bastante baixa em comparação a de

outros países. Com base no indicador de disponibilidade, medido pelo índice km de

via por km2 de extensão territorial (visto anteriormente na pág. 15), verifica-se

que a oferta no Brasil equivale a 6,8% da oferta na França, 16% da Espanha,

30,8% do México, 21% dos EUA e 33% da Argentina (NAZÁRIO, P, op.cit).

A Figura 3 abaixo, mostra um comparativo entre malha ferroviária brasileira e a

norte-americana.

Figura 3 – A Densidade de Ferrovia km/1000 km2 – Comparação entre o

Brasil e os Estados Unidos

Fonte : COPPEAD, 2002

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Entretanto, pode-se observar um crescimento de 20,63% na utilização deste

modal, entre os anos de 1996 e 2000, que é ligeiramente superior ao crescimento

da produção de transporte do país, neste período, registrada em 19,96%. Isto

significa que a participação deste modal (20,86%) é ainda muito próxima da

apresentada em 1996, apesar do ligeiro crescimento (PIRES, op.cit., p.59).

Isto nos mostra que crescimento registrado até agora no setor ferroviário é

decorrente do crescimento do mercado brasileiro, e consequentemente do setor de

transportes como um todo. Muitas ações e investimentos ainda são necessários

para tornar este crescimento real em relação aos demais modais, acarretando,

assim, um ligeiro deslocamento na matriz de transporte do país.

Gráfico 7 – Evolução da Produção de Transporte Ferroviário em milhões de

TKU.

138.724 142.446 140.817155.590

128.976

1996 1997 1998 1999 2000

Fonte : PIRES, 2002

Outro fator importante de análise deste modal é o tempo de viagem, na maioria

das vezes, ainda irregular, em decorrência das demoras para a formação da

composição, paradas no percurso, transferências de bitolas, congestionamentos de

linhas, etc.(RODRIGUES, op cit., p.60).

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A velocidade média comercial é um indicador do lead time do serviço de transporte

oferecido. Segundo Francisco Barros Pires (PIRES, op.cit, p.60), estatísticas

disponíveis entre 1998 e 2000 mostram um aumento na velocidade comercial

média, de 12,03 km/h para 12,67 km/h. Este crescimento de 5,31% indica uma

redução no tempo de percurso (ou lead time) do transporte ferroviário, mesmo que

ainda pequeno. Comparativamente, é interessante notar que a velocidade comercial

média das cinco maiores empresas dos EUA é de 36,8 km/h .

Analisando o aspecto financeiro, é importante ressaltar que a privatização das

ferrovias gerou um ótimo resultado para o governo: os três últimos anos de

operação da RFFSA e da Fepasa geraram um prejuízo de R$ 2,2 bilhões e R$ 4,2

bilhões, respectivamente. Entretanto, o processo de privatização dessas empresas

resultou em um valor de R$ 1,5 bilhão (RFFSA) e de R$ 245 milhões (Fepasa) a

serem recebidos pelo governo em 30 anos. O Gráfico 8 mostra a margem bruta em

% apresentada pelas concessionárias no ano de 2000, sendo que até o ano de

1997, metade delas apresentavam despesas operacionais maiores do que as suas

receitas (PIRES, op.cit., p.60).

Gráfico 8 – Margem bruta em % no ano de 2000.

-53%

6%7%11%15%

38%39%40%

63%

-60%

-40%

-20%

0%

20%

40%

60%

80%

EF

VM

Fer

roes

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S

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L

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A

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T.C

rist

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CF

N

Fonte : PIRES, 2002

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Com a privatização e os novos investimentos no setor ferroviário, o quadro anterior

está se modificando lentamente, no sentido do desenvolvimento e consolidação

deste modal como opção logística. Com a criação da Holding Brasil Ferrovias,

promovendo a integração de três importantes ferrovias - Ferroban, Ferronorte e

Novoeste - teremos uma melhor integração / conexão entre as malhas, o que

aumentará tanto o volume transportado, quanto a distância média percorrida. Além

disso, outras concessionárias estão expandindo os seus negócios, aliando-se à

outras empresas, preocupadas em adequarem-se ao que parece ser o futuro do

setor de transportes, o multimodalismo (PIRES, op.cit., p.60).

Porém, essas empresas privadas encontram uma difícil barreira para a estruturação

e a ampliação das linhas ferroviárias no Brasil: os altíssimos custos financeiros.

Enquanto nos EUA, o custo de financiamento para ferrovias fica em torno de 6,5%

ao ano, no Brasil, este custo atinge, na melhor das hipóteses, aproximadamente

15%, nos casos de financiamentos do BNDES. Além disso, existe ainda o risco

cambial, pois a maior parte dos investimentos, isto é, em ativos, como trilhos,

maquinários, locomotivas, são feitos em moeda estrangeira, pois não existe

produção nacional (COPPEAD, 2002).

Isso prejudica sensivelmente o resultado dos investimentos no setor ferroviário no

Brasil, em relação aos investimentos nos EUA. Enquanto nos EUA a margem

operacional é em média de 15%, e o retorno sobre o capital investido é de 9%, no

Brasil, a margem operacional gira em torno dos 31% e o retorno sobre o capital

investido é de –34% (negativo). Ou seja, os altos custos financeiros transformam

uma significativa vantagem operacional em uma grande desvantagem econômica

(COPPEAD, 2002).

Como conseqüência disso, observou-se um forte desestímulo ao investimento em

ferrovia no Brasil. Segundo estudo da Coppead, (COPPEAD, 2002), "no período pós-

privatização, o investimento anual médio por quilômetro de linha foi de U$ 11.084,

em comparação com o padrão americano de U$ 33.800". Esse investimento tem

sido insuficiente para reestruturar o setor e recuperar as más condições das linhas,

ou mesmo, mantê-las em condições de uso nos próximos anos. Nessas condições,

há uma tendência forte de não haver novos investimentos privados para expansão

da malha ferroviária brasileira, a não ser que sejam revistos os parâmetros de

financiamento do BNDES para este setor.

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5.3 A Malha Ferroviária Brasileira

Além das ferrovias implantadas pela iniciativa privada, dentro do processo de

privatizações ocorridos no país foram transferidos para o capital privado os 22.000

km de ferrovias pertencentes à Rede Ferroviária Federal S/A, compondo um cenário

formado por vários grupos que controlam partes da rede espalhada pelo Brasil

(RODRIGUES, op.cit., p.61).

5.3.1 América Latina Logística – ALL

A ALL, que foi privatizada em fevereiro de 1997, opera os 6.586 km de trilhos

anteriormente administrados pela SR5 (Curitiba) e SR6 (Porto Alegre) da RFFSA, e

liga as regiões agrícolas do oeste gaúcho aos portos de Rio Grande e Porto Alegre,

e as regiões do norte paranaese aos portos de Paranaguá e Antonina. Atende

também ao porto de São Francisco do Sul, ligando-se aos pólos industriais

catarinenses de Joinville e Jaraguá do Sul (RODRIGUES, op cit., p.61).

Essa ferrovia tem início na Estado de S.Paulo, onde faz conexão com a Ferroban e

com a Ferroeste, e atravessa o interior dos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio

Grande do Sul, ligando essas regiões e mercados às fronteiras internacionais como

o Uruguai e Argentina (RODRIGUES, op cit., p.61).

Recentemente, a ALL arrendou os ativos da Delara, uma das maiores

transportadoras rodoviárias do País e com isso, passou a ter uma estrutura logística

com 15 mil km de vias férreas no Brasil e na Argentina e uma frota de mais de

3.000 caminhões (RODRIGUES, op cit., p.61).

Além disso, a empresa começa a atuar como operadora portuária em Paranaguá

(PR) e em Maringá (PR), onde foram investidos um total de R$ 6,6 milhões, além

dos portos de Rio Grande (RS), São Francisco (SC) e Rosário (AR), onde, ao total, a

ALL detém 34% de participação na movimentação de carga. O objetivo da ALL com

esses novos serviços é gerenciar melhor os estoques dos seus clientes, tendo

também, melhor controle sobre a carga (JORNAL DO TRC, 2002; ALL-America

Latina Logística, 2003).

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5.3.2 Estrada de Ferro Tereza Cristina – EFTC

Privatizada em 1997 por um grupo liderado pelo Banco Interfinance, a EFTC opera

um total de 164 km de extensão em bitola métrica, anteriormente administrada

pela SR-9 (Tubarão) da RFFSA. Esta ferrovia atualmente atua no abastecimento da

Usina Termelétrica Jorge Lacerda – Gerasul, não se conectando a nenhuma outra

(RODRIGUES, op.cit., p.62).

5.3.3 Estrada de Ferro Paraná Oeste – Ferroeste

Ferrovia de concessão do Governo do Paraná desde 1988, cujas obras iniciaram em

1991 no trecho Guarapuava / Cascavel e foram concluídas em 1996, operando

atualmente, com 249 km de extensão. O Governo do Estado do Paraná estuda a

construção de mais 143 Km de extensão ligando Cascavel a Foz do Iguaçu

(RODRIGUES, op.cit., p.62).

5.3.4 Ferrovia Bandeirante – Ferroban

Privatizada em 1998 por um grupo liderado pela Previ (Banco do Brasil) e pelo

Banco Chase Manhattan, a Ferroban opera 4.186 km de linhas, anteriormente

operadas pela Fepasa, das quais 1.463 km em bitola larga, 2.427 km em bitola

métrica e 296 km em bitola mista.

Esta malha possui alcance limitado ao Estado de São Paulo, interligando regiões

industriais e agrícolas desse estado aos portos marítimos de Santos, São Sebastião

e Cosipa, bem como a diversos portos fluviais do sistema hidroviário Tietê / Paraná.

Além dos trilhos da ALL, conecta-se aos trilhos da MRS Logística, através de bitola

mista (1.00 m / 1.60 m), em Cubatão e Lapa, e conecta-se ainda aos trilhos da

Novoeste em Bauru (RODRIGUES, op.cit., p.62).

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5.3.5 MRS Logística

Privatizada em fins de 1996 por um grupo liderado pela CSN, a MRS opera 1.674

km de trilhos em bitola larga e mista, anteriormente administrados pelas SR-3 (Juiz

de Fora) e SR-4 (São Paulo) da RFFSA.

Atende as regiões mais industrializadas dos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro

e São Paulo, interligando as regiões metropolitanas das respectivas capitais. Liga o

quadrilátero ferrífero e usinas siderúrgicas da CSN, Cosipa e Açominas, com os

portos do Rio de Janeiro, Sepetiba e Ilhas Guaíba. Assim como a Fepasa, a MRS

alcança os portos de Santos e Cosipa. Além de fazer conexões com a malha da

Fepasa, interliga-se com a FCA através de bitola mista (1.00 m / 1.60 m ) em

Barreiro, Miguel Burnier, Ferrugem, Barra Mansa e Três Rios, interligando-se

também a EFVM (RODRIGUES, op cit., p.63).

5.3.6 Estrada de Ferro Vitória-Minas – EFVM

Construída na década de 40, a EFVM foi incorporada Companhia Vale do Rio Doce –

CVRD, ligando o Porto de Tubarão (Espírito Santo) às jazidas da empresa em Minas

Gerais. Com seus 898 km de extensão em bitola métrica e tração diesel, liga o

Estado de Minas Gerais ao complexo portuário de Tubarão (ES), verticalizando a

integração do sistema logístico mina-ferrovia-porto-navegação. Interliga-se com a

FCA e MRS (RODRIGUES, op.cit., p.63).

5.3.7 Ferrovia Centro-Atlântico- FCA

Privatizada em 1996, a FCA opera 7.080 km de trilhos em bitola métrica e mista,

anteriormente administrados pelas SR-2 (Belo Horizonte) , SR-7 (Salvador) e SR-8

(Campos) da RFFSA. Sob controle de um grupo formado pela Cia. Vale do Rio Doce

e pela CSN, a FCA estende-se pelo Estado do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas

Gerais, Goiás, Distrito Federal, Bahia e Sergipe, passando por importantes regiões

produtoras de aço, grãos, cimento, fertilizantes e petroquímica.

Além disso, liga o porto de Angra dos Reis – do qual é arrendatária – à usina da

CSN em Volta Redonda, o porto fluvial de Pirapora (MG) a Belo Horizonte, o porto

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fluvial de Juazeiro (BA) a Salvador e o polo petroquímico de Camaçari ao porto de

Aratu.

A FCA faz conexões com a Ferroban, além de possuir entroncamentos com a EFVM

e com a Ferronordeste. Com esta última, firmou um acordo operacional, resolvendo

o problema de mudança de bitolas, iniciando a operação de um trem expresso para

cargas fracionadas entre Paulínia (SP) e Recife (PE), cobrindo um percurso de

4.500 km. Este comboio, com saídas semanais e transit time de 11 dias, permite

engate e desengate de vagões em Belo Horizonte, Salvador, Aracajú e Maceió,

além de possibilitar conexões com portos fluviais em Pirapora (MG) e Juazeiro (BA),

sendo bastante competitivo com relação ao transporte rodoviário nessa região

(RODRIGUES, op.cit., p.64).

5.3.8 Ferronordeste

Privatizada no final de 1997 por um consórcio liderado pela CSN e Cia Vale do Rio

Doce, a Ferronordeste opera 4.534 km de trilhos, em bitola métrica e larga (1.60

m), anteriormente administrada pelas SR-1 (Recife), SR-11 (Fortaleza) e SR-12

(São Luiz) da RFFSA. Esta malha atravessa os Estados de Alagoas, Pernambuco,

Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão. Neste percurso, interliga

também os portos de Maceió, Recife, Cabedelo e Fortaleza e possui entroncamento

em São Luiz com a Estrada de Ferro Carajás (RODRIGUES, op.cit., p.65).

5.3.9 Ferrovia Norte-Sul – Valec

Esta ferrovia, projetada para ter extensão de 1.308 km em bitola larga (1.60 m),

foi prevista para escoar a produção pecuária e agroindustrial do cerrado

setentrional, ligando o oeste da Bahia, sudoeste do Piauí, sul do Maranhão,

Tocantins e Goiás, onde faz conexão com a FCA, permitindo ligar através da

ferrovia, a região norte do País a São Paulo, principal mercado brasileiro.

A Ferrovia Norte-Sul vem operando o seu primeiro trecho construído, entre

Açailândia e Estreito (MA), com 220 km de extensão, mediante convênio com a

Estrada de Ferro Carajás, escoando uma parte da produção agrícola pelos portos de

Belém (PA) e Ponta da Madeira (MA) (RODRIGUES, op.cit., p.65).

