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@\È> 7 11-1948 Ano VIU Diretor e redator: MUCIO LEÃO. Gerente: LEONARDO MARQUES. Secretário: SÉRGIO R. VELLOZO. PREÇO Cr$ 2,00 N.° 12 Vol. IX Noticia sobre Luiz Figueira Nasceu em Almodôvar, Portugal, em 1574 ou 1575, e era filho de Diogo Rodri- gucs e Mayor Revet. En- trou na Companhia de Je- súis em Évora em 1592; na- quela cidade fez os estudos de Humanidades, Filosofia ' Teologia, e se ordenou sa- cerctote. Em 1602 embarcou para o Brasil, destinando-se à Bahia. Ali redigiu a Carta Bienal de 1602 e 1603 e du- rante um ano exerceu o cargo de Ministro do Cole- gio. Em 1607, muito adian- tado em seus estudos tupis, parte êle, em companhia do Padre Francisco Pinto e 60 índios, de Pernambuco para o Maranhão: Percorreram então vasta região do Nor- deste: atravessaram o Ja- guaríbe, visitaram a terra de Ibiajoba, a aldeia de Ju- ropariaçú (do Diabo Gran- de), chegando até o Rio Grande do Norte. Sofreram ataques cruéis de índios e de enfermidades, e regres- saram a Pernambuco. Em 1623, realiza êle o seu grande sonho: encontra-se no Maranhão trabalhando; foi identificar aquela terra e a gente que existe com as doutrinas do seu catecis- mo. Mas o Maranhão, a esse tempo, é um Estado inde- pendente do Brasil: e cum- pre conhecer-se toda a sua extensão para se poder agi- tar em Portugal as conver- sações acerca dos problemas ligados à organização da nova terra. Em janeiro de 1636 parte Luiz Figueira do Maranhão, levando consigo o irmão coadjutor João de Avelar, para ir conhecer o Amazonas. Visita então o porto de Una (a légua e meia da cidade de Belém), o Camtttá, o Guarajá, a ai- déia de Maturú, Em 1637 esteve em Lis- boa, e ali publicou o Memo- rial sobre as terras e gente do Maranhão, Grão Pará e Rio das Amazonas, trabalho que teve o duplo fruto de determinar por um lado a criação da administração eclesiástica do Estado do Maranhão e por outro lado chamou nova atenção para o problema das Missões e aldeias dos Índios. Por patente de Roma de 3 de Junho de 1639, foi o Bibliografia de Luiz Figueira ²Arte da lingua brasilica, •composta pelo Padre Luís Figueira, da Com- panhia de IESD, Teó- logo. (Trigrama da Com- panhia) Em Lisboa com licença dos Superio- res por Manoel da Silua. In-8.°, com 95x145 mm. e 2 f. hão numeradas e mais 91 ff. numeradas (182 páginas). No fim, em folha solta LAVS DEO VlRGINIQUE MA- TRI, e no verso uma vi- nheta de Nossa Senhora. Não traz data; mas é provavelmente de 1621. ²Arte de gramática da lingua brasilica fio p. Luis Figueira, teólogo da Companhia de Jesus. (Trigrama da Compa- nhia de Jesus) Lis- bõa, na oficina de Mi- guel Deslandes, na rua da Figueira, ano de 1687, com todas as licenças ne- cessárias. In-8.° 100x140 mm. e 4 ff. preliminares, mais 168 ipp. numeradas. ²Arte da gramática da lingua do Brasil, com- posta pelo F. Luis Fi- gueira, natural de Almo- dovar. Quarta impres- são, Lisboa, na oficina Patriarcal, 1795, in-4S°. de 2 ff. prelim. e 103 pp. num. ²Gramática da língua ge- rai dos índios do Brasil, rcimpressa pela primei- ra vez neste continente depois de tão longo tem- po de sua publicação em Lisboa, oferecida asm. imperial, atenta ^ sua augusta vontade mani- testada no Instituto His- tórico e Geográfico, em testemunho de respeito, (Continua na página 148) B* AUTORES E LIVROS a seus assinantes Todo aquele que tomar uma assinatura de "Autores e Livros" se tornará concurrente, em 31 de Dezembro proxi- mo, a uma coleção dos oito volumes da primeira fase dessa Publicação (Agosto de 1941 a Março de 1945). Essa coleção completa custa hoje, quando raramente aparece, seis a dez mil cruzeiros. Um fascículo de "Autores e Livros" vendia-se a cin- qucnta centavos, na fase em que essa publicação era o suple- mento literário de "A Manhã". A coleção completa de "Autores e Livros", de Agosto de 1941 a Março de 1945, ficou representada por cento e cinqüenta fascículos, o que, ao Preço da ocasião, daria um total de 75 cruzeiros. Essa co- leção, entretanto, quando hoje rarissimamente aparece, atinge ao custo de seis a dez mil cruzeiros. Faça a sua coleção de "Autores e Livros , «» estar* guardando um trabalho destinado à maior v|1?rl»«?,°- As asinaturas são feitas a partir do n.° 1 (8-6-18*»). Padre Luiz Figueira no- meado Superior da Missão do Maranhão. Ao regressar para o Ma- ranhão em 1643, trouxe êle consigo 17 jesuitas, tendo viajado na mesma nau que trazia para o Maranhão Pe- dro de Albuquerque, herói da guerra de Pernambuco, neto de Jeronimo de Albu- querque Maranhão. Vinha êle como governador do novo Estado. Tendo a nau saído de Lisboa a 30 de Abril de 1643, a 30 de Ju- nho, nas proximidades das costas paraenses, foi atacado por furiosíssimo temporal. Vendo a embar- cação em perigo, 22 pessoas (entre as quais três eram padres da Companhia), me- teram-se em um batei. Es- tes salvaram-se. As demais pessoas que vinham a bor- do eram num total de 173 todas morreram. Luiz Figueira, juntamente com nove religiosos e vá- rios outros portugueses, fi- cou em uma jangada, ao sa- bor das ondas. Esta foi dar à ilha de Marajó, e ali os Aruás, que estavam cm guerra com os portugueses, os fizeram prisioneiros, e por fim os devoraram assa- dos. A morte de LúTz Fi- gueira supõe-se que ocorreu a 3 de Julho daquele ano de 1643. A POROROCA LUIZ FIGUEIRA Este rio (como outros ai- guns d'estas partes) desta sua fos a 8 ou 10 legoas fas huã Paroroca, que he hum notauel segredo da nature- zí); c he da maneira seguin- te: nas luas cheias e nouas, em que são agoas uiuas, cm certo lugar no principio da enchente da maré, se re- preza a agoa por algu cs- paço (sem se saber a cauza desta repreza, nem o porque se naõ repreza nos outros tempos e marés) e dali co- meça a correr e encher tanta fúria, fazendo 3 ondas * huãs após outras sendo a dianteyra mais pequena, e logo a 2.a mayor; e a Ü.E muito mayor, que todas as canoas que diante acha, be estaõ perto da terra as fas cm pedassos ou as alaga: e com esta fúria uai conti- nuando 20 ou 30 ou mais legoas em breuissimo tem- po, deixando logo a maré de todo quasi chea. E por- que muitas canoas, são as uezes obrigadas a encon- trarse esta Pororoca [sic] ou indo ella ou uindo contra ella; o reme- dio que tem he que uindo a Pororoca [sic] se põe muito direitos a proa ou popa à correte e os índios remeyros se poe em nado, o procuraõ de leuantar a ca- noa, e ajuda-la a que se leuante para que lhe entre a onda por baixo, e desta ma- (Continua na página Ut) A' R T E , DALINGVA '. BRASILICA, Cmposia pelo Padre Luis Fí- gueira daCompanhia de ; / \ lESVtTheokgo w ^OS>»*^fí^C'j'\^' , EM LISBOA. Com lícençidos Superiores. T«rMt»itliiSiln, Página de rosto da primeira edição da ARTE DA LINGUA BRASILICA, de Luiz Figueira. (1576?) Parece somente existir em todo o mundo Um exemplar o troai pertence á Biblioteca Nacional de Lisboa SUMARIO pagina 137: ²Notícia sobre Luís Fi- gueira. ²Bibliografia de Luis Fi- gueira. ²A Pororoca, de Luís Fi- gueira. ²Faria Neves Sobrinho. ²Conferência de A. Car- neiro Leão. PAGINAS 138 E 139: ²Relação de vários su- cessos acontecidos no Maranhão e Grão-Pará, assim de paz como de guerra, contra o rebelde holandês, ingleses e fran- ceses e outras nações (1631), de Luís Figueira. ²Virgílio Melo Franco. PAGINA 140: ²Página dos Autores No- vos XXII Van Jaía ²Van Jata. ²Oferenda. ²Não sei porque te amo tanto. ²Excertos da "Ronda dos teus olhos". ²Elizabeth e Essex, ²A Cruz de Brilhantes. ²Cântico de amor às t'Ó- cas adolescentes. ²Poema para Manú. ²Quando você se fez sau- dade. ²O Cântaro. PAGINA 141: ²Raridades Ae Eaimundo Correia: ²Flora de táiuiiSles. ²Conselhos. ²As "Poesias Completas" de Raimuw.ci© Correia) (transcrição tio "Jornrl do Comércio"). PAGINAS 142 IS 143: ²IJvros Ncvísí;, PAGINA 144: ²Clássicos; Jtacit^GX). PAGINA 145: ²História <!o jforaalisni» no Brasi!: Ferreira dt Araujo. ²Ferreira tle A r a u j S (nota biográfica). ²Bibliografia fie Ferreira de Araujo, ²Algumas fontes sôbrc Ferreira de Araujo. ²Camões e es Lusíada:, de Ferreira de Araujo. ²O Divórcio e o Senado, de Ferreira üe Araujo. ²Do artigo cie apresenta- ção da "Gazeta de Noti- cias", Lulú Sênior Fer-( reira de Araujo). PAGINA 146: ²Santa Iria, cie Mucio Leão. PAGINA 147: ²"O Corvo", ile Poe. VII Segunda tradução d c João Kopke (em verso). Conferências de A. Carneiro Leão No próximo dia 11, na Academia Brasileira de Le- trás, o professor Antonio Carneiro Leão, diretor da Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, pro- nunciará uma conferência sob o título de Visão pano- râmica los Estados Unidos. Será a primeira de uma périe de quatro conferências, devendo as demais realizar- se em dias que serão opor- tunamente mareados, nos lu- gares e sob os títulos que seguem:\ Vida Univeraitàáría Nor- te-Americana, no Instituto Brasil - Estados Unidos; A formação do jornalista nos Estados Unidos, na Associa- ção Brasileira de Imprensa; Projeção Intennadonal doi- Estados Unidos, oo I. B, E. C. C. Faria Neves Sobrinho Os filhos do Recife vão prestar a Faria Neves So- brinho uma expressiva e justa homenagem: a de er- guer, em uma das praças públicas da sua. cidade, o busto, em bronze, daquele encantador poeta.. Faria Neves Sobrinho bem merece essa homenagem. Foi um cantor dos mais ins- pirados de soa época, um meditativo e melancólico co- ração. Se quiséssemos pro- curar parentescos espirituais, (Continua na página 1(8)

A' R T E - BNmemoria.bn.br/pdf/066559/per066559_1948_00012.pdf · 2012-05-07 · o irmão coadjutor João de Avelar, para ir conhecer o Amazonas. Visita então o porto de Una (a légua

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@\È>7 11-1948Ano VIU

Diretor e redator: MUCIO LEÃO.Gerente: LEONARDO MARQUES.Secretário: SÉRGIO R. VELLOZO.

PREÇO — Cr$ 2,00

N.° 12Vol. IX

Noticia sobre Luiz FigueiraNasceu em Almodôvar,

Portugal, em 1574 ou 1575,e era filho de Diogo Rodri-gucs e Mayor Revet. En-trou na Companhia de Je-súis em Évora em 1592; na-quela cidade fez os estudosde Humanidades, Filosofia' Teologia, e se ordenou sa-cerctote.

Em 1602 embarcou parao Brasil, destinando-se àBahia. Ali redigiu a CartaBienal de 1602 e 1603 e du-rante um ano exerceu ocargo de Ministro do Cole-gio.

Em 1607, já muito adian-tado em seus estudos tupis,parte êle, em companhia doPadre Francisco Pinto e 60índios, de Pernambuco parao Maranhão: Percorreramentão vasta região do Nor-deste: atravessaram o Ja-guaríbe, visitaram a terrade Ibiajoba, a aldeia de Ju-ropariaçú (do Diabo Gran-de), chegando até o RioGrande do Norte. Sofreramataques cruéis de índios ede enfermidades, e regres-saram a Pernambuco.

Em 1623, realiza êle o seugrande sonho: encontra-seno Maranhão trabalhando;

foi identificar aquela terrae a gente que lá existe comas doutrinas do seu catecis-mo. Mas o Maranhão, a essetempo, é um Estado inde-pendente do Brasil: e cum-pre conhecer-se toda a suaextensão para se poder agi-tar em Portugal as conver-sações acerca dos problemasligados à organização danova terra. Em janeiro de1636 parte Luiz Figueira doMaranhão, levando consigoo irmão coadjutor João deAvelar, para ir conhecer oAmazonas. Visita então oporto de Una (a légua emeia da cidade de Belém),o Camtttá, o Guarajá, a ai-déia de Maturú,

Em 1637 esteve em Lis-boa, e ali publicou o Memo-rial sobre as terras e gentedo Maranhão, Grão Pará eRio das Amazonas, trabalhoque teve o duplo fruto dedeterminar por um lado acriação da administraçãoeclesiástica do Estado doMaranhão e por outro ladochamou nova atenção parao problema das Missões ealdeias dos Índios.

Por patente de Roma de3 de Junho de 1639, foi o

Bibliografia de Luiz FigueiraArte da lingua brasilica,•composta pelo PadreLuís Figueira, da Com-panhia de IESD, Teó-logo. (Trigrama da Com-panhia) — Em Lisboacom licença dos Superio-res por Manoel da Silua.In-8.°, com 95x145 mm.e 2 f. hão numeradas emais 91 ff. numeradas(182 páginas). No fim,em folha solta LAVSDEO VlRGINIQUE MA-TRI, e no verso uma vi-nheta de Nossa Senhora.Não traz data; mas éprovavelmente de 1621.Arte de gramática dalingua brasilica fio p.Luis Figueira, teólogoda Companhia de Jesus.(Trigrama da Compa-nhia de Jesus) — Lis-bõa, na oficina de Mi-guel Deslandes, na ruada Figueira, ano de 1687,

com todas as licenças ne-cessárias.

In-8.° 100x140 mm. e4 ff. preliminares, mais168 ipp. numeradas.Arte da gramática dalingua do Brasil, com-posta pelo F. Luis Fi-gueira, natural de Almo-dovar. Quarta impres-são, Lisboa, na oficinaPatriarcal, 1795, in-4S°.de 2 ff. prelim. e 103pp. num.Gramática da língua ge-rai dos índios do Brasil,rcimpressa pela primei-ra vez neste continentedepois de tão longo tem-po de sua publicação emLisboa, oferecida asm.imperial, atenta ^ suaaugusta vontade mani-testada no Instituto His-tórico e Geográfico, emtestemunho de respeito,

(Continua na página 148)*

AUTORES E LIVROSa seus assinantes

Todo aquele que tomar uma assinatura de "Autores eLivros" se tornará concurrente, em 31 de Dezembro proxi-mo, a uma coleção dos oito volumes da primeira fase dessaPublicação (Agosto de 1941 a Março de 1945). Essa coleçãocompleta custa hoje, quando raramente aparece, seis a dezmil cruzeiros.

Um fascículo de "Autores e Livros" vendia-se a cin-qucnta centavos, na fase em que essa publicação era o suple-mento literário de "A Manhã". A coleção completa de"Autores e Livros", de Agosto de 1941 a Março de 1945, ficourepresentada por cento e cinqüenta fascículos, o que, aoPreço da ocasião, daria um total de 75 cruzeiros. Essa co-leção, entretanto, quando hoje rarissimamente aparece,atinge ao custo de seis a dez mil cruzeiros.

Faça a sua coleção de "Autores e Livros , «» estar*guardando um trabalho destinado à maior v|1?rl»«?,°-

As asinaturas são feitas a partir do n.° 1 (8-6-18*»).

Padre Luiz Figueira no-meado Superior da Missãodo Maranhão.

Ao regressar para o Ma-ranhão em 1643, trouxe êleconsigo 17 jesuitas, tendoviajado na mesma nau quetrazia para o Maranhão Pe-dro de Albuquerque, heróida guerra de Pernambuco,neto de Jeronimo de Albu-querque Maranhão. Vinhaêle como governador donovo Estado. Tendo a nausaído de Lisboa a 30 deAbril de 1643, a 30 de Ju-nho, já nas proximidadesdas costas paraenses, foiatacado por furiosíssimotemporal. Vendo a embar-cação em perigo, 22 pessoas(entre as quais três erampadres da Companhia), me-teram-se em um batei. Es-tes salvaram-se. As demaispessoas que vinham a bor-do — eram num total de173 — todas morreram.Luiz Figueira, juntamentecom nove religiosos e vá-rios outros portugueses, fi-cou em uma jangada, ao sa-bor das ondas. Esta foi darà ilha de Marajó, e ali osAruás, que estavam cmguerra com os portugueses,os fizeram prisioneiros, epor fim os devoraram assa-dos. A morte de LúTz Fi-gueira supõe-se que ocorreua 3 de Julho daquele anode 1643.

A POROROCALUIZ FIGUEIRA

Este rio (como outros ai-guns d'estas partes) destasua fos a 8 ou 10 legoas fashuã Paroroca, que he humnotauel segredo da nature-zí); c he da maneira seguin-te: nas luas cheias e nouas,em que são agoas uiuas,cm certo lugar no principioda enchente da maré, se re-preza a agoa por algu cs-paço (sem se saber a cauzadesta repreza, nem o porquese naõ repreza nos outrostempos e marés) e dali co-meça a correr e encher cótanta fúria, fazendo 3 ondas *huãs após outras sendo adianteyra mais pequena, elogo a 2.a mayor; e a Ü.Emuito mayor, que todas ascanoas que diante acha, beestaõ perto da terra as fascm pedassos ou as alaga: ecom esta fúria uai conti-nuando 20 ou 30 ou maislegoas em breuissimo tem-po, deixando logo a maréde todo quasi chea. E por-que muitas canoas, são asuezes obrigadas a encon-trarse cõ esta Pororoca[sic] ou indo cõ ella ouuindo contra ella; o reme-dio que tem he que uindoa Pororoca [sic] se põemuito direitos cõ a proa oupopa à correte e os índiosremeyros se poe em nado, oprocuraõ de leuantar a ca-noa, e ajuda-la a que seleuante para que lhe entre aonda por baixo, e desta ma-

(Continua na página Ut)

A' R T E, DALINGVA'.

BRASILICA,

Cmposia pelo Padre Luis Fí-gueira daCompanhia de

; / \ lESVtTheokgo

w^OS>»*^fí^C'j'\^'

, EM LISBOA.Com lícençidos Superiores.

T«rMt»itliiSiln,

Página de rosto da primeira edição da ARTE DA LINGUABRASILICA, de Luiz Figueira. (1576?) Parece somenteexistir em todo o mundo Um exemplar — o troai pertence

á Biblioteca Nacional de Lisboa

SUMARIOpagina 137:

Notícia sobre Luís Fi-gueira.Bibliografia de Luis Fi-gueira.A Pororoca, de Luís Fi-gueira.Faria Neves Sobrinho.Conferência de A. Car-neiro Leão.

PAGINAS 138 E 139:Relação de vários su-cessos acontecidos noMaranhão e Grão-Pará,assim de paz como deguerra, contra o rebeldeholandês, ingleses e fran-

ceses e outras nações (1631),de Luís Figueira.Virgílio Melo Franco.

PAGINA 140:Página dos Autores No-vos — XXII — VanJaíaVan Jata.Oferenda.Não sei porque te amotanto.Excertos da "Ronda dosteus olhos".Elizabeth e Essex,A Cruz de Brilhantes.Cântico de amor às t'Ó-cas adolescentes.Poema para Manú.Quando você se fez sau-dade.O Cântaro.

PAGINA 141:Raridades Ae EaimundoCorreia:Flora de táiuiiSles.Conselhos.

As "Poesias Completas"de Raimuw.ci© Correia)(transcrição tio "Jornrldo Comércio").

PAGINAS 142 IS 143:IJvros Ncvísí;,

PAGINA 144:Clássicos; Jtacit^GX).

PAGINA 145:História <!o jforaalisni»no Brasi!: Ferreira dtAraujo.Ferreira tle A r a u j S(nota biográfica).Bibliografia fie Ferreirade Araujo,Algumas fontes sôbrcFerreira de Araujo.Camões e es Lusíada:,de Ferreira de Araujo.O Divórcio e o Senado,de Ferreira üe Araujo.Do artigo cie apresenta-ção da "Gazeta de Noti-cias", Lulú Sênior Fer-(reira de Araujo).

PAGINA 146:Santa Iria, cie MucioLeão.

PAGINA 147:"O Corvo", ile Poe. VIISegunda tradução d cJoão Kopke (em verso).

Conferências de A. Carneiro LeãoNo próximo dia 11, na

Academia Brasileira de Le-trás, o professor AntonioCarneiro Leão, diretor daFaculdade de Filosofia daUniversidade do Brasil, pro-nunciará uma conferênciasob o título de Visão pano-râmica los Estados Unidos.

Será a primeira de umapérie de quatro conferências,devendo as demais realizar-

se em dias que serão opor-tunamente mareados, nos lu-gares e sob os títulos queseguem: \

— Vida Univeraitàáría Nor-te-Americana, no InstitutoBrasil - Estados Unidos; Aformação do jornalista nosEstados Unidos, na Associa-ção Brasileira de Imprensa;Projeção Intennadonal doi-Estados Unidos, oo I. B,E. C. C.

