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40 ZEN ENERGY Junho 2017 Comunicação corporativa histórias terapêuticas Storytelling Para os contadores de histórias, a força está na palavra. Quantas vezes já não ouvimos dizer que “as palavras têm muita força”? Adoro ditados populares, parece que encerram em si um imenso conhecimento ancestral, tais cofres mágicos onde se guardam verdadeiros tesouros incalculáveis... A verdade é que o são, já que vêm carregados de emoção pela voz da sabedoria popular e são transmitidos como sendo verdades absolutas e inquestionáveis. as que parecem ter mais relevância são as que pertencem ao universo do conheci- mento do “domínio público”, mas cujo conteúdo se mantém suficientemente perto da nossa esfera e por isso nos tocam. Daqui retiramos duas ideias primordiais: primeiro, regra geral, as pessoas gostam de ouvir histórias. Segundo, estão mais disponíveis para as repetir a alguém se a história as tiver emocionado. No mundo onde atualmente vivemos, em que a informação nos chega abundante- mente e através de diversas plataformas, facilmente somos conduzidos para um estado de saturação. A nossa capacidade de reter informação é cada vez menor e a O que é facto é que nos soam a fragmentos de histórias que pertencem ao nosso incons- ciente coletivo, como diria Jung e que, por via das dúvidas, mais vale respeitar! Acho impressionante como o Ser Humano sempre aprendeu através das histórias, e

Storytelling Comunicação corporativaAs vendas foram aumentando e ele comprava, cada vez mais, o melhor pão e as melhores salsichas. Foi necessário também adquirir um fogão maior

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Page 1: Storytelling Comunicação corporativaAs vendas foram aumentando e ele comprava, cada vez mais, o melhor pão e as melhores salsichas. Foi necessário também adquirir um fogão maior

40 ZEN ENERGY Junho 2017

Comunicação corporativa

histórias terapêuticashistórias terapêuticas

Storytelling

Para os contadores de histórias, a força está na palavra. Quantas vezes já não ouvimos dizer que “as palavras têm muita força”? Adoro ditados populares, parece que encerram em si um imenso

conhecimento ancestral, tais cofres mágicos onde se guardam verdadeiros tesouros incalculáveis... A verdade é que o são, já que vêm carregados de emoção pela voz da sabedoria popular e são

transmitidos como sendo verdades absolutas e inquestionáveis.

as que parecem ter mais relevância são as que pertencem ao universo do conheci-mento do “domínio público”, mas cujo conteúdo se mantém sufi cientemente perto da nossa esfera e por isso nos tocam. Daqui retiramos duas ideias primordiais: primeiro, regra geral, as pessoas gostam de ouvir histórias. Segundo, estão mais

disponíveis para as repetir a alguém se a história as tiver emocionado. No mundo onde atualmente vivemos, em que a informação nos chega abundante-mente e através de diversas plataformas, facilmente somos conduzidos para um estado de saturação. A nossa capacidade de reter informação é cada vez menor e a

Oque é facto é que nos soam a fragmentos de histórias que pertencem ao nosso incons-ciente coletivo, como diria

Jung e que, por via das dúvidas, mais vale respeitar! Acho impressionante como o Ser Humano sempre aprendeu através das histórias, e

Page 2: Storytelling Comunicação corporativaAs vendas foram aumentando e ele comprava, cada vez mais, o melhor pão e as melhores salsichas. Foi necessário também adquirir um fogão maior

Ana Basto

Licenciada em Administração e MarketingFormadora e storyteller de contos terapêuticos na Mind Training®

Diretora executiva na Clínica Dra. Rosa Basto no Portowww.drarosabasto.com [email protected]

,,Utilizar o Storytelling para favo-recer a comunicação

interna é no fundo estimular o comprome-timento e envolvimento

dos colaboradores entre si e à própria

marca.,,

Z

E por falar em histórias empresariais, estou a lembrar-me de uma.

