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5 revista o voo da gralha azul numero 5 julho agosto 2010

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Revista Literária

“O Voo da Gralha Azul”

nnnn0000. 5 . 5 . 5 . 5 –––– Paraná, julho/agosto 2010 Paraná, julho/agosto 2010 Paraná, julho/agosto 2010 Paraná, julho/agosto 2010

Idealização, seleção e edição:

José Feldman

Contatos, sugestões, colaborações:

[email protected]

http://singrandohorizontes.blogspot.com

Endereço para correspondencia: Caixa Postal 11 Cep.85440-000 Ubiratã/PR

Que a humanidade possa aprender com a nossa Gralha-azul e entender que o equilíbrio e o respeito ecológico entre fauna e flora é fundamental para a existência do Homem na face da Terra!!!

Prezado LeitorPrezado LeitorPrezado LeitorPrezado Leitor

Esta revista não tem a pretensão e nunca poderá ser considerada como substituição aos livros, jornais, colunas, etc. que circulam virtualmente ou não, mas sim como mola propulsora de incentivo ao cidadão para buscar novos conhecimentos, ou relembrar aqueles perdidos na névoa do passado. Por que o Voo da Gralha Azul? A Gralha Azul, que assim como semeia o pinheiro, ela alça voo e semeia no coração de cada um que alcançar, o pinhão da cultura, em todas as suas manifestações. Ao leitor, novos conhecimentos. Ao escritor ou aspirante a tal, sejam poetas, trovadores, romancistas, dramaturgos, compositores, etc., um caminho de conhecimento e inspiração. Obrigado por me permitir dividir consigo estes breves momentos,

José Feldman

SUMÁRIO

ACADEMIAS Academia Maranhense de Letras .............77

ANÁLISE DE OBRAS Mary ShelleyMary ShelleyMary ShelleyMary Shelley Frankestein ...............................................51 Rinaldo de Fernandes Rinaldo de Fernandes Rinaldo de Fernandes Rinaldo de Fernandes O Perfume de Roberta ...............................19

BIOGRAFIAS Amadeu Amaral ........................................47 Ângela Bretas ...........................................18 Antonio Augusto de Assis..........................69 Antonio Carlos Villaça ..............................38 Antonio Prata ...........................................50 Antônio Torres...........................................64 Apollo Taborda França.............................. 4 Augusto Monterroso ..................................36 Bisa Maith ................................................24 Danilo Corci ...............................................89 Deonísio da Silva .......................................85 Geary Hobson ............................................68 Ialmar Pio Schneider ................................60 Ivanir Calado.............................................112 Jeanette Monteiro de Cnop .......................76 Marina Colasanti.......................................16 Mary Shelley .............................................55 Rabindranath Tagore ................................98 Rachel Jardim............................................10 Rinaldo de Fernandes................................21 Risoleta Pinto Pedro..................................7 Rubem Braga.............................................86 Silviah Carvalho .......................................41 Sylvio von Söhsten Gama..........................101

CONCURSOS COM INSCRIÇÕES ABERTAS Concurso de Crônicas - Academia Pedralva de Letras e Artes ............................................122 Concurso Nacional Intersedes ..................121 3º Concurso Cidade de Gravatal de Literatura (Conto e Poesia) ........................................122 7o Concurso Rogério Salgado de Poesia ....123 II Concurso de Trovas Poeta Antônio Roberto Fernandes – Academia Pedralva Letras e Artes ..........................................................122 V Concurso Literário “Cidade de Maringá” ...................................................................121

XVII Prêmio Cidade de Conselheiro Lafaiete................................................................... 118 XXIV Jogos Florais de Ribeirão Preto e XII Jogos Florais Estudantis de Ribeirão Preto – 2011 ........................................................... 124 XXX Concurso Estadual/Nacional e I Concurso Interno de Trovas da Academia de Trovas do Rio Grande do Norte – Natal/2010................................................................... 118

ENTREVISTA Antonio Augusto de AssisAntonio Augusto de AssisAntonio Augusto de AssisAntonio Augusto de Assis O Escritor em Xeque..................................................69

ESTANTE DE LIVROS Ivanir Calado A Caverna dos Titãs .......... 111 Mundo de Sombras: O Nascimento do Vampiro Rachel de Queirós (O Quinze) .................. 114 Raul Pompéia (Tragédia No Amazonas) .. 112 Raul Pompéia (As Jóias da Coroa) ........... 113

FOLCLORE Folclore IndígenaFolclore IndígenaFolclore IndígenaFolclore Indígena Lenda Tolteca (Quetzalcoatl).................... 72 Lenda dos Índios Sioux (O Falcão e A Águia)................................................................... 73 Folclore ParanaenseFolclore ParanaenseFolclore ParanaenseFolclore Paranaense ALMIRANTE TAMANDARÉ O fantasma das águas do Val Verde......... 89 ALTAMIRA DO PARANÁ A noiva ..................................................... 90 ANTONINA Escravos da igreja de São Benedito ......... 90 ANTONIO OLINTO Visagens .................................................... 90 ARAPOTI O pinheiro da noiva................................... 90 BOA ESPERANÇA Uma tal confusão ...................................... 90 CALIFÓRNIA Cecília, a deusa da estrada ....................... 91 COLOMBO Lenda do Bradador ................................... 91 CURITIBA A loira fantasma ....................................... 91 O fantasma da grávida da Praça da Ucrânia................................................................... 92 FRANCISCO BELTRÃO

Campo mal-assombrado ............................93 GENERAL CARNEIRO Poço da visagem.........................................93 IPIRANGA A noiva que ia se casar ..............................93 IRATI O garupeiro................................................93 IVATÉ A bola de fogo.............................................93 JAGUARIAÍVA Assombração da antiga Serrinha .............94 MATINHOS O carona da bicicleta .................................94 MORRETES Fantasma do Central.................................95 SÃO JOSÉ DOS PINHAIS O velório da virgem noiva .........................95 TUNAS DO PARANÁ A caverna do jesuíta ..................................95

HAICAIS Sylvio von Söhsten GamaSylvio von Söhsten GamaSylvio von Söhsten GamaSylvio von Söhsten Gama Água...........................................................100 Caminhar...................................................100 Corpo Celeste.............................................100 Despedida ..................................................100 Dúvida .......................................................100 Espaço........................................................100 Falar ..........................................................100 Fim.............................................................100 Flores .........................................................100 As Formigas...............................................100 Longe .........................................................100 Pescar.........................................................100 Sabedoria ...................................................100 Saudade .....................................................100 A Sombra ...................................................101 Tempos.......................................................101

NOTÍCIAS Andrey do Amaral – Livro com “QI” ........117 Diretoria da UBT Estadual do Paraná 2009-2010............................................................116 Dinair Leite, de Paranavaí, PR, nomeada Presidente Nacional da União Hispanoamericana de Escritores – UHE..115

O ESCRITOR COM A PALAVRA Antonio Carlos Villaça Antonio Carlos Villaça Antonio Carlos Villaça Antonio Carlos Villaça Quando eu Chegar ao Céu… .....................38 Antonio PrataAntonio PrataAntonio PrataAntonio Prata

Pra Lua...................................................... 48 Antônio TorresAntônio TorresAntônio TorresAntônio Torres Por um Pé de Feijão .................................. 63 Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola O Pródigo do Jardim ................................. 26 Átila José Borges Átila José Borges Átila José Borges Átila José Borges O Pinheiro, O Casebre. O Quadro ............ 102 Augusto Monterroso Augusto Monterroso Augusto Monterroso Augusto Monterroso O Macaco que quis ser Escritor Satírico... 36 Bisa Maith Bisa Maith Bisa Maith Bisa Maith Sogra e Sogra ........................................... 22 Marina ColasantiMarina ColasantiMarina ColasantiMarina Colasanti Como é mesmo o nome? ............................ 15 Olga AgulhonOlga AgulhonOlga AgulhonOlga Agulhon Sobre os Trilhos......................................... 74 Rabindranath Tagore Rabindranath Tagore Rabindranath Tagore Rabindranath Tagore Nas Margens do Ganges ........................... 95 Rachel JarRachel JarRachel JarRachel Jardimdimdimdim A Viagem de Trem .................................... 9 Risoleta Pinto PedroRisoleta Pinto PedroRisoleta Pinto PedroRisoleta Pinto Pedro O Caderno ................................................. 4 Rubem Braga Rubem Braga Rubem Braga Rubem Braga A Viajante ................................................. 85 Vicencia Jaguaribe Vicencia Jaguaribe Vicencia Jaguaribe Vicencia Jaguaribe Sem Necessidade de Explicação ............... 1

POESIAS Alba Albarello Alba Albarello Alba Albarello Alba Albarello É tempo de vencer..................................... 11 Ângela BretasÂngela BretasÂngela BretasÂngela Bretas Mulher Abstrata ....................................... 17 Carmo VasconcelosCarmo VasconcelosCarmo VasconcelosCarmo Vasconcelos Poetas?... ................................................... 38 Dinair LDinair LDinair LDinair Leiteeiteeiteeite Ode ao CUPHI! ......................................... 115 Eugênio de SáEugênio de SáEugênio de SáEugênio de Sá Fernando Pessoa ...................................... 37 Gislaine Canales Gislaine Canales Gislaine Canales Gislaine Canales Liberdade .................................................. 11 Jeanette Monteiro de CnoJeanette Monteiro de CnoJeanette Monteiro de CnoJeanette Monteiro de Cnopppp Dualidades ............................................... 75 Duas Crianças .......................................... 76 Lígia Antunes Leivas Lígia Antunes Leivas Lígia Antunes Leivas Lígia Antunes Leivas Os beijos que não esqueci.......................... 12 Luiz Eduardo Caminha Luiz Eduardo Caminha Luiz Eduardo Caminha Luiz Eduardo Caminha Contrastes ................................................. 12 Maria Nascimento SantoMaria Nascimento SantoMaria Nascimento SantoMaria Nascimento Santos Carvalho s Carvalho s Carvalho s Carvalho Excesso de amor........................................ 12 Marisa Cajado Marisa Cajado Marisa Cajado Marisa Cajado Sou a Música ............................................. 13 Paulo Jorge Brito e Abreu Paulo Jorge Brito e Abreu Paulo Jorge Brito e Abreu Paulo Jorge Brito e Abreu Fernando Pessoa, para sempre ................ 37

Silviah CSilviah CSilviah CSilviah Carvalhoarvalhoarvalhoarvalho O Poeta .....................................................39 O Coração Que Ama .................................40 O Dia Perfeito ...........................................40 Perdão .......................................................41 Tchello d'Barros Tchello d'Barros Tchello d'Barros Tchello d'Barros A Flor da Pele ............................................13

SOPA DE LETRAS AlAlAlAlberto Filhoberto Filhoberto Filhoberto Filho Uma Atividade Mágica para Cultivar o Hábito da Leitura ......................................25 Amadeu AmaralAmadeu AmaralAmadeu AmaralAmadeu Amaral......................................... Novela e Conto: Psicologia do Boato - Prefácio de Franco da Rocha ...................................43 Danilo Corci Danilo Corci Danilo Corci Danilo Corci O Romance Moderno .................................88 Deonísio da Silva Deonísio da Silva Deonísio da Silva Deonísio da Silva De Onde vêm as palavras..........................81 Dicas de Trabalhos EsDicas de Trabalhos EsDicas de Trabalhos EsDicas de Trabalhos Escolares colares colares colares Artigo Científico .......................................32 Monografia ................................................32 Dissertação ...............................................33 Escolha do Tema .......................................34 O Orientador .............................................34 Projeto de Pesquisa ...................................35 Geary Hobson Geary Hobson Geary Hobson Geary Hobson A Literatura Nativa Norte-Americana:

recordações e renovação............................ 64 Luiz Otávio Luiz Otávio Luiz Otávio Luiz Otávio Jogos Florais de Corumbá......................... 30

TEATRO DE ONTEM E DE SEMPRE A Dama das Camélias............................... 60 Pequenos Burgueses ................................. 61 Pluft, o Fantasminha ................................ 62

TROVAS Apollo Taborda FrançaApollo Taborda FrançaApollo Taborda FrançaApollo Taborda França O Nosso Alfabeto em Trovas..................... 2 42 Anos dos I Jogos Florais de Corumbá42 Anos dos I Jogos Florais de Corumbá42 Anos dos I Jogos Florais de Corumbá42 Anos dos I Jogos Florais de Corumbá.. 27 IaIaIaIallllmmmmar Pio Schneiderar Pio Schneiderar Pio Schneiderar Pio Schneider Menestrel do Sul ....................................... 57 Jeanette Monteiro de Cnop Jeanette Monteiro de Cnop Jeanette Monteiro de Cnop Jeanette Monteiro de Cnop 4 Trovas..................................................... 76

INDICAÇÃO DE SITES DE LITERATURA Academia Brasileira de Letras ................. 126 Jornal de Poesia (Soares Feitosa) ............... 125 Por Tras das Letras (Hélio Consolaro)........ 125 Um Coração que Ama (Silviah Carvalho) ... 125 Portal Vânia Diniz .................................... 126

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A menina era filha única. De pele muito clara, cabelos louros e olhos azuis, dava a impressão de diafaneidade. Parecia que, a qualquer momento, desafiaria as leis da natureza, criaria asas e sairia voando. Para completar a impressão de que, na realidade, ela não pertencia ao triste mundo material, comunicava-se com alguém completamente invisível a olhos que não os seus. Vez ou outra, dirigia o olhar para o lado e sorria. Às vezes, balançava a cabeça, como se confirmasse ou negasse alguma coisa. Em outras ocasiões, abria um livro e passava as folhas, como se estivesse mostrando as gravuras a alguém. Quando começou a ler – e lia bem com quatro anos –, fazia-o sempre em voz alta, ou melhor, em meio tom, como se alguém a estivesse escutando.

No início, os pais achavam aquilo engraçado, mas, com o tempo, começaram a preocupar-se, pois sentiam como se uma presença acompanhasse a filha todo o tempo. Levaram a menina a uma psicóloga, que teve com ela algumas sessões e concluiu não haver nada para gerar preocupação. A menina era filha única, vivia só, por isso criara uma amiga imaginária. Quando ampliasse seu círculo de amizades, aquilo acabaria. A amiga imaginária, no entanto, não atrapalhava as relações da menina com as outras crianças. Ela ia à casa das amigas, convidava-as a irem à sua casa. Quando os pais a levavam ao shopping, ao cinema, ao parque, sempre pedia a companhia de uma criança. Fazia amigos com facilidade. Mas, quando não havia ninguém por perto, agia como se estivesse acompanhada por alguém que só ela via. Para a menina, aquela presença era algo natural. Desde que se entendera por gente, tinha a sensação de que havia alguém ao seu lado. Na verdade, era algo mais do que uma sensação; mas não chegava a ser uma presença

física. Às vezes, ela pensava entrever um vulto sem feições. Uma silhueta diáfana, que lhe dava, no entanto, a impressão de que ouvia o que ela dizia, via o que ela lhe mostrava, mas, principalmente, entendia o que ela sentia e como que lia seus pensamentos. Nos últimos tempos, aquela presença vinha-lhe antecipando acontecimentos, prevenindo-a dos perigos, protegendo-a, enfim. Quando se aproximou o dia dos seus sete anos, e os pais lhe disseram que iam preparar uma festinha, ela não quis. Como os pais insistissem, ela disse que o dia de seu aniversário seria muito triste. - Mas triste por que, minha filha? - Não sei. Ela não me disse. - Ela? Ela quem? - Ela, a minha amiga. No dia do aniversário da menina, chegou a notícia de que sua avó paterna tivera um enfarto e passava mal. Os pais pensaram em coincidência. Mas, com a repetição de episódios como aquele, começaram a desconfiar de que a filha tinha o dom da premonição. E que aquela amiga imaginária não era mais do que a manifestação desse dom. E guardaram isso como um segredo de estado. Nem mesmo os familiares tomaram conhecimento do fato. O dia amanhecera quente. E era domingo. Os pais resolveram ir à praia para escapar da sensação de sufocamento que oprimia os bairros distantes do mar. Quando a mãe tirou a entrada de banho e ficou só de biquíni, a menina fez um carinho em sua barriga: - Meu irmão já tá aí dentro. - Que história é essa, filha? Você sabe que eu não posso lhe dar um irmão. - Eu sei, mas ele já tá aí. - Foi sua amiga que lhe disse isso? - Foi. E ela disse também que ele vai

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salvar a minha vida. A mãe esboçou um sorriso e disse que bom que ele vai salvar sua vida! E ficou observando a filha, que abria um buraco na areia molhada e, vez por outra, ria e balançava a cabeça, como se ouvisse alguém lhe falar. Uma semana depois, a menina começou a apresentar manchas no corpo e a queixar-se de fraqueza. Os exames confirmaram o prognóstico do médico – leucemia. Única possibilidade de cura: transplante de medula. Mas, como ela não tinha irmão, era quase impossível encontrar um doador compatível. Os pais entraram em desespero. A mãe chorava com frequência, mesmo na frente da filha, que, um dia, sem mesmo desviar a atenção do quebra-cabeça que montava em cima da cama, encorajou-a: - Não chore, mamãe, você não sabe que meu irmão vai me ajudar a ficar boa!? A mãe, então, lembrou-se do que a menina dissera na praia, há mais ou menos um mês. Ela não dera atenção àquela história e nem mesmo a contara ao marido. Como podia dar ouvidos à filha, se ela sabia que não podia engravidar uma segunda vez? De repente, veio-lhe à mente que já fazia quase dois meses que não menstruava. Como, porém, suas regras sempre foram irregulares, não dera atenção ao fato. Mas, a partir daquele instante, para não perder as esperanças, agarrou-se à

possibilidade de estar grávida. Na mesma hora, pegou o telefone e marcou consulta com o ginecologista. O exame clínico, confirmado depois pelo exame laboratorial, disse-lhe que ela, realmente, estava gerando um filho. O médico, meio atrapalhado, tentou uma explicação para o que chamou de fenômeno. Mas ela não precisava de explicação. Aliás, não queria explicação. O importante era que a filha, agora, tinha uma chance. No dia em que voltou do hospital, com o bebê nos braços, viu a filha abrir a porta da rua, dizer adeus e soprar um beijo para alguém, exatamente como fazia quando se despedia dela na porta do colégio. - De quem você está se despedindo, filha? - Da amiga. Ela foi embora. - Foi embora!? Por quê? - Ela disse que agora, com a chegada do meu irmão, eu não precisava mais dela. Sem demonstrar tristeza, ou qualquer outro sentimento, como se nada tivesse acontecido, a menina abriu o livro de contos de fadas cuja leitura interrompera. Deitou-se no sofá e retomou a história do ponto em que a deixara. Aquele foi o último dia em que ela se referiu à amiga imaginária. Fonte: Colaboração da Autora

A na ordem é a primeira Do ALFABETO, original;

Tem presença costumeira, Vai num texto sem igual.

B se mostra importante,

Dentre as letras principais; BRASIL a leva confiante, É o país dos mananciais.

C tem ritmo completo, Colorindo o seu CÉU;

Se sublima, som dileto, Vale mais do que um troféu.

D é letra favorita,

DECISIVA e dá apogeu; Valoriza toda escrita,

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Replicando: estou no meu.

E é letra da ESPERANÇA, Enriquece o fraseado;

E o sentido, de antemão, Fica firme e bem postado.

F é uma letra mágica,

Que impressiona de saída; FORTALECE a trova sáfica E as demais, a toda brida.

G está em geralmente,

Tem GRANDEZA, é muito usada; É importante integralmente Sua presença numa toada.

H mostra ter talento,

Vem no nome de HEITOR; O seu som é de acalento, Sustentando o seu valor.

I é aquela letra base,

Que INSPIRA muito afeto; Se impõe em qualquer frase,

É destaque no alfabeto.

J brilha em toda linha, Joga o JOGO na jogada,

Tem sua verve, sempre tinha, No alfabeto é a bem bolada.

K é letra motivada

É de uso bem correto; Em KARDEC é badalada,

Mas sacaram do alfabeto.

L vai em LIBERDADE, É o que todo mundo quer; Sendo letra sem vaidade,

O servir é seu mister.

M tem a sua marca, De letra sublimação;

Em MARIA bem abarca O sentido da oração.

N nunca desfalece,

Lembrando a NATIVIDADE,

Calorosa como a prece, É uma letra de verdade.

O é letra sintonia,

OPULENTA como o Sol; Muito pura, sem mania, Se repete em rouxinol.

P dispensa comentário, Letra forte do PERDÃO; Se mantém no itinerário

Do alfabeto, é bridão.

Q garante o rijo som, É QUERIDA em qualquer texto,

Na poesia dá seu tom, Na palavra é cabresto.

R é letra principal,

Ao ROSÁRIO dá estesia; Tem um som monumental, Flui no texto e na poesia.

S é um tanto sibilante,

SILVA a torto e a direito; Mas, mantem-se firme e estuante:

É uma letra de respeito.

T é uma letra ponderável. Que TEMPERA nossa língua; Seu emprego é inumerável

E o pensar não fica à míngua.

U vogal maravilhosa É de UNIÃO e de argumento;

Se diz muito caudalosa, Na palavra é um sustento.

V tem som inimitável, Ajuda muito no verso;

Em VITÓRIA é bem notável Nos idiomas do universo.

W tem a sua saga,

É rejeitada por muitos; Em WESTPHALEN afaga,

Da tradição, os seus mitos.

X é a base do problema

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No mundo da Matemática; Em XANGÔ é um emblema De influência carismática.

Y era antiga

Letra assim convencional; Na YOGA é muito amiga,

Com seu talhe bem sensual.

Z é a letra derradeira, De nosso falar gentil;

ZODIACAL, é uma bandeira No idioma do Brasil!...

APOLLO TABORDA FRANÇA

Apollo Taborda França, nasceu em Curitiba, capital do estado do Paraná.

Filho de Heitor Stockler de França e Brasília Taborda Ribas de França. Fez cursos primário e ginasial no Instituto Santa Maria, dos Irmãos Maristas. Posteriormente em Direito pela Universidade Federal do Paraná, em Jornalismo pela Universidade Católica (hoje PUCPR), ainda em Curso Técnico de Construção de Máquinas e Motores, pela Escola Técnica Federal do Paraná que agora está transformada em Universidade; e se formou em Ciências Econômicas.

Possui 17 livros publicados, em prosa e em verso. Inclusive cinco de Trovas. Passou a fazer versos naturalmente, talvez por influência sangüínea, uma vez que seu pai Heitor Stockler de França era escritor, poeta, jornalista e advogado e seus irmão também fazem poesias

e trovas. Suas composições literárias foram publicadas em jornais, especialmente em livros e coletâneas impressas em São Paulo e Rio de Janeiro, etc. – Cadeira n.36 da Academia Paranaense de Letras – Cadeira n.38 da Academia de Letras José de Alencar – Membro do Centro de Letras do Paraná – Membro do Círculo de Estudos Bandeirantes – Presidente da UBT/Curitiba 1984/86 e 1990/92. – Membro do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense Publicações: – Poesia (em colaboração) – Sinfonia da Rua 15 – A lua escorregou pela parede – Festa de amores– O nosso alfabeto – Praças de Curitiba – Constelação dos bairros de Curitiba – Os nossos pés de todos os dias – MPPr – Movimento Poético Paranaense – Poesia do Paraná Fontes: – Antologia dos Acadêmicos: edição comemorativa dos 60 anosda Academia de Letras José de Alencar. São Paulo: Scortecci, 2001. – Apollo Taborda França. O Nosso Alfabeto. Curitiba: Gráfica Vitória, 1982.

– Carlos Leite Ribeiro. Portal CEN. – Vasco José Taborda e Orlando Woczikosky (organizadores). Antologia de Trovadores do Paraná. Curitiba: O Formigueiro – Instituto Assistencial de Autores do Paraná, 1984.

(Este texto/reflexão deriva de uma comunicação/aula/conversa/conferência para alunos de uma escola de medicina holística no passado ano letivo)

Com o caderno cada

Aluno aprende Dá

Enquanto Recebe

Na medida Ótima. Oculta.

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Do dicionário: na entrada: “Caderno”, a

etimologia aparece como remontando ao latim “quaternus”, que significa “de quatro em quatro”. Quádruplos, constante de quatro elementos, porque eram as partes em que se dobrava um “folio” (folhas de impressão com quatro páginas impressas).

O que faz todo o sentido. O quatro é o número da estabilidade e da matéria. O caderno é a matéria na qual nós podemos construir / observar o nosso mapa / processo / estrada. É ele, bem enquadrado no solo, que vai permitir-nos voar. Sem esse solo, poderemos elevar-nos ao sol, mas em breve estaremos no solo. Bem estatelados. Não quadrados, mas esborrachados.

Na música, o compasso quatro por quatro é de uma grande regularidade e equilíbrio. Curiosamente, ou não, também se representa por um “C”.

Enfim, podemos ficar por aqui no que toca a especulações, embora fosse possível continuar assim durante umas horas…

Qual é afinal, a idéia, com esta conversa?

- Não vou dizer como se deve fazer um caderno

- Não vou dizer como se faz um caderno - Pensei não dizer, tão pouco, como não

se faz, porque isso seria dizer como eu faço; mas depois, pensando melhor, decidi fazê-lo, porque pelo menos sempre se fica a saber como é que não se faz, o que é útil, porque pode sempre aparecer quem queira fazer assim, o que também é bastante legítimo… Mas fica adiado mais para a frente…

- O que não vou certamente dizer é como é que acho que se deveria fazer. Primeiro porque não acho nada, segundo porque não sei, terceiro porque não devo.

PORQUE: - Não está no meu feitio dizer às pessoas como devem fazer as coisas - Ainda que estivesse no meu feitio, não

sei dizer como se deve fazer uma coisa destas. - Ainda que fosse possível dizer uma

coisa destas, não o faria, porque o caderno representa acima de tudo uma emocionante DESCOBERTA PESSOAL

O QUE POSSO DIZER: - Como já fiz… - Como fui fazendo… - Como venho fazendo… - Como gostaria de conseguir fazer… - Como fazem algumas pessoas que

conheço… Um caderno é como o ADN, como a voz,

como as impressões digitais: não existem dois iguais. Se houver, ou um deles está a mentir, ou talvez estejam os dois.

Então, a idéia, é o caderno ser o mais parecido possível com aquele/aquela que eu sou, com a verdade deste meu momento. Mas isso vai mudando, e assim, o caderno irá, certamente registrar uma sucessão de verdades, ele irá ser diferente ao longo do tempo. Se assim não for, é mentira. DIÁRIO DA LUZ E DA PELE

Foi um caderno que os meus alunos fizeram. Pensei falar sobre isto porque talvez

abra horizontes relativamente ao caderno. Texto - próprio ou alheio Escolha da cor que vai acompanhar este

processo (uma cor em todos os cambiantes, modulações e tons possíveis) - O tema, que apenas excepcional e justificadamente poderia ser alterado durante o processo.

Forma, matéria objetos, texturas, fotografia, desenho, colagem, pedaços de coisas, da natureza, ou não (dar exemplos: pacotes de açúcar, flores, sementes, incensos, fechos eclair, etc.), sempre na cor escolhida.

- O nome pode ser importante; neste caso ele foi dado por mim e era imutável, porque os ajudava a orientarem-se, era a sua bússola.

- Mas dar um nome ao caderno pode ser uma forma de tomar consciência do processo. Seria interessante que houvesse espaço para ir rebatizando o caderno. No final, uma análise

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dos vários nomes que o caderno foi tendo, pode ser um indicador interessante de muita coisa e pode ensinar muito.

- Em que consistia este caderno: Alunos de uma escola de ensino artístico

(artes plásticas) na disciplina de Português. - O que se pretendia: Basicamente, o mesmo que em relação

a todos nós: que os alunos tomassem consciência do seu crescimento. Crescer, se cresce sempre, mas às vezes não se dá por isso e portanto cresce-se menos. Se crescer com um irmão gêmeo, que neste caso é o caderno, sabemos do nosso crescimento através do nosso irmão. Que é a imagem. O caderno é um espelho. E eu posso intervir em mim através do caderno, intervindo nele, porque o espelho funciona nos dois sentidos.

- Para que servia o nome, que também

era um tema: Para não se perderem, para terem um

fio condutor Todos têm um fio condutor, podem é

não saber disso, mas se formos ver bem, não anda muito distante da luz e da pele. Se calhar, a pele é o nosso caminho para a luz. Caminhamos sobre a pele com o olhar, com as mãos, com as agulhas, com o olfato, com a pele, com a nossa pele. A luz que procuramos é a que está dentro do corpo e num local secreto que o corpo ilumina. Mas temos de passar pela pele, enterrar, aprofundar, mergulhar nos poros, e penetrando no interior do corpo, retificá-lo, trazer à luz a preciosa pedra unitária.

Quando falo em luz não me refiro àquela luz artificial dos catecismos antigos, mas à luz que realmente ilumina o interior do corpo, a luz de profundidade, a visão do bem estar, da saúde, da compreensão do eu como um ser único, íntegro, indivíduo (in-dividuo), que significa o que não está dividido, porque “in” é um prefixo de negação.

A doença é quando o corpo se encontra fragmentado dentro de si e em relação ao todo, ao mundo, aos outros. No fundo, é isso que se pretende: pelo mapa da pele, mas penetrando

para lá da pele, mergulhar e percorrer os misteriosos corredores internos.

OUTROS CADERNOS

O CADERNO DOS SONHOS:

O lugar dele é sempre à cabeceira, Às

vezes debaixo da almofada, às vezes ao lado da almofada, deve ter uma capa resistente para resistir ao corpo dos sonhos. É inseparável da caneta, que nunca deve afastar-se. Um caderno à cabeceira sem uma caneta (já me aconteceu) não serve para nada.

No caderno dos sonhos tanto posso escrever como desenhar, porque há sonhos que são desenháveis, que só podem mesmo ser desenhados.

Mas há O CADERNO DAS ESCRITAS, que deve colar-se ao meu corpo, porque posso escrever a meio da noite à saída de um sonho, na casa de banho, a fazer o jantar, a estender a roupa, a ver um filme, a andar na rua….

Daria jeito ao nosso caderno ter um corpo que lhe permitisse habitar vários meios: da banheira à cama passando pela rua, pelo autocarro ou pelo… cinema.

O fator presença, proximidade, intimidade, é muito importante. Não me serve de nada ter o caderno em casa se estou na rua, ou no carro se estou no teatro, ou na escola se estou a ver uma exposição.

Tenho também O CADERNO DA MEMÓRIA, onde colo coisas: bilhetes de espetáculos, postais que me enviam, moedas encontradas na rua, fotografias que me oferecem, espécies vegetais, cartões de visita, pequenos catálogos de exposições, e um sem número de coisas. (Este aprendi-o com um amigo)

O CADERNO DAS VIAGENS, onde escrevo percursos, sítios, desenho coisas que vi, frases que retive, frases que criei, pessoas que conheci, idéias que surgiram. Nesse caderno preparo as viagens, vivo as viagens e recrio as viagens. (Este aprendi-o com… talvez com Deus)

Um caderno pode ser utilizado como um diário, com a regularidade do sol, mas pode ser

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quase um horário, se o usarem com a mesma freqüência com que eu o faço. E não tenham receio se emudecerem um dia. O caderno, se é quadrado, pelo menos na origem, não tem de ser rígido. Pode ser a quadratura do círculo, e ser flexível, móvel, girar.

É claro que eu posso ser caótica, totalmente indisciplinada e anarquista, porque eu apenas tenho que o mostrar a mim mesma, que foi quem docemente me ordenou que o fizesse.

Quanto ao que se deve lá pôr, eu diria: tudo!

Mesmo que pensem que não sabem desenhar, não devem ter pudor em desenhar, se isso fizer sentido para vós, se o impulso do desenho saltar para a vossa mão

Eu não sou um bom exemplo, porque não tenho um caderno, tenho vários, um em cada sítio: cozinha, quarto, mochila, pasta, ao pé do PC, carro, etc. Nem sei quantos tenho. Se eu tivesse de fazer um caderno por me mandarem fazer, ou teria de grafar os cadernos todos, arquivá-los num dossiê, ou arrancar-lhes as folhas e dar-lhes uma organização. Realmente eu não sou um bom exemplo. Tenho o caderno dos sonhos, o caderno dos exercícios, o caderno de qualquer coisa que ando a escrever (que pode ser romance, cantata, musical, poemas, crônicas, este texto que estou aqui a transmitir-vos hoje, foi escrito assim, aos bocados…), o caderno dos alunos, o caderno das reuniões, o caderno das coisas que ando a estudar, o caderno dos desenhos, o caderno onde colo coisas, e acho que não acaba aqui… Se vocês forem assim pessoas dispersas terão de arranjar um truque para parecer que têm um caderno. Na verdade vocês têm um caderno, e mais outro, e mais outro…

Para as reuniões muito chatas (desde que não estejamos nós a dirigir), à falta de caderno, é sempre possível fazer poemas à margem das notas oficiais. Fiz imensos poemas numas reuniões assim… depois recortei os poemas e colei num caderno… que já não sei por onde anda.

E também podem dobrar em quatro os vossos fólios, à maneira da palavra latina

“quaternum”, e fazerem, e até ritualizarem, o momento de criação do vosso caderno. Para quem isso for importante. Não há nada que seja proibido se for para ampliar e crescer.

Alguns cadernos que referi são cadernos parciais: de sonhos, de escrita, mesmo o dos meus alunos, com escrita e objetos e fotografia, mas o caderno é potencialmente, não obrigatoriamente, mas potencialmente, mais amplo, porque como terapeutas holísticos de nós mesmos ( e por extensão, do mundo) que todos deveríamos ser, nada poderá ficar de fora, e, de acordo com as características de cada um, que, naturalmente, dará diferente peso às várias possibilidades, aí poderemos incluir sonhos, reflexões, intuições, citações, revelações, esquemas, grelhas, questionários, listas, argumentações, entrevistas, reportagens, notícias, crônicas, críticas, apontamentos, descobertas, interrogações, dúvidas, possibilidades, bílis, cartas de amor…

Sob as formas de texto, traço, desenho, fotografia, objeto, colagem, corte, rasgão, cheiro, sabor, beijo e até… som (por que não poderá uma gravação num suporte qualquer fazer parte de um caderno assim? Ou um suporte multimídia?)

Enfim… acho que comecei a falar do quadrado e terminei a falar do infinito, porque o “problema” ou o encanto (depende do ponto de vista) do quatro é que pode sempre transformar-se num oito deitado, o sinal do infinito. Cabe-nos a vós decidir se queremos um caderno atado com uma corrente a uma secretária, ou um caderno a voar por aí e nós agarrados a ele a sobrevoarmos o mundo, ao estilo Super-Homem, Mary Poppins, anjo ou folha de árvore em outonal dia de vento e da desarrumação que precede a ordem, o compasso quaternário…

RISOLETA PINTO PEDRO

Foram-lhe atribuídos dois prêmios de poesia e no drama escreveu O Deserto, o Mar e o Tempo, peça representada pelo TE-ATO de Leiria; a convite deste mesmo grupo, escreveu Um Olhar Azul, também representada por esse

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mesmo grupo. Em 2001, no Solar dos Zagalos em

Almada, realizou-se um concerto com música do compositor Paulo Brandão para vozes, celesta, clarinete baixo e tímpanos, com poemas seus sobre o 25 de Abril, também por convite. No mesmo ano, um seu libreto, para a cantata Conquistador, sobre D. Afonso Henriques, com música do compositor Jorge Salgueiro, teve, durante os meses de Maio e Junho, espetáculos em Lisboa, Fátima e Coliseu do Porto. Em Maio, no Teatro Maria Matos, em Lisboa, realizou-se um espetáculo de bailado, Viagens de Luar, com base em poema de sua autoria, Sensualua. Participou ainda no Júri do prêmio de poesia José Régio, da Câmara Municipal de Celorico da Beira, onde também apresentou uma comunicação sobre a poesia de Mário Máximo. Em 2002, a participação no 3º número da revista temática de poesia Saudade, de Amarante. Estreou, também, um espetáculo de bailado pela AMALGAMA – Companhia de Dança de Mafra, a partir de texto seu (A LUZ E O DESEJO), encomendado por essa companhia.

Participação, com o poema “Conquista-me”, num projeto de Canções Eróticas Portuguesas de vários autores, com música de Jorge Salgueiro, interpretado pelo grupo Negros de Luz.

Assinou uma crônica semanal, Quarta-Crescente, transmitida às quartas-feiras na rubrica O Sentido das Palavras, do Programa “Despertar dos Músicos”, da RDP – Antena 2, entre Janeiro e Setembro de 2003. Escreveu quinzenalmente crônicas para os jornais Cidade de Tomar e Despertar do Zêzere, mantendo-se a colaboração com este último. A partir de Outubro de 2003, iniciou a colaboração regular com a revista O Professor, da Editorial Caminho, que mantém. Registra também participações ocasionais na revista História com crítica de teatro e literatura. Estreou em Outubro de 2003, no Convento de São Paulo, na Serra D’Ossa, o espetáculo Mutações, com base em textos seus, pela Amalgama – Companhia de Dança de Mafra. Espetáculos ainda em Novembro, no Convento de Mafra.

Uma ópera infantil em dois atos com

libreto seu e música de Jorge Salgueiro, O Achamento do Brasil, com espetáculos realizados em Abril de 2004 no Fórum Lisboa, e Maio do mesmo ano em Fátima, Barreiro, Sintra e Teatro Rivoli do Porto. Foi publicada na altura uma Banda Desenhada com texto extraído do libreto de sua autoria. Ainda para este compositor escreveu o musical Kate e o Skate (uma encomenda do Coro Infantil de Setúbal) que será apresentado ainda em Julho.

Tem participado com textos seus em catálogos de pintura e escultura dos artistas plásticos Alcariota e Fernando Sarmento e apresentou vários livros de poesia, nomeadamente de Ana Viana, Daniel Domingos Dias, Mário Máximo, Ana Cristina Peres, Manuel Amaral, Orfeu B., Maria Virgínia Monteiro e Isabel Millet.

Também escreveu para a fotografia de Renato Monteiro, cujo livro sobre a Arte da Xávega apresentou. Estreado a 1 de Outubro no Convento de S. Paulo o espetáculo multicultural Venite in Silentio (dança, representação, música, artes plásticas) para o qual contribuiu com a criação de uma narrativa que acompanhou a criação do mesmo e vice-versa. A estreia coincidiu com o lançamento do livro de sua autoria com o mesmo título: Venite in Silentio . Este espetáculo tem realizações previstas para este verão, na Quinta da Regaleira, em Sintra, e em Mafra. Escreveu poemas e textos para os espetáculos e catálogos de À Flor do Caos e De Olisipo a Lisboa, produzidos pela Escola Secundária Artística António Arroio, assim como para o projeto “Espaço Habitado”, uma colaboração desta escola com o CCB, no mês de Maio de 2005, numa performance onde colabora com textos e voz off. Na Escola Secundária Artística António Arroio estreou em Junho de 2005 uma peça de teatro para marionetes de sua autoria Adeus, inspirada em poema de Eugénio de Andrade.

Também a cantata O Conquistador foi reposta no passado mês de Maio em Lisboa (Coliseu dos Recreios), Sintra (Centro Cultural Olga Cadaval) e Fátima (Pavilhão Paulo VI). Tem sido convidada pela Associação Fernando Pessoa e Agostinho da Silva, a convite das

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quais, como oradora, fez conferências e participou em colóquios sobre estas duas personalidades. Pela Fundação Cultural Sintra foi convidada para a Quinta da Regaleira, como escritora, no dia Mundial da Poesia de 2005, a fim de ler poemas seus. Foi igualmente convidada, recentemente, a realizar na SPA, um colóquio sobre a sua experiência no âmbito da escrita para música (canção, libreto, musical e cantata), o que fez conjuntamente com o compositor Jorge Salgueiro. Em Julho de 2005 estreou, em Setúbal, no teatro Luísa Toddi, o musical Kate e o Skate, com libreto de sua autoria e música de Jorge Salgueiro. Uma encomenda do Coro infantil de Setúbal.

É cronista regular (“Quarta-Crescente”) de uma página da editora Unicepe, no Porto, de O Despertar do Zêzere e de O Progresso de Gondomar Mantém o seu próprio blog, com o seguinte endereço: http://risocordetejo.blogspot.com/

Publicou os seguintes livros: - A Criança Suspensa, Prêmio Ferreira de

Castro, de ficção narrativa, da Câmara de Sintra, edição da Câmara Municipal de Sintra, Dezembro de 1996

- O Corpo e a Tela, Hugin Editores, Lisboa, Julho de 1997

- O Aniversário, Prêmio Revelação APE/IPBL 1994, Ficção, Difel – Difusão Editorial, Lisboa, Maio de 1998

- A Compreensão da Lua, Hugin

Editores, Lisboa, Abril de 1999 - O Arquiteto, Hugin Editores, Lisboa,

Março de 2002 - Venite In Silentio, Unicepe, Porto, Setembro de 2004

- Contos de Azul e Terra, romance, em co-autoria com Raquel Gonçalves, Hugin, Lisboa, Novembro de 2004

Participou ainda nas seguintes publicações:

- “O Teatro é como as Cerejas”, in Uma questão de Tempo, de Jaime Salazar Sampaio, Hugin Editores, Lisboa, Setembro de 1999

- “Um Pai Natal de Sonho”, in Contos Eróticos de Natal, Hugin Editores, Lisboa, Dezembro de 2000

- “O Pintor sem Rosto”, in O Homem em Trânsito, Histórias de Intimidade e de Mistério, col. Minimezas, Indícios de Oiro – Edições Ld.ª, Lisboa, Dezembro de 2002.

- “O Homem da Minha Vida...”, in MARGENS outros de nós, Padrões Culturais Editora, Col. Paixões Mundanas nº 13, Lisboa, Novembro 2004

- O Achamento do Brasil, uma Ópera em Banda Desenhada, (libreto), Foco Musical- Educação e Cultura Lda, Lisboa, 2004

- “Conquista-me” in Dez Anos de Inquietação, CD dos Negros de Luz, concebido e produzido por Jorge Salgueiro, compositor e diretor do mesmo. Ed. Tradisom, 2005

Fonte: http://triplov.com/letras/risoleta_pedro/index.htm

Conhecera, afinal, Florença e achava que a vida já lhe tinha dado bastante. Conhecera-a madura, depois de ter sonhado com ela toda sua juventude. Chorara no Ponte Vecchio, como se reencontrasse a mocidade, as estranhas visões que a povoavam.

Desde menina a ponte a fascinava, com suas casas entranhadas, mais rua do que ponte. Algo absolutamente insólito, ocupando um espaço e um tempo desarrazoados.

Deixou-se penetrar pelo encantamento

da cidade, vagando por ela, sem rumo, durante dias.

Sem esgotá-la, tinha partido e agora, enquanto o trem andava, começou a degluti-la.

Jantou só, no carro-restaurante, e voltou para a cabine. Não desejava dormir e teve curiosidade de ver a paisagem noturna pela janela do trem. Nenhum passageiro parecia estar acordado, apenas um silêncio feito de sons abafados.

O barulho do trem nos trilhos era um

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ruído bom, familiar, que lhe devolvia a infância, as longas viagens de noturno rumo à fazenda.

"Estou me sentindo estranhamente jovem", pensou. Olhava pela vidraça fechada a paisagem banhada de luar.

A solidão reinante fazia bem, deixava o mundo à sua mercê, podia envolvê-lo na palma da mão.

Uma voz. Olhou espantada. Uma voz ao seu lado. Um homem a olhava e falava. Ia retirar-se e fechar a porta da cabine, quando alguma coisa a fez mudar de idéia. O homem pedia-lhe que ficasse e a voz combinava com a noite, o trem, o resto de Florença.

Ser jovem — ser jovem uma vez mais numa noite, numa cidade estranha. Depois, partir sem deixar rastro. Esgotar a vida, a cidade, o tempo, num só dia. Não desejava mais, ou melhor, só desejava isso. Qualquer acréscimo e tudo estaria perdido.

Cogumelos e cerejas no restaurante. Brilhantes e redondos. Tenros, devorados em plena juventude. a vinho, velho, conservava a mocidade, tinha também o poder de inebriar.

A cidade era feita de tempo, tempo guardado, tempo preservado.

Amava sim, de um amor sem tempo, sem limite, sem fim e sem começo.

Ele se chamava Alfredo e queria detê-la. Procurava saber tudo, seu nome, sua cidade, o que fazia, se era casada, se tinha filhos. Ela não dizia nada. Ele fora casado e agora se dizia, livre. Tinha o senso do limite. Queria-a para si num tempo e num espaço certos. Guardada, conservada. Que sabia ele?

Ela se sentia livre e aspirava até o último sorvo essa liberdade, duramente conquistada. Desistira das coisas concretas, uma posição definida, um lugar no espaço. Seu espaço era feito de muitos espaços; seu tempo, de muitos tempos. Queria conhecer um dia que não pudesse ser contado em dias. Que lhe daria ele? a tempo aprisionado, a dor das coisas que se perdem de momento a momento. Ela não queria mais ganhar nem perder. O amor seria agora assim, feito de instantes - instantes sem tempo. Já perdera e ganhara seu espaço e seu tempo. Sentia-se livre para viver sem medo de perder.

A sensação de juventude vinha cada vez mais forte, e ele participava dela. Estava lhe dando de presente o tempo reconquistado, o tempo de juventude, aquele que ninguém conta.

Ainda no trem, quis detê-la e lhe pedia que ficasse, que deixasse alguma coisa de palpável, um endereço, uma pista para encontrá-la um dia em algum lugar.

Resistiu. Acenou pela janela e sentou na

poltrona. O coração batia violentamente. Teve vontade de parar o trem,

precipitar-se pela porta, voltar. O trem, grande devorador, já

transformara em tempo o espaço percorrido. Estava livre e só na manhã de verão.

RACHEL JARDIM

Rachel Jardim, romancista e memorialista, nasceu em Juiz de Fora (MG) em 19 de setembro de 1926. Formou em Direito pela PUC-RJ. Ingressou no funcionalismo público. Fez estágios em museus de Nova York e, de volta ao Brasil, dirigiu o Patrimônio Cultural e Artístico do Rio de Janeiro. Tem colaborado na imprensa (Jornal do Brasil-RJ, Suplemento Literário do Minas Gerais, Correio do Povo - RS).

Obras publicadas: Os anos 40: a ficção e o real de uma

época, romance, 1973; Cheiros e ruídos, contos, 1975; Vazio pleno, romance, 1976; O conto da mulher brasileira, antologia, 1978; Mulheres & mulheres, antologia, 1978; Inventário das cinzas, romance, 1980; Muito prazer, antologia, 1981; A cristaleira invisível", contos, 1982; O prazer é todo meu, antologia, 1984; Crônicas mineiras, antologia, 1984; O penhoar chinês, romance, 1985; Minas de Liberdade, memórias, 1992.

Fonte Contos de escritoras brasileiras. SP: Editora Martins Fontes, 2003.

http://www.releituras.com/

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Tens vergonha

de chorar, sofrer

dar um sorriso. Frágil?

Mas quem não é... Ser como um cristal! Que pode estilhaçar.

Pense... Enquanto não quebrar

Brilhe... Lute!

Mergulhe? Para se molhar! Todos procuram

Carinho e afeição. Sabem...ou

Estão buscando Vagueiam..a paz

Descendo aos corações.

Me sinto livre, porque sou amada,

pertenço aos céus e corro como os ventos, vou flutuando na noite enluarada,

nas doces asas dos meus sentimentos!

Faço da liberdade, a minha estrada, e dou amor em todos os momentos,

transformando em meu tudo, um quase nada,

e em nada, todos os meus sofrimentos!

No azul do mar, a imagem refletida, a imagem do meu próprio coração, num renascer eterno de emoção!

Livre e feliz, eu sigo pela vida,

com mil estrelas a brilhar, converso, plantando os sonhos meus pelo Universo!

Dentro de mim vive o consolo da saudade

sentida.

Saudade de teu beijo ardente de nossos beijos loucos

que nos cansaram o corpo nos fizeram tolos na certeza pouca

de que o nunca mais um dia chegaria.

Ah! teus beijos!. Adrenalina pura!

Lânguidos insanos

feitos de romance de bem, de mal, de tudo;

de sonhos de paixão de toques de ousadia do fogo da emoção do ardor da euforia.

Dentro de mim resta o consolo de sentir

saudade.

Vem! Volta!

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Esgota-me com teu beijo! Renova-me com teu beijo!

Me faz viver de novo em meio a nossos beijos

desejos tão sentidos!

Deus se faz...

A cor azul turquesa Faz o contraponto,

Com a palidez Da linha do horizonte.

Acima de mim, o céu, Vestido de azul claro,

Espera o manto dourado, Dos raios vindos do Leste.

A última estrela da manhã

Vê, aos poucos, brilho apagado, O nascer de um novo dia.

No meio do oceano,

Como uma casca de noz, Flutuando na lagoa,

Eu sinto o Universo gigante.

Na madrugada de instantes atrás Relâmpagos e trovoadas,

Faziam da chuva, tormenta Contrastes da aurora iluminada.

Tantas forças que se opõem!

De noite o vendaval, De dia, a serena paz.

Não há como negar:

Deus existe! E SE FAZ!!!

Amo o sol, amo a lua, o firmamento, amo os montes, as serras, e arrebóis,

amo a terra, a beleza, o pensamento ... Eu amo loucamente os rouxinóis.

Amo prados, colinas e amo os ventos,

e tudo desta vida passageira, eu aprendi a amar os sofrimentos e até mesmo a vizinha faladeira ...

Amo as flores, as aves, as florestas, amo praias, jardins, e os coqueirais,

eu amo a solidão, bem como as festas, também amo o frescor dos matagais.

Amo a sombra, o silêncio e a harmonia,

amo tudo o que traz felicidade, o sereno, o ciúme, a cortesia,

amo a cor, amo o amor, e amo a saudade !

Amo o frio da noite enluarada, amo os rios, o espelho e a amplidão, amo a vida, sem mesmo ser amada,

porque amo ouvir a voz do coração ...

Eu amo o bem - estar da Humanidade, seguindo o que me ensina a Lei Cristã...

Amo plantar, feliz, na mocidade uma esperança a mais para o amanhã !

Amo a noite, amo o dia, a madrugada, a chuva que dá viço a flor do agreste,

o sublime cantar da passarada, e a vida sossegada do Nordeste...

Amo a fonte, os desertos, os rochedos,

amo a areia e amo a espuma do oceano, o clarão, amo a réstia, amo os degredos, e amo as quatro estações de cada ano ...

Amo o sonho, o talento, amo a pintura,

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a igreja com seu sino a repicar ... Amo o riso depois da desventura

e amo o barulho ouvido à beira - mar ...

Amo o som, a ternura, amo a nobreza, e o pranto quando fruto de emoção, amo todo o esplendor da Natureza, eu amo tudo, enfim, sem distinção...

Amo as nuvens com arte e com mesuras,

quando formam no espaço um longo véu ... e as estrelas fazendo travessuras,

mudando de lugar, mesmo no céu ...

Eu amo os vegetais, toda a folhagem, a garra da cigarra cantadeira,

as notas musicais, amo a friagem e o calor insistente da lareira...

Eu amo o despertar da simpatia, a velhice e também a juventude,

um semblante que vibra de alegria, a força de vontade, amo a virtude !

Amo o lirismo, a paz, amo a cultura,

amo o trabalho, a luz e a inteligência, amo as benesses da literatura, amo a sabedoria da Ciência ...

Eu amo o campo santo, a nostalgia, E o lazer no descanso após a lida, e fervorosamente amo poesia ...

e amando o Ser Humano ... Eu amo a Vida !

Eu amo este Universo imenso e bom com todo o amor que Deus me concedeu,

pois nem toda Mulher possui o dom de Amar, com tanto excesso, assim com eu ...

No contexto do universo Sou voz em tom expresso

Do som da divindade Toco os acordes da alma Que estimula e acalma

O cerne da humanidade

Onde o concerto Divino, Profundo e Cristalino,

Exprime-se naturalmente, Alcançando árvores ninhos As vozes dos passarinhos No som do eternamente.

Estou na voz do vento, Suave ou em tormento, Acompanhando a vida

Desde o princípio da Terra, Nas lutas que ela encerra, A dar-lhe paz e guarida.

Inspirei o guerreiro iludido Também o homem vencido

Porque, a minha missão É de acordar a grandeza Que dormita na fraqueza Dos pobres de coração.

Em tantos hinos de glórias,

Exaltei muitas vitórias, Nas ilusões que traduzem. Até, o homem encontrar

O vórtice angular Representado nas cruzes.

Então, em elevação A alma sem divisão,

Retornará ao seu lar. Sou a música que embala Enquanto à sua alma fala:

Amigo, Viver é amar!