Faria Neves SobrinhoOs filhos do Recife vão

prestar a Faria Neves So-brinho uma expressiva ejusta homenagem: a de er-guer, em uma das praçaspúblicas da sua. cidade, obusto, em bronze, daqueleencantador poeta..

Faria Neves Sobrinho bemmerece essa homenagem.Foi um cantor dos mais ins-pirados de soa época, ummeditativo e melancólico co-ração. Se quiséssemos pro-curar parentescos espirituais,

(Continua na página 1(8)

Pagina 138 AUTORES E LIVROS Domingo, 7-11-1948 — Vol. IX, n." 12

Relação de vários sucessos acontecidos no Maranhão e Grão-Pará, assim de pazcomo de guerra, contra o rebelde holandês, ingleses e franceses e outras nações

A Relaçam de vários su-cessos acontecidos no Ma-ranham e Gram Para, as-sim de paz como de guer-ra, contra o rebelde Olan-des Ingreses & Franceses &outras nações (4 páginas)foi impressa em Lisboa, porMatias Rodrigues, em 1631.

Reimprimiu-se nos An-naes da Bibliotheca e Ar-chivo Publico do Pará, I

(1902) 15-25. com notáveisincorrccções, provocadas so-bretudo pelo copista de lin-gua espanhola. Exemplos:o algarismo 2, escrito à cas-telhana, é dos. Como talpalavra dos também é por-tuguesa, mas com significa-ção diferente, quando esteerro se cometeu <e foi maisde umâ vez), ficou falsifi-cada a leitura. Outros êr-ros: en por em, nombre, pornome, etc.

Com alguns acrescenta-mentos existe uma cópia, doséculo XVII. na BNL, Col.Pomb. 479, f. 364-366:Relação de Alguas cousastocantes ao Maranhão eGram Para Escrita pellopadre Luis Figueira daCompanhia de Jesus Supe-rior da Residência que osPadres tem no dito Mara-nhão. E' cópia imperfeita.Manuel de Sousa Dessa (DeEssa, de Eça) aparece sem-pre Manuel de Sousa de Sá.O pronome o vem mais deuma vez suprimido, logode entrada, etc. Publicou-ao Barão de Studart eraDocumentos, I, 243-253, ecom mais alguns erros deleitura, talvez de quem lheministrou a cópia.

Não pudemos conseguiro original impresso em1631, monumento bibliográ-fico raríssimo, de cuja exis-téncia nem sequer suspei-tou Inocêncio. O editor dosAnnaes tampouco diz ondeêle se encontra, referindo-seapenas vagamente à um 6r.Espada, que lhe enviou acópia. Restava-nos 11 <.- repro- .duzir a cópia da BNL. Mas,sendo tão incorreta, nãonos pareceu isso extrema-mente útil. Decidimo-nospor esta solução: corrigir osespanholismos da publica-ção dos Annaes pela cópiada BNL e incluir nela osacrescentamentos desta; enesta completar as lacunas,em confronto com aquela.Tudo dentro da mais abso-luta probidade cientifica,sem uma palavra nossa. Emtodo o caso, não sendo aRelação, tal qual a publica-mos, reprodução materialda dos Annaes, nem' da dosDocumentos, nem da cópiada BNL, achamos preferi-vel, já agora, atualizá-la napontuação e ortografia. Ecom uma vantagem: a de fi-car como espécimen corren-te da forma literária de LuizFigueira.Relação de vários sucessosacontecidos no Maranhão eGrão-Pará, assim de pazcomo de guerra, contra orebelde holandês, ingleses efranceses e outras nações

16 3 1Da curiosidade com que

um senhor planta um jar-dim, de como o cava e regae cerca, para o defender dasinjúrias do tempo e doabrutos animais, que o nãoroam com os dentes, nem osovem com os pés nem comas trombas o focem; e, jun-tamente, de como este se-nhor encarece ao hortelão aguarda dele: entendemos omuito que o estima, e ases-peranças que tem de gosar

da suavidade da fruta desuas árvores.

Com esta semelhança, po-demos de alguma maneiradeclarar e conceber o mui-to que Deus estima estanova Igreja do Maranhão,como jardim seu, em quequere que cresçam e fruti-fiquem as árvores da SantaFé e cjas Virtudes Cristãs,cujo suave fruto pretendecolher. Porque, depois queeste divino Hortelãq o co-meçou a plantar, é muitopara considerar o caso quefaz dele, edificando-lhe nomeio não uma só torre,como da vinha de Israel dizo Profeta Isaias, C. 5, mas3 fortíssimas torres, de quefaz guarda a este seu jar-dim, que são as três reli-giões mendicantes, a saber,a de Nossa Senhora do Car-mo, a dos Capuchos e a daCompanhia de Jesus, asquais, logo em seus princi-pios, trouxe cá, antes dehaver moradores. E, além

(1631)LUIZ FIGUEIRA

E posto que as vitórias esucessos venturosos foramarautos, aieste Maranhão ePará estes anos passados, notempo rie Jeronimo de Al-buqnerque, primeiro cou-quistador, que matou du-zentos Franceses, que lheforam uo encontro, preten-dendo impedir-lhe a entra-da nesta Ilha Grande doMaranhão; e, depois, viaidono seu alcance Alexandrede Moura, com cuja vinda orestante dos Franceses, queeram outros duzentos, des-pejaram o forte S. Filipe,entregando as armas e forteaos Portugueses; e depois,no tempo do Capitão BentoMaciel, que por várias ve-zes tomou os Holandeses,que faziam fumo e tinham

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Autógrafo de Luiz Figueira, existente no "Archivum So-cietatis lesa Eomanum", BRÁS. 8, 511 (Apud Serafim

Leite — LUIZ FIGUEIRA — Lisboa, 1940)

destas forças, que são asprincipais, também defendeeste jardim com as armasdo nosso mui Católico ReiFilipe 3.° de Portugal, quepor meio do esforço de seussoldados ou prendem oupõem em fugida os here-ges Franceses, Holandeses eIngleses, que como animaisimundos e importunos, pre-tendem pisar, com os pés,e focar, com a tromba de' siaa arrogância, este novojardim, e arrancar as raizesdas novas plantas da Fé.cultivadas e regadas comágua pura da Católica dou-trina, com que os religiosossobreditos a refrescam. Eisto com tão feliz sucesso,que não somente a sementemá destes hereges não fru-tifica, antes se extingue, fi-cando eles convertidos e re-duzidos à nossa Santa FéCatólica, como de feito sereduziram estes anos,, todos, .

.iii quase os que se foramtomando em várias ocasiões.

feitorias; e em uma ocasiãocom duas ou três Canoas e6 ou 7 Portugueses, nâomais, acometeu um navio e,pregando-lhe* o leme, oapertou com tanto rigor,que o obrigou a dar-se fogoe abrasar-se. Dos quais su-cessos podemos colher queos ânimos portugueses ain-da têm seu vigor, quandoDeus, por seus justos juizos,os não quere castigar, comofoi na Baía e Pernambuco,em que isto se viu evidente,pelos graves pecados, que sefaziam contra sua divinaMajestade, e houve-se Deuscom eles como antigamentecom os filhos de Israel, deque diz a Escritura Sagra-da, no 3. c. do Livro dosJuizes, que lhes deixouDeus inimigos entre elesmesmos, para os ensinar aguardar sua Santa Lei como rigor do açoute, que deleshaviam de .receber. .E, acomefeito, tbmo os filhas deife-rael se desmandavam em

idolatrias e torpezas, davaDeus ordem com que os ini-migos os atropelassem e ca-tivassem.

Mas, neste nosso Mara-nhão e Grão-Pará, sempreaté agora os ajudou e favo-receu. mostrando nisto quequere cá plantar sua SantaFé. Em especial, sobre oscasos passados, se viu istono sucesso que agora houveno tempo do nosso primeiroGovernador, Francisco Coe-lho de Carvalho, que foi nomodo seguinte.

No ano de 1626, no fimde agosto, chegou a estenovo governo do Maranhãoo primeiro Governadordele, Francisco Coelho deCarvalho, o qual foi rece-bido com grande aplausoda Conquista, o qual aplau-so até hoje se não diminuiu,e sem dúvida será despedi-do com saudades, pelo bomsucesso com que governa.Trouxe em sua companhiao Capitão-mór do Pará, Ma-nuel de Sousa Dessa, o qualem breves dias aviou e man-dou para a praça que El-Rei lhe encomendava, suce-dendo nela ao Capitão Ben-to Maciel Parente, que ha-via de 4 anos a tinha gover-nado com grande aceitaçãoc aumento da Conquista,acoutando, matando e pren-dendo os Corsários, que aela tinham aportado, mos-trando em várias ocasiõesseu valor e bom governo,de que resultou haver na-qaiela Capitania do Parámuitos prisioneiros holan-deses e de outras nações,que com eles vinham mis-tiarsados, a fazer tabaco ecomerciar com o gentio doRio das Almazonas, da ban-da do Norte.

Entre os prisioneiros queali havia era um chamadoDiogo Pórcio, holandês deaiaçõo, o qual pretendeu ai-cançar licença para passar asua terra. E para esse efel-to se insinuou na devoçãocíe certo religioso, que aliresidia, por meio do qual,com importunação, alcan-çou licença do novo Capi-tão Manuel de Sousa DessaCa quem a sua tomada nãocustara nada) para se ir porvia das Antilhas, em com-panhia do mesmo religioso,e coara êle, finalmente, seearabarcou, levando junta-monte consigo, com a mes-ma licença, outros dois seuscompanheiros dos prisio-neiros.

Partidos eles do Pará.veio sua ida à noticia doGovernador, que logo mos-irou disto desprazer. E indodaí a alguns meses visitar aCapitania do Pará mandoudaí precatórios aos Gover-nadores daquelas Ilhas, paraque prendessem os sobredi-tos estrangeiros, que semsua ordem iam contra a queSua Majestade lhe tinhadado (da qual não deviasaber o Capitão que deu alacença, Manuel de SousaDessa nem o religioso queintercedeu). E com esteaviso e precatórios foi opróprio Capitão Bento Ma-ciei Parente, cujos prisio-neiros eles foram. Partiurio Pará. em Junho dc 627.Chegou àquelas Ilhas, achouos estrangeiros. Apresentaseus precatórios, f á -1 o sprender. Mas estando paraos enforcarem, sái por eleso mesmo religioso, que 03levara apadrinhados, e ain-da que à custa do CapitãoBento Maciel,.Já-los soltartmbarea-os consigo, levámosa Espanha, e, daí manda-os

para sua terra, onde embreve os tornaram a armasalguns mercadores,! dando-lhes nau, armas e mercado-rias, que chegariam, comuélcs dizem a setenta milcruzados, para que víe.ssenifazer tabaco, e que logolhes mandaria mais gentee cabedal (que tanto casofazem do tabaco). Vieramem Abril de 628, ao Riodas Almazonas, onde cha-mam o Tucuju, onde se for-tificaram, fazendo um. for-te de madeira, com umacava de. 20 palmos de altoe uma barbacã, de 12 pai-mos de alto, e largo de 15,com seu parapeito em cima,de quatro palmos de alto elargo de outros 4. E todo oforte era quadrado. Tinha4 pedreiros e uma peçagrossa de artilharia. E alichamavam o Gentio, quelhe fazia o fumo, e comer-ciavam com eles, E, por se-rem ali já antigos on quedali tinham ido, lhe sabiammui bem a língua. Noprincipio do ano de 629teve notícia de sua estadao Capitão de Pará, Manuelde Sousa Dessa. Mandou láo Capitão Pero da Costa (oqual é muito grande solda-do, natural de Pemambu-co, e bem exercitado na-quela Conquista do Parácom Índios e estrangeiros)dando-lhe 30 ou 40 solda-dos Portugueses e oitocen-tos índios frecheiros em 40canoas.

Chegou Pero da Costa aosítio dos inimigos. Fez umaCava defronte do seu forte,a tiro de arcabuz, e nela semeteu com sua gente. Tevelogo notícia que em certaaldeia estavam 7 ou -8 ho-landeses. Manda lá vintePortugueses com alguns fre-cheiros índios para os to-marem. Sendo lá, acharam-se com 48 inimigos; masnem por isso os nossoís fi-zerani pé atrás, antes arre-

'meteram a eles com ânimo.E durou o conflito duas ho-ras em uma campina, naqual ficaram 2 Portuguesesmortos, e outros feridos; eda parte dos contrários,outros 2 mortos e outrostaanbéin feridos. E todaa desgraça foi, que os ín-dios. que iam com os Por-tugueses, vendo os naturais,que acompanhavam os Ho-landeses, lançaram-se a elese os perseguiram, fazendoneles grande matança, de-semparando os Portugueses,que em desigual númeropelejavam com os Holan-deses, havendo poucos ín-dios, que ajudavam. E unse outros pelejaram, até que!cansados de uma e outraparte, se foram apartando.E os nossos se achavam jásean pólvora nem pelouros,e assim se vieram para aCava, onde estava o CapitãoPero da Costa com a íiaisgente.

E, achando-se todos fal-tos de munições, e o mimi-go bem fortificado, toma-ram por conselho largar oposto, em que com menosconsideração" que ânimo setinham metido. E assim se .retiraram para o Curupádali 4 ou 5 jornadas, dondeavisaram ao Governador,Francisco Coelho de Oar-valho, que estava no Ma-,ranhão, do que passava.Sentiu o sucesso e retiradao Governador, e com todaa pressa esquipa canoascom soldados e índios doMaranhão, e manda provi-são a Pero Teixeira, de Ca-pitão-mor da jornada, dan-

S«nii.g»77ilU1948 ~ Vol, IX, n,° 12 AUTQgKR E t *»«¦«¦ Pagina 139

fólap #^ios^ sucessos acontecitecomode guerra, contra o rebelde holandês, Meses efrencesese outras naçõesdo-lhe seu regimento, e porordem, que tratasse de im-oedir.ao inimigo o comérciop trato com o gentio, afu-gentando-lhe. e; impedindo-ihe todo o socorro, que delepudesse esperar,1 que eraum modo de cerco, porquesem gentio não poderiam osinimigos conservar.se mui-lo tempo. E, no mais, fizes-

... se o que as ocasiões lhepermitissem.

Recebido o aviso e ordemdo Governador, partiu-sePero Teixeira com a' pressapossível, do Pará. Com agente que lhe veio, foi-se aoCamutá, que é* caminho,aviar de farinhas e de al-gum mais gentio amigo. E,com isso, se foi a juntarcom Pero da Costa, em oCurupá, onde fez resenharte toda a gente. E se achoucom cento e vinte soldadosPortugueses, gente de efei-1.0, poucos em número, masno ânimo mui resolutos, eieriam consigo mil e seis-centos índios frecheiros, osquais todos se embarcaramem noventa e oito canoas,om busca do inimigo, comsuas espias diante em ca-noas ligeiras.

Chegado que foi PeroTeixeira, distância dc meialégua do forte holandês, a28 de Setembro, mandouvarar as canoas em terra,fez sua Cava e trincheira delerra c madeira. E ao diaseguinte foi marchando àvista do forte do inimigo, oqual cercou com uma Cavafunda. Nela meteu a genteE assim os teve cercados odia seguinte, havendo, departe a parte, muitas arca-buzadas, sem da nossa par-te, haver dano algum. Eporque dentro do forte ha-via muitas casas de palmaseca, trataram os nossos delhe dar fogo com frechasacesas. E sem dúvida teriaefeito, senão acerta um in-dio de dar fogo a uma casa,que estava de fora, que ser-viu de aviso aos inimigos,para logo desfazerem ascasas de palma. Vendo unosso capitão que não seconseguia o efeito, retirou-se para a sua trincheira,pretendendo de se ocuparcm dar assaltos aos iniml-Sos. Eles também vieramreconhecer a força dos nos-soa várias vezes. E nestassaídas houve vários encon-tros, de que os nossos sem-pre ficaram de melhor par-tido, porque lhes mataram12 homens e muito gentio,e eles. a nos nunca nos íize-ram mais dano, que mata-rem 3 indios dos nossos,que acharam desmandados.E a um soldado Portuguêsdeu uma bala no pescaçò,que o fez afocinhar, caindoa bala no chão, amassada,sem lhe fazer mais dano,que crestar-lhe a carne; ealguns dias deitou sanguePela boca e narizes. A ou-tro indio deu outra bala nabarriga; e da mesma ma-neira lhe caiu aos pés, semlhe fazer dano. No que bemse viu, que o Céu nos de-tendia. E assim ficarampasmados os inimigos,

* quando depois lhes disse-ram que a sua arcabuzarianos não tinha feito dano al-gum. Depois de 5 ou 6 en-contros, que liouve destes(em um dos quais se lhematou um indio principal,que era todo seu remédio,Porque por sua ordem lhesvinham mantimentos das- Aldeias) chegaram os inl-miges a estado, miserável,nas ainda com coragem,

por esperarem socorro cadadia. Sendo porém em 17de Outubro, senão quandoaparecem 4 homens comuma bandeirinha branca,que vinham em demandada nossa trincheira. Res-ponderam-lhes os nossoscom outra bandeira bran-ca. E foi o Capitão Aires deSousa com alguns soldadosao caminho, a quem eles

(1631)armas. E o que resultou daprática foi que ao dia se-guinte se assentariam aspazes e modo des entrega,que havia de haver.

Ao dia seguinte se escre-veram cartas, deram-se re-fens e se viram os Capitães

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BIBLIOTECA

LUIZ FIGUEIRAA SUA VIDA HERÓICA

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19 0Pagina de rosto da obra de Serafim Leite — LUIZ FIGUEI-RA. A SUA VIDA HERÓICA E A SUA OBRA LITERÁRIA.

Lisboa, 1940.

logo entregaram as . armas,e se vieram com êle apre-sentar ao capitão Pero Tei-xelra. Fizeram-lhes as ce-rimônias costumadas, deolhos tapados, e, apartando-os, os examinaram: 3 deleseram Escoceses, e um delesCavaleiro com esporas cal-çadas, à guisa da sua terra:outro mui bom latino; o SPera um mancebelhão, bemdisposto, todos 3 católicos;o 4.°, era um mulato decasa do Conde de SantaCruz, que eles tinham noCabo Verde tomado, tra-zendo-o consigo.

Estes 3 estrangeiros de-clararam como eles eramvindos enganados, e que nãoimaginavam que cá haviaPortugueses, nem guerracom Católicos, nem eles aqueriam. Quanto aos ou-tros, que estavam tão fal-tos de mantimentos, queentenderam que com qual-quer partido se renderiaíh.Serviu isto aos nossos detomarem mais ânimo eapertarem mais com os ini-mlgos. Saíram ao dia se-guinte a eles, e houve entreeles muita pelourada, deque os nossos não recebe-ram dano algum. Por fimde contas, os que se tinhamvindo para nós, lhes come-çaram a falar de dentro daCava, aonde estavam osnossos pelejando conlra osseus. Responderam eles delá do seu forte; e continuou-sc a prática, cessando }4 as

e, finalmente, se assentouque os Holandeses entrega-riam as armas e munições,mas que lhes ficaria a suafazenda, para tratarem comela entre os Portugueses, eque, havendo pazes com El-Rei, lhes dariam passagempara suas terras, e que istose efeituaria dentro em 3dias.

Passados os 3 dias, pedi-ram outros 3, dando por re-zão que andavam uns com-panheiros seus ausentes.Passado este segundo termo,pediram mais. Traça eraesta para se entreterem atélhes vir socorro, que espe-ravam.

Senão quando, no mesmodia, vem dar às mãos dosnossos um Índio que lhestrazia um feixe de morrão,e umas cartas, de duas naus,que estavam pelo rio doPará abaixo, e já tinhamnotícia do aperto em queestavam os do forte. E lhesdiziam nas cartas, que en-tretivessem os Portugueses,ou por paz, ou por guerra,que logo seriam com eles aajudá-los. Sabendo isto, onosso Capitão com eles,que efeituassem logo o quetinham assentado; e, quan-do não, estariam pelo rigorda guerra. Com-esta reso-lução se entregaram nomesmo dia, com tudo o quetinham. Despejou-se o for-te e se lhe pós fogo, e der-ribou. E ao dia seguinte seembarcou o nosso Capitão

Pero Teixeira com algumada sua gente, e os prisio-neiros repartidos. E se par-tiu para Curupá, ficandoainda muitos.dos nossos ali.

Depois do nosso Capitãopartido, a dois dias ou 3,chegaram ao mesmo lugar2 naus e um pataxo, e ou-trás duas ou três lanchas,que vinham a socorrer oscercados seus companheiros.Dispararam muita artilha-ria, em vão, e trataram dedeitar gente em terra, po-rém, os nossos das ciladasque lhes fizeram os iam re--cebendo de tal maneira, quelhes mataram 4 dos seus. Ecom isso os fizeram recolheroutra vez, e dando à vela setornaram para onde tinhamvindo. Estes se afirma se-rem Ingleses, em compa-nhia do Capitão Nort, queai perto depois tomou sítio,e fez outro forte, não muitolonge, de que depois os nos-sos tiveram notícia. E ago-ra tornou lá o mesmo capi-tão Pero Teixeira, por or-dem do Governador, com amesma ordem que para osHolandeses lhe tinha dado.Esperamos com o favor di-vino o mesmo sucesso.

