Organizadora
Larissa Calixto-Lima
Co-organizadores
Gisele Resque Vieira Auad
Rodrigo Luis da Silveira Silva
Simone Côrtes Coelho
Valéria Abrahão
Maria Cristina Gonzalez
Componentes e Cálculo da Nutrição Parenteral – Manual de Bolso
Copyright © 2011 Editora Rubio Ltda.
ISBN 978-85-7771-085-0
Todos os direitos reservados.É expressamente proibida a reproduçãodesta obra, no todo ou em partes,sem a autorização por escrito da Editora.
Produção e Capa
Equipe Rubio
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Componentes e cálculo da nutrição parenteral: manual de bolso / organizadora: Larissa Calixto-Lima. -- Rio de Janeiro: Editora Rubio, 2011.
Vários co-organizadores.Bibliografi a.ISBN 978-85-7771-085-0
1. Nutrição parenteral 2. Nutrição parenteral – Cálculo de dosagem I. Calixto-Lima, Larissa.
11-05569 CDD-612.3
Índices para catálogo sistemático:1. Nutrição parenteral : Cálculo de dosagem : Fisiologia humana : Ciências médicas 612.3
Editora Rubio Ltda.Av. Franklin Roosevelt, 194 s/l 204 – Castelo20021-120 – Rio de Janeiro – RJTelefax: 55(21) 2262-3779 • 2262-1783E-mail: [email protected]
Impresso no BrasilPrinted in Brazil
Organizadora
Larissa Calixto-Lima
Nutricionista.
Pós-Graduada em Nutrição Clínica pelo Instituto Brasileiro de Pós-Gra-duação e Extensão.
Pós-Graduada em Nutrição Clínica (Residência) pelo Hospital Universitá-rio Oswaldo Cruz (HUOC-UPE) – Recife, PE.
Professora convidada do Curso de Pós-Graduação em Nutrição Clínica do Instituto de Nutrição (INU) da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro.
Nutricionista do ambulatório de nutrição/endocrinologia da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro.
Nutricionista do Instituto Nacional do Câncer (INCA).
Co-organizadores
Gisele Resque Vieira AuadFarmacêutica.
Especialista em Nutrição Parenteral e Enteral pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (SBNPE).
Professora do Instituto de Nutrição da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro.
Mestra em Patologia Tropical pela Universidade Federal do Amazonas
(UFAM).
Maria Cristina GonzalezMédica.
Doutora em Ciências pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), RS.
Coordenadora das Equipes Multiprofi ssionais de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário São Francisco de Paula e da Santa Casa de Misericórdia de Pelotas, RS.
Professora Adjunta do Curso de Medicina e do Programa de Pós-Gra-duação em Saúde e Comportamento da Universidade Católica de Pelotas, RS.
Especialista em Terapia Nutricional pela Sociedade Brasileira de Nutri-ção Parenteral e Enteral (SBNPE) e em Gastroenterologia pela Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG).
Pesquisadora do Centro de Pesquisa de Obesidade do Hospital St. Luke’s-Roosevelt da Universidade de Columbia – Nova York, EUA.
Rodrigo Luis da Silveira SilvaNutricionista.
Pós-Graduado em Nutrição Clínica (Residência) pelo Hospital Universi-tário Oswaldo Cruz (HUOC-UPE) – Recife, PE.
Nutricionista do Serviço de Nutrição do HUOC-UPE.
Membro da Comissão de Suporte Nutricional do HUOC-UPE.
Simone Côrtes CoelhoNutricionista.
Mestra em Ciências Médicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Especialista em Terapia Nutricional Parenteral e Enteral pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (SBNPE).
Coordenadora Acadêmica do Curso de Pós-Graduação em Nutrição Clí-nica, Nutrologia e Terapia Nutricional do Instituto de Nutrição (INU) da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro.
Docente do Curso de Graduação em Nutrição da Universidade do Grande
Rio (UNIGRANRIO).
Valéria AbrahãoMédica.
Pós-Graduada em Gastroenterologia pela Universidade Gama Filho (UGF), RJ.