O Amor-perfeito veio

Nascer na tela do artista

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E nasceu em nossos olhos Amor à primeira-vista

As Avencas hoje dançam Ao vento que vem soprar

Essa brisa diz-me algo Vem teu nome sussurrar

As Azaléias formosas

Fazem sombra pro besouro E sem sombra de dúvida

Nosso amor é um tesouro

As Acácias abraçadas Tão juntinhas neste ramo

Olho dentro dos teus olhos Então digo que te amo

As Adálias tão formosas Parecem obras de arte

E bate forte o meu peito Simplesmente por amar-te

Os Antúrios corações Lá no jardim à crescer

Bate-bate e faz tum-tum Cada vez que vou te ver

Os Agapantos ao vento

Como azuis olhos de Venus Com afagos e carícias

Assim nós nos amaremos

As Begônias são a causa De um jardim tão colorido

Sem teu amor minha vida Não teria algum sentido

As Bromélias são encanto Magia de belos matizes Essa paixão é o feitiço

Que nos faz sorrir felizes

As Camélias tem um ar De quem vibra de paixão Escrevo hoje teu nome

No livro do coração

Oh Crisântemos divinos São as flores de um adeus Jamais morre esta chama

Que me une aos olhos teus

Os Cravos estavam tristes Pois o sol havia se posto Vi nas nuvens deste céu O desenho do teu rosto

A Flor-de-Liz e suas cores

São matizes da beleza Mantemos em nosso peito

A chama do amor acesa

Os Gerânios nos jardins Ornamentam a cidade Assim é o nosso amor Jardim de felicidade

A Gérbera apaixonada Na primavera nascia

Em mim nasceu o amor Que renasce à cada dia

Os Girassóis apaixonados

Sorriam ao astro-rei Te amarei eternamente

Jamais te esquecerei

Os Hibyscus perfumavam O vento do entardecer Meu coração será teu Cada vez que ele bater

As Hortências tão sublimes

De fragrância tão pura Mais sublime é nosso amor

Puro afeto e ternura

Os Ipês na primavera Vestem traje amarelo

Teu amor vestiu meu mundo De um sonho doce e belo

O Jasmin enamorado

Floresceu até que enfim O romance de nós dois

Tem começo e não tem fim

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Os Lírios perto do mar Inesquecível paisagem

Assim é o teu semblante Em sonho vi tua imagem

Nos Lisiantus do jardim

Pisca-pisca um vagalume O teu amor me completa

Como a flor e seu perfume

As Margaridas não mentem Respondem à quem quiser Perguntei de nosso amor

Terminou em bem-me-quer

A Miosótis tão singela Sempre me enterneceu

Estarei junto de ti Sempre sempre ao lado teu

As Orquídeas com seu néctar

Onde pousa o beija-flôr Nesses lábios pousam beijos

Também a palavra amor

As Petúnias se destacam No céu de azul profundo

Te quero muito meu amor Mais que tudo neste mundo

As Prímulas elegantes

Como asas de querubim No céu brilha o arco-íris

Como este amor sem fim

A Rosa disse ter visto Borboletas no jardim E falou do teu amor

A melhor parte de mim

As Tulipas são tão raras Tão difíceis de encontrar

Encontrei o meu amor E meu destino é te amar

As Violetas violácias

Ou da mesma cor do céu Não acaba este beijo

Com doce sabor de mel Fonte: Colaboração de Iara Melo Gruta da Poesia - Nº 07 da 2ª série – Abril de 2008 http://www.caestamosnos.org/Revista_A_Gruta_da_Poesia/08.html

Levou o manequim de madeira à festa porque não tinha companhia e não queria ir sozinho.

Gravata bordeaux, seda. Camisa pregueada, cambraia. Terno riscado, lã. Tudo do bom. Suas melhores roupas na madeira bem talhada, bem lixada, bem pintada, melhor corpo. Só as meias um pouco grossas, o que porém se denunciaria apenas se o manequim cruzasse as pernas. Para o nariz firmemente obstruído, um lenço no bolsinho.

No relógio de ouro do pulso torneado, a festa já tinha começado há algum tempo.

Sorridentes, os donos da casa se declararam encantados por ter ele trazido um

amigo. — Os amigos dos nossos amigos são

nossos amigos — disseram saboreando a generosidade da sua atitude. E o apresentaram a outros convidados, amigos e amigos de nossos amigos. Todos exibiram os dentes em amável sorriso.

Recebeu o copo de uísque, sua senha. E foi colocado no canto esquerdo da sala, entre a porta e a cômoda inglesa, onde mais se harmonizaria com a decoração.

A meia hilaridade pintada com tinta esmalte e reforçada com verniz náutico exortava outras hilaridades a se manterem constantes, embora nenhuma alcançasse

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idêntico brilho. Abriam-se os transitórios vizinhos em amenidades que o compreensivo calar-se do outro logo transformava em confidências. Enfim alguém que sabia ouvir. Relatos sibilavam por entre gengivas à mostra e se perdiam em quase espuma na comissura dos lábios. Cabeças aproximavam-se, cúmplices. Apertavam-se as pálpebras no dardejado do olhar. O ruge, o seio, o ventre, a veia expandida palpitavam. O gelo no uísque fazia-se água.

A própria dona da casa ocupou-se dele na refrega de gentilezas. Trocou-lhe o copo ainda cheio e suado por outro de puras pedras e âmbar. Atirou-se à conversa sem preocupações de tema, cuidando apenas de mantê-lo entretido. Do que logo se arrependeu, naufragando na ironia do sorriso que lhe era oferecido de perfil. A necessidade de assunto mais profundo levou-a à única notícia lida nos últimos meses. E nela avançou estimulada pelo silêncio do outro, logo úmida de felicidade frente a alguém que finalmente não a interrompia. No mais frondoso do relato o marido, entre convivas, a exigiu com um sinal. Afastou-se prometendo voltar.

O brilho de uma calvície abandonou o centro da sala e coruscou a seu lado, derramando-lhe sobre o ombro confissões impudicas, relato de farta atividade extraconjugal. Sem obter comentários, sequer um aceno, o senhor louvou intimamente a discrição, achando-a, porém, algo excessiva entre homens. Homens menos excessivos aguardavam em outros cantos da sala a repetição de suas histórias.

Não acendeu o cigarro de uma dama e esta ofendeu-se, já não havia cavalheiros como antigamente. Não acendeu o cigarro de outra dama e esta encantou-se, sabia bem o que se esconde atrás de certo cavalheirismo de antigamente. Os cinzeiros acolheram os cigarros sem uso.

Um cavalheiro sentiu-se agredido pelo seu desprezo. Um outro pela sua superioridade. Um doutor enalteceu-lhe a modéstia. Um senhor acusou-lhe a empáfia. E o jovem que o segurou pelo braço surpreendeu-se com sua rígida força viril.

Nenhum suor na testa. Nenhum tremor

na mão. Sequer uma ponta de tédio. Imperturbável, o manequim de madeira varava a festa em que os outros aos poucos se descompunham.

Já não eram como tinham chegado. As mechas escapavam, amoleciam os colarinhos, secreções escorriam nas peles pegajosas. Só os sorrisos se mantinham, agora descorados.

No relógio torneado do pulso rijo a festa estava em tempo de acabar.

As mulheres recolhiam as bolsas com discrição. Os amigos, os amigos dos amigos, os novos amigos dos velhos amigos deslizavam porta afora.

Mais tarde, a dona da casa, tirando a maquilagem na paz final do banheiro, dedos no pote de creme, comentava a festa com o marido.

— Gostei — concluiu alastrando preto e vermelho no rosto em nova máscara —, gostei mesmo daquele convidado, aquele atencioso, de terno riscado, aquele, como é mesmo o nome?

MARINA COLASANTI

Marina Colasanti (Sant'Anna) nasceu em 26 de setembro de 1937, em Asmara (Eritréia), Etiópia. Viveu sua infância na Africa (Eritréia, Líbia). Depois seguiu para a Itália, onde morou 11 anos. Chegou ao Brasil em 1948, e sua família se radicou no Rio de Janeiro, onde reside desde então. Possui nacionalidade brasileira e naturalidade italiana. Entre 1952 e 1956 estudou pintura com Catarina Baratelle; Em 1958 já participava de vários salões de artes plásticas, como o III Salão de Arte Moderna. Nos anos seguintes, atuou como colaboradora de periódicos, apresentadora de televisão e roteirista. Ingressou no Jornal do Brasil em 1962, como redatora do Caderno B, desenvolveu as atividades de: cronista, colunista, ilustradora, sub-editora, Secretária de Texto. Foi também editora do Caderno Infantil do mesmo jornal.

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Participou do Suplemento do Livro com numerosas resenhas. No mesmo período editou o Segundo Tempo, do Jornal dos Sports. Deixou o JB em 1973. Assinou seções nas revistas: Senhor, Fatos & Fotos, Ele e Ela, Fairplay, Claudia e Jóia. Em 1976 ingressou na Editora Abril, na revista Nova da qual já era colaboradora, com a função de editora de comportamento. De fevereiro a julho de 1986 escreveu crônicas para a revista Manchete. Deixa a Editora Abril em 1992, como editora especial, após uma breve permanência na revista Claudia, tendo ganho três Prêmios Abril de Jornalismo. De maio de 1991 a abril de 1993 assinou crônicas semanais no Jornal do Brasil. De 1975 até 1982 foi redatora na agência publicitária Estrutural, tendo ganho mais de 20 prêmios nesta área. Atuou na televisão como entrevistadora de Sexo Indiscreto - TV Rio, e entrevistadora de Olho por Olho - TV Tupi. Na televisão foi editora e apresentadora do noticiário Primeira Mão -TV Rio, 1974; apresentadora e redatora do programa cultural Os Mágicos -TVE, 1976; âncora do programa cinematográfico Sábado Forte -TVE, de 1985 a 1988; e âncora do programa patrocinado pelo Instituto Italiano de Cultura, Imagens da Itália- TVE, de 1992 a 1993. Em 1968, foi lançado seu primeiro livro, Eu Sozinha; desde então, publicou mais de 30 obras, entre literatura infantil e adulta. Seu primeiro livro de poesia, Cada Bicho

seu Capricho, saiu em 1992. Em 1994 ganhou o Prêmio Jabuti de Poesia, por Rota de Colisão (1993), e o Prêmio Jabuti Infantil ou Juvenil, por Ana Z Aonde Vai Você? Suas crônicas estão reunidas em vários livros, dentre os quais Eu Sei, mas não Devia (1992) que recebeu outro prêmio Jabuti, além de Rota de Colisão igualmente premiado. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. Dentre outros escreveu E por falar em amor; Contos de amor rasgados; Aqui entre nós, Intimidade pública, Eu sozinha, Zooilógico, A morada do ser, A nova mulher (que vendeu mais de 100.000 exemplares), Mulher daqui pra frente, O leopardo é um animal delicado, Gargantas abertas e os escritos para crianças Uma idéia toda azul e Doze reis e a moça do labirinto de vento. Colabora em revistas femininas e constantemente é convidada para cursos e palestras em todo o Brasil. É casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna com quem teve duas filhas: Fabiana e Alessandra. Em suas obras, a autora reflete, a partir de fatos cotidianos, sobre a situação feminina, o amor, a arte, os problemas sociais brasileiros, sempre com aguçada sensibilidade. Fontes: COLASANTI, Marina. O leopardo é um animal delicado. RJ: Editora Rocco, 1998. http://omundodemarinacolasanti.blogspot.com/

Sou quem sou, simplesmente mulher, não fujo, nem nego,

Corro risco, atropelo perigo, avanço sinal, ignoro avisos. Procuro viver, sem medo, sem dor, com calor, aconchego,

Supro carências, rego desejos, desabrocho em risos...

Matéria cobiçada... na tez macia, no calor ardente. Alma pura, envolta em completa fissura. Sem frescuras!

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Encontro prazer na forma completa, repleta, latente. Meretriz sem pudor,mulher no ponto, uva madura!

Sou quadro abstrato, me entrego no ato à paixão que aflora. Sou enigma permanente, sem ponto final, sem continências,

Sou mulher tão somente, vivendo o momento, sorvendo as horas.

Sou pétala recolhida, sem forma, sem cor, completa em essência. Exalo a esperança, transpiro vontades. Não me tenhas senhora. Sou mulher insolúvel, nada volúvel. Vivo a vida em reticências...

ÂNGELA BRETAS

Ângela Bretas é natural de Santa Catarina. Sempre gostou de escrever prosa e versos. Mudou-se para os EUA em 1985 e cursou língua inglesa no Lynn Community College, em Massachussetts. Tem três livros publicados e dois no prelo, e atua como free-lance para diversos jornais no Brasil e nos Estados Unidos, trabalhando como colunista e jornalista. Reside em Boca Raton - Florida/USA.

No momento ultima a produção do livro “BRAVA GENTE BRASILEIRA EM TERRAS ESTRANGEIRAS”, uma coletânea de poesias e crônicas de 29 brasileiros residentes nos mais diversos lugares desta Terra. O livro deverá ser lançado na Feira Internacional do Livro de Miami - "Miami International Book Fair" -, em agosto de 2004, e na Bienal Internacional do Livro de São Paulo, em 2006.

Livros e trabalhos publicados: - “Éramos quatro”, 1983 - “Sonho americano”, 1997 - “Conversando com as estrelas”, 2002 - American Antology of Poetry. 1999 - Antologia de Poesias, Contos e Crônicas 17ª Bienal Internacional de São Paulo, 2002 - Antologia diVersos – Grupo Pax Poesis

Encantada, 2002 - Antologia Poetrix – Movimento Internacional Poetrix, 2002 - Talento Feminino em Prosa e Verso Rede Brasileira de Escritoras, 2002 - Antologia Tempo Limitado – Scortecci Editora, 2002 E- books: - Poetrix - Ecos Inspiracionais – Prosas Poéticas - 1º Concurso Verso e Prosa da Florida – coordenadora

Alguns prêmios, troféus e participações: - Recebeu o prêmio Troféu Brasil 2001 na categoria jornalismo, evento realizado em Miami anualmente homenageando brasileiros que lutam para manter a cultura brasileira em terras norte-americanas. - Foi indicada, através do voto popular, pelo terceiro ano consecutivo ao Brazilian Press Awards de Miami 2001. - Finalista do prêmio ''Eccho of Literature'' com base em Londres – Inglaterra, pela editora Rickmarck Publishing. - Homenageada com o Troféu Imigrante 2002 – Miami – categoria jornalismo.

Fonte: http://www.releituras.com/

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O primeiro livro de contos de Rinaldo de Fernandes, O Caçador, é de 1997. Meticuloso, sem pressa, em 2005 apresentou o segundo volume, O Perfume de Roberta (Rio de Janeiro, Editora Gamamond), juntando cinco daquelas narrativas a treze inéditas.

Os narradores de Rinaldo ora são protagonistas, ora meros observadores. Ou principiam como espectadores e terminam como protagonistas. De alguns o leitor conhece duas ou três características ou traços fisionômicos, físicos, socioculturais. Muitas vezes não sabe sequer o nome.

Em “Ilhado”, um homem toma uísque numa praia de uma cidade onde não mora. E pouco mais se sabe dele: (“Cheguei ontem aqui na cidade. Vim fazer uma conferência, vai ser na segunda. Estou num hotel mais adiante.”). O narrador de “O cavalo” apenas espreita, de longe, do alto, da varanda do apartamento, as cenas que constituem a peça ficcional. Quase nada diz de si mesmo: “moro aqui já tem três anos, após me aposentar como advogado”; “Dia seguinte, viajei para o Rio de Janeiro, fui visitar meu neto.” Em “A morta”, o ser fictício também não se exibe com clareza, porque não passa de testemunha dos fatos. O protagonista de “Oferta” apenas se diz “velho vendedor” e revela ter 48 anos. O de “A poeira azul” se mostra o tempo todo: “Já dez anos que eu vendo camisas!”, “já estou com trinta e quatro anos”, “já fui garçom”, não é casado, não tem filhos, embora não diga o próprio nome. Em “O perfume de Roberta”, cabe relatar os fatos ao pai da personagem Roberta, mera figurante na trama. Esquisito, tudo faz para se esconder, não se revelar, sobretudo porque age de madrugada, às escondidas de todos: “eu falei pra ela que me chamo Pedro”. Entretanto, não oculta outros dados importantes: “Sou

funcionário da prefeitura e advogado”; “Eu sou um homem de quarenta e seis anos.” Em “Confidências de um amante quase idiota” – no outro livro, “Eu não sou um idiota” –, o protagonista nada diz de si mesmo. Roberto faz a narração de “Pássaros”. E é neste tipo de narrativa que o escritor declara ao leitor, desde o início da narrativa, quem é o vencedor do duelo final, o sobrevivente da tragédia. É como se o narrador dissesse ao leitor, desde a primeira linha: “Veja, eu vou narrar uma tragédia, da qual sou protagonista. Eu sou o vencedor do duelo final, porque sou o narrador”. O perdedor (ou a perdedora) é o outro (ou a outra), a que morreu no último ato. O vencedor, porém, é também perdedor. Talvez um perdedor menor, porque lhe restou a vida. Ora, é o narrador, mas não narra a História dos outros. Não é historiador, mas protagonista de uma narrativa.

Em “Borboleta” – outra história da coleção de estréia de Rinaldo –, o narrador é obscuro e a peça de feição rara. Também já publicado é “A tragédia prima de Sílvia Andrade”, no qual o narrador se diz escritor e relata fatos (o conto) a um delegado. São poucas as histórias contadas por mulheres. A narradora de “O mar é bem ali” confidencia: “Sou uma velha poeta”, moradora de uma quitinete. Em “Duas margens” uma mulher narra no presente: bebe cerveja no “mais pobre dos bares”, é casada com Marcos e tem uma filha de nome Juliana. Ao mesmo tempo em que conta a própria história (o desenlace amoroso), que julga catastrófica, observa (vê e ouve) personagens de outra narrativa há muito iniciada e que em breve terá desfecho trágico.

“Rita e o cachorro” (o título – que não faz parte da narração – revela o nome da

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narradora) apresenta “Uma mulher vivendo só, sem emprego certo, pedindo a um e outro para fazer revisões de todo tipo de texto, teses, artigos, dissertações, o diabo.”

A narradora de “Sariema” – recriação de “A hora e a vez de Augusto Matraga”, de Guimarães Rosa – se desvela desde o título. Pode-se falar em clonagem literária. De um ser (composição) se extrai uma célula-tronco e dela se cria novo ser, semelhante ao original. Ou remeter ao mito bíblico da criação da mulher: de uma costela de Adão se fez Eva. Neste conto se repete o esquema do vencedor e do perdedor. Se a história é contada por Sariema e se dá o embate entre ela e Nhô Augusto, logicamente (mas poderia não ser lógico) ela é a vencedora e ele o morto.

Nas demais peças não há personagens narradores. O primeiro é “Negro”, conto reproduzido da primeira obra. Em “O último segredo”, o narrador, pode-se dizer, é semi-onisciente. “Passarinho” se assemelha àquele também neste aspecto, além de serem curtos e de tratarem de problemas sociais ou de relações sociais. Em outras composições pode-se ver a preocupação de Rinaldo com os dramas sociais, pessoais e domésticos. O narrador de “Procurando o carnaval” – também da primeira coleção – é espécie de alter ego do protagonista sem nome explícito, sua sombra. Um dos temas predominantes em Rinaldo é a solidão. Enquanto as pessoas se debatem entre a vida e a morte, há sempre alguém (o narrador, no mais das vezes) em plena solidão, embora por alguns instantes ou momentos se envolva num turbilhão de fatos alheios à sua vontade ou expectativa. É o caso do narrador de “Ilhado”: tomava uísque numa barraca de praia, certamente para espairecer, quando se viu envolvido numa tragédia. Em “O Cavalo”, o narrador é um solitário observador (“com a insônia, me levantei, fui à cozinha”). Parecida com ele é a narradora de “O mar é bem ali”: uma moradora solitária de uma quitinete, que termina imaginando um diálogo com um suposto visitante. Em solidão também está o protagonista de “Oferta”, assim como os demais personagens, que mal conseguem se comunicar. A solidão da protagonista de “Duas

margens” se mistura à angústia de ter sido traída no amor. A narradora está só, bebe cerveja num bar, enquanto outra mulher desesperada se debate também na solidão, após ter sido abandonada pelo marido.

Algumas obras de Rinaldo têm desfecho trágico. A carnificina em “Ilhado” vai num crescendo. O leitor nem percebe a lenta transformação do lirismo dos namorados à beira-mar em tragédia. A tragédia de “A morta” se dá de forma inesperada, porque nenhum conflito se manifesta no decorrer na narração, a não ser de forma sutil: “Não tem ninguém aí, não é possível!” (os três visitantes acreditavam encontrar o casal à sua espera); “E, quase que ao mesmo tempo, algo tombou na estrada. Não sei se tombo ou o tropeço de alguém.” Em “Duas margens” a morte da criança é algo escabroso. A mãe enterra o filho vivo, com a ajuda da narradora, que acreditou na afirmação da outra: “– Ele está morto”. Na última tragédia, Sariema, mulher de Osório, esfaqueia Nhô Augusto, após este matar aquele.

O mar é uma constante nas peças ficcionais de Rinaldo. Não exatamente o mar. Na verdade, não se vêem pescadores, banhistas ou surfistas. O mar é muito mais referência de ambiente, às vezes pano-de-fundo (“O mar espuma, adiante, nos arrecifes.”), mas sempre presente. Toda a tragédia de “Ilhado” se inicia à beira-mar e termina em pleno mar, num barco. Em “O mar é bem ali”, o próprio título diz tudo. Na verdade, a trama se dá num apartamento à beira-mar. A tragédia de “A morta” também não se dá no mar. Entretanto, o mar está muito presente: “A lâmina do mar apareceu lá embaixo, depois do descampado e de uma ponta de duna.” Veja-se “Oferta”, que se passa num boteco de beira de estrada no sertão. Entretanto, o narrador lembra uma propaganda de televisão em que um rapaz se aproxima de um casebre à beira-mar. O narrador olha em volta “procurando o mar”, que muito longe dele está. “Não há mar, mas uma paisagem rubra, de pedras pretas e raros arbustos, paisagem seca, de muitos gravetos.” Logo no início de “A poeira azul” se lê: “Só foi possível ver a faixa verde de mar depois da curva.” Em “Rita e o cachorro” o mar também está

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presente: “Ontem o mar estava todo esmeralda”. Entretanto, nem só de paisagens marinhas vivem os personagens de Rinaldo. Alguns estão no sertão, em estradas poeirentas, outros na cidade grande, em apartamentos, ruas.

A estrutura das narrativas de O Perfume de Roberta é, quase sempre, linear no tempo. Nada de retrospectos, a não ser em elucubrações ou monólogos. Ou quando dois tempos se fundem: o presente da narração e o passado narrado, como se vê em “Sariema”. Isto é, quando o narrador está contando (presente) uma história (passado) para um ouvinte. Na maioria dos contos, o narrador conta uma história, sem se dirigir ao leitor ou a um ouvinte. Algumas obras de Rinaldo, constituídos de breves quadros, lembram roteiros de cinema. Divididos em blocos, geralmente em razão da mudança de tempo. Assim, em “Ilhado”, cortado em três segmentos, se pode ver claramente que no primeiro a cena é quase parada, com pouca movimentação dos seres: o narrador, a mulher sentada num banco, a chegada do homem num barco, a cozinheira do bar e o garçom. No segundo segmento surge o mendigo, que será o personagem central da trama. E, por último, a cena do ataque do mendigo ao narrador, à mulher e ao homem do barco. Tudo em alguns minutos. Em outros contos, embora a ação principal se dê em poucos minutos ou horas, há referências às conseqüências dele na vida dos seres fictícios num tempo futuro, como em “O cavalo”: o narrador, numa noite, vê do alto da varanda de seu apartamento um cavalo solto na rua, a chegada de um homem num carro à casa vizinha, a briga do homem com uma mulher, etc. Tudo em poucos minutos. Após isso, refere-se ao dia seguinte e, no último parágrafo, há alguns meses depois.

A linguagem de Rinaldo é simples, próxima da oralidade, porém sem uso de gírias urbanas ou expressões regionais. A estrutura dos composições também é singela, exceto em “Borboleta”, pleno de ousadia formal. As narrações, sejam de personagens, sejam do

narrador onisciente ou do escritor, não se amarram a pormenores. Os diálogos e as falas são curtos. As narrações elidem a necessidade deles. Também nada de descrições minuciosas de seres fictícios ou paisagens. Essa economia verbal dá aos contos de O Perfume de Roberta um ar de novidade, apesar da simplicidade estrutural e de linguagem. Um quê de cheiro de fruta madura.

RINALDO DE FERNANDES

Rinaldo de Fernandes, nasceu em Chapadinha, MA, e morou por muitos anos em Fortaleza, CE. Graduou-se em Letras, na Universidade Federal do Ceará. Doutor em Letras pela UNICAMP, é professor de literatura na Universidade Federal da Paraíba. Organizou os livros - O Clarim e a Oração: cem anos de Os sertões (São Paulo: Geração Editorial, 2002), - Chico Buarque do Brasil (Rio de Janeiro: Garamond/Biblioteca Nacional, 2004), - Contos cruéis: as narrativas mais violentas da literatura brasileira contemporânea (São Paulo: Geração Editorial, 2006) e - Quartas Histórias, contos baseados em narrativas de Guimarães Rosa (Rio de Janeiro: Garamond, 2006). Com o conto "Beleza", conquistou o primeiro lugar no Concurso Nacional de Contos do Paraná de 2006. Como pesquisador, fez os textos da antologia Os cem melhores poetas brasileiros do século, organizada por José Nêumanne Pinto (São Paulo: Geração Editorial, 2001). Já teve contos publicados, entre outros suplementos, pelo "Rascunho", de Curitiba. Autor dos livros de contos “O Caçador” (1997) e “O perfume de Roberta” . Fontes: artigo de Nilto Maciel para http://www.cronopios.com.br/site/resenhas.asp?id=1079 http://triplov.com/contos/rinaldo/index.html http://argiladapalavra.softservice.info/

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Armando e Carol resolveram casar-se. Já eram namorados há algum tempo, mas ainda não conheciam as famílias. Agora estava na hora da aproximação e os dois estavam preocupados. Armando dizia: - A minha mãe é muito legal. Você vai gostar dela e ela de você, tenho certeza!. Carol também afirmava: – Mamãe está ansiosa para conhecê-lo. Você vai ver que boazinha que ela é. Chegou o dia marcado para Carol fazer a primeira visita para a futura sogra e ela estava nervosa sem saber como se comportar para melhor impressioná-la. Que vestir? Será que podia ir de calças compridas ou seria melhor um vestido? E o sapato? Não queria usar salto muito alto para não ficar mais alta do que o Mando, mas, salto baixo, também, não fazia nenhuma vista Tênis, nem pensar! Se fosse de calças até que podia, mas, não sei. . . É tão esporte! E como se comportar na casa dele? Se falasse muito alto, Ela a acharia vulgar, mas se cochichasse poderia parecer tímida. Tinha que medir muito bem (quantos decibéis?) para parecer uma pessoa fina, equilibrada, bem educada, etc. Se mostrasse muito carinhosa com o Mando, podia parecer assanhada, mas se se mantivesse muito distante ela a acharia muito fria. Se comesse muito, pareceria gulosa, mas, se comesse muito pouco, ela podia pensar que ela não gostou da sua comida. Como é difícil encontrar o ponto de equilíbrio! (A única coisa que não lhe ocorreu foi ser autêntica. Mostrar-se tal qual era na realidade para que ela já ficasse sabendo como era a mulher que estava levando embora o seu filho.).

E os possíveis acidentes? Já pensou se virasse a xícara de café, derrubasse alguma coisa no chão ou tropeçasse no tapete? Quando se defrontaram, mediram-se por um instante de alto a baixo. Carol não pode deixar de comparar a mãe do Mando com a sua, (ela era bem mais sofisticada e isso a preocupou um pouco.) e a sogra pensou: “Que menina feiosa”! Pernas finas, nariz chato e sardas no pescoço! ´´, mas falou, sorrindo: - Olá, querida, o Armandinho não exagerou quando disse que você era linda! Surpresa, Carol não lembrou de nada inteligente para dizer e balbuciou tolamente: - ... ...gada… - Meu nome é muito feio (Hermengarda!) cochicha-lhe no ouvido, mas quero que você, como todo mundo, me chame pelo apelido, Meg, e, por favor, nada de dona nem de senhora. - Eu sou Carolina, mas todos me chamam de Carol. - Eu já sabia, o Armandinho me disse. O Armandinho procurou desanuviar o ambiente contando mil casos, mas a Carol não achava graça em nada. Queria sumir dali. Nunca pensou que fosse tão difícil relacionar-se com uma sogra em potencial. Finalmente foram para a mesa e ela obrigou-se a se servir de tudo e comer um pouco. E, então já, podia despedir-se. - Volte sempre! Esta casa agora é sua! -....gada... Ufa! Na semana seguinte foi a vez do Armando conhecer a mãe da Carol. Esta visita foi bem mais tranqüila. O Armando estava muito à vontade e a Berta, mãe da Carol recebeu-o carinhosamente, sem

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exageros. Ofereceu, logo após os cumprimentos, uma latinha de cerveja que ele aceitou e trouxe uma bandeja enorme, de plástico, abarrotada de salgadinhos feitos por ela mesma (deliciosos). A Carol ficou meio preocupada. Será que ele ia achar sua mãe muito brega? Mas ele comeu à vontade, aceitou a segunda cerveja, e, quando ela ofereceu uma fatia de bolo, disse francamente que não gostava de bolo, mas que aceitava mais uma latinha. - Meu Deus! Será que a Mamãe vai achar que ele bebe demais? Berta era uma mulher simples, não se incomodava com etiquetas, mas, detestava beberrões e Carol sabia disso, é claro. Carol estava com medo de que ele comparasse a sofisticação da mãe dele com a simplicidade da dela, mas ele nem reparou nisso. Aliás, já havia dito a Carol que a amava mesmo sem conhecê-la, pelo simples fato dela ser sua mãe e que a única queixa que tinha dela era o limite que ela punha no namoro dos dois. Mas, faltava a terceira e mais complicada etapa. O confronto das duas futuras sogras. Dentre os problemáticos relacio-namentos familiares, é, sem dúvida, o das sogras o mais problemático de todos. Não por culpa delas, coitadas! (não conheço uma só que não diga: “eu não dou palpite, respeito às decisões de minha nora (ou genro)”. “A mãe dele (a) é um amor! Somos grandes amigas!”). Berta e Meg se encontram num Restaurante. Um jantar para toda a família para oficializar o noivado, combinar o casamento. As duas examinam-se, por um momento, cumprimentam-se e trocam frases polidas que não têm nada a ver com o que estão pensando. Numa coisa as duas estavam de pleno acordo: o casamento de seus filhos tinha que ser um acontecimento para ser lembrado por muitas décadas. Uma festa de arromba, nem que para isso tivessem que empenhar tudo que tinham ainda ficar devendo. O problema era o conceito que cada

uma delas tinha de uma grande festa. Berta sugeriu que a festa fosse na fazenda (uma grande fazenda de sua propriedade). Uma festa para o civil, outra para o religioso e depois que os noivos se fossem, uma terceira festa para o enterro dos ossos. Podiam convidar a cidade inteira que espaço não faltaria, muito menos comida e bebida. Meg achou um absurdo. “Só faltou sugerir que os convidados fossem vestidos a caráter e dançassem uma quadrilha no terreiro ao som de violas e sanfonas”, pensou, mas disse: - Eu acho que a festa num clube da cidade seria mais chic, mais apropriado. Pouca gente, um bom bufet, um decorador experiente, boa música, isto, naturalmente, depois da cerimônia na Catedral com toda a pompa a que temos direito. Os próximos meses foram cheios de trabalhos, apreensões e desencontros. Meg e Berta, embora se declarassem amicíssimas e fossem vistas juntas por toda parte no afã dos preparativos para A Festa, desentendiam-se o tempo todo. Meg, não satisfeita em escolher o seu próprio vestido, queria escolher também o da Berta, pois não ficava bem as Mães apresentarem-se muito diferentes e a Berta queria usar o que gostava, independente do que a Meg ia vestir. Berta queria sempre fazer pesquisa de preços e, muitas vezes, optava pelo mais barato achando que tanto fazia, mas a Meg não admitia que se falasse em economia quando se tratava da grande festa do filhinho querido, e achava que a outra era mesquinha. Quando os noivos começaram a montar sua casa, as duas se alvoroçaram a ajudá-los, cada uma querendo que suas idéias prevalecessem, é claro. Os garotos começaram a perder a paciência. Carol pediu a mãe - Não deixe a Meg mexer no nosso quarto. O Mando e eu queremos arrumar do nosso jeito, pelo menos o nosso quarto. - Como é que eu vou fazer isso? Antes de eu começar a pensar ela já tinha providenciado tudo do seu gosto, até o

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cortinado da cama (será que ainda se usa isso?). O Armando reclamou para a Carol: - Sua mãe cismou de arrumar o meu escritório e agora eu não acho mais nada lá dentro. - Mãe, por favor, não mexa nas coisas do Mando que ele não gosta. - Vocês são mal agradecidos! A Meg e eu temos tido um trabalhão danado para que vocês tenham tudo do bom e do melhor. Se deixássemos por sua conta queria ver se saia casamento. - Claro que saia. A gente casava em surdina, ia morar embaixo de uma ponta, e seríamos muito felizes! - Deixe de falar bobagem e vá escolher o jogo de malas para a lua de mel. - Ah! Mãe! Venha comigo. Eu não entendo nada de malas. . . - É assim que é independente? Que podia casar em surdina e morar embaixo da ponte? - Ah! Mãe! Isso é só modo de dizer. . . Mas, de uma forma ou de outra o casamento realizou-se e as duas sogras continuaram se debicando amistosamente. Berta gosta muito do Armando: - Ele é um santo! A Carol tem um vidão. Não trabalha fora, tem empregada para todo o serviço da casa. Compra tudo o que quer e ele nunca a contraria em nada. E, olhe, não pense que ele é rico. Faz sacrifícios, mas dá a ela tudo o que ela quer! A Meg, porém, não vê as coisas pelo mesmo prisma: - Coitado do Armandinho! A Carol é uma inútil! Não faz nada em casa. Gasta o que não tem e obriga-o a sacrifícios para satisfazer-lhe os caprichos.

Bem, Sogras à parte, Carol e Armando foram felizes para sempre. Afinal de contas,

isto é o que importa, não é verdade?

BISA MAITH (MARIA THEREZA MOREIRA PEREIRA)

Desde criança ela gostava de escrever e almejava tornar-se um dia uma grande escritora. Queria muito estudar, freqüentar uma escola mas isto lhe foi negado. Não foi além de Grupo Escolar, como se chamava então a escola primária, fato que, no entanto, não a impediu de sonhar, pois, os sonhos não estão condicionados a regras de gramática, ortografia, lingüística ou seja lá o que for. O seu anseio, porém, se lhe afigurava impossível. Os escritores lhe pareciam tão distantes e inatingíveis quanto os consagrados artistas e desportistas com que sonham a maioria dos adolescentes. Seguiu o caminho da maioria, trabalho, casamento, filhos ... e o seu sonho ficou guardado no coração. Nunca se desfez dele. Satisfazia-se escrevendo alguma coisa que mandava para os jornais sempre que havia uma oportunidade. Setenta e muitos anos, aposentada, filhos casados, viúva, só então tinha todo o tempo do mundo e o direito de fazer loucuras, como editar um livro, mil exemplares dos quais muito poucos foram vendidos, alguns doados e a maior parte lotou o seu armário. Ela era inexperiente. Não conhecia nada do ramo e não procurou ajuda profissional. Deu seu livro para ser editado numa editora qualquer e o livro saiu com muitas falhas. Ela ficou aborrecida, mas nem tanto. Orgulha-se dele como uma mãe que ama o seu filho mesmo que ele não seja o mais belo bebê deste mundo. Graças a uma reportagem no jornal O Cruzeiro do Sul (de Sorocaba), ficou conhecida, seu blog (bisavo.blogger.com.br) teve muito acesso, foi convidada a participar do Roda Mundo 2005 e seus contos foram publicados em Cabo Verde, na África. E vieram os convites para eventos literários. Tudo que ela desejou sua vida toda, mas, já então, sem condição de locomover-se, não pode aceitar. Agora, consciente de estar trilhando o

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fim de sua estrada terrena, está vivendo talvez a mais gratificante etapa de sua vida, vendo seu trabalho ser reconhecido, conquistando novos amigos e procurando semear a sua volta sementes de alegria, de paz, de otimismo e de

felicidade. Fonte: http://www.sorocult.com/el/colunistas/bisavo.htm

E se as crianças pudessem ler para os adultos, o que aconteceria...? É uma atividade que vai estimular, firmar ou mesmo fazer com que seu filho ou aluno, tome gosto de vez pela leitura. O primeiro passo é conversar com a criança e descobrir seu gosto literário. Gosto literário aqui significa, saber de que tipo de história ela mais gosta. Feito isso, provoque ela à leitura. Isto é feito do seguinte modo: Primeiro leia você mesmo um livro, sobre o assunto do qual ela gosta. Deixe que ela veja você lendo. Se fizer isso sutilmente, será melhor ainda. Não tente chamar atenção para o fato de estar lendo, especialmente se você não tem o hábito de ler regularmente, pois ela pode perceber o artifício e estragar a tática. Se o adulto é do tipo que gosta de ler e ela já sabe disso, então pode agir de forma natural. Ao ler o livro, procure demonstrar as emoções que sente a partir do que está lendo. Isto é, ria, faça comentários baixinho como se estivesse falando sózinho etc., Isso vai deixá-la bastante curiosa. Ao perceber que você gosta da mesma coisa que ela, sua auto-confiança, vai receber uma enorme injeção de ânimo. Imagine só, um adulto que gosta do mesmo que eu - pensará ela - e sem ninguém pedir para que ele fizesse isso! Quando terminar de ler, não lhe ofereça o livrinho. Ao invés disso, coloque-o em lugar visível, converse com ela sobre outros assuntos, e finalmente sobre histórias do tema que ela prefere; então comente sobre o que acabou de ler. Como isso é feito por partes, a pressa pode estragar tudo. Assim, em outra ocasião, diga

que comprou um livro para ela ver, e que é muito bom. Importante: Em momento algum a obrigue a ler. Dê-lhe o livrinho e pronto. Pode ser que no primeiro contato, ela apenas vá folhear as páginas para explorar o terreno onde vai pisar. Aqui vale uma interrupção para algumas observações importantes, que vão determinar o sucesso ou o fracasso do seu plano. Veja bem, não é que "pode determinar", é que "vai determinar". Toda criança, com raras exceções, gosta de livrinhos com: Desenhos bem feitos. Tem que ser desenhos ou ilustrações; elas acham fotografias deprimentes e sóbrias demais para seu mundo, pode até ser uma fuga da realidade, mas é assim, e nesse momento não adianta entender porque. Saiba apenas que fotos para elas são menos interessantes que ilustrações. Os desenhos ou ilustrações devem refletir claramente o que está no texto que ela está lendo, para que possa associar o mesmo com a idéia visual da situação, já que ela sozinha ainda é incapaz de fazer isso, e ainda está construindo associações de palavras com imagens. Folhas com pouco texto. Texto claro, de preferência com palavras que ela já conheça (isso não é obrigatório). livro com poucas páginas; média de 20. Assim, é chegado o momento de você agir. De posse do livro, após tê-lo folheado, use então o argumento mágico. PEÇA QUE ELA LEIA O LIVRINHO DELA PARA VOCÊ!

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Ao pedir isso, demonstre que tem total confiança nela (isso se consegue com a entonação certa da voz, tom firme, normal, como se fosse a coisa mais natural do mundo, sem titubear). Diga também que tem interesse no livro. Nesse ponto, toda insegurança comum na criança, ao oferecer ou compartilhar alguma coisa com os adultos, tende a sumir. Durante a leitura, se quiser, você pode interromper para fazer algum comentário com relação a história. Também, antes de começar, diga-lhe que se tiver alguma dúvida sobre o significado das palavras, que pergunte; ou melhor, use seu bom senso e faça comentários complementares sem que ela peça, ao menos sobre aquelas que você julgue mais apropriadas, e até com uma forma de enriquecer o texto. É importante que você saiba, que ela só vai perguntar se confiar em você, ou se você tiver lhe dado autorização explícita para fazer isso. Está feito então, ela está pronta e sem mais nenhuma inibição. Finalmente, seja paciente e nunca a corrija, diga apenas que não entendeu direito, algum parágrafo, etc. Nesse caso, você pode pedir que ela comente o que entendeu... Pode ser que durante a leitura ela baixe um pouco a voz o que é normal. Peça, sem mandar, com muito humor e gentileza, que ela fale um pouco mais alto. Isso, só vai significar para ela que você está de fato interessado na leitura, e sua motivação aumentará ainda mais. Ao perceber que ela está cansada, peça para fazer uma pausa. Os sintomas de cansaço são: mudança constante na posição, olhadas

sutis para o lado, tentativa de deitar no chão, etc. Por fim, comente com ela a história que foi lida. É provável que ela não tenha entendido bem o conto, já que apenas crianças maiores, conseguem ler para os outros e prestar atenção no que estão lendo. Diga que a história foi muito boa, que você gostou, e lhe dê a sugestão de que ela deve ler quando estiver com vontade. Mesmo que ela não aceite na hora, o que é mais provável, deixe o livro em local visível e acessível, e incite-a outras vezes para que leia, sem forçar ou exigir. Faça isso em tom de comentário. É importante que você saiba que, ao pedir para ela ler, você lhe deu confiança; confiou a ela uma tarefa de gente grande, e gostou do que ela fez; isso a fez se sentir importante. Melhor de tudo, essa é a impressão que ela terá de você a partir daí. Os efeitos benéficos disso para sua personalidade são definitivos. Assim, a semente do hábito da leitura foi plantada de forma simples, natural, sem as pressões da obrigação, em clima de harmonia, como tudo que é verdadeiro deve ser. Um último aviso: Peça que leia para você outras vezes. Dê-lhe mais livros, valorize e incentive a sugestão dela; acompanhe-a na hora de comprar ou escolher o livro. Use sua criatividade para usar essa mesma abordagem em sala de aula!

Fonte: http://sitededicas.uol.com.br/

Um bom jardineiro morre anônimo porém não morre sozinho. Com ele se vão zínias, calêndulas, miosótis, margaridas, gramados, pés de caqui, de manga e abacate, tumbérgias, orquídeas, trevos de quatro folhas, agapantos, rosas, rabos de gato, petúnias, marias sem-vergonha, hortaliças, camarões

magoados, capuchinhas, ah quantas flores morrem com o jardineiro. Não mais sua boa mão, o saber plantar e esperar, tempos certos, esta dá de galho, aquela de estaquia, esta outra só semeando. Seu Fernando Mayworm era magro, alto, origem alemã, tinha mais de setenta e oito

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anos. Seco, altivo e resistente como um bambu. Chegava cedinho em seu fusca velho que ainda dirigia. Sabia, descia, abaixava-se, levantava, ordenava aos auxiliares; às onze e meia nem um copo d'água pedia. Recolhia-se ao fusca, abria a marmita quentinha e a garrafa térmica. Educado. Estirpe. Homem discreto e educado oriundo de alemães antigos de Petrópolis de quem herdara a seriedade e a disciplina. "Esta não vai pegar aí!", sentenciava. E a planta obedecia. "Vamos ver se salvamos esta". O caule se recuperava. Se pedíamos alguma bobagem ele fazia a nossa vontade. E onde a gente não palpitava ele operava na moita e plantava algo mais belo. Quantas vezes me comovi, desejando para meu envelhecer a paz daquele homem calado e severo, que cumpria seu dever com as mãos, honrado, sereno, já sem ilusões mas silencioso enamorado das reações da terra, a felicidade por ver algo brotar, o riso raro na

contemplação da flor que "vingou" graças a ele! Era a paz de quem não cobiça, vivia para criar e elegera a flor e o fruto como objetos sagrados do seu existir. Sem quase nada dele saber. Sempre recatado. Sem reclamar (salvo dos cachorros que fazem pipi em hortas baixas), sem proclamar. Sem nada contar de sua vida, qual seu time de futebol ou preferência política, aprendi a gostar à distância daquele homem idoso, cuja vida foi prodigalizar mudas e sementes e mudo morreu a trabalhar, na beleza serena e serrana de Petrópolis. Fonte: http://www.arturdatavola.com/

Foto da Esquerda = Monumento à Trova, em Corumbá. Nas placas de bronze, a trova primeiro lugar nos I JF (A. A. de Assis) e a trova primeiro lugar nos II JF (Waldir Neves) Foto da Direita = Recepção aos trovadores no aeroporto. Em destaque: Durval Mendonça, Colbert Rangel Coelho, governador Pedro Pedrossian, Margarida Lopes de Almeida, A. A. de Assis (olhando para trás), J. G. de Araújo Jorge, Rubens de Castro e Luiz Otávio

I Jogos Florais de Corumbá Realização: 09 a 14 de junho de 1968 Presidente de honra: prefeito Breno de Medeiros Guimarães Presidente da Comissão Central Organizadora: Lécio Gomes de Souza Patrono: J. G. de Araújo Jorge Grande homenagem: Luiz Otávio Patrocinadores: Governo do Estado (governador Pedro Pedrossian); Prefeitura Municipal de Corumbá; industriais Irmãos Chamma; Curso de Declamação “Maria Sabina” (direção Lucy Maria Bonilha de Souza)

Comissão Selecionadora em Corumbá: Alceste de Castro, Carlos de Castro Brasil, Clio Proença, Gabriel Vandoni de Barros, Lécio Gomes de Souza, Magali de Souza Baruki, Osório Gomes de Barros Comissão Julgadora no Rio de Janeiro: Helena Ferraz, J. G. de Araújo Jorge, Luiz Otávio, Margarida Lopes de Almeida, Maria Sabina, Murilo Araújo Musa: Nancy Scaffa Processo de julgamento: Dentre as mais de 3 mil trovas recebidas de todo o Brasil, foram selecionadas pela Comissão de Corumbá as 100 finalistas, as quais foram encaminhadas à Comissão Julgadora do Rio de Janeiro, para a classificação final.

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Vencedores

1º lugar

Num tempo em que tanta guerra enche o mundo de terror, benditos os que, na Terra, semeiam versos de amor! A. A. de Assis (Maringá)

2º lugar

Este amor, grande e profundo,

feito de paz e verdade, dá-me, segundo a segundo,

um sabor de eternidade. Durval Mendonça (Rio)

3º lugar

Decantado eternamente, o amor em tudo figura:

– ora é bem que cura a gente, ora é mal que não tem cura...

Agmar Murgel Dutra (Rio)

4º lugar

Entre nós dois, volta e meia, ao amor fazendo jus, muita coisa se clareia

quando a gente apaga a luz... Colbert Rangel Coelho (Rio)

5º lugar

De gota em gota, pingando, sem ver que a chuva parou, goteira é a casa chorando porque você não voltou.

Rubens de Castro (Corumbá) .

6º lugar

O meu velho amor tristonho é como nave perdida

pelo Mar-Morto do sonho, pelo Mar-Negro da vida...

Vasco de Castro Lima (Rio)

7º lugar

Miséria de pão maltrata... Mas quanta gente, Senhor,

sabeis que morre ou se mata quando há miséria de amor!

Lilinha Fernandes (Rio)

8º lugar

Naquele quarto onde outrora nosso amor viveu... sonhou...

sua boneca que chora, me vendo triste... chorou!

Rubens de Castro (Corumbá)

9º lugar

Faz-se tarde... A noite é plena... Suspiros de amor... Inverna.

– Tu nos meus braços... É pena que a noite não seja eterna!

David de Araújo (Santos)

10º lugar

Quando começa o fragor e a guerra acende a centelha, há sempre um gesto de amor nos braços da Cruz Vermelha.

Durval Mendonça (Rio)

Menções Honrosas

11º lugar

Um grande amor, palpitante de vida e de sonho, é assim:

nasce, às vezes, num instante e depois não tem mais fim.

Walter Waeny (Santos)

12º lugar

Não quero a glória que passa, nem beleza nem dinheiro;

quero o brilhante, sem jaça, de um grande amor verdadeiro!

Lúcia Lobo Fadigas (Rio)

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13º lugar

Vendendo amor, esquecida por essas ruas além,

vive a moça que, na vida, não teve amor de ninguém!

Alves Costa (Rio)

14º lugar

Sou nau de leme partido, galho sem folha nem flor, que a vida perde o sentido

quando se perde um amor... Elton Carvalho (Rio)

15º lugar

Não graves, na árvore, as formas

de um coração, por favor: numa ferida transformas

o emblema de nosso amor. Walter Waeny (Santos)

. 16º lugar

Ao que pede, à tua porta, dá, também, tua afeição!

Um pouco de amor conforta mais que um pedaço de pão!

Rodolpho Abbud (Nova Friburgo)

17º lugar

Numa alegria incontida, vivemos um sonho em flor:

eu sou toda a tua vida, tu és todo o meu amor!

Aparício Fernandes (Rio)

18º lugar

Ela de amor não se farta, e comovido hoje vejo

que o final da sua carta, em vez de um ponto, era um beijo. Adhemar Mendonça (Juiz de Fora)

19º lugar

Você partiu... quantos anos... nem sei se o mundo parou!...

E, apesar dos desenganos, você partindo... ficou!

Rubens de Castro (Corumbá)

20º lugar

Ponho meus olhos no espaço e tropeço entre as estrelas.

Penso em ti: entre elas passo e nem sequer chego a vê-las.

Maria Thereza Cavalheiro (São Paulo)

Outros semifinalistas – Além dos 20 trovadores premiados (cujas trovas foram transcritas acima), figuram também na relação dos semifinalistas os seguintes (alguns com mais de uma trova): Alfredo de Castro (Pouso Alegre), Andrônica Pereira Moura (Rio), Araife David (Taubaté), Aristheu Bulhões (Santos), Aristides José de Campos (São Paulo), Carlos Guimarães (Rio), Carolina Azevedo de Castro (Petrópolis), Carolina Ramos (Santos), Cesídio Ambrogi (Taubaté), Constantino Gonçalves (Campos dos Goytacazes), De Paula Mádia (Taubaté), Eno Theodoro Wanke (Santos), Geraldo Pimenta de Moraes (Pouso Alegre), Idália Krau (Rio), Isabel Cholby Santos (Santos), Jenny Teixeira Gomes (Bauru), Jorge Beltrão (Pouso Alegre), Jorge Rocha (Rio), José Coelho de Babo (Nova Friburgo), Joubert de Araújo Silva (Rio), Júlio de Mello e Silva (Itaquera), Magdalena Léa (Rio), Maria Idalina Jacobina (Rio), Marília Fairbanks Maciel (São Paulo), Marina Tricânico (São Paulo), Octávio Babo Filho (Rio), P. de Petrus (Rio), Roberto Medeiros (Juiz de Fora), Severina Dumas Cavalcanti (Campos dos Goytacazes), Sinval E. da Cruz (Juiz de Fora), Sidney G. Wyss Barreto (Rio Claro), Têula Athayde de Souza Dias (Belo Horizonte), Vera Azevedo de Castro (Petrópolis), Wandisley Garcia (Jales), Wilson Montmor (Resende).

