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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
Direito e Serviço Social – uma contribuição sócio-jurídica aos trabalhadores
AUTOR
Glória Sueli Campos
ORIENTADOR
PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO
RIO DE JANEIRO 2011
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
Direito e Serviço Social – uma contribuição sócio-jurídica aos trabalhadores
Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes – Instituto a Vez do Mestre, como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Direito e processo do Trabalho. Por: Glória Sueli Campos
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RESUMO
O acesso à justiça tem sido considerado pelos teóricos das Ciências Jurídicas como um direito fundamental, uma vez que dele dependem todos os outros direitos. Para as populações menos favorecidas o amplo acesso à justiça através de profissionais plenamente capacitados é tão importante e fundamental quanto ao acesso à saúde, à educação, à morada e outros. O Serviço Social contribui a partir de seu conhecimento específico para a construção de novas alternativas de ação no campo jurídico, especificamente nos serviços que oferecem a assistência jurídica integral e gratuita, elencando as atividades, as ações desempenhadas pelo Serviço Social, os instrumentais, recursos teórico-metodológicos utilizados e a relação da equipe no desenvolvimento deste trabalho. A partir do contexto sócio-jurídico, destaca-se o acesso à justiça no decorrer dos tempos, a realidade da justiça brasileira e os sujeitos deste contexto sócio-jurídico com objetivo a democratização do acesso à justiça.
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METODOLOGIA
O presente trabalho constitui-se em uma descrição do profissional do
Serviço Social na área jurídica e tentando mostrar a importância deste para os
usuários destes serviços.
A pesquisa bibliográfica e documental foi o conhecimento de que nos
servimos no processo e investigação.
A pesquisa em jornais e revistas também teve um significado
importante.
A pesquisa eletrônica nos possibilitou contato com várias experiências
de trabalho na área do acesso à justiça, e atuação do profissional assistente
social em situações relacionadas a conflitos trabalhistas.
O referencial teórico está baseado em autores que têm produções
identificadas com o projeto de ruptura profissional com a prática
assistencialista, a que atende a classe dominante e tem nas Políticas Sociais
e nas instituições, quer pública ou privada, a sua legitimação.
Entendemos poder contribuir para uma compreensão e discussão do
Serviço Social jurídico e os meios alternativos de solução de controvérsias, a
partir da sistematização teórica que produzimos.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 8
CAPÍTULO I
Conceitos históricos ................................................................................................................................... 11
1.1 – Direito do Trabalho...............................................................................................................................11
1.2 – Serviço Social........................................................................................................................................13
1.3 - Serviço Social Jurídico .......................................................................................................................15
CAPÍTULO II
Justiça Social .................................................................................................................................................18
2.1- Serviço Social : campo do Direito Social ? .........................................................................................18
2.2 – Acesso à Justiça .................................................................................................................................. 21
CAPÍTULO III
Assistência sócio-jurídica ............................................................................................................................25
3.1- Serviço Social no contexto sócio jurídico ..........................................................................................25
3.2- Alternativas ao acesso à Justiça ..........................................................................................................27
3.3 – Medição.................................................................................................................................................. 30
CONCLUSÃO................................................................................................................................................. 33.
BIBLIOGRAFIA.............................................................................................................................................. 36
ANEXOS......................................................................................................................................................... 39
8
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa nasceu de uma preocupação com as questões
pertinentes às grandes mudanças na sociedade como um todo. Estas
mudanças como: tendência a privatização; a terceirização de setores das
organizações; a grande evolução do setor da comunicação e da tecnologia; a
globalização da economia e o avanço do neoliberalismo afetaram o mundo do
trabalho levando à redução paulatina das responsabilidades do Estado sobre
a seguridade e os direitos sociais da população.
Frente às novas configurações, nos perguntamos se o exercício do
serviço social estaria atrelado às novas formas de gestão e controle da força
de trabalho, requeridas pelas mudanças tecnológicas e da organização do
processo produtivo. Portanto, nos perguntamos se as demandas postas aos
Assistentes Sociais têm sido realocadas para a esfera das “relações de
trabalho”,alargando a tradicional inserção que era restrita à esfera dos
“benefícios assistenciais”.
Desde 1940, os Assistentes Sociais ocupam cargos no judiciário,
atuando junto aos Tribunais de Justiças estaduais . Seu papel é,
especialmente, oferecer suporte no que diz respeito aos aspectos sociais
envolvidos nas ações judiciais. Porém, os desafios nesse meio são vários, a
começar pelo ambiente burocrático e pelo cotidiano institucional muito
normativo, com a predominância ainda, em alguns espaços, de ações
disciplinadoras como mecanismo de controle social, nem sempre levando em
conta as determinações que constituem a trajetória dos envolvidos nos casos.
Nesse sentido, o presente trabalho pretende contribuir para a reflexão
do tema e a ampliação de esforços na instrumentação do profissional que se
dedica à área sócio-jurídica e que vivenciam a questão da dificuldade de
efetivar o seu projeto ético-político, já que através de uma escuta
especializada dos Assistentes Sociais, se conseguiria das maior dinamismo e
agilidade ao atendimento.
9
O serviço Social contribui a partir de seu conhecimento específico para
a construção de novas alternativas de ação no campo jurídico. No entanto,
são poucos os estudos que dão ênfase a prática profissional na área de
assistência jurídica. Não considerando uma prática isolada, mas que
compreende as circunstâncias institucionais e sociais na qual se realiza,
constituíram-se alvos de nosso estudo questionamentos, como:
- Como se dá à relação entre Serviço Social e Direito no acesso à Justiça?
- Que conjuntos de atividades e ações são desempenhadas pelo Assistente
Social e que características esta intervenção tem nos conflitos trabalhistas?
- Quais são os instrumentos e recursos teórico-metodológicos utilizados para
o desenvolvimento e encaminhamento de ações nesta área de intervenção?
O Assistente Social tem como objetivo de trabalho a questão social, que é
produzida pela relação capital e trabalho no sistema capitalista, onde se tem o
mercado como centro norteador das estruturas políticas, sociais e
econômicas.
A questão social se expressa através da precarização do trabalho, do
desemprego, da pobreza, enfim, coloca às margens da sociedade vários
sujeitos que passarão a ser usuários das políticas públicas sociais do Estado.
Os diversos setores da sociedade organizada precisam compreender a
importância do Assistente Social na realidade social contemporânea,
enquanto agente critico engajado nas lutas sociais, que atua junto aos
usuários das políticas públicas, muitas vezes elaborando-as e não só
executando-as, e também as tornando acessíveis.
Este é um profissional preocupado com a ampliação dos direitos sociais
universais , e contra as desigualdades; até mesmo para cobrar dele esta
postura estabelecida em seu atual Código de Ética Profissional (CRESS,
2005). Que atua junto aos movimentos organizados da sociedade; que
propicia meios aos seus usuários para o exercício de suas cidadanias; que
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elabora políticas públicas de acesso aos direitos sociais garantidos
constitucionalmente; e que atua como mediador de conflitos entre as classes
sociais, buscando igualdade de oportunidades.
A contribuição do Serviço Social jurídico através de uma triagem para
melhorar a efetivação desses serviços e para a sua humanização; a
ampliação da discussão sobre o acesso da população à justiça e sobre as
formas de sua administração são as questões mais relevantes.
No entanto, nos parece compreensível que a nódoa que marca o
conceito sobre a atuação do Assistente Social tem fundamentos e de ser
esclarecida, a começar por uma viagem histórica de construção e desafios
impostos a esta categoria profissional.
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CAPÍTULO I
Conceitos históricos
A denominação Direitos Sociais se torna uma abstração e a requisição
aos direitos aparece esvaziada de suas determinações concretas se não
forem buscados os seus nexos e relações com a sociedade burguesa
desenvolvida, como produto e expressão de luta de classes.
1.1- Direito do Trabalho
O Estado e o Direito têm sua fonte na experiência social. Daí afirmar-se
que o Direito encontra-se intimamente ligado às várias formas de Estado.
Deste modo, é necessário observar a sociedade nas suas relações concretas
que precisam ser normatizadas para a segurança e a ordem social.
O Direito do Trabalho, como qualquer ramo jurídico, constitui um
complexo coerente de institutos, princípios e normas jurídicas que resulta de
um determinado contexto histórico específico. O Direito do Trabalho surge
com os movimentos de conquistas dos trabalhadores ao longo dos tempos,
consolidando-se a partir de novas estruturações legais e costumeiras, vindo a
formar o complexo de fontes informadoras.
O ramo justrabalhista consolidou-se no momento em que a relação
jurídica empregatícia, tornou-se a forma hegemônica de vinculação do
trabalhador ao sistema capitalista de produção. Neste sentido, o
aparecimento do direito do trabalho só começa a ser sentido no final do
século XVIII, com a revolução política e a revolução industrial ou técnica-
econômica, pois com aquela o homem tornava-se livre; e, na outra,
transformava-se a liberdade em mera abstração, com a concentração das
massas operárias sob o jogo do capital empregado nas grandes explorações
com unidade de comando.
A Revolução Industrial acarretou mudanças no setor produtivo e deu
origem à classe operária, transformando as relações sociais.
A principal causa econômica do surgimento da Revolução Industrial foi
o aparecimento da máquina a vapor como fonte de energia energética,
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substituindo a força humana, havendo, dessa forma, a troca do trabalho
manual pelo trabalho com a utilização de máquinas.
A utilização maciça e concentrada da força de trabalho assalariada,
realizada pela indústria, a a concentração de capital que propiciou a
concentração urbana de operários, são fatores econômicos determinantes do
surgimento do Direito do Trabalho.
O Direito do Trabalho nasceu com a sociedade industrial e o trabalho
assalariado. O Direito do Trabalho surge como conseqüência da questão
social que foi precedida da Revolução Industrial do século XVIII e da reação
humanista que se propôs a garantir ou preservar a dignidade do ser humano
ocupado no trabalho das indústrias.
O Direito do Trabalho tem então por objeto as normas, as instituições
jurídicas e os princípios que regem as relações de trabalho, determinam os
sujeitos e as organizações que têm por finalidade a proteção do trabalho
enquanto estrutura enquanto atividade.
Já no Brasil, através da abolição da escravatura, teve início um período
de liberalismo total nas relações que envolvem o Direito do Trabalho.
Antes disso, a Constituição de 1824 quase não faz menção, direta ou
indiretamente, ao trabalho, ou a qualquer regramento legal, contendo apenas
as disposições esparsas, com uma única referência: a que abolia as
corporações de ofício. Mais tarde, a Constituição de 1891, marcadamente
liberal quase nada tratou da proteção do trabalho ou do trabalhador.
As mudanças observadas na Europa e os movimentos operários
originados pelos trabalhadores imigrantes que reivindicavam melhores
condições de trabalho incentivaram a criação de normas trabalhistas. No ano
de 1930, começa a surgir uma política nesse sentido idealizada por Getúlio
Vargas.
A constituição de 1934 foi a primeira a tratar da ordem econômica e
social. As regras de caráter social asseguravam a pluralidade e autonomia
dos sindicatos, estabelecendo a legislação trabalhista.
A Constituição de 1937 marca uma fase intervencionista do Estado,
decorrente do golpe de Getúlio Vargas, tendo como característica o
corporativismo.
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No ano de 1943, foi editado, pelo Decreto nº 5.452 – A consolidação
das Leis do Trabalho (CLT), na qual foram compiladas e sistematizadas
diversas normas trabalhistas esparsas existentes até então.
A Constituição de 1946 rompe com o corporativismo da constituição
anterior, sendo considerada uma norma democrática.
No ano de 1967, sob o comando do governo militar, foi aprovada uma
nova constituição, que manteve os direitos trabalhistas previstos nas
constituições anteriores e cria outras normas trabalhistas.
A Constituição Federal de 1988 insere as normas atinentes ao direito
do Trabalho, Direitos Sociais, dos Direitos e Garantias Fundamentais,
modificando o que nas constituições anteriores situava-se na ordem
econômica e social.