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5.3.10 Estrada de Ferro Carajás – ETC

Administrada pela Cia Vale do Rio Doce desde 1997, tem como objetivo principal o

escoamento do minério de ferro da Serra de Carajás (PA), pelo porto de Ponta da

Madeira (MA).

Essa ferrovia estende-se por 1.056 km em bitola larga e tração a diesel e é

caracterizada pela confiabilidade e pelos baixos fretes praticados, que estimularam

a implantação de usinas de ferro-gusa e ferro-ligas em Marabá, Açailândia, Santa

Inês, Rosário e São Luís (RODRIGUES, op.cit., p.66).

5.3.11 Estrada de Ferro Amapá – EFA

A Mineração ICOMI detém desde 1953 a concessão para construção e exploração

de uma estrada de ferro ligando as jazidas de manganês existentes na Serra do

Navio ao porto de Santana (AP), em um traçado de 194 km em bitola de 1.435 e

tração a diesel (RODRIGUES, op.cit., p.66).

5.3.12 Ferronorte

A Ferronorte, antigamente denominada Ferrovia da Soja, de capital totalmente

privado, havia sido projetada para permitir a integração da região Centro-Oeste

com a economia nacional, racionalizando o escoamento de sua produção agrícola.

Seu projeto inicial prevê uma extensão total de 5.228 km de linha férrea, em bitola

métrica e larga e pretende interligar Cuiabá (MT) com as malhas ferroviárias do

Triângulo Mineiro e São Paulo, alcançar o Rio Madeira em Porto Velho (RO), e

Santarém (PA), integrando-se à navegação pelo Rio Amazonas. Em Aparecida do

Taboado (MS) fará conexão com a hidrovia Tietê-Paraná, e será uma alternativa

logística para se alcançar os mercados do sul do País.

Estão concluídos os trechos entre Aparecida do Taboado e Chapadão do Sul (MS),

com 290 km, e de Alto-Taquari (MT) a Santa Fé do Sul (SP), às margens da

Hidrovia Tietê-Paraná, com 410 km (RODRIGUES, op.cit., p.67).

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5.3.13 Ferrovia Novoeste

Privatizada em 1996, a Novoeste opera uma linha tronco, ligando Bauru a

Corumbá, e uma ramal de Campo Grande até Ponta Porã, na fronteira com o

Paraguai, totalizando 1.622 km, todos em bitola métrica, anteriormente controlados

pela SR-10 (Bauru) da RFFSA.

É atualmente utilizada para escoamento dos derivados de petróleo, minérios e soja

da região Centro-Oeste, pelos portos de Paranaguá e Santos.

Em 1999, a Novoeste e a Ferronorte fundiram as suas participações societárias, e

fundaram a Ferropasa (RODRIGUES, op.cit., p.67).

5.4 Principais Tipos de Equipamentos Ferroviários

Segundo Rodrigues (RODRIGUES, op.cit, p.68), os principais equipamentos

utilizados pelo transporte ferroviário são os seguintes:

• Vagões plataforma – voltados para o transporte de veículos, conteineres,

máquinas, produtos siderúrgicos e outros volumes pesados;

• Vagões fechados de descarga lateral – são utilizados para produtos ensacados e

agregados de cereais (pallets);

• Vagões gôndola abertos – são utilizados para o transporte de carga geral e

granéis sólidos passíveis de serem expostos às intempéries;

• Vagões tremonha aberto e fechado – utilizados para o transporte de granéis

sólidos;

• Vagões tremonha-tanque – utilizados no transporte de fertilizantes;

• Vagões tanque – utilizados no transporte de granéis líquidos. (RODRIGUES, op

cit., p.68)

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6. Transporte Aéreo

6.1 Histórico

O transporte aéreo comercial no Brasil teve seu início em 1927, com a fundação da

Viação Aérea Riograndense - Varig, e foi ampliado com a criação de novas

empresas e a ampliação dos serviços, inicialmente voltados para o transporte de

passageiros, passando a exercer também o transporte de cargas.

Certamente, é o modal de transporte mais rápido, tendo nesta característica sua

maior vantagem. Porém, tem o custo mais elevado entre os modais, pois utiliza

equipamentos muito caros, instalações sofisticadas (aeroportos) e tem uma

eficiência energética reduzida (RODRIGUES, op.cit., p.93).

Segundo Rodrigues (RODRIGUES, op.cit, p.93), este modal de transporte possui 3

tipos diferentes de serviço:

• Serviços regulares - compreendem as linhas nacionais ou internacionais para

passageiros e cargas, com freqüência de saídas em períodos regulares,

programados e anunciados previamente;

• Serviços regionais - são consideradas as linhas nacionais de âmbito regional,

para transporte de cargas e passageiros, atendendo cidades de médio e

pequeno porte fora do eixo das capitais;

• Serviços gerais - compreende os demais tipos de serviços aéreos, executados

por aeronaves de pequeno porte, como taxis aéreos, publicidade e propaganda,

aerofotogrametria, pulverização sobre plantações agrícolas, etc.

6.2 Aspectos Atuais do Transporte Aéreo

Em 1998, o transporte aeroviário foi responsável por 2,52% do movimento total de

passageiros no Brasil. No segmento de carga, sua participação foi de 0,31%,

mantendo-se na faixa de 0,33% em 2000 (PORTAL BRASIL, 2003).

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Em 2002, o modal aeroviário foi responsável pelo transporte de 35 milhões de

passageiros e 2,16 bilhões de toneladas de carga, 748 milhões em vôos domésticos

e 1,412 bilhões em vôos internacionais, 11% a mais do que em 1998 (DAC, 2002).

Os principais centros do país, em volume de passageiros, são: São Paulo, Rio de

Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Porto Alegre, Curitiba, Fortaleza

e Manaus. As principais empresas aéreas que estão operando são o Grupo VARIG,

(Varig, Rio-Sul e Nordeste), TAM, VASP e Gol, no transporte aéreo regular.

Em 2001, destacaram-se 2 acontecimentos que afetaram diretamente o

crescimento do setor. O primeiro foi a criação da GOL, Transportes Aéreos

Inteligentes, originário de Brasília, que transportou no seu primeiro ano de

operação, cerca de 2,2 milhões de passageiros, com faturamento estimado em

mais de R$ 500 milhões, operando 10 aeronaves Boing 737-700 de última geração.

Outro importante fato foi a falência da TRANSBRASIL, devido à má administração,

tendo tido suas rotas suspensas (PORTAL BRASIL, 2003).

Quanto ao transporte de carga, que é o foco deste trabalho, no Brasil, o volume

transportado não tem sofrido grandes avanços, mantendo-se no patamar dos

0,33% em 2000. Como já foi mencionado, a principal vantagem do transporte

aéreo é a sua maior rapidez em relação aos demais modais, o que facilita a

utilização de estratégias just in time, com a conseqüente redução nos custos de

estoque e sua influência sobre o capital de giro; por este motivo, é o modal mais

indicado para o transporte de mercadorias de alto valor agregado e pouco

peso/volume, e para o transporte de amostras e mercadorias urgentes. Outra

vantagem é a sua segurança, o que possibilita uma redução nos custos das

embalagens e a contratação de um seguro geralmente mais barato que o marítimo

(VIEIRA, 2001).

Devido às restrições quanto à capacidade de transporte, tanto em volume quanto

em tonelagem, os custos do transporte pelo modal aéreo são bastante elevados,

sendo essas duas suas principais desvantagens. Por isso, o transporte aéreo, seja

ele de caráter regular ou regional, volta-se para a movimentação de determinados

tipos de carga, de alto valor agregado, como produtos alimentícios e outros bens

perecíveis, animais e plantas vivos, equipamentos eletrônicos, ourivesaria, jóias,

artes, e artigos de moda. Portanto, este modal é voltado para os casos em que a

velocidade da entrega ou a segurança são o ponto mais importante a ser

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considerado no transporte, superando qualquer comparativo de custos

(RODRIGUES, op cit., p.93).

Como os aeroportos, em geral, estão localizados nos grandes centros urbanos, e

sendo o transporte aéreo de fácil acesso, o custos de transporte terrestre nas

operações de coleta e entrega, dependendo do trecho, podem ser menores em

relação ao transporte terrestre entre os portos e os centros produtores ou

consumidores. Por exemplo, as mercadorias importadas por empresas situadas na

região metropolitana de Porto Alegre, no Estado do Rio Grande do Sul. Nesse caso,

o mercado consumidor em Porto Alegre encontra-se a 330 km do Porto de Rio

Grande, enquanto o Aeroporto Salgado Filho está situado na própria cidade. Isso

acarreta custos de transporte terrestre que deverão ser computados ao valor do

transporte marítimo, o que, em muitas vezes, torna o transporte aéreo mais

vantajoso (VIEIRA, op cit. P.109).

A situação acima mostra o melhor exemplo para a utilização do modal aéreo para o

transporte de cargas dentro do mercado interno, quando as grandes cidades

(origem e destino da carga) encontram-se distantes uma da outra (dificultando a

utilização de um único modal rodoviário) e longe dos portos, necessitando de

contratação de transporte rodoviário com custo mais alto, associado à fragilidade,

alto valor ou urgência da carga a ser transportada. Deve-se analisar o custo-

benefício desse transporte para a carga determinada. Um bom exemplo é o

Aeroporto Internacional de Brasília, que teve nos 4 primeiros meses de 2003,

aumento no seu volume de carga aérea doméstica de 37% em relação ao mesmo

período de 2002, ao contrário da maiores dos portos brasileiros (INFRAERO, 2003).

Alguns outros importantes aeroportos tiveram substancial aumento no transporte

de carga aérea, como é o caso do Aeroporto Internacional de Guarulhos, com

aumento de 20,9%, como poderá ser observado, na Tabela 5, mais a frente.

Associado a este aumento da carga doméstica em alguns portos, e no atual

contexto da economia globalizada, o crescimento do comércio internacional mostra

também o incremento do volume de carga aérea no comércio exterior. E, como

conseqüência, já se observa o congestionamento de cargas nos grandes aeroportos

do mundo, cuja tendência de aumento sinaliza a construção de novos terminais,

exclusivamente destinados a cargas, além da necessidade de se ampliar os

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aeroportos, para facilitar o fluxo de aeronaves, e melhorar o controle sobre os

estoques, sob o risco de ficarem obsoletos.

Por este motivo, alguns aeroportos brasileiros estão sendo ampliados, ou deveriam

sê-lo. O Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, que transportou em

2002, cerca de 40.800 ton de carga, teve suas instalações ampliadas em 2000,

com a construção do Terminal Tom Jobim, e apesar disso, sua movimentação de

carga doméstica reduziu em 28,5% nos primeiros quatro meses de 2003, em

relação ao ano anterior (INFRAERO, 2003).

Enquanto isso, o Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, que é o

principal aeroporto brasileiro no transporte de cargas, com um volume em 2002 de,

aproximadamente, 114.300 ton, e com um crescimento de janeiro a abril de 2003

de 20,9%, em relação ao ano anterior, necessita, com urgência, de obras de

ampliação de suas instalações, com a construção de terminais de carga, que

acelerem as entregas e melhore os controles (INFRAERO, 2003).

Tabela 5 – Os 20 Maiores Aeroportos do Brasil

Carga Aérea Kg Doméstica - Janeiro a Abril Aeroporto

2002 2003 %

Intl. Guarulhos 38.129.696 46.112.444 20.9

Intl. Manaus 24.179.103 22.605.722 (6.5)

Intl. Brasília 15.402.886 21.106.637 37.0

Intl. Salvador 18.671.791 19.810.102 6.1

Intl. Recife 12.255.614 13.428.641 9.6

Intl. Congonhas 10.991.555 12.479.494 13.5

Intl. Galeão 13.604.435 9.723.534 (28.5)

Intl. Fortaleza 7.779.131 8.453.268 8.7

Intl. Porto Alegre 9.629.468 8.260.603 (14.2)

Int. Belém 5.221.936 5.191.630 (0,6)

Int. Curitiba 5.578.244 3.811.570 (31.7)

Intl. Campinas 11.085.033 3.385.269 (69.5)

Intl. Natal 3.038.379 3.027.885 (0,3)

Intl. Confins 3.003.016 2.942.802 (2.0)

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São Luís 2.995.663 2.606.787 (13.0)

Intl. Florianópolis 2.690.923 2.604.047 (3.2)

Pampulha 2.322.792 2.134.832 (8.1)

Goiânia 2.227.203 1.970.068 (11.5)

Santos-Dumont 1.799.244 1.793.162 (0.3)

Vitória 2.404.040 1.654.832 (31.2)

INFRAERO 210.288.751 206.890.311 (1.6)

Fonte : INFRAERO, 2003.

Esse crescimento na movimentação de carga tem ainda como conseqüência a

necessidade de utilização de serviços de multimodais aeromarítimos de abrangência

transcontinental. Desta forma, se tem um serviço muito mais rápido que o

rodomarítimo e muito mais barato do que se todo o trecho fosse feito via aérea

(RODRIGUES, op cit., p.93).

Assim como as ferrovias estão se adaptando ao Multimodalismo, o modal aéreo

vem fazendo parcerias como o rodoviário e as empresas estão passando a oferecer

um serviço multimodal rodo-aéreo, uma opção cada vez mais usada por uma

clientela que exige entregas rápidas. No Brasil, nas rotas mais longas, a utilização

desse serviço para cargas com até 20 quilos torna-se mais barata do que usando-se

apenas o modal rodoviário. As cargas típicas desse transporte são geralmente

fracionadas, com alto valor agregado e necessidade de um tempo e trânsito

máximo de 24 a 48 horas, onde o modal rodoviário não seria competitivo

(RODRIGUES, op cit., p.94).

Sendo assim, podemos concluir que as principais vantagens deste modal são a

velocidade de transporte, a eficiência e confiabilidade, além da segurança. Além

disso, este modal aumenta a competitividade do produto, devido à freqüência dos

vôos que permite um alto giro no estoque, manuseio da carga totalmente

mecanizado e a possibilidade de atingir regiões onde não seria possível atingir de

ferrovia ou navegação.

Enquanto isso, o Transporte Aéreo tem como principais desvantagens os altos

custos, menor capacidade em peso e em volume de carga, não atende às cargas

em granél e possui grandes restrições com relação ás cargas perigosas

(RODRIGUES, op cit., p.97).

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6.3 Órgãos Reguladores

Segundo Vieira (VIEIRA , op cit. P.110), no âmbito nacional, a aviação é regulada

pelo Governo Federal através de três órgãos:

• "Ministério da Aeronáutica - órgão maior que determina as regras que devem

ser sequidas.

