100
Universidade Federal do Rio de Janeiro Faculdade de Letras Dissertação de Mestrado O processo tradutório e a construção do sujeito no discurso: estratégias de tradução de texto na área agrícola do espanhol para o português Por Duí Barroso Lima Farias Orientadora: Profª. Drª. Ângela Mª da Silva Corrêa Rio de Janeiro 2012

Universidade Federal do Rio de Janeiro - letras.ufrj.br · de texto na área agrícola do espanhol para o português Por Duí Barroso Lima Farias Orientadora: ... e construíram um

Embed Size (px)

Citation preview

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Faculdade de Letras

Dissertação de Mestrado

O processo tradutório e a construção do sujeito no discurso: estratégias de tradução

de texto na área agrícola do espanhol para o português

Por

Duí Barroso Lima Farias

Orientadora: Profª. Drª. Ângela Mª da Silva Corrêa

Rio de Janeiro

2012

Duí Barroso Lima Farias

O processo tradutório e a construção do sujeito no discurso: estratégias de tradução

de texto na área agrícola do espanhol para o português

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa

de Pós-Graduação em Letras Neolatinas, Faculdade

de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro,

como quesito para a obtenção do título de Mestre

em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos

Neolatinos – Opção: Língua Espanhola).

Orientadora: Profª. Drª. Angela Mª da Silva Corrêa.

Rio de Janeiro

2012

Duí Barroso Lima Farias

O processo tradutório e a construção do sujeito no discurso: estratégias de tradução

de texto na área agrícola do espanhol para o português

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Letras Neolatinas, Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro,

como quesito para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos

Linguísticos Neolatinos – Opção: Língua Espanhola), no âmbito do Convênio Minter

entre o Programa de Letras Neolatinas e a Universidade Federal de Roraima.

Orientadora: Profa Dra. Ângela Mª da Silva Corrêa.

Aprovado em:

____________________________________________________________ Profa. Dra. Angela Maria da Silva Corrêa – Orientadora

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

____________________________________________________________ Profa. Dra. Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

____________________________________________________________ Profa. Dra. Telma Cristina de Almeida Silva Pereira

Universidade Federal Fluminense – UFF

____________________________________________________________ Profa. Dra. Maria Aurora Consuelo Alfaro Lagorio

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ (suplente)

____________________________________________________________ Profa. Dra. Aurora Maria Soares Neiva

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ (suplente)

Rio de Janeiro Julho de 2012

É a tradução que abre a janela para deixar a luz entrar; que quebra a casca, a fim de podermos comer a polpa; que abre a cortina, a fim de podermos olhar o lugar mais sagrado; que remove a tampa do poço, a fim de podermos tirar a água...

John Milton

AGRADECIMENTOS

A Deus, meu porto seguro, por Seu amor incondicional e pelo dom da vida.

À Professora Doutora Angela Maria da Silva Corrêa, pela orientação preciosa,

constante incentivo e apoio para a elaboração desta dissertação.

A todos os professores do programa de Pós- graduação da Faculdade de

Letras da UFRJ, e em especial aos que ministraram as disciplinas no MINTER

UFRR/UFRJ em Letras Neolatinas.

Ao Reitor do Instituto Federal de Roraima e toda sua equipe de gestores e

professores, pelo apoio, incentivo e atenção às solicitações feitas ao longo de minha

pesquisa e ausências na Instituição.

Aos meus alunos do Curso de Letras e Literatura Hispânicas que

compreenderam a rotina de ter uma professora pesquisadora.

À professora Doutora Déborah Freitas, pelo meu batizado na vida da

pesquisa, pelo apoio e incentivo desde a graduação e discussões no PET LETRAS

que foram de suma importância para meu crescimento intelectual.

Aos meus seis informantes professores e alunos que aceitaram a fornecer

corpus para minha pesquisa.

A todos os amigos e familiares, pelo apoio e compreensão durante esta fase

muito importante de minha vida.

Aos colegas do Curso de Mestrado, pelo incentivo e auxílio durante nossa

caminhada juntos, em especial a Maria Francisca que sempre muito solícita se

dispôs em auxiliar.

Aos meus queridos pais Francisco e Vera, ao meu irmão Tauan, sua esposa

Rhosana e sobrinhos: Emily, Janaína, Ryan e João Lucca, pelo constante carinho,

crédito, admiração, amizade sincera, ensinamentos e apoio.

Aos meus avós José, Adélia e Vera pelo apoio e palavras positivas durante

esta caminhada acadêmica e pela confiança depositada em mim.

Ao meu esposo e companheiro Elson Farias, pelo amor, incentivo, por estar

comigo em cada momento dessa trajetória, por toda dedicação e motivação para

essa conquista.

A minha amada filha Emanuela Farias, dádiva preciosa em minha vida, pelo amor e carinho.

RESUMO

FARIAS, Duí Barroso Lima. O processo tradutório e a construção do sujeito no

discurso: estratégias de tradução de texto na área agrícola do espanhol para o

português. Dissertação (Mestrado em Letras Neolatinas) Faculdade de Letras,

Universidade Federal do Rio de Janeiro. Universidade Federal de Roraima

(MINTER).

Ao longo desta dissertação constatam-se as diferenças de comportamento de

três professores que são engenheiros agrônomos e de três estudantes que são

acadêmicos do Curso de Letras - Espanhol e Literatura Hispânica da mesma

instituição de ensino, localizada no Estado de Roraima, região de fronteira com a

Venezuela, diante de problemas encontrados ao traduzirem um texto específico da

área agrícola do espanhol para o português. Através do uso da introspecção como

instrumento de estudo do processo tradutório, correlacionam-se estratégias de

resolução de problemas, estratégias globais e locais a que recorrem estes tradutores

que são inexperientes na atividade tradutória. Também se observa o comportamento

e a imagem construída deste grupo de informantes no momento em que realiza a

tradução, a partir de uma abordagem discursiva instrumentalizada pela noção de

ethos discursivo (Maingueneau, 2005, 2008). O objetivo é observar se as estratégias

se repetem e como elas configuram a construção de um ethos para cada um deles,

considerando que cada grupo de informantes tem seu objetivo com a atividade

tradutória. Logo, os tradutores docentes construíram um texto mais claro para seus

alunos e durante a atividade revelaram um ethos de professor engenheiro

agrônomo, em contrapartida, os tradutores discentes elaboraram um texto mais

coeso e coerente, e construíram um ethos de aluno do curso de Letras- Espanhol.

Palavras-chave: Tradução do espanhol para o português. Situação de fronteira.

Estratégias. Processo tradutório. Comportamento do tradutor.

RESUMEN

A lo largo de este trabajo se comprueban las diferencias de comportamiento

de tres profesores que son ingenieros agrónomos y de tres estudiantes del curso

superior en Letras – Espanhol e Literatura Hispánica de la misma institución de

enseñanza, ubicada en el estado Roraima, región fronteriza con Venezuela, frente a

los problemas al traducir un texto especifico del área agrícola del español para el

portugués. A través del uso de la introspección como instrumento de estudio del

proceso traductor, se relacionan estrategias globales y locales a las cuales recurren

estos traductores que no son expertos en la actividad traductoria. También se

observa el comportamiento y la imagen construida de este grupo de informantes en

el momento en que se realiza la traducción, a partir de un abordaje discursivo

instrumentalizado por la noción de ethos discursivo (Maingueneau, 2005, 2008). El

objetivo es verificar si las estrategias se repiten y como se configuran en la

construcción de un ethos para cada uno de ellos, considerando que cada grupo de

informantes tiene su objetivo con la actividad traductoria. Luego, los profesores

traductores construyeron un texto más sencillo para sus alumnos y mostraron en su

discurso un ethos de ingeniero agrónomo. Por otro lado, los alumnos traductores

construyeron un texto más integrado y coherente, y mostraron en su discurso

durante la actividad de traducción un ethos de alumno del Curso de Letras- Español.

Palabras clave: Traducción del español para el portugués. Situación fronteriza.

Estrategias. Proceso traductorio. Comportamiento del traductor.

ABSTRACT

During this dissertation we can see the differences of behavior of the three

teachers who are agronomist engineers and the behavior of the three students from

Letters course – Spanish Language and Spanish Literature from the same teaching

institution, located in the State of Roraima, border region with Venezuela, considering

that one of them is placed in the country area and the other one is in the urban area

of the Roraima State, in front of problems about the translation of a specific country

zone text from Spanish into Portuguese. Through the use of the introspection as a

tool of study of the translation process, there is a correlation with strategies of the

resolution of the problems, global and local strategies to them these inexperienced

translators resort to. We notice the behavior and the built image of this group of

native speakers at the moment which they do the translation, starting of a

instrumental discursive approach influenced by the notion of discursive ethos

(MAINGUENEAU, 2005, 2008). The objective is to notice if the strategies repeat

each other and how they combine the composition of an ethos to each one of them

by considering which group of native speakers has its objective about the translation

activity. Therefore, the translators teachers built a clearer text for their students

during the activity and showed an ethos of teacher agronomist, however, translators

students developed a more cohesive and coherent text, and built an ethos of student

of the Letters-Spanish.

Key-words: Translation from Spanish into Portuguese. Border situation. Strategies.

Translation Process. Translator behavior.

ABREVIATURAS

QUADRO DE ABREVIATURAS UTILIZADAS NOS PROTOCOLOS VERBAIS

* itálico

Fala do elicitador/ pesquisador

[tipos]

Tudo o que é oralizado pelo tradutor

Negrito Texto produzido em português pelo tradutor e escrito, constituindo a primeira versão de sua tradução.

Texto tachado

Trecho do texto em português modificado pelo tradutor posteriormente

CAIXA ALTA

Leitura da palavra, frase e/ ou expressão na língua original ( no caso espanhol)

CAIXA ALTA

Re- leitura do texto traduzido

_____________

Longo período de leitura sem interrupções

...

Pausa

(???)

Oralização incompreensível/ inaudível

DEMAIS ABREVIATURAS

ELE Espanhol Língua Estrangeira PV Protocolo Verbal LP

Texto em língua de partida (espanhol)

TLC

Texto em língua de chegada (português)

TLO

Texto em língua de origem

TLT

Texto em língua de tradução

Consulta ao dicionário

Consulta ao dicionário On-Line

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Circuitos interno e externo que compõem o ato de linguagem 25 Figura 2 - Esquema comunicativo da tradução 29 Figura 3 - Processos discursivos do Ethos 33

LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Estratégias comunicativas e cognitivas 39

SUMÁRIO

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ....................................................... 13 2. TRADUÇÃO: UM CAMINHO A SER PERCORRIDO ................. 17 2.1. O PROCESSO DA LEITURA ...................................................... 17 2.2. SOBRE O PROCESSO TRADUTÁRIO ...................................... 20 2.2.1. O texto ..................................................................................... 20 2.2.2. O percurso da atividade tradutória .......................... 22 2.2.3. O lugar do sujeito na teoria discursiva .................. 24 2.2.4. Sobre a noção de contrato ........................................... 26 2.3. ABORDAGEM COMUNICATIVA E DISCURSIVA DA

TRADUÇÃO ................................................................................ 27 2.4. PAPÉIS DOS SUJEITOS NA TRADUÇÃO ................................ 29 3. O ETHOS, UMA ESTRATÉGIA DO DISCURSO ....................... 31 3.1. ESTRATÉGIAS DO DISCURSO ................................................. 35 4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................... 42 4.1. OS SUJEITOS DA PESQUISA ................................................... 42 4.1.1 A tarefa ........................................................................................ 45 4.1.2 A metodologia introspectiva ........................................................ 46 5. ANÁLISE .................................................................................... 48 5.1. ESTRATÉGIA GLOBAL .............................................................. 48 5.1.1. Tradutor Docente A .................................................................... 48 5.1.2. Tradutor Docente B .................................................................... 49 5.1.3. Tradutor Docente C .................................................................... 49 5.1.4. Tradutor Discente D ................................................................... 50 5.1.5. Tradutora Discente E ................................................................. 51 5.1.6. Tradutora Discente F ................................................................. 51 5.2. ESTRATÉGIAS LOCAIS ............................................................ 52 5.2.1. Estratégias de compreensão do TLP ......................................... 52 5.2.1.1. Tradutor Docente A .................................................................... 53 5.2.1.2. Tradutor Docente B .................................................................... 54 5.2.1.3. Tradutor Docente C .................................................................... 54 5.2.1.4. Tradutor Discente D ................................................................... 55 5.2.1.5. Tradutora Discente E ................................................................. 57 5.2.1.6. Tradutora Discente F ................................................................. 58 5.2.2. Estratégias de tradução do TLP ................................................. 59 5.2.2.1. Tradutor Docente A .................................................................... 59

5.2.2.2. Tradutor Docente B .................................................................... 60 5.2.2.3. Tradutor Docente C .................................................................... 60 5.2.2.4. Tradutor Discente D ................................................................... 61 5.2.2.5. Tradutora Discente E ................................................................ 62 5.2.2.6. Tradutora Discente F ................................................................. 62 5.2.3. Estratégias de Produção do TLC ................................................. 63 5.2.3.1. Tradutor Docente A ...................................................................... 63 5.2.3.2. Tradutor Docente B ……………………………….………………… 65 5.2.3.3. Tradutor Docente C ..................................................................... 65 5.2.3.4. Tradutor Discente D .................................................................... 65 5.2.3.5. Tradutora Discente E .................................................................. 66 5.2.3.6. Tradutora Discente F .................................................................. 68 5.2.4. Outras questões de ethos como estratégia do discurso .............. 68 5.2.4.1. Tradutor Docente A .................................................................... 68 5.2.4.2. Tradutora Discente D ................................................................... 69 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................... 72 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................... 76 8. ANEXOS ...................................................................................... 79

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A presente dissertação tem como ponto de partida a análise das estratégias

utilizadas no processo tradutório de textos técnicos da área agrícola no par

linguístico espanhol português. No tocante à tradução, entendemos que vem sendo

objeto de pesquisas e discussões, e ainda de críticas, ao longo dos séculos, e nesse

sentido o papel do tradutor está sempre em destaque. A tradução é uma habilidade,

um saber fazer, que, para quem traduz, consiste em saber percorrer o processo

tradutório, sendo capaz de resolver os problemas que se apresentam ao longo

desse processo. Assim, o conjunto de decisões conscientes e cuidadosamente

tomadas na resolução de problemas é o que chamamos de estratégias (Pagano;

Alves; Magalhães; 2010:19), que são utilizadas de diferentes maneiras por um

tradutor experiente e por um inexperiente no processo tradutório. Ao tentarmos

refletir sobre os mecanismos da tradução, estaremos lidando também com questões

fundamentais sobre a natureza da linguagem, pois traduzir implica ao mesmo tempo

um processo de compreensão e um processo de produção no âmbito da linguagem.

No espaço de interação de que participa o sujeito tradutor, com base na

abordagem comunicativa proposta por Corrêa (1991, 2005), buscamos subsídios

para entender o desempenho do tradutor dentro da totalidade deste processo, uma

vez que, de acordo com a autora, o tradutor desempenha vários papéis: o de

receptor do texto de partida, o de produtor e o de revisor do texto de chegada.

O interesse por esta pesquisa surgiu de observações em minha prática

profissional. Sou professora de língua espanhola numa Instituição Federal de

Ensino, mais especificamente numa escola com finalidade de formação técnica-

agrícola, implantada há quatro anos, onde os alunos estudam em regime integral no

período de quatro anos para adquirirem sua formação em técnico em agropecuária.

Esta escola fica isolada da cidade, numa região de campo e de acesso aos alunos

que residem nos municípios próximos ao sul do estado de Roraima [Cf. Anexo I].

Assim, desenvolvi a atividade de docência em aulas de língua espanhola de

setembro de 2009 a janeiro de 2011, já que na escola era a única especialista da

língua, pois a grande maioria dos docentes era de professores agrônomos que

ministravam as mais variadas disciplinas específicas do curso.

Diante disso, algumas vezes, alguns destes professores, ao planejarem suas

aulas, utilizavam artigos, textos descritivos, manuais de plantio, leitura de insumos

14

agrícolas em língua espanhola e buscavam ler e até traduzi-los para posteriormente

usá-los em sala de aula ou em suas explicações como base teórica. Daí, dentro

deste contexto, os professores solicitavam meu auxílio como especialista na língua

para que pudessem entender e até mesmo traduzir estes textos.

Com o passar do tempo, percebi que, dentro desta realidade vivenciada, nos

momentos em que eu estava presente colaborando com esses colegas, aconteciam

alguns fenômenos: dentro daquele contexto informal, às vezes estávamos com

objetivo de compreender uma palavra específica, um significado não encontrado nos

dicionários, as relações dentro do texto que pudéssemos adequar a um

entendimento global e coerente e que estes fatores poderiam ser mais bem

analisados. Assim, o que buscávamos era que chegasse ao aluno um texto coeso e

que tratasse de uma forma simples de expor uma técnica para cultivo, descrições de

procedimentos, características de algum produto para utilizar na plantação, vindo da

Venezuela, país fronteiriço do Estado de Roraima, e assim por diante. Ou melhor, os

professores utilizavam estratégias para chegarem ao objetivo, de elaborar um texto

traduzido e compreendido por eles para posteriormente poderem repassar para os

alunos, ou de forma escrita ou até mesmo oral.

Com base nisso, surgiu minha pesquisa e então decidi observar melhor este

grupo de professores (Agrônomos) durante a realização de uma atividade de

tradução e ainda, compará-los a um outro grupo, formado por alunos de graduação

do Curso de Licenciatura em Letras Espanhol e Literatura Hispânica do Instituto

Federal de Roraima, Campus Boa Vista, para verificar as diferenças quanto às

estratégias utilizadas na atividade tradutória e o que vinha à tona no momento em

que traduziam o mesmo texto comum à área agrícola. Este segundo grupo é

constituído por discentes do penúltimo semestre do Curso de Letras que possuem

um leque de conhecimentos acerca da língua espanhola. A ideia era observar as

estratégias e verificar como elas configuram a construção de um “ethos” para cada

um deles, considerando que cada grupo de informantes tem seu próprio objetivo

com a atividade tradutória.

Nossa hipótese é de que, enquanto os professores tinham o hábito de fazer

este tipo de atividade e a realizavam com o suporte e a ajuda de uma especialista,

no momento da experiência eles repetiriam o que habitualmente faziam. Já os

discentes do curso de Letras, mostrariam um outro comportamento, porque para

eles não escolheríamos um leitor prévio à tarefa, de forma que se pudesse ver se

15

eles concebiam um leitor possível para aquela tradução ou não, partindo do

pressuposto comunicativo de que, quando se elabora uma tradução, da mesma

forma que ocorre quando se redige um texto, o sujeito comunicante tem em mente

um determinado tipo de receptor e suas estratégias estariam subordinadas à

imagem desse receptor.

Assim, o presente trabalho tem por objetivo contribuir para a reflexão sobre as

estratégias utilizadas no ato tradutório para contornar os problemas encontrados que

interrompem o fluxo da atividade. Partimos do princípio de que os professores

possuem um conhecimento específico da área agrícola e adquiriram a língua

espanhola informalmente, e que desenvolvem algumas habilidades nesta língua

para que possam realizar a atividade de tradução proposta e, por outro lado, os

alunos têm o hábito de ler textos de variados gêneros textuais na língua em questão

e podem acionar variados conhecimentos: textual, lexical, morfológico e estrutural

para realizar a tarefa proposta.

