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UNIVERSIDADE ANHANGUERA UNIDERP
MESTRADO EM MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
HELLEN PRADO BENEVIDES QUEIROZ
POLÍTICA DE DESFAVELAMENTO NO MUNICÍPIO DE CAMPO GRANDE- MS: UMA COMPARAÇÃO ENTRE O PROJETO BURITI-
LAGOA COM O PROJETO SOTER.
CAMPO GRANDE
MATO GROSSO DO SUL
2012
2
HELLEN PRADO BENEVIDES QUEIROZ
POLÍTICA DE DESFAVELAMENTO NO MUNICÍPIO DE CAMPO GRANDE – MS: UMA COMPARAÇÃO ENTRE O PROJETO BURITI-
LAGOA COM O PROJETO SOTER.
Dissertação apresentada ao programa de Pós Graduação, nível de Mestrado Acadêmico em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional da Universidade Anhanguera Uniderp, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional. Orientação: Prof. Dr. Gilberto Luiz Alves
CAMPO GRANDE
MATO GROSSO DO SUL
2012
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Anhanguera – Uniderp
Queiroz, Hellen Prado Benevides.
Política de desfavelamento no município de Campo Grande – MS: uma comparação entre o projeto Buriti-Lagoa com o projeto Soter. /Hellen Prado Benevides Queiroz. -- Campo Grande, 2012.
72f. Dissertação (mestrado) – Universidade Anhanguera - Uniderp,
2012. “Orientação: Prof. Dr. Gilberto Luiz Alves.”
1. Desenvolvimento regional 2. Favelas 3.Política pública de
desfavelamento I. Título.
CDD 21.ed. 711.1
Q44p
4
Dedico,
Ao meu esposo Marco Aurélio, na certeza de que compartilha comigo de um grande
momento da minha vida, a vitória.
Aos meus pais, Zênite e Adnir, exemplos de vida e trabalho,
presenças constantes em minha vida,
que não mediram esforços
ao me orientar no caminho a seguir, trilhado nos princípios éticos e cristãos.
Sem o amor de vocês eu não chegaria aqui.
iv
5
AGRADECIMENTOS
A Deus, presença maior na minha vida.
Ao Marco Aurélio, meu esposo, amigo e companheiro, que com seu apoio e
sacrifício pessoal tornou possível a realização deste trabalho.
À minha irmã e cunhado, Shara e Fernando, e irmãs Zênia e Adna; também à tia
Sônia, pelo amor, compreensão e incentivo para que eu não desistisse do meu
objetivo na finalização desta etapa da minha vida.
Aos professores do Programa de Mestrado em Meio Ambiente e Desenvolvimento
Regional, que representaram a base de um processo de apropriação do
conhecimento, dinamizado a partir do meu ingresso no Programa. Em especial,
agradeço ao Professor Dr. Gilberto Luiz Alves, pois além oferecer orientação e apoio
na condução desta pesquisa, oportunizou-me conhecer meu próprio senso crítico e
aprender de forma abrangente, transformando minha visão sobre o significado de
cultura e sociedade.
Aos amigos e colegas de curso, pela convivência sincera e amiga, pelo estímulo,
carinho e compreensão. Sou eternamente grata, em especial, as amigas Selma
Rocha, amiga e irmã de todas as horas. A Ivonete e Leonardo, que tanto me
apoiaram na realização deste trabalho.
Ao meu grupo de estudos, Carol, Eliezel, Fernando e Luan, agradeço a oportunidade
da troca de experiência e amizade.
À Coordenadoria de Apoio a Pesquisa e Ensino Superior – CAPES, pela bolsa de
estudos concedida, o que tornou possível garantir o investimento nesse projeto
profissional.
v
6
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS .......................................................................................... vii
LISTA DE ANEXOS ........................................................................................... vii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ............................................................. viii
RESUMO............................................................................................................ ix
ABSTRACT ........................................................................................................ x
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 11
2. REVISÃO DE LITERATURA ......................................................................... 15
2.1 TENDÊNCIA DE DESFAVELAMENTO NA SOCIEDADE CAPITALISTA . 15
2.1.1 A História do povoamento no Brasil................................................. 15
2.1.2 Capitalismo ....................................................................................... 19
2.1.3 A categoria da totalidade ................................................................. 21
2.1.4 Segregação Sócio Territorial............................................................. 23
2.1.5 Favelas ............................................................................................. 24
2.1.6 Desfavelamento por meio de Políticas Públicas .............................. 28
3. CONTEXTUALIZAÇÃO POLÍTICA DE DESFAVELAMENTO NO M UNICÍPIO
DE CAMPO GRANDE - MS .......................................................................... 33
3.1 Desfavelamento em Campo Grande.................................................... 34
3.2 Projeto Buriti-Lagoa e Soter................................................................ 35
4. MATERIAL E MÉTODO ................................................................................ 42
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................... 45
5.1 Análise dos impactos sobre o Projeto Soter e Projeto Buriti-Lagoa.... 47
6. CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................ 59
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS .................................................................. 62
ANEXOS ............................................................................................................ 68
vi
7
LISTA DE FIGURAS
FIGURAS 1 Localização dos Projetos no Município de Campo Grande- MS.
..................... .................................................................................................. ....35
FIGURAS 2 Localização do Projeto – área de intervenção............................. 37
FIGURAS 3 e 4 Favela Buriti: Aspectos da ocupação irregular/área de risco. 38
FIGURAS 5 e 6 Buriti- Lagoa – Unidades habitacionais ................................. 38
FIGURAS 7 e 8 Modelo de planta das casas que foram construídas .............. 39
FIGURAS 9 e 10 Projeto Soter - Unidades habitacionais construídas..................... 40
FIGURA 11 Localização dos dois projetos no mapa de Campo Grande........... 42
FIGURAS 12 e 13 Aspectos das mudanças ocorridas..................................... 46
FIGURAS 14 e 15 Casas do Projeto Buriti-Lagoa............................................ 47
FIGURAS 16 e 17 Aspectos das novas fachadas das casas no Projeto
Soter ..................................................................................... 47
FIGURAS 18 e 19 Casa de morador entrevistado ........................................... 51
FIGURAS 20 e 21 Empreendimento imobiliário defronte ao Projeto Soter ...... 52
FIGURAS 22 e 23 Casas antes do remanejamento......................................... 53
FIGURAS 24 e 25 Moradias do Projeto Buriti-Lagoa ....................................... 55
FIGURAS 26 e27 Fachada das casa do projeto e seu interior......................... 57
vii
8
LISTA DE ANEXOS
ANEXO 1 Quadro dos Projetos para comparação analítica.............................. 67
ANEXO 2 Quadro das ações do Projeto Soter:................................................. 70
viii
9
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABC Associação Brasileira de Cohabs
COHAB Companhia Brasileira de Habitação
EMHA Empresa Municipal de Habitação
HBB Programa Habitar Brasil
IBAM Instituto Brasileiro de Administração Pessoal
PLANURB Instituto Municipal de Planejamento Urbano
PROMORAR Programa de Erradicação de Sub-habitação
BNH Banco Nacional da Habitação
SFH Sistema Financeiro de Habitação
ZEIS Zonas Especiais de Interesse Social
FONPLATA Fundo para o Desenvolvimento dos Países da Bacia do Prata
viii
10
RESUMO
Este trabalho teve como objeto a política de desfavelamento do município de Campo
Grande, MS. Para tanto, comparou duas de suas iniciativas: o Projeto Buriti-Lagoa e
o Projeto Soter. Os objetivos visaram: a) evidenciar historicamente os móveis da
produção de favelas urbanas no âmbito da sociedade capitalista; d) discutir como se
realizou esse movimento na singularidade de Campo Grande, MS; c) delinear as
características da política de desfavelamento desse município; d) descrever dois de
seus projetos: Buriti–Lagoa e Soter; e) analisar seus impactos sociais, em especial
sobre as populações residentes originalmente nessas áreas. A fundamentação
teórica se sustentou, basicamente, em estudos de Marx e Engels, Baran e Sweezy,
Alves, Maricato, Iamamoto e Sposati. Para a reconstrução histórica da produção de
favelas na sociedade capitalista foram utilizadas fontes secundárias. Para os
estudos da política de desfavelamento do município de Campo Grande e a
comparação dos dois projetos em referência, foram exploradas fontes documentais
como planos e projetos municipais, observação in loco por meio de visitas e
entrevistas semi-estruturadas com moradores das localidades. A análise evidenciou,
sobretudo, que o mercado imobiliário explica os resultados aparentemente opostos
dos dois projetos. Na área do Projeto Buriti-Lagoa, menos exposto à valorização
imobiliária, houve fixação da população nas novas residências que substituíram as
antigas moradias. O oposto ocorreu com a população atendida pelo Projeto Soter,
cuja área foi alvo de intensa especulação levando os antigos habitantes ao êxodo.
Palavras-Chave: Desenvolvimento Regional. Favelas. Política pública de
desfavelamento.
ix
11
ABSTRACT
This monograph has as its main objective the analysis of ‘desfavelamento’ (=
undoing or uprooting favela lifestyle) in the county of Campo Grande in the state of
Mato Grosso do Sul. With this objective in mind two projects have been considered:
“Project Buriti-Lagoa” and “Project Soter”). Other objectives of this study are: (a) to
give historical evidence of ways by which the production of favelas can take place in
the context of a capitalist society; (b) to discuss how this phenomenon took place
within the particularities of Campo Grande, MS; (c) to define the political aspects
which marked the politics of desfavelamento in this county; (d) to describe these two
projects taking place in Campo Grande: Buriti-Lagoa and Soter; (e) to analyse their
social impact, specially, on the people who inhabited those areas before. This
monograph’s theoretical proposals have been based on other relevant academic
works such as that of Marx and Engels, Baran and Sweezy, Maricato, Lamamoto and
Sposati. In order to reconstruct the methods of production of favelas in a capitalist
society secondary sources were used. For the analysis of the politics of
desfavelamento in the county of Campo Grande and also of the two projects
mentioned above, other items were studied too such as documental sources
containing plans and other projects proposed by the county; field research by means
of visits and interviews previously prepared and applied to the local people. The
research has given evidence, above all, that the house market explains those
opposite results obtained by these two projects. In the area where the project entitled
Buriti-Lagoa was started, there was a lesser housing market speculation which in
turn promoted the establishment of the population in new houses that subistituted old
ones. However, the opposite happened to the population dealt with by project Soter
where an intense house market speculation took place forcing old inhabitants to an
exodus.
Key-Words: Regional Development. Favelas (shanty towns or slums). Public Politics
of Desfavelamento.
x
12
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho apresenta uma comparação entre dois projetos de
desfavelamento implantados na cidade de Campo Grande /MS - Buriti-Lagoa e
Soter, no intuito de responder em que medida a execução de um projeto pode
contribuir positivamente para uma população carente, e um outro projeto, não.
A pesquisa, por ser realizada por um profissional do Serviço Social utilizou o
instrumental das ciências sociais aplicadas, objetivando a atender as necessidades
sociais que surgem a partir dos problemas oriundos da relação capital versus
trabalho, ou seja, da necessidade de regular/controlar/mediar os conflitos
decorrentes dessa relação, associados à falta de condições dignas de trabalho,
moradia, saneamento dentre outras. Esse é o cenário do profissional do Serviço
Social. O estudo tem, pois, a orientação do Serviço Social.
Campo Grande, capital do Estado de Mato Grosso do Sul, foi fundada em
1900 por colonizadores mineiros, que vieram aproveitar os campos de pastagens
nativas e as águas cristalinas da região dos cerrados. A cidade foi planejada em
meio a uma vasta área verde, com ruas e avenidas largas, relativamente arborizadas
e com diversos jardins por entre as suas vias. Apresenta, ainda nos dias de hoje,
forte relação com a cultura indígena e suas raízes históricas. Por causa da cor de
sua terra (roxa ou vermelha), recebeu a alcunha de Cidade Morena. É possível ver
os limites da linha do horizonte ao fundo de qualquer paisagem, pela localização em
uma região de planalto . O Aquífero Guarani compõe parte do subsolo do estado,
sendo o Mato Grosso do Sul detentor da maior porcentagem do aquífero dentro do
território brasileiro.
É um municipio que possui dimensões e características próximas às de uma
metrópole, com uma população aproximada de um milhão de habitantes. Segundo
pesquisa feita pela revista Exame (2006), Campo Grande é a 28ª melhor cidade do
Brasil em infraestrutura, fator decisivo na atração de investimentos.
A partir da década de 70 ocorreu um fluxo migratório e, consequentemente
um crescimento populacional e expansão econômica e territorial da cidade. Tais
fatores acarretaram o aparecimento de conflitos, até então inexistentes, e
contribuíram para acentuar o aumento dos vazios urbanos, assim como a
13
subutilização da infraestrutura urbana e o encarecimento da prestação desses
serviços. Ocorrendo no mesmo período um aumento dos assentamentos informais,
favelas e da degradação dos recursos naturais, reflexo das desigualdades existentes
na estrutura socioeconômica, na falta de valorização das questões sociais e
ambientais na ocupação do espaço urbano. E durante as décadas seguintes o
reflexo do déficit habitacional tornou a permanência desses assentamentos um
problema constante para a capital.
Em Campo Grande, as margens dos córregos conhecidos como Segredo,
Prosa, Anhanduizinho, Lagoa e Imbirussu, foram lugares de fácil ocupação. Esse
fator contribuiiu para o surgimento de problemas ambientais decorrentes das
invasões e usos indevidos. A partir dessas situações ocorridas, surgiu a questão da
moradia. Desde então, as ações para a remoção de favelas e das famílias que
nelas habitavam, promovendo a recuperação ambiental, infraestrutura adequada e
oferta de equipamentos sociais às margens das bacias dos córregos campo-
grandenses, passaram a ser prioridade.
Com a instituição do Programa de Regularização e Assentamento de
Favelas, discriminado pelo Programa de Aceleramento do Crescimento (PAC), por
meio do Decreto Nº 6.276, de 28 de novembro de 2007, a administração local
passou a dispor de instrumentos importantes que possibilitariam empreender ações
com o objetivo de melhorar a condição de vida das famílias.
