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VII ESOCITE.BR tecsoc - ISSN∕ 1808-8716 Luiz, Silva. Anais VII Esocite.br/tecsoc 2017; 2(gt30):1-13

A educação para a sustentabilidade no contextoda exploração dos recursos culturais e naturais noentorno da produção e comercialização da erva-mate (Ilex paraguariensis)

G30 - Avanços Tecnocientíficos e os Desafios no Campo daAlimentação

Ricardo Gomes LuizMaclovia Corrêa da Silva

Resumo: A produção de erva-mate (Ilex paraguariensis), planta nativa de ecossistemas do sul daAmérica do Sul, como a Floresta com Araucária, tem sido objeto de prospecções para desenvolvimentode seu mercado, bem como de estudos científicos para ampliar o conhecimento acerca de seus efeitosna saúde e bem-estar humanos. Assistiu-se recentemente à ampliação de colheita da planta e estima-se que há espaço para crescimento do número de consumidores e formas de uso da erva comomatéria-prima na alimentação, medicina, cosméticos e produtos de limpeza, além das bebidastradicionais como chás, chimarrão e tererê. Ao mesmo tempo que se assume perspectiva otimista parao futuro, o contexto da produção da erva-mate tem forte diálogo com o passado. A planta teve papelprotagonista na economia entre os séculos XIX e XX, propiciando a geração de receitas e consolidaçãode oligarquias. A erva-mate também enseja um riqueza histórico-cultural em outros aspectos,envolvendo povos indígenas, jesuítas, agricultores, comerciantes e industriais. As atividades dessesatores trazem, ainda hoje, elementos relevantes para a construção de saberes. É um conjunto deconhecimento que se conecta com o desenvolvimento de artefatos vinculados aos modos de consumo,com técnicas e tecnologias para cultivo, colheita, beneficiamento da planta e manutenção de tradiçõese do meio natural que sustenta boa parte da produção da planta no sul do Brasil. Com base nestecontexto, o presente trabalho discute a educação para a sustentabilidade no entorno do que se propõecomo desenvolvimento do mercado da erva-mate. O percurso metodológico envolve a revisãobibliográfica, a análise documental e a observação do exercício de atores que atuam no cultivo eprocessamento da planta nos dias atuais. Aportam-se os estudos Ciência, Tecnologia e Sociedadecomo embasamento teórico para favorecer o entendimento do circuito entre erva-mate, atores,passado, presente e futuro. Revelam-se conflitos e contradições acerca das relações ambientais e nasassociações e dissociações entre os saberes tradicionais com as pesquisas científica atuais.

Palavras-chave: Erva-mate; Estudos CTS; Educação; Sustentabilidade.

VII ESOCITE.BR tecsoc - ISSN 1808-8716 Luiz, Silva. Anais VII Esocite.br/tecsoc 2017; 2(gt30):1-∕ 13

INTRODUÇÃO

A erva-mate (Ilex paraguariensis) é uma espécie que naturalmente ocorre em

ecossistemas associados ao bioma Mata Atlântica – a Floresta Ombrófila Mista (Floresta com

Araucária), a Floresta Estacional Semidecidual e Floresta Estacional Decidual. Sua

distribuição se dá em grandes extensões nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande

do Sul e também em áreas do Mato Grosso do Sul, em pequenas porções nos estados de São

Paulo e Minas Gerais e em parte dos territórios do Paraguai e da Argentina (OLIVEIRA;

ROTTA, 1985).

A produção e comercialização da erva-mate foi determinante para a ocorrência de

ciclos econômicos nos estados do Sul do Brasil (GERHARDT, 2013). O Paraná foi um dos

principais beneficiados, tendo o ciclo da erva-mate como muito relevante para o

desenvolvimento econômico do estado entre os séculos XIX e XX (COSTA, 1995) – fato que

se explica pela abundância da planta em áreas de Floresta com Araucária, ecossistema que

teve grande abrangência no território do estado.

Atualmente, se planeja a ampliação de produção e o desenvolvimento de mercados

consumidores de erva-mate e produtos derivados (BERTÉ, 2011; VIEIRA, 2013). Entre os

anos de 2012 e 2015, assistiu-se uma grande intensificação da extração da planta. Municípios

da região Centro Sul do estado do Paraná, uma das principais produtoras brasileiras, viram

esses números se multiplicarem. São Mateus do Sul, por exemplo, extraia perto de 40 mil

toneladas de erva-mate em 2012. Este número evoluiu para mais de 88 mil toneladas em 2015

(INSTITUTO PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL,

2017).

