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® Literário, sem frescuras! ISSN ISSN ISSN ISSN 1664 1664 1664 1664-5243 5243 5243 5243 Ano 3 Ano 3 Ano 3 Ano 3 - Setembro de 2013 Setembro de 2013 Setembro de 2013 Setembro de 2013—Edição no. 17B Edição no. 17B Edição no. 17B Edição no. 17B ESPECIAL VARAL DO LIVRO

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Literário, sem frescuras! ISSN ISSN ISSN ISSN 1664166416641664----5243 5243 5243 5243

Ano 3 Ano 3 Ano 3 Ano 3 ---- Setembro de 2013Setembro de 2013Setembro de 2013Setembro de 2013————Edição no. 17BEdição no. 17BEdição no. 17BEdição no. 17B

ESPECIAL

VARAL DO

LIVRO

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LITERÁRIO, SEM FRESCURAS

Genebra, outono de 2012

No. 17B - ESPECIAL VARAL DO LIVRO

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EXPEDIENTE

Revista Literária VARAL DO BRASIL

NO. 17B- Genebra - CH ISSN 1664ISSN 1664ISSN 1664ISSN 1664----5243 5243 5243 5243

Especial Varal do Livro

Copyright Vários Autores

O Varal do Brasil é promovido, organizado e realizado

por Jacqueline Aisenman

Site do VARAL: www.varaldobrasil.com

Blog do Varal: www.varaldobrasil.blogspot.com

Textos: Vários Autores

Coluna: Sarah Venturim Lasso

Ilustrações: Vários Autores

Foto capa: © Yuri Arcurs - Fotolia com

Foto contracapa: © Jacqueline Aisenman

Muitas imagens encontramos na internet sem ter o

nome do autor citado. Se for uma foto ou um dese-

nho seu, envie um e-mail para nós e teremos o maior

prazer em divulgar o seu talento.

Revisão parcial de cada autor

Revisão geral VARAL DO BRASIL

Composição e diagramação:

Jacqueline Aisenman

A distribuição ecológica, por e-mail, é gratuita. A re-

vista está gratuitamente para download em seus site

e blog.

Se você deseja par#cipar do VARAL DO BRASIL NO. 18

envie seus textos até 10 de outubro de 2012 para: va-

[email protected] , Tema Livre

O tema da edição no. 19 será sobre o Planeta Terra,

sobre a vida, a natureza, os animais, o ser humano.

Declare o seu amor pelo Planeta!

Para janeiro, inscrições até 30 de novembro

Há livros escritos para evitar espaços vazios na estante. Carlos Drummond de Andrade

O saber a gente aprende com os mes-tres e os livros. A sa-bedoria, se aprende é com a vida e com os humildes. Cora Coralina

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O livro está para todo leitor e para todo escritor como o alimento está para aquele que tem fome e sede: ele sacia.

Também é o livro a chave que abre portas antes talvez nem sequer imaginadas. Através de personagens, de palavras, viajamos e conhecemos mundos inteiros tanto quanto nos atuali-zamos sobre o mundo em que vivemos.

O livro, já há tanto tempo companheiro de jornada em minha vida, me fez ser quem eu sou. E por isto que fosse apenas, eu já lhe seria agradecida pois me considero uma pessoa feliz. Mas os livros fizeram mais por mim: me levaram para perto de pessoas maravilhosas que leem e escrevem. Pessoas estas que têm feito parte do Varal há quase três anos circulando pelo vasto mundo virtual.

Conheço uma expressão que é “rato de biblioteca”. E quando penso nesta expressão duas pessoas em particular vêm à minha cabeça e coração: mi-nha mãe, que lia tudo o que caía em suas mãos, de revistas à livros que incansavelmente ela devo-rava! E minha amiga de infância, Marilene Remor Mattar, por muitos anos dedicada funcionária e di-retora da Biblioteca Pública da cidade de Laguna, Santa Catarina. E é graças a ela, posso dizer com orgulho, que aquele recinto dedicado aos livros e aos leitores funcionou tão bem durante tantos anos. Marilene lutou contra monstros, moinhos de vento e ideologias para manter aberta a “sua” ama-da biblioteca.

Hoje chegaram também os livros eletrônicos. Não os menosprezemos, eles já estão presen-tes e estão conseguindo um lugar pela internet e nas “estantes” virtuais dos internautas. É o futuro coabitando com aquele que sempre, ou desde tanto tempo que quase sempre, existiu.

Ficaríamos aqui a falar de livros, de sua origem, de seus objetivos, do que eles proporcio-nam e aqui teríamos não uma revista, mas um “livro”. Ou talvez mais de um, talvez mesmo vários volumes, pois que o assunto é vasto, caloroso, desperta paixões e discussões amisto-sas.

Deixemos quem aceitou o convite com a palavra. Falemos de livro!

Jacqueline Aisenman

Editora-Chefe Varal do Brasil

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• Almandrade

• Ana Esther

• Ana Maria Rosa Moreira

• Ana Rosenrot

• Anair Weirich

• Angela Xavier

• Anna Back

• Arlete Trentini dos Santos

• Audelina de Jesus Macieira

• Betty Silberstein

• Carlos Lúcio Gonjijo

• César S. Farias

• Cléo Reis

• Clevane Pessoa

• Cristina Mascarenhas da Silva

• Daniel C. B. Ciarlini

• Devi Dasi

• Dhiogo José Caetano

• Dinorá Couto Cançado

• Dulce Couto

• Elise Schiffer

• Felipe Cattapan

• Gildo Oliveira

• Ivone Vebber

• Jacqueline Aisenman

• José Alberto de Souza

• Josselene Marques

• Lariel Frota

• Lénia Aguiar

• Leonilda Yvonneti Spina

• Luiz Carlos Amorim

• Ly Sabas

• Magno Oliveira

• Márcia Maranhão de Conti

• Marcos Toledo

• Maria Heloísa Fernandes

• Maria Luíza Falcão

• Marluce Alves F. Portugaels

• Norália de Mello Castro

• Odenir Ferro

• Oliveira Caruso

• Pedro Diniz de A. Franco

• Priscila Ferraz

• Raimundo Candido T. Filho

• Roberto Armorizzi

• Sandra Nascimento

• Sarah Venturini Lasso

• Sheila Ferreira Kuno

• Silvio Parise

• Sonia Nogueira

• Valdeck Almeida de Jesus

• Vinícius Leal M. da Silva

• Vó Fia

• Walnélia Corrêa Pederneiras

• Weslley Almeida

• Wilton Porto

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LIVROS DE MADEIRA

“O livro é uma extensão da memória e da imaginação.”

Jorge Luis Borges

Pedaços de madeira, amostras de diversas espécies, enta-lhados em forma de livros, organizados como uma pequena biblioteca. Que fan-tástica imaginação deste colecionador de madeiras!... o médico Antonio Berenguer. Que feliz idéia de associar madeira!... livro e biblioteca. Aliás, árvores, papel, livro, biblioteca não são associações estranhas. Uma flo-resta encadernada e catalogada. A cada colecionador sua ob-sessão e sua singularidade. O homem e suas aventuras em nome do saber: quantos segredos e quantas curiosidades. Quanta riqueza. “Riquezas do Brasil”, exploradas pelo vício do homem de destruir tudo o que se encontra a sua disposi-ção, como se ele fosse o dono absoluto e não parte deste deslumbrante meio ambiente. Mais do que uma coleção, este jardim de livros guardado em armários é um documento pre-cioso de um patrimônio: Madeiras de um País.

Por Almandrade

(artista plástico, poeta e arquiteto)

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LEITURA: UMA VIAGEM NO TEMPO E NO ESPAÇO

Uma história de Leitura

Por Ana Maria Rosa Moreira

[email protected]

Outro dia participei de um curso de leitura para professores. Uma das atividades propostas foi que produzís-semos um texto contando nossa histó-ria de leitura. Fiquei sem saber por on-de começar. Começava falando do fas-cínio pela palavra escrita? Começava pelos primeiros livros que li? Ou imita-va Paulo Freire no texto "A importância do ato de Ler" e falava primeiro da lei-tura do mundo? De repente, veio-me a inspiração: eu começaria pelas primei-ras histórias que ouvira quando crian-ça.

Acho que tudo começou com as histórias contadas por minha mãe e por Betinha, a irmã que me criou. De vez em quando, elas cediam às nossas sú-plicas e faziam uma noite de contação de histórias. Até hoje, recordo-me de algumas: A Festa no Céu com aquela cena linda de Nossa Senhora enviando anjos para remendarem o casco do ja-buti; uma do coelho que conseguiu se-lar e montar uma onça e assim ganhar uma aposta; outra de uma menininha que foi raptada por um velho malvado e ficou presa em seu surrão por muitos anos. Essa era contada por minha mãe. Ela imitava, pesarosa, a vozinha da menina cantando de dentro do saco preto em cada porta onde o velhote pedia esmolas "Surrão triste, surrão de morrer / Minhas continhas de ouro que no rio deixei"... Realmente era uma história muito triste, apesar do final fe-liz. Mas eu achava linda a voz de minha mãe contando histórias. Era bom tê-la

em nosso quarto, sentada em nossa cama, a falar com voz meiga, tão dife-rente da voz que ralhava conosco por qualquer razão. Havia ainda a magia do cenário: o quarto comprido envolto na penumbra; o rosto da contadora ilu-minado pela chama fraca do candeeiro a gás; nossas sombras se projetando fantasmagóricas na parede; o calorzi-nho das colchas de retalhos; o eco das vozes dos bichos noturnos ressoando no silêncio do aposento...

Mais tarde, vieram outras histó-rias que falavam de tesouros enterra-dos, de almas penadas, de serpentes com olhos de fogo e de seres encanta-dos da mata: saci, caipora, lobiso-mem... Outras eram relatos de viagens cheias de perigosas enchentes, traves-sias em rios caudalosos, perdas de ga-do... Essas eram histórias masculinas. Eram contadas pelos homens. Os con-tadores eram meus tios, os vizinhos, os ciganos e os boiadeiros que arrancha-vam em nossa fazenda e, logicamente, meu pai. Eu adorava essas histórias, pois eram os próprios personagens (os heróis) que as narravam.

Meu pai era um experiente con-tador dessas "histórias reais." Ele co-meçou a vida – ainda menino – como tropeiro. Com orgulho, nos falava que vendia farinha, no lombo dos burros, nas cidades do Recôncavo. Só mais tarde, ele se tornaria fazendeiro e ex-pandiria suas andanças por todo o ser-tão da Bahia e até o estado de Goiás. Lá, ele comprava e vendia boiadas com dinheiro vivo ou com a força de sua pa-lavra de honra – palavra de rei – como dizia em suas narrativas.

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Suas histórias deixaram em mim a imagem nostálgica de cidades como Ibotirama, Lençóis, Correntina... Mara-gogipe, Cachoeira, São Félix... Essas últimas imantadas pela magia do mar e das enchentes. Elas eram o cenário de seus "causos" dos velhos tempos de tropeiro. Eu os escutava de olhos arre-galados imaginando como seriam as ruas calçadas, a feira livre e, principal-mente, um "mundaréu de água verdi-nha" – o mar. Muitos anos depois, co-nheci algumas delas, e em todas, senti aquele sentimento meio esquisito de "déjà vu" – quase uma saudade.

Essas histórias masculinas eram contadas ao pé da fogueira acesa na malhada, território de homens e de animais. Nós, as mulheres, nos sentá-vamos nos bancos do avarandado. Mi-nha mãe ficava um pouco ressabiada quando um grupo maior de boiadeiros estava pernoitando na fazenda e prefe-ria manter as filhas à certa distância desses homens rústicos. Ainda posso relembrar a lua cheia no céu, os sons peculiares dos animais na mata, o gado ruminando no curral, as perneiras e gi-bões de couro pendurados. Mesmo agora, ainda posso sentir o cheiro dos cigarros de palha, dos couros suados e do esterco de boi misturados ao perfu-me do velame – cheiros agrestes – sensuais perfumes em minha memória de mulher.

Foi assim que nasceu a minha paixão pelas histórias. Porém, para gostar de ler, é preciso amar o papel e, principalmente, a palavra escrita. Estes eu viria a amar depois, cada um a seu tempo, apesar de certas condições ad-versas.

Digo adversas porque em minha casa não havia livros. Exceto o intocá-vel livro didático de minhas irmãs, que ia da primeira à quinta série e era pas-sado de uma para a outra, até mesmo papel impresso, estampado, ou colorido

eram raros lá na roça.

Se conseguia um papel desses, recortava figuras de bois, de pessoas e principalmente de patos (os mais fáceis de desenharem para mim). Sentada no chão, enfileirava essa bicharada nas paredes do corredor e ficava o dia in-teiro brincando. Os adultos achavam engraçado uma menina conversar com figuras de papel. Eles não sabiam, nem eu – pois só descobri ao escrever estas palavras – que aquelas paredes com figurinhas de papel eram os meus pri-meiros livros. Eu estava criando minhas primeiras narrativas. Acho que ali nas-ceu o meu desejo de ser "a dona da história”.

Contudo, um belo dia, (Eu devia ter uns cinco anos.) Betinha chegou em casa com uma grande novidade: uma sacolinha cheia de livros. Eram peque-nos e traziam, na capa, desenhos de traços fortes como se fossem feitos a carvão. O vizinho (tio Nonô) que em-prestou os livrinhos, explicara que eram vendidos na feira; ficavam enfilei-rados num cordão; eram chamados de "cordel" justamente por isso. Naquela tarde, minha irmã sentou-se na sala de visitas e leu para uma audiência em-basbacada, uma história em versos que parecia uma música. Escutei-a tão des-lumbrada, que até hoje me recordo de sua primeira estrofe. Era assim:

"Eu vou contar uma história

De um pavão misterioso

Que levantou voo da Grécia

Com um rapaz corajoso

Raptando uma condessa

Filha de um conde orgulhoso."

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E sua capa era tão linda: um pa-vão imperial com a calda aberta. O de-senho era feito com uns traços grossos como se tivessem usado um carvão pa-ra desenhar. Acho que o enredo era mais ou menos esse: Havia num país distante, chamado Grécia, uma jovem condessa de rara beleza. Ela vivia tran-cafiada no castelo de seu ciumento pai. Apenas uma vez por ano, no dia do seu aniversário, o conde lhe permitia mos-trar-se à janela do salão de festas on-de, é claro, jamais aconteciam festas. O pai não dava um baile para comemo-rar o aniversário da filha desde que ela deixara de ser criança para tornar-se uma belíssima mulher. Esse aconteci-mento trazia àquela cidade grega, ra-pazes do mundo inteiro, atraídos pela possibilidade de contemplar uma lenda - a mais bela mulher do mundo. No aniversário de dezoito anos, um jovem que a conhecia por uma fotografia - presente de viagem do irmão mais ve-lho - passou o dia inteiro, olhando a mocinha apaixonadamente. No final da tarde, ela lhe deu um sorriso, e ele te-ve certeza de que fora escolhido; ela se apaixonara por ele. Então, o jovem alu-gou um sobrado próximo ao palácio e, na água-furtada, mandou um enge-nheiro construir – secretamente – um aeroplano em forma de pavão. Passado um ano, na noite do aniversário da condessinha, o pássaro levantou vôo, e o moço bonito raptou a donzela. O pai, desesperado, nada pode fazer; só teve

tempo de avistar o bicho afastando-se do castelo; ia com a cauda aberta em leque, repleta de luzes acesas e tão co-loridas como as penas de pavão

Aquelas estranhas palavras "aeroplano"... "pavão-misterioso"... "água-furtada"... "castelo"... "Grécia"... tão sonoras, tão belas, lançaram sobre mim sua magia encantatória. Eu as fi-cava repetindo baixinho com medo de que elas voltassem ao seu esconderijo secreto – dentro do livro – antes que pudesse decifrá-las. Quando Betinha disse "e foram felizes para sempre", saltei das asas do pavão misterioso e deixei de ser condessa. Agora eu era, outra vez, uma menina da roça – uma nova menina... Havia descoberto uma coisa fantástica, uma coisa maravilho-sa: as histórias moravam dentro dos livros!!!

Depois daquela tarde, minha irmã vivia agarrada aos livrinhos, porém ra-ramente lia uma história para nós. A cruel mágica lia, silenciosa, só com os olhos. Não adiantava eu, choramingan-do ajoelhada ao pé de sua cadeira, im-plorar por uma história. Então, ficava em pé atrás de suas costas, com o pes-cocinho espichado, tentando inutilmen-te, decifrar aqueles caracteres ne-gros ... Ela se irritava e me obrigava a voltar ao cavalo-de-pau, às caçadas de lagartixa, ou ao quizungue pendurado no pé-de-laranjeira. Eu que fosse cres-cer e aprender a ler!

Não demorou muito, fui para a escola. Era uma sala de aula na fazen-da de meu tio. Era a minha vez de aprender a ler. Logo, logo, estaria len-do histórias. Doce ilusão! Passei um ano inteiro naquela classe multiseriada tentando aprender o "abecê". Só aprendi as letrinhas da primeira fila. Acho que a inexperiência da professora leiga, a superlotação da sala e a insipi-dez do "abecedário" contribuíram bas-tante para esse meu fracasso.

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No ano seguinte, meus pais se mudaram para a cidade de Santo Este-vão, que fica a mais ou menos 220 km da capital, Salvador. Deixaram a fazen-da para "dar estudo aos filhos”. Meu pai não conseguiu nenhuma vaga no "grupo escolar". É, naquele tempo, só havia ali uma única escola primária - respeitadíssima pelo profissionalismo dos mestres e pelo ensino de qualidade - o Grupo Escolar D. Pedro I. Ali estu-davam os filhos das famílias gradas do lugar, misturados a um número menor de crianças oriundas da classe popular.

Enquanto aguardávamos uma va-ga, fomos matriculados – somente os mais novos – "na banca da professora Nade". Minhas irmãs de nove e de doze anos seriam preparadas para cursarem a terceira série; eu, com oito anos, e meu irmão com seis, nos prepararía-mos para a primeira série. Nessa banca supervisionada pela professora Nade – delegada escolar do município – apren-di a ler "soletrado"; saí sabendo escre-ver o meu nome completo e mais um saberzinho matemático de soma e de subtração.

Após esse período preparatório, fomos para a escola regular. Minha professora, recém-contratada pelo Es-tado, era a mesma da banca – a doce professora Ridalva – sobrinha de pro-fessora Nade. Não demorou muito, co-mecei a ler (os livros didáticos) com desenvoltura. Graças a essa aptidão, passava de ano sempre com boas no-tas; tirei o primeiro lugar no terceiro ano; dele pulei diretamente para o quinto ano, o último do antigo curso primário. Por causa desse feito, ganhei um presente de minha saudosa profes-sora Maria Lúcia Lobo. Fiquei radiante; nunca havia ganhado um presente; era um livro de histórias, o meu primeiro livro de histórias.

Mas assim que desembrulhei a caixinha, veio a decepção: era um livro

minúsculo e de poucas páginas; dentro dele, havia uma historinha com alguns desenhos sem graça e pouquíssimas palavras. Ao chegar em casa, li a 'história" da plantinha carnívora em trinta segundos. Muitas vezes li e reli essa história; tentava encontrar algum significado nela. Não tendo conseguido, guardei o livrinho como um objeto co-mum – uma lembrança da professora Lu. Por que será que aquela mestra que me fez saltar uma série não imagi-nava que eu poderia ler uma história?

Esse desencontro com a leitura continuaria durante toda a minha vida escolar: ora histórias sem graça, ora nenhum livro. Mas, por minha própria conta, continuava lendo os cordéis de minha irmã. Gostava especialmente de um que narrava uma história de amor entre uma princesa e um ladrão ple-beu. Até hoje me lembro de que Renê enfrentou três perigos terríveis: a mal-dição da Medusa, o Minotauro e o Dra-gão-de-sete-cabeças; tudo isso para pegar a rosa azul num jardim, levá-la até o castelo e, assim, salvar a vida de sua amada – a bela princesa Nazidir.

No meio do quinto ano, comecei a ler contos de fadas. Tomava os livros emprestados de algumas colegas. Era um encantamento a cada livro. Eu mer-gulhava naquelas páginas repletas de palavras novas e de figuras deslum-brantes, cujas formas e cores só co-nhecia em sonhos. Através dessas his-tórias, viajei em caravanas, atravessei desertos de areia no lombo de camelos, dormi em tendas coloridas, hospedei-me em suntuosos palácios... conheci um "novo mundo" - o Oriente.

Creio que foi mais ou menos nes-sa época que desbanquei os outros contadores de histórias e passei a ser a contadora oficial da família.

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O meu reino era o quarto cheio de camas, onde se acomodavam todas as crianças a minha volta. Na sala ficavam os adultos: meus pais e minhas irmãs; às vezes, também os noivos e outras visitas. Relembro – com emoção e ale-gria – o orgulho que sentia quando um deles me interrompia, lá de longe, para corrigir um pequeno desvio da história original. Era tão bom contar histórias! Melhor ainda quando, no meio de uma narrativa, eu escutava o silêncio vindo lá da sala de visitas. Todos estavam me ouvindo! Até meu pai! Era a glória. Era, em êxtase, que eu concluía aquela his-tória.

Já no ginásio, comecei a tomar emprestado as revistas de Walt Disney. Foi um novo deslumbramento. Aquele era um outro mundo: as histórias dividi-das em quadrinhos; a ausência da voz do narrador; as palavras escritas em balões; os personagens eram bichos que agiam como se fossem pessoas... Apaixonei-me pelos personagens "do bem" como Pateta, Lobinho, Vovó Do-nalda, Professor Pardal... e, principal-mente, pelo desventurado Pato Donald, paixão mantida até hoje. Também me apaixonei (Vou confessar em segredo) pelos personagens "do mal". Torcia para os Irmãos Metralha e Mancha Negra te-rem sucesso em seus assaltos ao mu-quirana do Tio Patinhas. Também gosta-va da bruxa Madame Mim e do Lobo Mau; este tão desajeitado em sua eter-na perseguição aos Três Porquinhos.

Não demorou muito, comecei a ler revistas para moças e senhoras: Capri-cho, Sétimo Céu, Contigo, Grande Ho-tel. Elas veiculavam pequenas reporta-gens sobre os atores dos cinemas fran-cês e italiano, comentários sobre os fil-mes, algumas propagandas de perfumes e produtos de beleza; mas o recheio principal, o que as fazia serem disputa-das pelas adolescentes, quase a tapas, eram as deliciosas histórias de amor em quadrinhos: as fotonovelas. Passei mui-

tas tardes lá no alto da mangueira – es-condida – saboreando o romance entre o rapaz bonito e a mocinha; esses esta-vam sempre combatendo um vilão ou vilã que, geralmente, formava o terceiro vértice do triângulo amoroso.

Essas revistas eram proibidas por alguns pais, temerosos de que suas mo-cinhas despertassem cedo demais para o amor. Minha mãe as odiava; atribuía a elas perigos terríveis; seriam "a nossa perdição". Aliás, esse ódio era extensivo aos romances. Ela, assim como todos os ditadores, temia os livros e até ameaça-va atirá-los ao fogo Não aprendeu a ler, porém sabia que os romances narram histórias de amor. Como era possível alguém, que não conhecia nada do uni-verso da leitura, intuir que a palavra es-crita possui mágica e poder libertador, é uma pergunta que me faço até hoje. Mi-nha mãe temia (creio eu) que esse po-der, aliado ao poder do amor – ambos revolucionários – pudesse nos libertar do peso esmagador de seu matriarcado.

Mais tarde, com o crescente aces-so aos aparelhos de televisão e o "boom" das telenovelas, as fotonovelas, assim como as radionovelas, foram aos poucos deixando de existir; eram tidas como "cafonas" e sem nenhum valor. Eu, imitando as outras garotas, destruí a pequena coleção que salvara da ira de minha mãe. Só depois, quando já esta-va cursando a faculdade de Letras, fi-quei sabendo que algumas das histórias, tão lindas, que havia lido na adolescên-cia, eram adaptações de clássicos da li-teratura universal: Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, O Corcunda de Notre Dame, O Morro do Ventos Uivantes, Or-gulho e Preconceito. Hoje, arrependo-me de não tê-las guardado. Seriam pre-ciosas relíquias!

Entre os quinze e os dezoito anos, enquanto fazia o curso secundá-rio, atual ensino médio, comecei a ler romances.

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A pequena biblioteca do Colégio Municipal de Santo Estevão possuía co-leções completas de José de Alencar, Jorge Amado, Graciliano Ramos e José Lins do Rêgo, além de algumas outras obras de autores nacionais e estrangei-ros. Os romances podiam ser lidos na salinha onde funcionava a biblioteca ou podiam ser levados para casa por até quinze dias. Fiz meu cartãozinho e, com esse passaporte, comecei a viajar pelo Brasil e pelo mundo. Lendo José de Alencar, fui ao Rio de Janeiro do século XIX: andei de carruagem; fui transpor-tada em luxuosas liteiras; exibi-me no Passeio Público; freqüentei teatros lota-dos; participei de saraus; valsei nos bailes entre belas damas e elegantes cavalheiros...

Voltei à Bahia e, guiada pela mão de Jorge Amado, saí perambulando pe-las ruas ensolaradas de Salvador; fui conhecer os malandros, as prostitutas, os marinheiros, os vagabundos, os ca-pitães de areia. Na companhia desses personagens, comi peixe frito no Mer-cado Modelo; experimentei cachaça nos botecos do Pelourinho; tomei banho de mar na Ribeira; passei uma tarde em Itapoã; frequentei o curso de arte-culinária de Dona Flor; naveguei em jangadas pela Baía de Todos os Santos e quase morri afogada junto com Guma naquela perigosa noite de tempestade. Em Ilhéus, temi os jagunços; escapei de tocaias; colhi cacau; dancei no Bai-taclan usando salto alto e cinta-liga; comi os quitutes de Gabriela...

Depois parti para o sul do País e ouvi "o tempo e o vento" movimentan-do a roca da velha Bibiana. Ali, com os bravos gaúchos de Érico Veríssimo, ca-valguei pelos pampas; pernoitei nas co-xilhas abrigada do minuano apenas pelo poncho; temi as guerras e, feito louca, me deixei seduzir pelos Rodrigos: um certo capitão e o doutor, seu bisneto...

Tempos depois, saí do Brasil e vi-

ajei por outros países. Num deles, vi a fantástica Macondo de Gabriel Garcia Marques varrida por "cem anos de soli-dão". Depois, fui chamada a um reino distante e presenciei uma reunião de cavaleiros na "Távora redonda". Eu era uma bela princesa, assim como Guine-vere, dividida entre dois amores: o rei Arthur e o primeiro cavaleiro, Lancelo-te. Naquele salão, contemplei com re-verência a lendária espada Excalibur, escutei a harpa do Merlin e vi o Santo Graal ser trazido à mesa por uma pre-sença invisível e, depois, misteriosa-mente, desaparecer.

Outras vezes, saí navegando pe-los mares e oceanos. Acompanhei as aventuras do capitão Nemo; tive medo de Mobi Dick; naveguei durante dias e dias num pequeno barco acompanhan-do o peixe, "o velho e o mar"... Certa vez, tomei emprestado um livro de no-me “Xogum, as sementes do dragão”. Então, embarquei num navio Holandês o “Erasmus” e cheguei a um misterioso país em pleno século XVI. Era a terra do sol nascente: o Japão. Lugar gover-nado pelos senhores feudais e seus exércitos de samurais. Foi ali que acon-teceu o belo romance entre o inglês, piloto do Erasmus, e uma senhora da nobreza, esposa de um perigoso guer-reiro samurai. Acompanhando esse par, aprendi sonoras palavras: tufão, concu-bina, travesseirar, galera, suserano, vassalo, xogum... Lembro, ainda, algu-mas da língua japonesa: “bushido”, “sepuku”, ”tai-fun”, “isogi” (isógue), “konnichiwa”... Estive ainda em guerras sangrentas. Numa delas, acompanhei uma história de amor para descobrir “por quem os sinos dobram”; noutra, levei um soco no plexo solar ao saber qual era “a escolha de Sofia". Essa his-tória, misteriosamente, feriu minha al-ma... Por isso não tenho coragem de terminar o livro nem de assistir ao filme homônimo.

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É... os livros não proporcionam apenas viagens agradáveis, não. Há viagens que nos levam para dentro de nós mesmos e podem ser assim... cheias de dor...

Quando li esses últimos livros de que falei, já estava cursando a faculda-de de Letras. Continuava lendo por mi-nha própria conta e por indicações de leitores mais experientes. Os professo-res de Literatura, nos primeiros semes-tres, conduziram-me ao universo dos poemas. Ah, com esses era preciso mais sensibilidade e paciência do que com as histórias...

No começo, não conseguia perce-ber-lhes a mensagem cifrada, as figu-ras de linguagem, conforme nos solici-tavam nas análises. Lia, relia e ficava em meu canto estranhando-lhes a so-noridade, a multiplicidade de sentidos, o significado inesperado de uma pala-vra... tão conhecida e ao mesmo tempo tão nova. Aos poucos comecei a gostar de vários poetas. Gostava principal-mente dos românticos Álvares de Aze-vedo e Gonçalves Dias.

Nos semestres mais adiantados, estudamos literatura moderna e, então, me emocionei com Cecília Meireles, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade e, definitivamente, apaixonei-

me pelo poeta Manoel Bandeira. Ele en-sinou-me a poesia do cotidiano e dos objetos "trouvés" ...Mas foi com a poe-sia da infância e da “vida que poderia ter sido” que ele tornou-se para mim uma "estrela da vida inteira". O poeta pernambucano que "engoliu um piano e ficou com as teclas de fora", aos pou-cos, foi se tornando uma espécie de amigo que eu houvesse conhecido em minha infância de menina solitária.

Paralelamente, fui conhecendo, nas aulas de Língua Portuguesa, dois tipos de texto pelos quais mantenho eterna e crescente fascinação: a crôni-ca com sua linguagem ágil, irreverência e humor; o conto com sua intensidade dramática e beleza poética reveladas em poucas páginas e, às vezes, em poucas linhas.

