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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA TÊNIS DE QUADRA ADAPTADO PARA CEGOS E PORTADORES DE VISÃO SUBNORMAL Hélio Rossi da Silva Pereira Orientado: Prof ª. Ms. Fátima Alves Rio de Janeiro 2011

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS …TÊNIS DE QUADRA ADAPTADO PARA CEGOS E PORTADORES DE VISÃO SUBNORMAL Hélio Rossi da Silva Pereira Orientado: Prof ª. Ms. Fátima Alves Rio de

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

TÊNIS DE QUADRA ADAPTADO PARA CEGOS E PORTADORES DE VISÃO SUBNORMAL

Hélio Rossi da Silva Pereira

Orientado: Prof ª. Ms. Fátima Alves

Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

TÊNIS DE QUADRA ADAPTADO PARA CEGOS E PORTADORES DE VISÃO SUBNORMAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado em cumprimento às exigências para obtenção do grau de pós-graduação no Curso de Psicomotricidade na AVM Faculdade integrada.

Rio de Janeiro 2011

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a Deus pela força desta conquista. A professora Ms. Fátima Alves, orientadora. Ao Instituto Benjamin Constante e seus alunos. Ao Prof. Ramon Pereira de Souza, e a todos os amigos e colegas que contribuíram para realização desse trabalho.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho as pessoas que sempre acreditaram em mim, servindo muitas vezes como um alicerce para que eu chegasse até aqui. Minha mãe, Creuza Francisca da Silva do Amaral, e minha esposa, Daniele Borges do Couto Pereira.

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RESUMO O tênis adaptado para cegos não é muito difundido pelo mundo. Surgiu no

Japão na década de 1980 e sua adaptação permitiu que cegos e portadores de baixa visão pudessem jogar tênis de quadra com o “quique” da bola. As linhas (marcação) apresentam relevo, a bola é esponjosa e emite um efeito sonoro, as raquetes são pequenas e leves (Infantil). No Brasil não se tem relatos da pratica do tênis adaptado, mas países como Inglaterra, Coréia do Sul, China e Taiwan já o pratica. O objetivo desse estudo é introduzir o tênis adaptado para cegos no Brasil, através do Instituto Benjamin Constant (IBC), no Rio de Janeiro e verificar se a prática do tênis pode contribuir para diminuição das defasagens motoras, já que a ausência de visão restringe significativamente a aquisição das habilidades dos movimentos, pois impede que as principais informações sensoriais sejam captadas de forma que se promovam os ajustes do tônus muscular e o feedback relativo aos resultados dos próprios atos. Os alunos são classificados com B1 (ausência de visão) e B2 (baixa visão). Espera-se que essa pesquisa possa contribuir para o surgimento de uma nova modalidade esportiva adaptada para cegos, e que essa população possa se beneficiar com sua prática. Palavras-chave: Tênis adaptado (Deficiente visual). Tênis adaptado (Brasil). Modalidade esportiva (Tênis adaptado). Deficiente visual (Esporte).

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METODOLOGIA

O método de estudo utilizado para a realização da pesquisa é o método

experimental que consiste em determinar um objeto de estudo, selecionar as

variáveis que seriam capazes de influenciá-lo, definir as normas de controle e de

observação dos efeitos que a variável produz no objeto.

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . CAPÍULO I – Deficiência visual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . CAPÍTULO II – O esporte e o deficiente visual . . . . . . ... . . . . . . . . . . . . . . . . CAPÍTULO III - História do tênis adaptado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ANEXOS ÍNDICE

8 11 18 23 29 30

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INTRODUÇÃO

Esse trabalho deve como objetivo ampliar a discussão sobre o tênis adaptado

e, com isso, colaborar junto aos órgãos competentes sobre a importância desta

modalidade desportiva como esporte paraolímpico. Os jogos Paraolímpicos são os

eventos máximos do esporte mundial de atletas portadores de deficiência. Sabe-se

que para esse esporte se tornar uma modalidade de tal relevância é necessário que

no mínimo 24 países estejam praticando regularmente campeonatos em suas

respectivas nações.

Para um melhor entendimento de alguns termos do nosso trabalho

apresentamos algumas definições sobre deficiência:

Na declaração dos direitos das pessoas deficientes, aprovada pela Assembléia Geral da ONU, em 09/12/75, é especificado no artigo 1º que “o termo “pessoa deficiente” refere-se a qualquer pessoa incapaz de assegurar a si mesma, total ou parcialmente, as necessidades de uma vida individual ou social. (ONU, 1975).

O termo "deficiência" significa uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social. (OEA,1999).

No ano de 1954, o inglês Hernestor Jorgensen, solicitou às Nações Unidas que o conceito de deficiência visual fosse alterado, porque até o início do século XX a cegueira era a ausência total do sentido da visão e se considerava cego aquele que não podia distinguir vultos. Hoje, sabe-se que a deficiência visual na melhor vista corrigida aproxima-se de 20%. (MOSQUERA, 2000, p. 27).

Vários termos vêm sendo utilizados para descrever indivíduos portadores de

necessidades especiais, tendo como exemplos as citações acima, podemos refletir e

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analisar as possibilidades do “poder fazer” que outrora era dito como impossível

para essa população. Os deficientes visuais, por exemplo, estão desenvolvendo

autonomia motora de forma que possam desenvolver total independência na vida

adulta. As adaptações desportivas, política nacional de integração e os avanços

tecnológicos estão contribuindo para esse novo conceito de deficiência. A adaptação

de uma modalidade esportiva em terceira dimensão, isto é, com o quique da bola,

para cegos e portadores de visão subnormal era um sonho. Será que agora isso é

uma realidade?

O imperador Don Pedro II só se preocupou com a educação de deficientes no

Brasil em 12 de setembro de 1854. Ele baixou o Decreto Imperial nº, 1.428, criando

o Imperial Instituto de Meninos Cegos. Após o advento da república esse instituto

passou a ser conhecido como Instituto Benjamin Constant, soberano na educação

de deficientes visuais no Brasil até 1926, quando em Belo Horizonte foi inaugurado o

Instituto São Rafael (MANSINI, 1993, p.62).

Devido a falta de materiais bibliográficos referente à história do tênis adaptado

na língua portuguesa optamos por utilizar alguns sites. O primeiro deste é:

<http://www.tennisfoundation.org.uk/disabilitytennis/otherdisabilities/>. O texto que

se segue é uma tradução livre que expressa um pouco da história do tênis para

cegos:

Segundo The Tennis Foundation from UK (Fundação de tênis da Inglaterra), o

tênis para cegos e portadores de visão subnormal se originou no Japão na década

de 1980. Miyoshi Takei perdeu sua visão por causa de um câncer nos olhos pouco

antes de completar 2 anos. Na sua adolescência ele resolveu desafiar à prática de

um esporte em terceira dimensão, desenvolvendo assim uma modalidade esportiva

diferenciada que não era praticada até então. No Brasil não se tem relatos dessa

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prática. Sendo assim, esse estudo será desenvolvido justamente com o objetivo de

introduzi-lo no Brasil através do Instituto Benjamin Constant no Rio de Janeiro,

verificando a real possibilidade de sua prática relatando os postos positivos e

negativos.

