1. Volume 10 ComentrioBblicoBroadman Emanuence Digital e
Mazinho
2. Comentrio Bblico Broadman Volume 10 Atos -1Corntios TRADUO
DE ADIEL ALMEIDA DE OLIVEIRA
3. Todos os direitos reservados. Copyright 1984 da Junta de
Educao Religiosa e Publi caesda ConvenoBatista Brasileira.
Direitoscedidos, mediante contrato, por Broadman Press, Nashville,
Tennessee, USA. Copyright 1969 by Broadman Press. Allen, Clifton
J., ed. ger. A425c Comentrio Bblico Broadman/Editado por Clifton J.
Alien. Traduo de Adiei Almeida de Oliveira. 3. ed. Rio de Janeiro:
JUERP, 1994. v. 10. 464p. 23 cm. Titulo Original: The Broadman
Bible Commentary 1. Bblia Novo Testamento Comentrios. 2. Novo
Testamento Comentrios. I. Titulo CDD 220.7 Coordenao Editorial
Josemar de Souza Pinto Edio de Arte Nilca Pinheiro Capas Valter
Karklis ISBN 85-350-0040-2 Cdigo para pedidos: 216033 Junta de
Educao Religiosa e Publicaes da Conveno Batista Brasileira Caixa
Pstal 320 CEP: 20001-970 Rua Silva Vale, 781 Cavalcnti CEP:
21370-360 Rio de Janeiro, RJ Brasil 3.000/1994 Impresso em grficas
prprias.
4. COMENTRIO BBLICO BROADMAN Volume 10 Junta Editorial EDITOR
GERAL Clifton J. Alien, Ex-Secretrio Editorial da Junta de Escolas
Dominicais da Conveno Batista do Sul, Nashville, Tennessee, Estados
Unidos. Editores Consultores do Velho Testamento John I. Durham,
Professor Associado de Interpretao do Velho Testamen to e
Administrador Adjunto do Presidente do Seminrio Batista do Sudoes
te, Wake Forest, North Carolina, Estados Unidos. Roy L. Honeycutt
Jr., Professor de Velho Testamento e Hebraico, Semin rio Batista do
Centro-Oeste, Kansas City, Missouri, Estados Unidos. Editores
Consultores do Novo Testamento J. W. MacGorman, Professor de Novo
Testamento, Seminrio Batista do Sudoeste, Forth Worth, Texas,
Estados Unidos. Frank Stagg, Professor de Novo Testamento da James
Buchanan Harrison, Seminrio Batista do Sul, Louisville, Kentucky,
Estados Unidos. CONSULTORES EDITORIAIS Howard P. Colson, Secretrio
Editorial, Junta de Escolas Dominicais da Conveno Batista do Sul,
Nashville, Tennessee, Estados Unidos. William J. Fallis, Editor
Chefe de Publicaes Gerais da Broadman Press, Nashville, Tennessee,
Estados Unidos. Joseph F. Green, Editor de Livros de Estudo Bblico
da Broadman Press, Nashville, Tennessee, Estados Unidos.
5. Prefcio O COMENTRIO BBLICO BROADMAN apresenta um estudo
bblico atualizado, dentro do contexto de uma f robusta na
autoridade, adequao e confiabilidade da Bblia como a Palavra de
Deus. Ele procura oferecer ajuda e orientao para o crente que est
disposto a empreender o estudo da Bblia como um alvo srio e
compensador. Desta forma, os seus editores definiram o escopo e
propsito do COMENTRIO, para produzir uma obra adequada s
necessidades do estudo bblico tanto de ministros como de leigos. As
descobertas da erudio bblica so apresentadas de forma que os
leitores sem instruo teolgica formal possam us-las em seu estudo da
Bblia. As notas de rodap e palavras so limitadas s informaes
essenciais. Os escritores foram cuidadosamente selecionados,
tomando-se em considerao sua reverente f crist e seu conhecimento
da verdade bblica. Tendo em mente as necessidades de leitores em
geral, os escritores apresentam informaes especiais acerca da
linguagem e da histria onde elas possam ajudar a esclarecer o
significado do texto. Eles enfrentam os problemas bblicos no apenas
quanto linguagem, mas quanto doutrina e tica porm evitam sutilezas
que tenham pouco a ver com o que devemos entender e aplicar da
Bblia. Eles expressam os seus pontos de vista e convices pessoais.
Ao mesmo tempo, apresentam opinies alternativas, quando estas so
esposadas por outros srios e bem-informados estudantes da Bblia. Os
pontos de vista apresentados, contudo, no podem ser considerados
como a posio oficial do editor. O COMENTRIO resultado de muitos
anos de planejamento e preparao. A Broadman Press comeou em 1958 a
explorar as necessidades e possibilidades deste trabalho. Naquele
ano, e de novo em 1959, lderes cristos especialmente pastores e
professores de seminrios se reuniram, para considerar se um novo
comentrio era necessrio e que forma deveria ter. Como resultado
dessas deliberaes, em 1961, a junta de consultores que dirige a
Editora autorizou a publicao de um comentrio em vrios volumes.
Maiores planejamentos levaram, em 1966, escolha de um editor geral
e de uma Junta Consultiva. Esta junta de pastores, professores e
lderes denominacionais reuniu-se em setembro de 1966, revendo os
planos preliminares e fazendo definidas recomendaes, que foram
cumpridas medida que o COMENTRIO se foi desenvolvendo. No comeo de
1967, quatro editores consultores foram escolhidos, dois para o
Velho Testamento e dois para o Novo Testamento. Sob a direo do
editor geral, esses homens trabalharam com a Broadman Press e seu
pessoal, a fim de planejar o COMENTRIO detalhadamente. Participaram
plenamente na escolha dos
6. escritores e na avaliao dos manuscritos. Deram generosamente
do seu tempo e esforos, fazendo por merecer a mais alta estima e
gratido da parte dos funcionrios da Editora que trabalharam com
eles. A escolha da Verso da Imprensa Bblica Brasileira de acordo
com os melhores textos em hebraico e grego como a Bblia-texto para
o COMENTRIO foi feita obviamente. Surgiu da considerao cuidadosa de
possveis alternativas, que foram plenamente discutidas pelos
responsveis pelo Departamento de Publica es Gerais da Junta de
Educao Religiosa e Publicaes. Dada a fidelidade do texto aos
originais bem assim traduo de Almeida, amplamente difundida e amada
entre os evanglicos, a escolha justifica-se plenamente. Quando a
clareza assim o exigiu, foram mantidas as tradues alternativas
sugeridas pelos prprios autores dos comentrios. Atravs de todo o
COMENTRIO, o tratamento do texto bblico procura estabelecer uma
combinao equilibrada de exegese e exposio, reconhecendo abertamente
que a natureza dos vrios livros e o espao destinado a cada um deles
modificar adequadamente a aplicao desta abordagem. Os artigos
gerais que aparecem no Volume 8 tm o objetivo de prover material
subsidirio, para enriquecer o entendimento do leitor acerca da
natureza da Bblia. Focalizam-se nas implicaes do ensino bblico com
as reas de adorao, dever tico e misses mundiais da igreja. O
COMENTRIO evita padres teolgicos contemporneos e teorias mutveis.
Preocupa-se com as profundas realidades dos atos de Deus na vida
dos ho mens, a sua revelao em Cristo, o seu evangelho eterno e o
seu propsito para a redeno do mundo. Procura relacionar a palavra
de Deus na Escritura e na Palavra viva com as profundas
necessidades de pessoas e da humanidade, no mundo de Deus. Mediante
fiel interpretao da mensagem de Deus nas Escrituras, portanto, o
COMENTRIO procura refletir a inseparvel relao da verdade com a
vida, do significado com a experincia. O seu objetivo respirar a
atmosfera de relao com a vida. Procura expressar a relao dinmica
entre a verdade redentora e pessoas vivas. Possa ele servir como
forma pela qual os filhos de Deus ouviro com maior clareza o que
Deus Pai est-lhes dizendo.
7. Sumrio Atos T. C. Smith Introduo
............................................ Comentrio sobre o T
exto.................... Romanos Dale Moody Introduo
.............................................. Comentrio sobre o T
ex to ...................... I Corntios Raymond Bryan Brown
Introduo
................................................................
Comentrio sobre o T exto........................................
Emanuence Digital e Mazinho Rodrigues
8. Atos T. C. SMITH Introduo O nico livro do Novo Testamento
que procura fechar a lacuna entre os eventos registrados nos
Evangelhos e os desenvolvimentos posteriores da igreja primitiva
Atos dos Apstolos. A igreja crist contraiu uma grande dvida para
com o autor deste tratado. Sem o livro de Atos, a cortina da
obscuridade ainda permaneceria, e no conseguiramos ver a atividade
que se exercia na comunida de crist imediatamente depois da morte,
sepultamento e ressurreio de Jesus. Este livro continua a ser a
nossa prin cipal fonte de informaes acerca da vida da igreja
primitiva, apesar de ser incompleto. Embora seja possvel que usemos
os materiais histricos constantes das epstolas de Paulo e dos
outros do cumentos neotestamentrios, para re construir uma espcie
de seqncia de acontecimentos da era apostlica, esse af seria muito
mais incompleto do que os Atos dos Apstolos. Tradicionalmente, este
livro ostenta o ttulo usual de Atos, ou Atos dos Aps tolos. Esta
tradio remonta a Irineu, Bispo de Lio, na Glia, na ltima parte do
segundo sculo d.C. O autor deste Evto tambm escreveu o terceiro
Evange lho, e o destinatrio, em ambos os do cumentos, um certo
Tefilo. Original mente, o provvel que o autor no lenha colocado
ttulo em nenhum dos seus dois trabalhos. Ele provavelmente usava
nmeros para designar os seus es critos. O Evangelho era um volume
um, e os Atos dos Apstolos, o volume dois. Mais tarde, a igreja
separou os dois volumes e afixou os ttulos de Evangelho e Atos dos
Apstolos. O ttulo Atos dos Apstolos engano so, porque d a impresso
de apresentar a histria dos doze apstolos. O conte do do livro no
se centraliza ao redor dos doze, de forma alguma como indicare mos
mais tarde. Daqui em diante, refe- rir-nos-emos a este livro como
Atos. Muitos eruditos crem que os proble mas literrios e histricos
de Atos so provavelmente mais numerosos do que os dos outros livros
do Novo Testamento. Durante o sculo XIX, muitos desses problemas
foram enfatizados indevida mente, e Atos sofreu nas mos de erudi
tos crticos e negativos. Hoje em dia, os estudiosos do Novo
Testamento reavivaram o seu interesse neste livro. Devemos, atravs
dos inten sivos estudos que eles fizeram, tirar gran de proveito
das suas contribuies posi tivas. I. O Autor Desde os tempos de
Irineu, parece que a tradio tem sido unnime em decla rar que Lucas,
o mdico amado e com panheiro de viagens de Paulo, o autor do
terceiro Evangelho e de Atos. Se a evidncia no fosse
suficientemente forte para associar Lucas com esta obra em dois
volumes, seria muito improvvel que Irineu, Tertuliano e outros
tivessem apre sentado o seu nome como candidato fa vorvel. Baseando
o seu critrio de auto ria na apostolicidade, antes que um livro
pudesse ser includo entre os escritos sagrados da literatura crist,
as proba
9. bilidades eram contra a sua aceitao. Lucas no era apstolo e
nem mesmo seguidor de um apstolo, de acordo com a classificao
deles. Para eles, Paulo era apenas um seguidor dos apstolos, e no
possua a mesma autoridade que os doze. Certamente, se a tradio no
fosse de inteira confiana, Irineu e Tertuliano teriam sugerido como
autor uma pessoa que fosse mais significativa que Lucas. Ser que
existe a possibilidade de ligar Lucas com Atos, mediante um exame
do prprio documento? O seu nome no aparece uma s vez no documento.
Con tudo, notrio que o autor usa a pri meira pessoa do plural em
vrios cap tulos. Estas partes so conhecidas como as sees ns
(16:10-17; 20:5-15; 21:1- 18; 27:1-28:16). Estas sees indicam que o
autor era companheiro de viagens de Paulo, a no ser que o uso da
primeira pessoa seja meramente uma conveno literria. Se dissermos
que esta evidncia inter na sustenta a autoria por um compa nheiro
de viagem de Paulo, quem essa pessoa? Vrias podiam qualificar-se
para tal. Entre os que poderamos incluir nu ma lista estariam
Silas, Timteo, Segun do, Gaio, Tquico, Trfimo, Spater e Aristarco.
