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Boletim da SBNp - Atualidades em Neuropsicologia

11.19www.sbnpbrasil.com.br

Neurofarmacologia

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Sociedade Brasileira de Neuropsicologia (SBNp)

PresidenteDeborah Amaral de Azambuja

Vice-presidenteRochelle Paz Fonseca

Tesoureira GeralAndressa Moreira Antunes

Tesoureira ExecutivaBeatriz Bittencourt Ganjo

Secretária GeralKatie Almondes

Secretária ExecutivaLuciana Siqueira

Conselho delibetarivoAnnelise Júlio Costa

Leandro Malloy-DinizJosé Neader AbreuPaulo Mattos

Conselho FiscalFernando Costa PintoLucia Iracema MendonçaMarina Nery

SBNp Jovem

PresidenteVictor Polignano Godoy

Vice-presidenteThais Dell’Oro de Oliveira

Secretário GeralLucas Matias Felix

Membros da SBNp JovemAlberto Timóteo (MG)Alexandre Marcelino (MG)Ana Luiza Costa Alves (MG)André Ponsoni (RS)Emanuelle Oliveira (MG)Érika Pelegrino (RJ)Giulia Moreira Paiva (MG)Luciano Amorim (PA)Maila Holz (RS)Marcelo Leonel (RJ)Mariana Cabral (MG)Mariuche Gomides (MG)Patrícia Ferreira da Silva (RS)Priscila Corção (RJ)Waleska Sakib (GO)

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Expediente

Editora-chefeGiulia Moreira Paiva

Editoras assistentesMariuche Rodrigues GomidesThaís Dell’Oro de Oliveira

Coordenador editorialAlexandre Marcelino

Projeto gráfico e editoraçãoLuciano da Silva Amorim

Equipe de revisoresAlina TodeschiCamila BernardesEmanuel QuerinoGiulia Moreira PaivaIsabela GuimarãesLucas Matias FélixThaís Dell’Oro de OliveiraVictor Polignano Godoy

Revisores desta edição

Isabela Sallum GuimarãesPsicóloga pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestre em Medicina Molecular pela UFMG. Membra do grupo de pesquisa Laboratório de Investi-gações em Neurociência Clínica no INCT em Medicina Molecular (LINC-INCT-MM). Colaboradora da SBNp Jovem.

Editada em: novembro de 2019Última edição: outubro de 2019Publicada em: novembro de 2019

Sociedade Brasileira de Neuropsicologia

Sede em: Avenida São Galter, 1.064 - Alto dos PinheirosCEP: 05455-000 - São Paulo - [email protected]

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Sumário

REVISÃO HISTÓRICARitalina: como essa medicação se relaciona com o TDAH e como esses temas se confundem na última década?

REVISÃO ATUALUso dos psicofármacos em quadros psicopatológicos e neuro-degenerativos: o impacto na cognição e nas funções executi-vas

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Ritalina: Como essa medicação se relaciona com o TDAH e como esses temas se confundem na última década?

REVISÃO HISTÓRICA

O metilfenidato, mais conhecido como Ritalina, é uma das medicações que mais causa controvérsia entre os que discutem tratamento medi-camentoso para questões comportamentais. Amplamente associado a demandas escolares e a um grande número de diagnósticos de Trans-torno Déficit de Atenção e hiperatividade, mesmo as publicações sobre o remédio se dividem entre as que descrevem e estudam seus efeitos, e as que o colocam numa perspectiva histórica, acusando-no de “criar” um problema, o qual seu efeito solucionaria. Dessa forma, essa revisão atual busca demonstrar de forma sucinta o que se tem produzido sobre o remédio, para promover o uso consciente e uma visão real de como está sendo feito o consumo do mesmo, o que não negligencia os pon-tos positivos da medicação para quem realmente precisa, ao mesmo tempo que orienta os malefícios, ainda não tão explícitos na literatura, do consumo desmedido e sem indicação do mesmo. Criado em 1944 na Suíça, o cloridrato de metilfenidato foi patenteado com o nome de Ritalin e comercializado como psicoestimulante leve para adultos, sobretudo em práticas esportivas. Onze anos depois en-

