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I ANNO DOMINGO, 28 DE JULHO DE 1901 iV.u

S E M A N A R IO N O T IC IO S O , L IT T E R A R IO E A G R ÍC O L A

A ss ig n a tu r a ijAnno, 1S000 réis; semestre, 5oo réis. Pagamento adeantado. i- Na cobrança pelo correio, accresce o premio do vale. ^Avulso, no dia da publicação, 20 réis,

EDITOR— José Augusto Saloio

p P j ib l ic a ç ó c sh Annuncios— i. a publicação. 40 réis a linha, nas seguintes, ^ 2 0 réis. Annuncios na 4.3 pagina, contracto espeiial. auto-

Á RUA DE JOSÉ MARIA DOS SANTOS s-^pb03 «st.tuem que. sejam °u não pubfecadôs. * U PROPRIETÁRIO — José Augusto SaloioA L D E Í i A L L K G A

e x p e d i e n t e

A g ra d ecem o s a o s n o s ­s o s e s t im á v e is l e i t o r e s a b e n e v o le n c ia co m q n e o n o sso jo r n a l fo i r e c e ­b id o e a p r o c u r a in e s p e ­rada q u e e l le te v e , v e n ­d o -n os fo r ç a d o s a fa z e r n o v a e d iç ã o .

H a v e m o s d e fa z e r t o ­d o s o s e s fo r ç o s , q u a n to em n o s s o a lc a n c e ca ib a , para b em m e r e c e r a sym - p a th la g e r a l d e to d o s , in ­tr o d u z in d o n o n o s s o se - m a n a r io o s m e lh o r a m e n ­to s p o s s ív e i s , e a n o s s a boa v o n ta d e , c r e m o s , q u e será co ro a d a d e b o m e x íto .

A c c e ita m -se com g r a t i­d ão q u a e sq u e r n o t ic ia s «ji* sojam *lc Iníeresse (t tu II 1*0.

ÍLDECiALLEGA

nor:d(

ive occasião de visitar passado domingo esta

>nha e encantadora villa Ribatejo. Vestia ella as

suis melhores galas e os seis habitantes estavam em feita. Havia em todos os roitos uma alegria sincera e communicativa, a ale- gi a que mostra a imma- cd ada pureza da conscien- cii. Captivou-me realmen­te a bondade singela e lha­na daquelles laboriosos commerciantes que tem acima de todas as religiões a religião do trabalho.

O trajecto de Lisboa a Aldegallega é realmente piltoresco. O nosso formo­so 1 ej o a p re se n tava u m as­pecto admiravel, batido por um bello sol de julho que reflectia os seus raios no dorso das vagas. Está-se desenrolando aos meus olhos um soberbo panora­ma que tentaria realmente um pintor.

A villa é bonita e de mui­to commercio. Não ha ali ociosos; todos vão pedir ao trabalho honesto a se­renidade do espirito e a paz da consciência Sente-se a gente bem naquelle meio

honrado, vè-se envolvido numa atmosphera de deli­cioso carinho. Sae-se d’ali com pena de não poder go- sar por mais tempo o con- vivio de tão boa gente.

São de uma attrahente delicadeza, de um tracto realmente encantador. O mais rude dos seus habi­tantes sabe comprehender os seus deveres de homem e cumpre-os com a mais rigorosa pureza.

As commissões que or- ganisaram as festas envida­ram os maiores esforços pa­ra que ellas tivessem um desusado brilhantismo. E conseguiram-n’o. A força de tenacidade, fizeram mui­to, muito mais do que ha­via a esperar-se. Um bravo aos illuslres cavalheiros que delias fizeram parte. Tenho a certeza que estas minhas palavras são o íiel pensamento de todo o po­vo da villa.

Ao proprietário do jor­nal 0 Domingo, que por es­pecial deferencia me con­vidou para a redacção do seu bem elaborado perio- dico, agradeço as provas de estima e consideração que se dignou dar-me e fa­ço votos para que a em- preza a que metteu hom- bros seja fertil em bons e prosperos resultados.

J o a q u im d o s A n jo s .

Retirou para Lisboa bas­tante incommodado de saú­de, o exm.° sr. dr. José An- tonio de Sousa Azevedo, digníssimo Delegado do Procurador Regio, d'esta Comarca.

Desejamos-lhe o prom- pto restabelecimento e que em breve retome o seu hon­roso logar.

Fica fazendo as vezes do exm.°sr. dr. Sousa Azeve­do, durante a sua doença, o exm.° sr. dr. Luciano Ta­vares Móra, digníssimo De­legado substituto d’esta Comarca.

