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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A EFICÁCIA DA TRANSAÇÃO PENAL EM FACE DO PODER DISCRICIONÁRIO DO MINISTÉRIO PÚBLICO Por: Sérgio Vinícius Gomes Rosse Orientador Prof. Rio de Janeiro 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A EFICÁCIA DA TRANSAÇÃO PENAL EM FACE DO PODER

DISCRICIONÁRIO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Por:

Sérgio Vinícius Gomes Rosse

Orientador

Prof.

Rio de Janeiro 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A EFICÁCIA DA TRANSAÇÃO PENAL EM FACE DO PODER

DISCRICIONÁRIO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como condição prévia para a

conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato

Sensu” em Direito Penal e Processo Penal.

Por: Sérgio Vinícius Gomes Rosse

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AGRADECIMENTOS

Rita de Cássia Gomes Rosse

Sérgio de Mattos Rosse

Cássio Gomes Rosse

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DEDICATÓRIA

Este trabalho é dedicado a todos os meus

familiares e pessoas intimamente ligadas às

minha vida, que no período de desenvolvimento

deste trabalho me ajudou com paciência, carinho

e compreensão, demonstrando que a superação

nos momentos difíceis vale a pena, por estar ao

lado de quem realmente se importa com meu

sucesso.

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RESUMO

Essa monografia apresenta como tema de análise a questão da

eficácia da transação penal em face do seu poder discricionário.

Objetiva-se com essa pesquisa esclarecer os principais pontos

relacionados ao cabimento da transação penal. Analisa-se a natureza

discricionária do instituto.

Dentre as funções institucionais do Ministério Público está a de

exercer, privativamente, a ação penal pública incondicionada (CRFB, art. 129,

I). Consiste efetivamente, no poder dever do referido órgão público baseado na

obrigatoriedade ou legalidade, em face do princípio da oportunidade ou

conveniência que estrutura toda ação penal de natureza privada.

Com base nesse entendimento, apresenta-se a transação penal

como instrumento discricionário da atuação do Ministério Público na

composição do acordo entre o interessado e o Estado.

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METODOLOGIA

A referida monografia aplicou as pesquisas de caráter bibliográfico,

exploratório e também explicativo.

Quanto aos fins, trata-se de uma pesquisa explicativa e descritiva.

Explicativa, porque apresenta a explanação acerca do fenômeno da transação

penal, ou seja, como se dá tal acordo em face do poder discricionário do

Ministério Público.

Descritiva, porque visa descrever como o poder público aplica a

transação penal, juntamente com a ação do Ministério Público na realização do

acordo dos casos concretos.

A natureza bibliográfica da pesquisa está no fato da utilização de

doutrinas acerca do tema, busco explorar ao máximo os argumentos dos

autores dedicados ao tema da transação penal.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO....................................................................................................... 08 CAPÍTULO 1 - DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS

1.1. Origem Legislativa.......................................................................................... 10

1.2. Definição das infrações de menor potencial ofensivo...................................... 13

1.3. Princípios Informadores.................................................................................. 16

1.3.1. Princípio da oralidade................................................................................ 16

1.3.2. Princípio da informalidade......................................................................... 17

1.4. Competência................................................................................................... 20

1.4.1. Das contravenções penais......................................................................... 21

1.4.2. Dos crimes com pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada

ou não com multa...................................................................................................

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CAPÍTULO 2 - DA TRANSAÇÃO PENAL

2.1. Definições doutrinárias .................................................................................. 24

2.2. Proposta do Ministério Público........................................................................ 26

2.3. Natureza jurídica da transação penal.............................................................. 29

2.4. Quanto a aceitação da proposta..................................................................... 30

2.4.1. Quanto ao controle jurisdicional da proposta ............................................ 31

2.4.2. Natureza da homologação da proposta...................................................... 33

CAPÍTULO 3 - SITUAÇÕES ONDE A TRANSAÇÃO PENAL É ACEITA

3.1. Transação penal na esfera privada.................................................................. 35

3.2. Transação penal no código de trânsito brasileiro............................................ 38

3.3. Transação penal nos crimes ambientais.......................................................... 39

3.4. Quanto ao descumprimento da transação penal............................................. 40

CAPÍTULO 4 - A EFICÁCIA DA TRANSAÇÃO PENAL EM FACE DO PODER

DISCRICIONÁRIO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

4.1. Noções acerca do poder discricionário........................................................... 45

4.2. Transação Penal : Poder discricionário ou direito subjetivo............................ 46

CONCLUSÃO.......................................................................................................... 49 BIBLIOGRAFIA........................................................................................................ 51

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INTRODUÇÃO

Esta monografia propõe um estudo sobre a eficácia da transação penal

abordando a função discricionária do Ministério Público.

No entanto, a mesma Constituição ao criar os Juizados Especiais no

âmbito criminal para as infrações penais de menor potencial ofensivo, reconheceu a

alternativa de, em determinadas hipóteses previstas na Le n°. 9.099/95,

especialmente no artigo 76, reduzir a obrigação em face do prosseguimento do

processo penal, através do instituto da transação.

A questão de caber ao Ministério Público o poder para a propositura da

transação penal promove uma grande controvérsia na doutrina. No entanto, para

essa monografia trata-se do seguinte questionamento: A transação penal é o um

poder discricionário do MP ou um direito subjetivo:

Essa monografia se baseia na hipótese de que, sendo o Ministério

Público detentor parte da soberania Estatal, como o fato de possuir competência

para arquivamento de inquéritos policiais, é correto que detenha também o poder

para decidir com o bom senso e razoabilidade quais os casos merecem o benefício

da transação penal.

É relevante abordar o tema pelo fato da doutrina dividir-se no sentido de

que, o magistrado também teria o papel de propor a transação penal. O que causa

divergência em face do instituto caracterizar direitos públicos subjetivos do acusado

ou, poder discricionário do promotor.

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Para melhor entendimento do tema proposto, essa pesquisa foi

estruturada em quatro capítulos expostos da seguinte forma:

No primeiro capítulo trata-se da análise dos Juizados Especiais Criminais,

buscando levantar a sua origem legislativa, a definição das infrações de menor

potencial ofensivo, os princípios informadores e sua competência.

No segundo capítulo explica-se o instituto da transação penal,

apresentando seu conceito, como se efetiva a proposta realizada pelo Ministério

Público e sua natureza jurídica.

No terceiro capítulo analisa-se a possibilidade da aplicação da transação

penal nas diversas leis nacionais. Será abordada a transação penal na esfera

privada, no Código de Trânsito Brasileiro, nos crimes ambientais e também analisar

os reflexos do descumprimento do instituto.

No quarto capítulo aborda-se a transação penal buscando identificar se o

instituto trata-se de um poder discricionário ou direito subjetivo.

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CAPÍTULO 1

DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS

Este capítulo analisa a evolução legislativa dos Juizados Especiais, a

definição das infrações penais de menor potencial ofensivo, os princípios

informadores e sua competência.

1.1. Origem legislativa

Os Juizados Especiais tiveram início no ano de 1980, através dos

Conselhos de Conciliação e Arbitramento, modelo aprovado pelos magistrados do

Estado do Rio Grande do Sul. Entretanto, esses órgãos não possuíam

reconhecimento legal, ou seja, não configuravam um papel na jurisdição. No

entanto, tal modelo foi considerado bastante vantajoso, conseguindo efetuar uma

quantidade considerável de conciliações, o que motivou a sua regulamentação.

Nesse contexto, foi criada a Lei Federal nº 7.244/84 para regulamentar os

Juizados de Pequenas Causas, com competência para julgar processos de menor

monta (até 20 salários mínimos). Apresentava como critério para a fixação da

competência dos Juizados, valor da causa.

Com o bom aproveitamento dos Juizados de Pequenas Causas, esses

órgãos foram rapidamente implantados em todo o Brasil. Os indivíduos através da

mídia descobriram que o acesso a prestação jurisdicional poderia ser célere e

econômica.

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Explica Luis Felipe Salomão que:

A estrutura era precária, com carência material e de pessoal, sendo que o juiz, via de regra, acumulava outras funções na Justiça comum. Ainda assim, enfrentando vários problemas estruturais, os Juizados de Pequenas Causas sempre foram citados como exemplos de boa administração de justiça.1

Com o advento da Constituição Federal de 1988, foi determinada a criação

dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais com base em seu artigo 98, inciso I, in

verbis:

Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau;

Diante da previsão do dispositivo retro, verificou-se uma grande evolução

na busca pelo maior acesso a Justiça. Seja no âmbito criminal ou cível, configuram

um modo de resolução de conflito mais célere. Especificamente, no que tange a

questão criminal, os Juizados excluíram o inquérito policial para os crimes de menor

potencial ofensivo.

Nesse contexto, o Estado de Santa Catarina criou os Juizados Especiais

Cíveis, regulamentando seu funcionamento e prevendo as questões de menor

potencial. Seguindo esse passo, o Estado do Mato Grosso do Sul também criou

seus Juizados Especiais Cíveis e Criminais (Lei Estadual nº 1.071/90).

No entanto, no julgamento do HC nº 71.713-6, o Supremo Tribunal

Federal decidiu negar competência aos Estados para legislar e criar os Juizados

Especiais Criminais, entendendo a questão de exclusividade da União.

Para regular o artigo 98, inciso I, da Constituição Federal, foram propostos

1 SALOMÃO, Luis Felipe. Roteiro dos Juizados Especiais Cíveis. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 31.

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seis projetos na Câmara Federal, sendo que o de conteúdo criminal teve como autor

o deputado Michel Temer, oriundo de proposta da Associação Paulista dos

Magistrados (APAMAGIS) e do Ministério Público do Estado de São Paulo.2

Na justificativa do Deputado Michel Temer ao apresentar o Projeto de Lei

1.480, em 16.02.1989, argumento que:

A norma constitucional que determina a criação de juizados especiais para as denominadas infrações penais de menor potencial ofensivo, com as características fundamentais que indica, obedece à imperiosa necessidade de o sistema processual penal brasileiro abrir-se às posições e tendências contemporâneas, que exigem sejam os procedimentos adequados à concreta efetivação da normalidade. 3

Ada Pellegini Grinover entende que a Lei n°. 9.099/95 trouxe medidas

despenalizadoras, no seguinte contexto:

A Lei 9.099/95 não cuidou de nenhum processo de descriminalização, isto é, não retirou o caráter ilícito de nenhuma infração penal. Mas disciplinou, isso sim, quatro medidas despenalizadoras (que são medidas penais ou processuais alternativas que procuram evitar a pena de prisão): 1ª) nas infrações de menor potencial ofensivo de iniciativa privada ou pública condicionada, havendo composição civil, resulta extinta a punibilidade (art. 74, parágrafo único); 2ª) não havendo composição civil ou tratando-se de ação pública incondicionada, a lei prevê a aplicação imediata de pena alternativa (restritiva ou multa) (transação penal, art. 76); 3ª) as lesões corporais culposas ou leves passaram a exigir representação da vítima (art. 88); 4ª) os crimes cuja pena mínima não seja superior a um ano permitem a sus- pensão condicional do processo (art. 89). O que há de comum, pelo menos no que tange a três desses institutos despenalizadores, é o consenso (a conciliação). 4

Nesse sentido, foi definitivamente instalado um novo sistema consensual,

bastante diferente do então utilizado para os delitos de menor potencial ofensivo,

promovendo, assim, de forma mais célere, o acesso a justiça.