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trou no mercado norte americano ainda para adultos com indicação para emagrecimento, ganho em performance atlética e desempenho intelectual, sua atuação era observada também, por não provocar eu-foria, ou seja, ao consumir o medicamento o usuário consegue ter um controle maior do comportamento, ao mesmo tempo que se sente com maior capacidade para focar em determinada atividade o que poten-cializa seu rendimento (Gonçalves & Ribeiro, 2013). Essa substância encontra-se no grupo das anfetaminas e hoje é usada no tratamento do déficit de atenção e hiperatividade TDAH. O transtorno é uma con-dição que atinge num primeiro momento crianças que crescem man-tendo o transtorno e tem três tipos de descrição, a mais geral é relatada como hiperatividade, dificuldade de concentração em longos períodos podendo haver impulsividade (Encyclopedia Britannica, 2019). Os es-tudos de genoma humano ainda vêem os mecanismos biológicos do transtorno como controversos no que tange a produzir um modelo que contemple as diversas manifestações do transtorno e sua associação com a estrutura genética (Lee & Song, 2014)

O TDAH apresenta uma prevalência grande quando comparado a ou-tros transtornos o que colabora para o consumo do medicamento. Se-gundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5 ª edição (DSM-5), o TDAH faz parte da na sessão de transtornos do neu-rodesenvolvimento. O DSM-5 organiza o transtorno em cinco critérios e para seu diagnóstico são necessários seis sintomas para crianças e cin-co para adultos, esses estão listados no critério A e resumidos na Tabela 1. Além disso, no critério B coloca-se a janela temporal do transtorno exigindo-se a manifestação dos sintomas antes dos 12 anos. No crité-rio C exige-se a apresentação do comportamento em pelo menos dois contextos. O critério D exige que os sintomas interfiram na qualidade de vida social, acadêmica e laboral do paciente. Por fim, o critério E exi-ge que os sintomas não sejam melhor explicados em outro transtorno mental, nem se dêem no curso de outra doença psiquiátrica (American Psychiatric Association, 2013).

O tratamento medicamentoso do TDAH passa pelas vias dopaminér-gicas e noradrenérgicas, essas são vias estimulantes e gerariam a sus-pensão dos sintomas da síndrome (Štuhec, Locatelli , & Švab,2015). No Brasil, essa substância é vendida sob o nome de Concerta ou Ritalina, e é o remédio da sua categoria mais consumido no mundo (Caliman & Domitrovic, 2013). O TDAH encontra hoje tratamentos farmacológicos, como acima citado, e não farmacológicos. Isso se dá pelos sintomas do

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transtorno serem relacionados com funções executivas, tais quais: con-trole inibitório, resolução de problemas, planejamento e execução de tarefas, além da memória de trabalho. Estas são capacidades necessá-rias para controle comportamental e para a capacidade de dirigir com-portamentos a metas. Os tratamentos não medicamentosos buscam o desenvolvimento dessas capacidades ou a utilização de estratégias compensatórias, como por exemplo estabelecer alarmes com mensa-gens escritas para que a pessoa se lembre de todo material que precisa

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Tabela 1. Sintomas para TDAH

Desatenção Hiperatividade"Perde" a atenção a detalhes e erra a atividade

Frequentemente agita o corpo, prin-cipalmente as mãos não ‘parando’ na cadeira

Perde atenção em palestras, leituras e conversas longas, demonstrando pou-ca duração da atenção

Levanta da cadeira e sai do lugar de forma excessiva

Não percebe quando chamado direta-mente

Sente-se inquieto, corre e escala quan-do criança fora de ambiente próprio

Não segue instruções e não termina tarefas

Não consegue participar de atividades de lazer calmas

Dificuldade na administração de bens pessoais e de tempo

Fica desconfortável em situações de tempo prolongado

Evita se envolver em esforço mental constante; fazer relatório, montar resu-mo,preencher formulário