Foi, ainda, estudando Literatura que voltei ao sertão. Dessa vez, pisei o chão esturricado da caatinga e vi cria-turas de "vidas secas" à procura da ter-ra prometida. Estive em São Bernardo tentando entender a rudeza de Paulo Honório. Depois acompanhei o fasci-nante rapaz (Ou seria a moça?) conhe-cida como Diadorim; em sua compa-nhia, adentrei as veredas do "grande sertão" e escutei o jagunço Riobaldo falar sobre um pacto com o tinhoso; e ainda posso ouvi-lo dizer "O sertão é aqui mesmo, dentro da gente; o sertão está em toda parte".

Ainda "pelejando" no sertão, co-nheci as plantações de cana e os enge-nhos de açúcar da Paraíba; num deles encontrei um "menino de engenho"; achei que éramos parecidos. Ambos crescemos vagando pelos arredores da fazenda a remoer pensamentos. Muito do que o menino viu e sentiu eu tam-bém vi e senti do mesmo modo. Esta é uma das mágicas da palavra escrita: o outro, aquele que está ali nos livros, somos nós mesmos.

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Creio que esses últimos romances de que falei, os romances sertanistas, fo-ram muito importantes para eu valorizar a linguagem de minha gente, a minha lin-guagem, sempre pontuada por palavras fortes, impregnadas pelo sotaque nordes-tino. Pude também compreender que os rendeiros, os ciganos, os loucos da minha infância, os homens, as mulheres, as cri-anças que conheci ou de quem ouvi con-tar, estão aqui – dentro de mim – espe-rando eu lhes dar voz e contar suas histó-rias...

Penso, ainda, que através da leitu-ra, pude me reconhecer: sou mulher nor-destina, gente da terra com o umbigo en-terrado na porteira do curral. Agora, final-mente, me orgulho de minha origem e percebo a beleza de tudo que vivi em mi-nha infância de "menina de fazenda".

E, para encerrar declaro definitiva-mente: amo os livros; amo a poesia; amo as palavras. E amo, sobretudo, a palavra escrita e respeito seu poder de constru-ir... e de destruir mundos.

(maio de 1997)

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Do Papiro ao Papel Manu-faturado

Artigo (reprodução) http://www.usp.br/ De outubro de 2002, por Cinderela Caldeira

O livro tem aproximadamente seis mil anos de história para ser contada. O homem utilizou os mais diferentes ti-pos de materiais para registrar a sua passagem pelo planeta e difundir seus conhecimentos e experiências. Os sumérios guardavam suas informa-ções em tijolo de barro. Os indianos faziam seus livros em folhas de pal-meiras. Os maias e os astecas, antes do descobrimento das Américas, escre-viam os livros em um material macio existente entre a casca das árvores e a madeira. Os romanos escreviam em tábuas de madeira cobertas com cera. Os egípcios desenvolveram a tecnolo-gia do papiro, uma planta encontrada às margens do rio Nilo, suas fibras uni-das em tiras serviam como superfície resistente para a escrita hieróglifa. Os rolos com os manuscritos chegavam a 20 metros de comprimento. O desen-volvimento do papiro deu-se em 2200 a.C e a palavra papiryrus, em latim, deu origem a palavra papel. Nesse processo de evolução surgiu o pergaminho feito geralmente da pele de carneiro, que tornava os manuscri-tos enormes, e para cada livro era ne-cessária a morte de vários animais.

A MANUFATURA O papel como conhecemos surgiu na China no início do século 2, através de um oficial da corte chinesa, a partir do córtex de plantas, tecidos velhos e fra-gmentos de rede de pesca. A técnica baseava-se no cozimento de fibras do líber - casca interior de certas árvores e arbustos - estendidas por martelos de madeira até se formar uma fina ca-mada de fibras. Posteriormente, as fi-bras eram misturadas com água em uma caixa de madeira até se transfor-mar numa pasta. Mas a invenção levou muito tempo até chegar ao Ocidente. O papel é considerado o principal su-porte para divulgação das informações e conhecimento humano. Dados históricos mostram que o papel foi muito difundido entre os árabes, e que foram eles os respon-sáveis pela instalação da primeira fá-brica de papel na cidade de Játiva, Es-panha, em 1150 após a invasão da Pe-nínsula Ibérica. No final da Idade Média, a importância do papel cresceu com a expansão do comércio europeu e tornou-se produto essencial para a administração pública e para a divulgação literária. Johann Gutenberg inventou o processo de impressão com caracteres móveis - a tipografia. Nascido, em 1397, da ci-dade de Mogúncia, Alemanha, traba-lhava na Casa da Moeda onde apren-deu a arte de trabalhos em metal. Em 1428, Gutenbergparte para Estrasbur-go, onde fez as primeiras tentativas de impressão. Segundo dados históricos, em 1442, foi impresso o primeiro exemplar em uma prensa. Em 1448 volta à sua ci-dade natal, e dá início a uma

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sociedade comercial com Johann Fust e fundam a 'Fábrica de Livros' - nome original Werk der Buchei. Entre as pro-duções está a conhecida Bíblia de Gu-tenberg de 42 linhas. A partir daí o mundo não seria mais o mesmo. A partir do século 19, aumen-ta a oferta de papel para impressão de livros e jornais, além das inovações tecnológicas no processo de fabrica-ção. O papel passa a ser feito de uma pasta de madeira, em 1845. Aliado à produção industrial de pasta mecânica e química de madeira - celulose - o pa-pel deixa de ser artigo de luxo e torna-se mais barato. As histórias, poesias, contos, cálculos matemáticos, ideias e ideais poderiam, a partir de agora, percorrer mares e terras e chegar ás mãos de povos que seus autores jamais imaginariam. Mas desenvolver o hábito da leitura é um desafio a ser enfrentado. Fundada em 1946, a Câmara Brasileira do Li-vro é uma das iniciativas criadas com a missão de desenvolver a leitura no Pa-ís e difundir a produção editorial brasi-leira. A CBL, uma entidade sem fins lucrativos que reúne editores, livreiros e distribuidores, realizou em 2000 uma pesquisa em todo o País para avaliar a indústria do livro nacional. Segundo a pesquisa, há no País cerca de 26 milhões de leitores, e 12 milhões de compradores são das classes B e C. Sendo que 60% têm mais de 30 anos, e 53% são moradores da Região Su-deste. Da população alfabetizada com mais de 14 anos, 30% leu pelo menos um livro nos últimos três meses.

Ainda de acordo com os dados apura-dos, o grau de escolaridade mantém influência decisiva para a leitura. O grupo de pessoas que mais compra li-vros no País possui nível médio de es-colaridade.

A LEITURA Plínio Martins Filho, presidente da Editora da USP e professor no curso de Editoração da Escola de Comunica-ções e Artes (ECA), diz que o consumo de livros no Brasil só não é maior por uma questão de hábito. "Uma das cau-sas da falta de hábito é que a leitura tem que disputar espaço com outras formas de entretenimento. As grandes editoras do Brasil surgiram junto com o rádio e a televisão que, de alguma forma, são meios de lazer baratos e de fácil acesso." Segundo ele, a distribuição e a divul-gação de livros no Brasil são precárias. Não há verba para se fazer divulgação de livros pela televisão, que é uma mí-dia cara. E os jornais tratam como as-sunto de final de semana. "Um exem-plo disso é que na França a venda de jornais aumenta no dia em que são pu-blicadas resenhas. No Brasil as rese-nhas são publicadas nos dias em que se vende mais jornais", afirma ele

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Minha Paixão

Por Ana Rosenrot

Nasci numa casa sem livros, mas possivel-mente trouxe essa paixão de outra existência, pois desde sempre vivia admirando os mais diversos volumes, achava-os lindos, mesmo antes de aprender a ler. Alfabetizei-me sozinha, aos quatro anos, recolhendo recortes de jornais velhos, copiando as palavras, pedindo para alguém lê-las para mim e depois as repetia incansavelmente até aprendê-las. Comecei minha coleção de tesouros – que hoje enchem estantes e mais estantes − quando ia às feiras da cidade; enquanto as outras crianças

choravam pedindo brinquedos ou doces – o que era considerado normal – eu, a esquisita, pedia livros – ilustrados, brilhantes, lindos – e passava horas tocando, sentindo, devorando cada letra de minhas preciosidades. Na escola encontrei meu templo: a bibliote-ca. Suas estantes repletas, pulsantes, em cada titu-lo havia um mundo novo que a mim se revelava. Não sei, nem poderia contar, quantos livros li em trinta e poucos anos de vida, não poderia também contar sobre o que falava a maioria, pois os absorvi de tal forma que passaram a fazer parte da minha própria história. Mas alguns foram es-peciais, às vezes consigo lembrar melhor de um fato pelo livro que estava lendo na ocasião do que pelo fato em si. Os livros sempre foram meus melhores amigos, minha companhia fiel das horas difíceis, meu amor e ódio; tenho sempre um livro por per-

to, mesmo quando não estou com tempo para ler, pois somente o contato, a familiaridade, me traz uma incrível sensação de paz e segurança.

Nunca pensei em escrever, quando diziam que eu “levava jeito”, desconversava; escrever um

livro era algo sagrado demais para uma simples mortal como eu.Mas graças ao apoio de uma pro-fessora especial, a Dona Jussara, criei coragem e comecei a escrever meus primeiros contos − que depois se tornaram muitos −, crônicas e poesias. Arrisquei mostrá-las a algumas pessoas, fui elogi-ada, criticada, censurada pelos meus pais, que ti-nham preconceito contra escritores – que não ga-nharão dinheiro e serão tratados como loucos − , apesar de tudo, não desisti, escrever é como um vício, quando você começa a libertar seus senti-mentos não há mais como prendê-los. Quando li pela primeira vez um trabalho meu impresso, parecia tão irreal, era minha essên-cia que estava ali, revelada ao mundo; entendi

naquele instante o que sente cada autor ao conce-ber um livro, ele é seu filho, seu amante, sua al-ma, é você de verdade. É muito difícil, até irritante, aventurar-se no mundo literário num país como o Brasil, onde os livros ainda são considerados elitistas, onde é pre-ciso estar na moda para ser lido e as chances para os novos escritores são muito pequenas. Mas não devemos desistir, apesar de muitos dizerem que devido à era tecnológica eles entrarão em extin-ção, os livros foram responsáveis pelo desenvol-vimento da civilização e dificuldades à parte, eles sempre serão importantes para nós, leitores e es-critores. Não posso, nem quero, prever o amanhã dos livros e acho que ninguém pode, só sei que eles estarão sempre ao meu lado. E como eu poderia sobreviver sem a minha paixão?

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PESO QUE NÃO PESA

Por Anair Weirch

O peso das palavras

é a cruz que carrego...

e me nego a negá-la!

Pesada cruz de letras.

Arrastada...

incompreendida...

Quiçá, de causa perdida,

mas me apraz carregá-la!

Meus braços, esfolados

das palavras,

doloridos por seu peso,

as transportam com enle-vo.

Na ânsia pelo alívio

do seu peso,

elas amenizam

no peso da recompensa.

E quem pensa

que palavras não pesam,

não pensa.

É... as palavras pesam!...

Mas as letras dançam

ao som dos meus passos,

e os sonhos me levam.

As palavras?

Estas, já não pesam!

Poesia premiada com o pri-meiro lugar no Concurso Na-cional de Poesias da Editora Taba Cultural

Rio de Janeiro – 2005

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VIDA DE ESCRITOR

Por Angela Xavier

Escrever é um ato de coragem . Eu diria isso e acrescentaria: escrever é para os fortes! Pessoas fracas, que não perse-veram e que costumam recuar ao primeiro obstáculo, não deveriam escrever, muito me-nos publicar. A princípio, alguém perguntaria: escrever pa-ra que, se ninguém lê? E isso é uma verda-de que, ao mesmo tempo, nos remete a um paradoxo: a produção editorial brasileira so-mente em 2010, segundo dados da Câmara Brasileira do Livro , totalizou 55 mil títulos, o equivalente a 210 obras por dia útil, em to-dos os gêneros. Para onde vão esses livros?

Os meus estão aqui, enquanto eu en-gendro mil e uma estratégias para que che-guem aos leitores. Leitores que nem são meus ainda, mas que terei que conquistar. Esse é o maior desafio de quem publica um livro e por isso, requer coragem.

O camarada tem que ser muito ma-cho como diria meu pai, para deixar registra-do num livro seu pensamento sobre seja lá o que for. Sempre haverá alguém disposto a discordar, achar aquilo piegas ou ficar tecen-do considerações sobre o porquê do autor se pronunciar desta ou daquela forma, em que momento e em que circunstâncias aquilo aconteceu. Assim como nas novelas confun-

dem personagem e ator, na escrita confun-dem o autor e sua obra. Acham que o texto é autobiográfico, que é real, que você viveu linha por linha do que está escrito.

Tenho alguns poemas classificados como eróticos e/ou sensuais e já ouvi mui-tos comentários desse tipo, com ar de admi-ração e até certa malícia: Nossa você fez isso? Você fez aquilo? Curiosamente, o texto se referia à leitura de uma reportagem estampada numa revista masculina. Outros questionam: para quem você escreveu is-so? Não passa pela cabeça deles que nem sempre falamos sobre nós, sobre o que vive-mos ou fazemos. Nossa imaginação é quem vai guiar o que escrevemos e com ela segui-mos rotas inesperadas!

Matamos muitos leões por dia, sacrifi-

camos momentos de folga, viajamos, partici-pamos de feiras literárias, antologias, con-cursos. Assumimos os custos de toda essa movimentação cultural , não sem antes passar por uma verdadeira maratona, que é a produção de um livro, desde você ter a ideia, escrever os textos, selecioná-los, gra-var em arquivo ou CD, escolher a editora (e nesse ponto temos que ser criteriosos, pois existem muitos picaretas no mercado), solici-tar orçamento, fechar o contrato, decidir quem vai prefaciar, fazer a apresentação da obra, elaborar os textos das dedicatórias, os agradecimentos, as orelhas (direita e esquer-da) e o texto da contracapa.

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Importante nessa etapa que o autor tenha uma biografia atualizada . Caso não possua, deve elaborá-la, citando os livros que publicou, os prêmios recebidos e os des-taques de sua carreira. Acompanha a biogra-fia uma foto atualizada do autor. Procuro es-colher uma foto em que esteja bem produzi-da, logicamente. Mesmo assim, quando me veem no dia a dia, sem produção e eu mos-tro o livro, ao ver a foto inevitavelmente ouço essa frase: Nossa, como você está diferen-te! Diferente é elogio? Se for, tá valendo!

Mas se alguém pensa que a maratona acabou, que nada! Está só começando! De-pois de concluído o processo de produção, vem o lançamento e aí preparem os bolsos, pois os custos são altíssimos! Algumas editoras opor-tunizam ao escritor o lançamento do livro em eventos literários nacionais importantes (como bienais, entre outros). O custo de um lança-mento desse porte inclui despesas de via-gem e estadia por conta do autor. Algumas editoras cobram para expor o livro nesse tipo de evento (costumam até fazer pacotes pro-mocionais ). Outras oferecem o serviço gra-tuitamente, desde que o escritor feche o con-trato da produção do livro com eles.

Recentemente lancei meu livro na Bie-nal de São Paulo e posso dizer que, nada se com-para a emoção da primeira vez que tocamos em nosso livro, finalmente pronto! É como um filho que acaba de nascer, mas você ain-da não viu a cara que ele vai ter, entende? Receber miolo, capa e vistar autorizando a impressão, não é a mesma coisa! Agora, poder vê-lo num estande, sendo exposto nu-ma das maiores feiras literárias do mundo, é uma sensação tão incrível que fica difícil tra-duzir em palavras! Muito bom!!!

Depois do lançamento na Bienal (que já confere um certo status à sua obra) é ho-ra de lançarmos em nosso município e, de-pendendo do local que escolhermos (se for uma livraria da moda, dessas bacanas que existem nos shoppings), só para fazer o lan-çamento e deixar o livro à venda, arcarmos com cerca de 40 a 50% do preço de capa.

Definido o local, vem a organização do cerimonial, providenciar convites, entregá-los, contratar buffet (caso esteja nos seus planos servir um coquetel), providenciar uma atração cultural, que pode ser canto, decla-

mação de poesias ou alguém que toque mu-sica instrumental.

Se quiser que seu livro chegue ao consumidor final acompanhado de um mar-cador de páginas, você deve contratar os serviços de uma gráfica e arcar com mais essa despesa. Também deve providenciar a confecção de um banner, em tamanho pa-drão, que ficará exposto no local do evento, com pelo menos 15 dias de antecedência, para chamar a atenção do público em geral, que pode até trazer mais gente para o seu evento, se o que você divulgar for convincen-te.

Muitos escritores se decepcionam com a quantidade de livros vendidos no dia do lançamento. Nesse ponto não é bom criar expectativas. Tem muita gente que compare-ce, serve-se do buffet , te abraça, dá os pa-rabéns e vai embora. Demonstrou considera-ção por você? Demonstrou! Era obrigada a comprar o livro? Não era! Então, porque a decepção? Numa outra oportunidade essa pessoa poderá comprar o livro e até indicá-lo a alguém que se interesse por aquele gênero literário, caso ela não tenha se interessado.

Tem quem goste de poesia e quem não goste. Poesia vende? Poesia não ven-de? São questionamentos que se ouvem aos montes. Eu digo: sempre haverá espaço pa-ra o que é bom.

Vida de escritor não é fácil. Para enca-rar tudo isso tem que ter paixão, determina-ção e coragem . Viver é assumir riscos. O máximo que pode acontecer é você perder tempo, dinheiro e ficar com estoque enca-lhado . Mas se não tentar, nunca vai saber.

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23 de Abril – Dia Internacional do Livro

O Dia Internacional do Livro e dos Direitos Autorais, 23 de abril, é comemorado para estimular a reflexão sobre a leitura, a indústria de livros e a propriedade intelectual (direito sobre a criação de obras científicas, artísticas e literárias). A data foi instituída em 1995, pela Unesco – organiza-ção voltada para a Educação, Ciência e Cultura, que integra as Organização das Nações Unidas. A escolha do Dia do Livro não foi aleatória: em 23 de abril de 1616 faleceram Cervantes e Shakespeare, dois desta-ques da literatura universal. O Dia do Livro é, portanto, uma oportunidade de ren-der uma homenagem mundial ao livro e aos seus au-tores, motivar a descoberta do prazer da leitura e re-conhecer a contribuição dos escritores para o progres-so social e cultural. A ideia dessa celebração surgiu na Catalunha (Espanha), onde, nessa data, tradicional-mente, dá-se uma rosa ao comprador de um livro.

Fonte: h!p://a-informacao.blogspot.ch/

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O Livro

Por Anna Back

Instrumento ímpar no mundo há,

Como um mestre a soprar no ouvido.

Se fechado, instiga a curiosidade...

Se aberto, doa-se em respostas ao eco emitido.

De banho, de pano, em quadrinhos, colorido...

Preto e branco, palpável, em braile, virtual!

Assim se apresenta nosso amigo livro,

Científico, religioso, único, de enciclopédia,

De estudo, poético, lazer ou informal.

Poucas coisas se comparam a ele na vida da gente!

Quem esqueceu o primeiro contato, o enamorar-se?

As primeiras leituras feitas ou no colo, ouvidas,

De pais ou avós, irmãos, tias, pessoas queridas,

Que ensinaram, a alçar voo através de páginas

Lentamente viradas, guardando emoções surgidas.

Onde letras, figuras e sons, convidam

A transcender-se do aqui, do agora, da vida...

Livro é sonho, é busca, é querer mais e mais.

Mágica, encantamento, sensações...

Quem escreve um livro, gera um filho queri-do!

Na ansiedade da aceitação, vive a quimera, um pouco doída,

No propósito de mostrar ao mundo, sua cria, gerada,

De peito e alma abertos, extrai e expõe

Seu âmago, sua alma, o que diz seu coração,

Nem sempre razão, mas pura emoção,

Solta, livre ao vento, ou em casulo, contida.

Todo livro, traz escancarada, a intenção do autor.

Seja ciência, informação, poesia, devaneio...

Lazer, história, de cunho religioso, social...

Foi feliz quem ao escrever, lançou mão

De vontade, desprendimento, material...

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E soube sutilmente penetrar no interesse e atenção

De quem o leu, o compreendeu e se sentiu tocado

No profundo do seu EU, seu ser, seu coração!

Li livros incríveis, inteligentes, que marcaram

Momentos, encontros, fatos, pra toda a vida.

Leituras furtivas, secretas, proibidas...

Outros fúteis, equivocados, vazios de propósitos.

Às vezes, parei pra pensar tamanha capacidade

De autores fantásticos, imaginações férteis,

Leitura agradável, envolvente, capaz de prender,

Aprisionar almas no enlevo das belas palavras

Sutilmente escritas pra sempre, na vida da gente.

Escrevo fragmentos, quem sabe um dia, reunidos,

Se tornem um livro, sonho acalentado...

Mas serei feliz, se com meu querer escrever,

Ter tocado a emoção, ter sido bálsamo, ânimo

Pra algum coração desanimado, triste, recaído!

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NASCIMENTO

Por Arlete Trentini dos Santos

PEGA LAPIS E PAPEL RISCA RABISCA OU TECLA AQUI, DELETA ALI

É IDÉIA SURGINDO OS PENSAMENTOS CRIANDO VIDA RETROCEDEMOS OU AVANÇAMOS NO TEMPO.

VIAJAMOS, VAGAMOS... FRIO OU CALOR RIQUEZA OU POBREZA PRATO FARTO OU SOBREMESA COLOCAMOS A NOBRE MESA. IMAGINAÇÃO COLORIDA ÀS VEZES ATÉ DOLORIDA NASCE ASSIM, LOGO EM SEGUIDA A CRIA GANHANDO VIDA UMA EDITORA SE HABILITA E FAZ ASSIM NOSSA ESCRITA GANHAR VIDA NO PAPEL

DE UM PARTO BEM DEMORADO

POR MUITOS ELABORADO

NASCEU ENFIM O ESPERADO...

O LIVRO

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O livro e sua Magia

Por Audelina de Jesus Macieira

Um livro é mais que um livro, ele é um professor e ao mesmo tempo é aluno, ele é

um sonho encantado e também é um sonho realizado, um livro é uma passagem secreta

para o prazer e para o conhecimento. Um livro é capaz te fazer flutuar e te fazer pensar

que é um passarinho livre para ir longe batendo suas assas até o infinito. Quando se es-

creve um livro é algo especial, é uma criação, escrever exige dedicação e horas de muita

emoção, paciência e criatividade. Ao escrever imaginamos ser um ser em construção, po-

demos construir um mundo próprio que vai invadir a vida do leitor que pode se apaixonar,

rir ou chorar, este encantamento começa a cada letra, a cada palavra que formando frases

descreve o que autor está vivenciando naquele instante.

Como autora de poesias e histórias eu me torno várias entidades, sou tudo e sou

nada, um cachorro, um amante, uma árvore, uma luz, um sentimento, uma razão, uma

certeza, qualquer pessoa ou coisa. Sou eu mesma e sou quem eu represento em cada

sentimento de ódio ou de dor, de alegria ou de amor, sou eu o tempo todo nas dores que

não são minhas e sendo minhas talvez, sou assim interprete das coisas da vida como já

havia dito antes em versos do poema Vida.” Vida que queres que eu seja, um homem,

uma mulher , uma flor, uma semente, uma cor ou uma figura de gente. Sou eu amada?

Sou eu ódio em carne viva, sou caminho desta estrada, sou vida e vida e mais nada.”

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Um livro representa para mim múltiplos sentimentos de ensinamentos que ficarão na vitória

do mocinho contra o bandido, na derrota da bruxa, na descoberta da felicidade por crianças

encantadas, na luta constante do bem contra o mal, e ai entendemos o quanto é bom lê e o

quanto é bom para o escritor saber que alguém leu o seu livro. Pois sabemos o quanto um

livro leva tempo para ficar pronto, a preocupação com cada palavra com cada frase, buscar

uma editora que compartilhe suas ideias, e ainda vê as ilustrações e todos os detalhes, as-

sim o livro vai se apresentando aos poucos e se formando como um ser que tem vida. Todo

livro é especial para quem lê e especial para quem escreve, quem escreve ta preocupado

em ofertar com o seu livro emoções, causar indignação se for o caso e em outros aspectos

até fazer dormir aquele que lê.

Um livro é um amigo, um irmão, um mensageiro e às vezes até lhe diz mais que pa-

lavras lhe ensina a viver. Quando eu li um livro pela primeira vez eu tinha sete anos e até

hoje me lembro da emoção que me causou, eu ria muito com aquelas palavras novas que

estavam ali, era um livro de histórias infantis Ali Baba e os quarenta ladrões, muito bom, e

daí não parei mais, li muitos livros, li Carlos Drummond e Jorge Amando entre outros escri-

tores e me apaixonei, ao Chegar a Faculdade , percebi o quanto toda aquela leitura era im-

portante na minha vida, a leitura é uma bagagem que levamos dentro de nós, e nos dá su-

porte para adquirir conhecimento de mundo. As dificuldades existem para quem escreve um

livro, pois as editoras não estão, mas valorizando os jovens poetas ou jovens escritores, na

verdade temos que custear nossos livros para que ele enfim chegue às mãos de leitores e

assim divulgar este trabalho tão maravilhoso que é escrever, contudo espero com esperança

vê as letras de minhas poesias se espalhar por terras distantes e mesmo que de forma tími-

da fazer alguém ri ou chorar , dormir e sonhar.

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O LIVRO Por Betty Silberstein

Até chegar ao nosso atualíssimo e-book, muitos materiais foram usados como supor-tes para a escrita: ossos, bronze, cerâmica, conchas, bambu. Alguns dos antigos mais co-nhecidos foram a tabuleta de argila escrita em língua suméria (2400 - 2200 a.C.) e o Livro dos Mortos (Egito), em papiro (em torno do ano 1000 a.C.). A seda, na China, foi também uma base para a escrita, feita com pincéis. Na Índia, foram utilizadas folhas de palmeiras secas.

A partir do momento que a escrita foi transposta para o papel, transformado em livro, podemos perceber que sua história é de inovações técnicas, as quais o ser humano só teve a ganhar, já que com isso foi aperfeiçoada a qualidade de conservação do texto, o acesso à informação passou a atingir um número crescente de pessoas, sem contar a portabilidade e o custo de produção. A partir do primeiro livro impresso (1455) a Bíblia, em latim, com a prensa de tipos móveis reutilizáveis, inventada por Gutenberg, o sonho atemporal de escri-tores do mundo inteiro passou a se concretizar: o livro popularizou-se definitivamente, tor-nando-se mais acessível pela redução enorme dos custos da produção em série.

Não me parece que as coisas mudaram muito para o escritor desde os primórdios dos tempos até os dias de hoje.

A tarefa de criar um conteúdo passível de ser transformado em livro continua sendo tarefa do autor, que dedica horas, dias, meses a fio pensando, escrevendo, reescrevendo mil e uma vezes até que seus originais cheguem às mãos de uma editora. Se um leigo no assunto acredita ser esta a parte mais difícil para a publicação de um livro... engana-se re-dondamente: por incrível que pareça, esta é a parte mais fácil para o escritor, cuja via cru-cis se inicia a partir do momento que este sonhador está com seu manuscrito debaixo do braço, peregrinando de editora em editora para ver se alguma se interessa em publicá-lo.

SE isso acontecer... maravilha! Tirou a sorte grande. Caso contrário, terá que bancar mesmo seus escritos. Entretanto, mesmo resolvendo esta primeira etapa (de uma maneira ou outra), ainda falta um belo marketing em cima do produto, uma inteligente estratégia de divulgação e distribuição e uma dose cavalar de paciência para acertos de contas com li-vreiros e distribuidoras de livro e quem sabe receber algum dinheiro por todo o trabalho.

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É... realmente um longo caminho, mas posso dizer com conhecimento de causa que VALE A PENA! Ao segurar nas mãos seu “baby impresso” é uma sensação indescritível. Só comparada à alegria e orgulho de alguém ter lido seus textos, ter elogiado e reconhecer seu trabalho.

Por isso, acho sensacional o Varal do Brasil dedicar um número todinho a esse tema tão difícil, mas superinteressante, para dar força, ânimo e quiçá algumas dicas para os novos (e os não tão novos assim) escritores de plantão.

Que aproveitemos bastante esse número especial do Varal, que trata de um importan-te produto intelectual e de consumo dos dias de hoje: este “poço sem fundo” de informação, conhecimento e sabedoria, que é o LIVRO!

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Palavras jogadas ao léu

Por Carlos Lúcio Gontijo

Não me perguntem aonde ir para encontrar leitores, pois nunca soube. As bibliotecas estão sempre vazias, as li-vrarias repletas de autores estrangeiros e livros de autoajuda, enquanto a litera-tura brasileira sobrevive com a simples e costumeira citação de grandes auto-res, que verdadeiramente também são muito pouco lidos. Não entendo também de busca de recursos para se editarem livros, porque nunca obtive sucesso nessa empreitada, consciente de que a política cultural brasileira só favorece aos que se acham sob os holofotes da mídia, o que determina fluxo volumoso de recursos para as mesmíssimas cele-bridades e famosos de sempre. Todavia, em torno desse assunto, as discussões se prendem mais ao calor obscurantista do fogaréu das vaidades que à luz da real busca de soluções. Houve um tempo em que concur-sos literários lançavam novos talentos, mas hoje eles só servem para propiciar alguma pequena edição ao ganhador, o

que representa significativa glória num país em que as editores não investem nem apostam em novos autores (digo isso no tocante ao ato de se fazer co-nhecido, uma vez que existe gente com idade avançada e sem qualquer trabalho editado), obrigando aos que pretendem tirar a sua obra da gaveta, em tempo de democrática ditadura de intensa propa-gação do grotesco ou, no mínimo, de valor cultural duvidoso, que por sua vez leva adultos, adolescentes e crianças a dançarem na boquinha da garrafa. Infe-lizmente, entre nós, o esmero tecnológi-co da imagem digital chegou às “nossas” televisões antes de as mesmas implantarem qualidade em sua rede de programação. Se eu fosse tangido pela busca de fama e sucesso não estaria me moven-do para editar o meu 15º livro (POESIA DE ROMANCE E OUTROS VERSOS) nem disposto a investir quantia, para mim volumosa, em meu site, que está no ar desde 5 de junho de 2007. Uma vez que, hoje, o que determina notoriedade são a inventiva e o comportamento es-drúxulo ou completamente anômalo e contrário aos chamados bons costumes, tratados como desnecessários ditames ultrapassados.