2 Disponível em: http://www.tjrj.jus.br/c/document_library/get_file?uuid=4d74b9ec-6032-44ae-85ee-f8c81cd94c4a&groupId=10136. Acesso em : 15 set 2012. 3 DIÁRIO DO CONGRESSO (Seção I), terça-feira, 10.07.1990, p. 8.426.

4 GRINOVER, Ada Pellegrini et al; Juizados Especiais Criminais: comentários à Lei 9.099, de 26.09.1995. 5. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 38.

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1.2. Definição das infrações de menor potencial ofensivo

Nos termos do art. 61 da Lei nº 9.099/95, in verbis:

Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa. (nova redação dada pela Lei nº 11.313, de 28.06.2006).

Dessa forma, tornou-se de menor potencial ofensivo:

a) todos os crimes que apresentem como sanção a pena privativa de

liberdade (reclusão ou detenção) máxima não superior a dois anos,

independentemente de ser ou não cumulada com multa;

b) todas as contravenções penais, qualquer que seja o seu procedimento

(especial ou não).

O fato de o crime ser submetido a procedimento especial também não

deixa de ser, por esta razão, de menor potencial ofensivo. Destaca-se que a

condição do réu não influencia a competência do Juizado. 5

Ressalta-se que não se aplica o rito da Lei nº 9.099/95 aos seguintes

casos:

a) crimes militares (art. 90-A da Lei nº 9099/95);

b) crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,

independentemente da pena máxima cominada ao delito (art. 41 da Lei nº

11.340/2006): dessa forma, nas hipóteses de lesão corporal leve ou culposa

praticadas no ambiente doméstico ou familiar contra mulher, não se aplica o

procedimento (sumaríssimo) em relação aos benefícios despenalizadores da Lei nº

5 A infração não deixará de ser considerada de menor potencial ofensivo só porque, p. ex., o réu é reincidente. Nesse caso, não terá direito à transação ou à suspensão condicional do processo, mas o rito continuará sendo o da Lei dos Juizados Especiais: o sumaríssimo.

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9.099/95 (transação e suspensão condicional do processo): Nesse sentido:

PROCESSUAL PENAL – HABEAS CORPUS – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – LESÃO CORPORAL SIMPLES PRATICADA CONTRA MULHER NO ÂMBITO DOMÉSTICO – PROTEÇÃO DA FAMÍLIA – PROIBIÇÃO DE APLICAÇÃO DOS DITAMES DA LEI 9.099/1995 – AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA – ORDEM DENEGADA. 1. A família é a base da sociedade e tem a especial proteção do Estado; a assistência à família será feita na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. Inteligência do artigo 226 da Constituição da República. 2. As famílias que se erigem em meio à violência não possuem condições de ser base de apoio e desenvolvimento para os seus membros, de forma que os filhos daí advindos dificilmente terão condições de conviver sadiamente em sociedade, daí a preocupação do Estado em proteger especialmente essa instituição, criando mecanismos, como a Lei Maria da Penha, para tal desiderato. 3. Somente o procedimento da Lei 9.099/1995 exige representação da vítima no crime de lesão corporal leve ou culposa para a propositura da ação penal. 4. Não se aplicam aos crimes praticados contra a mulher, no âmbito doméstico e familiar, os ditames da Lei 9.099/1995. Inteligência do artigo 41 da Lei 11.340/2006. 5. A lesão corporal praticada contra a mulher no âmbito doméstico é qualificada por força do artigo 129, §9º do Código Penal e se disciplina segundo as diretrizes desse diploma legal, sendo a ação penal pública incondicionada. 6. Ademais, sua nova redação, feita pelo artigo 44 da Lei 11.340/2006, impondo pena máxima de três anos à lesão corporal qualificada, praticada no âmbito familiar, proíbe a utilização do procedimento dos Juizados Especiais, afastando, por mais um motivo, a exigência de representação da vítima. 7. Ordem denegada. (TJ – HC nº 106.805/MS, rel.ª Min.ª Jane Silva (Desembargadora convocada do TJ-MG), j. em 03.02.2009)

c) quando não for encontrado o réu para ser citado (art. 66, parágrafo

único, da Lei nº 9.099/95): mesmo que o réu não seja encontrado para a citação

somente impede a aplicação do rito sumaríssimo, sendo aplicável o procedimento

sumário previsto no Código de Processo Penal (CPP). Nesse contexto, os benefícios

despenalizadores podem ser concedidos ao acusado que, após a citação por edital,

compareça a juízo para responder a demanda, como a transação penal (art. 76 da

Lei nº 9.099/95) e a suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei nº 9.099/95);

d) impossibilidade de formulação da denúncia oral, em razão da

complexidade ou circunstâncias do caso (art. 77, § 2º, da Lei nº 9.099/95);

e) concurso material, formal ou crime continuado, quando a soma das

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penas máximas cominadas, em face do concurso material, for além dos dois anos,

ou ainda no caso do concurso formal e crime continuado, a pena máxima cominada,

acrescida no seu valor máximo, também ir além dos dois anos. Este é o

entendimento majoritário.

No caso de concurso de crimes, a pena considerada para fins de fixação da competência do Juizado Especial Criminal será o resultado da soma, no caso de concurso material, ou a exasperação, na hipótese de concurso formal ou crime continuado, das penas máximas cominadas aos delitos. Com efeito, se desse somatório resultar um apenamento superior a 02 (dois) anos, fica afastada a competência do Juizado Especial.(HC 80773 / RJ - 5ª. Turma do STJ, rel. Ministro Felix Fischer, julgamento em 04/10/2007, Data da publicação/Fonte DJ 19.11.2007 p. 256)

Ressalta-se que, a Lei nº 11.313/2006, além de alterar a redação do art.

61 da Lei nº 9.099/95, modificou a redação do art. 60, caput, desta lei e acrescentou

um parágrafo único. Nos seguintes termos:

Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos, tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência. Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo comum ou tribunal do júri, decorrentes da aplicação das regras de conexão e continência, observar-se-ão os institutos da transação penal e da composição dos danos civis.

Com base nos dispositivos legais supracitados, existindo a conexão ou

continência entre uma infração de menor potencial ofensivo e outra de maior

gravidade6, declina-se a competência do Juizado Especial Criminal, transferindo

processo para o Juízo Comum ou do Júri, no entanto, havendo ainda a possibilidade

de conceder a transação penal e a composição dos danos civis neste último Juízo

(Comum ou do Júri). 7

6 Médio ou máximo potencial ofensivo. 7 “No Juízo Comum ou do Júri não se deve, de plano, propor denúncia (ou queixa) quanto à infração de menor potencial ofensivo, mas apenas em relação à infração de maior gravidade e, simultaneamente, fazer proposta de transação para a infração de menor potencial ofensivo (ou fundamentar a recusa de proposta de transação, com base nas causas impeditivas da transação, constantes do art. 76 da Lei nº 9.099/95); caso não haja transação (ou composição dos danos civis, em caso de ação privada ou pública condicionada à representação), deve a parte autora aditar a peça acusatória (pode fazê-lo oralmente, reduzindo-se tudo a termo) para dela constar a infração de menor potencial ofensivo”. (GOMES, Luiz Flávio. Juizados especiais criminais federais: Seus reflexos nos juizados estaduais e outros estudos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 38).

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1.3. Princípios informadores

No seu art. 62, a Lei nº 9.099/95 especifica regras norteadoras nas quais

teve inspiração os Juizados Especiais Criminais, in verbis:

Art. 62. O processo perante o Juizado Especial orientar-se-á pelos critérios da oralidade, informalidade, economia processual e celeridade, objetivando, sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade.

De acordo com Pedro Henrique Demercian e Jorge Assaf Maluly, o

legislador buscou através do referido dispositivo, a reparação do dano causado e

alternativas eficazes para a substituição das penas privativas de liberdade, bastante

aplicadas, que segundo com tendência para as modernas teorias de

descriminalização e restrita tutela Estatal nas relações humanas, em nítida reação a

um direito penal excessivamente intervencionista, emocional, já que editado na

época de acontecimentos emergentes, no entanto, isolados, e simbólico, já que não

corresponde à efetiva concretização de um mínimo anseio de paz social.8

1.3.1. Princípio da oralidade

A oralidade tem como consectários a celeridade, a imediação, a

concentração e a identidade física do juiz.

No que se refere ao princípio da oralidade, também chamado de base da

técnica processual9, podem ser aplicados os mesmos postulados do processo

comum, uma vez que o princípio em questão configura apenas uma obrigação

básica de caráter oral no tratamento da causa, sem excluir, contudo, a utilização da

escrita, tendo em vista a imprescindibilidade da documentação do procedimento10.

Na realidade, o que existe no processo é uma complementação entre as formas oral

8 DEMERECIAN, Pedro Henrique; MALULY, Jorge Assaf. Curso de Processo Penal. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 32. 9 TUCCI, Cibele P. M. Bases estruturais do processo moderno. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 48 10 BATISTA, Weber Martins; FUX, Luiz. Juizados Especiais Cíveis e Criminais e suspensão condicional do processo : a Lei 9.099/95 e sua doutrina mais recente. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 304

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e escrita. No procedimento do Juizado Especial, particularmente, é que a oralidade é

mais intensa.

Entretanto, existe a necessidade de que as declarações perante o Juiz

sejam feitas oralmente e não por escrito11. Assim, a essência da Lei 9.099/95 levou

o legislador a estabelecer que de todo o ocorrido na audiência, inclusive das

declarações das testemunhas, das partes e de seus respectivos representantes,

será lavrado termo contendo somente breve resumo dos fatos relevantes (art. 81, §

2o). Nesse contexto, ensina Ada Pellegrini Grinover que:

No Juizado Especial Criminal há ampla expressão da oralidade. De fato, na fase preliminar a audiência é marcadamente oral, a acusação e a defesa são feitas oralmente (art. 77, caput e § 3o e art. 81, caput, respectivamente). Todas as provas, debates e a sentença são orais e realizados em uma só audiência (art. 81, caput ). Ademais, só serão registrados por escrito os atos essenciais (art. 65, § 3o). Como corolário do princípio da oralidade, há ainda a exigência de que, no Juizado Especial Criminal, haja a concentração dos atos numa só audiência preliminar em que serão possíveis os acordos pela via do consenso. Da mesma forma, se houver acusação e instauração do processo, deverá haver uma só audiência durante o procedimento sumaríssimo. 12.

A reiterada aplicação do princípio oralidade apresenta outra grande

vantagem de ordem psicológica, uma vez que, proporciona às partes a real

impressão de que estão, elas mesmas, exercendo uma influência decisiva no

desfecho da demanda, o que resulta, concomitantemente, num significativo aumento

de prestígio do Judiciário perante os jurisdicionados..