Para efeito da presente pesquisa, foi preciso escolher um texto que

apresentasse uma estrutura predominantemente descritiva e informativa, por

acreditar que esse modo de organização textual fosse mais familiar aos professores

e aos alunos de graduação. A partir desse texto, foi feita a coleta de dados. Após o

estudo de algumas técnicas introspectivas, optei pela técnica do protocolo verbal. Na

verdade, a técnica escolhida é uma adaptação do protocolo verbal intitulada

protocolo de pausa. Tal técnica consiste em solicitar aos sujeitos que verbalizem

cada vez que tiverem seu ato tradutório interrompido, explicitando o motivo da

interrupção e tentando buscar soluções para resolver os problemas, nos permitindo

ter acesso a alguns dos processos cognitivos envolvidos na atividade de tradução.

Para coleta de dados através desta técnica, foi necessário gravar a atividade

tradutória e, antes de cada seção de gravações, realizei perguntas através de

questionários aos informantes, a fim de conhecer o perfil e um pouco da experiência

de cada um ligada à tradução. O texto utilizado para a atividade de leitura e tradução

foi retirado de um site específico da área agrícola que tinha como tema “Como armar

tu propria huerta en casa”. De maneira didática e informativa, aborda passos para

uma pessoa fazer a horta em sua casa e as hortaliças que se adaptam a esse

processo, bem como as associações de outros legumes e verduras.

Com o objetivo de apresentar e discutir as questões suscitadas pelas

estratégias e como o tradutor se constrói no discurso no momento que traduz, o

16

presente estudo está organizado em quatro capítulos, além da Introdução, da seção

de Considerações Finais e dos Anexos. Inicio minha revisão da literatura no capítulo

2, onde busco reflexões sobre leitura e textos que são atividades iniciais da

tradução, a partir de conceitos da Linguística Aplicada, e posteriormente, busco

entender o processo tradutório através dos sujeitos da linguagem que participam da

teoria do discurso com base em Charaudeau (1983, 2001, 2009), bem como, alguns

conceitos de contrato de comunicação, e abordagem comunicativa da tradução

proposta por Corrêa (1991, 2005).

No capítulo 3, discuto a noção de ethos discursivo, seguindo, principalmente,

as propostas de Maingueneau (2005, 2008), e as definições e classificações das

estratégias envolvidas na atividade tradutória.

No capítulo 4, apresento os procedimentos metodológicos da pesquisa,

descrevendo a composição e os recortes para o objeto de análise. Reservo ao

capítulo 5 a análise dos dados à luz dos conceitos discutidos nesta pesquisa.

17

2. TRADUÇÃO: UM CAMINHO A SER PERCORRIDO

Neste capítulo, serão discutidos os conceitos teóricos que fundamentam a

pesquisa voltada ao estudo do processo da tradução que tem como fase inicial a

leitura e compreensão do texto original. Durante a atividade tradutória, entram em

cena os sujeitos da linguagem, os contratos estabelecidos entre estes sujeitos e as

estratégias utilizadas por eles para resolverem problemas. Enfatiza-se ainda, a

abordagem comunicativa da tradução considerando o texto traduzido como

resultado de todo um processo discursivo dentro de um contrato tradutório.

2.1. O PROCESSO DE LEITURA

A definição do que vem a ser o ato da leitura não pode ser dada de forma

única, definitiva. Isso porque dependerá do enfoque que será dado a ela, isto é, se o

enfoque é linguístico, psicológico, social, fenomenológico, dentre outros (cf. Leffa,

1996).

Segundo este autor, a leitura é um processo de representação. Essa ideia

significa que a leitura está essencialmente ligada ao sentido da visão. Sendo assim,

ler é olhar para algo e ver outra coisa que não seja apenas aquela que está sendo

percebida pelos olhos. O que eles captam são imagens icônicas, representação

simbólica. O que é visto são acontecimentos, fatos, realização.

Ler textos escritos não é uma atividade muito simples. Primeiro, pelo fato de

ser uma habilidade aprendida e não adquirida, ao contrário da linguagem, que é

adquirida conforme indicações de que o homem seja geneticamente pré-programado

para isso (cf. Lyons, 1987: 26). Segundo, porque envolve uma série de problemas

culturais, ideológicos, filosóficos e semânticos. A leitura deve ser entendida, então,

como um processo ativo e dinâmico, pois o “texto tem um potencial de evocar

significado, mas não tem significado em si mesmo” (MOOR et al., 2001, p. 160), o

texto e o leitor são duas entidades físicas necessárias para que o processo possa

ocorrer. Todavia, é a interação entre o texto e o leitor que constitui realmente a

leitura.

Acrescenta-se, também, que o contexto social é um outro elemento a ser

considerado em uma teoria geral sobre leitura, visto que a leitura é uma prática

social (MOITA LOPES, 1996; KLEIMAN, 1989; SOARES, 2000), não apenas porque

18

é realizada por meio da interação entre leitor e texto, mas porque ambos estão

inseridos em um dado momento socio-histórico que determina a linguagem e o

sentido. Podemos perceber, portanto, que a leitura é muito mais do que a simples

ação de apropriação de significado: ela é uma atividade de recriação, de

reconstrução de ideias, pois, de acordo com Kleiman (2004, p. 80), a leitura

“pressupõe a figura do autor presente no texto através de marcas formais que atuam

como pistas para a reconstrução do caminho que ele percorre durante a produção

do texto”.

(...) leitura implica uma atividade de procura pelo leitor, no seu passado de

lembranças e conhecimentos, daqueles que são relevantes à compreensão

de um texto, que fornece pistas e sugere caminhos, mas que certamente

não explicita tudo o que seria possível explicitar. (Kleiman: 1989, p. 27).

Assim, a leitura é um processo interativo, pois resulta da interação de

diversos níveis de conhecimento: o conhecimento linguístico, o conhecimento textual

e o conhecimento de mundo. O leitor constrói o sentido do texto a partir da ativação

do conhecimento prévio, aquilo que ele já sabe, o conhecimento adquirido ao longo

de sua vida, que está registrado na memória sendo o resultado de todas as suas

experiências e saberes. Daí, a leitura passa a ser um processo interativo dos

conhecimentos linguístico, textual e de mundo. De acordo com a autora (op.cit. p.

14) “O conhecimento linguístico desempenha um papel central no processamento do

texto.” Dentro desta ideia, quando é lido um texto, a mente é ativada de modo

instantâneo para construir significados a partir de agrupamentos de unidades

lexicais e gramaticais, de modo que permitam a compreensão. O conhecimento

textual faz parte do conhecimento prévio e desempenha um papel importante, pois

consiste na compreensão da estrutura do texto, e a partir do momento em que é

interpretado, o leitor passa a tecer as redes coesivas e a construir um sentido para a

leitura. O outro tipo de conhecimento é o de mundo ou enciclopédico que resulta das

vivências socioculturais que muito acrescentam ao processo de compreensão de um

texto.

A leitura é uma atividade altamente complexa de produção de sentidos que se

realiza, evidentemente, com base nos elementos linguísticos presentes na superfície

textual e na sua forma de organização. Corrêa e Cunha (2006) no capítulo

“Trabalhando leitura em sala de aula” afirmam que “muitas dificuldades enfrentadas

19

pelos alunos têm a ver com hábito de considerar a leitura como uma atividade de

decodificação da escrita, sem considerar a questão da comunicação.” Assim, de

acordo com Kleiman (2004: 16), a atividade prazerosa de leitura se tornou “uma

atividade árida e tortuosa de decifração de palavras”.

A concepção teórica na qual é baseado este trabalho é a de leitura interativa,

onde há uma interação entre o leitor e o texto, ou seja, o leitor age sobre o texto e o

texto age sobre o leitor. Nessa perspectiva, o sentido de um texto é construído na

interação texto- sujeito, a leitura é uma atividade interativa de produção de sentidos.

A concepção de leitura interativa parte do pressuposto de que a leitura não é

uma simples atividade de decodificação de itens linguísticos, mas, sim, um processo

dinâmico de construção de sentidos, fundamentado na integração do conhecimento

prévio que o leitor traz consigo com as formas linguísticas presentes no texto. Nessa

perspectiva, o leitor deixa de ser um mero receptor de mensagens e assume o papel

de coautor, já que a construção de sentidos na leitura ocorre na medida em que o

leitor, para compreender a ideia do texto, deve desempenhar uma função ativa no

processo, estabelecendo relações entre o seu conhecimento anterior e o

conhecimento construído a partir da leitura.

Dentro do processo de leitura, o leitor procura pistas para entender o texto, e

a partir de então formula suas hipóteses e depois as comprova ou não de acordo

com entendimento do que foi lido. É, por isso, que se acentua a interação com o

texto: entre o que o leitor já sabe e o que precisa saber, e ainda mais o que está ali.

Logo, é bom que se tenha mobilidade de reformular as ideias em função das pistas

presentes no texto, pois, para cada leitura está se construindo um novo texto.

Com o passar do tempo e a experiência adquirida pelo leitor, o mesmo passa

a utilizar estratégias de leitura que são operações regulares para abordar um texto.

Dentro dessa temática Kleiman (1989: 50), propõe que estratégias cognitivas são

aquelas operações inconscientes do leitor, que ele utiliza para atingir algum objetivo

de leitura; metacognitivas são as operações realizadas a partir do momento em que

o leitor passa a refletir sobre o seu processo de compreensão e que tipos de

aspectos serão utilizados para compreender o texto. Para a autora, é uma estratégia

de controle e regulação do próprio conhecimento a partir de decisões tomadas após

avaliação de nossa capacidade e das facetas envolvidas na resolução da tarefa. Tendo como ponto de partida a leitura como parte do desenvolvimento da

atividade tradutória, foco de nosso estudo, é possível verificar durante o processo

20

tradutório dois tipos de análises: a macrotextual e a microtextual. Na análise

macrotextual, o leitor traz seu conhecimento prévio de mundo para ajudá-lo a

processar cada parte do texto e fazer hipóteses sobre seu desenvolvimento. Na

microtextual, o leitor analisa de perto os itens do texto, decodificando-os para

construir um sentido global.

Assim, ao se deparar com um texto com o léxico conhecido, pode ser possível

que o leitor estabeleça relações entre as palavras e os elementos significativos.

Segundo Coracini (2002: 86), durante a leitura de um texto em língua estrangeira, os

leitores tendem a se apoiar sobremaneira apenas nas palavras conhecidas, que

podem ser cognatas, ou termos já aprendidos e assimilados, na tentativa de

compreensão do texto. Buscam, com isso, colocar o texto dentro de um contexto

para construção de significados.

2.2. SOBRE O PROCESSO TRADUTÓRIO

2.2.1. O TEXTO

Kleiman (2004) ressalta que o texto é um objeto complexo, ou seja, “trata-se

da dimensão interacional entre autor e leitor, a partir de uma base textual sobre a

qual o leitor se apoia, que se constitui na materialização de significados e intenções

de um dos interagentes à distância, via o texto escrito”. Sob esta perspectiva nossos

conhecimentos prévios (conhecimentos adquiridos ao longo da vida que ficam

armazenados na memória) englobam os chamados: conhecimentos linguísticos

(conhecimentos relacionados à gramática, à língua, ao vocabulário da língua nativa

que cada indivíduo tem); conhecimento textual (conhecimentos relacionados à

classificação do texto, se ele é narrativo, descritivo, argumentativo, entre outros)

esses dois aspectos são importantes porque segundo a autora, “quanto mais

conhecimento textual o leitor tiver, quanto maior for sua exposição a todo tipo de

texto, mais fácil será sua compreensão”. Assim, a leitura implica uma atividade de

busca do leitor, no seu passado de lembranças e conhecimentos e sugere

caminhos, mas que certamente não explicita tudo o que seria possível. A atividade

de leitura possui dois princípios fundamentais: a coerência e a formulação de

hipóteses. O princípio da coerência está ligado ao engajamento do leitor a partir de

seus objetivos e propósitos. Estabelecer objetivos na leitura é uma estratégia

metacognitiva, ou seja, uma estratégia de controle do próprio conhecimento. A

21

autora enfatiza que o leitor no ato da leitura faz uso do processamento visual, para a

apreensão rápida da informação, para que assim alcance o objetivo pretendido e

perceba, adivinhe palavras para a formulação de hipóteses.

Sabe-se que a atividade de tradução envolve como atividade inicial a leitura

prévia de um texto em uma língua de partida, e que no decorrer do ato tradutório é

construído um novo texto em uma língua de chegada.

Todo texto é único e é, ao mesmo tempo, a tradução de outro texto.

Nenhum texto é completamente original porque a própria língua, em sua

essência, já é uma tradução: em primeiro lugar, do mundo não-verbal e, em

segundo, porque todo signo e toda frase é a tradução de outro signo e outra

frase. Entretanto, esse argumento pode ser modificado sem perder sua

validade: todos os textos são originais porque toda tradução é diferente.

Toda tradução é, até certo ponto, uma criação, e, como tal, constitui um

texto único. (Octavio Paz, apud ARROJO, 2007, p.11).

Este pensamento de Octavio Paz nos mostra que não existe um texto original

e sim vários porque a cada atividade tradutória criamos um novo texto. Um tradutor

desempenha a função de um sujeito que age sobre o texto, e dentro de sua

atividade tradutória vem à tona a leitura, as reflexões, a ativação de seus

conhecimentos, daí que o mesmo texto será interpretado por cada um de maneira

diferente, sendo sempre um “original”.

O texto direciona o leitor na busca do sentido, pois o processo de

compreensão vai suscitar a construção de um novo texto pelo leitor. O sentido do

texto é construído, portanto, a cada leitura que se realiza. Nessa direção, situa-se

Arrojo (2007:17), ao questionar a estabilidade do texto original e a própria autoridade

do autor. Diz ela que o autor "pode visitar o seu texto como convidado e não como

pai absoluto que possa controlar os destinos de sua prole". Considerando a leitura

como atividade produtora, através da qual o texto se realiza e atualiza, a autora

atribui ao texto a imagem de um palimpsesto: "O texto que se apaga em cada

comunidade cultural e em cada época para dar lugar a outra escritura do mesmo

texto"

São válidas as palavras de Eco (1984), em seu livro Conceito de Texto:

22

O texto é um tecido cheio de lacunas, repleto de não-ditos, e todavia esses

não-ditos são de tal modo não-ditos que ao leitor é dada a possibilidade de

colaborar, para preencher esses não-ditos.

Com base nestas palavras reforça–se a ideia de que o texto sozinho não é

responsável pela construção do sentido, apontando para a figura do leitor, que

participa de modo fundamental do processo de compreensão, quando colabora para

preencher as lacunas deixadas pelo texto. E ainda, a partir de um viés da tradução,

estas lacunas serão preenchidas com ativação de conhecimentos e objetivos do

tradutor que antes de tudo é um leitor de um texto em uma língua, que passará para

outra mantendo uma interpretação e uma adequação das palavras num determinado

contexto. Passaremos a entender que percurso este sujeito elabora quando

desenvolve o ato tradutório.

2.2.2. O PERCURSO DA ATIVIDADE TRADUTÓRIA

É a tradução que abre a janela para deixar a luz entrar; que quebra a casca,

a fim de podermos comer a polpa; que abre a cortina, a fim de podermos

olhar o lugar mais sagrado; que remove a tampa do poço a fim de podermos

tirar a água...

John Milton1

A tradução vem sendo objeto de pesquisas, críticas e discussões

acadêmicas, e nesse viés o papel do tradutor merece destaque no momento em que

realiza sua atividade. Logo, tem-se em mente que traduzir é passar um texto de uma

língua para outra, mantendo a fidelidade ao que o autor quis dizer, as relações com

o texto original e suas várias interpretações. Nesse caso, sabemos que o texto

traduzido será diferente do original apesar de ser produzido com base nele, pois

cada um que traduz no momento em que reproduz a voz do autor sob sua visão, traz

à tona diversos conhecimentos, pensamentos e escolhas próprias. No sentido formal

da palavra, traduzir é ler, embora ler não seja necessariamente traduzir. Pois a

1 Cf. MILTON, John. (1998) pág. 2

23

tradução implica a construção efetiva de um texto, ou seja, o ato de colocar no papel

aquilo que se interpretou a partir do objetivo daquela leitura.

Toury (1980) em seu artigo In search of a theory of translation ressalta que o

processo de tradução é diferente de outros processos semióticos em virtude da

dupla natureza da entidade resultante, ou seja, “a entidade resultante de qualquer

outra operação de transferência difira da entidade inicial do mesmo processo” (p.12),

sendo que ambas entidades têm também que possuir algo em comum: o que será

transferido e que ele denomina “invariante”. Logo, o autor denomina esta invariante

na relação estabelecida entre dois textos: adequação, equivalência,

correspondência. Outro ponto que também é importante levantar é quando, por

exemplo, estar diante da atividade tradutória comparar os textos para “verificar se a

tradução está situada em um ponto mais próximo do “polo-fonte” (“adequação”) ou

do “polo-meta” (“aceitação”).

Na perspectiva de Jakobson2, o significado de um signo lingüístico não é mais

que sua tradução por um outro signo que lhe pode ser substituído, melhor dizendo,

um signo que seja desenvolvido de modo mais completo. Para tanto, propôs três

espécies de tradução e sua classificação:

1. A tradução intralingual ou reformulação que consiste na interpretação

dos signos verbais por meio de outros.

2. A tradução interlingual ou tradução propriamente dita que consiste na

interpretação destes signos verbais por meio de alguma outra língua.

3. A tradução inter-semiótica ou transmutação que consiste na

interpretação destes signos por meio de sistemas de signos não

verbais.

Eco (2007: 17) nos propõe a definição de que:

“traduzir quer dizer entender o sistema interno de uma língua, a estrutura de

um texto dado nessa língua e construir um duplo sistema textual que,

submetido a uma certa discrição, possa produzir efeitos análogos no leitor,

tanto no plano semântico e sintático, quanto nos planos estilístico, métrico,

fono-simbólico, e quanto aos efeitos passionais para os quais tendia o texto

fonte.”

2 Cf. JAKOBSON, Roman. 1999 (pág.64)

24

Assim, significa dizer que toda tradução apresenta margens de infidelidade

em relação a um núcleo de suposta fidelidade, mas que a decisão depende dos

objetivos que o tradutor se coloca. E dentro deste contexto é válido ressaltar que a

fidelidade ao texto traduzido tem a ver com a concepção de que a tradução é uma

das formas de interpretação no momento em que o sujeito encontra a intenção do

texto em relação à língua em que é expresso.

A concepção discursiva da tradução (Corrêa, 1991 e 2007; Delisle, 1984),

aborda a existência de várias traduções fiéis e não somente uma, pois o tradutor é

inicialmente o leitor de um texto de partida que, no caso de nosso trabalho, é em

espanhol, sendo que sua tradução depende da leitura e interpretação que faz deste

texto.

Considerando esta abordagem da tradução pretendemos entender, mediante

a observação do comportamento tradutório dos informantes, como um texto de uma

área específica (agrícola) é traduzido por tradutores inexperientes para o português

mantendo um contrato comunicativo entre o Texto de Partida (que passarei a

chamar TLP) em relação ao Texto de Chegada ( que passarei a chamar TLC).

2.2.3. O LUGAR DO SUJEITO NA TEORIA DISCURSIVA

A linguagem é própria do homem. Desde a antiguidade que os filósofos

repetem o que vem sendo confirmado pelas ciências sociais através de

suas análises e experimentos. É a linguagem que permite ao homem

pensar e agir. (Charaudeau, 2009: 7).

Nesta concepção, a linguagem é constantemente construída dentro de uma

sociedade através das práticas sociais, culturais, linguísticas, vivenciadas dentro de

situações de comunicação. Trata-se de um sistema complexo no qual vários

elementos se relacionam para que produzam sentido. Assim, durante estas trocas

no âmbito da linguagem, participam sujeitos que, de acordo com o lugar em que se

encontram, desempenham uma função.

