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23/10/2013
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Patogênese microbiana-base para o desenvolvimento de uma vacina
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTASCentro de Desenvolvimento Tecnológico
Graduação em BiotecnologiaDisciplina de Vacinologia e Engenharia de Vacinas Como desenvolver novas vacinas?
• Que conhecimento preciso ter para isso?
• Vacinologia experimental:
– Qual a resposta imune a ser induzida?
– Quais adjuvantes/moduladores usar?
– Qual a melhor estratégia para combater a infecção?
– Qual imunógeno?
Características de um imunógeno
• Imunógeno X antígeno X hapteno
• Requerimentos:
– Ser estranho;
– Alto peso molecular;
– Complexidade química;
– Degradabilidade;
Outras moléculasLipídeosCarboidratosProteínas
Quero pesquisar e produzir novas vacinas!
• Que conhecimento preciso ter para isso?
• Vacinologia experimental:
–Qual a resposta imune a ser induzida?
–Quais adjuvantes/moduladores usar?
–Qual a melhor estratégia para combater a infecção?
– Qual imunógeno?
Compreender a patogenicidade microbiana como base para o desenvolvimento de uma vacina
Patógenos bacterianos utilizam uma série de moléculas para causar infecção
Fatores de virulência
Potenciais alvos para vacina, mas compreender a base molecular da patogenicidade é
requerida para o desenvolvimento racional de vacinas
Patogenicidade e Virulência
• Patogenicidade:
– Capacidade de causar doença;
• Virulência:
– Medida quantitativa da habilidade de causar doença;
• Patogênico – refere-se às características genotípicas expressas ou não;
• Virulento –refere-se às características fenotípicas que induzem alterações patológicas no hospedeiro;
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Patogênese microbiana:
a presença de microrganismo nem
sempre leva à doença.
Infecção
Suscetibilidade do hospedeiro Mecanismos de patogenicidade
Imunocomprometido/imunocompetenteimunizações
idadetraumas
predisposição genéticaterapia antimicrobiana
Secreção de fatores (toxinas)
Manipulação direta das células do hospedeiro
Defesas do hospedeiroBarreiras naturais
Microbiota residente – afetada por dieta, antibióticos, exclusãocompetitiva
pH – inibe o crescimento
Mucina – glicoproteínas viscosas (barreira, armadilhas…)
Resposta imune inata
PRR - (pattern recognition receptor – receptor de reconhecimento de padrão)
Células: Macrófagos, PMNs, células dendríticas, cel. NK, mastócitos, basófilos,eosinófilos;
Resposta imune adquirida
B-cells – produção de anticorpos – patógenos extracelulares
T- cells – resposta citotóxica – patógenos intracelulares
Portas de entrada
• Membranas mucosas;
– Trato respiratório, gastrointestinal, genito-urinário e conjuntiva;
• Pele;
– Intacta = barreira; fissuras, arranhões...
• Parenteral;
– microrganismos são depositados em tecidos abaixo da pele e mucosas;
Porta de entrada preferencial
• A patogenicidade depende de uma porta de entrada preferencial:
• Streptococcus pneumoniae– Se inalado pode causar pneumonia;
– Se entrar pelo trato G.I. não causará doença;
• Salmonella typhi– Se entra pelo trato G.I. pode causar a febre tifóide;
– Na pele não causa doença alguma;
Número de microrganismos infectantes
• Importante pois são necessários microrganismos que resistam ao sistema imune do hospedeiro para estabelecer a infecção;
• Depende essencialmente do hospedeiro, do patógeno e da via de infecção;
• Fundamental para o desenvolvimento de vacinas...
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Medidas de doses infectantes
• DL50– dose de microrganismos ou toxina que será letal para 50% dos
animais experimentalmente inoculados;
• DI50– dose infectante requerida para causar doença em 50% dos
animais experimentalmente inoculados;
• DLmin– a menor dose letal;
• DL100– dose letal para todos os animais em experimentação;
2 vezes a DL50 é a DL100?
DL50 numa população heterogênea
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Dose
Animaisn = 10
DL50
2 X DL50
DL100
Exs.:Vibrio cholerea: 108 célulasLeptospira interrogans: 10 células
Medidas de virulência
Fatores de virulência bacterianos
• Aderência– Pili– Motilidade (flagelo), quimiotaxia– Proteínas de membrana externa
• Processo infeccioso– Exotoxinas, endotoxinas– Sist. secreção dos tipos III e IV– Crescimento intracelular
• Proteção contra as defesas do organismo– Capsula, parede celular, membrana externa– Inibição da ativação do complemento– Variação antigênica– Formação de biofilme
AdesãoCrucial para o patógeno resistir à tentativa de remoção
mecânica pelo hospedeiro;
Permite o estabelecimento da infecção;
• Fatores de adesão (adesinas):– Proteinas;
• Pili ou fímbrias;
• Não fimbriais;
– Carboidratos;
• Receptores;
Fatores de adesão fimbriais
• Arranjo polimérico helicoidal e protuberante com afinidade à algum receptor do hospedeiro;
• Muito comum em Gram-negativas:
– E. coli, V. cholerae, P. aeruginosa, Neisseria spp.