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A dilapidação promovida ao senso comum que norteia a convivência em sociedade vem exatamente dos órgãos que deveriam atuar em sua defesa. Os poderes Executivo, Legislativo e Judici-ário se consideram (e se põem) acima da nação brasileira, que sabiamente os julga pelo produto final que a ela é apresentado. Vem daí a generalização da reclamação popular, pois quando uma prestação de serviço não é satisfa-tória o consumidor recorre ao PROCON contra a loja vendedora ou a fábrica produtora, não lhe sendo exigida a indi-cação de nomes – ao produtor da mer-cadoria defeituosa cabe, se assim o de-sejar, a descoberta do funcionário res-ponsável pela ocorrência! Ou seja, a má prestação de serviço advinda da ação dos Três Poderes é problema rela-tivo a todos aqueles que o integram. Cabe a cada um deles e mais especifi-camente aos que se nos apresentam como a parte boa, reclamando da cons-tante acusação generalizada, agirem em prol da devida apuração. Afinal, não se trata de seres inanimados; não são maçãs sadias enfiadas, involuntaria-mente, em saco de aniagem em meio a frutos putrefatos... Em ambiente assim perverso, no qual os que deveriam dar o exemplo insistem em não dá-lo, assisto ao coti-diano crescimento da cultura do levar vantagem em tudo, que vai levando a tudo de roldão. Para onde olho eu vejo podridão: é político com dinheiro na cu-eca, na meia, no porta-malas, no banco do carro; são favorecimentos e desvios de recursos públicos em montante ini-maginável, mas que pode ser dimensio-nado pela paisagem de abissais carên-cias sociais que nos rodeia. Quem sou eu, pequeno escriba, para perder o fio da meada, abandonar a literatura menor que realizo (mas que é a minha vida) à beira do caminho,

depois de tão longa caminhada. Só me resta mesmo impor-me alguns sacrifí-cios em nome do invisível, do que não se vê: a energia imaterial do halo da alegria de efetivar o exercício de um dom, ainda que as palavras me pare-çam jogadas ao léu. Enfim, sou brasileiro comum. Faço parte desse povo, que apesar dos go-vernantes e dos podres poderes, conse-gue sobreviver e driblar as pedras ati-radas em seu caminho. Termino então repetindo reflexão de Sigmund Freud, grande explorador da alma humana: “Mas posso me dar por satisfeito. O tra-balho é minha fortuna”.

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Independente, e por que não?

Por César S. Farias

Nem todos os escritores conse-guem um contrato com alguma editora disposta a valorizar o seu trabalho, com possibilidades de lucros razoáveis para ambas as partes. A estes, que não estão dispostos a permanecerem por tempo indefinido batendo em portas e mais portas de editoras, resta hoje o caminho independente da auto publica-ção. Felizmente, com o advento da in-ternet e o progresso dos recursos de computação, o monopólio da impressão saiu das mãos de umas poucas empre-sas que abasteciam o pequeno merca-do de leitores do nosso país. É possí-vel, com critérios e dedicação, chegar-se a um resultado final que permita ao escritor concretizar a montagem da sua obra para apresentá-la ao julgamento crítico do leitor. Dessa forma, consegue ele formar, gradativamente o seu pró-prio público.

Entre os fatores que contribuem decisivamente para a aceitação da obra no mercado editorial convencional, está a temática da obra. As ideias propos-tas, aliadas a uma hábil narrativa, ga-rantem a simpatia ou não dos fabrican-tes de livros. Muitos "doutores da escri-

ta" consideram como requisito impres-cindível, a diplomação acadêmica ou frequência em oficinas literárias que ensinam o autor a escrever. São pon-tos de vista que, á meu ver, devem ser respeitados mas não aplicados como verdade absoluta. Se você, mesmo sem possuir os atributos que chamam a atenção da indústria literária, acredi-ta nas suas ideias e em sua capacidade de cativar leitores, deve cedo ou tarde tomar uma atitude para ganhar um lu-gar ao sol.

Eventos como a Feira do Livro de Porto Alegre permitem, ao contrário da maioria dos encontros literários do pa-ís, um espaço aos escritores indepen-dentes, que investem em seu próprio trabalho para mostrarem às pessoas que existe vida inteligente fora das edi-toras. A coletânea de contos "O Grande Pajé", lançada oficialmente na 57ª edi-ção do evento, propõe um olhar reflexivo ao consumo da maco-nha, erva sagrada para vários tribos indígenas, e a impune violência contra os animais em nossa sociedade atual. Certamente, as abordagens polêmicas da obra, não colocam-na entre as pre-feridas do grande público, contudo, o autor faz dela mais um grito de alerta sobre o desrespeito às culturas e for-mas de vida diferentes da nossa.

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LIVROS Por Cléo Reis Emano minhas leituras pelo Universo Brisa e Sol abraçam ideias iluminando a Vida De um banco qualquer ou do meu tra-vesseiro, sob o manto celestial bordado de luzes, abraçada à Natura que dentro de mim re-pousa, silentes Autores e letras entrelaçadas por inspiradoras Brisas rodeiam-me na mudez da escrivaninha transcendental Livros são Pontes- perene arco-íris Universal levando-me a profundezas de reflexões revigorantes Ameno exercício espiritual Novas roupagens, róseas, florescentes para minha alma em sublimações e completudes.

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UM DIA DE LIVROS, MUITOS LIVROS E ÁRVORES

Por Clevane Pessoa de Araújo Lopes

Jacqueline Aisenman de azul, e sua árvore, Terezinha, observada por Rogério Salgado e por mim, (Clevane Pessoa), no Jardim dos Poetas-Lagoa do Nado, em 31 de maio de 2012.Salgado e eu .

Marco Llobus marcara para 31 de maio, a segunda edição do Jardim dos Poetaspoetas que passaram pela Lagoa do Nado (*)em Saraus de Poesia , os que fizeram parte do his-tórico processo ...

A premiada prosadora e poeta Norália de Castro Mello estava nos primórdios da organiza-ção, em Brumadinho, de um lançamento- do Varal do Brasil-2, onde estamos na qualida-de de coautoras e organizada por Jacqueline Aisenman a qual lançaria também seu pró-prio novo livro, "Briga de Foice", pela

Design Editora , de Jaguará do Sul/SC, um belo trabalho editorial. Jacqueline também é catarinense-e mora há anos, em Genebra. Norália sonhava em reunir aqui, os coautores mineiros.

Queria sobretudo, oferecer a Jacqueline a grande oportunidade de conhecer Inhotim (**).Mas as negociações se arrastavam, graças aos valores -e ela então, investiu potenci-almente na Prefeitura de Brumadinho, onde hoje reside, que cedeu-lhe a Casa da Cultura-para a recepção de 01 de junho, hospedagem aos poetas e prosadores, várias benesses. A Secretaria de Cultura e Turismo entrou no esquema produtivo-e Norália pode contar com Juliana Brasil, Regina Esméria, Maria Lúcia Guedes, Maria Carmen de Souza, que se empenharam na decoração e na degustação de acepipes tipicamente mineiros juninos. Segundo comentários dos autores e convidados, foi uma grande confraternização-continuada em Inhotim e depois no Restaurante D. Carmita, com os lançamentos das an-tologias citas e livros dos presentes.

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Bem, então, no Dia 31, aqui em Belo Hori-zonte, começamos a recepção à Jacqueline, que seria homenageada junto com Diovva-ni Mendonça (leia-se Paz e Poesia ***) , no Sarau da Lagoa do Nado, no Restaurante D. Preta, reduto de poetas ,artistas e pessoas da Paz, a convite de Claudio Marcio Barbo-sa , produtor cultural e poeta, que faz parte da família que administra o D. Preta prepa-ram um substancial prato mineiríssimo, o Feijão Tropeiro .

Foi organizada uma mesa de livros , para a degustação da mente e do espírito, por que não, do coração? Jacqueline recebeu as "Palmas Barrocas" - alusivas à arte sacra mineira, uma criação da artista de Sabará-uma das mais antigas cidades mineiras- Dir-léia Neves Peixoto e que são parcimoniosa-mente distribuídas pelo grupo de Poetas Pe-la Paz e pela Poesia., grupo que realiza o Paz e Poesia em Belo Horizonte.

No D. Preta, , esperamos a chegada de No-rália, que chegou com sua filha Daniela. Desse momento, participaram os poetas e artistas de Belo Horizonte, Marco Llobus, Neuza ladeira Rodrigo Starling, Iara Abreu, Maria Moreira, Adão Rodrigues, Fátima Sampaio, Rogério Salgado, Claudio Márcio Barbosa , Serginho BH (fundo musical ao violão) e eu. Coautoras de outros Estados e cidades estiveram no congraçamento: Yara Darin, Maria Clara Machado,e, com Norália e Daniela, também artista, chegou a alegre Madhu Maretiori, que lançou seu encanta-dor "Em Nome de Gaia"- minilivro de grande

conteúdo.

Bem, esse prólogo longo , mas necessário ao registro de nossa história de poetas, nos leva agora, à Lagoa do Nado.

Lá, além do mini tour pelo pulmão verde e suas águas, com passagem pela exposição a céu aberto da obra enraizada de Mestre Thibau., Jacqueline e nós, poetas convida-dos , fomos levados para plantar nossa ár-vore no Jardim da Poesia.

Quando saí de casa, sabendo que cada ár-vore poderia ser madrinha ou afilhada do poeta e o poeta escolheria o nome de sua árvore, pensei em achegar-me a uma que desse muitas flores , para dar-lhe o nome de minha mãe, que adorava o verde. Eu anda-va daqui e dali, mas fui atraída por um ce-dro. Mesmo ele apresentando uma praga branca. Não consegui afastar-me das lindas folhas oblongas e acetinadas. Então, pensei: vou dar-lhe o nome de Máximo, pois meu avô ,paraibano, trovador, cordelista e jorna-lista, repentista sonetista, que ensinou-me a metrificar e amar a poesia ainda no seu co-lo, não obstante árvore do gênero feminino na gramática, mas comum dos dois na es-pécie, Cedro sempre vai lembrar-me o gêne-ro masculino.

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Desejei muita sorte ao meu cedro-que cresça o máximo, seja o máximo-sobrenome de vo-vô, Luiz Máximo de Araújo -pensei .

Depois de curtir a árvore que me escolheu, fui circular e quando Jacqueline Aisenman foi batizar a sua, ela disse-me;-Terezinha, o no-me de minha mãe.

Fiquei literalmente arrepiada .Claro que o prenome da santinha de Lisieux é muito co-mum, mas eu, que vivo na memória e no imaginário, escritora que sou, logo pensei : -Mamãe, que adorava o pai, deu-lhe lugar.

E assim , toda vez que for ao jardim de nós, Poetas, no CC Lagoa do nado, vou acarinhar essas duas árvores: pela amiga distante, em outro país, Jacqueline Aisenman e cultura o nome materno de ambas, e o d e vovô, meu mago iniciador que revelou-me a POIESIS, como soi ser, com autoria, orgulho e ale-gria ::Terezinha e Máximo.

Mais tarde, já em casa, li um texto maravilho-so, em Varal Antológico 2 de Jaqueline Ai-senman ,denominado Pintura Ingênua, onde ela abre ao leitor o grande amor por seu pai ("Meu pai, sentado na cozinha, palpitava a vida, dava palpites em tudo"), onde a mãe amada entreaparece, figura de fundo e de palco ,indispensável( "Ou ia pelos braços queridos de minha mãe, braços cheios de alma") .

Realmente , esse plantio para mim, transcen-deu os objetivos lindos desse jardim de árvo-res: permitiu-me a sagrada memória familiar vir bailar conosco por entre as mudinhas es-perançosas...

Clevane Pessoa de Araújo Lopes

(A Jacqueline Aisenman, agradecendo o con-vite para ser e estar em Varal Antológico 2)

2:alegria e honra).

Fotos: Clevane Pessoa

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O dia 29 de outubro foi escolhido para ser o “Dia Na-cional do Livro” por ser a data de aniversário da fun-dação da Biblioteca Nacional, que nasceu com a transferência da Real Biblioteca portuguesa para o Brasil.

Seu acervo de 60 mil peças, entre livros, manuscri-tos, mapas, moedas, medalhas, etc., ficava acomo-dado nas salas do Hospital da Ordem Terceira do Carmo, no Rio de Janeiro.

A biblioteca foi transferida em 29 de outubro de 1810 e essa passou a ser a data oficial de sua fundação.

Fonte: http://www.joildo.net/

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A caminhada “solitária” Por Cristina Mascarenhas da Silva

Foi preciso muitos solitários amanheceres para descobrir

Que não era com aqueles que dividi festas e bebidas

Com quem poderia contar nos pores de sol mais tristes....

Caminhei por horizontes sem esperança de um fiel amigo,

Quando mal sabia que em dias quentes de verão o colocava no colo,

Para protegê-lo guardava num cantinho quente de minha bolsa.

Quando as lágrimas rolavam pela minha face,

Eu o retirava do canto mais secreto de meu armário,

E o acariciava levemente desvendando cada centímetro seu,

Ele me respondia com palavras doces,

às vezes ásperas,

Longas histórias, doces versos, amargos dra-mas.

E de folha em folha, verbo em verbo,

Conheci o significado deste amigo de milhões de dizeres,

Que me acalenta, me faz lutar,

Amigo Livro,

Contigo já estive no Hades, em Roma, no Grande Sertão,

Vivi amores, colecionei dores, voltei a ser cri-ança,

Quis ter uma Bisa Bia, observei um Fantásti-co Mistério,

Criminei Capitu, torci por Aurélia.

Roubei alguns dos seus junto com Liesel na Alemanha Nazista...

Desvendei o mundo pensando que estava só.

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O homem, o livro e o tempo

Por Daniel C. B. Ciarlini

(Homenagem ao Dia Nacional do Livro, 29 de outubro. Proferido no auditório da Univer-sidade Estadual do Piauí, por ocasião do En-

contro de Jornalismo Cultural).

O que são os homens sem os livros, ou melhor, o que seria da humanidade sem as bases fundamentais do conhecimento em-pírico, transmutado através da ciência e di-fundido a partir de páginas e mais páginas que atravessaram séculos e mais séculos no mundo? Fica difícil pensar. A própria história da humanidade divide-se em dois períodos, antes e após os livros. E mesmo antes deles, o homem já sentia uma vontade imensa de registrar o que pensava, o que via e o que o inquietava, daí o surgimento das pinturas ru-pestres, que foi uma forma arcaica da escrita; daí a sabedoria popular, que resistiu e resiste a toda e qualquer intempérie do destino.

Dizem que a maior invenção da hu-manidade foi a roda, mas eu não posso con-cordar com este postulado quando tenho di-ante de mim, e em todos os cantos por onde eu ando, um amontoado de palavras que for-

mam diferentes sentidos. Seria mesmo a pa-lavra, segundo Bakhtin, um signo linguístico dotado de uma carga sócio-ideológica por natureza? Sem dúvida, e tudo isso só me faz entender o que já tenho refletido a respeito destas ideologias, que se formam de uma só palavra ou da conexão entre várias, configu-rando sentidos complexos em sentenças, provando-nos apenas uma coisa: A escrita é a sociedade mais bem organizada criada pe-lo homem. E a leitura, para quem a pratica, logo percebe, é o oxigênio que mantém viva a chama do saber.

O homem, como ser inquieto, fez das palavras a concretude do pensamento, per-petuando-o através dos livros, e a consciên-cia que possuímos hoje, está muito distante de prever as consequências do presente frente o futuro. Prever o futuro da evolução intelectual, eis um trabalho utópico, eis um projeto malogrado. Restam-nos, porém, su-posições lógicas, embora saibamos, ainda, o quão decadente é a “logicidade” no campo subjetivo do ser; suposições, nada mais que suposições teremos em mãos... Suposições nascidas, talvez, das observações do passa-do, que nos apontaram que as próprias le-tras, os próprios livros, acompanharam o de-senvolver da sociedade, e que suas cargas semânticas, grafias, moral, ética, filosofia, enfim..., todo o conhecimento ali despejado não pareceu inerte, mas transmutável e transgredido em pensamento, em um tipo de reflexão transformadora. .

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Os próprios livros, para aqueles que não creem, sofrem mudanças, porque não imóveis, aliás, nada é imóvel se pararmos para pensar de fato. As transformações gi-ram em torno de sentidos, interpretações e mudanças de hábito, de sociedade, tempo, lugar, e é aqui que me reporto mais uma vez ao que nós, estudiosos das Letras, estamos acostumados a entender: há polifonia em tudo, entendê-la, portanto, é vislumbrar o quê ideológico que existe no autor, no texto e no leitor, é algo plural, e não bastasse tal percepção, temos de ser sensatos em enten-der que ela, também, adéqua-se à cultura temporal, portanto, plurissignificativa sempre será uma obra, que por natureza sintáxica, que é o texto como um todo, o sentido num prisma universal e dialético nunca deixará de ser genuinamente aberto.

Ao ler um livro, o homem é volvido de três imensos e labutáveis acontecimentos. Em um primeiro momento, é receptor quan-do absorve tudo que lhe vem às mãos, ou melhor, aos olhos, de onde contempla todo um universo que se constrói, conforme o transladar das páginas, numa para-realidade que considera tanto a sua experiência de vi-da como a natureza estética da obra, capaz de proporcionar a quimera, a alegoria da própria vida que não se pode mais, depois de Platão e Aristóteles, Boileau ou Henry Su-hamy, afirmar ser esta ou aquela a verdadei-ramente real; o segundo momento pauta-se, pois, na transformação do captado, direção esta que acontece quase que naturalmente em nossos sentidos, porque como somos de uma linhagem de homo que não se contenta apenas em ser sapiens, e transgrediu-se em sapiens sapiens, porque críticos, porque cri-adores. Desta transformação de sentido, desta “transmutação de todos os valores”, como acreditava Nietzsche, foi que o homem moderno tratou de desconstruir todos os es-tigmas e acreditar que não existe apenas uma realidade para tudo, um só sentido, e que este “tudo”, por sua vez, pode sim, sem medo ou querela de infortúnio, ser questio-nado. Passamos, então, a agir contra nossos mestres, ou em evolução às suas teorias, ao acreditar que o conhecimento é universal, e que esta universalidade não reside no exter-no, mas dentro de nós mesmos, como a po-

esia que reside em nosso corpo, e assim de-cidimos, tal qual eles, os grandes, também produzir, dar voz a todos, porque o conheci-mento, como eu disse, por mais que se tente provar o contrário, nunca serviu e nunca ser-virá ao individualismo, mas ao coletivo.

Ninguém aqui estuda para si, mas pa-ra os outros. Dito isto, quero deixar claro que o tempo das trevas há muito se desvaneceu, e hoje o conhecimento não pertence a gru-pos fechados, como monarcas, eclesiásticos ou oligarquias secretas de segregação racial e econômica, todo livro, hoje, portanto, exer-ce uma função social – ele, por si, é um elo que desvencilha a ignorância e ilumina a mente à procura do saber, incitando-a, cada vez mais, na busca, na insaciável busca da sophia... E quantos de nós aqui um dia não nos entregamos aos azos aventurosos de um bom livro? Quem nunca teve o seu livro de cabeceira, que o acompanhou em ama-durecimento? Quem nunca se encantou com uma história, ou tenha aprendido algo jamais imaginado antes na vida, senão nos livros? Os livros possuem esta magia, sim, que pa-rece aprisionada, mas que é fluente e flutu-ante como as palavras que soltamos no ar, partindo-se em destino ignorado.

Dito isso, não posso acreditar que as palavras um dia perderão, numa sociedade moderna como a nossa e a do porvir o real sentido de sua existência; muito menos devo crer que a própria tecnologia haverá de ex-tinguir a existência dos livros devido a um ambiente virtual que se tem construído no decorrer de tantos dias, ou seja, um campo que não é o mundo vislumbrado por Platão, mas que se se pararmos para pensar beira o esotérico por ser abstrato e influente.

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Eu, na concepção clarividente de estudante de Letras, e como alguns aqui presentes, não posso acreditar nesta tragédia que porá extermínio aos livros. O mundo virtual hoje cheio de Ipad’s é um processo delicado do qual atravessamos, mas que de certa manei-ra contribui na difusão da cultura letrada. To-davia, livro, como o próprio nome nos indica, é livro, e sendo livro, sendo um elo ao conhe-cimento, sendo algo concreto que se transfi-gura e se transforma através das sinapses, possui, em sua concretude, uma carga se-mântica e intersubjetiva que me conforta a alma e me apraz ao tocá-lo, ao folheá-lo, ao senti-lo em minhas mãos, ao marcá-lo em estudo, ao acompanhá-lo envelhecer comi-go, acidificando-se, assim como as minhas células, pelo oxigênio que um dia nos nutriu; a relação, portanto, é afetiva, é emocional e intensa demais para se perder em um univer-so de bytes; tal relação não me permite abandoná-lo, aprisionando-o em um micro-chip, em um computador que “virtualiza” as suas páginas e ajuda a tornar a minha vida cada vez mais irreal.

Para falar a verdade, eu mesmo não tenho mais tempo e paciência para entender toda esta tecnologia que muda a cada minu-to, a cada segundo, e do qual se dorme sa-bendo de uma novidade, mas se acorda ig-norante ao que a suposta novidade se trans-formou lá no Japão, por exemplo, que não para. Prefiro mesmo o livro que é livro e pronto, sem manual de instruções, sem bo-tões para abrir ou destravar, sem bateria ou carregadores; prefiro o livro em sua estrutura milenar, cheio de fibras vegetais ao invés de ópticas, que eu nem mesmo sei como funcio-na ou até quando funcionará, até que algo novo lhe soerga. Se devo acreditar que o mundo contemporâneo caminha a cada dia que se passa para uma sociedade atrelada ao símbolo, isso se diz às imagens, não devo esquecer que estas só foram e serão sempre possíveis porque, antes delas, existiu uma tecnologia que jamais, escutem bem, jamais será superada – nasça ano, década ou milê-nio –, ou seja, o livro, guardião dos saberes do mundo!

Embora a minha geração seja a gera-ção da transição do livro concreto para o vir-

tual, e que daqui a dez anos tudo se torne abstrato, não palpável, continuarei a investir na minha biblioteca, e na lembrança dos grandes centros livrescos com o mesmo cari-nho, memória e a fidelidade que não só per-correm minhas veias espontaneamente, mas energizam a centelha da minha própria alma, agradecida pelas vozes que me ajudaram, através dos livros, dos livros de verdade, construir esta singela visão de mundo que tenho... Enquanto existirem livros, eis uma assertiva consciente, haverá humanidade e esta mesma humanidade jamais se perderá por infortúnio de uma pane sistemática, ele-trônica e global. Muito obrigado!

Parnaíba, 14 de outubro de 2011.

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LIVRO

Por Devi Dasi

Eu já quis ser tantas coisas:

Princesa, borboleta, boneca, fada;

Quis não ter espinhas, ter liberdade, saber beijar.

Quis também ser mãe e ter um lar

Quis ser profissional, produtiva e res-peitada.

Muitas eu consegui ser;

Outras, nem me lembro de querer

O que ainda quero ser?

Não sei....

Talvez aquele livro aberto

Escrito numa língua nova

Que todos saibam ler.

Ser editada, traduzida, interpretada;

Me fazer sempre entender...

Queira ter em meu corpo muitas linhas retas

Formando palavras secretas

Para uns poucos

Especiais leitores

Que apenas tenham o dom de perceber

A intensidade do meu ser.

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O Mérito, O Interesse, A Alegria

de Ler e Escrever

Por Dhiogo José Caetano

Diante dos fatos não consigo per-

manecer calado, busco levar a mensagem

dos bestializados, daqueles esquecidos por

uma sociedade “injusta e profundamente cor-

rupta”.

Quando analisamos o processo his-

tórico do Brasil, notamos os graves proble-

mas com relação à própria estruturação deste

belo país que é marcado por momentos de

dor, tortura, exílio, medo, mortes.

Na identidade nacional podemos

encontrar o ranço negativo que contribuiu pa-

ra a formação e estruturação do Brasil de ho-

je. (A identidade nacional dentro do contexto

histórico com afirma Hobsbawn é algo que

vem depois do sentimento de nacionalismo

que existe em cada um de nós, é algo indefi-

nido, mutável, ambíguo e de definição coleti-

va ou individual).

Até quando viveremos atormenta-

dos por estas mazelas que de forma comple-

xa tortura este “povo brasileiro”?

Será que um dia o Índio será reco-

nhecido como cidadão, não mais sendo es-

quecido; permanecendo nas bases subterrâ-

neas do mundo contemporâneo. O Índio tam-

bém é humano, por que os comparar com

animais irracionais? Eles pensam, buscam,

falam e tem uma história para contar. (Está é

uma visão classificada como etnocêntrica, on-

de colocamos o nosso eu, como referência e

anulamos ou rebaixamos a opinião do outro.

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Um bom exemplo de etnocentris-mo é o que fazemos como os Índios, os cha-mando de preguiçosos, cultura inferior ou ultrapassada. Outro exemplo é os nossos jornais ocidentais os quais referem aos movi-mentos radicais islâmicos como grupos de “fanáticos” e “antidemocráticos”. Em suma, podemos confirmar que tal análise e total-mente etnocêntrica, uma vez que não levam em consideração que a “democracia” não é um “bem universal”; e que os estados islâmi-cos têm uma forma muito especial de dife-renciar a relação entre religião e política, que não pode ser descrita como “fanática” só por que é diferente da nossa realidade. Isso acontece porque a nossa mídia julga esses movimentos religiosos da mesma forma que julgaria se eles fossem “cristãos” e estives-sem ocorrendo aqui).

Aqui não têm responsáveis, não tem igualdade, não tem um verdadeiro repre-sentante do povo. Mas em contra ponto te-mos pessoas responsáveis pela corrupção, pelo abuso de poder e pelo autoritarismo que tornou algo natural na sociedade atual.

Somos quem podemos ser? Pra ser sincero é visível que não somos seres humanos; hoje somos números, cartões, di-nheiro e rótulos.

Quem é você? Você é um perso-nagem que faz parte do sistema globaliza-dor, um indivíduo distinto e ao mesmo tempo igual com relação ao processo de formação social que cujo poder é eliminar aqueles que se diz contra o sistema.

Na sociedade atual não podemos

querer ser, devemos praticar o dever de ser personagem em uma sociedade que se diz democrática, mas na prática o voto obrigató-rio.

Um país que na constituição afir-ma direito igual para todos os cidadãos, mas vamos analisar a realidade de cada indivi-duo, partindo da sua própria realidade.

Na aurora da construção social devemos romper com as normas e finalmen-te tornamos personagens que não mais se-rão vistos como figurantes, mas como prota-gonistas que buscaram tornar a sociedade mais igualitária.

Em pleno século XXI ainda encon-tramos o preconceito com relação à cor. “Quando os indivíduos de cor negra serão vistos da mesma forma que se vê um indiví-duo de cor branca”?

Em meus textos busca falar da pe-dofilia. Pois podemos ver hoje na atualidade tal coisa acontecer em todos os lugares e de variadas formas, mas com um único ser; aqueles mais especiais e puros, como as nossas crianças que são usadas e humilha-das por monstros em forma de seres huma-nos.

Até quando vamos ser cercados por mazelas?

Onde está a sensibilidade de ver e reconhecer o trabalho dos professores. A arte de ensinar é uma tarefa do professor; que se doa com objetivo de transforma o mundo sua volta. Mas qual é o valor da edu-cação neste país?

Até quando uma pessoa portadora de deficiência física ou mental será vista com indiferença na escola, na sociedade, no trabalho; um ser circundado por olhares de compaixão e pena, onde na verdade deveria ser vistos como exemplo de acessibilidade e igualdade a todos.

Quando vamos ligar a TV e vere-mos filmes, novelas que representem à reali-dade do cotidiano na íntegra, sem censura, visando detalhar a verdade nua e crua. Que-remos ver aquilo que a sociedade esconde debaixo dos tapetes.

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No desenrolar do discurso não po-deria deixar de falar das mulheres que con-seguiram romper com a opressão da socie-dade machista, no entanto a maioria destas ainda vive sobre o ranço ou até mesmo car-regam a bandeira machista dentro de si.

Será que um dia os verdadeiros “heróis” vão falar? A educação tornará o ca-minho para o progresso, e os professores vão ter o verdadeiro reconhecimento profis-sional? Um dia a verdade fará parte da nos-sa base política? O poder judiciário utilizará como lema a justiça e a veracidade dos fa-tos; eliminado os problemas camuflados dentro desta sociedade que é governada por verdadeiros “corruptos sanguessugas”?

Pra isto acontecer precisamos re-ver nossas decisões e na hora de votar de-vemos escolher pessoas capacitadas e pre-paradas para defender a “nação”, colocando em prática a famosa frase “ordem e progres-so” de forma justa e corretamente humana.

No cotidiano busco escrever em nome do ser humano, o qual deve ser res-peito enquanto indivíduo no espaço social não importa a sua condição sexual, religiosa ou economia, pois os mesmos igualmente pagam seus impostos. Os deveres são iguais, então os direitos também devem ser.

Que país é este!

Os governantes precisam funda-mentar uma cartilha que ensina como é ser humano no sentido humanitário, colocando o etnocentrismo com disciplina de discussão da realidade vida, dos problemas enfrenta-dos e dos conflitos coletivos que a socieda-de vem enfrentando ao longo dos séculos.

Na vastidão deste mundo nada sou, mas busco fazer a diferença através da escrita e afirmo que a sociedade se compõe de seres humanos, não de grupos exilados.

Ao longo da minha jornada das letras busco trazer a público aqueles esque-cidos nos bastidores, tento levar de forma clara a mensagem de preservação do espa-ço que vivemos; todos nós precisamos cui-dar do nosso planeta terra, evitando a polui-ção, devastação, destruição da natureza e do nosso planeta.

Devemos nos conscientizar que amanhã pode ser tarde demais e o agora é o momento de lutar, de salvar o pouco que nos resta.