Tem estado perigosa- ]mente enferma a exm.1 sr.a

D. Anna Salgado, e tam­bem tem passado 'bastante incommodado seu marido o sr. José Cypriano Sal­gado.

Fazemos votos pelas ra- pidas melhoras de ambos.

Pedimos a todas as re­dacções de jornaes e outras publicações, ás quaes re- mettemos o nosso sema- nario, a fineza da troca, bem como uma noticia res­pectiva, pois que, de con­trario, nos vemos obriga­dos a suspender-lhes a re­messa.

Igualmente sollicitamos das diversas casas editoras, a permutação com algu­mas das suas obras.

A RKDÁCÇÁO

' Continua, infelizmente, enfermo, o nosso amigo o sr. Sezinando Celestino Pi- mentel.

O prompto restabeleci­mento é o que lhe deseja­mos.

Terminaram terça-feira as festas em Aldegallega.

Felicitamos as commis­sões pelo zelo que mostra­ram no cumprimento do programma, que foi rigo­rosamente executado.

Vamos tentar expôr cm poucas palavras o que fo­ram os festejos e as impres­sões que nos deixaram.

No dia 21, de manhã, realisou-se a procissão de creanças que foram tomar a Sagrada Communhão, pela primeira vez. A seguir missa a grande instrumen­tal, na Egreja Matriz, can­tada pelo reverendo paro- cho desta freguezia, e ser­mão prégado pelo sr. dr. Garcia Diniz que mais uma vez mostrou quanto vale como orador sagrado. Ter­minado o sermão começou a commovente cerimonia da Communhão, que sen- sibilisouprofundamente to

dos que a ella assistiram, seguindo-se o almoço ás creanças, executando a banda da Guarda Munici­pal, durante este acto, va­rias peças do seu vasto re- pertorio.

A tarde sahiu com gran­de pompa da Egreja Ma­triz a procissão, acompa­nhada por muito povo.

A' noute com difficulda- de se transitava pelas ruas e Praça, profusamente il- luminadas.

Nos dias 22 e 23, reali- saram-se duas esplendidas touradas que muito nos agradaram, não só pelo va­lioso trabalho dos artistas que n’ellas tomaram parte, mas tambem pela qualida­de do gado que sahiu muito regular.

Durante as tres noutes reinou sempre o maior en- thusiasmo provocado pelos bellos trechos musicaes com que as phylarmonicasi ,r‘ de Dezembro, União Sei- xalense, União Setubalense e Labor e Trabalho; e as bandas de Marinha, Infan­tevia 16 e Guavda Muni­cipal, nos mimosearam e tambem pelas surprehen- dentes illuminações que aformoseavam os princi- paes logares da villa.

Em conclusão. Acredi­tamos que as commissões dos festejos, os habitan­tes de Aldegallega e os forasteiros que nos visita­ram, todos ficaram satisfei­tos.

Os primeiros, por darem fim á sua missão com geral agrado de todos; os segun­dos, por verem a sua terra visitada por tantos illustres hospedes e ouvirem as pa­lavras de expontâneo lou­vor a respeito das festas; e os terceiros por não darem por mal empregado o seu tempo.

Alguns cavalheiros d es­ta villa, animados dos mais elevados sentimentos al­truístas, organisaram um jantar aos presos, que em outro logar resumidamen­te descrevemos.

Aos nossos collegas da capital agradecemos as li­sonjeiras palavras que lhe mereceram as festas do Di­vino Espirito Santo em Al­degallega.

1 Í I 1 E S Í I SUma commissão presidi­

da pelo exm.1’ sr. dr. Dele­gado, José Antonio Maria de Sousa Azevedo, e com­posta de vários rapazes da hautegomme da nossa bella e laboriosa Aldegallega, of- fereceu na terça feira pas­sada, pela hora e. meia da tarde, um jantar aos pre­sos da cadeia da comarca. Esta tão sympathica festa teve o concurso das pes­soas mais gradas da villa.

O jantar, que se compu­nha de: sopa de massa, co­sido, hortaliça, peixe frito, salada, carne assada com batatas, fruetas, vinhos tin­to e branco e arroz dòce, foi amavelmente servido por todos os membros da commissão.

A phylarmonica i.° de Dezembro abrilhantou o acto, tocando durante a re­feição. As damas, em gran­de numero, mais uma vez deram uma nota brilhante a esta festa. Todos os ca­valheiros que Aldegallega tem por mais distinctos fo­ram honrar a commissão com a sua presença e abri­lhantar a solemnidade do mesmo acto.