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Os Jogos Florais de Corumbá, segundo Luiz Otávio Ontem estávamos no extremo oeste brasileiro – na cognominada “Cidade Branca”, Corumbá, onde assistimos, encantados e entusiasmados, aos seus I Jogos Florais. Foram cinco dias inesquecíveis de sonho, de confraternização, de uma hospitalidade carinhosa. Partimos do Rio de Janeiro num turbo-hélice japonês, no domingo, 9 de junho. A caravana era formada pelos premiados Durval Mendonça, Colbert Rangel Coelho, Lúcia Lobo Fadigas, Luiz Alves Costa, Elton Carvalho, Rodolpho Abbud e membros da Comissão Julgadora: Margarida Lopes de Almeida, Maria Sabina, Helena Ferraz e o autor destas linhas (Luiz Otávio). O primeiro colocado, de Maringá, A. A. de Assis, incorporou-se ao grupo em Campo Grande, em companhia de Ary de Lima (poeta e vereador), representante da Câmara Municipal de Maringá. J. G. de Araújo Jorge (também membro da Comissão Julgadora) seguira por terra, por sofrer de “alergia” aérea... Cada um de nós – membros dessa comitiva – só teve expressões de encantamento para qualificar a beleza desses festejos tão bem idealizados e organizados pelo distinto casal Dr. Hélio Sachser de Souza, com a cooperação da Prefeitura, do Governo do Estado, da sociedade local, dos clubes, do comércio e indústria, dos Irmãos Chamma, do Exército e Marinha, da imprensa e rádio, da mocidade estudantil e de todo o povo da cidade. Todos, enfim, prestigiaram, ajudaram, e deram a sua presença ativa nas festas dos I Jogos Florais de Corumbá. Para relatar, ainda que resumidamente, todas as solenidades e passeios, para citar todos aqueles que com seu trabalho ou sua gentileza colaboraram para o grande brilho das festas, precisaria escrever várias crônicas. Que me relevem, pois, os amigos de Corumbá e os leitores. Assim, faço um breve relato: no aeroporto, aguardavam-nos o governador do estado, o prefeito, a Comissão Central, os membros da Comissão Selecionadora, os trovadores locais, as musas, e

inúmeras figuras da sociedade, que, em seus carros, nos levaram ao hotel. O almoço foi na casa do casal Lucy-Hélio, e constou de uma caprichada feijoada de autoria da genitora de Dona Lucy. À noite, na Praça Dom Bosco, o coral Cecília Meireles iniciou as solenidades com a Oração de São Francisco de Assis, nosso padroeiro, o que muito nos comoveu. A seguir, Gabriel Vandoni de Barros fez o discurso de inauguração do monumento ao corumbaense Pedro de Medeiros, saudando também os trovadores visitantes e exaltando os Jogos Florais. Logo depois, J. G. de Araújo Jorge, em breves palavras, fez uma saudação à cidade, enaltecendo os Jogos Florais e focalizando a beleza daquele espetáculo, com tanto povo em volta de um coreto para assistir à inauguração de um monumento a um poeta e ouvir trovas, sendo, pois, um verdadeiro “Comício de Poesia”. A seguir, os organizadores solicitaram-me que comandasse a apresentação dos trovadores ao povo e também aos ouvintes de duas estações de rádio que transmitiam a festa. Desfilaram os trovadores da comitiva e os locais, cada um dizendo cinco trovas. No dia seguinte, segunda-feira, 10, fomos visitar a fazenda Itacupê, do sr. Angelito Albaneze, onde nos foi oferecido um churrasco pelo cronista social Admar Amaral. À tarde, fomos visitar o Quartel General da Segunda Brigada Mista, comandada pelo general Mendonça Lima, que, com sua oficialidade, recebeu com grande atenção a caravana dos trovadores. A seguir, visitamos o Museu Regional, uma obra notável de Gabriel Vandoni de Barros. Às vinte horas, houve uma recepção na Câmara Municipal, quando o vereador e trovador Clio Proença saudou os visitantes e, por coincidência, teve sua oração respondida por outro vereador, de Maringá, Ary de Lima. Outros vereadores e trovadores usaram da palavra. A seguir, todos se dirigiram para o navio paraguaio “Presidente Carlos Antonio Lopes”, onde nos foi oferecido um belo banquete, com a presença do prefeito, do cônsul do Paraguai e de outras autoridades. Foi uma bela noite, com poesias ditas pelos trovadores e declamadas por Margarida Lopes

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de Almeida, Maria Sabina, Lucy Maria Bonilha de Souza e pela musa Nancy Scaffa. Um conjunto paraguaio apresentou belíssimas músicas típicas. Esquecia-me de dizer que pela manhã desse dia fizemos um belo passeio às minas de manganês de Urucum. Na terça-feira, dia 11, fomos à Base Naval de Ladário, e assistimos às comemorações do aniversário da Batalha do Riachuelo. A parte da tarde foi ocupada na visita a indústrias locais. À noite fomos convidados pelo comandante da Base Naval de Ladário para a festa e coquetel em comemoração ao Dia da Marinha. Houve danças, e os trovadores apresentaram as suas trovas. No dia 12, quarta-feira, pela manhã, fomos de ônibus até Puerto Suares, na Bolívia. Na fronteira, tiramos uma fotografia com um pé no Brasil e outro na Bolívia. À tarde, fizemos um belíssimo e agradável passeio pelo rio Paraguai, a bordo de um navio da flotilha. Havia um conjunto orfeônico estudantil, que apresentou vários números, e alunas de colégios de Corumbá e Ladário chegaram a fazer filas para que os trovadores escrevessem trovas nos seus cadernos. À noite, tivemos excelente programa de declamação, de responsabilidade de Lucy Maria Bonilha de Souza, que recebeu de todos os maiores aplausos. Inicialmente, foram coroadas as musas pelos trovadores. Na primeira parte, vários grupos, muito bem ensaiados, apresentaram poemas e as trovas vencedoras. Na segunda parte, houve um desafio estilizado, muito bem apresentado por seis pares. Na terceira parte, tivemos a saudação aos visitantes pelo dr. Lécio Gomes de Souza, um poema de exaltação aos Jogos Florais e aos trovadores, por Lucy Maria Bonilha de Souza, e, finalmente, em agradecimento, aos organizadores, e à sociedade que lotava o Corumbaense Futebol Clube, eu disse algumas

palavras e apresentei os trovadores, que declamaram suas trovas. Maria Sabina fez um poema para a ocasião, que foi muito aplaudido. Às 23 horas fomos todos homenageados no baile do Riachuelo Futebol Clube. No dia 13, pela manhã, assistimos ao desfile escolar-militar pelo transcurso do 101º aniversário da Retomada de Corumbá. Abria o desfile uma grande faixa com saudação aos Jogos Florais. A musa desfilou num carro alegórico que trazia, num enorme quadro, a trova vitoriosa, de A. A. de Assis. Às 11h30, no salão nobre da Prefeitura, com a presença do general comandante da Segunda Brigada Mista, do contra-almirante comandante da Base Naval de Ladário, do bispo, do prefeito, de outras autoridades, de elementos da sociedade local, além dos trovadores, o prefeito saudou os visitantes e, a seguir, como presidente nacional da UBT, instalei oficialmente a UBT de Corumbá, dando posse ao seu presidente, Gabriel Vandoni de Barros. À tarde, alguns trovadores foram ao Clube de Tiro, onde assistiram à prova “I Jogos Florais”, enquanto Colbert, Elton, Rodolpho e eu fizemos um belíssimo vôo de teco-teco, graças à gentileza do comandante Carneiro. À noite, tivemos o Baile das Musas, no Corumbaense Futebol Clube, quando os trovadores visitantes foram homenageados por D. Lucy. Na sexta-feira, dia 14, pela manhã, fomos levados por grande caravana ao aeroporto, onde houve trovas improvisadas e lágrimas... Tomamos um DC-3 até Campo Grande e, ali, o Caravelle que, a oito mil metros de altura e 850 quilômetros por hora, nos trouxe de volta, tão rapidamente, na ilusão de que poderia voar mais depressa que a saudade que já voava ao nosso lado... ---------- Fonte: Colaboração do trovador A. A. De Assis

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ARTIGO CIENTÍFICO De acordo com a vivência científica, os acadêmicos são confrontados seguidamente pela necessidade da redação de textos de cunho variado. Seja para disciplinas específicas, atividades de pesquisa, dentre outros, os alunos devem escrever seguidamente artigos sobre um ou mais assuntos. Assim, um artigo científico pode ser conceituado como um estudo realizado de maneira resumida sobre uma questão que se fundamenta em alguma natureza científica. Devido à sua dimensão, assim como conteúdo, visa a representação de um resultado de estudos efetuados. A finalidade primordial de um artigo científico seria trazer a público resultados de pesquisas realizadas ou estudos efetuados, sendo este o cunho exercido na quase totalidade dos cursos de graduação ou pós-graduação. O artigo científico conta com uma forma de realização relativamente distinta de uma monografia convencional, devido à maior concisão e natureza dos dados tratados. No entanto, da mesma forma, o artigo científico é dividido em partes pré, textuais e pós textuais, sendo que também estas partes se encontram em menor número. A linguagem própria a ser utilizada para a realização de um artigo científico deve primar pela concisão e objetividade, buscando dar maior relevância para os dados a serem apresentados. MONOGRAFIA Inicialmente, deve-se conceituar a palavra monografia. Uma monografia pode ser definida como um estudo aprofundado de um determinado assunto e realizado a partir de uma rigorosa metodologia.

No entanto, outras definições também poderiam ser apresentadas para monografias, tais como as de que a monografia seria uma delimitação realizada por escrito de um assunto qualquer, ou ainda de que a esta seja um estudo científico que apresente uma determinada relevância, de modo sistemático e completo. A palavra monografia significa a “escrita sobre um único assunto”. Apesar de existir na prática uma divisão nominal de textos, tais como a dissertação, o TCC, a tese, entre outros, todos são tipos de monografia no seu sentido lato. Esta monografia geralmente ronda um assunto específico de acordo com sua relevância, sendo elaborada de maneira sistemática e organizada visando uma melhor construção das idéias e conceitos expostos e construídos. No entanto, como questão fundadora da necessidade de elaboração de uma monografia pode-se encontrar como a resposta de um problema de pesquisa. Como propósito gerador de toda monografia, existe a necessidade de tratamento de um tema específico de modo a fundamentá-lo suficientemente, sendo mais importante a qualidade do texto que o seu tamanho, mas não se deve confundir uma monografia pequena com um artigo científico. De acordo com seus propósitos, a monografia é construída a partir de inúmeras regras que visam basicamente o melhor tratamento da idéia ou assunto tratado assim como também gerar uma certa homo-geneidade em relação à metodologia utilizada para sua criação. A monografia se baseia a partir de fatos ou ainda conceitos, devendo-se fundamentar o assunto de modo a que se obtenha uma coerência e relevância científica e/ou filosófica. Para tanto, a monografia necessita ser elaborada a partir do embasamento existente em bibliografias, que irão fundamentá-la ou

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ainda a partir de resultados práticos de pesquisa científica, como um modo de apresentação, racionalização e discussão dos mesmos. É desejável que a monografia possua o máximo de vieses possíveis sobre o assunto tratado, de modo a possibilitar ao leitor o entendimento substancial do mesmo. Para tanto, as monografias são compostas de inúmeras partes, textuais, pré e pós-textuais que possuem funções específicas de relevância conhecida. A possibilidade e limites de realização de uma determinada monografia varia de acordo com o tema de monografia. As diversas regras e normas existentes para a elaboração de uma monografia são provenientes da Associação Brasileira de Normas Técnicas ou ABNT, entidade máxima brasileira no que tange a esta questão. No entanto, em muitos casos, cada instituição educacional pode optar por adotar regras próprias de elaboração, devendo estas serem observadas rigorosamente. O MEC, ou Ministério de Educação e Cultura, determina a necessidade da realização de ao menos uma monografia no final de muitos cursos de graduação ou pós-graduação como pré-requisito parcial para a titulação. Reconhece-se que a etapa de elaboração de uma monografia é uma das mais difíceis da vida acadêmica de um estudante, devido à necessidade de união de uma série de fatores como a observância às regras exigidas, o tratamento metodológico de busca de fontes bibliográficas, a experimentação científica, a uniformização dos diversos dados exigidos e a redação clara e objetiva, de modo a expor o assunto de maneira clara e aberta. DISSERTAÇÃO A partir do exposto no Decreto-Lei nº 216/92 de 13 de Outubro, que tem como finalidade a regulamentação das atribuições dos graus de mestre e de doutor, "O grau de mestre comprova nível aprofundado de conhecimentos numa área científica específica e capacidade para a prática da investigação". Da mesma forma, o parágrafo único do

artigo 2º da RESOLUÇÃO CNE/CES Nº 1, DE 3 DE ABRIL DE 2001 determina que “ emissão de diploma de pós-graduação stricto sensu por instituição brasileira exige que a defesa da dissertação ou da tese seja nela realizada”, sendo também necessária a realização de uma dissertação . A dissertação , desta forma, faz parte do cotidiano dos alunos de mestrado stricto-sensu no Brasil. Pode-se apontar dois modelos básicos de dissertação : a dissertação expositiva e a dissertação argumentativa. A dissertação expositiva visa a exposição, explicação ou interpretação de idéias; já a dissertação argumentativa tem como finalidade a persuasão do leitor em relação a uma hipótese ou proposição lançada, formando opiniões e formulando novas questões. No modelo de dissertação expositiva, torna-se possível a construção de uma explanação sem que haja um embate discordante de idéias ou temas, servindo-se da impessoalidade ao mesmo tempo em que o contrário pode se dar com a tentativa de convencimento, no caso da argumentativa. Para que a dissertação argumentativa tenha sua finalidade cumprida, os argumentos necessitam apresentar uma importante consistência de raciocínio e de provas. A consistência do raciocínio consistente consiste no apoio sobre os princípios da lógica, em que não se perde em especulações vãs, na esterilidade vazia e sem conteúdo. Ao mesmo tempo, em uma dissertação , deve-se servir de provas específicas, de acordo com a área, no sentido de reforçar os argumentos. Os tipos mais comuns de provas são: os fatos-exemplos, os dados estatísticos e o testemunho. Nossos professores se encontram plenamente capacitados para a realização de monografia de suporte para sua dissertação com qualidade, pois já passaram pelo estágio necessário de suas vidas já que apresentam, EM SUA TOTALIDADE, o grau de mestres ou doutores.

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ESCOLHA DO TEMA A seleção de um apreciável tema de monografias é um núcleo do sucesso da escrita de sua monografia ou TCC e deve ser tratada de acordo com sua importância. Você deve considerar o tema para uma monografia que fornecerá a oportunidade de sintetizar suas experiências e características pessoais de modo coerente ao se dirigir a seu desejo para alcançar as audiências específicas que deseja com sua monografia ou TCC. Da mesma forma, a confiança em um tema de monografia deve ser altamente considerada. Ao escolher um tema para sua monografia, as seguintes perguntas devem ser consideradas: - Você escolheu um tema para sua monografia que descrevesse algo de importância em sua vida, e com a qual você possa usar a experiência pessoal? Como exemplo, observe o artigo relacionado ao tema para monografia e TCC sobre dado e informação. - É um tema de monografia que refletirá o pensamento de outrem? Se a resposta for positiva escolha acima uma abordagem nova para discutir em sua monografia. - Seu tema de monografia pode fornecer parágrafos com interessantes citações? Se citar parágrafos com exemplos bibliográficos concretos for algo você não pode facilmente realizar em sua monografia, considere um argumento diferente. - Existe bibliografia suficiente para a realização de seu tema de monografia? Um dos problemas mais freqüentemente detectados durante a elaboração de uma monografia ou TCC é a descoberta de que não existem fontes bibliográficas disponíveis. Um exemplo seria o artigo relacionado ao tema para monografias e TCC sobre oligoterapia, que contém uma abordagem inovadora e pouco investigada no meio acadêmico. - Você está certo de que pode responder integralmente à pergunta central de sua monografia ou TCC? Você pode processar o seu tema, durante a elaboração de sua

monografia ou TCC em todos os pontos dentro da limitação, ou limitações existentes? - Você conseguiria prender o interesse dos leitores desde o primeiro parágrafo de sua monografia? Sua monografia, TCC ou qualquer outro trabalho deve ser interessante e memorável. Um dos aspectos os mais importantes a ser considerado ao escolher o tema de sua monografia ou TCC é se seu interesse sobre o mesmo é correspondido por um número significativo de pessoas, sendo este um índice da qualidade da monografia. Tente evitar ao máximo temas de monografias que tratam de doutrinas políticas, religiões específicas e opiniões controversas se sua abordagem for denegrir as mesmas. No entanto, se você conseguir ser imparcial em sua monografia, estes são temas que sempre atraem a atenção sobre monografias ou TCC. Se você apresentar um tema de monografia controverso, deve reconhecer argumentos contrários sem soar arrogante. Um exemplo é o artigo desenvolvido por nós sobre o tema para monografia – O negro no Brasil. Após ter avaliado o tema de monografia com os critérios acima, você deve ter diversos argumentos interessantes para a definição deste. Outra questão a ser levantada é a influência do orientador da monografia ou TCC na definição do tema. O ORIENTADOR Uma indefinição, infelizmente, para todo aluno que realiza sua monografia ou TCC é a participação do orientador no processo. Afinal, seu orientador é um parceiro ou um carrasco em sua monografia? Infelizmente, a grande parte dos alunos que procuram a Monografia AC não percebe a importância do orientador em todos os níveis de produção de monografias, da escolha do tema de uma monografia até a defesa de sua monografia ou de seu TCC. Em relação a monografias, dentro de sua função, a função do orientador advém do próprio termo: aquele que orienta, que guia,

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que sustenta e auxilia. No entanto, nem sempre esta função é cumprida como deveria e a culpa não é somente do orientador, mas também do aluno. Em algumas universidades, o aluno procura aquele orientador com quem sinta afinidade, estando mais à vontade para discutir detalhes e o andamento de sua monografia, já em outras, este mesmo orientador é imposto. Em alguns casos, cada orientador segue somente algumas monografias por semestre ou ano, já em outros, um mesmo orientador precisa coordenar mais de 50 monografias simultaneamente. Sem contar a apresentação do projeto de pesquisa, etapa muitas vezes essencial para o aluno e seu TCC ou monografia. É óbvio que quanto mais exclusivo for o seu orientador, mais auxílio ele poderá dar em sua monografia, e menos reclamações você terá. Torna-se muito comum a procura por parte de nossos clientes para que possamos definir um tema para sua monografia. No entanto, aconselhamos a você procurar seu orientador para definirem, em conjunto, as melhores diretrizes para o seu trabalho e sua necessidade. Caso ele lhe sugira um tema que você não domina para sua monografia ou TCC, procure se informar sobre o mesmo, lendo artigos, como por exemplo. A idéia é que você procure seu orientador sempre que necessário, tirando dúvidas, questionando, com a humildade de aceitar e acatar o que ele tem a lhe oferecer. Peça sempre mais do que ele dá, já que um aspecto que sempre notamos é que muitos alunos esperam que o seu orientador sempre tome a iniciativa. PROJETO DE PESQUISA “Pesquisa é o conjunto de atividades intelectuais tendentes à descoberta de novos conhecimentos” (SAAVEDRA, 2001, p. 61) A melhor definição para o projeto de pesquisa é um plano de trabalho da pesquisa a

ser realizada, visando primordialmente a definição dos rumos a serem adotados de acordo com a natureza específica do seu estudo, de modo a facilitar sobremaneira seu trabalho futuro. Via de regra, o projeto de pesquisa se encontra orientado para a resposta de perguntas conceituais como: O quê? Para quê? Por quê? Onde? Como? Quando? Assim, a construção do projeto deve ser específica para ordenar de maneira metódica e completa aquilo que o aluno realizará posteriormente. Para a consecução dos seus objetivos, o projeto de pesquisa é dividido em partes específicas do mesmo. A definição do tema é uma das partes essenciais do projeto, onde ocorre a seleção do objeto de estudo. A justificativa de um projeto de pesquisa consiste na apresentação das razões por que se busca realizar tal pesquisa, sendo complementada pelo problema, que é uma pergunta ainda sem resolução, seja uma dúvida, uma vontade de testar ou compreender ou ainda alguma lacuna existente do conhecimento ou metodologia. Os objetivos são as indicações do que se pretende estudar, quais os resultados que se procura alcançar, auxiliando ainda a identificação da natureza de pesquisa, assim como da delimitação da mesma. A fundamentação teórica do projeto de pesquisa tem a finalidade de nortear a pesquisa, apresentando fontes de pesquisa já realizadas sobre o mesmo tema, ou altamente correlato, sendo a hora do levantamento das publicações existentes, assim como do teor das mesmas, relacionadas ao mesmo tema do projeto. Todo projeto de pesquisa indica uma metodologia, que consiste na explanação do método, do modus operandi a ser adotado pelo aluno para a realização do seu trabalho. O tratamento oferecido aos dados a serem obtidos também faz parte da metodologia. A definição dos custos do projeto também deve estar indicada, demonstrando-se detalhadamente os gastos futuros a serem realizados para a consecução do trabalho.

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Já o cronograma, parte constante do projeto de pesquisa, serve como ponte de relação entre o tempo e o trabalho a ser realizado, devendo estar indicado por etapas visando a compreensão do aproveitamento do período disponível por parte do aluno. Termina-se o projeto de pesquisa com

as referências bibliográficas adotadas para a realização do mesmo, assim como para as escolhidas para o norteamento do trabalho a ser realizado. Fonte: http://www.monografiaac.com.br/index.html

Na Selva vivia uma vez um Macaco que quis ser escritor satírico. Estudou muito, mas logo se deu conta de que para ser escritor satírico lhe faltava conhecer as pessoas e se aplicou em visitar todo mundo e ir a todos os coquetéis e observá-las com o rabo do olho enquanto estavam distraídas com o copo na mão. Como era verdadeiramente muito gracioso e as suas piruetas ágeis divertiam os outros animais, era bem recebido em toda parte e aperfeiçoou a arte de ser ainda mais bem recebido. Não havia quem não se encantasse com sua conversa, e quando chegava era recebido com alegria tanto pelas Macacas como pelos esposos das Macacas e pelos outros habitantes da Selva, diante dos quais, por mais contrários que fossem a ele em política internacional, nacional ou municipal, se mostrava invariavelmente compreensivo; sempre, claro, com o intuito de investigar a fundo a natureza humana e poder retratá-la em suas sátiras. E assim chegou o momento em que entre os animais ele era o mais profundo conhecedor da natureza humana, da qual não lhe escapava nada. Então, um dia disse vou escrever contra os ladrões, e se fixou na Gralha, e começou a escrever com entusiasmo e gozava e ria e se encarapitava de prazer nas árvores pelas coisas que lhe ocorriam a respeito da Gralha; porém de repente refletiu que entre os animais de sociedade que o recebiam havia muitas Gralhas e especialmente uma, e que iam se ver retratadas na sua sátira, por mais delicada que

a escrevesse, e desistiu de fazê-lo. Depois quis escrever sobre os oportunistas, e pôs o olho na Serpente, a qual por diferentes meios — auxiliares na verdade de sua arte adulatória — conseguia sempre conservar, ou substituir, por melhores, os cargos que ocupava; mas várias Serpentes amigas suas, e especialmente uma, se sentiriam aludidas, e desistiu de fazê-lo. Depois resolveu satirizar os trabalhadores compulsivos e se deteve na Abelha, que trabalhava estupidamente sem saber para que nem para quem; porém com medo de que suas amigas dessa espécie, e especialmente uma, se ofendessem, terminou comparando-a favoravelmente com a Cigarra, que egoísta não fazia mais do que cantar bancando a poeta, e desistiu de fazê-lo. Finalmente elaborou uma lista completa das debilidades e defeitos humanos e não encontrou contra quem dirigir suas baterias, pois tudo estava nos amigos que sentavam à sua mesa e nele próprio.

Nesse momento renunciou a ser escritor satírico e começou a se inclinar pela Mística e pelo Amor e coisas assim; porém a partir daí, e já se sabe como são as pessoas,

todos disseram que ele tinha ficado maluco e já não o recebiam tão bem nem com tanto prazer.

AUGUSTO MONTERROSO

Augusto Monterroso nasceu em 1921, na Guatemala. Em 1944, mudou-se para o

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México e, depois de muito observar a fauna daquele país e de outros, se convenceu de que "os animais se parecem tanto com o homem que às vezes é impossível distingui-los deste". Assim surgiu "A ovelha negra e outras fábulas", lançado pela Editora Record - Rio de Janeiro, 1983, com tradução de Millôr Fernandes e ilustrações de Jaguar. Dele disse o escritor russo que se criou nos Estados Unidos, Isaac Asimov: "Os pequenos textos de A ovelha negra e outras fábulas, de Augusto Monterroso, aparentemente inofensivos, mordem os que deles se aproximam sem a devida cautela e deixam cicatrizes. Não por outro motivo são

eficazes. Depois de ler "O macaco que quis ser escritor satírico", jamais voltei a ser o mesmo." Foi agraciado, em 2000, com o Prêmio Príncipe de Astúrias de Letras. Um dos escritores latinos mais notáveis, Monterroso tem predileção por contos e ensaios. "O dinossauro", uma de suas obras mais célebres, é considerado o menor conto da literatura mundial: "Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá". Augusto Monterroso faleceu em fevereiro/2003. Fonte http://www.releituras.com

Cantaste toda a gente e toda a parte, Preste canto, presságio e profundo,

«Et coetera», automóvel e estandarte, Canto mar, canto livre e canto fundo.

Te anelo rododendro em rodapé, Eu rapsodo, sinal, revolução; Te saúdo carioca e busco até

Canto mar, canto anil e cantochão. Sonhei que tu nascias dentro em mim

E eu te apadrinhava. Éramos seis. Eras Álvaro, Alberto e o Latim, O teutónico, e o Ricardo Reis.

E sonhei que na «Ode Triunfal» Eu era Autor de láureas dadivosas,

A libido, o licor e o real Guardador de rebanhos só de rosas.

Pois quando agora em álcool for compor O aljôfar, e alucinogénio,

Não confundam mais dinheiro com Amor, Não matem, outra vez, o verde Génio.

Foste quatro em vez de um Até nisso foste um mestre

E em todos e cada um Pra falar por eles nasceste

Foste Caeiro, foste Reis Foste Campos e Pessoa Podias ser cinco ou seis

Pois nenhum de ti destoa Mestre foste e serás sempre Desta orgulhosa linguagem

Que nos embala p’lo mundo; Pois tu Fernando fizeste

Renascer nos portugueses O amor p’lo mar profundo!

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Poetas nos dizemos, tu e eu...

Mas a Divina Mestria está para além do que somos

Nossos versos... Poesia?... São apenas magros gomos

duma iguaria completa Gotas breves

dum mar que imortalizou

o verdadeiro Poeta Que a dor nunca nos doa do poeta que não fomos do estro que não floriu

E bendigamos a asa que ao de leve nos tocou

poeira que se espargiu e nós pegámos à toa

quando a “esquina dobrou” o grande mestre PESSOA

Fontes: – Varanda das Estrelícias (de Joaquim Evónio), http://www.joaquimevonio.com/ – Douglas Lara , www.sorocaba.com.br/acontece

Quando eu chegar ao Céu, de manhã, de tarde ou de noite, não sei ainda, pedirei para ir à biblioteca de Deus, onde curiosamente bisbilhotarei — com respeito — algumas obras. Quero reler a Invenção de Orfeu, de nosso Jorge de Lima, sofredor, telúrico e místico, homem bom, cirenaico, assim lhe chamou Rachel de Queiróz, quando ele morreu, novembro, 15, do ano de 1953. E pedirei, sim, para conversar com Manu, Manuel Bandeira, que se chamava Neném. Matarei saudades do dentuço Manuel, que foi o melhor ser humano que conheci, neste mundo. E gostaria de conhecer Chiquita do Rio Negro, que recusou casar se com Ataulfo Nápoles de Paiva, conviva do baile da ilha Fiscal. Escrevi sobre Chiquita. Li a sua biografia, escrita por Garrigou-Lagrange. Meu Deus, convocaria Jaime Ovalle, o tio Nhonhô, que morreu com a idade de Jorge de Lima. Ali, na biblioteca do Céu, conheceria o estupendo Ovalle, o do Azulão, o bêbedo místico, o amigo de Manuel, íntimo de Londres e de Nova York. Por fim, suplicaria para falar com João Guimarães Rosa, poliglota, com quem tão poucas vezes falei. E evocaria a posse do seu sucessor, na Casa de Machado. Esqueci-me

completamente dessa posse, ai de mim. E fui. Lá estava eu, 1968. Um ano depois da morte de Rosa. Mário Palmério falou sobre ele, como seu herdeiro. E gostei tanto do discurso, equilibrado, lúcido, original. Se me lembro. Foi procurar cartas íntimas de Rosa para grande amigo, médico e fazendeiro em Minas, Moreira Barbosa. Cartas de outrora. Deliciosas, fraternais, confiantes, de pura entrega. Reveladoras do ser complexíssimo, fechado, carente, que gostava de disfarçar, despistar, ir e vir, comensal do mistério. Saudarei a uns e outros na largueza dadivosa do Céu, turbilhão de amor, como dizia o insaciável Léon Bloy.

ANTONIO CARLOS VILLAÇA

Antonio Carlos Villaça nasceu na cidade do Rio de Janeiro (RJ), aos 31 de agosto de 1928. Jornalista, conferencista e tradutor, é reconhecido como um dos mais importantes memorialistas do Brasil. É autor de mais de 20 livros, dentre os quais destacamos “Perfil de um estadista da República” (edição do autor, 1945), pequena biografia do Barão do Rio

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Branco, organizou, em 1962, um livro sobre o poeta romântico Junqueira Freire para a coleção “Nossos Clássicos” (Agir), como memorialista estreou com “O nariz do morto” (JCM, 1970; Rocco, 1975; Ediouro, 1990 e 1996), ao qual se seguiram “O anel” — seu livro preferido — (Editora Rio, 1972), “O livro de Antonio” (José Olympio, 1974), “Monsenhor” (Brasília/Rio, 1975), “Degustação, memórias”, (José Olympio, 1994), “Os saltimbancos da Porciúncula” (Record, 1996), “A descoberta do morro” (Vigília, 1984), “Manuel Bandeira” (Agir, 1984), “O desafio da liberdade” (Agir, 1983), “Alceu Amoroso Lima” (Agir, 1984). Com o conhecimento adquirido em sua frustrada vida religiosa que, segundo alguns críticos, é a espinha dorsal de sua obra — vide “Villaça: Um noviço na solidão do mosteiro” — produziu ensaios fundamentais, dos quais destacamos “História da questão religiosa” (Francisco Alves, 1974), “O pensamento católico no Brasil” (Jorge Zahar, 1975), “Tema e voltas” (Hachette, 1976), “Literatura e vida” (Nova Fronteira, 1976), “Místicos, filósofos e poetas” (Imago, 1976). Muitos escreveram sobre sua obra e sua posição importantíssima na literatura brasileira deste século: os poetas Cassiano Ricardo e Carlos Drummond de Andrade, o crítico Wilson Martins, o romancista Octávio de Faria. Conviveu com Alceu Amoroso Lima, Gilberto Amado, Augusto Frederico Schmidt, Gilberto Freyre, Manuel Bandeira, Pedro Nava. Na livraria José Olympio, conversava todas as tardes com Graciliano Ramos.

Em “Memórias de um eterno menino ao sol”, resenha do livro “Os saltimbancos da Porciúncula”, de autoria de Isabel Lustosa, diz ela: “Villaça é o flaneur, é o homem das multidões, testemunha discreta e atenta, ávida de ver, de compreender, de entrar em contato. Seu olhar contemplativo percorre com calma e volúpia a paisagem e os homens em volta. Retira deles o que apenas a sua sensibilidade, o seu paladar, enfim, os seus sete sentidos apuradíssimos são capazes de apreender. Transforma tudo em palavras. Porque para ele, no principio não é a ação, é o verbo. Villaça defende a primazia da palavra sobre a ação. E as palavras brotam dele com uma naturalidade prazerosa, parecendo nascer assim ao correr da pena, revelando as coisas conforme elas vão se apresentando à memória do que escreve. E, com elas, as sensações que evocam, renovadas, vívidas, palpitantes, como se o narrador estivesse a vivê-las naquele momento, a experimentar de novo a volúpia do sol sobre a pele no quintal da sua infância”. Antonio Carlos Villaça foi agraciado, em 2003, com o Prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra. O autor faleceu no dia 29 de maio de 2005. Fontes VILLAÇA, Antonio Carlos. Os saltimbancos da Porciúncula. RJ: Editora Record, 1996. http://www.releituras.com

O POETA

É aquele que ama um pouco mais, E nunca ama por amar

E sonha um pouco mais, voa um pouco mais alto

E um pouco mais longe...

Chega onde poucos conseguem chegar Entra nos labirintos da mente Conhece o passado e presente

Deduz o futuro com tanta exatidão Que parece viver um passo a frente

Nele existe um pouco mais de emoção

Um pouco mais de atenção

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Um pouco mais de alegria E um pouco mais de solidão

Um pouco mais de sinceridade

Coisa pouca dentro de muita gente Um pouco mais da louca igualdade

Que o faz assim, tão diferente

Ele tem um pouco mais de quase tudo Guardado dentro da mente

De tudo faz um poema, revela tudo que sente

Assim é o poeta Ama sem ser amado; espera sem ser esperado

E muitas vezes, morre abandonado

Por vezes, só depois da morte Tem seus poemas lembrados...

O CORAÇÃO QUE AMA

O coração que ama, É oásis no deserto e alimento ao faminto,

Água ao sedento, força para o fraco, Consolo ao aflito.

É paz em meio à guerra,

Não tarda, não se esconde, É um pouco do céu aqui na terra.

O coração que ama

Não busca glória e nem recompensa, A ninguém diminui, a ninguém entristece,

Na bonança está presente, Na tormenta não desaparece.

O coração que ama tudo suporta,

Perdoa sem ser perdoado, Ama sem ser amado,

Não maltrata quando maltratado, Não julga quando é julgado.

O coração que ama

Não se cansa de fazer o bem, Não difama, não agride, não acusa,

Sabe a hora de ouvir e a hora de falar, E se nada pode fazer, sabe a hora de calar.

O coração que ama desse jeito,

Aprendeu com a crucificação, Que se não pode pôr nos ombros sua cruz,

Te sustenta, te carrega e te ajuda em oração.

O DIA PERFEITO

Para mim será quando acordar De manhã e te ver ao meu lado,

Poder te preparar um café, Voltar e te ver ainda deitado,

Poder segurar sua mão e,

Andar livremente pelas ruas da cidade, Saber que és totalmente meu e,

Que nunca mais sofrerei a saudade.

O dia perfeito Para mim será lembrar que fiz uma oração

Te pedindo como milagre, E poder tocar em ti, e ver na viração do dia

Este milagre em sua totalidade,

Pode um construtor, não amar A obra que construiu com tanta dificuldade,

Olhar e não sentir-se feliz vendo que o Que era sonho tornou-se realidade?

Pois eu tenho medo que isto um dia aconteça,

Que o dia perfeito chegue e eu, talvez não mereça,

Que diante de ti, eu fique extasiada, E ao invés de amar, para sempre adormeça,

Que não suportes meu tremor,

A força do meu amor e Em meus braços, desfaleça.

O dia perfeito

Para mim será tê-lo ao meu lado Sem que haja para isso juramento,

Que tudo aconteça livremente, Que tudo se revele e que seja lindo,

E para o que não foi dito,

Que haja perdão e caia no esquecimento.

O dia perfeito Para mim será quando o amor esconder nossos

defeitos

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E nos deixar viver o momento,

Pois para mim este amor vem sendo construído Através de tempos... Eternidade até,

O dia perfeito

Para mim será ver concretizado Aquilo que um dia era apenas fé.

PERDÃO

(Poema realizado em parceria com Aparecido Raimundo de Souza [à esquerda]) É como se fosse um poço profundo é como se a questão maior do mundo fosse apenas o fim do poço No poço sem fundo, um mundo sem poço um sem fim de mundo mas tudo é simples... só o fim do mundo no fundo do poço, tudo faz parte da vida do sofrimento Até a alegria o espaço finito entre dois sentimentos é o burburinho misterioso de todos os outros momentos E todos os momentos também passam e tem fim infinita é apenas a eternidade Mas inexorável é a vida posto que tudo voa de repente alucinadamente, irrevogavelmente mas eu te perdoo

Eu também te perdoo

por que fostes embora deixando este vazio em mim

saiu pelo mundo a fora

Eu te perdoo por teres me dado a vida me teres feito frágil e covarde eu te perdoo por teres mostrado a mim apenas coisas da natureza

e no misterioso universo te escondeu de mim É pouco...? Mas eu te perdoo Por teres me feito guloso e insaciável por viveres tão oculta e não me teres revelado tantos segredos que quero desvendar Mas eu te perdoo sobretudo e principalmente por me teres deixado te amar

Palavras que me dão liberdade eu,

você e nunca nós e, eu também te perdoo

por ter me feito acreditar na felicidade, na existência do amor

E agora não creio mais

todas as possibilidades você me tirou mas eu também te perdoo

Então moça... canta vitória com riso chorado e mata a vitima de amor

Quem é a vitima?

Eu...

Se falasse comigo agora não saberia quem sou

posto que de tanto amor por ti minha vida evaporou

Por isso moço...

meu coração te perdoou

SILVIAH CARVALHO

Silvia Helena de Carvalho, nasceu em Goiás, em 7 de julho de 1970, filha mais nova de 7 irmãos. Morou um tempo ao relento até

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que o pai conseguiu emprego em Cuiabá/MT. Aí não conseguiu estudar, e aos 9 anos sairam para Rondônia. Fantasiava suas histórias com sua boneca, e guardava consigo, para que, quando aprendesse a escrever, passasse para o papel. Ingressou na escola aos 10 anos de idade, onde se dedicou com afinco. Quando já sabia ler e escrever fez seu primeiro poema "Terra Natal". Começou a trabalhar com 11 anos. Sempre fazia poemas, seus professores a incentivavam muito, até que um dia, aos 17 anos, quando trabalhava num despachante de automoveis, estava escrevendo e chegou um senhor que pediu pra ler o que escrevia. Era o poeta Dr. José Calixto, que lhe disse: "moça todas as quartas e sextas eu passarei aqui, tenha sempre um poema novo". Ele levou e passou a publicá-los no Jornal "O Estadão", o maior jornal de Rondônia e lhe deu um livro dele. A partir daí os poemas de Silviah eram usados nas aulas de português, para interpretação de texto e foi chamada para um entrevista no jornal, sendo publicada uma nota a seu respeito. Tomou impulso e continuou, possuía muitos poemas. Casou-se e foi morar em Manaus/AM, onde escrevia menos, sendo seu tema predileto: o amor, apesar de seu marido não compreender esta sua paixão, o que a desmotivou. Viveram juntos 6 anos, ele adoeceu e faleceu com um cancer no intestino. Após a sua morte entrou em depressão muito forte e parou de estudar, de escrever e trabalhar por cerca de 1 ano. Recuperada voltou a trabalhar e estudar, para terminar seu segundo grau (ensino médio). Antes de terminar fez um pré-vestibular para Teologia no IBADAM/AM, e passou em 8º lugar. Não sendo possível conciliar varias coisas pois trabalhava numa empresa de transportes como chefe de RH, não podia fazer a faculdade sem terminar o ensino médio, além de trabalhar com os jovens dependentes quimicos, mais de 50 jovens, era lider do grupo que os buscavam nas ruas pelas madrugadas e cada dia aumentavam mais. O diretor da faculdade na época disse pra fazer a faculdade e fazer objetivo, assim

terminaria ao mesmo tempo, então fez isto por dois anos, era a única maneira pra não perder o emprego, o estudo e os jovens, de forma que seu tempo era totalmente consumido, tinha 5 horas de sono, não tinha sabado nem domingo, nem namoro, nada, entregou-se ao trabalho. Não conseguia esquecer o marido, por mais que não tivesse tempo, nesta solidão, mesmo rodeada de gente e muitas promessas de "amor" preferiu a solidão e um dia deixou tudo, jovens, emprego, estudo, familia e foi para um lugar distante. Tinha 28 anos e só escrevia sua solidão, até que um dia fatídico a casa onde estava incendiou-se, sua sobrinha estava dentro, e no desespero, pegou no fio de alta tensão, perdendo a memória e ficando 4 anos sem a memória. Perdeu muitas poesias sem saber se eram suas ou não. Não andava e nem falava. Recuperou-se e foi trabalhar na empresa do irmão (uma retifica de motores, como uma fonte de terapia, conhecer todas as peças de motores de todos os tipos de carros e outros e guardar na memória). Foi melhorando, quando se recuperou voltou a estudar, desta vez na CEIFA/FAIFA - GO, no geral FAIFA é faculdade por correspondencia, mas em Manaus ela funciona normalmente. Abriu também o IBAD e Silviah migrou para ele, ganhou de um parente a edição de 2000 cópias do livro, das poesias que conseguiu recuperar em 2007. Destas, vendeu 1000 em menos de 3 meses, foi uma produção muito simples, não tinha ISBN e só conseguiu uma livraria que aceitasse. Agora mora em Curitiba e ainda sem transferência, sem saber se vai poder terminar no IBAD ou se terá que procurar outra faculdade pra concluir os dois periodos que lhe faltam mais bacharelado. Ela e sua irmã foram consagradas as missionárias pela CONAMAD a nivel nacional, pelo trabalho que exerceram em Manaus. Está em fase de Abertura de uma fundação beneficente, um trabalho com recuperação de jovens, oficinas, artes, literatura, tudo que puder alcançar, graças ao auxílio de empresarios donos de fabricas no Distrito Industrial, a ser montado em galpão para as oficinas, padaria, etc.

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Em Curitiba conheceu alguns grupos do Rio de Janeiro, Pó-de-poesia, Gambiarra profana (é só o nome, não são profanos), Folha Pataxó, Ventos na primavera, que divulgam, declamam, fazem musicas de seus poemas. Mesmo sem conhece-los pessoalmente este ano foram distribuidos dez mil zines com seus poemas na Baixada Fluminense, num evento, encontro de poetas e artistas plasticos, grupos de teatros e etc. Participou do concurso de poesia para o dia dos namorado Radio FM/Jovem pan/AM em 2001, ganhando 1º,2º e 3º lugares. Participou do concurso Brasil 500 anos da lingua portuguesa, ficando entre os 10 primeiros lugares. Possui poemas no livro Ventos na Primavera, de Arnoldo Pimentel/ RJ

Compositora, com mais de 30 composições, algumas ja gravadas por cantores cristãos e uma musica gravada pelo grupo Pó-de-poesia Possui participação nos sites Recanto das letras: www.silviah.net, Jornal da Poesia, Rede Cultura, Para Ler e pensar, Clube de Autores, O melhor da web Espaço Literário, Pó-de-poesia, Gambiarra Profana, Folha Pataxó, Super texto, Poemas de amor, Pavilhão Literário Singrando Horizontes. Convidada a integrar o hall dos Imortais da Academia de Letras do Brasil, pelo estado do Paraná, em agosto de 2010. Fontes: – Colaboração da Autora – http://umcoracaoqueama.blogspot.com

Prefácio de Franco da Rocha O boato é um fenômeno social que bem merece uma preleção psicológica, como um capítulo, que de fato o é, da psicopatologia das multidões. Nas multidões, ou nas turbas, os elementos estão reunidos em massas, num momento dado; os fenômenos sociais aí se realizam por explosão, por contágio súbito que tem como ponto de partida o estado afetivo exagerado de um ou de alguns elementos influentes - os chefes de revolta, de arruaças etc. É da natureza humana o não agir sem um estímulo exterior; nossa vida mental não passa de sugestão de célula a célula e nossa vida social uma contínua sugestão de pessoa a pessoa. Isso se conclui da opinião dos psicólogos que têm tratado desse assunto. A sugestão é um fenômeno geral no meio social. A imitação, a repetição universal, de que G. Tarde se ocupa largamente no seu livro - Les Lois de l'Imitation - demonstrando sua universalidade, nada mais é do que a

"sugestão" na significação mais ampla dessa palavra. O hipnotismo faz o papel de microscópio, mostrando-nos a sugestão muito aumentada. S. Sighele, no seu livro sobre a "turba criminosa", esboçando em traços gerais a psicologia das turbas, aceita as idéias de Tarde e mostra sua coincidência com as de Sergi (Psicose Epidêmica). Com o boato as coisas se passam de modo um pouco diverso; o fenômeno se realiza lentamente, porque os indivíduos estão esparsos; mas o fenômeno é da mesma natureza essencial dos que se dão nas turbas. Que é o boato? É quase sempre uma criação fantasiosa de um indivíduo mau, de caráter abjeto, fantasia essa que se espalha em horas, ou em dias, numa coletividade humana, num povoado, numa cidade, num Estado. O boato nasce como realização ilusória de um desejo perverso, originário de uma paixão inconfessável - raiva, vingança, interesse torpe, seja este pecuniário, político ou sexual. O criador de um boato é sempre um imbecil (moral). A vítima é, em regra geral, uma pessoa que tem algum valor social; é esse o seu

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único consolo… O boateiro escolhe um momento oportuno para lançar a sua mentira, a fantasia perversa. Esse momento é de alta importância, porque nele se acha a circunstância que dá aparência de verdade ao fato que se pretende propalar. Essa circunstância é mui variável de um caso a outro. Não é possível, por exemplo, divulgar a notícia de que um certo financeiro importante está louco (para dar-lhe, suponhamos, um golpe de momento) se estiver ele presente e visível a todo o mundo; é preciso que esteja ausente, fortuitamente. É a circunstância oportuna. Não basta, porém, como explicação para o boato, essa circunstância e a possibilidade ou verossimilhança do fato a divulgar. É necessário o meio social apropriado para que o fenômeno se realize. A sociedade espelha o caráter de seus fatores antropológicos. A explicação é bem escabrosa e desoladora para o homem civilizado, mas é preciso repetir a verdade, ainda que muito nos custe. "Dizer mal e gostar de ouvir falar mal de alguém é um velho cacoete da alma humana. Talvez seja a música mais harmônica que existe, porque vibra bem com qualquer espírito". A frase é de Austregésilo, no livro O Mal da Vida. Há em toda a criatura humana um misto estranho de bondade e de maldade, de infâmia e de perversidade. As proporções dessa mistura é que variam ao infinito. Desde o tipo bom, completo, que sufoca perfeitamente o que há de mal dentro de si mesmo, porque a lucidez e a largueza de sua consciência lhe permitem reconhecer e dominar a própria tendência perversa, até o malvado arrematado, cuja consciência estreita e sensibilidade moral embotada lhe não permitem reconhecer o mal que vive dentro dele, há nessa vasta série, a infinidade de caracteres que vemos diariamente na sociedade. Devo a fineza de um amigo o conhecimento de um trabalho de Conceptión Arenal (Delito Coletivo) em que se repete a noção acima exposta, apenas por outras palavras; "lo más grave y lo más triste es ver que cuanto mal son capaces los buenos, los que

portales se tenian y lo habian sido hasta que la lucha vino a desnaturalizarlos, como se dice, o, para hablar con más propriedad, a revelar su naturaleza. Esta terrible revelación no es obra de ningún principio, de ninguna idea; es consecuencia del combate, que depierta malos instintos dormidos y pone en el caso y hasta en la necessidad a veces de satisfazerlos". O trabalho secular da civilização tem sido exatamente o de reprimir ou recalcar o elemento mau e dar expansão e força ao que é bom. Aquele, porém, não se extingue; existe sempre, embora sufocado, como os Titãs da fábula que, vencidos pelos deuses e soterrados sob o peso das montanhas, se revelam de tempos em tempos pelas convulsões de seus membros, e sacodem as entranhas da Terra. Canto e Melo, no seu recente romance - Relíquias da Memória - lá diz a mesma verdade, à página 67: "pela primeira vez na vida, pensei na crueldade dos homens. Só os conhecera até então através dos artifícios da civilização e do convencionalismo da sociedade. Ao vê-los agora, no pleno viço das suas inclinações primitivas e bárbaras, convenci-me de que o homem é mais feroz do que as feras e, se não exerce a todo o momento contra os outros homens a sua crueldade, é porque o medo da represália lhe arrefece dentro do coração os nefandos impulsos da ferocidade inata". A concepção freudiana, seguindo as pegadas do Prof. Bergson, admite na alma humana o inconsciente dinâmico como sede de todas as tendências e instintos maus recalcados pela civilização no correr dos séculos. Nada, entretanto, é novo neste mundo. Os doutores da Igreja, finos observadores e psicólogos, conheciam muito bem esses assuntos e deles trataram nos seus escritos sobre teologia, embora disfarçados pelo simbolismo de sua linguagem. Sabido isto, ainda que em súmula, temos aí o núcleo indispensável para a explicação do boato. Toda a pessoa de valor social, vencedora na luta pela vida, bem sucedida em todos os seus esforços, tem na sociedade número incontável de desafetos gratuitos, instintivos, mesmo entre os que lhe são

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absolutamente estranhos, não se tratando já de oficiais no mesmo ofício, conhecidíssimos como inimigos natos. "A felicidade de qualquer é desespero para muitos", diz muito bem Austregésilo no Mal da Vida. Quem não tem desafetos, tem com certeza passaporte para o reino do céu. O sucesso, por si próprio, cria má disposição de ânimo nos outros. E essa indisposição vive no inconsciente; não é raciocinada. No seu fundo se encontra a inveja, disfarçada sob múltiplos aspectos. Na espécie humana é a política o melhor campo de observação. Entre os animais o fenômeno é grosseiro e por demais visível. Repare-se quando diversos cavalos comem numa só manjedoura, cada um com seu quinhão de alimento, como sai sempre um deles do seu lugar, para ir escoicear os outros, embora não lhe falte comida. É o mesmo fenômeno que se encontra no meio social, muito abrandado, está visto, pelo grau superior de desenvolvimento em que se acha o homem. É inegável, pois, que no meio social, por toda a parte, existe sempre uma atmosfera de insidiosa e inconsciente hostilidade contra a pessoa que vence na vida. Haverá alguém tão ingênuo que a desconheça? Nessa atmosfera é que se acha o elemento vital indispensável à germinação e rápida florescência do boato. A escuridão do anonimato dá ao boateiro o ânimo e a proteção de que carece para agir, como a escuridão da noite protege certos insetos nojentos que propagam repugnantes infecções. É mesmo essa uma das feições que distinguem o boato de outros fenômenos sociais da mesma natureza, como o tumulto das ruas, por exemplo, que se realiza em pleno dia, por contágio quase explosivo. No fundo, na essência, os fatos são idênticos. As coisas se tornam mais claras por meio de exemplos banais. Barnabá, da ópera Gioconda, provoca na praça um tumulto contra a cega, mãe de Gioconda, lançando sorrateiramente no meio dos marinheiros descontentes a convicção de que fora a cega

quem exercera "malefícios" e ocasionara o mal que os magoava no momento. O desejo de possuir a Gioconda foi a verdadeira origem daquele tumulto. O infame Barnabá é uma criatura eterna na sociedade. Mais belo exemplo se acha na tragédia Júlio César, é o magnífico discurso de Brutus ao povo romano. Grande conhecedor de sua alma, Shakespeare pôs na boca de Brutus as palavras inflamadas que levariam o povo a assassinar Antônio, se este não possuísse também a poderosa arte de dirigir a fera - a multidão - que o ameaçava. A habilidade do boateiro está, como em regra nos fenômenos desse grupo da psicopatologia social, em saber despertar e açular a besta humana mal amordaçada pelas coerções do meio civilizado. O boateiro é sempre, como se disse, uma alma defeituosa, que se agita por mesquinhos interesses. Ele tem a maldade indômita que existe na maioria dos homens, embora mais ou menos escondida. Individual no nascedouro, o boato passa logo a ser coletivo em virtude da consonância que sua tendência encontra nas almas do mesmo estofo. Despine compara a propagação dos estados afetivos nas multidões ao efeito da onda sonora de uma nota musical, que faz vibrar todas as notas iguais existentes dentro da esfera atingida pelas suas ondulações. É um principio geral nos fenômenos de contágio moral. A perversidade influi com prontidão, porque é uma qualidade mais ativa do que a bondade, afirma Sighele. Os bons em regra, não procuram fazer o mal, são passivos; os maus "querem" fazer o mal, são ativos. Felizmente existem também almas nobres em que essa lepra já se acha, por assim dizer, extinta. Por meio dessas pessoas o boato não caminha. Isso quer dizer que a alma humana, em geral, é suscetível de aperfeiçoamento com o envolver da civilização; a consciência se alarga no correr da evolução. É ao menos um consolo lembrar que a civilização irá melhorando cada vez mais a sociedade, onde vicejam ainda esses males, por enquanto irremediáveis. Também, se o conhecedor da

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alma humana só enxergasse ai o que há de mal, morreria de pavor. O aperfeiçoamento da consciência chegará a extinguir o boato no dia em que a maioria dos homens tiver clara intuição do que acontece atualmente, em casos raros, quando um cúmplice do boateiro encontra um homem bom ele narra uma calúnia, mais ou menos nestes termos: "Sabe que "se anda dizendo" de F...? Dizem que fez isto, aquilo e mais aquilo. Eu não creio, mas me garantiram e de fonte limpa. Estou dizendo só aqui entre nós; não convém falar, porque talvez seja invencionice. Em todo o caso é uma pena, se é verdade.” O homem bom fixa então os olhos semicerrados sobre o narrador e diz mentalmente: "Miserável, infame! Não tens nem força para sufocar o prazer que isso te causa. Não inventaste, talvez, a mentira; mas o inventor contava contigo, com a tua covardia, com a torpeza de tua alma igual à dele, para colaborar no trabalho essencial - o da divulgação da infâmia. E tu contavas comigo, salafrário! porque não tens consciência do vil papel que neste momento representas." Ora, aí está como as coisas se passam, embora excepcionalmente. Na quase generalidade dos casos, entretanto, o patife encontra um homem de sua igualha, que sente o mesmo prazer que ele e vão logo adiante, confidencialmente, com ar muito contristado, na rara infâmia a um outro, e assim se espalha o boato com extrema rapidez. Ainda há pouco vimos como se espalhou no norte do Brasil o boato de uma vaia ao presidente da República, aqui em São Paulo, Vaia que não passou de pura fantasia de um boateiro soez. Há indivíduos mais afoitos, felizmente raros, que vão a um jornal e dão a falsa noticia da morte de um cidadão que está bem vivo em sua casa, onde recebe com espanto a lutuosa noticia... Os jornais já tomaram, entretanto, suas cautelas e esses casos são raríssimos. Vimos essa maldade praticada em São Paulo e não há muito anos. Há uma diferença enorme entre o

indivíduo que recebe com verdadeiro pesar uma falsa notícia e o cúmplice do boateiro, isto é, o que tem prazer em espalhá-la. O primeiro cala-se, ou procura saber de quem partiu a notícia; vai ao encontro da vitima e diz francamente quem lhe comunicara o fato. O outro não; esconde a fonte de onde lhe viera a notícia; pactua com os malfeitores e finge pudor ou discrição, sem se lembrar que em tal caso não se trata disso; ao contrário, deve-se pôr tudo à luz do sol. É muito difícil descobrir no meio dessa obra de colaboração anônima, o verdadeiro autor dessas infâmias. O professor Jung, de Zurique, conseguiu, no caso fácil e no meio restrito de um colégio de meninas, averiguar de onde partira o boato que difamava um professor. Fez com que todos os conhecedores da notícia a escrevessem como a receberam. Notou ele o fato que nós expressamos no ditado português: "quem conta um conto aumenta um ponto". Cada um contou o fato com particularidades que variavam entre os diversos narradores; só o núcleo essencial do boato era o mesmo para todos. A invencionice era narrada como um sonho e deixava perceber um desejo erótico que inconscientemente dominava a menina, autora do boato. Tratava-se de um caso típico da mitomania de que tanto se ocupou Dupré, médico da prefeitura de Paris. Fora desses casos, assim limitados a um meio restrito, é impossível descobrir o verdadeiro autor, no meio de tantos colaboradores. Há épocas mais propicias, como todos sabem, para o nascimento e divulgação do boato como há tanto tempo favorável às plantações na vida agrícola. São as épocas de intensas agitações emotivas - de guerra, de epidemia, de revolução política etc. A ambição, outra tendência fundamental humana, permite também do mesmo modo que a maldade, a criação de uma atmosférica especial em que se observam curiosos episódios de sugestão e contágio, alguns dos quais revertem em castigo cômico contra os próprios ambiciosos. Temos o exemplo na célebre fortuna que se acreditou

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existir num banco inglês, pertencente a brasileiros, descendentes de Amador Bueno da Ribeira. Um advogado velhaco, psicólogo prático, mandou do Rio de Janeiro, noticiar em São Paulo, há mais de trinta anos, que tinha meios de liquidar essa fortuna e distribuí-la aos supostos herdeiros de Amador Bueno. Para tanto exigia ele que cada um lhe mandasse apenas cinqüenta mil réis junto ao nome que o habilitasse como herdeiro. Eram herdeiros todas as pessoas que tinham no sobrenome - Bueno, Silveira etc. Ora! formigaram descendentes de Amador Bueno e choveram notas de cinqüenta mil réis que deram magnífico resultado ao pândego mistificador. Vimos nessa ocasião muita gente séria, carrancuda e circunspecta, entrar com o seu dinheirinho e discutir convictamente sobre a parte que lhe poderia caber. Passado algum tempo, o insaciável advogado, precisando de mais dinheiro, mandou um mensageiro fazer nova colheita, para a qual trouxera instruções muito especiais. Só podiam pagar novo tributo os que tinham tais e tais sobrenomes; os outros estavam excluídos. Muitos dos excluídos importunavam a gente para conseguir entrar com as suas cotas. Nada o demovia; era preciso dar uma feição de seriedade a tal bandalheira. A nova colheita deu ainda magnífico resultado. A herança não apareceu até hoje, mas os contribuintes tiveram seu momento de prazer... de viver um sonho por algum tempo. É de crer que ainda existam por esse mundo alguns dos sonhadores que naquela época concorreram para os regabofes do advogado. O boato nem sempre é expansão de malvadez recalcada; há o boato tendencioso e o boato inócuo. Sua origem primeira é sempre um desejo inconfessável e freqüentemente inconsciente. A perversidade geral da alma humana que serve de terreno onde se desenvolve o boato, é sempre inconsciente. Caminha para a perfeição espiritual aquele que consegue tornar consciente a maior parte da maldade que lhe existe no

inconsciente, e assim pode dominá-la. Ainda estamos longe da perfeição; não podemos exigir a extinção do boato. Buscar na literatura, na obra de arte, o exemplo concreto, confirmador de uma doutrina exposta em princípios gerais, é hoje moda e fundada em boas razões. Quem quiser ler um belíssimo exemplo de boato em lugarejo do interior, encontrá-lo-á na novela de Amadeu Amaral A Pulseira de Ferro. Aí se acha o fenômeno magistralmente descrito.