Nessa ocasião se assinala-ram alguns indios muito,mostrando grande valor nasescaramuças, entre os quaisum chamado Caragatajuba,Potiguar, do Rio Grande.Indo a um assalto, vendo 3canoas dos índios naturais,aliados com os Holandeses,toma a espada na boca, lan-ça-se a nado, e as foi ala-gando uma e uma. E saindoem terra, às frechadas ma-tou muitos deles. Em outroencontro com os Holandesesviu este mesmo índio umdeles de bom geito. Arre-mete a éle, para o trazervivo nos braços, e sem dú-vida o trouxera se lhe nãoacúdiram outros 4 ou 5 ho-landeses que lho impediramàs cutiladas, das quais todasse defendeu com uma ro-dela e com as mãos, aindaque com algumas cutiladas,se meteu por baixo de unspaus e ramos, e se livroudeles. Outros fizeram ou-trás cavalarias sem nuncamorrer nenhum mais que os3, que no princípio disse-mos, e os dois SoldadosPortugueses naquele pri-melro encontro. E em todoeste tempo era notável aforça que estes índios fa-ziam ao Capitão, que os dei-xasse escalar o forte queeles se atreviam a entrar,mostrando-se enfadados dadilação da guerra, querendologo vir ás mãos com osinimigos. Mas o trabalho éque não vem disto nenhumgalardão em nome de El-Rei.

Recolhida toda a nossagente ao Curupá com o Ca-pitão Pero Teixeira man-daram-se os prisioneiros(que eram oitenta poucomenos) para o Camutá, ser-tão vizinho da nossa povoa-ção e cidade de Belém doPará, donde o Governadordepois os mandou buscarpara este Maranhão os maisdeles, ficando outros nomesmo Pará e outros noCaeté, nova Capitania, nomeio do caminho entre esteMaranhão e Pará, para que,assim espalhados, não reinetanta malícia. Porque, ato-ra estes havia outros mui-tos, seus companheiros eparentes, tomados nas oca-sióes passadas;

Por este, e pelos maissucessos passados, podemosentender-que Deus Nosso

Senhor favorece estas con-quistas, e quere fundar ne-Ias a Santa Fe, ainda quepara isto faltam aindaobreiros e ministros doEvangelho, que se ocupemcom o gentio, o qual nego-cio, com tudo o mais, de-pende de Sua Majestade fa-vorecer este particular, comconsignar alguma esmolaaos que nisto se houveremde ocupar. E é cousa evl-dente que para se evitar ocomércio dos estrangeirosnaquelas partes, não temSua Majestade melhor meio,que pôr ali religiosos, quedomestiquem o gentio, paraque assim não os admitam afazer tabaco. E ainda quenão pode haver ali religio-so sem armas, contudo porde mais importância tenhohaver religiosos que armas,para o tal fim. Porque, porarmas não hão-de deixar devir estrangeiros a fazer ta-baco, se o gentio lhes derentrada e lhes administraras roçarias para o tabaco,o qual eles não podem fa-zer sem este ministério dogentio.

Isto o que toca ao bem eproveito temporal, quieta-ção dos vassalos de Sua Ma-jestade. O que se provatambém com o sucesso doEstado do Brasil, que noRio Grande e Paraíba só asAldeias, que os religiosostêm a cargo, se não inquie-taram, e as demais se lança-ram com os Holandeses.

Quanto ao bem espirituale conversão do gentio, e ain-da a mesma conservação domesmo Gentio, por si sedeixa entender que só e to-talmente depende dos reli-giosos, que a isso dedicamsuas vidas, pelo bem dasalmas, e honra de Deus, so-frendo incomportáveis tra-balhos, sem pretender, nemtirar para si comodidadealguma temporal, antes ca-recendo de todas as que emseus conventos têm. O quenão sei se consideram essessenhores dos Conselhos quetão escassos são, para esteuniversal bem, da fazendade Sua Majestade, havendo-se liberalmente noutrascousas, que não se compa-ram com estas. E provaboa é, dos grandes traba-lhos, que nisto se padecem,o não poderem com eles osreligiosos de Santo Anítô-nio neste Maranhão, antessossobrados deles, largarameste ano passado, o cargoque tinham da administra-Ção das Aldeias do Gentio,sendo os ditos religiosos tãozelosos, e sendo providosnelas por provisão parti-cular de Sua Majestade.E, assim, encampando-as aoGovernador, se recolherama seu convento, ficando asAldeias desemparadíssimas.como estão, morrendo cadadia sém confissão e sem ba-tismo, bradando por elacada dia, com grande lásti-ma do quem o sabe e o nãopode remediar.

Finls, Laus-Deo.(Serafim Leite — Luiz

Figueira — Lisboa, 1940).

LEAL DE SOUSARegistrou-se, esta semana,

o falecimento do escritorLeal de Souza. Pertenceu ágeração de Bilac, de Emílioe de Alberto, e foi um dosrepresentantes do Parnasia-nismo brasileiro em sua úl-tima fase. Deixou- um for-moso livro deBosque Sagrado.

Pagina 140 AUTORES E LIVROS Domingo, 7-11-1948 — Vol. IX, n.« 12

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Vatt Jafa

Va n JafaVan Jafa é o pseudônimo literário de Joséugusto Faria do Amaral. Nasceu na cidade do-alvador, Bahia, no dia 4 de janeiro de 1927 efilho de D. Josefina Faria do Amaral e Ade-no Corrêa do Amaral.Fei o Jardim da Infância na Escola Públicanísio Teixeira, em Salvador: nessa mesma ei-ade completou os estudos secundários no Cole-io Ipiranga e o Curso Complementar no Colégioa Bahia, Curso atualmente a Faculdade de Di-sito tia Universidade do Brasil.E' um apaixonado das letras e um estudiosoas literaturas brasileira e inglesa. Começou,inda adolescente, a publicar trabalhos na im-Tensa rle Salvador.Fixando-se no Rio de Janeiro, fez-se cronistanematográfieo de Vamos Ler! e foi um dos¦iidadores da Associação Brasileira de Cronistasli nemajtográficoi.Poeta que é, sua inspiração se divide entre aoesia lírica e a humorística.

sr. f\W\\r\

BibliografiaEoitda dos tciis olhos — Capa de UbiSava — Gráfica Editora Aurora Ltda. — Bio

,,'948 — 100 pgs.O Universalismo em Eça de Queiroz —Conferência na Casa dos Poveiros; repetida naSociedade '-Idéia", em agosto deste ano.Anuncia mais:

As longas conversas que tive eom teus-Uios — contos. As mães lerriveis — novela emi-reparo.

OferendaAos que amam silenciosamente.

K todos aqueles que passaram: foram amados sem saber

A todos aqueles que passandoforam amando sem dizer.

H "2 Í3.1Í1ZS1

Não sei porque te amo tantoOlhei para o céu e estarrecido viminhas gaivotas negrasvoando como brasas acesasíembrando suaves lanternas chinesas...3, indignado, binoculandoo horizonte noturno, '¦"•¦!indaguei: — qual o doidoaue poz fogo nas minhas gaivotas negras?

PRIMAVERA DE 1916

Excertos de "Ronda dosteus olhos'„"

Quando tua face, que emergiu do barro, retornai¦io barro, não te esqueças daquele que sempre te colo-cou entre Deus e êle...

Ao olhar um retrato teu, em que parecias ouvirmúsica, meus olhos te compreenderam e as saudadesdesceram mudas pela face...

Teus olhos são um escândalo de lirismo humano..

A saudade deve ser chuva...

Noite formada de muitas ausências.Onde teus olhos esta noite?...

XXII - VAN JAFAElizabeth e Essex

Matai-o I!Majestade.., Êle é o vosso Amor !

É o vosso príncipe encantado.É todo o vosso anseio e esplendor...É o tesolro do vosso coraçãode mulher e de rainha.Perdoai-me se vos falo assim.Mas é com sobeja razão.E curvou-se o ministro até o chão.

Matai-o!Majestade,..Cumpra-se a ordem.,, Palavra da rainha...Majestade, vós estarei arrependida após a consumação,Para meu Amor ser só meu, esta é a única solução.

Prefiro chora-lo a vida inteira, a sabe-lo em outras mãos.E deixou os olhos fixamente perdidos num retrato a óleoenquanto ouvia o rufar dos tambores da execução.

PRIMAVERA DE 191*

A Cruz de BrilhantesÀ MINHA MAE

Era uma jóia de estimação...Imensamente bela, toda de ouro,cravejada de brilhantes, 1era um tesouro.Muito dinheiro valiaaquela perfeição.Ninguém a via,sem uma grande e profunda exclamação.Um oh 1 incontldo,um belo desconhecido...De minha Mae, no peito,aquela jóia sem defeito,causava verdadeira admiração.Os brilhantes falseavam,como verdadeiras estrelas...Parecia um incêndio de harmonia,quando minha Mãe a trazia,com orgulho de gente rica, inveja de gente pobre.

Um dia, era eu ainda muito criança,vivia de sonhos realizados,e de esperança,era só pedir e ter meus desejos vivifiçados...... Não yendo mais minha Mãe usã-la,um dia perguntei — "a tua cruz mamãe?"— "Guardei-a meu filho",Mas aqueles olhos e aquela voz não eram de

[quem guardara.Passaram-se os anos..,... Sucederam-se os invernos de privações.Desabrocharam as primaveras de esperanças.Até que um dia.tivemos verões de compensações.E então adolescente, eu soube um outro dia,que a cruz fora vendida para minha educação.Tive saudades daquela cruz de brilhantes,Minha Mãe, com uma diamantina fé,disse-me — "Meu filho, existem outras cruzes eternas.Aquela era efêmera e profana.A cruz do Senhor é de madeira, mas sempiterna.Tú és a minha maior jóia, o meu diamante,a minha cruz de brilhantes1',

E entre lágrimas, no santuário do meu coração,jurei cingir-lhe um dia a altiva fronte,com uma coroa de louros e diamantes!E de ver no peito já cansado pela cruz dos anos,voltar a brilhar,o cruzeiro do sulda minha glória resplandescente,e no peito de minha Mãe, condensada sob a formade uma — cruz de brilhantes 1

Uma jóia de estimação.

NATAL DE 1941

Cântico de Amor ás focasadolescentes

|Mulheres iguais às outras,Focas fatais • -Trajando negro brilhante,De vestidos coleantes e sensuais,Focas cor de ébano,Eu vos queroAlém da metafísica dos problemas raciais!Languidas, gelatinosas,Doces filhas da Groenlândia!Mulheres assim não existem iguais.Possuem "nuances" no andar,E são requintadas no amar.Não se resiste a um sorriso de foca adolescenteNem a um olhar boreal,Tristes como a verdade,Distanciadas filhas do Polo Norte,Amantes virginaes.Focas,Noites com estrelas na alma,Eu vos amo acima do Bem e do Mal!

Poema para ManuEsquecidas na paisagemestavam vacas octogenáriaspastorando as vacas adolescentes,à semelhança de mulheres perdidasnos homens,., nos acontecimentos... na vidacomboiando suas ilusões também perdidas...Pelo chão abóboras gigantescasfaziam lembrar "blimps" abatidos...Entre as acácias alucinadamente loirasum poeta adolescente de "pull-over" listadacomia torta de maçã apaixonadamente.Pendurado pelo pescoço,numa árvore, estava o irmão que eu não tive,que por nunca ter pecado,por excesso de puritanismo foi enforcado.A noite vinha perto.Ouvia-se o tropel dos cavalos celestes.De binóculo eu assistia ao "debut" das estrelasna "boite" do meu terraço.Ao longe ouvia-se o "rosetar" dos grilose dentro do meu serminhas células pensavam em VOCÊ.

Quando você se fez saudadeFolhas brincando de cirandaPelas calçadas desertas... iCrianças de olhos ternos,De faces doces, de vidas claras e incertas,Por onde o Amor ainda não passou.Vento que tomou a forma do que não ousei.Mãos acenando adeuses em todos os aeropoi^os

[do universo.Bocas que não foram colhidas,E muitas outras coisas que permaneceram esquecidas.Rosas sepultadas entre páginas de livros favoritos.' Vida apenas imaginada.Vontade sém berço. Emoção simplesmente desejada.Véus de noivas, símbolos vazios, leitos sem ajpppr.Inutilidade do brazão de virtude daquele que n^p pecou.

Pensamentos escondidos na noite, a esterilidade <da dor,No círculo de luz do "abat-jour"Uma marcara negraAinda anima olhos que pertenceramA um rosto de Anjo.Inspiração de um poeta.Beleza intocada, forma não possuida.Máscara de um amor sem solução,Canção proibida na realidade de um .poeta.Que, com os olhos nos olhos da máscara.Sente a própria vida.

INVERNO DE 1948 — RIO

//O Cântaro"Havia um cântaro entre outras coisas...As ninfas entoavam canções de AmorPara os efebos indiferentes.Havia um cântaro entre outras coisas,..

;. IUm cântaro .'Onde jogavas teus olhos para verTua face junto á minhaSubmersa na paisagem liquida...Nesta água vive aindaA eterna nostalgia da fonte mestraDa Era em que juntos fomos leito de rio...Guarda a mesma angústia das imagens remotasComo teus silêncios compostos de mistérios esquecidos.Silêncios reveladores da nossa participação ,|U>

fmesmo segredo...Identidade de sonhos, de ânsias, de desejos de

[amplidão...Cântaro e água na transladação dos séculos

Imetamorfosearam-se...Hoje és poesia... _,.,Eu também mudei — agora sou poetaVoltado para a fonte mestra — teus olhos.Eavia um cântaro entre outras coisas...

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Autógrafo tle Van Jafa

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Domingo, 7-11.1948 - Vol. IX. n/ 12 AUTORES E LIVROS Pagina 141'

Ás "Poesias Completas" de Raimundo CorreiaCom a devida vélila, transcrevemos a nota que om

sua sceção Livros Novos (que é, notoriamente, da res-ponsabUidMe do escritor Berilo Neves), último domln-30, (31 dc outubro), deu o Jornal do Comercio, regis-i rondo o aparecimento da edição das 1'oesias Com-l)letay fie Raimundo Correia, edição essa organizada,prefaciada e anotada por Mucio Leão:

RAIMUNDO CORREIA — "íocsias Com-pintas" — (.Organização, prefácio e notas deMucio Leão) — Companhia Editora Nacional.São Paulo, 1948.

Depois Ie cultivar, vitoriosamente, o conto, a crô-nica, a crítica literária, a poesia — o sr. Mucio Leãoenveredou pelo caminho do Ensaio, e, nesta nova faseda sua atividade intelectual, tem-se revelado um pes-quisadw de assombrosa capacidade de trabalho e desuperior senso estético. Como o arquiteto que, apósedificíw* muitas obras, se torna, por isso mesmo, ca-paz cie descobrir os méritos ou defeitos das obrasalheias, o sr. Mucio Leão está naturalmente habilita-do a (obrigar, num lance de olhos, o plano de umaconstrução, o traço de um edifício. No terreno da bi-bliogralia, seus serviços à cultura nacional impõem-se como dos mais opulentos até hoje registrados nanossa história literária, Andaram bem, pois, os edito-res que lhe confiaram o coligir as "Poesias Comple-tas" de Raimundo Correia — um dos nossos poetasmáximos, de todas as épocas. Não era a primeira vez— é claro — que o sr. Mucio Leão fazia pesquisas só-bre os trabalhos do autor de "As Pombas". Em "En-saios Contemporâneos', consagrara-lhe um estudo, em1923; mais tarde, reservou-lhe um lugar de honra em"Autores c Livros"; e. no ensejo de inauguração dobusto (to* poeta, pronunciou uma alocução, que saiu alume na "Revista da Academia Brasileira de Letras",vol. fi». A bibliografia que faz anexar ao Io Volumedesta;; "Poesias Completas" mostra-nos, além disso, aslargas fontes em que se abasteceu para reunir a pro-duçâo integral, em versos, do célebre escritor mara-nhênse. Conforme nô-lo declara em "Prefácio', esseprimeiro volume reproduz, mutatls mutandis, o textode "Poeflias" publicado em vida de Raimundo Correiac do qual se fizeram três edições, todas em Portugal.O volume "Poesias" era uma seleção das "Sinfonias",dos "Versos e Versões", e de "Aleluias". O que há denovo, neste primeiro tomo, além do Prefácio e da re-lação bibliográfica, são, pois. as notas com que o en-riquecfl e assinala o sr. Mucio Leão — notas de enor-me valor para o estudioso da obra do autor de "Mal

Secreto". Nas diversas edições em que apareceram es-tes versos, bem como nas publicações, que deles se fi-zeram, em jornais e revistas, notam-se variantes ciepontuação, grafia, etc, que, todas, o autor desta sele-ção anota, com a ciência de bibliógrafo afeito a taispesquisas e trabalhos. O sr. Mucio Leão, adverte-nos.ainda, que o volume segundo é composto dos livros an-ttriores & seleção de '-Poesias": são eles, pois, os "Pri-

meirotf Sonhos", as "Sinfonias", os "Versos e Ver-soes" e as "Aleluias" — descontados, nestes três últi-mos, os versos que Raimundo Correia não aproveitouem "Fccaia»". A edição atual representa, por conse-guinte, a segunda edição daqueles três livros. Há, ain-da, uma coletânea de versos, publicados esparsamente.

em épocas diversas, e cujo mérito (como o acentua oautor da seleção), também se apresenta, variável e in-certo. A essa coletânea, que faz parte do segundo vo-lume, deu o sr. Mucio Leão por título o de "PoesiasAvulsas".

Estudando a signiticação destas "Poesias Com-Dietas" e. sua valia no conjunto da riqueza poética doPais, lembra o sr. Mucio Leão que Raimundo Correiatinha o prazer- e o hábito das versões e paráfrases.Multas adaptações de poesias alheias aparecem em suaobra sem a indicação do autor respectivo. Eis, assim,mais um problema bibliográfico que teve de ser solvi-do pelo colecionador dos trabalhos do grande poetaparnasiano. Duas pequenas poesias, que fazem partedas "Sinfonias" trasladadas a vernáculo, trazem, ape-nas, um nome: Blasco. São "Duas Mortes" e "Nas-cer,... morrer". Aprofundado o enigma, verificou osi-, Mucio Leão existir mais de um poeta espanhol denome Blasco. Custou-lhe largos meses de indagações,junto a eruditos estrangeiros, poetas e críticos de lin-sua castelhana, a tentativa de saber quem era o Blascoautor daquelas poesias... Tem-se dito e repetido quea idéia central de dois sonetos — os mais famosos,aliás, de Raimundo Correia foi colhida em obras deautores estrangeiros. O pensamento de "As Pombas"por exemplo, teria sido captado em Teófilo Gautier...O sr. Mucio Leão, sem negar a fonte inspirativa, de-fende a originalidade daquela composição de Raimun-do Correia, que é muito mais completa e sugestiva doque o trabalho de Gautier. A força, a arquitetura dosoneto, a capacidade de sugestionar pela sua imensaharmonia e perfeito colorido — tornam "As Pombas"propriedade original do autor brasileiro, que, comaquele único soneto, teria, só por só garantida a imor-talidade nas letras pátrias.

Uma das grandes virtudes desta coletânea — fei-ta com a meticulosidade, a honestidade e o carinhoque o sr. Mucio Leão põe em todos os seus trabalhos,é reviver muitas poesias de Raimundo Correia de que,ou não tínhamos notícia nenhuma, ou já andávamosde todo esquecidos. Estas páginas permitem-nos son-dar a profundidade daquele talento, e ajuizar a finu-ra daquela alma. Hà sonetos magistrais, de que, por-ventura, poucos terão noticia em nossos dias. Vejamoso intitulado "Citera", pertencente ao volume "Ale-luias", e que assim reza:"Rebenta o mar de encontro ao duro peitoDo alcantil que a defesa entrada vela,E vem lamber-lhe, em pérolas desfeito,As cárdeas conchas da alvacenta ourela.

Netúnios deuses, ante a flor mais belaDa Iõnia. em seu profundo e salso leito,Estremecem de amor. Bate aos pés delaO coração das águas satisfeito...

Franjam-lhe o manto as algas e os sargaços.Embalam-na rebombos e assobios;E, envolta em doce e luminosa bruma,

Sente que a envolvem com lascivos braçosTritões e a osculam grossos beiços frios,Bocas cheias de beijos e de espuma...".

Exceção feita daqueles desarmoniosos "pés dela","

todo o soneto é uma seqüência de perfeições. Notemoso uso do termo vulgar beiços (em vez do literário lá-bios) para acentuar melhor a grossura do órgão nafantasiada criatura marinha. E atentemos neste ma-Bistral verso, bem característico da musicalidade im-pecável que marca os versos dos nossos grandes par-nasianos:

"As cárdeas conchas da alvacenta ourela..."

"Tristeza de Momo", que também faz parte do vo-lume "Aleluias" é outro admirável soneto de Raimun-do Correia:

"Pela primeira vez, ímpias risadasSusta em pranto o deus da zombaria,Chora, e vingam-se dele, nesse dia,Os silvanos e as ninfas ultrajadas.

Trovejam bocas mil escancaradas,Rindo; arrombam-se os diques da alegria;E estoira descomposta vozeriaPor toda a selva, e apupos e pedradas...

Fauna o indigita; a Náiade o caçoa:Sátiros vis, da mais indigna laia,Zombam, Não há quem dele se condoa!

E Eco propaga a formidável vaia,Que além, por fundos boqueirões reboa,E, como um largo mar, rola e se espraia...".

A propriedade da expressão, nestes catorze ver-sos, é soberba. Note-se o uso do verbo "caçoar" comeobjetivo direto, e o emprego, tão discreto quanto ade-quado, das figuras mitológicas. Numa das habituai?notas explicativas, o sr. Mucio Leão diz que, em certa?variantes do soneto, há vírgula depois de susta. Mai.-que isso, deveria haver, ali, ponto e vírgula — pontua-ção que não se justifica depois de zombaria, visto quta segunda oração do período é esta"em prantos, o deus da zombaria chora..."