O texto constitucional em vigor destaca o valor social do trabalho. Na
atualidade, pode-se afirmar que as regras decorrentes da Constituição
Federal sobre a proteção dos direitos individuais e coletivos dos
trabalhadores; assim como da Consolidação das Leis do Trabalho,
correspondem à síntese das normas que são aplicadas universalmente pelas
nações civilizadas do mundo e que hoje enfrentam o desafio dos conceitos de
globalização e de flexibilização que se pretende inserir nas relações de
trabalho.
1.2- Serviço Social
O Serviço Social no Brasil surgiu na década de 1930, por iniciativa da
Igreja Católica e concomitantemente à implantação das Leis Sociais, que na
verdade, se tratavam de leis trabalhistas de Getúlio Vargas. O crescimento do
contingente de proletários com suas famílias, a insatisfação desses
profissionais com a excessiva jornada de trabalho e os baixos salários,
obrigaram o Estado a promover algumas concessões que, na verdade, tinham
como pano de fundo o controle das massas.
Desta forma foi implantado o trabalho de agentes sociais para atuarem
no controle social dos que só tinham a sua força de trabalho para vender.
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Surge da iniciativa particular de grupos e frações de classe, que se
manifestam, principalmente, por intermédio da Igreja Católica.
A Igreja Católica recrutava as “agentes sociais” dentre os membros da
classe dominante, fornecendo-lhes uma formação ideológica cristã, com
propósitos de atuação baseados na caridade e na repressão. Essas agentes,
na maioria jovens da sociedade, atuavam junto às mulheres e crianças com
instruções sobre higiene, prendas domésticas, moral e valores normatizados
pela doutrina cristã.
Em 1932 foi inaugurado o Centro de Estudos e Ação Social (CEAS)
como primeira iniciativa da Escola Católica de Serviço Social de Bruxelas,
com orientação para a formação técnica da ação social e difusão da doutrina
social da igreja. São promovidos diversos cursos de filosofia, moral, legislação
do trabalho, doutrina social, enfermagem de emergência, etc..
Em 1940 surge o Instituto de Serviço Social de São Paulo, outra escola
de Serviço Social, só que destinada a homens e com a oferta de bolsas
gratuitas subsidiadas pelo Estado.
Esta iniciativa partiu da necessidade de levar o trabalho social para os
presídios masculinos, bem como para instituições de internação e correção de
menores.
O CEAS foi se expandindo no Brasil a partir das experiências do
primeiro, inaugurado em São Paulo, mas com a doutrina e a prática voltadas
para atendimentos individuais, sob a orientação da igreja e da metodologia
européia, influenciado pela Escola Católica de Serviço Social de Bruxelas.
Nos anos 1960,durante o governo de Juscelino Kubistchek surgiu,
dentro da categoria, assistentes sociais envolvidos no trabalho em
comunidades que, influenciados pela militância católica de esquerda
começaram a questionar o trabalho social meramente assistencialista e sem
perspectiva de mudança na realidade dos assistidos.
Por outro lado, um reduzido setor da categoria profissional é
influenciado pelo novo posicionamento dos cristãos de esquerda, que
colocam a conscientização e a politização em função das mudanças
estruturais. Essa nova mostra permite que se registre, no período 1960-1964,
uma prática desse reduzido grupo de assistentes sociais que parte de uma
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analise critica da sociedade, percebendo as contradições e a necessidade de
mudanças radicais.
Esse debate foi sufocado pela ditadura militar, ressurgindo com o
processo de renovação do Serviço Social que ocorreu entre os anos de 1967
e 1984.
O “ano da virada”, como ficou conhecido 1979, é marcado por um
movimento de oposição à direita conservadora do Conselho regional de
Assistentes Sociais de São Paulo, dando-se a rearticulação da Associação
Profissional de Assistentes Sociais, também de São Paulo, como vitória da
chapa de oposição, na busca do fortalecimento do movimento sindical no
interior da categoria.
Uma nova proposta foi introduzida em 1982, fundamentada na teoria
marxista do mundo do trabalho e seu materialismo histórico-dialético, pois o
Assistente Social atua nas seqüelas que as contradições da relação capital e
trabalho produzem.
1.3 – Serviço Social jurídico
Na década de 80, o Serviço Social adentrou a arena política decisória
cooptando os reais interesses da classe trabalhadora.
Foi a partir dessa época, que a temática direitos de cidadania tornou-se
a bandeira oficial do Serviço Social, apesar das referências à justiça social e
aos direitos humanos, estarem presentes há muito tempo no ideário coletivo
dos Assistentes Sociais.
Esse movimento impulsionou a categoria a participar ativamente do
processo de regulamentação dos direitos sociais promulgados pela
Constituição Federal de 1988.
As discussões em torno ao que, no âmbito do Serviço Social, se
convencionou chamar de “sistema sócio-jurídico” são muito recentes, datam
16
do ano de 2001 e se referem às práticas profissionais que se articulam com
ações de natureza jurídica, como aquelas desenvolvidas no Poder Judiciário e
no Ministério Público em auxílio à aplicações de leis; na execução de
programas vinculados à aplicação de medidas judiciais como no Sistema de
Proteção na área da infância e juventude; e na garantia de direitos humanos
e sociais, recoloca a importância dessas áreas de intervenção profissional do
Serviço Social diante de um contexto de ampliação em nossa sociedade.
Apesar dos caminhos percorridos pela profissão, percebe-se ainda a
visão do Assistente Social atrelada à imagem de profissional da ajuda aos
desvalidos. Isso se deve à trajetória histórica da profissão no Brasil, que
durante muito tempo esteve ligada à Doutrina Social da Igreja Católica,
iniciada com o movimento do laicato com a Rerum Novarum , que se difundiu
na sociedade por meio de um discurso moralizador e caridoso, objetivando o
equilíbrio e a harmonia entre os segmentos sociais, evitando um possível
conflito entre as classes.
Sabemos do desconhecimento da origem e os fundamentos do Serviço
Social e sua profunda ligação com o Direito, por isso a capacidade
profissional dos Assistentes Sociais é ignorada.
Grande parte da população que procura a Assistência Jurídica não
espera encontrar esse tipo de profissional em uma instituição eminentemente
jurídica.
Essa concepção se deve ao progressivo distanciamento entre justiça e
povo, ou seja a especialização cada vez maior dos profissionais do aparato
jurídico e do próprio Direito, entendido em sua forma mais ampla e o
rebuscamento das legislações, que parece aumentar em contraposição à
também crescente alienação da população no que se refere às discussões
relativas à própria cidadania.
Nestes últimos anos assistimos à transformação do Serviço Social de
uma ajuda assistencialista e empírica em capacitadora e científica.
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A interdisciplinaridade é uma questão de atitude e o que se pretende
não é anular a contribuição de cada Ciência em particular, mas uma atitude
que impeça o estabelecimento da supremacia de certa Ciência, em
detrimento de outra.
18
CAPÍTULO II
Justiça Social
O Estado que é o representante de uma ordem social determinada,
necessita da prática profissional do Assistente Social, para relativização da
problemática social gerada pela sociedade capitalista, e para controlar ou
canalizar os conflitos emergentes. Deixando a visão que de a desigualdade
social é um fator natural.
Naturalmente não podemos apelar para uma fórmula mágica que cura
todos os males da humanidade, entrando no idealismo inútil, mas assumindo
como direito inalienável da população explorada, a busca e a garantia da
política social, de forma organizada e planejada.
Não confundindo o assistencialismo com assistência, nem deixando a
demagogia tomar conta e ofuscar a realidade.
2.1- Serviço Social: campo do Direito Social?
Uma análise acurada sobre a realidade brasileira, suas formas de
governo e seus textos constitucionais anteriores a 1988 poderia levar à
conclusão apressada de que não há compatibilidade entre Serviço Social e
Direito Social.
Muitos dados apontam essa assertiva; o campo assistencial esteve
quase sempre ligado a práticas clientelistas, assistemáticas, de caráter
focalista e com traços conservadores, sendo impossível articulá-lo com a
noção de Direito Social, a não ser na sua forma mais restritiva, ou seja, do
antidireito.
Os governos, com suas características, sejam eles populistas,
nacionalistas, desenvolvimentistas, de orientação democrática ou ditatorial, de
19
perfil civil ou militar, que se sucederam no período de 1930 a 1999, traçaram
um sistema de proteção social que, com suas particularidades, incidiram no
campo da assistência social deforma ambivalente. Embora os discursos
oficiais das épocas buscassem legitimar os projetos de governos por meio do
sistemático chamamento da população para a sua aprovação, as ações
governamentais basicamente se conformavam em atender aqueles que não
eram considerados cidadãos, mas sim clientelas, traduzidos pelos mais
diversos adjetivos, como carentes, descamisados, entre outros. Foi na esteira
desse caráter ambivalente que a assistência social foi se consolidando como
política social no Brasil.
É de se perguntar como um campo que historicamente é visualizado na
órbita da relação pessoal, tratado como particularidade da esfera privada e
instituindo-se com recursos insuficientes, foi transmutado, via legislação, para
a seara do terreno público e afiançado como direito?
Vários são os indicativos que podem compor o rol de argumentações
sobre esse fato, mas é importante aqui o anúncio de dois fatores que, podem
ser entendidos como fundamentais nesse processo.
O primeiro é o avanço internacional e nacional de idéias vinculadas aos
direitos humanos e ao suprimento de necessidades oriundas da relação entre
capital e trabalho, que exigem algo mais do que a legislação trabalhista. Ter
direito ao trabalho e a toda as garantias que ainda persistem e residem no
campo formal parece ser insuficiente para dar conta das necessidades sociais
da classe que vive do trabalho e de suas famílias, e, portanto, há necessidade
de uma estrutura social que responda a eles.
O segundo motivo é indicado pela invasão do campo assistencial por
uma população que antes ficava fora de sua área de atuação. São aqueles
que, pelo desemprego, ou emprego precário e/ou em virtude da crise
estrutural gestada pela reestruturação produtiva, não encontram mais espaço
nas políticas trabalhistas e vêem como fundamental a busca de atendimento
no campo da assistência social.
20
Esse adensamento muitas vezes é feito por uma população que se
reconhece como portadora de direitos, o que já é inovador no tradicional
campo da benesse e do favor, características até há pouco tempo únicas na
definição do campo da assistência social.
Essa mudança de perspectiva deu-se em um contexto de participação
política da sociedade brasileira, mas, ao mesmo tempo, de pouca densidade
de disputa de projetos para a área da assistência social, o que pode ser
creditado, em parte, às dificuldades de concebê-la como campo do Direito e
da política social capitalista. De qualquer forma, é possível verificar um
movimento em que:
“ O social torna-se campo de lutas e de
manifestações dos espoliados, o que não
significa uma ruptura com o padrão de
dominação e de clientelismo do Estado
brasileiro no trato com a questão social. Trata-
se de uma relação que, sob a aparência de
inclusão reitera a exclusão.pois inclui de
forma subalternizada, e oferece como
benesse o que na verdade é direito. Mas é
importante ter presente que a exclusão não é
um movimento unívoco do Estado, pois uma
relação que contraditoriamente contém um
espaço para luta pela conquista de direitos
sociais”. (Yazbek, 1993: p.21)
21
2.2- Acesso à Justiça
A preocupação com os direitos dos homens sempre foi uma realidade
em vista da desigualdades sociais, levando a sociedade a procurar meios de
proteger os desafortunados.
O acesso à justiça foi uma maneira de efetivar a garantia dos direitos
do cidadão. Enquanto o cuidado com os menos favorecidos apresentava um
caráter paternalista através de ações da sociedade civil, a assistência jurídica
veio garantir a aplicação da lei.
No Brasil, o acesso à justiça passou a representar um dos temas mais
debatidos, tendo em vista as inúmeras reformas ocorridas na sociedade
brasileira; debates que vão desde o próprio significado de acesso à justiça
como acerca dos meios para sua obtenção e os obstáculos enfrentados.
A atenção para a assistência jurídica sempre foi relevante, evoluindo a
sua organização com o tempo e localidade. De acordo com o momento
histórico vivenciados pelo homem a justiça adquire um novo significado.