1.3.2. Princípio da informalidade

A Lei que regulamentou os Juizados Especiais Criminais já no seu art. 62

estabelece que o processo deva orientar-se, dentre outros critérios já analisados,

pela informalidade e pela economia processual.

De acordo com Weber Martins Batista e Luiz Fux:

11 BATISTA, Weber Martins; FUX, Luiz. op. cit., p. 304. 12 GRINOVER, Ada Pellegrini. op. cit., p. 76.

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A forma é essencial. É ela que dá realidade ao ato processual, é sua exteriorização, o que faz com que ele integre o mundo real e possa ser percebido pelas partes que figuram no processo. Observa-se também que é a garantia do devido processo legal. O que não se pode admitir é o formalismo exacerbado, que é sempre prejudicial, na medida em que coloca em segundo plano o conteúdo e a finalidade do ato a ser praticado, convertendo-se em obstáculo ao andamento do processo. Pensando nisso, o legislador dotou a Lei 9.099/95 de louvável informalidade.13

Prevê o artigo 72 da Lei nº 9.099⁄95, in verbis:

Art. 72. Na audiência preliminar, presente o representante do Ministério Público, o autor do fato e a vítima e, se possível, o responsável civil, acompanhados por seus advogados, o Juiz esclarecerá sobre a possibilidade da composição dos danos e da aceitação da proposta de aplicação imediata de pena não privativa de liberdade.

Nesse momento, o Ministério Público poderá condescender no seu poder-

dever de instaurar a instância penal e o autor do fato poderá aceitar a aplicação

imediata de uma sanção especial14, com regras de conduta.

Nesse contexto, deve-se verificar o alcance do princípio da informalidade,

para que, em nome desta, não venham a ser desmerecidas as garantias maiores do

acusado no processo penal.

Como explica Cândido Rangel Dinamarco:

A grande discricionariedade deixada ao aplicador do sistema exige, porém, a sua familiaridade com as diretrizes básicas do processo das pequenas causas, ao lado de sólida visão dos princípios do direito processual, que constituirão o seu norte. Ele dará aos atos do processo as formas que convierem em cada caso, sempre atento ao escopo de cada um, e atendidas as exigência de segurança das partes, sua igualdade e amplas possibilidades de participação em contraditório.15

De acordo com Julio Fabbrini Mirabete : “ não estará o Juiz isento de

observar um mínimo de formalidades essenciais para a prática de determinados atos

13 BATISTA, Weber Martins; FUX, Luiz. op. cit., p. 351. 14 Mesmo sem a comprovação da culpabilidade. 15 DINAMARCO, Cândido Rangel. Manual das Pequenas Causas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 53.

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19

processuais, de modo a resguardar os princípios constitucionais da ampla defesa, do

contraditório, e do devido processo legal”16.

c) economia processual

No mesmo contexto da informalidade, ou seja, buscando dar celeridade

ao procedimento das infrações menores, a Lei nº 9.099/95 adotou de maneira

inequívoca o princípio da economia processual, baseado na ideia de aproveitar

todos os atos realizados, a partir do momento que atinja suas finalidades e

protegidas as garantias fundamentais do indivíduo. Significa praticar o maior número

de atos processuais, com o menor gasto possível.

d) publicidade

A Constituição Federal determinou como regra, a publicidade dos atos

processuais, excetuando sua realização de forma limitada, quando a defesa da

intimidade ou o interesse social assim o exigirem (art. 5º, inciso LX, CRFB/88). No

entender de Rogério Lauria Tucci que:

Essa regra, além de imprescindível ao devido processo legal, é também determinante, em regra, da regularidade dos atos processuais, pois garante ao interessado um "iter procedimental escorreito de qualquer vício", atendendo à indeclinável aspiração de uma Justiça transparente.17

O juiz não exerce dentro do processo qualquer compromisso pessoal,

"salvo aquele que assumiu ao tomar posse do cargo".18 O processo não lhe pertence

e nem pode ser encarado unicamente como instrumento para sua realização

pessoal. Essa atividade estatal que nele se desenvolve tem por destinatário a

própria sociedade, que exige a excelência dos serviços. A maneira mais adequada

para resguardar esse direito é através da publicidade dos julgamentos, que só é

atingida no processo oral. 16 MIRABETE, JúlioFabbrini. Juizados Especiais Criminais: comentários, jurisprudência, legislação. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2002., p. 30. 17 TUCCI, Rogério Lauria. Direitos e Garantias Individuais no Processo Penal Brasileiro, São Paulo: Saraiva, 2008, p. 239. 18 COLTRO, Antonio Carlos Mathias. Juiz, Humildade e Serenidade, in Uma Nova Ética Para o Juiz (coordenação de José Renato Nalini), São Paulo, Ed. Revista dos Tribunais, 1994, p. 11.

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A publicidade da atividade jurisdicional, no entanto, não pode significar

que um julgamento realizado nesses termos estará sujeito ao clamor público.

Além dos mencionados princípios, sempre que possível, deve ser

buscada a reparação dos danos sofridos pela vítima (composição artigos. 72 e 74 da

Lei nº 9.099/95) e a aplicação de pena não privativa de liberdade (transação arts. 72

e 76 da Lei nº 9.099/95).

Destaque-se, ainda, que a Lei n°. 9.099/95 não estabeleceu qualquer

medida descriminalizadora, uma vez que não excluiu o caráter ilícito da infração

penal. A lei optou por promover quatro medidas descarcerizadoras, ou seja,

alternativas que objetivam não aplicar a pena privativa de liberdade.

1.4. Competência

Em relação aos Juizados Especiais Criminais, o primeiro critério de

fixação da competência se dá em razão da natureza do delito, ou seja, as infrações

penais de menor potencial ofensivo.

Como já mencionado, o art. 61 da Lei nº 9.099/95, com redação definida

pela Lei nº 11.313/06, define as infrações penais de menor potencial ofensivo.

Com a nova redação dada ao art. 61 pela Lei nº 11.313\/06, excluindo do

texto a ressalva em relação à existência de procedimento especial, para deslocar da

competência do JECrim Estadual o crime de menor potencial ofensivo, de acordo

com Luiz Cláudio Silva e Franklin Roger Alves Silva que basta agora aferir tão

somente o limite máximo da pena cominada ao crime de menor potencial ofensivo,

que, se não for superior a dois anos, mesmo que exista procedimento especial

traçado pelo Código de Processo Penal ou por leis extravagantes, deve ser adotado

a partir da vigência da lei em comento o procedimento da Lei nº 9.099\/95.19

Nesse sentido, é a jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado do Rio

19 SILVA, Luiz Cláudio; SILVA, Franklin Roger Alves. Manual de Processo e Prática Penal. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p .9.

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de Janeiro:

INJÚRIA. MENOR POTENCIAL OFENSIVO. COMPETÊNCIA. JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL. Conflito de Jurisdição. Lei nº 9.099\/95. Lei nº 10.259\/01. Ampliação do conceito de menor potencial ofensivo. Procedimento especial. Aplicação dos princípios constitucionais da isonomia e da razoabilidade. Enunciado nº 46 do FONAJE. Lei nº 11.313\/06. Modificação dos arts. 60 e 61 da Lei nº 9.099\/95. Supressão "dos casos em que a lei preveja procedimento especial". Competência do Juizado Especial. Queixa-crime. Decadência. Extinção da punibilidade. Com o advento da Lei nº 10.259\/03, ampliou-se o conceito de infração de menor potencial ofensivo, no âmbito da Justiça Estadual, por via de elevação da pena máxima abstrata cominada ao delito, não superior a dois anos. Nada mencionando a lei a respeito das exceções previstas no art. 61 da Lei nº 9.099\/95, firmou-se a jurisprudência, quase à unanimidade e em atenção aos princípios constitucionais da isonomia e da razoabilidade, no senti do de que esta não excluiu da competência do Juizado Especial Criminal os delitos que possuam rito especial. Neste senti do, o Enunciado nº 46 do FONAJE: "A Lei nº 10.259\/01 ampliou a competência dos Juizados Especiais Criminais dos Estados e do Distrito Federal para o julgamento de crimes com pena máxima cominada até dois anos, com ou sem cumulação de multa, independentemente do procedimento". A edição da Lei nº 11.313\/06, que modificou os arts. 60 e 61 da Lei nº 9.099\/95, retirando a menção à vedação quanto aos crimes de rito especial, pacificou a matéria, positivando o entendimento dominante. Decorridos mais de seis meses da data (10.02.06) e não tendo sido oferecida a queixa-crime, impõe-se a extinção da punibilidade do agente, nos termos do art. 107, IV, do Código Penal. Conflito acolhido. Competência do Juizado Especial Criminal. Extinção da punibilidade. (CONFLITO DE JURISDIÇÃO 108\/2006 - Reg. em 01.12.2006 Duque de Caxias - Sexta Câmara Criminal – Unânime Des. Maria Zélia Procópio da Silva - j. em 05.10.2006)

A Lei Federal respeitando a competência da União para legislar sobre

Direito Penal e Processual Penal, definiu quais são infrações penais consideradas

de menor potencial, ou seja: a) as contravenções penais, b) e os crimes a que a lei

comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.

1.4.1. Das contravenções penais

Damásio Evangelista de Jesus ensina que:

O art. 61 da Lei n. 9.099/95 disciplina a conceituação de crimes de menor potencial ofensivo para efeito da competência dos Juizados Especiais Criminais. O art. 94 do Estatuto do Idoso disciplina a

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espécie de procedimento aplicável ao processo e não as infrações de menor potencial ofensivo. Temos, pois, disposições sobre temas diversos, cada uma impondo regras sobre institutos diferentes, sendo incabível a aplicação do princípio da proporcionalidade. 20

É possível verificar a partir do artigo 61 da Lei 9.99⁄95, que todas as

contravenções penais, seja qual for a quantidade de pena cominada em abstrato,

serão processadas, conciliadas, julgadas e executadas pelos Juizados Especiais

Criminais.

1.4.2. Dos crimes com pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não

com multa

Quanto aos crimes, estão abrangidos todos aqueles cuja pena máxima

não ultrapassar 02 (dois) anos, apenados com detenção ou com reclusão, já que a

lei não diferenciou a qualidade da pena.

A cumulação da pena prisional com multa, por seu turno, não tem mais

relevância para os fins de conceituar a questão da infração penal de menor potencial

ofensivo, conforme a atual redação do art. 61 da Lei dos Juizados Especiais

Criminais, dada pela Lei nº 11.313, de 2006.

Pedro Henrique Demercian e Jorge Assaf Maluly explicam que:

Na fixação de competência pela quantidade da pena cominada em abstrato ao delito devem ser consideradas as causas genéricas e especiais de aumento ou de diminuição da pena prevista nas Partes Geral e Especial do Código Penal. Estas causas (circunstâncias) integram o fato criminoso, agravando ou diminuindo sua gravidade, mas sem lhes modificar a essência. 21

Destaque-se que a regra penal não prevê de forma expressa o máximo e

o mínimo da pena, utilizando-se de termos como um terço, um sexto, o dobro, a

metade etc.