• Departamento de Aviação Civil (DAC) - órgão ligado ao Ministério da

Aeronáutica, que tem como objetivo controlar a aviação nacional e internacional

no Brasil, estabelecendo regulamentos e normas referentes aos acordos de

aviação civil internacional dos quais o país faz parte.

• Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária (Infraero) - empresa

encarregada da construção e administração dos aeroportos do Brasil (terminais

de carga e passageiros)".

Sendo assim, os terminais de carga nos aeroportos brasileiros não são propriedade

das empresas aéreas, como ocorre na maior parte do mundo, mas sim, do

Governo. Isso significa que o Conhecimento de Embarque Aéreo não cobre as

cargas enquanto estiverem nos terminais ou armazéns da Infraero, mas sim,

somente quanto são retiradas do mesmo para embarque.

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7. Transporte Dutoviário

7.1 Conceito e características

O transporte dutoviário consiste no transporte de produtos em granel, por

gravidade ou pressão mecânica, através de dutos adequadamente projetados para

esta finalidade.

O principal problema do transporte por este modal, no Brasil, é relacionado ao

custo. Nos demais países do mundo, este modal possui custos menores do que os

da ferrovia. Porém, no Brasil, devido aos dutos estarem sob o controle da

Petrobras, esta relação de custos se inverte.

Como exemplo, segundo Rodrigues (RODRIGUES, op.cit., p.99), "Shell, Esso,

Texaco e Ipiranga (quatro das principais empresas distribuidoras de petróleo do

país) construíram por U$ 15 milhões, uma base em Itajaí, pensando em usar dutos

no transporte de combustível do Paraná a Santa Catarina. Entretanto, até

recentemente, a Petrobrás cobrava R$ 12,00 pelo metro cúbico transportado,

enquanto o frete rodoviário era de R$ 9,00. O resultado é que a base foi

abandonada e voltou-se a usar a rodovia".

Em contrapartida, nos países desenvolvidos, o transporte de cargas pela modal

dutoviário representa uma importante parcela no total transportado de cargas a

granel líquido ou sólido, em polpa ou grânulos, alcançando participações

expressivas na matriz de transportes desses países.

7.2 Principais Dutos Existentes no Brasil

7.2.1 Oleodutos

Implantados pela Petrobras ou por outros distribuidores de petróleo, destinam-se

ao transporte de petróleo bruto e/ou de seus derivados, dos terminais portuários e

marítimos às refinarias ou centros de distribuição. Funcionam através de sistemas

de bombeamento. Devido às diversas características físicas dos produtos

Eduardo
Quando ?
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51

(densidade, viscosidade, ponto de fulgor, etc), cada tipo de produto é mantido

aquecido a uma temperatura compatível e adequada a facilitar a vazão durante o

transporte (RODRIGUES, op cit., p.99).

7.2.2 Gasodutos

Destinam-se ao transporte de gases entre centos produtores e centros

consumidores. O maior gasoduto do país é o Bolívia-Brasil, com quase 2.000 km de

extensão, recentemente inaugurado, entre Santa Cruz de La Sierra (Bolívia) e

Guararema (São Paulo). Atravessando o leito do Rio Paraná e percorrendo 70

quilômetros do Pantanal Matogrossense, esse gasoduto terá uma capacidade

máxima de transporte para até 4.000.000 metros cúbicos diários de gás natural.

Numa Segunda etapa, está prevista sua extensão até Porto Alegre (RODRIGUES, op

cit., p.100).

7.2.3 Minerodutos

Destinam-se ao transporte de minérios entre as regiões produtoras e as usinas

siderúrgicas ou terminais portuários, aproveitando as diferenças de altitude

existentes. Funcionam impulsionados por um jato de água contínuo, submetido a

forte pressão. Sua espessura e resistência precisam ser muito bem calculadas em

função da granulometria do minério, para que não ocorram rupturas ao longo da

linha de transporte. O único mineroduto existente no Brasil é o da Samarco

Mineração, destinado ao escoamento do minério de ferro da região de Minas Gerais

até o terminal portuário da Ponta da Ubu, no Espírito Santo (RODRIGUES, op cit.,

p.100).

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8. Transporte Fluvial

8.1 Histórico

O Brasil, apesar de sua grande extensão territorial e de seu vasto sistema

hidroviário, formado por uma série de bacias e vias navegáveis, num total de

45.000 km, até recentemente, tem subutilizado esses importante modal de

transporte de cargas (apenas 28.000 km são utilizados), limitando-se a utilizá-lo

praticamente da forma como se encontra na Natureza, sem maiores investimentos

em regularização de leitos de rios, interligação de bacias, ou na transposição de

obstáculos naturais. Todas as obras de melhoria da navegação fluvial surgiram em

decorrência da construção de usinas hidreléticas, sem nenhum planejamento

voltado para o desenvolvimento deste modal.

Nos últimos anos, o modal de transporte fluvial ganhou maior importância, tanto

por tornar-se uma importante alternativa para o transporte de carga, como por ser

um forte instrumento de integração nacional, permitindo o processo de

interiorização e posterior fixação da população pelo vasto território nacional,

ampliando as fronteiras agrícolas e mineral (RODRIGUES, op cit., p.71).

8.2 Aspectos Atuais do Transporte Fluvial

Como não houve planejamento no Brasil para o desenvolvimento do modal de

transporte fluvial, hoje este modal é exercido com as condições naturais

encontradas nas vias fluviais, que, muitas vezes, possuem mudanças bruscas de

nível, ou cachoeiras, ou ainda, em razão de períodos cíclicos de cheias e estiagem,

não oferecem condições de navegação por todo o ano.

Por isso, faz-se extremamente necessário um planejamento para estruturar o

transporte pelos rios brasileiros, com definição das principais rotas para as cargas,

de forma a se avaliar a necessidade de se realizar obras de retificação e

regularização dos leitos dos rios, além da implantação de sistemas para a

transposição dos desníveis existentes, através de obras de eclusagem, obras de

dragagem, que permitam acesso de barcos e navios de maior porte e calado, além

de necessidade de sinalização e balizamento nas hidrovias. Porém, esses custos de

Eduardo
Hoje quando ? Lembrar que o autor está falando de uma época específica.
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53

investimento para transformar um rio em uma hidrovia ainda são muito altos

(RODRIGUES, op cit., p.77).

Entretanto, conforme vimos anteriormente (Tabela 1), o custo de implantação da

hidrovia representa cerca de 17% do custo da estrutura rodoviária, além de ser um

modal com um custo energético muito inferior (em torno de U$ 0,45/ton

transportada em relação aos U$ 38,57/ton gastos pela carreta no transporte

rodoviário).

Segundo o Departamento de Hidrovias Interiores, em 1998, aproximadamente 17

milhões de toneladas de carga foram transportadas através da navegação fluvial, o

que representava 2.7% do movimento total de carga transportada no Brasil

(PORTAL BRASIL, 2003).

As principais vantagens deste modal de transporte são a elevada capacidade de

transporte, através de rebocadores e empurradores que possibilitam a

movimentação de navios de grande porte; possui fretes mais competitivos que os

modais rodoviário e ferroviário; seus custos variáveis são reduzidos em relação aos

outros modais; disponibilidade ilimitada e permite a desenvolvimento do

multimodalismo (RODRIGUES, op cit., p.78).

As principais desvantagens do modal de transporte fluvial são a baixa velocidade

das embarcações, a capacidade de transporte variável, devido às cheias e vazantes

dos rios, possuem rotas fixas; exigem grandes investimentos em obras para a

regularização de alguns trechos dos rios. (RODRIGUES, op cit., p.78)

8.3 As Principais Hidrovias do Brasil

As principais hidrovias no país são:

• Hidrovia da Madeira : localizada na Bacia Amazônica, onde vem ganhando um

destaque cada vez maior, com 1056 km de extensão, ligando Porto Velho (RO)

até Itacoatiara (AM), integrando a Amazonia à malha rodoviária em Porto Velho,

formando um dos eixos do transporte das regiões Centro-Oeste e Sudeste para

Manaus e movimentando cerca de 4 milhões de toneladas em 1999, por onde

circulam a maior parte da produção de grãos e minério da região (RODRIGUES,

op cit., p.74).

Eduardo
Hoje quando ? Lembrar que o autor está falando de uma época específica.
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54

• Hidrovia do São Francisco : ligando Pirapora (MG) a Juazeiro (BA) e Petrolina

(PE), possui uma extensão de 1.371 km e transporta 170 mil toneladas anuais

de cargas. Com a construção pela CHESF da eclusa de Sobradinho, que permitiu

vencer um desnível de 32,5 metros, e o entroncamento rodo-ferro-hidroviário

em Pirapora, possibilitou um grande redução nos custos logísticos dos produtos

voltados ao mercado interno de Minas Gerais, Goiás, Bahia e Pernambuco, como

gipsita, carvão, cimento e fosfatos (RODRIGUES, op cit., p.74; PORTAL BRASIL,

2003).

• Hidrovia Tocantins-Araguaia : corta o Brasil Central, ampliando a fronteira

agrícola do cerrado. Estende-se no eixo Norte-Sul, desde sua foz, no Rio Pará

até o Planalto Central, próximo a Brasília. Essa rede fluvial, com extensão de

2.841 km, tem condições de ser transformada, a curto e médio prazos, em uma

via de transporte contínua, com ampla capacidade de tráfego, ligada à grande

malha hidroviária do Amazonas ao complexo portuário exportador de Belém /

Vila do Conde e aos sistemas ferroviários de Carajás e Valec (RODRIGUES, op

cit., p.73).

• Hidrovia Tietê-Paraná : Ao contrário da maioria dos rios, tanto o Tietê quanto o

Paraná são rios de correm do litoral em direção ao interior do país, impedindo

qualquer conexão com os portos marítimos. A partir de 1978, foram iniciadas

obras de canalização do Rio Tietê, assim como a construção de eclusas em

diversos pontos. Além do aproveitamento hidrelétrico, esse conjunto de obras

visa melhorar e estruturar esta importante hidrovia que hoje, já movimenta,

segundo dados do CNT (CNT, 2002), aproximadamente 5.5 milhões de

toneladas anuais entre São Paulo e 396 outras cidades, ao longo dos Estados de

São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás, através dos seus 2.400 km de

extensão ( é a maior em extensão e volume), ligando Conchas (SP) a São

Simão (SP), praticamente sua capacidade, que é de 5.6 milhões de ton/ano

(RODRIGUES, op cit., p.74; CNT, 2002).

• Hidrovia Paraná-Paraguai : Importantíssima para o Mercosul, esta hidrovia com

1.800 km liga o Oeste do Brasil ao Rio da Prata, intensificado o comércio

regional com a Argentina, Paraguai e Bolívia, fazendo conexões ferro-

hidroviárias e transportando minérios, sacarias, gado, arroz da região do Prata.

Por Corumbá são escoadas as produções de manganês, ferro, cimento, soja e

gado. Prevê-se a formação de um complexo hidroviário Tietê-Paraná-Paraguai,

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totalmente interligado, e terá, ao todo, 7.000 km de rios navegáveis, unindo os

4 países do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), com capacidade

para movimentar cerca de 35 milhões de toneladas anuais, o que representaria

80% da economia do Mercosul (RODRIGUES, op cit., p.76).

• Sistema Lagoa dos Patos / Rios Taquari e Jacuí : Compreendem 600 km de rios

navegáveis e adquiriram grande importância dentro do contexto logístico da

região sul do país, promovendo o escoamento das safras de soja e trigo,

integrando o interior do Estado do Rio Grande do Sul com o porto de Rio

Grande. Devido a problemas de calado enfrentados nas épocas de estiagem,

seus leitos foram regularizados através de um sistema de barragens

(RODRIGUES, op cit., p.76).

Figura 4 – Bacias Hidrográficas Brasileiras

Fonte : Banco de Dados do PORTAL BRASIL, Ministério da Marinha, DAC, Editora Abril e CNT – (http://www.portalbrasil.eti.br)

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Fazendo um comparativo entre os volumes transportados pela navegação fluvial

brasileira e a dos EUA, enquanto o Brasil tem uma capacidade de transporte de

2.200 tons no Rio Tietê, 4.400 tons no Rio Paraná e 18.000 tons no Rio Madeira, só

no Rio Mississipi (EUA), os comboios operam com capacidade de 22.500 tons.

(COPPEAD, 2002 ).

Apesar de algumas melhorias e obras em andamento, que resultarão em uma certa

melhora no Sistema de Hidrovias, o maior problema deste modal ainda é a falta de

infra-estrutura básica, que envolve dragagem dos rios, sinalização e terminais. Os

investimentos nestas infra-estruturas tem sido mínimos por parte do governo

federal. Os investimentos em navegação de interior entre os anos de 1995 e 2000,

corresponderam a menos de 2% do total investido pelo governo em transportes,

mesmo período,. Além disso, quando recursos federais são alocados para este

setor, os mesmos não são usados corretamente, ou não são usados em sua

totalidade. Em 1996, R$ 374 milhões foram previstos pelo plano Brasil em Ação

para investimentos nos rios Madeira, São Francisco, Tocantins-Araguaia e Tietê-

Paraná. Porém, desse montante, somente R$ 69 milhões foram aplicados até 2002.

Em decorrência disso, observa-se uma total falta de infra-estrutura para o

desenvolvimento desse modal de transporte como opção logística (COPPEAD,

2002).

O transporte hidroviário ainda esbarra em outras duas barreiras institucionais. A

primeira está ligada às dificuldades e burocracias na obtenção de licenças

ambientais e a segunda está relacionada ao múltiplo uso das águas do sistema

fluvial brasileiro. A utilização dos rios para fins energéticos, sempre teve e continua

tendo prioridade sobre o transporte fluvial, dificultando ainda mais o

desenvolvimento deste modal no país.

Eduardo
Hoje quando ? Lembrar que o autor está falando de uma época específica.
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9. Transporte Marítimo - Cabotagem

9.1 Conceito

Cabotagem é considerada o transporte marítimo realizado entre portos do mesmo

país. Hoje, no Brasil, a Cabotagem é realizada ao longo da costa brasileira, de Rio

Grande à Manaus. Porém, aceita-se também, pela denominação de Grande

Cabotagem, o transporte marítimo extensivo às Guianas e à Venezuela ou à

Argentina.

O transporte de Cabotagem no Brasil é regulado pela Constituição Federal de 1988

e pela Lei 9.432 de 08/01/1997, que dispõe sobre a ordenação do transporte

aquaviário no país.

A Constituição Federal estabelece que:

• O transporte de cabotagem é privativo de embarcações brasileiras;

• O capitão do navio deverá ser brasileiro;

• Dois terços da tripulação também deverá ser brasileira.