Todas estas pessoas aparecem em Atos. Alm desses, Paulo, em suas
epstolas, inclui Tito, Lucas, Demas, e Crescente. Visto que as sees
ns comeam em Troas, na segunda viagem missionria de Paulo, e apenas
Silas e Timteo estavam com Paulo, este fato exclui a maioria dos
seus companheiros de viagem. A presuno que o autor no queria fazer
meno de si mesmo, ao registrar as jornadas de Paulo. Se este o
caso, temos, ento, apenas Demas, Tito, Cres cente e Lucas a
considerar. Paulo men ciona Tito freqentemente, em suas eps tolas.
Tito foi com Paulo e Barnab igreja de Jerusalm (Gl. 2:1) e foi
repre sentante de Paulo para resolver algumas das dificuldades da
igreja em Corinto (II Cor. 2:13; 8:16; 12:18). Alm do mais, temos,
em o Novo Testamento, uma carta de Paulo a Tito, embora esta no
seja aceita por todos os eruditos modernos como uma genuna epstola
de Paulo. Dos outros trs companheiros de tra balho de Paulo, Lucas
parece ser o mais aceitvel. Demas desertou de Paulo, e Crescente
mencionado apenas uma vez (II Tim. 4:10). Lucas chama a nossa ateno
em duas epstolas genunas de Paulo (Col. 4:14 e Filem. 24), e tambm
em um fragmento de II Timteo 4:11. bem possvel que Lucas fosse o
homem designado na correspondncia aos corn- tios como o irmo cujo
louvor no evan gelho se tem espalhado por todas as igrejas (II Cor.
8:18). Parece que a nossa escolha, basean do-se nas evidncias
internas, deve ser feita entre Tito e Lucas. Ambos estavam
intimamente associados com Paulo, e ambos poderiam ter escrito o ns
, nas sees mencionadas, no livro de Atos. Se podemos presumir que a
profisso de uma pessoa se entremostre atravs dos seus escritos,
devemos procurar termos mdicos no terceiro Evangelho e em Atos,
para verificar a autoria de Lucas. A ra zo pela qual dizemos isto
que Paulo chamou Lucas de mdico. Em 1882, W. K. Hobart (p. 4 e
ss.), depois de um extenso estudo comparati vo do vocabulrio de
Lucas com a lin guagem dos mdicos gregos, chegou concluso de que o
Evangelho de Lucas e Atos deixam trair uma familiaridade com a
terminologia tcnica mdica. Para um grande nmero de competentes eru
ditos neotestamentrios, o estudo de Ho bart no deixa dvidas quanto
profis so do autor destas duas obras. H. J. Cadbury (The Beginnings
of Christiani- ty, II, p. 349 e ss.), rejeitou a defensa- bilidade
da metodologia de Hobart, mos trando que no havia nada, no vocabu
lrio do Evangelho e de Atos, que qual quer escritor de literatura
grega no iria usar, embora no fosse versado na termi nologia
profissional da medicina. Comu-
10. mente, como Cadbury o v, bem como os outros eruditos, no se
pode estabelecer nestas bases a autoria desses livros como sendo de
Lucas. Se formos deixados com uma escolha entre Tito e Lucas,
parece que Lucas a opo lgica, porque a tradio eclesis tica nunca
associou Tito com essa obra em dois volumes. Se, todavia, Lucas o
autor, outro problema se nos apresenta. Como podemos conciliar as
diferenas entre o Paulo de Atos e o Paulo das epstolas? As
principais distines da teologia de Paulo no vm tona nos discursos
atribudos a ele em Atos. Alm do mais, os materiais biogrficos
concer nentes a Paulo, em Atos, nem sempre coincidem com as
informaes contidas nas suas epstolas. Estas divergncias levaram
alguns estudiosos a sugerir que as sees do ns, em Atos, so os nicos
materiais oriundos de Lucas. Ar gumentam eles que o autor de Atos
coli giu o material jornalstico em forma de dirio, escrito por
Lucas, e adicionou a ele o resto das narrativas acerca de Pau lo,
mais os primeiros captulos de Atos. Pesquisa recente acerca de Atos
no se focaliza tanto na sua autoria e data em que foi escrito,
tanto quanto no estilo literrio e na teologia do livro. Um gran de
nmero de estudiosos aceita a tradi o de que o seu autor foi Lucas,
mas h alguns que o contestam fortemente. luz de evidncias
ponderosas, e visto que ningum apresentou outro autor que seja mais
aceitvel do que Lucas, presu miremos que ele o escritor de Atos. O
que sabemos ns acerca do autor? Paulo disse que ele era um seu
compa nheiro, e mdico. Na sua carta igreja em Colossos, Paulo
relacionou Aristarco, Marcos e Justo como cooperadores da
circunciso. Com isso, ele queria dizer que havia cristos judeus
(4:10,11). Ele continuou, apresentando Epafras, Lucas e Demas
(4:12-14), e, desta forma, pa rece classific-los como cristos
gentios. Disto conclumos que Lucas devia ser um convertido gentio.
Embora possam no ser de muita con fiana, informaes ulteriores
acerca de Lucas nos vm do Prlogo falsamente chamado antimarcionita
ao Evan gelho de Lucas. Este prlogo foi datado tanto antes quanto
depois da poca de Irineu. Provavelmente, ele foi escrito de pois da
poca de Irineu. Neste prlogo, ficamos sabendo que Lucas era mdico e
era oriundo de Antioquia da Sria. Durante certo perodo, ele fora
discpulo dos apstolos, e, mais tarde, tornou-se companheiro de
viagem de Paulo, e acompanhou-o at o martrio. O do cumento continua
dizendo que Lucas escreveu o terceiro Evangelho e Atos. Ele era
celibatrio e morreu na Becia, com a idade de 84 anos. Lucas
contribuiu com mais de 25 por cento do Novo Testamento. O Evangelho
de Lucas e Atos so maiores em volume do que as epstolas de Paulo,
incluindo- se as epstolas pastorais. Como ficaria empobrecido o
Novo Testamento, sem a contribuio deste homem! II. A Data Datar o
livro de Atos um problema to melindroso como a sua autoria. V rias
teorias tm sido sugeridas, variando de uma data primitiva, antes da
destrui o de Jerusalm em 70 d.C., at o ano 130, no segundo sculo.
Os que apoiam a data prxima a 62 d.C. fazem-no porque o livro contm
apenas informaes de eventos anteriores a 60 ou 61, o que nos leva
ao trmino do perodo de confinamento de Paulo du rante dois anos em
Roma. No se faz referncia ao martrio de Paulo e Pedro, ou perseguio
movida por Nero em 64. O livro silencia tambm a respeito do martrio
de Tiago, irmo de Jesus, em 62. Alm disso, argumentam eles que no
se faz aluso queda de Jerusalm no ano 70, catstrofe que nenhum es
critor deixaria de notar. Os advogados de uma data primi tiva
acreditam que uma apologia de Paulo e da comunidade crist era
abso-
11. lutamente essencial naquela poca. Por conseguinte, da
maneira como eles vem o assunto, o livro de Atos teve mais
importncia para os cristos antes de 70 d.C. do que depois desse
perodo. Mas como que eles explicam as referncias especficas, feitas
no Evan gelho de Lucas, destruio de Jerusa lm (21:20 e ss. e 23:27
e ss.), referncias que so julgadas por muitos eruditos como aluses
destruio de Jerusalm como fato j ocorrido? Afinal de contas, o
Evangelho de Lucas foi escrito antes de Atos. Em resposta a isto,
eles propem uma reviso do Evangelho de Lucas em perodo posterior,
quando j se sabia do cerco de Jerusalm. Algumas pessoas que
criticam a data anterior discutem que Lucas estava ape nas
interessado em descrever a dissemi nao do cristianismo de Jerusalm
a Roma, e que ele no achou necessrio relatar a morte de Paulo.
Outros dizem que Lucas pensava escrever um terceiro volume, em que
planejava continuar a histria do movimento cristo, ou que ele
escreveu esse volume, mas saiu de cir culao. Alguns poucos
oponentes da data mais antiga mostram que havia razes para uma
apologia do movimento cristo depois do ano 70, tanto quanto antes.
Isto verdade, se lembrarmos que durante o reinado de Domiciano
(81-96 d.C.), ocorreu uma perseguio ainda mais severa contra os
cristos. impossvel determinar uma data para Atos, sem fazer-se
referncia ao terceiro Evangelho. Este Evangelho foi o primeiro
tratado endereado a Tefilo. Lucas, no prefcio ao Evangelho, indica
que tinha acesso a outras fontes. Uma dessas fontes era o Evangelho
de Marcos. Outra era a base para as palavras de Jesus registradas
no Evangelho de Lucas, bem como no Evangelho de Mateus. Comumente
nos referimos a esta fonte como Q. Lucas tambm tinha material que
era peculiar ao seu Evangelho, e isto podia vir de fontes escritas
ou orais. Data-se Marcos, geralmente, entre 65 e 70 d.C. Se se
aceita 62 d.C. como a data em que o livro de Atos foi escrito, a
data do Evangelho de Lucas deve ter sido cerca de 60 d.C. Isto quer
dizer que Marcos comps o seu Evangelho em cer ca de 58 d.C., o mais
tardar. Da maneira como a vejo, tal data primitiva demais para
Marcos. A evidncia decisiva para se datar Atos depois de 70 d.C.
vem da aparente trans formao, feita por Lucas, do discurso
apocalptico de Jesus, no captulo 13 de Marcos, em uma profecia de
julgamento sobre Jerusalm. O autor transformou a mensagem com
conhecimento do cerco e da destruio de Jerusalm em 70 d.C. (Luc.
21:20-24). De maneira semelhante, a predio de Jesus durante a sua
entra da triunfal em Jerusalm se enquadra na mesma descrio (Luc.
19:43 e ss.). Co mo poderia Lucas apresentar uma des crio to clara,
a no ser que tivesse conhecimento do acontecimento, por ter
ocorrido? Admitimos, contudo, que al guns eruditos, baseando-se em
fatos que para eles so convincentes, acham que um ponto de vista
preditivo desses acon tecimentos mais convincente e satisfa trio do
que o ponto de vista histrico. Se o Evangelho de Lucas foi escrito
depois de 70 d.C., em que data isso coloca Atos? De acordo com os
argumen tos exarados por Edgar Goodspeed, para a poca em que as
epstolas de Paulo foram coligidas e comearam a circular, a data
mais posterior 90 d.C. Depois desta data, Lucas certamente teria em
mos as epstolas de Paulo, e o retrato que ele pinta de Paulo, em
Atos, teria estado mais em harmonia com as refe rncias que Paulo
fez a si mesmo. O fato de que ele no podia lanar mo das epstolas
pode ter sido a causa para as divergncias aparentes entre Atos e as
epstolas paulinas em relao vida e teologia de Paulo. razoavelmente
segu ro presumir-se uma data entre 80 e 90 d.C. Supomos que cada
ano depois de 85 se toma uma data de menos confiabili dade, visto
que Lucas era companheiro
12. de viagem de Paulo, e precisamos levar em conta a sua
idade. III. Fontes Dado o fato de que Lucas o autor de Atos,
segue-se, naturalmente, que gran de parte das informaes registradas
so de primeira mo. Isto se d devido ao relacionamento pessoal de
Lucas com Paulo. Se ele no estava presente com Paulo em todas as
ocasies, teve a opor tunidade de interrog-lo acerca de acon
tecimentos que ocorreram na sua ausn cia. Portanto, para grande
parte da sua obra, Lucas podia contar com o seu conhecimento
pessoal do que escreveu. No obstante, para grande parte dos
primeiros quinze captulos, evidente que ele dependeu de outras
fontes. J observamos que Lucas usou pelo menos trs fontes para
escrever o seu Evangelho. No prefcio desse documen to, ele
referiu-se a outras narrativas que haviam sido compiladas. Podemos
pre sumir que ele no limitou esse prefcio ao primeiro volume, mas
tinha a inten o de que ele dissesse respeito tambm ao segundo
volume. Visto que Lucas usou fontes escritas para escrever o seu
Evangelho, parece vlido sugerir que fez o mesmo para escrever os
Atos. As fontes para a compilao de Atos centralizam-se em trs
divises do livro. A primeira parte se compe dos primei ros quinze
captulos. A parte seguinte toma a classificao das sees ns , s quais
j nos referimos. As sees ns aparecem em vrios captulos, comean do
com o captulo 16, e continuando at o ltimo captulo. A terceira
parte o material de narrativa, acerca de Paulo, que une as sees ns
. Esta se inicia no captulo 16 e vai at o 28. Quais so as possveis
fontes para os captulos 1 a 15 de Atos? Ser que Lucas tinha sua
disposio um ou mais do cumentos escritos? C. C. Torrey (p. 3 e ss.)