Mais conhecida por seu consumo em forma de chimarrão, tererê e chás, a erva-mate

também tem outros usos. Estudos e pesquisas científicas buscam soluções para aumento de

produtividade de plantios e também investigam características físico-químicas da planta, a fim

de identificar benefícios à saúde ou uso da planta como matéria-prima em alimentos,

cosméticos e produtos de limpeza (EMBRAPA FLORESTAS, 2017). Carvalho (2017) e

(2011) indicam, ainda, outros usos possíveis para a erva-mate, como para adubo de

hortigranjeiros, na alimentação animal, uso medicinal e paisagístico.

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O cultivo da erva-mate se dá por meio da associação da planta com áreas com

vegetação nativa, a que se dá o nome de cultivo sombreado, ou em culturas de monocultura,

desvinculadas das áreas naturais, conhecidas como a pleno sol. A etapa de colheita consiste na

extração das folhas, tanto no modo sombreado ou a pleno sol, para posterior processamento,

beneficiamento e adequação à forma de consumo final – sapeco, moagem, torrefação ou em

forma de extratos (EMBRAPA FLORESTAS, 2017).

A conservação da Floresta com Araucária no sul do Brasil – ecossistema que abriga a

maior porção de formação vegetacional onde ocorre a erva-mate – tem um papel importante

no mercado atual e na projeção do mercado futuro da erva-mate, em razão de boa parte da

planta ser extraída de cultivos associados ao ecossistema (MARQUES, 2014; SOUZA;

CHAIMSOHN, 2012). Ainda que haja tecnologias para produção de erva-mate fora de seus

ambientes naturais, é nesta floresta onde estão os ervais nativos, com suas erveiras para o

fornecimento das folhas de erva-mate consideradas de qualidade superior pelo mercado

consumidor (MACCARI JR. et al., 2006; MARQUES, 2014).

A planta – “uma arvoreta do porte da laranjeira, alcançando excepcionalmente oito a

dez metros de altura” (KARAS, 1982) – tem associação intensa com o ambiente, dependendo

de aves (principalmente o sabiá) para a dispersão de suas sementes, do solo úmido da

serapilheira para dar as condições para sua germinação, do sombreamento de árvores de

grande porte – como as araucárias, imbuias e sapopemas– para permitir seu crescimento e de

insetos para sua polinização (CARVALHO, 2017; KARAS, 1982; OLIVEIRA; ROTTA,

1985). Fatores como topografia e climas temperados e úmidos – constituídos por médias

amenas de temperaturas e regime regular de chuvas –, também são fatores do ecossistema

relevantes para a erva-mate (KARAS, 1982; OLIVEIRA; ROTTA, 1985).

Em meio a este cenário, inserem-se indústrias e relações de mercado que impactam e

determinam a cadeia produtiva da erva-mate e seu mercado consumidor. Insere-se também um

contexto histórico, o qual oferece associações com os atuais padrões de produção e consumo

da erva-mate, bem como as prospecções para o futuro da produção e comércio da erva-mate.

A erva-mate foi cientificamente descrita pelo botânico francês Auguste de Saint-

Hilaire em 1820, mas muito antes disso já fora objeto de descoberta e consumo por povos

indígenas da América do Sul (GERHARDT, 2013), que desenvolveram as técnicas de

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identificação da planta em meio a Floresta, as primeiras tecnologias para seu processamento e

utensílios, como cuias e bombas, que até hoje servem para o consumo do mate . Ao longo do

tempo, o uso da erva-mate foi disseminado pelos jesuítas portugueses e espanhois

especialmente nos estados do sul do Brasil, assim como na Argentina, Chile, Paraguai e

Uruguai (COSTA, 1995), inserindo-os na cultura cabocla e permanecendo até hoje – de

maneira marcante – na cultura desta região.

Com base neste contexto, este artigo discute como a educação para a sustentabilidade

se associa ao desenvolvimento do mercado da erva-mate. Relações são traçadas para conectar

a busca convencional pelo crescimento de um mercado, a necessidade de se manter o

patrimônio natural da Floresta com Araucária que fornece a matéria-prima, bem como se

desenha a contraposição dos saberes tradicionais com a pesquisa científica em torno desse

mesmo mercado.

METODOLOGIA E APORTE TEÓRICO

O trabalho de revisão bibliográfica e documental foi a primeira etapa do processo

metodológico para estruturação deste artigo. Valeu-se do aporte teórico sobre a cultura erva-

mate (Ilex paraguariensis), a educação para a sustentabilidade e os Estudos Ciência,

Tecnologia e Sociedade (CTS). Entrevistas com agricultores dos municípios de São Mateus

do Sul e São João do Triunfo ofereceram dados levantados em campo. Por fim, os

procedimentos metodológicos se completaram com uma análise relacionando as teorias com

os dados de campo.

