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5/17/2018 SusanBuck-Morss-EsteticaeAnestetica-Artigo-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/susan-buck-morss-estetica-e-anestetica-artigo 1/31 ........ - IWriolaclallllntunt- a.lS tJII9C -llbaclaSUitaeat.nn..ep.-d&l996;p.ll .. BSTfmCA E ANESTfmCA:O ENSAIO SOBitE A OBRA DE ARTE DE WALTER BENJAMIN ltECONSIDERADO• Susan Buclc Morss I O enaaio • A obra de arte na idade da sua reprodutibilidade técnica 'l 6 pralmente ocmaidendo como uma afirmaçlo da cultura de musa e das nova llemolosiM anvá das quaia esta se c:lUisemina. E acertadamente. louva o potencial cognitivo, portanto polftico, da eXperiência c:u1tmal tecnologicamente mecUeda (privilegiando particularmente o cine ma).2 Contudo, a aeçlo que arremata o ensaio de 1936 inverte o tom otimis ta. Soa como uma advertênda. O íucism.o seria uma "violaçio do aparato 116cnko'" correlativa ao "violento esforço [do fucismo] em organizar as mas ... rcentemente proletarizac:lu'" - nlo por lhes oferecer o que lhes 6 devi do, mas •permitindo-lhes que se exprimain' s O resultado 1ógico do . damo 6 a introduçlo da edMiat na vida polltica' Benjamin ral'lllnMte faz c::ondenaç6es abeolutas, mas aqui dechua catepric:mnente: "'Todoe oe ii IIÍOrQOit no sentido de tomar es*tica a polftica c:ulminmio em uma 116 coisa: gaerra'".s F.acnrve durante o periodo Uüdal das aventuras militares fuciatas - a guerra colonial italiana na Etiópia e a in tervençlo da Alemanha da guerra civil eepmhola. Nlo ob8tante, Benjamin reconhece que j6 no infdo do l6culo a justificaçio estética desta polftica es taft pn Milte. Foram oe futuriatu que, pouco antes da Primeira Guerra MUDdàl. primeiro articu1aram o culto da guerra como uma forma de estéti ca. Benjlanin cita o seu manifeno: • A gumna f bela J CI CIU8 ~ domirw;lo humula 80Ift o maquinúio 8Uhjupclo, saw;M u IM8alru de gú, aos megaíones que aterrorizam, aos aos pequenoe tanqua. A guerra é b da porque d 6 infcio à so nhada metaliuçlo do corpo humu10. A guerra é bela porque enriquece oe . . PullUcado- Dal*rn. 62. p. 3-&1. Tlllduçlo de Rafael Lopee Azize. t DaraYU\tl referido como •I Jwaio 80brw a càa cié .ne• (Nota do Tllldutor). 2 A llwlhor Wtun. do .... _., IObN a càa ele__.. de Waher 'Beftjamin CODtlnuallelldo a de Miri - ....._-..... ...... CIMma anel B x p ~ N n c e 'The Blue Flower in the Land of Technolo gy'•, lWf eer- cn,.., .o (oumo de 1987). s • A. a.- tlm dlnlto a uma mudança M ~ de proprladade; o IMdamo --a d..n - lalna de cxp I lo na · ~ _ (BeJamin. Iltmrirultlolrs. p. 241, tnld. aw•• ..a.). •JW&l s Dlid. 11

Susan Buck-Morss - Estetica e Anestetica - Artigo

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estetica e anestética

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  • ........ - IWriolaclallllntunt- a.lS tJII9C -llbaclaSUitaeat.nn..ep.-d&l996;p.ll ... t

    BSTfmCA E ANESTfmCA:O "ENSAIO SOBitE A OBRA DE ARTE" DE WALTER BENJAMIN ltECONSIDERADO

    Susan Buclc-Morss

    I O enaaio A obra de arte na idade da sua reprodutibilidade tcnica"'l

    6 pralmente ocmaidendo como uma afirmalo da cultura de musa e das nova llemolosiM anv das quaia esta se c:lUisemina. E acertadamente.

    ~ louva o potencial cognitivo, portanto polftico, da eXperincia c:u1tmal tecnologicamente mecUeda (privilegiando particularmente o cine-ma).2 Contudo, a aelo que arremata o ensaio de 1936 inverte o tom otimis-ta. Soa como uma advertnda. O ucism.o seria uma "violaio do aparato 116cnko'" correlativa ao "violento esforo [do fucismo] em organizar as mas-... rcentemente proletarizac:lu'" - nlo por lhes oferecer o que lhes 6 devi-do, mas permitindo-lhes que se exprimain'" .s "O resultado 1gico do &. damo 6 a introdulo da edMiat na vida polltica'" .

    Benjamin ral'lllnMte faz c::ondena6es abeolutas, mas aqui dechua catepric:mnente: "'Todoe oe ii!IIOrQOit no sentido de tomar es*tica a polftica c:ulminmio em uma 116 coisa: gaerra'".s F.acnrve durante o periodo Udal das aventuras militares fuciatas - a guerra colonial italiana na Etipia e a in-tervenlo da Alemanha da guerra civil eepmhola. Nlo ob8tante, Benjamin reconhece que j6 no infdo do l6culo a justificaio esttica desta polftica es-taft pn!Milte. Foram oe futuriatu que, pouco antes da Primeira Guerra MUDdl. primeiro articu1aram o culto da guerra como uma forma de estti-ca. Benjlanin cita o seu manifeno:

    A gumna f bela J'CI'CIU8 ~a domirw;lo humula 80Ift o maquinio 8Uhjupclo, saw;M u IM8alru de g, aos megaones que aterrorizam, aos

    ~ aos pequenoe tanqua. A guerra b!da porque d.6. infcio so-nhada metaliulo do corpo humu10. A guerra bela porque enriquece oe

    . .

    PullUcado- Dal*rn. 62. p. 3-&1. Tllldulo de Rafael Lopee Azize. t DaraYU\tl referido como I!Jwaio 80brw a ca ci .ne (Nota do Tllldutor). 2 A llwlhor Wtun. do...._., IObN a ca ele__.. de Waher 'Beftjamin CODtlnuallelldo a de Miri-- ....._-.....,...... CIMma anel Bxp~Nnce. 'The Blue Flower in the Land of Technolo-gy', lWfD eer- cn,.., .o (oumo de 1987). s A. a.- tlm dlnlto a uma mudana 11M~ de proprladade; o IMdamo '--a d..n-- lalna de cxp I lo na p-~ ..._ ~ (BeJamin. Iltmrirultlolrs. p. 241, tnld. aw ..a.). JW&l s Dlid.

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  • ~ ! r i ~~-~ .f~ i~ ~.tJI. i h~!rffh rtJ ~~ ~trJi ir,

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  • forma de cogniio, alcanda via gosto, audio, visio, olfato - todo o apuato senaorial do corpo. Os terminais de todos os sentidos - nariz, olhe., ouvidos, boca, algumas da 6reu mais senstveis da pele - localizam.. se na superffcie do corpo, na &onteJra que media o interiOr e o exterior. Este aparato ftaico..cognitivo, com os aeus sensores ni.o funglveis e qualitativa-mente aut6nomoe, o "'terreno frontal"' (.,out fronf') da mente, encontrando o mundo prelingttistk:aentll!12, portanto anteriormente ni.o apenas A lgica como tmnWm A sipificalo (marring). :a bvio que todos os sentidos po-dem ser aculturados - esia a rulo para o interesse filos6fico pela "estti-ca" na era modema.ts Mas nlo bllportando o quio esbitamente os sentidos sejmn treinados (enquanto sensibilidade moral, refinamento do "gosto" (tas-te), senaibilic:lade a normas culturais de beleza), tudo istO se dA a posteriori. Os llel\tidos mantm um trao nlo civilizado e nlo civiliz6veL um ntcleo de

    ~ A domesticalo culturaLu Isto devido ao seu propSito imedi-ato ser o de servir As necessidades instintivas - de calor, alimentaio, segu-rana. sodabilidadet; .em suma, estas permanecem parte do aparato biol-gico, indUpensAvel A auto-preservalo tanto do indivfduo como do grupo soda!

    m A est6tica tem intrinsecamente tio pouco a ver com a trindade filos-

    fica da Arte, Beleza e Verdade que se poderia antes arrolA-la no campo dos instintoe anbnais.t' Isto , claro, preds8mente o que despertou nos filsofos uma auapeita quanto a o es1ti.co". Mesmo quando Alexander Baumgarten utk:ulava a .,est8:ica, pela primeira vez como um campo autOnomo de in-vestiplo, tinha conscincia de que "'se poderia acusA-lo de se estar ocu-pmdo com uma coisa indigna de um fil6sofo".t7

    Como aconteceu exatamente, no decurso da era moderna, a inversio do sentido do termo *estitica"', de modo a que no tempo de Benjamin ele

    12 &ta- o --tido pn Baumprllal. qwm primelro ~volveu o *elllltlco* como lia~Mti- Cll aulielalla - fllolaila.

    1S V, e. g., o 4eballt de Ro-IObrea eclucalo doe leiltidoe em tlllile. "Bamprtlll c111t1np1 elltN .-lwtiallltfljldlllil (l qual devota a JMfor parte do aeu lll!xto) e-flrltlal,..,.,..,., tal como t ~ noe jop infudla. lt. A -ieN!fdede lllotapeDM ,_ ca11fpta hfM6rltoo.cultunJ,- ,_parte da llOIIM *natu--. Attld deve~ liJOdoblolosla (e a Arlltt6lie1le e a Marx,. quanto a eete ponto). O mo t ,_..mr que IOdedaclea hodfenuilleJal expr-e. exatu deste lrlatlnto blol6gk:o. Po-cleda...---... JICil'-..,, que pw:illmlllltt no aeu Mpec:1D ma blol6glco (a reprod.ulo da ..plde), famflla pl'lvatlzada -.:tal (llliJodlll). u Uma .... mat.. a m.;1D t clla1Mk:a: nem o isldivfduo Mil\ o corpo IIOdal em algum momento a11tem como~, 111M ..mpn apeliM como "aegunda natureza (porlmtto, cultur.meme ClOIIIIruldoe), 6 lplmlme wrdade que nem o "llldivfduar nem o "IIOdal* adentram o mundo

    ~ COIIWtnddo - deixar 1111\ nato, 1111\ llll:wtndo blol6gko que pode oferecer a b.e paa lllillllllldL 17 'BeniMtto Crocle, dt.clo em Hana Rudolf Sc:hwelzer, kstllm1c llls ~ der 5imrlidrerl Erilnadftil (Balll, Sc:hwabe Co., 19'13), p. 33. Sdlwwiz.-~ contra Croce, que Bauulpr-- Jllo t111m1 ablllllalllltt pnoc:upeclo ou a _. tlcomioeo, e que 16 1111111 tarde hneri um ct.. ~ qqe,e o eiiiiMico COil\1N.Ua olboL

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  • foue aplicado antes de tudo arte - a formas culturais mais do que ex-perienda aenatvel, ao imagin6rio mais do que ao empfrico, ao ilua6rio mais do que ao tal - eis o que nlo evidente por si s. Requer uma explicaio crftica, exotrica. do contex1o sodoeconmico e polftico em que se deu o ctiscurio do ~co, como recentemente demonstrou Teny Eagleton em The Ideology of tJre Atsthetic (A ideologia do esttiico). Eagleton investiga as im-plicaes ideolgicas deste conceito em sua acidentada carreira na era mo-detna - de que forma salta como uma bola entre posies filosficas, das suas conotaes crlta.materialiataa na articulao original de Baumgarten ao sentido de base classista que ganha na obra de Shaftesbury e Burke, en-quanto uma esttica da "sensibilidade", um estilo moral aristocr6tico, e daf para a Alemanha. Ali, ao longo de toda a tradio do idealismo alemlo, foi reconhecido, com vmoe gnus de reserva. como um modo de cognilo le-gitimo - embora sempre fatalmente usociado ao sensuaL ao heteronmi-co, ao fictfdo, vindo a delell\bocar noe diagramas neo-kantianos de Haber-mas _como (para tar Frederic Jameson) "uma espcie de caixa de areia em que depositamos todas aqueJas coisas indeterminadas[ ... ] sob a rubrica do irracional[ ... ] [onde] possam ser monitorizadas e, se necessrio, controla-das (o esttico de todo modo concebido como uma espcie de v4lvula de segurana para oe impulsos irracionais)" .11