apresenta a hiptese de que Lucas se aproveitou de um s documento
aramai- co, que traduziu e desenvolveu, para tomar-se nos primeiros
quinze captulos de Atos. Ele cria que tal documento emanara de
Jerusalm, de algum que estava interessado na misso universal do
cristianismo. Esse hipottico escritor de Jerusalm pretendia
demonstrar como Antioquia se tomara o primeiro centro gentlico da
igreja primitiva. Torrey da tou esse documento em cerca de 49 ou 50
d.C. Ele argumentou que esta parte de Atos chegou s mos de Lucas
logo depois de sua chegada a Roma, em cerca de 62 d.C. Dois anos
mais tarde ele adicionou esse documento a Atos, como uma seqncia ao
seu Evangelho. De acordo com Torrey, o autor comeou, na verdade, a
escrever a partir de Atos 15:36. Dado o fato de que os primeiros
quinze captulos de Atos tm um colorido ara- maico, no h prova
suficiente de que essa parte tenha tido por detrs um do cumento
aramaico, do qual foi feita uma traduo. Um especialista aramaico co
mo Matthew Black1 descarta a possibi lidade de uma traduo direta de
uma fonte que tal. As paridades que ocorrem nos captulos 2 e 4
parecem estabelecer um paralelo entre fontes escritas e orais, em
vez de se tratar de um s documento ou tradio oral. Mais popular,
entre os estudiosos do Novo Testamento, tem sido a teoria de Adolf
Hamack (p. 162-202), focalizada em materiais representados por
vrias localidades. Embora no haja base para fontes escritas
provindas de vrias tradi es locais, estas poderiam ser transmi
tidas oralmente. Harnack descobriu as seguintes fontes: 1. Fonte de
Jerusalm A: 3:1-5:16 o relato de Pedro curando um homem no Templo,
o sermo de Pedro, o primeiro choque com o judasmo e uma viso da
vida na comunidade crist. 1 Matthew Black. An Aramaic Approach to
the Gospels and Acts (Oxford: Clarendon, 1946), p. 1-12.
13. 2. Fonte de Jerusalm B: 1:6-2:47; 5:17-42 ascenso, a
escolha de um apstolo para suceder Judas, o dom do Esprito Santo no
dia de Pentecostes, o sermo de Pedro e seus resultados, o comeo da
vida comunitria, e o segundo choque com ojudasmo. 3. Fonte de
Jerusalm-Cesara: 8:5- 40; 9:31-11:18; 12:1-24 a atividade de
Filipe, Pedro em Samria, Lida, Jope e Cesaria, e a perseguio dos
cristos no governo de Herodes Agripa I. 4. Fonte de Antioquia:
6:l-8:4; 11:19- 30; 12:25-15:35 a indicao dos sete, a histria de
Estvo, a fundao da igreja em Antioquia; a misso de Paulo e Bar- nab
a Chipre e Galcia, o Conclio de Jerusalm, e Paulo e Bamab em Antio
quia. 5. Fonte Paulina: 9:1-30 a expe rincia de Paulo no caminho de
Damas co. F. J. Foakes-Jackson e Kirsopp Lake (The Begnnlngs of
Christianity, II, 152), ao contrrio de Hamack, ligam as fontes de
Atos a indivduos como Pedro, Filipe e Joo Marcos. Embora admitam
que as tradies possam desenvolver-se ao redor de lugares, bem como
ao redor de pes soas, na questo das fontes em relao a Atos, eles
parecem preferir pessoas. Quer aceitemos indivduos, quer
localidades, como portadores da tradio da igreja primitiva,
permanece a possibilidade de que as fontes dos primeiros quinze cap
tulos de Atos tenham sido orais, e no escritas. Para mencionar
certas referncias his tricas que Lucas inclui em Atos, alguns
estudiosos do passado contendiam que as obras de Josefo
Antiguidades dos Judeus e Guerras dos Judeus deviam ser
relacionadas entre as fontes do autor. Quando os apstolos
apareceram diante do Sindrio, Gamaliel falou e usou como ilustraes
dois inconfidentes do passa do: Teudas e Judas, o galileu (At. 5:33
e ss.). No provvel que Lucas tenha dependido de Josefo para obter
infor maes acerca desses dois homens. Ele no diz o suficiente para
indicar que havia lido materiais acerca deles; e, alm disso, ele no
os relaciona em ordem cronolgica. Para algumas pessoas, o incidente
em Atos 21:38 se apresenta como uma ci tao de Josefo. Cludio Lsias,
governa dor romano em Jerusalm, confundiu Paulo com o egpcio que
havia instigado uma revolta e levado quatro mil assas sinos para o
deserto. Josefo relatara esse incidente, que ocorreu no tempo de F-
lix, o procurador, mas ele mencionou um grupo muito maior de
homens. Outra referncia uma descrio da morte de Herodes Agripa I
(At. 12:21 e ss.). Aqui, de novo, h alguma diferena entre o relato
de Josefo e o de Lucas. IV. O Propsito Mais divergente do que as
teorias acer ca da autoria e das fontes, so os pontos de vista
esposados em relao ao prop sito, ao objetivo de Atos. O objetivo ,
provavelmente, mais importante, embo ra seja o mais difcil de se
descobrir. Qualquer tentativa para se descobrir o intento do autor
deve dar a devida consi derao ao Evangelho de Lucas e a Atos. O
destinatrio de ambos um homem chamado Tefilo. Se presumirmos que o
prefcio do Evangelho tambm diz res peito a Atos, Lucas escreveu
para que Tefilo pudesse conhecer com exatido as coisas em que havia
sido instrudo. Quem era Tefilo? Seria ele uma pes soa real, ou ser
que o seu nome, que significa amigo de Deus, sugere qual quer
leitor que confessasse f em Jesus Cristo? Excelentssimo, a designao
aposta ao seu nome, em Lucas, era a palavra grega que se usava para
diri- gir-se a algum de posio oficial eleva da. A palavra aparece
trs vezes em Atos (23:26; 24:3; e 26:25). Na carta de Cludio Lsias
e no discurso de Trtulo, o procurador Flix designado como
excelentssimo . Paulo, em resposta a Flix, dirige-se a ele da mesma
forma.
14. O uso deste ttulo parece confirmar a crena de que Tefilo
era uma pessoa real. O verbo grego katech, usado por Lu cas no
prefcio do seu Evangelho, era a palavra adotada, por cristos de
poca posterior, para descrever instruo dada a uma pessoa que
abraasse a f crist. Desta forma, Lucas a aplica a polo (At. 18:25).
Contudo, esta palavra pode ser aplicada para indicar falsas informa
es, como no caso dos inimigos de Paulo (At. 21:21,24). No seu
prefcio, Lucas tambm usou a palavra asphaleia, que significa
certeza. No obstante, em Atos notamos que certeza pode ser
relacionada com investigaes oficiais (21:34 e 22:30). No impossvel
conceber-se Tefilo como pessoa que havia recebido alguma instruo
acerca da f crist. Todavia, aparentemente, faltava-lhe algo, no en
tendimento do cristianismo, que Lucas pretendia suprir. Que
deficincia era essa coisa que est alm de uma resposta simples e
pronta. Ao tentar descobrir o propsito de Atos, esta pergunta deve
ser de grande importncia, em nosso racioc nio, se chegamos uma
concluso que seja em qualquer sentido satisfatria. essencial que
consideremos outra ques to, que igualmente importante. Ser que
Lucas escreveu essa obra em dois volumes, o Evangelho e Atos, para
uma s pessoa, ou ser que ele tinha em mente um pblico mais amplo?
Agradvel a muitas pessoas a noo de que Lucas escreveu Atos a fim de
apresentar um relato do que os apsto los fizeram. Esta opinio no
gerada de cuidadosa reflexo, mas, pelo contrrio, de um dos ttulos
tradicionais do livro, que era Atos dos Apstolos. Um exame do livro
revela bem pouco acerca dos apstolos com a exceo de Pedro. Matias,
depois da sua eleio para assu mir o lugar de Judas Iscariotes, no
apa rece m qualquer outro lugar em Atos. Pedro e Joo parecem
exercer um papel mais proeminente nos primrdios da co munidade
crist. Aproximadamente um tero de Atos apresenta a atividade de
Pedro. No captulo 12, Herodes Agripa I mandou matar Tiago, irmo de
Joo. Fora esses quatro mencionados em cone xo com algum
acontecimento, o restante dos doze no entra na narrativa, a no ser
na lista no comeo do livro (1:13). Pelo menos a metade de Atos
focaliza as luzes em Paulo. Embora ele seja chama do, por Lucas, de
apstolo, ele ostenta esse ttulo em seu significado mais am plo.
Algumas pessoas, que advogam uma data anterior para a composio de
Atos, argumentam que Lucas escreveu os seus dois volumes como
defesa para Paulo, em seujulgamento diante de Nero Csar. Isto
significa que toda a pesquisa exaus tiva do autor foi somente com o
objetivo de fornecer a Tefilo, suposto defensor de Paulo, uma smula
dos antecedentes para a causa da defesa. Pode-se questio nar se um
oficial romano estaria interes sado em ler documentos to extensos,
a fim de obter elementos que fossem im portantes nojulgamento de
Paulo. Visto que o Esprito Santo o poder dominante em Atos, tanto
em indivduos como na vida comunitria dos cristos primitivos, h
algum que chamaria este livro de Evangelho do Esprito Santo. Na
verdade, o Esprito Santo central no livro, e responsvel pela
disseminao do cristianismo. No obstante, dificil mente
concordaramos que o objetivo de Lucas foi escrever um Evangelho do
Es prito Santo, como seqncia para o Evangelho de Jesus Cristo. Isto
verda deiro, especialmente quando considera mos que o autor no
mencionou o Es prito Santo em onze captulos do do cumento.
Igualmente indefensvel a teoria de que Lucas escreveu para mostrar
a ex panso geogrfica do cristianismo. Na verdade, o livro se inicia
com uma comis so exarada pelo Jesus ressuscitado aos apstolos, para
que eles fossem teste munhas em Jerusalm, em toda a Judia,
15. em Samria e at os confins da terra. Alm disso, est claro
que o autor desen volve a sua narrativa ao longo das linhas desse
arcabouo geogrfico. Mas, se dis sermos que este o nico desgnio do
autor, precisaremos atribuir neglign cia de Lucas a falta de
continuidade no relato da atividade missionria de Pedro, Filipe,
Barnab e Marcos, bem como da misso em outras regies geogrficas onde
igrejas foram estabelecidas. Se o interesse do autor se fixava na
dissemi nao geogrfica do movimento cristo, ele foi grandemente
seletivo quanto aos lugares includos. Frank Stagg (p. 12) props um
obje tivo muito interessante e plausvel para Atos. A sua tese que o
autor de Atos mostrou como o cristianismo triunfou, atravessando as
limitaes religiosas, ra ciais e nacionais que algumas pessoas na
comunidade crist primitiva tentaram impor-lhe. Ele dirige a nossa
ateno para o advrbio sem impedimento al gum , ltima palavra do
livro, e argu menta que essa expresso resume a men sagem do livro.
