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1 UIVERSIDADE CADIDO MEDES ISTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SESU” O ISTITUTO DA REPERCUSSÃO GERAL E SUAS IMPLICAÇÕES, O RECURSO EXTRAORDIÁRIO, QUATO AO OBJETO DO PEDIDO E A CAUSA DE PEDIR AUTOR ALMIR DA SILVA RAMOS ORIENTADOR PROF. CARLOS AFOSO LEITE LEOCADIO RIO DE JANEIRO 2009

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U�IVERSIDADE CA�DIDO ME�DES I�STITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SE�SU”

O I�STITUTO DA REPERCUSSÃO GERAL E SUAS IMPLICAÇÕES, �O

RECURSO EXTRAORDI�ÁRIO, QUA�TO AO OBJETO DO PEDIDO E A

CAUSA DE PEDIR

AUTOR

ALMIR DA SILVA RAMOS

ORIENTADOR

PROF. CARLOS AFO�SO LEITE LEOCADIO

RIO DE JANEIRO 2009

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U�IVERSIDADE CA�DIDO ME�DES I�STITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SE�SU”

O I�STITUTO DA REPERCUSSÃO GERAL E SUAS IMPLICAÇÕES, �O

RECURSO EXTRAORDI�ÁRIO, QUA�TO AO OBJETO DO PEDIDO E A

CAUSA DE PEDIR

Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes – Instituto a Vez do Mestre, como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Direito Processual Civil. Por: ALMIR DA SILVA RAMOS

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AGRADECIME�TOS

À Deus, pela sua bondade e misericórdia, de quem eu

não sou merecedor nem digno. Ao meu orientador

Professor Carlos Afonso Leite Leocadio pela paciência,

dedicação e pelos preciosos subsídios, os quais se

revelaram de grande valia para a realização desta tarefa

acadêmica. Ao mestre, o meu eterno agradecimento.

Ao coordenador do Curso de Pós-Graduação, Prof. Jean

Alves de Almeida, pela seriedade e dedicação não só na

escolha do programa dos módulos, como também, na

excelente escolha dos mestres, a quem estendo os meus

mais profundos agradecimentos.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha esposa Nadir, a quem

agradeço por me aturar todos esses anos; aos meus

filhos Anna Carolina e Jonathas, pelo incentivo e apoio

para a sua concretização, pedindo desculpas pelo que

eu não pude fazer a mais por suas vidas. Aos meus

amigos Marcelo e Brígida pelo incentivo.

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RESUMO

No presente trabalho procura-se demonstrar que a seleção dos recursos extraordinários, na origem, com o sobrestamento dos mesmos, a teor do artigo 543-B § 1º do Código de Processo Civil, com base exclusivamente na “identidade da matéria” pode levar a distorções e a realização de um julgamento injusto, porquanto na prática o que se faz, é identificar o feito, tão-somente, pelo objeto do pedido e não pelos fundamentos da causa de pedir recursal. O que é passível, não só pela técnica utilizada, mas pelos distintos métodos da seleção dos feitos na origem em obediência aos regimentos internos dos tribunais, sobretudo quando esses regimentos não mantém entre si um liame uniforme na seleção desse recurso, para posterior envio ao Supremo Tribunal Federal. Daí que este trabalho singelo, tem por finalidade levantar algumas questões sobre o novel requisito objetivo de admissibilidade do Recurso Extraordinário denominado de Repercussão Geral, cujo ingresso em nosso Ordenamento Jurídico se deu no bojo da chamada Reforma do Judiciário, trazida pela Emenda Constitucional nº 45, de 8/12/2004, bem assim, alçar outras questões, intimamente ligadas a ele; mormente aquelas que dizem respeito a seleção e a multiplicidade de recursos com fundamentos em idêntica controvérsia ou Recursos Representativos da Controvérsia, com o conseqüente sobrestamento dos mesmos. A esse novo requisito atribui-se papel de relevo à contenção de demandas repetitivas, enviadas em grande número, durante décadas, a julgamento em nossa Corte Suprema, pela via do Recurso Extraordinário. Esse recurso, nos últimos anos, vinha perdendo qualidade, banalizando-se, apesar de sua estatura constitucional e de sua nobre e especial missão como veículo garantidor da hegemonia interpretativa do sistema jurídico nacional, que tem como fonte a nossa Corte Maior: guardiã, por excelência, da Lei Fundamental.

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METODOLOGIA

O presente trabalho procura enfocar a partir de uma mudança substancial no ajuizamento

do recurso extraordinário um tema novo, que diz respeito a maneira e ao método de como tal

recurso é selecionado na origem, antes de ser remetido ao Supremo Tribunal Federal, aonde se

averiguará, por derradeiro, se aquele recurso nobre preenche os pressupostos e requisitos para a

sua admissibilidade e julgamento, entre eles, o novel instituto da Repercussão Geral, o que

ensejará, por conseqüência, o julgamento de um recurso extraordinário paradigma – recurso

representativo de múltiplos feitos com idêntica controvérsia.

Daí a necessidade de se aferir, por intermédio deste trabalho, se tal critério de seleção

desse recurso condiz com o ideal de um julgamento justo, ainda mais quando este se dá, em

massa, o que agrava a responsabilidade dessa aferição. Destarte resta saber se o parâmetro

utilizado pelos tribunais ordinários, a vista de seus regimentos internos, é o mais adequado ou

prescindiria de outro – tendo como base a causa petendi recursal.

Na investigação e no aprofundamento do estudo da matéria em enfoque, visando a

produção desta monografia foram utilizados variados métodos para a sua composição os quais

consistiram basicamente na leitura de livros, jornais e artigos correlatos, sem dispensar a

imprescindível consulta a rede mundial de computadores (internet) e intensa pesquisa

bibliográfica.

O acompanhamento constante da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal foi

necessário, para aferir a performance do novo instituto da Repercussão Geral, contudo, ainda não

foi possível averiguar alguma controvérsia específica sobre o tema deste trabalho, ou seja, os

ministros da nossa Corte Maior ainda não se depararam com eventual questionamento dos

critérios e métodos de seleção dos recursos extraordinários implementados na origem, o que

reforça a razão de ser desta modesta empreitada.

Afora o acompanhamento da jurisprudência a respeito do tema em estudo, utilizou-se do

sítio eletrônico daquela Corte, também, para colher dados estatísticos representados nos gráficos

do anexo, os quais foram de grande valia na avaliação temporal, numérica e qualitativa da

prestação jurisdicional, incluindo nessa mensuração o grau da efetividade da tutela no âmbito da

Corte Suprema.

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SUMÁRIO

I�TRODUÇÃO 8/9

CAPÍTULO I - A Crise no Supremo Tribunal Federal e os esforços para contê-la 10/15

CAPÍTULO II - A Arguição de Relevância e a Repercussão Geral 16/21

CAPÍTULO III - O Pedido e as Causas de Pedir 22/29

CAPÍTULO IV - Faces e Efeitos dos Recursos 30/36

CAPÍTULO V - A Controvérsia 37/43

CO�CLUSÃO 44/45

BIBLIOGRAFIA 46

A�EXOS 47/56

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I�TRODUÇÃO

As estatísticas demonstram que uma das causas de emperramento e morosidade do

Judiciário, na entrega da prestação jurisdicional e de uma efetiva tutela, reside na avalanche de

recursos que aportam, diariamente, em suas diferentes instâncias, fazendo com que se torne

humanamente impossível que suas decisões se processem em um ritmo e tempo razoáveis, o que

acaba gerando insatisfação e descrédito por parte daqueles que reclamam do judiciário uma

solução célere para os seus conflitos, quais sejam: autor, réu e advogado. O que acaba

difundindo, à sociedade como um todo, uma arraigada sensação de descrédito no Poder cuja

principal atribuição é a de por fim aos conflitos recompondo a paz social no seio da urbe.

Fugindo assim daquele ideal preconizado pela Carta da República em seu artigo 5º, Inciso

LXXVIII: a todo, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do

processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

Este gargalo jurisdicional torna-se ainda mais sensível e angustiante, quando a

expectativa e a esperança do julgado repousam nos escaninhos da mais alta corte de justiça de

nosso país, isto é, no Supremo Tribunal Federal, órgão que profere a última palavra quando se

trata de apreciação de matéria de índole constitucional.

Uma das vias de acesso ao Supremo se dá pelo chamado controle difuso de

constitucionalidade, também conhecido como: incidental, de exceção ou in concreto. E um dos

instrumentos mais utilizado para ingresso nessa via, é o Recurso Extraordinário, também

conhecido, na seara do Direito pelo jargão de Apelo Extremo. Devendo somente ser manejado

quanto ao seu cabimento, quando a decisão tenha ofendido - direta e frontalmente - a preceito da

Constituição Federal.

Informações colhidas no sítio eletrônico do Supremo Tribunal Federal (www.stf.jus.br –

acesso realizado em 12/09/2009) apontam que no período compreendido entre os anos de 1990 a

2009 foram distribuídos nada menos do que 1.152.104 (um milhão cento e cinqüenta e dois mil e

cento e quatro) o que equivale a soma de Agravos de Instrumentos e Recursos Extraordinários

interpostos nesse período. Essa surpreendente cifra dividida entre os onze ministros da Corte,

desprezando-se aqui eventuais e efêmeras vacâncias desse cargo, revela que aproximadamente

coube a cada um, apreciar, em média, 104.737 recursos, nos últimos 19 anos. O que demonstra a

irrazoabilidade da tarefa a eles distribuída, o que sem dúvida estaria a justificar e a identificar um

dos pontos nevrálgicos do estrangulamento jurisdicional a que a pesquisa se refere, expondo o

nervo do modelo até então adotado de prestação jurisdicional, a vislumbrar-se assim o seu

completo esgotamento. Em conseqüência, instalou-se no seio de um dos Poderes da República,

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vale dizer, no órgão de cúpula do Judiciário, uma crise de larga proporção com reflexos nos

demais Poderes, já que seus mecanismos voltados à efetividade e eficácia dos seus julgados

emperraram, porquanto não estavam satisfazendo plenamente e a contento aos anseios dos

jurisdicionados e afetando, principalmente, aqueles que dependem diretamente dos mecanismos

de funcionamento desse importante Poder, que são os advogados, os defensores públicos e o

ministério público e seu destinatário final: a sociedade.

Destarte, com o nervo do sistema exposto era preciso pensar-se em algo que, pelo menos,

pudesse amenizar a dolorosa fratura do modelo adotado até então e quiçá, com o tempo curá-la

em definitivo. E um dos remédios a ser ministrado à doença, adveio com a Lei nº 11.418, de

19/12/2006, que alterou o Recurso Extraordinário e instituiu a Repercussão Geral, acrescentando

dois artigos (543-A e 543-B) ao Código de Processo Civil. E é nesse instrumento que estão

depositadas todas as fichas e esperanças à cura do sistema: espera-se que com ele o acesso à

Instancia Máxima do Judiciário, pela via do controle difuso, seja mais estreito e qualificado,

poupando os seus ministros de apreciarem matérias repetitivas, pondo-se sobre elas uma pá de

cal definitiva por força da orientação adotada pela Corte, a fim de que aqueles altos magistrados

possam, uma vez livres da excessiva carga sobre seus ombros, se debruçarem com o devido

acuro, somente, no exame de matérias de maior relevância jurídica. Esse é o desiderato do novel

instituto.

Em que pese esse reforço legislativo, visando trancar na origem a subida de inúmeros

recursos que tratam da mesma matéria, aplicando-se-lhes o sobrestamento até que o recurso

representativo da controvérsia (em pauta no Supremo Tribunal Federal) cuja repercussão geral

fora reconhecida seja julgado. Não deixa, entretanto, tal expediente, de suscitar séria dúvida.

Indaga-se: será que a causa de pedir inserida no recurso representativo da controvérsia tem os

mesmos fundamentos da causa de pedir dos recursos que estão sobrestados? E como aferir tal

hipótese?

Foi através dessa indagação que nasceu a inspiração para a feitura desta despretensiosa

monografia, da qual se espera que seus leitores tirem dela bons proveitos e quem sabe outras

inspirações.

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CAPÍTULO I

A CRISE �O SUPREMO TRIBU�AL FEDERAL E OS ESFORÇOS PARA

CO�TÊ-LA

Os estudiosos do nosso sistema jurídico, de há muito, vem defendendo a necessidade de

se por um fim ao emperramento e aos infindáveis gargalos detectados na prestação jurisdicional,

a fim de viabilizar, na prática, a certeza de que se terá uma razoável e célere efetiva tutela, uma

vez que não basta que se preste tão somente a jurisdição, busca-se um pouco mais que isso, é

necessário que se ponha fim ao conflito, possibilitando que a Parte a que o Estado reconheceu o

direito, o tenha de modo insofismável e definitivo para que dele possa usufruir em toda a sua

plenitude.

Havia e, ainda, há um forte descontentamento oriundo dos extratos sociais em relação aos

serviços prestados pelo judiciário, não só daqueles que militam no direito, mas sobretudo

daqueles que dele dependem. Criou-se até contra o poder judiciário, uma impressão desfavorável

que eclode nas esquinas, deixando sua marca no meio acadêmico, nas reuniões de famílias, nos

bares, nas igrejas, nos comícios, a qual se pode resumir numa frase: a Justiça brasileira é uma

justiça lenta, cara e elitista e, por conta destes últimos adjetivos, é tida, também, como parcial.