20 JESUS, Damásio Evangelista de. Lei dos juizados especiais criminais. 10ª ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 14. 21 DEMERECIAN, Pedro Henrique; MALULY, Jorge Assaf. Teoria e Prática dos Juizados Especiais Criminais. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 18.

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Na parte geral do Código Penal, dentre outras, encontram-se as seguintes

causas de aumento e diminuição: a figura tentada do crime, prevista no art. 14,

inciso II e parágrafo único; no estado de necessidade, quando era razoável exigir-se

o sacrifício do direito ameaçado (art. 24, § 2º); a semi-imputabilidade (art. 26,

parágrafo único). Já na Parte Especial, em meio a outras hipóteses: lesão corporal

culposa agravada pelas circunstâncias do § 7º do art. 129 ou privilegiada pelas

condições do § 4º do mesmo artigo; omissão de socorro, quando se verifica o

resultado morte ou de lesão corporal de natureza grave (art. 135, parágrafo único).

De acordo com Jorge Assaf Maluly:

No que tange à tentativa, para efeito de inserção ou não na competência dos Juizados Especiais, sustentamos que a redução a ser considerada deve ser mínima, porque o máximo da pena em abstrato cominada para um crime tentado, como é lógico, reside na redução mínima pelo conatus. O mesmo raciocínio deve ser aplicado às demais causas. 22

Quanto às agravantes, estas não são consideradas, uma vez que não

aumentam a pena além do máximo. Entretanto, as atenuantes devem ser verificadas

no ato da elaboração da proposta de transação, por estabelecer a redução do limite

máximo da pena cominada em abstrato.

22 MALULY, Jorge Assaf . A suspensão condicional do processo e a tentativa, in Boletim do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais :03, abril de 2006, p. 40.

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CAPÍTULO 2

DA TRANSAÇÃO PENAL

Este capítulo explica o instituto da transação penal, apresentando seu

conceito, como se dá a elaboração da proposta pelo Ministério Público e sua

natureza jurídica.

2.1. Definições doutrinárias

Affonso Fraga, citado por Figueira Júnior, conceitua a transação da

seguinte forma:

Transação penal corresponde em vernáculo ao vocábulo latino transactio, que deriva de transigire, verbo que denota ambigüidade, formado da partícula e preposição trans, que significa além de, e de agere, que significa conduzir. Assim, na locução lacial, além de significar transpassar, transpor certos limites, passar além, transigire significava o último grau da ação, a sua terminação ou transformação. A transação, substituindo o estado de luta pelo de paz, é da maior utilidade às partes que, mercê dela, libertam-se das despesas avultadas necessárias ao custeio da lide, dos dissabores e incômodos que determina, das inimizades capitais que engendra e finalmente da incerteza do seu êxito que, como todo desconhecido, é o tormento contínuo de quem litiga. 23

No entender de Sérgio Turra Sobrane:

23 FRAGA, Affonso apud FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Comentários à lei dos juizados especiais cíveis e criminais . São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 570.

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O instituto da transação penal consiste no ato jurídico pelo qual o Ministério Público e o autor do delito, atendidos os requisitos legais, e na presença do magistrado, acordam em concessões recíprocas para prevenir ou extinguir o conflito instaurado pela prática de fato típico, mediante o cumprimento de uma pena consensualmente ajustada, que não seja, frise-se, privativa de liberdade. 24

Conforme Cezar Roberto Bitencourt:

A aquiescência pessoal do autor da infração integra a própria essência do ato: estará transigindo com a sua liberdade, que passará a sofrer restrições. A autodisciplina e o senso de responsabilidade que fundamentam a transação, exigem o comprometimento moral e emocional do autor. 25

Explica Afrânio da Silva Jardim que:

[...] quando o Ministério Público apresenta em juízo a proposta de aplicação de pena não privativa de liberdade (transação penal), está, na verdade, exercendo ação penal, pois deverá, ainda que de maneira informal e oral, fazer uma imputação ao autor do fato e pedir a aplicação de uma pena, embora esta aplicação imediata fique na dependência do assentimento do réu. Segundo o autor, entendendo o fenômeno processual dessa forma, fica mais fácil compreender como o juiz está autorizado a aplicar a pena aceita pelo réu.26

João Francisco de Assis discordando do autor retro entende que a

finalidade da transação penal não é exatamente estabelecer uma pena, como

acontece na ação clássica, o que se busca é promover uma medida consensual

entre as partes, evitando assim, por fim ao processo penal condenatório. 27

Diante dos argumentos apresentados, conclui-se que não se pode negar

que na transação penal ocorre processo no sentido amplo do termo, uma vez que,

não sendo o caso de arquivamento e aceita a proposta, o juiz deve homologar o

acordo através de sentença. No entanto, não se trata de processo penal

condenatório, em que se visa apurar os fatos para uma posterior condenação ou

absolvição.

.

24 SOBRANE, Sérgio Turra. Transação penal . São Paulo: Saraiva, 2001. p. 75. 25 BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas. São Paulo: Saraiva: 2001, p. 543.

26 JARDIM, Afrânio Silva. Direito processual penal. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 100. 27 ASSIS, João Francisco de. Juizados Especiais Criminais: justiça penal consensual e medidas despenalizadoras. Curitiba: Juruá, 2005, p. 101.

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26

2.2. Proposta do Ministério Público

Dentre as funções institucionais do Ministério Público está previsto o

exercício privativo da ação penal pública incondicionada (CRFB/88, art. 129, I). Tal

situação consiste no poder dever do MP que se baseia no princípio da legalidade e

também obrigatoriedade, diferentemente dos princípios da oportunidade ou

conveniência que regulamentam a ação penal de natureza privada.

Entretanto, a Constituição Federal, ao dispor sobre a criação dos Juizados

Especiais no âmbito criminal, para a conciliação, o julgamento e a execução das

infrações penais de menor potencial ofensivo, previu a possibilidade nos casos

específicos previstos pelo art. 76 da Lei nº 9.099/95, o titular do jus puniendi atenuar

a obrigatoriedade quanto ao início ou prosseguimento da persecução penal, através

da transação.

A proposta do Ministério Público, ainda informalmente, deve ser

submetida à discussão com a parte interessada28 para que se chegue a um

consenso, à convergência de vontades, a um termo que satisfaça ambos, isto é,

uma transação. Ato contínuo será submetido ao controle jurisdicional, no sentido de

ser ou não homologada pelo Juiz de Direito.

Ressalte-se que a não homologação do acordo pelo juiz deverá limitar-se

à estrita legalidade, ou seja, só deverá ocorrer se presentes os requisitos impeditivos

no artigo 76, § 2º, I da Lei nº 9.099/95, in verbis:

Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta. [...] § 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado: I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva;

28 Suposto autor do fato ou suspeito.

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II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo; III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.

Quanto ao primeiro inciso citado, que trata da sentença definitiva, se faz

necessário conceituá-la. Dispõe o art. 82 do Código de Processo Pena, in verbis:

Art. 82. Se, não obstante a conexão ou continência forem instaurados processos diferentes, a autoridade da jurisdição prevalente deverá avocar os processos que corram perante os outros juízos, salvo se já estiverem com sentença definitiva. Neste caso, a unidade dos processos só se dará, ulteriormente, para o efeito de soma ou unificação das penas.

Os tribunais já pacificaram a ideia de que não é obrigatório o trânsito em

julgado da decisão monocrática. Dessa forma, a sentença definitiva não deve ser

caracterizada como decisão em relação a qual já houve o trânsito em julgado. Tal

entendimento é possível ao analisar o previsto no artigo 593, inciso I, do CPP29,

quando trata de decisão pendente de recurso.

Nesse contexto, Júlio Fabbrini Mirabete explica que:

A reunião de processos, para decisão conjunta pela autoridade de jurisdição prevalente, só é viável até a prolação da sentença, que se reputa "definitiva", como quer o art. 82 do CPP, quando já não possa ser alterada em primeiro grau.30

Diante do entendimento do autor retro acerca do conceito de sentença

definitiva já pacificada na doutrina processual penal, é irrelevante a ocorrência ou

não do trânsito em julgado da sentença para que se reconheça a impossibilidade de

transação penal.

Ainda segundo o autor em comento:

29 Art. 593 - Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: I - das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz singular;

30 MIRABETE, JúlioFabbrini. Juizados Especiais Criminais. São Paulo: Atlas, 2002, p. 86.

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Quando a Lei dos Juizados Especiais Criminais usa a expressão sentença definitiva, está se referindo à decisão definitiva de mérito que já adquiriu a estabilidade da coisa julgada, sob pena de lesão ao princípio do estado de inocência. 31

Entretanto, quanto à análise do art. 76, § 2º, não existe questionamento,

ou seja, a sentença condenatória que reconheceu a prática de contravenção penal

ou, embora reconhecendo a existência de crime, impõe pena de multa ou restritiva

de direitos, sob o aspecto objetivo não impede a proposta de transação.

Em sentido contrário, Pedro Henrique Demercian e Jorge Assaf Maluly

ensinam que:

A condenação anterior pela prática de crime à pena privativa da liberdade só impedirá a proposta de transação se não tiver sido cumprida ou julgada extinta há mais de 05 anos, por força da aplicação analógica do art. 64, inciso I, do Código Penal. Não faria sentido que uma condenação repercutisse em toda a existência do indivíduo, marcando-lhe a vida de forma perpétua e perene. Dessa forma, o limite temporal para que uma condenação possa repercutir no instituto da transação é aquele acima indicado, isto é, cinco anos contados da data da extinção ou cumprimento da pena privativa da liberdade. 32

Quanto à questão impeditiva de não ter sido beneficiado por idêntica

medida no prazo de cinco anos, destaca-se que a finalidade principal da transação

penal é buscar a ressocialização, evitando a aplicação da pena privativa de

liberdade. Entretanto, o Estando não pode beneficiar o indivíduo reincidente na

prática de crime. Dessa forma, o mesmo não fará jus ao benefício no período

estipulado no artigo 72 da Lei nº 9.099⁄95.

Quanto aos impedimentos do incido III do artigo em comento, verifica-se

que tratam-se de elementos subjetivos, e a proposta de transação penal com a

cumulação de restrição de direitos é um procedimento que deve satisfazer os

critérios de necessidade e suficiência. E ao mesmo tempo, impõe sanção com

conseqüências diferentes daquelas decorrentes de uma sentença penal

condenatória. Entretanto, obriga o agente do delito a restrições de direitos, que, não

31 Idem, p. 87. 32 DEMERECIAN, Pedro Henrique; MALULY, Jorge Assaf. Teoria e Prática dos Juizados Especiais Criminais. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 45.

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sendo cumpridas, será passível de instauração do processo e prolação da sentença

penal, com todos os efeitos dele advindos.