O primeiro capítulo tem com objetivo apresentar a deficiência visual e as

primeiras iniciativas adotadas pelo Brasil para pessoas com necessidades especiais

na área da visão.

O segundo capítulo apresenta as iniciativas e ações no âmbito da Educação

Física e do Esporte Adaptado desde o século XVIII.

Será abordada no terceiro capítulo toda a história do tênis adaptado para

cegos e portadores de visão subnormal no Japão e sua difusão pelo mundo até sua

introdução no Brasil.

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CAPÍTULO I

DEFICIÊNCIA VISUAL

Os deficientes visuais, cegos e portadores de visão subnormal, se da por

duas escalas oftalmológicas: acuidade visual e campo visual. A primeira refere-se

a qualidade da visão que se enxerga a determinada distância e a outra a amplitude

da área alcançada pela visão.

Em 1966, a Organização Mundial de Saúde (OMS) registrou 66 diferentes definições de cegueira utilizadas para fins estatísticos em diversos países. Para simplificar o assunto, um grupo de estudos sobre a Prevenção da Cegueira da OMS, em 1972, propôs normas para a definição de cegueira e para uniformizar as anotações dos valores de acuidade visual com finalidades estatísticas. De um trabalho conjunto entre a American Academy of Ophthalmology e o Conselho Internacional de Oftamologia (1980, p. 427-433), vieram extensas definições, conceitos e comentários a respeito, transcritos no Relatório Oficial na oportunidade foi introduzido, ao lado de ‘cegueira’, o termo ‘visão subnormal’. (BRASIL, 2001, p. 137).

Não podemos afirmar que o termo cegueira é absoluto, pois reúne indivíduos

com diferentes graus de visão residual. Isso não que dizer necessariamente, severa

incapacidade para ver, mas sim, uma defasagem dessa aptidão em níveis de

impossibilidade para realizar tarefas no cotidiano. (BRASIL, 2001, p.137).

A perda completa de visão é chamada de cegueira total, isto que dizer plena ausência de percepção luminosa. Uma pessoa é considerada cega se corresponde a um dos critérios seguintes: a visão corrigida do melhor dos seus olhos é de 20/200 ou menos, isto é, se ela pode ver a 20 pés (6 metros) o que uma pessoa de visão normal pode ver a 200 pés (60 metros), ou se o diâmetro mais largo do seu campo visual subentende um arco não maior de 20 graus, ainda que sua acuidade visual nesse estreito campo possa ser superior a 20/200. Esse campo visual restrito é muitas vezes chamado de “visão em túnel”. O portador de visão subnormal é aquele que possui acuidade visual de 6/60 e 18/60 (escala métrica) e/ ou um campo visual entre 20 e 50 graus (BRASIL, 2001, p. 138).

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Segundo Mosquera (2000, p.27) a escala de Snellen é usada como teste para

visão, ela apresenta letras e figuras distribuídas em um plano de madeira, onde a

linha inferior deve ser lida a uma distância de seis metros aproximadamente, e a

superior a 60 metros da referida escala. Se esta última só é conseguida a uma

distância de seis, três ou um metro, o grau de visão é respectivamente 6 / 60; 3 / 60; 1 /

60 do normal.

Uma outra classificação é a limitação nos campos de visão, quando o

diâmetro máximo do campo visual subentende uma distância angular não superior a

20 graus segundo o American Foundation for the Blind apud MOSQUERA, 2000, p.

27)1.

De acordo com Ferreira e Ramos (2009, p. 65) a deficiência visual pode ser

congênita ou adquirida ao longo da vida. Quando adquirida, os processos de

interação e compreensão do mundo são facilitados pela memória visual,

dependendo da idade da instalação desta deficiência. Ainda assim, do ponto de vista

emocional, a maior dificuldade passa a ser a aceitação dessa perda. A deficiência

visual congênita, ou seja, adquirida quando ainda em formação no útero materno ou

durante o primeiro ano de vida, e em condições severa, normalmente leva a criança

a um atraso em seu desenvolvimento psicomotor e a sérias dificuldades em sua

organização comportamental.

1 MOSQUERA, Carlos. Educação física para deficientes visuais. [S.l.]: Sprint, 2000. p. 27.

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Conforme Ferreira e Ramos (2009, p. 73):

A ausência de visão restringe significativamente a aquisição das habilidades dos movimentos, pois impede que as principais informações sensoriais sejam captadas de forma que se promovam os ajustes do tônus muscular e o feedback relativo aos resultados dos próprios atos.

E os autores dizem ainda que:

Segundo Halliday, a criança cega normalmente desenvolve a capacidade de fazer o “alcance” dirigindo se a um som particular, raramente antes do término do primeiro ano de vida. A coordenação ouvido-mão que, de certa forma, tenta substituir a coordenação olho-mão, esta sempre em busca de algo que tenha significado. Quando o som é percebido como algo palpável, quando consegue relacionar o objeto ao som produzido por ele, a criança tem plena consciência de que um determinado objeto ou pessoa existe mesmo fora do seu campo de ação (FERREIRA, 2009, p. 73).

O prazer do movimento é algo que a criança cega deve descobrir ao se

movimentar-se no espaço de diferentes formas. Esta quando aprende a usar seu

corpo e se sente segura do seu uso, “torna-se autoconfiante, independente e mais

feliz. Os exercícios físicos adaptados são realizados com o objetivo de diminuir as

defasagens motoras, ideomotoras e psicomotoras decorrentes da falta de visão”

(FERREIRA; RAMOS, 2009).

1.1 – O cego no Brasil

Verificamos na obra de Nascimento (2006, p. 5-6) que a história se

desenvolve da seguinte forma: no Brasil, a primeira iniciativa pública de se processar

o ensino para pessoas com necessidades especiais surgiu no século XIX, no

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período do Império, tendo como centro de atenção as pessoas com necessidades

especiais na área da visão.

Ao apoiar, a criação de um estabelecimento destinado à educação de

pessoas cegas no Brasil o Imperador D. Pedro II, possibilitou condições para que a

experiência vivenciada por José Álvares de Azevedo - jovem cego – que foi estudar

em Paris, na França, no Instituto Nacional dos Jovens Cegos, mesmo instituto onde

também estudou outro jovem cego chamado Louis Braille, que no ano de 1825, com

apenas dezesseis anos, inventou o Sistema de Leitura e Escrita próprio para os

cegos.