Rodolfo de Camargo Mancuso, em belíssima obra, procurou traçar um perfil do que

denominou “A chamada “crise do Supremo”: origem e tentativas de superação”.[1]

Nessa obra Mancuso faz um inventário histórico dos esforços empreendidos objetivando

estancar a descomunal subida de recursos para a nossa Suprema Corte e aponta, desde a

impetração do primeiro recurso extraordinário em 1891, o seu vertiginoso crescimento:

extraordinário tinha a peculiaridade de ser exercitável em qualquer dos ramos do Direito Objetivo onde houvesse “questão federal” ou “questão constitucional”, é compreensível que nessa alta Corte cedo se tenha verificado um acúmulo de processos, moléstia que, por causa da demora no tratamento tornou-se crônica, passando a ser referida como a “crise do Supremo”. Muito já se pesquisou quanto às suas verdadeira causas, e várias soluções já foram alvitradas para sua superação. Robichez Penna, advogado atuante em Brasília, a crise em questão “nasceu do fantástico número de processos que anualmente dão entrada no Protocolo da Corte, principalmente os Recursos Extraordinários e seus recursos conexos (Agravo de Instrumento, argüições de relevância e Embargos de Declaração e

[ 1]MANCUSO, Rodolfo de Camargo, Recurso Extraordinário e Recurso Especial, p.52/73, Ed.Rev.Trib. 6ª Ed. 1999.

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Divergência)”. O autor refere que em 1891 deu entrada no STF “o recurso extraordinário n. 1; em 1904, a média anual deu em 26; em 1933, montou a média em 55; já em 1960, ano em que o STF transferiu-se para Brasília, “foram julgados 5.946 recursos extraordinários, quantidade que já à época foi considerada excessiva e preocupante por seus juízes”. O crescimento avantajou-se quase em “progressão geométrica”, sendo que o relatório anual em 1985 “informa terem sido julgados 17.798 processos diversos”. Robichez Penna observa que “17.000 processos-ano julgados por onze Ministros importa em 4,2 processos/dia, por Ministro, contando-se os sábados, domingos, feriados, recessos e as férias de janeiro e julho, ocasião em que se supõe que seus membros devam desfrutar de uma forma qualquer de lazer e descanso” (…) “A crise do Supremo Tribunal Federal é portanto uma crise de quantidade, que deve ser refreada sob pena de inviabilizar a entidade em mais alguns anos”.

Afirma o autor, citando estudo publicado por Theotonio Negrão nos idos de 1974, na

vigência do atual Código de Processo Civil que, mesmo o STF aliviado da sobrecarga relativa ao

julgamento de recursos ordinários em mandado de segurança, não teve possibilidade de apreciar

todos os recursos extraordinários, o que forçou o estabelecimento de um critério limitativo

totalmente ilógico, decorrente do valor da causa, pelo que Negrão vaticinou: Pode-se ter a

certeza de que a situação se agravará muito em futuro bastante próximo.

Mancuso, naquela ocasião, apontava que:

recentes dão conta de que em 1994 foram julgados 16.250 recursos

extraordinários e 16.758 recursos especiais. Reportando-se aos números para

1997, o Min. Carlos Mário da Silva Velloso informa: “De janeiro a julho deste

ano, o STF recebeu 19.599 processos e julgou 21.317”. Como se vê,

confirmaram-se os temores de Theotônio Negrão, nos idos de 1974.

Uma rápida olhada em recente estatística disponibilizada no sitio eletrônico do STF,

compreendendo o movimento processual nos anos de 1940 a 2009, constatar-se-á a progressão

geométrica a que Robichez se referia.

Aqueles números inicialmente tímidos, levantados no início das atividades do Supremo,

na verdade, se transformaram em uma bola de neve já a partir do ano de 1949, quando se atingia

o patamar de 3.000 processos: protocolados, distribuídos e julgados a revelar o recrudescimento

da crise operacional da Corte.

Foram tomadas uma série de medidas as quais, apesar da boa intenção, não se revelaram

suficientes em face do rumoroso número de processos que aportavam na Corte.

José Carlos Moreira Alves, sem dúvida, um dos melhores ministros do Pretório Excelso,

hoje aposentado, citado por Mancuso, escreveu:

A crise do Supremo é a “crise do recurso extraordinário” e essa situação angustiante para a Corte é que “deu margem a uma série de providências legais e regimentais para que a Corte não soçobrasse em face do volume de recursos

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que a ela subiam”. Dentre essas providências, o Ministro lembra: “a Lei 3.396/58 exigiu que o despacho de admissão do recurso extraordinário fosse motivado, à semelhança do que já ocorria com o que não o admitia; a Emenda Constitucional 16/65 outorgou ao Supremo Tribunal federal competência para julgar representações de inconstitucionalidade de lei e atos normativos, estaduais e federais, com a finalidade – que vem expressa na exposição de motivos do projeto dessa Emenda – de lhe permitir, num único julgamento, solver a questão da constitucionalidade, ou não, dessas normas, o que estancaria, no nascedouro, a fonte de recursos extraordinários que lhe seriam interpostos se a declaração de inconstitucionalidade se tivesse de fazer em cada caso concreto; a Emenda Constitucional 1/69 admitiu restrições ao cabimento do recurso extraordinário quando interposto com fundamento nas letra 'a' e 'd' do inc. III de seu art. 119”. lembra o Ministro, outros obstáculos foram sendo engendrados: em a970, o Regimento Interno, que “estabeleceu uma série de casos de restrição ao recurso extraordinário, admitindo, como válvulas de escape, as açegações de ofensa à Constituição e de dissídio com sua jurisprudência predominante”; depois, em 1975, a Emenda Regimental 3, ampliativa daquelas restrições e que “substituiu, com exceção a elas, o dissídio com sua jurisprudência predominante pela argüição de relevância da questão federal”. Esse Regimento foi revisto e atualizado em 1980. Esse texto, diz o Ministro, “aumentou as restrições ao recurso extraordinário, mas, em contrapartida, acrescentou uma terceira válvula de escape: a manifesta divergência com suas súmulas”. Finalmente, encerrando o rol, a Emenda Regimental 2/85 “alterou o sistema de restrição ao recurso extraordinário, enumerando os casos de cabimento dele nas hipóteses das letras “a” e “d” do inc. III do art. 119 da Emenda Constitucional 1/69, o último dos quais é o de acolhimento da argüição de relevância da questão federal nos feitos não mencionados. excelente resenha, apresentada por quem vem pontificando no exercício da judicatura no STF, ao longo do tempo não faltaram engenho e arte na criação de figuras e expedientes tendentes a filtrar o excesso de recursos extraordinários naquela Corte. Tais tentativas não foram em vão, mas sempre estiveram longe de seu desiderato fundamental, que era o de resolver a “crise do Supremo”.

Veja-se que analisando hoje as estatísticas disponibilizadas no sítio eletrônico do

Supremo Tribunal Federal, notar-se-á que já no ano de 1990 o volume de agravos de

instrumentos e recursos extraordinários distribuídos representava 81,6% de toda a distribuição de

feitos, apontando uma cifra significativa de 16.226 recursos daquelas espécies, conforme

demonstram os gráficos em anexo.

Nota-se, no exame desses gráficos, que passados apenas dois anos (1992) a cifra referente

a distribuição de agravo de instrumento e recursos extraordinários sobe para 26.325,

representando 93,9% dos recursos distribuídos, vale dizer, um salto – em pouco tempo – de

10.099 processos.

Seguindo-se nessa análise, percebe-se que em 1995, cinco anos depois, o volume de

distribuição estabilizou-se em 23.385 processos, registrando o percentual de 90,6% daquela

distribuição específica.

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No ano de 2000, ocorre um salto surpreendente em relação a cifra apurada em 1995:

agora registra-se o descomunal volume de 80.839 agravos de instrumento e recursos

extraordinários distribuídos, representando 97,4% do total de feitos aforados em nossa Suprema

Corte no lustro indicado. Pelos números contidos nesses gráficos, estava claro que era preciso

fazer-se algo diante desse caos institucional. E a resposta veio por intermédio da EC nº 45 de

8/12/2004, com os acréscimos ao art. 102 da Carta Maior, em particular, no que tange ao seu §

3º, em relação a instituição do instituto da Repercussão Geral.

Registre-se, que a regulamentação do instituto da Repercussão Geral atingiu três níveis

normativos, a saber: o fundamental advindo da própria Constituição da República (art. 102),

como já dito; o ordinário, com esteio na Lei nº 11.418, de 19/12/2006 que veio acrescer os

artigos 543-A e 543-B do Código de Processo Civil; e o regulamentar pautado nas Emendas ao

Regimento Interno do STF (nºs 21, de 30/04/2007; 22, de 30/11/2007; 23, de 11/03/2008 e 24, de

20/05/2008), fechando esse seguimento a Portaria nº 177, de 26/11/2007.

Em 2006, ano em que foi promulgada a Lei nº 11.418, de 19/12/2006, é fácil notar que tal

reforma processual, nos moldes em que foi proposta, já deveria ser implementada muito antes

daqueles significativos picos de distribuição acima identificados, o que evitar-se-ia a sobrecarga

atual de processos sobre os ombros dos ministros do Excelso Pretório. Nesse ano de 2006 foram

distribuídos 116.216 recursos, entre agravos e extraordinários, o que representa 95,3% de toda a

carga distributiva da Corte. Um verdadeiro absurdo a justificar plenamente a emenda

constitucional e a reforma do Código de Ritos, seguidos das alterações sofridas pelo regimento

interno do STF. A demonstrar, claramente, que a crise de congestionamento de feitos, em nossa

Corte Maior, precisava ser estancada com urgência.

Seja como for, o fato é que já se notam significativas melhoras por força da referida

reforma, tendo em vista que os números atuais sinalizam para a suavização da carga de trabalho

dos ministros, a teor do pedagógico relatório de atividades confeccionado no ano de 2008,

disposto no sítio eletrônico do Supremo Tribunal Federal (www.stf.jus.br - acesso em

15/9/2009), a indicar, por exemplo, que em dezembro de 2006, tinha-se um total de 153.936

processos de todas as espécies. Tendo este número caído, em 2007 para 129.206 sobrevindo

novo decréscimo em dezembro de 2008, atingindo a marca de 109.204 processos.

Analisando os indicadores inseridos no referido relatório de atividades postos nos itens

denominados de: 1 - Casos Novos Por Ministro; 2 - Carga de Trabalho e; 3 – Congestionamento,

tendo como base o ano de 2004, (ano da aprovação da Emenda Constitucional nº 45) constata-se

que no referido ano, no tocante ao item de nº 1, foram distribuídos a cada ministro 7.611: em

2005, 8.656; em 2006, 11.594; em 2007, esse número caiu para 10.848, vindo a atingir em 2008

a marca de 6.588 processos.

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Com relação a Carga de Trabalho, verifica-se que em 2004 importou em 24.523; em

2005, 24.672; em 2006, 25.588; em 2007, decresceu para 22.594 e finalmente em 2008

estacionou em 19.509.

Já no que se refere ao item Congestionamento, os indicadores registram acentuada queda

em relação ao ano de 2004, por exemplo, o percentual apurado era de 70,49%, em 2005 passou

para 68,73%; em 2006 decaiu para 53,90%; em 2007 continuou em decréscimo para 47,2% e em

2008 teve um aclive de 4,83, pontos percentuais, e manteve-se na faixa de 52,03%.

Agregado a esses indicadores o referido levantamento, também, se preocupou em

demonstrar a chamada Taxa de Recorribilidade Interna, partindo-se, também, do ano de 2004,

onde se procurou demonstrar a proporção existente entre o número de recursos internos (agravos

regimentais, embargos de declaração e embargos de divergência) em relação ao total de decisões

proferidas.

O percentual de recorribilidade para o ano de 2004 foi de 14,36%; em 2005 foi de

18,28%; em 2006 de 16,44%; em 2007 elevou-se um pouco para 16,65%, para estacionar em

2008, em 15,05%. Neste ano, (2008) foram interpostos 18.608 recursos internos, em face de

123.596 decisões proferidas. No julgamento desses recursos internos foram acolhidos ou

providos cerca de 914 recursos equivalendo a 4% daquele total.

Afora esses dados científicos importantíssimos, já em plena vigência da reforma

instituída pela Emenda Constitucional nº 45, verificou-se que em 2008, a Presidência do Pretório

Excelso negou seguimento a 21.057 processos, em oposição aos 4.709 protocolos de 2007. A

despeito disso, foram prolatadas 6.928 decisões entre os processos autuados e registrados

naquele Órgão.

Revisitando os gráficos referentes ao aforamento de agravo de instrumento e recurso

extraordinário, percebe-se uma tendência de queda em relação aos números recentes: o ano de

2009, por exemplo, até meados do mês de maio, já apresenta números satisfatórios de processos

protocolados, distribuídos, julgados e de acórdãos publicados.

O certo é que correndo atrás do prejuízo, no que se refere a efetividade da prestação e da

tutela jurisdicional, o Órgão de cúpula do Judiciário, implementou – no bojo da chamada

reforma – algumas medidas visando afugentar a crise que se lhe abatia. Entre algumas medidas

efetuadas a partir da vigência da Emenda Regimental nº 21, que se deu em 03/05/2007, pode-se

destacar: 1) a negativa de seguimento aos recursos extraordinários e aos agravos de instrumento,

manifestamente inadmissíveis, por não conterem a preliminar formal da Repercussão Geral ou

por terem sido protocolados fora do prazo processual adequado; 2) A Secretaria do STF, passa a

analisar, após a entrada em vigor da ER nº 21, todos os recursos extraordinários que já

discorreram sobre determinados temas e que já tiveram a Repercussão Geral analisada e os

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devolve às instâncias de origem; 3) Além disso, essa mesma Secretaria identifica os recursos

extraordinários interpostos antes de 03/05/2007, data em que entrou em vigor a ER nº 21, caso

eles tratem de temas cuja Repercussão Geral já foi analisada são automaticamente devolvidos à

instancia de origem, do contrário, são processados normalmente no âmbito da Corte Maior; 4)

Passou-se a priorizar a pauta dos processos, em razão do instituto da Repercussão Geral, sem

prejuízo das demais prioridades regimentais e; 5) Destacou-se a prioridade ao Procurador Geral

da República, em relação aos processos com Repercussão Geral reconhecida.