Entretanto tenho consciência que os dias passaram, a vida passará e nós to-dos morremos e a nossa existência passará como um breve pensamento que paira no ar. Mas mesmo assim precisamos lutar, por um mundo melhor para as futuras gerações.

Até quando viveremos em uma sociedade compulsiva e capitalista? Quando os homens perceberam que a tecnologia é um bem favorável, mas que representa uma ameaça à vida humana? (Quando falamos em “supremacia” tecnológica, podemos citar a internet como uma ferramenta universal, que rege seu poder sobre todo o globo ter-restre; um poder que cresce de forma viral).

Onde está à sociedade humana pregada nos discursos políticos, na constitui-ção brasileira, nos inúmeros artigos jornalís-ticos espalhados pelo mundo afora? Por que de tanta ganância pelo poder?

Há todo momento via internet, rá-dio e TV noticiam a destruição causada pelo desequilíbrio da natureza, fico claro que o mundo começa a dar sinais de alerta. O ho-mem do século XXI deve buscar o progresso tecnológico, mas com uma visão ampla onde se pode avistar o futuro de forma clara e saudável.

O meio de produção e a busca in-cessante pelo capital tornaram a humanida-de meras peças que a cada dia contribui pa-ra a destruição do meio onde se vive. Um verdadeiro efeito dominó, onde foram gastos anos para conquistar o “progresso”, mas em segundos este progresso destruirá o plane-ta.

O que está acontecendo com o mundo? O que se passa na cabeça dos ho-mens? Em curtos intervalos o mundo é aba-lado por catástrofes naturais, algo que o pró-prio homem plantou neste processo de bus-ca constante de poder.

Um jogo onde se coloca a vida de todos nós como preço de um sonho obceca-dor, traiçoeiro que projeta, destrói e

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transformar e não avisa dos riscos que corremos.

Japão, Austrália, Nova Zelândia, Tailândia, Haiti, Chile, México, Afeganistão, Brasil e amanhã o mundo. O que será da humanidade? As armas que foram criadas no intervalo de anos não poderão nos defen-der das forças naturais.

A humanidade propriamente dita está semeando o apocalipse e o que parece estar distante da nossa realidade, amanhã pode ser o cenário presente a nossa volta.

Não sei se vivemos ou tentamos sobreviver. Viver é enfrentar as múltiplas di-versidades da vida; viver é ser livre mesmo quando todo mundo quer cuidar de nós. É ficar quieto e permanecer calado perante a sociedade que construí normas e padrões de vida.

Muitos têm interesse em saber da nossa história. Dizem que estamos desliga-dos e que mesmo assim eles sempre iram nós socorrer e até pedem para que tenha-mos muito cuidado, pois viver neste mundo é muito perigoso e não devemos sair de ca-sa.

Mas nós não devemos temer as construções sociais e as falsas realidades construídas pelas as grandes instituições de nosso planeta.

Onde está o “povo” deste país?

Viver é um hábito de cada um, não importa se eles querem que sejamos de uma forma, pois nós queremos é sair deste mun-do de corrupção e de desigualdade entre os homens que na constituição tem direitos iguais.

Meu Deus cadê a nação? Que pa-ís é este?

Todos querem cuidar de nós, mais nós queremos caí e assim poder ver com clareza a verdade disfarçada em meio à idei-as pragmáticas que foram construídas ao longo dos séculos e da história da humani-dade.

Muitos vão dizer que estamos er-rados e que viver é muito perigo, eles vão perguntar se levamos muitas pancadas e

sempre terá um no poder que construirá um teatro para ouvir nossos problemas e assim promovendo uma falsa ajuda.

Porém, tais poderosos devem ficar cientes que nós não estamos tristes e sim revoltados com a mídia, com os governantes e queremos deixar claro que temos a nossa própria vontade, pois vivemos em um país que se diz: democrata.

Em suma, escrevo em nome da nação humana, pois os dias passaram, a vi-da passará e nós todos morreremos, mas não podemos deixar que os “devoradores de colarinho branco” façam à raça humana per-der a cidadania, a moral social, chegando ao fim, onde se espera a morte ou um milagre.

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Ler para virar artista

Por Dinorá Couto Cançado

Manhã de poeira e vento numa das cidades satélites do Distrito Federal. No pátio da escola, mais de 40 crianças, cada uma trazendo sua cadeira da sala de aula. Não há sala vaga nesta escola, para alguma ativida-de diferenciada que surja. Olhares curiosos para o cenário diferente, muita algazarra, até que se ajeitam. Materiais diversificados, co-mo um varal de fantoches, cartazes e caixas coloridas chamam a atenção da garotada. Outras crianças que estudam em horário contrário, fora da faixa etária solicitada, en-tram na escola e pedem para participar desta manhã diferente na escola. Nas primeiras ações, ao contatar escola para receber a ofi-cina Brincando de Biblioteca com Programa Literário, procura-se saber se a escola aten-de alunos com deficiência para que a inclu-são social aconteça com mais consistência. Quando ocorre, resultados gratificantes.

A professora atuante na Biblioteca da escola, responsável pelas inscrições do gru-po que participaria da oficina, relata algo preocupante. Diz que um aluno pediu dias e dias para deixá-lo fazer “a oficina que vinha à escola para o aluno ler e virar artista”. Esse aluno, com o hábito de comer lixo, apresen-tava um odor forte. Com muita luta, muito jei-

tinho e muita conversa por parte de quem o inscrevia, ele promete ficar dias sem comer lixo. Realmente ficou, conseguiu eliminar es-ta atitude. E lá estava ele, todo limpinho, fe-liz e o mais participativo da turma inscrita pa-ra essa iniciativa informal na escola.

Inicia-se a oficina nesta manhã poei-renta, de muito vento, com o som espalhan-do-se, devido ao espaço aberto – o pátio da escola. No 1º momento, chamado de sensibi-lização prévia, o interesse da criança que queria virar artista é visível, faz perguntas, canta com o grupo, ouve, atentamente, as histórias de leituras. No 2º momento, o das ações compartilhadas, se revela no grupo, escolhe a obra mais atrativa, planeja progra-ma literário e o apresenta, interagindo bas-tante com o seu grupo. Já no 3º momento, tomada de decisão, o aluno emociona a to-dos: veste capa do “artista” (capa colorida, com estrelas douradas), faz discurso, canta, utiliza fantoches, enfim, mostra-se como um verdadeiro artista.

Ao sair da escola, com o coração apertado com tamanho envolvimento, emoci-onada com os resultados, o pequeno-artista é o último a despedir-se, indo até o carro. Fa-la-me que foi a melhor aula que já teve. Sou-be depois, por meio de telefonemas, que ele tinha melhorado muito, mais assíduo na Bibli-oteca da escola e que o problema social não mais acontecia. Tempos depois, que tinha mudado de escola, de endereço.

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As oficinas continuam em outras cidades, outras comunidades, mais alunos e mais escolas com casos comoventes de inclusão social. Brincando de Biblioteca consiste numa série de oficinas na rede pública de ensino para capacitar alunos a atuarem como multiplicadores de leituras na escola, em casa, na comunidade. Setenta e duas obras de literatura infantil dis-tribuídas em seis minibibliotecas. Alunos apreciam, leem, planejam e apresentam um pro-grama literário. Várias linguagens artísticas trabalhadas. Alunos fazem cartazes e compõem varal criativo. Equipes escolhem funções para apresentarem um espetáculo literário. Ao fi-nal, show de alunos-talentos em várias artes, vestidos com “capa de artista”. Avaliam a ofi-cina, registram nomes, recebem dicas e certificados.

São muitas histórias. Mais de 5 mil alunos atendidos em 129 escolas públicas. Cada oficina uma história-exemplo de participação/transformação. Muitos alunos, cada um com vivência diferente e com história de superação a cada dia, devido alguma deficiência. Quando a oportunidade surge em suas vidas, agarram-na com ânsia, comprometimento, interesse maior do que os alunos considerados “normais”, regulares na escola. Brincar de Biblioteca é uma resposta simples, mas séria o suficiente para encarar tantos problemas que ameaçam a possibilidade de nossas crianças desfrutarem o prazer da leitura.

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Nas asas da leitura

Por Dulce Couto

Suas asas quando abertas

Convida-nos a descobertas

Inspiração para conhecer

Com ele tudo vai acontecer

Viagens sem sair do lugar

Em suas asas podemos voar

Conhecer o mundo afora

Embarcar ao sabor da hora

Voo alto pelas ciências

Leitura requer paciência

Tocar a arte da descoberta

Faz a mente ficar alerta

Dialogar com a filosofia

Leva ao mundo da sabedoria

O pensamento precisa esculpir

Para a ideia poder explodir

Viajar ao lado da literatura

É parceria com desenvoltura

Mil histórias ela irá contar

Imenso universo vai encantar

O convite da astronomia reluz

Leitura que voa em anos luz

Pousar nos anéis de saturno

Traz sabor de beijo noturno

As asas brancas da mitologia

É território vivo de pura magia

Navegar nos braços do argonauta

É ouvir sereia tocando flauta

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Tem asas que ensinam a orar

Ofertadas por quem sabe amar

Preces cantadas com emoção

Cartas escritas com o perdão

Papel ferido por grafia poeta

A poesia é um tanto inquieta

Escrita curta que faz sonhar

Viagem longa a atravessar

O livro é lugar de encontros

Costura viva tecida em pontos

Voar no verso desperta prazer

Criá-lo então é um doce viver

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“Como Escrever, Publicar e Divulgar um Livro”

Todo mundo quer ser escritor. Publicar um livro, porém, envolve custos e habili-dades específicas que poucas pessoas conhecem. O que vale, mesmo, é acredi-tar no seu potencial e começar a escrever. Muitos grandes profissionais, de vá-rias áreas do conhecimento tiveram suas obras recusadas por editoras e depois se tornaram artistas renomados por não desistirem. Mas a publicação, em si, já não é mais mistério. Há várias formas de colocar no papel aquele romance, con-to, poema ou pensamento. Mas o trabalho não termina com impressão da obra. Aí começam novas etapas que envolvem outros profissionais.

Valdeck Almeida de Jesus recebe diariamente perguntas relacionadas ao univer-so do livro e sempre as respondeu dentro do possível. Com o tempo, colecionou vários e-mails e transformou as respostas em um manual de fácil leitura e com-preensão. Confira no livro e comece logo a escrever a grande obra de sua vida!

Autor: Valdeck Almeida de Jesus

Editora Livrus

Preço: R$ 30,00 (trinta reais) Pedidos: [email protected]

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SEMENTE ETERNA

Por Elise Schiffer

Somente aos 44 anos, pude com-preender a força da expressão “ VIDA ETER-NA “. Hoje com certeza, esta semente germi-nou em meu coração.

Meu filho chegou do colégio eufóri-co, convidando-me a conhecer uma casa de antiguidades perto de seus colégio. Seus olhos brilharam ao falar de livros usados que ele qualificou como Relíquias.

Este convite reviveu dentro de meu saudoso coração, os bons tempos quan-do caminhei lado a lado com SCHMIDT.

Nossa estrada começou no peque-no município de Nova Iguaçu, onde vivi uma infância desbravadora, junto a este homem do povo, do povo sim , porém nunca desper-cebido. Sua personalidade forte, fascinava e cativava a todos, podia se fazer amar e odiar na mesma intensidade.

Este homem, nem sempre foi com-preendido pela sociedade, já que as pessoas que se destacam da grande massa, seja qual for o motivo, são vistas com receio. Com todos os seus defeitos e qualidades, cativou familiares , colegas de trabalho, amigos e vi-zinhos.

Intimo das palavras e amante dos livros, podia discursar do Império Romano a coisas simples do dia a dia, com intimidade e força, hipnotizando a todos que o ouviam, pois suas palavras vibravam dentro do peito dos ouvintes e todos acabavam em mesma sintonia.

Schmidt, este homem do povo, ensinou-me a respeitar os livros, a tocá-los com carinho e conquistá-los com cal-ma, página por página. Mostrou a vanta-gem de relê-los e descobrir a cada nova leitura, fatos novos nas entrelinhas.

Lembrei de quando costumáva-mos ir a Praça Tiradentes visitar os SEBOS, algumas vezes comprávamos livros, em ou-tros momentos, apenas apreciávamos já que o dinheiro era pouco. Estes lugares eram Mi-nas inesgotáveis para nós dois. Era nosso passaporte para o sonho. Os SEBOS e os MUSEUS transformavam nós dois num úni-co ser.

Com orgulho, posso dizer, este homem é meu PAI.

Hoje ao receber o convite de meu filho, pude Ter certeza de que meu pai vive em nós dois. A certeza abrandou a saudade que deixou em nossas vidas e reviveu lem-branças adormecida.

Tempos bons. Onde a Dona Po-breza nunca foi uma barreira para a felicida-de. Esta senhora ensinou minha família o sentido da união, seja qual for o momento.

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Que saudade de caminhar com este homem do povo, tão fascinante e cativante.

Lembro-me de um dia em que meu pai foi buscar-me no Colégio Monteiro Lobato, o Senhor Vento, corria forte anunciando a chegada da Senhora Tempestade, e meu PAI como um bravo herói, colocou-me em seus ombros e correu, como que enfrentando a mãe natureza. Não havia medo a seu lado.

Sim, meu pai era um super homem e acima de tudo era o meu herói.

Fui sua ajudante nos serviços de topografia, subi trilhas, caminhava horas sem pa-rar e não havia fome ou cansaço. Minha admiração saciava qualquer necessidade fisiológi-ca.

Este super homem, ensinou-me a ler História antiga (ainda criança) e entendê-la de várias ângulos quer fossem políticos ou sociais. Ensinou-me a respeitar o próximo e achar sempre o lado bom de cada fato e principalmente a ser honesta comigo mesma.

Surpreendeu-me sempre, já que suas atitudes eram sempre inesperadas. Meu Pai, era contra Igrejas, embora admirasse o Dom Revolucionários de JESUS, de-testava terno e surge em minha missa de 15 anos vestindo um belo terno. Pronto para cami-nhar comigo de braços entrelaçados até o altar. Ele soube cativar a todos, pois nunca mediu esforços. Para chegar a tempo na Igreja, teve de tomar banho e vestir-se na própria loja.

Ele soube plantar em meu intimo a semente de PAI.

Nossos momentos são presentes, pois vivem dentro de mim e suas mensagens de vida e cultura vivem em meu filho e com certeza viveram em meus netos.

O Sr. Schmidt moldou a filha, a irmã, a amiga, a profissional, a mulher e principal-mente a mãepai que sou, e eu moldo meus filhos com a mesmo amor e dedicação.

Com muito orgulho posso dizer que este homem do povo foi meu pai.

Schmidt, este homem do povo, ensinou-me a respeita r os livros, a tocá-los com carinho e conquistá-los com calma, página por página. Mostrou a vantagem de relê-los e descobrir a cada nova leitura, fatos nov os nas entrelinhas.

Schmidt, eu te amo.

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... letras sós,

só letras...

Por Felipe Cattapan

[email protected]

a criança só soletra a letra impressa sem pressa passado futuro só presente: presente do presente só presente no presente - a surpresa permanente da descoberta constante de um som em um desenho: nem vogal nem consoante, só música soante; cada letra é só o que é: foi e é sendo e será, sem saber qual foi nem qual virá; - dura e perdura... na eternidade sem idade. ... ainda não há a verdade - que só surgirá

com a idade e com a vinda da soma de muitas letras decompostas em palavras. (ainda não há a solidão desta verdade: o verdadeiro sentido da soma destas palavras é só tentar recompor a cartilha do tempo esquecido).

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Curiosidades sobre livros Artigo (reprodução) Fonte: www.doseliteraria.com.b

O que é ISBN?

Criado em 1967 e oficializado como norma

internacional em 1972, o ISBN - Internati-

onal Standard Book Number - é um siste-

ma que identifica numericamente os livros

segundo o título, o autor, o país e a edito-

ra, individualizando-os inclusive por edição.

O sistema é controlado pela Agência Inter-

nacional do ISBN, que orienta e delega po-

deres às agências nacionais.

No Brasil, a Fundação Biblioteca Nacional

representa a Agência Brasileira desde

1978, com a função de atribuir o número

de identificação aos livros editados no país.

A partir de 1º de janeiro de 2007, o ISBN

passou de dez para 13 dígitos, com a ado-

ção do prefixo 978. O objetivo foi aumen-

tar a capacidade do sistema, devido ao

crescente número de publicações, com su-

as edições e formatos.

Mulheres da ABL

A Academia Brasileira de Letras foi a

primeira academia no mundo a eleger uma

mulher para a presidência, a escritora Né-

lida Pinõn, que assumiu o cargo em 1995.

Rachel de Queiroz foi a primeira escritora

a entrar para a ABL, em 1977 como quinta

ocupante da quinta cadeira.

Dinah de Silveira de Queiroz foi eleita

pela academia em 1980 para ser a sétima

ocupante da Cadeira 7 da ABL. Apesar do

sobrenome parecido, ela e Rachel de Quei-

roz não pertencem à mesma família.

Lygia Fagundes Telles eleita em 1985, é

atualmente quarta ocupante da Cadeira 16

da Academia Brasileira de Letras.

Zélia Gattai ela é a sexta ocupante da Ca-

deira 23, que ficou vaga com a morte de

seu marido e também escritor Jorge Ama-

do.

Ana Maria Machado é sexta ocupante da

Cadeira 1, a escritora foi eleita em 2003 e

ocupa o cargo até os dias atuais.

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Cleonice Berardinelli ao todo, oito outros imortais tiveram aulas com Cleonice. A profes-sora de literatura portuguesa da PUC-Rio e da UFRJ se elegeu para a cadeira oito em dezem-bro de 2009.

Partes do livro

Escritor brasileiro mais traduzido e publicado Paulo Coelho é o autor brasileiro mais publicado em todo o mundo. Sua obra já foi editada em 52 países e vertida para 48 idiomas e dialetos. O segundo é o baiano Jorge Amado. Maiores vendedores de livros do mundo Exemplares (milhões) China …….....7.103 EUA …..........2.551 Japão …........1.403 Rússia ….......494 Alemanha ….479 França …......413 Brasil …........345 Reino Unido .324

Itália ….........265 Espanha …....235 Onde há mais livrarias no Brasil? (livrarias por habitantes) DF ….. 1 para 30.840 RJ …… 1 para 44.415 SE ….. 1 para 50.665 SP ….. 1 para 59.171 TO …..1 para 181.131

…e no mundo EUA …..........1 para 15 mil Argentina .….1 para 50 mil Brasil …........1 para 70 mil México …......1 para 170 mil Quantos livros já foram publicados na história moderna? Segundo cálculos do Google, o número seria 130 milhões de livros, ou 129.864.880 para ser exato. O gigante das buscas estimou o dado justamente para saber quantos livros precisa esca-near a fim de tornar o Google Books a maior e mais completa biblioteca onli-ne. Para chegar ao número, o Google usou definições de livros de diferentes ór-gãos, como o do ISBN (International Standard Book Numbers), da Biblioteca do Congresso Americano e do site de buscas de livros WorldCat.

Fonte deste artigo:

http://www.doseliteraria.com.br/

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O LIVRO

Por Gildo Oliveira [email protected]

Este é o que traz legumes e frutas;

traz a água da fonte da vida; e o pão para a fome do espírito;

Este é o que comanda o jogo; que atiça o fogo e deita as cartas;

que comparece à lida; que transforma a morte, conduzindo-a para a vida,

o livro!

Pirapetinga, Minas Gerais, 1980

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LIVRO SEM OU COMO A BUROCRACIA MATOU A ESCRITORA

POR IVONE VEBBER [email protected]

ANTIGAMENTE ERA MAIS FACIL , PRA MIM , PUBLICAR UM LIVRO. ERA SÓ DATILOGRAFAR, ENTREGAR PARA EDITORA OU GRÁFICA (EDIÇÃO

DO AUTOR) ELES DIGITAVAM, COLOCAVAM CAPA,

PUBLICAVAM, DIVULGAVAM E DISTRIBUIAM...

HOJE TENHO QUE DIGITAR, REVISAR OU PAGAR ALGUÉM PRA FAZER ESSE TRABALHO CHATO, IMPRIMIR EM CD,

REGISTRAR NA BIBLIOTECA NACIONAL, ENFRENTAR BUROCRACIA, PREENCHER UM FORMULÁRIO ( SE FOR PELO FINANCIAMENTO DO GO-

VERNO....), DIVULGAR, DISTRIBUIR PARA PARENTES E AMIGOS,... POR ISSO DESISTI,

SÓ PUBLICO NO MEU BLOG OU SITE OU EM XEROX- DIGITAL PARA POUCOS LEITORES,

MEU EGO DE ESCRITORA JÁ ERA.... A BUROCRACIA MATOU....UMA

POSSÍVEL CAMPEÃ DE VENDAS....

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O ESCRITOR E O LEITOR

Por Jacqueline Aisenman

Há uma relação muito importante e delicada chamada escritor e leitor.

Por não entendê-la, há escritores que se en-tristecem e leitores que se fecham.

Quem escreve tem em suas aspirações um gênero preferido (há os que se devotam à poesia, os que preferem contos, romances, crônicas, etc..) ou que escrevem um pouco de tudo.

Quem lê tem também seus gêneros preferi-dos (ou gênero!) ou também gosta talvez de um pouco de tudo.

Citando a poesia, por exemplo, há os que gostam de escrever todos os tipos de poe-mas, alguns gostam apenas de sonetos, ou-tros de haicais, ou outros tipos ainda; alguns gostam das rimas, outros detestam. Assim também são os leitores, que têm certamente suas preferências.

Todo escritor tem certeza de que será lido e reconhecido. Todo leitor tem sua opinião so-bre o que leu e sabe da importância da mes-ma. Nem todo escritor será lido e/ou reco-nhecido. Nem todo leitor terá sua opinião re-conhecida.

Entre estilos e gêneros, leitor e escritor se encontram nas páginas de um livro.

Há os que gostam de um estilo e detestam outros. Há os que apreciam a diversidade de estilos.

Há os que escrevem inspirados em algum estilo. Há os que criam o seu próprio estilo. Há os que escrevem muito; assim também os que escrevem só de vez em quando.

Dentre os escritores, há os nomes que todo leitor conhece e que são por muitos divulga-dos. Há também os nomes que o leitor des-cobre. Há aqueles que permanecerão em gavetas e que o leitor não conhecerá. Há os que se tornarão conhecidos como suas inspi-rações.

Há escritores que vendem muito porque os

leitores já conhecem o que escreve e há es-critores que vendem pouco porque ainda não são conhecidos dos leitores.

Há tantos gêneros e estilos quando há leito-res e escritores (alguns gostam de ser cha-mados apenas de poetas, outros de contis-tas ou cronistas ou romancistas...). Alguns leitores tornam-se críticos.

Mas só uma coisa pode mesmo unir leitor e escritor: o amor pelas letras. Se o escritor tiver amor e paciência, deixará que o leitor faça seu caminho e chegue a ele. Também compreenderá que há leitores que não virão porque... porque é assim! Se o leitor tiver vontade, abrirá seus horizontes e buscará novas alternativas e continuação para aquilo que já aprecia.

Por isto se compreende aqui nesta dinâmica, mais do que em outras, quando se fala que “há gosto para tudo”. Enfim... como já diziam os antigos: “o que seria do amarelo se todo mundo gostasse apenas do verde?”! Esta é uma frase que explica bem!

Escrever e ler, leitura e escrita, isto funciona como a vida: não existe caminho apenas de ida, não há apenas uma cor, não há somente um tom. Há espaço para todos!

Que os leitores sempre encontrem novos au-tores e os escritores sempre encontrem no-vos leitores!

Que a literatura se renove sempre e nunca deixe de prestigiar os que são e sempre se-rão as nossas fontes de inspiração!

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Interatividade em Valinhos - SP José Alberto de Souza (*)

01. – Em que o autor se inspirou para fazer o texto. Esta história é verdadeira?

“Um Compromisso para o Natal” foi baseado num fato acontecido na Igreja de São Paulo, no Rio de Janeiro, que me foi contado por um primo meu. Rafael e Leila não são nomes fictícios, apenas transpus o relato para minha Ja-guarão, adaptando-a a uma realidade fronteiriça. O personagem Rafael tam-bém me inspirei numa pessoa que conheci em Novo Hamburgo-RS, cujo pai sumiu na Revolução e muito tempo depois reapareceu aqui pelo Rio Grande do Sul cognominado João Sem Terra, vindo de Goiás aonde chegou a constituir outra família.

02. – Você já escreveu livros para adolescentes? Quais foram? Nunca escrevi qualquer livro para adolescente que, dizem os entendidos,

serem os mais difíceis de serem escritos tal a complexidade da mente infanto-juvenil, apesar de ser marcante a influência que a infância exerce no imaginá-rio do escritor. Aqui no Rio Grande do Sul, Sérgio Faracco tem se notabilizado pelas suas lembranças da meninice e meu Mestre Assis Brasil chamou-me atenção sobre o conto “Um Caminhão Marca Ford em Mau Estado de Conserva-ção” que dizia comparável a obra daquele autor e digno de figurar em qualquer antologia de autores gaúchos. Este conto me deixou “marcado na paleta”, nem sei se conseguirei atingir nível igual - até certa leitora se dispôs a comprar o referido para me presentear...

03. – Você já escreveu livros que foram homenagens para alguma pessoa? Quem foi? Pretende fazer homenagens a mais pessoas? Quais?

Dediquei “Um compromisso para o Natal” ao casal Delícia e Guadil Bit-tencourt, ela professora brasileira que me preparou para o exame de admissão ao Ginásio (2º lugar) e ele guarda aduaneiro uruguaio, seu marido e meu grande amigo, ambos falecidos, os quais me alertaram para certo pendor lite-rário e coincidentemente um paralelo ao “par internacional” Leila e Rafael.

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A ficção se entrelaça com a reali-dade e todos nós temos a tendência de romancear os fatos do cotidiano, esta-belecendo certa verossimilhança (para mim uma mentira que parece verdade). Em “O Mais Recente Lançamento” in-ventei uma história toda calcada em personagens reais, aos quais pretendia homenagear, porém, quando levei a mesma ao conhecimento do herói do meu relato, este me contestou “nada haver comigo, até o nome saiu errado que é com dobre vê”...

04. – Como surgiu a ideia de escrever esse livro? Por que deci-diu ser autor?

Sinceramen-te, nunca pretendi escrever um livro e minha maior as-piração era parti-cipar de certa “Antologia de Con-tistas Bissextos”. Porém, em 2009, quando da realiza-ção da I Feira Bi-nacional do Livro em Jaguarão-Rs, meu amigo Prof. Carlos José Azeve-do Machado (Maninho), então Secretário Municipal da Cultura, me fez um desafio para lan-çar um livro de minha autoria na Feira do próximo ano. Assim me decidi colo-car mãos à obra e fui juntando vários artigos que estavam na gaveta para compor “Lá pelas tantas” que o jorna-lista Marcello Campos, da Rádio Guaí-ba, teve a generosidade de revisar, dia-gramar, editar e prefaciar. Logo após, sai novamente a campo, desta feita juntando os textos de ficção e convidei o escritor Fernando Neubarth – outro que me cobrou uma obra solo - para prefaciar “Para Não Dizerem Que Passei em Brancas Nuvens”. Desta forma, consegui pagar aquela promessa feita ao Professor Maninho, lançando em

2011 os dois livros na II Febin. 05. – Como seria a sua conti-

nuação para esse conto? Normalmente, nenhum conto tem

continuação, serve mais para provocar a imaginação do leitor que faz a sua leitura mental nas entrelinhas como aconteceu no que foi sugerido nos tra-balhos apresentados, onde predomina-va a temática familiar. No entanto, al-guns autores já estenderam os contos publicados em narrativas mais longas, como é o caso de Laury Maciel, saudo-so escritor gaúcho, cujo conto “A noite do Homem Mosca” rendeu-lhe o ro-mance “Rosas de Papel Crepom”. Tam-

bém é o caso de Graciliano Ra-mos, que produ-ziu “Vidas Se-cas”, a partir de contos publica-dos em “Histórias Inaca-badas”. 06. – Se o se-nhor tivesse de reproduzir esse conto em teatro ou fil-me, mudaria ou acrescenta-

ria algo? Já me salientaram o excesso des-

critivo na parte inicial do conto, de que não cheguei abrir mão porque necessi-tava construir o cenário da história on-de situaria o personagem Rafael e para isso me vali do narrador “câmera” – serviu para que a aluna Vitória Caroline elaborasse a maquete do Largo da Igreja conforme ela enxergou em sua mente. Confesso que já andei pensan-do em submeter esse texto – pela car-ga cenográfica que possui - para ser adaptado em “Histórias Curtas” que é apresentado em nossa TV de Porto Ale-gre, deixando a cargo do Diretor as mudanças ou acréscimos que fossem necessários, inclusive o final.

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07. – Há quanto tempo escre-ve conto desse tipo?

Pelas interpretações dos jovens analistas, “Um Compromisso para o Natal” parece revelar uma mensagem edificante, o que o diferencia dos de-mais textos publicados em “Para Não Dizerem que Passei em Brancas Nu-vens”, cada um dos quais produzidos a partir dos mais diferentes estímulos sem caracterizar um estilo definido.

08– Como surgiu a sua vonta-de de escrever?

Posso dizer que a minha necessi-dade de escrever surgiu do incentivo de meu tio e pai de criação pela leitura – “lê bastante se queres escrever bem” - e em plena infância no ambiente da livraria e tipografia desse meu tio, on-de “fuçava” os balaios de saldo à pro-cura de títulos sugestivos. Ali também funcionava o jornal da cidade “A Fô-lha”, onde sempre nos visitavam per-sonalidades de passagem como o poeta Cornélio Pires, de quem me recordo ainda meninote me mostrando, no bal-cão da livraria, a fotografia de um livro espírita onde aparecia a imagem incor-porada de seu falecido irmão através do ectoplasma de um médium.

09. – Por que escrever uma história assim?