Charaudeau (2009:52) considera o sujeito como o lugar de produção da

significação linguageira, é um lugar de produção/ interpretação da significação. De

acordo com o lugar que ele ocupa, são denominados como protagonistas (sujeito

25

enunciador e sujeito destinatário) e como parceiros (sujeitos comunicantes e

interpretantes). O ato de linguagem e os sujeitos serão assim representados:

Figura 1: Nesta figura podemos observar os circuitos interno e externo que compõem o ato de

linguagem3.

Em relação ao discurso, Corrêa (1991: 9) retoma em sua tese, as relações

existentes entre os participantes de um ato de comunicação. Entende-se então o ato

de linguagem como o lugar de encontro imaginário entre o processo de produção e

interpretação da linguagem que enfoca quatro sujeitos:

O Sujeito Comunicante produz uma mensagem e uma imagem de um Sujeito

Destinatário que pode ser ou não a mesma que o Tu interpretante produz de si. O

Sujeito Interpretante recebe o discurso do locutor (do Sujeito Comunicante), o

interpreta e manifesta sua opinião sobre o que foi dito. E o Sujeito Enunciador é a

imagem que o Tu interpretante faz sobre o sujeito comunicante, a partir do dizer

produzido por este último, sendo, numa outra perspectiva, a imagem que o Eu

Comunicante produz de si ao assumir a palavra.

Assim, a encenação do ato de linguagem resulta da combinação do Fazer e

do Dizer. No circuito externo, encontram-se dois sujeitos sociais: Eu comunicante –

responsável pela produção do discurso e Tu interpretante – responsável pela

interpretação deste discurso. No circuito interno, encontram-se dois sujeitos 3 Este esquema é a reprodução de que se encontra em: CHARADEAU, Patrick. Linguagem e

Discurso: modos de organização. São Paulo. Contexto, 2009. Pág.52.

26

discursivos: Eu enunciador – representa a imagem construída de si próprio e que o

outro possui sobre ele e Tu destinatário– representa a imagem que o emissor faz

sobre o Tu. Em relação ao esquema percebemos que, quando se trata de atos de

linguagem integrantes do texto escrito, tanto o autor quanto o leitor desempenham

papel fundamental no discurso.

2.4. SOBRE A NOÇÃO DE CONTRATO

Esta noção é importante para estabelecer as relações entre os sujeitos no ato

da linguagem no interior de uma situação de comunicação, na qual o sujeito

comunicante (EUc) fará o uso de contratos e estratégias (Charaudeau: 2009:56 ). A

noção de contrato, central na teoria discursiva, pressupõe que os indivíduos

pertencentes a um mesmo corpo de práticas sociais estejam suscetíveis de chegar a

um acordo sobre as representações linguageiras destas práticas. E após

estabelecer um contrato, este sujeito utiliza estratégias discursivas para organizar,

perceber, persuadir o sujeito interpretante. Assim, o EUc espera ser compreendido

pelo TUi ao traçar estratégias em seu processo de comunicação.

Conforme este autor, todo ato de linguagem realiza-se dentro de um tipo

específico de relação contratual, implicitamente reconhecido pelos sujeitos, e que

define, por um lado, aspectos ligados ao plano situacional, a identidade dos

parceiros, seus objetivos, o assunto de que falam, em que circunstâncias materiais

e, por outro, aspectos relativos ao plano comunicacional e discursivo, as maneiras

de dizer e as estratégias discursivas pertinentes.

Quando se pensa no contrato de comunicação subjacente à atividade que

pretendemos analisar, esperamos que os sujeitos (professores) possuam e

demonstrem um conhecimento e uma identidade profissional específica da área, que

esse participante tenha como objetivo transmitir seus conhecimentos aos sujeitos

aos quais se dirige para atingir seus objetivos didáticos, que é um texto traduzido

para ser utilizado em sala pelos seus alunos e que este seja compreendido. Agora,

quando se trata do outro grupo, que são os alunos de graduação, este contrato já

passa a ser estabelecido de uma outra forma, pois este grupo traduz um texto que

foi solicitado sem que tenha sido explicitado um público, e deverá utilizar outros tipos

de conhecimento ligados a suas experiências pessoais.

27

Os contratos de comunicação funcionam como parâmetros, expectativas

compartilhadas e mais ou menos institucionalizadas sobre o modo de funcionamento

das situações de comunicação e sobre os discursos prováveis em cada tipo de

situação. É importante ressaltar que essas expectativas referem-se,

simultaneamente, às condições de produção e ao discurso produzido, ou seja, ao

conjunto de componentes situacionais e linguísticos. Este contrato se define através

da identidade dos sujeitos, objetivos, saberes pertinentes, circunstâncias materiais

apropriadas para se produzir cada tipo de discurso (narrativo, argumentativo,

persuasivo, descritivo, com um conjunto ou outro de recursos estilísticos, mais ou

menos formal, etc.) e, inversamente, que tipo de discurso é adequado para que

condições.

Assim, para que esse contrato se estabeleça, é necessário que o sujeito

comunicante tenha seu direito de fala reconhecido pelo sujeito interpretante, e esse

reconhecimento é conquistado pelo sujeito comunicante na medida em que ele

consegue apresentar sua identidade, e sua motivação para falar de uma forma que

possa ser considerada pertinente e adequada em relação às representações que o

sujeito destinatário faz do mundo, e legítima no sentido de que o tema e a motivação

de sua fala sejam vistos como adequados em relação a sua identidade individual e

coletiva.

2.3. ABORDAGEM COMUNICATIVA E DISCURSIVA DA TRADUÇÃO

Na abordagem comunicativa da tradução4 considera-se o texto traduzido

como resultado de todo um processo discursivo que põe em jogo contratos e

estratégias. No momento da tradução, o tradutor participa de um contrato de

comunicação. Há um momento em que ele assume o papel de leitor, e em outro, o

papel de sujeito comunicante, e dentro deste processo transita por um espaço

imaginário, construído entre a “sua” língua (língua materna) e a língua do outro

(segunda língua ou língua estrangeira). Assim, este tradutor assume a posição de

mediador entre duas línguas, duas culturas e duas situações de comunicação.

Corrêa (2007) em seu artigo “Uma abordagem discursiva da tradução”5 afirma

que ao ler um texto assume-se uma função dentro de um contrato comunicativo.

4 Cf. CORRÊA, Ângela M.S. (2005) – pág . 221 - 229. 5 Cf. CORRÊA, Ângela M. S. (2007) – pág. 1 – 8.

28

Assim, qualquer um de nós ao ler um texto, assume imediatamente o papel

de sujeito interpretante, daí dizer que todo ato de linguagem, quer para a

instância de produção, quer para a instância de interpretação, é

sobredeterminado por um contrato de comunicativo.6

Assim sendo, passamos a criar expectativas correspondentes às relações

interpessoais que são interpretadas, ou seja, o reconhecimento entre o sujeito

interpretante e seus correspondentes determinam diferentes “projetos de leitura” que

o farão recorrer a diferentes estratégias comunicativas. Por isso, esta primeira fase é

chamada de interpretativa, pois a autora afirma ainda que “contrariamente à crença

dos aprendizes de língua estrangeira de que para se compreender um texto é

necessário traduzi-lo, cabe afirmar que para se traduzir um texto é necessário, antes

de mais nada, compreendê-lo” (Corrêa, 2007: 2).

A segunda fase deste processo é a produção do texto em língua de chegada.

Neste processo, o sujeito assume o papel de mediador de um texto que será

traduzido, onde o mesmo está ligado a dois diferentes contratos: o momento da

leitura e o da escrita, que após serem realizados, tem-se como produto um texto

interpretado e um novo texto produzido que tenha sentido. Logo, “os interpretantes

do TLC esperam que este mantenha uma relação de equivalência semântica,

pragmática e sociocultural com TLP”. (Ibidem).

É importante salientar, ainda, que dentro deste contrato tradutório, existe

ainda um contrato de fidelidade, onde existem ligações estabelecidas entre o autor e

o tradutor na produção deste texto. Corrêa (1991: 38-47), em sua tese de doutorado,

defende que o tradutor atua não apenas como Sujeito Interpretante, mas também

como sujeito analisante, onde seu compromisso vai além da leitura, pois necessita

também de outros dados para relacionar e analisar o texto, a ativação de outros

conhecimentos: histórico, social, econômico, cultural.

No momento em que é desenvolvida a atividade de tradução, logo vem à

mente a noção de passar um texto de uma língua para outra. Assim, o tradutor é

inicialmente o leitor do texto em língua de partida, e quase ao mesmo tempo, o

produtor de um texto em língua de chegada. Assim, Corrêa (2005) propõe uma

definição mais ampla que integra a diferença entre as línguas e o objetivo da

6 Ibdem.pág. 3

29

tradução: “traduzir é passar um texto de uma língua para outra, procurando manter

no TLC o mesmo sentido do TLP”.

2.4. PAPÉIS DOS SUJEITOS NA TRADUÇÃO

Dentro do processo de comunicação, os papéis dos sujeitos passam a ser

definidos pelo ato de linguagem. Abaixo, temos uma relação estabelecida entre o

Sujeito – comunicante 1 (o autor do texto em língua original), e um Leitor 2

mediatizada pelo texto traduzido.

Esquema comunicativo da tradução: Fazer situacional 1 Fazer situacional 2 Dizer 1 Dizer 2 TLO TLT SC-1 Leitor 1 = SC-2 Leitor 2 Eu e-1 Tu d-1 Eue-2 Tu d-2 Relação Contratual Relação Contratual Contrato tradutório

Figura 2 - Essa imagem demonstra o duplo ato comunicativo no qual o tradutor está inserido durante o processo tradutório 7

O esquema comunicativo da tradução proposto acima, é descrito em Corrêa

(2003: 222): De um lado, temos a representação do ato de linguagem em que o tradutor

assume o papel de Leitor- 1 e de outro, o ato de linguagem simultâneo em que o

tradutor assume o papel de Sujeito Comunicante-2, produzindo um novo texto

destinado a outros leitores, que na maioria das vezes não foram previstos pelo

SC-1.

7 Este esquema é a reprodução do que se encontra em: Corrêa, A. M. S. (2003) ”Uma abordagem comunicativa da tradução”, que retoma, com ligeiras modificações, o de Corrêa, A. M. S. (1991), em sua Tese de Doutorado.

30

Nesta concepção, o papel do tradutor é mediar culturas, línguas e situações

de comunicação.

No tocante à presente pesquisa, o professor de agronomia, que é tradutor

inexperiente, assume o papel de leitor de um texto técnico que logo após será

utilizado em sala de aula, e paralelamente assume o papel de sujeito comunicante

quando produz um texto para seus alunos. E em contrapartida, o aluno do curso de

graduação, também tradutor inexperiente, participa de um ato tradutório para o qual

não foi identificado antecipadamente seu possível leitor.

No momento em que o sujeito comunicante, representado pelo professor

Engenheiro Agrônomo e pelo aluno de Licenciatura em Letras- Espanhol, traduz do

espanhol para o português um texto da área técnica agrícola, são levantadas

algumas dúvidas e perguntas que ele terá que responder, ou com base em seu

conhecimento prévio, linguístico e cultural ou até mesmo buscando mecanismos fora

do texto, através de pesquisas, dicionários dentre outros, em função de objetivos

que pretende alcançar e do papel que assume no contrato tradutório que lhe é

proposto.

31

3. O ETHOS, UMA ESTRATÉGIA DO DISCURSO

Com o objetivo de observar e refletir sobre as práticas discursivas e imagem

que os tradutores constroem na atividade proposta de tradução, temos como base,

neste capítulo, a discussão da noção de ethos, para depois passar ao estudo das

estratégias discursivas e suas relações, estabelecendo qual é o papel atribuído a si

e o lugar em que o sujeito se coloca na situação de comunicação.

Ethos- termo emprestado da retórica antiga, o ethos (em grego

personagem) designa a imagem de si que o locutor constrói em seu

discurso para exercer uma influência sobre seu alocutário. Essa noção foi

retomada em ciências da linguagem, e, principalmente em análise do

discurso, em que se refere às modalidades verbais da apresentação de si

na interação verbal. (Ruth Amossy)8

Conforme Amossy (2011, p. 9). “Todo ato de tomar a palavra implica a

construção de uma imagem de si.” Com base na visão da autora, a imagem que o

sujeito constrói ao falar é fundamental na construção discursiva. O sujeito neste

sentido pode valer-se de um universo de crenças e conhecimentos, além dos

recursos linguísticos a que tem acesso. Dessa maneira, se consideramos a

existência de uma imagem anterior ao discurso e se, durante o ato de linguagem, o

sujeito é avaliado pelo outro em relação ao que diz e ao que é, os conhecimentos

prévios e os estereótipos que são frutos das representações sociais contribuem de

forma decisiva na construção dessa imagem. Isto porque ela é tomada segundo os

modelos culturais, segundo o estoque de imagens de uma sociedade dada.

Assim, não é necessário que o locutor faça seu autorretrato e nem fale de si:

através de sua competência linguística constrói sua própria imagem, pois no

momento do discurso, lançam-se pistas acerca desta imagem: seu estilo, sua visão

de mundo, seu conhecimento acerca de determinados assuntos, dentre outros, que

permitirão aos ouvintes realizarem a construção da imagem do enunciador. Desse

modo, não podemos dissociar a figura do enunciador e de seu coenunciador do

meio institucional em que está inserido, pois não basta aos docentes e discentes

8 Trata-se da parte inicial do verbete sobre o “ethos”, de autoria de Ruth Amossy, que integra o Dicionário de Análise do Discurso (CHARAUDEAU, Patrick & MAINGUENEAU, Dominique. 2008. Pág.220).

32

construírem uma representação de si, é preciso que construam uma representação

que se adeque à posição que ocupam.

O termo ethos vem do grego e significa “personagem”. Aristóteles, um dos

primeiros a usar o termo, entende-o como sendo a imagem de si que o locutor

constrói em seu discurso para exercer uma influência sobre seu alocutário

(destinatário, co-enunciador). Maingueneau (2008: 13) afirma que

escrevendo sua Retórica, Aristóteles pretendia apresentar uma techné cujo

objetivo não é examinar o que é persuasivo para tal ou qual indivíduo, mas

para tal ou qual tipo de indivíduos. A prova pelo ethos consiste em causar

boa impressão pela forma como se constrói o discurso, a dar uma imagem

de si capaz de convencer o auditório, ganhando sua confiança.

Este conceito é utilizado em algumas perspectivas teóricas, entre elas a

Retórica, a Pragmática e a Análise do Discurso (AD). Na perspectiva da AD, em

especial nos trabalhos de Maingueneau (1995, 2005, 2011), o enunciador deve

legitimar seu dizer; em seu discurso, ele se atribui uma posição institucional e marca

sua relação a um saber. A palavra vem de alguém que, por meio dessa palavra,

demonstra possuir determinadas características. Por meio do discurso, o enunciador

faz sentir certo comportamento. Isto é, por meio do que o sujeito fala é que é

revelada sua personalidade.

Assim, no dizer de Maingueneau (2005:98) “por meio da enunciação, revela-

se a personalidade do enunciador”. Ao tratar dessa noção, este autor propõe um

esquema, aqui reproduzido, para que se entenda a construção de um ethos efetivo.

Participam desse processo as noções de ethos pré-discursivo, ethos discursivo,

dividido entre ethos dito e ethos mostrado, e a de estereótipos sociais. O ethos dito é

aquele através do qual o enunciador mostra diretamente suas características,

dizendo ser essa ou aquela pessoa, ao passo que o ethos mostrado é aquele que

não é dito diretamente pelo enunciador, mas é reconstituído através de pistas

fornecidas por ele no seu discurso. Maingueneau (2005b, p.71) ainda observa: “se o

ethos está crucialmente ligado ao ato de enunciação, não se pode negar, no

entanto, que o público constrói representações do ethos antes mesmo que ele (o

enunciador) fale”. Assim, faz-se uma distinção entre o ethos pré-discursivo e o ethos

discursivo. O ethos pré-discursivo seria, portanto, a imagem que o co-enunciador faz

do enunciador, antes mesmo que este último tome a palavra para si.

33

A seguir, está o esquema:

Figura 3: Processos discursivos do ethos9

Originário da retórica antiga, tanto a de substrato grego quanto romano, o

conceito de ethos nunca foi claro e unívoco: na obra de Aristóteles, por exemplo, o

termo recebe diferentes tratamentos na Política e na Retórica. Para a retórica grega,

os ethé eram entendidos como as propriedades que os oradores conferiam a si

próprios no desenrolar de seu discurso em praça pública, a ágora. Tais propriedades

se revelavam na maneira de falar peculiar a cada um dos oradores. Ao lado dos

conceitos de logos e de pathos, o ethos era então tido como uma das formas de se

obter persuasão, segundo a retórica aristotélica. Neste sentido, o ethos seria

percebido pelo ouvinte através das escolhas efetuadas pelo orador a saber,

escolhas lingüístico-discursivas e estilísticas (mais ou menos intencionais).

Nesta perspectiva, significa dizer que para que o ouvinte percebesse os ethé

daquele que detinha a palavra era preciso que estivesse atento à natureza verbal de

seu discurso, pois seria pelo discurso que o palestrante mostraria “sua

personalidade […] através de sua maneira de se exprimir” (Maingueneau, 1995:138).

9 Esquema retirado de: MAINGUENEAU, A noção de ethos discursivo. A propósito do ethos. In: MOTTA, Ana Raquel, Luciana Salgado (organizadoras). Ethos discursivo. In: 2ª edição. São Paulo, Contexto, 2011. Pág.19.

34

Diante disso, Charaudeau (2005) defende ainda a posição de que a partir do

momento em que o ethos está relacionado às representações sociais, ele pode estar

ligado aos indivíduos e também a grupos, a ponto de refletir uma visão global. A

partir disso é possível pensar em um ethos coletivo, concernente a um grupo e em

um ethos individual, relacionado a um sujeito apenas.

Ao discorrer sobre essa questão, o autor citado ressalta que “o orador deve

mostrar [seus traços de personalidade] ao auditório (pouco se importando com a

sinceridade) para causar a boa impressão”. Isso porque o ethos está ligado às

palavras, ao papel que constitui o discurso, não é propriedade única do locutor “é

antes de tudo a imagem que reveste o interlocutor a partir do que o locutor diz”

(p.115). E ainda, é o olhar do outro sobre aquele que fala e o olhar daquele que fala

sobre como o outro o vê.

Assim, dentro da encenação linguageira onde os indivíduos participam e se

constroem pelo seu discurso, são apresentados alguns ethé, dos quais destaco os

seguintes:

1. O ethos de credibilidade: esta qualidade está ligada à identidade social do

sujeito, se desenvolve de uma maneira que as pessoas acreditam que aquele

sujeito é digno de crédito.

De maneira geral, um indivíduo pode ser julgado digno de crédito se houver

condições de verificar que aquilo que ele diz corresponde sempre ao que

ele pensa (condição de sinceridade ou de transparência), que ele tem meios

de por em prática o que anuncia ou promete (condição de performance), e o

que ele aplica ou anuncia é seguido de efeito (condição de eficácia).

Charaudeau (2005: p.119)

2. O ethos de virtude: Neste caso, supõe que o sujeito demonstre sinceridade e

fidelidade, construindo assim, uma imagem de honestidade pessoal. De

maneira geral, o ethos de virtude vem acompanhado de uma atitude de

respeito para com o outro.

