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Imprimir () José Gustavo: presidente do Rede, confundido com portavoz de Marina Silva, afirma que partido é um “experimento” e que existe um esforço para fazer “aliança intergeracional” 23/05/2016 05:00 Rede tenta reinventar prática política Por Daniela Chiaretti Há uma semana, um jantar na casa de uma família de banqueiros reuniu um grupo de CEOs e executivos ao redor de Marina Silva e integrantes da Rede Sustentabilidade. A exministra do Meio Ambiente e exsenadora expôs suas posições, já conhecidas, sobre o impeachment de Dilma Rousseff, o governo Temer, sua visão de futuro calcada na esperança de novas eleições. Mas o que surpreendeu os presentes foi saber algo da dinâmica da Rede. De um lado, tratase de um partido de oito meses de vida, 15.600 filiados, pouco tempo de TV e parcos recursos, além de trajetória nova e de difícil tradução. Do outro, os históricos 22 milhões de votos da exseringueira que lidera as pesquisas de intenção para eleições presidenciais. Ao lado de Marina, no jantar de cerca de 30 pessoas entre economistas e presidentes de indústrias, donos de redes de restaurantes, de grupos varejistas e do mercado financeiro, estava José Gustavo Fávaro Barbosa Silva, 27 anos, paulista de São Carlos, formado em administração pública. Os empresários entenderam que o rapaz ruivo era o portavoz de Marina. Entenderam errado. No registro legal do partido, Zé Gustavo, como é conhecido, é o presidente Marina é vice. Nesta tentativa de se fazer política de outro jeito, o jovem é um dos portavozes da Rede Sustentabilidade e Marina Silva, a outra. O conceito é diferente: são portavozes para o mundo exterior e coordenadoresgerais para as ações internas do partido. O jeito novo de fazer política, trilha que a Rede Sustentabilidade tenta abrir, é complicado de absorver. O diretório nacional das estruturas partidárias convencionais aqui é chamado de "elo nacional". "A ideia é mudar a linguagem para mudar um pouco a configuração de como as pessoas pensam a política", diz Zé Gustavo. O elo nacional, um agrupamento de 100 pessoas, se liga a elos estaduais, e estes, a elos municipais. É uma malha política tecida horizontalmente. A ruptura com a verticalidade partidária tradicional procura ultrapassar a semântica. Na Rede, todos os cargos são duplos e a orientação, não estatutária, é que sejam ocupados por um homem e uma mulher, um jovem e alguém mais experiente. "Isso é bacana na Rede. Há um esforço de se fazer uma aliança intergeracional. Uma geração tendo paciência e aprendendo com a outra", explica Zé Gustavo. "A Rede é um experimento. Tentamos trazer oxigenação para a política."

Rede tenta reinventar prática política valor economico 23-5-2016

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José Gustavo: presidente do Rede, confundido com porta­voz de MarinaSilva, afirma que partido é um “experimento” e que existe um esforço para fazer “aliança intergeracional”

23/05/2016 ­ 05:00

Rede tenta reinventar prática política

Por Daniela Chiaretti

Há uma semana, um jantar na casa de uma família de banqueiros reuniu um grupo de CEOs e executivos ao redorde Marina Silva e integrantes da Rede Sustentabilidade. A ex­ministra do Meio Ambiente e ex­senadora expôssuas posições, já conhecidas, sobre o impeachment de Dilma Rousseff, o governo Temer, sua visão de futurocalcada na esperança de novas eleições. Mas o que surpreendeu os presentes foi saber algo da dinâmica da Rede.De um lado, trata­se de um partido de oito meses de vida, 15.600 filiados, pouco tempo de TV e parcos recursos,além de trajetória nova e de difícil tradução. Do outro, os históricos 22 milhões de votos da ex­seringueira quelidera as pesquisas de intenção para eleições presidenciais.

Ao lado de Marina, no jantar de cerca de 30 pessoas entre economistas e presidentes de indústrias, donos de redesde restaurantes, de grupos varejistas e do mercado financeiro, estava José Gustavo Fávaro Barbosa Silva, 27 anos,paulista de São Carlos, formado em administração pública. Os empresários entenderam que o rapaz ruivo era oporta­voz de Marina. Entenderam errado. No registro legal do partido, Zé Gustavo, como é conhecido, é opresidente ­ Marina é vice. Nesta tentativa de se fazer política de outro jeito, o jovem é um dos porta­vozes daRede Sustentabilidade e Marina Silva, a outra. O conceito é diferente: são porta­vozes para o mundo exterior ecoordenadores­gerais para as ações internas do partido.

