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44 TÉCHNE 212 | NOVEMBRO DE 2014 Adriana de Araujo Pesquisadora do Laboratório de Corrosão e Proteção – LCP/CTMM do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) [email protected] Zehbour Panossian Diretora de inovação do IPT e professora do departamento de Metalurgia e Materiais da Escola Politécnica da USP [email protected] Mirian Cruxen B. de Oliveira Pesquisadora do Laboratório de Materiais de Construção Civil – LMCC/CTOBRAS do IPT [email protected] Natasha da Silveira Pinto Estagiária do LMCC/CTOBRAS [email protected] Juliana Pereira Flor Técnica em metalurgia do LCP/CTMM, do IPT [email protected] N o presente trabalho é discutida a possibilidade de corrosão prematu- ra de armaduras em concreto poroso em que há concentração de bolhas de ar junto à superfície do aço carbono. Em complemento, é apresentado um estudo de caso no qual são resumidos os resul- tados obtidos na avaliação de estruturas de concreto com ar incorporado. O concreto com ar incorporado é obtido por meio da adição de políme- ros e de fluidificantes específicos que incorporam bolhas de ar na mistura. Esse concreto tem sido usado no Brasil para fins estruturais e de vedação. Concreto comum e concreto leve O concreto é um material heterogê- neo que tem sua qualidade associada a diferentes fatores, especialmente às ca- racterísticas e às proporções dos mate- riais componentes. Do ponto de vista de sua massa específica, existe, além do concreto comum (de massa específica normal, em torno de 2.400 kg/m³), o concreto leve de massa específica in- ferior a 1.800 kg/m³ e o concreto pe- sado de massa específica superior a 3.200 kg/m³ [Mehta; Monteiro, 2006]. Entretanto, a maneira mais usual de classificar o concreto é pela resistência à compressão, sendo isso válido também para o concreto com ar incorporado, pois não há necessariamente uma corre- lação definida entre valores de sua massa específica e de resistência à compressão. Segundo Mehta e Monteiro [2006], as bolhas incorporadas intencionalmen- te aumentam a porosidade do concreto e paração com a matriz do concreto. O ACI 212.3R [2004] destaca que a distri- buição e a quantidade de bolhas incor- poradas dependem de diferentes fatores, como a natureza e a quantidade do adi- tivo utilizado, o tipo e a duração da mis- tura do concreto, e sua consistência. Corrosão da armadura Em concreto convencional íntegro, as armaduras de aço carbono se man- têm passivadas em razão da formação, em sua superfície, de uma fina película (espessura 10 nm) composta de óxi- dos de ferro [Huet et al., 2005]. Além dessa película, há formação de uma ca- mada rica em hidróxido de cálcio que acompanha a topografia da superfície do aço [Verbeck, 1975; Khalaf; Page, 1979], conferindo proteção local con- tra a queda do pH (efeito tampão) [Yo- nezawa et al, 1988; Horne et al., 2007] e restringindo a movimentação dos íons cloreto [Yonezawa et al., 1988]. Usualmente, a queda de pH do con- creto ocorre em razão do ingresso do dióxido de carbono no concreto e da sua reação com o hidróxido de cálcio livre na solução aquosa de poros, preci- pitando na forma de carbonato de cál- cio, fenômeno denominado de carbo- natação. A queda do pH fornece condi- ções adequadas para a quebra da pelí- cula passivadora, permitindo o proces- so de corrosão. Outro fator preponde- rante para a corrosão é o ingresso de íons cloreto. A sua presença desestabili- za o filme passivante e afeta a resistivi- dade elétrica do meio, que é diminuída. diminuem a sua resistência, assim como o fazem as bolhas de ar usualmente apri- sionadas durante o seu adensamento. O primeiro tipo tem diâmetro que varia entre 50 µm e 200 µm, e o segundo pode ter até 3 mm. Estudo de Wong e colabo- radores [2011] mostrou que as bolhas incorporadas aumentam a heterogenei- dade da pasta de cimento, afetando os mecanismos de transporte. Verificou-se que a microestrutura da interface bolhas de ar–pasta é similar à da agregado– pasta, contendo significativa redução de cimento, alta porosidade e, inicialmente, elevada relação água/cimento em com- ARTIGO Comportamento da armadura em concreto poroso: estudo de caso techne educacao ~

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44 TÉCHNE 204 | MARÇO DE 2014 44 TÉCHNE 212 | NOVEMBRO DE 2014

