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Comentário matthew henry volume 5 evangelhos

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  1. 1. C ()M EN T R I O B 1HL I C O Novo T estam en to - " M a t e u s a J o o E 1) I C C) C O M > I, E T A
  2. 2. Matthew Henry
  3. 3. HENRY Ia Edio MATEUS A JOO Traduo Degmar Ribas Jnior CPAD Rio de Janeiro 2008
  4. 4. Todos os direitos reservados. Copyright 2008 para a lngua portuguesa da Casa Publicadora das Assemblias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina. Matthew Henrys Commentary on the whole Bible - Volume V - Matthew to John. Domnio pblico. Traduo deste volume: Degmar Ribas Jnior Preparao de originais e reviso: Anderson Grangeo da Costa, Miriam Anna Liborio e Reginaldo de Souza Capa: Rafael Paixo Projeto grfico: Joede Bezerra Editorao: Joede Bezerra e Alexandre Soares CDD: 220 - Comentrio bblico ISBN: 978-85-263-0906-7 Para maiores informaes sobre livros, revistas, peridicos e os ltimos lanamentos da CPAD, visite nosso site: http://www.cpad.com.br Casa Publicadora das Assemblias de Deus Caixa Postal 331 20001-970, Rio de Janeiro, RJ, Brasil Impresso no Brasil Ia edio/2008
  5. 5. EDIO BRASILEIRA Direo-Geral Ronaldo Rodrigues de Souza Diretor-Executivo da CPAD Superviso editorial Claudionor de Andrade Gerente de Publicaes Coordenao editorial Isael de Araujo Chefe do Setor de Bblias e Obras Especiais
  6. 6. P r e f c io e d i o c o m p l e t a d o c o m e n t r io b b l ic o d e MATTHEW HENRY A Casa Publicadora das Assem blias de Deus vem a pblico consagrar ao Senhor Jesus e dedicar aos estudiosos da Bblia a edio completa do ComentrioBblico deMathew Henry. Sem dvida, um dos maiores clssicos das le tras evanglicas. Inicialmente, lanamos uma edio compacta da referida obra, que logo se esgotou. Tendo em vista o interesse de nossos leitores, vimo-nos constrangidos a editar a obra completa; primeiro, os volumes referentes ao Novo Testa mento; em seguida, os referentes ao Antigo. Como levar adiante uma obra to vultosa? A traduo de M athew H enry representou um de nossos maiores de safios, no somente pela copiosidade do texto como tambm pela linguagem utilizada pelo autor - um ingls classica mente shakespeareano. At mesmo um ingls ver-se-ia em dificuldades para ler uma linguagem que, posto que bela, j no utilizada. N ossa equipe, contudo, porfiou por apresentar uma linguagem clara e facilmente assimilvel para os falantes do portugus, sendo sempre fiel ao pensamento e ao estilo do autor. Afinal, como ressaltava Buffon, o es tilo o homem; se no preservarm os o estilo do autor, como este ser admirado por seus leitores. Em seu monumental comentrio das Sagradas Escrituras, mostra o irmo H enry uma erudio singular; apro fundando-se no texto bblico, logra trazer tona os mais preciosos tesouros dos profetas e apstolos de Nosso Se nhor. Longe dele, porm, a erudio pela erudio; nele, a erudio revela-se na piedade de uma vida integralmente santificada ao servio do Mestre. Matthew H enry nasceu na Inglaterra, em 18 de outubro de 1662. Sendo seu pai um ministro do evangelho, infe re-se haja M atthew entrado em contato com as Sagradas Escrituras ainda bastante tenro. No precisamos discor rer acerca da austeridade do lar em que ele foi educado, nem sobre as regras que os meninos britnicos eram cons trangidos a observar. Isso, porm, no o traumatizou; induziu-o a uma vida de disciplina, correo e zelo. J separado para o ministrio pastoral, o irmo H enry jam ais descurou de suas obrigaes. Insuspeitos depoi mentos descrevem-no como um obreiro zeloso, santo, irrepreensvel. E lembrado pelos contemporneos como um pastor extremamente afetuoso. Em 1704, pe-se a escrever o seu comentrio das Sagradas Escrituras. N esta tarefa, consagra os ltimos dez anos de sua vida. Ainda no vira a sua obra publicada quando, em 1714, aprouve a Deus recolher o seu servo s man ses celestes. Desde ento, M atthew H enry tornou-se uma referncia obrigatria no campo do comentrio bblico. Muitos so os eruditos que se debruam sobre o exaustivo trabalho de M atthew Henry. E sta obra, porm, no se destina apenas ao especialista nas Sagradas Escrituras. M atthew H enry destina-se a todo o povo de Deus. Nossa sincera orao que Deus faa surgir, atravs desta obra, um compromisso maior com a sua Palavra. Os editores
  7. 7. V id a e o b r a s d e m a t t h ew h en r y M attew H enry foi o segundo filho de Philip Henry, nascido prematuramente em 18 de outubro de 1662, em Bro ad Oak, na regio da capela de Iscoyd, Flintshire, no Pas de Gales, Reino Unido. Quando criana, H enry era muito doente, porm um tanto precoce na aprendizagem. Seu primeiro tutor foi William Turner, mas muito de sua educa o na infncia ele recebeu de seu pai Philip. E ste havia sido banido pela Lei Britnica da Igualdade, em 1662. Como a maioria de seus colegas de sofrimento, Philip possua poucos recursos, mas o suficiente para dar ao seu filho H enry uma boa educao. Em 21 de julho de 1680, o jovem H enry ingressou na academia de Thomas Doolittle, na poca em Islington, e permaneceu ali at 1682. Em 30 de outubro de 1683, logo aps atingir a maioridade, H enry se mudou para a propriedade rural em Bronington, Flintshire, herdada de Daniel M atthews, seu av materno. Aconselhado por Rowland Hunt, de Boreatton, Shropshire, comeou a estudar Direito e foi aprovado na G rays Inn, em 6 de maio de 1685. Logo desistiu dos estudos das leis, para se dedicar Teologia, como integrante dos no-conformistas*. Em junho de 1686, comeou a pregar para os m oradores da regio em que seu pai vivia. Por causa de algumas questes de negcios, H enry foi para Chester, em janeiro de 1687. Enquanto permaneceu ali, pregou em casas parti culares e solicitaram que ele se tornasse o pastor dos fiis daquela regio. H enry concordou por algum tempo e de pois voltou para G rays Inn. Em 9 de maio de 1687, H enry foi reservadam ente ordenado ministro presbiteriano em Londres por seis pasto res, na casa de Richard Steel. Comeou seu ministrio em Chester, no dia 2 de junho de 1687. Em poucos anos, a quantidade de seus ouvintes chegou a 250. Em setembro de 1687, o rei Tiago II visitou Chester, quando os no-con- form istas fizeram um discurso de agradecimento pela tranqilidade e liberdade que eles gozavam sob sua prote o. Um a nova constituio foi garantida cidade (a antiga havia sido anulada em 1684), dando poder coroa para substituir e nomear magistrados. Por volta de agosto de 1688, emissrios do rei solicitaram-no que nomeasse magis trados. E le no concordou com isso. A nova constituio foi substituda por outra, na qual os nomes de todos os no-conformistas de renome foram impostos administrao da cidade. E stes, no entanto, se recusaram a trabalhar e exigiram o retorno da constituio anterior, cujo restabelecimento demorou bastante. Um templo foi erguido por H enry em Crook Lane (atual Crook Street). A construo foi iniciada em setembro de 1699, e a inaugurao aconteceu em 8 de agosto de 1700. Em 1706, foi construda uma galeria para acomodar uma outra congregao que se havia unido a Henry. Sua audincia agora aumentara para 350 pessoas. Alm das ativida des congregacionais (incluindo uma palestra semanal), ele realizava cultos mensais em cinco vilas nas redondezas da cidade, e regularm ente pregava aos prisioneiros num castelo. H enry foi um membro ativo da unio de ministros de Cheshire, fundada em Macclesfeld, em maro de 1691, sob as bases da happy union de Londres. Achou tempo tam bm para labutar como comentarista da Bblia, o que deu origem ao seu sistema de pregao expositiva. Estudava num quiosque de dois andares nos fundos de sua residncia em Bolland Court, W hite Friars, Chester. H enry recusou as propostas para pastorear igrejas em Hackney e Salters Hall, em 1699 e 1702 respectivamen te; tambm, no aceitou as de Manchester (1705) e Sver Street e Old Jewry, Londres (1708). Em 1710, foi novamen te convidado pela igreja de Hackney, e concordou em se mudar, embora no imediatamente. E m 3 de junho de 1711, estava ele em Londres e era a primeira ceia em que ficara ausente de Chester em 24 anos. Daniel Williams, D.D., cuja escolha datada de 26 de junho de 1711, nomeou-o como um dos primeiros administradores de suas instituies educacionais, mas H enry m orreu antes de assumir o cargo. O ltimo sermo de H enry foi pregado em Chester, no dia 11 de maio de 1712. Seu ministrio em M are Street, Hackney, comeou em 18 de maio de 1712. Em maio de 1714, ele visitou novamente Cheshire. H enry se casou primeiro, em 19 de julho de 1687, com Katherine, filha nica de Samuel Hardware, de Brombo- rough, Cheshire; ela morreu em 14 de fevereiro de 1689, aos 25 anos, durante o parto de sua filha Katherine. Depois, Henry contraiu segundo casamento, em 8 de julho de 1690, com Mary, filha de Robert Warburton, de Hefferstone Grange. Com Mary, ele teve um filho, Philip (nascido em 1700, que tomou o sobrenome Warburton, foi membro do Par lamento representando Chester, a partir de 1742, e m orreu solteiro, em 16 de agosto de 1760). Nasceram-lhe ainda oito filhas, trs das quais morreram na infncia. Sua filha, Esther (nascida em 1694), foi a me de Charles Bulkley. E m novembro de 1704, H enry comeou a escrever a Exposio doAntigo e Novo Testamentos, que correspon de a este famoso comentrio em seis volumes, o qual no tem sido superado at hoje. O primeiro volume foi publica do em 1708; este e quatro outros volumes trouxeram o seu comentrio at o fim dos Evangelhos, publicados numa edio uniforme em 1710. Antes de sua morte, ele concluiu o comentrio de Atos para o sexto volume, no publicado. Aps sua morte, trinta pastores no-conformistas prepararam os comentrios das Epstolas e de Apocalipse. Os no mes desses no-conformistas foram citados por John Evans (1767-1827) na Protestant Dissenters'Magazine, em 1797, p. 472, extrados de um memorando de Isaac Watts. A edio completa de 1811, com quatro tomos, seis volu mes, editados por George B urder e John Hughes, tem assuntos adicionais extrados de manuscritos de Henry. O comentrio de H enry prtico e devocional, mais que uma obra de crtica textual, mantendo um correto bom senso, apresentando um pensamento incomum, alto tom moral, simplicidade e aplicao prtica, combinados com
  8. 8. VID A E OBRAS DE MATTHEW HENRY X uma slida fluncia do estilo ingls. Seus comentrios so fundamentalmente exegticos, tratando o texto bblico como ele est apresentado. O primeiro objetivo de Henry era a explicao, e no a traduo ou a pesquisa textual. Tudo isto fez de seu comentrio uma obra monumental. At hoje, consultado por estudantes e pregadores, e cita do em centenas de outros comentrios bblicos. Suas outras obras, excluindo sermes, so: 1. A BriefInquiry into... Schism (1689); 2. Memoirs of... Philip Henry (1696); 3. A Scripture Catechism (1702); 4. Family Hymns (1702); 5. A Plain Catechism (1702); 6. The Communicants Companion (1704); 7. FourDiscourses (1705); 8. A Methodfor Prayer (1710); 9. Directionsfor Daily Communion (1712); 10. A ShortAccount oftheLife... ofLieutenant Illidge (1714). Em 1726, foi publicada uma coletnea sob o ttulo Works, e, em 1809, surgiu a Miscellaneous Writings, editada por Samuel Palmer, e reeditada em 1830 por Sir J. B. Williams, contendo sermes adicionais extrados dos manus critos de Henry. Henry morreu de apoplexia, em Nantwich, na casa do pastor no-conformistaJoseph Mottershead, em 22 deju nho de 1714, durante uma viagem de Chester para Londres. Foi sepultado na capela da Trinity Church, em Chester. Seu funeral teve a assistncia de oito pastores da cidade. Os sermes da cerimnia fnebre foram pregados, em Chester, por Peter Withington e John Gardner; em Londres, por Daniel Williams, William Tong, Isaac Bates e John Reynolds; os ltimos quatro foram publicados. Aps a sua morte, a igreja em Hackney se dividiu em duas. Seu retrato est na biblioteca do Dr.William, em Gordon Square, Londres, e foi pintado por J. Jenkins (1828); a es tampa de Vertue de um croqui desenhado a bico de pena e feito numapoca em que Henry estavamuito corpulento. Acima de tudo, Matthew Henry lembrado como um pastor afetuoso, amante apaixonado da Palavra de Deus e homem de grande integridade pessoal que tem deixado a sua marca nos coraes de inmeros cristos que anelam compreender mais profundamente as riquezas das Escrituras.
