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DESCONSTRUINDO A TEOLOGIA: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA* Fernando L. Canale** 1. Introdução No começo do século XXI a teologia cristã tem se caracterizado por uma crescente fragmentação de seus projetos teológicos. O espírito ecumênico e pós-moderno 1 de nosso tempo justifica, sustenta e favorece a proliferação de interpretações que vem ocorrendo desde os dias da Reforma protestante. Paralelamente, o ecumenismo tem desenvolvido um espírito de aceitação entre as muitas denominações cristãs que desvaloriza perigosamente o papel das reflexões teológicas como instrumento necessário para a sobrevivência do cristianismo fragmentado teologicamente. Para superar o pós-modernismo, a tradição tornou-se o método. Cada teólogo trabalha dentro de sua tradição. Desta forma a teologia se converteu em explicações e reformulações das tradições recebidas. 2 O papel proeminente que a tradição tem ocupado na construção da teologia cristã não é novo. É conhecido a sua importância na construção da teologia Católica Romana. 3 Com menor destaque, mas de peso notável, é a esfera de influência que ela tem sobre a teologia moderna 4 e evangélica conservadora. 5 A tradição tem sido considerada tão importante, que o Catolicismo e o modernismo teológico a considera fonte de revelação. 6 Infelizmente, o uso da tradição para superar o pós-modernismo 7 oculta e reinstaura as interpretações e conclusões estabelecidas com o uso da razão que o pós-modernismo nega. Em outras palavras, ao mesmo tempo em que aceitam a crítica pós-modernista à razão absoluta, aceitam as tradições que se formaram com o seu uso, constroem sobre uma contradição metodológica. Os teólogos que persistem em construir a partir de tradição particular, provavelmente não se tem dado conta que as tradições que tem recebido ocultam em si um processo de construção que tem comprometido sua integridade intelectual e religiosa. Para superar o pós-modernismo e ao mesmo tempo a crescente crise de fragmentação que a teologia cristã tem atravessado, só existe um caminho. A teologia cristã deve basear-se não sobre a tradição e sim sobre a revelação bíblica. 8 Mas, para construir sobre a revelação bíblica, é necessário primeiro desconstruir vinte séculos de tradição. A maioria dos teólogos cristãos pertence a comunidades religiosas cujas credenciais são concebidas, desenvolvidas e transmitidas pela tradição. Não devemos nos surpreender quando se confere a tradição o papel diretivo na interpretação da revelação cristã e da formulação de suas doutrinas. 9 Neste artigo proponho que é chegado o momento para desconstruir a teologia cristã. A desconstrução como método crítico, deve dirigir-se às pressuposições hermenêuticas sobre as quais se baseiam as diferentes linhas da tradição cristã. Isto levará necessariamente à desconstrução de toda a tradição edificada sobre esse fundamento. Este processo é necessário para podermos ter acesso ao conhecimento da revelação divina, que o grande sistema teológico cristão tem obscurecido e esquecido durante muito tempo. Sem este processo crítico, a teologia não poderá superar a fragmentação e o provincianismo teológico que a

Desconstruindo a teologia: uma proposta metodológica

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A desconstrução da teologia cristã, [...] procede a partir da concepção bíblica do ser de Deus (ontologia bíblica) como uma realidade temporal. Deus e o tempo é o ponto de partida e ao mesmo tempo o primeiro aspecto para a desconstrução-construção da hermenêutica sobre a qual se baseia a teologia cristã. O clareamento deste tema requer vários volumes. Aqui é necessária apenas uma palavra de advertência. A "temporalidade" de Deus não deve ser definida a partir dos princípios hermenêuticos da teologia tradicional, nem identificada com a temporalidade humana, tampouco a partir de estudos filosóficos e científicos acerca da temporalidade, se não a partir da revelação divina dada pela Bíblia como um todo.

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DESCONSTRUINDO A TEOLOGIA: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA*

Fernando L. Canale**

1. Introdução

No começo do século XXI a teologia cristã tem se caracterizado por uma crescente

fragmentação de seus projetos teológicos. O espírito ecumênico e pós-moderno1 de nosso

tempo justifica, sustenta e favorece a proliferação de interpretações que vem ocorrendo desde

os dias da Reforma protestante. Paralelamente, o ecumenismo tem desenvolvido um espírito

de aceitação entre as muitas denominações cristãs que desvaloriza perigosamente o papel das

reflexões teológicas como instrumento necessário para a sobrevivência do cristianismo

fragmentado teologicamente.

Para superar o pós-modernismo, a tradição tornou-se o método. Cada teólogo trabalha dentro

de sua tradição. Desta forma a teologia se converteu em explicações e reformulações das

tradições recebidas.2 O papel proeminente que a tradição tem ocupado na construção da

teologia cristã não é novo. É conhecido a sua importância na construção da teologia Católica

Romana.3 Com menor destaque, mas de peso notável, é a esfera de influência que ela tem

sobre a teologia moderna4 e evangélica conservadora.5 A tradição tem sido considerada tão

importante, que o Catolicismo e o modernismo teológico a considera fonte de revelação.6

Infelizmente, o uso da tradição para superar o pós-modernismo7 oculta e reinstaura as

interpretações e conclusões estabelecidas com o uso da razão que o pós-modernismo nega.

Em outras palavras, ao mesmo tempo em que aceitam a crítica pós-modernista à razão

absoluta, aceitam as tradições que se formaram com o seu uso, constroem sobre uma

contradição metodológica. Os teólogos que persistem em construir a partir de tradição

particular, provavelmente não se tem dado conta que as tradições que tem recebido ocultam

em si um processo de construção que tem comprometido sua integridade intelectual e

religiosa.

Para superar o pós-modernismo e ao mesmo tempo a crescente crise de fragmentação que a

teologia cristã tem atravessado, só existe um caminho. A teologia cristã deve basear-se não

sobre a tradição e sim sobre a revelação bíblica.8 Mas, para construir sobre a revelação

bíblica, é necessário primeiro desconstruir vinte séculos de tradição.

A maioria dos teólogos cristãos pertence a comunidades religiosas cujas credenciais são

concebidas, desenvolvidas e transmitidas pela tradição. Não devemos nos surpreender quando

se confere a tradição o papel diretivo na interpretação da revelação cristã e da formulação de

suas doutrinas.9

Neste artigo proponho que é chegado o momento para desconstruir a teologia cristã. A

desconstrução como método crítico, deve dirigir-se às pressuposições hermenêuticas sobre as

quais se baseiam as diferentes linhas da tradição cristã. Isto levará necessariamente à

desconstrução de toda a tradição edificada sobre esse fundamento. Este processo é necessário

para podermos ter acesso ao conhecimento da revelação divina, que o grande sistema

teológico cristão tem obscurecido e esquecido durante muito tempo. Sem este processo

crítico, a teologia não poderá superar a fragmentação e o provincianismo teológico que a

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aprisiona. Este trabalho explorará a estrutura formal e a tarefa de desconstruir que pode ser

aplicada a qualquer tradição, interpretação bíblica e doutrina.

Para alcançarmos nosso propósito, começaremos por reconhecer (1) que a teologia resulta de

um processo tradicional interpretativo. Logo em seguida trataremos de (2) descrever

brevemente a noção de desconstrução, e (3) o papel que os princípios hermenêuticos têm na

construção teológica. Na sequência descreveremos (4) a origem filosófica e (5) o conteúdo

dos princípios da teologia clássica. Depois consideraremos (6) a desconstrução filosófica da

ontologia clássica e (7) a alternativa hermenêutica fundamental que por meio da mesma se

levanta a teologia cristã. Então apresentaremos a (8) Bíblia como fundamento, (9) e a

independência hermenêutica da filosofia como metodologia, e (10) a relação Deus-tempo

como perspectiva macro hermenêutica para a desconstrução-construção da teologia cristã.

Concluiremos com uma referência ao (11) papel que desempenha a teologia bíblica na

desconstrução.

2. Teologia como tradição interpretativa

A desconstrução da teologia cristã necessita, ao menos em parte, entender o processo

interpretativo-construtivo que a originou. A Escritura reconhece a tradição como processo

comunicativo por meio do qual se transmitem as verdades reveladas por Deus (Jud 1-3; 1 C0

15:1-3). Este processo inclui a interpretação das verdades reveladas por Deus. Essa tradição

não inclui só a constituição do conhecimento teológico, mas a produção cognitiva de todo os

seres humanos. Como todo conhecimento humano, a teologia cristã é formada por meio de

um processo histórico que denominamos de tradição. Este processo pode ser descrito

fenomenologicamente.10 Aqui só necessitamos reconhecer algumas de suas diretrizes

fundamentais.

