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fè@§ SUPLEMENTO LITERÁRIO DE "A MANHA" 9/11/941 publicado semanalmente, sob a direção de Múcio NlHll. 13 ' Leão (Da Academia Brasileira de Letras) GONÇALVES DIAS Gonçalves Dias nasceu na ci- dor c a. fulguração da nossa na- idade de Caxias, Província do Maranhão, em 1823. Trazendo nas veias sangue bra.iiIeÍro do niais legítimo, c reunindo no es- piriP» as tendências mais caracte- ristic;is du povo C|uc nesle recan- to da América veio a florescer, Gonçalves Dias estava fadado a a^° se tiirnar unia espécie de índice «lo gênio do Brasil, alguma coi dc do Os ritos semi-bárbaros do* piagas. Cultores de Tupan, e a terra virgem Donde eomo dum trono enfim se ! abriram cruz de Cristo os piedosos braços; Aa lestas e batalhai mal sangradas- Do povo americano, agora extinto, Het-de cantar na lira.,. "Timhiras" declara Estudando esse («oeta, Silvio Roniero dizia: "Ele é um com-, Se nos pleto produto de sua raça, doaprestar-se para cantar os nus- em que passou a infânciatérios dos deuses dessa gente .. dos esludos que fez em Coiin-rude, não desmerece de tal pro- bra". Se fosse necessário pro-fissio de em seus restante» , , i „. var o juizo do velho critico po-poemas. No Y-Juca-t irama como o representante de tu- "•"." J" " r- Lr„,l; o heroísmo das erandes . ... , „w.„;,i„ ,i„ denamos desligar em Gonçalvescanta o neroisno ua» B.«.. quanto temos possuído de n._ __.u ^ ^ ^ ^ Atri|MS_ ÜS Kuerreiros que se pre- iniimauiente e íiiii «a, aquilo que lhe vem do gé- trihus, os guerreiros que *WUIIIIkmKW/ j^&k ÉiF s^àKvPjuBRm ! liara a um filha *. r i i -i». «^.«.c u„, ii cia cumira aciquinua. raio. sim- --;-. talidades das nossas letras ,aj d.riamosque ,oíre ,Mr del ar , v,tla „„. rdade. Ma- ^ ^.^ ^^ ^ Adc ihc (lca a moadade, mAS oa. dizer, inferior do seu «e fica. t"rtura ,"a,or e.fs'a A - „r»n,l».« ,.,«.,. "'O "aturai <* :l1uil0 <lue !he yein param parI'. ¦ mente n<»sso. As grandes men-, ¦ * 111(.rt.> 9 trUteza de ¦ da eullura adquirida. Para sim- morte, a irisieza aentirani essa coado dc Assi GONÇALVES DIAS Ma- 1110- cidade, escreverá poemas à mar- [>or a.sstm tnais triste, a sombra querida dc 1 1 .. ,- . ..... gênio: o seu gosto das minúcia.., , , gem dos versos do artista '«-»,, ^ £, , d„ vernâ.um velho pa, trabalhado pelos nhense. Olavo BiUc o celebra- ' ^ aQ kbemuit„s dias da existência ra fazendo, com a conleru.ua Ao Ia(lo dessa ^ que sobre o port* a obra prima dos £ é verda(k.iro cnadc,r, Gonçal- demais as ,' '' ... ,««.'¦».-• «us ódios, (,as Sextilhas de Frei Antao encanto 1.7 suas horas ves Dias foi um delicioso lírico Ele soube falar das mulheres com uina ardente paixão. Mes- mo àquelas que o desprezaram enviou cantos de unção amorosa. Toda uma história longa, de um amor insatisfeito, de uni amor SUMÁRIO PAGINA Ml: ²(ioncaltres Maa ²Sumarie seus tralialhos em prosa. K um alto crítico, afeito |K>r demais às zer suas ]i*aixões c aos seus mas ainda assim cheio de uma O indianismo de Gonçalves infinita capacidade de compre- Dias í uni sentimento delicadis- ender bem quando bem amava, simo. Certo ele não teve em seu Silvio Roniero, tecerá em lor- gênio grandes notas épicas que ao da sua obra um comovido bramiam na tuba de um Castro (|cc<. iona<.0 „eia y\fa e i«elo elogio. E* que Gonçalves Dias Alves. Mas naquele filho cie ^ encontranK)S nessa pági- i, realmente, um grande poeta; manieltica havia essa nostalgia Ac(rre Q B|asi, (,e norU. é que ele lem mais do que qual- infinita, essa doçura dc aluía e ^ ^ ^^ pigim d<. ,ior ,-e. quer outro o sentimento da ter- de sensações, essa languidez ^^ e dc „lclallcolia> que é e da Seute do Brasil.sem remédto, que os mestiços AMa uma wf Meus Nesses versos, em que até a própria monotonia do ritmo favorece impressão de um pranto recai cado. Gonçalves Dias soube cantar todo o inferno dos amo- res cortados quando prometiam florações de ventura e de espe- rança possuem. Por isso o seu índia- Anismo é mais dolente do que he- róico. Diríamos que perpassa em toda a sua obra uma visão Fixando em conjunto a obra maravilhosa, uma espécie daque- ie Gonçalves Dias, encontra- ]a "I.indóia" do velho Basilio ¦tos nele, antes dc tudo, o poe- t|a Gama, cuja face se tornara tt. K esse poeta apresenta duas nla;s poética na morte. ínrrnas de ser inteiramente di- Q m3\ ,|e uma jwesia que versas, mas igualmente seduto- procurasse, na época em que gj'r™d|f ."^"Jjf «EsT-ta ras. Kle é, primeiramente, o Gonçalves Dias começou a can- QUe não cessei de quer-er-ta poeta da terra e do meio, o bra- lar> fazcr-se in<lianista, é qu« £•«£ •£*§? cru^"l.»iM sileiro de sangue e de raiz, á facilmente se tornaria uma poe- Dos leus oiiios afastado, sia de empréstimo. ÍNao havia X não iembrar-me tu muito, tinha soado a hora em Dujn mui)do a oulro iInpeiid. (llie a VO/ de Ulll príncipe apaí- Derramei os meu» lamentos . ¦ , L. . Nas sua. das azas doi vento» xonado nos havia dado o nrado Dft mar na crespa cerviz. nesse inonieu- Balo»", ludibrio- da sor» PAGINA 242: ²Gofuialves I»iai a po«fria alemfi. de Ernesto Feder ²O dU Gonçalves Ditu, de Al- cindo Guanabara (Pangloss). ²Opiniões sobre Goiiçalveu Dia». PAGINA 3t3: ¦ Os "Primeiros c»ntoi", de Goa (alves Dias, de Alexandre Her eu lano. A Escrava, da Gonçalves Dia*. PAGINA 25»: ²Minha, terra tem palmeira* «at João Alfonsu.i. ²Os primeiro» verso* de Gonçalves Dias. ²Opiniões sobra Gonçalves Dia* PAGINA 344: ²A morte da Gonçalves Diac, Machado de Assis. ²Gonçalves Dias e a literalura j ranhenie, dc Josué Montelio. ¦ndianista, em suma; e e, de- pois, o lírico enternecido, o can- tor das mulheres, que teve so- nhos gentis na alma e que sou- be cantar esses sonhos... O indianismo Dias foi, no Brasil, tuna espécie de revelação do nosso próprio gênio. O exntisnm penetrou na literatura francesa com o ro- tnantismo. Trazia alguma coisa „a dessa ânsia dc alma, desse ffos- to de sofrimento e desventura. y mie fora importado da Alenia- Rias nha através de Goethe e que talmcntc sincera, reside em que da libertarão, t: "esse ....„c.,;^-íõírã_Mtranha, entre r.er.1*. de Oonçalvcs ^0 5l-\ pareceriam palavras de vaQue alheios males não sente *-, ¦•'LNem -se condói do infeliz. retórica as declaniaçoes de quem™<Mn " fjuer (pie viesse acender os fo- le artifício di ante o patriotismo énio do lirasil que sur- encanto de Gonçalves reside em ser a sua voz to- fora importado da Inglaterra os seus p. através dc Ossian. Gonçalves Dias respondeu, eni nossa terra, a esses gritos de uma arte nova, que na literatu- ra francesa dominavam. Fe/, na poesia alguma coisa daquilo que pouco depois estava reservado Esse é o i»eta delicioso, mas tantas vezes amargo, que havia em Gonçalves Dias. Ele é cer- lamente um dos mais altos can- lores da natureza e do amor que temos possuído. No dia 3 do corrente passou PAGINA 346: ²Gonçalves ulu (treehe de), de Silvio Homero. PAGINA MS: ²Gonçalves IMaev Joai VerM- md. ²Gonçalves Dias, da Cantil» Caule- |t> Branco. PAGINA 24í: ²Làs\ «U Princesa Saneia, de Gonçal- ves Dias. pAGINA S4t: ²Gonçalves Dfau a llterafenra ma- ranhenae, (continuação da página 2«4I. ²Ainda uma ve* Adeus, da Gonçalves Dias. ²Diian fotografias. PAGINA 24»: r- Lenda de Sam Gonçalo, de Gon- çalve» Dtaa. PAGINA 2S0: juca-pyrama. pAGINA 251: ²Vm grande poeta romântico feia- sileiro em Coimbra, de Georg» Baeders. ²Retrato da esposa de Goncalvef Dia». PAGINA SS8: ²Gonçalves Dias, de Lute Otrima- rães Júnior. ²A Gonçalves Dias, de Olsvo Bit**. ²Olhos Verdes a Marabá, de Go»- calvos Dias. _ A filha do poeta <fotografia). PAGINA 299: ²Gonçalves Dtaa, prosador. Meé> nas são simples ecos le ludo quanto havia de puro e a (i<1ta ,|c S|,a morte, no naufrá generoso em seu espirito.gjn (|0 "\'ille de Jioulogne Gonçalves Dias extraiu do AUTQKES E LIVKOS assunto indianismo tudo quanto consagra ao grande poeta poderia extrair de mais alto e sell número de hoje, oferecendo de melhor.aos leitores uma pequena anto- Ele ama e celel.ra tudo o que logia da ol.ra em rerso e prosa . Ios.i de'Alencar farer na pro- « relaciona com a sua raça hu- de Gonçalves Dias, e bem assim « Tr««ra em nossa atua o milhada. Canta-a desde a sua uma seleção de tudo quanto a mis,ST* rZa "3S. tcT religião agreste , cheia de sim- crítica l,ras,.e.ra teu dito de i _ iM-j,,a-melhor sowe tm» tnr au nossa natureza o esplen- Ik.Ios.""-I da Gonçalves Dia! PAGINA 251: ²IMbira, de Gonçalves Dias. Não me deixes, de Gonçalves Dias. Retrato de Gonçalves Dtaa. PAGINA 252: ²O sorriso de Gonçalves Dias a an- trás notas, de Carlos Drummond de Andrade. PAGINA Ml ²Um discarm Gonçalves Mafc PAGINA SU: ²Opinines sobra Gonçalves Dias. pagina an* PAGINA 261: ²Correspondência de escritoras. Carta de Gonçalves Dias a Padre Nunes Leal. PAGINA iW: Opiniões sobre Gonçalves Dias. -A alma, de Joao Ribeiro. ²Separação, de Vargas Neto. PAGINA 264: ²A poesia de Manuel Bandeira, dl Carlos de Queirós. ²Canção, de Gonçalves Dias. ²Cnarnli. > pirata d. AUintlea PAGINA 268: Notas bibliográficas o Conde Moria, de Anatole Tttmm ²Nous Mbllogrifleas ²o Conde Morta PAGINA 2»: ²A vida ê de eaaeea Mtws, *> MU varo Moreyra ²OpiniSes sobre Gonçalves ínaa. ²Efemérides da Açudem!» PAGINA 270: PAGINA 25S: -A poesi» <t« GWlm DlM. de- Lev»nt„l-vol «.Id.a». * *«• Olavo Bilac.de Uma PAGINA 1»1: Gonçalves DlM a poesia da Na-ttenict perfeMa, tonto a> ¥•* tare», BonaM d. Car*.lh..- *,g%mu7. PAGINA MS:PAGINA tnt: Correspondência d* escritores De_,._- ffanttuto o* tS&sluZ'* rrl« A*«™.n».-AM£,iboia5?

BNmemoria.bn.br/pdf/066559/per066559_1941_00013.pdf · fè@§ SUPLEMENTO LITERÁRIO DE "A MANHA" 9/11/941 publicado semanalmente, sob a direção de Múcio NlHll. 13 ' Leão (Da Academia

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Page 1: BNmemoria.bn.br/pdf/066559/per066559_1941_00013.pdf · fè@§ SUPLEMENTO LITERÁRIO DE "A MANHA" 9/11/941 publicado semanalmente, sob a direção de Múcio NlHll. 13 ' Leão (Da Academia

fè@§SUPLEMENTO LITERÁRIO DE "A MANHA"

9/11/941 publicado semanalmente, sob a direção de Múcio NlHll. 13' Leão (Da Academia Brasileira de Letras)

GONÇALVES DIASGonçalves Dias nasceu na ci- dor c a. fulguração da nossa na-

idade de Caxias, Província doMaranhão, em 1823. Trazendonas veias sangue bra.iiIeÍro doniais legítimo, c reunindo no es-

piriP» as tendências mais caracte-ristic;is du povo C|uc nesle recan-to da América veio a florescer,Gonçalves Dias estava fadado a a^°

se tiirnar unia espécie de índice«lo gênio do Brasil, alguma coi

dcdo

Os ritos semi-bárbaros do* piagas.Cultores de Tupan, e a terra virgemDonde eomo dum trono enfim se

! abriramD» cruz de Cristo os piedosos braços;Aa lestas e batalhai mal sangradas-Do povo americano, agora extinto,Het-de cantar na lira.,.

"Timhiras" declaraEstudando esse («oeta, SilvioRoniero dizia: "Ele é um com- , Se nos

pleto produto de sua raça, do aprestar-se para cantar os nus-

em que passou a infância térios dos deuses dessa gente

.. dos esludos que fez em Coiin- rude, não desmerece de tal pro-

bra". Se fosse necessário pro- fissio de fé em seus restante»

, , i „. var o juizo do velho critico po- poemas. No Y-Juca-t iramacomo o representante de tu- "•"." J" "

r- r„,l; o heroísmo das erandes. ... , „w.„;,i„ ,i„ denamos desligar em Gonçalves canta o neroisno ua» B.«..

quanto temos possuído de n._ __.u ^ ^ ^ ^ tri|MS_ ÜS Kuerreiros que se pre-iniimauiente e íiiii

«a, aquilo que lhe vem do gé- trihus, os guerreiros que

*WUIIIIkmKW/ j^&k ÉiF s^àKvPjuBRm

! liara aum filha

*. r i i -i». «^.«.c u„, ii cia cumira aciquinua. raio. sim • - --;-.talidades das nossas letras ,a j d.riamos que ,oíre ,Mr del ar , v,tla „„.

rdade. Ma- ^ ^.^ ^^ ^ dc ihc (lca a moadade, mAS oa.

dizer, inferior do seu «e fica. t"rtura ,"a,or e.fs'a

A - „r»n,l».« ,.,«.,. "'O "aturai <* :l1uil0 <lue !he yein param parI'. ¦mente n<»sso. As grandes men- , ¦ * t» • 111(.rt.> 9 trUteza de¦ da eullura adquirida. Para sim- morte, a irisieza

aentirani essacoado dc Assi

GONÇALVES DIAS

Ma-1110-

cidade, escreverá poemas à mar- [>or a.sstmtnais triste, a sombra querida dc

1 1 .. ,- . ..... gênio: o seu gosto das minúcia.. , „ , ,gem dos versos do artista '«-»,,

^ £, , d„ vernâ. um velho pa, trabalhado pelosnhense. Olavo BiUc o celebra- '

^ aQ kbe muit„s dias da existênciara fazendo, com a conleru.ua 1» Ao Ia(lo dessa

^ d« que

sobre o port* a obra prima dos £

é „ verda(k.iro cnadc,r, Gonçal-

demais as ,' '' ... ,««.'¦».-•

«us ódios, (,as Sextilhas de Frei Antaoencanto 1.7 suas horas ves Dias foi um delicioso lírico

Ele soube falar das mulherescom uina ardente paixão. Mes-mo àquelas que o desprezaramenviou cantos de unção amorosa.Toda uma história longa, de umamor insatisfeito, de uni amor

SUMÁRIOPAGINA Ml:

(ioncaltres MaaSumarie

seus tralialhos em prosa. K umalto crítico, afeito |K>r demais às zer

suas ]i*aixões c aos seusmas ainda assim cheio de uma O indianismo de Gonçalvesinfinita capacidade de compre- Dias í uni sentimento delicadis-ender bem quando bem amava, simo. Certo ele não teve em seu

Silvio Roniero, tecerá em lor- gênio grandes notas épicas queao da sua obra um comovido bramiam na tuba de um Castro (|cc<. iona<.0 „eia y\fa e i«eloelogio. E* que Gonçalves Dias Alves. Mas naquele filho cie

^ encontranK)S nessa pági-i, realmente, um grande poeta; manieltica havia essa nostalgia c(rre Q B|asi, (,e norU.é que ele lem mais do que qual- infinita, essa doçura dc aluía e

^ ^ ^^ pigim d<. ,ior ,-e.quer outro o sentimento da ter- de sensações, essa languidez

^^ e dc „lclallcolia> que ée da Seute do Brasil. sem remédto, que os mestiços

AMa uma wf Meus Nessesversos, em que até a própriamonotonia do ritmo favoreceimpressão de um pranto recaicado. Gonçalves Dias soubecantar todo o inferno dos amo-res cortados quando prometiamflorações de ventura e de espe-rança

possuem. Por isso o seu índia-

nismo é mais dolente do que he-róico. Diríamos que perpassaem toda a sua obra uma visão

Fixando em conjunto a obra maravilhosa, uma espécie daque-ie Gonçalves Dias, encontra- ]a "I.indóia" do velho Basilio¦tos nele, antes dc tudo, o poe- t|a Gama, cuja face se tornaratt. K esse poeta apresenta duas nla;s poética na morte.ínrrnas de ser inteiramente di- Q m3\ ,|e uma jwesia queversas, mas igualmente seduto- procurasse, na época em que gj'r™d|f ."^"Jjf «EsT-taras. Kle é, primeiramente, o Gonçalves Dias começou a can- QUe não cessei de quer-er-tapoeta da terra e do meio, o bra- lar> fazcr-se in<lianista, é qu« £•«£

•£*§? cru^"l.»iM

sileiro de sangue e de raiz, á facilmente se tornaria uma poe- Dos leus oiiios afastado,sia de empréstimo. ÍNao havia X não iembrar-me d« tumuito, tinha soado a hora em Dujn mui)do a oulro iInpeiid.(llie a VO/ de Ulll príncipe apaí- Derramei os meu» lamentos

. ¦ , . . Nas sua. das azas doi vento»xonado nos havia dado o nrado Dft mar na crespa cerviz.

Ií nesse inonieu- Balo»", ludibrio- da sor»

PAGINA 242:

Gofuialves I»iai • a po«fria alemfi.de Ernesto FederO dU d« Gonçalves Ditu, de Al-cindo Guanabara (Pangloss).Opiniões sobre Goiiçalveu Dia».

PAGINA 3t3:

¦ Os "Primeiros c»ntoi", de Goa(alves Dias, de Alexandre Hereu lano.

• A Escrava, da Gonçalves Dia*.

PAGINA 25»:

Minha, terra tem palmeira* «atJoão Alfonsu.i.Os primeiro» verso* de GonçalvesDias.Opiniões sobra Gonçalves Dia*

PAGINA 344:

A morte da Gonçalves Diac,Machado de Assis.Gonçalves Dias e a literalura jranhenie, dc Josué Montelio.

¦ndianista, em suma; e e, de-

pois, o lírico enternecido, o can-tor das mulheres, que teve so-nhos gentis na alma e que sou-be cantar esses sonhos...

O indianismoDias foi, no Brasil, tuna espéciede revelação do nosso própriogênio. O exntisnm penetrou naliteratura francesa com o ro-tnantismo. Trazia alguma coisa „adessa ânsia dc alma, desse ffos-to de sofrimento e desventura. ymie fora importado da Alenia- Rias

nha através de Goethe e que talmcntc sincera, reside em que

da libertarão, t: "esse „....„c.,; ^-íõírã_Mtranha, entre r.er.1*.de Oonçalvcs ^0 5l-\ pareceriam palavras de va Que alheios males não sente

• *- , ¦•' Nem -se condói do infeliz.retórica as declaniaçoes de quem ™<Mn

"

fjuer (pie viesse acender os fo-le artifício di

ante opatriotismo

énio do lirasil que sur-

encanto de Gonçalvesreside em ser a sua voz to-

fora importado da Inglaterra os seus p.através dc Ossian.

Gonçalves Dias respondeu,eni nossa terra, a esses gritos deuma arte nova, que na literatu-ra francesa dominavam. Fe/, na

poesia alguma coisa daquilo quepouco depois estava reservado

Esse é o i»eta delicioso, mastantas vezes amargo, que haviaem Gonçalves Dias. Ele é cer-lamente um dos mais altos can-lores da natureza e do amor quetemos possuído.

No dia 3 do corrente passou

PAGINA 346:

Gonçalves ulu (treehede), de Silvio Homero.

PAGINA MS:

Gonçalves IMaev d» Joai VerM-md.Gonçalves Dias, da Cantil» Caule-

|t> Branco.

PAGINA 24í:

Làs\ «U Princesa Saneia, de Gonçal-ves Dias.

pAGINA S4t:

Gonçalves Dfau • a llterafenra ma-ranhenae, (continuação da página2«4I.Ainda uma ve* — Adeus, daGonçalves Dias.Diian fotografias.

PAGINA 24»:

r- Lenda de Sam Gonçalo, de Gon-çalve» Dtaa.

PAGINA 2S0:

juca-pyrama.

pAGINA 251:

Vm grande poeta romântico feia-sileiro em Coimbra, de Georg»Baeders.Retrato da esposa de GoncalvefDia».

PAGINA SS8:

Gonçalves Dias, de Lute Otrima-rães Júnior.A Gonçalves Dias, de Olsvo Bit**.Olhos Verdes a Marabá, de Go»-calvos Dias.

_ A filha do poeta <fotografia).

PAGINA 299:

Gonçalves Dtaa, prosador. Meé>

nas são simples ecosle ludo quanto havia de puro e a (i<1ta ,|c S|,a morte, no naufrá

generoso em seu espirito. gjn (|0 "\'ille de Jioulogne

Gonçalves Dias extraiu do AUTQKES E LIVKOSassunto indianismo tudo quanto consagra ao grande poetapoderia extrair de mais alto e sell número de hoje, oferecendode melhor. aos leitores uma pequena anto-

Ele ama e celel.ra tudo o que logia da ol.ra em rerso e prosa

. Ios.i de'Alencar farer na pro- « relaciona com a sua raça hu- de Gonçalves Dias, e bem assim

« Tr««ra em nossa atua o milhada. Canta-a desde a sua uma seleção de tudo quanto a

mis,ST* rZa "3S.

tcT religião agreste , cheia de sim- crítica l,ras,.e.ra teu dito dei _ iM-j,,a- melhor sowe tm»

tnr au nossa natureza o esplen- Ik.Ios. ""- I

da GonçalvesDia!

PAGINA 251:

IMbira, de Gonçalves Dias.Não me deixes, de GonçalvesDias.Retrato de Gonçalves Dtaa.

PAGINA 252:

O sorriso de Gonçalves Dias a an-trás notas, de Carlos Drummond deAndrade.

PAGINA Ml

Um discarm 4» Gonçalves Mafc

PAGINA SU:Opinines sobra Gonçalves Dias.

pagina an*PAGINA 261:

Correspondência de escritoras.Carta de Gonçalves Dias a PadreNunes Leal.

PAGINA iW:

Opiniões sobre Gonçalves Dias.-A alma, de Joao Ribeiro.

Separação, de Vargas Neto.

PAGINA 264:

A poesia de Manuel Bandeira, dlCarlos de Queirós.Canção, de Gonçalves Dias.Cnarnli. > pirata d. AUintlea

PAGINA 268:

Notas bibliográficaso Conde Moria, de Anatole Tttmm

Nous Mbllogrifleaso Conde Morta

PAGINA 2»:

A vida ê de eaaeea Mtws, *> MUvaro MoreyraOpiniSes sobre Gonçalves ínaa.Efemérides da Açudem!»

PAGINA 270:PAGINA 25S:

-A poesi» <t« GWlm DlM. de - Lev»nt„l-vol «.Id.a». * *«•

Olavo Bilac. de Uma

PAGINA 1»1:— Gonçalves DlM • a poesia da Na- ttenict perfeMa, tonto a> ¥•*

tare», d« BonaM d. Car*.lh.. - *,g%mu7.

PAGINA MS: PAGINA tnt:Correspondência d* escritores De _,._- ffanttuto o*

tS&sluZ'* rrl« A*«™.n». -AM£,iboia5?

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SlWIJiMKNTO UTEKAHIO D'A MANHA DOMINGO, t'11/1*41

GONÇALVES DIAS E APOESIA ALEMÃ -ErnestoFeder

"Conclui a tradução da "Noi-ts tíe Messina em viagem", es-«reve rie Vichí, no dia 5 de agos-te tie 1862, Gonçalves Dias aoteu amigo Antonio HenriqueLeal.1 "o. posto que se ressintatio estado em rjuc me \ia quan-do a concluí, ainda assim podeiervir". Tendo começado noCeará a tradução da tragédiatie Sehilier, retomara-a em via*gem .10 Amazonas para teami-ruí-Ia a caminho da Europa.Aojs dois últimas versos do dra-ma, versos célebres e a miúdocitados, que o poeta brasileiromagistralmente reproduz, as-«ta:".. .que se o maior dos bens

não é a vida,dos males o pior, de certo.ê o crime".

•Junta a data: "20 de junho de1862, a bordo do "Conde", emTiapem no Mediterrâneo". Nes-«e trabalho Gonçalves Dias va-•ou toda a sua ciência di lin-Itua alemã que ele estudara afundo. Indo da França para aAlemanha, prosseguiu no poli-fr.ento de sua obra. A 21 de no-?enibro. em carta' escrita deDresde. refere isto ao amigo,mas somente a 20 de dezembroHo ano seguinte, dirigindo-se aomesmo destinatário: "Está com-pleto. mas a última parte, co-mo te disse, ficou o seu tantohldrópica para se harmonizareom o estado em oue me acha-tt< quando a conclui".

Desgraçadamente o trabalho,com sua demão definitiva, seencontrara em meio dos ma-nuscritos preciosos que. com «poeta, desapareceram no nau-faágio do "Viile de Boulogne"a 3 de novembro de 1864 em»Eua.s brasileiras. Parece que opoeta quis levar consigo, paraO repouso eterno, essa obra quefoi sempre a sua "filha mimo-•a" Poi, pois. sem o3 últimosretoques que A. Leal a publi-eem tres anos apôs a morte docantor de Yuca-Pirama. Trata-tr. de uma obra-prima de tra-ducáo que. sem fugir à verem-eação e ao ritmo do origina), lheespelha o sentido em seus maisdelicados matizes, totalmenteliberto da tirania do texto. E"est* um exemplo eloqüente detomo podem as grandes obrasdos melhores autores estran-feiras ser incorporadas á llte-ratura nacional pelos melhoresautores nacionais. Quandomuito pudéramos lastimar que•• poeta brasileiro, comungandocom o maior autor' dramáticoalemão, houvesse esco-hido umapeça que, talvez, não passe por•er.das mais eminentes e que,«endo, embora, uma grandee-bra de arte, se nos mostra,tom todos os esplendores da re-tórica e da lírica schilerlana.como uma aberração da linhaijuc, através do ¦Wallenstcin" eda "Maria Stuart" leva os "Sal-ttadores" e o "Dom Carlos" aü"Guilherme Tell", Bem verdadeé que n próprio Sehilier amou«na "Noiva" tanto quanto ,otradutor brasileiro.

Deveria esse drama Incluir-K muna coleção que GonçalvesDias preparava para publicar¦ob o titulo "Ecos de Alem-Mar'' incluindo poesias france-•os, alemãs, inglesas, italianase espanholas, todas postas emvernáculo por escritores brasi*leiros. Da mor parte dessas tra-tJuções queria o poeta ençarre-gar-se. Se a morte prematuraDi* tolheu a realização dessebelo plano, nem assim o dramade Sehilier ficou sendo a únicapeça de poesia alemã traslada-da a. português pelo grande bra-¦ileiro. Em suas "Poeslo- Lirl-eas" encontramos a "CamisaEncantada" dc uhland, cujo ea-tilo um tanto arcaizante traduzperfeitamente, estilo que Uh-land. notável como lingüistat&o bem como poeta, manejavaeom maestria... "Lírio e rosa"dá-ao». pela vtx primeira, umatradução da poesia de Herder.Maior, ainda, t o interesse quea Gonçalves Dias desperta En-rtoiue Reine, eom quem deyer*ter sentido nâo poucas afinida-«toa. Me consórcio de qualtda-

des que José Veríssimo ulribueao poeta brasileiro, "expressãode ternura, simplicidade dessaexpressão, feito da forma cun-lorme á& tradições da poesiapopular" são, também, as ca-racteristicas do poeta alemão.Em suas "Poesias Líricas" in-cluiu Gonçalves Dias cinco dosmais belos poemas do "Livrodas Canções" que, em seu tem-po, firmara a glória do moçopoeta. "Essas traduções seavantajam a quase todas as ou-trás adaptações que conheço emlingua portuguesa e que, o maisdas vezes, se fizeram por in-termédio de versões francesas.

A simplicidade da expressãoHcineana torna quase impossi-vel a tradução em versos rima-dos. Conseguiu-o GonçalvesDias. A rima, longe de ser óbi-ee, incômodo ou jugo, serve-lhede estimulo e sustentação. Po-de ilustrar o a&serto um dosmais conhecidos poemas deHeine.. Traduzi-lo GonçalvesOiU

Tens jóias e diamantesQuais não teem tuas ri-

tvais,Tens os mais belos olhos.Amor, que desejas mais?£ sobre esse olhos belosJá de carnes imortaisTenho composto voiu-

tines...Amor, que desejas mais?£ eom esses olhos belosAté não quereres mais,Tens-me posto » depen-

(dura...Amor, que desejas mais?

As palavras "rivais'' e i^or-tais" são impostas pela rima.O texto alemão diz: "tens tudou que pode o homem desejar"e se refere a "canções eternas".Mas essas discretas substitui-ções a que a rima obrigou, an-tes reforçam a expressão poétl-ca. A tradução seria perfeitase náo fora o "posto a depen-dura" do penúltimo verso, quewilraqueceu multo a expressãovigorosa original "Ruinaste-me".

Por vezes se • encontram naspoesias de Gonçalves Diasadaptações de poemas de Hei-ne sem menção do autor. As-sim "Amor de Árabe" nos "Ver-«os Modernos" nada mais é queo "Asra'' do "Romanzer" deHeine, o filho da tribu árabe on-de se morre quando se ama, as-sunto que Heine colheu no 11-vro "De l'Amour" de Stendhal.O jovem discípulo de Direito ejnCoimbra que foi, durante qua-tro anos, Gonçalves* Dias, acasonão lembra singularmente,aquele outro estudante de Dl-reito em Goettingen que fora,vinte anos antes, Heine? "Tunão sabes o que é amar semesperanças"! Asíim começa acarta em que Gonçalves Diasconfessa ao amltio A, Teófilo oseu amor iníe.1'3 "Ela não meama. Deves dite-lo baixinho",eis o que confia a Cristiani, emcarta longa e desesperada, oadolescente Enrique. Dois mo-ços e poetas disfarçados emalunos, que padecem do mesmomal e a quem "um Deus perml-tlu o dizerem o rjue sofrem".

fnn^ivcfi Dias imitto adral-trava a poesia alemã, o que, porvez''s mio obsta u çue ele zom-be dela Disso temas exemplo nacarta, quando de sua viagempelo rio Amazonas, dirigida, em20 de dezembro de 1881. a A.Leal que a estampou em seu"Progresso". Arrebatado pelasmaravilhas misteriosas e fataisdo Amazonas exclama o poeta:"Nesta Babei de Pragas, apoesia, como passarinho ao cairda tarde, esconde-se". Acres-cento: "Engano-me. a poesiado naturalista, principalmentese é alemão, resiste a tudo.Martins no lapura fez um poe-ma a solidão das florestas. Es-tá manuscrito o poema, e tal-vez morra nos limbos, mas euque te falo, isto é, que te ps-crevo — "epomet orculís vldi"!

Exeuhm-sc o poeta. NSo quermofar da musa alemã. Faz, po-rem. uma profissão de fé.

A» poemas r.'em§» lembram-lhe aquela* "figuras de anjo»«ue vemos e «imuamoe Huml-

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Pedaço de madeira áo "VUle ie Boulogne", em que nau/rafou t morreu o mela. tncontra-ie aa Academiaa-oMleíro, no toldo dt honra im inttuuiolo __

O dia de Gonçalves Dias - "ti-"(Fuilm) OPINIÕES SOBRE

GONÇALVES DIASO Maranhão paga hoje ao seu glorioso filho uma velha di-vida, divida que, aliás, não é só dele: é de todo o Brasil. QuandoGonçalves Dias viveu, esse sentimento rebuscado e artificial, DE NOGUEIRA DA ..SILVA

e snobjsmo. que nasceu das alicantinas politiqueiras e estáameaçando envenenar a sociedade, em virtude da qual se andapor ai a apregoar a pátria pequena, não tinha ainda aparecido:ele era brasileiro, ele amava e cantava o Brasil e todo o Brasilo quer e o reconhece bem seu. Longe, no exílio, a canção, queescreveu, não cantava nada de peculiar ao local do Maranhão,onde viu a luz do dia. Não ioi do assai nem da rua do Sol queele falou:

Minha terra tem palmeirasOnde canta o tabta...

Essa terra era bem — *a Santa Cruz, hoje Brasil": nãofaltam em toda ela sabiás e palmeiras.

Mas, para que nós outros, cariocas, nos associemaog à ho-menagein que hoje se presta à memória de Gonçalves Dias, senão bastasse a circunstancia dele ser o mais primoroso e o maisbrasileiro dos nossos poetas, haveria que lembrar que foi aquique ele viveu os melhores — ao menos, os mais tranqüilos —anos de sua vida.

Por volta de 1847, havia em Niterói nm Liceu Provincial.Vindo de Coimbra e muito sabedor do latim, ensinou nele essalingua durante quatro anos. E' desse tempo o seu drama Leo-nor de Mendonça, que passa por ser o melhor de seus trabalhospara o teatro. Contam os seus biógrafos que ele sujeitara aoexame e critica do Conservatório Dramático desta cidade, semnome de autor, um outro drama: Beatriz de Cerci. Os críticosdo Conservatório deram de rijo no anônimo: declararam-no es-crito em "português de contrabando'' e recheado de erros eras-so.s de linguagem". Foi para replicar a esta critica, mostrandoquanto conhecia a lingua portuguesa, que ele escreveu asStxtilhas de Frei Antão.

Não foi, porem, nem esses dramas, nem essas sextllhas,nem o poema Timbiras, nem os seus estudos sobre a língua tupi,que o fizeram popular, — o mais querido e o mais conhecido detodos os nossos poetas. Foi o seu gênio de poeta lírico. Andamde cor as suas poesias. Não há quem as não recite ao piano.Muitas andam postas em música e outras são cantadas pelo povo,a guiza de modinhas, com acompanhamento de viola.

Gonçalves Dias já não pode ser discutido, ou analizado: tem^tisso a consagração, máxima que um povo pode dar ao seu poe-ta nacional. Nacional? Certamente. Nós não temos tradiçõesheróicas, não temos em nossa vida de nação nenhum feito ex-cepcional, de grande intensidade trágica ou épica: todos os poe-mas heróicos em que se cantaram, como extraordinários feitos,episódios comuns á descoberta ou à conquista, nunca passaram,por isso mesmo, do restrito campo literário. Tudo que nos podiainteressar era a descrição da natureza esplêndida que nos cerca-va e nos deslumbrava ou a nota subjetiva da impressão que re-cebiamos. ora melancólica e morta, ora alegre e vivaz. Gon-çalves Dias sentia assim como o povo e assim cantava. Não háem suas composições nada de rebuscado, nada de artificial, nadade falso: era a sua própria e sincera Impressão que ele comu-nicava em verso; e é por isso que eu posso dizer dele, sem temorde incorrer em excomunhão maior, que prestamos hoje a ho*menagem devida — ao nosso poeta nacional.

Pena é que essa homenagem não tenha outra expressão se-não um coreto banal e uma banda de música na esquina da maGonçalves Dias. Hâ, entretanto, num recanto pitoresco do Pas-seio Público, sobre uma herma, o busto do poeta talhado porBernardelli. E' para esse busto que devem convergir as homena-gens da população da cidade: que as crianças que o devem ado-rar pela sua simplicidade, que as moças que lhe decoram os ver-sos ingênuos de amor, afinam ao Passeio público e cubram derosas esse busto... Nenhuma homenagem lhe poderia ser maiscara...

("O Pais" — 3-11W4).

nadas nos antigos mlssMs eomfisionomia de expressão celeste,mas os pés, e as formas envol-vidas numa densa nuvem debrocados, de veludos, de dá-mascos".

Passa a queixar-seodas "nebu-losidades de Kant, de Fichte.de Schelling" Nada se pode,aqui, opor a eí-ta acusação que,aliás, nada tem que ver com apoesia alemã. Injusta é, porem,a Inclusão de Kant que, sendo,embora dificílimo é, sempre,claríssimo e de quem diz doe-the ao Jovem àchopenhaaer:."Ao ler-ma* uma -. pagina de

Kant temos a Impressão de queentramos num aposento farta-mente iluminado".

O nome de Gonçalves Dias éassás conhecido na Alemanha.Seu famoso poema americano"Timbiras", dedicauo a DomPedro n, foi publicado, em be-lissima edição em 1857. pela fa-mosa livraria de P. A. Boock-haus, de Llpsla. Algumas desua» poesias foram trasladadaspara o alemão. Mas há, ainda,multo que fazer. Seu belo exem-pio deve servir de permanenteestimulo ao Intercâmbio dos va-tores eternos entre a« nações.'-

Estou de acordo coni o ni.uamável amigo Lucio de Aguiar;Gonçalves Dias é, verdadeira-mente — o maior p..cta il<. Iim-sil. E ele e eu estamos de j>Jona e integral conformidade comò conteito de Olavo Rilac, afir-macio e reafirmado, tantas Vezevíquantas foram as oportunidadesque se lhe ofereceram parn ísmj,de une o grande poeta mani-nhensc, é o myior poeta tio Rra-sil. E em comunhão do mesmopensamento estão: José Verissi-mo o maior r mais eminentepoeta brasileiro; Carnttlo Cas-tcllo Branco — o primaz dapoesia brasileira; José de Alen-car, o poeta nacional pur exee-lência; Lopes de Mendonça —o primeiro lírico brasileiro; S<>-tero dos Reis - - o maior líricodaf ditas literaturas portuguesae brasileira; Franklin Tavora -o primeiro lírico Oa língna por-t itf ursa; Sylvio lí ».-mf ro —igual ou maior aos mais nota-veis poetas portugueses; Coe-MioNeto — o grande acrio meio-nal; F. Rooeh Arkossy oprimeiro e mais célebre (Íoí poe-tas brasileiros; Gonçalves Oes-po — o primeiro poeta fio íir.vsil; Perdinand Wolf - - »>-portade mator talento do lirasil; V).Joan Valera — o potíta maiore melhor dotado das letras bra-sileiras; Agripino Grirco (]íttisaitdando-o onorate ],aHis,-Í!n:ifKM*ta -- acha <[iie Bilac ando»certn proclamando Gon«,íüv< sDias — o maioral da nossa poe-sia; e. finalmente, Octavio M.ni-gabeira - o mítinr e maiíí in-signe poeta fio Prasil.(Ò mouw poda — Rio — 1907).

DK NINA RODRIGUES

Dentre estes (varões iltis*-Ires), eni mereciniento lllfr.i-rio, nenhum e.xcirderá a Gon^it-vcs-Duis. As fjualiiiadfs prucla-nuidas do genial poeta, de con-Rumado cultor das finas letr.isdão-se as mãos, no intelectualmaranhense, aos dotes de vigo-roso pensndor, de investigai!;*equànirne. Tempcranu-nto snlis-taiicialirteiite artístico, «loirandodc leves tinis poéticos todos oiassuntos que per lustrou, a fei-<;ão positiva fie pensador e cientista revelou-se em GonçalvesDias na sua concepção ]iesscwí*la civilizarão e dos jiapéis úoc>povtis nos destinos <la hut»yiw-da<!e. ta! como a deixou lanadaai mcinóri:i "O Brasil c a (Jeca-nia", em que se f-edia o csturloda capacidade cultural do almrigene brasileiro, dr coinjwr?.i,ãocom a dos povos e raç/ts que ha-bitani a Oeeânin.

(Culto Cimo — Maianluio— 1904).

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Os" Primeiros Cdntos" de Gonçdlves Dias -Á£™1ZL A ESCRAVAGONÇALVES DIAS

»«m aimo a i»/íncia do /tomem, a in/íncia da snações é em importância . prosperidade, at nauat emancipada, ootonlat Q Wen ^«a^un bien ne peutntatálTe MoerancoM.- Mm oomo a MlMos humana, a ueihics no. vão levania rapMammte áavenelaa. ,,_. Irendre2ZftMoZTemeS«; Separado da mie pátria, menos Por ,1 sós etttt fatot provariam ante, « nossa decadência „ pg^, è <*,„« „oo. que 1'exU«fa ãriedfactn^mZ"inojinaios, a que ama otaervaçdo que o progresso literário io Brasil, f um mancebo <*°ro»«« llalt

compreendretííoerWeiâl UieTtrtbue a emancipação, do «ue pela ordem notu- derrjba tm velho ca«uelieo, demente e paralí ico O («<»*¦íTdto orooVésOT d« sociedades. O Brasil, império vasto, rico. pleta, porem, a prova é o exame nao comparativo, mas absoluto,£««»«£ SéfosuaVM pão favor áa natureza, que Voe de alguma, das moderna. publicaçde, brasileiras.destinado Pela sua """»"*£?•' .roB(U „„„, „i Mídria Os "Primeiros Cantos" são um beto livro; sao hwpiraíoa. de&? SSoTa naçãoC* quc^PortigaTi o velho um orande poeta. A terra de Santa Cru* que já conta outro, ohl doce p«s de CongoSoíridiT t^é oue»Ho!vedolorosamente no sei ieito de de- no seu seio. pode abençoar mai, um_ila»ire filho. Doces terras de alem marl

SZ?,. „«V.; («metade oue o, raios do sol se tornassem O autor, ndo o conhecerão»; mas deve ser muito jovem, oh! dias de sol formo»!VowsUTque,eextasiemoshorlZtV, da esperança, de Tem o, defkto» do Meritor ainda pouco amestrado pela errperi- oh! noites d'almo luarll,^Z'^evTtúnebrTvalea lace da terra. Perguntai, porem, ao ência: inperfeiçõe, de lingw, dc metrificaçao de estilo. Que^ZtcVu?

'auTcresce e si"fortlfica alem dos mires, que se Importa? O tempo apagará estat máculas, e ficarão a, nobre, Desertos de branca areia _S3£ ide«te vWo caiMnLJrt^saèZerdade isso que diz inspirações estampadas nas página, de.íe formoso livro. De vasta, imensa «tensa*"

an\ ifo Ia frStefdo"sei vegetaT inerte, eque. encostado na QuUéramos que a, "Poesia, Americanas» que sao como o Onde livre corre a mente.

DELAV1GNE, — Maria*Faliere.

bondado timuto. deplora, pobre tonto, o mundo que vai morrer! wi™ ^edifício ocupassem nete p^JWj^Nttt Livre bate o coraçãoli» Portugal, o, espirito, que o anto d« "bem nascidoi"; aqueles que

te no santuário da ciência ou da poesia ao pego da podridãoKm Portuoa! o. espirito» que o ántioo poeta desisnou pelo transatlântico» nd por via ie regra demasiadas reminiscèncto»em roriugai, us wp»w v«? ** •**_ »w;_/™X__i „__...; a» i-w^m/i c.«« Vam Muwin au* deu tanta voesta a Satnt^,,^r--^mnZel\Z-- aoleletme^ ia Yuro^a. ine Nove Mundo que deu tanta poesia a Saint Onde a leda caravana

*"" £,Jfl E^<Á,Tdo SSriT^ PW do Partido Pterre ea Chateaubriand e atsaz rico para inspirar e nutrir o, Rasga a caminho passando,% , i??, ™? ^^ m meto o%TU£ generoso, afoVços poetas que crescerem â sombra dat suas selva, primitivas. Onde bem longe se escutam"ÍZSTÍ i?«La Europa coZ essa,,tJpTaJZtto futurí. qZ Como armmento di.». como «emplo, da verdadeira poesia As vozes que vão cantando.C,«ZZZ ieSí«dí SíZíi/dto auYumaausão As ma, tenta- nacional do Bra.il citarei aqui dai. trecho, das "Poesia, Ameri-%2Z™a,e falZ

^acZV quep.™ «tTnaçOo moribunda canas": "O Canto do Guerreiro", e um fragmento "Morro io AU-

ZMLrttteUZt^Zcaiavel'aTn^ü Z mletarTangle liqui vem transcrita por inteiro a põem intitulada -"O

ZTqufteZTa^aZ^i^n77 cumprir aX de %Z Canto do Guerreiro» _ e a, última, e.tro/0. do - «Morro

«™>^«!™ ""Xtenio-me de outra, citações, que ocupariam demasiado Onde o sol na areia ardent.yasco da GamaetU '™w»^»'*» reTo1Ze

oMcSo aue tor- espaço, não posso resistir a tentação de transcrever das "Poesia, Se espelivi como no nuir:ÍKLlíSarr aE'Z^»ltSA'l lC- uma u, mai, mtmosaloompo«çõe, iirtoas, «ue Im* On! doe, terra, de Cou

Onde longe inda ae avistaO turbante Mulsumano.O Yatafraa recurvada,"Morro do Preso à cinta do Africano!

CõugpDoces terras de alem marlceíaoa por fugir io letargo febril que rua consome, retrocede ao mverta, uma ia,

entiar no templo, e volve ao lodaçal onde agonizamos. S' «ue a '•*» na minha vidaturba que aí te debate, ou 6 apupa, ou lhe arroja adiante tro-pecos, ou o corrompe com dádivas e promeMat; e falando-lhe át SEUS OLHOSpaiiSes más, is «mWçde. insensatas, lhe clama; vem refocHar-te no lodo. B, desanimado ou tentado, o talento despenha-se, oh! ^^g tee grande yeux iont Ia paupiértatufanio-se no charco, aceita at Utonjas ou o oiro imundo, «ue [tremblelhe atiram, embriagia-ie com o, outros perdido., e renega da Tet ymx pj^^ ^ Umguewr;missão sacrossanta, que se lhe destinara no céu, jjeur Teaara- Mt si beau quani no. Mfflffla

Que i feito ie tanto» engenhos que despontaram nesta nossa [ensemblel 0ll,ndn ^ - ou.ia u scuroterra de.de oue a impren«a libertada chamou o, que sentiam Rouvre-les; ce regará manque á ma vie, il «emble «Ç "™ ™ frl?» faauefrLehamejar em si um espirito nõo pulsar ao convtcio das «nteli- Que ta fenneí bm ^^r^ lm

mansl" ""^ «u™*™-

pências!' Que i feita dessas três ou «uotro época, em que, nos fURQIJBTYúltimos qiiihze ano», a mocidade parecia querer deixar, intei-ramente ao. pequenino, hornen, twandes io pais o agitarem-se, Saa oWoj (^ negros, tão belos, tão puros,o morúèrem-se, o ievorarem-se acerca do» aranes interesses, das De vivo |B3jriprofundas questões dat bolhas de sabão política»? Çue é feito gstrela$ incertas, que as acuas dormente,dessa falange ardente, ambiciom de uma glória pura, que prin- Do mar vao yerjr.cipiava a exercitar-se na» lide, do entendimento? De tudo isso;de ioda essa mocidade brilhante e esperançosa que resta? Al- Seut o(ftoj (áo ntgrotSt tao belos, tão puros.gum crente solitário, que deplora em silêncio a queda de tantos Tem meiga expressãoarcanjos. Os outros sacerdotes, apostatando da religião das le- Mais doce que a i,risa, — maia doce que o nautatrás, atiraram-se á arena das facções, e manchados pela baba Be ^jj cantanio. mais doce «ue a frautados ódios civis, coberto» da lama das praças, arroxeaios e san- Quebrando a soidão.guentos pelas punhadas do pugilato político, desbaratando emesforços estéreis a seiva interior, lá vão disputando no meio de Seus olhos tão negro», tão beto», tao puroâ.homens, gastos como a efígie de velha moeda, sobre qual hi ie De viv0 iu2jri.er a forma áo ataude, e como se talhará a mortalha, em que o sío meigOS infantes, gentis, engraçadoscadáver de Portugal deve descer d sepultura. Que outra coisa, Brincando a sorrir.de jeito, há aí sobre que se dispute ainda?

Por isso. quando uejo começar a surgir entre nós um novo s3o me(gOS infantes, brincando, saltandopoeta; quando oiço a primeira harmonia que sussurra nas cor- Em jgg0 infantil,das ie lira noviça, quisera poder chegar-me eseondidamente ao jnquietos, travessos; — causando tormento,descuidado e inexperiente cantor, e dizer-lhe ao ouvido: Cala-te. Com jxijos nos pagam a dor de um momento, |alma ínrgem e bela; cala-te, «ue estás num prostíbulo! Olha que Com modo gentil."eles-- não te ouçam! Se o teu hino reboar por e»»a» torpe» alço-vas, sabe que pouco tardará a hora de te prostituirei. Seuí 0ifiOS tio negros, tão belos, tio puros.

O poeta português ie hoje é a avesinha que enlevada no, Assim ê que são;seus gorgeios se balança depoi, io por do sol no ramo do ul- As „e2es ;u3jn,jo, sereno», tran«uilo.,meiro pendente sobre o rio. As outras voaram para os seus ni- ^, vesea vulcâolnhos, e ela deixou vir a noite, e ficou ali, triste, só, desconsolada,soltando a espaço» um doloroso pio. X» »eze». oh! sim, derramam tio fraco.

Poeta, nesta terra é noite/ Por que náo te acolheste ao teu Tão frouxo brilhar.ninho? Agora o que te resta é morrer. Ave abriga-te entre os Que aimim me parece que o ar lhes falece,orbes; vai derramar em canções a tua alma no seio imenso ie E o» olhos tão meigos, que o pranto humeiece, ,Deus. Ai é que sempre ê dia. Me fazem chorar.

Nós somos hoje o hilota embriagado, que se punha defronteda mesa nas füitias de Sparta, para servir de lição de sobrie- Assim lindo infante, que dorme tranqüilo.dade aos mancebo». O Brasil é a moderna Sparta, de que Por- Desperta a.chorar;tugal é a moderna Helo». B mudo e sisudo, cismando mü coisas,

Estas amarguradas cogitações turgiram-me na alma, com Não pensa — a pensar.leitura ie um livro impresso o ano passado no «to de Janeiro, eintitulado: •'Primeiros Cantos": "Poesias por A. Gonçalves Nas armas tão pura, da virgem io «trammtuas". Naquele pais de esperanças, cheio de tiiço e ie vida, Ad a» uoze» io céu „_,„*nm ruido ie lavor intimo, que soa tristemente cá, nesta terra Cai doce harmonia duma Harpa Celeste.onde tudo acaba. A mocidade, despregando o estandarte da ci- Um vago desejo; e a mente se vestevüizaçio, prepara-se para os seu» graves destinos pela cultura De Pranto eo'um veu.das letras; arroteia os campos ia inteligência; aspira a» harmo-nias dessa natureza possante que a cerca; concentra num /oco Quer sejam saudades, quer sejam aeseiostodos os raios vivificantes do formoso céu, que a alumina; prova Da Pátria melhor;forças enfim para algum dia renovar pelas idéias a sociedade, Ba amo seus olho» que choram tem causo ,quando passar a geração dos homens -prático» e positivo»", raça Vm pranto sem ior.que lá deve predominar ainda; por «ue a sociedade brasileira, ___.vergontea separada há tão pouco da carcomida árvore porta- B* amo seu» olhos tio negro», tao puros,guesa, áindd necessariamente conserva uma parte do velho cepo. De vivo fulgor; .Possa o renovo dessa vergontea, transplantada da Europa para Seus olhos que exprimem tao doce harmonia, ,entre os trópicos, prosperar e viver uma bem lonpa vida, e nío Que falam de amores com tanta poesia,decair tão cedo como nós iecaimosl Com tanto pudor.

V geralmente sabido que o jovem imperador io Brasil ie-dica todos os momentos que pode salvar da, ocupações mate- Seul olhos tio _neoro»,_ t«0 Be»., tao puro* jrifli» de chefe io Estado ao culto das letras. Mancebo. prende-se Assim e que sao; „_„,,..< mocidade, aos homens do futuro, por laços que ie certo as re- Eu amo esse» olhos que falam d» amore.TOluções não hão de quebrar; porque o progresso social nao vira Com tanta patrão.acomete-to inopinadamenle nas suas crenças e hábito». Quando __a idéia se encarnar na realidade, o seu espirito como as outra.inteligência» que o rodeiam, ter-se-á alimentado dela, e saúda- je estas poucas linha., escritas de abunddnefa ie. coração, Mas era em mora por cismarrá como o» seus mais alumiados súditos o pensamento progres- passarem os mares, receba o autor dos "Primeiros Cantos" o tes- fna terra,sivo. Não notais nestas tendências do moço príncipe um rim- temunho sincero ie simpatia, que a leitura do seu Hvro arran- Onde nascera,bolo do presente, e uma profecia consoladora acerca io porvir cou a ttm homem, què o não conhece, que provavelmente não o Onde vivera tâo ditosa, e ondedo Brasil? conhecerá nunca, e que não costuma nem dirigir aos outros elo- Morrer devera!

A imprensa na antioa ümérica portuguesa, balbuciante hi pios y,c0^nfnía^''-nm,^t^'Apa!!Lil-dois dias, já ultrapassa a imprensa da Urra que foi metrópole. Lisboa Ujuda) 30 de novembro M IS3T.ils publícaçõe, periódicas, primeira exprésâo de uma cultura in- ,.„ mortiT anotelectual que se desenvolve, começam d associar-», as composi- .,,..' .«. nnuinuu»:

Quando a noite sobre a terra,Desenrolava o seu véo,Quando jiquer uma estrela.Mão se pintava no oéol

De mansa liriza fagueira,Eu o aguardava —' sentadaDebaixo da bananeira.

Um rochedo ao pé se ei gula.Dele ;'i base uma correnteDespenhaáa sobre pedras.Murmurava docemente.

£ ele as vezes me dizia:Minha Alsgá, não tenhas

tmedolVem comigo, vem sentar-teSobre o cimo do rochedo.

£ eu respondia animosa:irei contigo onde fores!

E tremendo e palpitandoMe cíngia aos meus amores.

Ele depois me tornava«Sobre o rochedo — sorrindo:—- As águas desta correnteMâo vês como vão fugindo?

Tão depressa corre a vida,Minha Alsgá; depois morrerSó aos resta! — Pois a vidaSeja instante de prazer.

Os olhos em torno volvesEspantados — Ah! tambémArfa o seu peito aniiadolAcaso terr.es alguém?

Não receies de ser vista,Tudo agora ja. dormente!Minha «pós mesmo se perdaNo fragor desta corrente.

Minha Alsgá, por que estre-teces.

Por que me foges assim?Não te partas, nâo me fujas,Que a vida me foge a mimí

Outro beijo acaso temes,Expressão de amor ardente?Quem o ouviu» — o som per-

tdeu-ssNo fragor desta corrente.

Assim praticamente amigosA aurora nos vinha achar!Oh! doces terras de Congo,Doces terras de alem mar! * —Do ríspido Senhor a voz irada.

Rápida «sôa,Sem o pranto enxugar a triste

[escravaPávida võa.