Pili tipo IV↓
Motilidade twitching
Fatores de adesão
• Adesinas protéicas não fimbriais:
– Não possuem a estrutura longa e polimérica da fímbria;
– Contato íntimo ao hospedeiro;
– Proteínas de membrana externa expostas na superfície;
– Gram negativas:
• Yersinia pseudotuberculosis, E. coli enteropatogênica, Neisseriaspp., ...
– Gram positivas:
• Staphylococcus spp., Streptococcus spp.;
– Micobacterias;
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Adesão por polissacarídeos
• Polissacarídeos que compõem a membrana externa, parede celular ou cápsula;
– Ex.: Ácido teicóico serve de adesinas para Staphylococcus spp. e Streptococcus spp;
Fatores de motilidade
• A motilidade é um fator essencial à virulência de diversos microrganismos;
• Permite a difusão pelos tecidos do hospedeiro em busca de locais preferenciais para o estabelecimento da infecção, bem como fuga do sistema imune;
• Proporcionado por flagelo ou pili;
Adesão e movimento
• Anticorpos contra adesinas ou flagelo normalmente bloqueiam a adesão do patógeno ao hospedeiro ou sua motilidade, permitindo a lise pelo sistema complemento;
Potenciais alvos para desenvolvimento de vacinas de subunidade
Proteínas de membrana externa
• Proteínas de membrana expostas na superfície bacteriana que proporcionam adesão ou invasão de células do hospedeiro;
• Alvos potenciais para vacinas;
(Prasadarao et al, Infect. Immun. 1999)
E. coli invasion
E. coli - OmpA facilita adesão e invasão
Anticorpos contra OmpAbloqueiam a invasão
Invasão
• Uma vez aderidos, diversos patógenos penetram em determinados locais do hospedeiro;
• Invasão extracelular e invasão intracelular;
• A invasão extracelular permite o acesso dos patógenos a nichos em tecidos onde possam proliferar, disseminar a outros sítios, expressar toxinas...
Invasão extracelular
• Streptococcus β-hemolítico e Staphylococcus aureussecretam enzimas que degradam moléculas do hospedeiro:
– Hialuronidase: clivam proteoglicanos intracelulares;
– Streptoquinase e stafiloquinase: desmancham coágulos;
– Lipases: degradam lipídeos acumulados;
– Hemolisinas: degradam hemácias e outras células;
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Invasão intracelular
• O patógeno entra nas células do hospedeiro e sobrevive neste ambiente;
• Alguns patógenos injetam proteínas (efetores) por meio de sistemas de secreção do tipo III (T3SS) dentro da célula do hospedeiro;
– Estas proteínas induzem modificações na célula, facilitando a invasão bacteriana;
– Salmonella spp.
– Shigella spp.
– Yersinia spp.
Invasão intracelular
• Salmonella spp. e Shigella spp.
Pedestal de actina
Estratégias intracelularesBactérias
intracelulares obrigatóriasBactéria
intracelulares facultativas
Chlamydia spp.Rickettsia spp
Coxiella burnetiiMycobacterium spp
Salmonella spp.Legionella pneumophila
Brucella spp.
Francisella tularensis
Shigella spp.
Listeria monocytogenes
Yersinia spp.
A invasão pode ocorrer em células fagocíticas ou não. Quando invadem células fagocíticas as bactérias sobrevivem
à ação enzimática do lisossomo.
Listeria monocytogenesMovimento mediado por actina
Sobrevivência intracelular
• Patógenos invasores desenvolvem mecanismos parasobreviver intracelularmente
• Acidificação do vacúolo
• Fusão fagossomo-lisossomo
• Lise da membrana vacuolar e localização no citoplasma
• Maquinaria para recrutamento de actina;
Patógenos intracelulares requerem indução de resposta imune celular
Estratégias para evasão do sistema imune
• Anti-fagocitose
• Exemplos:
- Yersinia (tirosina fosfatase,
serina-treonina quinase, inibidores de actina)
- E. coli EPEC (fosfatidil inositol-3 quinase)
Vacina pode ser desenhada para neutralizar estes fatores, tornando os patógenos susceptíveis a
fagocitose e morte intracelular
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Estratégias para evasão do sistema imune
• Variação antigênica;
Neisseria gonorrhoeaeVariação antigênica do pili
Estratégias para evasão do sistema imune
• Cápsula bacteriana: polissacarídeos expostos de alto peso molecular;
• Inibem fagocitose por dificultar ligação de anticorpos e/ou componentes do complemento;
• Aumentam virulência;– Bacillus anthracis
– Streptococcus pneumoniae
– Klebsiella pneumoniae
– Streptococcus mutans
Biofilmes
• Agregado microbiano em que as células se aderem umas às outras em uma superfície sólida.
