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Comentário biblico broadman volume 10

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  1. 1. Volume 10 ComentrioBblicoBroadman Emanuence Digital e Mazinho
  2. 2. Comentrio Bblico Broadman Volume 10 Atos -1Corntios TRADUO DE ADIEL ALMEIDA DE OLIVEIRA
  3. 3. Todos os direitos reservados. Copyright 1984 da Junta de Educao Religiosa e Publi caesda ConvenoBatista Brasileira. Direitoscedidos, mediante contrato, por Broadman Press, Nashville, Tennessee, USA. Copyright 1969 by Broadman Press. Allen, Clifton J., ed. ger. A425c Comentrio Bblico Broadman/Editado por Clifton J. Alien. Traduo de Adiei Almeida de Oliveira. 3. ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1994. v. 10. 464p. 23 cm. Titulo Original: The Broadman Bible Commentary 1. Bblia Novo Testamento Comentrios. 2. Novo Testamento Comentrios. I. Titulo CDD 220.7 Coordenao Editorial Josemar de Souza Pinto Edio de Arte Nilca Pinheiro Capas Valter Karklis ISBN 85-350-0040-2 Cdigo para pedidos: 216033 Junta de Educao Religiosa e Publicaes da Conveno Batista Brasileira Caixa Pstal 320 CEP: 20001-970 Rua Silva Vale, 781 Cavalcnti CEP: 21370-360 Rio de Janeiro, RJ Brasil 3.000/1994 Impresso em grficas prprias.
  4. 4. COMENTRIO BBLICO BROADMAN Volume 10 Junta Editorial EDITOR GERAL Clifton J. Alien, Ex-Secretrio Editorial da Junta de Escolas Dominicais da Conveno Batista do Sul, Nashville, Tennessee, Estados Unidos. Editores Consultores do Velho Testamento John I. Durham, Professor Associado de Interpretao do Velho Testamen to e Administrador Adjunto do Presidente do Seminrio Batista do Sudoes te, Wake Forest, North Carolina, Estados Unidos. Roy L. Honeycutt Jr., Professor de Velho Testamento e Hebraico, Semin rio Batista do Centro-Oeste, Kansas City, Missouri, Estados Unidos. Editores Consultores do Novo Testamento J. W. MacGorman, Professor de Novo Testamento, Seminrio Batista do Sudoeste, Forth Worth, Texas, Estados Unidos. Frank Stagg, Professor de Novo Testamento da James Buchanan Harrison, Seminrio Batista do Sul, Louisville, Kentucky, Estados Unidos. CONSULTORES EDITORIAIS Howard P. Colson, Secretrio Editorial, Junta de Escolas Dominicais da Conveno Batista do Sul, Nashville, Tennessee, Estados Unidos. William J. Fallis, Editor Chefe de Publicaes Gerais da Broadman Press, Nashville, Tennessee, Estados Unidos. Joseph F. Green, Editor de Livros de Estudo Bblico da Broadman Press, Nashville, Tennessee, Estados Unidos.
  5. 5. Prefcio O COMENTRIO BBLICO BROADMAN apresenta um estudo bblico atualizado, dentro do contexto de uma f robusta na autoridade, adequao e confiabilidade da Bblia como a Palavra de Deus. Ele procura oferecer ajuda e orientao para o crente que est disposto a empreender o estudo da Bblia como um alvo srio e compensador. Desta forma, os seus editores definiram o escopo e propsito do COMENTRIO, para produzir uma obra adequada s necessidades do estudo bblico tanto de ministros como de leigos. As descobertas da erudio bblica so apresentadas de forma que os leitores sem instruo teolgica formal possam us-las em seu estudo da Bblia. As notas de rodap e palavras so limitadas s informaes essenciais. Os escritores foram cuidadosamente selecionados, tomando-se em considerao sua reverente f crist e seu conhecimento da verdade bblica. Tendo em mente as necessidades de leitores em geral, os escritores apresentam informaes especiais acerca da linguagem e da histria onde elas possam ajudar a esclarecer o significado do texto. Eles enfrentam os problemas bblicos no apenas quanto linguagem, mas quanto doutrina e tica porm evitam sutilezas que tenham pouco a ver com o que devemos entender e aplicar da Bblia. Eles expressam os seus pontos de vista e convices pessoais. Ao mesmo tempo, apresentam opinies alternativas, quando estas so esposadas por outros srios e bem-informados estudantes da Bblia. Os pontos de vista apresentados, contudo, no podem ser considerados como a posio oficial do editor. O COMENTRIO resultado de muitos anos de planejamento e preparao. A Broadman Press comeou em 1958 a explorar as necessidades e possibilidades deste trabalho. Naquele ano, e de novo em 1959, lderes cristos especialmente pastores e professores de seminrios se reuniram, para considerar se um novo comentrio era necessrio e que forma deveria ter. Como resultado dessas deliberaes, em 1961, a junta de consultores que dirige a Editora autorizou a publicao de um comentrio em vrios volumes. Maiores planejamentos levaram, em 1966, escolha de um editor geral e de uma Junta Consultiva. Esta junta de pastores, professores e lderes denominacionais reuniu-se em setembro de 1966, revendo os planos preliminares e fazendo definidas recomendaes, que foram cumpridas medida que o COMENTRIO se foi desenvolvendo. No comeo de 1967, quatro editores consultores foram escolhidos, dois para o Velho Testamento e dois para o Novo Testamento. Sob a direo do editor geral, esses homens trabalharam com a Broadman Press e seu pessoal, a fim de planejar o COMENTRIO detalhadamente. Participaram plenamente na escolha dos
  6. 6. escritores e na avaliao dos manuscritos. Deram generosamente do seu tempo e esforos, fazendo por merecer a mais alta estima e gratido da parte dos funcionrios da Editora que trabalharam com eles. A escolha da Verso da Imprensa Bblica Brasileira de acordo com os melhores textos em hebraico e grego como a Bblia-texto para o COMENTRIO foi feita obviamente. Surgiu da considerao cuidadosa de possveis alternativas, que foram plenamente discutidas pelos responsveis pelo Departamento de Publica es Gerais da Junta de Educao Religiosa e Publicaes. Dada a fidelidade do texto aos originais bem assim traduo de Almeida, amplamente difundida e amada entre os evanglicos, a escolha justifica-se plenamente. Quando a clareza assim o exigiu, foram mantidas as tradues alternativas sugeridas pelos prprios autores dos comentrios. Atravs de todo o COMENTRIO, o tratamento do texto bblico procura estabelecer uma combinao equilibrada de exegese e exposio, reconhecendo abertamente que a natureza dos vrios livros e o espao destinado a cada um deles modificar adequadamente a aplicao desta abordagem. Os artigos gerais que aparecem no Volume 8 tm o objetivo de prover material subsidirio, para enriquecer o entendimento do leitor acerca da natureza da Bblia. Focalizam-se nas implicaes do ensino bblico com as reas de adorao, dever tico e misses mundiais da igreja. O COMENTRIO evita padres teolgicos contemporneos e teorias mutveis. Preocupa-se com as profundas realidades dos atos de Deus na vida dos ho mens, a sua revelao em Cristo, o seu evangelho eterno e o seu propsito para a redeno do mundo. Procura relacionar a palavra de Deus na Escritura e na Palavra viva com as profundas necessidades de pessoas e da humanidade, no mundo de Deus. Mediante fiel interpretao da mensagem de Deus nas Escrituras, portanto, o COMENTRIO procura refletir a inseparvel relao da verdade com a vida, do significado com a experincia. O seu objetivo respirar a atmosfera de relao com a vida. Procura expressar a relao dinmica entre a verdade redentora e pessoas vivas. Possa ele servir como forma pela qual os filhos de Deus ouviro com maior clareza o que Deus Pai est-lhes dizendo.
  7. 7. Sumrio Atos T. C. Smith Introduo ............................................ Comentrio sobre o T exto.................... Romanos Dale Moody Introduo .............................................. Comentrio sobre o T ex to ...................... I Corntios Raymond Bryan Brown Introduo ................................................................ Comentrio sobre o T exto........................................ Emanuence Digital e Mazinho Rodrigues
  8. 8. Atos T. C. SMITH Introduo O nico livro do Novo Testamento que procura fechar a lacuna entre os eventos registrados nos Evangelhos e os desenvolvimentos posteriores da igreja primitiva Atos dos Apstolos. A igreja crist contraiu uma grande dvida para com o autor deste tratado. Sem o livro de Atos, a cortina da obscuridade ainda permaneceria, e no conseguiramos ver a atividade que se exercia na comunida de crist imediatamente depois da morte, sepultamento e ressurreio de Jesus. Este livro continua a ser a nossa prin cipal fonte de informaes acerca da vida da igreja primitiva, apesar de ser incompleto. Embora seja possvel que usemos os materiais histricos constantes das epstolas de Paulo e dos outros do cumentos neotestamentrios, para re construir uma espcie de seqncia de acontecimentos da era apostlica, esse af seria muito mais incompleto do que os Atos dos Apstolos. Tradicionalmente, este livro ostenta o ttulo usual de Atos, ou Atos dos Aps tolos. Esta tradio remonta a Irineu, Bispo de Lio, na Glia, na ltima parte do segundo sculo d.C. O autor deste Evto tambm escreveu o terceiro Evange lho, e o destinatrio, em ambos os do cumentos, um certo Tefilo. Original mente, o provvel que o autor no lenha colocado ttulo em nenhum dos seus dois trabalhos. Ele provavelmente usava nmeros para designar os seus es critos. O Evangelho era um volume um, e os Atos dos Apstolos, o volume dois. Mais tarde, a igreja separou os dois volumes e afixou os ttulos de Evangelho e Atos dos Apstolos. O ttulo Atos dos Apstolos engano so, porque d a impresso de apresentar a histria dos doze apstolos. O conte do do livro no se centraliza ao redor dos doze, de forma alguma como indicare mos mais tarde. Daqui em diante, refe- rir-nos-emos a este livro como Atos. Muitos eruditos crem que os proble mas literrios e histricos de Atos so provavelmente mais numerosos do que os dos outros livros do Novo Testamento. Durante o sculo XIX, muitos desses problemas foram enfatizados indevida mente, e Atos sofreu nas mos de erudi tos crticos e negativos. Hoje em dia, os estudiosos do Novo Testamento reavivaram o seu interesse neste livro. Devemos, atravs dos inten sivos estudos que eles fizeram, tirar gran de proveito das suas contribuies posi tivas. I. O Autor Desde os tempos de Irineu, parece que a tradio tem sido unnime em decla rar que Lucas, o mdico amado e com panheiro de viagens de Paulo, o autor do terceiro Evangelho e de Atos. Se a evidncia no fosse suficientemente forte para associar Lucas com esta obra em dois volumes, seria muito improvvel que Irineu, Tertuliano e outros tivessem apre sentado o seu nome como candidato fa vorvel. Baseando o seu critrio de auto ria na apostolicidade, antes que um livro pudesse ser includo entre os escritos sagrados da literatura crist, as proba
  9. 9. bilidades eram contra a sua aceitao. Lucas no era apstolo e nem mesmo seguidor de um apstolo, de acordo com a classificao deles. Para eles, Paulo era apenas um seguidor dos apstolos, e no possua a mesma autoridade que os doze. Certamente, se a tradio no fosse de inteira confiana, Irineu e Tertuliano teriam sugerido como autor uma pessoa que fosse mais significativa que Lucas. Ser que existe a possibilidade de ligar Lucas com Atos, mediante um exame do prprio documento? O seu nome no aparece uma s vez no documento. Con tudo, notrio que o autor usa a pri meira pessoa do plural em vrios cap tulos. Estas partes so conhecidas como as sees ns (16:10-17; 20:5-15; 21:1- 18; 27:1-28:16). Estas sees indicam que o autor era companheiro de viagens de Paulo, a no ser que o uso da primeira pessoa seja meramente uma conveno literria. Se dissermos que esta evidncia inter na sustenta a autoria por um compa nheiro de viagem de Paulo, quem essa pessoa? Vrias podiam qualificar-se para tal. Entre os que poderamos incluir nu ma lista estariam Silas, Timteo, Segun do, Gaio, Tquico, Trfimo, Spater e Aristarco. Todas estas pessoas aparecem em Atos. Alm desses, Paulo, em suas epstolas, inclui Tito, Lucas, Demas, e Crescente. Visto que as sees ns comeam em Troas, na segunda viagem missionria de Paulo, e apenas Silas e Timteo estavam com Paulo, este fato exclui a maioria dos seus companheiros de viagem. A presuno que o autor no queria fazer meno de si mesmo, ao registrar as jornadas de Paulo. Se este o caso, temos, ento, apenas Demas, Tito, Cres cente e Lucas a considerar. Paulo men ciona Tito freqentemente, em suas eps tolas. Tito foi com Paulo e Barnab igreja de Jerusalm (Gl. 2:1) e foi repre sentante de Paulo para resolver algumas das dificuldades da igreja em Corinto (II Cor. 2:13; 8:16; 12:18). Alm do mais, temos, em o Novo Testamento, uma carta de Paulo a Tito, embora esta no seja aceita por todos os eruditos modernos como uma genuna epstola de Paulo. Dos outros trs companheiros de tra balho de Paulo, Lucas parece ser o mais aceitvel. Demas desertou de Paulo, e Crescente mencionado apenas uma vez (II Tim. 4:10). Lucas chama a nossa ateno em duas epstolas genunas de Paulo (Col. 4:14 e Filem. 24), e tambm em um fragmento de II Timteo 4:11. bem possvel que Lucas fosse o homem designado na correspondncia aos corn- tios como o irmo cujo louvor no evan gelho se tem espalhado por todas as igrejas (II Cor. 8:18). Parece que a nossa escolha, basean do-se nas evidncias internas, deve ser feita entre Tito e Lucas. Ambos estavam intimamente associados com Paulo, e ambos poderiam ter escrito o ns , nas sees mencionadas, no livro de Atos. Se podemos presumir que a profisso de uma pessoa se entremostre atravs dos seus escritos, devemos procurar termos mdicos no terceiro Evangelho e em Atos, para verificar a autoria de Lucas. A ra zo pela qual dizemos isto que Paulo chamou Lucas de mdico. Em 1882, W. K. Hobart (p. 4 e ss.), depois de um extenso estudo comparati vo do vocabulrio de Lucas com a lin guagem dos mdicos gregos, chegou concluso de que o Evangelho de Lucas e Atos deixam trair uma familiaridade com a terminologia tcnica mdica. Para um grande nmero de competentes eru ditos neotestamentrios, o estudo de Ho bart no deixa dvidas quanto profis so do autor destas duas obras. H. J. Cadbury (The Beginnings of Christiani- ty, II, p. 349 e ss.), rejeitou a defensa- bilidade da metodologia de Hobart, mos trando que no havia nada, no vocabu lrio do Evangelho e de Atos, que qual quer escritor de literatura grega no iria usar, embora no fosse versado na termi nologia profissional da medicina. Comu-