Nesse sentido, o apoio do então médico do Paço Imperial, Dr. Xavier Sigaud,

pai de uma jovem cega chamada Adélia Sigaud, foi determinante na tomada de

decisão pelo imperador em criar uma instituição especializada para educar os cegos

semelhante a da França. Encantado, com as conquistas e possibilidades

demonstradas por Álvares de Azevedo, o Dr. Sigaud de imediato o contratou para

ser professor de sua filha, ao mesmo tempo, que o apresentará a D. Pedro II.

Dessa forma, considera-se como marco fundamental para a educação dos

deficientes visuais no Brasil e na América Latina, a criação em 12 de Setembro de

1854. Através do decreto Imperial nº. 1.248, assinado pelo Imperador D. Pedro II, no

“Imperial Instituto de Meninos Cegos”, tendo sido solenemente inaugurado, no dia 17

de Setembro de 1854, no Rio de Janeiro.

No decorrer dos últimos séculos, o instituto passou por diversas mudanças

regimentais, que acabaram influenciando em inúmeras mudanças de denominação

tais como: Instituto dos Meninos Cegos e Instituto Nacional dos Jovens Cegos,

ambos na época da primeira República. Somente em 1891, passou a ser

denominado Instituto Benjamin Constant – IBC, em homenagem a um seu ex-diretor,

15

Benjamin Constant Botelho de Magalhães, nome pelo qual ainda é hoje reconhecido

(NACIMENTO, 2006, p. 5 - 6).

Aliado ao histórico acima consultamos a obra “Lazer, atividade física e

esportiva para portadores de deficiência” produzido pelo Ministério do Esporte e

Turismo que diz o seguinte: atualmente o Instituto Benjamin Constant, após passar

pelo bairro da saúde e pela praça de república, está localizado na Avenida Pasteur,

Nº 350/368, no bairro da Urca, em um terreno mediano 63 mil metros quadrados,

tendo uma área construída de 24 mil metros quadrados, às margens da Baía da

Guanabara.

O IBC é hoje um centro de referencia nacional nas questões vinculadas à

deficiência visual e é órgão integrante do Ministério da Educação, vinculado à sua

Secretaria de Educação Especial, para fins de supervisão. Ele atende diretamente

260 alunos da estimulação essencial à 8ª série e 140 reabilitados em seu Centro de

Reabilitação. Especializa, anualmente professores de diversos estados do Brasil e

de dois em anos, 15 médicos oftalmologistas. Ministra outros cursos de capacitação

e atualização em diversas áreas da educação e reabilitação de cegos e portadores

de visão subnormal. Edita e distribui para 2300 assinantes de todo o Brasil, a revista

infanto-juvenil Pontinho. Produz a revista Técnico-Científica Benjamin Constant, de

circulação nacional e abrangência para mais de 23 países. Transcreve livros

didáticos e técnicos para o Sistema Braille, distribuindo-os para instituições de todos

os estados. Promove ação constante junto à sociedade visando o resgate da

imagem social da pessoa cega. Pesquisa, produz e distribui material e recursos

especializados para as atividades escolares e da vida diária da pessoa portadora de

deficiência visual. Presta apoio técnico às secretarias estaduais e municipais de

educação e a instituições que atuam na área. Prepara, encaminha e acompanha a

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inserção no mercado de trabalho. Atua no campo da pesquisa e da difusão do

conhecimento nas questões ligada à sua clientela alvo e subsidia a formulação da

política Nacional de Educação Especial na área da deficiência visual (BRASIL, 2001,

p. 143).

A Organização Mundial de Saúde (OMS), de acordo com os dados baseados na população mundial do ano de 2002, estima que mais de 161 milhões de pessoas sejam portadoras de deficiência visual, das quais 124 milhões teriam baixa visão e 37 milhões seriam cegas. De maneira geral, para cada pessoa cega há uma média de 3,7 pessoas com baixa visão, com variações regionais de 2,4 a 5,8. Estima-se que 90% dos casos de deficiência visual estejam nos países em desenvolvimento e a maior parte poderia ser evitada por prevenção ou tratamentos existentes. Na ausência de ações globais de prevenção à deficiência visual, a cegueira poderá atingir 76 milhões de pessoas no mundo no ano de 2020, em conseqüência do crescimento e envelhecimento da população mundial. As principais causas de deficiência visual estão relacionadas à idade. A catarata é a mais importante causa mundial de cegueira (47,8% dos casos), seguida pelo glaucoma (12,3%), a degeneração macular relacionada à idade (8,7%), opacidades corneais (5,1%), retinopatia diabética (4,8%), cegueira na infância (3,9%) e trancoma ( 3,6%). A degeneração macular relacionada é a terceira causa de cegueira mundial e a primeira nos países desenvolvidos. No Brasil, o Censo Demográfico de 2000, com a assessoria técnica da Coordenadoria Nacional para a Integração das Pessoas com Deficiência (CORDE), declararam como portadoras de algum tipo de deficiência um total de 24,5 milhões de pessoas, o equivalente a 14,5% da população brasileira. Do total de 24,5 milhões de pessoas com deficiências no Brasil, 48,1% são portadoras de deficiência visual; 22,9% de deficiência motora; 16,7% de deficiência auditiva; 8,3% de deficiência mental e 4,1% de deficiência física. O alto índice de deficiência visual (não restrito somente a cegueira, mas também, a grande ou alguma dificuldade permanente de enxergar). Esse dado pode refletir a dificuldade de acesso da população ao sistema de saúde pública, principalmente no que diz respeito a serviços ambulatoriais especializados ou mesmo a aquisição óculos. A deficiência visual foi mais prevalente no sexo feminino o que é coerente com a composição por sexo da população idosa, onde predominam as mulheres na faixa etária de 60 anos ou mais. No Brasil, de acordo com a OMS (2004), considera-se a estimativa da prevalência de cegueira de 0,3% e de baixa visão de 1,7% na população geral. A cegueira na infância e estimada em 0,062% da população até 15 anos, sendo ela responsável por 6,4% dos casos de cegueira no nosso país. A prevalência de cegueira é de 0,15% na população entre 15 e 49 anos e de 1,3% na população de mais de 50 anos de idade. Segundo a Organização Mundial de saúde, 2 milhões de novos casos de cegueira ocorrem anualmente, sendo que 80% correspondem a indivíduos com 50 anos de idade ou mais. A

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população idosa mundial será de 1,2 bilhões de pessoas no ano de 2020, 75% viverão nos países em desenvolvimento e 54 milhões serão cegos (HADDAD; SAMPAIO, 2010, p. 12-15)

A visão, sem dúvida, no desempenho do seu papel unificador dos sentidos,

tem fundamental importância para mobilidade. Os dados procedentes dos outros

sentidos, na ausência da visão, são intermitentes, difusos e fragmentados. Dessa

forma, a criança cega precisa de motivação e incentivo para mover-se, uma vez que

o espaço percebido por ela limita-se ao seu próprio corpo. A falta de informação e a

integração que a visão proporciona, faz com que a criança demore mais tempo para,

por meio dos outros sentidos, formar um todo significativo das situações

vivenciadas. Na ausência da visão, os sentidos táteis, auditivos, vestibulares e

proprioceptivos deverão se ajustar para fornecer as informações que promovem e

controlam o movimento, que é a relação da criança com o mundo (FERREIRA;

RAMOS, 2009, p.72).