Embora tenha sofrido inúmeras modificações, certo é que a justiça tem sido
uma das buscas constantes do ser humano desde as suas mais remotas
origens. Historicamente, nos deparamos com providências diferentes, embora
a civilização tenha sempre demonstrado preocupação com tais questões.
O acesso à justiça tem sido considerado pelos teóricos do direito como
um direito fundamental, uma vez que dele dependem todos os direitos, que
através deste acesso serão buscados.
No seu afã de garantir o acesso aos direitos, sejam individuais ou
sociais, os homens, as sociedades, criaram aparatos jurídicos, contratos
sociais, escreveram leis e constituições desde 1689 e ainda continuam
fazendo. Todo acúmulo da sociedade nessa área foi e permanece sendo
marcado pelo movimento maior do ideário que caracteriza determinadas
conquistas.
22
O reconhecimento por meio de tratados, leis e constituições tem sido um
caminho percorrido pela sociedade ao buscar efetivar os acordos
estabelecidos na órbita das relações sociais. Para isso, os homens têm criado
aparatos jurídicos formais, que têm como tarefa zelar pela aplicação desses
acordos, tanto que a positivação, ou seja, a transformação de uma norma em
lei é uma das características da sociedade moderna.
O campo dos direitos individuais foi, por excelência, o do primado do
direito liberal enquanto doutrina. Toda idéia afirmou-se na noção do indivíduo
livre e autônomo que buscava, por meio do aparato legal, garantir seu direito a
ter direitos. Assim, estava livre da opressão de outros ou do Estado, que
deveriam conformar sua atuação pelas leis, que eram construções pactuadas
pela sociedade e por ela deveriam ser observadas, sendo o sistema jurídico o
fiscalizador desse cumprimento. A titularidade dos direitos era individual, e
todo o sistema jurídico fincava seu alicerce numa estrutura voltada para o
cumprimento e a execução da doutrina de forma individual.
A discussão sobre a possibilidade de mecanismos garantidores, na
forma da lei, fazerem cumprir com as prerrogativas impostas pelos direitos
sociais tem feito com que alguns juristas discutam a sua invisibilidade. De
fato, pela sua natureza difusa, os direitos exigem mais do que a sua
identificação formal, razão pela qual muitos ainda apontam que sua efetivação
é mais uma questão da arena política, o que tem dificultado sobremaneira a
sua explicação no campo jurídico formal.
Nessa lógica, o papel da juridificação dos direitos é apenas reforçar o
controle do Estado, resguardando a hegemonia do capital. Por este motivo só
é possível pensar na questão dos direitos sociais a partir do estado social,
onde o campo jurídico também se transforma num campo contraditório de
disputa de projetos da sociedade, pois aqui “aparece como uma produção do
grupo social, conquista da coletividade, resultado da luta concreta pelo espaço
de poder, condicionada pelas determinantes históricas e sociais de cada
tempo” (Farias, 1993:17), onde fazer justiça não é apenas sinônimo de leis.
23
E é nesse movimento contraditório que vem avançando, no campo
formal, o reconhecimento dos direitos sociais, enquanto direitos que podem
ser cobrados e exercidos. Isso tem exigido um reposicionamento das
estruturas formais e uma busca de mecanismos inovadores que possam
garantir a conquista desses direitos.
O grande problema a ser enfrentado está enunciado na forma universal
como as leis supostamente são elaboradas, e é a sua relação com o homem
concreto que vai buscar realizar-se por meio dessas garantias. É possível
inferir, pela longa trajetória que os homens cumpriram para ver garantidos
seus direitos na sua relação com a sociedade e o Estado, que a garantia
desses direitos é produto de fortes embates com os interesses diversos que
compõem essa sociedade.
O interesse legal, por si só, não dá conta de impor o novo nessa
relação. Esse novo é estabelecido pelo movimento social, pelas reivindicações
dos trabalhadores, pela presença das classes subalternas na luta por verem
reconhecidos seus interesses. E esse novo o tempo todo está se debatendo
com o velho, aquele que impõe as regras, submetendo os segmentos
subalternos à lógica do mercado e impingindo aos direitos sociais sua
transformação em mercadoria.
Escrever na forma da lei, estabelecendo contratos, tem sido o caminho
percorrido pelos homens na conformação da vida social. Essas leis vêm tendo
papéis diferentes de acordo com a sociedade onde estão inseridas. Sua
formalidade, muitas vezes, pode servir de justificativa para burocratizar os
interesses da maioria e remeter sua consecução para um longo e penoso
processo judicial. Nessa ótica, o aprisionamento do movimento social
acontece de forma a individualizar e particularizar as demandas, trabalhando
na dissolução da cadeia social que compõe a discussão dos direitos sociais e
sua garantia.
Mas as leis também podem se construir em vigoroso instrumento de
garantia do exercício desses direitos.
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Nessa perspectiva, ganha densidade a compreensão de que o acesso à
lei é um dos pilares da construção de um processo societário, desde que esse
acesso seja promovido de forma igualitária, garantindo condições objetivas de
socialização e cobrança dessa lei.
É preciso ter claro que a simples existência de garantias legais não se
traduz em garantias de direitos sociais. O próprio acesso às leis e ao seu
aparelho jurídico formal tem sido dificultado aos segmentos populacionais
pauperizados, o que tem forçado a máxima de que existem leis em
abundância e pouco efetividade no seu cumprimento.
25
CAPÍTULO III
Assistência sócio-jurídica
Os conflitos decorrem cotidianamente na vida das pessoas e originam-
se da própria convivência do ser humano em sociedade: cada pessoa tem
seus interesses, objetivos, formas de agir e pensar. E a interação entre as
pessoas traz à tona essas diferenças.
As relações de trabalho não constituem exceção, ao contrário, tratando-
se de trabalho, que é uma necessidade vital para aquele que o presta, os
conflitos tomam uma candência mais exteriorizadas do que em controvérsias
de outra ordem.
3.1 – Serviço Social no contexto sócio-jurídico
O Direito é uma Ciência Social de cunho normativo cujas regras de
conduta são coercitivamente impostas à coletividade social com vistas a
estabilidade política e a segurança social da Sociedade.
Tendo em vista a sua natureza protecionista, o Direito Laboral, enfatiza a
ordem negocial sobre a ordem imposta e a informalidade processual sobre a
formalidade processual.
“O primeiro passo para se chegar à plena
proteção dos direitos é informar e conscientizar
pessoas sobre a existência de seus direitos e a
possibilidade de defendê-los. Com efeito,
quando alguém não sabe que tem um direito
ou dispõe apenas de informações vagas e
imprecisas sobre ele, é pouco provável que
venha a tomar alguma atitude em defesa desse
direito ou que vise à aplicação prática. É
26
preciso,portanto, que haja a mais ampla e
insistente divulgação desses direitos,
sobretudo daqueles que são fundamentais ou
que se tornam muito importantes em
determinado momento, para que o maior
número de pessoas tome conhecimento deles.
(DALLARI, 1998,p.69)
Estudos revelam que à distância dos cidadãos em relação à
administração da justiça é tanto maior quanto mais baixo é o estrato social a
que pertencem e que essa distância tem como causas próximas não apenas
fatores econômicos, mas também fatores sociais e culturais, ainda que uns e
outros possam estar mais ou menos relacionados com as desigualdades
econômicas.
A assistência jurídica surgiu como meio de garantir a afirmação dos
direitos dos cidadãos. O direito à justiça deve ser concebido como instrumento
de inclusão social um vez que o acesso à justiça possibilita a abertura de um
canal para reivindicação de direitos constitucionais.
A assistência jurídica pode ser conceituada através de suas bases legais
de sustentação, ou seja, por meio de sua fonte jurídica. A fonte jurídica indica a
origem, a constituição do direito ou do dever,
A origem principal da assistência jurídica é a lei no sentido lato,
englobando as Constituições Federal, Estaduais e Leis Orgânicas, as leis
Complementares, as leis Ordinárias, os decretos-leis e Atos Administrativos,
Convênio Público e o Contrato Privado.
A assistência Judiciária é restrita à atividade forense de natureza
juridicoprocessual, já a Assistência Jurídica é uma atividade mais abrangente,
pois não só viabiliza o acesso à justiça como também possibilita o acesso à
informação, mantendo o indivíduo a par dos trâmites legais. Portanto, a
27
Assistência Jurídica envolve a assistência judicial e extra-judicial, cumprindo o
caráter de Assistência Social vislumbrado na Constituição Federal de 1988,
que adentrou o Serviço Social na arena política decisória dos reais interesses
da classe trabalhadora.
“... não se trata de saber quais e quantos são
esses direitos,qual a sua natureza e o seu
fundamento, se são direitos naturais ou
positivos, absolutos ou relativos, mas sim qual
é o modo mais seguro para garanti-los, para
impedir que, apesar das solenes declarações,
eles sejam continuamente violados”. (BOBBIO,
1992, p.25)
A trajetória profissional do Serviço Social, que sempre esteve voltada
para o enfrentamento das questões sociais e que tem como foco de seu
trabalho, a cidadania, a defesa, a luta, a preservação e a conquista de direitos
das classes desfavorecidas e subalternas, não poderia se abster deste espaço
de atuação profissional que permite a análise e reflexão da realidade social da
população e suas inter-relações com o sistema da justiça.
A atuação de profissionais de Serviço Social na área jurídica é
historicamente conhecida e, cada vez mais, vem sendo requisitada, por sua
relevância para o melhor encaminhamento e resolução de conflitos.
3.2- Alternativas ao acesso à justiça
A Constituição Federal garante diversos direitos aos trabalhadores.
Entretanto, tais direitos são, na prática, para uma pequena parte da população,
o que promove a exclusão social.
28
Há tempos que o sistema judiciário tenta vencer os obstáculos
econômicos, mas não os obstáculos sociais e culturais. Nada se fazia no
domínio da educação jurídica dos cidadãos, da conscientização sobre os
novos direitos sociais dos trabalhadores.
A eclosão da chamada crise da administração da justiça, na década de
1960, relacionada às lutas sociais protagonizadas por grupos sociais
aceleravam a transformação do Estado liberal no Estado Providência, um
Estado envolvido na gestão de conflitos entre classes e grupos sociais. A
consolidação de Estado Providência significou a expansão dos direitos sociais
e, através dele, a integração das classes trabalhadoras nos circuitos de
consumo e leis anteriormente fora do seu alcance.
A integração implicou que os conflitos emergentes dos novos Direitos
Sociais fossem conflitos jurídicos cuja dirimição caberia em princípio aos
tribunais, litígios sobre a relação trabalhista, sobre a segurança social, etc..
“...se a matéria prima do trabalho são as
múltiplas manifestações das questões sociais,
jurídicas e judiciais condicionadas e agravadas
pelo sistema capitalista espera-se que a prática
profissional, aí apreendida, seja de
enfrentamento e de resistência, orientada
sociopoliticamente na direção da construção de
uma realidade social mais justa, com maior
liberdade, maior solidariedade, acesso a
direitos e qualidade de vida”. (LEHFELD, 2001
, p.44)
Os serviços de assistência judiciária ainda parecem distantes destas
novas configurações do século XX, uma vez que atende o indivíduo levando
em consideração apenas o aparato legislativo e esquecendo que é necessário
atendê-lo em sua totalidade.
29
As transformações trazidas pelo processo de reestruturação produtiva do
capital têm conseqüências diretas do Direito do Trabalho. Suas formas de
flexibilização e desregulamentação acarretam significativas mudanças no
processo produtivo. Mais uma vez, observa-se a inadequação do arcabouço
legal trabalhista para a regulamentação das novas formas de trabalho.
Assim, verifica-se que economia e a sociedade passaram por uma
profunda transformação, na qual o modelo atual, fundado no conhecimento e
na informação, ocupou o lugar do modelo industrial, assentado no trabalho
braçal. Nessa mudança paradigmas foram rompidos. O sistema jurídico-
positivo não conseguiu acompanhar a evolução social.