2.3. Natureza jurídica da transação penal

O instituto da transação penal possui natureza jurídica mista, ou seja, tem

natureza processual e penal ou material. Processual, porque a aplicação imediata de

pena alternativa produz efeitos diretos dentro da fase preliminar (impedindo a sua

instauração) ou do processo (extinguindo-o) e, penal, porque a transação afasta a

pretensão punitiva estatal original.33

A lei processual, em certas situações, assume características que a

aproximam da lei substantiva. Nesse contexto é possível concluir que a existência de

normas processuais penais materiais, confere natureza mista a elas, produzindo

efeitos penais e processuais. É o caso da norma do art. 76, disciplinadora da

transação penal.

Segundo Ada Pellegrini Grinover:

O reconhecimento dessa natureza jurídica mista da transação penal é de suma importância na aplicação da lei, pois, em virtude do seu caráter preponderantemente penal, a norma do art. 76 tem aplicação imediata até o limite da coisa julgada, incidindo sobre todos os casos em andamento. Além disso, por ser norma mais benéfica, tem aplicação retroativa.34

Diante dos argumentos dos autores apresentados quanto à natureza

jurídica da transação penal, entende-se que esta natureza dupla, ou seja, ao mesmo

tempo em que configura um instituto de Direito Processual Penal, por compor a lide,

também consiste em um instituto de direito material, uma vez que, o acordo entre as

partes homologado posteriormente pelo juiz, implica a resolução do conflito penal,

não se admitindo mais sua discussão.

33 GRINOVER, Ada Pellegrini et al. op. cit., p. 45. 34 Idem, p. 46.

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2.4. Quanto à aceitação da proposta

A proposta de transação penal somente será homologada se for aceita

expressamente pelo autor do fato, na presença de advogado constituído ou defensor

nomeado (Lei 9.099/95, art. 68)35. Ainda sobre a aceitação do autor, explica Luiz

Flávio Gomes:

Em termos de natureza jurídica, segundo Luiz Flávio Gomes, o que se dá na aceitação da proposta é a conformidade penal, algo parecido com o que se passa no sistema espanhol. O autor do fato coloca-se conforme com a proposta do Ministério Público e com isso enseja a aplicação imediata (direta) da sanção. Mas no instante em que o autor do fato conforma-se com a sanção, nesse momento, está havendo transação, porque ele está abrindo mão do exercício de uma série de direitos e garantias fundamentais. O Ministério Público irá dispor sobre a pretensão punitiva estatal (pena de prisão ou multa integral) programada, enquanto o acusado deve dispor sobre alguns direitos e garantias fundamentais. Nisso consiste a transação, veiculada por meio de uma conformidade. Essa conformidade penal pode ser simples ou complexa. Na conformidade simples o autor do fato aceita na íntegra a proposta feita pelo Ministério Público (que jamais pode ser pena de prisão) e não discute nada. Na complexa, em princípio o autor do fato pode achar excessiva a proposta; nada impede que faça uma contraproposta. Nesse momento inicia-se uma conciliação complexa, na presença do juiz (em audiência). Em ambas as formas de conformidade há transação porque ambas as partes (Ministério Público e autor do fato) estão “abrindo mão” de algo: aquele de uma parte da pretensão punitiva estatal; este de uma parte dos seus direitos e garantias fundamentais.36

A presença de um advogado é obrigatória, uma vez que, a aceitação da

proposta de transação apresenta efeitos de imposição de sanção penal (não

restritiva de liberdade) e, dessa forma, o autor do fato necessita estar devidamente

orientado sobre os seus direitos, sobre as consequências da transação e sobre as

suas possibilidades de defesa e de êxito final, caso a ação venha a ser instaurada. É

a garantia do princípio constitucional da ampla defesa.37

A manifestação de vontade do autor do fato apresenta caráter

35 GRINOVER, Ada Pellegrini et al. op. cit., p. 153. 36 GOMES, Luiz Flávio. Juizados Especiais e seus reflexos. São Paulo: RT, 2002, p. 484.

37 PAZZAGLINI FILHO, Marino et al. Juizado especial criminal: aspectos práticos da Lei nº 9.099/95. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2008.p. 48

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31

personalíssimo personalíssima, voluntária, absoluta, formal, vinculante e

tecnicamente assistida.38

Havendo divergência entre o autor do fato e seu advogado em relação à

aceitação da proposta, o juiz esclarecerá as consequências do ato e buscará um

consenso. Entretanto, caso persista o conflito, a vontade do autor prevalecerá desde

que esclarecido das consequências da aceitação, pois é ele quem suportará os

efeitos da imposição da pena não privativa de liberdade.

No entanto, o tema não é pacífico, existindo entendimento sobre a

obrigatória aceitação conjunta pelo autor do fato e por seu advogado para que o

magistrado proceda a homologação da homologar a transação penal. Segundo Joel

Dias Figueira Junior e Maurício Antonio Ribeiro Lopes, a aceitação da proposta deve

ser feita cumulativamente pelo argüido e por seu defensor. A recusa de um deles

deverá ser interpretada como óbice fatal à aplicação imediata de pena não privativa

de liberdade, seguindo-se daí o procedimento sumaríssimo nos termos do art. 77 e

ss. da Lei 9.099/95.39

2.4.1. Quanto ao controle jurisdicional da proposta

Ao ser aceita a proposta de transação, a mesma é passível ao controle

jurisdicional através da apreciação judicial do acordo, nos termos do § 3o do art.

7640.

Constando os requisitos legais exigidos, o magistrado homologa a

transação e aplica a pena (restritiva de direitos ou multa), com base no artigo 76 § 4o

da Lei nº. 9.099⁄9541. Dessa forma, a homologação da transação não configura um

ato automático, uma vez que, o juiz pode rejeitá-la na ausência de determinado

requisito legal ou na ausência de tipicidade do fato.

Quanto a questão do juiz poder modificar o acordado entre o MP e o autor 38 GRINOVER, Ada Pellegrini et al. op. cit., p. 153. 39 LOPES, Maurício Antonio Ribeiro. Crimes de Trânsito. São Paulo: RT, 2005, p.98. 40 Art. 76. [...] § 3o Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será submetida à apreciação do Juiz. 41 Art. 76. [...] § 4o Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo registrada apenas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos.

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no ato da homologação, ainda existe muita divergência. Para da doutrina entende

que a transação penal é um acordo bilateral, de regra, não poderia o juiz alterar o

que foi convencionado pelas partes. Nesse caso, apenas seria função do juiz

analisar a legalidade da pena proposta e de sua conveniência, verificando a vontade

das partes Nesse sentido, Ada Pellegrini Grinover. entende que:

A atuação do Juiz deve ocorrer antes da aceitação da proposta, alertando o autuado e seu defensor quanto ao rigor excessivo da oferta do Ministério Público e tentando persuadir o representante do órgão sobre a conveniência de sua diminuição. Se houver persistência pela aplicação da pena excessivamente gravosa, poderá o juiz utilizar-se do recurso do art. 28 do CPP. No entanto, em último caso, deverá observar a vontade das partes42.

Para Júlio Fabbrini Mirabete:

Não cabe ao juiz avaliar o valor da proposta, se vantajosa para o Estado ou para o infrator, devendo apenas verificar a legalidade da medida, pois, se interferir na transação, o juiz estará ofendendo o princípio do devido processo legal e ferindo o princípio da imparcialidade e o sistema acusatório, em que há nítida separação entre as funções do Ministério Público e do Poder Judiciário43.

Outros doutrinadores, entretanto, como Tourinho Neto44, afirmam que o

juiz não atua somente como mero homologador, podendo excluir, ou mesmo incluir,

determinadas cláusulas na proposta feita pelo Ministério Público, até mesmo porque

a norma é clara no sentido de que a proposta deve ser “submetida à apreciação do

juiz”45. O juiz, assim, não está vinculado à proposta formulada, ainda que aceita pelo

autor do fato e seu defensor, podendo reduzir a sua amplitude ou mesmo denegar a

aplicação da pena proposta.46

Caberia somente ao juiz, como permite o § 2º do art. 76, reduzir até a

metade o quantum da pena de multa, quando esta for a única aplicável ao caso. Mas

caberia aos transigentes, dentro dos limites legais, a especificação do tipo da pena.

42 GRINOVER, Ada Pellegrini et al. op. cit., p. 152. 43 MIRABETE, Julio Fabrinni, op. cit., p. 140. 44TOURINHO NETO, Fernando da Costa. 45 TOURINHO NETO, Fernando da Costa, Juizados Especiais Federais Cíveis e Criminais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p 310. 46LOPES, Maurício Antonio Ribeiro. op.cit., p. 225.

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2.4.2. Natureza da homologação da proposta

Estando presentes os requisitos legais, o juiz homologa a aceitação da

proposta, e a imposição da pena alternativa se efetiva através de sentença. Mas

questiona-se qual seria a natureza jurídica de tal sentença. A questão é bastante

controvertida. Para Maurício Antonio Ribeiro Lopes:

A natureza jurídica da sentença que homologa a transação penal é condenatória, pois primeiro declara a situação do autor do fato, tornando certo o que era incerto; em seguida, além de declarar, cria uma nova situação para as partes envolvidas, que até então inexistia e; por fim, impõe (e esta é a determinação da lei, ao afirmar que o juiz, acolhendo o acordo aplicará) sanção penal transacionada ao autor do fato, que deverá ser executada, voluntária ou coercitivamente.47

Júlio Fabbrini Mirabete afirma que:

Tratar-se de uma sentença penal condenatória imprópria , sob o argumento de que a pena restritiva de direitos e a multa, impostas na transação penal, têm nítido caráter de sanção penal, pois privam aqueles a ela sujeitos de bens jurídicos que só podem ser atingidos através de sanções penais. Daí sua natureza jurídica condenatória, pois além de declarar a situação do autor do fato, cria uma situação jurídica nova e impõe uma sanção penal. Porém, como nesta sentença não se reconhece a culpabilidade nem se produzem os efeitos da sentença condenatória comum, denominam-na sentença condenatória imprópria.48

Segundo Ada Pellegrini Grinover:

A decisão que homologa a transação penal não pode ser considerada como condenatória, ainda que imprópria, pois não houve acusação e a aceitação da imposição da pena não produz conseqüências na esfera criminal, exceto para evitar novo benefício dentro do prazo de cinco anos. Não se admite a culpabilidade com a aceitação da proposta. Ela não constará do registro criminal e, dessa forma, não gerará reincidência.49

Nesse sentido, verifica-se que a pena não resulta diretamente da decisão,

47 LOPES, Maurício Antonio Ribeiro. op. cit., p. 313. 48 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Op. cit., p. 142 49 Ibidem.