  9. 9. P refcio Com o auxlio da graa de Deus, conclumos metade do nosso empreendimento sobre o Novo Testamento* e apresentamos o resultado ao leitor. Espero, operando o Senhor atravs desse trabalho, que o estudante das Escritu ras possa ser de algum modo ajudado a entender e aproveitar a histria sagrada de Cristo e seus apstolos, e a tor n-la, como certamente , a melhor exposio do nosso credo, na qual esses escritores inspirados so recapitulados e intimados pelo evangelista que chama o seu evangelho de a narrao dos fatos que entre ns se cumpriram (Lc 1.1). E, embora no haja uma parte das Escrituras cuja crena supere as que so trazidas pelas demais passagens, h passagens que so mais comentadas que outras. Nosso dever , portanto, por meio de esforos constantes em me ditao e orao, chegar a um conhecimento profundo do intento e significado verdadeiros dessas narrativas, de qual o nosso interesse por elas, e o que devemos desenvolver sobre elas e delas extrair; que possamos no descan sai* em tal conhecimento assim como no deixamos de estudar aps a nossa infncia, quando fomos ensinados a ler o nosso idioma a partir da traduo, e o grego a partir dos originais desses livros. Devemos conhec-las como o mdico conhece os seus remdios, o advogado os seus livros de leis, e o marinheiro a sua carta e a sua bssola; isto , saber como fazer uso delas no que aplicamos a ns mesmos como nossa tarefa neste mundo, que servir a Deus aqui e desfrutar a presena dele doravante, e tambm de Cristo, o Mediador. Os maiores propsitos das instituies crists (das quais esses livros so as fontes e fundamentos) sempre foram levar os filhos dos homens ao temor e ao amor a Deus, como o princpio dominante de sua observncia dele, e obe dincia a Ele, para lhes mostrar o caminho de sua reconciliao e aceitao diante dele, e traz-los sob obrigaes a Jesus Cristo como Mediador, e desse modo envolv-los em todas as instncias de devoo a Deus, e justia, e carida de a todos os homens, em conformidade com o exemplo de Cristo, em obedincia sua lei, de acordo com os seus grandes propsitos. O que, portanto, tentei aqui com esta viso foi tornar esses escritos aproveitveis para a f, a santidade e o consolo dos bons cristos. Agora que esses escritos - assim utilizados para servir aos grandes e nobres propsitos - podem ter a sua de vida influncia sobre ns, importante que estejamos bem estabelecidos em nossa crena da sua origem divina. E aqui precisamos enfocar dois tipos de pessoas. Alguns abraam o Antigo Testamento, mas o colocam em oposio ao Novo, alegando que, se um est certo, o outro est errado; e estes so osjudeus. Outros, embora vivam em uma nao crist (e pelo batismo usem o nome de cristos), sob o pretexto de liberdade de pensamento, desprezam o cristianismo, e conseqentemente rejeitam o Novo Testamento, e portanto, oAntigo, naturalmente. Confesso que estranho que qualquer que agora receba o Antigo Testamento deva rejeitar o Novo, uma vez que, alm de todas as provas especficas da autoridade divina do Novo Testamento, haja uma admirvel harmonia entre ambos. O Novo Testamento concorda com o Antigo em todas as principais intenes, refere-se a ele, se desenvolve sobre ele, mostra a realizao de seus tipos e profecias, e desse modo a sua perfeio e coroa. E ainda, se ele no for verdadeiro, o Antigo Testamento deve ser falso, como tambm todas as promessas gloriosas que brilham to in tensamente nele, e a performance da qual esteve limitado dentro de certos perodos de tempo, devem ser uma grande desiluso - da qual estamos certos de que no so. Por isso, devemos abraar o Novo Testamento para apo iar a reputao do Antigo. Os fatos no Antigo Testamento que o Novo Testamento deixa de lado so as peculiaridades da naojudaica e as observncias da lei cerimonial, ambas certamente uma indicao divina; e mesmo assim o Novo Testamento no en tra em conflito com o Antigo por qu: 1. Elas sempre foram designadas para serem colocadas de lado na plenitude dos tempos. Nada mais deve ser es perado alm do desaparecimento da estrela da manh aps o nascimento do sol; e as partes finais do Antigo Testa mento freqentemente falam de colocar de lado aquelas coisas, e da chamada dos gentios. 2. Elas eram muito dignas, porm deveriam ser colocadas de lado, e trocadas pelo que era mais nobre e excelen te, mais divino e celestial. A igreja judaica foi absorvida pela crist, e o ritual mosaico pelas instituies evanglicas. O Novo Testamento no a anulao do Antigo, da mesma forma que o envio de um jovem para a universidade no a anulao de sua educao no ensino fundamental. 3. A Providncia logo determinou esta controvrsia (que a nica coisa que parecia uma controvrsia entre o Antigo e o Novo Testamento) pela destruio de Jerusalm, pelas profanaes do Templo, pela dissoluo do servio do Templo, e pela completa disperso de todo o remanescente da nao judaica, com uma derrota judicial de todas as tentativas de incorpor-lo novamente, agora por mais de 1.600 anos; e isto de acordo com as expressas predies de Cristo, um pouco antes de sua morte. Tambm importante destacar que a doutrina de que Cristo o Messias no foi excessivamente enfatizada at que a grande prova conclusiva dela fosse expressa pela sua ressurreio dentre os mortos; assim, a revogao da lei cerimonial, como para os judeus, no foi muito enfatizada, mas a manuteno da * Nota do editor em lngua inglesa: Pode ser adequado informarao leitor que ovolumepara o qual este prefcio foioriginalmente prepara do inclua os Atos dos Apstolos, que na edio atual iniciar o segundo volume, a fm de assegurar uma diviso mais igual do Novo Testa mento, sendo q comentrio sobre os livros restantes menos extensos do que o autor pretendia.
  10. 10. PREFCIO XII observao dela foi conveniente, at que a grande prova conclusiva de sua revogao foi dada pela destruio de Je rusalm, que tornou a sua observao impraticvel para sempre. E os sinais manifestos da ira divina a que osjudeus - considerados como um povo, mesmo apesar da prosperidade de certas pessoas em particular entre eles - continu am submetidos at este dia, so uma prova, no s da verdade das predies de Cristo a respeito deles, mas de que eles jazem sob uma culpa maior que a da idolatria (pela qual eles jazeram sob uma desolao de 70 anos), e isto no pode ser outra coisa seno a crucificao de Cristo, e a rejeio do seu Evangelho. Assim, fica evidente que, em nossa exposio do Novo Testamento, no estamos anulando o que fizemos ao ex por o Antigo; to longe disso que podemos apelar para a lei e os profetas para a confirmao da grande verdade que os evangelhos escritos servem para provar: que o nosso Senhor Jesus o Messias prometido aos pais, que de veria vir, e que no devemos procurar nenhum outro. Porque embora o seu aparecimento no tenha correspondido expectativa dos judeus carnais, que procuravam um Messias em pompa e poder exteriores, ele correspondia exatamente a todos os tipos, profecias e promessas do Antigo Testamento, e todos tiveram o seu cumprimento nele. E at mesmo os seus sofrimentos degradantes, que so a maior pedra de tropeo para os judeus, foram pre ditos a respeito do Messias; de forma que, se Ele no tivesse se sujeitado a eles, teramos falhado em nossa prova, e seramos enfraquecidos por eles. A Demonstrao do Messias dos Cristos, do bispo Kidder, tem exposto esta verdade de forma ampla, e respondido aos sofismas dosjudeus (pois o que eles so, em vez de argumentos) mais que tudo em nosso prprio idioma. Vivemos uma era em que o cristianismo e o Novo Testamento so mais violenta e audaciosamente atacados por alguns de dentro de suas prprias entranhas do que por aqueles que esto s suas margens. Nunca Moiss e seus es critos foram to censurados e ridicularizados por qualquer judeu, ou Maom e seu Alcoro por qualquer muluma- no, como Cristo e seu Evangelho tm sido por homens que so batizados e chamados de cristos; e isto, no sob o as pecto de qualquer outra revelao divina, mas em desprezo e provocao a toda revelao divina; e no por meio de algum embate que eles travem com algo que choque a sua f, e que, atravs de sua prpria fraqueza, no consigam superar. Eles no desejam ser instrudos e ajudados no entendimento e na sua reconciliao com a verdade que rece beram, mas fazem uma oposio resoluta, como se olhassem para a revelao divina como seu inimigo, tendo resolvi do por todos os meios possveis ser a runa dele, embora no possam dizer que mal ela tenha feito ao mundo ou a eles. Se os pretextos ou as falsas alegaes transportaram a muitos da igreja de Roma para tais corrupes de adorao e crueldades de governo - que certamente so o escndalo da natureza humana - em vez de serem to preconceituo sos contra o cristianismo puro, deveriam, antes, se dedicar mais vigorosamente defesa dele, ao verem uma institui o to excelente como esta abusada e mal representada. Eles fingem ter uma liberdade de pensamento em sua opo sio ao cristianismo, e gostariam de ser distinguidos pelo nome de livres-pensadores. No irei aqui me ocupar na produo de argumentos que, para todos aqueles que no so intencionalmente ignorantes e preconceituosos contra a verdade, devem suficientemente provar a origem e a autoridade divina da doutrina de Cristo. O homem culto en contra muita satisfao ao ler as apologias dos antigos religio crist na luta contra o politesmo e a idolatria dos gentios. Justino Mrtir e Tertuliano, Lactncio e Mincio Flix, escreveram coisas admirveis em defesa do cristia nismo, que foi posteriormente selado pelo sangue dos mrtires. Mas os seus patronos e advogados nos dias atuais possuem outros tipos de inimigos com os quais tm de lidar. A antiguidade da teologia pag, a sua prevalncia uni versal, os decretos dos prncipes, e as tradies e usos da nao, no se opem agora ao cristianismo; mas eu no sei que liberdade imaginria de pensamento e que privilgio desconhecido da natureza humana so presumidos, para no estarem ligados por nenhuma revelao divina. Agora fcil compreender: 1. Que aqueles que pensam que assim manteriam a liberdade de pensamento como um dos privilgios da natureza humana, e na defesa daqueles que estavam dispostos a pegar em armas contra o prprio Deus, no pensam livremen te, nem do aos outros licena para faz-lo. Em alguns deles, uma indulgncia resoluta voltada a si mesmos naqueles crculos viciosos, em que eles conhecem o Evangelho - se o admitirem - os perturbar muito; e uma hostilidade secreta a uma mente e a uma vida celestiais santas os probem de todo pensamento livre; porque um preconceito muito forte lan ou as suas luxurias e paixes contra as leis de Cristo, e eles se sentem fortemente compelidos a lutar contra elas. Perit judicimn, quandorestrans in affectumae- Ojulgamento estarsuperado, quandoa decisoestivervoltadas emo es. Certo ou errado, as ligaduras de Cristo devem ser quebradas, e as suas cordas tiradas deles; por mais evidentes que sejam as premissas, a concluso deve ser negada, se ela tender a apertar esses laos e cordas sobre eles; e ento onde est a liberdade de pensamento? Embora prometam a liberdade a si mesmos, eles so os servos da corrupo; porque o homem se torna servo daquele que o vence. Em outros deles, um orgulho reinante e uma afetao de singula ridade, e um esprito de contradio - aquelas luxurias da mente que so to impetuosas e imperiosas quanto qualquer das paixes da carne e do mundo - probem a liberdade de pensamento, e escravizam a alma em todas as suas indaga es sobre a religio. Assim como ningum pode pensar por seus vizinhos, estes no podem mais pensar livremente que so capazes de decidir em que iro pensar. Eles tambm no tm a capacidade de dar aos outros a liberdade de pensar livremente; porque no pela razo e pelo argumento que eles se ocuparo de tentar nos convencer, mas por zombarias e brincadeiras, tentando expor o cristianismo e os seus srios ensinadores ao desprezo. Agora, consideran do quo natural para a maioria dos homens ter cimes de sua reputao, esta uma imposio muito grande. A irra cionalidade imposta prejudicando o livre pensamento, pelo medo que os homens sentem de serem ridicularizados no clube daqueles que fazem os seus prprios orculos e argumentos. Eles sentem o medo de serem amaldioados, exco mungados, e anatemizados, pelo conselho daqueles que pretendem ser os lderes da religio. E ento, onde est a li berdade de pensamento?