Chefe do CTI do Hospital Ipanema Plus, RJ.
Médica da Equipe de Terapia Nutricional (ETERNU), RJ.
Professora Convidada do Curso de Terapia Nutricional/Nutrição Clínica do Instituto de Pós-Graduação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Especialista em Terapia Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB).
Especialista em Terapia Nutricional Parenteral e Enteral pela Sociedade
Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (SBNPE).
Prefácio
Muito me lisonjeou o convite de prefaciar este livro, cujo tema é de grande
relevância para os profi ssionais e acadêmicos da área de saúde.
A nutricionista Larissa Calixto-Lima, com o vigor de sua inteligência e
entusiasmo que lhe são característicos, juntamente com seus co-organiza-
dores − Gisele Resque Vieira Auad, Rodrigo Luis da Silveira Silva, Simone
Côrtes Coelho, Valéria Abrahão e Maria Cristina Gonzalez −, premia-nos
com a edição desta obra, que descreve os fundamentos da nutrição pa-
renteral, sua composição e seu emprego no auxílio terapêutico e preven-
tivo. Sua leitura é prazerosa e consistente, gerando no leitor o anseio de
continuidade.
Tenho a certeza de que Componentes e Cálculo da Nutrição Parenteral –
Manual de Bolso será um instrumento de imensa utilidade, constituindo-se
em um importante marco para os estudantes e profi ssionais da área. Só
tenho a agradecer aos ilustres profi ssionais que nos brindaram com este-
magnífi co trabalho, publicado em momento bem oportuno.
Há muito se aguardava esta obra, tão necessária em face da grande
difi culdade sentida pelos profi ssionais do meio. Um livro atualizado e arro-
jado, que certamente enriquecerá a todos. Parabéns, autores, pela iniciativa
e concretização desta obra, que auxiliará no cotidiano de todos os interes-
sados no assunto.
Nelzir Trindade ReisNutricionista e Médica; Livre-Docente em Nutrição Clínica pela Universidade Gama
Filho (UGF), RJ; Professora Titular de Nutrição Clínica (aposentada) da Universida-
de Federal Fluminense (UFF), RJ; Professora Adjunta IV de Patologia da Nutrição e
Dietoterapia (aposentada) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Coor-
denadora de Nutrição Clínica do Ambulatório 20 (Clínica Médica, Endocrinologia e
Nutrição) da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro; Professora Adjunta de
Nutrição Clínica da Universidade Veiga de Almeida, RJ; Autora dos livros Nutrição
Clínica na Hipertensão Arterial, Nutrição Clínica – Sistema Digestório, Nutrição Clí-
nica – Interações e Nutrição Clínica – Alcoolismo; Acadêmica Titular da Academia
Brasileira de Administração Hospitalar.
Apresentação
Além de ser um privilégio enorme fazer a apresentação desta obra, cujos ob-
jetivos práticos se revertem de grande importância no dia a dia dos ambien-
tes voltados à saúde das pessoas, também é um grande prazer e alegria.
O presente trabalho é fruto do dinamismo de seus idealizadores e in-
centivadores, mormente a Editora Rubio, assistidos pelo vigor vigilante de
seu diretor, Sr. Fabio Rubio.
Este livro está articulado para disponibilizar, de modo prático e objetivo,
os mecanismos de determinação relativos aos cálculos de utilização das solu-
ções empregadas na área da Nutrição Parenteral.
Seu principal objetivo é oferecer um guia/manual conveniente e prático
destinado àqueles que se propõem a dominar a arte do suporte nutricional,
sejam eles estudantes em graduação na área da saúde ou profi ssionais que
já atuam neste segmento, de importância absolutamente indispensável no
cotidiano de atendimento aos pacientes que venham a necessitar de recur-
so terapêutico nutricional.
É inquestionável que os novos conhecimentos e avanços metabólicos
representaram e continuam a representar um “momento revolucionário”
nos cuidados aos indivíduos enfermos. Entretanto, os recursos metabólicos
e nutricionais ainda não recebem atenção adequada e satisfatória tanto nos
ambientes educacionais de saúde, como nos hospitalares e ambulatoriais.
