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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARAN ´ A CENTRO DE CI ˆ ENCIAS EXATAS E TECNOL ´ OGICAS CURSO DE LICENCIATURA EM MATEM ´ ATICA erie de Fourier e Transformada de Fourier comaplica¸c˜ao` areconstru¸c˜ ao de imagem Cascavel - Pr 2011

transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANA

CENTRO DE CIENCIAS EXATAS E TECNOLOGICAS

CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMATICA

Serie de Fourier e Transformada de Fourier

com aplicacao a reconstrucao de imagem

Cascavel - Pr

2011

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANA

CENTRO DE CIENCIAS EXATAS E TECNOLOGICAS

CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMATICA

LOISE DIETRICH POCZAPSKI

Serie de Fourier e Transformada de Fouriercom aplicacao a reconstrucao de imagem

Orientador: Prof. Dr. Sandro Marcos Guzzo

Cascavel - Pr

2011

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LOISE DIETRICH POCZAPSKI

Serie de Fourier e Transformada de Fouriercom aplicacao a reconstrucao de imagem

Monografia apresentada como requisito parcial a

aprovacao na disciplina Introducao a Pesquisa (Mon-

grafia) do Colegiado do Curso de Matematica, Centro

de Ciencias Exatas e Tecnologicas, Universidade Es-

tadual do Oeste do Parana, campus de Cascavel.

Prof. Sandro Marcos Guzzo (Orientador)

Universidade Estadual do Oeste do Parana

Prof. Clezio Aparecido Braga

Universidade Estadual do Oeste do Parana

Prof. Daniela Maria Grande Vicente

Universidade Estadual do Oeste do Parana

Cascavel, Novembro de 2011.

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Dedico a Deus.

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AGRADECIMENTOS

Agradeco a todos meus professores da graduacao, que sempre estiveram dispostos a me ajudar e

auxiliar no que fosse preciso. Durante essa caminhada de estudos pude amadurecer em todos os

aspectos, pelo incentivo e apoio que tive dos professores e por conta disso minha vontade de lecionar

so cresceu.

Em especial agradeco ao meu orientador que sempre esteve muito atento durante a construcao

desse trabalho.

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“ Ninguem podera jamais aperfeicoar-se, se nao tiver

o mundo como mestre. A experiencia se adquire na

pratica.”

William Shakespeare

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Sumario

Introducao 10

A funcao de Euler . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

Historia de Jean Baptiste Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

1 Series de Fourier 13

1.1 Formulacao matematica do problema da conducao do calor . . . . . . . . . . . . . . 13

1.2 Como surgiram as Series de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

1.2.1 Ortogonalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

1.2.2 Os Coeficientes de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

1.3 Alguns exemplos de Series de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

1.4 Forma complexa da Serie de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

2 Series de Fourier de Cosseno e de Seno 27

2.1 Funcoes Pares e Funcoes Impares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

3 Transformada de Fourier 33

3.1 A Integral de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

3.2 Transformada de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

3.3 Propriedades Operacionais da Transformada de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . 40

4 Aplicacao da FFT na remocao de ruıdo em imagem 44

4.1 Processamento de Imagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

4.1.1 A imagem digital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

4.1.2 Amostragem e Quantificacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

4.1.3 Histograma de Imagem Digital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

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4.1.4 Operacoes em Imagens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

4.2 Aplicacao da FFT na remocao de ruıdo em imagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

4.3 Filtragem Passa-Baixa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

4.4 Filtragem Passa-Alta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

4.5 Outros Filtros no Domınio de Frequencia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

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RESUMO

Este trabalho tem por objetivo estudar a Transformada de Fourier, pelo motivo principal de haver

uma grande importancia dessa transformada no processamento digital de sinais e imagens. Contudo

o inıcio deste trabalho se dara com as Series de Fourier, partindo da motivacao pela qual surgiram,

que e o estudo do fluxo de calor por uma barra, e apresentar algumas propriedades das mesmas. Sera

dada enfase em uma aplicacao especıfica dentro do processamento de imagens, que e na remocao

de ruıdo em imagem. Esta aplicacao foi escolhida por mostrar um resultado bom e significativo,

utilizando o software “ImagemJ”.

Palavras-chave: Series de Fourier, Transformada de Fourier, espectro de Fourier.

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ABSTRACT

This work aims to study the Fourier Transform on the ground there is a primary importance of

this transformed in the digital signals processing and images processing. However, this work starts

with the Fourier series, based on the motivation for which the Fourier series arose, that is the study

of heat flow by a slash, and present some properties of them. Emphasis will be placed in a specific

application within the image processing, which is in images noise removal. This application was

chosen because shows a good and significant result, using the software “ImagemJ”.

Key words: Fourier Series, Fourier transform, Fourier spectrum.

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Introducao

Jean Baptiste Joseph Fourier (1768-1830) ao estudar a propagacao de calor em corpos

solidos, que havia formulado em termos de equacoes diferenciais parciais, foi levado a desenvolver

suas series admitindo que essa propagacao se da em forma de ondas de calor, e essas ondas sao

representadas em series de senos e(ou) cossenos. Tais series sao conhecidas como Series de Fourier.

As Series de Fourier bem como a Transformada de Fourier dao suporte para estudos e aplicacoes

mais avancados que vao alem do estudo sobre fluxo de calor, pois sao muito utilizadas nas areas

de matematica, engenharia, computacao, musica, ondulatoria, sinais digitais, processamento de

imagens, telecomunicacoes, entre outros. A ideia e que qualquer funcao periodica contınua, por

mais complicada que seja, pode ser representada como a soma infinita de funcoes seno e(ou) cosseno

com amplitudes, fases e perıodos escolhidos convenientemente, ou seja, escrita como uma Serie de

Fourier, o que facilita visualizar e manipular uma funcao. Na verdade a serie pode, sob certas

condicoes, representar qualquer funcao, periodica ou nao.

A funcao de Euler

Depois do surgimento e desenvolvimento do Calculo Diferencial e Integral as funcoes seno,

cosseno e as outras funcoes trigonometricas correspondentes, se tornaram importantes em aplicacoes

fısicas, sendo essas funcoes definidas para todo numero real t.

Primeiramente definia-se seno e cosseno de um angulo, mas quando se trata de numero

real a definicao de seno e cosseno e feita por meio de uma funcao E, dita funcao de Euler, que sera

definida posteriormente.

O cırculo trigonometrico unitario S1 e, por definicao, a circunferencia de raio 1 com centro

na origem, orientada no sentido anti-horario. A funcao de Euler e definida no conjunto dos numeros

reais e sua imagem e o cırculo unitario S1. Ou seja, a cada numero real t corresponde um ponto

E(t) no cırculo unitario. Uma propriedade importante da funcao E e a sua periodicidade. Dizemos

que uma funcao f e periodica de perıodo T , quando f(t+ T ) = f(t), para todo t ∈ D(f). Quando

k e um inteiro, as extremidades finais dos arcos de comprimento T = 2kπ sempre coincidirao com

o ponto (1, 0). Isto implica que, qualquer que seja o numero real t e o inteiro k, teremos,

E(t+ 2kπ) = E(t)

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e portanto, a funcao E e periodica de perıodo 2π.

Com o estudo das funcoes trigonometricas, foi possıvel descrever fenomenos periodicos

(movimento planetario, vibracao de cordas e membranas, oscilacoes de um pendulo, etc.). As

funcoes seno e cosseno adquiriram uma importancia especial na matematica, quando o matematico

frances Jean-Baptiste Joseph Fourier, estudando o fenomeno da transmissao do calor, mostrou que

qualquer funcao, sob determinadas hipoteses, pode ser obtida pela soma infinita de funcoes seno

e(ou) cosseno com amplitudes, fases e perıodos escolhidos convenientemente.

Apresentaremos a seguir um pouco da historia de Joseph Fourier e no proximo capıtulo

estudaremos as Series de Fourier dando importancia nas possıveis aplicacoes da serie.

Historia de Jean Baptiste Fourier

O barao Jean-Baptiste-Joseph Fourier (1768- 1830) nasceu em Auxerre, filho de alfaiate

foi educado pela ordem Beneditina. Ele introduziu a ideia de que uma funcao periodica arbitraria,

mesmo sendo definida por diferentes expressoes analıticas em segmentos adjacentes de seu inter-

valo de definicao, poderia ser representada por uma unica expressao analıtica. Naquela epoca a

ideia, apesar das resistencias, provou ser de suma importancia em desenvolvimentos posteriores da

Engenharia e Matematica.

A ideia de Fourier surgiu pelo problema do fluxo de calor em corpos solidos. Nao e de se

estranhar que ele tenha estudado tanto sobre o calor, pois era tao obcecado por isso que mantinha

as dependencias de sua casa desconfortavelmente quentes para os visitantes, e vestia sempre um

pesado casaco. Talvez essa excentricidade se de pelo fato de ter passado no Egito, em 1798 com

os 165 sabios da expedicao de Napoleao para “civilizar” o paıs. Antes desta expedicao, Fourier

era um Professor de Matematica, e portanto assumiu ocupacoes administrativas como secretario

do Instituto do Egito, uma corporacao cientıfica.

Fourier foi eleito prefeito de Isere (em Grenoble) por Napoleao em 1802 apos um breve re-

torno a sua antiga ocupacao de Professor de Analise na escola Politecnica em Paris. Suas ocupacoes

em Grenoble incluıam taxacao, recrutamento militar, execucao de leis, cumprindo ordens de Paris

bem como a elaboracao de relatorios.

Ele fez muitas obras no tempo em que ocupava o cargo de prefeito. Diminuiu danos

provocados pela revolucao de 1789, drenou 80.000 km2 de pantanos e construiu a secao Francesa

da estrada de Torino. Em 1807, mesmo com as obrigacoes oficiais, Fourier escreveu sua Teoria da

Conducao do Calor, que dependia da ideia essencial de analisar a distribuicao de Temperatura em

componentes solidos espaciais. Porem por conta das duvidas expressas por Laplace e Lagrange, a

publicacao da obra foi evitada. Houveram tambem algumas crıticas feitas por Biot e Poisson. Um

tempo depois, o Instituto estabeleceu o tema “Propagacao de calor em corpos solidos” como topico

para o premio em Matematica em 1811, que foi ganho por Fourier, mas havia uma mencao de falta

de generalidade e rigor. Fato que justifica o atraso da publicacao que ocorreu so em meados de

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1815.

Pouco tempo depois Fourier foi para Paris para ter uma vida de Ciencias. Em 1817 foi

eleito para a academia de Ciencias. Em 1823 para a posicao de Secretario permanente e para a

Academia Francesa em 1826; cargos que ocupou ate a morte. O impacto e os desdobramentos da

obra de Fourier sao incalculaveis.

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Capıtulo 1

Series de Fourier

A teoria de series de Fourier contem a base de uma grande parte da Analise moderna, desde

a analise harmonica abstrata, englobando a teoria de grupos topologicos e suas representacoes, ate

a Analise Funcional. Toda a teoria de expansao em autofuncoes, que e central em Analise, nasceu

da teoria de series de Fourier. De fato a importancia da Analise Harmonica classica (essencial-

mente o estudo de series e integrais de Fourier) no desenvolvimento da Matematica e inestimavel.