Formalmente a tradição é um fenômeno histórico cognitivo. Isto é, por tradição nos referimos

ao processo espaço-temporal através do qual se forma o conhecimento humano. Existem dois

níveis principais da tradição, a saber, o processo cognitivo e seu resultado. O primeiro é uma

atividade, o segundo uma interpretação que temos acesso através da escrita ou da fala.11

Enquanto a tradição como uma atividade ocorre no presente, como interpretação escrita ela

ocorreu no passado quando houve interpretação do texto do que ele queria comunicar.12

Sendo que toda a teologia é produto da tradição escrita e experienciada, é correto dizer, como

afirma o pós-modernismo, que todos pertencemos a uma tradição que nos envolve de forma

específica.13 O pertencer a uma tradição, no entanto, é apenas o ponto de partida para a

interpretação e isso não implica que o nosso conhecimento é limitado pela tradição se formos

abertos para as coisas em si e deixá-las falar. Assim, ocorrerá a revisão e substituição de

nossos preconceitos tradicionalmente recebidos.14

Em suma, a natureza da tradição como processo interpretativo envolve dois conceitos

fundamentais, os quais possibilitam a desconstrução da teologia cristã. Primeiro, conhecer é

interpretar. Em outras palavras, no começo do século XXI a razão intelectual do período

clássico (Aristóteles), e a razão pura do período moderno (Kant-Hegel), foram substituídas

por motivo de hermenêutica pós-moderna (Heidegger-Gadamer).15 Ou seja, a tradição cristã

tem interpretado a Bíblia e construido suas doutrinas assumindo ambas as interpretações da

razão e da ontologia [razão pura] nas quais ela tem se basado,16 é necessário perguntar se é

possível continuar interpretando o texto bíblico e construindo uma doutrina cristã sobre uma

tradição teológica eregida sobre um fundamento que se tem tornado hipotético, relativo,

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suspeito e fragmentado. Infelizmente a maioria dos teólogos continua construindo suas

interpretações e doutrinas sobre uma posição filosófica truncada com problemas no campo

filosófico.17

Em segundo lugar, na teologia "o interpretar" é determinado com base no conceito de

revelação que assumimos, isto é, vamos sempre partir do conceito de revelação que temos. No

cristianismo "o conceito" está constituído por revelação de Deus na história as quais podemos

acessar nas páginas da Bíblia. Esta revelação e sua interpretação contida nas Escrituras

Sagradas é o fundamento cognitivo da teologia cristã por meio da qual encontramos um Deus

vivo. Toda interpretação teológica, inclusive a interpretação da revelação e inspiração, tem

origem neste fundamento. Esta base não pode ser reconstruída, mas a regra estabelece normas

pelas quais qualquer interpretação deve ser analisada, julgada e desconstruída, se necessário,

para permitir a formulação de interpretações alternativas em harmonia com o fundamento

bíblico. A este fundamento toda a tradição teológica deve prestar contas.

3. O que é a desconstrução?

Antes de explicar nossa proposta de desconstrução da teologia cristã é necessário nos

determos por um momento para esclarecer a noção de desconstrução. No final da década de

sessenta, Jacques Derrida, filósofo francês, nascido na Argélia, usou a palavra

"desconstrução" para se referir ao método crítico que ele estava aplicando ao estudo de textos

literários e filosóficos.18 Minha intenção não é descrever o pensamento de Derrida, mas usá-lo

como uma referência geral para retratar o sentido em que usaremos o termo "desconstrução"

neste artigo.

De acordo com o filósofo norte-americano John Caputo, a desconstrução popularizada pelo

pensamento de Derrida é textual, "transgressora" e messiânica. A análise crítica de Derrifa é

textual porque ele se concentra nos textos clássicos e utiliza ferramentas e procedimentos

linguísticos.19 É "transgressora"20 porque consiste em leituras de obras clássicas em

dissonância ou "transgressão" da leitura favorecida pelas tradições vigentes de interpretação.21

Finalmente, a desconstrução de Derrida é messiânica (tem um lado positivo) porque, devido à

influência de sua herança judaica, se abre para um futuro absoluto, que permite a reinvenção

da religião.22 É claro que se trata de uma religião baseada na fé (experiência) humana, e não

na revelação de Deus na história (Escritura).

O desconstrucionismo de Derrida, todavia, não é tão revolucionário como aplicou o filósofo

alemão Martin Heidegger à metafísica tradicional. Hans-Georg Gadamer descreveu a natureza

revolucionária do desconstrucionismo heideggeriano dizendo que, no começo do século XX,

Heidegger "desencadeou uma crítica do idealismo cultural" que destruiu "a tradição filosófica

dominante".23 "O bilhante esquema do Ser e tempo verdadeiramente significou uma

transformação que trouxe efeitos duradouros em quase todas as ciências".24 Heidegger não só

criticou, mas substitui o fundamento hermenêutico em que se baseou a tarefa intelectual da

filosofia e as ciências. Este é o tipo de desconstrução que é necessário no campo da teologia

cristã.

A desconstrução não é um fim em si mesmo, mas um instrumento para abrir o caminho a

uma nova construção. Isso está claro nos escritos de Derrida e Heidegger. Não deve ser

diferente no campo da teologia. Desconstrução é o procedimento necessário para abrir-se o

caminho através do emaranhado de ideias produzidas por séculos de construção teológica, de

volta para a base fornecida pela revelação divina. Em outras palavras, a desconstrução abre o

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espaço necessário para a revelação bíblica que deve ser seriamente considerada como fonte do

trabalho teológico.

Em teologia a tarefa de desconstruir não é nova. A Reforma protestante é o exemplo clássico

de desconstrução na história do cristianismo. Os reformadores, no entanto, não

desconstruiram o fundamento hermenêutico sobre o qual a teologia clássica construiu o seu

sistema de salvação pelas obras. O desconstrucionismo portestante se dirigiu especialmente a

doutrina da salvação. Lutero efetivamente desconstruiu o sistema de salvação pelas obras

reinante no Catolicismo Romano. Descartou a salvação por meio das obras meritórias e

afirmou a justificação pela fé. Esta troca de paradígma foi possível porque a desconstrução do

sistema religioso vigente permitiou o descobrimento da verdade que estava oculta no texto

bíblico. Infelizmente, a compreenção teológica da verdade encontrada no texto bíblico foi

"construída" sobre o sistema hermenêutico clássico. Desta maneira, a contribuição positiva

dada pela Reforma, foi anuviada por uma hermenêutica obscurecida e distorcida do conteúdo

teológico da revelação bíblica.

Para entendermos a desconstrução que proponho neste artigo é necessário considerar o papel e

o conteúdo dos princípios hermenêuticos sobre os quais se construiu, e continua construindo-

se a teologia cristã.

4. Os princípios hermenêuticos

É necessário perguntarmos: o que desconstrói a desconstrução? A desconstrução desconstrói

as interpretações teológicas recebidas. Para poder desconstruir uma interpretação, primeiro

necessitamos conhecer a natureza do ato interpretativo, ou seja, responder a pergunta: o que é

interpretação? Esta pergunta tem sido estudada em detalhes pela hermenêutica filosófica,

disciplina filosófica de origem recente.25 Durante o século XX, Gadamer, entre outros, se

dedicou a estudar a interpretação como fenômeno do conhecimento humano.26 Aqui só

precisamos reconhecer que essa interpretação sempre depende dos pressupostos que usamos

para conhecer, estudar ou desenvolver um tema. Por isso é necessário nesta secção identificar

os princípios básicos da hermenêutica que sempre estão presentes na construção teológica.

Estes elementos que integram a hermenêutica teológica nós denominaremos "princípios",

porque eles são os que iniciam e condicionam toda atividade teológica. Embora estes

"princípios" podem também serem catalogados como "pressuposições", quando visto a partir

dos pensamentos e doutrinas que ajudaram a moldar, não devem ser confundidos com a

plenitude do condicionamento histórico que compõem a totalidade da experiência humana que

nós estimamos em nossa memória. Os princípios ou pressuposições macro hermenêuticos se

distinguem do resto de nossas pressuposições por sua generalidade ou universalidade. Este

recurso nos ajuda a identificar qual princípio se encontra no pensamento teológico, se a

revelação bíblica ou tradição teológica. Em síntese, os princípios hermenêuticos consistem

num conjunto de noções gerais intimamente relacionadas que por sua universalidade

condicionam o todo do pensamento telógico cristão.

Aceitamos o que consideramos óbvio. E é a partir daí que os teólogos geralmente assumem

uma interpretação da realidade a que se referem as suas teologias. Ao proceder desta maneira,

a maioria não percebe dois fatos básicos. O primeiro deles é que eles têm recebido,

inadvertidamente, o conhecimento através do processo de tradição focado na educação

formal, e, segundo, que o que foi recebido é uma das várias interpretações possíveis. Sendo

que a teologia se refere principalmente a Deus, aos seres humanos e ao relacionamento Deus-

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criação, obviamente, cada teólogo tem ideias sobre estas realidades ao interpretar os textos

bíblicos e construir suas doutrinas. Além disso, os teólogos assumem uma interpretação do

processo cognitivo que permite a teologia humana como reflexão. A interpretação da

realidade inclui as noções de Ser, Deus, homem-mundo, e tudo mais. A interpretação do

conhecimento humano inclui epistemologia, hermenêutica, metodologia e a origem do

conhecimento teológico (revelação e inspiração).

5. A origem filosófica da hermenêutica teológica

Estas realidades são estudadas por uma série de disciplinas que tradicionalmente têm

pertencido ao fazer filosófico. Elas são a ontologia geral de onde se estuda o ser; as ontologias

regionais de onde se estuda Deus (teologia), o homem (antropologia), e o mundo

(cosmologia); a metafísica onde se estuda a realidade como um todo inter-relacionado; a

epistemologia, a hermenêutica filosófica e metodológica, onde se estudam os princípios

cognitivos encarregados da tarefa teológica; e finalmente, a doutrina da revelação e inspiração

onde se estuda a origem do conhecimento teológico, isto é, se considera que os homens têm

informações a respeito de Deus para desenvolver a atividade teológica.

A descrição dos princípios hermenêuticos esboçados no parágrafo anterior é o resultado claro

que a filosofia foi incumbida de estudar em detalhe, incluindo o desenvolvimento de

disciplinas especializadas para cada um em particular. Deste ponto em diante, a abertura dos

teólogos a filosofia não é forçada, mas facilitada pelos fatos descritos acima. Primeiro, a

teologia deve assumir as interpretações das realidades mencionadas e, segundo, que o estudo

técnico dessas realidades é a própria especialidade das diversas disciplinas filosóficas. No

entanto, o uso que os teólogos fazem da filosofia varia de acordo com o foco, disciplina e

nível de análise e tradição que cada um escolhe de acordo com sua personalidade, habilidades

e educação.