    A histria (story) bastante incrlvel, de fato, particularmente quando se considera o Jeitmotif que percorre todas estas alteraes, base da qual emerge o "esttiico" nas suas variadas formas. Trata-se do motivo da auto-gtnese, certamente um doe mitos mais persistentes de toda a histria da modernidade (e antes disso do pensamento polftico ocidental. poder-se-ia acreecentar)t. Fazendo melhor que a natividade imaculada. o homem mo-demo, homo autotelus, literalmente se produz a si mesmo, gerando-se -para tar Eagleton - "miraculosamente a partir da [sua] substincia" .20

    O que neste mito parece fascinar o "homem" moderno a ilusio nardaista de controle total. O fato de se poder huginllT o que nlo i se extra-pala na fantasia de que se pode (re)criar o mundo conformemente a um plano (este grau de controle impoeefvel, por exemplo, na criaJ.o de uma criana viva, que respira). Trata-ee da promessa dos contos de fadas em conceder desejos, sem a sabedoria dos contos de fadas de que as conse-qncias podem ser desastrosas. ~ preciso admitir que este mito de imagi-nalo criativa teve efeitos salutares, estando intimamente ligado idia de

    11 Fredrtr: J.-n. lAte .Mrmsm: Adomo, or, the ~ uf the Ditllectic. Nova Iorque, Veno, 1990.p.232. tt O "IIMINilto" da p6& grega f atribufdo pncflammte l MIOil\brou iclfla de que o homem pode produztr-.. ali~ ex 71ihi1D. A plll toma-. o artefato do "homem", no qu.l .ele pode fazer llftll'&lr, como uma rellidade material, a 111111 pura Mllnda de li me11r10. Sllrlilarmenll, Maqulawl eiCN'VeU em kKmx- do Plfndpe que auto-crlatl--. funda wn now prlnd.J*Io, e

    ~ .. ato autopn6tk:o Ama alta vtrllldacle. 2D Eaptoa. IMDiogy of the .Aislhetic. p. 66.

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  • liberdade na histria ocidental Por esta razio (uma eJCCelente rulo), f'oi firmemente defendido e enalfeddo.n

    No entanto, a conaciencia leuUniata atual da academia rwelou o qu-io temeroeo do poder biolgico da mulher pode ser este CODIInlto mftico,21 O ser verdadeiramente autogenHco buta-ee inteiramente a ai prprio (lf-amtllined). Se pouui alguma .etp6d.e de corpo, este deve ser iMceeldvelaos sentidos e portanto estar a salvo de controle externo. A sua po*'da raide na sua falta de resposta corp..,., Ao abandonar os aentidoe, deAtte, claro, do sexo. Curiosamente, predaamenlle neata forma castrada que o aer p-rado macho - como se, nada tendo de tio embaraolamente impreYiafvel ou racionalmente incontrol6vel como o p@nia-~ ao M!niOI'W- o ser pudesse entio afirmar ser o falo. Tal protubertnda u.ensuaJ, .,.1161ica este artefato: o homem moderno.

    Considere-se Kant quanto ao sublime. Ble escreve que, c:xmfmntaclc com uma natureza desafiante e ~UDMAdora - penhucoe ~ um vulcio feroz, um mar enraivecido - o ~ primeiro impullo, u.ndado (nio sem razio) A auto-preserv~, o de ter medo. O. noe10e emfilb di-zem-nos que, lace ao poder da natureza. "a noesa habilidade pua ...tatir se torna uma bagatela insignificante'".~ Mas, diz Kan~ h4 um ~chio dilen!nte, mais "sensato"{!), que adquirnoa quando aprec:i.alllos estu folas medo-nhas de um lugar .,seguro .. , a partir do qual a natureza pequeM. e imeDia a nossa superioridade:

    "Embon a irrali8tibilidllde do poder da natureza nD8-.., ~.., qtW11o ..-ea naturais, t

  • esfl6tico [sic] decide em favor do general" Ambos o estadista e o general llo tidotJ por Kaat em estima.,~, superior relativamente ao artista, j que unbOIJ, ao delinelr a nudide mais do que as suas representaes, estio a mimu (mbrriddng) o prottipo autogentic:o, o Deus judaico-aistio pro-dutor da natureza e de si prprio.

    Se na Terceira Crttica o .,~, nos juizos privado dos seus sen-tidotJ, na Segunda Critica os sentidos nio desempenham papel aJgum. O ser moral est4 desde o prindpio desprovido de sentidos. Novamente, o ideal de Kant o da autognese. A vontade moral. isenta de qualquer contaminaio pelotJ sentidos (os qws, na Primeira Critica, sio a fonte de toda a cogniio), estabelece a sua prpria rep como norma universal A razio produz-se a si mesma na moralidade kantiana - tanto mais "sublimemente" quanto a prpria vida de cada um sacrificada l idia.

    "Quanto mais Kant avana", escreve Emst Cassirer, "mais se exime [ ] da sentimentalidade predominante" na "Idade da Sensibilidade" ,'D Para ser historiaunente prec::ilo, necess6rio rec:oahecer que esta sensibilidade, enonnemente influenciada pela c:oncepio de helenismo de Johann Win-ckelmann. era homfila. Ela afirmava a beleza esttica,. antes de tudo, do corpo miiiOllino. De fato, a sensualidade homoertica J?Ode ter sido at mais ameaadora pua a psique modernista emergente .9 que a sexualidade ~ produtiva das muJheres. O sujeito transendental kantiano purga-se dos sentidos que pem a autonomia em perigo nio apenas porque estes inevi-tavelmente o enredam no mundo mas, especificamente, porque o tomam pallivo ("Jansuido" [schmelzendj a palavra de I

  • O tema do sujeito aut6nomo e autotmco, de eentidoe mora, e por esta mesma razlo um criador viril, com auto-ernnque (a sjefllrln), bM-tando-se mblimemente a si mesmosa, aparece ao Ionso do l6c:Wo claenove - bem C:omo a asaociaio da "esttica" deste criador com. o gueneiro, e daf com a gueJ'J'Il. No final do aculo, com Nietzllche, h6 uma nova afinnalo do corpo, mas este permanece auto-suficiente, extraindo o m6ximo pruer du suas prprias emanaes bioffsicu. O ideal niet:zacheano do arttst.fiJ6eofo, a encamaio da Vontade de Poder, manifesta os valores el.itistu do guerrei-ro'!, talvez "'tio distante de outros homens a ponto de os poder f'ormmo'"M. Esta combinalo de sexualidade autoertica e poder governante aobre os outrOs constitui o que Heideger chama a "Mimnestlftthetllc"' de Nielzlche. Esta deve substituir o que o prprio Nietzsche chama ~fheHk"'M -"esttica feminina" de receptividade M eensa6es advindas do exledor.

    PodeNJe-ia prosseguir com a documentalo deata fantasia solipeisla - e com freqncia verdadeiramente tola - do faJo, este conlo-de-fadu da reproduio exclusivamente maac:uliM. a arte m6gial da crJpJo ex niltllo. Mas, embora o tema retome mais adJante, desejo argumentar em favor da fecundidade filosfica de uma abordagem diferente, mais alinhada com o prprio mtodo de Benjamin no Ensaio aobre a obra de arte. Trata-ae de in-vestigar o desenvolvimento, nlo do significado de termos, mu do prprio aparato sensorial humano.

    IV Os sentidos slo efeitos do sistema nervoao, compostos de cenlenu

    de bilhes de n~nios que se estendem das superftcies do corpo ao c&e-bro, atravs da medula espinhal O c&ebro, ~ preciiO c:Hz&.lo, gera na refle-xio filosfica um sentido de estranheza. Nos 1\08808 momentos maia empi-ridslas, gostarfamos de propor l mente o auunto do crebro ele prprio. (O que poderia ser mais apropriado do que o crebro a estudar o crebro?) Mas parece haver um tal abismo entre ns, vivos, quando lanamoe um olhar para o mundo, e a massa gelatmo., cinza-branca e de circunvolues u-

    mllia forte do que no llallo de Goethe. Obrfpda a .AiexlmcUa Cook par mo hawr t.l1D notar). O '--.aludo de Goethe .obre~ (1805) e1opt-o par...., w vivido- Wla ~ ma ao et~F ldMl t.llnko.IMo lndula, aplld~ -~ _... ClOIIlliNiaa jo--. Foi. Q{fiat do JfiID de Kant que-~ Goetbe cc-a-, p. 713). !12c"Ser wfimlll a 8i ~ e portanto nlo tar p-.cillo da ecv:iedwle, 111M - ..-lllloc:l6wl. L e., ..n fugir l ecv:!edacle, f aJso aproximado do Mlbiime, como o f qualquer CMD-~ ..---mae --oee!.Aedw" (Oifi4w cf/M,_., p.136). !.! O tnlbelho dos~ "f - c:dalo elmJII*lo de farmM ( .. ) e nlo -..no que-jamculpe. ~ou~( ... ) -P1fJaan aqua1e wmwl .,_..,do llltl* que ( ... ) Mbe jt.wtlfbdo para llodo o_..,. atnaWa da- 'obra', como- mie atnlvW da -criana" (Nietzac:he, dtado por Bapton. p. 237). :w Friedrich Nletzlcbe. Thr NU to Poaltr. Tmcl. Waber Kaufmlml e R. J. ~ Nova Ionp, Random tw..e, 1967. p. 419. 55lfeidas8er. Nim#w. p. 91-92. A~ ...._ n1o apiiNCll no..., de NilladiL 36 Nletadw. ~ lll "- p. G9. .

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  • semeJhadu A couve-flor que o crebro (cuja bioqufmica nio difere quali-tativamente da de uma lesma-do-mar) - que, intuitivamente, resistimos a nomear estas duas coiaas de forma idntica. Se o "eu"' que examina o cre-bro nlo foeee smlo o '*'ebro, como ~ entlo que eu me sinto tio incompre-ensivelmente alheio na sua pteeena?"

    Hegel tem, ...tm, a intuiAo do seu lado ~o ataca os obaervadores do *ebro. Se ae quiler compreender o pensamento humano, argumenta ele na Fmommologill do esp(rito, nlo se deve pr o crebro numa mesa de diaaecalo, ou sentir o bombeu na cabea para obter infonnaio frenolgi-ca. Se ae quiaer saber o que ~ a mente, enfio deve examinaJ'..se o que ela foz - voltando a ~ da filoeofia para a cincia natural e virand~ para o estudo da cultura e da histria humanas. Dal por diante, os dois di8cunJos seguiram caminhos separados: a filosofia do espfrito (mind) e a fisiologia do crebro perm.meceram, na sua maior parte, tio cegas para as atividades uma da outra quanto os dois hemiafmos de um paciente com divisio cere-bral olvidam a operii6es um do outro - discutivelmente, em debimento de ambos."

