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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA EM MATÉRIA AMBIENTAL ANTONIONI LUCAS COSTA MAGALHÃES Itajaí, 22 de maio de 2009

A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA EM …siaibib01.univali.br/pdf/Antonioni Lucas Costa Magalhaes.pdf · pela norma penal.10 Tipicidade O juízo de tipicidade consiste em

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA EM MATÉRIA AMBIENTAL

ANTONIONI LUCAS COSTA MAGALHÃES

Itajaí, 22 de maio de 2009

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA EM MATÉRIA AMBIENTAL

ANTONIONI LUCAS COSTA MAGALHÃES

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel

em Direito. Orientador: Professor Mestre Mauro Ferrandin

Itajaí, 22 de maio de 2009.

AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me acompanhado nos mais escuros

e tortuosos caminhos;

Aos meus pais Edson Magalhães e Doraci Lucas

Costa Magalhães, por todo amor e carinho oferecido

em todos os momentos da minha vida;

Ao meu irmão, Mauricio Lucas Costa Magalhães,

antes de tudo, meu melhor amigo e fiel

companheiro;

A minha noiva Pamela Vanessa Batista, que com

todo o seu amor e compreensão sempre me fez ver

o lado bom de tudo;

A minha amiga Mariana Pirog, e seus preciosos

ensinamentos jurídicos;

Ao meu orientador Mestre Mauro Ferrandin, cuja

orientação na pesquisa deste trabalho foi

inestimável.

DEDICATÓRIA

As vidas de todos os grandes homens lembram que

podemos tornar as nossas vidas sublimes e

chegarmos a lugares onde jamais poderíamos

imaginar que chegaríamos, contudo, mesmo

ascendendo ao postos mais altos, jamais devemos

esquecer quem somos, e de onde viemos, portanto,

dedico esse trabalho monográfico aos meus pais

Edson Magalhães e Doraci Lucas Costa Magalhães,

dos seus mais valiosos ensinamentos, me

ensinaram como um homem correto deve proceder.

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí, a

coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e

qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, 3 de novembro de 2009

Antonioni Lucas Costa Magalhães Graduando

6

PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do

Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Antonioni Lucas Costa Magalhães, sob o

título A Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica em Matéria Ambiental, foi

submetida em 20 de novembro de 2009 à banca examinadora composta pelos

seguintes professores: Msc. Mauro Ferrandin (Presidente e Orientador) e Msc. Graziele

Xavier (Examinadora), e aprovada com a nota 10,00 (dez).

Itajaí, 20 novembro de 2009.

Professor Mestre Mauro Ferrandin Orientador e Presidente da Banca

Professor Mestre Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

7

ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ART Artigo

ARTS. Artigos

CC Código Civil

CNUMAD Conferencia das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

CP Código Penal

CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

DES. Desembargador

ED. Edição

EIA Estudo de Impacto Ambiental

MA Meio Ambiente

Nº Número

P. Página

PNMA Política Nacional do Meio Ambiente

PPP Princípio do Poluidor Pagador

REL. Relator

VOL. Volume

8

ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Crime

Aquele em que a conduta humana é típica, antijurídica e culpável1

Conduta

A conduta realizadora de um tipo penal passou a ser entendida como a ação ou

omissão conscientemente dirigida a um fim. A vontade humana sempre visa a um fim e,

se a vontade é querer, querer é sempre um querer alguma coisa, conscientemente

desejada [...].2

Desconsideração da pessoa jurídica

A teoria da desconsideração da pessoa jurídica é um remédio jurídico que possibilita

aos magistrados prescindirem da estrutura formal da pessoa jurídica para tornar a sua

existência autônoma, como sujeito de direitos, ineficaz em uma situação particular.

Freqüentemente se faz mau uso do ente abstrato pelas pessoas naturais que a

constituem e, justamente para coibir os abusos e fraudes cometidas através da pessoa

jurídica, que foi criado tal remédio.3

Imputabilidade

A imputabilidade torna o agente responsável pela prática do crime, sujeitando-o à

imposição da pena, desde que presentes os elementos da culpabilidade. No direito

penal, o fundamento da imputabilidade é a capacidade de entender e de querer. [...] O

seu reconhecimento depende da aptidão para conhecer a ilicitude do fato e determinar-

se segundo esse entendimento. A capacidade de entender o caráter criminoso traduz-

1 SILVA, Ronaldo. Direito Penal: Parte Geral. Florianópolis: Momento Atual, 2002, p.74.

2 LEAL, João Leal. Direito Penal Geral. São Paulo: Atlas S.A., 1.998, p. 188-189.

3 CEOLINI, Ana Caroline Santos. Abusos na aplicação da teoria da desconsideração da pessoa jurídica. Belo Horizonte: Del Rey, 2002, p. 1-2.

9

se apenas na possibilidade de o agente compreender que a sua conduta viola a ordem

jurídica.4

Meio Ambiente

É, assim, a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que

propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas e por isso é

que a preservação, a recuperação e a revitalização do meio ambiente há de constituir

uma preocupação do Poder Público e, conseqüentemente do direito, porque ele forma a

ambiência na qual se move, se desenvolve, atua e se expande a vida humana.5

Nexo de Causalidade

Nos fatos definidos como crime, em que, além da conduta, se exige a produção de um

resultado, é imprescindível que entre o comportamento humano e o resultado verificado

exista relação de causa e efeito, a fim de que se possa atribuí-lo ao agente da conduta.

A conduta deve ser a causa do resultado; este, a sua conseqüência. É de toda

obviedade, pois, que não se pode atribuir ou imputar a alguém a responsabilidade por

algo que não produziu.6

Pena

É uma sanção aflitiva imposta pelo Estado, através da ação penal, ao autor de uma

infração (penal), como retribuição de seu ato ilícito, consistente na diminuição de um

bem jurídico e cujo fim é evitar novos delitos.7

Pessoa Jurídica

Grupos humanos, criados na forma da lei, e dotado de personalidade jurídica própria,

para a realização de fins comuns. 8

4 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito Penal: Parte Geral. São Paulo: Saraiva, Vol. I, 1.999, p. 291

5 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 4ª ed. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 20.

6 TELES, Ney Moura. Direito Penal: Parte Geral – I, Arts. 1º \ 31 do Código Penal. 1º vol. 2ª ed. atualizada até setembro de 1.997. São Paulo: Atlas, 1.998. p. 177

7 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal: Parte Geral, arts. 1º a 120 do CP. São Paulo: Atlas S.A., 20 ed. Revista e atualizada até 1º de julho de 2003, p. 246.

