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Tipos de Textos Os tipos de textos são classificados de acordo com sua estrutura, objetivo e finalidade. De maneira geral, a tipologia textual é dividida em: texto dialogal, descritivo, narrativo, injuntivo, explicativo e argumentativo. Texto Dialogal As reflexões recentes sobre tipos ou tipologias de texto têm por base fundamentalmente as propostas de Jean-Michel Adam (1992) 1 , segundo as quais, a partir da heterogeneidade composicional dos discursos reais, são definidos padrões de textualização. Trata-se de passar da complexidade das formas discursivas reais para o apuramento de formas mais elementares ou tipos relativamente estáveis de sequências, disponíveis para entrarem num número infinito de combinações. Aquilo que Adam descreve são protótipos textuais (narrativo, descritivo, argumentativo, expositivo, injuntivo, dialogal), ou seja, agregados de regularidades do processo de textualização. 2. Se dermos como equivalentes os termos protótipos textuais tipos de texto, então temos de reconhecer que raramente um discurso real — efetivamente produzido num contexto situacional efetivo — corresponde integralmente a uma tipologia. Talvez alguns textos técnicos (a circular, o aviso, a convocatória, etc.) sejam composicionalmente homogéneos. A regra é a heterogeneidade: o sermão tem sequências argumentativas e sequências narrativas; o discurso publicitário tem descrição e argumentação; o romance tem narração e descrição, etc. 3. O texto dialogal caracteriza-se por integrar turnos (ou tomadas de vez) de índole fática — são os turnos de abertura e de fechamento; ex.: Abertura «— Olá!» «— Então, tudo bem?» «— Boa tarde.» «— Por favor.» Fechamento «— Adeus, porta-te bem.»

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Tipos de Textos: dialogal, descritivo, narrativo, injuntivo, explicativo e argumentativo.

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Tipos de Textos

Os tipos de textos são classificados de acordo com sua estrutura, objetivo e finalidade. De maneira geral, a tipologia textual é dividida em: texto dialogal, descritivo, narrativo, injuntivo, explicativo e argumentativo.

Texto Dialogal

As reflexões recentes sobre tipos ou tipologias de texto têm por base fundamentalmente as propostas de Jean-Michel Adam (1992)1, segundo as quais, a partir da heterogeneidade composicional dos discursos reais, são definidos padrões de textualização. Trata-se de passar da complexidade das formas discursivas reais para o apuramento de formas mais elementares ou tipos relativamente estáveis de sequências, disponíveis para entrarem num número infinito de combinações.

Aquilo que Adam descreve são protótipos textuais (narrativo, descritivo, argumentativo, expositivo, injuntivo, dialogal), ou seja, agregados de regularidades do processo de textualização.

2. Se dermos como equivalentes os termos protótipos textuais — tipos de texto, então temos de reconhecer que raramente um discurso real — efetivamente produzido num contexto situacional efetivo — corresponde integralmente a uma tipologia. Talvez alguns textos técnicos (a circular, o aviso, a convocatória, etc.) sejam composicionalmente homogéneos. A regra é a heterogeneidade: o sermão tem sequências argumentativas e sequências narrativas; o discurso publicitário tem descrição e argumentação; o romance tem narração e descrição, etc.

3. O texto dialogal caracteriza-se por integrar turnos (ou tomadas de vez) de índole fática — são os turnos de abertura e de fechamento; ex.:

Abertura«— Olá!»«— Então, tudo bem?»«— Boa tarde.»«— Por favor.»

Fechamento«— Adeus, porta-te bem.»«— Até à próxima.»«— Obrigado. Passe bem.»

Entre a abertura e o fechamento há o corpo da interação, composto pelos movimentos de pergunta-resposta.

O texto dialogal tem a especificidade de ser um texto cogerido, na medida em que é produzido por, pelo menos, dois locutores: aquilo que um locutor diz tem de vir a propósito do que o outro disse; os interlocutores, à vez, concordam, discordam, generalizam, exemplificam, justificam, concluem, particularizam, etc.

Alguns exemplos de discursos em que o protótipo dialogal é dominante: a entrevista, o debate, a reunião de trabalho, etc.