3. O ethos de competência: Este ethos exige saber e habilidade ao mesmo

tempo, melhor dizendo, o sujeito tem que ter habilidade no que sabe, o

domínio das palavras e conhecimentos técnicos e da língua e seus vários

aspectos de forma que possa realizar completamente seus objetivos para ter

êxito e resultados positivos.

35

4. O ethos de Inteligência: Este faz parte dos ethé de identificação “na medida

em que pode provocar a admiração e o respeito dos indivíduos por aquele

que demonstra tê-lo e assim o faz aderir a ele”. Neste caso, o sentido da

inteligência, considerada como um imaginário coletivo da maneira que um

grupo social a valoriza. Aqui não se trata somente da maneira como ele fala e

sim do que pode servir como aprendizado em sua trajetória.

O importante é entender que a noção de ethos não se aplica somente à

oralidade, como na Retórica, na escrita também percebemos a voz e um corpo

enunciativo que se manifesta criando uma entidade enunciativa. Nesse sentido, as

noções e conceitos tratados aqui são aplicáveis à minha pesquisa ao propor uma

análise a partir de um viés discursivo, ao observarmos os sujeitos enunciativos. O

ethos pareceu-me, dentro das possibilidades trazidas pela Análise do Discurso, a

noção mais produtiva, já que busco entender como a identidade dos enunciadores

focalizados é construída no momento em que desenvolvem uma atividade de

tradução.

Após tais discussões, para complementar esta perspectiva discursiva, parece-

me importante apresentar o conceito de estratégias, bem como sua categorização

dentro dos estudos da linguagem.

3.1. ESTRATÉGIAS DO DISCURSO

Na Análise do Discurso, este termo tem diversos empregos e definições de

acordo com a corrente de pesquisa. Dentre estas estão as seguintes: (1) as estratégias dizem respeito ao modo como o sujeito (individual ou

coletivo) é conduzido a escolher (de maneira consciente ou são) um certo

número de operações linguageiras; (2) falar de estratégias só tem sentido

se elas forem relacionadas a um quadro de coerções, quer se trate de

regras, de normas ou de convenções; (3) há interesse em recuperar as

condições emitidas pela psicologia social, a saber que é preciso um

36

objetivo, uma situação de incerteza, um projeto de resolução do problema

colocado pela incerteza e um cálculo. (Patrick Charaudeau10)

Para Charaudeau (2008), esta noção de estratégia está relacionada a um

quadro contratual, assim, ele ressalta que correspondem a diferentes etapas a partir

de diferentes objetivos: de legitimação, que visa afirmar a autoridade do sujeito, de

credibilidade que visa conferir a seu discurso o valor de verdade, e a de captação

que visa trazer o parceiro para o pensamento do sujeito falante.

Quando observarmos o processo de leitura, interpretação e produção de um

texto, sempre vem à mente algumas dúvidas e questionamentos a que, ao longo do

processo, vamos respondendo com base em nosso conhecimento prévio, de mundo,

linguístico e cultural, e muitas vezes ainda temos que buscar tais respostas fora do

texto, em outros meios de pesquisa para que haja compreensão. De acordo com

ALVES (2010: 19), estratégias são “todas estas ações que realizamos, muitas delas

de forma automática, semiconsciente, enquanto que as outras a partir de decisões

conscientes e cuidadosamente tomadas que constituem resolução de problemas.”

Muitas vezes, no momento da atividade tradutória, nos deparamos com itens

lexicais desconhecidos, estruturas sintáticas e até mesmo ambiguidades semânticas

de difícil compreensão. Com isso, temos que parar e buscar uma explicação para

entender aquela sequência ou parte de um texto, denominada de UT (Unidade de

Tradução).

Assim, através destas estratégias passamos a atualizar as competências

comunicativas e resolver os problemas encontrados no processo. Dentre os

conhecimentos envolvidos no ato tradutório PAGANO (2010:39) destaca que “a

necessidade, por parte do tradutor, de buscar em fontes de consultas externas

informações que não possui é fato inquestionável no exercício da atividade

tradutória”, pois, por mais experiente que seja o tradutor, terá que contar com

pesquisas, leituras acerca de um determinado tema, dicionários monolíngues e

bilíngues, outros textos, que possuam termos e expressões que possam servir na

produção do TLC.

10 Trata-se de parte do verbete sobre “estratégia de discurso”, de autoria de Patrick Charaudeau, que integra o Dicionário de Análise do Discurso (CHARAUDEAU, Patrick & MAINGUENEAU, Dominique. 2008. Pág.219).

37

Além disso, o tradutor também conta com estratégias de busca de elementos

internos que servem de apoio, como o conhecimento de mundo, as relações que

utilizamos: o que sabemos e aprendemos em nossa vida ou em certa área. As

relações que fazemos com o que sabemos e as inferências são pontos cruciais no

apoio interno de que dispomos. Assim, Alves (2010: 57) ressalta que:

O conhecimento de mundo é a somatória de todos estes conhecimentos e

que podemos chamá-lo de pré-texto, ou seja, o ponto de onde partimos,

com as informações de que já dispomos para processar informações novas

que recebemos.

Outro tipo de estratégia é a de análise macrotextual, quando o leitor traz seu

conhecimento de mundo para ajudá-lo a processar o texto. Já na análise

microtextual, o leitor analisa de perto os itens do texto e a partir de então constrói um

conhecimento global e examina os itens lexicais, as colocações na frase, as

expressões idiomáticas, os tempos verbais dentre outros aspectos pertinentes de

análise. Daí, no momento em que um tradutor se depara com um texto que deve ser

traduzido de uma língua para outra, ele precisa desses conhecimentos para ter

maior efeito contextual no que traduziu e estabelecer relações entre o TLP e o TLC.

E estas relações são ativadas através dos conhecimentos citados e a partir da

leitura, o tradutor busca aproximar mais os textos e manter a fidelidade à ideia do

autor.

As autoras Corrêa e Neiva (2000: p.35-36) após uma revisão da literatura

sobre o estudo das estratégias, propõem uma categorização das mesmas segundo

a natureza de problemas. Faerch e Kasper (1983) acreditam que as estratégias

também estão relacionadas à fase do planejamento, podendo ter um alcance global

ou local. Cada vez que no processo comunicativo o sujeito se depara com um

problema, caracteriza-se a utilização da estratégia local, por exemplo, no momento

da tradução, quando se encontra uma palavra que dificulta a compreensão, uma das

estratégias pode ser a de utilizar-se de buscas externas (dicionários e outras fontes)

para poder compreender e continuar o ato tradutório. Segundo as autoras (p.35)

Lörscher (1991) e Jääskeläinen (1993) foram os autores que mais trouxeram

contribuições aos estudos das estratégias usadas na atividade tradutória. Mas suas

propostas diferem: enquanto um se detém mais nas estratégias locais o outro se

38

detém nas globais. Diante disso, as autoras concordam com Lörscher (1991) que

afirma que:

as estratégias de tradução têm como ponto de partida a consciência de um

problema pelo sujeito, e como seu ponto de chegada uma solução

(possivelmente preliminar) do problema ou da conscientização da

impossibilidade de resolvê-lo num determinado momento. (Lörscher, 1991:

96- tradução de Corrêa e Neiva: 2000b: 36).

Para estas autoras, cada interrupção no fluxo tradutório é considerada como

um problema, e a noção de problema não estaria relacionada apenas à insuficiência

de conhecimentos, mas também à decisão do melhor caminho para traduzir aquela

palavra ou ideia ali expressa, por exemplo.

As autoras postulam que, no processo tradutório, existem as estratégias de

compreensão/ interpretação do texto de partida, que envolvem resolução de

problemas de leitura de um determinado trecho em TLP, quando há por parte do

tradutor desconhecimento de uma palavra, ou lhe falta conhecimento prévio de

determinado assunto. Estas se distinguem das estratégias de produção no texto de

chegada, onde os problemas que se apresentam relacionam-se com a aceitabilidade

do TLC pelos possíveis leitores. Já as estratégias propriamente tradutórias, são

aquelas que o tradutor utiliza ao encontrar dificuldades para construir relações de

equivalência de um TLP para um TLC, ou seja, entre o que ele entendeu e a busca

da melhor forma de expressá-lo.

Dentro das categorias de problemas, as autoras apontam alguns dentre os

diversos que foram observados nos protocolos verbais, são eles: compreensão de

texto de partida, produção de texto de chegada, ou seja, carentes de uma melhor

revisão pelo tradutor, problemas essencialmente tradutórios, e outros como

distração ou então quando desconsidera alguma palavra por não tê-la entendido.

Dentro deste contexto, é válido ressaltar os conceitos de estratégias locais e globais:

a primeira acontece quando o tradutor se depara com um problema num

determinado segmento e o analisa, a segunda já é mais ampla e tem início desde o

momento em que começa a atividade tradutória.

Com base no quadro apresentado por Cunha (2002: 106) em sua tese, no

qual define as estratégias utilizadas pelos tradutores, visualizamos três momentos

nos quais os elementos se associam:

39

ESTRATÉGIAS COMUNICATIVAS

COGNITIVAS

De compreensão do

TLO

De tradução do

TLO

De produção do

TLT

De busca

externa

De busca

interna

De busca

externa

De busca

interna

De busca

externa

De busca

interna

De

solu

-ção

De

aba

ndo

no

De

solu

ção

De

aba

ndo

no

De

solu

ção

De

aba

ndo

no

De

solu

ção

De

aba

ndo

no

De

solu

ção

De

aba

ndo

no

De

solu

ção

De

aba

ndo

no

Quadro 1: Estratégias comunicativas e cognitivas

As estratégias de compreensão do TLO envolvem a resolução de problemas

de leitura de um determinado trecho, ao desconhecer uma palavra ou expressão, e

ainda problemas que envolvam o conhecimento prévio do tradutor a partir de seu

conhecimento de mundo nas duas línguas: de partida e de chegada.

As estratégias de tradução acontecem quando o tradutor encontra um

problema e busca manter uma equivalência entre a expressão ou palavra na língua

de partida e a melhor forma de expressá-lo na língua de chegada.

As estratégias de produção do TLT dizem respeito à resolução de problemas

relativos à recepção do texto pelo público alvo. Trata-se portanto de um refinamento

do texto traduzido.

Segundo Corrêa e Neiva (2000), os procedimentos técnicos seriam

estratégias consolidadas, já automatizadas pelos tradutores experientes em seu

processo tradutório. Assim sendo, é possível que muitas das estratégias utilizadas

por tradutores inexperientes durante o processo tradutório produzam efeitos

semelhantes ao uso consciente dos procedimentos técnicos.

Os procedimentos técnicos baseados no modelo de Vinay e Darbelnet (1977)

dividem-se em: tradução direta (empréstimo, decalque e tradução literal) e Tradução

oblíqua (Transposição, modulação, equivalência e adaptação). A tradução direta

como o próprio nome diz é aquela em que o tradutor traduz palavra por palavra. Já a

40

oblíqua, é aquela que não é literal, ou seja, quando vai traduzir um texto, o sujeito

utiliza vários recursos que não são os mesmos do TLP.

Agora, com base nestes autores será exposto cada tipo de procedimento da

tradução e suas especificidades:

O empréstimo: é quando copiamos uma palavra da LP no texto da LT, e isto

ocorre quando não encontramos correspondente na língua em que será

traduzido. “O empréstimo é a manutenção do material textual da LO [Língua

original] na LT [Língua de tradução]” (Barbosa. 1990 p. 26).

O decalque: Enquanto o empréstimo é atrelado às palavras isoladas, o

decalque passa ser observado nos sintagmas, que são unidades sintáticas

formadas por um ou mais vocábulos formando orações. São utilizadas

palavras da LT com a mesma estrutura e também com construções

sintáticas diferentes. Já a tradução literal corresponde ao conceito da

tradução direta.

A tradução oblíqua:

A transposição consiste na mudança das categorias gramaticais ao se

produzir o texto na LC.

A modulação acontece quando o ponto de vista do tradutor é mudado através

da mensagem, onde as línguas em questão no momento da tradução

apresentam aspectos diferentes.

A equivalência “é utilizada em casos onde as duas línguas em confronto dão

conta da mesma situação através de meios estilísticos e estruturais

totalmente diversos”. (ibdem. 29).

A adaptação aplica-se onde a situação extralinguística não existe no universo

cultural da LT, então tenta-se adaptar ao contexto.

Assim, a partir do momento em que está traduzindo um texto, ao utilizar

diversos procedimentos para desenvolver uma atividade tradutória, cada sujeito

ocupa um lugar no qual as relações entre locutor e interlocutor são estabelecidas, os

contratos de comunicação são firmados e a cada momento o próprio sujeito se

constrói dentro do discurso.

A seguinte consideração a respeito do processo de compreensão pode ser

estendida ao processo tradutório como um todo:

41

Não existe um processo único, mas processos de compreensão que variam

de acordo com diferentes situações, de diferentes usuários da língua, de

diferentes tipos de discurso. (Van Dijk e Kintsch, 1983).

Assim, para traduzir um texto, intuitivamente, o tradutor utiliza estratégias e

procedimentos. Algumas vezes, lança mão de dicionários bilíngues e monolíngues e

avança na leitura do texto para tentar compreender determinado fragmento,

retrocede outras vezes, visando uma melhor explicitação de seu texto na língua de

chegada a um provável leitor virtual. Lörscher (1991) subordina a noção de

estratégia à de resolução de problemas de tradução, no que é seguido pelas autoras

Corrêa e Neiva, em seu artigo, já citado, datado de 2000.

A partir das discussões dos princípios teóricos apresentados neste capítulo,

passaremos agora às discussões dos aspectos metodológicos desta dissertação em

que serão apresentados os caminhos percorridos para a elaboração do corpus, seu

recorte e análise.

42

4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS metodología (Del gr. μέθοδος, método, y -logía). 1. f. Ciencia del método.

2.f. Conjunto de métodos que se siguen en una investigación científica o en

una exposición doctrinal. (RAE, 2001).

Neste capítulo, apresentam-se os encaminhamentos metodológicos da

pesquisa, tratando da constituição e do recorte do corpus, da apresentação dos

sujeitos de pesquisa e da metodologia seguida na seção de análise.

4.1. OS SUJEITOS DA PESQUISA

Opta-se, como dito na Introdução, pela constituição de um corpus a partir das

experiências vivenciadas durante minha atividade profissional, ou seja, com os

professores da área técnica agrícola, por se tratar de uma escola que tem esta

finalidade em sua formação. Assim, foram selecionados três professores, sendo que

dois destes sempre buscavam suporte técnico a mim ao realizar a leitura e tradução

de algum texto, manual de instruções de insumos agrícolas adquiridos na Venezuela

para serem usados em plantações e cultivos. O terceiro não tinha esta prática,

porém tinha o conhecimento da língua de uma maneira informal através de viagens

e amigos. Assim, acredita-se que tradutores diferentes adotam estratégias diferentes

no momento em que traduz um texto, então resolvi também selecionar três alunos

do Curso de Letras e Literatura Hispânica que estudavam na mesma instituição,

porém no campus urbano. Acreditava-se que os professores da área agrícola tinham

uma noção de tradução diferente destes últimos, já que adquiriram o conhecimento

da língua espanhola de uma maneira informal. Em contrapartida, os alunos

possuiriam uma formação linguística e teórica acerca da língua em questão.

Como critério, para selecionar os alunos de graduação, foram escolhidos os

que estavam cursando o 7º semestre, o penúltimo, para se formar em Letras.

Primeiramente, houve uma conversa com o primeiro grupo que é composto

por professores da área agrícola, e foi solicitado que eles repetissem a atividade que

algumas vezes era realizada junto com a professora de espanhol, e que esta seria

feita a partir de uma técnica introspectiva, e que ao realizar a tarefa iriam verbalizar

o que estavam fazendo. E o texto produzido seria então o que posteriormente

poderiam utilizar em sala de aula. Já para o segundo grupo, os discentes do Curso

43

de Letras Espanhol, foi solicitado que traduzissem um texto específico da área

agrícola, explicando que necessitava desse material como parte da coleta de dados

para minha pesquisa.

Após, foi aplicado um questionário, de forma que pudesse conhecê-los

melhor, a respeito do contato com a língua, a experiência acadêmica, as leituras,

dentre outras questões que achei pertinentes. Ao aplicar o questionário a estes seis

informantes e depois foi possível traçar um perfil de cada um. De início, foi solicitado

que cada participante, isoladamente11, fizesse uma apresentação sua, seguindo os

seguintes pontos: (1) Dados pessoais; (2) Contato e aquisição do espanhol (Onde?

Quando? Por quê? Como?); (3) Formação acadêmica; (4) Experiência profissional

dentre outras. A partir deste material, obtivemos os seguintes perfis de informantes:

Docente A

É agrônomo, professor efetivo do Instituto Federal de Roraima, atua como

docente na área agrícola há quatro anos. Seu contato com a língua espanhola é

através de viagens a Venezuela ou contatos com venezuelanos, e ainda leitura em

língua espanhola com finalidade específica de sua área. Aprendeu a língua de

maneira informal, nunca fez curso, mas a utiliza sempre quando vai ao país vizinho.

Utiliza a tradução somente no contexto escolar quando necessita de algum texto,

mas conta com auxílio de professores de espanhol.

Docente B

É agrônomo, professor efetivo do Instituto Federal de Roraima, cursa

Mestrado em Agronomia pela UFRR, atua como docente há sete anos. Seu contato

com a língua espanhola é através de leituras de artigos específicos da área, quando

ouve música ou em viagens. Aprendeu a língua de maneira informal e consegue se

comunicar e entendê-la. Traduz texto quando é necessário, mas dentro de sua área

de atuação ou com finalidade de posteriormente ser usado em sala com seus

alunos.

11 Cada participante respondeu seu questionário num lugar isolado, sem a presença dos demais. Imaginei que desta forma se sentiriam à vontade para escreverem sobre si mesmos.

44

Docente C

É engenheiro agrônomo, professor substituto do Instituto Federal de Roraima,

tem mestrado em agronomia, atua há sete anos nesta profissão, mas há três anos

na docência. O contato com a língua espanhola é através da escola e de visitas a

Venezuela e leitura de textos específicos de sua área de formação e atuação. Às

vezes utiliza a língua quando conversa com amigos que falam espanhol. Utiliza de

textos em língua espanhola, pois alguns assuntos específicos são bem explorados e

comentados. Tem o hábito de ler revistas, sites, livros e rótulos de insumos

agrícolas. Teve pouca experiência em tradução, somente quando produziu um texto

que precisava para seus alunos.

Discente D

Discente do Curso de Letras - Espanhol e Literatura Hispânica, cursa o sétimo

semestre, servidor público. Utiliza a língua espanhola no Curso de Letras, bem como

em atividades práticas com alguns amigos latinos. Tem o hábito de leitura na língua

citada. Já traduziu outras vezes de maneira informal, utilizando o método

comparativo entre as línguas.

Discente E

Discente do Curso de Letras- Espanhol e Literatura Hispânica, cursa o sétimo

semestre, adquiriu a língua espanhola através de um curso livre oferecido pelo IFRR

(CELE), mas já havia estudado na Venezuela em sua infância. Utiliza a língua

espanhola também em viagens para o país vizinho. Tem o hábito de leitura de

jornais e revistas. Traduz informalmente quando necessita.

Discente F

Discente do Curso de Letras- Espanhol e Literatura Hispânica, cursa o sétimo

semestre, tem o contato com a língua espanhola quando viaja a países que tem a

língua espanhola como oficial, e também quando se comunica com amigos

45

“hispanohablantes”. Utiliza leitura em língua espanhola através de sites da internet.

Gosta de traduzir informalmente músicas.

