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MJJY llW W@i> SUPLEMENTO LITERÁRIO DE "A MANHA" publicado semanalmente, sob a orientação de Mucio Leão sf Da Academia Brasileira de Letras) Qgrdnde precursor Sumário PAGINA 17: ²O grande precursor ²Sumário ²Uma poesia de Fagundes Varei* PAGINA 18: ²As Ruínas da Glória. Conto de Fagundes Varela, «com ilustraçõei de Paim PAGINA 19: ²As Ruínas da Glória (continuação) PAGINA 20: por Alberto de Fagundes Varela, Oliveira Notas hibliográttca-a Ronald da Fagundes Varela per- do século XVlll, em que ienee ao número daque- a poesia dos inconfiden- les poetas melhor dir tes nada mais fez, quan- to, daqueles brasileiros to á forma, do que insta- que por volta do meiado lar filiais do Mondego do século 19 sentiram a nas margens do rio Ver- necessidade de adaptar a de. sua sensibilidade criado- Com a proclamarão da pagina ra ao ambiente cósmico. Independência e, depois, ó paisagem, ao meio geo- a expulsão de D. Pedro gráfico que os rodeava. /> tivemos no país uma Foi mais ou menos por 0nda **or/e de nacionalis- essa época que muitos mo. Coincidindo esse nativistas adotaram^ no- movimento da alma bra- mes indígenas Sinin- sileira com a poesia dos bú, Acaiaba, Bocaiúva, românticos na Europa, Montezuma, Guará- poesia tantas vezes de ni, Capanema, Buriti e caráter heróico, sucedeu até mesmo "Indio do qUe 0 "instrumental' Brasil".romantismo europeu foi O nosso romantismo utilizado pelos nossos ro- não foi romantismo se- manticos (Castro Alves não na expressão literá- e Fagundes Varela os ria. Na verdade, o que principais), mas porque houve foi um extraordi- condizia com os estados nário esforço do nosso de alma do país. Quanto pagina 25: instinto lírico para a to- á essência, a poesia des- - fí'™",,S^^Tib""'"'?' on- mada de posse da terra, ses homens é nossa. O J0'™; 0 Hom,clda ,e„ttal«„ui. Os primeiros poemas sentimento é nosso, os do século fas u 11 des Varela, Carvalho ²Fagundes Varela, solitário Imper- feito, por Carlos Drummond d* Andrade ²Varela, poesia, por E. Dantas Bar- reto ²Nosso próximo número PAGINA 22: ²Fagundes Varela, solitário Imp-er- feito (conclusão) ²As Rumas da Glória (continuação da página 19). PAGINA 23: ...........Machado de AssU /lf) As Ruínas da Glória (conclusão) PAGINA 24: ²Opiniões sobre Machado de Assis ²A página do dia Gilberto Frey- re: Ki.clides da Cunha, tortura das donas de rasa - Opiniões sobre Fagundes Varella, Opinião de José Lins do Rego ²Autores c Livros na apreciação de um brilhante critico ²Fagundes Varela, de Camilo Caa* tclo Branco. Salvador de Mendonça; 3* Tudo se presta a facecla, de Carlos de Laet; 4.° Mater, de Raimundo Cor- reia; S.Q Artur Azevedo e Fontoura Xavier; 6.° Deserto de gelo, de Olavo Bilac. PAGINA 26: ²Uma poesia de Fagundes Varela ²Itaboraí e Salvador de Mendonça PAGINA 27: ².A glória de Varela (conclusão de um estudo) Hamiz Galvão ²Fagundes Varela, (conclusão da página 23) por José Veríssimo ²A Vida dos Livros. Algumas no- tas ã margem de Fagundes Varela, por Mucio Le9o pagina ta-. ²A escada de Jacob, por Edgar d Cavalheiro ²Fagundes Varela, na opinião de Silvio Romero ²A vida dos livros. Algumas notas à margem de Fagundes Varela (conclusão da página anterior). PAGINA 29: ²O Cântico do Calvário, por OttttV viano Hudson ²Novidades literárias ²ltaboral e Salvador dc Mendonça (conclusão da página 26) PAGINA 30: ²Fagundes Varela <conclus3o da página 20) por Alberto dc Oliveira ²Fagundes Varela, de Adelmar Ta- vares. PAGINA 31: ²Uma carta inédita de Fagundes Varela ²Uma carta de Fagundes Varela ²Opiniões sobre Fagundes Varela ²Opinião de A. J. Pereira da Silva ²A Academia Brasileira e Fagun- des Varela PAGINA 32: ²Bibliografia de Fagundes Varela ²Efemérides da Academia ²A morte de Rabindranath Tagor* ²A-opinião de Murilo Mendes sobr-a Fagundes Varela ²A morte do padre Antônio Toma» o que mais impressiona, Ainda se notam no vo- os quais eabulário de Fagundes "Ilha da Varela certas indecisões sentimento bragUei. e va0U!*".eL*\lln.Z™ ™> Procurando sua liber- tação expressional. O esforço romântico brasileiros, XVll, entre reluzem os da Maré", de Botelho Oliveira, tentam pintar gem; ainda não iden- o retrato da terra, em- tificação do sentimento pregando para isso orna próprio com uma forma . . , mentos botânicos e zo- também própria. (Como f"£ ,rfe mvf0' <"^r per- ológicos, saborosos no- dizer tudo isto sem fazer *"*¦*» fln\do 8eCMfa mes de frutos, pitores- injustiça?) muita X.,X> pete moda *""»f cos nomes de animais, 'brim etérea", muita «£!£. "ue P0"00" de Esse recurso de técnica "floresta sombria", mui- literária ainda foi usa- t0 "porvir olmo e doura- do, até mesmo, pelo anti- do" nos poemas de Fa- inconfidente Diniz da gundes Varela, e essa Cruz e Silva, autor do adjetivaçqo tênue, es- "Hissope", que por aqui gar cada, banal, contras- •"•*»""'" « "*"=»' •*¦ "?" andou fazendo processos "a com a força de que ele ^feitos contados, vm- judiciais pelos fins do é cttpaz, quando fala das ^Jfcí"£L! século XVlll e, dando Cleópatras e Semíramis os matos da baixada flu- minense. mais tarde o movimento moderno, em 1918-1922, traria á poesia brasileira a alegria dos manifestar o sentimento brasileiro com uma ex- â sua poesia uns ares de Louras abelhas que gi- _M „- ¦„.„„•.,.;,.„ realidade tropical, far-(ram, "reMm brasileira, tou-se de empregar topo- Sobre as folhas que Temos, pois, uma dwi- nímicos brasileiros.(transpiram *• enorme para com Fa- Nem no século XVI, No seio do taquaral. oundes Varela. Compre- nem no século XVII,endemos o valor dessa nem no século XVlll (Ainda assim, duvida- rude abertura de picada, mesmo sem esquecer mos um pouco de que es- No alvoroço com que a Santa Rita Durão e o sas "louras abelhas" se sua poesia nos fala de "Caramurú"não se possam incorporar ao in- florestas, rios e serras, conseguiu aqui "expri- ventário de coisas brasi- sentimos o nosso verda- mir" o ambiente nacio- leiras, que é possível le- deiro antepassado, amo- nal. O vocabulário e o es- vantar na obra de Vare- roso do seu país e abafa- tilo eram ainda estran- Ia.)do da angústia de expri- geiros; sobretudo no fim Ém Fagundes Varela, mi-lo. Uma poesia de Varela No arquivo da Academia Brasileira, entre os papeis que perten- ceram a Lúcio de Mendonça, encontramos várias pcesias de Fagundes Varela, que não nóí*j consta figurarem nos livros do poeta. Entro essas poesias, escolhemos para oferecer ao leitor as gracis- sas sextilhas que se seguem: EU SOU PEQUENA, TRIGUEIRA COMO A ROLINHA FACEIRA, COMO A LINDA IASSANA: MEUS OLHOS NEGROS, ESQUIVOS, SAO MAIS BRILHANTES, MAIS VIVOS QUE O OLHOS DA MINHA IRMÃ. MEUS LÁBIOS SAO TAO FORMOSOS COMO OS CRAVOS OLOROSOS COMO AS FLORES DA ROMA: MAIS ONDEADOS, MAIS BELOS DO QUE MEUS PRETOS CABELOS NAO SAO OS DA MINHA IRMÃ. POREM, SE FALO DE AMORES, OS MANCEBOS ZOMBADORES ME CHAMAM CRIANÇA VA. DEIXAM-ME EM FUNDAS TRISTEZAS. VAO DERRETER-SE EM FINEZAS AS PLANTAS DE MINHA IRMà ! SE ALGUM, RISONHO, AÇODADO, ME OFERTA UM LÍRIO ORVALHADO PELOS PRANTOS DA MANHA. CARREGA OS TURVOS SOBROLHOS DA--ME A FLOR. MAS FITA OS OLHO» NOS OLHOS DE MINHA IRMÃ. SE ME CONTEMPLAM. SENTADA, SOZINHA. A TARDE," OCUPADA COM MEUS BORDADOS DE LA. REPETEM. SORRINDO TODOS QUE TENHO OS GESTOS. OS MODOS E OS TRAÇOS DA MINHA IRMÃ. NENHUM CANTOR MAVIOSO LOUVA-ME O ROSTO MIMOSO, LOUVA-ME A FRONTE LOUÇA, MAS UM POVO DE POETAS. SE DESFAZ EM CANÇONETAS AS GRAÇAS DA MINHA IRMÃ. NAO IMPORTA SOU CRIANÇA MAS ALENTA-ME A ESPERANÇA DE SER MULHER AMANHA. ENTÃO. PODEROSA. UFANA, ME SENTAREI, SOBERANA. HO TRONO DE MINHA IRMÃ. m

MJJY llWW@i> - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/066559/per066559_1941_00002.pdf · Cruz "Hissope", e Silva, autor do ... O vocabulário e o es- vantar na obra de Vare- roso do seu país

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MJJYllWW@i>

SUPLEMENTO LITERÁRIO DE "A MANHA"publicado semanalmente, sob a orientação deMucio Leão sf Da Academia Brasileira de Letras)

Qgrdnde precursorSumárioPAGINA 17:

O grande precursorSumárioUma poesia de Fagundes Varei*

PAGINA 18:As Ruínas da Glória. Conto deFagundes Varela, «com ilustraçõeide Paim

PAGINA 19:As Ruínas da Glória (continuação)

PAGINA 20:por Alberto deFagundes Varela,

OliveiraNotas hibliográttca-a

Ronald da

Fagundes Varela per- do século XVlll, em queienee ao número daque- a poesia dos inconfiden-les poetas — melhor dir tes nada mais fez, quan-to, daqueles brasileiros to á forma, do que insta-que por volta do meiado lar filiais do Mondegodo século 19 sentiram a nas margens do rio Ver-necessidade de adaptar a de.sua sensibilidade criado- Com a proclamarão da paginara ao ambiente cósmico. Independência e, depois,

ó paisagem, ao meio geo- a expulsão de D. Pedrográfico que os rodeava. /> tivemos no país umaFoi mais ou menos por 0nda **or/e de nacionalis-essa época que muitos mo. Coincidindo essenativistas adotaram^ no- movimento da alma bra-mes indígenas — Sinin- sileira com a poesia dosbú, Acaiaba, Bocaiúva, românticos na Europa,Montezuma, Guará- poesia tantas vezes deni, Capanema, Buriti e caráter heróico, sucedeuaté mesmo "Indio do qUe 0 "instrumental'Brasil". romantismo europeu foi

O nosso romantismo utilizado pelos nossos ro-não foi romantismo se- manticos (Castro Alvesnão na expressão literá- e Fagundes Varela osria. Na verdade, o que principais), mas porquehouve foi um extraordi- condizia com os estadosnário esforço do nosso de alma do país. Quanto pagina 25:instinto lírico para a to- á essência, a poesia des- - fí'™",,S^^Tib""'"'?' on-mada de posse da terra, ses homens já é nossa. O J0'™; 0 Hom,clda ,e„ttal«„ui. .«

Os primeiros poemas sentimento é nosso,os do século

fas u 11 des Varela,CarvalhoFagundes Varela, solitário Imper-

feito, por Carlos Drummond d*AndradeVarela, poesia, por E. Dantas Bar-retoNosso próximo número

PAGINA 22:Fagundes Varela, solitário Imp-er-

feito (conclusão)As Rumas da Glória (continuaçãoda página 19).

PAGINA 23:

........... Machado de AssU/lf) — As Ruínas da Glória (conclusão)

PAGINA 24:Opiniões sobre Machado de Assis

A página do dia — Gilberto Frey-re: — Ki.clides da Cunha, torturadas donas de rasa

- Opiniões sobre Fagundes Varella,Opinião de José Lins do RegoAutores c Livros na apreciação de

um brilhante criticoFagundes Varela, de Camilo Caa*

tclo Branco.

Salvador de Mendonça;

3* — Tudo se presta a facecla, deCarlos de Laet;

4.° — Mater, de Raimundo Cor-reia;S.Q — Artur Azevedo e FontouraXavier;6.° — Deserto de gelo, de OlavoBilac.

PAGINA 26:Uma poesia de Fagundes VarelaItaboraí e Salvador de Mendonça

PAGINA 27:.A glória de Varela (conclusão deum estudo) — Hamiz Galvão

Fagundes Varela, (conclusão dapágina 23) por José VeríssimoA Vida dos Livros. Algumas no-tas ã margem de Fagundes Varela,por Mucio Le9o

pagina ta-.A escada de Jacob, por Edgar dCavalheiroFagundes Varela, na opinião de

Silvio RomeroA vida dos livros. Algumas notasà margem de Fagundes Varela(conclusão da página anterior).

PAGINA 29:O Cântico do Calvário, por OttttVviano HudsonNovidades literáriasltaboral e Salvador dc Mendonça(conclusão da página 26)

PAGINA 30:Fagundes Varela <conclus3o da

página 20) por Alberto dc OliveiraFagundes Varela, de Adelmar Ta-

vares.PAGINA 31:

Uma carta inédita de FagundesVarelaUma carta de Fagundes VarelaOpiniões sobre Fagundes VarelaOpinião de A. J. Pereira da Silva

A Academia Brasileira e Fagun-des Varela

PAGINA 32:Bibliografia de Fagundes VarelaEfemérides da Academia

A morte de Rabindranath Tagor*A-opinião de Murilo Mendes sobr-a

Fagundes VarelaA morte do padre Antônio Toma»

o que mais impressiona,Ainda se notam no vo-os quais eabulário de Fagundes"Ilha da Varela certas indecisões sentimento bragUei.

e va0U!*".eL*\lln.Z™ ™> Procurando sua liber-tação expressional.

O esforço romântico

brasileiros,XVll, entrereluzem os daMaré", de BotelhoOliveira, tentam pintar gem; ainda não há iden-o retrato da terra, em- tificação do sentimentopregando para isso orna próprio com uma forma . . ,mentos botânicos e zo- também própria. (Como f"£ ,rfe mvf0' <"^r per-ológicos, saborosos no- dizer tudo isto sem fazer *"*¦*»

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mes de frutos, pitores- injustiça?) Há muita X.,X> pete moda *""»fcos nomes de animais, 'brim etérea", muita «£!£. "ue P0"00" deEsse recurso de técnica "floresta sombria", mui-literária ainda foi usa- t0 "porvir olmo e doura-do, até mesmo, pelo anti- do" nos poemas de Fa-inconfidente Diniz da gundes Varela, e essaCruz e Silva, autor do adjetivaçqo tênue, es-"Hissope",

que por aqui gar cada, banal, contras- •"•*»""'" « "*"=»' •*¦ "?"andou fazendo processos

"a com a força de que ele ^feitos

contados, vm-judiciais pelos fins do é cttpaz, quando fala das ^Jfcí"£L!século XVlll e, dando

Cleópatras e Semíramisos matos da baixada flu-minense. Só mais tarde omovimento moderno, em1918-1922, traria á poesiabrasileira a alegria dos

manifestar o sentimentobrasileiro com uma ex-â sua poesia uns ares de Louras abelhas que gi- _M „- ¦„.„„•.,.;,.„

realidade tropical, far- (ram, "reMm brasileira,tou-se de empregar topo- Sobre as folhas que Temos, pois, uma dwi-nímicos brasileiros. (transpiram *• enorme para com Fa-

Nem no século XVI, No seio do taquaral. oundes Varela. Compre-nem no século XVII, endemos o valor dessanem no século XVlll (Ainda assim, duvida- rude abertura de picada,mesmo — sem esquecer mos um pouco de que es- No alvoroço com que aSanta Rita Durão e o sas "louras abelhas" se sua poesia nos fala de"Caramurú" não se possam incorporar ao in- florestas, rios e serras,conseguiu aqui "expri- ventário de coisas brasi- sentimos o nosso verda-mir" o ambiente nacio- leiras, que é possível le- deiro antepassado, amo-nal. O vocabulário e o es- vantar na obra de Vare- roso do seu país e abafa-tilo eram ainda estran- Ia.) do da angústia de expri-geiros; sobretudo no fim Ém Fagundes Varela, mi-lo.

Uma poesia de VarelaNo arquivo da Academia Brasileira, entre os papeis que perten-

ceram a Lúcio de Mendonça, encontramos várias pcesias de FagundesVarela, que não nóí*j consta figurarem nos livros do poeta.

Entro essas poesias, escolhemos para oferecer ao leitor as gracis-sas sextilhas que se seguem:

EU SOU PEQUENA, TRIGUEIRACOMO A ROLINHA FACEIRA,COMO A LINDA IASSANA:MEUS OLHOS NEGROS, ESQUIVOS,SAO MAIS BRILHANTES, MAIS VIVOSQUE O OLHOS DA MINHA IRMÃ.

MEUS LÁBIOS SAO TAO FORMOSOSCOMO OS CRAVOS OLOROSOSCOMO AS FLORES DA ROMA:MAIS ONDEADOS, MAIS BELOSDO QUE MEUS PRETOS CABELOSNAO SAO OS DA MINHA IRMÃ.

POREM, SE FALO DE AMORES,OS MANCEBOS ZOMBADORESME CHAMAM CRIANÇA VA.DEIXAM-ME EM FUNDAS TRISTEZAS.VAO DERRETER-SE EM FINEZASAS PLANTAS DE MINHA IRMÃ !

SE ALGUM, RISONHO, AÇODADO,ME OFERTA UM LÍRIO ORVALHADOPELOS PRANTOS DA MANHA.CARREGA OS TURVOS SOBROLHOSDA--ME A FLOR. MAS FITA OS OLHO»NOS OLHOS DE MINHA IRMÃ.

SE ME CONTEMPLAM. SENTADA,SOZINHA. A TARDE," OCUPADACOM MEUS BORDADOS DE LA.REPETEM. SORRINDO TODOSQUE TENHO OS GESTOS. OS MODOSE OS TRAÇOS DA MINHA IRMÃ.

NENHUM CANTOR MAVIOSOLOUVA-ME O ROSTO MIMOSO,LOUVA-ME A FRONTE LOUÇA,MAS UM POVO DE POETAS.SE DESFAZ EM CANÇONETASAS GRAÇAS DA MINHA IRMÃ.

NAO IMPORTA — SOU CRIANÇAMAS ALENTA-ME A ESPERANÇADE SER MULHER AMANHA.ENTÃO. PODEROSA. UFANA,ME SENTAREI, SOBERANA.HO TRONO DE MINHA IRMÃ.

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PAGINA 1* — SUPLEMENTO LITERÁRIO d'A MANHA DOMINGO, M-I-Ml

4 pouca distancia da cidadede S. Paiiti, u um lado daestrada que '.ai paru San-

tos, havia um pequeno botequim,ou para melhor dizer, um des-ses estabelecimentos que osfi-anceses chamam — "caba-ret" — destinaaos próprio mentepara beber e palestrar.

Era seu dono :i.m alemão que,hà mais de vinte anos, se acha-va no Brasil, homem de cínquen*ta a sessenta anos, rubro, cor-pulento, porem Heugmáticn co-mo o são quasi todos os filhosdessa bela terra de Schiller.

Por uma noite co mês de ou-tubro achava-me eu e dois i.mi-gos nesse botequim. A chuvacaia a cântaros sotre a teira, otrorão rugia no espaço, i o ven-tania sacudia com violência asvidraças da salinha onde está-vamos.

Nossa conversação era elegree expansiva, os cachimbos /u-megavam cheios de excelente"wèrwick" — e o ponche crepi-tara deante de nós fazen.io vol-tear fantasticamc.te a sua cha-ma de um belo azul-páVdo.

Tínhamos por costume, eu emeas dois amigo?, passar o diatodo em casa. e sair à noite —à busca de aventuras, corw di-liamos.

Líamos nesse tempo tervoro-samente toda* a$ obras sem-brias e exaltadas twe avi*%sn1ama imaginação e povoam a almade quimera e sonhos irrealiza-veis.

Semelhantes ao herói daMancha, nosso cérebro tinha-seembebido dessas ilusões si7iis-iras e o eontii<-.co excimmintoda imaginação nef acostuma-ra a viver em um mundo de vi-toes e fantasias.

Eu era um ardente apologis-ta do autor de Monfreão a navaa noite e ás trevas e em íalta deYung-Fram invocava o« meusespíritos do topo deu ma coli-na.

Alberto prOL"i'a'-a divisar nastrevas da noite ar. somt-ros dosguerreiros. Recitava a maiorparte dos poemas dc Osshm, epostava das neblinas, do vento eda temvestade.

Finalmente, José era aroixo-nadíssimo do desvairado tanta-sísta alemão Krespel. Deuner.Trabacchio e o medonho Cope-Uus de conürv-: estavam aseus olho* entre círculos âe cha-mas avermelhadas, como ele di-ria.

A trindade era perfeita, peloque se vê.

Conversamos alegremente,disse eu. tínhamos bebido nos-*a boa auantidine de ponche e,depois de muVo volestra-, dis-punhnmo-nop i sair.

Vam^s. diria Alberto de péno meio da satã

Vamos, repetimos nós.Porem, vevim, senhores,

disse-nos o alerr-n.j de seu can-to, a chuva continua cada vezã peior e é uma temeridade...

Qual temeridade, .por ai-pumas oofas de água no lombonão nos devemos amedrontar;vamo-nos embora

Acendamos os cachimbos,disse José, e partamos sem de-mora.

Dito.Nesse momento a porta

abriu-se, uma rojada de ventoentrou pela "ata e um úultoapareceu no linun.

Quem está ai? gritou o ale-mão.

Eu! respondeu uma voz rou-ta.

E o homem eVrou para a sa-Ia.

Sua figwa a*a fita e migra,teu rosto macHento como o deum cadáver, scjò movimentospausados e lentes.

Sobre o nariz curvo como obico de um ar.vtre es'.nvamacampados ans óculos izues,através de cujos vidros se viambrilhar os olhos como doi; ca-búnculos. A boca era tina ecerrada, a barba lisa e pinte-aguda.

Nâo sei o que havia de trtoe tumular naquele homem quenos impressionou «fir-tf io ofúnebre hóspede âa balada ale-mà, o visitante w.istro Tie co-berio da poeira *q camvr. dei-xava o cemféri.i rara " baterd porta de um castelo em noitede festa.

ruínas

4HMHACONTO DE FAGUNDES VAREIQue quer o senhor? per-

guntou-lhe o alemão.Velas, e amo garrafa de

vinho, respondeu o desconheci-do, depositando o dinheiro so-bre a mesa. Depois voltou-se ' e principiou a contemplar-nos atentamente.

Palavra que o seu olhar mederramava uma sensação inex-plicavel pelo corpo, era como alamina de um ftorete que me iatocar no coração

A voz do alemão veio tirá-lode sua contemplação,

Eis aqní o que pediu disseeie.

O desconhecido tomou as ve-Ias e a garrafa rõ-las em bai-xo do capote e saiu.

Quem é este homem? per-guntei eu ao dono da casa.

A falar-vos a verdade, nâosei; hà perto de um ano queele anda por enes arr»*-ores,aparece várias vezes por aqui, etenho ouvido dizer que se hos-peda nas ruínas da Glória.

Nas ruínas da Glória! ex-clamou José.

Sim, é talvez «m mendigo,um vagabundo

A propósito, disse Albertovamos às ruinas da Glória?...Este sujeito me interessa, iuma dessas personagens "hoff-manicas", que prometem umbelo romance' Hà naquele tipotodos os requisitos para um. li-vro de lenda, talvez um Cas-til gelga, de V. Hugo; vamos áGlória!

Esti dito. vamos descobriro ninho desta are noturna; va-mos.

E nós nos levantamos a umtempo.

Alguns instantes depois está-vamos na estrada e caminha-vamos em direção às nitnu daGlória.

A Glória foi antigamente umdesses templos rastos e zom-brios, que nos poises cristãosmuitas vezes soe encontrar-selonge do búlicio oos ridaíit-s noseio das montanhas, nas plani-ces ou nas margens dos -ios.

Não era propriamente uniconvento, um mosteiro, oorquenenhuma ordem de monges ha-bitára ai, porem ao lado daigreja, os grandes salões, os cor-redores prolongados, os juoiíos,as celas não tinham sido jeitosporjuxo ou superfluidade Di-sem que havia ali noutras erasum seminário or.de os moçosque desejavam seguir a carreiraeclesiástica se recolhiam e es-tuaavam atrigidos por um ms-po santo e ilustrado que aí mo-rava.

Poucas ou nenhumas são asinformações que tenho a res-peito da Glória: mais tard'. coma morte do bispo o semináriodestez-se e a habitação ticoudeserta.

Longe da cidade em luaar er-mo e agreste, bem difícil era cuí-dar-se do antigo seminário; oedifício loi-se arruinando como correr dos tempos de maneiraque hoje não é mais do ji«s umresto de demolidas parede), umatorre erguida entre, plantou ora-Mai < «in monfio ile pedra».

No tempo em que se passa-va esta história havia aindauma parte do edifício poupadapelo tempo, vam dois saiõesainda bem conservados, apesardo limo e da umidade das pa-redes, algumas câmaras ao résdo chão, e uma ç-ande carandáno fim de um corredor cuias pa-redes ameaçavam cair a cadamomento.

Dito isto continuemos a nar-ração.

A chuva tinha cessado o seuímpeto, porem o céu era som-bro como uma (ousa de mãrmo-re preto sobre um túmulo ser-vindo-me da expressão de La-menais, e o vento corria gela-do e desabrido entremetêndo-sepelas dobras de nossos capotes.

Estávamos já perto do portãocoberto de lianas e trepadeirasselvagens que precede as ruinas.

Bebemos cada vm alguns go-les de Kirschcnwaser par causado /rio, empurramos depois aporta e entramos no campo vas-to e despido que está deante daarruinada egreja.

Como tudo era triste! pare-cia-me que entrávamos parauma região nua e gelada onde avegetação tentava erguer-se de-balde, onde o vento corria semempecilhos. Lá no fundo, porentre as brumas da noite, a tor-re erguia-se mula e silenciosacomo um imenso fantasma; osvultos confusos das árvores de-senhavam-se por detrás dela,agitando-se ao vento da tem-pestade.

De quando em guando surgiauma chama esverdeada parecialamber as ruinas e depois desa-parecia; atrás vinha outra, de-pois outra toreia-se, girava etambem se esvaecia, para darlugar a novas qne se erguiam

Lembrei-me das legendas dos— Lutins e Fariadets — e con-fesso que me senti um pouco im-pressionado; minha emoção au-mentou guando contemplei atorre, cuja cúpula de porcelanamolhada pela chuva se ilumi-nava de pálido brilho aos fogoserrantes da noite

Vi. Alberto, como é tristeassim aquela torre! Dir-se-ia orei das florestas com seu diade-ma de fosforescências.— t verdade, responttev-meAlberto, lembra-me...

B o meu amigo começou arecitar aquela balada de Goe-the intitulada — Der Koenig.

A poesia era triste e funirea:quando Alberto acabou a* reci-tar. todos estivamos trêmulos eimpressionados; olhávamos unspara os outros receosos e depoistransportávamos os olhares pa-ra a sombria torre que se er-guia ao longe e na sua tenebro-sa mudez pareça ter-se r-fstl-do com toda a majestade sinis-tra do — Rei dos Aulnes.

Para deante; gritou Jnsi.E nós nos encaminhamos pa-ra as ruínas. Ao chegar luntodelas uma coruja ergueu-se ar-rebotada e /oi pousar, pidndolugubremente, sobre as denegri.-das muralhas.

Mau, mau, murmurou José.

Paramos. Estávamos junto aocestibuío.

Então? ninguém enfa?perguntou Alberto.

Eu e José ficamos quietos emudos.

Ah! teem medo! Pois euvou. Dizendo isto, afastou comuma bengala as plantas bruviasque interceptavam a passageme desapareceu pelo vestibulo ar-ruinado.

Nós ficamos algum tempo aolhar um para o outro, iepoisJosé me disse:

Ele volta ja eu o conhe-ço; vendo que o não acompa-nhamos não terá animo de con-tínuar.

Depois de esperarmos algumtempo, como Alberto não opa-recia, eu disse a José:

Vamos, que diabo de medotens tu?

Espera, returquiu-me ele.Deixo-te so se não vens. e

adiantei-me para o vestibulo.José seguiu-me

Passando o «jesíihuio n«*oimosum pequeno devau de pedra;— um corredor frio e tenebrosoapresentava-se diante de nós;José parou.—Ahi tu ndo antros? disseeu, espera; — e enfiei-me pelocorredor; meu companheiro deuum salto e uniu-se a mim.

Seguimos pelo corredor a den-tro; o ar era b/unido e de umcheiro estranho, o chão escorre-gadio, as trevas cercavam-nosprofundamente e nós caminha-vamos tateando.

Três minutos Unhamos talvezandado quando pelo ar mais/rio e desembaraçado, po* essezunido agudo e continuo quejulgamos ouvir no silêncio, per-cebemos que estivamos em umsalão: então eu parei, José se-gurou-se a meu braço.

fiquemos aqui, dis«e eu,gritemos por Albeito, hà ii bas-tante tempo que ros deixou

Três vezes repetimos gritandoo nome de nosso amigo e nossavoz retumbou lugubremente pe-los desertos recintos, os worce-gos agitaram-se no ar batendoas longas asas, porem, ninguémrespondeu.

£ esta? chamemos nova-mente por ele

Alberto' Alberto!Mesmo silencia; a noite era

fria e tempestuosa, as aves no-turnas placam dolorosamente,porem nosso amigo ndo respon-dia.

lima idéia siniitra pasrm-mepela cabeça...— Vamos para diante, José;vamos para diante, repeti ace-leradamente.

Então principiámos a errarpelas trevas, o recinto pareceque amplificava coda vez maissuas paredes, porque nós an-dávamos e ndo encontrávamosum termal

O chão era úmido e escorre-gadio, o ar estava prenhe de umaroma estranho, um cheiro deruínas, um odor de sombria an-tiguidade.

Ohl gritemos dt novo, dis-se eu, trêmulo e assustado.

Alberto! Alberto! clama-

mos com todas as forças dospulmões.

Porem nada! Avenás um ge-mido abafado e doloroso che.gou a nossos ouvidos.

Deus! clamamos horrori-sados. Afastei um passo, Josétremia convulsinvmente aoarra-do a mim.

De repente uma luz swqiit aolonge e o vulto at um hi.mematravessou lentamente o ivndodo aposento. Recvnheci irradia-tamente o desconhecido le bo-tequim, porem, longe ac nostranqüilizar, a sua presença veiaaumentar o nosso terror.

Com efeito 'wa-lhe meronhaa tigura naquele momrrtti

O esverdeado cadavêrim r/orosto crescia ao clarão mor*tico da vela, seus óculo* >zuesdavam aos olhos um aso* v deduas negras cor.cavidades acabeça calva e 'Píuzente ^eme-lhava uma fronte de mo-to1 afunéiea tolentã*iat do s«H an-dar. a imobilidaoe do ros'.! 1a-zia-me recordar todas .<i? '.en-das que ouvira na minha ¦"•àn~cia.

Depois de haver atrai".mdolentamente o i».ndo dó *->/ão,chegando perto de um vy-A.tior,voltou o rosto wra trás. ejalouum gemido e desapareceu

Parecia-me jue as tr&c? secondensavam «m torno 1e »íó;.A figura do desconhecidn en-tretanto, não me taia dm vhose eu iulgava aí,«ia ouvir ijueledoloroso gemido ove lhe escapa-ra do seio.

Oh! é talvez um desgroraíloídisse eu comioo. para <jv'e netde eu temê-lo? Vitima do run-do e dos homens, vem wtvez,deslemorar seus martírios natriste quietaçã" destas -vi-nas.'... porem onde ?cí.« Ai-berío? meu Deus? ..

Voltemos, voltemos, diziaJosé, talvez ele )ã saísse.

Custe o que custar' cio-iseieu desesperado, dí-t-esse e-i mor-rer, è preciso buzc&-lo! Vamos,

Mas, para or.ííf? para onae?dizia José. não vês que ludo eescuro, que não conhecemos es-tes lugares?...

Pois então quitemos tepli-quei.

Para que? nâo nos femojcançado de grifar?..

Olha, Alberto tá saiu.Ah! ocorre-me umn idéia,

exclamei, pulando José pelobraço.

Qual?...Chamemos o desconhecido,

disse eu com mais torça: o ea-so é sêrto e devemos banir estesterrores infantis.

E sem esperar mais tempopuz-me a gritar

Oh! senhnrt oh, senhordestas ruinas! Oh lá!...

Oh lá...Poucos minutos depois a hu

apareceu e o son.bHo hahitadnrdas ruinas apresentou-se rc íi-miar de uma porta mudo tm-passível como uma estatua,através porem de seus octus osolhos vivos e penetrantes comopontas de flore tes estavam fixossobre nós.