Fala excessiva

Perde material necessário a tarefa com facilidade

Responde antes do término da pergun-ta, não espera tempo de fala

Distraído por estímulo externo Dificuldades com filas e esperaEsquece tarefas diárias, como pagar contas e fazer deveres de casa

Interrompe, intromete e usa coisas de outros sem permissão, inclusive de desconhecidos

Fonte : Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (5 ª edição, American Psychiatric Association, 2013)

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levar para a escola. Segundo Pakdaman, Irani, Tajikzadeh e Jabalkandi (2018), o tratamento que corresponde a maiores efeitos é a combina-ção entre tratamentos farmacológicos e não farmacológicos, ou seja, o efeito químico combinado com a reabilitação dão melhor prognóstico para as crianças e adultos acometidos pelo transtorno. De certa forma, é possível observar que o uso do medicamento facilita a adesão ao tra-tamento não medicamentoso por diminuir a intensidade dos sintomas, e que o tratamento não medicamentoso torna mais adaptada a vida do portador, inclusive em momentos fora do efeito do medicamento, por-que cria e fortalece estratégias mais adaptadas ao cotidiano do indiví-duo. Um público que recentemente começou a se apropriar também do medicamento são os adultos, portadores ou não, de TDAH. O primei-ro grupo, prejudicado pelo não esclarecimento do transtorno quando crianças, relatam majoritariamente que cresceram sob o estigma de “preguiçosos, desinteressados e ineficientes”. São pessoas que cria-ram individualmente estratégias compensatórias ao diagnóstico e que de certa forma aprenderam a conviver com ele, porém sentem prejuízos de não terem recebido na infância o tratamento que hoje é destinado ao público. O consumo da ritalina por esses dá-se, em sua maioria, no horário de trabalho para responder a demandas estruturadas em que eles se “desorganizam”, ou seja, não conseguem fazer o planejamento e monitoramento das tarefas de forma a respondê-las de forma com-pleta. Por isso, ganham maior autonomia com o consumo do remédio. Segundo Quintero, Morales, Vera, Zuluaga e Fernández (2019), adultos com TDAH persistem com poucas habilidades sociais, o que acarreta em terem menores ciclos sociais, maior número de divórcios e maiores chances de troca excessiva de empregos e poucas chances de alcançar altos cargos, a pesquisa dos autores aponta que pessoas adultas que receberam tratamento na infância tem menos prejuízos, assim como adultos que aderiram ao tratamento contando com a parte farmacológi-ca e comportamental. Para esse público, muitas vezes é indicado como tratamento não medicamentoso a prática de meditação, mindfulness e atendimentos dentro da perspectiva da Teoria cognitiva comportamen-tal, contudo faz-se necessária a criação de protocolos de reabilitação especializadas no público adulto pensando o desenvolvimento e forta-lecimento de estratégias, assim como já são oferecidos para o público infantil. O outro grupo adulto que faz uso da ritalina comumente, faz sem indi-

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cação para tal, como forma de obter maior aproveitamento no tempo de estudo. Dado potencial da medicação em aumentar o foco, concursei-ros tem-se usado da medicação para obter aproveitamento na realiza-ção de provas. São pessoas que conseguem a indicação do medica-mento de forma não completamente lícita, porque não precisam dela, então tomam o remédio de crianças, ou passam várias vezes a mesma receita, usam de profissionais da área de saúde sem ética, ou simulam sintomas e dessa forma dão argumentos aos críticos da medicação, de que a mesma seria “dispensável”. Os argumentos para o uso da ritalina de forma a melhorar o desempenho cognitivo, entram afirmando que não é “justo” os usuários não terem acesso a medicação. Ao mesmo tempo, a escassa literatura sobre os efeitos a longo prazo endossam a narrativa, junto a abrangência de diagnósticos (Ortega, Barros, Caliman, Itaborahy, Junqueira, & Ferreira, 2010).