4. À luz do que ficou dito sobre a heterogeneidade composicional dos discursos, fica claro que uma narrativa se pode compor de sequências prototípicas narrativas e de sequências prototípicas

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dialogais. Por exemplo, Baía dos Tigres, de Pedro Rosa Mendes2, integra um capítulo dedicado à reprodução de uma entrevista.

5. A relação protótipo narrativo — protótipo dialogal distingue-se, porém, da integração, na sequência narrativa, do discurso relatado: discurso direto e indireto. O discurso relatado diz respeito aos diferentes modos de representar as falas atribuídas a outros locutores que não o locutor principal (se o texto englobante for narrativo, esse locutor principal é o narrador). O discurso direto não é considerado um tipo textual, mas um fenómeno enunciativo.

1ADAM, Jean-Michel 1992 – Les Textes: Types et Prototypes, Paris, Nathan.

2 MENDES, Pedro Rosa 1998 – Baía dos Tiges, Lisboa, Dom Quixote: 355-368.

Texto Descritivo

O texto descritivo expõe apreciações e observações, de modo que indica aspectos, características, detalhes singulares e pormenores, seja de um objeto, lugar, pessoa ou fato. Dessa maneira, alguns recursos linguísticos relevantes na estruturação dos textos descritivos são: a utilização de adjetivos, verbos de ligações, metáforas e comparações.

O texto descritivo é um tipo de texto que envolve a descrição de algo, seja de um objeto, pessoa, animal, lugar, acontecimento, e sua intenção é, sobretudo, transmitir para o leitor as impressões e as qualidades de algo.

Em outras palavras, o texto descritivo capta as impressões, de forma a representar a elaboração de um retrato, como uma fotografia revelada por meio das palavras.

Para tanto, alguns aspectos são de suma importância para a elaboração desse tipo textual, desde as características físicas e/ou psicológicas do que se pretende analisar, a saber: cor, textura, altura, comprimento, peso, dimensões, função, clima, tempo, vegetação, localização, sensação, localização, dentre outros.

Características

Retrato verbal Ausência de ação e relação de anterioridade ou posterioridade entre as frases Predomínio de substantivos, adjetivos e locuções adjetivas Utilização da enumeração e comparação Presença de verbos de ligação Verbos flexionados no presente ou no pretérito (passado) Emprego de orações coordenadas justapostas

Estrutura Descritiva

A descrição apresenta três passos para a construção:1. Introdução: apresentação do que se pretende descrever.2. Desenvolvimento: caracterização subjetiva ou objetiva da descrição.3. Conclusão: finalização da apresentação e caracterização de algo.

Tipos de Descrição

Conforme a intenção do texto, as descrições são classificadas em: Descrição Subjetiva: apresenta as descrições de algo, todavia, evidencia as impressões pessoais do emissor (locutor) do texto. Exemplos são nos textos literários repletos de impressões dos autores.

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Descrição Objetiva: nesse caso, o texto procura descrever de forma exata e realista as características concretas e físicas de algo, sem atribuir juízo de valor, ou impressões subjetivas do emissor. Exemplos de descrições objetivas são os retratos falados, manuais de instruções, verbetes de dicionários e enciclopédias.

ExemplosSegue exemplos de textos descritivos:

Descrição Subjetiva“Ficara sentada à mesa a ler o Diário de Notícias, no seu roupão de manhã de fazenda preta, bordado a sutache, com largos botões de madrepérola; o cabelo louro um pouco desmanchado, com um tom seco do calor do travesseiro, enrolava-se, torcido no alto da cabeça pequenina, de perfil bonito; a sua pele tinha a brancura tenra e láctea das louras; com o cotovelo encostado à mesa acariciava a orelha, e, no movimento lento e suave dos seus dedos, dois anéis de rubis miudinhos davam cintilações escarlates.” (O Primo Basílio, Eça de Queiroz)

Descrição Objetiva"A vítima, Solange dos Santos (22 anos), moradora da cidade de Marília, era magra, alta (1,75), cabelos pretos e curtos; nariz fino e rosto ligeiramente alongado."

Texto Narrativo

A marca fundamental do texto narrativo é a existência de um enredo, do qual se desenvolvem as ações das personagens, marcadas pelo tempo e pelo espaço. Assim, a narração possui um narrador (quem apresenta a trama), as personagens (principais e secundárias), o tempo (cronológico ou psicológico) e o espaço (local que se desenvolve a história). Sua estrutura básica é: apresentação, desenvolvimento, clímax e desfecho.

