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Rua Dr. Moacir Birro, 663 Centro Cel. Fabriciano MG CEP: 35.170-002 Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: [email protected] BIBLIOTECA PARA O CURSO DE TREINAMENTO DESPORTIVO: JOGOS, TESTES E PROVAS Selecionamos para você uma série de artigos, livros e endereços na Internet onde poderão ser realizadas consultas e encontradas as referências necessárias para a realização de seus trabalhos científicos, bem como, uma lista de sugestões de temas para futuras pesquisas na área. Primeiramente, relacionamos sites de primeira ordem, como: www.scielo.br www.anped.org.br www.dominiopublico.gov.br SUGESTÕES DE TEMAS 1. O DESPORTO NA ESCOLA 2. O PRAZER EM AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: A PERSPECTIVA DISCENTE 3. EDUCAÇÃO FÍSICA E SOCIEDADE 4. ENSINO DE 1º E 2º GRAUS: educação física para quê? 5. APRENDIZAGEM SOCIAL E EDUCAÇÃO FÍSICA 6. EDUCAÇÃO FÍSICA E APRENDIZAGEM SOCIAL 7. METODOLOGIA DO ENSINO DE EDUCAÇÃO FÍSICA 8. EDUCAÇÃO FÍSICA: a busca da autonomia pedagógica 9. EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL: a história que não se conta 10. CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DO CONHECIMENTO (RE)CONHECIDO PELA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR 11. PELOS MEANDROS DA EDUCAÇÃO FÍSICA 12. EDUCAÇÃO FÍSICA - PROJETO DIRETRIZES GERAIS PARA O ENSINO DE 2º GRAU

Treinamento Desportivo Jogos Testes e Provas

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    BIBLIOTECA PARA O CURSO DE TREINAMENTO DESPORTIVO: JOGOS, TESTES E PROVAS

    Selecionamos para voc uma srie de artigos, livros e endereos na Internet

    onde podero ser realizadas consultas e encontradas as referncias necessrias

    para a realizao de seus trabalhos cientficos, bem como, uma lista de sugestes

    de temas para futuras pesquisas na rea.

    Primeiramente, relacionamos sites de primeira ordem, como:

    www.scielo.br

    www.anped.org.br

    www.dominiopublico.gov.br

    SUGESTES DE TEMAS

    1. O DESPORTO NA ESCOLA

    2. O PRAZER EM AULAS DE EDUCAO FSICA ESCOLAR: A PERSPECTIVA DISCENTE

    3. EDUCAO FSICA E SOCIEDADE

    4. ENSINO DE 1 E 2 GRAUS: educao fsica para qu?

    5. APRENDIZAGEM SOCIAL E EDUCAO FSICA

    6. EDUCAO FSICA E APRENDIZAGEM SOCIAL

    7. METODOLOGIA DO ENSINO DE EDUCAO FSICA

    8. EDUCAO FSICA: a busca da autonomia pedaggica

    9. EDUCAO FSICA NO BRASIL: a histria que no se conta

    10. CONSIDERAES A RESPEITO DO CONHECIMENTO (RE)CONHECIDO PELA EDUCAO FSICA ESCOLAR

    11. PELOS MEANDROS DA EDUCAO FSICA

    12. EDUCAO FSICA - PROJETO DIRETRIZES GERAIS PARA O ENSINO DE 2 GRAU

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    13. EDUCAO FSICA ESCOLAR: a busca da relevncia

    14. EDUCAO FSICA ESCOLAR: ser... ou no ter?

    15. O DISCURSO DA VIOLNCIA - as marcas da oralidade no jornalismo popular

    16. DE CORPO E ALMA: o discurso da motricidade

    17. EDUCAO DE CORPO INTEIRO: teoria e prtica da educao fsica

    18. PROPOSTA DE UMA LINHA DE GINSTICA PARA A EDUCAO FSICA ESCOLAR

    19. EDUCAO FSICA PROGRESSISTA: a pedagogia crtico-social dos contedos e a educao fsica brasileira

    20. EDUCAO FSICA E PEDAGOGIA: a questo dos contedos

    21. CONCEPES ABERTAS NO ENSINO DA EDUCAO FSICA

    22. O ESPORTE ENQUANTO FATOR DETERMINANTE DA EDUCAO FSICA

    23. EDUCAO FSICA: ensino & mudanas

    24. TRANSFORMAO DIDTICO-PEDAGGICA DO ESPORTE.

    25. TRAJETRIA POLTICA DO ESPORTE NO BRASIL: interesses envolvidos, setores excludos

    26. EDUCAO PELAS ATIVIDADES FSICAS

    27. PROBLEMTICA DA EDUCAO FSICA ESCOLAR

    28. ETNOGRAFIA: uma opo metodolgica para alguns problemas de investigao no mbito da educao fsica

    29. PESQUISA QUALITATIVA NA EDUCAO FSICA

    30. POR UMA CONCEPO SISTMICA NA PEDAGOGIA DO MOVIMENTO

    31. EDUCAO FSICA E ESPORTES - perspectivas para o sculo XXI

    32. CONSENSO E CONFLITO DA EDUCAO FSICA BRASILEIRA

    33. A EDUCAO FSICA E O DISCURSO MIDITICO: abordagem crtico emancipatria

    34. COMUNICAO, MOVIMENTO E MDIA NA EDUCAO FSICA

    35. CONSTRUINDO E UTILIZANDO MATERIAL DE EDUCAO FSICA

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    36. AS RELAES ENTRE O ESPORTE CONTEMPORNEO E O OLIMPISMO NA COBERTURA DOS JOGOS OLMPICOS

    37. EDUCAO FSICA: outros caminhos

    38. EDUCAO FSICA: temas pedaggicos

    39. A EDUCAO FSICA ESCOLAR NA PERSPECTIVA DO SCULO XXI

    40. FUNDAMENTOS DA EDUCAO FSICA ESCOLAR

    41. A EDUCAO FSICA NO ENSINO DE 1 GRAU: do acessrio ao essencial

    42. CRIATIVIDADE NAS AULAS DE EDUCAO FSICA

    43. EDUCAO FSICA ESCOLAR: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista

    44. A MULHER E A ATIVIDADE DESPORTIVA: preconceitos e esteretipos

    45. POR QUE A MULHER NO DEVE PRATICAR O FUTEBOL?

    46. AS FORMAS FEMININAS E A EDUCAO FSICA: a moda social e a moda biolgica

    47. EDUCAO FSICA NO BRASIL: a histria que no se conta

    48. A PRODUO DO CONHECIMENTO NA EDUCAO FSICA/ESPORTE NA DCADA DE 1930 NO BRASIL: em busca de resistncias s concepes higienistas e eugnicas sobre a mulher

    49. ESPORTE, LAZER E EDUCAO FSICA

    50. EDUCAO FSICA BRASILEIRA: autores e atores da dcada de 1980

    51. CULTURA: educao fsica e futebol

    52. EDUCAO FSICA BRASILEIRA: autores e atores da dcada de 80

    53. PESQUISA HISTRICA NA EDUCAO FSICA

    54. O SENSVEL E O INTELIGVEL: novos olhares sobre o corpo

    55. EDUCAO FSICA PROGRESSISTA: a pedagogia crtico-social dos contedos e a educao fsica brasileira

    56. EDUCAO FSICA E PEDAGOGIA: a questo dos contedos

    57. EDUCAO FSICA FEMININA: exerccios preventivos ou corretivos e de relaxamento

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    58. GRANDE IMPRENSA: valores e/ou caractersticas veiculadas por jornais

    59. BRASILEIROS PARA DESCREVER A PARTICIPAO DA SELEO BRASILEIRA DE FUTEBOL NA COPA DO MUNDO DE 1998 EM FRANA

    60. O JORNALISMO ESPORTIVO IMPRESSO DO RIO GRANDE DO SUL DE 1945 A 1995: a histria contada por alguns de seus protagonistas

    61. O CORPO NO ESPAO E NO TEMPO: A EDUCAO FSICA NO ESTADO NOVO (1937-1945)

    62. BELEZA E EDUCAO FSICA DA MULHER

    63. A MULHER E O ESPORTE

    64. POR UMA OUTRA COMUNICAO: mdia, mundializao cultural e poder

    65. DUCAO FSICA: por uma prtica fundamentada

    66. EDUCAO FSICA FEMININA: rpido esboo sobre processos educacionais

    67. DANA E EDUCAO FSICA

    68. A EDUCAO FSICA, OS ESPORTES E AS MULHERES: balano da bibliografia brasileira

    69. DESENVOLVIMENTO HUMANO, LAZER E EDUCAO FSICA ESCOLAR: o papel do componente ldico da cultura

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    ARTIGOS PARA LEITURA, ANLISE E UTILIZAO COMO FONTE OU REFERENCIA

    RELAES ENTRE APTIDO FSICA, ESPORTE E TREINAMENTO ESPORTIVO

    Maria Tereza Silveira Bhme1

    Escola de Educao Fsica e Esporte da Universidade de So Paulo

    E-mail: [email protected]

    A aptido fsica

    Segundo Bhme (7) Fitness ou Total Fitness e Physical Fitness so termos ingleses

    (americanos), os quais so traduzidos para o portugus como aptido ou aptido

    total e aptido fsica, respectivamente.

    De acordo com Hebbelinck (23), a aptido total se refere totalidade biopsicossocial

    do homem, ao fato de o indivduo estar apto para todas as suas necessidades do

    ponto de vista biolgico, psicolgico e social, levando-o a uma integrao adequada

    no seu meio ambiente; um resultado da interao das caractersticas genticas

    com o meio ambiente. Est relacionada diretamente com o fentipo do indivduo.