ções de mais alento — o. livro*. Ajunte-sca este fato outro, o(Canto». Cotes*» de POeirla. de A. Gonçalves Dia». I* edi-

Sofrer tormentos. porque tinharum. peito,

Qu'inda sentia;Mísera escrava I no spfrçr

ier o Brasil o mercado principal do pouco que entre nd.» se«m- Cantos. ÇotoçM^ «J0«W "? "l ^Tundéaio, Congo!

prime, « terá facU cmieturaTaiie. no domínio do, tetnu. «sm «ío. Utp*g: r. A, OrocMww.rTr, MCT«,i»4w. «»«»<*>>. ppngpi

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PAGINA 2U — SUPLEMENTO LITERÁRIO D'A MANHA DOMINGO, 9/11/11M1 jjWfe

A MORTE DE GONÇALVES DIAS-a»achado de Ass\s

?

Ninguém virá, com titubeantes passos.E os olhos lacrimosos, procurandoO meu jazigo.,.

Gonçalves Dias. — Ult. (ant

Tu vive e goza a Ius serena e pura.i. liasilio da Cama .— Urug., c. V.

Assim vagou por alongados climas,E do naufrágio os úmidos vestidosAo calor enxugou dc estranhos laresO lusitano vatc. Acerbas penasCurtiu naquelas regiões; e o GangesSc o viu chorar, não viu pousar calada,Como a harpa dos exules profetas,A heróica tuba. Ele a enibocou, vencendoCo a lembranc,a do ninho seu paterno,Longas saudades e misérias tantas*.Que monta o padecer? Um só momentoAs máguas lhe pagou da vida; a pátriaReviu, após a suspirar por ela;

E a velha terra suaO despojo mortal cobriu piedosaE de sobejo o compensou de ingratos.

Mas tu, cantor da América roubadoTâo cedo ao nosso orgulho, não te coubeNa terra em ijue primeiro houveste o lumeDo nosso sol, achar o último leito!Não te coube dormir no chão amado,Onde a luz frouxa da serena lua,Por noite silenciosa, entre a folhagemCoasse os raios úmidos e frios,Com que ela chora os mortos.. . derradeirasLágrimas certas «jue terá na campaO infeliz que não deixa sobre a terraUm coração ao menos «ue o pranteie.

Vinha contudo o pálido poetaOs desmaiados olhos estendendoPela azul extensão das grandes águas,A pesquisar ao longe o esquivo fumoDos pátrios tetos. Na abatida fronteAve dc morte as asas lhe roçara;A vida não chorou nos ares novos,

A vida, que em vigílias c trabalhos.Em prol dos seus, gastou por longos anos,C essa largueza de ânimo fadadoA entornar generoso a vital seiva.Mas, (pie ini])ortava a morte, sc era duceMorrê-la à sombra deliciosa e amigaDos coqueiros da terra, ouvindo acaso

No murmurar dos rios,

Ou nos suspiros do noturno vento,Um eco melancólico dos cantosQue ele outrora entoara ? Traz do exilio1Jm livro, monumento derradeiroQue à pátria levantou; ali reviveToda a memória do valente povoDos seus Timbiras...

*Súbito, nas onda!

Bate os pés, espumante e «lesabrido,O corscl da tormenta; o horror da morteEnfia o rosto aos nautas... Quem por cieUm momento hesitou quando na frágilTábua confiou a única esperançaDa existência? Mistério obscuro é esseQue o mar não revelou .Ali, sozinho.Travou naquela solidão das águasO duelo tremendo, cm que a alma c corpoAs suas forças últimas despendemPela vida da terra e pela vidaDa eternidade. Quanta imagem torva,Pelo turbado espirito batendo

; As fuscas asas lhe tomou mais tristeAquele instante fúnebre! SuaveE' o arranco final, quando o já frouxoOlhar contempla as lágrimas do afeto,E a cabeça repousa em seio amigo.Nem afetos nem prantos; mas somenteA noite, o medo, a solidão e a morteA alma que ali morava, ingênua c meiga,Naquele corpo exíguo, abandonou-o,Sem ouvir os soluços da tristeza,Nem o grave salmear que fecha aos mortotO frio chão. Ela o deixou, liem comoHóspede mal aceito e mal dormido,Que prossegue a jornada, sem que leve .O ósculo da partida, sem que deixeNo rosto dos que ficam, — rara embora, —Uma sombra dc pálida saudade.

OI»! sobre a terra ém que pousaste um dia,Alma filha de Deus, ficou teu rastoComo de estrela que perpétua fulge!Não vtstc as nossas lágrimas; contudoO coração da pátria as há vertido.Tua glória as secou, bem como orvalhoQue a noite amiga derramou nas floresE o raio enxuga da nascente aurora.Na mansão a que foste, em que ora vives,Hás de escutar um eco do concertoDas vozes nossas. Ouvirás, entre elas.Talvez, em lábios de indiana virgem 1Esta saudosa e suspirada nênia:

"Morto, é morto o .antor dos meus guerreiros t.Virgens da mata, suspirai cimigo!

"A grande água o levou como invejosa.Nenhum pé trilhará seu derradeiroFúnebre leito; ele repousa eternoEin sítio onde nem olhos de valentes,Nem mãos de virgens poderão tocar-lheOs frios restos Sabiá da praiaDe longe o chamará saudoso e meigo,Sem que ele venha repetir-lhe o canto.

Morto, é morto o cantor dos meus guerreiros! ',Virgens da mata, suspirai comigo!

Etc houvera do Ybakc o dom supremaDe modular nas vozes a ternura,A cólera, o valor, tristeza e mágua,E repetir aos namorados ecosQuanto vive e reluz no pensamento.Sobre a margem das águas escondidas.Virgem nenhuma suspirou mais terna,Nem mais válida a voz ergueu na taba.Suas nobres ações cantando aos ventos,O guerreiro tamoio. Doce e forte,Brotava-lhe do peito a alma divina.

Morto, é morto o cantor dos meus guerreiros!.Virgens da mata, suspirai comigo!"Coema, a doce amada de Itajuha,Coenta não morreu; a folha agrestePode em ramas ornar-lhe a sepultura,E triste o vento suspirar-lhe em torno;Ela perdura, a virgem dos Timbiras,Ela vive entre nós. Airosa e linda.Sua nobre figura adorna as festasE enflora os sonhos dos valentes. Ele,O famoso cantor quebrou da morteO eterno jugo c a filha da floresta \Há de a história guardar <las velhas tabaaInda depois das últimas minas,Morto, é morto o cantor dos meus guerreiros!'Virgens da mata, suspirai comigo! '"O

piaga, que foge a estranhos olhos,E vive e morre na floresta escura,Repita o nome do cantor; nas águasQue o rio leva ao mar, mande-lhe ao raefXMUma sentida lágrima, arrancadaDo coração que ele tocara outrora,Quando o ouviu palpitar sereno e puro-,E na voz celebrou de eternos carmes.Morto, é morto o cantor dos meus guerreiros! IVirgens da mata, suspirai comigo!

Gonçalves Díõs e a literatura maranhense Josué Monte Uo

Foi ainda nec tempos da co-Knia que a literatura mergu-lhou suas raizes na terra ma-ranhensc. E surgiu sob a tor-ma dc sátira, para terir, nes-sas eras distantes, a vaidadedos capitães-mores. Depois to-mou novos rumos: O padreAntônio Vieira pregou em J5.Luiz, nas igrejas de Santo An-tonio e N. S. do Carmo, osmaiores sermões da línguaportuguesa. Bernardo Pereirade Berredo, governador da Ca-pitania, escreveu, nos óeios docargo, os célebres "Anais His-torícos do Maranhão", numestilo excessivamente litera-T\o. Ainda no século XVII, aochegar a São Luiz Dom Gre-gório dos Anjos, que foi o pri-Difiro bispo da Capitania, as-slstiu ele, no Colégio de N.S.da Luz, no mesmo dia de suaChegada, à representação denina comédia — clara revela-ção de literatura e arte dra-etiática numa terra que aindaestava acordando para a civi-llzação. E no século seguinte,nm dos sucessores de DomGregorio — Frei Antcoio dePaula e Belas — viu-se nacontingência de fugir da ci-dade, em virtude da reação daterra às sátiras por ele escrl-tas em remoque acs figurõeslocais...

Essas manifestações esparsasnão apresentam, entretanto, oaspecto considerável de um mo-

vlmento literário. SãIsoladas, manifestações ocaslc-nals, suscitadas pelo clima his-tórico ou pela contingência politica. Exceção feita aos ser-mões e às cartas do Padre VI-elra, tudo o mais não passa,na verdade, de mera documen-taçao para a História, sem asreais características da "coisa"literária.

A verdadeira literatura doMaranhão somente se inaugu-raria no dealbar do Império.

Nobres e burgueses, por essetempo, já haviam transforma-do as cidades fronteiriças deSão Luiz e Alcântara em cida-delas rivais.

O patriarcado rural aindaandava no esplendor, susten-tado pelos latifúndios e pelobraço do negro. A abertura dosportos, em 1809, rompera no-vos caminhos para a lavoura,a indústria e o comércio. Umnovo tipo étnico, resultante daunião de senhores e escravas,sairá das senzalas: o mulato.O novo homem, socialmentecondenado pelos estigmas daorigem, começava a assumirposição destacada nas lutas declasse da provincia. E foi omulato, ainda no crepúsculoda colônia, ao ser preterido pe-los brancos de Portugal no ca-samento das sinh ás-moças dascasas grandes e dos obrados, oprimeiro a romper combate como relnol lusitano: ,

"Marinheiro, pé de chumbo,Calcanhar de frigideira,Quem te deu a confiançaDe casar com brasileira?"

A transplantarão da famíliareal para o Brasil, etn 1808, au-mentara a arrogância do rei-nol. O português passa a jul-gar-se com maiores direitos &prepotência e ao mando. EmSão Luiz, onde os elementos Iu-sltanos são numerosos e fortes,essa arrogância toma uma fel*ção habitual de superioridadeameaçadora. O nativismo cx-plue acirrando lutas, íomen-tando ódios. Seguindo o mesmorefrão jogralesco, surge umavariante da quadra com que omulato Interpelara o lusíada:

"Marinheiro pé de chumbo.Calcanhar de requeijão,Quem te deu a confiançaDe pisar no Maranhão?"

A nacionalidade alvorocenessas pelejas. Os partidos seformam preparando a batalha,e as escaramuças continuam.A antiga luta entre a nobresae burguesia se transforma emcombate entre brasileiros eportugueses. Nesse ambientecarregado aparece no Mara-nhão o primeiro periódico.Chamava-se O CONCILIADOR— e o seu próprio titulo, comoJá foi observado, denota a von-tade de participar da peleja,

o propósito de apaziguar osânimos acirrados. A fcHia saeem manuscritos pacientementetrabalhados.

Tem assinantes, anda de mãoem mão pela cidade. São Luizentão, não dispõe dc uma úni-ca tipografia, onde possa lm-prlmir o seu jornal.

ETa em 1821 e governava oMaranhão o general BernardoVasconcelos.

Aquele periódico, todo feito &mão, chama a atenção do go-vernador. E ele compreende oalcance de uma oficina tipo-gráfica na cidade que adminls-tra. No mesmo ano, chega aSão Luiz, por conta da FazendaReal, a primeira tipografia queteve o Maranhão. Com seus ti-pos e no seu prelo serão com-postos os artigos e os novos nu-meros do "Conciliador do Ma-ranhão".

Instalada a tipografia, a pri-melra impressão que se fez êa de uma décima amável e ga-lante do major Rodrigo Pizarroà mulher maranhense. Esseacpnteclmento é o marco inicialde uma jornada gloriosa. A ar-te tipográfica terá desenvolvi-mento intenso na capital mara-nhense — e os livros saidos deseus prelos poderão ser postosem confronto com os melhoresque vieram da corte. Ediçõesde dez mil exemplares chegama ser feitas nas tipografias doMaranhão nos melados do Im-pério. João Lisboa, Botem dos

Reis, Gonçalves Dias, Henrlqu»Leal, enfim: os grandes vulto»que fazem o Maranhão glorio-so, teem seus livros impressosna capital maranhense, nasafamadas oficinas de J. M.Corrêa de Frias e Belarmino daMatos. E essas oficinas, em cer-ta época, se dão ao luxo de pu-blicar, num grosso volume, umaedição do Gil Braz, e, em deztomos, uma tradução de "OsMiseráveis".

A arte tipográfica, assim de-senvolvida, revelou subitamen-te, numa eclosão imprevista*uma literatura. E em meladodo século XIX o Maranhão con-quistou, entre os epíjetos entãoem moda, os foros Ilustres sgloriosos de Atenas Brasilel-ra.

E o batismo tinha realmentea sua razão de ser.

Antônio Gonçalves Dias pu-blica "Primeiros Contos", inau-gurando o verdadeiro lirismobrasileiro e estabelecendo novafase na poesia continental.(Esse mestiço foi a figura pina-cular do grupo maranhense ea sua história sintetizou, decerta forma, a biografia de suageração literária). João Fran-cisco Lisboa, que se estreara nojornalismo político, publicara o"Jornal do Timon", onde se re-velara o maior prosador do seutempo na literatura portugue-sa. Penetrando o segredo daslínguas clássicas, Odorico Men-

(Continua na pag. Mft

Page 5: BNmemoria.bn.br/pdf/066559/per066559_1941_00013.pdf · fè@§ SUPLEMENTO LITERÁRIO DE "A MANHA" 9/11/941 publicado semanalmente, sob a direção de Múcio NlHll. 13 ' Leão (Da Academia

*""' "' mr>mm<^mmw'rm'.f<m^7^^^*^'• "*" ' "•^"^mr^mnffW^fl

. » 11 IMI, DOMINGO SDPLÜMENTO MTHUMO D'A MANHA — PACIWA M»

GONÇALVES DIAS - <TRES SDO)ANTÔNIO GONÇALVES DIAS pode-se-lhe fazer apenas uma sll, sua nova estada no Mara- to da obra não aumentara desfez o rosário de sonhos e

nào precisa que lhe trace a apreciação estética, a definição. não, sua subsequente partida grande cousa, quanto a obra exageros dos que criaram ebiografia. Este trabalho está do gênero em que figurou; po- para o Rio de Janeiro entram literária em si. programaram no Brasil seme-feito definitivamente feito, por de-se fazei: a pintura de seus como fatores ha formação de Se nunca li o drama e só ..íante lenda.Antônio Henrique Leal no 111 modos, sestrOs, impulsos e tics, seu talento. ouvi representar, nada sei di- Chamo a atenção para as pa-vol do Panteão Maranhense, quadro fisiológico. As primitivas impressões ame- zer sobre ele, porque o que ginas em que Gonçalves Diasconsignarei apenas algumas da- Pode-sealhe fazer apenas uma rlcanas tinham-se juntado asapreciei no palco foi o traba- fala e insiste largamente sooretas e farei algumas observações mento normal de suas idéias, impressões do meio português, lho dos atores, sua voz, seus as decantadas pedras verdes, asoue me elas despertam As da- quadro psicológico. Se ele tivesse sempre permane- gestos, seu jogo cênico, seu pedras das Amazonas, que maisíi aiudam a comDreender a Pode-se fazer a simples cri- cido ali, se novas sensações, savoir dire e savoir faire em tarde vieram a servir para en-formação do talento do poe- tica impressionista, dizendo novas fontes de vida e poesia cena. e não a criação do poeta ganosas pretensões de Barbosata dos Timbiras Ele é um com- gênero e a índole das emoções não se lhe viessem juntar no diretamente. Rodrigues. Este em seus escritocr7.ro j...... j1 _„_ j_ mi» H0cn0rt.fi Psníritrt nün teria nassadn cn- uma rpnresentacao teatral nunca citou o noeta... .(Videia dus lunuaraas as,ac c um mam- ¦- - a-— "~ —- —retamente. Ituunsura. mu: eau wua .

pleto produto de sua raça, do que desperta. espírito, não teria passado, co- yma representação teatral nunca citou o poeta ......meio em oue nassou a infância Pode-sè, que sef eu? limitar mo Gonçalves Crespo, de um uma arte que se sobrepõe a ou- obras Póstumas de Gonçalvese dos estudos ouefez em Coim- •*• Bente a apontar simplesmen- poeta delicado, jeitoso, mima- tra e a vela em grande parte. Dias, vol. III, pag. 270 e se-hr-i Aí viaeans nosteriores" da te suas obras e o conteúdo ge- turesco, porem, mediano. talento dos atores produz uma guintes).oulsl nada lhe serviram Nascido ral delas, ou tomar outro caml- como segunda criação que pode Igualmente interessante, ouJmlíM emclxfa wSou Se nho qualquer. até certo ponto dificultar porventura superior, é o escri-Im São Luiz ™ aúmzVSrimel- Qual oestes métodos vou apli- ciata inteligência da primeira, to sobre o descobrimento d»."' r„. ™\rr. q..."i a4ri .«.. «r a Gonçalves Dias? Não sei. O teatro de Gonçalves Dias Nunca vi os dramas de Gonçal- Brasil. Gonçalves Dias combate

é todo de obras de sua verde ves Dias em cena. Creio não ser nele, vitoriosamente a meu ver,em sao luiz os quinze primei- í.~"«.>» ""¦„,„ '„- ,ros anos de sua vida. Dé 183» »« » Gonçalves Dias? Nao sei.• 1845 viveu em Portugal, for- DiS° ° <lue penso-dele, sem me

in— ji ti.- ü. tt_í nrpnniinar enm sistemas e ama*

Nunca Vi os aramas ae uuuyar urasii. urunça-ves uma tumuuw. i«4ã ailvíii em Pr.rt„»ai for. uigo o que penso aeic, sou me c iuuu de obras ae sua verae ves Dias em cena. Creio não ser nele, vitoriosamente a meu ver,mando-se em diMlro1 SS Uni- preocupar com sistemas e ama- mocidade. um empecilho para os apreciar. a idéia de ter sido propositadawrSdadV df rSta Foram nelrados críticos. Consta dos dramas Boabdil, Le000r de Mendonça, por exem- a chegada ao Brasil da parte desite anos o^Se almma cousa lhe O autor de Marambá, da Mãe Fatkull, Beatrice de Censl e pi0, bem representada por ato- Pedro Alvares Cabral, ldela es-SelvaSs !S« C»7 W*», do Leito de folhas ver- Leonor de Mendonça. res de forte vôo deve ser gran- ta sustentada galhardamente

(1845-48), em melados de 1848 J»-Kr»ma, dos.. _ .'¦.¦«il ... i_'_ tamhom n autor

; reur«t a iu- iiauuaiu mutuem a, .wn» «-» uciueiin*; unuuaviv,a. *<¦>. ¦«*.«¦ - jw» ww»h<**'iis«-4bi em meiaaos oe imb . — Timbiras e é Messina de Schiller, _ drama, o Ato II, que constitue za e Silva.arho.i-\e no Rio de jMetro oue também o autor das Sextilhas No teatro Gonçalves Dias nao todo ele, o Quadro Terceiro, e o Não me e possível descer ahabitou séíuldaméhté até 1854 de Frei An» ão, isto é, «autor se elevou tão alto como no Uris- mais belo, especialmente nas uma análise meuda de tais es-Emendo iSnu SS ránida vis. do que há de mais nacional e mo; ainda assim seus ensaios cenas v e VI. critos nem mesmo da mtéres-MMffiimiivit do que h* de mais português em dramáticos são reveladores de As cenas passam-se em santíssima memória O Brasil •!a viveu n»p.irnmn.ietn™n nossa literatura, é um dos mais grande talento. Fora para dese- casa d0 velho Afonso Alcofora- » Oceania. Esta é um verdadei-• vSr d. 1«5_ . M am m nítidos exemplares do povo, do Jarqueas nossas empresas tea- d0 entre ele e seus filhos An- ro livro em que o poeta passou«ni faier™ riTmltb aoBru- genuíno povo brasileiro. E' o trais levassem sempre á cena os toni(,. Manuel e Laura. O mo- em revista o que nos cronistas?H o ntervaln He finaTrte imu tipo do mestiço físico e moral dramas do autor maranhense, O0 Antonio AlcoforadO tem ji e viajantes se encontra sobre os. 82 ™^u-o em viàíen, rilaS de que tenho falado repetidas escritos em linguagem ampla e jeito declarações à Duquesa, povos selvagens do Brasil e daPrnvíí^« rtn wTrt» «» eéiVhre vezes neste livro. Gonçalves correta, e os acompanhassem c,m qucm deveria ter uma en- novíssima parte do mundo nornmlSda, bortKAetM: Bn Dias erá filho de português e dos dramas de Agrário, das co- trevista á noite justamente na intuito, um pouco frivolo emi«S anUí de S S úl- mameluca, quero dizer, descen- médias de Pena, e dos dramas e vésiéra da partida do moço verdade, de Ter quais deles es-tirna vra rara rlelho mundo dia das três raças que constl- comédias de Macedo e Alencar. para a Aírica. A noite é cali- tayam em condições mais ade-a buscf d^melVras oá?a sua tulram a população nacional glnosa, medonha; todos acham quadas para receber a civiliza-íaud^ tocoeuTlnda"IpFdímentí representava-lhe as principal, lmçrudente a saida dc, moço «ã» cristãnn ieu amado Rio de Janeiro tendências; a deshoras e só. O velho pai A parte relativa a Oceania.Oone^v^Dias morrlu aSs 41 ...... -O Tenhamos nisto e no mais uào M p^e conter e o interpe- pelo muito que ja sabemos dean«? d«tes tiSS a ouatorze Nosso poeta aos africanos, o „m pouquinho de patriotismo. la: Trava-Se forte luta no es- seus antigos habitantes graçasfnm^ nlVsados na Eurioa e o sangue que menos lhe corria Leonor de Mendonça do poeta pirito de Antonio Alcoforado sobretudo à ciência inglesa, es-resto nrirasif tIís algarismos nas veias, deveu aquela expan- maranhense, por exemplo, e £ntre 0 respeito paterno, o tá hoje muito atrazada. Onão vê^maoui'^^esmo'6?ómM- sibilidadé dé que. era dotado, m belíssimo drama. amor á Duquesa, o dever de que se refere aos ndios do?adoráTuel2s em nueárSÍS- aquela ponta de alegria que nao o Conservatório do Rio de na0 lhe marear 0 nome. con- Brasil ainda agora apesar-deí»m osTus lf*?os e iá^orím o deixoiVjamaiS e que especial- Janeiro ineptamente em 1846 fessando 0 Seu intento, e a bons progressos realizados porindiradoí L tratar do Baí^ mente noto em suas cartas. pôs-lhe embaraços a represen- obrigação de não mentir. O este lado, pode ler-se com pro-dè Paranapiacaba bem nwsta Aos indígenai, as melanco ias £sap a pretexto de ser incer- lanc| è belo... veito.oue

'SSiU morto em1864'aS sKbitás. a resignação, a passm- ret0 de ilnguagem!,.. Entre outros destaco o inte-

qTarente «mlTa tivtoe dade com que suportava os fa- Singularissima censura esta y. .. . ^» capítulo, - Se os ame-desanarceido em 1854, aos trin- tos e acontecimentos, deixan- tratando-se de um «cr tor, to- caminhavam para •te e um teríamos o nosso do-se ir ap sabor deles. mo o nosso poeta, de todos os 0 ^^ dos Timbiras deixou, r"resSo «u para a decadên-Gonçalves Dias completo: To- Aos portugueses deveu o bom- nosscl3 autores o mais Preocupa- outro5 p^^nos escritos em J.

pensamos aos tupis.Ss as suas obras foVam escri- senso, a nitidez e clareza das d0 em cmglr-e aos modelos uatro ,ue merecem es- Le'iam?se tSdos estes trabalhosuS ató esse aío¦ compreenden- Idéias, a religiosidade jaeonao clássiCos é mais chegado ao ses- ^ mmçio e sa0 f5tes: Re- ^J^ maranhense e ver-

ÉltnXrlK e0?itra0

Sffi«a?é{° ldeaUSm° «"stT

S' de faze, uma —~- í !&"+- ^'^ foi também um destro drama-ncsirv»v« » isugin», i««»™— loi tamDem um ue»nu ui*im»se elas existiram no Brasil, O turgo « um homem sabedoremho etnográfico soo o tituio moroiao mip»iia«ao.. ™ *" ia^,„.i*ae« raios'aaem • «"-.«"i*» »»¦¦•/¦—¦¦¦•"—-,--¦•> turgo « um noiijeui a»u™u.:.™

»rasil e a Oceania. Juntai a' tudo isto fortes tal- censura a Gonçalves Dias péio Desc„brimento do Brasil por ass5nt0s de história e etnogra-Em dez an". (44-54) Gonçal- p£í £ luzes e cores e vida lado da^hnguage m seria ,usta, pedM Alvares Cabral foi devW. fla bVàslleiri.

ves Dias desenvolveu pasmosa £ moTimentoj fornecidas pela mente a Wer«an*el?v^UVe ,0^ a um mero acaso? Sao ensaio, .^ ^ fc ^ de „,.atividade. O último decênio fpl naturfZa tropicall«1 se expanj durt|dai.pjg íílggjg* d» sobre a historia de nossas pa- ^g ^po fe ^^ ^

^Tc^^Lteteíw £ ^xias8aa°slô ££.*S»uS sSrUn°guPa° e de seu estilo, "fc, -escritos naquele estll0 poucas palavras,exerceu e um puScf de poe" ?fn£aa5aScenas marítirnas da Neste ponto Alencar teve a co- clar slm les e harmônico da Tanto quanto soube fazê-lo,fias onéinaife traduzidas são Staeira -riagém a Portugal, ragem de romper com todos os de GonçaiVes Dias, uma mostrei a formação biológicam orodutos desse temp^ não esqueçais os quadros da velhos preconceitos deixando ^ melhores d0 Brasil; o que do talento de Gonçalves Dias,

D? reste cumpre notar que Sa?uS e da vida provinciana definitivamente de lado, por ie ^m ver nos belos pró- indicando o que ele deveu asno?ta maraSse não passou ^iefho reino è nem tão pou- imprestáveis, ps rigores lusita- j £ aas divetsas coieções de raças que o formaram e aoMr doU grandes flagelos qu- ?" „! ,goramos indescritíveis nos. Bastava isto para ser c«ntos e de Lonor de Men- meio em que viveu, isto e, en-^LtÍ0|mgdeortlnárioosno- SÔ R1oTjanX e região ci^ .-,.._ carel-o no seu desenvolv.men»

cunvizinha; trazei a: esse con- to das trás * asüe£•. «esteassaltaram de ordinário os ho-mens de letras neste pais: ". letras neste pais- a „,„,vmnha- trazei a <:»=*; w..- J> aas lerras orasuenau. Neste número aevena ,iam ontogenético e em suas relaçõesiruerra literária fá pènúrú enrede íátÒIe circunstâncias Gonçalves Dias pata vingar-se ^ contaI. a céiebre critica com a filogenia dos povos deguerra ..:Ute«rla_e_a ^enur» curso de iate- e™™"tinos e dos seus gratuitos censores, con- Jez da independência do que descende, não esquecendo a

modernos T estudo das crõnl- forme étama, escreveu as mag- - - - ¦ econômica; O talento do poetanão foi jamais contestado. Con-tribuiu muito para isto o artigo encomiástico escrito por

™/,rfornns n estudo das cronl- íorme e iam», c^.c.v» »o •¦¦-» Brasil oe Teixeira e ouuaa. «- adaptação ao meio ue a^,....Tnionials e tereis os ele- nfiicas Sextilhas de frei Antao to de5perta-me uma observação bra, do Maranhão e do Rio, on

tiiro encomiástico escrito por ^ntos predominantes e funda- em estilo e linguagem do come- nào dev0 calar. de vlveu principalmente.AlexandrTSmã^ sobre os m^ntaL do talento poético des- ço do século XVIU. "o, escritores da época ro- Esta dito tudo?. Não. Resta£-2?"™ £™1 Sã^a^assou ™vaiente rmimow lirista. Uonor de Mendonça e pre- mântlca ouase tanto como os ainda alguma cousa para ca-

si ínaaealves Dias tivesse si- cedido de um excelente prólogo, de ho.e atacavam-se com desu- racterizá-lo de vez. Resta sa-doTuma mediocridade, teria fl- onde o autor expõe seus^ desig- sado encarnecimento. Gonçal- ber 0 que dele ficou e ficara decado exclusivamente naquela nios e ideíís s" rp

Primeiros Cantos. Não passoupor grandes dificuldades paraviver. Teve sempre empregos eboas comissões. Neste sentidoboas comissões, neste senwuu cad0 exclusivamente u«i»»foi de grande auxilio a amiza- poesia piegas do tempo do Tro-de que lhe votou sempre o se- «dor de Coimbra, nota-predo-

sado. encarnecimento. Gonçal- Der o que dele ficou e ficará deVes Dias, de ordinário tão pa- pé paia u pciisarnento d<7 povocato, zurziu desapiedadamente brasileiro, enquanto existir uroo pobre poeta dos Três Dias de povo brasileiro...um Noivado, por causa de seu .poema épico A Independência

toam do merecimento oa oua». do Brasil. Seguiu-se José de-,-r- jajo hà nesta, aquela riqueza Alencar que flagelou horrível- 0 nosso Gonçalves Dias, n.rairett Herculano e Castilho de pensamentos e fhias obser- mente a Confederação dos Ta- seu pugnar pelas idéias, pelo

em 41-45 'anos

últimos passados vações sobre os domínios recôn- moii» de Magalhães; depois belo e pela glória, nao fc-i nemem to -aj, ». » — , .j .. * j_ „,_. haimana. aue fa- Remardn Guimarães sovou me- „m Herrntado. nem um vitorio-

gundo" imperador. mrnãntT.

na literatura portu- .No moço maranhense existem _uesa d0 tempo em que o ma Estas idéias sao sas e nao aes-

quatro aspectos principais, ja iantiense fez ali o curso de dl- toam do mereemiento da obrao deixei ver: o poeta, o drama- «,»„ Não há nesta, aquela nquezitista, o critico de história e 'etnólogo •m «-45 anos últimos passados vacões sobre os domínios recon- moio« de Magalhães; depois belo e pela gloria, nao tc-i nen

i„ „rin^ir.i=nrio nela noeta em Portugal, já ti- ditos da alma humana, que fa- Bernardo Guimarães sovou me- um derrotado, nem um vitorioApreciemo:lo, pnnclpiando pelo_poeta emirot¦ * .^ oiws de lê donha{nente os Timbiras de ^ desSes que fazem o seu ca

pela sua feição preponderante, nham PM»»» notíbilidades |hakesDeare. Mas quantos com- Gonçalves Dias e Franklin Ta- m|nho por entre cem batalhainham publicado as principais zem o assombro de quem lê donhamente os Timbiras de ^ deSses que faz-... - --- -r*ras e já eram notabilidades shakespeare. Mas quantos com- Gonçalves Dias e Franklin Ta- mmho por entre cem batalhas.

' {r*v,^a» me.,eiraS diversas de lndiscutidas lá. Mas a evolução partem com o grande drama- vora a Iracema de Alencar. Eie estava maisJ££?SS32?* SSfi JTf.nr,0entiS,a y *£L ÍStfS ?y" — -*" """' "P* *' *" ™o poeta. Ele estava mais ou menos na

Há vinte maneirasmu^> ™ "'ut'^aTdô" romantismo tiiiha %S£~igüÍ tesoíro? Nem By- Foram criticas azedas, de ca- aUura de seu meio e de seu¦Sj Sncurar S jactei ?á atingido a fase do sentimen-

™" e nem o próprio Goethe. rater puramente polemistlco e momento histórico, e esse mo--

?eralToíe*Se â" iS alism" afetado e esterilizante. Pór essa face Shakespeare irritante, que tiveram porem mento era uma epoF.?I?lsJ5ul.f .™^ arando «maranhense, já de si bastar.- camDeia isoiado. Fora um ab- grande eco. _ . _ siasmo e esperançaierais oue ele tevê com a cul- talismo afetado e esterilizai™. Por essa lace onaxesi»..» irritante, quetuía «2 La tem» mostrando o maranhense, já de si bastan- campeia isolado. Fora um ab- grande eço.^ ÍLlhe ííveuT™ o^Tadian- te melancólico aprendeu aquela surd7tomar essa medida para As ReflexoSol" pSdem-^ em™ SadaT ci?- maneUa e deixou-se eivar da un,dade comparativa. Dias sobre os„._'.£:..»; i„'rie™r n naae fez mniéatia «ral. Diz-se vulgarmente.

b»,w •* munieiiu* iiiotwiivu. ¦- lum». —-porem mento era uma época de entu-

jr«iiu<: *™. siasmo e esperanças para este,„,„„ para As Reflexões de Gonçalves p,!,.

"•"•.TSrBdSrTS.* SS ge-raíV «^ «SSS." que uma ^unr°telo°^ »? p%^?ZS>" ^

rrrÇrjer£.«g JSsssr^rME a-srswr.K f^wp ^:izv^^-Ç-^ÈSSSTàr: Sa^í ^s.tês.,- fsssiisssnAs isas rss*r

elementos hereditários acumu- fanfarras de uma poesia va- pecialmnte dos grandes mes-elementos n«eo serena, meiga. tres. quando os leio. Se, alem

Que é que ainda vive dele eor D. pearo u. parece que viverá sempre? ümaO poeta revelou-se al grande dúzia de poesias lirleas, e cer-parte da «^ "»" ™

tanfarrãs de uma poesia va- iMiilmnte dos grandes mes- o poeta revelou-se ai grande dúzia de poesias lirleas, e cer-fiZe"™S™£ i oílleSos ítada ^mpto, se?enV meiga. SST quando os leio. Se, alem conhecedor dos cronistas e via- tamente das melhores em <rae

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ou»daT?mbriagadori. da leitura, ocorrer uma boa re- ,antes dos nossos tempos »lo- „ma vez se vasou a língua de

SKkáEEo A volta do poeta par» o Br»- presentação, me« conhecimen- nlal», e oom subido eritérlo Camoe».

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FAGINA >« - SUPLEMENTO I.lTEK/UUO D'A MANHA DOMINGO, l/ll/IMl

GONÇALVES DIAS - Josí VeríssimoSem possuir, talvez, o gênio

de Basilio da Gama e de Al-vares de Azevedo, o sentimen*to de Gonzaga, de Casimiro deAbreu ou de Laurindo Rabelo,a emoção filosófica de Junquei-ra Freire, é contudo GonçalvesDias o primeiro, o maior poetaBrasileiro, Este lugar lhe reco-nheceu porventura antes dacrítica, ou siquer simultânea-mente e. independentementedela, o povo, em um tempo emque o Brasil com menos ins-tração tinha de fato mais cul-tura ou aproveitava melhor aque lhe davam. A história donosso romantismo reconheceráque o vigor desse movimentoespiritual não veio só do talen-to dos seus principais autores,mas da sua comunhão com omeio, da simpatia que nele en-contraram. A literatura foi en-tão aqui pela primeira, e aca-go última vez, social. Conhe-ciam-se, amavam-se, admira-vam-se os escritores da época,mesmo fora das rodas ou cir-culos literários, e as própriasdesignações com que os conhe-ciam, revêem os sentimentos queentre eles e o povo estabeleciamuma espécie de camaradagemespiritual: "o poeta Maga-Ihães", o •Macedinho", Casimi-ro de Abreu de um modo, Lau-rindo Rabelo de outro, erampopulares.

Nenhuma popularidade foitão grande como a de Gonçal-ves Dias, e essa a deveu elesomente ao- seu doce e calmolirismo, sobretudo à emoçãocom que fez vibrar a alma po-pular com a Canção do Exílio.

Minha lerra tem palmeiras,Onde canta o sabiá;As aves que aqui gorguiam,Não eorgeiam como lã.

Essas estrofes, quase subll-mes, à força de simplicidade,ungidas da melancolia saudosa,tão consoante ao temperamen-to que nos herdou o Português,e a mestiçagem de duas raçasfeitas tristes pelo sofrimento,desenvolvidas, vasadas nos moi-des singelos da poesia popular,repassadas do doce amor daterra embelezada, pela nostal-(ia, produziram na alma nacio-Dal a mais profunda impressãode estática que ela jamais so-freu. Postas em música, percor-reram, carinhosamente entoa-das em todos os lares, na violado sertanejo, no cravo ou nopiano cidadão, o Brasil inteiro.Bi, como os He breus, nós hou-féramos de perder a nossa pá-tria, o nosso canto do exilioestava feito, seria a Canção deGonçalves Dias. Por ela, ele pe-Betiou e conquistou o povo eas mulheres, que são — ato-dos os respeitos — o melhorelemento da fama e dos suces-¦os dos poetas. E não só o povo,mas a literatura e a poesia bra-aileira. Raro é o poeta que des-de então não cante entre nós• sua terra. Túdos cantam a•ua terra", diz um verso de Ca-«miro de Abreu, Cuja nostalgiaprocede estreitamente da can-Cão de Gonçalves Dias. Nem elee esconde, e de Canções do Exi-lio denomina uma parte dos¦eus Versos. Mas a Casimiro deAbreu podemos aorescentar,seguindo ha esteira do poetamaranhense, Magalhães, PortoAlegre, Alvares de Azevedo,Laurindo Rabelo, JunqueiraFreire e quase todos òs poetas¦eus contemporâneos; Em todosencontrarei* a canção, expressacomo unia Imitação conscienteou disfarçada. Dominado pelaemoção dela, o Brasil fez deGonçalves Dias o seu poeta fa-

. Torito, o eleito do seu sentimen-to. O instinto nativlsta, tão dospovos na Infância, encontroutambém um éco simpático nasPoesias Americanas, e acolheucomo uma reparação generosa a' Idealização dos incolas primltt--tos e aeus gestos, sem Indagar• que havia de comum er.tre«les e nós, qual a fidelidadedesses quadras e «té qüe pontoserviam ele» 4 causa dé lima,Btcratura brasileira. O seu Jlrtt-

mo, de uma Intensidade a queentão somente se poderia equl-parar na nossa lingua a de Gar-rett, cujo influxo t evidentenele, achou igualmente corres-pondència no sentimento nacio-nal. Tinha ao mesmo tempo 1expressão de ternura, a simpll-cidade dessa expressão e o jei-to da forma conforme às tradi-ções da poesia popular:Meu anjo, escuta: quando Junto à

[noitePerpassa a brisa pelo rosto teu,Como suspiro que o menino exala.Na voz da brisa que murmura e falaBrando queixume que táo triste cala

No peito teu?Sou eu, sou eu. sou eúl

OU 7

São seus olhos verdes, verde*Uns olhos de verde-mar,Quando ò tempo vai bonança,Uns olhos côr de esperança,Uns olhos por que morri;

Que, ai de mi!Nem já sei qual fiquei sendo

Depois que os vi|

OU;

Enfim te vejo! — enfim posso,Curvado a teus pés, dizer-teQue niio' cessei de querer t#Pezar de quanto sofri.Muito pensei! Cruas ânsias,Dos teus olhos afastados.Houveram-me acabrunhadoA não lembrar-me de li!

Louco, aflito, a saci ar-meD'agravar minha ferida.Tomou-me tédio da vida,Pàst-oç da morte senti:Mas quase no passo extremo,No último arcar dà esperança;Tu me vieste a lembrança:Quis viver mais e vivi!

Para a Glória que se lhe abrisna simpatia e na solidariedadedo sentimento popular ao con-tacto da sua emoção, cpneor-reu ainda a sagração dada notempo'à mais eminente persona-lidade da nossa raça, Alexa-idreHerculano. cuja autoridade es-piritual era enorme nos povosde lingua portuguesa. E ao ca-bo, o seu fim misterioso e tra-gico, comovendo o Brasil in-teiro, que realmente sofreu odó do seu poeta querido, poriaao seu renome uma auréola riesaudade, que lho tornaria maise:rro e mais glorioso.

Algumas vezes, porem, os con-temporâneos acertam nos seusJulgamentos, e os seus juízossão bons e justos. Os contem-porâneos de Gonçalves Dias,que o eram também de Maga-Ihães, de Porto Alegre e dosgrandes poetas da segunda ge-ração romântica, reconhece-ram-nb o primeiro poeta bra-slleiro. E nós, que começamos aser para ele a posteridade, naopodemos, penso eu, sinão con-firmar-lhes o juizo. Faleceram-lhe, talvez ou melhor, nao os.possuiu em grau tão eminente,dons que são as qualidades ea-racteristicas de outros poetasnacionais, mas o que entre todoslhe da a primasia é o equilíbrio,a ponderação, a correspondên-cia de todos os seus dotes na-turais e adquiridos. Ele não tporventura um gênio; mas é umtalento completo, o engenho,não duvido dizer, mais acaba-do e mais vasto da nossa lite-ratura. Gonçalves Dias; mesti-ÇO das três raças constituintesda nossa nacionalidade com so-lida cultura literária, qual a-tinham os melhores do seu tem-po e do seu meio; temperadopela educação no próprio focoIntelectual da língua portugue-sa e pela vida na Europa, é eon-juntamente o mais eminenteproduto da gente brasileira e •tipo mais universal dos seusrepresentantes intelectuais.

As suas variadas aptidões deerudito, de etnógrafo, de histo-rfador, de dramaturgo, de poe-ta são todas de ordem superiore distinta. O artista que há nele.i perfeito, mesmo guando nãoé sublime. E a sua obra, aquelaao menos que o sagrou para osseus contemporâneos, ao con-trário da de todos os seus pares,nas letras e na poesia nacio-,sala, ia atais atabJMta. a tua

possui em mais alto grau o con-junto de perfeíções necessárias,que sob a aparência de nona-das são os fatores indispensa-veis das obras primas: a corre-ção da forma, a pureza da lin-gua, o bom gosto da retórica, adistinção, a elegância, o bemacabado do principal e dos detalhes, tudo enfim que serve adar relevo, rigor, expressão àIdéia, calor à emoção, realce aosentimento. A lingua de G.in-çalves Dias, sem ter talvez umaconstante e rigorosa purezagramatical, possui as supremasdualidades de uma lingua comoInstrumento da arte de escre-ver: é correta, elegante, duul,eopiosa, clara, simples, natural.Sobretudo no Brasil nenhumpoeta se lhe iguala, nem antesnem depois dele na belesa dalingua. E" rara a propriedade,a variedade da sua adjetivação.como pouco vulgar é o proposi-tado e a riqueza das suas com-parações. E em tudo isto nele senao sente o esforço, o rebus-cado, o trabalho que seria odesespero e a inferioridade dospoetas que vieram ao depois,fazendo da forma o principaldos seus cuidados. Nele tais per-feições correm de seu natural.Esta superioridade da línguadeve-a ele à sua terra natal,onde o português se conservoumais puro e onde no seu tem-po a plêiade maranhense a quepertencia, se distinguia pelacultura da boa linguagem por-tuguesa, e também a sua edu-cação em Coimbra e estada emPortugal. Daí os modismo? por-tugueses da sua lingua, em cujasintaxe somente, de construçãomenos invertida que a de Port ti-gal, se acharia porventura obrasileiro.

Mas o que sobretudo distln-gue Gonçalves Dias e o exalçasobre os seqs êmulos da poesiabrasileira, é que a sua arte temas qualidades sintéticas dagrande arte. Os seus poemasimpressionam-nos como a emo-ção espontânea de um pensa-mento ou de um sentimentoelaborado, mas cuja elaboraçãonão sentimos. Eu não sei, nemme importa saber, si a amornele foi imaginário ou real. Osseus poemas de amor comovem-me como a expressão de sensa-ções e sentimentos experiir.cn-tados. Acho neles o eterno te-ma traduzido com outras pela-rras, por outra forma, de ou-tro mbdo talvez, mas com amesma alta generalidade comque o cantaram oa poetas ver-dadeiramente grandes, os poe-tas humanos. Nele o amor nãot o desejo sensual, carnal, mór-bido de Alvares de Azevedo; oanhélo de caricias, a nostalgiado gozo de Casimiro de Abreu,ou a raiva amorosa e impotentede Junqueira Freire. E' o grandee forte sentimento eomo que de-purado pela idealização, o amorque todos os homens sentiram,não a paixão individual, e casapessoal e próprio. Difícil coisai o descobrir a verdade nasconfissões dos poetas antes deilusão, que de Ilusão vivem, —ou distinguir e acertar entreas suas declarações contrárias.Gonçalves Mas mais de umavez confessa não ter amado, ounão ter sido amado:

O amor sincero * fundo • firme •[eterno,

Como • mar om bonança meigo. •[doce,

Do templo eomo a lux perene e nulo,Nüo, eu nunca » senti;

O amor que eu tante amava do imoIpell»

que nunca pude achar.

Mas, singular dom de adivi-nhação, de transposição, deidealização do poeta, esse amorque ele não experimentou tal-vez, Jamais, sinão como à efei-ção trivial, de dois sexos, o ex-primiu e cantou com uma sin-ceridade.de emoção, um vigorde representação e uma superio-rldade de expressão como ne-nhum outro poeta nosso. E* que• tema, cantado desde o alvo-iccar áa yltmrnto ns homem.

t o patrimônio poético comumda humanidade. Os poetas ape-nas o refazem c remodelamconforme a sua Inspiração lndi-vidual, ou segundo a Impressãoque dele recebem. Os grandespoetas não são os que sentirammais forte a sua emoção, mas osque a souberam exprimir me-lhor na sua generalidade damais universal e mais forte daspaixões humanas. GonçalvesDias foi um deles.Amor e vida; é ter constantementeAlma, sentidos, corações abertasAo grande, ao belo; e ser capaz de

[extremos,I>'altas virtudes, té capas de crimes;Compreender • infinito, â Intensidade,E a natureza e Deus, fostar doa

(campos;D'aves, flores, murmúrios solitários;Buscar tristeza, a soledade, o rimo,E ter o coração em riso e festa;¦ «.branda festa, ae riso da nossa

[almaFontes de pranto intercalar sem justo;Conhecer • prazer e a desventuraNo mesmo tempo e ser no mesmo

[pontoO ditoso, o miserrimb dos entes:Isso é'4imor e desse amor se morreiAmar, e não saber, não ter corae-mPara dizer • amor que em nós sen-

ttimos;Temer que olhos profanos nos de-

[vastemO templo, onde a melhor porção da

iTiataSe concentra; onde avarea recatamosEssa fonte de amor, esses tesourosInesgotáveis, de ilusões floridasSentir, sem que se veja, a quem se

Tadora.Compreender, «em lhe ouvir, seus

[pensamentos.Segui-la, sem poder fitar seus olhos.Amá-la, sem ousar dizer que amamos,E, temendo roçar os seus vestidos,Arder por aiogá-la em mil abraços:Isso é amor e desse amor se morre!

Mas na variedade considera-vel dos seus poemas de amorapenas há a dificuldade da es-colha. Gonçalves Dias sofreumais realmente que Alvares deAzevedo. A orfandade deve deser uma fonte de dores parauma alma sensível como a sua.A dôr, porem, é uma mestra se-gura, que afina o entendimen-to e do mesmo passo esperta osentimento. Os primeiros dissa-bores da vida e a ausência daterra natal deram a GonçalvesDias, como a Casimiro de Abreu,a nota melancólica do seu gênio,em um dolente e mórbida, emoutro contida pela composturada vida social. O sofrimento,produzido, a necessidade do ca-rinho que o amenize e console,faz anlar pelo amor que aos co-rações ávidos de conforto se afi-gura o grande eonsolador, Acompreensão do sentimento de-sejado é facilitada pelo ardordo desejo. Era quase impossívelque Gonçalves Dias, com a «suaalma de poeta — punglda pelosofrimento, c pela saudade, do-lorida pelas desgraças do inicioda sua existência, não fosse umgrande poeta do amor.

A dor da sua vida ele a diráem todos os seus poemas, poisala ae consubstancia no seu li-

rismo, mas especialmente notseus poemas de amor. Minha vi-da c meus amores; Amer, deli-ria, engano; sofrimento; Pall-nódia; Retratação; O «ue maisdai na «ida; O ciúme; Miseri-mus; Si se morre de amor; Ain-da ama res, adeus; e nós versosdolorosos: A minha irmã? comonos que intitulou A am poetaexilado; A saudade, de uma de-licadeza cheia de graça, e outrose outros. Essa dor a mitiga umsentimento religioso que pare-ce.intimo e sincero e a tempe-ram as reações sociais. Mas opróprio constrangimento delaserve à intensidade da sua emo-ção e a perfeição da sua arte,que assim se depura e purifica.

A sua lira não vibra somenteaos toques do amor. Menos mo-nótona que a dos poetas daépoca, de mais larga Inspira-ção e envergadura, a suà musacanta também de celsas obje-tlvas, fora do velho e repetida-simo tema. Para Gonçalves Diaso mundo real existia e ele o viacom uma clara visão de poeta,Ele é o criador e o máximapoeta do segundo indianismo,do indianismo, romântico emoposição ab primeiro, o Índia-nismo clássico de Basilio daGama e Durão. Se é essa a pai-te original da sua obra, nãocreio que seja a melhor e amais duradoira. Nao é aqui olugar de discutir a razão ou semrazão do indianismo, nem in-dagar dos seus efeitos ou con-seqüências da nossa literatura.Os poemas indianistas de Gon-çalves Dias valem pela ideali-zação da vida e efeito dos nus-sos indígenas, e se alguns hárealmente belíssimos, ainda su-blimes, como '•I-Juca-Pirama'*(que é um dos mais perfeitospoemas da nossa língua, Acanção do Taoioio (formosissi-mo comentário poético da ba-nalidade da luta pela vida" an-tes que ela. fosse uma banali-dade) outros são, como O can-to do guerreiro ou O canto doPiága, enfáticos, empolados efalsos. Mas são nesse gênero aque se deve juntar o famosofragmento dos Timbiras, maisnumerosas aa belezas que aaimperfeições ou siquer as infe-rioridades. A inspiração geral,que produziu as -poesias ame-ricanas", e que deu ao seu es-tro algo de universal, libertan-do-o do subjetivismo amorosoem que quase totalmente fica-ram os poetas seus coevos, per-tencem as porções dos seus ver-aos a qué chamou Visões, Hinose as incomparáveis Sextilhas deFr. Anta*. Mesmo, aas suas"poesias diversas" e "saudades"segundo a defeituosa classifica-ção dos seus poemas, se encon-tram de mistura eom o seu li»

(Continua sa \tán. Ml)

GONÇALVES DIASCAMILO CASTELO BRANCO

Os quilates deste poeta brasileiro eram os da melhor moeda,quando a sua poesia circulava nos corações ias mulheres pálidasr ruborizava esangue aas pulsações mau Vitais da smjisiõl».gia. Visto desta distância, apenas me enlrelus como estrela ca-dente nas brumas da serro que transpus, t para a qual, aa 'lo-brar es espigSes.de outra mais alcantilada, olho com saudade.

Raros são os príncipes da literatura que não assistam vivos .aosfunerais de sua glória. Gonçalves Vias morreu cornado impera-dor da lira americana; sumiu-se tragicamente no mar, como filiasiw azul, quando • seu nome era t símbolo da musa cisatlímlica,e a .mo vida, um pouco falida ao dinheiro, uma glória nacional.Se vivesse mais alguns anos, entraria com os seus versos na re-.gião glacial do esquecimento, e, a menos que não quisesse fazerliteratura dandi, poesia de macassar em anos de prosa, iria àrua do Ouvidor oferecer aos falidos e aos roubados a sua ciênciado código comercial. O Senado do Rio de Janeiro deu-lhe uocunhai de uma esquina o espaço necessário para se esculpir o

seu nome: Rua de Gonçalves Dias. Isto fez nevrose de énlusi-asmo. Entretanto, a mãe do poeta, na anle-cámara du morte,que

"é a decrepilude, tinha fome; t, sc não tinha frio, abençoadosejas tu, i sol dos anlípodfs! Há poucos meses gue a velhinha,« mãe do imperador dos poetas brasileiros, recebeu uma pensãovittdtcia ia mio ie D. Pedro 11, que por acerto ia fortuna é unmonarca li» ilustrada gar chega a vestir-se como um poeta pobre.

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• II H4I. BOWNOO SUPLIMCNTO UTBB.4KIO D'A MAMH.4 — PAQIWA Mt

LOA DA PRINCESA SANTA - -á*-^. ^Bom tempo foy o d'oalr'oraQuando o reyno era christão,Quando nas guerras de mourosEra o ren nosso pendão.Quando as donas consumidoSeos teres em devoção.

Se havia muitos ///antes,Tomeyo não se fazia;He esse estilo de Franâres.Onde anría muito heregta;Para os armar ca: alleirotA armada se apercebia

Chamara el-rei seos vassallot£ em cortes logo os reunia:Vinha o poço aifencloso.Vinha multa tíeregta,Vinha a noliresa ao reimo.Geri/» de muita valia.

Quando o ren tinha-los juntosComeçava a discursan'Os tf/antes jà são homens,Vou-me às terras _Ta.ern-marArmal-os hy cavalleiros;Deos Senhor m'ha dt ajudar.

Hão concluía o pujanteReu — de assi lhes propor.Clamando todos em gritaCom vozes de muito ardor:'Seremos «'essa fotgança.Honra ie nosso Senhor!"

E logo todos em sembra,Todos gente mui de bem,Na armada se agazalhavão,Sem se pezar de ninguém;B os Padres de Sam DomingosUião com elles também.

Hião, st. os bentos Padres:í: que assim fosse, he rezao,Que o santo em guerras d*IgrejaFoi um bom santo christdoiQueimou a muitos hertjetNo fogo da expiaçào!

Quando depois se tornavaToda a frota pera ed,Pritneiro se perguntava;-Que terras temos por léVQuem em Deos tanto confia.Sempre Deos por st terá.

O corpo fenho alqucbrado, São homens de fero aspeltoVive minha alma em trlstura. Homens de má condição,

Que vivem na lei nojentaQue armada de tantas vetas, Do seo nojento alkorão,Que armada é essa qu'hy vem? Que — vinho? nem querem Passava noites inteiras

Duros ciücios cosido»£ humas orinas muito agras,Tudo extremos mui subidos.

Vem subindo Tejo acima.Que formosura que temiNas praias se apinha o pot»,£ as cobre todas porém.

Dão siínays as fotatezas.Respondem signays de íá:Vem él-rey vtctorioso !Quem de gáudio se terá?O mar he todo bonança,O céo mui sereno estât

Oco bronze fumo e fogoJá começa a despejar;Acórdão alegres echosOs sinos a repicar;Grita e folgança na teria.Celeuma e grita no mar

Vinde embora e mui depressas.Senhores da capital!

, Vinde vir Affonso quinto,Rey, senhor de Portugal;Vem das terras africanasDar-vos festança real.

Nossos reys forão outr'oráFraguetros de condição;Dormido quasi veslidos.Espada nua na mão;Nem repoisavam de noiteSem fazer sua oração.

Empresa não comettiamSem pirmetro commungar,

ivèl-o No oratório a rezar,Só porque o bebe hnm christãoí Dormia depois na pedra

Sem ninguém o suspeitarVêm as moiras depois aVelles,Rostos cobertos com vios;Rem que filhas d'Agarenos,São tavíbem filhas de Deos;Se forão christans ou freiras,Serião anjos dos céo».

Estremos tais em princesaQuem n'os ha de acreditar!

Luzião o$ olhos cl'ellas,Como pedras mitito finas:Devião ser }ma$ bruxas,Inda qu'erãn bem meninas,Que estas meiras da MoiranwNascer: jc bivxas cadimas,

Huma d'ellas que lá vinhaOlhou-me á travez do vêotFoy aquillo obra da demo,Quasi, quasi me rendeo!Pensei n*ella muitas vezes.Valerão-me anjos do céol

Via as largas pantalonas,F. o pésinho delicado...Como pode pensar n'istoHum pobre frade cançado,Hum Padre da Observância,Que sempre come pescado?,

Emfim,' dizer quanto vimosNão cabe n'este ppael;Vinhão muitas allmarias,Corno achadas a granel;

No dia de lava-pe$Ordenava ao seu VédorTrazerlhe doze mulheres;E depois, com muita dor.Chorando os pés lhes lavava,Honra de nosso Senhor!

Sem fazer voto a algum saneto Vinha o t/fante brioso,Be tenção particular;Porém vtetortas houverão,Que são muito de espantar!

Os vindouros esquecidosDa protecção dioinal.Conhecerão os podereiDa benção celestial,Se contarem os mosteyro*Das terras de Portugall

Nossa capellas que temos,Nossos mosteyros custosos,São obras sanetas de Sanctos,Obras de reys mui piedosos;São brados de pedra nica,Que pregão feitos briosos.