  10. 10. mente, como Cadbury o v, bem como os outros eruditos, no se pode estabelecer nestas bases a autoria desses livros como sendo de Lucas. Se formos deixados com uma escolha entre Tito e Lucas, parece que Lucas a opo lgica, porque a tradio eclesis tica nunca associou Tito com essa obra em dois volumes. Se, todavia, Lucas o autor, outro problema se nos apresenta. Como podemos conciliar as diferenas entre o Paulo de Atos e o Paulo das epstolas? As principais distines da teologia de Paulo no vm tona nos discursos atribudos a ele em Atos. Alm do mais, os materiais biogrficos concer nentes a Paulo, em Atos, nem sempre coincidem com as informaes contidas nas suas epstolas. Estas divergncias levaram alguns estudiosos a sugerir que as sees do ns, em Atos, so os nicos materiais oriundos de Lucas. Ar gumentam eles que o autor de Atos coli giu o material jornalstico em forma de dirio, escrito por Lucas, e adicionou a ele o resto das narrativas acerca de Pau lo, mais os primeiros captulos de Atos. Pesquisa recente acerca de Atos no se focaliza tanto na sua autoria e data em que foi escrito, tanto quanto no estilo literrio e na teologia do livro. Um gran de nmero de estudiosos aceita a tradi o de que o seu autor foi Lucas, mas h alguns que o contestam fortemente. luz de evidncias ponderosas, e visto que ningum apresentou outro autor que seja mais aceitvel do que Lucas, presu miremos que ele o escritor de Atos. O que sabemos ns acerca do autor? Paulo disse que ele era um seu compa nheiro, e mdico. Na sua carta igreja em Colossos, Paulo relacionou Aristarco, Marcos e Justo como cooperadores da circunciso. Com isso, ele queria dizer que havia cristos judeus (4:10,11). Ele continuou, apresentando Epafras, Lucas e Demas (4:12-14), e, desta forma, pa rece classific-los como cristos gentios. Disto conclumos que Lucas devia ser um convertido gentio. Embora possam no ser de muita con fiana, informaes ulteriores acerca de Lucas nos vm do Prlogo falsamente chamado antimarcionita ao Evan gelho de Lucas. Este prlogo foi datado tanto antes quanto depois da poca de Irineu. Provavelmente, ele foi escrito de pois da poca de Irineu. Neste prlogo, ficamos sabendo que Lucas era mdico e era oriundo de Antioquia da Sria. Durante certo perodo, ele fora discpulo dos apstolos, e, mais tarde, tornou-se companheiro de viagem de Paulo, e acompanhou-o at o martrio. O do cumento continua dizendo que Lucas escreveu o terceiro Evangelho e Atos. Ele era celibatrio e morreu na Becia, com a idade de 84 anos. Lucas contribuiu com mais de 25 por cento do Novo Testamento. O Evangelho de Lucas e Atos so maiores em volume do que as epstolas de Paulo, incluindo- se as epstolas pastorais. Como ficaria empobrecido o Novo Testamento, sem a contribuio deste homem! II. A Data Datar o livro de Atos um problema to melindroso como a sua autoria. V rias teorias tm sido sugeridas, variando de uma data primitiva, antes da destrui o de Jerusalm em 70 d.C., at o ano 130, no segundo sculo. Os que apoiam a data prxima a 62 d.C. fazem-no porque o livro contm apenas informaes de eventos anteriores a 60 ou 61, o que nos leva ao trmino do perodo de confinamento de Paulo du rante dois anos em Roma. No se faz referncia ao martrio de Paulo e Pedro, ou perseguio movida por Nero em 64. O livro silencia tambm a respeito do martrio de Tiago, irmo de Jesus, em 62. Alm disso, argumentam eles que no se faz aluso queda de Jerusalm no ano 70, catstrofe que nenhum es critor deixaria de notar. Os advogados de uma data primi tiva acreditam que uma apologia de Paulo e da comunidade crist era abso-
  11. 11. lutamente essencial naquela poca. Por conseguinte, da maneira como eles vem o assunto, o livro de Atos teve mais importncia para os cristos antes de 70 d.C. do que depois desse perodo. Mas como que eles explicam as referncias especficas, feitas no Evan gelho de Lucas, destruio de Jerusa lm (21:20 e ss. e 23:27 e ss.), referncias que so julgadas por muitos eruditos como aluses destruio de Jerusalm como fato j ocorrido? Afinal de contas, o Evangelho de Lucas foi escrito antes de Atos. Em resposta a isto, eles propem uma reviso do Evangelho de Lucas em perodo posterior, quando j se sabia do cerco de Jerusalm. Algumas pessoas que criticam a data anterior discutem que Lucas estava ape nas interessado em descrever a dissemi nao do cristianismo de Jerusalm a Roma, e que ele no achou necessrio relatar a morte de Paulo. Outros dizem que Lucas pensava escrever um terceiro volume, em que planejava continuar a histria do movimento cristo, ou que ele escreveu esse volume, mas saiu de cir culao. Alguns poucos oponentes da data mais antiga mostram que havia razes para uma apologia do movimento cristo depois do ano 70, tanto quanto antes. Isto verdade, se lembrarmos que durante o reinado de Domiciano (81-96 d.C.), ocorreu uma perseguio ainda mais severa contra os cristos. impossvel determinar uma data para Atos, sem fazer-se referncia ao terceiro Evangelho. Este Evangelho foi o primeiro tratado endereado a Tefilo. Lucas, no prefcio ao Evangelho, indica que tinha acesso a outras fontes. Uma dessas fontes era o Evangelho de Marcos. Outra era a base para as palavras de Jesus registradas no Evangelho de Lucas, bem como no Evangelho de Mateus. Comumente nos referimos a esta fonte como Q. Lucas tambm tinha material que era peculiar ao seu Evangelho, e isto podia vir de fontes escritas ou orais. Data-se Marcos, geralmente, entre 65 e 70 d.C. Se se aceita 62 d.C. como a data em que o livro de Atos foi escrito, a data do Evangelho de Lucas deve ter sido cerca de 60 d.C. Isto quer dizer que Marcos comps o seu Evangelho em cer ca de 58 d.C., o mais tardar. Da maneira como a vejo, tal data primitiva demais para Marcos. A evidncia decisiva para se datar Atos depois de 70 d.C. vem da aparente trans formao, feita por Lucas, do discurso apocalptico de Jesus, no captulo 13 de Marcos, em uma profecia de julgamento sobre Jerusalm. O autor transformou a mensagem com conhecimento do cerco e da destruio de Jerusalm em 70 d.C. (Luc. 21:20-24). De maneira semelhante, a predio de Jesus durante a sua entra da triunfal em Jerusalm se enquadra na mesma descrio (Luc. 19:43 e ss.). Co mo poderia Lucas apresentar uma des crio to clara, a no ser que tivesse conhecimento do acontecimento, por ter ocorrido? Admitimos, contudo, que al guns eruditos, baseando-se em fatos que para eles so convincentes, acham que um ponto de vista preditivo desses acon tecimentos mais convincente e satisfa trio do que o ponto de vista histrico. Se o Evangelho de Lucas foi escrito depois de 70 d.C., em que data isso coloca Atos? De acordo com os argumen tos exarados por Edgar Goodspeed, para a poca em que as epstolas de Paulo foram coligidas e comearam a circular, a data mais posterior 90 d.C. Depois desta data, Lucas certamente teria em mos as epstolas de Paulo, e o retrato que ele pinta de Paulo, em Atos, teria estado mais em harmonia com as refe rncias que Paulo fez a si mesmo. O fato de que ele no podia lanar mo das epstolas pode ter sido a causa para as divergncias aparentes entre Atos e as epstolas paulinas em relao vida e teologia de Paulo. razoavelmente segu ro presumir-se uma data entre 80 e 90 d.C. Supomos que cada ano depois de 85 se toma uma data de menos confiabili dade, visto que Lucas era companheiro
  12. 12. de viagem de Paulo, e precisamos levar em conta a sua idade. III. Fontes Dado o fato de que Lucas o autor de Atos, segue-se, naturalmente, que gran de parte das informaes registradas so de primeira mo. Isto se d devido ao relacionamento pessoal de Lucas com Paulo. Se ele no estava presente com Paulo em todas as ocasies, teve a opor tunidade de interrog-lo acerca de acon tecimentos que ocorreram na sua ausn cia. Portanto, para grande parte da sua obra, Lucas podia contar com o seu conhecimento pessoal do que escreveu. No obstante, para grande parte dos primeiros quinze captulos, evidente que ele dependeu de outras fontes. J observamos que Lucas usou pelo menos trs fontes para escrever o seu Evangelho. No prefcio desse documen to, ele referiu-se a outras narrativas que haviam sido compiladas. Podemos pre sumir que ele no limitou esse prefcio ao primeiro volume, mas tinha a inten o de que ele dissesse respeito tambm ao segundo volume. Visto que Lucas usou fontes escritas para escrever o seu Evangelho, parece vlido sugerir que fez o mesmo para escrever os Atos. As fontes para a compilao de Atos centralizam-se em trs divises do livro. A primeira parte se compe dos primei ros quinze captulos. A parte seguinte toma a classificao das sees ns , s quais j nos referimos. As sees ns aparecem em vrios captulos, comean do com o captulo 16, e continuando at o ltimo captulo. A terceira parte o material de narrativa, acerca de Paulo, que une as sees ns . Esta se inicia no captulo 16 e vai at o 28. Quais so as possveis fontes para os captulos 1 a 15 de Atos? Ser que Lucas tinha sua disposio um ou mais do cumentos escritos? C. C. Torrey (p. 3 e ss.) apresenta a hiptese de que Lucas se aproveitou de um s documento aramai- co, que traduziu e desenvolveu, para tomar-se nos primeiros quinze captulos de Atos. Ele cria que tal documento emanara de Jerusalm, de algum que estava interessado na misso universal do cristianismo. Esse hipottico escritor de Jerusalm pretendia demonstrar como Antioquia se tomara o primeiro centro gentlico da igreja primitiva. Torrey da tou esse documento em cerca de 49 ou 50 d.C. Ele argumentou que esta parte de Atos chegou s mos de Lucas logo depois de sua chegada a Roma, em cerca de 62 d.C. Dois anos mais tarde ele adicionou esse documento a Atos, como uma seqncia ao seu Evangelho. De acordo com Torrey, o autor comeou, na verdade, a escrever a partir de Atos 15:36. Dado o fato de que os primeiros quinze captulos de Atos tm um colorido ara- maico, no h prova suficiente de que essa parte tenha tido por detrs um do cumento aramaico, do qual foi feita uma traduo. Um especialista aramaico co mo Matthew Black1 descarta a possibi lidade de uma traduo direta de uma fonte que tal. As paridades que ocorrem nos captulos 2 e 4 parecem estabelecer um paralelo entre fontes escritas e orais, em vez de se tratar de um s documento ou tradio oral. Mais popular, entre os estudiosos do Novo Testamento, tem sido a teoria de Adolf Hamack (p. 162-202), focalizada em materiais representados por vrias localidades. Embora no haja base para fontes escritas provindas de vrias tradi es locais, estas poderiam ser transmi tidas oralmente. Harnack descobriu as seguintes fontes: 1. Fonte de Jerusalm A: 3:1-5:16 o relato de Pedro curando um homem no Templo, o sermo de Pedro, o primeiro choque com o judasmo e uma viso da vida na comunidade crist. 1 Matthew Black. An Aramaic Approach to the Gospels and Acts (Oxford: Clarendon, 1946), p. 1-12.