Por fim, é possível concluir que o TDAH é um transtorno comum na po-pulação mundial, e abarca sintomas de desatenção; hiperatividade e impulsividade em pontos que prejudicam a adaptação social e o de-sempenho dos acometidos pelo transtornos em diversos ambientes (Clavenna & Bonati, 2014). Ao mesmo tempo, a falta de homogeneidade prejudica o delineamento do transtorno que é a principal indicação do consumo de Ritalina. Em contraposição o consumo de Ritalina não é o único tratamento disponível para tal demanda, e os medicamentos dis-poníveis para o transtorno variam geograficamente, sendo o consumo da ritalina mais popular nos Estados Unidos do que na Europa e outras regiões, por motivos de disponibilidade em sistemas públicos de saúde, além de fatores culturais (Štuhec, Locatelli, & Švab, 2015). Além disso, é necessário que, uma vez entendido o transtorno como algo presente desde a infância, e que, quando não acompanhado é seguido de conse-quências sérias na vida adulta, ao iniciar o tratamento dessa população, deve-se investigar comorbidades tais quais depressão e ansiedade, e verificar a atuação do medicamento proposto com eventuais medica-ções já adotadas pelo paciente (Biederman, Mick, Spencer, Surman & Faraone, 2012).

REFERÊNCIAS

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Uso dos Psicofármacos em Quadros Psicopatológicos e Neurodegenerativos: o impacto na cognição e nas funções executivas

REVISÃO ATUAL

A neuropsicologia é uma área inserida no âmbito das neurociências que busca investigar o comportamento humano a partir do funcionamento cerebral. Inicialmente sua interface com a neurologia produziu avanços importantes no tratamento de prejuízos cognitivos causados por lesões cerebrais, auxiliando na melhora da qualidade de vida e funcionalidade neste grupo clínico. Atualmente a neuropsicologia interage com diver-sas outras áreas além da neurologia, com destaque para a psicopatolo-gia e a psiquiatria (Solé et al., 2017).

Ao longo das últimas duas décadas diversos estudos vêm relatando alterações no funcionamento neurocognitivo em quadros psiquiátricos distintos, como no Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) (van Lieshout et al., 2013), Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) (Geller et al., 2018), Esquizofrenia (Ferreira et al., 2016), Trans-torno Depressivo Maior (TDM) (Lee et al., 2015) e Transtorno Bipolar (TB) (K. W. Miskowiak et al., 2018). Ademais, prejuízos funcionais e de qualidade de vida também são característicos de transtornos mentais

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André Ponsoni e Maila Holz

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e podem ser compreendidos por fatores clínicos, demográficos e cog-nitivos (Lam, Kennedy, McIntyre, & Khullar, 2014; Sanchez-Moreno et al., 2018). Em uma recente revisão da literatura Gitlin e Miklowitz (2017) verificaram que o humor deprimido (mesmo em estado subsindrômi-co) e prejuízos neurocognitivos são as variáveis que mais fortemente se correlacionaram com prejuízos funcionais em pessoas com TB, apon-tando para a importância da neurocognição no prognóstico e tratamen-to destas psicopatologias. Não obstante, prejuízos em funções execu-tivas (FE) também geram implicações relevantes para a prática clínica, conforme estudos que relataram que as FE predizem a resposta a trata-mentos psicofarmacológicos no TDM (McLeenan & Mathias, 2010), TB (Gruber et al., 2008) e TOC (D’Alcante et al., 2012).

Frente a isso, a relação entre disfunções cognitivas e desfechos clínicos importantes na prática terapêutica no tratamento de transtornos mentais vem recebendo maior atenção nos últimos anos, com o desenvolvimen-to de novos instrumentos de avaliação e tratamentos com a finalidade de remediar os prejuízos neurocognitivos observados (Nuechterlein et al., 2008; Solé et al., 2017). Neste contexto, o interesse acerca do efei-to de psicofármacos à cognição vem recebendo maior atenção como um potencial alvo de tratamento em diversas psicopatologias através da identificação de possíveis efeitos negativos na cognição, ausência de alterações ou até mesmo melhora no desempenho neurocognitivo.Em uma recente revisão da literatura Ferreira e colaboradores (2016) verificaram o efeito de antipsicóticos típicos (AP típico) e atípicos (AP atípico) no funcionamento neurocognitivo de indivíduos com esquizo-frenia.