    O sistema nervoso nio ae cinge aos limites do corpo. O circuito que vai da perceplo sensorial A resposta motora-comea e acabe no mundo. O crebro nio ~. assim, um corpo anat6mko iao14vel, mas parte de um sistema que passa atrav& da pessoa e o seu (culturalmente espedfico, historica-mente lnmsilrio) ambiente. Enquanto fonte de estimulas e arena para res-posta motora, o mundo extarior deve ser fnclufdo para que ae complete o circuito 8en80I'ial. (A privalo seneria provoca a degeneraAo dos compo-nentles intemoe do sinema.) O campo do cin:uito seNOrial co1'1'81ponde as-sim ao da .,experifncia", no sentido filoefico cl6ssico da mediaio entre sujeito e objeto, e no entanto a sua prpria composilo torna a dita separa-lo entre sujeito e objeto (que era o tormento constante da filosofia clsica) simpiesmente irrelevante. Para diferenciar a nossa descriio da conceplo tradicional do sistema nervoso humano - mais limitada e que isola artifici-almente a biologia hUIIUmll do seu ambiente - chamaremos a este sistema

    ~ de conlldnda seNOrial. descentrado do sujeito ciAssico, no qual as perapaes sena6riu exteriolee ee enfeixam nas imagens intl!'rnu de mem-ria e de antecipaAo, "'sistema sinesttico"' "

    ri a. fiJ6.olm ~ ~--- - coajugar o c&-ebro CUl\ Jnl!l\1e. (talllb6m c:hllmada ..,_ ""' s.le, IIOUI. ~ Geit). o..c.rtn deu .Jma WN prollllo da "'IIWiqWM eorponr' cb~, ao 8lha6-la em umac:ep sJbdul-, atr.na-mente,..._ .. ,.,.,._ a meio do c6nblo (wr .A8 JMbrifcs .,_). ~ bu-~ tll1 do .r bntimla cxawegue deecle o Inicio~ ao J.rso do cfrebro.

    "~ Xll't .... IJIGO*'- 80bn odnbro, embora~- na apliallo deDOVM tec:-nolosl- que - permitlllll "'ve' o c:6nlllo CUl\ c:ada wz IIUI detalhe, IIOfrerun de demllliado pouco Ndk:alllmo mo.6flco e tlorttlco, ao ..-.que a flloeo8a arrillca a exprtm1r-ee em WN ~de e.l modo--.. dadM-- d.coba ... emplrkM da~ que .. ...... alipr6piallmievtnda-slab-

  • Bate sistema sinesttico ., aberto" no sentido maia. extrea:.o. : aberto nio apenas ao mundo atrav& ~os 6rgloe doe ~~entidoe, como tlllnWm u clulas :nervous dentro do corpo formam uma rede que em ai meama dee-contfnwL Elas alcanam outras ~ulu :nervoeu atrav& de pontos chama-doe de sinapses, onde cara-~ atraveesam o hiato entre elu. En-quanto em vuos sangOfneoe uma fenda ~vel, nM J."eCie. entre fetxa de nervos tudo "vasa". Qua1qu corCe doa estratos cerebrais mo5tra eata descontinuidade arquitetbnk:a e a morfologia dendrftic:a du IUM ex~. A giganteeca camada de nervos em forma de pirAmide do Cl6rtex anbral foi descrita pela primeira vez em 1874 pelo anatomista ucnu:ano Vladimir Betz.40 Coincidentl!mente, uma dada mais tarde, Vina!nt van Gogh,. ~*iente mental em St Remy, vialumi:II'Ou uma ~ desta forma no munclo

    ex~o~ /

    v . Resistamos por um momento ao abandono da fiaioJosia por Hepl e

    acompanhemos as investigaes neurol6gicu de um doe IM!Iis conllllaapod-neos, o anatomista escocfa Sir Charla BelL Com treinamento em pintura bem como em. medicina cirrgice, BelJ, com grande enbWumo, eltudou o quinto nervo, _9- "grande :nervo da exprurlo"', na crena de que .,o Mm-blante ~dor da mente""

    ~ rosto expressivo , de fato, um poc:1fsio de afntaee, tio particular __.qnto a impresslo digital, e no entanto coletivamente 1egfvel pelo 1111180

    "' comum. Nele, o8 trs aspectoe do sistema .U.ttico -~ &iat, ..-ao motora e sigNficado peiquico - conversem em sirua e gesto~~ que abrangem uma linguagem mimtiaL O que eata linguagem diz bado me-nos o conceito. Escrita na supertcie do corpo como uma~ entre a impressio do mundo exterior;e a expresslo de um sentir subjetivo, a Jin.. guagem deste siJtema. ameaA' trair a linguagem da i'azlo, miMndo a .ua soberania filos6Ib.

    Hegel, eacrevendo a hnomenologia do esp{rito no aeu estdc:lio de Jena em 1806, intelpretou o avano do ex~ de Napolelo (cujos canha po-dia oUVir ribombarem ao larg9) como a nialiaJo inconldente da RQio. Sir Charles BeiJ. quem. como mdico de campo que fazia amputa&!!s de membros, estava fisicamente presente uma dbda maia tarde na batalha de Waterloo, teve uma inle:tptelalo bastante diferente:

    ..,.,..-lntm!M. ~- iDIItpN de pwwplu.- ele llWft6dL Por ... rulo, Pmld llitwN. aCOI.cilnda Nl~ docarpo. -..utuoda do dnl:wo (qu. ele~_._

    nadaii\Ddoquegrand~wlvkb~~). 40 Betz 111o c:lebcou.~'UINI. D.wtnllo -.Cl6lw. que~ ,.. q1M11 foict.do o--. ft Citado emSirGcmhlaGonlcln-Taybe E. W. W.U..S4r a..n. &U: Hil Ujlatl Ta-~ E. S.~ 19!8) p. 1~6. No-m...-.no pe1M ~ fiJowc\&w ela-~ hirta, Bell dllcuidou dM ~ cam 6 NIUllado de qu. um mllp &.da o pRCIICI.au-

    ~ IIIID lewu a 'UINl ~ ~ ennlllllbae C{l..to a Cl'*B pdmlliro tida Nito a cl-=oberta. Ver Paul F. C'aMfleJd. lJw W.V bt Mtl tire W.V Out frD9f/il Mpwlir, c:JIIrW Bdl, _,tire RQO gfllre SpM- (Mt. Kilco, Nova Iarcp, Fulma PubiWiill& 19'").

    20

  • e Ulllll infwliddade que oe r..ae IJI!I1timeniDs estejam em~ com o......., urlivenal. Mu u homu de Waterloo hio de aempre, aoe meus olhos, eelllr UlfldadM ao. sinais c:hocantes da afliio: aos meus ouvidos, aceniD8 de intenll.dade, griiD& do peito humano, expreBIJeS penosas e inter-mitl!nlles doe moribundos - e cheiros nauseabundos. Prec:i8o JmStrar-lhes o meu. caderno de notu [com esboos dos feridos], pois[ .. ] me oferecer uma exoua para este eac:e.o de eentlmento" .u

    Os "f!XCeBSOI/' de sentimento de Bell nio significavam emotividade. Encontrava-se de "espfrito calmo entre tamanha variedade de sofrimen-tos"." E seria grotesco interpretar "sentimento" neste contexto oomo tendo alguma ooiaa a ver com "bom gosto" (taste). Tratava-se de um excesso de acuidade perceptiva, conscincia material que fugiu ao oontrole da vontade conaciente ou do intelecto. Nio era uma categoria psicolgica de simpatia ou compaixlo, ou de compreenaio do ponto de vista do outro na perspecti-va de um sentido intencional, mas antes uma categoria fisiolgica - uma mimese &eniOl'ia], uma resposta do sistema nervoso a estfmulos extemos que era "excessiva" porque o que ela apreendia era "nio-intencional", no sentido de que resistia A compreenalo intelectual. Nio se lhe podia dar um sentido. A categoria de racionalidade nio poderia ser aplicada a essas per-ceod'M!s fisiolgica senio no sentido de uma racionalizao."

    VI O entendimento da experincia moderna por Walter Benjamin

    neurolgico. Es~ centrado no choque. Aqui, como raramente o faz, Benja-min beseia-se numa idia freudiana, a de que a conscincia um escudo que protege o orpniamo contra estfmulos- "energias excessivas"" - do

    42 Sir CwW BeU. dt. mt Leo M :limDwrman e Dza Veith. Gmzt Idas irl the History of Surgny. 2a ed. rev. Nova Iorque, Dowr,1967. p. 415. 4S "Coia ..tnnha - .mlr u minhu roupu viacoua de aangue, e oa meus bnoa impotentes com o ..ro.o 1M-a fac8; e ainMINiil tiiCtraoldilli - encontrar a minha mente c:alma em INiD a tiiiMnba wrWade de ea&m.\toe. Nu uma pe.oe dar a um d-~ _, 11011 - .-t:illwlllm _.. permitir que fc.e d.virllizada (IDI--') [llic) para o daempenho de um devw. Era - dolorollo vWuml:nr o Clllljunto, do que contemplar um" (citado em ZJm-IMnllall e V41itb. p. 414). " Em um -to poeterior da s.a vida, Bell ll01ICIIderia a -.. resislnda ao lll8l\OII um d6bil Mntlclo teol6gk:o, cpando deaaeveu a - avenlo l viviueclo umal, ~ cpando admitia o eeu pnM valor para o PJ'D8l'HIO da arte da meclidlla e da pdtlca da cirurgia: "Deveria utar a .-.vv um terceiro trabalho .abre 08 nervoe, ma nlo pc.a aVIIIIU aem fazer alguns experi-lllel\tw, 08 qwa. llo de feitwa tio ~wl que 011 c:Ufho. Poclezn liollull'-me por um tolo, ma nlo COlllligo conwncer-- lnteizamente de que elllou autorizado pela natunza. ou religilo, a praticar tai1 crueldades - para qui? - para nada mais que um peque110 egotiamo ou auto-

    ~;e no entanto, o que llio 08 ll1ill\a experiDwntoaemcomparalo com aqueles que diariaawnte eio Nla? e cliariamellw feia para nada" (Gordon-Taylor e w.u.. Sir 01t1r1a BeU. p. 111). Note-ee que ele fez este COINII\tio Joso depois de i' haver ~do, 15-t 011 nei'YOit "'face de um amo vivo. 4S BenjaDn cita Freud: "Para um Olplllmw vivo, a prollelo contra eatfmulos umdunio qua- tio Importante cpanto a recepio de tfllu&b; o eecudo protetor est6 equipado com a sua

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  • exterior, obstando sua retenio, sua impressio em forma de memria. Escreve Benjamin: "A ameaa destas energias de choques. Quanto mais prontamente a conscincia registra estes choques, tan1o menos provavel-mente eles terlo um efeito traumtico" ... Sob uma tensio extrema, o ego emprega a conscincia como um pAra-choques, bloqueando a abertura do sistema sinestticot7 e isolando assim a consciencia presente da memria do passado. Sem a dimenso da memria, a experincia se empobrece." O pro-blema que, nas condies do choque moderno - os choques quotidianos do mundo moderno - responder a esUm.ulos sem pensar tomou-ae uma necessidade da sobrevivncia.