    Segundo este mesmo autor ...o indivduo totalmente apto psicolgicamente

    estvel, no afetado seriamente pela preocupao ou tenso, tem uma percepo

    realstica do mundo e ajustado socialmente onde vive. De acordo com este

    conceito, a aptido fsica est compreendida na dimenso biolgica da aptido total,

    relaciona-se continuamente com a aptido total e interage com os outros aspectos

    da totalidade psicossocial do indivduo.

    Embora a importncia da aptido fsica seja mundialmente reconhecida, no existe

    na literatura da rea uma definio de aptido fsica que seja universalmente aceita

    (24).

    Os significados das palavras aptido e fsica so: aptido - qualidade do que apto;

    capacidade, habilidade, disposio; conjunto de requisitos necessrios para exercer

    algo; capacidade natural ou adquirida; fsica - que corpreo, material, relativo s

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    leis da natureza. A combinao das duas palavras - aptido fsica, no sentido

    etimolgico das mesmas, leva ao conceito ou a uma associao de idias no tocante

    capacidade, habilidade, disposio material que conduz e indica que o indivduo

    est apto corporalmente (13).

    Desde o perodo Ps-Segunda Guerra Mundial at a dcada de 1960, a aptido

    fsica era considerada como um componente da aptido motora, que por sua vez era

    considerada parte da capacidade motora geral.

    Fleishman (18) realizou uma pesquisa considerada clssica na rea, com o objetivo

    de determinar quais seriam os fatores bsicos de aptido fsica. Para isso foi

    utilizada anlise fatorial, por meio da qual foram identificados nove fatores de

    aptido fsica: flexibilidade de extenso, flexibilidade dinmica, fora explosiva, fora

    esttica, fora dinmica, fora do tronco, equilbrio corporal total, coordenao

    corporal total e resistncia cardiorrespiratria.

    A partir da dcada de 1970 foi iniciada uma discusso mundial a respeito de quais

    componentes da aptido fsica deveriam ser mais valorizados.

    Tal fato ocorreu devido ao aumento do nmero de pesquisas referentes aos

    benefcios do treinamento de determinados componentes da aptido fsica para a

    sade, e/ou preveno das doenas hipocinticas decorrentes da vida sedentria e

    de pouco exerccio fsico. No incio dos anos de 1980, a Associao Americana de

    Sade, Educao Fsica, Esportes e Dana - AAHPERD (1) enfatizou a relao

    entre sade e atividade fsica, e considerou que:

    Aptido fsica um contnuo de mltiplas caractersticas, que se estende do

    nascimento morte. A aptido fsica afetada pela atividade fsica e diferenciada

    entre trs nveis de capacidades: alto, timo e baixo, at as limitaes severas de

    doenas e disfunes.

    A funo cardiorrespiratria, a composio corporal e a funes msculo-

    esquelticas das musculaturas abdominal e da regio lombar da coluna vertebral

    foram consideradas como as reas das funes fisiolgicas relacionadas com uma

    sade positiva, e, portanto, consideradas como componentes da aptido fsica

    relacionados com a sade .

    Pate (29) apresentou a seguinte conceituao de aptido fsica, amplamente

    divulgada na poca: a aptido fsica o estado caracterizado pela capacidade de

    executar atividades dirias com vigor e a demonstrao de traos e capacidades

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    associados com o baixo risco de desenvolvimento prematuro de doenas

    hipocinticas.

    De acordo com Bhme (7) os componentes da aptido fsica relacionados com a

    sade so: as capacidades motoras condicionais resistncia cardiorrespiratria,

    fora e resistncia musculares, flexibilidade, e a composio corporal.

    Concomitantemente, as capacidades motoras condicionais velocidade e fora

    explosiva, assim como as capacidades coordenativas, equilbrio, agilidade, ritmo e

    outras, so considerados aspectos da aptido fsica relacionados com: a) a aptido

    motora, na conceituao da AAHPERD (1); b) com as destrezas, segundo Corbin &

    Lindsey (15, 16); c) com as habilidades esportivas, de acordo com Barbanti (4).

    Em 1988, na Conferncia sobre Exerccio, Aptido e Sade realizado em Toronto,

    Canad (12), foi proposto um modelo que descreve de maneira esquemtica as

    relaes complexas entre a atividade fsica habitual, a aptido fsica/fisiolgica, a

    sade, e outros fatores como a hereditariedade, o modo de vida, o meio ambiente e

    os atributos pessoais, que tambm afetam e determinam essas relaes (Figura 1).

    Nesta conferncia foram utilizados os termos aptido fsica e aptido fisiolgica,

    em que a aptido fsica foi conceituada de acordo com a Organizao Mundial da

    Sade (OMS) como a capacidade de desempenhar de modo satisfatrio trabalhos

    musculares, compreendendo a resistncia cardiorrespiratria, a fora e a resistncia

    musculares, a flexibilidade e a composio corporal, em que esto includos: o nvel

    de atividade fsica habitual, dieta e hereditariedade. Alm disso, a aptido fisiolgica

    refere-se aos sistemas biolgicos que so influenciados pelo nvel de atividade fsica

    habitual; composta por variveis fisiolgicas como presso sangunea, tolerncia

    insulina, nveis sanguneos de lipdeos e o perfil de lipoprotenas, composio

    corporal e a distribuio de gordura corporal, e a tolerncia ao estresse.

    Segundo Bhme (8) a aptido fsica apresenta caractersticas individualizadas, de

    acordo com as necessidades prprias de atividades fsicas de cada ser humano.

    Possui elementos qualitativos de acordo com o modo de vida, apresenta variaes

    entre os indivduos e tambm varia durante as diferentes fases da vida do prprio

    indivduo, nas quais ele pode ser mais ou menos ativo. A aptido fsica, considerada

    como produto resultante da atividade fsica (processo), deve ser desenvolvida

    durante todas as fases da vida do ser humano, com o objetivo de proporcionar-lhe

    um desempenho fsico adequado nas suas atividades dirias. Tal fato pode evitar a

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    antecipao do cansao fsico e contribuir para um bom estado de sade. A

    importncia da atividade fsica e do exerccio na promoo da sade discutida na

    literatura por Guedes & Guedes (22), Nieman (28) e Sharkey (32), entre outros

    autores.

    O esporte

    De acordo com o dicionrio alemo de esporte Der Sport (Schlerduden, 1987), a

    palavra esporteorigina-se do ingls sport, que originalmente significava

    passatempo/jogo. Este termo era uma abreviao de disport, (divertimento), o qual

    surgiu do termo francs desport, que tem sua raiz no latim popular deportare (se

    divertir). Na lngua portuguesa so utilizados os termos esporte originrio do

    ingls, assim como desporto originrio do francs, como sinnimos.

    Segundo estes mesmos autores, esporte a coleo de denominaes dada a todo

    movimento, jogo ou forma de competio expressa pelas atividades fsicas do ser

    humano.

    Dado o grande contedo de seu significado na linguagem popular e a variabilidade

    conceitual entre as diversas culturas no possvel uma delimitao precisa do

    conceito de esporte. O que se entende atualmente por esporte foi determinado mais

    por necessidades tericas do dia a dia do que por anlises cientficas de suas

    dimenses.

    Como exemplo, historicamente as mudanas sociais, polticas, econmicas e

    jurdicas, levaram a modificaes de sua conceituao (5).

    Desse modo, a compreenso do conceito do fenmeno esporte atribuda a

    mudanas histricas, no sendo, portanto, a mesma em todos os tempos e culturas

    da histria da civilizao humana.

    De acordo com Tubino (36, 37), o primeiro registro da concepo de esporte

    moderno data de 1828 na Inglaterra, por meio de Thomaz Arnold, diretor do Colgio

    Rugby. Este educador utilizou os jogos fsicos praticados pela aristocracia e

    burguesia inglesa, codificando-os e incorporando-os aos mtodos da educao

    escolar, pelo fair-play, que significa a atitude cavalheiresca na disputa esportiva,

    pelo respeito s regras, adversrios e arbitragem, evidenciando a funo

    pedaggica das prticas esportivas.

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    Tal idia estendeu-se para alm dos muros escolares do colgio para o povo ingls

    de ento, assim como para outros pases. Junto com a escolarizao e

    popularizao mundial do esporte moderno, comearam a surgir os locais de prtica

    esportiva os clubes e o fenmeno do associacionismo; para coordenar e

    regulamentar a competio, o esporte foi gradativamente institucionalizado, com o

    surgimento das federaes esportivas. No seu incio, portanto, o esporte moderno

    tinha por caractersticas tratar-se de jogo, competio e formao do ser humano.

    Em 1892, o baro francs Pierre de Coubertin iniciou um movimento para a

    restaurao dos Jogos Olmpicos, com o filosofia humanista que o esporte poderia

    estimular as relaes humanas, como meio de preservao da paz mundial. Em

    1896, como resultado deste trabalho, foram realizados os I Jogos Olmpicos

    modernos.

    O desenvolvimento do esporte moderno no final do sculo XIX at meados do

    sculo XX levou ao surgimento de novas modalidades esportivas e ao crescimento

    do nmero de praticantes, federaes internacionais, assim como a interferncia

    governamental dos diferentes pases, surgindo o aspecto da utilizao poltica do

    esporte no contexto mundial (perodos do Nazismo, da Ps-Segunda Guerra

    Mundial, da Guerra Fria). Paralelamente a este processo, passou-se da perspectiva

    pedaggica para a perspectiva de esporte de rendimento, como meio de supremacia

    poltico-ideolgica no cenrio mundial, com o objetivo da vitria na competio

    esportiva a qualquer custo, com a utilizao at, de meios ilcitos, como o doping no

    esporte.