Senti-me esmaecer um mo-mento, porém, lembrando-mede Alberto, a resolução voltou.

Senhor, disse eu, um nos-so companheiro... um amigoque veiu cotiosco desapareceuaqui, nós o buscamos, porem éimpossível acha-lo sem nossoauxilia, socorrei-nos, pois.O desconhecido abanou lenta-mente a cabeça, e disse com vozrouca e pausada:Moços, fizestes mal, muitomal em vir aqui a estas horas:há trinta anos'que um dramade lágrimas e de sangue repro-duz-se aqui todas as noites en-tre o pio das aves e o sibtlo dovento! fizestes mal, muito ma)em vir aqui!...

Senti-me possuido de um ter-ror inexprimivel a estas pata-vras e José agarrou-se livido ameu ombro. Entretanto, erapreciso ver o lim de tudo isto,saber de Alberto; venci a mi-nha repugnância e continuei:

Mas atendei, senhor, é im-possivel agora partirmos sem onosso companheiro, ajudai-nosa procura-lo, nós ros seremosreconhecidos.

Nesse momento um turbilhãode sento hiimido t gelado en-trou pelo vasto recinto, e o tro-

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DOMINGO, »-HM1 «UH.ÜMILNTO LITERÁRIO .'A MANHA — PAGINA»

mz-se ouvir surdo e medo- caio 'nalma; aquele velho es-h ,10 céu. tranho, suas palavras fantásti-

Vedes? murmurou o velho, cas, tudo estava vivamente gra-tempestade principia a sua vado em minha imaginação.

litiuesira, em breve tempo os José estava ocupado, Albertotini liarão para cantar a mono- nvre um moment0 de seu ae-(ji,, dos túmulosl. ¦. Muitos sao ;jrj0 paree(0 dormir; aprovei-oi mie repousam aqui! mui- (ej „ 0(!a5jão para conversard,.;' . entre eles há vinte anos 00m „ gr. V- e vêr o seu modoque minha lilha dorme no seu de pensar a respeito de todosleito de pedra, vestida ainda esses fa(os extraordinários.rom as suas roupagens de noi- Era 0 dr. V. um homem deva e a sua coroa de ciprestes! cinqüenta anos, sua mocidadeTenho chorado lágrimas de san- tinha-se passado debaixo dogUC, lenho me arrebentado em CgU brumoso da Alemanha pa-soluços há dez anos sobre os la- ra 0nde o mandara seu pai es-irilhos de sua sepultura, para titdar.„ue ela me diga uma dessas de (er n0 cerebrgpalavras ternas e doces que re- 0 de inMi{ncia „ de „.pella otttrora nos braços de seu nhectmentos, 0 dr. v. mha um„0i„o. para que ela me perdoe! mo(jo de penmr estrmh0 „ ad_porem, tudo e baldado m aJ . bE o desconhecido calou-se, eu .ettava impressionado, não maisde terror, porem de uma triste- A Alemanha é o pais das atu-za sombria, de uma compaixão cinações âa inteligência, disse-'

termos. ° Gerard de Nerval, dos abis-So entretanto a tempestade mos da ciência germânica par-

crescia e o vento uivava doloro- tem vapores que atordoam o es-samente nos arvoredos li de pirito. O doutor tinha-se em-jnrfí bebido de todos esses sonhos

- Bem, disse o desconhecido, ?iebulosos de todos esses siste-lentamente do vão da porta, va- mas extraordinário de excen-mo* rrocurar o vosso compa- tricidade que povoam a terranhetro. quero ficar só. quero de Schüler e de Goethe.

que saiais o mais depressa pos- — Muitas veses ouvi eu oslveK vamos. SOm da rabeca gemedora de

Começamos então a errar pe- Krespel, dizia-me ele, e o écoín*. anosentos sombrios do ar- dos sinos de cristal debaixo dominai" erlificio: adeante ia o sabugueiro; Klein Zach é umadesconhecido com a vela na realidade na Alemanha, e osmão. le-to e pausado, eu o se- Copelius encontrei-os aos cen-guia: José era arrastado por tos.mim. livido e convulso. _ Bem, doutor, disse-lhe eu,

Dr-mis tte termos atravessado depois de haver ainda uma vezem ?>•*« ttJijuns aposentos e cor- contado a história da noite dasredores, depois de havermos ruinas; dizei-me francamente oOíis'o ta'vet um quarto de hora vosso modo de pensar a respei-tfcj-vj sombria procissão, um fa disto, não julgais que emt,em-;'n rfo'oroso e »»n»r(( co- todo este drama ha alguma'ttito de vm lei'o de mor-t? ri-»rtQi( n nossos ow*1?"*.¦tr-ivc rphfllos se encaram;jnor fí*>»/ vm arito e nuron-meVern <•--

Oh! murmurou o velho, êdo leito dela que saiu aquele ge-mido.' Sim, porque é ai que eladorme' Oh! deve-lhe doer mui-to a ferida que tem no seio, queverte continuamente ondas desa.""'"?.'... muito!

Assim falando caminhou pa-ra o logar donde partira o ge-mido; era no fundo de um pe-queno aposento, de uma porta(jue dava para um jazigo.

Chegando ai ergue a vela àaltura da cabeça para melhorver; por detrás dele mergulheiávidos olhos no jazigo; um ho-mem estava de bruços no chãoe sua respiração soava estrepi-tosa.

Recuei iun passo.Aproximai-vos, aproximai-

vos, vinde ve-to, é o vCsso ami-go' através dos frios ladrilhosque ser/rodos não terá ele mur-murado à minha filha!

Cheguei-me de novo e con-templei atentamente o vulto;era Alberto, não havia duvidar-se.

Tomei-o nos braços, ergul-o,e^ava livido e banhado em suo-res rijos, seus dedos crlvnaâosvarceiam cerrar fortemente al-guina coxisa.

Alberto! exclamei, pracu-rando pô-lo de pé; ele abriu osoPios. correu-os em torno des-vav-ado. como se procurasse al-guem. e depois tornou-os a cer-rar e~"lando um suspiro.

/'hida-ms a leva-lo, disseeu a José, e saíamos.

Poucas horas depois tinha-m~3 conseguido chegar a casa;Alberto resonava febril em seulei*o: José tinha ido ver o mé-dico e cu ve'ava o doente.

Três dias tinham decorridosâeveis dessa noite sinistra; àcabeceira de Alberto, de quan-do em quando, aparecia a Hgu-ra caima e pálida do dr. V.,que examinava atentamente odoente e depois retirava-se pa-ra ro^verrar comigo e José.

O delírio e a febre não ti-nham abandonado o pobremancebo, de continuo, no seudesvairar, ele repetia palavrassuvlicantes. parecia invocaruma nersonaqem desconhecida,devois supunha apertar no seioalnuma imagem querida e en-contrando o vácuo caia des-matado sobre o travesseiro.

Oes-a noite latal uma im-pressdo profunda Unha-me fi-

cousa de alem-túmulo?— Quem sabe? murmurou o

doutor limpando amorosa-mente os vidros dos óculos como lenço de assoar, quem sabe?...

Porem, dizei-me, a apari-ção dos espirito, não repuonaâ rasão, não é contraria à idéiade bondade e justiça que depo-sitamos em Deus?

A crença no mundo tene-broso, respondeu-me o doutor,tem existido em todos os povos,em todas as gerações. SantoAgostinho, na cidade de Deus,e Legendre, no seu Tratado daOpinião, dizem que negar oprestigio dos demônios e dosespíritos é não crer na Escritu-ra Santa; a Biblia nos fala daaparição de Samuel e muitosoutros fatos sobrenaturais; Su-etonio conta que, depois de as-sassinado Caligula, errava emseu palácio á noite, sob a for-ma de uma larva gemedora.Alem disto a razão nos atestaclaramente que depois desta vi-da haverá um logar de recom-pensa e outro de punição; ora,guem nos diz que a felicidadedos bons não será uma vidanova em um planeta de delicias,e o castigo dos maus erraremcontinuamente por esse mundoem que viveram até que na con-sumação dos séculos, quando es-tiverem purificados dos seus dè-litos, mergulhem-se no seio dadivindade dê que são aparen-cias?

Confesso que gostei desta ti-rada panteista do doutor. Ti-ve sempre uma inclinação irre-sistivel pelas doutrinas de Spi-nosa.

Restava-me, entretanto, umadúvida.

— Admito a vossa hipótese,porem, dizei-me, que culpa têmos vivos em tudo isto para se-rem perseguidos pelas sombrase aparições?...

Os espíritos, replicou odoutor, sorvendo uma pitada derape, os espirito, também sâomultas vezes emissários ia ii-vindade; ora, i para punir ummalfeitor que eles aparecem,ora, para um aviso celeste, ora,enfim, para aliviar muitos so-frlmentos. Assim, aparecem ao»assassinos, as sombras de suasvitimas, aos virtuosos o espectrodo finado que lhes vem pedirorações, aos mancebos a ima-gem de suas noivas ou aman-les, mortas na flor dos anos...

Nesse momento um gemidotriste e prolongado partiu %doseio de Alberto, eu e o doutorvoltamo-nos vivamente para oleito do doente.

Alberto tinha-se solevantadono travesseiro e com a boca es-pumante, os braços estendidos,os olhos inflamados e sangui-nolentos olhava fixamente pa-ra o fundo do aposento e mur-murava: — Vem! Vem!...

Meu Deus! Doutor, o queserá isto, vede como esti! ex-clamei eu.

Oh! dá-me um pano detua branca vestimenta, anfo deazas douradas e diadema deiuz!... leva-me contigo para opaiz dos sonhos eternos. Vemporque minha alma chora deamores por ti!

Dizendo estas palavras o mo-ça escondeu o rosto abrazeadonas mios e caiu esmorecido m-bre o leito.

Vedes? disse o doutor comvoz sinistra, vedes?

Sabe Deus só o que vai poraquela cabeça.

Uma dor amarga e sem Umi'tes passou-me pela alma, en-costei a fronte sobre a mão ecomecei a pensar.

Seriam onze horas ia noite,tudo estava quieto e silencioso,uma bugia ardia junto do leito

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do doente, o resto perdia-se nasombra.

De repente um calafrio cor-reu-me pelo corpo, ergut-mepálido.Que tendes? perguntou-me o doutor.

Não ouviste um ruído depassos ali no fundo? disse euapontando.

Nâo; respondeu-me o mê-dico.

Nesse momento o ruido fez-se ouvir de novo, porem maispronunciado, mais distinto,

O doutor, até ali impassível,franzia o sobroljio e lavantou-se.

_ Por Deus que agora ouvieu! exclamou, tomando a velae dirigindo-se para o fundo doaposento. Eu o segui.

Tudo estava socegado; nadade mais havia ali.

Vede! no entanto eu ouvibem distintamente um arras-lar de passos.

K eu!O doutor voltou lentamente o

colocou a vela sobre a mesa epoz-se a meditar, pensattvo sen-tei-me também; Alberto rem-nava suarento e febril, e a veiaardia muda e silenciosa no seucasíiçaf de bronze.

Alguns dias passaram-se de-pois disto; o delírio tinha aban-danado Alberto, porem o moçoestava livido e descarnado e suarazão parecia ter-se abaladoprofundamente.

Uma noite, tinha o dr. r*.ido à sua casa fazer alguma,determinações, José o acompa-nhara e eu apenas achava-meao lado do doente. Depois ieme haver tristemente contem-piado com seus olhos amorte-clios, meu pobre amigo tomou-me a mio e disse:

Eu sei que não me levanta-rei mah daqui, por isso é pre-ciso quete conte tudo, tudo an-tes de morrer...

Morrer! Alberto não dioa»isso.' exclamei aproximanio-momais do leito.

Pião me procures iludir,prosseguiu ele, a voz que memurmurou esta sentença aindaa tenho eu no ouvido; escuta-me.

Ele acomodou-se um momen-to no seu leito e continuou:

Naquela noite em que fo-mos às ruinas afastei-me de He de José, bem te lembras: en-flei-me pelos corredores e ano-sentos e depois de errar alguntmomentos, senti uma curiosida-de irresistível, uma atração in-superavel chamar-me para umponto das ruinas, caminhei; derepente uma espécie de harmo-nia misteriosa, doce, baixinha,chegou-me ao ouvido e um cia-rio tépido e brando veiu delonge ferir-me os olhos, adean-tei-me mais. então divisei umvulto de mulher que me esten-dia os braços. Oh! ela era belacomo um anjo de Deus; semlongos cabelos de reflexos dou-rados escapavam em ondas deuma grinalâa de cipreste quetinha na cabeça, seus olhoseram puros e meigos, sua tezbranca como a neve, de um la-do do seio sttas alvas roupapensestavam caídas, e uma ondanegra de espumoso sangue cor-ria em borbotões de uma largaferida, e ensopava-lhe a vesti-menta."Fiquei estático no meu lo-gar, imóvel como se fosse feri-do do raio. Então a sombramoveu impercerttvelmente oslábios e sua voz harmoniosame chegou aos ouvidos; —Vem! dteia e7a. En ouvi. meuamigo! eu ouvi. disse Albertoincendevâo os o7hos. nâo foiilusão; tão certo como estouneste leito de morte e comodaqui só sairei para o cemite-rio. eu a ouvi!

Segundi vez mais languída,mafs tris*,e ela me disse: —Vem!... Então um calafrio defelicidade correu-me pelo cor-po. minhas artérias bateramcom violência e eu estendi obraro dando um passo. Tudodesavareceu e eu apenas en-contrei o vácuo, cai... quandodespertei tu me erauias.

Alberto respirou um momen-to e com voz cançada conti-nuou:

— Agora toda, as noites eu aveto Ma. ensangüentada sem-pre! eu f velo e amo-a porque

(Conrlae im pác. ¦>).

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PAGINA M — SUPLEMENTO LITERÁRIO .'A MANHADOMINGO, M-t-rMI

FAGUNDES VARELA - alberto de oliveiraNa ordem em que k sucedem

U gerações literária*, a doa poe-tas impropriamente denominado*Parnasiano», convisinha com a doautor do "Anchfeta ou o Bvange-lho nas Selvae". Não ha de per-meio njem um decênio, espaço rieduração, felizmente efêmero, queteve aqut a poesia com preten-CÔes de cientifica ou sociológica.Importada em grande parte dogrupo coimbrão revolucionário.

(•'agundes Varela morre em1876, aoa 34 anos, pouco menos daIdade de Byron, com quem qui-¦eram compará-lo, « pouco maisda de Shelley, de quem talvezmais se aproxima por seu pan-telsmo. Morre com a sua escola,repetindo-lhe muitos dos temasJá. glosados • gastos, mas, sem•mtrnrgo de ja deesangrado oveio romântico, deixando-nos far-ta c6pia de produções, em queainda ha originalidade • relam-peia o seu gênio.

A cidíide onde tem o túmulo,Tim em 1877 achar ainda cheiada lembrança dele, da admiração•o seu nome e da narração de•ua» extravagâncias e infortúnios.

Muitos doa seus cantos su ostrazia de cor, desde Itaboraí. noInterior, de onde vinha para Inl-elar os meus primeiros estudos, •tudo quanto me ouvia a alma deadolescente respeito a Varela, mealargava na imaginação o halo degloria flue o revestia.

Desculpai-me começar por umarecordação pessoal esta conferên-eia sobre o poeta da "Mimosa" *da "Juvenilia". Neste breve estu-do — homenagem que lhe prea-ta, tendo-me como intérprete, aSociedade de Cultura Artística,deixei naturalmente correr-me apena ao sabor de Impressões prô-prias, e às vezes, primeiras tm-pressões, tão gratas, sempre derecordar entre outras saudades.

Foi nos primeiros anos de ju-ventude, quando a poesia deésaIdade e a daB eousas, que eramas mais belas, em sitio aprazívelde minha província natal, me for-Dia vam e predispunham o espfrt-to, ao gosto das letras, que II pelaprimeira vez os versos de Fagun-des Varela.

Ha em torno de nós, nas cou-¦as e em tudo, uma incefinivel be-leza esparsa, cujos aspectos nospassariam despercebidos se as Ar-tes os não revelassem, e delas, co-mo principais, a Poesia, a Pintu-ra e a Mfisica. Conforme a natu-reza e estudo da alma em queInfluem, estas artes nos desfazemSugestivamente o fumo ou o véu,que encobre algumas deusas bela-sas.

Naqueles alvores de mocidadefoi a musa de Varela a que maisapta e mágica me soube desven-dar ou deixou entrever o que sôspor sôs n;ío viíini meus olhos. A¦ugestão da poesia da Naturezalivro nenhum, a não ser depois a"Cachoeira de Paulo Afonso", medeu tão intensa como os "Can-tos Meridionais", os "Cantos e

Talvez ess:i poesia j& naquelesverdes anos eu a trouxesse comi-go, como comigo talvez outros aguardem, mus se a trazia, era In-fantasias" e ainda "Cantos do•mio e da cidade".eon ei on tt* ou adormecida, e devoa Varella havô-la feito, aos acen-tos de sua lira, acordar e viver.

Se "toda a arte * adoraç&o" ouse como faz ver R. de la Slseran-ne, comentando o conceito deRuskin, "esquecer sua arte pelaNatureza, esquecer a al mesmopor sua arte * condição easenciila todo o surto para oa mistériosda Belexa". aquela adoração ouexiase diante da Natureza poucosdos nossos poetas a terão tido emtão alto grau como Fagundes Va-rella* Bra quaae a contemplaçãomística, ou a asceae, como deleescreveu Arthur de Oliveira, na"Tese" de concurso à cadeira deliteratura no Pedro II.

Daí, de parte do nosso poeta,justificando as palavras do co-men tador de Ruskin, a despre-ocupação de si mesmo e da so-cledade, a ida nOmade que le-vava, em busca de terras e horl-zontes novos, onde pudesse fartaros olhos ávidos, e dar-se-ia queazues, como eram, de tanto se em-beberem no cêu.

A. cada momento nestas excur-soes por montes e vales, um gii-to de goso e admiração lhe Irrom-pe do lábios;

O' selvas de minha terra!O' meu céu de azul setim!Regatos de argènteas ondas!Verdes campinas sem fim!

Nesta grande natureza nossasentia-se desafogado e feliz, epara logo em vôos vertiginosos Oarrebatava a inspiração. Aboi-recia as cidades e mala de uniaves o confessa:

Quero paz, quero harmonia*Liberdade. Inspiração,Que a poeira dns cidadesMe atrofia o coração.

K depois;

A cidade ali está, sobre seus tetosPaira dos arsenais o fumo es-

[penso,Rolam nas ruas da vaidade os

f cochosE ri-se o crime à sombra do pro-

[grosso

A cidade atl esta sob oo alpen-[drea

Dorme o mendigo ao sol do meto-\<Ha;

Chora a viuva em ümldo tugúrlo,Canta iia catedral a hipocrisia.

A cidade ali esta, com ela o erro.A perfídia, a mentira, a desven-

ftura...Como é suave o aroma das fio-

[restas!Como é doce das serras a fres-

[cura!

Eis a cidade... Aqui a paz cons-[tante.

Serena a conciència, alegre a[vida,

Formoso o dia, a noite sem re-fmorsos,— Pródiga a lerra, nossa mãe

[querida.

Salve, florestas virgens! rudes[serras.

Templos de imorredoura liber-fdade!

Salve! três vese» salve! Em teus[asilo*

Sinto-me grande, vejo a dlvin-fdade!

O gosto da vida errante diz-se

que In* vtora com a perda de umfilho e da primeira mulher. Des-de então começou a fugir doa cen-troa populosos, a estancear nosermos, tentando espalrecer dolo-rosas lembranças com a varieda-do doa espetáculos da natureza.Longas caminhadas empreendiaa pé, indo destas aquelas pa-ragena, por municípios da» pro-vfncias do Rio de Janeiro e SãoPaulo. Amigos, quo não lhe fal-tavam nessas peregrinações, ad-quiridoa entre a gente simples daroça, por aeu trato e maneiraslnslnuanteo, socorriam-no, hoape-dando-o, oentando-o à sua mesa,dando-lhe distração e conforto.Os mais dedicados cediam-lhe, ãsvezes, de empréstimo animais desela, com que se atirava a pe-nosas viagens. B então a almado poeta ae expandia em júbilos,voando desopressa dentre oa ho-mena para a solidão doa desçam-pados e brenhas.

— Vamos, exclamava neaaaaocasiões, desprendido de tudo.

Vamos, meu cavalo branco.Minha neblina velos!Deixemos campos e prados,Sarças, brejos e vaiados.Ermos, vilas, povoadosE os homens atraz de nós!

Vamos,-' vamos, busquemos as[terras,

Onde habitam meus dofdoa amo-[reu

Onde espera por mim ansiosaA mais lftTigulda flor entre as

[nona:

Onde tudo é liberdade.Vida, calor, gozo e luz,Onde as plácidas campinasRegorgitam de bonlnas.As carfetas peregrinasDe um sol que sempre relui!

Bebe a plenos pulmões as ha-[fageua

Desta noite sombria, mas pura;Deixa as feras rugirem no mato,Deixa o inseto chiar na

Não és tú destemido o valente?Não palpitas de seiva e de vida?Tantas voses por brenhas e gan-

[darásNão vence*te o tufão na corridaT

Bem poucos homens, bem pou-[«*

Te igualam, nobre animal!Raros na vivacidade —Talvez alguns na amizade,Mas nenhum na lealdade,Na intrepidez natural!

Ao fim da jornada, como quemsai a buscar um templo e ao en-trar-lhe os penetrais ajoelha ereza, ela vam-se-lhe do peito es-tas vozes de um hlao quase reM-gioso:

Salve erguidas cordilheiras.Brenhas. rochas altanelrasDe onde as alvas cachoeirasSe arrojam, troando os ares!Folhas que rangem caindo.Feras que p«issam ruglndo,Gênios que dormem sorrindoNo fresco chão dos pai mares!

Salve, florestas sombrias,Onde as rijas ventaniasAcordam mil harmoniasNa doce quadra estivai!Rolas g-entfs que suspiram.

Loura, abelha, que giramSobre as flores que transpiramNo aelo do taquaral!

Salve, esplêndida espessura.Mares de sombra e verdura.

De onde a Mina etérea e puraFax brotar a inspiração,Quando à luz doa vagalumee,Da mariposa aos cardumesSe casam moles quelxumesDi» lilho» da «olldão.

S' o deserto bravlo e augusto,a «olene e virgem «olldão dai tio-reatas. Ai aeu gênio e sofrimentopodem ser entendidos, o coraçãoconfia a penedo» e árvores o juereceava segredar a ouvidos hu-manos.

Nestas notas de lirismo selva-gem. travadas multas veses deamargura e misantropia, pensoestar a feic&o predominante deFagundes Varella. ou o que maislhe ressalta a Indlvidualldada en-tre os nossos poeta» romlntlcoü.

Nota Costa e Silva, e tem comonão pequeno mérito de M. Bote-lho de Oliveira, atento o tempoem que escreveu, apresentar-nosele certa porção de colorido americano. "Tambem não é para mimpequeno titulo de gl6ria — dtaj oautor do "Ensaio blogrifico-criti-co". o ser ele o primeiro poetado Brasil, que nâo se envergonhoude «er tido por amerleono. poisapresenta nas suas composiçõesalguns rasgos de colorido local".Bem examinada, porem, a "Ilhade Muro", ünica produção da¦Música do Parnaso", em que ocrítico português podia achar talcolorido, o que aí vemos quasenao passa de fastidiosa e prosai-ca enumeração de produções daterra, mencionadas com afetadonacionalismo. Lã voem a, nossaslaranjas, melões, melancias, pi-tangas, i^tombas, «raças, bana-nas, pimt-ntas, mangas, mara-cujas, mangaras, batatas, mandto-cas, aipins, etc.

Não basta reunir como em ta-bolelro estas eousas para japres-sar-se a cor local. "Ninguém sopor descrever uma paisagem —observa Sylvio Romero — podeaer julgado americano. Qualquerestrangeiro poderã fazer o mes-mo". E tantos o teem feito! Oa-vet e Eoucher com a sua "Chro-nlque brésilienne Jakaré-Ouassú",F. Dénis, com o« "Palmares",Mendes Leal, com o "Calabar" e•¦Bandeirantes", Pinheiro Chagas,eom a "Virgem Guaraciaba" e atéo clássico e dessaborido A. Dinizda C. e Silva com as suas meta-morfoses "Tijuca". "Manacá" e"Bem-te-vi". E tantos e tantosoutros. Nem a questão deve sersõ de cor, senão tambem, o quemais é e mala vale. de sentir lo-cal; cor e sentir que tanto fazemsobrelevar-Be Basilio da Gama aDurão, Gonçalves Dias e CastroAlves a Magalhães e Porto Ale-gre. Em Varella hâ tambem essacor e sentir; ele possue-se dosaspectos regionais, sente-os, refle-te-os nos seus versos. Dessa ver-dadelra poesia reluzem a cadapasso exemplos belíssimos. LedeMimosa, A roca, O canto dos sa-Más, e várias outras produções.Ouvi-lhe agora em Juvenilia es-tes deliciosos acordes:

Lembras-te, Inah, dessas noitesTieias de doce harmonia,

Quando a floresta gemiaDu vento aos brandoa açoites?

Quando as estrelas sorrlu.ui.Quando as campinas trem umNas dobras de Úmido véu,E nossas almas unidasEstreitavam-se, sentidas.Ao languor daquele céu?

Lembras-te, Inah? Bello e mago,De névoa por entre o manto,Ergula-se ao longe o cantuDos pescadores do lago.

Os regatos soluçavam.Os pinheiros murmuravamNo viso das cordilheiras,E a brisa lenta e tardiaO tiiio relvoso cobriaDe flore» das trepadeiras.

Lembras-te. Inah. Eras bela;Ainda no albor da vidaTinhas a fronte cingidaDe uma Inocente capela.Teu selo era como a liraQue chora, canta e suspira.Ao roçar de leve aragem:Teus sonhos eram suaves,Como o gorgeio das avesPor entre a escura fnlhaeem.

Do mundo os negros horroresNem pressentias sequer;Teus almos dias, mulher.Passavam num chão de flores.

O' Primavera sem termos!Brancos luares dos ermos]Auroras de amor sem-fim!Fuglste, deixando apenasPor terra esparsas as penasDas asa« de um serafim!

Ah! Inah! Quanta esperançaEu não vi brilhar nos céus.Ao luizr dos olhos teus,

"A teu sorrir de criança!

Quanto te amei! Que futuros!Que sonhos gratos e puros!Que crianças na eternidade)Quandu a furto me falava*,E meu ser embrlagavasNa febre da mocidade!

Como nas noites de estio.Ao soprar do vento brandoRola o selvagem cantandoNa correnteza do rio;

Assim passava eu no mundo.Nesse descuido profundoQue etérça dita produz!Tu eras, Inah, minh'alma,De meu estro a gloria e a palma.De meus caminhos a luz!

Que é feito agora de tudo.De tanta ilusão querida?A seiva não tem mais vida,O lar é deserto e mudo!

Onde foste, 6 pomba erranteBela estrela cintilanteQue apunlavas o porvir?Dormes acaso no fundoDe abismo tredo e profunda^Minha pérola de Ofir?

Ah! Inah! por toda parteQue teu espírito esteja,MintTalma que te doseja |Nao cessará de busear-te!

Irei às nuvens serena»,Vestindo as ligeiras penasDo mais ligeiro condor;Irei ao pego espumante,Como da A«fa o nossante.

(Conclue na pag. 30)

NOTASBIBLIOGRÁFICAS

.1 — CRÔNICAS1 — JOÃO LUSO - Assim fa-

loa Polidoro — Companhia E-ditora Americana, — Rio, 1941.

O Sr. João Luso, cronista deAtividade diária em várias co-lunas de jornais e revistas ca-riocas reuniu uma série de fa-tos e frases, sobretudo tratan-do de individualidades literá-rias, e nos deu um livro gra-eioso. Seria um volume de me-mórias se ele tivesse queridodar-lhe outra forma. Preferiufazê-lo em pequenas impres-Soes, sem obedecer a nenhumaordem, de lugar ou de tempo.

E há coisas deliciosas. —Conta ele, por exemplo, que,numa saia em que se encon-trava Medeiros e Albuquerque,¦lguem «perguntou ao escritoreomo tinha conseguido escre-ver tantos livros. Medeiros res-pondeu:

— Não fazendo ojtra coisam minha vida.

Então, três damas que se a-chavam presentes protestaram,num verdadeiro brado de al-ma:

— Mentira!Anedotas de João Ribeiro e

Bilac, Martins Fontes e Eucli-des da Cunha, Paula Ney ePaulo Barreto, de centenas deoutros, dá-nos o sr. João Lusoneste seu livro. Autênticas to-das?... Eis um problema quenão tem importância nenhu-ma... quando o anedotista temgraça para contar as coisas.

II — MARIO SETE — An-quinhas e Bernardas — Livra-ria Martins, São Paulo, 1941-.

E' um livro de crônicas tam-bém, mas crônicas de um gé-nero inuito diferente do gene-ro do Sr. João Luso. O Sr. Má-rio Sete é, «por excelência, ocronista do Recife, das velhasruas, das velhas praças, dosvelhos arrabaldes, do velho ehoje desfeito encanto da capi-tal pernambucana. (Desfeitopor que? Será que só há real-mente encanto nas coisas quejá morreram?).

Há algum tempo dava o es-critor as suas Maxambombas eMaracatús. O livro atual é co-

mo que a continuação do an-terior.

gênero a que se dedica oSr. Mário Sete lembra um pou-co o de Franga Júnior, nosseus deliciosos flagrantes davida da cidade brasileira. Defuturo servirão ambos talvezde fonte para os que se inte-ressarem pelos costumes dasnossas cidades, no periodo quese estende de 1860, mais oumenos, até 1910.

2 — Biografia, Ensaiobiográfico

— GILBERTO FREIRE —Atualidade de Euclides daCunha — Rio, 1941.

Esta edição é da Casa doEstudante do Brasil. O Sr.Gilberto Freire pronunciou, nosalão de conferências da bibli-oteca do Ministério das Rela-ções Exteriores, em 29 de Ou-tubro do ano passado, uma pa-lestra sobre o grande escritorde Sertões.

E' esse o trabalho que agoranos chega, apresentado nestaplaquete. Só um ensaísta dacultura do Sr. Gilberto Freire,com uma visão critica e sócio-lógica tão aguçada, estará bem

indicado para proceder a umasondagem ampla na obra des-se grande escritor que tão fun-damente desceu às camadassubterrâneas da nossa cons-ciência de povo.

O trabalho atual poderia sero primeiro capitulo de umgrande livro do Sr. GilbertoFreire sobre Euclides da Cunha.Pois não seria Euclides -umaoportunidade incomparavel,para o psicólogo, o sociólogo, ohistoriador, o critico, que exis-tem no autor de Casa Grandee Senzala, nos dar uma síntesedos seus numerosos pontos devista sobre a evolução da nos-sa terra e da nossa gente?

II _ MARIO GUASTINI —Alcântara Machado — São Pau-lo 1941.

O sr. Mário Guastini foisempre um devotado amigo deAlcântara Machado. Com ointuito piedoso de evocá-lo.publicou estas noventa páginasque não são de crítica, nem se-quer de biografia, mas única-mente de saudade.

Aqui achamos documentosinteresantes, como algumascartas de Alcântara, que o Sr.Guastini nos dá a conhecer.

Numa dessas cartas, Alcântarase encontra em Paris, e estáperfeitamente enojado de tu-do o que vê e de tudo o que ocerca. Parece que percebe noar aquela miserável dissoluçãoespiritual que veiu a dar navergonha inacreditável dosDarlans e seus comparsas... Eisum trecho bem expresivo deuma dessas cartas: "Curiosis-simo o estado de alma dosfranceses. A xenofobia chine-sa é mais brutal. Mas a gau-lesa é mais irritante, por sermais estúpida. Estúpida emsuas manifestações sempre asmesmas: — não há revista nemcançoneta do dia, em que oamericano não seja viiependia-do, com aplausos frenéticos damultidão e olhares de desafiocontra os espectadores vizi-nhos. nascidos em outras pia-gas. Estupidíssimo no fundo:porque ainda é o ouro ameri-cano do norte e do sul que trazum pouco de oxigênio a esteorganismo empobrecido pelasguerras de conquistas na A'siae na A'frica e pela inflação, in-fiação tamanha que dá saúda-des do ... e do ... E tanto as-sim que enquanto a boca des-

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DOMINGO. I4.I-IMI SUPI.KHKNTO LICTUAIUO «-A MANHA — PAOIMA ti

Fagundes VarelaKonald de Carvalho

já não se dá o mesmo (<|uei ;in i» poesia de Casimiro deAbreu) com a poesia ile Fa-Voes Varela (18*1-1875), on-,1, o satanismo byroniano deAlvares tle Azevedo, o indianis-,„„ ,ie Gonçalves Dias e o cor-(Icrclilsiuo dc Castro Alves eTobias Barreto se misturam.jlá no seu estro uma tal versa-tilida.de de sentimento e ex-pressão, :onn sé encontrare-,,,(>* depois, entre os parnasia-,,„s e naturalistas. Infeliínien-te o poeta do "Evangelho nasSelvas" não teve, ainda, o seulusa» devidamente marcado nahistória da nossa literatura.Franltlin Tavora, Silvio Romé-r„ e José Veríssimo, para nâofalar cm Ler» dos Santos e Vis-rmi.i Coaraci, meros e lacuno-sos biógrafos, fixaram-lhe so-mente alguns aspectos, contor-naiam-llie apenas a múltipla .iiiterersantíssima f i sionomia,sendo que Tavora e Silvio an-daram mais perto da sua psi-que (lo que todos os outros.