9.2 Histórico

Durante um longo tempo, houve uma forte navegação de cabotagem no Brasil.

Através dos navios ITA's, houve a integração das regiões norte-sul, sempre lotados

de passageiros e cargas. Aliás, na década de 70, com uma política de proteção aos

armadores nacionais para o transporte de cargas no Brasil, inclusive de longo

curso, a indústria naval do Rio de Janeiro chegou a empregar cerca de 40 mil

operários e ser a Segunda do mundo em pedidos em carteira. Em 2002, esta

indústria não empregava mais de 4 mil operários (Gazeta Mercantil, 2002).

Com a extinção da Companhia Costeira de Navegação, a cabotagem foi sustentada

por um pequeno grupo de persistentes empresários que não recebiam os mesmos

incentivos e financiamentos para a construção de navios e não eram autorizados a

adquirir o óleo combustível isento de impostos como os navios do longo curso, além

Eduardo
Hoje quando ? Lembrar que o autor está falando de uma época específica.
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de serem alvo de uma impiedosa burocracia, diferentemente dos concorrentes

rodoviários (RODRIGUES, op cit., p.84).

Devido ao excesso de navios brasileiros de longo curso vazios ao longo da costa,

alguns Armadores de Longo curso solicitaram concessão para atuarem na

Cabotagem no Brasil, o que lhes foi concedido. Com isso, entraram agressivamente

na rota Santos-Manaus, levando todas as cargas existentes nesses mercados.

Atuando com navios maiores, com maior capacidade e mais rápidos, os armadores

de longo curso levaram as poucas e pequenas empresas de cabotagem à falência,

somente subsistindo a cabotagem de granéis, uma vez que não tinham a

concorrência dos navios de longo curso (especializados em conteineres) e não

tinham a concorrência do modal rodoviário, que não atende a esse mercado

(RODRIGUES, op cit., p.84).

Conforme art.178o, parágrafo único da Constituição Federal de 15/08/1995, como

anteriormente citado, a navegação de Cabotagem no Brasil somente pode ser

realizada por empresas e navios brasileiros. Com isso, as empresas estrangeiras

não podem atuar no transporte através da Costa no Brasil. Este parágrafo está

regulamentado na Lei 9.432 de 08/01/1997, criada pelo então presidente da

República Fernando Collor de Melo, com o objetivo de eliminar o suposto monopólio

dos armadores brasileiros sobre o transporte marítimo de longo curso no Brasil. De

acordo com o art.5o, é permitido à qualquer armador, mesmo sendo de bandeira

estrangeira, atuar na navegação de longo curso envolvendo os portos brasileiros

(RODRIGUES, op cit., p.84).

Com a aprovação dessa Lei 9.432, permitindo a abertura do mercado de transporte

marítimo às empresas estrangeiras, os armadores estrangeiros, com seus navios de

grande porte, com grande capacidade, mais rápidos e modernos, e por isso, com

fretes menores, tomaram conta do mercado de transporte marítimo de longo curso

no Brasil, em praticamente todas as rotas, levando quase todas as cargas,

deixando para os armadores brasileiros, cerca de 3% do mercado de longo curso.

Com isso, permitiu-se que os fretes pagos pelo transporte de longo curso no Brasil

aos armadores estrangeiros fossem transferidos ao exterior, em forma de divisas

(RODRIGUES, op cit., p.84).

Os armadores brasileiros voltaram, então, suas atenções para o mercado interno e

para a navegação de cabotagem, vendo aí, uma saída para o seu negócio, e

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tomando para si a responsabilidade de retomar e desenvolver este modal de

transporte, revitalizando o trecho Santos-Manaus. Com o crescimento da

movimentação neste tráfego, e a inclusão das demais regiões brasileiras (Sul e

Nordeste), que passam a participar cada vez mais deste modal, a Cabotagem tem

alcançado grandes índices de crescimento nos últimos 3 anos, tornando-se também

uma possível saída para a crise da Marinha Mercante brasileira.

A lei 9.432 determina, ainda, as condições especiais para a participação de

empresas estrangeiras na cabotagem e na navegação de interior. A regra geral é de

que "as embarcações estrangeiras só poderão participar do transporte de

cabotagem se houver afretamento por parte de empresa brasileira" (VIEIRA, op cit,

p.84).

Esses afretamentos, segundo Vieira (VIEIRA, op.cit., p.80), estão sujeitos a

algumas restrições que podem variar de acordo com o contrato:

• Afretamentos por tempo e viagem: necessitam de autorização prévia do DMM

(Departamento de Marinha Mercante), sujeita à circularização de informação

para verificar indisponibilidade ou inexistência de navio brasileiro;

• Afretamentos a casco nu: não necessitam autorização prévia, porém é

condicional à construção de outras embarcações em estaleiros brasileiros, além

da necessidade de possuir frota própria, obedecendo a seguinte regra: TPB

AFRETADA deve ser < 2 X TPB ENCOMENDADA + 1/2 TPB PRÓPRIA, isto é, a

capacidade do(s) navio(s) afretado(s) não pode ser maior que o dobro da

capacidade dos que estão sendo construídos, somados à metade da capacidade

da frota própria.

A Lei busca, com isso, limita os afretamentos à existência de frota própria,

fomentando a manutenção e, principalmente, a renovação da frota mercante

brasileira (VIEIRA, op cit, p.87).

9.3 O Conteiner

Durante a 2a.Guerra Mundial, o exército norte-americano constatou a necessidade

de possuir hospitais de campanha móveis, nos quais fosse possível operar os

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feridos na própria frente de batalha, bem como removê-los para a retaguarda.

Definiu-se então as medidas necessárias à essas unidade, de forma que as equipes

médicas pudessem realizar sua movimentações internas necessárias e de forma a

facilitar uma rápida transferência desta unidade entre os diversos modais de

transporte. Desta forma surgiu o CONTEINER. Após a guerra, esta invenção foi

difundida e passou-se a utilizá-la no transporte de cargas, e as conexões rodo-

ferroviárias nos EUA e Europa passaram a prever o seu emprego (RODRIGUES, op

cit., p.33).

A partir da década de 50, houve grande aumento no transporte marítimo, associado

à maior capacidade dos portos, aumento dos custos da mão-de-obra e das

operações portuárias. Desta forma, fez-se necessário inovar e modificar todos os

conceitos do transporte marítimo, visando a obtenção de maior produtividade nos

portos e menores custos.

Sendo assim, "em caráter experimental, o navio "IDEAL X" foi o 1o navio adaptado

para o transporte de conteineres, partindo de New York até Houston a 26/04/56, na

primeira viagem marítima comercial com cargas conteinerizadas" (RODRIGUES, op

cit., p.33).

O conteiner tornou-se um marco para o desenvolvimento e modernização da

navegação no Mundo. A utilização do conteiner permitiu uma manipulação da carga

mais rápida, eficaz e com custos reduzidos, através da unitização. Além disso,

possibilitou a redução nos roubos e avarias dos produtos.

A primeira viagem internacional full conteiner foi realizada em 05/05/1966, pelo

navio Fairland, da Sealand, entre New York e Bremen, levando um total de 226

unidade de 24 pés (RODRIGUES, op cit., p.34).

Desde então, a utilização do conteiner se expandiu por todo o mundo, devido às

inúmeras vantagens que oferece, de acordo com Rodrigues (RODRIGUES, op.cit.,

p.35):

• Possibilita o uso de embalagens mais leves;

• Dificulta o roubo de cargas;

• Evita a contaminação entre cargas incompatíveis estivadas no mesmo porão;

• Reduz as avarias nas cargas;

Eduardo
Está usando muito o termo "Com isso"
Eduardo
Idem
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61

• Facilita o manuseio e os transbordos;

• Viabiliza a logística do transporte multimodal.

São vários os tipos de conteineres disponíveis, cada um voltado para o transporte

de determinado tipo de carga, e podem ser agrupados em 5 diferentes grupos,

segundo Rodrigues (RODRIGUES, op cit., p.39).

9.3.1 Carga Geral

Os conteineres destinados à carga geral abrangem os seguintes tipos:

• Fechados com portas em um extremo, como um caminhão baú, utilizados para

transporte de cargas que possam ser colocadas dentro do conteiner, ou

manualmente, ou por empilhadeiras ou paleteiras.

• Fechados com portas em um extremo e nas laterais;

• De teto livre (Open Top), normalmente utilizado para cargas mais pesadas, ou

quando a ovação somente for possível pela parte superior do conteiner, devido

às dimensões da carga ou ao tipo de equipamento utilizado;

• Abertos lateralmente (Open-Side), normalmente utilizados quanto a ovação não

puder ser feita em conteiner convencional (dry), devido à falta de equipamento;

• De teto livre com aberturas nas laterais;

• De teto livre com aberturas nas laterais e num extremo;

• De meia altura (Half Conteiner), podem se utilizados no transporte de granéis

ou volumes pesados;

• Ventilado não isolante, que geralmente são utilizados para transportar produtos

especiais, que não podem ficar expostos à umidade.

9.3.2 Conteineres Térmicos

Os conteineres térmicos são destinados à carga resfriada, congelada, ou perigosa,

normalmente produtos químicos ou perecíveis. São eles:

• Isolantes;

• Refrigerados;

• Com calefação.

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9.3.3 Conteineres Tanques

• Líquidos a granel

• Gases comprimidos.

9.3.4 Conteineres para Granel Seco

São utilizados para o transporte de minérios ou alimentos em grãos.

• Descargas por gravidade

• Descarga por pressão de grãos

9.3.5 Conteineres Plataformas e Flat Racks

São utilizados para transporte de carga com dimensões acima do padrão, que, ou

serão içadas junto ao conteiner, ou serão embarcadas na forma de breakbulk,

sobre as plataformas colocadas previamente à bordo.

• As plataformas são conteineres sem superestrutura (não podem ser içados por

cima quando carregados).

• Os flat racks são conteiners que possuem as estruturas laterais somente, onde

são fixadas as cargas. Porém essas estruturas laterais podem ser "colapsible",

tornando-se como um conteiner plataforma.

9.4 A Cabotagem no Brasil - Aspectos Principais

De acordo com o estudo da COPPEAD (COPPEAD,2002), considerando o perfil

produtivo do País, voltado para a produção de bens primários, principalmente

alimentos, minérios e matéria-prima voltada para a indústria, como papel e aço,

somados às características geográficas do país, com uma costa de 7.500 km, que

mostram uma vocação marítima, o transporte de cabotagem tem enorme potencial

para se desenvolver. Segundo a Pesquisa Aquaviários CNT – 2002 (CNT, 2002),

com empresas que utilizam a Cabotagem para transporte de carga geral, de uma

amostra de 195 empresas, onde 162 foram entrevistadas, pouco mais de 60%

transportavam somente entre 5% e 25% de suas cargas pela Cabotagem.

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Podemos associar às características geográficas, o fato de termos a, no máximo,

500 km do nosso litoral, quase todas as concentrações urbanas com mais de

1.000.000 de habitantes (exceção de Brasilia e Manaus), todas as refinarias de

petróleo (com exceção de Manaus), 97% de toda a produção industrial brasileira,

90% do consumo de energia elétrica, 85% da população do país, 83% de toda a

receita da União e 75% das rodovias pavimentas (RODRIGUES, op cit., p.8).

A evolução do transporte de Cabotagem no Brasil, em capacidade de transporte,

pode ser vista na Gráfico 9, que mostra um aumento de 37% no nº de navios de

conteiner que atuam neste tráfego entre 1999 e 2002.

Gráfico 9 – Evolução do Número de Navios Porta-Conteineres na

Cabotagem.

Fonte : COPPEAD, 2002

Os navios utilizados na cabotagem entre 2001 e 2003 apresentavam uma

capacidade média de 1500 a 2000 teus por viagem, realizando escalas semanais

(ou quinzenais, dependendo do armador) nos principais portos brasileiros: Rio

Grande (RG), São Francisco do Sul ou Itajaí(SC), Santos (SP), Sepetiba ou Rio de

Janeiro(RJ), Vitória (ES), Salvador (BA), Recife (PE), Fortaleza (CE) e Manaus (AM),

estendendo-se aos portos de Buenos Aires e/ou Montevidéo, completando a

chamada "Grande Cabotagem". Atualmente, a Cabotagem é realizada por 3

Eduardo
Não existe figura 17. Corrigir
Eduardo
Hoje quando ? Lembrar que o autor está falando de uma época específica.
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armadores no Brasil, a Aliança Navegação, do Grupo Hamburg Sud, a Docenave,

pertencente à Cia Vale do Rio Doce, e a Mercosul Line, pertencente à P&O Nedlloyd

e, juntas, transportaram em 2002 aproximadamente 150.000 teus, o que significa

cerca de 3.000.000 tons (Aliança Navegação e Logística, 2002).

Para se alcançar o crescimento observado no setor em 2002, uma série de

barreiras tiveram que ser transpostas e outros problemas ainda estão para ser

corrigidos. Esses obstáculos têm dificultado um desenvolvimento mais rápido desta

alternativa de transporte.

A falta de freqüência consistia em um sério problema para a confiabilidade do

serviço, e constituía um círculo vicioso. A inexistência de volume suficiente de

cargas limitavam a oferta de navios, gerando uma baixa freqüência nos portos. A

baixa freqüência desestimulava a demanda, o que não permitia uma maior oferta

de navios, fazendo com que as empresas que apostavam na Cabotagem

assumissem grandes prejuízos nos primeiros anos. A partir de 2002, com a maior

oferta de navios, e escalas semanais, os volumes embarcados apresentaram um

grande crescimento, mantido em 2003 (COPPEAD, 2002).

Até 2002, existia um grande desbalanceamento entre os volumes embarcados no

sentido Sul-Sudeste / Norte-Nordeste (NB) e as cargas embarcadas no sentido

Norte/Sul(SB). Isso encarecia muito os custos dos navios, que subiam

relativamente cheios, com aproximadamente 58% do total embarcado e desciam

com 13%. No final de 2002, com o aumento da participação de algumas

commodities como os eletroeletrônicos proveniente de Manaus, e a introdução do

sal vindo do Nordeste para o Sul-Sudeste, somados ao aumento do mercado de

Cabotagem como um todo, em relação ao modal rodoviário, os embarques NB

alcançam a marca de 110% (indicando a dupla utilização do conteiner, isto é, 2 ou

mais trechos na subida, embarcando o mesmo equipamento, enquanto os

embarques SB, alcançam a marca de 90%. No espaço restante nos navios,

considera-se o reposicionamento de conteineres vazios provenientes dos locais

onde eles sobram para os locais onde há grande demanda por equipamento.

(COPPEAD, 2002).