Uma quantidade expressiva de pacientes não recebe a avaliação de seu
“status nutricional”. Esses pacientes não são atendidos nesse item de fun-
damental importância aos propósitos de bons desfechos em tratamentos
instituídos – sejam clínicos ou cirúrgicos –, que necessitem de suporte nutri-
cional. Tal condição, necessariamente, precisa ser reavaliada e mais bem pen-
sada pelos profi ssionais voltados para a área da saúde. As ferramentas ofe-
recidas neste livro constituem recursos direcionados a facilitar tais atividades.
O acesso fácil aos cálculos de reposição em termos nutricionais e
as diretrizes fundamentais de sua utilização no campo do metabolismo,
contemplados neste trabalho, permitem que, tão logo haja a ocorrência
de distúrbios metabólicos relevantes, se instituam medidas efi cientes na
obtenção do reequilíbrio orgânico das pessoas afetadas, isto é, a reinstitui-
ção da homeostase orgânica.
Uma visão com acurácia abrangente de medidas de harmonização do
equilíbrio orgânico dos pacientes diante de quadros que desafi am sua nor-
malidade biológica, como nos casos de doenças acompanhadas de desnu-
trição, ainda que por traumas, nas abordagens cirúrgicas de porte expres-
sivo, nas doenças clínicas espoliativas, entre outras, nos dá a oportunidade
de buscar a recuperação e a manutenção do estado nutricional e, em con-
sequência, o retorno ao estado de homeostase orgânica.
A atenção continuada quanto à obtenção de um bom estado nutricional
na sustentação, na preservação e no restabelecimento de um quadro orgâ-
nico saudável por parte das pessoas vem sendo reconhecida e enfatizada há
mais de dois mil anos, desde os ensinamentos de Hipócrates (460 a 377 a.C.).
A proposta exitosa da presente publicação, que representa uma ferra-
menta adicional aos meios de reposição nutritiva, equilíbrio metabólico e
homeostático, valoriza a busca contínua pelo cumprimento da oferta, de
um modo prático, dos mecanismos para proporcionar um melhor e mais
objetivo suporte metabólico e nutricional aos pacientes, diante das situa-
ções de necessidade da sua preservação e recuperação.
Sou grato à organizadora e aos co-organizadores desta oportuna obra,
responsáveis pela signifi cativa contribuição educacional às pessoas que es-
tarão e àquelas já comprometidas com o objetivo de oferecer meios para
que sejam praticadas a promoção e as condições de execução do melhor e
mais satisfatório estado de saúde possível a ser oferecido, uma vez sendo
aplicadas.
Francisco Juarez Karkow
Professor Titular e Coordenador Adjunto de Pesquisa da Faculdade Fátima de
Caxias do Sul, RS; Professor Titular do Departamento de Clínica Cirúrgica do
Curso de Medicina da Universidade de Caxias do Sul (1975-2009), RS; Presidente
da Sociedade de Nutrição Parenteral e Enteral (1984-1985); Doutor em Medicina
pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (SCSP); Titular do
Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC); Membro da Associação de Pesquisa da Active
Hexose Correlated Compound – AHCC Research Foundation (Sapporo/Japão).
Sumário
Capítulo 1 – Componentes da Nutrição Parenteral 1
Introdução 3
Vias de Administração da Nutrição Parenteral 4
Componentes da Nutrição Parenteral 5
Referências 27
Capítulo 2 – Cálculo da Nutrição Parenteral 33
Introdução 35
Passo a Passo da Prescrição 35
Transição da Nutrição Parenteral 62
Referências 126
Introdução
A nutrição parenteral (NP), de modo geral, é uma solução estéril de nutrien-
tes, infundida via endovenosa por meio de um cateter venoso central ou
periférico. Esse método de nutrição tem por objetivo fornecer os elementos
necessários à demanda nutricional de pacientes cuja via gastrintestinal es-
teja impossibilitada de ser utilizada em razão de causas anatômicas, infec-
ciosas ou metabólicas e como parte da terapêutica em certas doenças que
necessitem de repouso intestinal e/ou pancreático. Assim, a indicação da
NP está relacionada à situação clínica do paciente e à impossibilidade de
utilização da via oral e enteral por um período predefi nido.1,2
O Brasil possui, desde 1998, uma legislação específi ca que normatiza a
terapia nutricional parenteral. A Portaria no 272/MS/SNVS, de 8 de abril de
1998, defi ne a NP como:
“Solução ou emulsão, composta basicamente de carboidratos, aminoácidos, lipídios, vitaminas e minerais, estéril e apirogênica, acondicionada em recipiente de vidro ou plástico, destinada à ad-ministração endovenosa em pacientes desnutridos ou não, em re-gime hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, visando à síntese ou à manutenção dos tecidos, órgãos ou sistemas.”
