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A work about Korea and its relationship with Brazil, concerning investments.
GIOVANNI BADINE PIZZIGHINI
AS RELAES BRASIL-CORIA DO SUL E O INVESTIMENTO DIRETO EXTERNO
MARLIA 2012
GIOVANNI BADINE PIZZIGHINI
AS RELAES BRASIL-CORIA DO SUL E O INVESTIMENTO DIRETO EXTERNO
Trabalho de Concluso de Curso apresentada ao Conselho de Curso de Relaes Internacionais da Faculdade de Filosofia e Cincias da Universidade Estadual Paulista UNESP Campus de Marlia, para a obteno do ttulo de Bacharel em Relaes Internacionais. Orientador: Prof. Dr. Marcos Cordeiro Pires
MARLIA 2012
GIOVANNI BADINE PIZZIGHINI
AS RELAES BRASIL-CORIA DO SUL E O INVESTIMENTO DIRETO EXTERNO
Trabalho de Concluso de Curso para obteno do ttulo Bacharel em Relaes Internacionais, da Faculdade de Filosofia e Cincias, da Universidade Estadual Paulista UNESP Campus de Marlia.
BANCA EXAMINADORA
Orientador: ______________________________________________________ Prof. Dr. Marcos Cordeiro Pires, UNESP - Marlia 2 Examinador: ___________________________________________________ Prof. Dr. Francisco Luiz Corsi, UNESP - Marlia 3 Examinador: ___________________________________________________ Prof. Dr. Jos Marangoni Camargo, UNESP - Marlia
Marlia, 28 de novembro de 2012
E de repente, voc se v no final de mais uma etapa na sua vida. Essa pra vocs, famlia, amigos, me.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, gostaria de ressaltar aqui que os agradecimentos que vou fazer tem uma importncia enorme para demonstrar toda a minha gratido pelas pessoas que conviveram comigo uma vida, um perodo, um espao de tempo sequer, que tornaram meus sonhos realidade, que fizeram com que eu me tornasse mais humano, mais filho, mais amigo, mais irmo e que consequentemente, alterando o rumo dos acontecimentos, criaram oportunidades para que eu pudesse escrever este trabalho, mas palavras nunca sero o bastante para expressar o quanto eu valorizo cada uma delas de forma a representarem tudo na minha vida hoje. Pela UNESP e pela Faculdade de Filosofia e Cincias de Marlia, que me deram a oportunidade de me tornar um ser humano mais letrado e mais intelectual. Graas a muito suor e dedicao, fui aceito em uma das melhores universidades do pas e pude compreender melhor a razo de um espao onde as pessoas se tornam melhores, mais inteligentes, mais capazes e mais responsveis. Por todos os momentos, de raiva, de angstia, de decepo, reclamando das condies da faculdade, resistindo aos impasses de revolues furadas, por viver no ambiente unespiano que me trouxeram risos em uma experincia que guardarei para o resto da vida, e por proporcionar um dos momentos mais marcantes na minha vida que foi minha ida a Coria do Sul, proporcionando a coragem de iniciar este trabalho. Pela Coria do Sul, que de to maravilhosa, deu-me o desejo de mostrar minha emoo e minha felicidade por ter me acolhido com tanto carinho, por ter me mostrado o Oriente, por ter me apresentado vrias pessoas de vrios lugares do mundo, por ter me colocado frente a situaes inusitadas, por ter aberto seu conservadorismo para o Brasil e despertado o sorriso em cada rosto coreano, cujo contato foi fantstico. Pelos lindos momentos, Daehanminguk, Gamsahabnida! Pelo meu professor orientador, Marcos Cordeiro Pires, que com toda a pacincia e compaixo, mostrou-me o caminho da luz e sugeriu o tema voltado para investimento direto externo. Apesar de ser corinthiano, uma pessoa fabulosa, inteligente, conhecedora de grandes assuntos e um timo profissional. Pelos meus preciosos amigos, que sem eles, no poderia prosseguir em quase nadado qual passei, pois sempre foram fundamentais para minha vida social, e me deram alegrias
inimaginveis, que fizeram com que eu tivesse fora para passar dificuldades e conseguir seguir em frente. Dentre eles, meus breves amigos de classe, que apesar de todas as desavenas, tornaram-me uma pessoa mais flexvel e mais consciente. Um tempo precioso como quatro anos sero guardados para sempre. Aos meus eternos e fraternos amigos, Lucas Jordani, o macarro, que sempre foi leal, paciente, companheiro, e nunca mudou sua postura comigo por mais que os tempos mudassem, sempre foi a mesma pessoa e nunca julgou meu carter; ao Felipe Mikami, por estar sempre ao meu lado, pelas conversas, pelas reclamaes, pelas palhaadas e pelos bons e eternos momentos juntos, que duraro para sempre tenho certeza; Sarah Barrera, que muitas vezes brigou comigo, mas sempre foi amiga de verdade, nunca deixou de apontar meus defeitos para que eu melhorasse e sempre se importou comigo por mais que eu ficasse zangado com ela; ao Luiz Henrique Tobler, que mostrou a mim o que amizade de verdade e que soube superar dificuldades como ningum, e me perdoou por vrias mancadas nessa vida, mas sempre se julgou meu amigo. Aos meus verdadeiros e longos amigos, irmos de corao, um grandssimo obrigado. minha famlia, meu pai Claudio, meus irmos de sangue Felipe e Michel, meus avs Claudio, Maria Aparecida, minha vov no cu Najme, meus tios, primos italianos e libaneses, pelo amor e carinho, pela compaixo de meus erros e pela fora que me deram durante meu perodo acadmico. Agora, duas pessoas especiais, as quais no teria escrito nada disso, pois no teria entrado na faculdade e no teria escrito este trabalho, afinal, eu no seria ningum sem elas. minha tia Simone Pizzighini. Por todo o apoio e pensamento positivo, que me impulsionou, mesmo de longe, sempre contando as horas para o meu sucesso, sempre ligando, perguntando como andavam as coisas, pela preocupao nas horas difceis, pelo corao enorme, pela falta de preguia, pelas ideias aguadas, dos trejeitos rspidos e muitas vezes duros, mas que fomentaram cada parte da minha jornada estudantil e por confiar em mim em toda e qualquer ocasio. Mala, te amo demais! E logicamente, a minha linda e amada mame Rosngela Badine. Por toda minha histria, minha vida, minhas atitudes, minha sabedoria, minhas escolhas, meus erros, meus acertos e por todo o resto. Minha me foi e continua sendo tudo na minha vida, e especialmente agora neste momento de concluso da etapa mais importante da minha vida, que eu percebo que sem minha me, mantendo todas as suas atitudes complicadas e impulsivas, no conseguiria nada. O apoio necessrio, em todas as maneiras imaginveis, minha me forneceu com carinho, amor, e superando diversas dificuldades para que um dia, eu me tornasse o melhor ser humano do mundo. Estou caminhando para isso, e graas
minha me, tenho certeza que me tornarei o melhor filho! Me, te amo muito e essa pra voc! Esta longa dedicatria foi o mnimo necessrio para demostrar o que todos esses quatro longos, e, ao mesmo tempo, curtos anos foram uma parte crucial de um todo que ainda est por vir. O conjunto de todos os fatores citados acima me proporcionou um grande avano na minha vida e logicamente, deveria ser anunciada e exaltada neste trabalho pela importncia que tm na minha vida, pois este trabalho tambm foi concretizado por eles. Aos grandes de minha vida, no s um obrigado, mas um muitssimo obrigado!
Os capitais necessrios aos investimentos provieram basicamente de poupana interna e de emprstimos internacionais cuja captao era orientada pelo governo que detinha o controle do sistema bancrio e orientava os emprstimos. A participao do investimento direto estrangeiro IDE - foi mnima: a entrada de IDE era rigidamente controlada pelo governo, havendo setores da economia em que eles eram totalmente proibidos (BRASIL, [20--], p. 19).
No Brasil, a fora do Estado foi bastante efetiva na arbitragem dos conflitos entre capital e trabalho em favor do primeiro. No entanto, apesar dos longos perodos ditatoriais, o Estado brasileiro no conseguiu arbitrar os diferentes interesses intraburguesia. Todas as tentativas de implementar determinada orientao de desenvolvimento, a exemplo do Plano de Metas ou do II PND, apesar de terem sido levadas adiante, s o foram s custas do comprometimento da capacidade financeira do Estado. No Brasil o privado nunca assumiu riscos, jamais teve seu desempenho cobrado, e, sobretudo, jamais permitiu que o rbitro do Estado comprometesse sua capacidade de acumulao. Quaisquer tentativas de introduzir novos planos ou revisar velhas polticas s foram adiante na medida em que no atrapalhavam velhos interesses (NERY, 2007, p. 10).
RESUMO
Atravs da importncia da sia no contexto global atualmente, este trabalho busca a compreenso de fatores que a levaram ao desenvolvimento econmico, como a formao de blocos econmicos para a dinamizao das relaes polticas e econmicas, tanto no mbito regional e internacional, com o avano para novos continentes. A partir disso, demonstraremos a evoluo especfica da Coria do Sul, consequncia de um desenvolvimento tecnolgico rpido, em sua chegada a Amrica Latina, e principalmente, no Brasil, destacando a diplomacia e as imigraes, at o crescente desenvolvimento econmico, culminando nos investimentos diretos externos a partir da dcada de 90.
Palavras-Chave: sia. Coria do Sul. Brasil. Economia. Investimento direto externo.
ABSTRACT
Throughout the importance of Asia in the global context today, this work seeks to understand the factors that led it to economic development, such as the formation of economic blocs until the boosting economic and political relations, both at the regional and international environments, with advance to new continents. From this, we demonstrate the specific evolution of South Korea, a consequence of rapid technological development, upon his arrival in Latin America, especially in Brazil, emphasizing diplomacy and immigration, to the increasing economic development, culminating in the foreign direct investments from the beginning of the 90s.
Key-words: Asia. South Korea. Brazil. Economy. Foreign direct investment.