Na sua opinio, Lucas concluiu o segundo volume da sua obra com o
sentimento de que a batalha dura mente empreendida pela liberdade
do evangelho fora vencida. No deve ser descartado um propsito
apologtico de Atos. Quer seja quer no, o intento primordial de
Lucas, precisa mos admitir que uma grande parte do Evangelho de
Lucas e d Atos inclui nuanas de apologia. O argumento pare ce
mover-se em duas direes. O autor tenta mostrar que o cristianismo
tem suas razes no judasmo, e de fato su planta o judasmo, para
tomar-se o ver dadeiro Israel de Deus. Ele tambm pro cura provar
que os romanos nada tm a temer da misso da comunidade crist, porque
ela inocente de qualquer ativi dade sediciosa ou revolucionria no
sen tido terreno. Lucas comea o seu Evangelho com a anunciao, a
Zacarias, referente ao nas cimento de Joo Batista. Essa mensagem
lhe veio de Gabriel, enquanto ele estava oficiando no Templo. Os
pais de Jesus foram ao Templo para a purificao de Maria, realizando
os sacrifcios para isso necessrios. Com a idade de doze anos, Jesus
deixou admirados os rabis do Tem plo, devido sua compreenso de as
suntos religiosos. Foi Lucas que remode lou o discurso apocalptico
de Marcos 13, para fazer com que a predio de Jesus se referisse
destruio do Templo e de Jerusalm. Em Atos, a vinda do Esprito Santo
deu-se em conexo com a observncia de um dos importantes festivais
dos judeus. Pedro e os outros apstolos adoraram e ensinaram na rea
do Templo. Estvo foijulgado diante do Sindrio, porque os judeus
helnicos no podiam suster-se diante da sabedoria com que ele falava
na sinagoga, e forjaram acusaes contra ele. Em qualquer cidade em
que Paulo entrasse, durante as suas viagens missio nrias, ele
sempre costumava dirigir-se primeiramente sinagoga judaica. Quando
os judeus tentaram mat-lo, em Jerusalm, foi do Templo que o arras
taram. Estas e muitas outras referncias tendem a sugerir que Lucas
esforou-se ao mximo para demonstrar uma co nexo bsica entre o
judasmo e o cris tianismo. Se pudssemos perguntar a Lucas por que
os judeus rejeitaram Jesus, a sua resposta seria suficientemente
clara. Os judeus rejeitaram Jesus porque, para eles, era rotineiro
rejeitar a mensagem de Deus atravs dos profetas e mestres. A morte
de Jesus no tinha justificativas. Pncio Pilatos e Herodes Antipas
no puderam fazer nenhuma acusao de traio contra Jesus. Diante das
pres ses, eles enfraqueceram. A crucificao de Jesus, o
apedrejamento de Estvo e a perseguio dos outros foram, para Lucas,
provas de que os judeus deixaram escapar o privilgio de serem
chamados o verdadeiro Israel de Deus. O poder do Esprito de Deus
operando na comunida
16. de crist era prova suficiente de que ela havia-se tomado o
verdadeiro Israel. Alm dessas nuanas apologticas, para mostrar a
legitimidade da nova religio, em vrios pontos da sua narra tiva,
Lucas ilustra a inofensividade do movimento cristo. Nada h, na
estrutu ra do grupo, que indique algo subversivo, contra o governo
romano. Em todos os contatos com a oficiali dade romana, o
cristianismo mereceu um claro atestado de boa conduta. O julga
mento de Pncio Pilatos foi mais favo rvel a Jesus no Evangelho de
Lucas. Srgio Paulo, procnsul de Chipre, ouviu a mensagem de Paulo,
e abraou a f crist. Os magistrados de Filipos liberta ram Paulo e
Silas da priso, e pediram- lhes desculpas. O governantes de Tessa-
lnica dissuadiram a acusao de trai o contra Paulo e seus
companheiros de viagem, porque os acusadores no ti nham provas
suficientes. Glio, procn sul da Acaia, recusou-se a ouvir as acusa
es dos judeus contra Paulo, em Corin to, porque percebeu que elas
se rela cionavam aos assuntos da leijudaica. Quando Demtrio incitou
o povo de feso e arrastou Gaio e Aristarco, com panheiros de Paulo,
ao teatro, as autori dades tomaram o partido de Paulo e ro
garam-lhe que no entrasse no teatro. Eles eram oficiais romanos da
provncia da sia, que implementavam a adorao do imperador. Cludio
Lsias, coman dante da guarnio romana em Jerusa lm, em sua carta a
Flix, admitiu que no havia acusao verdadeira contra Paulo. Esta
inocncia de Paulo foi con firmada ulteriormente por Flix, e seu
sucessor Festo. Finalmente, quando Lu cas encerra o livro de Atos,
declara que Paulo estava em Roma havia dois anos. Ele podia ter
querido dizer algo especial, ao falar em dois anos. Estaria ele
usando esse perodo de tempo especfico em sen tido legal, para
indicar que o estatuto das limitaes havia-se esgotado? Se as sim ,
o sentido oculto que nenhum acusador apareceu para apresentar acu
saes contra Paulo diante de Nero C sar; desta forma, as acusaes de
sedio e traio caram por terra. No necessrio dizer-se que isto no
exaure a gama de objetivos que os eru ditos neotestamentrios
sugerem para o livro de Atos. Todavia, os que j consi deramos
exigem uma ateno mais cui dadosa do que os outros. Para encerrar a
discusso acerca do propsito de Atos, devemos nos confinar a um
desgnio s da parte do autor? Possivelmente, ape nas uns poucos
autores tm apenas um objetivo em mente, quando escrevem um livro.
Talvez isto seja aplicvel tambm a Lucas. Poderamos ns sugerir que
ele tinha mais de um objetivo ao escrever Atos? Se assim , vrios
dos relacionados acima podem ter alguma validade. H evidncias de um
objetivo apolo gtico. No deve ser ignorada a alegao de que Lucas
procurou mostrar a expan so geogrfica do cristianismo. Bem acei
tvel tambm a teoria de que o autor de Atos teve o intento de
relatar a histria da liberdade do evangelho, no ato de quebrar as
barreiras religiosas, raciais e nacionais. E bem provvel que o
objetivo de Lucas tenha tocado em todos estes mencionados. V.
Discursos em Atos Os discursos transcritos em Atos per fazem,
aproximadamente, um tero do livro. Seis deles foram pronunciados
por Pedro (1:16-22; 2:14-40; 3:12-26; 4:8-12; 10:34-43; 11:5-17) e
abrangem 76 vers culos. Poderamos acrescentar, a este nmero, mais
trs (4:19,20; 15:7-11; 4: 29,30) perfazendo um total de nove, mas
no provvel que estes ltimos trs tenham sido discursos propriamente
di tos. Lucas registra sete dos discursos de Paulo, e possivelmente
oito, se incluir mos a curta mensagem de Paulo aos judeus em Roma
(13:16-41; 14:15-17; 17:22-31; 20:18-35; 22:1-21; 24:10-21;
26:2-23; 28:17-28). Estes oito discursos perfazem 123 versculos. Se
acrescentar-
17. mos os discursos de Estvo, Tiago, De- mtrio, Trtulo e
outros, o nmero total de versculos ultrapassar ligeiramente os
trezentos. Qualquer pessoa que pesquise a teolo gia de Atos precisa
examinar os discursos do texto, como material de primeira li nha.
Como consideraremos esses discur sos? Ser que eles representam, em
sua maior parte, um padro de pregao b sica para as necessidades da
comunidade crist primitiva? Aceit-los-emos como relatos fiis das
pessoas que ouviram os oradores? Ser que Lucas criou essas
mensagens e as colocou na boca dos seus personagens? Os
historiadores antigos raramente tentavam registrar literalmente os
dis cursos que atribuam aos seus persona gens. Tucdides, que
escreveu na segun da metade do quinto sculo a.C., con fessou esta
prtica. Quando examinamos os discursos de Atos, percebemos
imediatamente um es tilo que inferior, por vezes, ao da narra tiva
do livro. Lucas no segue o costume de historiadores de sua poca, de
inserir oraes, a fim de exibir a sua capacidade retrica'. Outra
tendncia que havia entre os historiadores contemporneos, da qual
Lucas parece estar livre, era alongar um discurso, que, quando
pronunciado originalmente, podia ter sido bem curto. Mesmo o
discurso mais longo de Atos pode no representar tudo o que foi dito
na ocasio. Lucas parece resumir, em vez de expandir a mensagem.
Dificilmente ser razovel presumir que o autor de Atos relatou
literalmente o que foi dito em cada discurso que inseriu nesse seu
livro. Contudo, ao mes mo tempo, no devemos acusar Lucas de
inventar tudo o que colocou na boca dos seus personagens. Ele
possua materiais primitivos de pregaes feitas na igreja, que podia
usar para construir os ser mes. Talvez, ocasionalmente, a teolo gia
pessoal de Lucas pode deixar-se en trever em alguns dos discursos;
mas cre mos firmemente que ele tinha pleno co nhecimento do padro
de pregao da comunidade crist nos meados do pri meiro sculo d.C.
Haenchen, Dibelius e outros no consideraram todas as evidn cias,
quando disseram que os discursos dos primeiros captulos de Atos
repre sentam a pregao da igreja no fim do primeiro sculo. Se a
igreja, em data to posterior, ainda estivesse proclamando algo da
teologia de Atos, devia ter havido pouco progresso na compreenso do
sig nificado da f crist. VI. Paulo em Atos e em Suas Epstolas As
diferenas entre as informaes his tricas a respeito de Paulo,
encontradas em suas epstolas, e o que descobrimos em Atos tm levado
algumas pessoas a questionar se o autor de Atos de fato foi
companheiro de viagens de Paulo. Que h certas dificuldades inegvel,
como vamos indicar, mas estas no consistem em problema insupervel.
Paulo, ao escrever aos Glatas, tornou claro que o seu apostolado
era indepen dente de qualquer relao com os aps tolos de Jerusalm
(Gl. 1:16-2:10). Ao faz-lo, ele parece estar tentando corri gir
alguns pontos de vista correntes, de que ele fora a Jerusalm pouco
depois de sua converso no caminho de Damasco. Sob juramento, diante
de Deus, de que no est mentindo, Paulo sustenta que afastou-se para
a Arbia depois de sua converso. Trs anos se passaram, depois de sua
converso, antes que ele se diri gisse a Jerusalm. Quando ele foi,
per maneceu ali por apenas quinze dias, para conversar com Pedro, e
no viu nenhum dos outros apstolos, exceto Tiago. Em contraposio ao
que encontramos em Glatas, Lucas omite a reportagem acerca da
viagem Arbia e apresenta Paulo voltando a Jerusalm, depois de um
curto perodo de pregaes em Da masco. Graas a Barnab, os apstolos
que tinham medo dele finalmente o acei taram. Paulo comea pregando
em Jeru-
18. salm, e entra em discusso com os ju deus helenistas. Quando
se descobriu que eles procuravam matar Paulo, os irmos em Jerusalm
o enviaram para Tarso (At. 9:20-30). Lucas diz que a fuga de Paulo
de Da masco aconteceu como resultado de uma conjurao dos judeus
para mat-lo (At. 9:23-25). Paulo, por outro lado, nos con ta que
ele escapou de Damasco, para no ser preso pelo governador sujeito a
Are- tas, rei dos nabateanos (II Cor. 11:32). Em ambos os casos, os
discpulos efetua ram a sua sada, baixando-o de um muro, em uma
cesta, embora o tipo de cesta usado no relato de Paulo (II Cor.
11:33) seja diferente do mencionado em Atos. No impossvel conciliar
as duas narrativas da fuga de Paulo, porque fcil conceber-se que
ele enfrentou uma ameaa da parte dos judeus dentro da cidade e o
perigo de ser preso por Aretas fora dos muros da cidade. notvel, em
Atos, que Paulo entrou na sinagoga, em cada cidade em que pregou,
antes de pregar as boas-novas aos gentios. Em vrios lugares, Lucas
faz parecer que a princpio os judeus aceita ram a mensagem de
Paulo, mas por fim a iejeitaram. Isto forou Paulo a voltar- se para
os gentios (13:46; 18:6; 28:25 e s.). Como podemos conciliar isto
com a declarao de Paulo, em suas epstolas, de que ele era o apstolo
aos gentios? Paulo tinha dois objetivos, ao dirigir- se s
sinagogas. No mundo helnico, muitos gentios encontravam, no judas
mo, uma f religiosa que lhes propiciava esperana. Alguns se
tornaram proslitos judeus, enquanto outros, no dispostos a ir to
longe, continuavam, assim mes mo, a freqentar as sinagogas. Atravs
das reunies de adorao na sinagoga e do ensino da lei, os gentios
receberam uma razovel compreenso do judasmo. Possivelmente, Paulo
achou que, se pu desse estabelecer contato com os gentios que j
conheciam algo da f judaica, este alicerce facilitaria a sua
tarefa. Alm do mais, Paulo considerava es sencial estar intimamente
associado com os judeus, porque a f crist no tinha a sano oficial
do Imprio Romano. Ado rando na sinagoga, ele podia mostrar aos
oficiais romanos que o cristianismo no era uma nova religio, mas o
cumpri mento do judasmo. Embora Paulo freqentemente manti vesse a
reivindicao de que er apsto lo aos gentios, este fato no impedia a
sua misso aos judeus. Ele podia dizer que o evangelho era o poder
de Deus para salvao de todo aquele que cr; primeiro do judeu, e
tambm do grego (Rom. 1:16). Ele podia tambm expres sar o mais
profundo interesse pelo seu povo, porque este no havia crido em
Cristo (Rom. 9:1 e ss.; I Cor. 9:20). Em Atos no se faz meno ao
fato de Timteo e Silas terem ido de Beria, para encontrar-se com
Paulo em Atenas. Lu cas nota que Paulo pediu que eles para l fossem
logo que possvel (17:15). Mas s quando Paulo deixou Atenas e chegou
a Corinto foi que Silas e Timteo chega ram da Macednia (18:5).