    Benjamin queria investigar a fecundidade da hiptese de Freud - a de que a conscincia evade o choque impedindo-o de penetrar fundo o bastante para deixar um trao permanente na memria - apliamdo-a a "situaes muito distantes daquelas que Freud tinha em mente"." Freud estava interessado na neurose de guerra, o trauma de choques nervoeos e de acidentes catastrficos que afligiram soldados na Primeira Guerra Mun-dial. Benjamin sustentava que esta experincia do campo de guerra "setor--nou a norma" na vida moderna'~'. Percepes que antes suscitavam reflexos conscientes sio agora fonte de impulsos de choque dos quaia a co~ se deve esquivar. Na produio industrial bem como na guerra moderna. em meio multido das ruas e em encontros erticos, em parques de diversio e cassinos de jogo, o choque a essncia mesma da experincia moderna. O ambiente tecnologicamente alterado expe o aparato eenaorial humano a choques ffsicos que tm o seu correspondente em choques pefquicoa, como o testemunha a poesia de Baudelaire. Registrar a "quebra" da experincia foi a "missio" da poesia de Baudelaire: ele "situou a experincia do choque no centro mesmo da sua obra artfstica" .st

    prpria- de -rp [ ... ] [opemndo] contra os efeitos dM ea-zt- --.tv. em .lo no mundo exterior [ . ]w (Oulrla Bllllllelllire. Trad. Hany 7dm. Lcmdree, v-, 1983. p. 115). O tladD de Freud P.,.lllhrt tio prlrldpio tio,..,. (1921), que mama um doa pr1me11oe _,_.. freudill-noa da pelque, o projeto de 1895, que ele ~como uma PiicoJogla pea ~ e que foi publicado ~tumllmente como Entwurf e~ ~w. O -'o de 1921 o 6nlco lexiD de Freud que Benjamin COIIIIidera aqui. 46 Benjamin.~. p.114. '7 A c:onceplo do uliafllma ainellt6tlcow oompet(wl com a

  • As respostas motoras de mudanas bruscas e encaixes, os saces de uma mAquina tm a sua contrapartida psfquica na "seclo do tempo"52 em uma seqOnda de movimentos repetitivos sem desenvolvimento. O efeito no sistema sinesttico" brutalizante. As capacidades mimticas, ao invs de incorporarem o mundo exterior como uma forma de capacitaio (em-powerment) ou "inervaio"M, sio usadas como uma deflexio contra ele. O sorriso que se desenha automaticamente nos passantes alija o contacto; um reflexo que "funciona como um absorvente mimtico do choque" .ss

    Em nenhum outro lugar a mimese como um reflexo defensivo mais aparente do que na fAbrica. onde (Benjamin cita Marx) "trabalhadores aprendem a coordenar 'gestos com o movimento incessante de um aut-mato""" "Independentemente da vontade do ~baJhador, o artigo em ela-boraio chega sua esfera de alo e dela se afasta com igual arbitrarieda-de""' A exploraio deve ser entendida aqui como uma categoria cognitiva, e nio econbmica: o sistema fabril, danificando cada um dos sentidos huma-nos, paralisa a imaginao do trabalhac:lor.SI O seu trabalho "isolado da experincia"; a memria substitutda pela resposta condicionada, pelo aprendizado por treinamento mec:Anico, pela destreza repetitiva: "a prtica de nada vale" .59

    A pen::eplo torna-se experincia apenas quando se conecta com memrias sensoriais do passado; mas o 11 olho defensivo" que rechaa as impresses, "nio se entrega a devaneios acerca de coisas remotas" .fll Ser de-

    !12lbid. p. 139. 55 Benjllmln- o tmno linniiMia aqui em CONXio com a t.orta das connpondDc:iaa (ibid. p.

    1~.1!1a pode ter tido COll8dlnda da que o llermo 6 -oo em &iologla para~-_.. laAo em - parta do corpo quando out1a parta 6 timulada; e, em psicoJogla. para indicar quando um eatfmulo --mal (e. g. cor) evoca outro .ntido (e. g., cheiro). O meu mo de ame. lillla"' 6 p6xlmo a --..: Identifica aiiICI'Onlll mim6tlca entre timulo exterior (pm:eplo) e _. timulo lntlrklr (~ ClOIJIOnia, incluindo ~ 181180riais) como o elemento c:ruclal da c:opilo eR6tk:a. N "Jr.rwo 6 o termo de Benjamin para - recepAo DllJMtica do mundo exterior, rec:ep;Ao - habilitam~ (~g), em cona.te com - adapllllo mim6tlca defensiva que protege ao JnO da paraJ1aar o mgulilmo, privudo-o daB IRIM c:aptlddacles de ilnaglnalo, e portanto de r.pol ativa. ss Benjamin.~. p. 133. 56Jbid. Benjamin continua (dtando O a!piflll): '"Todos os tipos de produlo capitalista [ ... ] tm illto em c:omum [ ] que 1\lo 6 o trabalhaclor a empregar o hwtrumento de trabalho, IIUIII llo os

    ~da trabalho que empngam o trabalhaclol'. Contudo, 6 apeDM no sistema labrn que esta inwnllo pela primeira wz adquire Jalidade tlcnlca e palp6vef (p. 132). 51lbld. p. 133. 5I No. -UICJitDe de 1M4, Marx obaerva: A /tJmltllo doe dnco .ntldoe 6 trabalho de toda a hfld6rla do 11\Ul\do at6 ao~. Para Marx, a vida -.orial6 ra~: o homem dew afinnal'. eeno mundo ativo 1\lo ~no ato de pemar, IIUIII com todos oe -llentidoe"'. Ao equadonar a JWlldada com a a vida ....maL 6 o matmallata. Marx, q- estet~za a polftlca, no .ntido autentico do llermo.lle!!jamin estl p6xlmo. Marx n.lle ponto. !19 Benjamin.~- p.133. eo lbid. p. 151. A~ de Benjlmln-" em totalii.'Oido com a peaquila neurolgica. O neu-ro]ogllla Prederidt Mettler di CIOI\ta de- c:ontradlAo entre a calma re8exiva nece.la para ee _.criativo (e~~) e a dMruiAo ct.lle ambienfle calmo peJu prprW miqui-DM e pelo increrr~e~~to de atividade que a menlle re8exiva cna. Ela nota que apenas 6 nec:e8l6rla

    23

  • fraudado da experincia tomou-se o estado gerallit, sendo o sistema siJwstl6.. tico dirigido a esquivar-se aos esttmulos tecnolgicos, de maneira a pl"'tepl' tanto o corpo do trauma de acidentes como a psique do trauma do choque perceptual. Como resultado, o sistema inverte o seu papel O seu objetivo ' o de entorpecer o organismo, insensibilizar os sentidos, reprimir a memria: o sistema cognitivo da sinestti.ca tomou-ee, antes, um sistema de IIM6116tica. Nesta situaio de ucrise na percepio", j6 nio se trata de educar o ouvido rude para ouvir msica, mas de lhe restituir a audiio. 1' nlo ae trata de treinar os olhos para ver a beleza, mas de restaurar a uperceptibilidade"'.a

    O aparato tcnico da cAmera. incapaz de "devolver o noseo olhu"', apreende a indiferena dos olhos que confrontam a m6quina - olhos que "perderam a capacidade de olhu"'". a claro que os olhos ainda vem. Bom-bardeados com impresses fragmentias, vem demasiado - e nada re-gistram. Assim, a simultaneidade de uma sobrecarga de esti.mubllo e de um entorpecimento caracterfati.ca da nova organi.zaAo sinestiti.ca como . anestti.ca. A inversio dialtica, por meio da qual a esttica puaa de um modo cognitivo de contato (in touch) com a realidade para uma maneia de a barrar, destri o poder do organismo humano para responder politica-mente, mesmo quando es. em jogo a auto-preservaio: uma pessoa que est "para alm da experincia j6 nio capaz de distinguir[ ... ] um com-provado amigo [ ... ] de-um iniJniso mortar ...

    vn A anestti.ca toma-se uma tcnica eofisticada na segunda metade do

    sculo dezenove. Enquanto as defesas auto-anestaimtes do corpo llio Jar.. gamente involunt6ri.as, esses mtodos envolviam a manipuJalo col:lldente e intencional do sistema ainestti.co. A. j6. existentas subettnciM nucticu da poca iluminist.. caf, tah.co, ch6 e M.cooil, aaeecentou-ee um vasto u-senal de drogas e pl'liticas teraputicas, do pio, ter e cocafna l hipnoee, hidroterapia e choque eltrico.

    Tcnicas anestti.cas foram preecritaa por mdicos contra a doena da "neurastenia", identificada em 1869 como um construto petolgico.M O no-

    pmmp pua clirigir um amo, DqUUito que JWflexlo criativa "111m manta _ _.. (Oillln lllld the SbvduNl E'l10h.tiort of the NeuNl SynmL Nova Iorque, M-u Ammcano d.e Hln6ria Na-tural, 1956. p. !51). 61 Benjamin.~- p.137. 62 Ibid. p. U7-48. N-. camato, o filme nccNtitula expadlnc:lll. ~ "pwKliplo aa fonM de ~ C01110 O leU "prindpo t-1" {p. 132). c- 6 ~ UID filme. le. atra- o eao:udo entorpecente da corwdlncla ou apenaa olwace UID ~tnino intiNIYo" (llrill) pua forteciznento das-~ toma uma~ decrudal iqlorlalldA polfticL "lbid. p. 147-49. M lbid. P 1~. 65 o termo "Minltlnia" foi difunclido pe}o doua George MWer e.nt. de Nova lalqul. Por volta - 1880, j6 tinha Jupr proeadnlml em debelai ei.IIOJ*& O ppdD Beard ealdA de debllllio--.. ~ -~(~)"pua rep&r ..ap:luwdua -ao-' .... de fola ncw __.. Oanet Oppenheim. Slllrtlirrwl NmiH: DodorB, PatitM _, ~ iJ1 Viduriln Engmd. Nova Iorque, Oxford Uniwnity ~,1991. p. 120).

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  • t6vel nu deac:riOes novecentistas dos efeitos da neurastenia a desintegra-Ao da capacidade para a experi!nda - prec:isamente como nu considera-&!ll de Benjamin IIObre o choque. As met6foru dominantes para a enfermi-dade ft!!8eb:nt isto: nervos abalados'", "colapso'" netVOSO, "feito em peda-oa'", "'fragmentalo'" da psique. A deeordem era causada por "excesso de eetimulalo" (aflmia), e a "'incapacidade de reagir ao mesmo" (atenia). A neurutenia podia .r suadtada por .,trabalho em demasia", o "desgaste" da vida moderna, o trauma ftaico de um acidente ferrovWio, a ., crescente taxa-Ao" da civilizalo moderna .,110bre o crebro e os seus tributios", os .,efeitoe ~tol6gk:oe mrbidos atribufdos [ ... ] A prevalncia do sistema fa-bril'" ...

    Dentre os ~ para a neurastenia podiam incluir-se banhos quentes ou uma viasem A costa. maa o tratamento mais comum era com drops. A p1hdpal"' de todas u drogas usadas para a "exaustio nervosa" era o pio, devido ao eeu im~ d(lplic:le: ., ele excita e estimula por um curto perfodo os nervos cerebrais, e depois os deixa em um estado de tran-qQiliclade,. o qualee presta melhor A sua nutriio e reparaio.7 Os opiAceos foram .... principais drogas pan crianas ao longo do sculo dezenove" ... Mies que trabalhavam em fAbricas drogavam as suas crianas A guisa de cuidados diumos. Aneetticoe eram prescritos como sonfferos pmt insnia e tranqQilizantes pua os doentes mentais." A obtenio de opi6ceos nio era regulada: ~ ~tenados (t6nicoe pan os nervos e toda a espkie de &NJs&icoe) ~ dinheiro, eram artigos transnacionais, negociados e vendidos livres de controle govemamentaL,., A cocafna, extratda pela pri-meira vez da coca peruana em 1859 pelo europeu Albert Niemann, tl!ve amplo uso no fim do Mculo.n A partir dos anos 1860, j6 se dispunha de se-rinpa hipodmcas para injel5es subcuttneaa.n

    O uso de anesllticos em cirurgiaa m~caa data. nio acidentalmen-te", deste mesmo perfodo de expaimentalo manipulativa com elementos do sistmna sinestitico. O "folguedo do ter"', versio novecentista do hbito de cheJru cola, era um jogo festivo, em que se inalava "g6s do riso" (xido nftrico), produzindo-ee "sensaes voluptuosas", "impresses visuais des-

    .. Olldo-Oppeabeim. Slllltlmfl Nnws. p. "- ffl, 95, 96, 101, 105. f1 'n-ODw. (-18110), c:ltildo en app.nheim. p. 11 ... 15 . ., CD ... .., .. Slllffllriii.Nm.ll. p. 113. ., MllrtiD S. IWNdt. A Ollculllf of SIIJiritl: hitl, ~ IIJid ~ m NiJtdemtlt...