Entre elles esteve o exm.0 sr. dr. João Antonio de Sousa, meretissimo Juiz de Direito de Montemór-No- vo. A festa a todos deixou bem impressionados, sendo para notar a limpeza e ac- ceio que se notaram na ca­deia. Um bravo, pois, á commissão.

Naproxima terça feira,3o do corrente, terminará o julgamento dos reus Ca­lhaus e Ferrões que, são defendidos pelos distinctos advogados drs. Arriaga e Gorjão.

R A IV A

No dia 25 do corrente mez, ás seis horas da tarde, no becco da Cerca, d’esta villa, foi mordido por um gato raivoso, o menor de quatorze annos de edade, filho de Bernardino Aranha e de Marianna Gertrudes.

Seguiu rio dia seguinte para Lisboa, a fim de ser curado.

Desejamos um prompto restabele­cimento ao infeliz rapai.

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o O D O M I N G O

A n n o le c t iv o d e 1 9 0 0 a 1 9 0 1 . — líx a m e s f e i t o s n o L j c e i i C en tra l d e L isb o a , em J u lh o d e 1 9 0 1 . — A lu in n o s ap- p r o v a d o s .—C u rso tran- s i t o r io . — E x a m e s d e c la s s e .

Latim i.a parte, mathe- mathica 5.° anno e physica 2.a parte — José Maria Mó- ra Júnior.

H xam cs s in g u la r e s

Desenho i.° e 2." anno—■ Antonio L u i\ Nepomuceno

da Silva, José Maria Vas­concellos, José Viegas Ven­tura Junior, Manoel Maria de Vasconcellos.

Francez. — Carlos Au - gusto Leite Nogueira, João Baptista Nunes da Silva.

Geograph ia :— João Ba­ptista Nunes da Silva, José Dias da Silva, José Maria Vasconcellos, José ViegasI enlura Junior, Manoel Maria de Vasconcellos.

Physica i." parte — An­tonio LuÍ7y Nepomuceno da Silva, João Baptista N u­nes da Silva, José Augusto Simões da Cunha, José Dias da Silva c Raul Nepomu­ceno da Silva,

P e r ío d o o r d in á r io

i.® anno. — Portuguez, latim, mathematica, geo- graphia, historia, botanica, zoologia, e desenho. Prova­ram nestas disciplinas a sua frequencia, passando ao 2." anno:

Antonio Raphael Pinto, Domingos Zacharias Avil­te- da Silva Coelho, Eduar­do V ai da Fonseca Costa, Henrique Móra, João Qua­resma da Silva, Manoel Paulino Gomes.

Fizeram exame para se matricularem no Lyceu, no2." anno, ficando'approva- dos:

Antonio Raphael Pinto, bom, distincto; Domingos Zacharias Aville~ da Silva

W d n^eller

Coelho, bom, distincto; Eduardo Va? da Fonseca e Costa, Henrique Móra, muito bom, distincto e lou­vor; Manoel Paulino Go­mes, bom, distincto.

2.° anno. — Portuguez, latim, francez, mathemati­ca, geographia, historia, botanica, zoologia e dese­nho. Provou nestas disci­plinas a sua frequencia, pas­sando ao 3.° anno:

Fernando Pessoa, bom.

Fez exame para se ma­tricular no Lyceu, 3.° anno, sahindo approvado:

Fernando W a n ^el le r Pessoa.

( ‘u r s o c o in n ic r c ia l

Exames feitos na Escola, sendo as respectivas certi­dões passadas na Secreta­ria da Camara.

P ortuguez, ía n n o . — Arthur de Deus A~eda, 14 valores, Domingos Aquino Marques, 14 valores, Hei­tor Conslantino de Carva­lho, i 5 valores, distineção, Joaquim Ferreira de Sousa hniior, \5 valores, distin­eção, Jesus Maria de Ma­cedo, i 3 valores, Antonio Manoel da Silva Leite, 12 valores, Diogo Rodrigues de Mendonça Junior, i 5 valores, distineção, Fran­cisco Antonio Sampaio Ju­nior, i 3 valores, José Jo<7- qmm dos Santos Junior, 12 valores, I.ui" Maria No­gueira, 17 valores, distin­eção.