Há pleonasmo na frase? Sim — mas esta figura écomuníssima na linguagem poética. O que fica inin-teligível é a oração: "susta em prantos o deus da zom-baria". O que éle susta, são as risadas, evidentemente.Este estudo das variantes dos versos de RaimundcCorreia deveria ser imitado por outros pesquisadoresda obra dos nossos grandes artistas do verso. O sr.Mucio Leão desenvolve-o com grandes recursos biblio-gráficos, pois que, há anos, se vem dedicando a esme-rilhar edições antigas, velhas coleções de jornais, todeum poeirento material de que vai tirando, com labore honra, uma nova História da Literatura Brasileira.Há dias, registámos, nestas colunas, a existência deum projeto de lei que visa a dar, ao ilustre escritorrecursos para a edição de Obras Completas de váriosdos nossos prosadores e poetas — bem como para di-cionários bibliográficos de grande significação cultu-rai. Deve o sr. Mucio Leão prosseguir nessa proveitosafaina. E' um modo de servir duplamente «às nossas le-trás: restaurando composições de há muito olvidadase fornecendo-nos elementos bastantes para o cotejo deedições várias e para o estudo frutuoso da obra de ai-guns dos nossos mais expressivos autores nacionais.

i

Raridades de Raimundo CorreiaDa edição das Poesias

Completas de RaimundoCorreia, agora publica-das pela Editora Nacionalem 2 volumes, figura nosegundo tomo, uma série de64 trabalhos do grande poe-ta que nunca tinham sidopublicados em livro. Deu-lhes o organizador da edi-cSlo o titulo de Poesias A viusas, e as colocou, na obra,em seguimento às Aleluias.

Dessa parte importantís-sima da obra de RaimundoCorreia, reproduzimos ostrabalhos que se seguem:

Flora de túmulosNa sepultura de SócratesVê-se a umbelííera em flor,De letal suco mortíferoE forte c viroso odor

O salgueiro descabela-sePor sobre o vidente hebreu.Que a flebil harpa elegíacaEntre as ruínas tangeu.

Cresce o altivo robre darutica

No sepulcro de Catão;E no do Mártir do GolgotsO «pinheiro da paixão.

Na cova de Dante, tétrica.Braceja a árvore infernal:As raízes são tentáculos,

As folhas — garras do Mal. Benigna

Mas a flor que orna o sar- ,[cófago

De Buda é difícil ver,Porque de século em séculoAbre, pra logo morrer.

Conselhos [¦Vogar mais não vale a pena, IAmarra o barco a esta boia; jNão traves por outra HelenaSegunda guerra de Troya. I

Ouve um conselho d e i[amigo: !

Deixa de muito escolher: |Eu das mulheres só digo |O que ouço a todos dizer.

Dizem de Cora que, quando '

Entra nos bailes, namora,Valsa demais, e valsando ,.A perr.a mostra, e • ¦ ¦ "áo !

[cora; l

Hcm por ver, dessa maneira, a-Que a perna que mostra,

fem vSo,Não é de osso e carne in-

fteira,Mas metade de... algodão.

, dlDe Pacifica, que atoa,Sem razão se assanha e

[briga;E de Modesta (perdoa!),que traz o rei na barriga...

Prudência — em nada éfcordata:

maus modos[tem;;

E ao noivo de FortunataA sorte grande não vem.

Os papalvos certos ficamDe que não são, nem metadedo que seus nomes indicam,Severa e Felicidade:

•' '• ¦¦ r ' ; yf.7l|l5s7||i|§l7^.í...3«l.. ,

Raimundo Correia, em um dos seus retratos mais raros.

Apuela — vale um pagode;E desta outra o vulgo diz,Qae è feliz, como se podeNa desgraça ser feliz;

Plácida — e plácida e[mansa,

Como onça ou como leoa;E é, bem sabes, EsperançaO desespero em pessoa.

inocência — de pecadosEstá cheia, como vês;

ÍS Diferentes namoradosTem Constância, em cada

[mês;

Muito avara ê — Genorosa;Angélica — é muito ingrata;E até, com língua maldosa,Dizem que Branca é...

[mulata.

B Hosa é bela? Embora o seja,(Sc nos espinhos não fôr)Semelhante, hã lá quem

[veja,Mulher-rosa ã rosa-flor?!

E pois, que inda em tempo[chego

Com meus conselhos: — se[queres

Ter na vida mais socego,Deixa em socego as mu-

[lheres.

Ao pé da letra as não tomes,Porque as mulheres estão,Até com seus próprios

[nomes,Em viva... contradição.

í,Tr,IW»™i/..-.K..:iKVi(':>V,,iJ|ÍMS .,a,,»w.ra.-,t;iiiiM--,.»a--.

Pagina 142 AUTORES E LIVROS Domingo, 7-11-1948 — Vol. IX, n.° 42

A VIDA DOS LIVROSAMARAL, Amadeu — Poesias.

Introdução, seleção e notasde Manoe: Ctrqueira Leite,Editora Assunção Ltda. —São Paulo, 1946, 140 págs.

Amadeu Ai.ai3.ral tem agorauma fúlgixia renovação. Sur-rr?m esta?: aua/i Poesias selecio-i.?_das e anotadas por ManoelCarqueira Laite. E na mesma¦coasião uma grande editorapaulista jKomst; para muitolr:eve a o/ovaientação das obrascrmplekví do escritor.

Retraído, tímido, modesto.jescrendo i.uuí.to de si e acaso.'nda mais daquilo que cha-

ir.amos imita; !.dade, AmadeuAmaral ai; certo nunca imagi-naria ver-se aicanüorado a tas;€• '.curas. Doíi.0 de uma sensi-ijllidade deUcada e sutil, êíènunca q.üiii disputar com nin-çuém fósíie o o,u5 fosse — ri-çuezas, posi.çõe.ã, glórias, amo-i :$. Havia alguma coisa quepredispunha à resignação eà renúncia aquela, alma quase¦ffanciscana, o alma daquelepoeta que ío,z>.j, constituir a sur;mais intima auaínçâo em passa:psla vida,

t:a:.a,t> e só,sem fassr nenhum mal,a ninguém...

Amad3U Amaral — nascidoem 187Ü — pertenceu à gers.-oAo do;; cjúgo:i.o3 do panasia-nismo, e í.i.e.-;se capítulo de nos-.:. hsitóna literária é que em._r?ral o verno a estudado. Tems notações iutimas, porém ínti-jv.as e miançadas. que muito cílstancia daqueles critérios de

exatidão e de medida precisa,que acabaram por se tornar tãocansativos na retórica parra-saana. Na sua alma de poetahâ sentimentos vagos para osquais êle encontra uma vagaexpressão. Aqueles versos daSurdina;

Teu sorriso tão suavede espiritual doçuraé suave e brando como ur.-. vôo

Ès branda como a luapela manhã radiante,incerta como a névòa cue

distante,Os que conheceram Amadeu

Amaral na intimidade, eu r.asimples camaradagem de umjornal, de uma Academia, gu?.''-dam a recordação de um ho-mem suave e modesto, pouc:preocupado em despertar asalheias admirações e parecer.-do viver perdido numa medita-ção que não findava. E^essaa lembrança que retivemos deledos poucos meses em que cor.-vivemos na Gaseta de Noticias.quando aquele tradicional õr-§ão da imprensa carioca es-teve sob a direção de LaudelinoFreire.

Aquela mesma alma sempre.suave e gentil, incapaz de umgesto que não fosse de deltca-tíeza e de acolhimento — aatina que antes jã havíamossentido nos versos doces docantor das Nevoas, tornamo-la

¦a encontrar aqui, na seleçãoagora organizada, enm tantocarinho, pelo sr. Manoel Cer-queira Leite.

Acrescente-se que a bio-bi-bliografia de Amadeu Amaralmereceu igualmente o cuidadodo editor: aqui achamos reno-vada a biografia do poeta, eachamos ao lado de sua mimi-ciosa bibliografia uma abun-dante relação de fontes sobreèle,

VASCONCELOS, Diogo de —História antiga das MinasGerais — Introdução de Ba-silio de Magalhães. 1.° vo-lume. Biblioteca PopularBrasileira, XXIV — Minls-tério da Educação c Saúde,Instituto Nacional do Livro— Imprensa Nacional. Rio,1948. XXIV — 3C1 págs,

Diogo de Vasconcelos dedicouos seus melhores dias ao estudona história de Minas Gerais, eergueu, com esse vasto e su-gestivo assunto, um dos monu-mentos mais perduráveis daerudição histórica em nossopaís. Ficou irmanada a sua fi-

gura à de um Felício dos Santos,à de um Alfredo de Carvalho,à de um Irineu Joffily — aesse grupo de homens raros eutilissimos que se apaixonampelas regiões em que nasceram,que a elas dedicam seus estu-dos e sua própria existênciae por isso se tornam a matériaprima preciosa e insubstituívelcom a qual virá trabalhar, nofuturo, o escritor feliz que pos-

CRONOLOGIA DA LITERATURA BRASILEIRA

1763

1754

2755

17H7

—¦ Hascímento de Sou-sa Caldas (24 de no-vembro) .Nascimento de Bitten-court e Sá (ManoelFerreira da Câmara),

Data conjeturai dofal. de Frei Jaboatão.Nascimento do natu-raiista Frei José daCosta Azevedo (16-9).

Data possível donafjcini.ei7.to de FreiSilverio Ribeiro deCarvalho, ou PadreSilverio Paraopeba.

Nascimento de .Io-sé Eloi. Ottoni (1-12).Nascimento de: Vicen-te Coelho de SeabraSilva Teles.

Nascimento de Jo-sé Bonifácio, o velha(13 de liunho).

Wascimento de Ma-ria Dorotéa Joaquina

de Seixas Mayrink —a Marilia de DirceuNascimento de LuizGonçalves dos Santos(Padre Perereca (25-4).

1768 — Publicação do Par-naso Obsequioso, deCláudio Manoel daCosta.Publicação em Coim-bra das Obras deCláudio Manoel daCosta.Nascimento de FreiFrancisco de S. Car-los (10-2?).

1769 — Nascimento deTenreiro Aranha (4-9).Publicação do Ura-gual, de Basilio daGama.Publicação dos Eusta-quidos de Sta. MariaItaparica.

'HtfUOTf

UNIVERSALRELÓGIOS E CBONOMETROS PE PBECgg}

A VENDA NAS BOAS CASAS

Nascimento de F. Vi-leia Barbosa, M. deParanaguá (20-11).

1770 — Publicação dosProblemas de Arqui-tetura Civil, de matiasAires.Data conjeturai do fa-lecimento de MatiasAires.

1771 — Fundação da Aca-demia Científica doRio de Janeiro.Nascimento de LuisPaulino de OliveiraPinto França, poetabaiano. (30-6).

1772 — Publicação em Lis-boa de "A declama-ção trágica", de Basi-lio da Gama.

1773 — Aparecimento do"Vila Rica", de Cláu-dio Manoel da Costa.Nascimento de Antõ-nio Carlos (1-11).

1774 — Nascimento de Hi-pólito da Costa (13-8).Publicação de "O de-sertor das Letras", deM. I. da Silva Alva-renga.Nascimento de José

Feliciano F. Pinheiro,V. de São Leopoldo(9-5).Falecimento de Cie-mente de Lemos dcAzeredo Coutinho eMelo (13-2).

1775 —Data conjeturai donascimento de Joa-quim José Silva, poetamineiro.Nascimento de Mar-tim Francisco, l.D.

1776 — Falecimento de An-gelo de Siqueira, Hi-beiro do Prado, cujadata de nascimento iincerta.

1777 — Falecimento de Pe-dro Taques (janeiro).

1778 -^- Nascimento de Fr.Francisco de SantaTereza de Jesus Sam-paio.

1779 — Nascimento de Do-mingos Borges de Bar-ros (10-12).Nascimento de Fr.Joaquim do Amor Di-vino Caneca.Nascimento de Paulo

(Continua na patina 141) '

sa abalançar-se do grande qua-dro geral a síntese de toda acrônica da vida do pais.

Com o seu Incomparávet amorao torrão mineiro, levantou êleas varias colunas desse radiosomonumento, que é a sua obra:e essas colunas chamam-seHistória antiga ias Minas Ge-mis. História Média das MinasGerais, A Arte em Ouro Preto,História ia Civilização Mineira(que ficou incompleta.)

E' da primeira dessas gran-des obras que o Instituto Na-cional do Livro realiza agorauma reedição.

Diogo de Vasconcelos deu esselivro em 1904, na plena matu-ridade dos cinqüenta e cincoanos, Havia seis anos que vi-nha compondo o trabalho, eevocou com certa poesia, o mo-mento em que lhe viera a von-tade de dar execução a tal es-tudo. "Em 1898 (dizia êle emsua advertência^ no dia de SàoJoão, tendo na forma do anti-go costume, ouvido a missa nacapela do morro, por ai meconservei algumas horas em me-ditação depois que o povo seretirou. Fazia no ato dois sé-culos que a bandeira de An-tónio Dias ali chegou para des-cobrir o Ouro Preto,.. Conce-bi, então, o propósito de reuniras memórias que tinha, dos ía-tos sucedidos nessa época re-mota, pouco estudada, e muitomal divisada pelos escritoresaté hoje aceitos como deposi-tários da tradição..."

Foi esse o plano que êleT"vencendo tantos e tantos óbi-ces, logrou realizar.

O conceito carlyleano da his-tória é bem verdadeiro, e aindaaqui sentimos que a histórianada mais é do que o reflexodo temperamento e da ação dosheróis. Todo o terreno em quelavram os cronistas e os his-toriadores do Brasil primitivose transforma, desde logo, emum terreno de lenda. Pela ma-gia daquele mundo inaugural,cheio de prodígios e de misté-rios, nós nos sentimos logotransportados para uma regiãoque parece mais a de um poemaépico do que a de uma crô-nica de história. E* essa a im-pressão que nos dão as cartasde um Nobrega, ou de um An-chieta, quando ¦ êles descrevemo Brasil dos incolas. E é essatambém a impressão que nosdá Casslano Ricardo, quando,com a força de seu talento poi-tico, vai desbravar, com os ban*

deirantes, os imensos mistériosdo Brasil do Oeste.

Diogo de Vasconcelos, autorfrio e linear, nfio possui, é cer-to, aquele poder de sugestãoépica que ãs suas paginas abecomunicar Cassiano Ricardo,nem possui tampouco o ar deingenuidade e credulidade, quedistingue Nobrega e Anchieta.

Mas a matéria prima de sunnarrativa é a mesma: é o mes-mo, o encanto trágico do num-do despovoado cujas cortinasèle entreabre em sua HistóriaAntiga das Minas Gerais, cm esmo, igualmente rico desubstância dramática e huma-na. é o interesse das coisas queêie conta. Em suas páginas .-.velha terra de Minas Gerai.-vive e palpita, banhada de sol,e vive seduzindo e prendendoa todos, desde o dia em queo velho Marcos de Azevedo des-cobriu o primeiro diamant ebrasileiro.

 margem desse episódioquanto outro episódio impreg-nado de drama e de dor aquiencontramos narrado! E emprimeiro lugar lembrar-lhe-íamos, leitor, aquele cruel e ter-rível momento em que o bar.-rieirante Fernão Dias se sur-preende traído pelo filho e porvários outros companheiros dabandeira. O velho plantador decidades não vacila, e dá a cadaum deles o castigo apropriado.Ao filho ingrato mandou en-forcar. Aos companheiros delena conspiração perdoou a cul-pa, com a condição porém dese afastarem de sua bandeira:isto é, condenou-os à mortemais dura e mais lenta empleno coração das selvas.

Diogo de Vasconcelos cami-nha entre os seus assuntos dahistória mineira com a mesmavolúpia com que o velho FernãoDias caminhava outrora entreas suas esmeraldas... se as ti-vesse encontrado!

No prefácio que fêz para olivro, Basilio de Magalhãesevoca, citando as páginas deAlmeida Nogueira, o feitk» boê-mio, alegre e gracioso de Diogode Vasconcelos. E' pitoresco efarto o anedot&rio que cerca ovelho historiador mineiro. EmOuro Preto e em Belo Hori-zonte com certeza esse anedo-tirio será multo mais.rleo queaquele que .conheceu AlmeidaNogueira: ou conhecia ..Basiliode Magalhães. Parece urgenteque algum mineiro amigo dastradições de sua terra recolha

AUTORES E LIVROSPropriedade de Mucio Carneiro Leão

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Impresso nas oficinas da Editora Mory Ltda.• • ¦Assinaturas e numerosa- atrazados

As assinaturas podem ser tomadas nos seguintes pontos lalcnda redação):

«o __T Avenida Almirante Barroso n.° 12, 13.» andar — Fone:22-9981, ramal 20. Tratar com o Sr. João Pinheiro Neto.Av. Eio Branco, 4-18." andar — Fone: 23-1931. Tratarcom Eurico Cardoso.Faculdade Nacional de Filosofia — 4.° andar. Tratar comArtur Farias.

Para números atrazados: os dois últimos pontos acima (alemda redação).

"SÃO PAULO"COMPANHIA NACIONALDE SEGUROS DE VIDASucursal no Rio de Janeiro - AV. RIO BRANCO. MS, »•*

DIRETORESDr. Joié Maria whttakerDr. Eraõ» Teixeira «e Âmago*Dr. 1. C.i»

Domingo, 7-11-1948 — Vol. IX. n.° 12 AUTORES E LIVROS Pttgina 143

A VIDA DOS LIVROSesse anedotário, com o qual sepoderá formar talvez um gra-cioso livro, com o titulo porexemplo de O Espirito de Dio-go de Vasconcelos.

Não é um assunto sugestivo,Eduardo Frieiro?

ALVES, Castro — Poesias Es-,colhidas. Edição comemora-tiva do centenário do nas-cimento do poeta — 1847-1947 — Seleção, prefácio enotas de Homero Pires. Mi-nistério da Educação e Saú-de, Instituto Nacional do Li-vro — Imprensa Nacional.Rio, 1947, XXIX. 461 págs.

Esta edição das "Poesias Es-colhidas" ficou sendo um nú-mero importantíssimo — acasoo mais importante — das co-me mor ações que o país reali-zou em homenagem ao grandepoeta. Os baianos têm o justoortrullio de possuir as duas quepoderíamos chamar supremasculminância!*, do gênio literáriobrasileiro; a do verso, com Cas-tro Alves, a da prosa, com RuiBarbosa. A idéia está expres-

.sada um pouco sistematicamen-te, e seria necessário explicarao leitor mais exigente de pre-cisão, mais sutil, que nâo énosso intuito colocar Rui Bar-bosa, como escritor, acima deMachado de Assis, de Nabuco,ou de João Ribeiro. Mas a ex-celênda destes é mais íntima,é mais de melodia; enquantoque a de Rui é mais exterior,é mais de harmonia. Bastaver-se que o nome de Rui tematé certo valor de provérbio.Diz-se comumente, entre os es-tudantes, como para significara limitação de conhecimentos:"E você pensa que eu sou RuiBarbosa?'' Mas ninguém diz omesmo empregando o nome deMachado de Assis, o de Nabucoou o de João Ribeiro.

Com Castro Alves pode-se fa-zer observação parecida. Há,em nosso romantismo, e nas es-colas que vieram depois, mara-vilhosos poetas, capazes de me-recer o amor e a adoração dosleitores: um Alvares de Azeve-do, um Casimiro de Abreu, umFagundes Varela, um OlavoBilac, um Raimundo Correia,um Vicente de Carvalho, umAlphonsus de Ouimaraens: ne-nhum díles porém ficou sedu-zindo es corações moços, des-lumtjrando as almas* em revorade amor, merecendo das mu-Iherw, como Castro Alves. Almaleite -de entusiasmo, de ardor,de poesia, êle teve tudo o queo -poderia tornar feliz — atéum -desgraçado drama de amor,que o aureolou de uma luz tãolírica « tão melancólica.

B Ame a felicidade supremade morrer aos 24 anos de ida-de, ainda em plena beleza fi-sica, quando o seu gênio cami-nhava para o *Bnith. Imagi-nemo-Io chegado aos 80 anos,

como, por exemplo Alberto deOliveira. Terá sido um politicodo Partido Liberal, antes daMonarquia; teria talvez figu-rado com o Conselheiro Dan-tas em algum ministério; teriafeito a propaganda da repü-blica... para desiludir-se amar-gamente da República, como oseu companheiro de estudos,Rui Barbosa... O destino amá-vel poupou-o a essas humilha-ções. e éle morreu em plenoesplendor da juventude, so-nhando os seus sonhos de Abo-lição, formoso, glorioso, lumi-noso.,.

E' desse poeta amado dos deu-ses que agora, como comemo-ração do seu centenário, umdevotado amigo cheio de cari-nho, como é o sr. Homero Pi-res, nos dá uma coleção- dcPoesias Escolhidas. O selecio-nador mostra-nos a dificuldadecom que lidou quando teve defazer a escolha para a elabo-ração da obra. Castro Alves étodo éle digno de antologias, eo amor dos leitores se estendea todos os seus trabalhos, qua-se que indiscriminadamente.Resolveu êle o difícil problema,escolhendo das Espumas Flu-tuantes vinte e cinco produções,das Poesias Avulsas 12, dos Es-cravos 19.

Mas quanta obra prima deeterna ressonância em nossoespirito aqui procuramos emvão! Não foi incluído "O Fan-tasma e a Canção", nem "Auma estrangeira", nem "õTar-de!", nem "Quando eu Mor-rer", nem "Coup d'etrier", nem(falta essencial faz o conheci-mento do lado mais irônico ehumorístico da alma do poeta)aquela deliciosa flor do lirismocastroalvino que é "Uma págí-na da Escola Realista". Ape-nas no que se refere ã partedas Espumas Flutuantes.

Bem é de compreender que oselecionador não poderia incluirnessa seleção todos os traba-lhos do poeta: seria isso reno-var as obras completas, quecom tanta piedade Afrânio Pel-xoto editou.