A maioria dos teólogos usam os recursos filosóficos de uma maneira intuitiva. Geralmente, os

teólogos protestantes e evangélicos procedem desta maneira. Os poucos que se dedicam a

reflexionar sobre o método teológico que empenham, tratam de minimizar a importância e o

alcance dos recursos filosóficos e científicos que introduzem a atividade teológica.

Caracterizam as contribuições da filosofia na teologia como "ocasionais", para facilitar a

proclamação do evangelho.27 Para evitar que a filosofia reine sobre a teologia, aconselha-se a

não adotar um sistema filosófico definido e também não se deve permitir que a filosofia

determine a reflexão teológica.28 A ideia de que metodologicamente a filosofia tem algo a

dizer, mas não devemos deixá-la dizer muito. Nos leva as seguintes indagações: Que pequena

contribuição à filosofia deve dar a teologia? Em que consiste esta "pequena" contribuição

dada ao teólogo na tarefa de explicar os conteúdos da fé cristã?29 Aparentemente esta função

parece inofensiva. Aliás, não devemos comunicar o evangelho em um contexto moderno

mesmo? Contudo, a função hermenêutica que a filosofia e a ciência desempenham na tradição

cristã se faz ocasionalmente visível. Por exemplo, Richard Rice, teólogo adventista norte-

americano, declara que "ao explicar os conteúdos da fé cristã, a teologia deve explorar suas

pressuposições básicas sobre a realidade, e para esta tarefa o uso de evidência pública é

essencial".30

Tomás de Aquino, um dos mais notáveis teólogos de todos os tempos, desenvolveu com

precisão o uso hermenêutico da filosofia sobre o qual construíu seu impressionante sistema

teológico, no pequeno livro O ente e a essência,31 e na primeira questão da Suma Teológica.32

Além disso, logo de início assinalou Aquino a importância fundamental desta atividade,

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dizendo que "um pequeno erro no início pode levar a grandes erros na construção final".33

Infelizmente, a maioria dos teólogos não explicam com tanta precisão os princípios

hermenêuticos que assumem. Para descubrí-los, o investigador se vê obrigado literalmente a

"desenterrá-los" dentre os escritos teológicos produzidos por cada teólogo.

6. A hermenêutica da Teologia Clássica

A principal necessidade de desconstrução que estamos propondo se deve ao fato de que a

tradição cristã integrou ideias humanas que acabaram por substituir a revelação divina.

Antecipando este perigo, Paulo expressou seu desejo que nada enganasse os cristãos "com sua

filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo

e não segundo Cristo" (Col 2:8; RA). Cristo mesmo repreendeu os dirigentes da igreja porque

invalidavam a palavra de Deus mediante a tradição (Mc 7:13; Mt 15:1-3; RA). Apesar das

claras advertências de Cristo e do apóstolo Paulo, a tradição cristã logo começou a construir

sobre a base da filosofia grega. Infelizmente o que Paulo temia e Cristo condenou, começou a

moldar os princípios hermenêuticos utilizados para a construção da teologia cristã clássica.

Por isso, a convicção heideggeriana que a metafísica havia sido construída dentro de uma

dinâmica onto-teo-lógica se aplica também ao que ocorreu na área teológica.34

Em outras palavras, é um feito histórico onde a teologia cristã foi construída (interpretou e

formulou) e transmitida sob a hermenêutica da filosofia grega. Filosofia e ciência continuam,

consciente ou inconscientemente, determinando a hemenêutica a partir do qual os teólogos do

século XXI têm "reconstruido" à fragmentada teologia cristã.

Cedo em sua história, a teologia cristã começou a definir sua perspectiva hermenêutica

fundamental não a partir da revelação divina que encontramos no Antigo Testamento, se não a

partir da filosofia grega.35 Partindo desta perspectiva a maioria das tradições cristãs

construíram e continuam construindo seus estudos teológicos. Uma mistura entre filosofia e

ciência se formou em um nível tão primordial que hoje se apresenta claramente como

fundamento do cristianismo bíblico. Esto levou a convicção que a teologia tem uma

diversidade de fontes; se destacan a Bíblia, a tradição, a razão (filosofia, ciência e cultura) e a

experiência cristã. A diferença entre estudos teológicos (e as igrejas que patrocinam) se

originou na hermenêutica fundamental adotada, a fonte que a fundamenta e a noção de

revelação e inspiração que as justifica para seu uso teológico.

A influência da filosofia grega introduziu uma troca paradigmática no âmbito hermenêutico

fundamental. A convicção que a teologia platônica descreve a natureza da realidade,

completando desta maneira as Escrituras, levou a redefinição das noções de Deus e de

homem. Daí a construção onto-teo-lógica da qual Heidegger fala. Esta construção se aplica

não somente a metafísica, mas também a teologia cristã. Em outras palavras, a interpretação

da realidade produzida por Platão (ontos) determinou a interpretação de Deus como ser

atemporal (theo) e a interpretação da razão (logos).36 Também, a ontologia platônica introduz

a ideia da imortalidade da alma. E desta maneira as doutrinas platônicas acerca da natureza da

realidade divina e humana, determinaram, entre outras, a noção de Deus e a natureza humana

(a nível macro hermenêutico).37 Estas desenvolvem um papel decisivo na interpretação das

doutrinas cristãs (nível meso hermenêutico),38 e a interpretação do texto bíblico (nível micro

hermenêutico).39 Estes princípios macro hermenêuticos também determinam a interpretação,

formulação e aplicação do método teológico.40

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A fundamentação filosófica e científica da macro hermenêutica teológica é responsável, em

grande parte, pela fragmentação da teologia moderna e pós-moderna. Sendo que a maioria dos

teólogos, consciente ou inconscientemente, derivam seus princípios hermenêuticos da

filosofia e das ciências, essas mudanças em si, necessariamente, exigem alterações na

hermenêutica teológica e a posterior reconstrução das doutrinas cristãs.

Os teólogos católicos e protestantes da ala liberal derivam conscientemente sua hermenêutica

e muitas de suas crenças de doutrinas filosóficas e científicas modernas e pós-modernas.

Simplesmente não podem aceitar os ensinamentos da Bíblia que não concordem com suas

preferências intelectuais e morais.41 Embora, em teoria estas tradições podem aplicar o

método desconstrutivo que estou sugerindo, na prática não farão. Depois de tudo, não tem

outra base onde construir do que nas vacilantes posições da ciência e filosofia

contemporâneas. Aqueles que assim procedem têm esquecido a conclusão do sermão do

monte, quando Cristo advertiu que "todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as

pratica será comparado a um homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia" (Mt

7:26, RA).

Já a situação do protestantismo conservador é diferente. A maioria dos teólogos protestantes e

evangélicos conservadores ingenuamente creem que suas teologias estão baseadas nos

princípios hermenêuticos e doutrinários bíblicos. Teoricamente, se afirma a primazia da Bíblia

em suas funções hermenêuticas, doutrinárias e críticas. Todavia, a análise crítica das doutrinas

protestantes revela que o evangelicalismo conservador continua construindo suas doutrinas

sobre as bases macro e meso hermenêuticas clássicas. Quiçá a desconstrução da teologia

cristã seja apreciada por aqueles que intentam construir sua teologia em obediência ao

pensamento bíblico.

O fundamento hermenêutico que marca o período clássico da teologia continua com certas

modificações e adaptações, definindo a imensa maioria dos estudos teológicos modernos e

pós-modernos.42 Por essa razão, esta secção é limitada a delinear os elementos básicos do

sistema hermenêutico, que foi concebido e formulado no período clássico da teologia cristã.

Esta descrição permitirá ao leitor apreciar (1) as continuidades e mudanças paradigmáticas

que tem tido lugar na teologia cristã a partir da idade moderna, e (2) a hegemonia do

fundamento hermenêutico clássico sobre as várias formas de tradição cristã que se

desenvolveram ao longo da história. Naturalmente, nós deixaremos o desenvolvimento destes

temas para outra oportunidade.

7. A desconstrução filosófica da ontologia clássica

No começo do século XXI já estamos acostumados a descrever nosso tempo como "pós-

moderno". Também estamos habituados a associar a pós-modernidade com o fim da razão

absoluta da modernidade. Ou seja, aceitamos como um fato que a razão não pode produzir

resultados absolutos que sejam universalmente válidos para todos os seres humanos de todos

os tempos. A razão pós-moderna é a razão histórica ou hermenêutica a que aludimos

indiretamente neste artigo quando falamos da natureza da interpretação (secção 4 acima).

Sobre esta base, a pós-modernidade se define como uma superação (em continuidade e

descontinuidade) da síntese filosófica moderna. O que a maioria não percebe é que a pós-

modernidade tem produzido uma mudança mais fundamental no paradigma intelectual do

ocidente desde os dias de Parmênides.

Page 8: Desconstruindo a teologia: uma proposta metodológica

A natureza desta mudança tem sido articulada a seu nível mais profundo no nível ontológico,

por Heidegger. Aqui tentarei explicar esta mudança de forma simples e concisa. Ao fazê-lo,

meu propósito é mostrar que a teologia cristã não pode continuar construindo suas

interpretações sobre interpretações recebidas da tradicionalmente, sem se submeter o sistema

hermenêutico sobre o qual se tem trabalhado por quase dois mil anos a uma detalhada e

cuidadosa descontrução.