Segundo a correspondncia tessalnica, ficamos sa bendo que eles
estavam com Paulo em Atenas certamente Timteo, e talvez Silas,
embora este no seja mencionado (I Tess. 3:1 e ss.). No h nem a mais
leve sugesto em Atos de problemas que Paulo encontrou em feso, a no
ser o tumulto suscitado por Demtrio, o ourives. Todavia, nos
escritos de Paulo igreja em Corinto, vemos que ele enfrentou priso,
sentena de morte, e, possivelmente, lees na are na pelo menos
figurativamente, em termos de severos perigos e julgamento (I Cor.
4:9-13; 15:30-32; II Cor. 1:8 e s.; 4:8 e ss.; 6:5; 11:23). Se,
como discutem alguns eruditos, o dcimo-sexto captulo de Romanos foi
originalmente uma nota igreja em feso, e no fazia parte da Epstola
aos Romanos, temos referncias adicionais aos perigos que Paulo
enfren tou em seu ministrio em feso (Rom. 16:3-7). de fato estranho
que Lucas
19. tivesse omitido esses perigos corridos por Paulo. O
objetivo da ltima visita de Paulo a Jerusalm foi entregar igreja,
ali, uma coleta em dinheiro, provinda de vrias igrejas, levantada
para os pobres entre os judeus cristos dessa cidade (Rom. 15:25 e
ss.). Isto foi feito a fim de melhorar as relaes entre os cristos
gentios e judeus. Em Atos, no h nenhuma indi cao de que os cristos
pobres recebe ram o dinheiro, a no ser que interprete mos os irmos
nos receberam alegre mente (21:17) como dando a entender esse ato.
Mesmo assim, no apenas uma suposio? Lucas faz referncia a essa
oferta na defesa de Paulo diante de Flix(24:17). Mais importante e
mais difcil, sem dvida, o problema concernente rela o de Atos 15
com Glatas 2. Nos cap tulos 1 a 15 de Atos, Lucas registra trs
visitas de Paulo a Jerusalm (9:26-30; 11:27-30; 15). Em Glatas,
Paulo men ciona apenas duas visitas, cobrindo o mesmo perodo de
tempo (1:18 e ss.; 2:1-10). Na sua tentativa de explicar esta
discrepncia bvia, os estudiosos tm apresentado quatro pontos de
vista s rios. (1) A visita mencionada em Glatas 2 a mesma de Atos
15. (2) A visita mencionada em Glatas 2 a mesma visita de Atos 11.
(3) A visita de Gla tas 2 registrada duas vezes por Lucas (em Atos
11 e 15). (4) Nem Atos 11 nem Atos 15 se referem visita de Paulo em
Glatas 2. Nesse caso, Atos no seria um livro histrico. Das opinies
exaradas acima, (2) pa rece ter mais a se recomendar do que as
outras. Isto no significa que esta inter pretao est livre de
dificuldades, mas, se dermos a Lucas o crdito de confia bilidade
histrica, esta soluo mais satisfatria. Dado o fato de que a
narrativa de Paulo acerca da sua segunda visita a Je rusalm, no
captulo 2 de Glatas, seja equivalente visita registrada por Lucas
em Atos 11, a situao seguinte preva lece: gabo, o profeta, chegou a
Antio- quia da Sria e predisse uma grande fome. Baseados nessa
predio, os cris tos de Antioquia enviaram uma coleta para os
cristos de Jerusalm, por mos de Paulo e Bamab (At. 11:27 e ss.).
Paulo disse que ele, Barnab e Tito fo ram a Jerusalm quatorze anos
depois de sua primeira visita. Ele afirmou que foi a Jerusalm por
revelao (Gl. 2:1 e s.). A revelao, nesse caso, podia significar a
profecia de gabo referente fome. Nesta visita, Paulo se defrontou
com alguma oposio da parte de um elemen to judaizante na igreja.
Esses judaizan- tes pressionaram Paulo para circuncidar Tito, mas
Paulo recusou-se a obedecer. Permaneceu firme na liberdade do evan
gelho, e recebeu o reconhecimento de Pedro, Tiago e Joo, acerca da
sua mis so aos incircuncisos. Em seguida histria da sua visita,
Paulo apresenta um relato da visita de Pedro a Antioquia da Sria
(Gl. 2:11- 14). A princpio, Pedro se associou livre mente aos
cristos gentios, chegando a comer com eles. Mas, quando veio de
Antioquia uma delegao enviada por Tiago, Pedro, temendo alguma
crtica do grupo da circunciso, imediatamente pa rou de comungar com
os gentios. Paulo repreendeu Pedro diante de toda a con gregao, por
sua hipocrisia. Esta cena, e mais a atividade subversiva da delegao
enviada por Tiago, levou a igreja de Antioquia a indicar Paulo,
Barnab e outros para se dirigirem a Jerusalm, e resolver o problema
de uma vez por todas. O colquio que se seguiu o que conhecemos como
Conclio de Jerusalm, em Atos 15. Se Atos 11 pode ser igualado a Gla
tas 2, no h discrepncia quanto s visitas de Paulo a Jerusalm em
Atos. A terceira visita em Atos 15 cronologica mente se seguiria
referncia de Paulo sua segunda visita em Glatas. Se Paulo escreveu
a sua carta s igrejas da Ga- lcia antes do Conclio de Jerusalm,
isto
20. explica por que no h meno de uma visita comparvel a Atos
15. Todas as omisses e diferenas em Atos, referentes vida e obra de
Paulo, no garantem o pressuposto de que o autor no estava
intimamente associado com ele. Quando Lucas escreveu, im provvel
que tivesse em mos uma cole o das epstolas de Paulo, para verificar
a exatido de suas declaraes. Se acei tarmos 80-90 d.C. como a data
em que Atos foi escrito, Lucas, a essa altura, naturalmente, no se
lembraria de todos os detalhes concernentes ao ministrio de Paulo.
VII. Teologia O nosso conhecimento da teologia de Atos nos vem
especialmente atravs dos discursos de Pedro, Estvo e Paulo. Ao
falar em teologia, no queremos sugerir um sistema cuidadosamente
elaborado de pensamento, mas vrias tentativas, feitas pelos cristos
primitivos, para rela cionarem as suas experincias com o Senhor
ressuscitado com sua herana religiosa e sua situao social. O poder
do Cristo ressuscitado e exaltado trans formou radicalmente os
padres de pen samento que os cristos primitivos an teriormente
esposavam, e levou algum tempo para tomar novas formas. Cristologia
No h, em Atos, ne nhuma declarao explcita da preexis tncia de
Cristo, como encontramos nas epstolas de Paulo (cf. Fil. 2:5-11) ou
em outros livros do Novo Testamento (Joo 1:1 e ss.; Heb. 1:1 e ss;
I Tim. 3:16; e I Ped. 1:20; 3:18 e ss.), a despeito do fato de que
os textos de prova de Lucas do Velho Testamento, que so usados
pelas testemunhas do seu livro, do al guma evidncia de que ele, bem
como a igreja primitiva, entendiam a presena de Jesus entre o povo
de Deus na poca veterotestamentria. Esta espcie de compreenso, em
sua forma, mais ju daica do que grega (Hanson, p. 39). A maior
parte do nosso conhecimen to das opinies da igreja primitiva a res
peito da pessoa de Cristo nos vem atra vs de Lucas, mediante o uso
que ele faz de certos ttulos. Um desses ttulos Cristo . O autor
repetidamente usa esta designao no sentido tcnico judaico,
significando um ofcio. A comunidade crist primitiva interpretava
Jesus em termos messinicos judaicos, e o procla mava o Messias das
expectaes prof ticas. Nos escritos de Paulo, Cristo como ttulo ou
ofcio, com raras excees (cf. I Cor. 1:23; 9:12), se torna outro
nome para Jesus, e perde o seu significado judaico. Outro ttulo
conferido a Jesus, em Atos, o de Senhor. Pedro, em seu sermo no dia
de Pentecostes, asseverou que Deus havia feito de Jesus Senhor e
Cristo (2:36). Este discurso atesta acer ca do fato de que Jesus
era reconhecido como Senhor devido sua ressurreio e ascenso. Alguns
declaram que esse ttulo no se originou na comunidade crist
palestina, mas era uma criao dos cristos que viviam em um ambiente
helenista. As evidncias apresentadas para essa tomada de posio no
so de todo convincentes. No h base para se duvidar de que esta
confisso se originou na Palestina. O que queria dizer o ttulo
Senhor? A palavra grega usada kurios, que tinha vrios significados.
Na Septuagin- ta, traduo grega do Velho Testamento, kurios ganhou
um significado adicional, por ser a traduo-padro do nome sa grado
de Deus, que era Yahweh. Quando Jesus ressuscitou dentre os mortos
e as cendeu ao cu, os discpulos reconhece ram que ele tinha as
prerrogativas de Yahweh, a saber, poder sobre a vida e a morte.
Eles entenderam que Jesus se igualava ao Yahweh do Velho Testamen
to e merecia o mesmo nome sagrado. Alm dos ttulos Cristo e Senhor,
v rias outras designaes descritivas de Je sus aparecem em Atos,
sugerindo uma cristologia primitiva. A palavra pais (ser vo ou
filho pequeno) no aparece em nenhum outro lugar do Novo
Testamen-
21. to como ttulo de Jesus, mas em Atos ns o encontramos vrias
vezes (3:13,26; 4: 25-30). possvel que pais expresse duas idias
distintas acerca de Jesus. Talvez Atos 3:13 e 3:26 faam aluso a
Isaas 53, o Servo Sofredor, enquanto que 4:27 e 4:30 se refiram ao
servo real davdico na Shemoneh Esreh (as Dezoito Bnos da liturgia
judaica). Nos discursos de Pedro e Estvo, no tamos uma Cristologia
Mosaica, alicer ada na tradio palestina.2 A profecia de Deuteronmio
18:15-18 havia sido aceita como promessa escatolgica de um segundo
Moiss, que falaria ao povo em lugar de Deus. Entre os samaritanos,
o Taheb (algum como Moiss, que res tauraria todas as coisas sua
devida ordem) era figura central, em suas expec taes escatolgicas.
Embora o conceito de um novo Moiss no fosse to domi nante no
pensamento judaico como entre os samaritanos, tomou-se uma esperana
consoladora, em tempos de abatimento. A igreja primitiva cria que
Jesus era mais do que um profeta. Ele era o Profeta segundo o padro
de Moiss. Atravs dele veio a proclamao final de Deus. Filho do
Homem nos quatro Evan gelhos, uma autodesignao de Jesus no suscita
o interesse dos outros escri tores do Novo Testamento, para descre
ver o Senhor ressuscitado, a no ser de Lucas, em Atos. Estvo, no
fim de sua defesa diante do Sindrio, disse que viu o Filho do homem
de p mo direita de Deus (7:56). Nos Evangelhos, algumas das
referncias ao Filho do homem o associam com a sua glria futura. A
vi so de Estvo estabelece este fato como j tendo sido realizado.
Duas vezes Jesus chamado Autor ou Prncipe (lder) (archgos), em
discursos de Pedro (3:15; 5:31). Esta palavra no ocorre em nenhum
outro livro do Novo Testamento, exceto na Epstola aos He breus
(2:10; 12:2). Filho de Deus en 2 Reginald H. Fuller, The
Foundations of New Testa ment Christology (New York, Charles
Scribners Sons, 1965), p. 168ess. contrado apenas uma vez em Atos.
Esta expresso mencionada como tema da pregao de Paulo em Damasco
(9:20). O ttulo no-judaico de Salvador, que provavelmente se
originou em crculos helenistas primitivos, aparece em Atos 5:31,
com archgos, e de novo em 13:23. Esprito Santo Em Atos, a vinda do
Esprito Santo inaugurou uma nova era na histria do mundo. Os judeus
do primeiro sculo d.C. deram uma inter pretao religiosa observncia
do Pen tecostes, que em pocas anteriores come morava o trmino da
colheita dos cereais. Esse dia era ento a celebrao do fato de Moiss
ter recebido a lei de Deus no Monte Sinai. Para os cristos
primitivos, essa data ganhou um significado religio so muito mais
importante. Tornou-se o tempo quando Deus substituiu a lei pelo dom
do seu Esprito Santo ao homem. O Esprito Santo tem um lugar to
proeminente, em Atos, que alguns erudi tos do passado referiram-se
a esse livro como Os Atos do Esprito Santo . Lu cas declara que
muitos foram cheios do Esprito Santo (4:8; 6:5; 9:17; 11:24; 13:9).