SUMRIO
1 INTRODUO ................................................................................................................12 2 O INCIO DAS INTEGRAES REGIONAIS NA SIA ............................................15 2.1 Os blocos regionais asiticos ......................................................................................... 18 2.1.1 ASEAN ...........................................................................................................20 2.1.2 APEC ..............................................................................................................25 2.1.3 TPP .................................................................................................................27 2.1.4 Aliana do Pacfico ......................................................................................... 29 2.2 As Relaes da sia e a Amrica Latina .......................................................................31 2.3 A sia e o Brasil ............................................................................................................35 3 AS RELAES BRASIL-CORIA: DAS RELAES DIPLOMTICAS AO INVESTIMENTO DIRETO EXTERNO ............................................................................40 3.1 As Relaes Diplomticas e a Imigrao ......................................................................41 3.1.1. A Imigrao Coreana .....................................................................................42 3.2 As Primeiras relaes de comrcio Brasil-Coria ......................................................... 45 3.2.1. O Desenvolvimento Coreano .........................................................................46 3.2.2. O Comrcio com o Brasil ..............................................................................51 3.3 O investimento direto externo coreano no Brasil .......................................................... 54 CONSIDERAES FINAIS .............................................................................................. 66 REFERNCIAS ..................................................................................................................69
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1 INTRODUO
O Brasil teve no curso de sua histria diversos fatores, que atravs dos sculos mudaram a trama das relaes internacionais de sua nao, fazendo com que seu cenrio interno modificasse gradativamente e apresentasse novas vertentes para o futuro e para o seu desenvolvimento. A relao entre os Estados, sejam eles prximos ou longnquos, tem estado presente nas relaes polticas e econmicas mundiais, de forma a abastecer uma discusso em torno do rumo do Brasil frente a tantos turnos de acontecimentos. A globalizao caracteriza um importante fator relacionado s mudanas constantes, e que hoje, analisada de forma variada e no uniforme. Nesta mesma perspectiva, a Globalizao que aproxima os territrios e modifica o tempo e os espaos fizeram com que o Brasil chegasse s mais diversas formas de relacionamento com o contexto global. Sua dinmica no se tornou nica e exclusiva na Amrica e outros mercados foram levados em considerao. Com a crescente apario da sia na economia mundial, notou-se que a diversificao dos pases na busca de novos parceiros se tornou comum, e a intensificao dessas relaes caracteriza as mudanas e transformaes por qual passam pases que j desenvolveram de forma parcial e pases com um desenvolvimento emergente, nestes exemplos, Coria do Sul e Brasil, respectivamente. A Coria do Sul, pelo desenvolvimento rpido na segunda metade do sculo XX, chegando um dinamismo econmico de produo tecnolgica elevada, e um governo capaz de orientar e gerenciar o pas, adotando metas construtivistas de dentro para fora, tornou possvel sua chegada Amrica do Sul e especialmente no Brasil. O Brasil, em seu gradativo e lento desenvolvimento, durante a dcada de 80, pode colocar-se em uma posio de interesse para os outros pases, onde investimentos vieram a ser colocados para o mercado brasileiro, e claro, gerando lucro para os investidores externos. Por isso, o tema dos investimentos da Coria do Sul no Brasil foi adotado neste trabalho. A crescente asitica, em particular coreana, chama ateno por ter uma progresso constante e rpida, chegando cada vez mais forte no mercado brasileiro, de forma a instalarem indstrias poderosas e ainda mais na chegada de imigrantes coreanos que podem contribuir para o desenvolvimento brasileiro, assim com foi em seu pas de origem. Alm disso, a simpatia que temos pelo pas asitico motivou a formulao deste trabalho, por experincias pessoais relevantes que trouxeram grande contedo profissional e pessoal. Atravs disso, o respeito e a simpatia pela cultura coreana foi um grande fator para a escolha do pas neste
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trabalho. Mesmo nos fatores econmicos e culturais, a Coria do Sul um dos grandes representantes da nova sia desenvolvimentista e economicamente integrada no sistema capitalista mundial. O objetivo proposto em nosso trabalho de analisar as relaes polticas dos pases asiticos no contexto domstico, conquistando espao no cenrio poltico-econmico mundial, e assim, buscando novos parceiros para participar da expanso ocorrida nas dcadas finais do sculo XX. E por essas relaes que foram capazes de consolidar as relaes bilaterais de confiabilidade e cooperao entre os pases da Amrica e da sia. Neste caso, ser possvel exemplificar o fato atravs de Coria do Sul e Brasil, que possuem um peculiar crescimento no comrcio exterior e nas relaes polticas, culminando na entrada do capital direto coreano no Brasil. Por isso, este trabalho ter incio destacando a formao dos blocos econmicos asiticos, sendo uma estratgia conjunta de desenvolvimento e assistncia entre os pases asiticos que vinham se apresentando com fora no cenrio internacional e tornaram-se grande possibilidade de oportunidades criadas a partir das polticas resultantes destes acordos e debates dentro dos blocos econmicos. Com isso, veremos que com esses blocos estabelecidos e criando sustentabilidade para novos acordos que analisaremos a chegada dos pases destes mesmos blocos em outras partes do mundo, neste trabalho, na Amrica Latina e Brasil. A partir disso, veremos como foi possvel tambm a formao de blocos sulamericanos e americanos voltados para as novas oportunidades na sia, assim tentando fortalecerem seu mercado e seus interesses nacionais no mbito poltico. Aps a contextualizao desses blocos no planejamento de novas parcerias, iremos focar na aproximao da Coria do Sul no Brasil, e deixando claro que ambos j possuam um comrcio, mesmo que pequeno, e a partir das movimentaes criadas nos blocos asiticos, foram possveis novas formas de relacionamento entre Brasil e Coria do Sul passando para o investimento direto externo. Procuraremos tambm focar no incio dessa relao bilateral, a partir da ratificao da diplomacia entre os dois pases assim como os fatores que levaram os coreanos a deixarem seu territrio para imigrar para o Brasil. Juntamente com este dado, proporcionaremos a viso de como o Estado coreano agiu aps a Guerra da Coria que foi de 1951 1953, acontecimento este que fez que a histria da Coria do Sul mudasse drasticamente, tornando-se o polo industrial e tecnolgico que hoje. No fator desenvolvimentista da ascenso coreana, iremos dar nfase ao papel da educao, atravs das polticas governamentais capazes de fomentar a capacitao da mo-de-obra para renovao
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da indstria domstica. Assim poderemos constatar que, a Coria do Sul tendo capacidade econmica para mobilizar seu capital, encontra no Brasil, no comeo da dcada de 90 um bom avano para seus investimentos, onde sero mostrados quantitativos de quais foram os motivos que levaram a Coria do Sul a se estabelecer de fato no Brasil. O trabalho a ser realizado demonstrar no s como todos os acontecimentos foram realizados, mas tambm as razes pelas quais esta relao ainda resiste e tem por meta a sua intensificao. Atravs de bibliografia acadmica de vrios estudiosos do caso, alm de dados governamentais brasileiros e coreanos, ser possvel a colocao de ideias que proporcionaram um esclarecimento sobre o assunto, que hoje parco e visa tambm a prospeco de uma forte e dinmica relao entre dois pases to distintos.
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2 O INCIO DAS INTEGRAES REGIONAIS NA SIAA sia, hoje, pode ser vista como o centro das atenes. Depois de um perodo turbulento de guerras e revolues, a sia, principalmente o Leste Asitico1, comeava a ser um exemplo de desenvolvimento, como explica Drysdale (2005):
While obstacles remain in terms of human resource development, infrastructure, and governance, East Asias share of world output had risen substantially over the past two decades, overtaking the US and capturing a large size of world exports, matching that of North America.
O sucesso da economia asitica teve como causa as transformaes a partir dos anos 80, que mudaram drasticamente os contornos da economia na presente dcada. De um modo geral, diversos fatores proporcionaram o sucesso da sia e a partir dessa evoluo, fizeram com que o eixo econmico mundial se voltasse muito mais para o lado do Pacfico do que para o Atlntico, mudando assim o rumo dos acontecimentos em torno do capital mundial. Inicialmente, as principais caractersticas que proporcionaram as transformaes da sia para uma regio de ateno derivam das transies, ou consequncias da crise energtica dentro da dcada de 702. Com baixas taxas de juros e com uma competio acirrada, os atores multinacionais, assim como os Estados nacionais, tiveram que buscar alternativas para sarem da estagnao econmica que rondava o perodo. Os custos de produo aumentavam e a lucratividade do sistema se tornava baixa. As flutuaes de cmbio e as incertezas dos mercados internacionais demandaram outra forma de aplicao de capital, proporcionando assim, as primeiras modificaes que vieram a impulsionar a importncia da sia para a economia vigente. Focando a partir da ideia de Pires (2008, p. 4), uma das principais estratgias que fizeram com que a sia desse seus primeiros passos ao destaque regional foi a terceirizao da produo. A produo foi segmentada, a partir de um gerenciamento organizacional dependente de outras indstrias paralelamente s suas, dinamizando o processo, e assim mudando seu mtodo de produo fordista e passando para o mtodo just-in-time3. Estas estratgias, adotadas principalmente por multinacionais americanas, japonesas e europeias, dentro deste perodo, disseminaram uma nova forma de produo, fadada a alavancar o1 2
Neste trabalho, referir-se- aos Pases do Sudeste Asitico e do Nordeste Asitico, em especial o Japo, a Especificamente, nas crises do Petrleo de 1973 e 1979. 3 O mtodo Just-in-time foi implementado como principal pilar do toyotismo, sistema de produo da Toyota Motors, logo aps a segunda guerra mundial. Este mtodo busca produzir somente o que o mercado demandar, sem a necessidade de estoque e produo prvia de mercadorias.
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comrcio regional, e depois, internacional. Outro fator relatado por Pires foi a deslocalizao, que consistia em multinacionais que mudavam o local de suas atividades industriais para pases ou, nesse contexto, mercados perifricos com fatores produtivos de custo reduzido, como matrias-primas, carga tributria, incentivos fiscais e principalmente, mo-de-obra. No caso do Japo, principal fomentador da regio s buscas de vantagens produtivas em meio s crises, aps o chamado Milagre Econmico Japons4 na dcada de 60, aliado s polticas governamentais de incentivos ao capital externo, deslocou sua indstria para pases como Tailndia, Malsia, Indonsia e Filipinas, combinando fatores de substituio de importao e promoo das exportaes, aproveitando a valorizao do iene decorrente do Acordo Plaza em 1985. Juntamente com o supervit dos EUA, o Japo comea a expanso dos investimentos na regio, ao lado de um amplo financiamento externo, que permitiu vrias economias asiticas o crescimento e financiar seu dficit comercial com o Japo, concentrado em polticas de bens de capital (MEDEIROS, 1997, p. 1). Como consequncia, surgiu o termo Tigres Asiticos5 (Coria do Sul, China-Taipei, Cingapura e Hong Kong), para caracterizar a agressividade do crescimento de pases que sofreram chegada de novas empresas em suas economias, aps as estratgias citadas. Um grande destaque deve ser dado tambm China Continental, que atravs das mesmas medidas suplantadas, emergia rapidamente no contexto regional, e mundial. A partir de 1978, de suas polticas de modernizao, a China ganha destaque entre um dos grandes hospedeiros dessa gama de investimentos externos e deslocamento industrial. A estratgia chinesa, no entanto, era mais abrangente, pois tinha por objetivo a constituio de uma economia moderna que pudesse, em mdio e longo prazo, recolocar o pas entre as potncias mundiais (PIRES, 2008, p.5). Exponencialmente, a sia ganhava um notrio prestgio no comrcio internacional, acumulando cada vez mais capital por parte de investimentos diretos e indiretos, alm de aumentar de forma surpreendente suas exportaes, conseguindo se aproximar dos EUA no espao dentre os grandes exportadores do mercado internacional. Dessa forma, podemos dizer que o conjunto de pases que formam o Leste Asitico est hoje na superfcie de um mundo extremamente competitivo e multipolar, em que, depois4
H controvrsias no debate sobre o termo milagre econmico do Japo, j que muitos estudiosos acreditam que a recuperao do Japo j era esperada devido s relaes com os EUA e por j ter um parque industrial que, mesmo depois de ser destrudo pela guerra, permanecia espera de ser recuperado e acionado novamente. J outros dizem que existiu o milagre pelo tempo de recuperao de um pas que participou ativamente dentro de uma guerra que devastou o pas, e pelas polticas ditas como ultra efetivas do governo japons afim de reestabelecer sua economia, visando o domnio do mercado mundial. 5 Termo usado para definir os pases asiticos de rpida industrializao, durante o perodo de 1960 a 1990.