Fica, portanto, o reparo co-mo uma simples observação donosso gosto. O sr. Homero PI-res enriqueceu esta edição comnotas biográficas, bibliográficas,culturais, dando-nos assimacerca de cada produção deCastro Alves um comentário &margem, cheio de erudiçãomulta vez amena.

Informemos, por fim, que aobra traz numerosos documen-tos iconográficos — e entre és-tes alguns desenhos feitos pelopróprio Castro Alves.

*CASAL, Aires do — Corogralia

BrasiUca. Fac-simüe da ed.de 1817. Introdução de CatoPrado Júnior. Coleção ieObras Raras ll — Ministé-rio da Educação e Saúde.

Instituto Nacional do Livro,Rio, 1948, 2 tomos de XL-420-4 s.n. e378-3s.n.

Aires do Casal foi chamadoo pai da geografia brasileira eteve a honra de abrir o cami-nho em nosso país, aos estudosde um dos ramos mais impor-tantes da ciência. Sua Coro-grafia Brasílica teve a primeiraedição em 1817, na ImprensaRegia. Em 1833, volveu às li-vrarias, dada como se achandoem 2.a edição; mas Vale Cabralverificou que essa não era umasegunda edição, pois o que ha-via era que o editor — a casaLaemert — apenas adquirira oencalhe da primeira edição, mu-dara-lhe a folha de rosto, pu-sera-lhe os novos dizeres de ti-tulo...

Só em 1944 (que saibamos)veio a Corografia a ter umasegunda edição — foi com asérie Brasílica das Edições Cui-tura, de São Paulo.

Esta agora, do Instituto doLivro, é portanto a 3." edição.No prefácio desta edição, CaioPrado Júnior dedica um longoestudo à figura do Padre Airesdo Casal e à sua obra, estudoque, pelas linhas rijas e seve-ras em que foi traçado, nãocremos que contribua para me-lhorar a posição que Aires doCasal tinha no quadro de nos-sos estudos científicos. Esta erauma posição invejável. Sílvio

Romero considera a Corografia"uma das mais importantes pu-blicações do nosso século, nestegênero de estudos."

E acerca daquele que classi-fica como livro importantíssimo,acrescenta: "Casal não se 11-mitou a copiar os seus ante-cessores; fêz pesquisas própriase julgou com perfeito critériomuitos dos erros dos antigoscorógrafos brasileiros e portu-gueses. O livro é além dissonotável como retrato do Brasilnos começos deste século e co-mo estímulo para estudos pos-teriores." (História da Literá-tura Brasileira, 1,° vol.) Esse&prèço em que o tinha SílvioRomero foi corroborado pelasgerações que estudaram a Co-rografia, desde 1817 até os nos-sos dias. Caio Prado Júniormostra como, trinta anos depoisde aparecer a Corografia Bra-sílica ainda servia como fonteprincipal à redação do grandeDicionário Geográfico de Mil-liet de Saint-Adolphe. E mos-tra mais do que isso: que em1821 um escritor inglês, JamesHenderson, dava em Londres,com o seu nome uma edição daCorografia. — Um escritor queserve assim de fonte para umGrande Dicionário, que merecea honra de scí copiado e pia-giado, será mesmo um autortão sem importância?

E' claro que Aires do Casalestava bem longe de ser um

Humboldt. Mas também é pre-ciso considerar em favor de Ca-sal que êle vivia num pais In-teiramente falho de recursosculturais... e sobretudo que deHumboldt só existiu um nomundo...

Aires do Casal ama a natu-reza que descreve, e isso pelomenos deve ser levado em seulouvor. Êle classifica como en-cantadora a ciência a que sededicou, a sua geografia.

E é mesmo como um fasci-nado que o vemos caminhar emmeio aos aspectos físicos e na-turais com que se defronta,aqui enumerando as familias debichos com que o Brasil conta,ali recordando a forma e a cúrda penugem de um pássaro,além pintando o recorte de ummonte, a paisagem de um rio.

Faltou-lhe, é claro, a noçãomais exata da imensa impor-táncla que tinham para os es-

tudos a que se dedicava oselementos econômicos e sociais.Mas não seria justo censurã-lcpor não empregar em sua ciên-cia recursos que não eram ain-da do seu tempo. Qualquer co-legial de hoja sabe acerca dásciências biológicas, físicas ousociais, coisas de que Aristo-teles nem sequer de longe sus-peitou. Será isso uma razãopara negarmos a grandeza deAristóteles, para sequer um mo-mento botarmos em dúvida a

(Continua na página 148)

O papel do Cooperativa dos Usineiros de Pernambuco no terreno

da Assistência SocialUm dos mais importantes

problemas nacionais, queexigem um grande esforçono sentido de sua solução, éo da assistência às classespobres.

O Estado de Pernambuco,nesse setor, está na van-guarda dos Estados brasi-

llciros. Enquanto no Brasilinteiro dispende-se a quan-tia de CrS 42.000.000/10em Assistência Social, o glt»rioso Estado nordestino dis-pende, por si só. CrS15.400.000,00, ou seja, maisde um terço do que se gastaem tado o território nacio-nal.

Destro do vasto progra-ma de assistência sociala ser desenvolvido poraquele Estado no próxi-mo ano, avulta. com singu-

lar destaque, o plano daconstrução de um grandehospital, por iniciativa daCooperativa dos Usineirosde Pernambuco. Segundonos foi informado, esse hos-pitai — que constará deuma clínica, de uma mater-nidade e de um ambulató-rio — ierá 300 leitos, paratodos os-associados e fun-cionários, abrangendo a edi-ficação uma área total de9.000 metros quadrados.Será construído no local de-nominado "Sobrado Gran-de", no moderno bairro da"Madalena", em Recife, eterá 6 pavimentes.

E' esta uma iniciativadigna dos maiores elogios,e estamos certos de que osseus autores receberão agratidão e o reconhecimentodo povo pernambucano.

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Koestler: "CRUZADA* SEMCRUZ"— O livro do sofri-mento e do desespero, que seresolvem na resignação e noheroísmo. CrJ 40,00

E. e C. von Künhelt Leddin:"MOSCOU 197»" — Uma in-cursão lógica e fantástica nofuturo da Rússia e do mundo.

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Koestler: "O ZERO E O IN-FINirO" — O livro da revê-lação e da verdade. Cr$ 40,00

Choromanski: "CIÚME E ME-DICINA" — Um romance querealiza uma nova fórmula: aspaixões eternas descritas e vi-vidas, num estilo absoluta-mente inédito. Cr$ 38,00

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Pagina 144 AUTORES E LIVROS Domingo. 7-11-1948 — Vol. IX, n.° 12

CLÁSSICOS JACKSONA Editora Jackson, que já nos preendimento? E' fácil e agra-

deu as Obras Completas ce dá vel dlzè-lo.Machado de Assis, as de Hur,.- Os Clássicos Jackson constl-berto de Campos, as de Afràtv.r tuem uma galeria de 20 volu-Peixoto a valiosa História do rr.es. abrangendo autores queBrasil is Ercha Pombo, além cie valem como uma verdadeira etantos outros livros de grande feliz síntese do poder de cria-significação para a nossa cul- ção espiritual dos homens, des-tuia — pr.?;-.1- agora novo e re- de o alvorecer da civilizaçãolevantíssimO' serviço ao Brasi!: ocidental até aos nossos dia;,empreende a monumental edi- Eis como. representando umção daqueles que chamou os total de 8.230 páginas, ficouClíssicas lackson. constituída essa galeria de no-

~„ue veítf. a ser esse novo em- mes excelsos:

1.» Vor. - Xenofante CIROPEDIA.2.° " - Cicero ORAÇÕES.3.» " - Virgílio OEÓROICAS — A ENEIDA.4.° " - Horácio SÁTIRAS;

Ovídio OS PASTOS.E • ' - Dante DIVINA COMÉDIA.<j-' ¦ - Dante DIVINA COMEDIA.7.' " — Camões OS LUSÍADAS.!>.-' " — Cervantes D. QUIXOTE.5,3 ¦¦ _ cervantes D. QUIXOTE.

10." ' -Shakespeare . . MACBETH — REI LEAR.11.» " - Diversos MORALISTAS ESPANHÓIS.12,° " - Diversos PENSADORES FRANCESES.13,' '• — Milton PARAÍSO PERDIDO.14.= " - Vieira CARTAS.15.' " — Goethe FAUSTO.H.' -' - Chateaubriand ... O OÊNIO DO CRISTIANISMO.17.» " - Chateaubriand ... O GÊNIO DO CRISTIANISMO.18." ' - Ales. Herculanc . LENDAS E NARRATIVAS.18." - - J. P. Lisboa . . VIDA DO Pe. ANTÔNIO VIEIRA20.° '¦ - Joaquim Nabuco . MINHA FORMAÇÃO.

Como Sò ri. a mais alta íi- vãmente. Foram justamente es-mília literária do mundo ai se sas as selecionadas para a edi-encontra, ji agora incorporada. cão. Prefaciou o volume o sr.através dessa preciosa coleção. Nelson Romero. catedràtico doà literatura brasileira. Colégio Pedro II.

£' oportainb fixarmos urr, HORÁCIO E OVÍDIO — Se-pouco mais de perto essas gue-se o volume que os edito-grandes obras e seu?; gloriosos re3 reservaram a Horácio e aautores. Ovídio, e esses dois poetas fi-

A CIROPEDIA. — O prime:- caram, assim, como os repre-te autor escolhido, e que na sentantes do lirismo latino, aocoleção ficou como o represe-.-- lado de Virgílio, representanteiante d;, cultura grega, é Xeno- da poesia didática e da poesiafonte, o general que comandou épica do mesmo e maravilhosoa famoso -¦ Retirada dos Dez povo.Mil''. Escreveu êle a sua "Ci- De Horácio aqui achamos asropedia" com o intuito de dar Sátiras, na tradução de Antó-as melhores e mais puras luzes nio Luiz Seabra.ao espírito go príncipe que era De Ovídio achamos os "Fas-seu discípulo, Ciro o Moço. Sua tos". Como se sabe, propunha-"O-ropedís" fou Educação dr se èle a cantar nessa obra tô-Ciro"), é ama das mais inte- das as lendas, festas religiosas,ressantes obras da Antiguida- acontecimentos históricos ede, e acha-se traduzida em cõ- mudança das constelações, diadas as línguas cultas. Seu va- a dia, no decurso do ano. In-lor é atestado pelo simples fato felizmente a morte atalhou essecie ainda hoje ser citado e estu- trabalho, só tendo o autor con-dado por todas as pessoas que seguido fazer a história dos seisdesejam adquirir cultura, ape- primeiros meses. Embora fossesa:r de te. sido escrita há maU um empreendimento de exe-de 2.3GO ar.os. A tradução é de cução dificílima em conseqúen-autoria dp escritor e filóiogo cia da aparente esterilidade doportuguês João Félix Pereira. assunto, Ovídio conseguiu criarfeita diretamente do originai uma obra quase perfeita, so-gre^o... Prefaciou-a o professor mente superada na Antiguida-Antenor Nascentes, catedràtico de pelos gênios universais dedo Colégio Pedro II, erudito Homero e Virgílio. A traduçãoprofundo conhecedor do grego, dos "Fastos" é de Castilho. A

C3 volumes segundo, terceiro edição traz prefácio do prof.s quarto foram dados â cultu- João Batista de Melo e Souza.ra latina, e se destinam a nos A divina COMÉDIA. — Domostrar Cícero. Virgílio, Hora- radioso mund0 romano, pa9sa.cio e Ovídio. mos j, triste e metafísica Ida-

AS ORAÇÕES DE CÍCERO de Média. Esta se encontra.— "Jma sslôÇão das "Orações" na coleção, representada porde Marco Túlio Cicero, ficou Dante Allghieri. com a suaconstituiude c segundo volume "Divina Comédia". A tradução

e è nessa obra que os "Clássi- escolhida foi a de Xavier Pi-cos Jackson'' nos dão o modelo nheiro, que vem cuidadosamen-desáa insuperável maravilha de te anotada. Traz prefácio de.harmonia sóbria e pura, que Raul de Polillo,a prosa [atina. A tradução os lusíadas. — Segue-sedo padre- Antônio Joaquim, da „ volumc sétimo, que foi reser-Congregação do Oratório, e vad0 „ el.rei CaTOÕes e k ma.resutaai csssica. Para pre,,,- raviihosa epopéia dos "Lusia-ciar o vrrlrrrae foi escolhido das..^ Traz a cdiçao pi.efâci0professor Aluno Arantes. ça de Afrânl0 peixot0i e essa pá-Faculdade ce Direito de Sao gina [oi uraa das ü(fimas quePauto, qi»e exímio tatürota. escreveu aquele eminente e sau-

A3 GEoBOICAS e a ENEIDA doso ^^ ^^,r Seguem-se, constituindo ouixotf - Avolume t«ceire. as duas obras- ° D?M QUIXOTE - a

primas de Virgílio: "As Geôr- °bra S™» de Cervantes re-sicas" e a "Eneida". O primeiro ««varam os editores os volu-cor-.o toda a gente sabe, é um m« .0lta™ e nono da notável

poema didático, enaltecendo coleção. Vem a historia do Ca-amor i. terra, incentivando ™lelro da Triste _ Figura nacultivo ajririo. O segundo. inexçedivel tradução de Anto-

poema épico era 12 cantos, tem mo Pelicano de Cas Ilho e trazoor asãur.rr? as aventuras de P«*>™ - verdadeiro estudoEnéias e a fundação de Roma. fbre Cervantes - de autoriaEssa obra foi considerada *> «f"<* espanhol Feder.cow ,. .„„„, jM rnmariK de Onís, professor da Universi-epopéia nioional aos romanos, • >v.i,-,_,i,i.como a "Iiíada" fôra a dos «ide de Columbia.

gregos. As traduções mais con- Shakespeare — Vem a seguir,ceituadas dessas duas obras do o volume reservado àquele quegênio latino são as de Antônio é universalmente considerado oFeliciano de Castilho e de Ma- maior gênio da poesia huma-nnd Oetorioo Mendes, respecti- na: Shakespeare. Da imensa

obra do poeta inglês foram se-lecionadas duas tragédias —"Macbeth" e "Rei Lear".

MACBETH — todos sabem —é a história tle um general es-coces que nâo trepida em assas-sinar o seu rei para suceder-lhe no poder, movido pela am-tição. As cenas dos remorsosde lady Macbeth são das maistrágicas em toda a literaturauniversal. REI LEAR é a nar-ração das vicissitudes por quepassou o velho rei que dividiuo seu reino entre duas filhasque fingiam amá-lo, preterin-do a terceira, que verdadeira-mente o estimava. A descriçãoda loucura de Lear é de umtrágico inigualável. A tradu-ção de MACBETH esteve acargo do poeta brasileiro Ar-thur de Sales, que também seencarregou do prefácio ao vo-lume. REI LEAR foi traduzidopelo jornalista e professor Jor-ge Costa Neves.

MORALISTAS ESPANHÓIS— O volume XI foi reservadoaos Moralistas Espanhóis, emuma seleção feita pelo prof es-sor David Perez. O volume édos mais importantes, por serdos menos freqüentes ao con-tacto do leitor brasileiro. Co-meçando por Juan Luis Vives,nascido em 1492, vai até 1658,data da morte de Ba Ha sarGracián, abrangendo cento ecinqüenta anos do período maisbrilhante das letras espanho-Ias. Abrange os seguintes au-tores:

JUAN LUIS VIVES — Hu-manista e filósofo notável. Vi-ves foi, juntamente com Eras-mo e Budé, um dos fundadoresdo Humanismo. Tendo percor-rido diversos países da EuropaVives lecionou em sua pátria.em Paris e em Louvaim. Con-vidado pelo rei Henrique VIII.da Inglaterra, ensinou Direitoe Teologia em Oxford, passan-do depois a Bruges, onde es-creveu a maior parte de suasobras, que sobem a mais desessenta volumes.

ALFONSO DE VALDÉS —Esse grande escritor foi o pri-meiro na Espanha a abraçar epropagar a Reforma. Além deseu célebre "Diálogo das lin-guas", obra de extraordináriovalor literário e filológico, es-creveu o magistral livro de sá-tira "Diálogo de Mercúrio eCaronte", do qual se incluemdiversos trechos na seleção.Essa obra é considerada amais perfeita da literatura es-panhola em todo o século XVI.

ANTÔNIO DE GUEVARA -Um dos maiores expoentes daOrdem Pranciscana, Guevarafoi pregador da Corte de-Car-los V, historiador oficial doimpério espanhol e bispo naAndaluzia. Dotado de um espí-rito excepcional, Guevara so-bressaiu em todas as empresasa que se dedicou. Entre suasobras principais destacam-se as"Cartas familiares", das quaissão apresentadas numerosasneste volume, e "Livro áureode Marco Aurélio", em queprocurou seguir o modelo deXenofonte na "Ciropedia".

DIOGO SAAVEDRA FAJAR-DO — Considerado o maiorprosador do reinado de FilipeIV. Apesar das suas ocupaçõesdiplomáticas Fajardo encon-trou tempo para se entregar asérios e profundos estudos e

à composição de obras que lhegrangearam renome universal.As "Emprasas políticas", ou"Ideal de um Principe Cris-tão" formam um dos volumesmais lidos e estudados da lín-gua espanhola. Essa obra é umverdadeiro tratado de moral,figurando nela todas as virtu-des e qualidades necessárias aum príncipe perfeito. SaavedraFajardo é um dos escritoresque convém estudar para co-nhecèr todos os recursos dalíngua, espanhola.

BALTASAR ORACIAN —Prosador e pensador exemplar,e severo moralista, esse jesuítaespanhol foi o escritor que fi-

xou as leis da arte de bemescrever, segundo a escola decultistas. Destacou-se comoprofessor de humanidades egrande pregador. "O herói- e"O discreto", são as mais ad-miradas de suas obras. Nessaedição são incluídos trechosdessas duas produções do no-tável estilista espanhol. Gra-cián foi incluído pela Aca-demia Espanhola no CATÁLO-GO DE AUTORIDADES.

Traduziu as páginas selecio-nadas para o volume o escritorAcácio França, falecido h âpouco tempo, uma das maioresautoridades em literatura cs-panhola no Brasil.

PENSADORES FRANCESES— Igualmente dos mais rarose mais preciosos é o volumedécimo segundo, que na cole-ção está reservado aos Pensa-dores Franceses. Abrange os' seguintes autores:

MONTAIGNE — Notável es-critor, filósofo e moralistaimortalizado pelos "Ensaios",obra em que o autor, ao mes-mo tempo em que se descrevee biografa, pinta toda a hu-manidade, Sem afirmar nemnegar coisa alguma, Montaignec h e g a sempre ã pergunta;"Quem sabe?". Montaigne.uma excepeão entre os filóso-fos, coloca a divindade, assimcomo a virtude, acima de dis-cussão. Segundo Júlio DantasMontaigne "pensou em latim,escreveu em francês e sentiuem português".

DESCARTES — Célebre fi-lósofo. físico e geómetra, con-siderado o verdadeiro fundadorda filosofia moderna. Além denotáveis descobertas científicasdeixou, escritas em estilo brl-lhante. obras de profunda me-ditação, entre as quais sobres-sai o "Discurso sobre o meto-do". Essa obra, que é um ver-dadeiro monumento das letrasfrancesas, figura completa naseleção dos "Clássicos Jack-son".

LA ROCHEFOUCAULD —Essencialmente moralista, LaRochefoucauld nos deixou suaobra exemplar "Máximas e Re-flexões". Verdadeiro desenga-nado da humanidade, .o autorprocura demonstrar que todasas ações e todos os sentimen-tos são sujeitos ao egoísmo, aoamor-próprio -e ao interessepessoal.

PASCAL — Notável escritor,filósofo e matemático, Pascalé o gênio mais prodigioso detodo o século XIX, Aos dezes-seis anos de idade escreveu um"Tratado sôbre as secções có-nicas", que causou admiraçãoaos sábios. Aos 23 anos renun-ciou aos estudos científicos, de-clarando que "o homem nadasabe", e refugiou-se entre osjansenistas de Port Royal. Sãodessa época as suas obras fi-losóficas e religiosas, entre asquais as "Provinciais" e os"Pensamentos".

LA BRUYBRE — O autordos "Caracteres", moralistairônico, traça os seus retratoscom vigor e elegância de es-tilo, o que lhe deu um lugarde realce entre os grandes pen-sadores franceses. Influenciadoprimeiramente pelo grego Teo-fasto.e mais tarde por La Ro-chefoucauld, La Bruyère foi umadas figuras literárias mais sig-nificativas de sua época.

DIDEROT — Pensador, es-critor e filósofo, Diderot foi umdos fundadores da famosa EN-

CICLOPÉDIA, que revolucionouo mundo. De temperamentoinstável, o grande espírito nãoproduziu uma obra continuada,porém pelos fragmentos filosó-ficos e pelos romances que nosdeixou podemos avaliar dequanto era capaz o seu gênioROUSSEAU - Romancistae filosofo na -Nova Heloísa",moralista nas "Confissões",

pe-dagogo no "Emilio", foi imen-sa a influência que Rousseauexerceu em seu tempo. Alémde alguns trechos de sua auto-

biografia "Confissões", são in-cluidas a PROFISSÃO DE FfiDO VIGÁRIO SAVOIANO, do•Emílio", obra que lhe custouo desterro.

O escritor e jornalista -BritoBroca selecionou e prefaciou ovolume e na tradução teve acolaboração de Wilson Lousada.

O PARAÍSO PERDIDO -A obra prima de Milton ficouformando o volume décimo ter-ceiro dos CLÁSSICOS JACK-SON. A tradução escolhida éda autoria de Joaquim de LimaLeitão, a qual já conta cerca

de século c meio e tem sidoconsiderada a melhor de quan-tas existem em nossa lingua.Traz prefácio assinado por Ar-tur H. Robertson.