O Esprito dirige, fala, instrui, inspira, e at impede atos das
pessoas (8:29,39; 10:19; 11:12,28; 13:2; 15:28; 16:6; 20:23; 21:4;
28:25). Nenhum procedimento normativo es boado em Atos, referente
ocasio em que uma pessoa recebe o Esprito Santo. Tal experincia
pode acompanhar o ba tismo (2:38; 9:17-19; 19:1-7). Os sama ritanos
foram adequadamente batizados, mas no haviam recebido o Esprito San
to at que os apstolos lhes impuseram as mos (8:12,14-17). Comlio e
seus vizi nhos experimentaram a vinda do Esp rito Santo antes de
terem sido batizados (10:44-48). Jesus promete aos seus discpulos
que eles recebero um batismo do Esprito. Ele tambm envia o Esprito
(2:33). Deus o ungiu com o Esprito (10:38). Nos seus escritos,
percebemos agudamente que Paulo usa Cristo, Esprito de Cristo, Es
prito de Deus e o Esprito como termos
22. equivalentes, sem indicar qualquer dife rena bvia no seu
significado. Aparen temente, Atos, neste estgio de desen volvimento
do pensamento, no faz tam bm essa identificao, exceto em 16:7.
Escatologia Apresenta Lucas, em Atos, a tendncia de minimizar as
pre vises de uma volta imediata de Cristo? Presumindo que ele
escreveu quase no fim do primeiro sculo d.C., bem po demos imaginar
que ele havia aceito, juntamente com outros cristos, a reali dade
do adiamento da Parousia. bem claro que a comunidade primitiva espe
rava ansiosamente a vinda de Cristo e a consumao do sculo. Esta
idia est definidamente presente em Atos 3:18 e ss. Maiores
evidncias desta opinio po dem ser verificadas nos escritos de Paulo
(I Cor. 7:26-31; 15:51 e ss.; I Tess. 4:14-18). Parece que Lucas no
concordava ple namente com as suas fontes, na apresen tao da
atitude da igreja primitiva em relao imediata Parousia de Cristo.
Em Atos 1:7, Jesus rejeita especulaes a respeito de tempos e
estaes. Os dis cpulos no devem tentar colocar Deus dentro de um
padro cronolgico, dentro da histria. Quando, como, onde, e por que
Deus age coisa que compete sua prpria autoridade. Jesus ordena os
seus discpulos pensarem em termos de mis ses mundiais. Atos tende a
interpretar a escatologia no tempo presente. Lucas segue a tradi o
das suas fontes, ao reconstruir a histria da igreja primitiva, mas
ele a estampa com a opinio de que os ltimos dias j chegaram .3 Na
citao feita por Pedro, do profeta Joel, no dia de Pente costes, h
uma notvel mudana no tex to. Joel diz depois (depois* destas coi
sas, 2:28), mas Atos d a verso e nos ltimos dias (2:17). Desta
forma, vendo o movimento cristo desta perspectiva 3 Hans
Conzelmann, The Theology of St. Luke. Tradu zido para o ingles por
Geoffrey Buswell (New York: Harper and Row, 1960), p. 96. toda sua,
depois que as primitivas es peranas de uma Parousia imediata ca ram
em segundo plano, Lucas reinter- pretou a escatologia. Ele concebia
o cris tianismo como existindo em um agora escatolgico. Os ltimos
dias eram os dias atuais. Todavia, Lucas no enfatiza demasiadamente
este ponto de vista, pois tambm conserva vrias referncias volta de
Cristo (1:11; 3:20,21; 10:42; 17:31; 24:25). VIII. O Texto Uma
caracterstica genuna do livro de Atos a reivindicao de dois textos
rivais como os representantes genunos do original. Designamos estas
famlias de textos pelos nomes de Alexandrino e Ocidental. As
variaes entre os dois so to numerosas e contraditrias, que su gerem
duas revises distintas do original. Proeminente entre as
testemunhas fa vorveis a um texto Alexandrino (algu mas vezes
chamado Neutro e Egpcio) est um grupo de manuscritos que inclui o
Vaticano (sculo IV), o Sinatico (s culo IV), o Alexandrino (sculo
V) e P46 (At. 4:27-17:17 da coleo de papi ros Chester Beatty, do
sculo III). As principais testemunhas do texto Ociden tal so os
manuscritos bilnges (grego e latim) Bezae (sculo V), redaes apre
sentadas entre os asteriscos, na margem das verses Siraca
Harkleana, Velha La tina, Papiros 38 e 48 (sculo III), e os pais da
igreja latina, Irineu, Cipriano e Agostinho. As verses do texto
Ocidental so to divergentes que alguns estudiosos suge riram que
este o texto original de Atos. Este mesmo tipo de texto, nos Evange
lhos, tem uma reputao por suas omis ses. Pelo contrrio, em Atos
conhecido por suas adies. O texto Ocidental de Atos presumivelmente
data dos meados do segundo sculo d.C., e representa uma reviso.
Embora o prprio texto Alexandrino tambm seja uma reviso, e no
represente um texto mais antigo,
23. bem mais digno de confiana, porque as adies pietistas e as
notas explana- trias do texto Ocidental fazem-no tor- nar-se
altamente suspeito. Nenhuma tentativa ser feita aqui para
relacionar as verses Ocidentais dignas de nota. Elas sero
incorporadas no comentrio, sempre que as encontrar mos no estudo do
texto. Esboo de Atos I. A Disseminao do Evangelho em Jerusalm
(1:1-8:3) 1. Eventos Anteriores ao Pentecos tes (1:1-26) 1) Prefcio
(1:1-5) 2) A Ascenso (1:6-11) 3) No Cenculo (1:12-14) 4) A Escolha
de Matias (1:15-26) 2. Pentecostes (2:1-47) 1) A Vinda do Esprito
Santo (2:1-13) 2) O Sermo de Pedro (2:14-36) 3) Os Resultados do
Sermo de Pedro (2:37-42) 4) Primeiro Relato Sumrio (2:43-47) 3.
Testemunhando na Areado Tem plo (3:1-4:37) 1) Pedro Cura um Coxo
(3:1-10) 2) O Segundo Sermo de Pedro (3:11-26) 3) Priso de Pedro e
Joo (4:1-4) 4) Pedro e Joo Diante do Si ndrio (4:5-22) 5) A
Libertao dos Apstolos e a Orao da Igreja (4:23-31) 6) Segundo
Relato Sumrio e o Exemplo de Bamab(4:32-37) 4. Ananiase Safira
(5:1-11) 5. Terceiro Relato Sumrio (5:12-16) 6. Mais Oposio da
Parte dos Sa- duceus (5:17-42) 1) Priso e Libertao dos Aps tolos
(5:17-26) 2) Os Apstolos Diante do Sin drio (5:27-32) 3) O Discurso
de Gamaliel (5:33-39) 4) A Libertao dos Apstolos (5:40-42) 7. O
Ministrio de Estvo (6:1-8:3) 1) A Escolha dos Sete (6:1-6) 2)
Quarto Relato Sumrio (6:7) 3) Estvo Acusado (6:8-15) 4) A Defesa de
Estvo (7:1-53) 5) O Martrio de Estvo e Seus Resultados (7:54-8:3)
II. A Disseminao do Evangelho em Samria e Regies Costeiras (8:4-
11:18) 1. A Misso de Felipe em Samria (8:4-25) 1) Pregao
Acompanhada por Sinais (8:4-8) 2) Simo, o Mago (8:9-13) 3) Pedro e
Joo Visitam Samria (8:14-25) 2. Filipe e o Eunuco Etope (8:26-40)
3. O Primeiro Relato da Converso de Paulo (9:1-31) 1) No Caminho de
Damasco (9:1-9) 2) AVisitadeAnanias(9:10-19a) 3) Paulo Prega em
Damasco (9:19b-25) 4) Paulo Vai a Jerusalm (9:26-30) 5) Quinto
Relato Sumrio (9:31) 4. Misso de Pedro nas Regies Costeiras
(9:32-10:48) 1) Cura Enas em Lida (9:32-35) 2) Ressuscita Dorcas em
Jope (9:36-43) 3) A Viso de Cornlio (10:1-8) 4) A Viso de Pedro
(10:9-16) 5) Os Mensageiros de Cornlio Chegam (10:17-23a) 6) Pedro
Parte Para Cesaria (10:23b-33) 7) Pedro na Casa de Cornlio
(10:34-43) 8) Os Gentios Recebem o Esp rito Santo (10:44-48) 5.
Pedro e a Igreja em Jerusalm (11:1-18) 1) Acusado de Associar-se
com os Gentios (11:1-3) 2) Defesa de Seus Atos (11:4-18) III. A
Disseminao do Evangelho em Antioquia, Chipre e Galcia (11:19-
15:35)
24. 1. Crentes Gentios-em Antioquia (11:19-26) 2. Coleta Para a
Igreja em Jerusa lm (11:27-30) 3. Perseguio Movida por Herodes
Agripa 1(12:1-25) 1) Martrio de Tiago e Priso de Pedro (12:1-5) 2)
Pedro Escapa da Priso (12:6- 11) 3) Pedro Vai Casa de Maria
(12:12-19) 4) A Morte de Herodes Agripa e Sexto Relato Sumrio
(12:20- 25) 4. A Misso de Paulo e Bamab (13:1-14:28) 1) Paulo e
Bamab Comissiona dos (13:1-3) 2) Na Ilha de Chipre (13:4-12) 3)
Viagem a Antioquia da Pis- dia(13:13-16a) 4) O Sermo de Paulo em An
tioquia da Pisdia(13:16b-41) 5) Tumulto em Antioquia da Pi- sdia
(13:42-52) 6) Testificando em Icnio (14: 1-7) 7) Paulo e Bamab em
Listra (14:8-23) 8) Retomo a Antioquia da Sria (14:24-28) 5. O
Conclio de Jerusalm (15:1-35) 1) Paulo e Barnab Vo a Jeru salm
(15:1-5) 2) A Convocao do Conclio (15:6-11) 3) A Deciso de Tiago
(15:12-21) 4) Decreto Apostlico (15:22-29) 5) Volta dos Emissrios a
An tioquia (15:30-35) IV. A Disseminao do Evangelho na Regio do
Egeu (15:36-21:14) 1. A Separao de Bamab e Paulo (15:36-41) 2.
Paulo Toma a Visitar a Galcia (16:1-4) 3. Stimo Relato Sumrio
(16:5) 4. A Viso em Troas (16:6-10) 5. Paulo na Macednia (16:11-17:
15) 1) Filipos (16:11-40) 2) Tessalnica (17:1-9) 3) Beria
(17:10-15) 6. Paulo na Acaia (17:16-18:17) 1) Atenas (17:16-34) 2)
Corinto(18:l-17) 7. Partida de Paulo Para Sria, Via feso (18:18-23)
8. O Interldio de Apoio (18:24-28) 9. A Contnua Atividade Mission
ria de Paulo(19:l-21:14) 1) feso (19:1-41) 2) Macednia, Acaia, e de
Volta a Trade (20:1-6) 3) Trade (20:7-12) 4)
DeTradeaMileto(20:13-16) 5) A Despedida dos Ancios de feso
(20:17-38) 6) De Mileto a Cesaria (21:1- 14) V. A Disseminao do
Evangelho de Jerusalm a Roma (21:15-28:31) 1. A Chegada de Paulo a
Jerusa lm (21:15-26) 2. Preso no Templo (21:27-36) 3. Cludio Lisias
Intervm (21:37- 40) 4. O Discurso de Paulo da Escada ria da Torre
Antnia (22:1-21) 1) O Segundo Relato de Sua Converso (22:1-16) 2) A
Sua Vocao aos Gentios (22:17-21) 5. Feroz Reao dos Judeus (22:
22-29) 6. Paulo Diante do Sindrio (22: 30-23:11) 1) Repreenso ao
Sumo Sacer dote (22:30-23:5) 2) Diviso do Sindrio(23:6-ll) 7.
Conspirao dos Judeus Contra a Vida de Paulo (23:12-22) 8.