A Narração é um tipo de texto que esboça as ações de personagens num determinado tempo e espaço. A estrutura do texto narrativo é composta de: Apresentação Desenvolvimento Clímax Desfecho.

Os Elementos da Narrativa

Narrador - Quem narra a história. Dividem-se em: narrador-observador; narrador personagem e narrador- onisciente. Enredo - É a estrutura da narrativa, ou seja, a trama em que se desenrolam as ações. Pode ser: Enredo Linear, Enredo Não linear, Enredo Psicológico e Enredo Cronológico. Personagens - São aqueles que compõem a narrativa. São classificadas em Personagens Principais (Protagonista e Antagonista) e Personagens Secundários (Adjuvante ou Coadjuvante). Tempo - Marcação do tempo, data, momento, dentro da narrativa. O tempo pode ser Cronológico ou Psicológico. Espaço - Local (s) onde a narrativa se desenvolve. Podem ocorrer num Ambiente Físico, Ambiente Psicológico ou Ambiente Social.Tipos de Narrador Narrador-Personagem - A história é narrada em 1ª pessoa no qual o narrador é um personagem e participa da história. Narrador-Observador - Narrado em 3ª pessoa, esse tipo de narrador conhece os fatos porém, não participa da ação.

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Narrador-Onisciente - Esse narrador conhece todos os personagens e a trama. Nesse caso, a história é narrada em 3ª pessoa e quando apresenta fluxo de pensamentos dos personagens, a ação é narrada em1ª pessoa.

Tipos de Discurso Narrativo

Discurso Direto - No discurso direto, a própria personagem fala. Discurso Indireto - No discurso indireto o narrador interfere na fala da personagem. Em outras palavras, é narrado em 3ª pessoa uma vez que não aparece a fala da personagem. Discurso Indireto Livre - No discurso indireto-livre há intervenções do narrador e das falas dos personagens. Nesse caso, funde-se o discurso direto com o indireto

Exemplos de Textos Narrativos

Importante frisar que dependendo da intenção do narrador, a narrativa pode ser elaborada nos discursos: direto, indireto e indireto-livre. Vejamos alguns exemplos:

Discurso Direto

Discurso Indireto

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Discurso Indireto Livre

Curiosidade Alguns exemplos de narrativas são: Romance, Novela, Conto, Crônica e Fábula.

Texto Injuntivo

O texto injuntivo ou instrucional está pautado na explicação e no método para a realização de algo, por exemplo, uma receita de bolo, bula de remédio, manual de instruções e propagandas. Dessa forma, um dos recursos linguísticos marcantes desse tipo de texto, é a utilização dos verbos no imperativo, de modo a indicar uma "ordem", por exemplo, na receita de bolo: “misture todos os ingredientes”; bula de remédio “tome duas cápsulas por dia”; manual de instruções “aperte a tecla amarela”; propagandas “vista essa camisa”.

O texto injuntivo ou instrucional está pautado na explicação e no método para a concretização de uma ação, ou seja, indicam o procedimento para realizar algo, por exemplo, uma receita de bolo, bula de remédio, manual de instruções, editais e propagandas.Com isso, sua função é transmitir para o leitor mais do que simples informações, visa sobretudo, instruir, explicar, todavia, sem a finalidade de convencê-lo por meio de argumentos.A partir disso, note que são textos o quais incitam a ação dos destinatários, controlando, assim, seu comportamento, ao fornecer instruções e indicações para a realização de um trabalho ou a utilização correta de instrumentos e/ou ferramentas.

Texto Injuntivo e PrescritivoHá quem estabeleça uma relação entre os textos injuntivos e prescritivos e, por outro lado, há os que defendem que são textos sinônimos e pertencem à mesma categoria, das quais compartilham funções e finalidades.No entanto, os linguistas que preferem dividi-los em dois tipos de textos informam que o texto injuntivo, instrui sem uma atitude coercitiva, recurso marcante nos textos ditos prescritivos. Para esse grupo de estudiosos, um texto injuntivo pode ser um manual de instruções ou uma receita, enquanto os textos prescritivos asseguram um tipo de atitude coercitiva, por exemplo, os editais dos concursos, contratos e leis.