As informações sobre a erva-mate foram buscadas em fontes oficiais sobre o cultivo e

extração de planta como uma atividade econômica, bem como em manuais para

estabelecimento de cultura de erveiras (EMBRAPA FLORESTAS, 2017). Artigos científicos

ofereceram, principalmente, aportes sobre o desenvolvimento da pesquisa científica acerca da

produção e aplicações e usos diversificados da erva-mate – em alimentos, medicamentos,

cosméticos, entre outras indústrias (MACCARI JR. et al., 2006; SOUZA; CHAIMSOHN,

2012). Teses de doutoramento foram ricas para informar as relações da produção da erva-mate

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com a História e o contexto atual da produção da planta em escala de agricultura familiar

(GERHARDT, 2013; MARQUES, 2014)

Enrique Leff (2009), com suas visões sobre diálogo de saberes para a construção da

sustentabilidade, e Pedro Jacobi (2003), que insere o papel da Educação Ambiental neste

desafio, compuseram o aporte teórico sobre educação para a sustentabilidade.

Os Estudos CTS, em especial os conceitos de construção social da tecnologia,

determinismo tecnológico e teoria ator-rede, apresentaram elementos para construir um

quadro complementar para entender o papel que os ecossistemas da Floresta com Araucária e

povos tradicionais e agricultores desempenham no contexto da produção e comercialização da

erva-mate (BIJKER et al., 1987; BIJKER; PINCH, 2008; CALLON, 1987; FEENBERG,

1992; LATOUR, 2012; MARX; SMITH, 1998).

Entrevistas foram conduzidas com agricultores nos municípios de São Mateus do Sul e

São João do Triunfo, ambos localizados na região Centro-Sul do estado do Paraná, onde

concentra boa parte dos remanescentes da Floresta com Araucária (CASTELLA; BRITEZ,

2004). Os ecossistemas da região integram o domínio de ocorrência de erva-mate, conforme

descreve Oliveira e Rotta (1985) ao apresentar um mapa que abrange boa porção do território

do sul do Brasil e ainda áreas na Argentina e Paraguai.

A análise e discussão de resultados foram feitas com base no entrelace dessas teorias e

diretrizes para produção e consumo de erva-mate com os saberes tradicionais e os desafios de

conservação da Floresta com Araucária.

Também é importante delimitar que o conceito de sustentabilidade empregado como

visão na construção deste artigo se vale do relatório dos limites do crescimento (MEADOWS

et al., 1972) e do trabalho da Comissão Brundtland (BRUNDTLAND et al., 1987) sobre

desenvolvimento sustentável.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Adicionalmente aos aspectos econômicos, a relação da erva-mate com aspectos sociais

e ambientais é relevante. Primeiro, o desenvolvimento das técnicas de preparo para o

consumo remonta a comunidades indígenas, que envolve a extração das folhas, o ponto certo

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de secagem e o modo de preparo (GERHARDT, 2013; MARQUES, 2014). Primeiramente

estes povos ocuparam e viveram na região de ocorrência da planta entre o sul do Brasil,

Paraguai e Argentina. Posteriormente, colonizadores jesuítas, portugueses e espanhóis

adquiriram o hábito e o difundiram pelas terras que exploraram na América do Sul

(BOGUSZEWSKI, 2007).

Gerhardt (2013), em sua tese de doutorado, descreve a história ambiental da erva-

mate, e exemplifica as necessidades e o convívio dos exploradores da erva-mate com a

floresta. São situações que envolvem a habilidade de identificar a planta no meio vegetal, a

instalação de abrigos e estruturas para processamento do produto, bem como formas de

sobreviver no campo.

Acampar e trabalhar na floresta durante semanas requeria saber se proteger do frio,evitar animais perigosos, levar consigo a alimentação e saber como obtê-la noambiente. A caça, a pesca, a extração de palmito, a coleta de frutos e da semente deAraucaria angustifolia, o pinhão, onde ela está disponível, são algumas daspossiblidades de alimentação na floresta. (GERHARDT, 2013, p. 75)

Esses elementos acerca da história da erva-mate e a relação de exploradores com a

planta e seu ambiente se alinham com a perspectiva apresentada por Jacobi (2003) ao conectar

o papel da Educação Ambiental e de educadores para a formação de cidadãos aptos a

entenderem e se inserirem na busca pelo desenvolvimento sustentável. Ao descrever esta

conexão, Jacobi atesta ainda as limitações e extrapolações que o assunto coloca para seu

desempenho.