  11. 11. XIII PREFCIO 2. Que aqueles que se permitirem uma verdadeira liberdade de pensamento, e que pensarem seriamente, s po dero abraar todas as palavras de Cristo como fiis e dignas de toda aceitao. Deixe que os preconceitos corruptos do corao carnal em relao ao mundo, carne, e ao ego (o dolo mais arrogante dos trs) sejam removidos, e que a doutrina de Cristo seja proposta primeiro em suas cores verdadeiras, como Cristo e seus apstolos nos deram, e em sua luz verdadeira, com toda a sua evidncia prpria, intrnseca e extrnseca. E ento, que a alma capaz use livre mente os seus poderes e faculdades racionais, e pela operao do Esprito da graa - que o nico que opera a f e o pensamento elevado em todos os que crem - quando se tornar um pensamento livre, liberto da servido do pecado e da corrupo, se torne, por um poder agradvel e feliz, cativo, e levado obedincia a Cristo. E quando o Esprito, desse modo, o libertar, ele ser realmente liberto. Qualquer um que d a si mesmo a licena para pensar imparcial mente, e se esforce para pensai intimamente, deve ler o livro do Sr. Richard Baxter, RazesparaaReligio Crist, e assim descobrir a profundidade deste assunto, e que o Esprito quem coloca o alicerce de forma profunda e fir me. E Ele quem tambm estabelece a pedra fundamental no relacionamento de um crente com Deus em Cristo, para a satisfao de qualquer pessoa que esteja verdadeiramente preocupada com a sua alma e com omundo por vir. As provas das verdades do Evangelho tm sido - de maneira excelente - colocadas em forma de mtodos, e refora das da mesma forma pelo bispo Stillingfleet, em seu livro OriginesSacrae;por Grotius, em seu livro A Veracidade daReligio Crist, pelo Dr. Whitby, no Prefcio Geral do seu Comentriosobre oNovo Testamento; e, por fim, pelo Sr. Ditton, de forma muito argumentativa, em seu discurso a respeito da Ressurreio deJesus Cristo; e muitos ou tros tambm o fizeram dignamente. E eu no acredito que nenhum homem que rejeite o Novo Testamento e a reli gio crist tenha pensado livremente sobre o assunto, e que tambm tenha, com humildade, seriedade, e orao a Deus por direo, lido de modo deliberado estes ou outros livros similares, que, certamente, foram escritos tanto com liberdade como com clareza de pensamento. Da minha prpria parte, se os meus pensamentos forem dignos de que algum os note, eu declaro que tenho pen sado nesta grande preocupao com toda a Uberdade que uma alma razovel pode desejar; e o resultado que quan to mais penso, e quanto mais livremente penso, mais plenamente me sinto satisfeito pelo fato de a religio crist ser a verdadeira religio, e que, se eu submeter a minha alma sinceramente a ela, posso faz-lo confiantemente. Porque quando eu penso livremente: 1. S posso pensar que o Deus que fez o homem como uma criatura razovel por seu poder, tem o direito de gui-lo por sua lei, e obrig-lo a manter as suas faculdades inferiores de apetites e paixesjuntamente com as capa cidades de pensamento e fala, em devida sujeio aos poderes superiores da razo e da conscincia. E, quando olho para o meu prprio corao, s posso pensar que foi isto o que o meu Criador planejou na ordem e na estrutura da minha alma, e que aqui ele pretendia apoiar o seu prprio domnio em relao a mim. 2. S posso pensar que a minha felicidade est inseparavelmente ligada ao favor de Deus, e que o seu favor ser ou no direcionado a mim, de acordo com a minha disposio de cumprir ou no as leis e as finalidades da minha cria o, da qual sou responsvel para com este Deus to precioso; e que dele procede o meujulgamento, no s no que se refere a este mundo, mas tambm ao meu estado eterno. 3. S posso pensar que a minha natureza muito diferente do que era a natureza do homem quando saiu das mos do Criador; ela foi degenerada em termos de sua pureza e retido. Encontro em mim mesmo uma averso na tural minha obrigao, e aos exerccios espirituais e divinos, e uma propenso ao que maligno, tal como uma incli nao ao mundo e carne, o que equivale a uma propenso a me apostatar do Deus vivo. 4. S posso pensar que estou, portanto, por natureza, afastado do favor de Deus; porque embora eu entenda que Ele um Deus bondoso e misericordioso, tambm sei que Ele um Deusjusto e santo, e que me torno, pelo pecado, tanto odioso sua santidade como ofensivo suajustia. Se eu pensasse de outra forma, no estaria pensando livre mente, porm muito parcialmente. Acho que sou culpado diante de Deus, tenho pecado, e sido deficiente em glorifi- c-lo, e assim no sou digno de ser glorificado com Ele. 5. S posso pensar que, sem alguma descoberta especial da vontade de Deus em relao a mim, e da sua boa vontade para comigo, no posso recuperar o seu favor, ser reconciliado com Ele, e ser restaurado minha justia inicial em termos de ser capaz de servir ao meu Criador, e corresponder finalidade da minha criao, tornan do-me adequado para um outro mundo; porque a generosidade da Providncia para comigo, como tambm para com as criaturas inferiores, no pode servir como uma garantia de que Deus est reconciliado comigo ou que pre tende me reconciliar consigo. 6. S posso pensar que o caminho da salvao, tanto da culpa como do poder do pecado, atravs de Jesus Cristo e de sua mediao entre Deus e o homem - como revelado pelo Novo Testamento - uma vontade admiravelmen te adequada para todas as exigncias do meu caso, para me restaurar tanto ao favor de Deus como ao meu prprio governo e satisfao. Aqui vejo o mtodo correto para a remoo da culpa do pecado (para que eu no morra pela sentena da lei) pelo mrito auto-suficiente e pela justia do Filho de Deus em nossa natureza, e pela quebra do poder do pecado (para que eu no venha a morrer pela minha prpria enfermidade), pela influncia completa e su ficiente, e pela operao do Esprito de Deus sobre a nossa natureza. Toda enfermidade tem aqui o seu remdio, toda tristeza termina aqui, de um modo que exalta a honra de todos os atributos divinos, e perfeitamente ade quado natureza humana. 7. S posso pensar que aquilo que encontro em mim mesmo, e que faz parte da religiosidade natural, evidente mente d testemunho da religio crist; porque toda esta verdade que me revelada pela luz da natureza confir mada e mais claramente revelada pelo Evangelho; naquilo em que a luz da natureza me d uma viso confusa
  12. 12. PREFCIO XIV (como a viso dos homens como rvores que andam), o Novo Testamento me d uma viso clara e distinta. Todo este bem que vem sobre mim pela lei da natureza me mais plenamente revelado, e eu me encontro muito mais fortem ente ligado a ele pelo Evangelho de Cristo. Tambm recebo todas as exigncias bem como as palavras de nimo e auxlio que ele coloca em relao ao meu dever. E tudo isto serve para confirm ar para mim que ali, e so m ente ali, que esta luz natural m e deixa perplexo. A insatisfao m e diz que at agora ela pde me carregar, mas no poder m ais faz-lo; logo o Evangelho me toma, me ajuda, e me d toda a satisfao que eu posso desejar, e que est especialm ente relacionada grande questo de satisfazer a justia de Deus pelo pecado do homem. A mi nha prpria conscincia pergunta: Por meio de que ou de quem eu venho at presena do Senhor, e m e inclino di ante do Altssim o? Agradar-se- o Senhor de m ilhares de carneiros? M as ainda estou perplexo; no posso for m ular uma justia a partir de qualquer coisa que eu mesmo seja, ou tenha, ou de qualquer coisa que eu possa fazer para Deus ou apresentar a Deus, atravs da qual eu ouse com parecer diante dele; mas o Evangelho se apresenta, e me diz que Jesus C risto fez de sua alma uma oferta pelo pecado, e Deus se declarou satisfeito com todos os cren tes que esto nele; e isto m e deixa tranqilo. 8. S posso pensar que as provas pelas quais Deus atestou a verdade do Evangelho so as mais adequadas que poderiam ser dadas em um caso dessa natureza; que o poder e a autoridade do Redentor no reino da graa devem ser exemplificados ao mundo, no pelo grau m ais elevado da pompa e da autoridade dos reis da terra, como osjudeus esperavam, mas pelas evidncias de seu domnio no reino da natureza, que uma dignidade e uma autoridade muito maior do que qualquer dos reis da terra jam ais simulou, e nada menos que divino. E seus m ilagres sendo geral mente operados sobre os homens, no s sobre os seus corpos, como foram em sua maioria quando Cristo esteve aqui na terra, mas, algo ainda superior - sobre as suas mentes, como foram em sua maioria aps o derramamento do Esprito com o dom de lnguas e outros dons sobrenaturais, que eram as confirmaes mais adequadas possveis da verdade do Evangelho, que foi criado por Deus para tornar os homens santos e felizes. 9. S posso pensar que os mtodos usados para a propagao desse Evangelho, e o maravilhoso sucesso destes m todos, que so puramente espirituais e celestiais e destitudos de todas as vantagens e apoios seculares, mostram cla ramente que o Evangelho era de Deus, porque Deus estava com ele; e ele jam ais poderia ter sido anunciado como o foi, diante de tanta oposio, se no tivesse estado acompanhado pelo poder do alto. E a preservao do cristianismo no mundo at este dia, apesar das dificuldades que ele enfrenta, para mim um milagre permanente que serve como pro va da sua veracidade. 10. S posso pensar que o Evangelho de C risto teve alguma influncia sobre a minha alma, teve domnio sobre mim, e foi um conforto para mim, como uma demonstrao a mim mesmo - embora no possa ser assim com outra pessoa - de que ele de Deus. Tenho provado que o Senhor misericordioso; e o polemista mais sutil no pode con vencer a ningum que tenha provado m el que ele no doce. E agora eu recorro quele que conhece os pensamentos e intentos do corao, para que em tudo isso eu possa pen sar livremente (se for possvel para um homem saber que pensa assim), e no sob o poder de qualquer preconceito. Se tivermos razo de pensar que aqueles que, sem qualquer razo aparente, no s usurpam, mas monopolizam o carter de livres-pensadores, fazem assim, deixemos que aqueles que julgam observem facilmente que eles no falam sincera mente, mas engenhosamente escondem as suas noes. E um exemplo que no posso deixar de notar o seu procedi mento injusto para com os seus leitores - que, procurando diminuir a autoridade do Novo Testamento, embora eles exortem os vrios leitores do original, e citem um reconhecimento pelo Sr. Gregory, da Igreja de Cristo, em seu pref cio s suas obras: Que nenhum autor profano, qualquer que seja... etc., contudo suprimem o texto que vem imediata mente a seguir, alterando o sentido pretendido por aquele homem erudito sobre este assunto: Que este um argu mento invencvel pela parte das Escrituras... etc. (palavras que afirmam a fidedignidade das Escrituras). Ns, ento, recebemos os livros do Novo Testamento como nossos orculos; porque evidente que aquela noo excelente do Dr. H enry M ores verdadeira, de que eles tm uma tendncia imediata para tomar-nos da vida ani mal e trazer-nos para a vida divina. Mas enquanto estamos, assim, mantendo a origem e autoridade divinas do Novo Testamento, como foram recebi das ao longo de todas as eras da igreja, achamos a nossa causa no s atacada pelos inimigos de que falamos, mas com efeito trada por aquele que torna o nosso Novo Testamento quase o dobro daquilo que realmente *, acrescentando a ele as Constituies dosApstolos, coletadas por Clemente, juntamente com os CnonesApostlicos, e tornando es tes de igual autoridade com os escritos dos evangelistas, e preferveis s Epstolas. Aumentando as linhas de defesa, portanto, sem causa ou precedente, ele d grande vantagem aos invasores. Aquelas Constituies dos Apstolos tm muitas coisas boas, e podem ser teis, como outras composies humanas; mas pretender que elas tenham sido com postas, como professam, pelos doze apstolos reunidos em Jerusalm, Eu, Pedro, dizendo isso; Eu, Andr, dizendo aquilo etc., a maior imposio que pode ser praticada sobre a credulidade dos smplices. 1. E certo que havia muitos escritos esprios que, nos dias da igreja primitiva, se fizeram passar sob os nomes dos apstolos e homens apostlicos; desta forma, sempre ficou claro que era impossvel descobrir quaisquer escritos deles alm do cnon das Escrituras. Somente este cnon poderia com segurana ser atribudo a eles. O prprio Baronius re conhece isso: Cum apostolorumnomine tarnfacta quamdictareperianturessesupposititia;necsic quid deillis ve- ris sincerisque spriptoribus narratum sit integrum etincorruptum remanserit, in desperationem plan quandam animum dejicuntposseunquam assequi quodverum certumque subsistat- Umavez quemuitos dos atos epalavras *Whiston.