10

Responsabilidade

Obrigação geral de responder pelas consequências dos próprios ou de outros perante

um terceiro que foi lesionado por tais atos. Deriva etimologicamente do latim responsus

do verbo respondare (responder, afiançar, prometer, pagar), que transmite a idéia de

alguém reparar, recuperar, compensar, ou pagar pelo que fez. 9

Resultado

Resultado deve ser entendido como lesão ou perigo de lesão de um interesse protegido

pela norma penal.10

Tipicidade

O juízo de tipicidade consiste em verificar se determinado comportamento humano se

enquadra perfeitamente na definição legal de crime. Por isso, a tipicidade, foi definida

como a conformidade do fato àquela imagem diretriz traçada na lei, ou seja, é a

condição de que deve revestir-se o fato para realizar concretamente o tipo legal, ou

ainda, é a correspondência entre o fato praticado pelo agente e a descrição de cada

espécie de infração contida na lei penal incriminadora.11

8 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA Filho, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil: Parte Geral. 7ª ed. vol. 1. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 205.

9 MOUNDJIAN, Rafael Garabed. Direito Ambiental. ARAÚJO, Gisele Ferreira (Org.) São Paulo: Atlas, 2008, p 118.

10 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal: Parte Geral, arts. 1º a 120 do CP, p. 110.

11 LEAL, João José. Direito Penal Geral. p. 233.

11

SUMÁRIO

RESUMO..........................................................................................XIII

INTRODUÇÃO .................................................................................. 14

CAPÍTULO 1 ..................................................................................... 17

ASPECTOS GERAIS SOBRE O MEIO AMBIENTE ......................... 17

1.1 CONCEITO DE MEIO AMBIENTE ................................................................. 18

1.1.1 CLASSIFICAÇÃO DA EXPRESSÃO MEIO AMBIENTE .............................................. 21 1.2 EVOLUÇÃO NORMATIVA DA PROTEÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL ...... 23 1.2.1 PERÍODO COLONIAL ....................................................................................... 23 1.2.2 PERÍODO IMPERIAL ......................................................................................... 26 1.2.3 PERÍODO REPUBLICANO ................................................................................. 27 1.3 INFLUENCIAS INTERNACIONAIS NO DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO ................................................................................. 29 1.3.1 A CONFERENCIA DE ESTOCOLMO .................................................................... 30 1.3.2 A CONFERÊNCIA DO RIO DE JANEIRO............................................................... 32 1.4 PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DO MEIO AMBIENTE .............................. 32 1.4.1 A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988................... 33 1.4.2 ASPECTOS GERAIS DA CONSTITUIÇÃO DE 1988 EM RELAÇÃO AO MEIO AMBIENTE ............................................................................. 33 1.4.3 O ART. 225 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 ............................................................................ 38 1.5 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS INERENTES À PROTEÇÃO AMBIENTAL ............................................................................... 40 1.5.1 NATUREZA DOS PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL ......................................... 41 1.5.2 PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO ............................................................................. 42 1.5.3 PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO ............................................................................. 45 1.5.4 PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR ................................................................ 46 1.5.5 PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE .................................................................. 49

CAPÍTULO 2 ..................................................................................... 51

DISPOSIÇÕES GERAIS SOBRE A PESSOA JURÍDICA E SUA RESPONSABILIDADE EM MATÉRIA AMBIENTAL ........................ 51

2.1 ASPECTOS GERAIS DA PESSOA JURÍDICA: ORIGEM E CONCEITO ..... 51

2.1.1 CLASSIFICAÇÃO DAS PESSOAS JURÍDICAS ....................................................... 52 2.1.1.1 Pessoas jurídicas de direito privado ................................................................53 2.1.1.2 Pessoas jurídicas de direito público ................................................................53 2.1.1.2.1 Pessoas jurídicas de direito público interno.......................................................54 2.1.1.2.2 Pessoas jurídicas de direito público externo ......................................................54 2.1.1.3 Diferenças entre pessoa jurídicas de direito privado e de direito público ....55

2.1.2 NASCIMENTO E EXTINÇÃO DA PESSOA JURÍDICA ............................................... 55

12

2.1.3 DESCONSIDERAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA ....................................................... 56 2.2 ASPECTOS GERAIS SOBRE A RESPONSABILIDADE DA PESSOA JURÍDICA EM MATÉRIA AMBIENTAL ............................................................... 59 2.2.1 RESPONSABILIDADE ADMINSTRATIVA............................................................... 60 2.2.2 RESPONSABILIDADE CIVIL .............................................................................. 61 2.2.3 RESPONSABILIDADE PENAL ............................................................................ 64 2.2.3.1 A CRFB/88 e a responsabilidade penal ambiental ...........................................64 2.2.3.2 Finalidade da proteção: Tutela penal ...............................................................66 2.2.3.3 A responsabilidade penal coletiva ....................................................................72 2.2.3.3.1 Teoria da ficção: Savigny ..................................................................................73 2.2.3.3.2 Toria da Realidade: Gierke ...............................................................................75

CAPÍTULO 3 ..................................................................................... 78

RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA E A LEI DE CRIMES AMBIENTAIS – 9.605/98 .................................................... 78

3.1 RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA E A LEI DE CRIMES AMBIENTAIS - 9.605/98. ..................................................................................... 79

3.1.1 REQUISITOS LEGAIS PARA O RECONHECIMENTO DA RESPONSABILIDADE PENAL DA

PESSOA JURÍDICA ................................................................................................... 79 3.1.2 RESPONSABILIDADE PENAL DAS PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO ......... 81 3.2 DAS PENAS SOBREPOSTAS À PESSOA JURÍDICA EM FACE DE UMA TRANSGRESSÃO PENAL AMBIENTAL ............................................................ 86 3.2.1 CONCEITO DE PENA ........................................................................................ 86 3.2.2 ASPECTOS GERAIS DAS PENAS APLICÁVEIS À PESSOA JURÍDICA ........................ 88 3.2.3 TIPOS DE PENA APLICÁVEIS À PESSOA JURÍDICA NA ESFERA AMBIENTAL ............ 89 3.2.3.1 A pena de multa cominada à pessoa jurídica ..................................................89 3.2.3.2 As penas restritivas de direitos cominadas à pessoa jurídica .......................92 3.2.3.2.1 Suspensão parcial ou total das atividades ........................................................92 3.2.3.2.2 Interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade ............................93 3.2.3.2.3 Proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações ..................................................................................................95 3.2.3.3 A pena de prestação de serviços à comunidade cominada à pessoa jurídica ..........................................................................................96 3.2.3.4 A perda de bens e valores cominada à pessoa jurídica ..................................98