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do colapso da Unio Sovitica em 1991, teve como seus atores principais o Japo, os Estados Unidos e a UE6. Aps a Segunda Guerra Mundial, o mundo esperava a reconstruo de seus pases onde a economia foi completamente fragmentada pelos horrores da Guerra. O caminho cursado pelos pases vencedores levou a reforma e reconstruo aos perdedores. Assim, emergiam as integraes mundiais. The aftermath of World War II hastened global economic integration, as the subsequent period of peace and reconstruction made it possible to increase economic activities (MEDALLA; BALBOA, 2010, p. 4). Assim comeavam o desenvolvimento de integrao na sia, e conforme marca Urata (2007, p. 30-31), um interesse em alianas de integrao econmicas e polticas.Multilateral trade negotiations under the General Agreement on Tariffs and Trade (GATT7) further quickened globalization, followed by the liberalization of trade and investments, improvements in infrastructure, and technological developments, which created a more conductive climate for foreign trade.
Tambm refora Medalla e Balboa (2010, p. 6), afirmando que com esse desenvolvimento, houve um aumento de interesse em um regionalismo, em que pases considerados parceiros comerciais se juntaram e formaram Blocos Econmicos. A importante agregao dos pases visando o desenvolvimento surge como uma alternativa de superar os desastres causados pela guerra, e tambm para uma evoluo econmica a fim de galgar o espao dentre os pases que polarizavam o contexto global daquele momento: EUA e URSS, tambm como o conflito de foras no declarado que levou corrida armamentista e tcnicocientfica conhecida como Guerra Fria. Ressalta Oliveira (2002, p. 115):A primeira iniciativa asitica concreta de desenvolvimento de um esquema regional de cooperao ou de integrao, no plano econmico, surgiu em 1965, com a formalizao da proposta apresentada pelo professor japons Kiyoshi Kojima de criao de uma rea de livre-comrcio (Pafta Pacific Asian Free Trade).
Esta primeira tentativa de consolidao de uma integrao entre os pases asiticos mostrou a afirmao do Japo em liderar os blocos econmicos da regio, por ser o pas at ento mais industrializado, e ter uma maior posio poltica voltada para o capitalismo,
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Em 1991, a UE ainda possui o nome de Comunidade Econmica Europeia, tornando-se UE somente em 1993, com o Tratado de Maastricht. 7 O GATT teve seu nascimento em 1947 e se tornou, posteriormente, na OMC em 1994.
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resultado da interveno americana no ps-guerra, a fim de distanciar o pas do socialismo sovitico. Entretanto, a motivao para essa primeira tentativa veio com o medo de que, com a formao de outros blocos regionais iriam minguar ou enfraquecer o comrcio mundial, como cita Arndt (1990, p. 563):
A motivao original foi a preocupao japonesa de que a formao e que a formao do Mercado Comum Europeu e os esquemas de livre-comrcio na Amrica Latina e em outros lugares estavam sinalizando para uma ruptura da economia mundial para blocos regionais.
.
A proposta de Kojima no foi concretamente concluda, porm, iniciou-se o pensamento e estudo de unidades nacionais que, com ajuda mtua, buscariam o desenvolvimento. Essa mesma proposta tambm determinou as possibilidades de cooperao entre os pases, ao invs de uma clara rea de livre-comrcio ou unio de mercados. Foram realizadas de coordenaes polticas e convenes8 buscando a resoluo e concretizao de blocos econmicos asiticos. A partir de ento, ser retratada aqui a consolidao destes blocos dentro da sia, e posteriormente, a relao destes blocos com a Amrica Latina e finalmente com o Brasil, que implicar em tratar as relaes especificamente da Coria do Sul com o Brasil, e a evoluo comercial que ambos tiveram, a partir deste incio de integrao regional.
2.1 Os Blocos Regionais AsiticosOs dados descritos acima formam o contexto em que os pases asiticos buscaram para fortalecer suas economias. De fato, mudanas ocorreram para que suas economias e polticas evolussem, trazendo para a sia9 uma nova maneira de crescimento, impulsionando-a um novo desenvolvimento, tornando-se um continente de visibilidade e ter ganhado mais peso na economia capitalista mundial, para que dessa forma, houvessem transformaes necessrias para que viesse a ser o grande polo industrial e tecnolgico que hoje.
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Dentre as conferncias, estavam a Pacific Trade and Development Conference (Paftad); Pacific Basin Economic Council (PBEC) e Pacific Economic Cooperation Conference (PECC). 9 Refere-se aqui como sia, os pases do Leste Asitico (com exceo da Rssia) e do Sudeste Asitico
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Primeiramente, Drysdale (2005) descreve os perodo, ou ondas, de comrcio e industrializao que surgiram para a ecloso e intensificao dos movimentos de integrao e consolidao dos importantes blocos regionais asiticos:
The growth and deepening integration of the East Asian region has been shaped by three huge waves of trade and industrial transformation. The first wave occurred with the rise of Japan and its emergence as a major industrial power. The second wave was led by the newly industrializing economies (NIEs) of Northeast and Southeast Asia in the late 1970s and 1980s. The third wave was characterized by the rise of the PRC. These three major periods restructured the economic architecture of East Asia, making it an economic powerhouse and cornering almost a quarter of world output.
Concordando com a afirmao de Drysdale, o Japo aparece por volta da dcada de 70 como um importante ator, ascendendo na sia aps o Milagre, que supera a fase do psSegunda Guerra Mundial para desenvolver-se na indstria de tecnologia de ponta. J os chamados NIEs10, formados por Taiwan, Cingapura, Hong Kong11 e Coria do Sul, que na poca se industrializavam rapidamente, desempenharam um papel predominante nos blocos regionais; e a China continental (RPC), que hoje o principal regente do desenvolvimento regional asitico e posteriormente, passou a fazer parte dos movimentos regionais. Seguindo com o raciocnio, estas ondas propuseram as condies necessrias para a evoluo dos blocos regionais asiticos, algumas anteriores formao de certos blocos, outras posteriores ou concomitantes suas consolidaes, como o caso da ASEAN e suas derivaes, que sero retratadas mais frente neste trabalho. Medalla e Balboa (2010, p. 10), complementando a lgica de Drysdale, fornecem tambm alguns fatores que impulsionaram a esquematizao de blocos regionais:Analysts agree that the development of the East Asian regionalism is propelled by three forces: 1) Market-driven economic integration, 2) negotiated trade liberalization initiatives, and 3) the regional financial cooperation initiatives following the Asian crisis.
Estes fatores apresentados acima so os propulsores do regionalismo asitico, direcionando-os ao sucesso da sia nos dias atuais. Singularmente, cada um dessas foras podem ser observadas atravs de aspectos que reiteram e complementam a passagem dos autores:
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Sigla em ingls para Newly Industrialized Economies. Por conveno neste trabalho, sero adotados China-Taipei e China-Hong Kong como simplesmente Taiwan e Hong Kong, respectivamente.
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1) Uma integrao voltada para o mercadoThe Market-driven forces of cross-border trade, FDI, and finance pushed the initial phase of economic integration in East Asia. The simultaneous expansion and reinforcement between trade and FDI, otherwise known as the trade-FDI nexus (URATA 2001, KAWAI 2005), was largely determined by the establishment of regional production networks and supply chains by Multinational Corporations (MCNs) This phenomenon became known as Factory Asia(SOESASTRO, 2006). (MEDALLA; BALBOA, 2010, p. 10)
2) Iniciativas de Liberalizao EconmicaThe industrial and trade transformation of East Asia over the last half-century has been driven by policy initiatives and Market forces that opened up trade and investments in the East Asian countries. This created the opportunity to dynamically link the East Asian economies to the international production chain and also provided an environment conductive for sustained FDI flow. (MEDALLA; BALBOA, 2010, p. 9).
Esta fase de liberalizao apresentou-se principalmente dentro os anos 80 e 90, liberalizando seu comrcio internacional e abrindo suas portas para investimentos diretos externos, tambm, desregulando suas atividades domsticas. 3) As iniciativas de Cooperao financeira aps a Crise de 1997.
Following the Crisis, interests in financial cooperation intensified. Efforts towards increased risk management made East Asia the first region to actively pursue measures to establish regional monetary and financial cooperation. The regional economies embarked on several initiatives to strengthen the regional financial architecture, consisting of regional economic surveillance, liquidity support facility, and the development of the Asian bond Market. (KAWAI, 2007).
De acordo com os fatores apresentados acima, o regionalismo na sia se deu de fato por volta de 1965, com o j mencionado idealismo de Kojima, porm surgiu o primeiro bloco consolidado somente em 1967 com a ASEAN.
2.1.1 ASEANApresentadas dentro deste captulo, as razes pelas quais se deram o incio da articulao e afirmao dos blocos j foram bem definidas, retratando o contexto ps-guerra e o modelo de outros blocos que surgiam na poca, foram capazes de influenciar o mundo e a sia de uma forma particular, em desenvolver cooperaes capazes de fomentar o crescimento econmico mtuo.
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A ASEAN12, criada com o intuito e objetivo de promover o crescimento econmico, tambm tinha a misso de evitar o avano do comunismo (OLIVEIRA, 2002, p. 116). Portanto, a formao deste bloco tambm manteve seu vis poltico apesar de tudo, que claramente, justifica-se pelo perodo vivenciado por todos os pases que entrariam para o bloco, sob os auspcios e interesses dos EUA contra as polticas soviticas em plena Guerra Fria. No somente por este motivo, mas tambm a expectativa de criao pelo Japo de um bloco, ou Comunidade do Pacfico, que visava o crescimento econmico, porm teriam que ser superadas as diversidades culturais. Contudo, foi no Sudeste da sia que se formou o primeiro grupo voltado para tal fim, como diz Oliveira (2002, p. 116) em [...] detectam-se diferentes propostas voltadas para o campo da segurana no Sudeste Asitico, desde o final da Segunda Guerra Mundial, culminando com a estruturao da Asean, em 1967. Inicialmente, voltada para a conteno do comunismo, a ASEAN foi muito mais uma organizao poltica que econmica. Durante seus primeiros 20 anos de existncia, os objetivos polticos predominaram em contrapartida aos econmicos. Porm, mudanas ocorreram at o final dos anos 90, e comeo dos anos 2000, como diz Oliveira (2002, p. 116), atravs de Gutierrez (1993):Concisamente, Gutierrez (1993) aponta que a Asean apresenta trs fases desde sua criao, sendo a primeira correspondente ao processo de manuteno da segurana regional (...); a segunda fase, com maior nfase nos anos 80, abrange o perodo em que o Sudeste Asitico se insere no processo de desenvolvimento econmico asitico (...); a terceira fase, j no ps Guerra Fria, representa um novo direcionamento de seus objetivos.