Fagundes Varela não é uni-camente um dos nossos bonsmistas, mas também, c prin-cipalmente, um dos nossos me-lliores poetas descritivos. Es-se dom de pintor, que foi sin-guiar em Gunçalvcs Dias, e queé muito da índole dos nossosest-rilores, ele o teve como ra-ros na poesia brasileira. Suasdescrições teern vigor, não sãomonótonas, como as de BrunoSeahra, Bittencourt Sampaioou Juvenal Galeno; são leves,movimentadas e límpidas. Emmuitas, nada fica a dever aoeantor maranhense, a quemamou e imitou confessada-mente. Na companhia doscondoreiros, formado entre oexagero e a ênfase dos romàn-tiros bugoanos, não se entre-gou. embora, a desregramentosdc forma e de sintaxe. Ficouem um meio termo discreto eapurado, como ficara o próprioGonçalves Dias entre o farelo-rio estrepitoso de Magalhães eForto-Alegre.

Sua poesia não é de segundamão. como afirmou José Veris-simo, somente porque há umacerta semelhança entre ela e ade Castro Alves. Varela, postoem confronto com muitos dosseus trombeteados êmulos, nãoperderá a mínima parcela doreal valor que possue. Ao con-(rário. Ver-se-á, então, que ele(em uma forma muilo maisperfeita e um estilo muito maisvariado e múltiplo do que ge-ra!mente se supõe. Há em suaobra inspirações de toda ordemda alma e da natureza, da tí-da rústica e civilizada, da fan-tasia e da realidade, do mundofictício e presente.

Leiam-se, como exemplo de

lirismo popular, as trovasguintes:A casa era' pequenina.Não era? — Mas tão bonitaQue teu seio inda palpitaLembrando dela. não é?

Queres voltai? Eu te sigo.Eu amo o ermo profundo;A paz que foRe do mundoPresa aos totós de sapé.

Dem vejo quc tem* snudades*Não tens? Pobre passarinho!De teu venturoso ninhoPassaste â dura prisão l

Vamos, as matas e os campoiEstão cobertos de flores.Tecem mimosos cantoresHinos ã bela cstaçSo.

tesa da sua expressão, o ritmodos seus metros, onde quasenão se observa a toada esta-fante dos versos de nove e onzesílabas, substituídos geralmen-te por decassílabos e redondi-lhas, fazem-no um poeta dife-rente, nem acentuadamentenaturalista, nem. exclusiva-mente romântico. Varela é,pois, com Machado de Assis eLuiz Guimarães Júnior, umafigura de transição entre o ro-mantismo e o parnasianismo.

VARELANSo i . chorem

Escuta, filha, a estas horasQue a sombra deixa as alturas,Não cantam as saracurasJunto aos lagos côr de anil.

Os vaealuir.es, em bandoCorrem sobre a relva fria,Emquanto o vento ciclaNa sombra dos taquarais.

Sua palheta podia fornecer-lhe, como nos versos ao "Va-galume" gamas e toques deli-cadíssimos:

Quando apareces, o lagoDe estranhas luzes fulgura.Os mochos voam medrososBuscando a floresta escura.

As ffilhas brilham, refletem,Como espelhos de esmeralda.Fulge o Íris nas torrentesDa serrania na faida.

O grilo salta das savças,Pulam gênios nos palmareiComeça o Daile dos sllfosNo meio dos nemtfares.

Nos seus quadros campesinoshá notas assim:

As trepadeiras curvam-se A janela.Gemem no teto os pombos amorosos.Suspenso à porta, na prisão gonjeia

O sabiá das serras.

Tudo Isto ela adorava, e ela não[vive!

E ela passou ligeira como ¦ nevoaQue o vento da mantaS varre do ou-

rtelro,E dissipa nos ares!

Tudo isto ela adorava! Ao sol poente.Leda e rlsonha, coroada a fronteDe rubras maravilhas, leve, airosa.

Vinha regar as flores:

E em melo erguida a barra do ves-ftldo.

Saltava como a corça, ora amparandoA hástea pendida de viçosa dalia.

Outras vezes solicita

Bravlas plantas arrancando em tornoDos pequenos craveiros, ou tranqüilaContemplando os botões que se en-

ttreabriamA frescura da tarde.

A natureza do nosso traba-lho não permite, infelizmente,maior número de transcrições.Estas que aí ficam, entretanto,dão bem a medida do seu en-genho, que, por muitos modos,se casa ao dos mais famosospoetas modernos e, até, eon-temporâneos do Brasil. A jus-

os! se meu[cadáver 1

Manchou-se em podridão e sania[impura,]

Hlnha alma se acordou: com[asas bra.nc.i5*]

Poi ao seio d» Deus dormir mais[pura!]

AT-VAR1ÍS DE AZEVEDO

Deltml, * niiiNfi, i|ue ou eunteO uênlo vliNt» V trliinnCeQue 4 tnmhn hoje ilc-ti-eufUra ili vira ji, njuilnl-nio,Krrante Nllfo, liiM|ilr»l-m«A falar iln irPnln «en.

A terra qne em Meu eM|»ae*JVB» linde i-ntilfr • TnitNtiTamliem nflo pílil* a Varela, —»Do* nutro» na ImeiinfdfloRn tende V lrn.II lo a nidoH lança ile «nn» uma lélat

B Hiihe n»*In ii uiftaiiteKm eomnmihlii do IlnnteVer a miiratln ile l>euMtR acha qual rei coroai!»\nm trono Ciinioeu HcntndoHino* cnntnwlo uom vfinu

E iMimiirlittlo u Meu fnilArl»I,ê «o Cftntleii ilo Cnlvftrln»A Milton <|iir o ouve atento*.K eaea-n depois HomemPara julxá-lo, ncvrrn,B Krltari én nm portento!

Foi iumeui-tir-»** no liamiuet*Ile Pope, llyron e Goettae,lie l.aniiirtlne n aeu IndofPoi ouvir un hnrnioiilanDn nrrunile nonvalveu nia*I.A nrime Império Sntcrniloi

Foi eoiiiiir a Cnutro AlveaAa nieloillfifi dnn nTmllna floreNtiiM ilo nrnmll,Foi banhar-Mr nenaea marra•ílue DruN rrlon IA nor*. nreaí'om Atrua» tln eur ile anil.

Mus del-trm que n hlntArla apostel>a poeala eaaa fonteA» vludourna KernçArii; ,Deixem parn monumentoit fruto ile Meu tnlentotSuaa mtmoflni* ennçOes.

Choreniox, porem, n gênio4fene fio pu leo no proefnloRate aéeulo arrebatou,R ftonienlr uma aaudadeHamlrniOH à eternidadePara onde ele voouRio, IB ile fevereiro de 1875.

B. D-AVTAS IIARRETO

FAGUNDES VARELA,SOLITÁRIO IMPERFEITO

Minha casa é deserta; ia frenteBrotam plantas bravlas do chão,Nas paredes luminosas o cardoErgue a fronte silcntc ao tufão. (I, 108*)

Dc dcàcilo cm dcaerto se acampandoOs pastores da Arábia a vida passam;Como eles vagabundo, eivado • selo.De dor em dor «om vagarosos passosAtravesso os desertos da existência! (I, 205)

Minha alma c como o desertoDe dúbia areia coberto,Batido pelo tufão;E' como a rocha isolada.Pelas espumas banhada,Dos mares na solidão. (I, Sls)

De quem parte esta voz desanimada? Certamente de um velho, •velho nao somente por ter vivido muitos anos, mas por ter expen-mentado todas as dores e ruindades da vida? De um eremita, comoos há tantos, sem fé, e que trocando o século pelo recolhimento iesentiu mais vasio do que antes? Nada disto. O poeta que assim sedeclara sozinho no mundo e sc compara a uma paisagem áspera temvinte anos, nasceu em terra fértil e tempo áureo: o tempo da alisto-cracia do café e da cana de açúcar. Seu pai é bacharel em DireitoAs biografias são parcas de informação, mas esse bacharel do RioClaro que não sabe enriquecer à sombra do regime econômico em quorepousava o Império, e que vat ser juis em Goiás, levando consigo ofilho de onze anes numa viagem espantosa, sem pouso a não ser sob asárvores da estrada, explica um pouco, talvez, o adolescente somrno,inadaptado, desiludido, feroz, timido e sarcástico (porque é tambémsarcástico e tanto faz troça do rei como escreve canções libertinas,ao geito de Ornar Kayaam, no verso das notas de 10SO0O).

Vinte anos é uma bela idade, mos tem o inconveniente de naose dar a conhecer senão depois que a perdemos. Para quem enes»aos cinqüenta, não há tempo mais doce; quando se tem vinte anfiájé um inferno. A alma não se encontrou ainda, mas julg-a haver-sereconhecido. Tudo é triste e velho, nüo há esperança nem lngenui-dade. E' impossível ser otimista quando ainda não houve sofrimentonem foi avaliado o preço da vida. A mocidade nutre-se de equivocoae às vezes chega a morrer deles; exemplo: Alvares de Azevedo.

Alvares de Azevedo havia morrido já há nove anos, quando omoço Fagundes Varela declarava ter a alma deserta, numa casa deserta. Estamos em 1861. Junqueira Freire: morto há seis anos. Ca-simiro de Abreu: morto há um ano. Castro Alves é apenas um me-nino baiano que faz sonetos em homenagem ao diretor do colégio;tem quartoze anos e Varela ignora-o. Machado de Assis tem vintee dois anos e sua lira hesita ainda entre a grandiloqüência e a dis-creção; esse mulato tao sutil e exigente, a essa época, poetava sobreMonte Alverne, chamando-o Ue "regio erâneo". Não pode interessara Varela, que sendo mais moço já avançara mais em poesia. Apenasum grande poeta está vivo e agindo, Gonçalves Dias. Tem quarentae um anos e é enorme,-, como acentua José Veríssimo, sua "a*;ào depresença" sobre Varela. Três anos depois, desaparece o cantor do*"Timbiras", e o poeta dos "Cantos do ermo e da cidade" diz cie,como elogio maior:

OPINIÕES SOBREFAGUNDES VARELA

OPINIÃO DE LUCIOCAPOCSO

"O que importa é ser um poe-ta puro, já se disse. O Brasilque já teve grandes poetas, temem Fagundes Varela um raroexemplar de poeta puro — oupelo menos de alguém que sou*be viver intensamente em fun-ção da poesia."

peja desaforos contra o homemdo dotar e do peso, a mão seestende suplicante, para opourboire. O que dá nojo é queum povo assim, que vai buscarfora de suas loucuras impe-rialistas e de sua imprevidên-cia a causa dos males que pa-dece, e atribue a sua desgraçaatual aos americanos e ingle-ses, que o salvaram da débacle,é o mesmo povo que adota comentusiasmo os costumes, a dan-sa. a arte (?) da negralhadade New-York e dos vaqueirosdo Oeste, e faz em inglês osmenus dos restaurantes chiese os dísticos dos filmes exibi-dos nos cinemas do boulevarde as notic?as do jornal lumino-so da praça da Opera..."

IU — CHERMONT DE BRI-TO — Inácio de Loiola, pala-dino da Igreja. — Jornal doComércio. Rio, 1941.

A grande figura de Inácio deLoiola mereceu ao sr. Cher-mont de Brito um estudo, quefoi lido como conferência noColégio Santo Ignacio, emagosto do ano passado. Essaconferência foi depois enfei-xada num lindo volumezlnho.

Aqui temos, em traços ràpl-*w. a vida apaixonada e ar-

dente, piedosa e admirável, da-quele que foi, neste mundo, umdos mais destemerosos paladi-nos da Igreja. Chermont deBrito procura encontrar a sig-nificação superior e profundada obra do santo varão, pois,como ele próprio nos diz, "é in-comparável a alegria de des-cobrir na vida dos grandes no-mens a razão dos seus gestose atitudes, das suas palavrase dos seus pensamentos, ascausas das suas lutas e dos seustriunfos. Todo o interesse dabiografia está nisso".

IV — ARNOLD ZWE1G —Spinoza. — Livraria Martins— São Paulo, 1941.

A Livraria Martins dá, emtradução de Gastão Pereira daSilva, o estudo de Arnold Zweigsobre Spinoza. Este livro iniciaa Biblioteca do Pensamento Vi-vo. Trata-se de uma série deobras lançadas ao mesmo tem-

po em IS países: Argentina,Brasil, Bulgária, Canadá, Di-namarca. Estados-ünidos, Fm-lândia, Fiança, Grã Bretanha,Hungria, Noruega, Polônia, Ru-mania, Suécia, Yugoslávia. Oslivros que vão estudar o pen-«mento vivo dos grandes ho-mens são assinados por figura»

marcantes do mundo contem-poràneo. Maurois estuda o pen-samento de Vo!taire. Glde ode Montaigne. Malraux o deNapoleâo. Romain Rolland ode Rousseau. Julien Huxley ode Darwln.

Arnold Zweig enquadra Spi-noza no seu ambiente, estudan-do-lhes os traços principais davida humilde e suave e depoisentra na análise minuciosa desua complexissima construçãofilosófica.

Nosso próximonúmero

O próximo número de "Au-tores e Livros" oferecerá aosleitores uma colaboração am-pia e variada, de excelentesubstancia literária. Nele irãoos leitores encontrar um lindoconto de Alphonsus de Guima-raena, poemas de Leão de Vas-concelos e Afonso Schmidt, es-tudos e artigos de Adalgisa Ne-ry, Álvaro Moreyra, AntônioAustregésilo, Vinícius de Mo-raes, Raimundo Magalhães Ju-nior, Afonso Pena Júnior, Cie-mentino Fraga e Pedro Calmon.

Mavioso cantor das soledades! (I, 263)

Mas Varela chora também "o tímido Abreu", "Aureliano Lessa,o desditoso", "Franco de Sá. débil mancebo", Basilio da Gama,"grande no nome, nas desditas grande" (I, 263, 264). Todos mone-ram ou se preparam para morrer a seus clhos, e o tempo não "con*-cede oo eênio o respirar ao menos" (I, 263). Fagundes Varela sen-e-se abandonado entre os homens que não são poetas. O barulhocircunstante atordoa-o e irrita-o. As Imagens urbanas não teernsentido para ele, salvo um sentido de corrupção e vaidade. Não hacomércio possivel entre a alma do poeta e os faaendeiros de café doS. João Marcos, os ginasianos de Petrópolis, os acadêmicos de SaoPaulo, os doutores do Recife. O poeta está só, só, so:

A Providência que os coqueiros une,Quando a tormenta pelo espaço ruge,Até o braço de om Irmão vedou-te,

Oh! planta solitária! (I, 11)

Diz Mauro ante o cadáver da irmã, e a exclamação se aplica aopróprio cantor, não obstante contar ele com 16 irmãos, com-pletameu-te inútei3 para salvá-lo da destruição em que se foi.consumindo.

Todas as solidões se lhe desvendam, a esse especialista da solidAo,que se compraz em anotá-las. A solidão do inseto:

Quem és tu, pobre vlvente,Que vagas triste e sozinho,

, que tens os raios ds estrelaE as asas do passarinho? (I, 115)

A solidão do pássaro:Desprende a vos adorada,

Namorada,Poeta da solidão,Ahí vem lançar com encanto

Mais nm cantoNo livro da criação! (I, 147)

A solidão da pedra:Como é sentido o canto que murmurai,

6 gênio dos rochedos solitários! (II, 79)

A solidão da casa:

Corre, pois, vendaval das tormentas,Hoje é tua esta morna solidão!Nada tenho, que um céu httutentoE uma cama de espinhos no chão! (I. 2-VO)

A dupía solidão do mar e da noite:

Oh! eu te adoro como adoro a noitePor alto mar, sem luz, sem claridade.Entre as refregas do tufão bravio

Vingando a intensidade! (II, 21)

A solidão de um homem morto:

Surdo sejas aos ecos da trombeisEm leu leito de pedra enregei-it-Ta.*Findem-sc ns mundos e a existência tuaFóra se apague na soidão do nada! (1, 211)

A solidão do cego:

Dízc, ijize que me escutas!Que nas lutas

Da vida achei om farol!Ah! tem dó de meus pezares...

Se falaresMeus olhos verão • sol! (II, 140)

(Ooacta* aa pia. w»alaH|

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PAGINA » — SUPLEMENTO LITERÁRIO «TA MANHADOMINGO, 24-1-941

FAGUNDES VARELA,SOLITÁRIO IMPERFEITO

(oiK*h**iM) dtt pitií- iM-tei-iw

A solidão (um tanto ridícula) do guerreiro;

Sobre uma ilha isolada.Por negros mares banhada.Vive uma sombra exilada,De prantos lavando o chão;E esla sombra dolorida,No frio manto envolvida,Repele com voz sumida:— Eu inda sou Napoleão. (I,

A solklac do poeta:

90)

7

As auras do verão, nas regiões formosasDo mundo amel.clin.-i. as Mraçõcs cheirosasParecer*' ' '" '¦¦'¦*** " ¦**¦"¦ n->'" sobre as flOTesQue exhalam da corola balsamicos odores;As leves borboletas em bandos esvoaçam,Os replís na sombra ás arvores se enlaçam;Mas só, sem o consolo de uma alma predileta.Descora no desterro » fronte do poetai... (II. 51)

A solidão da alma:

Minhama é como um desertoPor onde o romeiro incertoProcura uma sombra em vão;E* como a ilha maldldaQue sobre as vagas palpitaQueimada por um vulcão! (II, 140)

Esta ultima solidão, de resto, acha-se presente em toda a obra. E'*m dos seus temas mais caros. Fagundes Varela considera-se só, nomeio de tudo:

, . este exílio, «to rumor no centro,Òndc pranteio desprezado e só. (I, 107)

Pouco importa que ele se ponha a vagar, a pé. a cavalo, de verdade•u na imaginação. Torna-se um errante, um exilado, faz praça de va-¦abundo, ou seja de homem que procura estabelecer novos contatosoom o mundo. A solidão o acompanha:

O meu destino é vaguear e sempre! (I, 143)

Eu passava na vida, errante e vae»...Vi-to; e nas chamas de fervor profundo

A teus pés afoguei a mocidade ...... Mae ai! cedo fugiste... da soidade,Hoje te imploro desse amor lão fundoUma idéia, uma queixa, uma saudade! (I, 113)

Repete dez vezes em um poema:

O exilado está só por tada a parle! (I, 130)

Leia-se ao acaso:

... neste exílio que infernal me cerca (I, 152)

Amo o cantor solitárioQue chora no campanárioDo mosteiro abandonado (II, 33)

Deixa passar a dou da caravana,Fica no teu retiro...... conheço a senda

Que ao repouso conduz (II, 225)

... sonhador proscrito,Que vagueia nos desertos,Alma cheia do infinito,Pedindo a Deus um consoloQue o mundo não pode dar (II, 'Í27)

E busco altivo as solidões profundasQue dormem queda**; do Senhor aos pés Í1T, 53)

De plaga em plaga como o hebreu malditoRcfugici-mc em vão (I, 202)

Andar e sempre andar! O globo inteiroPendido atravessar como Caim! (II, 47)

Sem teu saber sem termos!Que quando o triste cansa.Povoa de esperança ,Os mais medonhos ermos? (ll, TO

O ermo é ãs vezes, para ele, não um lugar de fuga, mas precisa-mente de comércio:

Quando no ermo a teus sorrisos, *¦***¦ .Verei dc novo rebentar um mundo? (I, 123)

Sou moço ainda; de meu seio aos ermosFosso-te louco arrebatar comigo...Dc nm mundo novo na soidão sem lermosDeitar-te á sombra dc amoroso abrigo! (I, 13!))

E esses tão lindos planos de esperançaQue a sós na solidão traçamos juntos. (II, 221)

De resto é orgulhoso o seu isolamento, e o poema "Resignação"

Tale por um tlesttbnlo dc tímido, em que as [eridas se abrem por Irasdo condoreirismo:

Gigante da soledade,Tenho na vida um consolo:Se enterro as plantas no solo,Chega a fronte á intensidade! lll, 53)

Sflltãrio,traguslo:

"exílio" são pa-Estamos diante

Nfto é preciso mais. "Deserto", "ermo", "proscrito"kvras que a todo instante fluem dessa boca amargade um solitário .

Mas olhe-se mais de perto esse solitário e ver-se-á que ele pertenceá espécie dos que náo amam a solidão. Dos que teem medo dela. Ai*guns dos seus versos, aqui e ali. denunciam certo desapontamento, cer-ta irritação produzida pelos contatos infelizes com o mundo. Dir-se-ia%ue o mundo o repeliu ou, quando menos, o ignorou:

, Passei Iristonho dos salões no meio,Atravessei as turbulentas praçasCurvado ao peso de uma sina escura:As turbas contemplaram-me sorrindo (1, 31)

A palavra "despreso" é dificil de pronunciar:

Ah! que eu não possa me esquivar dos homens....., Que busco pasmo nos salões dourados?Verme do Iodo me desprezam todos (I, 13?)

S o orgulho continua doendo sempre:

Como Fausto e Manfrcdo eu tive amigos,Fiz bem a muitos homens...... Dc lado o que tirei? — enojo e tédio,

Angústias c martírios! (I, 170)

NSo somente o amigo, mas também a mulher deve tê-io desencar*-lado, para que ele diga com melancolia;

Por que teu nome vem ferirme o ouvidr.,Lembrar-me o tempo que passei no mundo? (II, 132)

E não há humildade, há vingança no gesto com que ele se voltapara o mar:

... ditoso no teu seioZombo do mundo que meu ser esmaga (I, 158)

Ha que desconfiar desse solitário. Ele não traz a solidão consigo,•orno a própria atmosfera do seu espírito, um dado do ser. Adquiriu ae vive a lamentar-se por isto. Por exemplo, tem medo de vir a montTaosüiho:

Mísero! ao leito de final descansoNinguém meu sono velará chorando. (T, 132)

Socorre-ie de Deus, para que o não invada, o pavor dos sítios

Ah! aue seria a vida.Tia tetrica e derida,

mas por compensação, depois de o ter tido a cor*

Rejeito as flórias de falai porvir.Salas e festas, o prazer talvez,E busco altivo as solidões profundasQue dormem quedas do Senhor aos pés.... Ricas de gosos que não tem o mundo,Pródigas sempre de belesa e pas! (II, 231)

Não e possivel duvidar da trágica sinceridade com que ele vituperaas aglomerações urbanas e exalta o campo desimpedido (II, 101, 126,261. porque Varela se tornou um bicho do mato e aparecia, como iuufantasma, nas fazendas do Eslado do Rio; mas há razão para admitirque o poeta trocou a rua pela floresta porque aquela nílo lhe deu ca-rinho nem compreensão. A começar pelo desembargador de Niter'»i,que profetizara: "Nunca serás bom poeta", e que achando sublimesas estrofes de Varela apresentadas como de Camões, declara medoniioo trecho camoneano assinado por Varela...

O seu excelente biógrafo Edgard Carvalhciro, registando a viagema Goiás, diz que "a natureza forjara nele um dos seus maiores canto-res, mas, na alma da criança sensível, o sentimento da solidão ficoupara sempre gravado". Reconhece, porem, que "ao contrário do queseria de esperar, não foi, a rigor, um solitário, perdido em abstraçõesextra-terrenas". Já era esta, aliás, a opinião de Franklin Tavora, uoseu '"estudo critico" tão cheio de curiosos e extranhamente falsos con-ceites sobre a poesia de Varela: "O seu ideal não está alem das nuvensem uma mansão, sonhada pelos poetas místicos".

Aqui, poder-fc-ia esboçar uma querela sobre a essência da solid;"to. Varela não se me afigura solitário imperfeito porque lhe haja faltado misticismo. Fosse místico e ainda assim não o julgaria envolto *:nverdadeira solidão. Acho mesmo que o misticismo constitue um dosrecursos mais sutis de que lança mio o solitário para evadir-se da suaregra. O místico nào está só, pois tem comunicação pessoal e diretacom a divindade. Está, mesmo, demasiadamente cheio de sociedade,pois se liga a todos os homens através de Deus, realizando uma co-muuhão ideal, que nenhum contato repugnante ou simplesmente íncô-modo virá comprometer, o místico é um falso solitário.

A solidão é nihilista. Penso numa solidão total e secreta, de que ***,vida moderna parece guardar a fórmula, pois para senti-la nãoé precisofugir paia Goiás ou as cavernas. No formigamento das grandes cida-cies, entre os roncos dos motores e o barulho dos pés e das vozes, o no-¦mem pode ser invadido bruscamente, por uma terrível solidão, que oparalisa e priva de qualquer sentimento de fraternidade ou temor. Umdesligamento absoluto de todo compromisso liberta e ao mesmo oprimea personalidade. Desta solidão está cheia a vida de hoje, e a insta-bilidade nervosa do nosso tempo poderá explicar o fenômeno de umponto de vista científico; mas. poeticamente, qualquer explicação é des-necessária, tão sensível e paradoxalmente contagiosa é esta espécie desoledade.

Até que ponto a experimentou Fagundes Varela? Esle homem ator-men tado procurou fugir ás vozes humanas e entreter-se com as vozesnaturais. Mas foi sempre, no ermo da natureza, uma voz humana coma nostalgia de suas irmãs citadinas. o seu "Cântico do Calvário" queo consetvou na memória e na emoção do povo, como no apreço descríticos, não é o cântico de um homem só, por mais que o-temiadeixado só a morte do filho. E' um instrumento de confraternização nadôr e de fusão com o poder divino, em que Varela acreditava. Em tornodo poeta, e embalando-lhe o desespero, estão os ventos, as árvores arespiração das encias, a Igreja Católica, e por via de consoladoras ope-rações o lilho se transformará em estrela e os raios da estrela sc tor.nano Estrada de Jacó "por onde azinha subirá tninh alma"Mos pieclsamente por não ter sido um solitário perfeito, e sim umhomem, embora esquivo, preso aos outros hemens por uma poderosatorça de comunicação, é que sua poesia ainda hoje nos invade e noscomove tante. ¦*= »•¦ u»NOTA — A edição consultada é a da Livraria Oarnier ("Obras Com-pletas', 3 vols. 1896). o algarismo romano indica o volumeos arábicos, mencionam as páginas.

CARLOS DRVMMOND DE ANDRADE

AS RUÍNAS da glória

morte, o suor corria-lhe emabundância na fronte, seu,olhos ardiam de uma chamaterrível

Alberto! Alberto! o quetens? disse eu arrojando-me aoleito e totnando-lhe a 7nâo.

Vou morrer, meu amigoimurmurou ele com poj fraca «arquejante.

Oh! não! tu não morre.rãs! exclamei eu. Guilherme

vai à casa do dr. V., dUe-lhèque venha ã toda a prenso, aCorrer.

E' inútil, murmurou ALber-to. è inútil... Sinto jã o hálitoda morte passar-me pelo rosto,sacudir-me os cabelos! ,

Pelo contrario, meu amiqo,o doutor disse que em poucosdias fienrias bom.

Nâo me dês esperanças,disse ele, passando a mão pelorosto onde a morte princiavahorrivelmente a sua obra dedemolição, não ha medicina queme cure! Hoje eu a vi peía ií/íj.ma vez, seu rosto estava mainbelo do que nunca, porem nsangue que lhe corria do seioera mais abundante! Ela mechamou com anciã... precisoir... Ha alguma cousa que mediz dentro dalma.. que cnpoucos minutos estarei com ela!

Aqui a voz do meu amigo foise tornando cada vez mais (ra-ca e rouquenha. Ele pendeu acabeça ao meu ombro, e eu scn~tia seu peito ofegar convulsiva-mente.

Vm instante depois ele ergueude novo a cabeça; seu semblan-te estava horrivelmente decom-posto! então, com essa voz ím-te e sumida, voz de moribundo,falou assim;

No entretanto... quantassaudades ... não levo eu destemundo! quanta amargura.,.não tenho agora na alma!...

E as lágrimas precursoras tiamorte, gota a gota, caíram deseus olhos.

Oh! não ter-vos junto demim,.. Jiesta hora suprema...Oh! meu pai!. ¦ Oh! minhamãe!... não poder vos abraçare...

Alberto calou-se ãe novo. suacabeça caiu sobre meu ombro,ãe novo a voz dele, surda, m„r-murou estas palavras:

Adeus... adeus...Depois cerrou-me a mão tra-

camente e pareceu âewançarum pouco.

Alguns minutos passaram-see a mão de Alberto que euguardava entre as minhas, tor-nou-se gelada! afastei-lhe ra-pidamente a cabeça do seio, cierolou inerte sobre o leito. Es-tava morto!

Nesse momento a lamparinaque ardia em um canto cintouseu último clarão e apagou-se,Ouvi então um ruido semelhan-te ao de um uesíido de mulher;depois uma sombra branca, 'cn-

ta, atravessou deante de mimaté o leito ie Alberto, e ouvi oestalar de um beijo sobre a la-ce pálida e fria de meu desgra-çado amigo; depois resvalandono ar desapareceu a sombra.

Sai doido do aposento. O diaentrava pelas janelas.

Como vai Alberto? pergun-ton-me Josi quando saia de seuquarto esfregando os olhos.

Já não existe! disse eu so-.(C„i,iii,u».a„ ,i„ „it.i„„ i») „ras; parccja.me. que iíravamela é um anjo, porque ela me »«*• grande peso de sobre meu luçanriochama! Eu não posso mais vt- peUo, que despertava de um pe- _ Morto, errlamou Joséver, ha uma voz que me mur- sadelo. morto; exclamou ji»mura itaima que quando o ge- Uma hora depois o doutorlo da morte me cair sobre os retirou-se dizendo que comoolhos eu serei eternamente fe- não havia mais perigo era des-liz; Oh! eu não queo mais vt- necessária a sua presença aliver! *''-

lançou-se desesperado em meusbraços.

Dois anos tinham-se passado: wm

Dizendo isto Alberto caiu de-sanimado sobre o travesseiro.Um momento depois dormiaum profundo sono. A' noitechegou o doutor.

Como vai o moço? disse.Meljior, fa'ou socegada

essa noite, que no dia seguinte de meus antigos companheirosvol'aria. um dormia à sombra dos O-

Como Alberto dormia soce- prestes do cemitério, outro li-gadamente, deixei um criado nha partido para onde não opinto a seu leito e lui pwa um sabia eu.quarto descançar um pouco. Por uma tarde de estio eu »•

• ¦ nha ido passear ao hospício deDepors de haver dormido lon. alienados de S. Paulo. Entre os

me~nte com tao e depÕfc,ador~ S°- íf",po' ,ul ofertado pelo desgraçados que al viviam dc-_:„...címE0„e. "í??Vs.ad0T- c™<*° oue me sacudia anciosa- varei rnm um cuia aspecto ca„-meceu; notei-lhe tpenns umdesantmo e uma tristeza semtermos.

— Bem, vamos ve-lo.E o dr. V. encaminhou-se pa-

que me sacudia anciosa- parei com um cujo aspectomente de um lado para outro sou-me uma impressio extraor-repetindo o .meu nome. dinária.

Que diabo é isto? gritei eu Seu olhar era sinistro e me-sentando-me na cama. donho, seus dentes cerrados

Oh! senhor! levante-se, le- continuamente, rangiam comora o leito de Alberto, ouviu-lhe vante-se depressa que o sr. Al- 0s dc nm animal leroz.a respiração, passou-lhe a mão berio morre. __ Quem é este homem? Per?pela testa, tomou o pulso e vol- Pular da cama, enfiar meu quntei a um guarda que me se-tando-se para mim disse: sobretudo, atravessar a casa gula

_ Sabeis uma cousa? vosso Ir ao quarto de Alberto foi um E' um ente estranho, respon-amigo está salvo. momento. deu-me o guarda, dizem que em

Imensa foi a alegria que sen- Quando cheguei '• meu ami- um peesso ie Ivrer dém umtti dentro dalma a estas pala- go eslava mais toldo que (cónciae « wto- seiednie)

Page 7: MJJY llWW@i> - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/066559/per066559_1941_00002.pdf · Cruz "Hissope", e Silva, autor do ... O vocabulário e o es- vantar na obra de Vare- roso do seu país

% DOMINGO. M-a-lMl SUFI*«MlíNTOXITKRAKIO&A MANHA — PAOlfrA M

A RELIGIOSIDADE DE

FAGUNDES VARELAir medíocre livro tle versos de Azevedo e de Casimiro de• Vi o Auriveidi*". um poema. Abrem Nfn* no deles, porem, que,VM!

sublime, "(-'HnU'o do Cal- há em Varela, embora, ao meu'.'•'v' a lenda de uma vida de ver, expresso com menos força,'"'¦toras e ainí"'8urilS' n» ¦aturadas e, sobretudo, menos perfeição,

T '(¦entricidades e des vários, fi- que em outros poetas nossos, tudo*.lti

i este poeta uma cclebri- o que constituo o lirismo brasi-i'í . une não sei si. liem pesu.ua leiro, sallentcmente a parle t|ue

[., ii sua coplosu produção,„iV;ii,. an seu mérito real.Viit-la veiu logo aPó*» °» l»ue"

,1;, segunda geração romau-¦i iiiiè ele ieu, admirou e luil-','

i;ie os lastima na "Elegia"

s' poesias avulsas, toiuo 1, daicão (luCiiier, e toda & sua obrai-,-ine a impressão que pou-s' poetas mais teria lido, quei ijcHiNle a escasHOs da sua cul-i-*-," como ,era também escassa a, iujjuíipaçílo, e talvez mais,,lu ii S«u pensamento. Quase,, ii-*.ii Varela, ao contrário da.da do tempo, de epíprafes quelii|.ip!ii'l'amlliaridade com a H-¦jitura nacional ou estranha.tinido a» poe, sio deste feltio:i' fosses víbora, me ha ver iasmiido", ít poesia "Surpresa".

ni indicação de autor e sobre a:icuia" cilada, escreveu "Les¦;i\ von vile", confundindo oii;il "Les morta vont lite". se,, mr. engano de um escritoridü ^eu contemporâneo, com o

iu* <le Chateaubriand, "Les¦i.x sen vont". Alias, adulte-ml..-o, empregou-o sem opor-nldiule, pojs a idéia du seu poe-, ('. juslnmente que depressa s«mem os mortos:

nosso lirismo tem a inspiraçãopopular. A dele está muito per-to desta, sem que, entretanto, lhesobrasse engenho para dar relevoa essa coincidência do seu estrocom a fonte mesma da sua ins-pi ração poética. E a prova deque lhe faltou engenho, è que se

OPINIÕES DE MA-CHADO DE ASSIS

OS VELHOS TÚMULOS —Um velho túmulo dá melhorimpressão do oficio, se tem aanegruras do tempo, que tudo

- consome. O contrário parececaminho In- lho. « lnaufícientea biógaroa qu» **emPre da Véspera.