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mas do acordo das partes, que estabeleceram a solução do conflito dentro dos

parâmetros legais. É o entendimento da maioria da doutrina e também do Supremo

Tribunal Federal.50

Para Cezar Roberto Bitencourt:

A essência do ato em que o Ministério Público propõe a aplicação imediata de pena não privativa de liberdade, sendo aceita pelo autor e seu defensor, caracteriza uma conciliação, um acordo, uma “transação penal”, como o próprio texto constitucional sugere (art. 98). E, na tradição do Direito brasileiro, sempre que as partes transigem, pondo fim à relação processual, a decisão judicial que legitima essa convergência de vontades tem caráter homologatório, jamais condenatório. Por isso, essa decisão é uma sentença declaratória constitutiva. .51

De acordo com os argumentos apresentados, conclui-se que a sentença

que homologa a transação penal não é absolutória nem condenatória, configura

somente uma sentença homologatória da transação, que não defere nem rejeita o

pedido do autor, no entanto, termina com o conflito de acordo com a vontade das

partes, configurando um título executivo judicial. Destaca-se que o próprio dispositivo

legal exclui a natureza condenatória.

50 GRINOVER, Ada Pellegrini et al. op. cit., p. 157. 51 BITENCOURT, Cezar Roberto, op. cit., p. 13.

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CAPÍTULO 3 SITUAÇÕES ONDE A TRANSAÇÃO PENAL É

ACOLHIDA

Este capítulo analisa a possibilidade da aplicação da transação penal nas

diversas leis nacionais. Será abordada a transação penal na esfera privada , no

Código de Trânsito Brasileiro, nos crimes ambientais e também analisar os reflexos

do descumprimento do instituto.

3.1. Transação penal na esfera privada

Parte da doutrina entende não ser possível considerar o oferecimento da

proposta de transação para infrações de caráter exclusivamente privada, ou seja,

para os delitos cuja persecução penal somente se procede mediante queixa.

Destaca-se que, o próprio art. 76 da Lei nº 9.099/95, ao prevê a transação, refere-se,

exclusivamente, à ação penal pública incondicionada ou condicionada à

representação.

Pedro Henrique Demercian e Jorge Assaf Maluly explicam que não é

possível a transação penal no âmbito privado pelo seguinte motivo:

A transação é medida despenalizadora consubstanciada na mitigação da legalidade ou obrigatoriedade do poder-dever de instaurar a ação penal. Ora, como é cediço, para os delitos de alçada exclusivamente privada cabe ao ofendido, ou quem legalmente o represente, a seu talante, dentro da mais absoluta discricionariedade, propor ou não a queixa. O legislador não previu o oferecimento de proposta por parte do querelante, porque este não é detentor do jus puniendi estatal e também porque na ação de natureza privada devem ser observados os princípios da oportunidade e

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disponibilidade, sem qualquer mitigação, ou seja, apenas ao ofendido cabe o exame da conveniência da propositura e prosseguimento da ação penal, sem quaisquer limites52

Frederico Marques argumenta que, a ação penal, nessa hipótese, é

dispositiva. Nunca se objetou ao ofendido a possibilidade de acordo e conciliação

com o autor do fato, o que fica evidente pelos institutos da renúncia, perdão,

perempção e pela conciliação de que trata o art. 520 do CPP.53

Júlio Fabbrini Mirabete também entendendo pela não aplicação da ação

penal na esfera privada, ensina que:

O ofendido somente é titular do jus persequendi in judicio, que é apenas dar início a persecução penal, e, por isso, não entende possível que ele proponha a aplicação de uma pena, pois permitiria à vítima transacionar sobre sanção penal, sendo que o titular do jus puniendi é o Estado.54

Dessa forma, os autores supracitados não entendem ser correto atribuir

ao Ministério Público o poder de dispor de um direito de ação que não possui a

titularidade e também a legitimidade.

A proposta, de outro lado, está relacionada à discricionariedade

controlada ou regulada, deferida excepcionalmente ao Ministério Público.

Em sentido contrário, Ada Pellegrini ensina que:

O legislador se restringido às ações públicas porque possivelmente [...] tal ato de disponibilidade (parcial) se coadunaria com os poderes do substituto processual, que em nome próprio defende o interesse público à persecução penal, ou seja, os poderes da vítima e do Ministério Público se confundiriam. Os mesmos autores prevêem tal possibilidade quando da idéia de que a vítima não estaria apenas em juízo em busca da reparação de seus danos civis, mas também, de uma punição penal do ofensor, pelo que, então, não seria plausível dar à vítima somente duas alternativas imediatas:

52 DEMERECIAN, Pedro Henrique; MALULY, Jorge Assaf, op. cit., p. 452. 53 MARQUES, Frederico. Elementos do direito processual penal. 3ª Ed. São Paulo: Milenmim, 2009, p. 143. 54 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: comentários, jurisprudência, legislação. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2011, p. 88.

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[...] apresentar queixa, para o exercício da ação penal, como substituto processual, ou quedar-se inerte, não dando margem à persecussão penal [renunciando].55

Assim como a autora retro, os tribunais apresentam decisões favoráveis a

transação penal na esfera privada, como se verifica nos julgados abaixo:

HABEAS CORPUS. LEI 9.279/96. CRIME DE CONCORRÊNCIA DESLEAL. AÇÃO PENAL PRIVADA. TRANSAÇÃO PENAL. CABIMENTO. ORDEM CONCEDIDA. 1. Enquanto resposta penal, a transação penal disciplinada no artigo 76 da Lei 9.099/95 não encontra óbice de incidência no artigo 61 do mesmo Diploma, devendo, como de fato deve, aplicar-se aos crimes apurados mediante procedimento especial, e ainda que mediante ação penal exclusivamente privada (Precedente da Corte). 2. Ordem concedida para assegurar a aplicação da transação penal no processo em que se apura crime de concorrência desleal.

A Lei 9099/95 aplica-se aos crimes sujeitos a procedimentos especiais, desde que obedecidos os requisitos autorizadores, permitindo a transação e a suspensão condicional do processo inclusive nas ações penais de iniciativa exclusivamente privada. (STJ. , Confl. Comp. 30164/MG, Rel. Min. Gilson Dipp, em 13.12.01) É possível a transação penal privada, se o autor do fato satisfaz os requisitos legais. A transação penal é instituto inovador e que deve ser prestigiado pelo Judiciário independentemente da legitimidade ativa para a ação ou a sua titularidade ou da vontade do querelante ou do Ministério Público. (Turma Recursal de Belo Horizonte, Rec. 10078, Rel.Juiz Eli Lucas de Mendonça, em 30.9.98).

Nesse contexto, ainda que se admita a incidência da medida

despenalizadora do artigo 76 da Lei nº 9.099/95 na ação penal privada, por analogia

in bonam56 os Tribunais partem, como se observa nos julgados supracitados, não

seria da competência do Ministério Público propô-las, mas sim ao querelante, que é

o único que pode voluntariamente dispor da ação, como o seu titular.

55 GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Juizados Especiais Criminais: Comentários à Lei 9.099 de 26.09.1995. 5.ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 150. 56 Segundo Rogério Greco: “A aplicação da analogia in bonam partem, além de ser perfeitamente viável, é muitas vezes necessária para que ao interpretarmos a lei penal não cheguemos a soluções absurdas“. (Curso de direito penal. 7ª Ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2011, p. 56)

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3.2. Transação penal no código de trânsito brasileiro

O Código de Trânsito Brasileiro também estabelece a transação penal,

como prevê seu artigo 291 parágrafo único, in verbis:

Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos neste Código, aplicam-se as normas gerais do Código Penal e do Código de Processo Penal, se este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, no que couber. § 1º Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa o disposto nos arts. 74, 76 e 88 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, exceto se o agente estiver: (Alterado pela L-011.705-2008) I - sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que determine dependência; II - participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística, de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente; III - transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via em 50 km/h (cinqüenta quilômetros por hora).

Nesse sentido, argumenta Cezar Roberto Bitencourt

Por isso, como a composição cível prevista no art. 291, parágrafo único, do CTB não tem nenhuma vedação constitucional e, ainda, ratifica uma política de valorização da vítima, que fora iniciada com a Lei n. 9.099/95, com ótimos resultados, aplaudimos o acerto dessa cominação legal, mesmo que as infrações relacionadas no dispositivo em exame não se caracterizem como de menor potencial ofensivo.57

Acerca do dispositivo supracitado, Henrique Demercian e Jorge Assaf

Maluly ensina que não existe necessidade de tal citação acerca da aplicação das

medidas despenalizadoras em face do crime de lesão corporal culposa de trânsito,

uma vez que, o artigo 61 da Lei 9.099⁄95, prevê que: “Consideram-se infrações

penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções

penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos,

cumulada ou não com multa”. Dessa forma, o crime culposo de trânsito não recebe

57 BITENCOURT. Cezar Roberto. Novas Penas Alternativas. Análise Político-Criminal da Lei n. 9.714/98. 3ª Ed. São Paulo. Saraiva. 2006, p. 188.

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pena superior a dois anos, configurando uma infração penal de menor potencial

ofensivo. 58

3.3. Transação penal nos crimes ambientais

Assim como a Lei dos Juizados Especiais Criminais, a Lei dos Crimes

Ambientais também dá preferência à reparação do dano causado pela infração.

Nesse contexto, ampliou o rol das penas alternativas à privação da liberdade e

alterou parcialmente as medidas despenalizadoras já conhecidas, ou seja, a

transação penal e a suspensão condicional do processo.

Em relação aos crimes ambientais a transação penal está prevista no

artigo 27 da Lei nº 9.605/98, in verbis:

Art. 27. Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta de aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei nº 9.099 , de 26 de setembro de 1995, somente poderá ser formulada desde que tenha havido a prévia composição do dano ambiental, de que trata o art. 74 da mesma lei, salvo em caso de comprovada impossibilidade.

De acordo com o dispositivo citado, além de todos esses requisitos

objetivos e subjetivos, a transação está condicionada à prévia composição do dano

ambiental, ou seja, a existência de acordo entre o Ministério Público e o infrator, que,

uma vez homologado judicialmente, valerá como título executivo judicial (art. 74 da

Lei nº 9.099/95). Destaca-se não existe obrigatoriedade da reparação efetiva nesse

momento, basta a presença de acordo nesse sentido.

Entretanto, a referida lei não estabelece a designação de audiência para a

tentativa de conciliação. Pedro Henrique Demercian e Jorge Assaf Malulyentendem

que: “É a hipótese de se aplicar extensivamente a Lei dos Juizados Especiais

Criminais, pois não se exige que o acordo quanto à composição dos danos seja

realizado perante o juiz, basta que ele seja submetido à homologação”. 59

58 DEMERECIAN, Pedro Henrique; MALULY, Jorge Assaf, op. cit., p. 432. 59 DEMERECIAN, Henrique Demercian e MALULY, Jorge Assaf. Op.c it., p. 49.

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Apesar de o legislador ter objetivado através da transação penal reduzir

os efeitos jurídicos dos delitos penais, não obstou de verificar o juízo de suficiência,

que leva em conta a vida do eventual beneficiário e, especialmente as

consequências que tal dano provocou ao meio ambiente.

No entanto, a utilização sem critérios da transação penal, ainda que se

trate de dano de menor monta, configura para a sociedade, um estímulo àqueles

que violam os valores mais importantes. Transformando o instituto em simples

instrumento a serviço da reparação do dano.