.Nesse contexto, foram implantados, em Campo Grande, os Projetos que
representam a culminância de um processo de transformação, na forma de
atendimento à questão habitacional do Município. As primeiras ações para o
trabalho de desfavelamento foram as de remanejamento da população assentada
em áreas impróprias para o uso residencial. Para isso, loteamentos e conjuntos
habitacionais foram construídos para instalação dessas famílias, removidas, tais
como o Projeto Buriti-Lagoa e o Projeto Soter.
O Projeto Buriti-Lagoa e Projeto Soter são projetos que visam à melhoria dos
padrões de habitabilidade e de qualidade de vida das famílias, predominantemente
aquelas com renda mensal de até três salários mínimos, que residem em
assentamentos subnormais urbanos tais como favelas, cortiços e áreas de risco. Um
deles está localizado na Região Leste (considerada periferia) da cidade e o outro na
Região Oeste (área central) de Campo Grande. Os dois projetos têm a mesma
finalidade, segundo documentos da Planurb (2010), de melhorar a qualidade vida
14
em Campo Grande através da recuperação ambiental e da integração urbanística
das áreas do entorno. Por isso a escolha do tema e uma abordagem comparativa
entre os dois projetos: um positivo, outro negativo.
Entretanto, outro argumento que justifica este estudo são os questionamentos
que surgiram: como podem dois projetos das políticas públicas, no mesmo período,
em Campo Grande, se tornarem opostos nas suas finalidades sociais e nas
efetividades promocionais? Como ocorreu a trajetória de cada um? Que fatores
intervieram? Que funções sociais desempenharam?
Com o objetivo de responder a tais indagações, considerando esta análise
comparativa entre os Projetos Buriti-Lagoa e Soter, este trabalho propôs uma
reflexão sobre o desfavelamento e a especulação imobiliária. Segundo Sposito
(1999),
com as implantações realizadas tanto pelo poder público quanto pelo setor privado, à medida que a malha urbana se estende rapidamente, observa-se um processo de valorização das áreas centrais densamente edificadas da cidade.” Dessa forma, aumentam os preços das moradias, tornando-se impossível, às camadas mais pobres realizar plenamente o direito de habitar.
O referencial teórico da pesquisa adotou, como pressuposto básico, o fato de
que o meio ambiente é uma relação social, cuja produção passa, em larga escala,
pelo trabalho humano. Portanto, o desfavelamento é uma questão social que não
pode ser tratada fora dos marcos mais gerais da sociedade capitalista.
O modo organizacional da sociedade capitalista bem como a forma de
execução das políticas sociais precisa ser compreendido pelo pesquisador, antes de
se atirar ao exame de qualquer objeto. Para tanto, os trabalhos Karl Marx, Paul A.
Baran e Paul M. Sweezy, Gilberto Luiz Alves, Ermínia Maricato, Marilda Vilela
Iamamoto, Aldaiza de Oliveira Sposati subsidiaram esta pesquisa.
Para compreender o processo de formação e manutenção de uma favela
é necessário compreender que a relação dos homens com a natureza não é
suficiente para sua sobrevivência. É preciso que se abarque o reconhecimento de
uma relação específica de cooperação entre os homens e dos grupos humanos com
a natureza, uma vez que é na unidade dos homens com os outros homens e com o
ambiente que acontecem algumas as de relações sociais de produção. Assim, ao
produzirem os meios de vida, os homens produzem sua vida material e o grau de
15
desenvolvimento da divisão social do trabalho expressa o grau de desenvolvimento
das forças produtivas.
A apresentação dos elementos levantados e discutidos, os aspectos
históricos e antropológicos da criação de favelas, bem como discussão a respeito
das determinações do capitalismo para esse fim, culminam em uma
contextualização dos Projetos Buriti-Lagoa e Soter, que foram descritos ao Leitor
considerando suas peculiaridades e discutidas as suas diferenças.
As considerações finais contextualizam a concepção desta análise
comparativa entre os dois Projetos: o de desfavelamento e a especulação
imobiliária.
16
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Tendência de Desfavelamento na Sociedade Capitalista.
De uma forma geral realiza-se a exposição dos processos de
desfavelamento nas grandes cidades e, em particular, em Campo Grande, MS,
iniciando por um breve histórico do povoamento do Brasil e da formação de alguns
de seus grandes centros.
2.1.1 A história do povoamento do Brasil
Estudiosos e autores do assunto nos dão conta de que diante do
descobrimento do Brasil, a Coroa Portuguesa precisava defender sua nova posse
dos ataques alheios, que poderiam ocorrer na região costeira. Contudo, o Reino
Português detinha poucos recursos financeiros e humanos para tal empreendimento;
consequentemente, a solução encontrada foi a transferência da guarda do território
para as mãos da iniciativa privada.
Em 1534, foram instituídas as Capitanias Hereditárias, sistema já utilizado
pelo governo português na Ilha da Madeira e nos Açores. Os donatários, cidadãos
da pequena nobreza portuguesa, receberam as terras em caráter vitalício e
hereditário e tinham por obrigação governar, colonizar, resguardar e desenvolver a
região com recursos próprios.
Para que a colonização se efetivasse, o donatário tinha a missão de criar um
vilarejo e doar terras – as sesmarias – a quem se interessasse em cultivá-las. Após
dois anos de uso, os sesmeiros passavam a donos efetivos da terra. No entanto,
graças à lavoura canavieira, somente duas capitanias prosperaram, Pernambuco e
São Vicente, dessa forma o sistema de Capitanias fracassou,. Vale salientar que de
certa forma os objetivos esperados pela metrópole foram alcançados, ou seja, a
preservação das terras e a possibilidade de exploração.
As capitanias hereditárias foram extintas em 28 de fevereiro de 1821, logo
depois da chegada da família real ao Brasil. Na medida em que iam malogrando,
retornavam para o governo português, que alterava as dimensões, conferindo novos
17
contornos para as províncias da colônia, fato delineou os atuais traços geográficos
dos estados litorâneos.
A Capitania da Bahia de Todos-os-Santos foi adquirida pelo rei, mediante
indenização, para ser a sede do Governo Geral, criado em 1548. A criação do
Governo Geral não extinguiu as Capitanias. Sua criação deveu-se à consciência do
governo português sobre a impossibilidade de colonizar tão extensa área de terra
com base apenas no capital particular. Entre os feitos do primeiro Governo Geral,
destacamos a fundação de Salvador em 1549, como a primeira cidade e a capital da
província.
Tomé de Souza trouxe o primeiro grupo de padres jesuítas (incluindo
Manuel da Nóbrega) para iniciar o trabalho de catequese dos indígenas, além de
determinar que se organizasse uma expedição para realizar o reconhecimento do
interior da Bahia e incrementar a cultura da cana-de-açúcar. Também importou gado
da ilha de Cabo Verde e introduziu escravos negros africanos no Brasil.
Portugal não admitia o Brasil como região para ser habitada intensivamente;
seria transferida a população. Por anos, foi considerado, pela Coroa Portuguesa,
como sua Colônia americana fornecedora de matérias-primas.
A configuração desses assentamentos, devido a própria escassez de recursos pela própria distância do coroa portuguesa não tiveram nenhum planejamento, suas ruas e casas eram desalinhadas e não existiram também as clássicas edificações administrativas portuguesas, com a casa de câmera e cadeia (SANT”ANNA, 2002,p. 6) .
Findo o ciclo do Pau-Brasil, iniciou-se o ciclo da cana de açúcar, que obteve
maior destaque na região nordeste. Essa atividade promoveu uma nova estrutura
social e econômica. Como consequência de um século e meio da produção
açucareira no Brasil, ocorreu a ocupação das terras úmidas no litoral nordestino, a
fixação do colono a terra, o surgimento de povoados, vilas e cidades.
Paralelamente ao cultivo do café, da cana de açúcar, a criação de gado no
Brasil esteve inicialmente junto ao litoral. Por comprometer o plantio da cana, as
fazendas de gado foram arrastadas para o interior. O destaque é que as fazendas
de gado aproveitaram a mão-de-obra indígena e desenvolveram a criação de forma
extensiva, colaborando para o povoamento do interior do Brasil. Por ser um homem
livre, o vaqueiro tinha direito de ter sua própria roça e, futuramente, sua própria
fazenda/criação de animais.
18
As áreas localizadas ao sul do País foram efetivamente povoadas a partir do
século XIX, com a chamada colonização moderna, feita por imigrantes, em especial
colonos alemães, italianos e escravos. Essa colonização teve por base a pequena
propriedade.
A chegada do século XIX e o início da industrialização do Brasil gerou um
novo impulso no processo de urbanização das cidades.
Os ciclos de produção da agricultura brasileira, seguidos pelo processo de
industrialização, passando pelo processo de Independência, Abolição da
Escravatura e Proclamação da República, foram os acontecimentos que delinearam
os parâmetros de desenvolvimento no País onde vivemos.
Chega-se, então, ao ápice da apresentação histórica do povoamento do
Brasil. Para compreender o desfavelamento é preciso compreender a origem da
favela, conforme Maricato (2002, p. 217):
[...] A evolução das favelas no Brasil pode ajudar a elucidar alguns aspectos da questão. Ela acompanhou o processo de urbanização da sociedade, que se deu, praticamente, no século XX. Ela é determinada pelo modo como se deu a industrialização e a reprodução dos trabalhadores, a partir da emergência do trabalho livre. Na sociedade escravocrata, a moradia do trabalhador era provida pelo patrão, bem como os demais itens de sua subsistência. Os trabalhadores brancos livres gozavam de uma condição ambígua, num modo de produção marcado pelo trabalho compulsório e visto como coisa degradante.
Essa política do favor marcou o modo de vida desse trabalhador branco, que
vivia à sombra dos chamados coronéis, latifundiários. Dentro desse contexto,
Maricato (2002, p. 217) continua descrevendo que:
A emergência do trabalho livre dá origem ao problema da habitação. O patrão está livre dessa incumbência. A partir da abolição, cabe ao trabalhador providenciar e pagar por sua moradia. Essa mudança não implicaria em generalização do assalariamento e formação do mercado urbano de moradias, como ocorreu nos países capitalistas centrais, não sem muitos conflitos.
Em países periféricos ou semi-periféricos e dependentes como o Brasil,
onde a industrialização se deu com salários deprimidos e grande parte dos
trabalhadores não se integrou ao mercado de trabalho formal, a moradia também
não é obtida regularmente via mercado imobiliário. Segundo Maricato (2002, p.
217),
19
Frequentemente, mesmo o trabalhador empregado na indústria fordista, não tem poder aquisitivo para comprar sua moradia no mercado legal privado. São por demais conhecidos os expedientes de ocupação de terra e auto-construção da moradia, aos quais apelou a maior parte da população, durante o processo de urbanização da sociedade brasileira, com graves conseqüências sociais e ambientais como já foi mencionado.
No começo do século, as favelas eram presenças mais constantes em
cidades que tiveram importância no período da escravidão. Maricato (2002, p. 218),
afirma que com o progressivo processo de industrialização/urbanização, as favelas
se estenderam por todas as grandes cidades brasileiras e, nos anos 1980 a 2000,
inclusive nas cidades de porte médio. As cidades se modernizaram paralelamente
à reprodução da exclusão.
O mercado imobiliário evoluiu de modo excludente. Além do capital, via baixos salários, o Estado também pouco se ocupou da questão da habitação social, senão em alguns momentos de mobilização da classe operária, mas sempre de modo pouco sustentável e abrangente. A mais importante intervenção do Estado brasileiro com a política de habitação, que institucionalmente combinou o BNH – Banco Nacional de Habitação e SFH – Sistema Financeiro de Habitação, no período 1964 a 1986, atendeu mais às camadas de renda média e ao capital imobiliário (promotores, construtores, financiadores) do que à grande maioria da população. (MARICATO, 2002,p.218)
Segundo Maricato (2002, p.217), a face mais cruel da construção desse
espaço excludente, talvez esteja em sua dissimulação ou ocultamento como já foi
destacado. Não há na sociedade brasileira a consciência sobre o gigantismo dos
territórios de exclusão, que não se pode chamar de cidade e sim descrever o
amontoado de pessoas, sem lei ou regras de convivência e de ocupação do espaço.
Não há dados fidedignos (nem do IBGE) sobre o número de brasileiros morando em
favelas. E essa desinformação não é casual. Até mesmo o urbanismo oficial e
acadêmico participa da dissimulação dessa realidade ao reforçar a cidade cenário
ou cidade mercadoria, cheia dos símbolos indutores do consumo e da alienação,
que constituem embalagem do processo de formação das rendas de localização
(MARICATO, 2002).
Compreendido o processo de construção da favela no Brasil é preciso
entender os mecanismos políticos por trás deste movimento humano.
20
2.1.2 Capitalismo
Segundo Marx, no modo de produção capitalista baseado na relação Capital
versus Trabalho, os meios de produção estão nas mãos de uma minoria que
constitui a classe dominante da sociedade (MARX,1996). Em relação ao trabalho,
por sua situação desfavorável nessa relação, existem inúmeras demandas sociais
não atendidas pelo capitalismo, tais como saúde, educação, lazer, habitação e
assistência social.
A Revolução Industrial pode ser considerada a maior demonstração de
precarização do trabalho. O trabalho humano determina as relações sociais que
forma a base de toda a vida social. Os homens, impulsionados pelas necessidades
vitais, apropriam-se da natureza e produzem os bens necessários à sua manutenção
e lhes dão condições de existir, de se reproduzir e de “fazer história”, como
salientaram Marx e Engels, (1982, p.19). Satisfeitas as primeiras necessidades,
surgem outras, exigindo novas soluções, que direcionam o homem nas relações
com os outros homens. Enredados nesse conjunto de relações sociais, como seres
sociais e históricos, os homens desenvolvem sua práxis, atividade material pela qual
ele permeia “o mundo humano” e se transformam a si mesmos (VASQUEZ,1977, p.
9). Assim, por meio de contínuas transformações das condições sociais, realizadas
pela práxis humana, foram gerados os progressos econômicos e sociais, bem como
toda cultura.