Heidegger desconstruiu não somente os fundamentos da filosofia moderna, mas os

fundamentos da filosofia clássica sobre os quais se construiu a filosofia moderna. Esse feito

guiou sua desconstrução do conceito de ser, o conceito mais geral de todos os conceitos de

acordo com Aristóteles.43 No seu livro, Ser e Tempo, Heidegger começa colocando em dúvida

que possuímos um entendimento apropriado de ser e afirma que a interpretação de tempo é

uma pressuposição necessária para entender o conceito de ser.44 Todavia, pelo o que sei,

nunca foi a intenção de Heidegger virar de cabeça para baixo dois mil e seiscentos anos de

tradição filosófica, no entanto, é exatamente o que podemos ver em suas declarações e nas

interpretações do ser que ele desenvolveu pacientemente e detalhadamente em sua longa

carreira filosófica.45 Ao adotar esta perspectiva implícita na obra tardia de Husserl,46 o

"fenômeno", que é o que nós recebemos através dos sentidos no fluxo histórico de nossa

consciência, passou a ter nível ontológico pela primeira vez na história da filosofia

ocidental.47

Heidegger compreendia a característica revolucionária de sua proposta desconstrutiva-

construtiva, isso fica claro quando lemos a seguinte citação:

Não estamos experimentando o alvorecer da transformação mais monstruosa pela qual

já tenha passado nosso planeta, o amanhecer de uma época da qual o mundo mesmo está

surpreso? Não enfrentamos o entardecer de uma noite que anucia outro amanhecer?

Devemos começar a caminhar em direção a região histórica do entardecer do planeta? Esta

terra do entadercer (ocidente) emergente? Cobrirá esta terra do entardecer tanto ao

Ocidente como ao Oriente e transporá o que é meramente Europeu chegará a se o lugar para

um novo destino histórico mais primordial?... Somos os que chegamos tarde? Mas, não

somos ao mesmo tempo precursores do novo amanhecer de uma época totalmente diferente?48

Como isso afeta a teologia cristã, a desconstrução da ontologia clássica que encontramos no

pensamento de Heidegger?

8. Alternativa hermenêutica fundamental

Recordando que a tradição teológica cristã em suas diversas manifestações tem construido

assumindo a ontologia clássica, devemos, no entanto, considerar o impacto que a revolução da

modernidade ontológica chefiada por Heidegger representa para a atividade teológica. Tal

como referi no início deste artigo, os teólogos de todas as tradições tentam superar o

relativismo da razão pós-moderna construindo sobre as bases sempre vacilantes das tradições

a que pertencem. O que este procedimento desconhece é a desconstrução ontológico sobre os

quais está assenta a interpretação historicista da razão pós-moderna. Na linguagem de

Heidegger, teólogos continuam esquecendo-se do ser, ou seja, o pressuposto hermenêutico

fundamental sobre o qual se tem construiu seus sistemas teológicos.

Consideremos brevemente os seguintes fatos. (1) Na ordem de importância dos princípios ou

pressuposições hemenêuticas não há pressuposição mais universal do que a noção geral do

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ser.49 (2) Parmênides interpretou o ser como atemporal.50 (3) A filosofia ocidental selou sua

sorte ou direção hermenêutica quando Sócrates, Platão e Aristóteles adotaram a interpretação

atemporal do ser, originada em Parmênides.51 Dali em diante, tudo foi interpretado em

filosofia e teologia pela noção geral do ser, dentro da dinâmica onto-teo-lógica. (4)

Começando incipientemente com Justino, o Mártir, e continuando explicitamente com

Orígenes e Agostinho, a teologia cristã selou seu destino intelectual ao definir sua perspectiva

macro hermenêutica a partir das ideias ontológicas platônicas e aristotélicas. Assumindo

princípios hermenêutico derivados da ontologia clássica, Deus e homem foram concebidos

como realidades, não históricas.52 Esta decisão está por trás da tradição teológica cristã

clássica e moderna.53 (5) Heidegger interpreta convincentemente o ser de um modo totalmente

diferente da ontologia tradicional, que serve de base, à concepção teológica do Deus Cristão

até hoje. Em consequência, uma alternativa hemenêutica fundamental confronta filósofos e

teólogos. Afinal de contas, eles consideraram o ser, e por conseguinte a realidade como um

todo da perspectiva atemporal ou da perspectiva temporal? Infelizmente, a maioria dos

teólogos não conhece ainda, esta alternativa fundamental que lhes é apresentada e continuam

reconstruindo sobre a base macro hermenêutica clássica.

Infelizmente, sabemos que a razão humana não pode provar com certeza absoluta a alternativa

que devemos escolher. Na realidade, racionalmente falando, não há melhores razões para

escolher uma interpretação em vez de outra. Mas, temos de escolher, porque a eleição é

necessária para o funcionamento da razão e da construção do pensamento filosófico,

científico, religioso e teológico. Assim, o pós-modernismo não encontra uma outra base que

não seja na tradição. Se o fundamento é a tradição, então, não há pouco lugar na teologia para

desconstruir o sistema ontológica sobre a qual se baseia a tradição. Deste modo, a teologia

católica continua adaptando-se progressivamente às novas ideias teológicas, sem desfazer a

ontologia tradicional em que se baseia. Exemplos dessa tendência pode ser visto no projeto

teológico de Karl Rahner na Alemanha,54 e Avery Dulles nos Estados Unidos da america.55

Em geral acontece a mesma coisa com a teologia evangélica conservadora.

No entanto, o leitor não deve pensar que a desconstrução teológica é inexistente. Como já

mencionamos, o grande iniciador da desconstrução parece ter sido Lutero.56 Recentemente, o

pentecostal filósofo James K. A. Smith tem produzido uma desconstrução do pensamento

Agostiniano muito interessante, que ilustra em parte a necessidade de desconstrução profunda

do sistema macro hermenêutico.57 Também se pode distinguir a presença da desconstrução

como metodologia crítica na chamada teologia de "Deus aberto" (em inglês "open view of

God" ).58 O aspecto desconstrutivo deste enfoque teológico reflete-se no feroz debate que se

tem originado dentro da teologia evangélica norte-americana.59 No entanto, nenhum desses

exemplos de desconstrução é direcionado ao fundamento macro hermenêutico sobre o qual se

tem construído as tradições teológica cristã.

A crítica desconstrutiva na filosofia e teologia mostra que é possível desconstruir. Se as

tradições teológicas seriamente considerarem a alternativa hermenêutica fundamental que é a

interpretações do ser produzida por Parmênides e Heidegger, começariam a duvidar da macro

hermenêutica sobre a qual estão construindo. Ao gerar esta dúvida sobre a base macro

hermenêutica da tradição cristã e é este o papel fundamental que a alternativa Parmênides-

Heidegger desempenha na teologia. E a partir desta dúvida na tradição recebida pelos

teólogos começarem a construir a teologia cristã sobre uma base macro hermenêutica

derivada da revelação bíblica, produziriam uma revolução teológica tal qual nunca houve

desde os dias de nosso Senhor Jesus Cristo.

Page 10: Desconstruindo a teologia: uma proposta metodológica

9. A Bíblia como fundamento para a desconstrução

Como metodologia crítica, a desconstrução ajuda-nos a voltar para o fundamento sobre o qual

a tradição pretende construir suas posições teológicas. No caso da filosofia, Heidegger utiliza

a desconstrução para alcançar "as mesmas coisas", e construir a partir delas.60 Desta forma, é

evidente que o pós-modernismo hermenêutico não promover um subjetivismo total como

popularmente supõe. Muito pelo contrário, é um convite a considerar seriamente as

verdadeiras bases existentes fora do assunto cognoscente,61 a partir dos quais se produz uma

nova construção.

A meta da desconstrução é, portanto, a nova construção que torna tudo mais fácil. Esta

construção, no entanto, não será possível se após a desconstrução não encontramos "as

mesmas coisas" sobre a qual edificar. Mas, quais são as "as mesmas coisas" em teologia?

James Smith parece sugerir que na teologia "as mesmas coisas" referir-se a Deus ou o

Espírito, como "a Palavra sem palavras".62 É claro que esta interpretação das "mesmas coisas"

surge da experiência pentecostais do autor.63 Em conformidade com Pentecostalismo e o

carismatismo contemporâneo, o crente diretamente experimentando a presença de Deus, "as

coisas em si". Esta noção é semelhante ao "evangelho" ou a experiência espiritual da

justificação pela fé como entendido Lutero.64

O recurso da presença de Deus como "Palavra sem palavras", certamente permite Smith

fundamentar a conclusão de que pretendia atingir, a saber, conseguir espaço na comunidade

teológica para a diferença de interpretações.65 No entanto, esta fundação não é suficiente para

uma nova construção teológica nem para pensar num novo princípio macro hermenêuticos da

teologia. Como resultado, a variedade de interpretações no bojo da comunidade que alcança

Smith terá de se basear, em longo prazo, sobre a hermenêutica tradicional.66 O

desconstrutivismo de Smith trabalha em analogia ao pensamento derridiano, ou seja, não se

aplica a desconstrução do fundamento ontológico da hermenêutica.

Do ponto de vista da origem do conhecimento teológico, "as mesmas coisas" não podem

referir-se a Bíblia como a revelação divina.67 Gadamer nos ensina que "as mesmas coisas" não

são só pessoas ou acontecimentos históricos mas também textos.68 Mesmo Smith parece

pressupor que a única revelação cognoscitiva e pública que temos para desenvolver o

pensamento teológico em termos pentecostal, é a revelação bíblica.69 Depois de tudo, a

desconstrução iniciada por Lutero foi possível exatamente devido a revelação bíblica. Da

mesma forma, sem a revelação bíblica a desconstrução dos princípios hermenêuticos da

teologia seria impossível.