Por exemplo, o conceito moderno de funcao foi introduzido por Dirichlet enquanto estudava a

convergencia das series de Fourier; as integrais de Riemann e de Lebesgue foram originadas por

problemas em analise de Fourier; Cantor, tentando caracterizar conjuntos de unicidade para series

trigonometricas, foi levado a desenvolver a teoria dos numeros transfinitos e os rudimentos da teoria

dos conjuntos; mais recentemente, a teoria de distribuicoes (ou funcoes generalizadas) de Laurent

Schwartz foi desenvolvida em conexao com o estudo de transformadas de Fourier (Ver [5, Iorio]).

O campo natural de aplicacoes das series de Fourier e a de fenomenos periodicos. O

fato de uma funcao periodica poder ser decomposta em suas componentes harmonicas simples

An = sen(nt+ αn) e de significado fısico fundamental.

A maneira mais natural para se introduzir as series de Fourier e atraves de um problema

envolvendo a conducao de calor.

1.1 Formulacao matematica do problema da conducao do calor

Nesta sessao sera estudado o problema de conducao de calor por uma barra, pois essa e

a motivacao que leva ao estudo das series de Fourier. Procurando uma solucao para tal problema,

serao utilizadas ferramentas/conceitos do Calculo Diferencial e Integral e de Equacoes Diferenciais,

no entanto, isso nao sera suficiente, e entao surge a necessidade do estudo das series de Fourier.

Considere uma barra de comprimento L e com seccao transversal de area A, feita de

um material condutor uniforme de calor e que esta isolada termicamente do meio ambiente a nao

ser por suas extremidades. Se colocarmos a barra no sentido do comprimento L sobre o eixo x e

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aquecermos uma das extremidades, o fluxo de calor, pelo isolamento termico lateral, se dara somente

na direcao longitudinal e dar-se-a da extremidade mais quente para a mais fria, conforme rege a lei

do resfriamento. Deste modo o problema de conducao termica em questao e unidimensional. Fourier

modelou uma equacao que descreve a quantidade de calor transferida de uma seccao transversal

para outra por unidade de tempo, ou seja, considere duas placas P1 e P2 de seccao transversal igual

a A e temperaturas T1 e T2, respectivamente; se colocadas paralelamente a uma distancia d uma

da outra, havera passagem de calor da placa mais quente para a mais fria, e a quantidade de calor,

por unidade de tempo, transferida de uma placa para outra e dada por

Q =Ak|T2 − T1|

d, (1.1)

onde, a constante de proporcionalidade k e a condutibilidade termica do material entre as placas.

Essa lei sera utilizada para estudar a conducao de calor na barra.

Seja u(x, t) a funcao que descreve a temperatura da barra na sua coordenada x, no instante

t. Para contornar a dificuldade da ausencia da variavel tempo da Lei de Fourier, introduz-se a

grandeza fluxo de calor atraves de x num instante t, da forma:

- Fixa-se o tempo em (1.1) e considera-se, T1 = u(x, t) e T2 = u(x+ d, t);

- Passa-se o limite na funcao u(x+ d, t)− u(x, t) quando d tende a zero em (1.1).

Assim, se denotando por q(x, t) o fluxo de calor atraves de x no instante t, tem-se

q(x, t) = kA limd→0

|u(x+ d, t)− u(x, t)|d

. (1.2)

Como a temperatura decresce conforme x cresce, introduz-se um sinal negativo em (1.2),

que segue

q(x, t) = −kAux(x, t). (1.3)

Fixando, agora, para δ > 0, um elemento entre os pontos x0 e x0 + δ, ao longo do eixo dos

x. Calculando o calor que entra em x0 no perıodo de tempo entre t0 e t0+τ , com τ > 0. Usando o

fluxo de calor q(x, t), podemos ver que

q =

∫ t0+τ

t0

q(x0, t)dt−∫ t0+τ

t0

q(x0 + δ, t)dt.

Pela Lei de Fourier, (1.3), tem-se

q =

∫ t0+τ

t0

k[ux(x0 + δ, t)− ux(x0, t)]Adt. (1.4)

Sabendo que o calor especıfico c de uma substancia e a quantidade de calor necessaria

para elevar em 1 ◦C a temperatura de um grama dessa substancia, entao q pode ser escrito como

q =

∫ t0+τ

t0

∫ x0+δ

x0

cut(x, t)dxρAdt, (1.5)

onde ρ e a densidade da substancia.

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Para chegar a equacao do calor, o teorema fundamental do calculo e utilizado em (1.4)

obtendo-se:

q =

∫ t0+τ

t0

∫ x0+δ

x0

kuxx(x, t)Adxdt,

e entao igualando ao valor de q em (1.5), tem-se∫ t0+τ

t0

∫ x0+δ

x0

kuxx(x, t)dxdt =

∫ t0+τ

t0

∫ x0+δ

x0

cut(x, t)ρdxdt. (1.6)

Sendo a expressao (1.6) valida para todo t0 > 0, todo 0 < x0 < L e todos τ > 0 e δ > 0,

conclui-se que

kuxx(x, t) = cρut(x, t).

Denominaremos kcρ por difusibilidade termica, k, e entao podemos reescrever a equacao

acima como

ut = kuxx. (1.7)

E entao chega-se a equacao (1.7) que e chamada equacao do calor ou equacao da difusao.

1.2 Como surgiram as Series de Fourier

Na sessao anterior, chegamos a formulacao da equacao do calor, e nesta sessao partiremos

do estudo da mesma.

Considere o plano cartesiano de eixos x e t, onde t e a coordenada temporal e x a coorde-

nada espacial. O problema da conducao do calor consiste em determinar uma funcao real u(x, t)

no fecho do conjunto R = {(x, t) ∈ R2/0 < t < ∞, 0 < x < l}, em que, u(x, t) e a temperatura

no instante t no ponto x de uma barra de comprimento l com extremos em contato com um reser-

vatorio termico mantido a temperatura constante zero, f e a distribuicao inicial de temperatura e,

para que haja solucao, f tem que satisfazer a condicao de compatibilidade

f(0) = 0 = f(l).

A funcao u(x, t) deve satisfazer

ut = α2uxx em (0, l)× (0,+∞),

em R, que satisfaz a condicao inicial

u(x, 0) = f(x) ∀x ∈ (0, l),

e a condicao de fronteira

u(0, t) = u(l, t) = 0, t ≥ 0.

Este tipo de problema e conhecido como “problema de valores iniciais e de contorno”

(P.V.C) e para resolver a equacao (1.1) que expressa esse problema, Fourier desenvolveu um metodo,

o qual sera visto agora.

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Supondo que a funcao u(x, t) procurada possa ser escrita como o produto de duas funcoes,

uma dependendo exclusivamente de x e outra dependendo de t, isto e, da forma

u(x, t) = ϕ(x)ψ(t), (1.8)

Substituindo (1.8) na equacao do calor, tem-se

ϕ(x)ψ′(t) = α2ϕ′′(x)ψ(t),

e entao1

α2

ψ′(t)

ψ(t)=ϕ′′(x)

ϕ(x). (1.9)

Observe que admitiu-se que ϕ(t) e ψ(t) nao se anulam, pois isto acarretaria u(x, t) como

solucao nula, que nao nos interessa.

Agora percebe-se que o lado esquerdo da equacao (1.9) e uma funcao que so depende de t

enquanto o lado direito depende apenas de x, logo ambos os lados tem que ser iguais a uma mesma

constante que sera chamada de −σ. Obtendo assim duas EDO’s

−ϕ′′(x) = σϕ(x), (1.10)

e

ψ′(t) = −α2σψ(t), (1.11)

onde σ e um parametro independente de t e de x.

Agora, restringe-se o problema em resolver duas EDO’s. Resolvendo a primeira equacao

de (1.9)

ϕ′′(x) + σϕ(x) = 0, 0 < x < l

e como u(0, t) = u(l, t) = 0, segue que

ϕ(0)ψ(t) = ϕ(l)ψ(t) = 0 ∀t ≥ 0

que implica

ϕ(0) = ϕ(l) = 0 (1.12)

pois nao interessa ψ(t) ≡ 0.

Para os valores de σ, ha tres possibilidades para analisar

i) σ > 0

ϕ(x) = ae√σx + be−

√σx

a+ b = 0 pois ϕ(0) = 0

ae√σl + be−

√σl = 0 pois ϕ(l) = 0.

Mas a unica solucao do sistema e a = b = 0. Implicando que ϕ(x) = 0, porem este

resultado nao convem.

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ii) σ = 0

ϕ(x) = ax+ b.

Com a = 0 e ax+ b = 0, que implica em a = b = 0 e portanto traz o mesmo resultado de

(i) onde ϕ(x) = 0.

iii) σ < 0. Tomando σ = −λ2, para facilitar os calculos, a solucao geral e

ϕ(x) = a cos(λx) + b sen(λx),

para satisfazer (1.12) a = 0

b sen(λl) = 0,

e como nao se quer b = 0, entao

sen(λl) = 0.

Isso implica que

λl = nπ ∀n ∈ Z∗.

Logo λ =nπ

le

σ = −λ2 = −n2π2

l2. (1.13)

Como para cada n obtem-se um λ diferente, logo exprime-se (1.13) da forma

λ2n =

n2π2

l2,

que sao chamados os autovalores do P.V.C.

Portanto as funcoes que satisfazem a EDO (1.10) sao

ϕn(x) = sen(nπx

l), x ∈ [0, l], (1.14)

e sao chamadas de autofuncoes do P.V.C.

Resta achar a solucao geral da EDO (1.11): eα2σt e um fator integrante de (1.11) logo a

solucao geral sera da forma

ψ(t) = bneα2σt.

Sendo assim utilizando (1.13), temos ainda que

ψ(t)n = bne−α2n2π2

l2t.

Como un(x, t) = ϕn(x)ψn(t), entao para n ∈ N, obtivemos as solucoes

un(x, t) = bne−α2n2π2

l2t sen(

nπx

l), x ∈ [0, l], t ≥ 0, n ∈ N,

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e, usando o princıpio da superposicao, procuramos uma solucao da forma

u(x, t) =∞∑n=1

bne−α2n2π2

l2t sen(

nπx

l), x ∈ [0, l], t ≥ 0. (1.15)

Observe que sao deixados de lado os problemas de convergencia e diferenciabilidade termo

a termo. Procuramos uma solucao de (1.8) da forma (1.15) e por hipotese temos u(x, 0) = f(x)

que implica em

f(x) =∞∑n=1

bn sen(nπx

l), x ∈ [0, l].

Sugerindo dessa forma que a funcao podera ser escrita como uma serie de senos. E o

metodo de Fourier culmina com a indicacao desse candidato.