AMADEU AMARAL

Amadeu Amaral (A. Ataliba Arruda A. Leite Penteado), poeta, folclorista, filólogo e ensaísta, nasceu em Capivari, SP, em 6 de novembro de 1875, e faleceu em São Paulo, SP, em 24 de outubro de 1929. Fez o curso primário em Capivari e aos onze anos veio para São Paulo para trabalhar no comércio e estudar. Assistiu algumas aulas do Curso Anexo da Faculdade de Direito, foi um autodidata, pois não concluiu o curso secundário. Ingressou no jornalismo, trabalhando no Correio Paulistano e no O Estado de S. Paulo. Em 1922 transferiu-se para o Rio como secretário da Gazeta de Notícias. Do Rio mandava para O Estado de S. Paulo a crônica diária “Bilhetes do Rio”. Voltando a São Paulo exerceu cargos na administração pública. Autodidata, surpreendeu a todos por sua extraordinária erudição, num tempo em que não havia, em São Paulo, as universidades e cursos especializados. Dedicou-se aos estudos folclóricos e, sobretudo, à dialectologia. No Brasil, foi o primeiro a estudar cientificamente um dialeto regional. “Dialeto caipira”, publicado em 1920, escrito à luz da lingüística, estuda o linguajar do caipira paulista da área do vale do rio Paraíba, analisando suas formas e esmiuçando-lhe o vocabulário. Visando à formação dos jovens, assim como Bilac incentivara o serviço militar, Amadeu Amaral procurou divulgar o escotismo, que produziu frutos, certa época no país. Sua poesia enquadra-se na fase pós-parnasiana, das duas primeiras décadas do

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século XX. Como poeta, destacou-se pelo desejo de contribuir, com suas obras, para a elevação de seus semelhantes, em todas as suas obras, a ponto de seu sucessor, Guilherme de Almeida, ao ser recebido na Academia, ter intitulado o seu discurso: “A poesia educativa de Amadeu Amaral”, mas porque visava indiretamente ao aperfeiçoamento humano. Por ocasião do VI centenário da morte de Dante, proferiu, no Teatro Municipal de São Paulo, uma conferência, enfatizando justamente os aspectos de Dante que exaltam a elevação do espírito humano através da Sabedoria. Também soube ressaltar as qualidades morais de Bilac no discurso de posse, mostrando-o como homem preocupado com os problemas da sua pátria e escritor que evoluiu em sua poesia para um grau maior de espiritualidade.

Obras: Urzes, poesia (1899); Névoa, poesia (1902); Espumas, poesia (1917); Lâmpada antiga, poesia (1924), Títulos que integram as Poesias, publicadas postumamente em 1931; Letras floridas, ensaio (1920); O dialeto caipira, filologia (1920); O elogio da mediocridade, ensaio (1924); Memorial de um passageiro de bonde, obra póstuma; Tradições populares, folclore (1948); Obras completas de Amadeu Amaral, com prefácio de Paulo Duarte (1948). Fontes: www.biblio.com.br Academia Brasileira de Letras

Não foi assim logo de cara. Claro, seu

Julião e dona Neuza já tinham reparado numa coincidenciazinha aqui, uma sorte acolá, mas só foram perceber que Julinho tinha mesmo um dom especial no verão de 1984, em Caraguatatuba, assim que o moleque acabou de chupar o quinto picolé, de manga.

Quinze minutos antes, ao acabar o primeiro sorvete, um Fura-bolo, Julinho pulou de alegria: o palito viera premiado, dando direito a mais um. Até aí, nada de mais... Acontece que o segundo sorvete (um Esquimó) também dava direito a outro, assim como o terceiro (de coco), o quarto (tangerina) e provavelmente todos os que chupasse se, no quinto picolé — a barriga do garoto já estava parecendo uma tela do Pollock, tantas as gotas de diversas cores que escorriam em direção à sunga verde-limão—, o sorveteiro não tivesse dado com a tampa de isopor em sua cabeça e saído soltando os palavrões mais cabeludos, cujos significados Julinho só viria a descobrir muitos anos mais tarde, na perua do colégio,

numa tarde de maio — o que não vem, absolutamente, ao caso.

O que nos interessa é que nessas férias Julinho ganhou três quilos e o respeito de toda a criançada de Caraguá, com quem trocava os palitos premiados por pipas, baldinhos de areia, favores e até uma bicicleta com buzina, cestinha e farol. (A bicicleta, infelizmente, teve que ser devolvida assim que uma mãe apareceu no guarda-sol da família, trazendo um filho choroso numa mão, 45 palitos premiados na outra e exigiu a anulação da troca.)

Apesar de já saberem que ali tinha coisa, foi só quando Julinho estava na quinta série, na época que surgiram as Raspadinhas, que seus pais realmente se deram conta do potencial econômico de seu dom. Enquanto a maioria dos mortais gastava tubos do dinheiro naqueles cartões lotéricos e, na melhor das hipóteses, ganhava 50 centavos — gastos em mais uma Raspadinha que, claro, não dava em nada —, Julinho sempre tirava a sorte grande: era só raspar a camada prateada e sair pro

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abraço. Em alguns meses, a família comprou uma cobertura, casa na praia, carro importado e jet ski. Não fosse o processo promovido pela Associação Brasileira dos Donos de Casas Lotéricas — que deu queixa na polícia dos prejuízos causados pelo gordinho que aparecia sempre chupando um picolé, comprava uma Raspadinha e limpava os caixas dos estabelecimentos — e a família, em pouco tempo, entraria nas listas das mais ricas do Brasil. Em entrevista ao vivo no programa do Gugu, logo após serem absolvidos no processo — com o acordo de que Julinho jamais jogasse em qualquer tipo de loteria federal —, seu Julião, o pai, disse que não tinha truque nenhum: "O garoto é assim, desde pequeno: rabudo. Pede par, sai quatro, ímpar, dá cinco e, no amigo secreto do Natal, sempre é tirado pelo tio Leôncio, meu cunhado, que dá os melhores presentes." Dona Neuza, a mãe, acrescentou orgulhosa: "Hum-hum..,"

Desde o lance das Raspadinhas, seu Julião e dona Neuza já não trabalhavam: como os pais de um craque ou de um desses cantores mirins, dedicavam-se exclusivamente a desenvolver o talento do filho. Passavam o dia colocando tampas de margarina e embalagens de chocolate em envelopes e respondendo a perguntas tipo “qual é o sabão que deixa limpão"; "a bateria que nunca arria"; "o refrigerante que faz splash" ou "o absorvente da executiva moderna". Toda manhã, antes de ir para a escola, Julinho punha as cartas no correio: eram casas, caiaques, home theatres, férias em estâncias hidrominerais, fins de semana em hotéis-fazenda, um ano de supermercado grátis e outros prêmios que não acabavam mais.

Dona Neuza pôs botox, silicone, clareou os cabelos e entrou numas de Feng-Shui; seu Julião fez implante capilar, montou um bar espelhado na sala da cobertura e fazia churrasco todos os domingos; Julinho tinha um minibugue, fã-clube, todos os bonequinhos dos Comandos em Ação, Passaporte da Alegria vitalício no Playcenter e a Tilibra estava prestes a lançar uma linha de cadernos com sua foto na

capa. Apesar de todo o sucesso, Julinho estava entediado. Não havia nada que quisesse que não conseguisse: quando jogava futebol, para qualquer lugar que chutasse, a bola entrava; todo dia tropeçava com carteiras cheias de dinheiro e, quando ficava doente e perdia uma prova na escola, o professor faltava. Era muito fácil. Além do quê, não agüentava mais chupar picolé. Sem uma dificuldade, por menor que fosse, um empecilhozinho qualquer, as coisas perdiam a graça. Andando de lá para cá com seu minibugue pelas ruas do condomínio, Julinho lamentava: "Se ao menos eu tivesse que preencher algum formulário, ou pagar uma mensalidade, ou fazer duzentas abdominais toda manhã, eu sentiria que estou tendo algum trabalho, mas assim, do nada, não tem graça!". Tudo o que ele queria, como sempre nesse tipo de história, era ser como as outras crianças. Mas como?

Foi por acaso, caminhando pelo Centro de São Paulo, num dia desses em que o céu cinza parece apenas a metáfora que um escritor previsível criou para espelhar a nossa nublada configuração interna, que Julinho deu de cara com o lugar mais impressionante que seus olhos já haviam visto, um mercado onde se podiam encontrar ovos de dinossauros vietnamitas, videocassetes chineses, múmias maias, DVDs pornográficos da Hungria, parentes distantes, lança-mísseis russos e até amor verdadeiro — a galeria Pajé. E foi ali, entre um Rolex falsificado e um cachorrinho de pelúcia (que era ao mesmo tempo dicionário eletrônico, liquidificador e chapinha para cabelos), que Julinho encontrou a lâmpada árabe. Haddad, o vendedor, garantiu que a preciosidade era do século XIII e havia sido roubada pessoalmente do Museu de Bagdá, durante a invasão americana. Julinho, contando, como sempre, com a própria sorte, não vacilou.

Assim que chegou em casa e começou a lustrar a lâmpada com a manga da camisa, o ambiente encheu-se de fumaça, ouviu-se uma explosão e, depois de uma chuva de purpurina e lantejoulas, lá estava ele, translúcido e obeso,

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pairando a um metro do chão: o gênio da lâmpada! — Ó amo querido, me libertaste da terrível prisão! Como recompensa, concedo-te três pedidos. Diz-me apenas quais são teus desejos e logo os satisfarei!

Julinho nem pestanejou: — Primeiro eu queria ser como os

outros, não ter tanta sorte: me dar bem às vezes, mal em outras, ter que me esforçar para conseguir o que quero. Segundo, já que a sorte me abandonará, quero apenas garantir uma regalia: que todas as mulheres que posam para a Playboy queiram fazer sexo comigo até o fim da vida. Terceiro, desde criança que penso nisso: por que chamam esse objeto dourado de lâmpada, se ele mais parece um bule?

O gênio, com aquela cara séria e atenta que gênio faz nessas horas, respondeu: — Meu amo: teus desejos são uma ordem! Mais fumaça, mais chuva de purpurina e lantejoulas e, quando tudo se acalmou, no lugar que antes o gênio sobrevoava, havia um bilhete: “Caro amo, temo avisar-te que ocorreu uma falha na execução de teus desejos. Acontece uma vez a cada mil anos o que nós, gênios da lâmpada, chamamos de paradoxo retroativo. Teu primeiro desejo foi imediatamente aceito e teu azar, portanto, começou ali mesmo, fazendo com que os efeitos desse gênio não tenham efeito nenhum. Em outras palavras: tudo continuará como antes, tu continuarás sortudo. Se fizeres sexo com playmates ou descobrires por que esse bule é uma lâmpada será porque nasceste virado para a lua, não por conta de meus serviços. Agora, devo ir-me, haverá uma convenção de gênios da lâmpada no Rotary Club de Ribeirão Preto e não posso perdê-la por nada. Adeus e obrigado."

Julinho, desesperado, resolveu jogar a toalha. E a toalha, no caso, era ele mesmo: olhou seu quarto pela última vez, derramou uma lágrima de despedida e saltou pela janela da cobertura. Enquanto caía, pensava no infortúnio de não ter nenhum infortúnio, na

desgraça da graça a ele concedida e, sabe-se lá por quê, num short amarelo de que gostava muito quando era pequeno.

Vinte e cinco andares e sete segundos depois, para surpresa dos pedestres, lá estava ele, vivo e consciente, estatelado sobre uma Kombi azul. Naquele momento, ainda zonzo por causa da queda e surdo com o esporro do japonês, que reclamava dos estragos causados ao veículo e perguntava como era que ele ia fazer agora para trazer o shimeji de Cotia todo dia, Julinho compreendeu sua sina: era imortal, sortudo demais para morrer.

Uns dizem que foi o tombo, outros comentam que a coisa já vinha de longe, que ele sempre teve um parafuso a menos, mas o fato é que todo dia, desde o salto, Julinho tenta, inutilmente, tirar a própria vida. Depois de beber cianeto (estava vencido), cortar os pulsos (a faca quebrou), enforcar-se (a árvore tombou) e tentar todos os outros métodos conhecidos e desconhecidos de suicídio — chegou até a alimentar-se por uma semana só de detergente de maçã —, Julinho perdeu de vez o juízo. Vaga doido pelo mundo, magro, descalço e barbudo. De vez em quando, engole espadas, caminha sobre brasas, deixa jamantas passarem por cima de seu corpo e faz cooper em campos minados de Angola, sempre em vão. Para piorar, uma multidão de fiéis o segue aonde vá, acreditando ser a volta de Jesus à Terra. Alguns rabinos discutem se é ou não o messias, as playmates não lhe dão sossego e produtores de televisão ligam todo dia, insistindo em fazer um documentário para o Discovery Channel.

Agora, por exemplo, Julinho está em Foz do Iguaçu, chorando arrependido da remota manhã em que foi pedir aquele maldito Fura-bolo em Caraguatatuba. Em instantes se atirará do alto da mais alta das cataratas — de onde será resgatado, alguns minutos depois, vivo e limpinho, pelos bravos homens do Corpo de Bombeiros do Brasil.

ANTONIO PRATA

Antonio Prata nasceu em São Paulo, em

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24 de agosto de 1977. Escritor desde os catorze anos, abandonou o curso de filosofia na USP depois de um ano e meio, o curso de cinema na FAAP depois de seis meses e quase se formou em Ciências Sociais na PUC, fato que não ocorreu porque próximo ao fim do curso foi chamado para trabalhar como colaborador de texto numa novela e se mudou para o Rio. Publicou livros como "Cabras, Caderno de Viagem", com Paulo Werneck, Chico Matoso e Zé Vicente da Veiga, "Douglas e outras histórias", “As pernas da tia Corália”, "Estive

pensando" e "O inferno atrás da pia". Além de contos e crônicas, escreveu episódios de seriados de TV e dois roteiros de cinema ainda inéditos. É agnóstico, corintiano, míope, meio intelectual, meio de esquerda e publica domingo sim domingo não uma crônica na última página do caderno Metrópole. Fontes: PRATA, Antonio. O inferno atrás da pia. RJ: Editora Objetiva, 2004. http://literatura.moderna.com.br

Frankenstein ou o Moderno Prometeu (Frankenstein; or the Modern Prometheus, no original em inglês), mais conhecido simplesmente por Frankenstein, é um romance de terror gótico com inspirações do movimento romântico, de autoria de Mary Shelley, escritora britânica nascida em Londres. O romance relata a história de Victor Frankenstein, um estudante de ciências naturais que constrói um monstro em seu laboratório. Mary Shelley escreveu a história quando tinha apenas 19 anos, entre 1816 e 1817, e a obra foi primeiramente publicada em 1818, sem crédito para a autora na primeira edição. Atualmente costuma-se considerar a versão revisada da terceira edição do livro, publicada em 1831, como a definitiva. O romance obteve grande sucesso e gerou todo um novo gênero de horror, tendo grande influência na literatura e cultura popular ocidental. Enredo Ao contrário de Drácula — aquele seu colega de repartição que vivia se gabando dos antepassados hunos, vikings, saxões e magiares —, o ser criado pelo cientista Victor Frankenstein num laboratório em Ingolstadt não tinha história. Sua dinastia começava com

ele. Tudo teve início quando Frankenstein se decidiu a aplicar alguns conhecimentos teóricos de fisiologia e filosofia natural, a fim de descobrir se o princípio que animava a estrutura do corpo humano sobrevivia, depois que o indivíduo baixava os sete palmos. Revoltava-o a corrupção da matéria inanimada e o fato de que “o verme era o herdeiro das maravilhas de um olho ou de um cérebro”. Incentivado por uma série de pesquisas prévias, Frankenstein pôs-se enfim ao trabalho de criar um ente, a partir de materiais roubados em túmulos, casas funerárias e laboratórios de dissecação. O trabalho não era fácil: ele teria não só que dar animação à matéria, como preparar toda uma estrutura para recebê-la, com seus complexos de fibras, músculos e veias. Para que o leitor não dormisse nos primeiros capítulos, Mary Shelley omitiu a maior parte dos processos científicos que Frankenstein teria usado para levar adiante o projeto. A própria necessidade de violar sepulturas e dissecar cadáveres é apenas sugerida pela narrativa: os mais mórbidos podem suspeitar da origem do material pelas constantes exclamações de asco do cientista ao lidar com ele. Como a extrema minúcia da mais insignificante das partes do organismo lhe trazia grandes dificuldades, Frankenstein

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resolveu o problema criando um indivíduo de estatura gigantesca, cerca de dois metros e meio. O tempo gasto na criação é medido na narrativa pelas estações se alternando, enquanto Frankenstein trabalha em seu laboratório, isolado do resto da casa. Dois anos, a obra-prima fica pronta, e Frankenstein, encontrando os óculos que perdera no inverno passado, pode finalmente contemplar o resultado do seu trabalho. E, naturalmente, fica horrorizado com a aparência física da sua criação: olhos aquosos e amarelados, pele enrugada, beiços retos e negros, estatura descomunal, membros desproporcionados. (Pitanguy já deu jeito em coisa pior.) O insano entusiasmo com que Frankenstein se entregara ao trabalho é agora superado por um súbito acesso de náusea e lucidez. Seguem-se várias considerações filosóficas sobre o Direito da Criação, não faltando sequer uma carapuça para a criação divina. Enquanto isto, Frankenstein foge apavorado e o monstro se evade. Em seu espontâneo exílio, Frankenstein pode finalmente se entregar às delícias de uma tensão nervosa e passa vários meses em recuperação. Nunca mais ouve falar no monstro. Anos depois, regressa a Genebra, onde vive sua família, e fica sabendo da morte de seu irmão caçula, William, estrangulado por mãos poderosas. Sua irmã de criação, Justine, é acusada do crime e executada. Frankenstein sabe que o monstro é o responsável e começa a se torturar por ter criado um ser que já lhe provocou duas mortes na família. Sai então à procura do monstro e o localiza escondido bem no finalzinho de um capítulo. A partir daí, grande parte do relato é ocupado pelo ogro, que descreve ao cientista todo o seu itinerário, desde a fuga do laboratório. Conta como se refugiou nos arredores do casebre de uma família francesa refugiada e, pela constante observação, aprendera-lhe os costumes, além daquilo que para ele era o mais importante: a linguagem. Imitando os sons humanos e conferindo-lhes significado, exatamente como um personagem de Vila Sésamo, ele era agora capaz de se comunicar sem mais grilos. Narra então a

clássica cena: ao mirar-se no regato, constatou que sua aparência era monstruosamente diferente dos demais seres que observara. Depois, aprenderia noções elementares sobre a propriedade, os direitos e o reconhecimento social. Progressivamente foi ganhando consciência de que era um pária, sem passado e sem futuro, sem posses e com uma aparência física que o tornaria rejeitado por quantos de quem se aproximasse. Um dia, aguardou que o velho cego ficasse a sós no casebre e apresentou-se a ele como um viajante em busca de acolhida. Mas, no exato momento em que o velho ia oferecer-lhe o cafezinho, os demais membros da família chegaram, agrediram-no e o expulsaram como se ele fosse um monstro. Completamente só e já sem esperanças de ser integrado ao convívio humano, a criatura passa a detestar seu criador e procura localizá-lo, o que consegue através dos documentos no bolso das calças de pescar siri que roubara no laboratório. Finalmente em Genebra, descobrira uma criança no bosque e, ao saber que se tratava do irmão caçula de Frankenstein, estrangulara-a. Mary Shelley chega agora à melhor parte da história: o monstro exige que Frankenstein lhe construa uma fêmea, tão abominável na aparência quanto ele, a fim de não ficar sozinho. Promete retirar-se com ela para locais que o homem não possa alcançar, mas Frankenstein recusa-se a duplicar o mal que já havia cometido. Sob as ameaças de destruição de toda a sua família, no entanto, Frankenstein é obrigado a concordar. O monstro o adverte de que o seguirá o tempo todo, para acompanhar o trabalho e certificar-se de que não ficará um único parafuso solto na sua companheira. De volta ao laboratório em Ingolstadt, Frankenstein ainda hesita em repetir o processo, pensando que também a fêmea poderia voltar-se contra o seu companheiro, repelindo um pacto anterior à sua criação e preferindo a beleza superior (não muito) do homem. Ou poderiam igualmente unir-se e começar a produzir ogres em série, como os da família Kennedy. Mas, sentindo o halo da presença da criatura, Frankenstein volta ao

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trabalho. Certa noite, com este já bastante adiantado, o cientista percebe o olhar do monstro espreitando pela vidraça, e, impulsivamente, destrói o material inanimado que viria a ser a fêmea. Não ficou uma costela inteira. Revoltado, o monstro lhe jura eterno ódio e a toda a humanidade. O resto da narrativa é uma sucessão de mortes, com o monstro eliminando um por um todos os membros da família de Frankenstein, inclusive a sua noiva, em plena noite de núpcias. O clímax só acontece quando Frankenstein parte em perseguição à criatura, entre as geleiras do mar do Norte, aonde viria a morrer. O monstro lhe aparece pela última vez, mas já o encontra sem vida. Anuncia então que irá atingir a extremidade mais setentrional do globo para deitar-se numa pira funerária, cujas chamas destruirão de vez a carne de segunda com a qual foi criado. Mas atenção: nada faz garantir que ele tenha morrido, nem o leitor assiste ao seu fim. Mary Shelley esqueceu a porta aberta e deve ter sido por ela que saíram os monstros que andaram assombrando os críticos de cinema nos anos 50. Enfim, ainda sobrou muito material, não apenas para vários filmes em 3-D, como para diversas tragédias gregas e comédias de televisão. Por falar em gregos, outro personagem da lenda de Prometeu capaz de ser localizado em Frankenstein é Pandora, aquela que Zeus teria enviado aos homens, depois que eles se apoderaram irreversivelmente do fogo. A idéia de Zeus era a de que Pandora, com a sua caixinha de maldades e armadilhas, seria “o preço do fogo”. Mais ou menos como o monstro, ao exigir que Frankenstein lhe construísse uma fêmea, como o preço pela sua própria existência. No fundo, o que Zeus queria era fornecer aos homens os motivos para se exterminarem, agora que tinham os meios para isso, e, depois de limpa a área, criar uma humanidade novinha em folha. Frankenstein, que já havia lido Ésquilo e Hesíodo, não foi na conversa do monstro. Enfim, a se acreditar na história da pira funerária, o fogo de Prometeu até que acabou servindo para alguma coisa. Claro que Frankenstein sempre foi um

livro muito divertido. Por isso, até pouco tempo, ninguém tinha se interessado em levá-lo a sério. Mas, assim como há livros que são salvos pelos leitores, o de Mary Shelley foi salvo pelo cinema. Foram aquelas versões horrendas com Boris Karloff, Lon Chaney Jr. e outros que, por comparação, transformaram o livro numa obra de “arte”, e fizeram com que o público fosse procurar nele os sustos que os filmes transformaram em gargalhadas. (Vide, na versão de 1932, com Karloff, a seqüência à beira do lago, em que a garotinha oferece flores ao monstro e este fica sem saber se a afoga ou se lhe serve de baby-sitter.) Aliás, o cinema tem sido responsável por vários desvios à interpretação correta do monstro. Para começar, não é verdade que ele tivesse um parafuso no pescoço. O parafuso só apareceu quando os maquiladores da Universal precisaram de alguma coisa para fixar a máscara sobre os ombros de Boris Karloff — cuja carantonha foi registrada sob copyright, certamente para impedir que José Mojica Marins viesse a lançar mão dela. Além disso, os filmes nunca deram a devida atenção aos bons sentimentos do monstro. Sempre o apresentaram como uma múmia ou vampiro vulgar, e nem levaram em conta a sua condição de underdog social, sem direito a greve ou sindicato. Mary Shelley não foi a primeira a ter a idéia do boneco animado. O folclore judeu, algumas passagens da Bíblia e as lendas medievais estão cheios dessas histórias. Talvez ela tenha sido a primeira a usar o golem para fazer crítica social. A partir daí, as histórias de golens ficaram tão freqüentes na literatura gótica quanto as de fadas na literatura infantil. Os golens hoje andam tão fora de moda quanto as fadas, porque os romancistas descobriram bonecos de carne e osso mais adaptáveis à realidade — embora ainda não tenham achado substitutos para as bruxas. Origens Em 1815 o Monte Tambora na ilha de Sumbawa, na atual Indonésia, entrou em erupção. Como conseqüência, um milhão e

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meio de toneladas de poeira foram lançadas na atmosfera, bloqueando a luz solar, deixando o ano de 1816 sem verão no hemisfério norte. Neste ano, Mary Shelley, então com 19 anos e ainda com o nome de solteira Mary Wollstonecraft Godwin, e seu futuro marido, Percy Bysshe Shelley, foram passar o verão a beira do Lago Léman, onde também se encontrava o amigo e escritor Lord Byron. Forçados a ficar confinados por vários dias em ambiente fechado pelo clima hostil anormal para a época e local, os três e mais outro hóspede, o também escritor John Polidori, passavam o tempo lendo uns para os outros historias de horror, principalmente histórias de fantasmas alemãs traduzidas para o francês. Eventualmente Lord Byron propôs que os quatro escrevessem, cada um, uma história de fantasmas. Byron escreveu um conto que usaria em parte mais tarde na conclusão de seu poema Mazzepa. Inspirado por outro fragmento de história de Byron desta época, Polidori mais tarde escreveria o romance “O Vampiro”, que seria a primeira história ocidental contendo o vampiro como conhecemos hoje, e que décadas depois inspiraria Bram Stoker no seu Drácula. Porém, passados vários dias, Mary Shelley ainda não conseguira criar uma história. Eventualmente ela veio a ter uma visão sobre um estudante dando vida a uma criatura. Essa visão tornou-se a base da história de Frankenstein, a qual Mary Shelley veio a desenvolver em um romance, encorajada pelo seu futuro marido. Desta forma, é curioso notar que o Frankenstein e o Vampiro vieram a ter sua gênese literária na mesma ocasião. Shelley relatou sua versão da gênese da história no prefácio à terceira edição de seu romance. O nome da criatura Embora a cultura popular tenha associado o nome Frankenstein à criatura, esta não é nomeada por Mary Shelley. Ela é referida como “criatura”, “monstro”, “demônio”, “desgraçado” por seu criador. Após o lançamento do filme Frankenstein em 1933 o

público passou a chamar assim a criatura. Isso foi adotado mais tarde em outros filmes. Alguns argumentam que o monstro é de certa forma, um “filho” de Victor, e, portanto pode ser chamado pelo mesmo sobrenome. Frankenstein é o antigo nome de uma antiga cidade na Silésia, local de origem da família Frankenstein. Mary Shelley teria conhecido um membro desta família, o que possivelmente influenciou sua criação. Edições Mary Shelley completou o romance em 1817 e Frankenstein ou o moderno Prometeu foi publicado em 1 de janeiro de 1818 por uma pequena editora de Londres, a Lackington, Hughes, Harding, Mavor & Jones, após ter sido rejeitada por duas outras editoras. A publicação não continha o nome da autora, somente um prefácio escrito por Percy Bysshe Shelley, seu noivo, e uma dedicatória a William Godwin, seu pai. A primeira edição foi feita em três volumes e teve impressas somente 500 cópias. Apesar das críticas desfavoráveis, a edição teve um sucesso de público quase imediato. Ficou bastante conhecida, principalmente através de adaptações para o teatro e a obra foi traduzida para o francês. A segunda edição de Frankenstein foi publicada em 11 de agosto de 1823 em dois volumes, desta vez com o crédito como autora para Mary Shelley. Em 31 de outubro a editora Henry Colburn & Richard Bentley lançou a primeira edição popular em um volume. Esta edição foi significativamente revisada por Mary Shelley, e continha um novo e longo prefácio escrito por ela, relatando a gênese da história. Esta edição é a mais conhecida e mais usada como base para traduções. Temas Frankenstein aborda diversos temas ao longo do texto, sendo o mais gritante a relação de criatura e criador, com óbvias implicações religiosas. Uma influência notável na obra é o poema Paraíso Perdido de John Milton, que aborda a criação do homem e sua subseqüente

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queda. A influência torna-se explícita tanto através da epígrafe que cita três versos do poema, quanto aparecendo diretamente em Frankenstein: é um dos livros que a criatura lê. A queda, ou a ruína, está bastante presente no livro de Shelley, que traça a destruição física e moral de Victor Frankenstein, e é aludida não só nas citações de Paraíso Perdido, como no próprio título da obra: O Moderno Prometeu. Prometeu é um personagem da mitologia grega, um titã que, ao roubar o segredo do fogo, o qual era reservado aos deuses, para doá-lo a humanidade, é severamente punido por Zeus. O paralelo com a trajetória de Victor Frankenstein é direto, e o livro deixa claro que o segredo da criação da vida a partir de matéria inanimada é de natureza divina. O poder exercido pela humanidade sobre a Natureza através da ciência e da tecnologia é outro tema principal da obra, e encaixa-se no espírito da época, o estágio inicial da Revolução Industrial. Outros temas são abordados com menos ênfase. A amizade verdadeira é tratada, com o Capitão Walton desejando tornar-se amigo de Victor, e Victor elaborando sobre ela ao se referir a sua amizade com Clerval. Preconceito, ingratidão e injustiça também estão presentes. A criatura é sempre julgada por sua aparência, e agredida antes de ter uma chance de se defender. Em um episódio, o monstro salva uma garotinha inconsciente e, ao tentar devolvê-la para seu pai, é baleado e acusado de tê-la agredido. A inveja também aparece, ao subverter os bons sentimentos iniciais do monstro. A expressão do sublime através da grandiosidade da Natureza é um tema caro ao Romantismo, e aparece em Frankenstein nas descrições das grandes planícies de gelo e das paisagens da Europa. Por fim, a inevitabilidade do destino, tema muito desenvolvido na literatura clássica, é constantemente aludida ao longo do romance, que é uma obra que se presta a múltiplas interpretações e leituras.

Adaptações O romance foi primeiramente adaptado para o teatro, e posteriormente para um grande número de mídias, incluindo rádio, televisão e cinema, além de quadrinhos. A primeira adaptação para o cinema foi feita pelos Edison Studios em 1910. Foi produzida por Thomas Edison e trazia Charles Ogle no papel da criatura. Uma das mais famosas transposições do romance para as telas é a realizada em 1931 pela Universal Pictures, dirigida por James Whale, com Boris Karloff como o Monstro (veja a entrada na IMDb). Esta adaptação deu a aparência mais conhecida do monstro, com uma cabeça chata, parafusos no pescoço e movimentos pesados e desajeitados (apesar do livro descrever a criatura como extremamente ágil). Este filme tornou-se um clássico do cinema. Um grande número de continuações seguiram-se, mas desta vez divergindo bastante da história narrada no romance. Em 1994 foi lançada uma adaptação cinematográfica dirigida por Kenneth Branagh de nome Mary Shelley's Frankenstein (veja a entrada IMDb), com o próprio Branagh no papel de Victor Frankenstein, Robert De Niro como a criatura e Helena Bonham Carter como Elizabeth. Apesar de o título sugerir uma adaptação fiel, o filme toma uma série de liberdades com a história original. As representações do Monstro e sua história têm variado bastante, de uma simples máquina de matar sem capacidade de reflexão a uma criatura trágica e plenamente articulada, o que seria mais próximo do retratado no livro. O romance Frankenstein ainda serviu como inspiração para o filme Edward Mãos de Tesoura (1990), de Tim Burton.

MARY SHELLEY

Mary Wollstonecraft Shelley (Londres, 30 de agosto de 1797 - idem, 1 de fevereiro de 1851), mais conhecida por Mary Shelley foi uma escritora britânica, filha do filósofo William Godwin e da pedagoga e escritora Mary Wollstonecraft. Casou-se com o poeta

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Percy Bysshe Shelley em 1816, depois do suicídio da primeira esposa. Seu pai, William Godwin, influenciou toda a geração de 1790, com algumas idéias que pediu emprestado a Rousseau e que nunca se lembrou de devolver. Sua mãe, Mary Wollstonecraft (ou seja, a avó de Frankenstein), foi uma das primeiras feministas da História, autora de uma famosa Declaração dos direitos da mulher, e só não queimou espartilhos em praça pública porque tinha vergonha de sair exibindo suas peças íntimas pela rua. Ela morreu quando Mary nasceu, em 1797, e o velho Godwin, depois de percorrer em vão terras distantes em busca de uma noiva, acabou se casando com uma vizinha, a Sra. Clairmont, a qual o viu na janela e o laçou com a seguinte cantada: “Será possível que eu esteja a contemplar o imortal Godwin?” O que era apenas uma força de expressão porque, embora célebre, Godwin já estava naquele tempo mais para moribundo do que para imortal. Seja como for, ela ainda lhe deu outra filha, Jane, que viria a ser a amante de Lord Byron. Em 1811, logo após ser expulso de Oxford, Shelley se casara com Harriet Westbrook, uma dondoca londrina. Ele com 19, ela com 16. O casamento foi um fracasso desde o começo, porque Harriet achava Shakespeare muito mais poeta do que Shelley, e escolhia os momentos mais impróprios para lhe dizer isto. Esta brincadeira durou três anos — até Shelley ser introduzido na casa de Godwin. As testemunhas afirmam que foi amor à primeira vista: Shelley olhou para Mary, que olhou para Shelley, que foi examinado dos pés à cabeça por Godwin, o qual não gostou nada da história. Mas Shelley puxou um revólver, e Godwin, que sempre pregara o primado da razão sobre todas as coisas, preferiu não discutir. Shelley e Mary zarparam em ilícita lua-de-mel para Paris, com a Sra. Godwin nos calcanhares. Despistaram-na na Suíça, onde Mary botou Frankenstein para dormir, e pularam grandes carnavais em Veneza, na companhia de Lord Byron, entre outros nudistas e vegetarianos. Já então Byron estava de amores com Jane Clairmont, a outra filha de

Godwin — e este, mais do que nunca, sabia agora por que Platão não admitia poetas na sua República. Dois anos depois, Harriet, a primeira mulher de Shelley, foi encontrada morta, boiando num rio. Shelley apresentou vários álibis diferentes, todos perfeitos, e pôde finalmente se casar com Mary, para grande satisfação de Godwin, que nunca aplicou na prática as suas teorias sobre o amor livre. E só não se pode dizer que foram felizes para sempre porque Shelley, que já havia driblado várias gripes (dessas mortais em poetas), acabou morrendo em 1822, aos 30 anos, naufragando nas costas da Itália a bordo de um veleiro chamado Don Juan. O corpo de Shelley foi jogado à praia, em Viareggio, ali ficando enterrado pelo vento e areia durante mais de um mês. Pouco antes, Aleggra, a filha de Byron e Jane, também morrera de tifo. E daí a dois anos seria a vez do próprio Byron. Mary ficou sozinha, com seus fantasmas, para contar a história. O que teve tempo de sobra para fazer, pois só morreu em 1851, aos 54 anos, e mesmo assim de tédio — um recorde, na época. Mas não se pense que toda a vida de Mary Shelley tenha sido um romance gótico, com seqüestros, amantes no armário, acessos de tosse e baratos de ópio. Foi também muita cultura, muita filosofia. Frankenstein, apesar de todos os sustos, era um livro sério quando foi escrito, e só começou a perder a seriedade quando os leitores também começaram a perder a inocência. (Parece que agora começaram a recuperá-la.) Frankenstein é um coquetel das idéias de Rousseau, através de Godwin, da mitologia grega e de preocupações religiosas — tudo isto com uma cereja gótica por cima. Está cheio de implicações metafísicas sobre Deus e o homem, e, principalmente, daquelas conotações sociais vigentes em 1818 — como, por exemplo, se era mesmo o pecado original o responsável pelas mazelas humanas, ou se o homem nascia bom e era a sociedade que o corrompia. A segunda hipótese, na qual Mary apostava timidamente, já estava ganhando por vários corpos de frente, mas ninguém se atrevia a botar a mão no fogo. O fogo que Prometeu roubou de Zeus

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para levar aos homens também é um dos motivos subjacentes em Frankenstein. Zeus, o profeta do óbvio, achava que os homens ainda não eram bastante sábios para possuir o fogo, porque do fogo se fundem os metais, e dos metais tanto pode surgir a civilização, como podem ser fabricadas as armas que significam a guerra e a destruição. No fundo, apenas uma maneira diferente de contestar a fábula do pecado original, e de insinuar que não há nada como uma boa sociedade injusta para estragar um produto perfeito na origem, ou seja, o homem. Esta é simplesmente a história de Frankenstein e, não por coincidência, o título

completo do livro de Mary Shelley é Frankenstein, ou o moderno Prometeu. Eu só queria saber se ela estava pensando em tudo isto ao escrever a sua historinha de terror, ou se foram os críticos que, habituados a extrair sangue de pedra, descobriram essas implicações. Nenhuma dúvida. Se os críticos tivessem tanta imaginação, estariam escrevendo os romances que criticam. Fontes: http://www.digestivocultural.com/ http://pt.wikipedia.org http://www.laurahird.com (imagem)

A minha infância tão pobre com tantas dificuldades,

mas não deixou de ser nobre, pois dela sinto saudades.

Amor de triste memória

que me envolveu tantos dias, hoje é uma simples estória

de falsas alegorias...

Ando à procura de alguém que me venha dar carinho,

como estou não me convém, não quero viver sozinho.

À noite sonho contigo

em meu céu de fantasia, mas depois pra meu castigo não te encontro noutro dia.

A noite toda em vigília esperando amanhecer,

pois quando enfim o sol brilha hei de te ouvir e te ver.

A poesia que me invade em horas de inspiração, além de cantar saudade, também canta solidão!

As cartas que me escrevias com tanto amor e saudade,

acalentavam meus dias cheios de felicidade.

As trovas que aqui deponho

à apreciação dos leitores, são os frutos do meu sonho

que colhi nos meus amores...

Cada dia uma rotina que devo sempre seguir, entretanto a vida ensina que não posso desistir.

Certa saudade descobre o que ficou à distância:

velha esperança de pobre dos tempos da minha infância...

“C’est la vie!”, diz o francês em meio do burburinho...

“Time is money!”, diz o inglês ao seguir o seu caminho...

Contigo no pensamento

não lembro de mais ninguém: és meu prazer e tormento,

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mas algo que me faz bem...

Contigo no pensamento tento dormir e esquecer;

no entanto, pra meu tormento tu não sais do meu viver...

Dediquei-me tanto ao estudo que quase fiquei mais louco,

procurando saber tudo, vejo que aprendi tão pouco...

Deve a trova ser singela

e atingir os corações; quanto mais simples mais bela,

embora tenha “chavões”.

És a musa dos meus versos que me inspira quando canto

e nos momentos adversos o motivo do meu pranto.

Esperava compreender o que me causa aflição, para não permanecer

nesta horrível confusão.

Esperava o teu sorriso em teus lábios e nos olhos;

quase perdi o juízo quando me lançaste abrolhos...

Esta grande desventura que me causa tanta dor;

eu já creio: não tem cura... pois perdi o teu amor.

Eu faço trovas sentidas nestas noites de luar:

são as “paixões recolhidas” que não consigo olvidar.

Eu que já fiz do meu sonho

um castelo de ilusão, hoje somente componho

pra matar a solidão.

Faze o verso sem barulho de trovador solitário,

que se usares falso orgulho não passarás de um otário.

Já fiz trovas de improviso, mas com muita reflexão,

pois de uma coisa preciso: é não perder a razão...

Meus versos estão presentes

na tristeza e na alegria, e nisso são procedentes

da luta do dia-a-dia.

Minha vida está repleta de amores incompreendidos

que me fazem ser poeta de versos arrependidos.

Não adianta querer tanto, nem amar sem ser amado, foi assim meu desencanto ao me sentir desprezado.

Não tarda vir a alvorada

trazendo nova esperança de prosseguir na jornada

com mais fé e mais confiança.

Não te direi novamente de minha mágoa sem causa,

ficarei indiferente como quem pede uma pausa.

Na trova tudo acontece, que o diga meu coração,

pois amei quem não merece possuir minha paixão !

Nesta vida quotidiana cuja rotina me cansa,

apesar do que me engana sempre resta uma esperança.

No “Meu Caminho até Ontem” busquei no amor esperanças, pretendendo que despontem

“Minhas Amáveis Lembranças”.

Nosso amor sem persistência

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teve pouca duração, assim foi sua existência como chuva de verão.

No tumulto desta vida

nos encontramos um dia, e sendo minha escolhida você não me escolheria.

Ouvindo o rumor das águas

eu me ponho a suplicar: que levem as minhas mágoas

e as afoguem lá no mar.

O verso nasce espontâneo quando surge a inspiração;

é tal qual um ritmo estranho a formar uma canção.

Pablo Neruda, o cantor que leio de madrugada:

“Veinte Poemas de Amor” e a “Canción Desesperada”.

Perambulando sozinho, andando por aí a esmo,

eu vejo que este caminho me faz fugir de mim mesmo.

Por que será que a saudade

traz tanta contradição?! Pode ser felicidade

e também desilusão...

Quando te vi num relance meu coração despertou,

sonhando um novo romance que não se concretizou.

“Quem ama sempre perdoa...”

diz um dito popular, mas o desprezo magoa

por mais que se queira amar.

“Quem canta os males espanta...”; certo ditado assim diz,

porque chorar não adianta e torna o ser infeliz...

Quem fizer a gentileza de não levar por ofensa,

que me ame sem recompensa, porque vivo na pobreza...

ou melhor

Quem fizer a gentileza

de não levar por ofensa, que me ame até na pobreza sem esperar recompensa.

Quem ler meus versos verá

que procurei ser feliz; e afinal entenderá

que nunca tive o que quis.

Quem namorou algum dia, sabe o quanto se requer,

para ter a simpatia e o coração da mulher.

Se a tristeza me visita

canto uma trova somente, e desta forma a desdita

foge e me torno contente.

Sou um simples trovador que vive cantando ao léu

e faço apenas do amor o meu precioso troféu.

Tantas trovas, tantos versos...

afinal me convenci, que embora sejam diversos

são dedicados a ti.

Tens razão quando me dizes que não queres meu amor,

para os pobres infelizes existe somente a dor.

Uma trova pequenina

demonstra como um teorema, a realidade que ensina

e diz mais do que um poema.

Vamos em frente, vencendo as agruras da jornada

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e estaremos compreendendo que não lutamos por nada.

Vem reclinar-te em meus braços para que eu sinta em meu peito

o calor dos teus abraços e viva assim... satisfeito.

Viver contigo não posso,

te deixar é o meu destino; pois quero ver se remoço e retorno a ser menino.

Vou cantar a noite inteira

até surgir a alvorada, que minh’alma seresteira vive sonhando acordada.

IALMAR PIO SCHNEIDER Nasceu no município de Sertão, RS, em 26/8/1942. Residiu por mais de 20 anos em Canoas, e atualmente reside em Porto Alegre. Poeta, advogado, cronista e bancário aposentado, Entidades a que pertence: Casa do Poeta Rio-Grandense, União Brasileira de Trovadores - Sede de Porto Alegre, Grêmio Literário Castro Alves, Agei - Associação Gaúcha dos Escritores Independentes, Casa do Poeta de Canoas, entre outras. Fonte: Colaboração do Autor

A DAMA DAS CAMÉLIAS 6/ 11/ 1951 - São Paulo/SP Teatro Brasileiro de Comédia Luxuosa e não muito bem-sucedida encenação destinada a comemorar os três anos de existência do Teatro Brasileiro de Comédia, montagem de Luciano Salce, com destaque para Cacilda Becker à frente de numeroso elenco. A encenação é primorosamente preparada pela direção do Teatro Brasileiro de Comédia - TBC, que a concebe para o amplo e tecnicamente bem guarnecido palco do Theatro Municipal, e não para o espaço acanhado da rua Major Diogo. A exuberante cenografia é de Aldo Calvo, assistido por Geraldo Ambrossi, Eleonora Koch e Rina Fogliotti, estando sua execução sob os cuidados de Tulio Costa e Bassano Vaccarini. Com tecidos especialmente importados de Paris, a indumentária exige dezenas de costureiras, sob o comando de Leonardo Villar,

Rina Fogliotti e A. Soares de Oliveira. O eletricista Joaquim Pesce compõe a iluminação e o maestro Enrico Simonetti encarrega-se das partituras. Esse esforço de produção, todavia, não garante a qualidade da encenação de Luciano Salce, fria e açucarada, longe de concretizar em cena os confrontos morais expostos no texto de Alexandre Dumas Filho. A trama é centrada no amor entre um rico rapaz da alta burguesia parisiense e uma bela cortesã, relação impossível para os rígidos padrões da época. Cacilda Becker vive Margarida e Maurício Barroso, o jovem Armand; o elenco inclui ainda Paulo Autran, Carlos Vergueiro, Ruy Affonso, Luiz Calderaro, Elizabeth Henreid, Cleyde Yáconis, Labiby Maddy, Wanda Primo, à frente de numerosa comparsaria. O público prestigia o evento e o acontecimento social, mais pelo aparato do que por seus méritos artísticos. A crítica aponta vários problemas no ritmo cênico e na interpretação dos atores. A realização

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impressiona, mas não alcança sucesso. Sobre o espetáculo, Ruy Affonso, um dos integrantes do elenco, dá seu depoimento: "A parte plástica era muito bonita, mas o lado humano se perdeu. Quando esse espetáculo, despojado de todo esse aparato, foi apresentado no TBC, cujo palco era pequeno, ganhou imensamente e aí ficou comovente".1

Franco Zampari, todavia, não se dá por vencido e resolve deslocar a produção para o Rio de Janeiro. Além de desfavorável à produção, a crítica carioca aponta uma característica que virá a se tornar um estigma para o TBC: acusa o elenco de italianismo vocal. Embora esse traço deva-se exclusivamente ao modo típico de falar do paulistano, não sendo imposição dos diretores da casa, o fato é que o TBC fica marcado como "o teatro dos italianos". Outra polêmica agita os ânimos, aberta por Paschoal Carlos Magno em sua coluna no Correio da Manhã, na qual ataca a encenação de Luciano Salce. Este replica, na revista Anhembi e uma tréplica de Pachoal descamba para o âmbito pessoal, apontando um defeito físico do encenador, vitimado na Guerra. As relações entre ambos tornam-se tensas e acirra-se a divisão de campos entre cariocas e paulistas. Como que resumindo os comentários desfavoráveis, o crítico paulista Miroel Silveira registra: "Cacilda Becker fez o seu teatro encenar, a 132 cruzeiros a poltrona, os suspiros de um problema extinto, numa encenação que Salce deve ter feito com a melhor de suas más-vontades...(...) No conjunto infeliz perde-se a bela voz de Paulo Autran e sua esplêndida caracterização, perde-se a esplêndida figura de Maurício Barroso, perde-se a curiosa desenvoltura de Labiby Maddy, perde-se até o grande talento de Cacilda Becker, submergido por uma desmedida e inflexível ambição".2 Notas 1.

PRADO, Luís André do. Cacilda Becker: Fúria Santa. São Paulo, Geração Editorial, 2002, p. 349. 2.

SILVEIRA, Miroel. A Camélia caiu do galho. In: ______. A outra crítica. São Paulo: Símbolo, 1976. p. 54.

PEQUENOS BURGUESES 30/ 8/ 1963 - São Paulo/SP Teatro Oficina Montagem do Teatro Oficina, sob a direção de José Celso Martinez Corrêa, que coroa o ciclo de produções realistas com emprego da metodologia stanislavskiana. Ao lançar-se à produção de Pequenos Burgueses, o Teatro Oficina já conta com bem-sucedida seqüência de realizações, em geral no horizonte do realismo. Encontra nesse texto de Máximo Gorki não apenas o apoio dramatúrgico para aprofundar suas pesquisas ligadas à interpretação de base psicológica e expressividade realista, como a abordagem de uma temática interessante para o período. A peça enfoca a Rússia às vésperas da Revolução, evidenciando numerosos pontos de contato com a realidade nacional anterior ao golpe militar de 1964. O núcleo familiar é dominado pelo pai, Bessemenov, que convive com uma variedade de posições políticas e sociais, representada pelos filhos e agregados da casa. Os conflitos entre eles engendram permanentes disputas que, acompanhando os acontecimentos externos, fazem explodir as relações ao final. A montagem cai como uma luva para a platéia estudantil do Oficina, ela mesma presa às contradições explicitadas em cena, num momento em que a tomada de posições torna-se urgente e necessária. Mas não apenas esse clima externo ao fato teatral contribui para o sucesso da iniciativa. Durante meses, o elenco é treinado por Eugênio Kusnet nas técnicas de Stanislavski, encontrando nesta produção o natural desaguadouro de uma pesquisa de linguagem cuidadosamente elaborada. Eugênio Kusnet, Etty Fraser, Renato Borghi, Célia Helena e Fauzi Arap acumulam as críticas mais entusiasmadas, à frente de um numeroso e homogêneo elenco. Estreado em agosto de 1963, o espetáculo é suspenso pelas autoridades militares em 2 de abril de 1964. Para retornar ao cartaz, no mês seguinte, o teatro paga a alguns agentes um forçado 'pedágio' e substitui a Internacional pela Marselhesa, cantada no final.

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A montagem fecha um ciclo dedicado ao realismo, e o estudioso Armando Sérgio da Silva assim avalia a evolução da equipe: "Pequenos Burgueses foi o fechamento, com chave de ouro, de uma aprendizagem que, apesar de algumas ligeiras distorções, foi finalmente e perfeitamente concretizada. Serviu, quase como prova, de que o Método Stanislavski, quando bem usado e descoberto em toda sua riqueza, pode ser aproveitado para se atingir o grau de perfeição realista e como base para outros estilos. Sentia-se, durante o espetáculo, os atores como verdadeiros artesãos da arte cênica - minuciosos, detalhados, impregnando seus gestos de tal intensidade emocional - que os espectadores se encaminharam, pouco a pouco, para dentro da casa dos Pequenos Burgueses plena de uma atmosfera angustiada, cinzenta; por vezes, de gritos de esperança dos trabalhadores. Nunca a caricatura e sempre a humanidade pobre, doída, mas verdadeira, da classe média".1

Pequenos Burgueses arrebata os prêmios Saci e Governador do Estado de melhor espetáculo paulista do ano de 1963. Notas 1.

SILVA, Armando Sérgio da. Oficina: do teatro ao te-ato. São Paulo: Perspectiva, 1981. p. 128.

PLUFT, O FANTASMINHA 1955 - Rio de Janeiro/RJ Teatro Tablado O texto de Maria Clara Machado que estréia com elenco de O Tablado torna-se um clássico da literatura dramática brasileira, inaugura, em sua síntese poética, uma linguagem teatralmente elaborada para crianças. Os atores e os artistas que assinam a ficha técnica já trabalham juntos há alguns anos e formam uma equipe afinada - o que confere alto nível aos desempenhos. O clima de cumplicidade entre os interpretes garante a homogeneidade da atuação e dá o tom do espetáculo.