A inspiração vem quando “o san-to baixa”, resultante de um estímulo externo, um fato qualquer que a gente procura dar um tratamento literário e transforma em ficção, adaptando ao nosso imaginário e criando peças para colocar no lugar daquelas que faltam num quebra cabeça incompleto. No lin-guajar futebolístico é como se a bola estivesse “picando” na grande área, tem que aproveitar e chutar em golo. Ai então passamos a acreditar que va-mos escrever uma história para cair no agrado dos leitores e assim atingir esse nosso grande objetivo.

10. – Por que tanto detalhe para descrever o lugar?

Faz parte do tratamento literário

para que o leitor imagine o cenário da história, para marcar a importância do local como ponto principal da cidade, onde acontecem as grandes concentra-ções de público, contrastando com a hora deserta e isenta do calor humano, salientando o estado de abandono e desespero do personagem. A sua ma-neira de vestir, sua postura nos de-graus da Igreja, ajudam a criar uma imagem de palavras, a qual poderia ser “enxugada”, por exemplo, num filme ou numa história de quadrinhos.

11. – Por que falar de coro-néis e de países diferentes? O que te trouxe a colocar no conto um personagem que não fala a língua portuguesa?

Sem qualquer intenção de assu-mir equivocadas ideologias, talvez te-nha sido influenciado pela situação po-lítica do continente na época em que foi escrito o texto, na qual predomina-vam os regimes militares em vários pa-íses sul americanos – “mi padre desa-pareció como ativista político”... Trata-va-se de um conto ambientado numa pequena cidade fronteiriça, num local público e aberto e eu precisava de um personagem desconhecido, um andari-lho, um “hippie” difícil de ser localizado naquela região – “Hace três dias que acá estoy” – para conseguir “tapar o buraco” do quebra cabeça. Posso afir-mar que, no início do diálogo, não me dei conta quando esse personagem já respondeu falando em espanhol.

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12. – De onde e desde quando essa vontade de ser escritor? Você se sente feliz em ser escritor?

Creio que já tenha respondido em parte no item oito, porém, devo acres-centar que apenas me julgo um escri-tor diletante, não vivo da escrita e nem preciso forçar a barra, desde que tudo aconteça ao natural. Já tenho editado dois livros por conta própria, sem qual-quer pretensão de auferir rendimentos, a não ser a satisfação de distribuir para os amigos e obter o seu reconhecimen-to como o certificado que me foi outor-gado pela Escola Municipal de Ensino Básico “Horácio Salles da Cunha”, real-mente um diploma de escritor reconhe-cido pelos leitores. Este é o segundo motivo de me sentir feliz com esse su-cesso, já que o primeiro tive oportuni-dade de vivenciar quando fui escolhido para participar da Oficina de Criação Literária da PUC, coordenada pelo es-critor Luiz Antônio de Assis Brasil.

13. - Você gostaria de escre-ver quantas histórias mais? Você gostaria de ser outro cara ou não?

Apenas o que Deus me permitis-se já que estou na fase do lucro e re-cém colhendo os frutos daquilo que plantei. Basta-me o que já tenho. “Então a gente se contenta com nem ter muito dinheiro, nem muita fama, nem mesmo, sim - nem mesmo muita felicidade. Aprende a aceitar conforta-velmente a meia ração e ainda agrade-cer por ela. A ceder os primeiros luga-res para os mais dotados e os mais sô-fregos, sem as fúrias e a pressão que acicatam os favoritos. Descobrir que o bom é bater palmas e não disputar os aplausos.” – Fito-me nessas palavras sábias de Rachel de Queiroz.

14. – Quantos livros aproxi-madamente o senhor já fez?

Os livros que tenho editado são mais coletânea de textos engavetados durante quarenta anos, embora alguns tenham resultado de participação da

Oficina de Criação Literária da PUC, co-ordenada pelo escritor Luiz Antonio de Assis Brasil, em que se projetou a an-tologia “Contos de Oficina 5” (1989). Como integrante do Grupo Fábula, também publiquei outros contos em “Mais Ao Sul Do Que Eu Pensa-va” (1993). Colaborei ainda em “Julinho 100 Anos de História” (2000), “Olhares Sobre Jaguarão” (2010), “Varal Antológico” (2011), além de vá-rios artigos publicados em jornais e si-tes nacionais. Recentemente, lancei in-dividualmente os títulos “Lá Pelas Tan-tas” (crônicas) e “Para Não Dizerem Que Passei em Brancas Nu-vens” (ficção).

15. – Com quantos anos o se-nhor começou a escrever os livros?

Ao invés de livros, posso respon-der que comecei a escrever textos em 1954, quando publiquei no jornal do Ginásio um conto de ficção científica “Futuro Interplanetário”, por sinal bas-tante incipiente, o que pode ser consi-derado normal para quem começava. Nessa época, dava os primeiros passos na crônica esportiva, comentando jogos de futebol para o jornal “A Fôlha”, de Jaguarão. No ano anterior, cheguei a editar “O KCT”, publicação satírica dos alunos da 3ª. Série ginasial, que come-çou com tiragem de um exemplar ma-nuscrito e terminou com 30 exemplares mimeografados. Em 1959, assumi a gerência daquele jornal jaguarense, onde atuei como redator. Ingressei na Escola de Engenharia da UFRGS em 1961 e ali me formando em 1965 como Engenheiro Mecânico. Exerci atividades profissionais em São Paulo, Florianópo-lis e Porto Alegre, onde me aposentei em 2001 como técnico em desenvolvi-mento do BRDE. Acredito que tenha re-tomado a embocadura das letras nos anos oitenta, produzindo os primeiros textos mais elaborados, entre eles “Um compromisso para o Natal”.

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16. – Já pensou em ter outra profissão?

Autor bissexto, diletante sim, mas não profissional, pois não vivo da escrita. Como engenheiro, dizem que sou bom escritor. Aquele que pretende se profissionalizar deve pensar no in-vestimento necessário para fazer car-reira, tem que “caitituar” os críticos li-terários e buscar bons agentes para “vender” a sua obra às editoras. E mesmo assim, necessita dispor de ou-tro meio de vida. Se não vai se tornar um autor independente, com dificulda-de de encontrar distribuidor que colo-que sua obra nas livrarias. Como é des-conhecido vai ficar a mercê de elevadas comissões dos revendedores que nunca dão o retorno esperado. Sem estrutura não vale a pena a “profissão”, dá muita mão de obra.

17. – O que você mesmo es-creve lhe traz lições de vida?

Parece-me que sim, na medida em que vou tecendo a história a partir de um fato real que me impressionou e inspirou para transmitir sentimento e conhecimento para os leitores.

18. – Que tipo de texto ex-pressa mais seus sentimentos e que gosta mais de escrever?

É aquele texto fluente, com uma pitada de ironia, forçando quem o lê a descobrir a história oculta nas entreli-nhas, conduzindo-o ao desfecho ines-perado que às vezes choca. Chego até a pecar por não atingir o código do lei-tor que me surpreende com uma inter-pretação bem diferente daquela imagi-nada por mim. A influência do gaúcho Sérgio Jockymann foi marcante nas mi-nhas preferências como ideal que pro-curava atingir.

19. – Existe algum tipo de his-tória que não gosta de escrever?

Já me disseram que não gostari-am de ler certas histórias minhas por serem chocantes, apesar da inexistên-cia de termos chulos. ”Por isso mesmo”

- é o que me afirmavam. Concordo que são “safadinhos”, tem malícia alguns textos meus, mas é o espelho da reali-dade nua e crua em que vivemos. Cito aqui São Thomas de Aquino – “é im-possível o exercício de qualquer virtu-de, sem um mínimo de conforto”. De minha parte, costumo diferenciar o ero-tismo (implícito e estético) da porno-grafia (explícita e grosseira). Apesar de alguns leitores já me rotularem como “pornográfico”, não faz o meu gênero e este é o tipo que rejeito peremptoria-mente. Além disso, não gosto de con-fundir a ficção com a realidade de for-ma a criar melindres com pessoas en-volvidas na história. Até posso me valer de personagens reais, mas procuro passar ao leitor a idéia de um fato ina-creditável, bem caracterizado para não o levar a conclusões precipitadas.

20. – Desde quantos anos vo-cê começou a inventar história? Você gosta de inventar história?

A primeira história que inventei foi num exercício de redação nas aulas particulares ministradas pela Profª. De-lícia Bittencourt, preparatórias para o exame de admissão ao Ginásio. Ela leu o texto de um livro e mandou que a gente escrevesse com as próprias pala-vras o que ali estava escrito. Só que eu resolvi romancear e contei uma história bem diferente. Na outra aula, ela leu essa minha redação para duas colegas que comigo estudavam e estas logo re-clamaram – “mas não foi essa história que a senhora contou”. Ai a professora explicou que só queria mostrar a mes-ma para que avaliassem a minha capa-cidade criativa. E de lá para cá, sempre que posso, largo com gosto essas tira-das.

21. – Você é muito famoso? Ainda não cheguei a tanto e nem

esperava alcançar esse reconhecimento que estou recebendo através do Projeto Letras e Artes Horácio 2011. Será que tenho café no bule?

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Mais uma vez recorro a Rachel de Queiroz – “Que não envergonha ser um romancista menor, um cidadão menor, uma pessoa do comum.”

22. – Que tipo de música você gosta de ouvir?

MPB, toda vida. Estou tentando me reciclar largando o “mofo” da Velha Guarda, acredito que tem muitos novos talentos surgindo por ai. Mas mesmo assim, minha predileta para tocar no derradeiro adeus é “João Valentão”, de Dorival Caymmi.

23 – Que tipo de livro você gosta de ler?

Uma literatura fluente, que pren-de atenção. Gosto muito da novela pi-caresca, aquela do anti-herói, que cito como exemplo Galeão Coutinho (“Vovô Morungaba”, “Memórias de Simão, o Caolho”, “Confidências de Dona Marco-lina”), Dyonélio Machado (“Os Ratos”) e Gladistone Osório Mársico (“Cogumelos de Outono”). Aprecio bastante José Mauro de Vasconcelos (“Confissões de Frei Abóbora”), Humberto de Campos (“Lagartas e Libélulas”), a poesia de J.G.de Araujo Jorge, Érico Veríssimo (“Incidente em Antares”), Luiz Antonio de Assis Brasil (o caro Mestre) e fico por aqui com tantos bons autores que minha memória mal consegue guardar.

24. – Quantas histórias você já fez? Qual a sua maior inspiração para escrever contos?

Olha, até perdi a conta do que já consegui produzir. Algumas vezes, a inspiração parece que já vem pronta e a escrita flui ao natural. Mas também acontece o bloqueio mental e não con-sigo concluir uma ótima trama por mais que me esforce em aprimorar o texto. E, por preguiça mesmo, acabo deixando-o de lado, na espera de um momento mágico que me lance as luzes do en-tendimento. Puro desespero ao perder o fio da meada. O mestre Assis Brasil me enfatizava: “Também só queres Mu-Mu!” Isto é, a maior inspiração.

25. – Você acha que todas su-as histórias podem ser filmes?

Acho que qualquer história pode ser filme, mesmo que este não repre-sente com fidelidade a obra literária. Daquela se extrai um roteiro que vai agregando outros valores artísticos ne-cessários à sua adaptação cinematográ-fica, o que não desmerece o original e sim se presta para estimular as pessoas na sua leitura.

26. – Você quando era peque-no queria ser outra coisa?

Sempre tive facilidade para o de-senho, até pensei em fazer vestibular para arquitetura. Mas não era minha aspiração de guri. Lembro-me daquele tio que esteve adoentado lá em casa e eu ia com um caderno de desenho, a beira do seu leito, esboçar a figura de um navio, a partir das suas narrativas de viagem como marinheiro. Ele me corrigia o que não estava certo, eu apa-gava com a borracha e redesenhava até que ele concordasse.

27. – Qual é o nome do seu primeiro livro?

“Contos de Oficina 5” (Ed. Acadê-mica, 1989), antologia em que tenho participação com 3 contos, resultantes da Oficina de Criação Literária já citada. Porém, como autor solo, “Lá Pelas Tan-tas” (crônicas, independente, 2010) posso considerar meu primeiro livro.

28. – Em algum momento da sua vida pensou em parar de escre-ver livros ou já parou?

Até pouco tempo, eu costumava responder àqueles que me pergunta-vam pelo próximo lançamento, dizendo que “Para Não Dizerem Que Passei em Brancas Nuvens” era minha obra póstu-ma. Mas, sem maiores comprometi-mentos, por enquanto vou levando e colocando os textos que me vem à mente no “quartinho de despejo” do meu blogue... Até que recentemente uma pessoa que não costuma usar computador me perguntou pelas

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últimas postagens que tinham saído. Então resolvi tirar cópia das mesmas para que ela fizesse a sua leitura. Ai me dei conta que já tinha material sufi-ciente para publicar outro volume, re-sultando “Minha Fachada Predileta”, atualmente no prelo.

29. – O que você quis dizer naquela parte (religiosa) que diz assim: “se é difícil entender o so-frimento, mais difícil ainda é aceitá-lo, mas é o preço a ser pago pela salvação do homem”?

Quando escrevi “Um Compromis-so para o Natal” imaginei uma Igreja de 15 degraus, em que cada um repre-sentaria uma estação da Via Sacra e, como o personagem estava sentado naquele que representava a Terceira Estação, procurei na Bíblia e lá encon-trei coincidentemente o significado “quando Jesus cai pela primeira vez” e mais as citações “É melhor padecer se Deus assim o quiser, por fazer o bem, do que por fazer o mal (1 Pd, 3, 17)” e “se é difícil entender o sofrimento, mais difícil ainda é aceitá-lo, mas é o preço a ser pago pela salvação do ho-mem”, que decidi encaixar no texto. Fazia sentido: o Coronel não entendia nem aceitava o sofrimento de Rafael, assim não só salvou este como tam-bém a si próprio, não se omitindo de ajudar o próximo.

30. – Você já pensou em fazer um livro contando a sua história de vida ou já fez?

Era minha intenção quando iniciei o blogue “Poeta das Águas Doces” res-ponder a pergunta que me fez o contra-tenor Jarbas Taurino – “Qual a razão deste meu gosto pela música? – outra história comprida para ser contada nu-ma conversa que cheguei a publicar em 16 postagens sem concluí-la e que de-sisti de continuar. Na sequência, fui de-sengavetando outro material que já não diziam mais respeito ao que tinha planejado e prossegui acrescentando

novos temas em que se misturavam crônicas e ficções. A memória se faz presente em grande parte de meus es-critos que não seguem uma cronologia definida, apenas são lampejos que sur-gem em minha cachola e eu vou ano-tando na ocasião. Estas respostas já me oportunizaram belas recordações.

31. – Que conselhos você da-ria para quem não gosta de ler?

Procure aquela leitura que flui ao natural. Leia um livro por vez. Evite o acúmulo de livros em sua cabeceira. Frequente as bibliotecas públicas. Re-serve um pouco do seu tempo para ad-quirir o hábito de ler. Liberte-se do ví-cio da televisão e do computador. Tro-que idéias com outros leitores. Assinale e comente tudo aquilo que descobrir de interessante. Avance passo a passo na sua formação de leitor mais exigente de bons livros. Sinta o prazer de criar a sua própria imaginação.

(*) José Alberto de Souza nasceu

em Jaguarão-RS. De sua autoria têm publicados

“Lá pelas tantas” / crônicas (Independente, 2010), “Para não dize-rem que passei em brancas nuvens” / contos (WS Editor, 2010) e “Minha fa-chada predileta” / memórias (Alcance, 2012).

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INSCRIÇÕES ABERTAS

1) DA SELEÇÃO E DA PARTICIPAÇÃO

1.1. O Varal Antológico é promovido pelo VARAL DO BRASIL ®, revista literária ele-trônica realizada na Suíça (ISSN 1664-5243).

1.2 Serão consideradas abertas as inscri-ções a partir de 20 de julho até 20 de se-tembro de 2012. Caso o número de partici-pantes ideal seja atingido, as inscrições po-derão ser encerradas mais cedo.

1.3. Poderão participar da antologia todas as pessoas físicas maiores de 18 anos, ou menores com permissão do responsável, de qualquer nacionalidade ou residentes em qualquer país, desde que escrevam na língua portuguesa.

1.4. A coletânea terá tema livre e será com-posta por diversos gêneros literários, o es-critor podendo enviar contos, poemas, tro-

vas, haicais, sonetos e crônicas ou outros.

2) DA ACEITAÇÃO DOS TEXTOS

2.1. Serão aceitos textos em língua portu-guesa, com tema livre, em formato A4, es-paços de 1,5, fonte Times New Roman de tamanho 12 e que não ultrapassem quatro páginas. Os textos deverão vir acompanha-dos dos dados de inscrição (ver abaixo).

2.2. Não serão aceitos textos que perten-çam ao universo de personagens já exis-tentes criados por outro autor. Também não serão aceitos textos politica ou religio-samente tendenciosos, que expressem conteúdo racista, preconceituoso, que fa-çam propaganda política ou contenham in-tolerância religiosa de culto ou ainda pos-suam caráter pornográfico. Também não serão aceitos textos que possam causar danos a terceiros ou que divulguem produ-tos ou serviços alheios.

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2.3 Os textos não deverão ter ilustrações ou gráficos.

2.4 Serão recusados os textos que não vie-rem na formatação requisitada, assim como os textos que chegarem colados no corpo do e-mail.

2.5. Os textos recebidos serão examinados por uma banca formada pela equipe do VA-RAL DO BRASIL ® e alguns escritores e/ou críticos convidados. A avaliação se dará com base nos seguintes critérios: criativida-de e originalidade do texto, assim como a qualidade do mesmo.

2.6 Os textos deverão vir acompanhados de uma pequena biografia. A biografia, es-crita na terceira pessoa, deverá conter no máximo cinco linhas (A5, letra Times New Roman 12, espaço 1.5). Lembre-se sempre que numa biografia, como em muito na vi-da, menos é mais.

2.7. Os textos devidamente formatados de-verão ser enviados para o e-mail: [email protected], juntamente com os dados de inscrição e demais docu-mentos de autorização.

2.8. Ao se inscrever na Antologia o autor autoriza automaticamente a veiculação de seu texto, sem ônus para a revista VARAL DO BRASIL ® nos meios de comunicação existentes ou que possam existir com a in-tenção de divulgar a antologia.

3) SOBRE AS INSCRIÇÕES PARA A SELEÇÃO:

3.1. As inscrições para a Antologia serão abertas no dia 20 de julho 2012 e encerra-das no dia 20 de setembro de 2012, poden-do ser encerradas antes, caso o número de textos recebidos e avaliados sejam aprova-dos antes da data, no formato e padrão já descritos. O livro será publicado em 2013. As inscrições só poderão ser feitas pelo e-mail [email protected]

OS NOMES DOS SELECIONADOS SE-RÃO DIVULGADOS NO DIA 30 DE SE-TEMBRO POR E-MAIL.

3.2. Para participar os candidatos deverão, além de enviar um ou mais textos de acor-do com as regras estabelecidas neste regu-lamento, fornecer o formulário anexo preen-chido.

3.3. Só serão aceitas inscrições através dos procedimentos previstos neste regula-mento. Os dados fornecidos pelos partici-pantes, no momento das inscrições, deve-rão estar corretos, claros e precisos. É de total responsabilidade dos participantes a veracidade dos dados fornecidos à organi-zação da Antologia.

3.4. Todo autor é proprietário dos direitos autorais dos textos por ele enviados para publicação no livro e cuja autoria seja com-provada pela declaração enviada;

3.5. Em caso de fraude comprovada, o tex-to será excluído automaticamente da anto-logia. Cada autor responderá perante a lei por plágio, cópia indevida ou outro crime relacionado ao direito autoral.

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3.6 Todo autor é livre para divulgar, preparar lançamentos, noites de autógrafos, individu-ais ou em conjunto, do livro VARAL ANTO-LÓGICO 3, desde que se responsabilize por todas as despesas - preparativos para lan-çamento, custos administrativos e convites, compra de exemplares a mais do que os re-cebidos pela participação – pertencendo também ao participante o valor das vendas dos livros em questão. Para tanto, o partici-pante apenas deverá entrar em contato com a revista através do e-mail [email protected] para que o número de exemplares lhe seja enviado me-diante pagamento (preço da editora / remes-sa), notando-se aqui a antecedência requeri-da. O VARAL DO BRASIL® reserva-se o direito de estar ou não presente nos lança-mentos organizados pelo autor

3.7. Os participantes concordam em autori-zar, pelo tempo que durar a antologia com a editora, que a organização faça uso do seu texto, suas imagens, som da voz e nomes em mídias impressas ou eletrônicas para divulgação da Antologia, sem nenhum ônus para os organizadores, e para benefício da maior visibilidade da obra e seu alcance jun-to ao leitor.

4) DO PAGAMENTO PELO SISTE-MA DE COTAS

4.1. A participação se dará no sistema de cotas, sendo que cada autor deverá proce-der ao pagamento da seguinte forma: (a) Cada autor pagará o valor de R$ 550,00 (quinhentos e cinquenta reais) que podem ser pagos à vista ou

(b) em duas parcelas de R$ 290,00, sendo o primeiro pagamento até 31 de outubro de 2012 e o segundo e último pagamento até 30 de novembro de 2012.

(c) O pagamento deverá ser feito no caso do autor receber comunicação comprovando a aprovação do (s) seu (s) texto (s)

4.2. A cada depósito o comprovante deve ser enviado para o e-mail [email protected]

4.3. O recebimento do pagamento total dá ao autor a garantia de sua participação na coletânea. O não recebimento de nenhuma parcela até o dia 10 de novembro de 2012 anula a participação do autor.

4.4. O pagamento parcial do valor cooperati-vo não dá direito à participação no livro. Ca-so o autor não termine o pagamento acorda-do, será substituído por outro participante e comunicado através de e-mail.

4.5. No dia 20 de dezembro considerar-se-á o livro fechado.

4.6. O (s) depósito (s) deverá (ão) ser feito (s) em nome de:

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Estas coordenadas serão fornecidas por e-mail

*É imperativo que o comprovante de depósi-to seja enviado para nosso e-mail para con-firmação do pagamento.

4.7. Não haverá prorrogação dos prazos de depósito em respeito a todos os participan-tes selecionados. Pequenos atrasos podem ser considerados desde que avisados atra-vés do e-mail [email protected] e em acordo com a equipe organizadora.

4.8. Os participantes receberão um total de 10 exemplares da Antologia por participa-ção.

O livro terá aproximadamente 250 páginas no formato padrão (14 x 21 cm)

Capa nas medidas 14 x 21 cm fechado; La-

minação BOPP Fosca (Frente);

Capa em Supremo 250g/m² com 4 x 0 co-res; Miolo

Fechado em Pólen Soft 80g/m² com 1 x 1 cores

Os serviços prestados serão de editoração completa:

Leitura e seleção

Revisão

Projeto gráfico

criação de capa

ISBN e ficha cartográfica

impressão

4.9. A presente antologia será editada pela Design Editora com o selo editorial Varal do

Brasil, será registrada e receberá ISBN , mas cada autor é responsável por registrar suas obras.

4.10. A remessa dos exemplares para o en-dereço do autor que não se encontrar pre-sente quando do lançamento do livro será paga pelo mesmo, independente do valor pago pela participação. A remessa aconte-cerá após o lançamento do livro e o autor deverá solicitar o valor do frete pelo e-mail

[email protected]

5) OUTRAS INFORMAÇÕES

5.1. Dúvidas relacionadas a esta antologia e seu regulamento poderão ser enviados para o e-mail [email protected] 5.2. Todas as dúvidas e casos omissos nes-te regulamento serão analisados por uma comissão composta pela equipe organizado-ra e sua decisão será irrecorrível.

5.3. Para todos os efeitos legais, o partici-pante da presente Antologia, declara ser o legítimo autor dos textos por ele inscritos, isentando os organizadora a editora de qualquer reclamação ou demanda que por-ventura venha a ser apresentada em juízo ou fora dele.

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5.4. O VARAL DO BRASIL ® reserva-se o direito de alterar qualquer item desta An-tologia, bem como interrompê-la, se ne-cessário for, fazendo a comunicação ex-pressa aos participantes.

5.5. A participação nesta Antologia implica na aceitação total e irrestrita de todos os itens deste regulamento.

5.6. A data prevista para a entrega dos exemplares do livro VARAL ANTOLÓGI-CO 3 é durante o lançamento do mesmo em 2013 (data a ser agendada) e pelos correios em média vinte a trinta dias após o lançamento (O autor se responsabilizará por pagar o frete caso deseje receber seus livros pelos correios). Será oportuna-mente discutida uma noite de autógrafos organizada pela revista VARAL DO BRA-SIL ®

5.7 Em caso de, por motivos de força mai-or, não puder ser realizado um lançamen-to físico do livro VARAL ANTOLÓGICO 3, os livros poderão ser requisitados pelos autores através do e-mail

[email protected] após aviso por parte do VARAL DO BRA-SIL ® e um ou mais lançamentos virtuais poderão ser realizados.

5.8. Os livros ficarão à disposição na edi-tora para serem solicitados por TRÊS me-ses após o lançamento e/ou aviso aos au-tores por parte do VARAL DO BRA-SIL ®. Após esta data considerar-se-á que o autor não deseja receber os livros e os mesmos poderão ser doados a alguma escola, biblioteca ou outros.

5.9. O fórum para qualquer recurso é situ-ado em Genebra, Suíça.

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Viagem através da leitura Por Josselene Marques O prazer de ler nos permite: Viajar no tempo, Reviver momentos inesquecíveis, Montar, desmontar e recriar histórias. Horas a fio, quedamos o olhar fixo Em palavras, frases, períodos e páginas Que se agrupam e servem de ponte e trans-porte Para belos e incríveis devaneios... Caminhamos, fazemos escalas; Novamente, seguimos. Atingimos terrenos que se deixam desbravar... A emoção aflora... Consentimos que a imaginação Torne real, dentro de nós, o que almejamos. Sorrimos, choramos, questionamos Nesta inestimável, estimulante E inesgotável oportunidade De tentar decifrar o mundo.

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As duas meninas

Por Lariel Frota

Registrar no papel,

Como nuvens brancas

No azul do céu,

O que acontece

No coração que sonha!

Acreditar na vida,

Mesmo a caminhada

Sendo tão sofrida:

Há luz dourada

Além da curva na estrada!

Era franzina, nem poderia ser diferente. Nascida na periferia pobre, fora desde o ventre materno vítima da desnutrição. Sempre quieta, olhos ansiosos em busca de horizontes dou-rados que só ela enxergava.

Não era de brincar com panelinhas, bonecas risonhas ou qualquer coisa que alegra as infâncias femininas, gostava mesmo era de desenhar, rabiscar, ou ficar olhando as nuvens branquinhas formando desenhos no céu azul. A mãe na rudeza da sua luta pela sobrevivên-cia não via com bons olhos o gosto da filha por letras, desenhos, mapas, livros. O pai via ali um arremedo de esperança de que a pequena vencendo nos estudos, talvez garantisse dias melhores pra sua velhice precoce, andava extenuado por tanto trabalho.

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A menina foi inscrita no sistema de bolsa de estudos na escola na qual a mãe fazia faxi-na. O pai foi contra, alguns vizinhos e paren-tes próximos ironizavam:

-Essa criança já vive com a cabeça no mundo da lua, vendo coisas que ninguém vê, inventando estórias, rabiscando e escreven-do em tudo que é canto, imagine estudando em escola de rico, vai pirar de vez!

(…)

Alfabetizada e com incrível gosto pela leitura, continuou traçando seus caminhos em sonhos, para os demais, impossíveis. Enquanto a mãe terminava a faxina após as aulas, percorria as salas vazias. Imensamen-te feliz saia pelos corredores silenciosos pu-lando, dançando, parando aqui e acolá. Pa-recia garimpar pelos cantos preciosidades que só ela enxergava. Gostava tanto dos passeios solitários, que vez ou outra a mãe acreditava que talvez alguns estivessem certos, a menina tinha um parafuso a menos.

(….)

Tarde de festa, salão lotado. Ceri-mônia simples de entrega dos resultados finais da turma barulhenta que está conclu-indo o primeiro grau. Na solenidade serão também divulgados os nomes dos ganhado-res do concurso cultural, amplamente divul-gado no ultimo trimestre. A diretora ajeita o microfone para dar início a celebração. A criançada faz um barulho infernal, pais, mães, avós e convidados se ajeitam nas cadeiras pra prestar atenção a abertura da solenidade.

O concurso exaustivamente divulgado

acabara despertando um interesse acima das expectativas dos organizadores. O prê-mio, um computador com impressora e web-can, um vídeo game de última geração e um curso básico de informática é o que mais interessa a petizada. Para os professores o estímulo pedagógico foi de fato interessante.

Os melhores trabalhos fariam parte de um livro.

(….)

-Não chore filha. Você não precisa des-sa merda de computador, o vovô vai comprar um melhor do que esse pra você. Vamos que essa festa já deu o que tinha que dar!

-O vovô tá certo filha. Ele não lhe deu o estojo de lápis de cor importado que fazia suas coleguinhas morrerem de inveja? En-tão, amanhã você terá o seu computador no-vinho em folha, muito mais avançado que essa porcaria barata!

(….)

-Mãe lembra quando eu ficava por aí depois das aulas enquanto você fazia faxi-na? Eu procurava uns tesouros. Primeiro achei o lilás minha cor preferida, só deu pra fazer uns pontinhos em volta da folha, depois foram vindo as outras cores. Os pedacinhos maiores eu guardava pra quando fosse es-crever.

-Do que você tá falando?

-Das pontinhas dos lápis pai. Minha amiga deixava cair quando fazia pontas ne-les. Ela girava tanto o apontador que muitas vezes quebravam e ficavam pelo chão. Me dava uma pena ver os pedacinhos jogados sem fazerem o trabalho deles.

-Que menina?

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-Você não conhece homem. É aquela que saiu choramingando no colo do avô antes da diretora encerrar a festa, não é filha? A família é bem de vida, ela é muito mimada, es-banja tudo, material de escola, lanche, até estojo de maquiagem traz pra escola, as outras meninas ficam ouriçadas.

-Então pai, ela deixava um montão de pontas de lápis jogadas no chão, ao invés de deixar irem pro lixo eu pegava e guardava. Alguns pedacinhos eram tão pequenos que só dava pra fazer uns pontinhos. As vezes ficava uns maiores, foi com eles que escrevi a reda-ção toooooooooooooooda colorida, que ganhou o concurso!