Cabe destacar que além dos cuidados acima adotados, pela Secretaria da Presidência do

STF, foram enfocados alguns procedimentos a ser implementados, após a distribuição, a saber:

1) Sobre um único recurso extraordinário sobre cada matéria, incide o crivo da Repercussão

Geral, tendo-se em conta os pressupostos deste instituto, ou seja, para efeito da Repercussão

Geral, na disposição literal da lei, é preciso que o recurso nobre trate de questões relevantes do

ponto de vista econômico, político, social ou jurídico, que ultrapassem os interesses da causa, a

teor do que prescreve o artigo 543-A, § 1º do Código de Processo Civil. Essa análise passou a ser

feita pelo Plenário Virtual (espécie de Intranet) de uso exclusivo dos ministros, ou por ocasião de

apreciação de Questão de Ordem suscitada no Plenário da Corte. Valendo salientar que quando a

Repercussão Geral é negada, nessas instâncias, tal decisão se estende a todos os recursos que

tratem do mesmo tema; 2) Ademais, estabeleceu-se disciplina em que os recursos extraordinários

que tratam de Repercussão Geral já reconhecida podem ser devolvidos para sobrestamento nos

tribunais de origem ou ficarem então sobrestados nos gabinetes da Corte; 3) O ministro relator

pode determinar o sobrestamento de processos que versem sobre Repercussão Geral

reconhecida, quanto ao seu requisito formal de preliminar, nos tribunais de origem mesmo que

os processos daquele tribunal não tenham chegado ao Supremo Tribunal Federal; 4) Coube ao

Plenário a decisão de que é possível analisar se há ou não repercussão geral em matérias já

julgadas pelo Supremo em cujos temas já se assentara jurisprudência. Nesses casos podem os

ministros submeter o processo ao Pleno, em Questão de Ordem, a fim de que seja avaliada, a um

só tempo, a preliminar da Repercussão Geral e o mérito da questão.

Sinalizando o sucesso das recentes medidas implementadas visando a estancar a velha

crise, sem desprezar, é claro, o auxílio indelével da informática, cuja tecnologia o judiciário aos

poucos vem empregando – com pioneirismo - em determinadas áreas, como ocorreu

recentemente (em 01/10/2009), na área de comunicação institucional do Supremo Tribunal

Federal, onde foi celebrado convenio com a empresa Google Inc., visando a divulgação de

videos, pela internet, via You Tube, dos programas veiculados pela TV Justiça, inclusive, no que

se refere as audiências proferidas pelo Plenário daquela Corte, dando-se evidentemente maior

transparência aos trabalhos por ela desenvolvidos.

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CAPÍTULO II

A ARGUIÇÃO DE RELEVÂ�CIA E A REPERCUSSÃO GERAL

Aponta-se a Argüição de Relevância da questão federal, como um requisito semelhante

ao da Repercussão Geral criado, como se viu acima, para ajudar na guerra travada contra o

emperramento jurisdicional do Supremo, ante a grave crise que se lhe abatia por conta do grande

número de feitos lá aforados.

Fazendo uma análise desse requisito pretérito, Mancuso se refere a duas palestras

proferidas, em 1965, pelo saudoso Ministro Victor Nunes Leal, um dos luminares do STF,

versando sobre o assunto.

Disse, então, o ministro ao sugerir a instituição do requisito da relevância:

melhor forma de aliviar a sobrecarga de trabalho do STF. Dizendo que essa técnica provinha da experiência da Suprema Corte americana, invocava Estern e Gressman: “qualquer tipo de questão que chegue à Corte Suprema sofre um processo preliminar de triagem e somente sobrevive naqueles casos que a Corte considera suficientemente importantes ou significativos (important or metitorius) para justificar uma revisão”. “Esta válvula”, dizia o Ministro, “reduziria o serviço do Supremo Tribunal a proporções exeqüíveis,como daria melhor teor doutrinário às suas decisões, em correspondência com sua posição de Tribunal de cúpula.

Esse extinto requisito foi criado pela Emenda Regimental nº 3, de 16.6.75, que veio a ser

consagrado pela Emenda Constitucional nº 7/77.

O Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, de 1970, consolidado até a Emenda

Regimental nº 5 e atualizado até a Emenda Regimental nº 8, assim dispunha sobre esse requisito:

Art. 308 — Salvo nos casos de ofensa à Constituição ou relevância da questão federal, não caberá o recurso extraordinário, a que alude o seu art. 119, parágrafo único, das decisões proferidas: § 3° — Caberá privativamente ao Supremo Tribunal Federal o exame da argüição de relevância da questão federal. § 4° — A argüição de relevância da questão federal processar-se-á por instrumento, da seguinte forma: I — na petição de recurso extraordinário (arts. 304 e 305), o recorrente deduzirá, sucinta mas fundamentadamente, em capítulo específico e destacado, a demonstração da relevância da questão suscitada, pedirá a formação do instrumento e indicará, além das enumeradas no inciso seguinte, outras peças essenciais cuja reprodução deva integrá-lo;

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II — juntada aos autos a petição, o Presidente do Tribunal de origem mandará formar instrumento do qual constarão, por fotocópia ou processo equivalente de reprodução, a sentença de primeira instância, o acórdão recorrido, a petição de recurso extraordinário e, no caso do § 5°, o despacho que o houver admitido ou inadmitido, bem como as peças indicadas na forma do inciso anterior; III — o recorrido será intimado para responder à argüição no prazo de cinco dias; IV — formado o instrumento, com a resposta do recorrido ou sem ela, intimar-se-á o recorrente para, em quinze dias, promover sua reprodução, por fotocópia ou processo equivalente, em mais um exemplar, e pagar as custas devidas ao Supremo Tribunal Federal (art. 111 e §§ 1°, 2° e 3°), iguais às taxadas para o caso de agravo de instrumento; V — correrão à conta do recorrente, no Tribunal de origem, as despesas com a formação, reprodução e remessa do instrumento; VI — formado, reproduzido e preparado o instrumento, o Presidente do Tribunal mandará remetê-lo, em dois exemplares, ao Supremo Tribunal Federal; VII — no Supremo Tribunal Federal, o instrumento será registrado como Argüição de Relevância (art. 60, VI), que prescindirá de relator, processando-se pela seguinte forma:

a) preparar-se-á extrato para reprodução em cópias e distribuição a todos os Ministros, com indicação da sessão de Conselho, designada para sua apreciação;

b) um dos exemplares do instrumento permanecerá à disposição dos Ministros;

c) ao Presidente caberá apresentar a argüição à apreciação do Conselho;

VIII — da ata da sessão do Conselho, que se publicará para ciência dos interessados, constará apenas a relação das argüições acolhidas e rejeitadas; IX — a apreciação em Conselho não comportará pedido de vista, dispensará motivação e será irrecorrível; X — o acolhimento da argüição de relevância será comunicado ao Presidente do Tribunal de origem, para que faça processar o recurso extraordinário, mas não implicará o ulterior Conhecimento deste, pela Turma ou pelo Plenário.

§ 5° — Quando o recorrente suscitar, além da relevância da questão

federal, outras hipóteses de exclusão da inadmissibilidade do recurso extraordinário, reguladas neste artigo, observar-se-á o seguinte: I — se o recurso for admitido, poderá o recorrente, ainda assim, no prazo de cinco dias, requerer ao Presidente do Tribunal de origem o processamento da argüição de relevância, cujo instrumento subirá apensado aos autos originais; II — se o recurso for inadmitido e o recorrente, além de interpor agravo, também requerer o processamento da argüição de relevância, os dois instrumentos subirão apensados; III — a argüição de relevância será apreciada antes do julgamento do recurso ou do agravo; IV — no caso do inciso I, se a argüição for acolhida, a Turma ou o Plenário considerará tal decisão ao julgar o recurso; se rejeitada, limitar-se-á ao exame dos demais motivos pelos quais o recurso houver sido interposto; V — no caso do inciso II, se a argüição for acolhida, processar-se-á o recurso extraordinário (§ 4°, X), e ficará prejudicado o agravo; se rejeitado, julgar-se-á este, limitadamente aos motivos pelos quais houver sido interposto; VI — se o recurso for inadmitido e o recorrente não agravar do despacho de inadmissão, o processamento da argüição de relevância atenderá ao disposto no § 4°.

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Registra Mancuso que:

questionou-se em sede doutrinária e jurisprudencial acerca da natureza jurídica da argüição de relevância. Mas, ao depois, o tema pacificou-se no entendimento de que não se tratava de recurso, e sim de um expediente que – pondo em realce a importância jurídica, social econômica ou política da matéria versada no recurso extraordinário – buscava obter o acesso desse apelo extremo no STF, nas hipóteses em princípio excluídas de seu âmbito (…) Em que pesem as críticas que a instituição da argüição de relevância sempre sofreu em seus quase 13 anos de existência (v.g., que seu procedimento era complexo e oneroso; que a aferição do que fosse “relevante” ficava ao absoluto critério, incontestável, do STF; que a “relevância” de uma questão é um dado axiológico a ser levado em conta pelo legislador quando faz a norma e não pelo julgador que a aplica; que não se justifica a aferição da “relevância” em julgamento secreto e não expressamente motivado), o fato é que vozes respeitáveis defenderam esse sistema.

Valendo lembrar que o Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, no § 1º do

artigo 327, (com redação dada pela ER nº 2, de 4/12/85) conceituava assim o decaído requisito:

§ 1º. Entende-se relevante a questão federal que, pelos reflexos na ordem jurídica, e considerados os aspectos morais, econômicos, políticos ou sociais da causa, exigir a apreciação do recurso extraordinário pelo Tribunal.

Como se vê, mutatis mutandis, é a Argüição de Relevância a precursora da emergente

Repercussão Geral, guardadas evidentemente as devidas proporções quanto ao modo de seu

processamento e de sua implicação e inserção no recurso extraordinário.

Ao se adentrar, no tópico seguinte, no exame do novel requisito, dúvida não se terá

quanto aos objetivos e ao alcance do mesmo em relação àquele que o precedeu. Em ambos os

casos, tais requisitos, cada um a seu tempo, foram pensados e elaborados de modo a funcionar

como uma barreira protetiva e qualitativa ao ajuizamento do recurso extraordinário.

A Repercussão Geral

Extrai-se do caput e do parágrafo 1º do art. 543-A do Código de Processo Civil,

acrescentado pela Lei nº 11.418, de 19/12/2006, o delineamento do que parece ser o conceito de

Repercussão Geral, assim descrito, verbis:

Art. 543-A. O supremo Tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não conhecerá do recurso extraordinário, quando a questão constitucional nele versada não oferecer repercussão geral, nos termos deste artigo.

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“§ 1º. Para efeito da repercussão geral, será considerada a existência, ou não, de questões relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico, que ultrapassem os interesses subjetivos da causa”

Vê-se, pois, que embora se trate de um conceito amplo que adentra ao campo do

subjetivismo e do juízo de prelibação de cada ministro do STF, à existência ou o reconhecimento

da repercussão geral, fica condicionada a questões relevantes do ponto de vista econômico,

político, social e jurídico, que ultrapassem os interesses subjetivos da causa. Desse modo, ficam

de fora àquelas questões cujo deslinde somente interessa, em particular, às partes litigantes, isto

é, causas despidas de interesses extramuros.

Para Marinoni e Mitidiero:

existe repercussão geral no recurso extraordinário quando a causa constitucional nele debatida apresenta relevância e transcendência (art. 543-A, § 1º, CPC). Nosso código de Processo Civil refere que “haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar decisão contrária a súmula ou jurisprudência dominante do Tribunal” (art. 543-A,§ 3º, CPC – vale dizer, do Supremo Tribunal Federal). A relevância da causa deve ser aquilatada do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico. Basta que a causa seja relevante sob um desses pontos de vista. Não é necessário que o seja sob todos. Há relevância sob o ponto de vista jurídico, por exemplo, quando o acórdão recorrido toma por inconstitucional determinada norma infraconstitucional. A transcendência da controvérsia constitucional levada ao conhecimento do Supremo Tribunal Federal pode ser caracterizada tanto em uma perspectiva qualitativa como quantitativa. Na primeira, interessa para individualização da transcendência o importe da questão debatida para a sistematização e o desenvolvimento do direito; na segunda, o número de pessoas suscetíveis de alcance, atual ou futuro, pela decisão daquela questão pelo Supremo e, bem assim, a natureza do direito posto em causa. Observe-se que eventuais questões envolvendo a reta observância ou a frontal violação de direitos fundamentais, materiais ou processuais, tendo em conta a dimensão objetiva desses, apresentam a princípio transcendência. Constituindo os direitos fundamentais, objetivamente considerados, uma tábua mínima de valores de determinada sociedade em dado contexto histórico, cujo respeito interessa a todos, natural que se reconheça, num primeiro momento, a transcendência de questões envolvendo, por exemplo, afirmações concernentes a violações ou ameaças de violação das limitações ao poder constitucional de tributar, ou aos direitos fundamentais inerentes ao processo justo. São exemplos de transcendência qualitativa. Demandas que envolvem direitos individuais homogêneos, direitos coletivos e direitos difusos, tanto em seus aspectos materiais como processuais, também contam, em tese, com a nota da transcendência, mas já aí na perspectiva quantitativa.[2]

Marinoni e Arenhart afirmam que:

[ 2]MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel, Código de Processo Civil, comentado artigo por artigo. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2008, p.566

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a definição de “repercussão geral” deverá ser construída pela interpretação do STF. Contudo, é importante que se perceba que jamais será possível ao STF delinear, em abstrato e para todos os casos, o que é questão constitucional de repercussão geral, pois essa fórmula é dependente das circunstâncias concretas – sócias e políticas – em que a questão constitucional, discutida no caso concreto, está inserida.[3]

Humberto Theodoro Júnior prefere não mergulhar na conceituação desse novo requisito

deixando à própria lei a sua definição, ao dizer:

Por repercussão geral, a lei entende aquela que se origina de questões “que ultrapassem os interesses subjetivos da causa”, por envolver controvérsias que vão além do direito individual ou pessoal das partes. É preciso que, objetivamente, as questões repercutam fora do processo e se mostrem “relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico” (art. 543-A, § 1º).[4]

André Ramos Tavares afirma que a lei regulamentadora da repercussão geral, dispôs, de

maneira muito imprecisa, quanto ao que se deva entender por repercussão geral, que assim

“será considerada a existência, ou não, de questões relevantes do ponto de vista econômico,

político, social ou jurídico, que ultrapassem os interesses subjetivos da causa” (§ 1º do art. 543-

A).