A peça conta a história do rapto da Menina Maribel pelo cruel e ridículo Pirata Perna-de-Pau. O vilão esconde a menina no sótão de uma velha casa abandonada, onde vive uma família de fantasmas: a Mãe, que faz deliciosos pastéis de vento e conversa ao telefone com Prima Bolha; o fantasminha Pluft, que nunca viu gente; Tio Gerúndio, que passa o dia inteiro dormindo dentro de um baú; e Chisto, o primo aviador que surge apenas no final para fazer um salvamento espetacular da menina. A trama se concentra na procura do tesouro do avô da menina, o Capitão Bonança, que morreu no mar deixando lá no fundo a sua herança. Mas a grande chave da poesia teatral criada pela autora é a amizade que surge entre a Menina Maribel e o Fantasminha Pluft. Os momentos de comicidade ficam por conta dos amigos de Maribel, o trio clownesco João-Julião-Sebastião, que vai a sua procura para salvá-la. Definindo o texto como uma "carta de poesia, bom humor e maliciosa inocência", o crítico Yan Michalski considera que "(...) o relacionamento mútuo entre todos estes personagens é impregnado de um tocante calor humano, embora a autora saiba sempre evitar o perigo da pieguice, geralmente através de incisivas intervenções cômicas; e a qualidade lírica e inventiva dos diálogos é admiravelmente inspirada".1

Um dos momentos de maior encantamento está já no início, no encontro entre Pluft e a Menina, que, com medo do Pirata, chora, o que arranca do fantasminha a exclamação: "Que lindo, que lindo, que lindo... Mamãe, mamãe, acode! A menina está derramando o mar todo pelos olhos." Diante da explicação da mãe, Pluft diz que também quer chorar e a mãe torna a explicar: "Fantasma não chora, Pluft, senão derrete".2 Na opinião de Yan Michalski este diálogo "deveria ter desde já a sua inclusão garantida em qualquer antologia dos grandes trechos da dramaturgia nacional".3

Depois da estréia, a peça é montada em outras cidades brasileiras e no exterior e passa a integrar o repertório de muitos grupos amadores e grêmios teatrais de colégios de todo o país.

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Notas 1.

MICHALSKI, Yan. O tesouro de Maria Clara Bonança. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 5 set. 1969. 2.

MACHADO. Maria Clara. Pluft, o Fantasminha.

3. MICHALSKI, Yan. O tesouro de Maria Clara Bonança.

Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 5 set. 1969.

Fonte: Itaú Cultural

Nunca mais haverá no mundo um ano tão bom. Pode até haver anos melhores, mas jamais será a mesma coisa. Parecia que a terra (á nossa terra, feinha, cheia de altos e baixos, esconsos, areia, pedregulho e massapê) estava explodindo em beleza. E nós todos acordávamos cantando, muito antes do sol raiar, passávamos o dia trabalhando e cantando e logo depois do pôr-do-sol desmaiávamos em qualquer canto e adormecíamos, contentes da vida. Até me esqueci da escola, a coisa que mais gostava. Todos se esqueceram de tudo. Agora dava gosto trabalhar. Os pés de milho cresciam desem-bestados, lançavam pendões e espigas imensas. Os pés de feijão explodiam as vagens do nosso sustento, num abrir e fechar de olhos. Toda a plantação parecia nos compreender, parecia compartilhar de um destino comum, uma festa comum, feito gente. O mundo era verde. Que mais podíamos desejar? E assim foi até a hora de arrancar o feijão e empilhá-lo numa seva tão grande que nós, os meninos, pensávamos que ia tocar nas nuvens. Nossos braços seriam bastantes para bater todo aquele feijão? Papai disse que só íamos ter trabalho daí a uma semana e aí é que ia ser o grande pagode. Era quando a gente ia bater o feijão e iria medi-lo, para saber o resultado exato de toda aquela bonança. Não faltou quem fizesse suas apostas: uns diziam que ia dar trinta sacos, outros achavam que era cinqüenta, outros falavam em oitenta. No dia seguinte voltei para a escola. Pelo caminho também fazia os meus cálculos. Para mim, todos estavam enganados. Ia ser cem sacos. Daí para mais. Era só o que eu pensava, enquanto explicava à professora por

que havia faltado tanto tempo. Ela disse que assim eu ia perder o ano e eu lhe disse que foi assim que ganhei um ano. E quando deu meio-dia e a professora disse que podíamos ir, saí correndo. Corri até ficar com as tripas saindo pela boca, a língua parecendo que ia se arrastar pelo chão. Para quem vem da rua, há uma ladeira muito comprida e só no fim começa a cerca que separa o nosso pasto da estrada. E foi logo ali, bem no comecinho da cerca, que eu vi a maior desgraça do mundo: o feijão havia desaparecido. Em seu lugar, o que havia era uma nuvem preta, subindo do chão para o céu, como um arroto de Satanás na cara de Deus. Dentro da fumaça, uma língua de fogo devorava todo o nosso feijão. Durante uma eternidade, só se falou nisso: que Deus põe e o diabo dispõe. E eu vi os olhos da minha mãe ficarem muito esquisitos, vi minha mãe arrancando os cabelos com a mesma força com que antes havia arrancado os pés de feijão: - Quem será que foi o desgraçado que fez uma coisa dessas? Que infeliz pode ter sido? E vi os meninos conversarem só com os pensamentos e vi o sofrimento se enrugar na cara chamuscada do meu pai, ele que não dizia nada e de vez em quando levantava o chapéu e coçava a cabeça. E vi a cara de boi capado dos trabalhadores e minha mãe falando, falando, falando e eu achando que era melhor se ela calasse a boca. À tardinha os meninos saíram para o terreiro e ficaram por ali mesmo, jogados, como uns pintos molhados. A voz da minha mãe continuava balançando as telhas do avarandado. Sentado em seu banco de sempre, meu pai era um mudo. Isso nos atormentava

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um bocado. Fui o primeiro a ter coragem de ir até lá. Como a gente podia ver lá de cima, da porta da casa, não havia sobrado nada. Um vento leve soprava as cinzas e era tudo. Quando voltei, papai estava falando. - Ainda temos um feijãozinho-de-corda no quintal das bananeiras, não temos? Ainda temos o quintal das bananeiras, não temos? Ainda temos o milho para quebrar, despalhar, bater e encher o paiol, não temos? Como se diz, Deus tira os anéis, mas deixa os dedos. E disse mais: - Agora não se pensa mais nisso, não se fala mais nisso. Acabou. Então eu pensei: O velho está certo. Eu já sabia que quando as chuvas voltassem, lá estaria ele, plantando um novo pé de feijão.

ANTÔNIO TORRES

Antônio Torres nasceu no dia 13 de setembro de 1940 num lugarejo chamado

Junco (hoje município de Sátiro Dias), na Bahia. Aos 20 anos, em São Paulo, foi chefe de reportagem de esportes do jornal "Última Hora". Redator de publicidade desde 1963, trabalhou em algumas das principais agências do País, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Sua estréia literária se deu com o romance "Um Cão Uivando nas Trevas", publicado em 1972. Em seguida, viria a publicar mais quatro romances: "Os Homens dos Pés Redondos" (1973), "Essa Terra" (1976), "Carta ao Bispo" (1979), "Adeus, Velho" (1981), "Um Táxi para Viena D´Áustria" (1991), "Balada da Infância Perdida" (1996), "O Cachorro e o Lobo" (1997) e "Meu Querido Canibal" (2000), entre outros. Pelo conjunto de sua obra, foi agraciado com o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, em 2000. Embora se considere essencialmente um romancista, Antônio Torres tem alguns contos, que publicou em livros e antologias, no Brasil e no Exterior.

Fontes: – Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século. RJ: Editora Objetiva, 2000. – http://www.releituras.com/

Em 1969, o comitê de ficção do prestigioso Prêmio Pulitzer de Literatura concedeu a sua distinção anual a N. Scott Momaday, jovem professor de inglês da Universidade Stanford na Califórnia, pelo seu livro intitulado House Made of Dawn. O fato de que o romance de Momaday lidou quase que exclusivamente com nativos americanos não escapou à atenção dos meios de comunicação ou dos leitores e estudiosos da literatura contemporânea, nem os antecedentes indígenas kiowa do autor. Conforme ressaltaram os artigos dos jornais, desde que Oliver LaFarge recebeu o mesmo prêmio por Laughing Boy, exatamente 40 anos antes, um romance dos chamados "indígenas"

não recebia tal distinção. No entanto, enquanto LaFarge era um homem branco escrevendo sobre os índios, Momaday era um índio; o primeiro nativo americano laureado com o Pulitzer. Naquele mesmo ano, 1969, outro jovem escritor, um advogado sioux de nome Vine Deloria Jr., publicou Custer Died for Your Sins, cujo subtítulo era "An Indian Manifesto". Ele examinou de forma incisiva as atitudes norte-americanas da época em relação aos assuntos nativos americanos, surgindo quase simultaneamente com American Indian Speaks, uma antologia literária de vários jovens e promissores índios americanos, dentre eles Simon J. Ortiz, James Welch, Phil George, Janet

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Campbell e Grey Cohoe, todos os quais haviam sido publicados apenas vagamente até então. Esses desenvolvimentos que estimularam interesse novo ou renovado pela literatura nativa americana contemporânea foram acompanhados pelo surgimento naquela época de duas obras de conhecimento geral sobre o assunto, Man's Rise to Civilization (1968), de Peter Farb, e Bury My Heart at Wounded Knee (1970) de Dee Brown. Cada qual atingiu uma corrente receptiva no gosto popular norte-americano e as estatísticas demonstram que, ainda hoje, cerca de 30 anos depois, sua popularidade permanece. Serenamente, surgiram outros livros e outros autores. "Ceremony, de Leslie Marmon, A Winter in the Blood, de Welch, as ficções pós-modernas de Gerald Vizenor e a poesia de Paula Gunn Allen, Simon J. Ortiz e Linda Hogan deram lugar, ao longo dos anos, a escritores mais novos, como os romancistas Sherman Alexie, Greg Sarris e Thomas King e os poetas Kimberly Blaeser, Janice Gould e Janet McAdams. Em 1992, um grupo de acadêmicos e ativistas norte-americanos criou um festival internacional de escritores, que reúne 360 artistas de nove países, principalmente dos Estados Unidos. Cerca de metade desse número já publicou pelo menos um livro: ficção, drama, autobiografia ou até livros de culinária. A partir dessa convocação, surgiram duas organizações: o Círculo de Escritores Nativos das Américas e um grupo mentor, Wordcraft Circle, que reúne os escritores nativos americanos estabelecidos com talentosos aprendizes. A cada ano desde 1992, o Círculo dos Escritores Nativos apresentou prêmios para "primeiros livros" de poesia e de ficção. Para aqueles que imaginam qual será o futuro da literatura nativa americana, esses livros premiados oferecem resposta ampla e positiva. Observe-se, por exemplo, um jovem artista como o poeta chippewa Blaeser, cuja evocativa coletânea inicial de versos, Trailing You (1995), seguiu-se por uma obra apreciada de conhecimento, um estudo da prosa complexa e até surpreendente do colega escritor nativo

americano, o satírico pós-mordernista Gerald Vizenor. De fato, a expansão da criatividade e do interesse na literatura nativa americana é muito mais que uma explosão. Ela representa, coletivamente, um renascimento. Mais de uma geração após o seu início, ela é uma parte da literatura norte-americana como renovação, ou continuação. Ela traz reminiscências. Pode-se melhor ilustrar o fenômeno do renascimento através da experiência de uma sala de aula voltando muitos anos no tempo. Meus alunos leram cópias de poemas de índios mohawk da parte setentrional do Estado de Nova Iorque e o tema voltou-se para os diversos escritores nativos americanos em outras partes do país. Um estudante, provavelmente refletindo o pensamento de diversos na sala, espantou-se: "não é maravilhoso como a literatura nativa americana emergiu tão repentinamente no cenário?” A questão soou atordoante na época e assim permanece na minha memória. Porque a literatura nativa americana não "emergiu" simplesmente. Como a vida e a cultura da qual é parte, ela tem séculos de idade. Suas raízes são profundas na nossa terra; profundas demais para que meros cinco séculos de influência de outras civilizações modifiquem-na de forma duradoura, completa e irrevogável. Reminiscências, continuidade, renovação. Os nativos americanos se acostumaram a contar suas histórias e suas formas de vida através de processos intrincados de contar histórias comprovados pelo tempo. Somente nas últimas décadas, os acadêmicos identificaram essas formas de contar histórias como "tradição oral". Por milênios, os nativos americanos carregaram suas tradições desta forma. Para nada mais que uma geração antes da extinção, como escreveu Momaday, há sempre mais a ser lembrado pelas pessoas devido a essa ligação tênue. Ao relembrar, tem havido força, continuidade e renovação ao longo das gerações. Nas palavras do poeta do povo acoma Simon J. Ortiz, "os índios estão em toda parte". Desde o Refúgio Savala de Sonora, no México,

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até a Montanha Mary Tall, da tribo koyukon do Alasca; do país navajo de Geraldine Keams e Larry Emerson até o nordeste do Maine de Joseph Bruchac, os nativos americanos estão escrevendo sobre si próprios e sobre seu povo. Seus escritos são baseados em terra firme, nutridos por raízes fortes e têm flores crescentes invencíveis. É interessante notar que, mesmo na forma escrita, em inglês, a literatura nativa americana é bastante venerável na estrutura da própria literatura norte-americana, remontando ao início do século XIX, quando os primeiros escritores (dentre eles, William Apess, da tribo pequod, George Copway (ojibway) e o chefe Elias Johnson (tuscarora) publicaram livros relacionados às suas culturas tribais. Há também evidências de que muitas tribos possuíam variantes de linguagem escrita muito antes de Sequoyah alfabetizar a nação cherokee virtualmente do dia para a noite. Ainda que os livros dos índios delaware e da Confederação iroquois fossem repassados oralmente por muitas gerações, no início eles foram reproduzidos em diversas formas escritas. Ironicamente, mesmo quando escritores norte-americanos como James Fenimore Cooper e Henry Wadsworth Longfellow apresentaram o índio americano a partir das suas perspectivas, os nativos americanos estavam escrevendo seus próprios livros e, nesse processo, desenvolvendo literatura. Se, no começo, a literatura nativa americana consistia em contar histórias (ou, como definiríamos, ficção), uma ampla mudança teve lugar na segunda metade do século XIX, principalmente com o desenvolvimento do sistema de reservas indígenas nos anos 1870 e 1880. A biografia e a auto-biografia tornaram-se a forma mais popular e permaneceram dominantes até o século XX. Essas biografias eram muitas vezes escritas por outros; antropólogos ou poetas registravam e editavam as histórias de vida de nativos americanos que eram encontrados nas estradas dos séculos XIX e XX. Talvez o mais famoso deles seja Black Elk Speaks (1932), de

John G. Neihardt. De acordo com Neihardt, Alce Negro contou a história ao seu filho no idioma oglala lakota. O filho então a traduziu para inglês para Neihardt, que então a reescreveu. Era uma prática comum, com muitos exemplos em meados do século passado, presentes entre tribos desde crows e cheyenne no extremo norte dos Estados Unidos até os apaches e navajos no sudoeste. Naturalmente, nem todos os relatos pessoais eram "contados" a outra pessoa. Apareceram alguns escritores individuais, dentre eles Charles A. Eastman, um médico santee sioux treinado em universidade que escreveu livros como Indian Boyhood (1902) e The Soul of the Indian (1911), e o Chefe Luther Urso em Pé, autor de My People The Sioux (1928) e Land of the Spotted Eagle (1933). O livro de Momaday The Names, de 1975, foi parte dessa tradição. À medida que decorria o século XX, a literatura nativa americana ampliou-se para além da biografia e relatos para a ficção, jornalismo e até dramaturgia. D'Arcy McNickle foi o melhor escritor de ficção do período da década de 1930 a 1970, com livros como The Surrounded (1936) e Runner in the Sun (1954). Ele foi também extremamente ativo como proponente de assuntos indígenas. Will Rogers, o popular colunista de jornais norte-americanos que se tornou humorista, cujo período áureo foram os anos 1920 e 1930, foi um índio cherokee, bem como o dramaturgo Lynn Riggs, cujo drama mais famoso, Green Grow the Lilacs (1931), foi transformado no clássico musical da Broadway dos anos 1940, Oklahoma! Nas primeiras décadas da segunda metade do século, principalmente a partir dos anos 1960, o desenvolvimento da literatura nativa americana deveu-se a diversos periódicos, que incluem publicações mais estabelecidas, como o South Dakota Review e Cimarron Review, e diversas publicações, revistas e editoras menores, dentre elas "Sun Tracks", "Blue Cloud Quarterly" e "Strawberry Press". Os poemas de Hogan, Joy Harjo, William Oandasan e muitos outros apareceram primeiramente nessas e em outras publicações. Muitos escritores e acadêmicos nativos

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americanos fizeram suas primeiras aparições escrevendo sobre temas não-indígenas. A primeira empreitada de Momaday foi uma coletânea das obras de Frederick Goddard Tuckerman, um poeta menos conhecido do círculo de Emerson na Massachusetts de meados do século XIX. Louis Owens, que reconsiderou e afirmou extensamente sua herança choctaw/cherokee em seus últimos escritos, começou com estudos sobre as obras de John Steinbeck. (Como parêntese, eu comecei minha carreira na educação, poesia e literatura como especialista em Emerson, Henry David Thoreau e Herman Melville.) Quem são os escritores nativos americanos? Esta questão preocupou-me por anos, mesmo antes de compilar minha antologia de 1979, The Remembered Earth. Para aquele livro, decidi manter o mais amplo espectro de definição possível. Incluí, por exemplo, Dana Naone, uma jovem e talentosa escritora havaiana nativa, pois nós, nativos americanos do continente, estamos nos tornando cada vez mais conscientes de que, embora os havaianos não sejam índios americanos propriamente falando, eles são, entretanto, nativos americanos em sentido real. De forma não surpreendente, os versos de Naone continham temas e preocupações similares aos de Allen e Silko. Os antropólogos e historiadores postularam que a inclusão como nativos americanos depende de três critérios essenciais: genéticos, culturais e sociais. A distinção genética é "sangue total", "meio sangue", "um quarto" e assim por diante. Culturalmente, uma pessoa é caracterizada em termos do local de onde ele ou ela é proveniente e suas formas distintas de vida, religião e idioma. Socialmente, alguém é considerado nativo americano devido à forma com que ele ou ela vê o mundo, terra, lar, família e outros aspectos da vida. Mas, à medida que os anos passam, a identidade torna-se fator menos motivador entre os temas literários que a soberania e, como parte dela, a reivindicação do passado. Os nativos americanos estão preocupados sobre quem são eles enquanto povo e

escrevem de perspectiva comunitária (seja o ambiente urbano ou rural) e esse senso de comunidade reafirma e ampara a soberania. Os romancistas Louise Erdrich e Sherman Alexie e poetas como Linda Hogan e Ray Urso Jovem são exemplos de escritores que, na verdade, estão fazendo o que Charles Dickens fez em Londres há mais de um século. Ou seja, eles estão criando um senso local. A literatura emerge invariavelmente disso e, embora os melhores escritores lutem para serem universais, é o senso local com que estão profundamente imbuídos. Erdrich, poetisa e escritora de ficção, é mais conhecida pela sua tetralogia nativa americana: Love Medicine (1984), The Beet Queen (1986), Tracks (1988) e The Bingo Palace (1994). Ela recentemente trouxe à tona suas raízes ojibwa em The Antelope Wife (1999), um retrato de duas famílias nativas americanas urbanas contemporâneas em comparação com um mosaico de cem anos de história. Os versos da poetisa chickasaw Linda Hogan (ligados ao sul e centro de Oklahoma) concentraram-se na paisagem e na história. Mais recentemente, entretanto, à medida que cresceu e se desenvolveu, ela vem lidando com questões como preservação animal e feminismo. Alexie, um dos melhores jovens escritores a misturar realismo e humor sarcástico com forte lirismo ao escrever ficção, poesia e dramaturgia, é mais conhecida por Indian Killer (1996), um romance trágico sobre a busca de um assassino em série em ambiente urbano contemporâneo. Greg Sarris, um escritor californiano nativo de raízes miwok e pomo, atingiu ampla quantidade de leitores com seu primeiro livro Grand Avenue (1994), uma coletânea de contos passados na sua vizinhança multicultural nativa na urbana Santa Rosa, na Califórnia, povoada por gerações de índios pomo, bem como portugueses, mexicanos e afro-americanos. Seu primeiro romance, Watermelon Nights (1998), é uma visão urgente da tradição, crise e renovação em uma família nativa americana. Nos últimos tempos, ele moveu-se também para a dramaturgia. Em análise final, entretanto, a

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preocupação mais importante não é se alguém é mais ou menos índio que o seu companheiro índio americano. É muito mais importante que ambos reconheçam sua herança comum e lutem juntos pela melhoria dos nativos americanos no seu todo. Ao final, a literatura que deixamos para a posteridade estará disponível para as pessoas que vieram depois de nós. E, ainda assim, é dever do escritor individual comentar sobre coisas que ele ou ela acredita serem importantes, independentemente do tema da literatura lidar ou não exclusivamente com preocupações nativas americanas. Se não tivéssemos os escritos de Momaday sobre a Rússia, os curtos poemas de Aaron Carr sobre o espaço exterior ou os contos de ficção científica e roteiros de televisão de Russel Bates, a literatura nativa americana seria mais pobre pela sua ausência. (À medida que os índios escrevem sobre temas diferentes da sua comunidade, diversos escritores não-nativos, antes e depois de Laughing Boy, de Oliver LaFarge, investigaram a vida nativa americana, alguns com muito sucesso. Mais de meio século atrás, Frank Waters elaborou o que pode ser seu melhor romance, The Man Who Killed the Deer (1942), um estudo dos conflitos culturais entre os índios taos do norte do Novo México. Atualmente, ao escrever sua série de romances "best-sellers" centralizados na polícia tribal navajo, Tony Hillerman esforçou-se para aprender a cultura e tradições para criar suas histórias.) Por fim, os escritores nativos americanos são aqueles de sangue e antecedentes nativos americanos que afirmam sua herança de formas individuais, da mesma forma que os escritores de qualquer cultura. Alguns escrevem sobre a vida reservada, outros descrevem ambientes urbanos. Alguns investigam a história, outros são ferozmente contemporâneos. Joseph Bruchac, que teve enorme influência sobre uma geração de

escritores mais jovens como mentor e capacitador, é conhecido hoje como escritor de histórias infantis, tais como Between Earth and Sky (1996) e The Arrow Over the Door (1998), que apresentam lendas tribais em contexto moderno para novas audiências. "A literatura é uma faceta de uma cultura", escreve Paula Gunn Allen, e, como tal, oferece algo de valor ao povo do qual é parte. Herança é povo. Povo é terra. Terra é herança. Ao relembrar esses relacionamentos (com o povo, o passado e a terra), renovamos a força de nossa continuidade como povo. A literatura, em todas as suas formas, é nossa forma mais durável de conduzir essa continuidade. Ao fazer literatura, como os cantores e contadores de histórias de antigamente, servimos ao povo bem como a nós mesmos em um duradouro senso de recordação. Nunca devemos esquecer esses relacionamentos. Nossa terra é nossa força e nosso povo é a terra, uma e única, como sempre foi e sempre será. A memória é tudo.

GEARY HOBSON

Geary Hobson, poeta e ensaísta de herança cherokee/quapaw, é membro do corpo docente do Departamento de Inglês da Universidade do Oklahoma. Este artigo é uma expansão da introdução do professor Hobson a uma antologia, The Remembered Earth, publicada originalmente por Red Earth Press, Albuquerque, Novo México, 1979, e reimpresso pela Imprensa da Universidade do Novo México em 1981. Ele foi utilizado com permissão do autor. ------------- Fonte: http://usinfo.state.gov/journals/itsv/0200/ijsp/ijsp0210.htm

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(entrevista realizada pela escritora Agenir Leonardo Victor) A trova é apaixonante Antonio Augusto de Assis, mais conhecido como A. A. de Assis, 71, nasceu em São Fidélis-RJ. Veio para Maringá em 1955, retornou ao estado do Rio em 1959 e novamente transferiu residência para Maringá em 1963, aqui permanecendo até hoje. Aposentou-se em 1997 como professor do Departamento de Letras da Universidade Estadual de Maringá. Desde a juventude tem-se dedicado à poesia. Em 1960, residiu em Nova Friburgo-RJ, berço da trova moderna no Brasil. Nesse período, conviveu com os mais importantes trovadores da época, tais como Aparício Fernandes, Delmar Barrão, Luiz Otávio, J.G. de Araújo Jorge e outros, daí surgindo seu entusiasmo pela quadra setissilábica. Assis é autor de vários livros e também da Missa em trovas, que tem sido celebrada em quase todo o país em festas de poesia. Tem uma estante cheia de troféus ganhos em concursos literários realizados Brasil afora e em Portugal. Para a entrevista que transcrevemos a seguir, o poeta maringaense recebeu em sua residência, onde conversaram durante cerca de uma hora.

AGENIR – Qual a diferença entre poeta e trovador? ASSIS – A mesma que existe, por exemplo, se é que existe, entre médico e cardiologista. Todo cardiologista é médico mas nem todo médico é cardiologista. Assim também, todo trovador é poeta mas nem todo poeta é trovador.

Digamos que a trova é uma especialidade dentro do gênero poesia. AGENIR – Como se define a trova? ASSIS – É um micropoema sem título, composto de quatro versos de sete sons (sete sílabas), rimando o primeiro com o terceiro e o segundo com o quarto. AGENIR – Mais ou menos como o haicai?... ASSIS – O haicai é menor ainda: compõe-se de três versos, sendo o primeiro e o terceiro com cinco sons e o do meio com sete sons. Uns dizem que a trova é o haicai ocidental; outros que o haicai é a trova japonesa. Tanto a trova quanto o haicai primam pela síntese. AGENIR – A trova deve ser muito antiga... ASSIS – Tem mais de mil anos, e no entanto continua cheia de vida. Suas origens remontam à Idade Média, a partir do sul da França, de onde se expandiu por toda a Europa, encontrando seu canteiro mais fértil na Espanha e em Portugal. A língua portuguesa nasceu cantando trovas, na voz dos antigos jograis e menestréis. Ao Brasil a trova chegou de carona nas caravelas de Cabral, sobreviveu às diversas escolas literárias que andaram na moda nestes últimos quinhentos anos, e permanece até hoje na boca e no coração do povo como a mais natural das modalidades poéticas. AGENIR – Ainda existem jograis e menestréis? ASSIS – De certo modo, sim. Os jograis e menestréis da Idade Média saíam de corte em corte cantando suas trovas, nas quais contavam novidades, espalhavam fofocas... eram os repórteres da época. A cantoria deles era um

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verdadeiro jornal em versos. São seus sucessores, hoje, os cantadores do Nordeste e do Sul do Brasil, com seus repentes e cordéis. O cordel é, em última análise, uma grande reportagem sobre algum assunto em evidência no momento. AGENIR – E qual a diferença entre os cantadores populares e os trovadores literários? ASSIS – Uma diferença importante está na maneira de compor a trova: os cantadores não seguem uma forma fixa, enquanto os trovadores conhecidos como "literários" seguem as normas da UBT (União Brasileira de Trovadores) e obedecem ao padrão culto da língua, utilizando vocabulário acessível, mas valorizando a correção gramatical. AGENIR – Pode-se então enquadrar a trova como um modo de comunicação... ASSIS – Claro que sim. Comunicar é transmitir a alguém uma informação, um pensamento, um apelo, uma emoção, e isso se faz de muitas formas: mediante um gesto, um desenho, um sinal sonoro, um texto oral ou escrito, em prosa ou verso. A trova é um modo de comunicação em versos, tal como o haicai, o soneto, o poema livre, a letra de música etc. AGENIR – Haveria lugar para a poesia, hoje, na mídia? ASSIS – Parece que cada vez menos. Houve tempo em que todos os jornais e muitas revistas, bem como as emissoras de rádio e algumas de televisão abriam espaço para a literatura. Hoje, porém, os tempos são outros. Há uma tremenda disputa pelo leitor e pelo ouvinte, de modo que a matéria precisa interessar ao maior número possível de pessoas, sob pena de queda no ibope. AGENIR – E literatura não dá ibope... ASSIS – Pelo menos não tanto quanto futebol, polícia, política, economia, fofoca,

humorismo... O romance, outrora tão popular, foi quase totalmente substituído pela telenovela... AGENIR – Poesia, nem pensar... Seria um produto em extinção... ASSIS – (risos) ...Não exageremos. Não tenho notícia de que a mídia em algum lugar se ocupe em divulgar, por exemplo, o futebol de botão. No entanto, há um sem-número de meninos (de todas as idades), a começar pelo Chico Buarque de Holanda, que são apaixonados por esse esporte. As pessoas jogam botão pelo prazer que isso lhes dá, independentemente da repercussão que possa ter na mídia o seu divertimento. Da mesma forma se comportam os que escrevem, lêem e até colecionam trovas. AGENIR – Quantas pessoas gostariam de trovas no Brasil? ASSIS – Não há uma estatística... Só de trovadores conhecidos, temos uns 5 mil. Mas não há como saber quantas pessoas, não-poetas, se deliciam lendo essas quadras. Ninguém sabe também quantos brasileiros apreciam palavras cruzadas, mas é difícil achar um jornal que não as ofereça aos seus leitores. O jornal Diário Gaúcho, de Porto Alegre, publica uma coluna com o título "A Trova do Dia", e o retorno em forma de correspondência é surpreendente. É difícil fazer uma boa trova, porém é muito fácil entendê-la; por isso tanta gente gosta dela. E depois que a pessoa "prova" algumas, acaba se apaixonando... AGENIR – Livro de poemas vende nas livrarias? ASSIS – No Brasil, muito pouco. O único que conseguiu ganhar dinheiro vendendo poesia foi J. G. de Araújo Jorge, cuja popularidade chegou a fazer dele um dos deputados federais mais votados no Rio de Janeiro. No romance, Jorge Amado foi um dos campeões. Mas o que mais se vende nas livrarias é livro didático, religioso, de receitas culinárias, de esoterismo e de auto-ajuda. Paulo Coelho, sozinho, vende mais que todos os outros escritores brasileiros juntos.

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AGENIR – Como é que os trovadores se comunicam uns com os outros? ASSIS – Pelo velho correio; pela Internet; por telefone; e por meio de uma grande rede de periódicos publicados mensalmente pelas muitas seções da UBT – União Brasileira de Trovadores. Aliás, uma das razões do sucesso da trova é o fato de ela ter mídia própria. Alguns desses informativos têm tiragem superior a dois mil exemplares, com assinantes em todo o Brasil e em Portugal. Ali saem, além de trovas, também notícias e comentários, e os editais e resultados de todos os concursos de trovas. A média tem sido de 60 concursos por ano. AGENIR – Há prêmios em dinheiro? ASSIS – A UBT não apóia nenhum concurso que ofereça prêmio em dinheiro ou que cobre taxa de inscrição. O amor à arte é levado muito a sério. Os vencedores recebem troféus, medalhas e diplomas, além de hospedagem e refeições na cidade-sede do concurso durante a festa de premiação. AGENIR – Há trovadores profissionais?... ASSIS – São trovadores profissionais muitos dos cantadores e repentistas do Nordeste e do Sul do país, dos quais já falamos, e que se apresentam como artistas em festas e shows. Os trovadores ditos "literários" são todos amadores: fazem trovas por diletantismo, sem nada receber em troca. Até quando publicam livros, distribuem-nos de graça aos amigos, ou por preço de custo. AGENIR – Mas, afinal, quem são esses trovadores chamados "literários"? ASSIS – São pessoas comuns, como todos nós, cada qual com sua profissão: professores, jornalistas, médicos, militares, advogados, engenheiros, bancários, operários, comerciários, empresários, agricultores etc., os quais, nas horas vagas, se divertem fazendo

trovas. Nota-se entre eles, sobretudo, um grande número de aposentados. AGENIR – Deve ser mesmo um bom divertimento para idosos. ASSIS – Costumo dizer que a trova é um ótimo brinquedo de velho... É a "trovaterapia". Você faz uma bela ginástica cerebral na construção de cada quadra. Além disso, a trova faz amigos, por meio da correspondência mantida e dos freqüentes encontros da "tribo". AGENIR – Há muitos trovadores no Paraná ? E em Maringá? ASSIS – O Paraná tem longa tradição em trova. Atualmente, as principais praças trovistas paranaenses são Curitiba, Maringá, Bandeirantes, Ponta Grossa e Londrina, mas não sei dizer quantos trovadores existem hoje no estado. Em Maringá, estão filiados à seção local da UBT 32 trovadores, alguns simplesmente como "gostantes"... AGENIR – Parece que vocês são mesmo bem-organizados... ASSIS – Somos sim. O trovismo, embora não faça disso grande alarde, é o movimento literário mais amplo, mais animado e mais organizado que até hoje se conheceu no Brasil. É uma verdadeira confraria. AGENIR – Além de concursos, o que mais vocês fazem? ASSIS – Os concursos são apenas um dos itens da atividade trovista. Realizam-se também congressos, recitais, festas de musas, sessões de autógrafos, palestras e oficinas de trovas em escolas, exposições... Em Bauru, por exemplo, todos os anos, é feita uma exposição chamada "A Trova no Parque", com centenas de trovas escritas em cartazes que são colocados entre as árvores. Na abertura do evento, é costume fazer uma "chuva de trovas", com milhares delas lançadas de avião sobre a cidade. Em Pouso Alegre-MG, foram pintadas trovas

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educativas em todos os prédios públicos da cidade. Em Curitiba, durante a semana dos Jogos Florais/2003, todos os ônibus do transporte urbano circularam expondo cartazes com trovas. Em outras cidades têm sido realizados "comícios de trovas" (e Maringá foi pioneira nisso, em 1966), com os trovadores apresentando seus versos em praça pública. AGENIR – E sonetos, ainda há quem os escreva? ASSIS – Há sim, muita gente. Temos ótimos sonetistas, tão bons quanto os do tempo de Bilac, ou até melhores. A única diferença é que o tempo de Bilac as pessoas tinham mais tempo para ler: não havia cinema, nem televisão, nem shopping... Hoje talvez haja menos leitores, porém a qualidade dos versos é a cada dia melhor. A poesia não morrerá nunca. Aliás, toda arte é eterna. Se assim não fosse, ninguém mais ouviria Bach, Beethoven, Chopin, Mozart, Strauss... AGENIR – Você se dedica exclusivamente à trova? ASSIS – Preferencialmente, mas não exclusivamente. Gosto muito da trova e do haicai, porque sou fascinado pela síntese. Da

trova mais ainda, por sua musicalidade e por ser um poema fácil de ser compreendido. Mas faço também soneto, verso livre, concreto... AGENIR – A trova tem trazido algum benefício especial para Maringá? ASSIS – Não sei o que você chama de "benefício especial". Traz alegria para nós, que temos nisso o nosso recreio intelectual. Mas deve beneficiar também Maringá, pela divulgação que faz da cidade. Cada vez que aqui promovemos um concurso, um congresso ou uma festa de trovas, todos os trovadores do Brasil e de Portugal ficam sabendo. Os que aqui vêm participar pessoalmente do evento saem sempre dizendo maravilhas da cidade. E toda vez que um de nós é premiado lá fora, o nome de Maringá é publicado junto com o da gente. Aliás, há muitas cidades onde as festas de trovas fazem parte do calendário turístico oficial. E são festas lindas. Fonte: VICTOR, Agenir Leonardo. A Trova: O Canto do Povo. Trabalho apresentado ao Curso de Comunicação Social das Faculdades Maringá, para habitlitação em Jornalismo. Maringá: Dezembro, 2003.

LENDA TOLTECA (QUETZALCOATL) Quetzalcoatl, Deus Serpente, entrou no México à frente de um grupo de estranhos, os Toltecas, vestidos com longas túnicas de linho negro. O povo deu-lhes boas-vindas, e ele tornou-se o rei da Cidade dos Deuses, Tollan. Neste tempo, as maçarocas de milho eram tão grandes que um homem não conseguia transportar mais do que uma cana de vez, o algodão com tantas cores, que não necessitava ser tingido. Uma grande variedade de pássaros de penas coloridas invadiam os ares com suas canções, e abundavam o ouro, a prata e as

pedras preciosas. Quetzalcoat introduziu uma religião que apregoava paz para todos os homens. Ele era totalmente puro, inocente e bom. Nenhuma tarefa era humilde para ele. Ele até varria os caminhos para os deuses da chuva, para que eles pudessem chegar e fazer chover. Com o tempo, seu irmão esperto , Tezcatlipoca, invejoso da sua felicidade, juntamente com mais dois feiticeiros Huitzilopochtli e Tlacahuepán viraram-se contra Quetzalcoat e seu povo. Tezcatlipoca, ficava furioso com tanta bondade e perfeição. Juntamente com os dois feiticeiros, ele decidiu

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lançar um feitiço negro em Quetzalcoatl e transforma-lo em um ancião preocupado apenas com seu prazer. -Vamos dar a ele um corpo e cabeça humanos, disse. E mostraram a Quetzalcoatl seus novos traços em um espelho de fumaça. Quando Quetzalcoatl olhou no espelho e viu sua face, foi possuído por todos os desejos terrenos que afligiam a humanidade. Gritou de horror. "Já não posso mais ser rei. Não posso aparecer assim diante do meu povo". Ele chamou o coiote Xolotl, que era tão próximo dele quanto sua própria sombra. O coiote fez para ele um manto de plumas verdes, vermelhas e brancas, do pássaro Quetzal. Também fez uma máscara turquesa, uma peruca e uma barba de penas azuis e vermelhas. Pintou de vermelho os lábios do rei, de amarelo sua testa e pintou seus dentes para que parecessem os de uma serpente. E assim Quetzalcoatl ficou disfarçado de Serpente Emplumada. Mas Tezcatlipoca tinha pensado em uma nova peça para pregar no irmão. Disfarçado de velho, visitou o irmão, e preparou um remédio que, como assegurou a Quetzalcoat, o embriagaria, apaziguaria o seu coração e iria curar seu problema. Com um pouco de boa vontade, Quetzalcoatl, bebeu o remédio e assim que o saboreou, bebeu cada vez mais até ficar embriagado e choramingando. O que ele havia bebido era o vinho feito de pita, chamado a "Bebida dos Deuses". Quando ele estava em estupor, Tezcatlipoca persuadiu-o a fazer amor com sua própria irmã, Quetzalpetatl. Quando Quetzalcoatl acordou, ficou amargamente envergonhado com o que tinha feito. "Este é um mau dia", disse e resolveu morrer. Quetzalcoat ordenou a seus servos que fizessem uma caixa de pedra, e ficou dentro dela quatro dias. Depois se levantou e pediu aos servos para encher a caixa com todos os seus maiores tesouros e depois selá-la. Foi até o mar e lá colocou seu manto de plumas de Quetzal e sua máscara de turquesa. E então pôs fogo em si mesmo e queimou até que só restassem cinzas na praia. Dessas cinzas, aves raras se levantaram e voaram para o céu. Quando Quetzalcoat morreu, a aurora

não se levantou por quatro dias, porque Quetzalcoat tinha descido para a terra dos mortos com seu duplo, Xolotl, para ver seu pai, Mictlantecuhtli. Ele disse a seu pai, o Senhor dos Mortos, "Vim buscar os preciosos ossos que o senhor tem aqui para povoar a Terra." E o Senhor dos Mortos respondeu: "Está bem". Quetzalcoat e Xolotl pegaram os ossos preciosos e voltaram à terra dos vivos. Quando a aurora se levantou outra vez, Quetzalcoat borrifou seu sangue sobre os ossos e deu-lhes vida. Os ossos se transformaram nas primeiras pessoas. Quetzalcoat ensinou à humanidade, muitas coisas importantes. Ele encontrou o milho, que as formigas tinham escondido, e roubou um grão para dar ao povo que tinha criado para que eles pudessem cultivar seu próprio alimento. Ensinou-lhes a polir o jade, a tecer e a fazer mosaicos. O melhor de tudo, ensinou-lhes a medir o tempo e a entender as estrelas, e distribuiu o curso do ano e das estações. Finalmente chegou o tempo de Quetzalcoat deixar os humanos cuidarem-se de si mesmos. Quando a aurora surgiu, no céu apareceu a estrela Quetzalcoat, que conhecemos como Vênus. Por essa razão, Quetzalcoat é conhecido como Senhor da Aurora. Alguns dizem que Quetzalcoat partiu para o leste em uma jangada de serpentes, na qual se sentou como numa canoa, viajando em direção a Tlapallán, o país misterioso de onde tinha vindo e um dia retornará.

LENDA DOS ÍNDIOS SIOUX (O FALCÃO E A ÁGUIA) Conta uma velha lenda dos índios Sioux, que uma vez, Touro Bravo, o mais valente e honrado de todos os jovens guerreiros, e Nuvem Azul, a filha do cacique, uma das mais formosas mulheres da tribo, chegaram de mãos dadas, até a tenda do velho feiticeiro da tribo: - Nós nos amamos, e vamos nos casar - disse o jovem. E nos amamos tanto que queremos um feitiço, um conselho, ou um talismã, alguma coisa que nos garanta que poderemos ficar sempre juntos, que nos assegure que estaremos um ao lado do outro

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até encontrarmos a morte. Há algo que possamos fazer? E o velho, emocionado ao vê-los tão jovens, tão apaixonados e tão ansiosos por uma palavra, disse: - Tem uma coisa a ser feita, mas é uma tarefa muito difícil e sacrificada... Tu, Nuvem Azul, deves escalar o monte ao norte dessa aldeia, e apenas com uma rede e tuas mãos, deves caçar o falcão mais vigoroso do monte e trazê-lo aqui com vida, até o terceiro dia depois da lua cheia. E tu, Touro Bravo - continuou o feiticeiro - deves escalar a montanha do trono, e lá em cima, encontrarás a mais brava de todas as águias, e somente com as tuas mãos e uma rede, deverás apanhá-la trazendo-a para mim, viva! Os jovens abraçaram-se com ternura, e logo partiram para cumprir a missão recomendada. No dia estabelecido, à frente da tenda do feiticeiro, os dois esperavam com as aves dentro de um saco. O velho pediu, que com cuidado as tirassem dos sacos, e viu eram verdadeiramente formosos exemplares...

- Agora - disse o feiticeiro, apanhem as aves, e amarrem-nas entre si pelas patas com essas fitas de couro; quando as tiverem amarradas, soltem-nas, para que voem livres. O guerreiro e a jovem fizeram o que lhes foi ordenado, e soltaram os pássaros. A águia e o falcão tentaram voar, mas apenas conseguiram saltar pelo terreno. Minutos depois, irritadas pela incapacidade do vôo, as aves arremessavam-se entre si, bicando-se até se machucar. E o velho disse: - Jamais esqueçam o que estão vendo; este é o meu conselho: Vocês são como a águia e o falcão; se estiverem amarrados um ao outro, ainda que por amor, não só viverão arrastando-se, como também, cedo ou tarde, começarão a machucar-se um ao outro. Se quiserem que o amor entre vocês perdure, voem juntos, mas jamais amarrados. Fontes: http://www.xamanismo.com/lendas.asp?c=7 http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2 002/06/o_falcao_e_a_ag.html

(Crônica vencedora nos “II Jogos Florais de Caxias do Sul”) Nada havia… Ninguém jamais tinha se aventurado pelas entranhas da floresta misteriosa. Por respeito ou medo, nenhum homem pisara, ainda, o solo escuro e úmido. Apenas a mata reinava, triunfante, majestosa, numa paz que se perderia para sempre. De outras plagas, vieram homens barulhentos, com seus machados e serrotes, quebrando o silêncio de pássaros dormindo. Cortaram árvores e atearam fogo, clareando as noites com o cheiro de óleo queimado, cheiro de morte e progresso. Fizeram picadas, abriram clareiras. Sem dó nem piedade, violentaram a mata, rasgaram o ventre da terra virgem. Sob lonas pretas, de mulheres valentes

nasceram os primeiros filhos desta terra inóspita, onde construiriam suas vidas com suor e sangue. Depois vieram os trilhos, o trem cortando a mata desbravada. Sobre os trilhos, encarrilhando a história, tudo vinha, tudo ia, tudo se transformava. A madeira tombava, as casas eram erguidas. Ao redor da primeira igreja, a primeira hospedaria, a primeira escola, o primeiro boteco, o primeiro comércio de secos e molhados. Sobre os trilhos, e depois sobre jipes e caminhões, que cortavam estradas esburacadas, empoeiradas ou lamacentas, levas e mais levas vieram, e continuaram vindo. Eram homens e mulheres cheios de esperança, coragem e vontade de enriquecer na terra prometida.

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Do trem desceram também as primeiras mulheres pintadas, de vestidos rodados e cheiro de colônia, que alegravam os homens sozinhos, e também os casados. Tantas histórias… Personagens de muitas delas, mulheres encostadas no fogão, alisando chão de terra batida com barro e carvão, parindo os filhos na garra, lavando as roupas debaixo de um vento feito de pó, fazendo novenas… Mulheres cansadas da lida! De outro lado, maridos suados, no trabalho pesado, e, noutras cenas, fazendo filhos ilegítimos com aquelas que vendiam o que tinham… Mulheres cansadas da vida! Contam-se ainda histórias de anjinhos que não sobreviviam à rudeza da falta de conforto e assistência, de homens que matavam por mais um palmo de terra, de amores e traições… Tantas histórias… Com meus pais e uma irmã mais velha, chegamos com quase nada. Era pequena a mudança, tudo que tínhamos cabia na carroceria de um caminhãozinho velho. Eu também faço parte dessa história. Vim menina, magricela, e nada mais trazia comigo além de um pequeno embornal com algumas pedrinhas de jogar e um punhado de sonhos, não muitos, apenas o quinhão que me cabia aos cinco anos. A cidade aberta na mata já era uma moça bonita, viçosa e cheia de promessas. Perdi de vê-la engatinhar, de dar os primeiros passos… Não vi a derrubada da mata, não vi ser levantada a primeira casa nem ser aberto o primeiro comércio, mas ainda havia muitas ruas e estradas a sua volta onde se

podia atolar. Com o tempo, meu pai também comprou um jipe e era comum encontrá-lo colocando correntes nos pneus… Era uma estratégia utilizada para vencer as subidas e outros trechos mais difíceis das estradas em dia de lamaçal. Para quem tinha pouca idade e pouco juízo, tudo parecia muito divertido. Poeira? Desenhávamos nos vidros dos carros e das casas, e nasciam ali as primeiras letras e as mais belas paisagens. Lama? Fazíamos panelinhas e bonecos de barro… Verdadeiras estatuetas, dignas de exposição. Era a arte, ou a “arte”, brotando da fértil terra vermelha que a floresta nos deu como resposta. Se o começo foi difícil, se nem todos os valentes pioneiros têm busto na praça, se existem deslizes e trechos menos poéticos nessa caminhada, se algum sangue foi derramado junto com o suor de uma brava gente, parece-me tudo perdoável… Este é o lugar que se fez nosso ninho e nele deixamos nossas marcas. Da esperança aqui plantada, quantas bênçãos já colhemos! Nascidos aqui ou de outras paragens, somos, todos, filhos desta terra por escolha e pelos mandos do coração. As estações não são mais as mesmas e o trem não mais apita pelos caminhos, mas entramos para sempre nos trilhos dessa história. Fonte: Academia de Letras de Maringá

Dualidades

Não sei se te quero homem velho: cheio de histórias e segredos

e formalidades… ou se te quero menino-moleque

entre ansiedades

e fantasias, pedindo meu colo…

Não sei se te quero entre trabalhos: máquinas modernas,

empenhos e responsabilidades… ou se te quero criatividade,

fazendo brotar, ludicamente, mil programações…

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Não sei se te quero razão: maduramente se posicionando

acerca de problemas, carências e dores… ou se te quero sonhando acordado,

cheio de emoções, a curtir sua música predileta…

Tens um lado de brilho que me encanta, e um lado de sombras que me assusta…

Enquanto isso, sou festa e arrebatamento

– adolescente-poeta abrindo o coração – e sou receios,

sem saber como lidar com o sentimento novo

que me invade…

Ambigüidades à parte, só sei – por inteiro – que sonho acordada

te ver chegando (sorriso-chamego),

nas asas da ternura, numa tarde de sol,

pro meu aconchego…

Duas Crianças

Em alguma folha

do livro competente, no cartório da vida, arquive-se o acordo,

como segue.

Prometo : a menina curiosa, arteira e sensível

que aflora, irrompe, desabrocha e explode em mim

acolhe você, moleque travesso, irreverente,

deliciosamente sedutor (ainda que envolto em dualidades e mistérios)

para juntos caminharem sonhadoramente,

em meio a castelos de nuvens branquinhas, gordas de fantasias

e desejos compartilhados,

em direção à porta do céu.

4 Trovas

Nem sempre a felicidade

vem da vitória ou da fama: pode estar numa saudade

ou nos sonhos de quem ama!

Um desejo singular me ocorre claro e preciso:

devagarinho beijar ternamente o teu sorriso!

Se sofres, poeta, canta,

que essa cantiga, aonde for, consola, embala, acalanta, quem vive pobre de amor!

Meu coração sofre tanto, padece e não sei por quê.

Deve ser porque esse pranto se deriva de você...

JEANETTE MONTEIRO DE CNOP

Pertence à Academia de Letras de Maringá, Cadeira nº. 01 – Patrono: Adelmar Tavares. Professora universitária, doutora em Letras. Nasceu em Itaperuna – RJ, no dia 14 de novembro de 1944. Autora dos textos acadêmicos Discursos de professores aposentados: perspectivas de vida e Produção de textos em cooperação por pessoas da Terceira Idade, e do livro: Tecelã de textos – vivências de uma professora de Língua Portuguesa. Tem participado de várias coletâneas. Fontes: http://www.afacci.com.br/2007/j3.htm 60 Trovas de Saudade. (A.A. de Assis – Org.) – 2005 . Disponível em http://www.arturdatavola.com/60_Trovas_de_Saudade.html

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Primórdios Como resultado da intensa vida literária que São Luís conheceu entre a última e a primeira décadas dos séculos XIX-XX, diversas agremiações culturais foram fundadas, duas das quais tiveram particular importância: a Oficina dos Novos e a Renascença Literária, destacando-se a última, pela saudável emulação que estabeleceu com a primeira. A Oficina dos Novos, criada a 28 de julho de 1900, tinha estrutura organizacional semelhante à das Academias. Dava a seus membros o título de operários e editava um boletim oficial denominado Os Novos, em cujo frontispício se lia: “periódico evolucionista”. Constituída, inicialmente, com 20 cadeiras, a Oficina ampliou seu quadro para 30, em 1904. Afora os membros efetivos, tinha-os honorários e correspondentes. Cada cadeira estava sob o patronato de um vulto eminente da cultura maranhense. Como é natural, muitos desses patronos também seriam adotados como patronos das cadeiras da Academia, da mesma forma que diversos “operários” viriam integrar o grupo dos fundadores desta Instituição ou nela posteriormente ingressaram, o mesmo cabendo dizer relativamente aos sócios honorários e correspondentes. Tendo Gonçalves Dias como seu patrono geral, a Oficina escolheu o poeta Sousândrade para seu presidente honorário. O culto a Gonçalves Dias estava representado pelos propósitos, declarados em estatuto, de organizar uma estante gonçalvina que fosse a mais completa possível, editar a obra do poeta e, futuramente, transformar a Oficina em Grêmio Literário Gonçalviano. Ainda sobre a Oficina dos Novos, contradiga-se, por oportuno, a errônea versão segundo a qual essa entidade desapareceu para que em seu lugar surgisse a Academia. Além de um jantar de confraternização que as duas

entidades promoveram no Hotel Central, a 15 de dezembro de 1908, diversos fatos atestam a co-existência da Oficina e da Academia, por alguns anos. Um deles foi a reorganização que a Oficina realizou em 1917, quando ocorreram a aprovação de novos estatutos, a eleição de diversos “operários” e da diretoria. Fundação A Academia Maranhense de Letras, oficialmente instituída às 19 horas de 10 de agosto de 1908, data do 85º aniversário de nascimento do poeta da Canção do Exílio, também já demonstrava claramente, com esse fato, sua resolução de adotar Gonçalves Dias como seu nume tutelar. Fundada no salão de leitura da Biblioteca Pública do Estado (prédio onde, a partir de 1950, tem sua sede própria), compôs-se, inicialmente, de 20 cadeiras. Dispunham os estatutos que ao grupo dos 12 fundadores – Antônio Lobo, Alfredo de Assis, Astolfo Marques, Barbosa de Godois, Corrêa de Araújo, Clodoaldo Freitas, Domingos Barbosa, Fran Paxeco, Godofredo Viana, I. Xavier de Carvalho, Ribeiro do Amaral e Vieira da Silva – viriam juntar-se os oito membros restantes, admitidos mediante eleição, e também com as honras de fundadores. A 7 de setembro desse ano realizou-se a solene sessão inaugural da Academia, que, assim, iniciava oficialmente as suas atividades. Por força de disposição estatutária, foi o primeiro presidente da agremiação o professor e historiógrafo José Ribeiro do Amaral, que era, aos 55 anos, o mais idoso entre seus confrades. A Academia contou, entre seus integrantes dos primeiros tempos, a figura de líder e agitador de idéias que foi Antônio Lobo. E adotou, por isso, o cognome de Casa de Antônio Lobo. Mas com o trágico desaparecimento desse vulto notável de nossa vida literária, a 24 de junho de 1916, entrou a

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Instituição numa fase de instabilidade, marcada por alguns períodos de reação vivificadora, em meio ao generalizado estado de apatia em que se arrastou até a década de 40. As sucessivas reformas estatutárias (em 1916, 1934, 1942, 1947, 1949, 1957 e 1979) introduziram diversas modificações na estrutura e funcionamento da Academia, sendo particularmente interessantes, no que respeita a seus quadros, a de 1934, que fixou em 25 o número de membros titulares, e a de 1946, que elevou esse quadro ao número clássico de 40 poltronas, estabelecendo que seriam 60 os membros correspondentes. Este quadro honorífico acha-se, pela reforma de 1957, fixado em 30 cadeiras, às quais foram atribuídos patronos pela Resolução Nº 6, de 20 de setembro de 1987, da Diretoria. O não dispor de sede própria durante longos anos, levou a Academia a funcionar, provisoriamente, na residência do presidente Ribeiro do Amaral, até seu falecimento em 1927. Depois teve abrigo nos baixos da Assembléia Legislativa do Estado, por achar-se, durante o Estado Novo, esse Poder suprimido. A seguir seus arquivos estiveram guardados em casa do acadêmico Ribamar Pinheiro, que faleceu no exercício da Presidência. O presidente seguinte, Clodoaldo Cardoso, conseguiu que o Governo do Estado alugasse o sobrado da Rua de Nazaré, Nº 200, para sede provisória da Academia. Enquanto isso, ia ela realizando suas sessões em auditórios cedidos pela Assembléia Legislativa do Estado, Teatro Artur Azevedo, Casino Maranhense, Grêmio Lítero-Recreativo Português, Associação Comercial do Maranhão e outras entidades. Houve, nesse período adverso da Entidade, deserções, esmorecimentos e descasos. Estes, principalmente dos Poderes Públicos, apesar de se contarem, entre os acadêmicos de todos os tempos, deputados estaduais, deputados federais, senadores, governadores, prefeito e titulares de outros cargos e funções relevantes. Algumas cadeiras ficaram vagas por longos anos. As sessões, em diversas fases, eram realizadas a espaços irregulares.