Obtivemos portanto que uma possıvel solucao do PVI e a funcao da serie de senos. Isso

ocorreu pelas condicoes de contorno impostas, em que a temperatura se mantinha constante igual a

zero. No caso da temperatura nao ser constante, segundo a lei de Newton, o fluxo de calor atraves

de uma secao da barra e proporcional a variacao de temperatura na direcao do eixo. Dessa forma,

ao inves de termos uma expansao em serie de senos, obtemos f em serie de cossenos, isto e,

f(x) =a0

2+∞∑n=1

an cos(nπx

l).

A questao e saber se essas funcoes podem ser escritas realmente em serie de senos, ou em

outras condicoes de contorno, se podem ser expressas em serie de cossenos. Para tanto surge a

pergunta se dada uma funcao f : [0, l] → R, seria possıvel expressar f como a soma dessas duas

series

f(x) =a0

2+∞∑n=1

[an cos(nπx

l) + bn sen(

nπx

l)]. (1.16)

Observe que o fator 12 em a0 e utilizado apenas para que as formulas para an sejam do

mesmo tipo se n > 0 ou se n = 0.

Precisamos encontrar agora os coeficientes a0, an e bn que satisfazem a identidade (1.16).

Portanto qual serao as hipoteses sobre f para que a igualdade (1.16) se verifique para a0, an e bn

reais?

Essa questao fica mais clara com os conceitos de ortogonalidade vistos a seguir.

1.2.1 Ortogonalidade

Dois elementos distintos f e g sao ditos ortogonais quando o produto interno entre eles

resulta em 0. Definiremos aqui o produto escalar de duas funcoes f e g no espaco VCP 0[a, b], que

sao funcoes de classe CP 0[a, b], como

〈f, g〉 =

∫ b

af(t)g(t)dt.

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Definicao 1. Seja V = CP 0[a, b]. Dizemos que um subconjunto nao vazio X de V e ortogonal se

para todo par f e g de elementos distintos de X, 〈f, g〉 = 0. Neste caso diz-se que os elementos de

X sao ortogonais.

Exemplo 1. Seja l um numero real maior que zero. Seja V = CP 0[−l, l] o conjunto das funcoes

contınuas por partes do intervalo [−l, l] em R com o produto interno definido por

〈f, g〉 =

∫ l

−lf(x)g(x)dx.

Sera mostrado que o conjunto

{1, cosπx

l, sen

πx

l, cos

2πx

l, sen

2πx

l, ..., cos

nπx

l, sen

nπx

l, ...}

e um subconjunto ortogonal de V P 0[−l, l]. Como as funcoes do conjunto, exceto a primeira, sao

funcoes cujas primitivas sao periodicas de perıodo igual a 2l/n, entao para verificar se o conjunto

e ortogonal, faremos a integral de −l e l destas funcoes periodicas. Portanto temos

〈1, cosnπx

l〉 =

∫ l

−l1 cos

nπx

ldx =

l

π

∫ π

−πcos(ns)ds =

l

π

sen(ns)

n

∣∣∣∣π−π

= 0,

e

〈1, sennπx

l〉 =

∫ l

−lsen

nπx

ldx =

l

π

∫ π

−πsen(ns)ds =

l

π

− cos(ns)

n

∣∣∣∣π−π

= 0.

Para m = n, temos

〈cosnπx

l, cos

nπx

l〉 =

∫ l

−lcos2 nπx

ldx =

l

∫ nπ

−nπcos2(t)dt =

l

[t

2+

1

4sen(2t)

∣∣∣∣nπ−nπ

]= l,

〈sennπx

l, sen

nπx

l〉 =

∫ l

−lsen2 nπx

ldx =

l

∫ nπ

−nπsen2(t)dt =

l

[t

2− 1

4sen(2t)

∣∣∣∣nπ−nπ

]= l

e

〈cosnπx

l, sen

nπx

l〉 =

∫ l

−lcos

nπx

lsen

nπx

ldx =

l

π

∫ π

−πcosns sennsds

=l

∫ π

−π[sen(2n)s+ sen(0)s]ds =

− cos(2n)

2n

∣∣∣∣π−π

= 0.

Para m 6= n,

〈cosnπx

l, cos

mπx

l〉 =

∫ l

−lcos

nπx

lcos

mπx

ldx =

l

π

∫ π

−πcosns cosmsds

=l

∫ π

−πcos[(m+ n)s] + cos[(m− n)s]ds

=l

2π(m+ n)sen[(m+ n)s]

∣∣∣∣π−π

+l

2π(m− n)sen[(m− n)s]

∣∣∣∣π−π

= 0,

〈sennπx

l, sen

mπx

l〉 =

∫ l

−lsen

nπx

lsen

mπx

ldx =

l

π

∫ π

−πsenns senmsds

19

Page 21: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

=l

∫ π

−πcos[(m− n)s]− cos[(m+ n)s]ds

=l

2π(m− n)sen[(m− n)s]

∣∣∣∣π−π− l

2π(m+ n)sen[(m+ n)s]

∣∣∣∣π−π

= 0

e

〈cosnπx

l, sen

mπx

l〉 =

∫ l

−lcos

nπx

lsen

mπx

ldx =

l

π

∫ π

−πcosns senmsds

=l

∫ π

−πsen[(m− n)s] + sen[(m+ n)s]ds

= − l

2π(m− n)cos[(m− n)s]

∣∣∣∣π−π− l

2π(m+ n)cos[(m+ n)s]

∣∣∣∣π−π

= 0.

E assim temos que o conjunto definido no exemplo 1 e ortogonal.

1.2.2 Os Coeficientes de Fourier

Na sessao anterior chegamos ao questionamento se as funcoes descritas sob certas condicoes

de contorno, poderiam ser expressas da forma de (1.16). Considere o conjunto de funcoes

{1, cosπ

lx, cos

lx, ..., sen

π

lx, sen

lx, sen

lx, ...}.

Pelo conceito de ortogonalidade visto anteriormente sabe-se que este conjunto e ortogonal

no intervalo [−l, l]. Na sessao anterior expressamos uma funcao f em uma serie da forma

f(x) =a0

2+

∞∑n=1

[an cos(nπx

l) + bn sen(

nπx

l)]. (1.17)

Suponha que essa funcao seja definida no intervalo [−l, l]. O procedimento a seguir nos

mostra como podem ser calculados a0, an e bn, supondo que f possa ser escrita pela serie em (1.17).

Integrando ambos os membros de (1.17) de −l a l, obtem-se∫ l

−lf(x)dx =

∫ l

−l

a0

2dx+

∞∑n=1

(an

∫ l

−lcos

lxdx+ bn

∫ l

−lsen

lxdx

). (1.18)

Como cada uma das funcoes cos(nπx/l) e sen(nπx/l) com n > 1 e ortogonal a 1 no

intervalo, como pode ser verificado na sessao 1.1.1 no exemplo 1, entao o membro direito de (1.18)

se reduz a um unico termo e, consequentemente,∫ l

−lf(x)dx =

∫ l

−l

a0

2dx =

a0

2x∣∣∣l−l

= la0.

Resolvendo em relacao a a0, obtemos

a0 =1

l

∫ l

−lf(x)dx.

20

Page 22: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

Multiplicando (1.17) por cos(mπx/l) e integrando∫ l

−lf(x) cos

mπx

ldx =

a0

2

∫ l

−lcos

mπx

ldx

+∞∑n=1

(an

∫ l

−lcos

mπx

lcos

nπx

ldx+ bn

∫ l

−lcos

mπx

lsen

nπx

ldx

). (1.19)

Por ortogonalidade, temos∫ l

−lcos

mπx

ldx = 0

∫ l

−lcos

mπx

lcos

nπx

ldx

= 0, m 6= n

= l, m = n

e ∫ l

−lcos

mπx

lsen

nπx

ldx = 0 ∀ m,n ∈ N.

Assim, (1.19) se reduz a ∫ l

−lcos

mπx

ldx = anl.

e

an =1

l

∫ l

−lcos

mπx

ldx.

Finalmente, multiplicando (1.17) por sen(mπx/l), integrando e utilizando os resultados∫ l

−lsen

mπx

ldx = 0, m > 0,∫ l

−lsen

mπx

lcos

nπx

ldx = 0 ∀ m,n ∈ N

∫ l

−lsen

mπx

lsen

nπx

ldx

= 0, m 6= n

= l, m = n,

obtemos,

bn =1

l

∫ l

−lf(x) sen

nπx

ldx.

E estes sao os coeficientes da serie de Fourier da funcao f . A serie em (1.17) e definida

como sendo a serie de Fourier da funcao f . Perceba que formalizando-a, temos a definicao a seguir.

Definicao 2 (Serie de Fourier). A serie de Fourier de uma funcao f definida no intervalo (−l, l)e dada por

f(x) =a0

2+∞∑n=1

(an cos(

nπx

l) + bn sen(

nπx

l)),

com

a0 =1

l

∫ l

−lf(x)dx

21

Page 23: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

an =1

l

∫ l

−lf(x) cos

nπx

ldx

bn =1

l

∫ l

−lf(x) sen

nπx

ldx.

Perceba que nada foi falado a respeito da serie de Fourier de f convergir para f , admitimos

ainda esta convergencia para calcular os coeficientes. Portanto enunciamos agora um teorema que

garante esta convergencia. A demonstracao pode ser encontrada em [4, Iorio] e [3, Guidorizzi].

Teorema 1.1. Seja f : [−l, l] → R uma funcao contınua, com derivada segunda contınua por

partes, e tal que f(−l) = f(l). Entao a serie de Fourier de f converge uniformemente para f em

[−l, l]. Isto e:

f(x) =a0

2+

∞∑n=1

(an cos(

nπx

l) + bn sen(

nπx

l)),

para todo x ∈ [−l, l].

1.3 Alguns exemplos de Series de Fourier

Exemplo 2. Para obter a serie de Fourier da funcao

f(x) =

0 se − π ≤ x < 0

π se 0 ≤ x < π

e necessario calcular primeiramente os coeficientes de Fourier para essa funcao

a0 =1

π

[∫ 0

−π0dx+

∫ π

0πdx

]= π,

e para n ∈ N, tem-se

an =1

π

[∫ π

0π cos(nx)dx

]= 0.

Como

bn =1

π

[∫ π

0π sen(nx)dx

]=

1− cos(nπ)

nπ,

obtem-se b2n = 0 e b2n−1 = 22n−1 para n ∈ N.

Assim a serie de Fourier sera dada por

f(x) ∼ π

2+ 2

∞∑k=1

sen[(2k − 1)x]

2k − 1,

ou seja

f(x) ∼ π

2+ 2

(sen(x) +

sen(3x)

3+

sen(5x)

5+ ...

).

22

Page 24: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

Figura 1.1: Funcao sinal transladada para cima.

Figura 1.2: Serie de fourier da funcao sinal.

Observacao: A partir da serie de Fourier para funcoes 2π-periodicas e possıvel obter a

serie de Fourier para funcoes periodicas com perıodo 2l. Basta tomar a mudanca de variavel x = πtl

para obter a “nova” funcao, agora dependendo da variavel t, que sera 2l-periodica e integravel no

intervalo simetrico [−l, l].