3.3 POSICIONAMENTOS CONTRÁRIOS E FAVORÁVEIS A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA ................................... 99 3.3.1 POSICIONAMENTOS DOUTRINÁRIOS ................................................................. 99 3.3.2 POSICIONAMENTOS JURISPRUDENCIAIS ......................................................... 104

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................ 108

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ......................................... 111

13

RESUMO

Cada vez mais a questão ambiental vem sendo tema cotidiano de diversas discussões, em face da desmedida e desenfreada forma com a qual a humanidade tem degradado o meio ambiente, pouco se preocupando com o futuro do planeta e com o bem estar das presentes e futuras gerações. Nesse contexto, pode-se dizer que um dos principais causadores dos danos ambientais são as pessoas jurídicas que, deixando de serem punidas na esfera penal por transgressões contra o meio ambiente, se utilizam desse subterfúgio para cometerem novos delitos na esfera ambiental. Devido à importância desse tema e frente a grande discussão que o envolve, a presente monografia trata da responsabilidade penal da pessoa jurídica em matéria ambiental, que surgiu para dar maior eficácia à preservação do meio ambiente, eis que além da pessoa física, a CRFB/88 e a Lei 9.605 de 12 de fevereiro de 1998, prevêem que a jurídica também pode ser punida penalmente.

14

INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto investigar a possibilidade

de se responsabilizar penalmente a pessoa jurídica por crimes cometidos contra o meio

ambiente, com fundamento nas previsões legais, constitucionais e nos princípios que

norteiam o Direito Penal e Direito Ambiental.

Por isso, seus objetivos são: institucional – produzir uma

monografia para obtenção do título de bacharel em direito pela Universidade do Vale do

Itajaí; geral – contribuir no aprimoramento a respeito da matéria em questão; específico

– demonstrar a possibilidade de responsabilizar penalmente as pessoas jurídicas de

direito público e privado, caracterizando, por conseguinte, uma forma de

responsabilidade inquestionavelmente constitucional.

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, apresentando os conceitos

legal, técnico e doutrinário de meio. Em seguida é apresentada a evolução histórico-

normativa da proteção ambiental no Brasil e as influências internacionais que

contribuíram para este enriquecimento. Por fim, são relacionados os dispositivos

constitucionais que garantem a proteção do MA e os princípios basilares que regem a

tutela penal ambiental.

No Capítulo 2, são abordadas as disposições gerais concernentes

à pessoa jurídica, seu conceito, sua classificação e término. Outro ponto a ser

delineado nesse capítulo, de fundamental importância para a pesquisa, é o da

desconsideração da pessoa jurídica, principalmente no que diz respeito ao que está

definido no art. 4º da Lei 9.605/98.

Ainda nesse capítulo serão apresentados os tipos de

responsabilidade que a pessoa jurídica está sujeita em matéria ambiental, com maior

ênfase no que concerne à responsabilidade penal. Também será delineado o que vem

a ser a imputabilidade penal, instituto de suma importância, que muito se confunde com

a responsabilidade penal.

15

Por derradeiro, serão apresentadas as duas teorias que tentam

explicar a possibilidade, do ente coletivo ser responsabilizado penalmente (de acordo

com o pensamento de Savigny – Teoria da Ficção – e de Gierke – Teoria da

Realidade).

No Capítulo 3 delinear-se-á a Lei 9.605/98 como instrumento de

defesa do MA, sua origem constitucional, principalmente naquilo que concerne à

responsabilidade penal do ente fictício.

Verificar-se-á, ainda, a pena a ser aplicada à pessoa jurídica, tudo

em conformidade com o que está previsto na Lei 9.605/98 e sua eficácia no combate

aos crimes praticados por essas organizações. De outro tanto, serão observados os

requisitos legais para o reconhecimento da responsabilidade penal da pessoa jurídica.

Para finalizar, serão apresentados os posicionamentos contrários

e favoráveis a responsabilização penal da pessoa jurídica, tanto na doutrina, quanto na

jurisprudência.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos destacados,

seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre a

responsabilidade penal da pessoa jurídica em matéria ambiental.

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

hipóteses:

A legislação vigente, a doutrina e a jurisprudência admitem a

possibilidade da pessoa jurídica figurar como agente ativo de um delito cometido contra

o meio ambiente. Destarte, admitem que o ente coletivo também pode ser

responsabilizado penalmente por tanto.

A responsabilidade penal da pessoa jurídica é objetiva, na

qual o agente responde pelo simples fato de ter causado materialmente o evento,

16

independentemente de culpa ou dolo, como é o caso dos atos praticados contra o meio

ambiente, uma vez que o Direito Ambiental adota a responsabilidade objetiva.

A pessoa jurídica de direito público interno responde

penalmente na mesma proporção que a pessoa jurídica de direito privado, quando

comete delitos contra o meio ambiente.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de

Investigação12 foi utilizado o Método Indutivo13, na Fase de Tratamento de Dados o

Método Cartesiano14, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente Monografia é

composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Técnicas do

Referente15, da Categoria16, do Conceito Operacional17 e da Pesquisa Bibliográfica18.

12

“[...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente estabelecido[...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. 10 ed. Florianópolis: OAB-SC editora, 2007. p. 101.

13 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 104.

14 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar e avaliar) veja LEITE, Eduardo de oliveira. A monografia jurídica. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 22-26.

15 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa”.PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 62.

16 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia”.PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 31.

17 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 45.

18 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 239.

17

CAPÍTULO 1

ASPECTOS GERAIS SOBRE MEIO AMBIENTE

No início do século XX, o mundo se encontrava em grande

crescimento econômico, científico e industrial. Esse avaço tecnológico, até então nunca

visto, criou um sentimento geral de prosperidade infinita. Inconscientemente,

acreditava-se que os recursos naturais do planeta jamais teriam fim.

Desse modo, extraía-se do MA tudo o que fosse necessário à

demanda do progresso sem qualquer preocupação. Da mesma forma, pouco se

importava com os resíduos oriundos do processo de produção. A natureza era

considerada uma enorme fonte de matéria-prima que jamais teria fim. A evolução do

mundo, de muitas formas, era abalizada na degradação do MA.

Com o decorrer dos anos, as catástrofes ambientais, as mudanças

climáticas e os discursos relativos às limitações dos recursos naturais fizeram a

comunidade mundial repensar sua visão em relação ao MA. Não adiantava atingir o

ápice do desenvolvimento econômico se a existência do planeta estava sendo

ameaçada no decorrer do processo.