10. Rumo à independência hermenêutica

Como temos visto, a desconstrução da teologia cristã é necessária devido à dependência

hermenêutica que teólogos têm adotado ao tomar emprestado da filosofia os princípios macro

hermenêuticos para entender a Deus, a natureza humana, o mundo, e todo o conhecimento

humano e a origem do saber teológico. E, a partir desses princípios, interpretar a Bíblia e

construir o pensamento dogmático. A desconstrução teológica deve reverter esta dependência.

Afirmam que a Escritura apresenta "as mesmas coisas" significa que ela irá guiar-nos tanto no

processo desconstrutivo como no processo construtivo. Esta afirmação é o primeiro passo de

desconstrução. De fato, para darmos este passo, substituímos a ordem onto-teo-lógico da

Page 11: Desconstruindo a teologia: uma proposta metodológica

teologia clássica pela ordem onto-teo-lógica das Escrituras.70 Isto significa que não definimos

o conteúdo dos princípios da teologia macro hermenêutica a partir de uma ontologia, mas da

reflexão teológica. Assim como Heidegger começou seu estudo do ser de uma descrição do

fenômeno humano, e dali proceguiu com os entes e a metafísica, a teologia deve começar a

desconstrução considerando o fenômeno divino. Em outras palavras, não podemos começar

filosóficamente, mas teologicamente. Para fazer isso, nós devemos definir os princípios macro

hermenêuticos necessários para o seu funcionamento com base nas "mesmas coisas" que são

dadas especificamente como disciplina independente, ou seja, a partir do texto bíblico. Ao

fazê-lo, a teologia declara sua independência metodológica e hermenêutica da filosofia.

Isto exige uma reinterpretação radical da questão das fontes da teologia tradicionalmente

concebidas largamente do chamado "quadrilátero wesleyano".71 Não nos interessa a origem

histórica da ideia se não seu significado metodológico. Em geral a teologia cristã está

acostumada a construir usando toda fonte que lhe é útil. O quadrilátero simplesmente

classifica as fontes sobre as quais a teologia se baseia, sendo quatro tipos, a saber: a Bíblia, a

tradição, a razão e a experiência. Diferentes tradições utilizam as fontes com ênfases

diferentes. Em geral, os proponentes do quadrilátero dão preminência as Escrituras

outorgando-lhe um rol primário ou normativo que em nossos dias geralmente se expressa na

fórmula "prima Scriptura".72 Assim se dá um lugar privilegiado as Escrituras, e ao mesmo

tempo se reconhece que a teologia deve construir-se utilizando outras fontes que

complementam a Escritura para "entender" e "comunicar" sua mensagem de salvação.

Ao afirmar o princípio sola Scriptura, a desconstução que propomos deve aplicar-se ao

quadrilátero wesleyano a fim de explicar o novo papel que as Escrituras tem em relação com

as outras fontes tradicionalmente utilizadas. Este novo papel consiste na determinação dos

princípios hermenêuticos a partir dos quais se constroi a teologia cristã. O quadrilátero é

efetivamente desconstruído em dois níveis, fonte e recurso. A fonte se refere as "mesmas

coisas" provindas do texto bíblico caracterizado pelos princípios sola e tota Scriptura.73 Sob a

análise crítica dos princípios os recursos, incluem, entre outros, a tradição, as ciências, a

filosofia e a experiência. Esta função da Bíblia e dos recursos que permitem interpretar,

criticar e selecionar para uso teológico é conhecida como prima Scriptura. Prima Scriptura,

por outro lado, opera sob a guia hermanêutica do sola Scriptura e a guia doutrinal de tota

Scriptura.

Reconhecer simultaneamente que as Escrituras é a revelação específica de Deus e que nossos

princípios hermenêuticos para entender essa revelação devem basear-se nas interpretações

hipotéticas da natureza e da história produzida pela filosofia e ciência contemporâneas, não

traz resultados convincentes. Ainda mais, violenta o princípio científico básico que indica que

devemos desenvolver o nosso conhecimento científico por meio de observação cuidadosa das

próprias coisas. Se Deus revelou-se na Escritura especificamente, por que razão havemos nós

de recorrer a filosofia para determinar o princípio hermenêutico da teologia? Que isto se tenha

feito no passado ou continua a ser feito em nossos dias não justifica, ou seja, isso não

significa que é o caminho a percorrer, mas aquilo que deveria ser desconstruído. É muito mais

convincente definir os princípios macro hermêuticos da teologia à partir daquilo que é dado

como específica e detalhada revelação de Deus na Bíblia. Evidentemente, a desconstrução do

quadrilátero wesleyano requer a desconstrução da doutrina da revelação e inspiração, a qual

eu abordo em outro lugar.74

Mas para que a desconstrução da teologia cristã seja possível, não só necessitamos assegurar

um ponto de partida nas "mesmas coisas" reveladas por Deus nas Escrituras, e a

Page 12: Desconstruindo a teologia: uma proposta metodológica

independência hermenêutica e metodológica da teologia, se não também assegurarmos uma

perspectiva hermenêutica fundamental que substitua a que desconstruiremos.

11. Deus e o tempo

A teologia cristã pode resolver a alternativa hermenêutica fundamental que apresentamos na

secção 8 deste artigo somente a partir do pensamento bíblico. Devemos continuar construindo

a teologia cristã da perspectiva hemenêutica atemporal derivada da ontologia grega? Ou

devemos construí-la na nova perspectiva temporal apresentada por Heidegger?

Felizmente, a crítica da razão tradicional tem mostrado que a razão pura não pode definir

absolutamente entre interpretações opostas. A razão pode distinguir entre posições corretas ou

incorretas a partir de dados apresentados. Por tanto, somente o que é dado à teologia pode

ajudar-nos a definir a perspectiva hemenêutica fundamental a seguir no processo

desconstrutivo-construtivo das tradições da teologia cristã. Somente a Bíblia pode decidir esta

questão para a teologia cristã. Este procedimento se baseia nos princípios metodológicos que

discutimos na secção 9 e 10.

A Bíblia é clara a respeito. Deus é apresentado não como ser atemporal se não como um ser

histórico compatível com o tempo e o espaço de sua criação. Um estudo fenomenológico do

texto clássico para o ser de Deus nas Escrituras, Êxodo 3, revela que o ser de Deus não é

atemporal se não temporal.75 Esta perspectiva está começando a ser reconhecida, discutida76 e

inclusive utilizada com propósitos mini desconstrutivos. Exemplo do último é a teoria do

"Deus aberto" que mencionamos na secção 8. Todavia, os proponentes desta teoria não têm

chegado a reconhecer o caráter revolucionário da concepção bíblica de Deus como um ser

temporal para a macro hemenêutica e para a desconstrução-construção da teologia cristã em

geral.

Em conjunto e dependendo da noção de Deus, a ideia do homem desempenha um papel

importante na hermenêutica teológica (ver secção 8). Com base na hermenêutica tradicional a

natureza humana é entendida como "alma" atemporal.77 Com base na concepção de Deus

temporária, a Bíblia entende natureza humana ou "alma" como um todo de natureza

temporária.78

A desconstrução da teologia cristã, então, porcede a partir da concepção bíblica do ser de

Deus (ontologia bíblica) como uma realidade temporal. Deus e o tempo é o ponto de partida e

ao mesmo tempo o primeiro aspecto para a desconstrução-construção da hermenêutica sobre a

qual se baseia a teologia cristã. O clareamento deste tema requer vários volumes. Aqui é

necessária apenas uma palavra de advertência. A "temporalidade" de Deus não deve ser

definida a partir dos princípios hermenêuticos da teologia tradicional, nem identificada com a

temporalidade humana, tampouco a partir de estudos filosóficos e científicos acerca da

temporalidade, se não a partir da revelação divina dada pela Bíblia como um todo.

Enquanto esta perspectiva não é desenvolvida, todavia, é possível entender e aplicar o

conceito de Deus como um ser temporal tal como apresentado e assumido na teologia do texto

bíblico. Isto não significa que devemos conceber a Deus como limitado pelo tempo da

criação, se não como "supratemporal" não no sentido que sua natureza é atemporal, e sim no

sentido de que seu ser e vida tem lugar na plenitude do tempo, da qual nosso tempo é somente

uma parte limitada. Certamente, que Deus sendo concebido assim, significa que tem a

capacidade de experimentar a sucessão temporal do passado, presente e futuro. Ou seja, sem

Page 13: Desconstruindo a teologia: uma proposta metodológica

modificar seu ser ou sua constituição ontológica nem perder sua absoluta perfeição, a vida de

Deus é capaz de experimentar e fazer coisas novas não só "para nós" como para a divindade.

Este conceito é fundamental não só para entendermos a providência divina, como

corretamente argumenta a posição do Deus aberto, se não, que é muito mais importante, a

obra salvífica de Deus na história. Uma atividade similar deve ser feita a fim de entender a

historicidade da natureza humana a partir das Escrituras. Quando, a partir da concepção

bíblica de Deus e dos seres humanos como realidade histórica, se procede à desconstrução das

doutrinas cristãs, é surpreendente constatar que muito daquilo que a tradição nos ensina, por

exemplo, as doutrinas tais como justificação ou a inspiração das Escrituras, se baseiam na

interpretação das naturezas divina e da natureza humana como substâncias atemporais.79

Por motivos diferentes daqueles que motivaram a Heidegger para desconstruir a onto-teo-

logia da metafísica clássica e moderna, a desconstrução da teologia também é baseada na

concepção temporal da realidade. A grande diferença de Heidegger reside em que a teologia

não depende das suas categorias de análise, que se baseiam numa hipotética descrição da

ordem da criação, mas da revelação de Deus que a teologia cristã tem como sua área de

estudo. É a partir do estudo hermenêutico, área própria da teologia, deve descobrir, discutir,

desenvolver, implementar, criticar e ajustar o macro, meso e micro pressupostos

hermenêuticos que ela precisa para funcionar. Dentre eles os teólogos podem prolongar o

desconstrução-construção para qualquer disciplina, metodologia, interpretação, ensino e

aplicação produzida pela teologia cristã tradicional. Como resultado, não serão eliminadas as

doutrinas cristãs, mas será restaurada a compreensão teológica da mesma que encontramos

nas páginas das Escrituras Sagradas.