Posteriormente, a ASEAN buscou a implementao de um Acordo de Livre-Comrcio ou FTA13, que foi projetada em 1992, primariamente com os seguintes objetivos: 1) Aumentar a vantagem competitiva da ASEAN como base de produo no
mercado mundial atravs da eliminao, no mbito da ASEAN, de tarifas e barreiras no tarifrias. 2) Atrair mais Investimento Direto Externo para a ASEAN.
Tambm conhecido na vertente internacional como AFTA (ASEAN Free Trade Agreement), considerada como a pea chave da poltica de integrao da ASEAN e
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A Asean formou-se com os seguintes pases: Brunei, Camboja, Indonsia, Laos, Malsia, Mianmar, Filipinas, Cingapura, Tailndia e Vietn. 13 Free Trade Agreement, ou rea de Livre Comrcio.
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providenciando o mpeto para explorar cooperaes sub-regionais (MEDALLA; BALBOA, 2010, p. 10). Contudo, a criao da ASEAN no obteve somente carter regional, mas propiciou aos outros Estados da sia-Pacfico certa participao, constituindo o ARF14 (ASEAN Regional Forum). Institucionalizado em 1993, teve como caracterstica seu carter intergovernamental para a discusso de questes polticas e de segurana (OLIVEIRA, 2002, p. 116). Outras propostas foram criadas conjuntamente com a ASEAN, ao adicionar pases para Fruns de cooperao, principalmente com a crise de 199715, em que o foco foi dado parte financeira. Dentre elas, uma ateno maior para a ASEAN+3, que ter a participao dos competitivos e industrializados pases do Leste Asitico, no caso, Coria do Sul, Japo e China para o fortalecimento do bloco e como reguladores financeiros, que proporcionar uma viso de como a fora desta cooperao trouxe uma nova frente de aes para a ASEAN de forma a estabilizar-se internamente e na manuteno do foco do bloco nas polticas adotadas. Como aponta Medalla e Balboa (2010, p.17):Several regional surveillance measures were launched in East Asia following the financial crisis. The most prominent, to date, is the ASEAN+3 Economic Review and Policy Dialogue (ERPD) process, which was launched in May 2000. The ASEAN+3 ERPD aims to prevent another financial crisis by creating channels for information sharing, assessment of economic conditions and policies, and potential for collaboration on financial, monetary, and fiscal issues of common interest.
Identificamos assim, a importncia posta no perodo pela agregao de novos pases para a cooperao regional da ASEAN, que manteve seu papel como ouvinte e formulador de ideias para que uma nova crise no viesse gerar situaes prejudiciais aos pases, como foi a de 1997. Com a tabela abaixo, podemos ter uma noo de como foi o papel da ASEAN e da ASEAN+3 na assistncia mtua entre os pases da sia para um fortalecimento da economia no perodo anterior aos anos 90 e posterior a crise, comparados com os outros pases em termos de Comrcio Inter-regional por Agrupamento Geogrfico.
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O ARF, em 1993,teve como participantes os membros da ASEAN, seus sete maiores parceiros comerciais (Estados Unidos, Unio Europeia, Japo, Canad, Coria do Sul, Austrlia, e Nova Zelndia), dois convidados (China e Rssia) e trs observadores (Vietn, Laos [que hoje j fazem parte da ASEAN] e Papua-Nova Guin). 15 A crise asitica de 1997 teve como causa vrios fatores, dentre eles alta valorizao de ativos na bolsa de valores, descontrole nas taxas de cmbio, falta de prudncia e controle do sistema financeiro, disposio de dados e transparncia para solues de desavenas financeiras dentre outras. Esta crise comeou a ter sua recuperao por volta do ano 2000, e apesar de todos os pases asiticos terem sido afetados pela crise, dentro os mais afetados estavam Coria do Sul, Indonsia e Tailndia. (Fonte: FMI, 2012)
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Tabela 1- Comrcio Intra-regional das Regies da sia e Pacfico por Agrupamento GeogrficoI.
1980 ASEAN ASEAN+3 ASEAN+3, Hong Kong e Taiwan UE NAFTA MERCOSUL COMUNIDADE ANDINA 34.1 33.8 11.1 17.9
1985 20.3
1990 18.8
1995 24.0
2000 24.7 37.3
2003 26.6 39.0
2006 27.2 38.3
52.1
55.4
54.5
37.1 38.7 7.2
43.1 37.9 10.9
51.9 43.1 19.2
52.1 48.8 20.7
55.4 47.4 14.7
54.5 44.3 15.7
3.3
5.4
12.4
10.8
10.8
10.1
Fonte: UNECLAC (2008, apud MEDALLA; BALBOA, 2010, p. 7, adaptado pelo autor). Nota: I - O balano de comrcio internacional definido como a porcentagem de comrcio intra-regional correspondente ao total de comrcio pela regio em questo, baseado em dado de exportao. calculada a seguir: Xii/{(Xiw + Xwi)/2}, onde Xii refere-se s exportaes da regio i dentro da prpria regio, Xiw representa as exportaes da regio com o mundo, e Xwi representa as exportaes do mundo para a regio i. Uma porcentagem maior indica um maior nvel de dependncia dentro do comercio intra-regional.
Outra tabela tambm pode exemplificar o papel da ASEAN (no foram fornecidos dados da ASEAN+3) em termos de taxa de crescimento comparado no comrcio internacional e se estabeleceu como o segundo bloco econmico mais forte desde 2000. Deste modo, a consolidao das economias da sia e do Pacfico atravs deste bloco e um enorme fator de fortalecimento da regio, e posteriormente a busca de novos mercados e de investimento direto externo.
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Tabela 2 - Crescimento no Comrcio Internacional
Mdia Anual da Taxa de Crescimento de Importaes de Mercadorias
Mdia Anual da Taxa de Crescimento de Exportaes de Mercadorias
% Anual 1990-1995 ASEAN ECOa SAARCb Amrica Latina e Caribe frica Europa Amrica do Norte MUNDO 7.0 4.7 10.9 7.7 4.3 10.9 4.4 8.1 1.0 3.1 9.9 13.3 11.6 7.2 6.1 8.3 6.5 2.1 6.4 10.2 11.4 5.1 9.1 12.8 15.6 1995-2000 0.6 5.1 5.3 8.4 2000-2006 10.1 18.4 20.5 8.3 11.4 11.6 1990-1995 16.2 1995-2000 5.5 7.2 6.7 9.2 2000-2006 10.1 18.0 15.9 11.1
Fonte: UNESCAP (2008, apud MEDALLA; BALBOA, 2010, p. 9, adaptado pelo autor). Notas: a - A Economic Cooperation Organization (Organizao de Cooperao Econmica) uma organizao intergovernamental regional estabelecida em 1985 pelo Ir, Paquisto e Turquia com o propsito de promover a cooperao econmica, tcnica e cultural dos pases membros. Os atuais membros so Afeganisto, Azerbaijo, Ir, Cazaquisto, Quirguisto, Paquisto, Tajiquisto, Turquia, Turcomenisto e Uzbequisto. b - A South Asian Association for Regional Cooperation (Associao Sul Asitica para a Cooperao Regional) tem como princpios a juno de trabalhadores para o crescimento econmico e desenvolvimento social. Tem como membros desde 1985: Bangladesh, Buto, ndia, Nepal, Paquisto e Sri Lanka.
Conclui-se que a ASEAN e ASEAN+3 no s tiveram uma grande importncia para a aproximao dos pases asiticos e para a procura de novos mercados no mbito internacional, mas tambm trouxeram um olhar diferente do mundo para com a sia, fazendo com que essa
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se transformasse em um polo industrial e atrasse investimentos externos, como explica Medalla e Balboa (2010, p. 9):The industrial and trade transformation of East Asia over the last half-century has been driven by policy initiatives and market forces that opened up trade and investments in East Asian countries. This created the opportunity to dynamically link the East Asian economies to the international production chain and also provided an environment conductive for sustained FDI flow.
Feita esta descrio da ASEAN, passemos agora a discutir uma nova instituio que abrange os pases da sia, a Asia-Pacific Economic Cooperation (APEC).
2.1.2 APECCom um propsito parecido da ASEAN, a APEC, fundada em 1989 com 12 membros (Austrlia, Canad, Estados Unidos, Japo, Coria do Sul, Nova Zelndia, e outros 6 membros da ASEAN Indonsia, Malsia, Tailndia, Filipinas, Brunei e Cingapura) 16 , cresceu com um carter econmico e como um frum de informal em resposta ao regionalismo econmico e suas questes (OLIVEIRA, 2002, p. 116). At os dias de hoje, a APEC possui intuitos que variam de pas para pas e de conferncias que podem no abranger todos os pases membros da associao. Em uma primeira viso, no inicio de sua vida, a APEC apresentava a uma questo relacionada presena dos Estados Unidos, em que explica Oliveira (2002, p. 117):A primeira questo seria quanto a participao dos Estados Unidos, de uma forma genrica percebida como fator de estabilidade para a segurana regional e de instabilidade especificamente para o comrcio e para outras reas correlacionadas, a partir de suas constantes crticas quanto s condies sociais dos trabalhadores e aos direitos humanos e presses sobre direitos humanos intelectuais .
Vrias discusses foram postas em relao a posio contra ou favor dos Estados Unidos como membro, por motivos como o protecionismo norte-americano em relao aos pases do Pacfico e o medo do monoplio das aes juntamente com o Japo das atividades do organismo. Porm, por outro lado, havia ainda o medo do monoplio isolado do Japo dentro da APEC. Mesmo com este empecilho no caminho, os Estados Unidos conseguiram sua participao devido s suas presses e ao pedido japons de sua incluso (OLIVEIRA, 2002, p. 117).16
Atualmente, a APEC conta com 21 membros. Dentre os citados acima, tambm incluem Chile, China, Mxico, Papua-Nova Guin, Peru, Rssia, Taiwan, Vietn e Hong Kong.