Foi por meio dessa nova perspectiva, que a legislação ambiental

brasileira, até então utilitária 19, sofreu modificações, passando a ter um caráter

protecionista 20, a fim de garantir que o MA e o crescimento econômico pudessem

coexistir de forma sustentável, assegurando assim, o acesso dos recursos naturais às

futuras gerações. É essa evolução normativa e principiológica que será demonstrada no

primeiro capítulo do presente trabalho monográfico.

19

MOUNDJIAN, Rafael Garabed. Direito Ambiental. p 29-30.

20 MOUNDJIAN, Rafael Garabed. Direito Ambiental. p 29-30.

18

1.1 CONCEITO DE MEIO AMBIENTE

Antes de demonstrar a evolução dos preceitos jurídicos

ambientais no direito brasileiro, necessário se faz uma ilustração do conceito de meio

ambiente.

O conceito normativo de MA encontra-se estabelecido no art. 3º

da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio

Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação e dá outras providências.

A Lei ordinária define MA como:

Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; ·.

[...]

Em linguagem técnica, o MA é postulado como sendo “a

combinação de todas as coisas e fatores externos ao indivíduo ou população de

indivíduos em questão”. 21

Para Édis Milaré 22, MA nada mais é, senão:

O conjunto de relações entre o mundo natural e o homem, que influem sobremodo em sua vida e comportamento. O meio ambiente, promovido à categoria de bem jurídico, essencial à vida, à saúde e a felicidade do homem, é objeto de uma disciplina autônoma, a Ecologia.

Paulo de Bessa Antunes 23 critica o conceito estabelecido no art.

3º da PNMA, afirmando que:

21

MOUNDJIAN, Rafael Garabed. Direito Ambiental. p 33.

22 COSTA JR, Paulo José da; MILARÉ, Édis. Direito Penal Ambiental: Comentários a Lei nº 9605/98. Capinas: Millenium, 2002, p. 2.

23 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 11ª ed. ampl. ref. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008, p. 65.

19

O conceito estabelecido na PNMA merece crítica, pois, como se pode perceber, o seu conteúdo não está voltado para um aspecto fundamental do problema ambiental, que é, exatamente o aspecto humano. A definição legal, considera o meio ambiente do ponto de vista puramente biológico e não do ponto de vista social que, no caso, é fundamental, Entretanto, não se deve passar sem registro o fato de que no contexto da Lei nº 6.938/81, a proteção do meio ambiente era considerado como uma forma de proteção da saúde humana. E não como um bem merecedor de tutela autônoma.

Para o doutrinador, a CRFB/88 elevou o MA à condição de direito

de todos e bem de uso comum do povo, modificando o conceito jurídico de MA, tal

como ele estava definido pela Lei da Política Nacional de Meio Ambiente.24

José Afonso da Silva traz um outro conceito importante de MA,

afirmando tratar-se do “conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que

propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas”. 25 Este

conceito é voltado à interação das três espécies de ambiente, assim classificadas pela

doutrina clássica.

Como se vê, a conceituação legal e doutrinária de MA é ampla e,

frise-se, diversa, não se limitando à relação entre o ambiente e o homem, mas sim a

todas as formas de vida.

Realizando uma abordagem mais didática, verifica-se que o MA é

objeto de uma disciplina autônoma, denominada Ecologia. A Ecologia, por sua vez, é

definida no Dicionário Riddel, como sendo “parte da biologia que estuda as relações

entre os seres vivos e o ambiente”. 26

A palavra “ecologia” surgiu em 1866, quando o biólogo alemão

Hernest Haeckel, em sua obra Morfologia Geral dos Organismos, propôs a criação de

uma nova e modesta disciplina científica, ligada ao campo da biologia, que teria por

função estudar as relações entre as espécies animais e o seu ambiente orgânico e

24

ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p. 65.

25 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. p. 20.

26 ROSA, Ubiratan. Dicionário Rideel: Língua Portuguesa. 1ª ed. São Paulo: Rideel, 2000, p. 99.

20

inorgânico. Para denominá-la ele utilizou a palavra grega oikos (casa) e logos (ciência)

e assim cunhou o termo “Ecologia” (ciência da casa). 27

Por sua vez, a expressão “meio ambiente”, apareceu pela primeira

vez, quando utilizada pelo naturalista francês Geoffroy de Saint-Hilare em sua obra de

1835, Études progressives d’un naturaliste, sendo reconhecida por Auguste Comte em

seu Curso de Filosofia Positiva”.28

Sobre a universalização da expressão MA Cristiane Derani29

afirma que:

A possível universalização do conceito de meio ambiente deve-se ao fato de que as sociedades contemporâneas estão, de certo modo, unificadas culturalmente, sobretudo motivadas pela unificação da produção (produção internacionalizada), o que nivela a cultura – das sociedades que integram o mercado mundial.

Parte da doutrina tece considerações críticas a expressão “meio

ambiente”, indicando a existência de um pleonasmo. Guilherme de Souza Nucci refere-

se ao tema aduzindo que “bastaria dizer ‘ambiente‟, que seria o local onde habitam os

seres vivos, sendo que „meio‟ é aquilo que está no centro de alguma coisa”. 30

Semelhante é o entendimento de Paulo Affonso Leme Machado 31,

que aduz:

[...] a expressão meio ambiente, embora seja bem sonante, não é, contudo, a mais correta, isto porque envolve em si mesma um pleonasmo. O que acontece é que ambiente e meio são sinônimos, porque meio é precisamente aquilo que envolve, ou seja, o ambiente.

Nesse mesmo sentido afirma Luís Paulo Sirvinskas32:

27

SALGE JR, Durval. Instituição do Bem Ambiental No Brasil, Pela Constituição Federal de 1988, Seus Reflexos Jurídicos Ante os Bens da União. 1ª ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003, p. 73.

28 MOUNDJIAN, Rafael Garabed. Direito Ambiental. p 33.

29 DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 52.

30 NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 3ª ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 830.

31 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 16ª ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Malheiros, 2008, p. 136.

21

O termo “meio ambiente” é criticado pela doutrina, pois meio é aquilo que está no centro de alguma coisa. Ambiente indica o lugar ou área onde habitam os seres vivos. Assim, na palavra “ambiente” está também inserido o conceito de meio.