    No final da dcada de 1950 e incio dos anos de 1960 houve uma reao da

    intelectualidade mundial, levando ao rompimento com a perspectiva nica de

    rendimento no esporte para poucos privilegiados e, conseqentemente,

    incorporao de outras dimenses sociais, como o lazer e a educao para toda a

    populao. De acordo com Tubino (37), em 1978, com a publicao da Carta

    Internacional de Educao Fsica e Esporte pela UNESCO, passou a existir uma

    nova viso de esporte no mundo. Neste documento estabeleceu-se que a atividade

    fsica ou prtica esportiva um direito de todos, assim como a educao e a sade.

    Atualmente as dimenses sociais do esporte como um direito de todos, abrange trs

    formas de manifestao: esporte-educao (ou educacional), esporte-participao

    (ou participativo) e esporte-rendimento (em que est includo o esporte de alto nvel).

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    O esporte educacional tem um carter formativo, fundamentado em princpios

    educacionais como participao, cooperao, co-educao, totalidade,

    regionalizao e integrao. O esporte participativo visa a promover o bem-estar dos

    praticantes, apoiando-se no prazer ldico, no lazer e na utilizao construtiva do

    tempo livre; a forma de manifestao de esporte que propicia a integrao social,

    assim como a promoo de sade. O esporte- rendimento ou de alto nvel equivale

    forma de manifestao do esporte que norteou o conceito de esporte at alguns

    anos atrs; pautado pelas regras e cdigos especficos de cada modalidade

    esportiva, institucionalizado, com organizaes internacionais que regulamentam a

    prtica competitiva desta forma de manifestao esportiva.

    Assim como a variabilidade e complexidade do fenmeno esporte so diversas as

    possibilidades de categoriz-lo sistematicamente. Ao lado da diferenciao de cada

    modalidade esportiva, o esporte pode ser classificado, de acordo com Beyer (5) e o

    dicionrio de esporte Schler Duden (33):

    1-De acordo com a motivao para a prtica do esporte

    - Alegria com movimento e jogo: esporte de lazer, para todos, para frias, pequenos

    jogos;

    - Aspirao por desempenho pessoal e conhecimento de seus limites;

    - Contraposio vida diria e profissional: esporte de lazer, no trabalho

    (compensao);

    - Aspirao por comparao de desempenho: esporte de rendimento;

    - Manuteno e recuperao do bem-estar corporal e psquico: esporte para sade,

    de compensao, reabilitao, fisioterapia e outros;

    - Aspirao por experincias prprias por meio de contactos sociais, como grandes

    jogos, e vida nos clubes;

    - Sobrevivncia ou meio de vida: esporte profissional;

    - Aspirao por prestgio: esporte de alto nvel.

    2- De acordo com o tipo de participantes

    - Categoria por idades esporte para crianas, jovens, adultos e terceira idade;

    - Categoria por sexo;

    - Critrio profissional: escolares, universitrios, profissional;

    - Outras caractersticas: para deficientes, para gestantes, para diabticos, etc.

    3-De acordo com a disponibilidade de tempo para prtica esportiva

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    - Esporte: matutino, de pausa, vespertino, de final de semana, de frias, de lazer, no

    trabalho.

    4-De acordo com a forma de organizao

    - Esporte escolar, de clubes, universitrio, no trabalho, na polcia, comunitrio, na

    igreja, e formas no institucionais.

    Alm destas formas de classificao referentes ao esporte praticado de modo ativo,

    o mesmo pode ser classificado de outras formas, como por exemplo, com relao ao

    fato de o indivduo ser no praticante ou passivo: como assistente ou espectador do

    espetculo esportivo, na organizao do evento esportivo, na administrao

    esportiva, na imprensa esportiva , assim como pesquisador na rea da cincia do

    esporte, entre outros, dada a constante evoluo do fenmeno esporte.

    O treinamento esportivo

    A palavra treinamento utilizada tanto na linguagem coloquial como na linguagem

    acadmica e em outras reas de conhecimento. Trata-se de um processo que tem

    por objetivo a melhoria de determinado desempenho, seja este na rea cognitiva,

    psicossocial ou motora; para o alcance do objetivo almejado, utiliza-se, na maioria

    das vezes, o recurso da repetio de determinada atividade, por meio do exerccio

    (6, 26 34, 40).

    O termo origina-se da raiz latina traheree do latim vulgar tragere (puxar, trazer,

    arrastar, carregar, criar). Na primeira metade do sculo XIX foi modificada do francs

    trainer para o ingls training, que a princpio tinha o significado de retirar cavalos de

    corrida do estbulo (to train) para serem preparados para correr. O termo passou a

    ser utilizado no remo, e com isso foi transferido para o ser humano. A partir do

    sculo XX, o termo foi incorporado ao Esporte, alm de outras reas como a

    Psicologia, Economia, Pedagogia, etc (6, 34).

    De acordo com Dantas (17), a evoluo do treinamento esportivo est ligada

    histria dos jogos olmpicos, dividindo-se em sete perodos: da arte (da I Olimpada

    da antiga Grcia 778a.C - at a I Olimpada da Era Moderna 1896), da

    improvisao (da I Olimpada da Era Moderna 1896 at a VII, de Anturpia

    1920), do empirismo (da VII at a XV, de Helsinque 1920 a 1952), perodo pr-

    cientfico (da XV at a XVIII, de Tquio 1952 a 1964), cientfico (da XVIII at a

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    XXII, de Moscou 1964 a 1980), tecnolgico (da XXII at a XXV, de Barcelona

    1980 a 1992) e perodo do marketing esportivo (a partir da XXV at as atuais).

    Na literatura de Cincia/Teoria do Treinamento Esportivo (26), treinamento

    definido como um processo de aes complexas, planejadas, orientadas que visa

    ao melhor desempenho esportivo possvel em situaes de comprovao,

    especialmente na competio esportiva. um processo de aes complexas

    porque atua em todas as caractersticas relevantes do desempenho esportivo; um

    processo de aes planejadas, devido s relaes entre seus componentes como

    objetivos, mtodos, contedos, organizao e realizao; leva em considerao os

    conhecimentos cientficos e experincias prticas do treinamento esportivo,

    controlado e avaliado durante e aps sua realizao, em relao aos objetivos

    propostos e alcanados; um processo de aes orientadas, porque todas as aes

    dentro do treinamento so dirigidas/orientadas para os objetivos almejados.

    O desempenho esportivo, considerado como objetivo a ser alcanado pelo

    treinamento esportivo, refere-se ao conjunto/unidade de execuo e resultado de

    uma ao esportiva, assim como uma seqncia complexa de aes esportivas,

    medidas e avaliadas de acordo com normas sociais determinadas (34). Segundo

    estes mesmos autores, existem diferentes formas de aes esportivas alm

    daquelas relacionadas com a competio, como:

    - desempenhos esportivos no processo de treinamento;

    - desempenhos esportivos em aulas de esporte ou Educao Fsica que tenham por

    contedo atividades esportivas;

    - desempenhos esportivo de lazer, como os aspectos sociais e os relacionados

    sade;

    - desempenhos esportivos em atividades de reabilitao ou em portadores de

    deficincia.

    Na literatura da rea de treinamento esportivo existem diferentes modelos de

    desempenho esportivo, os quais foram elaborados com o objetivo de representar a

    estrutura do mesmo (14, 19, 26). Estes foram descritos por Bhme (8, 9, 10) assim

    como por outros autores (34, 40).

    A maioria dos livros textos de autores brasileiros na rea de treinamento esportivo

    (3, 17, 35, 21) assim como os da literatura internacional (11, 14, 19, 27, 38), so

    voltados para o treinamento do esporte de rendimento. Recentemente, Perez (30)

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    apresentou uma reflexo sobre o fato de a maioria dos cursos de Educao Fsica

    no Brasil terem um enfoque voltado para o treinamento de atletas de alto nvel.

    J nas literaturas alem da dcada de 1990 (26, 34, 39, 40) e americana (31, 41), o

    treinamento esportivo discutido de forma mais ampla, para as diferentes formas

    de manifestao do esporte nas diferentes faixas etrias, desde a infncia at a

    terceira idade. No Brasil, Ghorayeb & Barros (20) editaram um livro sobre diferentes

    aspectos de atividades fsicas e esportivas.

    Relaes entre aptido fsica, esporte e treinamento esportivo

    Aptido fsica refere-se capacidade do indivduo apresentar um desempenho fsico

    adequado em suas atividades dirias, prorrogando o surgimento precoce do

    cansao durante a realizao de atividades fsicas. A atividade fsica considerada

    como o processo do qual resultar o estado de aptido fsica do indivduo, esta

    ltima considerada como produto. Alm disso, denomina-se esporte a todo

    movimento, jogo ou forma de competio expressa por meio de atividades fsicas do

    ser humano.

    Desse modo, o esporte e a aptido fsica tm em comum o fato de se

    desenvolverem por meio de atividades fsicas; a realizao do esporte se d,

    principalmente, por atividades fsicas denominadas aes/atividades esportivas.

    A evoluo das conceituaes de aptido fsica, de esporte e de treinamento

    esportivo na civilizao ocidental ocorreu de modo paralelo no sculo XX.

    Com o reincio dos jogos olmpicos da era moderna, o esporte de rendimento passou

    a ser mais valorizado no contexto mundial. A necessidade da obteno de melhores

    resultados competitivos aliada quebra de recordes olmpicos, levou evoluo dos

    mtodos de treinamento esportivo para este fim. O treinamento esportivo era,

    portanto, voltado essencialmente para o alcance de melhores resultados possveis

    no esporte de rendimento, respectivamente de alto rendimento; conseqentemente

    sua evoluo nesse sculo ocorreu paralelamente realizao das olimpadas.