Francez i,° anno. — A r- l/uir de Deus A~eda, 15 va­lores, distineção. Domingos Aquino Marques, 14 valo­res, Heitor Constanlino de Carvalho, -19 valores, dis­tineção, Joaquim Ferreira de Sousa Junior, 17 valo­res, distineção, Jesus Maria de Macedo, 14 valores, Dio­go Rodrigues de Mendonça Junior, 14. Valores, Fran­cisco Antonio Sampaio Ju­nior, 11 valores, Francisco Bivar d'Almeida IHmenlel, 10 valores, José Joaquim dos Santos Junior, 11 va­lores, Lui~ Maria Noguei­ra, 19 valores, distineção.

Mathematfca 1,° anno. — Arthur de Deus A-eda, 12 valores, Domingos Aquino Marques, 10 valores, Hei­tor Constantino de Carva­lho, 10 valores, Joaquim Ferreira de Sousa Junior,14 valores, Jesus M ar ia de Macedo, 10 valores. Anto­nio Christiano Saloio Ju­nior, 15 valores, distineção, Diogo Rodrigues de Men­donça Junior, 12 valores, José Maria de Vasconcel­los, 11 valores, Lui-M aria Nogueira, 17 valores, dis­tineção, Manoel Maria de Vasconcellos, 10 valores.

C u rso e sp e c ia l

Desenho dornato, figu- ra, paysagem, etc. —Anto­nio Christiano Saloio Jí/- nior, 18 valores, distineção.

Aldegallega do Ribatejo, 27 de julho de 1901.

0 DirectorH a n o e l A e v e s X u n c s de

A lm eid a .

O ju ry que funccionou na Escola Municipal Secun­daria desta villa, foi cons­tituído pelos Ex.m"s Sr.s: Dr. LucianoTavares Móra, pre­sidente, Manoel Neves Nu­nes d’Almeida e Julio Mo­reira de Sà, vogaes.

D o m in g o s T a v a res

Acha-se completamen­te restabelecido da grave enfermidade quj o fizera guardar o leito por alguns dias, o Ex.T Sr. Domingos Tavares, mui digno presi­dente da Camara Munici­pal desta villa.

Os nossos sinceros pa­rabéns.

A in d a o g « to !

No dia immediato ao do rapaz de que nos referimos na i : 1 pagina deste jornal, foi tambem mordido num dedo, pelo mesmo gato, o sr. Augusto Daniel Fernan­des, com officina de carpin­teiro de carros, na rua de José Maria dos Santos de esta villa.

Desejamos-lhe promptas melhoras.

UM SONHOA

Sonhei que em lago formoso, A lu\ da lua brilhante,Ia vogando comtigo N ’wna barquinha elegante.

Emquanto a lua brilhava Das aguas no vasto espelho, E u ia depor meu beijo Sobre 0 teu labio vermelho.

Sorriste . . . depois coraste, No auge da commoção. Traria o vento de longe As notas duma canção.

Quiseste cantar tambem. Ouvindo-te a doce vo~,Do lago as lindas andinas Tinham ciumes de nós.

E ra uma noite formosa,De meigo encanto sem fim . . Se ha noites no paraiso,Só deve havel-as assim.

Que triste desillusão,Na hora do despertar!. . Nos campos da phantasia Quem déra sempre voar!

J o a q u im d o s A n j o s .

A CARIDADE

Cada esmola que retine,Ca/lindo na argêntea salva,Desenvolve, educa e salva,D um abysmo—a perdição.

Que essa virgem milagrosa, ^Esse archanjo vaporoso Que enxuga com véo formoso Os prantos da humanidade.

— Mora nas almas de todos —Filha de Deus verdadeiro,Por patria tem — ò mundo inteiro —P o r nome tem — a caridade!

D. A m k l i a J.vnY

N ’U M L E Q U E

Como o bordão é luz para o ceguinho, Como a luz é bordão para o que pensa. T u és o meu bordão no meu caminho, T u és a minha luz na minha crença.

A . S errano

FOLHETIM

Tradikção de J. DOS ANJOS

A U L T I M A C R U Z A D A1

0 marido não lhe* recusava nada. E ra fraco ao pé d’ella como um na- mo-ado ingénuo de vinte annos. Obe­decia-lhe com ternuras de mulher. l ’unha-se de joelhos, com os olhos .tile is nos cabellos louros do seu ído­lo, e não sentia a lama subir por alie \ agárosamente.

Os fornecedores, cançaJos de pro­messas, já mostravam os dentes. A sr.1 de Taiilemaure foi procurar as pessoas de familia, pedindo-lhes di­nheiro. mas em toda a parle foi mal

'feeebida.

Mas não resolvia a mudar ce vida. Pensou nos numerosos decahidos cjue exploravam o jogo. depois de lá dei­xarem o ultimo dinheiro que tinham.