Marx e Engels afirmaram:
Os homens devem estar em posição de viver para fazer a história, mas a vida implica, antes de tudo, comer e beber, uma moradia, roupas e muitas outras coisas. O primeiro ato histórico é, assim, a produção dos meios para satisfazer essas necessidades, a produção da própria vida material. No processo de produção, os seres humanos não só entram em relação com a natureza; produzem apenas trabalhando juntos de forma específica e trocando reciprocamente suas atividades. A bem de produzir, entram em conexões e relações definidas uns com os outros, sendo no contexto dessas conexões e relações sociais a sua conexão com a natureza, isto é, a produção. (apud CORRIGAN e LEONARD, 1986,p.63)
Dessa forma, o modo de produção capitalista fundamenta-se em elementos
essenciais à produção da riqueza, capital e trabalho, pois estão na base da
21
produção de bens (mercadorias) que serão trocados no mercado. Tais elementos
não existem naturalmente, são criados para serem úteis à sociedade capitalista.
O trabalho é uma criação, não é algo natural que surge espontaneamente.
Segundo Engels:
Antes da produção capitalista, na Idade Média, (...), de modo geral, baseado na propriedade privada dos trabalhadores sobre seus meios de produção, no campo, a agricultura do pequeno camponês, cidadão ou servo; nas cidades, as artes organizavam suas corporações. Os instrumentos de trabalho eram os instrumentos de trabalho de indivíduos isolados, adaptados ao uso por um trabalhador. Mas por essa mesma razão pertenciam, em geral, ao próprio produtor. (apud CORRIGAN e LEONARD, 1986,p.64)
Com o surgimento do modo de produção capitalista, o trabalho deixou de
ser estático e executado por pequenas unidades familiares, passando a ser
executado nas fábricas, impossibilitando ao trabalhador, individualmente, de
continuar sendo possuidor dos meios de produção. Tornava-se real sua impotência
perante as demandas do capital, por não mais possuir tais meios.
Nesse sentido, o profissional de Serviço Social deve incluir, no processo
de conhecimento real, o lugar que os atores sociais ocupam, no modo como a
sociedade produz a riqueza, ou seja, a relação com o trabalho. É necessário
compreender profundamente as instituições e as relações sociais no contexto da
sociedade, bem como as determinações geradas pelo modo de produção.
Cada sociedade recria seu modo de produção e as relações sociais de
produção. Na sociedade capitalista, a reprodução dos componentes básicos, capital
e trabalho é necessária, pois o capital, sendo reproduzido, oportuniza a sociedade
em que o trabalho assegura a criação de valor excedente. A respeito sociedade
capitalista, Iamamoto (1988, p.75) afirma que:
Reproduz também, pela mesma atividade, interesses contrapostos que convivem em tensão. Responde tanto a demandas do capital como do trabalho e só pode fortalecer um ou outro pólo pela mediação de seu oposto. Participa tanto dos mecanismos de dominação e exploração como, ao mesmo tempo e pela mesma atividade, da resposta às necessidades de sobrevivência da classe trabalhadora e da reprodução do antagonismo nesses interesses sociais, reforçando as contradições que constituem o móvel básico da história, sendo a partir dessa compreensão que se pode estabelecer uma estratégia profissional e política, para fortalecer as metas do capital ou do trabalho, mas não se pode excluí-las do contexto da prática profissional, visto que as classes só existem inter-relacionadas. Sendo isto, inclusive, que viabiliza a possibilidade de o profissional colocar-se no horizonte dos interesses das classes trabalhadoras.
22
2.1.3 A categoria da totalidade
O estudo da sociedade, das relações sociais e da cultura que a
caracteriza não se desvela, de início, empiricamente, mas por meio de mediações
que objetivam possibilitar a apresentação da totalidade concreta em sua dinâmica
processual. Utiliza-se a mediação para captar a singularidade do ser social,
constituinte da totalidade.
A totalidade da vida social na reprodução do capital supõe a recriação
ampliada da classe trabalhadora e do poder da classe capitalista. Esta também pode
ser considerada responsável pela geração de uma reprodução ampliada da pobreza
e da riqueza, que permeia as relações de classes resultando na luta de classe.
Segundo Alves (2009), entender a sociedade requer uma visão global das
relações nela existente. Isso permite entender o homem, sua origem da sociedade
numa visão de mundo que expressam em seus usos, costumes, crenças e folclore.
A sociedade é um conjunto das relações universais de sua origem local e transmite
seus valores.
De acordo com Rabuske, (1995, p.22), “a cultura é a transformação que o
homem consciente e livremente, realiza na natureza, tanto na própria quanto alheia,
visando o aperfeiçoamento dessa mesma natureza”.
Para Alves (2009), a construção e entendimento de um trabalho como o
que se apresenta na forma de dissertação, passam, “obrigatoriamente pelo
conhecimento da historia do objeto”.
O estudo em relacionar o singular e o universal, é a maneira de entender
que o singular é a forma única de realização do universal.
Esse movimento está contido na totalidade social que configura sua
processualidade e assegura ao sujeito, sua apreensão. Dos processos de mediação
são construídas as relações imanentes à realidade social.
Dessa forma, para o Assistente Social o movimento dialético da
totalidade e a mediação, possibilita passar do abstrato para o concreto, conforme
Pontes que indica:
Na singularidade vamos captar traços particulares de situações (sociais, políticas, econômicas), mas que estão ligadas organicamente às leis tendências históricas, que se expressam na particularidade, de tal modo, que uma dada situação peculiar jamais se repita da mesma forma, mas que para operar sua compreensão, é necessário conectar numa relação complexa e totalizante às leis universais. (apud SANT’ANA, 1995,p.121)
23
Para Martinelli (1993, p.36),
Mediações são categorias instrumentais pelas quais se processa a operacionalização da ação profissional. Expressam-se pelo conjunto de instrumentos, recursos, técnicas e estratégias e pelas quais a ação profissional ganha operacionalidade e concretude. São instâncias de passagem da teoria para a prática, são vias de penetração nas tramas constitutivas do real. Neste sentido, a própria prática profissional é uma mediação, pois coloca em movimento toda uma cadeia de vínculos na relação totalidade/particularidade, tendo em vista a superação da realidade social concreta.
Desempenhar a missão institucional não se trata de tarefa individual, seja da
pessoa ou da profissão, mas tarefa de um sujeito coletivo, portador de identidade
institucional e avalizado pelo estatuto político da ação profissional. Essa mediação
torna-se papel do agente institucional, na especificidade de sua profissão e nas
mediações erigidas na relação de totalidade/particularidade. De acordo com
Martinelli (1993, p.138-40):
[...] refere-se a alguns princípios fundamentais, na perspectiva materialista, concernentes à construção de mediações: a) Princípio do Reconhecimento do Ser Social: O homem é um ser contraditório e complexo, é parte de uma totalidade social. A forma como o homem produz a sua vida material (base material) expressa sua inserção na rede de relações sociais, bem como o nível de sua consciência social. b) Princípio de Atividade: A atividade, a prática social do homem, retrata seu mundo interior, expressa a unidade de sua consciência. Na atividade prática se unem os fins, aspirações, conhecimentos do homem com o mundo material, ou seja, unem-se o mundo material e o ideal. c) Princípio de Sistematização: Todo fenômeno deve ser encarado como um dado real, existente, concreto, devendo ser compreendido e revelado em sua condicionalidade material. d) Princípio da Totalidade: Como todo fenômeno é multidimensional e se estrutura em uma realidade complexa, é preciso conhecer essa realidade, apreendê-la em sua concretude e em seu movimento, para poder obter uma compreensão adequada do fenômeno.
Sendo assim, as mediações se apóiam em uma visão de mundo como
totalidade, como real concreto, em movimento e ainda uma concepção de homem
como ser histórico, abrangendo tanto a pessoa como o fenômeno, objetivando sua
compreensão no movimento e com a inserção no real.
Com referência aos fenômenos, as mediações devem favorecer o
conhecimento de sua própria existência e surgimento, de suas peculiaridades,
traços, e dos impactos resultantes. Desse modo dá-se inicio à compreensão do
surgimento das favelas.
24
2.1.4 Segregação Socioterritorial
O conceito de segregação revela separação e distanciamento, bem como a
restrição a certas condições da vida social a indivíduos, grupos ou instituições.
Segundo o urbanista Villaça (2001, p.142) a segregação é um processo segundo o
qual diferentes classes ou camadas sociais, tendem a se concentrar cada vez mais
em diferentes regiões ou conjuntos de bairros de uma metrópole. O fenômeno
repercute em situações como a ocupação social do espaço, ocasionando um
desajustamento dessas estruturas em relação à urbanidade requerida pela vida em
sociedade.
A segregação em espaços urbanos designa a maneira como se apresenta
dividida a estrutura social e espacial. Existem várias perspectivas de abordagem do
fenômeno, bem como a sua repercussão em espaços urbanos. A segregação pode
salientar diferenças e desigualdades entre grupos diferentes ou num mesmo grupo.
O afastamento é, por vezes, voluntário, de modo a preservar a base cultural
do grupo e reduzir conflitos ou tensões com outros. No entanto, esses objetivos nem
sempre são alcançados. A Constituição Federal de 1988 surgiu num contexto de
busca e da realização de direitos fundamentais do individuo e da coletividade,
elegendo a instituição do estado democrático, o qual se destina assegurar o
exercício dos direitos sociais e individuais e ainda o bem-estar, o desenvolvimento, a
igualdade e a justiça social, bem como, seguindo a tendência do constitucionalismo
contemporâneo, incorporou expressamente ao seu texto, o princípio da dignidade
da pessoa humana (art.1°, inc. III) – como valor su premo – definindo-o como
fundamento da República.
No âmbito da ponderação de bens ou valores, o princípio da dignidade da
pessoa humana justifica ou até mesmo exige, a restrição e outros bens
constitucionalmente protegidos. Ainda que representados por normas contendo
direitos fundamentas, de modo a servir como verdadeiro e seguro critérios para
solução desses conflitos.
O processo de urbanização acompanhado pela industrialização, é um dos
principais responsáveis por esse fenômeno caracterizado pelo aumento do número
de cidades e da sua dimensão, bem como do aumento da densidade populacional;
resultante, principalmente, dos processos migratórios.
25
A chegada de pessoas à cidade à procura de trabalho, provoca as
diferenças demográficas assistidas entre as zonas urbanas e rurais, particularmente
uma aglomeração populacional bastante diversificada nas perspectivas urbanas. É
deste processo que nasce, nas zonas urbanizadas, uma população diversificada e
heterogênea de diferentes etnias, culturas, usos e costumes em contraste com a
homogeneidade rural.
Dessa forma a segregação sócia territorial ocorre historicamente no contexto
das cidades brasileiras, de várias formas: cortiços, bairros segregados, bairros altos
e bairros baixos, etc. Se, de fato, a segregação sócio territorial das cidades
brasileiras não é um fenômeno recente, as favelas e os loteamentos e condomínios
fechados se consolidam como paradigma da segregação sócio espacial brasileira a
partir de meados dos anos 1980. Apesar de fenômenos distintos, essas formas de
moradia representam dois extremos da desigualdade existentes no contexto urbano
metropolitano.
2.1.5 Favelas
Segundo o Dicionário eletrônico (Houaiss da língua portuguesa 2001),
favela é o conjunto de habitações populares que utilizam materiais improvisados
em sua construção tosca e onde residem pessoas de baixa renda. Num sentido
pejorativo, significa lugar de mau aspecto, situação que se considera desagradável
ou desorganizada.
Houaiss acrescenta ao vocábulo “favela” que,
Segundo Nascentes, a acepção ‘habitação popular’ surge após a campanha de Canudos, quando os soldados, que ficaram instalados num morro daquela região, chamado da Favela, provavelmente por aí existir grande quantidade da planta favela, ao voltarem ao Rio de Janeiro, pediram licença ao Ministério da Guerra para se estabelecerem com suas famílias no alto do morro da Providência e passaram a chamá-lo morro da Favela, transferindo o nome do morro de Canudos, por lembrança ou por alguma semelhança que encontraram; o nome se generalizou para ‘conjunto de habitações populares.1
1 Nascentes: Antenor Nascentes, Dicionário da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras; 2. Favela: “arbusto ou árvore (Jatropha phyllacantha) da fam. das euforbiáceas, que ocorre no Brasil (N.E. e S.E.), de ramos lenhosos, folhas repandas ou sinuosas e denteadas, flores brancas, em cimeiras, e cápsulas escuras, verrucosas, com sementes oleaginosas e de que se faz farinha rica em proteínas e sais minerais; faveleira, faveleiro, mandioca-brava”.
26
As favelas são aglomeradas de habitações precariamente construídas com
materiais impróprios e/ou reaproveitados, dispostas de forma desorganizada e
densa, localizadas em regiões desprovidas de equipamentos e serviços públicos
essenciais, caracterizadas na maior parte dos casos, como áreas de proteção
ambiental. São ocupadas por pessoas de baixa renda que atuam na maioria das
vezes, na informalidade ou estão desempregadas.
Um exemplo é a migração da população rural para o espaço urbano em
busca de trabalho, nem sempre bem remunerado, aliada à histórica dificuldade do
poder público em criar políticas habitacionais adequadas. Estes são fatores que têm
levado ao crescimento dos domicílios em favelas
Pode-se destacar como características marcantes das favelas, a
inexistência de títulos de propriedade, a invasão de áreas privadas ou terras
públicas, ocupação de áreas de proteção ambiental ou localizadas em declives
acentuados, expostas a inundações e desabamentos, ou de áreas em solos
contaminados, inexistência de planejamento e desatendimento às normas relativas
ao parcelamento urbano. As Construções sempre estão em desacordo com as
posturas municipais e ainda, a inexistência de equipamentos públicos, o não-
atendimento por serviços públicos básicos no local ou nas proximidades, assim
como abastecimento de água, segurança pública, rede de esgoto, transporte,
serviços de saúde, fornecimento de energia elétrica etc. A obtenção de água e
energia elétrica é realizada por meio de desvios irregulares junto à rede normal, a
ocupação por população de baixa renda, a dominação por criminosos que, muitas
vezes, geram renda para as populações, baseada no aliciamento para a prática de
delitos. As favelas expressam atualmente, essas imitações urbanas de vida.