E*-rey tomava ben Ino,Como coisa natural:Temos Ceifa. ArzOla oa Tan

Igere, Alguns já agora escarnecem"Conquistas ie Portu al!"í fodos, a voz em grita,Clamavão: rea!! real!

Bom tempo fog o a'otttr-oraQuando o reyno era christão,Os moços davão-se à guerra.As mocas à devoção:Aquella terra de mourosVicia em muita afltcção.

Dos templos edificados;Dizem que forão mal gasto.Os bens com elles gastadostEu creio tDeos me perdoeiQue são incréos disfarçados/

E mais pasmão dos feitto»De pedra, que Memphis tem,Sem ter olhos para Mafra,Pera Batalha ou Belém!Oh! se a estes conhecera».

Deu-nos Deos tantas vtetortas, Meo Frey Gil de SantaremlC tanto para louvar,Que os Padres de Sam DomingosJà- núo sabiam rezar;Todo-lo tempo era poucoPera louvores cantar!Sendo tantas as ba-athas,Nem reconlro se ferdeolAquelles Padres coitadosNão Unham tempo de seo;Levaram todo cantando.LnHmre* ao vau do Céo.

Louvores ao pay da «Jo.Que eu inda possa trovar,Quando não veto nos mureiNossas quinas tremolar,Mas somente o templo mzdo,Sem guar nimen tos o altart

Vejo os sinos apeadosDos campanários subttx.E a prata das sacristlas.Servida em misteres vis.I ante os leões ie CastellãDobrada a Luza cervis!

N'aquella villa desertaAinda se me afiguraVer elevar-se nas sombrasTua válida estatura,E ouvir a voz que intimavaAo rey a sentença dura!

E mais a tacha que tinhaEra ser fraco, e não mais!Tu. meo Saneto, que ftzeras,Se ouvir as a estes talstQue nos àssaeão motejosA^s nossas obras reais/ Sa/,j0 „ -eal princeza,

Sahio dos Paços realt,Mas vos, quem quer qu'UtoUr- f,os pu;,os ricas pulseirasides *yf| fronte finos ramais;

Montado no seu corsel.

Vinhão pagens e varletes,Vinhão muitos escudeiros,Vinhão do sol abrazadosNossos robustos guerreiros;Vinha muita e boa gente,Muitos e bons cavalleiro,/

A Princeza Dona JoannaSahio dos Paços reais;Era moça e muito airosa,E dona de partes tais,Que todos lhe qu*rião muito.Estranhos e naturais!

Foi requerida de muitosE muitÕ grandes senhores,Por fama que d'ella tinhão,E nor copia de pintores,Que muitos vinhão de foraAo cheiro de seos louvores.

E diz-se d'hum rey de França,Lndovico, creio eu:Hum pobre frade mesquinhoSó trata em cousas do céo;Sabe elle que muito sabe,Se a bem morrer aprendeu.

Pois diz-se do rey de FrançaO onzeno do nome seo,Que vendo um retrato d'estesPara si togo entendeoQu'era prodígio na ferreQuem tanto tinha do céo.

E logo sem mais tardançaCahio, giolhos no chão;No feltro traz arretiquias,Assi uza hum rey christão;O ?*?•*> f#ltrty JK»*- *!'***•¦_**,E fez hy sua oração!

Releval-me esta tardança;São achaques ia velhice:Vivemos de remembrançaE em longas faltas fazemosDe tudo commemorança.

Já el-rey Ajfonso quintoNas suas terras pojou:

Canfeu, em bem «ue soa Paire, Alegre o povo o recebe,Digo que sou Poruguez:Arco ie ver nossas coutaiHl>em todas ao revet,Arco de vir nossa genteAndar comnosco ao enves.

Mercê ie Deos! minha vidaHe vida de muita iuralVivo esquecido ios vivosNa terra ia desventura;Vim escrevendo e penandoN'um canto ia celta escura.

Do meu velho breviartoSó deixarei a feiturafar,a escrerer esle» carme%Remédio i nossa amargura;

Alegre el-ery se mostrou;Abrlo-se em alas vistosas.El-rey entre ellas passou.

Vem os muzicos troandoNos atabalcs guerreiros.Tangem outros istromentosD-esses climas forasteiros,E traz elles vem marchando.Pasto a passo, os prisioneiros

Sdo eles molros gigante»De bigodes retorcidos.Caminhão a passos lentos,Com lembrantes ie atrevidos.Causa meio vèl-os tantos.

De longe seguem-lhe a trilhflMuitos bons homens segrais.

Traçava hum mantéo vistosoSobo-las suas espaldas,E as largas roupas na cintaPrendia em muitas laçadas;Seos olhos valião tantoComo duas esmeraldas.

Tinha elevada estaturaE mcneyo concertado,Salto o cabello em madetxas.Pelas costas debruçado:Cadexo de fios i'otro,Franjas de templo sagrado.

Vinha assi a regia Dona,Vinha muito pera vir:

. O povo em si não cabia,Quando a via, de prazer;ira ella saneta ás oceultasE anjo no parecer!

Debaixo ias feias finasF. ios brocados -«sidos,

r«m membrudos. tam dreicUSaf Trúüfa â raie das

E depois ie os ter lavado,Não perdia a oceasião,Despedia a todas juntasCom sua esmola na mãosDizia que era humildade,£ obra de devaçio.

£ as mendigas pasmadas-Sahião de tal saber,E perguntavão, quem eraAquella saneta mulher?!Mãos peccados que ella tinhaSó pera assi proceder!

O mesmo Védor foy quemIsto depois revelou,Quando aquella humanidadeEm o Senhor iescançou;Dona Joanna era já morta,Elle porém m'o contou.

Mas sendo tanto o reguardoQue guardava em coisas tais,Sabido algo os estranhosPor muitos certos signals,Que o ar he todo perfume,Se a terra he toda rosais.

He coisa de maravilhaQue me faz scismar a ml,Que as donas d'hoje pareçãoHttns camafêos. d'alfeni%Não donas de carne e osso;As donas d'outr'ora — sf.

Hoje leigos de nonnada{He lhes o demo caudel)Praguejão a meza escaçaE as arestas do burel;Querem mimos e regatos,£ jejuns a leite e mel.

Lá caminha Dona Joanna,Regente de Portugal;Traz sobre si muitas jotasDo thesouro paternal;Deos lhe pôz graça divinaSobre a graça natural.

Acostou-se a comitiva,Muito senhora de st:Perante el-rey agiolha,Disse-lhe el-rey; não assi!E ao peito a cinge dizendo:"Nao a meos pés, mas aqui!""Sois um bom pay, Senhor rey.Tornou-lhe a saneta Princeza:Eu aue sou vassatta vossaE filha por natureza,Peço mercê como aquella,Como esta peco fineza".

Ficarão logo suspensosTodolos aue erão a'y,Ficarão como enleiados.Enteio tal nunca vi!Eis que a Princeza medmzaComeça a propor assi.

El-rey não lhe respondera;Qm lha havia responder?Boa filha Deos lhe dera,Que lhe havia defenier?Sorrio-ae, o bem rey quizeraMuito por ella fazer.

A Princeza disse entonces:"De alguns capitães antigosTenho tido. Senhor rey,Que, vencidos os inimigos,Tornavão, a Deos fazendoSacrifícios mui subidos.

**Vta*n as coisas melhoresQue dos seos reynos havido,E logo lh'as of feriavam;E mercês também faziamNo ila io seo triunfoA los que justas pedido.

'Deslumbrar a usánça antigaFora de grande estranheza;Agora sobre maneira,Petfetta tamanha empreza,De tanto lustre aos d» reimo,De tal honra m vossa alteía.

"Digo pois a vossa Alteza.E digo com muita fé,Deve a ofjerta ser tamanhaQuamanha foy a mercê,Não do nobre rey pujante,Mas do saneto rey qual he."A offerta que vós fizeries.Será mercê paternal:Se quereis que corersponãaAo favor celestial,Deve ser coisa mui alta.Deve ser coisa real."Ao Deus que vence as batalha».Dai-lhe a filha muito amaia;Dai-lhe a só filha que tendesEm tantos mimos criada:Será a offerta bem quistoE do Senhor acceitaia."E eu a quem mais custouDe medos, esta jornada,Que muitas noites orandoPassei em pranto banhada,Sou eu. Senhor, quem vos peçoSer a hóstia a Deos vo'ada."

Que saneta que era a Prit^za,Que extremos de devação!Nos sembrantes dos presentesVio-se, e não era rezão,Que a nenhum de'les praztaDeferir tal petição.

Sobr'esteve um'pouco e mudo,El rey, porque muito a amava:AqueV.e dizer da filhaTodo o prazer lhe aguava,Aquelle pedir sem doTodo o ser lhe transtornava.

Encostou-se ao hombro d'ellaO pobre velho cançado.Chorou o triunfo breve -E o prazer mal rematado^Não como rey vàlèroso,Mas como pay anojado

El-rey despois mais tranquifloRompeo o silencio alfif;E entre afflicto e satisfeitaDisse á filha: Seja assil...Velhos guerreiros vi euChorarem também aly.

Canfeu perdido entre o vutgoNão sei que tempo gastei,Nem sei de mim que fizerâo,Nem tam pouco se chorei;Foi traça da ProvidenciasXí.íso commiço assentei.

Foy Jephti corajoso,O forte Tejf ce Juãá;Volto coberto efe loiros.Quevt primeiro encontrará?Senta a filha, torce o rostoNadn ao triste valera.

Qual d'estes dois sacrifíciosSoube a Deus mais agradar?Vai a Hebria constrangidaDepor o collo no altar,Vai a christã jubilosa!São ambas para pasmar.

Depois n-hum dia fermoso,Era no mez de Janeiro,Houve uma scena vistosaDentro de um pobre mosteyro;Fundou-o Brites Leytoa,Dona mui nobre d'Aveiro.

Huma Princeza jurada,Sobrinha d'aV.os If fontes.Filha de reys soberanos,Senhora das mais pujantet,Era a primeira figura.Espantava os circumstantts*

Aly humilde e curvada,Pezar de todos os seos,Giolhos sobre o ladrVhoE as mãos erguidas aos dot,Ouvi — exigua mortalhaPedir polo amor de Deos.

Cantemos todos louvores,tomares ao Senhor DeosiOs anjos d^gão seu nome.Rostos coberto*» *om véos:Leião-n'o os homens eceríptoNo .Íío campo dos cêos.

Bom tempo foi o d'outrorqQuando o reino-era christão,ditando nas guerras mourisca»Era o rey nosso pendão,Quando as donas consumidoSeos teres em devaçio

listo escreveo Frei AntãoDe vida mui olongaia,Nossa Senhora ia iscadaO teve por capellãol.

e-,.;.eí.iu^ÍÍi

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MOINA MS - auPLCMÜNTO UTIMIUO »•* MAMBA , t/U/Ufl

GONÇALVES DIAS E ALITERATURA MARANHENSE Aindd umd vez -Ad,BUS— Gonçdlves Dias

(Continuação da pág. 244)

des trouxera, para t» verso he-róico português, do mundo gre-go e latino — Homero e Virgl-Uo. Trajano Galvão, insurgin-dose contra a escravidão afri-cana, faz dc negro servil oamargurado herói de seus poe-mas. Gentil Braga e JoaquimSerra, no jornal e no livro, can-tam com sabor novo a cidade eo sertão.

O velho Sotero deu Reis, vul-to de paciente humanista e mes-tre-escola, escreve para váriasgerações de alunos as "Posti-lhas de Gramática Portugue-sa" e dá um curso de literaturaportuguesa e brasileira. Emtorno desse velho estudioso1 oMaranhão gravita, e aprende osexemplos modelares dos clássl-cos latinos e lusitanos. Há mui-tas outras figuras ilustres napequena cidade de São Luiz doMaranhão. Todos admiram osvarões veneravels que fazem doMaranhão uma lembrança deAtenas.

foi a figura de mistério e ma-Jestade do poeta Joaquim Sou-sa Andrade —o mais imagino-so poeta americano, na opiniãode Camilo Castelo Branco — avagar meio doido na cidade,sem alunos para o seu cursode grego, vaiado frequentemen-te pela molecagem das ruas econdenado a vender, pedra porpedra, os paredões de sua quin-ta residencial, para não mor-rer de fome na terra que enal-tecera com os seus versos e acua cultura de humanista...

Por esse tempo o patriarcadorural tombara na irremediáveldecadência. Ninguém poudeconter o desmoronamento des-se mundo. Os derradeiros ves-tigios pretencíosos de uma no-bresa que viera da colônia comas suas'fumaças de fidalguia opureza de linhagem — desapa-receram com o aluimento es-petacular. A campanha abo-licionista provocara esse desa-bamento. Dia a dia se avolu-mava na província a onda dosrebeldes.

Diante de tantos vultos luml- Na tribuna e no Jornal ela-nojsos Antônio Henrique Leal mava-se contra os senhores efaz-se o plutarco da geraçãoc escreve esse repositório delatos e apolc^ias que é o" Panteon Maranhense" Dis-toando da voz geral e cor-rente no louvar desses vultos es-tudados por Henrique Leal,

a favor dos escravos.A tempestade se anuncia-

va com os seus trovões. Os ia-zendeiros se espantaram subi-tamente com a perspectiva dapróxima ruina e a visão do de-Frederico Jose Corrêa, tao mau samparc instantâneo e lrrepa-

poeta como grande e rude pan- ravd do 0 A exUn.«etário, assombra a tranqüila ç&0 das senzalas valia comoTida da província com Um 11- uma dupla „,„. de Uín ]ad"» da Critica" - libelo tem- „ valor cada Jyel e truculento, agressivo e sentava; de outro lado, os ca-Insultuoso, destinado a ferir em pjtais invertidos nas indústriascheio, como um raio em ceu se- e nas grandes lavouras que „.reno, a assembléia dos grandes cariam certamente a0 ^ da.homens do Maranhão. rá A emandpacâo valia> as_

Essa geração ficaria na histó- f™. ™mo um rude golpe bila-ria da Literatura Brasileira co- ter»I. Nessa contingência, osmo o chamado "grupo mara- patriarcas rurais trataram denhense". Seu aparecimento as- atenuar-lhe a violência e o im-sinala um momento fulguran- P*™- E foram vendendo a bai-te da nossa inteligência e da xo P«=Ç°. eom prejuízos, paranossa cultura. Numa fase em <* fazendeiros do sul aindaque Alencar pontificava recla- cf.ifiantes na manutenção daamando a independência da lin- senzalas, os negros que labuta-gua portuguesa falada no Bra- vam nas lavouras e nas indús-«11, os escritores do Maranhão trias do Maranhão. Tangida«urgem e impõem uma lingua- Para o sul a leva dos cativos,gem rica e pura, recolhidas nas a decadência começou, rápida efontes clássicas. Mal saldo dos brutal, como um fim de quin-20 anos, e tendo lançado então to ato, nas tragédias. As fa-o seu primeiro livro, Gonçal- zendas converteram-se em ta-Tes Dias recebe da crítica a peras e as lavouras se trans-admoestação de que incorrera formaram tmtra vez nas flores-em desliscs estilísticos e gra- tas e matagais cerrados,maticais. Imediatamente omaranhense revida e publica A cidade de Alcântara, re-"As sextilhas de Frei Antão", fletindo esse espetáculo con-verdadeiro monumento traba- frangedor, começou a despovo-Uiado com os recursos iniciais ar-se e a deixar ruir as suasdo idioma, quando a lingua casas-grandes e os seus sobra-dealbava na peninsula a sua does.diferenciação fecunda. O epl-«ódio é típico e define uma E desmanchou-se, com esstgeração. Gonçalves Dias vinha decadência do patriarcado ru-de um grupo onde a pureza ral, a nobreza da província?ernâcula valia como um pon- Imediatamente a burguesiato de honra. E não obstante ascendeu, tomando-lhe as posl-essa preocupação da linguagem íões. Velhos preconceitos seescoimada e limpa, esse grupo definiram melhor. Èi a socieaa*rompera, nos debates de pensa- de burguesa de São Luiz domento, sensibilidade, temas e Maranhão, que nas lutas comforma novos caminhos para a a nobreza havia admiradoliteratura brasileira. Quarenta compreendido os seus homens- anos durou a atuação renova- àe letras, considerou em bre-doura desse grupo. O "Sema- ve ° renome de poeta ou pro-xtário Maranhense", periódico sador como qualificação desai-fundado por Joaquim Serra, rosa-foi a derradeira manifestaçãocoletiva da geração de João Nesse ambiente, dentro emLisboa. pouco, Aluizio Azevedo lança-

ria aos vinte e quatro anos, pa-Extinto esse hebdomadário, ra escarmento da burguesiacuja atuação se deu entre 1868 louca e do clero enraivecido, oe 1869, disperso o cenáculo pelo mjej0 literário de seu primeiroafastamento ou pela morte de romance naturalista. "O Mu-«eus pares, entrou o Maranhão lato", publicado em 1881, serianuma fase de marasmo. Nâo uma audaciosa reação de moçomais se falou em literatura co- a0s preconceitos da burguesiamo outrora. Aos jornais e pe- provinciana, da mesma formaTiódicos, onde se discutiam le- que todo o grande movimentotrás e políticas, sucedeu uma intelectual da geração de Joãoproliferação de jornalecos mal- Lisboa valera como uma rea-dlzentes e ferinos, onde se fa- ção da classe burguesa, entãoda a pública exibição daquela oprimida, contra a nobresa co-roupa suja que Napoleao man- lonial dos patriarcas ruraisdava se lavasse em família. O Gonçalves Dias, ainda nestaensino das humanidades entra- última fase, estaria presentera a decair no velho Liceu de e houve quem visse, no perao-Botero» dos Reis. E o que, afl- nagem central do romance dènal, restou na província, da- Aluizio, a figura de drama e deajuete geração luminosa, como glória» ds cantor doa "Tlmbl-•a* símbolo doloroso e trágico, ras"..

Em fim te vejo — enfim possa.Curvado a teus pés, dizer-teQue não cessei de querer-te,Pezar de quanto sofri.Muito penei! Cruas ânsias,Dos teus olhos afastado,Houveram-me acabrunhadoA não lembrar-me de ti!

D'um mundo a outro impelido.Derramei os meus lamentosNas surdas asas do vento,Do mar na crespa cerviz !Baldão, ludibrio da sorteEm terra estranha, entre genteQue alheios males nâo sente,Nem se condói do infeliz I

Louco, aflito, a saclar-meD'agravar minha ferida.Tomou-me tédio da vida,Passos da morte senti:Mas quase no extremo,No último arcar da esperança,Tu me vieste ã lembrança:Quiz viver mais e vivi 1

Vivi; pois Deus me guardavaPara este lugar e hora IDepois de tanto, senhora,Ver-tè e falar-te outra vez;Rever-me em teu rosto amigo,Pensar em quanto hei perdido,E este pranto dolorido,Deixar correr a teus pés.

Mas que tens? Não me conhe-ces?

De mim afastas teu rosto 1Pois tanto pode o desgostoTransformar o rosto meu ?Sei a aflição quanto pode.Sei quanto ela desfigura,E eu não vivi na ventura...Olha-me bem que sou eu I '

Nem uma vez me diriges 1...Julgas-te ofendida 1Deste-me ame», e a vidaQue m'a darias — bem sei;Mas lembra-te aqueles ferosCorações que se meteramEntre nos; e se venceram.Mal sabes quanto lutei I

Oh I se lutei I... mas deveraExpor-te em pública praça,Como un alvo à populaça,Um alvo aos dictérios seus IDevera, podia acasoTal sacrifício aceitar-tePara no cabo pagar-te,Meus dias unindo aos teus í

Devera, sim; mas pensavaQue de mim te esquecerlas,Que sem mim, alegres diasT'esperavam; e em favorDe minhas preces, contavaQue o bom Deus me aceitariaO meu quinhão de dor 1

Que me enganei, ora o vejo,Nadam-te os olhos em pranto,Arfa-te o peito, e no entantoNem me podes encarar:Erro foi, mas não foi crime;Não te esqueci eu t'o juroSacrifiquei meu futuro,Vida e glória por te amarl

Tudo, tudo; e na misériaDum martírio prolongado.Lento, cruel, disfarçado,Que eu nem a ti confiei;"Ela é feliz (me dizia)"Seu descanço é obra minha**.Negou-me a sorte mesquinha...Perdoa que me enganei!

Tantos encantos me tinham.Tanta ilusão me afagavaDe noite, quando acordava.De dia em sonhos talvez !Tudo isso agora onde para 1Onde a ilusão dos meus sonhos?Tantos projetos risonhos,Tudo esse engano desfez I

Enganei-me !... — Horrendochãos

Nessas palavras se encerra,Quando do engano, quem erra,Não pode voltar atrás IAmarga irrisão ! reflete:Quando em gozar-te pudera,Mártir quiz ser, cuidei qu'era_E um louco fui, nada mais I

Louco, julguei adornar-me

Com palmas d'alta virtude IQue tinha eu bronco è rudeCo'o que se chama ideal ?O meu eras tu, não outro;Stava em deixar minha vidaCorrer por ti conduzida,Pura, na ausência do mal.

Pensar eu que o teu destinoLigado ao meu, outro fora;Pensar que te vejo agora,Por culpa minha, infeliz;Pensar que a tua venturaDeus ab eterno a fizera,No meu caminho a puzera...E eu 1 eu fui que a não quiz I

E's d'outro agora, e p'ra sempre! .Eu a mísero desterroVolto, chorando o meu erro,Quasi descrendo dos céus !Doe-te de mim, pois me encon-

traaEm tanta miséria posto,Que a expressão deste desgostaSerá um crime ante Deus I

Dóe-te de mim; que fimplorcPerdão, a teus pés curvado;Perdão!' de não ter curvado;Perdão! de não ter ousadoViver contente e feliz 1Perdão da minha miséria,Da dor que me rala o peito,E ae do mal que te hei leito.Também do mal que me fiz I

Adeus qu'eu parto, senhora)Negou-me o fado inimigoPassar a vida contigo,Ter sepultura entre os meus;Negou-me n'esta hora extrema.Por extrema despedida,Ouvir-te a voz comovidaSoluçar um breve Adeus I

Lerás porem algum diaMeus versos, d'alma arranca-

dos,D*amargo pranto banhados,Com sangue escritos; _ e en-

tãoConfio que te comovas,Que a minha dor te apiade, ]Que chores, não de saudade, iNem de amor, — de compaixão.

OPINIÕES SOBRE GONÇALVES DIASDe A. P. LOPES DE MEN- primeiro lugar entre os poetas, poesia nacional e completado a

DONÇA — Memórias de Litera- Ao sr. Gonçalves Dias compete nossa emancipação do jugo dstura Contemporânea, Lisboa, o primeiro lugar entre os pri- Arcádia, a ele a glória da era1855, p 313-316: meiros poetas d» geração nova. nova aberta aos destinos da

Os Primeiros Cantos, do sr, a ele a honra de ter trazido dò arte brasileira, Nesse primadoAntônio Gonçalves Dias, revê- seio das florestas, a planta da pode descansar tranqüilo,laram ao Brasil e a Portugal .

'. '.

um talento superior. Via-sedesde logo que estávamos naAmérica e no Brasil. Era maisruidoso o trinar dos pássaros,mais magestosa a densidade ve-getal das florestas, mais sober-ba a corrente dos rios, mais em-brlagante o perfume das fio-res, mais vivas as cores com queo crepúsculo se despede da ter-ra, eme caprichosas e fantásti-cas combinações.

Quem não sentirá em todosos cantos do sr. Antônio Gon-çalves Dias .que é um poeta,mas um opeta brasileiro, querespira anicaoso no ambientevoluptuoso e apaixonado, que asflores perfumam, que o sol des-lumbra, qu eas brisas meiga-mente acalentam, na sua ema-nação suave e bonançosa?

Òs Segundos Cantos e VIU-mos foram progressivamente'elevando a sua reputação, e nãoé de certo temerário afirmarque é ele, hoje, o primeiro poe-ta do Barsil, e um dos mais no-tavels talentos da geração, quese dedica as letras, em ambosos países.

Em raros poetas temos vis-to mais pronunciado e distln-to o sentimento da natureza,da natureza lndigena, amerlea-na. Só um poeta, e um poetanascido e ducado nas cenas dostrópicos, pode descrever assim oluar, que brilha tão vivo ao suldo equador, e namorar as es-trelas, que mais vastas e luzen-tes se acendem no manto azu-lado do firmãmente.

De J. A. MACEDO SOARES —Ttpos literários. in-Correio Mer'cantil, Rio de Janeiro, 5 de Ja-neiro de 18811

O ar. Gonçalves Dias, o bardonacional, tem conquistado semesforço seu nem dos amigos •

éo Oonçahtes Dtos. £* • qne atualmente ae encontro nti*mia. Ha /otoma/ia vi-te, em companhia ae um omito,

—cultor f*t • /<•

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t/ll/lMI, DOMINOO D'A MANHA - FAOMA

LENDA DE SAM GONÇALO -ST*Agora de um grande SonetoEmbora lhe cabe a vez;Bom Soneto foy Cam GonçaloPezar que foy Portuguez/Que sonetos dictos que disse!Que Santas obras que fez!

Bom tempo foy a d'outrora!Não lhe quero outra rezõo:Criava a terra gigantes,Havia sonetos então,Havia paz e liançaNos reys do reino christão.

H_ coiza de maravilhaE de louvar o «Senhor,Ver na terra homens d'oquelfesDe tanto esforço e valor,Como Gonçalo da MayaOu Gyraldes sem pavor!

Mas d'estes tratar nõo quero,Que são muito perto d nós;D'outros digo tam pujantesE de aspecto tam feroz,Que hum soneto mjrtyr trincavôo,Como quem trinca uma noz.

Quando a fé 'stava mais puraM iltior se mostrava Deos;Rfezão d'i5to as Escti' ns.Escusa pois ditos meos:Começa do fim ditosoDc- sete irmãos Machabeos,

Nada conta o livro sanetoDo rey que se houve assi,0 ccxpo nos não descreve;Mus eu tenho pera mi,Que devia ser taludo,Co o huns cafres que já vi!

Que sete irmãos como aquelles,Cada qual como hum Sansãa,Não é coiza que por brincoSe frite n'um ca.tgirão,Que se tetathe em fatiasDelgados, como de pão.

Mos Deos que I* ie deparavaEm sua alta providenciaTal fereza nos algozes.Dava-lhes, tal paciência,Que haviâo em pouco o trato.Havendo o trato em clemência

Hoje d'aquella virtudeSó a licção nos ficou;O tempo nos foy comendo0 corpo, que assi leixou,E té no espirito roidoDe vez a fé desbotou.

Não pasmo d'Ísto, mas antesDe ver em povo d'Íncréos,Quem tema o fogo divino,Quem torne á caza de Deos,Quando o pasmoso cometaAlarga as azas nos céos.

Cegos ! se todos vós fosseisCriados na escuridade,Que farteis (obrigandoD'este sol a claridade, ,D'este sol que sempre fcizo,E pera vós luze embalde?

Como insectos esmagados.Alastrando longe O chão.Tontos de pasmo e de medoFicareis vós então.Os olhos do corpo cegos,Mas dentro d'alma o clarão.

E ainda mais — ? que farteis'Venda aquelle sol divino,Que cega os olhos do espiritaiComo de corpo franzino,Se vendo este, qu'inda he terra,Ficardes tontos, sem tino?

Antes, Senhor, que me esqueçaQuanto* fizestes por mi, (tavaí-me dos meos peccados,Que eu como galas vesti, jLevai-me d'esta amargura,Levai-me, Senhor, d'oqui! \

Levai-me, si, que eu não ttjo.Mal de mi! com tanta dôr_Vossos preceitos divinos.Vossa doutrina d'amorTrocada em usos de feros,Na religião do terror!

Mas se isto vos não mereç/VJá vos não peço, senão jQue eu veja* da minha vidaExtincto e cego o clarão.Antes que eu vejo maldicta !Esta mesma religião.

Antes que eu veja criançasPregarem ás cans nevadas,A correr de noite as ruasCom folias • toadas,Por ver azas de cometaInMnmnM «longodoa.

Cant'eu, de ml o confesso,São veloces caminheiros,Que por ordem lá de cima.De más novas mensageiros,Vão batendo d'astro em astro,Como divinos romeyros.

Se comtudo um PortuguezAl dos cometas sentir,Se esta desgraça presenteN'elles não vio reluzir,Dir-lhe-hei que elle não senta0 dó de Alcácer-quiblr.

Dir-lhe-hei... mas nada diga!Eu alquebrado anciãoHei mister saneto descançoPera a minha devaçõo:Sei que ser Portuguez hoje iHe crime d'olta traição.

Agora torno ao meu Soneto;A lenda aqui principia:Dai-me, ó Saneto milagroso.Ajuda em tenrão tão pia.Que hum Saneto, nesmo por ende,Oeve de usar cortezia. *-*'"

Frei Sam Gonçalo era abbadeDe Sam Payo na Abbadia;Era mancebo nos annos,Mas como saneto vivia;Com toda a renda que tinhaAos pobres seos acudio.

Era pingue o beneficio,Bons benesses que elle tinha!Bons portuguezes antigos,Boa prata comezinha!Já disso não vejo ha multo..,Deve ser cegueira minha.

Cegueira, si; que se o reynoEra riço de pobreza.Cavados tantos thesoirosErri cada huma fortaleza,Tanto arcaz de feição molraCheio de tanta riqueza;

Porque então não vejo ogoroSenão grosseiros ceitls,

: E esses mesmos não tantos> Que se midão por candis.Ou então pesos d'HespanhaSá bem acceitos por vis?

Mas he tal nossa mofinaQue na minha sacristla,Sommados todo no caboOs fructos de cada dia,Não dão para o oleo soneto,Que a mãy de Deos alumial

Ha certo miséria grandeE muito grande extranheza;Que o povo leixe que os fradesCorroa com toda a despeza,Eltes coitados que vivemEm mais que parca estreiteza!

Mas Deos ha o saneto dos sonetos,Elle nos ha de acudir;Assi fôra eu Sam Gonçalo.Que logo faria virBrocados d'altos recamosPera a Senhora vestir,

E huns paramentos ricos,Comu nunca os vio ninguém;

>E lâmpada como aquellaQue em Bemfica os padres têm,Huns catiçais de pá alto,Humas galhetas também.

Mas do Saneto Sam"GonçalsVEra outra a devoção;Todolò próe dava aos pobresCom tam largo coração,Que não tomava um adarmsjDe quanto tinha na mão.

Vivia como se fôraDos seos pobres dispense'ro,Tudo com elles gastava,Que não somente dinheiro;Fiava que Deos iriaCompondo o seo mealheiro.

Trazia guerra travadaC'o o Demo, que o não deixava,Os acicates da carneCom jejuns os despontava;E tinha tam saneta vido,Que Deos o communicava.

Isto não he coiza nova.Antes coiza mui provada, *Que Deos nõo quer ser vencidoEm cortezia extremada;Seja a prova aquelles MonpeID., - - - ¦•

Que se foram commettldotDo inimigo malino,Vestido em pel'd'alimario,Como de um urso ferinoTambém do céo, como evalho.Lhes vinha o favor divino.

Mas se hum tncreo me perguntaPorque hoje d'Ísso não ha:

, Pergunto; — porque o desertaFlores, nem fructos não dá?Porque não corre a corrente,Se a fonte exhaurido está?

0 céo he sempre benino,Água não leixa de haver;Se a terra pois não produza*Se a tonte não quer correr,He terra, he fonte damnada;Penso que ai não pode ser.

Ora huma noite que o SonetoRezava as suas matlnas,Ouviu huns doces acordesComo das harpas divinas,Que os anjos tangem cantandoLouvor ás pessoas trinas.

iD'aquelle mar d'harmoniaVoz que não era d'aqui,Despega-se, e diz ao Saneto:— Gonçalo, que fazes hy?"Oro, Senhor, lhe responde,"Por todos e mais por mi!"

"He muito, a voz lhe ronava,He muito, mas tudo não;Faze-te prestes romeyro, ,Toma a vieira, o bordão.Esmola polas estrados,

. Caminho recto a Sião.

"Pascem no monte OHvetoAs cabras do Gataath;Retumba no templo augustoA voz medonha de — Allah; —Ferve aly muita aravicMuito liomizio vai tá.

"Se entre os máos hum bom existe.Poupa Deos o quantos são;Porém carreira arrepia:Caminho vai de Sião,Na boca o nome divino.Minguada esmola na mão *

O bom saneto alvoroçadoApresta-se com trigança;Cumpre divino preceito*Só n'ellê tem confiança, ,Que vagar por longes terrasPrazer não he, mas provança.

He nado o trem d'um romeyro;O Saneto se apresta azinha.Chama hum parente lídimo.Portas a dentro o mantinha;E entrega-lhe o seu rebanhoCom as ovelhas que tinha.

!Dá-lhe a prebenda avultada,E os mais benesses também,Tudo com termos polidos,Ou só de hum saneto, ou de quemSó quer da vida o marteyroE os prêmios que Deos lá tem.

E mui leal lhe encommendaSeos pobres por derradeiro:Ora lá vai caminhandoAquelle saneto romeyro. ¦Pedindo a Deos em sua alma'Que lhe depare o marteyro!

Que acção que trescala a graça! ! Que façanha peregrina! ,

Deixar o esposo preladoA sua esposa divina,E andar caminho da vida.Vivendo vida mofina!

A'quelles pobres, seos filhos.'Em vida seos bens legou!

, Que mais fez aquelle Padre,Que o livro saneto louvou,Que ao filho dá bondadosoDe quanto, em bem lhe ficou?

Quem ha hy que hoje se arrisqueA perfazer tal empreza?Aquelle ardor atrevido,Aquella saneta affoitezaFoy timbre d'homens antigo*.Homens de lhana rudeza.

Nõo hoje, que o homem nasceFranzino e fraco, inda mal!Sem forças pera a virtude;Só com valor infernal,Pere os torpezos do crimeE pera • vicio canal,

Nôo hoje, quando a pecndeUsa de tanto disfraz,Que só por artes matinasE manhas de Satanaz,Pode o homem fazer tonto,Como hoje em dia se faz!

Já vi em casa de hum ila»Tal meza com tal guiza-ia.Com cheiro tão, penetranteE adubo tão concertado...Eu creio que só da vistaFicava o jejum quebr-uo.

E vi também humas camas...D'ellas não quero tratai.Cahi na conta que o DemoFoy só quem n'as pôde armar.Senti vertigens de somno.Sem o poder dominar.

Fugi do engodo malinoClamava por Deos Jesus,Na boca o saneto exõrcisma,Na fronte o signal da cruz.Braços cruzados no peito.Fronte mettida em capuz.

Então acabei commigo' De crer no que disse DeosAo bando dos seos descipfosE á turba dos phariseos.Não ser azado que hum ricoPossua o reyno dos céos.

E entrando na minha cella.Visto a penúria que eu vi.Clamei que Deos fôra grandeE muito bom pera mi;Qu'esta pobreza em que vivo,Certo, lh'a não mereci.

Partira pois Som Gonçalo,Partira, mas não sem dôr:No seo amado rebanhoLeixando, em vez de pastorAquelle falso parente,Que foy hum lobo tredor,

Olhos outr*ora do falsoBaixados humildementi; *Ditos e falkis de sanetí,Meneyo e gesto consente,Fizerõo-n'o ter por saacto:

Julgava assi toda a gjnte.Aleive não ha que dure,Sem que sé descubra alfim;Logo de posse do boloMostrou-se o villão ruím;^Mostrou-se, quol sempre» fôra.Padre não já,jr»as chatim.

Intruso que não rezavaNem siquer ser brevoiro;Gastava dos bens dos pobresCom boa sombra e doairo,Pera si com mãos de rico,Pera os outros — de usurairo,

Gostava em mulas possantes.Em caça de altaneria,Em ter matilha adextradaE bem provida ucharia,Em ter vestidos mui finosBarrados de pedraria. •

Trem real como elle tinha.Por certo nâo vio ninguém:Cavallos de boa raça,Falcões, açores também.Criados e meza larga,Como hoje aqui poucos têm!

Quando sahia a passeioTodo garboso e luzido,"Ninguém diria ser Padre,Senão duque esclarecido, .Ou senhor d'alt03 estados.Ou infanção destemido.

Que o seu ginete mandavaO- i tal arte e bizarrio,

, Que ao passar no povoado1 Donas de muita valia,Lindos; olhos concertavãoNas grandes da gelozia. J

E muitas vezes passandoJunto á mourisea setteira,Morrer aos pés do jineteVinha a setta mui ceteira,Com lettra e primor de amores.De amores máos mensageira,

Assi vivia este abbade.Em tanto que o verdadeiro.Sem lar, sem recto, sem mezu,Coma pobre forasteiro,.Vagava por longes terras,Vivendo oom» hum romeyro.

Muitos annos são passadas.(Diz catorze a tradição)

Quando o divino romeyro,Feita a sua devoção,Torna do bento sepulchro,Gosto e quebrada ancião»

Alva e rara cabellelra,Como prata, reluzia;Rosto de rugas cortado,tarba que ac peito descia.Homem de carne não era»Senão pura notomia.

Dos annos e da moléstiaO corpo todo alquebrado,Nos trajes pouco luzido.Ou roto ou mal concertado;A porta do novo abbadeBatia o velho prelado.

Ergueo em voz já sumidaUm triste e piedoso brado.Pedindo magra pítançjCon^ modesto gazalh do,Que vem o pobre romeyroMorto de fome e cançado.

Aquelle pio reclamaAçode medonho cão,

- A coudn enrosco, e d*um saltaInveste ao soneto anc. ,Rompe-lhe os rotos andrajos,E arranca lhe o seo bordão.

Açode o dono soberboDizendo: — Vai-te, mendigo!"Senhor, retrucava o Soneto,Primeiro ouvide o que digo:"Morro de fome e cansaço,"Não tenho lar, nem abrigo!"

Não me praz ouvir-te agora.Tornava o abbade indino.Mais que depressa esquecidoQue a opa do peregrinoOu que a murça do rome-yr»Esconde hum ente divino.

Se!, dizia, que na capaDe piedoso romeyro.Vem gente de feio trataE muito vil calaceiro:Bem he de crer, eomo eu creio,

Que és d'elles — por derrod.il»

D'esse teu rosto medonho,Que boas novas não traz,Digo que o vi nos milhanosDas serras de Mansarraz;E's predador das estradas»Juro por Sam Satanaz! —

Ouvido que foy tal nomq,Como de saneto christão.Ao soneto abbade -romeyroCahio-lhe o rosto no chão!Dôr que lh'entrára no peito,Ficou-lhe no coração.

Que se elle era assi tratado,Elle, vigariro e senhor.Que não seria dos pobres,Que em vez de terem pastot,Tinhãt por guarda e vigiaFaminto lobo tredor.

O soneto ficou penado .-¦E cheio da contricção.Gue ao seu parente talvezToy rneya ds perdição,E ao seu rebanho de mágoa*E a si de muita afflícçõo.

Alfim tornado do espanto.Disse severo de si,Com voz e tom d'a$astado:"Gonçalo sou, eis-me aqui!"Venho Ora tomar-vos cantas"Do que fizestes por mi!"

A- frias mflos encarnadasNo seo bordão ajuntou;Espera resposta -!'e!h-.Rosto nas mãos inclinou:Prosegue; fundo suspiroDo peito o velho arrancou:

"Certo que as vossas palavras"Mal dizem com o que dissestes,"Quando de vós me < arte);"Co'o que vós me promettestes,"Cas licções que vos eu det."Com a fé que me vós destes!

"Dissestes: na tua jusencia,"(Disseste-lo em hora má»"Qualquer das tuas ovelhas"Em mim abrigo achará:•Qualquer dos pobres que leíxfls'Aqui mwitigs será.

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I >*CIWA I» — SUPLEMENTO l.lTHtAMO P-A MANHA DOMINGO, t/ll/IMl jjHfc •

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Ho meio das tabas de amenos verdores,Cercada de troncos — cobertos de flores,Alteião-sc os tectos cultiva nação,São muitos seus filhos, nos ânimos fortes.Temíveis na guerra, que em densas eohortes,Assombrão das matas a imensa extensão.

São rudos, severos, sedentos dc gloria,Já prelios incitão, já can tão victoria,Já meigos attendem á voz do cantor:São todos Tymbiras. guerreiros valentes!Seu nome lá vôa na bocea das gentes,Condão.de prodígios, de gloria e terror!

As tribus vizinhas, sem forças, sem brio.As armas quebrando, lançando-as ao rio,O incenso aspirarão dos seus maracâs:Mectioj;os das guerras que os tor tes acc^ndem.Custosos tributos ignavos lá rendem,Aos duros guerreiros sujeitos na paz.

No centro da taba se estende um terreiro,Onde ova se aduna o concilio guerreiro iDa tribu senhora, das tribus servls:Os velhos sentados praticão d'ou tr'ova,E os moços inquietos, que a festa enamora,Derramão-S2 em torno d'um indio infeliz.

Quem é? — ninguém sabe: seu nome é ignoto.Sua tribu nâo diz: — mas de um povo.remotoDescende por certo — d'um povo gentil;Assim Já na Grécia ao escravo msulanoTornavão distineto do vil musulmanoAs linhas correctas do nobre perfil.

Por casos de guerra cahio prisioneiroNas mãos dos Tymbiras; — no ejstenso terreiroAs-sola-se o tecto, que o teve em prisão;Convidão-se as tribus dos seus arredores,Culdosos se Incumbem do vaso das cores?Dos vários a prestos da honrosa funeção.

Acerva-se a lenha da vasta fogueira,Entesa-se a corda da embira ligeira,Adorna-se a maça com pennas gentissA custo, entre as vagas do povo da aldel»Caminha o Tymbira. que a turba rodela,Garboso nas plumas de vario matiz.

Em tanto as mulheres com leda trlgança,Affeitas ao rito da barbara usança,O indio lá querem captlvo acabar:A coma lhe cortão, os membros lhe tingem.Brilhante enduápe no corpo lhe cingem,Bombreia-!he a fronte gentil kanitar.

I I

¦m fundos vasos d'alvacenta arglllaFerve o caulm;

Enchem-se as copas, o prazer começa,Reina o festim.

© prisioneiro, cuja morte anceiSo,Sentado está,

O prisioneiro, que outro sol no oeeasoJamais verá!

A dura coroa, que lhe enlaça o «ollo,Mostra-lhe o fim

Da vida escura, que será mais breveDo que o festim!

Oomtudo os olhos d ignóbil pranto«Seccos estão;

laudos os lábios não descerrào queixasDo coração.

Mas um martjTio, que encobrir cão pode.Em rugas taz

A mentirosa placidez do rostoNa fronte audaz!

Oue tens, guerreiro? Que temor te assaltoNo passo horrendo?

Honra das tabas que nascer te virão,Folga morrendo.

FV>)ga morrendo; porque além dos Ande»Revive o forte,

Que soube ufano contrastar os medosDa fria morte.

Ilastelra grama, exposta ao sol, á chuva.Lã murcha e pende:

Somente ao tronco, que devassa os ares,O raio offende!

Que foi? Tupan mandou que elle cahlsse,Como viveu;

X o caçador que o avistou prostradoEsmoreceu!

•Que temes, ó guerreiro? Alem dos AndesRevive o forte,

Que soube ufano contrastar os medosDa fria morte.

I II

Bm larga roda de novéis guerreirosLedo caminha o festival Tymbira,A «MB do aaerilkto cabe a honra.

Na fronte o kanitar sacode em ondas,o enduápe na cinta se embalança,Na dextra mão sopesa a íverapeme,

Orgulhoso e pujante. — Ao menor passoCollar d'alvo marfim, insígnia d'honra;Que lhe orna o collo e o peito, ruge e treme,Como que por feitiço não sabidoEncantadas al'i as almas grandesDos vencidos Tapuyas, inda choremSerem gloria e brasão d'imigos feros."Eis aqui, diz ao indio prisioneiro;¦Pois que fraco, e sem tribu, e sem família,"As nossas matas devassaste ousado,"Morrerás morte vil da mão de um forte".Vem a terreiro o mísero contrario;Do collo á cinta a musurana desce:"Dize-nos tu quem és, teus feitos canta,'Ou, se te apraz, defende-te". ComeçaO indio, que ao redor derrama os olhosCom triste vo» que os ânimos commov»

I VMeu canto de morte.Guerreiros, ouvi:Eou filho das selvas,Nas selvas cresci;Guerreiros, descende

< Da tribu tupi.

Da tribu pujante,Que agora anda erranUPor fado Inconstante,Guerreiros, nasci:

. Eou bravo, sou forte,Eou filho do Norte.Meu canto de morte.Guerreiros, ouvi.

Já vi cruas brigas,De tribus imigas,E as duras fadigas,Da guerra provei:Nas ondas mendace»Senti pelas facesOs silvos fugacesDos ventos que amei

Andei longes terras,Lidei cruas guerras,Vaguei pelas serrasDos vis Aymorés;Vi lutas de bravos,VI fortes — escravos!De estranhos ignavos•Calcados aos pés.

X os campos talados;E os arcos quebrados,E os piagas coitadosJá sem.maracás;E os meigos cantores.Servindo a senhores,Que vinhâo traidores»Com mostras de paz.

Emquanto descreveO gyro tão breveDa vida que teve,Deixai-me viver!

Eu era o sru guiaNa noite sombria,A só alegriaQue Deos lhe deixou;Em mim se apoiava,Em mim se firmava.Em mim descançava,Que filho lhe sou.

Aos golpes do ImlgoMeu ultimo amigo,Sem lar. sem abrigoCahio Junto a mi!Com plácido rosto,Sereno e composto,O acerbo desgostoCommigo soffri.

Meu pae a meu ladoJã cego e quebrado,De penas ralado,Firmava-se em ml:Nós ambos, mesquinhos.For invios caminhos,Cobertos d'espinhosChegámos aqui!

O velho no emtantoSoffrendo já tantoDe fome e quebranto.Só qu'ria morrer!Não mais me contenho,Kas matas me embrenho,Das frechas que tenhoMe quero valer.

Então, forasteiro,Cahi prisioneiroDe um troço guerreirocom que me encontrei:O cru dessocegoDo pae fraco e cego,Emquanto não chego,Qual seja, — dizei!

Não vil, não lgnavo,Mas forte, mas bravaSerei vosso escravosAqui virei ter.Guerreiros, não coro,Do pranto que choro,Se a vida deploro,Tambem sei morrer.

Soltal-o! — diz o chefe. Pasma a turba;Os guerreiros murmurão: mal ouvirão,Nem poude nunca um chefe dar tal ordem'!Brada segunda vez com voz mais alta,Afrouxão-se as prisões, a embira cede,A custo, sim; mas cede: o estranho é salvo.

Tymbira, diz o indio enternecido,Solto apenas dos nós que o seguravão:Es um guerreiro illustre, Um grande chefe.Tu que assim do meu mal te commoveste,Nem soffres que, transporta a natureza,Com olhos onde a luz já não scintilla,Chore a morte do filho o pae cançado,Que somente por seu na voz conheça.

£s livre; parte.E voltarei.

Debalde.Sim, voltarei, morto meu pai.Não voltes)

E' bem feliz, se existe, em que não veja,Que filho tem, qual chora: és livre; parleiAcaso tu suppões que me acorbado,Que receio morrer!

És livre; parte!Ora nâo partirei; quero provar-teQue um filho dos Tupis vive com honra,,E com honra maior, se acaso o vencem,Da morte o passo glorioso affronta.

Mentiste, que um Tupi não chora nunca.E tu choraste!... parte; não queremosCom carne vil enfraquecer os fortes.

Sobresteve o Tupy: arfando em ondasO rebater do coração se ouviaPrecipite; do rosto afogueadoGélidas bagas de suor corrião:Talvez que o assaltava um pensamento...Já não... que na enlutada fantasia.Vm pezar, um martyrio ao mesmo tempo,Dò velho pae a moribunda ImagemQuasi bradar-lhe ouvia: — Ingrato!, Ingrato!Curvado o collo, taciturno e frio.Espectro d-homem, penetrou no bosquei

V 1 .

— Filho meu, onde estás?— Ao vos:» lado;

Aqui vos trago provisões: tomai-as.As vossas forças restaurai perdidas,E a caminho, e Já! Tardaste muito!

Não era nada o sol, quando partiste,E frouxo o seu calor já sinto agora!

Sim, demorei-me a divagai sem rumtvPerdt-me nestas matas intrincadas, 'Reaviei-me e'tornei;'mas urge o tempo;Convém partir, e já!Que novos malesNos resta de soffrer? que novas dores,Que outro fado peor Tupan nos guardaf

As setas da affllcçáo já se esgotarão,Nem para novo golpe espaço intactoEm nossos corpos resta.

Mas tu treinesiTalvez do afan da caça...

Oh filho caro! I

Do velho coitado' De penas ralado.Já cego e quebrado,Que resta? — Morrer.

Um quê mysterioso aqui me falia,Aqui no coração;, piedosa fraudeSerá por certo, que não mentes nuncalNão conheces temor, e agora temes?Vejo e sei: é Tupan que nos afflige, •E contra o seu querer não valem brios.Partamos!... ft

E còm mão tremula, incertaProcura o filho, tacteando as trevasDa sua noite lugubre e medonha.Sentindo o acre odor das frescas tintas,Uma idéia fatal correu-lhe á mente...Do filho os membros gélidos apalpa,E a dolorosa maciez das plumasConhece estremecendo: foge, volta.Encontra sob as mãos o duro craneu,Desoldo então do natural ornato!...Recua afflicto e pavido, cobrindoAs mãos ambas, os olhos fulminados;Como que teme ainda o triste velhoDe ver. não mais cruel, porím mais clara,D'aquele exicio grande a imagem vivaAnte os olhos do corpo «figurada.Não era que a verdade conhecesseInteira e tão cruel qual tinha sido;Mas que funesto azar correra o filho.Elle o via; e'le o tinha alli nresente;E era de repetir-se a cada Instante,A dir passada, a previsão futura

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•,'II/IMI, DOMINGO

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"'.7.„'A~ - ¦"SUrJLCMCNTO IJT«J»A«IO D'A MANHA — PAOIHA SW

Das POEMAS D£ GONÇALVES DIASTABYRA - NÃO ME 'DEIXES!

Salve, terra formosa, 4 Pernambuco,Veneza Americana, transportada

Boiante sobre oi águas!Amigo gênio te formou na Europa,Gênio melhor te despertou sórrtnd»

A sombra dpi coqueiros.Salve, risonha terra! ido teus monteiArrelvodot, inúmeros teu» votes.

Cujas veias são rios!Doces teus prados, tuas várzeas ferteit,Onde reluz o fruto sasonado

Entre b matiz das flores!Outros, pátria d'heróts, teus feitos consteis,K a bela história de colônia exaltem

E os nomes forasteiros:Vão eu, aue nada almejo senão ver-vos.Tu e Olinda, ambas vás, co'os olhos longo».

Espraiados no mar!Ambas vós, sobre tudo americanas.Doces flores dos mares de Colombo,

Filhas do norte orienteiVirgens irmãs, gue vão de mão» travada»Sorrirem d'inocência i própria imagem,

Que luz em claro arroto.Andei, por vós somente, em vossas matai.Colhendo agrestes flores na floresta.

Não respiradas nunca.Singelas, como vós, — como vós belas.Enostreios, em forma ie grinalda

Fino, extremoso amantelNão vivem muito as flores: são meus versosEfêmeros como elas: cor sem brilho.

Ou perfume apagado.Ou trino fraco d'ave matutina.Ou eco ie um baixei que passa ao longe

Com descante saudoso

Debruçada nu águas dum regaisA flor dizia em vão

A corrente, onde bela se mirava.."Ai, não me deixes não !"•

"Comigo fica ou leva-me contigoDos mares á amplidão:

«Límpido ou turvo, te amarei constante:"Mas não me deixes não I"

f a corrente passava; nova* água*Após as outras vão;

E a flor sempre a dizer curva na fonte:"Ai, nsio me deixes não !**

£ das águas que correm incessante*A eterna sucessão

Dizia sempre a flor, e sempre embalü»"Ai, não me deixes não !"

Por fim desfaiecida e a cor murchada.Quasi a lamber o chão,

Buscava ainda a corrente por dizer-üitQuase a lamber o chão,

A corrente impiedosa a flor enleia.Leva-a do seu torrão,

A afundar-se dizia a pobrezinha;"Não me deixaste não!"

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Um retrato de Gonçalves Dias.

K o presente tão negro, alli os Unha;Alli no coração se concentrava,Era n'um,ponto só, mas era a mortel

Tu prisioneiro, tu?Vós o dissestes.

_ Dos Índios?Sim.

De que nação*— Tymbira*.

Ea musurana funeral rompeste,Dos falsos manitõs quebraste a maça...

Nada fiz... aqui estou.'— Nada! —

Emmudecem;Curto Instante depois prosegue o velho:

Tu és valente, bem o sei confessa,Fizeste-o, certo, ou já não foras vivol

Nada fiz, mas souber*» da existênciaDe um pobre velho, que em. mim so vivia.»

B depois?...¦ Eis me aqui

Pica essa tabafNa direcção do sol, quando transmonta.

•-Longe?, — Nio muito.

Tens rasão: partamos¦ m- E querei* ir?...-

, — Na direcção do ocesuo.

VII

Tor amor de um triste velho,Que ao termo fatal ji chegss.Vós, guerreiros, concedeste»A vida a um prisioneiro.Acção tão nobre vos honra,Nem tão alta cortezlaVi eu jamais praticada *Entre os Tupis, — e mais torasssBenhores em gentileza.•Eu porém nunca vencido,Nem nos combates por armas,Nem por nobreza nos actos;Aqui venho, e o filho trago.Vós o dizeis prisioneiro,Seja assim como dizeis:Mandai vir a lenha, o fogo,A maça do sacrificoE a musurana ligeira;Em tudo o rito se cumpra!E quando eu for só na terra,Certo achareis entre os vossos,Que tão gentis se revelão.Alguém que meus passos guie;Aleucm, que vendo o meu peitoCoberto de cicatrizes.Tomando a vez de meu filho.De haver-me por pae se ufane!*Mas o chefe dos Tymblras,.Os obrolhos encrespando.Ao velho Tupi guerreiroResconde com torvo accento;— Nada farei do que dizes; .->¦¦¦-E' teu filho lmbelle e fraco!Aviltaria o triumpho ... - ¦¦ , < .-••¦- • ¦->:¦ ".Da mais guerreira daa tribu*

Derramar seu ignóbil sangue;Elle chorou de cobarde;Nós outros, fartes Tymblras,Só de heróes fazemos pasto, •

Do velho Tupi guerreiroA surda voz na gargantaFaz ouvir uns sons confusos,Como os rugldos de um tigre.Que pouco a pouco se assanha!

VIU"Tu choraste em presença da morte} iNa pressença de estranhos chorastetNão descende o cobarde do forte;Pois choraste, meu filho não éslPossas tu, descendente maldictoDe uma. tribu de nobres guerreiros.Implorando cruéis forasteirosSeres presas.de vis Aymorés."Fossas tu, isolado na terra,Sem arrimo e sem pátria vagando,Regeitado da morte na guerraRegeitado dos homens na paz,Ser das gentes o espectro execrado;Não encontres amor nas mulheres; ,Teus amigos, se amigos tiveres,Tenhão alma inconstante e falias!"Não encontres doçura no dia, . ."-¦Nem as côrés da aurora te ameiguem,E entre as larvas da noite sombriaNunca possas de-çcanço gozar:Não encontres um tronco, uma pedra,Posta ao. sol, posta ás chuvas e aos ventoat iPadecendo os maiores tormentos,Onde possas a fronte pousar."Que a teus passos a relva se torre.Murchem prados, a flor desfalleça, .E o regato que límpido* corre.Mais te accenda o vesano furor;Suas agoas depressa se tornem,Ao contacto dos lábios sedentos,Lago impuro de vermes nojentos.Donde fujas com asco e terror!"Sempre o céu, como um tecto incendido.Creste e punga teus membros maldictos ¦E o oceano de pó denegridoSeja a terra ao ignavo tupi! .Miserável, faminto, sedento,Manitós lhe não fallem nos sonhos,E de horror os espectros medonho*Traga sempre o cobarde após sl."Um amif?o não tennas piedosoOue o teu corpo na terra embalsame.Ponde em vaso d'argilla cuidosoArco e frecha e tacápe a teus pés!Sè maldicto. e sósinho na terra;Pois que a tanta vileza chegaste,Oue em presença da morte chorasUv*Tu, cobarde, meu filho não és'--.'-,-Íx

(¦ -

Isto dizendo, o miserando velhoA quem Tuoan tamanha dor, tal fadoJá noa confins da, vida reservara,Vae com» tremulo-pé,- com as mãos Já MaiDa sua noite escura as densa» trevas

Falpando. — Alarma! alarma! — O velho pára;1 O grito que escutou é voz do filho.Voz de guerra que ouvio já tantas vezesN'outra quadra melhor. — Alarmai alarmai

Esse momento só vale apagar-lheOs tão compridos transes, as angustias,Que o frio coração lhe atormentarãoDe guerreiro e de pae: — vale, e de sobra.Elle que em tanta dór se contivera,Tomado pelo súbito contraste,Desfaz-se agora em pranto copioso,i^ue o exhaurido coração remoça.