O art. 27 da lei ambiental admite a proposta de acordo na esfera penal,

quando for impossível a realização da conciliação de reparação do dano na

audiência preliminar. Cabe ao representante do Ministério Público, inicialmente,

verificar os motivos que impossibilitaram a composição, especialmente, se opostos

pelo autor do fato.

Se o juiz não concordar com o Ministério Público e entender que as

razões aparentes não afastam a conciliação do dano ambiental, deverá indeferir a

homologação, com o decorrente prosseguimento da ação penal contra o acusado e

sujeitando sua decisão, ao duplo grau de jurisdição, pela via recursal.

Entretanto, na hipótese do magistrado discordar das razões apresentadas

pelo Promotor de Justiça para não propor a transação penal, enviará os autos para o

Procurador-geral de Justiça, objetivando a revisão de seu posicionamento, com a

aplicação analógica do art. 28 do CPP60.

3.4. Quanto ao descumprimento da transação penal

Outra questão das mais polêmicas gira em torno das consequências do

60 Art. 28 - Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento de inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.

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descumprimento da pena alternativa aceita pelo agente do fato e homologada pelo

juiz. Várias correntes se firmaram na tentativa de solucionar a questão, quais, sejam:

a) não cumprida a transação penal, a pena restritiva de direitos imposta

converte-se em privativa de liberdade (LEP, art. 181, § 1º, “c”); Explica Flávio Gomes

que:

A primeira solução apresentada é totalmente contrária ao ordenamento jurídico constitucional, ou seja, não é possível e aceitável a conversão da pena alternativa em privativa de liberdade. A aplicação de pena privativa de liberdade somente é possível por condenação em que se tenha observado o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa. Na aceitação do acordo da proposta de transação penal, ao revés, não se instaura processo condenatório e tampouco se assume culpa, o que impede a aplicação de pena privativa de liberdade.61

b) o descumprimento do acordo leva à sua execução;

c) descumprido o acordo pela ausência de previsão legal no sentido, não

pode ser iniciada a ação penal, nem mesmo ser convertida a pena alternativa em

pena privativa de liberdade;

d) não sendo cumprida a pena restritiva de direitos, deve ser proposta a

ação penal.

Um dos princípios basilares dos Juizados Especiais Criminais consiste

exatamente não aplicar a pena privativa de liberdade. Objetivou criar uma nova

justiça criminal, caracterizada pelo pela busca da ressocialização, evitando a pena

privativa de liberdade, especialmente, a de duração menor.

O Superior Tribunal de Justiça sustenta que a homologação da transação

penal se efetiva através da sentença condenatória e que faz coisa julgada (formal e

material), impedindo a instauração da ação penal no caso descumprimento da

transação. Nessa hipótese, cabe apenas a execução do acordo. Nesse sentido:

61 Como enfatiza Flávio Gomes, não podem ser confundidas jamais as penas restritivas do CP (art. 43 e ss.), que são substitutivas, com as restritivas impostas diretamente nos juizados (op. cit., p. 37).

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I. A sentença homologatória da transação penal, prevista no art. 76 da Lei 9.099/95, tem natureza condenatória e gera eficácia de coisa julgada material e formal, obstando a instauração de ação penal contra o autor do fato, se descumprido o acordo homologado. II. No caso de descumprimento da pena de multa, conjuga-se o art. 85 da Lei 9.099/95 e o art. 51 do CP com a nova redação dada pela Lei 9.286/96, com a inscrição da pena não paga e dívida ativa da União para ser executada. III. Recurso conhecido e desprovido. (REsp. 205.739/SP, Rel. Min. Gilson Dipp, DJU de 23.10.2005).

Damásio Evangelista de Jesus afirma que:

No caso de descumprimento da transação, é impossível a conversão da pena alternativa em privativa de liberdade e tampouco se pode dar início ou retomada da ação penal, pois não há previsão legal para tanto. Mas, mesmo que fosse possível, ficaria sem efeitos reais a transação, pois não teria um fim em si mesma: feito o acordo, em nada importaria seu descumprimento. 62

Favorável a propositura da ação penal baseado no artigo 77 da Lei nº

9.099/95, em face do descumprimento do acordo, explica Miguel da Silva Jr. que:

A finalidade do modelo consensual da justiça é principalmente a reparação dos danos e a aplicação da pena não privativa de liberdade, sobretudo porque não há assunção de culpa e processo condenatório na aceitação. Impedida, pois, a conversão por esses motivos. Bem assim, caberia ao juiz tão-somente revogar a decisão homologatória, restando ao Ministério Público propor a ação penal ou requerer as diligências necessárias, vez que já havia formado a opinio delicti.63

Com argumento também no mesmo sentido, de acordo com José

Laurindo de Souza Netto, o efeito imediato da transação penal é a possibilidade do

oferecimento da denúncia. A extinção O Superior Tribunal de Justiça sustenta que a

homologação da transação penal pelo autor do fato, quedando, até então, em

suspenso o jus puniendi do Estado. Descumprido o acordo, então, deverá o órgão

acusador oferecer a denúncia para iniciar-se o processo acusatório. A sentença que

aplica a medida ajustada em sede de transação penal, a exemplo daquela que

estabelece as condições de cumprimento do sursis, é sentença processual de

natureza interlocutória mista, ou com força de definitiva, que encerra uma etapa do

62 JESUS, Damásio Evangelista de. op. cit., p. 76. 63 JUNIOR, Miguel da Silva Lei 9.099/95: descumprimento da pena imediata no estado democrático de direito. . São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 550

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procedimento, sem julgamento do mérito da causa, e sem a produção dos efeitos da

coisa julgada material. 64

Nesse sentido transcreve-se o Informativo 180 do Supremo Tribunal

Federal, in verbis:

Firmou-se o entendimento de que a transformação automática da pena restritiva de direitos, decorrente da transação, em privativa do exercício da liberdade discrepa da garantia constitucional do devido processo legal. Impõe-se, uma vez descumprido o termo de transação, a declaração de insubsistência deste último, retornando-se ao estado anterior e dando-se oportunidade ao Ministério Público de vir a requerer a instauração do inquérito ou propor a ação penal.65

As bases desse posicionamento do Supremo Tribunal Federal basearam-

se no seguinte julgado:

a) a sentença que aplica pena no caso do art. 76 da Lei dos Juizados Especiais Criminais não é nem condenatória e nem absolutória. É homologatória da transação penal; b) essa sentença tem eficácia de título executivo judicial, como ocorre na esfera civil (CPC, art. 584, III); e c) se o autor do fato não cumpre a pena restritiva de direitos, como a prestação de serviços à comunidade, o efeito é a desconstituição do acordo penal, com o posterior oferecimento da denúncia. (Ministro Marco Aurélio, da 2ª Turma do STF, no HC 79.572)

Entretanto, segundo Luiz Flávio Gomes:

A admissibilidade do oferecimento da denúncia, no caso de descumprimento da transação penal não encontra base legal. O Supremo Tribunal Federal, ao admitir a possibilidade de denúncia, está legislando. Essa não é tarefa sua. O Supremo não pode inventar nenhuma lei, ou seja, não pode atuar como legislador positivo. Não conta com legitimidade democrática para isso. Uma coisa é interpretar o diploma legal vigente, outra distinta consiste em criar um comando normativo ex novo. No modelo de Estado Constitucional de Direito, é muito complicada a posição do ’judicial law making.66

64 Ainda segundo o autor em comento, o não cumprimento da medida ajustada consensualmente em sede de transação penal, que é estabelecida condicionalmente por sentença, enseja a denúncia, a partir da fase em que se encontrava. Esse entendimento vem sendo adotado pelo Juizado Especial Criminal de Curitiba. (NETTO, José Laurindo de Souza, Processo penal: modificações da Lei dos Juizados Especiais Criminais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 183). 65 Informativo 180, STF. 66 GOMES, Luiz Flávio. op. cit, p. 37.

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Outro meio de solução, com a finalidade de evitar que o descumprimento

do acordo não gere nenhum efeito para o infrator, atualmente tem-se evitado a

homologação do acordo de forma imediata, para que seja possível o oferecimento

posterior da denúncia. Aguarda-se o total cumprimento do convencionado para,

somente depois, realiza a homologação.

Segundo Luiz Flávio Gomes, apesar de prático, tal procedimento fere o

art. 76 da Lei 9.099/95, pois a homologação deve ser feita na audiência, além do

que, toda execução pressupõe um título executivo, que, no caso, é a sentença

homologatória. Não se pode executar antes para se criar o título executivo depois.67

Assim, continua como mais aceitável o entendimento do Superior Tribunal de

Justiça.

Ainda de acordo com o autor retro:

A melhor solução seria o estabelecimento de pena alternativa para o caso de descumprimento do acordo principal. No momento do acordo (da transação), já deve ser prevista uma pena alternativa “de reserva”, para a hipótese de descumprimento da pena alternativa “principal”. Trata-se de uma alternativa à sanção alternativa. O autor do fato pode aceitar tanto penas restritivas como multa. É possível prever no acordo a conversão de uma e outra (reciprocamente) ou de uma restritiva em outra restritiva. Dessa forma, sendo descumprida a própria pena alternativa “reserva”, deve-se tentar de forma veemente sua execução. Necessária, assim, uma correta fixação da pena alternativa.68

Ainda sobre o descumprimento do acordo, no que se refere à imposição

da pena alternativa de multa, há de destacar-se que, com o advento da Lei 9.268/86

e conforme a nova redação que deu ao art. 51 do Código Penal69.

67 GOMES, Luiz Flávio. op. cit, p. 37. 68 Idem, p. 38. 69 Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será considerada dívida de valor, aplicando-se-lhes as normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição. (Alterada pela L-009.268-1996)

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CAPÍTULO 4

A EFICÁCIA DA TRANSAÇÃO PENAL EM FACE DO SEU

PODER DISCRICIONÁRIO

Este capítulo analisa a transação penal buscando identificar se trata o

instituto de um poder discricionário ou direito subjetivo.

4.1. Noções acerca do poder discricionário

É o poder que confere ao administrador a capacidade de decidir sobre

qual a medida mais adequada à Administração, o que lhe permite valorar e escolher

o comportamento mais oportuno e conveniente à gestão dos interesses coletivos.70

Assim como ocorre com o poder vinculado, a lei também traz requisitos

para a validade dos atos discricionários. Assim, a norma faculta à autoridade pública

a liberdade de optar entre diversas condutas, podendo, pois, deliberar acerca da

execução do ato, podendo até mesmo deixar de praticá-lo se assim o exigir o bem

comum.

A discricionariedade, apesar de estabelecer certa liberdade de ação para

o gestor público, não se constitui como um poder incondicionado, mas, ao contrário,

encontra limites fixados expressamente em lei. Ao violar tais preceitos, o poder

público vai além da discricionariedade alcançando a arbitrariedade, tornando a sua

atuação passível de sanções cíveis, administrativas ou criminais. Em razão disso, os

70 BARRETO, Alex Muniz. Direito Administrativo Positivo. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 63.

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atos discricionários também são suscetíveis ao controle judicial quanto aos aspectos

de legalidade da conduta do agente público. Ao Judiciário é vedado, apenas,

imiscuir-se no exame da oportunidade e conveniência (mérito do ato administrativo),

pois, neste caso, ter-se-ia a interferência de uma função estatal sobre outra, o que

violaria frontalmente a autonomia dos Poderes, consagrada pelo art. 2º da Lei Maior.