  13. 13. XV PREFCIO atribudos aos apstolos so esprios, e atmesmo as narrativas de escritoresfiis comrelao a elesno esto li vres de corrupo, devemosperdera esperanadealgumavezsermos capazesdechegara qualquercertezaabsoluta sobreeles.AdAn. Christ. 44, se. 42 etc. Houve Atos sob os nomes de Andr, o apstolo, Felipe, Pedro, e Tom; evange lhos sob os nomes de Tadeu, um outro Barnab, e um outro Bartolomeu; um livro sobre a infncia do nosso Salvador, um outro sobre a sua natividade, e muitos semelhantes, os quais todos ns rejeitamos como falsificaes. 2. Essas Constituies e Cnones,entre os demais, foram condenados na igreja primitiva como apcrifos, e, por tanto, justamente rejeitados. Porque, mesmo que fossem bons, eles fingiam ser o que realmente no eram: ditados pelos prprios doze apstolos, como se tivessem sido recebidos de Cristo. Se Jesus Cristo lhes deu tais instrues, e eles as deram de uma maneira solene para a igreja, como foi simulado, inexplicvel que no haja o menor aviso so bre qualquer coisa desse tipo nos Evangelhos, nos Atos, ou em qualquer uma das Epstolas. Aqueles que julgaram os mais auspiciosos desses Cnones e Constituies concluram que eles foram compilados por algumas pessoas no oficiais sob o nome de Clemente, no final do segundo sculo, mais de 150 anos depois da as censo de Cristo, fora da prtica comum das igrejas; isto , aquilo com que os compiladores estavam mais familiariza dos, ou pelo que tinham respeito. Ao mesmo tempo, temos razes para pensar que o grande nmero de igrejas crists que na poca foram implantadas tinha as suas prprias Constituies, que, se tivessem tido a felicidade de ser transmi tidas posteridade, teriam se recomendado a si mesmas como estas, ou ainda de uma forma muito melhor. Mas, me dida que os legisladores antigos atriburam uma reputao s suas leis, fingindo t-las recebido de uma ou outra divin dade, os lderes da igreja estudaram a situao e concluram que poderiam trazer uma boa reputao aos seus pensa mentos colocando algum homem apostlico ou outro no alto de sua lista de bispos (veja o Irenicum, do bispo Stilling- fleet, p. 302). Eles entenderam que poderiam trazer umaimportantereputao aos seus Cnones e Constituies atri buindo a sua autoria aos apstolos. Mas, como algum pode imaginar que os apstolos deveriam estai todosjuntos em Jerusalm, para compor este livro de Cnones com tanta solenidade, quando sabemos que eles receberam a incum bncia de divulgar a mensagem do Evangelho a todo omundo, pregando-o a toda criatura? Conseqentemente, Eus- bio nos diz que Tom foi para Prtia, Andr para Ctia, Joo para a sia Menor; e temos motivo para pensar que aps a sua disperso eles nunca mais se reuniram, assim como aconteceu com aqueles que implantaram as naes depois que o Altssimo separou os filhos de Ado. Penso que qualquer pessoa que comparar essas Constituies com os escritos de que temos a certeza que foram da dos pela inspirao de Deus, discernir facilmente umavasta diferena de estilo e esprito. O que a palha para o trigo? Onde esto osministros, no estilo dos verdadeiros apstolos, chamados de sacerdotes, e sumos sacerdotes? Onde encon tramos na era apostlica- aquela era de sofrimento - o estabelecimento de bispos em seus tronos? Ou de leitores, canto res, e porteiros na igreja?* Receio que o coletor e compilador dessas Constituies, sob o nome de Clemente, estivesse ciente de sua honesti dade, e que ele no as teria publicado, antes de tudo, por causa dos mistrios contidos nelas; elas no eram conhecidas e nem foram publicadas at a metade do quarto sculo, quando a falsificao no poderia ser to bem refutada. No con sigo ver nelas quaisquer mistrios que devessem ser ocultados, se tivessem sido genunos; mas tenho a certeza de que Cristo ordena que os seus apstolos publiquem os mistrios do Reino de Deus sobre os telhados. E o apstolo Paulo, que revela em suas epstolas mistrios muito mais sublimes do que qualquer dessas Constituies, afirma que eles deveriam ser lidos para todos os santos irmos. E no somente isto: essas Constituiesso to completas em termos de preceitos morais, ou regras de prticas para a igreja, que se tivessem sido o que fingem ser serviriam em muito para ser publicadas antes de mais nada. E embora o Apocalipse seja to repleto de mistrios, uma bno pronunciada so bre os leitores e ouvintes da profecia. Devemos, portanto, concluir que a despeito de quando quer que tenham sido es critos, enfraqueceram a luz que eles mesmos gostariam de ter, e reconheceram que eram apcrifos; isto , eram escri tos que estavam escondidos ou ocultos. Eles no ousaram se misturar com o que foi dado pela inspirao divina; mas poderiam at fazer alguma aluso ao que foi dito pelos ministros (At 5.13). No demais, nenhum homem ousejuntar-se aos apstolos, pois o povo os exaltou. E assim, a prpria confisso deles mostra que os seus escritos no foram entre gues s igrejas com os outros escritos, quando o cnon do Novo Testamento foi solenemente selado com aquela terrvel sentena que sobrevir queles que lhe acrescentarem algo. E quando foram feitas tentativas posteriores para provar a pureza e a suficincia do nosso Novo Testamento, por acrscimos a ele, tivemos da mesma forma - de um outro lugar - um grande desprezo colocado sobre ele, pelo poder papal. A ocasio era essa: Um padre Quesnel, um papista francs, mas um jansenista, alguns anos atrs, pu blicou o Novo Testamento em francs, em vrios volumes pequenos, com Reflexes Morais sobre cada versculo, para traduzir a leitura dele de maneira mais proveitosa, facilitando a sua meditao. Esta traduo foi muito estima da na Frana, por causa da piedade e devoo que se via nele. E assim, muitos exemplares foram impressos. Osjesu tas ficaram muito insatisfeitos, e solicitaram ao papa a condenao dele, embora o seu autor fosse um papista, e mui tas coisas nele dessem apoio a supersties papais. Depois de muita luta com relao a isso na corte de Roma, uma bula papal foi finalmente obtida, a pedido do rei francs, do papa da poca, Clemente XI, datada de 8 de setembro de 1713, na qual o livro citado, com qualquer que fosse o ttulo ou o idioma impresso, foi proibido e condenado. O prprio Novo Testamento deveria ser evitado por causa de muitas coisas provenientes do latim vulgar, como as Anotaes, que continham diversas proposies (mais de uma centena est enumerada) que foram consideradas escandalosas e perniciosas, injuriosas para a igreja e seus costumes, mpias, blasfemas, com paladar de heresia. Algumas proposi * Edit. Joan. Clerici, p. 245.