De maneira geral os seus resultados indicaram que os medicamentos atípicos foram mais eficientes na remediação de déficits cognitivos em relação aos medicamentos típicos. Mais especificamente, dois estudos com amostras maiores observaram efeitos positivos na cognição as-sociados a um maior número de AP atípicos (risperidona, olanzapina, quetiapina, ziprasidona) em relação a AP típicos (perfenazina e halope-ridol administrado a baixas doses) (Keefe et al., 2007; Davidson et al., 2009).

Uma possível hipótese para estes resultados é de que a perfenazina (um AP típico com propriedades metabólicas atípicas) e o haloperidol admi-nistrado a baixas doses produzem efeitos sedativos e extrapiramidais mínimos, de forma a se distinguir dos demais AP típicos administrados

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a doses altas e associados a prejuízos cognitivos na literatura. É impor-tante se destacar que medicamentos anticolinérgicos (associados a al-terações negativas na neurocognição) são mais comumente utilizados em tratamento combinado com AP típicos em relação a AP atípicos, e que futuros estudos devem apontar para estas limitações ao investigar o impacto de antipsicóticos na neurocognição.

Similar às intervenções utilizadas para o tratamento da esquizofrenia, recentemente os prejuízos cognitivos nos transtornos de humor vem recebendo maior atenção como parte integral do tratamento destas condições clínicas além da remissão dos sintomas de humor e trata-mento de comorbidades psiquiátricas (Bortolato et al., 2016; MacQue-en & Memedovich, 2017; K. W. Miskowiak et al., 2018; Solé et al., 2017). Salagre e colaboradores (2017) avaliaram através de uma revisão sis-temática da literatura quais intervenções terapêuticas estão disponíveis para atender os prejuízos neurocognitivos observados no TDM. Os au-tores observaram diversos estudos de intervenções psicofarmacológi-cas, métodos não invasivos de neuroestimulação como a estimulação magnética transcraniana e a estimulação cerebral profunda, a prática de exercício físico, além de intervenções psicológicas como a remediação cognitiva e a terapia de solução de problemas. Dentre todos os métodos avaliados, os achados mais significativos para a melhora dos prejuízos cognitivos no TDM foram relacionados ao uso de antidepressivos como a duloxetina e vortioxetina.

No TB, diversos estudos buscaram verificar o impacto de estabilizado-res de humor na cognição. Alguns autores apontam propriedades neu-roprotetivas e ação neurotrófica do lítio (Corbella & Vieta, 2008), por exemplo, ou de efeitos positivos de medicamentos como a lurasidona (Kamilla W. Miskowiak, Carvalho, Vieta, & Kessing, 2016). Wingo e cola-boradores (2009) buscaram verificar os efeitos neurocognitivos do lítio através de uma metanálise comparando indivíduos com TB e controles saudáveis. Seus resultados indicaram um tamanho de efeito pequeno em relação a déficits na memória episódica de curto prazo em pessoas com TB, e ausência de alterações neurocognitivas em indivíduos sau-dáveis em uso de lítio em relação a outras pessoas saudáveis sob uso de placebo. Em um estudo que investigou o impacto na neurocognição do uso de lítio em monoterapia, lítio administrado em conjunto com an-ticonvulsivantes ou de anticonvulsivantes em monoterapia, foi possível observar um melhor desempenho neurocognitivo nos indivíduos com TB em monoterapia de lítio em relação aos demais grupos (Sabater et

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al., 2016). Sabe-se que os Transtornos Neurocognitivos Maiores (de-mências) e o TB, tradicionalmente, são considerados duas entidades clínicas separadas. Contudo, para o tratamento do TB em idosos suge-re-se que o uso dos inibidores da acetilcolinesterase e/ ou memantina associados ao lítio, anticonvulsivantes e antipsicóticos podem melhorar os sintomas cognitivos, comportamentais e psicológicos quando apa-rece o curso da demência (Kontis, Theochari & Tsalta, 2013).