  • lumbrantes", "uma sensaio de extensio tangfvel. altamente aprazfvel. em cada membro", "vises arrebatadoras", "todo qm mundo de novas &ellllll-es", um novo "universo composto de impresses, idias, prazeres e dor" .7' Apenas em meados do sculo foram desenvolvidas u aplicaes prticas na cirurgia. Aconteceu nos Estados Unidos quando, independen-temente, estudantes de medicina na Gergia e em Mauachuaetta participa-ram desses "folguedos". Um cirurgiio da Gergia. Crawford W. Long, no-tou que aqueles que eram contundidos durante as celebraes nio sentiam dor. Numa festa em Massachusetts, estudantes de medicina deram ler a ratos em doses fortes o suficiente para os imobilizar, produzindo total in-sensibilidade. Crawford Long UIOU anestticos com sucesso em opemes em 1842. Em 1844. um dentista de Hartford, Connecticu\, fez extraes de dentes com xido nftrico. Em 1846 - numa atmosfera muito mais sbria ~ legitimadora do que a dos "folguedos do ter" - foi feita a primeira de-monstrao pblica da anestesia geral no Hospital Geral de Massachusetla", de onde esta "descoberta maravilhosa"" rapidamente se difundiu para a Europa.

    VDI Nio era incomum no sculo dezenove que cirurgies se tomuaem

    adictos a drogas.77 ~bem conhecida a auto-experimentaio de Freud com cocafna. E&abeth Barrett Browning era uma morfinmana desde a juven-tude. Sam.uel Coleridge encetou aos vinte e quatro anos um vfdo que dura-ria pela vida fora. Charles Baudelaire usou pio. Em meados do aculo de-zenove, o hbito de usar~ era "crescente entre os pobres", e "espalha-va-se" entre os "ricos, at entre a reaJeza" "'

    O vfcio em drogas caracterfstico da modernidade. ~ o correlato e a contra-partida do choque. O problema social do vfcio em drogas, contudo, nio equivalente ao problema (neuro)psicolgico, j que uma adaptalo desprovida de drogas e amortecimentos do choque pode mostrar-se fatal."

    74 Efeitos do 6xido nftrico estio relatadas in Preacott, p.19. 1s Ver Wangenateen e W~ p. rJ'l-'19. 76 Preec:ott, p. 28. A aceitalo da ..-...~~~o 1e deu Mm ~ Codtftce9'1- do lfpllbdo da dor incluam uma fone tradiio aegundo a qual a dor era "natural", ou uma~ de Dwa (espec:ialmenlle no Jlllrio), e benlffca pua a cura. A rMatltnda l ~de aneallle pral Wnb6m era pol1tica: Elleebeth Cady SCanton "objetava a que uma mun-amep.. a-COIIICI-tnda e o eeu corpo a um m6dico ~ (PwDiclr. p. 16-61). "Multo~ de 1M6, o ..tupa1: al-c:o61ico continuava ~o um Ul6dino drllrgiro Keitiwl" (lbld., p. 118). 11 Wangenalleen e Wangerwteen. The .RrofSuJory. p. 293. 11 Oppenheim. Sludleml Nmles. p. 113. 19 Ver IUne Selye. The StN. ofUjl. 2o ed. JWV. (Nova Imque, ~-HUJ,. 1976), p. S/11. Num ar-tigo publicado no - 11110 do Emato eolx. a obra de arlll de Bel\jamln (1936), Selye de&niu. pela primeira wz "Sfndrome doS,_. como uma "doena de adapllllo", iltD 6, uma mabiJida. de do orpnilmo para tilfazer uma demmda (lllo eepedflaa) que lhe fora feita com nallea adap4ativae adeq1.11ldee. O sbnl era o clenaaliNd.or ClDil\Uil\ de mdM nallea ~no corpo. Atra-va trfl &.. ee a ddwlda externa ~ ~- J:-.lio ele alanne (reeia\tnda ge.rall deJIIIIJ\da), adapmlo (uma tentatlVII, bem-euced1da no curiiO pruo, de

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  • Mu o problema cognitivo (portanto polftico) reside alhures. A experincia de intoxicaao nlo ee limHa u tnmsformaes bioqufmicas, induzidas por dropL A partir do Mcalo dezenove, foi produzido um narctico a partir da prpria realidade.

    A pe)avra chave para esta elaboraio fantasmagoria. O termo teve origem na Inglaterra em 1802. como nome de uma exibiio de iluses pti-cas produzidas por lanternas m4gicas. Descreve uma aparncia de realida-de que engana os sentidos atravs de manipuJaio tcnica. E conforme se multiplicavam no aculo dezenove . as novas tecnologias, assim tambm o potendal para efeitos fantasmagricos.IO

    Nos interiores burgueses do aculo dezenove, os forros (mobilirio, aceN6rioe) ofereciam uma fantumagoria de texturas, tons e prazer sensual que embebia o habitante da casa num ambiente totaJ, um mundo privatiza-do de fantasia que funcior-.va como um escudo protetor para os sentidos e aslenSibilidades desta nova claaee c:lirigente. No Passagen-Werk (O livro das pueagens), Benjmnin documenta o alaat:ramento de formas fantasmagricas

    . para o e&JMO p(lblico: as arcadas parisienses de centros comerciais, onde as Clll'l'eiras de vitrines criavam uma fantasmagoria de artigos em exibiio; panoramas e dioramas que engolfavam o observador numa simulaio de um ambiente total em miniatura. e as Feiras Mundiais, que expandiram este prindpio fantasmagrico para 6reu do tamanho de pequenas cidades. Estas formas oitocentistas llo as precursoras dos centros comerciais, parques te-m6ticos e arcadas de vfdeo hodiernas, bem como dos ambientes totalmente controlados dos avi5es (onde uma pessoa ee senta "Hgada" (plugged in) paisasem e som e servio de alimentaio), do fenmeno do "turista numa bolha" (onde as "experincias" do viajante sio todas monitorizadas e con-troladas de antemAo), do ambiente audiosensorial individualizado de um "'Wtlllcnum", da fanta.amagoria visual da pubticidade - e do aparato sensori-al t6til de um ginio cheio de equipamentos \:bmarino.

    Fantasmagorias sio tecnoestticas. As epes que oferecem sio "reais" o quanto baste - o seu impecto sobre os sentidos e nervos ainda "'natural" de um ponto de vista neuroffsico. Mas a sua funio social em cada caso compensatria. O objetivo a manipulaio do sistema sinesttico atravs do controle dos estfmulos ambientais. Tem o efeito de anestesiar o organismo, nlo por entorpecimento, mas pela inundaio dos sentidos. Es-tes sentidos estimulados alteram a conscincia, em certa medida como uma

    c.'OIIICWir), e~ exllWIIo, -wt.nclo em pusivldade (t.J.ta de JW!attnda e, p

  • droga,. mas o fazem pela distraio sensorial ao invs de peJa altenio qui-mica, e - o que mais significante - os seus efeitos sio expetintentados coletivamente ao invs de individuaJmente. Todos vem o mesmo mundo alterado, experimentam o mesmo ambiente totaL Como resultado, ao con-trrio das drogas, a fantaamagoria assume a posiio de um fato objetivo. Enquanto que viciados em drogu confrontam a soedade que queationa a realidade das suas percepes alteradas, a intoxicalo da fantumagoria ae torna ela prpria a norma sociaL A adicio sensorial a uma realidade com-pensatria torna-se um meio de controle social

    O papel da "arte" neste desenvolvimento ambivalente porque, sob tais condies, a definiio de "erb!" como uma experiencia sensual que ae distingue precisamente peJa sua sepamio da "realidade" se toma diftdl de sustentar. Boa parte da "arte" se insere no campo fantasmagrico como en-tretenimento, como p8l'b! do mundo das men:adorias. O. efeiiDa da fantu-magoria existem em n1veis mltiplos, tal como visfvel num quadro da vi-rada do sculo, de Franz Skarbina.a A vista a da Feira Mundial em Paril, em 1901, representada na forma duplamente ilusria facultada pela umi-naio noturna. O quadro um StiffUIUlngsbild, um "quadro de atmosfera" (mood-7H'inting), um gnero, enfio na moda. que visava pintar um ambiente ou "estado de espfrito" mais do que um tema. Apesar da profundidade da vista, o prazer visual dado peJa superftcie luminosa da pintura que tre-meluz como um vu sobre a cena. Escreve John Czaplicka: A cidade "re-duzida a um humor do observador. [ ... ] A experincia de J.usar [ ... ] mais emocional que racional. [ ... ] H6 uma negalo sutil da cidade como artiftdo [ ... ] e um sutil aiMndono da responsabilidade da humanidade por haver construido este atnbiente".az

    Benjamin descreve o f1m1eur como auto-treinado nesta capacidade de se distanciar ao transformar a realidade numa fantasmagoria: ao inv& de ser tomado peJa multidio, ele abranda o paseo e a observa,. produzindo um padrio ou configuraio a partir da superffcie dela. Ele v a multidlo como um reflexo do seu estado de espfrito de sonho, uma "intoxicalo" para os seus sentidos.

    O sentido da visio era privilegiado neste aparato sensorial fantu-magrico da modernidade. Ma nlo foi o nico a ser afetado. ProUferaram as pedumarias no sculo dezenove, e os seus produtos subjugarmn o senti-do olfativo de uma populaio j6 cercada pelos cheiros da ddade.as O ro-mance de Zola Le bonheur des dtmra (A felicidade das senhoras) descreve a

    11 Ver o comentlo de John Czaplic:b aoln ate quadro em "''ii:tma of a City at Wodr. BediD. drca 1890-1930: va.I Re&ctlolw on Social Structures anel Teclmology in lhe MDHm thtlmt W, &rlin: Odlll111lltltl Mmvpolls, eda. auut. w. ~e Heldrun Suhr

  • fantumagoria da loja de departamentos como uma orgia de erotismo ttiL onde mulheres ee orientavam pelo toque entre as alias de bak:es l tu1ha com ttx1leis e roupu. Quanto ao gosto, os refiMmentos gustativos parisien-ses j6 haviam af:insido um ntvel sofisticado na Frana ps--revolucionia. conforme os ant~soe cozinheiros da nobreza iam buscando eDapn!SO em restaurantes. ~ sisnificante para os efeitos anestticos destas experincias que a aingularizalo de qualquer um dos sentidos para estimulaio intensa tem o efeito de entorpecer os demais.

    A tentativa mais monumental de criar um ambiente total foi o mo-delo w.gneriano de drama musical enquanto Gesmnmtlcunstwerk (obra de arte total), no qual poesia, m6aica e tll!etro ee combinavam para criar, como eecreve Adomo, uma "'infuslo intoxicante" (superando o desenvolvimento desigual dos aentidos e os reunindo). O drama musical de Richard Wagner inunda os sentidos e os funde numa "fantasmagoria consoladora", num "permanente convite l intoxicalo, como forma de regressio ocelnica" . ~ a "pafeiio da Uuslo de que a obra de arte a realidade sui generis".17 .,Como Nietzache e em eeguida a Art Nouveeu,. que ele em muitos aspectos anteciJM, (Wagner] gostaria de com uma s mio configurar uma totalidade

    es~ ao lanar um feitio m6pco, e com um desdm desafiador no que toca a ausncia de condies sociais necessArias para a sua sobrevivncia" ...