Da mesma maneira, a legislação determina a formação de uma equipe
multiprofi sional constituída por médico, farmacêutico, nutricionista e enfer-
meiro.3 Outros conceitos tornam-se necessários:3
■ Terapia nutricional (TN): conjunto de procedimentos terapêuticos
para manutenção ou recuperação do estado nutricional do paciente,
por meio da nutrição parenteral e/ou enteral.
■ Terapia de nutrição parenteral (TNP): conjunto de procedimentos
terapêuticos para manutenção ou recuperação do estado nutricional do
paciente por meio de nutrição endovenosa.
● Solução: formulação farmacêutica aquosa que contém carboidra-
to, aminoácidos, vitaminas e minerais.
● Emulsão: formulação farmacêutica que contém substâncias gor-
durosas em suspensão no meio aquoso, em perfeito equilíbrio.
Componentes e Cálculo da Nutrição Parenteral4
■ Nutrição parenteral total (NPT): todas as necessidades nutricionais
do paciente são fornecidas pela via endovenosa, sem nenhuma inges-
tão enteral ou oral.
■ Nutrição parenteral suplementar (NPS): parte das necessidades nu-
tricionais é administrada pelo trato gastrintestinal (TGI) e o restante,
infundido por via endovenosa.
■ Nutrição parenteral central (NPC): terapia nutricional na qual uma
solução parenteral é administrada diretamente em uma veia central.
■ Nutrição parenteral periférica (NPP): terapia nutricional na qual uma
solução parenteral é administrada por meio de uma veia periférica.
■ Preparação: conjunto de atividades que abrange avaliação farmacêuti-
ca, manipulação, controle de qualidade, conversão e transporte da NP.
■ Recipiente: embalagem primária destinada ao acondicionamento de
solução ou emulsão para NP, de vidro ou plástica (bolsa de EVA ou PVC).
Vias de Administração da Nutrição Parenteral
A NP pode ser administrada por acesso venoso central ou periférico. A es-
colha da via dependerá da duração planejada da terapia. Informações adi-
cionais podem ser necessárias para a seleção do acesso apropriado, como
presença de edema ou lesão no local do acesso, necessidade de outras in-
fusões, tempo de coagulação, condição da veia periférica, estado funcional
e estilo de vida.1,2,4
█ Acesso Venoso Periférico – Nutrição Parenteral Periférica
O acesso venoso periférico refere-se à localização da ponta do cateter em
uma veia superfi cial de grosso calibre, comumente as veias das extremida-
des superiores, na mão ou no antebraço. Ele é recomendado quando a nu-
trição parenteral for planejada por períodos curtos ou como alimentação
complementar, tendo impacto mínimo no estado nutricional. As vantagens
desta via de alimentação são a punção venosa superfi cial rápida, segura e
sem necessidade de cuidados especializados, o controle glicêmico mais fácil
(menos hiperglicemia), menores índices de complicações inerentes ao acesso
Componentes da Nutrição Parenteral 5
venoso central e a seu manuseio, e menor custo. Os doentes que mais se
benefi ciam são os que necessitam de jejum prolongado por período inferior
a 14 dias no período pós-operatório.4
A quantidade de calorias administrada costuma fi car em torno de 1.000
a 1.500kcal por dia. A NPP não permite a infusão de soluções hiperosmo-
lares (maior que 850mOsm/L), sendo, com frequência, necessária a infusão
de soluções de maior volume para atingir as necessidades nutricionais.1,2
Portanto, os pacientes em restrição hídrica, como os com insufi ciência car-
diopulmonar, renal ou hepática, não são bons candidatos a esta via.1,4
█ Acesso Venoso Central – Nutrição Parenteral Central
O acesso venoso central é relativo à localização da ponta do cateter em
uma veia de alto fl uxo sanguíneo interligada à veia cava superior ou ao
átrio direito, ou seja, a infusão parenteral chega diretamente ao coração.2,5
É indicado por períodos longos, permite a administração de soluções hipe-
rosmolares sem que haja o risco de fl ebite ou trombose (a solução infundida
é diluída pelo intenso fl uxo sanguíneo nesse local) e possibilita a adminis-
tração de todos os nutrientes necessários para uma nutrição completa e
balanceada.5
O acesso à veia cava superior pode ser realizado, em particular, por uma
das seguintes veias:5
■ Subclávia.