Mudanças Na Presidência de Clodoaldo Cardoso, deu-se o processo de revigoramento da Instituição. Contando ele com a sensibilidade do Governador Sebastião Archer da Silva, cujo nome é aqui inscrito como preito de reconhecimento e gratidão, a Academia recebeu, por doação do Estado (Lei nº 320, de 3 de fevereiro de 1949), o prédio em que hoje se acha instalada, e que a devolveu ao lugar de sua fundação. Providenciou-se o preenchimento das cadeiras vagas, fez-se a reorganização do Quadro de Membros Titulares e adotou-se uma série de outras providências necessárias. Entre elas, a edição da Revista (de que até 1948 só haviam sido publicados três números), a aprovação, em 3 de abril de 1948, do desenho do sinete e ex-libris, este posteriormente adotado como medalha do colar usado pelos acadêmicos em sessões solenes. Entre os novos membros então eleitos, teve a Academia a felicidade de incluir o professor e historiador Mário Martins Meireles, que, feito secretário, vice-presidente e depois presidente, em sucessivos e profícuos mandatos, muito deu de si à organização e movimentação que então se processaram. É dessa fase a decisiva contribuição prestada pela Academia para o desenvolvimento e consolidação do ensino superior no Maranhão. A Faculdade de Filosofia de São Luís, instituição matricial dos atuais cursos de Letras, Filosofia, Geociências e História da Universidade Federal do Maranhão, contou com o decisivo apoio da Academia, em cujo salão nobre ocorreu a aula inaugural, proferida pelo acadêmico Bacelar Portela. Além disso, eram acadêmicos diversos professores de que a Faculdade precisou, e aos quais, nos primeiros anos, nada podia pagar. A partir de 1966 e até 1983, na condição de secretário, depois vice-presidente e por fim presidente, a figura dominante da Academia, sua alma e seu principal animador, foi o professor Luiz de Moraes Rêgo. Ao trabalho, dedicação e empenho desse saudoso confrade, muito deve a Academia. Foi esse um período de conferências, cursos, concursos literários e

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sessões comemorativas inesquecíveis. Ao lado de Sebastião Archer, na galeria dos benfeitores da Instituição, estão governadores e prefeitos, como Urbano Santos da Costa Araújo, João Castelo Ribeiro Gonçalves, João Alberto de Souza, Jackson Lago, Tadeu Palácio. A sede própria Imóvel construído para sediar a Escola de Primeiras Letras da Freguesia de Nossa Senhora da Vitória e solenemente inaugurado a 28.jul.1874. Além de sediar, em épocas diversas diferentes escolas, esse imóvel abrigou, em duas ocasiões, a Biblioteca Pública do Estado. Tinha tal função quando, em seu salão nobre, foi fundada a Academia, que nele passou a ter sua sede própria, graças à Lei N° 320, de 3.fev.1949, sancionada pelo Governador Sebastião Archer da Silva. Reformas A Diretoria presidida por Jomar Moraes, que, com exceção de alguns de seus membros, foi reeleita de 1984 a 2006, desenvolveu, a contar desse ano, diversas atividades voltadas para o melhor e mais dinâmico funcionamento da Academia. Tornou-se isso possível graças à completa reforma do prédio-sede, compreendendo obras ali iniciadas em abril de 1984 e concluídas em janeiro de 1986, e que constaram da restauração de todo o imóvel, da ampliação e adaptação de espaços, bem assim da aquisição de móveis e equipamentos. Esses trabalhos, para os quais contribuíram órgãos públicos e empresas privadas, foram ultimados graças à substancial ajuda financeira do Governo Federal, à época chefiado pelo acadêmico José Sarney. Concluída essa tarefa absolutamente prioritária e indispensável para dar à Academia uma sede condigna, seguiram-se outras iniciativas. Destacam-se, entre elas: a realização de cursos e concursos literários; a cessão do auditório para diversas atividades culturais; a promoção de lançamentos literários, palestras, conferências e exposições de artes plásticas; a criação da Livraria Maranhense Ltda.; a

manutenção de um programa editorial; a retomada da publicação da Revista; a restauração de um sobrado em Alcântara, onde funciona, desde 6 de maio de 1988, a Pousada do Mordomo Régio; a reorganização da Biblioteca da Academia, que passou a ser denominada Astolfo Marques, especializada em literatura maranhense, e cujo acervo é um dos mais importantes, em sua especialidade, da capital maranhense. Em 2007, durante a presidência do acadêmico Joaquim Itapary, foi realizada nova reforma no prédio-sede, com substituição das cadeiras do auditório, troca das tribunas, ampliação do espaço físico da biblioteca e catalogação eletrônica de seu acervo. Membros Atuais da Academia 1 – Sebastião Moreira Duarte 2 – Waldemiro Viana 3 – Antônio Martins de Araújo 4 – Joaquim Itapary 5 – Clovis Sena 6 – Laura Amélia Damous 7 – Carlos de Lima 8 – Lino Raposo Moreira 9 – José Maria Ramos Martins 10 – Jomar Moraes 11 – José Ewerton Neto 12 – Evandro Sarney 13 – Benedito Buzar 14 – Edson Vidigal 15 – Milson Coutinho 16 – Neiva Moreira 17 – Ivan Sarney 18 – Manuel Lopes 19 – Américo Azevedo Neto 20 – Sônia Almeida 21 – Hélio Maranhão 22 – José Sarney 23 – José Filgueiras 24 – Joaquim Campelo 25 – José Louzeiro 26 – Carlos Gaspar 27 – Magson da Silva 28 – José Chagas 29 – Mont´Alverne Frota 30 – Alex Brasil 31 – Ronaldo Costa Fernandes

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32 – Sálvio Dino 33 – José Carlos Sousa Silva 34 – Alberto Tavares 35 – Lourival Serejo 36 – Ubiratan Teixeira 37 – Joaquim Nagib Haickel 38 – J. M. Cabral Marques 39 – Ceres Costa Fernandes 40 – Ney Bello Filho Publicações da Academia A canção inicial – José Sarney A épica e a época de Sousândrade – Sebastião Moreira Duarte A esfinge do Grajaú – Dunshee de Abranches A falência do ilusório – Joaquim Itapary A herança de João de Barros e outros estudos– Antônio Martins de Araújo A Nação Guesa de Sousândrade – Ana Santana Souza Academia Maranhense de Letras: Livro do Centenário 1908-2008 Alcântara - Negociação do azul ou a castração dos anjos – José Chagas Alcântara no seu passado econômico, social e político – Jerônimo Viveiros Almanak do Maranhão 1849 – Edições AML Ana Jansen, rainha do Maranhão – Jomar Moraes (Org.) Anais históricos do Estado do Maranhão – Bernardo Pereira de Berredo Antologia da Academia Maranhense de Letras, 1908-1958 Antropogeografia – Raimundo Lopes Após a solidão de certas horas – Manoel Caetano Bandeira de Mello Baú de juventude – Josué Montello Bumba-meu-boi no Maranhão – Américo Azevedo Neto Catálogo dos manuscritos avulsos relativos ao Maranhão existentes no Arquivo Histórico Ultramarino – Caio C. Buschi e Jomar Moraes Coisas da vida – Alfredo de Assis Crônica da Cia de Jesus no Maranhão – Jacinto de Carvalho, S. J. Dez estudos históricos – Mário Meireles Dez Estudos Históricos – Mário Meireles Dicionário Histórico-geográfico da Província do Maranhão – César Marques

Do incerto ócio – Joaquim Itapary Estrela do céu perdido – Lago Burnett Fachada de azulejos – Josué Montello Folhinha de Algibeira 1843 – Edições AML Fundação do Maranhão – Ribeiro do Amaral Gonçalves Dias: vida e obra – Jomar Moraes Harpas de fogo – Corrêa de Araújo História do Maranhão – Barbosa de Godóis História dos animais e árvores do Maranhão – Frei Cristóvão de Lisboa João de Barros, primeiro donatário do Maranhão – Mário Meireles Jornada do Maranhão – Autoria incerta Jornal de Tímon – João Lisboa Livro do sesquicentenário de Celso Magalhães – Jomar Moraes Maranhão 1908 - Álbum Fotográfico – Gaudêncio Cunha Missas negras – I. Xavier de Carvalho Natal – Astolfo Marques O Brasil e a partição do Mar-Oceano – Mário Meireles O cativeiro – Dunshee de Abranches O Maranhão, subsídios históricos e coreográficos – Fran paxeco O meu próprio romance – Graça Aranha O Palácio das Lágrimas – Clodoaldo Freitas Obras de João Francisco Lisboa Os Novos Atenienses – Antônio Lobo Panteon Maranhense – Henriques Leal Poesias – Armando Vieira da Silva Por onde Deus não andou – Godolfredo Viana Primórdios da telefonia em São Luís e Belém – Luiz de Mello Revista da academia Maranhense 1916-1918 Revista da Academia Maranhense 1919 Silhuetas – Domingo Barbosa Sob o sol – Joaquim Itapary Traduções de Voltaire – Odorico Mendes Um pouco acima do chão – Ferreira Gullar Velhos ritmos – Mata-Roma Versos de Natal – José-Chagas Vida do Padre Antônio Vieira – João Lisboa Biblioteca O acervo da biblioteca Astolfo Marques, da Academia Maranhense de Letras, destinada a reunir e manter o acervo bibliográfico maranhense mais completo possível, compõe-

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se, aproximadamente 6 mil títulos. Do total, cerca de 200 títulos se referem a obras de arte, a exemplo de álbuns fotográficos, gravuras, etc. Contam-se, ainda, diversas obras de referências, cabendo fazer destaque de enciclopédias e dicionários do século XIX, obras raras dos séculos XVII, XVIII e XIX, em particular as de origem portuguesa e francesa, e coleção de originais manuscritos dos séculos XIX e XX. Algumas das primeiras edições são: 1) O mulato, de Aluísio Azevedo, de 1881. 2) Obras, de João Lisboa, de 1864-1865, em 4 volumes. 3) História da Independência do Maranhão: 1822-1828, de Luís Antônio Vieira da Silva, de 1862.

4) Pantheon Maranhense: Ensaios biographicos dos maranhenses illustres já falecidos, de Henriques Leal, de 1874, em 4 volumes. 5) Annaes históricos do Estado do Maranhão, de Bernardo Pereira de Berredo Castro, de 1749, impresso em Florença, obra que serviu de referência a Robert Southey e Varnhagem.

Há também as outras três edições dos Annaes. O acervo da Academia tem ainda extensa camoniana com títulos de Camões e sobre Camões. Fonte: http://www.academiamaranhense.org.br/

A bom entendedor, meia palavra basta

Esta frase, dando conta de que não são necessárias muitas palavras para um bom entendimento entre as pessoas, está coberta de sutilezas, pois sugere que os interlocutores compreendem o sentido exato do que se disse por meio das mais leves alusões. Às vezes, é pronunciada também como advertência ou ameaça disfarçada de boas intenções. Os franceses são ainda mais sintéticos: para bom entendedor, meia palavra. E os espanhóis dizem: a bom entendedor, meio falador. A frase consagrou-se no famoso livro Dom Quixote de la Mancha, do celebérrimo Miguel de Cervantes Saavedra (1547-1616).

Abre-te sésamo

Esta frase reúne as palavras mágicas e cabalísticas que, proferidas pelo herói do episódio "Ali-Babá e os quarenta ladrões", das Mil e uma noites, resultam na abertura da porta misteriosa da caverna onde eram guardados os tesouros. Aqui está presente também a etimologia para explicar o significado de sésamo, em latim sesamum, que é uma planta em cujas sementes, muito pequenas e

amareladas, está contida numa cápsula que se abre sem muita pressão. O sésamo nada mais é do que o nosso popular gergelim, utilizado nas padarias para o fabrico de pães especiais e outras delicadezas de sabor muito raro.

A casa da mãe Joana

A expressão ‘casa da mãe Joana’ alude a lugar em que se pode fazer de tudo, onde ninguém manda, uma espécie de grau zero de poder. A mulher que deu nome a tal casa viveu no século XIV. Chamava-se, obviamente, Joana e era condessa de Provença e rainha de Nápoles. Teve vida cheia de muitas confusões. Em 1347, aos 21 anos, regulamentou os bordéis da cidade de Avignon, onde vivia refugiada. Uma das normas dizia: "o lugar terá uma porta por onde todos possam entrar". ‘Casa da mãe Joana’ virou sinônimo de prostíbulo, de lugar onde impera a bagunça, mas a alcunha é injusta. Escritores como Jean Paul Sartre, em A prostituta respeitosa, e Josué Guimarães, em Dona Anja, mostraram como o poder, o respeito e outros quesitos de domínio conexo são nítidos nos bordéis.

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A pressa é inimiga da perfeição

Esta frase antológica passou ao acervo de ditos célebres pela pena do famoso jurisconsulto brasileiro Rui Barbosa de Oliveira ao comentar a rapidez com que se redigia o Código Civil Brasileiro, que trouxe em sua versão final preciosas anotações do mestre. Os detalhes sempre foram importantes, nas redações das leis como nas obras artísticas. Ao longo dos carnavais, várias foram as escolas de samba que perderam pontos importantes pelo desleixo com pormenores. O águia de Haia, como era chamado por sua atenção em famosa conferência que pronunciou na Holanda, acrescentou que a pressa é também "mãe do tumulto e do erro".

A voz do povo é a voz de Deus

A expressão veio do latim vox populi, vox Dei, traduzida quase literalmente. Há milênios o povo simples considera que o julgamento popular é a voz de Deus. Tal crença tem raízes na cultura das mais diversas procedências. Tudo começou em Acaia, no Peloponeso, onde o deus Hermes se manifestava em seu templo do seguinte modo: o consulente entrava, fazia a pergunta ao oráculo, depois do que tapava as orelhas com as mãos e saía do recinto. As palavras errantes ditas pelos primeiros transeuntes seriam as respostas divinas. Perguntava-se a um deus, mas era o povo quem respondia. No Brasil, um instituto de pesquisa de opinião pública chama-se Vox Populi e foi um dos primeiros a prever a vitória de Fernando Collor nas eleições presidenciais de 1989 por larga margem. Curiosamente, não previu seu afastamento. Teria faltado a vox Dei?

Chegar de mãos abanando

Os primeiros imigrantes deviam trazer as ferramentas indispensáveis ao cultivo da terra, entre as quais eram importantes a foice e o machado, para a derrubada de matas. Dos colonos europeus esperava-se que trouxessem também galinhas, porcos e vacas, bases de uma economia auto-sustentável. Quem chegasse, pois, de mãos abanando, não vinha disposto a trabalhar. Manter, pois as mãos ocupadas era

sinal de disposição para o trabalho e ajuda mútua. O imigrante, que no dizer de Ambrose Bierce (1842-1914), é um indivíduo mal-informado, que pensa que um país é melhor que outro, não poderia chegar de mãos abanando.

Custar os olhos da cara

A história desta frase começa com um costume bárbaro de tempos muitos antigos, que consistia em arrancar os olhos de governantes depostos, de prisioneiros de guerra e de indivíduos que, pela influência que detinham, ameaçavam a estabilidade dos novos ocupantes do poder. Cegos, eles seriam inofensivos ou menos perigosos. Naturalmente, a expressão alude também ao incomparável valor da visão. Por isso, pagar alguma coisa com a perda dos olhos passou a ser sinônimo de custo excessivo, que ninguém pode pagar. A expressão tem servido para designar preços exagerados em qualquer produto. Um dos primeiros a registrá-la foi o escritor romano Plauto (254-184 a.C.), numa das 130 peças de teatro que escreveu.

Dois bicudos não se beijam

Ao contrário do que se possa parecer, o vocábulo não se aplica às aves, mas aos homens. Antigamente eram chamados de bicudo tanto estiletes compridos e armas pontudas, como certos valentões que, nas bodegas, festas e ajuntamentos diversos, patrocinavam arruaças. Indivíduos de pouca conversa e gestos grosseiros, brigavam por qualquer coisa. O brasileiro, tido por cordial e afável no trato entre colegas e amigos, sempre se caracterizou por abraços, afagos, beijos e outras efusivas demonstrações de carinho. Daí o contraste de dois bicudos que não se beijam, de que são exemplo célebres parcerias impossíveis como certos presidentes e vice-presidentes do Brasil, entre os quais Janio Quadros e João Goulart. O primeiro mandou o outro para a Cochinchina – oficialmente, seria a China, mas conhecendo as intenções ocultas de Jânio, sabemos que ele queria o vice ainda mais longe – e renunciou para ver que bicho dava. Deu o maior bode, como a História mostrou,

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resultando, por fim, na deposição do presidente que os militares não queriam empossar.

É do tempo da onça

Foi governador do Rio de Janeiro, de 1725 a 1732, o capitão Luís Vahia Monteiro, apelidado o Onça. Em carta que escreveu ao rei Dom João VI, declarou: "nesta terra todos roubam, só eu não roubo". A frase acima foi sempre utilizada para aludir a coisas muito antigas, vigentes naquele tempo. Entretanto, outras autoridades, com o mesmo apelido, podem ter fomentado ainda mais a expressão, homenageando a energia, a coragem e a honestidade do antigo governante. Os novos tempos, infelizmente, não tornaram exceção aquilo que era norma nas práticas dos governantes no tempo do Onça. O pobre homem, a deduzir por sua carta ao rei português, comportava-se como uma virgem num bordel.

Em terra de cego, quem tem um olho é rei

Esta frase, que não é exclusiva da língua portuguesa, dá idéia de que entre gente ignara, quem é só um pouquinho menos ignorante do que os outros ganha prestígio e recebe tratamento de rei. O filósofo e humanista holandês Desiderius Erasmus, dito Erasmo de Roterdam (1469-1536), foi um dos primeiros a registrá-la. Sua obra mais famosa é Elogio da loucura, em que tenta definir um humanismo cristão, desligado de polêmicas religiosas. Um dos principais nomes da Renascença na Europa do Norte, foi um dos primeiros editores do Novo Testamento. Destacou-se, não em terra de cego, mas em meio a uma constelação de outros renomados filósofos e teólogos do período.

Entrar com o pé direito

Esta frase revela antiga superstição que o Império Romano espalhou no mundo inteiro. Nas festas realizadas na antiga Roma os convidados eram avisados de que deveria entrar nos salões dextro pede (com o pé direito) para evitar o agouro. Famosas personalidades brasileiras seguiram essa recomendação, entre as quais Rui Barbosa, que

a registrou em discurso proferido às vésperas da posse do marechal Hermes da Fonseca (1855-1923): "que o novo presidente entre com o pé direito". Mas ninguém acatou mais a superstição que Alberto Santos Dumont, que mandou construir em sua residência escadas por onde só era possível subir ou descer iniciando-se o percurso com o pé direito.

Fazer uma mesa redonda

Hoje é comum organizar mesa-redonda para discutir esse ou aquele assunto, mas raramente o móvel ao redor do qual os participantes tomam assento tem forma circular. É tradução da expressão inglesa round table, mesa da lendário corte do rei Arthur (séc. VI d.C.), que não tinha cabeceira, nem lugar de honra e ao redor da qual o rei e os cavaleiros sentavam-se como iguais. Suas aventuras foram tema de numerosas novelas de cavalaria narradas sob o título geral de Os cavaleiros da távola redonda. A frase passou a ser usada politicamente a partir de 14 de janeiro de 1887 na residência de Sir Willian Harcourt, quando o Partido Liberal Inglês discutiu a questão irlandesa.

Foi o maior arranca-rabo

Esta frase, que exprime grande confusão, nasceu do deplorável costume que os primeiros guerreiros adotaram nos campos de batalha, consistindo em cortar os rabos das montarias dos inimigos. Um oficial do exército do faraó Tutmés III (1504-1450 a.C.) ensejou um de seus primeiros registros ao vangloriar-se de ter decepado a cauda do cavalo do próprio rei adversário, para ele um ato tão importante que o inscreveu em seu epígrafo. O costume chegou a Portugal, de onde veio para o Brasil, tendo sido aplicado não somente aos cavalos, mas também ao gado das fazendas inimigas, para humilhar seus proprietários. O escritor José Lins Rego (1901-1957) refere o costume nos livros Fogo morto e Meus verdes anos.

Levou um puxão de orelhas

A origem desta frase, expressão que significa repreender, está ligada a antigas tradições populares, que a recolheram de usos e costumes nem sempre vagos, já que

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inspirados também em documentos jurídicos. As Ordenações Afonsinas prescrevem que os ladrões tenham as orelhas cortadas. O grande navegador português Vasco da Gama (1469-1524) relatou o corte de 800 delas. E Gomes Freire de Andrade, o conde de Bodadela (1685-1763), governador e capitão-geral do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, personagem do filme Xica da Silva, de Carlos Diegues, recebeu 7800 delas. Depois as orelhas deixaram de ser cortadas e foram somente puxadas. Por fim, tudo virou apenas metáfora de admoestação.

Não entendo patavina

Esta frase, que significa declaração de ignorância total sobre determinado assunto, originou-se em certos descuidos gramaticais do historiador romano Tito Lívio (59 ou 64 a.C.-17 d.C.), nascido em Pádua, em italiano Padova, e em latim, Patavium. Outros escritores latinos, tidos por mais cultos, reprovaram suas expressões, próprias do dialeto da região em que o historiador viveu, o que dificultava o entendimento. Alguns estudiosos dão como explicação o fato de os portugueses terem dificuldade para entender os mercadores e os frades franciscanos patavinos, isto é, originários de Pádua. O próprio Santo Antonio de Lisboa (1195-1231) é o mesmo Santo Antonio de Pádua. Quem não compreende bem certos usos e costumes religiosos, não entende patavina disso também.

Navegar é preciso, viver não é preciso

A expressão já foi creditada a Caetano Veloso, porque muitos de nossos jovens iletrados, mas bons de ouvido, somente a aprenderam da boca de seu ídolo. Entretanto, o próprio baiano já admitiu que a leu em Fernando Pessoa. A autoria não cabe, porém, nem ao poeta português, nem ao compositor baiano. Quem a tornou famosa foi o general romano Pompeu (106 a.C.-48 d.C.) para persuadir marinheiros a zarpar com os navios carregados de alimentos, mesmo em meio a uma tempestade, porque havia muita fome em Roma. Somente o circo, como sabiam os imperadores, não era suficiente para conter

rebeliões, se faltasse o pão. Pompeu a pronunciou num latim desjeitoso, segundo nos informa Plutarco: navigare necesse, vivere non necesse, mas a frase já existia também em grego

O viaduto é a menor distância entre dois engarrafamentos

Frase do ex-prefeito de Curitiba e governador do Paraná, Jaime Lerner, já famosa, mas que se tornou ainda mais célebre depois de proferida na Conferência Internacional do Meio Ambiente, denominada Hábitat 2, realizada em junho de 1996, em Istambul, principal cidade da Turquia. O autor da frase imprimiu à cidade de que foi prefeito por muitos anos um projeto urbanístico marcado por eficiente rede viária para os transportes públicos, tornando-a cidade-modelo no mundo, segundo critérios adotados pela Unesco. Para substituir os viadutos, evitados pelo governador, são feitas propostas alternativas de trânsito, como as vias expressas e o ônibus conhecido como Ligeirinho, a grande vedete daquele evento internacional.

Que bicho foi que te mordeu?

A história desta frase diz respeito à estranheza que sempre espertou o comportamento surpreendente de alguma pessoa da qual não esperaríamos alteração brusca de humor ou de opinião. Está presente em numerosos autores, mas um dos primeiros a registrá-la foi o escritor francês, muito citado por nossos poetas românticos, Nicolas Boileau-Despréaux (1636-1711), numa de suas sátiras. Mas em francês o bicho era uma mosca, dado que antes de Boileau, a expressão já andava na boca do povo com essa redação: quelle mouche vous pique? (que mosca vos pica?). A mudança havida do inseto específico e caseiro para o abstrato bicho pode Ter explicações na diversificação de animeis presentes em nossa fauna.

Ripa na chulipa e pimba na gorduchinha

Esta frase foi criada pelo locutor esportivo Osmar Santos, um dos mais criativos narradores de jogos de futebol. Inconformado com os modos tradicionais de transmitir as

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partidas, ele foi inventando expressões que logo caíam na boca do povo. No caso, apesar da complexidade da frase, todos entendem seu significado. Chute dado na bola com a parte exterior do pé. Não se sabe onde o famoso locutor se inspirou para criar a frase, mas é provável que tenha juntado ripa, sinônimo de sarrafo, com chulipa, sinônimo de dormente de ferrovias, para designar a forma de se chutar a gorduchinha, isto é, a bola.

Vá plantar batatas

A origem desta frase é portuguesa. Antigamente, em Portugal, país mais voltado às navegações e à pesca, a agricultura, conquanto fornecedora de alimentos básicos, era vítima de certo desdém. Algumas de suas culturas eram ainda mais depreciadas, como era o caso da batata, que demorou a entrar para a culinário portuguesa e brasileira. Era tida como alimento vulgar, e quem se dedicasse a plantar batatas estava se sujeitando a uma atividade desqualificada. A expressão aparece registrada em O povo português, obra do famoso poeta, folclorista e político lusitano Teófilo Braga (1843-1924), comentando a decadência das

pequenas indústrias, ocasião em que trabalhadores qualificados, de repente sem emprego, foram aconselhados a plantar batata.

DEONÍSIO DA SILVA

Deonísio da Silva é catarinense, ou catarinauta, como diz, de Siderópolis, onde nasceu em 1948. Em 1976, pelas mãos de Rubem Fonseca, publicou seu primeiro livro, Exposição de Motivos, logo premiado pelo MEC e transposto para teleteatro por Antunes Filho, ao qual seguiram A Mulher Silenciosa, Orelhas de Aluguel, A Cidade dos Padres. Em 1991 recebeu o Prêmio Internacional Casa de las Américas pelo romance Avante, Soldados: para Trás. Seu romance Teresa, lançado em 1997, baseado na vida de Teresa D'Ávila,m foi premiado pela Biblioteca Nacional e transposto para teatro antes mesmo de ser publicado. Doutor em letras pela USP, é professor da Universidade Federal de São Carlos.

Com franqueza, não me animo a dizer que você não vá. Eu, que sempre andei no rumo de minhas venetas, e tantas vezes troquei o sossego de uma casa pelo assanhamento triste dos ventos da vagabundagem, eu não direi que fique. Em minhas andanças, eu quase nunca soube se estava fugindo de alguma coisa ou caçando outra. Você talvez esteja fugindo de si mesma, e a si mesma caçando; nesta brincadeira boba passamos todos, os inquietos, a maior parte da vida — e às vezes reparamos que é ela que se vai, está sempre indo, e nós (às vezes) estamos apenas quietos, vazios, parados, ficando. Assim estou eu. E não é sem melancolia que me preparo para ver você sumir

na curva do rio — você que não chegou a entrar na minha vida, que não pisou na minha barranca, mas, por um instante, deu um movimento mais alegre à corrente, mais brilho às espumas e mais doçura ao murmúrio das águas. Foi um belo momento, que resultou triste, mas passou. Apenas quero que dentro de si mesma haja, na hora de partir, uma determinação austera e suave de não esperar muito; de não pedir à viagem alegrias muito maiores que a de alguns momentos. Como este, sempre maravilhoso, em que no bojo da noite, na poltrona de um avião ou de um trem, ou no convés de um navio, a gente sente que não está deixando apenas uma cidade, mas uma parte da vida, uma pequena multidão de caras

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e problemas e inquietações que pareciam eternos e fatais e, de repente, somem como a nuvem que fica para trás. Esse instante de libertação é a grande recompensa do vagabundo; só mais tarde ele sente que uma pessoa é feita de muitas almas, e que várias, dele, ficaram penando na cidade abandonada. E há também instantes bons, em terra estrangeira, melhores que o das excitações e descobertas, e as súbitas visões de belezas sonhadas. São aqueles momentos mansos em que, de uma janela ou da mesa de um bar, ele vê, de repente, a cidade estranha, no palor do crepúsculo, respirar suavemente como velha amiga, e reconhece que aquele perfil de casas e chaminés já é um pouco, e docemente, coisa sua. Mas há também, e não vale a pena esconder nem esquecer isso, aqueles momentos de solidão e de morno desespero; aquela surda saudade que não é de terra nem de gente, e é de tudo, é de um ar em que se fica mais distraído, é de um cheiro antigo de chuva na terra da infância, é de qualquer coisa esquecida e humilde - torresmo, moleque passando na bicicleta assobiando samba, goiabeira, conversa mole, peteca, qualquer bobagem. Mas então as bobagens do estrangeiro não rimam com a gente, as ruas são hostis e as casas se fecham com egoísmo, e a alegria dos outros que passam rindo e falando alto em sua língua dói no exilado como bofetadas injustas. Há o momento em que você defronta o telefone na mesa da cabeceira e não tem com quem falar, e olha a imensa lista de nomes desconhecidos com um tédio cruel. Boa viagem, e passe bem. Minha ternura vagabunda e inútil, que se distribui por tanto lado, acompanha, pode estar certa, você. Rio, abril de 1952.

RUBEM BRAGA

"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa: "Eu sou lá de Cachoeiro..."

Na noite de segunda-feira, 17 de dezembro de 1990, o escritor Rubem Braga reuniu um pequeno grupo de amigos, cada vez mais selecionados por ele, na sua cobertura em Ipanema. Foi uma visita silenciosa, mas claramente subentendida pelos amigos Moacyr Werneck de Castro, Otto Lara Resende e Edvaldo Pacote. Às 23h30 da noite de quarta-feira, sedado num quarto do Hospital Samaritano, Rubem Braga morreu, sozinho como desejara e pedira aos amigos. A causa da morte foi uma parada respiratória em conseqüência de um tumor na laringe que ele preferiu não operar nem tratar quimicamente. Rubem Braga, considerado por muitos o maior cronista brasileiro desde Machado de Assis, nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, ES, a 12 de janeiro de 1913. Iniciou seus estudos naquela cidade, porém, quando fazia o ginásio, revoltou-se com um professor de matemática que o chamou de burro e pediu ao pai para sair da escola. Sua família o enviou para Niterói, onde moravam alguns parentes, para estudar no Colégio Salesiano. Iniciou a faculdade de Direito no Rio de Janeiro, mas se formou em Belo Horizonte, MG, em 1932, depois de ter participado, como repórter dos Diários Associados, da cobertura da Revolução Constitucionalista, em Minas Gerais — no front da Mantiqueira conheceu Juscelino Kubitschek de Oliveira e Adhemar de Barros. Na capital mineira se casou, em 1936, com Zora Seljan Braga, de quem posteriormente se desquitou, mãe de seu único filho Roberto Braga. Foi correspondente de guerra do Diário Carioca na Itália, onde escreveu o livro "Com a FEB na Itália", em 1945, sendo que lá fez amizade com Joel Silveira. De volta ao Brasil morou em Recife, Porto Alegre e São Paulo, antes de se estabelecer definitivamente no Rio de Janeiro, primeiro numa pensão do Catete, onde foi companheiro de Graciliano Ramos; depois, numa casa no Posto Seis, em Copacabana, e por fim num apartamento na Rua Barão da Torre, em Ipanema. Sua vida no Brasil, no Estado Novo, não

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foi mais fácil do que a dos tempos de guerra. Foi preso algumas vezes, e em diversas ocasiões andou se escondendo da repressão. Seu primeiro livro, "O Conde e o Passarinho", foi publicado em 1936, quando o autor tinha 22 anos, pela Editora José Olympio. Na crônica-título, escreveu: "A minha vida sempre foi orientada pelo fato de eu não pretender ser conde." De fato, quase tanto como pelos seus livros, o cronista ficou famoso pelo seu temperamento introspectivo e por gostar da solidão. Como escritor, Rubem Braga teve a característica singular de ser o único autor nacional de primeira linha a se tornar célebre exclusivamente através da crônica, um gênero que não é recomendável a quem almeja a posteridade. Certa vez, solicitado pelo amigo Fernando Sabino a fazer uma descrição de si mesmo, declarou: "Sempre escrevi para ser publicado no dia seguinte. Como o marido que tem que dormir com a esposa: pode estar achando gostoso, mas é uma obrigação. Sou uma máquina de escrever com algum uso, mas em bom estado de funcionamento." Foi com Fernando Sabino e Otto Lara Resende que Rubem Braga fundou, em 1968, a editora Sabiá, responsável pelo lançamento no Brasil de escritores como Gabriel Garcia Márquez, Pablo Neruda e Jorge Luis Borges. Segundo o crítico Afrânio Coutinho, a marca registrada dos textos de Rubem Braga é a "crônica poética, na qual alia um estilo próprio a um intenso lirismo, provocado pelos acontecimentos cotidianos, pelas paisagens, pelos estados de alma, pelas pessoas, pela natureza." A chave para entendermos a popularidade de sua obra, toda ela composta de volumes de crônicas sucessivamente esgotados, foi dada pelo próprio escritor: ele gostava de declarar que um dos versos mais bonitos de Camões ("A grande dor das coisas que passaram") fora escrito apenas com palavras corriqueiras do idioma. Da mesma forma, suas crônicas eram marcadas pela linguagem coloquial e pelas temáticas simples. Como jornalista, Braga exerceu as funções de repórter, redator, editorialista e cronista em jornais e revistas do Rio, de São

Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife. Foi correspondente de "O Globo" em Paris, em 1947, e do "Correio da Manhã" em 1950. Amigo de Café Filho (vice-presidente e depois presidente do Brasil) foi nomeado Chefe do Escritório Comercial do Brasil em Santiago, no Chile, em 1953. Em 1961, com os amigos Jânio Quadros na Presidência e Affonso Arinos no Itamaraty, tornou-se Embaixador do Brasil no Marrocos. Mas Braga nunca se afastou do jornalismo. Fez reportagens sobre assuntos culturais, econômicos e políticos na Argentina, nos Estados Unidos, em Cuba, e em outros países. Quando faleceu, era funcionário da TV Globo. Seu amigo Edvaldo Pacote, que o levou para lá, disse: "O Rubem era um turrão, com uma veia extraordinária de humor. Uma pessoa fechada, ao mesmo tempo poeta e poético. Era preciso ser muito seu amigo para que ele entreabrisse uma porta de sua alma. Ele só era menos contido com as mulheres. Quando não estava apaixonado por uma em particular, estava apaixonado por todas. Eu o levei para a Globo... Ele escrevia todos os textos que exigiam mais sensibilidade e qualidade, e fazia isto mantendo um grande apelo popular." Bibliografia: CRÔNICAS: - O Conde e o Passarinho, 1936 - O Morro do Isolamento, 1944 - Com a FEB na Itália, 1945 - Um Pé de Milho, 1948 - O Homem Rouco, 1949 - 50 Crônicas Escolhidas, 1951 - Três Primitivos, 1954 - A Borboleta Amarela, 1955 - A Cidade e a Roça, 1957 - 100 Crônicas Escolhidas, 1958 - Ai de ti, Copacabana, 1960 - O Conde e o Passarinho e O Morro do Isolamento, 1961 - Crônicas de Guerra - Com a FEB na Itália, 1964 - A Cidade e a Roça e Três Primitivos, 1964 - A Traição das Elegantes, 1967 - As Boas Coisas da Vida, 1988 - O Verão e as Mulheres, 1990

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- 200 Crônicas Escolhidas - Casa dos Braga: Memória de Infância (destinado ao público juvenil) - Uma fada no front - Histórias do Homem Rouco - Os melhores contos de Rubem Braga (seleção Davi Arrigucci) - O Menino e o Tuim - Recado de Primavera - Um Cartão de Paris - Pequena Antologia do Braga ROMANCES: - Casa do Braga

No volume publicado, também de crônicas, "As Coisas Boas da Vida", em 1988, Rubem Braga enumera, no texto que dá título ao livro "as dez coisas que fazem a vida valer a pena". A última delas: "Pensar que, por pior que estejam as coisas, há sempre uma solução, a morte — o assim chamado descanso eterno". Fontes: "A Borboleta Amarela", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1963, pág. 145. http://www.releituras.com/

Em "Reflexões do Romance Moderno", Anatol Rosenfeld discursa sobre os mecanismos que compõem a temática e o estilo da obra literária no Século XX após a ruptura brutal com as formas determinadas por um passado clássico. E a primeira noção absoluta para criar uma discussão como esta, consiste em enxergar o romance e sua análise como ideais de uma cultura exclusivamente ocidental. O mecanismo escolhido pelo autor foi uma comparação direta da literatura com a pintura. Ao partir deste esquema, Rosenfeld apresenta os fatores determinantes para a mudança das artes plásticas, que também podem ser encontradas nos textos literários. Uma delas é a "desrealização", ou seja, a obra deixa de ser mimética por excelência e abandona por completo a idéia de cópia, na completa negação do realismo em forma e conteúdo. Assim sendo, a perspectiva central é completamente limada de consideração primordial na composição do trabalho. Esta perspectiva, resultado direto da observação entre dois pólos, o do homem e o do mundo, foi forjada na Grécia Clássica, o que originou trabalhos tridimensionais e coesos. No romance moderno, a preocupação vai na direção contrária. Vai pela explosão desta perspectiva. Acontece a ruptura com a

linearidade e com a cronologia. O espaço e a sucessão temporal são eliminados. Os exemplos cabais desta nova percepção estão nas obras de Proust, Joyce e Faulkner. Tanto tempo e espaço deixam de ser entidades absolutas. Passam a serem vistos de maneira objetiva e relativa. Não existem mais certezas. A visão de uma realidade mais profunda, mais real do que o senso comum passa a ser a referência e é absorvida pela literatura. A expressão total disto vem com o romance de consciência, uma vez que não vivendo mais "no" tempo, o homem agora passa a ser o tempo, tempo este não cronológico, mas sim uma atualidade que engloba tanto o passado, o presente e o futuro, misturados e quase sem identificação. A consciência flutua entre estas referências de maneira completa. A narrativa fica sem fronteiras em seu contexto. Portanto, a partir deste entendimento, Rosenfeld compreende que este fluxo de consciência caminha para a radicalização do monólogo interior, característica crucial do romance moderno. Some-se o narrador. A consciência da personagem se manifesta em sua atualidade. Acabam-se, então, as leis de causa e efeito, o começo, o meio e o fim. Porém, o autor observa que esta radicalização foi produzida com base no romance psicológico

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e realista do Século XIX. Ou seja, se perde a noção de personalidade total. O ser humano, no romance moderno, se fragmenta, se individualiza. Beckett seria um dos principais vetores deste estilo. Assim, esta individualização facilita a busca dos mesmos padrões arquetípicos dos mitos, como em um eterno retorno já que o tempo mitológico é circular e não cronológico. "Ulisses", de James Joyce faz esta fragmentação. Fragmentação esta que representa a busca da superação da realidade sensível numa procura incansável de algo por de trás da aparência em que vivemos. Outras possibilidades apontadas pelo autor são o geometrismo, onde um Eu narrador se aproxima do mundo narrado para mostrar um novo mundo sem tempo algum. Proust seria um dos mestres disto. Ao mesmo tempo, este mesmo narrador se ironiza tanto por saber de tudo e busca a sua justificativa nos mecanismos psíquicos de todos os seres humanos, uma vez que o narrador também é um ser humano. É a cultura do relativismo, da transformação. Uma outra forma encontrada no romance moderno é o Behavorism. Usado por Hemingway e por Camus, este estilo cria um estranhamento total. Não existe plano psicológico. Tudo é sem profundidade, sem mergulhos internos, um verdadeiro mundo estranho e indevassável. Um mundo de seres humanos sem alma, chapados, externos. Kafka, por sua vez, usava a espera como condição primordial. Seu tempo é a eterna espera.

Anatol Rosenfeld ainda identifica outra ruptura com a técnica clássica. Trata-se do tempo simultâneo, onde grandes espaços e o coletivo são as principais fontes da técnica. Ali, os indivíduos são lançados no fluxo de consciências e do mundo, num verdadeiro redemoinho urbano e caótico. Ao identificar os fatores de ruptura, o texto apresenta um panorama da complexidade estética e das questões filosóficas discutidas pelo romance moderno. O que não deixa de ser um ambicioso mergulho no espírito de nossa época.

DANILO CORCI

Danilo Corci nasceu em Itapetininga, a 30 de Dezembro de 1974. Jornalista, começou sua carreira no Jornal de Jundiaí, rumando depois para a Folha de S.Paulo. Criou a revista cultural Speculum ao lado de Renato Roschel. Também criou e dirigiu a redação do portal BrTurbo, da Brasil Telecom. Em 2007 fez sua primeira incursão literária com a novela Black celebration, publicada pela editora Mojo Books. Em março de 2008 lançou sua segunda aventura literária, agora um microconto, Sympathy for the devil, também lançado pela Mojo Books. Atualmente é redator da agência publicitária JWT. Fontes: http://www.speculum.art.br/module.php?a_id=526# http://pt.wikipedia.org/wiki/Danilo_Corci

Em maiúsculo, antes do nome da lenda, o nome da cidade a qual pertence. ALMIRANTE TAMANDARÉ O fantasma das águas do Val Verde Funcionários que trabalhavam no Parque Aquático Águas de Val Verde relatam a

lenda do fantasma. Conta-se que as luzes apagavam e acendiam, portas se abriam sozinhas, escutavam-se passos estranhos nas escadas e os ventos eram bastante estranhos, como uivos. As pessoas que trabalhavam no local diziam ter a impressão de que alguém as observava. Por várias vezes os funcionários presenciaram tais fatos e, até hoje, não

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descobriram o que é. ALTAMIRA DO PARANÁ A noiva Contam os moradores mais antigos de nossa cidade, que antigamente na Praça Nossa Senhora Aparecida, mais conhecida como a praça do hospital, sempre havia uma aparição. Neste local havia o antigo cemitério da cidade. Dizem que vaga por lá uma moça muito bonita, vestida de noiva. Nenhuma notícia se tem sobre o que leva a noiva a vagar pela praça, mas muitas pessoas garantem ter visto a aparição. ANTONINA Escravos da igreja de São Benedito A igreja de São Benedito, igreja dos escravos, recebe esse nome justamente pelo fato de este santo ser o protetor dos escravos. Assim, como em outras cidades, a igreja de São Benedito de Antonina também foi construída pelos escravos. Eles, além de levantarem com as próprias mãos as paredes da igreja, gastaram o dinheiro de suas cartas de alforria para custear este refúgio. Dizem que durante a construção, alguns escravos acabaram morrendo e foram sepultados nas paredes da própria igreja. Por isso, ainda hoje, podem ser vistos na igreja, cuidando do templo que construíram. ANTONIO OLINTO Visagens Dizem que antigamente no município de Antonio Olinto, mais precisamente na localidade do Imbuial, havia muitas visagens. À noite, escutavam-se os gritos e choros delas. Meu avô conta que saía e via uma mulher com uma criança correndo pela estrada, pois sua casa estava pegando fogo; se andasse mais um pouco via um porco muito bravo com as presas de fora, que atacava as pessoas e mordia. Logo depois, no portão velho, havia uma coruja que andava seguindo as pessoas e gritando. Dizem, ainda, que existia um caixão no meio da estrada que assustava os

transeuntes que ali passavam. O pior delas era uma bola de fogo que andava devagar ou rápido pelo céu, atacava e queimava as pessoas. ARAPOTI O pinheiro da noiva Há muitos anos, na estrada que liga o km 39 à fábrica de papel, uma noiva e seus convidados viajavam em um caminhão, para a celebração do casamento, que se realizaria na capela do vilarejo. Em um declive, a mais ou menos 2 Km do local da celebração, o motorista do caminhão perdeu o controle dos freios, chocando-se contra um pinheiro. O motorista e alguns convidados ficaram feridos, mas a noiva morreu no local. Até hoje, muitas pessoas que passam pela estrada em noites enluaradas dizem que ao lado do pinheiro aparece uma noiva, pedindo que alguém lhe ofereça uma carona até a capela. BOA ESPERANÇA Uma tal confusão No local chamado Estrela D’Alva, perto de onde havia uma olaria, até o sítio do senhor Luís Felipe, já falecido, várias pessoas que por ali passaram relatam que foram acompanhadas por um caixão, que saía do sítio do senhor Natalício Marcelino, que na época pertencia à família Farias. Tal caixão saía dali e acompanhava as pessoas até o sítio do senhor Luís Felipe. Certo dia, o senhor Manoel Coimbra saiu de casa para vir à cidade e sua vizinha pediu-lhe um favor. Dona Maria Paraíba encomendou-lhe açúcar e erva-mate. Quando voltava para casa, chegando ao rio Barreiro, avistou de longe um homem sentado na barranca do rio pescando e o cumprimentou. Ele respondeu com opa. Então o senhor Manoel, achando que era uma pessoa conhecida por nome Gerônimo, filho do senhor Valdete, sentou-se perto do local onde o pescador estava e tirou de seu bolso um canivete e um rolo de fumo para fazer um

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cigarro. De repente, por baixo da aba do seu chapéu percebeu que o homem vinha em sua direção, quando foi levantar a cabeça não deu tempo e o tal cara pegou-o pelo pescoço e jogou-o dentro do rio. Ele, assustado, soltou um palavrão e com raiva foi para casa. Chegando a sua casa pediu para sua mulher acudir-lhe rápido, porque a encomenda se tinha molhada toda, devido ao acontecido; e passou a contar a história toda. Então, todos deram-se conta de que ele não estava molhado nem a compra também se molhara. Só então ele se deu conta da situação que tinha enfrentado. CALIFÓRNIA Cecília, a deusa da estrada Era uma linda jovem, de cabelos negros e longos, pele clara e aveludada, igual a uma rosa, com toda a sensualidade dos seus 17 anos. Alegre e apaixonada pela vida e pelo primeiro amor. Em sua primeira desilusão amorosa saiu para afogar as mágoas e tristezas junto com seus amigos. O lugar era lindo, maravilhoso. Essa linda jovem perdeu a vida ao lado dos seus amigos numa represa, enroscando-se num galho no fundo das águas. Ali se foi a vida de sonhos e esperanças. Passados muitos anos, um caminhoneiro, ao cruzar a Br 376, no sentido Califórnia-Curitiba, vê ao longe uma linda jovem pedindo carona, isto próximo ao local daquele acontecido. Sem saber do fato ocorrido, o caminhoneiro deu carona a ela. Ela solicitou que ele voltasse para a cidade onde residia e fosse ao cemitério fazer uma oração num determinado túmulo. O caminhoneiro ficou assustado e antes que respondesse, a jovem desapareceu. O caminhoneiro, porém, atendeu o pedido da moça. Chegando ao cemitério avistou a foto dela na lápide, reconhecendo-a imediatamente. Estes fatos são reais. Você pode visitar o túmulo no cemitério municipal de Califórnia, ele fica logo na entrada da cidade. Familiares e amigos foram atrás de explicações para essas aparições; acredita-se que a jovem Cecília

desvia os motoristas de algum acidente que estava por vir. COLOMBO Lenda do Bradador A lenda do Bradador é conhecida na comunidade do Capivari, área rural do município de Colombo. Desde a sua fundação, os moradores desta localidade são surpreendidos por grandes brados, gritos durante a noite. Os brados são ouvidos principalmente nos arredores da igreja de São Pedro. E a lenda diz que o Bradador é a alma de uma pessoa, que morreu antes de chegar a sua hora e hoje fica vagando e bradando para todos os moradores. CURITIBA A loira fantasma Prestem atenção na história que vou contar... Pois, este conto é de arrepiar! É uma lenda famosa dos anos setenta... E que até hoje faz sucesso e arrebenta! Lurdes era uma loira muito bonita, Que morava na cidade de Curitiba! Certa noite,ao sair muito tarde... Ela resolveu pegar um táxi sem alarde... Mas, o taxista era um psicopata tarado, Que estava muito perturbado! Então, ele levou a loira para o matagal... Estuprou e matou a pobre com todo o seu mal! Mas, o que ele não sabia... É que a loira pertencia... A uma seita de magia! Por isto,o espírito da loira ainda rondava... A cidade como uma escrava! Um mês se passou e o mesmo taxista... Ainda trabalhava na estrada e na pista! Ele estava trabalhando numa noite de chuva e de frio, Que a todos causa um tremendo arrepio!

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Então, uma mulher com capa preta e escura... Pediu para que o táxi parasse de uma forma dura! O táxi parou e a mulher entrou no carro com o rosto coberto... No meio daquele caminho deserto... Pedindo para o motorista seguir em direção ao Cemitério Municipal... Com uma voz misteriosa e nada normal! Chegando na rua nebulosa do cemitério... A mulher disse ao motorista com todo o mistério: “– Pode me deixar aqui, minha morada é um túmulo decente... Mas, você gostaria que fosse diferente... “ O motorista então, falou: “– Não estou entendendo nada... Pare de brincadeira , pois já é madrugada!” Então, a moça tirou o seu escuro véu, Que mostrou o seu rosto de um jeito cruel! A loira assim, falou: “– Sou a mulher que você matou com loucura, Que, agora, deseja colocar seu corpo numa sepultura! “ O motorista reconhecendo o fantasma... Teve um ataque de asma... E morreu asfixiado... No seu carro, todo congelado! Mas, o fantasma da loira continuou assustando vários taxistas... Porém, sua alma nunca deixou rastros e nem pistas. CURITIBA O fantasma da grávida da Praça da Ucrânia Por favor, não se surpreenda... Contarei mais uma lenda: Em Curitiba, toda a sexta-feira... Havia uma tradicional feira, Na praça da Ucrânia... Toda espontânea!

Mas, num inverno de gelar... Bem numa noite sem luar... Uma grávida passeava com o seu marido, Fiel, amado e querido, Pela feira da Praça da Ucrânia... Numa sexta-feira espontânea! Então, esta grávida bela... Numa barraquinha cor de canela... Pediu um sanduíche com mortadela! Enquanto ela esperava o lanche ansiosamente... Aconteceu algo que embaralhou a mente... Das pessoas no local: Um motoqueiro mau... Desceu da moto e começou a disparar... Tiros, bravamente, pelo ar! Mas, ao ver o marido da grávida, Que já estava toda pálida... Este motoqueiro tentou acertar vários tiros sem paz... Naquele pobre, assustado e indefeso rapaz! Mas, alguns tiros atingiram a gestante... De um jeito nada elegante! Então, levaram a grávida para o hospital... Porém, aconteceu algo mau: A grávida faleceu... No meio do breu! Então, a partir daquele dia... Começou a ocorrer algo com toda a agonia: Toda a sexta-feira espontânea... Bem na praça da Ucrânia... Uma grávida... Misteriosa e pálida... Começou a aparecer de um jeito ruim, Pedindo para alguém, bem assim: – Sou uma gestante... Faminta e nada brilhante! Porque numa noite nada singela... Eu tive uma morte nada bela... E nem tive o meu último pedido... Socorrido e atendido, Que era comer um sanduíche de mortadela...

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Numa barraca cor de canela! Mas, como eu sei que você não é ruim: Você poderia pagar um sanduíche para mim? Dizem que toda a sexta-feira, de um jeito dolorido... Ela aparece na Praça da Ucrânia e faz este mesmo pedido. FRANCISCO BELTRÃO Campo mal-assombrado Até 1957, a Companhia Clevelândia Industrial e Territorial Ltda. – CITLA, tinha acabado com tudo: a cidade tinha parado de crescer. Ninguém se sentia protegido, seguro para investir nas propriedades, com aquela jagunçada andando por ali. Isto não foi só em Francisco Beltrão, mas aconteceu de Capanema a Santo Antonio. Quem comandou a revolta dos moradores contra a CITLA foi o Dr. Walter Pecois. Deu muita sorte e da jagunçada ninguém tinha nome, era tudo apelido, era Maringá, Mato Grosso, Chapéu de Couro, Dente de Ouro. Eles pegavam homens para trabalhar e na hora de pagar, matavam. Onde fica o campo de aviação enterraram algumas pessoas. Dizem que muitos pilotos, na hora de aterrissar, já viram vultos assustados saindo do chão. GENERAL CARNEIRO Poço da visagem O município de General Carneiro é privilegiado por circundar as margens do rio Turino. Conta a lenda que neste rio existe um poço, mais especificamente nas proximidades do bairro Planalto. Moradores do local, que tinham por hábito a pesca, visualizavam sempre que por ali passava a figura de uma bela mulher. Curiosos e encantados por sua beleza tentavam aproximar-se, porém sua imagem sumia dentro das águas do poço. Por esse motivo o local, até hoje, é conhecido como poço da visagem.