    A partir da dcada de 1960 houve um redimensionamento da abrangncia do

    conceito de esporte; este deixou de ser considerado somente o chamado esporte

    de rendimento ou de alto rendimento, praticado por poucos privilegiados, e passou

    a ter uma dimenso de maior alcance social, um direito de todos, mediante outras

    formas de manifestao, como esporte participao e esporte educao.

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    Paralelamente a este fato, o conhecimento produzido pela Teoria/Cincia do

    Treinamento, que inicialmente foi originrio e voltado para o esporte de

    rendimento foi ampliado para as outras formas de manifestao do esporte.

    Simultaneamente evoluo e abrangncia dos conceitos de esporte e de

    treinamento esportivo, ocorreu uma discusso mundial sobre o conceito e

    componentes da aptido fsica. Atualmente, esta considerada como diretamente

    relacionada com a aptido fisiolgica, e composta por aspectos relacionados com a

    sade (a saber: fora e resistncia musculares, flexibilidade, resistncia

    cardiorrespiratria e composio corporal), e por aspectos relacionados com as

    destrezas e ou habilidades esportivas (a saber: velocidade, agilidade, equilbrio,

    potncia, tempo de reao). Se o indivduo possui uma boa aptido fsica, ter a

    capacidade de realizar suas atividades fsicas dirias apresentando um desempenho

    fsico adequado, evitando desse modo, o surgimento precoce do cansao.

    Nos modelos de desempenho esportivo propostos na literatura, a aptido fsica junto

    com a condio fsica, assim como a tcnica e a ttica esportiva so considerados

    como condies pessoais internas diretas de desempenho esportivo, pois tm a

    possibilidade de serem avaliadas diretamente.

    Na atualidade, com a ampliao do conceito de esporte, o treinamento esportivo

    passou a ter por objetivo, mediante um processo de aes complexas, planejadas e

    orientadas, o melhor desempenho esportivo possvel de seus praticantes. O

    desempenho esportivo, por sua vez, a denominao dada unidade de execuo

    e resultado de uma seqncia complexa de aes esportivas. Existem diferentes

    formas de aes esportivas, alm daquelas relacionadas com a competio e ou

    rendimento, como os desempenhos verificados durante o processo de treinamento,

    em aulas de Educao Fsica e esporte, em atividades esportivas de lazer e

    relacionadas promoo da sade, assim como desempenho em esporte voltado

    para a reabilitao ou para portadores de deficincia.

    A aptido fsica apresenta caractersticas individualizadas, de acordo com as

    necessidades prprias de atividades fsicas de cada ser humano, possui elementos

    qualitativos de acordo com o modo de vida e, apresenta variaes entre os

    indivduos, assim como durante as diferentes fases da vida do prprio indivduo, nas

    quais ele possa ser mais ou menos ativo.

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    De acordo com o estilo de vida do indivduo, ele pode optar pela prtica de

    atividades esportivas como um meio/processo para melhoria de sua aptido fsica.

    Este poder optar por diferentes tipos de esporte, de acordo com a sua motivao,

    com o tipo de participantes, com o seu tempo disponvel, assim como com a forma

    de organizao do mesmo. Dentro de suas possibilidades e motivaes pessoais,

    poder praticar o esporte de modo participativo, educativo ou inclusive, de

    rendimento, de modo adequado ao seu nvel competitivo.

    Desse modo, pela prtica esportiva em qualquer uma de suas manifestaes

    participativo, educativo ou de rendimento, o indivduo poder dispor de um meio,

    pelo treinamento esportivo adequadamente planejado que atenda a seus objetivos,

    de melhorar sua aptido fsica, seja nos aspectos relacionados com a sade, assim

    como nos aspectos relacionados com as habilidades esportivas.

    Se optar pela prtica de atividades esportivas como o tipo de atividade fsica

    escolhida para melhorar sua aptido fsica, poder alcanar dois objetivos: a

    melhoria de sua aptido fsica e de seu desempenho esportivo na modalidade e

    forma de manifestao esportiva que optar por praticar.

    A literatura da rea de teoria/cincia do treinamento esportivo mais voltada para

    os aspectos tradicionais do objeto de estudo anterior dessa, ou seja, o esporte de

    rendimento; j na literatura da rea de aptido fsica so enfatizados os efeitos das

    formas tradicionais de atividades fsicas, como a corrida, a caminhada, as diversas

    formas de ginstica entre outras. Acreditamos na necessidade de buscar a

    realizao de trabalhos interdisciplinares de pesquisa que tenham por objetivos a

    integrao dos conhecimentos do treinamento esportivo, das diferentes formas de

    manifestaes esportivas (educacional, participativo e de rendimento), nas suas

    diversas formas de classificao (motivao, tipos de participantes, forma de

    organizao e disponibilidade de tempo para a prtica esportiva) e seus efeitos na

    melhoria da aptido fsica e do desempenho esportivo de seus praticantes.

    REFERNCIAS

    1. A.A.H.P.E.R.D. American Alliance for Health, Physical Education and Recreation. Health-Related Physical Fitness Tests Manual. Reston AAHPERD, 1980.

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    2. BARBANTI, V.J. Treinamento fsico bases cientficas, So Paulo, CLR, 1986.

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    Cadernos CEDES Print version ISSN 0101-3262 Cad. CEDES vol.19 n.48 Campinas Aug. 1999 doi: 10.1590/S0101-32621999000100006

    TREINAR O CORPO, DOMINAR A NATURAZA: Notas para uma anlise do esporte com base no treinamento corporal*

    Alexandre Fernandez Vaz**

    RESUMO:

    O presente trabalho tem por objetivo apresentar algumas idias sobre o tema do

    treinamento corporal e sua relao com o domnio da natureza. Para isso apresenta-

    se a teoria da formao do sujeito e da civilizao desenvolvida por Theodor W.

    Adorno e Max Horkheimer, sobretudo na Dialtica do esclarecimento. A nfase recai

    sobre o papel do sacrifcio nesse processo, e a relao deste com o corpo. A partir

    da procura-se entender o esporte, e dentro dele o treinamento corporal, com vistas

    a desenvolver uma anlise daquele baseada na lgica sacrificial e na

    correspondente reduo do corpo a uma naturalidade desqualificada e fungvel.

    Palavras-chave: Esporte, treinamento desportivo, dialtica do esclarecimento,

    sacrifcio, Adorno e Horkheimer, Escola de Frankfurt

    Civilizao e domnio da natureza

    Faz parte das grandes teorias da civilizao, e tambm do imaginrio popular, a

    idia de que as grandes conquistas da humanidade relacionam-se com o domnio da

    natureza, seja esta entendida do jeito que for.

    Todos aprendemos desde os primeiros anos escolares o quanto as conquistas (que

    muitas vezes poderiam ser chamadas de pilhagem) da civilizao sobre a natureza

    foram importantes, forjando em ns, pouco a pouco, a idia de uma irrenuncivel

    superioridade humana. No s nos relatos de viagens a mundos antes

    "desconhecidos", onde habitavam os tipos humanos "primitivos" (que por sua vez

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    20

    conheciam o mundo que habitavam), "mais prximos da natureza", mas tambm nas

    fronteiras do conhecimento cientfico, aprendemos que o ser humano capaz de

    descobrir, classificar, controlar, prever, enfim, ter a possibilidade de ser senhor da

    natureza. Afinal, assim nos ensinam, somos os nicos animais racionais, capazes de

    fazer cincia. Muitos de ns ficamos encantados com tamanha superioridade.

    O mundo tornado cada vez mais complexo renova constantemente seu estoque de

    problemas a serem pesquisados, muito porque tambm as necessidades humanas

    tornam-se, sob mltiplos imperativos, cada vez mais nuanadas. Apesar disso, e de

    sabermos que a cincia sempre tem respostas provisrias, no h como no

    perceber o seu avano, condio fundamental do progresso, de tal forma importante

    que at mesmo se confunde com ele.

    O sentido da cincia, ao tentar levar ao limite aquilo que chamamos racionalidade, ,

    dito de forma geral, desencantar o mundo. A cincia pode equivocar-se, mas no

    pode deixar de ser racional. Ela pretende levar o pensamento racional at as ltimas

    conseqncias, opondo-se a qualquer tipo de magia: manter-se secular, esclarecida

    e esclarecedora.

    A razo - e a cincia e a tcnica por meio dela - pretende ser a forma privilegiada

    pela qual os seres humanos devem relacionar-se com a natureza. Como tal, ela

    exige como premissa que se encare a natureza como outro, objeto a ser conhecido

    e dominado. No fosse esse processo fundador de nossa humanidade, no haveria

    aqui ningum para contar a histria. A sobrevivncia humana est ligada a algum

    tipo de domnio da natureza que nos circunda. No fosse essa capacidade - que

    tambm necessidade e desejo -, certamente teramos j h muito desaparecido do

    horizonte.

    Isso no quer dizer que a histria da civilizao seja produtora apenas de felicidade.

    Se ela garante a sobrevivncia humana na Terra (e tambm fora dela!), tambm,

    paradoxalmente, produtora de regresso e barbrie.

    A fora que nos leva a tentar ser esclarecidos o medo do desconhecido, da

    natureza que nos parece perigosa, ameaadora, mitolgica. Logo nas primeiras

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    linhas da Dialtica do esclarecimento, um dos grandes clssicos do pensamento

    deste sculo, Theodor W. Adorno e Max Horkheimer escrevem:

    No sentido mais amplo do progresso do pensamento, o esclarecimento tem

    perseguido sempre o objetivo de livrar os seres humanos do medo e de investi-los

    na posio de senhores [...]. O programa do esclarecimento era o desencantamento

    do mundo. Sua meta era dissolver os mitos e substituir a imaginao pelo saber.