[certo, Varela casando cedo (talvez ar- ?jmparacoei estendem-se, rastado pela primeira Ilusão amo- NAO ODIAR — Eu não Odeio

mesma propriedade, por rosa da juventude às sugestações nada nem ninguém; "perdonO........ .„ „. ^ tuti", como na ópera.*

A VIDA DOS VELHOS — Avida, mormente nos velhos, é

Conto jdas ondas

K as

JOSÉ VERÍSSIMO

tempo voraz,

feitt.l

para um[momento;

k- ao gênio o respirar ~an[menos!

Iiugatelas sei, que não valea pena apurar, mas aue. si

., quizermos atribuir a do-da edição, revelam no poe*nas de cultura e ali de

gi.sli».|i;i.|Nt'les poetas deriva princi-

[íiilmcnle a inspiração de Varela,sul.reiui.lo de Casimiro de AbreuI*eli*i lado sentimental e de Alva-res de Azevedo pelo aspecto dedesespero e indisciplina. na cor-rente de Musset e Byron qne,ainda caudalosa em Alvares deAzevedo, como vinda du fonte, jaé em Varela a água morta de umribeiro. Mas deíes quem maisadmira è Gonçalves Dias, a quemassim invoca no canto 1, 10 doKvangelho naa Selvas:

K lu, oh! desditoso exímio bardo,Cujo leito final buscam debaldeAa abelhas dus verdes espessurasPara seu mel depftr como as do

[HymenettoDo divino Platão sobre n nio-

[mento...K cada novo estio o mar piocu-

[rum,r) também sobre aa águas mu si-

[dorasQue fartaram teu corpo ao pâ-

[trio solo!li ia nilo Coutai ves Dias! Desses

[paramos,Onde viver sonhava, e vive agora,Tua alma gloriosa, envia, oh!

[mestre,Knviii-nie « segredo da harmonia

gastou numa copioaa produçãoem repetir com vantagem o te-ma sentimental de Casimiro edos outros poetas da geração pre-cedente * os contos em verso"imitados de Musset e de Byronpor Alvares de Azevedo, K quan-do o lemos depois de haver [idoaqueles poetas, a impressão queele tios deixa no tema própria-mente lírico nada se nos deparade novo nem no fundo, nem nafôrma. E. com esta, vem a Im-pressão da banalidade.

Exemplifiquemos com esteaversos da poesia "Deixa-me",que sob o título de "Expiarão"repetem-se, "ipsis verbls", nos"CantOH Meridionais"';

Voe que teu vulto se levanta ai-[roso,

Êbrio de almejou de volúpia in-[finda

E as formas nuas e ofeganle o[pcitO.

No meu retiro vens tentar-me[ainda?

Por que me falas de venturas[longas?

um porvir[d'amores7

S o lume pedes à fogueira ex-[tinia?

Doce» perfumes a polutas flores?

de fada,Um corpo

Tranqüila sorrindo[sonhar

daa

Por que nte aim.it*

ou estes demim":

"Não te esqueças de

Nfco t« esqueças de mim, quando[erradia

Perde-se a lua no sidéreo manto;Quando a brisa estivai roçar-te a

[fio nte,Nio te esqueça* de mim, que te

[amo tanto.

commais aeis estrofes. dos sentidos, tão comum na nos-

Ou também estes de Ncvoas, sa gente), cedo também perdera aque recordam Sonhando, de Al- mulher e o filho dessa união, tal-vares de Anevedo: vet, precipitada, nascido. Casan-

do segunda vez, e não obstante .Naa horas tardias que a noite novoa filhos,, não diminuiu a dôr Um OlCÍO CansaMVO.

[desmaia, daquela perda, cruel, e Jamais es- 4Que rolam na praia mil vagas quecell aquele primeiro filho, cuja

[azues, perda lhe havia amargurado iodaK a lua cercada de pálida chama a vida.Nos mares derrama seu pranto quai Q valor deste informe, nio

[d© lux, Bet( # tenho justificada descon-fiança das biografias correntesdos nossos escritores. Nãu ha porvia de regra, nelas nem o traba-lho de erudição, que não dispen-sam nem o espírito crítico, qua cõisa; o tempo cresce e sobra,

KU vt entre <¦*# flocos de nevoaa M tornaria mais dignas de acei- ( ffi | pessoa pega a escrever,limenaaa, ,„tã„ . crédito. São. geralmente, fó faá _,„(„„, baste.todas, poderia eu sem erro diaer, r ™

^Que em srut»« a«t«nm« a* ole- »"te« ologi.,». panegirlcon, apoie..- ÓDIO — Não hi

[vam no ar. »«« que blgoraflas. e menoa que U«* BUM UU»U — "fu ™áêr"»a d?,-: tudo btograiiá. eriiica, oon.o ho- nada malí tenai que um bom

imindo, Je se requerem. A entes defeitos eum brando vícios não escapam mesmo as de

Norberto Silva, aliás talvez pelolado da apuração dos fat'melhores que possuímos.

Verdadeira ou não aquella In-formação biográfica, o certo « quenos numerosos versos de Varelanão se nos depara sombra siquerdo seu amor pela sua primeiramulher, nem de sua paixão pela Pjue

ia morte. Daquele primeiro sen- particularn seria de estranhar *de manifestação. C

amor conjugai, parece, não é estOtico, ou não possue os requisitos de um bom tema poético,Não sei de poeta que o tenha can-

leburneo tado sinão de passagem, a furto,afastado envergonhado acaso do seu "bur-

guezlsmo" de sentimento, e me-aeuapela

>adece morte e pela saudade, e por elas eirOB nem de leilões? Quando[agora, tornado o amor simplesmente, se- CU morrer, podem Vender Mil

ria porventura um lema para aa particular 0 POUCO que deiXO,«a ma- """i" bela" M'»"'-"^"' P"'" nele com abatimento ou sem ele, (

a* iit-ham reunido» Juatameiile oa a mlnl,a pele com 0 resto; niodoía gr.in.lea tomaa l.rlcoa, o n.ea- n&<) é M nio é „mo »mur e a morte. Ao passo que

Nio... não ar redes da verdade varela entoa à morte do filho[os olhos,

Ela foi sempre da beleza o trono: ('.^n acnUmental do mais profunPor que mentir? As ilusões se ,"1(> Preito. o Cântico ilo Calvárlit,

[acabam queda-ae mudo respeito a esposa,E a vida pasem como um leva e n9Sfte |.eto canto nio «U siquer

Ou inala esteanollo:

Doce brisa da noite, a mais[frouxa

Qual débil sopro do adormido in-l Cante,

Tu és, quem sabe? a perfumada tiinento nlarage.u aU3Pnc|a

I>a« asas ds ouro d'algum gênio[errante.

Tu éa. quem sabe? a gemedo:

Do um ente amigo que[chora, _

K ao som da* fibras do psalterío noa qu_e o haja idealizado en[eubrneo cantos. Mas transfoi1

Conta-me aa dores qu«

A POESIA — N&o é que apoesia seja necessária aos coi-tumes, mas pode dar-lhes gr*-ças. «

GENTE VADIA — Nada hipior que gente vadia, — o.aposentada, que é a mesma

UM BOM ÓDIOtada

ódio. •PARECER MAU — Não M

¦'" perde nada em parecer mau;ganha-se quase tanto como emsê-lo.

?AS ALEGRIAS PARTÍCULA-

RES — Não há alegria públicavalha uma boa alegria

?VELHICE — Já acho mai*

quem me aborreça do quequem me agrade, e creio queesta proporção não é obra doioutros; é só minha exclusiva-mente. Velhice esfalfa,

?INUTILIDADE DOS LEILO-

EIROS — Que sei eu de leoio-

Ou ainda entes de A ilher:

E' tempo ainda.

Rasga

Nào te esqueças de mim quando m a nova au[escutarea

Gemer a rola na floresta escura, Como a fio15 a saudosa viola do tropeiroDesfaxer-se em gemido de trts-

[tura

noa feslins da[COi-le

sedas que salpicam[prantos

ora, que te aguarda,[eleva

inha os divinais en-[cantos.

mas sempre dará para algum(|,.e,ido";,'um â,rouh,7,i,":nS|.ir.: tambor ou pandeiro rústico.- - . - Não é preciso chamar um lei-

loeiro. *O ACASO — O acaso tam-

esmola de uma niu»ãn. Esse ^m é corregedor de mentiras,niho rol taivei o grande amor da Um homem que começa men-—a-- tindo, disfarçada ou descarada-

mente, acaba muita rei exatovida. R«se amor, a Imagina

ção dolorosa do poeta o ampllfl-cou em vida como o Idealizaria nimorte. O fragmento O urost-rltodas Vnaes ila América foi escritaquando ainda lhe vivia o filho;mas ií* n»le se encontram os sen

e sincero.

OS LEILÕES E O AMOR —O olicio dos leilões pode aca-

Mas eu podia citarginas, sem

páginasibaraço qu-í

timentos apaixonados dc» râniiiHi bar algum dia, mas o de amare at/» verãos que ele repetiu ao não Cansa nem mOITCdepois neste, com ou sem varlan- ?

Oa pais, nuamlo am.iin aa- MODÉSTIA — Tudo Se IiiE assim por mais cinco estro- y da e8Colhu, para mostrar como aim. amam porventura mais que as jje perdoar do OflCÍO da mo-

ainda o poema "Triste/a",estes:

tjue levaste conitlgo! . . . Assim,[apenas.

tleii santo empenho vencerei[contente

[contente.e de quem na mesma "Elegia"citada assim fala:

fes.Ou

em que versos con

Eu amo a noite cí*"1

De tristes golvos

neblin.Amo

Sobre

seu manto[escuro

oroada a[fronte.

que pairando on-[dajla

fastfgiu de elevado[monte.

dúzia de es-

repete e banaliza em Varelalirismo amoroso dos poetas queimediatamente o precederam, li-rismo ao qual cie não deu nenhumacento novo de sentimento, ne-nhum novo tom de fôrma. Creio,porem, que as citações feitas, #outras que ainda farei, justifica-rão sobejamente o meu conceito.

Nno «credito, «peaar do que me «Idade, que não P tilvez sinão umcontam oa seus auperflciaiü l>i.i- desenvolvimento dn sim Inarenul-grafou, fosso Varela um grande

mães. e Varela teve, como não sei ^es(iaoutro exemplo, a paixão dolor naternal, que prevaleceulo a todas ns outras.A esta feição do seu sen ti meti-

, dlstlngulndn-o dos poetas queram os mestres da sua Inanirn

*NASCER ERRADO — H4

pessoas que parecem nascererrado, em clima diverso oucontrário ao de que precisam;

o. im t, juntar « nfin nossoai d» se lhes acontece sair de umsua simplicidade é da sua reli prin- para outro, é como se fossem

ílra Ci o n cal ves Dias — o romeiroDas esquecidas tribus do Ama-

[70 nasSAIiiu investigador de antigas

Ilendoa.Mavloj*o cantor das soledades!

Mas, gi aprendeu talvez deOoiiçalves Dias a ciência do ver-so solto, em Que o igualou, só onão desbancou às vezes, não foi• ele que imitou, acaso porque aImitação é tanto mais difícilquanto maior é o objeto dela. Nasua inspiração há, certo, muitodo grande poeta, o seu amerlea-nismo, já abandonado de Alvaresd* Azevedo e dos outros da mes-ma geração, a sua preocupaçãonacional, e até o seu indianismodo que o derradeiro vagido seráo_" Evangelho das Selvas", paraniíi» falar no poema somenoa"Kaperança". denominado pelopoeta de "lenda selvagem". Mas*» seu lirismo, que não alcançaJamais a intensidade e a belezade forma do poeta maranhenseproceda estreitamente de Alvaree

se repetem por umitrofes.

E mais estes, imitados do "FreiBastos", de Junqueira Freire:l*or que te afogas,

amoroso, iamor, conAl.reu, Al\culves Dia

irmã dos Junqueira

.esmo um amoroso doo foram Casimiro deares de Azevedo, Oon-; e ..inda Laurindo e

tal foi. não

dade. Porque cie, no que lem'denatural, de Individual, *"¦ um sim-.nle),, u> uma simplicidade mnUnativa qu? Casimiro de Abr«uSiipiinvim dn primeira e maiscoplosfi porção da slla obra, oanoemns.obíetivoa mal? ou meno*IrnHudoü direti ou indiretamentede Musset. de Byron. de Alvaresde Azevedo, de Gonçalves Diai

Freire[anjos, soube o* seu engenho dar à em o-

Nau ondas negras de um viver ção de sua alma a expressão que[impuro convenientemente a traduzisse, ll

K aa «tntaa Mrniaa do clnael de « contraprova do meu «sseito ,„,,„„IDeu. que. quando de fato e»»a emogão "« poema» aubjelIvos. ntnd.i re.

Manch« do vicio no recinto ea- o invade e aè apodera dele. o aeu "•*"" «*¦«*_«« «,*«_^""1^1™[curo? ttènio inspira-lhe a expressão

mais alta e mais adequada, comoE estes A laic-llia, qUe lem- nesse sublimado Cântico do Cal-

bram Casimiro de Abreu: lírio, onde o amor paterno achouAh! Si eu pudeswe de minh'alnia a su« mais eloqüente, mala como-

[aos elos vedora. mais poderosa representa-Prendear tu'alma entebreeida cno. que jA lemoa em alguma lin-

[cállda, sua. Difícil ê esquadrinhar e pe-Kmu«r na vid» o* íeatlvala caa- netrar no coração deseea entea de

[telos, contradição que sao os poetas. *

Que Wntaa noltea planejaato. pa- não me qu[lida; psicolofria (

erro, mas talvez nSo-desacerta ss*Ou eatea de A MuIlKWs admitindo que o -eterno femir.1-

no" Impressionasse menos a Va-A mulher aem amor é emo uio reta que aquele» poetn». t que de

[inverno, um lado uma disposição especialOomo a IU7. daa anthella.i no de- do seu engenho, de outro uma

[serio. Brande, uma profunda afetlvlda

d«Abreu principalmente, f os quelhe Inspirou a sua paixão pater-na. o que fica e uma fibra desimplicidade, por veies de çrand?beleza, como essa Jhvp»MI-. nilolirismo revela comonoderfa haver furtado a Influfn-rias noe hanali«firam uma part.'considerável da sua obra."R como essa. Dcseiicaiin. a Ito.

arriscar em uma '?«i a Volla. Serenata, e :que ê tão fácil o cançftes e outros versos d

mo caráter e .sentimento, mos-tram que ao setl lirismo não f;»l-tava n espontaneidade, a craca. afacilidade, eamcterfstlca dn lirismonacional. A ingenuidade, poremdo sen natural poético não o pre-venlu suficientemente contra

restítuidas ao próprio.<»M<OCIDADE — A vida é um

direito, a mocidade outro; per-turbá-los é quase um crime.

AS RUÍNAS DAGLORIA

(OMiehMft* ia par aniertar)facada em uma filha joven tem véspera de casar-se. Prin-

avrèia '«• cipiou a sua loucura por fugir

dos homens e da sociedade, mo-rou ha três anos em as ruínasia Gloria.--

_ Ahi esperai, clamei eu con-' "t"1» templando fixamente o louco.

Era o desconhecido; sim, erao hospede das ruínas, poremhorrivelmente mudado. Ao co-nhece-lo, todo o drama sombriodo passado passou-me pela ca-beca, as lágrimas rebentaram-me aos olhos e eu escapei-me

Como » eaplnhelro de iaoladaa de paterna ol.repujou nele oulra perigo da suKeatgo doa aeu» poetas correndo Comoum OOMO «O[fragas, qualquer.paixão. Contam ae.ui.ia* (Onllnu na ná(c. IT) . AoipiciO ÍM dCUos.

...-iu£i:s-i«.**^.;.--.a -..-¦-^-

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PAGINA M — SUPLEMENTO LITERÁRIO d'A MANHA

OPINIÕES SOBREDOMINGO, M-I-HI -&^

A página do diaMACHADO DE ASSIS E U C L I D ES DA C U NHA

De Joaquim Nabuco"Que vivacldade, que ligeireza,que doçura; que benevolência ado seu espírito, eu ia dizendoque bcatitude! V. pode cultivara vesícula do fei para a sua fi-losofia social, em seus roman-ces, mas suas cartas o traem.V. não é somente um homemfeliz, vive na beatitude, comoconvém a um Papa, e Papa delima época de fé, como a quehoje aí se tem na Academia.Agora não vá dizer que o ofen-di, e o acusei de hipocrisia,chamando-o de feliz."*

"A homenagem que o Ferrerolhe prestou é digna dele e daItália! V., graças à nova gera-Ção dos Veríssimos e Graças,que explicaram a admiraçãoinconciente que V. inspirou àgeração anterior, ou à nossa,goza hoje de uma reputaçãoque forçará a posteridade alê-lo e estudá-lo para compre-ender a fascinação exercida porV. sobre o seu tempo. E' belocrepúsculo para um homem deletras, porque os homens de le-trás teem mais a preocupaçãoda duração da sua obra do (ru»mesmo do seu nome".•

"Devemos tratá-lo com o ca-rlnhd è a veneração com queno Oriente tratam as carava-nas a palmeira às vezes soli-tária do oásis".

? + ?De Graça Aranha:"Machado de Assis escreveu

para si mesmo. E' reservado,tímido, e, se por acaso se con-íessa, é pela metade. Não pen-«a na posteridade e dela du-vida. O seu estilo é recolhido.Há muito pudor e delicadezaem sua composição, mas nofundo uma perversidade geral,uma audácia íntima que, re-ceiosa de transparecer, se des-faz em cinismo e hipocrisia.Como um verdadeiro artista, aspalavras, o verbo, as expressõesque vestem as coisas, são o seujogo imaginário, a sua ginás-tica de câmara secreta. O ma-ravilhoso malabarista, depoisde deixar a frase arrastar-se,lá-la saltar repentinamente egosa desse salto, como umaacrobacia da vontade, que o di-?erte e nos encanta".

?-O humorismo de Machado

de Assis é de fundo romântico,amargo e triste. Se não che-ga à mistura do riso e da lá-grima, como prescrevia a esco-Ia, é por causa do tempera-mento pundonoroso do escrí-tor. Há no seu desenvolvimen-to o artificialismo britânico,uma acrobacia que ilude o jogoe faz sorrir dele, como nos di-vertimentos dos cômicos ex-cêntricos. Este humorismo jápassou. Transformou-se com avitalidade moderna. O humo-rismo hoje é francamente ale-gre, alerta e sadio. Procura fa-zer rir à custa dos humanos, eapoia-se sobre a tolice, de pre-lerència à maldade. Por ele«ente-se um agradável desdém,um supremo desprezo de tudo,ao passo que no humorismo deMachado de Assis há uma in-i-tação permanente, uma amar-gura, uma disfarçada intençãomoralista, um ódio do gênerohumano que lhe é uma home-vagem", ? ? ?

De João Ribeiro:"Por que era Machado de As-,lls insensível à paisagem?

Lede a sua obra. Em todaela vereis esse desdém pelasperspectivas dos campos, dasmontanhas ou das florestas.

O nosso grande romancistaadestrava-se e viMia empare-dado e incomunicável com osol e com o ar livre.

José de Alencar, ao contrário,era dotado da mais exquisitasensibilidade pelo ambiente:nada, nem o menor matiz, lheescapa na paisagem brasileira.

Quando dele se passa a Ma-chado de Assis, parece-nos terdado um salto no abismo".

?Toi o mais completo, e, so-

bretudo, o mais perfeito dosnossos artistas.

E' difícil extraí-lo dos nos-sos antecedentes naturais. Fi-lho dos trópicos, aborrecia oexcesso e a opulência da pai-sagem. O seu cenário simplis-ta era como o dos desertos po-lares.

Detestava o gongorismo, osarabescos, que são como lianasdoutra floresta, que fecham oambiente.

Queria ver os homens, estessim; mas sem os reflexos deempréstimo, na claridade lu-nar mais favorável ao exame.E todos os homens apareciama Machado de Assis, desfalca-dos dos exageros da opiniãocomum.

Nós outros temos da socieda-de uma visão violenta, defei-tuosa e, por assim dizer, reto-rica e aumentada. Machadode Assis despia todos esses tro-pos e achava no fundo a men-tira de todas as veemências."

OPINIÕES SOBREFAGUNDES VARELA

OPINIÃO DE JOSE'LINS DO REGO

"Varela foi dos grandes doromantismo o mais esquecido.Faltou-lhe aquele "it" para aglória que em Castro Alves eratão a flor da pele. E no entan-to a sua poesia é mais romàn-tica, é mais cheia de seiva vi-tal, é mais profundamente desua época. Ele cantou as sei-vas, e foi um homem triste, umhomem esquecido de DeusCastro Alves tem as mulheres,Gonçalves Dias a etnografia,Alvares de Azevedo a literatu-ra. Fagundes foi um degreda-do. O seu degredo no mundofez dele o cantor solitário. Elenão defendeu escravos e nemdefendeu índios. A sua solidãoera maior que a dor dos negros,— que a dor dos timbiras.""Autores e Livros" naapreciação de um bri-

lhante críticoDa edição de A MANHA, de

14 do corrente, transcrevemoso seguinte tópico:"Álvaro Lins, o brilhante cri-tico literário do -Correio daManhã", já hoje consagradocomo um dos valores mais reaisda sua geração, enviou a MucioLeão, a propósito do apareci-mento de "Autores e Livros", aseguinte carta, que com desva-necimento publicamos:

Rio, 11-8-941 — Meu caroMucio Leão:

Li ontem o suplemento "Au-tores e Livros", sob a sua dire-ção.

Tendo gostado muito dele(dos colaboradores e do espíritoda orientação que é o seu), nãoquero me privar do prazer delhe transmitir essa impressão,acompanhada das minhas maissinceras felicitações. O que no-to, sobretudo, é o seu caráterde imparcialidade e amplitude,isto é: uma valorização do quehá de considerável em nossasletras, acima de quaisquer divi-soes e partidarismos. Eu dese-jo que o nosso meio possa lhepermitir uma continuidade nes-se propósito. E' uma tarefa di-ficil, mas você conta, para asua realização, com as suasqualidades pessoais e com assimpatias que essas mesma.?qualidades teem levantado parao seu nome, em todos os cir-culos literários.

Aproveito a oportunidade pa-ra agradecer as palavras amá-veis com que V. anunciou a pu-blicação do meu "Jornal de Cri-tica" e os meus estudos sobre obarão do Rio Branco.

Peço-lhe que apresente osmeus cumprimentos e saúda-ções ao Cassiano Ricardo, dequem conservo a lembrança deuma recepção e de um convite,ambos muito amáveis.

Receba um abraço do seu co-lega e admirador — ÁLVAROLINS".

TORTURA DAS DONAS DE CASAS

Da "Atualidade de Euclidesda Cunha", de Gilberto

Freyre

Gilberto Frejro

Gilberto Freyre nasceu noRecife, em 1901. Cursou o Co-légio, Americano Batista, doRecite, onde terminou o cuisode Ciências e Letras. Indo |>ara os Estados Unidos, cursou aUniversidade de Baylor e a deColúmliin, tirando nesta últimao curso de Mestre na Faculda-de de Ciências Políticas e So-ciais. Em seguida viajou pelaEuropa. Regressando ao Bra-sil, foi colaborador tio "Diáriotle Pernambuco", de 1922 a1925, e diretor da "Provincia",do Recife, de 1928 a 1930. *\a

Escola Normal do Recife, crioua cadeira de Sociologia, a pri-tueira estabelecida no Brasil,por iniciativa do sr. A. Cai-neiro Leão, que era diretor <iaInstrução Pública de Pernam-buco. Tem dado cursos de es-pecialização sociológica no Bra-sil e na Europa.

Obras principais: Casa Grau-ile e Senzala, 1933; Sobrados eMucambos, 1936; Artigos deJornal; Conferências na Euro-pa, 1938; Um engenheiro fra»cês no Brasil e O mundo que oportuguês criou, 1940; Regiãoe Tradição e Atualidade deEuclides da Cunha, 1941.

Theodoro Sampaio contou-me unia vez, por sinal à sobre-mesa de um excelente jantar fiepeixe de coco em casa dc Ani-bal Fernandes, organizado epresidido pela artista ilustre dotempero e não apenas da pintu-ra que é Dona Fedora — queEuclides da Cunha era a tortu-ra das donas de casa. Traço dapersonalidade do grande escii-*tor que aquele seu mestre eamigo baiano já registrara emartigo da "Revista do TnstitutoGeográfico e Histórico da Baia*

"À mesa o Euclides era uintorturado a quem as iguarias.faziam mais medo do que ascarabtnas da jagunçada revolta.

Comer fosse o que fosse era-Ibe um tormento, por mais ino-cente que Ibe parecesse a igua-ria e isso notei-lhe sempre, an-tes como depois de sua visita aCanudos". E ainda: "Não ti-nha à mesa, onde se assentava,dc-ordinário, conviva taciturnoe desconfiado e neste estado deespírito tudo lhe servia de cs-cusa aos obséquios e ofereci-mentos. — Que é que se há ri-oferecer a Euclides? Era a per-gunta da dona da casa todas asvezes que se aguardava a visi-

ta do autor d'"Os Sertões". Eo Euclides, a bem dizer, só seconsiderava tranqüilo à mesa,quando nada havia de especiala se lhe oferecer".

Nem moças bonitas, nemciansar, nem jantares alegics,nem almoços à baiana com va-tapa, carurú, efõ, nem feijoadaà pernambucana, nem vinho,nem aguardente, nem cerveja,nem tutu de feijão à paulista ouà mineira, nem sobremesas íi-nas segundo velhas receitas deiaiás de sobrados, nem churras-cos, nem mangas de Ttapanca,abacaxis de Goiana, assai, sopade tartaruga, nem modinhas noviolão, nem pescarias de Sema-na Santa, nem ceias de serí compirão, nem gaios de briga, nemcanários do Império, nem caça-das de onça ou de anta nas ina-tas das fazendas, nem banho*nas que das-dágua dos rios deengenho — em nenhuma dessasalegrias características brasilei-ras Euclides da Cunha se fi-xou. Nem mesmo no gosto deconversar e dc cavaquear às cs-quinas ou à porta das lojas —tão dos brasileiros: desde a ruado Ouvidor à menor botica dcGoiás. Principalmente dos baia-nos — dos quais Euclides pro-

Ift ^5^ wjliL Jm

WLa mEuclides da Cunha

cedia, embora sua personalid.i-de se enquadre menos no tiporegional do baiano do Recõn-cavo que no do sertanejo. "Ra-ro na palestra se animava'* - ia informação que nos dá, a esserespeito, Theodoro Sampaio,que acrescenta: "Não era vtr-boso, nem alacre, nem cau.Vi i-cante no discretear ordinário.Preferia pensar, refletir, ouvirantes que dizer, o que traia na-tural propensão mais para eo-lher do que para dispartir asjóias do seu espirito".

FAGUNDES VARELAJe CamiU) Castelo Branco

Os apreciadores portugue-ses da lira brasileira distin-guem com especial louvor, Fa-gundes. É bastantemente cita-do este paulista, e tão lido cá.ao que parece, que a especula-çao o reimprimiu no Porto em1875, reproduzindo-lhe o prefá-cio de 1861. O autor, querendobem graduar a futilidade dapoesia e atenuar a ousadia dea dar à estampa, a instânciasde amigos pergunta: "Qual éo estadista, o homem de nego-cios que não se sentiu algumavez na vida poeta, que aos ou-vidos de uma pálida Madale-na ou Julieta, esquecendo-sedos algarismos e da estatística,não se lembrou que haviambrisas e passarinhos, ilusões edevaneios?" E gramática.Também seria bom lembrar-se aos ouvidos das Madalenase Julietas, que havia regraspara o verbo haver além debrisas para refrigério de epi-derme, e passarinhos para de-leite dos otwidos. Em poesia,um sabiá não substitue a sin-taxe, e as flores do ingá querescendem no jequitibá nãodisfarçam a corcova de um so-lecismo.

Justificando a gente de jul-io são que ri dos poetas, Fa-gundes não reputa indivíduosescorreitos os fabricantes derimas, e aplaude o» que lhescospem sarcasmos. "Porque opoeta diz ele com toda a razão— desconhece as leis da hu-mSnidade, e em vez de conten-tar-se com o sossego da fami-lia, a calma da mediocridade,a paz do coração, verdadeirase únicas felicidades na terra,sonha uma vida a sen modo. enão podendo realizá-la maldiz-se e se consome." E que fartumà rua da Quitanda! Mas temrazão. Quem desconhece asleis da humanidade; e, emvez do sossego da família, quera reinação e o banze: em vezda calma da mediocridadequer deitar carruagem huitsressorts ou vestir-se de PresteJoão das índias, e não acha de-masiados quatro botões nm lu-va cor de canário, consuma-se

e maldiga-se. Por tais e que-jandos motivos, Fagundesapostrofa os poetas e vociferacom os lábios espumantes deironias finas: "Querem que oshonestos pais de famílias; oshomens incumbidos de di-rigir o Estado e felicitar opais; os comerciantes e lavra-dores; o mercenário ocupadoem ganhar o seu pão quotidia-no, abandonem os seus tra-balhos, deixem seus filhos comfome para aplaudir-lhes asloucuras e tecer-lhes coroasde loiro! Não querem (ospoetas) que se riam, quando oipovo dizendo — nossas searassão arrasadas, nossos filhosprecisam de instrução —, elesrespondem:

Mimoso passarinho que[vagueias

Minha bela. eu te amo,

e outras iguais?*'Até aqui Fagundes.Aguente-se, Victor Hugo!

Açula-lhe os teus ursos nostal-gicos, Guerra Junqueiro! Merci-eiros, enchei-me este vosso in-terprete de ceiras e figos decomadre.

Afinai, este sujeito híbridodos Brasis conclue destarte oseu prefácio original:

"Escrevendo estas linhas edando á publicidade este vo-lume, o autor pede t espera queas musas lhe favorecem con. aausência da sua divina inspi-ração", etc.

Eu também faço votos queas musas lhe favoreçam com aa ausência da sua divina ins-piração. Por estes dizeres pa-rece que foi divinamente ins-pirado Fagundes. Não o faz pormenos, e prova-o nesta cançãoque denota pais novo e arvorenova de muita seiva um poucoatacada de pulgão e lagarto.

(Cancioneiro Alegre, 2." ».)¦

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.íPafe. DOMINGO, M-t-IMI ¦UrLIMENTO UTMAWO «'A MANHA — PAGINA 11

Páginas de autores mortos1 LUCILIA

ALBERTO DE OLIVEIRA

Do nardo a essência cálida se exala,Se abre o leque oriental de finas penas_ Ave de azas de prata e pés de «palaPresa, a agitar-se em suas mãos pequenas.

Move-se, e a gente crê que vai na salaO som do etéreo passo das Camenas.Geme o setim que arrasta em nuvens plenasDe rumor, o veludo arque ja e fala.

Como que um hino em derredor se elevaQuando ela passa; em ouro, reluzindo,Cae-lhe o cabelo; é como um sol que leva.

Foge... então, entre a luz, ainda é mais bela.E quando longe, oh! desespero infindo!A alma é um grito de amor na ausência dela

<Da Cidade do Rio, 13-6-1888).

graça havia sido o promotor pú-blico no júri que condenara Ma-noel.

Lera todos os papeis e concluiu:uEu, o senhor e Manoel Gomes.Jzemos, todos, o que devíamos fa-zer.

Estas últimas palavras proferi-das pelo homem que era a incar-nação da dignidade, e de quem osábio Draper1 me disse um dia quesabia ser soberano ainda deitadona relva, discreteando com ele emHastings, foram para mim umarevelação.

O imperador grupou no mesmoverbo, sua pessoa, que semprereputou augusta, e a dos dois bra-süeiros, cada um dos quais corre-gava o peso de uma injustiça.

Data desse dia o profundo res-peito que votei e voto á magnani-midade daquele que sempre com-bati no terreno político, mas, dian-te de cuja memória não tenho re-mordimentos de conciéncia por lhehaver /afiado com « censuro <mcom o louvor.