Recursos LinguísticosA linguagem dos textos injuntivos é simples e objetiva. Um dos recursos linguísticos marcantes e recorrentes desse tipo de texto, é a utilização dos verbos no imperativo, de modo a indicar uma “ordem”, por exemplo, na receita de bolo: “misture todos os ingredientes”; bula de remédio “tome duas cápsulas por dia”; manual de instruções “aperte a tecla amarela”; propagandas “vista essa camisa”.

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ExemplosSegue alguns exemplos de textos injuntivos:

Manual de Instruções“Instalação: Prefira sempre os serviços da Rede de Assistência Técnica Brastemp para realizar desde a instalação até a manutenção de seus produtos com tranquilidade e segurança.1° passo: Veja se a tomada onde o produto será instalado tem o novo padrão plugue, segundo o INMETRO.2° passo: Verifique se a tensão da rede elétrica no local de instalação é a mesma indicada na etiqueta do plugue da sua lavadora.3° passo: Nunca altere ou use o cabo de força de maneira diferente da recomendada. Se o cabo de força estiver danificado, chame a Rede de Serviços Brastemp para substituí-lo.4° passo: Verifique se o local de instalação possui as condições adequadas indicadas no Manual do Consumidor:-A pressão da água para abastecimento deve corresponder a um nível de 2 a 80 m acima do nível da torneira;- Recomenda-se que haja uma torneira exclusiva para a correta instalação da mangueira de entrada;- É obrigatória a utilização de uma torneira com rosca ¾ de polegada para a instalação da mangueira de entrada de água, a não utilização dela pode gerar vazamentos.- A mangueira de saída deve ser instalada no tanque (utilizando a curva plástica) ou em um cano exclusivo para o escoamento, com diâmetro mínimo de 5 cm. O final da mangueira deve estar a uma altura de 0,85 a 1,20 m para o correto funcionamento da Lavadora.Caso o local de instalação não tenha as condições adequadas, providencie as modificações, consultando um profissional de sua confiança.”(Manual de Instruções da Lavadora Brastemp Ative Automática 9kg)

Bula de Remédio“Apresentação de Norfloxacino (Laboratório: Medley, Referência: Floxacin)Comprimidos revestidos de 400 mg. Embalagens com 6 e 14 comprimidos revestidos. USO ADULTO - USO ORALCOMPOSIÇÃOCada comprimido revestido contém:Norfloxacino ................................................................................ 400 mgexcipientes q.s.p. ................................................................. 1 comprimido(celulose microcristalina, croscarmelose sódica, dióxido de silício, estearilfumarato de sódio, lactose monoidratada, laurilsulfato de sódio, talco, álcool polivinílico, dióxido de titânio, macrogol, corante laca amarelo crepúsculo).Norfloxacino - IndicaçõesO Norfloxacino é indicado para tratamento das seguintes infecções:- infecções do trato urinário;- inflamação do estômago e intestino (gastrenterite) causada por alguns tipos de bactérias;- gonorreia;- febre tifoide;O Norfloxacino pode também ser usado para a prevenção das infecções nos seguintes casos:- contagem baixa de leucócitos: nestes casos, seu corpo fica mais sensível a infecções causadas por bactérias que fazem parte da flora intestinal;- quando você visitar locais em que possa ficar exposto a bactérias que possam causar inflamação do estômago e intestinos (gastrenterite).Contra-indicações de NorfloxacinoVocê não deve tomar Norfloxacino se: apresentar hipersensibilidade a qualquer componente do produto ou a antibióticos quinolônicos.”

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Receita“Massa de Panqueca SimplesIngredientes:1 ovo1 xícara de farinha de trigo1 xícara de leite1 pitada de sal1 colher de sopa de óleoModo de Preparo: Bata todos os ingredientes no liquidificador. A seguir, aqueça uma frigideira untada com um fio de óleo em fogo baixo. Coloque um pouco da massa na frigideira não muito quente e esparrame de modo a cobrir todo o fundo e ficar só uma camada fina de massa. Deixe igualar os dois lados, até que fiquem levemente douradas. Retire com a espátula, e sirva com o recheio de sua preferência. Sugestão de recheio: carne moída, queijo e geleia.”