Transferncia de Paulo Para Cesaria (23:23-35) 9. Priso em Cesaria
(24:1-26:32) 1) O Julgamento Diante de F- lix (24:1-27) 2) Paulo
Diante de Festo (25:1- 12) 3) Herodes Agripa II Visita Festo
(25:13-27) 4) Paulo Diante de Agripa (26: 1-32) 10. A Viagem de
Paulo a Roma (27:1-28:16)
25. 1) De Cesaria a Creta (27:1- 12) 2) Apanhados por uma Tem
pestade no Mar (27:13-20) 3) Paulo Conforta os Que Esto a Bordo
(27:21-26) 4) Naufrgio em Malta (27:27- 38) 5) Todos Chegam Terra a
Salvo (27:39-44) 6) Uma Recepo Hospitaleira em Malta (28:1-10) 7)
Continua a Viagem Para Ro ma (28:11-16) 11. Paulo Chega a Roma
(28:17-31) 1) Fala aos Judeus (28:17-28) 2) Nono Relato Sumrio (28:
30,31) Bibliografia Selecionada BRUCE, F.F. The Acts of the
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26. Comentrio Sobre o Texto I. A Disseminao do Evangelho em
Jerusalm (1:1-8:3) 1. Eventos Anteriores ao Pentecostes (1:1-26)
Atos comea apresentando a substn cia das cenas finais do Evangelho
de Lucas e nos introduzindo a certos de talhes que o Evangelho no
inclura. Importantes, entre esses itens, so a as censo e a
atividade dos apstolos em Jerusalm antes do dia de Pentecostes. 1)
Prefcio (1:1-5) 1 Fiz o prim eiro tratad o , Tefilo, a c e r ca de
tudo quanto Jesu s com eou a fazer e a ensinar, 2 a t o dia em que
foi levado p ara cim a, depois de h av er dado m an d a m ento,
pelo E sprito Santo, aos apstolos que escolhera; 3 aos quais tam bm
, depois de haver padecido, se apresentou vivo, com m uitas provas
infalveis, aparecendo-lhes por espao de quaren ta dias, e lhes
falando das coisas concernentes ao reino de Deus. 4 E stando com
eles, ordenou-lhes que no se ausentassem de Jerusalm , m as que es
perassem a prom essa do P ai, a qual (disse ele) de m im ouvistes.
5 P orque, n a verdade, Joo batizou em gua, m as vs sereis b a ti
zados no E sprito Santo, dentro de poucos dias. No perodo
helenista, era costume um autor dividir os seus trabalhos literrios
em volumes. Ele fazia anteceder o pri meiro volume de um prefcio,
que se propunha a cobrir a obra toda. Este prefcio geralmente
declarava o objetivo e o mtodo de escritor. Os prefcios secundrios,
anexados a cada volume sucessivo, resumiam o contedo do vo lume
anterior e serviam como forma li terria de lig-los uns aos outros.
Lucas, com certas modificaes, segue a forma literria contempornea
em seu Evange lho e em seu livro de Atos. Atos inicia-se com uma
longa sentena prefaciai, dirigida ao mesmo Tefilo do terceiro
Evangelho. Lucas apresenta uma declarao sumria da sua obra
anterior, mas no da maneira convencional. Os acontecimentos aos
quais ele se refere aparecem nas cenas finais do Evangelho, mas no
na mesma seqncia. Em primeiro lugar, ele menciona a ascenso, e
depois fala das aparies de Jesus aos seus apstolos, durante um
perodo de quarenta dias. Estes ltimos fatos no ocorrem no
Evangelho. Ao ler o Evangelho de Lucas, a impresso que se tem que
Jesus ascendeu no mesmo dia da ressurreio (24:51), e no h indica o
de um intervalo de quarenta dias. Para o Evangelho, o assunto o cum
primento proftico da paixo do Messias, sua morte e ressurreio
(24:44-47). Em Atos, pelo contrrio, Jesus fala aos aps tolos acerca
do reino de Deus. Do lado positivo, podemos acrescentar que a or
dem para permanecer em Jerusalm para a consecuo da promessa, os
sofrimen tos de Jesus, as suas aparies aos dis cpulos e o fato de
ter comido com eles (Lucas 24) revelam que h um elo entre o
primeiro volume e o segundo, pois todos esses incidentes constam do
prefcio a Atos. Primeiro, no verso 1, tem sido aceito, por alguns
comentaristas, como signifi cando que Lucas escreveu ou planejou es
crever um terceiro volume. Argumentam eles que a correo gramatical
exige an terior (proteron), em vez de primeiro (prton), quando a
srie constituda apenas de dois. Dado o fato de que Lucas usou o
termo primeiro, e no an terior, ele devia ter em mente mais do que
dois volumes. Contudo, precisamos nos lembrar que a tendncia, no
grego helnico, bem como no portugus, hoje em dia, era passar por
cima destas distin es gramaticais. No nos apegamos ri gidamente
regra de que, quando nos referimos ao primeiro, significa absolu
tamente o comeo de uma srie de mais de dois. No h evidncia de que
Lucas es creveu ou planejou escrever um terceiro
27. volume. De fato, um volume assim seria bem-vindo, pois iria
resolver todo o pro blema do trmino de Atos. livro (logos) era o
nome costumeiramente dado a uma composio que tivesse a extenso de
um ou mais rolos de papiro. J notamos, na Introduo, que Te filo nos
desconhecido. improvvel que ele seja uma pessoa fictcia, que
represente todos os que amam a Deus. bem razovel presumir-se que
Tefilo tenha sido um nome inventado para ocul tar o verdadeiro nome
da pessoa. No prefcio do seu Evangelho, Lucas (1:3) d a Tefilo o
epteto de excelentssi mo, que d a entender que ele ocupava uma
posio oficial no Imprio Romano. A sugesto de B.H. Streeter,4 de que
Tefilo era o nome cristo secreto de Fl- vio Clemente, primo de
Domiciano, o Imperador, mera fantasia. Embora Lu cas dedique ambos
os volumes a Tefilo, a mensagem pretende alcanar um audi trio muito
mais amplo do que apenas um indivduo. Ao resumir o seu volume
anterior, Lucas usa uma expresso que algumas pessoas procuram
classificar como for ma pobre, e outros designam como ara- masmo.
Jesus comeou a fazer e a ensi nar. Por que considerar comeou a
fazer como aramasmo, visto que Lucas aqui no est seguindo uma
fonte, mas, pelo contrrio, est apresentando a sua pr pria
interpretao teolgica? Como pode ela ser forma literria pobre, visto
que o autor est inteiramente em casa, no que diz respeito ao grego
literrio? Lucas tem um propsito, ao usar esta expresso alegadamente
desgraciosa. Ele quer di zer que o ministrio terreno de Jesus nada
mais do que o incio de uma ao que no tem fim. O que ele deseja mos
trar, nos eventos subseqentes, desenca deados pelo Esprito Santo, ,
na rea lidade, a continuao da obra de Jesus. Desta forma, Lucas
estabelece uma ple na identificao entre Jesus e o Esprito, 4 The
Four Gospels (London: Macmillan, 1951), p. 539.) da mesma forma
como Paulo e o autor do Quarto Evangelho o haviam afirmado. Lucas o
nico escritor do Novo Tes tamento que nos diz que as aparies
ps-ressurreio de Jesus cobriram um perodo de quarenta dias.
aceitvel que esse perodo de tempo se passou, quando comparamos as
vrias narrativas de apa ries ou manifestaes de Jesus feitas por
Mateus, Joo e Paulo. Moiss esteve no Monte Sinai durante quarenta
dias e quarenta noites, ao rece ber a lei das mos de Deus (x.
34:28). Elias, quando fugiu da ira de Jezabel, dirigiu-se a Horebe,
e de um anjo rece beu alimento para sustent-lo durante a sua
jornada de quarenta dias e quarenta noites (I Reis 19:8). Depois do
seu batis mo, Jesus foi para o deserto, e jejuou durante um perodo
de quarenta dias (Marcos 1:13 e paralelos). Se Lucas, ao mencionar
quarenta dias, est querendo revelar algum significado religioso pro
fundo, padronizado segundo as refern cias mencionadas acima (e
ainda outras existentes), coisa duvidosa, porque, mais tarde, ele
descreve o mesmo perodo como muitos dias (13:31). A verso da
Imprensa Bblica Brasilei ra no forada na traduo de tekme- rios pela
palavra portuguesa provas. Na verdade, esta palavra, no original,
significa prova demonstrativa ou evidn cia. Que evidncias Lucas
tinha em men te, ele no expressa em Atos. Do seu Evangelho, podemos
presumir que as provas consistiam na capacidade de Jesus em comer
um pedao de peixe assado, e manter uma palestra com os seus disc
pulos, e tambm ter a posse de alguma espcie de corpo fsico
(24:39,42). Lucas, mais do que os outros Evangelhos e as epstolas
de Paulo, parece enfatizar a natureza fsica do corpo ps-ressurreio
de Jesus. Atos indica que o principal assunto que Jesus discutiu
com os apstolos, du rante o intervalo de quarenta dias, teve como
centro o reino de Deus. Isto ime diatamente suscita, para ns, a
interro-
28. gao: Por que era necessrio tal ensino? Desde o comeo do seu
ministrio na Galilia, at a sua crucificao em Jeru salm, o tema
dominante da sua mensa gem havia sido o reino de Deus. Embora Jesus
no d uma definio especial do reino, atravs de suas parbolas e atos,
ele descreveu vividamente a sua nature za, para impedir qualquer
possibilidade de mal-entendidos. Aparentemente, os apstolos no
haviam entendido plena mente o significado dos ensinos de Jesus,
como veremos mais adiante. Parece que Jesus achava essencial
explicar o relacio namento entre os seus ensinamentos acerca do
reino e aquela nova manifesta o de si mesmo atravs da recente ex
perincia da ressurreio. Enquanto Jesus estava comendo com os
apstolos (ou estando com eles), recomendou-lhes que permanecessem
em Jerusalm. Isto concorda com o que Lu cas fala em seu Evangelho
(24:29). Alm do mais, concorda com o relato que ele faz de aparies
apenas na Judia, que Jesus fez, e estas dentro de pequena distncia
de Jerusalm. Possivelmente, o objetivo de Lucas demonstrar que
Jerusalm o local para o inicio do movimento cristo. Na regio de
Jerusa lm, Jesus se apresentou aos seus disc pulos, e ali que eles
deveriam perma necer at que recebessem a promessa do Pai. Mateus,
Marcos e o apndice ao Quar to Evangelho (cap. 21) no confinam as
aparies Judia neste particular, diferindo de Lucas. De acordo com
Ma teus, a primeira apario de Jesus, aos onze discpulos, aconteceu
na Galilia, onde ele lhes deu a Grande Comisso (28:16-20). O moo de
alvo manto que se encontrou com as mulheres no sepulcro de Jesus
disse-lhes para avisarem a Pedro e aos discpulos que Jesus iria
encontr- los na Galilia, como havia planejado (Mar. 16:7). No
apndice ao Quarto Evangelho, Jesus aparece aos seus disc pulos
junto ao Mar de Tiberades. As outras manifestaes registradas no
Quarto Evangelho ocorrem em Jerusalm e fortalecem a tradio que
Lucas seguiu. A promessa do Pai uma aluso a uma declarao feita no
Evangelho de Lucas (24:49). Ali o contedo da promessa no revelado.
Nada mencionado acerca de que o rito executado por Joo Batista com
gua seria superado pelo batismo com o Esprito Santo. Aparentemente,
a incluso deste, em Atos, representa uma reviso feita por Lucas.
Estas palavras, atribudas a Jesus no versculo 5 e mais adiante em
11:16, em outras partes do Novo Testamento, so atribudas a Joo
Batista. O contraste entre o batismo de Joo e o batismo com o
Esprito Santo pode parecer sugerir que o rito executado com gua no
era mais necessrio. No obs tante, percebemos que o rito do batismo
continuou a ser observado. Embora as palavras de Jesus possam ter
indicado que o batismo nas guas iria ser supe rado ou substitudo
pelo batismo no Es prito, a comunidade crist lembrou a ordem de
Cristo (Mat. 28:19-20) e con siderou, no batismo, algo simbolizando
a sua nova experincia em Cristo. Joo havia pregado um batismo
caracterizado pelo ato do arrependimento, em vista de um julgamento
iminente. Aquilo para o que o batismo de Joo apontava em pers
pectiva, era visto pelos cristos da nova comunidade em
retrospectiva. Desta for ma, para a comunidade primitiva, o ba
tismo se colocava luz do que j havia acontecido, e no do que ainda
havia de acontecer. Isto foi o que marcou a di ferena entre o
batismo de Joo e o ba tismo cristo. A relao do batismo com o
Esprito Santo ser considerada mais tarde, neste comentrio (veja o
coment rio a 2:38; 8:12-17; 10:46-48; 19:5,6). Uma adio, no texto
Ocidental, de signa o Pentecostes como o tempo em que os apstolos
deviam receber o Es prito Santo. Ela diz: que estais para receber,
daqui a no muitos dias, at o Pentecostes.