  13. 13. 2. Fonte de Jerusalm B: 1:6-2:47; 5:17-42 ascenso, a escolha de um apstolo para suceder Judas, o dom do Esprito Santo no dia de Pentecostes, o sermo de Pedro e seus resultados, o comeo da vida comunitria, e o segundo choque com ojudasmo. 3. Fonte de Jerusalm-Cesara: 8:5- 40; 9:31-11:18; 12:1-24 a atividade de Filipe, Pedro em Samria, Lida, Jope e Cesaria, e a perseguio dos cristos no governo de Herodes Agripa I. 4. Fonte de Antioquia: 6:l-8:4; 11:19- 30; 12:25-15:35 a indicao dos sete, a histria de Estvo, a fundao da igreja em Antioquia; a misso de Paulo e Bar- nab a Chipre e Galcia, o Conclio de Jerusalm, e Paulo e Bamab em Antio quia. 5. Fonte Paulina: 9:1-30 a expe rincia de Paulo no caminho de Damas co. F. J. Foakes-Jackson e Kirsopp Lake (The Begnnlngs of Christianity, II, 152), ao contrrio de Hamack, ligam as fontes de Atos a indivduos como Pedro, Filipe e Joo Marcos. Embora admitam que as tradies possam desenvolver-se ao redor de lugares, bem como ao redor de pes soas, na questo das fontes em relao a Atos, eles parecem preferir pessoas. Quer aceitemos indivduos, quer localidades, como portadores da tradio da igreja primitiva, permanece a possibilidade de que as fontes dos primeiros quinze cap tulos de Atos tenham sido orais, e no escritas. Para mencionar certas referncias his tricas que Lucas inclui em Atos, alguns estudiosos do passado contendiam que as obras de Josefo Antiguidades dos Judeus e Guerras dos Judeus deviam ser relacionadas entre as fontes do autor. Quando os apstolos apareceram diante do Sindrio, Gamaliel falou e usou como ilustraes dois inconfidentes do passa do: Teudas e Judas, o galileu (At. 5:33 e ss.). No provvel que Lucas tenha dependido de Josefo para obter infor maes acerca desses dois homens. Ele no diz o suficiente para indicar que havia lido materiais acerca deles; e, alm disso, ele no os relaciona em ordem cronolgica. Para algumas pessoas, o incidente em Atos 21:38 se apresenta como uma ci tao de Josefo. Cludio Lsias, governa dor romano em Jerusalm, confundiu Paulo com o egpcio que havia instigado uma revolta e levado quatro mil assas sinos para o deserto. Josefo relatara esse incidente, que ocorreu no tempo de F- lix, o procurador, mas ele mencionou um grupo muito maior de homens. Outra referncia uma descrio da morte de Herodes Agripa I (At. 12:21 e ss.). Aqui, de novo, h alguma diferena entre o relato de Josefo e o de Lucas. IV. O Propsito Mais divergente do que as teorias acer ca da autoria e das fontes, so os pontos de vista esposados em relao ao prop sito, ao objetivo de Atos. O objetivo , provavelmente, mais importante, embo ra seja o mais difcil de se descobrir. Qualquer tentativa para se descobrir o intento do autor deve dar a devida consi derao ao Evangelho de Lucas e a Atos. O destinatrio de ambos um homem chamado Tefilo. Se presumirmos que o prefcio do Evangelho tambm diz res peito a Atos, Lucas escreveu para que Tefilo pudesse conhecer com exatido as coisas em que havia sido instrudo. Quem era Tefilo? Seria ele uma pes soa real, ou ser que o seu nome, que significa amigo de Deus, sugere qual quer leitor que confessasse f em Jesus Cristo? Excelentssimo, a designao aposta ao seu nome, em Lucas, era a palavra grega que se usava para diri- gir-se a algum de posio oficial eleva da. A palavra aparece trs vezes em Atos (23:26; 24:3; e 26:25). Na carta de Cludio Lsias e no discurso de Trtulo, o procurador Flix designado como excelentssimo . Paulo, em resposta a Flix, dirige-se a ele da mesma forma.
  14. 14. O uso deste ttulo parece confirmar a crena de que Tefilo era uma pessoa real. O verbo grego katech, usado por Lu cas no prefcio do seu Evangelho, era a palavra adotada, por cristos de poca posterior, para descrever instruo dada a uma pessoa que abraasse a f crist. Desta forma, Lucas a aplica a polo (At. 18:25). Contudo, esta palavra pode ser aplicada para indicar falsas informa es, como no caso dos inimigos de Paulo (At. 21:21,24). No seu prefcio, Lucas tambm usou a palavra asphaleia, que significa certeza. No obstante, em Atos notamos que certeza pode ser relacionada com investigaes oficiais (21:34 e 22:30). No impossvel conceber-se Tefilo como pessoa que havia recebido alguma instruo acerca da f crist. Todavia, aparentemente, faltava-lhe algo, no en tendimento do cristianismo, que Lucas pretendia suprir. Que deficincia era essa coisa que est alm de uma resposta simples e pronta. Ao tentar descobrir o propsito de Atos, esta pergunta deve ser de grande importncia, em nosso racioc nio, se chegamos uma concluso que seja em qualquer sentido satisfatria. essencial que consideremos outra ques to, que igualmente importante. Ser que Lucas escreveu essa obra em dois volumes, o Evangelho e Atos, para uma s pessoa, ou ser que ele tinha em mente um pblico mais amplo? Agradvel a muitas pessoas a noo de que Lucas escreveu Atos a fim de apresentar um relato do que os apsto los fizeram. Esta opinio no gerada de cuidadosa reflexo, mas, pelo contrrio, de um dos ttulos tradicionais do livro, que era Atos dos Apstolos. Um exame do livro revela bem pouco acerca dos apstolos com a exceo de Pedro. Matias, depois da sua eleio para assu mir o lugar de Judas Iscariotes, no apa rece m qualquer outro lugar em Atos. Pedro e Joo parecem exercer um papel mais proeminente nos primrdios da co munidade crist. Aproximadamente um tero de Atos apresenta a atividade de Pedro. No captulo 12, Herodes Agripa I mandou matar Tiago, irmo de Joo. Fora esses quatro mencionados em cone xo com algum acontecimento, o restante dos doze no entra na narrativa, a no ser na lista no comeo do livro (1:13). Pelo menos a metade de Atos focaliza as luzes em Paulo. Embora ele seja chama do, por Lucas, de apstolo, ele ostenta esse ttulo em seu significado mais am plo. Algumas pessoas, que advogam uma data anterior para a composio de Atos, argumentam que Lucas escreveu os seus dois volumes como defesa para Paulo, em seujulgamento diante de Nero Csar. Isto significa que toda a pesquisa exaus tiva do autor foi somente com o objetivo de fornecer a Tefilo, suposto defensor de Paulo, uma smula dos antecedentes para a causa da defesa. Pode-se questio nar se um oficial romano estaria interes sado em ler documentos to extensos, a fim de obter elementos que fossem im portantes nojulgamento de Paulo. Visto que o Esprito Santo o poder dominante em Atos, tanto em indivduos como na vida comunitria dos cristos primitivos, h algum que chamaria este livro de Evangelho do Esprito Santo. Na verdade, o Esprito Santo central no livro, e responsvel pela disseminao do cristianismo. No obstante, dificil mente concordaramos que o objetivo de Lucas foi escrever um Evangelho do Es prito Santo, como seqncia para o Evangelho de Jesus Cristo. Isto verda deiro, especialmente quando considera mos que o autor no mencionou o Es prito Santo em onze captulos do do cumento. Igualmente indefensvel a teoria de que Lucas escreveu para mostrar a ex panso geogrfica do cristianismo. Na verdade, o livro se inicia com uma comis so exarada pelo Jesus ressuscitado aos apstolos, para que eles fossem teste munhas em Jerusalm, em toda a Judia,
  15. 15. em Samria e at os confins da terra. Alm disso, est claro que o autor desen volve a sua narrativa ao longo das linhas desse arcabouo geogrfico. Mas, se dis sermos que este o nico desgnio do autor, precisaremos atribuir neglign cia de Lucas a falta de continuidade no relato da atividade missionria de Pedro, Filipe, Barnab e Marcos, bem como da misso em outras regies geogrficas onde igrejas foram estabelecidas. Se o interesse do autor se fixava na dissemi nao geogrfica do movimento cristo, ele foi grandemente seletivo quanto aos lugares includos. Frank Stagg (p. 12) props um obje tivo muito interessante e plausvel para Atos. A sua tese que o autor de Atos mostrou como o cristianismo triunfou, atravessando as limitaes religiosas, ra ciais e nacionais que algumas pessoas na comunidade crist primitiva tentaram impor-lhe. Ele dirige a nossa ateno para o advrbio sem impedimento al gum , ltima palavra do livro, e argu menta que essa expresso resume a men sagem do livro. Na sua opinio, Lucas concluiu o segundo volume da sua obra com o sentimento de que a batalha dura mente empreendida pela liberdade do evangelho fora vencida. No deve ser descartado um propsito apologtico de Atos. Quer seja quer no, o intento primordial de Lucas, precisa mos admitir que uma grande parte do Evangelho de Lucas e d Atos inclui nuanas de apologia. O argumento pare ce mover-se em duas direes. O autor tenta mostrar que o cristianismo tem suas razes no judasmo, e de fato su planta o judasmo, para tomar-se o ver dadeiro Israel de Deus. Ele tambm pro cura provar que os romanos nada tm a temer da misso da comunidade crist, porque ela inocente de qualquer ativi dade sediciosa ou revolucionria no sen tido terreno. Lucas comea o seu Evangelho com a anunciao, a Zacarias, referente ao nas cimento de Joo Batista. Essa mensagem lhe veio de Gabriel, enquanto ele estava oficiando no Templo. Os pais de Jesus foram ao Templo para a purificao de Maria, realizando os sacrifcios para isso necessrios. Com a idade de doze anos, Jesus deixou admirados os rabis do Tem plo, devido sua compreenso de as suntos religiosos. Foi Lucas que remode lou o discurso apocalptico de Marcos 13, para fazer com que a predio de Jesus se referisse destruio do Templo e de Jerusalm. Em Atos, a vinda do Esprito Santo deu-se em conexo com a observncia de um dos importantes festivais dos judeus. Pedro e os outros apstolos adoraram e ensinaram na rea do Templo. Estvo foijulgado diante do Sindrio, porque os judeus helnicos no podiam suster-se diante da sabedoria com que ele falava na sinagoga, e forjaram acusaes contra ele. Em qualquer cidade em que Paulo entrasse, durante as suas viagens missio nrias, ele sempre costumava dirigir-se primeiramente sinagoga judaica. Quando os judeus tentaram mat-lo, em Jerusalm, foi do Templo que o arras taram. Estas e muitas outras referncias tendem a sugerir que Lucas esforou-se ao mximo para demonstrar uma co nexo bsica entre o judasmo e o cris tianismo. Se pudssemos perguntar a Lucas por que os judeus rejeitaram Jesus, a sua resposta seria suficientemente clara. Os judeus rejeitaram Jesus porque, para eles, era rotineiro rejeitar a mensagem de Deus atravs dos profetas e mestres. A morte de Jesus no tinha justificativas. Pncio Pilatos e Herodes Antipas no puderam fazer nenhuma acusao de traio contra Jesus. Diante das pres ses, eles enfraqueceram. A crucificao de Jesus, o apedrejamento de Estvo e a perseguio dos outros foram, para Lucas, provas de que os judeus deixaram escapar o privilgio de serem chamados o verdadeiro Israel de Deus. O poder do Esprito de Deus operando na comunida