Nada obstante, optou-se pela utilização da expressão “meio

ambiente” no presente trabalho monográfico, haja vista ter sido consagrada pela

literatura nacional, bem como pelas doutrina, jurisprudência e, inclusive na linguagem

popular, sendo até mesmo utilizada pelo legislador na redação da Carta Magna de

1988. Essa também é a posição defendida por Luís Paulo Sirvinskas.33

1.1.1 Classificação de meio ambiente

O MA envolve três modos de ser, considerados pela doutrina

tradicional como classes do meio ambiente. 34

Utilizando esta perspectiva, Fernando Capez 35 classifica o MA da

seguinte forma:

Primeiramente, tem-se o meio ambiente natural, é aquele que existe por si só, independentemente da influência do homem. Exemplo: a atmosfera, a água (rios, mares, lagos etc.) a flora, a fauna, o solo. […]. Em seguida, vem a segunda modalidade de meio ambiente, sendo esta o meio ambiente artificial. Decorre da ação humana. Exemplo: conjunto de edificações, prédios, fábricas, casas, praças, ruas, jardins, o meio ambiente do trabalho, enfim, tudo o que é construído pelo homem. (Obs.: mesmo que se localizem no meio de uma mata, por exemplo, serão considerados parte do meio ambiente artificial, visto que decorrem de intervenção humana no meio ambiente natural.). […]. Por fim, tem-se a ultima conhecida no meio doutrinário, sendo ela o meio ambiente cultural. É constituído pelo patrimônio arqueológico, artístico, turístico, histórico, paisagístico, monumental etc. Também decorre da ação humana, que atribui valores especiais a determinados bens do patrimônio cultural do País.

32

SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de Direito Ambiental. 6ª ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. 36

33 SIRVINSKAS, Luís Paulo. Tutela Penal do Meio Ambiente: Breves Considerações atinentes à Lei nº 9.605 de 12-2-1998. p. 9.

34 MOUNDJIAN, Rafael Garabed. Direito Ambiental. p 30.

35 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. p. 46.

22

Nesse mister é o entendimento de Édis Milaré 36, ainda que

genérico, senão vejamos:

São apontadas três classes ou espécies de meio ambiente: o meio ambiente artificial, o cultural e o natural. O primeiro é o espaço urbano construído, que se integra pelo conjunto de edificações e pelas ruas, praças e áreas verdes, que compõem o espaço urbano aberto [...]. O segundo é constituído pelo patrimônio histórico, arqueológico e paisagístico. O restante é integrado pelo solo, água, ar, atmosférico e flora.

Luís Paulo Sirvinskas, aponta uma quarta classe de MA sendo ela

o meio ambiente do trabalho. Em sua linha de pensamento, afirma que “o meio

ambiente do trabalho integra a proteção do trabalhador em seu local de trabalho e

dentro das normas de segurança, com o intuito de fornecer-lhe uma qualidade de vida

digna”. 37

Assim também é o entendimento de Celso Antonio Pacheco

Fiorillo 38:

[…] os primórdios do meio ambiente do trabalho estariam relacionados com as sociedades de massa, com a lutas dos trabalhadores por melhores condições de labor. O ponto central das lutas seria a preservação da saúde, e indiretamente, a qualidade de vida. Essa proteção ao meio, onde é desenvolvido o trabalho do homem, merece atenção até porque ali o ser humano passa grande parte de sua vida, desempenhando as mais diversas funções.

José Afonso da Silva 39 possui um entendimento semelhante

aquele apresentado por Fernando Capez, Édis Milaré e Paulo José da Costa Junior, em

relação ao meio ambiente do trabalho. Afirma que se trata de uma espécie MA que está

inserida no grande conjunto que engloba o meio ambiente artificial. Todavia, acrescente

o seguinte:

36

COSTA JR, Paulo José da; MILARÉ, Édis. Direito Penal Ambiental. p. 3.

37 SIRVINSKAS, Luis Paulo. Tutela Penal do Meio Ambiente. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 9.

38 Apud, SALGE JR, Durval. Instituição do Bem Ambiental No Brasil, Pela Constituição Federal de 1988, Seus Reflexos Jurídicos Ante os Bens da União. 1ª ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003, p. 85.

39 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. p. 23.

23

Ele é digno de tratamento especial, tanto que a Constituição o menciona explicitamente no art. 200, VIII, ao estabelecer que uma das atribuições do Sistema Único de Saúde consiste em elaborar na proteção do ambiente, nele compreendido o do trabalho.

Nada obstante a divergência doutrinária no tocante ao MA do

trabalho, adotamos a corrente que o considera ligado ao meio ambiente artificial.

Todavia por ser ele protegido por uma série de normas constitucionais e

infraconstitucionais, destinadas a garantir-lhe condições de salubridade e de segurança,

subentende-se que deva receber, portanto, um tratamento diferenciado, como aduz

José Afonso da Silva. 40

1.2 EVOLUÇÃO NORMATIVA DA PROTEÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL

Antes de vermos a conotação constitucional dada à proteção do

MA pela CRFB/88, far-se-á uma análise das bases históricas do surgimento desta

proteção no ordenamento jurídico brasileiro, desde o período colonial até o período

republicano.

1.2.1 Período colonial

A história nos mostra que em Portugal, já no século XV, havia uma

preocupação, ainda que relativamente pequena, com o MA. Naquela época, procurava-

se proteger as florestas em decorrência da derrubada de árvores frutíferas e de madeira

de lei, uma vez que o reino de Portugal era escasso desse tipo de madeira. 41

Em Portugal, o histórico desta consciência data de 27 de abril de

1442, com a Carta Régia, que é o primeiro ato governamental visando proteção à

árvore, com a previsão da exceção nos casos de incêndio. 42

Após a descoberta do Brasil em 1500, este passou a ser Colônia

de Portugal e, por conseguinte, regido pelas Ordenações do Reino. O período

40

SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. p. 23.

41 SIRVINSKAS, Luis Paulo. Tutela Penal do Meio Ambiente. p. 2-3.

42 MOUNDJIAN, Rafael Garabed. Direito Ambiental. p. 4.

24

compreendido entre a descoberta do Brasil e a colonização populacional efetiva pelos

portugueses, iniciada 1530, é conhecido no meio histórico como período pré-colonial.

No decorrer deste lapso temporal, era comum a extração de

madeira, tal matéria-prima era ainda contrabandeada pelos índios e pelos primeiros

colonos que aqui se estabeleceram para reinos como a Inglaterra e a Holanda. 43

Diante disso, foram criadas no ordenamento jurídico real

português, normas protegendo as riquezas florestais da Colônia. Foi com as

Ordenações Afonsinas, seguidas pelas ordenações Manuelinas, de 1521, que surgiu a

preocupação com a proteção à caça e as madeiras de lei, mantendo-se o crime de

corte de árvores frutíferas, que já existia, desde 1442, dentre outros. 44

Em 1580, ocorreu a União Ibérica. Portugal e Espanha passaram

a fazer parte do mesmo reino, fato que perdurou até 1640. Apesar da união das coroas,

houve um acordo para que Portugal mantivesse certa autonomia. Foi o compromisso

assumido no Juramento de Tomar de 1581. De qualquer modo, empreenderam-se

algumas mudanças legais e administrativas em Portugal e no Brasil, que então

passaram a ser regidos pelas leis espanholas conhecidas como “Ordenações Filipinas”.