  14. 14. PREFCIO XVI es so as seguintes: Que a graa do nosso Senhor Jesus Cristo o princpio eficaz de toda a forma de bem, e ne cessria para cada boa ao; porque sem isso nada feito, e sem isso nada pode ser feito. Esta uma graa soberana, e uma operao da mo poderosa de Deus. Que quando Deus acompanha a sua Palavra com o poder interior de sua graa, esta opera na alma a obedincia que exigida. Esta f a primeira graa, e a fonte de todas as outras. Que em vo para ns chamarmos a Deus de nosso Pai, se no clamarmos a Ele com um esprito de amor. Que no h Deus, e nem religio, onde no h caridade. Que a igreja catlica compreende os anjos e todos os homens eleitos e justos da terra de todas as pocas. Que ela tinha a Palavra encarnada por sua cabea, e todos os santos como seus membros. Que proveitoso e necessrio em todas as pocas, em todos os lugares, e para todos os tipos de pessoas, conhecer as sagradas Escrituras. Que a santa obscuridade da palavra de Deus no motivo para que os leigos no a leiam. Que o dia do Senhor deve ser santificado lendo-se livros piedosos, especialmente as sagradas Escrituras. E que proibir os cristos de ler as Escrituras proibir o uso da luz aos filhos da luz. Muitas posies como estas, em que o esprito de cada bom cristo s pode sentir prazer como em algo verdadeiro e bom, so condenadas pela bula do papa como mpias e blasfemas. E esta bula papal, embora sofrendo uma severa oposio por parte de um grande nmero de bis pos na Frana, que foram bem influenciados pelas noes do padre Quesnel, foi recebida e confirmada pelas cartas patentes do rei francs, datando de 14 de fevereiro de 1714, em Versalhes, que probe todos os tipos de pessoas, sob pena de punio exemplar, de guardar qualquer desses livros em suas casas. A partir daquele momento, qualquer que escrevesse em defesa das proposies condenadas pelo papa como perturbadoras da paz, seria condenado. Isto foi registrado no dia seguinte, 15 de fevereiro, pelo Parlamento de Paris, mas com diversas condies e limitaes. Por meio disso, parece que o papado ainda a mesma coisa que sempre foi - um inimigo do conhecimento das Escrituras, e da honra da graa divina. Temos motivo para bendizer a Deus por termos a liberdade de ler as Escrituras, e de termos materiais auxiliares que nos ajudam a entend-las e a aplic-las, e devemos ter a preocu pao de fazer um uso diligente e bom de tudo, para que no provoquemos a Deus de forma a nos entregar nas mos dos poderes que usariam todas as coisas de um modo indigno. Espero que aqueles para quem a leitura da Ex-posio do Antigo Testamento foi agradvel acharo este novo trabalho ainda mais agradvel; pois esta a parte da Escritura que testifica mais claramente de Cristo, e na qual esta graa do Evangelho que aparece em todos os homens, trazendo salvao, brilha mais claramente. Este o leite do Novo Testamento para bebs - o restante carne forte para homens fortes. Por estes, portanto, sejamos alimentados e fortalecidos para que possamos prosseguir vigorosamente em direo perfeio; e que, tendo colocado o alicerce na histria da vida, morte e ressurreio do nosso bendito Salvador, e a primeira pre gao de seu Evangelho, possamos edificar sobre ele pelo conhecimento dos mistrios da piedade, qual sere mos apresentados posteriormente nas Epstolas. Desejo que os meus escritos sejam lidos com um olhar sincero, e no crtico. Eu procuro no gratificar os curio sos. O alvo da minha ambio auxiliar aqueles que verdadeira e seriamente buscam as Escrituras diariamente. Te nho certeza de que esta obrafoi criada - e espero que tambm seja calculada - para promover a piedade em relao a Deus e a caridade em relao aos nossos irmos; e que no haja nela apenas algo que possa edificar, mas que no haja nada que possa ofender, com justia, a qualquer bom cristo. Se qualquer pessoa receber um benefcio espiritual atravs dos meus fracos esforos, isto ser um conforto para mim; mas d a Deus toda a glria, e o louve pela sua graa, por ter usado algum totalmente indigno de tal honra, e capacitado at aqui algum totalmente insuficiente para tal servio. Tendo obtido a ajuda de Deus, e continuando assim at agora, humildemente dependo da mesma boa mo do meu Deus para me conduzir naquilo que permanece, para cingir os meus lombos com a fora necessria e para aper feioar o meu caminho; e para isso eu desejo humildemente as oraes dos meus amigos. Mais um volume, eu espero, incluir o que ainda est por ser feito; e eu tanto irei empreend-lo, como prosseguir com ele, enquanto Deus me ca pacitar, com toda a velocidade conveniente; mas este volume conter aquela parte das Escrituras que, de todas as outras, requer o maior cuidado e sofrimentos ao expor. Mas eu confio que assim como o dia, vir tambm a fora. M. H. 1721
  15. 15. Mateus M A EXPOSIO COM OBSKRVACS PR TICAS emos agora diante de ns: I O Novo Testamento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. E sta segunda parte da Bblia Sagrada assim intitulada: A NovaAliana-, assim deve ser traduzido; a palavra significa ambos. Mas, quando ela (como aqui) mencionada como ato e ao de Cristo, ela traduzida mais corretamente como Testamento, porque E le o testador, e este Testamento ganha fora pela sua morte (Hb 9.16,17); aqui no h, como em alianas, um tratado anterior entre as partes, mas o que concedido, embora como uma propriedade condicionada, se deve ao testamento, ao livre-arbtrio, boa vontade, do Testador. Toda a graa contida neste livro devida a Jesus Cristo como o nosso Senhor e Salvador; e, a menos que consintamos que E le seja o nosso Senhor, no podemos aceitar qualquer benefcio dele como o nosso Sal vador. Isto chamado de um novo testamento, para distingui-lo daquele que foi dado a Moiss, mostrando que ele no antiquado; e para significar que ele deveria ser sempre novo, e nunca deveria envelhecer e ficar ultrapassado. E stes livros contm no s uma descoberta completa dessa graa que apareceu a todos os homens, trazendo salva o, mas um instrumento legal pelo qual ela transmitida, e estabelecida, a todos os crentes. Com que cuidado pre servamos, e com que ateno e prazer lemos a ltima vontade e o testam ento de um amigo, que a esse respeito nos deixou uma boa propriedade, e, com ela, altas expresses de seu amor por ns! Quo precioso, ento, deve ser este testamento do nosso bendito Salvador a ns, que nos assegura todas as suas riquezas insondveis! E o seu testamen to; embora, como usual, tenha sido escrito por outros (no temos nada registrado que tenha sido escrito pelo pr prio Cristo). Contudo, E le o ditou. E na noite anterior sua morte, na instituio de sua ceia, E le o assinou, selou e publicou na presena das doze testemunhas. E embora estes livros s tenham sido escritos alguns anos depois, para benefcio da posteridade, in perpetuamrei memoriam - comoum memorialperptuo, o Novo Testamento de nosso Senhor Jesus foi estabelecido, confirmado e declarado, desde a hora de sua morte, como um testamento nuncupati- vo, com o qual estes registros concordam exatamente. Os fatos que Lucas escreveu eram fatos em que todos criam, sendo, portanto, bem conhecidos, antes que ele os registrasse; mas, quando eles foram escritos, a tradio oral foi substituda e deixada de lado, e estes escritos foram o repositrio daquele Novo Testamento. Isso est sugerido pelo ttulo que prefixado em muitas cpias gregas: Tes kaines Diathekes Hapantae-A totalidade do Novo Testamen to,ou todas as coisas dele. N ele est declarado todo o conselho de Deus a respeito da nossa salvao (At 20.27). Como a lei do Senhor perfeita, o Evangelho de Cristo tambm o , e nada deve ser acrescentado a ele. Ns temos tudo, e no devemos procurar mais nada. n Temos diante de ns os Quatro Evangelhos. Evangelho significa boas novas, ou notcias felizes; e esta histria da vinda de Cristo ao mundo para salvar os pecadores , sem dvida alguma, a melhor notcia que j veio do cu ter ra; o anjo lhe deu este ttulo (Lc 2.10), euangelizomaihymin- trago-vosboasnovas; trago-vosoEvangelho.E o profeta predisse isso (Is 52.7; 61.1). Foi predito que nos dias do Messias, boas novas deveriam ser pregadas. Evangelho uma an tiga palavra grega; ela est relacionada a Deus; e Deus assim chamado porque E le muito bom, Deus optimus - o Deusmais excelente;portanto, esta , sem dvida, uma boa palavra. Se considerarmos que este termo tambm significa encanto, ou fascinao (carmen), e o tomarmos em um bom sentido, para o que est se movendo e afetando, que ade quado lenire doloremae - para acalmar os espritos, ou exalt-los em admirao e amor. Quando algo muito amvel, ns o chamamos de encantador; e isto absolutamente aplicvel ao Evangelho, porque nele o encantador perito em en cantar, embora os seus ouvintes geralmente se comportem como vboras surdas (SI 58.4,5). E nem (algum poderia pen sar) podem quaisquer encantos ser to poderosos quanto aqueles da beleza e do amor do nosso Redentor. Todo o Novo Testamento o Evangelho. O apstolo Paulo o chama de seu evangelho, porque ele era um dos seus pregadores. Que cada um de ns possa cham-lo de seu, pela nossa cordial aceitao e sujeio a ele! Mas comumente chamamos os quatro livros que contm a histria do Redentor de os Quatro Evangelhos, e chamamos os seus escritores inspirados de evange listas ou escritores dos Evangelhos. Porm, isto no totalmente correto, porque este ttulo pertence a uma ordem espe cfica de ministros, que eram auxiliares dos apstolos (E f4.11): E ele mesmo deu uns para apstolos... outros para evan gelistas. E ra necessrio que a doutrina de Cristo fosse entrelaada e fundada sobre a narrativa de seu nascimento, vida, milagres, morte e ressurreio; pois ento ela aparece em sua luz mais clara e mais intensa. Como em natureza, assim em graa, as descobertas mais felizes so aquelas que surgem de certas representaes de fatos. A histria natural a me-
  16. 16. w . 1-17 MATEUS 1 2 lhor filosofia; como tambm a histria sagrada, tanto do Antigo como do Novo Testamento, o veculo mais adequado e grato da verdade sagrada. E sses quatro Evangelhos foram recebidos inicial e constantemente pela igreja primitiva, e li dos em assemblias crists, como consta nos escritos de Justino Mrtir e Irineu, que viveram pouco mais de cem anos de pois da ascenso de Cristo; eles declararam que nem mais nem menos de quatro Evangelhos foram recebidos pela igreja. Uma Harmonia desses quatro evangelistas foi composta por Taciano sobre aquela poca, que ele chamou: To diatessa- ron - O Evangelho de quatro. Nos sculos III e IV houve evangelhos falsificados por diversas seitas, e publicados, um sob o nome de Pedro, outro de Tom, outro de Felipe etc. M as estes nunca foram reconhecidos pela igreja, nemjamais re ceberam qualquer crdito, como mostra o erudito Dr. Whitby. E ele d uma boa razo do por que devemos aderir a estes registros escritos; porque, qualquer que possa ser o pretexto da tradio, no suficiente preservar algo de que no se tenha completa certeza, como alguns costumam fazer. Pois, embora Cristo tenha dito e feito muitas coisas memorveis que no foram escritas (Jo 20.30; 21.25), a tradio no preservou nenhuma delas para ns, mas tudo se perdeu, exceto o que foi escrito. , portanto, a isso que devemosnos ater; e, abenoados por Deus, nos ater palavra segura da histria. m Temos diante de ns o Evangelho Segundo Mateus. O escritor era judeu de nascimento, publicano por voca o, at que Cristo solicitou a sua presena, e ento ele deixou a coletoria de impostos para segui-lo, e fez par te daqueles que acompanharam o Senhor em todo o tempo que E le entrou e saiu, comeando desde o batismo de Jo at o dia em que o Senhor foi recebido em cima (At 1.21,22). Mateus foi, portanto, uma testemunha competente da quilo que ele registrou aqui. Somos informados de que ele escreveu esta histria cerca de oito anos aps a ascenso de Cristo. Muitos dos antigos dizem que ele escreveu no idioma hebraico ou siraco; mas a tradio suficientemente re futada pelo Dr. Whitby. Sem dvida alguma, seu Evangelho foi escrito em grego, como foram as outras partes do Novo Testamento; no naquele idioma que era peculiar aos judeus, cuja igreja e estado estiveram familiarizados por um pe rodo, mas no que era comum ao mundo, no qual o conhecimento de Cristo seria transmitido com mais eficincia s na es da terra. Contudo, provvel que houvesse uma edio dele em hebraico, publicada pelo prprio Mateus, ao mes mo tempo em que escreveu em grego - um para osjudeus, e o outro para os gentios - quando ele deixou a Judia, para pregar entre os gentios. Bendigamos a Deus pelo Evangelho de M ateus, e por t-lo em um idioma que entendemos. Captulo I E ste evangelista comea com a descrio do nas cimento e ascendncia de Cristo, os ancestrais de quem E le descendia, e a form a de sua entrada no mundo, indicando que E le era realm ente o M essi as prometido, pois fora profetizado que E le deve ria ser o filho de Davi, e deveria nascer de uma virgem; e aqui est claramente demonstrado que E le cumpriu tudo isso. Pois o texto diz: L Sua li nhagem de Abrao em quarenta e duas geraes, trs perodos de quatorze (w . 