Para esse autor o único caso identificado pontualmente pela lei como sendo caso de

repercussão geral será aquele em que o recurso extraordinário impugnar decisão contrária a

súmula ou jurisprudência do Tribunal (§ 3º do art. 543-A).[5]

Na abalizada opinião de Ernane Fidélis dos Santos:

não houve definição do que seja repercussão geral no texto constitucional, mas o novo art.543-A, em seu § 1º, restabeleceu a questão da relevância, com os qualificativos de dever ser ela apreciada, “... sob o aspecto econômico, político, social ou jurídico, que ultrapassem os interesses subjetivos da causa”. Em outras palavras, a repercussão geral exigida deve ser de molde a ter influência direta da norma constitucional, ferindo princípios básicos que, de modo geral, se relacionem com a própria organização do Estado e com a definição dos direitos fundamentais, principalmente.[6]

[ 3]MARINONI, Luiz Guilherme; Arenhart, Sérgio Cruz, Manual de Processo de Conhecimento, Ed. Rev. Dos Tribunais, p. 558, 4ª Ed. 2005. [ 4]THEODORO, Humberto Júnior, Curso de Direito Processual Civil, V.1, Forense, p.725, 48ª Ed.2008. [ 5]RAMOS, André Tavares, Curso de Direito Constitucional, p.342, Saraiva, 6ª Ed., 2008 [ 6]FIDÉLIS, Ernane dos Santos, Manual de Direito Processual Civil, p.689, Saraiva,12ª Ed., 2008

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Nessa primeira abordagem, com o fito de se vislumbrar na seara doutrinária uma possível

conceituação do que vem a ser repercussão geral, parece e tudo leva a crer, que haverá muito

debate a respeito dessa questão. O que é próprio, aliás, da natureza humana quando do

surgimento de um novo fenômeno, em especial, no campo da ciência do direito. E não será dessa

vez diferente, sendo suficiente a lembrança, para aguçar a memória, dos inúmeros debates a

respeito da argüição de relevância quando do seu surgimento no ordenamento pátrio, conforme

abordado acima.

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CAPÍTULO III

O PEDIDO E AS CAUSAS DE PEDIR

“Escolhi o caminho da fidelidade e decidi-me

pelos teus juízos” Salmos 119:30

3.1 - O Pedido

A doutrina, sem maiores divergências conceitua o Pedido como a dedução de uma

pretensão em juízo, identificando-o como o Objeto da Ação. O mestre José Frederico Marques

examinando esse elemento da ação a luz do Código de Processo Civil pretérito (Decreto-Lei nº

1.608, de 18/09/1939), assim o definiu:

no pedido que o autor formula sua pretensão para que o Estado declare a vontade concreta da lei destinada a disciplinar e regular a situação jurídica derivada do conflito de interesses, ou litígio. Em sentido estrito, pedido designa o objeto da ação, ou seja, a formulação do bem jurídico que o autor pretende obter. Por onde se verifica que no pedido, ou petitório, vem contido o objeto da ação, compreendendo a tutela jurisdicional invocada (objeto imediato) e o bem jurídico, material ou incorpóreo, que é alvo da pretensão (objeto mediato).[7]

Na mesma linha leciona o ilustrado ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Moacyr

Amaral Santos, para quem:

O Objeto da Ação é o pedido do autor (Cód. Proc. Civil, art. 282, IV), ou seja, o que ele solicita lhe seja assegurado pelo órgão jurisdicional. Ora, o autor pede uma providência jurisdicional que tutele um seu interesse, isto é, uma providência jurisdicional quanto a um bem pretendido, material ou imaterial. Assim, o objeto, isto é, o pedido (res, petitum) é imediato ou mediato. O pedido imediato consiste na providência jurisdicional solicitada: sentença condenatória, declaratória, constitutiva ou mesmo providência executiva, cautelar ou preventiva. O pedido mediato é a utilidade que se quer alcançar pela sentença, ou providência jurisdicional, isto é, o bem material ou imaterial pretendido pelo autor. Aqui será o recebimento de um crédito; ali, a entrega de uma coisa, móvel ou imóvel, ou o preço correspondente. Em tal ação será a prestação de um serviço ou a omissão de um ato; noutra, a dissolução de um contrato.[8]

[ 7] MARQUES, José Frederico, In Instituições de Direito Processual Civil, Forense, vol. III, p.38, 2ª Ed. 1962. [ 8]SANTOS, Moacyr Amaral, In Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, Saraiva, p.163/164, 1º vol. 1997.

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Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart, em obra conjunta, sustentam que o

pedido consiste naquilo que, em virtude da causa de pedir, postula-se ao órgão julgador.

Para esses ilustres autores, quando se alude ao pedido imediato, pensa-se na espécie de

sentença – e conseqüentemente no tipo de pedido – que é requerida ao órgão jurisdicional.

>esse sentido fala-se em pedido declaratório, pedido constitutivo, pedido condenatório, pedido

executivo e pedido mandamental.

Ao tratarem do pedido mediato dizem que ele representa o bem da vida pretendido pelo

autor. Assim, por exemplo, a declaração da certeza jurídica (sentença condenatória); a criação

de nova situação jurídica, a modificação de um contrato ou sua anulação (sentença constitutiva

ou desconstitutiva).[9]

O sempre lúcido e festejado José Carlos Barbosa Moreira, enfrenta o tema

argumentando que:

ao ajuizar a demanda, pede o autor ao órgão judicial que tome determinada providência: declare a existência ou a inexistência de uma relação jurídica, anule este o aquele ato jurídico, condene o réu a pagar tal ou qual importância, a praticar ou a deixar de praticar certo ato etc. Em termos gerais, é possível distinguir, no pedido, um objeto imediato e um objeto mediato. Objeto imediato do pedido é a providência jurisdicional solicitada (ex.: a condenação do réu ao pagamento de x); objeto mediato é o bem que o autor pretende conseguir por meio dessa providência (ex.: a importância x). O objeto imediato (de um pedido) é sempre único e determinado; não assim o mediato.[10]

O não menos ilustre Humberto Theodoro Júnior, ao abordar o tema, enfatiza que:

o núcleo da petição inicial é o pedido, que exprime aquilo que o autor pretende do Estado frente ao réu. É a revelação da pretensão que o autor espera ver acolhida e que, por isso, é deduzida em juízo. Como ensina Jacy de Assis, “o pedido é a conclusão da exposição dos fatos e dos fundamentos jurídicos; estes são premissão do silogismo, que tem no pedido a sua conclusão lógica.” Sua finalidade é dupla: obter a tutela jurisdicional do Estado (uma condenação, uma declaração, etc) e fazer valer um direito subjetivo frente ao réu. Assim, a manifestação inaugural do autor é chamada pedido imediato, no que se relaciona à pretensão a uma sentença, a uma execução ou a uma medida cautelar; e pedido mediato é o próprio bem jurídico que o autor procura proteger com a sentença (o valor do crédito cobrado, a entrega da coisa reivindicada, o fato a ser prestado etc). Destarte, o pedido imediato põe a parte em contato direto com o direito processual, e o imediato, com o direito substancial.

[ 9] Op.Cit, p. 92. [ 10]MOREIRA, José Carlos Barbosa, In O Novo Processo Civil Brasileiro, Forense, 20ª Ed. p. 10, 1999.

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O pedido põe em marcha o processo e, por isso, é o ato mais importante do autor, além disso delimita o objeto litigioso (a lide) e, conseqüentemente, fixa os limites do ato judicial mais importante, que é a sentença. Através do pedido, a parte invoca a tutela jurisdicional que deverá ser prestada através da sentença. É a forma, portanto, de exercitar o direito de ação.

Ele é dirigido contra o Estado, mas visa a atingir o réu em suas últimas conseqüências.[11]

Alexandre Freitas Câmara, por sua vez, diz que pedido, como se sabe, é o veículo da

pretensão manifestada pelo autor. Divide-se em pedido imediato (um provimento jurisdicional,

que no processo de conhecimento é a sentença de mérito) e pedido mediato, que corresponde à

tutela de um bem da vida.

Continua o emérito doutrinador: Trata-se de elemento cuja importância para o

processo é extrema, já que o pedido delimita o objeto do processo. Julgar o pedido, como se

afirmou anteriormente, é julgar o próprio meritum causae.[12]

3.2 - A Causa de Pedir

Esses mesmos autores ao se manifestarem a respeito da causa petendi esboçam

pensamentos harmônicos em relação a esse elemento, resguardando-se naturalmente o estilo de

cada um e a maneira de descrevê-lo e de conceituá-lo.

Debatendo o assunto, a luz do antigo código de ritos (Decreto-Lei nº 1.608, de

18/09/1939), Frederico Marques aduz que duas correntes se formaram para identificar a causa

petendi: a da substanciação (Substantiierungstheorie), que sustenta ser necessária a alegação

do fato constitutivo do pedido, e a da individualização (individualisierungstheorie), para a qual

é bastante a relação de direito afirmada pelo autor, para se individualizar a ação.

Complementando seu pensamento, aduz que: em nossa legislação, foi adotada a teoria

da substanciação, pois o art. 158, nº III, do Cód. De Proc. Civil, ao tratar da causa petendi a ser

exposta na petição escrita com que se propõe a ação, menciona expressamente o fato (causa

remota) e os fundamentos jurídicos do pedido (causa próxima).Para em seguida afirmar: A causa

petendi, ou título do pedido, é o elemento causal da ação a que se refere o art. 158, nº III, do

Cód. De Proc. Civil, quando manda que se indiquem na petição inicial “o fato e os fundamentos

jurídicos do pedido”. Deixando, entretanto, claro a sua predileção pela primeira corrente: A

doutrina da substanciação é assim a que vigora em nosso direito.[13]

[ 11] Op.Cit, p.417. [ 12] CÂMARA, Alexandre Freitas, In Lições de Direito Processual Civil, Ed. Lumen Juris, 8ª Ed. Vol. I, p.315/316, 2002. [ 13] Op.Cit, p. 26 (vol.II), p. 208 (vol.III)

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Valendo lembrar, que o espírito do dispositivo revelador da teoria da substanciação

contido no antigo Código (Decreto-Lei nº 1.608, de 18/09/1939), em seu art. 158, nº III, mutatis

mutandis, a rigor, permaneceu intocável pela legislação superveniente, isto é, pelo atual Código

(Lei nº 5.869, de 11/01/1973), em seu artigo 282, III. Vejamos:

Naquele se lia:

“Art. 158. A ação terá início por petição escrita, na qual, delimitados os termos do seu objeto, serão indicados: I – omissis; II – omissis; III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido, expostos com clareza e precisão, de maneira que o réu possa preparar a defesa;”

Enquanto no vigente CPC, se lê:

Art. 282. A petição inicial indicará: I – omissis; II – omissis; III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;

Como se pode observar, nada foi alterado em termos substanciais no campo teórico,

continuou o nosso Direito a dar prevalência à teoria da substanciação. E quanto a isso não há

divergências doutrinárias e nem jurisprudenciais, a ponto de se mudar o rumo das coisas

estabelecidas.

O professor Amaral Santos referindo-se ao atual CPC, aduz que:

ao pedido deve corresponder uma causa de pedir (causa petendi). A quem invoca uma providência jurisdicional quanto a um bem pretendido, cumpre dizer no que se funda o seu pedido. Conforme as palavras da lei (Cód. Proc. Civil, art. 282, III), insta ao autor expor na inicial os fatos e os fundamentos jurídicos do pedido, na fundamentação está a causa de pedir. Chama-se a atenção para o texto da lei. O Código exige que o autor exponha na inicial o fato e os fundamentos jurídicos do pedido. Por esse modo faz ver que na inicial se exponha não só a causa próxima – os fundamentos jurídicos, a natureza do direito controvertido -, como também a causa remota – o fato gerador do direito.[14]

Marinoni e Arenhart dizem que na petição inicial o autor apresenta uma causa que

deve justificar o pedido que é dirigido ao órgão jurisdicional. Trata-se da causa de pedir, ou

seja, das razões fática e jurídicas que justificam o pedido.

[ 14] Op.Cit, p.164, 1º vol.

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Afirmam ainda que: É correto dizer que o autor deve afirmar um fato e apresentar o

seu nexo com um efeito jurídico. O autor, em outras palavras, narra o fato que constitui o

direito por ele afirmado.