45

Entre os séculos XVI e XVII, ocorreram às invasões francesas e

holandesas no Brasil Colônia, que tiveram dentre outros objetivos, a descoberta para

extração de minérios (ouro, prata e pedras preciosas), bem como para a exploração da

madeira de cor rubra, conhecida como pau-brasil, muito utilizada para tingir tecidos.

Estas matérias-primas eram enviadas para a França e Holanda, respectivamente, onde

eram trabalhadas, e posteriormente comercializadas com outros reinos europeus,

inclusive, com Portugal. 46

43

SCHMIDT, Mario Furley. Nova História Crítica. 1ª ed. São Paulo: Nova Geração, 2008, p. 150.

44 SIRVINSKAS, Luis Paulo. Tutela Penal do Meio Ambiente. p. 2.

45 SCHMIDT, Mario Furley. Nova História Crítica. p. 212-213.

46 SCHMIDT, Mario Furley. Nova História Crítica. p. 212-213.

25

Muitos colonos e índios ajudavam na extração das referidas

matérias-primas, que eram contrabandeadas pelos corsários franceses e pela

Companhia das Índias Ocidentais (companhia de comércio que era financiada por ricos

comerciantes das sete províncias que compunham a reino da Holanda). 47

Diante disso, os colonizadores lusitanos resolveram adotar

medidas mais severas para proteger as florestas e os recursos minerais do Brasil,

criando então normas criminais de cunho ambiental. 48

Assim, em 1605, surgiu o primeiro dispositivo legal que, para os

doutrinadores do direito ambiental, era voltado exclusivamente para a preservação do

MA no Brasil Colônia. Foi criado na vigência das Ordenações Filipinas e denominado

“Regimento do Pau-Brasil”. Visava à proteção do Pau-Brasil como propriedade real. 49

No entanto, somente após um grande lapso temporal, é que a

proteção das florestas do Brasil Colônia seria reforçada com a assinatura de uma nova

Carta Régia em 1797. Nela renovava-se a conservação das florestas e madeiras de

Portugal e de suas colônias. 50

Com a vinda da família real para o Brasil em 1808, a proteção ao

MA se intensificou, mediante a promessa da libertação do escravo que denunciasse o

contrabando de pau-brasil. Várias providências foram tomadas para a proteção das

florestas. 51 Nesse mesmo ano, mais precisamente no dia 13 de junho, Dom João VI

fundou o Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. 52

Apesar da criação de normas que protegiam as florestas de

Portugal e suas colônias, verifica-se que durante o período colonial, pouca foi à

47

SCHMIDT, Mario Furley. Nova História Crítica. p. 212-213.

48 SIRVINSKAS, Luis Paulo. Tutela Penal do Meio Ambiente. p. 2.

49 MOUNDJIAN, Rafael Garabed. Direito Ambiental. p. 32.

50 SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento e. Direito Ambiental Internacional. 2ª ed. Rio de Janeiro: Thex, 2002, p. 27.

51 SIRVINSKAS, Luis Paulo. Tutela Penal do Meio Ambiente. p. 3

52 SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento e. Direito Ambiental Internacional. p. 27.

26

relevância dada ao MA, como já dito, com a exceção de algumas poucas normas

isoladas. Os objetivos do reino eram apenas “assegurar a sobrevivência de alguns

recursos naturais, ou colimavam em resguardar a saúde”. 53

1.2.2 Período imperial

De acordo com os registros históricos, a primeira Constituição

Brasileira de 1824, outorgada por Dom Pedro I, não fez muitas menções sobre a esfera

ambiental. Vale lembrar que, naquela época, a economia brasileira era sustentada

basicamente pela exportação de produtos agrícolas e minerais, em razão do que, a

visão do legislador era exclusivamente voltada para esse norte. 54

Todavia, é cediço que a Constituição de 1824 e o código Criminal

de 1830, na Monarquia, previam o crime de corte ilegal de árvores e a proteção cultural.

Depois, com a Lei nº 601, de 1850, estabeleceram-se sanções administrativas e penais

para quem derrubasse matas e realizasse queimadas. 55

Outro marco importante, no tocante à proteção do MA ocorrido no

período imperial, foi à decisão de Dom Pedro II, em 1861, de mandar plantar a Floresta

da Tijuca, a fim de garantir o suprimento de água para o Rio de Janeiro, ameaçado

pelos desmatamentos das encostas dos morros. 56

Nada obstante, as supramencionadas Cartas Magnas e

legislações esparsas apenas mantinham interesses no que concerne à racionalização

econômica das atividades de exploração dos recursos naturais. Possuíam pouca

conotação realmente protetiva ao MA. Para Rafael Garabed Moundjian “as

constituições pátrias do século XIX, como um todo, retrataram esse pensamento”. 57

53

SALGE JR, Durval. Instituição do Bem Ambiental No Brasil. p. 87.

54 MOUNDJIAN, Rafael Garabed. Direito Ambiental. p. 30.

55 SIRVINSKAS, Luis Paulo. Tutela Penal do Meio Ambiente. p. 3

56 SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento e. Direito Ambiental Internacional. p. 27.

57 MOUNDJIAN, Rafael Garabed. Direito Ambiental. p. 30.

27

1.2.3 Período republicano

Conforme consta dos registros históricos, a proclamação da

república, em 15 de novembro de 1889, pouco contribuiu para a proteção do MA. Como

exemplo, tem-se a constituição de 1891, a qual se referiu apenas à competência da

União para legislar sobre minas e terras. Tinha cunho protecionista voltado aos

interesses da burguesia dominante, industrialização das formas de produção e

exploração do solo, as quais eram efetuadas sem qualquer observância aos preceitos

ambientais. 58

Contudo é importante ressaltar que, com a ascensão Código Civil

de 1916, a proteção ao MA tomou novo fôlego. Luis Paulo Sirvinskas assevera que foi a

partir deste marco jurídico, “que foram criados o Código Florestal, o Código de Águas e

o Código de Caça, dentre inúmeras outras legislações infraconstitucionais que

disciplinavam a proteção do MA”. 59

O advento da Constituição de 1934 trouxe ao cenário jurídico

brasileiro a proteção dos patrimônios culturais, históricos, artísticos e naturais, dispondo

sobre a competência da União em zelar por tais bens, assim como pelas riquezas do

subsolo, mineração e águas. 60

Tal evolução protetiva, foi fruto do crescente desenvolvimento

industrial vivido da década de 30. Como exemplo dessa preocupação ambiental, tem-se

a criação do Código de Águas (Decreto nº 24.643, de 10 de julho de 1934). Após, foi

baixado na República o Decreto nº 23.793/34, intitulado Código Florestal, que

infelizmente não teve muita aplicação também, a despeito de seu pioneirismo. Anos

depois surgiu o Decreto-lei nº 25/37, que determina e organiza a proteção do patrimônio

histórico e cultural, tendo sua vigência até os dias de hoje. 61

58

MOUNDJIAN, Rafael Garabed. Direito Ambiental. p. 30.