12. Desconstrução e teologia bíblica

Sob a orientação hermenêutica da filosofia grega, a teologia cristã foi construída em grande

parte como teologia sistemática. Embora as origens daquilo que hoje conhecemos como

teologia bíblica podem ser rastreadas até à Reforma Protestante do século XVI, só foi a partir

de meados do século XVIII que podemos discutir este assunto como uma disciplina

independente.80 O impulso desconstrutivo da teologia bíblica foi visto imediatamente pela sua

oposição às conclusões a que chegaram os teólogos sistemáticos.81 Os progressos feitos pela

teologia bíblica foram revolucionários em muitos aspectos, alguns deles, infelizmente, muito

negativo devido à sua dependência da macro hermenêutica clássica e moderna.

A desconstrução que propusemos neste artigo obviamente se relaciona intimamente com a

teologia bíblica. Antes de utilizar o texto bíblico reconstrutivamente, devemos desconstruir a

metodologia por meio da qual interpretamos. A metodologia amplamente aceita na disciplina

é conhecida como método histórico-crítico de interpretação bíblica.82 Se bem que esta

metodologia tem sido criticada pelos próprios membros desta disciplina, todavia é necessário

proceder com sua desconstrução e substituição a partir dos princípios macro hemenêuticos

que a sustentam.83 Em termos simples, esta metodologia não pode ser utilizada no projeto

desconstrutivo da teologia cristã que estamos propondo devido que a mesma trabalha a partir

do princípio macro hermenêutico clássico e moderno que devem ser desconstruídos. Como

resultado, a aplicação do método histórico-crítico produz-se a desconstrução e, por

conseguinte a destruição do pensamento bíblico.

Sobre a base de uma desconstrução-reconstrução da metodologia exegética, a teologia bíblica

se torna uma aliada insdispensável para a desconstrução-construção das doutrinas e práticas

cristãs. Felizmente, a concepção bíblica arrespeito da historicidade da natureza divina e

Page 14: Desconstruindo a teologia: uma proposta metodológica

humana é tão clara, que é afirmada ainda pela leitura histórico-crítica do texto. A partir desta

perspectiva hermenêutica fundamental é possível desconstruir o método histórico-crítico e

construir outro para substituí-lo. Como no caso da compreensão de Deus e o tempo (secção

11), a desconstrução do método histórico-crítico requer um estudo sério e detalhado.

13. Conclusão

Penso que as ideias apresentadas neste artigo são suficientes para concluir que uma

descosntrução da teologia cristã é necessária e que sua construção a partir das "mesmas

coisas" dadas a teologia como revelação especial de Deus é possível.

Se bem que a tarefa de desconstrutiva tem antecedentes na tradição cristã, notavelmente na

obra de Lutero e nas tradições que, como os anabatistas [reforma radical], trataram de

restaurar o cristianismo do Novo Testamento, é claro que nunca se tem tratado de reconstruí-

la a partir da desconstrução dos fundamentos hermenêuticos que a sustentam. Se uma missão

tal tem produzido resultados importantes na área filosófica, é lógico esperar que resultados

similares se produzam na área da teologia.

A desconstrução da teologia cristã é necessária porque em sua construção esqueceu-se da

interpretação histórica de Deus, do homem, do mundo, da totalidade, e do conhecimento, e da

origem do conhecimento teológico que encontramos nas Escrituras. Este esquecimento,

perpetuado pela institucionalização do cristianismo em uma variedade de denominações,

levou em grande parte, a uma crise de fragmentação cada vez maior e a irrelevância que o

Cristianismo sofre na época moderna. Esta lacuna deve ser substituída por uma nova atitude

de abertura ao pensamento revelado por Deus nas Escrituras. A construção que gerou esta

atitude obediente deve, evidentemente, ser sujeito às mesmas críticas que a gerou para

garantir que o mesmo fato não se repita pela segunda vez.

Como temos sugerido, a tarefa de desconstrução deve começar no nível macro hermenêutico,

e dali partiu para todos os níveis, metodologias, tradições, exegese, doutrinas, ensinamentos,

práticas e teólogos cristãos. Desta forma, estaremos construindo sobre a rocha da palavra que

recebemos na Sagrada Escritura (Antigo e Novo Testamentos) como nos ordenou nosso

Senhor Jesus Cristo (Mt 7: 24).

__________________________________________________________________________

*Artigo publicado pela primeira vez na revista: DavarLogos: Revista Bíblico-Teológica, Entre

Ríos: Argentina, Editora: Universidad Adventista del Plata, v. 1, n. 1, p. 3-26, 2002. Tradução

para o português: Régerson Molitor da Silva – [email protected]

**Fernando L. Canale, professor de Teologia e Filosofia da Andrews University, Michigan,

EUA.

1 Jean-François Lyotard, The Postmodern Condition: A Report on Knowledge (trad. Geoff

Bennington y Brian Massumi; 10 vols.; Minneapolis: University of Minnesota Press, 1979),

10:xxiii, introduce la noción de posmodernidad de la siguiente manera: “The word is in

current use on the American continent among sociologists and critics; it designates the state of

our culture following the transformations which, since the end of the nineteenth century, have

altered the game rules for science, literature, and the arts”. 2 Delwin Brown, Boundaries of our Habitations: Tradition and Theological Construction

(New York: State University of New York Press, 1994), y Kwabena Donkor, Tradition as a

Page 15: Desconstruindo a teologia: uma proposta metodológica

Viable Option for Protestant Theology: The Vicentian Method of Thomas C. Oden (Ann

Arbor: UMI, 2001). 3 Jean-Georges Boeglin, La question de la tradition dans la théologie catholique

contemporaine (Paris: Éditions du Cerf, 1998); Avery Dulles, The Craft of Theology: From

Symbol to System (New York: Crossroad, 1992), y Carlos Alfredo Steger, Apostolic

Succession in the Writings of Yves Congar and Oscar Cullmann (AUSDDS 20; Berrien

Springs: Andrews University Press, 1995), 144-65. 4 Ernst Troeltsch, The Christian Faith (trad. Garrett E. Paul; Minneapolis: Fortress, 1991), 40.

5 Alister McGrath, “Engaging the Great Tradition: Evangelical Theology and the Role of

Tradition”, en Evangelical Futures: A Conversation on Theological Method (ed. John G.

Stackhouse, Jr.; Grand Rapids: Baker, 2000), 139-58, y Norman L. Geisler, Thomas Aquinas:

An Evangelical Appraisal (Grand Rapids: Baker, 1991). 6 Dulles, The Craft of Theology, 103-14; Troeltsch, The Christian Faith, 40.

7 Recientemente el teólogo metodista Thomas C. Oden ha recurrido explícitamente a la

tradición utilizada para superar el relativismo posmodernista, véase por ejemplo su After

Modernity–What?: Agenda For Theology (Grand Rapids: Zondervan, 1992), 60. 8 Fernando L. Canale, Back to Revelation-Inspiration: Searching for the Cognitive

Foundations of Christian Theology in a Postmodern World (Lanham: University Press of

America, 2001). 9 Que la tradición juega el papel hermenéutico determinante en el Catolicismo Romano y

protestantismo modernista no necesita explicación. Menos reconocido, es el rol hermenéutico

que la tradición ejerce en el protestantismo, aun en el evangelicalismo conservador. En el

catolicismo un grupo de teólogos intenta superar el secularismo, la indiferencia hacia la

teología y la postodernidad mediante un retorno a la tradición patrística. Este movimiento se

autodenomina “Ortodoxia Radical” (véase John Milbank et al., eds., Radical Orthodoxy: A

New Theology [London-New York: Routledge, 1999], 1-2). En el evangelicalismo el uso de la

tradición como recurso hermenéutico se nota, por ejemplo en el llamado a utilizar más

libremente la tradición que encontramos en el enfoque histórico de D. H. Williams, Retrieving

the Tradition and Renewing Evangelicalism: A Primer for Suspicious Protestants (Grand

Rapids: Eerdmans, 1999), y el proyecto teológico modernista de Stanley J. Grenz, Theology

for the Community of God (Nashville: Broadman & Holman, 1994), 16-20, y también Stanley

J. Grenz, Renewing the Center: Evangelical Theology in a Post-Theological Era (Grand

Rapids: Baker, 2000), 208-9. 10

Hans-Georg Gadamer, Truth and Method (trad. Joel Weinsheimer y Donald G. Marshall, 2a

edición rev.; New York: Continuum, 1989), 292-307, provee un análisis fenomenológico de la

tradición. 11

Alister McGrath, “Engaging the Great Tradition”, 141, identifica estos niveles como

“proceso” y “conjunto de doctrinas” (inglés: “body of teaching”). 12

Thomas C. Oden, The Living God (New York: HarperCollins, 1992), 337-8, reconoce estos

niveles a los cuales denomina “palabra recordada” y “palabra experimentada”. 13

Hans-Georg Gadamer, Truth and Method, 295. 14

Ibid., 266-7. 15

Aun Alister McGrath, “Engaging the Great Tradition”, 148, evangélico conservador de

origen inglés, reconoce este cambio paradigmático en el ámbito epistemológico como uno de

los pocos puntos de la posmodernidad con el cual está totalmente de acuerdo. 16

Fernando L. Canale, A Criticism of Theological Reason: Time and Timelessness as

Primordial Presuppositions (AUSDDS 10; Berrien Springs: Andrews University Press,

1983), capítulo 2. 17

El reciente proyecto teológico evangélico neo-liberal del teólogo americano Stanley J.