    Eles advertem, no entanto, que "[...] a terra totalmente esclarecida resplandece sob

    o signo de uma calamidade triunfal". No momento em que o livro foi escrito

    acontecia a Segunda Guerra Mundial, que dava muitos motivos para esse tipo de

    anlise. Mas se temos os olhos minimamente abertos para o mundo

    contemporneo, os exemplos da aliana entre progresso e barbrie so tantos que

    nem vale a pena nome-los.

    Se somos senhores da natureza, porque o cristianismo tambm assim nos ensina, e

    se reconhecemos na natureza um outro a ser dominado, colocamo-nos em um

    paradoxo, ao pensarmos que tambm somos parte da natureza, ou, dito de outra

    forma - talvez mais "esclarecida" -, que temos parte da natureza em ns. Tornamo-

    nos outros em relao a ns mesmos, objetos perante um espelho.

    O que temos de natureza em ns, nosso corpo, tambm visto como algo perigoso

    e ofensivo pela civilizao, devendo por isso mesmo ser dominado, domesticado,

    apaziguado. No h senhorio sobre a natureza externa, sobre o espao e sobre o

    tempo, se o que h de natural "dentro" de ns no for primeiro dominado. Ao tornar

    sua prpria natureza, seu corpo em objeto de domnio, o ser humano torna-se

    sujeito, inaugurando uma relao que lhe ser prpria e determinante, de domnio

    do segundo em relao ao primeiro. Da a idia de que possumos um corpo, e de

    que dele podemos dispor, equiparando-se em certo sentido de que podemos

    possuir e dispor dos corpos de outros seres humanos ou dos animais.

    Temos vrios exemplos para cada uma dessas posses, muitos deles legitimados

    pelas diversas religies e pela cincia. Nunca demais lembrar que argumentos

    cientficos e religiosos j foram utilizados para legitimar a escravido, a tortura, o

    racismo, enfim, idias e prticas relacionadas explorao dos seres humanos.

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    22

    Pensar nisso talvez nos d mais um motivo para relativizar um pouco a idia de que

    o progresso sempre positivo, e perceber como este traz consigo tambm o germe

    da destrutividade.

    O corpo , em um primeiro momento, o objeto e a vtima preferencial da civilizao,

    cuja histria pode ser lida nos anais do crescente processo de controle daquele, e

    pelo desenvolvimento das tcnicas que medeiam esse domnio.

    O mundo contemporneo desenvolve uma srie de conhecimentos, tcnicas e

    discursos que aparecem no s como operadores, mas tambm como legitimadores

    do controle do corpo. Vrios desses conhecimentos esto relacionados ao esporte,

    uma das formas contemporneas mais importantes de organizao da corporeidade.

    Se o domnio da natureza imemorial, e o controle do corpo seu primeiro degrau,

    as preocupaes com algum tipo de tcnica para esse processo tampouco so to

    novas. Elas tm registros mais longnquos, como nas lies pedaggicas de Plato,1

    e outros mais recentes - muitas vezes associados prtica esportiva -, como na

    Inglaterra vitoriana2 e no puritanismo americano da segunda metade do sculo

    passado e incio deste.3

    O esporte parece de fato ter sido, e ainda ser, um forte vetor a potencializar o

    domnio do corpo. Sua importncia no pode ser menosprezada, se considerarmos

    o quanto as identidades se constroem em torno do corpo, e o quanto a sociedade

    moderna est impregnada pelo princpio do rendimento, o quanto ela

    esportivizada.

    O esporte um fenmeno social bastante complexo, e sua importncia no

    desenrolar deste short century est fora de dvida. Basta dizer que ele foi um dos

    principais fruns da guerra fria, e o fato de assumir caractersticas bastante novas na

    ltima dcada apenas confirma isso. Em sua ambigidade, o esporte apresenta

    tambm vrias possibilidades de anlise, alm de ser um campo de intensos

    debates apaixonados. Pretendo aqui oferecer uma possibilidade de anlise, que

    aposta no debate com outras, pensando o esporte como um procedimento sacrificial.

    http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#1not#1nothttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#2not#2nothttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#3not#3not

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    23

    Um dos elementos mais importantes do fenmeno esporte, sobretudo o de

    competio e mais ainda o de alto nvel, mas no s dele, o treinamento

    desportivo. Os princpios bsicos do treinamento e todo seu arcabouo

    metodolgico, e ainda as reas de conhecimento que lhes do sustentao, formam

    um complexo terico que tem como claro e declarado objetivo a melhoria do

    desempenho esportivo e, como meio, a exigncia fundamental de colocar o corpo

    sob o mximo controle. preciso que o corpo seja operacionalizado, j que de outra

    forma, como se pode abstrair da teoria do treinamento, no h resultado, no h

    melhoria na performance desportiva.

    O tipo de organizao das atividades proporcionado pelas teorias do treinamento

    desportivo no exclusivo do esporte de alto rendimento, nem da sua verso mais

    light, o esporte competitivo de pretenso mais modesta. Os conhecimentos

    relacionados ao treinamento tambm se relacionam a dois outros importantes

    campos da atividade corporal, o relacionado sade e o relacionado ao body

    sculpting. Alm disso, sua lgica interna encontra forte correspondncia com outros

    discursos, como os da dieta.

    Os campos da atividade fsica e sade e daquela praticada com motivao esttica

    formam com o esporte de rendimento um ncleo mais ou menos comum que se

    move em torno das teorias do treinamento, determinando um tipo de relacionamento

    com o prprio corpo que lhes de certa forma comum, ainda que com diferenas de

    grau e motivaes.

    Nesse sentido, tentarei pensar o esporte por intermdio de um de seus eixos

    centrais, que a premente necessidade de treinar o corpo. A reflexo ser

    desenvolvida pela hiptese de que o treinamento uma das formas de organizao

    da corporeidade que determinam o domnio da natureza, especialmente, mas no

    s, aquela que interna ao ser humano.

    Para tanto, utilizarei um quadro terico que, pelo menos nesse caso, parece no s

    no ter perdido a atualidade, como tambm apresentar um forte poder de

    antecipao. Trata-se da concepo de civilizao e seu desenvolvimento exposta

    na obra Dialtica do esclarecimento, um diagnstico da modernidade, publicada por

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    Theodor W. Adorno e Max Horkheimer, nos anos 40 deste sculo. Minha ateno

    estar centrada nos percursos do domnio da natureza, fundamental para o

    nascimento do sujeito e de sua historicidade, no que nela h de rompimento - ou no

    - com a lgica cega que submetia o humano s foras mticas e naturais. Esse

    domnio exigido para a construo do sujeito e da histrica aparece intimamente

    ligado idia de sacrifcio, e, como se ver, traz em sua origem paradoxal a

    presena da vtima, do logro, do engano e da fungibilidade.

    Antes de iniciar a anlise de algumas das caractersticas do esporte e do

    treinamento que reforam e levam ao limite a lgica sacrificial tpica de nossa

    civilizao, apresentarei de forma sumria alguns elementos tericos que possam

    nos ajudar na anlise subseqente. preciso ento procurar acompanhar parte do

    rduo percurso descrito por Adorno e Horkheimer para explicar o processo

    civilizatrio como a sada do estado mitolgico para o esclarecimento, e o que cada

    um deles conserva ou antecipa do outro.

    Corpo, conhecimento e domnio.

    Mito e esclarecimento

    Na Dialtica do esclarecimento, Adorno e Horkheimer buscam entender o projeto

    civilizatrio com base em seu contedo imanente, sua substanciabilidade interna.

    Como no se trata de reconstruir uma histria fatual da civilizao e do sujeito, mas

    de uma crtica social e filosfica ao projeto imemorial de domnio da natureza,

    buscam em figuras literrias seu material de anlise, para sustentar a tese que

    perpassa todo o livro: a subjetividade e a civilizao erigidas pelo domnio da

    natureza, resultantes fundamentais do percurso do mito ao esclarecimento, acabam

    por ser tambm substancialmente mitolgicas. Por isso, o esclarecimento trar, com

    seu potencial emancipador, o germe da dominao e a realizao da barbrie.

    Nesse quadro geral de passagem do mito para o esclarecimento encontra-se o

    carter de domnio que o sujeito ter que erigir em relao natureza. Mito e

    esclarecimento so vistos como estgios prototpicos da humanidade, o primeiro

    representando ainda o poderio das foras da natureza, entendidas como

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    sobrenaturais, sobre os seres humanos, os quais, uma vez esclarecidos, passariam

    a ter aquelas sob seu domnio.

    De alguma forma, o mito j esclarecimento, pois j possui deste o olhar de

    previsibilidade e clculo, procurando meios de interferir no curso da natureza, j de

    certa forma tornada operacional. Os rituais mgicos constituem exemplos de prticas

    mitolgicas que procuram interferir no curso da natureza. Note-se que a magia j

    apresenta alguma diferenciao em relao s divindades, algum tipo de

    interveno sobre elas, ainda que permanea em posio hierarquicamente inferior

    s entidades mitolgicas e no inteiramente conhecidas.

    Do mesmo modo o esclarecimento, desencantando o mundo, tambm retm em sua

    estrutura aspectos mitolgicos, seja no ritual sacrificial de construo da

    subjetividade - como se ver a seguir -, seja na forma como se estrutura o

    pensamento cientfico tradicional, pelos princpios da repetio e da identidade.