1-17). II. Um relato das circunstncias de seu nascimento, pois era um requisito m ostrar que E le nasceu de uma virgem (w . 18-25). D essa forma, a vida de nosso bendito Salvador metodicamente escrita, como todas as vidas deveriam ser escritas, para que o propsito do exemplo delas seja o mais claro possvel. AGenealogia de Cristo w . 1-17 Com respeito a essa genealogia de nosso Salvador, observe: T Seu ttulo. o livro (ou o relato, de acordo com o 1 significado dado, s vezes, palavra hebraica sep- her, um livro) da genealogia de Jesus Cristo, de seus ancestrais conforme a carne; ou a narrativa de seu nas cimento. E o Biblos Geneseos - um livro do Gnesis. O Antigo Testam ento comea com o livro da criao do mundo, e a sua glria que seja assim; mas a glria do Novo Testam ento, exaltada neste documento, come ar com a genealogia daquele que criou o mundo. Como Deus, suas origens so desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade (Mq 5.2), e ningum pode expli car aquela criao; mas, como homem, E le foi enviado na plenitude dos tempos, nasceu de uma mulher, e esta criao que proclamada aqui. n A principal inteno dela. No uma genealogia sem fim ou desnecessria; no presunosa como so geralmente as dos grandes homens. Stemmata, quid faciunt? - Qual a utilidade das antigas genealogias? De viam ser usadas como evidncia, para comprovarum ttulo e apoiar uma alegao; o objetivo aqui provar que o nos so Senhor Jesus Cristo o filho de Davi e o filho de Abrao, e, portanto, daquela nao e daquela famlia atravs da qual o Messias estava para surgir. Abrao e Davi eram, em seus dias, os grandes depositrios da pro messa relativa ao Messias. A promessa da bno foi feita a Abrao e sua semente, e a do poder, a Davi e sua se mente; e aqueles que teriam um envolvimento com Cris to, como o filho de Abrao, em quem sero abenoadas to das as famlias da terra, deveriam ser fiis e leais sditos dele como o filho de Davi, por quem sero governadas to das as famlias da terra. Foi prometido a Abrao e a Davi que Cristo descenderia deles (Gn 12.3; 22.18; 2 Sm 7.12; SI 89.3ss.; 132.11); conseqentemente, a menos que possa ser provado que Jesus um filho de Davi, e um filho de Abrao, no podemos aceitar que E le seja o Messias. Agora isso est provado aqui atravs dos registros autn ticos do ofcio da aristocracia. Os judeus eram muito pre-
  17. 17. 3 MATEUS 1 w . 1-17 cisos em manter a sua genealogia, e havia prudncia nis so, pois assim podiam esclarecer a linhagem do Messias a partir dos patriarcas; e desde a sua vinda essa nao est to dispersa e confusa que existe uma questo sobre se qualquer pessoa no mundo pode legalmente provar que um filho de Abrao. De qualquer maneira, certo que ningum pode provar que um filho de Abrao ou de Davi; desse modo, o ofcio de sacerdote e de rei deve ser abandonado, como perdido para sempre, ou ser colocado nas mos de nosso Senhor Jesus. Cristo aqui, pela pri meira vez, chamado de filho de Davi, porque sob esse ttu lo, ele era freqentemente comentado e esperado entre os judeus. Aqueles que reconheciam ser ele o Cristo, cha mavam-no de filho de Davi (cap. 15.22; 20.31; 21.15). Des se modo, portanto, o evangelista tem a tarefa de compro var que E le no apenas um filho de Davi, mas aquele fi lho de Davi sobre cujos ombros deveria estar o governo; no apenas um filho de Abrao, mas aquele filho de Abrao que seria o pai de muitas naes. Ao chamar Cristo de filho de Davi, e filho de Abrao, ele mostra que Deus fiel sua promessa, e cumprir tudo o que disse: 1. Embora o cumprimento fosse adiado por um longo perodo. Quando Deus prometeu a Abrao um filho, que deveria ser a grande bno do mundo, talvez ele es perasse que este fosse seu filho imediato; mas ficou com provado que se tratava de um descendente que estava a quarenta e duas geraes de distncia, cerca de 2.000 anos. Deus pode profetizar com muita antecedncia aquilo que deve ser feito e, s vezes, muito tempo depois cumprir o que foi prometido. Observe que embora a demora em conceder as misericrdias prometidas exercite a nossa pa cincia, ela no enfraquece a promessa de Deus. 2. Embo ra algum comece a perder a esperana. Esse filho de Davi e de Abrao, que deveria ser a glria da casa de seu Pai, nasceu quando a semente de Abrao era um povo menos prezado, que recentemente se tornara tributrio do jugo romano, e quando a casa de Davi havia mergulhado na obscuridade. Pois Cristo seria uma raiz arrancada de solo seco. Note que o tempo de Deus para o cumprimento de suas promessas geralmente aquele em que as condies se mostram mais desfavorveis. m Uma seqncia particular, descrita em linha reta diretamente a partir de Abrao, de acor do com as genealogias registradas no incio dos livros de Crnicas (at onde elas vo), e cuja utilidade vemos aqui. Algumas peculiaridades que podemos observar na genealogia: 1. Entre os ancestrais de Cristo que eram irmos, geralm ente E le descendia do irmo mais novo; assim foi com o prprio Abrao, Jac, Jud, Davi, Nat e Resa; para m ostrar que a superioridade de Cristo vinha, no como no caso dos prncipes terrenos, da primogenitura de seus ancestrais, mas da vontade de Deus, que, con forme o mtodo de sua providncia, exalta os menores depositando uma honra mais abundante sobre a parte que menos tinha. 2. E n tre os filhos de Jac, alm de Jud, de quem veio Sil, a ateno dada aqui a seus irmos: Jud e seus irmos. No feita meno a Ismael, filho de A- brao, ou a Esa, o filho de Isaque, porque eles foram impedidos de entrar na congregao. Todos os filhos de Jac foram recebidos, embora no fossem os pais de Cristo; mas mesmo assim foram patriarcas da igreja (At 7.8), e por isso o mencionados na genealogia, para o encorajamento das doze tribos que foram espalhadas pelo mundo, insinuando a estas que elas tm um envolvi mento com Cristo, e que permanecem relacionadas tan to a E le como a Jud. 3. Perez e Zer, filhos gmeos de Jud, so igual mente mencionados, embora somente Perez fosse an cestral de Cristo, pela mesma razo que os irmos de Jud so mencionados; e alguns pensam que seja por que o nascimento de Perez e Zer contenha uma espcie de alegoria. Zer colocou sua mo para fora primeiro, como se fosse o primognito, mas quando a recolheu, Pe rez ficou com o direito da primogenitura. A igreja judai ca, como Zer, alcanou antes o direito de primogenitu ra, mas pela sua descrena, ao retrair a mo, a igreja gentlica, como Perez, adiantou-se e conquistou o direito de primogenitura; e assim em parte a cegueira atinge a Israel, at que os gentios atinjam a plenitude e, ento, Zer nascer e todo Israel ser salvo (Rm 11.25,26). 4. H quatro mulheres, e somente quatro, listadas nesta genealogia; duas delas originariamente no per tencentes comunidade de Israel. Raabe, uma canania e, alm disso, prostituta, e Rute, a moabita; pois em Je sus Cristo no h nem grego nem judeu; os forasteiros e os estrangeiros so, em Cristo, bem-vindos como conci dados dos santos. A s duas outras eram adlteras, Ta- m ar e Bate-Seba; o que foi uma m arca a mais de humi lhao colocada sobre nosso Senhor Jesus. particular mente observado em sua genealogia que E le era um descendente delas, e nenhum vu posto sobre este fato. E le tomou sobre si a semelhana da carne pecami nosa (Rm 8.3), e aceita at mesmo os maiores pecadores - aps eles se arrependerem - em seu crculo de rela es mais prximas. Note que no devemos criticar as pessoas pelos escndalos de seus ancestrais; algo que elas no podem controlar, e isto ocorre at mesmo com as melhores pessoas; ocorreu at mesmo com o nosso prprio M estre. O fato de Davi ter gerado Salomo atra vs daquela que havia sido a esposa de Urias mencio nado (diz o Dr. W hitby) para m ostrar que o crime de Davi, devido ao arrependimento, estava muito longe de impedir o cumprimento da promessa que lhe fora feita. O cumprimento da promessa agradava tanto a Deus, que E le tolerou que fosse cumprida atravs daquela mulher. 5. Em bora diversos reis sejam aqui citados, nenhum chamado de rei, exceto Davi (v. 6). Davi, o rei; porque com ele foi feito o pacto da realeza, e a ele foi feita a pro messa do reino do Messias, sobre quem dito que her dar o trono de seu pai Davi (Lc 1.32). 6. N a linhagem dos reis de Jud, entre Joro e Uzi- as (v. 8), existem trs que no so citados, especifica mente Acazias, Jos e Am azias; e conseqentemente quando dito que Joro gerou a Uzias, isto significa, de acordo com o uso da lngua hebraica, que U zias era um descendente dele em linha reta, assim como dito a Ezequias que os filhos que haveria de gerar seriam le vados para a Babilnia, levando em conta que vrias geraes se passaram at que ocorresse a referida re moo. Provavelm ente no foi por engano ou esqueci mento que estes trs foram omitidos nas tabelas gene-