Sabe-se que, além dos quadros psiquiátricos, o uso de psicofármacos aumentou significativamente em quadros neurocognitivos como as de-mências, relacionando-se, principalmente, quanto à aderência, relevân-cia e persistência nesses quadros (Maxwell, Stock, Seitz & Herrmann, 2014). Muitos profissionais da saúde utilizam antipsicóticos em pacien-tes com sintomas comportamentais na demência (como Clorproma-zina, levomepromazina, Risperidona, Olanzapina e Hemifumarato de Quetiapina), pois estes diminuem os sintomas neuropsiquiátricos (Fu-jii, Butler & Sasaki, 2019). Contudo, a maior incidência nas demências ainda é o uso dos anticolinesterásicos e da memantina; já que a maior gama de pesquisa e também de prevalência das demências é a demên-cia do tipo Alzheimer (DA) (Dubois et al., 2016; Herrera, Caramelli, Sil-via, Silveira, & Nitrini, 2002). Hoje as diretrizes da DA a partir do National Institute of Aging indicam que para os estágios de leve a moderado da demência se utilize como primeira opção de tratamento os inibidores de anticolinesterase, sendo que a dose terapêutica deve ser aumentada até a dose máxima, desde que seja tolerável pelo paciente, pois pode ajudar a melhorar a resposta ao tratamento (Clifford et al., 2011). As di-retrizes também recomendam que a troca de anticolinesterásico pode ser realizada quando há perda da eficácia ou aumento da tolerância nos pacientes com DA (Clifford et al., 2011).

Santos e colaboradores (2018) sugerem em uma revisão que a pro-gressão do quadro neurodegenerativo da DA está relacionado à dege-neração de sinapses decorrentes da agregação de proteínas beta-ami-lóides e emaranhados neurofibrilares resultantes de neuroinflamação, dano mitocondrial e estresse oxidativo (Santos et al., 2018). Dessa for-ma, uma metanálise sugere que os inibidores de anticolinesterase como a donepezila, rivastigmina e a galantamina assim como a memantina, auxiliam no aumento da acetilcolina sináptica e aumentam a função co-linérgica estabilizando - e até retardand oem alguns casos - o declínio cognitivo, função e comportamental de mudança global da DA (Tan, et al., 2014). Contudo, apesar de diversos estudos comprovarem que há

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um aumento da função colinérgica, sabe-se que é controverso isso, pois os efeitos clínicos são pequenos e/ ou poucos significativos.

Apesar das evidências mostrarem um efeito nas demências, ainda é questionado o tamanho desse efeito e também se os anticolinesterá-sicos já viriam a auxiliar pacientes em estágios pré-demenciais como Comprometimento Cognitivo Leve (Transtorno Neurocognitivo Leve). Um estudo duplo-cego que acompanhou idosos por seis meses indi-ca que com o tratamento contínuo da Donepezila os pacientes melho-raram a velocidade de marcha com dupla-tarefas, mostrando o efeito de diminuição de quedas em idosos com CCL (Montero-Odasso et al., 2019). O tratamento em pacientes com DA com o uso de colines-terásicos ainda é questionado devido à detecção de resposta frente à medicação de forma precoce e contínua. Assim Vila-Castelar e colabo-radores (2019) analisaram o efeito modular da acetilcolina na atenção identificando que houve melhora na precisão, diminuição da fadiga em tarefas que avaliam a atenção de diferentes formas e modalidades com o uso da Donepezila. Esses resultados mostraram o efeito do psicofár-maco em contraste com outros instrumentos devido ao seu efeito sob a variabilidade intraindividual da medicação.