A taba se alborota, os golpes descem.Gritos, imprecações profundas soão,Emmaranhada a multidão braveja.Revolve-se, cnnovela^se confusa,E.mais revolta em mor furar se accende.E os sons dos golpes que incessantes fervera.Vozes, gemidos, estertor de morteVão longe pelas ermas serraniasDa humana tempestade propagando ,

Quantas vagas de povo enfurecidoContra um rochedo vivo se quebravão.Era elle, o Tupi; nem fora justoQue a fama dos Tupis — o nome, a gloria.Aturado labor de tantos annos,Derradeiro brasão da raça extineta,De um jacto e por um. só se aniquilasse.

Basta! já clama o chefe dos Tymbiras,..Basta, guerreiro illustre! assás lutaste.

E para o .sacrifício é mister forças. —O guerreiro parou, cahio nos braçosDo velho pae, que o cinge contra o peito,Com lagrimas de júbilo bradando:"Este, sim, que e meu filho muito amado»."E pois que o acho em,fim, qual sempre o Uv»"jCorrão livres as lagrimas que choro,"Estas lagrimas, sim, que não deshonrão".

Vm velho Tymbira, coberto de gloria,Guardou a memória

Do moço guerreiro, do velho Tupi!E á noite, nas tabas, se alguém duvidava

Do que elle contava.Dizia prudente: — "Meninos, eu vi!"

"Eu vi o brioso no largo terreiroCantar prisioneiro

Seu canto de morte, que nunca esqueci:Valente, como era, chorou sem te» pejo;

Parece que o vejo.Que o tenho n'est'hora deante de mi.""Eu disse comigo: Que infâmia d'escravol

Pois não, era um bravo:Valente brioso, como elle, não vi!E á fé que vos digo: parece-me encanto

Que quem chorou tanto, ¦ ¦ 'Tivesse a coragem que tinha o Tupi!"

Assim o Tymbira, coberto de gloria,Guardava a memória

Do moço guerreiro, do velho Tupi.E á noite nas tabas, se alguém duvidara,

Doque elle;contava,•'•Tornava prudente! "Meninos, to vli": •»--'¦

(Poesia* de Gonçalves Dia* pág*. UC/IOT.

B, --i.Aí.M-s.-.-.-j-, ¦..,.-,-:.'..-'. ftlíFaiMÉ^MMJII

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O sorr/so de Gonçalves Dias e outms. notas(Escrito especialmente pára «Autores e LWros^^^^osDruwwoMdeAmimde

Em um exemplar d'"Os Tini-biras", edição de Leipzig, 1857,pertencente à Biblioteca Nacio-nal, alguém escreveu a lápis-tinta: "Versos duros, malferin-do-os ouvidos". Este comenta-rio anônimo será uma paga in-justa ao esforço do poeta quetanto se aíadigou na composi-tção do trabalho dedicado "imajestade do muito alto e muitopoderoso príncipe, o sr, D. Pe-dro TI, imperador constitucionale defensor perpétuo do Brasil".Mas deve lembrar aos que seentregam a exercícios idênticosquanto é inviável a poesia dosinstitutos históricos, elaborada'friamente pela inteligência, tra-índo a erudição e o dida ti smo econstituindo-se em peça de mu-•eu, diante da qual a nossa ad-¦iiração respeitosa se inclina,¦nas a sensibilidade não se en-•rega.

Outro exercício poético: as"Sext ill.as de Frei Antão1'.Mas aqui, o ensaio filológicotentado pelo autor consegue in-teressar-nos menos pela gra-;ada forma acariciante do que poruni certo sorriso, que secreta-mente abre caminho na poesiacarrancuda de Gonçalves Dias.

dos homens cultivados das pe*quenas cidades brasileiras. Gon-çalves Dias aí nos apresenta oedificante e o épico debaixo deum certo pitoresco, que Ibe re-dnz as proporções, humanizan-do-as. E* bom que Mustafá eGulnare, escravizados, renun-ciem a Mafoma e penetrem noseio da fé cristã; entre os dois,e estonteado diante dos dezanéis da moura, do seu vestidoazul e carmim, do seu pezínbonu "mimoso e branco e neva-do", da sua rabeca diabólica, opobre frei Antão se revelou bo-mem de carne fraca e imagina-ção voluptuosa:

Assi todo embevecidoBons sonhos que então sonhei,Boas venturas que eu tive,Bons scismares que eu scismeiiEsqueci-me dc ser frade!Como isto foy, já n?o sei.

Mas é o próprio GonçalvesDias que nos explica em outropasso das "Sextilhas":

Conto as coisas como foram,Não como deviam ser.

E há certa malícia escondidanas barbas severas do poeta.

Mas vós quem quer qu*isto[lerdes,

Relevai-me esta tardança;Sâo achaques da velhice:Vivemos de remembrançaE em longas falas fazemosDe tudo comemorança.

O poeta não se permitirialombar da velhice nem da gioria das naus portuguesas. Ano-tando a "Lenda de São Gonça-lo", adverte-nos mesmo que nãoescreve sátiras. Sua capacidadede ironia é nula, seu humourinexistente. Isto não impedeque exclame, num suspiro:

Bom saneio foy Sam Gonçalo,Pezar que foi português!

O "sorriso" de GonçalvesDias está, para mim, no efeitoligeiramente cômico que ele ex-trai, ou que nós, leitores de ho-je extraímos dessas estrofes emque são contados milagres e fei-tos de bravura, num tom dcconversa de velho ou de padre,¦inda encontradiço, em seus úl-timos vestígios, na linguagem

Surpreende encontrar, emmeio ao clamor desordenadodos românticos, esse desejo dojovem mestiço dc Gixias: "Dá,Senhor Deus, que eu sobre Aterra encontre... — Uma ai-ma que me entenda, irmã daminha, — Que escute o meusilêncio.. .*'

Ontem no baileNão me atendia»!Não me atendias,Quando eu falava,

— queixa-se Gonçalves Dias,em 1846.

Doze anos depois, Casimirode Abreu, que tambem reescre-vera a "Canção do Exílio", re-pete a queixa gonçalvina:

Tu, ontem,Na dansaQue cansa,Voa vas... Sem penade mim!

tV a mesma a .situação dos

dois românticos, no baile. Aamada rodopia, lànguida ou ner-vosamente, nos braços de ou-tro; prefere este outro ou seprefere a si mesma, corpo felizna dansa.

Note-se a concentrada amar-gura do maranhense:

De mim bem longeTeu pensamento!Teu pensamentoBem longe errava,

traduzida na esvoaçante melan*cojia do vate do Indaiai,ú:

Na valsaTão falsa,Comas,FugiasArdenteContente,Tranqüila,Serena...

O primeiro sofre, mas obscr-va com lucidez:

Eu vi teus olhos (Sobre outros olhos?Sobre outros olhos,Que eu odiava.

Casimiro, mais fraco, apenasdeplora:

Os olhos perjurosVol vias,Tremias,Sorrias,Pra outro,Não eu!

E aquele prossegue a cruelanálise:

Tu lhe sorristeCom tal sorriso!Com tal sorriso,Que apunhalava.

Este revela a sua fragilidadenuma interrogação inntil, qtiedisfarça a dor na lisonja:

Mas esseSorrisoTão lisoQue tinhasNos lábiosDe rosaFormosa,Tu ílava^Mandava!A quem?!

Um, implacável:

Tu lhe falasteCom voz tão doce!Com voz tão doce,Que me matava.

Outro, antes buscando com-paixão que ameaçando:

Quem deraQue sintasAs doresDe amoresQue loucoSenti!Quem deraQue sintas!...

E enquanto Casimiro, tímidoe recalcado, se compraz em íi-pirar a amada presa de iguaistormentos, o desgosto severo deGonçalves Dias se resolve emum apelo patético:

Oh! não lhe fales,Não lhe sorrias,Não lhe sorrias,Que era matar-me.

Na mesma ambiência român-tica, um temperamento revelavao seu caráter viril, outro a suaessencial feminilidade. Essa di-ferenciaçâo salvou Casimiro dacópia.

gestão adotadas pelos regimesbelicosos para despertar no pn-vo, simultaneamente, o espiritode sacrifício e o gosto de' ma-tar. Felizmente, GonçalvesDias não víu sob esse ângulo derealismo político o domínio doforte sobre o fraco. A par d4intenção puramente estética, derealizar um belo poema — c eleo conseguiu: é das canções maisnítidas e lapidares que haja es-crito —, ele deixou aí uma con-cepção antes pessimista que en*tusiástica da existência. Se pre-ga a coragem, é porque não va-te a pena preservar a vida, sen-do esta tão curta: Um dia vive*mos! "Um pesado fatalismooriental ressoa na exclamação:"Não fujas da morte, — Que amorte há de vir". Seja-nos"pesada ou querida" a sucessãodos dias, o combate é inevita-:vel. Ao longo de todo o poema,Gonçalves Dias, -inculca ao ta-moio o desprezo da vida, inci-tando-o a dispor livremente des-se bem que nada vale. Só as-sim ele se fará escutado dos ''ti-midos velhos" e encher?, de cs-panto os indiozínhos a quem amãe dirá o seu nome para edu-eá-los "na lei do terror". E\psicológica e pedagogicamente,terrível: fazer tremer os velhose as crianças. Mas não há ou-tro jeito, quando se tem uniaconcepção tão áspera da vida.

Censurou-se há pouco ao sr.Ribeiro Couto a frase deliciosaque dizia ao volume das "Pri-maveras": "Te levo comigo".A construção espontânea -foicapitulada entre cs "artifíciosde mau gosto e que pretendem•ristocratizar os erros de sin-taxe da fala dos incultos". Mas¦ censura não cabe ao sr. Ri-beiro Couto. E sim a Gonçal-ves Dias, "Últimos Cantos",poesia "Harpejos":

Te vejo, te procuro,Teus mudos passos sigo...

Prenda-sft e enforque-se

Minha alma nfio esta comigo,não anda entre os nevoeiros dot

[OrgfioE, envolta em neblina,balouçada em castelos de nuvensnem rouquejando na voz do trovão.14 está ela!— a («preguiçar-s« nas vagas de

[São Marcos,a rumourejar nas folhas dos man-

Isues,a sussurrar nos leques das pai-

[¦seiras:lá'está nos attlos que meus olhos

[sempre viram.nas paisagens que eu amo,onde se avista a palmeira esbelta,o cajueiro coberto de cipós,o jmu darco coberto de flores ama-

[relas.Ali sim. — ali esta —desfeita era lágrimas nas folhas

(du Bananeiras.

Este poema de Ronald deCarvalho ou dc Guilherme deAlmeira — ou de Whitman ou

Voltando à "Canção do Ta- do Valery Larbaud do "Barna-moio"... Há nesse poema a booth" — está, em prosa, naexaltação da vida difícil, que dolorosa dedicatória «los "Últi-tantos anos depois viria consti- mos Cantos", escrita em agostotuir uma das fórmulas de, su- de 1850.

LENDA DE SAM GONÇALO(Continuação aa pág. MJ Certo que os onjos no inferne•Dro eis me oqui!... e o mim prupri» Sentirão muito prazer. i"Negas hum pouco de pdo, Vendo aquelle mau prelado*Que só he de ser negado, Acção tam vil commetter.¦Ou o precito ou «.cõo; E ;„„,.„, ,a| O...on.odo,

1Megas-me té gazalhado, j,m _>„, n* p,^ ya|„.* o fogo do meu fogõo!"Levar d'aquif sou Gonçalo;"Dó-me pois o meo logar,"Dá-me os ovelhas coitadas,mQue eu não devera leixor,"Do-me..." — Ai! não pode •

SondeNfio pôde, não, rematar!

Sobre o fronte, calva e noaVio descer grave pancada;A testo de romanioFkou em songue lovodo; <Aquelle songue bemditr»

Mos o Soneto milogrosoOue pôde tornar do pão.Já não digo azymo feia.Senão mossa de carvão.Triste, negra e inficionado»Que nem era pero cão;

Que moveo rochedo enormeJunto á ponte d'Amarante,Chegando-lhe hum dedo openo*.,Como se fora gigante;Rocha que esforços baldaraOt muila gente possante:

Que fez elle?».. oh! nado íexlDisse: "Deos o quer assi;Sou eu creotura sua,Bem he que elle mande em ml.Não seja feito o que eu quero,Mos o seu falante — si.

"E' vosso o força oue eu tenha.Disse elle: em uso o não pur,Que tambem sobre o calvário,Vós, Senhor meo, bom Jesu:.,Nem o calvário afundoste»Nem sovertestes a cruz.

"Porque se eu, filho do barro,Ser mesquinho, ou verme, ou nodi,Tenho em mi força divinuHc pera ser empregodsNo que é mister, porque sejaA gloria vossa exaltada".

Assi discorria o SonetoNo seu profundo juiío;Oro descanço no meioDas glorias do poraixo:Louvor a Deos! — e com istoA lenda oqui finalizo.

Conto as coisas como forão,Não como deviao ser;Hum Sancto, mesmo porende.Merece menos soffrer:Julgo ossi: digõo-n'os sobiosQual he/o seo parecei.

Cont'eu — sobença da terra'Tenho por coiza ruim,Que serve só pera gloria,Que he sá vangloria; • assiÇue como he coiza de .vgulbo,No fundo inferno tem fimr

O homem que fôr prudentaSó pelos frades se rejo;Creio no Papa e nos Bullos,E na Soncta Madre Igreja;O mais he coisa de fumo,Não sei de que valor seja.

Que reze o soneto rozaíro,Dou de conselho tambem;Que assim viverá na gloria,E vive se lá mui bem,Cantando hosannas eternosPor tempos sem fim: amen.

Aa EexUlIiM de Frei Antão tor-iriam uma coletânea de seis poemaaem linguagem arcaica. Como amos-tra do gênero, reproduzimos em nos-so suplemtr.to dois desses poemas.(Ver sobre o assunto o estudo de AUfredo de Assis Castro (da AcademiaMaranhense) — A LlaioafCM das¦utwaa «a rtel «alta» Ws. SMS).

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SUPLEMENTO UTKRAIUO D'A MANHA — PAGINA Z»

A POESIA DE GONÇALVES DIAS - ou, BitâC"Escute-mo Tupanl Sobre vós outros, uma SÍmp!es preocupação lite- Possas tu, isolado ou terra,Poder do niatacá por mim tangido, -A-io AhiipIp filhn rio miivmpu Se111 arrimo e nem pátria vagando,üs sonhos desçam, quando desce o ™rl*- "que". Hino ae europeu, rtejcima,, üa murle na suerra.lorvalho." educado na Europa, amante da Rejeitado dos homens na paz,

Velha literatura portuguesa, s?r dos St-ntes o espetro execrado;Assim, no poema de "Os Tim- cultor da encontres amor nas mulheres,

, -,.... ¦* . i .. j ¦. Teus amigos, se amigos tiveres,biras', fala as tribus concita- tanto devia servir, era arrasta- Tenham alma inconstante c «aiazidas o velho Piaga. Quem é do para o estudo do povo sei-ele? um pobre selvagem, en- vagem por uma simpatia irre- «fm --"r'eTda "aS.Te

ateiguem;feimo e tropego, que a mais SiStlVel. Ve-lo-elS, Ja nos ultl- E entre as larvas da noite sombriadébil criança da taba prostra- mos anos de trabalho e vida, Nunca possas descanso gozariria. de um só golpe, no solo. já homem maduro, inteligência £0,°laenac0on'í,;!' Taii'T°chuvâ P°a"'Em irangalhos a tanga, em chegada à sazão fecunda dosangue OS pés, COmidO O COrpO OUtonO, alma fortalecida pelo Padecendo os maiores tormentos,das privações, vivendo das es- sofrimento, poeta acabado e °"dc possas a Ironte p<n,Barlmolas dos guerreiros, — como compíeto, — dedicar-se a duas Que, a teus passos, a reiva se torr«.podem ouvi-lo as tribus, imo- grandes obras: uma de Imagi- Murchem prados, a nor desiaicca.tas e atentas, como tamanha nação. "Os Timbiras"; outra L^TÍcVnat oTstoTror.veneração? E' «jue sobre a vi- de pesquisa cientifica, "Brasil suas aeuas depressa se torneiasivel fraqueza dele paira a for- e Oceania" longa memória Ao contato dos lábios sedentos.«a invisível de Tupan: e um apresentada ao Instituto His- \^^ISJ"J^S,

""'SS,só raio do esplendor divino po- tonco.dc emprestar á pobreza do sa- Nessa memória, o capitulo, sempre o céu. como um teto in-cerdote a majestade do nume em que o poeta faz a defesa. icendido.

má-la na algaravia grosseira go, entrou ele a estudar esseque corre as ruas. ínegualavel idioma! Não o es-

Não encoutrareis no poeta tudou pela rama, colhendo ape-excelente da "Palinódia" e «ie nas as flores novas e os lindos"Marabá", no autor de "Bea- frutos que a sazão amadurece-triz", de "Leonor de Mendon- ra: foi as mais profundas ral-ça" e de "Boabdil" esse desrna- zes da árvore amada, estudou-zelo e desrespeito. Em suas lho as fontes da seiva e da vida.mãos, a língua portuguesa, ga- Para que em suas mãos denhando um risonho biüno no- ourives o ouro da língua por tu-

.. vo, nada perdeu da antiga so- guesa pudesse afeiçoar-se naatvèntò™ lidez e da antiga majestade. jóias que Gonçalves Dias nos

velha mãe sagrada remoçou os deixou, foi preciso que elebeijos do lilho mais moço. aprendesse e praticasse, como

Entre as recordações da mi- artista conciencioso, todos osnha primeira mocidade, da- segredos da primitiva fatura. Oquelas que se referem às mi- poeta ressuscitou o velho por-nhas primeiras impressões ate- tuguês dos solaus e das loas;tivas, uma avulta, mais clara- cantou nas Sextilhas de freimente desenhada do que to- Antão. como os antigos poetas,das as outras. Uma mulher, umdia entrevista de súbito no ^.nSoTS^rSi^meiO da multidão, — uma aes- quando nas guerras de molros

oue o inspira. Não de outro dos selvagens do Brasil, tem CrM«o « punia <" «eus membros connecida, fadada a nunca era o Rei nosso pendiio,n _ t- _»:_„*._ j_ ¦— j„ _: ::j~j_ Imalditos. ™ '. ,_ j„ „,„.,„ nuaiido as donas consunmodo se apresenta diante de um calor de sinceridade que e 0 oceano de pó denegrido"8'*""'vós aquele que deve fazer não pode ser fingido. A alma seja a terra ao ignavo tupiielogio de Gonçalves Dias. Se, do historiador, nessas páginas SííiC: sonhos,ouvindo a sua voz, puderdes comovidas, n- e sangra, no e do horror os espeiros medonhossentir que "os sonhos descem afan de rebater as calúnias so- Traga sempre o cobarde após susobre as. vossas almas" sabei fridas pelo povo amado Quase Um aml n,,o t(jnhase dizei que o nume nao desam- todas essas calúnias sao de uma QUe o teu como na terra cmbaisame,parou o seu sacerdote. tão ingênua futilidade, que po- Pondo em vaso de argila, euidoso,

Não me demorarei cm con- deriam facilmente ser despre- £.lgo e, ;r,echa c «™'?i>c ¦ leus p6sI. .. , , .-, ij jj v. t,t; nialcUto e sozinho na terratar-vos a infância de Oonçal- zadas pelo advogado dos pobres pols ,„ a ,anta viloza chegastc.,

Ves DíaS, a SUa mocidade, as indiOS. -Assim, um Viajante por- Que_em presença da morte choraste!suas peregrinações pela Euro- tuguês dizia deles: "em reli-pa, os seus estudo.?, a sua viri- gião e ém costumes são por ex-lidade ocupada e afanosa. os tremo bárbaros; não teem fé, , , - .seus triunfos, a sua trágica nem lei, nem rei, motivo por teraria deixada por Gonçalvesmorte no naufrágio do "Ville que é sabido lhes faltam na Dias deve parbcularmnte pren-do Bourgogne". Neste baixo sua língua estas letras F L e R". ípl r' !l "lí'1" u •"" *""-*"=*

mundo — e, provavelmente, Essa inocente parvoise faz ape-

míü pissár ãõTlíínce de meus Sg^Src"' em^vâ"'0"*olhos, ficou para sempre lem-brada e viva na minha vaga e veio de Gil Vicente e Sá Ml-saudade. Era moça e airosa, randa a Herculano e Garrett.com um leve andar de ave do acompanhado, de passo emcéu na terra, em plena flores- passo, com uma curiosidadecência dos anos e das graças amorosa, o progredir da línguaMas o que me cativou foi a sua de que almejava ser escravo emaravilhosa e perturbadora ca- senhor. a\ssim. o noivo npaixo-beca, de uma esplêndida mo- nado, ao beijar pela primeiracidade, coroada de cabelos vez a boca da noiva, quereriacompletamente brancos. Uma conhecer toda a vida possadamotéstia qualquer, ou um miste- dessa flor humana que :he caiurioso capricho da Natureza, nos braços, — o seu primeiroenvelhecera a coma farta da- vagir no berço, cs seus primei-

- quela Juno humana. Dir-se-ia ros folguedos de criança, o seuder a atenção: a aua forma. Ja aqUn0 uma garridice nova da primeiro pejo de "menina eH"'í,cl tão cri- deuSíli um. artifício petulante moça", o primeiro luzir da sua

— Tu, cobarde, meu filho não às'.'

Um aspecto da vasta obra li-

não falo da métrica,[71 U 1 (A I VBIlaV«-al.»aja^, UOJU ll«a_,a^L,ii aja^ l^uaa. , a_..ua^ aa»«a Ufw U.CUa3tãV, U «ai Caí. V " 1«^ * V# fjwvva.-ax-aa.-a.va* illVV;^ , «J [ja. a a, ia., . >a « Haaa. «a.a .¦«.««

nos outros — todas as vidas nas rir... Mas o advogado não niinosamente adulterada nas do seu aonaire. Os cabelos, po- inteligência e o primeiro palpl-se parecem. Baste dizer que a ria: o trabalho da defesa, res- cd'Çoes atuais. Paio da língua rem tinham essa alvura vaga- tar da sua carne, — para queinfância do poeta foi atormen- pondendo às mais ridículas

"admirável, de que ele se ser- mente prateada das cans, que ela pudesse ter sido sempre sua,tadr o triste: o nascimento ile- acusações, é minucioso e apai- ^,u'

a u"?- tempo suave e no- nenhum artifício pode imitar: inteiramente sua, cm todas asgitimo e a cor deviam dar-lhe xonado. ^re' e aíe n0 mais languroso e assjm toucada de neve, com [ases da existência, como o émomentos de mágua e vexame, Não mofemos desse roman- dos seus quebros_ guardando aqueie pálido,, clarão de velhice agora, na fase radiante dona velha província elada ao cul- tismo. Gonçalves Dias é morto uma severa correção. sobre a juventude ofuscante amor e da ventura...to dos preconceitos e á filau- há menos.de cinqüenta anos. E' comum ver coberto de re- dos olhos negros, a minha des- E notemos que dai tem vindocia. Alem disso, naqueles rudes E, durante esses curtos anos. moques o escritor, que, no seu conhecida sorriu e passou, num a maior censura feita a Gon-tempes de rivalidades entre na- aquilo a que habitualmente se exagerado amor da lingua que instante fugaz de minha exis- çalves Dias, — tão certo é que,cíonais e reinóis, o pai do poe- dá o nome de "conquistas da pratica, não quer vê-la alfaia- tência. posta por um acaso em aos olhos da tolice humana, as

civilização" tem sido uma tão da de ornatos impróprios, nem meu caminho, e por outro acaso mais belas qualidades podemabominável urdidura de ambi- rebaixada de sua antiga e só- abismada da morte, que tanto anarecer como deploráveis de-

ta viveu homíziado nas bre-nhas, com o coração sobressai-tado e os haveres em perigo; ções, de interesses, de enganos bria dignidade. Dizer — um vale dizer no torvelinho da vida. feitos. Estranha-se que os guer-mas tempos melhores sorriamapesar das desgraças doméstl-

e de crueldades, — que nós to- gramático — é dizer — um em- Permiti, senhores, a extra- reiros, os pagés, as moças sei-dos, com a nossa meiguice na- perrado, um retrógrado, um vagância da comparação. Mui- vagens dos seus poemas falem

câs que o pequeno maranhense tural de latinos, temos acom- caturra. Mas, não raro, esse ta coisa deve ser tolerada e des- como personagens ae corte eteve de ver e chorar; eaixeiro panhado com um mal contido desprezo do apuro gramatical culpada a poetas, tão teimosa- solar. Como haveriam e'es dea princípio, e guarda-livros do horror o desdobrar dessa tra- esconde uma ignorância que se mente dados ao vezo de corpo- falar? em tupi? e com os com-pai, pode Gonçalves Dias se- gédia doorosa. Que os outro» não quer confessar. Certo, uma rificar idéias. A Musa do nosso preenderiam então aqueles que,gulr para Coimbra, onde estu- cerrem olhos e ouvidos ao hor- língua não pode ser mumificada grande lírico é como aque'a nesta época de desmazelo dedou, amou, fez versos, e adqui- rivel espetáculo e ao longo cia- e inânime, dentro de faixas se- doce visão da minha inquieta linguagem, nem ao menos seriu o cabedal literário com que mor dos fracos que são expo- culares e imutáveis. Os orga- puberdade. sabsm servir, com um pouco dese partiu da vida vulgar para liados do lar e da honra; mas nismos vivos arfam e vibram Vède-a, moça, boliçosa, ar- correção e de decência, daelln-a conquista da glória, que nos versos dos poetas, co- numa perpétua renovação, dente, cheia de uma seiva for- gua que é sua? E que importa

As vezes alguma triste recor- mo uma ave acossada pelo tem- fluxo e o refluxo da vida não te, inspirada ém aspectos no- » falsidade daquilo? Só não étjàção dos primeiros dissabores poral, se refugie a Piedade... param. Mas as regras vitais vos da Natureza, transpirando 'r>'í*> na Ti«la ° iué á afela evem turvar a namente dos A voz deste poeta, que tão permanecem as mesmas, na encantos e aromas de floresta deshonra. Este mesmo fioetaversos: alto soava para defender os sua eterna e misteriosa essên- virgem, — de uma vivacidade tez ° elogio do Sonho, que com

„ .' selvagens caluniados, teve, paT cia. tão estranha, que espantava e a sua falsidade encanta e per-Qne vagido»Sdrinfante°vlvedouro ™ cantar as suas desgraças e Uma „ngua ,comr) a deliciava, na Europa, o severo fuma a existência:Os sons unais de um moribundo as suas glorias, as suas aventu- é uma árvore forte chegada ao «Uexandre Herculano... Mas

rouv.SSe. ras e os Seus amores, acentos compléto desenvolvimento, uma repare: uma ancianidade vene--Senhor! por que do nada me tiraste? nunca antes ouvido.. Por ve- árvore de fundas raizes e de ravel, — a da lingua em que —- - "-'--"-- "¦" - "¦*" *° -•" ~""™'»" ¦ ¦ ¦ essa

musa se exprime, temperaardor da sua adolescência,As folhas, as flores, os frutos

Ou por qiie tila vnr. onipotente zes, o VÔO da sua imaginação bg,t„, ..„.,„., „..„,.,'Kão le* secar da minha vida a seve é vertiginOSO e sublime. O poe- "8StaS ramaSens °P'mas'

Quando eu era pr.ncíp.o^let,. ma de „0s Timmras.. flcou ,na.cabado. Mas quem quiser conhe*

Mas tudo isto desapareceu lu- cer, em uma obra completa eEu. A vida tomoumancebo, e ele começou a amá- nossa terra, leia o "I-juca-Pira-la e a servi-la. ma". Ninguém lê esse curto e

sonho e a vida suo dois galhosT gêmeos;

dois Irmãos que um laço amigo[aperta...

A arte é a eterna mentira,de hÒrê não são" de' certo

™a"V^mTsu? eto7™n.te bela' «»"er *ffolhas, as flores, os frutos de Sf HÍT™h«Tl. ™« T^Á P°r.*\nu a sua inanl-

„ÍA „„ M"" "-—¦ " ""-»—j" ontem uaaa., einipnriidn enr tos °° sei1 50nho. E ela passa, dade, despoja-la dos seus re-conta do harmônica, o maior poeta da ontein^N^se esplendido cor- como passava a minha Ju de curs ^^ ,ad i]m- épo, aesnímoranue ae iorça cat>elos brancos, com o seu leve (a7(,r n _.„- fp7 nn„ei„ „n rísaúde, tudo se renova constan- „„ ... ,,„ _ ' „ „ h,rmnnio .„_?LP 1ul . s;1ae[e l""ca

q,,ea,ae10 puh',™,, a coleção .miraTO,>_, m St/r = -PÍH^E^!.! ^Íei?r^Juv-S™cS1e^r-^

u<» «juiuvou «imoww.. *»••, WM» au mzer antigo, ao iinuu e aa-já o poeta estava senhor do mais precisão do que ém todas Pect0 e ae habitantes; emplu- . resolendor da forma¦** ¦ ._._ m nm -co no nn ocnrno ca nr.am ¦ ** *^

dos seus primeiros versos aos „ calefrlo que assinala o auge povoam a copa gloriosa mu- encimada da velha auréo'a imprudente quo buscando co-poucos anos de Idade, da emoção artística. Ali, com <*am constantemente de as- ,,„ j,„„ „„„„„ j„ „„j„ „ „„_ «mpruaenie, que. ouscanao covinte do dizer antigo, do lindo e sa-

seu destino, apercebido de um as outras poesias" americanas mam-se os pássaros, cantam,...... .... .. .. „™.,™ deliram e morrem;

nhecer o segredo da sua "Mos-ca Azul",

estilo próprio: - e se ainda. do nosso grande lírico, está fi- amam, deliram e morrem; ou- Foi esse amQr dos clâssicoacm uma ou outra página, um xada a verdadeira fisionomia tros vefm deP°'s deles, fadados reconciliou Gonçalves Diasvago desalento suspira, o tom m0ral do selvagem do Brasil: ao canto, ao amor, ao delírio e com os vencedores da raça in.geral do volume ó de entusias- as sl!as manhas, o seu amor o, morte, os ninhos, esses pe- Ieliz A princjpj0, doía-lhe vermo e amor: - amor das le- das guerras, a sua ferocidade quenmos lares suspensos entre cónsórcl0 da terra apenastrás, amor das mulheres, amor na vingança, o seu desmarcado aromas envelhecem, apodrecem Dubere com 0 sennor já .felh0.principalmente da terra quen- orgulho da vitória, o seu resig- e morrem tambem: e outrosda, ela sua natureza, e da tra- nado e sereno heroísmo na der- casais, igualmente tomados do »veiho tutor, e ávaro. cobieou-te.dição das gentes que a povoa- rota. O velho guerreiro tupi, anseio smoroso, vêem renovar g^VImoT o*s 5ore'sr°SèasePm glvam antes da conquista. São ceg0 e inválido, chega à toba nos galhos verdes da arvore [beleza, temperamento do poeta. Cadades,se volume a "Canção do dos inimigos Sabe que o filho maternal os frescos gineceus de cedeste. fraca: e entroiaçaste os anos existência humana é como umExílio", o 'Canto do Guerrei- ch0rou, e, galvanizado pela folhas secas e plumas. Mas, «g mocidadeem flor às eans e à vida ¦ ¦ •

grande mágua e maior vergo- nessa perene transformação, anha, apruma o vu'to membru- árvore é a mesma; a sua vida. Mas bem cedo um doce condo, alquebrado pelos anos. a sua constituição intima._ o soi0 entrou a alma do român

ro', a lenda da "Mãe dágua"e a "CançÃo do Tamoio".

Apenas saido da adolescên-cia, já o poeta era pofunda- __ mente nacional, já ali estava 5uscitar, numa onda de cólera não se a-teraram

dissecou-a, a tal ponto, e com tal[arte. que ela

rota. baça, nojenta, vil,sucumbiu; e. com isto, esvaiu-se-lhe

[aquelavisão fantástica e sutil.

Agora, senhores, detenhamo-nos alguns minutos no mais de-licioso recanto do exuberante

trecho acidentado do planeta.Nem tudo é clara planície acha-nada que o sol por igual alu-mia e bsija, nem alto monte

tarde haviaaquele que maisde dizer:"Como os sons do boró, soa o meu

sente toda a sua virilldade res- funcionamento dn seus órgãos tico, o poeta, que, como um orgulhoso, apunha'ando o céu"" "" contemplativo extremado, nào e gozando as primeiras caríciaspejo. Enriquecer a língua natal, queria ver o lado prático da da luz. Há em cada vida deOuvi, senhores, mais uma vez, abastecê-la cada vez mais de conquista, a utilidade dessas homem sombrios desvãos, úmt-

esses versos da Maldição do recursos e de tesouros, é desve- sangueiras, que haviam de fe- das e recônditas grotas cheias

Sagrado ao rude povo americanoQuem quer que a natureza estima

le preza,E gosta ouvir as empoladas vagasBater gemendo aa cavas penedta».E o negro bosque sussurrando au Nao descende

IInne««¦— Escute-me!"

rcanto tupí, que são dos mais belos e io e carinho de filho grato; cundar o solo da América para de perfume e mistério. Aí mo-fortes da língua portuguesa: mas golpeá-la. torar-lhe as rai- o desabrochar de pátrias no- ram os pensamentos que, por

zes, enfraquecê-la, roubando- vas, — soube logo ver e prezar melindrosos demais, não se que-"Tu choraste em presença da morte? ihe pelas feridas do cortex o valor do patrimônio que os rem ver ao sol, as impressõesNa presença de estranhos choraste' se[va a aumenta, e cruel- Invasores lhe haviam deixado: que se não descrevem, e os no-Sh íhÕrãsfe" Aeu flfho não éíf' dade de perverso ou de louco, a lingua, a mais bela e dutll mes que, no dizer de Sainte-Possas tu, descendente maldito Não se dirá que seja enrique- de todas as línguas da terra. Beuve, "il faut bénlr et taire...

O amor da gente americana gSpISS.i^S "^J™""0"' cer uma lingua o dcturpá-'a, Com que apaixonado, carinho, O mais; expansivo __e Jagartl»

não era em Oougalvea Olaa Ser s vasta dc vi» Aimor&itaTÍL LIUIO. IlIl^Ua UWUiyU U, VV»» 4«" •»[í*a.««aj..WWW UU. .a......, W ".—" — aa-j- -— --..

o desconjuntá-la, o translor- com que solicitude de lilho mel- (Continuo no jMywia tefiunU)

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GONÇALVES CHASE A POE-SIA DA NATUREZA - útu

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O paníeí>mo de Gonça/tws Dias¦Mão íetn a exaltação do dc Vic/orJ/uf/o, é,-antes, como o de Laiuar-ííííc e Keats, resignado e nostál-gieo. O cantor de "Marabá1' nãoVeria, como o poeta dai "Contem-plações" alongar-se até as estre-ias o gesto augusto do semeador",tnas muito ao contrário, acharianele um motivo de tristeza: triste-ta ante a dor da terra, ferida umtíiu pelas futuras raises brotadas,da semente, tristeza ante a misè-ria do homem rude que plantava,sofrendo, o grão que seria maistarde o pã.3 dourado na mesa dohomem feliz.

O sentimento da naturesa, mer-tê do iangue que lhe corna nasveias, e onde se cruzavam as ten-denotas das três raças produtorasAo mestiço brasileiro, nào lhe re-tentava da alma como tim motivotíe glória ou esplendor, O indio que€le celebrizou nos "Tymbiras", namCanção dos Tamoios" ou no "V-Yuca Pyrama", o africano, que elechorou e lastimou na "Escrava", eo português, que ele cantou naslendas guerreiras cristãs das "Sex-tilhas de Frei Antão", estavam emperene conflito dentro do seu ma-Çuado e sensível coração. Esse to*»--fiito define a fisionomia intima Jamia psique, sempre em luta com usvários elementos que entraram naformação ão seu temperamento,ora tumultuoso, ora ereno. já p r-dido nas harmonias üos ritos sei-vagens, iá enlevado na maravilhamos ambientes naturais.

Foi ele, sem dúvida, a primeiraVoz definitiva da nossa poesia,aquele que nos integrou na própriaconciência nacional, que nos deu aoportunidade venturosa de olhar-mos. rosto a rosto, nossos cenáriosfísicos e morais.

Nesse homem pouco vulgar pai-pita com inegualável intensiüatc aluz de nossos horizontes, aj-in-v-dez de nossos céus e o sonoro ire-çor de nossos rumorosos rios. FoiGonçalves Dias como lima ttesr.fi r-Arvores da. floresta tropical, ondem beleza das flores se mistura anperfume dos frutos, ao colorido nasfolhas, uo canto ãos pássaros e àsurdina musical dos ventos, numequilibrado concerto de correspon-déncias imprevistas. JVÕò se rriaaqui um amontoado de frases ra-§as. onde o critico procura, às ve-tes, esconder a inópia dos argu-Vientos e a falta de penetração tiagua capacidade de observação. Ta^sconceitos auxiliam o estudo da sua

personalidade, pondo em refetw asqualidades que lhe são junaamen-tais, Ninguém, até Gonçalves D:a.imostrara em tão elevado grau essacompreensão da natureza, esse co-nhecimento profundo e c/aro do senpapel iw. poesia.

Magalhães e Porto Alegre atnaase utilizavam, freqüentemente, iíoarsenal clássico para reproduzi-.-];Souza Caldas. SUva Alvarenga e osarcades mireiros, com exciçá-j iBasilio, empregaram, por via de re-gra, os mcoêt"s ini>nlógicos ão rc-pertório grego-romano.

Nem um soube júm-la com aagndeza áo poeta maranhense,nem um lhe penetrou os segredoscom tanto desembaraço, nem umlhe arrancou do seio, para os seusversos, a luminosa imagem castiçae leve com que ela surge nos deGonçalves Dias. Na introdução dos"Tymbiras", obra que revê parti-cularrnente as idéias a*> artista, dis-se-nos;

Quem quer que a naturesa estime[c preze,

E goste ouvir ».. empoladas vagasBater gemendo as cavas penedias,E o negro bosque ussurrando ao

[longe —Escute-me. cantor modesto e hú-

Imilãe,A fronte não cingi de mirto e louro.Antes ãe verde ramo engrinaldet-a,D'agrestes flores enfeitando a lira;Não me assentei nos cimos do Par-

[naso,Nem vi correr a linfa da Castalia,Cantor das selvas, entre breves

[matasÁspero tronco da palmeira escolho,Unido a ele soltarei meu canto,Enquanto o vento nos palmares

[zune,Rugindo os longos encontrados

[leques.

Há por toda a sua obra, acom-pathando os are- os de bucólicolirismo on as notas religiosas, ouainda as puramente descritivas, umgrande sopro de panleismo, um per-manente iãüio com a natureza, dequem era um eterno enamorado.Não se lhe percebem as ruidosasproclamaçóes patrióticas dos ro-mânticos da primeira hora.

A pátria i onde quer que a vidaliemos

Sem penar e sem dôr;Onde rostos amigos nos rodeiam,

Onde temos amor;

Onde vozes amigas nos consolam,Na nossa desventura,

Onde alguns olhos chorarão dorutusNa erma sepultura.

Náo se lhe descobrem, também,as fastidiosas tiradas sobre a imnr-talidade da alma, a existência ãeDeus, a perfeição da igreja, e, rm-trás quejandas divagaçôes, munoestimadas do autor dos "Cânticosfúnebres" e dos seus epígonos. Se,às vezes, se ãeteem a meditar so-bre a fuga das coisas, como em"Urge o Tempo", ou em "Velhicef Moeidade"; se, por ventura ensaiaalgumas considerações sobre a ina-nidade do mundo, como em "AHistória", ou em "Misserrimos",onde chega a negar a amizade e oamor, dois sentimentos que ele tan-to enalteceu em seus poemas, não.se demora, porem, na meia sombradessas cogitações, volta para a luz,sai para o or livre, tranqüilo e re-feito do tormento passageiro. On,então, exclama, entre conMttado tinsatisfeito:

Que me resta na terra? — Estasl/lore.s.

Afagadas do sopro da brisa,Disputando do sol os fulgores,Balançadas no débil hostil;Estas fontes de prata, que frizaBrando vento. — estas nuvens bri-

[lhantes,Estas selvas sem fim. sussurrant.es,Estes céus ão gigante Brasil.

Esta é a sua feição primordial,e é como poeta da natureza oveGonçalves Dias deverá ser estuda-do, sem o que, não conseguiremosapanhar-lhe a fisionomia interior.O indianismo nAo foi mais que umresultado das suas inclinações, poisele se aproveitou da vida selvagempara poder mostrar, em toda e simpujança, a luxuriante e coloridaterra brasileira.

Além da extensa cultura, possuíaGonçalves Dias um estilo ágil e vi-vo, ora meigo, ora arrebatado, massempre lídir;o, translúcido e cor-rente. .

Suas imagens sâo espontâneas,aparecem à flor dos versos, semesforço naturalmente, como aue pa-ra preencher o lugar que lhes es-tam marcado na estrofe. O Unogosto eom que *abia vesttr suascomposições dá-lhe uma certa sz-melhança com os imitadores de Th.Gautier. tão abundantes em nossasletras. Quem n&o pensara, incen-

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Três grandes inatos do Romantismo brasileiro: Gonçalves Diasi Gonçalves de Magalhães, sentados; de pé, Araújo Porto Alegre

sivélmente, lendo as quadras infra-citadas, na arte de muito poetacontemporâneo?

Sonhas talvez nas orlas do ocidente,Ve um regato sentada à branda

{.margem,Ver surgir de repente

De uma cidade m caprichosa[imagem.

Soberbas construções fantasiando.Vês agulhas sutis, cortando os céus.,

E a luz do sol dourandoRútilos tetos, altos corucheos.

Sonhas talvez palácios encantados,,Espaçosos jardins, fontes de prata,

Vergéis de sombra grata,Onde a alma folga, isenta de cul-

Idadot,

A Unha simples e harmoniosadestes versos não deixa dúvida so-ore a justa influência de je« art-tor em uma literatura que, antes)dele, oscilava entre a pataeoada ar-cade-gongôrica de Garção e Clau-dio, e o bombástico furor de Maga-thSes e Porto Alegre.

A POESIA DE GONÇALVES DIAS{Continmçfo da pdQirui anterior)dos homens, o que mais fácil-mente se desfaz em confidên-cias e confissões, ainda esse,quando morre, leva consigo, pa-ra dentro da sepultura, todo umvasto mundo de segredos. Foidesses ensombrados recessos daTida de Gonçalves Dias que ma-nou a fonte encantada dos seusmelhores versos, — dos seus ver-ios de amor.

O amor governou essa existên-ela de trabaino e de luta, comogoverna quase todas as existên-elas. Jã um padre da Igreja,eom toda a sua severa compôs-tura, declarou que tinha penado Diabo, "só porque o triste eraIncapaz de amar". O exagetacatólico só se queria referir na-tura'mente ao amor de Deus:mas o Amor é um só. ¦.

Quantos amores houve na vi-da do nosso querido poeta? Nãoforam tantos quantas as estre-Ias do céu e as areias do mar;mas foram bastantes para quesempre a sua alma andasse em"pedaços repartia" pelo mun-do, em sustos, em anseios, emesperanças, em ciúmes.. Houveprimeiro os infalíveis amoresde estudante, em Coimbra, —ensaios de um coração que sepreparava para querer e so-frer; depois, um amor mais sé-Ho, em Lisboa, um delírio quequase cortou a carreira do poe-ta; depois, outra vez em Coim-bra, um novo amor violento,Om ardente anhelar, cautérlo vtvoposto no . coração e remordê-lo...

mais tarde uma ligação emFormozolha e outra no Gerez;% dai por diante, nm torvelinho

de paixões e um remoinho detorturas. Não zombeis disso...Toda essa multidão de anseiose de inclinações passou sobre ocoração do poeta, com umatempestade, castigando-o, de-vastando - o, envelhecendo - o.Corações como esse são os quemais sofrem, porque são os quemais procuram o sofrimento.Poi o próprio Gonçalves Diasquem com mais encanto disse,em uma linda alegoria, o quet esse correr para a ruína, essedesejo de morrer mil mortespor amor do Amor. Escutai-o:

Debruçada nas éguas de um regato,A flor dizia em vão

A corrente em que bela ne mirava:"Ali não me deixes, não!"

Comigo fica, ou leva-me contigoEtos maré*; á amplidão;

Limpida ou turva, eu te amarei[constante..."Mas não me deixes, não!"

E a corrente passava; novas águasApós as outras vão:

E a flor sempre a dizer, curva na[fonte:"Ai! não me deixei nãot''

E das águas, que fogem incessantes,A eterna sucessão.

Dizia sempre a flor, e sempre em-I balde:"Ai! não me deixes, não|"

Por fim, desfaleclda, e a cor tnur-[chada,

Quase a lamber o chão,Buscava ainda a corrente, por dl-

[zer-lheQue a não deixasse, não,,.

A corrente Impiedosa a flor enlcla, * ** ***Leva-o do scu torrão;

E, í atentar-,»,dizia a pobrezinha: yM ls l)ma euardava"Nao ma deixas*. 1,5o ... pa„- *£,. ,„ear . „„£,,Depois de tanto, senhora,

Que uma alma comum assim Ver-te * falar-te outra vez,Se consuma em desesperos VO- Rcver-me cm teu rosto amigo,luntárlos, pouco há nia» que £»££ Z**'****, """*meresa atenção: m quando s Mw une* • tem ptm...

alma imprudente é a alma deum grande poeta, é precisoabençoar essa imprudência, es-se lento suicídio de que fluem,para gozo de outras aJmas, tor-rentes de versos impereciveis.

Entre tantas paixões, umahouve, mais profunda e maisduradoura do que as outras, epor isso mesmo mais fecundaem inspirações. Foi mais du-radoura, porque não foi con-tentada. As outras, depois deum incêndio terrível mas fu-gaz, iam passando e morren-do, com aquela que inspirou aImprecação desvairada da "Pa-linódia", logo seguida da "Re-tratação". Mas a incontentada,— a misteriosa paixão de quenasceram as formosas oitavasde "Ainda uma vez adeus", —essa ardeu e lavrou longo tem-po, como chama sopitada. Forapossivel a união... mas o or-gulho (ou outra qualquer cau-sa) separara os dois que se que-riam. .. E eis um dia o desgra-çado de volta ao berço do anti-go sonho, revendo aquela quejá não podia ser sua:

"Enfim te vejo! — enfim posCurvado a teus pés, dizer-tcQue nfio cessei de querer-te,Pezar do quanto sofri.Muito penei! Cruas Ânsias,Dos teus olhos afastado,Houveram-me acabrunhadoA não lembrar-me de ti!

Mas que tens? Não me conheceaTDc mim afastas teu rosto?Pois tanto poude o desgostoTransformar o rosto meu?Sei m aflição quando pode,Sei quanto ela desfigura,E eu não vivi na ventura...Olha-me bem, que sou eul

E's de outra agora. # pra sempre)Eu a mísero desterroVolto, chorando o meu erro,Quase descrendo dos céus!Doi-te dc mim, que te imploroEm tanta miséria posto,Que a expressão deste desgostoSerá um crime ante Deus!

Dél-te de mim, que te ImploroPerdão, a teus pés curvado:Perdão de não ter ousadoViver contente e feliz!Perdão da minha miséria,Da dor que mc rala o peito,E, se do mal que te hei feito,Também do mal que me fiz!

Nada mais agradável me n>-ra do que ressuscitar aqui todaa harmonia dos inumeráveis edeliciosos versos líricos de Gon-çalves Dias. Um gênio amigo,aquele que se compadece damiséria da vida humana, re-dourando-a, perfumando-a, —Aricl, o Sonho alado, o Ideallmpalpavel, — susteria o cursodas horas, e ficaríamos aqui,como num mundo melhor doque o nosso, suspensos numvago enleio encantado. Mas ur-ge por termo ao pálido estudoque do suave poeta tentei fazer,neste recinto, cheio de cora-Ções em que o seu grande no-me se fixou e perdura. Os últi-mos versos da Introdução de"Os Tlmbiras" exprimem bem,na sua beleza, o que foi o gêniodeste arrebatado cantor de he-rolamos e de ternura»:

Nem m6 me escutareis tereza •[mortes:

As lágrimas do orvalho r*"" ventura*Da minha Ura dfstendendo as cordas,HSo-de em parte ameigar e embran-

[dece-las:Talvez o lenhador quando acometaO tronco de alto cedro corpulento,Vem-lhe tingido o fio da segureDe puro mel, que abelhas fabrl-

Icaram:Talvez também nas folhas que en-

[gr ina Ido.A acácia branca o seu candor dei-

Ira meX a flor do sassafraz se estrela

(amiga...

Toda a grandeza da terranatal, toda a forte epopéia daconquista e da destruição dstraça selvagem, todos os extre-mos de ternura, — tudo coubede fato nos versos do poeta,cuja glória celebramos hoje.Ele explorou profundamente,com poucos, todos os veios daprofunda mina do coração hu-mano. E todo esse trabalhocoube numa forma simples ecorreta, num sóbrio e límpidoestilo.

Tal foi Gonçalves Dias. Quefez ele? amou e fez versos. Seme pergun tardes agora se otrabalho de quem ama e faaversos é útil, eu vos direi ape-nas que entre a missão dc Ariele a de Oaliban, a mais útil,para o comum dos homens, éa mais feia, que é a do último.Callban cava a terra, e nelasemeia os alimentos e as intri-gas. Ariel corre os céus, e dá-nos as suas estrelas mudadasem sonhos e mentiras. Ocomum dos homens prefere Ca-liban. Eu prefiro Ariel e lio queestareis comigo.

Page 15: BNmemoria.bn.br/pdf/066559/per066559_1941_00013.pdf · fè@§ SUPLEMENTO LITERÁRIO DE "A MANHA" 9/11/941 publicado semanalmente, sob a direção de Múcio NlHll. 13 ' Leão (Da Academia

aVii/iMi. noMiNoo inqMM mntiMuo »¦* manha - paoiiw «w

Correspondência de escr.toresDe Gonçalves D/aí a

Antônio Henriques Lealaim.i.u. l.iiMt« ,.«" V",***? ¦"'" ! . «I ' maiai.- -^*i-s~" «•

UA:A:Aàí$AMiA!âíi;A&AAAvAhv(vAA'fíM-SAAA^

^#S|tíss|ç|f> ^^'^T^ÁTIÊMãTTÈT^Ê^IÊTv\* , *»«»» -*'-<-.»< *,«w^ «... »,„,.-,, „,„ ,>[a.-*»»» ........a /...V... ; ....... .,t,- ^.-

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IN F LU ENCIAS -- fe /W*™WInesse ravle,

Mourir en regrettat la vielllesselet la Tie"

(Oú donc est Ie bonhcur?xvrnt.

Igualmente para a Imagem,

Vej amos, prtmeirament», O lirismo tle Lamartlne eom Orandir en regrettant Wnton*»quais tu influências rcceb:- sua tonalidade fundamental 'S,í„!T*Z Stdas por Gonçalves Dias de cristã-religlosa e melancólica. • Feeilllr en regreatuil la jeu-poetas portugueses. Dentre es- que, apresentando, como traço ,!">tes, deve-se mencionar em original, a autenticidade e o

primeiro lugar Garrett. K' a cunho pessoal do sentimento.ele, sem dúvida, que Gon- considera o fazer versos umaçalves Dias deve a constante questão do "coração solitário-,preocupação da pureza da Íin- a dor do mundo que domina .gua, como o conhecimento do arte de Musset, como lambem o freqüente na obra dc Gonçalves"verso solto". Do mesmo modo pessimismo de Vigny deviam Dias, da jovem que chora semcomo o grande português, Gon- nele tanger cordas aparenta- poder explfcar a sua arueao, ouçalves Dias dispensa o máximo das. .Mas sobre todos aqueles da virgem sonhadora, que pro-cuidado à escolha dos adjeti- predomina a voz poderosa de cura consolo na solidão, acham-vos Esforçam-se ambos pela Victor Hugo. se .paralcliasmo3 .nas Femuesmaior fidelidade possível em A influência de Victor Hugo d'automne (V. XVI c XVII). t\face da realidade, procurando sobre Gonçalves Dias é mani- poesia XII da mesma coteoa/>representar da maneira mais festa. Deparámo-la tanto no contem uma imagem de esferapalpável; recorrendo ao maior conteúdo como na forma, e a diferente, que deparamos em Anúmero de sentidos possível, o tal ponto chegou que' na poe- Noite; as duas compostçflra tra-que há de único e original nas sla golçalvlna' há passagens 11- zcm a Idela da luz dssaUa^brim-percepções. Para isso valem-se terárias emprestadas a versos te do dia, e da noite que faadas mais delicadas diferencia- de Victor Hugo. Llmitemo-nos a ver uma infinidade do novosções da adjetivaçao. Outra pre- citar alguns dos argumentos mundos.dlieção comum aos dois escrito- mais evidentes: Aiem disso, o pensamento,res está no emprego de expres- Ao Orlcntales, portadoras de amplamente desenvolvido liíirsoes tiradas do vocabulário todas as exterioridades propu- y. Hugo, de que Deus disiribuieclássico. Alem disso, nota-se gnadas pelo romantismo e em m sofrimentos com equidade eainda um po to de contado que ase baseia a fama de v. Hu- ,je ÍU,a a íor representa um cie-quanto á Inspiração. Ambos são go como primeiro romântico mel)to g0 piano divino da Cria-tomados de violentas saudades francês. Influenciaram Gonçal- çio_ d6via encontiar éco na ai-ao comparar a pátria com a ves Dias de variada mins-t. ma flo nosso poeta. Deu-lhe aterra em que tiveram de viver Basta, para evldenclá-lo, um mais pr0[Unda expressão emtemporariamente. Do mesmo simples confronto entre o pre-ro . "u? o Dorcuguès Garrett, fánio das Orientales e o dosque sofria com a monotonia das primeiros cantos. Dentre oscampinas suaves e desconsola- poetas que conheço, o mara- raià"p"imeirâ"vra"nã edição dê

Espera. Esta poesia, por certo.de uma das mais acabadas doromântico brasileiro, apareceu

Lcipzig (U57). Um ano ant-i-shaviam sido publicadas as Con-templations, em que V. Hugo

doras dos prados de Inglaterra, nhense foi também o ún'co queo sulamericano não se família- adotou a forma externa derlaa com o clima isnero da Eu- j^es djins, de Victor Hugo, apli- ,^„ ,_.. .......ropa. A compreensão de Gar- cando-a a uma de asuas poemas representou dc modo tão per-rett pelas aspirações naeiona- intituladas A tempestade. Com Ie>t0 M suas at,ribulacões ih'»-listas do romantismo faz voltar essa desjriminaçaão - como oue g(jaJ jy^y/..^ admit rque («40a atenção de Gonçalves Dias dramática da trovoada que, apoj a'sua'divulgação, as Coit-para a exploração artística da anunciando-* a grandes ws- têmnlations caíram nas mâoirica tradição portuguesa. E* t&ncias por meio de um ralo. se ,je Gonçalves Dias, e que ele fi-

^^^ muito impressionado pc'

**' Ssi*j !

provável que o maranhense vis- vai avolumando sempre maisse na Vida de Camões, de Oar- atc chegar à sua violenta irniprett um modelo ttue o induziu cão, para depois decltnar nova-a compor as Sextilhas de Frei mente até que a última gota,Antão. Hão se deve esquecer "Hesitante e trêmula", caia datambém que Garrett foi um dos folhagem, o poeta demonstrouprimeiros críticos que desde rnals uma vez, como em todoinício compreenderam o toIot ttm grupo de poesias, & sua von-do romantismo brasileiro. Acon- tudo de adaptar a forma daselha, como Denis na França, obra de arte ao conteúdo,os tovens brasileiros a não mais p possível, ainda, que ricaImitarem os ooeta.s pseudo- exploração de assuntos orien-clássicos de Portugal, mas tais, observada em Huno, se te-oro?urarem. na sua próoria nha refletido em Gonçalvest«>rra e nas suas' próorias tra- Dias. Aprovelto-os em Stümlra.dições, motlveso de Inspiração em algumas visões, em Agar noorigina!. E* necessário chamar deserto e em Flor do amor.atenção igualmente para a ísu- lembremos também que a pre-gestão de Garrett de se estuda- dllcção do nosso poeta pelo em-rem os grandes ingleses Sha- prego de nomes soantes e me-kespeare, Scott e Biron. nos comuns remonta passível-

O Incentivo recebido por mente a Hugo.Gonçalves Dias, quando joven: Gonçalves Dias era lgtiaj-poeta em Coimbra, de Feliclano mente perfeito conhecedor dede Casttmu, o tradutor ao Les «it-w et les ombresFausto, e

4-ersos dessa obra. O seguintefato confirma esta suposição.As Estâncias inspiradas ao va.te maranhense pela morío tíesua filha levím a data 1" d»março dc 1M1 e foram comeos-tas cm Manaus. A poesia só setornou conhecida depois damorte do poela. Mais tarde, oseditores dos Cantos incluíram-na. sob o titulo do A mirtha ft'lha. no grupo das Saudade».Não sugere í.íso a idéia de quoas eleglas de Hugo ã morte d«sua filha, e contidas nas Cort-templations, tenham incitadoGonçalves Dias?