Texto Explicativo

O texto explicativo transmite dados hierarquizados com o fim de fazer compreender fenómenos determinados. Ao texto explicativo preside sempre uma questão como ponto de partida.

Condições pragmáticas (J.B.GRIZE):1. O fenómeno a explicar é incontestável: é uma constatação ou um facto.2. Os dados afectos à compreensão dos fenómenos estão incompletos.3. Aquele que explica está em condições de o fazer.

Estrutura:Questionamento — Resolução — Conclusão

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O texto argumentativo

COMUNICAR não significa apenas enviar uma mensagem e fazer com que nosso ouvinte/leitor a receba e a compreenda. Dito de uma forma melhor, podemos dizer que nós nos valemos da linguagem não apenas para transmitir ideias, informações. São muito frequentes as vezes em que tomamos a palavra para fazer com que nosso ouvinte/leitor aceite o que estamos expressando (e não apenas compreenda); que creia ou faça o que está sendo dito ou proposto.

Comunicar não é, pois, apenas um fazer saber, mas também um fazer crer, um fazer fazer. Nesse sentido, a língua não é apenas um instrumento de comunicação; ela é também um instrumento de ação sobre os espíritos, isto é, uma estratégia que visa a convencer, a persuadir, a aceitar, a fazer crer, a mudar de opinião, a levar a uma determinada ação.

Assim sendo, talvez não se caracterizaria em exagero afirmarmos que falar e escrever é argumentar.

TEXTO ARGUMENTATIVO é o texto em que defendemos uma ideia, opinião ou ponto de vista, uma tese, procurando (por todos os meios) fazer com que nosso ouvinte/leitor aceite-a, creia nela.Num texto argumentativo, distinguem-se três componentes: a tese, os argumentos e as estratégias argumentativas.

TESE, ou proposição, é a ideia que defendemos, necessariamente polêmica, pois a argumentação implica divergência de opinião.

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A palavra ARGUMENTO tem uma origem curiosa: vem do latim ARGUMENTUM, que tem o tema ARGU, cujo sentido primeiro é "fazer brilhar", "iluminar", a mesma raiz de "argênteo", "argúcia", "arguto".

Os argumentos de um texto são facilmente localizados: identificada a tese, faz-se a pergunta por quê? (Ex.: o autor é contra a pena de morte (tese). Porque ... (argumentos).

As ESTRATÉGIAS não se confundem com os ARGUMENTOS. Esses, como se disse, respondem à pergunta por quê (o autor defende uma tese tal PORQUE ... - e aí vêm os argumentos).

ESTRATÉGIAS argumentativas são todos os recursos (verbais e não-verbais) utilizados para envolver o leitor/ouvinte, para impressioná-lo, para convencê-lo melhor, para persuadi-lo mais facilmente, para gerar credibilidade, etc.

Os exemplos a seguir poderão dar melhor ideia acerca do que estamos falando.

A CLAREZA do texto - para citar um primeiro exemplo - é uma estratégia argumentativa na medida em que, em sendo claro, o leitor/ouvinte poderá entender, e entendo, poderá concordar com o que está sendo exposto. Portanto, para conquistar o leitor/ouvinte, quem fala ou escreve vai procurar por todos os meios ser claro, isto é, utilizar-se da ESTRATÉGIA da clareza. A CLAREZA não é, pois, um argumento, mas é um meio (estratégia) imprescindível, para obter adesão das mentes, dos espíritos.

O emprego da LINGUAGEM CULTA FORMAL deve ser visto como algo muito es-tra-té-gi-co em muitos tipos de texto. Com tal emprego, afirmamos nossa autoridade (= "Eu sei escrever. Eu domino a língua! Eu sou culto!") e com isso reforçamos, damos maior credibilidade ao nosso texto. Imagine, estão, um advogado escrevendo mal ... ("Ele não sabe nem escrever! Seus conhecimentos jurídicos também devem ser precários!").

Em outros contextos, o emprego da LINGUAGEM FORMAL e até mesmo POPULAR poderá ser estratégico, pois, com isso, consegue-se mais facilmente atingir o ouvinte/leitor de classes menos favorecidas.