Exemplo 3. Desenvolva

g(x) =

0, −π < x < 0

π − x, 0 < x < π,

em serie de Fourier.

Solucao: A figura 1.3 mostra o grafico de g. Os coeficientes sao escritos da forma

23

Page 25: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

Figura 1.3: Grafico da funcao g.

a0 =1

π

[∫ 0

−π0dx+

∫ π

0(π − x)dx

]=

1

π

[πx− x2

2

]π0

2

an =1

π

∫ π

−πf(x) cosnxdx =

1

π

[∫ 0

−π0dx+

∫ π

0(π − x) cosnxdx

],

e integrando por partes, obtemos

an =1

π

[(π − x)

sennx

n

∣∣∣π0

+1

n

∫ π

0sennxdx

]= − 1

cosnx

n

∣∣∣π0

=− cosnπ + 1

n2π

=1− (−1)n

n2π.

De maneira analoga, obtem-se, para o coeficiente bn. Temos

bn =1

π

∫ π

0(π − x) sennxdx =

1

n,

portanto,

f(x) =π

4+

∞∑x=1

{1− (−1)n

n2πcosnx+

1

nsennx

}.

24

Page 26: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

Figura 1.4: Serie de Fourier da funcao g.

1.4 Forma complexa da Serie de Fourier

Seja f : R→ R uma funcao periodica de perıodo 2l, seccionalmente contınua e seja

f(x) =a0

2+∞∑n=1

(an cos

nπx

l+ bn sen

nπx

l

)(1.20)

sua serie de Fourier, com

an =1

l

∫ l

−lcos

nπx

ldx e bn =

1

l

∫ l

−lf(x) sen

nπx

ldx. (1.21)

Para escrevermos essa serie de Fourier na forma complexa, usamos a formula de Euler

eiθ = cos θ + i sen θ,

sendo que

cos θ = cosnπx

l=einπxl + e−i

nπxl

2e sen θ = sen

nπx

l=einπxl − e−i

nπxl

2.

Substituindo em (1.20), temos

f(x) =a0

2+

∞∑n=1

(aneinπxl + e−i

nπxl

2+ ibn

einπxl − e−i

nπxl

2

)

=a0

2+∞∑n=1

(an − ibn

2einπxl +

an + ibn2

e−inπxl

)

=∞∑

n=−∞cne

inπxl ,

com

cn =

an − ibn

2se n ≥ 1

a0

2se n = 0

a−n + ib−n2

se n ≤ −1,

25

Page 27: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

ou seja, usando os coeficientes de Fourier em (1.21) temos

cn =

1

2l

∫ l

−lf(x)(cos

nπx

l− i sen

nπx

l)dx se n ≥ 1

1

2l

∫ l

−lf(x)dx se n = 0

1

2l

∫ l

−lf(x)(cos

nπx

l− i sen

nπx

l)dx se n ≤ −1

=1

2l

∫ l

−lf(x)e−inπx/ldx.

Resumindo vimos que se f : R→ R for periodica de perıodo 2l, integravel e absolutamente

integravel, entao a serie de Fourier de f na forma complexa pode ser escrita como

∞∑n=−∞

cne−inπx/l.

26

Page 28: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

Capıtulo 2

Series de Fourier de Cosseno e de

Seno

2.1 Funcoes Pares e Funcoes Impares

Uma funcao f e

par se f(−x) = f(x) ∀xımpar se f(−x) = −f(x) ∀x

Como cos(−x) = cos(x), entao a funcao cosseno e par.

Como sen(−x) = − sen(x), entao a funcao seno e ımpar.

O teorema a seguir relaciona algumas propriedades das funcoes pares e funcoes ımpares.

Propriedades das Funcoes Pares e das Funcoes Impares

Teorema 2.1. Propriedades das Funcoes Pares/Impares

(a) O produto de duas funcoes pares e par.

(b) O produto de duas funcoes ımpares e par.

(c) O produto de uma funcao par e uma funcao ımpar e ımpar.

(d) A soma (diferenca) de duas funcoes pares e par.

(e) A soma (diferenca) de duas funcoes ımpares e ımpar.

(f) Se f e par, entao

∫ a

−af(x)dx = 2

∫ a

0f(x)dx.

(g) Se f e ımpar, entao

∫ a

−af(x)dx = 0.

27

Page 29: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

Demonstracoes:

(a) Suponhamos f e g funcoes pares. Temos entao f(−x) = f(x) e g(−x) = g(x). Definindo o

produto de f e g como F (x) = f(x)g(x), vem:

F (−x) = f(−x)g(−x) = f(x)g(x) = F (x).

Este resultado mostra que o produto de duas funcoes pares e uma funcao par.

(b) Suponhamos f e g funcoes ımpares. Temos entao f(−x) = −f(x) e g(−x) = −g(x).

Definindo o produto de f e g como F (x) = f(x)g(x), vem:

F (−x) = f(−x)g(−x) = (−f(x))(−g(x)) = f(x)g(x) = F (x).

Este resultado mostra que o produto de duas funcoes ımpares e uma funcao par.

(c) Suponhamos f uma funcao par e g uma funcao ımpar. Temos entao f(−x) = f(x) e

g(−x) = −g(x). Definindo o produto de f e g como F (x) = f(x)g(x), vem:

F (−x) = f(−x)g(−x) = f(x)(−g(x)) = −f(x)g(x) = −F (x).

Este resultado mostra que o produto de uma funcao par e uma funcao ımpar e ımpar.

(d) Suponhamos f e g funcoes pares. Temos entao f(−x) = f(x) e g(−x) = g(x). Definindo a

soma de f e g como F (x) = f(x) + g(x), e a diferenca de f e g como G(x) = f(x)− g(x) vem:

Para a soma:

F (−x) = f(−x) + g(−x) = f(x) + g(x) = F (x).

Para a diferenca:

G(−x) = f(−x)− g(−x) = f(x)− g(x) = G(x).

(e) Suponhamos f e g funcoes ımpares. Temos entao f(−x) = −f(x) e g(−x) = −g(x).

Definindo a soma de f e g como F (x) = f(x)+g(x), e a diferenca de f e g como G(x) = f(x)−g(x)

vem:

Para a soma:

F (−x) = f(−x) + g(−x) = −f(x)− g(x) = −(f(x) + g(x)) = −F (x).

Para a diferenca:

G(−x) = f(−x)− g(−x) = −f(x)− (−g(x)) = −f(x) + g(x) = −G(x).

(f) Seja f uma funcao par, entao f(−x) = f(x), daı vem que:∫ a

−af(x)dx =

∫ 0

−af(x)dx+

∫ a

0f(x)dx =

∫ a

0f(x)dx+

∫ a

0f(x)dx = 2

∫ a

0f(x)dx.

28

Page 30: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

(g) Seja f uma funcao ımpar, entao f(−x) = −f(x), daı vem que:∫ a

−af(x)dx =

∫ 0

−af(x)dx+

∫ a

0f(x)dx = −

∫ a

0f(x)dx+

∫ a

0f(x)dx = 0.

Series de Cosseno e de Seno

Se f e uma funao par em (−l, l), entao, em vista das propriedades precedentes, os coefi-

cientes

a0 =1

l

∫ l

−lf(x)dx =

2

l

∫ l

0f(x)dx

an =1

l

∫ l

−lf(x) cos

nπx

l︸ ︷︷ ︸par

dx

bn =1

l

∫ l

−lf(x) sen

nπx

l︸ ︷︷ ︸ımpar

dx = 0.

Analogamente, quando f e ımpar no intervalo (−l, l), an = 0, n = 0, 1, 2..., bn =2

l

∫ l

0f(x) sen

nπx

ldx = 0.

Para resumir os resultados obtidos, segue a definicao abaixo.

Definicao 3. Series de Fourier de Cosseno e de Seno

(i) A serie de Fourier de uma funcao par no intervalo (−l, l) e a serie de cosseno

f(x) =a0

2+∞∑n=1

an cosnπx

l,

onde a0 =2

l

∫ l

0f(x)dx

an =2

l

∫ l

0f(x) cos

nπx

ldx.

(ii) A serie de Fourier de uma funcao ımpar no intervalo (−l, l) e a serie de seno

f(x) =

∞∑n=1

bn sennπx

l,

onde bn =2

l

∫ l

0f(x) sen

nπx

ldx. (2.1)

Exemplo 4. A funcao

f(x) =

−1, −π < x < 0

1, 0 ≤ x < π

29

Page 31: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

Figura 2.1: Grafico da funcao

exibida na Figura 2.1 e ımpar no intervalo (−π, π). Sendo π o perıodo da funcao, temos, por (2.1),

bn =2

π

∫ π

0(1) sennxdx =

2

π

(1− (−1)n)

n

e assim

f(x) =2

π

∞∑n=1

1− (−1)n

nsennx. (2.2)

30

Page 32: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

(a) (b)

(c) (d)

Figura 2.2: Para todas as figuras

Veja que a sequencia de somas parciais acima tende para uma funcao. Comparando o

grafico do Exemplo 3 com os graficos das quatro somas parciais de (2.2):

S1 =4

πsenx

S2 =4

π

(senx+

sen 3x

3

)S3 =

4

π

(senx+

sen 3x

3+

sen 5x

5

)S15 =

4

π

(15∑n=1

1

n(sennx)

).

Podemos perceber que o grafico da soma parcial S15 tem “picos” pronunciados nas viz-

inhancas das descontinuidades em x = 0, x = π, x = −π etc. Nessas vizinhancas dos pontos de

descontinuidade o distanciamento das somas parciais Sn dos valores funcionais permanece quase

constante mesmo quando n e suficientemente grande. Esse comportamento de uma serie de Fourier

em que f e descontınua na vizinhanca de um ponto, e chamado fenomeno de Gibbs.

Exemplo 5. A funcao f(x) = x2, 0 < x < L, e par, e seu grafico esta exibido na figura abaixo

31

Page 33: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

Vamos achar os coeficientes de Fourier, temos portanto:

a0 =2

L

∫ L

0x2dx =

2

3L2

e

an =2

L

∫ L

0x2 cos

Lxdx.

Integrando por partes,

an =2

L

[Lx2

nπsen

nπx

L

∣∣∣L0− 2L

∫ L

0x sen

nπx

Ldx

]= − 4

[∫ L

0x sen

nπx

Ldx

],

e novamente integrando por partes, obtemos

an = − 4

[−Lxnπ

cosnπx

L

∣∣∣∣L0

+L

∫ L

0cos

nπx

Ldx

]

=4L2(−1)n

n2π2.

Assim,

f(x) =L2

3+

4L2

π2

∞∑n=1

(−1)n

n2cos

nπx

L.

32

Page 34: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

Capıtulo 3

Transformada de Fourier

Neste capıtulo faremos um estudo sobre a transformada de Fourier. Ate agora estudamos

as series de Fourier, a motivacao do surgimento destas, as series do Cosseno e do Seno e alguns

outros conceitos. Depois desse breve estudo e possıvel entao tratarmos da transformada de Fourier

e a aplicacao desta na remocao de ruıdo de uma imagem digital.