As CARTAS de Vieira -.Particular interesse terá parao leitor brasileiro o volume dé-cimo quarto, pois é formadopor uma seleção de Cartas doPadre Vieira. São, essas cartas.um acabado modelo do gênero,e têm grande interesse históri-co e biográfico. Discutindo apolítica a ser seguida com osholandeses, opinando sôbre ali-ancas políticas por meio de ca-samentos, debatendo a questãodos cristãos-novos perseguidospela Inquisição, defendendo osindios do Brasil ou fazendoseus modelares relatórios aosuperior da sua Ordem, Vieiraé sempre o estilista inigualá-vel e o escritor incomparávelpela riqueza da imaginação epropriedade do vocabulário.

A seleção foi feita pelo es-critor e jornalista portuguêsNovais Teixeira, encarregando-se de prefaciar o volume oprofessor Luís de Paula Freitas.""O

FAUSTO — Passando ao"volume décimo quinto, vamosencontrar o FAUSTO, de Goe-the, na esplêndida tradução deCastilho. Não será necessáriotraçar encomios a uma obraque é considerada modelo delinguagem e de fidelidade. Traza edição prefácio de Otto Ma-ria Carpeaux.

O GÊNIO DO CRISTIANIS-MO. — O maravilhoso poe-ma em prosa em que Chateau-briand deixou todo o clarão doseu gênio, ocupa os volumesdécimo sexto e décimo sétimoda coleção. A tradução esco-Ihida foi a de Camilo CasteloBranco, completada por Au-gusto Soromenho. Traz prefá-cio de Tristão de Ataide.LENDAS E NARRATIVAS —

O décimo oitavo volume ficourepresentado pela formosa co-leção da narrativa da históriaportuguesa, a que AlexandreHerculano deu o título acima.Do grande autor desse livrodisse Oliveira Viana ser "o es-critor mais vernáculo, escrupu-loso e perfeito do século 3HX'.e Rui Barbosa declara que "ra-ras almas foram neste mundotão grandes, táo divinas comoa desta severa personificaçãodo pensamento científico e damoral cristã". O volume trazestudo introdutório do escritorEduardo Frieiro.

VIDA DO PADRE VIEIRA-Para encerrar a sua preciosagaleria os editores escolheramdois grandes modelos da prosabrasileira — João Franc iscoLisboa e Joaquim Nabuco.

. De João Francisco Lisboa aobra apresentada é a Vida doPadre Vieira, livro que com ra-zão tem sido considerado omelhor estudo biográfico atéhoje existente do grande jesui-ta, não obstante o número bas-tante elevado de autores quese tèm dedicado a esse traba-lho. Objetivando a.figura deVieira sob todos os ângulos,João Francisco Lisboa realizouuma obra notável, que o tor-non credor da admiração doscríticos e estudiosos. Prefaciaa edição o escritor PeregrinoJúnior, que ocupa na Acade-mia Brasileira de Letras justa-mente a cadeira patrocinadapor João Francisco Lisboa.

MINHA FORMAÇÃO. — DeJoaquim Nabuco selecionaram

(Continua na página Mi)

Domingo, 7-11-1948 — Vol, IX, n.° 12 AUTORES E LIVROS

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Pagina 145

História do Jornalismo no Brasil: Ferreira de AraújoFerreiro de

Aro ujoJosé Ferreira de Souza Arau-

jo nasceu no Rio de Janeiro,rm 25 de março de 1846. Eraí:liw de José Ferreira de Bou-a. Araújo e de D. Helena Ma-liana de Sousa Araújo.

Estudou Medicina na Pncul-dade do Rio de Janeiro, e, du-rante o curso, foi interno doHospital da Misericórdia. De-pois de formado, continuoumédico desse estabelecimento,entrou também para o quadrodo Hospital Militar de Andaraí,

A manifestação primordial deFerreira dc Araújo, porém, não<*e encontrava na Medicina,stjíls no jornalismo. Começoupor dar a sua colaboração ajcraalzinhos insignificantes, co-mo o Mosquito e o Guarani.

Dali ascendeu, até se tornar, -em determinado momento, orenovador da imprensa brasi-leira, com o imprimir à Ga-•/cia. de Notícias novos e maismodernos moldes jornalísticos.F Lindando esse órgão, em 1875,com Manuel Carreiro, logo oorientou no sentido de. sua re-novadora concepção jornalisti-ca. Os fatos dessa orientaçãoficaram imortalizados no apre-co e na celebração dos contem-píirâneos. Um deles, Olavo Bi-Jsc, dirá, quando já no apogeuc!;' sua glória, a emoção comt::fe, rapaz amante, sonhava co-laborar na folha de Ferreira deAraújo: "Nunca houve dama,fidalga e bete, que mais maces-.sivel parecesse ao amor de umpobre namorado: — escreverna Gazeta; ser colaborador daGazeta; ser da casa, estar aolado da gente ilustre que lheclava brilho — que sonho! AGazeta era para mim um acro-poiio fulgido, coroado de estre-Ias, perdido entre nuvens...".

E tinha razão Bilac. Ferrei-va de.Araújo reunira nas colu-nas de seu jornal uma compa-nMa, ilustre, na qual se desta-cavam uin Machado de Assis,i:ni Eça de Queiroz, um Rama-lho, Ortigão, um Alberto de Oli-veira, logo depois um Olavo Bi-lac'e um Pardal Mallet, ambosentrados no mesmo dia — 24

¦ do abril de 1890.Escritor eminente, tanto

uuanto eminente jornalista decombate político, perreiradeAraújo encontra-se como igual,como colega, entre esses poe-ies, esses romancistas, esses en-saistas brilhantes. Tem, na se-cão Bala» de Estalo, a respon-sf.bilidade de um dos pseudoni-mos — o de Lulú Sênior. Easa responsabilidade ressaltaconsiderável, quando sabemosque os outros colaboradores damesma seção chamavam-se Ma-chado de Assis (Lelio), Henri-çue Chaves (Biancho), Manuel[Ia Rocha (Ly)...

Homem de letras, escritor deteatro, principalmente. Ferreiracie Araújo deixou numerosos li-vros, originais ou traduzidos.Na ocasião da fundação da Aca-

(Continua na página I48)

Comões e osLusíadas

José Ferreira de Soma Araújo

Voga a náo; vai nela o vateQue à deusa das eras idas •Dera glórias mais subidasQuo olympos que o tempo

[abate..

Venus, bela, a deusa amante,Ouve o canto, ofega. anceia...I. encantada — ela. a sereia —Seyue o bardo triumfante.

Ardendo em zelos, ignora,A onda envolve o convés,Canto e cantor.,. Porém para.-.Chorava a Deus... e tal fez,Que o mar, que Venuz gerara,Deu vida ao belo outra vez.

BIBLIOGRAFIA DEFERREIRA DE

ARAÚJODo ollmeBtuçdo. Do iwiorrelativo dos sinais diagnós-ticos do prerihe%. Históriamédico-legal do aborto. Dodiagnóstico e tratttmento daslebres perniciosas mais fre-quentes no Rio de JaneiroTese apresentada ã Pa-culdade de Medicina, etc—51 pãgs. — Rio. 1867.Depois da morte ou a vidafutura, segundo a ciência,por Louis Ftguier — VersãoS85 pãgs. — Havre, 1877.O Primo Basilio — Comédiaem um ato, a propósito doromance de Eça de Queiroz.Foi escrita especialmente pa-ra o beneficio do ator SilvaPereira. Representada, pelaprimeira vez, na Fenix Dra-matica, em 27 de maio de1878.Jonathan — Comédia em 3

atos Coudinet, Oswald eGefferd.— Tradução — 189págs. — Rio, 1880. Foi re-presentada, no Rio, pela pri-meira vez, no Teatro Lu-cinda, em 11 de julho de1880.A filha única — Drama deTeobaldo Ciconi. Traduçãode Ferreira de Araújo e Vi-valdo Coaraci. — Represen-tado no Teatro S, Luiz, em21 de agosto de 1881.Cousas políticas — Artigos

publicados na Gazeta de No-ticias, de março a dezembrode 1383 — 258 pãgs. — Rio,1884.Fagundes — Comédia de cos-

tumes em 3 atos — Levadaâ cena em outubro de 1884.Balas de estalo — Rio —

1887. E" uma série de arti-gos humorísticos da Gazetade Noticias, na qual Fer-reira de Araújo tinha a res-ponsabilidade de um pseu-dônimo Lulú Sênior — aolado de Machado de Assis(Lelio), Henrique Chaves(Riancho), Manuel da Ro-cha (Ly).Macaquinhos no Sótão —

Rio, 1838. E' outra seção domesmo gênero — esta diária

também da Gazeta deNoticias, Ferreira de Araújonela usa o pseudônimo deJosé Telha.Os Médicos — Peça em 3atos. acomodada à cena bra-slleira. Representada pelaprimeira vez no Teatro Lu-cinda, em 6 de julho de 1888.A Baroneza — Comédia em4 atos. traduzida do francês.Foi representada no TeatroS. Luiz.Vm chapéu de palita ia Itá-lia — Drama em cinco atosde Teobaldo Ciconi. Tradu-cão de Ferreira de Araújo eVivaldo Coaraci. Represen-tado no Teatro S. Luiz.A Politica — E' uma coleçãonumerosa de artigos publi-cados na Revista Brasileira,a partir de janeiro de 1896.

O DIVORCIO E O SENADOCaiu no senado, aliás por umapequena maioria de cinco votos,o projeto de lei do divorcio.Sabe-se que o projeto era emi-nentemente conservador, poisapenas autorizava essa medidaem dois casos: adultério prova-do e tentativa de assassinato.Ainda assim, só permitia odivorcio ao cabo de dois anosde separação, para dar tempoaos cônjuges de bem pensarema situação em que se achavam,

aquela em que iam colocar-se,e a situação em que ficavam osfilhos. Não obstante isso foi re-jeitado. O que quer dizer queo Senado brasileiro entende queo cônjuge traído é obrigado apasar durante toda a vida aculpa do outro; e que quando avitima é a mulher, ela tem derenunciar a toda a esperançade felicidade, a todo bem es-tar, e ficar para sempre pre-sa a quem a desprezou. Querdizer mais, que o cônjuge con-tra cuja vida outro atentou,não tem o direito de procurarem sua fraqueza o apoio de ter-ceira pessoa dotada de melho-res instintos.

O senado brasileiro não des-conhece que as leis não têmforça contra as paixões, contraas necessidades materiais, masprefere que o cônjuge que temrazão para divorciar-se se en-tregue ao concubinato, constl-tua família irregular, procriefilhos privados do direito deherdar e de usar o nome deseus progenitores.

O Senado teve em sua cam-panha contra a lei moralizado-ra e justa o aplauso dos sacer-dotes católicos. £ uma verda-deira aberração do espirito re-llgloso o que leva o padre apregar a indissolubilidade docasamento civil, que êle consi-dera uma coisa sem valor, quasiuma coisa não existente. Paraas almas dos crentes só há umverdadeiro casamento, é o querecebe a benção do ministro deDeus. Podem todas as leis hu-manas decretar o divorcio, ocrente considerar-se-á casado,e não contrairá novas núpcias,emquanto viver o outro con-juge; portanto, aos olhos dagente religiosa, a lei do divorcionão pode produzir efeito, e sóse considerarão divorciadosaqueles que obtiverem do San-to Padre a anulação do laçomatrimonial, anulação que aliásé possível obter em casos maisnumerosos do que aqueles a quese referia a lei rejeitada. Si ospadres atendessem a esta or-dem de idéias, deveria ser-lhesindiferente que as leis civisautorizassem ou não o divorcio.

Mas, não de hoje, mas de hámuito, não só nestas mas emtodas as questões, o poder ca-tólico é essencialmente intole-rante. Para êle o que importaé o domínio das leis que êle di-ta; o que importa é que os in-viduos se submetam à$ suasexigências, que cumpram ospreceitos que tenham as apa-rências da religiosidade, queentrem no rebanho a risco em*bora de o empestar.

ALGUMAS FONTES SOBRE FERREIRADE ARAÚJO

o Álbum - n.° 31 (julho de1893..Barbosa. Rui — A Imprensa

22 de agosto de 1900.Bilac, Olavo — Ferreira deAraújo, in "Critica e Fan-tasia" - pág. 221.Bilac. Olavo — Introdução

à Ironia e Piedade.A Cigmra, 6 de junho de1895 mota com retratoi.Dom Çuixote (várias cliar-gesi : 3-8-1895, 8-8-1896.Galeria mcional — Vol. l.°_ pág. 92.Gama. Chichorro da I A.C.)

Escorços literários — pá-gina 162.Gazeta Literária — Nota sò-

bre Coisas Políticas — 20 demarço de 1884 — pág. 230.Mequetrefe — Retrato —

Janeiro de 1891.Pacheco. Felix — Discurso

na solenidade da inaugura-ção do Dusto de Ferreira deAraújo no Passeio Público —Almanaque Garnier de Ja-neiro de 1914 — pág. 447.

_ A Semana — 13-6-1885 e21-8-1886.

Semana Ilustrada (váriaschargesl: 8-1-1879, 30-8-879,1-11-879, 10-7-830. 2-10-880 e23-10-880.Silva. Inocéncio Franciscoda — Dicionário — Vol. 12.Zeca — Ferreira de Araújo(na galeria jornalística) —A Semana, 13-6-1885.

Ferreira de Araújo

Compreende-se o padre quediz aos verdadeiros crentes quesó o casamento religioso é vá-lido aos olhos de Deus, não secompreende o que diz aos quenâo crêm que o casamento civilé um concubinato; mas o quede todo brada aos céus é que-rerem os padres que isso queeles chamam concubinato, náoseja um contrato indissolúvel.

Não há meio de os convencerque o reino de Jesus Cristo nSoé o deste mundo, que a obedi-ência aos preceitos da Igrejaserve para garantir ás almasdos crentes a bemaventurançaque eles esperam alcançar alémtúmulo, e que o casamento ci-vil só entende com a vil mate-ria e com os direitos da fami-lia durante a vida terrena.

Os padres sabem mais quebasta mudar de religião paraque os indivíduos casados reli-giosamente encontrem quem oscase de novo; o própria sacer-dote católico não reconhece avalidade do casamento contrai-do perante o ministro de outracrença, e portanto não podeestranhar que lhe paguem namesma moeda; sabe a facilida-de com que mudam de religiãoos indivíduos, que não tendoesta ou aquela crença, poucose importam de figurar comofazendo parte deste ou daquelegrêmio; mas na sua intolerãn-cia, pretendem impor as suasleis a todos, pretendem a su-jeição dos que desconhecem asua autoridade, e por isso pro-curam pesar todos os meios sô-bre os que têm em relação aeles qualquer dependência, eobter da fraqueza humana oque já não obtém pregando adoutrina.

Em sua obcessão, o padre nãcyi\ a própria incoerência, nãovê que.falseia completamente oespirito de sua religião. Deuma questão de fé, que é e de-ve ser espontânea, faz um meiode domínio mesmo sobre os es-pirito mais rebeldes, às cren-ças religiosas, e quando obtémpela cabala, pela pressão, vi-tória como esta, proclama quea maioria da população é ca-tólica, por isso que a maioriada representação nacional emtuna das casas do Congressovotou no sentido de suas exi-gências. Si se fosse, porém, aprescrutar o procedimento re-ligioso de cada um dos que vo-taram contra a lei, e dos quevotaram a favor dela por se-guirem o preceito de que hácoisas que são de Deus, mastambém há outras que são deCésar, talvez o resultado desseexame não fosse muito favorá-vel aos apóstolos da intolerãn-cia.

Ê o eterno Crê ou morre,modificado pelas circunstân-cias, imposto pela manha, umavez que já não é possivei im-pô-lo pela força. £ a Inquisi-ção que subsiste, acastelada nasúltimas trincheiras para ondea impeliu a civilização, e deonde domina as consciências,espreitando o lado fraco decada uma para atacá-lo. So-mente, hoje, impõe-se a obedi-ência aos que a professam, epretende-se que uma sociedadeem que há parte que segue di-versos credos e parte que nãosegue credo algum, seja regidapor leis ditadas de acordo comum credo único, ou antes, leismais restritas ainda do que al-gumas que esse credo tem pro-mulgado.

É que todos os argumentosque os padres formulam con-tra o divórcio cedem diante deuma consideração única: si opedido de divórcio for dirigidoao Santo Padre. Ora, sem a leicivil de divórcio, o Santo Fa-dre pode anular quantas vezesquizer o casamento religioso, enos países em que houver ca-samento civil, este continuará a

vigorar para os cônjuges que oPapa divorciou, e si estes con-traírem novas núpcias os filhosque das novas uniões provieremficarão privados de seus direi-tos civis, E aí esá ao que levao espírito de intolerância: nospaíses em que há casamentocivil, e não há divorcio, umasentença do Santo Padre temde ser desatendida pelas auto-ridades civis, e cônjuges divor-ciados não podem contrair se-gundas núpcias, porque a leicivil não lhes permite o que alei religiosa os autoriza a fazei.

Não há, porém, razão paraque se considere perdida estacampanha. Não há quem igno-re que para a derrota do pro-jeto concorreu a circunstânciade ser este ano o de eleições,e que a influência do padre nacabala eleitoral, uma das maio-res misérias humanas em queêle gostosamente se envolve,ainda é considerável. Apelandopara o espirito religioso de uns,para o egoísmo daqueles que,sendo bem casados, não vêm omartírio dos que não têm igualfelicidade, para as pequenasambições destes e para a inca-capacidade manifesta daqueles,o padre pacientemente-fez oseu trabalho de formiga, e dá-se as aparências de apóstolo deuma crença, quando não é maisque o soldado de um .partidopolítico, que tanto maneja asarmas humanas da intriga co-mo as divinas da, promessa deum mundo melhor, promessaque facilmente se transformaem ameaça, sedução que nãoraro apela para o terror.

Mas, a opinião está formada,e a lei há de passar. E seriaestranho que não passasse emum país e sob um reglmem quelibertou a Igreja de todas aspelas .que lhe impunha o regi-me anterior que .aliás obede-cia aparentemente às ordens deRoma. Ai estão reabertos osconventos, e o governo nãomais cobiça os bens das ordensreligiosas; ai estão restabeleci-das as práticas do culto exter-no, que o império proibiu; aíestá a Igreja livre na .escolhade seus ministros, senhora ab-sòluta do campo em que se de-ve exercer a sua ação.

Não é provável que os ho-mens que representam a naçãosob tal regime, que pos em prá-tica todas as tolerâncias paracom a Igreja católica, comopara com todas as outras, aeresignem a ser vitimas da into-lerância de um delas, a per*mltir que a liberdade religiosaque decretaram, se exerça prin-cipalmente para ferir e coarc-tar a sua liberdade civil.

(Revista Brasileira, 1-8-1896).

Do artigo de Apresenta-ção da "Gazeta de

Noticias""A mim, confesso-o. só umacoisa seria capaz de entriste-cer-me deveras: chegar à con-vicção de que dia virá em quehei de deixar de ser moço.Deixar de olhar o mundo peloseu lado bom; por de parte asanta bôa fé para entrinchei-rar-me atrás da cautela; nãoestender francamente a mão aooprimido para dar atenções aoagressor; deixar de rir porqueneste mundo, disse-o já nãosei que espírito doentio, após oriso vem sempre o pranto, se-ria viver morto ! — 2-8-875.

De onde viemos? Da mocida-dei Que somos? A mocidade!O que queremos? Viver, masviver moços, rindo, amando,crendo no que é bom e justo,respeitando o que merece res-peito, despresando o que deveser despresado, erguendo alta-res a quem for digno deles,abatendo as estátuas dos falsos

(Continua na patina 148)

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¦Pagina 146 AUTORES E LIVROS Domingo, 7-1 UmB — Vol. IX, n."ll2

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IIM SONETO DE ANTONIO NOBRE

Um dos sonetos mais formosos do formosíssimo Sóie Antonio Nobre, é aquele dedicado a Santa Iria, Eisjíjsa obra-prima da poesia portuguesa;

SANTA IRIA

Que floresceu em Nabancia no século VII

Mum rio virginal d'águas claras e mansas,Pequenino baixei, a Santa vai boiando.Pouco a pouco dilui-se o ouro das suas trancasE, diluído, vêem-se as águas aloirando.

CJircunda-a um resplendor de verdes Esperanças.Unge-lhe a fronte o luar (os Santos-Oleos) brandoE, com a graça eterna e meiga das crianças,formosa Iria vai botando, vai boiando.

Os cravos e os jasmins abrem-se á luz da Lua,E, ao verem-na passar, fantástica barquinha,Murmuram entre si: É um marmor que flutua !

Ela entra, enfim, no Oceano.., E escuta-se ao luar6. mãe do pescador rezando a ladainhaPelos que andam. Senhor! sobre as águas do Mar...

Leça, 1883.

Ao estudar a coleção da Semana, de Valentim Ma-"íjalhães, encontrei no 1.° volume, no número de 5 deetembro de 1885, esse mesmo soneto. Trás ali a data

de 1885, Leça da Palmeira; e se anuncia como perten-cendo a um livro chamado Alicerces — que, como se..abe, Nobre nunca chegou a publicar.

Gostei de ter encontrado o trabalho de Nobre naSemana, porque pude, assim, comparar aquela primeiraíorma, dada em jornal, no mesmo ano em que foi com-posto o soneto, com a forma definitiva, dada no livro.k a comparação, como se vai ver, é curiosa — pelasi Iteração completa do sentido espiritual e poético, ea.té religioso, do soneto; pelas modificações artísticasque o poeta introduz em vários versos.

*:.: $Primeiramente, o soneto, tal como aparece na Se-

mana, nio celebra "Santa Iria, que floresceu em Na-tancia no século VII"; mas, sim, Santa Cecília. Indi--a-se, em seu titulo, que êle foi feito "sobre um quadrode Delaroche"...