O TÍTULO ou o INÍCIO do texto (escrito/falado) devem ser utilizados como estratégias ... como estratégia para captar a atenção do ouvinte/leitor imediatamente. De nada valem nossos argumentos se não são ouvidos/lidos.

A utilização de vários argumentos, sua disposição ao longo do texto, o ataque às fontes adversárias, as antecipações ou prolepses (quando o escritor/orador prevê a argumentação do adversário e responde-a), a qualificação das fontes, a utilização da ironia, da linguagem agressiva, da repetição, das perguntas retóricas, das exclamações, etc. são alguns outros exemplos de estratégias. 

2. A estrutura de um texto argumentativo

2.1 A argumentação formal

A nomenclatura é de Othon Garcia, em sua obra "Comunicação em Prosa Moderna".

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O autor, na mencionada obra, apresenta o seguinte plano-padrão para o que chama de argumentação formal: 1. Proposição (tese): afirmativa suficientemente definida e limitada; não deve conter em si mesma nenhum argumento.2. Análise da proposição ou tese: definição do sentido da proposição ou de alguns de seus termos, a fim de evitar mal-entendidos.3. Formulação de argumentos: fatos, exemplos, dados estatísticos, testemunhos, etc.4. Conclusão.

Observe o texto a seguir, que contém os elementos referidos do plano-padrão da argumentação formal.

Gramática e desempenho Linguístico

1. Pretende-se demonstrar no presente artigo que o estudo intencional da gramática não traz benefícios significativos para o desempenho linguístico dos utentes de uma língua.2. Por "estudo intencional da gramática" entende-se o estudo de definições, classificações e nomenclatura; a realização de análises (fonológica, morfológica, sintática); a memorização de regras (de concordância, regência e colocação) - para citar algumas áreas. O "desempenho linguístico", por outro lado, é expressão técnica definida como sendo o processo de atualização da competência na produção e interpretação de enunciados; dito de maneira mais simples, é o que se fala, é o que se escreve em condições reais de comunicação.3. A polêmica pró-gramática x contra gramática é bem antiga; na verdade, surgiu com os gregos, quando surgiram as primeiras gramáticas. Definida como "arte", "arte de escrever", percebe-se que subjaz à definição a ideia da sua importância para a prática da língua. São da mesma época também as primeiras críticas, como se pode ler em Apolônio de Rodes, poeta Alexandrino do séc.II ª C.:"Raça de gramáticos, roedores que ratais na musa de outrem, estúpidas lagartas que sujais as grandes obras, ó flagelo dos poetas que mergulhais o espírito das crianças na escuridão, ide para o diabo, percevejos que devorais os versos belos".

4. Na atualidade, é grande o número de educadores, filólogos e linguistas de reconhecido saber que negam a relação entre o estudo intencional da gramática e a melhora do desempenho linguístico do usuário. Entre esses especialistas, deve-se mencionar o nome do Prof. Celso Pedro Luft com sus obra "Língua e liberdade: por uma nova concepção de língua materna e seu ensino" (L&PM, 1995). Com efeito, o velho pesquisar apaixonado pelos problemas da língua, teórico de espírito lúcido e de larga formação linguística, reúne numa mesma obra convincente fundamentação para seu combate veemente contra o ensino da gramática em sala de aula. Por oportuno, uma citação apenas:"Quem sabe, lendo este livro muitos professores talvez abandonem a superstição da teoria gramatical, desistindo de querer ensinar a língua por definições, classificações, análises inconsistentes e precárias hauridas em gramáticas. Já seria um grande benefício". (p. 99)