E arrematam, para concluir, que quando se fala em fato com repercussão em esfera

jurídica, alude-se a uma causa de pedir.[15]

Barbosa Moreira observa que todo pedido tem uma causa. Identificar a causa é

responder à pergunta: por que o autor pede tal providência? Ou, em outras palavras: qual o

fundamento de sua pretensão?

Diz o aludido autor: Constitui-se a causa petendi do fato ou do conjunto de fatos a que

o autor atribui a produção do efeito jurídico por ele visado. As mais das vezes, podem

distinguir-se um aspecto ativo e um aspecto passivo na causa petendi; por exemplo, se o autor

reclama a restituição de quantia emprestada, a causa petendi abrange o empréstimo, fato

constitutivo do direito alegado (aspecto ativo), e o não pagamento da dívida no vencimento, fato

lesivo do direito alegado (aspecto passivo). E outra passagem adverte ao dizer que cada fato ou

conjunto de fatos suscetível de produzir, por si, o efeito jurídico pretendido pelo autor constitui

uma causa petendi.[16]

Humberto Theodoro, a seu turno, leciona que:

a causa petendi, por sua vez, não é a norma legal invocada pela parte, mas o fato jurídico que ampara a pretensão deduzida em juízo. Todo direito nasce do fato, ou seja, do fato a que a ordem jurídica atribui um determinado efeito. A causa de pedir, que identifica uma causa, situa-se no elemento fático e em sua qualificação jurídica. Ao fato em si mesmo dá-se a denominação de “causa remota” do pedido; e à sua repercussão jurídica, a de “causa próxima” do pedido[17]

Alexandre Câmara diz:

a necessidade de indicação da causa de pedir vem expressa no art. 282, III, do CPC, que fala em fatos e fundamentos jurídicos do pedido. Os fatos a que se refere a norma são os que compõem a causa de pedir próxima, ou seja, os fatos que – segundo a descrição do demandante – lesaram ou ameaçaram o direito de que o mesmo afirma ser titular. Já os fundamentos jurídicos são, em verdade, a causa de pedir remota, ou seja, o título (o fato constitutivo) do direito afirmado pelo autor. É absolutamente desnecessária a indicação dos dispositivos legais onde o autor foi buscar os fundamentos para embasar sua demanda, já que iura novit curia (o juiz conhece o direito).[18]

[ 15] Op.Cit, p.90/91 [ 16] Op.Cit, p.15/16 [ 17] Op.Cit, p.76/77 [ 18] Op.Cit, p.315

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3.3 - A Causa de Pedir Recursal

Via de regra as características do Pedido e a Causa de Pedir, em se tratando de Processo

de Conhecimento, são as mesmas atinentes ao Recurso, lato sensu, na seara da teoria geral dos

recursos.

No primeiro caso, trata-se de inauguração de uma demanda onde está exposta

determinada pretensão que o autor leva ao conhecimento do Estado para que este, por intermédio

de um órgão investido de jurisdição, dirima. Já que o demandante tem como certo que aquele

direito a ser apreciado lhe pertence.

Nesse caso, como já foi visto linhas acima, estudando o pedido e a causa de pedir, no

processo de conhecimento, é naquele (o pedido) que o autor formula a sua pretensão para que o

Estado declare a vontade concreta da lei destinada a disciplinar e regular a situação jurídica

derivada do conflito de interesses, ou litígio. Consoante autorizado magistério de José Frederico

Marques[19]

A doutrina assim distingue o pedido em dois tipos, mediato e imediato, para dizer, que no

primeiro:

é a utilidade que se quer alcançar pela sentença, isto é, o bem material ou imaterial pretendido pelo autor. Aqui será o recebimento de um crédito. Enquanto no segundo, trata-se de providência jurisdicional solicitada: sentença condenatória, declaratória, constitutiva ou mesmo providência, cautelar ou preventiva, conforme Moacyr Amaral Santos[20]. Assim a manifestação inaugural do autor é chamada pedido imediato, no que se relaciona à pretensão a uma sentença, a uma execução ou a uma medida; e pedido mediato é o próprio bem jurídico que o autor procura proteger com a sentença (o valor do crédito cobrado, a entrega da coisa reivindicada, o fato a ser prestado...), ensina Humberto Theodoro Júnior[21] (...)pedido, como se sabe, é o veículo da pretensão manifestada pelo autor. Divide-se em pedido imediato (um provimento jurisdicional, que no processo de conhecimento é a sentença de mérito) e pedido mediato, que corresponde à tutela de um bem da vida. Trata-se de elemento cuja importância para o processo é extrema, já que o pedido delimita o objeto do processo. Julgar o pedido, como se afirmou anteriormente, é julgar o próprio meritum causae, na dicção de Alexandre Freitas Câmara[22]

[ 19] Op.Cit, pág. 38, vol. III [ 20] Op.Cit, págs. 163/164, 1º vol. [ 21] Op.Cit, pág. 417 [ 22] Op.Cit, págs. 315/316

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Em relação a causa petendi, dizem Marinoni e Arenhart, ela nada mais é do que as razões

fáticas e jurídicas que formam a base do petitum do autor. É correto dizer que o autor deve

afirmar um fato e apresentar o seu nexo com um efeito jurídico. O autor, em outras palavras,

narra o fato que constitui o direito por ele afirmado (…) quando se fala em fato com

repercussão em esfera jurídica, alude-se a uma causa de pedir.[23]

A doutrina, como já visto, identifica na causa de pedir dois momentos: o primeiro é o da

causa remota, onde o autor menciona expressamente os fatos, vale dizer, o fato gerador do

pedido; e o segundo é o da causa próxima, onde reside os fundamentos jurídicos do pedido, ou

seja, a natureza do direito controvertido, consoante a escorreita dicção do professor Amaral

Santos.

Partindo para o exame direto da causa de pedir recursal ao tratar do error in procedendo

e do error in iudicando, dos quais somente deste último vamos nos ocupar, Fredie Didier Jr. e

Leonardo José Carneiro da Cunha, com precisão cirúrgica, lecionam em destaque:

Como qualquer demanda, o recurso tem a sua causa de pedir. A causa de pedir recursal compõe-se do fato jurídico apto a autorizar a reforma, a invalidação, a integração e o esclarecimento da decisão recorrida (…) cumpre concentrar-se nos fatos jurídicos capazes de gerar a reforma (error in iudicando)... Chama-se de error in iudicando o equívoco de juízo. Denuncia-se, por meio da impugnação (…) Trata-se de um “erro na declaração dos efeitos jurídicos substanciais e processuais: erro pelo qual o juiz desconhece efeitos jurídicos que a lei determina para a espécie em julgamento ou, ao contrário, reconhece existentes efeitos jurídicos diversos daqueles”. É um dado que investiga no conteúdo da decisão: o juiz decidiu mal, apreciou mal aquilo que lhe foi submetido para ser decidido. Trata-se de fato jurídico que enseja a reforma da decisão recorrida. O objeto do juízo de mérito, no recurso, identifica-se (ao menos qualitativamente) com o objeto da atividade cognitiva no grau inferior de jurisdição”. Não se pode confundir error in iudicando com erro na apreciação do mérito da causa(...)

E arrematando dizem:

errores in iudicando, relacionam-se com a substância ou com o conteúdo da decisão. Neste caso, o juiz cometeu uma injustiça ou julgou equivocadamente, não aplicou a norma correta ao caso (seja ela processual ou material), interpretou de maneira desconforme com as regras de hermenêutica ou não valorou corretamente a prova; enfim, quando ocorre error in iudicando significa que o juiz errou no julgamento. Trata-se de um erro de fundo.[24](grifo e destaque nossos).

[ 23] Op.Cit. Págs. 90/91 [ 24] DIDIER, Fredie Jr. e CUNHA, Leonardo José Carneiro da, Curso de Direito Processual Civil, p.72/74, vol. 3, 7ª Edição, Ed. JusPodivm, 2009.

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Nesse ponto, são elucidativas as lições de Barbosa Moreira concernentes ao error in

iudicando, as quais serão em tempo oportuno abordadas.

O importante é que, em se tratando de causa de pedir recursal em sede de controle difuso,

o Supremo Tribunal Federal analise os fundamentos da postulação nela postos e, não somente os

dispositivos que estão sob ataque na via do recurso extraordinário, os quais se visa impugnar,

pois, o que eles (preceitos questionados) retratam, a nosso ver, condiz tão-somente ao pedido.

Atente-se para o fato de que pode ainda o Supremo Tribunal Federal, mesmo em se

tratando de apreciação de recurso extraordinário inerente a via de controle difuso de

constitucionalidade, vir a apreciar um recurso, excepcionalmente, sob o ângulo da chamada

causa de pedir aberta. E assim examinar o tema posto na exordial, de modo a fazer com que a sua

decisão alcance certas disposições não ventiladas ou agitadas pelo recorrente, desde que tais

disposições guardem estreita correlação com os preceitos que se quer impugnar. É o que se viu

na discussão travada no recurso extraordinário 298.694-1/SP, da relatoria do ex-ministro

Sepúlveda Pertence, que acabou se transformando em leading case ilustrativo da causa de pedir

aberta, que é própria do controle concentrado (www.stf.jus.br acesso em 12/09/2009).

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CAPÍTULO IV

FACES E EFEITOS DOS RECURSOS

José Carlos Barbosa Moreira, ao discorrer sobre o conceito e a classificação dos recursos

afirma que:

não fica circunscrita, em regra, a um único pronunciamento a apreciação, pelo organismo investido da função jurisdicional, da matéria que lhe compete julgar. Com o propósito de assegurar, na medida do possível, a justiça das decisões, contempla a lei a realização de dois ou mais exames sucessivos, ao passo que, por outro lado, a fim de evitar que se sacrifique a necessidade de segurança, cuida de limitar o número das revisões possíveis. (…) O exercício do direito de impugnação pode atuar de dois modos diferentes. No comum dos caso, ele tem como conseqüência fazer prosseguir o processo que até então vinha correndo, em geral com deslocamento da competência: do órgão que proferiu a decisão (órgão a quo) passa o feito àquele a que incumbe o reexame (órgão ad quem). Chamam-se recursos os meios de impugnação que assim atuam. Como, entretanto, o processo deve necessariamente terminar mais cedo ou mais tarde, são limitadas as possibilidades de impugnação por essa via. A lei trata de circunscrever o número de recursos utilizáveis, subordinando-os, ademais, a determinados requisitos de admissibilidade. (…) concebe-se que as decisões judiciais em geral (e não apenas as sentenças, como restritivamente diz o art. 505) sejam objeto de impugnação “no todo ou em parte”. A rigor, nem sempre é possível impugnar a decisão toda; a lei às vezes restringe o conteúdo impugnável (…) A variável extensão da matéria impugnada permite distinguir entre recurso total e recurso parcial. Deve-se considerar-se total o recurso que abrange todo o conteúdo impugnável da decisão recorrida (não necessariamente o seu conteúdo integral) … Classificar-se-á como parcial o recurso que, em virtude de limitação voluntária, não compreenda a totalidade do conteúdo impugnável da decisão. (…) A distinção entre recursos ordinários e recursos extraordinários, a que faz referência o art. 467, parte final, não tem no ordenamento brasileiro relevância teórica nem prática. A rigor, não existe entre nós uma classe de recursos a que se possa aplicar a denominação genérica de extraordinários: há, sim, um recurso assim denominado (v. Infra, § 25), que tem – como, aliás, todos eles – as suas peculiaridades, mas insuficientes para fundamentar uma classificação de valor científico. À semelhança dos outros, o recurso extraordinário obsta, quando admissível, ao trânsito em julgado da decisão, consoante resulta da disposição expressa do próprio art. 467.

Adentrando na seara dos juízos de admissibilidade e mérito do recurso diz que a

impugnação de decisão judicial por meio de recurso submete-se a exame sob dois ângulos

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diversos. Primeiro, cumpre verificar se estão satisfeitas as condições impostas pela lei para que

se possa apreciar o conteúdo da postulação (juízo de admissibilidade).

Aduz em seguida: depois, e desde que o resultado tenha sido positivo – isto é, que o

recurso seja admissível -, cumpre decidir a matéria impugnada através deste, para acolher a

impugnação, caso fundada, ou rejeitá-la, caso infundada (juízo de mérito).

Adiante diz o mestre que:

o juízo de admissibilidade é, sempre e necessariamente, preliminar ao juízo de mérito. Negada que seja a admissibilidade do recurso, não há que se investigar se ele é fundado ou não. Por outro lado, se o órgão ad quem apreciou o conteúdo da impugnação, que lhe haja reconhecido fundamento, que não, terá julgado o recurso no mérito. Pode acontecer que, por defeito de técnica, o órgão ad quem, ao proferir sua decisão, diga que não conheceu de um recurso por entender infundada a impugnação, apesar de satisfeitos todos os requisitos de admissibilidade. Corrige-se o equívoco por via de interpretação: a decisão do órgão ad quem, erroneamente rotulada como de não-conhecimento, deve ser interpretada como de não-provimento, e assim tratada para todos os efeitos práticos.