Iria ou Cecília? Pode um poeta cantar e celebrareom sinceridade, em iguais termos, as duas santas, demaneira que indiferentemente põe em sua declaraçãode amor e de saudade o envelope de uma ou da outra?...W5o creio. Elas são, na figura humana, na emoção ena beleza com que viveram, no encanto da lenda queinspiraram, em tudo, diferentissimas. Só o capricho deum poeta melo gira poderia chegar a confundi-las*-3sim...

Quanto ás alterações do estilo é*da forma, emboranão sejam muito numerosas, constituem, acaso, um bommodelo dos trabalhos desse gênero. Posso indicar essemodelo, como estudo e meditação aos aprendizes depoesia, quer dizer a todos os poetas do mundo, Sãoas seguintes as alterações feitas por Nobre:

1.° verso — Onde está o adjetivo claras estava anteso adjetivo puras. Era assim o verso: Num rio virginal3e águas puras e mansas;

3.° verso — Onde está: Pouco a pouco dilui-se,estava: Dilui-se, pouco a pouco;

4.° verso — Estava assim: E vai suavemente as.j.juas aloirando;

5° Verso — Onde está de verdes, estava o adjetivowzenle. Era assim o verso: — Circunda-a um tes-jülendor lnzente de esperanças;

6.° verso — Estava assim: — Unge-lhe a face umlaar sereno, untuoso e brando;

8.° verso — Onde está Formosa Iria, estava SantaCMllla.

9° verso — Onde está abrem-se, estava abrem;12.° verso — Onde está: EU entra, enfim, no Ocea-

>.}. estava: Ela entra no Oceano.São essas as diferenças que o soneto apresenta,

outre a cópia que está no livro e a que está na Se-mana. Não é preciso dizer que, todas melhoraram oíiado poemazinho. Nobre era um grande poeta, e nãoé desses que descobrem emendas piores que o sonetomim que fizeram...

quiOs com Deus... O principal pedido que fazia, emsuas orações, era que lhe fosse concedida a graça denunca perder a virgindade. Fizera-se grande musi-cista, e era hábil no tocar vários instrumentos. Certodia viu-se noiva de um rapaz chamado Valeriano, e,por mais que procurasse evitar o casamento, não pôdefugir ao leito de esposa. Protegeu-se em rudes cilicios,conseguiu fugir aos carinhos do marido. Certa noite,estando só com êle, revelou-lhe um segredo: Havia umanjo de Deus que a amava, que velava sobre o corpodela... Se Valeriano quisesse manchar o corpo delacom um pecado de amor, o anjo se vingaria, matan-do-o... Valeriano, naturalmente, não acreditou nessahistória de anjo. Cecília mandou-o, então, á presençado santo velho Urbano, para que se purificasse. E Va-leriano viu Deus, e pôde acreditar e ter fé. E con-vertido e batizado, voltou á presença de Cecília. Aoentrar no quarto da esposa, encontrou-a conversandocom o seu anjo. Este trazia na mão duas coroas dclírios e rosas. A cada um dos esposos deu uma dessascoroas, e disse a ambos:

Guardai essas coroas de um coração sem man-cha e de um corpo sem impurezas. Eu as trouxe doParaíso de Deus. Elas nâo poderão murchar nemperder o perfume, e s.o serão visíveis para os olhosdos que guardarem a castidade...

A Valeriano, como recompensa pela sua bondade,concedeu o anjo a realização de qualquer desejo queêle expressasse: o rapaz pediu a conversão de seu irmãoTiburcio. Sucedeu que este vinha, naquele momento,visitar o irmão e a cunhada. Tiburcio também viu omilagre das rosas, e acreditou no Deus uno e trino...

Começam, dai, as lutas de Cecília, Valeriano e Ti-burcio contra os pagãos. Era Governador um certo Al-maquio, que se divertia mandando massacrar cristãos edeixando-os insepultos. A santa e os seus dois compa-nheiros enterravam os corpos abandonados dos seusamigos em Cristo. Foram os três mandados para aprisão, sob a guarda de Máximo: na enxovia conver-teram a Máximo e a todos os carcereiros. Conduzidosaté á presença de uma estátua de Júpiter, Valeriano eTiburcio nesaram o deus pagão. Foram, então, deca-pitados.

Pouco depois, fez Almáquio vir Cecília â sua pre-sença. Interrogando-a, ouviu respostas de uma firmezatranqüila e terrivel. Disse-lhe ela:

Tu podes tirar a vida aos vivos, mas não a podesdar aos mortos. És pois, o ministro da morte, e nãoda vida.

Em certo momento, Almáquio pergunta-lhe de ondelhe vinha tanto orgulho. Ela tornou: "Não é orgulho:é constância".

Não conseguindo fazê-la adorar os ídolos, o Go-verdador condenou-a ao suplício da água fervendo.Durante um dia e uma noite ficou a moça num banhodessa água, queimando. Com o auxilio de Deus, Ceciliaali ficou como se estivesse na água fria: nem uma gotade suor apareceu em sua fronte. Almáquio determinouque a decapitassem mesmo no banheiro. Três vezes ocarrasco feriu seu formoso pescoço, sem conseguir se-parar a cabeça do corpo... E como não lhe era per-mitldo dar um quarto golpe, teve de deixar na águao corpo semi-mutilado de Cecília. Ela ali viveu, meiomorta, durante três dias. Pôde ainda distribuir comos pobres tudo o que possuía. Quando morreu, SantoUrbano a enterrou junto aos Bispos e benzeu a suacasa (conforme ela pedira), para a transformar numaigreja. Ocorreu isso tudo no século III, ao tempo doImperador Alexandre. Outros dizem que foi no tempode Marco Aurélio.

Cecilia ficou sendo uma das santas de mais mara-vilhoso encanto em toda a aeiologia cristã, Ficou sendoa protetora da musica. E a circunstância de a vermosidentificada, dessa forma, com a mais bela e a maisalta das artes, mostra-nos que na eternidade ela estáperto, mas muito perto, do coração de Deus.

II

História de Santa Cecilia— Cecilia ou Iria? Qual será a verdadeira, a legi-

Uma dona do soneto de Antonio Nobre? — Por maisi_ue amemos e adoremos Santa Cecília (e ela é, real-mente, digna de amor e de adoração), sò ante a Ima-nom de Iria podemos rezar a prece apaixonada doroeta português, fi a sua a lenda que confere com aítuação moral e religiosa do soneto. A expressão hu-

mana, aglológlca e divina de Santa Cecília ê outra, émuito outra.

Vou 4 Legenda Dolrada, e é na poesia Ingênua e.somovida de Jaques de Voragine que leio a história deòunta Cecília. — Era ela filha de uma família patríciaits Rama, e desde criança foi crista: Inala o EvaafeUu-.rcottetide aa ida, e não cessava noite e dia, seus colo-

um criado, de nome Sanam, e manda matarilria. Cos-tunutva ela Ir, todas as noites, a uma grutarejtie haviaperto do rio Nabão.-e. ali se recolhia em colóoulos comJesus. Foi ali que a esperou Banam, foi «linque êlea matou. Depois tirou á morta o hábito que.o recobriae lançou-lhe ao rio o corpo. Tomou-o em suas águaso Nabão, levou-o ao Zerere. Este, por sua vez, o car-regou para o Tejo. E foi o Tejo que, conduaiatlo o querestava de Iria até Scalabicastro, ali abriu-as suasareias, e o enterrou como convinha. Mas-tarde cresceue prosperou o lugar em que dormia a santa.* E Scala-bicostro tornou-se a sugestiva, a poética Santarém -que é como quem dlssese Santa Irene. Santa*fila...

Enquanto a« á»uas levavam Iria, enquanto.a en-ferrava o rio fiel, teve 0 abade Celio uma revelação doque estava acontecendo. Convocou, então, os mongese o povo de Nabancia. e todos juntos se dirigiram áRibeira de Santarém. Ali, êle benzeu as águas.do rioEstas se abriram. E, em fino alabastro, erguido pelasmãos dos anjos, apareceu o túmulo de Iria. »Setiraram

a pedra e viram o corpo da mártir. Querendo tirá-lodali, não o puderam fazer, tanto êle pesava .'.Compre-enderam que era desejo da santa ali ficar.* entre aságuas que tão piedosamente a tinham transportado.Ali a deixaram, e levaram somente algumas-íenqulas— uns fios de seus cabelos, uns pedaços de sua túnica

Passaram-se seis séculos e meio. Um dia. SantaIsabel, mulher do Rei D. Diniz, se dirigiu ao rio, nolugar em que se sabia que estava, dormindo em seutúmulo, o corpo de Iria. Rezou ali com tanto fervorás águas do rio, que estas se abriram, e, "ide novo,deixaram ver o resplandecente sepulcro erguidopelas mãos dos anjos. A pé enxuto, acompanhada dsseu real esposo, entrou Isabel pelo leito do Tejo, echegou oté junto ao túmulo de Iria. Por mais esforçoque se fizesse, não foi mais possível abrir a sua tam-pa. Então D. Diniz mandou erguer a toda pressa, sobreo túmulo, um pendão tão alto que as águas não ocobrissem, nem em sua maior enchente. Três séculose melo depois (em 1644), a Câmara de Santatem man-dou refazer em cantaria lavrada, com a imagem dasanta, o marco de Dom Diniz.

Eis a história, sem dúvida poética e encantadora,de Santa Iria. Ela, a santa, se tornou um dos-objetos

mais comoventes da religião portuguesa. E sua figuratem inspirado, através dos séculos, os mais doces poe-mas, as xacaras mais enternecidas.

Lenda de Santa IriaÊ, pois, Santa Iria a dona do soneto de AntonioNobre.Tomando conhecimento da lenda de Iria, é queverificamos que somente a figura dela poderia o poetater no espirito, quando sentiu a inspiração daquelesversos.Iria, ou Irene, nasceu em Nabancia, hoje Tomarno século VII. Era de familia nobre e fez-se monjano convento do abade Célio. Dela enamorou-se o jovemBritaldo, filho do Conde Castinaldo, Governador deNabancia. Diz Garrett, de quem recolho essas informa-

Ções, que mesmo as santas gostam de ver os homenssofrendo de amor... quando elas são a causa desse so-frimento... Não sei se isso é verdade. Sei que Iriacerta manhã, foi á casa de Britaldo, a fim de curá-lode seus sentimentros. Impôs na fonte escaldante dorapaz as suas doces mãos de santa. E, como por mi-lagre, logo Britaldo curou sua paixão.Mas, agora que estava curado aquele doente, outromais grave surgia no caminho de Iria — o mongeRomlgio, mestre e diretor da moça. Repelido por ela

jurou Romlgio vingar-se. Para isso simulou-se, êletambém, curado do seu amor, Mas preparou para Iriauma bebida estranha, que deu á moça toda a aparênciade uma gravidez. Informado de que aquela que tantoadorava não era a pureza que êle findara por aceitar,sentindo, por outro lado, renascentes os seus desejosagora que ela pertencia a outro — Britaldo volta arequestar Iria. Ela, de novo, o repele, o rapaz deli-hera, entlo, tomar uma vingança definitiva. Chama

A lenda de outra IriaEla mesma, ou a outra Iria?Forque, como nos conta mestre Garrett, tão-amo-

roso das tradições de seu doce Portugal, há duas santasIrias... Ambas moças, ambas adoráveis, a tradição asconfundiu. E elas acabaram por formar, na Imagina-ção popular, uma única figura de poesia e Infelizbeleza.

A outra Iria parece ter sido a que ficou imortali-zada nos romances populares. Era uma formosa moça,que, estando em casa de seus pais, viu chegar, a horasmortas, pedindo pousada, um cavaleiro. Acolhido comatenção, este, que era um homem de maus propósitoslevantou-se de noite, foi ao quarto de Iria, arrancou-a

da cama. Em seguida, montando a cavalo, carregou-apara longe, e ao chegar a um sítio que lhe pareceupropicio, tentou violentá-la. A moça resistiu, e o ban-dido, a degolou. Passaram-se sete anos, e o assassinovolveu àquelas terras, onde tinha tido tão triste aven-tura. Viu, no lugar em que degolara a moça, umaermida, e, indagando de que santo era, foi-lhe respon-dido que era de santa Iria. Êle compreendeu então amonstruosidade de seu crime sem nome — o de tecraptado, o de ter tentado violentar uma santa. Vai à

ermida, cai em prantos diante da imagem de Iria, di-zendo:

"—Minha Santa Iria, meu amor primeiro,Se me perdoares, serei teu romeiro".

Ao que, muito severamente, a santa responde:"Perdoar não te hei de, ladrão carniceiro,

Que me degolaste que nem um cordeiro".

£ claro que a lenda da primeira dessas duas santasrepresenta um elemento de poesia e drama infinita-mente mais rico e complicado do que a da segunda.Na última temos apenas um cavaleiro amoroso que,procurando possuir a mulher de seus desejos e "ãologrando o seu intento, a assassina. Na outra temoso duplo romance do amor e do crime — dois Indiví-duos apaixonados pela mesma moça, um deles a ma-tando porque a julea amorosa do outro; temes o riotransformado, & maneira paga, em personagem cons-ciente, carregando ,„po uu sama pata o lugar emque ela deseja dormir seu último sono; temos os anjos,erguendo o túmulo dentro das águas do rio; e temos,enfim, a visita piedosa dos reis ao túmulo em que jaziao corpo da santa,

É evidente que o povo ama e procura tudo o quee mais simples. O romance folclórico que Garrett en-çontrou dedicado à flsura de Santa Iria é alusivoàquela aue Joi degolada-pelo cavaleiro, e náo àquelaque foi jogada ao rio.

Os poetas eruditos, porém, parecem preferir a Iriaque foi levada pelas águas. £ a esta que se refere osoneto de Antonio Nobre que deu origem a estas

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Domiago, 741*1948 — Vol. IX, n.° Í2 AUTftOTJB E LIVROS Pagina 147"0 CORVO", DE EDGAR POEMeia noite seria, hora triste! alquebradoj de tédio vencido, uma vez, debruçadosobre tomo e mais tomo, em que antigos autoresExpuseram saber, saber, que bem raros leitoresTem hoje, eu meditava, o lido ponderando,QUe em tais livros de antânho andara consultando,E já, do cochilar, meio ao sono passava,Quando ouvi de repente um bater, que soava\ porta do meu quarto, ali à máo, baixinho,Como o bater de quem, batesse de mansinho,Batesse de mansinho à porta do meu quarto.Dentro em mim. mal o ouvi, disse eu: "A horas tais,Quem pode vir bater & porta do meu quarto?Aluguem, que me procura. Há de ser. Nada mais",

Eia então — claramente ainda hoje o relembro!3 seu espectro, no chão, cada braza deixava,E seu espectro, no chão, cada braaz deixava,Que, aos poucos, a morrer, no lar agonisava.Aflito estava eu já por que nascesse o dia;E, em vão, dessa leitura, ao meu sofrer, queriaTirar alívio ~r- alívio a crua e dura mágua;Alivie, que abrandasse a enorme, a funda máguaPe haver perdido, haver perdido, ó, sim! Lenora,A virgem radiante, a quem saudade chora!A virgem peregrina, a quem os anjos chamamLenora — Aquela a quem, nos coros triunfais.Lenora, lá no céu, os anjos ora chamamE nome não terá na terra nunca mais!

E o frouxo (arfalhar, que vinha das cortinasDe seda roxa, incerto e mesto, nas retlnasMe punha visões tais, e, na alma, tais terroresQue iguais nunca eu sentira; e em tâo cruéis tremoresMe entrava a sacudir que, por conter os saltosAo coração — por ver quedar os sobresaltosEm que dúbio tremia, entrei a repetir,A repetir sem conta, entrei a repetir:"Está alguém a bater à porta do meu quarto;Bate alguém, certamente, à porta do meu quarto;Alguém que me procura e quer falar. De certo,Alguém, que, sem querer, se atrasou. Pois que maisPode ser?... E' alguém. Hà de ser. E. de certo,ES. decerto, isto mesmo. Há de ser. Nada mais".

A alma se me aquietou assim; e, então, perdendo,Perdendo a hesitação, afoito fui dizendo:"Quem quer que vós sejais, ou senhor ou senhora,Vosso perdão aqui sinceramente imploraQuem, quase a cochilar, confessa, e tão de mansoBatendo vós á porta, à porta tão de mansoBatendo, tão de manso, à porta do seu quarto,Mal poude perceber que à porta do seu quartoBatieis". Neste ponto, à porta dirigindoO; passos, neste ponto, agora, eu. acudlndoÀ porta, ao enfrentá-la, abri-la pronto busco;E, de 'braço estendido, ao tocar-lhe os humbrais,Eícancaro-a de vez num movimento brusco:Lá fora, a escuridão. E só. E nada mais.

E, dessa escuridão, cravando o olhar no fundo,A iüvolvè-la estive, ;a revolver-lhe o fundo,Su:prêso7apavorado, hesitante, a sonharSonhos, que não ousou ninguém jamais sonhar.Mas, o silêncio, mudo: o mesmo sempre. E a treva.Calada em frente a mim, nenhum indicio a trevaMe dava. Dela só, somente me chegava,'Me

chegava ao ouvido em voz, que o murmurava,Um nome, e em murmúrio, um nome só, Lenora!Era eu qye o murmurava; era eu, e já LenoraEis o éco a responder, Lenora repetindo;Palavra, que só eu, na treva, entre as letaisAngústias da incerteza, em sonhos me afundindo,Picara a repetir. Só isso. E nada mais.

Voltando ao quarto, então, com a alma em fogo a arder,Com pouco ouvi de novo, ouvi baixo bater,Bem de leve outra vez, mas mais alto um pouquinho,Mais alto desta vez. mais alto um bocadinho."EO com certeza, "eu disse", é com certeza, agora,Uma coisa qualquer, que bate lá de foraNas gelosias. E'. Mas será;?... Quem n'o sabe?...Quem sabe que mistério há nisto? Quem n'o sabe?...Socega, coração! e deixa-me que o veja;Que, por meus olhos, sonde o que fôr ali esteja;Que sonde o que Isso fôr; que o sonde por meus olhos,Que o mostre ao meu pavor, e, em linhas naturais,0 fato ponha à luz, mostrando-o claro aos olhos.HS', com certeza, o vento. O vento e nada mais".

Para o janela, pois, crescendo, eu a escancaro;E, mal o olhar firmei, logo o vulto deparoDe um corvo senhoril dos bons tempos de outrora,Que, da lutada em pós, entrando lá de fora.

VIISegunda tradução de João Kopke

(em verso)

E circumgira e paira e se vai, por fim, pôr,Sem saudar, sem deter-se ou pousar, se vai pôr,Com ares de fidalgo ou fidalga, assentadoBem por cima da porta, ao alto empoleiradoDa porta do meu quarto, em um busto de Pallas;Alcandorado ali sobre o busto de Pallas;Alcandorado ali. do branco busto em cima;

Do branco busto sobre as formas divinais.Nesse busto pousou, que a minha porta encima.Pousou; deixou-se estar. Só isso, e nada mais.

Ao ver dessa ave negra o modo assim severo,Ao ver com que decoro e com que porte austero,Ali, defronte a mim. tão grave procedia,Desfez-se num momento aquela fantasia,Que a mente me assaltara, e transmudou-se em ri"Embora", disse eu, pois, dando expansão ao riso,"Tosado", embora, cerce o teu penacho veja,Não quero crer que tal á covardia sejaTaxada punição. Não és um velho corvo,Repelente e fatal, que foges ao céu torvo.Certo, um titulo tens e foros de grandeza;Tens estirpe e brazões rios reinos avemais.Dize, pois, qual teu nome entre a ilustre nobrezaDe Plutão?" E tornou-me o corvo: "Nunca mais".

De pasmo me tomei ao ver com tal clarezaFalar essa ave horrenda, embora, com certeza,Sentido não tivesse, ou pouco ou nulo alcance,A resposta, que deu assim tão de relance.De pasmo me tomei, porquanto ninguém podeFugir a concordar, ninguém, na vida, podeDizer que outro mortal já tivesse a venturaDe ver pousar uma ave, ou outra creatura,Ao alto, sobre a porta, a porta do seu quarto;Sobre busto, que encime a porta do seu quarto;Pousar, deixar-se estar e nada mais; uma aveHorrendo, que viesse, afrontando hiberneisRigores de procela, a noite, austera e grave.Dizer-lhe que no inferno a chamam. Nunca mais.

Assustou-me resposta assim tão bem cabida,Que rompeu a mudez até aí mantida.Assustou-me a resposta; e, então, para explicá-la,Eu me puz a dizer qual quem a medo fala:"Nestas palavras só consiste certamenteO seu vocabulário; e, nelas, inconciente,Reproduz o que ouviu. Com certeza, a algum donoInfeliz pertenceu. Pode ser que a algum donoTivesse pertencido, a quem com teimosiaPerseguisse a desgraça, e, na monotoniaDesse estribilho só, distração procurasseÀs dores, que gemia — às dores sem iguaisDo seu sofrer, e a mágua aos lábios lhe levasse.For desabafo e alento, o grito: "Nunca mais".

No entanto, o corvo, só, pousado sobre o bustoQuedo, pousado e só, dali de sobre o busto,Não me deu mais que tal resposta, em que puzeraTalvez tada a sua alma. E nem ao que disseraMais nada acrescentou. Nem uma só das penasMoveu. Não mais moveu de leve uma das pena.;Que fosse, a não ser quando eu. mal e mal, baixinhoE murmuro, falei, mas baixo, bem baixinho:••Em antes dele já perdi muitos amigos:Perdido tenho, sim, por vária vez, amigos,Que foram sem retorno. Irá êle também

*Sem retorno, assim como aos caros ideaisA esperança se foi, e, com o dia que vem,Este irá". Grasna o corvo apenas: "Nunca mais .