    Compreender os fatos em sua regularidade, procedimento defendido como

    cientificamente legitimado, reproduz o mesmo processo de explicao mtica, cuja

    iluso mgica tambm entendia a natureza como ciclos determinados pelas

    divindades.4

    Recaindo na lgica arbitrria do mito, o esclarecimento no teria cumprido as

    promessas de emancipao contidas em seu projeto. Ao substituir o mito pelo

    procedimento racional, e a imaginao pelo saber, manteve-se mitolgico, porque

    reproduz a lgica cega daquele. Mais do que isso, recaiu na barbrie, na medida em

    que transformou a natureza em mero objeto desqualificado, porm matematizado, a

    ser dominado.

    Atravs da identificao antecipatria do mundo totalmente matematizado com a

    verdade, o esclarecimento procura estar a salvo do retorno do mtico. Ele confunde o

    pensamento e a matemtica. Desse modo, esta se v por assim dizer solta,

    transformada na instncia absoluta. [...] O pensar se reifica num processo

    automtico e autnomo, emulando a mquina que ele prprio produz para que ela

    possa finalmente substitu-lo. O esclarecimento ps de lado a exigncia clssica de

    pensar o pensamento [...] porque ela desviaria do imperativo de comandar a prxis

    http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#4not#4not

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    [...]. O procedimento matemtico [...] transforma o pensamento em coisa, em

    instrumento, como ele prprio o denomina.5

    Se preciso alhear-se da natureza para poder domin-la, esclarec-la e

    operacionaliz-la, e se somos de alguma maneira parte dela, entramos no paradoxo

    de ter nos tornado, em parte, objeto. Ao tornar-se sujeito e senhor, o ser humano

    esclarecido paga como preo sua prpria alienao da natureza que o compe. O

    aumento do poder do sujeito implica a alienao da natureza, sobre a qual o poder

    exercido. Significa, portanto, alienao de si mesmo. Nesse sentido, conhecer s

    possvel quando se pode dominar e manipular.6

    Dito de outra maneira, inauguramos em ns mesmos a dura relao entre sujeito e

    objeto, e, para tanto, preciso que, de alguma forma, tornemo-nos vtimas e algozes

    ao mesmo tempo.

    A viagem do logus e o sacrifcio de si

    Ao realizarem sua particular interpretao da Odissia, de Homero, Adorno e

    Horkheimer a tomam como um documento filosfico, um texto-chave para a

    compreenso da civilizao ocidental. Trata-se do percurso de retorno do heri

    Ulisses a taca, sua terra natal. A odissia e seus perigos so interpretados como o

    percurso que traa o humano - o ser individual mas tambm a universalidade - para

    se constituir como sujeito e como histria. As entidades mticas, vistas como

    representantes e mediadoras das foras naturais a serem dominadas, so

    enfrentadas e vencidas, uma a uma, por Ulisses, o "prottipo do indivduo burgus".

    O processo de construo da subjetividade e da civilizao seria como a odissia:

    longo, penoso, repleto de renncias, fruto do ardil da razo.

    Ulisses representa o sujeito que se torna esclarecido, que pouco a pouco sai do

    mundo mitolgico, vencendo cada uma das divindades que encontra. Ele as vence

    no por ser fisicamente mais forte, mas por ser mais astuto. Cada vez que depara

    com uma entidade mitolgica acaba por logr-la, seja por um jogo de palavras, seja

    porque j conhece os artifcios da natureza, que no o surpreendero. Seu olhar e

    seu pensamento j tm previsibilidade, de forma que j se coloca o senhorio em

    relao natureza, tornada objeto de conhecimento e domnio e, por fim, lograda.

    http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#5not#5nothttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#6not#6not

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    No final, depois de tantos anos longe de casa, Ulisses ainda precisa responder a um

    artifcio da memria de sua esposa para que seja reconhecido por esta, mostrando

    enfim sua condio de sujeito, esclarecido e localizado em uma histria coerente.

    A fim de tornar-se sujeito e livrar-se das armadilhas da natureza, ludibriando-as,

    Ulisses precisa, antes de tudo, dominar-se, tornando seu prprio corpo (tambm

    visto como, em sua natural periculosidade) objeto de sua astcia, de sua razo. Por

    isso deixa-se amarrar ao mastro do navio antes que chegue o momento da viagem

    na qual se ouvir o canto das sereias, capaz de enfeitiar os sentidos humanos,

    levando os homens a se atirar no mar atrs de seus encantos. Ao no poder atirar-

    se ao mar, Ulisses - renunciando satisfao completa e ao impulso de dissolver-se

    na naturalidade - preserva sua existncia. Para poder sobreviver, o heri homrico,

    como o indivduo moderno, sacrifica-se.

    bom lembrar que Ulisses no est sozinho em sua empreitada. Com ele viajam

    remadores, prefigurando-se aqui a diviso social do trabalho: no preciso dominar

    apenas o prprio corpo, mas tambm os dos outros. Ulisses ordenar que seus

    marinheiros coloquem cera nos ouvidos, para que no possam escutar nem o canto

    mgico, nem os gritos do seu senhor a lhes suplicar que soltem as amarras. Esses

    mesmos remadores, ao contrrio de Ulisses, no sero capazes de resistir a outras

    foras mitolgicas, como diante dos Lotfagos e da Deusa Circe.

    Ao libertar-se da lgica cega dos mitos, do impulso inebriante de dissolver-se numa

    naturalidade primria - contra o qual, justamente, o ego se forja -, Ulisses, tornando-

    se esclarecido, acaba por reproduzir o ritual sacrificial. Se no mundo mgico

    preciso sacrificar uma vtima em favor de entidades mitolgicas para aplacar-lhes a

    ira e manter a prpria existncia, o sujeito esclarecido, por sua vez, introverte o

    sacrifcio, torna-se vtima de si mesmo a fim de poder conservar-se.

    Enquanto a racionalidade mtica exigia o sacrifcio - em que j se colocava o logro

    da divinizao da vtima -, a razo subjetiva exige o sacrifcio de si mesmo, pela

    renncia que forja o ego. O momento de logro presente em todo ato sacrificial

    tambm permanece na introverso do sacrifcio pelo sujeito esclarecido. A vtima

    sacrificada em nome da autoconservao de um grupo social - como na magia -

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    paga com a prpria destruio o bem-estar dos outros; o humano que se pretende

    sujeito e pratica a renncia, escrevem Adorno e Horkheimer, d mais de si do que

    aquilo que recebe, mais do que aquilo que pretende defender. Aliena-se de sua

    vitalidade. Volta ento o momento de logro, engano e perda.7

    O sacrifcio celebrado em nome do sujeito e da civilizao pela renncia, justamente

    porque representa sempre uma perda maior do que os ganhos dele advindos, assim

    como j o era para a vtima sacrificial do ritual mgico, faz com que permanea a

    ameaa daquilo que Horkheimer chamar de revolta da natureza.8 Afastar-se da

    natureza, endurecendo-se contra ela e logrando-a para poder domin-la traz em si o

    mal-estar de que uma dvida foi excessivamente paga, e de que aquilo que h de

    natureza no humano foi, de alguma forma, trado.

    O eu consegue escapar dissoluo da natureza cega, cuja pretenso o sacrifcio

    no cessa de reclamar. Mas, ao fazer isso, ele permanece justamente preso ao

    contexto natural como um ser vivo que quer se afirmar contra um outro ser vivo. A

    substituio do sacrifcio pela racionalidade autoconservadora no menos troca do

    que fora o sacrifcio. Contudo, o eu que persiste idntico, e que surge com a

    superao do sacrifcio, volta imediatamente a ser um ritual sacrificial duro,

    petrificado, que o homem se celebra para si mesmo opondo sua conscincia ao

    contexto da natureza.9

    Os desdobramentos de uma viagem.

    I. Renncia e fungibilidade universal

    Como foi dito, caracterstico do sacrifcio que haja um momento de engano e logro,

    e que de alguma forma o sacrificado sempre saia perdendo. Mais que isso, a forja

    do sujeito est associada ao sacrifcio de parte de si mesmo, daquilo que mais

    vivo, pelo mecanismo da renncia satisfao imediata e ilimitada das pulses. Em

    outras palavras, pelo controle do corpo e seus perigos.

    No por acaso a civilizao exigir a renncia das relaes mimticas, de

    aproximao e assemelhamento com o outro, com a natureza, to tpicas de um

    humano ainda pr-subjetivo, mas tambm das crianas e seus brinquedos. O mundo

    http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#7not#7nothttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#8not#8nothttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#9not#9not

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    moderno relegar a mimese esfera da arte, ou da expropriao poltica da

    capacidade mimtica, do desejo de ser igual, transmutado em pulso de morte.10

    O medo fazia nossos antepassados assemelharem-se e dissolverem-se

    corporalmente no meio ambiente para se defender, confundindo-se com o espao

    imvel - aquilo que est morto -, comportamento que partilhvamos e ainda

    partilhamos com outras criaturas vivas. Tambm no ritual mgico, o feiticeiro assume

    com seu corpo e seus movimentos a forma das divindades, a fim de apazigu-las.

    Tanto num caso como noutro, o corpo o "rgo de expresso mimtica".11 O

    impulso de reconhecer-se assimilando-se ao outro proscrito. No lugar da mimese,

    pulso por excelncia, a ratio matematizadora; em vez do assemelhamento que

    dissolve e apazigua, a petrificao do sujeito, que no deve ser idntico a nada alm

    ou aqum de si mesmo.