São essas, em apertada síntese, as razões pelas quais os institutos
jurídicos, idealizados em um momento que o Brasil ingressava em uma fase de
industrialização, abraçando um capitalismo tardio, deixaram de servir para
regular a complexidade das novas relações de trabalho.
O resultado é uma crise de legitimidade e de eficácia tradicionais de
resolução de controvérsias. Daí decorre a procura e o estudo de novas
fórmulas de resolução de conflitos.
Os conflitos podem ser tratados de maneiras judiciais ou extrajudiciais.
As formas extrajudiciais de gestão de conflitos são basicamente a
autotutela, a negociação, a conciliação, a arbitragem e o julgamento simulado.
Tais formas são conhecidas como MASC’s (meios alternativos de solução
de controvérsias).
As formas extrajudiciais apresentam em geral, dois principais atrativos: a
rapidez e a possibilidade de se atingir uma solução diferente daquela previstas
no repertório limitado de respostas que o judiciário está aparelhado a oferecer.
30
A esses dois atrativos deve-se acrescentar, no caso da mediação, a
possibilidade de tratamento do conflito subjacente, de maneira a manter o
vínculo entre as partes.
3.3- Mediação
Atualmente muitas são as formas de resolução de conflitos e
conscientização sobre a existência de direitos e os meios para sua
efetivação,iniciativas estas que devem ser levadas em consideração e servir de
modelo para o desenvolvimento de trabalhos na área do acesso à justiça em
diversas áreas. Além do Estado, existem muitas instituições comprometidas
com o objetivo de promover a extensão do Direito, atuando como agentes
difusores e promotores de direitos.
“...dentre as instituições habilitadas para o
trabalho, nenhuma pode ser excluída:
Judiciário, Legislativo,
promotorias/procuradorias de justiça,
administração pública executiva, organizações
não-governamentais, associações/sindicatos
de classe, universidades e tantas outras devem
assumir sua parcela de responsabilidade no
estrito interesse social.” (SILVA.2003,p.84)
A medição vai se apresentar como uma forma de efetivação de direitos
humanos, seja porque a sua própria utilização é o exercício de um direito
humano, seja porque através dela, especialmente na área trabalhista, onde
grande parte dos direitos assegurados aos trabalhadores findou ao status de
direitos fundamentais, esses direitos podem ser efetivamente implementados.
O Estado, para a implementação dos direitos, não pode mais ser omisso
em face dos problemas econômicos, sociais e culturais.
31
“...prestações positivas proporcionadas
pelo Estado direta ou indiretamente,
enunciadas em normas constitucionais, que
possibilitam melhores condições de vida aos
mais fracos, direitos que tendem a realizar a
igualização de situações sociais desiguais.
São, portanto, direitos que se ligam ao direito
de igualdade” (José Afonso da Silva)
A mediação, enquanto processo de resolução de conflitos não
adversarial, apresenta os seguintes predicados: celeridade (as reuniões de
mediação ocorrem de acordo com a disponibilidade das partes, de tal maneira
que a rapidez do processo dependerá das partes); efetividade dos resultados
(tendo em vista que os acordos são obtidos voluntariamente pelas partes, via
de regra elas os cumprem sem ser necessária a utilização de meios
impositivos); preservação da autoria (no sentido de oferecimento de
alternativas no processo de mediação e no encontro da solução que melhor se
ajustam às necessidades das partes); redução do custo emocional (jpa que na
mediação estimula-se o diálogo, as partes tomam conhecimento da
necessidade e sentimentos de cada um, o que colabora para o entendimento e
a redução de mágoas); redução do custo financeiro ( a mediação é um
processo barato); sigilo e privacidade (na mediação o sigilo e a privacidade das
partes são preservados); igual oportunidade de participação (as partes têm
igual oportunidade de se manifestar); transformação das relações (a mediação
permite que as partes adotem uma postura colaborativa); aprendizagem
(através da mediação as partes aprendem técnicas que as ajudarão a lidar
com problemas); prevenção de conflitos (as partes desenvolvem novas
habilidades para lidar com conflitos, o que será útil em novas situações de
conflitos); prevenção de reincidências ( os conflitos são identificados na raiz);
responsabilidade nas decisões co-construídas (o envolvimento das partes na
construção das alternativas torna-as senhoras de sua pauta de justiça).
32
A mediação, além de sua finalidade pacificadora de conflitos, tem um
marcado caráter educativo. Por meio dele é possível desenvolver na pessoa e
consciência de seus direitos.
Ao dar voz a um empregado para que ele reivindique seus direitos, a
mediação promove a compreensão e conscientização desses direitos. Ao
mesmo tempo, tratando-se de um processo que implica o diálogo, a mediação
permite que uma parte compreenda a pauta de justiça da outra parte. Desta
maneira, a mediação revela o seu caráter educacional: ela promove o
crescimento da pessoa em dignidade, autonomia e reconhecimento dos
direitos dos outros.
33
CONCLUSÃO
Depois de realizar essa abordagem teórica, pode-se dizer que a justiça
social e a cidadania é efetiva aos poucos, sendo uma prática social dinâmica.
Trata-se de um processo que leva tempo e depende de esforços não só
dos que tem seus direitos violados mas da sociedade como um todo.
Partindo do pressuposto de que o cidadão é aquele indivíduo que tem
direitos e deveres dos mais diversas ordens e que tem no Estado a garantia
de que estes terão uma existência efetiva. Daí se entende que os direitos
nascem para proteger o homem e sua existência se justifica pela negação e
pela violação dos mesmos.
Diante desse quadro, este Estado tem como desafio alargar os limites de
sua jurisdição e também rever suas estruturas organizacionais e seus
padrões funcionais para procurar abrir espaços mais claros para a atuação,
através da conquista de uma identidade funcional mais precisa e com maior
legitimidade política.
A crescente discussão em torno dos direitos humanos e sociais da
população torna o Serviço Social uma prática fundamental no campo jurídico.
O Serviço Social Jurídico surge como uma profissão fundamentada nas
Políticas Sociais, com a finalidade de atuar sobre a classe trabalhadora. Além
de trabalhar em defesa dos direitos dos usuários de seus serviços, o Serviço
Social jurídico também defende a construção de uma nova sociedade mais
justa e emancipada.
O Serviço Social tem um papel fundamental no desenvolvimento de uma
ordem social mais justa, contribuindo a partir de seu conhecimento específico
para a construção de novas alternativas de ação.
34
O Serviço Social aplicado ao contexto jurídico configura-se como uma
área de trabalho especializado, que atua com as manifestações da questão
social, em sua interseção com o Direito e a justiça na sociedade. A atuação
do Serviço Social difere de acordo com a finalidade e recursos de cada
instituição, embora apresente traços característicos genéricos por sua
natureza e princípios. De acordo com o campo de atuação apresenta
instrumentais, técnicas próprias, apropriando-se de diferentes abordagens,
disciplinas e teorias.
O Assistente Social utiliza entre outras técnicas, prioritariamente, de
estudos sociais, laudos e pareceres, além do trabalho desenvolvido em
equipe multidisciplinar junto à sessão de benefícios e assessoria técnicas
quanto à parte administrativa. Sendo o Serviço Social uma profissão
interventiva, cria e recria a sua instrumentalidade no cotidiano profissional.
Para agilizar a morosidade e lentidão da justiça acreditamos que o
acompanhamento multidisciplinar desde o primeiro instante da solicitação
jurídica seria de fundamental importância.
O Serviço Social não pode abster-se desta área de atuação. Portanto, o
profissional Assistente Social deve receber capacitação necessária no
universo acadêmico para que possa ser respeitado enquanto profissional
competente e qualificado.
Após a analise das características das formas autocompositivas MASC’s
(meios alternativos de solução de controvérsias) e a forma como ela trata a
relação de base, podemos afirmar que ela é um mecanismo perfeitamente
adequado para ser aplicado nas relações de trabalho. E a sua aplicação será
uma forma de promoção de direitos sociais e humanos e da difusão da cultura
da paz.
No tocante ao que diz respeito ao objetivo do nosso estudo, acreditamos
que conseguimos realizar uma descrição da prática profissional no contexto
sócio-jurídico.
35
Temos um grande caminho a trilhar, pois várias são as possibilidades e
os mecanismos que podem ser utilizados para tornar a justiça social mais ágil
e democrática e, o Serviço Social tem fundamental importância na proposição
e desenvolvimento de trabalhos relacionados à área. Portanto, é só o início de
uma longa jornada de discussões que fluíram diante desse campo de trabalho
para os profissionais Assistentes Sociais, “o campo da prática sócio-jurídico”.
36
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40
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http://www.franca.unesp.br
http://www.cress-rj.org.br
HTTP://www.mundojuridico.adv.br
41
Resolução nº 125, de 29 de novembro de 2010
Dispõe sobre a Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário e dá outras providências. (Publicada no DJ-e nº 219/2010, em 01/12/2010, pág. 2-14)
(Publicada no DJ-e nº 219/2010, em 01/12/2010, pág. 2-14)
RESOLUÇÃO Nº 125, DE 29 DE NOVEMBRO DE 2010.
Dispõe sobre a Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário e dá outras providências.
O PRESIDENTE DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, no uso de suas atribuições constitucionais e regimentais,
CONSIDERANDO que compete ao Conselho Nacional de Justiça o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário, bem como zelar pela observância do art. 37 da Constituição da República;
CONSIDERANDO que a eficiência operacional, o acesso ao sistema de Justiça e a responsabilidade social são objetivos estratégicos do Poder Judiciário, nos termos da Resolução/CNJ nº 70, de 18 de março de 2009;
CONSIDERANDO que o direito de acesso à Justiça, previsto no art. 5º, XXXV, da Constituição Federal além da vertente formal perante os órgãos judiciários, implica acesso à ordem jurídica justa;
CONSIDERANDO que, por isso, cabe ao Judiciário estabelecer política pública de tratamento adequado dos problemas jurídicos e dos conflitos de interesses, que ocorrem em larga e crescente escala na sociedade, de forma a organizar, em âmbito nacional, não somente os serviços prestados nos processos judiciais, como também os que possam sê-lo mediante outros mecanismos de solução de conflitos, em especial dos consensuais, como a mediação e a conciliação;
CONSIDERANDO a necessidade de se consolidar uma política pública permanente de incentivo e aperfeiçoamento dos mecanismos consensuais de solução de litígios;
CONSIDERANDO que a conciliação e a mediação são instrumentos efetivos de pacificação social, solução e prevenção de litígios, e que a sua apropriada disciplina em programas já implementados nos país tem reduzido a excessiva judicialização dos conflitos de interesses, a quantidade de recursos e de execução de sentenças;
42
CONSIDERANDO ser imprescindível estimular, apoiar e difundir a sistematização e o aprimoramento das práticas já adotadas pelos tribunais;
CONSIDERANDO a relevância e a necessidade de organizar e uniformizar os serviços de conciliação, mediação e outros métodos consensuais de solução de conflitos, para lhes evitar disparidades de orientação e práticas, bem como para assegurar a boa execução da política pública, respeitadas as especificidades de cada segmento da Justiça;
CONSIDERANDO que a organização dos serviços de conciliação, mediação e outros métodos consensuais de solução de conflitos deve servir de princípio e base para a criação de Juízos de resolução alternativa de conflitos, verdadeiros órgãos judiciais especializados na matéria;
CONSIDERANDO o deliberado pelo Plenário do Conselho Nacional de Justiça na sua 117ª Sessão Ordinária, realizada em de 23 de 2010, nos autos do procedimento do Ato 0006059-82.2010.2.00.0000;
RESOLVE:
Capítulo I Da Política Pública de tratamento adequado dos conflitos de interesses
Art. 1º Fica instituída a Política Judiciária Nacional de tratamento dos conflitos de interesses, tendente a assegurar a todos o direito à solução dos conflitos por meios adequados à sua natureza e peculiaridade. Parágrafo único. Aos órgãos judiciários incumbe, além da solução adjudicada mediante sentença, oferecer outros mecanismos de soluções de controvérsias, em especial os chamados meios consensuais, como a mediação e a conciliação, bem assim prestar atendimento e orientação ao cidadão. Art. 2º Na implementação da Política Judiciária Nacional, com vista à boa qualidade dos serviços e à disseminação da cultura de pacificação social, serão observados: centralização das estruturas judiciárias, adequada formação e treinamento de servidores, conciliadores e mediadores, bem como acompanhamento estatístico específico. Art. 3º O CNJ auxiliará os tribunais na organização dos serviços mencionados no art. 1º, podendo ser firmadas parcerias com entidades públicas e privadas.