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Desde sua constituio, seus principais objetivos foram reduzir as barreiras tarifrias, aproximar as polticas econmicas dos pases membros e acelerar a cooperao entre os membros atravs de investimentos e livre-comrcio. Contudo, este interesse de desenvolvimento possua um carter deliberadamente vago. Podia-se visualizar a APEC como o resultado de um processo de interao das perspectivas americanas e asiticas do Pacfico, dentro do contencioso econmico-comercial entre o Japo (compreendendo a economia asitica) e os Estados Unidos (OLIVEIRA, 2002, p.117). Com o passar do tempo, novas propostas foram sendo feitas, como na reunio em Seattle em 1993, nos Estados Unidos, onde se discutiram a possibilidade de liberalizao comercial (no tocante tambm ao investimento) como pea chave dos objetivos da APEC. Foi proposto tambm que a APEC acelerasse a cooperao econmica para uma futura rea de livre-comrcio. Assim, em 1994, foi dada sequencia a esse objetivo com a Reunio de Bogor, que estabelecia esta rea de livre-comrcio, com um cronograma de adaptao at de 2010 para os pases desenvolvidos e at 2020 para os em desenvolvimento (o programa foi descartado em 1995, em uma reunio na cidade de Osaka, mas de acordo com o website da APEC de 2012, o programa ainda est em estudo, em uma de suas pginas, ainda cita: Investigating the prospects of and options for a Free Trade Area of the Asia-Pacific). Mesmo com a no existncia de uma rea de livre-comrcio na APEC, as barreiras foram diminudas de 70% a 5,5%; mesmo no tendo uma rea de livre-comrcio institucionalizada, hoje a APEC possui mais de 30 Acordos de Livre-Comrcio bilaterais. Alm disso, o comrcio intra-APEC totalizou no ano de 2007, 8.44 trilhes de dlares e o comrcio com o resto do mundo aumentou de U$3 trilhes em 1989 para U$ 15 trilhes, uma mdia de aumento de 8.3% por ano. O comrcio do mundo em termos gerais aumentou 7.6% no mesmo perodo17. A APEC tambm possui, hoje, uma lista de vrios assuntos tratados em seus Fruns, como energia, agricultura, sade, educao, meio ambiente, terrorismo, segurana nacional, turismo, transporte, dentre outros. Assim sendo, mesmo com uma aproximao no consolidada entre os pases membros, os efeitos dos debates e acordos econmicos feitos at ento retratam as caractersticas de um bloco econmico (antes, essa terminologia no poderia ser feita, ou ento, poder-se-ia usar a expresso associao de pases) que hoje aproveitam dessa situao de globalizao econmica para alcanarem cada vez mais espao no comrcio internacional,17
http://apec.org/About-Us/About-APEC/Achievements-and-Benefits.aspx
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de forma a alargar sua gama de parceiros econmicos internacionais, no se limitando apenas aos pases membros de blocos em comum:
APEC
provided the venue for East Asian
countries to engage North America, South America and Oceania in economic dialogue and to create a venue to discuss issues vital to economic development in the region (MEDALLA e BALBOA, 2010, p. 10). A seguir, descreveremos a outra iniciativa de integrao criada na regio da siaPacfico, a Parceria Trans-Pacfico, ou TPP, no seu acrnimo em ingls.
2.1.3 TPPOutra estratgia de formao conjunta para fins comuns foi a TPP, a Trans-Pacific Strategic Economic Partnership, ou somente Trans-Pacific Partnership. As iniciativas germinaram a partir de reunies em 2003 por Cingapura, Nova Zelndia e Chile, que procuravam uma liberalizao comercial para a regio da sia-Pacfico. Em 2005, Brunei comea a fazer parte das discusses. J em 2006, a aliana definitivamente consolidada, em torno do objetivo de formar acordos de livre-comrcio entre os pases membros. Os EUA, o Peru e o Vietn se comprometem depois tambm participar do conjunto. As primeiras negociaes de fato ocorram em Melbourne, na Austrlia, durante o ms de Maro de 2010. Os temas debatidos incluam mercadorias, agricultura, telecomunicaes, servios, barreiras alfandegrias, meio-ambiente, dentre outros. As discusses, como podem ser vistas, so prximas ou muito similares aos outros blocos econmicos com fins devidamente parecidos, em busca de uma aproximao com pases a fim do desenvolvimento mtuo. Porm um fator importante neste bloco, ou grupo, especificamente, e a influncia dos EUA diretamente nas aes do grupo. Os EUA, dentro do TPP trouxe novamente a questo da influncia de um pas com poder econmico e politico dentro de um certo grupo de pases que visa a notoriedade de seus mercados e o avanos nas suas polticas internacionais. Dentro do TPP, alm dos EUA, o Japo e a China, poderiam ser vistos como possveis parceiros, mas dentro de outros blocos, Japo e China j possuem uma colocao de respeito e j se inserem com certa influncia e prioridade. Alis, a TPP, diferentemente da ASEAN ou ASEAN+6 (tambm conhecida como EAS, East Asia Summit), possui, juntamente com a ideia da APEC, um contexto mais prximo do Pacfico, e consequentemente, da Amrica. Portanto, a presena dos EUA um questionamento sempre levantado quando a proposta envolve pases do Ocidente. De certo modo, os EUA conseguem assumir um papel
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importante dentro deste grupo, especialmente por j possuir acordos de livre-comrcio com pases membros do TPP. E, de acordo com Fergusson e Vaughn (2010, p. 2), os EUA pretenderia negociar seus acordos bilaterais de livre-comrcio com pases os quais no possui ainda, como Nova Zelndia, Brunei e Vietn. A questo do Vietn, dentro do TPP, um tanto quanto complicada, pois adquire a contestao legal devido crtica feita por outros pases de suas normas em relao aos direitos trabalhistas, proteo de propriedade intelectual e corrupo. A integrao do Vietn dentro do TPP foi vetada pelos EUA em Maro de 2009. Para os EUA, de acordo com seus interesses no grupo, dificultaria a proposta de um acordo de livre-comrcio, principalmente tambm da oposio de empresas txteis e vesturio ao regime vietnamita de produo, que envolve falsificao e problemas de cunho trabalhista. O Vietn, por ser o pas menos desenvolvido do grupo, adquire certa dependncia poltica dos EUA, j que por parte dos outros membros, o EUA tem total apoio e sua manuteno nas negociaes imprescindvel para os objetivos do TPP. De forma individual, cada pas declarou ser favor da incluso dos EUA no TPP. Nova Zelndia sempre buscou um acordo de livre-comrcio com os norte-americanos e visava, atravs do acordo, avanar o status do pas no cenrio. Mesmo que nas primeiras rodadas de negociao, o Ministro do Comrcio neozelands Tim Groser especulou que os EUA usaria o TPP como primeiro veculo para incluso dos EUA no jogo de integrao da sia-Pacfico (FERGUSSON; VAUGHN, 2010, p. 2). Essa afirmao prova-se parcialmente errnea, verificando a presena dos EUA j dentro das negociaes da APEC, mesmo que indiretamente. Para a Cingapura, Chile e Austrlia, a presena dos EUA necessria para a manuteno do bloco, e tambm revelaram seu desejo de que os EUA iriam agir como uma catlise para uma posterior expanso do TPP. A integrao de outros pases no TPP atrairiam maiores oportunidades de comrcio, alm de assegurar certa fora para os pases membros dentro dos outros debates nos demais blocos econmicos. Na viso dos EUA, a j explicada inteno de adquirir acordos de livre-comrcio com pases membros que ainda no o possuem, ainda existem outros interesses voltados para as discusses do TPP. A participao no grupo traria a aproximao de outros pases interessados em suas polticas econmicas. Dessa forma, os EUA conseguiriam arquitetar as normas do comrcio internacional regional a partir das suas, trabalhadas em seus acordos de livre-comrcio. E para os norte-americanos, essa estratgia de fundamental importncia para
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a manuteno de sua presena na sia. O medo da perda dos mercados asiticos traria consequncias graves para a sua economia no momento, j que a globalizao econmica tornou pases da sia como China e Japo influentes na regio, e, ainda com uma poltica forte, os EUA resistem em abrir mo dos contatos adquiridos dentro dos blocos regionais, como APEC e a prpria TPP. Como no tm fora coerciva em blocos como ASEAN, ASEAN+3 e EAS, os EUA buscam se fortalecer atravs de pases como menos fora poltica e econmica, dentro de grupos regionais mais fracos. Concluindo a ideia:
The United States remains a leading trade partner for nearly all Asian states. Despite this, the relative importance of the United States as a trading partner for many Asian states is declining. There is fear among the U.S. policy and trade analysis that the United States runs the risk of being marginalized if it does not respond to the proliferation of trade agreements that have emerged in Asia in recent years. By engaging TPP, the United States may be seeking to change this dynamic, both by seeking to join this new trading bloc and by shaping it to be consistent with alreadyexisting comprehensive U.S. FTAs. (FERGUSSON; VAUGHN, 2010, p. 2).
Encerramos esta seo com a descrio da mais recente iniciativa de integrao na bacia do Pacfico, desta vez organizada na sua costa latino-americana, a Aliana do Pacfico.
2.1.4 Aliana do PacficoMesmo com um foco indireto na sia, a Aliana do Pacfico, integrada por Chile, Colmbia, Mxico e Peru, em junho de 2012, aparece como mais um bloco capaz de direcionar um consenso conjunto para o desenvolvimento. Discutida primeiramente no ano de 2011, entre os mesmos atores, porm com membros observadores (Costa Rica e Panam), a Aliana do Pacfico visa mais uma integrao econmica do que uma concorrente disputa com os blocos asiticos. A formao de mais um bloco na Amrica Latina nos leva a desconfiana em relao da efetividade dos outros j estabelecidos. Mesmo possuindo membros com polticas muito diferentes entre si, este bloco busca um foco tambm desenvolvimentista, porm mais voltado para a Amrica Latina com um olhar para a siaPacfico, por isso sua adequao neste trabalho. O foco no estabelecimento de um bloco capaz de voltar seus interesses para o comrcio exterior, principalmente no mercado asitico, tornam os desafios da Amrica Latina em estabelecer-se como um ator importante no cenrio mundial cada vez mais desafiadores. Pela anlise feita pelo investigador Carlos Malamud, investigador do Instituto Real Elcano,
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existem certas dificuldades evidenciadas no cerne da Aliana que devam ser levadas em considerao. Segundo Malamud, h dois grandes problemas na criao da Aliana do Pacfico que podem comprometer a existncia e a eficcia do tratado. O primeiro deles seria uma clara definio do que que se pretende integrar dentro do bloco, ou de como integrar, j tendo uma clara expresso de quem seriam os articulados. Seria a Amrica Latina, a Amrica do Sul ou o continente americano? A iniciativa de uma expanso com Costa Rica e Panam para um acordo de livre-comrcio, as relaes com a China e outros pases do continente asitico, e tambm uma aproximao com o MERCOSUL deixam uma dvida de qual seria o direcionamento das polticas contidas na Aliana do Pacfico. Talvez, todas elas em conjunto seriam um bom pretexto para as mais diversas relaes internacionais, capaz de adquirirem uma visibilidade maior nos contextos comercial e poltico, mas poderiam causar perda de foco e uma lentido na proposio de planos de ao nas mesas de debates e na explanao das intenes para os mais diversos parceiros. Uma segunda dificuldade evidenciada pelo autor seria, com a criao da Aliana, o que seriam feitas, ou como seriam colocadas as alianas ou blocos j existentes. Contendo pases j inseridos em outros (dentre eles UNASUL18, Pacto Andino e APEC) sejam eles econmicos, polticos, ou simplesmente fruns de debate, poderiam causar uma descoordenao de suas estratgias, afinal, outros blocos formados na Amrica do Sul ou Amrica Latina possuem diretrizes similares, e seriam fusionadas ou colocadas em segundo plano? Por Malamud, esses problemas so a prova de que o conjunto da Amrica Latina como um todo tem estado em crise. O investigador procura destacar o estado da integrao na Amrica Latina para uma prospeco da mesma em torno das aglomeraes entre pases, como foi feita na Aliana do Pacfico. Os acordos feitos entre os pases teriam que estar em torno de um objetivo comum para que alcancem o esperado, porm a situao dentro do continente americano outra. No incio, os acordos eram feitos com um foco comercial e econmico. Nas ltimas dcadas, pode-se ver uma busca no tambm no entorno poltico. E este contorno, segundo o autor, no tem avanado muito, devido fragmentao que vive a Amrica Latina e seu impacto sobre as relaes inter-regionais (MALAMUD, 2011, p. 2). Alguns fatores colocados por Malamud realam essa fragmentao: (1) o desequilbrio causado pelo Brasil. O pas se coloca entre o mais avanado e mais economicamente18
A UNASUL foi um organismo composto pelos 12 pases da Amrica do Sul, em maro de 2011. Seu propsito de construir um espao de articulao no mbito cultural, social, econmico, poltico entre seus povos.