    ~ esta peeudo-totalizalo qu., pua Adorno, faz da obra de Wagner uma EanfumaSoria. A sua unidade superimposta. Enquanto que .. sob as condi-6es da modernidade'", na "experi@ncia contingente do individuo" fora da casa de peras, "os eentid.os separados nio ee unem" numa percepio uni-ficada, aqui .,procedimentos dfspares simplesmente sio agregados de forma a que puemn coletivamente Updos"." No lugar da Jgica interna l musi-ca. a pera wagneriana evoca uma "'unidade de estilo" da superficie, que se torna avasaaladora ao nio puar pua ganhar flego." A unidade mera-mente uma dupUc:.lo, 'qual"'se substitui ao protesto"91; "a msica repete o que u palavras j6 disseram"; os motivos musicais recorrem como um tema publicitrio; a intoxicaAo, o xtase que haveria de ter afirmado a sen-

    .. V MIIDhall Md.uhlm. lhwWIIIIt& MrdM: Thr ~ of Mlft (Nova Iorque, MLGraw-HIIl. 1966), p. 53. &la eepedN!ulo ele eltbnuillao -ml aaw. um d-volvimento d.l-gual cb .mtilb: .-~no lntmor dM 80CWadea incl.uatriaia em prvpor6es d.lfe... rem.. 'I'Moclm Adcmo. Em luar dt ~ Trad. Rochwy Uvinptaae (Londra, NLB, 1981), p. 100. Momo ara--ta que -d~ bur&- avanac:IM, c:ada 6rpo doe -tido. apnmcie [ ... ] um mundo diNNftw(p. 106). lbl., p. ff!, 100. 17Jblod.. p. 85. lbMl., p. 101. A id& bMica 6 a de totalldacle: o AIWI [dos Nllld~mgos) almeje. - maia cerimO-niM, nada~ do que a erap-ilalo do proc:..a do mundo como um todo (lbid.). lbMl., p. 102. lbMl. o ..tDo to,__ a-de todoe oe e.1fmuloe reptradoe pela tolalldade doe .midoe". "lblod.. p. 112. A ..eltk:a da dupiblo llltlew- ao Pft**~, uma mera amplifbllo da ex-pnlllo .ubjetlYil que' anulada pela-ps6pda ~.

    29

  • sualidade, reduzido a uma sensaio de superficie, enquanto o conteldo do drama a neplo da vida: .. a alo cuJmina na decisio de morrer'',92

    A Geslmrmtltunstr.omc de Wagner, "intimamente relacionada com o deeencanbunento do mundo'", uma tentativa de produzir instrumental-mente uma metaffsica totalizante, atravs de todos os meios tecnolgicos c:Uspo.ilo. Isto verdade tanto para a representaio dramAtica como para o estilo musiall. Em Bayreuth, a orquestra - o meio de produio dos efei-tos musicais - escondida do p6blico no poo construldo abaixo da linha de vis1o da auc:lieR::ia. Supostamente .. a integrar as artes individuais", o de-sempenho c:t. 6peru de Wagner "acaba por conseguir uma divisio do tra-balho Mm precedente na histria da m6sica" "

    Marx tomou famoso o telmo fantasmagoria, utilizando-o para des-crever o mundo c:t. mercadorias que, na sua mera presena visfvel, escon-dem cada trao do trabalho que as produziu. Elas velam o processo de pro-dulo, e - como quadros de ambientes - encontjam os seus observadores a identificA-lu com fantasias e sonhos subjetivos. Adorno comenta. acerca da teoria das mercadorias de Marx, que a sua fantasmagoria "espelha a subjetividade ao con&ontar o sujeito com o produto do seu prprio labor, mas de uma maneira tal que o labor que nele foi posto j nio mais identi-ficAvel"; antes, o sonhador encontra a sua prpria imagem impotente-mente" .. Adorno argumenta que a falaz ilusio da arte de Wagner anAJ.o-p. A tarefa da sua m6sica esconder a alienaio e a fragmentai.o, a soli-dlo e o empobrecimento sensual da existncia moderna que foi o material a partir do qual ela se compe: "'a tarefa da msica [de Wagner] animar as reJa&!l alienac:t. e reificadas do homem e as fazer soar como se ainda fos-sem hUIIUUlU'"." O prprio Wagner fala em "curar as feridas com que o es-calpelo anat6mico golpeou o corpo da fala".

    92Jbld.. p.103-103. "' lbld.. p. 10'1. MJbld.. p.109. Adomodta lml "lillllllllnunho elodmlloimediato de Wagner": "A 23 deiNil'O de

    18!10~ ou ... muito ..m. da inwnlo elodz--. ~ -u a Coelma aobre a~ 1lia Dallr ele u.zt. a qual pode ....-tu aqui toda a llandlncia. 'Execule eela ain!onia numa ..a..:UI'Iddacom umaorquaa.---. elliDitre fia-mowntea que ~ao fundo -e wd camo ~~Dela. a. Levia e ~~Dela. a. Yizlnhoe lrioe de hoje, c:uju na~ imeJiatvwla tanta dor - um pobft ccnlo, mtrulo- txt.e'" (p.1CY1). lbld.. p. 91. "A obra de WllpWI'lemb:ava "~beM de~ elo a6culo dezenove, cuja ambilo maior-dillilmalllr alda lliM1 do ~ qua '- havia aido aplicado, qul' porque qualquer lml cte.-- ~ I'KOI'da- ia pe.- com clemMiAda -*Ida a apoprialo do labOl' de outrM, e uma illjulti4 que ainda podia._ -tida" (fbid., p. 83). " lbld.. p. 100 91 atado- tid., p. 89. Nate contexto poclema. ~o elogio ele Benjmnin a Baudelaire (lml c:onlloalpOI'IMo de Waper e Mux), por amtar o choque modemo, e por IM!I' c:apu de re-pDtll&- pollla pnciluswmla ~ 61pera.DWIIl10 dolona lll'IIIIdade da expe-rilnda moclema de umaawnella que tr.J-o Wu &ntuznasrico. Ele eacreve que "o poavel

    ~de proVM de que a poelia [de~) tnJwc:reve devuwic8 experimentada. .aba fnllulnda elo haxixe de Comia .Jsuma inwlida alta lnbeipetalo" (Da P-aen-~ v. 5, a-r..ftr Sdrrijtm, ed. Ro1f Tieclemann (Pnmkfurt L M., Suhrbmp Verlag, 19921 p. 71). (Para 30

  • IX A fbrica era a contra-partida da casa de 6peru no mundo do tra-

    lho - um gnero de contra-fantasJnagoria que era beseed no prindpio fragmentaio ao invs de na iluslo de completude. O etq1ittd de Marx

    oito nos anos 1860 e assim uma parte da mesma era du peras de :tgner) descreve a fbrica como um ambiente total:

    "Cada rgio doe sentidos cllniScado em igual medida pela eJ.v.Ao arti&-dal da temperatura. peJa abrol(aa carreg:ada de p, pelo buuJho ..m. cedO!', para nlo menciaNr o perigo para a vida e pua oe ~em lmio ao maquinio dawamenle ~que, com regularidade IUDNI. emlt8 a sua lista de Jmi'IDe e feridoe na batalha industrial"'"

    >rendemos em recentes esai1os aobre a hiatria eocial que 01t mdicos ee-ram "uniformemente horroriad01t com a sinistra contagem d01t corpos da 1oluio industrial".'oo A proporlo de danos devid01t a addenlllla em~ icas e estrada.de-ferro no e6culo dezenove lez com que u enfermariu ci-rgicas parecessem hospitais de campo. No Hospital Geral de Muaachu-tta, em meados do scu1o (aps a introduio da anestesia pral), aproxi-:tdamente sete por cento de todos os pacientes admitidos recebiam am-tfaes,IO' Como a maioria doe pacientes entravam em regime de caridade, te grupo provinha amplamente du cluaes bUxu,liiZ Corpos ....-adoe, !!D\broe esmasac:loa, cattrofe ftlica - estas realidades da nlodemidade lm a face inferior da esttica *Nca du fantasmagoriu enquanto ambi-.tes totais de conforto corporaL O cirurgiio que tinha como tare6t, litleNI-ente. juntar u peu dos desutra do industrialismo atiftsinm uma nova oeminncia ilodaL A prAtica ~ foi profilaionalizad em mead01t do tocentostos, e os mdicos tomaram-ee prottipos de uma nova elite de ee-cialiatu tcnicos.

    A anestesia era parte central deste proceuo. Pois nlo era apenas o ICiente quem se aliviava du suas dores peJa anestesia. O efeito 10b!e o ci-rgiio era similarmente profundo. O esforo delibenldo de uma ~ ll'll se des-seNibilizar da experiencia da dor de outra j6 nio era nea!III'iO. tquanto dantes os cirurgies tinham que se treinar na rept!lllio l identifi.. Ao emp6tica com o paciente apzante. agora tinham apenas que ee con-

    expaiuwutoa do prprio s.njllmin com baixe, wr G.!JiiiidAr Sdtrjtert, v. 6). Dt faD, -,de eniiDipedlnento --mal ~to cW.a c:ognitiw. s.njllmin ~ q111 \m 6-nimento ac:en:a da verdade da experilnda moclema pouca~- .ma llbnaclo num en.do lrio.

    ~ Orpitlll, v. 1, cap. 15, eeAo 4. Pemick. A CtllculiiS ofStljforiflg. p. 218.

    Ibid~ p. 211. Allf l d-=oberfa da~ doa~~~~~ op11._ na~ alta- Na1iudM

    1 c-.lllimiNitrando-w ~ cam \llna prnfae um tnlpo'" (lbid.. p. ::t:n). A A-ndeAo .lMdka Azrwricana lal ~ allllllo do .WO. Atf entlo, lllo hiiVfa ~ lo quanto a quemeetava autorizado a -uzarc~rurp.

    31

  • frontar com uma massa inerte e insensata na qual podiam mexer sem en-volvimento emocional

    Estes desenvolvimentos acarretaram uma transformalo cultural da medicina - e do discurso do corpo em geral - tal como es~ claramente exemplificado no caso das amputaes de membros. Em 1639, o cinugiio naval britinico John Woodall aconselhava a orai antes da "lament6vel" cirurgia de amputao: "Pois nio presuno pouca o desmembnmento da imagem de Deus"tM. Em 1806 (a era de Charles Bel!), a atitude do cirurgiao evocava os temas iluministas do estoicismo, da glorificalo da razio e da santidade da vida individual Mas com a introdulo da anestesia geraL o Ameriazn ]ouTnlll of Mediad Sciences Oornal Estadunidense das Cindas M-dicas) pde dar conta, em 1852, de que era "muito gratificante para o ope-rador e os espectadores o fato de o paciente estar ali como um sujeito tran-qilo e passivo, ao invs de tentar defender-se e talvez emitir gritos e Ja.. mentos deplor.veis enquanto trabalha a faca" .tos O controle facultado ao ci-rurgiio por um "tranqilamente ddr paciente permitia que a operaAo avanasse com minacia tcnica sem precedentes e com "toda a conveniente deliberao" .106 Claro, nio se trata de forma alguma de criticar avanos ci-rrgicos. Antes, trata-se de documentar uma transformao na percepio, cujas implicaes ultrapassam largamente a cena da opemio cir6rgica.

    A fenomenologia usa o 1ermo Jayfe, matria indiferenciada, "bruta", para d~er aquilo que percebido mas nio "intencionado". O exemplo de Husserl a gravura em madeira de Dllrer do cavaleiro na sua montaria. Embora a madeira seja percebida juntamente com a imagem do cavaleiro, ela nio o signiftaulo da perceplo. Se Jhe perguntassem "O que v?", voc responderia "Um cavaleiro" (i.e., a ima&em na superffcie), enio um ~ de madeira. A substancia material desaparece atr da intenlo ou signifi-cado da imagem.101 Husser], o fundador da moderna fenomenologia, eecre-via na virada do sculo, a era em que a profissionalizalo, a especialiuio tcnica. a divislo do trabalho e a r.cionalizaio de procedimentos estavam transformando a prAtica sociaL As populaaes urbanas e industriais come-aram a ser percebidas como e1as prprias uma "massa" - inc:Uferenciada, potencialmertte perigosa, um corpo coletivo que precisava ser controlado e modelado numa forma com sentido. Num certo sentido, esta era a conti.nu-aio do mito autotlico da crialo ex nihilo, em que o "homem"' transforma a natureza material ao dlll"-Jhe a forma que quiser. Novo era o tema da cole-tividade socia1, e a divislo do trabalho l qual o processo criativo entio se submetia.

    tiN Citado em w~ e Wansens'-' Tht Rife ofSurgny. P 181. 105 Citado em Pemlclt. A Orladus ofSulfnirtg. p. 8S. 106 Citado em lbld., p. 8S. tlll' Investigo a cxmex1o entre a concep1o de H-1 e o primeiro~ em Anthoiny VidJer (ed). TmorW Mytlts (Prlncftm. Prlncm. Umenity "-,1992).