Capítulo II Das Atribuições do Conselho Nacional de Justiça
Art. 4º Compete ao Conselho Nacional de Justiça organizar programa com o objetivo de promover ações de incentivo à autocomposição de litígios e à pacificação social por meio da conciliação e da mediação. Art. 5º O programa será implementado com a participação de rede constituída por todos os órgãos do Poder Judiciário e por entidades públicas e privadas parceiras, inclusive universidades e instituições de ensino. Art. 6º Para desenvolvimento dessa rede, caberá ao CNJ: I – estabelecer diretrizes para implementação da política pública de tratamento adequado de conflitos a serem observadas pelos Tribunais;
43
II – desenvolver conteúdo programático mínimo e ações voltadas à capacitação em métodos consensuais de solução de conflitos, para servidores, mediadores, conciliadores e demais facilitadores da solução consensual de controvérsias; III – providenciar que as atividades relacionadas à conciliação, mediação e outros métodos consensuais de solução de conflitos sejam consideradas nas promoções e remoções de magistrados pelo critério do merecimento; IV – regulamentar, em código de ética, a atuação dos conciliadores, mediadores e demais facilitadores da solução consensual de controvérsias; V – buscar a cooperação dos órgãos públicos competentes e das instituições públicas e privadas da área de ensino, para a criação de disciplinas que propiciem o surgimento da cultura da solução pacífica dos conflitos, de modo a assegurar que, nas Escolas da Magistratura, haja módulo voltado aos métodos consensuais de solução de conflitos, no curso de iniciação funcional e no curso de aperfeiçoamento; VI – estabelecer interlocução com a Ordem dos Advogados do Brasil, Defensorias Públicas, Procuradorias e Ministério Público, estimulando sua participação nos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania e valorizando a atuação na prevenção dos litígios; VII – realizar gestão junto às empresas e às agências reguladoras de serviços públicos, a fim de implementar práticas autocompositivas e desenvolver acompanhamento estatístico, com a instituição de banco de dados para visualização de resultados, conferindo selo de qualidade; VIII – atuar junto aos entes públicos de modo a estimular a conciliação nas demandas que envolvam matérias sedimentadas pela jurisprudência.
Capítulo III Das Atribuições dos Tribunais
Seção I Dos Núcleos Permanentes de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos
Art. 7º Os Tribunais deverão criar, no prazo de 30 dias, Núcleos Permanentes de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos, compostos por magistrados da ativa ou aposentados e servidores, preferencialmente atuantes na área, com as seguintes atribuições, entre outras: I – desenvolver a Política Judiciária de tratamento adequado dos conflitos de interesses, estabelecida nesta Resolução; II – planejar, implementar, manter e aperfeiçoar as ações voltadas ao cumprimento da política e suas metas; III – atuar na interlocução com outros Tribunais e com os órgãos integrantes da rede mencionada nos arts. 5º e 6º; IV – instalar Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania que concentrarão a realização das sessões de conciliação e mediação que estejam a cargo de conciliadores e mediadores, dos órgãos por eles abrangidos; V – promover capacitação, treinamento e atualização permanente de magistrados, servidores, conciliadores e mediadores nos métodos consensuais de solução de conflitos; VI – na hipótese de conciliadores e mediadores que atuem em seus serviços, criar e manter cadastro, de forma a regulamentar o processo de inscrição e de desligamento; VII – regulamentar, se for o caso, a remuneração de conciliadores e mediadores, nos termos da legislação específica;
44
VIII – incentivar a realização de cursos e seminários sobre mediação e conciliação e outros métodos consensuais de solução de conflitos; IX – firmar, quando necessário, convênios e parcerias com entes públicos e privados para atender aos fins desta Resolução. Parágrafo único. A criação dos Núcleos e sua composição deverão ser informadas ao Conselho Nacional de Justiça.
Seção II Dos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania
Art. 8º Para atender aos Juízos, Juizados ou Varas com competência nas áreas cível, fazendária, previdenciária, de família ou dos Juizados Especiais Cíveis e Fazendários, os Tribunais deverão criar os Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (“Centros”), unidades do Poder Judiciário, preferencialmente, responsáveis pela realização das sessões e audiências de conciliação e mediação que estejam a cargo de conciliadores e mediadores, bem como pelo atendimento e orientação ao cidadão. § 1º Todas as sessões de conciliação e mediação pré- processuais deverão ser realizadas nos Centros, podendo, excepcionalmente, as sessões de conciliação e mediação processuais ser realizadas nos próprios Juízos, Juizados ou Varas designadas, desde que o sejam por conciliadores e mediadores cadastrados junto ao Tribunal (inciso VI do art. 7º) e supervisionados pelo Juiz Coordenador do Centro (art. 9º). § 2º Os Centros deverão ser instalados nos locais onde exista mais de um Juízo, Juizado ou Vara com pelo menos uma das competências referidas no caput. § 3º Nas Comarcas das Capitais dos Estados e nas sedes das Seções e Regiões Judiciárias, bem como nas Comarcas do interior, Subseções e Regiões Judiciárias de maior movimento forense, o prazo para a instalação dos Centros será de 4 (quatro) meses a contar do início de vigência desta Resolução. § 4º Nas demais Comarcas, Subseções e Regiões Judiciárias, o prazo para a instalação dos Centros será de 12 (doze) meses a contar do início de vigência deste ato. § 5º Os Tribunais poderão, excepcionalmente, estender os serviços do Centro a unidades ou órgãos situados em outros prédios, desde que próximos daqueles referidos no § 2º, podendo, ainda, instalar Centros nos chamados Foros Regionais, nos quais funcionem dois ou mais Juízos, Juizados ou Varas, observada a organização judiciária local. Art. 9º Os Centros contarão com um juiz coordenador e, se necessário, com um adjunto, aos quais caberá a sua administração, bem como a supervisão do serviço de conciliadores e mediadores. Os magistrados serão designados pelo Presidente de cada Tribunal dentre aqueles que realizaram treinamento segundo o modelo estabelecido pelo CNJ, conforme Anexo I desta Resolução. § 1º Caso o Centro atenda a grande número de Juízos, Juizados ou Varas, o respectivo juiz coordenador poderá ficar designado exclusivamente para sua administração. § 2º Os Tribunais deverão assegurar que nos Centros atuem servidores com dedicação exclusiva, todos capacitados em métodos consensuais de solução de conflitos e, pelo menos, um deles capacitado também para a triagem e encaminhamento adequado de casos. § 3º O treinamento dos servidores referidos no parágrafo anterior deverá observar as diretrizes estabelecidas pelo CNJ conforme Anexo I desta Resolução. Art. 10. Cada unidade dos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania deverá obrigatoriamente abranger setor de solução de conflitos pré-processual, setor de
45
solução de conflitos processual e setor de cidadania, facultativa a adoção pelos Tribunais do procedimento sugerido no Anexo II desta Resolução. Art. 11. Nos Centros poderão atuar membros do Ministério Público, defensores públicos, procuradores e/ou advogados.
Seção III Dos Conciliadores e Mediadores
Art. 12. Nos Centros, bem como em todos os demais órgãos judiciários nos quais se realizem sessões de conciliação e mediação, somente serão admitidos mediadores e conciliadores capacitados na forma deste ato (Anexo I), cabendo aos Tribunais, antes de sua instalação, realizar o curso de capacitação, podendo fazê-lo por meio de parcerias. § 1º Os Tribunais que já realizaram a capacitação referida no caput poderão dispensar os atuais mediadores e conciliadores da exigência do certificado de conclusão do curso de capacitação, mas deverão disponibilizar cursos de treinamento e aperfeiçoamento, na forma do Anexo I, como condição prévia de atuação nos Centros. § 2º Todos os conciliadores, mediadores e outros especialistas em métodos consensuais de solução de conflitos deverão submeter-se a reciclagem permanente e à avaliação do usuário. § 3º Os cursos de capacitação, treinamento e aperfeiçoamento de mediadores e conciliadores deverão observar o conteúdo programático e carga horária mínimos estabelecidos pelo CNJ (Anexo 1) e deverão ser seguidos necessariamente de estágio supervisionado. § 4º Os mediadores, conciliadores e demais facilitadores do entendimento entre as partes ficarão sujeitos ao código de ética estabelecido pelo Conselho (Anexo III).
Seção IV Dos Dados Estatísticos
Art. 13. Os Tribunais deverão criar e manter banco de dados sobre as atividades de cada Centro, com as informações constantes do Anexo IV. Art. 14. Caberá ao CNJ compilar informações sobre os serviços públicos de solução consensual das controvérsias existentes no país e sobre o desempenho de cada um deles, por meio do DPJ, mantendo permanentemente atualizado o banco de dados.
Capítulo IV Do Portal da Conciliação
Art. 15. Fica criado o Portal da Conciliação, a ser disponibilizado no sítio do CNJ na rede mundial de computadores, com as seguintes funcionalidades, entre outras: I – publicação das diretrizes da capacitação de conciliadores e mediadores e de seu código de ética; II – relatório gerencial do programa, por Tribunal, detalhado por unidade judicial e por Centro, com base nas informações referidas no Anexo IV; III – compartilhamento de boas práticas, projetos, ações, artigos, pesquisas e outros estudos; IV – fórum permanente de discussão, facultada a participação da sociedade civil; V – divulgação de notícias relacionadas ao tema; VI – relatórios de atividades da “Semana da Conciliação”.
46
Parágrafo único. A implementação do Portal será gradativa, observadas as possibilidades técnicas, sob a responsabilidade do CNJ.
Disposições Finais
Art. 16. O disposto na presente Resolução não prejudica a continuidade de programas similares já em funcionamento, cabendo aos Tribunais, se necessário, adaptá-los aos termos deste ato. Art. 17. Compete à Presidência do Conselho Nacional de Justiça, com o apoio da Comissão de Acesso ao Sistema de Justiça e Responsabilidade Social, coordenar as atividades da Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos de interesses, cabendo-lhe instituir, regulamentar e presidir o Comitê Gestor da Conciliação, que será responsável pela implementação e acompanhamento das medidas previstas neste ato. Art. 18. Os Anexos integram esta Resolução e possuem caráter vinculante, à exceção do Anexo II, que contém mera recomendação. Art. 19. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.
Ministro Cezar Peluso Presidente
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LEI No 8.662, DE 7 DE JUNHO DE 1993.
Dispõe sobre a profissão de Assistente Social e dá outras providências
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:
Art. 1º É livre o exercício da profissão de Assistente Social em todo o território nacional, observadas as condições estabelecidas nesta lei.
Art. 2º Somente poderão exercer a profissão de Assistente Social:
I - Os possuidores de diploma em curso de graduação em Serviço Social, oficialmente reconhecido, expedido por estabelecimento de ensino superior existente no País, devidamente registrado no órgão competente;
II - os possuidores de diploma de curso superior em Serviço Social, em nível de graduação ou equivalente, expedido por estabelecimento de ensino sediado em países estrangeiros, conveniado ou não com o governo brasileiro, desde que devidamente revalidado e registrado em órgão competente no Brasil;
III - os agentes sociais, qualquer que seja sua denominação com funções nos vários órgãos públicos, segundo o disposto no art. 14 e seu parágrafo único da Lei 1889, de 13 de junho de 1953.
Parágrafo único. O exercício da profissão de Assistente Social requer prévio registro nos Conselhos Regionais que tenham jurisdição sobre a área de atuação do interessado nos termos desta lei.