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desenvolvido na Amrica Latina, em que a Aliana do Pacfico pode encontrar dificuldades em aproximar o bloco do MERCOSUL, devido complicada relao entre Mxico e Brasil. (2) A incorporao de Cuba aos organismos sul-americanos, posto a inflexibilidade poltica do pas para aproximao de um consenso. (3) As integraes latino-americanas demonstram certa despreocupao com o mundo externo e com a globalizao. Essa despreocupao pode ser dada historicamente pela criao da ALBA (Aliana Bolivariana das Amricas), estruturada em contrapartida a incorporao dos pases latino-americanos ALCA. Apesar desta fragmentao proposta por Malamud ser evidente, a Aliana do Pacfico, assim como a TPP, visam uma abertura maior de sua viso de mundo, no s se abrindo internamente, com membros de outros blocos em busca de um ideal conjunto, mas tambm pretendendo relaes cada vez mais prximas com a sia.
La Alianza no olvida la poltica pero rescata la economa y el comercio como esenciales para la integracin, como muestra su apuesta por el libre comercio y por vincularse a otras zonas con regmenes similares. Esta postura ha supuesto la oposicin de los pases del ALBA, ms explcita en algunos casos que en otros. La divisin ya era perceptible en los intentos previos de constituir un rea regional volcada al Pacfico. (MALAMUD, 2011, p. 3).
Sua diferena tambm est no enfrentamento globalizao. A proposta de alcance ao Pacfico, j declarada por Malamud, auspicia uma busca de novos mercados e novas relaes para o fortalecimento da Amrica Latina na sia. A anlise proposta pelo investigador do Instituto Real Elcano, coloca o ponto da China no papel de um bloco originariamente Latinoamericano. A China ganhou parte do mercado no continente e aproximasse de forma cada vez mais incisiva. A preocupao dos pases da Aliana do Pacfico se volta para a diversificao de mercados. H um certo risco na concentrao das exportaes para a China, e claro, o inverso tambm possvel. O monoplio chins um fator extremamente importante no que tange s relaes dos membros do bloco com a sia, assim sendo, suas polticas tero de ser muito bem colocadas a fim de no ficarem dependentes das polticas chinesas. Da a importncia de que a Aliana negocie em conjunto, ou em bloco, com seus interlocutores orientais (MALAMUD, 2011, p. 4).
2.2 As Relaes da sia e a Amrica LatinaDentro do contexto abordado acima, o foco da sia no se delimitou ao regional, e devidos fatores que sero explanados aqui posteriormente, pode encontrar-se com novas
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formas de dilogo e novos atores-parceiros que vieram a abarcar um novo rumo e uma nova histria poltico-econmica da sia. De uma forma precisa, o membro do Instituto de Relaes Exteriores e Segurana Nacional da Coria do Sul, Lee Jae-Seung (2001, p. 49-50) justifica bem as aes asiticas tomadas:
A inter-regionalizao um fenmeno razoavelmente novo, comparado com outras formas de relaes internacionais. Surgiu como uma rede regional complementar preenchendo o hiato entre a globalizao e a regionalizao. Funciona como uma rede de segurana garantindo uma liberalizao contnua no mbito global, sem com isso perder-se a coerncia regional. A inter-regionalizao baseia-se tanto na globalizao como na regionalizao e sua importncia consiste no fato de servir como ponte entre as duas tendncias aparentemente incompatveis.
Apesar destas aproximaes entre sia e Amrica Latina terem sido feitas a partir da formao dos blocos econmicos j esclarecidos19, de uma forma superficial e sem decises concretas, o que se dar nesse tpico sero os acordos inter-regionais, que faro com que novas alianas e tratados sejam concretizados a fim de estabelecer uma dinmica saudvel entre os pases do oriente e ocidente. Inicialmente, o que se nota no comeo das analises feitas entre estas aproximaes so que comearam por um interesse poltico. A sombra norte-americana sobre os pases do Leste Asitico colocaram em questo a objetividade e eficcia dos blocos formados e qual era o nvel de interdependncia econmica e poltica na qual estes pases asiticos estavam imersos. A aposta de um entrave norte-americano para a aproximao asitica deu-se por colocar os pases em uma situao de busca por uma nova estratgia, visando uma independncia maior dos EUA. Um fator que impulsionou mudanas na colaborao Amrica Latina e sia foi a crise de 1997, que acreditou-se no desempenhar um papel mais atuante no redirecionamento da crise e que a estabilidade regional, econmica e estratgica depende ainda dependia ainda de inciativas e polticas de atores regionais (OLIVEIRA, 2001, pg. 29). Outro fator poltico que influenciou muito as aes asiticas visando a Amrica Latina foi a percepo de que a ALCA 20 seria um projeto a consolidar-se nas Amricas, e consequentemente, afetar ou diminuir as possibilidades de insero da sia no espao latinoamericano, principalmente (OLIVEIRA, 2001, pg. 29). Por isso, os processos de aproximao19
Como no caso da APEC, porm pouco foi feito de fato para que houvesse um dinamismo econmico maior entre os pases da Amrica Latina com a sia, por exemplo, em que se situam Chile, Peru e Mxico. 20 O Acordo de Livre-Comrcio das Amricas foi primeiramente proposto em Dezembro de 1994 na Cpula de Miami, que visava formar uma rea de livre-comrcio entre os 33 pases membro da Cpula at o ano de 2005, ano em que a ALCA iria se oficializar. O Acordo no foi institucionalizado e permanece parado desde 2005.
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tem um carter de desenvolvimento de um inter-regionalismo com identidade e planos asiticos, diferentemente dentro da APEC, com a fora de influncia dos Estados Unidos. O incio da aproximao concreta entre a Amrica Latina e sia explicado por Oliveira (2001, p. 39):
Da mesma forma que a ASEM, o recente processo de aproximao entre sia e Amrica Latina vai ter como ponto inicial uma proposta de Cingapura e vai englobar os pases membros da ASEAN mais o Japo, China e Coria do Sul. Como proposta bsica, trata-se de uma iniciativa com vistas a institucionalizar uma aproximao poltica de alto nvel e implementar programas e planos que ampliem os laos econmicos, polticos e culturais entre as duas regies.
Esta proposta se d por ter, na poca, uma resposta necessria aos regionalismos que aconteciam, uma tendncia de aprofundamentos inter-regionais, como no caso da aproximao EUA e UE. Como j foi citado acima, a estratgia da sia tambm pairava no que tange a influncia dos Estados Unidos nos outros continentes. A ASEM (Asian-Europe Meeting), como foi citada por Oliveira, foi uma dessas tentativas de ligao entre sia e UE, feita pelo Primeiro Ministro de Cingapura, Goh Chok Tong, em 1994, em visita Paris, de forma a estreitar os laos polticos, econmicos e culturais entre as duas partes. Assim, os membros da ASEM (que basicamente constituam-se pelos membros da ASEAN) lanaram o objetivo de regular a influncia dos Estados Unidos na regio e relativizar a importncia dos EUA para a UE, que de fato, dificultaria o avano da economia asitica dentro do continente, barrando a evoluo e o dinamismo da economia emergente que comeava a ser durante a dcada de 90. Tomando com exemplo a ASEM, o Leste Asitico tambm propunha uma forma de aproximao institucionalizada entre Amrica Latina e sia:Assim, na Primeira Reunio de Chanceleres, em maro de 2001, definiu-se que o Frum de Cooperao Amrica Latina sia Leste se insere no contexto da globalizao e do adensamento das relaes entre as diferentes regies do mundo e tem por objetivo preencher lacunas no relacionamento entre as duas regies. O propsito principal deste mecanismo de cooperao e dilogo multidisciplinar interregional o de fomentar o dilogo poltico, entendimento e cooperao 21 (OLIVEIRA, 2001, pg. 40).
21
FUJITA, E. Frum de Cooperao Amrica Latina-sia do Leste. Primeira Reunio de Chanceleres ( Santiago Maro de 2001). Carta Internacional, IX (98): 3, Abril 2001.
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Com esse intuito, nasceu a FOCALAL 22 (Frum de Cooperao Amrica Latina sia do Leste), que, com uma prerrogativa similar da ASEM, procurou ampliar e aprofundar os laos econmicos, polticos e culturais entre as duas regies. Demonstrou no s um interesse asitico pelo espao latino-americano, mas tambm a disposio de diferentes Estados, como Japo, China e Coria do Sul em participar deste processo (OLIVEIRA, 2001, pg. 40). Entretanto, a importncia destes ltimos para a perpetuao e evoluo dos Fruns indispensvel, pois, como atualmente so a alavanca impulsionadora da economia asitica. Ainda como diz Oliveira, (...) tanto para a Europa quanto para a Amrica Latina, s a foi ASEAN, sem Japo, Coria do Sul e China, no despertaria o interesse que se tem para o ASEAN+3 (OLIVEIRA, 2001, pg. 40). Em um contexto mais restrito, a aproximao entre a sia e o MERCOSUL 23 foi vista como um ponto fonte nessas relaes sia e Amrica Latina no comeo dos anos 2000, pois com o no mais que relativo sucesso do bloco, poderia ser visto como uma prspera aliana extra-hemisfrica, trabalhando-se com perspectivas de que a Amrica Latina poderia se constituir num parceiro importante para os projetos asiticos, em se tendo um papel predominante no sistema internacional (OLIVEIRA, 2001, pg. 42). A instituio do MERCOSUL introduziu mudanas profundas no padro de relacionamento internacional no mbito sub-regional e atraiu a ateno da sia pelos mesmos motivos explicados anteriormente, de se ter uma busca por novas alianas que proporcionariam um espao diferente de tratar os mais diversos assuntos da pauta das relaes internacionais, sem os anseios particulares dos Estados Unidos:
Dessa forma, a aproximao sia Leste-Amrica Latina tende a ser um canal de reforo mtuo dos interesses de ambos os parceiros. Para a sia, representa um esforo para no ficar de fora do Mercosul ou da Amrica Latina, principalmente se o processo da ALCA avanar. E, para a Amrica Latina, alm de reforar sua capacidade de negociao nas propostas da ALCA, representa tambm a possibilidade de um maior acesso ao mercado e aos investimentos asiticos (OLIVEIRA, 2001, pg. 46).
Assim, o interesse de Estados em blocos como o MERCOSUL e suas polticas desenvolvimentistas, tanto quanto suas polticas econmicas, fazem com que haja um avano
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O FOCALAL teve sua primeira reunio em 1999, em Cingapura. Em Maro de 2001, teve sua primeira reunio com Ministros das Relaes Exteriores dos pases envolvidos. 23 Fundado em 1991, tendo Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai como membros iniciais, hoje, conta ainda com a participao da Venezuela.