Grenz es un ejemplo de esta actitud. Grenz sigue de cerca al teólogo alemán Wolfhart

Page 16: Desconstruindo a teologia: uma proposta metodológica

Pannenberg. En el clásico estilo liberal iniciado por Friedrich Schleiermacher, The Christian

Faith (trad. H. R. Mackintosh y J. S. Stewart; basada en la 2a edición alemana de 1830;

Edinburgh: T. & T. Clark, 1928), Grenz construye su Theology for the Community of God a

partir de una descripción de las creencias tradicionalmente sostenidas por la comunidad

cristiana. Un enfoque similar es adoptado por el teólogo Adventista del Séptimo Día Fritz

Guy, Thinking Theologically: Adventist Christianity and the Interpretation of Faith (Berrien

Springs: Andrews University Press, 1999), 225-52. La misma confianza en las contribuciones

hermenéuticas de la tradición se encuentra entre teólogos evangélicos conservadores que

siguen el ejemplo de los así llamados Reformadores “magisteriales” (Lutero, Zuinglio,

Calvino). Por ejemplo, véase Millard J. Erickson, Christian Theology (Grand Rapids: Baker,

1990), 258. 18

John D. Caputo, ed., Deconstruction in a Nutshell: A Conversation with Jacques Derrida

(New York: Fordham University Press, 1997), 77. 19

Esto resulta evidente cuando el ejemplo que Derrida y Caputo dan de la deconstrucción es

el análisis de un pasaje del Timeo, donde Derrida enfoca su atención en el receptáculo

espacial (Khôra) en el cual las copias sensibles producidas por el Demiurgo son engendradas.

Esto le permite distinguir entre el texto platónico y la filosofía platónica, y usar lo primero

para criticar lo segundo (ibid., 82-92). De esta forma el análisis textual se torna “transgresor”

de la tradición filosófica denominada “Platonismo”. 20

Ibid., 80-1. 21

La “transgresión” derridiana parece corresponder con lo que Thomas S. Kuhn identificó

como “anomalías” que no se ajustan a los criterios de interpretación de la “ciencia normal” o

paradigma de explicación científica reinante (Thomas S. Kuhn, The Structure of Scientific

Revolutions [2a edición; Chicago: University of Chicago Press, 1970], 52). 22

Ibid., 159. 23

Hans-Georg Gadamer, “The Phenomenological Movement”, en Philosophical

Hermeneutics (ed. David E. Linge; Los Angeles: University of California Press, 1976), 138. 24

Ibid., 138-9. 25

Para una introducción al concepto y surgimiento de la hermenéutica como disciplina

filosófica, véase Raúl Kerbs, “Sobre el desarrollo de la hermenéutica”, Analogía Filosófica 2

(1999): 3-33. 26

Menos conocida pero no menos importante es la obra del filósofo italiano Emilio Betti,

“Hermeneutics as the General Methodology of the Geisteswissenschaften”, en Contemporary

Hermeneutics: Hermeneutics as Method, Philosophy and Critique (ed. Josef Bleicher;

London-Boston: Routledge & Kegan Paul, 1980), e idem, Teoria Generale della

Interpretazione (Milano: Dott. A. Giuffre Editore, 1990). Para una introducción a la

hermenéutica filosófica, véase Josef Bleicher, Contemporary Hermeneutics: Hermeneutics as

Method, Philosophy and Critique (London-Boston: Routledge & Kegan Paul, 1980). 27

Clark H. Pinnock, Most Moved Mover: A Theology of God’s Openness (Grand Rapids:

Baker, 2001), 22-3. 28

Richard Rice, Reason and the Contours of Faith (Riverside: La Sierra University Press,

1991), 201. 29

Ibid., 198. 30

Ibid., 194. 31

Tomás de Aquino, On Being and Essence (trad. Armand Maurer; Toronto: Garden City

Press, 1949). 32

Tomás de Aquino, Summa Theologica (trad. Fathers of the English Dominican Province; 3

vols.; New York: Benzinger Brothers, 1947). 33

Tomás de Aquino, On Being and Essence, prólogo.

Page 17: Desconstruindo a teologia: uma proposta metodológica

34 Martin Heidegger, “The Onto-theo-logical Constitution of Metaphysics”, en Identity and

Difference (ed. Joan Sambaugh; New York: Harper and Row, 1969), 54, 60. 35

Este procedimiento teológico no era desconocido. Filón de Alejandría, teólogo judío, ya lo

había usado para construir su interpretación del judaísmo. Que la filosofía, la ciencia y la

cultura determinan la perspectiva hermenéutica fundamental del cristianismo es ampliamente

aceptado, inclusive defendido por la gran mayoría de tradiciones teológicas. Para una

introducción técnica al papel que la filosofía juega en la teología y a las complicaciones que

nuevas corrientes teológicas representan para tradiciones construidas sobre otros

fundamentos, recomiendo Jack A. Bonsor, Athens and Jerusalem: The Role of Philosophy in

Theology (New York: Paulist, 1993). 36

En A Criticism of Theological Reason me dedico a estudiar y criticar la forma como esta

decisión hermenéutica del cristianismo temprano afectó la interpretación de la razón

teológica. Véase también Raúl Kerbs, “El problema fe-razón (1)”, Enfoques 12.1 (2000): 105-

25. 37

La nomenclatura “macro”, “meso” y “micro” hermenéutica que adopto en este artículo es

una adaptación de la seguida por Hans Küng cuando habla de macro, meso y micro

paradigmas (Hans Küng, Theology for the Third Millennium: An Ecumenical View [trad. Peter

Heinegg; New York: Doubleday, 1988], 134). 38

Kerbs explica cómo la hermenéutica filosófica moderna (macro hermenéutica) afecta la

interpretación del pensamiento e ideas teológicas en Paul Ricoeur. Véase Raúl Kerbs, “Una

interpretación sobre el origen de la articulación de la desmitologización (interna y externa) y

la restauración de los mitos en Paul Ricoeur”, Logos 29.86 (2001): 57-84. 39

Véase Raúl Kerbs, “Las parábolas bíblicas en la hermenéutica filosófica de Paul Ricoeur”,

Ideas y Valores 113 (2000): 3-27. Véase cómo las presuposiciones macro hermenéuticas

afectan la interpretación de la doctrina del santuario, en Fernando L. Canale, “Philosophical

Foundations and the Biblical Sanctuary”, AUSS 36.2 (1998): 183-206. 40

Fernando L. Canale, “Interdisciplinary Method in Christian Theology? In Search of a

Working Proposal”, Neue Zeitschrift für Systematische Theologie und Religionsphilosophie

43.3 (2001): 366-89. 41

Gary Dorrien, The Remaking of Evangelical Theology (Louisville: Westminster John Knox,

1998), 187. 42

Ejemplos de la influencia que la ontología clásica tiene sobre un amplio espectro de

teólogos y filósofos contemporáneos puede notarse en Orrin F. Summerell, ed., The Otherness

of God (Charlottesville: University of Virginia Press, 1998), 1. En el prefacio, introduciendo

la obra de 15 autores, Semmerell afirma que los ensayos sobre el tema general de la alteridad

de Dios (trascendencia) muestran que “its conceptual lineage extends back to Plato and

Aristotle, while its Judeo-Christian religious heritage resonates throughout its reception in

Neoplatonism with its sundry Medieval and Renaissance expressions, negative theology,

Reformation thought, German idealism, dialectical theology, and most recently,

deconstructivist thought”. 43

Aristóteles, Metafísica, XI, 3. 44

Martin Heidegger, Being and Time (trad. John Macquarrie y Edward Robinson; New York:

Harper and Collins, 1962), 1. 45

Heidegger prefirió caracterizar la perspectiva tradicional basada en la atemporalidad

parmenideana como equivocada, sino eufemísticamente como un “olvido” de consecuencias

fatales. Esto le permitió considerarse como un “continuador” de la tradición filosófica

occidental y argumentar que su interpretación del ser es la correcta cuando se la compara con

la clásica. De esta manera, Heidegger parece querer poner la interpretación del ser más allá

del relativismo intrínseco al enfoque hermenéutico que él propulsó al comienzo del siglo XX. 46

Véase especialmente Edmund Husserl, The Crisis of European Sciences and

Page 18: Desconstruindo a teologia: uma proposta metodológica

Transcendental Phenomenology: An Introduction to Phenomenological Philosophy

(Evanston: Northwestern University Press, 1970). 47

Jean Paul Sartre, El Ser y la Nada: Ensayo de Ontología Fenomenológica (trad. Miguel

Angel Virasoro; 3 vols.; Buenos Aires: Ibero-Americana, 1961), I, 11; véase también

Heidegger, Being and Time, Introducción, II, §7, A; 51-5. 48

Martin Heidegger, “The Anaximander Fragment”, en Early Greek Thinking (San Francisco:

Harper & Row, 1975), 17. 49

Aristóteles, Metafísica, XI, 3. 50

Parménides, fragmentos, 7-8, en Kathleen Freeman, Ancilla to the Pre-Socratic

Philosophers: A Complete Translation of the Fragments in Diels, “Fragmente der

Vorsokratiker” (Oxford: Basil Blackwell, 1948). 51

Platón, Timaeus, 37.d-38.c. 52

En los siguientes libros se encuentra la noción clásica de acuerdo con la cual Dios es

atemporal. Nelson Pike, God and Timelessness (Studies in Ethics and the Philosophy of