O jeito novo de fazer política, trilha que a Rede Sustentabilidade tenta abrir, é complicado de absorver. O diretórionacional das estruturas partidárias convencionais aqui é chamado de "elo nacional". "A ideia é mudar alinguagem para mudar um pouco a configuração de como as pessoas pensam a política", diz Zé Gustavo. O elonacional, um agrupamento de 100 pessoas, se liga a elos estaduais, e estes, a elos municipais. É uma malhapolítica tecida horizontalmente.

A ruptura com a verticalidade partidária tradicional procura ultrapassar a semântica. Na Rede, todos os cargossão duplos e a orientação, não estatutária, é que sejam ocupados por um homem e uma mulher, um jovem ealguém mais experiente. "Isso é bacana na Rede. Há um esforço de se fazer uma aliança intergeracional. Umageração tendo paciência e aprendendo com a outra", explica Zé Gustavo. "A Rede é um experimento. Tentamostrazer oxigenação para a política."

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Esta ventilação vem de um colegiado. A Rede não funciona ­ ou tenta ­ pelo conceito de hierarquia. Ali não sevota, decide­se pelo o que chamam de "consenso progressivo", a capacidade de, pelo diálogo, convencer quem temvisão contrária. Nos encontros não há uma mesa à frente, ocupada pela direção do partido e os membros naplateia. As reuniões têm cadeiras em círculo, o que lembra as reuniões dos povos indígenas. O sistema, que trata atodos de igual maneira, é mais lento. "Isso, às vezes leva mais tempo, mas o debate é maior e a aderência dadecisão, também", explica o porta­voz. "Estar aberto a posições contrárias é pouco habitual na política, é umtrabalho de mudança na cultura", explica Zé Gustavo, o primeiro de sua família a se formar em uma universidade.O desafio é equilibrar a necessidade de respostas à conjuntura ­que exige velocidade­, ao cuidado de manter acongruência das posições de tantos.

Foi a sensibilidade de Marina a perceber, desde o Movimento Social Nova Política, a abertura da juventude ainovar na política, reconhece o cearense Pedro Ivo Batista, 55 anos, um dos coordenadores nacionais deorganização da Rede Sustentabilidade ­ seu duplo, Tácius Fernandes, foi porta­voz da Rede no Amazonas. "Osjovens são mais abertos, estão experimentando as redes sociais, não ficam nos rótulos dos métodos tradicionais, esim, quebram paradigmas", diz Pedro Ivo, que esteve 30 anos no PT e conhece Marina Silva desde os tempos do"Juventude Caminhando", o movimento estudantil que "ganhou a UNE três vezes", recorda, referindo­se à UniãoNacional dos Estudantes.

"No lugar de ter uma 'casinha' da juventude dentro da Rede, temos uma visão mais transversal", segue Pedro Ivo."Não é uma obrigatoriedade os jovens estarem em todas as coordenações, mas isso tem acontecido naturalmente.É uma construção". Neste exercício, diz, "estamos formando e nos formando com eles também". "Nas novastecnologias, novas agendas como pensar nos direitos dos animais e na transparência dos processos, eles estão háanos­luz da gente."

As diferenças entre os integrantes da Comissão Executiva Nacional da Rede Sustentabilidade estão, muitas vezes,na raiz de cada trajetória política. O caminho trilhado por Marina e Pedro Ivo é bem diferente daquele de ZéGustavo que teve o primeiro contato com a política na faculdade, em Araraquara. Foi quando começou a ver "opoder que o governo tem" enquanto buscava um novo modelo de movimento estudantil, "menos preocupado coma UNE e organizações classistas." Sua aproximação com Marina foi de longe, quando estudava no Canadá ecomeçou a ser seduzido pelas "ideias inovadoras e colaborativas" que percebeu no discurso da acreana. Na volta,envolveu­se com um encontro de estudantes de administração pública. Os jovens convidaram a falar em seuevento os ex­presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, e Marina Silva. Só elacompareceu.

Zé Gustavo filiou­se ao Partido Verde e desligou­se menos de um mês depois, seguindo a desfiliação coletiva deMarina e seu grupo. "Começamos a discutir um partido, com visão forte de sustentabilidade, mas que inovasse naforma", conta o moço. Foi convidado a coordenar a coleta de assinaturas para erguer o partido em São Paulo. "Aburocracia de se formar um partido é monstruosa", reconhece, depois de ter conseguido mais de 250 milassinaturas no Estado, contado com a ajuda de 12 mil voluntários e ver o esforço ruir com a reprovação doTribunal Superior Eleitoral em 2013.