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nas parcerias governamentais entre estes Estados, e novas formas de cooperao sejam iniciadas, ou ento, aprimoradas24, justificadas por Lee (2001, p. 49) no seguinte:
No mbito da competio global, contudo, tornou-se mais difcil sustentar estratgias puramente nacionais. Os arranjos multilaterais tampouco se mostraram eficazes na construo de uma ordem mundial estvel. Uma srie de relaes bilaterais e de integraes regionais emergiram em consequncia.
Cabe salientar que o MERCOSUL coloca desafios para a integrao da sia com a Amrica Latina. Os dois pases mais industrializados do bloco, Brasil e Argentina, buscam definir acordos comerciais que no prejudiquem sua capacidade de produo industrial frente a concorrentes mais bem posicionados do outro lado do Pacfico. A seguir, discutiremos especificamente o papel do Brasil e sua relao com a sia-Pacfico.
2.3 A sia e o BrasilDurante, e aps todo o perodo de aproximaes feitas desde o nascimento da ASEAN, um dos principais e mais consolidados blocos econmicos da sia em contato com a Amrica Latina, at o FOCALAL, percebe-se que os laos vo se aproximando ainda mais, e nota-se tambm o interesse particular entre o Brasil e a sia. Desta forma, Oliveira (2001, p. 40) considera que a iniciativa de aproximao entre as duas regies, atravs da Focalal, gerou a ampliao das potencialidades brasileiras. E tambm destaca:
[...] o presente interesse mtuo, alm da busca das complementaridades bvias em termos de comrcio e alianas polticas tanto nos planos bilaterais quanto nos multilaterais, demonstra a vontade poltica de estreitamento de relaes em funo da necessidade de estabelecimento de parcerias, de um lado, no processo de distribuio de poder internacional e, de outro, na disputa pela garantia de acesso mercados.
O Brasil delega a regio asitica um espao especial visando o investimento e o acesso s tecnologias de ponta. Por outro lado, a sia desperta tambm seu interesse no Brasil pela sua produo de insumos bsicos e produtos alimentcios, e tambm pela alta quantidade de matria-prima existente, que contribui como o principal fator do comrcio internacional do pas. Analisaremos nesta parte do trabalho, como se iniciaram, partir da aproximao dos blocos, os acordos bilaterais entre os pases asiticos e o Brasil. De certa forma, perceberemos24
Ser exemplificado pelos prximos captulos deste trabalho, no caso do Brasil com a Coria do Sul.
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que o regionalismo asitico contribuiu para que as relaes sia-Brasil pudessem se fortalecer e evidenciar os acordos e polticas econmicas voltadas para a ampliao de mercados. Porm, certas relaes bilaterais j existiam muito antes de comearem a formar os blocos e fruns para melhorias no quesito poltico-econmico entre os pases latino-americanos (nesse contexto, o Brasil) e os pases asiticos. Ao longo da consolidao dos acordos, as relaes bilaterais tambm se consolidavam e fortaleciam-se, e gradativamente, ambas progrediam juntas para a afirmao das polticas entre as naes. No incio dessas relaes bilaterais, o relacionamento do Brasil com a regio asitica permanecia unicamente voltado para o Japo25, que desde o Tratado de Amizade, Comrcio e Navegao de 1895, que permitiram aos japoneses um trabalho em regime de servido por contrato, que os obrigava a trabalhar nas lavouras cafeeiras, depois de sua primeira expedio de imigrantes em 1908. No prolongaremos detalhes desse perodo, focando no perodo em que comeam as polticas regionalistas por volta dos anos 70. Segundo Oliveira (1999, p. 92), houveram dois fluxos principais comerciais que alavancaram essa aproximao Japo-Brasil, agora j na categoria de parceiros econmicos internacionais. O primeiro se apresenta na segunda metade da dcada de 50, consolidando uma infraestrutura comercial, a cargo das trading companies japonesas. O investimento se das primeiras fbricas que instalavam-se no Brasil eram do ramo txtil e de comercializao. O segundo fluxo, dado nos anos 70, coincide com o milagre econmico brasileiro, e a chegada do Japo como potncia, e tendo como consequncia, a valorizao do iene. Assim indicava-se uma convergncia de interesses tanto do Japo como do Brasil, assim como uma busca estabilidade poltica e econmica. Muito prximo este perodo, temos o Brasil reatando suas relaes diplomticas com a China, em 1974, desde a sua separao em 1949, aps a vitria de Mao Tse-Tung na revoluo comunista da China. Assim sendo, de acordo com Oliveira (2001), o Brasil diversificava suas parcerias internacionais, buscando uma insero mais competitiva. Isso serviu para reafirmar a credibilidade e legitimidade da ao brasileira em busca de novas alianas para o comrcio e desenvolvimento interno e externo. Porm, somente na dcada de 90 que se acelera o desenvolvimento comercial entre os dois pases, na rea da cooperao tcnico-cientfica, com o projeto de produzir satlites de sensoriamento remoto em 1999. Na rea poltica, a China utiliza-se de seu assento permanente no Conselho de Segurana para se aproximar dos pases em desenvolvimento e nesse sentido acena com a possibilidade de25
De maior importncia histrica, pois o Brasil j possua alguns contatos com a China e Hong Kong neste perodo, mas, igualmente tratado no texto, levaremos em conta as aproximaes da segunda metade do sculo XX, em que se consolidou o comrcio internacional na era da globalizao.
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apoiar o interesse brasileiro em aceder ao Conselho de Segurana (OLIVEIRA, 2001, p. 120). O Brasil, da mesma forma, determina seu posicionamento por regras justas de comrcio, defendendo o sistema multilateral de comrcio e favor da entrada da China na OMC. De certa forma, por volta da segunda metade da dcada de 90, alm da aproximao com uma China em estado de ascenso econmica, houve a crise de 1997, que como j foi dito, impulsionou as parcerias entre a sia e a Amrica Latina. Oliveira (2001) aponta que pelo desenvolvimento econmico acelerado e por estar integrado atravs da Asean, o Sudeste Asitico foi visualizado como um potencial parceiro poltico e econmico, depois do estabelecimento do Mercosul. A visita do Secretrio-Geral da Asean ao Brasil, em 1997, foram discutidas vrias alternativas de aproximao entre Mercosul e Asean. E neste ponto, o Brasil, como pas mais forte dentre os membros do Mercosul, teve sua participao dentro dessa aproximao potencializada, mesmo no sendo de interesse mtuo uma rea de livrecomrcio entre os dois blocos, como segue:
Mesmo assim, houve um crescente aumento no intercmbio comercial entre Brasil e a Asean, demonstrando a potencialidade de maior estreitamento. No caso da Asean, assim como a China, chama igualmente a ateno existncia de imensas possibilidades quanto prestao de servios no desenvolvimento de infraestrutura em especial no campo energtico e de transportes (OLIVEIRA, 2001, p. 120).
Portanto, existe a prova de que a atratividade que possua o Brasil, pela abertura de mercado e estabilidade financeira, e por outro lado, a ampliao de seu mercado regional com o MERCOSUL, percebia-se um crescente interesse do Sudeste Asitico pelo Brasil. Como explica Oliveira, Esse interesse no s econmico-comercial, mas igualmente polticoestratgico em funo da disputa por poder e por mercados que se processa na OMC e em outros fruns multilaterais (OLIVEIRA, 2001, p. 120). A diversificao de parceiros comerciais tambm resultava na teoria de que o Japo no representava o nico mercado asitico para os produtos brasileiros. No entanto, a Asean constitua uma fora de aproximao necessariamente com os trs lderes do Nordeste asitico - Japo, Coria do Sul e China constituindo a Asean+3, refletindo uma tendncia cooperao regional e principalmente, a resistncia permanente dessa cooperao entre Asean-Brasil, pois, devidos aos laos bilaterais j existente em anos de histria dos pases envolvidos, foi possvel usar dessa crescente aproximao algo que garantisse credibilidade e interesses mtuos.
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Por fim, a histria econmica de Brasil-Coria do Sul iniciava-se antes mesmo dos fruns Asean+3, tendo uma dinmica tambm atrelada ao bloco do Sudeste Asitico, no que tange ao fato da aproximao econmica e poltica em perodos que ambos cresciam de forma significativa no comrcio internacional, e verificaram entre si grandes probabilidades de ganho na extenso das trocas externas. Justificando nas palavras de Oliveira: a Coria do Sul e o Sudeste asitico, pelos respectivos processos de desenvolvimento econmico acelerado, passaram igualmente a ser visualizados como possveis parceiros polticos e econmicos (OLIVEIRA, 2001, p. 120). O espao ganho pela Coria do Sul dentro do Sudeste Asitico comea no incio da dcada de 90, aps o seu desenvolvimento rpido nas dcadas anteriores 26. Empresas como LG, Samsung, Hyundai, Kia e Daewoo aparecem fortemente para ganhar mercados no s no mbito regional, mas tambm ganharam projeo internacional. Com essa ampliao no relacionamento com a sia, pode, com a proposta das cooperaes inter-regionais, buscar novos mercados para investimentos diretos direcionados ao setor eletrnico e automobilstico. Dessa forma, o Brasil foi um alvo dessa poltica expansionista do capital sul-coreano, de forma a conquistar, rapidamente, o mercado de industrializados no pas:
A crescente participao coreana no comrcio brasileiro parece ter sido reforada pelo fato de os conglomerados coreanos (chaebol27) mostrarem-se mais agressivos na conquista de mercados seja na Amrica Latina, seja no Brasil, procurando suplantar o papel desempenhado pelo Japo. Sua ao parece estar orientada pelo objetivo de formao de redes de distribuio, criando possibilidades de investimentos diretos como base para um integrao produtiva em setores de manufaturados (OLIVEIRA, 2001, p. 120).
A partir deste perodo, o Brasil e a Coria do Sul apresentaro uma parceria cada vez mais acentuada durante sua histria. O Brasil, principalmente, ter a oportunidade de desenvolver condies favorveis para um comrcio externo que trar mudanas significativas para a indstria domstica e para as polticas econmicas do Brasil. Pode-se constatar, portanto, que o crescimento do regionalismo fez com que novas possibilidades de alianas fossem abertas, de forma a formarem blocos regionais, alcanando no somente as naes prximas, mas mesmo pases distantes para a abertura de mercados importantes para ambos os lados. Fatores como a crise de 1997 impulsionaram cada vez mais
26 27
Fato a ser tratado detalhadamente no prximo captulo deste trabalho. Chaebol o termo coreano que define um conglomerado de empresas em torno de uma empresa-me, normalmente controladas familiares, iniciado no comeo da dcada de 60.
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essas alianas, e mesmo a Coria do Sul ter entrado com fora no mercado brasileiro nos anos 90, este momento serviu com motor de propulso para uma das alianas mais benficas para o mercado brasileiro. Com o desenvolvimento entre as relaes Brasil-Coria do Sul, podem ser analisados aspectos culturais, polticos e principalmente econmicos, os quais so o objetivo deste trabalho. Logo, o papel sul-coreano ser analisado dentro deste trabalho, desde suas caractersticas histricas no Brasil, ao longo de toda sua progresso a partir da abertura econmica e financeira dos anos 90 e do momento de globalizao do capital, justificando a entrada do capital sul-coreano no Brasil.