Após ter em mãos este perfil, foi possível traçar as diferentes concepções de

língua que cada público tinha, pois os docentes haviam aprendido a língua

espanhola através do contato com venezuelanos, de maneira informal, já os

discentes aprenderam a língua dentro de uma formação linguística e formal. Assim,

foi possível ter em mãos algumas informações sobre os sujeitos da pesquisa, bem

como as experiências, viagens, idade, os contatos com atividades de leitura e

tradução que fizeram com que eu conhecesse melhor com que público eu estaria

trabalhando e as contribuições que estes poderiam oferecer para a análise de minha

pesquisa.

4.1.1 A TAREFA

A tarefa escolhida para este trabalho foi um texto descritivo específico da área

agrícola intitulado: “Cómo armar tu propria huerta en casa”. Trata-se de um texto

simples, com algumas palavras específicas, mas que ensinava passo a passo

maneiras de plantar e cultivar algumas hortaliças em casa. [Cf. anexo II] Para

realizar a atividade, tomamos como suporte a técnica do Protocolo Verbal, em que o

informante oraliza tudo que vem à mente quando traduz. Os encontros foram feitos

em dias diferentes e isoladamente. Para que pudesse ser explicada esta técnica, foi

realizada uma tarefa prévia com dois discentes que estavam meio inseguros quanto

à utilização da técnica para deixá-los à vontade para iniciar a atividade. Com isso, foi

aplicado um pequeno texto de dois parágrafos, como “aquecimento” para a tarefa

principal. O terceiro discente não quis realizar, pois disse se sentir tranquilo para a

tarefa. Foi solicitado aos informantes que após realizarem a tarefa de tradução

pudessem ficar à vontade se quisessem falar da ideia principal do texto, poderiam

ainda relatar a respeito da experiência que tiveram com a atividade de tradução

proposta.

46

4.1.2 A METODOLOGIA INTROSPECTIVA

A metodologia Introspectiva12 foi formulada no âmbito da psicologia com a

finalidade de instrumentalizar os estudos sobre os processos do pensamento. A

partir de então tem sido usada em diversas áreas do conhecimento, com um papel

importante na investigação do processo de aprendizagem de língua estrangeira.

Desde a década de 1980, passou a ser utilizada para buscar entender a atividade

tradutória.

De natureza qualitativa, a metodologia introspectiva, também conhecida

como relato do protocolo verbal, vem permitindo que seja examinado o que

se passa, conscientemente, no pensamento do tradutor durante a execução

de sua tarefa. (Corrêa e Neiva, 2000:38).

Nesta pesquisa, utilizamos a metodologia introspectiva para a coleta de

dados, a fim de identificarmos os problemas tradutórios ocorridos e as estratégias

que são utilizadas para solucioná-los, no momento em que os informantes traduzem

o texto.

As técnicas introspectivas podem ser categorizadas em dois tipos básicos: a)

a introspecção do processamento corrente e b) a retrospecção. No tipo

“introspecção do processamento corrente”, existem duas técnicas: a de “pensar alto”

e a de “falar alto”. A técnica do “pensar alto” requer:

[...] que o sujeito da pesquisa, antes de oralizar o que lhe vem à mente, realize

uma codificação verbal de cada informação nova acessada durante a resolução

de um problema. Apenas ao término da oralização de uma informação

acessada, o sujeito passaria para a próxima, numa seqüência.” (Corrêa e

Neiva, 2000 p.38 ).

Nesta técnica, o pesquisador pode pedir ao informante que descreva o que

está fazendo e tente explicar seus pensamentos.

12 Com base em Corrêa e Neiva ( 2000, p. 37) em seu artigo “Estratégias e Problemas do Tradutor Aprendiz: uma visão introspectiva do processo tradutório.”

47

Quanto à retrospecção, esta se divide em imediata e protelada: imediata,

quando realizada assim que foi executada a tarefa; protelada, quando realizada num

momento situado mais de uma hora após o término da tarefa.

Para registro dos protocolos verbais, as gravações foram feitas em gravador

simples de fácil manuseio. Ao longo do trabalho de tradução, os informantes tiveram

acesso a quatro tipos de dicionários: 1) Dicionário On Line (Google traductor e

Tradutor Reference), 2) um monolíngue, em português (Mini Aurélio- séc.XXI), 3) um

bilíngue português/ espanhol/ português (Michaelis– Dicionário Escolar) e 4) um

bilíngue espanhol/português (Dicionário Espanhol/Português- SEÑAS). Não houve

delimitação de tempo, uma vez que não era nosso objetivo condicionar produção a

tempo.

Tendo já apresentado e discutido a metodologia seguida pela pesquisa, no

próximo capítulo passo à análise dos dados.

48

5. ANÁLISE

análisis (Del gr. ανάλυσι_). 1. m. Distinción y separación de las partes de

un todo hasta llegar a conocer sus principios y elementos. 2. m. Examen

que se hace de una obra, de un escrito o de cualquier realidad susceptible

de estúdio intelectual. 3. m. Tratamiento psicoanalítico. (RAE, 2001).

Neste capítulo apresentam-se as análises de sequências discursivas

produzidas pelos seis informantes da pesquisa ao comentarem seu processo

tradutório. Vale ressaltar que a proposta de análise não são todas as sequências

discursivas, uma vez que a visão teórica que embasa a pesquisa não tende à

exaustividade analítica, em sua extensão ou completude (Orlandi, 2005). O número

de excertos analisados tem como parâmetro o alcance dos objetivos propostos.

5.1. ESTRATÉGIA GLOBAL

5.1.1. Tradutor Docente A

Após a leitura silenciosa, o tradutor lê em voz alta o primeiro parágrafo e

começa a traduzi-lo de forma que possa construir um sentido global no texto.

Segundo Kleiman (1989:55) “A macroestrutura textual está relacionada às

estratégias cognitivas que funcionam a nível temático, isto é, a nível de sequência

maiores (períodos, parágrafos) que avançam o desenvolvimento do tema global”.

(Ex. 1-A) DÍAS ATRÁS TE DÁBAMOS ALGUNOS CONSEJOS SOBRE CÓMO INICIARTE EN EL MUNDO DE LA HUERTA HOGAREÑA. SIGUIENDO CON ESTE TEMA, AHORA CONTAMOS ALGUNOS SECRETOS PARA HACER DE TUS MACETAS UNA HUERTA ORGÁNICA.

Em diversos momentos da atividade tradutória, ele utilizou esta estratégia ao

começar a traduzir cada parágrafo: após uma leitura prévia em voz alta, fazia algum

comentário daquele excerto e o traduzia verbalmente, ou seja, paralelo à leitura

antes de escrever e ter a versão de sua tradução. Após este procedimento, iniciava

a redação da parte escrita por parágrafos.

49

(Ex. 2-A) [Agora o segundo parágrafo é] CÓMO ARMAR LA MACETA ES FUNDAMENTAL QUE EL RECIPIENTE ESTÉ PERFORADO EN LA BASE, PARA PERMITIR LA PÉRDIDA DEL EXCESO DE AGUA. [então é fundamental que esta vasilha esteja perfurada na base para permitir a saída do excesso de água.].

Assim, ele construiu em sua memória um sentido global do texto, e utilizou

uma estratégia de traduzir de acordo com o material “armazenado” em sua memória

de trabalho, ativando seus conhecimentos durante a tarefa.

5.1.2. Tradutor Docente B

Ao fazer a análise do trecho do PV transcrito abaixo, pode-se notar que o

tradutor em questão traduz oralmente o texto enquanto faz a leitura silenciosa. Não

existe, por parte deste tradutor, a manifestação de uma estratégia global de leitura

para entender o texto e posteriormente traduzi-lo, já começa oralizando o texto na

língua de chegada, ou seja, em língua portuguesa - melhor dizendo, traduzindo

simultaneamente à sua leitura, e após a oralização, ele escreve o parágrafo

traduzido. Ao detectar um problema local, busca resolvê-lo e dá continuidade à sua

atividade:

(Ex. 3-B) [Dias atrás [é... dabámos...] alguns conselhos sobre como iniciar no mundo da horta... horta...orgânica. Seguindo com este tema, AHORA, agora contamos alguns segredos para fazer de TUS MACETAS uma horta orgânica...]

5.1.3. Tradutor Docente C

No exemplo a seguir, primeiramente o tradutor faz a leitura silenciosa e à

medida que vai lendo o texto em espanhol, “fala” o texto em português. Assim,

através de blocos ou parágrafos, ele lê silenciosamente e traduz oralmente depois

que lê, e a partir do sentido global constrói um significado para o texto. Como já

ressaltamos, o leitor constrói o sentido do texto a partir da ativação do conhecimento

prévio, aquilo que ele já sabe, o conhecimento adquirido ao longo de sua vida, que

50

está registrado na memória sendo o resultado de todas as suas experiências e

saberes

(Ex. 4-C) [ Agora vou traduzir um texto com o título COMO ARMAR TU PROPRIA HUERTA EM CASA que no português vai para “como montar sua própria horta em casa”].

No decorrer da tradução, o tradutor oraliza o texto em português antes de

escrever, e após ler, escreve. No momento em que não encontra a tradução para a

palavra utiliza estratégias para solucionar o problema.

(Ex. 5-C) Dias atrás te demos alguns conselhos sobre como iniciar no mundo da horta doméstica. Seguindo com este tema, agora contamos alguns segredos para fazer [é...] uma horta orgânica.

5.1.4. Tradutor Discente D

Analisando o seguinte trecho do PV do Discente D é possível perceber que

ele busca traçar um roteiro para sua atividade tradutória. Utiliza, para chegar ao

sentido global do texto, a leitura prévia de forma que possa traduzir de uma forma

coesa, utilizando seu conhecimento lexical, linguístico e de mundo que virão à tona

durante o ato tradutório. Conforme Kleiman (2004, p. 80), a leitura “pressupõe a

figura do autor presente no texto através de marcas formais que atuam como pistas

para a reconstrução do caminho que ele percorre durante a produção do texto”.

(Ex. 6-D) [A princípio, vou começar com uma leitura prévia do texto para acertar o conteúdo ... Ao passo que eu vou fazendo a leitura, vou ver os termos que não são comuns ao meu cotidiano, ao meu contato certo...que vou buscando entender antes mesmo de procurar no dicionário, tento ver o contexto para saber o significado daquela palavra sem que necessite buscar meios externos, é, além de meu próprio léxico interior (...)]

Além dos aspectos citados acima, é possível ainda, neste excerto, percebermos a

presença do ethos discursivo que é uma imagem que ele constrói ao produzir o

discurso de aluno de Letras, explicitando suas estratégias para traduzir as palavras

desconhecidas. Em outros momentos, ele lê em voz alta todo o parágrafo para

depois começar a traduzir. E antes que realize a tarefa, faz comentários geralmente

em língua espanhola do sentido global do texto.

51

Conforme Amossy (2011 p.9). “Todo ato de tomar a palavra implica a

construção de uma imagem de si.” Com base na visão da autora, a imagem que o

sujeito constrói ao falar é fundamental na construção discursiva. O sujeito neste

sentido pode valer-se de um universo de crenças e conhecimentos, além dos

recursos linguísticos a que tem acesso, como no exemplo abaixo:

(Ex. 7-D) DÍAS ATRÁS TE DÁBAMOS ALGUNOS CONSEJOS SOBRE CÓMO INICIARTE EN EL MUNDO DE LA HUERTA HOGAREÑA. SIGUIENDO CON ESTE TEMA, AHORA CONTAMOS ALGUNOS SECRETOS PARA HACER DE TUS MACETAS UNA HUERTA ORGÁNICA. [A principio el texto es muy interesante, pues sigue como se fuera una instrucción paso a paso para hacer una cosa, bien sencillo para alguna persona que no conozca bien el idioma.]

5.1.5. Tradutora Discente E

A tradutora utiliza a leitura por parágrafos e lê o TLP e em alguns momentos

já começa logo a traduzir. Não explicita uma estratégia global de abordagem do

texto e sim local e por partes. Dentro do processo de leitura, procura pistas para

entender o texto, e a partir de então formula suas hipóteses e depois as comprova

ou não de acordo com entendimento do que foi lido:

(Ex. 8-E) [COMO ARMAR TU PRÓPRIA HUERTA EN CASA] [COMO ARMAR... pienso que seja como fazer, mas não tenho certeza é melhor <procurar> ARMAR em espanhol... eu gosto de usar o dicionário todo em espanhol, aquele espanhol-espanhol, tem aqui?] (...) é melhor colocar... como preparar a sua própria horta em casa.

Em outros momentos ela lê todo o parágrafo do TLP em voz alta e somente

depois começa a traduzi-lo:

(Ex. 9-E) DÍAS ATRÁS TE DÁBAMOS ALGUNOS CONSEJOS SOBRE CÓMO INICIARTE EN EL MUNDO DE LA HUERTA HOGAREÑA. SIGUIENDO CON ESTE TEMA, AHORA CONTAMOS ALGUNOS SECRETOS PARA HACER DE TUS MACETAS UNA HUERTA ORGÁNICA.

52

5.1.6. Tradutora Discente F

É interessante que, como os demais informantes, ela traduz por partes, mas

dá uma ideia de que está explicando passo a passo sua atividade e marca com as

expressões: o título é, no primeiro parágrafo diz assim, frase seguinte e outros

marcadores que ela segue no decorrer de sua tradução, e assim vai construindo o

sentido no texto que se propôs a traduzir, pois quando lemos um texto, a mente é

ativada de modo instantâneo, passa a construir significados a partir de

agrupamentos gramaticais que permitem a compreensão do texto. O comportamento

da tradutora mostra ainda a construção de um ethos do “informante ideal”,

oralizando todas suas percepções para facilitar o trabalho da pesquisadora:

(Ex. 10-F) [Agora vou começar a traduzir um texto, já fiz uma leitura e o título é: Como fazer a sua própria horta em casa(...) No primeiro parágrafo diz assim: Dias atrás dávamos alguns conselhos sobre como iniciar uma horta [e como não sei a palavra HOGAREÑA vou procurar no dicionário...] [Agora estou procurando a palavra no dicionário on line e quer dizer...encontrei quer dizer do lar... então na frase fica Dias atrás dávamos alguns conselhos sobre como iniciar uma horta no lar [A frase seguinte...

5.2. ESTRATÉGIAS LOCAIS A questão da busca externa para resolução de problemas específicos de

tradução está diretamente relacionada ao uso de dicionários monolíngues e

bilíngues durante o processo tradutório. Como já diziam Vinay e Darbelnett

(1958:59), o sentido de uma palavra é dado em função da colocação que ela ocupa

em um dado enunciado. Diante das infinitas combinações que se podem construir

entre significantes, compreende-se porque o tradutor, muitas vezes, não tem êxito

em buscar soluções “prontas” em dicionários para seus problemas de tradução,

compreensão, interpretação. Somente o contexto poderá esclarecer sua escolha,

visto que o sentido de um enunciado só pode ser reconstituído através da situação

que ele descreve.

53

5.2.1. Estratégias de compreensão do TLP

As estratégias de compreensão do TLP envolvem a resolução de problemas

de leitura de um determinado trecho, quando o tradutor desconhece uma palavra ou

expressão, e ainda problemas que envolvam o conhecimento prévio do tradutor a

partir de seu conhecimento de mundo. Este tipo de problema ocorre quando o

tradutor, ao realizar sua tarefa, encontra palavras ou expressões desconhecidas por

ele, e busca uma solução através de buscas: externa, no caso nos dicionários e

ainda de busca interna, no caso de conhecimentos ativados conscientemente

durante a atividade.

5.2.1.1. Tradutor Docente A

No decorrer da atividade tradutória, o docente recorreu diversas vezes ao

dicionário para encontrar o significado das palavras desconhecidas para ele. A não

identificação destas palavras causava um problema para continuar a tradução e

compreensão do texto. Este problema de compreensão foi solucionado ativando seu

conhecimento linguístico, muitas vezes relacionado à estrutura da palavra ao fazer

associações em seu comentário. Diante do problema, é somente após seu

posicionamento que utiliza a fonte externa - que no caso é o dicionário para

pesquisar a palavra:

(Ex. 11-A) Seguindo com este tema, agora contamos alguns SECRETOS [esta palavra é...não sei se ta como segredos para fazer de TUS MACETAS UNA horta HOGAREÑA (...) [então vamos procurar esta palavra aqui que está parecida como orgânica mas está de uma outra forma vou ao dicionário para pesquisar (...)

HOGAREÑA [ pensava que se tratava de orgânica, mas como o título do texto se refere a horta em casa HOGAREÑA se refere a lugar tá...] [A horta no lugar, casa, trabalho de casa né, então ].

Neste caso, o tradutor deixa vir à tona o seu conhecimento da palavra dentro

de um contexto, por mais que ele decida pesquisar um problema local para resolvê-

lo, tem uma visão global do que pode ser e no momento da tradução parece que o

54

produto desta atividade tem que estar claro, então ele até rejeita a tradução palavra

por palavra, comum a tradutores iniciantes. Aqui ele busca a palavra HOGAREÑA,

houve a consulta no dicionário e aceitou a significação para o vocábulo, no caso se

trata de uma estratégia de busca de solução.

55

5.2.1.2. Tradutor Docente B

Antes de procurar a palavra no dicionário, utilizou de seu conhecimento de

mundo para construir um significado antes de procurá-la.

(Ex. 12-B) [vou procurar no dicionário a palavra MACETAS ... MACETAS (...) acho que é montar ...montar uma horta orgânica.

A consulta ao dicionário é uma das estratégias mais utilizadas pelo tradutor.

Utiliza o dicionário monolíngue e bilíngue 10 vezes e somente 01 vez remete a

pergunta para a pesquisadora.

(Ex. 13-B) Vou procurar a palavra TENDREMOS... [Desta maneira, não to entendendo Duí, esta palavra “tendremos el contenedor ”, ou seja a contenção para...]

5.2.1.3. Tradutor Docente C

Quando este tradutor demonstra não ter conhecimento da palavra

HOGAREÑA, recorre ao dicionário e não encontra, continua sua atividade e

considera a palavra de acordo com que acredita se assemelhar e dá continuidade na

tradução. Cita ainda que vai perguntar à professora para confirmar e mais na frente,

após traduzir todo o parágrafo, retoma a palavra e encontra o significado através da

busca externa no dicionário monolíngue.

(Ex. 14-C) [É só tenho uma dúvida se HOGAREÑA é orgânica mesmo então ah, vou consultar no dicionário ... não tem nesse...] Não existe a tradução no dicionário então eu vou seguir a tradução e depois vou perguntar para professora de espanhol para ver se tá certo mesmo (...) Minha dificuldade também é por causa do acento, o til no N que no computador não dá para fazer...]

No exemplo abaixo, houve uma estratégia de tradução de busca externa, no

caso, o dicionário, para solucionar o problema, porém o tradutor não teve êxito, e

utilizou de seu conhecimento interno para entender a palavra LECA. Mas o docente

define dentro do contexto e segue sua atividade, sem que em outro momento retome

novamente a compreensão desta palavra. Assim, este procedimento caracteriza

56

uma atitude de abandono, uma vez que houve uma renúncia por parte do tradutor

nesta parte do texto.

(Ex. 15-C) [LECA e eu não sei o que é vou buscar no ...não tem no dicionário on line ...Embora não tenha tradução de LECA, mas logo abaixo diz que pode colocar resto de vasos, pedra partida, canto rodado no sentido de colocar no fundo do vaso para evitar o escoamento da água e a capa aqui no sentido de camada né?]