Art. 3º A designação profissional de Assistente Social é privativa dos habilitados na forma da legislação vigente.
Art. 4º Constituem competências do Assistente Social:
I - elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e organizações populares;
II - elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil;
III - encaminhar providências, e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à população;
IV - (Vetado);
V - orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos;
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VI - planejar, organizar e administrar benefícios e Serviços Sociais;
VII - planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da realidade social e para subsidiar ações profissionais;
VIII - prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, com relação às matérias relacionadas no inciso II deste artigo;
IX - prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade;
X - planejamento, organização e administração de Serviços Sociais e de Unidade de Serviço Social;
XI - realizar estudos sócio-econômicos com os usuários para fins de benefícios e serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades.
Art. 5º Constituem atribuições privativas do Assistente Social:
I - coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, programas e projetos na área de Serviço Social;
II - planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de Serviço Social;
III - assessoria e consultoria e órgãos da Administração Pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, em matéria de Serviço Social;
IV - realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social;
V - assumir, no magistério de Serviço Social tanto a nível de graduação como pós-graduação, disciplinas e funções que exijam conhecimentos próprios e adquiridos em curso de formação regular;
VI - treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social;
VII - dirigir e coordenar Unidades de Ensino e Cursos de Serviço Social, de graduação e pós-graduação;
VIII - dirigir e coordenar associações, núcleos, centros de estudo e de pesquisa em Serviço Social;
IX - elaborar provas, presidir e compor bancas de exames e comissões julgadoras de concursos ou outras formas de seleção para Assistentes Sociais, ou onde sejam aferidos conhecimentos inerentes ao Serviço Social;
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X - coordenar seminários, encontros, congressos e eventos assemelhados sobre assuntos de Serviço Social;
XI - fiscalizar o exercício profissional através dos Conselhos Federal e Regionais;
XII - dirigir serviços técnicos de Serviço Social em entidades públicas ou privadas;
XIII - ocupar cargos e funções de direção e fiscalização da gestão financeira em órgãos e entidades representativas da categoria profissional.
Art. 5o-A. A duração do trabalho do Assistente Social é de 30 (trinta) horas semanais. (Incluído pela Lei 12317, de 2010).
Art. 6º São alteradas as denominações do atual Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS) e dos Conselhos Regionais de Assistentes Sociais (CRAS), para, respectivamente, Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS).
Art. 7º O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e os Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS) constituem, em seu conjunto, uma entidade com personalidade jurídica e forma federativa, com o objetivo básico de disciplinar e defender o exercício da profissão de Assistente Social em todo o território nacional.
1º Os Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS) são dotados de autonomia administrativa e financeira, sem prejuízo de sua vinculação ao Conselho Federal, nos termos da legislação em vigor.
2º Cabe ao Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e aos Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS), representar, em juízo e fora dele, os interesses gerais e individuais dos Assistentes Sociais, no cumprimento desta lei.
Art. 8º Compete ao Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), na qualidade de órgão normativo de grau superior, o exercício das seguintes atribuições:
I - orientar, disciplinar, normatizar, fiscalizar e defender o exercício da profissão de Assistente Social, em conjunto com o CRESS;
II - assessorar os CRESS sempre que se fizer necessário;
III - aprovar os Regimentos Internos dos CRESS no fórum máximo de deliberação do conjunto CFESS/CRESS;
IV - aprovar o Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais juntamente com os CRESS, no fórum máximo de deliberação do conjunto CFESS/CRESS;
V - funcionar como Tribunal Superior de Ética Profissional;
VI - julgar, em última instância, os recursos contra as sanções impostas pelos CRESS;
VII - estabelecer os sistemas de registro dos profissionais habilitados;
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VIII - prestar assessoria técnico-consultiva aos organismos públicos ou privados, em matéria de Serviço Social;
IX - (Vetado).
Art. 9º O fórum máximo de deliberação da profissão para os fins desta lei dar-se-á nas reuniões conjuntas dos Conselhos Federal e Regionais, que inclusive fixarão os limites de sua competência e sua forma de convocação.
Art. 10. Compete aos CRESS, em suas respectivas áreas de jurisdição, na qualidade de órgão executivo e de primeira instância, o exercício das seguintes atribuições:
I - organizar e manter o registro profissional dos Assistentes Sociais e o cadastro das instituições e obras sociais públicas e privadas, ou de fins filantrópicos;
II - fiscalizar e disciplinar o exercício da profissão de Assistente Social na respectiva região;
III - expedir carteiras profissionais de Assistentes Sociais, fixando a respectiva taxa;
IV - zelar pela observância do Código de Ética Profissional, funcionando como Tribunais Regionais de Ética Profissional;
V - aplicar as sanções previstas no Código de Ética Profissional;
VI - fixar, em assembléia da categoria, as anuidades que devem ser pagas pelos Assistentes Sociais;
VII - elaborar o respectivo Regimento Interno e submetê-lo a exame e aprovação do fórum máximo de deliberação do conjunto CFESS/CRESS.
Art. 11. O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) terá sede e foro no Distrito Federal.
Art. 12. Em cada capital de Estado, de Território e no Distrito Federal, haverá um Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) denominado segundo a sua jurisdição, a qual alcançará, respectivamente, a do Estado, a do Território e a do Distrito Federal.
1º Nos Estados ou Territórios em que os profissionais que neles atuam não tenham possibilidade de instalar um Conselho Regional, deverá ser constituída uma delegacia subordinada ao Conselho Regional que oferecer melhores condições de comunicação, fiscalização e orientação, ouvido o órgão regional e com homologação do Conselho Federal.
2º Os Conselhos Regionais poderão constituir, dentro de sua própria área de jurisdição, delegacias seccionais para desempenho de suas atribuições executivas e de primeira instância nas regiões em que forem instalados, desde que a arrecadação proveniente dos profissionais nelas atuantes seja suficiente para sua própria manutenção.
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Art. 13. A inscrição nos Conselhos Regionais sujeita os Assistentes Sociais ao pagamento das contribuições compulsórias (anuidades), taxas e demais emolumentos que forem estabelecidos em regulamentação baixada pelo Conselho Federal, em deliberação conjunta com os Conselhos Regionais.
Art. 14. Cabe às Unidades de Ensino credenciar e comunicar aos Conselhos Regionais de sua jurisdição os campos de estágio de seus alunos e designar os Assistentes Sociais responsáveis por sua supervisão.
Parágrafo único. Somente os estudantes de Serviço Social, sob supervisão direta de Assistente Social em pleno gozo de seus direitos profissionais, poderão realizar estágio de Serviço Social.
Art. 15. É vedado o uso da expressão Serviço Social por quaisquer pessoas de direito público ou privado que não desenvolvam atividades previstas nos arts. 4º e 5º desta lei.
Parágrafo único. As pessoas de direito público ou privado que se encontrem na situação mencionada neste artigo terão o prazo de noventa dias, a contar da data da vigência desta lei, para processarem as modificações que se fizerem necessárias a seu integral cumprimento, sob pena das medidas judiciais cabíveis.
Art. 16. Os CRESS aplicarão as seguintes penalidades aos infratores dos dispositivos desta Lei:
I - multa no valor de uma a cinco vezes a anuidade vigente;
II - suspensão de um a dois anos de exercício da profissão ao Assistente Social que, no âmbito de sua atuação, deixar de cumprir disposições do Código de Ética, tendo em vista a gravidade da falta;
III - cancelamento definitivo do registro, nos casos de extrema gravidade ou de reincidência contumaz.
1º Provada a participação ativa ou conivência de empresas, entidades, instituições ou firmas individuais nas infrações a dispositivos desta lei pelos profissionais delas dependentes, serão estas também passíveis das multas aqui estabelecidas, na proporção de sua responsabilidade, sob pena das medidas judiciais cabíveis.
2º No caso de reincidência na mesma infração no prazo de dois anos, a multa cabível será elevada ao dobro.
Art. 17. A Carteira de Identificação Profissional expedida pelos Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS), servirá de prova para fins de exercício profissional e de Carteira de Identidade Pessoal, e terá fé pública em todo o território nacional.
Art. 18. As organizações que se registrarem nos CRESS receberão um certificado que as habilitará a atuar na área de Serviço Social.
Art. 19. O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) será mantido:
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I - por contribuições, taxas e emolumentos arrecadados pelos CRESS, em percentual a ser definido pelo fórum máximo instituído pelo art. 9º desta lei;
II - por doações e legados;
III - por outras rendas.
Art. 20. O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e os Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS) contarão cada um com nove membros efetivos: Presidente, Vice-Presidente, dois Secretários, dois Tesoureiros e três membros do Conselho Fiscal, e nove suplentes, eleitos dentre os Assistentes Sociais, por via direta, para um mandato de três anos, de acordo com as normas estabelecidas em Código Eleitoral aprovado pelo fórum instituído pelo art. 9º desta lei.
Parágrafo único. As delegacias seccionais contarão com três membros efetivos: um Delegado, um Secretário e um Tesoureiro, e três suplentes, eleitos dentre os Assistentes Sociais da área de sua jurisdição, nas condições previstas neste artigo.
Art. 21. (Vetado).
Art. 22. O Conselho Federal e os Conselhos Regionais terão legitimidade para agir contra qualquer pessoa que infringir as disposições que digam respeito às prerrogativas, à dignidade e ao prestígio da profissão de Assistente Social.
Art. 23. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 24. Revogam-se as disposições em contrário e, em especial, a Lei nº 3.252, de 27 de agosto de 1957.
Brasília, 7 de junho de 1993; 172º da Independência e 105º da República.