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3 AS RELAES BRASIL-CORIA: DAS RELAES DIPLOMTICAS AO INVESTIMENTO DIRETO EXTERNO
Nesta terceira seo, ser discutido o incio das relaes entre a Repblica do Brasil e a Repblica da Coria do Sul, desde sua diplomacia at o momento em que ocorre a aproximao econmica e o dinamismo de seu comrcio. Na seo passada, foi dado um apanhado sobre as relaes interestatais e a formao de blocos e alianas em torno de um desenvolvimento comum, comeando pelo plano regional at a chegada destes grupos outros continentes, e por conta deste intercmbio, aparecem novas formaes polticas e econmicas em torno da aproximao da crescente regio asiticas para a Amrica, especialmente a Amrica Latina, contexto o qual direcionado este trabalho. A importncia de verificar a formao destes blocos exemplificada no fato da abertura poltica e econmica no decorrer das dcadas passadas (dentro da seo passada, a partir do ps-guerra). E na seguinte anlise, verifica-se a aproximao dos pases presentes nos blocos com os pases do outro extremo do Pacfico, no caso a Amrica Latina, e o Brasil em especial. Deve-se notar tambm que, dentro deste trabalho, haver a descrio do incio das relaes entre Coria28 e Brasil atravs da sua diplomacia, que comeam antes do perodo de formao dos blocos regionais. Mas vale destacar a importncia do fortalecimento posterior das polticas da Coria por conta destes blocos, que chegariam Amrica Latina por interesses polticos e econmicos, aproximando assim gradativamente o pas com o Brasil, e posteriormente, a formao de alianas e tratados entre os dois pases por conta de seu comrcio internacional. Atravs desta informao, poderemos dentro deste captulo iniciar o caminho histrico que traou a Coria, a partir da sua diviso em 1948 com a Coria do Norte, a guerra entre as duas Corias, e depois, o papel da imigrao dos coreanos para o mundo, o comeo da diplomacia com o Brasil, e logo a imigrao dentro do pas. Aps o levantamento dessas informaes, teremos a anlise do incio da cultura coreana dentro do Brasil, sua demografia e seu desenvolvimento econmico, chegando finalmente relao de confiana entre as duas naes, culminando com os investimentos diretos da Coria no Brasil. Este movimento de aproximao continua at os dias de hoje, mas em nosso trabalho, ser adotado principalmente o interim entre as dcadas de 90 at o ano prximo a 2010. A28
A partir de adiante, a Coria do Sul ser denominada, por conveno, somente de Coria. No caso de comparaes com a Coria do Norte, essa ser simplesmente caracterizada por Coria do Norte.
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importncia do papel dos blocos regionais esta diretamente interligada ao processo de amadurecimento das relaes Coria-Brasil, a partir de possibilidades de negociao e debates, que pela APEC, a Coria pode definir um avano para terras Latino-americanas, atravs de visitas de seus presidentes durante as dcadas de 80 e 90, e tambm pelos planos de cooperao que visava a Coria para o Brasil, j que mostrava um desenvolvimento e crescimento muito superiores ao deste ltimo. Por fim, mostraremos como est o progresso dos investimentos no Brasil a partir da Coria e quais so os dados que podero confirmar que essa relao tem um futuro mais progressivo e de carter cooperativo, para ambos os lados. Apesar de a China ter ocupado a agenda comercial do Brasil como pas nmero um, a pequena e avanada Coria vai conquistando cada vez mais espao no comrcio internacional, e tambm com o crescente nmero de empresas dentro do pas, galgando um pedao ainda maior do bolo econmico brasileiro.
3.1 As Relaes Diplomticas e a ImigraoA diplomacia coreana com o Brasil tem incio no ano de 1959. Porm, anterior ao acontecimento, h um contexto importante pela qual se deu o incio desta relao diplomtica. Aps a derrota da Rssia pelo Japo em 1905, o territrio da Coria (nesta poca, unificado) se tornou protetorado do Japo at o ano de 1910, em que foi assinado o Tratado de Anexao Coria-Japo. A dominao tornava o territrio uma mera colnia de explorao japonesa. At o final da Segunda Guerra Mundial, a dominao perpetuou-se at que o Japo perde a guerra e so criados dois territrios, ou zonas de influncia: o norte sob influncia sovitica e o sul sob influncia norte-americana. Assim, o Brasil reconheceu o sul da Coria, sendo o oitavo pas a faz-lo. Porm, ambas as Coreias clamavam o domnio interino da pennsula coreana, culminando na Guerra da Coria, que dura trs anos. Este conflito foi mais um dos primeiros conflitos de influncia indireta das duas potncias da Guerra Fria, os EUA e a Unio Sovitica. Aps o conflito blico, as duas Coreias ficam legitimamente separadas, a do sul capitalista sob influncia dos EUA, e a do norte comunista, com o apoio dos soviticos. O Brasil, juntamente com os demais pases latino americanos, apoiava a causa sul-coreana, atravs do seu comportamento cooperativo com os EUA. E assim, em 1959, o Brasil ratifica suas relaes diplomticas com a Coria do Sul. Cria-se, ento, a primeira embaixada da Coria no Brasil, em 1962, no Rio de Janeiro. J em 1965, a primeira embaixada brasileira criada tambm em Seul, posteriormente, a
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embaixada carioca passa para a recm-inaugurada capital de Braslia. Outros pases latinos americanos tambm voltam suas atenes para a Coria e estabelecem suas embaixadas no pas, assim como recebem a diplomacia coreana em seus Estados. A partir do incio das relaes diplomticas, comeam as ondas de imigrao de coreanos no Brasil.
3.1.1. A Imigrao CoreanaAntes mesmo da imigrao coreana comear no Brasil, vrios outros pases receberam o povo coreano. As razes, naquele perodo histrico, para que houvesse um considervel movimento migratrio a partir da pennsula coreana, foram justamente s ocupaes e guerras, tanto pela China, Japo e Rssia, que disputaram o territrio e conflitaram dentre dele, que desesperaram coreanos a fugirem do massacre dos exrcitos estrangeiros e principalmente da violncia fsica, e muitas vezes sexual dos dominadores. Porm, os coreanos no dotavam de riqueza suficiente para fugir para outros continentes, e acabaram por migrar para os pases dos prprios agentes belicosos em seu pas. Aps todo o perodo de dominao, com a ocupao norte-americana no ps-segunda guerra, houve imigrao para os EUA e Canad, que buscaram no somente a paz para suas famlias, mas tambm melhores condies de vida, em detrimento da pobreza que vivia o pas. Por este segundo motivo, acabaram tambm migrando para pases como Austrlia, Novos Zelndia e Europa, j na dcada de 70. No Brasil, a imigrao coreana inicia-se oficialmente em Fevereiro de 1963, quando o primeiro grupo de 103 coreanos desembarca na cidade de Santos. Os motivos pela qual despertou a vontade da emigrao neste perodo para o Brasil foi o golpe de Estado pelo general Park Chung Hee, apesar do descontentamento j existente nos governos anteriores de Syngman Rhee (48-60) e Yun Po Sun (60-61). Com isso, o governo brasileiro j se preparava para a imigrao coreana com o estabelecimento, em 1961, de uma associao de emigrao, que visava auxiliar os imigrantes na sua chegada ao pas. Nesta poca, o governo coreano estimulava a emigrao no pas para o controle de natalidade, atravs da poltica de reduzir a populao e diminuir o impacto do ps-guerra nas escolas e mais tarde no mercado de trabalho (MASIERO, 1999). A partir disso, o constante crescimento da populao migrante coreana no Brasil fez com que o governo brasileiro passasse a restringir estes movimentos, causando um movimento clandestino para dentro. Muitos coreanos chegaram por pases vizinhos como Panam, Bolvia e Paraguai, para depois se realocarem em pases como Brasil
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e Argentina. Porm, mesmo com os problemas encontrados com a imigrao clandestina, o Brasil proporcionou uma Anistia no ano de 1969, garantindo mais de 1000 coreanos a legalidade. Muitos destes coreanos que entravam no Brasil, ilegalmente ou legalmente, eram designados as lavouras, assim como na imigrao japonesa no comeo do sculo XX, estabelecido por um acordo entre Brasil e Japo. Porm a maioria dos coreanos abandonava sua rotina rural e migravam para as cidades. Isso porque em sua cultura, pouco plantavam em latifndios, j que o pas pequeno e se especializava em outro tipo de cultura produtiva, como a produo txtil, e microculturas como a do arroz, alm do fato de os coreanos buscarem reas onde existissem escolas, hospitais, dentre outras recursos. Atravs deste fato, contrrio a poltica acordada entre brasileiros e coreanos, nas cidades, desenvolveram-se como pequenos varejistas, principalmente, na indstria de confeces e de tecidos. Assim, na regio do Bom retiro, em So Paulo, onde 90% da populao coreana permanecia, formou-se uma gama de pequenas indstrias de tecidos controlados por expatriados vindos da Coria, e dominando uma rea do varejo que antes era comandada por imigrantes judeus e rabes. Muitas vezes, conseguiram o monoplio por formarem pequenos grupos de coreanos que se ajudavam entre si dentro do mercado de confeces. Porm, muitos destes coreanos correram grande risco por conta da sua ilegalidade, at chegarem ao domnio da indstria, trabalhavam sem qualquer descanso, com medo de serem deportados. A partir da, a indstria de confeces foi sendo desenvolvidas pelos imigrantes at se estabelecerem por completo. Porm as indstrias de tecidos perderam fora pelos imigrantes coreanos, e devido o processo de liberalizao das importaes, especialmente pela China, muitos coreanos se voltaram para outras atividades econmicas como turismo, lojas de convenincia (que inclusive comearam a trazer produtos de seu prprio pas para os compatriotas), restaurantes, entre outros (GUIMARES, 2006, p. 9). Um rduo perodo os levou a passar fome e medo para poderem usufruir de uma vida no mnimo decente dentro da sociedade na megalpole urbana. Mas como todo processo de imigrao, a adaptao a cultura do pas foi um grande desafio. O Brasil constitudo por uma cultura completamente heterognea, de civilizaes vindas da Europa, frica e Oriente Mdio. Ao contrrio da populao coreana, que extremamente homognea e conservadora. Em uma cidade como So Paulo, o cosmopolitismo moderno veio se chocar com um mtodo de vida e hbitos urbanos diferentes da capital coreana, Seul, que muito mais antiga que So Paulo e por isso, tem seus costumes e modo de vida distintos. Portanto, o inevitvel choque cultural e o
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processo de adaptao fez com que a comunidade coreana em So Paulo se fechasse em torno de sua populao. Isso causou diferentes problemas tanto para as famlias coreanas quanto para as brasileira que desfrutavam do mesmo espao urbano. Pelo lado brasileiro, a populao os via como meros forasteiros, com hbitos sujos e estranhos. Pelos coreanos, o brasileiro era um ser rude e preguioso, e, portanto, as famlias no deveriam se misturar, fortalecendo o conservadorismo j existente dentro da cultura coreana. Esta viso fechada foi se degradando com o tempo, assim que os coreanos mais jovens comeavam a frequentar escolas, parques e clubes com jovens paulistanos, havendo uma mudana gradativa da viso de uma cultura pela outra. Conseguindo um espao mais aberto na comunidade, os coreanos sonhavam com uma vida otimizada d