  18. 18. w . 18-25 MATEUS 1 4 algicas que o evangelista consultou. Mesmo assim, elas so consideradas como autnticas. Alguns do a seguinte razo para isso: sendo desejo de Mateus, para facilitar a memorizao, reduzir o nmero de ancestra is de Cristo a trs perodos de quatorze geraes, foi preciso que, nesse perodo, trs fossem excludos, e ningum era m ais adequado do que aqueles que eram descendentes diretos da amaldioada Atalia, que intro duziu a idolatria de A cabe na casa de Davi, motivo pelo qual este estigm a foi colocado sobre a famlia, e a ini qidade atingiu at a terceira e a quarta gerao. Dois desses trs eram apstatas; e dessa m aneira Deus ge ralm ente coloca uma m arca de desagrado sobre este mundo: os trs foram levados ao tmulo com sangue. 7. Alguns observam que havia uma m istura de bons e maus na sucesso desses reis; como, por exemplo (w. 7,8), o mau Roboo gerou ao mau Abias; o mau Abias ge rou ao bom Asa; o bom A sa gerou ao bom Josaf; o bom Josaf gerou ao mau Joro. Nem a graa nem o pecado correm no sangue. A graa de Deus pertence a Ele, e E le a d ou retira conforme lhe agrada. 8. O cativeiro da Babilnia mencionado como um perodo singular nessa lista (w . 11,12). Levando tudo em conta, foi um m ilagre que os judeus no tenham se perdido nesse cativeiro, como aconteceu com outras naes. M as isso sugere a razo pela qual as multides desse povo se m antiveram puras ao atravessar aquele m ar morto: pois deles, segundo a carne, surgiria o Cris to. No o destrua, pois h bno nele, at mesmo a bno das bnos, o prprio Cristo (Is 65.8,9). Foi com vistas a E le que eles foram retomados, e sobre o santurio assolado o Senhor fez resplandecer o seu santo rosto (Dn 9.17). 9. E dito que Josias gerou a Jeconias e a seus irmos (v. 11); Jeconias quer dizer, aqui, Joaquim, que foi o pri mognito de Josias; mas, quando se diz (v. 12) que Jeco nias gerou a Salatiel, esse Jeconias era o filho daquele Joaquim que foi levado para a Babilnia e l gerou a Sa latiel (como m ostra o Dr. Whitby), e, quando Jeconias descrito como no tendo filhos (Jr 22.30), isso explica do da seguinte forma: nenhum dos homens de sua se mente prosperaria. A qui dito que Salatiel gerou a Zo- robabel, enquanto que Salatiel gerou a Pedaas, e este gerou a Zorobabel (1 C r 3.19); mas, como anteriormen te, o neto geralm ente chamado de filho. E provvel que Pedaas tenha morrido enquanto seu pai era vivo, e as sim seu filho Zorobabel era chamado de filho de Salatiel. 10. A linhagem no vai at M aria, a me de nosso Se nhor, mas at Jos, o marido de M aria (v. 16); pois os ju deus sempre consideravam as suas genealogias pelo lado dos homens. Alm disso, M aria era da mesma tribo e da mesma famlia de Jos, de modo que, tanto por sua me como por seu suposto pai, E le era da casa de Davi; todavia a sua relao com essa nobreza deriva de Jos, com quem, segundo a carne, ele no tinha nenhuma rela o, para m ostrar que o reinado do M essias no basea do em uma linhagem natural de Davi. 11. O centro em quem todas essas linhagens se en contram Jesus, que chamado de Cristo (v. 16). E ste aquele que era to ansiosamente desejado, to impacien temente aguardado, e a quem os patriarcas tinham em vista quando desejavam tanto ter filhos para que pudes sem ter a honra de fazer parte da linhagem sagrada. Ben dito seja Deus, por no estarmos agora em uma condio to sombria e turva de expectativa como eles ento esta vam, mas podermos ver claramente aquilo que esses pro fetas e reis viram atravs de um vidro escuro. E ns pode mos ter, a no ser por nossa prpria culpa, uma honra ma ior do que aquela que eles tanto ambicionavam, pois aqueles que fazem a vontade de Deus esto em uma posi o mais honrada em relao a Cristo do que aqueles que eram seus parentes segundo a carne (cap. 12.50). Jesus chamado de o Cristo, ou seja, o Ungido, o mesmo que a palavra hebraica Messias. E le chamado de Messias, o Prncipe (Dn 9.25), e freqentemente de o Ungido de Deus (SI 2.2). N essa condio, E le era esperado: s tu o Cristo, o ungido? O rei Davi foi ungido (1 Sm 16.13); Aro, o sacerdote, tambm o foi (Lv 8.12); e tambm Eli- seu, o profeta (1 Rs 19.16), e Isaas, o profeta (Is 61.1). Cristo, sendo designado e qualificado para todas essas posies, por essa razo chamado de o Ungido, ungido com leo de alegria, mais do que a seus companheiros; e por causa do seu nome, que como uma uno que flui com abundncia, todos os seus seguidores so chamados de cristos, pois eles tambm recebem a sua uno. Por ltimo temos o resumo geral de toda essa genea logia (v. 17), onde ela totalizada em trs perodos de quatorze geraes, identificados por perodos extraor dinrios. No primeiro perodo de quatorze anos, temos a famlia de Davi em ascenso promissora como uma ma nh. No segundo, ns a vemos prosperando at atingir o seu brilho mximo. N o terceiro, ela entra em declnio, crescendo cada vez menos, diminuindo at chegar fa mlia de um pobre carpinteiro, e ento Cristo surge dela, resplandecendo; E le a glria de seu povo, Israel. ONascimento de Cristo w . 18-25 O m istrio da encarnao de Cristo deve ser vene rado, e no visto com curiosidade. Se no conhecemos o caminho do Esprito na formao das pessoas comuns, nem como os ossos so formados no tero daquela que est grvida (E c 11.5), muito menos sabemos como o bendito Jesus foi formado no ventre da virgem bendita. Quando Davi se adm ira de como ele prprio foi feito em segredo e curiosamente formado (SI 139.13-16), parece que ele est falando no esprito da encarnao de C ris to. Algum as circunstncias presentes no nascimento de Cristo, que encontramos aqui, no constam na ver so de Lucas, em bora o evento seja mais amplamente descrito por este evangelista. Aqui temos: I O casamento de M aria com Jos. Maria, a me de nosso Senhor, desposou Jos. E la no estava com pletamente casada, m as j havia celebrado um contrato de casamento. E ste contrato era uma proposta de casa mento solenemente manifestada com as palavras no fu turo, e a promessa de realiz-lo se Deus o permitisse. Lem os sobre um homem que desposou uma mulher e no a recebeu (D t 20.7). Cristo nasceu de uma virgem, mas uma virgem compromissada: 1. Para dar respeito ao casamento e para defend-lo como algo honrado para
  19. 19. 5 MATEUS 1 w . 18-25 todos, contra aquela doutrina do diabo que probe o ca samento e identifica a perfeio na condio de solteiro. Quem foi mais favorecido do que M aria o foi em seu ma trimnio? 2. Para salvar a reputao da bendita virgem, que de outra form a teria sido exposta. E ra adequado que a sua concepo fosse protegida por um casamento, e assim justificada aos olhos do mundo. Um dos antigos diz: Seria melhor que perguntassem se este no era o filho do carpinteiro, do que: No este o filho da mere triz? S. Para que a bendita virgem pudesse ter algum para ser o guia da sua juventude, o companheiro em sua solido e viagens, um parceiro em suas preocupaes e uma ajuda adequada em todos os momentos. Alguns pensam que Jos era ento vivo, e aqueles que so cha mados de irmos de Cristo (cap. 13.55), eram filhos de Jos com uma esposa anterior. E sta uma conjectura de muitos dos antigos. Jos era um homem justo, ela, uma mulher virtuosa. Aqueles que so crentes no devem se juntar de form a desigual com os no-crentes. M as que se perm ita aos que so religiosos escolherem se casar com aqueles que tambm o so, j que eles esperam o conforto de tal relacionamento e, neste, a bno de Deus sobre eles. Ns tambm podemos aprender, com este exemplo, que bom passar condio de casado com ponderao, e no antecipar as npcias com precipi tao, atravs de um contrato. E melhor dedicar tempo para pensar antes, do que se arrepender depois. n Sua gestao da semente prometida; antes de se juntarem como um casal, M aria ficou grvida, e esta gravidez foi gerada pelo Esprito Santo. O casa mento foi postergado para tanto tempo depois do con trato, que ela ficou grvida antes de chegar o momento da celebrao do casamento, embora o contrato j tives se sido celebrado antes de ela conceber. Provavelmente, foi depois do retorno de M aria da casa de sua prima Isa bel, com quem permaneceu trs m eses (Lc 1.56), que Jos percebeu que ela estava grvida, e ela no negou isso. Observe que as outras pessoas notam aqueles em quem Cristo formado: a obra de Deus na vida de cada pessoa se torna patente. Assim sendo, ns bem podemos imaginar que perplexidade isto podia legitimamente ca usar bendita virgem. E la mesma conhecia o divino pro genitor dessa concepo; mas como ela podia provar isso? E la seria tratada como uma prostituta. Note que depois de grandes avanos, a fim de no ficarmos orgu lhosos, podemos esperar que alguma situao ou pessoa nos humilhe, ou que soframos alguma repreenso, como um espinho na carne. E no apenas isto, mas s vezes es sas situaes so como uma espada nos ossos. Jamais al guma filha de E va foi to dignificada quanto a virgem Maria, e mesmo assim ainda correu o risco de cair sob a imputao de um dos piores crimes. Porm, observe que ns no a vemos se atormentando por causa disso; mas, consciente de sua prpria inocncia, ela se manteve cal ma e tranqila, e comprometida com a causa daquele que julga com justia. Note que aqueles que se preocu pam em m anter a conscincia limpa podem alegremente confiar que Deus m anter os seus bons nomes, e tm motivos para esperar que E le limpe no apenas a sua in tegridade, mas tambm a sua honra, de uma form a to clara como o sol ao meio-dia. A perplexidade de Jos, e sua preocupao so- vbre o que fazer nesse caso. Ns podemos ima ginar que grande problema e desapontamento foi para Jos descobrir que algum sobre quem ele tinha tal opi nio e considerao, ficasse sob a suspeita de um crime to odioso. E ssa Maria? E le comeou a pensar: Como podemos ser ludibriados por aqueles sobre quem pensa mos o melhor! Como podemos nos desapontar com aque les de quem mais esperamos! E le reluta em acreditar em algo to ruim vindo de uma mulher que ele acredita v a ser to boa; e o caso em si, sendo ruim demais para ser perdoado, tambm claro demais para ser negado. Que luta provocou este acontecimento em seu peito, en tre aquele cime que a ira do homem, cruel como uma sepultura, por um lado, e a afeio que ele sentia por Maria, por outro! Considere: 1. O extremismo que ele pensou evitar. E le no estava disposto a torn-la um exemplo pblico. E le podia ter feito isso; pois, pela lei, uma virgem com prometida, se procedesse como prostituta, seria apedre jada at a morte (Dt 22.23,24). M as ele no desejava usar a lei contra ela; se ela fosse culpada, o que at agora no se sabia, no seria conhecido atravs dele. Quo diferente era o nimo mostrado por Jos em relao ao de Jud, que em um caso semelhante, apressadamente proferiu aquela sentena severa: Tirai-a fora para que seja quei mada! (Gn 38.24). Que bom pensar sobre as coisas como Jos fez aqui! Haveria mais ponderao em nossas crticas e julgamentos, haveria mais misericrdia e mode rao neles. Castig-la aqui o chamado a fazer dela um exemplo; o que mostra que a finalidade a ser alcanada com a punio passar um aviso para os outros: atravs do terror que, em todo lugar, se ouve e se teme. Fira o escarnecedor, e os smplices se acautelaro. Algum as pessoas de temperamento severo culpari am Jos por sua clemncia, mas aqui este fato mencio nado como um elogio; pois ele era um homem justo, por tanto no queria exp-la. E le era um homem religioso e bom; e, portanto, inclinado a ser misericordioso como Deus , e perdoar como algum que foi perdoado. No caso da donzela prometida, se ela fosse desonrada no campo, a lei caridosamente suporia que ela havia gritado (Dt 22.26), e ela no deveria ser punida. Talvez Jos te nha dado esta ou alguma outra interpretao caridosa a esse assunto; neste contexto, ele um homem justo, cui dando do nome daquela que nunca antes havia feito qualquer coisa para manch-lo. Note que cabe a ns, em muitos casos, sermos gentis com aqueles que esto sob suspeita de haver transgredido a lei, esperar o melhor no tocante a eles, e extrair o melhor daquilo que, a prin cpio, parece ruim, na esperana de que o melhor acon tea. Summumjust, summa injuriae - O rigor da lei (s vezes) a medida da injustia. O tribunal da cons cincia restringe o rigor da lei ao que ns chamamos de um tribunal justo. Aqueles que so considerados delitu osos foram talvez surpreendidos no erro, e devem ser reabilitados com o esprito de brandura; e a intimidao, mesmo quando justa, deve ser moderada. 2. A oportunidade que ele encontrou para evitar este extrem o. E le tinha em m ente abandon-la em se gredo, ou seja, dar-lhe em mos uma carta de divrcio diante de duas testem unhas, e assim m anter o assunto