ITAMAR FRANCO Walter Barelli
Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 8.7.1993
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CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DOS ASSISTENTES SOCIAIS APROVADO EM 15 DE MARÇO DE 1993 COM AS ALTERAÇÕES INTRODUZIDAS PELAS RESOLUÇÕES CFESS N.º 290/94 E 293/94 Introdução
Princípios Fundamentais
Título I - Disposições Gerais
Título II - Dos Direitos e Das Responsabilidades Gerais do Assistente Social
Título III - Das Relações Profissionais
Capítulo I - Das Relações com os Usuários
Capítulo II - Das Relações com as Instituições Empregadoras e Outras
Capítulo III - Das Relações com Assistentes Sociais e Outros Profissionais
Capítulo IV - Das Relações com Entidades da Categoria e Demais Organizações da Sociedade Civil
Capítulo V - Do Sigilo Profissional
Capítulo VI - Da Observância, Penalidades, Aplicação e Cumprimento
Título IV - Da Observância, Penalidades, Aplicação e Cumprimento
RESOLUÇÃO CFESS N.º 273/93 DE 13 MARÇO 93 Institui o Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais e dá outras providências. A Presidente do Conselho Federal de Serviço Social - CFESS, no uso de suas atribuições legais e regimentais, e de acordo com a deliberação do Conselho Pleno, em reunião ordinária, realizada em Brasília, em 13 de março de 1993, Considerando a avaliação da categoria e das entidades do Serviço Social de que o Código homologado em 1986 apresenta insuficiências; Considerando as exigências de normatização específicas de um Código de Ética Profissional e sua real operacionalização; Considerando o compromisso da gestão 90/93 do CFESS quanto à necessidade de revisão do Código de Ética; Considerando a posição amplamento assumida pela categoria de que as conquistas políticas expressas no Código de 1986 devem ser preservadas; Considerando os avanços nos últimos anos ocorridos nos debates e produções sobre a questão ética, bem como o acúmulo de reflexões existentes sobre a matéria; Considerando a necessidade de criação de novos valores éticos, fundamentados na definição mais abrangente, de compromisso com os usuários, com
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base na liberdade, democracia, cidadania, justiça e igualdade social; Considerando que o XXI Encontro Nacional CFESS/CRESS referendou a proposta de reformulação apresentada pelo Conselho Federal de Serviço Social; RESOLVE: Art. 1º - Instituir o Código de Ética Profissional do assistente social em anexo. Art. 2º - O Conselho Federal de Serviço Social - CFESS, deverá incluir nas Carteiras de Identidade Profissional o inteiro teor do Código de Ética. Art. 3º - Determinar que o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Serviço Social procedam imediata e ampla divulgação do Código de Ética. Art. 4º - A presente Resolução entrará em vigor na data de sua publicação no Diário Oficial da União, revogadas as disposições em contrário, em especial, a Resolução CFESS nº 195/86, de 09.05.86. Brasília, 13 de março de 1993. MARLISE VINAGRE SILVA A.S. CRESS Nº 3578 7ª Região/RJ Presidente do CFESS INTRODUÇÃO A história recente da sociedade brasileira, polarizada pela luta dos setores democráticos contra a ditadura e, em seguida, pela consolidação das liberdades políticas, propiciou uma rica experiência para todos os sujeitos sociais. Valores e práticas até então secundarizados (a defesa dos direitos civis, o reconhecimento positivo das peculiaridades individuais e sociais, o respeito à diversidade, etc.) adquiriram novos estatutos, adensando o elenco de reivindicações da cidadania. Particularmente para as categorias profissionais, esta experiência ressituou as questões do seu compromisso ético-político e da avaliação da qualidade dos seus serviços. Nestas décadas, o Serviço Social experimentou no Brasil um profundo processo de renovação. Na intercorrência de mudanças ocorridas na sociedade brasileira com o próprio acúmulo profissional, o Serviço Social se desenvolveu teórica e praticamente, laicizou-se, diferenciou-se e, na entrada dos anos noventa, apresenta-se como profissão reconhecida academicamente e legitimada socialmente. A dinâmica deste processo - que conduziu à consolidação profissional do Serviço Social - materializou-se em conquistas teóricas e ganhos práticos que se revelaram diversamente no universo profissional. No plano da reflexão e da normatização ética, o Código de Ética Profissional de 1986 foi uma expressão daquelas conquistas e ganhos, através de dois procedimentos: negação da base filosófica tradicional, nitidamente conservadora, que norteava a "ética da neutralidade", e afirmação de um novo perfil do técnico, não mais um agente subalterno e apenas executivo, mas um profissional competente teórica, técnica e politicamente. De fato, construía-se um projeto profissional que, vinculado a um projeto social radicalmente democrático, redimensionava a inserção do Serviço Social na vida brasileira, compromissando-o com os interesses históricos da massa da população trabalhadora. O amadurecimento deste projeto profissional, mais as alterações ocorrentes na sociedade brasileira (com destaque para a ordenação jurídica consagrada na Constituição de 1988), passou a exigir uma melhor explicitação do sentido imanente do Código de 1986. Tratava-se de
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objetivar com mais rigor as implicações dos princípios conquistados e plasmados naquele documento, tanto para fundar mais adequadamente os seus parâmetros éticos quanto para permitir uma melhor instrumentalização deles na prática cotidiana do exercício profissional. A necessidade da revisão do Código de 1986 vinha sendo sentida nos organismos profissionais desde fins dos anos oitenta. Foi agendada na plataforma programática da gestão 1990/1993 do CFESS. Entrou na ordem do dia com o I Seminário Nacional de Ética (agosto de 1991) perpassou o VII CBAS (maio de 1992) e culminou no II Seminário Nacional de Ética (novembro de 1992), envolvendo, além do conjunto CFESS/CRESS, a ABESS, a ANAS e a SESSUNE. O grau de ativa participação de assistentes sociais de todo o País assegura que este novo Código, produzido no marco do mais abrangente debate da categoria, expressa as aspirações coletivas dos profissionais brasileiros. A revisão do texto de 1986 processou-se em dois níveis. Reafirmando os seus valores fundantes - a liberdade e a justiça social -, articulou-os a partir da exigência democrática: a democracia é tomada como valor ético-político central, na medida em que é o único padrão de organização político-social capaz de assegurar a explicitação dos valores essenciais da liberdade e da eqüidade. É ela, ademais, que favorece a ultrapassagem das limitações reais que a ordem burguesa impõe ao desenvolvimento pleno da cidadania, dos direitos e garantias individuais e sociais e das tendências à autonomia e à autogestão social. Em segundo lugar, cuidou-se de precisar a normatização do exercício profissional de modo a permitir que aqueles valores sejam retraduzidos no relacionamento entre assistentes sociais, instituições/organizações e população, preservando-se os direitos e deveres profissionais, a qualidade dos serviços e a responsabilidade diante do usuário. A revisão a que se procedeu, compatível com o espírito do texto de 1986, partiu da compreensão de que a ética deve ter como suporte uma ontologia do ser social: os valores são determinações da prática social, resultantes da atividade criadora tipificada no processo de trabalho. É mediante o processo de trabalho que o ser social se constitui, se instaura como distinto do ser natural, dispondo de capacidade teleológica, projetiva, consciente; é por esta socialização que ele se põe como ser capaz de liberdade. Esta concepção já contém, em si mesma, uma projeção de sociedade - aquela em que se propicie aos trabalhadores um pleno desenvolvimento para a invenção e vivência de novos valores, o que, evidentemente, supõe a erradicação de todos os processos de exploração, opressão e alienação. É ao projeto social aí implicado que se conecta o projeto profissional do Serviço Social - e cabe pensar a ética como pressuposto teórico político que remete para o enfrentamento das contradições postas à Profissão, a partir de uma visão crítica, e fundamentada teoricamente, das derivações ético-políticas do agir profissional. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas políticas a ela inerentes - autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais;
Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e
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do autoritarismo;
Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos das classes trabalhadoras;
Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da participação política e da riqueza socialmente produzida;
Posicionamento em favor da eqüidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática;
Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças;
Garantia do pluralismo, através do respeito às correntes profissionais democráticas existentes e suas expressões teóricas, e compromisso com o constante aprimoramento intelectual;
Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, sem dominaçãoexploração de classe, etnia e gênero;
Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que partilhem dos princípios deste Código e com a luta geral dos trabalhadores;
Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional;
Exercício do Serviço Social sem ser discriminado, nem discriminar, por questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, opção sexual, idade e condição física. TÍTULO I DISPOSIÇÕES GERAIS Art.1º - Compete ao Conselho Federal de Serviço Social: a) zelar pela observância dos princípios e diretrizes deste Código, fiscalizando as ações dos Conselhos Regionais e a prática exercida pelos profissionais, instituições e organizações na área do Serviço Social; b) introduzir alteração neste Código, através de uma ampla participação da categoria, num processo desenvolvido em ação conjunta com os Conselhos Regionais; c) como Tribunal Superior de Ética Profissional, firmar jurisprudência na observância deste Código e nos casos omissos. Parágrafo único - Compete aos Conselhos Regionais, nas áreas de suas respectivas jurisdições, zelar pela observância dos princípios e diretrizes deste Código, e funcionar como órgão julgador de primeira instância. TÍTULO II DOS DIREITOS E DAS RESPONSABILIDADES GERAIS DO ASSISTENTE SOCIAL Art. 2º - Constituem direitos do assistente social:
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a) garantia e defesa de suas atribuições e prerrogativas, estabelecidas na Lei de Regulamentação da Profissão e dos princípios firmados neste Código; b) livre exercício das atividades inerentes à Profissão; c) participação na elaboração e gerenciamento das políticas sociais, e na formulação e implementação de programas sociais; d) inviolabilidade do local de trabalho e respectivos arquivos e documentação, garantindo o sigilo profissional; e) desagravo público por ofensa que atinja a sua honra profissional; f) aprimoramento profissional de forma contínua, colocando-o a serviço dos princípios deste Código; g) pronunciamento em matéria de sua especialidade, sobretudo quando se tratar de assuntos de interesse da população; h) ampla autonomia no exercício da Profissão, não sendo obrigado a prestar serviços profissionais incompatíveis com as suas atribuições, cargos ou funções; i) liberdade na realização de seus estudos e pesquisas, resguardados os direitos de participação de indivíduos ou grupos envolvidos em seus trabalhos. Art. 3º - São deveres do assistente social: a) desempenhar suas atividades profissionais, com eficiência e responsabilidade, observando a legislação em vigor; b) utilizar seu número de registro no Conselho Regional no exercício da Profissão; c) abster-se, no exercício da Profissão, de práticas que caracterizem a censura, o cerceamento da liberdade, o policiamento dos comportamentos, denunciando sua ocorrência aos órgãos competentes; d) participar de programas de socorro à população em situação de calamidade pública, no atendimento e defesa de seus interesses e necessidades. Art. 4º - É vedado ao assistente social: a) transgredir qualquer preceito deste Código, bem como da Lei de Regulamentação da Profissão; b) praticar e ser conivente com condutas anti-éticas, crimes ou contravenções penais na prestação de serviços profissionais, com base nos princípios deste Código, mesmo que estes sejam praticados por outros profissionais; c) acatar determinação institucional que fira os princípios e diretrizes deste Código; d) compactuar com o exercício ilegal da Profissão, inclusive nos casos de estagiários que exerçam atribuições específicas, em substituição aos profissionais; e) permitir ou exercer a supervisão de aluno de Serviço Social em Instituições Públicas ou Privadas que não tenham em seu quadro assistente social que realize acompanhamento direto ao aluno estagiário; f) assumir responsabilidade por atividade para as quais não esteja capacitado pessoal e tecnicamente; g) substituir profissional que tenha sido exonerado por defender os princípios da ética profissional, enquanto perdurar o motivo da exoneração, demissão ou transferência;
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h) pleitear para si ou para outrem emprego, cargo ou função que estejam sendo exercidos por colega; i) adulterar resultados e fazer declarações falaciosas sobre situações ou estudos de que tome conhecimento; j) assinar ou publicar em seu nome ou de outrem trabalhos de terceiros, mesmo que executados sob sua orientação. TÍTULO III DAS RELAÇÕES PROFISSIONAIS CAPÍTULO I Das Relações com os Usuários Art. 5º - São deveres do assistente social nas suas relações com os usuários: a) contribuir para a viabilização da participação efetiva da população usuária nas decisões institucionais; b) garantir a plena informação e discussão sobre as possibilidades e conseqüências das situações apresentadas, respeitando democraticamente as decisões dos usuários, mesmo que sejam contrárias aos valores e às crenças individuais dos profissionais, resguardados os princípios deste Código; c) democratizar as informações e o acesso aos programas disponíveis no espaço institucional, como um dos mecanismos indispensáveis à participação dos usuários; d) devolver as informações colhidas nos estudos e pesquisas aos usuários, no sentido de que estes possam usá-los para o fortalecimento dos seus interesses; e) informar à população usuária sobre a utilização de materiais de registro audio-visual e pesquisas a elas referentes e a forma de sistematização dos dados obtidos; f) fornecer à população usuária, quando solicitado, informações concernentes ao trabalho desenvolvido pelo Serviço Social e as suas conclusões, resguardado o sigilo profissional; g) contribuir para a criação de mecanismos que venham desburocratizar a relação com os usuários, no sentido de agilizar e melhorar os serviços prestados; h) esclarecer aos usuários, ao iniciar o trabalho, sobre os objetivos e a amplitude de sua atuação profissional. Art. 6º - É vedado ao assistente social: a) exercer sua autoridade de maneira a limitar ou cercear o direito do usuário de participar e decidir livremente sobre seus interesses; b) aproveitar-se de situações decorrentes da relação assistente social - usuário, para obter vantagens pessoais ou para terceiros; c) bloquear o acesso dos usuários aos serviços oferecidos pelas instituições, através de atitudes que venham coagir e/ou desrespeitar aqueles que buscam o atendimento de seus direitos. CAPÍTULO II Das Relações com as Instituições Empregadoras e outras Art. 7º- Constituem direitos do assistente social: a) dispor de condições de trabalho condignas, seja em entidade pública ou privada, de forma a garantir a qualidade do exercício profissional; b) ter livre acesso à população usuária;