Eduardo
Hoje quando ? Lembrar que o autor está falando de uma época específica.
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9.4.1 Principais Produtos Transportados

No início da Cabotagem, os principais produtos transportados eram, basicamente

granéis (minério, petróleo e grãos), em navios graneleiros. Porém, este cenário

mudou com o crescimento da carga geral transportada pela Costa brasileira, onde

produtos com maior valor agregado passaram a ser distribuidos por via marítima

entre principais mercados do Brasil.

Segundo a acima citada Pesquisa do CNT (CNT, 2002), os principais produtos

transportados pela Cabotagem, são: alimentos (21%), materiais de construção

(11,7%), produtos químicos (10,5%), papel e celulose (8,6%), eletroeletrônicos

(8,6%), bebidas (4,9%), produtos metalúrgicos (4,3%), veículos e autopartes

(1,2%), brinquedos (1,2%), móveis e utensílios (1,2%), sendo o restante (46,9%)

formado de produtos diversos.

"A dificuldade de repassar para o consumidor os aumentos dos

custos de transporte, em especial nos mercados mais competitivos,

também contribui para que muitas indústrias prefiram despachar seus

produtos por navios, que oferecem frete mais baixo. Este é o caso, por

exemplo, de fabricantes de produtos eletrônicos localizados na Zona

Franca de Manaus, que têm conseguido economizar cerca de 10% no

frete para trazer suas mercadorias para a Região Sudeste. Além de

produtos eletrônicos, passaram a ser transportados por navios alimentos

- conservas, frangos, frutas, arroz e peixes -, automóveis, papel, tintas,

produtos químicos, tecidos, produtos da linha branca e outros produtos

industriais, minérios, materiais de construção, etc.". (O ESTADO DE

S.PAULO, 2000).

9.4.2 Principais Problemas do Setor

Para se manter nos próximos anos, o crescimento dos volumes de Cabotagem

observados em 2002, vários problemas dentro da estrutura logística do país e de

infra-estrutura ainda precisam ser corrigidos, de forma que permita uma redução

nos custos das operações portuárias, assim como sua maior produtividade, com

operações mais rápidas e navios menos tempo parados nos portos.

Eduardo
Não ficou clara esta parte da frase. Os números foram alcançados com a correção dos problemas, ou para serem repetidos os mesmos números os problemas precisam ser corrigidos ?
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Na verdade, isso já vem acontecendo, porém é um processo lento, que ocorre de

forma desigual em cada Porto ou Terminal, dependendo dos recursos de que cada

um dispõe e do nível de concorrência entre os Terminais. Isso vai determinar o

nível de investimentos em melhorias, novos equipamentos, novas soluções logística

e serviços agregados, que os tornem mais competitivos, com maior qualidade de

serviço, operações mais produtivas e menores custos.

Os 2 principais aspectos que emperram o desenvolvimento deste modal são: o

excesso de trabalhadores portuários (desnecessários) e a baixa eficiência e

produtividade dos terminais na movimentação de conteineres.

Com o objetivo de modernizar a estrutura portuária brasileira, tentar resolver parte

do problema, foi criada em 26/02/1993, a Lei 8.630 - A Lei de Modernização

Portuária. Esta prevê a criação dos OGMO's - Órgão Gestor de Mão-de-Obra - que

passam a administrar essa mão-de-obra, reduzindo quadros de funcionários,

tornando a operação mais otimizada, e, consequentemente, mais econômica.

Devido às dificuldades de se implantar esta lei, que sofre grandes pressões por

parte dos sindicatos dos trabalhadores portuários, segundo o estudo da COPPEAD

(COPPEAD, 2002), em 2002 "a quantidade de mão de obra utilizada nas operações

portuárias no Brasil chegava a ser de 3 a 9 vezes superior ao observado em portos

europeus e sul americanos."

Este fato também contribui para a demora no processo de mecanização e

modernização dos portos, influenciando diretamente o outro grande problema da

estrutura portuária brasileira: a baixa produtividade e eficiência das operações.

Enquanto nos portos internacionais, considera-se uma boa produtividade, a

movimentação de 40 conteineres por hora, no Brasil, ela chega a no máximo 27,

com exceção do porto de Santos, que movimenta em torno de 35 conteineres/hora

(COPPEAD, 2002).

Outros 2 problemas adicionais são o sucateamento dos estaleiros brasileiros e o

altíssimo custo de capital no Brasil. Para viabilizar financeiramente a construção de

navios, existe o Fundo de Marinha Mercante, com taxas inicialmente atraentes. No

entanto, esse financiamento somente é concedido com a condição de se

encomendar a construção do navio no Brasil, em estaleiros brasileiros, o que

implica em um alto risco financeiro e operacional, uma vez que os mesmos passam

Eduardo
Hoje quando ? Lembrar que o autor está falando de uma época específica.
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por uma grande crise financeira, não cumprem prazos, faltam equipamentos, etc.

Como conseqüência disso, praticamente não se construía mais navios no Brasil.

Hoje, os navios que atuam na Cabotagem utilizam navios antigos que atuavam em

outros tráfegos de longo curso (COPPEAD, 2002).

Gráfico 10 – Número de trabalhadores em uma Operação com 3 Ternos -

ano 1998

814

1925 25

70

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lgic

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tos

(T

-37)

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izad

o

Fonte : GEIPOT apud COPPEAD, 2002

Entretanto, em 2002 observou-se sinais de revitalização do setor de construção

naval no Brasil. Grandes empresas mundiais do setor naval como Jurong e Fels

Setal, de Cingapura, e Acker, da Noruega, atraídos pelo crescimento das

encomendas de novas embarcações, principalmente voltadas para o setor

transporte e suporte às plataformas de petróleo, compraram ou arrendaram os

ociosos estaleiros nacionais, como o Mauá, Verolme e Eisa. Com o crescimento do

setor petroleiro no Brasil, novas embarcações estão sendo construídas nesses

estaleiros, para as quais o BNDES já liberou cerca de R$ 1,2 bilhão (Gazeta

Mercantil , 2002).

Analisando a Cabotagem, mais alguns aspectos devem ser apontados como

problemas para o desenvolvimento deste modal: o custo do transporte marítimo

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(uma vez que as receitas na cabotagem são em reais e boa parte dos custos fixos

são em dólar); os elevados custos de alguns portos brasileiros (que já passaram

por uma redução, com o aumento de produtividade); a enorme carga tributária,

inclusive sobre o combustível, que continua sendo cotado em dólar, associado a

fatores de ordem política, como a enorme pressão exercida pelo modal rodoviário;

fatores de ordem econômica, ligados a questões de desenvolvimento e fatores de

ordem social como, por exemplo, a geração de empregos (VIEIRA, op cit, p.87).

9.5 A Lei 8.630 de 26/02/1993 - Lei de Modernização Portuária

A Lei 8.630 foi criada em 1993 com o principal objetivo de garantir a concorrência

entre os portos e terminais, rompendo com os monopólios existentes. Buscava-se

uma maior participação da iniciativa privada, uma efetiva coordenação das

operações portuárias, uma gestão descentralizada, que permitisse padrões

tarifários adequados a cada porte e a cada mercado. Esta livre concorrência

impulsionaria novos investimentos, tanto em equipamentos mais modernos,

elevando a produtividade do porto, quanto em novos armazéns, terminais

multimodais, que permitissem uma sensível melhoria da estrutura e opções

logística do transporte (VIEIRA, op cit, p.90).

Antes da promulgação da lei, as operações portuárias eram controladas por dois

monopólios: o das Companhias Docas, empresa com participação majoritária do

governo federal, que administravam e controlavam o movimento de mercadorias

nos terminais e o outro era o dos sindicatos dos trabalhadores portuários, que

possuíam controle sobre a mão-de-obra nas operações de carga e descarga. Esse

sistema tornava as operações nos portos brasileiros extremamente ineficientes, mal

administrados e com altíssimos custos. Além desses problemas, devido ao grande

número de portos e terminais administrados pelo governo, o orçamento não era

suficiente para investimentos em manutenção ou renovação dos equipamentos, o

que ocasionou uma grande defasagem tecnológica em diversos aspectos (calados

inadequados, instalações pouco especializadas, equipamentos de manipulação

obsoletos, etc.) (VIEIRA, op cit, p.91).

Pela Lei 8.630, foi estabelecido que a administração portuária deve ser exercida

diretamente pelo governo federal ou por um concessionário, e tem a função de

fiscalizar o cumprimento do regulamento dos serviços e dos termos do contrato de

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concessão, estabelecer o horário de funcionamento dos portos e fixar e cobrar

tarifas.

Através dela, foi criado em cada porto, um Conselho de Autoridade Portuária - CAP,

composto por representantes do poder público, dos operadores e trabalhadores

portuários, assim como dos usuários (armadores, exportadores e importadores),

que juntos, deveriam regulamentar as exploração portuária, assim como os

horários de funcionamento como as tarifas praticadas, buscando soluções para os

problemas do setor (VIEIRA, op cit, p.92).

Segundo a Lei, o Operador Portuário arrendatário da área do porto a ser explorada,

é obrigado a contratar trabalhadores devidamente sindicalizados e filiados ao

OGMO - Órgão Gestor de Mão-de-Obra, que seleciona e contrata o trabalho

portuário avulso, fornecendo os trabalhadores solicitados pelo Operador. O número

de vagas e a forma e periodicidade para registro de trabalhador portuário avulso

são determinadas pelo OGMO, que se encarrega de manter o cadastro dos

trabalhadores atualizado, expedir documentos de identificação e promover o

treinamento desse trabalhadores, buscando sua formação multifuncional.

Porém, a implantação efetiva da Lei 8.630 vem sendo prejudicada por uma série de

problemas. Apesar dos CAPs estarem funcionando desde 1994, ainda existem

grandes problemas com a gestão da mão-de-obra pelo OGMO, principalmente

devido às pressões exercidas por parte dos sindicados. A única saída encontrada

até agora, foi a realização de convênios entre os OGMOs e os sindicatos, onde são

os sindicatos que indicam a escalação dos trabalhadores, e o faz ainda em número

bem superior ao realmente necessário (VIEIRA, op cit, p.94).

Além disso, a Lei não estabelece critérios suficientes para diferenciar os distintos

tipos de instalações portuárias (portos organizados, operadores portuários e

terminais portuários de uso privativo), porém cada um deles recebem um

tratamento legal diferenciado. Isso dificulta o estabelecimento de uma concorrência

justa entre estes estabelecimentos.

Portanto, problemas na própria lei, assim como as questões sindicais e até mesmo,

políticas, impedem o estabelecimento efetivo dos regulamentos contidos na Lei

8.630, acarretando um grande obstáculo ao desenvolvimento da atividade

portuária, impedindo sua modernização, dificultando a implantação da livre

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concorrência que acarreta melhoria na qualidade dos serviços, melhor

produtividade, associados a custos mais baixos, e com isso, servindo como grande

barreira ao desenvolvimento do modal aquaviário (Cabotagem) para o transporte

de cargas dentro do país.

9.6 Os Fretes Marítimos

Segundo Rodrigues (RODRIGUES, op.cit., p.87), os fretes marítimos são compostos

da seguinte forma:

• "Os custos fixos (capital, juros, depreciação, impostos e seguros), praticamente

todos em dólar;

• Os custos variáveis da operação do navio (tripulação, alimentação, água

potável, combustível, manutenção e reparos;

• Os custos portuários diretos (utilização dos equipamentos e instalações

portuárias terrestres ou marítimas, embarque e descarga de cargas);

• Os custos portuários indiretos (praticagem, rebocadores e outros)";

• Margem de lucro (contribuição marginal - CM).

Ainda segundo Rodrigues (RODRIGUES, op.cit., p.87), os níveis de frete de uma

determinada região sofrem influências dos seguintes fatores:

• "Condições operacionais dos portos de escala - quantidade de berços,

produtividade, condições de atracação, existência ou não de janelas, condições

climáticas e marítimas;

• Volume de cargas disponíveis em ambos os sentidos da rota;

• Concorrência no tráfego".

Ainda segundo Rodrigues (RODRIGUES, op.cit.,p.87), os níveis de fretes por tipo de

mercadoria, também leva em conta os seguintes fatores:

• "Embalagem (resistência e facilidade para roubos e avarias);

• Volume ou peso (o de maior participação na capacidade total);

Tabela de equivalência volumétrica para 1 m³:

- Frete Marítimo..........................1 tonelada métrica

Eduardo
Seria melhor utilizar uma outra palavra no lugar desta ou no lugar de "composta"para não ficar "composição ... composta"
Eduardo
Ver comentário anterior
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- Frete Aéreo .............................6 toneladas métricas

- Frete Rodoviário ......................2,5 toneladas métricas

- Frete Ferroviário ......................4 toneladas métricas

• Tipo de Manuseio (tempo de operação e despesas);

• Restrições de estivagem (altura máxima de empilhamento, necessidade de

material de peação, equipamentos necessários à ovação dos conteiners, etc)

• Periculosidade (classe IMO);

• Valor (capacidade de pagamento)".

Claro que fatores de mercado e de oportunidade também determinam o frete a ser

aplicado, por exemplo:

• Cargas de projeto, ou cargas breakbulk, com dimensões totalmente fora do

padrão,

• Necessidade de utilização de equipamentos especiais (tipos de conteiner),

devido ao tipo de mercadoria;

• Disponibilidade de equipamento no porto.

No Brasil, devido à grande concorrência realizada pelo transporte rodoviário,

intensificada pela cultura rodoviária dentro das empresas, a Cabotagem encontra

grandes dificuldades para seu desenvolvimento, apesar da vocação marítima do

país. O transporte marítimo, obrigatoriamente, necessita dos demais modais para

completar um trajeto porta a porta, isto é, desde a fábrica do produto até o cliente

recebedor ou consumidor.

Sendo assim, para aumentar sua competitividade, e realizar o porta a porta, as

empresas de Cabotagem passaram a desenvolver suas estruturas logísticas de

forma a promover a integração dos diversos modais (marítimo, rodoviário,

ferroviário e hidroviário), sob um único documento de transporte. Tem-se assim o

conceito de Multimodalismo.

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Figura 5 – Principais Portos Brasileiros

Fonte : Ministério dos Transportes

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10. Transporte Multimodal

10.1 Histórico

No mundo todo, tanto nos países interiores, que não possuem portos marítimos,

quanto nas localidades que não possuem acesso ferroviário, rodoviário ou

hidroviário desde a origem até o destino de suas mercadorias, não é possível a

realização de um transporte unimodal, isto é, utilizando-se somente um modal de

transporte. Para resolver o problema dessa limitação física, passou-se a utilizar, até

algum tempo atrás, o transporte segmentado, isto é, a contratação independente

de cada modal a ser utilizado no transporte total (RODRIGUES, op cit., p.101).