Antes de iniciarmos a transformada de Fourier, e necessario abordar sobre a integral de

Fourier, que segue das series de Fourier, porem o que muda sao os intervalos, que antes eram

finitos e portanto com funcoes periodicas, e agora passam a ser infinitos e as funcoes nao sao mais

necessariamente periodicas.

Tınhamos portanto uma funcao f : R → R periodica de perıodo 2l, suave por partes,

entao

f(x) =a0

2+∞∑n=1

(an cos

nπx

l+ bn sen

nπx

l

)nos pontos de continuidade de f , com

an =1

l

∫ l

−lf(t) cos

nπt

ldt, n ≥ 0.

bn =1

l

∫ l

−lf(t) sen

nπt

ldt, n ≥ 1.

Agora, se f e uma funcao nao periodica ela nao pode ser representada por uma serie de

Fourier. Entretanto, e possıvel representar f por uma integral de Fourier, se f for pelo menos suave

por partes e satisfizer alem disso a condicao de ser absolutamente integravel, ou seja∫ ∞−∞|f(x)|dx <∞.

Com essas condicoes definiremos a integral de Fourier, e depois a Transformada de Fourier.

33

Page 35: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

3.1 A Integral de Fourier

As series de Fourier foram utilizadas para representar uma funcao f definida em um

intervalo finito como (−l, l) ou (0, l). E portanto as series de Fourier estavam associadas as funcoes

periodicas. Estabeleceremos a seguir, de modo nao rigoroso, um meio de representar certos tipos de

funcoes nao-periodicas definidas em um intervalo infinito (−∞,∞) ou em um intervalo semi-infinito

(0,∞).

Considere a Serie de Fourier, da Definicao 2, de uma funcao f definida no intervalo (−l, l).

f(x) =a0

2+∞∑n=1

(an cos(

nπx

l) + bn sen(

nπx

l))

=1

2l

∫ l

−lf(t)dt+

1

l

∞∑n=1

[(∫ l

−lf(t) cos

nπt

ldt

)cos(

nπx

l) +

(∫ l

−lf(t) sen

nπt

ldt

)sen(

nπx

l)

].

(3.1)

Fazendo αn = nπ/l, ∆α = αn+1 − αn = π/l, (3.1) se escreve

f(x) =1

(∫ l

−lf(t)dt

)∆α+

1

π

∞∑n=1

[(∫ l

−lf(t) cosαntdt

)cos αnx

+

(∫ l

−lf(t) senαntdt

)senαnx

]∆α. (3.2)

Agora ampliando o intervalo (−l, l) fazendo l →∞. Como l →∞ implica em ∆α→ 0, o

limite de (3.2) fica como lim∆α→0∑∞

n=1 F (αn)∆α, que sugere a definicao da integral∫∞

0 F (α)dα.

Assim, se∫∞−∞ f(t)dt existe, o limite do primeiro termo em (3.2) e zero, e o limite da soma se

escreve

f(x) =1

π

∫ ∞0

[(∫ ∞−∞

f(t) cosαtdt

)cosαx+

(∫ ∞−∞

f(t) senαtdt

)senαx

]dα. (3.3)

Este resultado apresentado em (3.3) e chamado a integral de Fourier de f em (−∞,∞).

Conforme mostra a definicao abaixo, em que a estrutura basica da integral de Fourier lembra a

mesma da serie de Fourier.

Definicao 4. A integral de Fourier de uma funcao f definida no intervalo (−∞,∞) e dada por

f(x) =1

π

∫ ∞0

[A(α) cosαx+B(α) senαx]dα, (3.4)

onde

A(α) =

∫ ∞−∞

f(x) cosαxdx

B(α) =

∫ ∞−∞

f(x) senαxdx.

O teorema a seguir fornece condicoes suficientes para a convergencia da integral de Fourier.

34

Page 36: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

Teorema 3.1. Sejam f e f ′ parcialmente contınuas em qualquer intervalo finito, e seja f absolu-

tamente integravel em (−∞,∞). Entao a integral de Fourier de f no intervalo (−∞,∞) converge

para f(x) em um ponto de continuidade. Em um ponto x de descontinuidade tipo salto, a integral

de Fourier converge para a mediaf(x+) + f(x−)

2,

onde f(x+) e f(x−) denotam os limites de f a direita e a esquerda, respectivamente.

Integral de Seno e Integral de Cosseno

Assim como vimos anteriormente que existe a serie de Seno e de Cosseno, e intuitivo

pensarmos nas integrais de Seno e de Cosseno, ja que a estrutura da Integral de Fourier lembra as

Series de Fourier.

Quando f e uma funcao par no intervalo (−∞,∞), o produto f(x) cosαx e tambem uma

funcao par, ao passo que f(x) senαx e uma funcao ımpar. Sendo assim, da propriedade (g) do

Teorema 2.1 temos que:

B(α) =

∫ ∞−∞

f(x) senαx dx = 0

e

f(x) =1

π

∫ ∞0

(∫ ∞−∞

f(t) cosαt dt

)cosαx dα

pela propriedade (f) do Teorema 2.1, segue que:

f(x) =2

π

∫ ∞0

(∫ ∞0

f(t) cosαtdt

)cosαxdα.

Da mesma forma, quando f e uma funcao ımpar no intervalo (−∞,∞), os produ-

tos f(x) cosαx e f(x) senαx sao funcoes ımpar e par, respectivamente. Sendo assim, A(α) =∫∞−∞ f(x) cosαxdx = 0, tambem pelo Teorema 2.1, e

f(x) =1

π

∫ ∞0

(∫ ∞−∞

f(t) senαt dt

)senαx dα.

Da propriedade (f), temos que:

f(x) =2

π

∫ ∞0

(∫ ∞0

f(t) senαt dt

)senαx dα.

Formalizando os resultados, segue a definicao para as integrais Cosseno e Seno de Fourier.

Definicao 5. Integrais de Cosseno e Seno de Fourier

(i) a integral de Fourier de uma funcao par no intervalo (−∞,∞) e a integral cosseno

f(x) =2

π

∫ ∞0

A(α) cosαx dα.

onde

A(α) =

∫ ∞0

f(x) cosαx dx.

35

Page 37: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

(ii) a integral de Fourier de uma funcao ımpar no intervalo (−∞,∞) e a integral seno

f(x) =2

π

∫ ∞0

B(α) senαx dα.

onde

B(α) =

∫ ∞0

f(x) senαx dx.

3.2 Transformada de Fourier

Primeiramente vamos recordar da formula de Euler

eiθ = cos θ + i sen θ.

Desta, segue que

cos θ =eiθ + e−iθ

2e sen θ =

eiθ − e−iθ

2

Vamos escrever a integral de Fourier, vista na sessao anterior, na forma complexa. Da

integral de Fourier (3.4) e da formula de Euler, temos:

f(x) =1

π

∫ ∞0

[A(α) cosαx+B(α) senαx]dα

=1

π

∫ ∞0

(∫ ∞−∞

f(t) cosαt cosαx dt+

∫ ∞−∞

f(t) senαt senαx dt

)dα

=1

π

∫ ∞0

∫ ∞−∞

f(t)(cosαt cosαx+ senαt senαx) dtdα

=1

π

∫ ∞0

∫ ∞−∞

f(t) cosα(x− t) dtdα

=1

∫ ∞0

∫ ∞−∞

f(t)(eiα(x−t) + e−iα(x−t)) dtdα

=1

∫ ∞0

∫ ∞−∞

f(t)eiα(x−t) dtdα+1

∫ ∞0

∫ ∞−∞

f(t)e−iα(x−t) dtdα

=1

∫ ∞0

∫ ∞−∞

f(t)eiα(x−t) dtdα+1

∫ 0

−∞

∫ ∞−∞

f(t)eiα(x−t) dtdα

=1

∫ ∞−∞

∫ ∞−∞

f(t)eiα(x−t) dtdα.

Portanto, a forma complexa da integral de Fourier e da forma

f(x) =1

∫ ∞−∞

∫ ∞−∞

f(t)eiα(x−t) dtdα.

Sendo assim, a forma complexa da integral de Fourier pode ser escrita como

f(x) =1

∫ ∞−∞

[∫ ∞−∞

f(t)e−iαt dt

]eiαx dα. (3.5)

36

Page 38: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

Para que possamos falar da transformada de Fourier, vamos primeiro definir uma funcao

F : R→ C por

F (α) =

∫ ∞−∞

f(t)e−iαtdt. (3.6)

Note que mesmo sendo o domınio da funcao f definido nos reais, em geral a funcao F e

uma funcao definida na reta tomando valores complexos. Sendo assim, e possıvel expressar F

pela soma de componentes real e imaginaria, representadas por R e I, respectivamente

F (α) = R(α) + iI(α).

E possıvel ainda expressar a funcao F de valores complexos, na forma polar, ou seja

F (α) = |F (α)| eiφ(α) (3.7)

onde,

|F (α)| = [R2(α) + I2(α)]12

e

φ(α) = tan−1

[I(α)

R(α)

].

O termo |F (α)| e chamado espectro de Fourier da funcao f(x) e φ(α) e chamado angulo de

fase da funcao f(x); |F (α)|2 = R2 + I2 e denominado densidade espectral, ou espectro de potencia

de f(x) e possui aplicacoes em imagens. A variavel α, geralmente e denotada por u e e chamada de

variavel de frequencia, cujo nome deriva do termo exponencial, ei2πux, que pela formula de Euler

ei2πux = cos(2πux)−i sen(2πux) deixa evidente que a funcao f pode ser decomposta pelo somatorio

de senos e cossenos.

A transformada de Fourier na aplicacao em imagens, pode computar a distribuicao (am-

plitudes, frequencias e fases) desses senos e cossenos.

Diremos que uma funcao de R em C e absolutamente integravel se as partes real e ima-

ginaria dessa funcao forem absolutamente integraveis. O espaco dessas funcoes sera denotado por

L1(R,C). Da forma complexa da integral de Fourier em (3.5), temos que

f(x) =1

∫ ∞−∞

F (α)eiαx dα.

Disso definimos a Transformada de Fourier de f , como sendo a funcao F que associa a

cada funcao absolutamente integravel f : R→ C a funcao F : R→ C definida pela expressao (3.6).

E a inversa dessa funcao e chamada a transformada de Fourier inversa, F−1 que associa a

cada funcao F : R→ C que pertenca ao conjunto imagem de F a funcao absolutamente integravel

f : R→ C definida pela expressao (3.7) e sendo f contınua,

F−1(F(f)) = f.

Veja que isso e consequencia imediata das definicoes acima. De fato,

F−1(F(f))(x) =1

∫ ∞−∞F(f)(α)eiαx dα

37

Page 39: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

=1

[∫ ∞−∞

∫ ∞−∞

f(t)e−iαt dt

]eiαx dα

=1

∫ ∞−∞

∫ ∞−∞

f(t)eiα(x−t) dtdα = f(x).