4.2. Transação penal: poder discricionário ou direito subjetivo

Uma das questões mais debatidas debatida desde a edição da Lei nº

9.099/95, relaciona-se com a transação penal (CRFB, art. 98, I) e a proposta do

órgão do Ministério Público.

Entre as funções institucionais do Ministério Público está a de exercer,

privativamente, a ação penal pública. Trata-se, na realidade, de um poder-dever do

referido órgão, baseado na obrigatoriedade ou, na legalidade, em contraposição da

oportunidade. No entanto, o legislador ao estabelecer sobre os juizados especiais,

criou a possibilidade de, em certos casos, o titular da ação penal atenuar a

obrigatoriedade quanto ao início (transação penal) ou prosseguimento da ação,

obrigando-o a elaborar políticas criminais transparentes de atuação, de modo que se

dê ênfase às grandes causas criminais ou àquelas infrações de maior potencial

ofensivo.

Dessa forma, na audiência preliminar, tentada a composição dos danos,

passa-se à proposta do Ministério Público e tem de aplicar-se, imediatamente, uma

sanção especial não privativa da liberdade, ou seja, multa ou restrição de direitos. A

referida proposta deve ser discutida informalmente com o suposto autor do fato, para

que se atinja a convergência de vontades, o consenso, a própria transação, que,

posteriormente, será submetida a controle judicial quanto à sua legalidade.

Nesse sentido, em face da necessidade de acordo entre as partes e

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considerando que a ação penal é privativa do Ministério Público, não sendo possível

o juiz substituir-se ao dominus litis71, transacionando com o suposto autor do fato. A

referida medida pressupõe acordo, ou seja, cada uma das partes abre mão de algo,

colimando o consenso quanto à aplicação de uma sanção especial. O promotor de

justiça, como titular da ação penal, quando busca uma transação, abre mão de um

poder que detém privativamente, ou seja, de oferecer a denúncia. (CRFB, art. 129,

inciso I).

Entendendo a transação penal um direito público subjetivo ensina

Marcellus Polastri Lima que:

Estando presentes todos os requisitos impostos pela lei, o Ministério Público deve oferecer a proposta de transação, em obediência ao princípio da obrigatoriedade da ação penal; caso isso não ocorra, o agente poderá provocar tal proposta.72

Com o mesmo entendimento, André Luiz Nicolitt explica que, não havendo

nenhum impedimento e o Ministério Público, ao invés de oferecer a proposta de

transação, opte por oferecer a denúncia, esta deve ser de pronto rejeitada pelo juiz,

por lhe faltar justa causa.73

A maior parte da doutrina resiste em aceitar esse poder discricionário

dispensado ao Ministério Público. Argumenta-se que tal juízo de pertinência

atribuído ao Promotor deve estar limitado. Ou seja, preenchendo o autor do fato os

requisitos legais previstos, se habilita à proposta, proíbe ao Ministério Público

legitimidade para estabelecer política de persecução criminal que ultrapasse a esfera

de sua própria instituição, uma vez que, sua função seria a de simples executor da

política do Estado. Outra justificativa consiste no fato de não poder deixar a cargo do

promotor o poder ilimitado de escolher, quem deve ou não ser processado, sob pena

de se ferir a isonomia, provocando-se eventual tratamento desigual a infratores que

aparentemente se encontram na mesma situação.

71 Dono da ação, titular do direito de ação. 72 LIMA, Marcellus Polastri. Juizados especiais criminais na forma das Leis 10.259/01, 10.455/02 e 10.741/03. Rio de Janeiro:Lumen Juris, 2005, p.52. 73 NICOLITT, André Luiz. Juizados especiais criminais – temas controvertidos. 2.ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004, p. 65.

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Com entendimento contrário Pedro Henrique Demercian e Jorge Assaf

Maluly, ensinam que:

A nova lei, além de alterar substancialmente as sistemáticas penal e processual penal, exigirá do seu aplicador uma mudança de mentalidade. Não se trata, evidentemente, da defesa intransigente da teoria da facultas agendi absoluta. Ou seja, aquela que atribui ao membro do Parquet a absoluta e ilimitada discricionariedade para analisar em quais casos se justificaria sua atuação.74

Os autores do projeto dos Juizados Especiais Criminais estabeleceram de

maneira clara que a referida lei realmente atribuiu ao dominus litis (autor da ação),

determinada discricionariedade, entretanto, não se configura absoluta. Nesse

contexto, possui a complicada tarefa de analisar o caso concreto, visualizando a

necessidade da medida com bom senso, estabelecidas pela instituição, propor ou

não a transação.

No entanto, alguns doutrinadores entendem que na falta imotivada do MP,

o magistrado poderá elaborar a proposta de transação penal. Destaca-se que, é a

minoria a ter esse entendimento. Destaca Sérigo Turra Sobrane que a falta

imotivada da proposta pelo parquet poderá ser interpretada como constrangimento

ilegal, sanável por habeas corpus.75

74 DEMERECIAN, Henrique Demercian e MALULY, Jorge Assaf. Op.c it., p. 77. 75 SOBRANE, Sérgio Turra.O princípio da discricionariedade no direito estrangeiro. In: Transação penal. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 114.

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CONCLUSÃO

Diante de todo conteúdo apresentando, afirma-se que a transação penal

configura uma medida jurídica pela qual o autor do delito e o Ministério Público,

baseados nos elementos obrigatórios legais, diante do juiz, concordam com a

proposta formulada pelo promotor para por fim ao processo, através de uma pena

executada de maneira consensual diferente da pena privativa de liberdade

O Ministério Público baseado no cumprimento dos pressupostos legais

atenderá aos objetivos dos Juizados Especiais Criminais, ou seja, aplicar pena

diferente daquela privativa de liberdade por meio da iniciativa de transação penal.

Quanto a natureza jurídica da transação penal, é possível entendê-la

como uma sentença condenatória própria, uma vez que, mesmo se tratando de uma

composição de pena de iniciativa do Ministério Público e aceita pelo réu, possui

caráter condenatório, por ser aplicada uma pena obrigatoriamente cumprida pelo

réu, sob pena de execução penal.

O instituto da transação penal deve ser admitido na ação penal privativa

do ofendido, considerando o seu interesse, não apenas na reparação civil como

também na imposição da pena ao infrator.

Por determinação legislativa, a proposta de transação penal somente

pode partir do Ministério Público ou pelo ofendido, quando não for caso de

arquivamento do termo circunstanciado. Verificadas as condições para a proposta de

transação penal, se o Promotor de Justiça não propuser a referida iniciativa, o juiz

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não poderá oferecê-la, de ofício, cabendo a ele somente usar a analogia a norma

contida no artigo 28 do Código de Processo Penal.

Tal poder não é função do juiz no sistema acusatório. Dessa forma, ao

propor a transação penal, o Ministério Público pratica uma modalidade de ação

diferente. Uma vez que, ao ter a iniciativa da transação penal, ele obrigatoriamente

faz uma imputação ao autor do delito, ou seja, realiza um juízo de tipicidade, o que

de certa forma resulta numa ação penal.

Destaca-se que ao ser descumprida a transação penal aceita pelo réu,

não caberá retornar o curso do processo terminado através do oferecimento de

denúncia. No entanto, o juiz não deve limitar a homologação da transação penal ao

cumprimento da pena, uma vez que, descumprida a mesma, ocorrerá a sua

execução pelo órgão jurisdicional competente. No entanto, na prática alguns juízes

fazem tal condicionamento, seja na homologação da composição do dano civil como

também para transação penal, somente após o cumprimento da obrigação assumida

ou da pena imposta, impedindo assim a extinção imediata do processo criminal

instaurado contra o autor do fato, causando.

A discricionariedade é uma especialidade do Ministério Público, no

entanto, alguns doutrinadores entendem que o juiz poderia tem a competência para

elaborara a transação penal, o que aboliria o poder discricionário do MP.

A Lei nº 9.099/95 reconhece a discricionariedade ao Ministério Público.

Mas questiona-se na doutrina se o Ministério Público teria tal poder de

discricionaridade de forma absoluta.

Diante dos argumentos apresentados verifica-se como correta a hipótese

dessa investigação, ou seja, se o Ministério Público possui parte da soberania

Estatal caracterizada pela competência para arquivamento de inquéritos policiais, é

correto que detenha também o poder decidir com o bom senso e razoabilidade quais

os casos deve ou não ser submetido ao devido processo legal.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO................................................................................................. ii

AGRADECIMENTO................................................................................................. iii

DEDICATÓRIA........................................................................................................ iv

METODOLOGIA..................................................................................................... v

RESUMO ............................................................................................................... vi

RESUMO................................................................................................................. vii

INTRODUÇÃO....................................................................................................... 08

CAPÍTULO 1 - DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS

1.1. Origem Legislativa.......................................................................................... 10

1.2. Definição das infrações de menor potencial ofensivo...................................... 13

1.3. Princípios Informadores.................................................................................. 16

1.3.1. Princípio da oralidade................................................................................ 16

1.3.2. Princípio da informalidade......................................................................... 17

1.4. Competência................................................................................................... 20

1.4.1. Das contravenções penais......................................................................... 21

1.4.2. Dos crimes com pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada

ou não com multa...................................................................................................

22

CAPÍTULO 2 - DA TRANSAÇÃO PENAL

2.1. Definições doutrinárias .................................................................................. 24

2.2. Proposta do Ministério Público........................................................................ 26

2.3. Natureza jurídica da transação penal.............................................................. 29

2.4. Quanto a aceitação da proposta..................................................................... 30

2.4.1. Quanto ao controle jurisdicional da proposta ............................................ 31

2.4.2. Natureza da homologação da proposta...................................................... 33

CAPÍTULO 3 - SITUAÇÕES ONDE A TRANSAÇÃO PENAL É ACEITA

3.1. Transação penal na esfera privada.................................................................. 35

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3.2. Transação penal no código de trânsito brasileiro............................................ 38

3.3. Transação penal nos crimes ambientais.......................................................... 39

3.4. Quanto ao descumprimento da transação penal............................................. 40

CAPÍTULO 4 - A EFICÁCIA DA TRANSAÇÃO PENAL EM FACE ODER

DISCRICIONÁRIO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

4.1. Noções acerca do poder discricionário........................................................... 45

4.2. Transação Penal : Poder discricionário ou direito subjetivo............................ 46

CONCLUSÃO.......................................................................................................... 49

BIBLIOGRAFIA........................................................................................................ 51

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Título da monografia: A eficácia da transação penal em face do poder

discricionário do Ministério Público.

Data da entrega: ____ /___ /2012

Auto Avaliação:

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Avaliado por: ______________________________ Grau__________________

______________, _______ de ______________ de 2012.