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CAPÍTULO II

O ESPORTE E O DEFICIENTE VISUAL

A educação física de maneira geral e os esportes, mais especialmente, podem ter um papel importante no desenvolvimento das pessoas, inclusive em condição de deficiente visual. Nesse sentido, percebe-se que o esporte é um fenômeno social relevante e, desde que atenda as necessidades, ansiedades e possibilidades de seus praticantes, deve ser valorizado, da iniciação ao treinamento. (ALMEIDA et al, 2010, pag. 497).

A prática desportiva por pessoas com deficiência visual na prospectiva de

Almeida et al, é da seguinte forma: a história da prática de atividade física por

pessoas portadoras de cegueira se faz presente desde o século XVIII. Sendo em

1840 o primeiro programa de atividade física para estudantes cegos nos Estados

unidos na escola Perkis. Os alunos participaram de exercícios como ginástica e

natação. No entanto, ““Educação Física anterior a 1900 tinha uma orientação médica

e era de natureza preventiva, corretiva ou desenvolvimentista, com o propósito de

evitar a doença e promover a saúde e o vigor da mente e do corpo” (Sherril apud

Winnick, 2004)”. (ALMEIDA et al, 2010, p. 498). Segundo ainda Almeida et al, o

primeiro registro de competição esportiva oficial entre pessoas portadoras de

deficiência visual que se tem relatos nos EUA e datado de 1907, entre duas escolas

que atuavam na área de deficiência visual.

Com o objetivo de recuperar a independência e autonomia dos ex-

combatentes da primeira guerra mundial as escolas para cegos desenvolver um

programa para veteranos em busca de alcançar tal fim.

Em 1976 é fundada, nos Estados Unidos, a Associação Americana de Atletas

Cegos – USABA. Nesse mesmo ano, em Toronto, Canadá, os Jogos paraolímpicos,

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antes limitados aos atletas cadeirantes, em especial aos lesados medulares, passam

a incorporar os cegos e amputados.

Em 1981 é fundada, em Paris, a Associação Internacional de Esportes para

Cegos (IBSA – International Blind Sport Association), que se formalizou como

entidade legal em com a adoção de sua primeira Constituição. Está registrada na

Espanha como uma organização sem fins lucrativos e é hoje a Federação

Internacional de Esportes para Cegos. A IBSA é filiada ao Comitê Paraolímpico

Internacional e rege o desporto para cegos no mundo (Almeida et al, 2010, p. 498).

Aliado ao texto acima a obra “Lazer, atividade física e esportiva para

portadores de deficiência” produzido pelo Ministério do Esporte e Turismo que diz o

seguinte: em 1983, aconteceram no Rio de Janeiro, comandados pela Associação

Nacional de Desporto para Deficientes (ANDE) os II Jogos Nacionais para

Deficientes Visuais, já que os primeiros jogos, coordenados também pela mesma

entidade, haviam sido realizados, em 1981, na cidade de Curitiba, Paraná.

Em Janeiro de 1984, funda-se a Associação Brasileira de Desportos para

Cegos – ABDC, criada no primeiro momento, tendo como objetivo imediato atender

exigências internacionais quanto à participação de atletas cegos do Brasil na

Paraolimpíada de Nova York. Aido Miccolis é eleito presidente provisório, dando-se,

assim, início à fase da história do desporto de cegos em nosso país, organizado em

uma entidade nacional específica, fruto da vontade e da luta, desde 1981. De

atletas, técnicos e dirigentes de entidades de cegos, com a liderança de Mário

Sérgio Fontes, atleta cego e dirigente da Associação dos Deficientes Visuais do

Paraná (ADEVIPAR), (BRASIL, 2001, p. 159).

Segundo a continuação da prospectiva de Almeida et al: a ABDC que, em 15

de dezembro de 2005, passa a ter a nomeação de Confederação Brasileira de

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Desportos para Cegos – CBDC, “é reconhecida pela Legislação brasileira como uma

entidade de caratê confederativo, além de ser a única organizadora nacional afiliada

à IBSA, sendo responsável pela representação do Brasil nos eventos organizados

por esta”.

Desde então, varias iniciativas e ações no âmbito da Educação Física e do

Esporte Adaptado às pessoas com deficiência visual têm sido legitimadas no Brasil.

Embora ainda existam muitos obstáculos e dificuldades a serem superadas, e

apesar das limitações concernentes às políticas públicas de fomento à educação e

ao esporte, o desenvolvimento de projetos e estudos acadêmicos tem contribuído

significativamente para a ampliação das oportunidades destinadas nessa área

(Almeida et al, 2010, p. 498).

A classe de um atleta é expressa por meio de um número que não é transferido de um esporte a outro. Caso o atleta queira mudar de esporte terá que passar por uma nova classificação. Geralmente esse número é precedido pela inicial do esporte (em inglês) – na natação, por exemplo, antes dos números tem-se a letra “s” de Swimming. No caso dos deficientes visuais, a classe é precedida pela letra “B”de Blind (cego). Quanto maior o número da classe de um atleta, menor é o comprometimento físico-motor ou visual do atleta (Almeida et al, 2010, p. 498).

2.1 – Classificação esportiva

De acordo com a obra Lazer, atividade física e esportiva para portadores de

deficiência produzido pelo Ministério do Esporte e Turismo que diz o seguinte: as

competições oficiais são efetivadas respeitando-se a classificação em três

categorias:

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B1 – Desde não percepção de luz até percepção luminosa, sem haver,

contudo qualquer reconhecimento da forma de uma mão em qualquer

distância ou direção.

B2 – Desde a capacidade de reconhecer a forma de uma mão até a acuidade

de 2/60 e/ ou campo visual inferior a 5 graus.