O problema é que esta condição traz uma série de dificuldades no que diz respeito

ao controle dos prazos, da armazenagem dos produtos entre a descarga de um

modal e a chegada do outro, e da própria operação de transbordo. O atraso de um

dos modais envolvidos pode significar a perda do transporte já contratado e

reservado nos demais modais, o que gera, inclusive, o chamado "frete morto", isto

é, o contratante é obrigado a pagar pelo espaço reservado, utilizando-o ou não.

Há também problemas de ordem jurídica: as avarias são resolvidas com muita

dificuldade devido ao grande número de apólices envolvidas, uma de cada modal,

onde cada modal trata de isentar da responsabilidade pela avaria, tornando

complicada a indenização correspondente. As cobranças por lucros cessantes, perda

de mercado, flutuação de preços, etc., são praticamente impossíveis e,

considerando as dificuldades acima, muito prováveis de acontecerem (RODRIGUES,

op cit., p.101).

Mesmo existindo a figura do agente, que pode coordenar todos esse processo, a

contratação dos modais, as operações, etc, legalmente, tudo é feito em nome do

embarcador, o que isenta este agente de qualquer responsabilidade quanto aos

possíveis problema acima relatados, tendo o embarcador que arcar com todo o

prejuízo.

Após a II Guerra Mundial, com a elevação dos custos da mão-de-obra portuária, em

todos os países passou-se a buscar novas técnicas para reduzir sua utilização, e ao

mesmo tempo, facilitar, agilizar e reduzir custos das operações portuárias. Com

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isso, ampliou-se ainda mais a utilização do conteiner nas operações, além de

paletes, necessitando-se da utilização intensiva dos equipamentos de transferência.

Assim, desenvolveu-se a integração entre os vários modais de transporte, com a

unitização da carga, principalmente em conteineres (RODRIGUES, op cit., p.102).

Como conseqüência da possibilidade de rápida integração entre os modais de

transporte, surgiu a idéia de um dos transportadores passar a tomar conta de todo

o percurso, da fábrica do cliente até o destino final, subcontratando, assim, os

demais modais de transporte, nos trechos por este não cobertos, utilizando para

isto, somente um contrato de transporte, indivisível e inviolável. Este é o conceito

de Multimodalismo.

10.2 Conceito - Multimodalidade e Intermodalidade

Segundo o Prof. Samir Keedi, em seu livro "Logística de Transporte Internacional"

(KEEDI, 2001), a multimodalidade e a intermodalidade são operações que se

realizam a partir da utilização de mais de um modal de transporte, não havendo

nenhuma restrição à quantidade de modais utilizada. A semelhança entre as duas

está somente no ponto do transporte em si, com a utilização de vários modais

diferentes para se realizar um transporte completo desde a origem da carga até o

seu destino final.

A intermodalidade caracteriza-se pela emissão individual do documento de

transporte para cada modal, bem como da divisão de responsabilidade entre as

transportadoras, no que diz respeito à integridade da carga, avarias, roubos, etc.

Em um transporte onde há a utilização de, por exemplo, um caminhão, um navio e

um trem, serão emitidos três documentos de transporte independentes, um de

cada transportador. Quanto à responsabilidade pelo transporte, cada um dos

modais será responsável pela sua parte no trajeto (KEEDI, S. op cit.p.80)

Portanto, qualquer dano causado à carga ou prejuízos causados pela ineficiência do

transporte, este problema deverá ser resolvido entre o embarcador e o

transportador que estiver com a carga naquele momento e cujo documento de

transporte estiver em vigor.

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O problema ocorre quando, no caso da carga unitizada em conteiner, uma possível

avaria somente for notada no ato da entrega ao recebedor. Isto acarreta dúvidas

em relação à responsabilidade pela avaria, que pode ter ocorrido pelo manuseio em

qualquer transbordo, ou em qualquer parte do trajeto, sob responsabilidade de um

dos transportadores. Neste caso, provavelmente, haverá uma grande dificuldade de

se estabelecer um responsável, sob pressão das seguradoras, acarretando grandes

dificuldades de se obter o ressarcimento pelo prejuízo, resultando em processos

judiciais.

Michael Feldman, Diretor de Serviços de Distribuição de Serviços de Passageiros da

Associação Internacional de Transporte Aéreo, define a intermodalidade como "a

combinação de diferentes modos de transporte em uma experiência de viagem

contínua: ônibus para trem, trem para avião, avião para navio e navio para táxi

através de um processo comum de entrega de serviços e distribuição e como uma

única transação comercial" (ROCHAT, P., 2000).

Na multimodalidade, ao contrário, será emitido somente um documento de

transporte cobrindo todo o trajeto da carga, desde sua origem, até seu destino

final. No exemplo citado, com a utilização de três modais (caminhão, navio e trem),

o documento de transporte será único, cobrindo os três trajetos e três transportes.

Este documento de transporte é emitido pelo OTM - Operador de Transporte

Multimodal, que torna-se o responsável perante o embarcador, por todo o

transporte da carga, incluindo a subcontratação dos modais necessários, assim

como pela integridade física da carga, no caso de roubos ou avarias (KEEDI, S. op

cit.p.81).

O conceito de Multimodalidade foi introduzido no Brasil com a Lei 6.288, de

11/12/75, complementada pelo Decreto-Lei 80.145, de 15/08/77, ambos já

revogados com a criação da Lei 9.611/98, em 19/02/98, e regulamentada pelo

Decreto 3.411, de 12/04/2000.

10.3 Regulamentação

Com a promulgação da Lei 9.611/98, em 19/02/98, regulamentada pelo Decreto

3.411, de 12/04/2000, o Brasil consagrou o Transporte Multimodal, através da

instituição de um único responsável durante todo o percurso (contrato único com o

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embarcador), que deverá ser um OTM - Operador de Transporte Multimodal -

dando à carga facilidades operacionais e burocráticas para a passagem de um modo

de transporte a outro, com responsabilidades definidas por lei (RODRIGUES, op cit.,

p.103).

O Transporte Multimodal facilita a análise comparativa pelos usuários, a análise de

risco pela seguradora e a interpretação legal das responsabilidades pelos tribunais.

Entretanto, a Lei 9.611/98 revogou a Lei 6.288/75, descaracterizando a existência

do conteiner fora do contexto da multimodalidade. Além disso, o Decreto 3.411

apresenta em seu artigo 8o. o seguinte texto: "Ao Operador de Transporte

Multimodal é facultada a descarga direta de mercadoria importada, desde que esta

permaneça em recinto alfandegado, no aguardo de despacho aduaneiro",

estabelecendo uma zona de conflito com as atribuições do Operador Portuário,

normatizadas pela Lei 8.630/93 (RODRIGUES, op cit., p.103).

Apesar de apresentar ainda alguns pontos de conflito, a Lei 9.611 foi promulgada e

regulamentada. Em 08/12/2000, a Susep (Superintendência de Seguros Privados)

publicou a Resolução 37, divulgando as Condições Gerais para o Seguro de

Responsabilidade Civil do Operador de Transporte Multimodal de Cargas

(RCOTM-C).

Uma das principais barreiras à implementação do Transporte Multimodal no país

está ligada à questão fiscal. Com a implementação do uso de um único documento

de transporte (Conhecimento de Transporte Multimodal), alguns Estados,

representados por suas Secretarias de Fazenda, argumentam que seriam

prejudicados na arrecadação do ICMS. Esta questão somente será resolvida com a

Reforma Tributária (NAZÁRIO, P., op.cit).

Para que um transporte seja caracterizado como multimodal, é necessário:

• Ser realizado, pelo menos, por dois modais de transporte;

• Haver um único responsável perante o dono da carga (OTM);

• Haver um único contrato de transporte entre o Transportador e o dono da

mercadoria;

• Existir um conhecimento único (Multimodal Bill of Ladding), válido para todo o

percurso;

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• Uso de cargas unitizadas indivisíveis;

• Inspeções fiscais apenas na origem e no destino.

10.3.1 Responsabilidades do OTM - Operador de Transporte Multimodal

A contratação do transporte Multimodal, pelo ponto de vista do OTM traz uma série

de procedimentos e responsabilidades no decorrer do processo de embarque. Ele

deverá reservar espaço nos vários modais a serem utilizados, nos armazéns e

pontos de baldeação, firmando contratos, protocolos, acordos (por períodos de

tempo) com os provedores, etc., onde são garantidos preços e espaços, geralmente

relacionados a grandes quantidades, obtendo desta forma custos mais baixos.

Posteriormente, efetivará um único contrato com o embarcador.

A Lei do OTM estabelece que o Ministério dos Transportes será o órgão competente

pela determinação da política de transportes multimodal de cargas nos segmentos

nacional e internacional, ressalvadas a existência de legislação vigente e de acordos

internacionais aplicáveis. Por exemplo, se houver algum problema com a carga, ou

atraso na entrega de uma mercadoria em um tramo do transporte em que seja

aplicável uma Convenção Internacional ratificada pelo país, esta prevalecerá sobre

a Lei do OTM (VIEIRA, op cit, p.136).

Estão contidas na Lei 9.611, as responsabilidades do OTM, a seguir:

• O OTM deverá possuir ativos que o permitam a realização de todo o transporte,

ou de parte do mesmo;

• O Operadores de Transporte Multimodal devem ter conter uma apólice de

seguros que cubra sua responsabilidade civil em relação à carga, durante todo o

trajeto da mesma, sem prejuízos dos demais seguros estabelecidos na

legislação;

• A responsabilidade pelo Transporte Multimodal cobre o período compreendido

entre o momento em que recebe as mercadorias sob sua custódia até a entrega

ao destinatário, obrigando-se a executar todos os atos necessários para que as

mercadorias sejam efetivamente entregues (RODRIGUES, op cit., p.108).

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A Lei 9.611 estabelece o princípio de presunção de culpa do operador e os

seguintes fatores de isenção de responsabilidade:

a) ato ou fato imputável ao expedidor ou ao destinatário da carga;

b) inadequação de embalagem, imputável ao expedidor;

c) vício próprio ou oculto da carga;

d) manuseio, embarque, estiva ou descarga executadas pelo expedidor,

destinatário, consignatário da carga ou seus agentes;

e) força maior ou caso fortuito.

Os limites de indenização estabelecidos pela Lei 9.611, tanto por perdas e danos,

quanto por atraso, são de 666,67 DES por volume ou unidade de carga ou de 2

DES por Kg de mercadoria danificada, prevalecendo o que for maior. Para

determinação da quantia de indenização a ser paga, serão considerados o valor das

mercadorias declarado pelo expedidor na NF, acrescido de frete e seguro

correspondentes (Valor CIF) e a "fórmula do conteiner", que significa que, se não

houver uma descrição dos volumes unitizados no cofre de carga, as mercadorias

constantes no mesmo serão consideradas um só volume. Os limites de

responsabilidade não são válidos em caso de ação dolosa ou culposa por parte do

operador (VIEIRA, op cit, p.137).

10.3.2 Responsabilidades do Embarcador

A contratação do transporte Multimodal, para o embarcador, é idêntica à

contratação do transporte unimodal, isto é, solicita-se ao OTM que receba a

mercadoria em determinado lugar e a entregue em um outro específico. Há apenas

um pagamento e a negociação é feita apenas com uma empresa, que detém total

responsabilidade por todo o percurso.

Estão contidas também na Lei 9.611, as responsabilidades do Embarcador, a

seguir:

• O embarcador deve garantir ao OTM, no momento em que este toma as

mercadorias sob sua custódia, a exatidão de todos os dados relativos à natureza

geral das mercadorias, suas marcas, números, volume e quantidades e se

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procedente, o seu caráter perigoso, para a inclusão no Documento ou

Conhecimento de Transporte Multimodal;

• O expedidor indenizará o OTM pelos prejuízos resultantes da inexatidão ou

insuficiência dos dados antes mencionados;

• O direito do OTM a tal indenização não limitará, de modo algum, a sua

responsabilidade, em virtude do contrato de transporte multimodal, com relação

a qualquer pessoa distinta do expedidor;

• A não ser que o consignatário avise por escrito ao OTM, no momento em que a

mercadoria lhe for entregue, a perda ou avaria, especificando a sua natureza,

salvo prova em contrário, ficará estabelecido que o OTM entregou a mesma tal

como descritas no Conhecimento de Transporte Multimodal.

• No caso de dano ou extravio, será lavrado Termo de Avaria, assegurando-se às

partes interessadas o direito de vistoria, de acordo com a legislação vigente e

com observância, ainda, das estipulações do contrato de seguro, quando houver

(RODRIGUES, op cit., p.110).

10.4 Transportadores Multimodais

Hoje no Brasil, as empresas que vem se registrando como OTM, tem como origem:

• Transportadores modais - empresas rodoviárias, ferroviárias ou de navegação,

devido ao conhecimento e experiência que possuem, têm mais facilidade de

atual na multimodalidade;

• Non Vessels Operators (NVO) - Transportadoras que operam sob um BL interno

ou um BL marítimo. Pode cobrir apenas os transportes ou operar no transporte

multimodal, excetuando-se o transporte marítimo;

• Non Vessels Operators, Common Carrier (NVOCC) - Geralmente,

transportadores terrestres ou aéreos que publicam calendários regulares das

linhas de navegação, cujos serviços subcontratam de forma a prestar serviços

porta-a-porta sob conhecimentos de embarque Fiata;

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• Transitários (Freight Forwarders) - Corretores de cargas, tradings, empresas de

armazenagem, ou qualquer outro agente econômico que decida consolidar

cargas de diversos embarcadores e negociar com os transportadores fretes

menores dos que seriam obtidos individualmente pelos próprios embarcadores.

O transitário presta serviço em seu próprio nome e emite um B/L próprio;

• Armazenadores - Ingressando no transporte multimodal, completam o ciclo

como operadores logísticos.

10.5 Integração entre os Modais

Importante ítem deste trabalho, a Integração entre os diferentes Modais deve ser

ressaltada, pois sem ela não seria possível alcançar a Multimodalidade. Devido à

evolução tecnológica voltada para o Sistema de Transportes, hoje é possível

integrar modais diferentes, dentro de uma mesma operação logística de transporte

de mercadorias (aéreo-rodoviário, ferroviário-rodoviário, rodoviário-aquaviário,

ferroviário-aquaviário, etc).