Não seria essa a taboa de salva­ção? Depois era caminhar para o des­conhecido, p c seguir a sorte que fu­gia. Isso devia attrah l-o. agradar-lhe. Em uma noite de dezembro em que, pi-esentindo a uesnonra p-oxima. as dividas por pagar, desorientado, do­minado por um desespero sombrio que naò podia occultar, o marquez batia machinalmente com os dedos nos vidros de uma jfmella, ella grilou- lhe com voz imperiosa de com.nando;

— Por que não joga. meu caro?Elle obedeceu. Ficou preso a essa

cadeia fatal. Não abandona o club, ganhando, perdendo alternativamen­te, envelhecendo dez annos em dois m zes pelas intermináveis noites de jogatina. Quando ganha,1 tudo vae bem no palácio de Taiilemaure. Mas quando o infeliz entra em casa sem dinheiro, embrutecido, espremido como um limão a que n f os vigoro-1

sas tivessem tirado o succo, a mar- queza c hicoteia o com o seu desprezo altaneiro. Trata o como o ultimo cios miseráveis e expulsa-o do seu quarto com palavras más e brutaes que fé- rem o coração mortalmente. .

— Não vae mal. disse lord Shellev.Ao fundo do salão, a voz cançada e

ro u'a do marquez murmurava ainda, como um versículo de psalmo fúne­bre:

— Façam o seu jogo, meus senho­res.

E o ; oito e os nove seguiam-se; elle perdia sempre.

Parou a final, desanimado, não se atrevendo mais a luetar. D’esta vez o desastre era tão completo, tão irre- paravel. que não foi senhor das suas sensações e com um tremor de todo o corpo, abalado pela colera, rasgou e a machucou as cartas, corno se ti­vesse nos dedos alguma coisa viva.

Ninguém tornou a jogar.Taiilemaure levantou-se. Camba­

leava. O sr. IvrObstein approxiinára- se obsequiosamente, tossindo como

um actor que prepara o elleito de uma scena decisiva.

— Realmente, marquez, disse elle, não é feliz ao jogo, e se me fo ;se per- mittido dar-lho um conselho de ami­go, c re ia .. .

O marquez pareceu não ouvir. Vol­ta, am-lhe as idéas negras, augmenta- das pelo medo de voltar para casa, de se e, contrai- cm frente da espo a, de confessar o que lhe ôccultára, as perdas de uma semana, o inverosímil azar de sete noites consecutivas, e a dcrrocad 1 final que levava tudo,—• o palácio, as ultimas migalhas da he­rança materna, os cavallos e a mobí­lia. E esta perspectiva sombria de desmoronamento, este pesadelo, fa- zia-o ideota, dava-lhe o ultimo golpe ao corpo cheio de fadiga.

Krúbstein sorriu-se. A indifTerença de Taiilemaure não o desnorteou.

Estava habituado a não prégar no deserto. E i -sistiu n u m tom pater­nal, como se se interessasse realmen­te pela sorte do marquez. Falou da Bolsa, das' fórtjri^s rmlagrosas que

a!li se realisavam de um dia para o outro, quando se tinha audada e se seguiam conselhos intelligentes. Em nenhuma épocha — nem mesmo no tempo de Saw — o dinheiro fura tão facil de recolher. Bem tolo seria quem não aproveitasse tão magnifica occa- sião.

Animava-se com esta evocação des­lumbrante de milhões, acordava 1 ail- lemaure. embriagava-o como se lhe désse um vinho falsificado. E depois, certo de obter o que desejava, o ban­queiro expoz as suas vastas conce- rções.

J— Para que serve, atlirmava elle. seguir os hábitos antigos, a rotina commum? Hoje para se alcançar bom resultado é preciso ser bom jogador, talhar na alta.

E desenvolveu a idéa grandiosa do Credito Continental, do novo banco que havia de englobar em breve os capitaes de todos os catholicos e ra­mificar-se através dos dois mundos.

/Contínua;.

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ANN1VERSARI0S

Fez hontem annos o nos­so amigo Durval Monteiro Lopes de Macedo, dignís­simo sollicitador forense e professor de ensino livre n esta terra.

Os nossos sinceros pa­rabéns.

SUPPLICAO abaixo assignado, não

tendo apparecido, nem se descoberto ou paradeiro da corôa e de algumas joias de Nossa Senhora d’Ata- laya, facto succedido em 29 de agosto do anno de 1900 pelas seis horas da manhã, apezar de aífecto ao poder judicial comar­cão, vem humildemente, perante os devotos da mes­ma Senhora, declarar, que está aberta uma subscri- pção para a compra duma nova coròa de prata, e de mais objectos sagrados; e recebe qualquer donativo para esse fim.