IPIRANGA A noiva que ia se casar Na estrada de Lustosa aparece, à meia-noite, uma mulher bonita vestida de noiva, com dinheiro ao seu lado. Conta a lenda que quando essa mulher ia se casar guardou muito dinheiro, mas no dia do casamento morreu misteriosamente. Agora, quem estiver passando pela estrada onde essa noiva aparece e com coragem de aproximar-se dela, pedindo-a em casamento, ganhará o dinheiro que está a seu lado. IRATI O garupeiro O rio da Prata é uma comunidade distante e o meio de transporte mais utilizado é o cavalo. Quando alguém fica doente o remédio é buscado por alguém, a cavalo. Nesta localidade existem muitos paióis de roça, onde não reside ninguém, é aí que moram as almas penadas. Quando passa algum cavaleiro, principalmente à noite, essas almas pegam carona na garupa de seu cavalo. E esse é o maior temor dos cavaleiros da localidade. IVATÉ A bola de fogo Acontecia na estrada indo para Ivaí, contada por muitos moradores. Dizem que uma bola de fogo, ou de luz, não se sabe o que é, acompanha as pessoas a pé, de carro ou carroça. Quando se passa próximo à mata esta bola os acompanha. E é tão forte que as pessoas perdem até a direção do carro, se estiverem dirigindo. Isto acontece, sempre, de meia-noite às três horas da madrugada. Algumas vezes, ao invés de acompanhar as pessoas ela fica em cima de uma árvore parada. Mais interessante ainda é que ela é veloz e chega à velocidade de um carro. Outro fator importante é que ela só aparece próxima a esta mata; só acompanha as pessoas nesta travessia, depois desaparece. Conta-se que a luz aparece porque há algum tempo atrás um policial foi assassinado

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no fundo da mata. Outra versão é que a bola seja a “mãe do ouro”, ou seja, antigamente as pessoas tinham o hábito de enterrar ouro e as almas daquelas que morreram sem contar a ninguém ficaram penando pelo mundo. JAGUARIAÍVA Assombração da antiga Serrinha Esta história eu ouvi no norte do Paraná, quando ainda era menino. Meu avô materno Miguel Oleranos estava relatando a outra pessoa e eu memorizei a história. Antigamente, a estrada que dava acesso a Jaguariaíva saía pela Chácara Santa Luíza, hoje propriedade da família Nanni, em frente ao Bairro Samambaia, e subia aquela serra das pedras, até ao topo do morro. Passava pela fazenda de Juviniano Carneiro Lobo, hoje Fazenda Santa Rosa, até o pouso dos tropeiros, no lugar conhecido como Cinco Pinheiros, fazenda de João Pivovar. Esta propriedade pertenceu antigamente à falecida mãe do Átila Xavier, hoje sede da Fazenda Rincão da Serra. E ia em frente, rumo ao bairro Pesqueiro e Fazenda Diamantina. Um cidadão antigo, das bandas do Barreiro, do qual não me lembro o nome, vinha seguindo para Jaguariaíva a cavalo e lhe disseram que embaixo da serra, depois que anoitecia, era mal-assombrado. Este se exaltou e disse: – Qual o quê? Eu não tenho medo! Pois vou a Jaguariaíva e volto de noite de lá, com meu revólver na cintura, no lombo do meu cavalo. Não tenho medo de nada. E veio para a cidade. Ficou até tarde e altas horas da noite pegou seu destino, rumo ao Barreiro. Quando passou o portão que dava acesso às terras do então Coronel Antônio Roque de Lima, percebeu que alguém montou na garupa de seu cavalo. O animal, sentindo o peso no lombo, diminuiu seus passos e o valente começou a sentir arrepios. Mas ainda tinha que subir a serra. Olhava de relance sobre seus ombros e via que havia alguém na garupa. Ao terminar de subir a serra, o pobre animal estava arquejando e ao chegar no próximo portão, que dava acesso à fazenda do Pivovar, o cidadão invisível desmontou.

O pobre animal sentindo-se aliviado, deu um arranco pra frente. Nosso amigo, que era valente, passou o portão aliviado, desmontou e foi apertar os arreios que estavam todos frouxos. Foi-se embora e nunca mais passou à noite por essa estrada. Passaram-se muitos anos. Um dia o senhor Valfrido Wallis me contou que o senhor Luís Cava foi pescar no rio da serrinha, rio Sabiá, e levou uma cortadeira para tirar minhocas. Ao voltar, altas horas da noite, sei lá, onze horas ou meia-noite, ao abrir o portão, quando levou a mão na tronqueira* recebeu um tapa no rosto. E o gringo, do estopim bastante curto, disse, no escuro, a quem lhe bateu: – Bate outra vez, seu filho da...!!!. Tomou outro tapa, tornou a repetir a ofensa, levou outro “pé de ouvido”. Na quarta vez o camarada se materializou e disse: – Embaixo do mourão, isto é, da tronqueira do portão, existe um pote de moedas de ouro enterrado! Tire que é teu. Foi só tirar do lugar a tronqueira, estava lá embaixo o pote. Dizem que dali em diante sumiu a assombração do local, pois a alma penada se salvou. Sei lá. Nunca estive no inferno nem no céu pra averiguar!!! * Tronqueira – mourão no qual se prende a tranca do portão. MATINHOS O carona da bicicleta Acontecia sempre na rua próximo à caixa d’água em Caiobá, na via que vai para Prainha e Guaratuba. Altas horas, quando os moradores passam por ali de bicicleta, ouvem uma voz que pede licença para ir na garupa. Certa vez, um senhor chamado Carlos permitiu a carona e pouco adiante disse: – Sai coisa feia, você é muito pesado. E a partir daí a bicicleta ficou leve e ele pôde seguir seu caminho. Os moradores evitam passar por este caminho à noite.

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MORRETES Fantasma do Central Por volta de 1930, num bairro de Morretes chamado Central, surgiu a notícia de que um fantasma andava aparecendo, esgueirando-se pelas casas, altas horas da noite. Era um vulto branco, rápido, que aparecia e desaparecia. O medo se espalhou. Até que um dia o Adão, um mulato decidido, enfezou-se e resolveu encarar o fantasma. Uma noite, armou-se de um porrete e ficou na campana, observando onde geralmente surgia o fantasma. Uma porta abriu-se, Adão aproximou-se da casa onde viu o fantasma entrar, fazendo um barulho estranho. Aproximando-se, percebeu do que se tratava. O fantasma era um operário que visitava uma viúva da localidade e cobria-se com um lençol, para afastar os curiosos e as comadres fofoqueiras. SÃO JOSÉ DOS PINHAIS O velório da virgem noiva São José dos Pinhais, aí pelos anos de 1928, tinha ainda poucas casas, sem luz e sem água, nem esgoto, e havia muito mato e árvores com troncos enormes. Nessa época, não havia capela para velar os mortos e as pessoas velavam seus entes queridos em suas próprias casas. Havia dois compadres muito engraçados, que compareciam em todos os velórios para distrair do sono, os parentes e amigos do finado. Sabemos, quanto é difícil noites de inverno ter que passar em claro. Certo dia, faleceu uma moça já de idade, mas muito séria e moralista. Vestiram-na toda de branco. Véu, grinalda, uma noiva

completa. Estavam todos reunidos, velando a moça. Quando aí chegaram os compadres, por volta das 21 horas, pararam na porta um tanto assustados, olhando um para outro, disseram: – Santo Deus do céu, será que era virgem mesmo? Cochichando nos ouvidos com olhar de malícia. Lá pela meia-noite, deu uma dor de barriga em um dos compadres, ele foi até um bosque próximo do velório, fez suas necessidades; quando voltava, no pátio da casa, em noite de luar, viu a noiva que vinha toda de branco, passo a passo, pé por pé, aproximando- se cada vez mais. Chegando bem perto, ela disse: – Ainda duvida de mim? O compadre deu um salto para dentro da casa do velório, todo assustado, branco como a neve e disse ao seu companheiro: – Não devemos brincar com quem já morreu. TUNAS DO PARANÁ A caverna do jesuíta Conta uma lenda de nossa região que atrás do Morro da Cruz existe uma gruta que dá acesso à uma outra, ainda mais profunda. Segundo a lenda, ela tem três andares, muito fria e sombria. Ela possui água que vai até a cintura de um adulto. Diz-se que um sinistro senhor, uma aparição que só vê quem lá entra, manda os aventureiros passarem, indicando o caminho. Porém, todos aqueles que entraram nunca mais voltaram. Fonte: Lendas e Contos Populares do Paraná/ coordenador Renato Augusto Carneiro Jr. Curitiba : Secretaria de Estado da Cultura , 2005. (Cadernos Paraná da Gente ; 3)

Se gostas de ouvir narrações dos tempos passados, então senta-te nesse degrau e presta atenção ao chapinhar da água. Estávamos nas proximidades do mês de

Ashwin (Setembro). A ribeira ia cheia. Da escadaria que descia, somente quatro degraus estavam fora da água. Na margem da ribeira cresciam tufos de plantas compactos sob os

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ramos dos bosques de mangueiras, onde a corrente formava um ângulo e deixava a descoberto três grandes montões de tijolo As barcas de pesca, amarradas aos troncos de babilas, balouçavam-se indolentemente. Os grandes caniços que cobriam o banco de areia captavam os primeiros raios de sol e começavam a florir antes de atingir o seu pleno desenvolvimento. Os barcos abriam as suas velas sobre a ribeira cheia de sol. O sacerdote, com os seus vasos rituais, dispunha-se a tomar o banho. As mulheres, em grupos, vinham buscar água. Era a hora em que Kusum tinha o costume de aparecer no alto da escadaria e tomar banho. Mas naquela manhã não a vi chegar. Diante do ghât (Escadaria onde se toma banho), Bhudan e Swarno lamentavam-se. A sua amiga - diziam - tinha sido levada para casa do marido, uma localidade muito afastada da ribeira, e que se distinguia por uma população estranha, casas estranhas e caminhos estranhos. Entretanto ela quase desapareceu da minha memória. Passou um ano. As mulheres que vinham tomar banho falavam novamente de Kusum. Uma tarde, porém, estremeci ao reconhecer dois pés familiares. Mas ai, eles não traziam anéis e tinham perdido o seu tilintar musical de outrora! Kusum estava viúva. Dizia-se que o marido fora chamado a uma cidade longínqua e que ela apenas o vira uma ou duas vezes. O correio trouxera-lhe a notícia da sua morte. Viúva aos oito anos, apagara na fronte o sinal vermelho de casada, despojara-se dos seus braceletes e voltara para a velha casa à beira do Ganges. Mas encontrou poucas amigas dos tempos de solteira. Bhudan, Swarno e Amala tinham casado e partido; só Sarat ficara; mas afirmavam que se dispunha a casar em Dezembro. Da mesma forma que o Ganges, na estação das chuvas aumenta gradualmente de volume e transborda, assim Kusum se aproximava, dia a dia, da plena floração de beleza. Mas com vestes brancas e sem enfeites, de rosto pensativo e atitude calma, lançavam-lhe um véu sobre a juventude e ocultavam-na,

como uma bruma, aos olhos dos homens. Dez anos tinham decorrido sem que ninguém reparasse que Kusum se desenvolvia. Uma manhã, há muitos anos e por esta mesma temperatura de fim de Setembro, um sannyasi (Asceta ou monge) jovem e de pele clara, chegado não se sabe donde, veio abrigar-se no templo de Sivá, na minha frente. A notícia da sua chegada em breve se espalhou por toda a aldeia. Abandonando as bilhas, as mulheres acorriam ao templo para saudar o santo homem. A multidão aumentava de dia para dia. A fama do sannyasi depressa se espalhou entre as mulheres. Ele, ora recitava o Bhagvat ora comentava o Gita (Bagvat-gita: obra filosófica que faz parte do Ramugana), ou pregava no templo acerca do tema que escolhiam num livro santo. Uns pediam-lhe conselhos, outros os seus sortilégios ou a sua ciência de curar. Passaram-se meses. Em Abril, na época do eclipse solar, os banhos do Ganges atraíam uma multidão considerável. Uma feira se organizou sob as árvores de babla. Entre os numerosos peregrinos, acorridos para saudar o sannyasi, vinha um grupo de mulheres da aldeia onde Kusum fora casada. Era uma manhã. O sannyasi, sentado num degrau, rezava, quando, de súbito, entre os peregrinos, uma mulher fazendo sinal a uma das suas companheiras, murmurava: - Mas é o esposo de Kusum! A companheira, afastando um pouco o véu exclamou: - Palavra, é bem ele! É o filho mais novo dos Chattergi, que habita na minha aldeia! Uma terceira, disse por sua vez: - Ele tem exatamente a mesma testa, o mesmo nariz e os mesmos olhos. Enquanto uma outra, sem mesmo olhar para o sannyasi, agitava a sua bilha na água, suspirando: - Ai! Ele não é nem será o que foi! Pobre da Kusum! Uma delas objectou então: «Ele não tinha uma barba tão grande»; e outra: «Ele não era tão magro»; uma outra ainda: «Parecia-me mais alto». E a discussão ficou por aí.

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Uma noite de lua cheia, Kusum veio sentar-se perto da água, no mais alto dos meus degraus. A sua sombra projetava-se sobre mim. Estávamos sós junto do ghât. Os grilos cantavam à nossa volta. O tanger dos gongos e das sinetas do templo tinham cessado e o murmúrio da água era cada vez mais fraco, para se perder em breve, como a saudade dum som, nos bosques indistintos da margem oposta. Um raio da lua brilhava nas águas escuras do Ganges. Ao montante do rio, sob as sebes e arbustos, sob o pórtico do templo e sob os bosques das palmeiras, perfilavam-se sombras de formas fantásticas. Os morcegos balouçavam-se nos ramos de chatuns. Na proximidade das habitações, os chacais soltavam uivos arrepiantes e prolongados. O sannyasi saiu do templo com o seu passo lento. Desceu alguns degraus ghât e viu uma mulher só. Ia afastar-se quando de súbito Kusum ergueu a cabeça; voltou-se. O véu caiu e a lua iluminou-lhe o rosto. Um mocho voou por cima da sua cabeça. Ao ouvir o pio da ave ela estremeceu, ajustou o véu e prosternou-se aos pés do sannyasi. O Sannyasi deu-lhe a bênção e perguntou: - Quem sois? Ela respondeu: - O meu nome é Kusum. Nessa noite não trocaram mais palavra. Kusum voltou para casa, lentamente, e o sannyasi permaneceu durante longas horas nos degraus do ghât. Quando, enfim, a lua emigrou do este para o oeste, o Sannyasi levantou-se e entrou no templo. Vi todos os dias Kusum vir prosternar-se aos pés do sannyasi. Quando ele comentava os livros sagrados, permanecia a um canto e escutava-o; quando acabava as suas orações da manhã, ele chamava-a para junto de si e conversava com ela sobre assuntos religiosos. Kusum não podia compreender tudo, mas escutava-o com atenção e fazia esforços para o compreender. Ele dirigia-a e ela obedecia-lhe escrupulosamente. Kusum ajudava o serviço, sempre pronta à adoração de Deus, colhendo

flores para a oferenda e indo buscar água ao Ganges para lavar o chão do templo. O inverno ia terminar. Os ventos eram ainda frios, por vezes; à noite, a brisa quente da primavera soprava bruscamente do sul e o céu tornava-se azulado; depois dum longo silêncio ouvia-se novamente o som das flautas e a música da aldeia. Os barqueiros deixavam ir os barcos ao sabor da corrente, paravam de remar e entoavam cânticos a Krishna. Era a primavera. Nesta altura, perdi Kusum de vista. Havia alguns dias que ela deixara de aparecer no templo, no ghât ou diante do sannyasi. Ignoro o que se passou então, mas, pouco depois, os dois encontraram-se de novo, uma noite, nas escadarias. Com os olhos baixos, Kusum perguntou: - Senhor, chamou-me? - Sim, porque não vinhas? Porque esqueceste, há algum tempo, o serviço de Deus? Ela ficou silenciosa. - Diz-me o teu pensamento, sem receio. Voltando o rosto, ela respondeu: - Senhor, eu sou uma pecadora, faltei ao meu dever de adoração. O sannyasi disse-lhe: - Kusum, eu sei que a tua alma está perturbada. Ela estremeceu ligeiramente; depois, cobrindo o rosto com o Sari, sentou-se no degrau aos pés do sannyasi e começou a chorar. Ele recuou um pouco e continuou: - Diz-me o que tens no coração; eu te mostrarei o caminho da paz. Ela respondeu com fé e palavras entrecortadas: - Se me ordena, falarei. Mas receio que não possa exprimir-me com clareza. Mestre, certamente adivinhou tudo. Eu adorei um ser humano como a um Deus, venerei-o, e, ao render-lhe este culto, o meu coração transbordou de felicidade. Mas uma noite, eu sonhei que o Senhor da minha alma estava sentado num jardim, estreitando a minha mão direita na sua mão esquerda e murmurava palavras de amor. A cena não parecia de forma alguma estranha. O sonho desfez-se, mas a sua impressão ficou. No dia seguinte, quando os meus olhos se levantaram para ele, pareceu-me

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diferente. A imagem que me apareceu no sonho continuava a perseguir-me. Atemorizada tentei fugir para longe, mas a imagem não saía do meu espírito. Desde então, a minha alma não conhece a paz, e tudo em mim se tornou sombrio! Enquanto enxugava as lágrimas ao mesmo tempo que falava, o Sannyasi martelava convulsivamente, com o pé, o degrau de pedra. Quando ela acabou de contar, o Sannyasi perguntou: - Diz-me: quem viste no teu sonho? Com as mãos juntas, ela suplicou: - Não posso. Ele insistiu: - Deves dizer-me tudo. Ela contorceu as mãos e interrogou: - Assim o deseja? - É teu dever! - respondeu o sannyasi. Então ela exclamou: - Senhor, fostes vós que eu vi! E deixando-se cair no degrau, começou a soluçar profundamente. Quando sossegou e pôde levantar-se, o Sannyasi disse numa voz meiga: - Deixarei este lugar esta mesma noite e não me verás mais. Sabes que sou um sannyasi e que não pertenço a este mundo. Deves esquecer-me. Kusum respondeu em voz baixa: - Assim farei, Senhor! O sannyasi murmurou: - Digo-te adeus... Sem dizer palavra, Kusum inclinou-se e tocou os pés do sannyasi com a fronte. E o santo homem deixou a aldeia. A lua desaparecera; a noite tornou-se escura. Ouvia-se o chapinhar da água. O vento soprava furiosamente nas trevas, como se quisesse varrer as estrelas do céu.

RABINDRANATH TAGORE

"No dia em que a flor de lótus desabrochou / A minha mente vagava, e eu não a percebi. / Minha cesta estava vazia e a flor ficou esquecida. / Somente agora e novamente, uma tristeza caiu sobre mim. / Acordei do meu

sonho sentindo o doce rastro / De um perfume no vento sul. / Essa vaga doçura fez o meu coração doer de saudade. / Pareceu-me ser o sopro ardente no verão, procurando completar-se. / Eu não sabia então que a flor estava tão perto de mim, / Que ela era minha, e que essa perfeita doçura / Tinha desabrochado no fundo do meu coração." Esse poema mostra o lirismo suave e contido de Tagore; seu nome é "Flor de Lótus". Rabindranath Tagore nasceu em 7 de maio de 1861, em Calcutá, Índia, então sob domínio britânico. Tagore era filho do reformador religioso hindu chamado Devendranath Tagore, que se encarregou de sua educação por não concordar com as coerções do ensino clássico. Entre 1878 e 1880, o escritor esteve na Inglaterra e conheceu a literatura e a música européias. O gênio prolífico e criativo do escritor se traduziu ao longo da vida numa vasta obra que abrangeu todos os gêneros e estimulou a renovação da literatura em língua bengali. Poeta, contista, dramaturgo e crítico de arte hindu, seu pensamento abre novos caminhos a interpretação do misticismo, procurando atualizar as antigas doutrinas religiosas nacionais. As atividades literárias e educativas do poeta e místico bengali Rabindranath Tagore contribuíram de maneira significativa para o melhor conhecimento mútuo das culturas indiana e ocidental. Filho de uma família de reformadores religiosos e sociais, que a todo custo procurou libertar a Índia dos preconceitos milenares que esmagavam o povo. Tagore é uma ocidentalização do nome que em sânscrito quer dizer "homem nobre", "senhor". Em casa era chamado de Rabi que no idioma dos seus quer dizer "o Sol". Bem cedo se revelou artista profundamente identificado com a natureza, apaixonado pelo povo e, sobretudo aberto para o INFINITO. Com 8 anos de idade já fazia versos, aos 12 teve a satisfação de ver a sua poesia aprovada pelo seu venerando pai que exclamou: "Se o rei conhecesse a língua da

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nossa terra e pudesse apreciar-lhe a literatura, recompensaria por certo o poeta". Com 15 anos foi para a Inglaterra estudar Direito, 3 anos após regressou à pátria a chamado da família. Ao regressar recebeu do pai a incumbência de administrar a propriedade da família. Casou-se aos 23 anos. E, nesta época, já havia publicado 2 livros de poemas: Canções da Noite e Canções da manhã, com destaque para o poema O Despertar de uma Fonte.Bem como a novela para crianças O Sábio Real, que mais tarde serviu de tema à peça intitulada O Sacrifício. Em 1891 Tagore estabeleceu-se em Shilaidah para administrar a fazenda paterna. Viveu então em contato direto com o meio rural de Bengala, cuja influência se expressou nos dramas líricos Chitrangada (1892) e Malini (1895) e numa série de coletâneas poéticas, como Citra (1896), Kalpana (1900; Sonhos) e Naibedya (1901; Sacrifício), obras nas quais a comunhão com a natureza é realçada pela linguagem cristalina e emotiva. Em 1901 Tagore criou em Santiniketan uma instituição educativa denominada A Voz Universal, na qual combinava elementos da cultura hindu e ocidental. Em clima de liberdade, com aulas ao ar livre, a escola logo se converteu em centro de difusão do panteísmo espiritualista, relacionado com as doutrinas védicas, e dos ideais de solidariedade humana preconizados pelo fundador. Em 1901, com a venda de uma casa e das jóias da esposa, fundou uma escola superior de filosofia em Santiniketan (que depois foi transformada em Universidade, em 1921). As preocupações sociais do escritor, o levaram a defender a independência da Índia em diversos ensaios, embora sempre tenha considerado que a mudança individual deve preceder a social. A dor pela morte da esposa e de dois de seus filhos, entre 1902 e 1907, inspirou a Tagore alguns dos mais profundos poemas místicos, entre os quais os incluídos em Gitañjali (1910; A oferenda lírica). A repercussão internacional dessa última obra influiu na decisão da academia sueca em

conceder ao escritor o Prêmio Nobel de literatura de 1913. Tagore recebeu também o título de cavaleiro britânico em 1915, ao qual renunciou quatro anos depois em protesto contra o massacre de Amritsar. A partir de então, Tagore desenvolveu intensa atividade como conferencista em diversos países e em 1921 passou a dedicar grande parte de seus esforços na promoção da universidade internacional Visva-Bharati, que fundou nesse mesmo ano no centro de Santiniketan. Recebeu o Prêmio Nobel de literatura em 1913 e tornou-se mundialmente famoso graças ao seu livro de poemas Gitanjali (Oferenda Lírica). Isso não o impediu de continuar a literatura, além da pintura e da música, atividades nas quais também obteve prestígio nacional. Tagore faleceu em Santiniketan, Bengala, 1941, em 7 de agosto de 1941. Aclamado por Gandhi como "o grande mestre" e reconhecido por todos os indianos como "o sol da Índia". Principais Obras Poesia: Manasi (1890) [The Ideal One] Sonar Tari (1894) [The Golden Boat] Gitanjali (1910) [Song Offerings] Raja (1910) [The King of the Dark Chamber] Dakghar (1912) [The Post Office] Gitimalya (1914) [Wreath of Songs] Achalayatan (1912) [The Immovable] Gardener (1913) Balaka (1916) [The Flight of Cranes] Fruit-Gathering (1916) The Fugitive (1921) Muktadhara (1922) [The Waterfall] Raktakaravi (1926) [Red Oleanders] Contos e Romances: Gora (1910) Ghare-Baire (1916) [The Home and the World] Yogayog (1929) [Crosscurrents]

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Peças Teatrais: O Rei no Seu Quarto Escuro O Carteiro do Rei Sacrifício Chitangrada Balka A Corrente Livre

Fontes: http://biografias.netsaber.com.br/ver_biografia_c_1097.html http://www.beatrix.pro.br/literatura/tagore.htm http://www.geocities.com/toshiko.geo/biografia.htm

ÁGUA É vida da vida.

Querida mas prescindida... Gostosa, temida.

CAMINHAR Um passo, outro passo!

Indo... Descendo e subindo... - Demora o abraço.

CORPO CELESTE

No nada se expande. Flutua no onde atua.

Do pequeno ao grande.

DESPEDIDA Lenços acenando...

Sai alguém. Se outrem não vai; Dois lenços pingando.

DÚVIDA

– De dia e é escuro. Sombra de noite assombra

– Pensar inseguro.

ESPAÇO Ausência se sente.

Abundância faz distância. Ínfimo o da gente.

FALAR

O cachorro late, o vento uivando lento,

inútil debate.

FIM Na sala, um velório.

Passado mais que exaltado. Presente inglório.

FLORES

Iguais, deslumbrantes. Quanto ao perfume, no entanto?

Entre si, distantes...

AS FORMIGAS Qual seja o caminho!

Labor imposto a terror, Vazio o ninho.

LONGE

Não vejo um alguém. Vejo a quem não almejo

Aquém do além.

PESCAR Pescar é vitória.

Luta, artimanha, disputa. Merecendo história.

SABEDORIA

- Disseram. E era? Oi! Disseram e inda não foi?

Espera, espera.

SAUDADE - De alegria? Pouca.

- De pranto carrega um espanto. - Gostosamente louca.

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A SOMBRA Jamais é perfeita.

Beira apenas ou inteira, à cama se ajeita.

TEMPOS

De tudo bem antes! Do infinito ao finito.

Pequenos... Gigantes...

SYLVIO VON SÖHSTEN GAMA

Nascido em Maceió (AL), em 25 de junho de 1923. Filho de Arthur Peixoto de Carvalho Gama e Elsa von Söhsten Gama. Casado desde 24 de junho de 1944 com Alba Ramos Costa, que passou a se chamar Alba Costa Gama. Cursou a Escola Militar do Realengo (1943) e Escola de Engenharia do Recife (1949). Exerceu a atividade de construtor na construção civil, em Recife, de 1949 a 1972 quando, comprando duas fazendas com área total de 528 hectares, em Gravatá, Pernambuco, dedicou-se à pecuária leiteira até 1986. Vida literária iniciada realmente em 1937 com as primeiras produções poéticas, veio a ser verdadeiramente exercida a partir de 1994 com a publicação de "MEMÓRIA" e "Poesias no Espelho". Eleito para a Academia Alagoana de Letras, cadeira 14, em 2000. Livros publicados: Memórias Memória - Vida em história – Histórias da vida Na Era dos Motorromes A Fazenda Santa Helena

Eu Acuso O Engenheiro O Oficial do Exército Foi Assim Contos Acontecidos Sabedoria Popular Contos e Mais Contos Motes Glosados Desafio Sem Viola Romances O Bastardo A Doida O Revide O Encontro A Maquina O Pensamento Poesias Poesias no Espelho Fragmentos Divagações Poéticas Poesia Somente Poesias & Poemas Poemas Eleitos Pensamentos Versejados Conjecturas Versificadas Mergulhando no Tempo Miscelânea A Musa Poemas Soltos Meus Sonetos Crônicas Crônicas da Vida Civil Crônicas da Vida Militar Crônicas Daqui e Dali Fontes: http://universodohaicai.vilabol.uol.com.br/sylviogama.html http://www.gama.von.nom.br/bibliografia/bibliografia.htm Gama, Sylvio von Söhsten. Miscelânea : do haicai à glosa. Maceió: Ed. do Autor, 2002.

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Dedicado a um cãozinho chamado FLUFFY* Aquele velho pinheiro já tivera vistas deslumbrantes e vivera histórias emocionantes... Estava plantado na região Oeste de Santa Catarina, onde teve lugar uma das mais sangrentas revoltas populares ocorridas no Brasil, chamada de Guerra do Contestado (1914-1918), que deixou um saldo de mais de vinte e cinco mil mortos nos conflitos armados entre a população cabocla e os representantes do poder estadual e federal brasileiro. Na margem de cá da lagoa, só aquele pinheiro dignificava a espécie. Era só, mas fora sempre feliz. Apreciara belíssimos e esplendorosos pores do sol dourados. Vivera feliz e sempre altivo. Sentira-se poderoso, embora tivesse obtido uma classificação feminina, dada pelos botânicos, ou seja, Araucaria Angustifolia. Não tivera angústias e nem folias. Gostava quando, aos seus pés, o apontava como “pinheiro macho”. Macho, sim senhor, isso era inquestionável. Diziam que não produzia frutos, o que era verdade, e que sua sina era viver solitariamente. No entanto, ele participava da perpetuação da espécie... Ele fornecia o pólen que era transportado pelo vento até aos óvulos da planta fêmea que produzia a pinha, que, por sua vez, abrigava os pinhões, suas verdadeiras sementes. Apregoavam também os botânicos que ele não possuía estróbilo feminino (pudera, era macho!), ou pinha (ou ovário), onde se aglomeravam os frutos em uma carcaça sólida, verdolenga e elegante. Lá do cimo dos seus galhos, voltado para o Leste, onde o Sol, com seus raios benfazejos, sempre o acordara, para aquelas bandas, avistava uma paisagem bucólica. A uns quinhentos metros, um pequeno lago e, mais adiante, uma cabana. Sabia que seus habitantes haviam acordado quando, da

pequena chaminé, saía sinuosa fumaça procurando alcançar o espaço. À noite, quando o sol morria no Oeste, sabia também quando os habitantes daquele rude abrigo iam dormir, pois as luzes bruxuleantes dos lampiões iam se extinguindo. Foi testemunha ocular dos viventes daquele casebre. Já estavam na terceira geração. Agora o que restava vivia lá: Bozsik e sua mulher Mihaly. Tinham dois filhos: Polycarp e Kovács. Logo que se tornaram adultos, deram no pé. Deixaram os pais e foram viver suas vidas mundo afora. Os pais de Bozsiki, Janusz e Gyula, durante a Guerra do Contestado (Paraná/Santa Catarina), acolhiam no já velho casebre os combatentes das porfias entre pica-paus e maragatos, peludos e pelados e, para melhorar a cultura: adventícios e ádvenas, isto é, segundo o Aurélio, forasteiros. Sempre davam um jeito de agradar os forasteiros e o que serviam aos abrigados era um café de produção própria, servido sem açúcar, que para eles era difícil conseguir. O café era acompanhado de pinhões, que sempre mantinham em estoque, servidos assados na chapa, sapecados (usando sapés dos pinheiros) ou cozidos. Não é que os visitantes gostavam e sentiam-se alimentados! Embora fossem oriundos da Hungria, mais precisamente da região da Transilvânia, os raros e esparsos vizinhos teimavam em chamá-los de polacos. Até usavam aquele casebre como referencial: a “cabana dos polacos” entre um lago e um pinheiro macho. Não tinham nenhuma criação. Cultivavam uma horta, muito bem cuidada, repleta de variadas hortaliças. Tinham também plantações de alguns pés de café, isso mesmo, só a natureza podia explicar, frutificavam... Herdaram do pai de Bozsik, que assimilara o cultivo com os vizinhos. Era estranha a plantação de café, pois a cultura húngara nada especificava sobre o seu plantio. Não os deixavam de tratar, muito bem,

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capinando, adubando, podando e lutando sempre contra a “broca” ou ferrugem. A colheita era entre abril e junho. Sabiam como colher, secar, torrar, armazenar, eliminar as impurezas, afinal o café era o complemento indispensável para consumo dos pinhões. A poucas dezenas de metros do casebre, havia um majestoso capão de pinheiros. Quando era “tempo dos pinhões”, as pinhas se desprendiam dos galhos dos pinheiros, caindo verticalmente sobre a área delimitada pelas projeções das suas copas. Os galhos sustentando as pinhas proporcionavam um belo espetáculo. No capão forrado de pinhões, os bichos mais variados, entre os quais pacas, cutias, ouriços e outros mais, faziam festa deleitando-se com a polpa generosa e apreciada dos pinhões. Então entra em cena a ave querida, folclórica, endeusada e lendária dos paranaenses, chamada de gralha-azul. Ela também é considerada a ave símbolo do Paraná. É uma ave portentosa, de envergadura de até 40 cm. Diz a lenda que ela é responsável pela formação e manutenção dos pinheirais. Quando as araucárias frutificam, bandos de gralhas laboriosamente estocam os pinhões para se alimentarem posteriormente. O esquecimento do local de plantio faz germinar os frutos ali depositados. De vez em quando, a quietude da área era quebrantada por sons emitidos por bando de gralhas que, segundo consta, emitem, para se comunicarem, pelo menos quatorze ternos vocais (gritos) bem distintos e significantes... Aliás, uma grande mágoa do nosso pinheiro solitário é que nunca um roedor, ou mesmo a beatificada gralha-azul, escondeu um único fruto ao seu redor, o que, por certo, acabaria com o seu isolamento. E o pinheiro... perdão, leitores, divaguei outra vez. A nossa história é, na realidade, de Bozsik e Mihaly. Não é de pinheiros nem de gralhas...Dentro daquele rústico casebre, entre o lago e o nosso pinheiro macho, os “polacos”, isto é, os descendentes de húngaros, uniam suas misérias havia mais de seis décadas. Usavam os ombros, uns dos outros, para se acalentarem. Viviam cantando cantigas folclóricas, dolentes e nostálgicas, dos seus antepassados. Não tinham nenhum meio

elétrico ou eletrônico, viviam alheios ao que se passava no mundo. A saúde dos dois era sobrecomum. Naturalmente a higidez física ficara debilitada pela “marcha inexorável do tempo”. Bozsik já não usava mais cueca e Mihaly, obviamente, não usava sutiã e seus seios iam até abaixo do umbigo. A dupla possuía três dentes, isto é, um na boca do Bozsik e dois na de Mihaly. Para deglutir os pinhões, ou eram bem amassados quando assados, ou sapecados, ou bem cortadinhos quando cozidos. O único pente era solidário ao casal, pois também tinha três dentes... Não tinham espelho de qualquer tipo e quando queriam mirar-se, usavam a água espelhada do lago. Naturalmente não tinham nenhum artigo de perfumaria... Os raros sabões apareciam quando conseguiam amontoar a gordura de alguns animais que caçavam e prepará-los artesanalmente. Com a gordura ainda faziam velas e lamparinas, usando fibras trançadas como pavio. A caça era relativamente boa. A herança de uma armadilha trazida da Europa pelos pais era extremamente útil. Está certo que não era para animal de grande porte, mas de vez em quando sobravam, na ferragem da armadilha, vários roedores e até pacas! Com a carne faziam uma boa sopa à moda húngara ou um ensopado, também de carne, chamado gullash. Para a sopa húngara, tinham quase todos os ingredientes plantados ao redor do casebre, tais como: tomate, pimentão-vermelho, batata, cebola, pimenta-do-reino, sal e banha, na falta de manteiga; integravam ainda a carne de músculo dos animais que caçavam, e o cominho era substituído pelo europeu alcaravia (kümmel). Sabiam destilar, grosseiramente, uma bebida oriunda não sei do quê, mas que substituía a vodca europeia. Um acontecimento assim não passava sem comemoração. Aliás, qualquer coisa boa era usada como pretexto para dançarem. Só os dois participavam da festa... Esqueciam os reumatismos, dores nas colunas e outros males da velhice. Mas era empolgante ver a dupla que somava quase duzentos anos em suas danças, naturalmente típicas. Mihaly, com o seu indefectível lenço

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espalhafatosamente multicolorido na cabeça, em pé, batia palmas e cantava em voz alta músicas folclóricas trazendo Bozsik para o centro. Ele era sempre o primeiro a dançar. Evocava a “dança de kalotaszegi”, típica da região em que nasceram seus pais. Era nessa dança que os rapazes da sua terra demonstravam os seus talentos e virtuosismos. A dança era repetida até a exaustão. Depois ele dava a vez para Mihaly, que se exibia coreografando a “dança das garrafas”. Bozsik abria o berreiro e se empolgava nas canções. Acompanhava o seu próprio canto com estrepitosas palmas cadenciadas. A velha garrafa, enchida com água, Mihaly equilibrava na cabeça sem perder o ritmo. A maior prova da sua habilidade é que a velha garrafa de vinho, quase centenária, com o rótulo bastante descolorido, permanecia incólume. E tinha um detalhe, o invólucro de vidro havia sido trazido da Europa por seu pai. Levavam um bom tempo se divertindo, cantando, dançando, puramente. Sobreviviam das plantações de hortaliças bem diversificadas e dos animais que caçavam. A propósito, a caça era abundante. A velha armadilha europeia, em contraste com os velhinhos, parecia que ficava cada vez mais eficiente ao passar dos anos. De herança, também tinham duas preciosidades. Uma era um alfanje com um cabo de quase dois metros de comprimento; a outra, um quadro tosco contendo uma litografia, preciosa naquela época. O amor ao quadro era imenso. Era a jóia da família. Janusz Széil, pai de Bozsik, fora quem trouxera o quadro da Europa. Dizia que a moldura era feita de madeira de lei da Hungria. Quando batia a saudade da sua terra, ele cheirava repetidamente a madeira, procurando absorver o seu odor, e nela dava lânguidos beijos. Era o seu coração beijando resquícios de sua pátria. Quase todos da família seguiam esse hábito e a profusão salivar ia se depositando fazendo com que a madeira fosse perdendo sua coloração. Era um quadro místico para eles. Sempre provocou a imaginação dos moradores da casa, desde quando foi fixado na parede pelo pai de Bozsik. Durante décadas, ficou

dependurado no mesmo lugar... Eram comuns as mais diversificadas conjecturas sobre a cena impressa na velha litografia húngara. O quadro intrigava a mente de todos. A impressão no rodapé era mal impressa e descolorida. Alguma coisa se lia, tal como Grof Szecent... 1825 ... a magyar akademia. O pai de Bozsik também sabia muito pouco sobre os personagens do quadro. Pinçou nas memórias do seu pai, que uma vez dissera que o quadro representava uma reunião da nobreza que discutia em manter seus privilégios, como a as prerrogativas eleitorais exclusivas, imunidades fiscais e outras benesses, tal como ocorre hoje em nossa política tupiniquim. No quadro em pé, com dedo em riste, o único que contestou os privilégios foi o afamado escrito magiar Janusz Pannonius. Ele é considerado, até hoje, como o mais significativo – quase único – poeta e humanista do renascimento húngaro. Uma vez, nos tempos difíceis da Guerra do Contestado, dissera que aquele quadro era a maior herança que deixava para a família e seria a redenção da miséria em que viviam... Tinha seus motivos, que julgava muito bem fundados, aguardando o momento oportuno para desvendar o segredo. Pedia que nunca se desfizessem do quadro, de nenhum modo, assim como do velho alforje. Nada mais a comentar... E nada mais seria dito... Na Guerra do Contestado, ocorreram alguns combates na proximidade do casebre dos Széil, assim era o sobrenome da família. Os tiroteios na área eram comuns. Em um deles, a família de Bozik, escondida embaixo de mesa, cadeira, enfim, no que fosse possível, não evitou que uma bala perdida atravessasse o casebre de madeira e fosse se alojar na testa do pai de Bozik, que morreu na hora. Com a morte dele, fora o segredo do quadro... Os filhos de Bozik e Mhaly, quando estavam entrando na adolescência, costumavam dar umas saídas esdrúxulas. Sem falar nada aos seus pais, escapavam e, às vezes, demoravam dias para retornar. Visitavam os distantes vizinhos e iam até mesmo à cidade mais próxima, demorando dias para retornar. Voltavam sempre com surpresas. Em um dos retornos trouxeram quatro

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pombos-correio, dois machos e duas fêmeas. Os pais não sabiam, mas seus filhos já tinham planos para deixar a casa. Os pombos já prenunciavam isso. Como não havia nenhum tipo de comunicação entre moradores do casebre com qualquer vizinho, em caso de emergência os pombos poderiam ser acionados. Contando com o auxílio do vizinho doador dos pombos, eles ensinaram os pais como enviar mensagens por intermédio das aves.

Os filhos de Bozsik e Mihaly, ainda preocupados com a segurança dos pais, na ausência deles, trouxeram, surpreendentemente, um cãozinho, filhote mestiço da raça vizsla, ou “braço húngaro”, de pelo curto. O casal abraçou comovidamente o cãozinho. Choraram tudo a que tinham direito... A emoção tinha sido muito grande, pois embora o cão não fosse tão puro, trazia características marcantes dos genuínos da região deles, a Transilvânia. Aquele cão era um pouco da Hungria. Deram-lhe logo de início o nome complicado de Rövidszorü Magyar, mas, com o passar dos anos e até o fim da sua vida, chamaram-no simplesmente de Rovi. É bom que se diga que, segundo os historiadores, os caçadores magiares, no século VIII, possuíam cães sabujos e galgos que deveriam ser os ancestrais mais prováveis do atual Viszla. Para o casal, não interessava a história dos antecessores do cãozinho. Ele agora era a paixão deles. Rovi, agora adulto, tinha uma pelagem amarelada. Sua altura não passava de sessenta e cinco centímetros. Era um cão de caça muito inteligente e versátil, e bastante apegado aos donos. Costumava deitar aos seus pés e os seguia como se fosse a própria sombra deles. Gostava de afagos e sabia como retribuir, lambendo ou esfregando o focinho em quem o acariciava. Como os cães sempre elegem um da família como “tutor”, no caso dos Széil, o eleito era Bozsik. Dizer que era impressionante a

fidelidade de Rovi talvez seja pleonasmo... Todo cão é fiel ao seu dono, mas Rovi era realmente muito especial... Como disse, Polycarpo e Kovács, já adultos, estavam decididos a tomar novos rumos. Tinham que viver uma nova vida, longe dali. As dificuldades impediram que eles frequentassem uma escola e agora eram broncos por circunstâncias. Mesmo assim, não deixavam de pensar na segurança dos pais, na ausência deles. Assim como os pombos-correio que haviam dado aos pais, Rovi também fazia parte dos planos e já estava com mais de um ano. Quando iam visitar o vizinho amigo, levavam junto o simpático cão, que os seguia muito feliz abanando a cauda incessantemente. Rovi sabia muito bem o caminho e era isso que eles queriam. Instruíram seus pais que, em caso de dificuldade, dessem a ordem a Rovi: “vá, Zé”; e ele iria até a casa do vizinho, que, por sinal, se chamava Zé. O casal, de vez em quando, fazia testes mandando Rovi à casa e ele ia direitinho transpondo obstáculos e, em grande velocidade, retornava sempre com um graveto na boca, colocado pelo Zé. Finalmente os filhos de Bozsik arrumaram o pouco que lhes restava e, entre choros e lamentos, despediram-se dos pais sem saber ao menos qual seria o destino. Rovi parecia que havia descoberto o intento dos irmãos e os acompanhou por alguns quilômetros. Os irmãos tentaram de tudo para fazer Rovi retornar, até que este acabou compreendendo que deveria voltar para casa, pois a finalidade da sua vida era cuidar dos seus amigos Boszik e Mhaly. E o tempo foi caminhando, caminhando e consumindo o casal naquela velhice, naquela solidão solidária Bozsik e Mihaly conservavam como relíquia as suas certidões de nascimento, expedidas na Hungria. Eram muito bem conservadas, com extremo carinho. Comparando-as, concluía-se que Bozsik tinha 93 anos e Mihaly 91. A longevidade é uma das características dos magiares, principalmente da região onde eles nasceram... Ah, sim. Uma outra das relíquias

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conservada pelo casal era um livro de poesias que o pai de Mihaly dera quando deixava a Hungria para vir ao Brasil. O livro continha poemas do consagrado poeta húngaro Sandor Petöfi. Embora o autor tivesse vivido um período áureo do Romantismo, ele também se notabilizou por ter sido um revolucionário. Esse livro já estava pra lá de ensebado de tão manuseado. Pudera, era praticamente um dos poucos meios de comunicação com o mundo. O livro ora era lido por Bozsik, ora por Mihaly, e presenciou os primeiros eflúvios amorosos do casal. Os versos foram lidos, por ambos, desde o namoro. As saudades dos filhos eram imensas e agravadas. Nenhum queria demonstrar esse sentimento para o outro e os profundos suspiros exalavam-se pelo rústico casebre. Mas Bozsik sentia que a saúde de Mihaly, outrora sempre bem disposta e alegre, havia mudado o seu humor. Já não tinha paciência com Rovi. Certa feita ele veio agradá-la e ela respondeu com um pontapé e com impropérios, mas mesmo assim o cão se aproximava ainda mais da dona. Boszik sentiu que em pouco tempo a sua querida companheira começara a ter dificuldade em falar e o seu vocabulário tinha diminuído significativamente. Ela não tinha mais iniciativa... Antes tão caprichosa, não ligava mais para roupas e aparência. Não se lembrava de recentes acontecimentos, até mesmo os ocorridos no dia, mas evocava, com facilidade, principalmente, a sua infância na Transilvânia. Há muito tempo que ela não reconhecia seu companheiro e, para ele, isso era o pior da doença. Boszik acompanhava, pesarosamente, o declínio daquela que lhe dera toda a sua vida desde os albores da sua juventude. A irritabilidade e a instabilidade emocional recebia colheradas de sopa que carinhosamente Boszik preparava e lhe dava. Ele não se lamentava pelos sacrifícios que advieram em consequência da doença que não sabia definir, mas à qual o psiquiatra alemão Alois Alzheimer dera o nome. levavam-na a constantes crises de choro, involuntárias e sem afeto. Às vezes queria se expressar, mas a doença impedia que ela transformasse os sentimentos em palavras que ela não sabia

mais nem quais eram. E a crise foi piorando... Agora ela era totalmente dependente dele. Ficava o tempo todo na cama, não comia mais sozinha e Rovi passou a ficar quase todo o tempo deitado ao lado da sua dona. Às vezes procurava chamar-lhe a atenção arranhando seu corpo com as patinhas, sem obter nenhuma resposta, mas não desistia. Mhaly manifestava agora tremores assíduos e os voluntários movimentos eram mais intensos. Demonstrava, às vezes, que queria sair da cama. A incontinência urinária e fecal foi agravada. Boszik e Rovi, obsessivamente, não tiravam os olhos dela. Ele então passou a colocá-la na cadeira e na posição Rovi passou a ficar quase todo o tempo Desde os bons tempos que aquilo passara a ser até um cerimonial. Mihaly gostava de sentar defronte ao quadro que o pai de Bozsik trouxera da Hungria e que tanto debate proporcionara entre os familiares. Apreciando o quadro de frente, transportava-se para o seu país. Boszik, sentado embaixo do quadro, lia versos do famoso poeta magiar do século XIX Sandor Petöfi. Um dos preferidos era “No fim de setembro”, que era lido constantemente com muita emoção e, todas às vezes, Mihaly não continha as lágrimas. Mesmo com o estado deplorável da esposa, ele lia todos os dias os versos daquele livro, um verdadeiro relicário de emoções, mas que nada mais despertava na esposa. Era sempre uma cena deveras comovente. Mihaly, sentada à sua frente, curvada na cadeira e imóvel, tendo aos pés Rovi, recebia vegetativamente os sons da leitura que não encontravam mais guarida em seus sentimentos. Bozsik não desistia nunca, mesmo sabendo que a leitura dos versos não provocava um mínimo de emoção na ouvinte. O leal companheiro de tantos anos também começava a declinar. As geadas começaram a cobrir as plantações da horta e foram rareando. O alimento começava a faltar. Boszik sabia o quanto era importante manter alimentada a sua idolatrada esposa. A caça agora era rara. Só pequenos roedores caíam na armadilha. Mesmo porque ele não queria se afastar do seu casebre e da sua Mihaly,

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companheira querida. A solução, para a alimentação, era começar a abater os pombos-correio da sua criação. Eram três bocas para alimentar. E ele, em detrimento da sua própria saúde, misturando a pouca farinha de mandioca estocada com a carne de pombo, conseguia ainda fazer uma sopinha para Mihaly e um “grudezinho” para o cãozinho com o pouco de fubá que tinha em estoque. Um dia Rovi desapareceu por um longo tempo, deixando seu dono seriamente preocupado. Eis que um dia ele retorna arrastando uma cutia com grande esforço. Ele estava todo lanhado, pois certamente lutara com o animal que oferecera tenaz resistência. Sabe lá onde Rovi encontrou aquele animal naqueles campos cobertos de geada. O mais emocionante foi que Rovi depositou a caça aos pés de Mihaly. A comoção de Bozsik foi extremada, chegando até aos soluços pela atitude do cão e a impassividade da mulher. Naquele dia foi uma festa, isto é, para o cão e dono, pois para Mihaly nada alterava seu comportamento emocional. A vista de Boszik já estava seriamente afetada e, mesmo com os óculos deixados por seu pai, consistia em tremendo esforço cumprir o ritual da leitura dos versos para a companheira. Lá fora, o sol ainda não conseguira derreter toda a geada. Boszik preparou-se para cumprir o ritual, colocando primeiramente Mihaly na cadeira defronte ao quadro que ela nem mais percebia. Apanhou o carcomido e seboso livro de poesias, abriu-o e olhou para sua mulher. Ela estava ali, na sua frente, mas ausente para o mundo. Curvada e com os braços estirados, era um vegetal. Rovi logo se aninhou aos pés da dona, lambendo-lhe as mãos. Os olhos de Boszik marejaram-se. Balbuciantemente iniciou a leitura, sem perder a entonação habitual: FIM DE SETEMBRO – DE SANDOR PETÖFI ...Enquanto a geada do inverno tomar suas contas. A vida voa para longe, como cai a flor fugaz... Sente-se em meu colo, querida esposa, como

agora imploro! Você agora coloca sua cabeça em meu peito, Você amanhã colocará a sua cabeça na minha sepultura? Ah, me diga, se antes eu deveria morrer... De repente, o pesado quadro de madeira da Hungria desprende-se da parede atingindo, em cheio, a cabeça de Bozsik, que sente o impacto e responde com um urro que desperta Rovi em um pulo. O sangue corre pela velha madeira da litografia encharcando as surradas roupas de Boszik. Rovi pressente qualquer coisa e corre para o dono tentando reanimá-lo. Late desesperadamente e lambe-o agitadamente. Puxa-o pelas roupas chegando até a rompê-las. Está desesperado. Olha para a sua dona, que permanece imóvel, alheia a tudo. Late para ela pedindo socorro e nada acontece. Rovi, em sua privilegiada inteligência, percebe que seu dono precisa de socorro. Não necessita ser comandado. Sabe a quem pedir auxílio e o caminho até lá. É bom que se saiba que Rovi está com quatorze anos, portanto tão velho como os donos. Está quase surdo, com as forças bem minadas devido à precária alimentação. Seus olhos estão turvos pela idade, quase não enxerga. O seu então apurado faro praticamente não existe. Mesmo assim Rovi decididamente parte à procura de socorro. Para dificultar sua espinhosa jornada, os campos ainda estão cobertos por grossas camadas de gelo da geada que se distribuíra pela região. Cada vez mais ofegante, escorrega, cai, levanta-se, escorrega, mas se mantém firme no propósito. Depois de quase duas horas de ingentes esforços, chega à casa do Zé. Devido ao grande frio externo, a casa está toda fechada. Late insistentemente. Arranha a porta com violência... Ninguém escuta! Um rádio em alto som, lá dentro, transmite uma canção sertaneja. Rovi não desiste. Agora morde a porta e lança seu corpo contra ela várias vezes... Sente que está ficando cada vez mais enfraquecido. Com um empenho desmedido, a intensidade das latidas vai diminuindo e nem arranhar ele pode mais. Os esforços foram

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violentos demais... Vê a casa girando ao seu redor e desmaia. Fica ali, estático, aguardando seu final. De repente, o som vindo da casa não é mais ouvido. Rovi levanta-se, então, reunindo todas as suas forças, volta a latir com intensidade e mesmo com os latidos uivados ninguém o ouve. Aguarda um bom tempo até que finalmente alguém abre a porta, é o Zé. Rovi então late do que sobrou da sua carcaça. Conclui que dera o recado e volta a desmaiar. Zé entende a mensagem do cão. Sabe que os velhos no casebre estão precisando de auxílio. Chama os seus dois filhos, pedindo para sua mulher e filha que cuidem do cachorro e partem celeremente em direção ao casebre. Lá encontram Bozsik. Ele está morto e deduzem que ele se arrastara até Mihaly para morrer segurando suas mãos. Zé e seus filhos, estarrecidos e comovidos, percebem que Mihaly, arfante, está ainda com vida. Desprendem as mãos de Bozsik dos braços de Mihaly e notam que ela levanta a cabeça, olha para o quadro, desvia para o livro caído no chão e fixa o olhar no marido. Dá um leve suspiro e deixa a vida para sempre. Com trapos de um lençol e de um cobertor, improvisam macas, conduzindo os corpos para a casa do Zé, onde, posteriormente, uma carroça os levaria até a cidade. Enquanto isso, na casa do Zé, a sua mulher e filha tentam reanimar o Rovi. Tentaram de tudo e custou muito para ele dar uma resposta. Um pouco melhor, ele foi alimentado muito bem. Rovi não comia bem havia muitos dias. O carinho das duas para com o animal era surpreendente e ele sentiu isso. As coisas pareciam ir bem quando Rovi lembrou-se dos donos e como os havia deixado. Ágil, colocou-se em pé, deu fortes latidos dirigidos aos que o trataram, como que agradecendo a pródiga recepção. Refeito, partiu na velocidade máxima que pôde, mesmo com os sentidos debilitados. Meio surdo, quase cego e com o faro praticamente inexistente, concentrou-se para definir qual o caminho a tomar. Deduzida a rota, seguiu em direção definida, desabaladamente. Rovi, no entanto, depois de caminhar horas, sentiu que fora

traído pelos resquícios que sobraram dos seus sentidos. Perdera-se! Procurou desesperadamente o caminho que conhecia... Tinha que voltar para casa para rever os donos. A noite estava chegando e o seu desespero aumentava. Suas forças tinham chegado à exaustão. Mal conseguia caminhar. Não encontrava nenhum lugar para se abrigar da geada que iria cair, na madrugada, com certeza. Arquejando e num último esforço, viu que não poderia mais avançar... e a noite chegou. Finalmente se prostrou. Deitou a cabeça entre as patas e, mirando o horizonte, seus olhos foram se esmaecendo e ele se esforçando para não fechá-los... A intensa geada que caiu à noite cobriu o corpo, já sem vida, do “branco húngaro vizsla de pelo curto”, cujos ancestrais haviam acompanhado os magiares em sua invasão ao território húngaro. Ele soubera honrar sua raça. Finalmente a família do Zé conseguiu chegar até a cidade com os corpos dos vizinhos. Católicos fervorosos os deixaram na capela da igrejinha para o velório, no qual só a família do Zé esteve presente. Posteriormente seriam sepultados no cemitério da municipalidade. Numa daquelas coincidências extraordinárias, os filhos de Bozsik e Miahly estavam de volta à região. Chegando de madrugada à cidadezinha que naturalmente não tinha hotel e nem mesmo pensão, os irmãos Polycarp e Kovács, que se deram financeiramente muito bem na vida e sabendo que havia um velório na capela, resolveram passar a noite lá. Fariam um ato de caridade e se abrigariam para, de madrugada, partirem em busca dos pais. Quando entraram na capela, foram logo reconhecidos por Zé, que os saudou afetuosamente. Zé não perdeu tempo em contar que naqueles caixões estavam seus pais. Os irmãos se abraçaram pesarosamente ao lado dos pais e os prantearam. Durante a noite, em conversa com o Zé, decidiram que os corpos dos pais deveriam ser sepultados próximo do local onde viveram praticamente toda a sua vida. Certamente Zé seria generosamente gratificado pelo que fizera por seus pais. Sabedores da nobre ação de Rovi por

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seus pais, não viam a hora de rever aquele que demonstrara ser mais generoso que muitos seres humanos e até de muitos cristãos que tinham como dogma o amor. Aquela atitude era a verdadeira, verdadeira síntese do amor. Ao passarem de retorno pela casa do Zé, não viam o momento de abraçar, com imensa alegria, aquele cão tão querido que lealmente acompanhou seus pais até o fim da vida deles... No entanto, como não sabiam da sua morte, supunham que Rovi deveria ter voltado para a casa dos pais deles. Pesarosamente, nunca mais se teve notícias do extraordinário cãozinho Rovi. Polycarp e Kóvacs enterraram os pais ao lado do pinheiro solitário... Agora, não mais...