A ventilação vem de um colegiado. A Rede não funciona ­ ou tenta não funcionar ­ pelo conceito dehierarquia

Foi na coligação com o PSB de Eduardo Campos que Zé Gustavo apresentou sua candidatura a deputado federal."Criei o conceito de co­deputados, uma estrutura onde pessoas se comprometiam com determinado número dehoras por semana, para fazer determinado trabalho, reuniões, conversas e levar o mandato para a sociedade". Acandidatura não vingou ­ teve 14.474 votos ­ e ele assumiu a coordenação nacional da coleta de assinaturas paraformar a Rede. Depois de 1,2 milhão de assinaturas (cerca de 600 mil validadas), o registro do partido finalmentesaiu, em setembro de 2015.

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"O conteúdo da Rede Sustentabilidade é muito importante, mas a forma de fazer é primordial também", conta."Nossa forma de fazer é em rede, e o conteúdo é fazer a sustentabilidade. Esta é uma questão muito maior queapenas ambiental, é uma forma de viver", diz Zé Gustavo, seguindo a narrativa de Marina.

A agenda interna de construção partidária é outro aprendizado. "O que é um partido em rede é uma novidade,porque a política não está em rede. Ela continua no antigo modelo representativo, em que eu escolho aquele queme representa e um grupo de representantes decide por mim. Mas um sistema em rede funciona com aparticipação direta de pessoas, em modelos de plataforma", tenta explicar Pedro Ivo. Nesta plataforma, os filiadosteriam uma senha e as decisões seriam tomadas de forma mais horizontal, como em um plebiscito.

A Rede está trabalhando nisso, mas a legislação não permite tanta inovação. Resta ao partido ser um sistemamisto. "Temos que ter, por força da legislação, um presidente, uma direção estadual em cada Estado, uma direçãonacional. A lei exige assim, mas não funcionamos assim. Funcionamos em duplas, não temos presidente, asnossas coordenações são colegiados. É uma estrutura muito flexível, não temos uma máquina pesada como osoutros partidos", ilustra Pedro Ivo.

Na invenção deste formato foram analisados vários estatutos de partidos originais que surgiram pelo mundo, doespanhol "Podemos" ao alemão "Piraten". A criação tupiniquim é uma espécie de mix. Os porta­vozes são umanovidade no Brasil, mas os partidos verdes sueco e alemão funcionam assim há tempos. "Não somos um partidoque faz filiação em massa, mas queremos influenciar muito a sociedade. É como se houvesse um partido em rede,e uma rede, sem ser partido", diz Pedro Ivo.

Na Rede há reuniões presenciais, mas muitas são virtuais, para reduzir custos. "Temos pouco dinheiro e fazerviagens é caro", diz Zé Gustavo. No jantar com os empresários, Rubens Novelli, um dos dois coordenadoresfinanceiros, expôs a tabela da última atualização do Fundo Partidário 2016. Em abril, o PT tinha disponibilizadoR$ 7.972.580,50, o PMDB, R$ 6.540.147,35 e o PSDB, R$ 6.736.120,75. A Rede tinha R$ 369.335,97. "Nosso fundopartidário é muito modesto. Muito modesto mesmo", diz Bazileu Margarido, um dos coordenadores executivos daRede. Na época da coleta de assinaturas até o registro, o financiamento era ainda mais precário. Baseava­se em"processos colaborativos", como eles dizem.

O Fundo Partidário veio a partir do nascimento da Rede e é proporcional à quantidade de deputados federais. Nocaso, são quatro os que vieram para a Rede: o deputado decano da Câmara Miro Teixeira (RJ), Aliel Machado(PR), João Derly (RS) e Alessandro Molon (RJ), além do senador Randolfe Rodrigues (AP). Estruturalmente, osrecursos do Fundo Partidário têm que ser aplicados na atuação da fundação que os partidos políticos têm que ter,conforme exige a lei, e que a Rede se prepara para criar (o nome, naturalmente, será escolhido por concurso, lê­seno site). Dos recursos, 20% têm que ser reservados para a atuação da fundação e 5% para promover a presença dasmulheres na política. A contribuição dos filiados é ainda pequena.

E agora, tendo à frente as eleições deste ano? Pedro Ivo faz mistério: "O financiamento, determina a lei, virá depessoa física, e buscaremos modelos criativos, que ainda não podemos contar", diz. "A Rede tem poucos recursosfinanceiros, pouco tempo de TV e pouca estrutura. Isso é real e os candidatos sabem disso. Mas queremosparticipar, mostrar as nossas propostas, e fazê­lo de forma inovadora", continua.