“Um homem vivia à beira de uma estrada e vendia cachorros-quentes. Não tinha rádio, nem televisão, e não lia jornais. Mas produzia e vendia os melhores cachorros-quentes da região.Preocupava-se com a divulgação do negócio e colocava cartazes pela estrada; oferecia o seu produto em voz alta, e o povo comprava e gostava.As vendas foram aumentando e ele comprava, cada vez mais, o melhor pão e as melhores salsichas. Foi necessário também adquirir um fogão maior para atender à grande quantidade de clientes.O negócio prosperava… Os seus cachorros-quentes eram os melhores!Com o dinheiro que ganhou conseguiu pagar uma boa escola ao fi lho. O miúdo cresceu e foi estudar Economia numa das melhores faculdades do país.Finalmente, o fi lho já formado voltou para casa e notou que o pai continuava com a vida de sempre, a vender cachorros-quentes feitos com os melhores ingredientes e a gastar dinheiro em cartazes. Assim, teve uma séria conversa com o pai:– Pai, não ouve rádio? Não vê televisão? Não lê os jornais? Há uma grande crise no mundo. A situação do nosso país é crítica. Temos de economizar!Depois de ouvir as considerações do fi lho “doutor”, o pai pensou: “Bem, se o meu fi lho que estudou Economia na melhor faculdade, que lê jornais, vê televisão e vai à Internet, acha isso, então ele só pode ter razão!”Com medo da crise, o pai procurou um fornecedor de pão mais barato (e é claro, pior). Começou a comprar salsichas mais baratas (que eram, também, piores). Para economizar, deixou de mandar fazer cartazes para colocar na estrada. Abatido pela notícia da crise já não oferecia o seu produto em voz alta. Tomadas estas “providências”, as vendas começaram a cair e foram caindo, caindo até chegarem a níveis insuportáveis. O negócio de cachorros-quentes do homem, que antes gerava recursos, faliu.O pai, triste, disse ao fi lho: – Estavas certo fi lho, nós estamos no meio de uma grande crise.E comentou com os amigos, orgulhoso:– Bendita a hora em que pus o meu fi lho a estudar, ele avisou-me...

Autor desconhecido

O vendedor de cachorros-quentes

atenção é, por isso, o bem mais precioso que uma empresa pode obter. E é precisa-mente neste contexto que o Storytelling se afi gura como uma inovadora forma de comunicação interna e externa, no sentido de interagir, motivar e tornar-se próximo, quer seja dos seus clientes ou dos seus colaboradores. Quer saber como? Acompanhe-me no próximo parágrafo.

Potencie a comunicação internaHá quem diga que o público interno deve ser a sua primeira e mais importante au-diência, e eu concordo, pois na verdade toda a empresa é fruto da relação entre pessoas que produzem produtos e serviços para outras pessoas. Utilizar o Storytelling para favorecer a comunicação interna é no fundo estimular o comprometimento e envolvimento dos colaboradores entre si e à própria marca. Se o funcionário estiver envolvido com a empresa, ele será o primeiro porta-voz. Dê-lhe motivos para falar dela e promovê-la. Experimente utilizar ferramentas audiovisuais como vídeos, blogues, podcasts. Recordo-me de um exemplo premiado, segundo conta Rodrigo Cogo em entrevista ao Mundo Corporativo. A empresa Vale S.A. pre-tendia sensibilizar os funcionários que trabalhavam em minas para o uso de equipamentos individuais de proteção. Após várias tentativas formais, optou por fazer vídeos onde pessoas reais (não pertencentes à empresa) contavam, com elevado grau de emoção, histórias sobre a perda de familiares que não tinham usado esse tipo de equipamento. O vídeo terminava dizendo: “Está na sua mão que os seus familiares não sintam isso.”

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Quanto ao público externo, conte as histórias do seu cliente, recolha histórias de sucesso onde o seu produto ou serviço tenha tido um impacto nas pessoas e crie uma história que seja essencialmente verdadeira na sua mensagem e com a qual o seu cliente se identifi cará de imediato. Pode ainda recolher testemunhos. Neste caso, serão os próprios clientes que con-tam a história e é uma excelente forma de passar a verdade. Para tudo isto existem três passos que gostaria que o leitor conhecesse: • Primeiro: conheça as etapas do Story-telling; • Segundo: saiba bem quem é o seu

público e quais as suas necessidades; • Terceiro: conte a empresa através das pessoas, criando uma história para a sua empresa que seja sólida e verdadeira.