(….)

Entre uma linha e outra

No branco do meu papel

Mora a menina e a louca

O palhaço no seu carrossel.

Mora o príncipe apaixonado,

O cavalo branco vazio,

O ladrão pulha e safado,

Mora a cadela no cio!

No abismo entrelinhas

Cabem o céu e o mar,

A eterna criança e seus sonhos

Os pesadelos medonhos,

Esperando o leitor olhar!

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“OS LIVROS SÃO NOSSOS AMIGOS”

Por Lénia Aguiar

Desde criança, antes de aprender a ler, que tive contato com os livros, minha mãe lia-me muitos contos, al-guns populares, outros mais moder-nos, desde a fantasia à aventura. Mi-nha avó lia-me jornais. Mais tarde li-os sozinha e aprendi muito. Desde que se inicia na escola que há ligação aos li-vros e a descoberta de muitas letras, palavras, números, cálculos, histórias, lugares e do nosso corpo. Sempre vi um amigo num livro, pois muitas vezes refugiava-me na bi-blioteca a ler e a escrever, deixando os meus e minhas colegas de lado, eram parvos (as) e só queriam gozar. Sem-pre fui das melhores alunas e aprendi muito com os mágicos de folhas bem encadernadas, sei muitas histórias de

diversos assuntos e inspiro-me facil-mente. Um leitor atento percebe que o li-vro é quase alguém ou um grupo de pessoas com cultura. Só os mais inteli-gentes sabem aproveitar o benefício de um livro. Seja de que tema for, um li-vro tem sempre mais valor do que uma conversa com algumas pessoas. Pois as páginas escritas com finura e beleza singular enriquecem as mentes e não costumam magoar, enquanto as pes-soas, às vezes, parecem venenosas e más que quase nos açoitam com as palavras frias e amargas como pedras que vomitam desnecessariamente. Muitos (as) escritores (as) ansei-am por ver os seus escritos, que por vezes espelham os seus sonhos ou as suas vidas, nas bancas das tabacarias e livrarias para ganharem algum di-nheiro e fama, demostrando ao mundo desocupado o que descobriram noutros livros ou noutras páginas da vida. É di-fícil, constantemente, cativar um (a) leitor (a), é necessário vencer algumas batalhas e a primeira delas é consigo mesmo.

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Depois tem de se convencer a editora que se está à altura de estar na frente de combate sem sair ferido demais ou pronto para a sepultura. Ao ganhar-se várias batalhas e ao tornar-se um bestseller, vencendo a guerra, o (a) autor (a) trans-forma-se na triunfadora deusa da literatura, desafiando as artes. Agatha Christie é uma das que vendeu muito e tornou-se popular com policiais. Outra autora de destaque é a Danielle Steel que triunfou nos romances. E ainda há a J.K. Rowling que é uma das que cativou muitos leitores que adoram o mundo da fantasia.

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Livro... Silente Amigo

Por Leonilda Yvonneti Spina

Na singela cartilha do be-a-bá

ensaiávamos os primeiros passos

na longa estrada do saber.

Uma tênue réstia de luz

iluminava nosso viver.

Aos poucos juntávamos as sílabas,

formávamos palavras, e todo um

universo

de sons e significados abria-se à nossa

volta.

Conhecíamos histórias: A Gata Borra-lheira,

A Branca de Neve, O Pequeno Polegar.

Um mundo de sonho e fantasia

vinha noss’alma povoar...

Depois...

O convívio com a língua portuguesa,

a “ultima flor do Lácio, inculta e bela”.

Quanto mais líamos, mais

aprendíamos

sobre nosso país, as tradições,

gratificando a alma com novas

informações.

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- Quem não se lembra dos primeiros livros,

de seu cheiro, das “orelhas”

arrebitadas,

das leituras diante de toda a classe,

do rubor na face ao ler palavras

erradas?

Era tudo tão bom, tão belo!

Com entusiasmo construíamos nosso castelo.

O livro estava sempre ao nosso lado

a nos ensinar história, matemática,

geografia.

Tantas coisas interessantes

a nos instruir a mente,

e nos fazer vibrar de alegria.

Vencendo etapas importantes

aprendemos línguas, ciências, artes

(e os livros estavam presentes

em toda parte.)

Com que prazer bebíamos a água

cristalina de tão preciosas fontes!

Vieram os contos, romances,

poesias... e o anseio de conquistar

novos horizontes.

Quantos conhecimentos

pudemos armazenar!

Éramos qual barco

navegando em infinito mar.

Velas içadas, ilusão na mente,

brilho no olhar, não temíamos nada,

e nada nos impedia de livremente so-nhar.

O livro nos acompanha pela vida

afora...

É sempre útil em qualquer tempo,

a qualquer hora,

em qualquer carreira ou profissão.

Seja ficção, literatura, arte, ciência,

ele é o veículo a difundir cultura

e aprimorar-nos a experiência.

O livro é pássaro, voa,

tem o poder de transportar-nos em suas asas,

de incentivar-nos a descobrir o além...

É sempre companheiro, cúmplice na solidão.

Tem a doçura da garoa, da chuva de verão,

que nos trazem paz e serenidade à

alma.

O livro é silente amigo, fiel confidente.

Ele nos educa, entretém e enriquece.

Dos bons livros jamais se esquece!

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LIVROS LIVRES Por Luiz Carlos Amorim – Escritor Recentemente, falei no meu blog - Http://luizcarlosamorim.blogspot.com - sobre o Projeto Floripa Letrada, que disponibiliza livros e revistas nos terminais urbanos para os usuários do transporte público, que podem levar as publicações para casa, mas precisariam devolvê-las, para que outras pessoas possam continuar usufruindo do acesso à leitura. Mas quase nin-guém retorna os livros às estantes dos projetos. Coincidentemente, leio no jornal A Gazeta, de Cuiabá, do qual sou cronista, que o projeto Saber com Sabor, que existe lá há dez anos, vai estender sua atuação também para os ter-minais urbanos, praças e outros locais públicos. Até agora o projeto estava restrito às biblio-tecas e os empréstimos de livros funcionavam com cadastro e prazo para devolução, mas com a expansão, não haverá registro nenhum do empréstimo, as pessoas apenas escolhe-rão o livro e levarão, como é feito em Florianópolis. O objetivo é dos melhores, qual seja democratizar o acesso ao livro a qualquer pessoa, incu-tir o hábito da leitura entre os cidadãos de todas as camadas da sociedade. Espero que eles, lá em Cuiabá, e em outros lugares onde existem projetos parecidos, obtenham sucesso, pois aqui o público não deu o devido valor ao projeto, que está decaindo, uma vez que depende de doações e os livros não são devolvidos. Vou procurar saber como o projeto foi recebido e se funcionou, para voltar ao assunto. Faço votos que dê certo. O problema, aqui, foi o “comprometimento, de uma forma consciente, a devolvê-lo quando terminasse de ler”. Espero, também, que o provimento de livros e revistas não seja através de doações, como aqui, que haja verba para comprar livros nem que seja de sebos, pois as doações acabam diminuindo, com o tempo e isso acaba por colocar em risco o projeto, uma vez que os livros não são devolvidos. O que eu gostei mais, na matéria que li, foi os conselhos valiosos emprestados ao leitor, de como incentivar a leitura: - Comece a ler para as crianças desde o berço, isso distrai, faz rir e facilita o desenvolvimento da linguagem, semeando o gosto pela leitura. – Sempre defendi que a criança tem que conviver com livros desde a mais tenra infância; Tenha sempre um livro à vista; Faça da leitura um prazer, sem cobranças e castigos; Visite bibliotecas, para que tenham acesso a livros de qualidade e cultive bons hábitos de leitura; Respeite o gosto literário das crianças; Crie momentos culturais frequentando teatros, cinemas, museus, bibli-otecas e feiras de livros; Estimule a criação de um cantinho da leitura com acervo variado em casa. Não é interessante? Vale a pena seguir os conselhos. E se houver um projeto assim na sua cidade, pegue livros, sim, mas devolva-os depois de ler, por favor. Ou o projeto aca-ba.

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OS LIVROS E O DIREITO AUTORAL

Por Luiz Carlos Amorim

E o impasse continua. A nova lei de Direitos Autorais, projeto do Ministério da Cultura que vem se arrastando há anos, volta à baila, agora não mais se atendo à música, como aconteceu há até bem pouco tempo, mas focando a literatura. A legislação vigente é de 1998 e protege os textos de obras literárias, científicas, conferências, sermões, ilustrações, cartas geográficas, músicas, desenhos, pintu-ras, esculturas e arte cinética. Não é possível fazer cópias de livros inteiros, ape-nas capítulos ou páginas, o que não é respeitado, evidentemente, porque os li-vros que os universitários precisam são muito caros, por exemplo. A nova proposta da lei de Direitos Autorais, elaborada pelo MinC, já foi disponibi-lizada à consulta pública, mas está encalhada no Congresso, que precisa aprová-la para passar a valer. Esta nova versão da lei prevê a possibilidade de cópia do livro na íntegra, para “uso privado”, ou seja, a duplicação de uma obra para es-tudo será legal. A pirataria não chegou aos livros, ainda, aqui no Brasil, mas a lei pode provocar a sua aparição, temem editores e livreiros. É bem verdade que os livros, por aqui, são muito caros, que nem todo estudante pode comprá-los, mas a pirataria de obras literárias não seria nada bom para os autores brasileiros, que já ganham parcos 10 por cento pelo seu trabalho. Pirataria de livros, para quem não sabe, é a produção de livros – impressão em fac-símile, digamos assim – para ser vendida como se vende os DVDs de filmes, exemplo. Em outros países isso já existe. Então finalmente o foco recaiu sobre os livros, mas não há muita esperança de que o estado de coisas atuais mude alguma coisa. A verdade é que a versão digi-tal dos livros – e-books, jornais eletrônicos, internet – não foi contemplada na nova lei. O livro digital é uma realidade, queiramos ou não. O livro impresso, como o co-nhecemos até agora vai continuar, ainda, por muito tempo, mas o livro eletrônico está conquistando espaço. De maneira que deveria ser contemplado, também, nessa nova Lei de Direitos Autorais, tão polêmica e tão inócua, antes mesmo de começar a valer. Precisa haver uma regra para que as obras que são veiculadas na internet, por exemplo, não sejam copiadas e usadas indiscriminadamente, sem que as fontes sejam ao menos comunicadas. Urge uma regulamentação mais efetiva nesse sentido.

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Para que as emoções não se percam

Por Ly Sabas

Por que escrevo? Para encontrar a resposta reportei-me aos meus sete anos e alguns meses. Vestidinho branco, comprido até as canelas, laço de fita nos cabe-los castanhos, olhos esverdeados brilhando, excitados. Revejo o quarto simples, as três camas de madeira lustrosa e sinto um leve perfume de jasmim. Em cima da cama, encostada na parede esquerda do quarto, um embrulho de papel colori-do. Revivo a emoção da menininha, desembrulhando, coração aos pulos, respira-ção suspensa, o pacote colorido. O gato de botas!

E foi assim que meu pai me ensinou a amar livros e o verdadeiro encanto de uma boa surpresa. Chegava de mansinho, entrava no quarto em que eu dormia com minhas irmãs e deixava em minha cama um livro de contos de fadas. Não sei como conseguia, mas nunca o peguei no ato. Trazia um livro por semana, em dias alternados, para que a surpresa continuasse. Dias depois da entrega, pedia para que eu lesse para ele. Com paciência e carinho, ensinou-me a compreender as emoções transmitidas pelas palavras lidas. E também a importância de visuali-zar as ilustrações cuidadosamente, analisando cada traço, cada nuance das cores utilizadas. Mostrou-me a influência do desenho na compreensão das característi-cas dos personagens. Como adulto sensível que era, sabia que crianças lêem pri-meiro com os olhos da alma.

Depois, em minhas primeiras dissertações escolares, utilizei os ensinamentos de meu pai, mais do que os das professoras, que não conseguiam atingir minha sensibilidade. E segui em frente, através das idades, assimilando felicidade, dor, mágoa, amor, carências, maternidades e transformando tudo em escrita, como uma fórmula mágica para não deixar as emoções se perderem ou a vida simples-mente passar.

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Enquanto lia Mark Twain

Por Magno Oliveira

Censine lia no ônibus um livro do escritor Mark Twain, uma garota ao lado o observava, observava mais o livro do que ele. Ela observou tanto, que não hesitou em perguntar lhe: --- O que é isso? --- Livro – ele respondeu. --- Posso ver? – A moça disse já estendendo a mão para pegá-lo Sem responder ele passou o livro para ela. Ela o tomou pelas mãos, olhou a página que Censine estava lendo, olhou a outra, olhou a capa, a contra capa, viu as outras páginas. Os olhos da moça brilhavam muito, parecia que nunca tinha visto aquilo, parecia olhar para um ser vindo de marte, Júpiter ou qual-quer outro planeta. Ele não se conteve e disse a ela: --- É de ler e não de comer, viu?

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marcia.m.decon#@hotmail.com

Vestígios

Por Márcia Maranhão De Conti

Meus acasos não povoam páginas de dicionários

são trilhas que transcendem a leveza dos passeios

As palavras são rastros deixados no cimento fresco nem que eu falseie os passos minto comigo, nos versos

As palavras são pérolas de um colar que nunca tiro criadas nas conchas antigas

dos mares que habitam em mim.

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POR QUE ESCREVER

Por Marcos Toledo

Finalmente! Por que escrever... Já fiz o principal que é aprender. Pensei que bastasse saber ler, depois entender; mas ainda tenho que saber escrever? Se tenho o suficiente que é saber, não preciso saber escrever. Acho que quem escreve deixa o seu ser transferir-se para outros, sem perceber: suas mágoas, seus anseios e, até sem que-rer, transfere coisas ruins sem saber. Mas há escritores que têm um querer: uns em transmitir alegria, outros, saber. Ah! Se eu escrevesse, sabe o que iria fazer? Transmitir tanto alegria, quanto saber. Mas não sei escrever; como resolver? Já sei! Num concurso vou me inscrever! O anonimato sei que vão manter; de mim, ninguém vai saber.

Tenho medo de classificação obter ... Já pensou eu primeiro ser? E aí, o que fazer? Vou relaxar, isso não deve acontecer. Mas, e se acontecer, o que fazer? Já sei - mostrarei também o meu ser. Mas o que escrever em um concurso de igreja? Tenho que saber! O regulamento vou ler e, em casa, com calma, escrever. Poesias, contos ou crônicas - o que fazer? Já sei: uma poesia vou escrever. Sou romântico, minha namorada não cansa de dizer. Isso mesmo... para ela vou escrever... Sinto que ela faz parte do meu ser. Pronto, já fiz. Pensei que não sabia escrever mas a poesia aqui está, para minha amada ver. Assim, ela saberá que é a razão do meu vi-ver, e todos saberão que sei escrever. Agora, é só torcer, para o concurso vencer. Amém

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LIVRO VIVO

Por Maria Heloísa Fernandes

Deixado à cabeceira, largado, empoeirado.

Informações importantes, aprendizados e épocas permanecem lá, como guardiãs a espera de seu rei a determinar ordens.

Devaneios preservados, precariamente folheados, uma página aqui, outra acolá, que desabrocha por entre suas linhas e entre linhas, à sabedoria mági-ca nas mãos da vida.

Atores envolvidos e intactos desfilam, organizados por pensamentos de alguém que possivelmente a punho desenvolveu, pois na observância do tem-po restam-lhes folhas amareladas, desnorteadas, sem graça, campeando apresentar sabedoria, além daquele cheiro de mofo.

Certamente somente os ácaros sejam naquele momento, seus compa-nheiros, na tentativa constante da motivação, para que não desista.

Imediatamente sente-se sacudido! Alguém lhe sopra a poeira, abre sua capa e num bailar de dedos, percorre suas folhas surradas. Quanta felicidade sente naquele momento. Lembraram de sua velha existência.

Fita aquele ser que o percorre, sua alma vibra incontrolavelmente, não mais permanecerá naquela cabeceira na companhia da poeira.

Devolveram a sua alma a alegria da persistência por seus ensinamentos.

Sente-se vivo!

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OS PRÊMIOS DE UM ESCRITOR Por Maria Luíza Falcão “M” (78 anos), professora formada, mas que não chegou a exercer a profissão, era cate-górica em afirmar que não gostava de ler. Por falta de concentração ou pura preguiça, não sabia. Apenas as receitas culinárias e as notícias dos “famosos” conseguiam sua atenção. “R” (32 anos), estudou pouco e foi ao mun-do. Os livros que lhe passaram nas mãos foram os do tempo do colégio. A leitura pos-terior foi obra mais do acaso do que da es-colha. “F” (28 anos), universitário e escritor, é afeito à poesia forte e destemida, própria do seu tempo. O que eles têm em comum? “M” jamais imaginou que aquela pessoa que ela mesma gerara escrevesse. Muito menos, que fosse capaz de criar personagens e uma história que enchesse mais de trezentas pá-ginas! Por curiosidade deu início à leitura e se viu tragada por uma trama que chamava mais e mais. A vista cansada obrigava a pa-rar, mas logo estava lá, livro nas mãos, mer-gulhada naquele universo, misto de sonho e realidade. “R” ganhou o livro de presente de quem o escreveu. Folheou aquele universo desco-nhecido, avaliou aquelas incontáveis pági-nas e pensou: “Vou ter que ler isso tudo e ainda ter que dizer o que achei...”. Por pouco não desistiu, mas estava acostumado aos desafios e aceitou. Começou e não conse-

guiu parar. Sentiu afinidades, identificação com pessoas e fatos. Arriscou até uma críti-ca. “F” leu num fôlego só. No final, comovido, confessou: “sempre fui um grande aprecia-dor de romances, sempre me apaixonei e desapaixonei por todos os personagens, mas...”. O que eles têm em comum? Um livro chegou em suas mãos e por razões diversas, leram. Foi necessário este primeiro movimento para desencadear o resultado. Se não houvesse o escritor, a história não se faria. Sem ela, não haveria o livro. Se ele não lhes fosse disponibilizado, seja por livre e espontânea vontade ou por doce pressão, permaneceriam em sua inércia literária, rele-gando a último plano aquele privilégio de ler e sonhar. Por que não? O livro é, sem dúvida, o elemento transfor-mador do indivíduo e, os autores, agentes insubstituíveis da cultura de um povo. “M” aderiu aos romances e já é íntima de Machado, Alencar, Orígenes e de tantos quantos vierem. “R” entrou num “sebo” e comprou um livro de autoajuda. Ficou impressionado com o fato de poder comprar um livro por um preço tão pequeno. “F” prossegue entre a prosa e a poesia. Gra-vada em seu coração, a história tão real da-quele romance aparentemente fictício. Re-gistrado no coração de quem escreveu, o comentário emocionado do jovem leitor: “sempre fui um grande apreciador de roman-ces, sempre me apaixonei e desapaixonei por todos os personagens, mas amigo só me tornei de um: Afonso”.

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O Livro

Por Marluce Portugaels

Escrever sobre o Livro... Que posso eu dizer se tanto já foi dito... Num esforço, lembro-me de Neruda, “livro, quando te fecho, abro a vida...” Fecho os olhos e me vejo bem menina na casa de meus avós maternos, no Alto Rio Juruá, a bis-bilhotar nas caixas que minha avó Lita, professora rural, recebia abarrotadas de cartilhas e de outros livros para distribuir com os filhos dos fregueses que traba-lhavam no Seringal Bom Jardim de meu avô Chico.

No Seringal havia uma escola e a professora rural tinha a função de ensinar as primeiras letras às crianças, que todos os dias se sentavam ao redor da grande mesa presidida pela professora, que começava fazendo-as repetir o A B C, em seguida, juntar as letras, “um B com A, Bê a Bá”, e, finalmente, formar frases, “Eva Viu a Uva”. E os alunos, será que já tinham visto uva?

O último estágio era a leitura das historinhas como a do Jeca Tatu que era pre-guiçoso e cheio de vermes, ele, a mulher e os filhos, pois todos andavam des-calços e não conheciam bons hábitos de higiene. Mas, um dia, um médico lhes prescreveu remédio, tanto para vermes quanto para fortificar o organismo. E também lhes disse que andassem calçados. Eles ficaram fortes, corados porque eliminaram os vermes e aprenderam a se cuidar. Jeca Tatu, então, criou cora-gem para trabalhar, prosperou e comprou sapatos para todo o mundo. Até para os porquinhos. E assim termina a história.

Nessa época nem desconfiávamos que a personagem do Jeca Tatu fora criação de Monteiro Lobato, que em seu livro Urupês, com 14 contos, denuncia a situa-ção de miséria e abandono do caipira da região do Paraíba do Sul, mas que na realidade também era a do caboclo do Amazonas que vivia à beira do rio, o bei-radeiro. Dessa forma, não há como não concordar com Joseph Conrad que “o autor só escreve metade do livro; da outra metade deve ocupar-se o leitor...”

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Revivendo tudo, ainda sinto o cheiro de novo das cartilhas, das tabuadas, dos cadernos de caligrafia... Tenho na me-mória o ícone das Edições Melhoramen-tos. Aquele passarinho pousado sobre o globo terrestre, presente em todos os livros que eu folheava, acompanhou-me durante toda a vida. Sem que me dê conta, a impressão que ainda tenho é que todos os livros trazem essa mar-ca.

Aprendi a ler com minha avó, junto com os fi-lhos dos fregue-ses. Mas, no processo, tam-bém acumulei a função de aju-dante da profes-sora. Como era curiosa e queria saber o que continham os livros de histori-nhas, lia tudo em casa com a permis-são de minha avó e, na aula, ajudava a professora com os alunos mais lentos. Assim, devo ter forjado a profissão de mestre que finalmente abracei.

Num dia inesquecível, recebi de pre-sente de meu tio Daí meu primeiro livro de contos de fadas. Foi uma alegria in-descritível. Li e reli as histórias reconta-das dos Irmãos Grimm, de Andersen, de Perrault... Foi nessa época que meu tio Luís, adolescente, adoeceu grave-

mente de febre tifoide, e era justamen-te eu que o entretinha lendo as maravi-lhosas histórias do meu livro de contos de fadas. Hoje, ainda, tenho na memó-ria o livro que foi talvez o mais belo presente que recebi, porque tinha sete anos, tinha aprendido a ler, e com aquele livro eu voava para bem longe, para o país das fadas e das persona-gens nele imortalizadas. Anos depois, lendo Emily Dickinson concluí que, de fato, “não há melhor fragata do que um

livro para nos levar a terras dis-tantes.”

Eu ainda te-ria muitas reminiscên-cias sobre o Livro, este objeto sedu-tor, esta cai-xinha de se-gredos capaz

de imobilizar-nos em um canto durante horas, e de transportar-nos para rin-cões nunca dantes sonhados. Mas, já é tarde e precisa-se parar em algum lu-gar... Abro os olhos, lentamente, e me vejo ainda bisbilhotando livros, mas não os das caixas de minha avó Lita, mas os meus próprios, arrumados em estantes em minha biblioteca. Então, penso que eles, os meus livros, são os únicos objetos que eu não gostaria de deixar para trás, se tivesse de partir rapidamente...

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Ser poeta Por Norália de Mello Castro Palavras, às vezes frias, às vezes prenhas a penetrar na vida: Viver! O poeta assim vive. Entre realidade e sonhos. Entre o querer e o fazer. A dizer palavras floridas ou a penetrar na selvageria do ser. Pode escrever sobre uma flor delicada, ou sobre uma cebola. Pode até escrever sobre carne sangrenta, Violenta, de um boi morto. Pode escrever o Vazio, que nada tem, nada floreia, que está pleno de dor, de rostos emurchecidos e a saudade se impõe . Ser poeta é brincar com a vida, gargalhar das tristezas, almejar alegrias. É ser gente assim contraditória .

Ser poeta é deixar vir à tona Palavras, sentimentos que precisam ser concretizados Brumas, 10 de maio de 2012

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O LIVRO

Por Norália de Mello Castro

Quando chegou o convite de Jac-queline para escrever sobre O LIVRO, para ser editado na revista especial de setembro 2012, achei um tema exce-lente por sua excelência. Vou participar com um texto.

Fui procurar nos meus arquivos e encontrei já escrito um texto que intitu-lei Caminho e caminhos, no qual faço referências ao livro. Mas, não achei apropri-ado para a revista e fi-quei matutando o que escrever. Veio-me à mente a figura de Gu-tenberg, aquele inven-tor alemão, que, no sé-culo XVII, deu à Huma-nidade o maior presen-te. Sim, o maior pre-sente que um inventor poderia ter dado: a prensa móvel, que fez a Revolução da Imprensa, citada também por outros autores, co-mo o evento mais importante da Histó-ria, comparável à descoberta da Pólvo-ra.

A invenção de João Gutenberg re-volucionou o mundo de então e vem re-volucionando até hoje. Permitiu que os escritores, historiadores, cientistas e literatos tivessem seus trabalhos regis-trados para a posterioridade e leitores

em massa pudessem conhecer seus es-critos.

Os registros históricos ou pesso-ais do Homem da Caverna ficaram lá atrás. O uso cansativo e restrito das pontas de penas também. O Homem tinha agora um instrumento que lhe permitiria correr o Mundo, com seus es-tudos e pensamentos, pois a busca de Conhecimento estava ampliada e atin-gindo maior número de leitores. Desta invenção inicial revolucionária, chega-mos hoje aos e-books, o que é fantásti-co, e com a Internet, estamos vivendo uma nova etapa revolucionária, desde a

década de 90, do sécu-lo XX.

Em 1750, na Europa, havia 130 milhões de livros impressos, o que favoreceu a dissemina-ção da aprendizagem em massa. Infelizmen-te no Brasil, esta revo-lução começou somen-te no século XIX, com a criação da Imprensa Real em l808, com a vinda da corte portu-guesa para cá. Ou seja,

mais de dois séculos depois da criação da prensa. O mundo todo se transfor-mou com a invenção desta máquina. Foram criadas bibliotecas, museus, acervos. Algumas profissões desapare-ceram e outras novas foram surgindo à medida que se imprimia mais e mais livros; até novos códigos de conduta fo-ram sendo elaborados. O Conhecimento não ficou restrito a números ínfimos de pessoas .

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Na década de 70, do século XX, surgiu a Nova História Cultural, com valoriza-ção da cultura de massa, do cotidiano a ser observado. A antropologia ganhou força, a filosofia foi enriquecida, novos rumos foram tomados para a Humani-dade.

Hoje, aqui, vivemos uma explo-são de blogs e sites, um mundão de es-critores e poetas se manifestando. Te-nho a sensação que temos mais escri-tores do que leitores. Onde estão os nossos leitores? Equacionar esta ques-tão com nossos problemas econômicos e sociais é uma parada gigantesca que, para mim, só tem um caminho: abrir mais e mais o leque da Educação e Cul-tura, e que sejam ressaltados bons es-critores.

Mas o que é ser bom escritor? Es-crever bem? Escrever temas que sabe de antemão agradarão ao público? Tal-vez a junção destas duas questões.

Numa entrevista que Martha Me-deiros, autora respeitada por uma grande fração do público leitor, deu pa-ra Marília Gabriela, ela disse que antes de querer agradar ao público, ela escre-ve para ela mesma, sobre aquilo que a incomoda, a angustia; que só escreve o que realmente importa para ela. De-pois, então, direciona seu escrito para o público. Com seu talento de escrever bem, atinge grande número de leitores; é o seu carisma. Ou seja, ela primeiro escreve para ela mesma, para depois compartilhar.

Esta colocação de Martha veio de encontro com o que sinto: um autor de-ve escrever realmente o que sente. Ela,

com seu talento, consegue a proeza de ser lida.

Todo autor quer vender livro, uma aspiração natural, mas vender li-vro no nosso meio é prá lá de difícil. Entretanto, para atingir esta aspiração, o autor não deve nunca deixar de es-crever o que realmente lhe importa. Ser autêntico. Sem artifícios outros pa-ra esta conquista. Na realidade, nin-guém - nem os maiores experts - sa-bem apontar que livro cairá no gosto de um grande público, mesmo que tenha sobre ele uma grande propaganda de massa.

Quem nasceu escritor, sempre será escritor, vendendo ou não seu tra-balho. Como diz a escritora Rejane Ma-chado:

“Não se faz um escritor, nasce-se escritor!”

Que venham bons escritores des-te boom de blogs, sites, livros e edito-res até...

Sinto que vivemos aqui um boom que a Europa viveu no século XVIII. Fe-lizmente. E... finalmente!

Agora, só posso dar um VIVA A GUTENBERG que, lá trás, nos deu o maior presente para comunicação de massa!

Brumas, 7 de setembro de 2012

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DENTRO DA MINHA SOLIDÃO

Por Odenir Ferro

Conviver por algum tempo com um excelente livro, envolvendo-se espiritual, física e emocionalmente com ele, - criando íntimos laços afetivos, - é como se saboreássemos importantes partes, dos melhores momentos da vida contida dentro da nossa existência! Ao darmos insights de credibilidade ou não, a estes sublimes momentos em que os percorremos vivendo-os até hoje, neste presen-te momento. Momento que pretendemos continuar percorrendo-o, formando uma somatória de um caminho que nos conduzirá rumo à Eternidade! Dentro destes momentos, somos uma obra inacabada. Assim como os livros! E temos a total liberdade de irmos aprimorando-a, momento a momento. Deixando que a nossa imaginação possa atingir a plenitude do ápice da sedução de se envolver com as tramas encenadas, dentro de um clássico literário contendo os muitos personagens saídos das realidades - sonhadoras e fantasiosas dos grandes mestres escritores, - para as realidades fictícias, das dramáticas páginas do li-vro. Seja ele construído na forma de Romance, Conto, Poemas,...

A importância primordial de um livro é a de tê-lo envolvido com os nossos mais afetuosos e abstrativos abraços! Dando-lhe total credibilidade de sumária im-portância, por considerá-lo como sendo o nosso melhor e mais fiel amigo. Tão amigo e tão fiel, quanto ao nosso mais queridos animais de estimação. Muitas vezes, até mesmo, muito mais que os nossos poucos amigos pessoais. E tão delicioso, envolvente e sedutor, quanto a nossa felicidade de saciarmos a sede com um copo de água límpida, cristalina e gelada, num dia quente de verão.