– Substâncias poliméricas extracelulares;
Biofilmes
• Funções:
– Resistência a fagócitos, dessecação, antibióticos, detergentes e estresses mecânicos;
– Ligação e sequestro de nutrientes;
– Formação de comunidades microbianas interdependentes;
(www.math.utah.edu/.../ quorum_talk.html)
Bacterial biofilm - magnified 7,000x
S. Typhi – colonização crônica
• Mary Mallon conhecido como
– Typhoid Mary
• Portador assintomático
• Isolado por força
– 3 decadas isolado até morreu
Parede celular bacteriana
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LPS
• Principal responsável por choque séptico;
• Ativa sistema imune inato via TLR4;
• Endotoxina!
Toxinas
• Protéicas ou não-protéicas (LPS);
• Endotoxinas (LPS) ou exotoxinas;
• Fatores de virulência melhor caracterizados;
• Fáceis de purificar (sobrenadante);
• Utilizados como toxóides em vacinas;
• Ótimos adjuvantes;
EXOTOXINAS x ENDOTOXINAS Exotoxinas protéicas
• Secretadas para o meio externo ou injetadas diretamente na célula do hospedeiro por T3SS;
• A maioria dos genes para exotoxinas está em plasmídeos ou fagos;
1. Toxinas A-B;
2. Toxinas proteolíticas;
3. Toxinas formadoras de poros;
Outras...
Toxinas A-B
Subunidade A:
Atividade enzimática, tóxica;
Subunidade B:
Ligação a receptor e internalizaçãoda toxina;
Toxinas A-B
• P. aeruginosa, E. coli, V. cholerae, C. diphtheriae e B. pertussis;
• Atividades da subunidade A:
– Proteolítica: toxina tetânica e botulínica;
– Atua em adenilato ciclase (eleva cAMP): toxina colérica, diftérica, pertussis, exotoxina A de P. aeruginosa e toxina termolábil de E. coli;
• Subunidade B: excelente adjuvante;
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Toxinas A-B Toxinas proteolíticas
• Clivam proteínas específicas do hospedeiro levando à manifestações características da doença;
• Toxina botulínica e toxina tetânica – atuam em neurotransmissores;– Botulínica: ingerida – paralisia flácida;
– Tetânica: feridas – paralisia espasmica;
• P. aeruginosa: toxinas que degradam matriz extracelular– Elastase: degrada fibras de elastina.
Toxinas formadoras de poros
• Levam à lise celular;
• Toxinas da família RTX (motivos repetitivos arginina [R] treonina [T]) – Gram-negativas secretam por T1SS;
– Leucotoxinas e hemolisinas;
Toxinas formadoras de poros
• Muitas Gram-positivas secretam citolisinas ativadas por sulfidril;
– A melhor caracterizada é a listeriolisina O, utilizada por Listeria monocytogenes para escapar do fagolisossomo;
Outras toxinas
• IgA-proteases ;
– Neisseria spp. e Haemophilus influenzae;
• Toxinas termo-estáveis que ativam guanilato ciclase(eleva níveis de cGMP);
– Enterotoxina termo-estável de E. coli enterotoxigênica;
• Toxinas que modificam o citoesqueleto;
– Rho GTPases (Clostridium difficile, Salmonella, Shigella);
E os vírus?
• Vacinas baseadas em peptídeos de superfície;
• As disponíveis são vacinas atenuadas replicantes ou inativadas;
– Preocupam pois podem propagar-se no organismo;
• Recombinação e origem de novos vírus;
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Vacinas virais
• Resposta de anticorpos IgM e IgG aglutinantes e neutralizantes;
– Extracelular;
• Resposta Th1 – células citotóxicas; NK e macrófagos;
– Intracelular;
• DNA de fita simples – TLR8;
• DNA de fita dupla – TLR3;
Desafios na produção de vacinas virais
• Dificuldade de produção;
• Curta vida de prateleira dos produtos;
• Imunidade curta;
• Necessidade de dezenas de antígenos para abranger a
diversidade antigênica viral;
• Laboratório nível três;
• Alumínio como adjuvante;
• Inativação incompleta no uso de formaldeído;
E os parasitas?
• Taenia solium – mais de 3m – Th2 IgE
Vacinas contra parasitas
Leishmania spp.
protozoário invade macrófagos
Plasmodium spp.
protozoário invade hepatócitos e
eritrócitos
Evasão do sistema imune
• Tegumento: barreira física contra anticorpos e células de defesa;
• Proteínas antioxidantes: expressam superóxidos dismutasesque convertem superóxido em H2O e O2;
• Proteínas do tegumento bloqueiam a formação do complexo de ataque à membrana;
Eosinófilos atraídos por IgE ligado à larva de Schistosoma mansoni
E os fungos?
• Possuem fatores de virulência semelhante aos bacterianos;
– A maioria das infecções ocorre em depressão imunológica;
• Destacam-se a produção de micotoxinas, como a aflatoxina de Aspergillus spp.
– Interfere na síntese de proteínas e seus metabólitos podem se intercalar no DNA – cancerígenos;
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Dúvidas...