Adriana de Araujo Pesquisadora do Laboratório de

Corrosão e Proteção – LCP/CTMM do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT)

[email protected]

Zehbour Panossian Diretora de inovação do IPT e

professora do departamento de Metalurgia e Materiais da Escola

Politécnica da [email protected]

Mirian Cruxen B. de Oliveira Pesquisadora do Laboratório

de Materiais de Construção Civil – LMCC/CTOBRAS do IPT

[email protected]

Natasha da Silveira PintoEstagiária do LMCC/CTOBRAS

[email protected]

Juliana Pereira FlorTécnica em metalurgia do LCP/CTMM, do IPT

[email protected]

No presente trabalho é discutida a possibilidade de corrosão prematu-

ra de armaduras em concreto poroso em que há concentração de bolhas de ar junto à superfície do aço carbono. Em complemento, é apresentado um estudo de caso no qual são resumidos os resul-tados obtidos na avaliação de estruturas de concreto com ar incorporado.

O concreto com ar incorporado é obtido por meio da adição de políme-ros e de fluidificantes específicos que incorporam bolhas de ar na mistura. Esse concreto tem sido usado no Brasil para fins estruturais e de vedação.

Concreto comum e concreto leveO concreto é um material heterogê-

neo que tem sua qualidade associada a diferentes fatores, especialmente às ca-racterísticas e às proporções dos mate-riais componentes. Do ponto de vista de sua massa específica, existe, além do concreto comum (de massa específica normal, em torno de 2.400 kg/m³), o concreto leve de massa específica in-ferior a 1.800 kg/m³ e o concreto pe-sado de massa específica superior a 3.200 kg/m³ [Mehta; Monteiro, 2006].

Entretanto, a maneira mais usual de classificar o concreto é pela resistência à compressão, sendo isso válido também para o concreto com ar incorporado, pois não há necessariamente uma corre-lação definida entre valores de sua massa específica e de resistência à compressão.

Segundo Mehta e Monteiro [2006], as bolhas incorporadas intencionalmen-te aumentam a porosidade do concreto e

paração com a matriz do concreto. O ACI 212.3R [2004] destaca que a distri-buição e a quantidade de bolhas incor-poradas dependem de diferentes fatores, como a natureza e a quantidade do adi-tivo utilizado, o tipo e a duração da mis-tura do concreto, e sua consistência.

Corrosão da armaduraEm concreto convencional íntegro,

as armaduras de aço carbono se man-têm passivadas em razão da formação, em sua superfície, de uma fina película (espessura ≤ 10 nm) composta de óxi-dos de ferro [Huet et al., 2005]. Além dessa película, há formação de uma ca-mada rica em hidróxido de cálcio que acompanha a topografia da superfície do aço [Verbeck, 1975; Khalaf; Page, 1979], conferindo proteção local con-tra a queda do pH (efeito tampão) [Yo-nezawa et al, 1988; Horne et al., 2007] e restringindo a movimentação dos íons cloreto [Yonezawa et al., 1988].

Usualmente, a queda de pH do con-creto ocorre em razão do ingresso do dióxido de carbono no concreto e da sua reação com o hidróxido de cálcio livre na solução aquosa de poros, preci-pitando na forma de carbonato de cál-cio, fenômeno denominado de carbo-natação. A queda do pH fornece condi-ções adequadas para a quebra da pelí-cula passivadora, permitindo o proces-so de corrosão. Outro fator preponde-rante para a corrosão é o ingresso de íons cloreto. A sua presença desestabili-za o filme passivante e afeta a resistivi-dade elétrica do meio, que é diminuída.

diminuem a sua resistência, assim como o fazem as bolhas de ar usualmente apri-sionadas durante o seu adensamento. O primeiro tipo tem diâmetro que varia entre 50 µm e 200 µm, e o segundo pode ter até 3 mm. Estudo de Wong e colabo-radores [2011] mostrou que as bolhas incorporadas aumentam a heterogenei-dade da pasta de cimento, afetando os mecanismos de transporte. Verificou-se que a microestrutura da interface bolhas de ar–pasta é similar à da agregado–pasta, contendo significativa redução de cimento, alta porosidade e, inicialmente, elevada relação água/cimento em com-

ARTIGO

Comportamento da armadura em concreto poroso: estudo de caso

techneeducacao~

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Além da presença de agentes agres-sivos no concreto, há outros fatores a serem considerados no processo corro-sivo, tal como a disponibilidade de oxi-gênio dissolvido na solução que ume-dece a superfície do aço – além de es-sencial para o processo de corrosão, o oxigênio controla a taxa de corrosão da armadura. Destaca-se também a pre-sença de frestas ou outras heterogenei-dades no concreto [Verbeck, 1975; Lambert et al., 1991, González et al., 1993]; como exemplo, os vazios decor-rentes do aprisionamento de bolhas de ar durante o adensamento do concreto e de sua incorporação intencional.