As favelas no Brasil são consideradas como uma consequência da má
distribuição de renda e do déficit habitacional no País. De acordo coma agência das
Nações Unidas, UH-HABITAT (2005), 26,4% da população urbana brasileira vive em
favelas. Dados do Ministério das Cidades, afirmam que o crescimento domiciliar
geral foi de 2,8%, e o domicílios em favelas foi de 4,8% ao ano. Entre 19991 e 1996
houve um aumento de 16,6% (557 mil) do número de domicílios em favelas; entre
1991 e 2000 o aumento foi de 22,5% (717 mil).
Nas duas últimas décadas, esse crescimento foi sensível em várias cidades,
principalmente nas grandes cidades e nas metrópoles.
27
De acordo com Pasternak (2003, p.1)
[...] crescendo a taxas maiores que a população total: as taxas anuais de crescimento populacionais entre 1980 e 1991 foram, para a Brasil, de 1,89%, e para os domicílios favelados, de 7,65%; na última década do século XX o incremento favelado, de 4,18% anuais, continuou maior que o geral, de 1,63 % anuais. O 2º Milênio terminou com 3.905 favelas espalhadas pelo país, segundo os dados do IBGE, considerado subestimado por muitos estudiosos.
As favelas no Brasil expressam um fenômeno predominantemente
metropolitano. Em nove regiões metropolitanas se concentram cerca de 80% das
favelas e domicílios favelados do país. "Em 1991, 2.391 favelas (74%), de um total
de 3.211 e 817.603 (78%) dos domicílios favelados se alocavam nas metrópoles"
(Pasternak, 2003, p.1). Nessas regiões, os municípios apresentam uma
concentração maior de população favelada.
Esse crescimento do número de favelas e da população favelada não pode
ser explicado apenas pelo empobrecimento da população urbana brasileira. Ele tem
correspondência com a própria forma de como o espaço urbano se estrutura nas
cidades, de forma fragmentada e segmentada, revelando a fragilidade do processo
de produção do espaço urbano nas grandes cidades e expondo a vulnerabilidade
das favelas na estrutura urbana.
O crescimento dos domicílios favelados, entre 1980 e 1991, pode ser
explicado, de um lado, pela falência do Sistema Financeiro de Habitação, que
culminou com a quebra do Banco Nacional de Habitação na década de 80. E de
outro, pela crise econômica que o país atravessava, aliada a um alto nível de
desemprego e a hiperinflação. De acordo com Pasternak (1997, p.4) o salário
mínimo perdeu 46% do seu valor real na década de 80 e a concentração de renda é
espantosa.
No período de 1980 a 1991, o Estado não foi capaz de conduzir uma política
habitacional que produzisse ou financiasse habitações para a população de baixa e
média renda. Esse fator, aliado à reestruturação produtiva das empresas,
intensificou o desemprego. O processo inflacionário corroeu os salários dos
empregados e contribuiu para o aumento do valor dos aluguéis. A população de
baixa renda se viu obrigada a buscar novas opções para morar, entre elas ocupar
terras e autoconstruir a sua moradia.
28
O que se viu, nos anos 80, foi um processo de ocupação de terras urbanas
públicas e particulares por movimentos organizados de luta por moradia, que
forçaram os governos municipais a se posicionarem. Nesse período, começaram,
ainda que de forma embrionária, algumas experiências de regularização fundiária,
de urbanização e até de construção de novas unidades pelo poder público local.
Percebeu-se, no período seguinte, entre 1991 e 2000, a proliferação de
favelas nas Regiões Metropolitanas, particularmente nas localidades mais afastadas
do centro, criando-se, assim, um 'novo padrão de ocupação periférica. Esse 'padrão'
reflete, por um lado, uma nova organização do espaço urbano no grandes centros,
baseada na segregação urbana, que, de acordo com Castells e Mollenkopf (1992),
deve ser entendido como "tendência à organização do espaço em zonas de forte
homogeneidade social interna e de forte disparidade social entre elas, entendendo-
se essa disparidade não só em termos de diferença como também de hierarquia"
(CASTELLS apud VILLAÇA , 2001, p.148).
Por outro lado, a invasão urbana como fato histórico se concretiza por
diversos fatores motivadores, mas, o principal deles é a falta de moradias,
demonstrada hoje pelo monstruoso déficit habitacional no Brasil. Aliado ao déficit
habitacional, encontra-se alto índice de desemprego no país.
O economicismo2 tende a interpretar todos os fenômenos sociais como de
origem econômica, falseando a interpretação de que o desenvolvimento urbano
passa apenas pelas melhorias como o arruamento, o asfalto e demais obras, não
considerando a interação entre o homem e o seu meio urbano e a preservação do
meio ambiente. Com o crescimento da chamada “favelização no Brasil” a solução
proposta ao desfavelamento, o enfrentamento do problema, depende de soluções
mais complexas. Em boa parte isso não é mais possível, seja pelo emaranhado
jurídico de uma ação desse tipo, seja porque o Estado simplesmente não dispõe de
verbas para tal empreendimento. É mais fácil e barato urbanizar do que remover.
Mas, há situações em que a remoção pode e deve ser feita, quando as favelas estão
em áreas de risco ou quando a sua presença na paisagem tem impacto econômico
ambiental negativo.
2 Economicismo é um termo utilizado para criticar o reducionismo econômico, que é a redução de
todos os fatos sociais a dimensões econômicas.
29
2.1.6 Desfavelamento por meio de Políticas Publicas
Segundo Bueno (2000), a partir de 1930 há uma evolução das tendências de
erradicação, remoção ou desfavelamento para a reurbanização e, mais
recentemente, para a urbanização. No Brasil a cidade clandestina era duas vezes
maior que a cidade oficial, e a questão social urbana era tratada como caso de
polícia. Incapaz de comprar um terreno ou uma casa, ou ainda sem condições para
locar um imóvel, a população de excluídos se viu obrigada a morar à margem da
legislação em vigor, ou seja, na ilegalidade.
Vistas como sinônimo do caos urbano, as favelas fazem parte da malha
urbana da cidade contemporânea, avizinhando-se, muitas vezes, da cidade legal.
Conforme Kowarick (1979, p.159), “ao contrário do que supõe a grande maioria, as
favelas representam um microcosmo onde se espelha o conjunto de situações
socioeconômicas e culturais que caracterizam os habitantes pobres da cidade”.
A princípio as políticas de atuação nas favelas brasileiras tendiam à
erradicação, com base na tendência sanitarista, cuja ação baseava-se na destruição
das moradias consideradas insalubres e na realocação dos moradores em conjuntos
habitacionais construídos na periferia das cidades. Entretanto, ao longo dos anos,
essa política foi se mostrando ineficiente, já que muitos dos moradores realocados
abandonavam a nova moradia e constituíam novas favelas.
A partir de 1960, se tentou produzir uma política habitacional, representada
pelo SFH (Sistema Financeiro de Habitação). A idéia do SFH era de minimizar os
investimentos a fundo perdidos, criando uma base sustentável para o financiamento
e impedindo a descapitalização do sistema. O modelo se baseava no financiamento
ao produtor e não ao usuário final (FREITAS, 2004). Nesta época, o BNH (Banco
Nacional de Habitação) produziu conjuntos habitacionais populares em larga escala
nas periferias das cidades brasileiras. Além disso, as principais críticas a esses
empreendimentos estão relacionadas à precária inserção urbana dos conjuntos, à
monotonia relacionada à padronização das casas de má qualidade construtiva e à
segregação social dos moradores em relação ao restante da cidade.
De acordo com Bonduki (1998, p.320), quando o BNH buscou reduzir o
custo da moradia para tentar atender a uma população que vinha se empobrecendo,
ao invés de alterar o processo de gestão e produção que encarecia o produto final,
apoiando iniciativas que a população já vinha promovendo, optou por rebaixar a
30
qualidade da construção e tamanho da unidade, financiando moradias cada vez
menores, mais precárias e distantes.
A política do BNH fracassou em 1968 e a instituição passou a atuar como
financiador de grandes obras de infra-estrutura, sendo finalmente extinto em 1986.
(FREITAS, 2004).
Em 1979, o PROMORAR (Programa de Erradicação de Sub-habitação),
criado pelo Governo Federal e que recebeu empréstimos do Banco Mundial, foi o
único programa até então voltado às favelas e que possibilitava a permanência da
população em área anteriormente habitada, com a regularização da posse de terra e
a substituição de barracos por casas de alvenaria na mesma área de moradia
(FERNANDES, 2004).
O PROMORAR, financiado pelo BNH, era destinado à população com até
três salários mínimos, e oferecia um embrião de 23m² de construção em um terreno
de 75m², Picarelli (1986). O projeto não levava em conta as necessidades de
população. Além disso, a sua execução realizada por empreiteiras, era de péssima
qualidade técnica, o que propiciou o surgimento de problemas nos primeiros anos de
uso e até mesmo antes de sua utilização.
Nos anos 80, muitas prefeituras passaram a atuar de forma sistemática
na consolidação de favelas, por meio de obras ou através da aprovação de
legislação para regularização, ou mesmo pela simples mudança de postura, de não
mais tentar remover os barracos ou impedir a ligação de água e luz Bueno
(2000,p.191).
A política de atuação nas favelas sofreu grandes mudanças e
principalmente a partir dos anos de 1980 e foi consolidada na década seguinte. A
partir da Constituição Federal de 1988, foram revistos, criados e propostos diversos
instrumentos e instâncias de regulação, voltados para dar legitimidade e segurança
às formas de posse e ocupação do espaço urbano, advindas da necessidade de
moradia. Tais mudanças deram condições ao poder público para investir nessas
áreas visando a melhoria das condições de salubridade e habitabilidade e, quando
possível, aproximando-as jurídica e urbanisticamente, (COSTA, 2006).
Observa-se ao longo da década de 1990, o início de um novo consenso por
parte de governos, ONGs (Organizações Não-Governamentais) e organismos
multilaterais de apoio acerca da resolução do problema das populações pobres e
31
faveladas. As soluções apontam para a necessidade de aliar os programas sociais
como educação básica, capacitação profissional e conscientização ambiental, ao
planejamento e às obras de urbanização, além do fortalecimento da organização
comunitária, tendo em vista a utilização e a potencialização do capital social.
Da atual conjuntura da sociedade brasileira, Davis (2006) apresentou
aspectos positivos relacionados ao movimento pela reforma urbana, pois reúne
entidades profissionais, acadêmicas, de pesquisa, ONGs, funcionários públicos,
além das entidades nacionais que lutam pela moradia. Esse movimento social
conquistou a aprovação de importantes leis como o Estatuto da Cidade (Lei
n.10.257, em 10/7/2001), a Lei do Fundo Nacional de Moradia Social (Lei n.11.124,
em 16/6/2005) e ainda, a criação do Ministério das Cidades, uma reivindicação que
vinha sendo feita havia mais de dez anos.
O Estatuto da Cidade (2001) instituiu vários instrumentos que visam
combater a especulação imobiliária, além de mecanismos para garantir a
participação popular no processo de planejamento e gestão do espaço, para que
sejam alcançados os objetivos da política urbana, de garantir o pleno
desenvolvimento da função social da propriedade e de dar condições dignas de vida
urbana a todos os cidadãos.
Além disso, a possibilidade de criação das ZEIS (Zonas Especiais de
Interesse Social), por intermédio do plano diretor, representou o reconhecimento dos
assentamentos precários, com população de baixa renda, como parte da cidade
formal, bem como a necessidade de se estabelecer leis específicas condizentes com
a realidade dos menos favorecidos.
Ao reconhecer a existência das favelas e de espaços irregulares na cidade e
propondo sua urbanização ou requalificação, transformado-as gradualmente em
bairros, Estado e sociedade reconhecem a cidade real e cria condições de
convivência naquilo que é tido como irregular.
Remover populações das favelas não é fórmula que se obtém
matematicamente. As favelas são realidades sociais e, desfazê-las, muitas vezes,
implica resultados bem mais danosos do que manter. Planejar áreas dotadas é o
caminho, mas certo para implantação de equipamentos e serviços públicos como
posto de saúde, posto policial, vias públicas, serviço de distribuição de água e
recolhimento de lixo e transferir as populações das favelas para elas, após
criteriosos estudos que indiquem a inevitabilidade da medida de sua remoção.
32
No entanto, essa ação só surtirá efeitos positivos na medida em que as
áreas desocupadas sejam imediatamente preenchidas por outro projeto urbanístico
e tenham restaurada a vegetação legalmente protegida ou, quando isso não ocorrer
imediatamente, se inviabilize nova ocupação como forma de, gradativamente,
corrigirem-se os problemas ambientais.
Entretanto, existem situações em que a remoção das populações deve
ocorrer compulsoriamente, ou seja, quando as favelas estiverem localizadas em
áreas de risco, como, por exemplo, aquelas sujeitas a desmoronamentos e
inundações ou aquelas localizadas em áreas contaminadas e também, quando
estiverem situadas em áreas de proteção ambiental ou em processo de
reurbanização. Sendo assim um conceito sobre o desfavelamento.
Segundo o Estatuto da Cidade, a remoção de uma população que ocupa
irregularmente uma área pode acontecer no âmbito jurídico, medida fácil de ser
adotada. Entretanto, existem situações consolidadas, com reconhecimento feito pela
Lei nº. 10.257/01-Estatuto da Cidade3 (usucapião especial de imóvel urbano,art. 10),
que merecem especial estudo.
Nessa situação, estamos diante de dois direitos: o dos possuidores a
usucapião, e o da comunidade, à sustentabilidade e o planejamento, direitos esses
que visam propiciar qualidade de vida sadia.
A solução está em prestigiar o direito da comunidade, removendo-se a
população da área usucapião ou com direito a tanto (usucapião pode ser argüida em
defesa: súmula 237, do Supremo Tribunal Federal), ou, quando impraticável essa
medida, dotando-se a área de equipamentos e serviços públicos.
A adoção dessas medidas possibilitou a melhoria da qualidade de vida da
população existente na área, bem como daquela que reside nas imediações, o que
se pode chamar de desfavelamento.