Para exemplificar o acima exposto, podemos citar o escoamento do aço proveniente

de Volta Redonda, no Estado do Rio de Janeiro, que abastece as indústrias do

Nordeste e de Manaus. Segundo dados da Aliança Navegação e Logística (ALIANÇA

NAVEGAÇÃO E LOGÍSTICA, 2003), hoje, as bobinas de aço são transportadas de

Volta Redonda até o Porto de Sepetiba / RJ em vagões abertos, pela Linha

ferroviária da MRS. No terminal de Sepetiba, esta carga é consolidada em

conteineres, que seguirão via Cabotagem (modal aquaviário) para Manaus, Recife e

Fortaleza, onde serão transferidas para o modal rodoviário, e entregues nas

fábricas de latas, tampas de garrafas, fogões, etc.

Uma das desvantagens do exemplo mencionado, é que o tempo gasto nessa

operação é maior do que se todo o transporte fosse realizado por um único modal

(rodoviário). Entretanto, essa operação possui um custo menor, reduzindo o custo

logístico de distribuição do produto, tornando o seu preço final mais competitivo.

É necessário ressaltar a importância dos terminais na viabilidade operacional e

econômica do Multimodalismo, garantindo a conexão e coordenação dos modais,

capacitação tecnológica e investimentos (NAZÁRIO, P., op.cit).

Eduardo
A fonte ( estudo, estatística, histórico, planejamento, ou qualquer outro documento que tenha sido consultado para gerar o exemplo ) deve constar na referência bibliográfica.
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81

Por outro lado, segundo Paulo Nazário (NAZÁRIO, 2000), um dos principais

problemas para o desenvolvimento do Multimodalismo no Brasil, no que se refere à

integração dos diferentes modais, é exatamente a falta de estrutura desses

terminais e de novos e necessários investimentos.

Segundo Carvalho (CARVALHO, 2002), dentre os diversos aspectos que interferem

na competitividade de um terminal, é importante ressaltar a adequação dos

acessos aquaviários, terrestres e ferroviários, a qualidade e capacidade de seus

equipamentos, a capacidade e controle de armazenagem e a segurança da carga.

Ainda segundo Carvallho (CARVALHO, 2002), os elementos-chave da

intermodalidade são:

• "Articulação viária entre os modos de transporte;

• A manutenção da cadência do sistema integrado de transporte;

• A sintonia entre os marcos regulatórios que regem a operação das diferentes

modalidades de transporte".

A partir da logística integrada aplicada nos terminais intermodais, obtem-se uma

minimização dos custos totais, alcançando uma maior rentabilidade tanto para o

terminal, quanto para todos os envolvidos na cadeia logística, fazendo com que o

produto brasileiro tenha melhores condições de competitividade, tanto com relação

a preço, quanto a prazos de entrega (CARVALHO, op cit.).

Ainda segundo Carvalho (CARVALHO, 2002), são pontos importantes em um

Terminal Intermodal :

• "Pátios (estacionamento rodoviário / pátio de recebimento ou de expedição

ferroviária / pátios de armazenagem);

• Equipamentos de transferência (empilhadeiras, reach stackers, portainers,

transtainers;

• Simplicidade de procedimentos administrativos e regulatórios;

• Infra-estrutura de transportes rodoviários e ferroviários;

• Infra-estrutura modal: aeroporto, porto e terminais;

• Operação de Cabotagem"

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Segundo Nazário (NAZÁRIO, 2000), “as principais técnicas utilizadas no

Intermodalismo estão associadas ao acoplamento entre modais”.

As técnicas abaixo são utilizadas nas conexões entre os modais rodoviário e

ferroviário, de acordo com este Autor (NAZÁRIO, 2000):

• “Container on flatcar (COFC) : Caracteriza-se pela colocação de um contêiner

sobre um vagão ferroviário. Também existe a possibilidade de posicionar dois

conteineres sobre um vagão (doublestack) para aumentar a produtividade da

ferrovia. Nos Estados Unidos e Europa este tipo de operação é comum.

Entretanto no Brasil, para muitos trechos seria inviável, principalmente devido

às restrições de altura em túneis;

• Trailer on flatcar (TOFC): Consiste em colocar uma carreta (semi-reboque)

sober um vagão plataforma. Esta operação tem como principal benefício reduzir

custos e tempo com transbordo da carga entre os modais, evitando com isso,

investimentos em equipamentos de movimentação em terminais rodo-

ferroviários.

• Car less: Consiste na adaptação de uma carreta que é acoplada a um vagão

ferroviário igualmente adaptado, conhecido como truck ferroviário.que consiste

na colocação de um conteiner sobre um vagão ferroviário”. No Brasil, esse

sistema é chamado de Rodotrilho (NAZÁRIO, P., op.cit).

As tecnologias acima citadas, no transporte de cargas no Brasil, ainda são muito

pouco desenvolvidas. Segundo Nazário (NAZÁRIO, 2000), “dos cerca de 8 milhões

de conteineres que foram movimentados em 1998 pelo porto de Santos, o maior do

país com 40% da movimentação de conteineres, apenas 4% foi movimentado pela

ferrovia. Sendo que em 1999 a movimentação ficou em torno de 2.5%”.

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10.6 Vantagem do Transporte Multimodal

O Transporte Multimodal alia a conveniência e a simplicidade jurídico-administrativa

do transporte unimodal à eficiência econômico-energética do transporte

segmentado, com um único responsável perante o dono da carga (RODRIGUES, op

cit., p.105).

Sob o aspecto operacional, é necessário que a carga seja unitizada, de forma

indivisível e inviolável, o que significa dizer que a unidade unitizada será

integralmente transferida de um modo de transporte para outro, sem que as suas

frações sejam manuseadas diretamente. Isso reduz em muito os índices de avarias

e roubo, trazendo maior segurança ao transporte.

Além de unitizada, a carga deve apresentar um caráter sistêmico, onde as unidades

de carga possam transitar facilmente pelos vários modos de transporte, através de

equipamentos apropriados, aumentando a velocidade das operações.

Sob o aspecto fiscal, a carga é inspecionada apenas na origem e/ou no destino, não

ocorrendo desagregação das suas unidades de carga durante todo o transporte.

Outro aspecto importante do transporte Multimodal é o Seguro de Responsabilidade

Civil do OTM, publicado através da Resolução 37 de 08/12/2000, como já

mencionado, onde existem uma apólice que cobre todo o percurso, cujo custo

deveria ser, obrigatoriamente, 20% mais baixo que o somatório dos modais,

incluindo as baldeações e transbordos (RODRIGUES, op cit., p.106).

Qual seria o objetivo de se utilizar mais de um modal de transporte? A razão para

isto é obtermos vantagens de cada um dos modais, que podem ser caracterizadas

tanto pelo serviços, quanto pelo custo. Junto a estas possibilidades, deve-se

considerar o valor agregado dos produtos a serem transportados, bem como

questões de segurança.

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Figura 6 – Comparação das características de serviço entre modalidades de

transporte no Brasil.

Fonte : Nazário, 2000

Analisando as opções, por exemplo, veremos que o transporte rodo-ferroviário tem

como vantagens em relação ao transporte rodoviário, o custo baixo do transporte

ferroviário para longas distâncias e da acessibilidade do transporte rodoviário.

Combinados eles permitem uma entrega na porta do cliente a um custo total

menor, porém em um tempo relativamente maior. O que se busca com o

multimodalismo é um melhor equilíbrio na relação preço / serviço. O mesmo ocorre

no transporte rodo-aquaviário (NAZÁRIO, 2000).

Se formos comparar a rodovia e a ferrovia, iremos concluir que para uma

determinada distância e volume transportado, a utilização de mais de um modal é a

forma mais eficiente de executar a movimentação, como pode ser visto na figura 7,

desenvolvida pela ATA (American Trucking Association) para demonstrar as

características de distância e volume de maior competitividade do modal rodoviário.

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Figura 7 – Comparação entre os modais Rodoviário e Ferroviário e a opção

intermodal.

Fonte : Nazário, 2000 No Brasil, esta tabela possui algumas distorções consideráveis quanto à capacidade

de competição da alternativa intermodal, principalmente devido à falta de infra-

estrutura existente e a própria regulamentação. O gráfico 11 mostra o Market

Share da ferrovia em função da distância transportada. Bem diferente dos Estados

Unidos, a ferrovia no Brasil perde espaço nas longas distâncias, justamente onde

ela deveria ser mais competitiva.

Gráfico 11 – Market Share da ferrovia em relação à distância no Brasil e

nos Estados Unidos.

Fonte : Nazário, 2000

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Embora da Ferrovia esteja transportando muito mais no sentido Norte-Sul do que

antes da privatização, o volume ainda está muito abaixo do potencial do setor. O

tempo de trânsito, assim como a indisponibilidade de capacidade de transporte são

grandes obstáculos ao crescimento desta movimentação. Isto faz com que a maior

parte da carga proveniente de Norte/Nordeste para Sul/Sudeste seja trazida pelo

rodoviário, que percorre mais de 2.000 km, tornando este transporte muito caro

(NAZÁRIO, P, op.cit).

A cabotagem surge como uma boa opção no multimodalismo. Porém, ainda possui

problemas com a falta de eficiência dos terminais portuários, de integração com

outros modais e na própria freqüência de embarcações que são ofertadas no

mercado. Este último ponto está sendo resolvido, com o aumento da frota de

navios nesse tráfego registrado nos últimos 3 anos, onde as três empresas que

atuam hoje na Cabotagem realizam escalas semanais nos principais portos

brasileiros.

A intermodalidade é o elemento chave em qualquer sistema moderno de

transporte. Ela sustenta o comércio internacional e o crescimento econômico, e, ao

mesmo tempo, satisfaz as exigências de desenvolvimento sustentável. A integração

entre os modais é vista como uma ferramenta importante para reconciliar as

dimensões econômicas, sociais e ambientais de sustentabilidade. Em outras

palavras, os maiores benefícios da intermodalidade para uma economia são a

segurança, acessibilidade, eficiência do sistema, flexibilidade, emprego, uso

adequado da terra e controle da poluição. O sucesso envolvendo esses pontos

necessita de uma visão geral e abordagem balanceada, pois qualquer sistema de

transporte integrado precisa estar baseado em uma análise completa de custo-

benefício, além de um tratamento uniforme dos meios complementares de

transporte (ROCHAT, P., op cit).

10.7 O Multimodalismo no Brasil

Como já foi mencionado anteriormente, dentro do sistema de transportes brasileiro,

existe uma grande dependência do transporte rodoviário por parte dos segmentos

da indústria brasileira, que leva hoje, cerca de 60% de toda a carga transportada

no país. Isso indica um mal aproveitamento dos outros modais de transporte,

principalmente porque, como vimos, o Brasil é um país de dimensões continentais e

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7.500 km de costa, onde, a até 500 km desta costa para o interior do país

concentram-se 80% do seu PIB. Isto indica uma forte vocação marítima, modal

mais barato, e otimizado do transporte.

Essa atual dependência do modal rodoviário decorre de anos de subsídios do

Governo Federal, incentivador desta modalidade. Esse fato foi agravado com a

estatização dos portos , ferrovias e rodovias, que foi feita ao longo dos anos no

Brasil.

Essa realidade brasileira, se comparada com o atual contexto mundial, aponta a

necessidade urgente de uma alternativa para o sistema de transportes, visto que

este não está ainda preparado para suprir a demanda crescente de transporte,

decorrente de um rápido aumento do comércio internacional que vem ocorrendo na

última década, associado ao crescimento do mercado interno (ROCHA, op cit.p.43).

Isso mostra que, de um lado, deve-se voltar os esforços para melhorar e

modernizar os sistemas atuais, já explicitados, e por outro, deve-se procurar

aproveitar melhor sua capacidade instalada através da otimização dos recursos

existentes, integrando modais e desenvolvendo a estrutura logística de forma a

simplificar e agilizar as operações, visando a redução dos custos e aumento da

eficiência operacional (ROCHA, op cit.p.44).

Uma alternativa para o transporte de cargas é o transporte multimodal,

exatamente porque este promove a integração dos serviços de distribuição, através

da utilização de mais de uma modalidade básica. Esta integração possibilita o

melhor aproveitamento dos sistema com um todo, podendo, na maioria das vezes,

contribuir para a redução dos custos.

O multimodalismo não tem seu foco no transporte de curtas distâncias, mas sim,

nas longas distâncias. Conforme já visto, até o limite de 500 km, o transporte

rodoviário é bastante competitivo. Porém, a partir dessa distância, torna-se

extremamente dispendioso. É o que ocorre no Brasil. Apesar do país possuir muitas

das características necessárias para o desenvolvimento do multimodalismo, como

um grande fluxo de cargas e a necessidade de transportá-las por longas distâncias,

ainda se tem uma grande distorção na matriz de transporte, totalmente voltada

para a cultura rodoviária.

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A figura 8 apresenta a atual matriz de transporte no Brasil, a qual possui uma séria

distorção. O modal rodoviário corresponde, como mencionado, cerca de 60% do

volume transportado no país em TKU, muito acima dos principais países do mundo,

que possuem sua matriz de transportes muito mais equilibrada. Essa dependência

de um único modal, que não é o mais adequado ás características e dimensões do

país, além de possuir maiores custos de utilização, manutenção e ampliação, tem

efeitos significativos sobre a qualidade do serviço de transporte no país, e

principalmente, sobre o preço dos produtos brasileiros, que tornam-se menos

competitivos em relação aos produtos estrangeiros, tanto pelos altos custos no

transporte dos insumos quanto na distribuição dos produtos acabados.

Figura 8 – Matriz de Transportes no Brasil em TKU - 2000.

Matriz de Carga Brasil 2000 (GEIPOT-ton-Km)

Rodoviário 60,48%Ferroviário 20,89%Cabotagem 11,08%Dutoviário 4,45%Hidroviário 2,77%Aéreo 0,33%

Fonte : GEIPOT 2000

Ainda sobre a figura 8, é importante ressaltar que a participação de 20% do modal

ferroviário no Brasil deve-se ao transporte do minério de ferro. Sem esta

commodity, a participação da ferrovia cai para 9%.

No estudo realizado pelo GEIPOT (Apud NAZÁRIO, 2000), considerou-se os

principais fluxos de carga no Brasil e a atual infra-estrutura existente,

estabelecendo com isso, um conjunto de projetos que visava a melhoria de

desempenho do sistema de transportes. Como resultado desse estudo, obteve-se

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uma previsão de alteração da matriz de transportes no Brasil em 2015, caso os

projetos sugeridos no estudo venham a ser concretizados. A expectativa seria do

modal rodoviário passar a participar em 24,8% do total, enquanto o ferroviário, em

65,1% (NAZÁRIO, P. op.cit.).