■ Jugular interna.
■ Femoral.
Componentes da Nutrição Parenteral
As soluções de NP são formulações que englobam fontes calóricas destina-
das ao fornecimento de energia para o organismo (carboidrato e gordura),
fontes de nitrogênio (aminoácidos), eletrólitos, elementos-traço, vitaminas
e água. Tais nutrientes devem ser prescritos de acordo com o objetivo es-
pecífi co da NP, a situação clínico-nutricional, o diagnóstico do paciente, a
presença de comorbidades, o balanço hidreletrolítico e o estado acidobásico.
Componentes e Cálculo da Nutrição Parenteral6
Uma vez que a via de administração da NP é endovenosa, faz-se ne-
cessário que esses componentes sejam compatíveis com o sangue. Desse
modo, os substratos devem ser solúveis em água, apresentarem-se na for-
ma mais simplifi cada possível e serem estéreis e apirogênicos.
█ Aminoácidos
Hoje em dia, as soluções-padrão de aminoácidos comercialmente disponí-
veis são constituídas por aminoácidos cristalinos essenciais e não essenciais,
em concentrações que variam de 6,7% a 15%, apresentadas em frascos de
vidros de 50, 100, 250 e 1.000mL. Têm como características físico-químicas
um pH de 5,5 a 6,5 e osmolaridade em torno de 850mOsm/L.1,2 As fórmulas
disponíveis buscam composições que tenham aminoacidograma semelhan-
te a proteínas de alto valor biológico.
Aproximadamente 15% a 20% da oferta calórica total da formulação
parenteral deve provir das fontes nitrogenadas, sendo que cada grama de
aminoácido oxidado para energia fornece aproximadamente 4kcal.1,2 Em-
bora a necessidade basal do adulto seja de 0,8 a 1g de proteína por quilo-
grama de peso corporal atual por dia, a oferta de nitrogênio deve guardar
estrita relação com a infusão calórica, de acordo com a situação clínica
do paciente. A relação de calorias não proteicas por grama de nitrogênio
necessária para otimizar a utilização de proteína pelo organismo é de 100 a
150:1 para um paciente não crítico e sem insufi ciência orgânica; de 200 a
220:1 para pacientes com insufi ciência renal; e de 80 a 90:1 para pacientes
em estado grave ou hipercatabólicos. Valores inferiores podem levar à utili-
zação da proteína como fonte calórica.1,4,6
As soluções parenterais de aminoácidos podem ser divididas em dois
grandes grupos (ver Tabela 1.1):1,6,7
1. Formulação de aminoácidos-padrão: utilizada nos pacientes com
necessidades nutricionais normais e sem alterações na função orgâ-
nica.
2. Formulação de aminoácidos especializada: utilizada em pacientes
com doença renal ou hepática ou em pacientes pediátricos.