59 SIRVINSKAS, Luis Paulo. Tutela Penal do Meio Ambiente. p. 9

60 MOUNDJIAN, Rafael Garabed. Direito Ambiental. p. 30.

61 MOUNDJIAN, Rafael Garabed. Direito Ambiental. p. 31.

28

As cartas magnas de 1937 e 1946, por sua vez, mantiveram os

dispositivos que versavam a respeito da defesa ao patrimônio histórico, cultural e

natural, conservando ainda a competência da União acerca da saúde, subsolo,

florestas, caça, pesca e, principalmente, recursos hídricos. 62

Nas décadas seguintes, foram criados diversos órgãos públicos

para tal fim ambientalista, dentre eles destacam-se: o Departamento Nacional de Obras

de Saneamento (DNOS); Departamento Nacional de Obras contra a Seca (DNOCS);

Patrulha Costeira e o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP). Em 1948, foi criada a

Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza. 63

Após a Segunda Guerra Mundial, seguida pela Guerra Fria, não

só o Brasil como todos os povos do mundo, voltaram seus olhos efetivamente à

proteção do MA. A par disso, e como não podia deixar de ser, nosso legislador passou

a editar leis mais específicas, criando instrumentos mais eficazes em defesa ao meio

ambiente. 64

Como exemplo tem-se o surgimento das Leis nº 6.453/77

(Responsabilidade Civil e Criminal por Danos Nucleares), nº 6.803/80 (Zoneamento

Industrial); nº 6938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente); nº 7.661/88 (Plano de

Gerenciamento Costeiro); Lei nº 9.605/98 (Crimes Ambientais), bem como a inserção

pelo legislador de um capítulo inteiro na Constituição de 1988, versando

exclusivamente sobre o MA.Já no século XXI, tem-se a continuidade da evolução da

proteção ambiental com a publicação da Lei nº 11.105/2005 (cria o Conselho Nacional

de Biossegurança – CNBS, entre outros) e Decreto nº 6.514/2008 (Dispõe sobre as

infrações e sanções administrativas ao meio ambiente, estabelece o processo

administrativo federal para apuração destas infrações).

Como se pode ver, nas décadas 70, 80 e 90 e, como não podia

deixar de ser, na primeira década do século XXI, ocorreu um desenvolvimento enorme

62

MOUNDJIAN, Rafael Garabed. Direito Ambiental. p. 30.

63 MOUNDJIAN, Rafael Garabed. Direito Ambiental. p. 4.

64 SIRVINSKAS, Luis Paulo. Tutela Penal do Meio Ambiente. p. 3-4.

29

em nosso país no que tange à proteção ao MA, Luis Paulo Sirvinskas 65, bem

demonstra essa evolução, ao afirmar que:

[...] vários livros e artigos doutrinários foram publicados. Inúmeras leis foram criadas nesse período. Houve também uma repercussão benéfica com a divulgação pela mídia de algumas decisões judiciais favoráveis das ações civis públicas impetradas pelo Ministério Público. Foi com o advento da Lei n. 7.437, de 24 de julho de 1985, que a defesa do meio ambiente se fortaleceu. Essa lei criou a denominada ação civil pública, instrumento poderosíssimo, colocado à disposição do cidadão de modo geral, e em particular, do Ministério Público. Em decorrência disso, inúmeras ações foram propostas em defesa de nosso ecossistema, nos mais longínquos rincões do Brasil.

O mencionado doutrinador, valendo-se dos estudos de Paulo José

da Costa Jr. e Giorgio Gregori, ainda ressalta que:

[...] se encanarmos a história de uma angulação cronológica, conforme habitual esquema dos anais – que englobam os fatos uns após outros e os sistematizam com fidelidade como um grandioso romance seriado -, concluiremos facilmente que o problema ecológico foi enfrentado e regulamentado, ao menos parcialmente, pelos legisladores dos Estados da civilização mais avançada, somente no curso do derradeiro após-guerra. 66

Entretanto a evolução do protecionismo ambiental no Brasil, não

se iniciou de forma autônoma. Ela foi sobremaneira influenciada por concepções

internacionais, as quais passo a explanar a seguir.

1.3 INFLUÊNCIAS INTERNACIONAIS NO DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO

Sem sombra de dúvida, a evolução do direito ambiental pátrio foi

impulsionada por importantes conferências, declarações e convenções internacionais.

Todavia, dentre elas, duas conferências se destacam aos olhos dos estudiosos do

direito ambiental. Trata-se da Conferência de 1972, realizada em Estocolmo, capital da

Suécia e da Conferencia de 1992, realizada no Rio de Janeiro.

65

SIRVINSKAS, Luis Paulo. Tutela Penal do Meio Ambiente. p. 3-4.

66 SIRVINSKAS, Luis Paulo. Tutela Penal do Meio Ambiente. p. 3-4.

30

1.3.1 A Conferência de Estocolmo

Como bem ilustra Geraldo Eulálio do Nascimento e Silva, “a

conferência de 1972 sobre Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, é considerada o

ponto de partida do movimento ecológico, muito embora a emergência dos problemas

ambientais tenha sido bem anterior”. 67

Sobre a afirmativa, Marcelo Pupe Braga 68 aduz o seguinte:

Para muitos, A conferência de Estocolmo constituiu, no plano jurídico, o verdadeiro ponto de partida para uma percepção global da preocupação com o meio ambiente, tanto na esfera de construção de normas internacionais como no desenvolvimento da doutrina específica.

Nesse mesmo norte, são as afirmações de João Carlos de

Carvalho Rocha 69:

A partir de Estocolmo os países se conscientizam cada vez mais de que a questão ambiental não se limita à gestão econômica de recursos extrativistas, mas, antes, que o meio ambiente é indispensável para o desenvolvimento humano intelectual, moral, social, e espiritual, conforme reza a Declaração de Estocolmo.