A necessidade de abordar o tema da complexidade ambiental decorre da percepçãosobre o incipiente processo de reflexão acerca das práticas existentes e das múltiplaspossibilidades de, ao pensar a realidade de modo complexo, defini-la como umanova racionalidade e um espaço onde se articulam natureza, técnica e cultura.(JACOBI, 2003, p. 191)

No âmbito dos Estudos CTS, o conceito da construção social da tecnologia oferece

uma perspectiva para se analisar esta passagem nas relações históricas do cultivo, produção e

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consumo da erva-mate. Tal conceito enfatiza o envolvimento da sociedade no

desenvolvimento e progresso da tecnologia e na confecção de artefatos tecnológicos (BIJKER

et al., 1987; BIJKER; PINCH, 2008).

Na trajetória da erva-mate, associar o conceito aos fatos é simultâneo, sobretudo,

quando se leva em conta os saberes de povos indígenas e agricultores tradicionais. O convívio

deles com as técnicas e tecnologias para identificação das erveiras em meio à Floresta com

Araucária é um exemplo singular de um grupo social nativo. Os colonizadores Jesuítas, a

propósito, também têm sua contribuição na construção social da tecnologia, por conta do

papel que tiveram na recusa e posterior disseminação do hábito de consumir erva-mate.

Seguem-se, concomitantemente, a criação de equipamentos e processos para secagem da

planta e de instrumentos para seu consumo.

Em sua tese de doutoramento, em que foca a produção de erva-mate por agricultores

familiares do Planalto Norte de Santa Catarina, uma outra região importante para a produção

de erva-mate sombreada no Brasil, Anésio Marques (2014) valoriza o conjunto de técnicas e

tecnologias dos pequenos agricultores como uma contribuição à permanência de áreas

remanescentes do meio natural. Apresenta a forma de cultivo da erva-mate sombreada –

cultivada sob a sombra de áreas de floresta – como solução de impacto reduzido para a

agricultura. Esta argumentação do autor faz correspondência ao que Callon (1987) e Latour

(2012) apresentam como Teoria Ator-Rede, no âmbito de CTS.

Tal teoria considera o papel que atores humanos e não-humanos desempenham em

torno de um evento, conceito, circunstância ou algum outro tipo de mecanismo. Desta forma,

seriam questionados os olhares sobre as estratégias de conservação da floresta e

desenvolvimento territorial que consideram apenas a presença humana como protagonista

exclusiva da ação. Baseando-se no conceito de actante, ou seja, o elemento não-humano –

como a atividade econômica da erva-mate e o tipo de cultivo sombreado – atua como um

agente e também determina os processos e rumos que um fato pode tomar.

Consequentemente, o actante deve ser entendido como ator da rede que forma os ecossistemas

da Floresta com Araucária e sua diversidade biológica explorada.

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Complementa-se à teoria ator-rede a abordagem de diálogo de saberes na busca pela

sustentabilidade de Enrique Leff traz um outro olhar para estas relações históricas e presentes

de desbravadores e trabalhadores com a erva-mate.

O saber social emerge de um diálogo de saberes, do encontro de seres diferenciadospela diversidade cultural, orientando o conhecimento para a formação de umasustentabilidade partilhada. Ao mesmo tempo, implica a apropriação deconhecimentos e saberes dentro de distintas racionalidades culturais e identidadesétnicas. O saber ambiental produz novas significações sociais, novas formas desubjetividade e posicionamentos políticos ante o mundo. Trata-se de um saber aoqual não escapa a questão do poder e a produção de sentidos civilizatórios. (LEFF,2009) p. 19

Sob um outro conceito dos Estudos CTS, em um trabalho de campo para verificar o

trabalho de agricultores na lida com erva-mate, verificou-se uma contraposição ao que Marx e

Smith (1998) e Feenberg (1992) chamam de determinismo tecnológico. Este conceito do

campo dos Estudos CTS teoriza, de forma crítica, a essencialidade da Ciência e da Tecnologia

nos processos produtivos. Assim, ambas passam a determinar todos os cursos que geram

conhecimento, desenvolvimento e as condições de comportamento e trabalho das pessoas.