Componentes da Nutrição Parenteral 7
As formulações especializadas comercialmente disponíveis para pa-
cientes com doença hepática apresentam uma concentração maior de
aminoácidos ramifi cados e menor de aminoácidos aromáticos, ao passo
que as formulações para pacientes renais se constituem apenas de amino-
ácidos essenciais, sem nenhuma adição dos não essenciais, à exceção da
histidina, que na insufi ciência renal é considerada um aminoácido essen-
cial.1 Existem também soluções especializadas para uso pediátrico com o
perfi l do leite materno ou com base na composição do cordão umbilical.
Tabela 1.1 Soluções de aminoácidos comercialmente disponíveis para nutrição parenteral
SoluçãoTotal de
aminoácidos (AA)Composição
Padrão 20 AA Ácido aspártico, ácido glutâmico,
alalina, arginina, aspargina, cisteína,
fenilalanina, glicina, histidina,
isoleucina, leucina, lisina, metionina,
ornitina, prolina, serina, tirosina,
treonina, triptofano e valina
13 AA Alalina, arginina, fenilalanina, glicina,
histidina, isoleucina, leucina, lisina,
metionina, prolina, treonina, triptofano
e valina
Insufi ciência
renal
9 AA Fenilalanina, histidina, isoleucina,
leucina, lisina, metionina, treonina,
triptofano e valina
Insufi ciência
hepática
15 AA Alalina, arginina, citeína, fenilalanina,
glicina, histidina, isoleucina, leucina,
lisina, metionina, prolina, serina,
treonina, triptofano e valina
Solução de
glutamina
1 Dipeptídeo Alanil-glutamina
Introdução
A rotina básica de procedimento para início da nutrição parenteral (NP) come-
ça com a avaliação do estado nutricional do paciente e a análise da situação
clínica: funções cardíaca, pulmonar, renal, hematológica e hepática, presença
de intolerância à glicose, dislipidemia ou outros distúrbios metabólicos.
A terapia de nutrição parenteral deve ser iniciada quando as fun-
ções vitais estão estáveis (equilíbrio acidobásico, equilíbrio de fluidos
e eletrólitos e boa perfusão dos tecidos para permitir transporte de
oxigênio, substratos e intermediários metabólicos), desde que prevista
uma duração mínima de três a cinco dias em pacientes desnutridos e
de cinco a sete dias em pacientes eutróficos. A NP deve ser iniciada
com 30% a 50% das necessidades nutricionais estimadas, progredindo
gradualmente até 100% em um período de 48 a 72 horas. A pro-
gressão deve ocorrer mais lentamente nos indivíduos hipermetabólicos
com inanição grave, em razão do risco de distúrbios metabólicos, como
a síndrome de realimentação. Por outro lado, nos pacientes hiperme-
tabólicos sem inanição grave, procuram-se atingir as necessidades ca-
lóricas mais rapidamente.
Passo a passo da prescrição
Para que se prescreva a NP, devem ser cumpridas as seguintes etapas:
■ Avaliar o paciente:
● Diagnóstico.
● Situação clínica.
● Uso de medicamentos: dose e características.
● Exames bioquímicos.
● Estado nutricional: por meio de métodos clínicos, subjetivos e antro-
pométricos.
■ Determinar as necessidades hídricas, de macronutrientes (Tabela 2.1) e
micronutrientes (ver Tabelas 1.2, 1.4 e 1.5 – Capítulo 1, Componentes
da Nutrição Parenteral) do paciente:
Componentes e Cálculo da Nutrição Parenteral36
● Líquidos.
● Calorias totais.
● Proteínas.
● Carboidratos.
● Lipídios.
● Relação quilocalorias não proteicas por grama de nitrogênio.
● Eletrólitos.
● Vitaminas.
● Elementos-traço.
■ Conforme necessidades estimadas, determinar o tipo de solução de
aminoácidos (AA) a ser utilizado:
● Solução-padrão de AA de 6,7% a 15%.
● Solução especializada enriquecida com AA de cadeia ramifi cada.
● Solução especializada composta por AA essenciais.
■ Calcular a quantidade de proteína a ser administrada em 24 horas e o
volume correspondente da solução de AA escolhida.