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5. Deixando-se de lado a perspectiva teórica do Mestre, acima referida suponha-se que se deva recuperar linguisticamente um jovem estudante universitário cujo texto apresente preocupantes problemas de concordância, regência, colocação, ortografia, pontuação, adequação vocabular, coesão, coerência, informatividade, entre outros. E, estimando-lhe melhoras, lhe fosse dada uma gramática que ele passaria a estudar: que é fonética? Que é fonologia? Que é fonemas? Morfema? Qual é coletivo de borboleta? O feminino de cupim? Como se chama quem nasce na Província de Entre-Douro-e-Minho? Que é oração subordinada adverbial concessiva reduzida de gerúndio? E decorasse regras de ortografia, fizesse lista de homônimos, parônimos, de verbos irregulares... e estudasse o plural de compostos, todas regras de concordância, regências... os casos de próclise, mesóclise e ênclise. E que, ao cabo de todo esse processo, se voltasse a examinar o desempenho do jovem estudante na produção de um texto. A melhora seria, indubitavelmente, pouco significativa; uma pequena melhora, talvez, na gramática da frase, mas o problema de coesão, de coerência, de informatividade - quem sabe os mais graves - haveriam de continuar. Quanto mais não seja porque a gramática tradicional não dá conta dos mecanismos que presidem à construção do texto.6. Poder-se-á objetar que o ilustração de há pouco é apenas hipotética e que, por isso, um argumento de pouco valor. Contra argumentar-se-ia dizendo que situação como essa ocorre de fato na prática. Na verdade, todo o ensino de 1° e 2° graus é gramaticalista, descritivista, definitório, classificatório, nomenclaturista, prescritivista, teórico. O resultado? Aí estão as estatísticas dos vestibulares. Valendo 40 pontos a prova de redação, os escores foram estes no vestibular 1996/1, na PUCRS: nota zero: 10% dos candidatos, nota 01: 30%; nota 02: 40%; nota 03: 15%; nota 04: 5%. Ou seja, apenas 20% dos candidatos escreveram um texto que pode ser considerado bom.7. Finalmente pode-se invocar mais um argumento, lembrando que são os gramáticos, os linguistas - como especialistas das línguas - as pessoas que conhecem mais a fundo a estrutura e o funcionamento dos códigos linguísticos. Que se esperaria, de fato, se houvesse significativa influência do conhecimento teórico da língua sobre o desempenho? A resposta é óbvia: os gramáticos e os linguistas seriam sempre os melhores escritores. Como na prática isso realmente não acontece, fica provada uma vez mais a tese que se vem defendendo.8. Vale também o raciocínio inverso: se a relação fosse significativa, deveriam os melhores escritores conhecer - teoricamente - a língua em profundidade. Isso, no entanto, não se confirma na realidade: Monteiro Lobato, quando estudante, foi reprovado em língua portuguesa (muito provavelmente por desconhecer teoria gramatical); Machado de Assis, ao folhar uma gramática declarou que nada havia entendido; dificilmente um Luis Fernando Veríssimo saberia o que é um morfema; nem é de se crer que todos os nossos bons escritores seriam aprovados num teste de Português à maneira tradicional (e, no entanto eles são os senhores da língua!).9. Portanto, não há como salvar o ensino da língua, como recuperar lingüisticamente os alunos, como promover um melhor desempenho lingüístico mediante o ensino-estudo da teoria gramatical. O caminho é seguramente outro.

Gilberto Scarton

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Eis o esquema do texto em seus quatro estágios:

Primeiro estágio: primeiro parágrafo, em que se enuncia claramente a tese a ser defendida. Segundo estágio: segundo parágrafo, em que se definem as expressões "estudo intencional da gramática" e "desempenho lingüístico", citadas na tese. Terceiro estágio: terceiro, quarto, quinto, sexto, sétimo e oitavo parágrafos, em que se apresentam os argumentos.Terceiro parágrafo: parágrafo introdutório à argumentação.Quarto parágrafo: argumento de autoridade.Quinto parágrafo: argumento com base em ilustração hipotética.Sexto parágrafo: argumento com base em dados estatísticos.Sétimo e oitavo parágrafo: argumento com base em fatos. Quarto estágio: último parágrafo, em que se apresenta a conclusão.

2.2 A argumentação informal

A nomenclatura também é de Othon Garcia, na obra já referida.

A argumentação informal apresenta os seguintes estágios:

Citação da tese adversária1. Argumentos da tese adversária2. Introdução da tese a ser defendida3. Argumentos da tese a ser defendida4. Conclusão

Observe o texto exemplar de Luís Alberto Thompson Flores Lenz, Promotor de Justiça.