    Tambm na racionalidade e no procedimento cientfico permanece o momento de

    logro, quando a vtima ao mesmo tempo que celebrada perde sua vida. Neles

    mantm-se, ainda que de forma distinta do ritual mgico, o princpio da troca,

    presente em todo sacrifcio, e que antecipa a troca de equivalentes.

    Enquanto no ritual mgico a vtima ainda tinha alguma especificidade - uma vez que

    sujeito e objeto confundem-se mimeticamente -, no ritual cientfico ela perde toda

    sua singularidade, na medida em que as distines e afinidades do mundo da magia

    desaparecem. A mimese desaparece para que reine a matemtica, a semelhana d

    lugar ao amor aos grandes nmeros. Na cincia, o predomnio do sujeito deve ser

    "claro e distinto". Nela, a substituibilidade no especfica, a cobaia no laboratrio

    sacrificada como exemplar. As mltiplas relaes possveis reduzem-se ao sujeito

    que imputa significado e ao objeto ocasional que porta a significao.12 Estabelece-

    se, do ponto de vista do sacrificado, uma fungibilidade universal.

    II. Da compulso crueldade

    Tudo aquilo que lembra o corpo, que liga o sujeito lembrana de uma prototpica

    unidade fundamental com a natureza, deve ser recalcado. As pulses que nos levam

    diluio no espao e no tempo, que nos tiram a historicidade aproximando-nos

    simbolicamente da morte, ao emergirem em momentos limtrofes colocam em risco a

    http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#10not#10nothttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#11not#11nothttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#12not#12not

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    unidade do sujeito, e com ela a civilizao. Por isso to importante que a

    separao entre sujeito e objeto se mantenha intransponvel, que o sujeito

    permanea petrificado, idntico a si mesmo.

    Ulisses s alcana o fim de sua viagem ao sacrificar-se, ficando ento, pela

    renncia, uma dvida para com a vtima lograda. Se a vtima parte do prprio eu -

    que no pode se separar de si mesmo, ainda que possa ser observado como tal - h

    de haver ento um acerto de contas. A revolta da natureza, aparece, segundo

    Adorno e Horkheimer, na forma de um amor-dio pelo corpo.13

    Haveria ento uma histria paralela, subterrnea, clandestina, que tem a ver com o

    recalcamento dos impulsos e das paixes humanas, localizando-se, portanto, no

    corpo. Essa histria, que expressa o mal-estar e a revolta da natureza nos seres

    humanos, expressar-se-ia pela compulso crueldade. Na anlise dos autores, um

    dos momentos limtrofes em que essa revolta vem tona seria o fascismo,

    entendido como uma das chaves para o entendimento do capitalismo. Lembremos, a

    propsito, que o culto do corpo de forma geral, e do esporte em especial, foi pea-

    chave na construo do iderio nazista e da mitologia de uma raa ariana.

    Lembremos os Jogos Olmpicos de 1936, em Berlim, e de seus filmes oficiais,

    Olympia: Fest der Vlker (Olmpia: Festa dos povos) e Olympia: Fest der Shnheit

    (Olmpia: Festa da beleza), de Leni Riefenstahl.14

    Esse amor-dio estaria presente em todas as culturas modernas, nas quais o corpo

    aparece ou como objeto repelido e escarnecido, ou como desejado e proibido. Nos

    dois casos, permanece reificado e alienado. A isso corresponde a rgida separao

    entre sujeito e objeto, j que

    [...] s a cultura conhece o corpo como coisa que se pode possuir; foi s nela que

    ele se distinguiu do esprito, quintessncia do poder e do comando, como objeto,

    coisa morta, corpus. Com o auto-rebaixamento do ser humano ao corpus, a natureza

    se vinga do fato de que o ser humano a rebaixou a um objeto de dominao, de

    matria bruta.15

    A crueldade da advinda e o mal-estar que lhe d origem expressam-se numa

    "relao perturbada e patognica com o corpo", j que nessa situao a conscincia

    http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#13not#13nothttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#14not#14nothttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#15not#15not

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    no mais que mutilada, refletindo-se como violncia sobre o corpo, inscrito em

    uma esfera de no-liberdade.16 A relao de crueldade com o corpo, j revelada na

    escravido, mostra-se de forma aguda na violncia destinada queles que so

    considerados no s mais fracos, mas tambm mais felizes.

    A reificao do corpo, oficiada pela medicina, pela anatomia17 e pela vivisseco,18

    faz com que se passe a conhec-lo como se fora um cadver, mesmo que seja ele

    exercitado.19

    Os que na Alemanha louvavam o corpo, os ginastas e os excursionistas, sempre

    tiveram com o homicdio a mais ntima afinidade, assim como os amantes da

    natureza com a caa. Eles vem o corpo como um mecanismo mvel, em suas

    articulaes as diferentes peas desse mecanismo, e na carne o simples

    revestimento do esqueleto. Eles lidam com o corpo, manejam seus membros, como

    se estes j estivessem separados. A tradio judia conservou a averso de medir as

    pessoas com um metro, porque do morto que se tomam as medidas - para o

    caixo. nisso que encontram prazer os manipuladores do corpo. Eles medem o

    outro, sem saber, com o olhar do fabricante de caixes, e se traem quando

    anunciam o resultado, dizendo, por exemplo, que a pessoa comprida, pequena,

    gorda, pesada.20

    De forma semelhante cadaverizao do corpo, o passeio torna-se exerccio, os

    alimentos, calorias, a floresta, em mais de um idioma, madeira. A vida degradada

    em processo qumico, expressa, por exemplo, em taxas de mortalidade.21

    Como se pode perceber, esse tipo de relao com o corpo est longe de estabelecer

    qualquer forma de reconciliao com a natureza, erigindo, ao contrrio, uma forma

    de domin-la e aniquil-la, tendo o sujeito como incio e fim. O domnio do corpo

    como objeto faz parte daquilo que poderamos chamar de uma constelao da

    destrutividade, o universo em que o esclarecimento se exprime em toda sua

    dialtica. A essa constelao pertence, em maior ou menor grau, o esporte.

    Esporte: Treinar o corpo, acelerar a morte

    http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#16not#16nothttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#17not#17nothttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#18not#18nothttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#19not#19nothttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#20not#20nothttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#21not#21not

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    Volto agora ao tema do esporte, para tentar elaborar algumas notas exploratrias

    com base em uma caracterstica que lhe determinante, e que corresponde ao

    quadro terico esquematicamente explicitado. Parece haver um parentesco muito

    prximo entre o processo sacrificial de formao do sujeito e aquele que levado a

    cabo pelo esporte. preciso tentar entender como o esporte no s partilha da

    lgica do sacrifcio, mas tambm leva-a muito adiante, na medida em que

    desenvolve um conjunto de conhecimentos para sua operao.

    No treinamento para o esporte, o corpo tem de ser visto como um objeto

    operacionalizvel, de forma que as metforas que o comparam com algum tipo de

    mquina, antes de procurar facilitar o entendimento de seu mecanismo, confirmam

    esse desejo de domnio. Essas imagens que o comparam a uma mquina a vapor, a

    um relgio, ou a qualquer outro tipo de mquina,22 parecem querer dizer que um

    corpo pode ser, da mesma forma que uma mquina, posto em ou tirado de

    funcionamento. Se um corpo pode ser equiparado a uma mquina, porque

    tambm suas peas podem ser substitudas, ou reparadas, caso o funcionamento

    no esteja a contento.23 Essa "conscincia mecnica do corpo" fundamental para o

    desenvolvimento no s do esporte, mas de um pensamento de tipo esportivo.24

    De fato, no esporte, antes de se desenvolverem mquinas para melhorar o

    desempenho, preciso considerar o prprio corpo como uma mquina. A mquina

    deixa de ser um instrumento de prolongamento do corpo, e tambm este j no

    um apndice daquela. Ele acaba por maquinar-se, de modo que no se sabe mais a

    diferena entre ambos. No apenas o corpo adoecido visto como mquina, mas

    todo e qualquer o ; ou, de outra forma, o corpo como mquina est sempre, de

    certa maneira, doente.

    Como j foi dito, a teoria do treinamento desportivo partilha uma estrutura mais ou

    menos comum com outras tcnicas e outros discursos sobre o controle do corpo.

    Assim como os discursos relacionados dieta, por exemplo, que tambm podem

    lanar mo de metforas maquinais, fundamental para o treinamento desportivo

    que haja uma separao muito clara entre sujeito e objeto. preciso (re)conhecer o

    corpo como objeto, ou no se pode trein-lo.25

    http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#22not#22nothttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#23not#23nothttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#24not#24nothttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#25not#25not

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    33

    Treinamento: Alguns princpios e sua lgica

    O treinamento pode ser entendido, de forma geral, como um conjunto de diversas e

    complexas aes no sentido da melhoria do rendimento. Este orientado por um fim

    especfico, e deve seguir um planejamento que leve em conta os objetivos, os

    mtodos, o contedo, a estrutura e a organizao geral, sempre tendo como

    referncia o conhecimento cientfico e a experincia prtica. O processo do

    treinamento deve ser detalhadamente controlado em seus efeitos, permanecendo

    como orientao os objetivos e metas previamente estabelecidos.26 A aplicao da

    carga seria o elemento decisivo a ser controlado no processo.27

    O treinamento sempre uma relao "tima" entre estmulo e descanso, visando a

    uma adaptao superior. Ele se localiza como que no centro de uma linha, cujos

    pontos extremos, eqidistantes, seriam a carga e a recuperao. Se a recuperao

    entre os estmulos muito longa, perdem-se os efeitos do treinamento; se muito

    curta, o organismo no tem como se recuperar, e, mais importante, no tem como

    apresentar as modificaes planejadas. As adaptaes procuradas acontecem

    justamente no perodo de recuperao, visto que nele que o organismo tenta

    restabelecer o equilbrio homeostsico, quebrado pelos estmulos. Estes devem

    representar cargas alternadas, sobretudo quando a modalidade treinada apresentar

    solicitaes muito diferenciadas, como o caso do conjunto de provas combinadas

    do atletismo. Haveria o que se chama, por meio de uma adaptao morfolgica e

    funcional crescente, uma supercompensao.28 A melhoria da condio fsica estaria

    pelo menos em parte garantida, uma vez seguidos esses e outros princpios do

    treinamento.