B3 – Desde acuidade visual de 2/60 até uma acuidade visual de 6/60 e/ ou um

campo visual superior a 5 graus e igual ou inferior a 20 graus.

OBS: Todas as classificações levam em consideração o melhor olho com a

melhor correção óptica possível.

2.2 – Esportes praticados por atletas deficientes visuais

1) Esportes Olímpicos (Paraolímpicos de Verão): Judô, Natação, Atletismo,

Goalball, Ciclismo.

2) Esportes reconhecidos pela IBSA sem, contudo, constar do Programa

Paraolímpico: Futebol de Salão.

3) Esportes praticados pela I.B.S.A: Basquete, Vôlei, Equitação, Vela, Esqui

Aquático, Showdown (tipo adaptado de tênis de mesa “Ping-Pong”),

Patinação (gelo e roda), Canoagem, Remo, Corrida de Orientação,

Montanhismo, Xadraz, Lutas (Olímpica e Greco-romana) e outros esportes

de inverno (BRASIL, 2001, p.162).

Os jogos Paraolímpicos de Verão e de Inverno são os eventos máximos do esporte mundial de atletas portadores de deficiência, são realizados, alternadamente de quadro e quadro anos, fazendo parte do programa oficial, na mesma cidade, utilizando as mesmas

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instalações, embora em períodos diversos, dos Jogos Olímpicos de Verão e de Inverno (BRASIL, 2001, p. 160-161).

Em virtude da baixa atividade motora, proprioceptiva e vestibular decorrentes da ausência de visão, essas crianças têm pouca oportunidade de prolongar as experiências táteis – cinestésicas de flexão do corpo, da sucção dos dedos e roçar do rosto que vivenciam no útero materno (...). A ruptura dessas experiências sensório-motoras integradas prejudica a organização e o planejamento do ato motor, a vivência do corpo no espaço que são responsáveis pelo desenvolvimento do mecanismo de adaptação ao meio e de organização interna do sujeito (FERREIRA; RAMOS, 2009, p.94)

Foi através de exercícios físicos adaptados e de projetos esportivos para

crianças como deficiência visual, que os profissionais especializados do Núcleo de

Educação Psicomotora que atua dentro do Instituto Benjamin Constant, procuraram

minimizar as defasagens motoras, ideomotoras e psicomotoras decorrentes desta

deficiência. Objetivando uma diminuição dessas defasagens, os profissionais da

área sugeriram a implementação de um conjunto especial de atividades

psicomotoras em virtude justamente das ineficiências motoras, da postura

inadequada e do porte defeituoso demonstrados em geral por eles (FERREIRA;

RAMOS, 2009, p.96)

O esporte e utilizado como instrumento de ação para atender os objetivos

pedagógicos da educação física em todo o mundo, sendo aplicada a todas as

pessoas sendo elas deficientes ou não. Mas mesmo assim, as pessoas continuam

achando que os cegos não são capazes de praticar algum tipo de atividade, seja do

cotidiano, doméstico, do trabalho e principalmente esportivas ou de lazer. A

realização dessas atividades se torna possível mediante adaptações adequadas a

eles para que assim se tornem seres mais ativos, independentes e também

integrados à sociedade (FERREIRA, RAMOS, 2009, p. 95).

23

CAPÍTULO III

HISTÓRIA DO TÊNIS ADAPTADO

A criança cega tem grande dificuldade de perceber o espaço tridimensional. Ela precisa de muito mais tempo para entender o espaço por meio das mãos, do corpo e dos sons. (FERREIRA, RAMOS, 2009, pag. 74).

Devido a falta de materiais bibliográficos referente à história do tênis adaptado

na língua portuguesa optamos por utilizar alguns sites: O segundo deste é:

<http://www.hanno.jp/matsui/about%20tennis.html>. Disponível somente na língua

inglesa ou japonesa, cuja tradução ficou da seguinte forma:

O Tênis para deficientes visuais é relativamente um esporte novo. Ele foi criado originalmente por Miyoshi Takei em 1984 em Kawagoe, Saitama no Japão. Nessa época, Takei estava cursando o ensino médio no Colégio Municipal de Cegos de Saitama, quando ele sonhava em rebater em uma bola de tênis.

As versões adaptadas dos outros esportes como voleibol, tênis de mesa e basquetebol já existem. Mas nesses jogos a bola só pode ser rolada em vez de quicada. Isso não era o que Takei estava procurando. Ele queria jogar tênis em terceira dimensão com o quique da bola. Ele foi pedir conselhos a sua professora de educação física. Ela achou muito interessante a idéia e eles começaram a experimentar juntos algumas adaptações no ginásio do colégio. O primeiro e mais importante desafio foi fazer uma bola especial que pudesse permitir a os jogadores cegos localizar a posição da bola pelo som emitido através dos quiques ou batidas. A princípio, eles tentaram usar uma bola de plástico, onde eles colocaram algumas bolas de chumbo dentro. O som era ótimo, mas a altura do quique da bola não era apropriado. Então eles continuaram a experimentar vários outros materiais para desenvolver uma bola que pudesse ser perfeita para o tênis adaptado. Após terminar o ensino médio, Takei entrou no curso de educação especial superior em Tókio para aprender fisioterapia. Ele pegou a bola de tênis adaptada artesanalmente e a levou no Centro Esportivo de Tókio para Deficientes. O professor do centro esportivo não estava acreditando nas idéias dele, mas ficou profundamente envolvido com o seu

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entusiasmo. Takei então, o convidou para jogar tênis. Nessa ocasião, descobriram uma bola de esponja especial que era fabricada na Suécia para jogar no mini-tênis (quadra de tênis infantil). Um rapaz que trabalhava na Associação dos Tenistas Cadeirantes mostrou uma bola de espuma para Takei. Com essa idéia, ele resolveu ir ao shopping e comprar uma bola de esponja um pouco maior do que lhe foi apresentada. Ele então cortou a bola de espuma ao meio e colocou uma bola de tênis de mesa adaptada para cegos no centro desta bola esponjosa. Foi muito difícil para Takei fazer contato com a bola no início, mas foi também um grande passo em direção a o desenvolvimento do esporte em terceira dimensão. Com o seu exterior macio e com uma bola de tênis de mesa chocalhando no centro da bola de espuma. O Centro Nacional de Reabilitação para Deficientes (NRCT) em Tokorozawa em Saitama iniciou um projeto para fabricar a bola de tênis especial para cegos e definir as regras de jogo. O sonho de Takei estava se tornando realidade. As pessoas com deficiência visual que estavam estudando em Tókio deram lhe apoio e bons conselhos. Além disso, com a ajuda dos japoneses da Associação Desportiva para Deficientes, um esporte ainda desconhecido estava prestes a nascer. Foi no dia 21 de Outubro de 1990 que o sonho de Takei foi finalmente realizado. O primeiro torneio nacional de tênis para cegos foi idealizado pela NRCT. Takei estava na quadra muito animado e feliz. Ele tinha conseguido realizar seu objetivo. O som da bola de tênis agora é ouvido em mais de 30 das 47 regiões do Japão. Estima se que cerca de 300 jogadores estão curtindo e jogando o tênis adaptado regularmente. A raquete sendo curta e leve permite que todas as pessoas possam praticar sendo elas crianças ou não. Mas o melhor de tudo, é que os videntes podem jogar juntos com os cegos. Sendo eles adversários ou parceiros de dupla, tipo uma dupla mista. Onde o cego faz parceria com alguém de visão normal.