5.2.1.4. Tradutor Discente D

No caso a seguir, o tradutor, antes mesmo de buscar uma estratégia para

resolver o problema de desconhecimento da palavra HOGAREÑA, demonstra um

conhecimento adquirido ao longo de sua formação acadêmica, e tenta buscar um

significado plausível para a palavra. Ao se deparar com a palavra HOGAREÑA

busca explicá-la, e isso caracteriza o ethos que se manifesta em seu discurso. Ao

discorrer sobre essa questão, Charaudeau (2005) ressalta que “o orador deve

mostrar [seus traços de personalidade] ao auditório (pouco se importando com a

sinceridade) para causar a boa impressão”. Isso porque o ethos está ligado às

palavras, ao papel que constitui o discurso, não é propriedade única do locutor “é

antes de tudo a imagem que reveste o interlocutor a partir de que o locutor diz”

(p.115). E ainda, é o olhar do outro sobre aquele que fala e o olhar daquele que fala

sobre como o outro o vê.

(Ex. 16-D) [O termo um pouco anormal, desta vez vou usar um dicionário ao invés da internet....] O termo é HOGAREÑA... [Observando a parte morfológica do termo, HOGAREÑA lembra HOGAR, lar, na construção final dá a entender que é alguma coisa do lar, só que eu quero a definição o que realmente significa]... [vou ao dicionário ...relaciona a tarefas do lar, ou seja, é como se fosse doméstica, do lar... Então o que pensei não estava equivocado].

A seguir, ao se deparar com a palavra HOYO, o discente se utiliza do

dicionário, estratégia de busca externa, porém tal definição não o convenceu, pois

ele havia, com base em seu conhecimento linguístico da língua espanhola, pensado

57

em outro significado para o verbete e não confirmou a sua primeira hipótese. Mas

aceitou a tradução e solucionou o problema.

(Ex. 17-D) [A parte de HOYO]… [Para esta definição espera outra coisa, esperaba encontrar HUECOS, o contexto faz sentido fazer um buraco com o plantador, estou surpreso, é mais um verbete que vai agregar meu dicionário..].

Já no excerto 18-D, o tradutor, antes mesmo de buscar a palavra CHORRO

no dicionário, faz seu comentário em relação a alguns termos específicos de uma

determinada área ou até mesmo de um determinado contexto. Ao utilizar a

estratégia de busca externa, encontra uma solução para aquele termo e dá

continuidade à sua atividade.

(Ex. 18-D) Regar com CHORRO [vou procurar a palavra , não que seja um jargão de quem lida plantações, com agricultura, mas alguns termos são difíceis mesmo para quem não conhece...]

[CHORRO: líquido ou gás que sai pela abertura, como se fuera jato... SE CIERRA EL GRIFO DEJARÁ DE SALIR EL CHORRO DE AGUA…] com jato.

No trecho 19-D, o tradutor se utilizou somente de uma estratégia de busca

interna e não utilizou o dicionário. O interessante é que em seus comentários

sempre utiliza as duas línguas: espanhola e portuguesa, de forma que em vários

momentos encontramos esta interferência. A solução foi encontrada graças a seu

conhecimento linguístico e a traduz em sua versão final por “base” e após, insere os

comentários que se seguem:

(Ex. 19-D) Em seguida colocar uma chapa, uma capa de 2 a 2,5 cm de [LECA, “yo creo” que seja resíduos, alguma coisa para colocar dentro para ser misturada...] (pedras partidas que “yo creo” que em português seja seixos, pedaços de vasos quebrados, pedaços de ladrilhos e canto rodado)

58

5.2.1.5. Tradutora Discente E

Há um problema de compreensão que acontece, no Ex. 20-E, com a palavra

MACETAS. Este problema foi solucionado ao utilizar a estratégia de compreensão

em que a tradutora fez o uso de uma busca externa (dicionário) encontrando a

solução e retoma a frase para dar sentido à tradução.

(Ex. 20-E) [Seguindo com este tema (...) agora contamos alguns segredos para (...) ] fazer de TUS MACETAS, MACETAS (...) [vou procurar no dicionário o que é]. .. recipiente de barro, ah! ,tá aqui vaso, [entendi para fazer de seus vasos uma horta orgânica]

No exemplo a seguir, a tradutora se depara com a expressão CANTO

RODADO e utiliza da estratégia de busca externa para encontrar o significado, mas

como não encontrou, utilizou a estratégia de abandono e renunciou à tradução

daquela palavra, dando assim, continuidade a sua atividade tradutória. Outra

característica que encontramos aqui diz respeito também ao ethos desta tradutora,

pois ela prefere deixar como está o termo não compreendido para não errar,

provavelmente por ser uma discente do curso de letras e espanhol, o que requer,

segundo o ethos de competência que se espera para esse tipo de informante, que

ela conheça o léxico da língua na qual está sendo habilitada a trabalhar.

Paralelamente a isso, verificamos que se manifesta também um ethos de

virtude, que, seguindo Charaudeau (2005) se dá quando o sujeito demonstra

sinceridade e fidelidade, construindo assim, uma imagem de honestidade pessoal.

De maneira geral, este ethos vem acompanhado de uma atitude de respeito para

com o outro.

(Ex. 21-E) CANTO RODADO... [não sei o que é, vou ver se no computador tem ( ....) canto, e agora o que é que é rodado? <vou ao dicionário> (...)

como eu não sei que palavra é esta e não tem no dicionário, vou fechar o parênteses aqui, melhor que colocar.]

No exemplo a seguir, utilizou a estratégia de busca externa, e quando voltou

para seu conhecimento interno e dentro do contexto, não ficou satisfeita com a

59

opção apresentada. O descontentamento da tradutora está evidente quando diz:

“não tenho certeza vou colocar PERLITA”, ou seja, deixará o termo mesmo que não

concorde. Assim, este comportamento caracteriza uma atitude de abandono da

tradutora.

(Ex. 22-E) ABONO [vou procurar no dicionário ... adubo, terra fértil [estranho pode ser a mesma coisa “perlita con arena”, “perlita” deve ser pedra (...) ??? não tenho certeza vou colocar]

5.2.1.6. Tradutora Discente F

No excerto 23-F, extraído do PV, antes que a discente busque solucionar um

problema através de busca externa, no caso do dicionário, ela remete a seus

conhecimentos internos da língua, a seus conhecimentos linguísticos para entender

a frase como um todo. E assim, continua sua atividade tradutória.

(Ex. 23-F) [“Realizar” não sei o que é SULCO vou procurar no dicionário on line ... é a mesma coisa que sulco, não sei o que é a palavra AZADA eu acho que é assada vou procurar... Ah é enxada, então fica assim realizar o sulco com a enxada].

Ao analisar os excertos acima podemos perceber que as estratégias de

compreensão envolvem a resolução de problemas encontrados pelo tradutores

inexperientes em determinados trechos do TLP, tais como: o desconhecimento de

uma palavra ou expressão, problemas de conhecimento de mundo, linguístico e

textual, que muitas vezes eram solucionados e outras abandonados por parte de

quem traduzia. Percebemos ainda que utilizavam para solucionar os problemas

estratégias de busca interna e externa.

Podemos observar que cada grupo construiu em seu discurso um ethos

diferenciado, pois quando foi solicitada a realização da atividade ao primeiro grupo

dos docentes, foi pedido que realizassem a tarefa tradutória, repetindo algo já feito

antes, e ao grupo de discentes foi solicitado apenas que traduzissem um texto

específico da área agrícola.

Assim, o primeiro grupo se define como professores da área em questão,

buscando adequar seu texto de uma maneira mais simples e clara para que seu

público entenda, ou seja, o foco será um produto final para seus alunos. Já os

60

discentes, buscam um texto bem traduzido, dentro da norma culta da língua, com

sinônimos de forma que os termos não se repitam, mostrando que esta experiência

de que participam pode estar ligada a uma expectativa de avaliação de suas

competências. Diante disso, os docentes se ocupavam mais com os itens lexicais

para produzir um texto mais inteligível e generoso para seus alunos, se apoiavam

em termos técnicos e menos linguísticos, em contrapartida, os discentes se

preocupavam com um texto mais acabado e com legitimidade, se apoiavam mais no

linguístico e menos no técnico.

5.2.2. Estratégias de tradução do TLP

As estratégias de tradução acontecem quando o tradutor encontra um

problema e busca manter uma equivalência entre a expressão ou palavra na língua

de partida e a melhor forma de expressá-lo na língua de chegada. Uma estratégia de

tradução pode resultar em uma solução, ou em uma impossibilidade de resolução do

problema em um determinado momento da atividade tradutória, ou seja, uma

renúncia de continuar buscando uma determinada palavra.

5.2.2.1. Tradutor Docente A

(Ex. 24-A) [vou procurar no dicionário só para ter mais trabalho né... deixa eu ver aqui...] [ MACETA... recipiente de barro para cultivar plantas então aqui no texto esta palavra deixa eu ver aqui deixa eu ver aqui no texto se refere como uma vasilha que pode fazer tá utilizando ela para fazer um cultivo de uma hortaliça utilizando um processo orgânico para fazer de tuas vasilhas ou peças que você tem em casa né...]

Neste trecho, apesar de ter um problema de compreensão com a palavra

MACETAS, o professor antes de buscar no dicionário diz que no caso dará mais

trabalho, é como se ele quisesse mostrar que já sabe do que se trata, ou tem uma

certa noção da palavra e seu significado. Esta expressão se repete mais vezes

durante a atividade. Ele volta para colocar o significado dentro de um contexto e

explica através de seu conhecimento linguístico e de uma forma didática,

estabelecendo a relação contratual e o objetivo do texto - que será produzido de

forma que seus alunos entendam. De acordo com Charaudeau (2005), o ethos de

61

competência exige saber e habilidade ao mesmo tempo, melhor dizendo, o sujeito

tem de demonstrar habilidade no que sabe, o domínio das palavras e conhecimentos

técnicos e da língua e seus vários aspectos de forma que possa realizar

completamente seus objetivos para ter êxito e resultados positivos.

5.2.2.2. Tradutor Docente B

No Ex. 25-B, o tradutor, ao encontrar a palavra RALEADA, se utilizou de uma

estratégia de busca interna, e buscou um sinônimo para melhor explicar. A solução

foi encontrada graças a seu conhecimento específico de sua área técnica.

(Ex. 25-B) [Pode ser semeada em canteiros, direto do canteiro em local definitivo para logo ser RALEADA...] [vou colocar entre parênteses aqui que é o mesmo que desbaste]. Logo ser raleada (desbaste). Necessita água e solos bem drenados, solos drenados.

5.2.2.3. Tradutor Docente C

Abaixo, o tradutor tinha uma ideia do que a palavra significava, e foi ao

dicionário apenas para confirmar sua hipótese. Utilizou então da estratégia de busca

interna primeiramente, e para confirmar sua hipótese recorre a uma busca externa.

As relações que fazemos com o que sabemos e as inferências são pontos cruciais

no apoio interno de que dispomos. Assim, Alves (2010:57) afirma que “o

conhecimento de mundo é a somatória de todos estes conhecimentos e que

podemos chamá-lo de pré-texto, ou seja, o ponto de onde partimos, com as

informações de que já dispomos para processar informações novas que recebemos”.

(Ex. 26-C) [Tem a palavra aqui ROTAS que ta no sentido de quebrado, mas vou confirmar porque não é uma palavra usual...] Justamente como eu pensei... quebrada...e completar com a mistura preparada.

No Ex. 27-C, o tradutor, no início do parágrafo, tinha a ideia do que a palavra

significava, mas vai ao dicionário para observar mais sinônimos. Entretanto, ao

buscar não encontra o significado e utiliza o seu conhecimento de mundo e

específico da área, bem como o contexto para deixar sua tradução mais próxima de

62

seu público, no caso para os alunos que terão acesso ao texto. Este é um exemplo

típico de problemas de tradução, que envolve a correspondência entre as línguas.

(Ex. 27-C) [SEGÚN vai no sentido “de acordo”] e algumas variedades, se cultiva o ano todo. Pode semear no ALMÁCIGO é no sentido de uma... não tem no dicionário tradutor nem no outro , mas é no sentido de sementeira...] na sementeira ou direto no lugar definitivo para logo desbastar. Necessita água e solos drenados.

5.2.2.4. Tradutor Discente D

Neste exemplo a seguir, o tradutor utiliza a busca externa e não tem êxito,

mas busca resolver o problema através da adaptação que segundo Barbosa (1990)

é o procedimento que se aplica em casos onde a situação extralinguística a que se

refere o texto de origem não existe o universo cultural dos falantes da língua de

tradução.

(Ex. 28-D) [como LECA não está cifrada no dicionário vamos fazer uma adaptação, seria o quê? Poderia ser base porque essa parte é aquela que fica no fundo do jarro que é a parte que vai escoar a água com mais facilidade, a parte da terra fértil fica sobre ela, onde será depositada as raízes das plantas, então poderia colocar como base]

Abaixo encontramos outro exemplo de adaptação para resolver o problema

encontrado, onde o tradutor refinou seu texto através da ativação de seu

conhecimento linguístico. Neste momento, percebemos a construção do ethos deste

discente, pois buscou mostrar seu entendimento quanto ao processo da tradução, e

expôs seus argumentos antes de solucionar o problema encontrado. Assim, no dizer

de Maingueneau (2005:98) “por meio da enunciação, revela-se a personalidade do

enunciador”:

(Ex. 29-D) [será que é seixo, não consegui a tradução desejada

, é um processo demorado, pois se formos observar o processo de tradução é um pouco de falsificação, pois jamais poderemos produzir um texto de uma língua para outra e expressar exatamente o que o texto original quis dizer, sempre vai ter adaptações, como eu não consegui a tradução de PERLITA, coloca-se areia, pois é PERLITA ou areia]

63

5.2.2.5. Tradutora Discente E

O exemplo abaixo é interessante. Nele a tradutora demonstra ter um

problema de compreensão, pois não tem conhecimento da palavra LECA.

Primeiramente ela faz uma busca externa, consultando o dicionário, mas não

encontra solução para o seu problema, então faz uma busca interna e imagina ter

encontrado a solução. Mas continua sua tradução e retoma a palavra novamente

através do conhecimento textual e encontra uma melhor expressão para explicar a

palavra no TLC.

(EX. 30- E) LUEGO. Logo, colocar UNA CAPA DE LECA, [o que é leca] [não tem a palavra LECA no dicionário, mas eu imagino que seja adubo] uma camada de 2 a 2,5 cm de adubo, [vou deixar esta palavra depois eu vejo] LECA (também pode ser pedra partida ou pequenas pedras fica melhor do que pedras partidas, pedaços de MACETAS [o que são macetas, eu procurei? (...) [Ah! são vasos , então pode ser] pedaços de vaso, é pedaços de tijolo, tijolos...

5.2.2.6. Tradutora Discente F

De início, essa tradutora tem um problema de compreensão solucionado

através de uma busca externa e após as acepções apresentadas pelo dicionário

continua sua atividade tradutória. PAGANO (2010:39) destaca que “a necessidade,

por parte do tradutor, de buscar em fontes de consultas externas informações que

não possui é fato inquestionável no exercício da atividade tradutória”, pois por mais

experiente que seja o tradutor, terá que contar com pesquisas, leituras acerca de um

determinado tema, dicionários monolíngues e bilíngues, outros textos, que possuam

termos e expressões que possam servir na produção do TLC.

E em sua versão da tradução, ela utiliza o verbo “recoger” em espanhol para

expressar a palavra RASTRILLAR, mas ao traduzir, coloca “recorrer” em português,

remetendo ao mesmo som entre as duas línguas em questão.

(Ex. 31-F) [Não sei o que é a palavra RASTRILLAR estou procurando no dicionário on line, e agora vou para o manual...

“recoger hierbas o plantas secas...rastrillo então fica...”]

64

Recorrer plantas secas para tapar com terra. Regar em forma de chuva fina, sem encharcar.

No exemplo a seguir, a tradutora desconhecia o significado da palavra LECA.

Ela vai aos dicionários e não encontra uma tradução, não fica satisfeita e voltando

ao texto e a partir do conhecimento textual tenta explicar a palavra pelo próprio

contexto. Houve ainda por parte da tradutora um abandono na tradução literal da

palavra, e como não foi encontrado o significado, deixou-a na língua de origem e

continuou a tradução do parágrafo.

(Ex. 32-F) Vou procurar o que é LECA no dicionário on line e não foi encontrado vou para o manual ... não tem no dicionário manual, vou procurar no dicionário on line...

... não encontrado mas no texto está dizendo um pouco sobre o que seria LECA (também pode ser uma pedra partida, vasos quebrados, pedazos de vidro, canto rodado)

As estratégias de tradução envolvem a percepção dos sentidos expressos

pelo texto, assim, o leitor do TLP que passa a exercer a função de tradutor deste

texto utiliza princípios na reconstrução de um texto mais coeso. Logo, busca em

fontes externas e internas conhecimentos que dão subsídios para expressar os

termos no TLC.

5.2.3. Estratégias de Produção do TLC

As estratégias de produção do TLC dizem respeito à resolução de problemas

relativos à recepção do texto pelo público alvo. Trata-se ainda de um refinamento do

texto traduzido.

5.2.3.1. Tradutor Docente A Este tradutor apresenta em algumas partes do texto a estratégia de

refinamento textual, objetivando a melhor compreensão de seu aluno. Ele lê o texto,

faz comentários e, quando o traduz de uma maneira simples e didática, substitui

termos técnicos da área específica de sua atuação. Assim, o tradutor fez uma busca

interna de seus conhecimentos para realizar a atividade. Aqui neste exemplo, o

contrato tradutório se realiza entre este professor e seu público alvo, que são os

65

alunos que esperam um texto mais explicativo e coeso. Para isso, ele utilizou de

estratégias discursivas para atingir este seu público, sendo ainda fiel ao TLP.

(EX.29 A) SEMBRAR... esta palavra vou procurar no dicionário

é realizar o transplante

vou procurar no dicionário para completar meu raciocínio...

[SEMBRAR então refere-se ao semeio das mudas né ao

transplante]

semear (transplantar) as mudas

Em outro trecho, (Ex. 30-A) percebemos também bem clara tal característica

mencionada acima. Pois, quando pensamos no contrato de comunicação subjacente

à atividade que pretendemos analisar, esperamos que os sujeitos (professores)

possuam e demonstrem um conhecimento e uma identidade profissional específica

da área, que esse participante tenha como objetivo transmitir seus conhecimentos

aos sujeitos aos quais se dirige para atingir seus objetivos didáticos, que é um texto

traduzido para ser utilizado em sala pelos seus alunos e que este seja

compreendido. Então, a palavra RALEAR é traduzida por desbaste, uma palavra

mais comum ao seu contexto e um sinônimo de ralear que possui o mesmo

significado nas duas línguas.

(Ex. 30-A) LECHUGA: OCUPA POCO ESPACIO Y, SEGÚN LAS VARIEDADES, SE CULTIVA TODO EL AÑO. PUEDE SEMBRARSE EN ALMÁCIGO O DIRECTO EN EL LUGAR DEFINITIVO, PARA LUEGO RALEAR. NECESITA AGUA Y SUELOS DRENADOS. AL COSECHAR, PUEDE CORTARSE LA PLANTA A RAS DEL SUELO O SACAR LAS HOJAS EXTERNAS.

[Então este texto aquí dá uma visão que a alface ocupa pouco espaço e segundo as variedades se cultiva todos os anos e se pode fazer mudas ou colocar direto em lugar definitivo né e depois você pode fazer uma raleação que traduzindo para uma palavra técnica nossa você pode fazer um desbaste que necessita de água e solos drenados você pode arrancar ela do solo e deixar as folhas externas…]

66

5.2.3.2. Tradutor Docente B

No Ex. 31-B, o tradutor utiliza a estratégia de busca interna e para que seu

texto se torne mais explicativo, coloca a palavra mais usual no contexto de sua área

específica entre parênteses, de forma que possa ter mais um sinônimo da palavra

RALEAR. Segundo Barbosa (1990), dentro do processo tradutório existe o

acréscimo, que tem a finalidade de tornar o texto mais claro para o público. O

tradutor demonstra que conhecia o assunto e que poderia contribuir acrescentando

mais informações.