*l Tudo se prestaá facécia

CARLOS DE LAET

MATER(C. MENDES)

Raimundo Corrêa

Dtus quando quis ]azer o homem, não foi buscarA argila de que o jt'2 o um único lugar:Para esse fim, buscou o barro que dispersoHavia, pelos quatro extremos dó Universo:— Ao Sul onde o braseiro ardente do areaiAo Capricórnio fulge; a Leste onde um sendeiDe lus e rosas traja a naturesa, e abale,Rolo em flores, no solo, o esplêndido açajale;Ao Norte, onde, afiando as navalhas glaciais,Punge a invernaia; e a Oeste, onde rugem brutaisTufões, e a ribombar rolam, de fragua em fraguaNmiens prenhes de fogo, e a estourar a tromba dágua...E assim ao Norte, a Leste, a Oeste e ao Sul, Deus quisBuscar a argila afim de que em nenhum paisDo Globo, i em parte alguma o pó da SepulturaNão desconheça nunca ao triste, que o procura;Nem pergunte jamais a terra, com desdém,Ao cançado viajor, quem é, nem d'onde vem;Mas, como a um filho aceite, I, maternal o acoiltNo seio, onde v homem durma "a elerm boa noilf.

A SEMANA, 27-11-1886

O HOMICIDA SENTIMENTALSalvador de Mendonça

pelo ano de 1818, apareceu-meno Consulado, em Nova York, ovustre de uma embarcação norte-americana trazendo-me um mula-to que apanhara em viagem emuma jangada, próximo à linha doEquador. Referiu-vie o norte-americano que encontrara o nãu-Irtiijo exausto de forças, sem mo-vimentos, estendido sobre o baixei,com os lábios secos, a lingua en-tumecida e os dedos roidos e co-bertos de cristalizações salinas.Supô-lo morto, mas, com a huma-ntdaâe que caracterizou o homemdo mar, recolheu-o a seu bordo,pensou-o, cercou-o de cuidadoscarinhosos e afinal restituiu-o àvida. Dias depois, quando o res-suscitado ponde talar, contou-lhevma longa história que mal com-preendeu. Sabia apenas que onáufrago era brasileiro e presidia-rio. evadido de Fernando de No-ronha.

Ouvi a repetição da história daboca do presidiário. Chamava-seManoel Gomes da Silva. Nascerano serião de Pernambuco. Casara-se e, colhendo a. mulher em adul-tério, matára-a e ao cúmplice noleito do crime. Entregue à justiça,fôra condenado a galés perpétuase remetido para Fernando Noro-nh a, onde havia anos cumpriasentença. Só um ente caro lherestava na vida — sua mãe. Pa-ra tornar a vê-la, planejara e le-vara a efeito, com um companhei-to de pena, a evasão. O sócio dnfuga morrera de fome ao cabo dealguns dias. Nenhum dos dois ti-nha a prática dos jangadeiros, que,pela corrente das águas, direçãodos ventos e posição dos astros.facilmente se orientam em altomar. Depois de ser disputado pe-los tubarões, o cadáver do compa-nheiro, chegara a sua vez de su-cumbir, pois mal tinha alimentopara três dias e as sombras dàmorte lhe haviam passado pela ca-beca vezes inúmeras. Prostrado,afastando-se cada vez mais daterra, tomou-o, compassiva, a Pro-viáência e pô-lo em um desses ca-minhos que o Creador abriu nosoceanos. A corrente ie Guiné le-vou-o para o Oeste a fazê-lo «en-contradiço com a embarcação queo salvou.

Nào havendo tratado de extra-dição entre o Brasil e a UniãoNorte Americana, ia eu auxiliar ocindido em obter meios de subsis-lencia na terra a qne aportara.Manoel Gomes peiiu-me e Insls-Un para que o repatriasse, pois ofito de sua evasão era ver suamãe, já velha e que não podia es-perar por ele muitos anos. Disse-lhe que sô podia repatriar, entre-vundo-o ás autoridades brasileiras.Manoel Gomes aceitou o alvitreçom alacridaãe, pois, apesar detodos os argumentos de que useií>nrn dissuadi-lo desse passo, falouinais alto o amor de filho. Poucasveses íenfco visto em minha sidotamanha eloqüência simples, cia-", Mo latia io coraclo.

Remeti o prisioneiro para o Riode Janeiro. Pú-lo a bordo de umpaquete americano com passapor-te de simples passageiro e um ofí-cio para o oficial de visita da po-lícia deste porto, dizendo-lhe quelevasse o portador ao chefe de Po-licia da Corte, sr. Tito de Matos,para quem entreguei a Manoel Go-mes uma carta ãe recomendação.Ao ministro da Justiça, conselhei-ro Lafayette Rodrigues Pereira,além da comunicação oficial, es-crevi particularmente, pedindo queencaminhasse uma petição de graçae escrevesse ao então presidentede Pernambuco para que propor-cionasse a Manoel, na volta parao presidio, a oportunidade de versua mãe.

O galé cumpriu, como homemhonrado que era, quanto me pro-metera — passou por Pernambucoe não desembarcou e, ao chegarao Rio de Janeiro, entregou suapessoa e o ofício à- autoridade.

Meses depois, recebi em NovaYork uma carta que me mandaraescrever, agradecenão-me o quepor ele fizera — tinha abraçadosua mãe, seguia contente para opresidio.

Em 1879, «indo ao Brasil paraapresentar minha segunda esposaà familia. fui, no dia da chegada,dolorosamente surpreendido porum folhetim de meu antigo com-panheiro Ferreira de Menezes, na"Gazeta ãe Noticias". Punha-mepor capitão do mato, perseguidorde foragidos e tudo quanto podiamditar, àquele ânimo generoso, acausa de quem supunha oprimidoe o esquecimento de meu cara-ter.

Procurei Lafayette. Meu pedt-ão não tinha sido esquecido e nãopodia sê-lo, pois esse ilustre brasi-leiro possue todas as delicadezasde sentimento e requintes de pie-dade que só os íntimos lhe conhe-cem. mandara à informação a pe-tição ie craça. A informação 16-ra contrária ao perdão. Retirei-me triste. Mas. no dia seguinte,lia, no "Jornal do Comércio" operdão do presidiário Manoel Go-mes ia Silva. Corri a La/ayette,que me disse que tosse agradecerao imperador esse ato todo seu.

Fui imediatamente a São Cristo-vão e tive ímpetos de beijar, pelasegunda vez a máo do imperador.

Bàiãra-a, pela primeira e últi-ma vez, quando the fui apresenta-do em criança.

Agradeci-lhe com cfusâo de co-ração.

O bondoso ancião disse-me quenão fizera mais do que cumprirum dever de oficio; que eu haviacumprido o meu de homem e deautoridaie; que, ao ver-me ín-justamente atacado, era seu deverdefender-me pelos meios a seu ai-cance, pots não desejava que aovoltar à pátria assim me recebes-sem. , .

Acrescentou nue provavelmente,o juii que in/ormára a peíiçao it

Assunto não há que não sepreste a deformação pela pa-ródla.

As lutas heróicas entre Gre-gos e Troianos, cantada peloautor da -lliada", foram trans-formadas em pelejas de rãs

e ratos na "Batrachomyoma-chia", que somente a críticaestulta pode atribuir a Ho-

. mero.

Que pôde haver mais interes-sante e patético do que o lancebiblico da perdição do primei-ro casal humano? Deixe-se delado a narrativa, tão simples etão bela, do "Gênesis"; e refli-ta-se na pujante inspiração quede tais páginas hauriu o can-tor do "Paraíso Perdido". Aque-Ia último cena em que o pri-meiro homem e a primeiramulher, expulsos do Éden, seencaram de mãos dadas e,confiantes na Providência, seatiram à conquista do mun-do e à formação da humani-dade, é, certamente, uma dasconcepções mais grandiosasda poesia de todos os tem-pos.

Já um século antes, da mes-ma fonte tirara inspiração opincel de Rafael Sanzio de Ur-bino, quando delineou e coloriuas pinturas que exornam pare-des do Vaticano.

Entretanto, bem me lem-bra que, certa noite na cida-de de Juiz de Fora, li, em umcartaz de circo, o programacujo último número era este:

"Adão e Eva, pantominapelos primeiros artistas dacompanhia".

Fui e fiquei até ao fim paravêr n que a companhia resol-vera fazer dos nossos primei-ros pais.

Adão era o palhaço, de ca-saca e calções esburacados.Fazia de Eva uma mulher pre-ta ou pulvilhada de pós e sa-pato .O demônio era um ca-boclinho, trazendo a tiracoloum ignóbil filhote de giboia.Travava-se o diálogo com de-plorável chocarrlce e cacofa-tons indecentes. Lá em cima,nas altas bancadas do circo,havia guinchos de gozo estéti-co e estrondosas gargalhadas...A companhia eqüestre tinhafeito um grande giro por todaa província, e constou-me quemeses se demorara no Curvelo*

Sai convencidíssimo de quenão pode haver assunto, pormais nobre e lacrimável, quenão se preste à facecla dos es-piritos jocosos e Isentas de sen-timentalismo.

Artur Azevedo e Fontoura XavierEm 1905, ao publicar o volume

Opalas, — livraria editora viuvaTavares Cardoso, Silva — mandouFontoura Xavier uni exemplar aArtur Azevedo, com estas palavrasde dedicatória:

Ao meu belo e sempre lembra-do Artur Azevedo, estas páginas denossa mocidade. — O autor, NovaYork. 1." de sept., 1905."

Artur Azevedo agradeceu a ofer-ta do amigo com uma série detriolets, como se vê aqui:

CARTA A FONTOURA XAVIER

Cá estão as tuas Opalas!Oh, que volume tâo lindo ICheias Oe risos e galas.Ca estão as tuas Opalas!Livrinho, sejas bem vindo,Que do passado me falas!"Ca estão as tuas Opalas!Oh, que volume tâo lindo!

Eu ha muito o havia lido,Mas torneia a lé-lo agora.Era um velho conhecido...Eu há muito o havia lido,E tendo-o agora relido,Volvi aos tempos de outrora IEu há muito o havia lido,Mas tornei a lê-lo agora.

Ele viu, desapontado,Minhas ruínas e meus danos.*

O meu rosto avelhanladoEle viu desapontado...Não havia calculadoQue eu tenho já cincoenta

[anos !Ele viu, desapontado,Minhas ruinas e meus danos]

Picou muito comovido.Topando tanto destroço...Conquanto ledo e garrido,Picou muito comovido...Nào havendo envelhecido,Supunha encontrar um moçolFicou muito comovido,Vendo em mim tanto d«estro«çol

Com saudade e com carinho,Reli-o duas, três vcz«es;Depois preparei-lhe um ninbfCom saudade e com carinho.Reli-o todo, todinho.Menos os versos ingleses...Com saudade e com carinhoReli-o duas, três vezes!

Muito obrigado, Fontoura,Pelo bem que me fizeste !Hoje o sol minhalma doura IMuito obrigado, Fontoura!Que musa travessa e loura!Que raio de luz celeste 1Muito obrigado, Fontoura,Feio bem que me fizeste t

1905

6DESERTO DE GELO

OLAVO BILAC

Sei de frias regsiões situadas pertoDos pólos, onde eterno dorme o geloSem que um raio, através o céu cobertoDe nevoas, mande o sol para aquecê-lo.

Nem estrelas, nem vida ! Em tudo o seloDa morte... Só, no intérmino deserto,O urso branco de pé, riçando o pêlo,Abisma ao longe o seu olhar incerto.

Tal minha alma — deserto em cuja faceDormente, apenas ouve-se a infinitaVoz do vento passar num largo choro...

Vejo-te o riso e a primavera nasce,- Vejo-te o olhar e o sol, que nele habita,

Os gelos funde com seus raios de ouro.

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FÀCÍINA *i — SllM.KHKVTO UTKR UUO d'A MANHA IIOMINOO. H-t-Hl

UMA POESIA DE FAGUNDES VARELAOutrora, quando as t/iiillian atrevida»Dos baixeis europeus dominadoras

Do sombrio oceano,Vinham, como sedentas, refrescar-se 'fias ondas virgens, que amorosas beijam

Do noto mundo as praias,— Praias ébrias de luz — harmoniosas,llrilhanles como as faixas dos monarcas

Do esplêndido oriente;Outrora, quando as turbas incansáveisDe ferozes piratas, consumidos

for infame cobiça,Da filha de Colombo espedaçavam,O brando seio, a soberana fronte,

Haia roubar-lhe as jóias;Outrora, em noite infausta, borrascosa,Sobre precário lenho sacudido

Pela fúria das vagas,Foi arrojado um pobre marinheiro.Exausto, nu, ferido, ás alvas costas

Do solo americano.Os livres filhos dessa terra livre.Cheios de compaixão, deram-lhe asila

Em seus rudes tugúrios.Sucederam-se os dias, uniformes;As estações passaram, e com elas,

Para o triste estrangeiroA doirada esperança, que alentara.De voltar novamente aos lares pátrios,

De ver a esposa e os filhos.Curvou silente a fronte a seu destino,E, como a gratidão sempre floresce

Nas almas infelizes,Resolveu consagrar sua existênciaEm proveito «fa tribu hospitaleira

Que lhe estendera os braços.

Brevemente, ás palhoças derramadasAqui, ali, sem ordem, nos ouleiros

Ou na margem dos rios,Sucedeu na planície airoso grupoDe aprazíveis eabanas, rodeadas

De verdes bananeiras.A cruz da redenção ergueu-se belaSobre oh tetos grosseiros, protegendo

Os homens do deserto.. Converteram-se as tortas azinhagas

Em formosos caminhos, e as charnecasEm terreiros enchutos.

Os fundos vales, os incultos montes.As amplas chans, onde as bravias fera»

Corriam livremente;Em plantações profusas se mudaram.Onde a abundância coroava os votos

Dos robustos colonos.Longos vestígios, indeléveis traços,Do prudente estrangeiro a atividade

Deixou por toda parte:A natureza avara para os seresQue seus peitos rejeitam, generosa

Mostrara-se a seus filhos.

Muitos anos passaram; os mancebosTinham-se feito velhos; as crianças

Mancebos esforçados;Uma coroa de cabelos brancosE de boas ações, cingia a fronte

Do provecto estrangeiro;Era uma tarde plácida e serena:A viração do mar soprava a medo

Nos espessos palmares;Os pássaros cantavam docementeE as flores tropicais o or pejavam

De suaves perfumes.

Longe, na linha azul do firmamento,Uma vela alvejou, e, poucas horas

Depois, no manso porto,Ávido bando de cruéis piratas.De ligeiro baixei descia á praia.

Invadida a colônia.'—Oiro! Queremos oiro! — Repetiam,Agitando as espadas, que brilhavam

A luz do sol nascente;Onde estão vossos túmulos tesouros?Em Que lugar, nestes alpestres montes,

Se ocultam vossas minas?Dizei-nos sem tardança! Nossas armasSequiosas de sangue, há muito tempo

Dormitam nas bainhas!Nossos canhões, nas amuradas, mudos.Sufocam seus rugidos! Nossos bravos

Tremem de impaciência!...""Sim, respondeu da tribu o nobre chefe,

O prudente estrangeiro, levantandoA serena cabeça;

A verdade falou por vossos lábios;E' eerlo o que dizeis — é mesmo justa

Vossa instante exigência.Nasci na velha Europa. Estreito laçoTalvez me prenda a vós: quero as riquezas

Que topei neslas plagas,Convosco repartir; lereis tesourosPara comprar os mais soberbos tronos

Que dominam a terra.Porem o dia expira, a noite escuraComeça a desdobrar sobre as colinas

Seu manto de tristezas;Deixai dormir em paz vossas espadas:Ao despontar do sol irei convosco

Mostrar-vos nossas minas".

Passou a noite. Quando a luz brilhanteDa lâmpada dos séculos doirava

O tastigio das selvas,O venerando chefe, acompanhadoDa voraz multidão, pôs-se a caminho.

Tranqüilo e resoluto.Chegando ao cimo do mais alto monte.Que aquelas vastas plagas dominava.

Parou subitamente...Que formoso painel! Que belas cenasDesdobravam-se aos olhos deslumbrados

Dos bárbaros piratas!

Por toda parte cultivados campos.Trilhadas sendas. arvoredos bastos

Carregados de frutos!Homens nas plantações, moças sentadas.Tecendo alegres, da choupana á porta.

Seus grosseiros vestidos!— Por que parais? pergunta um dos piratas.Tomando o braço ao pensativo chefe;

— Estais cansado, acaso?. —"Não — este respondeu — vós me obrigas/es

A mostrar as riquezas desla terra...Pois bem — ei-las, lá em baixo!"

—"Mas as minas? O ouro"? — "Desgraçados!*

(Prosseguiu o ancião) fitai os olhosNessas vastas planícies;

Contemplai esses montes, que transbordamDe ricas plantações; esse* pomares

Ao lado das eabanas!Contai essas colmeas assentadasA' sombra dó arvoredo; esses apriscos

De já domadas feras;Essas aves domésticas, que brincamEntre as espessas-, verdes espadanas

Dos cristalinos lagos!Olhai nos estendais, essas meadasDas brancas fibras dos coqueiros altos

Amigos dos fraguedos!Esses dorsos humanos, que reluzemCurvados sobre o solo! Esses prodígios

Da santa natureza!...Eis nossas minas! Eis nossos teouros!Eis o ouro mais puro que há brotado

Das entranhas do globo!Quereis conosco partilhá-lo? Vinde!Deus abençoa a fronte que medita

E os braços que trabalham!A terra, nossa mãe bondosa e meiga,Nunca negou o leite de seus peitos

Aqueles que a procuram;No sono derradeiro, ás horas mortas.Mais brandamente embala em seu regaço

Os filhos respeitosos!...Porem, si o vil metal que as turbas cegaPreferís aos tesouros que se ostentam

A vossos olhos pasmos,Buscai vosso baixei, volvei o leme.Ide a outro pais... Nossas riquezas

De suores gotejam!...Longe de se agastarem, os piratasOuvindo estas verdades, lentamente

Desceram das montanhas;Deram presentes aos colonos todos,E, cheios de respeito, se afastaram

Do venerando chefe.

Quando no céu azul, serena, a tardeDesdobrava em silêncio o leve manto

Triste como a saudade,O ligeiro baixei, de velas soltas.Perdia-se nas orlas vaporosas

Dos vagos horizontes...

(laborai e Savador de MendonçaNo dia 3 do corrente, uma nume-

tosa comitiva, chefiada pelo Sr.Alfredo Neves, que representava oInterventor Amaral Peixoto, diri-giu-se a Itaborai, a cioade natalde Snivador de Mendonça. IaInaugurar o busto do escritor, er-fuido ali numa praça publica.

A inauguração desse monumen-to foi uma cerimonia simples, po-rem bem significativa. A filha deSalvador de Mendonça tirou abandeira brasileira, que escondiao bronze, e o busto de Salvador•pareceu ao sol, majestoso e se-reno. Nesse momento falou o Sr.Rui Buarque de Nazareth, Secre-tario da Educação do Estado doRio, que pronunciou eloqüentes efibrantes palavras.

Falaram, a seguir, vários ora-dores: o sr. Múcio Leão, em no-me da Academia Brasileira de Le-trás: Soares Pilho, em nomeda Confederação das Academias;Henrique Lagden, em nome da A-eademia Fluminense de Letras; eum sobrinho de Salvador, agra-decendo, em nome aa fa.milia, ashomenagens que eram ali presta-das ao seu ilustre tio. ; -**

O discurso que, como represen-tente da Academia Brasileira deLetras, pronunciou, naquela ceri-monia, o sr. Múcio Leão, foi o m-fuinte:"Meus Senhores.

Tem certo aspecto de um atode religião, uma cerimonia da na-turega desta que nos reúne hoje.As nacionalidades vivem pelo lm-perativo de alguma coisa lndefi-nivel que as forma, que as orien-ta, que lhes traça os mais al-Mi destinos. Essa alfuma cada

deve ser a Inspiração a'e algunsgrandes homens, o pensamento dealguns grandes mortos, que nosguiam a distancia, e sem que te-nhamos conciència disso. Cul-tuar tais grandes homens será,portanto, celebrar um ato de re-ligiâo cívica.

Renan estudou, aplicando a esseestudo o seu conhecimento uni-versai da vida e da historia, omistério da constituição das na-ções. Torturado pela derrota quehavia esmap&oo a França em 1870desejou o sábio penetrar com asua aguda visão filosófica nessemaravilhoso segredo da Sociolo-gia, para de lá tirar uma liçãoque pudesf-e ser útil á sua gente.E a que conclusão chegou Renan?A esta; "A Leira fornece o subs-trato, o campo da luta e do tra-bV.ho; o liomem fornece a alma.O homem é tudo na formaçãodessa coisa sagrada que se cha-ma um povo. Nada material bas-tara para isso. Uma nação é umprincipio espiritual, aw- resultadaa complicações profundas dahistoria uma familia espiritual,não um grupo determinado pelacuifittuiaçãc da histeria"

Bem wi que Renan se refere aohomem considerado como entitía-de n)'tVvu. e não como expressãoindividual. E, entre parêntese,vos direi que ainda aí o nosso pafsé umn esplendida demonstraçãoda tese renaniana. Tomemos aformação do Brasil, num momen-to de tantas incertezas. Que ve-mos? Uma vasta terra nua, semtradição, sem coesão e sem cul-tívo. E entretanto nela jà eitis-tem punhados de homens que

mostram possuir a conciència ín-tegral do destino da nacionallda-Q'e que estão plasmando. Eles do-minam indios selvagens. Eles Iu-tam com o francês aguerrido, atéexpulsa-1*;. Eles dão a vida. emcombates sem tréguas ao holan-dês rico e poderoso. Eles metemno pé a alpercalta pobre, põem noalforge uns frãos de milho duro,— e partem pura conquistar de-sérios.

Não é tudo isso uma sucessãode prodígios?

Dando, porem, à palavra de Re-nan uma outra interpretação maisrestrita e idividual, teremos noseu conceito um outro esplendorde veroade. Sim, meus Senhores:considerada idealmente, uma na-ção, o que chamamos a concien-cia de uma nação, não é mais doque a inspiração de alguns gran-des ho'1-epc, permanecendo atra-vés fios tempos.

Esse que hoje celebramos é umdaqueles cuja inspiração formaum fragmento da conciència bra-süolra.

Ele nasceu nefcta encantadoracídadr de Itaborai, exatamente haum sceulo. Não penseis que nes-te qualificativo oe encantadora,que acabo de aplicar à cidade deSalvador de Mendonça, haja qual-quer exagero, qualquer intuito deser gentil para com os filhos daterra que nos estão ouvindo. Ita-boraf é encantadora aos meus o-lhofi pela razão mesma por quenão parecera encantadora aosolhos de algum turista apressadoque aqui chegue, a contemple du-rante dez minutos, e se vá, desde-nhojso. Ela é encantadora porqueé simples, porque é desataviaoa,porque é velha, porque nio pro-curou remoçar... E' encantadora

porque tudo nela parece estaradormecido, pelo poder do filtrode algum feiticeiro, que a visitouem épocas de uma prosperidadelegendária. Quem sabe? Itaboraidorme, como Branca de Neve, áespera do seu principe, que umdin vira despertá-la...

Foi aqui, pois, que Salvador GeMendonça nasceu. Estas ruas eleas percorreu criança, esta praçaele a cruzou, na alegria aos seusprimeiros folguedos. Foi na des-crição de sua cidade que a penado escritor mais se esmerou, quan-do. na velhice, ele se resolveu acompor o livro de suas memórias.

Itaborai — que visão maraví-lhosa para aqueles olhos de cepo!Sahador a compara aos reis daEspanha — que quanto mais do-minios perdiam, mais títulos acres-dnt&vam aos seus nomes. Des-creve-a em certas manhãs, quan-do o sol lhe dã om tom rosco aoapincaroa da serra; rm certas tar-des, quando o sol das almas lhecobre de vermelho o cabeço daimontanhas; em certas noites,quando as tempestades retumbnmnos seus céus espavoridos.

Aqui mesmo estamos na cidadode Salvador de Mendonça, e, pu-Ias indicações dele, poderem»identificar muitas coisas. Potò-mos visitar a casa da Travessado Espirito Santo, n.° 3, onde elenasceu, onde teve o primeiv.i c.i-rinho de Dona Amalia de Mane-zes Drummond, sua mãe. e do Co-mendador Furtado de Mendonça,seu *>ai.

Pudemos visitar um certo pre-dio em que funcionava a redaçãodc A Clvillia«ãa, • Jornal de JoãoHilário de Menezes de Drummond,avô de Salvador. Era um homempoderoso e certamente rude, esse

Menezes de Drummond, desceu-dente de velha gente escosse:-<i.Oficial da Guarda Nacional, fieornava muito Pedro I. Por t*ca-sião do assassinato oe Libero Ba-daró, porém, levou pessoal menteao Imperador o seu pedido de dç-missão. E ao entregá-lo disseciarnnv.nte a Pedro I que caiai*o Principe que fizera ft indepeu-dencia, mas não podia amar o ti-ranc que perseguia os patpui*u,cujo único crime era serem Ijí;l-bueiros

Aqui estamos na terra cm <|u«Sutvadoi deixou que caíssem msua alma as camadas de umaeterna poesia — pois toda a w*sia tos homens só lhes vem chiinfância. Foi daqui que ele levoupara * mocidade e para a vcl'u-cc i"juele substrato de eraoçã ¦,que, tendo produzido Sins*»".produziu mais tarde as Freiras deCalttfe, e esse belo e forte poenu»de João Caboclo, ato comovido dopiedade do homem à sua terra na-tal.

Aqui teve ele sempre o pensa-mento. preso pela saudade «quando, na formação da AciJ<"mia Brasileira, se viu dlar.tr otum problema difícil — o da es-colha cJe um patrono para a suacadeira - para onde pensais íjiiese volveu a sua imaginação9 t*»**;ra aqui, para a sua velha Itaboia»bem amada. Foi em Joaquim M*'-nuel d; Macedo, filho como eledesta cidade, que recaiu ti sua "*~colha.

E' Justo, portanto, que Itidwrsicelebre com um preito de itn»raquele que tão vivamente a amou.

A cerimonia ole hoje tem, alemdisso, um caráter espectal. <l<"muilo nos deve comover ¦» lo"0*

(ConrliM aa pis- •*••

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Page 11: MJJY llWW@i> - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/066559/per066559_1941_00002.pdf · Cruz "Hissope", e Silva, autor do ... O vocabulário e o es- vantar na obra de Vare- roso do seu país

jWfe DOMINGO. M-I-1MI •VPI.EM.NTO I.ITUAMO **A MANHA — FAOINA W

A glória de Varela(Conclusão de um estudo)

Aquele "Cântico do Calvário", em que ele chorou a perdado lilhinho omaíio, esse viverá, sempre, na memória e no co-ruçáo de quantos amam o Belo e se condoem do injortúnio Aeum pai amorozissimo.

O "Diário de Lázaro", em que Varela traduziu toda a ago-nia Ae uma alma que, depois de "haver¦ ressuscitado ao gratou-pro do amor e da ventura um mundo inteiro de perfumes.\ic cânticos e de flores", se vê condenada a perder a mais doceias ilusões, a ver desmoronado esse mundo üe luz e de espe-ranças; aquele "Diário Ae Lázaro", em que se grita oo miserocnlermo, que trazia nas veias a Morte: "Impossível! Varre daalma a imagem de Lucila", quando esta, esposa gentil, era t>luz de seus olhos, a estrela de sua vida; — aquele poemeto,t/imsunto de dor suprema, emeiante e indizivel, ficará sendovuíra pérola preciosa do diadema que cinge a fronte do grandepoeta.

Não, querido Varela, não morreste, e não morrerás enquantote falar esta doce lingua, em que cantaste os suplícios de tuaalma, os encantos dtt pátria Natureza e a vida sublime de Jesus.

O mundo não tem que murmurar dos desregramentos detua eistêneta "visto que tudo lhe deste e nada lhe pediste; des~te-lhe os teus encantos e a tua vida, e não lhe pediste nemamor, nem tesouros, nem grandezas". A esta sentença, que êdo tjranae Octaviano, só há a juntar o verso do imortal Dante,eum que aquele finalizou a sua carta, a propósito dos teus in-IvrtUnios:

"Vuolsi cosi cola duve si puõteCió che si vuole. E piu non dimandare."

De ti só se pode afirmar o que Ch. de Mazade disse dt A.de Musset:

"ti tut de ceux qui viennent au monde moins pour se gou-verner eux mêmes que pour charmer les hommes."

Filho amoroso e pai amorisissimo, como tudo quanto há demais amoroso na terra, fechaste os olhos à luz nos braços doamor materno e entre as caricias da esposa, filhas, irmãs eamigos que te adoravam, porque eras meigo e oom. Estes guar-úam~te no coração como uma relíquia sagrada; e a Pátria, queengrinaldaste com as flores balsâmicas e raras Ao teu gênio _esti. descansa, não esquecerá jamais a glória que deste oo seunome.

R A M l Z G A L V Â O

FAGUNDES VARELAJosi Verltsimo

(Conclusão da pág. 23)amado» e mlmlrados, nem nele «oladoru e nada maia. Quandohaveria Miiitjft personalidade lias- canta a Virgem, fá-lo com umaInnle puni evila-la, e a Imitação, naturalidade, que ob que a hão deincom-lerita talvez, não sô de te- cantar ao depois por Um propô-mns, mus do estilo, de toda cst£- sito de escola custarão a atingir:liua desses poetas. K. por isso. asua oltra perde grande parte do A noite desce, lentas e destesseu valor, ou pelo menos é gran- Cobrem as sombras a serrania,demente prejudicada pelo -iuc ha Calam-se as aves,nela de secundário, de Inspiraçãoalheia, dc expressões « sctitimen- Distem os gêniost<is de secunda mão.

A religiosidade de Varela, Ave Maria! — No céu, na terra!religião de Varela, o uue Luz ,je aliança! Doce harmonia!

Hora divina! Sublime estância.'

choram[ventos,

Ave Maria!

Bendita sejas! — Ave Maria.

E é cont rito e crente que opoeta endereça a Deus aa suasvozes:

>'- coisa diferente — não me pare-ce a postura ou impostura de ai-yUna sitn boi islãs de hoje, massincera, e vinda do fundo mesmode sua alma de romântico sim-pies, boêmio por temperamento,conservado na indisciplina e nadesordem da sua vida a crença eu creio etn ti! eu sofro, t o so-ingênua du sua meninice, que os [frlmentoseus desesperos, a* suas tristezas, Como ligeira nuvem se esvaeceas suas desventura* acrisolaram, Quando murmuro t*u sagradoem vez de entiblarem. Nào é uni [nome)devoto nem foi talvez um pratl- S' curioso notar que varias es-cante, mas o sentimento religioso trofes deste poema Vocês do poe-faz evidentemente parle da sua |H repetem-se com pequenas va-sentimentalidade. E esse eentímen- riantes no poema Aciismnta dosto exprime-se pela crença católica Canto* do ermo e da cidade. Va-dc seus pnis. no'que ela tem de rela, «lias, repelia-se muilo. JAin ais esfttico, as doces figuras de vimos uma destas repetições aJesus e de Maiia. Ele é mais reli- propósito do Caótico do Calva-gioso de fato que Junqueira Frei» rio.re, cujo espirito critico e analIMa o, , milc* do ermo e da diladese sentia mal sob ò constrangi- gj0 o último volume de versosmento severo da Regra e as es- publicados por Varela, Ja em pie-ireitezas do Dogma. na maturidade. De parte maior

Vma parte da obra de Varela correção da fôrma, nele, copio nosconsagrada a esse sentimento e á, poetas anteriores, ainda poucu

xpressão dele. Esses seus Vfku- apurada, não são grandes os pro-gressos feitos pelo poeta. Relaiivãmente ao seu tempo, o poetaentre os anos de 60 e 7C, Varelafoi.ainda menos artista que os

ticos religiosos abrem puerilmente por uma estrofe em fôrma decruz, mostra ingênua da sfmplici-dade fundamental do seu espirito.Xão são profundos os acentos da Poetas que imediatamente o pre-sua alma religiosa, não ha na sua cederam. Ele pertence a catego-religiosidade sombra de mistieis- >*ia dos espontâneos, dos primitl-mo. Crê simplesmente nas coisas vos, dos simples. O seu engenho,da fé que lhe ensinaram, e sua com cultura • vontade, haveriaalma de poeta acha-lhes um en certamente dado mais. S6 lhe fal-canto sedutor, uma virtude con- taram, talvez, aquelas duas con-

dições para sobressair com maiorrelevo « vigor o que havia de ob-jetlvo em seu estro, revelado pelol>cndão Auriverde, alias de ne-nhum valor, pelos seus cantos eiaverso, pouco originai», pelas suaatendências a cantar o escravo,pelos seUs belos versos a Juare»e pelo seu Diário de Lázaro. Ele,porem, não era um lodo o casoum homem para quem o mun-do real existisse. Contam que so-freu e que a vida não lhe ioi pro-pícia, nem piedosa. O sofiimen-to, por via de regra, recolhe o lio-mem em si mesmo. Mais de uniavez Varela solta o grito da «uadôr. Esse grito, porem, na sumobra mistura-se, nem se cmiluii-dir, com o riso e até com a gurga-lhada de sua alegria de poeta des*cuidado, amante no fim de ctm*tas da vida fácil, despreocupada*aventureira, com a porção de ru-manesco que ao parecer dos po»-Ias do tempo, unicamente a em*beleza. Nem isto era unia in-coerência da sua natureza, maaapenas a eterna contradição danatureza humana. E chorando ourindo, ele parece igualmente ver-dadelro e sincero.

Mas a Impressão final que maresta da sua obra. Independente-mente do que me disseram oaruins contadores da sua vida, *que em Varela havia talvez amatéria de um grande poeta, maade valor. Quando pensou fazê-iovescreveu o Evangelho nas Selvas,um poema anacrônico, fatignoto,de uma monotonia desesperadorft,de rara pobreza de imaginarão. •que seria um completo desastre,se o não salvase disso a mestviado verso em que fof escrito. Por-que Varela foi na nossa línguaum dos mais exímios cultores doverso branco, e émulo rle Baslliode O ama, de Garrett, de Castl-lho, de (Gonçalves Dias. E tantolhe aprazla este verso, e r, a.ju-dava, que o que ha talvez de me-lhor na sua obra é nele escrito.