Apresentamos aqui a transformada de Fourier de uma funcao unidimensional que pode ser

estendida a funcao binidimensional f(x, y). Portanto em 2D temos o seguinte par de transformadas

F (u, v) =

∫ ∞−∞

f(x, y)e−i(ux+vy)dxdy

e a partir de F (u, v) pode-se obter f(x, y) atraves da transformada inversa de Fourier:

f(x, y) =1

∫ ∞−∞

F (u, v)ei(ux+vy)dudv.

Da mesma forma mostrada para a transformada de Fourier para uma funcao unidimen-

sional, a transformada de Fourier de uma funcao f(x, y) e uma funcao complexa e pode ser expressa

pela soma de componentes real e imaginaria, representadas por R e I, respectivamente, ou seja,

F (u, v) = R(u, v) + iI(u, v).

Disso obtem-se o espectro de Fourier, angulo de fase e o espectro de potencia, como na

funcao unidimensional, conforme seguem as equacoes respectivamente

|F (u, v)| = [R2(u, v) + I2(u, v)]12 ,

φ(u, v) = tan−1

[I(u, v)

R(u, v)

],

e

P (u, v) = R2(u, v) + I2(u, v).

Transformadas de Fourier

A integral de Fourier e a fonte de tres novas transformadas integrais, pois esta pode ser escrita

como integrais de Cosseno e Seno de Fourier, sendo assim, tambem teremos a transformada de

Cosseno e de Seno de Fourier.

Definicao 6. pares de Transformadas de Fourier

(i) Transformada de Fourier

F(f)(x) =

∫ ∞−∞

f(x)e−iαxdx = F (α).

Transformada inversa de Fourier

F−1(F )(α) =1

∫ ∞−∞

F (α)eiαxdα = f(x).

38

Page 40: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

(ii) Transformada Seno de Fourier

Fs(f)(x) =

∫ ∞0

f(x) senαx dx = F (α).

Transformada Seno de Fourier inversa

F−1s (F )(α) =

2

π

∫ ∞0

F (α) senαx dx = f(x).

(iii) Transformada Cosseno de Fourier

Fc(f)(x) =

∫ ∞0

f(x) cosαx dx = F (α).

Transformada Cosseno de Fourier inversa

F−1c (F )(α) =

2

π

∫ ∞0

F (α) cosαx dx = f(x).

Para melhor classificar as transformadas, uma vez que vamos trabalhar com a aplicacao

desta em processamento digital de imagens, e necessario analisar se esta funcao e periodica ou

aperiodica e se o domınio da imagem e contınuo ou discreto. A combinacao destas duas carac-

terısticas gera quatro outras categorias da transformada, que serao descritas a seguir.

Aperiodica e contınua

Essa categoria inclui, por exemplo, exponenciais em decomposicao e a curva de Gauss.

Essas funcoes se estendem ao infinito tanto positivas como negativas, sem repetir em um padrao

periodico. A transformada de Fourier para este tipo de sinal e simplesmente chamado de Trans-

formada de Fourier.

Periodica e contınua

Aqui os exemplos sao: funcoes que descrevem ondas senoidais, ondas quadradas, e qualquer

forma de onda que se repete em um padrao regular de infinito negativo ao infinito positivo. Esta

versao da transformada de Fourier e chamada de Serie de Fourier.

Aperiodica e discreta

Estas funcoes sao definidas apenas em pontos discretos entre infinito positivo e negativo,

e nao se repetem de forma periodica. Este tipo de transformada de Fourier e chamada de Trans-

formada de Fourier de tempo discreto.

Periodica-Discreta

Estas sao funcoes discretas que se repetem de forma periodica de infinito negativo ao

infinito positivo. Esta classe de transformada de Fourier e as vezes chamada de Transformada

Discreta de Fourier.

Para uso em computadores, seja para aplicacoes cientıficas ou em processamento digital

de sinais e imagens e preciso ter valores discretos no domınio. Para que isso seja possıvel, existe a

chamada Transformada Discreta de Fourier. Vejamos como ela pode ser adaptada.

39

Page 41: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

Considere uma sequencia periodica f(x) = {x0, x1, ..., xN−1}, com perıodo N , tal que

f(x) = f(x + kN) e F (u) = F (u + kN), onde k e um numero inteiro. Essa sequencia pode ser

representada, portanto, em termos de uma Serie Discreta de Fourier, da forma

f(x) =N−1∑u=0

F (u)exp[i2πux/N ],

F (u) =1

N

N−1∑x=0

f(x)exp[−i(2πux/N ],

sendo que x = 0, 1..., N − 1 (numero de amostras) e u = 0, 1..., N − 1 (variavel independente de

frequencia).

Em uma funcao bidimensional discreta, o par de transformadas (discretas) de Fourier

passa a ser

F (u, v) =1

MN

M−1∑u=0

N−1∑v=0

f(x, y)exp[−i2π

(uxM

+vy

N

)](3.8)

para u e v “discretizados”, em: u = (0, 1...,M − 1) e v = (0, 1..., N − 1), tem-se a transformada

inversa

f(x, y) =M−1∑u=0

N−1∑v=0

F (u, v)exp[i2π

(uxM

+vy

N

)](3.9)

para x e y assumindo valores discretos x = (0, 1...,M − 1) e y = (0, 1..., N − 1), onde ∆u = 1M∆x e

∆v = 1N∆y .

Essa e a forma mais usada da transformada de Fourier em aplicacoes como a que vamos

tratar que e na remocao de ruıdos em imagens digitais, uma vez que as imagens sao representadas

num domınio discreto. No entanto, sempre procura-se metodos mais rapidos que demandem menos

tempo e memoria do computador. Para isso usa-se a chamada FFT (Fast Fourier transform), que

nada mais e do que um algoritmo computacional otimizado que calcula a Transformada Discreta de

Fourier mais rapidamente, pois faz com que a complexidade caia de N2 para N log2N operacoes.

3.3 Propriedades Operacionais da Transformada de Fourier

Veremos agora as propriedades da transformada de Fourier para as operacoes de com-

binacao linear, translacao, diferenciacao, dilatacao e convolucao. Esta ultima propriedade e funda-

mental para a compreensao das tecnicas de processamento de imagens baseadas na transformada

de Fourier.

Propriedade 1 (Linearidade). Se f, g : R → C sao funcoes absolutamente integraveis e a, b ∈ R,

entao

F(af + bg) = aF(f) + bF(g).

40

Page 42: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

F(af + bg)(w) =

∫ ∞−∞

(af(t) + bg(t))e−iwtdt

=

∫ ∞−∞

af(t)e−iwt + bg(t)e−iwtdt

=

∫ ∞−∞

af(t)e−iwtdt+

∫ ∞−∞

bg(t)e−iwtdt

= a

∫ ∞−∞

f(t)e−iwtdt+ b

∫ ∞−∞

g(t)e−iwtdt

= aF(f)(w) + bF(g)(w).

Propriedade 2 (Transformada de Fourier de Derivadas). Se f : R→ C e uma funcao diferenciavel

e absolutamente integravel tal que f ′ tambem e uma funcao absolutamente integravel, entao

F(f ′(x))(w) = iwF(f(x))(w).

Integrando por partes temos

F(f ′)(w) =

∫ ∞−∞

f ′(t)e−iwtdt

= f(t)e−iwt∣∣∞−∞ −

(−iw

∫ ∞−∞

f(t)e−iwtdt

)= iw

∫ ∞−∞

f(t)e−iwtdt = iwF(f)(w).

Propriedade 3 (Derivadas de Transformadas de Fourier). Se f : R → C e uma funcao absoluta-

mente integravel tal que xf(x) tambem e uma funcao absolutamente integravel, entao

iF(f(x))′(w) = F(xf(x))(w).

F(f)′(w) =d

dw

∫ ∞−∞

f(t)e−iwtdt

=

∫ ∞−∞

d

dwf(t)e−iwtdt = −i

∫ ∞−∞

tf(t)e−iwtdt

= −iF(tf(t))(w).

Multiplicando a igualdade

F(f)′(w) = −iF(tf(t))(w)

por i, obtemos

iF(f)′(w) = F(tf(t))(w).

41

Page 43: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

Propriedade 4 (Transformada de Fourier de uma Translacao). Se f : R → C e uma funcao

absolutamente integravel e g : R→ C e tal que g(x) = f(x− a), entao

F((g))(w) = e−iwaF((f))(w).

Mudando as variaveis, temos

F((g))(w) =

∫ ∞−∞

f(t− a)e−iwtdt

=

∫ ∞−∞

f(t)e−iw(t+a)dt

=

∫ ∞−∞

f(t)e−iwte−iwadt

= e−iwa∫ ∞−∞

f(t)e−iwtdt = e−iwaF(f)(w).

Propriedade 5 (Transformada de Fourier de uma Dilatacao). Se f : R → C e uma funcao

absolutamente integravel e a 6= 0, entao

F(f(ax))(w) =1

|a|F(f)

(wa

).

Mudando as variaveis.

Se a > 0, temos

F(f)(w) =

∫ ∞−∞

f(at)e−iwtdt

=

∫ ∞−∞

1

af(t)e−iw

tadt

=1

a

∫ ∞−∞

f(t)e−iwtadt

=1

|a|F(f)

(wa

).

Se a < 0, temos

F(f(at))(w) =

∫ ∞−∞

f(at)e−iwtdt

=

∫ −∞∞

1

af(t)e−iw

tadt

=1

−a

∫ ∞−∞

f(t)e−iwtadt

=1

|a|F(f)

(wa

).

42

Page 44: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

O produto de convolucao, ou simplesmente a convolucao de duas funcoes absolutamente

integraveis f, g e definida como sendo a funcao

(f ∗ g)(x) =

∫ ∞−∞

f(x− t)g(t)dt. (3.10)

Neste caso e garantido que a funcao esta bem definida, ou seja, a integral impropria que a define

converge para todo x, isso pode ser visto em [3,Iorio]. A transformada de Fourier se comporta bem

em relacao a convolucoes, ela transforma convolucao de funcoes em produto de funcoes:

Propriedade 6 (Transformada de Fourier de uma Convolucao). . Se f, g : R → C sao funcoes

absolutamente integraveis, entao

F(f ∗ g) = F(f)F(g).

Dem. Mudando a ordem de integracao, usando a definicao de convolucao em (4.1) e a propriedade

4, temos

F(f ∗ g)(w) =

∫ ∞−∞

(f ∗ g)(t)e−iwt dt

=

∫ ∞−∞

[∫ ∞−∞

f(t− s)g(s) ds

]e−iwt dt

=

∫ ∞−∞

[∫ ∞−∞

f(t− s)e−iwtdt]g(s) ds

=

∫ ∞−∞

[e−iwsF(f)(w)]g(s) ds

= F(f)(w)

∫ ∞−∞

g(s)e−iws ds = F(f)(w)F(g)(w).