Como obras de arte, é difícilcotejar as Contempiaiions comos cantos, porque são muito di-ferentes. Há neles, todavia,uma série de traços comuns.Respiram a mesma viveza do

_ :%^T£%LZ ^« ap^sen^gVande «to, e °£?%£$.era sobretudo de natureza ideal figura do anjo que guarda o so- em uns e em outras «senyol-e não diz tanto a respeito aos no, imagem freqüente nos ver- v«n:s?;/S,',Jot„1!,«™i"*Sltrabalhos literários destes por- sos hugoanos. A poesia Se Que. ravri fideUdade tem« empres-tugueses. Estimulavam a gera- res que eu sonhe Tem encimada todos à vida rral? »"»»«'"»çtíS nova a estudar a literatura por versos de Hugo; na ultima revelam a mesma preocupaçãoalemã, que deixou profunda estrofe dessa produção encon-impressão em Gannaives D4)s. tram-se até dois Tersos empres-

tados ottase literalmente ao es-crltor francís.

Compare-se:Para a sua atividade ulteriorfoi, por certo, de especial im-portância os louvores que osdois expoentes portugueses, dis*pensaram ao jovem brasileiro.

Do mesmo modo como seuscompanheiros de letras, tambem Gonçalves Dias se interes-sou pela França. Chegando aParis, travou relações pessoaiscom F. Denis. Este o apresen-tou às celebridades de Paris

"Vem junto ao meu leito, .quan-[do eu for dormindo

Que eu sinta os perfumes queretraias passando"

Oom:"Oh. quand le dors. viens

pela pureza da lingua e tia for-ma? uns e outros apresentam,finalmente, grande abundânciade expressivas imagens, qus na-da conteem de artificial.

Como última fonte da infltt-ência de Hugo sobre a poesiagonoaívina. no concernente aoconteúdo, deve-se mencionar oPreface de Crom»eI GonçalvesDias — do mesmo modo queMagalhães e Porto Alegre, seuseminentes contemporâneos.

fprés de ma couche considerou e analisou, em trê3te EuropaTem- geral. A. H. Leal Et qu'em passant ton helaine poesias e em multas Ppssaf™acentua que Gonçalves Dias ex- fm* Umatie. ." «parsas, o preceito, at formaprimiu a sua gratidão áquels lado, de que o poetaescritor-francês pelos estímulos As Idéias fundamentais

lado, de que o poeta deve terdas eonciência de sua alta respon-

Pauis, 23 de agosto de 1S8J.Am." A. HenriqueIT mentira! nüo morri! nem morro, nem liei de morrer nunca mais

— Na>n omitia morior! — como diz o mestre Horacio.T?nho jornais do Rio, Bata e Pernambuco, que me çmprestarao, e

iegii-^io Lodos cies — Mortuus «st pintus in catra!E iiá3crologios então?!... Um colega escreveu:

D-rus mim tw-esso d'amor,Ao poeta soberano.Deu-the por berço o equadorE por túmulo o oceano!

ITata-aSe da minha deftmtisslma pessoaf Passa fora!O coso é que, deiwis do meu Infausto passamento, vou passando sem

maior novidade. Aconselham-me que vá para o estabelecimento hidro-terápico de Murienbad. Partirei breve. No entanto, escreva-me, quan-do não tiveres muita preguiça, par» qualquer das nossas Legações. emParis ou Bruxelas.

Desejo muito a «coleção mais completa que se poder arranjar de no-tf cias fúnebres, necrológios, etc, o que se tiver publicado acerca da ml-nha mcrle. Corta o quo me disser respeito, escreve ii mp-rgem o nimedo jornal, dia e lugar da publicação, e subscrita com tudo Isso para aminha falecida pessoa.'^mbranças aos teus, dá-me noticias tuas e se nio tens lt:ao4'almas doutra mundo, aceita um abraço

do teu do C. Gutahm Dias

>w«idade e de soa elevada pro-fissão.

(A shrx pofHfe* án (íoncalvei OíAfcSeparai* 4* "«•visU do Arqaivr»",n. XL a VUVl.

que recebera oom a leitura de duaas poesias sâo, porem, com-suas obras relativas à natureza pletamcnte diferentes,br^iileira Compare-se. ainda, o Nao me

No tempo em que foram com- deixes de Gonçalves Dias eom a... v. os pri-i-jros Cantos, já poesia XXV1T dos Conts tftt Cre-estavam eserltíis todas as obrais pv,"~i:in.primas do romantismo francês. Muitas descobertas desse gí-p exerciam uma enorme in- nero podem-se fawr em Fettif-fliténe!.i sob»e a geratjão da Ic» d'automne. Encontra-sé pépoca. Mão é- factl discernir ex.„ em Por nm ai a mesmaqual delas Impressionou mais idéia fundamental que prevale-profundamente o nosso poeta ee em A une femme (xxu),Pois, como num foco, conver- com a única diferença que o" m no r."\t co-^cão r>s r^tos oue brasileiro a sentiu de maneirapartem das obras dc Chateau- ma«s de'ic<>da e sõbrn. Pertt'."-hriajnd, de Lamartlne. de Vignv, temos, também, se o conteúdo rIy„ e perfarão do eslurd» Mtts^et. de Hugo e — como dos atados versos : ...demonstra Nogueira da Silva —

"Nascer, lutar, sofrerEis toda a minha vida"

OPINIÕES SOBREGONÇALVES DIAS

deSainte-Beuve.Ohateouhria"d contrtbue rtara

que o poeta dirija o seu olharpara a natureza selvagem, enão veja o aborígene no-"'Itamento. como escravo ouh:.M?m degenerai».

p*o <•-•" •*<¦ "n-i ™«v". estrofeir t*«j-~ ¦>"*

"Héias, naltr; --"•V"'' ra M-tsirant Ir aort,

DK FRANCISCO SOTERODOS RKÍS

O senhor Gonçalves Pias. ifiietino tem rival entre nó.s no colo-

1, é semrftíat-iVo pelo devido e acesoimoginar n primeiro lírico daépoca: e direi não só do Brasilcomo mais ainda nos dois pai-ses de líntjua- fntr-iqvesa.

(Curso (fe 1 '"¦ rtUtra Port»-citesa e Brasiteití — 186í>

Ê^SidÉÉ^Si

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PAGINA MB — Sltn.EMKNTO LITERÁRIO D'A MANHA

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'domingo, l/ll/IMI

MINHA TERRA TEM PALMEIRAS os primeiros versos(Escrito especialmente Põm

''Autores e Livros") - J* »"«« DE GONÇALVES DIASE' exagero afirmar que antes üt gano dele próprio: não sã no nor- Poetas Brasileiros da Fase Român-

Gonçalves Dias não havia poesia te existem palmeiras, e o pássaro tica, Manuel Bandeira, r>,poiado emdecididamente brasileira. "Com cantor dolente, se encontrar numa Capistrano de Abreu, wcrevc que (Insertos num folheto comemorativo de vma lesta de eslu-ele achava enfim o lirismo brasl- palmeira onde pouse, não vai dei- lhe "parece inadmissível é querer .,„. . ¦, /¦ „. i j iuti ã nleiro. a sua expressão mais eml- xar de cantar entre as palmas so «liar o indianismo romântico a «antes Vrastlcuos em Loimtira, em J tu maio ae lòtl , jvllielionente, a sua feição modelar, nun- para contrariar o Poesta... simples influência de Chateau- publicado por Joaquim Duarte Lisboa Serra e descoberto emea mais. se náo atingida, excedi- A simplicidade pungente da can- briand e Fenimore Cooper" (pág. i i*hnn *,„- M,i**nvl Ap K*ium Pininída", diz José Veríssimo com çáo do exilado teve uma repercus- 15).-E transcreve parte de um ar- '-"""*¦ r<" «•"num ur jouai rmmjexemplar entusiasmo, que deve ser sâo nativista. Tínhamos palmei- tigo de Capistrano, de 1875, emaprovado: um lírico .sinceramente ras e sabiás, e parece que ninguém que o historiador acentua que "onacional. Não obstante, o lirismo sabia disso! E o cantor que vinha indianismo é um dos primeirosdc Gonçalves Dias inegavelmente dizer essas outras coisas bra-vllei- pródromos visíveis do sentimentomuito deve a Garrett, com o que ras, apresentava-se com uma des- que enfim culminou na indepen-voltamos à influência ultramarina, tinação racial: tinha no sangue dencia: o sentimento da superiorl-o Iusd transmitiu-lhe a mestna mistura das três raças tristes, ÍI- dade a Portugal", e que "a ver-no manejo dos decassílabos bran- lho de portugueses e de uma ca- dadeira significação do indlanls-eo.s e de certos metros combinados, fusa ("aquilo que chamamos no mo è dada pelos contos popula-notadamente cs de dez. seis e qua- norte, donde era, cafusa, isto é, res", — "esses contos, tendo portro sílabas, e um lirismo... coin reíultado do cruzamento do índio herói eterno o caboclo e o marl-uma certa contenção lírica, imu- com o negro". — escreve Veríssi- nheiro".ne do desça bela men to dos habituais mo: entretanto, que eu saiba, emdesesperos românticos, . Pratican- toda parte tal mestiço é denoml-do menos excessos, Gonçalves Dias nado cafuso).ficou comn o maLs sincero; ou me-lhor, como aquele que exprimiu "Vivem homens de pel¦ua sinceridade de um modo quevai resistindo à capacidade de Neste solo, que a vida embeleza;compreensão do futuro. Escapam Podem, serves, debaixo do açoite,

Nénias tristes da pátria cantar!Mas o índio que a vida só prezaPor amor dos combates, e festasDos triuníos sangrentos, e sestasResguardadas ao sol do palmar;

da influencia ultramarina as canções, mas aquelas em que maisvoluntariamente se despiu dc ga-Ias do estilo, atingindo um prodí-gio de simplicidade, como a famo-sa Caução do Exílio. E ainda boaparte daqueles poemas e aquelas Ocioso, inciolente. vadlo,poesias em que, através da musi- Ou ativo, incansável, fagueiro;calidade rias medidas preferida- Já nas matas, no bosque erradio,mente impares, se e.sprala uma Já disposto a lutar, a vencer:emoção nova, temperada às vezes Ama as selvas e o vento palreiro, do heróico, o culto da lealdade,de eloqüência tropical. Isso nos Ama a glória, ama a vida. mas beleza moral do tupi do 1-Jiica-leva à verdade gonçalvina: o in- [antes Pirama ou de um Perí: a superio-dianismo. Que viver amargados instantes, ridade no nativo sobre o íorastcl-"Quando, em 1830. Antônio Pere- Quer e pode e bem sabe morrerI* ro se exerce pela manha, pela ar-grino Maciel Monteiro traz da Eu-ropa os primeiros ecos do romantis- (f^ p^ma Tabira)

Aquilo que para o estrangeiroera exótico, para nós era o endô-tico, se assim se pode dizer, o quepode explicar o mecanismo rio re-

cor da flexo aqui das correntes literárias[noite européias preocupadas em procurar

temas longe rios países em que fio-resciam. No entanto, numa contes-taçào ousada e sem nenhuma ira-portância, a Bandeira e Capistra-no, nâo acredito que a.s narraçõesfolclóricas tenham influído dire-tamenle no indianismo romântico,depois da palavra de ordem vindade outras terras — para que seexplorasse literariamente o selvt-cola. Ao que sei, ao que tenho il-do, falta a esses contos o sentido

Entusiasmo ardente marrel>aie;Elcvc-se o meu estro, e a minha lira,Que, obscura, atéqui gemia opressaSob o peso d'angústias, só ressoeCom sons festivos, ecos de meu peito.— Peito que ha pouco frio, agora pulsaFogoso, e se dilata qual o incêndio,Que, de centelha apenas duvidosaErguido, num momento abrasa os bosques.

asecn-que o

Bio europeu, ele é recebido no Bra-¦il com entusiasmo. Mas não com At^ j^^ agrada-nos i¦urpreza. O Brasil já eslava roman- áént.isl raclal d0 selVagem. .. ..... .tizaito. É rato que nao admite mais mulato se recorre rxrti. despislar aeontestaçso. Alguém ja o disse su(i orjeem afro-lusa. Nada deü1!? T™'„_Í2? -X?"™ ?* ruie.1^ """gue «te negros, que se dobra-n «_—»___ .„ „,, « ^^ ^ escravidão (e que reme-

dio?). Sabemos que o índio prefe-ria morrer a escravizar-se e que,

ram. O Pindorama era jà, haviatrês séculcs, uma obra românticateiia pelo Criador. E, por isso, porque não classificar o Pero Vaz deCaminha como o primeiro dos ro-mãnticos da terra de Santa Cruz?''Com o hábito de reunir, um pou-eo irregularmente, artigos de re-vistas e jornais, poa-o transcrevertssse trecho de umas Keminiseéii-ffiia« do Kio, publicadas na revistaVamos Ler, pelo sr. Adolfo Mora-lies de los Rios. As suas afirma-

timanha, pela esperteza, pelo eu-godo. E para esse objetivo, che-gam a idealiiar os próprios bichos,e náo apenas ao Índio ou ao ho-mem da terra.

O que já tive intenção de mo»-trar, como relação a GonçalvesDias, me parece muito mais lm-portante: o indianismo, a que seentregou de alma aberta, já lhe ee-

,„„,,,•.. ,. „m.-....™.-« r ¦,¦«=, •***"¦ "a "•""¦; **• •"-»«-«•: <'Wria aescravizado, morria. E sabemos «""ciência dessa predestinação.

sobretudo que isso era devido a um «esponae ao índio..-stágio muito rudimentar daquelascriaturas, em face do nosso crité-rio de civilização, habituados aonomadismo e à indolência, defi-

"Oh! não — sou como tu — tenho(na terra

Livre o pas.*» — tenho a mentenhando desde que fossem forçados _ [livreq cc fi-vnr » a froholhar Pr>lr\ í.nn- * BmlO !a se fixar e a trabalhar. Pelo con*trário, o negro já nos chegava comuma civilização muito acima da-

cies são bondades de articulista. „„,,,„ Não adianta: agrada-nosporque nem tudo era romântico muito mais „ mistura Ao «anguepor aqui. tomado o adjetivo comoum superlativo generalizado. Ado-tendo o seu ponto de vista, pode-

tupi... A escravidão do africanosó podia inspirar versos de pie-dade, como veio a acontecer. Ao

a imensa extensão dos céus,[dos mares,

E o verde escuro das compridasf matas,

E a fonte e o rio — e o bosque e at terra — e tudo

Que a vista alcança c vê — tudo[que a mente

riamos chamar de nossos primei- msso „ue a gitancria dos st.i'vico- Ardente poetiza alem do espaço'. dizer je ^ mesmos:

^m viva, meu s eleve e se mistureA tantos vivas vossos, penetradosD'esperança, d'amor, d'entusiasmo!Também um voto meu! que cm prol do Povêindependente já, num grado a infância,Dc Deus se eleve ao trono, como a precehumilde e ardente d'amoroso filho, ,Que a ventura do Pai suplica a medo,Atente Deus, propício, nesse voloVe ventura e de paz o monarcaQue, tão jovem, no sólio toma assento-:A disfarçailo peso sotoposto

D'áurea c'roa te sujeita um povo inteiro.Mâancebot tuas mãos vão calejm-seEm sofrear as iras do teu povo;lu ge meras co peso do teu tetro,E os teus- te invejarão m tua sorte íFeliz! se, no declive de teus anos,O encontrares então moral e puro —Feliz — que pássaras à eternidade,E, qual o sol brilhante ao meio dia,Que, depois de manhã, escura e feia,Ressentida de noite trovejada,E nuvens carregado prometendo,Acessos raios majestoso vibra.Tal o Brasil, de paz em céu dourado,Da glória no zemte tocando altivo,Pasmo difumlirá no mundo inteiro.

Idioma, quando eram capases de aqueles versos profundamente tns-românticos indianiHas aqueles

marinheiros das naus de Pedi"Al-vares, que toram os primeiros ho

Ias foi um tema poético de primei-ra grandeza nas mãos de Gonçal-ves Dias. E' certo que não lhes

(VisSes — O índio) -— Náo fugirei, reiponde-lhe Ita-[juba:

Nada de postiço no amor a na- Que os homens, meus iguais.Bens a deitar os olhos, exaustos ra!tava a* eles um certo sentido dode jejum da travessia, sobre a nu- he,pico dentro do primarismo. no tureza e ãqíicles"que vivem dentro fcaram fitodez das índias pmdoramicas, en- Cl,]tó ,ja guerra, nas ceremónías da natureza, cm estado natural, que O sol brilhante, e os não deslum-aergando-as como beldades impe- rte paz p n0s próprjOS sacrifícios não seria o de inocência absoluta ,h™ " t-DÍn" —caveis e realizando aqui, sem um antropof&?ic(\s, convencidos de que "preconizado" em Rou.sseau e simCamões que os celebrasse,^quase com a cítrne dos prisioneiros ga- o da fortaleza de ânimo, da cor»'

gem para a luta:

Ibra o raio"

(Idem, ibidem)

pirados:"Morto, é morto o cantor dos metia

[guerreiros!Virgens da mata, suspirai comigo!"

(Kénia da Virgem Indiana AMorte de Gonçalves Dias, cm Ma-miei Bandeira, Antologia citada,pág. 223).

JOÃO ALKONSUS"Um' dia vivemos!O homem que é forteNão teme da morte;Só teme fugir;No arco que entezáTem certo uma presa,Quer seja tapuia,Condor ou tapir".

NOTA — Ob versos transcritoss&o tirados à edição popular dePoesias Americanas e os Timbira*

Quanto as outras contribuiçõesraciais do seu sangue, aquela quelhe trouxe maior pigmentação apele e aspereza ao cabelo, seria a _ ._ oqu» mais lhe amargaria * vida, zéiiováiverde, 1939, Riocriando um impedimento à reali-«ação de um amor que. como sem-pre, resultaria em versos behssi-mos:

{Canção do Tamolo)

uma repetlçõo do desembarque dn nllavam 0 vaior destespessoal do Gama na Ilha nos amo- Mesm0 usando da liberdade poe.res* tica, permitindo-se elevá-los ain-

A despeito desses primeiros ro- da mais, o Poeta anotou, na pri-mãnticos. nue proliferaram, a meu- mitiva ediçfvo dos Primeiros Can-talidade Hterftria brasileira conti- tos, quanto às Poesias Americanasnufi-»:s ,; :; nu Eur pa, E' v.r- "Estes cantos, para serem com-

*i-< *•-; q;i» tvatn- preendidos precisam de ser con-ram da nossa natureza e dos nos- frontados com as relações de via-:,. , , uií um hi.do m- genf, que nos deixaram os primei*deslinavclmente europeu. Acediam ros descobridores do Brasil e cnem falar no índio, mas castigavam viajantes portugueses, franceses edemais o vernáculo para mostrar alemães, que depois deles se se-ao intruso que ali não era o lugar guiram". A meu ver. mais do quedele. Nsão se deve extremar os ia- à decifração de vocábulos dotos: o sentimento nativista re- Nlieengatú que surgiram nos poepontara aqui e ali, mas quase sem- mas. ele enviava o leitor ã verifipre em roupagens européias. Lon- cacüo relativa de uma realidade menos castiço, em numerosos tre*ge de celebrar o heroísmo ou a vi- que o seu estro poetizava numa chos, por exemplo:rilid^df dn indígena, naquilo que extrema perfeição de sentimentos, Oh' »e lutei mas deveraperdurou se nota" preferência pelas — coragem, nobreza, desprendi- "— Em verdade és Cantor, és des- Expor-t* em pública praça,índias, excessivamente embeleza- mento, de que é melhor exemplo [ses meigos como um alvo à populaça,das. Mocma ou Lindóia inspira- aquele I-Jnca-Pirama, poema que Filhos do ao!, amigas do silêncio, Bm ajTO „,, ditfrios seus?"ram algum; versos bonitos, a co- se destaca para mim numa lem- Aos quais almo Tupá visita emBieçar por aquele que ficou como branca de imortais belezas, como (sonhos?" jjj^ ^ p^p dUVidar deam refrão imorredouror para todos aqueles que em certa sinceridade assim exposta.

época plástica da vida leram a an- (Visões — O Índio) despida de ornamentos literárioe. liu cheqo a adorar aquele </m--Tanto era bela no seu rosto a tclogia escolar de Bilac e Bonfim. A, snas úorKt com0 as sus» «au- i;h,.:,„'„ t„lr,,i„ w, r: /),»< ,

[morte..." No romantismo brasileiro, o que *— Fomos aos Plagas, perguntar da(les chegam até nós pelo poder """""» 'atento ac t,. um..,

maLs me caufa satisfação (como [que males (je uma arte qUe quanto. mais sin-De repente, chegou Gonçalves qualquer outro patrício condensei, Noe 1 murava o arcano — embalde cera mais pr0cura a simplicidade

"Deste-me amor, e a vidaQue me darias — bem sei.

Na nossa mania moderna do do- Mas lembrem-te aqueles feroscumentário, prefeririam»-* M»it va Coraç5cs que sc mcstcramseus Índios falassem um português Entre nós; e se venceram,

Bem sabes quanto lutei!

uma

OPINIÕES SOBREGONÇALVES DIAS

DE f-ONÇALVliS CRESPO

Tenho lido porte do segundovolume e toda a biografia domaior poeta brasileiro, gue lar-de ou nunca será substituído.

Dias anunciando:"Minha terra tem palmeiras,Onde canta o sabiá..."

Era o cantor do indianismo. des-pert.indo o Brasil para a existen-

é fl verificação de que. entrandono Brasil como planta exótica, setransformou em notável movimen-to nacionalista, principalmente namusa de Gonçalves Dias. Não "São torpesaconteceu o mesmo com o chama-do movimento modernista, dos

lite.

[o fomos!"

(Idem, ibidem)desde aquele esquema da palmeira

do sabiá...

íia das palmeiras e do sabiá, que nossos tempos? As correntes lite- [pascem:¦ anroximava do índio. Houve rárias do após-guerra, na Europa, Somente o sabiá geme sozinhouma reação de ceticismo, contes- eram uma fuga desesperada para E sosiinho o condor aos céus re-tando-se-lhe que as palmüceas o exotismo, para o primltivismo, Imont.i".existissem em todo o pais e que para as explorações do inroncle»-nbik nntane entre as suas pai- te. Refletiram-se aqui, porem pa- (Os Timbiraa - Canto primeiro)ínas Mostrando como levava ra criar um novo nativismo,' revê- ...Sério as observações que ;e lhe fa- lar a riqueza dos temas pcéticos Mas, a nao ser que falassem

"Não permita Deus que eu morraanuns que emI bandos folgam, s'em qu'inda aviste as pàimeiràs

'maus os caitetus que em varas onde canta o sabiá..."

[pascem:

E veio a morrer num naufrágio,ao regressar de uma das viagensa Europa, quase à vista das ter-ras natais. Per que não escrever —ã vista dns terras? Quem é quepoderá saber? Com 05 olhos

jeno as oDsirv»v

yteI)q*iou nulI)a brasileiros, animar os poetas ao sua língua própria, da qual, aliás, corpo ou do espirito, certamente o roso c im55?' •/» iiíeliilr «Canção do Exl- patriotismo. Poderia colher indi- o Poeta publicou um vocabulário Poeta morreria contemplando as Durão. OIlOra, ao JJILIU ,.nnA~- ,?;<-.-» **^r noi» rnnricmicini IVnf-ahiilãrin lia T.inrUii Tiltti T.pI- *ni*»1tnpiras riíi litoral iír> nnrlp >:olio como a peça Melai w^_J££ cações disso nos vates modernistas (Vocabulário da Língua Tupi. Lei- palmeiras do litoral do norte, se

potente criador da poesia nn-cional, e o entusiasta contar dasepopéias brasileiras. Ele nãoera só o inspirado, era lambemo sabedor profundo da lingua, edos seus múltiplos segredos. OsTimbuas são a. prova disso;os Timbiras, gue podem semdesvantagens travar justas como Camões e a D. Prunca, deGarreiI, pos.to que em gênerodiferente, e com aquele nume-

magnífico Caramuru doue pena que nfio sc

jwição, ou como melhor se chame. ]

JjSíl," *£"»»¦«>"%(?.

BnuU". EB~ Mo prefácio da sua Antologia daa para a laia wlenemenic pura do sis, "vate

de tão escuta inspiração.

Assim concluísse obra de tanto valor

mente idealizados, tinham razão de que inspirou a Machado d? As- (Punlcon Maranhense — l&!\)

'runtm — «Rio Laeemert, que nos pareçam mais personalis- pzig, 1858, apod Veríssimo, Histo- Deus lhe ouviu a súpll

!S5« »o!,an<1n eu ecmDüs esta tas. mais fechados consigo mesmo: ria da Literatura Brasileira, pág desapareceu, em matéria pereci- arlislico!1846). **"„^; „"lhor se chame, seria, entretanto, fugir ao tema 248), os seus seivicelas. tão alta- vel, o nosso maior Poeta, tão gran

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' JrjkS/íilUtl, DOMINGO

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RDPLIMRNTO UTHUBIO D'* MANHA — PACIWA »W

UM GRANDE POETA ROMÂNTICO BRA-SILEIRO EM COIMBRA - George Roedets

ANTONIO GONÇALVES DIAS carrega-se disso. Esta, recusan- çalvcs Dias. Foi a ele que Ando a pensão que os membros tónio dedicou seus "últimos

cv.1 -™ i„ihA „m iam mura da Municipalidade poderiam Cantos" (1851). "O que eu sou..át d?£mfnaV »™W "»ter do Estado em favor de escreveu ele na capa deste ulti-Ei oue Anttai ?ÕoSeawL Dias Antóni°. en™» >»ra Coimbra, mo livro, o que eu lui, a ti o de-Sr™?Ata™Sr com »uas modestas posses, vo... E agora que minha obraL1?.!0™.!.™ SE^JKS.™: bastardo de seu marido que ela está emmeçar seus estudos universitã-rios. O futuro grande poeta bra-

parte terminada,educava ao mesmo tempo que para mim um dever de grati-

-„ .„h» ,,m ™.«, ri» seus filhos, com muita dedica- dão, dever para onde me le-Ble.ro era então um. rapaz de ^ f di(,n;dade °» vaIn ^^ £ ,orças de minha

quinze anos, mas pelo rosto epelo talhe, ele aparentava serainda mais jovem. Para che-gar à "doce Cidade de Mlner-va", como diz Eça de Queiroz,ele acabava de fazer uma lon-ga e penosa viagem, tendo dei-xado o Maranhão, sua terra na-tal, três meses antes, a 13 dejnalo. E quando, antes de che-gar á cidade maravilhosa de sã-bios e poetas, a cidade ondiFerreira, Sá de Miranda, Ca-

Desde sua chegada em Coim- alma, escrever aqui teu nome,bra, onde o tinham precedido — como teu nome será sem du-brasileiros já célebres como devo... E agora que minha obraOdorico Mendes, João Pranc.s- o último que meus lábios pro-co Lisboa, Francisco Sotero dos nunciarão, e que, em minhaReis e tantos outros, Antônio agonia, se desprenderá o últimoGonçalves Dias encontrou um de meu coração",certo número, de compatriotas, Antônio hesitou a princípio,alguns mesmo do Maranhão, por orgulho, depois, sob as in-como ele: Serpa Pimentel, João sisténcias de seus condiscípu-

nírtí^nírip de Lemos, Couto Monteiro, Xa- los, acabou por aceitar esta ajn-« „. „,rlr,rf!, n» vier Cordeiro. O Brasil tinha-se da amiga. Ele residiu sucessl-

Ferreira, ba ae Miranda, Ca- náo com violência da mãe vãmente, no Colégio dos Loios,moes, Almeida G""", Casti- ^ ^ cia Paláclos ConIllsos> n. i08, comlho, aplicaram-se ao estudo.da de a amar nào um de seus companheiros, de-poesia e onde compuseram seus de Unjversidades é ^ com um outr0i um poucocantos os m«s celebres o me- *£

Portugal que os brasi. mais tarde, na rua do Correio,-IS^,^ leiros confiavam, formação in- n.^

^ ^ q ^... ... _, .... _„-._, oiiLumu msrrt.r»-». „™ v, .... toso estudante uma vida estu-

escritor brasileiro dessa época, 7 «colégio das As- diosa e apaixonada ao mesmo-um farol que indica a» esta- tes„ „,;, Wo ent> Lulz temp0.dantes o porto de seu destino , Inàcj0 Perreira iaUnista nota- Entregando-se ao estudo doele julgou realizado o mais am- ve, e {eiU) conhecedor das direito, consagrou-se igualmen-bicioso dc seus sonhos. literaturas clássicas. Este mes- te e com êxito ao estudo das

Antônio considera-se, e com tra contrastava, na opinião do línguas e literaturas francesa erazão, um puro brasileiro. Nas- aiUno, com um outro professor, inglesa. Naturalmente, a litera-cera. com efeito, nos arredores 0 bondoso abade Bernardo Joa- tura e a poesia portuguesa nãodc Caxias, a 10 de agosto de quim Simões de Carvalho, sob são esquecidas. O poeta então1823, mas, para bem dizer, filho c..Ja direção o jovem se Irrita- em voga em Coimbra era Joséde um português, João Manuel va por não fazer grandes pro- Freire de Serpa Pimentel; esteGonçalves Dias, comerciante cs- gressos. fundou, em 1838, o "Teatro aca-tabelecido alem mar havia mui- Entretanto, - -, •_._¦•tos anos e, bem mais, em uma cujos professores notaram mais tarde, a "Revista Acadecasinha abandonada no fundo apreciaram desde togo o espíri- mica", que desempenhoudas florestas onde este último to vivo, as respostas prontas, as papel tão importante no movi-se refugiou, com sua compa- conversações brilhantes e mento das idéias novas, politi-

«rvatóriodominando a Univer- ^^TmoSlde ^inh^«idade tei como desci everaum Antônjo inscreveu.se> sob 0 nu

A esposa do poeta. D. Olímpia da Costa. Era cunhadade Benjamin Constant

Não é também da França que Memórias de Af apito Goiarri,estudante, dêmico", de onde saiu, dois anos |j,e chegam, sob a pena de Fer- cujos três grossos volumes ma-..„_....... .—dj. djnand Denis, alguns conselhos nuscritos foram lidos por seu

u™ precisos de independência lite- biógrafo em 1846. A Canção dorária <5). Em seu Resume de Exílio figurava num dos capí-

__. ,.. _ _ IHistoire littéraire du Portugal tulos deste livro, sendo algunsnheira, em seguida às lutas pela qUem chamavam "o esperanço- cas e literárias. Os defensores ti flB Brésil (1826) o sábio con- fragmentos publicados em 1842,Independência (1822), para es- s0 menino do Maranhão", estu- do romantismo, Alexandre Her- 5ervador da Bibliothèque Sain- nos ns. 1 e 2 do Arquivo, jornalcapar ás perseguições de alguns dou tanto e tão bem as mate- culano, Almeida Garrett, Anto- tf_Qeneviève de Paris escrevia, do Maranhão (7). O autor des-de seus compatriotas já enrai- rjas da teórica, da filosofia, das nio Feliciano de Castilho, teem -uatr0 anos após a proclamaçaõ truiu esse manuscrito em 1854,lados ao novo solo e que, mais matemáticas elementares, que, uma influência considerável da independência brasileira, por várias razões de convenlên-que eles, se julgavam brasilei- após um ano, já se achava bem sobre a formação do jovem es- que 0 Bras;_ -deve enfim ser li- cia.ros. Por outro lado, sua mãe, Vi- instruído nos "preparatórios" critor. A Garrett deve ele, sem vre na sua poesia como já o eracência Mendes Pereira, que ele exigidos para entrar na Faeul- dúvida, sua constante preocu- em g^ g0verra)". Gonçalvessó conheceu muito tarde, quan- dade de Direito, onde ia matri- pação de purismo. Garrett foi Dlas que devja? majs tarde,do já tinha mais de vinte anos, Cular-se em outubro de 1839. um dos primeiros críticos euro- quand0 de sua estada em Paffs,era uma pobre mestiça, filha dc Antônio é já um poeta. Can- peus que compreenderam o va- conhecer pessoalmente Ferdi-Índio e negro, "servante-mai- ta. Com o coração torturado por lor do romantismo brasileiro, nand Dgnjs. disse-lhe o - que,

O ano escolar que sc segul'1.1842-1843) foi, sem dúvida, oem que Gonçalves Dias maistrabalhou, como estudante ecomo poeta (8i. Escreveu então

...«™ ~ ...~e.-, «»,««-. « -— —— -—- . ,. ... a maior parte das pecas quetresse" bem depressa aban- vezes de saudades, seu Brasil em termos quase ic.ent.cos aos dcsde csse tempo, ele devia a f0rmam a coleção dos Primeirosnada por uma esposa conside- longínquo, "pátria da luz e das de que se serviu o francês Fer-rada mais digna, Adelaide Ea- flores", "sua terra que tem pai- dinand Denis, a nao maus imitarmos de Almeida. metras e onde canta o sabiá", os poetas pseudo-classicos do

Um dos poemas compostos nes Portugal e a procurar em seu

sua obra. Cantos e as que foram publica-A reputação de Antônio, como das no tomo I das Obras Posto-

poeta, é consagrada definitiva- mas. Acrescentemos ainda doismente entre seus condiscípulos.

Assim, pois, Antônio Gonçal- sa época de sua vida e que será próprio país em ^s próprias Em maio de .^ a aclama(.^

dramas românticos em cinco- .. __, -„ t-.ui luaiu nr lon a «umninvou atos: Patt Kull, inspirado por

ves Dias "descende de três ra- colecionado em 1857 no volu- tradições, motivos de inspiração _ '

ças que formaram a raça bra- me intitulado "Cantos", ficou original. Alem disso, ele deu "j-^j^ "j^,, que

*eíe reci- XII. da Suécia, e Beatriz Ccnci

sileira, a portuguesa, a india- célebre no Brasil e e conhecido exemplo. Em um romance que ^ durante um banquete orga- <9) e, conforme o que disse Leal,na, a africana, das quais her- por todos os escolares, como o ficou incompleto, Helena, oes- nizado , estudantes brasi- um longo poema e um romance¦ ' .... _ .-- - natureza e as planias <- „_„„,-„ „„¦-_,. ™>. ¦» manpira «ie Inv.nhc nrlnrm»dou as tendências principais, são, em França, certas fábulas creveu.a•Aos Negros, escreveu Silvio de La Fontaine.Romero, trazidos da África pe-lOS mercadores de escraVOS, ele Minhíi terra tem primore»deve esta expansibilidade de que Que tais nso encontro eu caiera dotado, esta alegria que Ja- Em cismar — sozinho, à noite,mais o abandonara e que se en- Mais prazer encontro eu ia:Contra especialmente em SUas Minha terra tem palmeiras.cartas. Aos Índios, ele deve as Onde canta o sabiá.xr.elancolias súbitas, a resigna-ção, a indiferença com que en-carava os fatos e os acontecimentos à mercê dos quais

leiros nessa ocasião. Muitas pe- à maneira de Josephe Delorme

Não permita Deus que eu morra.Sem que eu volte para lá; t

SC Som que desfrute os primoresQue não encontro por cá;

palmeiras

(C&nçáo 4o Exílio)

do Brasil que nunca tinha vis- primeiros Can- de Sainte-Beuve que, um e ou.

»fD^s'como^diplomáS) st- Gonçalves Dias quer então Tem certas discussões desa-pindr» que poudf oteer?ar na aproveitar as fenas escolares adaveU ^ „ padre LllizMadeira e nas estufas dos jar- Para vlsltar Llsboa e s™s "' Teixeira, professor de direito ci-dffis botânicos (2) redores, com seu amigo A exan- u propóEito de alguns resu-

Ouvia a Alexandre Hcrcula- ^ Teóíil° ^al °s d01s Jovens mos redigidos por esle último.noQ acreditou muío mau no embarcam em Figueira da Fo, ^^ ertifctanl... entre os quais"uturo

literário do jovem estu- °W.S Je ter repartido tudo o le se ach envlam mesm0 umadante de Coimbra do que, pa- aae tlnham com ul" compa" "representação" ao governo aSece em um movimento poé- "heiro sem recursos. O percur- ^ respeit0 e travaram «maíico quT, sem Sda! lhe pa- so por mar ate Lisboa fo. horrl- polêmica viclenta nos jornaisrpcin bastante falso tanto em vei- Ueaen^aaeoii sc un.« tre- iocais c acadêmicos, o proles-ui ambçSS como em algu- "-enda tempestade. Os viajantes 50r vinBa.se deles. e. em parti-

mit d TsuaTpr^eiraTmani- «veram que sofrer sede e fome. culat. d0 la. nos exames do.uni, punir oo Tiveram por companheiros, vm- fjm do an0

dos do porto, soldados embria- ....^ ¦ Antônio apaixona-se. agora,festações. E si proclamou publi-camente que os Primeiros Can-

Mas eis que em outubro, J4 tos de Gonçalves Dias consti-prestes a matricular-se na Fa- tuiam "um belolivro, obra ins- rante a noite, no meio de dis- P?r uma >*la filha de Coimbra,

-- - "de rosto de mármore". Esta

lou de uma inteligência e dc poeia viu-:uma sensibilidade extraordiná-rias. Aprendeu a ler muito de-pressa, e devorava com paixão,

gados e criminosos, os quais du-rante a noite, no meio de dis-cussões, tentaram evadir-se. EmLisboa, que o encanta (6), ele ,visita os museus e as bibliote- seus mais ardentes poemas 'cas, inicia-se no mister de an- mas P3580'. CO!n° uma 'magem

..„.„.,(i„„ t„,».,..,,r,,,Hn ru, sobre as águas doDurante as férias da Páscoa,

díixava arrastar facilmente.Aos Portugueses, ele deve o bom sem guinda aviste isenso, a clareza e a singeleza de O""" «¦"» ° sab,â-idéias, a energia da vontade,umas preocupações imaginárias,um certo idealismo indefinido,impalpavel". Ele foi "a flor"item

ceto o mtS tVnSe'. culdade de Direito, o estudante- pirada de um grande poeta ^^'^^"ênelirta'.»); ele Pai*a° inspira-lhe alguns depoeia viu-se bruscamente pn- que a Terra de Santa Cruz... i™*^? UJ„°„T" . .. kimÍm" seus mais ardentes-poemas'101,vado da modesta pensão que re- podia orgulhar-se de um dccebia do Brasil. Adeus, proje- seus mais üustres filhos" (3), ^d'^^;^"7r^lüentando"ÒB s""™ M aS'las do Montlego".

„ „...„„, tos; adeus, estudos. Foi então ele exprimiu, sobre a tentativa ™t™at£"loteavam en- Durante as férias da Páscoa,ao mesmo tempo que a Histór.a que quatro de seus companhel- de Gonçalves de Magalhães Jg»^ ™**f

^ J ™ novo amor em Formozclha. nos

do Imperador Carlos Magno e ros brasileiros, cujos nomes co- P^ra criar uma espera brasilei- ™°B , fusha dc sua £, arredores da cidade un.vers.ta-dos do» Pares de França, de nhecemos, se cotizaram para ra com a Confederação dos Ta- ^ _ ^Vasco de Lobeira, seu livro pre- lhe permitir ficar em Coimbra, moios, sua opinião claramentedileto a História de Portugal, Um deles escrevia mais tarde, desfavorável em um estudo am-de Laclede e a Vida de D. João lembrando-se deste episódio: da inédito endereçado a D. Pe-dc Castro,' de Jacinto Freire. Para nenhum de nós isto era dro II. Imperador do Brasil (4).Aiudante dc contador na casa um pesado sacrilicio. Com três Gonçalves Dias e seus cond.s-comercial de 'eu Dai ele sn moedas por mês os estudantes cípulos, entusiasmados pela li- _,_,-_.tem umT desejo- estudar Tam- viviam então como príncipes e teratura, dirigem suas vistas reside a nia de Sao Cosme nu- hem «>ii Dai' oue iá lhe todos quatro dispúnhamos de para a França, onde, a esse mero 5. Tendo recebido algum Asapilo mr. intitulado Umafardar aulas de latim c de uma mesada bem superior a tempo, o Romantismo chegava dinheiro de Caxias, queria dis- p.igilla de álbum e onde a inve-frinci* nensa tanto para rea- três moedas". Este que assim ao apogeu. Vitor Hugo, Lamar- tribui-lo com .seus companhel- ia'amorosa é analisada comolizar mais facilmente o desejo 'ala, Alexandre Teófilo de Car- tine, Vigny, Beranger, Alexan- ros; estes recusam e o obrigam em nenhuma outra obra litera-de seu

'reoucno prodígio como valho Leal, tornou-se o amigo dre Dumas são, um pouco ao a comprar livros. ria-*• ' Vónria saude mais querido e o confidente do acaso das leituras, seus auto- Estuda o italiano, inicia-se em 0 an0 escolar

deira. c. sem a intervenção de Jiai novos poemas Ulseu amigo leal, te-la-ia dec;:o-sado.

No início das aulas em outu-bro de 1841, de volta a Coim-bra, matricula-se sob o n. 1-, e

"Sc nãofosse tão pobre, ter-me-ia casa-do", escrevia a 24 de janeiro de1844 a seu amigo Leal. lembran-do-se deste episódio doloroso desua vida de estudante. E' aestes amores que ele faz alusãoem um trecho das Memórias de

para refazer sua pri _ ..__ .... 1843-44,desde'muTto' abalada

"em voltar poeta até seus últimos anos; ele res prediletos. Os autores ro- uma nova literatura, aprend- consagrad0 aos cursos de mate-

Sara Portucal Poi tu-al sempre será seu executor testamentá- mãnticos da Alemanha e da In- de cor numerosos fragmentos maticai foi muito brilhante paralembrado Ele morreu <13 de ju- rio; mas ainda, seu filho será, glaterra lhes chegam às mãos de Tasso, de Ariosto, de Dante, crives Dias. Então, a linguanhfdc 1837) antesde execuíar um dia, o biógrafo .1) e o edi- por intermédio da. traduções

£?££~«»j>"L-^gJ ^ m ^ ,eguM,)aeu plano; mas sua mulher en- tor das obras póstumas de Gon- Irancesas. moso lomance mutobiogral*». ttonima» aa pag-s ssum—j

.. -ri^jr^i...

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paoinv ns — ttvn kmunto i.itmumho »*a manha noMiNoo, vil/mi

Um grande poela ro-maníico brasileiro em

Coimbra(Continuação da pagina anterior)

e a literatura alemãs atraemmais particularmente sua ateu-Cão. Sob a influência dos traba-lho.s de Ferdüiand Denls, in-fhiência já especificada, ele e-»-creve seus primeiros poemas deinspiração indiana: O romperd alva 113.». A visão, u índio(141, Coral e Jacaré, estes do;.súltimos ele os leu para seu ami-go Leal e nunca os publicou. Afama do poeta cresce dia a dia eespalha-:ãe fora do círculo uni-versltário. O visconde de Casti-.lho, à vista de alguns pequenosmanuscritos do jovem brasileiro, mostra-se entusiasmado epede para publicar alguns des-tes poemas na Revista I^sbuen-se. Gonçalves Dias recusa umatão honrosa proposta, querendodar primeiro o original de seustrabalhos literários a revista.1;, ouJornais de sua pátria. Entretan-to, Castilho aconselha-o quecontinue a cultivar o gênero"indianista"; Gonçalves Diasescreverá as Americanas,

No fim do ano escolar, Antô-Hio é "bacharel" em ciências ju-ridisas.

Perde, porem, o ano de 1844-45. porque nào se lez inscrevera tempo. O paladino, com efeito, vi(i-,se obrigado a ir a Ge-rez para exigir reparação de utnprimo que ofendera uma de suasírmãí\ filha natural de seu pai,e que ele não conhecia. Tendopouco dinheiro, decide entãovoltar ao Brasil só com o graude bacharel, e ainda sem dipio-ma, pois não dispunha da áo-ma suficiente para o retirar.Antes cie deixar Portugal, visitaO Minho, Trás-oa-Montes, umpouco da Espanha. E' duranteesta rápida viagem, que e.e escreve o.s poemas reunidos sob utitulo de Visões (15), A escra-ra (l*ji. A desordem de Ca-«ias il7).

No íim do mês de janeiro de1845, embarca no Porto a bor-do do '^Castro II", tão despidoãe recursos que se vô obriga-do a prometer pagar o preçode aua passagem na chegada doporto.

E' aí desconhecido, sem pro-tetor; ele sente-se, apesar detudo, oriundo de uma raça umpouco desprezada. Se crè ern seugênio, por outro lado descré deseu futuro. Sua vida será cut-ta e dolorosa, e eia terminará,Tinte anos mais tarde, em umtrágico naufrágio. Muitas vezes,ele se volta, a consolar-se dasaventuras de sua existência,para a Coimbra de sua mocida-de. E .se o poeta, de tantos can-tos sublimes. do.* Cantos e d'OsTimb-ms conheceu, ao menosapós a sua morte, uma glóriamerecida, é, em grande yarte,a Coimbra, que a deve. Portu-gal. Coimbra deram ao Brasilseu mais digno, seu mais elo-Quente poeta.

fl) Dr Alexandre Teáfilo Leal: Pw-thcfin MiUáinshFnge, t 111 . coiu-agrartom Antõnin Gonçalves Dias, (Lisboa.Imprensa Nacional. 1374).(2) Veríssimo: ('.stml».' tle lit-Rraluriifcrr»Mltir-~, 2* séri«, VI, pafis. 169-182<3) Revista Universal Li-ritoin-n-* —(1847-1*481. to-no 7, p. 514) O autor deste ensaio pretendeToKar a falar sobre c**e documentoInédita) ti de grande importância para«h letras brasileiras em um trtballinssinais conipieto onde ea.se estudo serápublicado integralmente.<5í Georges Lc Gentil; FerdüiandDente, inieiador do» estudos portu-guese-i e brasileiros (BlblOâ, Coimbra,Ju'ho-asost», 1923). O estudo do eml-¦ente professor de Literatura aporUi-

Íuesn e brasileira na Sorbontie é o

nieo completo que Ja foi escrito bo-bro Ferdlnand DcfiU.(6* "Gosto de passear sozinho e des-Conhecido pelas rua* desertas ** si-íencio-sas de Lisboa. Gosto de desíru-tar a viraçSo de unia noite de luardepois de um dia abafado. Gosto deContemplar parte da cidade dos Ca-»dó Sodrê. os edifícios que ae acaste-Iam e que m desenham moje-stosospelo mar, pelas casareircunvizlrthas,figurando objetos estranhos e gigan-tescos. Gosto de me embarcar em umafalua, correr o mar. contemplar alua que se espelha vocilante na su-perneta polida das acuas. Os ^avloiaue jogam descompassados como ocavalo que escarva a terra impacien-te de eorrer — • ¦obre 'ul*. • *•» *•MUta que ecoa triste na solidão da¦saltai * acorda aoll outras voa». Srao»

GONÇALVES DIASDescanço, oh! lutador, que assás tutasttr*Uajuçalves Dia» — Cimlo ítiaugiuiU

Dorme, Poeta. Ao som da voz brilhanteDo teu s-c-pu.cro — ai> som vt& íorteOiula <\n mar; — dorme atinai ua morte,Oh lulaaW, vencido e triun íaiitc!

Deus. ao te dnr o âmago ari|iiejaritcDo mar, aos ventos (úyuliies do noite —Eternizou a lua augusta surte1'ois fc-la «nina a v:ij>a eterna e errante.

Rcpimsa enfim no pélago estrelado,No teu vasto sepulcro ihmiin.ul<>.Tu que as glórias da vida conqiiistaste.

Embalado nas moles ondas ccrulas,Entre os rúhros corais e as brancas pérolas.Descansa, oli lutador, que assás Intaste!

LUIZ GUIMARÃES JUNIOR

OLHOS VERDESSão on3 olhos verdes, verdes.Uns olhos de verde mar,Quando o tempo vai bonança;Uns olhos còr de esperançaUns olhos porque morri,

«ue, ai de mi!Nem já sei qual fiquei sendo

Depois que os vil

Como duas esmeraldas.Iguais na forma e na cõt,Tem luz mais branda e mais

(foi te.Diz uma — vida, outra — morle;Uma — loucura, outra — amor.

Mas, ai de mi!Nem já sei qual fiquei sendo

Depois que os vil

Sâo verdes da côi do prado,Exprimem qualquer paixão.Tão facilmente .ie hllliiniam,Tão meigamente derramam,Fogo e lua do coração.

Mas, ai de milNem ja sei qual fiquei sendo

Depois que os vi!

Sã» uns olhos verdes, verdes.Que podem lambem brilhar;Não são de um verde embaçado,Mas verdes da côr do prado,Mas verdes da côr do mar.

Mas. ai de mi!Nem já sei quai fiquei sendo

Depois que os vi!

Como sc tè nma espelhoPude ir ler nos olhos seuslOs olhos mostram a alma,Que os onriu-s ijo<*í3.-.? em r.UmaTambém refletem os céos;

Míth, ai de mi1.Nem já sei qual fiquei sendo

Depois que os vi!

Di».ei vos, ó meus amigos,Se vos perguntam por ml,Que eu vivo só da lembrançaD? uns olhos côr da esperançaDe uns olhos verdes que vi!

Que. iii de mi!Nem lá sei qual fiquei sendo

Depois que os vi

Disrei vós: Triste do bardo!Deixou-se de amor findarViu uns olhos verdes, verde»,Uns olhos da côr dn mar!Eram verdes sem esperança».Davam amor sem amar!

Dteet-o vós, meu» amigos,Oue, ai dé mi!

Não pertenço mais à vida

GONÇALVES DIAS

A GONÇALVES DIASCelebraste o domínio soberanoDas yrmules tr-ibus, o tropei frententeDa f/turra bruln, o entrechocar insanoDas lacapes vibrados rijMttente.

O maracá e as flechas, o estridenteTroar da inúhia, e o kanilar indiano...F., eternizando o povo americana.Vives eierno em teu poettta ingente.

Fstfis revoltos, largos rios, estasZonas fecundas, estas secularesVerdejanles e amplíssimas florestas

Guardam leu nome: e ts lira r/ssr fnthasl»Inda se escuta, a derrmnur nos aresO estridor das baialhus que cantaste.

OLAVO B1LAC

vozes e-rtrtnffelra-i: mM que importa?incu coraçãu as (intendia, eu tambémerã pmscrito como cies e como ele»taínbem suspirava por um túmulo nalerra de meus pais".(7) Bst-íS lraf.inrj>t«s foram ivmmi-mente ifiseTt(»s no tr>mo n, daa Ohfa»Fófltunu*- „„ _ ,fS) Ele mora nra rua Sao Salva-dor, .170.(0) Estas dua* peva* formam • l."tas«n* daa OTaaaa raatanua.<1«> A Inocência, poesia publicadans TTrovador" (outubro de 1W).jornal da Coimbra uatcamente -

ffratl i à poesia, e incluída noa Cantoa(!> edição. 185T, p. 33); Qtudrtn deminha vida, p. 47; Amor,' Delírio, Cn-gauo, p !3«; tlaudad», p. 34.til) Minha Tida c meu* amores, noa"Primeiro* Canto**', 2." edição, 1B57.p. 41112. Oaraa PMvia» t Itt. pa. 10»a IfiS.<13) Primeiros Cantoa <1M0-}, p. »S;Cantos (lHaW». p. IM.(Hí Ohraa Pattomai, t. I. p. 91.(ISI CaMaa («60. ig.aH(Ut otataa raatiiam. tl(1T> Maasa.

MARA BA*Eu vtvo siwiinha; ninguém me procurai

Acaso feituraNão nou dn Tupái

Se algum cl-entre os homens de mim não ae osconda,Tu és, tne respoude,Tu és Miirabá!

Meus olhos &ãu garços, são cor das safiras,Teem luz das estrelas, teem meigo briltuulimitam as nuvens de um ceu anilado,

A.s coros imitam das vagas do morl —

Sc algum dos guerreiros não foge a meus"Teus olhos ssio garços"Responde anojudu: "mas és Marabá:"Quero antes uns olhos bem pretos, luzenteg,"Uns olhos fulgentes,"Bem pretos, relintos, níw> cor d'anajá!**

E' alvo meu rosto, da alvura dos lirlos:Da cor das areias batidas do mar;As aves mais brancas, as conchas mais purasNão tem mais alvura, não tem mais brilhai.

Se ainda me escuta meus agros delírios;6s aiva dc lírios".

Sorrindo responde: "mas és Marabál""Quero antes um rosto de jamoo corado"Um rosto crestado"Do soí do deserto, não flor de cajá".

Meu colo de leve sse curva engraçado,Com hastea pendente do cactos cm floriMimosa, indolente, resvalo no prado,Couto um soluçado suspiro de amorl

"Eu amo a estátua flexível, ligeira.Qual ''uma palmeira".

Então me respondem: tu és Marabá!•Quero antes o colo da ema orgulhosa,Que pisa vaidosa,"Que as floreas campinas governa, onde esti".

Meus loiros cabelos em ondas se anelatn.O oiro mais puro não tem seu fulgor;As orisas nos bosques de os ver se enamorara,De os ver tão formosos como um belJa-florl

Mas eles respondem: "Teus longos cabelos,"São loiros, «são belos,Mas são aneladoã; tu és Marabál"Quero antes cabelos, bem Usos, corridos;"Cabelos compridos,"Não còr d'oiro fino, nem cór d'anajlu

S as doces palavras que eu tinha eá dentroA quem n'as direi?

O ramo d'acacia na fronte de um homemJamais cingire.l

Jamais um guerreiro da minha arasoyaMe desprenderá;

Eu vivo sozinha, chorando mesquinha,Que sou Marabá.

GONÇALVES DIAS

afl Íbk ' ^ÊBs^-^ÊC^^b^^-^^^

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JOANNA OLYMPIA. a fiUta de Gonçalves, Oms./oi leito no dsss de tua morte — -

¦ -si-aa-' .¦¦y^T,..-'-.,í.,

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BPJP(P'r ' iwnP-rn

ivtttm, I »•»'«*•«¦*¦ —

GONÇALVES DIAS, PROSADORMEDITAÇÃO

CAPITULO E o ofendido, velho e curva- sua derrota e observa atenta- tos — livres, eomo o simonm marcar por «ma como dmâmi-do sob o peso dos anos, cruzou mente os astros — porque jul- dos seus areiais. ca c terapêutica social.