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Torna-se quase inenarrável para mim, transcrever as muitas facetas das boas memórias. Contidas ou incontidas, dentro das agradabilíssimas companhi-as literárias; que as tive junto de mim, nos meus momentos de solidão. Quan-do pudera trazer do meu lado, acom-panhando-me em todos os sentidos, totalmente envolvidos com os meus mais profundos e sublimes sentimen-tos, o prazeroso abraço essencial e sublime e amigo, dos livros. Sempre fui um leitor ávido por conhecimentos, cul-tura e sabedoria. Tudo isto e muito mais, acabei encontrando nas páginas e mais páginas dos livros que li. Os li-vros que já li, são para mim, os filhos mais queridos dos meus escritores mais amigos. Os quais, sendo muitos, eu os escolhi a dedo. Também, dentro da minha percepção intuitiva, ao retirá-los das estantes das Bibliotecas; e de-pois, viajar para dentro deles, através da minha imaginação. Recriando atra-vés das suas páginas e mais páginas, todos os cenários e todos os persona-gens descritos pelos escritores.

Dentro destas viagens, - sobressaindo-me um pouco mais além de mim mes-mo, - posso também expressar que é de extrema importância para o meu ego interior, saber que também eu, - além de ser um fiel leitor de muitos es-critores, - sou mais um dentre tantos, entre eles. Também contribuindo para a melhoria da qualidade de vida das pessoas e consequentemente do Plane-ta. Criando elos essenciais de harmoni-as e belezas, através dos meus perso-nagens, dos meus cenários, dos meus sonhos, dos meus ideiais, transmitindo

-os através das páginas dos livros que escrevo.

Ser leitor e ser escritor, é uma impor-tância extremamente vital para mim. Através das letras que escrevo, alcanço os meus inumeráveis leitores: - E sen-do tão iguais a mim, buscam tudo o que eu também busco!

- As nossas realidades adaptando-se, ou, se reformulando continuamente. Através dos nossos sonhos! Quanta profundidade, quanto lirismo, quanta intelectualidade, adaptada para a reali-dade do nosso quotidiano comum, pos-so sentir, dentro de todos estes virtuais envolvimentos. Envolvimentos que, de página em página, de palavras em pa-lavras, letras por letras, vamos galgan-do a mágica essencialidade dos nossos mais inebriantes objetivos; e que são contados e recontados, através das constâncias artísticas, obtidas através da integralidade dos nossos sonhos.

É muito prazeroso sentir nos olhos, nas emoções salientes, no aspecto geral das pessoas que já leram algo que es-crevi, - sendo uma poesia, sendo um livro de poesias, sendo um artigo de jornal, ou algum outro texto que for, - aquela cumplicidade de satisfação, de aprovação, de envolvimento carinhoso, quase que platônico: - Entre mim, e estes meus amigos e amigas leitores, selando-nos com um ou vários pactos virtuais! Nuns instantâneos mágicos, envolvendo-nos através das realidades sonhadoras e ficcionais, dos meus es-critos literários. Circundantes entre mim, eles, nós, percorrendo o imaginá-rio ideário, que nos envolve com as re-alidades e as fantasias humanas!

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Ou seja: - Os amores, os sonhos, os an-seios, as esperanças, as crenças, a fé... Enfim: - A vida toda, que se entrelaça no meio de todos nós!

Eu costumo percorrer um caminho ima-ginário ao compor um livro. Um cami-nho que ora é muito pleno de silêncios agudos e tristonhos. Noutras oras é rui-doso, chegando a ser barulhento, festei-ro,... Mas, este caminho se conserva dentro de mim, - desdo o seu início até o seu fim, - como sendo um caminho sagrado. Um caminho que me conduz à busca da perfeição! Tudo nele, é envol-vente e mágico! E eu o percorro sem saber o que acontecerá dentro dele, an-tes de chegar no seu final. Assim como na vida. Não tenho previsões! Tal qual iguais, somos na vida: - Não temos pre-visões sobre ela! É como se tudo esti-vesse acontecendo simultaneamente entre o meu eu real, a minha arte, e a criação explosiva e intensa que se con-centra dentro dos meus sentimentos, - que vão sendo, naturalmente, recriados através das emoções e vivências dos meus personagens. Personagens que são, - dentro a minha realidade ficcio-nal, - uma extensão, um braço, de mim mesmo. E neste braço, interage um elo que me liga com a plenitude do Univer-so! E quanto a estes meus personagens, assumo que posso admiti-los e admirá-los, identificando-os como sendo uma extensão emocional e racional de mim e das minhas enriquecidas vivências pes-soais: - E que se concentram além do meu alter-ego!

Sinto que dentro desta estrada, tenho ainda, muito, mas muito, muito mesmo, do que aprender. Além de muito a per-

corrê-la ainda, é claro! Quanto a dizer-lhes como proceder no modo de escre-ver, digo-lhes o que sempre disse e ain-da continuo a dizer para mim mesmo: - Escreva com toda a volúpia que se con-centra no sangue da arte pulsante e vi-va, que se vibra dentro das emoções que estão incontidas dentro das memó-rias do seu coração! Você, eu, nós to-dos, somos um personagem real, cada qual, dentro do seu mundo interior, obreiros dessa grande mágica espiritual e física que é esta grande Vida que está contida dentro desta nossa vida sonha-dora, numas oras. Onde noutros mo-mentos, somos o inverso: - Somos um personagem sonhador, dentro da bruta-lidade desta vida real! E em tudo, está perdurando o impregnado colorido eté-reo das abstrativas tintas existenciais, e as suas obras inacabadas ou concluídas, geradas dentro do Amor Universal que se concentra e se extrai, das fontes vi-bracionais e metafísicas da Arte pura!

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Sobre os meus livros que já estão impressos, públicos, - ou sobre os meus inédi-tos, ou tudo o que escrevo enfim, - posso dizer-lhes, assegurar-lhes que as pági-nas que os compõem, são as páginas extraídas da minha óptica artística. Sinto que dentro das páginas dos meus livros, se concentram um enorme palco girató-rio, que dentro das minhas percepções, nada mais é do que este nosso planeta. E através deste palco, o que mais me surpreende, me enleva e me deixa concen-trado dentro do carisma mais profundo da etérea e eterna beleza mais sublime, é a realidade deste belíssimo fio comunicativo que se entrelaça entre o meu eu, os meus personagens e as pessoas que leem tudo ou partes do que eu escrevo. E dentro disto tudo, sei que impera o elo absoluto deste eterno vínculo existencial que perdura entre nós e aquele algo a mais que se situa dentro do mais alto es-tágio do Divino Amor!

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Indriso aos livros na Idade Média

Por Oliveira Caruso

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Mosteiro sem livros:

castelo sem armas.

Saber da Idade Média.

Tudo manuscrito.

Calígrafos a rezar,

copiar e ilustrar textos.

Religiosos no quase monopólio.

Livros protegidos por maldições.

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Entrevista com Jacqueline Aisenman escrito-ra catarinense, criadora e redatora-chefe da revista Varal do Brasil em Genebra na Suíça concedida ao portal de comunicações RIUS http://www.rius.com.br/ Biografia

Jacqueline Aisenman nasceu Soares Bulos, em Laguna (SC) em 1961. Escrever foi sem-pre sua maneira de viver bem mais do que uma profissão. Assim aprendeu a falar, de-monstrar sentimentos, se defender, explicar coisas, contar o incontável, subtrair as dores. Escrevendo aprendeu e viveu. Foi redatora e revisora de diversos jornais em Santa Catari-na, diretora do Departamento de Cultura e dos Museus de Laguna (Museu Anita Gari-baldi e Casa de Anita). Membro do Grupo de Escritores Lagunenses Carrossel das Letras, Representante da Re-de Brasileira de Escritoras (REBRA) na Suí-ça, membro da União Brasileira de Escrito-res, membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni (MG) e da AR-TPOP, Academia de Cabo Frio (RJ). É mem-bro também da Sociedade Poetas del Mundo (Europa), Embaixadora Universal da Paz pe-lo Cercle Universel des Ambassadeurs de la Paix – Genève – CH e Conselheira Internaci-onal da Associação LITERARTE. Estabelecida em Genebra, Suíça, desde 1990, trabalhou durante quase quinze anos na Missão do Brasil junto à ONU e mais tar-de foi funcionária de banco privado. Adotou

de vez a escrita como profissão desde 2009. Já editou vários livros, voando solo e em bando. Entre seus livros: Coracional, Poesia nos Bolsos, Entre os Morros da Minha Infân-cia, Lata de Conserva, Palavras para o seu Coração e Briga de Foice, lançado em 2012. Prepara Adagas de Cristal, Faca de Dois Gu-mes e Labirinto de Lembranças. Recebeu em 2011 o prêmio de Livro do Ano, na categoria contos, pela Academia Catari-nense de Letras com seu livro Lata de Con-serva. Criou em 2009 e até o presente mo-mento edita a revista literária eletrônica e o site Varal do Brasil (www.varaldobrasil.com) fazendo uma ponte de palavras entre o conti-nente europeu e o Brasil. É diretora-proprietária da Livraria Varal do Brasil, sedia-da em Genebra e que é especializada em autores de língua Portuguesa. O RIUS tem incentivado de forma categórica a leitura, o conhecimento e a busca por infor-mação. Ótimas pessoas, conceituadas tam-bém, já colaboraram com suas entrevistas, dicas fundamentais para que os leitores se sintam mais soltos e ambientados para o uni-verso da leitura e conhecimento. A convida-da, Jacqueline Aisenman, com vasto currícu-lo e experiência, com certeza, tem muito a ensinar e compartilhar. RIUS – O que fez você ser o que é hoje e o que você fez de diferente para conquis-tar seu espaço no mundo maravilhoso da literatura e comunicação? Jacqueline Aisenman – O que sou devo a educação que recebi. Meus pais, meus avós, meus tios. Pessoas que contribuíram para que eu amasse a vida, o mundo literário e as pessoas. O amor de minha família sempre foi um pilar na minha existência. Sempre fui incentivada também a amar os livros e desde pequena lia e escrevia muito. RIUS – O que o Brasil (sociedade como um todo e os governantes) precisa fazer para criar e ajudar grandes talentos literá-rios? Têm muitos sonhadores perdidos e obstinados por conquistas, mas não sa-bem o caminho do sucesso.

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Jacqueline Aisenman – Claro que incenti-vos são bem-vindos: concursos, apoio para edição e tudo mais. Mas creio que não deve-mos esperar pelos governantes para realizar nossa vida e nossas profissões. Devemos sim, ter mais consciência ao elegê-los para que os erros atuais não continuem se repe-tindo e que aqueles que não exercem suas funções com respeito e honestidade não permaneçam em cargos públicos. RIUS – Por que há uma diferença enorme em termo de educação e cultura, do Bra-sil com países Europeus? Jacqueline Aisenman – É toda uma ques-tão cultural, longa de séculos. O Brasil ainda não dá à educação o valor devido, enquanto sabemos que educação é tudo. Sem educa-ção não há futuro para ninguém, pois até pa-ra uma boa alimentação a educação é ne-cessária. E os pais não podem esquecer que a educação começa em casa. Ela passa pe-la escola onde o aluno receberá informa-ções, mas a base educacional será sempre recebida em casa. Nosso país precisa valori-zar a profissão do Professor, pois sabemos que, sem ela, nenhuma outra existiria. RIUS – Falando um pouco da sua trajetó-ria de escritora, o que você passa ao lei-tor através dos seus livros? Jacqueline Aisenman – Sou uma escritora versátil e um pouco compulsiva. Escrevo quase tudo e escrevo muito. Tenho vários livros publicados e neles há contos, crôni-cas, pensamentos, poemas. Escrevo sobre a realidade e sobre sonhos, coisas imagina-das. Para quem lê, nunca há uma linha que separe a realidade da imaginação. Espero, desta forma, deixar o leitor livre para desco-brir experiências através do que escrevo. RIUS – Qual mensagem gostaria de dei-xar para os Brasileiros? Jacqueline Aisenman – Primeiramente gostaria de agradecer a oportunidade que me foi dada pelo Portal RIUS que considero muito importante para a informação dos bra-

sileiros. Gostaria que lembrassem sempre da importância de ler e escrever. Que incen-tivassem seus filhos, que procurassem sem-pre abrir seus horizontes através de novas leituras e da maravilhosa experiência da es-crita. A revista Varal do Brasil está de portas abertas para recebê-los! Basta nos contatar através do e-mail [email protected] para a participar das edições. Mais uma vez, muito obrigada pela oportunidade e desejo a vocês sempre sucesso!

Informações sobre os livros de Jacqueline Aisenman:

[email protected]

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Sarah Venturim Lasso

.... “A menina do Vale” ?

Bel Pesce é uma menina real, não é personagem e sua história é uma inspiração. Eu a descobri lendo uma reportagem na internet no site da Revista Veja, onde a reportagem falava sobre o livro e seus cem mil downloads em se-te dias. Após ler a reportagem, fui atrás do livro, que é facilmente baixado na in-ternet, e é de graça. A história de Bel é muito inspiradora, além de determinada, ela dá um ânimo para qualquer pessoa correr atrás dos seus sonhos, não importa a sua idade. O livro é uma história real que poderia ser facilmente um conto de fadas contemporâneo, com uma linguagem simples e frases marcantes, ele vai te prender da primeira a ultima página, e ainda te empolgar para criar sua própria aventura. E para fechar com chave de ouro, Bel criou no youtube um canal chama-do O caderninho da Bel, onde posta diariamente vídeos com lições que ela aprende durante o dia! Vale muito a pena !

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Um livro importante e pouco conhecid o

Por Pedro Diniz de Araujo Franc o

“Quando quiser saber algo que ignora, não pergunte a os sábios ou ami-

gos, pergunte aos livros”. Afrânio Peixoto.

Introdução: Se formos listar os livros que mais influenciaram positiva, ou negativa-

mente, o mundo e este julgamento poderá mudar até com a História, o livro que vai ser moti-

vo deste ensaio, provavelmente não estará nesta lista, onde aleatoriamente destaco: Código

de Hamurabi, Corão, Bíblia Sagrada, Discurso sobre a origem da desigualdade (Rousseau),

Ensaio sobre o costume e espírito dos povos (Voltaire), A Cabana do Pai Thomaz (Harriet

Beccher Stowe), O Capital (Karl Marx), e por maior que fosse a lista, haveria reclamações,

pois não incluí esta ou aquela obra e possivelmente o reparo fosse feito com total razão. En-

tre os livros reclamados não estaria “Comunicação sobre a luva de raposa e alguns de seus

usos médicos: com observações práticas sobre a hidropisia e outras doenças” de William

Witherig, publicado em 1785, do qual anexo cópia da capa original. E além da importância

do livro, há que se destacar que cada vulto histórico deve ser julgado de acordo com sua

época. Causou-me espécie ler crítica literária sobre Charles Dickens, que reclamava da pou-

ca ênfase que deu à vida sexual de seus personagens. Esqueceu-se o crítico, tão apressado

crítico, que não vou nomeá-lo, de lembrar que Dickens viveu de 1812 a 1870. Como um es-

critor poderia agir de outra forma na sociedade vitoriana? Mas é oportuno enfatizar que em

seus escritos, que vivem até hoje, os dramas sociais da classe mais pobre são apresenta-

dos, principalmente os relacionados à infância.

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Da mesma forma vale lembrar que William

Withering teve sua principal obra publicada

em 1785. Da importância de suas pesquisas

e das relações destas com a Medicina e com

a Literatura cuidarei.

A época: Quando William Withering

(1741–1799) escreveu um livro sobre o em-

prego da Digitalis purpurea na Medicina (An

Account of the Foxglove, and Some of its

Medical Ufes: with Practical Remarks on

Dropsy, and Others Diseases), estava no fi-

nal do século XVIII. Espantou-me a coragem

de anotar em livro seus acertos e erros no

uso da digital, enfatizo, erros, no uso de um

medicamento muito empregado até hoje. Es-

ta planta, que era considerada uma erva

maldita até então, sofria críticas violentas,

quando do seu uso, apesar de muitos erba-

listas citarem-na, ainda que de forma empíri-

ca, como remédio milagroso. Vale referir que

um médico francês muito importante, o Dr.

M. Salerne, de Orleans, fez vigorosa comuni-

cação à Academia de Ciências de Paris, afir-

mando que a digital era um veneno perigoso

e nunca poderia ser receitada. Tinha feito

uma experiência com perus, que morreram

com doses de digital. Não fosse a pesquisa

de Withering, possivelmente a erva deixaria

de fazer parte do arsenal terapêutico e mi-

lhões de pacientes teriam deixado de usufru-

ir seus benefícios.

A Lenda: Withering analisou a bebera-

gem, usada por uma curandeira da região do

Shorpshire, feita com vinte e uma ervas e

que curava a hidropisia e então escreveu

seu livro.

A Realidade: Os médicos ingleses per-

ceberam que alguns pacientes, acometidos

de hidropisia (edema generalizado), procura-

vam uma curandeira da região do Shorps-

hire, perto de Birmingham e, tomando uma

beberagem feita por ela, tinham a regressão

dos edemas, melhoravam do estado geral e

da falta de ar. Solicitaram a Withering, tam-

bém botânico, que estudasse a poção da cu-

randeira. De posse dos ingredientes perce-

beu que só uma das ervas poderia ter efeitos

positivos. Feita esta importante descoberta,

durante dez longos anos de muitas contrarie-

dades e até de perseguições, estudou os

efeitos da Digitalis purpurea, pesquisou, ano-

tou caso por caso e foram cento e sessenta

e três pacientes aos quais a prescreveu. Tro-

cou ainda correspondência com vários ou-

tros médicos, que também a usavam e citou

estas cartas na obra de 1785. Criou regras

de emprego, registrou efeitos colaterais, en-

fim publicou um livro que merece ser lido

ainda nos dias atuais: "Comunicação Sobre

a Luva de Raposa e Alguns de Seus Usos

Médicos: Com Observações Práticas Sobre

a Hidropisia e Outras Doenças". Luva de ra-

posa era a erva, que os botânicos latinizan-

tes chamaram de digital, ou dedaleira, pela

forma de suas flores. Este livro e aí está uma

de suas virtudes, ser escrito em 1785, mos-

trava as dificuldades em receitar um medica-

mento, , sendo um dos primeiros documen-

tos médicos que narra em pormenores

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uma pesquisa, apesar das limitações impos-tas pela época. Para escrevê-lo, Withering enfrentou problemas de toda a espécie, que repercutiram inclusive sobre a vida familiar, profissional e até sobre sua saúde. Como é moda pesquisar vidas e escrever romances históricos, que manancial excelente seria contar a vida deste genial médico! Vale, para mostrar suas dificuldades, dar um corte his-tórico. Estava Withering no fim do século XVIII, 1785, ao publicar seu livro. Era a épo-ca da Revolução Francesa (1776) e da exe-cução de Tiradentes no Brasil (1792) e ve-jam a coragem em escrever caso por caso, acertos e erros, acontecidos em cento e ses-senta e três pacientes! Parece-nos útil citar algumas curiosidades relacionadas à digital: 1) já era anotada pelos médicos do País de Gales (1250); 2) era chamada de: fox glove

(luva de raposa), foxes glews e fox music (Inglaterra), campainha de raposa (Noruega), luvas de Nossa Senhora e dedos de virgem (França), capuz de dedos e deda-leira (Alemanha) e dedos sangrentos e cam-painha de defunto (Escócia); 3) Pelas dificul-

dades do estudo farmacológico da época, Withering acreditou que a digital, que com-batia a hidropisia, a anasarca da insuficiên-cia cardíaca, atuasse apenas como diurético e não como agente que aumenta a força de contratilidade cardíaca. 4) Ellery Queen (Crime da Raposa) e Agatha Christie, esta por duas vezes, usaram a digital, como ve-neno, com maestria no segundo livro de Agatha Christie (Erva da Morte) e no dos pri-mos, que se assinavam Ellery Queen. Estes livros mostram os conhecimentos de Farma-cologia dos dois renomados autores, usando a digital na literatura policial, pois a dose efe-tiva dos cardiotônicos digitálicos está muito próxima da dose tóxica, daí a necessidade de empregar o remédio de forma correta; 5)

Fruttero & Lucentini, para terminar o folhetim policial inacabado de Charles Dickens, "O

Mistério de Edwin Drood", escreveram "A Verdade Sobre O Caso D.", usando a digital também como veneno, para finalizar um li-vro, que poderia não ter sido escrito; pois

não fez jus aos méritos de Dickens; 6) muito

provavelmente a fase amarela de Van Gogh (1853-1890) deveu-se à intoxicação digitáli-ca, pois a digital foi-lhe receitada pelo Dr. Paul-Ferdinand Gachet, escolhido por Manet para tratar Van Gogh (1853 a 1890) de seus problemas mentais. O Prof. Thomas Cour-tney Lee da Faculdade de Medicina de Geor-getown defendeu esta tese no The Journal of the American Medical Association (JAMA, n0

245, de 1981). Logicamente que a digital não estava indicada para o tratamento da epilep-sia, ou da esquizofrenia, de Vincent Van Gogh e não teve bom resultado, a não ser dar-nos a brilhante fase amarela do pintor, que em vida só vendeu um de seus quadros. Para o Prof. Lee esta fase amarela foi de-sencadeada pela intoxicação digitálica, que pode fazer com que os pacientes vejam os objetos com outras cores, na maioria das ve-zes em amarelo. Apesar dos ensinamentos de Withering durante muitos anos as digitais, retirada da Digitalis purpurea (no mercado digitoxina) e preferencialmente da Digitalis lanata (digoxina e lanatosíceo C) foram em-pregadas de forma errada; 7) Van Gogh, que

antes de entrar no tratamento com a digital e a citada fase amarela, escrevera ao irmão Théo, que "desejava pintar o mundo em ver-des e vermelhos, para expressar as terríveis paixões humanas" (J´ai cheché à exprimer avec le rouge et le vert les terribles passions humaines), retratou o Dr. Gachet, segurando um ramo da Digitalis purpurea e sem os amarelos, que vieram a dominar seus qua-dros pintados depois deste período de pseu-da cura em Arles (1880), sob a orientação do referido Dr. Gachet; 8) O quadro do Dr. Ga-

chet (Portrait Dr. Gachet) durante muito tem-po foi o de maior preço alcançado em leilão,

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82,5 milhões de dólares, em 1990. Hoje já

perdeu esta primazia de maior preço para um

quadro de Picasso. 9) Dale Dubin, em seu

livro Interpretação Rápida do Eletrocardiogra-

ma, compara o ST-T do eletrocardiograma

em pá, ou colher, de pedreiro, que traduz o

efeito digitálico, ao formato do surrealista bi-

gode do pintor Salvador Dali; 10) no Reino

Unido um grande número de tentativas de

suicídio ocorre por ingestão de comprimidos

de digital. T. W. Smith e col., estudando vinte

e seis casos graves de intoxicação digitálica,

mostrou que doze foram desencadeados em

tentativas de suicídio (relato no N. Engl. J.

Med. 307, 1982). Será esta uma influência

dos livros dos escritores policiais, citados aci-

ma? 11) Church, Schamroth, Schwartz e

Marriott escreveram um artigo, ao menos cu-

rioso, no qual intoxicaram propositadamente

cada um de trinta e nove pacientes e com

três cardiotônicos digitálicos distintos, para

estudo! ("Deliberate Digitalis Intoxication" -

An. Int. Med. 57, 1962). E as intoxicações

digitálicas podem levar à morte, daí a neces-

sidade de bem conhecer sua farmacologia. O

anotado artigo não estaria representando

uma experiência em “anima nobili”?; 12) Wil-

liam Withering faleceu em 1789 de tuberculo-

se. Uma das proposições de seu livro foi

mostrar as verdadeiras indicações da digital

e nesta lista não constava a tuberculose. Du-

rante muitos e muitos anos a digital foi equi-

vocadamente prescrita para curar a falta de

ar da tuberculose avançada e mesmo em ou-

tras doenças, onde ocorria dispnéia. Withe-

ring ao menos não tomou digital, quando a

enfermidade acometeu-o. Triste consolo. 13)

O emprego dos cardiotônicos digitálicos em

Medicina tem apresentado sístoles e diásto-

les, desde 1785, mas os últimos estudos

multicêntricos sobre os digitálicos, como

DIMT (1993), PROVED (1993) e DIG (1997),

mostraram que os digitálicos continuam sen-

do cada vez mais úteis no arsenal terapêuti-

co da insuficiência cardíaca sistólica, ainda

que auxiliados por outros medicamentos; 14)

Por radioimuno ensaio já se pode dosar o

nível de digital do sangue, o que propicia es-

quemas de digitalização mais seguros; 15)

aos que empregam digitálicos pode-se acon-

selhar: “Sutor, ne supra crepidam” (sapateiro,

não acima da sandália), pois há indicações

precisas para se usar o medicamento e de

forma própria; 16) conversava com um grupo

de jovens e o assunto digital veio à baila e

logo um dos mesmos pensou que falávamos

sobre algum assunto cibernético (digital, digi-

tação etc) e não sobre uma benfazeja erva.

Mas tudo começou com um

livro, que neste ano da graça de 2012 fez du-

zentos e vinte e sete anos e ainda merece

ser lido, não só por seu valor histórico, mas

também para mostrar que um homem, uma

erva e um livro muito fizeram pela saúde da

Humanidade.

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ESTE LIVRO

Este livro é de mágoas. Desgraçados Que no mundo passais, chorai ao lê-lo! Somente a vossa dor de Torturados

Pode, talvez, senti-lo... e compreendê-lo.

Este livro é para vós. Abençoados Os que o sentirem , sem ser bom nem belo!

Bíblia de tristes... Ó Desventurados, Que a vossa imensa dor se acalme ao vê-lo!

Livro de Mágoas... Dores... Ansiedades! Livro de Sombras... Névoas e Saudades!

Vai pelo mundo... (Trouxe-o no meu seio...)

Irmãos na Dor, os olhos rasos de água, Chorai comigo a minha imensa mágoa, Lendo o meu livro só de mágoas cheio!...

in Livro de Mágoas

FLORBELA ESPANCA

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DE LIVROS E CHOCOLATE

Por Priscila Ferraz

Todo fim de tarde era aquela ansiedade. Aquele homem meio truculento, que chega-va às lágrimas com a facilidade de uma mo-cinha e se odiava por isso, traria em seu bol-so um pedaço de felicidade. Tinha dificulda-de em expressar seu amor e o fazia trazen-do pequenos presentes, não caros, com cer-teza, mas que faziam com que minha mãe, minhas duas irmãs e eu nos deliciássemos.

De volta de seu trabalho na cidade, a cami-nho de casa, meu pai sempre passava em uma confeitaria para comprar chocolate — vê-se que um dos meus vícios foi iniciado por ele o outro foi culpa de minha mãe, que desde cedo nos incentivou a ler e, em mim, encontrou terreno fértil.

Ainda me lembro como se hoje fosse o gos-to do chocolate de uma antiga fábrica que já nem existe mais, a Sönksen, com trema mesmo. Eu não ia abrindo assim logo de ca-ra; tinha todo um ritual para meu momento

de prazer. Na hora de deitar, abria meu livro, começava a ler, e, devagarinho, ia abrindo também a embalagem do chocolate: en-

quanto saboreava o doce, saboreava tam-bém o livro.

Confesso que eram livros muito difíceis, principalmente para aquela idade tão pouca, mas eu adorava. Lia Dostoiévski (socorro, Noga!), Jorge Amado, Monteiro Lobato para crianças e adultos, mas o que me encantava era O Ferreiro da Abadia, de Guy de Maupassant. Hoje, nem sei se teria a paci-ência e a constância necessárias para ler uma daquelas obras.

Aqueles desses instantes tão prazerosos me marcaram tanto, que eu também quis contri-buir com a satisfação de algum leitor ávido por um bom romance de férias, livre, leve e solto. Daí, escrevi o Nuvem de Pó. Vou con-tar um pouquinho dessa história.

De repente, o tema surgiu, e escrevi como quem não quer nada, só para guardar mo-mentos incríveis que passei. Depois tomei gosto e fui aumentando o texto, criando e inventando, montando um enredo. Foram dias maravilhosos, vivendo aquela história que eu mesma ia criando. Cada capítulo era lido e relido, procurando as palavras que melhor demonstravam as emoções que eu queria passar e eram, praticamente, histó-rias completas e diferentes.

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A pior parte veio depois. Apesar de alerta-da, tinha a esperança de ver meu livro sendo divulgado e vendido: ledo engano, nada aconteceu. Ainda tentei fazer uma edição para lançá-lo como livro digital achando que, como é novidade, poderia ter mais chance. Outra decepção, afinal, não sou nenhuma BBB para ter notorieda-de e possibilidade de divulgação do meu trabalho.

Mas não me queixo. Sempre recebo retor-nos sobre meu livro e as pessoas me esti-mulam a continuar escrevendo.

Àqueles que estão começando na carrei-ra, desejo boa sorte, pois precisarão de muita. Mas mais importante do que o des-tino é a caminhada. Desfrutem-na.

VOCÊ SABIA?

A revista VARAL DO BRASIL circula no

Brasil do Amazonas ao Rio Grande do

Sul... Também leva seus autores pelos

cinco continentes!

Quer divulgação melhor?

Venha fazer parte do VARAL!

E-mail: [email protected]

Site: www.varaldobrasil.com

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Bibliófilo

Por Raimundo Candido Teixeira Filho

Outro dia recebi a visita de um velho conhecido – há tempos tomo cuidado em manejar a invulgar palavra amigo – que me viu cercado por uma profusão de livros espa-lhados por todo canto, ostentados nas prate-leiras, dispersos sobre uma mesa, apoiados em cadeiras, abandonados pelo chão e um amarelado alfarrábio de poesia descerrado em minhas mãos, lhe dando a impressão que eu sou desorganizado.