3.1 – Difusão pelo mundo

Em 2007, Miyoshi Takei foi com a delegação japonesa de tênis adaptado a Londres para promover atividades e desenvolver o esporte internacionalmente. Desde então, o tênis passou a ganhar mais adeptos na capital inglesa. Hoje em dia existe um forte intercâmbio entre os dois países para aprimorar e desenvolver cada vez mais essa modalidade esportiva. China, Coréa do Sul e Taiwan também foram sedes de eventos para promover o tênis para cegos e portadores de visão subnormal. Foram estes os primeiros passos dados por Takei para transformá-lo em um esporte paraolímpico. Mas Isso só será possível se no mínimo 24 países estiverem praticando competitivamente o desporto em questão para ser validado como um esporte paraolímpico.

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No Brasil, o primeiro passo para o desenvolvimento de mais um esporte

adaptado para os cegos foi dado no Instituto Benjamin Constant (IBC), Rio de

Janeiro, no dia 05 de julho de 2011. O coordenador de Educação Física do IBC,

Ramon Pereira de Souza viabilizou juntamente com o professor Helio Rossi da Silva

Pereira, esse primeiro contado do tênis com os cegos para se ter uma idéia real das

possibilidades de sua prática. Todo conteúdo citado foi filmado na data em questão

é poderá ser disponibilizado pelos mesmos.

Um grupo de estudantes entre 13 e 18 anos do sexo masculino, classificado

como B1 e B2 foram voluntários no teste de adaptação e prática do desporto tênis.

O jogador B1 é classificado como cego total e B2 é classificado como baixa visão,

ele é capaz de ver o movimento de uma mão na frente dos seus olhos.

Eles estudaram o material e as limitações da quadra (13.40m x 6.1m)

utilizando o tato, audição e o olfato. A quadra foi adaptada com uma fita amarela

colante de 5cm com um corda (barbante) por baixo para que os cegos possam sentir

a dimensão da quadra ao tocá-la com as mãos ou os pés. A rede foi estendida no

centro com 80cm de altura. A raquete usada é para prática do mini-tênis (tênis

infantil) e a bola é adaptada. Está bola é de espuma e tem 9cm de diâmetro, no

centro encontra-se uma bola de tênis de mesa com 4 pequenas bolinhas de aço

para criar o efeito sonoro. Todas as adaptações foram feitas de acordo com as

regras usadas oficialmente nos campeonatos da Federação Japonesa de Tênis para

Cegos (JBTF).

Realizou-se um educativo com o objetivo de familiarização e manuseio dos

materiais. Os alunos B2 foram divididos em duplas, um de frente para o outro. Com

aproximadamente 5m de distância. Um aluno rolava a bola para o outro usando a

raquete. Os alunos B1 tinham que tentar impedir a continuidade da bola jogada após

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o seu terceiro quique com a raquete. Após esse primeiro contato os alunos tentaram

rebater a bola por cima da rede.

Foi observado que todos os alunos fizeram uma pegada Eastern de Esquerda

para rebater a bola de direita, com a ponta da raquete apontada para o chão na

mesma linha da perna direita. Essa pegada proporciona uma boa angulação para

rebater a bola baixa próxima ao chão ou na sua fase aérea descendente à frente do

corpo, mas ela não atende de forma satisfatória todas as possibilidades de rebatida

por causa de sua difícil angulação nas laterais.

O quique da bola ficou um pouco irregular por causa da alteração no seu

centro de massa e das saliências externas causadas pela fita colante que prende as

duas partes da bola. O barulho emitido pela bola foi satisfatório para sua localização

no espaço. Os estudantes comentaram que seria melhor e mais perceptível se o

som da bola fosse mais agudo. Sugeriram então, criar uma bola de alumínio do

tamanho de uma bola de tênis de mesa e colocar em seu interior quatro bolinhas de

aço para criar o tal efeito sonoro.

Os alunos B2 tiveram mais facilidade em rebater a bola por cima da rede e

conseguiram manter uma seqüência de mais de 6 rebatidas com apenas uma bola.

Os alunos B1 tiveram um pouco mais de dificuldade ao rebater a bola, mas foram

melhorando conforme estavam sendo estimulados chegando a acertar algumas

bolas por cima da rede.

Os alunos B2 queriam jogar entre si e tentaram manter uma regularidade de

rebatidas com apenas uma bola. Os alunos gostaram muito de jogar tênis, fizeram

algumas perguntas sobre o esporte e perguntaram também se poderiam treinar esse

novo desporto que está preste a nascer.

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Portanto observou se que o tênis pode ser sim praticado por essa população

tornado se uma modalidade diferenciada por ser jogada em terceira dimensão com o

quique da bola. Espera-se que o tênis possa ser aceito de braços abertos pelos

jogadores potenciais e que esse desafio possa contribuir para uma melhor qualidade

de vida.

3.2 – Regras

De acordo com os sites consultados: < http://www.hanno.jp/matsui/rules.html

e http://www.tennisfoundation.org.uk/disabilitytennis/otherdisabilities/ >. O tênis

adaptado pode ser jogado com as seguintes regras:

Quadra:

• Tamanho: Comprimento - 13,4 m; Largura - 6,1 m; • Dividida em duas metades por uma rede de 80cm de altura no centro e 85cm nas pontas; • São necessários, no ínimo, três metros de espaço livre no fundo da quadra e dois metros nas

laterais; • As linhas da quadra são feitas por fitas adesivas, com uma linha de 2mm por baixo, para que

os tenistas sintam a marcação; • Normalmente, o blind tennis é disputada em ginásios fechados, para que o som da bola fique

ainda mais audível.

Raquetes:

• Raquetes junior.