O processo de urbanização das cidades brasileiras para Baltrusis (2000)
consolidou nos últimos cinquenta anos um padrão de ocupação do solo
3 Lei nº. 10.257/01-Estatuto da Cidade: Art. 1o Na execução da política urbana, de que tratam os
arts. 182 e 183 da Constituição Federal, será aplicado o previsto nesta Lei.” Parágrafo único. Para todos os efeitos, esta Lei, denominada Estatuto da cidade, estabelece normas de ordem pública e de interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo e de segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental.
33
caracterizado pela desigualdade sócia espacial, reflexa das desigualdades
socioeconômicas.
O reflexo da incapacidade do poder público instituído em dar respostas à
demanda para fins de moradia, fez com que a população organizada ocupasse
glebas públicas e privadas. Muitas dessas áreas ocupadas, se transformaram em
favelas, tornando a questão da moradia mais complexa.
34
3. CONTEXTUALIZAÇÃO: POLÍTICA DE DESFAVELAMENTO NO MUN ICÍPIO
DE CAMPO GRANDE/ MS.
No final dos anos 70 e início dos anos 80, a “Capital Morena” assistiu ao
“boom” do surgimento das favelas, formadas basicamente por pessoas expulsas da
terra e sua má distribuição. Sem emprego e sem moradia, a população, oriunda das
fazendas do próprio Estado de Mato Grosso do Sul, erguia barracos precários e
passava a viver em condições subumanas.
Uma pesquisa realizada por estudantes já revelava a dura realidade na
favela da vila Nhanhá, uma das principais a serem formadas na capital, com mais de
trezentas famílias, 50% eram provenientes do próprio Estado de Mato Grosso do Sul
e, destas, 34,3% tinham como local de moradia anterior as próprias fazendas da
região – representando um deslocamento direto do antigo local de residência para o
novo local – a favela (BITTAR 1999, p. 244) .
A autora prossegue dizendo que foi elemento vital no processo migratório,
que ocorreu no sul de Mato Grosso, o fato de muitos destes migrantes estarem em
situação economicamente desfavorável em suas terras de origem. Um exemplo
desta afirmação é a crise agrícola que afetou o Estado do Rio Grande do Sul nas
décadas de 1940 e de 1950 que, por sua vez, causou um êxodo rural. Muitas
pessoas foram para as zonas urbanas e/ou aventuraram-se para terras poucos
exploradas, fato que provocou crescimento populacional da fronteira, em particular
da agrícola, no sentido leste-oeste do Brasil.
As margens dos córregos, em Campo Grande/MS, são lugares de fácil
ocupação. Há extensas faixas de áreas públicas contíguas às vias de circulação
dos loteamentos, que foram ocupados paulatinamente, ao longo dos anos,
especialmente a partir da década de 70.
Essa situação cooperou para o surgimento de problemas ambientais
decorrentes das invasões e usos indevidos nas margens dos córregos, como
lançamento de efluentes líquidos e sólidos, desmatamento das áreas de proteção
permanente especialmente para o plantio de árvores frutíferas e agricultura de
subsistência e para a promoção do desequilíbrio da fauna e flora.
Na década de 70, a questão da moradia passou a ser prioridade das
Políticas Publicas, que realizou ações para a remoção de favelas e das famílias que
35
nelas habitavam, promovendo a recuperação ambiental, instalando infraestrutura
adequada e ofertando equipamentos sociais às margens das bacias dos córregos
campo-grandenses. A primeira medida a ser adotada para o problema habitacional
foi levantar a situação econômica geral dos favelados.
Com a instituição do Programa de Regularização e Assentamento de Favelas
previsto no PAC (Programa de Aceleramento do Crescimento), decreto Nº 6.276, de
28 de novembro de 2007, a administração local passou a dispor de instrumentos
importantes que possibilitariam empreender ações com o objetivo de melhorar a
condição de vida das famílias pobres da periferia e de proteger as áreas públicas e
as de preservação ambiental das invasões.
A Política Municipal de Habitação prevê, segundo a Lei N. 3.429 de 24 de
Dezembro de 1997, em seu Parágrafo único, que
deve priorizar o acesso à moradia para a população de renda familiar de até 05 (cinco) salários mínimos e será implementada pelo setor público, isoladamente ou em parceria com a iniciativa privada, as entidades profissionais e as instituições de ensino e pesquisa.
Entre seus objetivos a administração local começou então a preocupações
com a ocupação ambiental e urbanisticamente equilibrada do solo urbano.
3.1 Desfavelamento em Campo Grande
O Município, desde 1984 conta com o Programa de Regularização e
Assentamento de Favelas, instituído pela Lei Municipal nº 2.223/84 e regulamentado
pelo Decreto nº 5.112/84, que se constitui instrumento básico para as intervenções
urbanísticas em assentamentos informais no Município. Por meio desse decreto de
regulamentação se estabelece uma maior flexibilidade na definição dos parâmetros
urbanísticos aplicáveis aos assentamentos informais já consolidados e passíveis de
regularização4.
4 Decreto N.º 5.112/84, artigo 2.º: “Consideram-se em regime jurídico especial as áreas das favelas, respeitada a situação de fato existente, a par dos interesses na urbanização e regulamentação técnica dos lotes, visando o perfeito assentamento dos ocupantes, afastadas as regras gerais da legislação urbanística e as do uso e parcelamento do solo, aplicando-lhes tão somente as normas desta lei e a do decreto regulamentador”.
36
Nesse contexto, representa a culminação de um processo de
transformações na forma de atendimento à questão habitacional no Município de
Campo Grande/MS. As primeiras ações desfavelamento foram de remanejamento
de população assentada em áreas impróprias para o uso residencial. Os
loteamentos e conjuntos habitacionais foram sendo construídos para a instalação
dessas famílias, que foram removidas na sequência. São exemplos Projetos Buriti-
Lagoa e o Soter (Figura 1), que serão mais bem detalhados em seguida.
Projeto Buriti -
Lagoa
Projeto Soter
Figura 1: Localização dos Projetos no Município de Campo Grande- MS.
Fonte: Arquivo do autor.
3.2 Projetos Buriti-Lagoa e Soter
A intervenção na Região do Lagoa em Campo Grande chamado de
Projeto Buriti-Lagoa, foi a primeira ação executada em Mato Grosso do Sul por meio
da parceria entre o Programa Habitar Brasil BID/Ministério de Estado das Cidades,
Prefeitura Municipal de Campo Grande e Caixa Econômica Federal. Nesse contexto,
a implantação do Projeto teve início pela pesquisa censitária realizada in loco, em
abril de 2001.
37
O conjunto de moradias irregulares compreendia o equivalente a 765
casas, 88% das quais eram precárias e insalubres. Do quantitativo total, 350 famílias
foram remanejadas, pois estavam situadas em áreas de risco (na faixa de proteção
à rede de alta tensão ou em áreas inundáveis), o restante, ou seja, as 415 moradias
foram regularizadas segundo a Lei Municipal. A dotação de infra-estrutura era
precária, principalmente no relativo ao esgotamento sanitário, sendo adotadas
fossas negras5. Exatamente 34 moradias não dispunham de nenhuma instalação
sanitária. As famílias viviam em extrema miserabilidade. Uma região de difícil
acesso. A intervenção proposta pelo Projeto consistiu na promoção da urbanização
das favelas já citadas e de sua regularização.
O Projeto Buriti-Lagoa envolveu ações de melhoramento físico-
urbanístico; de resgate do passivo ambiental representado pela contaminação do
solo e dos cursos d’água e perda da cobertura vegetal original; de aplicação
criteriosa da legislação vigente, que permitiu o remanejamento de moradias de áreas
de risco para lotes ociosos no loteamento consolidado; além de grande ênfase no
trabalho social, que cumpre função acessória nos projetos multissetoriais integrados,
mas que, no caso do Buriti-Lagoa assumiu um papel fundamental.
Esse conjunto de inovações assegurou êxito ao Projeto e foi incorporado
às práticas cotidianas da Prefeitura de Campo Grande, representando um avanço
substantivo para proporcionar à população acesso à moradia segura e digna por via
da integração dos processos de planejamento e gestão urbanos, contemplando
simultaneamente as questões urbanísticas, habitacionais, ambientais, jurídicas e
sociais.
Essa direção política teve como marco conceitual, expresso pela
Declaração Universal dos Direitos Humanos,1948 no artigo 256:
(1) Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade.(2) A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam da mesma protecção social.
5 Fossa negra: É uma fossa séptica, uma escavação sem revestimento interno onde os dejetos caem no terreno, parte se infiltrando e parte sendo decomposta na superfície de fundo. Não existe nenhum deflúvio. São dispositivos perigosos que só devem ser empregados em último caso. 6 Adotada e proclamada pela Resolução 217 A(III) da assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, de 10 de dezembro de 1948.
38
Observou-se no processo de execução do Projeto Buriti - Lagoa que a
população habitava locais sujeitos às situações de riscos, segundo a legislação
urbanística municipal7, e forma considerados faixas non aedificandi8, principalmente
as famílias situadas nas margens do Córrego Lagoa, que, além dos riscos de
enchentes e inundações, encontravam-se muito próximas às torres de alta tensão.
Parte desta população que ocupava irregularmente o ecossistema de fundo de vale,
provocando alterações significativas no meio físico e biótico, foi mantida no seu local
de origem e as outras foram remanejadas. A Figura 2 mostra a localização do
Projeto e a área de intervenção.
CÓRREGO
BURITI
CÓRREGO
LAGOA
LINHA DE
ALTA TENSÃO
ÁREA
RECEPTORA
LOCALIZAÇÃO
*
REGULARIZAÇÃO
REMANEJAMENTO
Figura 2: Localização do Projeto – área de intervenção. Fonte: Prefeitura Municipal de Campo Grande, 2011.
O Projeto Buriti-Lagoa, para Santana (2011), Assistente Social da EMHA,
foi uma intervenção moderna e inovadora, como a ação mitigadora em relação aos
córregos outrora degradados – Buriti e Lagoa. Tais ações visaram o envolvimento
popular nesse projeto isso aconteceu, por meio das várias ações que envolvendo os
eixos: mobilização e fortalecimento comunitário; educação sanitária e ambiental;
7 Lei complementar Nº74, de 06 de setembro de 2005. 8 De acordo com o site jusbrasil: Faixa non aedificandi: faixa de terreno ao longo de estrada ou cursos d’água onde,por disposição legal é vedado edificar.(www.jusbrasil.com.br)
39
geração de renda e educação para o trânsito melhorou a vida da comunidade,
organizando-a harmoniosamente, resultando em satisfação e inclusão social.
Observa-se, pelas figuras 3 e 4, como eram as casas antes do
remanejamento e sua precariedade.
.
Figuras 3 e 4: Favela do Buriti: Aspectos da ocupação irregular em área de risco. Fonte: Projeto de Participação Comunitária/PPC//EMHA/2001.
Por outro lado, as inovações do Projeto Buriti - Lagoa introduziu uma
ruptura com as práticas até então convencionais, alcançando-se um novo patamar
de atuação. Para Santana (2011), a execução das habitações em loteamento
consolidaram, utilizando lotes vazios, foi deferidos por lei, com o suporte de infra-
estrutura básica, quebrou o estigma da construção dos tradicionais conjuntos
habitacionais, conforme se pode notar nas Figuras 5 e 6. A experiência do Projeto
Buriti-Lagoa subsidiou outros projetos.
Figuras 5 e 6: Buriti- Lagoa – Unidades habitacionais e parque Buriti - Lagoa. Fonte: Arquivo do autor e EMHA 2011.
40
Destaca-se, então, o Projeto Soter, que contou com o financiamento de
US$ 6,147 milhões pelo Fundo para o Desenvolvimento dos Países da Bacia do
Prata – FONPLATA, em parceria com a Prefeitura Municipal de Campo Grande/MS,
Os recursos foram aplicados, pela Prefeitura, na recuperação das áreas degradadas
do córrego Soter, prolongamento da Avenida Via Parque entre a Avenida Mato
Grosso e o conjunto Mata do Jacinto e na implantação do Parque Ecológico, na
nascente do Soter, entre outras obras integradas, como o conjunto habitacional
reunindo os componentes de recuperação ambiental, infraestrutura urbana e
reassentamento populacional e desenvolvimento social.
O Projeto Soter foi elaborado em 2002 e inaugurado em junho de 2003; visou
ao reassentamento de 108 unidades habitacionais que foram construídas para
famílias que moravam em condição de risco às margens dos córregos Soter e
Pindaré. Essas famílias foram reassentadas em local próximo à moradia anterior
segundo Santana (2011), mitigando os impactos negativos que a remoção para
áreas distantes poderia ocasionar, e receberam a assistência da prefeitura para
realizar a mudança.
A área residencial está localizada atrás do Ceasa e em frente ao Parque
Ecológico que foi implantado na cabeceira do Córrego Soter, como parte do Projeto.
As casas têm 45,56 m² de área construída (Figuras 7 e 8) num terreno de 200 m² e
são dotadas de instalações elétricas e hidrossanitárias completas, cobertura com
telha de cerâmica e forro.
Figuras 7 e 8: Modelo de planta das casas dos Projetos Buriti-Lagoa e Soter. Fonte: Arquivo do autor e EMHA 2011.
41
O conjunto habitacional conta com calçadas, meio fio e arborização com
mudas de plantas nativas do cerrado, como a arbórea e Ipê.
Para Santana (2011), outro fator que destaca o conjunto como
ecologicamente correto é a existência de rede coletora de esgoto ao invés de fossas
sépticas. Todos os efluentes são coletados pela rede e levados até uma estação de
tratamento implantada nas proximidades do conjunto.
A identificação da população do local se deu a partir do cadastro
integrado contemplando todos os atores sociais ali envolvidos. O instrumento
escolhido para a obtenção do diagnóstico populacional foi o levantamento social
censitário por possibilitar o conhecimento do perfil da população alvo, assim como
especificidades das unidades familiares, ressaltou Santana( 2011), que o órgão
responsável pela execução do projeto procurou enfatizar o numero de famílias ali
existente e de pessoas, o padrão de vida familiar, a renda, a escolaridade, a
integração da família na comunidade, as condições da propriedade do imóvel, de
saúde e de lazer.
Nesse contexto, o Projeto - Soter recebeu o Prêmio Selo de Mérito 2003,
da Associação Brasileira de COHABs/ABC, pelas ações desenvolvidas que reuniu
as melhores práticas no quesito recuperação ambientais, infraestrutura urbana,
reassentamento populacional e desenvolvimento social (Figuras 9 e 10).