Religion; London: Routledge & Kegan Paul, 1970); Anthony John Patrick Kenny, The God of

the Philosophers (New York: Oxford University Press, 1979); y Paul Helm, Eternal God: A

Study of God Without Time (New York: Oxford University Press, 1988). 53

Agustín, The Confession (Oak Harbor: Logos Research Systems, 1996), XIII, 29-30. 54

Bonsor, Athens and Jerusalem, 83-97, provee una introducción muy valiosa al pensamiento

de Rahner desarrollada precisamente desde el ángulo de su fundamentación filosófica. 55

La posición macro hermenéutica de Dulles puede apreciarse con más claridad en su obra

metodológica The Craft of Theology. 56

La deconstrucción de Lutero parece haber influenciado directamente la deconstrucción

heideggeriana (James K. A. Smith, The Fall of Interpretation: Philosophical Foundations for

a Creational Hermeneutic [Downers Grove: InterVarsity, 2000], 109-10). 57

Ibid., 133-48. Sin embargo, Smith no llega a mencionar la necesidad de deconstruir el

fundamento ontoteológico de la teología. 58

Richard Rice, God’s Foreknowledge and Man’s Free Will (Minneapolis: Bethany House,

1985); idem, “Divine Foreknowledge and Free-Will Theism”, en The Grace of God and the

Will of Man: A Case for Arminianism (ed. Clark Pinnock; Grand Rapids: Zondervan, 1989),

121-39; Clark Pinnock et al., eds., The Openness of God: A Biblical Challenge to the

Traditional Understanding of God (Downers Grove: InterVarsity, 1994); idem, Most Moved

Mover: A Theology of God’s Openness (Grand Rapids: Baker, 2001); John E. Sanders, The

God Who Risks: A Theology of Providence (Downers Grove: InterVarsity, 1998); Gregory A.

Boyd, God at War: The Bible and Spiritual Conflict (Downers Grove: InterVarsity, 1997);

idem, The God of the Possible: A Biblical Introduction to the Open View of God (Grand

Rapids: Baker, 2000); e idem, Satan and the Problem of Evil: Constructing a Trinitarian

Warfare Theodicy (Downers Grove: InterVarsity, 2001). 59

La naturaleza deconstructiva del sistema reinante del movimiento ha determinado que un

sector del evangelicalismo considere la “idea de un Dios abierto completamente inaceptable,

subversiva y amenazante”. Quienes pertenecían al sector tradicionalista “no recibieron con

alegría una iniciativa que desafiaba el pensamiento conservador de la Reforma y que cayó

como una bomba en el campo teológico. Para quienes trabajaban con las presuposiciones

convencionales que encontramos en Agustín, Tomás de Aquino, Lutero y Calvino, el modelo

era demasiado radical e imposible de aceptar. Al romper con una cantidad de ideas

tradicionales, levantaba una bandera roja en sus caras” (Pinnock, Most Moved Mover: A

Theology of God’s Openness, xi). 60

Being and Time, II, §7, 49-50. 61

James Smith argumenta este punto convincentemente con la ayuda de Heidegger, Gadamer

y Dooyeweerd (véase Smith, The Fall of Interpretation, 169-75).

Page 19: Desconstruindo a teologia: uma proposta metodológica

62 Ibid., 180.

63 Ibid., 9, 183-4.

64 Martin Luther, Luther’s Works. Vol. 35: Word and Sacrament I (ed. Jaroslav Jan Pelikan,

Hilton C. Oswald y Helmut T. Lehmann; Philadelphia: Fortress, 1999), 119-23. “According

to Luther’s understanding, the Word of God is not simply to be equated with the written text

of the Scriptures, for it goes much deeper than historical description or moral precept. Rather,

it is a uniquely life-imparting power, a message communicated by men in whom the

Scriptures had become alive” (E. Theodore Bachmann, “Introduction to Word and

Sacrament”, en Luther’s Works, 35:1-2). 65

Ibid., 9, 183-4. 66

Parecería que Smith utiliza la metodología deconstructiva al nivel textual y dentro de la

tradición, acercándose así más a Derrida que a Heidegger (ibid., 30). 67

Véase Canale, Back to Revelation-Inspiration, capítulo 1 68

Gadamer, Truth and Method, 267. 69

Smith, The Fall of Interpretation, 180. 70

Para una presentación más detallada de este cambio metodológico fundamental, véase

Canale, A Criticism of Theological Reason, 285-97. 71

Albert C. Outler, The Wesleyan Theological Heritage. Collected Essays of Albert C. Outler

(ed. Thomas C. Oden y Leicester R. Longden; Grand Rapids: Zondervan, 1991), 21-37. 72

Desgraciadamente, esta tendencia está siendo aceptada por teólogos adventistas. Como

ejemplo, véase Woodrow W. Whidden, “Sola Scriptura, Inerrantist Fundamentalism and the

Wesleyan Quadrilateral: Is “No creed but the Bible” a Workable Solution?”, AUSS 35.2

(1997): 211-26. 73

Tota Sriptura designa a toda la Biblia, Antiguo y Nuevo Testamentos, como la revelación

divina (“las cosas mismas”) sobre la cual la teología cristiana debe construir. 74

Canale, Back to Revelation-Inspiration. 75

Para una discusión en detalle de este texto, véase Canale, A Criticism of Theological

Reason, capítulo 3. 76

Ejemplo de reflexión reciente y creciente sobre este tema puede observarse en la

publicación de las siguientes obras: John J. O’Donnell, Trinity and Temporality: The

Christian Doctrine of God in the Light of Process Theology and the Theology of Hope

(Oxford: Oxford University Press, 1983); William Hasker, God, Time, and Knowledge

(Cornell Studies in the Philosophy of Religion; Ithaca: Cornell University Press, 1989);

William J. Hill, Search for the Absent God: Tradition and Modernity in Religious

Understanding (New York: Crossroad, 1992); Gregory Ganssle, ed., God and Time: Four

Views (Downers Grove: Inter-Varsity, 2001); y William Lane Craig, Time and Eternity:

Exploring God’s Relationship to Time (Wheaton: Crossway Books, 2001). Ninguno de estos

estudios, sin embargo, estudia el tema de la temporalidad divina a partir de la revelación

bíblica sino a partir de la especulación filosófica-teológica humana. 77

La temporalidad de Dios y del alma son diferentes en la hermenéutica clásica. Mientras que

Dios tiene perfecta atemporalidad, el alma sólo participa de ella en un grado menor ajustado a

su grado de perfección ontológica. 78

Véase Oscar Cullmann, Immortality of the Soul or Resurrection of the Dead? The Witness

of the New Testament (New York: Macmillan, 1958); y Samuele Bacchiocchi, Immortality or

Resurrection? A Biblical Study on Human Nature and Destiny (Berrien Springs: Biblical

Perspectives, 1997). 79

Esto continúa presente en interpretaciones antropológicas inspiradas en el “monismo”

aristotélico. 80

G. Ebeling, Word and Faith (trad. James W. Leitch; Philadelphia: Fortress, 1963), 87,

rastrea el origen de la teología bíblica a la publicación de Gedanken von der Beschaffenheit

Page 20: Desconstruindo a teologia: uma proposta metodológica

und dem Vorzug der biblischdogmatischen Theologie vor der alten und neuen scholastischen

[Reflexiones sobre la naturaleza de la teología bíblica dogmática y a su superioridad sobre el

escolasticismo antiguo y reciente] (1758), por Anton Friedrich Büsching. Gerhard Hasel

sugiere una fecha más temprana para la independencia de la teología bíblica de la teología

dogmática. “As early as 1745 ‘Biblical theology’ is clearly separated from dogmatic

(systematic) theology and the former is conceived of as being the foundation of the latter”

(Gerhard F. Hasel, Old Testament Theology: Basic Issues in the Current Debate [edición rev.;

Grand Rapids: Eerdmans, 1975], 18). 81

De acuerdo con Ebeling, Word and Faith, 87, la teología bíblica se convirtió en “a rival of

the prevailing dogmatics [scholastic theology]”. Con la presentación metodológica de Johann

Philipp Gabler en 1787, la teología bíblica “set itself up as a completely independent study,

namely, as a critical historical discipline alongside dogmatics” (ibid., 88). Véase también

Anthony C. Thiselton, “Biblical Theology and Hermeneutics”, en The Modern Theologians:

An Introduction to Christian Theology in the Twentieth Century (ed. David F. Ford;

Cambridge: Blackwell, 1997), 520. 82

La mejor introducción al método histórico-crítico desde el punto de vista metodológico que

conozco es la siguiente: Stephen Haynes McKenzie, ed., To Each Its Own Meaning: An

Introduction to Biblical Criticisms and their Application (Louisville: Westminster John Knox

Press, 1999). El método histórico crítico ha sido criticado, por ejemplo, en las siguientes

obras: Gerhard Maier, The End of the Historical Critical Method (trad. Edwin W. Leverenz y

Rudolph F. Norden; St. Louis: Concordia, 1977); Eta Linnemann, Historical Criticism of the

Bible: Methodology or Ideology (trad. Robert W. Yarbrough; Grand Rapids: Baker, 1990); y

su más reciente, idem, Biblical Criticism on Trial: How Scientific is “Scientific Theology”

(Grand Rapids: Kregel, 2001). 83

Para ver que todo método necesariamente incluya principios macro hermenéuticos para su

funcionamiento, véase Canale, “Interdisciplinary Method in Christian Theology?”