■ Determinar o tipo de emulsão lipídica (EL) a ser utilizado, quando a
mistura empregada for do tipo 3 em 1:
● EL à base de óleo de soja (primeira geração).
Tabela 2.1 Prescrição recomendada de macronutrientes para pacientes adultos em nutrição parenteral
Macronutriente Pacientes graves Pacientes estáveis
Proteína 1,2 a 1,5g/kg/dia 0,8 a 1g/kg/dia
Carboidrato 3mg/kg/min 5mg/kg/min
Lipídio 1g/kg/dia 1 a 2g/kg/dia
Calorias totais 25 a 30kcal/kg/dia 30 a 35kcal/kg/dia
Líquidos Quantidade necessária para
fornecer macronutrientes*
25 a 40mL/kg/dia
* Depende da tolerância individual do paciente.
Cálculo da Nutrição Parenteral 37
● EL à base de óleo de soja e óleo de coco (segunda geração).
● EL à base de óleo de soja, óleo de coco e óleo de oliva (terceira
geração).
● EL à base de óleo de soja, óleo de coco, óleo de oliva e óleo de peixe
(quarta geração).
■ Calcular a quantidade, em gramas, de lipídio a ser administrada em 24
horas, bem como o volume correspondente da EL a 10% ou a 20%, a
que tiver sido escolhida.
■ Calcular a quantidade de glicose a ser administrada em 24 horas, sua velo-
cidade de infusão nesse período, bem como o volume correspondente da
solução glicosada a 5%, a 10%, a 25%, a 50% ou a 70% a ser utilizada.
■ Observar as necessidades de eletrólitos de acordo com as recomenda-
ções de aporte diário (ver Tabela 1.2 – Capítulo 1, Componentes da Nu-
trição Parenteral). Nos casos em que houver necessidade de aumentar
a concentração de eletrólitos, verifi car a compatibilidade deles com a
formulação de nutrição parenteral em questão.
■ Observar as necessidades de vitaminas de acordo com as recomenda-
ções de aporte diário (ver Tabela 1.4 – Capítulo 1, Componentes da
Nutrição Parenteral). Nos casos em que houver necessidade de suple-
mentação, verifi car compatibilidade:
● Se as necessidades de vitaminas forem semelhantes às recomenda-
ções, a prescrição poderá ser efetuada utilizando um dos complexos
vitamínicos comercialmente disponíveis.
● Nos casos de complexo de 12 vitaminas, pode-se ofertar vitamina K
em doses de 0,5 a 1mg/dia ou 5 a 10mg/semana para pacientes sem
o uso de anticoagulantes orais (p. ex., warfarina).
■ Observar se as necessidades de elementos-traço estão de acordo com as
recomendações (ver Tabela 1.5 – Capítulo 1, Componentes da Nutrição
Parenteral). Nos casos de suplementação, confi rmar compatibilidade:
● Se as necessidades estiverem de acordo com as recomendações,
a prescrição poderá ser feita a partir de solução de complexos de
elementos-traço.
Componentes e Cálculo da Nutrição Parenteral38
● Quando houver necessidade de suplementação, ela poderá ser realiza-
da a partir de especialidades farmacêuticas que apresentam elemen-
tos-traço de forma individualizada.
█ Exemplos práticos
A seguir serão descritos exemplos de cálculos teóricos hipotéticos para um
paciente de 50kg, com base na Tabela 2.1 para estimativa das necessidades
de macronutrientes e nas Tabelas 1.2,1.4 e 1.5 – para estimativa das necessi-
dades de micronutrientes. Com a fi nalidade de tornar mais objetivo o cálculo
de uma formulação de NP, sugere-se dividi-lo em três etapas:
■ Primeira etapa: cálculo das necessidades hídricas e de macronutrientes.
■ Segunda etapa: cálculo das necessidades de micronutrientes e volume
fi nal da solução.
■ Terceira etapa: análise da solução quanto à osmolaridade, relação qui-
localorias não proteicas por grama de nitrogênio (kcal não proteica/gN2)
e velocidade de infusão da formulação fi nal.