  16. 16. de crist era prova suficiente de que ela havia-se tomado o verdadeiro Israel. Alm dessas nuanas apologticas, para mostrar a legitimidade da nova religio, em vrios pontos da sua narra tiva, Lucas ilustra a inofensividade do movimento cristo. Nada h, na estrutu ra do grupo, que indique algo subversivo, contra o governo romano. Em todos os contatos com a oficiali dade romana, o cristianismo mereceu um claro atestado de boa conduta. O julga mento de Pncio Pilatos foi mais favo rvel a Jesus no Evangelho de Lucas. Srgio Paulo, procnsul de Chipre, ouviu a mensagem de Paulo, e abraou a f crist. Os magistrados de Filipos liberta ram Paulo e Silas da priso, e pediram- lhes desculpas. O governantes de Tessa- lnica dissuadiram a acusao de trai o contra Paulo e seus companheiros de viagem, porque os acusadores no ti nham provas suficientes. Glio, procn sul da Acaia, recusou-se a ouvir as acusa es dos judeus contra Paulo, em Corin to, porque percebeu que elas se rela cionavam aos assuntos da leijudaica. Quando Demtrio incitou o povo de feso e arrastou Gaio e Aristarco, com panheiros de Paulo, ao teatro, as autori dades tomaram o partido de Paulo e ro garam-lhe que no entrasse no teatro. Eles eram oficiais romanos da provncia da sia, que implementavam a adorao do imperador. Cludio Lsias, coman dante da guarnio romana em Jerusa lm, em sua carta a Flix, admitiu que no havia acusao verdadeira contra Paulo. Esta inocncia de Paulo foi con firmada ulteriormente por Flix, e seu sucessor Festo. Finalmente, quando Lu cas encerra o livro de Atos, declara que Paulo estava em Roma havia dois anos. Ele podia ter querido dizer algo especial, ao falar em dois anos. Estaria ele usando esse perodo de tempo especfico em sen tido legal, para indicar que o estatuto das limitaes havia-se esgotado? Se as sim , o sentido oculto que nenhum acusador apareceu para apresentar acu saes contra Paulo diante de Nero C sar; desta forma, as acusaes de sedio e traio caram por terra. No necessrio dizer-se que isto no exaure a gama de objetivos que os eru ditos neotestamentrios sugerem para o livro de Atos. Todavia, os que j consi deramos exigem uma ateno mais cui dadosa do que os outros. Para encerrar a discusso acerca do propsito de Atos, devemos nos confinar a um desgnio s da parte do autor? Possivelmente, ape nas uns poucos autores tm apenas um objetivo em mente, quando escrevem um livro. Talvez isto seja aplicvel tambm a Lucas. Poderamos ns sugerir que ele tinha mais de um objetivo ao escrever Atos? Se assim , vrios dos relacionados acima podem ter alguma validade. H evidncias de um objetivo apolo gtico. No deve ser ignorada a alegao de que Lucas procurou mostrar a expan so geogrfica do cristianismo. Bem acei tvel tambm a teoria de que o autor de Atos teve o intento de relatar a histria da liberdade do evangelho, no ato de quebrar as barreiras religiosas, raciais e nacionais. E bem provvel que o objetivo de Lucas tenha tocado em todos estes mencionados. V. Discursos em Atos Os discursos transcritos em Atos per fazem, aproximadamente, um tero do livro. Seis deles foram pronunciados por Pedro (1:16-22; 2:14-40; 3:12-26; 4:8-12; 10:34-43; 11:5-17) e abrangem 76 vers culos. Poderamos acrescentar, a este nmero, mais trs (4:19,20; 15:7-11; 4: 29,30) perfazendo um total de nove, mas no provvel que estes ltimos trs tenham sido discursos propriamente di tos. Lucas registra sete dos discursos de Paulo, e possivelmente oito, se incluir mos a curta mensagem de Paulo aos judeus em Roma (13:16-41; 14:15-17; 17:22-31; 20:18-35; 22:1-21; 24:10-21; 26:2-23; 28:17-28). Estes oito discursos perfazem 123 versculos. Se acrescentar-
  17. 17. mos os discursos de Estvo, Tiago, De- mtrio, Trtulo e outros, o nmero total de versculos ultrapassar ligeiramente os trezentos. Qualquer pessoa que pesquise a teolo gia de Atos precisa examinar os discursos do texto, como material de primeira li nha. Como consideraremos esses discur sos? Ser que eles representam, em sua maior parte, um padro de pregao b sica para as necessidades da comunidade crist primitiva? Aceit-los-emos como relatos fiis das pessoas que ouviram os oradores? Ser que Lucas criou essas mensagens e as colocou na boca dos seus personagens? Os historiadores antigos raramente tentavam registrar literalmente os dis cursos que atribuam aos seus persona gens. Tucdides, que escreveu na segun da metade do quinto sculo a.C., con fessou esta prtica. Quando examinamos os discursos de Atos, percebemos imediatamente um es tilo que inferior, por vezes, ao da narra tiva do livro. Lucas no segue o costume de historiadores de sua poca, de inserir oraes, a fim de exibir a sua capacidade retrica'. Outra tendncia que havia entre os historiadores contemporneos, da qual Lucas parece estar livre, era alongar um discurso, que, quando pronunciado originalmente, podia ter sido bem curto. Mesmo o discurso mais longo de Atos pode no representar tudo o que foi dito na ocasio. Lucas parece resumir, em vez de expandir a mensagem. Dificilmente ser razovel presumir que o autor de Atos relatou literalmente o que foi dito em cada discurso que inseriu nesse seu livro. Contudo, ao mes mo tempo, no devemos acusar Lucas de inventar tudo o que colocou na boca dos seus personagens. Ele possua materiais primitivos de pregaes feitas na igreja, que podia usar para construir os ser mes. Talvez, ocasionalmente, a teolo gia pessoal de Lucas pode deixar-se en trever em alguns dos discursos; mas cre mos firmemente que ele tinha pleno co nhecimento do padro de pregao da comunidade crist nos meados do pri meiro sculo d.C. Haenchen, Dibelius e outros no consideraram todas as evidn cias, quando disseram que os discursos dos primeiros captulos de Atos repre sentam a pregao da igreja no fim do primeiro sculo. Se a igreja, em data to posterior, ainda estivesse proclamando algo da teologia de Atos, devia ter havido pouco progresso na compreenso do sig nificado da f crist. VI. Paulo em Atos e em Suas Epstolas As diferenas entre as informaes his tricas a respeito de Paulo, encontradas em suas epstolas, e o que descobrimos em Atos tm levado algumas pessoas a questionar se o autor de Atos de fato foi companheiro de viagens de Paulo. Que h certas dificuldades inegvel, como vamos indicar, mas estas no consistem em problema insupervel. Paulo, ao escrever aos Glatas, tornou claro que o seu apostolado era indepen dente de qualquer relao com os aps tolos de Jerusalm (Gl. 1:16-2:10). Ao faz-lo, ele parece estar tentando corri gir alguns pontos de vista correntes, de que ele fora a Jerusalm pouco depois de sua converso no caminho de Damasco. Sob juramento, diante de Deus, de que no est mentindo, Paulo sustenta que afastou-se para a Arbia depois de sua converso. Trs anos se passaram, depois de sua converso, antes que ele se diri gisse a Jerusalm. Quando ele foi, per maneceu ali por apenas quinze dias, para conversar com Pedro, e no viu nenhum dos outros apstolos, exceto Tiago. Em contraposio ao que encontramos em Glatas, Lucas omite a reportagem acerca da viagem Arbia e apresenta Paulo voltando a Jerusalm, depois de um curto perodo de pregaes em Da masco. Graas a Barnab, os apstolos que tinham medo dele finalmente o acei taram. Paulo comea pregando em Jeru-
  18. 18. salm, e entra em discusso com os ju deus helenistas. Quando se descobriu que eles procuravam matar Paulo, os irmos em Jerusalm o enviaram para Tarso (At. 9:20-30). Lucas diz que a fuga de Paulo de Da masco aconteceu como resultado de uma conjurao dos judeus para mat-lo (At. 9:23-25). Paulo, por outro lado, nos con ta que ele escapou de Damasco, para no ser preso pelo governador sujeito a Are- tas, rei dos nabateanos (II Cor. 11:32). Em ambos os casos, os discpulos efetua ram a sua sada, baixando-o de um muro, em uma cesta, embora o tipo de cesta usado no relato de Paulo (II Cor. 11:33) seja diferente do mencionado em Atos. No impossvel conciliar as duas narrativas da fuga de Paulo, porque fcil conceber-se que ele enfrentou uma ameaa da parte dos judeus dentro da cidade e o perigo de ser preso por Aretas fora dos muros da cidade. notvel, em Atos, que Paulo entrou na sinagoga, em cada cidade em que pregou, antes de pregar as boas-novas aos gentios. Em vrios lugares, Lucas faz parecer que a princpio os judeus aceita ram a mensagem de Paulo, mas por fim a iejeitaram. Isto forou Paulo a voltar- se para os gentios (13:46; 18:6; 28:25 e s.). Como podemos conciliar isto com a declarao de Paulo, em suas epstolas, de que ele era o apstolo aos gentios? Paulo tinha dois objetivos, ao dirigir- se s sinagogas. No mundo helnico, muitos gentios encontravam, no judas mo, uma f religiosa que lhes propiciava esperana. Alguns se tornaram proslitos judeus, enquanto outros, no dispostos a ir to longe, continuavam, assim mes mo, a freqentar as sinagogas. Atravs das reunies de adorao na sinagoga e do ensino da lei, os gentios receberam uma razovel compreenso do judasmo. Possivelmente, Paulo achou que, se pu desse estabelecer contato com os gentios que j conheciam algo da f judaica, este alicerce facilitaria a sua tarefa. Alm do mais, Paulo considerava es sencial estar intimamente associado com os judeus, porque a f crist no tinha a sano oficial do Imprio Romano. Ado rando na sinagoga, ele podia mostrar aos oficiais romanos que o cristianismo no era uma nova religio, mas o cumpri mento do judasmo. Embora Paulo freqentemente manti vesse a reivindicao de que er apsto lo aos gentios, este fato no impedia a sua misso aos judeus. Ele podia dizer que o evangelho era o poder de Deus para salvao de todo aquele que cr; primeiro do judeu, e tambm do grego (Rom. 1:16). Ele podia tambm expres sar o mais profundo interesse pelo seu povo, porque este no havia crido em Cristo (Rom. 9:1 e ss.; I Cor. 9:20). Em Atos no se faz meno ao fato de Timteo e Silas terem ido de Beria, para encontrar-se com Paulo em Atenas. Lu cas nota que Paulo pediu que eles para l fossem logo que possvel (17:15). Mas s quando Paulo deixou Atenas e chegou a Corinto foi que Silas e Timteo chega ram da Macednia (18:5). Segundo a correspondncia tessalnica, ficamos sa bendo que eles estavam com Paulo em Atenas certamente Timteo, e talvez Silas, embora este no seja mencionado (I Tess. 3:1 e ss.). No h nem a mais leve sugesto em Atos de problemas que Paulo encontrou em feso, a no ser o tumulto suscitado por Demtrio, o ourives. Todavia, nos escritos de Paulo igreja em Corinto, vemos que ele enfrentou priso, sentena de morte, e, possivelmente, lees na are na pelo menos figurativamente, em termos de severos perigos e julgamento (I Cor. 4:9-13; 15:30-32; II Cor. 1:8 e s.; 4:8 e ss.; 6:5; 11:23). Se, como discutem alguns eruditos, o dcimo-sexto captulo de Romanos foi originalmente uma nota igreja em feso, e no fazia parte da Epstola aos Romanos, temos referncias adicionais aos perigos que Paulo enfren tou em seu ministrio em feso (Rom. 16:3-7). de fato estranho que Lucas