A respeito dessa atecnia, a que Barbosa Moreira alude, há um excelente artigo de sua

autoria que exemplifica, de forma pedagógica, o emprego correto dos termos não-conhecimento

e não-provimento, por ocasião de julgamento de uma decisão pelo órgão ad quem, que vale a

pena ser lido devido a primorosa lição que o mesmo encerra.

dá razão ao recorrente diz respeito, por definição, ao mérito do recurso. Julgar um recurso no mérito nada mais significa, exatamente, que apurar se o recorrente tem ou não razão e, em conseqüência, merece ou não atendimento no que pleiteia. Trata-se da última etapa da atividade cognitiva do órgão ad quem: nada mais se concebe que ele tenha ainda de examinar. Concluindo que o recorrente tem razão, o órgão ad quem dá provimento ao recurso; concluindo que ele não atem, nega provimento ao recurso. Para que o órgão ad quem possa legitimamente atingir essa última etapa de sua atividade cognitiva, é preciso que concorram todos os requisitos de que depende a admissibilidade do recurso. Quando o órgão ad quem controla a presença ou a ausência de tais requisitos, ele o faz para verificar não se o recorrente tem ou não tem razão, mas, exclusivamente, se lhe é lícito (a ele, órgão ad quem) chegar a verificar se o recorrente a tem ou não a tem. Esse é o juízo de admissibilidade, que se põe como preliminar em relação ao juízo de mérito, no sentido de que, sendo negativo o resultado do primeiro (por faltar ao menos um dos requisitos), o órgão ad quem encerra o julgamento sem passar ao segundo; e, sendo positivo o resultado do primeiro (por se acharem presentes todos os requisitos), o órgão ad quem passa ao segundo – sem que fique de modo algum predeterminado o desfecho deste, pois o recorrente tanto pode ter razão quanto não a ter. Negativo que seja o juízo de admissibilidade, o órgão ad quem não conhece do recurso, com o que nada diz sobre faltar ou assistir razão ao recorrente; positivo que seja aquele juízo, o órgão ad quem conhece do recurso, ou para dar-lhe provimento, se entender que assiste razão ao recorrente, ou para negar-lhe provimento, no caso contrário. No julgamento do recurso, portanto, a alternativa

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inicial é conhecer ou não conhecer dele; na segunda hipótese (recurso não conhecido), encerra-se o julgamento; na primeira (recurso conhecido), abre-se nova alternativa, desta vez entre prover e não prover o recurso. É inconcebível que o órgão ad quem se veja diante da alternativa não conhecer do recurso ou provê-lo. Seria uma opção entre termos heterogêneos. Se ela (aparentemente) se põe ao órgão ad quem, é sinal de que a equação não está corretamente armada. Não tem sentido pedir a alguém que escolha entre não ler um livro e gostar dele: a escolha tem de ser, inicialmente, entre lê-lo e não o ler; depois (e só no caso de ler-se o livro), entre gostar e não gostar dele. “Não li e não gostei” é frase jocosa, é pilhéria sem compromisso com a lógica(...)[25]

Ainda sob o foco do juízo de admissibilidade do recurso, agora tratando de seus

requisitos, o referido autor os classifica em intrínsecos (atinentes à própria existência do direito

de recorrer) e em extrínsecos (concernentes ao exercício daquele direito), passando a enumerá-

los, respectivamente: Cabimento, Legitimação para recorrer, Interesse em recorrer, Inexistência

de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer; tempestividade, regularidade formal e

preparo.

Já, em ralação ao juízo de mérito o eminente jurista em Novo Processo Civil Brasileiro,

aqui já citado, diz que:

Objeto do juízo de mérito é o próprio conteúdo da impugnação à decisão recorrida. Quando nela se denuncia vício de juízo (error in iudicando, resultante de má apreciação da questão de direito, ou da questão de fato, ou de ambas), pedindo-se em conseqüência a reforma da decisão, acoimada de injusta, o objeto do juízo de mérito, no recurso, identifica-se (ao menos qualitativamente) com o objeto da atividade cognitiva no grau inferior de jurisdição, com a matéria neste julgada. Quando se denuncia vício de atividade (error in procedendo), e por isso se pleiteia a invalidação da decisão, averbada de ilegal, o objeto do juízo de mérito, no recurso, é o julgamento mesmo, proferido no grau inferior. Ao examinar o mérito do recurso, verifica o órgão ad quem se a impugnação é ou não fundada (procedente) e, portanto, se lhe deve ou não dar provimento, para reformar ou anular, conforme o caso, a decisão recorrida. Ainda quando se denuncia error in iudicando, pode o objeto do juízo de mérito, no recurso, coincidir com o objeto do juízo sobre o mérito da causa, em grau inferior de jurisdição (v.g., quando o tribunal conhece de apelação tendente à reforma de sentença definitiva), ou consistir em matéria estranha ao mérito da causa (v.g., quando o tribunal conhece de agravo contra decisão processual). Nas hipótese de recurso interposto contra decisão denegatória de outro, o objeto do juízo de mérito, no segundo recurso, é constituído por questão relativa à admissibilidade do primeiro recurso: por exemplo, quando o Supremo Tribunal Federal conhece de agravo contra o indeferimento do recurso extraordinário pelo presidente de outro tribunal. Ainda nesses casos, todavia, subsiste nítida, em relação a cada recurso, considerado per se, a distinção entre juízo de admissibilidade e o de mérito: o Supremo Tribunal Federal pode, v.g., não conhecer do agravo, digamos por intempestivo, e em tais condições não lhe

[ 25] MOREIRA, José Carlos Barbosa, In Recursos no Superior Tribunal de Justiça, Juízo de admissibilidade e juízo de mérito no julgamento do recurso especial, Saraiva, p.163/170,1991.

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apreciará o mérito, isto é, a admissibilidade do recurso extraordinário indeferido. [26]

Didier Jr e Leonardo da Cunha, conceituando recurso fazem algumas anotações sobre o

seu conceito ao dizerem que este não pertence à teoria geral do processo:

Trata-se de conceito jurídico-positivo, que depende, pois, do exame de um dado ordenamento jurídico. A teoria geral do processo tem por objeto o estudo da decisão judicial, mas a criação dos meios de impugnação dessa decisão e o delineamento de suas características são tarefas do direito positivo. É por isso que, no direito brasileiro, recurso é remédio voluntário, o que exclui do âmbito de incidência do seu conceito a remessa voluntária (…) o recurso prolonga o estado de litispendência, não instaura processo novo. É por isso que estão fora do conceito de recurso as ações autônomas de impugnação, que dão origem a processo novo para impugnar uma decisão judicial (ação rescisória, mandado de segurança contra ato judicial, reclamação constitucional, embargo de terceiro etc.). O recurso é “simples aspecto, elemento, modalidade ou extensão do próprio direito de ação exercido no processo”. O direito de recorrer é conteúdo do direito de ação (e também do direito de exceção), e o seu exercício revela-se como desenvolvimento do direito de acessoa aos tribunais.

E os mestres fecham o tópico, afirmando de modo categórico com a percuciência de

sempre: O direito de recorrer é um direito potestativo processual, tendo em vista que objetiva

alterar situações jurídicas, invalidando, revisando ou integrando uma decisão judicial[27]

Em magistral lição erudita, Gabriel José Rodrigues de Rezende Filho, ensina que:

Etimologicamente, recurso, do latim – recursus, significa o ato de alguém voltar, correndo, para o lugar de onde, também correndo, saíra. Neste sentido, refluxo ou recurso da maré são têrmos sinônimos. A locução maris cursus et recursus foi empregada por Plínio e traduz-se, indiferentemente, por fluxo e refluxo ou curso e recurso do mar. Significa também remédio, moral ou físico: os desgraçados recorrem a Deus, os doentes ao médico, os lutadores à fôrça (…) Em direito, porém, recurso tem sentido próprio. Na acepção técnica e restrita, recurso é o meio de provocar, na mesma ou na superior instância, a reforma ou a modificação de uma sentença desfavorável. Psicològicamente, o recurso corresponde a uma irresistível tendência humana. Ninguém, via de regra, se conforma com o juízo ou parecer do primeiro árbitro ou censor. Todos procuram recorrer e outras opiniões ou julgamentos. Ademais, ninguém é perfeito: o êrro é próprio da humanidade. E com o êrro deve-se ter em conta a possibilidade da corrupção. Esta convicção geral sôbre a falibilidade dos julgamentos humanos foi a fôrça criadora dos recursos judiciários. A origem dos recursos, em suma, assenta em duas razões de ordem geral:

[ 26] Op.Cit, 113/122. [ 27] Op.Cit, p.19/20

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a) a reação natural do homem, que não se sujeita a um único julgamento; b) a possibilidade de êrro ou má-fé do julgador.(sic)[28]

Efeitos no Recurso Extraordinário

Tratou-se, pois, nos capítulos anteriores de tópicos importantes tais como: O Pedido e as

Causas de Pedir e as Faces dos Recursos, a fim de dar ensejo ao exame de um outro tópico de

igual relevância, relacionado a alguns efeitos atribuídos aos recursos.

Neste capítulo, a investigação se ocupará somente de dois efeitos atribuídos aos recursos:

o efeito devolutivo e o efeito translativo. Suficientes para subsidiar, no que interessa, este

trabalho.

Sobre o efeito devolutivo, José Carlos Barbosa Moreira diz que:

A exata configuração do efeito devolutivo é problema que se desdobra em dois: o primeiro concerne à extensão do efeito, o segundo à sua profundidade. Delimitar a extensão do efeito devolutivo é precisar o que se submete, por força do recurso, ao julgamento do órgão ad quem; medir-lhe a profundidade é determinar com que material há de trabalhar o órgão ad quem para julgar...

Em relação ao recurso extraordinário diz o jurista:

O recurso extraordinário tem efeito devolutivo limitado “a questão federal” suscitada. Não investe o Supremo Tribunal Federal de cognição quanto à matéria de de fato, que já não comporta reexame, nem quanto a outras quaestiones iuris que não se contenham no âmbito fixado ao recurso pela Constituição. De acordo, porém, com a jurisprudência da Corte, é possível conhecer-se de recurso extraordinário por fundamento diverso do invocado, desde que enquadrável também na moldura constitucional. Assim, v.g., mesmo que o se tenha baseado na divergência jurisprudencial (letra d), o recurso pode ser conhecido e eventualmente provido por ofensa do acórdão recorrido à Lei Maior (letra a). Note-se, contudo, que o Supremo Tribunal Federal, em conhecendo do recurso, não se restringe a censurar o acórdão recorrido, mas, fixando a tese jurídica correta, aplica-a à espécie. [29]

Marinoni e Arenhart, ao tratarem dos efeitos dos recursos especial e extraordinário,

dizem que:

Os recursos extraordinário e especial têm apenas efeito devolutivo, não se lhes atribuindo, ex lege, o efeito suspensivo (art. 542, § 2º, do CPC). Assim, ainda

[ 28] FILHO, Gabriel José Rodrigues de Rezende, Curso de Direito Processual Civil, p. 77/78, vol. III, Saraiva, 5ª Edição, 1960. [ 29] MOREIRA, José Carlos Barbosa, In Comentários ao Código de Processo Civil, Forense, Vol. V, p. 334, 1974.

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que interposto qualquer desses recursos (ou mesmo ambos) não impede a “execução provisória” da sentença (ou do acórdão) recorrida (art. 497 do CPC). Entretanto, para evitar grave dano irreparável ou de difícil reparação, vem sendo admitido o uso de ações cautelares para dar efeito suspensivo a recurso especial ou a recurso extraordinário, ou mais precisamente para suspender os efeitos das decisões impugnadas por esses recursos(...). O efeito devolutivo de que são dotados, por outro lado, é restrito à matéria constitucional ou legal de competência do respectivo tribunal. Dessa forma, o Supremo Tribunal Federal, no exame do recurso extraordinário, limitar-se-á a examinar a questão constitucional controvertida no recurso, sem estender sua análise a outros temas – ainda que constitucionais, e ainda que presentes no julgamento recorrido. Também não se devolve ao tribunal superior o exame de questões de fato. Não é função desses tribunais, na análise dos recurso especial e extraordinário, avaliar fatos ou provas de fatos, mas apenas questões de direito. Outrossim, não têm os recursos em tela o chamado efeito translativo. Vale dizer que os tribunais superiores, no exame dos recursos especial e extraordinário, não podem examinar questões de ordem pública, salvo se tiverem sido prequestionadas no julgamento recorrido.

No tocante ao efeito translativo dos recursos, a opinião que predomina é a de que tal

efeito se opera ainda que sem expressa manifestação de vontade do recorrente.

O efeito translativo é ligado à matéria que compete ao Judiciário conhecer em qualquer

tempo ou grau de jurisdição, ainda que sem expressa manifestação das partes. Assim pensam,

Marinoni e Arenhart, muito embora, estejam se referindo, especificamente, as questões

enumeradas no art. 301 do CPC, dentre as quais se encontra a Coisa Julgada (inciso VI), uma vez

que afastam desse efeito os recursos especial e extraordinário, conforme acima mencionado [30]

Veja-se, pois, a perfeita simbiose e a inter-relação entre o Pedido, a Causa de Pedir (no

processo de conhecimento e na fase recursal) e os efeitos do recurso, incluindo aí, o

extraordinário.

Assim é que no Pedido (objeto de uma ação de conhecimento ou em um recurso), o autor

ou o recorrido/recorrente fixam os seus limites, ou seja, pedem providências para que lhes sejam

assegurado pelo órgão jurisdicional determinado direito consistente em um bem jurídico.

De imediato, pedem uma providência consubstanciada em um título: no primeiro grau

denomina-se de sentença, no segundo grau de acórdão, visando a utilidade que se quer alcançar

pela sentença ou acórdão. Tudo isto, postulam eles, em virtude da causa de pedir ou da causa de

pedir recursal, seja qual for a natureza do título a ser emanado.

É na essência dessas causas de pedir que residem o fato (causa remota) e os

fundamentos jurídicos do pedido (causa próxima). É de se concluir que é na causa petendi

(recursal ou de conhecimento) já que ela representa o título do pedido, onde se vai encontrar o

[ 30] Op.Cit. p. 523 e 558/559.

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elemento causal da Ação ou do Recurso, sendo necessário que se alegue o fato constitutivo do

pedido, nos molde da teoria da substanciação abraçada pelo nosso Código de Ritos.