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  • . Para Kant,. a dominaio da natureza era inlemalizada: a vontade subjetiva. o corpo materiaL diac:iplinado, e o eu aut&\omo que eram entio procluzidoe enccntravam-ee todos no interior do (mesmo) individuo. Na aufDStneee do infdo da era moclema, o sujeito aut6nomo produzia-se a si pr6priD. Mu volta do fim do oitocentos, estas funes foram divididas: o "'sfrruule mt~~~" era empresi.o numa grande corponio: o "guerreiro" era general de uma mAquina de guerra tecnologicamente sofisticada: o principe dirigente estava frente de uma burocracia em expanso; mesmo o revolu-cionio social se havia tomado bder e criador de uma disciplinada organi-zalo putid6ria de massa.

    A tecnologia afetou o imaginio social As novas teorias de Herbert Spencer e &nile Durkheim apreendiam a sociedade como um organismo, literalmente um "'corpo" polltico, no qual as prAticas sociais das instituies (maia do que, como na Europa pr-moderna. as condies sociais dos indi-viduas) deeempenhavam as vias funes orgtnicas. A especializao la-bon), a racionalizalo e a integralo das funes sociais criaram um temo-corpo social. e iJnaSinava-se que ele foue tio insenafvel A dor quanto o cor-po individual sob anestesia geral, de moclo que se podiam fazer quantas operaes se quisesse no corpo social sem necessidade de afliio, a menos que o paciente - a prpria sociedade - "emitisse gritos e lamentos deplo-r6veis". O ~e acontecia A percepio em tais circunstincias era uma separa-io tripartite 'em agncia (o cirurgilo operador), o objeto como hyle (o corpo d6dl do paciente) e o obeervador (que percebe e confirma o resultado con-aeguido). Estas eram diferenas posicionais, nio ontolgicas, e mudaram a natureza da tepteaent.io aocia1 Veja-se a descriio da experincia que faz Huuerl, na quale.ta divlio tripartite evidente mesmo em um individuo, o prprio ftleofo. Eec:reve Huseerl em Idem U:

    5e corto o meu. dedo com uma faca. entio um corpo ffsico cindido pela in-trodulo nele de uma ponta, o fluido nele contido escorre, etc. Da mesma forma. a coila fflica. 'o meu. OOI'pO', aquecido ou resfriado pelo contato com corpos quen11es ou frios; pode tomar-ee eletricamente carregado pelo C

  • Esta separaio dos elementos da experincia sinesttica teria sido inconce-btvel num texto escrito por I
  • e de tr6fego - ocorriam agora com previsibilidade estatfstica.us Haviam sido aceites como um elemento da existncia compreensfvel em si mesmo, gerando por conseguinte no trabalhador"', enquanto novo "tipo" moderno, o desenvolvimento de uma "Segunda Conscincia": "Esta Segunda e mais fria Conaci~ indicada pela capacidade, cada vez mais agudamente desenvolvida, de se ver como um objeto"m. Enquanto que a "auto-reflexio" caracterlstica da psicologia do "velho estilo" tinha como tema "o ser huma-no sensfvel", esta Segunda Conscincia "focaliza um ser que se coloca fora da zona da dor" .ns JOnser associa esta perspectiva modificada com a foto-grafia. o "olho artificial" que "trava a bala em vOo tal como o faz com o ser humano no instante em que rugado em pedaos por uma explosio" .n Os poderosamente protticos rglos dos sentidos da tecnologia sio o novo "ego" de um sistema sinesttico modificado. Agora sio eles a proporcionar a superffcie porosa entre o dentro e o fora, simultaneamente rgio perceptual e mecanismo de defesa. A tecnologia como instrumento e arma estende o poder humano - ao mesmo tempo intensificando a vulnerabilidade do que Benjamin chama de ~.o minsculo, frgil corpo humano"m - e deste modo produz uma contra-necessidade, a de usar a tecnologia como um escudo protetor contra a "ordem mais fria" que ela cria.; Jnger escreve que os uni-formes militares sempre tiveram um "cunho [protetor] de defesa";. agora, contudo," A tecnologi4 i o 1106SO uniforme":

    ~a prpria ardem liecnol6gica, o grande espelho em que as ueeceutes objeti-ficaee da IICIIIIIl vida aparecem mais claramenle, e que se cerra ccatra a gar-ra da dor de uma maneira puticu1ar [ ... ].Ns, no entanto, eacont:raJno.no muito aprofundados no proc:eeao para coneeguirmos ver isto( ... ]. Pste tanto mais o cuo quanto o cartter' de oonforto [leia-se fun;o fantumagrica] da IICIIIIIl tecnologia se funde mais inequivocamente com a sua caracterlstica de poder instrumental"' ,111

    m Olmo parte da~ da medicina e da deepemonalizaio do pedenle, a eetatfa.. tlca ..aabeleceu nonJIM pua a pntica dr6rglca e, l volta do final do oitlocenloa, devido a t.l e-nhec::lawnto .tatlltll:o, COIDpiiJihiu ~de a6de ee tomarun uma~ hla-tllrica. m. pennitlllln que o~., h~ '-e cU:ulado: "~morre nlo 6 importanlll; a ~ 6 a rwtio etre IICiderdls e o ..-wo da c:omplllhia" (Theodor W. Adorno e Max

    Hodchei~Mr. Dilll:ticofE.IIliglrbrtmt. Tnld.JohnCumm!Jis. Londree, Vereo,19'79. p. M). m Enwt JOnpr. 'Ober clen Sc:hmarz"(1932). s.nrtlidle ~. v. 7: F...ys 1: Betnldtbmgen zur 'it (Stutlprd, Jaett.Coaa.1980), p.181. TJ'IIdulo pudalln: Cllriatopher PhiUpll (ed). Plrotognlplry i1t !Ire Modma EN. (Nova Iorque, The MetropoUtan Muaeum of Art. 1989). 115JW. n JW., p. 182. 111 me eecreve em "O Nl'l'&dot" 80bn o empobledmento da experincia devido 1 Primeira Guer-ra Mundial: "Uma genlo que ainda fora l ..cola num bonde puxado a cavab floou aob cfu aberto IIUIIIIl palallpm onde Mda havia pennaneddo lnabrado a nlo aer nuWM, e dehaixo c1e1M, num campo ele forM de cormdla e expbes datruidorM, estava o min1ilculo, fr6gil cor-po~ 111 IW., p. 174.

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  • No .,grande espelho .. da tecnologia, a imagem que re1oma est deslocada. refletida num plano diferente. no qual a pessoa se v como um corpo ffsico divorciado da vulnerabilidMe aensorial - um corpo estaUstico, cujo com-porlmnento pode ser calcuJado; um corpo de desempenho, cujas aes po-dem ser medid.u relativamente l"norma"; um corpo virtual, capaz de su-portar os choque da modernidade sem eentir dor. Como escreve Jnger: "~ qUMe como ae o IM!I' humano pudeeae empenhar-se em criar um espao em que a dor[ .. ) foue vista como uma ilusio".m

    Vimos que Adorno identificou a Art Nouveau como uma continua-lo da lanfuma8oria mercadol6gica wagneriana. Novamente, a unidade de auperftcle provocou o efeito fantasmagrico. Pouco antles da guerra, este movimento negou a experincia da fragmentao, representando o corpo como uma auperftcie ornamental. como se refletindo o avesso do esc11do protetor da tecnologia. A ecloslo da guerra fez com que semelhante nega-lo i' nlo foue poeatveL O Manifesto DadA de Berlim. de 1918, anunciava: "A maia alta arte eer6 aquela que no seu contedo consciente apresente os problemas inumer6veis do dia. a arte que foi visivelmente abalada pelas exploeea da semana passada. que est eternamente a tentar coligir os seus membros depois do choque (CNBII) de ontem".uo ~possvel uma leitura dos retratos (portnats) de artistas expressionistas que veja na superffcie do rosto, desarmado e exposto, a impresaio material deste abalo tecnolgico. (Isto op&!-ee cabalmente l interpretao fascis1a do expressionismo como arte depnerac:J., que ontologiza a apar@ncia de superffcie e reduz a histria biologia.) No ps-guerra, o vigoroao movimento da fotomontagem fez igualmente do corpo fragmentado a sua matria e substincia.tn Mas o efeito era o de juntar os fragmentos novamente em imagens que parecessem im-p&viu l dor. Por exemplo, na montagem de Hannah Hch. de 1926, Mo-nummt H: Vlmify, a imagem unificada com precisio, criando uma superff-de coerente (qui6 perturbadora) - mas sem a unidade superimposta do fantasmagrico.

    Ao mesmo tempo, o padrio de superffcie, como uma representao abstrata da razio, da coerncia e da ordem. se tomou a forma dominante de representalo do corpo socilll que a tecnologia havia criado - e que de fato nio poderia ser percebido de outra maneira. Em 1933, Jnger escreveu a introd.uio a um livro de fotografias, no qual cidades e campos alemies formam uma planta superficial de ordenaao abstrata que a marca da tec-nologia instrumental A mesma esttica visfvel no "plano" sovitico; o seu quadro organizacional de 1924 mostra a sociedade inteira da perspectiva do

    nt JQapr, P 11M. 1211 atado 111\ Robert HIJihet. '1Jw Shock oflht NlrD. Ed. NV. Nova Iorque, Alfred A. Knopf, 1991. p. 68. t21 No .-lo .00... S.udelalre, B.njllmln t.Ja pclllitiV~~Jnertlle da montagem dnemtica como tnn. tmm.lo da fnpentlw;lo em um prirldplo COIIIItrutivo.

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  • poder centralizado em termos das suas unidades produtivas - do ao aos palitos de fsforo.

    Nestas imagens, a esttica da superflcie devolve ao oblervador a percepio tranquilizadora da racionalidade do conjunto do corpo 110ciaJ. que quando visto a partir do seu corpo particular percebida como uma ameaa inteireza. E no entanto, se o indivfduo encontra um ponto de vista a partir do qual possa ver-se a si mesmo como inteiro, o tecno-corpo IOdal desaparece de vista. No fascismo (e isto uma chave para a es*k:a fuda-ta), este dilema de percepio superado por uma ntumagoria do indivi-duo enquanto parte de uma multidio que fol'DUI, ela prpria, um conjunto integral - um "ornamento de massa", para WIIU' o termo de Siegfried. Kra-cauer, que agrada como uma esttica da superffcie, um padrlo claindivi-dualizado, formal e regular - bastante assemelhado ao plano ~. A Urforma desta esttica j esbi presente nas peras de Waper na enceMio do coro, a qual antecipa a saudaio a Hitler pela multidio. Mas, nlo ~ mos esquecer que o fascismo nlo ele prprio responvel pela pettepAo transformada,. as produes musicais dos anos 1930 usaram este;;me.mo moti.vo-padrio (Hitler era um aficcionado em musicais estadunidnlel).

    XI Estamos de volta - aps longo desvio - s preocupa&w de 'l5e&

    jamin no final do Ensaio sobre a obra de arlle: a crise da experincia cogniti-va causada pela alienaio dos sentidos, que toma poasfvel humanidade visionar a sua prpria destruiio prazeirosamente. a importante lembrar que este ensaio foi publicado pela primeira vez em 1936. Naquele mamo ano, Jacques Lacan viajou a Marienbad para apresentar uma comunicaio l Associaio Psicanaltti.ca Internacional, na qual formulava pela primeira vez a sua teoria do 11 es~o do espelho" .122 Ela descrevia o momento em que a criana de seis a dezoito meses reconhece triunfantemente a sua m..pm especular, e se identifica com ela enquanto unidade corporal ilnagin6ria. Esta experincia narcisista do eu como um "reflexo" especular uma expe-rincia de des(re)conhecimento. O sujeito identifica-se imagem como a "forma" (Gestalt) do ego, de uma maneira que esconde a sua prpria falta (lack). Conduz, retroativamente, a uma fantasia do "corpo-em-pedaoe" (corps morcel). Hal Foster situou esta teoria no contexto histrico do primei-ro fascismo, e indicou as conexes pessoais enb'e Lacan e artistas surra-listas que fizeram do corpo fragmentado o seu tema.us Creio ser possfve1 Je. var mui~ longe o alcance desta contextulimin, de forma a que o est6gio do espelho possa ser lido como uma teoria do fascismo.

    tu Na verdade, este etll8io nwa foi publicado. Uma vm1o dlflmtlll, m.ri.da 11qU1, lpiiDU tm 1~. t23 Ver Fosler, Armor Fou, October 57 (Primavera ele 1991). Esta aelo eleve muito- dilcm-menbl de Foster.