Já existem diretórios em todos os Estados, mas alguns apenas engatinham. O programa lançado na eleiçãopresidencial de 2014 é o eixo que estimula os candidatos a pensar suas iniciativas. "É para que tenham inspiraçãopara questões de mobilidade urbana ou saneamento, por exemplo", ilustra Zé Gustavo.

Foram analisados vários estatutos de partidos no mundo, do espanhol "Podemos" ao alemão"Piraten"

O debate de como participar das eleições municipais está no início. Eventuais alianças terão que serprogramáticas, e baseadas em temas­chave ­ ter compromisso com o desenvolvimento sustentável e tratar detópicos pertinentes às cidades, dos resíduos à água, mobilidade, energias renováveis, mudança do clima. "Tem

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que ser éticas também. Não vamos fazer alianças com pessoas indiciadas na Lava­Jato", avisa Pedro Ivo. Odiálogo tem se dado com os partidos que estiveram na aliança de Eduardo Campos e Marina ­ o PSB, o PPS e oPPL. "Não temos impedimento de fazer alianças desde que em cima de programa e candidatos não metidos emencrenca", reforça.

A intenção é lançar nomes em cidades­pólo. A pré­candidatura do empresário e vereador Ricardo Young para aPrefeitura de São Paulo foi há poucos dias. O ex­petista Molon é a aposta para o Rio de Janeiro. O deputadomineiro Paulo Lamac deve disputar Belo Horizonte. Em Manaus, Júnior Brasil, que foi candidato a vice em 2014.A jornalista Úrsula Vidal é o nome provável para Belém. No Acre, reduto dos Viana, a Rede pode lançar acandidatura de seu porta­voz, Carlos Gomes. Em Porto Alegre, a possibilidade é João Derly.

Marina Silva inicia uma maratona, em 20 de junho, de atividades e conversas com empresários e estudantes paraajudar a Rede a lançar suas pré­candidaturas. Começa com o Rio Grande do Sul e vai ao Espírito Santo, Rio deJaneiro, Amapá, Belém, São Luiz, Maceió. O périplo termina na primeira quinzena de julho.

A movimentação de Marina Silva este ano se deu em torno da conturbação política do País. "Esta é uma criseeconômica, social e de caráter político profunda", diz Bazileu Margarido. "Precisamos dialogar com a sociedadeem relação aos caminhos." Ele continua: "Temos um governo Dilma, e agora um governo Temer, em que pesa umamácula, uma suspeita muito forte de que foi um processo eleitoral com desvio de recursos públicos efinanciamento ilegal de campanha. O nosso entendimento é que o melhor caminho para sair da crise é através dojulgamento pelo TSE da ação de impugnação de mandato contra a chapa Dilma­Temer."

Há poucos dias, Marina esteve falando sobre isso no Teatro Leblon, no Rio, com o senador Cristovam Buarque(PPS­DF) em evento organizado pelo ator Marcos Palmeira. Antes encontrou o arcebispo de São Paulo Dom OdiloScherer, o arcebispo Dom Raymundo Damasceno e o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil,Dom Leonardo Steiner. O jantar com os empresários, em São Paulo, foi mais um passo nesta direção.

Na ocasião, Marina e Zé Gustavo tentaram responder a mesma pergunta feita dias antes por um estudante noprograma que a Rede veiculou na TV em abril: "Quem são vocês? O que querem fazer? Por que estão nessa?".

"Marina está procurando construir a Rede, que é interessante, mas difícil de montar. Sabe que ainda é sozinha,com alguns poucos. E que precisa reforçar apoio, estrutura, etc", contou um dos convidados, dando ênfase ao"etc". Os empresários se sentiam entre fascinados e com dúvidas diante do que parece ser para muitos um bemintencionado Exército Brancaleone. "As pessoas que lá estavam a conhecem. Ela é coerente, embora não de todoconvincente em suas teses", analisa o empresário. "Mas é do bem e está tentando recriar o jeito de fazer política."

O que é novo causa estranhamento. "A Rede é uma tentativa de procurar atualizar a política brasileira, usandooutras linguagens, procurando outra interlocução com a sociedade", diz Bazileu Margarido. "É óbvio que o tempopartidário na TV é importante, mas não é a única possibilidade", continua. "Temos amplas possibilidades nainternet, da militância, de recursos que fogem ao modelo tradicional."

Qual a reação das pessoas a este novo modelo? "A situação atual da política brasileira assusta mais", diz BazileuMargarido. "As pessoas assustam. No nosso modelo político há a cultura arraigada de que alguém salvará oBrasil. E a nossa experiência é que o líder carismático não resolve", diz Pedro Ivo. Este, talvez, seja o dramaexistencial da Rede: a trilha é nova, mas é Marina quem o eleitor percebe como guia.