Um ponto fundamental na escolha do modal rodoviário no país, em detrimento de

outros modais mais adequados ao tipo de transporte, é o fato do frete rodoviário

situar-se, em muitos casos, num patamar abaixo dos níveis razoáveis à

remuneração do negócio. Como já foi visto, este baixo nível de frete é agravado

pelo enorme número de transportadores autônomos. Isso impede uma

remuneração adequada do serviço, e em decorrência disso, a frota não possui

manutenção adequada, e não é renovada de forma satisfatória, o que mostra um

grave problema de sucateamento da frota rodoviária no Brasil, cada vez mais

antiga.

Os principais fatores determinantes para a evolução da multimodalidade no país

estão relacionados ao desenvolvimento de infra-estrutura adequada, o que

necessita de investimentos públicos e privados, regulamentação do OTM e

investimentos em ativos que viabilizem esta prática e também do posicionamento

das empresas (embarcadores) em avaliar sistematicamente as alternativas que

estão surgindo (NAZÁRIO, P., op.cit.).

Nesse sentido, o processo de privatização das malhas ferroviárias e dos portos

brasileiros, está sendo decisivo para o desenvolvimento desta infra-estrutura,

propiciando um significativo aumento na produtividade do setor de transportes,

assim como uma redução dos custos operacionais e melhoria dos serviços

prestados (ROCHA, op cit.p.45).

Da mesma forma, a política de concessão da exploração dos pedágios das principais

rodovias do país, indica uma tendência de equilíbrio entre os modais de transporte,

apontando a intermodalidade como a melhor forma de se atingir este equilíbrio. No

entanto, a privatização as malhas e a concessão de grande parte das rodovias já

foram concretizadas, sem que isso tenha gerado grandes mudanças na matriz de

transportes, com uma melhor utilização dos cinco modais básicos de transporte

(ROCHA, op cit.p.45).

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O aumento da demanda em diferentes modais somente estará ligada a esta

privatização se houver uma política de incentivos por parte do governo, que de

alguma forma, incentive o maior aproveitamento dos modos alternativos de

transporte, o que pode-se observar através do Programa Brasil em Ação, que

executou uma série de projetos nesse sentido.

Segundo Nazário, (NAZÁRIO, 2000), "os próprios embarcadores começaram a

investir em estrutura (para facilitar suas logísticas, através da utilização do

intermodalismo), como os exemplos a CSN, a Cargill, Usiminas e Feterco, (que

investiram em terminais próprios)".

No que se refere à investimentos específicos em equipamentos e carretas voltadas

para o sistema intermodal, em alguns casos, estão sendo estabelecidas parcerias

entre operadores logísticos e rodoviários, ou transportadores aquaviários e

terminais portuários, no sentido de aumentar a disponibilidade e a qualidade da

frota de carretas, assim como de equipamentos especiais que possibilitam o

intermodalismo, como reach stackers, empilhadeiras, etc (NAZÁRIO, P, op.cit).

Hoje, existem também empresas que, ao invés de ofertarem apenas o serviço de

transporte, estão capacitadas para oferecer soluções logísticas, que integram

outras atividades ao serviço desejado, tais como: o transporte multimodal,

movimentação em terminais, armazenagem, gestão do estoque, acompanhamento

da carga, entre outros serviços, que agregam valor ao serviço prestado e ao

produto transportado. Seria a função do OTM, associada à outras funções

diretamente ligada à gestão de estoque e produção do seu cliente. Entretanto,

apesar da função do OTM já ter sido regulamentada, sua implementação efetiva

dependerá da correção de alguns pontos de conflito presentes na Lei 9.611,

principalmente com relação ao problema fiscal e de seguros, além de uma mudança

de cultura dentro da logística das empresas e prestadores de serviço.

A utilização da tecnologia de informação é também um fator fundamental para o

desenvolvimento de um serviço que integre os modais, bem como disponibiliza

informações sobre o status da carga para os embarcadores / clientes. Através da

implantação de GPS (Global Position System) ou de outros sistemas de controle, as

empresas estão se adequando à essa necessidade., e têm isso como um diferencial.

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Embora o Brasil ainda tenha muito o que desenvolver em todos os aspectos

abordados, a aplicação do conceito de intermodalidade, hoje é uma realidade. E o

conceito de Multimodalidade pode ser visto em alguns exemplos de operadores

logísticos e empresas de navegação que emitem um documento único de embarque

para todo o percurso, e depois subcontrata os modais a serem utilizados para cada

trecho. Resta saber, a intensidade na qual os prestadores de serviço de transporte

vão caminhar para ofertar soluções logísticas integradas, que contemplem a

intermodalidade, bem como outras atividades logísticas (NAZÁRIO, P., op.cit.).

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11. Conclusão

Como vimos neste estudo, o custo de transporte no Brasil equivale a 60% dos

custos logístico no país, e, dependendo do produto, corresponde de 5% a 25% do

faturamento das empresas. Isso nos mostra a importância do fator transporte na

composição dos preços dos produtos, e para a economia em geral.

Porém, hoje no Brasil, cerca de 60% de toda a carga transportada no país, que

inclui quase toda a distribuição de produtos acabados e boa parte do transporte de

matérias-primas, segue no modal rodoviário, apesar das características geográficas

e econômicas do país mostrarem uma vocação para o transporte marítimo, e de

haver outras possibilidades mais econômicas e eficientes de transporte,

dependendo da região e da carga, como a ferrovia e a hidrovia.

Entretanto, o transporte rodoviário no país vem apresentando-se insuficiente em

vista do crescimento do mercado brasileiro, apresentando problemas de infra-

estrutura, segurança e qualidade de serviço como conseqüência do excesso de

oferta, associados a altíssimos custos em relação aos demais modais, o que

encarece os produtos nacionais e prejudica sua competitividade em outros

mercados.

Essa distorção na matriz de transportes no Brasil, poderia ser corrigida com o

desenvolvimento dos demais modais de transporte e a sua integração através do

multimodalismo. Através da integração dos modais, associamos as vantagens que

cada modal oferece para um determinado tipo de carga, em determinado trecho ou

região, otimizando o transporte e melhorando sua relação custo-benefício.

Conforme foi visto neste estudo, no Brasil, cerca de 80% da economia é produzida

próximo à Costa, isto é, até 500km para o interior. Além disso, vimos que o

transporte rodoviário é competitivo até os primeiros 500km de percurso. A partir

daí, seu altíssimo custo energético torna esse tipo de transporte bem mais caro que

os demais, não compensando o seu tempo de viagem relativamente curto.

Hoje, segundo dados da Aliança Navegação e Logística (Aliança Navegação e

Logística , 2002), um frete multimodal (rodo-aquaviário) de S.Paulo para Manaus é

cerca de 20% a 30% mais barato do que o rodoviário. Isso nos dá uma idéia do

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quanto o País e suas empresas poderiam economizar em seus custos logísticos,

com a utilização do Multimodalismo.

É claro que nos trechos mais próximos, essa diferença é bem menor, como, por

exemplo, entre S.Paulo e Recife. A diferença de frete fica em torno dos 8% a 10%,

porém, a flexibilidade e disponibilidade do caminhão, com um transit time cerca de

3 dias menor do que transporte via navio, faz com que, nesse percurso, o

transporte rodo-aquaviário seja menos competitivo. Em contrapartida, os

embarcadores ganham na segurança e nos baixos índices de avaria das cargas,

proporcionados pelo transporte rodo-aquaviário, que permite, com isso, uma

redução em seus custos com seguros.

Esses aspectos tem acarretado uma mudança de cenário, onde percebe-se que os

produtores brasileiros descobriram a cabotagem e o transporte multimodal (rodo-

ferro-aquaviário), e aqueles que já a utilizavam, passaram a deslocar uma maior

parte da sua distribuição para este tipo de transporte, resultando em um

crescimento de aproximadamente 30% no último ano.

Na prática, o Multimodalismo já existe, mas encontra, como foi dito antes, grandes

barreiras para sua consolidação e desenvolvimento. Para isto, é importante que

todos os modais estejam preparados para esta nova estrutura logística, o que ainda

não acontece. São necessários altos investimentos em infra-estrutura ferroviária e

hidroviária, assim como em terminais multimodais e portuários, tornando-os mais

modernos, com maior produtividade e, principalmente, que apresentem menores

custos.

Na ferrovia, alguns problemas podem ser apontados:

• Faltam vagões disponíveis para absorver a grande demanda. A Vale do Rio Doce

está investindo no aumento de sua frota, e está adquirindo cerca de 1.100

vagões da China, em caráter emergencial, e que, colocados em uso nas linhas

férreas brasileiras, certamente reduzirão o custo deste modal para o mercado,

em decorrência do aumento de capacidade. Há encomendas para mais 5 mil

vagões no mercado nacional, que possuem preços mais atraentes (STEFANO, F.

2004).

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• Um segundo problema relativo à malha férrea são as diferenças entre as

bitolas. Reformar toda a estrutura ferroviária existente parece inviável, porém,

o problema pode ser corrigido com investimentos em equipamentos de

transferência entre os vagões, nos terminais ferroviários, que devem ser

repartidos entre as diferentes operadoras das linhas privatizadas.

• Um terceiro problema do transporte ferroviário está no fluxo de carga,

normalmente sempre em um sentido apenas. Não há um balanceamento de

cargas indo e vindo. Isso encarece muito o modal, que fica restrito à grandes

volumes, grandes indústrias, normalmente matéria-prima, para ficar

competitivo. Isto gera altos custos, o que impossibilita a vinda de novos clientes

com menores volumes, e produtos com maior valor agregado. Com o aumento

da capacidade, confiança no schedule e nos prazos, além de oferecer maior

flexibilidade, as empresas de transporte ferroviário ficarão com um serviço mais

competitivo, de maior qualidade, e de custos menores, o que atrairá uma maior

parcela do mercado. Para atrair clientes e volumes, as empresas ferroviárias

precisam agregar valor ao seu serviço, e realizar serviços complementares,

como de ovação, armazenagem e estudos de viabilidade.

No Transporte Hidroviário, o mais atrasado de todos, podemos apontar:

• Falta de Terminais Portuários equipados para movimentação de containers,

sendo que muitos não possuem sequer um simples guindaste. Faltam

armazéns, equipamentos de transferência ou de simples desova. Necessitam de

investimento para que possam desenvolver. Porém, o mercado é restrito.

• Falta de embarcações suficientes para um transporte sistêmico, com prazos e

bom fluxo de carga.

• A Malha Hidroviária sofre variações com as cheias e vazantes, além da

construção de hidrelétricas.

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No caso do Transporte de Cabotagem, são necessários esforços para corrigir vários

problemas:

• Alguns Terminais Portuários também não possuem equipamentos para

movimentação de containers, armazéns, ou qualquer infra-estrutura, como é o

caso do Porto de Manaus. Muitos ainda são públicos, como é o caso de Recife,

onde as operações são lentas, improdutivas e onde não há o comprometimento

como a qualidade do serviço prestado. Para corrigir esse problema, a

privatização é um bom começo, processo ainda em andamento no Brasil, pois

somente com a concorrência entre eles, será possível alcançar a modernização

necessária ao desenvolvimento dos portos. Porém, devido à necessidade de

investimentos, poucas empresas se interessam por assumir tais ativos, que

possuem ainda hoje, uma baixa lucratividade.

• Faltam navios no transporte de Cabotagem. Devido à restrição para que sejam

somente navios brasileiros, há poucos navios disponíveis para o transporte na

Costa brasileira, e muitos não estão com boas condições para o serviço. Com o

citado aumento de cerca de 30% no transporte de Cabotagem no último ano,

surgiu grande necessidade de se aumentar o número de navios. Navios maiores

resolveriam, porém, gerariam problemas de calado em alguns portos como

Recife.

• O maior concorrente do transporte aquaviário é o modal rodoviário. Entretanto,

como o transporte aquaviário necessita obrigatoriamente de outro modal que

faça as pernadas terrestres, a parceria entre os modais seria a melhor solução

para desenvolver o multimodalismo, e reduzir os custos dos modais,

principalmente do rodoviário, que é o mais alto de todos. Fazendo as portas

terrestres na origem e no destino, otimiza-se a frota, reduz-se o custo,

aumenta-se a vida útil das carretas, e tem-se melhor rentabilidade.

Entretanto, independentemente da infra-estrutura, ainda restam dois pontos de

conflito que impedem a consolidação do Multimodalismo, e que precisarão ser

definidos. O primeiro é a questão do ICMS sobre o transporte, que deixaria de

incidir sobre cada pernada, realizada por cada modal, para incidir sobre o

transporte como um todo. Conseqüentemente, isso reduziria a receita tributária dos

Estados e esse é um grande problema que gera um grande impasse. Com a

votação da Reforma Tributária, prevista para 2004, espera-se que este problema

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seja solucionado, com a arrecadação ficando sob responsabilidade do Governo

Federal.

O segundo ponto é a questão do seguro e da responsabilidade da carga, pois,

apesar do OTM ser totalmente responsável pela carga perante o embarcador, fica

difícil estabelecer em todo o percurso, qual modal foi realmente responsável por

uma determinada avaria ou sinistro com a carga, a não ser nas situações óbvias.

Além disso, nas operações de hoje, cada modal tem sua seguradora e cada uma

delas cobra o correspondente ao seguro sobre o valor da mercadoria. No caso do

Multimodalismo, onde a seguradora do OTM se responsabiliza por todo o percurso,

a mesma também cobra sobre o valor da NF, e isso gera uma dupla cobrança do

valor do seguro.

Apesar dessas dificuldades, como já foi dito, algumas empresas já atuam como

Operadores Logísticos, apesar da falta de regulamentação, realizando a contratação

de todos os modais e terminais necessários para um determinado transporte, desde

a fábrica do cliente até o seu recebedor final, aproveitando as vantagens e

características de cada modal, visando otimizar, agilizar e reduzir os custos da

operação, emitindo para isso, somente um único documento de transporte para

todo o percurso. Esse é o caso da Aliança Navegação e Logística, que atua, porém,

ainda sem o conhecimento de transporte multimodal, mas sim, com um

Conhecimento de Transporte Aquaviário de Carga, que compreende todo o percurso

porta a porta.

Isso nos mostra uma pequena mudança no cenário brasileiro, com relação ao

Sistema de Transportes. A adoção, por um número cada vez maior de empresas

brasileiras, do Multimodalismo, mostra uma possibilidade de reestrututação da

logística de distribuição de produtos e insumos no país. Esta demanda fomenta os

investimentos em infra-estrutura (terminais, estradas, portos e malha ferroviária),

em equipamentos e maquinários, promovendo o desenvolvimento dos diferentes

modais de transporte e a modernização do Sistema de Transportes no Brasil e da

Logística como um todo, favorecendo o crescimento da economia brasileira.

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