... Os braços musculosos, apesar da ga que um vento inimigo o le- "E os bizarros brutescos da "E ele vos diria que ante»velhice, e deixou pender a ca- vou às costas d'Âfrica. arquitetura gótica representam que os helenos curvassem a ia-Iwça Sobre o peito. E conhece pro fim que esti a vida — porem a vida mulli- beca ao jugo otomano foram

E após um instante de silèn- no Urasil — na terra da liber- plice e variada; e a agulha dos guerreiros da "lliada" — os de.II cio profundo, arrojou-sc aos pés dade, na terra ataviada de pn- seus templos figurava o infi- Maratonia e Salamina, c os sã-

de um ancião dc cor branca, mores e esclarecida por um céu nito, e o seu cimento indestru- bios tio tempo dc Péricles.Então o velho estendendo clamando justiça com voz aba- estrelado e magnífico I tivel traz à lembrança as idéias "E antes que os romanos pa«-

mão descarnada e macilenta to- fada. Mas grande parte da sua po- mais puras da moral — Deus sassem meia vida nas suas ter-cou as minhas pálpebras. E uni dentre estes, na flor da pulaçiio é escrava — mas a sua e a imortalidade. nas perfumadas, c antes qut.

E as minhas pálpebras cinti- idade, ergueu-se iroso entre o riqueza consiste nos escravos "E os pagodes da China, ou fossem os autores de moles se-

Jaram como sjentindo o contacte homem dc cabelos brancos e o — n.as o sorriso — o deleite do a pedra druidica no meio das renatas e de cançonetas de.de ulil con» eletrizado. preto injuriado que pedia justi- seu comerciante — do seu agri- florestas gaulesas, ou mesmo.as amor, foram os conquistadores

E diante dos meus olhos se ça, e o lançou por terra. cola — e o alimento de todos inscrições e imperfeitos dese- da Gália, — da Ibéria — c <li

estendeu uma corrente de luz E o ancião de cor branca, os seus habitantes é comprado nhos dos vossos Índios na su- Escandinávia, e os senhores do

suave e colorida, como a luz de que, longe do bulício do mundo, à custa do sangue do escravo! perfícic lisa dos rochedos do inundo conhecido, e os artistasuma aurora boreal. havia meditado longos anos, E nos lábios do estrangeiro, lapurá, dizem mais e são mais de Leão X.

É o ancião me disse: "Olha soltou um suspiro das profun- que aporta ao Brasil, desponta belos que os vossos edifícios "E antes que os bretões w«lo norte ao sul do ocaso ao dezas do peito. um sorriso irônico e despeítosu sem expressão, nem -sentimento! dessem à orgia e à íntemperan-

nascer do sol 'té onde al- E os elos da corrente, que — e cie diz consigo, que a ter- "E o esseravo não pode -ser ça depois das sessões dos seusancir a luz dos teus olhos maníetava os .homens de cor ra — da escravidão — não pu- arquiteto, porque a escravidão parlamentos, antes que dessem

dize-me o que vês", preta, soltaram um som áspero dc durar muito; porque ele c mesquinha, e poique a arquite- ao mundo estupefato o esjicu».-F o seu cesto era soberano c discorde como o rugido de crente, e sabe que os homens mra, fillia do pensamento é li- culo das suas fantásticas extra-

t emendo como o gesto de um uma pantera. râo feitos do mesmo barro — vre como o vento que varre vagâncias, foram os companhei-„«... ;*>rit<wtn E eu vi que esses homem sujeitos às mesmas dores e as terra. ros dos reis — Arthur — Hen-

pionítiCil iriiuwa ... .j-i-» r\- r-i'E a sua voz solene e grave tentavam desligar-se das suas mesmas necessidades. "E o escravo será negligente rique — c Ricardo, e os tiloso-

voz do sacerdote, que cadeias, e que dos pulsos roxea- e inerte, porque não lhe apio- fos e literatos do século XVI t

osalmeia uma oração fúnebre dos lhes corria o sangue sobre veitara o suor do seu rosto; do século XVII.noite de enterramento. as suas algemas. "E sabes tu — perguntou-me porque a sua obra não será a "E os gauleses também fo-

E eu levei os meus olhos dp E vi que o ferro resistia as o ancião — por que as vossas recompensa do seu trabalho, ram os guerreiros de Breno—do ocaso ao nas- suas tentativas; mas também vi ruas são estreitas, tortuosas, porque a sua inteligência é li- os companheiros de Luiz-o-

, 1 »|£ onde eles al- quc a sua raiva era frenética, mal calçadas — e por que as mitada, e porque ele não tem o Santo, de Iíayardo — o último respondi: 1ue ü saiígue que lhes, manava vossas casas são baixas, feias, amor da glória. cavaleiro, e de Francisco — o

"""Meu nai veio diante de das feridas cerceava o ferro co- sem elegância? "E o homem livre dará dc rei cavalheiroso, e os homens

.y,.',.,,., nrn<lii.inssa ex- mo o enxofre incendido. "Sabes por. que são vossos mão ãs boas-artes, porque não de Luiz XIV.mnis oinos uma prinH^1"3™ *-•»» ,. . , ltr, , 1 1 -j 1 jt A terreno- é por ventn- palácios sem pompa e sem gran- quer ombrear com o escravo, Passaram todos da. idade tia

\ prinde império lao IV . ... deza, e Os vossos templos sem que é infame e deshonroso. força à idade da razão; do rei-

Trinde" «naco me parece que E o ancião me disse: "Afasta <%™dadc e sem religião? "E não se dará às artes méca- nado das armas ao reinado da

«.'cerra os olhos dos homens que so- ' Sa,*s P°r <lue c miserável a nicas, que sslo o emprego do li- inteligência, poro depois ador-"E as árvores, que o son.- frem, c dos que fazem sofrer. vossi> marinha - e por que se berto e daqueles que não sao mecerem sobre o fruto dos seus

breiam são robustas e frondn- como dc um objeto impuro, " °.ffan^"*° 1ue aP°rta «"homens. trabalhos, como o v.ndmiador

Z _ como se desde a criação volVe-os em redor* de ti". Bras',? E ™> « *»« a marinha, junto aos cestos que ele mesmo

Presenciassem o incessante vol- E eu afastei os olhos .lesse "E' porque o belo e o grande- «se potente veiculo do comer- enchera dc apet.tosos cachos.

ll,Ts séculos. espetáculo lutuoso, e volvi-os é filho do pensamento - e o no e_da cmlização, porque a Naq assim vos que sois"E a relva que o tapisa é den- em redor de mim. pensamento do belo e do gran- «rmha esta inçada de escra- uma anomalia na ordem social,

sa e aveludada; e as suas fio- E vi algumas cidades, vilas de é incompatível com o sentir vos como o que nasce adulto eom os

m melindrosas e perfumadas, aldeias.disseminadas pela vasta do escravo, . E sc os seus vestidos roça- v.çios e as fraquezas da idade

Tas suas aves canòras e bli- extensão daquele império, como E o escravo - é o pão, de «ma opa do escravo ou a es- provecta, e com o ceticismo do

LntesTomo as suas flores. árvores raquíticas plantadas cn V* vos alimentais -as telas, clay.na do liberto, ele os sa- homem pervertido.«E o céu que cobre essa ter- deserto infrutífero. <!»<' vestis _ o vosso pensí..- <sud,ra com asco; e se a sua mao -E „âo tereis vós de retro-

n. bendit-i é sereno e estrelado, E nessas cidades, vilas e al- mento cotidiano - t o vosso tocar amigavelmente a mao do „,,„ ^ nlesn)0 caminho p„rTnirecè refletir nas suas cores deias havia mu fervilhar de ho braço incansável! escravo, ele a cerceara do pul- unde agora di vagais - ou vos

fuWntes o sorriso benevolo mens, velhos c crianças, corren- "Vè as piràmids do Egito - f>

~ ,f".o pois o cliamara co- ,ançou Deus sobre a terra por *.

carinhoso de quando o Criador ,|0 todos em direções diversas, sarcófagos gigantescos, que Ia lefi-l-! que servisseis de lição ao por-suspendia nos ares como um e com rapidez diferentes como se vão perder nas entranhas das, VI vir e de escarmento as geraçoc»

rico diamante pendente do seu homens carentes de juizo. nuvens — tão elevadas como o "Um*dia aparecestes sobre a luturas?!"E as suas ruas eram tortuo- mais elevado pensamento. terra com todos os vicios de

•F sobre essa terra mimosa, sas estreitas e mal calçadas — "Vê os templos gregos, cuja uma nação decadente, como se Vil

Dor baixo dessas árvores colos- como obra da incúria — e a* elegante arquitetura buscava houvesseis vivido longos anos. E o ancião falava ainda, po-ia|s — veio milhares de ho- 5uas casas, baixas, feias e sem assento cm meio de vales dele.- "E nem sequer provastes rem o meu pensamento nao o

mens — de fisionomia discor- elegância, não rivalizavam coin tosos, harmonizando-se com c aquelas amargas lições da èxp<i escutava, que os meus olhos sc-

des de cor vária e de caracte- a habitação dos castores. céu da Grécia, e com a fertili- riência, que as nações colhem guiam um objeto horrível corno

res'diferentes '

E os seus palácios eram sem dade e vida da sua gleba! durante a sua existência politi- u talvez de um grande infortu-"E esses homens formam cir- pompa e sem grandeza, e os "Vè nas cúpolas árabes - cn, bem como os homens du- nio.

eulos concêntricos, como os que scus templos sem dignidade t essa floresta dc colunas de mi) tante a sua vida! Como Laocoonte, sofrendo

a pedra produz caindo no meio Km religião. «°»s - rodando em um peris- E como a juventude - o.- terríveis agonias, concentrava

das acuas olácidas dc uni lago. E os seus rios — obstruídos tilo circular semelhante as ten- gulhosos e fatuos — julgais todas as suas forças para livrar-"E os oue formam os circules por alguns troncos desenraiza- das das tribus nômades e pa- que todos vos obedecem se dos anéis vigorosos da ser-

externos íeem maneiras submis- dos - eram cortados por jan- triarcais. quando a todos vos sujeitais; pente que o enlaçava.

sas e VesueHosas são de cor gadas mal tecidas, ou por mise- "Ve os templos da idadc-nie- lulga.s que ex.stis - quando Como no meio-de uma habi-

nreta- - e os outros que são Vavcis canoas de um só toro dc dia, essas epopéias do Cr.stia- so.s meramente prelúdio de vi- taçao que arde, o homem -F ' , . . . 1 [or. nia<]c|ra nismo — com os seus zimbonos na—- um feto giganteo que co- louco e delirante — agarra-seconio punhado de orne , „.'„. ~rin(tes vilas c al- volumosos — com os seus ram- meça a desenvolver-se debaixo às traves em braza meio comi-tnamln o eentrn de todos os cir- c nessas cmaui.», nua \, «¦ _ ,.,,.. , , .*.... .1 ..,..-,-¦ .ailos, teem maneiras senhorís c deias, nos seus cais, praças e pananos terminados em. agu- da. mtncncia poderosa do sol das pelo incêndio e nao^sente

arroi-ante™ ™

são dc cor bran- chafarizes - vi somente - es- Usas sutis e afiadas,, que elevam dos trópicos. a dor do fogo que lhe ro, a car-*> '

ravos! ° pensamento alem das nuveps. E sc possível fosse que un. ne dos membros.^"F

™ homens de cor meta l

E à porta ou no interior des- "Esses túmulos — bem como dos grandes homens do velho Os homens, que sofriam, re-i* o» i«...u» «^ 1 1 -ol.d»rui,las e nes- as ruínas dos palácios e dos mundo — hoje se erguesse cn. uniram-se como um so homem,

teem as mãos presas cm longas ,a casas ml «^^^ _ ,os dc Mcn'fig _ reve!a,n mdo (,c vós

Jol]tros 1 (Io se„ „ soItara„, „ grito ,lorrisono,correntes de ferro, cujos aneis ses pala ,os sem elegância

j ^^ ^ ^ ^^ ^ ^vao de uns a outros — eternos escravos I » ' 1 « , . , • « * i

,j." „ ,i. r, „„ ..iro „„ debaixo das gravaram nas suas obras dcbal- no eterno, embalado pelos en dos.

naraafilho^»a° "* '

nafes dos templo" -& costas xo dos hieroglifos que os sacer- cômios das gerações que pis- E pareceu-me que eles sca iimos.

^ imagens, sem temor, dotes multiplicaram nà fachada sam, cie pediria os vossos anais transformavam em. unidade co-... J^mo

'lgm rcSpeito escravos! dos seus templos e nas paredes liara que soubesse que passo an- mu um colosso enorme e vali-

E nas jogadas mal tecidas dos seus edifícios. dastes nò caminho do progres do, cujo fronte se perdia na»

E eu filava ainda - quan- - e nas canoas de um só tom "Os gregos realizaram o lie- so e que bem fizestes á hurnani- nuvens, e cujos pés se enterra-H eu talava ainna quan ="..

_ escravos. _ e lo-ideal; c os áralies, tentando dade! vam em uma sepultura imensa,*> um mancebo imterbc san, dc n^eira

J*"™^,, rea,izi_, transformaram a suh "Porque eles sabem que a- e profunda como uni abismo,do dentre os homens de co. por toda^ parte

J* iro e tenda dc um dia em habitações nações formam-se, progridem. E o colosso tinto as feições

tt£tt£5££. ch^ a%m Aío"dò valo duradouras; porq*"ébí decaem com o «rimo. moi-i- horrivelmente contraídas peía

«feLir^ucrda in^» - Cdnsílla di nòvò a livres Mm:*~-ei*rmm*\*m.**~*Ím„m W«^ ««^*« -»*»• *»

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PAGINA tm — SUPLEMENTO LITERÁRIO D'A MANHA _^^ - PPMWÒÇ, 8/11/1M1

Ul. I /"^ r\. (Nâ cerimônia de abertura

m discurso de Uonçalves Uias^oLceu^N/íeróurn?^Deve ser festejada a primei- bo nada mais é do que o inte- cias forem geralmente sabidos e gue de que se nutre a civiliza- mo se ter sido escravo: — des-

Ta pedra que se lança nos ali- resse. Não falo da utilidade de experimentados, — onde a mo- ção. de então, senhores, dever-se icerces do edifício que há dc um ou de poucos, que c mui in- ral e a religião se infiltrem nos Não é só do ensino literário, contar uma nova era nos anaisatesliir aos homens que hão de dividual e mesquinha: é o egois- ânimos com o leite da vida, e de que trata o Liceu dc Nite- do Brasil: era de que estamosvir com a sucessão dos tempos .no; mas falo da utilidade de por assim dizer se identifiquem rói, cuja instalação festejamos bem longe, é certo, e oxalá queo pensamento dos homens que todos ou da maior parte, que com o sangue. hoje, nem sodas letras se ocupa, assim nâo fosse; mas seja-noso fabricam, e que hão dc passar diz respeito à humanidade cm Se tivéssemos de escolher en- que também a indústria c ás ao menos permitido esperar quecom o tempo. Embora seja o peso, e a que chamamos filan- tre um povo como aquele e uin artes mecânicas lhe merecem esta instituição tal qual é n.-ioedificio o símbolo de um credo tropia. povo como este, é certo que a dcsvelos e atenções: as artes, c deixará de apressar esse mo-religioso, que triunfa, ou o mo- As nações, como os indivi- escolha seria demorada c bem as letras achar-sc-ão casadas mento.numento de uma ação gloriosa duos, andam todos no caminho difícil, mas não creio que fosse aqui; e irmãs como são, e anil- Dora em diante sairão todosque se acaba de perfazer; seja do progresso; mas alguns pri- duvidosa. gas como devem ser, marcharão os anos do Liceu de Niteróiuma simples acumulação de pe- vilegiados, alguns indivíduos E' sem dúvida belo c majes- desassombradamente a par uma professores que hão de espalhardras, uma vez que a elas se cn raros que primam pela in- toso o fanal sobranceiro, que es- da outra: não é uma revolução, por toda a Província, c poi ven-corpi.re um pensamento de uti- teligência, adiantam-se neste pança as trevas i-« nv-o da so que se pretenda fazer, — é sim- tura por todas as Províncias dolidado e de grandeza — a sua caminho, c lá a derrubar as ma- lidão das águas, e cintila em plesmente uma imitação com Brasil, a instrução e o amorestréia é e deve ser festejada, tas, a aplainar montanhas, a nl- mil pontos naqueles mesmos dc- tão grandes resultados em ou- das letras. Hão de ir os novosou como festividade religiosa, velar o terreno, que o povo há sertos, rivalizando com as es- tros paises que também a deve- apóstolos da civilização pelascu como festa nacional, ou co de galgar um dia de um só pu- trelas dos céus e com a fosfore- mos começar pela nossa vez, q cidades e vilas já povoadas o|tmo o triunfo de um principio lo, guiado pelas corporações que ciência das vagas. O marcante que já começamos efetivamente, longa data, e por terras que;debcmfazL-jo, que se proclama em não são, neste caso, senão cn- no silencio da noite consultará Mesmo agora, entre nós, as novo se forem povoando, comlei exarada, extensa c cloquen- saios sucesivos da aplicação da agradecido a sua derrota, e artes mecânicas vão tradicional- a sua missão das luzes e do pro-temente nos majestosos e dura- teoria à prática, que não são se apontará o lugar, onde se ergue mente dc pais a filhos, como um gresso, que muitos usaram já,douras livros — as largas ta- não a extradição das utopias a luz benéfica plantada ali so- legado que nunca se há de au- e que nem por isso é menos ni-lhadas na pedra. dos espaços vastíssimos da ima- bre escolhos pela mão providen- mentor: seguem os processos bre, nem menos desinteressada,

Se isso é para o edificio, assim ginação e da inteligência para a te dos homens. E' belo c das oficinas: — seguem-nos nem menos filantrópica. Aquitambém e com mais razão conje estrada mais chã, mais conheci- grande, material e irrcflelidamcnte, sem virão ter por sua vez os alunt.sctuio que de ser para aquelas da, mais fácil dos fatos e da Sim: mas é bem vantajoso, dar nem receber explicações. U que dessas escolas saírem -- ecriações, em que mais predo- realidade. bem risonho, bem ulil, — o ío- aprendiz que a seu bel prazer se se os não podemos guiar [iorminii o espirito do que a mate E' por isso que dissemos, lia go humilde que no cair das tre- converte em Mestre — não ra- todos os dêdalos da ciência, seria; — para instituições como pouco (c talvez que este princi- vas se enxerga dividido aqui, ali ciocina, porque ninguém lhe en- os não podemos fazer sondai eesiU| — de menor vulto, è cer- pio nos pareça mais claro assim pelas cabanas do vale, envolto sinou a raciocinar ou a jogar analisar com o escalpelo da cri-to, — mais humilde, também, formulado), que a utilidade das em fumo crepitando na lenha, a com os princípios da sua arte, tica, da reflexão, e do raeiocí-

mas não menos utii que a corporações depende da grande- curvar-se, a cnrolar-sc por bai- mas dentro da oficina ouvira nio; — havemos pelo menos, det outra, não menos fecunda, náo za do povo, e que a grandeza de xo de tnn vaso grosseiro pres- continuamente aquela voz que os iniciar nos seus princípios,menos rica de promessas, nãn um povo provem da utilidade tando-sc aos usos c aos misteres para o exercitar no seu oficio —havemos de abrir vastíssimasmenor cm suma; antes se a:; das suas corporações. Não são da vida: é bem digno dc ver-se durante o aprendizado, só tinha horizontes diante dessas imagi-colocarmos uma a par da outra, coisas distintas, são antes ge- o reflexo daquelo fogo modesto para lhe dizer: — Veja e faça! nações facilmente impressiona-se depois a examinarmos ateu- meas, — antes auxiliam-se mú- e pouco dispendioso, que bate Profissões por este modo veis, e mostrar-lhes-emos comotaniente, concluiremos porven tua e alternativamente por que em feições denegridas pelo sol. exercidas hão de, necessária- é que o pensamento sobe até atura <|iic a instituição humilde, estão na razão de causa para — cn. rostos aíadigados pelo mente embrulecer a quem as última das esferas, sem que

a modesta, mas bemtazeja e efeito, e a que é efeito agora há trabalho, que ali estão à espera exerce: as artes mecânicas a>- nunca se extravie no espaço. Jámeritória, é tão despida de apa- de algum dia tornar-se causa, da ração modesta, que lhe liu sim professadas ainda são uteia não será pequeno o resultado,rato, como magnífica nos seus Assim é com razão. Os po- naquele fogo, que a todos che- porque hão de ser uteis sempre, porque basta mostrar aos ho-resultados, — que é de mais vos não andam às cegas, os seus ga, c que alumia a todos. O mas permanecerão estaciona- mens a verdade para que eles aefeito no presente e mais cheia atos não são fatais, nem necessá- viajante que o vé de longe apres- rias. compreendam: basta mostrar-de esperanças no íuturu. rios; não chegam a uni grau ele- sa os passos para onde aquela As ciências também vagam lhes como c simples e fácil o

Dernoremo-nos com este as- vado de prosperidade por mera luz lhe está acenando com hos- pelo mundo das teorias e dr. caminho das ciências para que¦luntn, que não nos será inteira- casualidade, nem decaem desse pitaleirb agasalhado. imaginação, muito longe da rea eles o sigam cheios de avidez cmente ocioso o seu desenvolvi- estado por fatalidade. Os seus Ambos são uteis: seria bom lidáde. O aluno que sai da» esperanças.mento: façamos nós mesmos a atos são tão lógicos como detlu- possuí-los a ambos — o fogo nossas escolas sabe muito, sabe- Por toda a parte do Brasilconfrontação, e vejamos num ções que logicamente tiramos de doméstico para os viandantes rá tudo da sua ciência, mas jul um movimento profundo comu-rápido e sucinto paralelo, o qu'" uma premissa assim lhe deêm o farol majestoso, para os que ga talvez que é desbonroso om- nica-se às turbas e aos homensfaz o povo, quando uma força iim princípio sobre que ele'se afoitos se entregam às ondas do brear com o mecânico, ou en- que pensam: por toda a parte ointerior o agita, e o lança cou. exerça: assim seja ele esse prin- mar alto. Mas se nos havemos trar naqueles empoeirados lalx. povo remeche-se inquieto olb.in-mão poderosa e irresistível pa- cípio aplicado à prática, ou de decidir por um dos dois, qual ratórios, onde todavia se fundi: do para o futuro, c os homensra o círculo da ação e do movi- suponha ele apenas praticavel. deles será o melhor? Nem to- e se aerisola a riqueza das na- de inteligência agregam-se emento, e o que faz a corpora- A sua prosperidade provem dos nos confiamos das ondas, ções: assim — só escutará dão-se as mãos para melhorção, o fragmento desse mesmo do estado da sua indústria e da enquanto que todos andamos m» aquela voz que nas escolas Ilu* vingarem, a escada, da civiliza-povo, movido por bons instin sua ciência, e o exordio de to- mundo, como viajantes que pe- dizia: — Oiça e compreenda! ção, semelhante àquela outra es-tos, que se propõe alguma em- da a indústria e dê toda a ciên- regrinam sempre. As ciências assim aprendidas cada que Jacó viu em sonho,presa e progride no seu traba- cia são as letras, é o desenvolvi- Não há ciência por alta e su- hão de ser belas, porque são bc- com os pés na terra, e os ver li-lho mal apreciado à pura força mento simultâneo do moral blinie que seja que não tenha las sempre, mas inúteis, porque ces perdidos em nevoeiros. Forde vigilantes cuidados c de atu- do intelectual, — é a educaçãc seu princípio e razão de exis- nem as artes mecânicas podem ioda a parte soa um rumor con-rada perseverança. primária base primeira de todo tência nas escolas de ensino pri- subir até elas, nem elas querem tínuo — há um fervilhar sem

O povo vai direito a seu fim, os nossos conhecimentos e inário e médio. E' assim que descer até às artes mecânicas, termo, uma agitação crescente,os seus atos são violentos e princípio regulador de todos o~- havemos de começar por aprcn- Mas se ambas se fundem e de quando cm quando um cs-

desmarcados, — e a sua obra nossos atos, quer na vida públi- der o alfabeto, se queremos che- numa só coisa, ou se mutua* morecimento sem causa. O queterá estampada no frontispicio ca. quer na vida privada; e nao gar a ler nos astros. mente se auxiliam!... • será? — Alguns, aliás, entendi-o cunho da grandeza. A corpo- só a educação primária: para A civilização ê como um rio Senhores! Será longo enume- dos, dizem que é o tremor daração pelo contrário, titubeia isso também contribue podero- çaudaloso; — e as escolas pri- rar-vos as prosperidades das terra que anuncia a erupção demuitas vezes, — os seus passos samente a instrução interiné márias como a plebe sem conta primeiras nações do mundo — vulcão, e que está prestes uniião cintados e refletidos, — c. dia, e o ensino dos princípios de regatos, que afluem para ele e só primeiras porque são em cataclismo, dc que não sabemo seu trabalho terá o cunho da gerais das ciências, o que, pare- e nele se perdem. Admiremos primeiro lugar industriosas. se havemos dc surgir incólumes,utilidade. Mas não o descrimi- cendo de pouco proveito, serve muito embora o rio copioso Só tuna consideração vos ofe- ou se nos afundaremos nele.remos por tal forma que não em sumo grau para derramar cujas águas volumosas batem- recerei, que me nâo parece que Longe dc nós tal pensamento,haja alguma relação entre am- amor delas, — para lhes facili se contra as vagas, e compactas, a deva calar. Quando o opera- Esta agitação que se vc embos. tar e até fazer cobiçado o seu como um corpo sólido, rasgam rio principia a desenvolver a sua toda a parte e por todos os mo-

A combinação das forças de estudo. direitas o seio do oceano, mui- inteligência, há de também de- tivos pressagia, sem dúvida, umtim povo inteiro impelido em A civilização não se deve me- tas léguas distantes da costa, senvolver-se e apurar-se o seu grande fato que vai consumar.,massa para um fim, dissemos dir pela intensidade, senão pelo mas não nos esqueçamos dos eslado moral, — c com esta rc- Todo este clamor que ouvimos,nós, dá em resultado a grande- desenvolvimento e propagação regatos que correm vergonho- forma acabaremos conosco dc — toda esta inquietação queza; mas esta mesma grandeza das luzes. Embora um povo nos sos, e minguados por baixo do os menosprezar só porque são vemos não é senão um excesso

. traz consigo a utilidade. O tra- mostre um homem de engenho arvoredo frondoso, — dia e noi operários. Desde que entre nós de forças, é o vício e luxo dabalbo dc uma corporação labo- profundo: embora um ou outro te pagando o seu tributo no vo!- um homem de oficio conquistar mocídade, — a exuberância deriosa e inteligente, movida por instituto brilhe majestosamente ver das suas águas — lágrima para si uma posição social energia no mancebo que se des-boa vontade, dissemos nós tam- nas letras, e faça maravilhosas preciosa que vai engrossando força de indústria, de aplicação, mancha nos seus atos com obem, é utii; mas esta mesma uti- descobertas, jazendo o resto da tesouro do avarento. e de engenho, — desde que lhe aproximar-se da virilidade; élidade traz consiga a grandeza, nação nas trevas da ignorância, Assim também admiremos for permitido o ingresso em ai- em um palavra — o povo bra-

Assim que a grande vem '¦* terá, sem dúvida, caminhado povo, quando no auge da prós- guma das nossas câmaras, e qirc sileiro que se vai fazer homemBer utii, e a utilidade vem a ser mais para a civilização e prós- peridade o sol da civilização lhe nos persuadirmos que um ho- dentro em pouco.'grande. Não trato da grandezoi peridade outro povo onde a edil- radia a pino sobre as cabeças, mem pode chegar a uma posição Um fato desta ordem deve seraparatosa e fantasmagórica, fi- cação primária, mais desvelada, mão não nos esqueçamos das elevada, mesmo tendo principia- procedido por alguma coisa delha do orgulho ou da vã-glória; se espalhar por todos igualmeu- escolas primárias, dos Institu- do por ser um homem de oficio, extraordinário; — deve tal su-nem da utilidade como vulgar- te, ¦— onde os princípios cio tos intermédios, que são os re- como os chamamos, — e'que cesso ser seguido por um tra-mente a entendemos, que no ca- niciilares das arte» c das cièn- gatos obscuros, o leite e o san- pode ser homem de oficio, me» balbo colossal, em que havemos

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Gonçalves Dias, prosador |(Ccmtiauaoio «a fiç. 2ft»; correu a medula dos meu;

raiva, e com os braços erguidos ossos, e o meu sangue parou ria»tentava descarregar, ài mio» *"'»"*» vjáas^t o meií.coração•ambas um golpe qiieseria de cessou debater. jextermínio. E o ancião, que tudo sabia,

compreendeu o roeu sofrimcnto, c tirou a mão de sobre a.-minhas pálpebras, e os meusolhos se abriram de novo.

E um manto -de trevas impe-netraveis ae desenrolou súbitamente diante doa meus olhos,

E como Isaac, as vitimas des- como diante dos olhos de Tc-te sacrifício cruento tinham cor- bias, quando o Senhor quis pro-tado a lenha para a aua toguei- var a sua virtude,ra, e adormeceram sobre ela, E eu percebi que a vida fUsonhando um festim suntuoso, gia dos meus sentidos, e cai dc

E como Isaac tambem cies face contra a terra com a inéhacordaram com as espadas sò- cia de um cprpo sem vida.

E a vítima era um povo in-ttiro; eram os filhos do umanumerosa família, levados, aosacrifício por seus pais — contoAbrahão levou a Isaac, seu fi-lho.

' --:• .

bre as cabeças, e o seu desper-tar foi terrível, porque somenteDeus os poderia salvar;.¦¦¦¦

E um calefrio der terror per-

CAXIAS, 23 de junho1845.

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OPINIÕES SOBREGONÇALVES Ditó

ÍEJ. C. FERNANDES PI-NHEIRO

luitríj jg Mie iliiifM

|£a.

VM RETRATO DE GONÇALVES BIAS

GONÇALVES DIAS(Continuação da pág. Ms)

rlsmo subjetivo rasgos daquelaInspiração, como A história, Oassassino, A «anda, de Satanaz,Agar no deserto. O homem lat-te, e outros.

todos de tomar parte — enteu-didos ou ignorantes, grandes oupequenos, cada um na propor>ção das suas forças. O nossotrabalho será o colégio das Ar-»tes Mecânicas e o Liceu dè Ni-teroi: ou como arquitetos oucomo operários, havemos todosde nos entender na sua fábrica,porque são as duas já lavradase facetadas, que havemos de lan-tar na grande obra, de que ago-ia mais qiie nunca se incumbea grande família brasileira: —a glória e a prosperidade danação.

Correrão longos anos antesque os nossos votos se realizemOs homens que então viveremtalvez que nem se lembrem donovo Liceu, qué corno tinia limasurda lhes irá aplainando dificul-dades. E' assim que o viajantetopa no seu caminho com umaárvore. frondosa, coberta defrutos suculentos; e ampara-secom a sua sombra, e colhe dosfrutos da árvore sem perguntarqual foi a mão caridosa queabriu em sulcos a terra safará,que regou os sulcos cóm o suordo seu rosto, e que ali encravoua preciosa semente, de que h»via brotar depois o tronco e asramas que o agricultor não ha-via de ver, e òs frutos qüe; elenão tinha de provai*..

Rendamos, pois, "graças aos

criadores e executores de taisobras, e façamos sinceros votospara que eles permaneçam pormuito tempo sobre as suas ba-ses, e para qué sc aumentem éprosperem cada vez mais com oandar dos anos.

Niterói, 7 de Setembro de

E' portanto, Gonçalves Diaso mais completo e o mais com-plexo dos poetas brasileiros. A'sua obra tem a cópia, a varie-dade, a perfeição, o acabado qtienenhuma outra na nossa litera-tura tem. Não deve ele estosuperioridade somente ao sengênio e à sua educação, mas aum fator que, cóm exceção dePorto Alegre e Magalhães, fal-tou a todos os poetas notáveisda época, o tempo. .Todos essespoetas morreram moços. Moçotambem morreu Gonçalves Dias,que apenas completou os qua-renta anos; vivera, porem, maisque aqueles, dos quais alguns(oram se mal entrados na. Ju-ventude.

Se ele devia, vivendo, eatirill-larr-se como Magalhães è For-to Alegre, melhor foi, porventu-ra, qae morresse tambem pre-maturamerite. A sua obra" bastaà sua gloria e à da nossa poe-•ia. ¦

OONÇALVI» DIAS, "uMAla JBoslaafaT —Ma, Mal

HVROSDOmADRIANO DE ABREU

— "DIAS DE MAIO" —, RIO DE JANEIRO — 1941

Capistrano dr Abreu, » gran-de mestre da História iooBra-sil, foi tambem, como ninguém

Gonçalves Dias é inquestiona- ignora, um dos mestres ie nos-velmente o nosso primeiro poe- " trata. Deixou ensaios,1 ss-ta lirico; nenhum melhor do»»''»*. »otas sobre poetas e pro-"que ele compreendeu e executoti .iodarei, que constituem traba-as leis dess edificilimo gênero de lhos modelares. Alguma coisacomposição. disso tem sido já recolhido em

/n -i A r>: ,0™ livro pela piedosa fidelidade da(Poes.as de G. Dras- 18JWj s C^W(, ie'Abnu: mw.

.tas outras, porem, existem am-DE JOAQUIM MANOEL DE da a recolher, testemunhando a

MACEDO ^ argúcia, a penetração daquele*."...; .-r. espírito.Antônio Gonçalves Dias não O exercício da faculdade de

tinia somente um talento roa- cri/ira «aniin/iaro Capistranoravilhoso, possuía tambem uma" em casa tambem. E ao seu ji-vasta erudição: as línguas lati- lho, Adriano de Abreu, emna, italiana, espanhola, francesa, quem reconhecia os dons de uminglesa, c alemã, lhe eram tao bom romancista, dista sempre:familiares como as respetivas .— Ftt!c um .romance, me-literaturas; seus escritos, prin- nino.cipalmcnte os últimos publicar , Só agora esse conselho dcdos, tanto'em verso como'em Co^tífraiw vem de ser, atendi-prosa, sao modelos de pureía de i0, Q &, Adriano de /tfyeulinguagem é de excelência dé publica o seu romance de uestilo em português; cóm íntéli- trfa _ e/tsti admirável por lan7gencia tao desmedida e coni /«^ títulos "Dias de Maio".instrução varíadíssima é sólida. ptcçfa. e costumes e a indicaçãonjostrou-sW' notábilidade 'etn lo- que o romance tros; e isso nosdos os gêneros de trabalhos lk adverte que, se aqui existe a ja-terarios que saíram de sua pena, culdade criadora do escritor, a,c pelo menos em úm,'.-*¦ ho lí- sua imaginação e a sua janta-rico — não tevê queiii b.igua- ^ exisü, por outro lado",lasse; ho Brasil e em Portugal, preocupação ie reprodusir

(Rév. do Instituto Histórico, realidade, de apanhar ia vidatomo XXVII, 2.* parte. 1865). ^^a w aspectos mais cara-

cterísticos, mais peculiares, Nes-sas páginas estão todos es am-bientes do nosso pais — o do:altos políticos, com os seus re-presentantes da Câmara e doSenado í o dos altos industriais,com st sua preocupação absor-vente das grandes realizações,práticas;, o dos homens de le-tros, da gente do jornalismo,dos sertanejos, ete.. Nos suas descrições, nas suasnarrativas, na escolha de seuspersonagens, em tudo, enfim,romancista que agora se estréianos mostra a sua mão de mes-Ire. È fácil esperar que "Diasde Maio" obtenha do públicobrasileiro aquele incontestaioêxito, a que o sagram as quali-dades excepcionais que revela'Dias de Maio", impressonas oficinas¦. tipográficas do"Jornal ata Comercie/', será pos-to A venda, inicialmente, nas h-vrarias: Briguitl Garnier, conjuntamente com/* livro de Capistrano de Abreu sobre a lin-gua dos Caxintuás, e mais nos

(_ti£ii*so*> J«J3SSi fiaS-lMlT^ aVtier.noCmelâui».

JOSÉ' MARIA BA SILVA PARA-NHÒS, vtKonde 4o Rio Branco.Oraside figura ia troca io 7mpé-rio. No ila 1.» ío correu!* traM-corre» a dom io seu falecimento." em ltJO — — —ceamos

JOUO CÉSAR RIBEIRO, o gran-áe romancista de "A Carne"', «tambem notável gramático. A 1.*do corrente jnusom « data de tuamorte, a asai ocorreu no ano— — — _ —delSW

£aaB SBa"

LIMA BARRETO, o admirável icriador de Isoles Caminha e don-1sapa ie St, faleceu al.' ie no-'

ie 1923, nesta cidadepentoro

A t ie novemtro ie Mt, na Baio,naMW RUT BARBOSA, «ranaWetcrUor. fraude jufistM, prtncr^al. .. i. _ _iB_. ^____ __.„.—

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pAPIMA Wt — SIIM.EMIWTQ LITMAMO D'A MHW1IA

CORRESPONDÊNCIA DE ESCRITORES

Cârtâ c/e Gonçalves Dids âo Df. Pedro Nunes Led(1857?) der pelo: custo da impressão m

bont tserttoret portugueses, —¦pô-los ao alcance de todos, es-palhi-lot par todos .1 recanto,do Império, de modo que Vieira,temâo Mendes e o Padre Godi-nho e outros fossem per essescentro, substituir », exempla-ru turrado, e puüos d* cario.Magno.

Tudo porem tem o sen termo.Abjure-se c "idolatria da fama"t acreditemos que sá se po.emchamar clássicas as obras dostranse, engenhos — obras queprimem pela Meia, conquantorevestidas de toda, a, loucanfa*de estilo. Bon. serziiores dopalavra de lei apenas setvempara complemento dos bons di-cionáríos. Chamem-se emboraclássicos, muitos deles — são in-toleráveis. Eu de mim o con-fesso, que os leio a boa somadeles; como por casttpo, e con-liado na infinita misericórdiadivina, que me levará em con-ta esta penitência voluntária.

Apesar de toda, estas cliusu-Ias e reservas, fica ainda mu topara a minha profissão de fé,quanto à ortodoxia de lingua-gem. Repito-a, para que não váalguém supor que falo com me-no, reverência de coisas, quemerecem ser respeitadas. Postoo que, entremos em matêiia. Seestou fora dela, já vai senãotempo disso.

Em primeiro lutar a nossalingua é riquíssima, mas até asua idade de ouro; dai por di*ante não acompanhou os pro-tressos do século, nem mesmoos desta nação, de modo que hádificuldade suma, se temos amania de parecer clássicos (nosentido luso da palavra), hámuita, veses impossibilidadeabsoluta em se exprimir coisas,que aliás vulgares. Para dizera que hoje se passa, para exvli'car as idéias do século, os sen-timentos desta civilisação, serápreciso dar novo feito á fraseantiga e é esse o grande, mere-cimento de Garrett.

Odorico, porem, traduzindoHomero e Virgílio achou-se noveto mais rico dei ouro portu-ptiêsi no seu caso seria imper-doavel esmolar.

Mas os nossos rapazes estãonoutro caso. Se não fazem doportuguês o seu estudo único equase que exclusiva, —; tambemnüo se contentam, os bons, quetemos, com a franduUtgem demaus rogiances franceses, Lêem-mais do que isso: estudam as 11-,teráturàs inglesa "e alemã — eda Espanha e italiana encon-íram-se mais de des no Brasilpor um que em Portugal seaplica atais literatura,., , .

Menos leitura do português,mais e multo mais lição dos ou-tios autores, — dão-lhes maisidéias e no mesmo ponto os aca-nftam, menos por deficiência doconhecimento da língua, coma.põrQ'ᣠc»lü cábü tííüí lúiiyê tiéása presumida riqueza, de quefalamos tanto, á força ide qu-virmos repetido. Tê-lo o -Odo-rico, e pelo que ele fez. achamque a língua ê opulenta: é-o decerto, para traduzir clássicosgregos e latinos, ou para quemmarcha sob as suas pegadas.Porem já Garrett le o testemu-nho não é suspeito), não sei emque passagem das "Virgens áminha terra", incomoda-se deouvir falar em tanta riqueza,quando ele lhe sentia tantas fal-tas. E de Jeito _ três ou qua-tro termos para exprimir a mes-ma idéia, que se diga por ex.:Heme", como todos dizem, ouse escreva "gubernalho", comoLucena, são "corno outras vias damesma letra de câmbio. Umaou todas teem o mesmo valor. Overso unicamente êque se podeacomodar com isso. e dar-se bemcom a diferença' dos sons paravariar as cadêncas e o ritmo,.

Os nossos, dizia eu, lêem maisque os portugueses, e acrescen-to que viajam incomparavel-mente mais do que eles. !

Há bem pouco tempo, mesmonã Espanha, tn raro encontrar

Tratando de Odorico, abri ao,tentos toda, ás velas do meu- Barco, considerando o méritodaquele muito ilustre Mara-nhense: lembra-me que elogiei

; muito e muito a pureza do seuvortutuês, confessando que dequantos hoje vivemos, ndo sei

j de nenhum, nem em Portugali nem no Brasil, aue o escreva

melhor.Lembrou-me nessa mesma

«castão o que por li e por cdse diz de como menosprezamosm boa linguagem.

Elogiei o Odorico por se,abundante, conciso, enérgico;mas tambem não concordo comos daquela opinião, tomada emabsoluto, por me parecer, quevat nisso excesso de lusttants-mo. o Lisboa mesmo nâo o diz;te acaso repreende esses descui-elos nossos, censura em Portu-tal, e com muitíssima razão, aidolatria viciosa da frase, foto-grafando em duas palavras ocaráter literário do cego çastl-lho. Quase que bastaria dizersimplesmente Castilho, porquedos Outros é que se poderia di-ter com o Evangelho: "Occuloshabent et non videbunt".¦¦;.¦ Se admitíssemos aquela cen-tura, sem nenhuma atenuação,não resultaria dai grande mal,visto que entre nós se abusa dafaculdade, quase vulgar, de seescrever com certo jeito e graçaartigninhos e correspondênciasde jornal Mas para os que ndofazem parte do vnlgacho literá-rio para . aqueles aòs quais- sepode falar toda a verdade semtemor de que venham a abusardela, a questão tem outra face.Perrmnta-se "os » ou 9 milhõesde Brasileiros terão o direito deaumentar e enriquecer a linguaportuguesa e de acomodá-la ássuas necessidades como os 4 mi-Piões de habitantes, que po-voam Portugal? Pois se quere-mos introduzir qualquer tndus-trla no Brasil, havemos de espe-rar que daqui nos batizem asmil idéias que ela suscita?"

A pergunta ji em si envolvet resposta; mas porque lhe po-dem dar mais latitude que ajusta, lá vai a minha profissãode fé. *

O conhecimento da própriaUngua é sem dúvida de unia, grande vantagem; escrevê-la\ bem, qualquer que ela seja. só

4 dado aos grandes engenhos.Convençam-se vols aqueles,

•ne aspiram a imortalidade dasj letras, que não há obra alguma,| f«e se recomende á imaginaçãoI tem o estilo.

C isso assim foi, c é, e há te\ ter por séculos de séculos, por-

que a língua é a parte material,I «ias indispensável das conre-I pções do espirito. E assim como

9 úperâria nâo fará nem úihaobra perfeita se não tem os seus¦ instrumentos ou se mal sabe

i mane/ar os que posue, .o esert-tor não attngirá nunca o belo

çda forma se não tiver prepa-: radò de ante-mão com o estu-

do e com o exercido do maisrebelde, do mais intratável detodos os instrumentos — a !in-tua.

Instrumento, a arte, o enge-nho, eis as três condições es~tendais: mas ao passo que oengenho vem de Deus — o ins-

I trumento e a arte, isto é, o es-i tudo da lingua e o estilo, aque-

...: le mais ou menos completo, estemais ou menos aprazível e for-moso, está ao alcance de qual-quer de nós.

Longe de me opor a seme-Via,tte estudo, sou de opiniãoque se atenda mais e que os It-teratos se dediquem mais pro-fundamente aos bons autores,gregos e latinos, como comple-mento da'língua pátria: — sosde opinião que o Governo doBrasil, seguindo os princípiosd» nossa Constituição, tio itiberal em material de ensino,delia mandar reimprimir t ven-

úm português longe dt raia.Em Paris ainda há alguns: /oradesses dois poises, quando ou-vires português, quase qué ê et-cusaio perguntar quem o fala.

Alem do estudo e das viagenstemos ainda a educação. Cmtoda d Europa hd estudantes doBrasa: eu os cálculos em doismil/ — este ano! Sobre tudona Alemanha, encontra-se emmuitíssimo, colégios umas ca-becas louras e caras tedescasqué são uns alemãezinhos cha-pados: fala-lhes e eles te res-sondem em português. Slo osfilhos dos nossos colonos ale-mies.

Se estes querem dizer coisasque não hi em Portugal, que senão lê em seus dicionários, eo-nio diabo se hão de exprimir?Havemos de ficar eternamentena "História de S. Domingos",sem ousar admitir uma palavra,que não tenha o contraste deS. Luiz?

Mais ainda.Bom ou mau grado, a língua

tupi lançou profundíssimas rat-zes no português, que falamos,e nós não podemos, nem deve-mos atirá-los para um canto apretexto de que a outros pare-cem bárbaros e mal soantes.Contra isso protestaria a nossaFlora, a nossa Zoologia, a nossaTopografia. Clássico ou nãoclássico Pernambuco i Per-nambuco, cajá, paca e outrossemelhantes, não teem outro no-me. Se isso desagrada a Portu-gal é grande pena, mas não temremédio.

Agora, se algumas dessas pa-lavras são realmente mal soan-tes, e se não são absolutamen-te indispensáveis, rejeitem-nasdos escritos sérios, ou somentese aproveitem delas, como fez oGregorio de Mattos para a sitt-ra ou no rideulo. O que poremacontece é o contrário, é quetais palavras na sua Imensamaioria são eufônicas; mas as-sim como há ruins versejadores,que até no italiano, fazem pês-stmos versos, há ouvidos re-beldes, homens de mau gosto,que, a troxe-moxe, fòrim eneal-xando nas suai composições pa-lavras tupis ou tapuias, sematenderem a coisa alguma. Po-deria. citar os ramolos se o con-tãpio fosse de recelar. Comonão ê — "paree sepultis".

Quanto a escolha de palavrasindígenas e a sua introdução nonosso idioma, ter-me-ia lembra-do "arredondar" algumas delas— das mais ásperas ou das me-nos sonoras, se não soubesse aueisso há de ser elaboração lentaão povo e obra do tempo. Emtais casos, a multidão tem mais-gosto que um colégio ie módis-tas, mais ouvido que todos osP.ossinis e mais filosofia que os *doutos kant, de Germánia.

independente da Botânica.Geografia e Zoologia (o oue to-Havia já náo é mau contingen-te), temos uma imensa guanti-dade de termos indígenas ou sé-jam africanos, que até nos it-ctonários se introduziram, masque na maior parte só apare-cem na conversação — nomesde comidas, termos de pesca, delavoura, etc, que não são clãs-sicos, mas indispensáveis.

Acontece tambem que em dis-t&nctas tio consideráveis, comocio as do Brasil, o teor da vidamuda, e os homens que adotamesta ou aquela maneira de vt-ver, formaram uma linguagemprópria sua, mas expressiva evariada.

Os vaqueiros, os mineiros, ospescadores, os homens da nave-gação fluvial estão neste caso.Pois o romance brasileiro nãohá de poder desenhar nenhumdestes tipos, poraue lhe faltamos termos próprios no portuguêsclássico?

Pelo contrário, escrevam tu-do. que tudo ê bom — t quan-do vier outro Morais tudo Isso.ficará clássico.

Vieira, por que fala em "pocer .mas" t •taperas", ficou menos

Vieira? Odorico, por ter escrito"peráu", floou sendo um mduescritor?

Bem htfa o Amazonas, quan-do no seu romance * l"Simi?")descreve o rio Negro eom os ter-mos que ali aprendeu.

Convém todavia notar aue •qut mais ofende o ouvido e tos-to português nio slo tanto ostermos forasteiros, como muitase a maior parte das veses, a mo-do e o sentido em que emprega-mos vocábulos e /raies tue sdorigorosamente seus. Â causa ique o nosso povo tem outro fra-seodo, os.seus termos vulgaressão diferentes, donde põieacontecer, que a palavra portu-guesa, aqui muito vulgar e bai-xa, li pode entrar em discursosem produzir mi impretsio,porque o desuso a enobrece.

três tu o nosso Maceió? o semmerecimento nio é ser clássico,mas tio brasileiro, e ele não se-ria tio estimado, tão popular, ,1andasse alambicando frases,que os poucos conhecedores ialíngua mal compreenderiam asopapo de dicionário. O aue •'simples bom senso dis ê que stnão repreenda de leve num po-vo o que geralmente agrada .atodos. Nem se diga que o nossaouvido é pouco musical, e a pro-va é que não há brasileiro, nemmesmo surdo, que tolere a rim*de "mãe" com "tambem", comoaqui fazem os bons rimadores,ou que admitisse um "tambdim^impossivel, «orno a gente cultaie Lisboa. —*

ím resumo:/.• — A minha opiniáo ê qut

ainda, sem o querer, havemosdé modificar altamente o por-,tuguês.i? — Qué uma só coisa fica »deve ficar eternamente respei-fada: a gramática e o gênio dalíngua.j-o — Que se estude muita emuito os clássicos, poraue ê mi-séria grande não poder usar dasriquezas aue herdamos.4.' — Mas que, nem st pode ha-

ver 'alvaçio fora de luangefh,de São Luta. coma «ue devemosadmitir tudo t dt qut precisa-mos para exprimir coisas novasou exclusivamente nossas.i.» — I «ue, enfim, o que i bra-sileiro ê brasileiro, e aue "cuia"virá a ser tão clássico coma"porcelana", ainda ant a ná*achem tio bonita.

E com isto dou fim a estaepístola. Esti me parecendo quese o Odorico a visse, fariam*uma pregação interminável, re-jeítanio-me tudo ie pancada aadmitindo-me depois, parcial-mente, o mais do que ai vai es-crito. Felizmente ele esti longee eu cansado.

Adeus. Muitas saudades dar. do C. — O. DIAE,

H. da R. — Eita carta, cuja ort-final foi cedida ao "Jornal do Co-mercio'.' por um maranhense aquiresidente, parece incompleta, devendo)faltar a primeira ou ai «primeiras pi-Kinas. Sabe-se entretanto que foradirigida ao dr. Pedro Nunes Leal,provavelmente no ano de 1*57.-Jornal da Comercia''. X-S-M

OPINIÕES SOBREGONÇALVES DIAS

Dé JOAQUIM MANOS. DlMACEDO — in-Pantheoa Ma-ranhense, Lisboa, 1874, Vol. JU,p. W7: í '

Gonçalves Dias é incohtesta-relmènte o primeiro poeta Uri-co da Ungua portuguesa; é Igualem suavidade a Gonzaga, •muito mais original e muitomaior poeta que éle; nào cedaa Garret na magia de umafinancia enlevadora, nem a ai-gum outro dos mais aballzadoee formosos naquelas divinas de-Ucadezas de poesia, que someiwte podem nascer de uma rarae mimosa sensibilidade.

Um busto de Gonçalves Dias

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• j^fc.aomiHóò. »/n/im

Opiniões sobre Gonçalves DiasDE FRANKL1N TAVORA

E' ele (Gonçalves Dias) onosso primeiro poeta, e, difícil-mente terá um sucessor que s<:lhe aproxime. Não é nosso «le-signio analisar aqui as produ-ções (Io primeiro poeta (Io Br»-sil, e inabalável chefe da nos»literatura indiana.

(Cartas e Ci*cinalo)

A ALMA(Excerto das

"Memóriai")

* ¦' João Ribeiro

Gosto multo pouco do queChamam os filósofos a intros-pecção.

Poucas Tezes me examino amim mesmo, porque sempreme acho Interiormente tãoobscuro ou mais ainda que oinundo exterior.

Apalpo-me e não me sinto.Imagino, porem, que existe

una alma. Isto é, aquilo queos crentes e os incréus podemaceitar sem muita discussão:um principio ou um estado deatividade mental que nos põeein contacto com o corpo, semestar lorã dele e de nenhummodo em oposição a ele.

Assim acreditando, quandome tenho analisado, o que su-cede em horas de preguiçaque é a minha única formulade reflexão filosófica, descubroque tenho alma de mais,ser-me-ia de maior utilidadeae a tivesse menos.

Indo mais longe acreditoainda que as porções de almasão. distribuídas desigualmenteentre os homens. Os homensde pouca alma sio práticos,ativos, rápidos e amigos daexperiência. Os de muita almasão naturesas indecisas, platô-nicas, Inúteis e incapazes deperceber as conveniências pró-prlas.

Verifiquei que eu tinha mui-;ta alma, desde quando senti aparte desmesurada que mecoube. Quis ser'tudo sem sercousa nenhuma. Fui músico,ordlnarissimo;, fui pintor abai-xo ainda dos que pintam mo-nos (gênero aliás difícil) fuipoeta sem ter nunca escritoum verso com alguns grãos depoesia; escrevi sem pensar, «pensei sem conseguir escrever;enfim, uma enorme curiosida-dè de mil cousas encheu-me oespirito ou antes era a enormevaculdade de espirito que•traia essas mil coisas paraencher-se delas, á maneira de' esfinge.

Aa naturesas desse feltlo, aomeu parecer, teem alma demais, superabundantemente,superfluamente. E se é certa.essa hipótese, estou todo dentrodela, cora a minha universalIndecisão.

VnV * n*n* tor-m» uma, almaesguia, um filamento delicado,próorto a adequar-se a objetivosseguros e positivos: assim, pen-so eu, ê que se define o verdadelro poeta, o escritor, o artistaenfim.

Os outros, ou as outras almasnão passam de obesidade» rldi-cuias, que perambulàm atra-vancando a via pública.

A poesia por exemplo é umadessas freqüências e assiduidu-des insignificantes na classe in-telectual. Ooethe dizia que poe-tas havia dois ou três apenas,em todo o mundo, os outros per-mltam o diga em Italiano, (por-que 11 a frase em Italiano): osoutros sio saonatorl de flauto.

Tocam a sua flauta, e quempode impedi-lo? ouvem-se a sipróprios, Incomodam os vizl-nhos, mas afinal ao cabo do seuexercido diário voltam ás con-colações providenciais do sllên-do.

Enfim, nio teem culpa os quecaceteiam Involuntariamente ãhumanidade. Ou se a temo, po-* dem ser perdoados com pequenapenitência. Aqui a «tou fasea-

DE JOSE'DE ALENCAR

Gonçalves Dias c 0 poela na-eional for e.rctlêneia; ninguémlhe disputa na opulincia du una-gind(ão, no fino lavor 1I0 verso,no conhecimento da naturezabrasileira e dos seus costumesselvagens.(Iracema <— Rio de Janeiro —1805).

De A.C. TAVARES BASTOSCartas do Solitário, Rio de Ja-neiro, 1882, p. (17 e 1863, p. IU:

O nosso verdadeiro poeta, oelegante, o mavloso e america-no" cantor dos Timbiras, o sr.Gonçalves Dias — o próprio gê-nio da poesia nacional.

De B. F. RAMIZ GALVAO(Barão Ramiz Oalvão) — ti-teratura, in-Rev. Mensal da Soe.Ensaios Literários, Vol. I, Riode Janeiro,-1863, p. 340:

O sr. Gonçalves Dias ê paranós o nosso primeiro poeta: oralevando seu lirismo à altura dos— Seus olftos; ora cantandocom a tuba épica o — í-jucapyrama; ora exaltando seu ber-eo nas belezas da — Tempes-tade e do — Gigante, de Pedra;verdadeiras Inspirações da na-tureza brasillea; é com estespadrões que nós asseguramos anossa individualidade literáriaque só hoje podemos dizer quetemos uma literatura.

De M. PINHEIRO CHAGAS¦ Gonçalves Dias, ¦ in-Revista

Contemporânea de Portugal edo Brasil — Lisboa, 1864, p. 175:

Nenhum dos poetas seus com-patriotas atingiu ao mimo deforma, que se revela em algu-mas das suas composições Uri-cos, a elevação de pensamentos,que se encontra noutras, a opi-lência de Imagens que possuemquase todas.

De JOSE- DE ALENCAR -Iracema (Lenda do Ceará), Riode Janeiro, 1865, p. 194:

Gonçalves Dias é o poeta na-eional por excelência; ninguémlhe disputa na opulência daImaginação, no fino lavor doverso, no conhecimento da na-tureza, brasileira e dos seus cos-tunies selvagens.