  19. 19. tivesse omitido esses perigos corridos por Paulo. O objetivo da ltima visita de Paulo a Jerusalm foi entregar igreja, ali, uma coleta em dinheiro, provinda de vrias igrejas, levantada para os pobres entre os judeus cristos dessa cidade (Rom. 15:25 e ss.). Isto foi feito a fim de melhorar as relaes entre os cristos gentios e judeus. Em Atos, no h nenhuma indi cao de que os cristos pobres recebe ram o dinheiro, a no ser que interprete mos os irmos nos receberam alegre mente (21:17) como dando a entender esse ato. Mesmo assim, no apenas uma suposio? Lucas faz referncia a essa oferta na defesa de Paulo diante de Flix(24:17). Mais importante e mais difcil, sem dvida, o problema concernente rela o de Atos 15 com Glatas 2. Nos cap tulos 1 a 15 de Atos, Lucas registra trs visitas de Paulo a Jerusalm (9:26-30; 11:27-30; 15). Em Glatas, Paulo men ciona apenas duas visitas, cobrindo o mesmo perodo de tempo (1:18 e ss.; 2:1-10). Na sua tentativa de explicar esta discrepncia bvia, os estudiosos tm apresentado quatro pontos de vista s rios. (1) A visita mencionada em Glatas 2 a mesma de Atos 15. (2) A visita mencionada em Glatas 2 a mesma visita de Atos 11. (3) A visita de Gla tas 2 registrada duas vezes por Lucas (em Atos 11 e 15). (4) Nem Atos 11 nem Atos 15 se referem visita de Paulo em Glatas 2. Nesse caso, Atos no seria um livro histrico. Das opinies exaradas acima, (2) pa rece ter mais a se recomendar do que as outras. Isto no significa que esta inter pretao est livre de dificuldades, mas, se dermos a Lucas o crdito de confia bilidade histrica, esta soluo mais satisfatria. Dado o fato de que a narrativa de Paulo acerca da sua segunda visita a Je rusalm, no captulo 2 de Glatas, seja equivalente visita registrada por Lucas em Atos 11, a situao seguinte preva lece: gabo, o profeta, chegou a Antio- quia da Sria e predisse uma grande fome. Baseados nessa predio, os cris tos de Antioquia enviaram uma coleta para os cristos de Jerusalm, por mos de Paulo e Bamab (At. 11:27 e ss.). Paulo disse que ele, Barnab e Tito fo ram a Jerusalm quatorze anos depois de sua primeira visita. Ele afirmou que foi a Jerusalm por revelao (Gl. 2:1 e s.). A revelao, nesse caso, podia significar a profecia de gabo referente fome. Nesta visita, Paulo se defrontou com alguma oposio da parte de um elemen to judaizante na igreja. Esses judaizan- tes pressionaram Paulo para circuncidar Tito, mas Paulo recusou-se a obedecer. Permaneceu firme na liberdade do evan gelho, e recebeu o reconhecimento de Pedro, Tiago e Joo, acerca da sua mis so aos incircuncisos. Em seguida histria da sua visita, Paulo apresenta um relato da visita de Pedro a Antioquia da Sria (Gl. 2:11- 14). A princpio, Pedro se associou livre mente aos cristos gentios, chegando a comer com eles. Mas, quando veio de Antioquia uma delegao enviada por Tiago, Pedro, temendo alguma crtica do grupo da circunciso, imediatamente pa rou de comungar com os gentios. Paulo repreendeu Pedro diante de toda a con gregao, por sua hipocrisia. Esta cena, e mais a atividade subversiva da delegao enviada por Tiago, levou a igreja de Antioquia a indicar Paulo, Barnab e outros para se dirigirem a Jerusalm, e resolver o problema de uma vez por todas. O colquio que se seguiu o que conhecemos como Conclio de Jerusalm, em Atos 15. Se Atos 11 pode ser igualado a Gla tas 2, no h discrepncia quanto s visitas de Paulo a Jerusalm em Atos. A terceira visita em Atos 15 cronologica mente se seguiria referncia de Paulo sua segunda visita em Glatas. Se Paulo escreveu a sua carta s igrejas da Ga- lcia antes do Conclio de Jerusalm, isto
  20. 20. explica por que no h meno de uma visita comparvel a Atos 15. Todas as omisses e diferenas em Atos, referentes vida e obra de Paulo, no garantem o pressuposto de que o autor no estava intimamente associado com ele. Quando Lucas escreveu, im provvel que tivesse em mos uma cole o das epstolas de Paulo, para verificar a exatido de suas declaraes. Se acei tarmos 80-90 d.C. como a data em que Atos foi escrito, Lucas, a essa altura, naturalmente, no se lembraria de todos os detalhes concernentes ao ministrio de Paulo. VII. Teologia O nosso conhecimento da teologia de Atos nos vem especialmente atravs dos discursos de Pedro, Estvo e Paulo. Ao falar em teologia, no queremos sugerir um sistema cuidadosamente elaborado de pensamento, mas vrias tentativas, feitas pelos cristos primitivos, para rela cionarem as suas experincias com o Senhor ressuscitado com sua herana religiosa e sua situao social. O poder do Cristo ressuscitado e exaltado trans formou radicalmente os padres de pen samento que os cristos primitivos an teriormente esposavam, e levou algum tempo para tomar novas formas. Cristologia No h, em Atos, ne nhuma declarao explcita da preexis tncia de Cristo, como encontramos nas epstolas de Paulo (cf. Fil. 2:5-11) ou em outros livros do Novo Testamento (Joo 1:1 e ss.; Heb. 1:1 e ss; I Tim. 3:16; e I Ped. 1:20; 3:18 e ss.), a despeito do fato de que os textos de prova de Lucas do Velho Testamento, que so usados pelas testemunhas do seu livro, do al guma evidncia de que ele, bem como a igreja primitiva, entendiam a presena de Jesus entre o povo de Deus na poca veterotestamentria. Esta espcie de compreenso, em sua forma, mais ju daica do que grega (Hanson, p. 39). A maior parte do nosso conhecimen to das opinies da igreja primitiva a res peito da pessoa de Cristo nos vem atra vs de Lucas, mediante o uso que ele faz de certos ttulos. Um desses ttulos Cristo . O autor repetidamente usa esta designao no sentido tcnico judaico, significando um ofcio. A comunidade crist primitiva interpretava Jesus em termos messinicos judaicos, e o procla mava o Messias das expectaes prof ticas. Nos escritos de Paulo, Cristo como ttulo ou ofcio, com raras excees (cf. I Cor. 1:23; 9:12), se torna outro nome para Jesus, e perde o seu significado judaico. Outro ttulo conferido a Jesus, em Atos, o de Senhor. Pedro, em seu sermo no dia de Pentecostes, asseverou que Deus havia feito de Jesus Senhor e Cristo (2:36). Este discurso atesta acer ca do fato de que Jesus era reconhecido como Senhor devido sua ressurreio e ascenso. Alguns declaram que esse ttulo no se originou na comunidade crist palestina, mas era uma criao dos cristos que viviam em um ambiente helenista. As evidncias apresentadas para essa tomada de posio no so de todo convincentes. No h base para se duvidar de que esta confisso se originou na Palestina. O que queria dizer o ttulo Senhor? A palavra grega usada kurios, que tinha vrios significados. Na Septuagin- ta, traduo grega do Velho Testamento, kurios ganhou um significado adicional, por ser a traduo-padro do nome sa grado de Deus, que era Yahweh. Quando Jesus ressuscitou dentre os mortos e as cendeu ao cu, os discpulos reconhece ram que ele tinha as prerrogativas de Yahweh, a saber, poder sobre a vida e a morte. Eles entenderam que Jesus se igualava ao Yahweh do Velho Testamen to e merecia o mesmo nome sagrado. Alm dos ttulos Cristo e Senhor, v rias outras designaes descritivas de Je sus aparecem em Atos, sugerindo uma cristologia primitiva. A palavra pais (ser vo ou filho pequeno) no aparece em nenhum outro lugar do Novo Testamen-
  21. 21. to como ttulo de Jesus, mas em Atos ns o encontramos vrias vezes (3:13,26; 4: 25-30). possvel que pais expresse duas idias distintas acerca de Jesus. Talvez Atos 3:13 e 3:26 faam aluso a Isaas 53, o Servo Sofredor, enquanto que 4:27 e 4:30 se refiram ao servo real davdico na Shemoneh Esreh (as Dezoito Bnos da liturgia judaica). Nos discursos de Pedro e Estvo, no tamos uma Cristologia Mosaica, alicer ada na tradio palestina.2 A profecia de Deuteronmio 18:15-18 havia sido aceita como promessa escatolgica de um segundo Moiss, que falaria ao povo em lugar de Deus. Entre os samaritanos, o Taheb (algum como Moiss, que res tauraria todas as coisas sua devida ordem) era figura central, em suas expec taes escatolgicas. Embora o conceito de um novo Moiss no fosse to domi nante no pensamento judaico como entre os samaritanos, tomou-se uma esperana consoladora, em tempos de abatimento. A igreja primitiva cria que Jesus era mais do que um profeta. Ele era o Profeta segundo o padro de Moiss. Atravs dele veio a proclamao final de Deus. Filho do Homem nos quatro Evan gelhos, uma autodesignao de Jesus no suscita o interesse dos outros escri tores do Novo Testamento, para descre ver o Senhor ressuscitado, a no ser de Lucas, em Atos. Estvo, no fim de sua defesa diante do Sindrio, disse que viu o Filho do homem de p mo direita de Deus (7:56). Nos Evangelhos, algumas das referncias ao Filho do homem o associam com a sua glria futura. A vi so de Estvo estabelece este fato como j tendo sido realizado. Duas vezes Jesus chamado Autor ou Prncipe (lder) (archgos), em discursos de Pedro (3:15; 5:31). Esta palavra no ocorre em nenhum outro livro do Novo Testamento, exceto na Epstola aos He breus (2:10; 12:2). Filho de Deus en 2 Reginald H. Fuller, The Foundations of New Testa ment Christology (New York, Charles Scribners Sons, 1965), p. 168ess. contrado apenas uma vez em Atos. Esta expresso mencionada como tema da pregao de Paulo em Damasco (9:20). O ttulo no-judaico de Salvador, que provavelmente se originou em crculos helenistas primitivos, aparece em Atos 5:31, com archgos, e de novo em 13:23. Esprito Santo Em Atos, a vinda do Esprito Santo inaugurou uma nova era na histria do mundo. Os judeus do primeiro sculo d.C. deram uma inter pretao religiosa observncia do Pen tecostes, que em pocas anteriores come morava o trmino da colheita dos cereais. Esse dia era ento a celebrao do fato de Moiss ter recebido a lei de Deus no Monte Sinai. Para os cristos primitivos, essa data ganhou um significado religio so muito mais importante. Tornou-se o tempo quando Deus substituiu a lei pelo dom do seu Esprito Santo ao homem. O Esprito Santo tem um lugar to proeminente, em Atos, que alguns erudi tos do passado referiram-se a esse livro como Os Atos do Esprito Santo . Lu cas declara que muitos foram cheios do Esprito Santo (4:8; 6:5; 9:17; 11:24; 13:9). O Esprito dirige, fala, instrui, inspira, e at impede atos das pessoas (8:29,39; 10:19; 11:12,28; 13:2; 15:28; 16:6; 20:23; 21:4; 28:25). Nenhum procedimento normativo es boado em Atos, referente ocasio em que uma pessoa recebe o Esprito Santo. Tal experincia pode acompanhar o ba tismo (2:38; 9:17-19; 19:1-7). Os sama ritanos foram adequadamente batizados, mas no haviam recebido o Esprito San to at que os apstolos lhes impuseram as mos (8:12,14-17). Comlio e seus vizi nhos experimentaram a vinda do Esp rito Santo antes de terem sido batizados (10:44-48). Jesus promete aos seus discpulos que eles recebero um batismo do Esprito. Ele tambm envia o Esprito (2:33). Deus o ungiu com o Esprito (10:38). Nos seus escritos, percebemos agudamente que Paulo usa Cristo, Esprito de Cristo, Es prito de Deus e o Esprito como termos