29. 2) A Ascenso (1:6-11) 6 A queles, pois, que se haviam
reunido perguntavam -lhe, dizendo: Senhor, neste tem po que re stau
ras o reino de Israel? 7 R espondeu-lhes: A vs no vos com pete
saber os tem pos ou as pocas que o P ai reservou sua prpria
autoridade. 8 M as recebereis poder, ao descer sobre vs o E s prito
Santo, e ser-m e-eis testem unhas, ta n to em Jeru salm , como em
toda a Judia e Sam ria, e a t os confins da te rra . 9 Tendo ele
dito estas coisas, foi levado p a ra cim a, enquanto eles olhavam ,
e um a nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos. 10 E sta n do
eles com os olhos fitos no cu, enquanto ele subia, eis que junto
deles ap areceram dois vares vestidos de branco, 11 os quais lhes
disseram : V ares, galileus, por que ficais a olhando p a ra o cu?
E sse Jesus, que dentre vs foi elevado p a ra o cu, h de vir assim
com o p a ra o cu o vistes ir. Imediatamente depois de resumir as
coisas ditas em seu primeiro volume, Lucas passa a estabelecer o
tom para o livro que est escrevendo, e acrescenta uns poucos
detalhes acerca da ascenso, que havia condensado anteriormente. No
dia da ascenso, os apstolos fizeram uma pergunta que indicava
claramente como eles no haviam entendido a natu reza da promessa do
Pai. Haviam eles presumido que a promes sa tinha algo a ver com a
restaurao do reino de Israel. Durante o ministrio terreno de Jesus,
os apstolos haviam compartilhado a esperana, sustentada por outros
judeus, em um descendente de Davi, a quem Deus nomearia seu
Messias, o qual recuperaria a condio nacional dojudasmo. Essa
opinio refle tiu-se na confisso de Pedro em Cesa- ria de Filipe e
na entrada triunfal de Jesus em Jerusalm. Para eles, era dif cil
livrarem-se de suas noes preconce bidas acerca de Jesus como um
Messias poltico. Agora que Jesus havia ressuscitado dentre os
mortos, as suas esperanas foram de novo vivificadas, e eles espera
vam que Jesus desempenhasse o seu pa pel vingativo como Messias,
estabelecen do a sua autoridade sobre a nao de Israel. O que Jesus
era incapaz de fazer para eles, de maneira normal, como Messias
terreno, os discpulos agora es peravam que ele executasse de
maneira apocalptica, pela interveno catastr fica de Deus na
histria. A pergunta dos apstolos suficiente mente clara. Eles
sentiam uma necessi dade desesperada de iluminao. Jesus no permitiu
que a pergunta passasse sem ser notada, mas repreendeu-os, como
costumeiramente fazia durante o seu ministrio terreno. Ele afastou
qualquer interesse no estudo intensivo dos momen tos crticos da
histria e dos aconteci mentos ordinrios da existncia humana.
Preocupaes que tais, segundo a sua perspectiva, eram inteis, no
sentido de determinar quando e como Deus iria agir na histria.
Jesus no veio para satis fazer curiosidade do homem acerca do
calendrio de Deus, mas para revelar Deus e levar o homem a um
relaciona mento correto com Ele. Esse conselho importante para a
era em que vivemos. H muitos crentes que esto mais inte ressados em
predies do que na pro clamao do evangelho, que propicia luz e vida.
Testificar de Cristo inclui o poder para faz-lo. Jesus prometeu,
aos seus aps tolos, que o Esprito Santo, extenso da personalidade
de Deus dentro da comu nidade, devia ser esse poder. Eles rece
beriam o Esprito Santo em breve, e, sob a direo do Esprito, os
apstolos pre cisam sair com o evangelho para todas as regies
geogrficas. Jesus deliberada mente delineou o mbito geogrfico do
ministrio dos apstolos. Eles deviam comear em Jerusalm, e da sair
para as regies subjacentes da Judia e Samria, onde a religio era
mais irregular. Dessas reas, deviam ir at os confins da terra. A
ordem de Jesus em Atos no diz especificamente que as testemunhas so
enviadas aos gentios nas reas determi nadas. Pode-se interpretar a
misso como sendo apenas para os judeus. A si tuao no a mesma, no
Evangelho
30. de Mateus, onde Jesus, na Galilia, d, aos seus discpulos, a
ordem para pregar e ensinar (28:18 e s.). Mas no h nada de ambguo
nessa ordem. Jesus quis dar a entender definidamente os gentios.
Embora o retrato, pintado em Atos, da igreja primitiva mostre um
desejo lento e relutante para incluir os gentios na co munho, Lucas
certamente sentia que a ordem de Jesus os indicava, tanto quan to
os judeus. Depois que Jesus falou da vinda do Esprito, e lhes deu a
ordem para pre gar o evangelho, atravs do mundo todo, a sua presena
visvel afastou-se dos apstolos: ele foi levado para cima. Lu cas o
nico escritor neotestamentrio que apresenta uma descrio desse acon
tecimento; contudo, essa experincia mencionada em outros livros (I
Ped. 3:22; Ef. 4:10; Col. 3:1; I Tim. 3:16; Heb. 4:14 e 9:24).
Lucas evidentemente concebe este evento como algo de tre mendo
significado entre a ressurreio e o Pentecostes. No Evangelho de
Lucas, a ascenso parece ter acontecido em Betnia (24: 50), aldeia
localizada cerca de dois qui lmetros de Jerusalm, na encosta orien
tal do Monte das Oliveiras. Esta era a cidade natal de Lzaro, Maria
e Marta, que foram pessoas de destaque no quarto Evangelho. Em
Atos, a localizao no mencionada, mas presumimos que foi o Monte das
Oliveiras, porque o autor diz que os apstolos voltaram a Jerusalm
do Monte das Oliveiras, depois da ascenso (v. 12). O Monte das
Oliveiras ficava a leste de Jerusalm. Foi ali, na vspera da
crucificao, que Jesus agonizou em ora o. Desde os dias de Zacarias,
o Monte das Oliveiras estava associado, de algu ma forma, com as
expectativas messi nicas (14:3 e ss.). Uma tradio rab- nica
declarava que a ressurreio dos judeus ocorreria atravs de uma fenda
no Monte das Oliveiras. De acordo com Lucas, Jesus foi levado para
cima... e uma nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos. A nfase se
exerce no desapa recimento de Jesus. No Velho Testamen to, uma
nuvem significava a presena de Deus. Este o significado da nuvem na
cena da transfigurao (Luc. 9:34 e ss. e paralelos). Em Daniel, o
Filho do ho mem vem nas nuvens do cu (7:13). Quando Jesus
compareceu diante do su mo sacerdote, no dia da crucificao, o sumo
sacerdote perguntou-lhe se ele era o Messias. Jesus replicou: Eu o
sou; e vereis o Filho do homem assentado direita do Poder e vindo
com as nuvens do cu (Mar. 14:62). Aparentemente, na cena da
ascenso, a nuvem simboliza a presena de Deus naquele ato de exal
tao de Jesus. Depois que Jesus afastou-se, os aps tolos ficaram com
os olhos fitos no cu, procurando ter um outro vislumbre dele. A sua
admirao sofre uma interrupo brusca com o aparecimento de dois emis
srios anglicos. Os dois vares vestidos de branco, possivelmente os
mesmos que haviam dito s mulheres que Jesus res suscitara (Luc.
24:4 e s.), repreenderam os apstolos desanimados e ministraram-
lhes esperanas. Eles asseguraram, aos apstolos, que Jesus voltaria,
mas que no tinha sentido ficarem extasiados diante de maravilhas.
3) No Cenculo (1:12-14) 12 E nto voltaram p a ra Jeru salm , do
monte cham ado das O liveiras, que est p e r to de Jerusalm ,
distncia d a jornada de um sbado. 13 E , entrando, subiram ao
cenculo, onde perm aneciam P edro e Joo, Tiago e Andr, Filipe e Tom
, B artolom eu e M ateus; Tiago, filho de Alfeu, Sim o, o Zelote, e
Judas, filho de Tiago. 14 Todos estes perseveravam unanim em ente
em o ra o, com as m ulheres, e M aria, m e de Jesus, e com os irm
os dele. Com a ascenso, o ltimo contato vi svel com Jesus chega ao
fim. Embora os apstolos confiassem na sabedoria de Jesus, deve ter
sido extremamente dif cil para eles entenderem por que era para o
bem deles que ele precisava partir. Contudo, eles no ficaram to
pertur
31. bados como por ocasio da crucificao. Agora eles
compreendiam que Jesus ti nha o poder da vida e da morte. Conse
qentemente, eles podiam esperar pa cientemente o ato criativo
seguinte de Deus. Os apstolos voltaram para Jerusalm. Lucas
apresenta uma nota editorial, ao dizer que a distncia do Monte das
Oli veiras a Jerusalm era a da jornada de um sbado. Se ele estava
fazendo isso para dar-nos a entender que o evento ocorreu no sbado,
no o sabemos. Quando os apstolos chegaram a Jerusa lm, dirigiram-se
a um cenculo. Seria esse o cenculo em que Jesus comeu a sua ltima
ceia com os discpulos? Seria a casa de Maria, me de Joo Marcos, que
mais tarde se tornou um dos lugares de adorao para os cristos
primitivos (12: 12)? No temos evidncias que especifi quem de quem
era essa casa, .mas ela devia estabelecer alguma associao com
Jesus, em sua refeio de despedida. Os que compunham o grupo que se
encontrava no cenculo eram os onze apstolos, as mulheres, Maria, me
de Jesus, e os irmos de Jesus. A lista dos apstolos idntica do
Evangelho de Lucas (6:13-16), exceto que a ordem mudada, e, claro,
Judas Iscariotes omitido. As mulheres no so identificadas. Po diam
ser as mulheres que acompanha ram Jesus desde a Galilia (Mar.
15:40; 16:1; Mat. 27:56; Joo 19:25; e Luc. 23:55; 24:10). Se assim
foi, sabemos que elas eram Maria Madalena, a outra Ma ria, Salom,
Joana, Suzana, e outras. Elas foram as que testemunharam em
primeiro lugar que o tmulo estava vazio e levaram as boas-novas,
aos apstolos, de que Jesus ressuscitara dentre os mor tos. tambm
bem provvel que as mu lheres fossem as esposas dos apstolos. Nada h
na estrutura gramatical que exclua esta sugesto como possvel. A
classificao final dos que constitu am o grupo que se encontrava no
ce nculo inclui os parentes de Jesus: Ma ria, me de Jesus, e com os
irmos dele. Maria no mencionada em nenhum outro lugar em Atos. Os
irmos de Jesus tambm se encontraram com os apsto los. Durante o
ministrio de Jesus, fica mos sabendo muito pouco a respeito de sua
famlia. Marcos nos revela os nomes dos seus irmos (6:3). Eram
Tiago, Ju das, Jos e Simo. Marcos tambm faz- nos saber que Jesus
tinha irms. O autor do quarto Evangelho torna bem claro que os
irmos de Jesus naquela poca no criam nele (7:5). Paulo, ao rela
cionar as manifestaes de Jesus em sua correspondncia com a igreja
em Corin to, disse que uma dessas aparies foi a Tiago (I Cor.
15:7). Tiago o nico irmo de Jesus que se nos apresenta por nome em
Atos. No se passou muito tempo depois do comeo da igreja primi
tiva, quando ele se tomou o lder, e, durante certo tempo, tornou-se
mais im portante e significativo do que os aps tolos. Eram Tiago,
Judas, Jos e Simo ir mos verdadeiros de Jesus? Essa interro gao foi
levantada no comeo do ter ceiro sculo, mas no se tomou proble ma de
controvrsia antes do quarto s culo. A essa altura, trs opinies se
le vantaram. Epifnio dizia que os irmos eram filhos de Jos, atravs
de uma esposa anterior. Jernimo, que foi res ponsvel pela traduo
latina da Bblia, conhecida como a Vulgata, argumenta va que os
irmos, na verdade, eram pri mos de Jesus. Helvdio, cristo romano e
oponente de Jernimo, aceit