43

Page 45: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

Capıtulo 4

Aplicacao da FFT na remocao de

ruıdo em imagem

Neste capıtulo a utilizacao da Transformada Rapida de Fourier (FFT) no processamento

digital de imagens, em particular na remocao de ruıdo em imagem. Mas antes sera apresentado

um pouco sobre processamento de imagem.

4.1 Processamento de Imagem

4.1.1 A imagem digital

A palavra imagem tem origem no termo do latim imago, que significa representacao visual

de um objeto. As imagens tem diferentes origens, pois podem ser captadas por comprimento de

onda de radiacao eletromagnetica (maquinas fotograficas) ou por ondas sonoras de alta frequencia,

como por exemplo, o ultra-som.

Os computadores digitais trabalham com o sistema binario e os dıgitos 0 ou 1 na com-

putacao sao chamados de bit, do ingles Binary Digit. Um agrupamento de 8 bits corresponde a um

byte (Binary Term). Esses conceitos sao necessarios para entendermos como e possıvel trabalhar

com a imagem, em se tratando de efeitos, texturas e tambem da aplicacao da transformada de

Fourier a qual veremos mais a frente.

Para que um computador possa fazer a “leitura” da imagem digital, ocorre o processo

dito digitalizacao da imagem que e a conversao dessa imagem de contınua (real) para uma repre-

sentacao discreta (digital). Desta forma a imagem pode ter uso computacional, podendo depois ser

armazenada na forma de arquivos. Vejamos como se sucedem as etapas para este processamento.

Etapas do processamento da imagem

• discretizacao - processo de conversao da imagem na forma contınua em uma representacao

discreta. Caso a representacao seja em numeros inteiros positivos e em uma base numerica,

44

Page 46: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

o processo chama-se digitalizacao;

• reconstrucao - processo inverso da discretizacao, no qual se obtem, geralmente, apenas

uma aproximacao da imagem contınua, nao sendo, na maioria das vezes, possıvel recuperar

a imagem original;

• codificacao - e a modificacao de caracterısticas de um sinal de forma a torna-lo mais apropri-

ado para uma aplicacao especıfica, como, por exemplo, para transmissao ou armazenamento

de dados. E o processo que na maioria das vezes, a partir da representacao discreta da im-

agem, gera um conjunto de dados representativos da imagem, dados estes que podem ser

transformados no formato de arquivos, facilitando a transmissao e armazenamento.

• decodificacao - e o processo oposto a codificacao, as informacoes codificadas sao acessadas

na forma de uma representacao discreta. Quando a imagem discretizada e igual a codificada,

diz-se que o processo de codificacao/decodificacao e sem perda.([1, AZEVEDO])

4.1.2 Amostragem e Quantificacao

Como mencionado anteriormente, uma imagem para ser processada pelo computador deve

estar na sua representacao discreta, ou seja, precisa ser descrita por um numero finito de pontos

e ser representada por um numero finito de tons ou cores. Cada um desses pontos e chamado de

pixel e cada pixel de uma imagem e representado no computador como um conjunto de numeros

inteiros que correspondem a intensidade de luz e de cor no ponto.

A cor de cada pixel e representada como um inteiro de 8 bits, ou seja 1 byte, variando

de 0 e 255. Essa variacao e pelo fato de que se cada pixel tem 8 bits, e como os bits sao numeros

binarios, entao para representar cada tom de cinza, e possıvel 28 tons diferentes. Se a imagem fosse

de 4 bits, os tons de cinza possıveis seriam 24, ou seja, 16 tons diferentes de cinza, variando de 0

a 15. O 0 corresponde a cor preta e 255 a cor branca, e entre esse intervalo ha as tonalidades de

cinza.

A imagem digital modo de 24 bits representa a cor verdadeira. O formato JPEG, ou misto

Photographic Experts Group, por exemplo, tem uma escala de cinza de 8 bits e uma escala de cores

de 24 bits.

A taxa de amostragem descreve o numero de pixels utilizados para se representar uma

faixa na imagem enquanto a quantizacao define o numero de bits utilizados para se representar um

pixel.

Um pixel pode ser referido pela localizacao na imagem, especificando a linha e a coluna na

matriz de imagem ou pelo valor do tom. Veja no exemplo da figura abaixo, que mostra os valores

de pixels da regiao 5x5 indicada.

45

Page 47: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

Figura 4.1: Representacao matricial de uma regiao da imagem.

Fonte: [1, AZEVEDO]

Uma imagem digital e descrita por uma matriz bidimensional de N×M de valores de pixel

(p(x, y)) inteiros positivos, que indicam a intensidade de cor em cada posicao (x, y) da imagem.

Quanto maiores os valores de N e M usados para se representar a mesma imagem melhor sera

esta aproximacao. Para gerar essa imagem digital, p(x, y) deve ser digitalizada ao longo de x e y,

e na intensidade tonal z = p(x, y). Para tanto, e feita uma amostragem (normalmente uniforme)

de p(x, y) nas direcoes x e y, gerando uma matriz A de ordem N ×M amostras, seguida de uma

quantizacao do valor de p(x, y) em L nıveis inteiros de cinza. Quanto maior o valor de N,M e

L, mais nıtida e proxima a uma imagem contınua a imagem digital se torna, consequentemente,

requer maior espaco para sua armazenagem.

4.1.3 Histograma de Imagem Digital

Vimos que as imagens possuem diferentes tons de cinza na sua composicao, os quais estao

representados por numeros inteiros de 0 a 255. O histograma de uma imagem e um conjunto de

numeros indicando o percentual de pixels naquela imagem.

Visualizando o histograma de uma imagem podemos analisar se ha qualidade nessa imagem

quanto ao nıvel de contraste e quanto a luminosidade media, ou seja, se e clara ou escura. Os passos

para a construcao de um histograma sao

• analise do tom de cada pixel;

• contagem do numero de pixels de cada valor de intensidade;

• representacao desses valores na forma de uma tabela ou grafico da frequencia correspondente

a cada tom de cinza;

• normalizacao desses valores dividindo-os pelo numero total de pixels da imagem, obtendo-se

uma ideia da frequencia de cada tom.

Para exemplificar, considere uma imagem de 10 × 10 pixels representada na Tabela 4.1

por seus tons de cinza (quantizados em 16 tons de cinza).

46

Page 48: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

Tabela 4.1: Exemplo de tons da imagem.

0 0 4 5 5 5 5 4 0 0

0 4 6 6 6 6 6 6 4 0

4 8 8 15 5 5 15 8 6 4

5 8 8 10 10 10 10 8 8 5

5 8 8 10 15 15 10 8 8 5

5 8 8 10 15 15 10 8 8 5

5 8 8 10 10 10 10 8 8 5

4 8 8 15 5 5 15 8 6 4

0 4 6 6 6 6 6 6 4 0

0 0 4 5 5 5 5 4 0 0

Seguindo os 4 passos descritos, temos o histograma representado pela tabela 4.1 que e

mostrado no grafico da Figura 4.2.

Figura 4.2: Histograma da Imagem da Tabela 4.1.

Fonte: [1, AZEVEDO]

Se a imagem estiver representada em 4 bits por pixel, sua variacao estara abrangendo a

gama de tons possıveis entre 0 e 15. Porem se for de 8 bits por pixel, estara concentrada nos tons

escuros e sera uma imagem com pouco contraste.

4.1.4 Operacoes em Imagens

Depois de entendermos como uma imagem e formada, podemos falar entao das operacoes

possıveis nessa imagem. Existem basicamente tres classes distintas de operacoes em imagens:

aquelas que sao realizadas pontualmente nos pixels, as que sao feitas em partes da imagem e

aquelas realizadas em toda a imagem. Dessas podemos dividir as operacoes como: pontuais, locais

e globais. E trataremos aqui da ultima operacao, que e a operacao global, pois nela que se utiliza

a transformada de Fourier.

As operacoes pontuais sao operacoes em que um pixel na posicao (xi, yi) da imagem

resultante, depende apenas do pixel, na imagem original, que se encontra nas mesmas coordenadas.

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Page 49: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

As operacoes locais sao operacoes em que um pixel da imagem resultante depende de

uma vizinhanca do mesmo pixel na imagem original.

As operacoes globais sao operacoes em que um pixel da imagem resultante depende de

um processamento realizado em todos os pixels da imagem original. Nesse grupo de operacoes estao

as que mudam o domınio de descricao, tais como as transformadas de Fourier, Wavelet, Hough,

co-senos (usada para codificacao) e por funcoes interativa ou fractal. A transformada de Fourier

e base fundamental para toda teoria de processamento de sinais e com ela e possıvel realizar uma

serie de operacoes muito importantes com imagens, como a definicao de filtros, identificar textura,

remover ruıdos etc.

4.2 Aplicacao da FFT na remocao de ruıdo em imagem

Veremos nessa sessao como a transformada Rapida de Fourier atua na remocao de ruıdos

de uma imagem digital. Na secao anterior vimos um pouco sobre imagem digital, para que fosse

possıvel a compreensao dessa aplicacao da FFT em imagens digitais.

Algumas propriedades da transformada de Fourier foram vistas, e a convolucao foi posta

em destaque, pois nesta aplicacao esta propriedade sera fundamental.

A convolucao de uma imagem digital f(x, y) com uma outra imagem h(x, y) gera uma

terceira imagem g(x, y), estando os valores de x no intervalo [0,M − 1] e y no intervalo [0, N − 1],

sendo M e N a quantidade de linhas e colunas dessas imagens. O operador ∗ indica a convolucao,

sendo assim, podemos escrever as equacoes

g(x, y) = f(x, y) ∗ h(x, y)

g(x, y) =1

MN

M−1∑m=0

N−1∑n=0

f(m,n)h(x−m, y − n). (4.1)

(Obs.: o sinal negativo em −m e −n significa que a funcao e espelhada sobre a origem,

no processo de calculo da convolucao.)

A equacao (4.1) pode ser interpretada da seguinte forma:

• a funcao h(x, y) e espelhada sobre a origem;

• a funcao h(x, y) e deslocada em relacao a funcao f(x, y) pelo incremento dos valores de (m,n);

• a soma dos produtos e calculada sobre todos os valores de m e n, para cada deslocamento. Os

deslocamentos (m,n) sao incrementos inteiros que param quando as funcoes nao se sobrepoem

mais.

Relembrando do capıtulo 3 as equacoes (3.8) e (3.9)

F (u, v) =1

MN

M−1∑u=0

N−1∑v=0

f(x, y)exp[−i2π

(uxM

+vy

N

)]48

Page 50: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

f(x, y) =M−1∑u=0

N−1∑v=0

F (u, v)exp[i2π

(uxM

+vy

N

)].

Da convolucao das imagens digitais f(x, y) e h(x, y), como F (u, v) e H(u, v) sao as trans-

formadas dessas imagens, respectivamente, da propriedade 6 de convolucao, vista no capıtulo 3

temos que f(x, y)∗h(x, y) e F (u, v)H(u, v) constinuem um par de transformadas de Fourier. Sendo

assim, obtem-se as seguintes relacoes no domınio da frequencia

f(x, y) ∗ h(x, y)⇔ F (u, v)H(u, v)

f(x, y)h(x, y)⇔ F (u, v) ∗H(u, v).