  22. 22. equivalentes, sem indicar qualquer dife rena bvia no seu significado. Aparen temente, Atos, neste estgio de desen volvimento do pensamento, no faz tam bm essa identificao, exceto em 16:7. Escatologia Apresenta Lucas, em Atos, a tendncia de minimizar as pre vises de uma volta imediata de Cristo? Presumindo que ele escreveu quase no fim do primeiro sculo d.C., bem po demos imaginar que ele havia aceito, juntamente com outros cristos, a reali dade do adiamento da Parousia. bem claro que a comunidade primitiva espe rava ansiosamente a vinda de Cristo e a consumao do sculo. Esta idia est definidamente presente em Atos 3:18 e ss. Maiores evidncias desta opinio po dem ser verificadas nos escritos de Paulo (I Cor. 7:26-31; 15:51 e ss.; I Tess. 4:14-18). Parece que Lucas no concordava ple namente com as suas fontes, na apresen tao da atitude da igreja primitiva em relao imediata Parousia de Cristo. Em Atos 1:7, Jesus rejeita especulaes a respeito de tempos e estaes. Os dis cpulos no devem tentar colocar Deus dentro de um padro cronolgico, dentro da histria. Quando, como, onde, e por que Deus age coisa que compete sua prpria autoridade. Jesus ordena os seus discpulos pensarem em termos de mis ses mundiais. Atos tende a interpretar a escatologia no tempo presente. Lucas segue a tradi o das suas fontes, ao reconstruir a histria da igreja primitiva, mas ele a estampa com a opinio de que os ltimos dias j chegaram .3 Na citao feita por Pedro, do profeta Joel, no dia de Pente costes, h uma notvel mudana no tex to. Joel diz depois (depois* destas coi sas, 2:28), mas Atos d a verso e nos ltimos dias (2:17). Desta forma, vendo o movimento cristo desta perspectiva 3 Hans Conzelmann, The Theology of St. Luke. Tradu zido para o ingles por Geoffrey Buswell (New York: Harper and Row, 1960), p. 96. toda sua, depois que as primitivas es peranas de uma Parousia imediata ca ram em segundo plano, Lucas reinter- pretou a escatologia. Ele concebia o cris tianismo como existindo em um agora escatolgico. Os ltimos dias eram os dias atuais. Todavia, Lucas no enfatiza demasiadamente este ponto de vista, pois tambm conserva vrias referncias volta de Cristo (1:11; 3:20,21; 10:42; 17:31; 24:25). VIII. O Texto Uma caracterstica genuna do livro de Atos a reivindicao de dois textos rivais como os representantes genunos do original. Designamos estas famlias de textos pelos nomes de Alexandrino e Ocidental. As variaes entre os dois so to numerosas e contraditrias, que su gerem duas revises distintas do original. Proeminente entre as testemunhas fa vorveis a um texto Alexandrino (algu mas vezes chamado Neutro e Egpcio) est um grupo de manuscritos que inclui o Vaticano (sculo IV), o Sinatico (s culo IV), o Alexandrino (sculo V) e P46 (At. 4:27-17:17 da coleo de papi ros Chester Beatty, do sculo III). As principais testemunhas do texto Ociden tal so os manuscritos bilnges (grego e latim) Bezae (sculo V), redaes apre sentadas entre os asteriscos, na margem das verses Siraca Harkleana, Velha La tina, Papiros 38 e 48 (sculo III), e os pais da igreja latina, Irineu, Cipriano e Agostinho. As verses do texto Ocidental so to divergentes que alguns estudiosos suge riram que este o texto original de Atos. Este mesmo tipo de texto, nos Evange lhos, tem uma reputao por suas omis ses. Pelo contrrio, em Atos conhecido por suas adies. O texto Ocidental de Atos presumivelmente data dos meados do segundo sculo d.C., e representa uma reviso. Embora o prprio texto Alexandrino tambm seja uma reviso, e no represente um texto mais antigo,
  23. 23. bem mais digno de confiana, porque as adies pietistas e as notas explana- trias do texto Ocidental fazem-no tor- nar-se altamente suspeito. Nenhuma tentativa ser feita aqui para relacionar as verses Ocidentais dignas de nota. Elas sero incorporadas no comentrio, sempre que as encontrar mos no estudo do texto. Esboo de Atos I. A Disseminao do Evangelho em Jerusalm (1:1-8:3) 1. Eventos Anteriores ao Pentecos tes (1:1-26) 1) Prefcio (1:1-5) 2) A Ascenso (1:6-11) 3) No Cenculo (1:12-14) 4) A Escolha de Matias (1:15-26) 2. Pentecostes (2:1-47) 1) A Vinda do Esprito Santo (2:1-13) 2) O Sermo de Pedro (2:14-36) 3) Os Resultados do Sermo de Pedro (2:37-42) 4) Primeiro Relato Sumrio (2:43-47) 3. Testemunhando na Areado Tem plo (3:1-4:37) 1) Pedro Cura um Coxo (3:1-10) 2) O Segundo Sermo de Pedro (3:11-26) 3) Priso de Pedro e Joo (4:1-4) 4) Pedro e Joo Diante do Si ndrio (4:5-22) 5) A Libertao dos Apstolos e a Orao da Igreja (4:23-31) 6) Segundo Relato Sumrio e o Exemplo de Bamab(4:32-37) 4. Ananiase Safira (5:1-11) 5. Terceiro Relato Sumrio (5:12-16) 6. Mais Oposio da Parte dos Sa- duceus (5:17-42) 1) Priso e Libertao dos Aps tolos (5:17-26) 2) Os Apstolos Diante do Sin drio (5:27-32) 3) O Discurso de Gamaliel (5:33-39) 4) A Libertao dos Apstolos (5:40-42) 7. O Ministrio de Estvo (6:1-8:3) 1) A Escolha dos Sete (6:1-6) 2) Quarto Relato Sumrio (6:7) 3) Estvo Acusado (6:8-15) 4) A Defesa de Estvo (7:1-53) 5) O Martrio de Estvo e Seus Resultados (7:54-8:3) II. A Disseminao do Evangelho em Samria e Regies Costeiras (8:4- 11:18) 1. A Misso de Felipe em Samria (8:4-25) 1) Pregao Acompanhada por Sinais (8:4-8) 2) Simo, o Mago (8:9-13) 3) Pedro e Joo Visitam Samria (8:14-25) 2. Filipe e o Eunuco Etope (8:26-40) 3. O Primeiro Relato da Converso de Paulo (9:1-31) 1) No Caminho de Damasco (9:1-9) 2) AVisitadeAnanias(9:10-19a) 3) Paulo Prega em Damasco (9:19b-25) 4) Paulo Vai a Jerusalm (9:26-30) 5) Quinto Relato Sumrio (9:31) 4. Misso de Pedro nas Regies Costeiras (9:32-10:48) 1) Cura Enas em Lida (9:32-35) 2) Ressuscita Dorcas em Jope (9:36-43) 3) A Viso de Cornlio (10:1-8) 4) A Viso de Pedro (10:9-16) 5) Os Mensageiros de Cornlio Chegam (10:17-23a) 6) Pedro Parte Para Cesaria (10:23b-33) 7) Pedro na Casa de Cornlio (10:34-43) 8) Os Gentios Recebem o Esp rito Santo (10:44-48) 5. Pedro e a Igreja em Jerusalm (11:1-18) 1) Acusado de Associar-se com os Gentios (11:1-3) 2) Defesa de Seus Atos (11:4-18) III. A Disseminao do Evangelho em Antioquia, Chipre e Galcia (11:19- 15:35)
  24. 24. 1. Crentes Gentios-em Antioquia (11:19-26) 2. Coleta Para a Igreja em Jerusa lm (11:27-30) 3. Perseguio Movida por Herodes Agripa 1(12:1-25) 1) Martrio de Tiago e Priso de Pedro (12:1-5) 2) Pedro Escapa da Priso (12:6- 11) 3) Pedro Vai Casa de Maria (12:12-19) 4) A Morte de Herodes Agripa e Sexto Relato Sumrio (12:20- 25) 4. A Misso de Paulo e Bamab (13:1-14:28) 1) Paulo e Bamab Comissiona dos (13:1-3) 2) Na Ilha de Chipre (13:4-12) 3) Viagem a Antioquia da Pis- dia(13:13-16a) 4) O Sermo de Paulo em An tioquia da Pisdia(13:16b-41) 5) Tumulto em Antioquia da Pi- sdia (13:42-52) 6) Testificando em Icnio (14: 1-7) 7) Paulo e Bamab em Listra (14:8-23) 8) Retomo a Antioquia da Sria (14:24-28) 5. O Conclio de Jerusalm (15:1-35) 1) Paulo e Barnab Vo a Jeru salm (15:1-5) 2) A Convocao do Conclio (15:6-11) 3) A Deciso de Tiago (15:12-21) 4) Decreto Apostlico (15:22-29) 5) Volta dos Emissrios a An tioquia (15:30-35) IV. A Disseminao do Evangelho na Regio do Egeu (15:36-21:14) 1. A Separao de Bamab e Paulo (15:36-41) 2. Paulo Toma a Visitar a Galcia (16:1-4) 3. Stimo Relato Sumrio (16:5) 4. A Viso em Troas (16:6-10) 5. Paulo na Macednia (16:11-17: 15) 1) Filipos (16:11-40) 2) Tessalnica (17:1-9) 3) Beria (17:10-15) 6. Paulo na Acaia (17:16-18:17) 1) Atenas (17:16-34) 2) Corinto(18:l-17) 7. Partida de Paulo Para Sria, Via feso (18:18-23) 8. O Interldio de Apoio (18:24-28) 9. A Contnua Atividade Mission ria de Paulo(19:l-21:14) 1) feso (19:1-41) 2) Macednia, Acaia, e de Volta a Trade (20:1-6) 3) Trade (20:7-12) 4) DeTradeaMileto(20:13-16) 5) A Despedida dos Ancios de feso (20:17-38) 6) De Mileto a Cesaria (21:1- 14) V. A Disseminao do Evangelho de Jerusalm a Roma (21:15-28:31) 1. A Chegada de Paulo a Jerusa lm (21:15-26) 2. Preso no Templo (21:27-36) 3. Cludio Lisias Intervm (21:37- 40) 4. O Discurso de Paulo da Escada ria da Torre Antnia (22:1-21) 1) O Segundo Relato de Sua Converso (22:1-16) 2) A Sua Vocao aos Gentios (22:17-21) 5. Feroz Reao dos Judeus (22: 22-29) 6. Paulo Diante do Sindrio (22: 30-23:11) 1) Repreenso ao Sumo Sacer dote (22:30-23:5) 2) Diviso do Sindrio(23:6-ll) 7. Conspirao dos Judeus Contra a Vida de Paulo (23:12-22) 8. Transferncia de Paulo Para Cesaria (23:23-35) 9. Priso em Cesaria (24:1-26:32) 1) O Julgamento Diante de F- lix (24:1-27) 2) Paulo Diante de Festo (25:1- 12) 3) Herodes Agripa II Visita Festo (25:13-27) 4) Paulo Diante de Agripa (26: 1-32) 10. A Viagem de Paulo a Roma (27:1-28:16)
  25. 25. 1) De Cesaria a Creta (27:1- 12) 2) Apanhados por uma Tem pestade no Mar (27:13-20) 3) Paulo Conforta os Que Esto a Bordo (27:21-26) 4) Naufrgio em Malta (27:27- 38) 5) Todos Chegam Terra a Salvo (27:39-44) 6) Uma Recepo Hospitaleira em Malta (28:1-10) 7) Continua a Viagem Para Ro ma (28:11-16) 11. Paulo Chega a Roma (28:17-31) 1) Fala aos Judeus (28:17-28) 2) Nono Relato Sumrio (28: 30,31) Bibliografia Selecionada BRUCE, F.F. The Acts of the Apostles. Chicago: The Inter-Varsity Chris tian Fellowship, 1951. DIBELIUS, MARTIN. Studies in the Acts of the Apostles. Traduzido pa ra o ingls por MARY LING. ed. HEINRICH GREEVEN. London: SCM Press, 1956. DUPONT, JACQUES. The Sources of the Acts. Trad, para o ingls por KATHLEEN POND. New York: Herder and Herder, 1964. FOAKES-JACKSON, F.J. The Acts of the Apostles. (The Moffatt New Testament Commentary.) New York: Harper and Bros., 1931. FOAKES-JACKSON, F. J. e KIRSOPP LAKE (eds.). The Beginnings of Christianity, 5 vols. London: Mac millan and Co., 1922-1933. HAENCHEN, ERNEST. Die Apostel geschichte. (Kritisch-exegetischer Kommentar ber das Neue Testa- ment, III, 12 th ed.) Gottingen: Vanderhoeck & Ruprecht, 1959). HANSON, R.P.C. The Acts. (The New Clarendon Bible.) Oxford: Claren don Press, 1967. HARNACK, ADOLF. The Acts of the Apostles. Trad, para o ingls por J.R. WILKINSON. London: Wil liam & Norgate, 1909. HOBART, W. K. The Medical Langua ge of St. Luke. Dublin: Dublin Uni versity Press, 1882. KECK, LEANDER, and MARTYN, J. LOUIS, (eds.) Studies in Luke-Acts. Nashville: Abingdon Press, 1966. KNOX, WILFRED L. The Acts of the Apostles. Cambridge: University Press, 1948. MACGREGOR, G.H.C. The Acts of the Apostles. (The Interpreters Bi ble.) Nashville: Abingdon-Cokes- bury Press, n.d. MUNCK, JOHANNES. The Acts of the Apostles. (The Anchor Bible.) Garden City: Doubleday and Com pany, 1967. ONEILL, J.C. The Theology of Acts in Its Historical Setting. London: S.P.C.K., 1961. RACKHAM, E.B., The Acts of the Apostles. (Westminster Commen taries.) London: Methuen & Co., 1939. STAGG, FRANK. O Livro de Atos. Rio de Janeiro: JUERP, 1982. TORREY, C.C. Composition and Date of Acts (Harvard Theological Stu dies) Cambridge: Harvard Univer sity Press, 1916. WILLIAMS, C.S.C. The Acts of the Apostles. (Harpers New Testa ment Commentaries.) New York: Harper and Bros., 1957.