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  • A experincia descrita por Lacan pode (ou no) ser um estgio uni-venal na psicologia desenvo~tista, mas a sua importancia em termos psicanalfticos parece apenas a postmori como aio diferida (Nachtragli-chkdt), quando a lembrana desta fantasia infantil desencadeada na me-mria do adulto por algum elemento da sua situaio presente. Assim, a si-gnifidnda da teoria de Lacan emerge apenas no contexto histrico da mo-dernidade, como precisamente a experincia do corpo frgil e dos perigos que lhe traz a fragmenta&o, a qual reproduz o trauma do evento infantil original (a fantasia do corps moral). O prprio Lacan reconheceu a especifi-cidade hiatrica das desordens narcisistas, comentando que o principal arti-go de Freud sobre o narcisismo, no por acaso, "data do comeo da guerra de 1914, e bastante comovedor pensar que era naquele tempo que Freud estava a desenvolver tal construio".tu

    No dia seguinte leitura do seu artigo em Marienbad, Lacan aban-donou o Congresao e tomou o tren para Berlim, pua ver os Jogos Olfmpi-cos a ser disputados aJit25 Em uma nota ao Ensaio sobre a obra de arte, Benjamin fez um comentrio sobre estas Olimpfadas modemas, as quais, disse, diferiam dos seus prottipos antigos na medida em que eram menos uma contenda do que um procedimento de mediio tecnolgica precisa, uma forma de teste mais do que uma competiio.t26 Baseando-se em Jiinger, Foster nota que o fascismo exibia o corpo ffsico como uma espcie de arma-dura contra a fragmentaio, e tambm contra a dor. O corpo armadurado e mecanizado, com a sua superftcie galvanizada e rosto met61ico de Angulos agudos, oferecia a lluslo da invulnerabilidade. Trata-se do corpo visto do ponto de vista da "segunda conscincia", descrita por Jiinger como "entor-pecida" contra o sentimento. (A palavra narcisismo vem da mesma raiz de narctico!) Mas se o fascismo medrou a partir da representaio do corpo-como-armadura, esta nlo era a sua nica forma esttica a ter relevAncia para esta problem6tica.

    XII H duas auto-definies do fascismo que, para terminar, gostaria de

    ter em consideraio. A primeira uma descriio que faz Joseph Goebbels em carta de 1~: "Ns, que delineamos a polftica da Alemanha moderna, sentimo-nos peseoas artfsticas, investidas da grande responsabilidade de formar a partir da matria prima das massas uma estrutura slida e bem talhada de um Pmxl' [Volk).w Esta a versio tecnolgica do mito da auto-gnese, com as suas divises entre agente (aqui. os lideres fascistas) e a

    124 Tire Smrbulrl.of/lla(IUS I-. Boolc I: Fmul's Pl!pn'l on Teclrnique, 1953-S4. Ed. ]11C!p8-Aiain Mi-n.r. Tmd.JohnForrnller. Nova Iorque, W. W.Nor1Dn&Co.,1988. p.118. 125 V David Mlay.LACIDI bt Conftls (Nova Iorque, Veno, 1990) pua uma dteerilo da~ de LM:ana Marimbacle Berlim. 121 Benjamin. a.-llir 5t:hrijtm I. p. 1039. 127 Citado em Rainer Stollman. "Fuci Politb u a Total Work of Ar('. New Gm!wm Oiljtle 14 (Ptlmawra de 19'18). p. 47.

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  • massa (a hyle indiferenciada. sobre 11 qwzl se age). Lembrar-noe-emos de que esta divislo tripartite. H6 igualmente o obeervador, que "'u.be atrav& ela observaio. O gnio da propapnda fudsta era o de ofeleoer * ma.u um papel duplo, o de ser. observador bem como amua inerte a Mr formada e moldada. E ainda. devido a um deslocamento do lugar da dor, devido ao conseqnente des(re)conhecimento, a muaa-como-audinda ~ de alguma forma imperturb6vel diante do espet'culo da sua prpia mupu-laio - em grande medida como Husserl,. ao abrir o seu dedo com um corte. No filme de Leni Riefenstahl de 1~, Triunfo da vontae (de que Ben-jamin. ao escrever o Ensaio sobre a obra de lll'tle, certamente tinha conheci-mento), as massas mobilizadas preenchem os campos do est6c:Uo de Nu-remberg e a tela do cinema, de maneira que os padres de superflde ~ cem uma composiio agrad6vel do todo, permitindo ao espec~or esque-cer o propsito da exibiio, a militarizaio da IOciedade pua a teleologia da feitura da guerra. A esttica faculta uma anesteti.zaao da rec:epAo, um visionamento da "cena"' com um prazer desinllern1ado, mesmo quando a cena uma preparaio, por meio do ritual. de toda uma sociedade pua o sacriffcio inquestionAvel e, no limite, para a destruiio, o asu rstrdo e a morte.

    Em O triunfo da Vntade, Rudolf Hess grita para a multidlo na arem: "A Alemanha Hitler, e Hitler a Alemanha!"' E usim chepmoa l eegun-da auto-definiio do fascismo. O sentido intencional o de que Hitler en-carne todo o pOder da naio alemi. Mas se virannoe a ctmera pua Hitler de uma maneira nio aur6tic.a. isto , se usarmos este aparato tecnol6gico como uma ajuda A compreenslo sen10rial do mundo exterior ao inv de como uma fuga dele, fantumasrica ou nan:isista, enfio vemot aJao muito diverso.

    Sabemos que em 1932 (sob a direio do cantor de pera Paul Devri-ent) Hitler praticou as suas ecprese6es ~defronte a um ..,.nto,ua com vista a obter o que ele cria ser o efeito apropriado. ~ raz6el pua IICftditar que este efeito nlo era expressivo, mas reflexivo, devolvendo ao homem-da-multidio a sua prpria imagem - a imagem narcisista de um ego intacto, construido contra o medo do corpo-em-peclaos.m

    Em 1872,. Olarles Duwin publicou A upraslo dils ~ no ,.,_, e nos animais, exprimindo a sua prp'ia dMda pua com a obn de a.rles Bell. O livro de Darwin foi o primeiro do gnero a fazer uo de fotopfiu ao invs de desenhos, o que permitiu uma maior pred8lo de U\6lile elas expresses faciais das emo6es humanas. Se se compararem fotografias elas

    121 Hitler havia de tllliNIDIIIra forado oe MUa JBioe wcaia pw 'VOlta de tm_ que \81lllllkllco o ac:orwelhou a treinar a wz com Devrleftt (DMddo Paul Stlebez-.W.J.), o que Hltln la entre alri e novembro daquele ano, d....m.t .,_ vlapnlellitonia. (V Wemer Mlller. iWDlfHI*r. r... geiWit .Myflw ~. Munlqur. Btlt Vlfll8.19'16. p. 291ft). 129 Max Pk:ard fala por experilndl pr6pda da .a.olula "'nulde"' que -o~ ele Hilllr, -lo.lo nlo como de qwm lide~a, mM da qwm pNdla .. lldenoclo" (Pkarci. H* ill ow.llla. Tr.d. Heimidl Hawer. ftizwdale, IllfnoU, H8nry ~Compmy, 1974. p. 71).

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  • exptae6et fadUI de Hitler, taia como ele as praticava enfrentado ao espe-lho, CXlll\ otopafias no livro de Duwin. poderA esperar-ee destas expres-16ea que canotem emoes agreeaivu - raiva e f6ria. Ou. pode presumir-ee que Hitler devia ter tentado pra;etu o rosto impermevel. "annadurado" de q1ie r.Ja JQnpr, e que era tio tfpico da arte nazi. Mas de fato as duas emo6ell deecritu por Darwin que condizem com as fotografias de Hitler alo ...az diferentles deatu duas. .

    A primeira eDtoio o medo. Oua-se a desaiio de Darwin:

    Caafonne o medo ee irtueuetta numa agonia de tenor [ ... ] a8 uaa du na-riNa ee cWalam Jazpmen1e [ ] produz-ee um movimento convulsivo e ar--

    ~ noe l6bioa, um tremor na boc:hec:ha ctn:ava [ .. . ] 08 globos oculares fixam 110 objeto de terrcr [ ... ) 08 m6lculoe do CXll'pO podem tom.r-ee rlgi doe[ ... ] as mi08 ai~ ee C'l!lftlll e abrem[ ... ] 08 bnos podem pqetaHe, aliiiD que pua afular aJsum perigo terrfvel. 011 podem eer jPp-doeem dllecoalbcle 80in a cat.a.uo

    m uma eegunda emolo, identifivel noa gestos de Hitler. a o que Darwin clwM de "sofrimento do corpo e do espfrito (mind): o pranto", e as fotogra fiu relevantles 1110, especificamente, de rostos de crianas a gritar e a chorar. Darwin eacreve:

    A ei8Yalo do Wlio superior ala a cune du partes cimeiras das bochec:hu, e produz uma doln fateu.me acentuada em cada uma delas - a dobra na-eo-labW - que C'OI'n! de perto du uaa du narinas at aos cantDe da boca e mail ai.ixo. &ta dobra ou ruga pode eer vista em todas as fotografias, e ....._ ancll!datica da ecpr 'o de uma criana em pranto ( ... r .m

    A cAmen pode ajudar-nos no conhecimento do fascismo, porque faculta uma experitnda "~ca" que nio-aur6tica, criticamente "verificante" (ting),W capturando com a sua "tica incorvriente"m precisamente a di ramica do nardsismo da qual depende a politica do fascismo, mas que a prpria eatl&lica aur6tica deste ~timo vela. Semelhante conhecimento nio historicista. A juatapoaiio das fotogafias de Hitler e das ilustraes de Da-rwin nlo responderio u complexidades da. questilo de von Ranke sobre "como de fato era" na Aleaumha. ou quanto ao que determinou a particula ridade da sua histria. Antes, a juataposiio cria uma ~ sin~ca que re.oa no nouo prprio b!mpo, permitindo-nos, hoje. um duplo reco-nhecimento ..;., primeiro, da noua prpria inftncia, na qual. para tantos de ns, a face de Hitler aparecia como a encamaio do ma1. bicho-papio dos 1\08808 prprios temores de infAncia. Em eegundo lugar, ela choca-nos no

    tliO a.m. Ouwm. nw ~ of"" EIIIOiiGfts m Mlll a~~ Alli-'s. PNf6do de KDnnd LoNnz. Clliclp, tmlwnlty ai Olicaao ......... 1965. p. 291' Utlbkl.. p. U9.

    IS2~~p.229. m lbkl.. P. 23'7.

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  • sentido da conscincia de que o narcisismo que desenvolvemos quando adultos. o qual funciona como uma bktica anestesiante contra o choque da experincia moderna - e a que diariamente a imagem-fantasmagoria da cultura de massa faz apelo - a base a partir da qual o fascismo pode no-vamente irromper. Para citar Benjamin. "Ao barrar-se a experincia [da idade do industrialismo de larga escala, inspito e cegante L o olho percebe uma experincia de uma natureza complementar, na forma da sua imagem posterior (after-imllge) espontAnee.".tM O fascismo esta imagem posterior. No seu espelho refletor nos reconhecemos a ns prprios.

    1:!4 1lenjamill. ~ p. 111.

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