As bolhas de ar podem aumentar a permeabilidade do concreto, facilitan-do o ingresso de agentes agressivos. As bolhas também podem prejudicar a formação das mencionadas camadas protetivas. Cita-se como outro agra-vante à formação dessas camadas o uso de aço já corroído. A camada de produ-tos de corrosão pode ser um eletrólito poroso para o acesso do oxigênio à su-perfície do aço e fornecer íons de cará-ter oxidante (Fe3+) para a reação cató-dica de corrosão [González et al., 2007].

A prática mostra que, quase inva-riavelmente, é na região de maior hete-rogeneidade do concreto que a arma-dura está mais suscetível à corrosão prematura [Page, 1975]. Há estudos que confirmam isso [Mohammed; Hamada, 2001; Nam, 2005; Söylev; François, 2005; Horne et al., 2007; Angst et al., 2010], indicando-se que, em concreto comum, a corrosão ini-cia-se preferencialmente na parte infe-rior das armaduras (sentido oposto ao lançamento do concreto), que é o local de maior concentração de bolhas de ar e de outros tipos de vazios. O mesmo ocorre em regiões de intersecção de barras e de arames de amarração [Alhozaimy et al., 2012].

A figura 1 ilustra o mecanismo de corrosão em região de vazio num con-creto sem contaminação com cloretos. O vazio pode se dar devido à presença de bolha de ar junto à armadura ou devido à presença de uma fissura ao longo do concreto de cobrimento (até a armadura). Supõe-se que essa corro-são seja estabelecida pela formação de

células oclusas, onde o ânodo (aço ex-posto ao vazio) e o cátodo (aço em contato íntimo com a pasta de cimen-to umedecida) encontram-se fisica-mente separados, de modo que o ele-trólito (solução aquosa de poros) junto ao ânodo tenha dificuldade de misturar-se com o eletrólito junto ao cátodo. Por essa razão, esses eletrólitos apresentam uma concentração dife-rencial, bem como potencial eletro-químico distinto. O eletrólito do vazio é o primeiro a sofrer alteração de suas

características, em destaque a dimi-nuição do pH, devido tanto ao acesso facilitado de dióxido de carbono como pela redução da disponibilidade de compostos alcalinos no eletrólito ao longo do tempo. Com a redução do pH, há favorecimento da corrosão.

A figura 2 ilustra o mecanismo de corrosão em região de vazio num con-creto com contaminação com cloretos. Segundo Nam e colaboradores [2005], nesse caso há o acesso facilitado dos íons cloreto pelo perímetro do vazio. Quanto

Figura 1 – Desenho esquemático do mecanismo de corrosão da armadura exposta ao vazio, tendo-se o avanço da frente de carbonatação no concreto. No trecho do aço carbono exposto ao vazio ocorre a dissolução do metal (área anódica), enquanto na adjacência, onde o aço carbono está em contato íntimo com a pasta de cimento umedecida, ocorre a redução do oxigênio (área catódica)

Figura 2 – Desenho esquemático do mecanismo de corrosão da armadura no perímetro do vazio de concreto contaminado com íons cloreto

Figura 3 – Desenho esquemático do mecanismo de corrosão da armadura em fresta formada no perímetro do vazio de concreto íntegro

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ARTIGOmaior é o vazio não saturado, maior é a concentração de íons no perímetro. O cloreto circunda o vazio e dirige-se à in-terface armadura–concreto por meio da solução aquosa na parede de poro. A corrosão do aço ocorre pela ação con-junta da solução, dos íons cloreto e do oxigênio: os íons cloreto despassivam o aço, e o oxigênio presente no vazio ali-menta o processo corrosivo. Nesse caso, a corrosão é localizada, tendendo à for-mação de pites e, com a sua coalescência, a formação de alvéolos que podem apre-sentar profundidade significativa.