A VIDA DOS LIVROSALGUMAS NOTAS A'

MARGEM DE FA-GUNDES VARELA

Mucio LeãoTranscorre hoje o centenário de

Fagundes Varela, e pareceu-meinteressante escrever algumas ano-tacões ã margem das suas poesias.São observações um pouco soltas,que não convém mesmo seriar, enem seria preciso, dado que nestenumero de Autores e Livros vãopublicados vários estudos dc con-junto sobre o admirável poeta ro-mântico, cuja gloria estamos co-memorando.

1 — UM SÍMBOLOTodo Fagundes Varela, com o

seu gênio bizarro, a sua fantasiainsolente de menino louco, toda asua psicologia tão atormentada etão alormentadora — tudo Líso es-tá contido em uma das poesias dasViwes da América. Refiro-me aotrabalho intitulado Arquétipo.

Varela imagina um estranho ser,que é inicialmente belo — comoele próprio, o poeta, devia sentir-si. Na fronte desse estranho ser odedo do Senhor havia gravado osigilo do gênio. Era ainda umácriança, e entretanto a friesa damorte já lhe coava na alma. Seuriso era triste como o infamo.Seus olhos apagados não revela-vam mais nenhum raio de moci-dade.

Esse ser amargurado achava aexistência uma comédia insípida,estúpida e sem graça. E vivia porviver... porque vivia... com a in-diferença do marujo que fuma o«ru cachimbo, olhando as vagasque o navio vai cortando... Kmnada acreditava: a idéia de Deusjá ele a havia arrancado da alma,como quem • limpasse das betas apoeira do caminho. O Evangelhoparecia-lhe um livro de anedotas.E era inutilmente que as donzelasmais formosas procuravam dor-mir-lhe nos braços.

Emíim, esse sujeito detestável,mais caprichoso e mais bizarro doque um filho de Albion, mais vã-cio do que um profundo político,lembrou-se um dia de que era sol-teiro. E resolveu casar-se."Quatro dias depois tinha casado:Escolhera uma noiva descuidoso,Como um brinco chinês, um livro

[in-lólioAo ultar conduziu-a, 'distraído.E ns juras divinais do casamentoRepetiu bocejando ao sacerdote.

Como tudo na vida o matrimônioBem cedo o aborreceu; após três»

Imeaea

Disse adeus % mulher que pran-[teava.

E, acendendo um cigarro, a pas-[sos lentos,

Dirigiu-se ao teatro, onde assistiuA um drama de Feuillet. quase

{dormindo.

Por fim de contas, uma noite bela,Depois de ter ceiado entre doiü

[padres,Em casa da morena Cidalisa,Pegou numa pistola e, entre as

[fumaças,De saboroso havana, íl eternidadeFoi ver se divertia-se um momen-

[to..."

Aí está todo o Varela, sim, coma sua infinita poesia divina, com asua infinita miséria de homem, ecom aquele capricho aloucado e in-fernal, que o fez encher de fel e deamargura a vida de uma pobre so-nhora que um negro destino pu-zera em seu caminho...

S — UMA INFLUENCIA AMAIS...

Vma vez que tanto se denunciaminfluências de outros poetas queFagundes Varela recebe, e umavez também que a maior parte des-sas denúncias parecem correspon-der bem pouco A realidade, lem-brei-me de que seria interessanteapontar mais uma dessas impreg-nações. E esta agora de Dante.

Lá está no quinto canto do In-ferno a pplavia dolorosa de Fran-cesca da Rlmini, tantas e tantasvezes citada:MNessun maglor doloreche ricordarsi dei tempo felicene la miséria..."

Varela, na Harmonia, fez-se êcoda meditação da amante de PaoloMalatesta:?'Náo há martírio que ao martírio

[igualeDe uma lembrança perfumada e

[puraNos dias lutulentos d« desgra-

[ça..."

3 r- VARELA E ALGUNS CRt-TICOS

Não creio que haja, no Romon-tismo brasileiro, e mesmo em todaa nossa poesia, um poeta que te-nha dado aos seus leitores impres-soes mais contraditórias que Fa-fundes Varela. Ele é adorado poralguns; é negado e detrstado poroutros. Ver-se-á que uns e outrosteem igualmente razão, se náo éque ninguém a tem de forma ne-nhuma...

Percorrer alguns dos livros maisimportantes de musa cultura llte-rária. no Que se referem a Faapin-dw Varela, é Ur diante dot «Um

esse espetáculo de permanente con-tradição a que acabo de aludir.

Tomemos, por exemplo, os trêshistoriadores mais famosos da nos-sa literatura; Silvio Romero, JoséVeríssimo e Ror.ald de Carvalho, evejamos como é que eles apreciamFagundes Varela,

Silvio Romero foi contemporâ-neo do poeta, embora pareça nãoo ter conhecido pessoalmente.Quando chegou a Recife, paracursar a Faculdade dc Direito, em1868, o futuro critico de nessa li-teratura já não encontrou Vare.a,que havia estado ali dois anos an-tes. Escrevendo a sur. História,vinte anos depois, ele nos mostraVarela em pleno mistério — no seuangustioso mistério de posta vaga-bundo e sofredor: "De 1867 emdiante torna-se obscura a biogra-fia do ilustre fluminense...M

Sílvio já achou formadas, emtorno de Varela, tantas lendas, quehoje ainda imperam por ai a foraE ele procura d-scobrir a verdadepsicológica do poeta, entre tantasnévoas esparsas: "A obra do poctt.aparentemente lógica é uma dasmais contraditórias que possui-mos: aparentemente pessoal, é umadas mais impessoais da nossa lite-ratura. — Mas, emfim, é por ondeteremos de estudá-lo. De sua lei-tura depreendi o seguinte: Varelanão foi um triste nem um alegre,nem um crente, nem um cético,nem um liberal, nem um uutoritá-rio: porque foi tudo isso ao mesmotempo, conforme o ensejo e a oca-sião. Foi uma natureza múltipla,variada, excessivamente exc-itavel,atormentada por estímulos diver-sos, Varela ioi um agitado."

E Silvio conclue o seu estudo for-mulando duas hipóteses, que são aprópria essência da contradição dacritica brasileira, no apreciar a fi-gura e a obra de Varela. "Se apoesia c uma cópia exata, uma ío-tografia do mundo exterior Varela,apesar de seu grande talento des-critivo, foi um poeta de altura se-cundaria. — Ss, porem, a poesiu éuma região encantada, criada pelasalmas de eleição, para- delicia eprazer, de nós outros, os pobres con-denados k crueza da vida, ele foitalvez o maior dos nossos poetas,porque nenhum foi tão amoravcl-mente idealista e fantasioso."

Menos poeta que Silvio Romero,José Veríssimo não sentiu nada,nada compreendeu, no vate luná-tico. Na sua História da LiteraturaBrasileira, ao ebludar os poetas dasegunda geração romântica, dedi-cou ele capítulos especiais a Alva-res de Azevedo, Laurindo Rabelo,Junqueira Freire e Casimiro deAbreu. Fagundes Varela náo fi-gurou nem mesmo no quadro ge-ral doe poetas menores, .redu-_Mo * um nome i una data, como

Otaviano, José Bonifácio, Aure-Mano Lessa, Bernardo Guimarães,Teixeira de Meio, Macedo Júnior !Ele ficou dormindo no melancólicoÜmbo dos tantos outros, com quofinda o parágrafo de Veríssimo...

Não desarmemos, contudo: da-quí a pouco, quando falar acercado Romantismo esgotado e deca-dente, Veiíssimo se lembrará deVarela: porá seu nome na metadede uma linha, seguido das duas da-tas, a do nascimento e a du morte

1841-1875...Se assim tratou Veríssimo a Va-

rela em sua História da LiteraturaBrasileira, em compensação, emum dos volumes dos Estudos deLiteratura dedicou ao poeta todoum longo capitulo. Mas quanta in-compreensão do fenômeno poético,alucinado e maravilhoso, personi-ficado neste poeta, revelou o ilus-tre crítico! A grande impressãoque no espirito de Veríssimo dei-xou Varela foi, parece, a das in-fluências por ele recebidas. Varelaera, com efeito, um espirito singu-larmente accessivel a todas as in-fluências. Sua poesia reflete, dcimpressionante maneira, a liçãodos seus mestres. Seu caso é seme-lhante ao caso de Raimundo Cor-rela; é o de uma sensibilidade poé-tica muito delicada, que facilmen-te vibra em harmonia com o pen-samento e as emoções alheias. Da-riam ambos excelentes pontos departida para estudos sobre impreg-nações na literatura, indo desde amera sugestão até ao plágio. Masisso é um outro assunto, que euentrego a Onestaltío de Pennafort,seu legitimo dono.

Veríssimo foi pesquisar as remi-niscências de Casimiro de Abreu,de Alvares de Azevedo, de Gonçal-ves Dias, de Junqueira Freire, dcMusset, de Byron, nüo sei mais dcquem, na obra de Varela.

Só duas qualidades parece ter ei?descoberto no poeta: a sua religio-sidade e o seu amor paterno. Etudo isso ele resume em dois con-ceitos um tanto áeidos. Primeiro:"Em Varela havia alvez a mate-ria de um grande poeta": segun-do: "a essa matéria não soube eledar valor..."

Ronald de Carvalho, que 6 oúnico verdadeiramente poeta dostrês críticos historiadores de nossaliteratura, tem de Varela uma idéiamuito mais alta que Veríssimo,quase tão alta quanto a do pró-prio Sílvio "Sua poesia não é dessgunda mão, como afirmou JoséVeríssimo, «mnente norque há umacerta semelhança entre ck e a d*Castro Alves. Varela, posto emconfronto com muitos dos seustrombeteados êmulos, não perderáa mínima parcela do real valor quepossue. Ao contrário. Ver-se-4,entto, que ele tem uma forma

multo mais perfeita e um estilomuito mais variado e múltiplo doqua geralmente se supõe. Há emsua obra inspirações de toda ordemda alma e da natureza, da vidarústica e civilizada, da fantasia eda realidade, do mundo fictício •presente..."

Eis aí tres conceitos gradativosbem acentuados: em primeiro lu-gar. Veríssimo, achando que, sehouve em Varela a matéria de umgrande poeta, essa matéria foi de-lapidada; em segundo lugar, Ro-nald de Carvalho, encontrando nopoeta uma forma muito mais per-feita, um estilo muito mais variadoe múltiplo do que geralmente sesupõe; em terceiro lugar, SílvioRomero, imaginando que a poesiapode ser uma região encantada,criada pelas almas de eleição, odando a Varela, nesse pais mar»-vilhoso, o cetro de rei da nossa

De acordo com o conceito dcSilvio parecem estar outros critl-cos brasileiros.

Alberto de Oliveira, com a suadupla autoridade de grande poetae verdadeiro erudito, mostra porVarela o maior dos apreçog. Adol*mar Tavares, com a sua autoridadede ser o mais romântico dos nos-sos poetas atuais, manifesta pelopoeta dc Cântico do Calvário umcarinho comovido e profundo.

Varela continuará, porem — gê-nio contraditório e sempre fugidioque ele foi — a desafiar todos oscríticos, e a provocar no espiritode cada um deles as reacõrs maisdispares e mais inesperadas.

4 — FAGUNDES VARELA, PO»-TA DOMÉSTICO

Uma das censuras que José Ve-rissimo faz a Varela — e ele taltantas ! — é a de não ter o poeta.em nenhum dos seus versos mos-trado nenhum sentimento pela os-posa. Homem exemplar, maridoperfeito, o critico não podia com-preender aquela aima boêmia, queia buscar fora das efusõo? dü ho-nesto amor conjugai as inspira-ções dos seus cantos. "

E entretanto, a censura de JoséVeríssimo «ão tem tanta razão cieser. Não sei como Veríssimo teriapercebido, em primeiro lugar, quenâo era a esposa de Varela, matoutra qualquer mulher, a musainspirador.^ tios cantos do poeta.

Mas não é isso que me leva acontestar a impressão do críticodos Estudos da Literatura Brasl-leira; e sim um documento que te-nho em mão, e pelo qual vemosaue. como «ualquer marido qu* fi-¦ene honrado» rercoe a esposa,»*-

(Cucloe aa ftf. M)

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PAGINA 1, — SUPLEMENTO LITERÁRIO .'A MANHAOOMINOO, M.M(| JjWfc

A VIDA DOS LIVROS(Conclusão da pág. 21)

fundes «areia fazia honrados ver-lot-' 11 espuma.

Refiro-me a uin poema sem tí-tule, cm versos, üe sele sílabas, feitopelo poeta, e dez vezes emendado raÂnsia de encontrar uma forma perfeita para o sou pensamento. Umpoema que «videntemente nuncachegou à forma sonhada. Poiguurciauü por Lúcio tie Mendonça,c mais tarde entrou para o ar-qiuvo da Academia. Lá está napasta de Varela.

Alguns versos desse poema, es-tãc riscados, repetidos, riscados denovo, de novo repetidas e oulra v. vriscados... Mas há alguns que sesalvaram, alguns que o poeta pen-sou terem chegado <\ forma ilesa-Jada. E eis alguns deles;

Quando pela vez primeiraDe teu retiro celeste,A meus reclamos descesteDeste-me propicia a mão,Musa — e com palavras docesConselhos meigos e sábios,Animastü nos meus lábiosMinguada novel canção.

Como eras robusta e bela !Como a força e a mocidadeCasavam-se \ magestadeDo teu rosto encantador !Por certo que os velhos bardosDessa Ionia sonhadora,Tiveram-te, Musa. oulrora,Por seu gênio inspirador!

Anjo do divino Homero !Delírio do velho Fausto !Que destino escuro, infaustoPresidiu nossa união!

Depois que nos envolvemosDo misticismo nos mantos,Tu perdeste teus encantosEu a ledice de então.

Tinhas no rosto brilhanteDesenhada a primaveraNa fronte nobre e severaDo gênio o selo imortal.

Achei-te pesada, espessa,Rubra qual rude holandesaNeguei ao curpo belesaPara buscar o ideal.

Prendi teus livres at.ejns.Em camarins per rumados,Dubiamente clareadusPor escassa e frouxa luz.Cerquei-te de ondinas alva?De walkírias belicosas,Mudei-te da fronte as rosasPor violetas azues.

A noite quando a meu ladoSorrias bola consorte,Eu te falava da morteDos sonhos e de Lusbel.

Como eu disse acima, este poemrestá dez, vinte vezes emendadoAs vezes essas emendas são ex-pressivas. outras pitorescas.

A seguir ii estrofe que finda, fa-hndo em gênio inspirador, Varei»»escrevera:

Hoje. depois que há dez ano-pnr bjronicfls montanhas,Triste e fria me acompanha?Oh ! quanto mudada estás !

Quando Varela fala no destinoInfausto que presidiu a sua uniãoescreveu estes versos, que riscou de-

Há dez anos que rolamosPela romântica alfombra.E não és mais que uma sombrsQue nma lembrança de então

Há dez anos que vagamos,Num mundo ideal, românticoE não és mnis do que um cân-

tticoUm éco — um sonho de entiV

Quando o poeta compara a mu-lher cem uma rude holandesa, ofaz d»poi.<= de íer emendado a sua«atrofe. Primitivamente dssera:

Achei-te boçal, pesada,Como estúpida holandesa,

•— o que não era gentil, nem para ai '.iriíinfi^rif: nem para a vitíma da imirrítcão vareliana...

Em versos oue riscou, tle tinlinConfidencias desta ordem:

"Fechei-te... sepultei teu...**"Form-te a duras vigílias...**•Dei-te a beber ópio e vinho..."•Vcs-LMe Je horrendo errpe.. **"Infeliz! rjue negra sina !..."

Ai está como o pobre poeta ee•Conhecia perfeita menti* bí:in, cjmopie sabia o inferno que dava a po-bre senhora com qium se tinha ca-•ado. E ai está, também, comeJosé Veríssimo não tinha rnzrtonenhuma em censurar Varela pornfto fazer versos a esposa.,,

A ESCADA DE JACO f-wc^w.Mil oitocentos e setenta e cinco

veiij encontrar Fagundes Varela talcomo o deixara mil oitocentos e se-tenta e quatro: maltrapilho, cabe-los revoltos, a descerem pelo ve-lho e ensebado casaco côr de pi-nhâo, barbas maltratadas, um arcansada no qual o brilho vivíssi-mo dos olhos azues é a única re-miniscência do adolescente descui-dado que pregara peças ao velhoprofessor José Cândido de Deus eSilva. Está um molambo de gente.Não é dificil encontrà-lo camba-leante, em zig-zagues, pelas ruas deNiterói, braços oscilando como ba-lancins, rosto congesto, voz pastosa.

Otaviano Hudson, o companhei-ro Inseparável, é um "pendant"feito sob medida. Natureza radica-da na "de Varela, ou pela admira-ção do destino", diz Carlos Perdi-gão, está sempre onde o amigo seencontra e, nâo deixe de causar es-tranheza e mesmo escândalo, napacata Niterói, aquelas duas flgu-ras exóticas, de braços dados, am-bos cabeludos, barbas por fazer,mal trajados e sujos, a traçaremcurvas pelas ruas, em grandes ges-tos e trejeitos, tnulias vezes, apu-pados pela molecada impiedosa.

E' da VIDA FLUMINENSE, este"Gênio trans"iado", ou "desor-son cortou de novo os seus cabelos,Há abundância de lã no mercadoe os Chignons já se vendem pormetade do »»reço"."Gênio transviado", ou "desor-denado", Fagundes Varela aindatem (poucos é verdade), seus mo-mentos de entusiasmo, chegandomesmo a fazer a revisão da ter-ceira prova d'0 EVANGELHO NASSELVAS, que o seu amigo Possoloestá cuidando de editar. No mais,perambula pelos botequins, visitaos marlanos ou dona Leocádia, re-colhendo-se, habitualmente, atamadrugada, ao sotão de anfíbio.

Não deixa de fazer verses, a-pe-sar de tudo. Rabisca-os aos punha-dos, entrega-os a qualquer um, orapor um gole de cachaça, ora porum copo de "inho branco, e muitasvezes a troco de nada.

Niterói a-pesar de capital, nâopassava de uma cidade provincia-na.-Todas as atitudes e gestos dopoeta eram motivos de comentáriosdesáirosos e ferinos, comentários aque ele respondia em versos cheiosde sarcasmo e... palavrões. Náoha condescendência com a sua des-graça, e mesmo na imprensa, sur-gem indiretas e ditos, que nãoocultam o verdadeiro alvo.

Dias antes de cair paro nâo maisse levantar, escreve no álbum deum amigo estas quadras, posterior-mente Incluídas, com variantes, nasOBRAS COMPLETAS:

Qual a mais forte das amas,A mais firme, a mais certeira?A lança, a espada, a clavlna.Ou a seta aventureira

A pistola ou o trabuco?A espingarda ou a ílexa?O canhão que â praça fortePaz em dez minutos brecha?

terçado, ou a azagaia?dardo, a funda, o vlrote?faca, o florete, a fisga,punal, ou o chifarote?

A mais tremenda das armas.Peor do que a durindana.Leitores e bons amigos,Se apelida — a língua humana

Sáo poucos os escritores que oprocuram, nos últimos tempos. Suapresença afrontava-os. "Como sedesculpam os literatos do tempo, osdemocratas de luva, do horror pe-Ias tuas vestes ruças, da inveja peloteu mérito real. superior à presun-ção deles' ... exclamam um dosque se mantiveram fiéis até mes-mo depois da morte.

Ele se considera um homem 11-quidado, d não faz segredos disso.A imagem da morte próxima é ago-ra uma idéia lixa, envolve em cre-pe os últimos versos. Não se ater-roriza com ela pelo contrário a re-ceberá cantando, de braços aber-tos, quando ela chegar:

na? trevasEntraremos depois, larva sinistraEntraremos depois, cantando a

[ morte,Nossa ultima noiva, a mais sin-

Icera!"

Como Lázaro, nada mais sente,pois que a própria dor atingindoseu limite, transforma todas as a-marguras e sofrimentos, em "es-tranhos sonhos". Juga tambémque já cumpriu sua missão. Quelhe importa, portanto, o murmu-rar do vulgo?"• • •

Festeja-se, em S. Domingos, oaniversário de dona Leocádia. epara lá foi Fagundes Varela, a-pe-sar do máu tempo e da forte car-ga dágua que os relâmpagos anun-ciam. Conviva loquaz, espirituoso,encheu a noite com o brilho do

seu espirito, aviventado pelo álcool,o sufícimite para tirá-lo da modor-ra que a miúdo o assaltava, nosúltimos dia*..

A' hora dos brindes, levanta-see diz, em versos simples, um "can-to de çratidao e dr amizade", aosbons amigos, donos da casa. Ems'eguida faz menção de retirar-se.Lá fora uma violenta tempestadejá tomara conta da noite. Nin-guem consegue demovê-lo a espe-rar que o temporal amaine. Puxao chapeirão na testa, ergur a golado velho casaco côr de pinhão earrosta a tormenta. Pouco andaraquando sente algo estranho a pa-ralisar-lhe o pé, repuxando-lhe emseguida a perna e. em progressãorápida, tomar conta do Joelho, su-blndo pelo corpo, lançando-o, numInstante por terra. A boca está re-puxada, os lábios crispados. Osolhos fixam o escuro, à procura desocorro, mas a voz é um som rou-co, surdo. Está lúcido, mas nadapode fazer. Imobilizado pelo pri-meiro insulto cerebral, enlamea-sena sargeta, enquanto a chuvaradafustiga-o implacável.

Estranhos que passam, dão comaquele corpo estendido, de ondepartem surdos gemidos. Reconhe-cem, de imediato, o poeta, filho dodr. Emüiano.* * •

Está agora estendido num amploe confortável leito, cercado por to-da a familia, alguns amigos e mê-dicos chamados a pressa: Desseleito não se levantará. Os seustrinta e quatro anos de idade nadapodem contra os quinze anos deexcessos alcoólicos. Está liquida-do. A "última noiva, a mais sin-cera", não tardará em vir busca-lo, para as núpclas eternas.

Tem, contudo, no dia seguinte,rápidas melhoras. Articula maisdo mesmo ditar a Otaviano Hudsono pequeno improviso feito em easade dona Leocádia.

Pelo vazio casarão, entram esaem visitas e a todos se informaque o seu estado é dos mais llson-jeiros.

Essas '¦-¦'¦ horas, norém, são apa-rentes. Um segundo ictus apoplé-tico irrompe. E .ie novo é tomado,raDidam-"" e, pe'o frio arrepio quetudo paralisa. A boca está repuxa-da, os o'hos inquietos perdidos novazio do espaço, lá fora. Esta iner-te. Somente os olhos azues. vivi1*-simos iluminando-lhes o rosto pá-lido emoldurado pelos longos cabe-los de um loiro descorado, espa-lhados pelo travesseiro alvo, em de-

sordem. A luz que entra peln Ianela, bate em cheio no quarto am.pio e bem ventilado. Nuvens bnncam no céu límpido e azul, e i0(.olhos inquietos as acompanhamDepois a tarde desce e o ceu o a*.nha colorações estranhas. Os olhoscontinuam a fitá-lo. Alguém reri afechar a Janela, "que a noite vemchegando", mas êle .ie opõe, u.mo pouco de vez que lhe resta, ün-tram visitas, o médico já confns-sou a sua Impotência. O padre iáveio para a extrema unção. Va-rela beijou a imagem dc Cristo guea mãe lhe estendera, beijandotambém a mão que a sustinha Asfilhinhas, em lágrimas, sem com»preenderém o porque daquela v;i-tação, vieram também beija-te eali permaneceram mudas e aterrorizadas por alguns momentos, üs-tão todos a seu lado. Os pais, oairmãos, a mulher. **á está Ot avia-no Hudson, encolhido a um cam.o,sem coragem de fitá-lo, escondeu.do lágrimas indiscretas. A mortetarda a chegar. Do corpo estendi-do na cama, só os olhos ainda uri-iham. A cabeça tem eves movi-mentos. Leves e inquietos movi-mentos. a a noite desce e come!a as primeiras estrelas como quepostas por mãos invisíveis, vão sur-gindo aqui e ali. O céu está tndoestrelado. A via-lactea põe rastosluminosos em longos espaços.

Em que pensa ele, mudo, o'hosperdidos nos pontos brilhantes queenchem o céu? Que estranho bri-lho será esse que fulgura em seusolhos? Lembar-se-á de Emilianr,. acontemplá-lo. "já no céu. quem sa-be? se no vulto solitário de umaestrela?" Esse clarão mais vivo meo ilumina, como a chama a vive n-tada pela brisa antes de apaçai-separa sempre, será certeza censo-ladora de que auando a morte Iriasacudir sobre ele "o pó das asas"."Escada de Jacó serão teus raiosPor onde asinha subirá minha ai-

Mal percebem o seu último siístpiro. Q coração -2ssa de bater, demansinho, como que para não as-sustar as crianças que dormem co-mo que para não interromper o sl-léncio que anda pelo quarto, onde,em vigília se encontram a mulhere a mãe... • • •

O dia dezoito de fevereiro co*meçara há poucas hor-s.

(Do FAGUNDES VARELA)

Fagundes Varela nd opinião deSilvio Romero

LUIS NICOLAU FAGUNDESVARELA — (1845-1875) — é,como já disse, o laço que pren-de o "bironismo" de Alvaresde Azevedo e companheiros, o"sertanegtsmo" de BittencourtSampaio e colegas ao "hugoa-nismo socialístico" da escolacondoreira.

E' um poeta de grande mérito,uma singular figura digna de revê-réncias e atenções. E' muito conhe-cido, bastante lido e muito mal ea-tudado

Não existe dele ao menos um bumesboço biográfico; porquanto os doisque ai correm, devidos ás penas deLerl dos Santos e Visconti Coaraci,estão cheios de erros e fortes lacu-nas.

Coaraci repete o que leu em Len,e, pois, refutar este ê refutá-lo im-plicitamente e vice-versa. — "Em18G5, escreve aquele, matriculou-sena Faculdade de São Paulo. Cursoua academia durante dois anos e du-rante esse tempo, estimulado treloscolegas, publicou as suas primeiraspoesias. Por essa época, seu cora-gão inflamou-se de amor por for-mosa donzela.

Com ela casou-se e teve um filho,ao qual dedicava extremoso afeto.Resolvido íi concluir os açus estudosna faculdade de Olinda, partiu paraPernambuco, como passageiro novapor francês Bcarn.

Este navio naufragou na alturados Abrolhos Varela desenvolveuentão grande

' energia, e, pondo em

prática a sua experiência adquiridana viagem que fizera a Goiás, atra-vés de sertões, dirigiu a construrãode cabanas para acomodação dosnáufragos, e de mais trabalhos paraobfr-nção de socorros.

Chegando finalmente a Pernambu-co, passou ali um ano em proãsc-guir nos seus estudos, e, regressan-do por ocasião das férias, ao Rio deJaneiro, quase perdeu a razão ao sa-ber que a morte lhe havia roubadoã esposa e O filho.

Este golpe tremendo cortou-lhe ofuturo e enegreceu-lhe a existência.Dali om diante. Varela vagueava pe-los campos, abria caminho atravésdas florestas, vadeava ribeiros e pas-sava a nado caudalosos rios. con-doendo-se com oi africanos escra-vos que encontrava, contando suastorturas aos tropeiros em cujos

pousos parava, suspirando pela mor-te, e foi por e?sn ocasião que escre-veu o sentido Càntiro do Calváriotir'.

Este pedaço biográfico é um teci-do de inexatidões; não foi em 1865que o poeta se matriculou em SãoPaulo; a morte de seu filho nãoocorreu durante sua estada no Re-cite (e não Olinda como inexata-mente diz o biógrafo); não estevedois anos apenas na faculdade jurí-dica do sul; não escreveu o Cânticodo Calvário na volta de Pernambucodurante as férias.

A verdade é que Varela, nascidoem 1841, tendo feito cm 1852 a via-gem a Catalão, em Goiás, havendoresidido temporariamente em Angrados Reis, Petrópolis e Niterói, já em1860 e 61 achava-se cm São Paulo ul-timando os preparatórios e matricu-iando-se logo em seguida.

Em 18(11. publicou as Noturnas, emláfJ2, o Pendao Aiirl-Verde, em 11134,as Vozes tia América e, no ano se-guinte os Cantos e Fantasias (2).

Quando em 1866 apareceu em Per-nambuco, já ia precedido de grandefama preparada pelos quatro livrosacima citados e no último deles já iaencerrado o Cântico do Calvário, de-dicado à memória de seu filho, fale-cldo a 11 de Dezembro de 1863.

Não é absolutamente crivei queVarela levasse três longos anos parater a noticia do passamento de umsêr que idolatrava.

O falecimento de sua mulher, cujadata precisa não pude obter, e quetalvez tenha ococrldo nos últimostempos da estada do poeta no Re-cife.

De 1867 em diante torna-se obscu-ra a biografia do ilustre fluminense.

Sei apenas que iniciou então vidaerradia pelo Rio, Niterói, Rio Claro,Man para tina. Angra dos Reis e ou-trás localidades da província do Riode Janeiro

Ainda assim passou a segundasnupeias e publicou dois novos livros.Cantos Meridionais e Cantos doI"rmo e da Cidade. Deixou duas fi-lha? e dois livros inéditos: o Diáriode Lázaro e Anchleta ou o Evange-lho nas Selvas, que correm hoie pu-biicadoü. Faleceu em 1875: aos trin-ta e quatro anos de idade.

Estudemo-lo mais de pertoNo Brasil atê hoje teem existido

cinco poetas verdadlera mente des-cuidosos, andarilhos, boêmios. Gre-gório de Matos, no século XVII, eI.aurindo Rabelo. Aureliano Lessa,Bernardo Guimarães e Fagundes Va-rela, no século XIX.

Destes cinco os mais populares fo*ram Gregorio, o satinco, Laurindo, oelegíaco, c Varela, o lirista.

Os dois mineiros tiveram uma no-toriedade mais limitada. Durantequinze anos, de 1860 a 1875, especial-mente nas rodas de estudantes, emSuo Paulo, Recife e Rio de Janeiro,Varela era sempre o bom vindo, ocompanheiro querido, aplaudido, ido-Ia trado.

Ele não chegou a ultimar o cursoacadêmico, a graduar-se, e a seguiruma qualquer dessas carreiras quese abrem aos bacharéis em Direito.

Deixou-se sempre ficar na vida in-definivel do boêmio, sem rumo, semdestino determinado.

Qual a razão? Vicios de educação?Vícios de escola? Tendência natural?Tristeza nativa? Alguma amarga de-cepeão?

Não sei bem ao certo; nem a lei-tura das obras do poeta é por estaface uma «arantia absolutamente se-gura. de descobrir a verdade

A obra do poeta, aparentementelógica, é uma das mais contradito-'rias que possuímos; aparentementepessoal, é uma das mais impessoaisde nossa literatura.

Mas, :nfim, é por onde terei deestudá-lo. De sua leitura depreendio seguinte* Varela não foi um triste,nem um alegre, nem um crente, nemum cético, nem um liberal, nem umautoritário; porque foi tudo isto aomesmo tempo, conforme o ensejo e aocasião. Foi uma latureza múltipla,variada, excessivamente excitavel,atormentada por estímulos diversos.Varela foi um agitado.

Dal, a variedade de suas impres-soes e a mobilidade dos tor.j de seucantar; dat essa morbideza. incons-ciente e irresistível que se evaporada mór parte de suas composições.Tal a caraterlstica fundamentai deseu gênio, de seu temperamento depoeta.

As produções, pois, que mais o de-finem são aquelas em que aparecemessas incertezas, essas flutuações,essas nèvoas, esses claros e escuros,essas vagas aspirações, esses sonhosroseos e dúbios, esses matizes Impai-paveis. essas ondulações quimérieasde um espirito inconetente adorme-cido numa espécie dé embriaguez.E' o que eu chamei o lirismo báqolco.

Entretanto a falsa crftlea entrenós tem dado a Varela eomo cara-terizaçao principal a tristeza român-Hc»..

C um erro refutado pelo própriopoeta, quando dit cm Tclka Cuud».

"Não sou desses gênios duros.Inimigos do prazer,Que julgam que a humanidadeSó nasceu para gemer;

Gosto de queimar IncensoSobre as asas da alegria,Julgo que ser louco s tempoTambém * sabedoria..."

Ou no Ermo:

"Eu não detesto nem maldigo ¦ vida.Nem do despeito me remorde a clia-

[g«..." Ul

Ou em Oração:«Eu quero andar! Eu sei que no t\l-

[tlirOInda há rosas de amor, Inda há por-

ffunt"3.Há sonhos de encantar!Não, eu não sou daqueles que a des-

[crençaPara sempre curvou, e sobre a cinzaDebruçam-se a chorar". (5)

Ou finalmente em Acusmata:"Sinto que fu! feliz, e nessa quadraNem tristezas cantei, nem amarguras,Mas Deus, a vida, a mocidade r *

Iglória" <*j)

Nada mais claro; a critica iludiu-se completamente.

Outra falsa caracterização do po*?'-*é a que o apresenta como sertane-jista, bucollsU por índole e tendi-n-cia irresistível.