Atalaya de Aldegallega do Ribatejo, 26 de julho de19o 1 •

O Capelláo

Padre Manoel Frederico Ri­beiro da Costa.

A G R I C U L T U R 1.U r i^ id liia «la v in h a pnr

in v e r sã o .

Esta póde ser utilisada, quer na substituição de uma cepa morta, quer na con­versão de uma cepa ame­ricana em pé fraco, isto é, 11a emancipação de um sar­mento de vide americana enxertado sòbre cepa eu- ropèa.

Para enxertar esta mer- gulhia faz-se o seguinte: di­rige-se um sarmento de di­mensão e situação conve­nientes para 0 ponto onde se deseje estabelecer o no­vo pé; em seguida verga- se e curva-se uma extremi­dade livre até enterrál-a a urna profundidade de 20 a 25 centímetros em uma co­va previamente adaptada.

Com excepção dos dois olhos maisproximos da ter­ra,'todos os outros, a.con­tar daquelles até ao ponto de origem do sarmento, devem ser cuidadosamente cortados.

No decurso do anno tem logar o enraizamento, e a separação da mãe ou eman­cipação da nova planta pó­de vè ri ficar-se a co ntar do inverno .seguinte, mesmo que o sói o não seja da me­lhor qualidade.

As plantas produzidas por este systema são geral­mente robustas e bem cons­truída-.. e dão frequente­

mente fruetono mesmo an­no da operação.

Em resumo, este proces­so póde ser considerado co­mo superior á mergulhia poralporque ordinário, tan­to sob o ponto de vista da substituição ou repovoa­mento, como sob o da pro- ducção de barbados para permanecerem no logar.

Tem, porém, inconveni­ente de embaraçar os labo­res durante todo o tempo em que a nova planta está ligada á cepa mãe, e trazer um largo dispêndio de sar­mentos.

/ (

I |KMjiicua B e l la e o jo- v e u S e u h o r .

Quando a pequena Bel­la, tão loira e tão linda, nos seus dezeseis annos, che­gou á grande cidade, com a expressão do rosto, as­tuciosa e ingénua ao mes­mo tempo, sob o lenço de seda escarlate do toucado camponez, qual era o seu dono? D’onde vinha? E’ o que lhes não direi porque tambem o ignoro.

Quando a pequena Bella chegou á grande cidade, ficou logo muito admirada por ver tantas casas e tanta gente, e disse comsigo mui­to embaraçada:

— Ora pois, que farei para descobrir entre todas estas moradas, aquellas on­de tenho que fazer?

Pouco depois viu, não longe de si, vestido de oiro e pedrarias— como tinha uma aljava ao hombro de­via ser um caçador real,— que a olhava e lhe sorria de modo que parecia que­rer obse quial-a. Ainda que muito timida:

— Joven Senhor, lhe dis­se ella, diga-me por íávor: é desta cidade?

— Pequena Bella, res­pondeu elle, sou de todas as cidades.

— E nesta em que esta­mos, conhece muita gente?

— Aqui, como em toda a parte, conheço toda a gente.

— Póde ensinar-me a habitação das pessoas ás quaes a minha madrinha, muito boa conselheira e um pouco láda, me reçom- mendou visitasse primeiro?

— Certamente que posso.— Diga-me então, joven

Senhor, onde habita o So­nho ?

O joven Senhor disse:— Em minha casa.— Ah! qne feliz encon­

tro eu tive, exclamou a pe­quena Bella, batendo as pal­mas. E a Esperança?

— Na minha casa.

— A’s mil maravilhas! E a Delicia ?

— Na minha casa.— Cada vez melhor! E

a Felicidade Perfeita?— Na minha casa.— E admiravel!E não cabendo em si de

contente, quiz ir immedia- tamente á habitação do jo­ven Senhor, que devia pos­suir um palacio muito illus- tre, pois que abrigava taes hospedes.

Emquanto caminhava, e menos alegre:

— Ai de mim! disse a pe­quena Bella. Aquelles para quem me guia não são os unicos a quem minha ma­drinha me recommendou que visitasse. Ella falou-me doutros personagens, me­nos amaveis, mas parece que ninguém neste mundo póde dispensar-se de os co­nhecer. Póde tambem en- sinar-me a sua morada?

— Certamente que sim.— Muito bem, joven Se­

nhor. Diga-me, se faz íá­vor, onde móra a Inquieta­ção?