Pode-se supor ainda que haja pos-sibilidade de ocorrência de corrosão do aço em concreto íntegro (sem a re-dução do pH da solução aquosa de seu umedecimento ou a presença de íons cloreto). Nesse caso, a corrosão ocorre por aeração diferencial dentro do vazio e fora do vazio, este último cons-tituindo uma fresta estreita. No eletró-lito dentro da fresta há restrição de acesso de oxigênio, enquanto o eletró-

lito do aço exposto ao vazio é rico em oxigênio dissolvido. Nessas condições, há duas possibilidades:n O aço exposto ao vazio e o aço em contato íntimo com a pasta de cimen-to estão passivados: a corrosão é facili-tada na fresta (área anódica) em razão da instabilidade da película passivante do aço quando da restrição de oxigê-nio dissolvido na solução que umidifi-ca a sua superfície. A figura 3 ilustra a corrosão em fresta;n O aço exposto ao vazio está despas-sivado e o aço em contato íntimo com a pasta de cimento está passivado: neste caso, a corrosão é facilitada na área do vazio (área anódica) pela gran-de disponibilidade de oxigênio.

Estudo de casoInspeções em campo

Foram inspecionadas paredes es-truturais de concreto leve edificadas em período inferior a cinco anos, em am-biente urbano. Dentre os ensaios usuais

[Araujo, Panossian, 2011], destacam-se o exame visual de armadura recém-ex-posta, a determinação da profundidade da frente de carbonatação do concreto, e as medidas da resistividade elétrica e do potencial de corrosão.

Ensaios e análises em laboratórioAmostras de diferentes concretos e

de armadura zincada foram extraídas em campo e caracterizadas em labora-tório. Dois concretos, denominados de AR1 e AR2, foram caracterizados por análise petrográfica e, experimen-talmente, pela determinação do diâ-metro das bolhas de ar. Essa caracteri-zação foi feita em complemento à de-terminação da resistência à compres-são, do índice de vazios e da absorção de água e, ainda, do perfil de cloretos. Esses ensaios são detalhados em artigo anterior [Araujo et al., 2014].

Resultados e discussãoInspeções em campo

Em algumas paredes de concreto com ar incorporado, o exame visual da armadura de aço carbono apontou a sua despassivação tanto em concreto carbo-natado como em concreto íntegro (não carbonatado, sem perfil de contamina-ção por cloretos e sem anomalias). Essa condição pode ser atribuída ao rápido avanço da frente de carbonatação do concreto, verificado em concreto carbo-natado, e a falhas de formação de cama-das protetoras em armadura embutida em concreto íntegro (figura 4). O em-prego de barras de aço carbono já corro-ídas foi considerado um agravante. No caso do uso de armaduras zincadas, a corrosão precoce só foi verificada na-quelas com baixa espessura de concreto de cobrimento ou em concreto fissura-do (fissura passante no alinhamento da armadura). Em ambos os casos, o trecho exposto do concreto de cobrimento es-tava carbonatado (figura 5a).

Quanto à resistividade elétrica do concreto e do potencial de corrosão da armadura, na maioria das vezes foram obtidos valores muito variáveis e não re-presentativos do quadro de corrosão ve-rificado. Essa variabilidade foi atribuída à dificuldade de avaliação em concreto poroso, e, talvez, houvesse necessidade

Figura 4 – a) Aspecto visual de tela de aço carbono (não revestida), com indícios de corrosão, embutida em concreto com ar incorporado; b) Constatação da não carbonatação do concreto na região da armadura (superfície de coloração rósea). Ensaios em laboratório não indicaram a presença de cloretos no concreto

Figura 5 – a) Aspecto visual de trecho de treliça de aço carbono zincado com indícios de corrosão e carbonatação parcial do concreto (sem coloração rósea). A carbonatação na superfície da armadura ocorreu devido à presença de fissura, acompanhando seu alinhamento e profundidade; b) Aspecto da microestrutura do revestimento de zinco e do substrato, mostrando claramente o estabelecimento de processo corrosivo em ambos

Concreto carbonatado(sem coloração)

Corrosão na camada de zinco

Corrosão do substrato

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de saturá-lo, como já observado em ou-tras situações. No caso de armaduras zincadas, há ainda como agravante a proximidade entre o valor de potencial indicativo de seu estado passivo (em torno de -450 mV, em referência ao ele-trodo de cobre–sulfato de cobre – ECSC) e o valor indicativo de estado ativo cor-rosão do aço carbono (≥-350 mV, ECSC). Com isso, essa avaliação é válida especialmente para a detecção do início de processo corrosivo do revestimento

Figura 6 – Aspecto da microestrutura do concreto leve AR1 (a) e AR2 (b) e distribuição dos seus constituintes

Pasta Vazios Agregados

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

AR-2

AR-1

Constituintes (%)

do zinco (potenciais mais negativos de -650 mV, ECSC) em que não há exposi-ção do substrato. Em campo, pôde-se determinar o estado passivo do revesti-mento de zinco em paredes em que o concreto estava íntegro.