Percebe-se que fitoterápico do extrato de Ginkgo biloba é amplamen-te utilizado como uma medicação de tratamento para a demência. En-tretanto, uma metanálise realizada para identificar os efeitos do Ginkgo biloba em pacientes com DA leve a moderada indicou que ele não mos-trou benefícios de desfecho terapêutico, quando comparado aos inibi-dores de anticolinesterase (Thancharoen et al., 2019). Nessa mesma metanálise identificou-se que há diferenças sob os pacientes com DA sobre os diferentes anticolinesterásicos, sendo que a Memantina não apresentou benefícios terapêuticos em todos os desfechos do estudo; a Donepezila apresentou efeito maior que placebo; a Galantamina teve efeitos mais benéficos que a Rivastigmina (tanto oral, quanto patch) e a Memantina; e o que apresentou melhor impressão clínica global e tolerabilidade foi a Donepezila, enquanto, a Galantamina mostrou me-lhores benefícios comportamentais e cognitivos em pacientes com DA (Thancharoen et al., 2019). O acúmulo de proteína beta-amilóide Aβ e tau no cérebro são características associadas à DA, e têm sido intensa-mente estudado como alvos de drogas para uma cura promissora para essa doença. No entanto, os psicofármacos direcionados para proteína beta-amilóide (Aβ), ou para a proteína tau apresentam efeitos benéfi-cos limitados sobre a patogênese da DA. Esses resultados indicam que

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ainda são necessários estratégias para ajuste no desenvolvimento e quais fatores estão mais associados para que os medicamentos sejam fortemente direcionados ao tratamento da DA (Dong, Li, Cheng & Hou, 2019).

Sabe-se, hoje, que os medicamentos para DA podem fornecer ajuda temporária com os sintomas, principalmente, de memória episódica e de outras alterações cognitivas como atenção, funções executivas e habilidades visuoespaciais (Dong, Li, Cheng & Hou, 2019; Clifford et al., 2011). Entretanto, nenhuma das medicações é capaz, ainda, de re-verter a patologia ou parar a progressão do quadro neurodegenerativo. Assim, há uma crescente busca de novas medicações e tratamentos para a mais prevalente das demências que é DA. Uma revisão indica que estudar o potencial das células microgliais é um importante fator de indução de neuroinflamação (Dong, Li, Cheng & Hou, 2019). Assim os avanços relacionados às pesquisas de neuroinflamação em pacientes com DA indicam um potencial alvo para o tratamento e da criação de medicações.

Alguns estudos conduzidos com ratos sugerem que a Rivastigmina e a Donepezila atenuam o efeito da memória espacial quando esta é indu-zida pelo álcool (Gawel et al., 2016). Esses resultados ainda precisam ser replicados em seres humanos controlando as doses. Já o efeito em animais sem uso de substâncias, ou sem perda cognitiva e comporta-mental indica que em animais intactos o efeito crônico da Donepezila sob as funções cognitivas foi de melhora da memória na busca de es-tratégias exploratórias (aquisição de conhecimento localizado), além de reduzir os níveis de ansiedade. Entretanto, o uso crônico da Donepezila não melhorou habilidades visuoespaciais, a aprendizagem associati-va e tampouco os níveis de motivação (Cutuli et al., 2008). Por fim, há muitos fatores associados para adesão de um tratamento psicofarma-cológico, além dos sintomas que estão relacionados, variáveis socio-demográficas como a idade, sexo, raça, status socioeconômico, bem como a qualidade das interações médico-paciente-cuidadores podem ser fatores importantes da adesão (Maxwell et al., 2014). Dessa forma, auxiliar o paciente na identificação dos benefícios e malefícios do trata-mento contínuo depende muito do clínico e da equipe de apoio. Os pro-fissionais da saúde devem estar atentos para mudanças nos indivíduos (independente da faixa etária) seja na cognição, humor ou comporta-mento, já que essas alterações podem representar um risco ao trata-mento do quadro psicopatológico ou degenerativo (Blesa et al., 2018).

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