De forma a associar este conceito à prática, verifica-se as tentativas de organizações

sindicais para desenvolver a atividade econômica da erva-mate. É o caso do Sindicato dos

Trabalhadores Rurais de São Mateus do Sul, que busca organizar um sistema produtivo mais

amplo da erva-mate para transformá-la em atividade econômica rentável para seus associados

(LICHESKI; MÖLLER, 2016). Além de ser a planta nativa deste ecossistema, ela faz parte da

paisagem do cotidiano dos produtores rurais da região, os quais estabelecem relação de

interdependência do produto com a floresta em pé.

Em continuidade ao tema desta conversa, o diretor do Sindicato dos Trabalhadores

Rurais, José Licheski, diz que esta questão ultrapassa o âmbito ambiental e pode ser um

contraponto à “revolução verde” – o fenômeno de intensificação de práticas agrícolas de

grande escala, privilegiando a cultura de commodities com o objetivo praticamente exclusivo

de geração de lucro (LICHESKI, 2016). O contraponto neste caso seria a busca por parte dos

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agricultores familiares por inserção mais ampla no mercado agrícola, por intermédio de

práticas mais acessíveis e para as quais eles têm capacidade de alcançar melhores resultados.

Estes anseios dos trabalhadores também têm correspondência com o diálogo de

saberes proposto por Leff.

O saber ambiental faz renascer o pensamento utópico e a vontade de liberdade emuma nova racionalidade na qual se fundem o rigor da razão e os excessos do desejo,a ética e o conhecimento, o pensamento racional e a sensualidade da vida. Aracionalidade ambiental abre caminho para uma reerotização do mundo,transgredindo a ordem estabelecida, a qual impõe a proibição de ser. (LEFF, 2009, p.18)

Uma outra parte deste anseio pode ser verificada em campo, em uma propriedade rural

no interior do município, de posse de Demerval Pessin Farias, associado ao sindicato de São

Mateus do Sul. Ele relata os esforços necessários para manter a qualidade da erva-mate.

Enquanto líder do empreendimento de um sistema, ele identifica e separa as melhores

matrizes da espécie para posterior produção e comercialização de mudas com características

genéticas que, por exemplo, rendam maior produtividade e melhor qualidade da planta com

vistas a ganhar vantagens no mercado (FARIAS, 2016).

No município vizinho de São João do Triunfo, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais

trabalha em busca do melhor aproveitamento deste processo ecológico no interior da Floresta.

O presidente do Sindicato, Nelson Dias da Silva, relata um aspecto novo para o

empreendimento, que seria o cultivo orgânico de erva-mate, o qual se vale da sombra e do

funcionamento da Floresta com Araucária para produção e colheita, evitando o uso de

insumos químicos como agrotóxicos e ainda tendo o intuito de agregar valor ao produto

(SILVA, 2016).

O extrato de aspectos ambientais e sociais do cultivo da erva-mate indicados neste

trabalho trazem, assim, uma boa contribuição para tecer relações com conceitos no âmbito da

educação e sustentabilidade. Permitem, ainda, ampliar tais conceitos quando se associam as

contribuições dos Estudos CTS para desenvolver o olhar sobre os mesmos aspectos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A produção e a comercialização da erva-mate traz um amplo contexto que envolve a

própria espécie nativa, a história e a cultura, bem como os atores humanos e não-humanos que

lidam com esperanças, conflitos e contradições no entorno desta atividade econômica.

A Floresta com Araucária, o ecossistema típico do sul do Brasil que apresenta relações

ecológicas que resultam no mate como produto diferenciado pelo mercado consumidor,

guarda poucos remanescentes de suas áreas naturais. Assim, a porção ambiental da busca pela

sustentabilidade se localiza bem na relação natureza e exploração de recursos naturais, pois,

simplesmente, se não houver eficiência na gestão de manutenção deste patrimônio o estoque

da planta nativa que sustenta a atividade econômica se tornará escasso.

Por outro lado, as condições ecológicas em torno do cultivo da erva-mate também

desenharem relações sociais de descobertas da planta, seu potencial de consumo desde os

povos indígenas e todo o acervo de técnicas e tecnologias que envolve sua produção,

beneficiamento e técnicas de uso e ingestão.

Nesse cenário, assim, tecem-se as relações de Ciência, Tecnologia e Sociedade entre

cultura, história, exploradores, comerciantes consumidores e outros atores como a própria

erva-mate e os ecossistemas que a acolhe. Em paralelo, discute-se, à luz da educação para a

sustentabilidade, os acessos e as relações de domínio sobre os recursos naturais, assim como a

necessidade de se manter o meio ambiente que oferece todos os elementos e aspectos que

envolvem pessoas, flora e fauna selvagens.

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