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c) ter acesso a informações institucionais que se relacionem aos programas e políticas sociais e sejam necessárias ao pleno exercício das atribuições profissionais; d) integrar comissões interdisciplinares de ética nos locais de trabalho do profissional, tanto no que se refere à avaliação da conduta profissional, como em relação às decisões quanto às políticas institucionais. Art. 8º - São deveres do assistente social: a) programar, administrar, executar e repassar os serviços sociais assegurados institucionalmente; b) denunciar falhas nos regulamentos, normas e programas da instituição em que trabalha, quando os mesmos estiverem ferindo os princípios e diretrizes deste Código, mobilizando, inclusive, o Conselho Regional, caso se faça necessário; c) contribuir para a alteração da correlação de forças institucionais, apoiando as legítimas demandas de interesse da população usuária; d) empenhar-se na viabilização dos direitos sociais dos usuários, através dos programas e políticas sociais; e) empregar com transparência as verbas sob a sua responsabilidade, de acordo com os interesses e necessidades coletivas dos usuários. Art. 9º- É vedado ao assistente social: a) emprestar seu nome e registro profissional a firmas, organizações ou empresas para simulação do exercício efetivo do Serviço Social; b) usar ou permitir o tráfico de influência para obtenção de emprego, desrespeitando concurso ou processos seletivos; c) utilizar recursos institucionais (pessoal e/ou financeiro) para fins partidários, eleitorais e clientelistas. CAPÍTULO III Das Relações com Assistentes Sociais e outros Profissionais Art. 10 - São deveres do assistente social: a) ser solidário com outros profissionais, sem, todavia, eximir-se de denunciar atos que contrariem os postulados éticos contidos neste Código; b) repassar ao seu substituto as informações necessárias à continuidade do trabalho; c) mobilizar sua autoridade funcional, ao ocupar uma chefia, para a liberação de carga horária de subordinado, para fim de estudos e pesquisas que visem o aprimoramento profissional, bem como de representação ou delegação de entidade de organização da categoria e outras, dando igual oportunidade a todos; d) incentivar, sempre que possível, a prática profissional interdisciplinar; e) respeitar as normas e princípios éticos das outras profissões; f) ao realizar crítica pública a colega e outros profissionais, fazê-lo sempre de maneira objetiva, construtiva e comprovável, assumindo sua inteira responsabilidade. Art. 11 - É vedado ao assistente social: a) intervir na prestação de serviços que estejam sendo efetuados por outro profissional, salvo a pedido desse profissional; em caso de urgência, seguido da imediata comunicação ao profissional; ou quando se tratar de trabalho multiprofissional e a intervenção fizer parte da metodologia adotada; b) prevalecer-se de cargo de chefia para atos discriminatórios e de abuso de autoridade;
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c) ser conivente com falhas éticas de acordo com os princípios deste Código e com erros técnicos praticados por assistente social e qualquer outro profissional; d) prejudicar deliberadamente o trabalho e a reputação de outro profissional. CAPÍTULO IV Das Relações com Entidades da Categoria e demais Organizações da Sociedade Civil Art.12 - Constituem direitos do assistente social: a) participar em sociedades científicas e em entidades representativas e de organização da categoria que tenham por finalidade, respectivamente, a produção de conhecimento, a defesa e a fiscalização do exercício profissional; b) apoiar e/ou participar dos movimentos sociais e organizações populares vinculados à luta pela consolidação e ampliação da democracia e dos direitos de cidadania. Art. 13 - São deveres do assistente social: a) denunciar ao Conselho Regional as instituições públicas ou privadas, onde as condições de trabalho não sejam dignas ou possam prejudicar os usuários ou profissionais. b) denunciar, no exercício da Profissão, às entidades de organização da categoria, às autoridades e aos órgãos competentes, casos de violação da Lei e dos Direitos Humanos, quanto a: corrupção, maus tratos, torturas, ausência de condições mínimas de sobrevivência, discriminação, preconceito, abuso de autoridade individual e institucional, qualquer forma de agressão ou falta de respeito à integridade física, social e mental do cidadão; c) respeitar a autonomia dos movimentos populares e das organizações das classes trabalhadoras. Art. 14 - É vedado ao assistente social valer-se de posição ocupada na direção de entidade da categoria para obter vantagens pessoais, diretamente ou através de terceiros. CAPÍTULO V Do Sigilo Profissional Art. 15 - Constitui direito do assistente social manter o sigilo profissional. Art. 16 - O sigilo protegerá o usuário em tudo aquilo de que o assistente social tome conhecimento, como decorrência do exercício da atividade profissional. Parágrafo único - Em trabalho multidisciplinar só poderão ser prestadas informações dentro dos limites do estritamente necessário. Art. 17 - É vedado ao assistente social revelar sigilo profissional. Art. 18 - A quebra do sigilo só é admissível quando se tratarem de situações cuja gravidade possa, envolvendo ou não fato delituoso, trazer prejuízo aos interesses do usuário, de terceiros e da coletividade. Parágrafo único - A revelação será feita dentro do estritamente necessário, quer em relação ao assunto revelado, quer ao grau e número de pessoas que dele devam tomar conhecimento. CAPÍTULO VI Das Relações do Assistente Social com a Justiça Art. 19 - São deveres do assistente social: a) apresentar à justiça, quando convocado na qualidade de perito ou testemunha, as conclusões do seu laudo ou depoimento, sem extrapolar o
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âmbito da competência profissional e violar os princípios éticos contidos neste Código. b) comparecer perante a autoridade competente, quando intimado a prestar depoimento, para declarar que está obrigado a guardar sigilo profissional nos termos deste Código e da Legislação em vigor. Art. 20 - É vedado ao assistente social: a) depor como testemunha sobre situação sigilosa do usuário de que tenha conhecimento no exercício profissional, mesmo quando autorizado; b) aceitar nomeação como perito e/ou atuar em perícia quando a situação não se caracterizar como área de sua competência ou de sua atribuição profissional, ou quando infringir os dispositivos legais relacionados a impedimentos ou suspeição. TÍTULO IV Da Observância, Penalidades, Aplicação e Cumprimento Deste Código Art. 21- São deveres do assistente social: a) cumprir e fazer cumprir este Código; b) denunciar ao Conselho Regional de Serviço Social, através de comunicação fundamentada, qualquer forma de exercício irregular da Profissão, infrações a princípios e diretrizes deste Código e da legislação profissional; c) informar, esclarecer e orientar os estudantes, na docência ou supervisão, quanto aos princípios e normas contidas neste Código. Art. 22 - Constituem infrações disciplinares: a) exercer a Profissão quando impedido de fazê-lo, ou facilitar, por qualquer meio, o seu exercício aos não inscritos ou impedidos; b) não cumprir, no prazo estabelecido, determinação emanada do órgão ou autoridade dos Conselhos, em matéria destes, depois de regularmente notificado; c) deixar de pagar, regularmente, as anuidades e contribuições devidas ao Conselho Regional de Serviço Social a que esteja obrigado; d) participar de instituição que, tendo por objeto o Serviço Social, não esteja inscrita no Conselho Regional; e) fazer ou apresentar declaração, documento falso ou adulterado, perante o Conselho Regional ou Federal. Das Penalidades Art. 23 - As infrações a este Código acarretarão penalidades, desde a multa à cassação do exercício profissional, na forma dos dispositivos legais e/ ou regimentais. Art. 24 - As penalidades aplicáveis são as seguintes: a) multa; b) advertência reservada; c) advertência pública; d) suspensão do exercício profissional; e) cassação do registro profissional. Parágrafo único - Serão eliminados dos quadros dos CRESS, aqueles que fizerem falsa prova dos requisitos exigidos nos Conselhos. Art. 25 - A pena de suspensão acarreta ao assistente social a interdição do exercício profissional em todo o território nacional, pelo prazo de 30 (trinta) dias a 2 (dois) anos.
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Parágrafo único - A suspensão por falta de pagamento de anuidades e taxas só cessará com a satisfação do débito, podendo ser cassada a inscrição profissional após decorridos três anos da suspensão. Art. 26 - Serão considerados na aplicação das penas os antecedentes profissionais do infrator e as circunstâncias em que ocorreu a infração. Art. 27 - Salvo nos casos de gravidade manifesta, que exigem aplicação de penalidades mais rigorosas, a imposição das penas obedecerá à gradação estabelecida pelo artigo 24. Art. 28 - Para efeito da fixação da pena serão considerados especialmente graves as violações que digam respeito às seguintes disposições: Art. 3º - alínea c Art. 4º - alínea a, b, c, g, i, j Art. 5º - alínea b, f Art. 6º - alínea a, b, c Art. 8º - alínea b, e Art. 9º - alínea a, b, c Art.11 - alínea b, c, d Art. 13 - alínea b Art. 14 Art. 16 Art. 17 Parágrafo único do art. 18 Art. 19 - alínea b Art. 20 - alínea a, b Parágrafo único - As demais violações não previstas no "caput", uma vez consideradas graves, autorizarão aplicação de penalidades mais severas, em conformidade com o art. 26. Art. 29 - A advertência reservada, ressalvada a hipótese prevista no art. 32 será confidencial, sendo que a advertência pública, suspensão e a cassação do exercício profissional serão efetivadas através de publicação em Diário Oficial e em outro órgão da imprensa, e afixado na sede do Conselho Regional onde estiver inserido o denunciado e na Delegacia Seccional do CRESS da jurisdição de seu domicílio. Art. 30 - Cumpre ao Conselho Regional a execução das decisões proferidas nos processos disciplinares. Art. 31 - Da imposição de qualquer penalidade caberá recurso com efeito suspensivo ao CFESS. Art. 32 - A punibilidade do assistente social, por falta sujeita a processo ético e disciplinar, prescreve em 05 (cinco) anos, contados da data da verificação do fato respectivo. Art. 33 - Na execução da pena de advertência reservada, não sendo encontrado o penalizado ou se este, após duas convocações, não comparecer no prazo fixado para receber a penalidade, será ela tornada pública. §Parágrafo Primeiro - A pena de multa, ainda que o penalizado compareça para tomar conhecimento da decisão, será publicada nos termos do Art. 29 deste Código, se não for devidamente quitada no prazo de 30 (trinta) dias, sem prejuízo da cobrança judicial. §Parágrafo Segundo - Em caso de cassação do exercício profissional, além
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dos editais e das comunicações feitas às autoridades competentes interessadas no assunto, proceder-se-á a apreensão da Carteira e Cédula de Identidade Profissional do infrator . Art. 34 - A pena de multa variará entre o mínimo correspondente ao valor de uma anuidade e o máximo do seu décuplo. Art. 35 - As dúvidas na observância deste Código e os casos omissos serão resolvidos pelos Conselhos Regionais de Serviço Social "ad referendum" do Conselho Federal de Serviço Social, a quem cabe firmar jurisprudência. Art. 36 - O presente Código entrará em vigor na data de sua publicação no Diário Oficial da União, revogando-se as disposições em contrário. Brasília, 13 de março de 1993. MARLISE VINAGRE SILVA Presidente do CFESS Publicado no Diário Oficial da União N 60, de 30.03.93, Seção I, páginas 4004 a 4007 e alterado pela Resolução CFESS n.º 290, publicada no Diário Oficial da União de 11.02.94.
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ÍNDICE
RESUMO ................................................................................................... 5
METODOLOGIA......................................................................................... 6
SUMÁRIO................................................................................................... 7
INTRODUÇÃO........................................................................................... 8
CAPÍTULO I
CONCEITOS HISTÓRICOS ..................................................................... 11
1.1- Direito do trabalho ....................................................................... 11
1.2- Serviço Social .............................................................................. 13
1.3- Serviço Social Jurídico ............................................................... 15
CAPITULO II
JUSTIÇA SOCIAL ................................................................................... 18
2.1- Serviço Social: campo do direito social? ..................................... 18
2.2- Acesso à justiça .............................................................................. 21
CAPITULO III
ASSISTÊNCIA SÓCIO-JURÍDICA ........................................................... 25
3.1- Serviço Social no contexto sócio-jurídico .................................... 25
3.2- Alternativas ao acesso à justiça .................................................... 27
3.3- Mediação .......................................................................................... 30
CONCLUSÂO .......................................................................................... 33
BIBLIOGRAFIA ....................................................................................... 36
ANEXOS .................................................................................................. 39