— Na minha casa.— A h! como o acaso me

dirigiu bem! exclamou a pequena Bella, mas d esta vez sem bater palmas. E a Melancolia onde habita?

— Na minha casa.— E a Angustia?— Na minha casa.— E a Raiva?— Na minha casa.

E a irremediável De­solação ?

Considerando então com um ar de surpreza inquieto aquelle que assim fallava:

E extraordinario que vivam em sua casa hospe­des tão diversos! disse a pequena Bella.

Mas o joven Senhor res­pondeu:

Oh! de modo algum, pois eu sou o Amor.

O D O M I N G O

V a n ta g e » s d as m u lh e r e s

Haller pretende que as mulheres pódem supportar melhor a fome do que os homens.

P lutarco diz que são mais difficeis de embriagar.

Huzer, que tèem a vida mais longa.

De la Porte, que enjoam com menor facilidade, e que não perdem o cabello tão cedo.

Agrippa, que se conser­vam mais tempo á super­fície da agua.

Finalmente Plinio asse­vera que são mais respei­tadas pelas feras do que os homens, e que mesmo os raios costumam poupal-as.

seu neto antes de nascer: elle quiz que sua filha, Joan- na de Albret, corresse a França de um a outro pó­lo, durante o tempo da sua gravidez, e tendo chegado ao termo, conduziu-a de Compiégne, onde se aclv,i- va, a dar á luz em Pau no Béarn).

Ex«igiu e obteve delia que durante as dôres do parto cantasse um cantigo béar- nez, de que lhe tinha ensi­nado a musica e a letra; recebeu a creança que aca­bava de nascer, sem cho­rar, levou-a em uma dobra do seu roupão, e exclamou com o enthusiasmo de um propheta:

— A minha abelha pariu um leão.

Elle tinha feito preparar ie antemão um berço pa­ra o recem-nascido,que não tinha nada de commum com estes berços, primores da arte, onde os filhos dos reis acham, ao nascer, um se- ptro para joguete, e rece­bem primeiro as mais risí­veis homenagens: o de Hen­rique 4.11 era a concha de uma enorme tartaruga; e é o unico berço de que se faz mencão na historia.

ANECDOTÂS

I t e s p o s ía s a cer ta d a s

Perguntando-se a um

« e r ç o d e H e u r iq iie IVHenrique de Navarra

principiou a educação de

phylosopho, qual era a me­lhor coisa? a liberdade, res­pondeu elle; a mais agra- davel? o ganho; a mais desconhecida? a fortuna; e a peior? a morte.

Dizia tambem que o ho­mem mais feliz do mundo era o sabio com saude; o mais infeliz, o velho sem di­nheiro ; o mais importuno, o fallador; o mais perigo­so, o medico ignorante ; e o mais digno de compai­xão, o mentiroso, porque ninguém o acredita.

Entre casados:— João, nós temos doze

pessoas para o jantar e pa­rece-me que a comida não chega.

--H a, não te apoquen­tes, eu vou buscar mais um.

— Mais um ? !— Sim, faz treze e depois

tira a vontade aos outros!

Numa loja de barbeiro : — O ’ mestre; porque se­

rá que quando venho cor­tar o cabello vocè me conta sempre historias pavoro­sas ?!

— Muitosimples... Põem- se-lhe os cabellos em pé, e a operação torna-se mais facil.

ANNUNCIOS

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Page 4: I ANNO - mun-montijo.pt · Annuncios na 4.3 pagina, contracto espeiial. auto- ... A força de tenacidade, ... hautegomme da nossa bella

O D O M I N G O

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MERCEARIA

JOSE ANTONIO NUNESig , L A R G O D A E G R E JA , ,g-x

N’este estabelecimento encontra-se á venda pelos preços mais convidativos, um variado e amplo sortimento de genetos pro- prios do seu ramo de commercio, podendo por isso oflerecer as maiores garantias aos seus estimáveis freguezes e ao respei- t ivel publico em geral.

Visite pois o publico esta casa.

D E P O S I T OI D E

VINHOS, V INAGRES E AGUARDENTESE FABRICA. DE LICORES

G R A N D E D E P O S I T O D l A C R E D I T A D A F A B R I C A D EJANSEN & C / — LISBOA

DE

CERVEJAS, GAZOZAS, PIROLITOSVENDIDOS PELO PREÇO DA FABRICA

— LUCAS & C/ --L A R G O D A C A L D E IR A — ALDEGALLEGA DO RIBATEJO

V in h o sVinho tinto de pasto de i . a, litro

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C A S A C O M M E R C I A LDE

J U S T I N O S I M Õ E SR U A D A F A B R IC A — Aldegallega

Especialidade em chá, café, rfssucar. mantéigas nacionaes e estrangeires, massai; dôces, semeas, arroz, legumes, azeite, j etroleo, sabão de tod: s as qualidades; artigos ce fanqueiro e retrozeiro, louças, carne de porco, taba cos, etc., etc.