Porém mais uma vez, essa ave transformandoA tristeza à minha alma e em riso a transmudanoo,Fiz rodar um assento e dela o puz em frente,E do busto e da porta em face justamente.Bem defronte lho puz; e o corpo, no veludo,Todo o peso largando, afundei; e já tudooue estivem a pensar - idéia ou fantasia,Comecei a prender com elos, que queriajungidos, para ver que sentido quiseraAquela ave ominosa á resposta, que dera

Inculcar; para ver se encontrava o sentidoQue essa ave de feições e gestos espectraisga resTosta pusera; - achar -m que sentido

N„ crocitar dizia apenas; "Nunca mais .

Para tal, eu, sentado, a rever, mas comigo,

minhas notas; é a ela, também, que se referem aquelassuaves quadras de Afonso Lopes Vieira:

Iria, livre da máguaE' do mundana] desejo,Dorme rio fundo do Tejo,Venerada ao longo da água.

Sempre pura, sempre linda,Alva, loira, virginal,Iria repousa ainda :No sepulcro de cristal.

Os anjos ali fizeramEsta cama cristalina;E embalando-a, adormeceramA pobre moça menina.

Iria dorme sonhandoDe-baixo dágua, que, ao ve-la,Com leves passos andando

"Jãmãis"ãCõi'da-a donzela.-^ -

O que vira, fiquei, mas a sós, sò comigo,Sem palavra sequer dirigir a, agoureiraAve, que, com o olhar, qual rubida fogueira,O âmago ao coração me estava requeimantic.No coxim de veludo a cabeça pousando.No coxim, que o clarão da luz como Um oft&rDe cupidez voraz descia a Iluminar,Eu, a gosto, escrutava o que quisera o corvoDizer no seu falar, que tinha em tanto eEtcrvcA fácil compreensão. Nesse coxim, agora,A fronte eu descansava, em que cVEla jamaisA fronte pousará qual se pousava outrora.Não mais se pousará, oh, nunca, nunca mate!

Como que o ar então me pareceu mais de;:?.:.;A modo que um perfume ali pairou de incenso,Que, em turicremo vaso, ao ar silente alçassemSerafins, cujos pés cm cadência roçassemA alcatifa, que o chão do meu quarto alfaiava.E. pois, à inspiração, que sobre mim baixava,Cedendo, a me exprobar do pavor, que sentia,Contra mim revoltado, em alta voz dizia:¦Desgraçado! Teu Deus, teu Deus, por estes anjos,

Teu Deus trégua te fia; teu Deus, por estes anjos,Remédio à dôr te manda. Esquece de LenoraA perda, e empina ?. taça, em que as dores mortas.Tu podes afogar. Risca dessa LenoraNa mente o nome". E grasna o corvo: "Kunca miis"

•Profeta", eu disse então, -ave ou demõmo sejas.Frofeta mesmo assim e como quer que o sejas!Pelo Céu, que nos cobre, e o Deus, que veneramos,Por tudo quanto os dois por mais caro prezamos,Dize, dize à minha alma. a que a dor tanto premr,A alma, que esta saudade infinda e crua geme,Dize por compaixão se, no Éden distante,Em seus braços verá a Virgem fulgurante;Aquela Vtasem santa, a que, no céu, LencraChamam, e que ninguém na terra chama agora;A virgem, por quem peno — a Virgem, que a saudade,Me traz sempre na mente em sonhos perenaislOh, dize se algum dia abraçá-la, em verdade,Lá no Céu, poderá!" E o corvo: "Nunca mais".

-Profeta, eu disse então, 'ave ou demônio sejas,Profeta mesmo assim! Quer vindo aqui tu sejasA tentar-me, ou lançado o sopro das borrascasTe houvesse a esta plaga — aflito, mas das tascisDu desespero livre; — ao ermo desta plaga,Que um poder infernal no seu efluvio alaga;Ao selo deste lar, onde o terror domina —Se tem a dor, que assim saudade me propina,Lenitivo, que a acalme, oh, dí-lo, que fo imploro!Oh dize-me se tem este luto, em que choro.Trégua, que ao meu sofrer as torturas abrande;Lenitivo, que à dor embote os seus punhaisE á saudade, que peno, o esquecimento mande.Oh, di-lo, corvo, di-lo!" E o corvo: "Nunca mais .

"Que seja essa resposta a nossa despedida,Óu ave-oú tentadõrlS-toadei com a voz ejísica, , ,-,,:,Num salto em pé me pondo. "Oh. volta^tempestade!Volta a noite dò inferraji Em minha soleoade . ; ,. ,¦¦Que eu fique sempre só! Não deixes uma pena.. - ¦¦<¦

Nem uma pena só. nem uma negra penaDas tuas em penhor desta mentira atros,oue acabas de afirmar com refalsada voz!De sobre o busto sai! O vulto, ela, retiraDe sobre a minha poria I O adunco bico tuaDaqui cio coração, onde o cravaste! OJvmu™Embora e deixa em paz meus tristes P«**KnsOu ave ou tentador, deixa-me em paz! Oh, vai-te.

E, imóvel, diz o corvo apenas: «Nunca n»s!

E. sem mais se mover, ali se tem pousado,Imóvel sempre, o corvo; ali, alcandoradoD» Pallas sobre o busto — erguido ao alto — acimaDa porta do meu quarto — e mudo e quedo a encima SE os olhos seus são come "os olhos de um demônioAbsorto a maquinar — são olhos de um demônio SE, da lâmpada a luz, sobre éle em cheio desceO clarão com fulgor, que vivo resplandece,E lhe estampa no chão a dura e negra sombra IE minha alma, oh, horror! da treva dessa sombre

-Que flutua no chão pairando eternamente,Minha alma do negror, que os giros infernaisAdensam no voar, que paira, eternamente,Nunca mais se há de erguer! Ai, nuncal nunca mais!

("Revista do Brasil" - Vol. IV - Janeiro-Abvilde 1917 — págs. 71-83).

NOTA: Veja, neste mesmo volume, as páginas "...

51. 60 e 111.

6

feío«-seílBe;Snflm; s-*)!óíaQue dos olhos se desata.

Tem consigo a agulha de ouroMais o seu dedal de prata.

Uma coisa acho estranha, ainda. E' çue AfonsoLopes Vieira tenha confundido as duas sarO^s. Se.êl-:can ou,, nas trovas adma, a moça qu^ foi lançadano rio, poz como epígrafe aos seus verses ¦'um dísticodo romaii"e de San Iria, que vom nas "Viagens f.minha terra", de Garrett, romance que é alusivo j^oütrã sanTa""do"Tfl^"mo"àõitíer

Mas, enfim, os poetas são soberanos ao seu. reine0f ;p* nós..s.ó> nos iMbe aceitar p respeitar; seus destenies •

, ' sagrados...

Pagina 148 AUTORES B LIVROS Domingo. 7-11-1948 — Vol. IX, n.« 12

¦!¦"-. ü I r m m. ^ at An, Raridades de Seleções de

I f 3 I I I O MelO r f O II ( O Raimundo Correia Bernard ShawNa sexta-feira, 29 de ou-

tubro findo, dia em que oBrasil comemorava o trans-curso do segundo aniversá-rio da libertação da tirania— tombou sem vida, víti-ma do mais estúpido crime,o líder udenista Virgílio deMelo Franco.

O assassinio foi perpetra-do às 4:30 da madrugada,por um antigo copeiro deVirgílio Melo Franco, o in-divíduo Pedro Pereira San-tiago. Despedido da casada família Melo Franco porse haver aventurado a soli-citar com demasiado ardoros amores de uma criada,fora despedido. Para vin-gar-se, resolveu assaltar acasa de que fora copeiro.Assaltou-a a primeira vezna ausência de Virgílio deMelo Franco, e de lá carre-gou duas bolsas recheiadasde dinheiro e um revólverde uso do dono da casa.Voltou para um segundoassalto. Foi então pressen-tido por Virgílio Melo Fran-co, e, quando subia umaescada que conduzia da salade visitas ao quarto do ca-sal, repelido a tiro. Res-pondeu, disparando uma es-pingarda de caça, de pro-priedade de seu antigo pa-trão. que momentos anteshavia roubado. Desse atrozduelo tombaram sem vidaambos os contendores: oassaltante com o coraçãovarado, nos primeiros de-graus da escada que tenta-va subir; Virgílio com o fi-gado perfurado, na porta doseu próprio quarto de dor-mir.

O enterro realizou-se àtarde daquele triste dia, eno cemitério de S. JoãoBatista, à beira do iútmulo,fizeram-se ouvir os srs.Prado Kelly, que falou emnome da UDN, partido po-lítico cujo chefe em MinasGerais era Virgílio MeloFranco; Pedro Aleixo, queleu as despedidas do gover-nador de Minas Gerais, sr.Milton de Campos; LopesCançado, pela bancada ude-nista na Câmara Federal:e o ministro Ribeiro da Cos-ta, em nome dos antigos co-legas de Virgílio na Facul-dade de Direito.

Virgílio Melo Franco nas-ceu em Ouro Preto, em1897, e. era filho de Afránio

de Melo Franco, e neto,pelo lado materno, de Cesá-rio Alvim. Formou-se emDireito em 1918, e no anoseguinte via-se eleito depu-tado estadual em Minas Ge-rais. Tomou parte no mo-vimento revolucionário queagitou o Brasil em 1930, edo qual resultou a vitóriado sr. Getúlio Vargas. Foi,porém, partidário da cons-titucionalização do país em1932, e de todo se separoudo sr. Getúlio Vargas em1934. Fez parte da Consti-tuinte reunida aquele ano,e não quis deixar de dar oseu depoimento de homemlivre, partidário de ideaisdemocráticos, ao ver o ru-mo ditatorial que o govêr-no do seu amigo ia toman-do. Foi, em 1944, um dossignatários do Manifesto dosMineiros, do qual é um dosautores. Foi também umdos fundadores da UniãoDemocrática Nacional, par-

tido cuja secretaria geralexerceu, e do qual, comwjá dissemos, era o chefe nasecção de Minas Gerais.Era casado com D. DulceBoa-Vista de Melo Franco,não deixando filhos.

Ao lado de sua atuaçãopolítica e parlamentar, Vir-gílio Melo Franco teve tam-bém certa atuação jornalfs-tica, e mesmo literária. Em1925 fundou com AzevedoAmaral e Tristão da Cunha,o matutino O Dia; em ju-nho passado fundou a re-vista Palítica e Letras, quejá tem feito circular duasdezenas de números.

Deixa dois livros: — Ou-tubro de 1930, volume emcujas páginas é estudada agênese e o desenvolvimentoda revolução que levou aopoder o sr. Getúlio Vargas;e um relatório, feito comosecretário geral da UDN, eno qual dá conta das ativi-dades desse partido político.

Bibliografia de Luiz Figueira(Conclusão de pág. 137)

gratidão e submissão porJoaquim da Silva Gui-marães, natural da Ba-hia. — Bahia, Tipogra-fia de Manuel FelicianoSepulveda, in-8.° gr. de6 ff. não num., VI-105-12 pp. num., 2 ff. nãonum. No fim traz: Ba-hia, Tip. de B. Sena Mo-reira, 1852.Gramática da língua doBrasil composta pelo p.Luís Figueira, novamen-te publicada por JúlioPlatzmann, laureado daSociedade Americana deFrança. Fac-simlte da'"edição de 1607. Leip-2íg. B. C. Teubner, *1878, in-8.°. No fim lê-se: Imprimido na OTici-na e Fundição de W.Drugulin, em Leipzig.Arte de gramática dalingua brasilica do padreLuis Figueira, teólogo daCompanhia de Jesus.Lisboa, na Oficina deMiguel Deslandes, anode 1687. Com todas aslicenças necessárias. No-va edição dada à luz eanotada por Emilio Al-lain. Rio de Janeiro,Tipografia e Litografia

a vapor de Lombaert &Cia., 1880, in-8.° de 150

DO ARTIGO DE...(Continuação da pig. 145)ídolos, tendo em mão o íncen-

so para o talento e a virtude,na outra um chicote para osvendilhões do templo.

A nossa pretençfio é simples:dizer o que pensamos e senti-mos, ser o que somos.

lulú Sênior(2-8-75)

FERREIRA DEARAÚJO

' (Continuação da pág. 145)demia, foi o dele um dos no-mes lembrados para fazer par-te do quadro inicial. Não acei-tou, porém, o convite que lhedirigia Lúcio de Mendonça, afim de tomar parte nos traba-lhos preliminares, e por issodeixou de fazer parte da ins-tituição.

Ferreira de Araújo faleceunesta Capital, em 21 de asôstode 1900. Em 4 de agosto de1912, foi inaugurado, no Pas-seio Público o seu busto embronze, orando na cerimoniaFelix Pacheco.

Usou na Gaseta de Noticias(1887) os seguintes pseudftni-mos: Lulú Sênior (Balas de Es-talo), José Telha (Macaquinhosno Sótáo).

£ patrono da Academia Ca-rioca de Letras.

CRONOLOGIA DA LI-TERATURA...

(Continuação da pág. 142)José de Melo Azeve-do e Brito.-- Nascimento de BeatrizBrandão (29-7).1780 — Nascimento de Ja-nuário da Cunha Bar-rosa (10-7).

1781 — Nascimento deGonçalves Ledo (11-12).

—• Publicação do- "Ca-ramuru", de SantaRita Durão.

1782 — Nascimento de An-tônio José do Amaral(13-8).Tomaz Antônio Gon-zaga parte para o Bra-sil, vindo para ouvidorem Vila-Rica.

1784 — Nascimento de Dio-go Antônio Feijó (9-8).Nascimento; de Fran-cisco de Montalverne(9-8).Falecimento de SantaRita Durão (24-1).Falecimento de D.Tomaz da Encarnaçãoda Costa e Lima (14-

1785 — Nascimento de Fr.Francisco Xavier deSanta Rita Bastos Ba-rauna.

pp. num. e 1 ff. de er-rata.

— A Grammar and Voca-bulary of the Tupi Lan-guage. Partly collectedand partly translatedfrom the works of An-chieta and Figueira, no-ted Brazilian Missiona-ries, by Lobs Luccock —Rio, 1881, 4° de 230 ps.Na folha de rosto Luc-cock escreveu: "ThisGrammar is not suffi-ciently digested and isarranged badly".

Vem no tomo XLIII,parte 1." da Revista doInstituto Histórico

__ (1880).Serafim Leite. Luiz Figueira.

A sua vida heróica e a sua obraliterária. Agência Geral da Colo-nlas. Lisboa. 1940, 251 págs.

Contém numerosas relaçwes dapena de Luiz Figueira.

A POROROCA(Conclusão de pág. 137)

neira os que uaó com a agoacom destreza se mete nacanoa e só trataõ de endi-reytar sempre c6 a corren-te; e desta maneira embreue tempo os leua a fu-ria da maré mui longo ca-minho; ainda que estaualentia naõ a fazem senaõindios em canoas ligeiras edescarregadas: porém osmais que ande encontrar acorrente, ou se mete em ai-gum esteiro ou riacho atéque passa a Pororoca cujoestrondo se ouue de muilonge, ainda que quando jáse ouue naõ tarda muito,ou esperando a Pororoca,como já disse de pois depassar aquella fúria das 3primeiras ondas, se uaõ re-mando contra a corrente,em que já naõ há perigo.(Serafim Leite — LuizFigueira — Lisboa, 1940).

FARIA NEVES(Continua na página' 148)

para êle, diríamos que eramseus irmãos um Augusto deLima ou mesmo um Rai-mundo Correia — aquelesque aliam á tristeza naturalda alma dos poetas a capa-cidade e a finura da medi-tação filosófica.Recife reconhece que pos-sui, no autor de Pôr do Sole de Noite um dos repre-

sentantes de sua mais belae eloqüente poesia. E' dig-na de apoio, pois, a inicia-'tiva dos que agora se dis-põem a pôr em uma das pra-«as da capital pernambuca-na o busto de Faria NevesSobrinho. <

PÉROLAS.(No álbum de d.

Amélia Mariano de Oli-veira).

Não nascem no rio as pé-jrolas:

A água do rio é tão doce.Que, para as poder gerar.Mister seria que a pérolaUma lágrima não fosseE esta expressão de um

[pesarVem do oceano amargo a

[pérola:~~ Na água do rio há do-

[curas,Amarguras na do mar.Sinceras lágrimas — pérolasVerdadeiras — que amar-

[gurasPreciso é para as chorar!

ESTRELAS DE PÓA poeira zune em rajadas,Remoinhos e borborões;Faísca o sol nas calçadas.Em cruas verberações.O azul tem reflexos de aço;Fuma a cal dos muros nús;Saltam chispas ao mormaço,E há trombas de poeira e

[luz.. .A poeira, que o sol acende£ o tufão vem levantar,Em torvelins de ouro es-

[plendeE em fulvas colunas no ar...Mas chove; e a poeira, caídaNo chão, toda é lama só...Tudo é assim nesta vida,Fátuas estréias de pó.

O AMORò amor — abstruso íenô-

[meno.Em vão disserta o doutor,Com ênfase e categórico,Tentando explicar o amor.Leva a mão à testa — abó-

[badaDa sebença interior:Esfalfa-se, perde os óculos,Cái-lhe em bagas o suor .Não no entendem os disct-

[pulos.E as disciplinas, pior:Bocejam de tédio ou riem-se,Cochichando em de redorE eu. simples pastor, que

[rústico.Só sei cantigas de córNa pobre avena. eu. sem

[dúvidaMe faço entender melhor.

Bernard Shaw, prêmioNobel de Literatura em1922, vai ficar como umdos escritores mais repre-sentativos desta primeirametade do século XX. Suacelebridade é hoje univer-sal. E êle é pela opiniãounânime de leitores t cri-ticos, o rei do sarcasmo.

As Edições Melhoramen-tos vão lançar em breve,em traduções de bons au-tores brasileiros os maisbelos trabalhos de Shaw.Entre aqueles que já estãosendo traduzidos, e quedentro de pouco tempo de-verão aparecer nas livrariascontam-se o s seguintes:

"Pigmalião", ",Saint'Joan", "Cândida", "César cCleopatra", "Man and Su-perman", "Androcles andthe Lion", "The Man Des-tiny". "Mrs. Warren's Pro-fession"; "Major Barbara".TODA A POESIA DE GUI-

LHERME DE ALMEIDAEntre as obras que a IPE,

de S. Paulo, tem a lançar,em breve, destaca-se TODAA POESIA, de Guilhermede Almeida. A edição foiorganizada num sô volumede 700 páginas, em finíssi-mo papel "biblia", sendo aprimeira vez que se produzno país uma obra gráficanesse sentido.

CLÁSSICOS JACKSON(Conclusão da página 144)

os editores o volume intituladoMinha Formação. E" a auto-biografia entre todas fascinan-te, pois em suas páginas vemosrefletir-se o esplendor damaior das almas, da mais se-dutora das vidas: a alma e avida do grande diplomata eabolicionista brasileiro. O pre-fácio da edição é devido aD. Carolfna Nabuco, filha, deJoaquim Nabuco, escritora eml-nente que já nos deu acercade seu glorioso pai um livromodelar.

Ai está, em rápida informa-ção, o que é a coleção desClássicos Jackson,

Pelo que deixamos escrito,podem os leitores avaliar o va-lor da contribuição preciosís-slma que á cultura brasileiraacabam de oferecer os organi-zadores dessa esplêndida ga-leria.

A VIDA DOS LIVROS(Continuação da pág. 143)

imensa importância qu» êle temna evolução do saber humano?

*ALENCAR, José — As Minas

de Prata — 2.» ed. — Edi-ções Melhoramentos. — SãoPaulo, s.d. (1948), 1051 pá-ginas.

E' a 2.* edição que a Com-panhla Melhoramentos de SãoPaulo, em sua preciosa coleçãodas obras completas de José deAlencar, nos dá desse romancehistórico. As Minas de Pratasão consideradas o melhor ro-mance, o mais bem construídoe o mais poderoso do nossogrande escritor. A edição atualencerrou em um volume só ostrês volumes que formam, nasedições comuns, a obra.BANDEIRA, Manuel — Guided'Ouro Preto. Traduction,

notes et biographie par Mi-chel Simon. Illustrations deLuis Jardim. Ministério dasRelações Exteriores. Serviçode Publicações. Rio, 188 ps.CASTRO, Josué - FundaçãoSocial das Universidades —Gráfica Rio, 1948, 11 ps.

E' o discurso que o autorpronunciou na solenidade desua posse na cátedra de Geo-gralia Humana da Faculdade«acionai de Filosofia da Uni-

versidade do Brasil, em 14 dejunho do ano corrente.KINER, Grace — Os homens ie

antigamente — Tradução deJosé Reis, ilustrações deKathleen Frantz — EdiçõesMelhoramentos — São Pau-lo. s.d. (1948i. 80 págs.

E* um livro destinado aos jo-vens, no qual se ensinam os se-gredos da pré-história e da ar-queolosia. Ornado de 43 dese-nhos de animeis e coisasabran-ge os seguintes capítulos; Asorigens do homem, O homemdas cavernas, Os primeiros pes-cadores, Os primeiros arquite-tos, Os primeiros agricultores,Os primeiros ferreiros, Os pri-meiros comerciantes, Os pri-meiros soldados e As primeirasraças humanas.

*PIMENTEL, J. F. de BarrosO Problema do Petróleono Brasil — Rio de Janeiro,1948, 15 págs.

O Embaixador Pimentel vísi-tou, em abril de 1938, o poçopetrolífero de Lobato, na Bahia.E' a descrição do que ali viu.acompanhado de longos e elu-cidativos comentários, que en-contramos neste seu trabalho.QOTNTANILHA, Dlrceu — Ko-

vos Mundos em Vila TeresaContos — Capa de PercyDeane — 1040 — 115 págs.