(Ex. 31-B) Pode ser semeada em canteiros, direto do canteiro em local definitivo para logo ser RALEADA [vou colocar entre parênteses aqui que é o mesmo que desbaste] Necessita água e solos bem drenados (...)

5.2.3.3. Tradutor Docente C

No trecho 32-C, o tradutor não encontra o termo ALMÁCIGO no dicionário e

então faz uma busca interna a fim de sanar a princípio um problema de tradução,

mas tendo resolvido este problema ele procurou tornar seu texto mais próximo de

seu público leitor. Utiliza a estratégia de refinamento textual, e a partir do contexto

encontra um termo que deixa mais claro o TLC.

(Ex. 32- C) [ ALMÁCIGO é no sentido de uma... não tem no tradutor nem no outro, mas é no sentido de sementeira...] na sementeira ou direto no lugar definitivo para logo desbastar. Necessita água e solos drenados.

5.2.3.4. Tradutor Discente D

No exemplo 33-D, o discente, ao utilizar a estratégia de refinamento de seu

texto, buscou um sinônimo para a tradução da palavra MACETAS de forma que não

pudesse repetir o que já havia mencionado antes, ativa seu conhecimento de mundo

através de uma busca interna e após suas reflexões textuais opta por continuar

usando a tradução “vaso” para a palavra.

67

(Ex. 33-D) [ A primeira tradução que eu vi de MACETAS foi por vaso, vou procurar um sinônimo para isso...vou ao dicionário ...acredito que em português como em espanhol seja igual (...) [Achei... tá aqui recipiente de barro cheio de terra. Usa-se como na primeira vez como vaso, mas é muito comum na linguagem popular chamar de jarro, a tradução pelo português muito mais próximo e coloquial é jarro. Como preparar o jarro, eu vou optar por vaso porque usei na primeira parte do texto].

No exemplo abaixo, o tradutor, para não deixar seu texto com a mesma

palavra do TLP, procura explicá-la de forma que se torne mais clara para o leitor de

seu texto. Utilizou a estratégia denominada acréscimo ou explicitação que acontece

quando o tradutor insere explicações ou comentários para se ter um texto mais

coeso e pertinente para o momento.

(Ex. 36-D) “Deste modo teremos terminado”, [completado.. o CONTENEDOR é aquilo que contém, se eu colocar CONTENEDOR em português não vai dar certo, vou colocar “recipiente para semear e plantar nossas verduras.”

Em outro trecho do texto, o discente foi ao dicionário para buscar a palavra

AZADA e há um descontentamento com o resultado, e logo após faz uma busca

interna ao procurar através do entendimento da frase, uma resposta à sua dúvida,

Para refinar ainda mais seu texto busca um sinônimo para a palavra de forma que

seu texto fique acessível e de fácil compreensão ao leitor.

(Ex. 37-D) [Vou procurar AZADA...

ferramenta inteira para perfurar terra ..muito formal....como faria esta tradução, diria plantador?

Digamos fazer um sulco com uma ferramenta. Colocar as sementes no [ como eu utilizei sulco no primeiro vou usar um sinônimo, pois se por acaso a pessoa ler e não entender sulco, não precisa pesquisar, a segunda opção define a primeira] no orifício perfurado.

5.2.3.5. Tradutora Discente E

O interessante no exemplo a seguir é que, ao revisar seu texto, a tradutora se

preocupa com o melhor termo de maneira que sua frase fique mais clara e coesa.

Esta preocupação faz com que o exemplo abaixo seja incluído nesta categoria de

refinamento textual.

68

(Ex. 38-E) [Dias atrás (...) te damos é...lhe damos não, fica estranho pode ser] demos algumas dicas sobre como iniciar ou ingressar (...)

Aqui em outro momento da atividade, a discente mais uma vez se preocupa

com os elementos linguísticos na frase,um sinônimo da palavra “buraco” e a melhor

forma de expressá-lo no TLC.

(Ex. 39-E) “Com sementes fazer um buraco”, [um buraco não, fica muito feio, a ideia é fazer um pequeno buraco para colocar as sementes. Se eu traduzir do jeito que está fica estranho então é fazer... tem outra palavra para buraco? ]

No excerto abaixo, a tradutora busca um sinônimo para a palavra, e diz

precisar de um dicionário em língua materna para solucionar seu problema e

adequar seu texto a um público leitor. Percebe-se aqui também um ethos construído

por parte da discente que quer refinar seu texto para que ele fique dentro da norma

padrão da língua, pois ela é uma estudante do Curso de Letras e, segundo as

estratégias que demonstra adotar, precisa construir um TLC bem coerente e coeso.

É o que Charaudeau (2005) denomina ethos de competência onde o sujeito

demonstra habilidade do que sabe, no caso, o domínio das palavras e

conhecimentos da língua e seus vários aspectos de forma que possa realizar

completamente seus objetivos para ter êxito e resultados positivos.

(Ex. 40-E) Regar com jato d’água. Colocar as sementes. RASTRILLAR...como se diz puxar é... é fechar o buraco. Fechá-lo. Fazer o sulco com a ferramenta. [meu Deus não vem outra palavra senão buraco na cabeça, fechar... que na verdade é... eu precisaria de um dicionário em português pra procurar outro sinônimo para palavra buraco para não ficar tão estranho.]

Outro exemplo de refinamento textual está no excerto abaixo, onde a

tradutora busca a melhor forma de dizer no TLC.

(Ex 41-E): Pode-se semear nas sementeiras, [pode-se plantar fica melhor] ou direto ou no lugar definitivo (...)

69

5.2.3.6. Tradutora Discente F

Neste exemplo, a tradutora, ao reler seu texto, se deparou com uma

expressão que, após fazer sua busca interna e ativar seus conhecimentos

linguísticos, deixou como estava por acreditar que o contexto explicava e assim o

leitor entenderia. Então houve uma recusa a refinar o TLC.

(Ex. 42-F): Regar em forma de chuva com flor fina, no texto diz com flor fina, vou deixar do mesmo jeito pois eu acho que é pelo contexto.

5.2.4. Outras questões de ethos como estratégia do discurso Na perspectiva da Análise do Discurso, em especial nos trabalhos de

Maingueneau (1995, 2005, 2011), o enunciador deve legitimar seu dizer. Em seu

discurso, ele se atribui uma posição institucional e marca sua relação a um saber. A

palavra vem de alguém que, por meio dessa palavra, demonstra possuir

determinadas características. Por meio do discurso, o enunciador faz sentir certo

comportamento. Isto é, por meio do que o sujeito fala é que é revelada sua

personalidade.

5.2.4.1. Tradutor Docente A

No excerto abaixo, o tradutor demonstra, através de seu discurso, que ele irá

utilizar uma fonte externa de consulta, no caso, o dicionário para ter mais trabalho,

pois é possível entender que, por ele ser formado em engenheiro agrônomo e o

texto proposto possuir características bem específicas desta área, então seu próprio

léxico interno poderá auxiliá-lo durante a atividade. Conforme Maingueneau (2005,

p. 56) “a questão do ethos está ligada à da construção da identidade”. Cada tomada

da palavra implica ao mesmo tempo levar em conta representações que os parceiros

fazem um do outro, e a estratégia de fala de um locutor que orienta o discurso de

forma a sugerir através dele uma certa identidade.

(Ex. 43-A): [vou procurar no dicionário só para ter mais trabalho né... deixa eu ver aqui ...]

70

Já neste outro trecho abaixo, onde o docente fala um pouco da atividade que

realizou, ele confirma novamente sua imagem de professor da área agrícola e deixa

claro que buscou adequar o produto final ao seu público, o aluno, para quem deixou

seu texto mais explicativo e compreensível. Não foi necessário que o docente

falasse de si, mas deixou pistas ao longo de seu discurso que permitem a

construção da imagem do enunciador.

(Ex. 44-A): [ bom o texto é de fácil compreensão para quando você tem um certo conhecimento já da língua e de que você está trabalhando né porque se você pegar um texto técnico diferente do que você trabalha diariamente é com certeza vai ficar mais difícil para compreensão, mas quando você já conhece termos técnicos a tradução já se torna mais fácil e a coisa que eu observei da tradução para o português é que o texto é resumido e para que você compreenda melhor este texto na escrita do português você tem que colocar mais palavras para que ele seja melhor compreendido na língua português porque é um rápido resumo explicativo e direto de como você cultiva e colhe as hortaliças em sua casa mas com certeza pessoas que não estão acostumadas a ler palavras técnicas vão encontrar mais dificuldades. Como eu trabalho nesta área não encontrei muitas dificuldades, algumas palavras que procurei no dicionário já era aquilo que previa por conhecer os termos técnicos mas é um texto de fácil compreensão quando você conhece do que se trata o assunto, não tive problema]

5.2.4.2. Tradutor Discente D

O tradutor discente, antes mesmo de iniciar sua tradução, comenta as

estratégias que irá utilizar durante sua atividade, deixando claro em seu discurso

que tem o conhecimento linguístico adquirido em seu curso de graduação, no caso,

Letras. Ele busca construir uma imagem de especialista frente à professora que está

ali solicitando uma tradução de um texto.

(Ex. 45-D) [A princípio, vou começar com uma leitura prévia do texto para acertar o conteúdo ...Ao passo que eu vou fazendo a leitura, vou ver os termos que não são comuns ao meu cotidiano, ao meu contato certo...que vou buscando entender antes mesmo de procurar no dicionário, tento ver o contexto para saber o significado daquela palavra sem que necessite

71

buscar meios externos, é, além de meu próprio léxico interior (...)]

Em alguns momentos é interessante ressaltar que este tradutor mistura as

línguas portuguesa e espanhola em seus comentários durante o ato tradutório.

Assim, é possível perceber que ele busca mostrar que domina as duas línguas em

questão e os códigos são trocados constantemente e naturalmente. Assim, o

enunciador busca construir, por meio do discurso, representações positivas de si,

deixando marcas de sua subjetividade materializadas na língua.

(Ex. 46-D): [A principio el texto es muy interesante, pues sigue como se fuera una instrucción paso a paso para hacer una cosa, bien sencillo para alguna persona que no conozca bien el idioma.] (Ex. 47-D): [Continuando...às vezes quero escrever em espanhol, este é um hábito comum...]

Analisando estes exemplos, mais uma vez o tradutor em seu discurso se

constrói. Sendo que, para construir tal imagem, não é necessário que o enunciador

fale sobre si ou apresente para os ouvintes suas características, suas qualidades e

defeitos, pois, no momento do discurso, lançam-se pistas acerca desta imagem: seu

estilo, sua visão de mundo, seu conhecimento acerca de determinados assuntos,

dentre outros, que permitirão aos ouvintes realizarem a construção da imagem do

enunciador (Cf. AMOSSY, 2005, p. 9).

(Ex. 49-D): [Apesar da estrutura do português e do espanhol serem muito parecidas, você constrói algumas coisas e algumas vezes fica um pouco estranho e você às vezes tem que refazer quando a tradução é ao pé da letra]...

No exemplo a seguir, o tradutor caracteriza em seu discurso um ethos dito, no

momento em que ele está traduzindo, pois este se refere a uma evocação direta por

parte do próprio enunciador. A frase do tipo: “não usaria palavras da expressão oral,

teria que construir um texto um pouco mais elaborado”, deixa clara tal característica

deste discente.

72

(Ex. 50-D): [SEMBRAR, ou seja, semear, transplantar novas verduras... Seria a tradução disto] [Mas não usaria palavras da expressão oral, teria que construir um texto um pouco mais elaborado, ou seja, a partir do momento em que se usa o papel tem que ser diferente] (...) Vou fazer a tradução diretamente...

Conforme Charaudeau (2005) o ethos de Inteligência faz parte dos ethé de

identificação “na medida em que pode provocar a admiração e o respeito dos

indivíduos por aquele que demonstra tê-lo e assim o faz aderir a ele”. Neste caso, o

sentido da inteligência ser considerada como um imaginário coletivo da maneira que

um grupo social a valoriza. Aqui não se trata somente da maneira como ele fala e

sim do que pode servir como aprendizado em sua trajetória.

(EX. 51- D) Colocar as sementes no SULCO [ como eu utilizei sulco no primeiro vou usar um sinônimo, pois se por acaso a pessoa ler e não entender sulco, não precisa pesquisar, a segunda opção define a primeira] no orifício perfurado.

73

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta desta dissertação foi a análise de uma atividade tradutória

proposta para um grupo de 6 informantes compostos por 3 professores da área

agrícola e por 3 estudantes do Curso de Letras Espanhol e Literatura Hispânica do

Instituto Federal de Roraima. Vale ressaltar ainda que todos estavam inclusos na

categoria de tradutores inexperientes.

Este grupo de informantes foi instruído a oralizar durante a tradução o que

estavam fazendo, com base na técnica do protocolo verbal, sendo que este tipo de

técnica nos permite visualizar, após as transcrições, as estratégias utilizadas pelo

informante ao encontrar um problema, a forma como é resolvido e o comportamento

do tradutor frente a esta tarefa.

Desta forma, pretendemos verificar se haveria diferença entre estes dois

grupos selecionados quanto à realização do que foi proposto: a tradução de um

texto descritivo, específico de uma área agrícola que ensinava passos para plantar

uma horta em casa. Nossa hipótese consistia em encontrar diferentes

comportamentos nos dois grupos, pois os professores realizaram uma atividade que

já haviam feito e tinham como público alvo seus alunos e no momento que a tarefa

lhes foi solicitada, apenas repetiram o que já tinham o hábito de fazer, enquanto que

os alunos não tinham um leitor pré-determinado para o texto solicitado.

Assim, partindo do pressuposto comunicativo de que, quando se elabora uma

tradução, da mesma forma que ocorre quando se redige um texto, o sujeito

comunicante tem em mente um determinado tipo de receptor e suas estratégias

estariam subordinadas à imagem desse receptor, e ainda, qual o tipo de imagem

que os informantes faziam para quem ia ler aquela tradução - que poderia ser a

imagem da professora de espanhol, pesquisadora, que solicitava a realização

daquela tarefa, ou seja, cada um se colocaria numa relação construída com um

público previsto ou imaginado.

Ao analisarmos este material, estudamos os momentos em que houve a

interrupção no fluxo tradutório e a maneira como cada um se colocava na realização

da tarefa. Constatamos que o grupo de professores ativava seu conhecimento de

mundo e específico de sua área de atuação antes mesmo de consultar uma fonte

externa, no caso, os dicionários. Eles buscavam produzir um texto mais claro e

coerente para seus alunos. Já o outro grupo que era composto por alunos do Curso

74

de Letras- Espanhol, demonstrava seus conhecimentos linguísticos da língua

espanhola, bem como, da estrutura dessa língua. Utilizaram-se ainda de retomadas

ao contexto, da utilização de sinônimos procurando deixar o texto mais bem

elaborado e coeso. O comportamento destes dois grupos confirmou nossa hipótese

inicial em relação ao uso de estratégias e a imagem que cada um construía em seu

discurso.

O tradutor docente A foi, dentre os professores, o que mais se preocupou em

traduzir o texto e este ser entendido pelo aluno, buscou palavras técnicas a serem

utilizadas além das que estavam no texto e fazia uso de sinônimos. Antes de buscar

em fonte externa, primeiramente buscava em seus próprios conhecimentos

específicos da área de forma que, na maioria das vezes, utilizava o dicionário

somente para confirmar sua hipótese. Este informante se construiu dentro do

discurso de uma maneira a mostrar sua personalidade e seu perfil de professor

agrônomo que conhece sua área de atuação com propriedade.

O tradutor docente B começava a ler e já ia traduzindo o seu texto e

geralmente quando se deparava com problemas utilizava a estratégia de busca

externa e dava continuidade à tarefa, e às vezes recorria a seu próprio léxico

interior. Seu texto foi mais sucinto e objetivo, apesar de, pelo seu discurso,

demonstrar conhecer as palavras específicas e até adaptá-las dentro do contexto.

O tradutor docente C foi o mais rápido na execução de sua atividade,

encontrou poucos problemas de compreensão das palavras e a produção destas no

TLC. Recorria mais a seu conhecimento específico da área e quando não entendia,

buscava em dicionários.

Como estes informantes possuíam formação acadêmica semelhantes,

apresentando grau de leitura e compreensão do texto, ao se deparar com um

problema, por mais que se tratasse de um texto em língua espanhola, eles

buscavam resolver ativando seu conhecimento específico da área, formando assim

um ethos de professor de uma escola agrícola.

Já o tradutor discente D foi desde o início construindo seu ethos de estudante

de Letras-Espanhol, mostrando em seu discurso conhecimentos aprendidos durante

o curso. Não previa um leitor, mas como estava diante de uma professora de

espanhol e pesquisadora da instituição em que estuda procurou construir um “ethos”

de competência. Ao se deparar com os problemas, buscava ativar seus

conhecimentos linguísticos, de mundo e textuais para resolvê-los, e utilizava o

75

dicionário somente em casos necessários. E ao produzir se TLC se preocupou com

os aspectos gramaticais, mostrando que queria deixar o texto bem produzido e de

forma clara e coesa.

A tradutora discente E utilizou mais vezes o dicionário para solucionar os

problemas, relacionados aos termos específicos de uma área e não tão comum para

ela. Mas também voltava ao contexto para entender a palavra, além de seu

conhecimento de mundo e textual. Ao produzir o texto, se preocupou com a

organização das ideias, utilizando sinônimos para não se repetir, buscando

conjunções e outros aspectos voltados para a elaboração de um bom texto. Com

isso, se construiu como uma estudante do Curso de Letras- Espanhol.

A tradutora discente F realizou a atividade de forma bem direta, comentava

pouco e a todo momento que encontrava uma palavra desconhecida, buscava o

dicionário. Quando não encontrava e não conseguia colocá-la dentro do contexto, se

recusava em continuar buscando ou a substituí-la, então preferia deixar a palavra

em língua espanhola do que colocar outra e errar. Às vezes, se mostrava meio

insegura na realização da tarefa, mas este tipo de cuidado mostra também o ethos

de uma aluna de um Curso de Letras Espanhol.

Estes três informantes do grupo de alunos apresentavam percursos

acadêmicos semelhantes, verbalizavam que tinham conhecimento da língua

espanhola, do universo textual e linguístico, mas não viram o texto como um todo e

sim atendo-se às partes que traduziam.

Assim, mais uma vez confirmamos a hipótese de que os tradutores docentes

se construíam mesmo como professores da área agrícola, enquanto os discentes

construíam seu discurso como futuros professores de espanhol. Assim, cada um

realizou a atividade com um objetivo em mente: o grupo de docentes, pensando no

seu público habitual, e o grupo de estudantes, comportando-se como estudantes

numa atividade em que seus conhecimentos estariam sendo avaliados.

A partir de tais conclusões, entendemos a tradução, assim como Corrêa e

Neiva (2000) como sendo uma tarefa que envolve necessariamente um duplo

processo de compreensão e produção textual. E para se chegar a um resultado

satisfatório, o tradutor deve se servir de estratégias que darão sentido ao texto em

função de objetivos previamente definidos.

76

Podemos dizer que os resultados dessa pesquisa foram de grande valia, pois

nos deram meios de compreender como os tradutores inexperientes se comportam

diante de um texto em língua estrangeira e como estes concebem o fazer tradutório.