Exemplo prático de nutrição parenteral total 2 em 1
A via de acesso utilizada é a central.
Primeira etapa
Para determinar as necessidades de água e macronutrientes, é preciso calcular:
■ As necessidades hídricas (mL/dia).
■ As necessidades calóricas (kcal/dia).
■ As necessidades proteicas (g/dia e kcal/dia).
■ O volume da solução de AA conforme concentração selecionada (6,7%
a 15%).
■ As necessidades glicídicas (g/dia, kcal/dia e velocidade de infusão de
glicose – VIG).
■ O volume da solução glicídica conforme concentração selecionada (5%
a 70%).
Cálculo da Nutrição Parenteral 39
1. Necessidades hídricas
Oferta: 30mL/kg/dia.
30mL ––––––– 1kg
x mL ––––––– 50kg
30 50 = 1.500mL/dia.
2. Calorias totais
Oferta: 30kcal/kg/dia.
30kcal ––––––– 1kg
x kcal ––––––– 50kg
30 50 = 1.500kcal/dia.
3. Necessidades proteicas
Oferta: 1,4g de proteína/kg/dia.
1,4g ––––––– 1kg
x g ––––––– 50kg
1,4g 50 = 70g de proteína/dia.
Como cada grama de proteína fornece 4kcal, temos:
1g ––––––– 4kcal
70g ––––––– x kcal
4kcal 70g = 280kcal/dia.
4. Volume da solução de aminoácidos conforme concentração
selecionada
Hipótese: solução-padrão de aminoácidos a 10% (cada 100mL de
solução fornece 10g de AA).
Componentes e Cálculo da Nutrição Parenteral40
10g de AA ––––––– 100mL
70g ––––––– x mL
70 100 = 700mL de solução de AA a 10%.
10
5. Necessidades glicídicas
Oferta: limite mínimo de 130g/dia e limite máximo de 5mg/kg/min
para pacientes estáveis e 3mg/kg/min para pacientes graves.
A determinação da quantidade de carboidrato necessária cor-
responde à oferta calórica total calculada menos a oferta calórica
de AA prescrita:
■ Oferta calórica total: 1.500kcal.
■ Oferta calórica prescrita na forma de AA: 280kcal.
■ Necessidades energéticas remanescentes:
1.500kcal – 280kcal = 1.220kcal.
■ Oferta calórica na forma de carboidratos: 1.220kcal.
Uma vez calculada a oferta calórica de carboidratos, podemos
calcular a oferta em gramas e, em seguida, o volume de solução
de glicose monoidratada que será utilizado para o preparo da NP.
Considerando que cada grama de glicose monoidratada fornece
3,4kcal, temos:
1g de glicose monoidratada ––––––– 3,4kcal
x g de glicose monoidratada ––––––– 1.220kcal
x = 358,82g de glicose/dia.
Velocidade de infusão de glicose (VIG): para calcular a VIG, deve-se
considerar a relação entre a quantidade de carboidrato estimada
(em miligramas) e o peso do paciente (em kg) em um período de
24 horas de infusão.
Cálculo da Nutrição Parenteral 41
Visto que a fórmula da VIG considera o tempo em minutos, se
multiplicarmos 24 horas por 60 minutos (quantidade de minutos
em uma hora), obteremos 1.440 minutos nas 24 horas.
1 hora ––––––– 60 minutos
24 horas ––––––– x minutos
x = 1.440 minutos.
É necessário, ainda, transformar a concentração de glicose de
gramas para miligramas:
358,82 (gramas de glicose) 1.000 (conversão para miligramas) =
358.820mg de glicose
Então:
VIG = 358.820 [miligramas de glicose]
(50 [peso em kg] 1.440 [minutos em 24 horas])
VIG = 358.820
72.000
VIG = 4,9mg/kg/min.
6. Volume da solução glicídica conforme concentração selecio-
nada
Hipótese: solução de glicose monoidratada a 50% (cada 100mL de
solução fornece 50g de glicose).
50g ––––––– 100mL
358,82g ––––––– x mL
358,82 100 = 717,6mL de glicose monoidratada a 50%.
50