Considerações sobre justiça e equidade

1. Hoje, floresce cada vez mais, no mundo jurídico a acadêmico nacional, a ideia de que o julgador, ao apreciar os caos concretos que são apresentados perante os tribunais, deve nortear o seu proceder mais por critérios de justiça e equidade e menos por razões de estrita legalidade, no intuito de alcançar, sempre, o escopo da real pacificação dos conflitos submetidos à sua apreciação.2. Semelhante entendimento tem sido sistematicamente reiterado, na atualidade, ao ponto de inúmeros magistrados simplesmente desprezarem ou desconsiderarem determinados preceitos de lei, fulminando ditos dilemas legais sob a pecha de injustiça ou inadequação à realidade nacional.3. Abstraída qualquer pretensão de crítica ou censura pessoal aos insignes juízes que se filiam a esta corrente, alguns dos quais reconhecidos como dos mais brilhantes do país, não nos furtamos, todavia, de tecer breves considerações sobre os perigos da generalização desse entendimento.4. Primeiro, porque o mesmo, além de violar os preceitos dos arts. 126 e 127 do CPC, atenta de forma direta e frontal contra os princípios da legalidade e da separação de poderes, esteio no qual se assenta toda e qualquer ideia de democracia ou limitação de atribuições dos órgãos do Estado.5. Isso é o que salientou, e com a costumeira maestria, o insuperável José Alberto dos Reis, o maior processualista português, ao afirmar que: "O

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magistrado não pode sobrepor os seus próprios juízos de valor aos que estão encarnados na lei. Não o pode fazer quando o caso se acha previsto legalmente, não o pode fazer mesmo quando o caso é omisso".6. Aceitar tal aberração seria o mesmo que ferir de morte qualquer espécie de legalidade ou garantia de soberania popular proveniente dos parlamentos, até porque, na lúcida visão desse mesmo processualista, o juiz estaria, nessa situação, se arvorando, de forma absolutamente espúria, na condição de legislador.7. A esta altura, adotando tal entendimento, estaria institucionalizada a insegurança social, sendo que não haveria mais qualquer garantia, na medida em que tudo estaria ao sabor dos humores e amores do juiz de plantão.8. De nada adiantariam as eleições, eis que os representantes indicados pelo povo não poderiam se valer de sua maior atribuição, ou seja, a prerrogativa de editar as leis.9. Desapareceriam também os juízes de conveniência e oportunidade política típicos dessas casas legislativas, na medida em que sempre poderiam ser afastados por uma esfera revisora excepcional.10. A própria independência do parlamento sucumbiaria integralmente frente à possibilidade de inobservância e desconsideração de suas deliberações.11. Ou seja, nada restaria, de cunho democrático, em nossa civilização.12. Já o Poder Judiciário, a quem legitimamente compete fiscalizar a constitucionalidade e legalidade dos atos dos demais poderes do Estado, praticamente aniquilaria as atribuições destes, ditando a eles, a todo momento, como proceder.13. Nada mais é preciso dizer para demonstrar o desacerto dessa concepção.14. Entretanto, a defesa desse entendimento demonstra, sem sombra de dúvidas, o desconhecimento do próprio conceito de justiça, incorrendo inclusive numa contradictio in adjecto.15. Isto porque, e como magistralmente o salientou o insuperável Calamandrei, "a justiça que o juiz administra é, no sistema da legalidade, a justiça em sentido jurídico, isto é, no sentido mais apertado, mas menos incerto, da conformidade com o direito constituído, independentemente da correspondente com a justiça social".16. Para encerrar, basta salientar que a eleição dos meios concretos de efetivação da Justiça social compete, fundamentalmente, ao Legislativo e ao Executivo, eis que seus membros são indicados diretamente pelo povo.17. Ao Judiciário cabe administrar a justiça da legalidade, adequando o proceder daqueles aos ditames da Constituição e da Legislação.

Luís Alberto Thompson Flores Lenz

     Eis o esquema do texto em seus cinco estágios;

Primeiro estágio: primeiro parágrafo, em que se cita a tese adversária. Segundo estágio: segundo parágrafo, em que se cita um argumento da tese adversária "... fulminando ditos dilemas legais sob a pecha de injustiça ou inadequação à realidade nacional". Terceiro estágio: terceiro parágrafo, em que se introduz a tese a ser defendida. Quarto estágio: do quarto ao décimo quinto, em que se apresentam os argumentos.

Page 14: Tipos de Textos

Quinto estágio: os últimos dois parágrafos, em que se conclui o texto mediante afirmação que salienta o que ficou dito ao longo da argumentação.