    Essa relao corresponde a um modelo cclico, que separa o treinamento em

    espaos de tempo, seja este uma sesso ou mesmo um ano. Esse modelo,

    desenvolvido principalmente pelo sovitico L. P. Matveev, vem sendo colocado em

    questo nos ltimos anos.29 Permanece, no entanto, a lgica que acompanha sua

    organizao, preconizando momentos de maior intensidade e/ou volume associados

    com momentos de descanso ou menor intensidade.

    http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#26not#26nothttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#27not#27nothttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#28not#28nothttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#29not#29not

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    34

    Esse modelo cclico tem como objetivo permitir uma adaptao do organismo s

    condies de estresse que lhe so impingidas. Diz a teoria do treinamento que

    preciso avaliar a treinabilidade de um atleta e, com base nos princpios, nos mtodos

    e no planejamento executado, garantir que o atleta esteja sob o controle desse

    percurso cclico.

    "Progresso" do corpo, celebrao do sacrifcio: Anotaes

    No creio que haja dvidas de que, uma vez seguidos os modelos do treinamento

    desportivo, haja potencialmente melhores resultados esportivos, ou um corpo mais

    saudvel, ou ainda mais bonito, conforme essas qualidades, associadas a valores e

    normas, forem variando ao longo da histria. O que est em jogo o carter do

    conhecimento sobre o corpo, vinculado aqui sua operacionalidade. preciso

    enquadrar o corpo num conjunto de princpios que o levem a um melhor rendimento,

    tratando-o como matria modelvel, adaptvel, ou no h treinamento.

    Um programa de treinamento deve ser elaborado como um estudo de caso, levando-

    se em conta a individualidade biolgica. Apesar disso, mantm-se o carter fungvel

    do corpo, que continua a ser visto como generalidade e naturalidade abstratas.

    Se para dominar a natureza importante conhecer o seu funcionamento, para ento

    perceber sua funcionalidade, ento, o processo de adaptao morfolgica e

    funcional acaba por ser um mecanismo cego, paradoxalmente estranho ao prprio

    sujeito.

    Enquanto o sujeito domina o seu corpo para poder se fortalecer, no rito sacrificial de

    sua constituio, a cincia medeia um novo sacrifcio no treinamento: a quebra

    constante do equilbrio homeostsico deve provocar sempre uma adaptao

    superior. A cincia molda o corpo baseada no modelo prvio que ela tem sobre a

    natureza. E esta passa a s ter significado ao ser dominada como vtima. A prpria

    teoria, e no sua possvel m utilizao, sustenta esse processo.

    Nesse contexto no h espao para a dor, j que o corpo acaba por ser objeto

    dissecado pela cincia e potencializado na forma de progresso e sucesso. A dor

    passa a ser vista no mais como uma aliada em defesa da vida, uma expresso viva

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    da corporeidade, mas como um obstculo a ser superado, dominado, ignorado,

    tornando-se, talvez, at mesmo fonte de prazer. A grande questo da tolerncia

    dor e ao sofrimento relaciona-se com a possibilidade de a crueldade - e com ela a

    violncia e a obedincia - ser mediada, controlada e prescrita de forma racional,

    cientfica. A afinidade com a tortura, uma das prticas mais hediondas j produzidas

    pela humanidade, e ainda bastante presente nos dias atuais, parece no ser apenas

    eletiva.

    O esporte e o fortalecimento do corpo parecem reviver a utopia de uma vida eterna,

    na medida em que partilham da crena no progresso infinito, algo que nos faa

    esquecer da morte. O que se coloca, no entanto, que a reduo do corpo a uma

    materialidade desqualificada faz com que ele seja visto como maquinismo, natureza

    cega, ou, o que pior, como cadver. O olhar da cincia designa-lhe uma

    fungibilidade inespecfica, assim como um corpo morto assemelhar-se-

    quimicamente, cada vez mais, a outro corpo morto.

    Ao recair numa lgica cega que no percebe o progresso como produtor tambm da

    regresso, mas o toma como algo positivo em si, o esporte acaba por ser expresso

    e vanguarda da violncia, da acelerao da vida em direo morte.30

    Notas

    1. Cf. Plato 1967, sobretudo parte III.

    2. Cf. Gay 1993. Ver especialmente pp. 426-447.

    3. Cf. Courtine 1995.

    4. Cf. Theodor W. Adorno e Max Horkheimer, Dialektik der Aufklrung:

    Philosophische Fragmente. In: Adorno 1997, vol. 3 (1944/1947; citado daqui por

    diante como DA), p. 28. Traduo brasileira de Guido Antonio de Almeida, Dialtica

    do esclarecimento: Fragmentos filosficos (daqui por diante DE), p. 26.

    5. DA, pp. 41-42; DE, p. 37.

    6. DA, pp. 25, 57.

    http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#30not#30nothttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#not1#not1http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#not2#not2http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#not3#not3http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#not4#not4http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#not5#not5http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#not6#not6

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    36

    7. DA, p. 73.

    8. Cf. Horkheimer 1996 (1946), Captulo 3.

    9. DA, pp. 71-72 .

    10. Cf. DA, Elemente des Antisemistismus, principalmente pp. 204-225; Horkheimer,

    op. cit., pp. 121-123.

    11. Cf. Horkheimer, op. cit., p. 114.

    12. DA, p. 26.

    13. DA, p. 265 ss.

    14. Sobre o tema ver Gunter Gebauer e Christoph Wulf, "Die Berliner Olympiade

    1936. Spiele der Gewalt". In: Gebauer 1996, pp. 247-255.; Mller 1986.

    15. DA, p. 266; DE, p. 217 (traduo ligeiramente modificada).

    16. Cf. Theodor Adorno, "Erziehung nach Auschwitz". GS, vol. 10-2, pp. 674-690, p.

    681. Traduo utilizada de Wolfgang Leo Maar, "Educao aps Auschwitz". In:

    Educao e emancipao, 1995, pp. 119-138, citao na p. 126.

    17. A partir do sculo XVI, correspondendo aos novos tempos, desenvolve-se um

    tipo de espetculo cujo protagonista o corpo morto. H um novo tipo de fruio,

    que de certa maneira substituir aquela dos declinantes espetculos pblicos de

    execuo e dilacerao de condenados. A nova fruio do tipo cientfica, e s

    mesmo no mundo moderno seria possvel passar da mera especulao sobre o

    funcionamento do corpo para uma percepo que fosse analtica, pormenorizada. A

    anatomia como cincia no pde prescindir do nascimento de um pensamento

    analtico, sustentado pelo avano das cincias da natureza, que tero a

    experimentao como mtodo. Coincidindo com a crescente instituio da vida

    pblica, as dissecaes tornaram-se espetculos: na Holanda abriam-se cursos

    pblicos de anatomia, e as universidades atraam, no sculo XVII, um grande

    nmero de espectadores para, em seus anfiteatros, assistir s dissecaes de

    http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#not7#not7http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#not8#not8http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#not9#not9http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#not10#not10http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#not11#not11http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#not12#not12http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#not13#not13http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#not14#not14http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#not15#not15http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#not16#not16http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621999000100006&script=sci_arttext&tlng=es#not16#not16

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    37

    cadver. Ao mesmo tempo desenvolveram-se tcnicas de conservao de rgos, o

    que proporcionou ao pblico culto holands a possibilidade de formar colees, e

    mesmo um esqueleto ou empalhamento. Cf. Zuthor 1989; cf. especificamente p. 184

    ss. Cf. tambm Rupp 1993.

    18. J no sculo XVII havia interesse pelo funcionamento do corpo vivo com base

    em modelos desenvolvidos pela qumica e pela mecnica de ento. Eram

    importantes, nesse contexto, as experincias com animais vivos. Cf. Rupp, op. cit.,

    p. 23.

    19. DA, p. 267.

    20. DA, p. 269; DE, p. 219.

    21. DA, p. 269.

    22. Cf. Tamboer 1994, p. 27 ss. Ver tambm Rabinbach 1992.

    23. O uso de mecanismos e aparelhos corretores, j presentes na Antiguidade, mas

    com enorme expanso a partir do sculo XVII, um bom exemplo do que est

    sendo falado (sobre o uso de aparalhagens corretoras, ver Georges Vigarello,

    "Panplias corretoras: Balizas para uma histria". In: Sant'anna, op. cit., pp. 21-38).

    As competies esportivas para portadores de deficincia so uma metfora, talvez

    antecipatria, talvez com imagem invertida, daquilo que pode ocorrer tambm no

    esporte de alto rendimento. Um tema que tem estado presente em fruns de debate

    sobre questes filosficas relacionadas ao esporte a possvel troca de um membro

    do corpo humano por uma pea construda artificialmente. Uma vez que um brao

    no tenha a preciso adequada para um arremesso, ele poder ser trocado por um

    outro potencialmente melhor, eletrnico, controlado por computadores. A utilizao

    de substncias qumicas que potencializam o desempenho (o doping) j de certa

    forma uma expresso