O proprietário d’esta casa vende tudo por preços convidativos, e além d’isso todo o freguez tem direito a uma senha quando crfmpre a importân­cia de 200 réis para cima, e quando juntar 5o senhas terá ‘ d.reito a ,’um brinde bonito e valioso.

J O S l D i ROCHA BARBOSACom ofO cina

D E

CORREEIRO E SELLEIRO 18, RUA DO FORNO, 18

WPOGHAPIfiDE

JOSE’ AUGUSTO SALOIOEncarrega-se de todos os

trabalhos typographicos.R. DE JOSÉ M A R IA DOS SAN TO S

COMPANHIA FABRIL SINGERP o r Soo réis semanaes se adquirem as cele­

bres machinas SINGER para coser.

Pedidos a AURÉLIO JO Ã O DA CRUZ, cobrador da casa *& c .a e concessionário em Portu­gal para a venda das ditas machinas.

Envia catalogos a quem os desejar, 70, rua do Rato. 70 — Alcochete.

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100 » i 5o » 160 » 240 » 240 » 400 » 5oo »

60 rs.5o » 80 » 60 »

200 d 180 « 180 » 1S0 » 180 » 280 »

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c e prova 3o*. »ginja.............. »de -bagaço 20o » i . 3 » » 20J » 2.; » » 18°. »» fig O 2 0 o. »» Evora i8 *.»

K Parati..........« Cabo Verde2 Cognac.......1 »' . . . .

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C anna B ran ca......................... litro

. . . garrafa

320 rs. 320 » 240 » 160 i>15o » 140 )>120 » 140 »

700 rs. 600 »

1S200 » iSpoo »

36o »

r “oMo>r-<r -wo

1 CERYEJAS, GAZOZAS E PIROLITOSPosto em casa do corísumidor

' Cerveja de Março, duzia........ 480 rs.720 » 75o » 420 »

Pilcener,' » da pipa. meio barril

. Gazozas, duzia................... ...! Pirolitos, caixa, 24 garrafas. . 36 o

C ap ilé , l i t r o 3 8 0 r é is . co m g arra fa i l íO r é isE M A IS B E B ID A S D E D IF F E R E N T E S Q U A L ID A D E S

V E N D A S A D I N H E I R O PEDIDOS A L U C A S & C,A - ALDEGALLEGA

A N T I G A M E R C E A R I A DO POVODE

D O M I N G O S A N T O N I O S A L O I O;V e s te e s ta b e le c im e n to e n c o n tr a -s e á v e n d a p e lo s p r e ç o s m a is couvi-

d a tiv o s . u m v a r ia d o s o r t im e n to d e g e n e r o s p r o p r io s d o s e u ram o d e com- m e r c io . o íf c r e c e a d o p o r i s s o as m a io r e s garaiEtias aos s e u s e s t im á v e is tre- g u e z e s e ao r e s p e itá v e l p u b lic o .

R X J A D O C A E S — ALDEGALLEGA DO RIBATEJO

D O P O Y O

A L D E G A L L E G A D O R I B A T E J OGrande estabelecimento de fazendas por preços limitadíssimos, pois que vende

todos os seus artigos pelos preços das principaes casas de Lisboa, e alguns A I N D A M A I S B A R A T O S

Grande collecção d artigos de Retroseiro.Bom sortimento d artigos de F A N Q U E IR O .

Setins pretos e de cor parafórros de fatos para homem, assim como todos os accessorios para os mesmos.

Esta casa abriu uma SECÇÃO E S P E C IA L que muito util é aos habitantesdesta villa, e que ea C Q M P 8A ÉM L IS B O A de todos e quaesquer artigos ainda mesmo os que não são do seu ramo de negocio; garantindo o \êlo na escolha, e o preço porque vendem a retalho as primeiras casas da capital.

B O A C O L L E C Ç Ã O de meias pretas para senhora e piuguinhas para crean­ças de todas as edades.

A CO R PRETA D’ESTE ARTIG O E GARANTIDA A clima Sesta casa é GANHAR POUCO PARA VENDER MUITO.

J O Ã O B E N T O & N I N E S B E C A R V A L H O88, R, DIREITA, 90 - 2, R, DO CONDE, 2


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