  26. 26. Comentrio Sobre o Texto I. A Disseminao do Evangelho em Jerusalm (1:1-8:3) 1. Eventos Anteriores ao Pentecostes (1:1-26) Atos comea apresentando a substn cia das cenas finais do Evangelho de Lucas e nos introduzindo a certos de talhes que o Evangelho no inclura. Importantes, entre esses itens, so a as censo e a atividade dos apstolos em Jerusalm antes do dia de Pentecostes. 1) Prefcio (1:1-5) 1 Fiz o prim eiro tratad o , Tefilo, a c e r ca de tudo quanto Jesu s com eou a fazer e a ensinar, 2 a t o dia em que foi levado p ara cim a, depois de h av er dado m an d a m ento, pelo E sprito Santo, aos apstolos que escolhera; 3 aos quais tam bm , depois de haver padecido, se apresentou vivo, com m uitas provas infalveis, aparecendo-lhes por espao de quaren ta dias, e lhes falando das coisas concernentes ao reino de Deus. 4 E stando com eles, ordenou-lhes que no se ausentassem de Jerusalm , m as que es perassem a prom essa do P ai, a qual (disse ele) de m im ouvistes. 5 P orque, n a verdade, Joo batizou em gua, m as vs sereis b a ti zados no E sprito Santo, dentro de poucos dias. No perodo helenista, era costume um autor dividir os seus trabalhos literrios em volumes. Ele fazia anteceder o pri meiro volume de um prefcio, que se propunha a cobrir a obra toda. Este prefcio geralmente declarava o objetivo e o mtodo de escritor. Os prefcios secundrios, anexados a cada volume sucessivo, resumiam o contedo do vo lume anterior e serviam como forma li terria de lig-los uns aos outros. Lucas, com certas modificaes, segue a forma literria contempornea em seu Evange lho e em seu livro de Atos. Atos inicia-se com uma longa sentena prefaciai, dirigida ao mesmo Tefilo do terceiro Evangelho. Lucas apresenta uma declarao sumria da sua obra anterior, mas no da maneira convencional. Os acontecimentos aos quais ele se refere aparecem nas cenas finais do Evangelho, mas no na mesma seqncia. Em primeiro lugar, ele menciona a ascenso, e depois fala das aparies de Jesus aos seus apstolos, durante um perodo de quarenta dias. Estes ltimos fatos no ocorrem no Evangelho. Ao ler o Evangelho de Lucas, a impresso que se tem que Jesus ascendeu no mesmo dia da ressurreio (24:51), e no h indica o de um intervalo de quarenta dias. Para o Evangelho, o assunto o cum primento proftico da paixo do Messias, sua morte e ressurreio (24:44-47). Em Atos, pelo contrrio, Jesus fala aos aps tolos acerca do reino de Deus. Do lado positivo, podemos acrescentar que a or dem para permanecer em Jerusalm para a consecuo da promessa, os sofrimen tos de Jesus, as suas aparies aos dis cpulos e o fato de ter comido com eles (Lucas 24) revelam que h um elo entre o primeiro volume e o segundo, pois todos esses incidentes constam do prefcio a Atos. Primeiro, no verso 1, tem sido aceito, por alguns comentaristas, como signifi cando que Lucas escreveu ou planejou es crever um terceiro volume. Argumentam eles que a correo gramatical exige an terior (proteron), em vez de primeiro (prton), quando a srie constituda apenas de dois. Dado o fato de que Lucas usou o termo primeiro, e no an terior, ele devia ter em mente mais do que dois volumes. Contudo, precisamos nos lembrar que a tendncia, no grego helnico, bem como no portugus, hoje em dia, era passar por cima destas distin es gramaticais. No nos apegamos ri gidamente regra de que, quando nos referimos ao primeiro, significa absolu tamente o comeo de uma srie de mais de dois. No h evidncia de que Lucas es creveu ou planejou escrever um terceiro
  27. 27. volume. De fato, um volume assim seria bem-vindo, pois iria resolver todo o pro blema do trmino de Atos. livro (logos) era o nome costumeiramente dado a uma composio que tivesse a extenso de um ou mais rolos de papiro. J notamos, na Introduo, que Te filo nos desconhecido. improvvel que ele seja uma pessoa fictcia, que represente todos os que amam a Deus. bem razovel presumir-se que Tefilo tenha sido um nome inventado para ocul tar o verdadeiro nome da pessoa. No prefcio do seu Evangelho, Lucas (1:3) d a Tefilo o epteto de excelentssi mo, que d a entender que ele ocupava uma posio oficial no Imprio Romano. A sugesto de B.H. Streeter,4 de que Tefilo era o nome cristo secreto de Fl- vio Clemente, primo de Domiciano, o Imperador, mera fantasia. Embora Lu cas dedique ambos os volumes a Tefilo, a mensagem pretende alcanar um audi trio muito mais amplo do que apenas um indivduo. Ao resumir o seu volume anterior, Lucas usa uma expresso que algumas pessoas procuram classificar como for ma pobre, e outros designam como ara- masmo. Jesus comeou a fazer e a ensi nar. Por que considerar comeou a fazer como aramasmo, visto que Lucas aqui no est seguindo uma fonte, mas, pelo contrrio, est apresentando a sua pr pria interpretao teolgica? Como pode ela ser forma literria pobre, visto que o autor est inteiramente em casa, no que diz respeito ao grego literrio? Lucas tem um propsito, ao usar esta expresso alegadamente desgraciosa. Ele quer di zer que o ministrio terreno de Jesus nada mais do que o incio de uma ao que no tem fim. O que ele deseja mos trar, nos eventos subseqentes, desenca deados pelo Esprito Santo, , na rea lidade, a continuao da obra de Jesus. Desta forma, Lucas estabelece uma ple na identificao entre Jesus e o Esprito, 4 The Four Gospels (London: Macmillan, 1951), p. 539.) da mesma forma como Paulo e o autor do Quarto Evangelho o haviam afirmado. Lucas o nico escritor do Novo Tes tamento que nos diz que as aparies ps-ressurreio de Jesus cobriram um perodo de quarenta dias. aceitvel que esse perodo de tempo se passou, quando comparamos as vrias narrativas de apa ries ou manifestaes de Jesus feitas por Mateus, Joo e Paulo. Moiss esteve no Monte Sinai durante quarenta dias e quarenta noites, ao rece ber a lei das mos de Deus (x. 34:28). Elias, quando fugiu da ira de Jezabel, dirigiu-se a Horebe, e de um anjo rece beu alimento para sustent-lo durante a sua jornada de quarenta dias e quarenta noites (I Reis 19:8). Depois do seu batis mo, Jesus foi para o deserto, e jejuou durante um perodo de quarenta dias (Marcos 1:13 e paralelos). Se Lucas, ao mencionar quarenta dias, est querendo revelar algum significado religioso pro fundo, padronizado segundo as refern cias mencionadas acima (e ainda outras existentes), coisa duvidosa, porque, mais tarde, ele descreve o mesmo perodo como muitos dias (13:31). A verso da Imprensa Bblica Brasilei ra no forada na traduo de tekme- rios pela palavra portuguesa provas. Na verdade, esta palavra, no original, significa prova demonstrativa ou evidn cia. Que evidncias Lucas tinha em men te, ele no expressa em Atos. Do seu Evangelho, podemos presumir que as provas consistiam na capacidade de Jesus em comer um pedao de peixe assado, e manter uma palestra com os seus disc pulos, e tambm ter a posse de alguma espcie de corpo fsico (24:39,42). Lucas, mais do que os outros Evangelhos e as epstolas de Paulo, parece enfatizar a natureza fsica do corpo ps-ressurreio de Jesus. Atos indica que o principal assunto que Jesus discutiu com os apstolos, du rante o intervalo de quarenta dias, teve como centro o reino de Deus. Isto ime diatamente suscita, para ns, a interro-
  28. 28. gao: Por que era necessrio tal ensino? Desde o comeo do seu ministrio na Galilia, at a sua crucificao em Jeru salm, o tema dominante da sua mensa gem havia sido o reino de Deus. Embora Jesus no d uma definio especial do reino, atravs de suas parbolas e atos, ele descreveu vividamente a sua nature za, para impedir qualquer possibilidade de mal-entendidos. Aparentemente, os apstolos no haviam entendido plena mente o significado dos ensinos de Jesus, como veremos mais adiante. Parece que Jesus achava essencial explicar o relacio namento entre os seus ensinamentos acerca do reino e aquela nova manifesta o de si mesmo atravs da recente ex perincia da ressurreio. Enquanto Jesus estava comendo com os apstolos (ou estando com eles), recomendou-lhes que permanecessem em Jerusalm. Isto concorda com o que Lu cas fala em seu Evangelho (24:29). Alm do mais, concorda com o relato que ele faz de aparies apenas na Judia, que Jesus fez, e estas dentro de pequena distncia de Jerusalm. Possivelmente, o objetivo de Lucas demonstrar que Jerusalm o local para o inicio do movimento cristo. Na regio de Jerusa lm, Jesus se apresentou aos seus disc pulos, e ali que eles deveriam perma necer at que recebessem a promessa do Pai. Mateus, Marcos e o apndice ao Quar to Evangelho (cap. 21) no confinam as aparies Judia neste particular, diferindo de Lucas. De acordo com Ma teus, a primeira apario de Jesus, aos onze discpulos, aconteceu na Galilia, onde ele lhes deu a Grande Comisso (28:16-20). O moo de alvo manto que se encontrou com as mulheres no sepulcro de Jesus disse-lhes para avisarem a Pedro e aos discpulos que Jesus iria encontr- los na Galilia, como havia planejado (Mar. 16:7). No apndice ao Quarto Evangelho, Jesus aparece aos seus disc pulos junto ao Mar de Tiberades. As outras manifestaes registradas no Quarto Evangelho ocorrem em Jerusalm e fortalecem a tradio que Lucas seguiu. A promessa do Pai uma aluso a uma declarao feita no Evangelho de Lucas (24:49). Ali o contedo da promessa no revelado. Nada mencionado acerca de que o rito executado por Joo Batista com gua seria superado pelo batismo com o Esprito Santo. Aparentemente, a incluso deste, em Atos, representa uma reviso feita por Lucas. Estas palavras, atribudas a Jesus no versculo 5 e mais adiante em 11:16, em outras partes do Novo Testamento, so atribudas a Joo Batista. O contraste entre o batismo de Joo e o batismo com o Esprito Santo pode parecer sugerir que o rito executado com gua no era mais necessrio. No obs tante, percebemos que o rito do batismo continuou a ser observado. Embora as palavras de Jesus possam ter indicado que o batismo nas guas iria ser supe rado ou substitudo pelo batismo no Es prito, a comunidade crist lembrou a ordem de Cristo (Mat. 28:19-20) e con siderou, no batismo, algo simbolizando a sua nova experincia em Cristo. Joo havia pregado um batismo caracterizado pelo ato do arrependimento, em vista de um julgamento iminente. Aquilo para o que o batismo de Joo apontava em pers pectiva, era visto pelos cristos da nova comunidade em retrospectiva. Desta for ma, para a comunidade primitiva, o ba tismo se colocava luz do que j havia acontecido, e no do que ainda havia de acontecer. Isto foi o que marcou a di ferena entre o batismo de Joo e o ba tismo cristo. A relao do batismo com o Esprito Santo ser considerada mais tarde, neste comentrio (veja o coment rio a 2:38; 8:12-17; 10:46-48; 19:5,6). Uma adio, no texto Ocidental, de signa o Pentecostes como o tempo em que os apstolos deviam receber o Es prito Santo. Ela diz: que estais para receber, daqui a no muitos dias, at o Pentecostes.