  20. 20. w . 18-25 MATEUS 1 6 somente entre eles. Sendo um homem justo, ou seja, um estrito observador da lei, ele no daria andamento ao seu casamento com Maria, mas resolveu afastar-se dela; mesmo assim, em um gesto de carinho para com ela, decidiu fazer isso to secretam ente quanto poss vel. N ote que as crticas queles que transgrediram a lei devem ser conduzidas sem estardalhao. A s pala vras dos sbios so ouvidas com discrio. O prprio Cristo no discutiria nem gritaria. O amor cristo e a prudncia crist encobriro uma grande quantidade de pecados, alguns deles graves, at o ponto em que isso no signifique solidarizar-se com eles. A libertao de Jos dessa perplexidade por um mensageiro enviado do cu (w . 20,21). Enquan to ele pensava nessas coisas e no sabia o que decidir, Deus graciosamente indicou-lhe o que fazer, facilitan do-lhe as coisas. Note que aqueles que costumam rece ber a orientao de Deus devem pensar a respeito dela e consultar a si mesmos a este respeito. Deus guiar aque le que reflete, e no o irracional. Quando Jos estava confuso, e havia pensado sobre o assunto tanto quanto conseguia, ento Deus se manifestou com uma recomen dao. Note que a hora de Deus em que E le se manifesta com uma orientao para o seu povo, aquela em que eles esto confusos e indecisos. O conforto de Deus deleita a alma em meio profuso de seus pensamentos e de sua perplexidade. A mensagem foi enviada a Jos atravs de um anjo do Senhor, provavelmente, o mesmo anjo que le vou M aria a notcia da concepo, o anjo Gabriel. Agora a comunicao com o cu, atravs de anjos, com a qual os patriarcas haviam sido dignificados, mas que h muito tinha sido interrompida, comea a ser reativada; pois, quando o Primognito fosse trazido a este mundo, os an jos seriam instrudos a acompanhar os seus movimen tos. Quanto pode Deus agora, de um modo invisvel, fa zer uso do auxlio dos anjos para livrar o seu povo das suas dificuldades, no podemos dizer; mas disto ns te mos certeza: todos eles so espritos que atuam para o bem dele. E ste anjo apareceu a Jos em um sonho quan do ele estava dormindo, da maneira como Deus algumas vezes falou aos patriarcas. Quando estamos quietos e tranqilos, estamos no melhor estado de esprito para receber as notcias da vontade divina. O Esprito se move em guas calmas. E ste sonho, sem dvida, carre gava em si a evidncia de que se originava de Deus, e no de uma presunosa imaginao. Agora: 1. Jos orientado aqui a prosseguir com o seu casa mento. O anjo o chama: Jos, filho de Davi; ele o lem bra de sua relao com Davi, para que possa estar pre parado para receber esta surpreendente capacidade de entendimento de sua relao com o Messias, que, todos sabiam, seria um descendente de Davi. s vezes, quan do grandes honras recaem sobre aqueles que tm pou cas posses, eles no se preocupam em aceit-las, que rendo desistir delas; era, portanto, necessrio colocar na mente desse pobre carpinteiro o valor desse nasci mento: Valoriza a ti mesmo, Jos, tu s aquele filho de Davi atravs de quem a linhagem do M essias est para ser traada. Podemos ento dizer a cada verdadeiro crente: No temas, tu, filho de Abrao, tu, filho de Deus; no esqueas a dignidade do teu nascimento, do teu novo nascimento. No temas receber a Maria, tua mulher; assim isso pode ser entendido. Jos, suspei tando que ela estava grvida devido prostituio, te mia aceit-la, com receio de que colocasse sobre si mes mo a culpa ou a acusao. No, diz Deus, no temas; a questo no essa. Talvez M aria tivesse lhe dito que ha via engravidado pelo Esprito Santo, e talvez ele tenha ouvido o que Isabel disse a ela (Lc 1.43), quando a cha mou de a me do seu Senhor; e, se este foi o caso, talvez ele tem esse ser presunoso ao se casar com algum to superior a ele. Mas, qualquer que fosse a causa do apa recimento de seus medos, estes foram todos silenciados com estas palavras: No tem as receber a Maria, tua mulher. Note que uma grande bno sermos liberta dos de nossos medos, e term os as nossas dvidas soluci onadas, para que assim possamos prosseguir em nossos afazeres com satisfao. 2. A qui ele informado sobre aquele ser sagrado, que a sua esposa tinha em seu ventre. Aquele que foi concebido nela tem origem divina. E le est to longe do risco de compartilhar a im pureza ao casar-se com ela, que com isso com partilhar a maior honra possvel. Duas coisas lhe so ditas: (1) Que ela tinha concebido pelo poder do Esprito Santo; e no pela fora da natureza. O Esprito Santo, que criou o mundo, gerou nela agora o Salvador do mun do, e preparou para E le um corpo como lhe fora prome tido, quando E le disse: Corpo me preparaste (Hb 10.5). D esse modo, dito que E le nasceu de uma mulher (G14.4), e, alm disso, que E le o segundo Ado, que o Senhor do cu (1 Co 15.47). E le o Filho de Deus, e mes mo assim compartilha a essncia de sua m e ao ser cha mado de fruto do ventre (Lc 1.42). E ra necessrio que a sua concepo fosse diferente da normal, para que as sim E le compartilhasse da natureza humana, e mesmo assim pudesse escapar da corrupo, e da contaminao desta, e no ser concebido e formado na iniqidade. His trias nos contam sobre algumas mulheres que em vo fingiram ter concebido por um poder divino, como a me de Alexandre; mas nenhuma realm ente o fez, exceto a me de nosso Senhor. Seu nome, por isso, como em ou tras situaes, Maravilhoso. Ns no lemos que a pr pria virgem M aria tenha proclamado a honra que rece beu; mas ela ocultou isso em seu corao, e por isso Deus enviou um anjo para testificar. Aqueles que no procu ram a sua prpria glria tero a honra que vem de Deus; ela reservada para os humildes. (2) Que ela daria luz ao Salvador do mundo (v. 21). E la daria luz um filho; e que ele seria foi declarado: [1] Pelo nome que deveria ser dado ao seu Filho: lhe pors o nome de Jesus, o Salvador. O nome o mesmo que Josu, apenas com a terminao sendo mudada para adequar-se ao grego. N a Septuaginta, Josu chamado de Jesus (At 7.45; Hb 4.8). Havia dois homens com esse nome no Antigo Testamento, e eram ambos reconheci dos tipos de Cristo. Josu, o comandante de Israel em seu primeiro assentamento em Cana, e Josu, o sumo sacerdote em seu segundo assentamento aps o cativei ro (Zc 6.11,12). Cristo o nosso Josu; tanto o Coman dante da nossa salvao, como o Sumo Sacerdote da nos sa profisso de f. E , em ambos os casos, E le o nosso Salvador, um Josu que vem no lugar de Moiss, e faz
  21. 21. 7 MATEUS 1 w . 18-25 por ns aquilo que a lei no pode fazer, naquilo em que ela era fraca. Josu havia sido chamado de Osias, mas Moiss prefixou a primeira slaba do nome Jeov, e as sim tornou-o Josu (Nm 13.16), para indicar que o Mes sias, que teria esse nome, deveria ser Jeov; E le , por tanto, o maior salvador, e em nenhum outro h salvao. [2] N a razo desse nome: Porque ele salvar o seu povo dos seus pecados; no apenas a nao dos judeus (Ele veio para eles e eles no o receberam), mas todos que foram dados a E le pela escolha do Pai, e todos que se deram a E le por si mesmos. E le um rei que protege seus sditos, e, como os antigos juizes de Israel, lhes traz a salvao. Note que aqueles que Cristo salva, Ele os salva dos pecados que praticaram; da culpa do peca do, em virtude da sua morte, e do domnio do pecado, pelo Esprito da sua graa. Ao salv-los do pecado, Ele os salva da ira e da maldio, e de todo sofrimento aqui e na vida futura. Cristo veio para salvar o seu povo, no em seus pecados, mas dos seus pecados; para comprar para ele no a liberdade para pecar, mas a libertao do pecado, para redimi-lo de toda iniqidade (Tt 2.14); e as sim redimi-lo de entre os homens (Ap 14.4) para si mes mo, pois est separado dos pecadores. Para que aqueles que deixarem os seus pecados, e se entregarem a Cristo como seu povo, estejam envolvidos com o Salvador, e na grande salvao que E le planejou (Rm 11.26). V O cumprimento das Escrituras em tudo isso. E ste evangelista, escrevendo entre os judeus, observa mais freqentem ente isto do que qualquer outro evan gelista. Aqui as profecias do Antigo Testamento tiveram a sua consumao em nosso Senhor Jesus, atravs do qual fica claro que este era aquele que deveria vir, e que ns no devemos procurar por nenhum outro; porque este aquele sobre o qual todos os profetas deram teste munho. A gora a Escritura que foi cumprida no nasci mento de Cristo foi a da promessa de um sinal que Deus fez para o rei Acaz (Is 7.14): E is que uma virgem conce ber. Aqui o profeta, encorajando o povo de Deus a es perar pela prometida libertao da invaso de Senaque- ribe, o instrui a aguardar ansiosamente pelo Messias, que viria do povo dos judeus e da casa de Davi. Da era fcil inferir que - embora aquele povo e aquela casa esti vessem angustiados - nem um nem o outro poderiam ser abandonados runa, enquanto Deus tivesse tal honra e tal bno reservadas para eles. Os livramentos que Deus concedeu igreja do Antigo Testamento eram sm bolos e figuras da grande salvao atravs de Cristo; e, se Deus consegue fazer aquilo que maior, E le no fa lhar em fazer aquilo que menor. A profecia aqui citada devidamente introduzida com as palavras: em sonho, lhe apareceu, que indicam tanto ateno como admirao; pois aqui temos o m ist rio da graa, que , sem controvrsia, notvel, de que Deus se manifestou em carne. 1. O sinal dado era que o M essias deveria nascer de uma virgem. Uma virgem conceber, e, por ela, Ele ser manifestado na carne. A palavra Almah significa uma virgem no sentido mais exato, tal como M aria decla ra ser (Lc 1.34): No conheo varo. E ste no seria um sinal to maravilhoso como se pretendia que fosse, se ti vesse sido de outra forma. Foi anunciado desde o princ pio que o Messias deveria nascer de uma virgem, quando foi dito que E le deveria vir da semente da mulher. Pode mos entender que a expresso semente da mulher no poderia ser o mesmo que a semente de qualquer ho mem. Cristo nasceu de uma virgem no apenas porque seu nascimento tinha que ser sobrenatural e completa mente extraordinrio, mas porque deveria ser imacula do, e puro, e sem qualquer mancha de pecado. Cristo nasceria, no de uma imperatriz ou rainha, porque Ele no veio em pompa ou esplendor externos, m as de uma virgem, para nos ensinar a pureza espiritual, a morte para todos os deleites dos sentidos, e assim nos m anter mos sem a mcula do mundo e da carne, para que possa mos ser apresentados a Cristo como virgens castas. 2. A verdade demonstrada por esses sinais que Ele o Filho de Deus, e o Mediador entre Deus e os homens: porque eles o chamaro pelo nome de Emanuel; isto , E le ser o Emanuel; e a expresso E le ser chamado significa que E le ser o Senhor, Justia Nossa. Emanuel significa Deus conosco; um nome misterioso, m as muito precioso; Deus encarnado entre ns, e assim Deus re conciliado conosco, em paz conosco, nos conduzindo ao pacto e comunho consigo. Os judeus tiveram Deus consigo, em smbolos e sombras, morando entre os que rubins; mas nunca do modo como quando a Palavra se tornou carne - que era o bendito Shekinah. Que passo feliz dado no sentido de estabelecer a paz e a harmonia entre Deus e o homem, reunindo as duas naturezas na pessoa do Mediador! Por isso E le se tornou um rbitro irrepreensvel, com plenas condies de colocar as suas mos sobre ambos, uma vez que ele compartilha a natu reza de ambos. Veja, nisto, o mistrio mais profundo, e a misericrdia mais rica que jam ais existiu. Pela luz da na tureza, vemos Deus como um Deus acima de ns; pela luz da lei, o vemos como um Deus contra ns; mas pela luz do Evangelho, ns o vemos como Emanuel, Deus co nosco, em nossa prpria natureza - e (o que ainda me lhor) a nosso favor. Aqui o Redentor glorificou o seu amor. Com o nome de Cristo, Emanuel, ns podemos comparar o nome dado igreja do Novo Testamento (Ez 48.35). Jeov-Sam - O Senhor est alv, o Senhor dos exrcitos est conosco. Nem imprprio dizer que a profecia que expressou que E le deveria ser chamado Emanuel foi cumprida, com o desgnio e a inteno que possua, qando E le foi chamado de Jesus; pois se E le no tivesse sido Emanuel, Deus conosco, E