De JOAQUIM MANOS, DEMACEDO — in-Revista do Inst.Histórico, tomo XXVII, 2* parte, 1865, p. 438:

Antônio Gonçalves Dias nãotinha somente um talento ma-rariliioso, possuía tambem umavasta erudição: as línguas.la-tina, Italiana, espanhola, francesa, Inglesa e alemã, lhe eramtão familiares como as respeeti-vas' literaturas; seus escritos,principalmente os últimos pu-bllcados, tanto em verso comoem prosa, são modelos de purê-za de linguagem e de exceltn-cia de estilo em português; comInteligência tio desmedida ecom instrução varladlsslmasolida mostrou-se üotsbüWfideem todos os gêneros de trabalhos literários qué saíram dasua pena, e pelo menos em um— no lírico — nio teve quem oIgualasse no Brasil C em Portugal.

De J. C. FERNANDES PI-NHEXRO — Noticia sobre a vidae obras de Antônio GonçalvesDias, in-Poesias, 1870, p. 131

Gonçalves Dias ê Inquestio-navalmente o nosso primeiropoeta lírico: nenhum melhor doque ele compreendeu e execu-tou as leis desse dificílimo gê-nero de composição.

De FROTA PESSOA — Cri-tica e Polêmica, Rio de Janeiro,1902. p. 58:

Gonçalves Dias surgiu comoom tranqüilo sol, multo claro emuito alto, tangendo uma lirade novos acordes e procurandoInterpretar um novo sentir doseu tempo. Gonçalves Dias fl.oxu uma época. Alem de Índia-nista, foi lírico de uma inspira-ção que nio havia ainda, na 11-teratura brasileira, subido tio

SUrUMIWTQ UTl»ABIO U'A MANHA - PAOIMA SS» 1

l sSaa ^fMM^f^^ TItssm a wsssssssssssssssswsssssr^sm \ ¦• -M

Èi ÍAsWH^^T JÊfísW*{ tSSSMMsWWw* ^W

Separação!Peilaços diferentes de distânciaque a vida há de sempre botar por entre n6s!..J7Foi a separação que inventou a saudadeque criou o adeusc a mágua de partir...Na infância tudo é perto eomo a infância...dói tão pouco a dor de uma distância,porque o instinto do mundo que começadá uma certeza criança de voltar...Mas depois tambem o mundo vai crescendo,

; guando o pai vai recuando na saudadee ,o menino avançando na esperança... !

£' a vida cria a escola; para separar. ...<•¦.Na escola todos são irmãos da mesma idade,

! o sonho irmana, o mundo é todo para amar,'mas depois dela vem o pão de cada dia

c a vida se {az luta

para separar...| Sempre muitos se encontram pela estrada.. *.1A estrada é triste para quem vai sô!E muitos querem continuar no mesmo rumo...tnar, tem tantos destinos o destino!..«•E a vida se enche das encruzilhadas

para separar...Afinal um par se une para a vida! '

'A vontade é de estar junto e dc parar,..: — ,Ele pára nas sombras do caminho .4

pensando em nunca mais sc separar,

porque só ve sombras amigas no 'caminho!...,

Mas a vida inventou a mortePara separar...

VARGAS NETO

¦*.,._ .-- ,

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A poesia de Manuel fiandeiraCarlos de Queirós

Duas veses na Tida me acon- lo sem espanto e a alma remteceu o seguinte: vir úm poeta comovida gratidão.a minha casa para entregar-me Dos poemas da Bandeira saium livro seu, acabado de publi- — talves antes de mais nada —ear-se. Há, entre os dois acon- uma ternura tão fresca, tão di-tecimentos uma distância de se- reta e graciosa que dir-se-ia re-ate anos, e o primeiro poeta mor- cem-chegada do lmo da infânreu sem que o segundo o conhe- cia.eesse. Ambos vinham com Quando Rilke disse da ironiagrande pressa. Por sorte, de depreciando-a, que se descermosambas as vezes estava em casa em nós próprios em pro/itndl-c pude, assim, recebê-los. pa dade ela não pode acompanhar-primeira vez a minha surpresa nos, não sabia que estava para— mais justo: a minha pertur- surgir um poeta capaz de pro*bação — foi maior, porque o var, algumas vezes, com os seuspoeta exa Fernando Pessoa Não versos, o contrário, poi Manuelpodia entrar; la só levar-me Bandeira. Não deve haver ex-aquele livro. Reconheci-lhe a pressões de gravidade que tra-voz e fui a tempo de ir falar- duram sentimentos e estados delhe à porta. Só em algumas cri- alma tão naves, como o sorrisoancas, em muito raras círcuns- irônico com que podemos ima-tancias, tenho visto exprlmlr-se Binar este homem a compor es-com o olhar, com o sorriso, com tas I»esias: Vou-me emboraos gestos, com toda a presença Vra Pasárgada, Na boca, Gesso,ama alegria tão profunda, tao á"f° *" Guarda, Oração a Te-completa e tão bela! Creio que restnha do Menino Jesus, Irenenem acabei de titubear o meu no «*»> — e algumas das queagradecimento. As poucas pala- Juntou na tira dos Cmeoent-vráis que me disse, também não Anot — essa lira que nos fazposso recordá-las. Fiquei com o ponderar a tese de Mário deüvro nas mãos, atônito e mara- Andrade: que os verdadeirosVilhado poetes são só aqueles que o fo-

A segunda vez foi ha pouco rem aPaia lá dos quarenta anostempo. Não interessa citar, nes- depois de agüentarem, na vidate caso, o nome do poeta, por- »ns vinte anos de lutas...que a evocação dum gesto não Ternura, esta qualidade deacrescenta nada à presença dos lronla «lne .só é humanidadeVivos. O que Importa é contar Irônica de tísico , como o poe-que a alegria que ele trazia con- ta lhe chama, quando os ver-«lgo era tão profundo, tão com- sos lhe saem tao brincados co-pleta e tão bela como a de B'er- mo os do Pneumo-Torax) — enando Pessoa. «ue mais? Tudo o mais que a

E' possivel que esta pequena palavra alesrna, na acepção de-história não signifique nada «nida, comporta .e — coisa im-para alguns dos leitores. Seria portante — o poeta exprimeInútil exnlicar-lhes. Outros, po- simplesmente, limpidamente, emrem, ponsarão: _ alguma coisa ritmos variadissimos, imagenssignüica. Mas que? A esses va- saborosamente plásticas, pila-le a pena dizer-lhes que signi- vras rcveladorament? vivas, emíica o seguinte: Poesia e. sem- "versos de sanasue, volúpia ar-pre, sinônimo de alegria, mesmo dente..." — como ele, ja noquando gerada pela dor e ex- primeiro livro, sabia que eram.pressa, deuois, em versos tris- Ainda quanto à tal alegria,tissimos. Mas não essa ale?ria tão. so dos poecas conhecida, eque vocês conhecem e buscam, bom sabermos como Bandeira«eseperadamente. E' outra. E se apercebeu, em si, de3sa «que-essa alegria que os dois poetas s», Para reconhecermos ate quotraziam consigo, não sei desde Ponto é conclerite dos seusquando nem desde onde, mas dons:tefulgente e perturbante. como ;um halo. Essa alegria que não Oh! ter vontade de se matar...nos serve de nada nrocurar Bem sei, é coisa que não se diz.porque só a encontramos quan Que maia a vida me pode dar?..do vem, livre e espontânea, ao Tènjw_ vontade de me matar!nosso encontro. Essa alegria a Sou tão tellz!que Almada chamou, um dia, a.'coisa mais séria da vida.

O que talvez haja — o que hácom certeza — é poucos poetasque saibam explimí-la com jei-to de transparência. Digo: quesaibam deixá-la chegar à su-perficie dos seus versos comuma frescura que nos faça es-quecer as camadas de fel po:que passou.

Eu sei de um, e é a propósitudele que vem esta crônica. Cha-ma-se Manuel Bandeira, nasceudo outro lado do Atlântico e nãoé excessivo contá-lo entre osmaiores líricos da no;ssa lingua,para alem das épocas e das es-colas. Em 1937 fez-me chegar aamãos as Poesias Escoíftfdas, pu-bllcadas nesse ano. Há meses,as Poesias Completas, editadaspela mesma casa do Rio ("CM-Bzação Brasileira") em 1940.

Neste volume reuniu, como otitulo diz. a sua obra poética,desde a Cinza das Horas (1917'até a recente Lira dos Cinco-enfArws". E' toda a evoluçãodum espirito criador da maispura autenticidade, em que nãopodemos demorar o pensamen

CANÇÃO. Gonçalves Dias

Tens Jóias e diamantes,Quais não tem tuas rivais;Tens os mais belos dos olhos.,Amor que desejas mais?

E sobre os conselhos belosjá de carnes imortaisTenho composto volumes...Amor, que desejas mais?E com esses Olhos belos.:Até não quereres mais, .Tena-me posto i dependuis...' ir, que desejas mais?,

G ü ABCÍA'- AGuaruját

Não êsem razão que achamam "Pérola doAtlântico".

Na orla sinuosa do Não é, porem, a visãomar, as praias alvadias comum de uma praiase estendem, numa cons- qualquer, que tantastante oferenda, rendüha- existem, mundo afora, adas de espuma. encher de beleza recantos

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pi ... Liiij*i,n*mmiinujiwistm/ttm.

1 . HU. ll Ul lllllll IOIIIH

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P E R «X A D O ATLA Bi TI COpitorescos e ines^tteci-veis.

; Afois çmc isto, é aimensurável majes-tade de um mar verde-jade, que moldura o maisbelo recanto da terra.

E? Gmiuba, com seuencanto singular, revê-lando um mundo de pai-sagens qúe. enchem a vis-taeaalma.

Mcmduba, cuja gran-'dezatem o imperativo dequalquer cousa que do-mina e assombra.

ET a praia dò Tomboque se abre aos nossosolhos como uma visãoque trás a idéia de certosrecantos também privüe-giados do mundo, Ha-wai, onde a natureza éuma constante luxuria,'Honolulú', um eternomistério.

ET, finalmente, apraia das Pitangueiras,recôndito ensolarado econvidativo, onde as co-lônias de férias se escon-dem aprazíveis e recon-fortantes.

Enchendo a vista can-soda do paulista que, nu-ma semana inteira mou-rejá numa grande pfici-no em que se consiroe oexplendorde uma cida-ãe, a praia da Enseadatem, como escarpa vigi-lante, as Tartarugas, e,depois, Perequê, ondeDeus colocou todo o mun-'do de maravilhas de quetó seria capaz a sua ge-nerosidade.

, Guarujá!ri Sonho de lenda onde,no dizer do poeta,- "a on-'da

grande e cheia nasce¦e cresce e vem de longe aconfiar á praia os mistê-rios incessantes de suasviagens incessantes, e fi-ea velhinha, de repente,com os cabelos brancosde espuma, a soluçar demanso, sobre a areia asaudade indizivel dasdistancias..."

Estância balneária noexato sentido da expres-são, o Guarujá se consti-tue ponto obrigatório de

. todos os turistas, localpredileto de veraneio.

A vida urbana, como asocial, está atingindo,ali, um limite expressivoe o afluxo de gentes detodo o mundo prova quea região possue o encan-to e a sedução de certosrecantos da terra onde ohomem sente, mais deperto, a presença deDeus.;.;. A ddadezinha propor-dona conforto e nela to-da se respira uma tenta-

ção de. bem estar coleti-vo, como si tudo fossemharmonias em vibração,para que a vjda fiquemelhor.

Mas no Guarujá nãoapenas a natureza é afeiticeira desse estro-nho assombramento ,quepõe o céu baixinho, a en-contrar-se com a terrasobre a linha ilusória dohorizonte, e, sob o céu, agrandeza olímpicado mar. .......

' .0 homem ficou cominveja de Deus- Não se-ria a primeira vez. Aorigem bíblica da criatu-ra chega-nos através deuma história ingênua,mas humana.

E o homem tambémquiz fazer qualquer cou-sa que fosse notávelgrandiosa.

Trabalho paulista aenfeitar a mais belapraia do Brasil.

Levantou-se. o GrandeHotel, uma exprescZoni-tida de civilização e con-forto, engastada na fai-xa branca do oceano,ponto de convergência detudo o que ali existe e detudo o que para ali vai derequintado e de fino.

Nele residiu Eãú Cha-ves, o pioneiro brasileirodo vôo continental solitá-rio, ali repousou SantosDumont, a águia cansa-da das alturas e que umdia procurou a terra, nahora próxima de pagar-lhe o tributo de que nin-guem se pode esquivar.

Nota constante de bomgosto, o Grande Hotel re-cebe, nos seus salões am-pios, o que São Paulo, oRio e os Estados pos-suem de mais elegante ede mais fidalgo na suasociedade.

Com magnífico Cassi-no, o Grande Hotel fazviver nos seus salões umMonte Cario sem conven-ções, Tulhêrias, sem ri-gores, brasileiramente, oque vale dizer, elegante,8em"snobismo".

O Guarujá não estásendo a pérola do Atlan-tico apenas pelas inenar-raveis belezas que encer-ram as suas praias e osseus recantos, como sinelas a criação houvesseesquecido todas as mara-vilhas que reservara pa-ra outros recantos daterra.

Guarujá é uma realirdade notável no^ terrenosocial, onde a vida é Vi-lhantec intensa, cheia dedistinção simples, quenão turba o sentido n*

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mançoso dá es tan-ei a, unindo, em ftanho-nia, perfeita, o salão quediverte e o natureza que

— a pae* e ¦ contemplação do mar que, no Quarujá, t lindíssimo

émbèveóe. povo predestinado.Um povo que. pi^sue, Gv.arujá ê bem, para o

por graça de Deus, um Brasil, a marca det-recanto assim, já í um te predestinai

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NOTAS BIBLIO-GRÁFICAS

1 — POESIALila Rlpoll -» "CÍC fA-ZIO" Poesia — PortoAlegre — 1941.

Lila Rlpoll é uma das poetl-•as mais sensíveis do Brasil dehoje. E seu livro, "De mãospostas", aparecido há uns doisanos, era uma coleção de deli-ciosos versos, impregnados drternura e ansiedade.

Agora dã-nos ela outra cole-ção de poemas — "Ceu Vazio"O título já indica a qualidadedesses versos,' que são doces emeigos, mas são tambem dea-es-pssrançados e melancólicos. E,realmente, nela sentimos, emtodas as suas estrofes, uma livquietação de pesquisa espírl-tual, uma procura lndeterml-nada, que são elementos deuma estranha poesia.

"Foge a noite, foge o dia,Foge o sol e foge o vento.— Existi eu algum dia.Ou fui sempre pensamentos..Assim se interroga Lila Ri-

poli, ao encerrar as 8$ páginasdo seu livro."Ceu Vazio" é, sem favor, umlivro de espontânea poesia, deuma poesia leve e fresca, em-hora seja amarga e dolorosaEmbalados na sua música, csseus leitores sentem que a vozda poetisa é de fato uma voz aeIntimas consolações maravilho-

Wll/tMl '

mkJá

O CONDElet diante da estátua de Voltaire. O sr. Veulet estava cercado dt-amigo. Ao ouvir o meu nome, acenou-me com a cabeça, de-monstrando alguma benevolência; mas eu só lhe via a famade homem superior. Sentia-me tão perturbado qúe me fuiocultar por detrás dos que o ouviam. Dal contemplei-o à von-tade: tinha o ar de um rio e.pareceu-me ter mais de melo sé-culo. Era muito alto e trazia ereta a cabeça. A cabeça davaa ldéià do gênio e da virtude, sem que, em verdade, soubesse-mos qual dessas duas Idéias devíamos primeiramente admirar.O crânio fazia-nos pasmar, não pelo volume, — era, áo con-trârlo, assaz pequeno e pontudó; era, porém, tão calvo, tãoamarelo, tão polido que, ao contemplá-lo, pensávamos nas guer-ras, nas explorações, nos trabalhos longínquos- em que se haviagenerosamente gastado. Refletia a luz com tal poder que sevolvia resplandescente, deixando-nos. em dúvida se eram oabicos de gás que o Iluminavam, ou se, realmente, os sóis dessesdias de viagens e batalhas haviam deixado nele alguns raiosgloriosos- As rugas que lhe sulcavam a fronte, menos belasdo que era para desejar, perdiam-se nas fulgurações do crânio.Tinha os olhos pequenos e pardos. Mas o que sobre tudo imprl-mia imponência extraordinária a todo o rosto, era o nariz, oqual, pelas assombrosas dimensões, Infundia-nos vastos pensa-men tos: descia firme e reto entre duas faces escavadas até àlonga barba branca, que lhe dava â fisionomia essa tranqüilamajestade que vemos nos velhos reis lendários e'nos bisõesdo Missourí. .

Imaginais, de certo, o aspecto veneravel de semelhantehomem. O corpo, alto, magro e robusto, repousava sobre doispés, que noutro qualquer poderiam parecer chatos, mas qusnele eram revestidos de botas magníficas, verdadeiro calçadode herói.

—i Eu, dizia ele, recebo jornais de todas as partes do globo;leio gazetas albanesas, herzegovineas, eroatas, bósnlas, transiuvãnias, cingalesas, argentinas, dominicanas, barbarescas, es-qulmôas, máratas... e quando vejo entre as noticias que um

Sm 1936, Le Lys Rouge, tutoria- ' riu". Sra uma pe<m«i« «oveis •*« moleiro de Marburgo se afogou no Drave, ou que um pobre su-ção fundada em Paris por um Anatole France, ndo inclBuf» »or d j. (jmtinjmdú, foi comido por um tigre, as lágrimas vêem-grupo de admiradores de Anatote ele em «enfiam de seu, livros de ul* "' "S- r .. - ...:-

Anatote France

t — ROMANCEDulcidio Jurandir —

CHOVE NOS CAMPOSDE CACHOEIRA — Ve-chi Editor — Rio — 1541.

Dulcidio Jurandir é um jovem escritor paraense, que aoBio chegou triunfalmente hapouco tempo. Trazia consigoum romance, co-sn o expressivotitulo de Chove nos Campos deCachoeira.

Chegando ao Rio, cândida-tou-se ao concurso de roman-ces que havia sido aberto peloEditor Veci, em combinaçãocom o semanário "D. Casmui-io". E seu romance obteve oprimeiro prêmio. E\ este o livroque a Editora-Vechl acaba denos apresentar, numa bolabrochura com capa de J.Zach.

Dulcidio Jurandir é o roman-eista das grandes paisagens doNorte, um pintor dos amblen-tes cm que seus olhos infantisse fixaram. A atormentação dávida dos homens em luta com• ambiente duro e hostil daIlha de Marajó — eis o que en-centramos em suas páginas.

Parece, que o seu livro, qm*surge sob tão simpático auspl-do, está destinado a ter umgrande èxlto entre os leitores

Tassso da Silveira —SO' TU VOLTASTE? —Edição da Livraria deGlobo — Perto Alegre —M*l.

, O Brasil, que conhecia o st.lasso da Silveira como poeta •como ensaísta e critico, vai co-nhecê-Io, agora, como roman-.eista. O autor de tantos versospenetrados de um Intenso sen-timento de religiosidade, bati-sou o seu primeiro romancecom o titulo de Sé tu voltaste?

Desde o titulo, como qúe sen-tlmos neste livro uma certa in-tenção religiosa, um certo pen-dor místico — traços, que deresto, estão de acordo com astendências espiriatualisticas doautor de Canta Absoluta.

Só tu voltaste? encerra a•ventura dolorosa de um ho-mem paxá o qual os sentimen-tos mais puros e altos exlstem, e que se vê perdido numInstituto de trabalho, em queas almas, são -trabalha-las peloegoísmo, pela falta de fé, pelaansiedade de competição e lu-ta. E- factl prever, com essequadro de ação, o qúe é odesenrolar desse romance em¦jue o sr. Tásaó ila Silveira«¦tpenhou as melhores.

me áos olhos, e sinto-me, a um tempo, o pai, a mie, a esposa,e os filhos desses desgraçados...

Impediu-me de ir por diante a campainha do teatro Vol-tel ao meu camarote, dizendo comigo: "Como Isso é belo!..."

- No dia seguinte era eu secretário do sr. Veulet. Um dia, quseu copiava endereços no Bottin, mandou-me diser o caro mes-.tre que fosse, ao seu gabinete. Apenas lá entrei, pôs-se a soltar

. •• uns gemidos roucos, acompanhados de contrações horríveis doRA eu ainda apenas um colegial veterano quando Fontanet se todM ^ mú=culos da face. Fiquei aterrado. Vendo o meu eo-

Não é nada, apenas um reumatismo que contrai por

France, distribuiu aos seu* mem-bros uma plaquet «te de «56 páginasin 8.*, artisticamente impressa,edição de poucos exemplares e nãodestinada aa comércio. Intitula-va-se a brochura "O Conde Mo*

contos, conquanto algumas de suaspersonagens lá houvessem «apare-cido mi páginas de "Piore Nozii-re". E' a tradução dessa encanta-dor* novela que hoie oferecemosaos nossos leitores.

E tornou subitamente importante por seu titulo de bacharelem direito, sua barba precoce, suas opiniões arrojadas. Braem IM». Já tomava ele a palavra em reuniões de jovens «— - -¦—•-• r"""-*- "" ""süír^rií; Vi^,»^". ii^ii

advogados e escrevia artigos satíricos para pequenos jornais do ter passado quatorze horas num P»"'»»» —.YSÍ? ™ <SÍ!"Quartier latin». Ao mesmo tempo que * Ia tornando conheci- momento complica-se com dores nevrálgicas causadas PJ» «mado, alcançava o paT a celebridade, vintagem de que o meu ami- bala que recebi na cabeça ao iMww

^li^ouina floresta

go se aproveitavrcom a facilidade encantadora que lhe era pe- do Texas. Peço-lhe, porem, que nao de a Isso mata Importânciaculiar em todas as coisas. Conquanto não nos víssemos tão do que eu mesmo, que não me preocupo <jm essas coisas,amiude como antigamente, demonstrava-me todavia mais sim- De fato, parecia ja nao sentir absolutamente as dores que.patia do que minca, coisa que muito me lisónjeava. Certa ma- momentos antes, lhe arrancavam gritos terríveis.nhã tivemos o prazer de atravessar juntos o jardim do Luxem-burgo. Estávamos na primavera: o céu límpido; a luz, que secoava pela folhagem ainda tenra, descia suavemente aos olhos;havia alegria no ar. Eu sentia vontade de falar de coisas de

Meu jovem amigo, continuou, dentro em pouco estarávocê habilitado a me prestar bons serviços. Ainda não lhe faleide sua remuneração. E' justo e necessário que todo trabalho

..._.. seja retribuído. Basta que diga uma palavra, uma só palavra, samor. Mas, enquanto os pardals chilreavam nas ramagens e um eu lhe entregarei a quantia que você mesmo tiver fixado. Mas,pombo descansava pousado no ombro de uma estátua, dizia- se quer aceitar um conselho, tenha confiança em mim e não some Fontanet: preocupe com o resto. Afirmo-lhe que não se arrependera.

Vou dar-te uma boa noticia. O sr. Veulet vai entrar a. estas palavras, compreendi claramente que, a não ser inl-na política ativa. Conseguimos convencê-lo de que, nas próxi- m|go de mim mesmo, o menos sagaz e o mais lorpa dos homens,mas eleições, se apresente candidato Independente pela cir- enfim o rei dos parvos, devia afastar do meu espirito qualquercunscrição de Sena-e-Marhe. E como precisa de um secretário idéia de salário. Foi o que fiz com um gesto. E logo me feliciteiparticular para o período eleitoral, julgo que te conviria esse por jggo, porquanto o sr. eVulet respondeu a esse gosto com umcargo. sorriso cheio de promessas, que me assegurou de que minha for-

Não sei se poderei desempenhá-lo... tuna estava feita. Em seguida, desabotoou lentamente a sobre-Oh' exclamou Btontanet, com essa graça encantadora «saca, levou a mão ao coração e, sacando dai um charuto, ofe-

que o fazia sedutor, —* se fosse um cargo que exigisse decisão; receu-mo. Era um charutinho vulgar. Mas como é Justo dlzer-ssIniciativa, energia, eu náo teria pensado em ti. Conheço-te muito bem: és inteligente, mas falta-te desembaraço, esponta-neidade.

——Sim, é exato. Não tens presença de espirito.E" verdade! Não tenho.

que tudo está no modo por que se dá! O sr. Veulet estenüeu-msesse charuto com um gosto tão amplo, tão munificente, tão no-bre, que compreendi ele me presenteava com um charuto lm-perial.

A partir desse dia aplicamos ambos todos os nossos cul-dados à- circunsenção eleitoral do Sna-e-Marne. A falar ver-

E's um pouco mole, acanhado. Bem sei que não deves dade, conheciamo-la multo pouco. O sr. Veulet, que se desse-ser julgado pela aparência, como em geral o fazemos. Mas, dentara em todos os rios do mundo, nunca íe detivera nasnão te inquietes. Com o sr. Veulet o teu serviço já estará de- margens do Mame. Fiquei encarregado de estudar as necessl-terminado, exigindo apenas um pouco de aplicação. "*' ''" '" '" " —"-"-- " ***¦

E como, sem embargo do cuidado que ele punha em tran-qullizar-me, eu ainda hesitasse:

. Não te incomodes, acrescentou. Esses três meses como sr. Veulet te vão desembaraçar da tua timidez.

Eu nunca tive vontade de me desembaraçar; mas sempreme pareceu de bom aviso não me opor a coisa nenhuma. For

dades das populações, cujos sufrágios Íamos solicitai-. Cônsul-tando dicionários geagráflcos, aprendi que essas populações sãoindustriais e agrícolas, -donde conclui terem necessidade dechuva e sol, e desejarem viver em paz. Meu amo não comsn- .dava, é certo, o» ventos que trazem e levam as nuvens; mas eradesses homens abençoados que apresentam a oliveira aos po-vos. -Tomai, dizia ele, tomai uma flauta, e Ide tocá-la nosbosques: todos os animais se aproximarão de vós, para vos es-

tanto, não me opus. Assentamos que eu iria essa noite aos cutar; assim tambem há uma harmonia que aproxima as naFranceses (*), onde no camarote da senhora Fontanet, mae, çâer e eMa harmonia que cumpre fazer ouvir". E eu admiravaencontraria com esta respeitável matrona o senhor Fontanet, ejse'bravo ancião, coberto dc cicatrizes, que aspirava ã paspai, presidente da Ordem dos Advogados, o qual me apresenta- ^,[^,^1, inscrevia no seu programa: abolição da conscrição.

supressão dos exércitos permanentes. Espíritos mofinos pergun-tariam talvez a al mesmos como é que pretendia o sr. Veuletdesarmar, ao mesmo tempo, a nós e aos nossos vizinhos. Eu,porem, que não era espirito mofino, entrei-me de entusiasmoe esperança.

Enquanto eu estudava as necessidades da circunscriçâodó Sena-e-Marne, conferenclava o sr. Veulet com advogados.

ria ao senhor Veulet.Para me informar quanto ao que mais me interessava, per-

guntel a Fontanet:Então o sr. Veulet é realmente um homem superior?

Tem'multo valorl respondeu,convicto o meu amigo.Acredito, pois já ouvi dizer o mesmo a muitas pessoas.

Mas em que é que ele tem realmente valor?Fontanet, dando de ombros, disse que eu lhe fazia pergun- Afw»ixa

tas rldicuhSr-coisa em que, rém custo, acreditei, pois sempre «ue const tulanr uma como junta eleitoral ,«on«lho ^tado

Uve confiança nos «ue mi negam razão. Todavia, acrescentou da oposição Deles, vi uns ISlou 14 _«mjrMu»«•".¦» «i.^"-nnJ n «r veulet consarrara a mocidade à libertação dos povos. let esclarecimentos sobre direito administrativo. E- que tinha-que ojr. Wrtenim

\SZ¥Zu*Vm^**Kdos. mos de combater um candidato oficial, forte por seu mandato.Combateu no Peru, sob as ordens do general Pezet, contra já várias vezes renovado, e por sua posição pessoal, - o Condeos espanhóis; em Plttsburgo e no cerco de Coflnto, sob Morta. '¦--_. _ . . _, .,_ „as doi general Scherman, contra os escravocratas; na SI- Alegrava-me de ver entre eles o sr. Fontanet. pai desas-Wria/ii* i de Stephen AUen Benson, contra o, ne- pecto bem romano con,, suas espessas sobrancelhas, suas faces«nl deTcaho das Palmas* em Varsóvié. sob as de Un- largsaJ, seu queixo quadrado. Ao passar por mim, enviava-ma££rta ao iSdo da^ífillTpiJtosSoltoff;^o CáucaVwb eoi5 a posU dos dedos um 'bom dia" cordial. gentle» queSS1\&iiW»MmSfímmv *mmZ» contra todos. Wi;>jHi.» lioonjeava quanto estava sempre cercado pelos« whTàè um navio necrelro confrades e era o único que eles ouviam. Nao abusava, entre-a iwdoje^ n«w negre»»^ fâyor empwsUvam à palavra", pois apenas

ZT^oa a não>Je7 a «tomaT Rondava quatro oo cinco frases por sessão, sendo «ne umaA noite nío deixei de Irão Franceses, té encontrei o tt'. delas <wa se*pr«í_ consagrada á^^ evocação 6* •>«» *2n»,.a»

FoBttneTpaí;» «UaCnum entio-ato. m* apresentou ao sr. V**- HXiméit* ftuiísJse"/• pàw-tnltM--«M arfletaâ íim. «lia»

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MO RIN - M FmV pena que a não tenham conhecido, dliia ele aoa Jo-

Miu confrades.Ao se retirarem, murmuravam todos:

Fbntanet é artista até à ponta das unhas.Isto Ia que eu lhe reparasse nas unhas. Tinha-as qua-

«iradas, plantadas em dedos curtos o grossos. Muitas vezesacompanhava-o o filho, que me perguntava sempre se eu mela desembaraçando, — o que me Irritava um pouco; tinha, po-tem, um modo tão gentil de me chamar "meu palerma", que medava até praier.Então? disse-me ele, um dia. O tal conde Morin con-Hnua a fazer das suas: ofereceu um estandarte à irmandadedoa Jardlnelros. Que cinismo!

Foi preciso que Fontanet me explicasse o caso. Indignei-me ao saber que o presente desse estandarte era uma manobraeleitoral de insigne deslealdade.

Contudo, iam em bom caminho os nossos negócios. Umgrupo de eleitores otereeu em termos honrosos a candidaturaao sr. Veulet.— O meu mais ardente desejo, disse ele em resposta,

era viver no estudo e no recolhimento. Vós decidistes o contra-lio. Dou-me pressa em acúdir ao apelo das esforçadas popula-eões que lhe honram com a sua confiança; Na vida política deum país h*: ocasiões solenes em que a abstenção seria a deser-cão: «Podeis contar comigo. ' '¦'

Edtava travada a luta; cumpria sustentá-la. Envlou-me oar. Veulet à capital do distrito, como secretário da redação do•Independente" do Sena-è-Marne, cujo redator-chefe era ocr: Balnt-Florèhtln.' •

Ao'tomar o trem, disse de mim comigo: "Possa- eu ser útil•o meu caro mestre e conhecer as necessidades das populaçõesda clreunscrlção do Sena-e-Marne".

Ji próximo da estação, pús-me a olhar pela janela. Porentre os salgueiros serpeava orlo suas águas de prata, indoperder-se em curvas graciosas, mas podiam adivinhar-se-lhe ain-da por longo tempo as slnuosidades do curso pelas linhas de' choupos que o margeavam. Uma flecha e duas torres, emergin*do èm nielo da verdura, assinalavam o lugar da cidade, cujasprimeiras- casas, dentro em pouco, eu avistava. Envolvia-a limapaz rlsonha; ali estava ela, pequenina e clara, sob o céu azul;onde leves nuvens brancas se mantinham imóveis. Sua vistaaconselhava repouso e alegrias intimas. E, contudo, eu ia levarpara atas discórdias públicas. ¦¦.,..„-¦

Indicaram-me o "Independente". Estava instalado ao péda estação, numa casa baixa revestida de glicínias. Fui encon-trar o sr. Saint-Plorentin no seu gabinete de trabalho: escre-via, tendo-se libertado do casaco e do colete. Era um gigante,e o mais cabeludo que eu, até então, havia encontrado. Com abarba e os cabelos muito, pretos, fa?ia a cada movimento umrumor de crinas amassadas, é exalava um cheiro de fera.

Não suspendeu a pena à minha chegada; suando, bufan-do, o peito nu, concluiu calmamente o seu artigo. Só então,perguntou o que eu desejava. Quando lhe disse que o sr. ,Veuietme havia designado para secretário da redação, respondeu, en-sugando a fronte:

Perfeitamente.Perguntei-lhe em que consistiam as minhas funções.

.-—:'E* sempre a mesma coisa, explicou.Urgia confessar-lhe que eu era de todo estranho ao jor-

nalismo. Tal confissão, longe de me prejudicar no seu concei-to, com eu receava, inspirou-lhe espontânea benevolência páracomigo. Sorriu, estendeu-me a mão e convidou-me a jantar,nesse dia, em sua casa, em familia. Deii-me o endereço e acres-cen tou:

—— Ao entrar, pergunte pelo sr. Planchonnét: é o meuverdadeiro nome. Fora deste gabinete, não há mais Saint-Flo-rentin, è sim Planchonnét!

Tentei várias vezes fazê-lo falar da candidatura do sr.Veulet, a qual muito me interessava. Ele, porem, mostrou-seIndiferente pelo assunto.

Nâo o era entretanto o .seu artigo, que 11 nessa mesma tar-de. Que fogo! Servia-lhe de tema o estandarte oferecido pelocandidato oficial à irmandade dos jardlnelros. Com que calor,se Indignava o meu.redator-chefe contra os presentes corrupto-res! Passava alternativamente da cólera à ironia, -visando dl-retamente o conde Morin. Descrevia-o terrivel, cheio de astúeia,pérfido, entregando-se a manobras tenebrosas,, desenvolvendona |uta uma eenrgia implacável, lima atividade surda, — a gê-nio ds ambição e do fanatismo.-Enfim, disse comigo ao dobrar o jornal, é multo melhorconhecer a gente o seu adversaria!

Como tinha ainda uma hora, antes de ir ã casa do meuredator-chefe,. fui espairecer num bosquezinho situado a du-lentos metros da cidade. Era um grupo seml-selvagem de car-pas,. bordos, frelxos, tilias, e lilases, — um ramalhete bafejadopela brisa. Pareceu-me encantador, comecei logo a amá-tor,prometendo * mim mesmo eonhecê-lo, árvore por árvore, desço-brir-lhe as mais humildes planas, coronilhas e saxifragas, verse o "sêlo-de-Salomão" al cresceria ã sombra das mais grossasárvores..Havia-o já percorrido em várias direções, quando seme deparou um velho sentado num banco, onde depusera ochapéu, as luvas, o lençbe alguns frascos de remédio. Tinha• rosto longo e pálido, o crânio estreito com algumas madelxasgrisalhas, o» olhos melancólicos; a boca descaidae Pendi»-lhe dasmãos uma corda de saltar. Contemplava atentamente uma me-nina de cinco anos que se entretinha em espetar pequeninos ra-mos na areia de um arrolo estanque. A criança cujo vestido erarguarnecldo de rendas, erguia de quando em quando para eleseus grandes olhos, rodeados de um circulo azulado. Era.alva,é franzina. Ao concluir seu jardinzinho, soabriu, hum sorriso, oslábios pálidos. Vi então que o velho, voltando o. rosto enxuga-va uma lágrima que lhe desusava pela face. Ocultei-me paraobservar, mais atentamente, e verifiquei que era antes um en-termo que um ancião. Trajava com elegância, mas os movi-mentos. eram desajeitados e penosos: sem dúvida, a paralisiatolhera-lhe os membros e adôrmecera-lhe na alma tudo quenão fosse o amor da doentinha que brincava na areia aolado dele.

Esse encontro, que nada tinha de extraordinário, deixou-me dolorosa e profunda lembrança. A expressão desse seme-lhante, triste e sofredor, eniinaya-me. a inanidadede nossasquerelas e ambições ante o destino. .Esse homem, dizia eu comi-go. não se envolve èm nossas contendas, hão se preocupa ábso-lutamente de lelcoes, e escapa a nossas pequenas misérias pelofjivor terrível «la dor, que o coloca acima de nos outras. - .^ÍS^jSaSm, cqnduslwí^ .'*; casa..)*», péu', fOdáfcr'

chefe. Encontrel-o na saía de visitas com dois ou três filhosne» joelho», e outros pelos ombros. Tinha-os.até nos bolsos.ChamaVâm-lhe todo» "papal" e puxavam-lhe ás barbas. Nãqera Jã o mesmo homem:,trajava uma sabrecasaca no*»; camisabranca e rescendla a alfazema; mas o que d tornava lrreconhe-eivei erá o seu ar de bondade e contentamento. A sala. cheiade flores, era alegre como ele.

Estendeu-me à máo enorme e macia.'Entrou uma senhora, clara e.magra, algo' Já passada, mas

simpática, de cabelos louro-pálldos, olhos de pervlnca. e gra-ciosa, apesar do talhe deformado.

7 — Apresento-lhe a senhora Planchonnét, disse-me ele.Parecia- ter orgulho da esposa, e, realmente, era um gosto

vê-la; eu não poderia'nunca imaginar que um homem como omeu redator-chefe pudesse apresentar, por sua esposa, tao en-cantadora pessoa.

Encantou-me a sua "tollette": clara e leve, — é tudo quan-to posso dizer-vos. Nesse tempo não sabia ainda analisar a"lòllette" de uma dama, nem sequer distingui-la bem nítida-mente da pessoa. Sel-o agora, e é uma ciência a que não devonenhum prazer. A senhora Planchonnét derramava o seu en-canto por; tudo que a cercava; a ordem do seu espirito e agraça dè suas Idéias se refletiam por toda a casa. Náo queesta fosse bonita por si mesma, com o soalbo de ladrilhos vul-gares e s traves enormes do teto; nem era ricamente mobtliada.Aliás, p luxo e abundância de móveis não se harmonizariamcom a vida errante de um Jornalista como o meu redátor-chefeMas as tapeçarias bem ordenadas/ trabalhos de agulha hábil-mente arranjados, algumas faianças pintadas, folhagens, flores,tudo isso recreava delicada e espiritualmente os olhos. As crianças(vi que não passavam de cinco) eram robustas, desconfiadas,de boas cores, quase bonitas; as pernas e os braços nús forma-vam- â roda do pai um emaranhado de magníficas carnes ró-seas, dòiradas de flhá penugem; encaravam-me todas, a umtempo, silenciosamente, com olhos ferozes. A mãe desculpou-seda Impolldcz dos filhos: ,, ',

\— Estamos sempre em mudanças, de uni lugar para ou-tro; eles não teem tempo dc conhecer ninguém; são uns bicht-nhos do mato, nãò sabem nada... E como podem aprender al-guma coisa se mudam de colégio de seis em seis meses? Henrl-que, o mais velho, já fez onze anos, e não sabe uma palavra docatecismo; nem sei até como poderá fazer a primeira eomunhãoe Dê-me o seu braço. •

Uma rapariga aldeã, de quem a senhora Planchonnét nãodesviava os óhos, «trazia pratos e mais pratos, caças e aves, queo nosso anfitrião, com o guardanapo por baixo dò queixo, qgarfo de três pontas èm unia das ihaòs e na oütrá a faca decabo de pé de corça, fazia colocar diante de si, mostrando to,-dos os dentes e revirando o branco dos olhos por entre os pelosdo rosto.

As narinas entumeclam-se-lhe ao cheiro das vlandas. Comos braços em arco, trinchava com habilidade as carnes branca*ou pretas, servia, ele mesmo fartamente os filhas, o hospede éa esposa, demonstrando imenso prazer pelos manjares: Tinhaum ar terrivel, feliz e bonachão. Dizia com riso medonho col-sas inocentes. Era, piorem, ao servir os vlnohs, que estadeavatoda a-sua cordialidade de papão ingênuo. Com os braços enor-mes, apanhava pelo gargalo, sem se abaixar, uma das garrafasdepositadas a seus pés, enchia até as bordas o copo da mulher,que recusava em vão, os dos filhos, que jà toscanejavam com ascarinhas dentro dos pratos, e a mim tambem, desgraçado, quesorvia, sem saborear, os vinhos tintos, rosados ou brancos, am-breados ou doirados, cuja idade e procedência ele proclamavaalegremente. Esvasiávamos assim não sei quantas garrafas díver-samente rotuladas, após o que — exprimi â minha hospedeira osmeus sentimentos nobres e ternos: tudo o que em minhaalnfe havia de heróico e amoroso vinha-me de roldão aos lábios;

Tentei levar a conversação para o sublime, mas não erafácil mantê-la nessa altura, porque se o meu anfitrião apro-vava de cabeça as minhas mais transcendentes especulações, dei-xava-as, entretanto, morrer, falando-me imediatamente da es-colha e preparo dos cogumelos comestíveis, ou de qualquer outroassunto culinário. Pòssliia na cabeça um completo tratado decozinha e uma boa geografia gastronômica de França. Às ve-zes contava tambem ditos engraçados dos seus pimpolhos. ¦

A sobremesa, descobri que eu estava1 apaixonado pela senho-ra.Planchonnét. Esse amor. era tão puro e generoso que, longede abafá-lo em mçu coração, traduzia-o em longos olhares econsiderações filosóficas,, discorrendo acerca da vida e da mor-te. Tinha ainda multo que dizer quando ela se levantou para irdeitar as crianças, que, de pernas para o »r, dormiam profun-damente nas cadeiras. Essa partida deixou-me grave e pensa-tivo diante do marido, que.servia agora licores. Desejei sutilmen-te que ele tivesse uma bela alma e eu outra ainda' mais bela,para que a. senhora PJanchpnnet fosse amada poç dois homensdignos dela. Eis por que resolvi sondar ò coração de Planchonnét,

É- vigoroso o.artigo que escreveu hoje, denunciando asmanobras do Conde Morin...

-—Ah! O torpedo desta manhã!.,. „-O torpedo!... E' unia expressão técnica e proflslaonal, disse

comigo. E prossegui:" —- Mas, afinal, quem é esse Conde.Morin? , "\r

.Não o conheço, nunca o vi. Dizem que é um parvo, masum bom homem. -"'•' -'¦'

E, como eu denotasse Surpresa, acrescentou:' —i-ir 'Não conheço ninguém aqui: Há três meses, entavaeu ainda èm Gap. FOI a junta Veitfet que me perguntou sé euqueria vir derrubar Morin. Vim. Vm pouquinho de anlsete?7 Desenvolvera-se em mim uma necessidade Imensa de ter-nura. Tomava-me dc amizade por Planchonnét a : qUeni de-monestrei alguma famlliaritínde, interesse «.sobre tudo; eon-fiança.

Percebendo, porem, qUe ele cochilava, levantei-me, desejeilhe uma boà noite e exprimi-lhe o desejo dè querer apresentarminhas homenagens â senhora Planchonnét. Objetou-me que*eu não poderia fazê-lo,, porquê já estava deitada. Chamei-medesastrado, è fui procurar o chapéu, que tive grande trabalhocm encontrar. Acompanhou-me Planchonnét até ao patamar,ilandò-me, quanto' ao modo de segurar o corremão e desceros degraus, conselhos que, de ordinário, não se dão. Mas a esca-da era, ao que parece, complicada, pois tropecei pêlo menosduas vezes. Lá décima, perguntou Planchonnét se eu acerta-ria com b meu hotel,'— pergunta' qüe me ofendeu. Respondiqúe òr encontraria facilmente, afirmativa um tanto ousada, por-quanto passei parte dá noite a procurá-lo, se bem que ele esti-veíSe na mesma rua Onde habitavam o» meus hospedeiros. Du-rante essa pesquisa verifiquei a dificuldade que, ás vezes; temum homem para náo patinhar nas sargetaj. Súcediam-se-meno cérebro as mais extravagantes Idéias: más, resolvido á pra-ticar quanto antes um feltò héròlco aos olhos da senhora Man-ehonnet, era-me Impossível determinai* o gnerè e natureza de

WWBIBU0*ÈtóFICÀS

(Continuação da pagina anterior)dades de sua fantasia e de seuestilo,

Josué Montelo — "JA-NELAS FECHADAS —Péngetti — Mo, Mil.

Ò sr. Josué Montelo é toados nossos confrades da In-prensa carioca, onde trabalhadesde 1»37.Acaba ele de estrelar-se no

romance, publicando um volu-me a que deu o titulo de "Já-nelas fechadas". E' uma histó-,ria triste de gente humilde,história que se desenrola numarrabalde dó Maranhão. O io-ven escritor é maranhense, co-nhece "de visu" e, por assipi di-zer, de alma e de coração, .osaspectos que apanhou pava oseu livro. Os tipos que escolheupara seus personagens são vi-vos, apanhados em flagranteda realidade. Tambem evoca

O sr. Josué Montelo reúne astradições da boa gente mara-nhense. Tudo isso forma o ln-teresse do seu romance, quemerece a atenção dos leitores.

O sr. Josué Montelo reúne ássuas qualidades de jornalista eromancista às qualidades decritico, sendo hoje o encarrega-dò dessa seção no "Dom Cas-murro", o vitorioso jornal lite-rárlo de Álvaro Moreyra e B.l-elo de Abreu.

Emilio Giraram—A VI-DA AMOROSA DE NA-FOLEAO — Tradução deAbguar Bastos — Calvl-no — Bio, 1941.

Os amadores de Napoleão fo-ram numerosos para um ho-mem comum: mas, para umherói, que submeteu tantos po-vos e encheu com o seu gênio •e a sua personalidade todo umséculo, seriam poucos e ra-ros...

Emilio Girardin familiarizou-se com as aventuras passagel-ras e as paixões demoradas dogrande corso, e sobre tais amo-res escreveu um livro, onde sehá multa informação, há mui-ta malícia tambem.

E' esse livro que agora apa-rece em possa língua, em trardução de Abguar Bastos. O as-sunto é, como se vê, dos maissugestivos, e nesta hora, emqué ps leitores brasileiros ma-nlfestam tão nítida predileçãopelos livros traduzidos, a VidaAmorosa de Napoleão está des-tinadá a um grande êxito. '

, St tivéssemos dê falar sobrea' parte rhateriál dp livro, diria-mos què achamos deplorável 0sistema nele introduzido, de sefazer, dentro de suas páginasreclames, de obras qué a edito-ra futuramente há dè publi-eár.

Os livros têm uma'certa de-cinda, uma certa dignidade,qúe ninguém deve 'ferir. Meteranúncios dentro de suas pági-nas é como que conspurcar essadignidade; Emílio Girardin é opróprio Napoleão; ficariam-in-dignados, se soubessem que es-tas páginas estão agora servln*do de veículos para anúncioscomerciais... > •

'""" Afonra Sehmldt — "A

MARCHA", romance daAbolição — Editora An-chieta Limitada — Slo' ,F»ulo, - 1»II,' ..;'.'.'

Afonso Slimidt è um dpimaiores trabalhadores intele-ctuals que existem ho Brasil.Jornalista de atividade diária,que se multiplica em todas ascolunas, desde á do simples ho-ticiário até às dos artigos desevera doutrina política, é eletambem o poeta, o contisa, •romancista, ò autor de teatro.Como poeta já nos deu quatrolivros; como contista, sete; eq-mo. romancista três; como teu-trólogò, dois. E1 iun esplr «to m-quelto è inlatigavel, eomo SCestá vendo. , _±^. .1-

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Page 28: BNmemoria.bn.br/pdf/066559/per066559_1941_00013.pdf · fè@§ SUPLEMENTO LITERÁRIO DE "A MANHA" 9/11/941 publicado semanalmente, sob a direção de Múcio NlHll. 13 ' Leão (Da Academia

Hiwwiiiifliiiiijpi.i5.il' i .i ii» m m i j mp ípp

p,tciN,v aa — suplemento traanAiuo p'a manha

ii»» . ui,,.pHMHHI ¦

00H»O0» f/lt/IMl 1

NOTAS BIBLIO-GRÁFICAS

(Coníinitoç*) ío píjlns aníerfor)Esse escritor dá-nos agora a

aua Marcha-Roniance da Abo-lição- Para escrever esse livro,Bchinidt embrenhou-se no pe-riodo mais triste e mais doloro-

,10 da evolução social e. hlsto-rica de S. Paulo, traçando no»um quadro soberbo do momen-to de tantas lutas e tantos so-frimentos, que foi aquele queantecedeu o 13 de maio nagrande província,do cate. Seuromance tem como centro deação o mesmo qúe encontrámosno Fugindo ao Cativeiro, o ma-gnifico poema, de Vicente deCarvalho.

Marcha é um romance aeação, de caridade, e tambemde minuciosa informação. Est»destinado a merecer a atençãodos, leitores que busquem noalivros mais do que o simplesprazer Irivolo de uma mela ho-ra de leitura amena e diver-

Graeiliano Ramos. —ANGUSTIA — Romance

Livraria José OlímpiaIMI.

Aparece açora, na Livrariatose Olímpio, a segunda ediçàodesse romance do sr. Gracilia-no Ramos.

O favor do público veiu aiencontro dos méritos desse tra-balh'6 do brilhante romancistabrasileiro.

Graeiliano Ramos tem, entreos escritores nacionais dos diaade hoje, uma situação toda su».E' ele, talvez, entre os nossosautores dè ficção, o mais pro-fundamente preocupado com aquestão da análise intima dospersonagens. Cada um de seuslivros é um processo de pene-tração a fundo na alma dos in-divíduos. E. parece haver, nele,uma verdadeiro mestre de psi-eanálise.

Mais que em qualquer butrodos livros de Graeiliano Ramcs,essa intenção de análise psico-lógica transparece em Angus-tia. (B esse caráter do livro pá-rece traduzir-se até rio1 titulo:..)

E', pois, um registro que fa-temos com. praaejs, o do apare-cimento da segunda edição dea-ic iormoso romance.

OPINIÕES SOBREGONÇALVES DIAS

De FRANCISCO SOTERO DOSREIS — Curso de LiteraturaPortuguesa e Brasileira, SãoLuiz do Maranhão, 1868, Vol.I,p. 74:

O sr. Gonçalves Dias, que naotem rival entre nós no coloridoe perfeição do estilo, é, sem dú-Tida, pelo elevado e aceso ima-glnár o primeiro lirico da épo-ea; e direi náo só do Brasil,mas. ainda nos dois países delingua portuguesa.

De GONÇALVES CRESPO —Carta ao dr. Antônio HenriquesLeal, tn-Pantheon Maranhense,(Coimbra, 1« — Maio — WfV),p. 324:

Tenho lido parte do segundovolume e toda a biografia domaior poeta brasileiro, que tar-de ou nunca será substituído.Éu chego a adorar aquele gentl-llssimo talento de G. Dias, opotente criador da poesia na-eíonal, e o entusiasta cantordas epopéias brasileiras. Elenlo era só o Inspirado, <ttmbem o sabedor profundo dalíngua, e doe seus múltiplos se-gredos. Ot TtmbtraS sio a pro-Ta disso; os Timblrat, que po-dem sem desvantagens travarjustas com o Camões tnoDBranca, de Oarrett, posto queem gênero diferente, •'»aquele numero»» e magníficoCantmurt. dò Durão. Que penaque não se conclulásé obra detanto valor arUstIeol

crer qúe seriam tolices, não tive coragem de voltar ao "In-dependente". ...., ¦

Envergonhado e triste, ful-me ocultar no bosquezlnho. eai, deitado na relva, de olhos no alto, onde via cintllar as folhasprateadas de um choupo, recebi às mudas consolações da na-tureza e perdoei a mim mesmo as minhas faltas.

Entrou comigo a esperança de que a senhora Planchonnet se.

O CONDE MORIN<» .,¦' *™ '¦: '• ..' - ., X •.¦'..¦¦ "¦¦'"

(Continuação da página anterior) _ nãó é verdade que não mudou nada desdeilidla_em mi»Ul façanha. Acordei no dia seguinte, quando o sol já ia alto; ti- « viu? Pol ao dia em que ela atoou a... ««*» 4to'?a bolanha a língua seca, o estômago pesado! a pele ardente^Por estes numa... como direi? numa arvore. E minha tlüttv Molhosintomas reconheci, não sem grande surpresa e muita vergonha, parece que yal melhor? _.„.,,,, _»_ t™nn..in... _¦que me havia abominavelmehte embriagado na véspera. Aborre- uEnquanto ««mlnhavan^. ,íte o pwsivel mM^tcia-me principalmente por não poder lembrar-me do que dissera pobre nomem. Mas eu^ Prtprio mesenta .contristadn., Com»

±^™.™™ct™™t. *ir?níí..o.í??í?L*™*,_.™zõ?! Mf ""^Ü^Seí Se?...*^^4S^àmw.:7 :;:;7:, Todos os membros do pai estremeceram, maa ele não disse

nada. .- — ¦• ¦¦-.¦!¦.. ¦» .-• ¦ :*¦>¦¦*• •>¦ ¦--- *¦ *¦¦ quero ver mamãe!, repetia, a; criança, a chorar..

. Então o velho, erguendo os olhos ao céu, .abriu oa braços,como a tomi-lo por testemunha de uma desgraça Imerecida.

O carrinho, que seguíamos calados, parou, num bosquezlnhoria indulgente com a minha mocidade e que e^nlto torta'

'pTrdído de pinheiros. A governanta /baixou J»YeJja»^'w1"^

para sempre a simpatia daquela alma, que eu adivinhava atra- UJisustoiH» cqm alguma çoisa «u«„*^J.la„^M^n,^Urel d£.vés dé dois olhos de um azul tão profundo! Foi-me grande ali: traHa com flores e cantigas, e c<>^«^:0-J^'toúnr»e^lgovio essa esperança, e ter-me-la Inclinado para o absoluto ótt- teanlmada com um pouco de ar ^«leg™. f0?™""¦ *££*&"misníò sè a senhora Planchonnet tivesse o talhe tão lindo nha; ao cabo de ¦ uma» hora Já tipha^aa taces ^ase rosadascomo os olhos Quando, tendo refrescado a temperatura,, se, fez necessário'

Esforçava-me destarte por me reconciliar com a vida, quan- reconduzir a criança ao castelo, o pat, apertando>»>e a mão,do ouvi uns gritos de criança. Aproximei-me e vt a doentlnha disse balbuciando:, ,.:-. ^.-O - „"'!' . jüiü.1 ,^da véspera. Enquanto ela chorava, o velho, que à acompanhara Multo obrigado. meu am*»._Se ^eclsar demlm, teralno dia anterior, contemplava com ar triste o cimo de um gran- muito prazer em servi-lo. Sou o cjnoe Morin. •i-.,„.,:,..,-,„,de olmo. Lia-se no rosto verdadeiro desespero; os braços agi- O Conde Morln! Fiquei estupefacto. ^iti^i^íSÉStavam-se no ar e os Joelhos lhe tremiam. Era, de certo, vitima O Conde Morln?. repeti eu. O candidato a depu-de uma fatalidade superior às suas forças. tado?... .^«'hÍfIi»» í»Lá', lá!... 14L..., dizia ele. Chut... chut... chut..., fez ele. O... como direi? O

Ofereci-me para servi-lo no que pudesse. Expllcou-me en- prefeito apresentou a minha candidatura, ^W^S*tão, com palavras mal articuladas, que a bola com que brincava como direi? candidato agradavel ao... J&J&SgSv&fii Sfgjfi-a filha, ficara presa a uma árvore, e que, tendo ele atirado a como direi? probabilidade de... éxl^i^,.™ 'W'»^»1*-bengala para fazê-la cair, esta náo descera. Estava consterna- gicaniente a minha... candidatura «àJA"'™. *^J^J*tdissimo. xar esta criança. O... como direi? o Imperador há, de com-

A criança, cessando o choro, voltou-se para mim. Examinei preender que eu não pos*»- ««» «lança esta «f™11»- o Se-os dois. Vi que se pareciam. Os traços de ambos, acentuados e hlior compreende... está sjainna. A. como fure», «aj"a-finos, conservavam, sob a máscara do sofrimento, um nào sei Téf-lhe-la de boa mente confessado nieUa «ros emim-quê de caroayel e raro. gano a aeu respeito, mas nao o Julguei assaz forte para Ouvir

Urgia, .antes dó mais, prestar-lhes auxilio. Busquei ver se semelhante confissão. ;,. .descobria os ramos onde se haviam prendido a bola e a bengala. ...... ..O.......... ... •.. /••• • •_•••• ••», •" ¦•-&£-*• jjiv?-!Lá), .lá!. . lé!..., repetia o velho, estendendo um Foi eleito o sr. Veulet por maioria de SM votos "»«obraço desobediente,. que se agitava em todas as direções. E esse Conde Morln. Terminada a ej!*".»***^ » "f* 0Me "W*esforço inundava-o de suor. -"';. cadê teês ineses depois recebi a ™»a*4fS?S3^».,n-.