Acreditamos que as reflexões que aqui foram levantadas como subsídios de

uma atividade tradutória possam servir como fundamentação para pesquisas

posteriores dentro da Área dos Estudos da Tradução em seu viés linguístico e

discursivo.

77

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMOSSY, Ruth. Imagens de si no discurso. A construção do ethos. São Paulo: Contexto, 2011.

ARROJO, Rosemary. Oficina de tradução: a teoria na prática. São Paulo: Ática, 2007.

_________. Tradução, desconstrução e psicanálise. Rio de Janeiro. Ática, 1986.

_________. O signo desconstruído: implicações para a tradução, a leitura e o ensino. Campinas, Pontes, 1992.

BARBOSA, Heloísa Gonçalves. Procedimentos técnicos da tradução: uma nova proposta. Campinas, São Paulo: Pontes, 1990.

CHARAUDEAU, Patrick. Ethos, uma estratégia do discurso político. IN: Discurso Político. São Paulo: Contexto, 2005.

__________. Linguagem e discurso: modos de organização. Coords. de Trad.:Ângela M.S. Corrêa & Ida Lúcia Machado. São Paulo: Contexto, 2009.

CHARAUDEAU, Patrick & MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de Análise do Discurso. 2ª ed. São Paulo: Contexto, 2008.

CINTRÃO, Heloísa P. Sobre lupas e mapas. Os conhecimentos declarativos em fases iniciais de desenvolvimento da competência tradutória. IN: PIETROLUONGO, Márcia Atálla. (org.). O trabalho da tradução. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2009.

CORACINI, Maria José Rodrigues Faria (org.). O jogo discursivo na aula de leitura: língua materna e língua estrangeira. Campinas : Pontes, 2002.

CORRÊA, Ângela Maria da Silva. Erros em tradução do francês para português: do plano linguístico ao plano discursivo. Rio de Janeiro: Fac. de Letras da UFRJ. Tese de doutorado em Linguística, 1991.

_______. Uma abordagem comunicativa da tradução. IN: PAULIUKONIS, M.A.L e GAVAZZI, S. (orgs.) Da língua ao discurso: reflexões para o ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005. P.221 a 229

_________. Uma abordagem discursiva da tradução. IN: Recorte - revista de linguagem, cultura e discurso. Ano 4 - Número 7 - Julho a Dezembro de 2007. P.01 a 08.

CORRÊA, A.M.S. e NEIVA, Aurora M. Soares. Estratégias e Problemas do tradutor aprendiz: uma visão introspectiva do processo tradutório. IN: MONTEIRO, Mª José P. (org.) Práticas discursivas: instituição, tradução & literatura. Rio de Janeiro: UFRJ, Faculdade de Letras, 2000.

78

CORRÊA, Angela M. S.; CUNHA, Tânia Reis. Trabalhando a leitura em sala de aula. In: Estratégias de leitura: texto e ensino. PAULIUKONIS, Maria Aparecida L.; SANTOS, Leonor W. dos. (Orgs.) Rio de Janeiro: Lucerna, 2006.

CUNHA, Tânia Reis. Fatores Discursivos de interrupção do fluxo tradutório do francês para o português. Rio de Janeiro- UFRJ, Fac.de Letras, 2002. Tese de Doutorado.

ECO, Umberto. Conceito de texto. São Paulo: T.A. Queiroz; Ed. da Universidade de São Paulo, 1984.

_____________. Quase a mesma coisa: experiências de tradução. São Paulo: Record, 2007.

ERICSSON, K. A. e SIMON, H.A. Verbal reports as Data, Psychological Review, 1980.

FAERCH, Claus, KASPER, Gabriele. Plans and strategies in foreign language communication. IN: ____ Strategies in interlanguage communication. London: Longman, 1983.

JÄÄSKELÄINEN, Riita. Investigating translation strategies. IN: TIRKKONEN- CONDIT, S., LAFFLING, J. Recent trends in empirical translation research. Joensuu, 1993.

JAKOBSON, Roman. Linguística e Comunicação. IN: Linguística e Teoria da Comunicação. São Paulo, Cultrix, 1999.

KLEIMAN, Ângela. Oficina de leitura. Campinas: Pontes,1989.

------. Leitura: ensino e pesquisa. 2ª ed. - Campinas/SP: Pontes, 1996.

------. Texto e leitor - aspectos cognitivos da leitura. 6ª ed. - Campinas : Pontes, 2004.

LEFFA, Vilson José. Aspectos da leitura: uma perspectiva psicolingüística. Porto Alegre : Sagra: DC Luzzato, 1996.

LÖRSCHER, W. Translation performace, translation process and translation strategies. A psycholinguist investigation. Tubigen: Narr, 1991.

LYONS, John. Linguagem e lingüística. Rio de Janeiro : Guanabara, 1987.

MAINGUENEAU, Dominique. A noção de ethos discursivo. A propósito do ethos. In: MOTTA, Ana Raquel & SALGADO, Luciana. (Orgs.). Ethos discursivo. 2ª. Edição. São Paulo: Contexto, 2011.

________. O contexto da obra literária. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p.137-154.

79

________. Ethos, cenografia e incorporação. In: AMOSSY, Ruth. Imagens de si no discurso: a construção do ethos. São Paulo: Contexto, 2005.

MILTON, John. Tradução, teoria e prática. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

MOITA LOPES, L. P. Oficina de lingüística aplicada. Campinas: Mercado de Letras, 1996.

------. Interdisciplinaridade e intertextualidade: leitura como prática social. In Anais do 3º Seminário da Sociedade Internacional de Português e Língua Estrangeira. Niterói : UFF, no prelo.

MOOR, A. M.; CASTRO, R. V.; COSTA, G. P. O ensino colaborativo na formação do professor de inglês instrumental. In: LEFFA, V. (Org.). O professor de línguas estrangeiras: construindo a profissão. Pelotas: Educat, 2001.

ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise do discurso: princípios e procedimentos. 6ª ed. Campinas: Pontes, 2005.

PAGANO, Adriana Silvina, MAGALHÃES, Célia e ALVES, Fábio. Traduzir com autonomia: estratégias para tradutor em formação. São Paulo: Contexto, 2010.

PIETROLUONGO, Márcia Atálla. (org.). O trabalho da tradução. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2009.

REAL ACADEMIA ESPAÑOLA. Diccionario de la lengua española. 22ª ed. Madrid. RAE, 2001. Disponível em: http://www.rae.es/rae.html. Acesso em: 10 de fev. de 2012.

RODRIGUES, Cristina Carneiro. Tradução e diferença. São Paulo: Editora Unesp, 2000.

SACRAMENTO, Cristina Jesus de. Relações entre estratégias de tradução e estratégias de leitura: uma pesquisa introspectiva. UFRJ, Faculdade de Letras, 2001. Dissertação de Mestrado.

SANTOS, Luiz Américo Portela. O processo tradutório: análise de problemas e estratégias de solução em tradução do francês para o português. Rio de Janeiro, UFRJ, Faculdade de Letras, 2002. Dissertação de mestrado.

SOARES, M. As condições sociais da leitura: uma reflexão em contraponto. In: ZILBERMAN, R.; SILVA, E. T. (Org.). Leitura: perspectivas disciplinares. São Paulo: Ed. Ática, 2000.

TERZI, Sylvia Bueno (1997). A construção da leitura. 2ª ed., Campinas : UNICAMP, 1997.

TOURY, G. In search of a theory of translation. Tel Aviv: Porter Institute for Poetics and Semiotics, Tel Aviv University, 1980.

80

Van DIJK, T.A.; KINTSCH, W. Strategies of discourse comprehension. N. Tork: Academic Press, 1983.

VINAY, J.P;DARBELNET, J. Stylistique comparée du français et de l’anglais: méthode de traduction. Paris: Didier, 1958.

81

8. ANEXOS

ANEXO I:

http://www.brasilrepublica.com/roraima.htm. Acesso em: 07/08/2012.

82

ANEXO II: Trecho retirado da Revista Jardin “Cómo armar tu propria huerta em

casa”, endereço http://www.revistajardin.com.ar/nota.asp?nota_id=1071056. Acesso

em: 10/11/2010.

Cómo armar tu propia huerta en casa

Días atrás te dábamos algunos consejos sobre cómo iniciarte en el mundo de la huerta hogareña. Siguiendo con este tema, ahora contamos algunos secretos para hacer de tus macetas una huerta orgánica.

Cómo armar la maceta Es fundamental que el recipiente esté perforado en la base, para permitir la pérdida del exceso de agua. Luego, colocar una capa de 2 o 2,5cm de leca (también puede ser piedra partida, macetas rotas, trozos de ladrillos, canto rodado) y completar con la mezcla preparada (tierra fértil, abono y perlita o arena), hasta 1cm antes del borde de la maceta. De esta manera, tendremos listo el contenedor para sembrar o trasplantar nuestras verduras.

Con semillas Realizar el surco con la azada. Regar con chorro. Colocar las semillas en el surco. Rastrillar para tapar con tierra. Regar en forma de lluvia fina, sin encharcar.

Con plantines Hacer el hoyo con el plantador. Colocar el plantín en el hoyo y tapar con tierra con la mano, apisonando con los dedos firmemente. Regar en forma de lluvia con flor fina.

Las mejores hortalizas

• Lechuga: Ocupa poco espacio y, según las variedades, se cultiva todo el año. Puede sembrarse en almácigo o directo en el lugar definitivo, para luego ralear. Necesita agua y suelos drenados. Al cosechar, puede cortarse la planta a ras del suelo o sacar las hojas externas.

83

• Acelga: Se cultiva todo el año. Se obtiene a partir de semilla en su lugar

definitivo. Cuando salen las plantitas, ralear y dejar las que quedan a una distancia de 15cm entre sí. En el verano, regar a diario para que las hojas no se vuelvan duras. Se cosecha la planta entera, cortando a nivel del cuello.

• Ciboulette: Es de rápido crecimiento. Se planta en tierra suelta y bien abonada. Necesita pleno sol y abundante riego en el verano.

84

ANEXO III: QUESTIONÁRIOS QUESTIONÁRIO / DOCENTE A 1. Idade: 44 anos. 2. Formação: Engenheiro Agrônomo. 3. Profissão: Engenheiro Agrônomo e Professor. 4. Há quanto tempo você atua nessa profissão? 4 anos 5. Há quanto tempo atua como professor? 4 anos 6. Em que nível de ensino você atua? Superior e técnico 7. Como é o seu contato com a língua espanhola. Contato através de viagens na Venezuela, leitura de texto em espanhol para fins técnicos na área de agronomia, noticiários de televisão. 8. Comente como se deu a aquisição da língua espanhola. Através das pessoas que falam a língua. 9. Você utiliza a língua espanhola em outros contextos? Quais? Em eventuais visitas a Venezuela e com amigos que falam a língua. 10. Você, ao planejar suas aulas, tem o hábito de buscar textos em outra língua? Por quê? Quando necessário busco para melhorar minha aula. 11. Em que tipos de ferramentas você busca os textos? Comente. Revistas, livros. 12. Você tem o hábito de leitura? Sim. 13. Com que frequência? Comente. Diariamente. 14. Que tipo de texto você costuma ler? Jornais, revistas, rótulos de insumo agrícola etc. 15. Você tem o hábito de leitura em língua espanhola? Sim. 16. Em sua trajetória como docente, já teve alguma experiência em tradução? Já, mas sempre preciso de auxílio para traduzir. 17. Com que tipos de textos? Científicos e didáticos da área.

85

QUESTIONÁRIO / DOCENTE B 1. Idade: 52 anos 2. Formação: Engenheiro Agrônomo 3. Profissão: Professor (Mestrando em Agronomia) 4. Há quanto tempo você atua nessa profissão? 7 anos 5. Há quanto tempo atua como professor? 7 anos 6. Em que nível de ensino você atua? Ensino Técnico e Tecnológico 7. Como é o seu contato com a língua espanhola: Lendo artigos científicos, ouvindo músicas e conversando com os venezuelanos. 8. Comente como se deu aquisição da língua espanhola: Em contato com venezuelanos e leitura. 9. Você utiliza a língua espanhola em outros contextos? Quais? Em visitas a Venezuela e com amigos. 10. Você, ao planejar suas aulas, tem o hábito de buscar textos em outra língua? Por quê? Quando preciso enriquecer minha aula sim. 11. Em que tipos de ferramentas você busca os textos? Comente. Em sites, revistas e livros relacionado a atuação profissional. 12. Você tem o hábito de leitura? Sim. 13. Com que frequência? Comente. Diariamente. 14. Que tipo de texto você costuma ler? Livros específicos da área de minha atuação profissional. 15. Você tem o hábito de leitura em língua espanhola? Só quando leio artigos em sites. 16. Em sua trajetória como docente, já teve alguma experiência em tradução? Sim, mas informalmente. 17. Com que tipos de textos? Músicas e textos de revistas eletrônicas que precisava.

86

QUESTIONÁRIO / DOCENTE C 1. Idade: 31 anos. 2. Formação: Engenheiro Agrônomo. 3. Profissão: Engenheiro Agrônomo e Professor 4. Há quanto tempo você atua nessa profissão? 7 anos 5. Há quanto tempo atua como professor? 3 anos 6. Em que nível de ensino você atua? Superior e técnico 7. Como é o seu contato com a língua espanhola. Esporádico 8. Comente como se deu aquisição da língua espanhola. Através da escola, de visitas a Venezuela e leitura de textos. 9. Você utiliza a língua espanhola em outros contextos? Quais? Em eventuais visitas a Venezuela e com amigos que falam a língua. 10. Você, ao planejar suas aulas, tem o hábito de buscar textos em outra língua? Por quê? As vezes, pois alguns assuntos são bem explorados em outras línguas. 11. Em que tipos de ferramentas você busca os textos? Comente. Revistas, livros e sites de busca. 12. Você tem o hábito de leitura? Sim. 13. Com que frequência? Comente. Frequentemente. 14. Que tipo de texto você costuma ler? Científicos e atualidades. 15. Você tem o hábito de leitura em língua espanhola? Esporadicamente. 16. Em sua trajetória como docente, já teve alguma experiência em tradução? Já, mas pouca. 17. Com que tipos de textos? Científicos.

87

QUESTIONÁRIO / DISCENTE D 1. Qual é sua idade? 37 anos 2. Profissão: Servidor público 3. Qual é sua língua materna? (Caso não seja o português, há quanto tempo fala e/ou estuda esta língua). Português 4. Em que ano e semestre ingressou no curso de Letras/ Outro? 2008.1 5. Em que semestre você está? 7º semestre 6. Este ingresso se deu através de: (x ) vestibular 1a opção ( ) vestibular 2a opção ( ) reingresso (qual o curso concluído e quando?) ( ) transferência de curso interno (qual?) ( ) transferência externa (da própria Universidade) ( ) transferência de outra universidade (qual?) ( ) Outros. Especificar: 6) Já interrompeu o curso ou alguma disciplina do curso alguma vez? Por quanto tempo? Não. 7. Estuda ou já estudou a língua espanhola fora do Curso de Letras? Por quanto tempo? Não. 8. Você faz uso da língua espanhola fora do Curso de Letras? Onde? Em quais atividades? Sim, como atividade prática com alguns amigos latinos. 9. Você tem o hábito de ler revistas e jornais escritos em língua espanhola? E em língua portuguesa? Com que frequência? Sim. Sempre. Hoje mais em língua espanhola, contudo não me “olvidé” dos textos em português. 10. Você tem o hábito de traduzir textos em língua espanhola? Formal ou informalmente? Às vezes, tanto formal quanto informal. 11. Quando você pensa em como traduz, quais são as etapas que utiliza na tradução? Monto a estrutura do texto e busco ordená-la de acordo com expressões próprias da língua para que fique mais próximo possível da fala de um nativo.

88

QUESTIONÁRIO / DISCENTE E 1. Qual é sua idade? 21 anos 2. Profissão: Estudante 3. Qual é sua língua materna? (Caso não seja o português, há quanto tempo fala e/ou estuda esta língua). Português 4. Em que ano e semestre ingressou no curso de Letras/ Outro? 2008.1 5. Em que semestre você está? 7º semestre 6. Este ingresso se deu através de: (x ) vestibular 1a opção ( ) vestibular 2a opção ( ) reingresso (qual o curso concluído e quando?) ( ) transferência de curso interno (qual?) ( ) transferência externa (da própria Universidade) ( ) transferência de outra universidade (qual?) ( ) Outros. Especificar: 7. Já interrompeu o curso ou alguma disciplina do curso alguma vez? Por quanto tempo? Não. 8. Estuda ou já estudou a língua espanhola fora do Curso de Letras? Por quanto tempo? Sim. Por dois anos estudei no CELE. Mas antes já tinha estudado dois anos na Venezuela quando tinha 9 anos. 9. Você faz uso da língua espanhola fora do Curso de Letras? Onde? Em quais atividades? Sim. Em viagens geralmente para Venezuela. 10. Você tem o hábito de ler revistas e jornais escritos em língua espanhola? E em língua portuguesa? Com que frequência? Sim. Leio jornais e revistas em português praticamente todos os dias, mas em espanhol só leio quando vou a Venezuela. 11. Você tem o hábito de traduzir textos em língua espanhola? Formal ou informalmente? Às vezes. Informalmente. 12. Quando você pensa em como traduz, quais são as etapas que utiliza na tradução? Leio o texto depois o traduzo.

89

QUESTIONÁRIO / DISCENTE F 1. Qual é sua idade? 20 anos 2. Profissão: Estudante 3. Qual é sua língua materna? (Caso não seja o português, há quanto tempo fala e/ou estuda esta língua). Português 4. Em que ano e semestre ingressou no curso de Letras/ Outro? 2008.1 5. Em que semestre você está? 7º semestre 6. Este ingresso se deu através de: (x ) vestibular 1a opção ( ) vestibular 2a opção ( ) reingresso (qual o curso concluído e quando?) ( ) transferência de curso interno (qual?) ( ) transferência externa (da própria Universidade) ( ) transferência de outra universidade (qual?) ( ) Outros. Especificar: 7. Já interrompeu o curso ou alguma disciplina do curso alguma vez? Por quanto tempo? Não. 8. Estuda ou já estudou a língua espanhola fora do Curso de Letras? Por quanto tempo? Não. 9. Você faz uso da língua espanhola fora do Curso de Letras? Onde? Em quais atividades? Sim, quando viajo a países que tem a língua espanhola como oficial e também para me comunicar com amigos hispanohablantes. 10. Você tem o hábito de ler revistas e jornais escritos em língua espanhola? E em língua portuguesa? Com que frequência? Sim. Os jornais em português todos os dias e os em espanhol quando entro na internet. 11. Você tem o hábito de traduzir textos em língua espanhola? Formal ou informalmente? Informalmente, traduzo mais músicas. 12. Quando você pensa em como traduz, quais são as etapas que utiliza na tradução? Penso em espanhol depois em português.

90

ANEXO IV: TEXTOS PRODUZIDOS PELOS TRADUTORES TRADUTOR DOCENTE A

91

TRADUTOR DOCENTE A – CONTINUAÇÃO

92

TRADUTOR DOCENTE B

93

TRADUTOR DOCENTE B –CONTINUAÇÃO

94

TRADUTOR DOCENTE C

95

TRADUTOR DISCENTE D

96

TRADUTOR DISCENTE D – CONTINUAÇÃO

97

TRDUTORA DISCENTE E

98

TRADUTORA DISCENTE E – CONTINUAÇÃO

99

TRADUTORA DISCENTE F

100

TRADUTORA DISCENTE F – CONTINUAÇÃO