Ao retornarem ao casebre, recolheram o velho quadro que seu avô apregoara que mudaria a vida deles, mas não dissera como. Já não sentiam nada por aquela peça de madeira com uma litografia velha. Não esboçaram nenhum sentimento pela relíquia. Polycarp, o irmão mais velho, pediu que o irmão queimasse aquela peça de madeira que ocasionara a morte violenta do pai. Kovács pegou o quadro e ia dar o destino sugerido quando notou, no verso do quadro, alguns escritos rabiscados. Chamou o irmão e juntos partiram para decifrá-los. As letras tinham sido arranhadas na madeira e eram de difícil leitura e, ainda mais, escritas em húngaro. A mensagem sugeria que verificassem o verso da litografia. Abriram o quadro e tomaram contato com a mensagem deixada pelo pai. Nela ele contava que durante a Guerra do Contestado, quando ele estava descansando próximo do pinheiro macho, ou solitário, ouviu vozes e então se escondeu. Pelo traje de um deles, identificou-o como sendo um dos chefes. Os dois outros que o acompanhavam eram escravos e conduziam um baú e pás às costas. O chefe contou, em linha reta, em direção ao lago, alguns passos e mandou que cavassem ali. Pelo esforço com que carregavam o baú, o conteúdo deveria ser bem pesado. De fato, por um descuido o baú caiu no chão e

abriu-se. De dentro dele rolou o corpo de uma mulher, logicamente morta, e o chão forrou-se de moedas e joias. Aos gritos, o chefe mandou que colocassem tudo de novo no baú e cavassem. Depois de haver sido feito um bom buraco, os escravos receberam ordens para que o baú fosse depositado ali. Isso feito, o patrão matou, a tiros, os dois, jogando-os no buraco e enterrando-os junto com o baú. O que mais impressionou o pai de Bozsik foi que o assassino colheu algumas flores do campo e depositou na cova. Em seguida fez algumas orações e, em pranto, partiu. Bozsik deduziu que a mulher que caíra do baú certamente era alguém muito amada pelo senhor dos escravos. Disse que tivera que guardar aquele segredo, pois receava que o dono do baú voltasse qualquer dia. Na verdade, o maior receio, e que fizera o pai de Bozsik manter o segredo, era o fato de naquele buraco estarem sepultados três corpos, a mulher e os dois escravos. Na sua vã filosofia, nunca se deveria violar uma sepultura. Certamente um dia iria contar à mulher e os filhos, mas em época oportuna... Como se passaram os anos e nunca o dono do baú aparecera, supunha que ele havia morrido em combate. Mas se não houvesse a oportunidade de contar o local, o que ocorreu com sua morte repentina, no quadro dado por seu pai havia a resposta. E no verso estava também escrito: (as deduções, entre parênteses, são dos irmãos) – Aprecie a cena magiar (o quadro). Janusz Pannonius sabia sempre apontar em direção ao obstáculo a ser vencido (o único obstáculo, em linha reta, era o pinheiro). Dois foram levados pela morte (no livro de poesias tinha a gravura da morte). Um portava o alfanje simbólico ( tal qual a morte) e outro, com a cabeça meneava para a direita (indicando uma volta, em relação à direção de Janusz). Dois, ou duas (seriam as medidas com o alfanje, naturalmente partindo do pinheiro em direção oposta ao casebre). O que segura simbolicamente o alfanje, segura o baú (morte - tesouro)... Não sei como os irmãos concluíram isso, só posso afirmar que as deduções estavam corretas... Conclusão: siga em direção ao

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pinheiro solitário. De lá, retorne contando duas medidas de alfanje... Eis o tesouro. Seguiram todas as recomendações... Convidaram a família do Zé e até o padre da paróquia para a abertura da sepultura. O padre faria a parte que lhe cabia em prol das almas dos sepultos. Dentro do baú de metal encontraram mais de mil moedas de ouro e porção considerável de joias. Era uma fortuna! Dos corpos só restaram ossos que, dignamente, foram sepultados também ao lado do pinheiro. Os irmãos já eram prósperos negociantes e então deram boa parte da fortuna para o Zé e para a igreja. Rogaram os irmãos que fizessem a promessa de encontrar o cãozinho Rivo. Eles ainda confiavam na inteligência do animalzinho e, supondo que tivesse morrido, por certo estaria por perto da trilha entre a casa do Zé e dos Széil. E assim foi que, depois de intensa busca que envolveu a família por alguns dias, acabaram encontrando, com muita emoção, a carcaça do Rovi. E ele foi sepultado, também ao lado do pinheiro, com muita pompa. Ah, e o pinheiro macho? Ele não se sentia mais tão solitário. Sentia um orgulho enorme por ter sido referencial na descoberta do tesouro. Sentia-se também feliz por ter ao seu lado direito o casal cujas vidas ele acompanhara. E do Rovi também, pois o conhecera desde filhotinho. Parece incrível, mas o velho pinheiro gostava quando Rovi, quase todos os dias, vinha regar seu pé. E na vida do velho e outrora solitário pinheiro macho, acabou acontecendo o máximo de sua aspiração... Um dia notou que uma gralha-azul, perto dele, começou a enterrar pinhões... Um milagre em sua vida! Sonho (pinheiro sonha,

sim) em realidade! Por certo agora viriam outras e ali poderia ser formado um esplendoroso capão de pinheiros. E realmente, lá de cima, podia ver os pinhões brotando, aos montes...

*Fluffy era um cãozinho que não foi um herói, nem era muito corajoso, mas muito encrenqueiro, contudo ele ensinou, assim como todos os cães, o significado do respeito e do amor incondicional. Fluffy morreu 3 dias antes de completar 10 anos de uma vida saudável. Este conto, o confrade Átila dedicou a este cãozinho que deixou muitas saudades e um buraco muito grande no coração. (José Feldman)

Fonte: Colaboração do Autor

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Alienígenas e mitologia grega: A Caverna dos Titãs Uma história em que sátiros, ciclopes, górgonas e demais criaturas da mitologia grega aparecem em um shopping center de uma cidade do interior do Rio de Janeiro pode parecer, em uma primeira análise, totalmente nonsense. Ainda mais se esse fato só for percebido por crianças e adolescentes. Mas o Livro do Mês de abril da Capital Nacional da Literatura A Caverna dos Titãs é uma grande aventura de ficção científica que não deve nada às histórias desse gênero. Um grupo de adolescentes que adora jogar vídeo-game no OuterPlanet Megashopping – um shopping recém-inaugurado em Morro Queimado – descobre que o estabelecimento é somente uma fachada para uma invasão alienígena de seres estranhamente similares aos monstros fantásticos das narrativas da Grécia antiga. Em um clima de mistério investigativo Fred, seu amigo Sumô e sua prima Ana acabam descobrindo que o shopping só serve para a seleção e treinamento de crianças e adolescentes para auxiliar na segunda invasão alienígena – sim, segunda invasão, pois a primeira tentativa foi na Grécia antiga, o que deu origem às criaturas da mitologia e acabou rechaçada por famosos heróis, como Perseu, Belerofonte, entre outros. Os alienígenas testavam as habilidades dos jovens em máquinas de fliperama do shopping especialmente desenvolvidas para esse fim. Os mais talentosos eram abduzidos e controlados pelos extraterrestres. Mas os

heróis adolescentes, assim como os heróis míticos, não deixam barato e utilizam todas as suas habilidades forjadas nos games para livrar o planeta dessa ameaça. Através de descrições muito detalhadas, onde os games se unem à realidade, e muitas situações de suspense, A Caverna dos Titãs merece lugar de destaque entre a boa literatura infanto-juvenil produzida hoje no país.

Dois amigos, Júlio e Daniel, são adolescentes, se conhecem há muito tempo, estudam na mesma escola e vivem numa cidade interiorana - Morro Velho. A vida corre fácil, mas a súbita morte de Lucinha aos 15 anos coloca a cidade em polvorosa e atiça a imaginação dos colegas, principalmente Júlio, fã de histórias de ficção científica e horror, que suspeita que a profunda anemia causadora da morte da menina havia sido provocada por um vampiro. A princípio Daniel não aceita as idéias absurdas do amigo, mas acaba sendo convencido a embarcar numa investigação mais e mais perigosa, à medida que terríveis descobertas vão sendo feitas. O autor, Ivanir Calado, é um profissional que já escreveu vinte livros infanto-juvenis. Sabe usar uma linguagem antenada com seu público, sem infantilismos. Manipula com eficiência o suspense da trama, que flui com agilidade e interesse crescente. Aborda os problemas inerentes a todo jovem: as dificuldades escolares, o fracasso nos esportes, a descoberta do amor, o ciúme, a insegurança, o risco de perder amizades. Tudo isso misturado com um personagem maligno, duas

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velhinhas estranhas, uma antiga mansão soturna, e elementos clássicos das histórias de vampiro, claro, como estacas de madeira e violação de túmulos. Mas Calado insere uma subtrama científica conduzida pelo pai de Júlio, o médico Paulo, que em suas pesquisas descobre uma bactéria infectando as vítimas da estranha forma de anemia - o que pode explicar as mortes que se sucedem. Não é exatamente uma idéia original - veja, por exemplo, o romance Eu Sou a Lenda, de Richard Matheson, para encontrar um precedente - mas que bem colocada funciona como uma interessante variação num gênero que atualmente parece que se esgotou, tantos os livros publicados. O desfecho não apela para o tradicional final feliz. Ocorrem muitas perdas, difíceis decisões são tomadas, o amor, a coragem e a lealdade vão ser postos à prova. Ivanir Calado demonstra, com este livro, que acreditar na inteligência do leitor jovem é o que de melhor um escritor pode fazer para despertar o interesse desse público pela leitura, tão envolvido com computadores ou videogames, mas capaz de se encantar com textos de boa qualidade, que enfoquem temas atuais, como já provou um certo bruxinho inglês. Vale a pena conferir O Nascimento do Vampiro, de Ivanir Calado.

IVANIR CALADO

Ivanir Calado nasceu em Nova Friburgo, cidade do Estado do Rio de Janeiro, na localidade conhecida como Morro Queimado, que tem servido de cenário para algumas obras do autor. Estudou artes plásticas e trabalhou com música e teatro antes de começar a escrever. Publicou os romances Imperatriz no fim do mundo e A mãe do sonho, além de cerca de vinte livros para crianças e adolescentes. Já recebeu prêmios como escritor e autor de teatro, e vários de seus livros têm o selo de "altamente recomendável" da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.

Testemunhe o nascimento do vampiro. Por Finísia Fideli e Roberto de Souza Causo em http://noticias.terra.com.br/imprime/0,,OI2308167-

EI6622,00.html

Fontes: Jornadas Literárias de Passo Fundo Boletim Eletronico – n. 52 – ano 3 – 11/04/08 http://www.planetanews.com/autor/IVANIR%2 http://www.ivanircalado.net/ (foto de Ivanir)

Uma tragédia no Amazonas é uma historia envolvente que narra como o ódio e o desejo de vingança pode arruinar muitas vidas, e como uma pessoa pode ser odiada e amada ao mesmo tempo. O conto é cheio de detalhes faz a pessoa sentir o clima selvagem e hostil vivido por pessoas que vivem na região do Amazonas, onde a lei raramente chega, e onde as pessoas muitas vezes fazem suas próprias leis. Com maestria o autor narra a historia de Eustáquio, sua esposa Branca, e a enteada Rosalina, que passaram a ser vitimas de perseguição, que incluíam tanto danos à propriedade da família, que ficava no vilarejo de São João do Príncipe no Amazonas, como tentativas de matar Branca e Rosalina; Curiosamente em duas tentativas contra as mulheres um misterioso protetor da cabo dos agressores, o que não acontece com um escravo e um soldado contratados para defender a casa do subdelegado. Começa por parte de Eustáquio uma caça aos agressores, aos poucos o editor trás a lume fatos que culminam com a identificação dos mesmos como sendo um grupo de negros que após assassinarem seu feitor e o dono da fazenda, saqueiam a sede e fogem, sendo capturados e presos pelo subdelegado, no entanto pouco depois eles fogem da improvisada cadeia, para a floresta, e começam a maquinar a vingança; A morte de um dos escravos pelo misterioso defensor da família faz

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com que eles acuem um pouco, e passam dois anos sem fazer novas ameaças, no entanto a chegada ao vilarejo de salteadores espanhóis interessados em roubar a Eustáquio porque foram informados que ele possuía uma grande riqueza, reacendeu nos escravos fugitivos a chama da vingança, encorajados pelos espanhóis voltaram a tramar contra a família. Nesta ocasião Eustáquio, que já não é mais subdelegado, passa a espionar o bando, descobrindo que tramavam atacar a casa no dia seguinte, recorre à ajuda do padre que no afã de proteger a casa indica quatro lavradores da cidade para reforçar a segurança, Eustáquio os contrata, sem saber na verdade que eles faziam parte dos seus inimigos, num plano do líder espanhol de infiltrá-los na residência de Eustáquio fato que o padre também desconhecia. Enquanto aguardavam o ataque protegendo a casa, o padre revela que o misterioso protetor que por vezes defendeu a família, era na verdade um jovem que teve sua vida salva pelo pai de Rosalina, a enteada da família, só que embora salvasse o garoto o homem não sobreviveu ao acidente, em retribuição a isso o garoto vigiava a casa para proteger seus moradores. Neste mesmo dia os vingadores conseguem invadir a casa matam Branca, Eustáquio, bem como outros que ali estavam, incluindo uma criança que ainda a pouco havia nascido, filho de branca com Eustáquio; Quando o jovem que protegia a família chega já é tarde e o malfeitor lhes tira a vida , como ultima vitima Rosalina é barbaramente torturada e morta. Finalizando o conto o pai do jovem chega de uma viaje mas já encontra todos mortos e o fim é dramático com o pai ao lado do corpo do filho lamentando sua morte. O conto é cheio de detalhes faz a pessoa sentir o clima selvagem e hostil vivido por pessoas que vivem na região do Amazonas, onde a lei raramente chega, e onde as pessoas muitas vezes fazem suas próprias leis.

Fonte: http://www.netsaber.com.br/resumos/ver_resumo.php?c=1275

Manuel Paiva é um malandro que tenta roubar as jóias pertencentes ao duque de Bragança, no inicio parecia que tudo ida dar certo até que..., Mas vejamos esta trama desde do inicio, Paiva era amigo pessoal do duque de Bragança Sardanapolo a ponto de secretamente conseguir programar encontros, às escondidas, para o duque com garotas para fins sexuais inclusive estava negociando com o avo de uma garota de 14 anos certa soma em dinheiro para que ela se deitasse com o duque. Ao combinar o assalto Paiva solicita a ajuda do criado da casa, Inácio, passando para ele detalhes do plano arquitetado, embora de princípio ficasse temeroso Inácio acaba aceitando participar, ao mesmo tempo em que planejam o assalto Paiva programa o encontro do duque com a garota que desconhece a má intenção de seu avo e o senhor Paiva. De inicio o assalto é bem sucedido, roubando o senhor Paiva, muitas jóias e um caríssimo anel que pertencia à esposa do arquiduque; O cenário vem bem montado até uma corda na janela simulava a forma que os ladrões entraram, mas na verdade o criado foi quem facilitou a entrada do ladrão das jóias. No dia seguinte ao assalto há uma grande comoção na mansão do duque e toda vizinhança fica sabendo do ocorrido, a policia chega e mal sabe por onde começar a investigação, no entanto o duque de Bragança se mantém calmo todo o tempo. Chamando o senhor Paiva ao seu gabinete acusa-o veemente de ser o ladrão apresentando enes evidencias para pensar assim, de inicio Paiva nega tentando se escusar mas acaba admitindo, e ameaça contar tudo que sabe da vida errada do duque se for entregue a policia; Os dois conversam algo não revelado pelo autor, voltando para sala o duque entrega Paiva a policia, no entanto o

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esperto Paiva consegue se livrar da prisão, num acordo onde devolve todas as jóias roubadas. Há, quanto ao encontro do duque com a garota ele é frustrado por Emilia que revela ser a mãe da garota, e que ela é fruto de um estupro cometido pelo próprio duque há 14 anos atrás.

Fonte: http://www.netsaber.com.br/resumos/ver_resumo.php?c=1217

O título se refere a grande seca de 1915, vivida pela escritora em sua infância. O romance se dá em dois planos, um enfocando o vaqueiro Chico Bento e sua família, o outro a relação afetiva de Vicente, rude proprietário e criador de gado, e Conceição, sua prima culta e professora. Conceição é apresentada como uma moça que gosta de ler vários livros, inclusive de tendências feministas e socialistas o que estranha a sua avó, Mãe Nácia - representante das velhas tradições. No período de férias, Conceição passava na fazenda da família, no Logradouro, perto do Quixadá. Apesar de ter 22 anos, não dizia pensar em casar, mas sempre se engraçava à seu primo Vicente. Ele era o proprietário que cuidava do gado, era rude e até mesmo selvagem. Com o advento da seca, a família de Mãe Nácia decide ir para cidade e deixar Vicente cuidando de tudo, resistindo. Trabalhava incessantemente para manter os animais vivos. Conceição trabalhava agora no campo de concentração onde ficavam alojados os retirantes, e descobre que seu primo estava de caso com uma caboclinha qualquer. Vicente se encontra com Conceição e sem perceber confessa as temerosidades dela. Ela começa a tratá-lo de modo indiferente. Vicente se ressente disso e não consegue

entender a razão. As irmãs de Vicente armam um namoro entre ele e uma amiga, a Mariinha Garcia. Ele, porém, se espanta ao saber que estava namorando, dizendo que apenas era solícito para com ela e não tinha a menor intenção de comprometimento. Conceição percebe a diferença de vida entre ela e seu primo e a quase impossibilidade de comunicação. A seca termina e eles voltam para o Logradouro. Esta é a parte mais importante do livro. Apresenta a marcha trágica e penosa do vaqueiro Chico Bento com sua mulher e seus 5 filhos, representando os retirantes. Ele é forçado a abandonar a fazenda onde trabalhara. Junta algum dinheiro, compra mantimentos e uma burra para atravessar o sertão. Tinham o intuito de trabalhar no Norte, extraindo borracha. No percurso, em momento de grande fome, Josias, o filho mais novo, come mandioca crua, envenenando-se. Agonizou até a morte. Uma cena marcante na vida do vaqueiro foi a de matar uma cabra e depois descobrir que tinha dono. Este o chamou de ladrão, e levou o resto da cabra para sua casa, dando-lhes apenas as tripas para saciarem. Léguas após, Chico Bento dá falta do seu filho mais velho Pedro. Chegando ao Aracape, lugar onde supunha que ele pudesse ser encontrado, avista um compadre que era o delegado. Recebem alguns mantimentos, mas não é possível encontrar o filho. Ficam sabendo que o menino tinha fugido com comboeiros de cachaça. Ao chegarem no campo de concentração, são reconhecidos por Conceição, sua comadre. Ela arranja um emprego para Chico Bento e passa a viver com um de seus filhos. Conseguem também uma passagem de trem e viajam para São Paulo, desistindo de trabalhar com a borracha. Fontes: http://www.netsaber.com.br/resumos/ver_resumo.php?c=2777 http://www.pipaproducoes.com.br/ (imagem)

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Poetas de mais de quinze países do mundo participaram do I Congreso Universal de Poesía Hispanoamericana (CUPHI) realizado en Tijuana, México, de 8 a 14 de agosto de 2010, reconhecendo o valor da obra literária do laureado poeta peruano Carlos Garrido Chalén, Prêmio Mundial de Literatura "Andrés Bello" 2009 de Venezuela; e concordaram através da Sociedad Internacional de Poetas, Escritores y Artistas (SIPEA), com sede no México, propor-lo ao Prêmio de Literatura "Miguel de Cervantes" 2010, de Espanha, prêmio que se outorga aos escritores hispanoamericanos que mais tenham contribuído con sua obra de modo a fortalecer o acervo da língua castelhana. Carlos Garrido Chalén, que se encontra atualmente no México, é autor de obras publicadas nos gêneros de poesía, novela, conto e ensaio. O Instituto Nacional de Cultura (INC) do Perú lhe outorgou em 1997 a distinção "Patrimonio Cultural Vivo de la Nación". A poetisa paranaense, de Paranavaí, Dinair Leite, Imortal da Academia de Letras do Brasil/Paraná esteve presente neste seleto grupo internacional, tendo a honra de indicar o nome de Chalén para o Premio Nobel de Literatura, de 2011. Indicação consequente dos inquestionáveis méritos de Chalén, além de ser considerado como " uma das raras gemas preciosas que aparecem a cada certo tempo na história humana" na voz de Ernesto Kahan, Prêmio Nobel da Paz, que desde 2008 respalda a candidatura do escritor. Na ocasião, Chalén, presidente fundador da União Hispanoamericana de Escritores - UHE nomeou Dinair Presidente Nacional da renomada instituição no Brasil. Dinair declara: “Divido com vocês este momento especial, contando com o Poder

Superior para me fazer desempenhar este papel à altura e honrar as expectativas de tão nobres companheiros que distinguiram o nosso Brasil e minha humilde pessoa para compartilhar este caminho. E agradeço de modo especial ao Movimento Poético Nacional, sediado em São Paulo e presidido pelo estimado Dr. Válter Argento, creditando esta abençoada conquista principalmente aos trabalhos, encaminhamento, orientação e acolhimento dos saudosos baluartes do MPN, minha primeira Casa Cultural, poetas Dr. Silva Barreto, Sylvya Reys e especialmente Jacintha Karelisky. Dedico esta poesia ao Comite Organizador do Congreso Universal de Poesia Hispanoamericana (CUPHI) e a todos os participantes do magno evento

ODE AO CUPHI!

Chorei...chorei com a dor da tristonha despedida,

de um povo que é puro amor, num país que vibra vida!

Viva emoção o meu peito

preencheu... e quase explodiu! Mas meu coração com jeito,

vibrou no peito...e sorriu!

CUPHI foi iluminado por corações varonis

bebendo seu mel sagrado espargido em mil barris...

Tom certo, com maestria, MANUEL LEYVA ofertava noite a dentro e pelo dia,

glorioso ele brilhava!

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MARTÍNEZ , sua família, honrados agradecemos o saber vivo em vigília

que tão felizes bebemos

Família culta e unida com sua equipe gentil

que em transparência luzida acolheu nosso BRASIL!!!

Tantos poetas eu vi

a receber e doar buquês...e com frenesi

a Liberdade cantar!

Escritores também vi, chegarem de tantas partes,

com mesmo ideal dali, abraçando irmãos em artes...

Tijuana! És tão linda... e abrigastes com afeto

poetas,canções infindas, em teu coração dileto...

Para ti hei de voltar

um dia se Deus quiser!

Com teu povo eu hei de orar à Virgem Santa e mulher...

Senhora Guadalupana!

Que tanto me comoveu... fêz-me sentir mexicana

pela fé que me envolveu...

Vivi doce experiência com um cultor envolvente que impôs a sua gerência

feito um correr de nascente!

Maestro LEYVA! Meus vivas! Pelo CUPHI eu te bendigo:

- Sempre a Liberdade avivas! Que a Paz esteja contigo!

TIJUANA foi celeiro

de Grãos de Milho de porte! Foi um útero-viveiro,

foi nosso ninho e suporte!

Poetas Del Mundo eu choro a dor....saudade sem fim,

de um choro bom e sonoro: MÉXICO! Lembra de mim!

A UBT no Estado do Paraná há 44 anos vem estimulando a agilidade mental dos trovadores que aspiram esta magia poética contagiante, no contínuo ideal pensado por Luiz Otávio, o trovador do Século XX e exemplo futurista da arte das emoções que une os trovadores. PRESIDENTE DE HONRA: ORLANDO WOCZIKOSKY Presidente: Vânia Maria Souza Ennes (Curitiba) Vice Presidente: Maria Lúcia Daloce Castanho (Bandeirantes) Secretário: Nei Garcez (Curitiba)

Conselho Estadual: - Presidente: Maurício Norberto Friedrich (Curitiba) 1º Vice Presidente: Dari Pereira (Maringá) 2º Vice Presidente: Apollo Taborda França (Curitiba) Secretária: Maria Aparecida Frigeri (Londrina) 1º Secretário: Luiz Hélio Friedrich (Curitiba) 2º Secretário: Lairton Trovão de Andrade (Pinhalão) 01. Seção de Curitiba: Maria da Graça Stinglim Araújo 02. Seção de Ponta Grossa: Sônia Maria Ditzel artelo 03. Seção de Maringá: Dari Pereira

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04. Seção de Bandeirantes: Istela Marina Gotelipe Lima 05. Seção de Londrina: Maria Aparecida Frigeri (Cidinha) 06. Delegacia de Rio Branco do Sul: Sara Furquim 07. Delegacia de Joaquim Távora: Adilson de Paula 08. Delegacia de São Mateus do Sul: Gerson Cesar Souza 09. Delegacia de Ubiratã: José Feldman 10. Delegacia de Pinhalão: Lairton Trovão de Andrade 11. Delegacia de Ibiporã: Maurício Fernandes Leonardo 12. Delegacia de Apucarana: Fahed Daher 13. Delegacia de São Jorge do Ivaí: Hulda Ramos Gabriel

14. Delegacia de Piraquara: Horácio Ferreira Portela 15. Delegacia de Campo Mourão: Sinclair Pozza Casemiro 16. Delegacia de Arapongas: Maria Granzoto da Silva 17. Delegacia de São Jerônimo da Serra: Déspina Athanásio Perusso 18. Delegacia de Paranavaí: Dinair Gomes C. Leite 19. Delegacia de Irati: Luiza Nelma Fillus 20. Delegacia de Campo Largo: Miguel Angel Almada (em processo de oficialização) . Delegacia de Ivatuba: Elidir D’Oliveira – Desativada pelo falecimento do delegado . Delegacia de Tomazina: Cecim Calixto - Desativada pelo falecimento do delegado

“Os representantes dos autores levam a obra diretamente ao dono da editora, ao editor ou ao chefe do departamento editorial, ou seja, as pessoas que decidem o que vai ou não para o mercado. E eles sabem que estão recebendo um bom material, um original que foi avaliado como promissor” Andrey do Amaral No Brasil, ser um famoso jogador de futebol, ator de uma grande emissora ou escritor é quase tão difícil quanto acertar numa loteria. O primeiro e o segundo fatalmente vão chegar lá se tiverem talento e um bom empresário, que conseguirá testes com os presidentes de clubes e os diretores de TV. O terceiro geralmente bate de porta em porta esperando que um dia seu livro seja publicado. E desiste sem nem mesmo saber que concorre com outras centenas de originais (cópias de livros ainda não publicados) que chegam à mesa do departamento editorial todos os anos. Pois saiba que há um profissional que pode lhe ajudar a“furar a fila” e colocar sua obra no mercado: o agente literário. É ele quem vai convencer o editor de que aquilo que você

escreveu merece estar na prateleira de uma livraria. Muitos sonham em editar pelo menos um livro na vida, e buscam seu espaço por conta própria, mas esbarram no maior problema do mercado editorial brasileiro: a falta de estrutura. As editoras recebem, por ano, centenas de obras para avaliação. Com um número reduzido de funcionários, muitas oportunidades se perdem ou passam despercebidas no meio das pilhas de livros que chegam pelos Correios. Geralmente, as obras que vão direto para a mesa do editor foram indicadas por agentes literários. A profissão ainda engatinha no Brasil, mas no mercado internacional (principalmente nos Estados Unidos), editoras dificilmente publicam o livro de alguém que não é representado profissionalmente. O agente faz praticamente o mesmo trabalho que a editora: peneira o que há de melhor no mercado e seleciona apenas o que tem chance de ser publicado. “Os representantes dos autores levam a obra diretamente ao dono da editora, ao editor ou ao chefe do departamento editorial, ou seja, às pessoas que decidem o que vai ou não para o mercado. E eles sabem

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que estão recebendo um bom material, um original que foi avaliado como promissor”, aponta o agente Andrey do Amaral. “Os editores sabem que aquele livro entregue por um agente já passou por uma peneira, por um processo criterioso de análise e seleção”, completa o brasiliense e também autor deMercado Editorial. O motivo desse privilégio? Conhecimento de mercado e um bom networking. Os agentes não representam qualquer escritor. Mesmo que este pague rios de dinheiro. Esses profissionais recebem os candidatos, cobram pela análise inicial da obra e, se ela realmente tiver algum valor de mercado, aceitam agenciá-lo. “Muitas pessoas pedem agenciamento, mas quando seu livro não tem uma mínima chance de dar certo, dificilmente um agente irá apresentá-lo em uma editora. Se ele faz isso, perde a credibilidade com o editor e, numa tentativa futura, pode ter um best-seller na mão que não será recebido”, explica Andrey. Além de uma extensa rede de contatos, o agente literário possui um conhecimento de mercado que o autor não tem. Cada editora trabalha com um tipo de livro e uma simples abordagem equivocada pode colocar tudo por

água abaixo. “O agente sabe que aquele livro tem potencial para ser publicado nessa ou naquela editora. Ele tem uma noção clara do que o mercado absorve. É a história do livro certo, no momento certo e para a editora certa”, pontua Alessandra Pires, da agência O agente literário, de São Paulo. “Nós fazemos a ponte entre o autor e a editora. Ou seja, ele é representado por um profissional que busca a editora adequada aos perfis da obra e do autor. Alguns agentes sabem, inclusive, que tipo de publicação esse ou aquele editor está procurando.” Assim como o empresário do ramo artístico, que gerencia a carreira do cantor ou ator, o agente cuida dos interesses do escritor. Além de oferecer melhores chances de publicação, zela pela questão burocrática— vendagem, pagamento de direitos autorais e assessoria jurídica — e trata de encaminhar as demais produções, aquelas que vão levar o autor a construir sua carreira literária. Fonte: Reportagem de Luciano Marques para o Jornal Correio Braziliense, Diversão&arte • Brasília, sexta-feira, 3 de setembro de 2010.

XXX Concurso Estadual/Nacional e I Concurso Interno de Trovas da Academia de Trovas do Rio Grande do Norte – Natal/2010 Prazo: 30/09/2010.

1) ESTADUAL – Tema: AUSÊNCIA e cognatos. Coordenador: José Lucas de Barros Travessa Alda Ramalho Pereira, 1010 – Tirol Natal – RN CEP: 59014-605.

2) NACIONAL – Tema: INSPIRAÇÃO e cognatos. Coordenador: Francisco Neves de Macedo Rua Ribeirão Preto, 218 – Gramoré

Natal – RN CEP: 59135-550. 3 trovas por concorrente. Remessa, pelo sistema de envelopes, para os respectivos coordenadores.

XVII Prêmio Cidade de Conselheiro Lafaiete Inscrição até 30 de setembro de 2010 A ACADEMIA DE CIÊNCIAS E LETRAS DE

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CONSELHEIRO LAFAYETTE torna públicas as normas para o XVII Concurso Literário Internacional “Prêmio Cidade de Conselheiro Lafaiete”, que será regido pelas seguintes disposições: DOS OBJETIVOS Art. 1º. O “Prêmio Cidade de Conselheiro Lafaiete” foi instituído em 1994 pela Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette – ACLCL – e vem sendo concedido anualmente, ininterruptamente, com o objetivo de incentivar e divulgar a cultura literária, tanto em prosa como em verso, e estimular a produção e a divulgação das obras de poetas e prosadores em língua portuguesa. DA ABRANGÊNCIA Art. 2º. Poderão participar do concurso quaisquer escritores em língua portuguesa, que possuam maioridade civil na data da inscrição, observada a legislação dos países de origem. DAS CATEGORIAS Art. 3º. Os trabalhos poderão ser inscritos nas categorias abaixo discriminadas e deverão obedecer às características a elas pertinentes: a) Conto; b) Crônica; c) Poema (exceto soneto); d) Soneto. Art. 4º. Os trabalhos deverão ser inéditos, inclusive em meio eletrônico. Parágrafo único – Caso seja detectada a participação de trabalho que não seja inédito, se a detecção for feita antes da premiação, o trabalho será desclassificado; se for feita depois, o prêmio será cassado, sem prejuízo das ações judiciais cabíveis. DA INSCRIÇÃO Art. 5º. A inscrição dar-se-á com o envio dos trabalhos e da documentação exigida para: Concurso Literário Internacional “Prêmio Cidade de Conselheiro Lafaiete”

Caixa Postal 111 Conselheiro Lafaiete – MG CEP.: 36.400-000. Art. 6º. O prazo de inscrição é de 1º. (primeiro) de junho a 30 (trinta) de setembro de 2010 (dois mil e dez). § 1º. Para a inscrição de trabalhos será considerada a data da postagem. § 2º. Os trabalhos inscritos fora do prazo estarão automaticamente desclas-sificados. § 3º. Deverá constar como remetente o mesmo endereço do destinatário, ou seja, Caixa Postal 111, 36.400-000, Conselheiro Lafaiete, MG, para que não haja identificação. Art. 7º. Os trabalhos deverão ser enviados em 3 (três) vias, impressos em um só lado do papel, e deverão conter, no cabeçalho da primeira folha, nesta ordem: a categoria em que concorrem, o pseudônimo do autor e o título do trabalho. Parágrafo único – Qualquer informação, no trabalho ou em seu teor, ou em qualquer parte do envelope externo, que identifique o autor, tornará o trabalho, automaticamente, desclassificado. Art. 8º. Juntamente com o(s) trabalho(s), deverá ser enviado um envelope lacrado, identificado externamente apenas com o pseudônimo do autor e o nome das obras com as quais concorre, e dentro do qual deverão estar: a) O nome completo do autor e o seu pseudônimo; b) As categorias e os nomes dos trabalhos com os quais concorre; c) O endereço convencional completo do autor e o número de ao menos um telefone para contato; d) Endereço eletrônico (e-mail) para contato, se possível, podendo ser de uma pessoa conhecida; e) Cópia legível do documento de identidade do autor; f) Comprovante de depósito da taxa de inscrição.

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Parágrafo único – Será automa-ticamente desclassificado o concorrente que usar o mesmo pseudônimo com que concorreu na versão 2009 deste concurso. Art. 9º. A taxa de inscrição é de R$10,00 (dez reais) por trabalho inscrito. § 1º. – Cada autor poderá concorrer com até 3 (três) trabalhos por categoria. § 2º. – O depósito deverá ser feito na conta corrente n. 11229-3 da agência n. 1429 do Banco Itaú S.A, em favor da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette, CNPJ n. 73.716.680/0001-18. § 3º. – As inscrições que partirem de fora do território brasileiro ficarão isentas do pagamento da taxa de inscrição que, sendo simbólica, ocasionará mais ônus com o envio do dinheiro do que com a própria taxa de inscrição, ficando substituída pelas majoradas despesas de postagens internacionais. DO JULGAMENTO Art. 10. O julgamento dos trabalhos será feito por uma junta de 3 (três) julgadores para cada categoria. Parágrafo único – Os nomes dos 12 (doze) julgadores, de ilibada reputação e de reconhecida capacidade lingüística e literária, serão indicados pela Comissão Organizadora e aprovados pela Assembleia Geral Ordinária da ACLCL. Art. 11. O julgador atribuirá a cada trabalho, individualmente, nota de 5 (cinco) a 10 (dez), admitidas três casas decimais. Art. 12. Não será admitido empate em uma mesma categoria, nas 5 (cinco) primeiras colocações. Havendo notas coincidentes, o desempate será feito pelo critério idade, saindo vencedor o concorrente mais novo, com o objetivo de incentivo. DA DIVULGAÇÃO DO RESULTADO Art. 13. O resultado estará disponível no site da ACLCL (www.aclcl.org.br) a partir do dia 30.10.2010 (trinta de outubro de dois mil e dez). Parágrafo único – A ACLCL enviará

comunicado aos classificados até o 5º. (quinto) lugar em cada categoria. DA PREMIAÇÃO Art. 14. Serão concedidos, aos autores dos trabalhos que obtiverem as 5 (cinco) primeiras colocações em cada categoria, os seguintes prêmios: 1º. lugar – troféu, certificado e publicação, sem ônus para o autor, em antologia; 2º. e 3º. lugares – medalha, certificado e publicação, sem ônus para o autor, em antologia; 4º e 5º. lugares – certificado. Parágrafo único – As publicações em antologia dependerão de autorização prévia, por escrito, do autor, que, autorizando, receberá 1 (um) exemplar da publicação. Art. 15. Independente da classificação anterior, a mesma premiação será concedida, sob as mesmas condições, como prêmio especial, aos trabalhos que versarem sobre a cidade de Conselheiro Lafaiete. Art. 16. Os originais não serão devolvidos sob nenhuma hipótese e, após divulgados os resultados, serão incinerados. Art. 17. A solenidade de premiação será realizada na festividade de fim de ano da ACLCL, no Município de Conselheiro Lafaiete, em data, local e horário a serem divulgados juntamente com o resultado do concurso. Parágrafo único – Caso não possa comparecer à solenidade de premiação, é facultado ao ganhador fazer-se representar. DAS DISPOSIÇÕES FINAIS Art. 18. A ACLCL não remeterá os prêmios, por qualquer meio, aos ganhadores.

Parágrafo único – Os prêmios dos que não comparecerem e não se fizerem representar, ficarão à disposição na sede da ACLCL, mediante contato prévio, até 90 (noventa) dias após a solenidade de premiação, quando serão inutilizados.

Art. 19. Os inscritos, pelo simples ato de inscrição, declaram concordar com todas as disposições do presente edital. Parágrafo único – O não cumprimento, por qualquer inscrito, das disposições deste

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edital,tornará a inscrição sem efeito. Art. 20. Os casos omissos serão resolvidos pela Comissão Organizadora, cuja decisão será irrecorrível, respeitadas as leis maiores.

Conselheiro Lafaiete, 29 de maio de 2010. Douglas de Carvalho Henriques (Presidente) Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette – Caixa Postal 111 – Conselheiro Lafaiete – MG – CEP.: 36.400-000 – [email protected]

Concurso Nacional Intersedes Tema: "Imagem" - apenas uma trova por concorrente Sistema de Envelopes Prazo máximo (prorrogado): as trovas precisam chegar até o dia 30 de setembro. Endereço para Remessa: Concurso Intersedes 2010 A/C de Elisabeth Souza Cruz Rua Santa Marta, 70 Nova Friburgo / RJ CEP: 28 633-080

V Concurso Literário “Cidade de Maringá” Prazo: 15 de outubro de 2010. Promoção: Academia de Letras de Maringá Apoio: União Brasileira de Trovadores Modalidades: 1. TROVA (lírica ou filosófica) 2. SONETO (decassílabo) 3. POEMA LIVRE (máximo 30 linhas) 4. CRÔNICA (máximo 30 linhas) Tema (único) para todas as modalidades: CELEIRO (Não há necessidade de usar a palavra

“Celeiro”) Endereço: Academia de Letras de Maringá Caixa Postal 982 Maringá – PR CEP: 87001-970 Normas: 1- Máximo 03 (três) trabalhos em cada modalidade. 2- Trova: Sistema de envelopes. 3- Demais modalidades: Papel A-4, em quatro vias, Times New Roman, corpo 12, usando pseudônimo. Anexar envelope menor (fechado) indicando externamente a modalidade, título e pseudônimo, e, internamente, identificação do concorrente: nome, endereço completo, telefone, assinatura e e-mail. Todos os textos devem ser inéditos e não poderão ser divulgados por quaisquer meios, total ou parcialmente, até a data da publicação do resultado da seleção. 4- Os resultados serão divulgados, a partir do dia 15 de dezembro de 2010, no site da ALM: www.academiadeletrasdemaringa.com.br. 5- Premiação: Troféu e diploma para 10 (dez) vencedores na modalidade Trova e 05 (cinco) vencedores em cada uma das demais modalidades, em festa programada para junho de 2011. 6- Os trabalhos premiados serão publicados em livro a ser editado pela Academia de Letras de Maringá. 7- Os autores dos trabalhos premiados autorizam sua publicação pela Academia de Letras de Maringá, sem ônus de nenhuma espécie. 8- As decisões das comissões julgadoras serão definitivas. 9- A participação no concurso significa aceitação plena das normas aqui relacionadas. 10- Não poderão participar do concurso os membros efetivos da Academia de Letras de Maringá.

Academia de Letras de Maringá Olga Agulhon (Presidente)

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Concurso de Crônicas - Academia Pedralva de Letras e Artes PRAZO – 15 de outubro de 2010, valendo a data da postagem. TEMA – Raquel de Queiroz (Centenário de Nascimento). NÍVEL – Nacional. Máximo – 02 trabalhos inéditos por autor. Premiação: 10 Vencedoras. FORMA DE ENVIO – Papel A-4, em duas vias, Times New Roman, corpo 14, com pseudônimo. Junto, pequeno envelope, tendo por fora, o título do trabalho, pseudônimo, e, por dentro, o nome do autor, endereço, e-mail (se tiver), assinatura. Endereço: Concurso de Crônicas – Academia Pedralva Letras e Artes A/C Sueli Petrucci. Rua Benedito Queiroz, nº 20 – Bairro Turf-Club Campos dos Goytacazes – RJ CEP: 28.024-040. USAR COMO REMETENTE: Sueli Petrucci Rua Benedito Queiroz, nº 20 – Bairro Turf-Club Campos dos Goytacazes – RJ CEP: 28.024-040. OBS. Crônicas com 40 linhas, no máximo. Em caso de dúvidas, enviem correios eletrônicos para [email protected] ou [email protected] ou [email protected] .

II Concurso de Trovas Poeta Antônio Roberto Fernandes – Academia

Pedralva Letras e Artes PRAZO – 30 de novembro de 2010, valendo a data da postagem. Trovas líricas e/ou filosóficas. TEMA – NOEL ROSA (centenário de nascimento). NÍVEL – Nacional. Máximo – 3 trovas inéditas por autor. FORMA DE ENVIO – Sistema de envelopes. Endereço: II Concurso de Trovas Poeta Antônio Roberto Fernandes. A/C Roberto Pinheiro Acruche. Caixa Postal 123.192 São Francisco de Itabapoana – RJ CEP: 28.230-000. USAR COMO REMETENTE: Luiz Otávio. Caixa Postal 123.192 São Francisco de Itabapoana – RJ CEP: 28.230-000 OBS. É obrigado constar o Tema. Em caso de dúvidas, enviem correios eletrônicos para [email protected] ou [email protected] ou [email protected] .

3º Concurso Cidade de Gravatal de Literatura (Conto e Poesia) Prazo: até 30 de Novembro de 2010 A Prefeitura da cidade de Gravatal e a Academia Gravatalense de Letras, visando valorizar a atividade literária, promovem o 3º CONCURSO CIDADE DE GRAVATAL DE

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LITERATURA de acordo com o regulamento abaixo: REGULAMENTO 1. Os candidatos podem concorrer em duas modalidades literárias: Conto e Poesia, com até (3) três trabalhos por modalidade. 2. Os textos deverão ser originais, isto é, nunca terem sido anteriormente publicados em jornal, revista ou livro. 3. Os trabalhos deverão ser escritos em português, com tema livre, datilografados ou copiados em papel A 4, em uma só face do papel, enviados em (4) quatro vias. 4. As poesias não têm limitação mínima ou máxima de extensão. Os contos terão limite máximo de (5) cinco páginas, em letra 12, fonte Arial, espaço 1.5. 5. Cada texto deverá ser identificado apenas pelo titulo e pelo pseudônimo, não podendo constar, de nenhuma forma, algo que identifique o nome do autor. 6. Os até (3) três textos de cada categoria deverão estar contidos em um só envelope, e com um mesmo pseudônimo. Este envelope será acompanhado por um envelope menor, lacrado, que terá na parte externa a indicação da modalidade a que concorre, conto ou poesia, titulo(s) do(s) trabalho(s) e o pseudônimo do autor. No interior deste envelope uma folha indicará: nome do concorrente, pseudônimo, título(s) do(s) trabalho(s), endereço completo, com telefone e e-mail, se houver. 7. Caso o concorrente desejar participar das duas modalidades – Conto e Poesia – deverá enviar seus trabalhos em envelopes distintos. 8. Serão premiados os três melhores trabalhos de cada categoria. Recebendo os vencedores diárias para um fim de semana, com direito a um acompanhante, em hotel da cidade de Gravatal, em data previamente agendada. Farão juz, também a diploma alusivo. 9. A Comissão Organizadora do concurso poderá, a seu critério, editar ou não uma coletânea com os trabalhos premiados.

Para tanto, os concorrentes, ao enviarem seus textos, concordam em ceder seus direitos para a referida edição. 10. Os trabalhos serão enviados, diretamente ou pelo correio, até o dia 30 de novembro de 2010 para: SECRETÁRIA MUNICIPAL DE TURISMO DE GRAVATAL, SC-438, TREVO DAS TERMAS – Termas CEP 88735-000 GRAVATAL – SANTA CATARINA 11. Informações adicionais poderão ser prestadas pelo telefone (48) 3648 2376 ou pelo e-mail: [email protected] . GRAVATAL – Capital Catarinense das Águas Minerais.

7o Concurso Rogério Salgado de Poesia Prazo: até o dia 30 de novembro de 2010 Devido ao sucesso obtido com as edições anteriores, a Promotora Cultural Virgilene Araújo institui o 7o Concurso Rogério Salgado de Poesia, com o objetivo de incentivar a cultura, a poesia e a leitura de modo geral, além de homenagear este poeta que comemora, este ano, 35 anos de poesia. Poderão participar poetas de todos os estados do país. Cada autor poderá inscrever até três poemas, que deverão estar digitados ou datilografados, de no máximo uma lauda (30 linhas, incluindo espaços de uma linha para outra), e enviados em 03 vias cada um. Os poemas não poderão ter identificação de sua autoria, sendo que no rodapé da página deverá constar apenas o pseudônimo do autor. Anexar à parte, envelope lacrado contendo em seu interior o nome, endereço e telefone e e-mail para contato (se tiver). Por fora do envelope, constar o(s) título(s) do(s) poema(s) e pseudônimo do autor. No ato da inscrição será cobrada uma

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taxa de R$ 5,00 (cinco reais) para despesas de manutenção do concurso, enviada em forma de cheque nominal a Virgilene Ferreira de Araújo. Caso ache mais prático enviar o valor em espécie, será enviado recibo para o poeta inscrito. As inscrições deverão ser enviadas para a Caixa Postal 836 Belo Horizonte/MG Cep: 30.161-970, até o dia 30 de novembro de 2010, fazendo valer a data da postagem. Serão selecionados por um júri composto de dois poetas, convidados pela organização do concurso, além do poeta homenageado, três primeiros lugares, que receberão, além de certificados, um pacote literário composto de excelentes livros e Cds, como incentivo a uma maior incidência de leitura. Caso os jurados achem necessário, serão conferidas menções honrosas. Maiores informações pelos telefones: (31) 3464.8213, 8421.6827 e 8416.8175. Obs: as inscrições enviadas que não obedecerem o regulamento, serão automaticamente desclassificadas.

CONCURSO PARA 2011

XXIV Jogos Florais de Ribeirão Preto e XII Jogos Florais Estudantis de Ribeirão Preto – 2011 Prazo: de 2 de janeiro a 15 de abril de 2011 Temas – Âmbito Nacional / Internacional:

VÍCIO (trovas líricas/filosóficas), LOROTA (trovas humorísticas). Temas – Âmbito Municipal (somente para trovadores de Ribeirão Preto): BRILHANTE (trovas líricas/filosóficas), PROMOÇÃO (trovas humorísticas). Temas – Âmbito Estudantil (para alunos de 5ª a 8ª e ensino médio de todas as redes de ensino de Ribeirão Preto): PERSONAGENS DO FOLCLORE NACIONAL (trovas líricas/filosóficas), SACI (trovas humorísticas). - Não se aceitam variantes. - 3 Trovas por concorrente - Recepção das trovas: de 2 de janeiro a 15 de abril de 2011. - Divulgação da listagem dos vencedores: até 20 de maio de 2011. - As festividades acontecerão durante as atividades da Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto e Aniversário da Cidade, na semana de 19 de junho. Premiação: 05 vencedores (troféu e diploma) 05 menções honrosas (medalha e diploma) 05 menções especiais (medalha e diploma) - Os primeiros cinco vencedores em cada tema do concurso nacional terão direito a estada paga (pernoite e refeições) em hotel, como convidados dos organizadores nos três dias de festividades. Todos os concorrentes estão convidados a participar das festividades. - Apoio: Instituto do Livro e Faculdades COC mais dados poderão ser obtidos na próxima revista.

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www.umcoracaoqueama.blogspot.com

Blog da poetisa Silviah Carvalho (veja biografia nesta revista), composto de poemas de sua autoria e de diversos outros poetas.

http://www.vaniadiniz.pro.br/

Site da escritora Imortal, Dra. Vania Diniz, ph.I., presidente estadual pelo Distrito Federal da Academia de Letras do Brasil Lançamento de livros, artigos, crônicas, prosas, sonetos de sua autoria e de outros autores, escritores consagrados, autores convidados, notícias da Academia de Letras do Brasil, etc.

www.portrasdasletras.com.br

Site do escritor, prof. Hélio Consolaro.

Este sítio é destinado aos estudantes do ensino médio e vestibulandos, atende também, em parte, às expectativas dos estudiosos de língua portuguesa.

Sua existência na rede é resultado de esforços da parceiria entre o provedor Folhanet (Araçatuba-SP- Brasil) e o professor, escritor e jornalista Hélio Consolaro. O primeiro hospeda o sítio, o segundo coordena o seu conteúdo.

Ele é totalmente mantido pela iniciativa privada e não cobra de seus usuários por seu conteúdo.

A reprodução de seu conteúdo é livre, desde que o usuário cite o autor do texto e a fonte, no caso, www.portrasdasletras.com.br

O site possui artigos/ensaios, como corrigir redação, curiosidades, dicionários, entrevistas, resumos de livros, orientações, vestibulares, etc.

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http://www.jornaldepoesia.jor.br/

Site do poeta Soares Feitosa. Composto de milhares de poetas e poesias, artigos, biografias, ótima fonte de pesquisa.

www2.academia.org.br

Academia Brasileira de Letras é uma instituição que foi fundada em 20 de julho de 1897. Composta por 40 membros efetivos e perpétuos, eleitos em votação secreta e 20 sócios correspondentes estrangeiros, tem por fim o cultivo da língua e a literatura nacional.

No site pode-se encontrar a biografia e bibliografia de todos os seus membros desde a sua fundação, além de textos selecionados de cada um deles.

Observação: Algumas imagens utilizadas na revista foram obtidas na internet, e não pôde ser dado os devidos créditos aos autores, por não ter sido possível obter os nomes dos mesmos.