Assim, com um espírito presunçoso de quem só tem cifrões estampado na bila do olho, foi logo soltando uma descortês per-gunta, que comprova a ausência de desen-volvimento espiritual e constata a falta de desempenho cultural:

– Para que serve essas pilhas de li-vros, meu amigo Raimundo? Você gasta uma fortuna com essas coisas inúteis, sem serventia, como essa tal de poesia, para que lhe serve toda essa literatura?

Fiquei arrependido, porque na hora não respondi a altura, mas para indivíduo assim, não adianta a gente perder tempo ex-pondo muita coisa, não. Realmente, seria até difícil explicar àquele cidadão minha ve-neração a uma coisa de utilidade aparente, como à poesia. Acho, porém, que eu devia ter respondido na bucha que podia não ser-

vir para ele, pelo menos essa insatisfação não teria me acompanhado desde aquela ocasião!

Não sabe o estúpido tolo que é indes-critível o prazer de um passeio por entre as páginas de um bom livro, num deleitante e recíproco dialogo. É como um ser animado, que vai falando e minha alma prossegue res-pondendo, numa prosa solta, na mais har-moniosa das conversas, que às vezes, che-go a esquecer que preciso de companhia humana. Todo meu longo silêncio ganha uma voz dialogada, que logo se transmuta num exercitado monologo entre o meu atôni-to pensamento e esta esbranquiçada folha de papel que lês, agora.

As bibliotecas, como o amplo mundo, deviam estar sempre de portas abertas, até nos dias santos e feriados, pois é crime cul-poso deixar um livro calado, amordaçado, num silêncio sepulcral o ano inteiro, como ocorrem nos desleixados colégios, onde o livro é só um mero enfeite de prateleira.

A arte da leitura é uma atividade para todas as idades, dos oito aos oitenta, como até recentemente me assombrava a capaci-dade de uma jovem chamada Delite, uma bibliófila que aos 93 anos lia com sofregui-dão intelectual de um sábio, de um erudito, me induzindo a inveja, pela sua disposição para a leitura, uma verdadeira legente que sorvia as palavras com afã e sem aquele re-pentino cansaço que minha mente sempre inventa para favorecer a indolência.

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Certa vez, houve uma importante conver-sa entre um pai e seu querido filho, que relatarei aqui. O zeloso pai pergunta cari-nhosamente ao pequenino:

- Thalles, o que você vai querer de presente, no seu aniversário?

O denotado filho, rapidamente res-ponde, com uma imensa alegria nos olhos:

- Oba! Eu quero um livro, meu pai!

O pai tenta dissuadi-lo daquele fi-xo desejo:

- Novamente livros, meu filho! Pe-ça um brinquedinho, já chega de tantos livros!

Propositalmente inverti o enredo desse episódio, porque era meu veemente de-sejo impor o hábito da leitura ao meu fi-lho e não ouve como achar um meio, por mais que tentasse trocar a bola pelo livro. Mas espero que ele descubra logo que os livros também são brinquedos feitos com letras e que ler também é divertir-se, é poder continuar a brincar pela vida afo-ra, mesmo tendo o privilégio e a primazia de viver até os 93 anos sofrendo desta doce obsessão, chamada bibliofilia.

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QUERO LIVRO

Por Roberto Armorizzi

O livro

é ativo,

decisivo,

inclusivo.

Livro ensina,

explica,

realiza.

É fácil ler livro,

difícil é vender livro,

mas é bom comprar livro,

livro pede para ser lido,

alguns não querem ler livro,

outros, livro querem ler.

O autor fica feliz,

quando alguém vem e diz,

que é lindo seu livro,

que quer ler seu livro,

que já leu seu livro,

e vai ler mais livro.

Tenha gosto para ler,

compre, tenha e leia livro.

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Forma Ideal

Por Sandra Nascimento

Livros são caminhos inusitados, imaginários, ideias e projetos que podem trilhar mudan-ças, mostrar soluções...

Livros são tulipas, orquídeas, violetas... Flo-res nascidas do cultivo aplicado, de regas disciplinadas, de pesquisas e do ideal.

São sonhos, registros, resgates, lendas, fa-tos, ficção, amigos leais.

Palavras talhadas pra sempre, refúgios, via-gens...

Livros são lugares para respirar. Oráculos que contém fórmulas para o bom da vida, o amado das coisas. Flashs para o coração que se cansa. Algo ou tudo da razão.

O melhor do mundo ficará no livro, quer seja ele antigo ou digital. E uma vez aberto deixa-rá a impressão de que foi talhado como ves-tido de corte único, editado especialmente para o momento do encontro com o leitor.

Livro é tempo que avança sem medo. Intros-pecção.

Descoberta em si e Universo quando envolve e complementa o outro.

Como explicar de modo simples e sincero – às crianças, por exemplo – que tudo pode ficar melhor, senão por meio do livro?

Que outra forma haveria para guardar a me-mória e todos os seus segredos? A poesia e sua compreensão intuitiva? O Cinema e sua informação? A música e suas cifras? A foto-grafia e seus contrastes? A Pintura com seus detalhes e sutilezas? As várias expressões da Arte, enfim, em uma só obra? A História, Ciências todas e Deus?

Que outro motivador para lapidar a escrita – essa fada das Línguas?

Senão pelo livro, que jeito melhor de encon-trar liberdade?

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Livro

Por Sarah Venturim Lasso [email protected]

Alma do escritor Sangue derramado em forma de letras

Rimadas ou não E que as vezes nem fazem sentido

Livro

Com paginas amarelas Como um senhor de idade e respeito

Mostra seu valor

Livro Que tem cheiro de livro

Que grita poemas Ou historias qualquer

Livro

Que sai do fundo da mente Como serpente dançando pelas mãos

Até parar no papel

Livro O que seria de mim sem eles

E eles de mim?

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Eu escrevo

Por Sheila Ferreira Kuno

Eu sou uma pessoa calma e determinada a ser feliz.

No entanto, muitas vezes acontecem situações em que eu deveria gritar, pu-lar, xingar, mas eu não consigo.

Toda essa fúria ficava guardada no fundo do meu coração e me corroíam, até o dia em que comecei a escrever.

Escrever para aliviar meu coração, para me libertar.

Escrever para registrar passagens da minha vida que poderiam ser esqueci-das, mas que uma vez escritas, justificam certas atitudes.

Infelizmente comecei a escrever em um momento de tristeza e desespero, mas foi o que me salvou.

Escrever fez-me encontrar novamente o equilíbrio emocional.

Hoje me considero uma viciada em escrever, escrevo de tudo.

Escrevo sobre minhas tristezas e desesperos.

Escrevo sobre minhas alegrias e graças a Deus, são bem maiores que as tristezas.

Escrevo sobre meu passado.

Escrevo para rir de certas situações.

Enfim, eu escrevo.

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Ser Poeta Por Silvio Parise Ser poeta é ser amante da vida que passa e sem a nossa graça o mundo jamais poderia viver com alegria o nosso poder de pensar... Nessa convivência gostosa que primo em preservar essa paixão, esse amor pelas letras que me dão a liberdade de expressar aquilo que vejo neste mundo de desejos que ficam a navegar no meu pensamento constante sempre perplexo e vibrante aos amores que confesso não me amar... Pois são falsos e mentirosos e vivem vidas de ilusões ferindo muitos corações para no final preservarem este mal até se expirarem consumidos pela maldade que um dia souberam plantar... Mas nós não somos assim! Realmente, eu posso dizer... pois amei tanto você e hoje não quero o teu fim... Porque eu sou poeta!

Apaixonado e verdadeiro e deixa que o mundo inteiro seja assim... Prefiro viver amando e perdoar sempre! Pedindo a Deus que essas correntes possam logo se quebrar para enfim o mundo ver e sentir que o amor existe reconhecendo que só são tristes porque não são reais e vivem vidas banais por não saberem amar... Mas nós, poetas, temos que lhes reeducar para ver o amor chegar transformando assim este mar em bilhões de poesias criadas por esses poetas que, como as areias desertas, são flores e têm de brotar.

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O livro Por Sonia Nogueira

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O livro foi maior descoberta para a humani-

dade. Registra os mais variados atos e

ações dos povos, dos mais simples aos

complexos. A história registra sua escrita,

em códigos ou letras, desde a antiguidade,

para transmitir valores concretos ou abstra-

tos. O barro foi o primeiro material usado,

quer em forma de desenho ou símbolo, as

letras. Depois o papiro retirado da planta e

substituído pelo pergaminho de couro de ani-

mais, carneiro ou boi.

Entre os gregos, para codificar as leis, na

Era Cristã teve enorme divulgação da reli-

gião. Daí a ideia de pensar no livro, patrimô-

nio essencial guardando a historia das na-

ções.

Apesar da tecnologia divulgando livros virtu-

ais, o livro, porém, em papel ainda é muito

aceito. Se quisermos faremos uma biblioteca

virtual com a escolha dos livros de nossa

preferência, a leitura, porém, é cansativa. O

livro em arquivo na estante, ainda tem seu

valor, apesar de caro.

Divulgar um livro é oneroso para quem tem

poucos recursos financeiros. As editoras co-

bram caro, o livro fica mofando em casa ou

nas prateleiras das livrarias, em baixo, onde

a vista não alcança ou a coluna não está dis-

ponível para pagá-lo e folhar título e índice.

Comenta-se que os livros mais vendidos são

os romances, os livros de autoajuda, atual-

mente estão na moda os contos, a poesia

com menos procura. O que seria do mundo

sem a poesia. Ali o sonho desabrocha, a

mente flutua em encanto ou desencanto,

identificando-se com o leito. A bíblia é o livro

mais vendido no mundo. Livros técnicos e

científicos só interessam aos estudiosos do

assunto.

Vender mil livros no Brasil, sem pro-

paganda, sem ajuda da mídia é um grande

feito, ser um Best-seller indica que o escritor

vendeu muitos livros é o chamado livro de

massa. Escritores bem conhecidos no Brasil:

Carlos Drummond de Andrade, Manuel Ban-

deira, Machado de Assis, Vinicius de Mora-

es, Mario Quintana, Aluísio Azevedo, Montei-

ro Lobato, Clarice Lispector, Mário de Andra-

de, Cecília Meireles, entre outros.

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Quanto aos novos escritores são tantos lan-

çamentos em todo estado do Brasil, de pouco res-

paldo, que a venda acontece no dia do lançamen-

to, depois não se tem notícia da continuidade de

venda ou divulgação.

Mesmo vendendo poucos livros o escritor

sente imensa satisfação em ver suas criações dei-

tadas nas páginas, seu nome figurando na capa,

dando ideia de um grande escritor mesmo sendo

pequenino e hibernando nas livrarias.

Dicas para editar? As livrarias, a maioria,

não estão preocupadas com qualidade, nem venda.

Elas faturam, e, boa sorte a quem tiver. Outras

poucas livrarias, avaliam se o assunto teria venda,

oferecem editar o livro com 10% ou 5% para o

escritor. Miséria.

Dicas para escrever? Linguagem simples

com leitura universal. O mesmo tema pode agra-

dar ou desagradar com leitura enfadonha e cansa-

tiva. A boa leitura é criativa, prende o leitor em

cada página, a curiosidade é a arma para o desfe-

cho do assunto.

Livros e flores

Teus olhos são meus

livros.

Que livro há aí melhor,

Em que melhor se leia

A página do amor?

Flores me são teus lábios.

Onde há mais bela flor,

Em que melhor se beba

O bálsamo do amor?

Machado de Assis

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MINHA PAIXÃO POR LIVROS Por Valdeck Almeida de Jesus

Meu primeiro contato com livros foi quando comecei a estudar no primário, aos seis anos de idade.

Nessa época eu morava na periferia de Je-quié, no bairro Banca, com minha mãe Paula Almeida de Jesus, meu pai João Alexandre de Jesus e mais três irmãos menores: Val-quíria, Valmir e Valdecy.

Meu pai era analfabeto e trabalhava roçando campos em fazendas próximas à cidade. Mi-nha mãe, também analfabeta, era do lar. Vi-víamos uma vida franciscana, a miséria e a pobreza pairando em nossas cabeças. Tí-nhamos tudo para não dar certo, não sair da-quela situação de mendicância. Todos os in-gredientes ali se encontravam, concorrendo para a perpetuação do cidadão de terceira classe, parasita da sociedade e fardo para a previdência social no futuro.

Felizmente as “letras” cruzaram minha vida. Quando cheguei à escola, troquei os brin-quedos feitos de latas de óleo e de sardinha por cartilha, ABC, tabuada etc. Era um mun-do fascinante, desconhecido, desafiador. Tu-

do me encantava, os desenhos dos livros, a dança das letras e dos números, aquilo me deixava meio que abobalhado. Meus Deus! Quanta coisa nova eu descobria a cada dia. A professora Lina, minha primeira “pró”, lia as estórias de “Alice” na cartilha e deixava a mim e a Valquíria, minha irmã e colega de classe boquiabertos. Nós praticamente “viajávamos” na narrativa, esquecíamos nos-sos problemas do dia-a-dia e mergulháva-mos, literalmente, num mundo fascinante e misterioso, o mundo dos contos infantis. Tive a sorte de ter contato com livros de uma for-ma lúdica e não da forma obrigatória como tradicionalmente se percebe nas escolas de todos os tempos.

As lições de casa eram leitura e releitura do texto aprendido na classe, o que nem sem-pre conseguíamos fazer sozinhos. E sem a ajuda necessária da mamãe, ficava impossí-vel fazer os deveres de casa, deixando-os para fazer na própria escola no dia seguinte.

Dali por diante o meu mundo se transformou. Quando comecei a dominar a leitura e a es-crita, eu devorava tudo que encontrava pela frente: de bula de remédio a rótulos de xam-pus, de informações técnicas de manuais de aparelhos diversos a jornais, de revistas en-contradas nos lixões a placas de trânsito etc. Eu me apaixonei pelo mundo das letras e quanto mais eu lia, mais a paixão avassala-dora me dominava. Essa paixão me impeliu cada vez mais à leitura, e me tornei um dos alunos CDF’s no primário e em todas as sé-ries seguintes.

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Ainda cursando o ensino fundamental, mu-dei-me para uma fazenda, por força das cir-cunstâncias que obrigaram minha mãe a tra-balhar para sobreviver e para sustentar os filhos. Meu pai tinha viajado para São Paulo a fim de cuidar de vários problemas de saú-de. Na fazenda eu acabei ajudando minha mãe nos afazeres de casa e nos serviços que ela realizava para a patroa. Minha mãe, apesar de não conhecer as letras, conhecia muito bem a dureza de quem não estudou e manteve os filhos na escola, desta vez fre-quentando a escola rural que se situava a alguns quilômetro da sede da fazenda onde morávamos. Eu continuava encantado com os livros que acabei ensinando a minha mãe a ler e a escrever.

Foi na fazenda que tive contato com o mun-do das revistas em quadrinhos, pois na casa da sede havia um gabinete superlotado de revistas de Mônica, Cebolinha, Pateta, Pato Donaldo, Tio Patinhas e outros persona-gens. Eu tinha acesso fácil a todas as revis-tas enquanto a dona da fazenda, Luci Val-verde, estava em casa. E quando ela viajava para Jequié ou Salvador eu entrava por uma janela lateral e tomava de empréstimo várias revistas, lia cada uma com avidez, voltava e devolvia aos lugares de onde eu tinha retira-do. Foi a melhor fase de minha vida, ter o contato com a natureza e com uma vida livre de estresse, além de ter à minha disposição revistas que me enchiam os olhos e me fazia sonhar com os personagens das estórias lidas.

Retornei a Jequié para continuar os estudos depois de passados cinco anos. Ali eu mer-gulhei de vez na literatura. Tive contato com a poesia depois de comprar uma coleção de três mine livros de poemas, cuja linguagem me fez enlouquecer de amor pelas rimas, pela conotação e por todo o encanto natural que a poesia encerra. Resolvi ser poeta e comecei a rabiscar meus primeiros versos. Logo após, caía em minhas mãos os livretos de Cordel, e minha cabeça quase deu um nó. Eu ficava meio perdido entre seguir as regras de construção da poesia tradicional e o jeito livre de escrever dos cordelistas. E para piorar, conheci as obras de Augusto dos Anjos e de Castro Alves. Perdi comple-tamente o pudor em relação à gramática ofi-

cial e ao jeito “certinho” de escrever, me li-bertando completamente do formal e do poli-ticamente correto.

Esse processo maturou-se e comecei a es-crever intensamente novos poemas que re-tratavam tudo. Desde a vida desgraçada que eu levava até os desabafos de um jovem su-focado pelos sonhos de mudar o mundo.

Outro incentivo grande que recebi foi após conhecer o “Círculo do Livro”, ao qual me filiei e pude ter acesso a um mundo de no-vos autores e novos pensamentos. Pirei de vez... Parti para a militância estudantil e polí-tica, passei a ler e a escrever para jornais de luta operária e isso tudo foi me abrindo no-vos horizontes e me proporcionando força para conquistar a cidadania plena. Nessa época eu quase devorei todos os livros da Biblioteca Municipal de Jequié. Em várias oportunidades eu pegava livros para ler e quando olhava a ficha de empréstimo perce-bia que já os tinha lido... Fundei uma biblio-teca em casa e emprestava livros e revistas a toda a vizinhança.

Fiquei viciado e viciei muita gente a desco-brir que o mundo tem outras cores e dores, além daquelas que são mostradas; e por on-de quer que eu passe, semeio a semente da leitura e da reflexão, pois acredito que leitura não é apenas a decodificação dos signos, mas, principalmente, a decodificação das mensagens subliminares, das entrelinhas e da compreensão da vida como um todo e não como partes isoladas. Compreendo o mundo como um complexo do qual sou parte e que devo agir responsavelmente em rela-ção a mim e ao demais habitantes desse mundo. Esta visão ampliada pela LUPA da leitura e da escrita, me permite hoje escrever livros e a incentivar a criação literária pelo país a fora, através de projetos de publica-ção de poemas de autores anônimos, pales-tras em escolas e universidades, etc. O obje-tivo primordial da leitura é a transformação do cidadão em força motriz do seu próprio destino e dos destinos da Nação e do mun-do em que habita.

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Todos pendurados no varal Por Vinicius Leal M. da Silva O varal convida a escrever É importante para o crescimento do mundo Novidades literárias a se ler Livro, um espaço apenas teu, Mas com ele você divide o segundo Escritor desde pequeno Rimador por um acaso Divulgação eu tô fazendo Esta arte é um descaso E o mundo não tá vendo Ao leitor meu poema tô levando Mas o mundo é coisa grande Dificuldade pra lançar tô encontrando O mais vendido quero tornar nem que por um instante A alegria e o deslumbre de monta-lo tô conhecendo O prazer de vê-lo sendo lido por alguém tô passando Que bom que sou do meio literário toda nova era dos rimadores vou vivendo E a cada novo dia um poema inédito vou admirando Agora dicas em poucas palavras eu vou dar É fácil, preste atenção.

Pra fazer uma estrofe é assim: 1° com 3° e 2° com a 4°, pronto, agora é só rimar Agora é sua vez, vamos praticar, sem enro-lação. A crônica também é fácil de fazer Ela se da no dia-a-dia Sem o menor problema, ela se desenha no seu lazer. Mas nunca esqueça, sempre com alegria.

Foto: Moth Art

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ABENÇÔADOS LIVROS Por Vó Fia

Assim que aprendi as primeiras letras, me encantei pelos livros e me lembro depois de tantos anos, do primeiro livro que li e foi o Narizinho Arrebitado de Monteiro Lobato, era um livro com gravuras coloridas muito lindas e eu li e li novamente encantada com as his-torias do grande autor e com as imagens da menina e do príncipe, a maioria dentro do rio, porque o príncipe era um peixe.

Na minha mocidade os livros eram a dis-tração principal, as crianças liam contos de fadas, e as moças aprendiam a sonhar com os romances adocicados de M. Dely e de outros autores do gênero, mas os rapazes também se interessavam pela leitura e ado-ravam os livros de capa e espada de escrito-res que até hoje são lidos e apreciados co-mo: Alexandre Dumas, Ponsul du Terrail e muitos outros.

Os grandes autores brasileiros do passado como Machado de Assis, José de Alencar, Euclides da Cunha e tantos outros, são hoje o exemplo para os novos autores e descen-do a escada do tempo, temos mentes bri-lhantes como Guimarães Rosa, Clarice Lis-pector, Jorge Amado, Raquel de Queiroz e outros mais, não nos esquecendo dos gran-des poetas como Castro Alves, Cora Corali-na, Adélia Prado e Carlos Drummond de An-drade e muitos mais.

De ontem e de hoje, os escritores e seus livros embalam a imaginação de todos e ajudam a pensar e entender o sentido das

coisas e da vida, porque os livros espelham os acontecimentos; com a chegada das no-vidades eletrônicas, os leitores se contentam com livros condensados que não dizem exa-tamente o pensamento do autor, juntando o progresso com a falta de tempo das pesso-as.

Mas nada como o prazer de ter nas mãos um bom livro, saborear página por página, reler e marcar os melhores trechos e depois sonhar com os acontecimentos daquela his-toria; no passado, no presente e no futuro os livros sempre ocuparão um lugar de desta-que e os escritores serão sempre lembra-dos, porque um livro cumpre o papel de um parente ou amigo ausente, é a companhia dos solitários.

Livros virtuais tem sua importância, a inter-net também espalha cultura e com seu gran-de alcance é de grande ajuda para despertar o interesse pelos livros, mas os livros im-pressos não devem ser descartados nunca, porque um livro pode ser um presente para alguém, uma distração em momentos de an-gustia, porque a leitura é acalento, é emoção e alegria; um bom livro é o melhor adorno em uma mesa de cabeceira.

No momento os novos autores encontram dificuldades em publicar seus textos, porque livros e cultura em geral não fazem parte dos planos de muita gente, porque se sabe que um povo culto não se deixa enganar; livros são mais importantes que a comida que ali-menta o corpo, porque os livros alimentam o cérebro e um cérebro bem alimentado alarga os horizontes, abre caminhos e conduz a fe-licidade.

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Métrica

Por Walnélia Corrêa Pederneiras

É certo. Tem um preço o verso. Constato nos ombros cansados De livros marcados, escolhidos... Trabalhar o texto, invade o traço.

Poeta, o que devo ler

para Shakespeare entender?

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LEITURAÇÃO

Por Weslley Almeida

Ler para se entender

para se rever –

e ser-sendo no devir enciclopedizante.

Ler é caminhar

por trilhos imaginários

chegar ao horizonte.

Lendo sou lido

me refaço.

Dialogo comigo mesmo

e com os outros.

Com os outros eus

e com os outros Outros.

Cada período, um caminho.

Cada frase, um atalho

de ideias,

palavras

que alinhavadas

desvendam os símbolos policrômicos

do existir

Tornam-se teias dialogizantes

e marca-nos como tatuagens.

Previamente ao ato de ler

transfigurar-se o anímico

em grafo.

Percorre-se, pois,

o caminho contrário

dialetizante...

E singra então

Porfim

dentro

a semântico-diversidade sígnica

pelas veias fluidas

da leituração.

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NADA PIOR PARA UM ESCRITOR

Por Wilton Porto

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Da mesa, a gramática espia-me rubra.

Ao seu lado, o Aurélio inquieta-se ansioso.

A folha, em branco, parece imaginando saltar...

Eu, entre lágrimas, na rede: vontade

De brincar com as palavras.

Respiração arfante conduz-me à dor no peito.

O arroto aliviante não vem. A busca incessante

Do arroto leva-me à agitação nervosa.

O medo bate à porta...

Olhos arregalados, Eliana desassossega-se.

Na esperança de um alívio, ela massageia-me

O peito, as costas – pergunta-me se quero tomar

Algum chá.

Líquido só piora.

Torço-me... busco a terapia respiratória...

Valho-me, gota a gota, do chá morno relaxante...

Um breve arroto se apresenta salvador...

Gramática , dicionário, palavras, estão silentes –

Não posso brincar com as palavras.

Nada pior para um Escritor.

É “dançar um tango argentino.”

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Dez dicas para escrever um livro Artigo reprodução: h!p://comoescrever.com.br/

Se você pretende escrever um livro, não custa nada pesquisar um pouco aqui e ali. Principalmente se for mari-nheiro de primeira viagem. E procure não levar tão a sério tudo o que vê por aí. Inclusive as dicas abaixo. Porque nem sempre o que funciona para um, funciona para outro. Você precisa dar uma “peneirada” nas informações. Tes-tar algumas coisas, e assim por diante.

Eu mesmo já vi informações, dicas por aí, que descartei logo de cara. Para mim. Para você talvez não seja o caso.

Acima de tudo, lembre-se que existe uma espécie de “aura” em torno do as-sunto. Escrever livros pode parecer coi-sa feita só para uma meia dúzia de pri-vilegiados. Mas não é. Você pode escre-ver um livro, sim senhor. E hoje em dia, publicar é bem fácil. Caso não con-siga uma editora, não engavete seu projeto. Publique o livro em PDF. Divul-gue na internet. Garanto que você vai pular de alegria ao entregar o primeiro livro ao primeiro leitor. Mesmo que seja de graça.

Vamos então às

Dez dicas para escrever um livro

1. Aprenda tudo o que puder sobre es-crever livros antes de encarar a em-preitada. Enquanto aprende, vá “ensaiando”. Ou seja, escrevendo mini-livros – digamos assim. Peque-nas histórias, com poucas páginas.

2. Leia, leia e leia. Ler está para escre-ver assim como escutar está para fa-lar. Se você não lê, não vai saber es-crever.

3. Para os primeiros trabalhos, escolha assuntos que já conhece bem. Por exemplo: suponhamos que você en-tenda bastante de motocicletas. Na-da mais óbvio que escrever sobre motocicletas.

4. Não perca meses, anos, no primeiro livro. Faça algo bem feito, mas não fique enchendo de salamaleques e detalhes, achando que aquele vai ser “o cara”. Provavelmente não vai ser. O primeiro livro geralmente não é “o cara”. Aí, saber que você perdeu – por exemplo – um ano e meio para escrever algo que não serve…

5. Não queira agradar gregos e troia-nos. Querer parecer bacana pra todo mundo é o jeito mais fácil de não agradar ninguém. De preferencia, escolha um “nicho de mercado”. Quanto mais você focar seus livros num determinado público, melhor.

6. Procure obter feedback, ou seja, opiniões de terceiros. Mas não a ma-mãe, o papai e os amigos. Estes po-dem até te atrapalhar. Vai dar mais trabalho, mas é melhor procurar al-guém imparcial. Que lhe diga algo que preste.

7. Não se iluda. Ao invés de ficar so-nhando em ser o maior escritor do universo, trabalhe. Escreva, aprenda. Talvez você seja mesmo, no futuro, um escritor famoso. Mas primeiro fa-ça o dever de casa.

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8. Escreva porque gosta. Assim seu trabalho sai mais espontâneo. Escrever com uma mão enquanto faz as contas “dos livros que vai vender” com a ou-tra, só vai te atrapalhar. 9. Quando tiver um livro pronto, não tenha medo de mostrar. É melhor ou-vir críticas negativas do que não ouvir nada. E saiba de uma coisa: se alguém cair de pau, e falar um montão na sua orelha por causa do livro, você prova-velmente está no caminho certo. O pri-meiro sinal de que você fez algo inte-ressante é alguém baixar a ripa. Se for mandar o livro para uma ou mais editoras, procure saber antes as regras de cada uma delas. Muitas fa-zem inclusive a exigência de que a obra seja registrada. É… o caminho das editoras é árduo. E quando man-dar o livro, prepare-se para esperar. As editoras demoram meses para res-ponder. Mas respondem. Infelizmente, a maior parte das respostas é não. Mas não se acanhe por causa disso. A cada não talvez você esteja mais perto do sim. Lembre-se também que livros já publicados de outra maneira geral-mente não são aceitos.

É claro que tem muito mais que isso. Mas acredito que estas dez dicas já servem para dar uma luz, se é que aí do teu lado estava meio escuro.

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10 dicas para divulgar um livro Por Adriano Siqueira (Artigo reprodução. Fonte: http://universoinsonia.com.br/ Para divulgar um livro e deixá-lo a disposição dos leitores. 1 - Coloque um link no seu blog com a capa do livro para mostrar que está a venda. – coloque o famosoCOMPRE AQUI! no link da capa que vai para uma pá-gina que tem acesso a seus dados (coloque só o e-mail) e assim vc pode falar com o leitor e instruí-lo de forma rápida de como obter a sua obra.

2 - Divulgue esta página nos e-mails dos seus amigos. 3 - Esteja sempre em contato na internet. Facebook – Orkut – Twitter

4 – Mantenha um pequeno recado no final da mensagem algo como “Conheça meu novo livro (nome do livro) e saiba como adquiri-lo!” Se você tem assinatura pronta no final da sua mensagem coloque junto os da-dos do livro no final da mensagem. 5 – O Skoob é um site de livros muito bom lá vocês podem acrescentar mensa-gem para comprar com o autor ou mesmo conhecer os leitores.

6 – Procure se informar dos eventos para ver se você pode participar com um estande levando alguns livros para vender. Geralmente o pessoal cobra uma pe-quena taxa pela venda mas vale a pena.

7 – Deixar em consignação em alguma livraria perto de você ou jornaleiro tam-bém ajuda!

8 – Se tiver uma casa noturna perto da sua casa leve os livros monte um estan-de e entre como autor convidado . Geralmente as casas noturnas aceitam auto-res convidados para expor seu trabalho.

9 – Sortear um livro chama a atenção para o seu site. E lá você pode divulgar mais informações de como comprar a obra.

10 – Tenha sempre em mãos uma obra sua pois você nunca sabe quando al-guém está interessado em adquiri-la.

Desejo muito sucesso para todos vocês. Abraços

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Revista Varal do Brasil

A revista Varal do Brasil é uma revista bi-mensal independente, realizada por Jacque-line Aisenman.

Todos os textos publicados no Varal do Bra-sil receberam a aprovação dos autores, aos quais agradecemos a participação.

Se você é o autor de uma das imagens que encontramos na internet sem créditos, faça-nos saber para que divulguemos o seu talen-to!

Licença Creative Commons. Distribuição ele-trônica e gratuita. Os textos aqui publicados podem ser reproduzidos em quaisquer mí-dias, desde que seja preservado o nome de seus respectivos autores e não seja para utilização com fins lucrativos.

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