Figuras 9 e 10: Projeto Soter - Unidades habitacionais construídas. Fonte: Arquivo da EMHA, 2011
42
A proximidade do local reassentado com a área de remoção foi de grande
relevância para minimizar o impacto social e cultural. Foi contemplada a contenção
do processo erosivo na cabeceira do córrego através de replante de vegetação das
encostas. Foi construído um parque municipal de 23 ha para atividades de lazer e de
educação ambiental e um parque linear de 15 ha com replante de vegetação das
margens do curso d’água. Também foi implantado um sistema viário, composto por
vias para circulação de veículos, vias de circulação para pedestres e ciclovia.
A infraestrutura implantada e a correção geral das situações de risco
elevaram o assentamento subnormal à condição de bairro, possibilitando a melhoria
da qualidade de vida dos cidadãos.
Com o objetivo de responder a alguns questionamentos: como dois
projetos das políticas públicas, no mesmo período, em Campo Grande, se tornaram
opostos? Quais suas finalidades sociais, como ocorreu a trajetória de cada um, que
fatores que intervieram, que funções sociais desempenharam, qual a fortaleza de
um e a fraqueza do outro? O que o desenvolvimento local dos projetos tem a ver
com o cenário econômico e social? Este trabalho se propõe analisar esses pontos.
43
4. MATERIAL E MÉTODO
O objetivo deste trabalho é analisar a política de desfavelamento no
Município de Campo Grande- MS, fazendo uma comparação entre o Projeto Buriti -
Lagoa e o Projeto Soter. O mapa da cidade de Campo Grande (Figura 11), mostra a
divisão dessas Regiões Urbanas. Cada região recebeu o nome de acordo com o
córrego que representavam aquela micro-bacia e destacados em vermelho o local
dos Projetos.
Figura 11. Localização dos dois projetos desfavelamento, mapa de Campo Grande. Fonte: Arquivo do autor.
Para a consecução da pesquisa, dividiu-se em dois grandes momentos.
No primeiro, fez-se o levantamento de fontes bibliográficas como livros nacionais,
periódicos e artigos publicados em congressos, dissertações e sites que serviram de
base para o referencial teórico compondo assim um breve levantamento bibliográfico
sobre a temática. E por se tratar de um estudo sobre projetos de política de
desfavelamento, foi fundamental uma pesquisa específica e dividida em dois
44
enfoques: sua origem e sua condição atual. Por isso, a primeira etapa do trabalho foi
dedicada ao resgate histórico através de documentos escritos e iconográficos.
Realizou-se, ainda, a coleta dos dados empíricos junto à Prefeitura de
Campo Grande, precisamente na Agência Municipal de Habitação de Campo
Grande – EMHA, em março de 2011, por meio de entrevista com a Coordenadora da
Área Social/UAS Assistente Social Iara Pereira da Silva Santana que coordenou os
Projetos (Buriti – Lagoa e o Soter). A coordenadora nos informou que executou e
coordenou diretamente os Projetos Buriti-Lagoa; quanto ao Projeto Soter, somente
assessorou e quem o executou foi outra equipe da Prefeitura, também entrevistada
in loco. As entrevistas foram em forma de questionários semi-estruturados, ou seja,
com perguntas abertas que orientaram uma conversação informal e foram voltadas
às questões do déficit habitacionais, moradias populares, legislações pertinentes e
principalmente sob os dois Projetos Projeto Buriti-Lagoa e o Projeto Soter, objetos
da pesquisa.
No Instituto Municipal de Planejamento Urbano – PLANURB, foi recolhido
matérias sob o Projeto Soter, porém, foi preciso aguardar para coleta de dados,
tendo em vista o fechamento da biblioteca para reformas pelo período de um ano e
meio, iniciado em Maio de 2010, sendo reaberta somente em Setembro de 2011.
Também foram coletados dados in loco por meio de entrevistas semi-estruturadas
com moradores das duas regiões e realizado registros fotográficos, imagens de
georeferênciamento dos locais visitados, como fontes de dados.
O estudo trata de uma análise comparativa entre dois projetos que foram
realizados em Campo Grande/MS, voltados para o desfavelamento e urbanização
da cidade. A opção pela realização de entrevistas está colocada no entendimento de
Ianni (1977, p. 59) quando afirma que “há vários modos de dizer a verdade, ou de
procurá-la. Um deles, segundo nos parece, consiste em deixar que as pessoas
envolvidas nas situações e problemas estudados utilizem as suas próprias palavras.”
Conforme Durkheim (1985, p.16) a comparação ganha, aqui, um papel de
destaque em sua proposta teórico-metodológica, pois, segundo o autor:
“para que uma variação seja demonstrativa, não é necessário que toda s as variações diferentes daquelas que comparamos tenham sido rigorosamente excluídas “. O simples paralelismo de valores pelos quais passam dois fenômenos , desde que tenha sido estabelecido num número suficiente de casos bastante variados , é a prova de que existe entre eles uma relação (...) A concomitância constante é, pois , ela mesma, uma lei, seja qual for o estado dos fenômenos que restaram fora da comparação. (DURKHEIM, op.cit., 1985, p.17)
45
Passando a compreender o objeto de estudo e entendendo suas distinções e
suas peculiaridades, pôde-se realizar uma abordagem comparativa. A análise,
então, foi delimitada no período de uma década, entre 2003 e 2011, e como limite de
espaço entre essas duas regiões distintas do programa de desfavelamento que
aconteceram em Campo Grande, denominada Região do Lagoa e Prosa, elegeu-se
essas regiões pela maior concentração de número de pessoas reassentadas, as
quais foram removidos para essas áreas urbanas, regularizadas pela Prefeitura de
Campo Grande.
As entrevistas foram aplicadas no período de Setembro a Outubro 2011. As
informações foram coletadas e algumas transcritas na análise, tendo em vista os
objetivos da pesquisa.
Na região Lagoa o Projeto Buriti-Lagoa, das 387 famílias remanejadas, o
presidente do bairro nos relatou que dessas famílias tinha conhecimento de que
apenas 10% haviam mudado das casas e revendido para outras pessoas. Enquanto
que na região do Prosa no Projeto Soter foi informado que, das 108 famílias, pelos
próprios moradores entrevistados, havia apenas 08 famílias remanescentes naquele
local na época e como às familiais estão atualmente.
A metodologia desenvolvida consistiu em análises documentais e visitas
“in loco”, abrangendo o histórico da moradia popular e seus moradores. Foi possível
observar a atuação no que diz respeito à gestão habitacional local e concluir que o
resultado dessa política pública, só é possível quando tratada com seriedade e
participação da comunidade. E proporcionou conhecer os itens mais importantes
desses conjuntos habitacionais e da sua localização na visão dos seus moradores.
A participação da sociedade é imprescindível. Essa participação é resultado
de um processo que envolve o sentimento de pertencimento e, em decorrência
disso, do sentimento de responsabilidade pelo desenvolvimento econômico e social
da comunidade. Quanto maior for o nível de participação, mais sólidos esses
sentimentos se tornarão e, quanto mais fortes os sentimentos, maior o nível de
envolvimento e maiores as chances das políticas públicas alcançarem os seus
objetivos.
Por isso a escolha de uma análise comparativa, que é justamente a
verificação e levantamento dos impactos dos projetos sobre a situação atual dos
moradores remanejados. Procurar-se-á responder aos questionamentos que foram
46
surgindo no decorrer desses estudos, por exemplo, o que deu certo num projeto e
no outro não deu e quais os fatores que intervieram para essas remoções.
47
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Desde 1984, o Município conta com o Programa de Regularização e
Assentamento de Favelas, instituído pela Lei Municipal nº 2.223/84 e regulamentado
pelo Decreto nº 5.112/84, que se constitui em instrumento básico para as
intervenções urbanísticas em assentamentos informais no Município. Por meio de
seu decreto de regulamentação se estabelece, por um lado, uma maior flexibilidade
na definição dos parâmetros urbanísticos aplicáveis aos assentamentos informais já
consolidados e passíveis de regularização9.
Esses Projetos representaram a culminância de um processo de
transformações na forma de atendimento à questão habitacional no Município de
Campo Grande/MS. As primeiras ações para o desfavelamento foram de
remanejamento dessa população assentada em áreas impróprias para o uso
residencial. Os loteamentos e conjuntos habitacionais foram construídos para a
instalação dessas famílias.
A prática de atuação em melhorias habitacionais e urbanísticas de
assentamentos degradados vem sendo, nos últimos anos, levada a diversas cidades
brasileiras como ações que acreditam que deram certas. Seu objetivo, em geral, é
proporcionar níveis de vida mais decentes à população-alvo e diminuir impactos
ambientais negativos gerados por essas aglomerações urbanas que apresentam
insegurança geológica e precariedade nas condições de saneamento, conforto,
acessos e serviços urbanos.
Segundo Gonçalves (2010), há casos em que urbanizações de favelas visam
prioritariamente “embelezar” certas áreas urbanas, eliminar situações de
irregularidade fundiária e promover a valorização imobiliária do entorno,
circunstâncias essas já detectadas por alguns estudos econômicos. Para a cidade
Campo Grande essa ações trouxeram grandes modificações
Segundo o ex Diretor-Presidente da EMHA (2004) “no projeto Soter, por
exemplo, fomos longe demais, não sobrou um favelado”, referindo-se ao padrão
construtivo esmerado das moradias oferecidas no Projeto Soter e associado à sua
9 Decreto N.º 5.112/84, artigo 2.º: “Consideram-se em regime jurídico especial as áreas das favelas, respeitada a situação de fato existente, a par dos interesses na urbanização e regulamentação técnica dos lotes, visando o perfeito assentamento dos ocupantes, afastadas as regras gerais da legislação urbanística e as do uso e parcelamento do solo, aplicando-lhes tão somente as normas desta lei e a do decreto regulamentador”.
48
localização privilegiada, próximo a bairros de alto padrão e adjacente a um parque, a
valorização da área. Porque a expressão “fomos longe demais?”.
Foi um projeto executado pelo poder público em local de provável
especulação imobiliária. A “retirada coletiva” dos reassentados foi apenas uma
conseqüência do movimento do capital.
A implantação do Projeto Soter ocorrida na época, segundo Santana (2011),
determinou uma ordem em 500% de investimento para a construção das casas e o
remanejamento das famílias, no início do projeto o metro quadrado de terreno valia
cerca de R$ 40,00, depois de sua conclusão passou a R$ 200,00. Em quanto aos
depoimentos de moradores indicaram uma valorização expressiva.
Em visita ao local encontramos uma área valorizada do ponto de vista da
especulação imobiliária, conforme Figuras 12 e 13, que nos mostram diversos
empreendimentos em execução na circunvizinhança do perímetro.
Figuras 12 e 13: Aspectos das mudanças ocorridas na região Soter pós remanejamento . Fonte: Arquivo do autor, 2011.
49
No Projeto Buriti-Lagoa, conforme mostram as Figuras 14 e 15, por
enquanto, na região, não há construções de grande porte como no Projeto Soter.
Figuras 14 e 15: Casas do Projeto Buriti-Lago e vista de frente sem construções. Fonte: Arquivo do autor.
A seguir, conforme proposta, a análise da pesquisa dos projetos citados.
5.1 Análises dos impactos entre o Projeto Soter e o Projeto Buriti-Lagoa.
Nas casas habitacionais do projeto Soter, das 108 famílias que foram
remanejadas, dessas, apenas 8 famílias são remanescente do projeto e foi
observado um estrangulamento desses que ficaram, pois estão sendo forçados a
reformar suas casa e adequar-se as novas fachadas que a próprio região está
exigindo como pode ser visto nas Figuras 16 e 17.
Figuras 16 e 17: Aspectos das novas fachadas das casas no Projeto Soter, 2011 . Fonte: Arquivo do autor.
50
Após a implantação, os moradores perceberam que o imposto das casas é
elevado (área nobre da cidade). A região tem um padrão alto de vida, presença de
empresas de maior porte entre quais se destaca a rede de super mercado Comper e
Carrefour. As famílias remanejadas que ainda moram no local estão sendo
condicionadas a entrarem no ritmo da pressão imobiliária.
Observou-se que na área do Soter a valorização imobiliária é um dos locais
que mais crescem em Campo Grande-MS, principalmente pelos bairros nobres que
se formaram em torno dessa área e o consequente encarecimento do custo de vida
naquele local. Essas famílias que ali permaneceram tiveram que se adequar;
outras, venderam suas casas, mudando para outros lugares, segundo informações,
para locais mais periféricos. Não há informação se voltaram para outras favelas.
Numa das visitas realizadas, em diálogo com uma das antigas moradoras
remanejadas da favela, identificada simplesmente por Senhora S (entrevista
concedida em 19.09.11) – vendedora ambulante de jogo do bicho – ouviu-se o relato
de que ela tinha recebido a casa na época do remanejamento. Porém já vendera o
imóvel, dizendo que havia recebido um “dinheiro bom”, que lhe permitiu comprar
outra moradia no Bairro Nova Lima. Ao ser inquirido sobre o valor de venda do
imóvel, respondeu que, na época da negociação, a casa lhe havia rendido R$
15.000,00 (quinze mil reais) e “que era um bom dinheiro com o qual saldaria seus
débitos e compraria um terreno para ela em outro lugar. Ao ser perguntada se
conhecia outras famílias antigas, ela indicou que havia 08 famílias, das 88
remanejadas, que ainda estão morando no local. A moradora indicou os endereços.
À pergunta: “A senhora sabe quem comprou as casas”?” A moradora respondeu que
alguns eram funcionários públicos, outros, bancários e pessoas que tinham dinheiro,
ou seja, pessoas com bons recursos financeiros. Nova pergunta: “Para onde foram
as outras famílias?” Ela nos respondeu que “não tinha notícia, a única coisa que
sabia é que venderam as casas e foram embora dali”.