Essas relacoes indicam que a convolucao pode ser obtida pela transformada de Fourier

do produto F (u, v)H(u, v). Portanto, a convolucao entre duas funcoes no domınio espacial tem

como transformada a multiplicacao das transformadas das duas funcoes no domınio da frequencia,

e vice-versa.

O processamento da imagem nesta aplicacao e realizado no chamado domınio de Fourier,

primeiro a imagem I(x, y) e transformada para o domınio de Fourier, atraves da sua transformada

discreta, utilizando-se o algoritmo FFT. A imagem no domınio de Fourier e representada por F (u, v)

e e convoluıda com o filtro H(u, v). Ao produto F (u, v)H(u, v) e aplicada a inversa da transformada

de Fourier para retornar ao domınio espacial, onde se tem a imagem processada I ′(x, y). A figura

abaixo ilustra a filtragem no domınio de Fourier.

Figura 4.3: Esquema ilustrando os passos da filtragem do domınio de Fourier.

Fonte: [1, AZEVEDO]

Quando aplica-se a transformada de Fourier em uma imagem com algum tipo de ruıdo,

esse ruıdo fica indicado no espectro de Fourier em forma de pontos ou sinais distantes do centro.

Veja a imagem abaixo e o espectro de Fourier dessa imagem. E possıvel observar que ha pontos

nao centralizados que representam o ruıdo da imagem, neste caso a digital da imagem e o ruıdo em

questao.

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Page 51: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

Figura 4.4: Imagem e seu Espectro de Fourier.

Fonte: [1, AZEVEDO]

A imagem que segue esta cobrindo os pontos discrepantes, ou seja, o “ruıdo” da imagem.

Figura 4.5: Resultado da filtragem utilizando filtro circular nao centrado na origem

Fonte: [1, AZEVEDO]

E importante compreender a representacao da imagem do espectro de Fourier pois fica mais

simples e intuitivo para determinar um filtro apropriado para ser aplicado a imagem. Atraves das

informacoes geradas pela imagem do espectro de Fourier pode-se diminuir (eliminar) os coeficientes

dos componentes de determinadas frequencias.

Outra informacao importante que e possıvel obter do espectro de Fourier e a informacao da

energia da imagem (image power). Praticamente em todas as imagens e observado que a energia, a

partir do seu centro no espectro de Fourier, esta concentrada nos componentes de baixas frequencias.

A ideia de energia ajuda a entender os tipos de filtros e como utiliza-los na remocao de

ruıdos de uma imagem. As filtragens mais simples utilizadas sao as realizadas atraves de: filtros

passa-faixa ou filtros passa-banda, que removem regioes selecionadas de frequencias entre altas e

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Page 52: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

baixas frequencias; os filtros passa-baixa, quando a faixa esta proxima a origem e os filtros passa-alta,

quando a faixa esta afastada da origem. A Figura 4.6 exemplifica esses tres tipos de filtro.

Figura 4.6: (a) filtros passa-baixa, (b) filtros passa-alta e (c) filtros passa-banda

Fonte: [1, AZEVEDO]

As imagens de fundo da figura acima, F (u, v), sao as transformadas de Fourier de uma

imagem a ser filtrada.

4.3 Filtragem Passa-Baixa

A maior energia de uma imagem esta, quase sempre, concentrada nos componentes de

baixa frequencia. Os componentes de alta frequencia sao os detalhes da imagem, como por exemplo,

bordas, lados e outras transicoes abruptas de nıvel de cinza. Sendo assim, utilizando o filtro passa-

baixa a imagem fica menos nıtida, ou suavizada, pois ocorre uma perda dos detalhes.

Nas figuras abaixo sao apresentadas duas imagens de uma rosa com seus respectivos espec-

tros de Fourier. A primeira imagem e de boa qualidade, e nao possui ruıdo, a segunda foi degradada

por um ruıdo do tipo “sal e piment”, que geralmente e gerado por equipamento eletronico, atraves

da transmissao de imagem, e aparece como pequenos pontos pretos em regioes bancas e pontos

brancos em regioes mais escuras.

Observando os espectros de Fourier de cada uma das imagens, e possıvel perceber a pre-

senca dos ruıdos representado pelas altas frequencias na imagem, ou seja, as informacoes que estao

mais afastadas da origem. Esse e um exemplo em que a utilizacao de um filtro passa-baixa melhora

a qualidade da imagem. As baixas frequencias sao mantidas e as altas frequencias (fora do cırculo

de raio r) presentes na transformada da imagem F (u, v) serao removidas, conforme e mostrado na

Figura 4.7.

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Page 53: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

(a) Imagem sem ruıdo (b) FFT da imagem

(c) imagem com ruıdo (d) FFT da imagem

Figura 4.7: Comparacao do espectro de Fourier de imagens de impressao digital sem ruıdo (a e b)

e com ruıdo (c e d)

Portanto para√u2 + v2 > r teremos F (u, v) = 0. Dessa forma, podemos especificar um

filtro H(u, v) do seguinte modo:

H(u, v) = H(u, v) se u2 + v2 < r2

H(u, v) = 0 se u2 + v2 ≥ r2

Esse filtro chama-se passa-baixa ideal, pois todas as frequencias dentro do cırculo de raio

r sao mantidas sem modificacoes e todas fora do cırculo sao retiradas completamente. O ponto de

transicao entre H(u, v) = H(u, v) e H(u, v) = 0, r, e chamado de frequencia de corte.

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Page 54: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

(a) FFT da imagem com filtro (b) imagem filtrada

Figura 4.8: Resultado da filtragem passa-baixa.

4.4 Filtragem Passa-Alta

A filtragem passa-alta em frequencia, pode ser entendida como uma operacao contraria a

filtragem passa-baixa. Na filtragem passa-alta, os componentes de alta frequencia da transformada

de Fourier nao sao alterados, enquanto os de baixa frequencia sao removidos. Ou seja, os detalhes

da imagem ficam mais enfatizados.

Neste caso, as baixas frequencias sao removidas, e as altas frequencias fora do cırculo de

raio r presentes na transformada da imagem F (u, v), serao mantidas. Veja na Figura 4.9 como fica.

Sendo assim, se√u2 + v2 < r teremos F (u, v) = 0. Dessa forma, podemos especificar um

filtro H(u, v) do seguinte modo

H(u, v) = H(u, v) se u2 + v2 ≥ r2

H(u, v) = 0 se u2 + v2 < r2.

Esse filtro e chamado de filtro passa-alta ideal, pois todas as frequencias fora do cırculo

de raio r sao mantidas sem alteracoes, e todas as frequencias dentro do cırculo sao retiradas com-

pletamente.

(a) Imagem original (b) FFT com filtro (c) Imagem filtrada

Figura 4.9: Resultado da filtragem passa-alta.

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Page 55: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

4.5 Outros Filtros no Domınio de Frequencia

Alem dos filtros passa-baixa e passa-alta, existem outros que podem ser aplicados as

imagens no domınio de Fourier. O objetivo esta direcionado em remover ruıdos de imagem.

Na filtragem por valor de corte, um determinado valor percentual e informado e os co-

eficientes cuja intensidade de |F (u, v)| encontra-se abaixo desse valor sao zerados, ou seja, sao

retirados da imagem.

Apresentaremos exemplos para alguns tipos de filtros. O primeiro e o filtro de “fan”

(setor angular) adequado para ser aplicado a imagens com frequencias distribuıdas ao longo de

uma direcao inclinada. Este filtro e bastante utilizado em imagens com ruıdos com uma frequencia

periodica, observe na figura abaixo um exemplo disso.

(a) Imagem com ruıdo diagonal (b) FFT da imagem com ruıdo

(c) Imagem filtrada (d) FFT com filtro setor angular

Figura 4.10: Resultado da filtragem utilizando filtro setor angular.

E possıvel observar que o ruıdo na Figura 4.10 ficou representado no espectro de Fourier

como pontos brancos diagonalizados e ao serem retirados utilizando o filtro de “fan” a imagem

resultante dessa filtragem esta livre dos ruıdos. Para realizar essa aplicacao, o software “ImageJ”

foi utilizado. Este software pode ser encontrado em http://rsbweb.nih.gov/ij/.

Outro filtro utilizado na remocao de ruıdos e do tipo retangular horizontal. Este filtro

isola frequencias verticais. A Figura 4.11 exemplifica um caso em que o ruıdo da imagem gera

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Page 56: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

um espectro com frequencias verticais. Para remocao desse ruıdo utilizamos o filtro retangular

horizontal como podemos observar bem claramente no exemplo abaixo.

(a) Imagem com ruıdo horizontal (b) FFT da imagem com ruıdo

(c) Imagem filtrada (d) FFT com filtro retangular horizontal

Figura 4.11: Resultado da filtragem utilizando filtro retangular horizontal.

O filtro retangular vertical isola frequencias horizontais e pode ser observado na Figura

4.12 que segue.

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Page 57: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

(a) Imagem com ruıdo vertical (b) FFT da imagem com ruıdo

(c) Imagem filtrada (d) FFT com filtro retangular vertical

Figura 4.12: Resultado da filtragem utilizando filtro retangular vertical.

E finalmente temos o filtro chamado de “circular nao centrado na origem”, que ja apareceu

na figura 4.5 que e utilizado quando se deseja eliminar as frequencias que se manifestam atraves de

pontos claros no domınio da frequencia. Vejamos o exemplo.

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Page 58: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

(a) Imagem com ruıdo transversal (b) FFT da imagem com ruıdo

(c) Imagem corrigida (d) FFT com filtro nao centrado na

origem

Figura 4.13: Resultado da filtragem circular nao centrado na origem.

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Page 59: transformada de Fourier aplicada a remoção de ruído em imagem

Referencias Bibliograficas

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Janeiro: Elsevier, 2008. v. 2, 407p.

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de Janeiro: IMPA, Projeto Euclides. 1977.

[3] GUIDORIZZI, Hamilton L. Um curso de calculo. 5 ed. Rio de Janeiro, RJ: LTC, 2002. v. 4,

635p.

[4] IORIO, Valeria. EDP, um Curso de Graduacao. 2 ed. Rio de Janeiro: IMPA, 2001. 246p.

[5] IORIO, Valeria. Equacoes Diferenciais Parciais: uma In-

troducao. Sao Paulo, v.n.3 p. 92-111, junho de 1986 Disponıvel em:

http://matematicauniversitaria.ime.usp.br/Conteudo/n03/n03 Artigo07.pdf Acesso em:

23 out. 2011.

[6] SMITH, Steven W. The scientist and engineer’s guide to digital signal processing. 2 ed. San

Diego, CA: ISBN, 1999.

[7] ZILL, Dennis G.; CULLEN, Michael R. Equacoes diferenciais. trad: Alfredo Alves de Farias.

3ed. Sao Paulo: Pearson Education do Brasil, 2001. v. 2, 434p.

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