  29. 29. 2) A Ascenso (1:6-11) 6 A queles, pois, que se haviam reunido perguntavam -lhe, dizendo: Senhor, neste tem po que re stau ras o reino de Israel? 7 R espondeu-lhes: A vs no vos com pete saber os tem pos ou as pocas que o P ai reservou sua prpria autoridade. 8 M as recebereis poder, ao descer sobre vs o E s prito Santo, e ser-m e-eis testem unhas, ta n to em Jeru salm , como em toda a Judia e Sam ria, e a t os confins da te rra . 9 Tendo ele dito estas coisas, foi levado p a ra cim a, enquanto eles olhavam , e um a nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos. 10 E sta n do eles com os olhos fitos no cu, enquanto ele subia, eis que junto deles ap areceram dois vares vestidos de branco, 11 os quais lhes disseram : V ares, galileus, por que ficais a olhando p a ra o cu? E sse Jesus, que dentre vs foi elevado p a ra o cu, h de vir assim com o p a ra o cu o vistes ir. Imediatamente depois de resumir as coisas ditas em seu primeiro volume, Lucas passa a estabelecer o tom para o livro que est escrevendo, e acrescenta uns poucos detalhes acerca da ascenso, que havia condensado anteriormente. No dia da ascenso, os apstolos fizeram uma pergunta que indicava claramente como eles no haviam entendido a natu reza da promessa do Pai. Haviam eles presumido que a promes sa tinha algo a ver com a restaurao do reino de Israel. Durante o ministrio terreno de Jesus, os apstolos haviam compartilhado a esperana, sustentada por outros judeus, em um descendente de Davi, a quem Deus nomearia seu Messias, o qual recuperaria a condio nacional dojudasmo. Essa opinio refle tiu-se na confisso de Pedro em Cesa- ria de Filipe e na entrada triunfal de Jesus em Jerusalm. Para eles, era dif cil livrarem-se de suas noes preconce bidas acerca de Jesus como um Messias poltico. Agora que Jesus havia ressuscitado dentre os mortos, as suas esperanas foram de novo vivificadas, e eles espera vam que Jesus desempenhasse o seu pa pel vingativo como Messias, estabelecen do a sua autoridade sobre a nao de Israel. O que Jesus era incapaz de fazer para eles, de maneira normal, como Messias terreno, os discpulos agora es peravam que ele executasse de maneira apocalptica, pela interveno catastr fica de Deus na histria. A pergunta dos apstolos suficiente mente clara. Eles sentiam uma necessi dade desesperada de iluminao. Jesus no permitiu que a pergunta passasse sem ser notada, mas repreendeu-os, como costumeiramente fazia durante o seu ministrio terreno. Ele afastou qualquer interesse no estudo intensivo dos momen tos crticos da histria e dos aconteci mentos ordinrios da existncia humana. Preocupaes que tais, segundo a sua perspectiva, eram inteis, no sentido de determinar quando e como Deus iria agir na histria. Jesus no veio para satis fazer curiosidade do homem acerca do calendrio de Deus, mas para revelar Deus e levar o homem a um relaciona mento correto com Ele. Esse conselho importante para a era em que vivemos. H muitos crentes que esto mais inte ressados em predies do que na pro clamao do evangelho, que propicia luz e vida. Testificar de Cristo inclui o poder para faz-lo. Jesus prometeu, aos seus aps tolos, que o Esprito Santo, extenso da personalidade de Deus dentro da comu nidade, devia ser esse poder. Eles rece beriam o Esprito Santo em breve, e, sob a direo do Esprito, os apstolos pre cisam sair com o evangelho para todas as regies geogrficas. Jesus deliberada mente delineou o mbito geogrfico do ministrio dos apstolos. Eles deviam comear em Jerusalm, e da sair para as regies subjacentes da Judia e Samria, onde a religio era mais irregular. Dessas reas, deviam ir at os confins da terra. A ordem de Jesus em Atos no diz especificamente que as testemunhas so enviadas aos gentios nas reas determi nadas. Pode-se interpretar a misso como sendo apenas para os judeus. A si tuao no a mesma, no Evangelho
  30. 30. de Mateus, onde Jesus, na Galilia, d, aos seus discpulos, a ordem para pregar e ensinar (28:18 e s.). Mas no h nada de ambguo nessa ordem. Jesus quis dar a entender definidamente os gentios. Embora o retrato, pintado em Atos, da igreja primitiva mostre um desejo lento e relutante para incluir os gentios na co munho, Lucas certamente sentia que a ordem de Jesus os indicava, tanto quan to os judeus. Depois que Jesus falou da vinda do Esprito, e lhes deu a ordem para pre gar o evangelho, atravs do mundo todo, a sua presena visvel afastou-se dos apstolos: ele foi levado para cima. Lu cas o nico escritor neotestamentrio que apresenta uma descrio desse acon tecimento; contudo, essa experincia mencionada em outros livros (I Ped. 3:22; Ef. 4:10; Col. 3:1; I Tim. 3:16; Heb. 4:14 e 9:24). Lucas evidentemente concebe este evento como algo de tre mendo significado entre a ressurreio e o Pentecostes. No Evangelho de Lucas, a ascenso parece ter acontecido em Betnia (24: 50), aldeia localizada cerca de dois qui lmetros de Jerusalm, na encosta orien tal do Monte das Oliveiras. Esta era a cidade natal de Lzaro, Maria e Marta, que foram pessoas de destaque no quarto Evangelho. Em Atos, a localizao no mencionada, mas presumimos que foi o Monte das Oliveiras, porque o autor diz que os apstolos voltaram a Jerusalm do Monte das Oliveiras, depois da ascenso (v. 12). O Monte das Oliveiras ficava a leste de Jerusalm. Foi ali, na vspera da crucificao, que Jesus agonizou em ora o. Desde os dias de Zacarias, o Monte das Oliveiras estava associado, de algu ma forma, com as expectativas messi nicas (14:3 e ss.). Uma tradio rab- nica declarava que a ressurreio dos judeus ocorreria atravs de uma fenda no Monte das Oliveiras. De acordo com Lucas, Jesus foi levado para cima... e uma nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos. A nfase se exerce no desapa recimento de Jesus. No Velho Testamen to, uma nuvem significava a presena de Deus. Este o significado da nuvem na cena da transfigurao (Luc. 9:34 e ss. e paralelos). Em Daniel, o Filho do ho mem vem nas nuvens do cu (7:13). Quando Jesus compareceu diante do su mo sacerdote, no dia da crucificao, o sumo sacerdote perguntou-lhe se ele era o Messias. Jesus replicou: Eu o sou; e vereis o Filho do homem assentado direita do Poder e vindo com as nuvens do cu (Mar. 14:62). Aparentemente, na cena da ascenso, a nuvem simboliza a presena de Deus naquele ato de exal tao de Jesus. Depois que Jesus afastou-se, os aps tolos ficaram com os olhos fitos no cu, procurando ter um outro vislumbre dele. A sua admirao sofre uma interrupo brusca com o aparecimento de dois emis srios anglicos. Os dois vares vestidos de branco, possivelmente os mesmos que haviam dito s mulheres que Jesus res suscitara (Luc. 24:4 e s.), repreenderam os apstolos desanimados e ministraram- lhes esperanas. Eles asseguraram, aos apstolos, que Jesus voltaria, mas que no tinha sentido ficarem extasiados diante de maravilhas. 3) No Cenculo (1:12-14) 12 E nto voltaram p a ra Jeru salm , do monte cham ado das O liveiras, que est p e r to de Jerusalm , distncia d a jornada de um sbado. 13 E , entrando, subiram ao cenculo, onde perm aneciam P edro e Joo, Tiago e Andr, Filipe e Tom , B artolom eu e M ateus; Tiago, filho de Alfeu, Sim o, o Zelote, e Judas, filho de Tiago. 14 Todos estes perseveravam unanim em ente em o ra o, com as m ulheres, e M aria, m e de Jesus, e com os irm os dele. Com a ascenso, o ltimo contato vi svel com Jesus chega ao fim. Embora os apstolos confiassem na sabedoria de Jesus, deve ter sido extremamente dif cil para eles entenderem por que era para o bem deles que ele precisava partir. Contudo, eles no ficaram to pertur
  31. 31. bados como por ocasio da crucificao. Agora eles compreendiam que Jesus ti nha o poder da vida e da morte. Conse qentemente, eles podiam esperar pa cientemente o ato criativo seguinte de Deus. Os apstolos voltaram para Jerusalm. Lucas apresenta uma nota editorial, ao dizer que a distncia do Monte das Oli veiras a Jerusalm era a da jornada de um sbado. Se ele estava fazendo isso para dar-nos a entender que o evento ocorreu no sbado, no o sabemos. Quando os apstolos chegaram a Jerusa lm, dirigiram-se a um cenculo. Seria esse o cenculo em que Jesus comeu a sua ltima ceia com os discpulos? Seria a casa de Maria, me de Joo Marcos, que mais tarde se tornou um dos lugares de adorao para os cristos primitivos (12: 12)? No temos evidncias que especifi quem de quem era essa casa, .mas ela devia estabelecer alguma associao com Jesus, em sua refeio de despedida. Os que compunham o grupo que se encontrava no cenculo eram os onze apstolos, as mulheres, Maria, me de Jesus, e os irmos de Jesus. A lista dos apstolos idntica do Evangelho de Lucas (6:13-16), exceto que a ordem mudada, e, claro, Judas Iscariotes omitido. As mulheres no so identificadas. Po diam ser as mulheres que acompanha ram Jesus desde a Galilia (Mar. 15:40; 16:1; Mat. 27:56; Joo 19:25; e Luc. 23:55; 24:10). Se assim foi, sabemos que elas eram Maria Madalena, a outra Ma ria, Salom, Joana, Suzana, e outras. Elas foram as que testemunharam em primeiro lugar que o tmulo estava vazio e levaram as boas-novas, aos apstolos, de que Jesus ressuscitara dentre os mor tos. tambm bem provvel que as mu lheres fossem as esposas dos apstolos. Nada h na estrutura gramatical que exclua esta sugesto como possvel. A classificao final dos que constitu am o grupo que se encontrava no ce nculo inclui os parentes de Jesus: Ma ria, me de Jesus, e com os irmos dele. Maria no mencionada em nenhum outro lugar em Atos. Os irmos de Jesus tambm se encontraram com os apsto los. Durante o ministrio de Jesus, fica mos sabendo muito pouco a respeito de sua famlia. Marcos nos revela os nomes dos seus irmos (6:3). Eram Tiago, Ju das, Jos e Simo. Marcos tambm faz- nos saber que Jesus tinha irms. O autor do quarto Evangelho torna bem claro que os irmos de Jesus naquela poca no criam nele (7:5). Paulo, ao rela cionar as manifestaes de Jesus em sua correspondncia com a igreja em Corin to, disse que uma dessas aparies foi a Tiago (I Cor. 15:7). Tiago o nico irmo de Jesus que se nos apresenta por nome em Atos. No se passou muito tempo depois do comeo da igreja primi tiva, quando ele se tomou o lder, e, durante certo tempo, tornou-se mais im portante e significativo do que os aps tolos. Eram Tiago, Judas, Jos e Simo ir mos verdadeiros de Jesus? Essa interro gao foi levantada no comeo do ter ceiro sculo, mas no se tomou proble ma de controvrsia antes do quarto s culo. A essa altura, trs opinies se le vantaram. Epifnio dizia que os irmos eram filhos de Jos, atravs de uma esposa anterior. Jernimo, que foi res ponsvel pela traduo latina da Bblia, conhecida como a Vulgata, argumenta va que os irmos, na verdade, eram pri mos de Jesus. Helvdio, cristo romano e oponente de Jernimo, aceit