Sinto vêr compartilhado este cir"por Franklin Távora, o ilustre ro-mancistã e hábil crítico, em seu bdoestudo sobre u escritor flumlnen o,nestas palavras: "Varela é o cantordas meias malicias e das meias mi'*cênclas existentes nessa região pito-resca e animada, que nao é a cidaüedeslumbrante neir a solidão bravta,que é simplesmente o eampo ou aroça ou o mato, isto *, um teatiomodesto de folguedos ingênuos, amo-res tímidos, graças vergonhosa.mais virtudes que vicios. mais nam-

•reza que arte, mais desinteresse q>">cálculo, nessa região que está par»a civilização como o «rrebol estapara o dia. nes«e plano onde port'garrido» e Imagens fo»ca» se dct>u-xam sob uma luz crepuscular que «nao deixava ver em completo re-levo.

1» a minha critica nio m eng»--"-

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J% DOMINGO. H-S-IMI ¦vruMBM*» unuin «va manha - pagina m

„dde ser alarido pela poa- Escravo estulto, abafa esses «mtdoBl s~"S •"s , s

f^ã£% r:r::rr- O cântico do Calvário Novidades literáriasCanta a paz e a venturaO mar e o céo atui!....

Quero olvidar minha comédia

"" mil. íundsniente Impresso o «I-"-'''di Íu. f£oi»mla poética", II)"

Tüíora e levado a esla conclusto,

.ijí d*A Boca. pei. leitura de Ml-. o Antonico e Cora.

"". hn me em completo desacordo E a ledos sons as larvas da loucuraJ. . i* composições campeslnas Bster como Saullf iitanejlsus sao produtos espo-.,;„'% excepcionais na vasta obia Leva-me as densas matas

','1 ú»rc!o "f"» Tlv«« C«lu<":t ,Midnr atfr reduiem-se at duas Faze-me um leito á margem daa cm-

purque Aatonlea e Ca,ai tem de essencialmentemeira*. purque »b«.p»,. ¦. Caia

nada lem,,™iro nâo passando da narrativaZ„

°a«ant. dc um caso de blíamu.."ô

orópno do «ertao como da .1-

I catasOu nas alíombra* húmidas e gratas

De recôndita gruta...

daRestam A R*Ȃ* J .

«voduções em verdade, queSm no melo da multidão de poe-ins do autor fluminense.

Varela, que viajou as resl&es ma-rllimas do Brasil, as reglOes das ma-íi" e as regiões dos sertões, dedicoualguns canto! as cenas que mais orat'varam por todas elns.

A vida sertaneja couberam as duasncomiaaas peto critico. Tal

Assim... assim! Fagueiras.Escuto Já nos ares

Mimosa, belas Ai vozes das donzelas prazentelras,Que dansam rindo ao lume das fo-

[guelrasNo centro dos palmares.

Mais vinho! Ohf filtro mago!SA tu podes no mundo

Mudar os giros do destino vago,E fazer do martírio um doce afago.

De uma taça no fundo'

Oh! patriarca antigo! ___ OM bebedor felli,

U-...C - característica especial e No roxo sumo da parreira amiga!,' the aito posto num gênero em Teu nome invoco, abraço-me con-

\m c nada mais.Náo é Isto suficiente P»r»_«»™u*

,h„- .... dificilmente poderia lutarMin Bittencourt Sampaio. Joaquim«Serra Bruno Seabra. Trajano Cal-vío Melo Morais Filho e outros Jálembrados neste livro.

Vem, vem ser meu juiz!Ittao,

Basta, servo, de cantos;Quero dormir, sonhar.

™- „ n..« encanta Sinto do vinho os úl ti mos encantos...Mimo» mesma o que encanto Molham.me tacM amoro8a5.r.a Hi'icmn nmoros do I.™ can» ft«s

Vou reviver e amar!" (8)é o doce lirismo amoroso do !.• can-to e nüo as notas puramente serra

aliás raras e fracasInsisto em auser. o traço pessoal do Nesta região de sunlius e apiiilyOes

lirismo de Fagundes Varela * certo doiradas se comprazia o poeta. Erafantasiar vago e dolente, aéreo uma necessidade de seu espirito •brumoso. cheio de docuras e sono- do espirito de tantos e tantos ou-ridades, alguma couta de Impalpa- tros.vel € quimérico, de vaporoso e dú- Em que pese a rígidos positivistas,bii>. como os sonhos de um espirito a ilusíio há tido e continuara a ternlhiiado da realidade.* grandíssima parte na vida da huma-

Esta nota espalha-se por toda a sua nidade: a 'lusão tem sido um atorobra, especialmente cm As Selvas, do progresso. Multas criações ?ecvt-Nfvoa*. Gualter, A Enchente, Juve- lares foram originadas meonciente-nilía. cântico do Calvário, Madruga- mente para preencher essa função.da ii beira mar. Aeusmata. Visões áa As religiões, as mitologias, as len-Noite e trinta outras. E* quase abrir das, as artes em grande parte cum-seus livros e ao acaso ler prem esse mister.

No seu próprio poema de Anchie- Muitas indústrias tiveram origemta as melhores passagens são os tre- nessa necessidade fundamental do es-cnos em que, a propósito de cenas na- pirlto humano. O cultivo da vinhaturais, deixa de lado a vida de Cns- entra nesse número.Io narrada pelo missionário, e cal Quem uma vez disse que o homemcm efusões liricas do gênero predi- tem necessidade de iludir-se e esque-

O mesmo em todos os poemetos,para não falar nas poesias mais CUT-tas

eismador não gostava da

cer, tanto que de é o único animalque se embriaga, disse uma grandeverdade. E' isto mesmo; o contrário* fantasiar grandezas que não oos-suimos.

Varela era do número desses que. i j— .. ..~.u_.i.«.i« vareia era uu nuittvro ucasca uwclaridade em todo o seu «plendor MlMm »,lem quimeras e Ilu-nao apreciava o viver positivo das ^ cm^l p„scrvatlvoa contra ascidades, as lutas da Imprensa, as agi- as|le„„s ,j, realidade crua. Sua«toes políticas, uma carreira normal ,, eri uma filha da ,,nlasla ,ta.. segura. »mava o retiro, as som- da e ln,p,ip,Teibras das matas, o abandono que o Be mesm0 „ ,ilBK „ primeiradeixasse sonhar. pijlna de seus cantas do Ermo e daNno há poeta algum da lingua por- cidatlc.tugitesa que tenha empregado tanto *s palavra névoa. e ele vivia num "Louras abelhas, eves borboletas,país tropical, numa terra banhada de Volúveis, beija-flores,luz Rápidos gênios, hospedes dos ares,

- As névoat ele as tinha no espl- Solitários cantores,rito. E esse ser agitadico. essa alma Amantes uns das pompas das cida.exuberante e lírica dava-se bem na <¦««*•embriaguei dos sonhos e das cismas Nas galas e das festasIndefiniveis. E quando o vago. Outros amigos das planícies vasta,bmmoso. o furta-cftr dos anelos E das amplas florestas;acros não lhe era gerado pela pró- Alado mundo, turbilhão volante,prin fantasia, ele o provocava nas Bando de sonhos vagos.doçuras tentadoras do vinho. O poe- Ora adejando em caprichosos giros,ta mesmo pintou esta situação do Ora em doces afagosseu espírito na verdade imponente Pousando sobre as frontes cismado-deM.a encantadora página: [ras...

Vede. desponta o dia,"Escravo, encha essa taça. Sacudi vossas asas vaporosas,Enche-a depressa e cantai Exultai de alegria!

Qaicro espancar a nuvem da desgraça Ide sem medo. lúcidas quimera,,Que além nos ares lutulenta passa São horas de partir!...

E meu pênio quebranta. Ide. correi, voai. que vos desejo

Tenho n'alma a tormenta,Toimenta horrenda e frlai

Pcbnldc a doida con jura-Ia tenta,Luin. vacila e tomba mactlenta

Nas vascas da agonia!

O mais almo porvir!..,

Serei

Estas citações não enganam, n8odeixam 'úvida.

Se a poesia é uma cópia exata,uma fotografia do mundo exterior,Varela, apesar de seu grande ta-en-

Pois bem. seja de vinho. Io descritivo, rol um poeta de iltu-No delirar Insano. ra secundária.

Que alugue minhas lagrimas mesqul- Se porem, a poesia é uma região[nho! encantada, criada, pelas almas de

> envolto em purpura e arminhó eleição para delicia e prazer de nds-' um soberano! outros, os pobres condenados is

cruezas da vida, ele fo) um dos ~nalarresco. transpõe as bordas »"°" dM n0SSM Poetas, porque pou-De brilhante cristal cos foram tão amoravelmeme 'dea-

torrente amada que o prazer açor- ¦"*¦» • fantasiosos.[das E" bem P°deria «Bora enumerar

Toma a guitarra, escravol atina is »» obras do autor, percorrer conl os[cordas meus ,eitores as melhores de suas

f. viva a saturnal! ' composições em diversos gêneros,prolongar este perfil, descendo a mi-

Já corre-me nas velas nudênetas. Séria trabalho fácil;,ma*Um sangue mais veloz... erelo ser inutil: porque a fisionomia

««Jos... inspirações... mundos de P»rtlçular do poeta !* eu a dei.lidéias Basta-me consignar, terminando,

¦Amhras que as suas melhores qualidades sSoifclii a espontaneidade, a música e a do-

Sacudi-me da fronte

Deste cismar atroz! cura dos versos, o vigor e a seguran-ca das descrições, a abundância e ariqueza das Imagens.

As no-as gerações devem sempreWr o delicioso sonhador dos Cantos

Que celestes bafagens!Que languldoa perfumes!

Entre esplêndido, lume,, "* ^/S^^Í^EK

Tange mais brandq ainda lêde-o.Eíse mago Instrumento!...

Mais... ainda mais! Que maravilha __[infinda! (1) — Obras Completas de L. M.

Que plaga Imensa, luminosa e linda! Fagundes Varela, 1.° vol., pág. 48, —Que de vozes no vento! Noticia Biográfica.

(2) „ Quando tratei de GonçalvesSão as huris divinas Dias, disse que os Cantos e Fanta-Que junto a mim perpassam, slas eram de 188*6. Agora dtgo que

Ou de Schiraz as virgens peregrinas, eles são de 1885. Para o fim que aliQue cingldas de rosas" purpurinasChoram Bulbul e passam?

ph! não, que não são elas,JWas ai! meus sonhos são!Sao do passado as vividas estrelas,

Que à fhix rebentam cada vez mais(belaa.De mais puro clarão!

Süo meus prazeres idos!Minha extinta esperançaisao... Mas que nota fete-nt os) ea-

tinha em vista não há nisto contra-dlção. O livro traz no frontesplcio adata de 1»S5: mas »6 se espalhoupelo público em princípios de 1866.

(3) — Obras Completas, I., *ug.

(4) — Idem. n. pag. 12.Idem, Ibid.. pag. «••_ •Obras Completas, O. «M. I

Obras Completas, I. P*sV

Obras riaulilll, B. a MM,

(9)(6)m.ti)».m

A' MEMÓRIA DO POETA LAUREADOFAGUNDES VARELA

Brilha e fulgura quando a morte MaSobre mim sacudir o po dai asas.Escada de Jacob serão teus ralosPor onde aslnha subirá mlnh'alma.

(Faf «adea Varela)

A Musa da tristeza e da desgraça,A Muna da agonia.

Severa foi sentar-se no teu leitoE tu lhe ofereceste alegre o peitoRepleto d'harmonia!

Por que tão cedo. oh gênio, noa deixas**A sós nesta existência?

Não vès que a natureza te pranteia,Que até a luz dos astros bruxoleia,

E a flor perde a essência?

O céu da pátria nebuloso vejo,A brisa já nem corre,

O mar, o próprio mar na sua ira.Parece um canto de chorosa Ura

Que a pouco e pouco morrei

Como dísseste no slubUme cantoPaterno e funerário"Escada de Jacob" são as estrelas

Por onde as almas de candura belaaDescansam no Calváriol

Nem na morte poupou-te a vlperinaPena que não tem pena,

Que a par d'encômlos arremessa ao ventoReprimendas cruéis sem valimento

A ti, irmão da arena!

Tentas vasar em ânforas estreita»Os rios do universo;

Esqueces que este mundo contingenteE' pequeno demais ao gênio ardente

Nos ideais imerso!

TDinbaste, oh gênio, como o cedro tombaAo temporal do norte)

A musa solitária e lacrimosaColheu-te desta vida tormentosa

No regaco da morte!

Esperanças de amor, sonhos dourado»Acordes divlnais.

Crenças, inspirações, raios de luzDormem ã sombra do pedal da crua

Nos antros sepulcrais!

Mas, de tanta emoção, de glória tanta,De tantas agonias,

Resta o grande poema do CalvárioDe tua alma infantil divino sacrádo

Florão de nossos dias!

Poi um legado imenso de conceitosQue deixaste no mundo.

Teu nome há de voar cheio de glóna,Douraste a folha de brasílea história

Com teu estro fecundo!

Paz ao teu corpo, sonhador lnsonte.Paz também à tua alma;

Os gênios, como tu, tão inspirados,Se dos homens viveram desprezados

De Deus colhem a palma!

Três ano» consumiste dia e noiteNeste eternal poema!

De tanto batalhar de pena em punhoAli deixas bem alto testemunho

Tombando ã lei suprema!

Deixou no colo Tia família tristeImorredoura glória,'JO

poema de amor e caridade ,A santa, a imortal dualidade

Do Cristo a vera história)

Honrou a pátria e abraçou do EternoAs divinas lições

Velando as noites, até ver o diaPreso á leitura seu olhar vivia

Eis as dissipações!¦A morte santiflea-lhe o passado!"

Tréguas ao seu martírio!Passou ns terra modulando cantosEnvoltos sempre de tristeza e prantos

Fanou-se como o liriol

Silêncio! não perturbem o repousoDa musa da tristeza!

Deixai-o em sua campa abandonado,Poi um gênio por Deus iluminado,

Alma sincera e pura!

Dessa etérea mansão aceita o pranto,Que verto nesta hora;

Tudo sofre no triste isolamento,O mar, a terra, o vasto Armamento.

Al, tudo por ti chora)

OCTAVIANO HUDSON.';<Dttrlo

«o Kio de Janeiro dc 27-2-1*7».

1—

w ar. Aleidaa Mara, ia asa-skmta Brasileira de Letras,anuncia para breve ejuatr* livres.O primeiro é- • "Machado de

Assis". A primeira «afeto desta U-vro * de 1818, e apareceu na Livra-rte Jaclata SUva, «esta cidade. Tia.ala * sab-tttnlo de "Algumas aoUssobre o humonr". Vinha 181 páil-¦as, alem d, vm paglaas d, "Na-tas". Tracla ma retrato da Macha-és de Assis e • "fac-slaaUe" da amacarta do mestre ao sr. Alcides Maya.

A edielo «jue se aaaacls asara, dmandada, faser pela Academia, qaeassim presta homenagem carinhosaa Machado de Assis e também ae sr.Alcides Maya.

Mais três livros anuncia o brilham-te escritor, aus ste es seguintes:"Cttlme tesouro", novela; "Coxllba",contos; e "Prisma", eolecle de era-Bicas.

2—

Alberto de Oliveira deixouinéditos numerosos sonetos •poemas, que ficaram confiadosA guarda de seus irmãos, e prin-

Oipalmente de Luiz Mariano de OU-veira, que, como Alberto, é um poe-«a inspirado e vigoroso. Luiz de OU-veira passou esses originais as mBosdo sr. Aloysto de Castro, e os doisestfio ultimando a organização- da* quinta série das "Poesias" de Alber-to A ediçío dessa última série das"Poesias" será provavelmente dadapela Academia Brasileira de Letras.

Acham-se igualmente em preparetrês livros de Alberto de Oliveira —este agora sendo de prosa. Um será¦m volume de contos, pois, eomo sesabe. Alberto de Oliveira foi um"eonteur" comovido e Interessantesempre: outro serA uma coleçSo detrab-lhos de critica, artigos, estudose conferências: o terceiro será umestudo sobre "InstruçSo Pública", econterá os vários relatórios que,quando na direçSo do departamentodessa especialidade, no Estado doBio Alberto de Oliveira teve oeasiSode escrever.

O trabalho da organização desses«finos voJumes está confiado a emi-«ente? escr'tores. que os farlo acom-panhar ie estudos sobre a oerwwali-&»<*« do ilustre poeta.

3.—

Está anunciado desde algumtempo o aparecimento de maisquatro volumes de Euclydes daCunha, qne serto os seguintes:

"Sáo Paulo", estudos: "O Brasil ni»Século XIX". estados; "Estudos Vor-destinos"; "Brasil e Per*" t^te flí-timo volnme é a 2.* edição das "Me-mortas da Comissão Mlxta Brasileiro-Peruana de Reconhecimento do AltoParda".

Esses volumes lrlo aparecer na"ColecSo Documentos Brasileiro»",da Livraria José Olímpio Kfl»tor«

4—

O sr. TristSo da Cunuaanuncia a publicação de maisum livro de contos — "FábulasHumanas". Desse volume de-

nos, no primeiro número de 'AU-TORES E LIVROS", uma de.iciosa¦mostra, com a publicação do conto"Noitada".

— O sr. Ribeiro Couto, da Aca-demia Brasileira, anuncia oaparecimento de nm próximolivro de poemas — "Canciunel-

to do Ausente", Também desse to-lume tivemos ocasião de publicar no¦úmero passado um linde poema —•s "Estâncias da lnsonla amorosa".

ITABORAí E SALVA-DOR DE MENDONÇA

(Conclusão da pág. 26)nós, amigos da memória de Sal-vador de Mendonça. Como sabeis.Salvador foi, no fim ia vida, vi-tuna de atrozes injustiças, porparte dos poderes públicos bra-sileiros. Fora ele na mocidade umcampeão denodado oa Republica.no tempo em que ser republicanoera sinônimo de possuir vauar/iopara as renuncias e para os sa-erlficlos. Mais tarde, em sua le-gação de Washington, defendeu,em dois lances dificílimos, a Re-publica, que perigava. Primeiro,no próprio momento da proclama-çfto, em 89; depois, em 93, porocasião da revolta. Entretanto,um manejo hábil dos seus adver-sérios o indispôs com os dirigen-tes óo Brasil, e a República fin-dou por lhe tirar o cargo de mi-nlstro diplomático, deixando-ocego, setuagenario e pobre, nomais iniquo dos abandonos. Sal-vador não enfraqueceu perantetanta injustiça. Lutou na impren-Ba, escreveu livros. Por fim, tevea felicidade de ver o seu direitovoltar a prevalecer. ,

Contudo, até hoje não lhe ti-nha sido prestada pelos poderespúblicos uma homenagem defini-Uva, 0'essas que mostram com elo-quencia que a Pátria se proster»na agradecida diante dos filhosque muito por ela trabalharam.

Na cerimonia de hoje. vemosmie o Estado do Rio, pelo órgãode suas autoridades mais repre-sentativas, veio prestar a Salvadorde Mendonça a homenagem su-prema da nacionalidade brasilei-re. O ato, em sua simplicidade,adquire, portanto, uma significa-ção nacional.Em nome da Academia Brasi-

leira de Letras, que aqui repre-sento, eu me congratulo com oEstado do Rio e com o Brasil, pelarealização desta cerimonia, em quefica imortalizado, num documen-to áe bronzeio vulto de Salvadorde Mendonça, que tanto :à sua pátria.

Page 14: MJJY llWW@i> - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/066559/per066559_1941_00002.pdf · Cruz "Hissope", e Silva, autor do ... O vocabulário e o es- vantar na obra de Vare- roso do seu país

PiGINA X SUPI.EMKNTO LITERÁRIO #A MANHA IIOMINGO, M-I-Ml _jjWk

FAGUNDES VARELAAlberto de Oliveira(CoiiHuftão du pág. 20)

0uberbo ru ergu 1 hu d ur!Irei à pátria das Ia daaE dos sliros errabundoB,Irei aos antros profundosJDiis montanhas encantadas;

fie depois de imensas dures,No seio ardente de amoresEu. não puder apertar-te.Quebrando ã dura barreiraDeste mundo de poeira,Talvez, Iniih, hei de achar-te!

A misantropia de Varella, uu o¦eu não direi despreso, mas afãs-lamento dos homens, principal-mente os das cidades ou povoa-dus. preteríndo-lhes a solidão doscampos e matos, motlvam-no oa«eus l.iÚKiatüs no lance trâgicu4a morte da mulher e do filho.

¦¦ Ms te duplo golpe, diz J. M.4e Macedo, no "Ano biográfico",cortou-lhe o future e enegreceu-lhe a vida.

Varella não quis prosseguir em¦eus.estudos jurídicos; o amor de§eus pais já não lhe bastava. Fil*giu à sociedade; passou os pri-¦tetros tempos que seguiram ao»eu infortúnio fatal, vagando so-¦iulin peloa campos, desapare-eendo no selo escuro das flores-tas. atravessando a nado cauda-loros rios, caminhando léguas semdestino, nem idéia, pedindo aHeus a morte e anuinan.lo a sau-4e, em desespero de felicidade no¦uti)do".

Acordes mais ou menos neste¦entldo, escrevem Lery Santos,Sacramento Blak?, Teixeira d*Mello e V. Coaracy.

Parece, pois. que a musa da so-Md iio so depois daquele golpe fa-tal sorriu consoladora e carinhosa¦o poeta, lnsplrando-lhe as maisbelas ou mais características pro-duções. Não é isso, entretanto, oque se verifica do exame de suas•Uras. Embora menos intenso, ogosto do ermo ou da vida e mis-té rios deste já se adivinha e mani-festa eni "Nocturnos" e "Vozes4a América", dos quais, senão »o-das. pelo menos o maior nfimerodss varias poesias, antecede ft da-Ia do lutuoso sucesso. A mortede dous seres queridos, parece-Aos. acentuou apenas em Varella• pendor para a vida ao ar livre,em contato direto com a natu-reza. Kssa inclinação é de presu-niir lhe nascera desde cedo,quando, havendo-lhe o pai sidonomeado Juiz de Direito de Cata-lão. em fioiaz, teve o poeta, me-nino ainda de onze anos, deacompanhar a família em viagemfeita a cavalo durante longas se-¦nanas, através de sertSes espes-¦os e onde por vezes houveram depernoitar em plena mata brava,¦ob as copas das arvores. Difícil-menlo se nos apagam do espiritoestas lembranças de espetáculosgrandiosos do mundo físico, vis-tos na idade em que a Imaginaçãotem anueles olhos arregalados damusa que o autor de "D. Casmur-ro" ínz, presidir as insonlas.

O ¦Tíintico do Calvário*', jul-gado por .Tose Veríssimo como"quase sublime" e por Machadode Assis ("Diário do Itio de Ja-neiro", n. 31 de 6 de Fevereiro deISSO), como encerrando "verda-deiro lirismo, paixão, sensibilida-de e belos efeitos de uma dor sln-«era e profunda", assinala nolirismo de Varella, de 1S63 emdiante, ano em que foi escrito, no-tas de profunda e não fingidatristeza, senão amargura, que lhe.ensombrain os versos. Daí da-tam tambem os desatinos ou des-regra men tos tle sua vida . Naspoesias anteriores pode haver, ehá certamente, o mesmo senti-mento de dor, mas artificial, oude imitação, segundo o praticavaa escola romântica, principal-mente na última fase. Aqui. não.As selvas tão invocadas pelo poe-ta desde os primeiros cantos, se aprincípio podiam ouvir-lhe umedílio ou unia écloga ou deixar-lhe entrever entre os ramos nu-dezas de ninfas fugidias, agora sólhe inspiram acordes elegíacos epovoadas lhe aparecem de som-bras e aparições melancólicas.

Ao meu ver é o "Cântico doCalvário", embora alguns senões,a mais formosa nênia ou epicédiode nossa língua; nunca, sem ex-elusão dc Bncnge na "Saudade

.materna" e do nosso Luiz Guinia-râes Junior em "Mater dolorosa",houve aí alaude capaz de sons tãoaltos e tão sentidos.

Falta-me tempo para nesta e emoutras composições apontar bele-ias inúmeras e tambem meudeardefeitos, que não são poucos. Da-quelas não erro talvez, aflrman-do que as principais estão nos íil-ttmos livros, tanto vale dizer que¦s faculdades do poeta ge a per-felçoavam, apesar dos desre-gramentos de sua vida. Ti real-mente, essa melhoria ou evoluçSo» sensível no que enlaça com a

„ Ifngrva. estilfl e versiíicaçãn. se co-tojamoa os livros do estré» —

¦'Nocluriios" o "Vozes du Ainérí-ca" com a« outras coleções eprincipalmente com o "Anchio-Ui" e "Diário de Lázaro" .

Nos últimos tempos, au "fatita-siar vago e dolente, aéreo e bru-¦noso", qua Sylvio iíomero deu,sem mais delido exame, como ira-ço pessoal do lirismo do Fagun-des Varella, sucedera, com o ra-ciocinar do filósofo, maior clare-za e lógica na concepção e expres-são de id-ias e sentimentos.

Acentua-se-lhe a religiosidadedo espirito, o que o leva, antesde narrar a vida de Jesus, aoaraptos de "Acusmatu" .

liusco-te embaldoNa natureza inteira! O dia, a

| noiteO tempo, as estações, mudos su-

cedem-se,K se falo de tl. mudos se escoam!Mas eu slnto-te o sopro dentro

í d'almaK movo-me por tl, por ti respiro,Ouço-ta a voz que o- cérebro me

| anima.E eni ti me alegro, e choro, e cun-

[to, • penso!

Bu "creio em tl, eu sofro, e o ao-

ferimento,Como ligeira nuvem, se esvaece,Quando repito teu sagrado nome!Ku creio em ti. e vejo alem dos

[mundosMinha essência Imortal, brilhan-

[te e livre.Longe doa erro», perto da ver-

[dade,Branca, desaa brancura ima-

fculada,Que oa gênio* Inspirados nesta

IvldaEm vâo tentaram descobrir noa

| mármores.Quase toda a obra do poeta fiu-

minense esla embalsamada des-te perfume de crença, comoaa naves de um templo da emana-ção dos turibulos. "O seu amor,a sua crença, a sua religião —¦dizia dele seu amigo Ferreira deMenezes — era um panteismo lu-minoso, atravessado pela Idéia deDeus.

Sonhava mergulhar de novo nanatureza, para surgir... onde?Longe, na plena luz. Não se con-siderava mais do que uma ondaque tinha de enovelar-se, perder-se e afundar-se no mar da cria-ção; uma nota desprendida doeterno concerto e que se perderano espaço, átomo, luminoso, sim!que um dia iria ajuntar-se aogrande todo".

Apenas uma ve,* irreverente-mente escreve que

A idéia de Deu» lançara-a da[alma,

Como das bota* a poeira incò-[" ni oda,

mas. fala pela boca de outrem oupor influxo do ceticismo byro-neano, cuja escola representadaentre nós por Alvares de Azevedo,ainda a este tempo contava al-guná sequazes. E de que não épessoal nem sincero o conceito,basta sobre o depoimento de tan-tas páginas, a confissão dos ver-sos "A morte":

Embora o sopro ardente da ca-[lun ia

Crestasse os sonhos meus,Nunca descri do bem e da justiça,

Nunca descri de Deus.

Não podia deixar de extinguir-se, balbuciando uma prece, almatão sofredora. Varela acabou, porassim dizer, rezando aquela gran-de oração, que é o "Anchieta" ouo "Evangelho nas selvas". Estapoema, que ninguém hoje lê epoucos leram e devidamenteapreciaram, tem contra si a mo-nótona extensão de dez longoscantos, ao gosto clássico, e o serfeito em versos soltos ou bran-cos. A atenção do público, porocasião de, em 1875, aparecer o"Anchieta", sen tia-se exaustaou enojada da leitura de poemasépicos, líricos e satíricos, tecidosnesta sorte de versos. Só de 1844a 18GC haviam-se aqui ou alhu-res impresso em versos soltos o"Três dias de um noivado", deTeixeira e Souza. "A festa deBaldo", de Álvaro T. de Mace-do, as "Cartas chilenas", a "Con-federação dos Tamoyos", de Ma-galhães, o "Colombo" de PortoAlegre, a "Nebulosa", de J, M.de Macedo e os "Timbiras". deOonçalves Dias, não incluindonesta relação obras somenos, co-mo a "Engenheida", de Ferrari,o "Gonzaga", de Pereira da Sil-va, e yParaguassú". de Titara,esta um pouco anterior.

E. entretanto, não desluz dosmelhores, no meio destes poemas,o "Evangelho nas selvas" e à al-guns transcende em inspiração,grandeza de cenas, verdadeirapoesia e dons de expressão.

São magistrais, entre outros, osquadros do aparecimento da es-trela çuladora dos reis magos, noalto de sua torre, e a jornada porlongos caminhos, que se enfio-ram, até Belém; n da saturnal dopalácio de Herodes, com a dansad» bailarina laaclra; oa reraoa do

üuiinao Ua Montanha, us dus pu-rábulas do Nazareno tl Lodos us Uoapuram lúüiibre Ua Crucllkaçào,no Calvário.

Aa ploluudc.aa cl-lua Liais que kuabrem entre ruiámpitifuti, a apa-riçáo Ue surus aniíõiicos, as trans-parènuias luminosas Uo éter, ot*véus iluidus ou perespiriluais queenvolvem, a espaços, a figura duSalvador, alcançam Ua pena UopueLu, como pincel mágico, paraexprimí-lus, levezas U« unia» aui-pretjnUenies. O verso branco ne-ntium Uos nossos românticos, ex-ceio Uoiiçaives Dias, soube nta-nejá-lu uum tanta perícia comoFagundes Varela.

Elo 6 um artista, um mestre nafeitura deste verso. Mas us pou-mas sem rima, ou ainda com ela,estavam pruscrilos e forçoso foificar o -Aiicliiela" em nossa lite-ruLura como obra quase virgem Ueolhos que a lessem, ou como a u-guia do velho missionário Ueste no-me, entre alguns crentes e a so-lldão. . .

E no entretanto, este é o me-lhor de quanto» poemas religiososse teem composto em português,desde o sesquipedal "Virginidosde Mendez de Barbuda até a W-»uls& "Asunçâo", de S. Carlos;nem talvez o supera a "MesSia-da", de Klupstock, senão nos pri-meiros cantos, quando celebra arebelião dos anjos e a queda e ar-rependimento de Abdiel.

Aludi às inúmeras belezas e tam-bem aos defeitos* não poucoa, dasobras de Fagundes Varella. I>usdefeitos grande parte, os de Un-guagem e versificação, devem cor-rer por conta do tempo, em quelamentavelmente crescia o descui-do destas cousas, ou não lhes da-vam o apreço devido; os mais,se não se justificam, teem sua ex-plicação na vida desordenada eindiferença ou desesttma do poe-ta pelo que escrevia .

Tão desprendido era de vaida-des de autor pelos frutos de seutalento, que, onde os produzia emseu peregrinar de boêmio, us iadeixando em mãos destes e aque-les, como certas aves que, ondecantam, ai deixam ficar algumasde suas penas. Assim foi que demãos de uma senhora, que porsua vez de outrem o recebera, re-colhi em 188D o manuscrito orl-ginal do "Diário de Lázaro", oquai por intermédio de Arthurlíarreiros foi publiedo na "Revis-ta Brasileira", e mereceu um ex-celente estudo crítico de FrankllnTavora.

De espíritos destes ninguém váexigir ordem ou método de tra-balho. Não o teem no que escre-vem nem nas cousas da vida; osversos a mão lh'os traça comoeles defluem da alma, corredioa enaturais e dir-se-ia que se uneme entecem nas várias formas decomposição ao modo como algunsaracnídios lavram os círculos oupolignos dé suas telas, Não tinhaVarella entre os seus tormentoseste que os da geração posteriorA sua Inventamos, de rescreverdez e vinte vezes a mesma página,buscando febricitantes a formaou expressão perfeita. Talvez nosúltimos anos mais refletido sedetivesse um pouco, revendo emeditando o trabalho posto dlan-te dos olhos.

Ao tempo de "Mimosa" aindaera o mesmo, rebelado contrapreceitos estabelecidos, como aímesmo o declara:A idéia não tem marcos nem bar-

f reiras,E o pensamento, irmão da liber-

Idade.Quando as asas sacode, abate e

[quebraMais de uma autoridade.

Lançai vossos preceitos e tratadosAs chamas vivas de voraz incèn-[dio...Alma que sente, que se inspira e

[canta,Não conhece compêndio.

Apesar da declaração, sua musaen traja-se á moda do tempo; cer-to desalinho que infelizmente enão raro se lhe nota, não me pa-rece acinte ou proposital,

A vida explica o homem e o es*lilo.

Lendo-o hoje, entristece-me de^parar-lhe máculas que outr'oranão via, desãdoi'o-lhe alguns pas-sos inçados de lugares comuns;(lesaprazem-me as suas rimas vul-gares, enfadam-me vários de seusversos frouxoB e hiáticos. e nemlhe sofro no prefácio das "Vozesda América" aquele solecfsmocom o verbo "haver", que tantoafeleou a critica de CamiloBranco (Camilo, várias vezes re-incidente no mesmo desllse), mastambem uma satisfação experl-mento, ô meu grande, 6 meu Infeliz Fagundes Varella: a de sentirem mim rediviva, embora sem oalvoroço e o entusiasmo de ou-trora. aquela mesma e sugestiva.impressão que me davas, quando,há tantos anos! moço e poeta, eute Ha pela primeira ver, em sitioaprazível do meu pátrio torrãofluminense.

Fagundes VarelaADELMAR TAVARES

A cadeira em que me dais a honra ae sentar na vossa Compa-nhia, é a de Luiz Nicolau tagundes Varela, uma das vozes maisaitas e inconfundíveis do Lirismo Brasileiro.