Descobri por mim mesmo o que buscava, e, com uma pedra- _ Com qúe então, meu palerma, disse e *j>.í^^eíte„™«,í»da, consegui desprender a bola da criança. A bengala, pouco comb um tolo? Cohtam-se boas a teu ^spelt2L„lía '»»«.!¦»?vtalvel de baixo, não podia apUcar o mesmo processo. Decidi, conheço, sei dar-lhes o devido valor; somos velho» camarada»,trepar à árvore. O pobre homem, hesitante de lingua e de es- não Ignoro qúe tens mais fraqueza que nj«"«»- ™B»>..J*"?™;pírito, suplicava-me nada mais fizesse. Bastava, dizia ele, que entre nos; andaste mal, multo mal. Nào * assim que se aev»a criança houvesse recuperado a bola e não chorasse mais. Eu, entrar rià vida........ „-._. j„.. »„™,k«».porem, sentia em mim uma energia' indomável: era o primeiro Pedi-lhe que sé explicasse. Ele, gowm. deu de ombros.efeito do meu amor à senhora Planchonnet. Maranhel de galho monstrando tal confiança em 1 meáno, que me intimidei.em galho,' com uma agilidade que eu mesmo desconhecia, e consegui pegar a bengala. Vi que o castão era de outro, tendo ao re-dor um anilho de turquesas. Devolvida ao ancião eafastei-mepara poupar-lhe o esforço de novo agradecimento.

Haviam cambiado de cor minhas idéias. Dirigi-me, de ânl-mo alegre, à Tèdação do "Independente", onde encontrei Plan-chonnet semi-nú, suando, bufando, os olhos esbugalhados, a lin-gua fora da Boca, a barba ainda a gotejar espuma de três li-tros de cerveja que o cercavam. Escrevia, ao correr da pena, novoartigo contra os manejos do Conde Morln, e dir-se-ia, ao vê-lotrabalhar, que era Uma obra de* escachar. Eu próprio levei àcomposição as tiras; logo qué èle as: acabou de escrever. .

Z1Z sabes bem b.qúe quero dríer. Não devemos levar afraqueza *até éSs* ponto, méú Saro Como?.;. Pois étrtiam-tePára sustentaies a candidatura dò ». Veulet; e tu <ntraa emconéhavo com b adversário? '•'. .

,:' ' Protestei. ..'"*' ".,

7——-Oh ! disse Fontanet. Veulet cqntqú-me tudo. Ss um desas-

trado. Compreendo bem que çe passe de um a outro partido.(Compreendia tudo o meu amigo. Fontanet). Mas sempre fazê-lo decentemente e tendo .em vista um ,tim qualquer. E's umparvo; Não viste então.que o Império está gasto, liquidado? Naovês nada.' Não visto qiie o Conde Morln não passa de um velho

^.^ „„ ., ™B„ ,.. intrigante? Wàvos disse que vlá tudo o meu amigo Fontanet).De fato, era violento o artigo. Tratavá-sè, desta vez, de uns o que Morln tem de melhor,.meu caro, é à esposa. Quando digo

guarda-sóis com que 6 Conde Morin mimOseara às'mulheres do tem, ij-um modo de falar. No verão, percorre sozinha, sem ele,mercado Este simples Jato acendera a tal "ponto' a Indignação todas' as cidades dé águas é praias elegantes. Em Trpúvl!le„pedide Planchonnet, que d artigo precèderite.qúé eu "julgara tão qUe ma apresentassem, e dansel com ela em um ha|le de carl-severo, me parecia agora, comparado com esse outro, tímido e dade, Não quero dizer mal» nem.andaria bem sè olttesse; mastraço "àqúl entre.nís, é uma àesmloladá. ""..'"'. ".,'.; ,-

Dei-lhe os meus .paçabens. , iSentlu-se lisonjeado, e res-* ¦ Enquanto dizia isto, afagava as suíças, passeava o olharpondeu: meigo, bamboleava-se alrosamente. Era, em verdade,',encantador

Eu lhe conto: aa passar esta manhã, pelo, mercado, o meu amigo Fontanet.para comprar um melão, — porque, deixe-me dizer-lhe, para Que pensam vocês que eu fiz, ao ouvi-lo falar assim. Pú(-comprar um melão ou um faisão,..:as.mulheres não entendem me a rir, — o que me atraiu novas recrlminacões. ^ .,..,.,absolutamente nada: só o homem sabe comprar frutas ou caça, Não tomas nada a sério, disse-me Fontanet.— ao percorrer os taboleiros, verifiquei que as camponesas tt- • sim, eu não guardava o sério. K que pensava em coisas dt-nham todas guarda-sóis vermelhos inteiramente novos. Obser- vertidas, — .divertidas, realmente) Pensava nessa pòbre: ertançavando isso a uma vendedora de manteiga, disse-me ela que, moribunda, que, à margem do rio, eu ouvira gritar, na angus-desde tempos imemoriais, costuma fazer o "castelo", nesta épo- tia do amor traído, pela mãezinha, a qual, a essa hora, dan-ca do ano, uma distribuição graciosa de guarda-sóis. a todas as ^y^ talvez num cassino com o meu amigo Fontanet.mulheres do mercado. Ora, o castelo é o Conde Morin. E o Con- Mas Fontajiet chamou-me à razão de mais humanos senti-de Morln — fique você sabendo — possue aqui'74 hectares de mentos.terras. — "Ah! mulherzinha! disse então comigo, — fizeste. Devias, em teu próprio Interesse, disse ele, procedersem suspeitar, o meu artigo!"-. melhor com b sr. Veulet- Não soubeste apreciá-lo. E' um homem

Em seguida, tirando-me pela manga: de raro valor, que somente a sl deve o que é. Imagina: umVá Jantar lá em casa. Faremos o enterro dos ossos. homem, como ele, que, ainda aos quarenta anos, era professor

Agradeci, mas recusei, pois não desejava entrar demasiado num colégio de Montmartre; em seguida, atirà-se aos negócios,na intimidade do meu redator-chefe. Fiz somente uma Visita é obrigado a falir três vezes, e alcança, aos cinqüenta e doíaa senhora Planchonnet, a qual, em frente de um ramalhete anos, a notoriedade e a. depuração, — esse homem é dotado dode flores silvestres, remendava os fundilhos de um calçãozinho rara energia. E' leviandade proceder eom ele como tu te com-do filho mais velho. Fomos ambos, ela e eu, de extrema dlscri- portaste. »» - - - —ção um para o outro; desde esse dia, se continuei a amá-la, O quê! exclamei, O sr. Veulet foi, aos quarenta anoi,tal sentimento só despertava dentro em mim quando havia professor num colégo de Montmartre? ;.' »,-:--(luar, do qual tlnha ele a fria polidez. Não o sabias? respondeu simplesmente Fontanet.

Aprendi com facilidade o meu ofléio e desempenhava-o .Sabia que servira como voluntário nos do» hemlsfé-conclentemente. Ocupava-me todos os dias em recortar noticias rios: combatera no Peru, sob as ordens do general F«»*t. ^a'dos Jornais, corrigir provas, redigir artlguetes em louvor do sr. tra os espanhóis; em Plttsbnrgo e no cerco de Corlnto, sob a*Veulet. Quanto ao Conde Morln, não lhe poupava as opiniões do general Scherman, contra os escravocratas; na Slbéna» so»nem sequer a própria pessoa. Stephen Allen Benson, contra os negros do Cabo das Palmas;

Pouco sala de casa. üm dia,_porem, ful-me a espalrecer em Vàrsóvla, sob Langlervicz, ao lado da senhorlta PUJto™*ao longo do rio, que reflete em suas águas azúes os salgueiros toff; no Càucaso, sob Schamyl, contra os russas; e, >Hlnh«,e as casas brancas das margens; adlantel-me um pouco mais contra todos, a bordo de um negreiro. Eis al o qué eu sabia.pela campanha, que eu ainda não conhecia, e achei-me diante Quem te contou todas essas caramtnholas?, perguntoudo portão de um parque, qne estendia «eus amplos gramados desdenhosamente Fontenet. - -.a meia encosta até à fachada de um castelo, estilo Império, com Disse-lhe que fora ele mesmo, Fontanet, certa manbi aofrontào e colunas. Abre-se o portão, e vejo o meo amigo des- primavera, no Jardim do Luxemburgo. Ele, porém, replicou, comconhecido, o hemlpléglco do bosquezlnho. Ainda desta vez acom- o calor da verdade, que eu sonhara, de certo, pola que ele seriapanhava á fllhlnha, a qual, por Jà não poder andar, estava dei- incapaz de contar semelhantes patranhas. Nao Insisti: Fon-tada num carrinho, impelido por'uma governanta. Entrel-me tanef e eu não tínhamos a mesma Idéia acerca da certeza. Ade compaixão ao tornar a ver aquela cabeclnha multo loira e dúvida filosófica, que tanto me tem conturbado a alma, naopálida, apoiada numa almofadinha bordada, à sombra do te- entrou jamais na dele. .,„,«Jadilho abaixo. Parecia uma dessas mártires de cera, adorna- Ao separarmo-nos, estendeu-me a mão. »a um exceiensedas de filigranas de prata, cujas chagas e jóias aa religiosas es- camarada. _._,„... «.panhoUu contemplam em suas celas. Pauaram-se alguns meses .Certa manhã de ^SÍS^JLX

O pai, elegantemente trajado, tinha as faces empoadas.e tando à minha secretária a trabalhar, ouvi o eoolbo estalarsulcadasMe lágrimas. Com passos mal seguros caminhou ao horrivelmente. Voltel-me. e pareceu-me ver-um_ Papao. Jg-meu encontro, tomou-me a mão, conduzlndo-me para Junto da tava diante de mim o meu amigo Planchonnet. Fiquei eatarre-filhinha ddo. Bn verdade, não o supunha tio corpulento, tao abrata-

'nio é verdade — disse em tom de criança qu* supUda lhado. Contudo, estadoava agora maneiras elegantes: o r

...a JJ

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L DOMINGO, a/11/1941 SUPLEMENTO LITERÁRIO D"A MANHA — PAGINA K»

A vida é de cabeça b AlvâroÔlXd — Moreyrã

TRISTEZAS

De certo, para quem Ja viveu bastante, hâ uma chusma detristezas neste mundo. Desde os aspetos naturais, pelos am-Mentes feitos cenários, até aos pequenos objetos, companheirosda existência de todos os dias. Um copo. Uma navalha. Umchuveiro. Um copo se quebra; outro, qualquer, é sempre umcopo. Vm navalha se substitue; e as sucessoras não teem sen-tido diverso. Um chuveiro se troca por um chuveiro, e é aindao mesmo chuveiro... Ao longo das horas, tudo é igual. Nemnas pessoas aparece a diferença para alegrar os olhos que asencontram. Joaquim Nabuco definia a mocidade como a sur-preza da vida. Quando, em torno de nos, diante de nós, nadamais surge que nos espante, fnl a velhice que chegou. Pelaidade ou pelo desencanto. Mais consolador, Montalgne desço-brlra que "o uso nos esconde a face verdadeira das coisas".

Entre as tristezas deste mundo, a mais triste é a que idaum livro de endereços, um livro esquecido no fundo de umagaveta e que se encontra, de repente, depois de muitos anos.

Amigos... Nomes de vivos são nomes de mortos. Nomes demortos são nomes de vivos. A quantos eu quis bem!... Comoeu pronunciei convlctamente: meus amigos! "O resto", príncipeHamletso, "o resto... é silêncio".

COMPANHEIROSE' tão absoluto em mim o instinto da liberdade que, se

não ficasse feio, eu nunca prendia os meus botões. Eles sãomulto mais exatos, fora das casas. Escutam com melhor certe-za o que lhes digo. Sabem que as palavras passam entre oshomens e os botões, mas que o silêncio, tendo conseguido umInstante de atividade, fica para sempre. E nunca leram Mae-terlinck. Pena é que mudem com as roupas. Levam as confl-dênclas... Coitados! Numa época de gritos, perderam multo daImportância que possuíam. Por exemplo, na praia, não se con-segue nenhum com quem se possa falar. Noutros lugares, quan-do a gente espera qualquer botão para um desabafo, surge umfecho "éclalr", e lá se vai toda a sinceridade...

O JAPÃO E O PADRE JOSEPBNão é só nos sonhos que esses casos se dão. Acordadissimo,

v! na mesma lembrança, o Japão e o padre Joseph. Não In-terpreto. Desconfio que foi porque um japonês diante de mimIa capengando, e o padre Joseph também caminhava assim.Quando é tempo de recordar, tudo puxa para atrás. Lá atrás,quando eu pensava no Japão, era sempre com uma Imagem desonho que ele me aparecia, — um pais de seda e de bamba, nonascimento do sol, onde as criaturas eram de porcelana... De-pois, o Japão veio numa opereta, a "Geisha", veio numa ópera,"Madame Butterfly", e em muitos livros. Ficou importante.Cresceu. Expandiu-se. Grande potência. Fez guerras. Fez tra-tados. Fez Incidentes maiores e menores. Ora, comigo, tãolonge, não mudou: é ainda de cerejeiras em flor que me apa-rece, sob o céu branco do vôo das cegonhas, e um poeta de-bruçado numa ponte cochichando o seu "hal-kal** à tarde quese fecha como um biombo... Também o padre Joseph passa tal-qual passava pela Faculdade de Direito, magro, baixo, alemão,rumo da igreja do Senhor dos Passos, — um, dois, um, dois,para cima, para baixo, para baixo, para cima, — todas as ma-nhãs. Numa das manhãs, a última, um dos estudantes aglome-lados na porta gritou:Urubu!

O padre Joseph se deteve. Mas seguiu logo. O estudantegritou outra vez:

Urubu!E outra vez o padre Joseph ae deteve. Vlrou-se. Pis oa :

alhos furiosos em todo. Deu mais um passo. Levantou o '•

guarda-chuva. Disse:Quem me chamou urubu, esse é urubu!

E partiu, digno.

HARCEIXO CAMAEle principiou com um grande desgosto: chamava-se Possl-

(tonio Machado. Não era possível!Um dia batlsei na pia dos meus prantos• poeta que em mim, por milagre surgira...

Ficou sendo Marcello Gama. Para que ninguém contasse,fo) cantando:

Sou feio, se não mente • Juízo dos espelhos,nem é falsa a expressão* do que olha para mon...

Ma» que poeta! Como sentia a vida e como transformavaem espirito as realidades mais brutas!

Uma noite, o diretor de um jornal lhe recusou a publicação

uns versos. Achava-os "muito avançados". Marcello saiuao jornal, procurou os seus amigos jovens:Preciso de todos.Todos estavam decididos. No momento, eram quatro. To-

maram um carro juntos.Vá pela rua da Azenha.Na ladeira do cemitério, mandou parar.Venham.Foram, ladeira acima. Que seria? Para qu< «/arcello os le-

vara, a tais horas, para tal lugar? Marcello caminhou até aoportão. Gritou:

Mortos! Os vivos não querem ouvir o que eu lhes digo!Venho dizer a vocês!

E disse os versos recusados, que mais tarde ampliou na'Noite de inssônia".De volta, a pé, os amigos entusiasmados, elogiavam os ver-

sos, punham Marcello no mais alto da admiração. E Marcelloexplicou:

Eu trouxe vocês porque, no fundo, também não tenhomulta confiança nos mortos...

08 SETENuma noite de fevereiro, em 1910, no jantar da nossa de»-

pedida. Eduardo Gulmaraens nos gravou assim:I

HOMERO PRATESEste é um pontifex maxlmus do verso!Mestre do ritmo eril, o sonoro universodo seu rimaria dá-nos mil exemplos:e os seus POEMAS SAGRADOSvirão aos nossos olhos deslumbradosnuma solenidade hierática de templos.

I IFELIPPE D'OLIVEIRA

Este pode morrer, quando quiser: de um poemaque o seu estro trabalha, — eternamente,há de ficar, doa tempos ao destino,o seu nome elevando à vitória suprema,nm verso alexandrino:"Of candelabros reais dos paços do nascente".

IIIFRANCIsSCO BARRETO

Este não é da lira... No entretanto,ê um artista também: que brilhe e reze¦eu nome aqui é natural, portanto...Ah! só tem um defeito, por enquanto:— ter as utjfmas feições de Afonso XHX

I VÁLVARO MAREYRA

Este vem logo após ao XIII real, na Magoedo número do agouro e que os aldeães assomara.Vêde-o: é o mais conhecido e atacado dos Sete!E para qae da critica o estiletedefinitivamente • sangre, o espete, o esmague,vai nos mostrar, por uma sexta-feira-.a claridade estética da SOMBRA. .

A banda, um charuto na boca, c agitava entre os dedos —que dedos! — um leve juncozlnho. •

Almoçamos juntos. Minha mulher, disse ele à sobremesa, acaba de mepresentear com o meu sexto filho, e venho convidá-lo paraser o padrinho. As festas do batismo realizar-se-ão em Relms• devem durar oito dias.

Em Relms?Sim. Dirijo em Beims um Jornal que apoia o governo.

Em seguida, falou-me do "meu afilhado": nascera com umdente, era enorme, magnífico.

Salmos a dar uma volta pelos Campos Eliseos, cujas ar-vores começavam a reverdecer, e onde já se viam "toilettes"claras. Na fila de carruagens que subiam em direção do Arco,'obriguei uma bela vitória, no fundo da qual repousava em suaglória o sr. Veulet, como um leão deitado. Perceblam-se-lhedc longe o nariz. avantajado e a barba augusta. Protetor dosfortes, enviava aos landaus e "tilburys" dos financeiros da mo-da alguns dos seus sorrisos, em que deixava fundir-se delicio-samente o seu orgulho.

Tive a desgraça de mostrá-lo a Planchonnet, o qual, sol-tando-me de repente o braço, lançou-se a correr atrás «ia vi-tórla, com a bengala em riste e aos berros:

Ladrão! Impostor! Patife! Fiz a tua eleião e não mepagaste! Vou quebrar-te a casa com esta bengala!

Mas á vitória afastava-se velozmente.— FIM —

(Trao. de FRED. N0VAI8)

CARLOS AZEVEDO

Este que se regista agora não fas par»do circulo musal. Mas que isto se registeias suas mãos possuem, por um milagre de arte,.aa daidos do velho Lizst.

VIANTONIUS

Este t am fino bambu que do Bois de Boulognefoi arrancado. E agora, entre os Sete, ei-lo au/d:o crayon que o semelha,à mão, nervosamente ardendo na centelha,o tipo a D. Enguiço, o jeito a Cavarni,e a dizer e a engrolar os versos da Charogne,ou então, quando quer:Vcomp-rrend qu'le chat ait frrrrapé Baudelairrrrel"

VIIEDUARDO GUIMARAENS !

Este, que fecha a comédiae o máu Registo dos Sete,tem um livro e uma tragédiae é um mocinho que promete,..

Os POEMAS SAGRADOS nunca se publicaram. Nunca sepublicou a SOMBRA. Iguala aos poetas, os poemas se disper-saram...

AVALIAÇÃOEntristeci multas vezes. Nunca fui desgraçado.

ENVELHECER

Imposto sobre a renda... I

AQUELE MENINO...Aquele menino, que eu vejo sentado no chão, perto de uma

velhinha sem olhos contando casos... Aquele outro, maiscrescido, que eu vejo na cela de um Interna*», com cara dcsonho... Aquele outro, já grande porque fez vinte anos, quêeu vejo, ao cair da noite, sem ninguém, junto da ponte de umriacho, onde os salgueiros se misturavam na água com o céu...Aqueles outros, aqueles todos, até este... Foram as minhas mu-danças por fora... Meus Alvaros! Por vocês, tenho um cari-nho tão grande por mim, e sempre tive, ao me ver sozinho, tan-to tempo antes do encontro da companheira... Aquele meninosem mais ninguém...

OPINIÕES SOBREGONÇALVES DIAS

DE JOAQUIM MANOEL DEMACEDO

Gonçalves Dias ê incontesto>velmente o primeiro poeta li-rico da língua portuguesa; éigual em suavidade a Gonzaga,e muito mais original, e mut-to maior poeta que ele; não cedea Garrett na magia de umafluência enlevadora, nem a al-gum oulro ios mais abalt.sadose formosos naquelas divinasdelicadezas de poesia, que sú-mente podem nascer de uma ra-ra e mimosa sensibilidade.

{Panteon Maranhense)

EFEMÉRIDES DAACADEMIADE NOVEMBRO

1815 — Nascimento de LuaCarlos Martins Pena. E' pa-trono da caieira n.° 29, que joscriada por Arthur Azevedo.Em substituição a Azevedo, alisentou-se Vicente ie Carvalho,e senta-se hoje o sr. Cláudio deSouza.

1849 — Nascimento de RuyBarbosa, que criou tia Acade-mia a cadeira n.° 10, da qual èpatrono Evaristo da Veiga. Ruyjoi substituído por LaudelinoFreire, que por sua ves joi subs-tituido pelo sr, Oswaldo Orico.

DE NOVEMBRO

1875 — Nascimento ie Ama-deu Amaral, que substituiu naAcademia Olavo Bitrn, i foisubstituído pelo sr. Guilhermede Almeida.

DE NOVEMBRO

1905 — Falecimento de Gui-lherme Blesl Gana, poeta e di-plomata chileno. Um dos fri-tneiros membros correspondeu*tes da Academia, joi substituído por Victor Orban.

DE NOVEMBRO

1767 — Nascimento de .««-Ha Joaquina Dorotéa de Sei-xas, a Mariiia de Dirceu, a mu-sa do grande poeta Gonzaga.

1827 — Nascimento em Bor-deus de José Bonifácio de An-drada e Silva, o moço. E' pa-trono da cadeira n.a 22, 17»*? foicriada por Medeiros e Albu-querque.

1854 — Nascimento no Ma-ranhão de Teophüo Dias, pa-

itrotio da caieira n.° 36, criadapor Afonso Celso.

1863 — Nascimento em San-ta Catarina de Lauro Muller,que na Academia ocupou a ca-deira n.° 34, ia qual c patronoSouza Caldas. Muller substi-tuiu o Barão do Rio Branco.

1925 — falecimento de Do-inicio da Gama, que ocupou naAcoilcmia a cadeira n.° $3, quetem como patrono Raul Pompéia, e na qual foi substituídopelo sr. Panando Magalhães.

11 DE NOVEMBRO

1915 — E' eleito memorocorrespondente na vaga de Ra-malho Ortigão o poeta portu-guêt Antonio Feijó.

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£m ww. d» Mira-Celi,fcwi»lui-B»í soldadas caídos para semprt na Itita tesie Âmr\

[ati koj,.

Não deveis vos quedar sob os humos dat mesopotâmas.

i tempo ie despertardes!De acordar-vos de vosso sono milenar nos ouleiros saaradat.

Em nome de Mira-Celi acordai soldados caídos nas guerra*:E" temfo de abandonardes estes imensos campos cobertos de cruset

oh ais valas anônimas em que misturais vossos ossos;

i tempo de afastar os eternos gelos em qu* haveis mergulhada

[lutando.i tempo de estraçalhar brancas mortalhas de neve

om qne aliviais as queimaduras da pólvora;as vossos cavalos cegos ou mutilados vêem alta noite rehncmr

{dentro das ventanias;

acalmai vossos corcéis,vinde com eles que é tempo de despertar.

Em nome de Mira-Celi, regressai soldados desaparecidos not

[êxodos

au refugiados na morte, aviltados pelas deserções, fuzilados coma

[traidores ou espiões;

e tempo de levantar vossas frontes enegrecidas;

regressai soldados covardes ou fugitivosau de peitos arrombados pelas metralhas

au enforcados ou martirmados ou arremessados de aviões e da

[pára-quedas.

é tempo'de despertar do solo de vossas pátrias,toldados que haveis tombado em milhares dl guerrasaue a memória do homem já esqueceu

au das guerras que a história não registrou

au que nunca foram encontrados no mar

au desapareceram na voragem dos bombardeio!,

toldados desmemoriados, loucos ou concientes que abençoaram

[ou amaldiçoaram a guerra.

toldados que vos suicidasles, é tempo de desertar.

Em nome de Mira-Celi, vinde soldados tombadas em todas at

[guerras'

P tempo de desertar;a coma forca dos milhões t milhões que representai,

arrasar na superfície da terra ou no ar,

«t na joga om na água aquüa q»t í preciso arrotar.

/

JORGE DE UMAV

BM

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:.:-.-'-:, S/II/1M1, DOMINGO MiputMnrao unaAiuo »•*. manha - "«"»» **>>

A TÉCNICA PERFEITA- VIRIAJO CORREIA(da Academia Brasileira)

O que houve dc curioso nomeu caso não foi, como disse-ram cie' jornais, o arroja «ic suaarquitetura, mus a circunstan-cia mínima que o desgraçou.

Até seis meses antes nao mepassou pela cabeça matar Eu-lália. Eu ate lhe queria bem.Havia oito anos que estávamoscasados e ainda não tínhamostido tempo de nos aborrecerum do outro. A minha profis-são dc caixelro viajante, se™-pre fora de caíra, fazia com queeu, em casa «sempre fosse dese-}ado e vivesse lá fora em «Je-seje* pela casa.

Eulália acompanhava-me, asvezes, nas viagens, e, as conn-tantes mudanças de terras, deboteis e de aspectos, nos «lis-traiam o suficiente para nosdissipar os azedumes. Vivíamosfelizes.

Foi aquela maldita viagem«em Pernambuco que me per-deu.

Era a primeira vez que esIa ao noiie. No Recife, o des-tino me levou ao encontro demulher que me arrastou, semquerer, ao fundo deste &bi&~mo.

Era dona Bella, viuva riquis-«Ima, proprietária de uma dasm-ali opulentas usinas de açu-car de Pernambuco. Mulhertíe trinta e sete anos, forte, in-teligénte, ativa. Nem bonita,cem feia — apetltosa. Lindosdentes, braços freeeos e o ar la-vado de mulher que se trata. Eenérgica e prática. Bia própriadirigia os «eus negócios.

O nosso primeiro encontro foirápido, escritório comercial, emque eu lhe quis vender dois ca-oinhôes automóveis,

Não houve meio de acordar-mos, naquela tarde, o preço doscaminhões, e, no dia seguinteela seguia para a usina. Com-binamos que eu fosse até IApara concluirmos o negocio.Fui. Uma queda de cavalo, àhora da chegada fez-me deslo-car o pé. Mais de mês doente,no engenho. Convivência detodas as horas: namoro inevl-tavel.

Mas dona Bella era usna mo-Iher tão prática que o próprioamor não lhe conseguia pertur-bar o feitio. Nio lhe serviavm amante; só um marido lheservia.

Eu, nas minhas viagens,quando não tinha Eulália co-migo, nunca me dizia casado.Dona Bella Imaginou-me soltei-ro. Quando lhe falei «ie amor,tia me falou em casamento.

No comércio, quando um ire-gués me mostrava desejar umamercadoria, que eu não tinha,fingia tê-la e pedia prazo parao fornecimento. Picou me o ha-bito de nunca dizer não a nin-guem e de transferir compro-missos, até mesmo os que essabia nâo poder, em tempo ne-nhurn, realizá-los.

Não liquidei o meu caso comdona Bella. Deixei-o no ar. Fi-camos como na-morados. Euvcltaria mais tarde para tratardo assunto...

A minha condição de homemcasado se me afigurou dai pordiante um grande estorvo. Aobailar-me na cabeça a imensafortuna de d. Bella e ao fulgir-me nos sonhos o esplendor devida que eu teria com aquelafortuna nas mãos. comecei amaldizer o instante em que asorte me ligara legalmente aEulália.

Foi com esse arpão fisgado80 pensamento que voltei à mi-nha casa.

Ac chegar ao Rio, um aconte-elmento me esperava comouma serpente atriis da moitaespera a presa: a morte dc mi-nha sogra. Sim, foi precisa-mente a morte de minha sograque fez com que me surgisse nacabeça a possibilidade de ell-minar Eulália.

A «mãe era o Tônico parenteque lhe restava na vida.

Se eu me aventurasse & ell-Binar Eulália ninguém me pe-íiria coutas de sua vida, nin-

guem estranharia o seu desa-parechnento.

Retraída, Inimiga dc escrevercartas, nem com as «suas companheiras de colégio, em Re-zende, onde nascera, conser-vava mais os laços de câmara-dagem que as mulheres guar-dam por toda a vida. Hão ti-nhamos filhos,* e o fato de vi-vermos de quando cm quando

a viajar, fazia com que, emparte nenhuma, criássemosamisades sólidas.

Mio imaginem que a Idéia dohomicídio me houvesse empol-gado de súbito o espirito, apa-gando-me a razão inteiramen-te. Nem suponham tambémque o Insucesso, que me atiroua esta cela de penitenciaria,fosse resultado de leviandadeou precipitação.

O crime, pensei-o longamente,durante muitos, muitos e mui-tos dias. Tracei-o com sereni-dade, friamente, meticulosa-mente, posso dizer matemati-comente, como um engenheirotraça uma «ponte ou a cúpulade uma catedral. E exeeutei-ocom os mesmos cuidados. Ou-çam.

Eu usava o rosto raspado.Comecei por deixar crescer abarba.

Para a execução do planohavia necessidade de um gran-de centro. Dm grande centroque eu conhecesse bem, masonde eu não fosse quasi eonhercido.

São Paulo servia-me.Vão vendo como tracei tudo

bem traçado, e como fui exe-catando tudo mctodlcamentecom minúcias e cautelas talveíat6 desnecessárias.

Segui para São Paulo mês emelo antes da consumação docrime. Iá escolher cuidadosa-¦mente o local do assassinio.Eulália fleou aqui no Rio. Nomomento próprio eu a chama-na.

Depois de morar em tr«5s ouquatro hotéis, encontrei final-mente o local que me convl-nha. Vejam como eram preca-vidos os meus passos.

Na portaria exigi os aixwen-tos mais silenciosos da easa.

A pretexto dc trabalhar knoite pedi quartos afastadosde outros quartos, taide en nâoouvisse, quando dormisse dedia, os rumores da Tida comumdo hoteh

Levaram-me ao último andar.Era no fundo do corredor: sa-Ia. de espera, quarto de dormir,quarto debanhos. Nem dos la-dos, nem defronte, havia outrosaposentos. No começo do cor-redor o quarto da rouparla.Isolamento completo. Até asjanelas não ficavam fronteiras¦\ outras janelas.: abriam paraum vasto descampado, ondenão se erguia construção ne-nhuma.

Para ter-se uma idéia dequanto andei com cautela è ne-cessArio dizer que, ao chegara São Paulo mudei de nome epassei a morar em dois hotéisdistantes e em bairros diferen-tes.

Neste, onde eu exigia isola-mento, dizendo necessitar dor-mlr dc dia. eu era Solano Ber-nardez, solteiro, uruguaio. Nooutro, eu chamava-me RodrigoGonçalves, brasileiro, casado.Em ambos a mesma figura:barba cerrada, ««óculos pretos,poucas palavras, a não ser asnecessárias pára viver.

O detalhe dos dois hotéis eraimpe'.tante no plano. Em pri-metro lugar, vivendo pouco emcada um deles, menor curiosl-dade a minha pessoa desperta-ria nos outros, hóspedes.

E mais: na «parte material docrime eu tinha necessidade detrabalhar de dia, em quarto f«?-chado- Se eu morasse numa «sócasa, «cassando o dia fechadono quarto, -poderia despertardescer, fianças.

Assim, eu doranla num hotele passava o dia no outro. Ma-quele, eu era um homem seo-

padíssimo. que bem cedo corriapara a rua. Neste, sendo osmeus afazeres ã n$4te, (eu dei-xava que julgassem ser o jogoi,ninguém estranhava que eupassasse o «lia trancado c quefizesse questão de não ter «sonoInterrompido.

Bra neste que eu devia con-sumor o crime.Pus-me a estudar beneditina-

mente a casa, Nada ali se pas-sava que me escapasse á aten-ção.

Do meu andar, entüo, que erao que mais me interessava, eusabia tudo. A hore. em que oshóspedes chegavam, a nora emque eles comiam, a hora em quese retiravam. Eram dois apenasos h&pedes do meu andar, eisso mesmo num outro lance docorredor; um Inglês vermelhoque tomava banho frio ás seisda manhã, saia «às sete e só.voltava ãs dez da noite e umvelhote que eu, mais de umavez, encontrei na rua perae-guindo meninotas.

Até as duas da tarde, na rou-paria, o serviço era vivo: trêsou cinco raparigas passandoroupas a ferro. Das quatro emdiante, ninguém mais. Havia,

«porem, «ran dia da semana emque a rouparla se conservavainteiramente fechada — a ter-ça-felra.

Por ser um andar dè poucoshóspedes, ede hóspedes quepassavam o dia fora de easa,os criados desprezavam-no.Toeava-se a campainha três,clneo, dez vezes e nem sempreos criados apareciam.

Parecia ter sido feito de pro-póslto para executar-se umcrime de morte...

Estudada a casa e os seus hft-bitos, iniciei a parte materialdo plano. Eulália, depois demorta, devia ser metida numamala e a mala remetida para ointerior do Estado.

Até nisso fui precavido. Emve; de comprar a mala em SãoPaulo, level-a aqtil do Rio. Emodifiquei-a para que, no fu-turo, a policia, sabendo ondeela feva fabricada, encontrasseahi uma pista para desvendaro mistério. Tirei-lhe o forro In-terior de chita e coloquei-lheum forro de morlm branco. No-va mão dç tinta por fora trans-íormou-a completamente.

Era a mala o meu maior cul-dado. Dois ou tres homicídiosestrondosos tinham sido desço-bertos pelo mau uso de malas.Sempre porque o cadáver cmdecomposição se denunciavapelo cheiro.

Eu evitaria isso com uma pre-caução simplissima: revestindode zinco a mala por dentro.

Ba homens, na vida, manual-mente enciclopédicos: de tudosabem um pouco. Pertenço aesse rol de criaturas. Entendoalguma coisa de carpintariatenho certo jeito «para alfaiate,íwrlves, dentista, eletricista eaté,mesmo para ferreiro. Tra-balho material nunca me pare-ceu bicho de sete cabeças. Sol-da de zinco já eu havia feitovárias, em minha «casa.

Florrei a mala dentro do quarto do hotel. Não se vá suporque fiz um serviço precipitado,sem prudência e sem cautela.

Até na compra do zinco tomeiprecauções. Comprei pedaço apedaço e em casas e bairros dl-temites. Eu mesmo os carrega-V*c embrulhados, como quemtrazia pedaços «ie papelão.

Em quarto trancado, na ho-ra em que terminava o serviçodas mulheres na rouporia, fizo trabalho, com vagar e eui-dado.

Eaiu perfeito: mala de sincodentro de mala de madeira. _tudo multo bem soldado, paraque o cheira ou matéria líquidanão tivesse por onde escapar.

Bem poucos .crimes se plane-jaram, até hoje, eom tão gran-de luxo de minúcias feitas depropósito para despistar a ver-dade. Para nao falar nas ou-lias, qoe são multas, falareiapenas nestas Me: no bilhete,na medalinha t aa asei,..

O bilhete, escrito à máqul- experimentar a flacidez dona leu não queria cumpriwne- colchão e recostou a cabeçater a minha caligrafia) reve- nos travesseiros.lava a pulsação de um drama — Macias, deliciosos... dis-de adultério.' Em italiano, es- sc, a torecr-se voluptuosamen-tüo apressado. O amante a te,convidar a amante para um Estava na hora. Aproximei-encontro, afim de combinarem me.meies dc desviar as desconfian- Pegou-me a mão e puxou-ças do marido. m<*. entregando-me a boca pa-

A Indicação do lugar era ra beijos,uma verdadeira charada. Na- Era o momento. Derreei-meda claro, mas feitos de tal or- sobre o seu corptj e. mal aea-dem os sinais que, cinco ou dez hei de beijá-la, afoguei-lhe su-dos mais ricos palacetes de bltamente a cabeça nos tra-São Paulo, ficavam compra™- vesseiros e apertei-lhe a gar-tidos ganta. Quis gritar, mas tu lhe

O bilhete, bem d«*radlnho, tapei inteiramente o nariz c aseria escondido dentro da luva n°ca, dedos na B°r-1a P°r m"i-de Eulália. O fato de estar *° tempo, ate que ela nao maisdentro da luva passaria como tivesse um movimento.um detalhe engenhoso de dis- *oi facilimo matá-la. Eulá-simulação feminina. llj> CTa uma creatura pequena

O anel, era uma aliança no- " frágil. Dma dessas bonequi-va, que eu colocaria no dedo ntl** *> carne, que teem a vi-de minha mulher, após assas- dá tao delicada como a de umslná-la. Na parte de dentro passarinho,gravei visivelmente -, Jo*.— *° »*'» morta. wntt. por34-12-22. ,,m instante, um arrepio. Mas

A medalhinha — para o pes- eM nSo P°dla deixar-me esmo-coco. Uma virgem da Concei- 'eeer. Uma vacilação qualquerção, dessas que as mães colo- *wla a minha desgraça. B ti-«sum ao pescoço das filhas, No v» forcas para dominar me.verso gravado — Maria. "cm um instante a perder.

Essas trts minficlas poriam Tudo & mão.a polícia louca. Iria procurar Escondi o bilhete dentro dauma Maria, casada com um 'uva calcei-lha. Troquei aJosé, no natal de 1922 e que aliança, pus-lhe a medalhinhatraia o marido com um italia- ao pescoço.no. Tudo bem delineado, obe-decendo a uma razão.

Depois de colocar o corpo de

E meti o cadáver dentro damala.

Deu-se, ai, um contratem-Ei__u"de"ntro'dã"mãlã"eú"sol- V> Eu havia tomado rigoro-daria o forro de zinco. A ma-Ia seria despachada para RI-

samente todas as medidas,mas, apesar disso houve

beirão Preto, a uma criatura pequeno engano.qualquer ,que não existisse. para que a mala não tivesseApós o despacho eu correria grande comprimento, o corpoharbear-me, tiraria os óculos ae Eulália devia ficar com aspretos e voltaria ao Rio. pernas encolhidas. E eu cal-

O forro de zinco sé muito ralei mal a altura das pernastarde «permitiria a mala de- naquela «posição e, quando quisnunciar o couteudo. fechar a mala. não me foi pos-

K._Sx43JT_2S.,_ £,h~ Nà0 ¦*"»""' »&»-assassino e a vítima. Já poiessse tempo eu estaria em Per- E vejam a que ponto levei anatnbuco, na usina de dona metlculosidade da operação.Bella, em lua de mel. rico, Pa» desarticular as pernasafastado de todas a» desço»- não era possível fazê-la semfianças.

Não podia falhar.sangue. E, qualquer gota po-deria ser um rastro denuncia-dor.

Para que nenhum pingo desangue caísse no assoalho e

Quando tudo ficou pronto nos tapetes, carreguei o corpopara o quarto de banhos. Pusas pernas do cadáver para

, dentro da banheira e, com aA execução devia ser numa navam seCcionel-BS faeil-terça-feira, o dia em que na menteroupaiia não se trabalhava. „ 'Eulália chegou na véspera, J?™*' uma «<**¦ vermelha no. Mf>nrA<»f>r enao.

chamei minha mulherPaulo.

ao escurecerLeveia-para o hotel em que

eu passava as noites. Janta-mos no quarto. Não era a pri-meira vea que eu jantava noquarto com uma mulher.

Foi às cinco horas da tarde,do dia seguinte, que entrei comEulália no hotel em que eu iasacrificá-la. Levei-a para lá apretexto de lhe dar melhoresacomodações.

O hotel estava no seu movi-mento natural.

Era pelo inverno e, às cincohoras, já havia começado

Lavei bem lavada a navalha,guardei-a e fui soldar a tam-pa de zinco do forro da mala.Tudo correu sem o menor em-baraço.

? •

Eram sete horas da noiteuando desci para chamar um

carregador quo me levasse amala para a estação da eistra-da de ferro.

Na portaria patruel a minhaconta e entreguei ao porteiro

Jantar. Ninguém reparou em a chave dos aposentos.nós. O próprio menino do ele- Eu próprio fui com o carre-vador, cinco ou dez minutos gador à estrada de ferro des-depois, passaria o serviço ao pachar a mala para Ribeirãosubstituto. Preto. Assisti turio. VI a mala

Quando começava o jantar. e**trar n0 trem- vi ° trem "*»-Ia em baixo, podia-se, aqui '"•em eima, dar tiros de canhão Tudo como se a providênciaque nenhum criado aparece- tne estivesse ajudando."*• Agora só me faltava tomar o

A hora era a melhor possi- noturno e voltar para o Rio.vel. . , Depois Pernambuco. Deipols a

Eulália gostou calorosamen- fortuna,te dos aposentos.. E te entrar numg barbea-Tinha, de raro em raro, os rla parn raspar o rosto. Masseus inexplicáveis dias de j«> aChel mais prudente fazê-lo euvlalidade e jübilo. Aquele era „„»„,,, dentro de minha ca-um deles. Quis vestir-se e des- &„'; ,„, trem.•ser ao salão de Jantar. Mas ,faltava a sua mala de roupas. * cor" a0 bat*\ em ""f ****(Eu havia-a enganado, dizen- dormia, para apanhar a minhado ter dado ordens para que bagabem e a bagagem de ml-ae trouxesse a sua bagagem). »*>» mulher,

v Há deitou-se _a cama, nua ugantium *m i**n* **tut***l

- __!_____-_ ¦¦ ¦¦•¦¦•¦ ¦—i -¦-«'¦¦fn»

Page 32: BNmemoria.bn.br/pdf/066559/per066559_1941_00013.pdf · fè@§ SUPLEMENTO LITERÁRIO DE "A MANHA" 9/11/941 publicado semanalmente, sob a direção de Múcio NlHll. 13 ' Leão (Da Academia

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O DIQUE (Capítulo de romance) ÇâeilioJ. Carneiro i•M Fogueira'* /üi o romance bra-

Siteiro que, no Concurso LatinoAmericano de Novelas, realizadoeste ano em Nova York, obteve, en-tre main de tresentos concurrentes,um dos quatro prêmios estabeleci-tíos. Seu autor é o jovem escritorpaulista Cecílio J. Carneiro, filhotie um casal dc sírios, que em suaobra estudou a emigração d.essaraça para as terras dc S. Paulo.

Como amostra do aue seja "A Fo-çufira", romance intenso e forte,aqui oíerecemoft ao leitor o seu oa-¦piínío VIU.

Foi só pelos meados de 1910que pôde ser terminado o di-que. Três anos de penoso tra-balho e centenas de contos deréis empregados valiam a pena, .pensava Elias contentíssimo. a face da terra.

Havia em seu olhar uma tu*quietação desusada. Elias per-cebeu:

Hein?O que

Ciastara nas terras qua.se tu-do o que possuía, :nas tambem— pen-sava ainda — daí pordiante iria somente colher re-sullados. Toda a região dos ou-fceiros, dos vaies e das planu-

ras já estava arada. As matasnumerosas, os espessos blocosde vegetação selvagem, as er-?a.s altas, tudo fora abatido,

longe, somente para contem-plar a surpreendente maravi-lha, que ficaria eternamente li-gada ao nome de Elias. Pronto!Ali estava a solução do proble- Heln-> perguntou-lhe, com suama: agora o lugar poderia ser jlabitual e desesperada precrhabitado, cessariam aa inalei pjtaçãotas, a plantação ia ser possível, ' j..„„„ _~.a vida humana ia ser maU feliz. No entan* R°d,**«««

^a vasta área outrora abandona- maneceu mudo enquanto a mda ia ser ponto de aglomeração quietação crescia ™ seu olhare contribuiria para o progresso subitamente aguçado, estra-do Estado! Que vitória! pensa- S,h!lm*ntC,, f'Xad,L„.J?

íva Elias, embriagado. E o ex- Elias tambem olhou para asapateiro, o ex-vendedor dc mes-"a à™?™- masT,^,a

„v,("azeite e trigo exultava, tomado I"-* Impressionasse. Julgou quede calorosa alegria, espantado seu companheiro estivesse

çUs-diante da sua obra. que mudara tral<-°-, ou enta" sobressaltadopor alguma recordação desa-»radavel, doentia talvez. Não

conti-

jJH^^T^B^^B^T^^^pT^^"^^^ 'Sfl Pd

— Que há criatura! Estaslouco?

Como resposta. Rodrigues selimitou a apontar para o dique,oom o braço vacilante. Elias

A colaboração de FiliobiblionACHADO N.» «

Nesse dezembro choveu tor ,.rencialmente, durante semanas lhe deu importânciaseguidas. E nos campos de bei- nw>a ¦**¦ íazer Projet05;ra-rio não cresceu aquele mar — Já não existe mais o peri-devorador, que em outros anos go da enchente, graças a Deus!devastara tudo em volta. Nunca ninguém plantou café

Instalado em seu posto de ob- em margem de rio, sabes disto?servação, em cima de um mon- Nós vamos fazer esta aventurate. ao lado de Rodrigues, Elias, pela primeira vez. Mas que ha,

fixava na muralha os seus olhos homem!...qu imado, e

"alenha" já

"estava brilhantes de animação. Do ou- Rodrigues se tinha erguido edsde muito tempo vendida a tro ladu* no Estado de Minas, tremia todo. repentinamentecompanhias ferroviárias. as águas haviam subido com cmoc*0nado por qualquer coisa

O aspecto das terras se mos- raP'de?». que devia ser terrivel. Seustrava agora totalmente novo. Elias estava aflitís-simo por olhos estavam muito abertos fllimpo, civilizado. Quem tives- saber como as coisas se passa- túmidos, a boca se contraia to-se visto dantes o estado dessa riam dessa vez. Sem dúvida ia da numa expressão de espantoNatureza revolta e bruta, desse ver agora o resultado comple- profundo. Elias nunca o vira as-bárbaro a trava nc ame n to de ve- to de sua obra. Não queria dor- sim transtornado,getais secos e verdes, dessas mir. Passava muitas horas danuvens selvagens de insetos ve- noite metido numa tenda arma-nenosos, desses sombrios e úmt- da pelo hábil Rodrigues, a olhardos antros de vermes, ficaria obcecadamente pata a enorme«urpreso e dellclar-se-la ante a barreira de pedra erguida lá em com 0 braço vacilante. Elias o capitão Jacinto Rodrigues da Cunha passa por ser o ao-nova feição das coisas. As ter- baixo. Chovia còpicsamente. 0ihou para a direção indicada tor do "Diário da Expedição de Gomes Freire de Andrade aoras atuais pareciam mais ex- Tudo parecia correr a conten- e dessa ¥ra estarreceu diante território das Missões Jesuíticas". para a execução do tratadotensas e mais iluminadas, com to a fúria arrasadora do rio do que via. A muralha inteira de limites dos domínios de Portugal e Espanha na América doa superfície fofa e revolvida, estava sendo barrada: era com usciiava como um monstro em- Sul. assinado me Madrid, a 13 de janeiro de 1750. Esse papel foi«pos séculos e séculos de repou- um prazer selvagem que Elias briagado. * publicado pela primiera vze na "Revista do Instituto Histórico",'

A grande obra de três anos tomo XVI, págs. 139/238. E' documento de singular importãn-penosos, a soberba serra de pe- cia para a história dos sucessos, escrito por testemunha pre-dra, o surpreendente milagre sencial, informada e arguta. Publicado anonimamente, foi Var-da energia humana, o colosso nhagem, "História Geral do Brasil", tomo IV. pág. 167 (da J.*erguido no meio dos campos edição), quem deduziu a autoria do capitão Jacinto Rodrigues

para enfrentar eternamente • da Cunha, porque leu no texto. pág. 165, da "Revista" citado:ta raiva a subida contínua do rio, estava a partir-se todo. "... e de tarde nos aquartclamos com todas as tropas na ditanivel das águas E rugia, feroz- Rapidamente, se desenharam Vila eu, o capitão Jacinto Rodrigues da Cunha, eom o tenentemente alegre: "Quero ver se sulcos profundos na sua super- Alberto Freire Sardinha".inunda agora! Quero ver!" E o ficie e algumas pedras de cima parecia não haver dYvida que contrariasse a dedução doruido da chuva fazia eco ã sua começaram a destacar-se e a grande historiador do Brasil: mas, do "Diário da Expedição"voz. Essa chuva, multo densa, rolar para baixo... existem dois apógrafos no Rio de Janiero: um na Bibliotecatombava violentamente na su- — Náo! Nào! gritou Elias Nacionai „„(;,„ n0 Arquivo do Itamarati, esse mais completo, aperfície inquieta da água cor- com uma violência espantosa em ambos no passo que varnhagem citou, o que se lê é: "... •rente, fazendo-a espumar num na voz. estendendo os braços 0 capjtg0» em Vez de: "... eu, o capitão", — o que, evidente-tremendo borbulhamento. Em e espalmando as mãos, como mente nao j a mesma coisa.lfn' itfntJT T^rf ™ ™ríST

SUStBr * CataStr°,e Assim, parece, o autor do "Diário da Expedição" não podenao ultrapassava a altura oo com elas... ^ o ^JacinW Rodrlgues da cunha, embora nela tivesseAs pedras continuavam_a cair tomvSo Darte saliente. Nesse cas0, nâ<> é fora de Tila e termo

so e sombras sob matas virgens, percebia isso. Em vez de am-Dentro de pouco receberiam no oerf cie inquieta da <õííua cor-»eu seio dois milhões de pés de tas, as águas se estendiam paracaie. Outro tanto ia ser depoisplantado nos terrenos de beira-rio: criar-se-ia u-ma lavouraextraordinária, pensava Elias,fantasiando que nem um be-bado.

Nesse mesmo ano seria possi-vel passar o arado nas terrasribeirinhas. O dique, já termi-nado, atingira os seus oito me-tias de altura. Cortava o cam-po em dez quilômetros, todo dep'Xlra, rebriliiante e soberbo,por vezes assustador, fazendoface à cadeia de montanhas

baixo e para os lados de Ml-nas.

¦Elias observava com uma cer-

que se erguia do outro lado. .. ^ ,Uma verdadeira serra, erigida dique. De longe, Eias assistia aopela mão humana! Quem disse ?%^[l?*J»^<tT™:que era impossível vencer a Na-tureza? Lá estava % realização

a chuva abarrotando o rio. estea tumefazer-se e a fervilhar, eo dique escorando tudo com acompleta de uma obra cujo ,. . , , ,

projeto parecera a todos uma sua grandiosidade^ protetora.loucura. Elias passava as tar-des olhando para a grande mu-ralha escura e retilínea. cujas

Num dos primeiros dias dejaneiro, Elias estava em cima

__, do monte, como sempre obser-extremidades não podiam ser vando apaixonadamente a su-Tistas com nitidez. Parede gl- bida do rio. A chuva prosseguia«antesca sem fim, projetando Intensa, tentando inutilmente inconcebíveisnma larga faixa de sombra vi- repetir suas depredações. - Que e que esta ««"ecen-

— Creio que já se pode plan- do. meu Deus!... Rodriguesltar café nesta sona — disse ele Doido do Rodrigues! Nào fazesentão a Rodrigues, que estava nada? Corre!... Vai chamar osde cócoras, olhando pensativa-medite para o dique imenso,

Rodrigues nâo respondeu.

„.,... .„.„„,„ a. tomado parte saliente. Nesse caso. não é fora de Tilauma após outra enquanto se ^ atribua M autor,a ao capitâ(J Manue, da „,,„„ NeyMLformavam quedas dágua, em era 0 Kmtílli0 da expedição e fo io redator de diversas pe-diversos pontos da muralha çm a B|> referentes. jUstirica essa hipótese outro documento,agonizante. provavelmente tradução castelhana do "Diário", que sob o ti-_ Nao! Nao! repetia o pobre ^ ^ Re|lK.iin & ,„-,„, « pas4 m ,» üxpedicün qoe Ias ar-homem, sentindo-se endoidecer inag ^ u.p.g, y Portosal hicieron ai território de Ia* missio-de desgosta .nes de Ias Jesuítas .. para ei rumplimento dei Tratado de liml-

livel a grande distância. For-mídavel figura geométrica, lisa,tegular, fazendo magnífico con-traste com as irregularidadesda Natureza.

Muita gente havia de vir de

•* „.*._, n-FS ae IWB JCSUIM» . . |liir« C| ruiiipiuiiviiHi uci mie»*—»w •>» ¦¦¦¦*••-Agarrava-se insensatamente min lfflJ dos c<>rona!I em „Mi po, e, secretarie de Ia Expo-Rodrigues, dava saltos ínu- Manuel da Silva Nade» (Nadea por Neves), que trem ei-

tels, pronunciava monossilabo» tad0 Antonio Bermelo de Ia Rica. in "La Colônia de 8aer»-""—'¦'¦•"»¦¦= mento", pág. S03. Toledo. 1920.Pelo visto, se ninguém se opõe, o redator do "Diário da

Expedição" passa a ser Manuel da Silva Neves.

homens! Ah! Olha!... Rodrl-gues!!!... Não pode ser!...

Pálido, os olhos afogueados,via agora a desgraça consu-mar-se irremediavelmente. Amuralha inteira acabava deabater-se, despedaçada. Milha-res de pedras rolaram umassobre outras. E viu-se em cimadelas tombar uma Imensa mon-tanha de águas ávidas. Tudo

A TÉCNICA PERFEITA(Continuação da página anterior)

Fazia frio. Choviscava fus-tlgan temente.

«. »«o »..»***., »««« Não encontrei no quarto a^

'desmantelou num instante minha capa de borracha Eu

medonho. Houve um estrondo havia-a deixado, por distração,horroroso. Dir-se-ia um abalo no outro hotel, naquele emclsmico, seguido de uma tem- que eu matara Eulaliapestade oceânica, diluviana. A Chamei um automovgigantesca massa dágua avan- dentro a bagagem e mandeiçou rapidamente em ondas tocar para a estrada de ferro,enormes e vorazes, eomo as d» O hotel ficara no caminho,vm mar tempestuoso, e enx ^..^^b^^^^^^í.»,poucos minutos se espraiava,louca, espumante, vitoriosa, so- tado por um toweUnho atroa-bre as planuras infinitas. dor de pedras e de torrentes fu-

Pin o automóvel parar à portae saltei.

Está com você uma capade borracha que ficou no menquarto? perguntei ao porteiro.Ainda ninguém subiu lá.disse-me ele.

S entregou-me a chave.Nesse momento chegava

Chamei um »ut^n»ve^^| gerente. Desejava-me boa via-„„., ». ^^ t ^u^ ^ ^^ me esqueces-se do seu hotel quando voltas*se a São Paulo!

E entrou comigo no elevador.E, conversando, entrou n»quarto comigo.

Na sala de espera não esta-va a capa. No quarto de dor-mir tambem não. Com certezana cabide do quarto de ba-

O escritor Cecílio J. Carneiro, autor io romance "A Fogueira", re-rnessou recentemente, tos Estados Unidos, aonde fora para receber

Elias'sentia-se incapaz de re- "<Kas "Nâo! Não!" repetia defletir bem sobre aquilo que es- quando em quando, roucamen-tava acontecendo. Era como se ***as pedras tivessem caldo em Caiu aniquilado. Rodrlgues o nhos.cima dele e esmagado o seu carregou solicitamente e o le-crânio: nada mais enxergava, vou nas costas, como se catre-a não ser aquelas águas bra- gasse um morto.vias, avançando e envolvendo o Lá em baixo, formara-se dcseu ser no meio de um tumulto novo o extenso mar, onde jãinfernal. A seus olhos, tudo começavam a boiar destroçosagora parecia pardacento, da de casebre*, tronco* arrancar- nio cair.enr daquelas águas malditas, dos e cadáveres de reses. Mo Dentro da banhou* — »oaBcntU-e* dentro dela* . anaar horlaoute. tudo «a líquida. perua d* Kulália.

Abri a porta.Toquei o botão elétrico.Luz.O Inesperado. O ln-rerossbnO.

O impossível.Encostei-me i parede para

.»".-ii;;*a.:ji--*f.::'.';sw