Buscando esclarecer esse contexto, é preciso destacar o fenômeno da
especulação imobiliária. Segundo Lakatos (1987, p. 15),
As cidades crescem em várias direções, sem mostrar regularidade na forma desse crescimento, sendo que algumas são influenciadas desde o princípio por barreiras naturais do seu relevo. Entretanto, existe outra barreira que não é de ordem física, mas de ordem social e econômica, que é a propriedade privada da terra. Neste caso, pode se fazer referência às terras rurais que estão localizadas nos limites da área urbana, as quais só são colocadas no mercado se houver interesse de seus proprietários em negociá-las.
51
Assim, a expansão territorial urbana se apresenta como parte e também
decorrente do processo de produção do espaço urbano, a partir de interesses
fundiários e imobiliários, sendo que a produção de novas áreas a serem ocupadas
se insere no contexto da transformação do caráter rural da terra, em terra para uso
potencial urbano, o que inclui a possibilidade de constituição de uma espacialidade
urbana. (SPOSITO, 1983, p.80)
Ao buscar o local indicado pela Senhora S, as 08 famílias restantes foram
localizadas. O quadro desvelado é que as famílias tiveram que “arrumar” suas casas
para melhor acomodá-las à nova paisagem local, desde a mudanças no estilo de
casa, fechadas mais modernas, telhados mais arrojados, cores mais fortes, entre
outro, ou seja, mudanças consideráveis na aparência das antigas residências.
Desta forma, o mercado imobiliário adquire um papel ativo na
determinação das condições de mudança dos usos do solo, captando as
possibilidades e os limites impostos à atuação dos capitais incorporadores sobre o
espaço urbano. A expansão territorial urbana, mais que expressão física da
ocupação de novas áreas que passam a ser integradas ao ecúmeno urbano, se
constitui em variável fundamental para a compreensão do processo de estruturação
intra-urbana por provocar modificações no estoque de terrenos disponíveis,
mudanças nos preços relativos entre áreas e nos usos potenciais do solo urbano,
bem como a alteração das acessibilidades no interior da cidade.
No local indicado encontramos uma das 8 famílias que participaram do
remanejamento. Conversando com a dona da casa, uma das representantes
comunitárias na ocasião, que será denominada por Senhora R (entrevista concedida
em 19.09.11), relatou que morava naquele lugar desde a efetivação da transferência
e que sua antiga casa era de madeira, coberta de lona, localizada próxima ao
córrego. Segue seu relato, informando que tinha muitas frutas no quintal e que
passou por muitas dificuldades, juntamente com seus 12 filhos na época. Cinco dos
seus filhos atualmente residem com sua famílias na mesma rua e próximos à sua
casa. Os outros moradores haviam vendido e se mudado do lugar. Ao ser indagada:
“E a casa do projeto, o que achou?”, a senhora R respondeu que, na época, foi
muito bom pois tinha uma casa nova e bonita, porém, encontra-se angustiada, pois
não conseguir pagar as prestações da casa e o IPTU, com o seu salário de
aposentada, além de outras despesas como o fornecimento de água e energia
elétrica, além de alimentação e vestuário. Diante desse dilema a única solução que
52
vislumbrava era a venda do imóvel, da mesma forma que muitos outros moradores
já fizeram. Nova pergunta: “Qual o valor de sua casa atualmente?” Ela respondeu
“fiquei sabendo pela vizinhança que vale uns 100 mil, mas eu venderia por menos,
pois se eu não pagar o que devo, vão me tirar daqui”. Foi perguntado “Quem iria tirá-
la?”, ao que a informante respondeu: " a Prefeitura". No entanto, a senhora R
pretende e tem esperanças de encontrar um modo para permanecer residindo no
local.
Nesse processo de “periferização” ou ocupação de espaços não
apropriados para o consumo urbano das classes privilegiadas, encontra-se a ação
dos pioneiros da produção do solo urbano. Uma vez instalados e de acordo com o
grau de coesão e pressão que são capazes de exercer junto aos órgãos públicos,
com a expectativa benevolente dos especuladores, esta população vai lutar por
melhorias até que inverta a equação inicialmente proposta: o custo social decresce à
medida que se instalam linhas de ônibus, água, luz, calçamento, saneamento e o
custo econômico se elevam ao nível de interessar ao especulador que dele se
apropriará para obter lucro, promovendo a “limpeza ou expulsão mais ou menos
branda”, da população originariamente assentada.
Ao perguntar à Senhora R (entrevista concedida em 20.09.11) “Se
conhecia, outros moradores remanejados que ali residiam”, respondeu que “Só os
filhos dela e duas outras famílias que moravam na mesma rua, que não tinha mais
conhecimento de outras pessoas, pois muitos haviam se mudado dali”. Foi
perguntado: “Qual a sua participação na comunidade hoje em dia?”. A informante
respondeu que “estava velha e não queria mais se envolver com nada no bairro”.
Nas Figuras 18 e 19 pode-se verificar a transformação das casas acompanhando
mudanças em redor do bairro.
53
Figura 18 e 19: Casa de morador entrevistado e, mais à frente construções de torres de um grande empreendimento imobiliário. Fonte: Arquivo do Autor
Para Rodrigues (1991), existem algumas formas de especulação imobiliária
a mais comum refere-se ao interior da área loteada e diz respeito à retenção
deliberada de lotes. Em geral, vendem-se inicialmente os lotes mal localizados, para,
em seguida, gradativamente e à medida que o loteamento vai sendo ocupado,
colocarem-se os demais à venda.
Em relação a essa forma de especulação, a simples ocupação de parte do
loteamento já faz com que os demais lotes valorizem, mesmo porque a ocupação
desses lotes, geralmente, é acompanhada da instalação de estabelecimentos
comerciais e de serviços de abastecimento diário, como padarias, mercearias,
farmácias, etc. A outra forma de especulação se refere ao loteamento de glebas não
contínuas à malha urbana, criando os chamados vazios urbana.
Observa-se, por meio das figuras 20 e 21, a valorização imobiliária que vem
acontecendo no Projeto Soter, muitas placas de vendas estão fixadas nas na região
principalmente nas casas do projeto. Para Baran (1966, p. 294), primeiro, como
tipicamente todo o mapa de uma cidade é pontilhado de áreas mais ou menos
amplas de cortiços e quarteirões decadentes, há sempre uma ampla possibilidade
de escolhas quando chega o momento de determinar a próxima área a ser
remodelada. Uma delas poderia ser, por exemplo, a preferência das autoridades
municipais pelo decoro e aparência o que levaria a dar alta prioridade à limpeza de
áreas que ofendem a sensibilidade da elite do poder da cidade.
Nesse sentido, nessa região do Prosa encontra-se uma das melhores
áreas da cidade. É, especificamente, um local atraente, não só por motivos públicos
e de política, mas também pelas possibilidades onerosas de impostos que vai para o
tesouro municipal, pelo poder aquisitivo, hoje do lugar.
54
A esse respeito, Baran (1966, p.295) considera que uma área pode aparecer
por várias razões; proximidades de vizinhanças “boas”, ambiente natural, facilidade
de transportes, a uma firma construtora como um bom local para novas habitações,
e sua oferta pode convencer as autoridades da premência de ser ela designada
como área de renovação. Observem-se as Figuras 20 e 21.
Figuras 20 e 21: Empreendimento imobiliário defronte ao Projeto Soter. Fonte: Arquivo do autor.
Essas transferências de favelas estão relacionadas a iniciativas públicas
encarregadas das habitações como a repartição publica que tem uma intenção como
efeito da legislação sobre a remoção urbana tanto nas iniciativas e incentivos de
programas e projetos sociais, para Baran (1966, p. 297) “é acabar com as áreas em
deterioração, ou indesejáveis por outros motivos, fazendo delas bens valiosos nas
mãos de prósperos empresários privados”.
Como foram observadas na região do Soter as transformações tanto
ambientais quanto sociais vêm acontecendo desde a implantação do projeto. Foi
observado que as famílias remanescentes demonstraram insegurança e até quando
permanecerão ali, tendo em vista o alto custo de vida no local. Por outro lado o
Projeto Buriti-Lagoa está localizado na região denominado Lago, periférica da área
central da cidade e rodeado de bairros, mais populares e menos elitizado, porém,
também em fase de crescimento imobiliário, não como no projeto Soter, onde essa
manifestação é mais visível.
O Projeto Buriti-Lagoa nesse sentido teve um diferencial, o trabalho técnico
social voltado estrategicamente aos seus atores sociais e teve como um dos
objetivos, a participação de toda a comunidade que seria remanejada para as novas
casas habitacionais.
55
O programa HBB foi pioneiro no destaque e relevância para o
componente social. A participação ativa conforme relato da comunidade e registro
documental foi intenso, para Santana (2010) Assistente Social, coordenadora da
área social do projeto Buriti-Lagoa, “desde o planejamento da proposta até a
conclusão da execução física das obras e um ano após sua ocupação foi ponto
basilar para o sucesso da intervenção.” Conforme (Figuras 22 e 23) moradia antes
do remanejamento.
Figuras 22 e 23: Moradias do Buriti-Lagoa antes do remanejamento. Fonte: Arquivo do autor.
Nesse contexto, o êxito no Projeto Buriti-Lagoa, de acordo com
informações documentais do projeto (2010), deve-se à mensuração nos relatório
mensais da equipe técnica, às reuniões preparatórias, nas reuniões às comissões, à
satisfação e ao entendimento da população beneficiária sobre o empreendimento
que influenciaram positivamente. O projeto Buriti-Lagoa foi referendado
nacionalmente e recebeu da Associação Brasileira de COHABs – ABC – o Prêmio
Selo de Mérito como uma das dez melhores Práticas Nacionais em Habitação e pelo
excelente desempenho, inclusive do IBAM/Instituto Brasileiro de Administração
Municipal (2007) “a base institucional de sustentação do Projeto é formada pela
Prefeitura Municipal de Campo Grande, é premissa do Projeto que os moradores
não se restrinjam ao papel de meros espectadores, mas que participarem de forma
ativa ao longo de todo o processo.”
Nesse sentido, o trabalho social foi considerado como o diferencial
incentivador das potencialidades locais, tendo na comunidade parceria
indispensável, fundamental e determinante. Conforme Bulla (1992) são diretrizes
curriculares da formação profissional a capacitação teórico-metodológica, ético-
56
política e técnico-operativa. Segundo, qual o processo de intervenção profissional
implica, para Faleiros (1997), os pressupostos de deciframento analítico da
estrutura, da conjuntura e da situação, numa perspectiva relacional e de articulação
da participação do sujeito e atuação em redes e vínculos que permitam mediações
gerais e particulares de assegurar direitos e que se transformem em estratégias de
ação.
Em vista in loco á região do Lagoa, observou-se que no entorno não
ocorreram tantas mudanças arquitetônicas, como construções de edifícios,
diferentemente da região do Soter, onde ficam bem visíveis essas construções.
Em conversa com presidente do bairro, liderança forte da região aqui
denominado Senhor J (entrevista concedida 05.10.11), a pergunta foi sobre “o
remanejamento do Buriti-Lagoa para as novas casas, o que havia sentido com
aquela transferência”, o morador respondeu “que foi muito bom e que parabenizava
o Projeto pela seriedade porque através de técnicas bem elaboradas, a comunidade
participou bem no trabalho social voltado para os moradores, tirou uma causa que
nos afligiu há muito tempo, a favela que morávamos. A minha casa era feia e ficava
embaixo da rede elétrica era de lona e madeira, hoje, a minha casa é de material
(alvenaria) e só tenho que agradecer a atitude humana do Prefeito que fez isso por
nós”.
A expressão “atitude humana” oportunizou uma reflexão quanto à
articulação política e até que ponto estava na fala do morador. Para ele a situação
que viveu no passado e depois receber a casa nova, foi uma atitude humanitária do
Prefeito. A Constituição Federal assegura o exercício dos direitos sociais e
individuais, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores
supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na
harmonia social e preconiza a inclusão dos artigos 182 e 183, compondo o capítulo
da Política Urbana, descrevendo participação de entidades civis e de movimentos
sociais em defesa do direito à cidade, à habitação, ao acesso a melhores serviços
públicos e, por decorrência, a oportunidades de vida urbana digna para todos. Então
é obrigação do Estado resolver questões sociais e públicas e não como favor dos
menos favorecidos.
Ao ser indagado, ao Senhor J, se tinha “informações das 350 famílias
remanejadas e se residiam no mesmo local”, ele nos respondeu que "sim, dessas
350 famílias que mais ou menos 40 famílias haviam se mudado dali e vendido suas
57
casas para terceiros e o restante moravam ali; Como representante da comunidade
tenho que conhecer”. À pergunta “foi observado alguma mudança após
remanejamento na comunidade?” obteve a resposta "sim, hoje o bairro cresceu e
com a nova avenida que esta terminando de construir, vai crescer muito por aqui,
porque essa via nova vai interligar outros bairros, isso é bom, aqui mesmo onde
tinha apenas nossas casas, hoje temos tudo que precisamos, mercado, loja de
material de construção, pode ver. Tem muitas casas nova e bonita sendo construída
por aqui, nosso bairro esta ficando bonito."
Foram realizadas visitas in loco a vários outros moradores da localidade e
nos chamou atenção a Senhora N, a moradora mais antiga ( entrevista concedida
em 07.10.11). Segundo informação obtida do Senhor J, foi relatado que a Senhora
N está na região há mais de 30 anos e que ela participou de todos os trabalhos do
remanejamento. Foi perguntado “Como foi a transferência para essa casa?” Ela nos
respondeu que "foi ótima, antes a minha casa ficava a beira do córrego, quando
chovia inundava tudo eu já não tinha muitas coisas e tudo ia embora com a chuva.
Na época morava eu e meus 5 filhos, me lembro que não havia luz e nem asfalto
tudo era um brejo, quando recebi essa casa ficou melhor porque sai da beira do
córrego e a minha casa fica em frente a ele hoje como ficou lindo." (conferir as
Figuras 24 e 25). Foi perguntado: “participa de alguma atividade social oferecida no
bairro?” a Senhora N nos respondeu: “sim participo do grupo de idosos e faço cursos
quando são oferecidos no centro comunitário.
Figuras 24 e 25. Casas do Projeto Buriti-Lagoa. Fonte: Arquivo do autor.