Destarte é de se perquirir, tendo como base agora os efeitos do recurso, a extensão que se

lhe deva dar, ou seja, o que está sendo submetido efetivamente ao conhecimento do órgão ad

quem.

O segundo passo é mensurar a sua profundidade, depositando nas mãos daquela instância

o tipo de material que ela irá trabalhar, visando a proferir sobre ele um julgamento consoante o

brocardo tantum devolutum quantum appellatum vel appelari debat . Levando-se em conta,

naturalmente, na análise do recurso, o efeito translativo a fim de que o tribunal em qualquer

circunstância o examine, já que tal efeito é inerente a qualquer espécie recursal na dicção de

Marinoni e Arenhart.

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CAPÍTULO V

A CO�TROVÉRSIA

Demonstrou-se, em capítulo próprio dedicado ao exame do conceito da repercussão geral,

que a sua existência ou não ficará na dependência da demonstração, pelo recorrente, de questões

relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico, que ultrapassem os

interesses subjetivos da causa.

Na nova sistemática adotada para o recurso extraordinário, tendo em vista a existência ou

não do requisito objetivo da repercussão geral em conformidade com o seu conceito, observar-

se-á os seguintes procedimentos, advindo, naturalmente conseqüências, por exemplo:

Diz a Lei Maior que no recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a

repercussão geral das questões discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal

examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de

seus membros. (art. 102, § 3º, na redação da EC nº 45/2004). Aqui se trata de um quorum

qualificadíssimo, exigindo-se a presença de oito ministros.

Por sua vez, encontra-se disciplinado no Código de Processo Civil que o Supremo

Tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não conhecerá do recurso extraordinário quando a

questão constitucional nele versada não oferecer repercussão geral, nos termos deste artigo.

Cabendo ao recorrente demonstrar, em preliminar do recurso, para apreciação exclusiva do

Supremo Tribunal Federal, a existência da repercussão geral. (Art. 543-A, caput e § 2º,

acréscimo dado pela Lei nº 11.418/2006).

Já na seara do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, lê-se que o Tribunal

recusará recurso extraordinário cuja questão constitucional não oferecer repercussão geral. (art.

322 – ER nº 21/2007).

Daí se infere, prima facie, que é ônus exclusivo do recorrente ao aparelhar o recurso

extraordinário, nele inserir preliminarmente, aquele requisito (regularidade formal). Só assim o

recurso poderá ser apreciado.

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De outra feita, em caso de inexistência desta preliminar nas razões do recurso, é de se

concluir, em conseqüência, que este não será admitido pelo órgão de origem em razão de sua

ausência.

Didier Jr. e Leonardo da Cunha elucidam tal dúvida:

Se, nas razões do recurso, não houver demonstração de repercussão geral, não cabe o recurso, podendo não ser admitido, inclusive, pelo Presidente ou Vice do tribunal local. Este último não estará dizendo que não há repercussão geral; estará, apenas, observando o descumprimento de um requisito de admissibilidade relacionado à regularidade formal. [31]

É o que se observa, em excerto do voto, no julgamento do agravo regimental no agravo

de instrumento nº 726.269-8/RJ, da relatoria do ministro Eros Grau, realizado em 11/11/2008,

verbis:

II – Recurso extraordinário: repercussão geral: juízo de admissibilidade: competência. 1. Inclui-se no âmbito do juízo de admissibilidade – seja na origem, seja no Supremo Tribunal – verificar se o recorrente, em preliminar do recurso extraordinário, desenvolveu fundamentação específica voltada para a demonstração, no caso concreto, da existência da repercussão geral (C. Pr. Civil, art. 543-A, § 2º; RISTF, art. 327), acesso ao sítio do STF em 12/09/2009.

Na mesma linha, o voto proferido pelo presidente do STF, ministro Gilmar Mendes,

quando da apreciação dos embargos de declaração no agravo de instrumento nº 718.395-9/SP,

verbis:

a decisão agravada apontou, acertadamente, a ausência da preliminar da repercussão geral, na petição de recurso extraordinário interposto de decisão cuja publicação se deu após 3.5.2007, data da publicação da da Emenda Regimental nº 21. A legislação sobre o instituto enfatiza a necessidade de que a argumentação desenvolvida pelo recorrente seja apresentada em preliminar formal e fundamentada na petição do recurso extraordinário. A ausência dessa preliminar formal de repercussão geral permite que a Presidência do Supremo Tribunal Federal, negue, liminarmente, o processamento do recurso extraordinário, bem como do agravo de instrumento interposto contra a decisão que não o admitiu na origem, inviabilizando a análise de mérito do apelo extremo (arts. 543-A, § 2º do Código de Processo Civil, 13, V, c, e 327, caput, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal), acesso ao sítio do STF em 12/09/2009.

[ 31] Op.Cit.p. 332

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Vê-se, ainda que, uma vez cumprido preliminarmente e aceito esse requisito formal

obrigatório, em caso positivo de sua constatação, o órgão fracionário do STF que decidir por sua

existência por, no mínimo, 4 (quatro) votos, ficará dispensado de remeter o recurso ao Pleno.

(art. 543-A, § 4º do CPC).

Diz ainda o texto que, negada a existência da repercussão geral, a decisão valerá para

todos os recursos sobre matéria idêntica, que serão indeferidos liminarmente, salvo revisão de

tese, tudo nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal.(art. 543-A, § 5º, do

CPC).

A lei prevê, contudo, a manifestação de terceiros (obviamente, interessados no deslinde

da controvérsia), antes, que o Supremo Tribunal Federal se pronuncie a respeito da presença ou

não do requisito da repercussão geral (art. 543-A, § 6º do CPC).

A decisão do Pleno do STF que inadmitir o recurso extraordinário à mingua de

repercussão geral terá eficácia vinculante, isto quer dizer que aquela decisão plenária atingirá

todos os recursos cujas matérias são idênticas ao daquele julgado. Em conseqüência, estes

recursos serão indeferidos de plano.

Afora isso, há um fato que não pode ser desconsiderado devido a sua importância, é

aquele que diz respeito a seleção dos recursos implementada pelos tribunais inferiores, com vista

a serem submetidos à análise da repercussão geral.

Cabem a eles selecionaram um ou mais recursos representativos da controvérsia e

encaminhá-los ao Supremos Tribunal Federal, sobrestando os demais até o pronunciamento

definitivo da Corte. Negada a repercussão geral, os recursos sobrestados considerar-se-ão

automaticamente não admitidos. Julgado o mérito do recurso extraordinário, os recursos

sobrestados serão apreciados pelos Tribunais, Turmas de Uniformização ou Turmas Recursais,

que poderão declará-los prejudicados ou retratar-se.(art. 543-B, §§ 1º, 2º e 3º).

É deste dispositivo do CPC, cumulado com aquele previsto no art.543-A, § 5º, desse

mesmo Código, onde se alude ao termo “matéria idêntica”, que desponta a uma das principais

preocupações deste trabalho, uma vez que nos termos “recursos representativos da

controvérsia” e “matéria idêntica”, não estão explicitados de maneira específica os seus

significados, isto é, o que é preciso que se faça (em matéria de aferição de pressupostos), a fim

de que sejam preenchidos e satisfeitos tais termos. Indaga-se. Para que o recurso seja

considerado representativo da controvérsia ou de matéria idêntica, a sua seleção deverá observar

o objeto de seu pedido ou a sua causa de pedir?

Veja-se que uma vez enviado ao Supremo, escolher-se-á aquele recurso cuja decisão

valerá aos demais que se encontram sobrestados. Daí a importância e a gravidade de tal seleção.

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Note-se que após a decisão emanada pelo Supremo, haverá uma súmula a qual constará

de ata, com força de acórdão, de cujo texto extrair-se-á, naturalmente, o pensamento e o

entendimento da Corte sobre aquela matéria.(art. 543-A, § 7º, do CPC).

Até agora, aquela indagação continua sem resposta, e, o pior, não se vislumbra no

material recolhido para esta pesquisa, salvo melhor juízo, maiores preocupações doutrinárias

sobre o assunto.

O Cerne da Questão

Assentadas as bases do Pedido e das Causas de Pedir, no processo de conhecimento e no

sistema recursal, bem assim, a correlação desses elementos com os efeitos do recurso, é chegada

a hora de se lançar conjecturas que podem vir a se concretizar em um caso concreto, hipótese e

preocupação que inspiraram esta monografia.

Destarte defende-se, neste estudo, a idéia de que é na causa petendi do recurso

extraordinário e não no objeto de seu pedido onde se aloja o âmago, a essência, a ratio essendi

do que se denominou chamar de “causa com idêntica matéria” ou “causa com idêntica

controvérsia”, visando ao julgamento de inúmeros recursos extraordinários (recursos

representativos da controvérsia, na nomenclatura do texto da lei ) por intermédio, de um único

recurso dessa espécie, em pauta, no Supremo Tribunal Federal, a que tenha este, de antemão,

reconhecido naquele paradigma, o fenômeno da repercussão geral.

É esse, pois, o ponto de partida no qual se instalou a controvérsia. E o seu detalhamento e

implicações passam obrigatoriamente pelo requisito da repercussão geral e da seleção e

sobrestamento dessa espécie recursal nas instâncias ordinárias e na maneira de como eles são

implementados. Já que com o advento desse novo crivo, por força da Emenda Constitucional nº

45 secundada de acréscimo ao Código de Processo Civil e de alteração no Regimento Interno do

Supremo Tribunal Federal, criou-se uma nova configuração no ajuizamento do recurso extremo,

qualificando-o, ou melhor, pondo-o de volta ao seu verdadeiro status constitucional, resgatando-

o como indutor principal do controle difuso de constitucionalidade.

Nessa esteira, trouxe a lei substancial acréscimo ao Código de Processo Civil, quando

determinou em seu artigo 543-B (caput) e seu § 1º, verbis:

Art. 543-B - “Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica controvérsia, a análise da repercussão geral será processada nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, observado o disposto neste artigo.

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§ 1º – Caberá ao Tribunal de origem selecionar um ou mais recursos representativos da controvérsia e encaminhá-los ao Supremo Tribunal Federal, sobrestando os demais até o pronunciamento definitivo da Corte”

Daí que o foco questionador deste trabalho se dirige no sentido de perquirir se os

fundamentos da causa de pedir inseridos no Recurso Extraordinário, tido como paradigma, são

os mesmos daqueles postos nos Recursos Extraordinários sobrestados nos tribunais. Vale dizer,

se tem ele, Recurso Paradigma, fundamentos qualitativos superiores aos demais recursos

sobrestados. E mais, se o parâmetro adotado é capaz o suficiente de aferir com segurança se tal

escolha, ou seja, a do paradigma eleito, é a que possui os melhores fundamentos, as melhores

condições de representar os demais recursos da espécie. Em outras palavras, sem um critério

objetivo e uniforme na escolha desses recursos, a teor do art. 543-B, § 1º do CPC, estar-se-á

diante de um grave dilema, que sem dúvida causará prejuízo à Parte interessada, uma vez que tal

critério não levará a um julgamento justo da controvérsia.

A permanecerem tais mecanismos de escolha e seleção dos recursos extraordinários, no

âmbito dos tribunais, forçoso reconhecer que o julgamento do RE paradigma se dará, tão-

somente, pelo ângulo superficial do Objeto do Pedido, requisito empírico e não objetivo utilizado

para selecionar demandas cujas matérias possam ser consideradas idênticas. Mas que não traduz

na essência os fundamentos da causa de pedir nelas contidos. Logo, não se reluta em afirmar que,

a simples eleição de demandas pelo critério selecionador adotado, que prestigia apenas, o Objeto

do Pedido, como representativo de matéria idêntica ou de idêntica controvérsia, não espelha em

sua inteireza e fidelidade o cerne da questão de fundo de direito material, que, a toda evidência,

se situa no âmbito da causa petendi. Porquanto é nesta que reside o direito material buscado e

que se quer ver reconhecido.

Registre-se, mais uma vez, de que o que está em jogo é o correto exame do que vem a ser

identidade de matéria em se tratando de julgamento de recursos extraordinários, em bloco, em

massa, o que sem sombra de dúvida representa a via de acesso à nossa Corte Maior, mais popular

– no sentido utilitário e funcional do termo - utilizada pelos jurisdicionados.

Chega-se, pois, a conclusão de que o critério utilizado na seleção que se faz desses feitos

é apenas aparente, superficial, abrangendo o objeto do pedido, tornando a seleção imperfeita, do

ponto de vista técnico e lógico. O correto, é proceder-se ao exame dos fundamentos da causa de

pedir da matéria a ser examinada, em que pese ser o seu objeto idêntico aos demais recursos.