O caráter, ou meihor, a pree?ninência das idéias e dos sen tumentos, ê o que jnais interesse deve despertar no estudo de umartista ou de um escritor. As vezes, esse caráter se harmonizacom as vicissituúes da vida real; outras, torna-se imjwss.ttiessa adapíação e a sua estesia entra em con/iiío com iodos asconveniências de outra ordem. Esta é a hipótese mais /re-quente

O orago desta cadeira, sensibilidade excepcional, foi em vidaum predestinado. Compreendendo a sua vocação, não liesüuuum momento em segui-la. A preeminèncta de idéias e sentimen-tos, a que aludi, e flagrante na sua obra, tâo diversa na fôrma eno fundo, da sua vida contingente.

Dificilmente se encontrará em uma mesma criatura tão viva etocante intuição de beleza em tâo violento contraste com exis-tência tão desordenada, e nâo é sem um respeito quase supers-ticioso, que eu me aventuro a fazer algumas apreciações nessesentido.

Confrontando a tragédia cotidiana desse homem, com ainesgotável disposição musical do seu estro, afigura-se-nosquase incrível resistisse a tantos embates. O certo é, porem, queesistiu com a mesma conciéncia inflexível de uma vocação.

O caráter predominante de um artista pode estar em con-flito com o senso comum. Nem por isso, porem, diante da suaobra, seria licito restringir a admiração a que se impõe. Queimportam os desvarios pessoais do autor, aquele que ajuiia dasua obra, tanto mais de admirar quanto ela foi traba'hmiaatravés ie todos os ódios e de todas as invejas ? I

O comum das criaturas abandona-se ao arbítrio das even-tualidades. mas os grandes espiritos, ao contrário, aproveitamas contingências, e fazem dos seus precipitados a matéria psíquicadas suas realizações.

Aproveitemos, pois, a vida episódica dos artistas, não so porela julgá-los, mas como fonte preciosa para melhor conheci-mento das suas qualidades e dos seus defeitos.

A vida de Fagundes Varela foi talvez a mais tormentosaentre as dos poetas da sua geração. Como já lhe nào bastasse

um fundo ingènito de tristeza, a hora em que veio ao mundo,foi a mais propicia à intensificação desse sentimento. Essa era

a hora do romantismo, que agitou na juventude brasileira,como nas outras, o mesmo inconformismo com as realidadespjtngentes da vida

Tenho como fato cerlo a predestinação desse poeta, masa época em que aflorou o seu espirito muito concorreu para anota de constante melancolia do seu plectro, se bem que estefosse, como loi. suscetível a todas as vibrações. Tudo nele êmúsica. Tudo nos seus versos corre em harmonia com as ima-gens do mundo sensível, ou com as idéias que descortina o<tcom as emoções que instrumenta. E essa musicalidade é que lheImprime á estrofe tanta despreocupação de outros efeitos me-ramente ornamentais.

Se tal espontaneidade facilitou a esse maravilhoso orques-trador de ritmos a censura de menos cuidadoso na plasticMadeverbal, deu-lhe, em compensação, a coroa indisputável degrande prestigio nas salas de recitações e nas tunas romànti-cas dos trovadores noturnos. Ele teve imortalidade lá de fóra.Teve a consagração das cordas das serenatas, de norte a sul ioBrasil, e, eterno, viverá na alma do povo, que não deixa morreros legytimos intérpretes e definidores dos sentimentos e segre-dos do coração humano:

"Não te esqueças de mim quando meus olhos,Do sudário no gelo se apagarem.Quando as roxas perpétuas de finadoJunto â cruz do meu leito se embalarem.

Quando os arios de dor passado houverem,E o frio tempo consumar-te o pranto,Guarda ainda uma idéia ao teu poeta.¦— "Não te esqueças de mim. que te amo tanto '."

Ainda hoje, ao luar das terras do Norte, se esfloram osmotivos líricos das suas estrofes. E' oue todas elas sâo genui-namente brasileiras: — brasileiras pela sentimentalidade élni-ca, e pelo descritivo panorâviico das nossas selvas, mares ecampos- Varela, nesse particular, nâo foi excedido por nenhumdos outros românticos. Possuidor de todos os recursos da sen-stbilidade, ninguém melhor do que ele desdobrou em painehas coisas e os aspectos da nossa ambiência. já descrevenâo-ascomo impressões materiais, já principalmente aproveitandomà maneira de certos pintores, como efeitos, para melhor por rmdestaque a sua impressionabilidade. Arvores, flores, cèuí,mares e rias, tudo a luz do seu nome poético iluminou, e dctudo-foi ao mesmo tempo um reflexo.

Amando com transporte a Natureza, e inscrevendo, comoEça, no seu escudo, que só "na Natureza, devemos buscar con-solações, porque o corpo de Jesus anda nas flores das laran-ielras", o poeta e o Evangelho nas Selvas fez desse amor, uma"eligião. Mais: fez uma embriaguez divina !

"A vida nas cidades me enfastia,Enoja-me o tropel das multidões.O sopro do egoísmo e do interesseMata-me n'alma a flor das ilusões.

E o coração, seteado de dores, procurava no campo, entreroceiros, para a sua alma, a paz e a verdade purificadoras an"'ele julgava alheias e distantes dos hemens e das mulheres áascidades.

"O balanço da rede, o bom fogoSob um teto de humilde sapé,A palestra, os lundus, a viola,O cigarro, a modinha, o cafí;

Vm robusto alazão mais ligeiroDo que o vento que vem do sertão.Negras crinas, olhar da tormenta.Pés que apenas rastejam no chão!...

E depois — um sorrir de roceiro.Meigos gestos, requebro, de amor.

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DOMINGO, «-S-1M1

Setos nus, braços nús, trança solta,

Moles latas, idade de flor..."-Uma carta inédita

de Fagundes Varela

SUPLEMENTO LITERÁRIO d'A »IANH\ — PA1IWA »l

t

A carta de Fagundes Varelacujo "fac-simile'* ao lado publica-mos, e dirigido a um certo "í'e-

, como vè o leitor.Trata-se de Felicio Fagundes,

primo irmão de Fagundes, Va- -rela, homem de grande rique-sa e de grande prestigio, naquele *\*.tempo. Pertencia a uma das mais '¦'v

pensava achar na Natureza, longe do rumor das mennraimnveiicwmts, dos enganos e artijicios da civilização - a te-

rkhide- e candidamente o proclamava, como uma criança que, ','",*,

,0 fundo de um espelho, parece ver a companheira de brincostescu o ¦

cruelmmte^ implacavelmente apunhalado pelo,rte da esposa e do filho — o objeto mais alto de sua adora-"'-' nmcurou resistir à impiedade do seu destino petos pro- ,

^7 dás Soes românticas, tão próprias daquela fáse de ^[Z^cTnAZmmvZívaZcào histórica, ora buscando consolações bucólicas, como ™~B'S„»S,*S

i.raíüo ora apelando, como ve:o finalmente a faze-lo, para ae Sousa e tinham dado ao nosso¦ ma nova existência conjugai, nada. porem, trazia paz àquele pais desbravadores e bandeirant.r-iracão No vinho, doiraâa mentira dos deuses da Hèlade, não Fazendeiro, dono de territórios que ¦ -

l.rnntraim nem a verdade, nem o esquecimento .- Mentiam-lhe valiam cidades, ele era, também,

Zibem as "ceiesfes bafagens e os languidos perfumes do, seu, ZaT™ SMSjio" «"*[«pores». No tundo das taças só encontrava o travo dos seus ^r°D«Í™,% Zettmafe „Snpróprios infortúnios, e o entano fugidio de uma aventura quenunca lhe sorriu-.

(-<-»„ '¦»»w * . $

a.v. •*»«««*,- t*,j*" ** **" y

"fiscrauo, enche essa taçatEnçhe-a depressa, e canta ¦ ¦ . ¦— Quero espancar a nuvem da atsym^u,

Que alem nos «res lutulenta passa,E meu gênio queoranta"..

UA quem não tenha querido ver no cantor de Vozes da Amé-rica. nem a época em que dtsabrochou o seu gênio ("no vinhoestavam a verdade e a inspiração, e o poeta devia buscá-las,como um grego no falerno das ánforas") — era a legenda dosseus contemporâneos Nem as determinantes que levaram a

do o grande poeta. Aos filhos trans-niittu essa tendência de estudos.Vm dos seus filhos, Marcolino Fa-gundes, que morreu h-Á algunsanos, e fez no Exército uma bela [;carreira, dele herdara o amor aos ¦¦¦estudos de dantologia, chegando apublicar algumas traduções co-mentadas do "Inferno''.

Felicio Fagundes, que socorreusempre. Fagundes Varela em suas,repetidas necessidades, faleceu em1912.

A carta diz o seguinte*Sr. FelicioE" amanhã o dia mai cacto |i»t i»*-*rt v

a partida, e como me exigiste cii:buscar por esse modo o esquecimento Não; não quiseram ver JJJgJ»

«£«* ^'^'r™

cegos (ia pior cegueira, para verem, tão somente nas suas liba- an<"**"? Bas,an,e «"'euaqo. a mie

ções, motivo de interioridade moral Inveia on injustiça, aindaIwie vrocwam carregar sempre dessas sombras a grande moi-dura de seu perfil-

Os. golpes sucessivos áo Destino davam-lhe dias de ânsia e

nesta hora presente ainda não ar*ranjei, — razão esta que tendopre*cizao que seja infallvelmente apartida amanhã, visto que nâo sen-do causa-me um grande prejuízo,

noite* de inquietude. Indormiio, notívago, assistia oo desfiar pedia-te que com esta minha íaltadas horas mortas,-tentando encontrar, talvez no olmo recolhidaila Natureza, a calma para os seus tormentos: mas. por supre-ma ironia, essas horas se desprendiam morosas, arrastadas, ecueis. e lhe caiam no coração como gotas candentes. R eleclamava. ¦ . ¦ •¦

"Há umas horas na noite.Horas sem nome e sem luz,Horas de febre e agonia,Como as horas de Mana,Soluçando aos pés da cruz!...'

não delxasses de servir-me, por pque, podes ficar certo que ae eu po-der antes da volta tudo vos pa«a-rei, e em último caso lego que uü-nha mulher chegue será ao sr. aquem pagarei primeiro. A vista dcminha pvecizão espero que não &cnegará a servir-me. pois "que eum serviço este que ficar-te-eiobrigado.

Espero já a dicizão de sua parte.Disponha de quem é

amigo e obrigadoLuiz de F. V. Varela

p, s. — E' tão urgente que s»?Jaamanhã esta viagem que estoupronto íse exigires) a dar-te tudoque possuo — por garantia.

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isiiyiii»í:í:e:íyi.;eyy\y:s^ e^mw

E um doce e trisíe ideoi de piedade mística por todos e portudo, ceio por fim orientar-lhe o destino interior, tornando-se-llie esta a fase culminante do seu gênio. Atentai no "Diário deLiiíaro" e no "Evangelho das Selvas"! O primeiro i o dor, o .,...,.„_. .,.„„, »dtíssiífa, a esperança, e a decepção, todos os ritmos da miséria r AljrUNUCií) VAKCiLA

OPINIÃO DE A. J. PEREIRA

OPINIÕES SOBRE

humana. O segundo, a té. com todos os milagres do pensamen-(o, e, dominando um e outro desses poemas, a mesma extraor-dmária emoctofialidade criadora de imagens.

Para os espíritos irrelletidos, esse natural expressionismo tum simples dom. mas, para os psicólogos, é a demonstraçãoviva da identificação do aríista com o objeio a que quis infun-dir o sopro da sua imaginação taumatúrgka. "Toda obra dearte es una personaltítad". diz Vargas Vila. "ela. despues de que ela vivió largo tiempo en ei'

E é de ver quanto foi intenso o nativismo panieísta desseescritor da terra, e quanto a sua receptividade cristã foi exce-pcional e soube refletir todas as virtudes da raça. O amor asnossas selvas é de tal modo nos seus versos, e neles adquire tantadiictilidade. que o faz a nm só tempo, tomo poeta, o nosso maisimpressivo e expressivo cantor de paisagens e estados dalma.

Não precisou, para ser tão eloqüente, de falsificar as coisasou desvirtuar os sentimentos. Bastou-lhe ampliar e embelesartudo que viu. ,. . ...

Neste momento de renovação de valores, e volta ao prtmm-vismo dos instintos estéticos, nenhum.poeta das gerações pre-vedentes é mais atual do que o dos Cantos Meridionais, querpelo individualismo lirico. quer pela mobilidade rítmica da suapoética. A brasilidade em Fagundes Varela resistiu a todos oseonveucionalismos literários, clássicos ou românticos, e por issoo seu renome há de crescer á proporção que se fôr intensificou-do a conciência nacional. Pouco importa que outros tenftamsido mais exímios na estrutura de suas estrofes patrióticas, masverdade è que nenhuma estrofe saiu do nei'o brasiieiro, maisardente, nem mais efusiva, que as do cantor do "Pendao Auri-verde" ,

Diante da natureza dos homens e das coisas de nossa terra, crja(j0 p„r Lúcio dc Mendonça,o flor aberta desse coração generoso, ostenta todo o esplendor ocupado depois por Pedroe toda riqueza virgem do nosso sangue adolescente- T?,t„.,„lr» Ramos loâo

Uma critica impenitente já se deu à deplorável paciência Lessa, Eduardo Kamos joaode esmiuçar as incorreções sintáticas da obra do grande poeta Luiz Alves. Nele senta-se Bojefluminense, esquecendo a linda sentença do Vale Inclan de que Adclmar Tavares, expressão li-"é o verbo de los poetas, como é o de los Santos no requiert de- ^fía ^ p^jj verdadeira ccifrar-se por gramática. Para mover los almas sn essenciaes et ,- j Brasil.milagre musical", e a poesia não foi, em Varela, uma esriWçdo

^^«desnJa ^erisk ter code vaidade, ma, uma ditsina onoiisíia de dfcer musicalmente A Academia deveria ter coioda a vibração de sua alma com sinceridade e oliiornço. memorado no dia 1/ oeste int»

Em face'da manha que, descerrando a cortina da alvorada, _ (ia(a d0 centenário do autoiobre a flor do dia por entre o vozéio dos pássaros, e a alegria jQ ç^„fic0 do Calvário — oopoimeo das coisas, o poeta, como um deus magní/ico, grito no . . A sess5o c0.*o»o da serra o seu hino de catorze versos, na sinceridade b™"» "» v"mais flagrante da lira io seu coração:

DA SILVA(Da Academia Brasileira

de Letras)"E* natural «m culto cada

A. . Tei mais reverente a memória'« artista mve en de Fagundes Varela. Neste ins-"'" tante de verdadeiro^ exame de

conciência étnica, não se com-preenderia que losse olvidadoum dos espíritos mais «pres-sitos de nossas virtualidades Ií-ricas.

A Academia Brasilei-ra e Fagundes

VarelaFagundes Varela é, como sc

sabe, patrono de uma das ca-deiras da Academia Brasileirade Letras. Seu nome resplandesce no jaitleuil n.° 11, que lei

iado |ocup

Uma carta de Fagundes VarelaA carta de Fagundes Varela, reproduzida asbaixo era

"fac-siraile", diz o seguinte:"limo. Sr. coronel F. A. de Almeida. — Meu íilho

morreu apesar de ser assistido por três médicos. Minhamulher talvez, brevemente o acompanhe. Tão profundafoi a minha dor que saí de casa e fui passar o dia em umarrabalde para não vê-lo sair a enterrar!... Está longe omeu amigo Oscar, que deveria levá-lo à pia batismal, eassim me perdoe nada lhe haver comunicado. — V.- S.sabe quanto sofre um pai ferido no coração. As etiquetase cerimônias são para os homens felizes, não para os quepadecem. — Perdôe-me, repito, e à sua exma. familia,traduza e explique as minhas amarguras!... Disponha,sempre do mais submisso criado e amigo, que se honra deassinar-se de V. S. obdo. servo — Luiz N. FagundeiVareta".

Tado é luz e esplendor!... Tudo se es/umaAs caricias da aurora, ao céu risonho,Ao floréu bafo que o sertão perfuma f

Porém minha alma triste, e sem um sonho,Repete, olhando o prado, o rio, a espuma,Oh l mundo encantador I Ti és medonho I"

Nunca ele cantou, sem que lhe fechasse o canto, o arquefoae um soluço. Nunca ele riu, sem que lhe /«ckajseo rtio, o /Iode uma lágrima...

memorativa, porem, ficou trans-ferida para dia de outubro, queserá futuramente anunciado.

Nessa ocasião o sr. AdelmarTavares pronunciará uni estu-do sobre a personalidade do

poeta, estudo que será com-

plcmentar daquele outro em que,no seu discurso de posse naCasa de Machado de Assis, oautor de Noite cheia de estre-Ias já tratou da obra do seu

glorioso patrono.

Thr-m* j^ajMgWjBjj^tjgP j^s^sB^Bjs^s^sKalB^^^si^r^yWll^Hy^-y

Í^SsSÈ^tsK^^^^^yMSrí 9 ;lÉI;1i!:'" i. ¦ l;;

¦ t '. "^^y^' . 'a

.. .s_. &.

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A morte deRabindranath Tagore

Na índia, na cidade de Cal- ração, aquela alegria viva queE' seu ocupante cutà> jaieceUp em dia do come- cesferiu o seu canto uma ma.Adelmar Tavares. ç0 deste més 0 giande poeta nhã de primavera, mandando ã1864 — Falece em Londres Rabindranath Tagore. Era ele sua voz contente através da

depois vila de Rio Claro, noatual Estado do Rio. Luiz Ni-colau Fagundes Varela. E' opatrono da cadeira n. 11, cria-da por Lúcio de Mendonça, eonde sentaram-se depois PedroLessa, Eduardo Ramos e JoãoLuiz Alvesatual o Sr

Manuel Odorico Mendes, patrono da cadeira n. 17 do qua

uma personificação do gênio es-piritualístico da índia dos nos-

1™ Io! c„°"e?p,0„"d„*"„teH;

^oo" sos dias. E sua figura avulta-va, como símbolo daquele pais,ao lado da figura do Mahatma

cera em 24 de Janeiro de 1799em S. Luiz do Maranhão.

1897 — Realisa a Academia asua segunda sessão ordinária,

1907 — A Academia aprova,em redação final, a reformaortográfica, que já fora ante-riormente votada.

Gandi.Tagore tinha 80 anos, pois

nascera em 1861. Em 1913 re-

cem anos.DO GITANJALI

Tua serva, a Morte, bate áminha porta.

Ela atravessou o mar desço-nhecido e veiu á minha casa,trazer o teu chamado.

A noite está escura e meucebera o Prêmio Nobel, e logo coração temeroso; _ contudo,depois fora agraciado com um tomo da lâmpada, franqueo ititulo de nobresa dado pelo rei entrada, e dou-lhe, reverente,

18 DE AGOSTO

1888 — Falece o conselheiroJoão Franklin da Silveira Tavo-ra oficial da Secretaria de Esta-

da InglaterraSua obra é vasta, multiph-

cando-se em dezenas de üviose milhares de versos. Três deseus livros tornaram-se mais

rrimeír„NSSrfo0doTs&t^ ~"c^hâ™a^ souro do meu coração.

Histórico^Geoía.ico^Brasí ^<>ução de Piaçido Barbosa Ela voltara, depois de da:leiro. Nascera no Ceará e tinha ?Pa/eclfda em 1916 * q"e em

ao morrer 46 anos. E* patrono J?*-**» e5tava e"K «uarta ei^"'da cadeira n. 14. que foi cia- ° Jardine-.ro, de que conhece*

as boas vindas. E' a tua mon-sageira que para á minhaporta.

Eu adora-la-ei de mãos pos-tas. entre lágrimas. Adora-la-

depondo a seus pés o te-

da pelo Sr. Clovis Beviláqua.

1» DE AGOSTO

)

1849 — Nasce em Pernambu-co Joaquim Aurélio BarretoNabuco de Araújo. Foi um dosprincipais fundadores da Aca-

, ,„ .„ demia e seu primeiro Secreta- . ,De acordo com Sacramento Bla- tes publicado tio tomo 3.°, pags. 175 , G .. , Escolheu nara seu uma tradução brasileira, feita do; ninguém to verá, se• p Kd.an.rA Cavalheiro nrnnitrza- n IQ-i 11U «cltU* ^-Lumeii paia aeu * „..,„. ..',„• ... .__ ._

Bibliografia de Fagundes Varela

mos uma tradução portuguesa,com o titulo de O Jardinelro

d'Amor, feita por Antônio FI-gueirinhas (Livraria Nacionale Estrangeira, Porto, 19121 auma brasileira, com o tituloO "Jardineiro" devida a Gui-lherme de Almeida (Rio, 19401;O Gitanjali, de que conhecemos

te e Edgard Cavalheiro, organiza- a 194.mos a bibliografia de Fagundes — "Obras completas'' — EdiVarela, gue è a seguinte:"A" — Trabalhos de poesia: de uma noticia biográfica' por Vis-

— "Noturnas": — poesias. São conti COaraci e de utn estudo cri-Paulo, 1861, i7i-8.° — Para obter- tico por Franklin Tavora. 3 volu-se do autor a coleção com este mes. Livraria Garnier editora —titulo foi preciso que um colega Rio — sem data. l.° volume: "Vo-detivesse em sua casa alguns dias, zes da América". "Noturnas

— „„,», ._„.„....., — „„.- patrono o poeta pernambuca- também por Guilherme de Alção organizada,'revista'e precedida no Maciel Monteiro. Na Aca- meida d" edição, S. Paulo,

" "' demia foi substituído por Dan- '""" "* "tas Barreto, que, por sua vez,foi substituído por GregorioFonseca.

oseu recado, deixanco uma som-bra escura na minha manha; cneste lar desolado, só o míserode mim ficará para última ole-renda a ti.

DA LUA CRESCENTEA no'te estava escura quan-

do ele se foi embora; e os ou-tros dormiam.

Também agora está escura anoite, e eu chamo: "Volta. li-lhinho, o mundo está dormin-

vie-

escrevendo o que ele ditava,"O Estandarte auri-verde" —

Cantos sobre a questão anglo-bra«üeira — São Paulo — 1853 — Ti-pografia Imparcial de J $. de Ase-vedo Marques — 24 páginas,"Vozes da America", PoesiasS. Paulo. 1864 in-8.5 — Abre-se olivro com alguns fragmentos deêeu "Mauro'', o escravo: poema— Foi escrito em uma viagem quetle fez pela província de S. Paulo,e em grande parte perdido. Osfragmentos, que ocupam as páginas 1 a 16 do livro, são dos can-tOs: "A sentença", "O suplício",mA vingança'', "Visão". Só a pri-Vieira parte está completa. Fecha-se o volume com outro poema, ts-to è:

"Gualter, o pescador" (a An-tônio Manuel dos Reis) de pági-nas 145 o 167 — "As vozes daAmérica'' tiveram mais duas edi-Ções no mesmo ano, 1876, com o ti-tulo de segunda: uma em S. Paulo . ,tip. "Correio Paulistano", feita por ncaJ. R. de Azevedo Marques de 240pags. in-9.°; outra no Porto, tipo-grafia de Antônio José da SilvaTeixeira, de 275 págs. ín-8.° e comm declaração de "segunda ediçãocorreta e aumentada". E, com efei-to, da página 209 a 245. sob o ti-tulo de "Poesias inéditas", acham-te mais composições novas que são:"Invocação" — "A escrava" —"Beatriz Henriques" — "Surpre-presa' — "Elegia" — "Solau" —"Harmonicorãio"oa" — "Canto'*

Penâão Anri-verde", "Cantosreligiosos e avulsos''; 2.° volume;"Cantos e Faritasias, "Contos Me-ridionais'' e "Contos do Ormo eda Cidade"; 3.° volume: "Anchie-ta" ou "O Evangelho nas Selvase "Diário dc Lázaro'328 fase."B" — Trabalhos em prosa:"Ruínas da Glória", conto —No "Correio Paulistano», 1861.

"Estiier"; conto — Idem."Inah": conto — Idem.

"As Bruras" (crenças populares).

HA Guarida de Pedra {cren-oas populares),"O drama moderno** {criti-ai).

~ "Acusmatas" {folhas de umlivro),

"Recordações de viagem (fan-tasta).

"Palavras de um Cuco"."A comédia do ridículo".

30 DE AGOSTO

1835 — Falece nesta cidadeo Visconde de Cairú. E' o pa-trono da cadeira n. 20 do qua-285. 331 e dj-Q dQs correspondentes. Nas-cera em S. Salvador, Baia, a16 de Julho de 1756. Na ca-deira de que é patrono sen-tou-se primeiramente Tcodo-ro Mommsen, e depois GoranBjorkman. E' seu atual ocu-pante o Sr. Alexandre Conty,ex-embaixador da França noRio.

1910 — São eleitos membroscorrespondentes da Academiaos escritores portuguezes Con-de Monsaraz, Cândido de Fi-gueiredo, Gonçalves Viana, An-tonio Correia de Oliveira, e o

Por

res por um momento, enquau-to as estrelas cintilam umas

1932, 2.* edição, R'0, 1940). para as outras".Esta última obra foi traduzi- Ele se foi embora pela pri-da para o francês por André Gi- mavera juvenil, quando as ur-de, com o titulo de I/Offrande vores se abr'--^ em botões.Lirique. Agora as flores estão cresci-

DO JARDINEIRO das-e viçosas, e eu chamo:Quem serás tu, leitor, que lês "Volta, fühinho, as crianca.s co-

os meus poemas, a cem anos lhem e jogam flores, nos seusde distânciaâ folguedos inocentes; e .se vie-

Da riqueza desta primavera res, e apanhares uma pequem-eu nào te posso enviar nem na flor, ninguém dará por is-uma só flor, nem uma só estriade ouro daquelas nuvens lon-gínquas.

Abre as tuas janelas e olhapara fora.

No teu jardim florescente co-lhe a memória flagrante dasflores murchas ha cem anospassados.

Sente, na alegria do teu co-

Os que costumavam brincarestão ainda brincando, tão des-cuidada é a vida.

Eu lhe ouço a tagareliee, echamo: "Volta, fühinho, o co-ração de tua mãe transborda deamor, e se vieres depressa dar-lhe trai beijo, um só, ninguémte verá".

S* « '"Vozes

da Amé suec0 po^an Bjorlçiria.ii

proposta de Salvador de Men"A quem les (introdução do"Estandarte Auri-verde"),"Dedicatória" — em "Notur-

nas"."Dedicaiort«" — em "Cantos

e Fantasias".Prefácio ás "Peregrinas", de

Otaviano Hudson.Prefácio de "Flores sem chel

A opinião de Murilo Mendessobre Fagundes Varela

Fagundes Varela, a meu ver, conciliou a vida inte-rior com a exterior, isto é, viveu a sua poesia, sem fazerconcessões.

Tal exemplo deve ser constantemente lembrado

donça fica fixado no máximode 10 o numero de correspon-dentes portugueses.

1918 — Falece Alcindo Gua- . .nabara. Na Academia fundara numa época de tantas transigencias.a cadeira n. 19, que tem comopatrono Joaquim Caetano. Foi

"Veltw, canção""Canção"-Elegia".

"Cantos e Fantasias" — Poe-«as — são Paulo — 1365 — Ga-nauj-, de Lailhacas & Cia., Edito-res — Com prefácio de José Fer-reira de Menezes, 793 págs. Este It-vro é dividido em tres partes: '-Ju-penilia", "Livro das Sombras"€ "Melodia do estio".

"Cantos meridionais**. SãoPaulo, 1365, in-8." — Houve se-çunda edição, Rio de Janeiro, 1869,174 págs. in-8.°.

Cantos do ermo e da cidad*.Paris, 192, págs. in-8.0.

*>", de José Ferreira ie Meneses, substituído por D. Silverio Go-—- mes Pimenta, que, por sua vez

. ^„,„„ — A,ém tes**' livros, há de Varela, f0[ substituído pelo Sr. Gus-"Canção làgi- tmrdada no arquivo ia Academia, t Barroso."Armas'' — ° d™""* em tres atos — "A morte "a*w—, do capitão mor"_

Ha informação de gue a Livra-ria Coutinho publicara, em 1870,o drama "Baltazar", 'ambéni daautoria de Fagundes Varela.

21 OE AGOSTO

Considero Fagundes Varela um dos maiores poetoudo Brasil, dos mais autênticos. Através dos anos, a"Cântico do Calvário" por exemplo, tem se mantido na

minha admiração, sem descair.E' um monumento imperecivel.

A morte do Padre Antônio Tomaz1882 — Falece Artur de Oli- Faleceu, há pouco, o Padre Antônio Tomaz, autor de um dos mau

veira, profesor de Portuguez famosos sonetos brasileiros. Ele nascera em Acará, Ceará, a 14 acHistoria Literária no Imperial setembro de 1868. sendo filho de Gil Tomaz Lourenço e de D. Fun-Colégio de D. Pedro II e len- cisca Laurinda da Frota. Em Sobral cursara as aulas de Latim ate da Escola Normal. E' patro- Fraucés, terminando os -estudos no Seminário. A 6 de dezembro denn ria raripim n i mi*» t<»m 1881 recebia o presbiterato. Foi vigário de Trairi e de Acaraú, rir-ií.™rf„„Ho^™ íi. '-íSÍL íi »*»"> 1° Instituto Histórico do Ceará.como fundador o Sr. Filinto de 0 Padre Antonio Tomaz escrevi» muito, embora, talvez por falttAlmeida. de estímulo, pouco se preocupasse em puhlicar o que escrevia, pai eco

1837 Falece no Rio Victor t'ue nunca publicou livro, sendo seus trabalhos só conhecidos de j--r-Viana Nascera ne-sla mesma nals e üe uma ou outra «Vista.

,„„„ „ , *„ ,„ V?na* na„,ra „sla •™---snV*L Um dos seus sonetos logrou especial êxito, tornando-se célcure1900 — Falece, em Neuilly, cidade em 23 de Dezembro de quasi tanto quanto as Pombas ou as Virfens M.rU». E- o Contra*.— cavtoao caivarw. Rio ie França, Eça de Queiroz. Foi 1881. Era funcionário público que eslá recolhido ao volume dos Sonetos Brasileiros de Laudelinojaneiro, 1869 — E vma compasi* um ,j0 primeiros membros cor- e redator-chefe do Jornal do Freire. Eis a obra-prima do padre Antonio Tomaz:Sol %a\tíòCsa? lantasZ"»

" respondentes que a Academia Comercio. Na Academia entrou«,-„,.i,*„f,, „„ „ r™„-lii,» elegeu, e sua eleição realizou- para a cadeira n. 12, na vaga,

.eivasT^^WnJZ. » » » *> Outubro de !898 de Augusto de Lima^oi suba-1875, in-12.0 — A impressão deste tendo ele obtido 9 votos. Foi tituido pelo Sr. J. C. de Ma-Uvrò foi concluída depois da mor- o primeiro correspondente que cedo Soares.te tto autor. E' um poema em 10 morreu. Na Academia foi subs-

Efeméridesda Academia

16 DE AGOSTO

contos, de 337 pijs.. a cjue areca- tituido por Carlos Malhelroúem 35 págs. de frontespício, de- jjia_elaracõo do editor e de noticias .„.'- _,, ...bioe/ri/icas de Ferreira de Menezes J9}3

— E "d° ™ sessão um• ío "Anglo Brasilian Times-. oficio da Academia de Scien-

"Cantos religiosos". Rio de cias de Lisboa sobre a fixaçãoJaneiro. 1878, ín-8." — £' ouíro* da ortografia entre as ctuaspublicação póstuma de poesias re- instituições. — Sousa Band.-i-lígiosas ae Fagundes varela e suairmã Ernestina Fagundes Varela.

"O Diário ãe Lázaro": poe-meto. Rio de Janeiro, 1830, in-8.9.M* uma edição rfc 500 exemplarei,precedida ão retrato do autor e ãeum estudo critico pelo dr. FranklinTavora e publicado pela redação ãa"Revista Brasileira"» onde foi an-

ra lembra a necessidade daaquisição, por parte da Aca- ,,. . ... .demia, do sabugueiro de Rai- vlan0* Ah substituiu a Çran-

22 DE AGOSTO

1904 — Falece Martins Ju-nior. Nascera no Recife, em 24de Novembro de 1800. Foi o45° membro da Academia. Ocu-pou a cadeira n.° 13, que temcomo patrono Francisco Ota-

Quanto partimos no vigor dos anos,Oa vida pela estrada, florescente.As Esperanças vão conosco à frenteE vão ficando atras os Desenganos.

Rindo e cantando, céleres e ufanos.Vamos marchando descuidosamente...Eis que chega a velhice de repente,Desfazendo ilusões, matando enganos...

Então nôs enxergamos claramente.Quanto a existência é rápida e falaz,E vemos que sucede exatamente

O contrário cios tempos de rapaz:Os Desenganos vão conosco ã frente¦fi as Esperanças vão ficando atrás.

mundo Correia17 DE AGOSTO

cisco de Castro. Foi substitui- Esse -suave e maguado poeta acaba de desaparecer. Os seus ad-cio por Sousa Bandeira, que, miradores, principalmente os filhos do Ceará, deveriam agora rccrI!^rnor sua vez foi substituído De- piedosamente tudo o que ele deixou, e organizar com essa produção

1011 Ma,-a «„ frn»Mtt»t. í« c tj«ií« t«w„ „t,.„i „„.. esparsa o volume ou os volumes, de certo meritórtos, que o Pad^e«.^L7 £Ww, L wg2 ^

S/- «ello Lobo, atual ocu- A^ni0 Tomaz, ^ um excess0 de eacsmUuk)n nàtúi*. nunca *de Nossa Senhora da Piedade, pante da cadeira. dispo» a organizar por si mesmo.