Ensaios e análises em laboratórioEm geral, os resultados obtidos

apontaram uma grande variação das características dos concretos com ar in-corporado. A resistência à compressão

dos concretos AR1 e AR2 foi muito baixa, em torno de 6 MPa, tendo-se índi-ce de vazios e de absorção de água eleva-dos, em torno de 37% e de 22%, respec-tivamente. Esses resultados foram atri-buídos à especificação de uma relação a/c elevada (maior que 0,6) e de uma incorporação intencional de bolhas de ar, em torno de 18% no estado plástico. Essa concentração é superior à referen-ciada em literatura pesquisada, que é feita especialmente para melhorar a re-sistência do concreto contra ciclos de congelamento/descongelamento. Nesse uso, é recomendada a incorporação de 3,5% a 7,5% [ACI 201.2R, 2008].

A figura 6 exibe o aspecto micros-cópico dos concretos AR1 e AR2 e a distribuição aproximada de seus cons-tituintes. Ambos apresentaram uma concentração elevada de bolhas de ar, algumas delas muito próximas entre si, e algumas aparentemente interco-nectadas. A caracterização petrográfi-ca dos concretos mostrou que o AR1 contém entre 20% e 25% de vazios, e o AR2 em torno de 20%. A configuração desses vazios indicou a presença tanto de bolhas de ar incorporado intencio-nalmente como de bolhas de ar apri-sionado e, ainda, a presença de vazios

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Conc

entr

ação

(%) e

m

rela

ção

à qu

antid

ade

tota

l

Diâmetro das bolhas de ar (µm)

Poros mesocapilares Poros macrocapilares Poros grossos

AR1 AR2

Figura 7 – Gráfico de concentração e do diâmetro das bolhas de ar nos concretos AR1 e AR2 e fotografias ilustrativas das bolhas de ar

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ARTIGOna zona de transição pasta–agregado e, ainda, para o AR2, a presença de vazios sem forma definida.

O gráfico da figura 7 apresenta a concentração de bolhas de ar em dife-rentes faixas de diâmetros (aproxima-dos) e fotografias ilustrativas de bo-lhas. Para o concreto AR1 observou-se uma tendência maior de bolhas de di-âmetro entre 40 µm e 140 µm e, para o concreto AR2, entre 20 µm e 100 µm. A classificação sugerida na figura indi-ca que os poros mesocapilares são abundantes na amostra AR-2 e corres-pondem principalmente a poros rela-cionados ao excesso de água de amas-samento. A maior parte das bolhas de ar observadas nos concretos encontra-va-se na faixa correspondente a poros macrocapilares, que equivalem aos vazios provocados pela incorporação intencional de bolhas de ar, podendo

atingir valores superiores a 200 µm. Os poros grossos são considerados resul-tantes da união de bolhas de ar incor-porado e do seu aprisionamento.

Quanto à armadura zincada, como mostra a figura 5b, a análise metalo-gráfica de amostra extraída de concre-to carbonatado mostrou a corrosão do revestimento de zinco e, também, a do substrato (aço carbono). No entanto, em concreto íntegro, a análise do reves-timento mostrou a sua preservação, tendo espessura em torno de 20 µm (valor especificado em projeto).

ConclusãoO presente trabalho alerta para a

possibilidade de corrosão prematura em concreto poroso, em que há concentra-ção de vazios junto à armadura. A intro-dução ao tema mostra que essa corrosão pode ocorrer com e sem a presença de

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agentes agressivos no concreto, sendo esperada no vazio a restrição da forma-ção de camadas protetoras do aço.

O estudo de caso apresentou um exemplo prático de influência da poro-sidade do concreto no comportamento do aço. Nas estruturas de concreto com ar incorporado, pôde-se verificar a des-passivação do aço tanto em concreto carbonatado como em concreto ínte-gro. O uso de aço já corroído foi um agravante para o processo corrosivo.

O estudo também permitiu obser-var que, em concreto carbonatado, o desempenho do revestimento de zinco, aplicado em baixa espessura, não é adequado como proteção. Con-forme discutido em artigo anterior (Araujo; Panossian, 2011), a normali-zação estrangeira de armadura zinca-da define a espessura mínima do re-vestimento em 85 µm.

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