Destarte o critério utilizado pelos tribunais na seleção dos recursos extraordinários na

origem, remete à lembrança cena jocosa do filme Tomates Verdes Fritos, em que certo reverendo

batista antes de prestar depoimento, como testemunha arrolada pela defesa, em caso onde uma

jovem era acusada de assassinato, o faz, pondo a sua mão sobre a sua própria bíblia, após ter

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recusado a bíblia que lhe fora ofertada pelo juízo. E desse modo declara que a ré na noite do

crime estava participando de culto em sua igreja, o que não era verdade, muito embora não fora

ela quem praticara o delito. Ao final, indagado por pessoas que lhe eram íntimas sobre o porquê

daquele depoimento, ele, então, sacando o livro cuja capa era de bíblia, sobre a qual fizera o

juramento, mostra-lhes o seu conteúdo: a revelar que na verdade se tratava do livro Moby Dick,

a célebre obra do autor americano Herman Melville. Assim é que ao comparar tal cena, com a

prática utilizada pelos tribunais na seleção de recursos extraordinários representativos da

controvérsia feita e implementada na origem, chega-se a conclusão de que uma capa que

guarnece os autos de certo recurso, onde se encerra o objeto de seu pedido, pode ser idêntica (em

relação ao objeto do pedido daquela demanda) a inúmeros outros feitos, contudo, o seu conteúdo

poderá ser diverso, sem contar é claro, com eventual desarmonia entre os regimentos internos

dos tribunais, quanto ao método de seleção dos recursos na origem. Nesse passo, forçoso é

reconhecer que haverá irremediável injustiça, alcançando em bloco automaticamente as

instâncias inferiores, as quais aguardam o deslinde da questão para implementarem nos feitos, lá

sobrestados, os ajustes determinados pela soberana decisão emanada da Suprema Corte. Diante

disso, o único antídoto a mão capaz de deter a avalanche de julgados nessas condições, evitando-

se injustiças, é passar-se a fazer o cotejo da Causa de Pedir dos recursos interpostos na instância

de 2º grau (Tribunais Regionais Regionais Federais e Tribunais de Justiças dos Estados e do

Distrito Federal), bem assim, nos Juizados Especias de ambas as Justiças, para depois

providenciar-se à remessa ao Supremo, dos recursos selecionados.

Nessa esteira, revela-se que o emprego de uma técnica de seleção mais apurada, em se

tratando de sobrestamento de inúmeros feitos, resultará em julgamento mais justo como convém

à Justiça.

Teresa Arruda Alvim Wambier, ao discorrer a respeito da repercussão geral, a nosso

sentir chegou perto, tangenciou a problemática ao afirmar:

A lei permite que terceiros se manifestem no que diz respeito à existência de repercussão geral, relativamente a determinada questão. Este terceiro a que a lei se refere é o amicus curiae, tido como colaborador do juiz, cuja intervenção confere legitimidade social às decisões das Supremas Cortes. Ele representa, indubitavelmente, valores adotados pela sociedade. Mas pode-se falar também num outro terceiro: a lei diz que o órgão a quo deve selecionar um ou mais recursos representativos da controvérsia e encaminhá-los ao Supremo Tribunal Federal. O procedimento dos demais será suspenso. Surge o problema: e se o meu recurso, cujo procedimento foi suspenso, não versar questão idêntica? Esta decisão será impugnável pela via do agravo. Mas pode acontecer também que alguém considere que o seu recurso está melhor

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fundamentado do que aqueles que foram escolhidos. Neste caso, este será aquele terceiro de que fala a lei.”[32]

Esse insuspeitável e abalizado pronunciamento, partindo de quem partiu, vem em reforço

a tese proposta de que a seleção dos recursos, na origem, deve seguir o critério da escolha

exclusivamente pelos fundamentos da causa de pedir. Porquanto é nesta sede que se acredita, no

presente trabalho, residir a essência – a questão de fundo - (do que se quer, do que se busca, do

que se trata) do petitum.

[ 32] WAMBIER, Teresa Arruda Alvim, In Repercussão Geral, Revista do IASP, Ed. Rev. Dos Trib. Ano 10, n.19.jan-jun, p.371, 2007.

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CO�CLUSÃO

A conclusão a que se chega, ao término deste estudo, é de que não se pode, numa via

recursal tão estreita como agora se apresenta a do recurso extraordinário mercê do advento da

repercussão geral, limitar o exame da questão de direito nele trazida, apenas, ao aspecto

aparente, superficial e insuficiente, que é a do seu objeto do pedido, conforme vem sendo

erroneamente identificado como sendo a personificação da “identidade da matéria”, ali tratada,

principalmente, em julgamento de múltiplos recursos, onde, necessariamente, haverá

sobrestamento dos demais recursos que, em conseqüência, ficarão pendentes aguardando pelo

julgamento do RE paradigma.

Por isso, voltou-se a pesquisa para o exame dos fundamentos da causa de pedir já que a

doutrina e a jurisprudência, nela, depositou a autoridade de título do pedido, onde reside o

deslinde da controvérsia e é a partir do exame e do cotejo daquela que, os órgãos incumbidos da

seleção dos extraordinários, devem pautar-se. Em outras palavras, devem selecionar e enviar

para o Supremo Tribunal Federal, apenas os recursos cujas causas de pedir sejam idênticas, afim

de que o julgamento do recurso representativo da controvérsia (recurso paradigma), a ser

realizado pelo Supremo, reflita em toda a sua extensão e plenitude, o que se nele pede e porque

se pede, em perfeita harmonia, com o que se contem nos recursos sobrestados.

Com essa simples medida, evitar-se-á o divorcio entre o conteúdo da causa de pedir

inserida no recurso paradigma (posto na berlinda no STF) e nos demais que se encontram a

espera de seu julgamento.

Por outro lado, de nada adiantará os esforços tecnológicos e legislativos dirigidos à

celeridade na tramitação dos feitos, se não se atentar, por exemplo, para critérios subjetivos

presentes na máquina judiciária, os quais ainda dependem fundamentalmente da

discricionariedade do ser humano, como acontece, hoje, na seleção dos recursos cujas matérias

levam o rótulo de repetitivas, na presunção de que elas guardam entre si idênticas controvérsias.

O tema é novo, mas não há dúvida de que os implementos que ora abastecem o sistema

do Poder Judiciário podem e devem facilitar, em muito, a entrega da prestação jurisdicional, em

busca de uma efetiva tutela que realmente satisfaça a sociedade que o sustenta, justificando a

existência e os gastos desse Poder, típico de sistemas democráticos.

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No entanto, apesar dos consideráveis avanços até aqui alcançados, sabe-se que é preciso

mais que verbas e tecnologias para se almejar o ideal previsto em nossa Carta Constitucional,

consubstanciado nos seguintes dizeres: a todo, no âmbito judicial e administrativo, são

assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua

tramitação, (artigo 5º, Inciso LXXVIII).

Logo, para que esse ideal se cristalize é necessário investir-se no homem (magistrados e

servidores) e naqueles órgãos: Defensoria Pública, Ministério Público e Advogados, que a

própria Lei Maior considera como essenciais e indispensáveis à administração da Justiça. Em

outras palavras, para um funcionamento a contento do Poder Judiciário não se vislumbram

suficientes o tamanho do orçamento e o emprego de tecnologias, torna-se imperioso que se faça

investimento no homem.

O que se quer e o que se espera, de toda essa promissora reforma no Judiciário é ao fim e

ao cabo, que seja aperfeiçoado o critério de seleção dos recursos extraordinários, sem

açodamento, cotejando-se os fundamentos da causa de pedir, antes do envio destes recursos à

Suprema Corte. Seleção essa que deve levar em consideração a qualidade desses fundamentos,

afugentando-se o lugar comum tão presente em processos de massa, com argumentos muitas

vezes repetitivos e padronizados. Tudo isto, com um único propósito de se realizar, naquela

Instância Máxima, um julgamento justo do recurso em comento, consentâneo com a realidade da

causa de pedir recursal nele intrínseca, sob pena de transformá-lo (o julgamento) em algo

esquizofrênico, vale dizer, uma decisão estranha aos autos, irreal, como se fosse verdadeira.

Logo, para que tal não aconteça, faz-se mister a organicidade e uniformidade dos

regimentos internos dos tribunais, no sentido, de pelo menos, no que toca a seleção dos recursos

extraordinários cujas matérias integrem o rol das repetitivas, haver um único critério de seleção,

que, este modesto trabalho aponta como sendo a causa petendi, locus onde reside e assenta o

verdadeiro fundamento da demanda. Daí a preocupação constante nesta pesquisa com o critério

de seleção de tais recursos, objetivando tão-somente espantar eventuais e futuras distorções no

julgamento da causa, evitando que se escolha um paradigma cujos fundamentos se encontram em

patamares qualitativos inferiores em comparação, com o anônimo e preterido RE, o qual se fosse

observado o critério que aqui se advoga, teria condições de representar melhor os demais

recursos sobrestados.

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A�EXOS

DISTRIBUIÇÃO DE AGRAVOS DE I�STUME�TO E RECURSOS

EXTRAORDI�ÁRIOS

Período: Julho/2007 a Agosto/2009

Total distribuído

COM preliminar de Repercussão Geral

SEM preliminar de Repercussão Geral

Mês RE AI RE

% em relação ao total de RE

AI

% em relação ao total de AI

RE

% em relação ao total de RE

AI % em relação ao total de AI

Jul/07 2.947 5.015 91 3,09% 0 0,00% 2.856 96,91% 5.015 100,00%

Ago/07 4.315 5.337 502 11,63% 30 0,56% 3.813 88,37% 5.307 99,44%

Set/07 3.414 4.208 484 14,18% 138 3,28% 2.930 85,82% 4.070 96,72%

Out/07 4.129 5.202 660 15,98% 907 17,44% 3.469 84,02% 4.295 82,56%

Nov/07 3.329 3.781 582 17,48% 603 15,95% 2.747 82,52% 3.178 84,05%

Dez/07 1.778 2.097 356 20,02% 431 20,55% 1.422 79,98% 1.666 79,45%

Jan/08 2.347 4.078 468 19,94% 1.143 28,03% 1.879 80,06% 2.935 71,97%

Fev/08 2.661 3.584 443 16,65% 1.159 32,34% 2.218 83,35% 2.425 67,66%

Mar/08 2.737 4.100 776 28,35% 1.233 30,07% 1.961 71,65% 2.867 69,93%

Abr/08 2.641 3.129 1.018 38,55% 1.217 38,89% 1.623 61,45% 1.912 61,11%

Mai/08 2.845 3.739 922 32,41% 2.049 54,80% 1.923 67,59% 1.690 45,20%

Jun/08 1.917 3.066 765 39,91% 1.804 58,84% 1.152 60,09% 1.262 41,16%

Jul/08 1.124 2.514 516 45,91% 1.617 64,32% 608 54,09% 897 35,68%

Ago/08 1.167 2.663 523 44,82% 1.464 54,98% 644 55,18% 1.199 45,02%

Set/08 1.487 2.883 622 41,83% 1.799 62,40% 865 58,17% 1.084 37,60%

Out/08 981 2.815 421 42,92% 1.756 62,38% 560 57,08% 1.059 37,62%

Nov/08 959 3.114 401 41,81% 2.138 68,66% 558 58,19% 976 31,34%

Dez/08 665 2.098 248 37,29% 1.382 65,87% 417 62,71% 716 34,13%

Jan/09 671 1.965 314 46,80% 1.319 67,12% 357 53,20% 646 32,82%

Fev/09 549 1.800 298 54,28% 1.444 80,22% 251 45,72% 356 19,78%

Mar/09 1.092 2.219 481 44,05% 1.730 77,96% 611 55,95% 489 22,04

Abr/09 697 2.022 375 53,80% 1.476 73,00% 322 46,20% 546 27,00

Mai/09 831 3.090 423 50,90% 2.369 76,67% 408 49,10% 721 23,33

Jun/09 858 3.379 460 53,61% 2.667 78,93% 398 46,39% 712 21,04

Jul/09 671 2.418 385 57,38% 1.766 73,04% 286 42,62% 652 29,96%

Ago/09 736 2.208 457 62,09% 1.704 77,17% 279 37,91% 504 22,83%

Total 47.548 85.524 12.991 27,32% 35.345 42,83% 34.557 72,68% 47.179 57,17%

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Recursos Extraordinários em Tramitação no STF

Atualizado em 01/09/2009

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Agravos de Instrumento em Tramitação no STF

Atualizado em 01/09/2009

Ano20082009*Total Processos Distribuído

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Ano 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Total Processos

Distribuídos 87.313 109.965 69.171 79.577 116.216 112.938

AI Distribuídos 50.218 62.519 38.938 44.691 56.141 56.909

% AI / Relação

Processos Distribuídos

57,5 56,9 56,3 56,2 48,3 50,4

RE Distribuídos 34.719 44.478 26.540 29.483 54.575 49.708

% RE / Relação

Processos Distribuídos

39,8 40,4 38,4 37,0 47,0 44,0

SOMA RE + AI

84.937 106.997 65.478 74.174 110.716 106.617

% AI + RE / Relação

Processos Distribuídos

97,3 97,3 94,7 93,2 95,3 94,4

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Ano 1996 1997 1998 1999 2000 2001

Total Processos Distribuídos

23.883 34.289 50.273 54.437 90.839 89.574

AI Distribuídos 12.303 16.863 26.168 29.677 59.236 52.465

% AI / Relação Processos Distribuídos 51,5 49,2 52,1 54,5 65,2 58,6

RE Distribuídos 9.265 14.841 20.595 22.280 29.196 34.728

% RE / Relação Processos Distribuídos 38,8 43,3 41,0 40,9 32,1 38,8

SOMA RE + AI 21.568 31.704 46.763 51.957 88.432 87.193

% AI + RE / Relação Processos Distribuídos

90,3 92,5 93,0 95,4 97,4 97,3

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Ano 1990 1991 1992 1993 1994 1995

Total Processos Distribuídos 16.226 17.567 26.325 23.525 25.868 25.385

AI Distribuídos 2.465 5.380 7.838 9.345 8.699 11.803

% AI / Relação Processos Distribuídos

15,2 30,6 29,8 39,7 33,6 46,5

RE Distribuídos 10.780 10.518 16.874 12.281 14.984 11.195

% RE / Relação Processos Distribuídos 66,4 59,9 64,1 52,2 57,9 44,1

SOMA RE + AI 13.245 15.898 24.712 21.626 23.683 22.998

% AI + RE / Relação Processos Distribuídos 81,6 90,5 93,9 91,9 91,6 90,6

*Dados de 2009 atualizados até agosto.

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

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