Bola:

• O diâmetro da bola esponjosa é de 9 cm; • No centro da bola, há uma outra de tênis de mesa que contém quatro bolinhas de chumbo

para produzir o som ao tocar o chão; • Além de produzir o som, as bolas permitem aos deficientes visuais que identifiquem a altura,

direção e velocidade aproximada da bola; • Pode ser amarela ou preta;

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Categorias:

• B1 (o "B" é usado como abreviação de Blind) é para as pessoas totalmente cegas; • B2, B3 e B4 são para parcialmente cegos. O atleta B2 é capaz de ver o movimento de uma

mão quando ela se move em frente aos seus olhos. A percepção visual é abaixo de 0.03 ou a visão é abaixo de 5 graus. A percepção visual do B3 é acima de 0.03 ou a visão é acima de 5 graus. Para os jogadores B4, não há regulamentação para a percepção visual.

• Os tenistas da classe B1 têm o direito a três quiques. Os jogadores da B2 e B3 podem deixar a bola tocar o chão duas vezes. Na categoria B4, a bola pode pingar apenas uma vez.

• Jogadores da classe B2, B3 e B4 podem jogar na categoria B1 com venda nos olhos.

Saque:

• O sacador deve perguntar "ready"? (pronto?). Em seguida, o recebedor deve responder "yes" (sim). Após a resposta do recebedor, o sacador tem cinco segundos para sacar;

• Caso o recebedor não responda, e o sacador execute o golpe mesmo assim, um let é chamado;

• Tanto o sacador como o recebedor podem perguntar ao juiz ou ao boleiro qual é a posição deles na quadra.

Falta no Saque:

• Quando a bola não atinge a área de saque no primeiro quique; • Quando o sacador começa o movimento do saque, mas não atinge o bolinha; • Quando a bola atinge o recebedor diretamente, sem quicar na quadra; • Quando o sacador atinge a bola correndo ou andando.

Perda de Pontos:

• Em caso de dupla-faltas; • Quando não se bate a bola antes do número correto de quiques; • Quando alguém passa orientações durante o andamento da partida; • Quando a bola o atinge diretamente - se estiver dento da quadra; • Quando a bola toca duas vezes a raquete; • Quando o contato com a bola é feito na área do adversário (invasão); • Quando alguma parte do corpo, ou da raquete encostar a rede antes do ponto acabar; • Quando a bola atinge o juiz.

Contagem:

• A contagem é igual a do circuito profissional de tênis. No Japão, na maioria dos torneios o set vai até quatro games. Quando há empate em 3-3, joga-se um tie-break.

Outras Regras:

• Quando os dois jogadores têm visão parcial, o sacador pode escolher a bola amarela ou preta. Depois da escolha não se pode mudar a cor da bola até o final da partida. Em partida com tenistas sem nenhuma visão é utilizada a bola amarela.

• O jogador pode perguntar ao juiz como foi o seu saque (como a bola saiu, se saiu lateralmente etc...)

• Se a bola se romper durante o ponto, este é jogado novamente.

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CONCLUSÃO

Observamos que o tênis de quadra para cegos e portadores de visão

subnormal tem um grau de complexidade muito elevado por ser jogado em terceira

dimensão, isto é, com o quique da bola. Sem dúvida, é uma modalidade esportiva

interessante que pode ser praticada por essa população, mas é preciso realizar um

treinamento regular de longo prazo para se ter dados concretos dos benefícios da

prática dessa modalidade esportiva na vida diária.

Os fundamentos do tênis adaptado: Forehand (direita), backhand (esquerda)

e saque, devem ser testados e praticados, para então, ser desenvolvida uma

didática de ensino desta modalidade no Brasil, pois sabe-se que no Japão os

professores de tênis podem fazer um curso específico de tênis adaptado para

ensinar o esporte de maneira didática e divertida a essa população.

Espera-se que esse tema seja abordado pelos mestres, professores e

estudantes de educação física, para uma discussão mais abrangente e um

desenvolvimento adequado neste país, contribuindo assim para uma melhor

qualidade de vida desta população.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Jóse Júlio Gavião de, et al. Educação física e esportes adaptados às pessoas com deficiência visual. pp. 497-505. In: SAMPAIO, Marcos Wilson et al. Baixa visão e cegueira: os aminhos para a reabilitação, a educação e a inclusão. Rio de Janeiro: cultura médica: Guanabara koogan, 2010. BRASIL. MINISTERIO DO ESPORTE E TURISMO. Lazer, atividade física e esportiva para portadores de deficiência. Brasília, DF: Ministério do Esporte e Turismo: SESI, 2001. FERREIRA, Carlos Alberto de Mattos; RAMOS, Maria Inês Barbosa. (orgs.) Psicomotricidade: educação especial e inclusão social. 2.ed. Rio de janeiro: Wak Ed. 2009. HADDAD, Maria Aparecida Onuki; SAMPAIO, Marcos Wilson. Aspectos globais da deficiência visual. pp. 7-15. In: SAMPAIO, Marcos Wilson et al. Baixa visão e cegueira: os aminhos para a reabilitação, a educação e a inclusão. Rio de Janeiro: cultura médica: Guanabara koogan, 2010. HISTÓRIA do tênis adaptado. Disponível em: < http://www.hanno.jp/matsui/about%20tennis.html> . Acessado em: 02 ago. 2011. MASINI, Elcie F. Salzano. A educação do portador de deficiência visual. as perspectivas do vidente e do não vidente. Em Aberto, Brasília, ano 13, nº 60, out /dez, 1993. Disponível em: < http://www.rbep.inep.gov.br/index.php/emaberto/article/viewFile/888/795 >. Acessado em: 12 mar. 2011. MOSQUERA, Carlos. Educação física para deficientes visuais. Rio de Janeiro: Sprint, 2000. NASCIMENTO, Antônio Fernandes Santos do; Oliveira, Luiza Rodrigues de. A formação dos professores de educação física do Instituto Benjamin Constant (IBC): repensando novos caminhos para o curso de educação física adaptada e desporto para o deficiente visual. Niterói: Centro Universitário Plínio Leite, 2006.

OEA - Organização dos Estados Americanos. Convenção internacional para a eliminação de todas as formas de discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência. (26 de Maio de 1999). Disponível em: < http://www.cedipod.org.br/con-oea.htm >. Acessado em 12 jul. 2011.

31

ONU - Organização das Nações Unidas. Declaração dos direitos das pessoas deficientes. (09 de Setembro de 1975). Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/dec_def.pdf>. Acessado em: 28 jun. 2011. SAMPAIO, Marcos Wilson et al. Baixa visão e cegueira: os caminhos para a reabilitação, a educação e a inclusão. Rio de Janeiro: Cultura médica: Guanabara koogan, 2010. The Tennis Foundation. Disponível em: <http://www.tennisfoundation.org.uk/disabilitytennis/otherdisabilities/>. Acessado em: 25 jun. 2011.