58
Outro morador, o Senhor C, chamou a atenção na entrevista (concedida
09.10.11). Quando foi perguntado sobre o remanejamento, relatou, como
representante do movimento comunitário e morador da região envolvida no Projeto,
que: “sinto-me gratificado com tamanha abrangência e seriedade do projeto, pois
veio propiciar aos moradores um tipo de vida melhor, uma moradia mais digna e
saudável e a participação no trabalho social da EMHA pela maneira séria, digna e
eficiente no desenvolvimento do remanejamento, principalmente os técnicos sociais
que souberam agir com eficiência e paciência suficientes, para contornar as diversas
situações, muitas vezes embaraçosas que ali se passaram”.
Fazendo reflexão do desempenho do trabalho social na comunidade,
focado, principalmente, “na pessoa humana”, com a comunidade participante nas
ações importantes em suas vidas, confronta, segundo Santana (2010), Assistente
Social e Coordenadora da área Social do projeto Buriti-Lagoa: ”o sistema e a
globalização capitalista como um projeto de construção, de baixo para cima,
centrada nos valores e gestão dos meios de produzir e reproduzir a vida, e na
construção de sujeitos do seu próprio desenvolvimento pessoal e social, busca
combater qualquer forma de opressão e exploração econômica, política e cultural”.
Essa foi a forma do trabalho social executado no Buriti-Lagoa, por meio do Projeto
de Participação Comunitária.
Outro relato que nos chamou atenção foi da moradora Senhora G
(concedida 12.10.11), que reside há mais de 13 anos na região; quando perguntada
se “tem intenção de mudar desse local” a resposta foi “não, vivo muito bem aqui a
casa e bem melhor e o local é bom fica bem perto da onde eu morava até existe o
pé de manga aonde meus filhos iam e pegava manga lá”.
A senhora M (moradora e remanescente do projeto entrevista concedida
em 12.10.11) relatou “que foi a melhor coisa que aconteceu, pois antes morava
numa casa de lona revestida de papelão e madeira, hoje moro numa casa de tijolo
com sala, quarto, cozinha e banheiro e um terreno grande”. Segundo a moradora, as
pessoas ainda moram naquela região e que ela não sabia de imóvel vendido ali. As
Figuras 26 e 27 mostram a fachada dessa casa e seu interior.
59
Figuras 26 e 27: Fachada da casa do projeto Buriti-Lagoa e seu interior. Fonte: Arquivo do autor.
Foi demonstrado, nas entrevistas, o apego à proximidade da região e as
melhorias acontecidas. O Projeto Buriti-Lagoa, pela sua dimensão, foi planejado e
executado por uma equipe social que visou os atores sociais, ou seja, pessoas que
viviam nessa região foram remanejadas para a mesma localidade. o remanejado
não saiu de seu contexto social, sua raiz e origem da região foram transferidos com
uma infraestrutura e trabalhados para essa remoção já descrita. Conforme
segregação socioterritorial, o espaço atua sobre os indivíduos e ao mesmo tempo
representa tipos de organização.
O trabalho social realizado na área de intervenção foi consistente e
atingiu o público alvo; para Santana (2010)10, ”à continuidade do trabalho social junto
às famílias, recomendam-se ações de manutenção do trabalho realizado,
principalmente fortalecendo pontos que tangem a motivação, valorização,
conscientização e formação de lideranças." Foram observadas essas ações na
comunidade in loco, porque a pesquisadora mora nessa região.
A implantação do Projeto Buriti-Lagoa – HBB gerou impacto na melhoria
da qualidade de vida e na satisfação dos residentes. Para a coordenadora da Área
social desse projeto (2010), “assim, foram considerados os pontos positivos os
aspectos negativos decorrentes de entraves e dificuldades dos processos de
intervenções físicas e sociais, inerentes a projetos de intervenção em áreas”.
É evidente que o trabalho social mobilizou a população que se apropriou
das melhorias efetuadas, e aos poucos vai fortalecendo a sua identidade como
cidadãos incluídos no direito à moradia digna e com qualidade de vida, associada à
10 Iara S. Santana Assistente social, membro da UEM, coordenadora da Área Social do projeto BURITI LAGOA.
60
qualidade ambiental, à capacitação econômica de suas famílias em melhorar a sua
casa própria, à força simbólica da moradia sólida com quintal, lugar sossegado e
boas relações de vizinhança. Podemos destacar, no relato dos moradores, a
expressão: “um lugar bom para se viver”.
No decorrer do estudo foram analisados os Projetos Buriti-Lagoa e Soter
e suas diferenças, mesmo tendo o mesmo objetivo, conforme quadro comparativo
entre os dois projetos (Anexo I), a partir de documentos e dados coletados e como
foi à execução e descoberto as potencialidades dos locais e sua operacionalidade. A
região dos Projetos, o ambiente construído, físico e social, ganhou novas feições
após o remanejamento dessas famílias, o que fez surgir uma gama de novos
estabelecimentos comerciais e de serviços, aquecendo a economia local e
consequente a especulação imobiliária. Quanto aos Parques Lineares,
representaram um dos pontos altos dos Projetos, no que tange ao espaço coletivo
de apropriação e de entretenimento, porém com alguns problemas ambientais já
detectados, tais como os já citados, erosões, assoreamento e inundações
ocasionados principalmente pela impermeabilização do solo.
61
6. CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na análise dos Projetos Soter e Buriti-Lagoa, foi observado que os
moradores do Soter não foram bem preparados quanto os moradores do Buriti-
Lagoa, para a remoção e reassentamento. Nos conjuntos habitacionais destaca-se:
o Projeto Soter foi idealizado por uma Assistente Social, juntamente com sua equipe
interdisciplinar e a execução por uma Sanitarista, bem como se acredita que
ocorreram alguns entraves no processo para a remoção imediata do Soter, diferente
do Projeto Buriti-Lagoa, que já tinha uma relação forte com o poder público, os
moradores organizaram uma temática de trabalho Social na comunidade,
diferenciado do Soter, onde os reassentados, por serem em número menor de
famílias, não lhes foi oportunizado se organizarem.
O Projeto Buriti-Lagoa está localizado numa região periférica, onde ainda
está em início o processo de investimentos imobiliários – diferente da região do
Soter – que se encontra em fase da valorização e crescimento, a cada dia surgindo
novos conjuntos habitacionais, valorização esta que se deve em grande parte, à
construção de uma grande avenida inaugurada em 19/12/11 denominada Prefeito
Lúdio Martins coelho, que, segundo manchetes de jornais (2011), proporcionará o
interesse de investimentos na região, por possibilitar acesso mais rápido pela via,
reduzindo o percurso do Centro aos bairros da região.
Foi observado in Loco duas grandes áreas que, anteriormente, eram
fazendas e que foram compradas por Empresas de Engenharia e Incorporação,
onde serão construídos condomínios fechados.
A percepção dos impactos ambientais referentes à implantação das
construções em áreas de fundo de vale dos córregos Prosa e Lagoa e nas Áreas de
Preservação Permanente, localizados tanto no Parque Soter e Buriti-Lagoa, bem
como o problema de grandes áreas impermeabilizadas, não é citada pelos
moradores. Porém em observação “in Loco”, a erosão e o assoreamento desses
córregos, propiciaram as inundações, que anteriormente não existia, a degradação
ambiental, que ocorre justamente pela falta de manutenção e preservação, esse
problema não é foco da pesquisa, porém dá margem para outros estudos.
Foi observado que na Região do Soter houve especulação imobiliária,
enquanto na Região do Buriti-Lagoa ocorreu a valorização, em virtude dos
investimentos realizados.
62
A análise da pesquisa evidenciou as diferenças de atendimento,
organização e ações sociais, resultando o estudo em contribuição para a
aprendizagem social e para o desenvolvimento local.
Considera-se, portanto, que se faz necessário o cidadão da comunidade
se organizar; manter sua moradia não é uma luta isolada e sim uma conquista por
meio da organização de uma sociedade civil.
63
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70
ANEXO 1
Quadro dos Projetos para comparação:
Modalidade Dos Projetos
Projeto Buriti-lagoa Projeto Soter Obs.
In Loco In Loco In loco Localização Localizado na Zona Leste da Cidade de Campo Grande/MS denominada Região
do Lago – Periferia de Campo Grande/MS
Região do Prosa Avenida Via Parque entre a Avenida Mato Grosso e o conjunto Mata do Jacinto, e a implantação do Parque Ecológico, na nascente do Soter, entre outras obras integradas, como o conjunto habitacional.
Visita
Financiado Programa Habitar Brasil BID – HBB Fundo para o Desenvolvimento dos Países da Bacia do Prata - FONPLATA
Documental
Valor do financiamento 10.888.559,06 milhões 6.147 milhões Remanejamento populacional 350 famílias e regularizou a situação de 414 famílias que “ocupavam”
precariamente e irregularmente as margens dos Córregos Buriti e Lagoa e a faixa de linha de alta tensão, na Região do Lagoa – Bairro São Conrado e Região.
As 108 unidades habitacionais construídas por meio do Projeto Soter visaram o reassentamento das 108 famílias que moravam em condição de risco às margens dos córregos Soter e Pindaré.
Tamanho das casas 45,56 m² de área construída e são dotadas de instalações elétricas e hidrossanitárias completas, cobertura com telha de cerâmica e forro
45,56 m² de área construída e são dotadas de instalações elétricas e hidrossanitárias completas, cobertura com telha de cerâmica e forro
As principais obras
A região de intervenção é servida de equipamentos públicos que oferecem serviços sociais, educacionais e de saúde.
Os principais equipamentos públicos existentes na área de intervenção são: • Escola Estadual Luiza Vidal Borges Daniel – Rua das Ameixas _ Ensino
Fundamental / Atividades de treinamento esportivo para alunos da escola; • Escola Estadual Olinda Conceição Teixeira Baba – Rua das Camélias _
Ensino Fundamental e Médio / Atividades de treinamento esportivo para alunos da escola;
• Escola Estadual Prof.ª Maria Rita de Cássia Teixeira – Rua Osvaldinho Mendes Rocha _ Ensino Fundamental e Médio / Atividades de treinamento esportivo para alunos da escola;
• Escola Municipal José de Souza – Rua das Camélias - escola padrão / Atividades de treinamento esportivo para alunos da escola e Escola Viva, nos fins-de-semana;
• CRS - Centro de Saúde Dr. Ivan I. da Costa – Rua João S. Araújo – Conjunto Buriti.
• Escola Estadual Prof. Élia França Cardoso – Rua Sgto Jonas S. de Oliveira (Ensino Fundamental e Médio) _ Atividades de treinamento esportivo para alunos da escola e Projeto “Nós fazemos a diferença”: sensibilização dos
1) Remoção da população que vivia nas margens dos Córregos Soter e Pindaré; 2) Implantação do Loteamento Social com rede de abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem de águas pluviais, rede de energia elétrica, iluminação pública e pavimentação asfáltica; 3) Construção de casas de alvenaria, com área de 45,56 m2, com instalações elétricas e hidrossanitárias completas e cobertura com telhas cerâmicas; 4) Reforma e ampliação do Centro de Múltiplas Atividades; 5) Desenvolvimento e execução do Projeto de Participação Comunitária; 6) Construção do Parque Municipal para atividades de lazer e de educação ambiental na nascente do córrego Soter; 7) Implantação do Parque Linear ao longo do córrego Soter; 8) Desenvolvimento e execução do Projeto de Educação Sanitária e Ambiental; 9) Pavimentação asfáltica e rede de drenagem; 10) Implantação de vias para circulação de veículos; 11) Implantação de ciclovia;
71
jovens e da comunidade para questões do meio ambiente; • Escola Municipal Prof.ª Maria Tereza Rodrigues – Rua Cel. Adauto Barbosa
– Ensino Fundamental. Com quadra poli esportiva e ginásio para as atividades de treinamento esportivo para alunos da escola e Escola Viva , nos fins-de-semana;
• UBSF: Unidade Básica da Saúde da Família São Conrado – Rua Pampulha; • CRS - Centro de Saúde Dr. Ênio Cunha – Rua Manoel da Costa Lima -
Bairro Guanandy funcionamento: 24 horas; • CRAS - Centro de Referência de Assistência Social do São Conrado - Rua
Livino Godoy esquina com a Rua Internacional (o CRAS, primeiramente, era denominado CEMA - Centro de Múltiplas Atividades que passou para UNIDAS - Unidade de Referência de Assistência Social): unidade de atendimento de crianças, pré-adolescentes, jovens, adultos e idosos nas inúmeras atividades e serviços oferecidos no local;
• Ginásio Poliesportivo Herta Betty Krawiec - Rua Livino Godoy esquina com a Rua Internacional no mesmo terreno que abriga o CRAS e o campo de futebol com pista de caminhada;
• TeleCentro Digital: situado dentro do CRAS, o programa Campo Grande Digital têm como objetivos reduzir os índices de exclusão digital em Campo Grande, levar conhecimento e educação às comunidades, capacitar os usuários para o mercado de trabalho e viabilizar o acesso da população aos serviços públicos oferecidos via internet;
• CEINF / CRAS - Centro de Educação Infantil CRAS - São Conrado, capacidade para 70 crianças;
• CEINF/ São Conrado: Centro de Educação Infantil do São Conrado, capacidade para 170 crianças;
• Campos de futebol em quadras de domínio público - 3 unidades; • Centro Comunitário Nosso Progresso com Biblioteca Comunitária atendida
por bibliotecárias; • Centro Comunitário do Buriti; • Fábrica da Gente - Unidade de Produção de Artefatos de Cimento; • Parque Linear.
Prêmios recebidos Recebeu o Prêmio Selo de Mérito Nacional pela Associação Brasileira de COHABs – ABC, em 2003. Prêmio Melhores Práticas da Caixa Econômica Federal em Gestão Local no ano de 2005, como uma das 10 Melhores Experiências em Habitação no Brasil. Foi indicado para representar o Brasil no Prêmio Internacional da Organização das Nações Unidas - ONU em 2006, em Dubai nos Emirados Árabes.
Prêmio Selo de Mérito 2003, da Associação Brasileira de COHABs/ABC, pelas ações desenvolvidas no componente Reassentamento Populacional.
Aplicação do Projeto Assistente social Sanitarista Vista “in loco” 08 moradores 08 moradores