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ANEXO I

DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DAS PESSOAS DEFICIENTES Resolução aprovada pela Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas em

09/12/75.

A Assembléia Geral Consciente da promessa feita pelos Estados Membros na Carta das Nações Unidas no sentido de desenvolver ação conjunta e separada, em cooperação com a Organização, para promover padrões mais altos de vida, pleno emprego e condições de desenvolvimento e progresso econômico e social, Reafirmando, sua fé nos direitos humanos, nas liberdades fundamentais e nos princípios de paz, de dignidade e valor da pessoa humana e de justiça social proclamada na carta, Recordando os princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos, dos Acordos Internacionais dos Direitos Humanos, da Declaração dos Direitos da Criança e da Declaração dos Direitos das Pessoas Mentalmente Retardadas, bem como os padrões já estabelecidos para o progresso social nas constituições, convenções, recomendações e resoluções da Organização Internacional do Trabalho, da Organização Educacional, Científica e Cultural das Nações Unidas, do Fundo da Criança das Nações Unidas e outras organizações afins. Lembrando também a resolução 1921 (LVIII) de 6 de maio de 1975, do Conselho Econômico e Social, sobre prevenção da deficiência e reabilitação de pessoas deficientes, Enfatizando que a Declaração sobre o Desenvolvimento e Progresso Social proclamou a necessidade de proteger os direitos e assegurar o bem-estar e reabilitação daqueles que estão em desvantagem física ou mental, Tendo em vista a necessidade de prevenir deficiências físicas e mentais e de prestar assistência às pessoas deficientes para que elas possam desenvolver suas habilidades nos mais variados campos de atividades e para promover portanto quanto possível, sua integração na vida normal, Consciente de que determinados países, em seus atual estágio de desenvolvimento, podem, desenvolver apenas limitados esforços para este fim. PROCLAMA esta Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes e apela à ação nacional e internacional para assegurar que ela seja utilizada como base comum de referência para a proteção destes direitos:

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1 - O termo "pessoas deficientes" refere-se a qualquer pessoa incapaz de assegurar por si mesma, total ou parcialmente, as necessidades de uma vida individual ou social normal, em decorrência de uma deficiência, congênita ou não, em suas capacidades físicas ou mentais. 2 - As pessoas deficientes gozarão de todos os diretos estabelecidos a seguir nesta Declaração. Estes direitos serão garantidos a todas as pessoas deficientes sem nenhuma exceção e sem qualquer distinção ou discriminação com base em raça, cor, sexo, língua, religião, opiniões políticas ou outras, origem social ou nacional, estado de saúde, nascimento ou qualquer outra situação que diga respeito ao próprio deficiente ou a sua família. 3 - As pessoas deficientes têm o direito inerente de respeito por sua dignidade humana. As pessoas deficientes, qualquer que seja a origem, natureza e gravidade de suas deficiências, têm os mesmos direitos fundamentais que seus concidadãos da mesma idade, o que implica, antes de tudo, o direito de desfrutar de uma vida decente, tão normal e plena quanto possível. 4 - As pessoas deficientes têm os mesmos direitos civis e políticos que outros seres humanos:o parágrafo 7 da Declaração dos Direitos das Pessoas Mentalmente Retardadas (*) aplica-se a qualquer possível limitação ou supressão destes direitos para as pessoas mentalmente deficientes. 5 - As pessoas deficientes têm direito a medidas que visem capacitá-las a tornarem-se tão autoconfiantes quanto possível. 6 - As pessoas deficientes têm direito a tratamento médico, psicológico e funcional, incluindo-se aí aparelhos protéticos e ortóticos, à reabilitação médica e social, educação, treinamento vocacional e reabilitação, assistência, aconselhamento, serviços de colocação e outros serviços que lhes possibilitem o máximo desenvolvimento de sua capacidade e habilidades e que acelerem o processo de sua integração social. 7 - As pessoas deficientes têm direito à segurança econômica e social e a um nível de vida decente e, de acordo com suas capacidades, a obter e manter um emprego ou desenvolver atividades úteis, produtivas e remuneradas e a participar dos sindicatos. 8 - As pessoas deficientes têm direito de ter suas necessidade especiais levadas em consideração em todos os estágios de planejamento econômico e social. 9 - As pessoas deficientes têm direito de viver com suas famílias ou com pais adotivos e de participar de todas as atividades sociais, criativas e recreativas. Nenhuma pessoa deficiente será submetida, em sua residência, a tratamento diferencial, além daquele

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requerido por sua condição ou necessidade de recuperação. Se a permanência de uma pessoa deficiente em um estabelecimento especializado for indispensável, o ambiente e as condições de vida nesse lugar devem ser, tanto quanto possível, próximos da vida normal de pessoas de sua idade. 10 - As pessoas deficientes deverão ser protegidas contra toda exploração, todos os regulamentos e tratamentos de natureza discriminatória, abusiva ou degradante. 11 - As pessoas deficientes deverão poder valer-se de assistência legal qualificada quando tal assistência for indispensável para a proteção de suas pessoas e propriedades. Se forem instituídas medidas judiciais contra elas, o procedimento legal aplicado deverá levar em consideração sua condição física e mental. 12 - As organizações de pessoas deficientes poderão ser consultadas com proveito em todos os assuntos referentes aos direitos de pessoas deficientes. 13 - As pessoas deficientes, suas famílias e comunidades deverão ser plenamente informadas por todos os meios apropriados, sobre os direitos contidos nesta Declaração. Resolução adotada pela Assembléia Geral da Nações Unidas 9 de dezembro de 1975 Comitê Social Humanitário e Cultural. (*)O parágrafo 7 da Declaração dos Direitos das Pessoas Mentalmente Retardadas estabelece: "Sempre que pessoas mentalmente retardadas forem incapazes devido à gravidade de sua deficiência de exercer todos os seus direitos de um modo significativo ou que se torne necessário restringir ou denegar alguns ou todos estes direitos, o procedimento usado para tal restrição ou denegação de direitos deve conter salvaguardas legais adequadas contra qualquer forma de abuso. Este procedimento deve ser baseado em uma avaliação da capacidade social da pessoa mentalmente retardada, por parte de especialistas e deve ser submetido à revisão periódicas e ao direito de apelo a autoridades superiores".

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 CAPÍULO I – Deficiência visual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.1 – O cego no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13 CAPÍTULO II – O esporte e o deficiente visual . . . . . . ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18 2.1 – Classificação esportiva. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 2.2 – Esportes praticados por atletas deficientes visuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 CAPÍTULO III - História do tênis adaptado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 3.1 - Difusões pelo mundo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .24 3.2 – Regras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27 CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 ANEXOS ÍNDICE