Convocada pela Resolução 2.398 (XXIII) da Assembléia Geral, a

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano realizou-se entre o dia

05 e 16 de junho de 1972, tendo reunido 113 Estados, todas as organizações

internacionais à época existentes e aproximadamente 700 (setecentos) observadores

de diversas organizações não governamentais, o que, nas palavras de Marcelo Pupe

Braga, “refletiu o crescente interesse na sociedade civil pela matéria”. 70

Dela resultaram: a Declaração de Estocolmo, contendo 26

Princípios; o Plano de Ação para o Meio Ambiente, que consiste em 109

recomendações relativas à avaliação, gestão e apoio de políticas ambientais; e a

67

SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento e. Direito Ambiental Internacional. p. 27.

68 BRAGA, Marcelo Pupe. Direito Internacional. p. 314.

69 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. p. 587.

70 BRAGA, Marcelo Pupe. Direito Internacional: Público e Privado. São Paulo: Método, 2009, p. 314.

31

resolução que criou o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, destinado a

promover o desenvolvimento de programas nacionais e internacionais de proteção do

MA. 71

O grande mérito da Declaração de Estocolmo, entretanto, foi ter

proclamado princípios com valores simbólicos, mas que igualmente repercutem

consequências jurídicas, uma vez que, em conformidade com as regras da

interpretação dos tratados internacionais, devem eles ser interpretados de boa-fé, no

seu contexto e de acordo com a sua finalidade. 72

Geraldo Eulálio do Nascimento e Silva 73 confirma esse

entendimento expondo que:

A Declaração de 1972 foi criticada na ocasião por não haver adotado normas mais rígidas. O que não se pode ignorar, contudo, é que, de 1972 para cá, exerceu decisiva influência na defesa do meio ambiente. Muitos dos 26 Princípios nela contidos foram incorporados a convenções internacionais, em inúmeras declarações e resoluções pode-se prever que o movimento ambientalista saiu da Conferencia do Rio de Janeiro fortalecido e com novas normas capazes de orientar e inspirar a comunhão internacional.

Contudo, em que pesem os trabalhos e as declarações oriundas

da aludida convenção terem dado nova conotação à proteção ao meio ambiente no

cenário internacional, no período compreendido entre 1972 e 1992, diversas novas

catástrofes ambientais ocorreram. Além disso, estudos científicos alertaram a

sociedade internacional acerca da desertificação, do risco da extinção de várias

espécies de animais, como das mudanças climáticas. 74

Diante desse quadro alarmante, a Organização das Nações

Unidas decidiu convocar uma nova Conferência sobre o MA, que teve lugar no Rio de

Janeiro em 1992.

71

BRAGA, Marcelo Pupe. Direito Internacional. p. 314.

72 BRAGA, Marcelo Pupe. Direito Internacional. p. 315.

73 SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento e. Direito Ambiental Internacional. p. 27.

74 BRAGA, Marcelo Pupe. Direito Internacional. p. 315-316.

32

1.3.2 A Conferência do Rio de Janeiro

A Conferencia do Rio foi realizada entre 03 e 04 de junho de 1992

e contou com a presença de 178 delegações, ficando conhecida como a “Cimeira da

Terra”, ou “Cúpula da Terra”. 75

Dela resultaram: a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre

Mudanças Climáticas; a Convenção–Quadro sobre Diversidade Biológica; a Agenda 21;

a Declaração de Princípios sobre as Florestas; e a Declaração do Rio sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento.

Comparando a Declaração do Rio com a declaração de

Estocolmo, Marcelo Pupe Braga 76 ilustra o seguinte:

[...] a Declaração do Rio é mais antropocêntrica que a de Estocolmo. Ela consuma a globalização do Direito Internacional Ambiental iniciada pela Declaração de Estocolmo, ao fundar-se, basicamente, nos princípios do desenvolvimento sustentável, da equidade intergeracional e das responsabilidades comuns, mais diferenciadas. Com isso, agrega de uma vez por todos os Estados desenvolvidos e os em desenvolvimento em matéria de proteção do meio ambiente.

Portanto, a Rio 92 inovou, de forma admirável, ao consumar a

expansão dos preceitos concernentes ao Direito Internacional Ambiental a níveis

mundiais, processo que foi iniciado pela conferência de Estocolmo de 1972.

1.4 PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DO MEIO AMBIENTE

Visto a evolução histórica da proteção ambiental inserida em

nosso ordenamento jurídico, passo a demonstrar a conotação protecionista do MA

inserida na Carta Magna de atual vigência em nosso país.

75

BRAGA, Marcelo Pupe. Direito Internacional. p. 316.

76 BRAGA, Marcelo Pupe. Direito Internacional. p. 317.

33

1.4.1 A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

Em 1988, no Brasil, surge um novo marco na história

constitucional do País, que, rompendo com o regime militar ditatorial, restaura o regime

democrático: é promulgada uma nova Constituição da República Federativa do Brasil. O

Estado, então, se compromete a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais,

a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como

valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na

harmonia social. 77

Em face da negligência dada pelas constituições anteriores, no

tocante à proteção do MA natural, e influenciado pelas conferencias e discussões

internacional no sentido de garantir um meio ambiente saudável às presentes e futuras

gerações, dentre elas principalmente a Conferencia de Estocolmo de 1972, foi que o

legislador constituinte resolveu inovar, inserindo na Constituição de 1988 um capítulo

inteiro tratando, deliberadamente, da questão ambiental, o que “institucionalizou o

direito ao ambiente sadio como um direito fundamental do indivíduo”. 78

Assim, tendo em vista que a CRFB/88 se tornou “a principal fonte

formal do Direito Ambiental” 79, vamos localizar na norma constitucional, direta ou

indiretamente, os fundamentos da proteção do MA.

1.4.2 Aspectos gerais da Constituição de 1988 em relação ao meio ambiente.

Como já foi examinado nos itens precedentes, as Constituições

Brasileiras anteriores à de 1988 deram ao tema MA um tratamento esparso, e com

enfoque predominantemente voltado para a infra-estrutura da atividade econômica,

77

PRADO, Alessandra Rapassi Mascarenhas. Proteção Penal do Meio Ambiente: Fundamentos. São Paulo: Atlas, 2000, p. 49.

78 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. p. 46

79 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p. 57.

34

tendo por escopo priorizar a atividade produtiva, independente da conservação dos

recursos naturais. 80

Inovou assim, a CRFB de 1.988 que prevê um capítulo específico

relativo ao MA, elevando-o a bem de uso comum do povo, a direito fundamental,

oferecendo uma abordagem direta, mais abrangente e preventiva e indicando também,

ao legislador, além de outras coisas, a necessidade de proteção penal do referido bem

(art. 225, §3º). 81

Destaca-se entre as inovações apresentadas, a responsabilidade

penal da pessoa jurídica, assunto que será tratado no terceiro capítulo deste trabalho

monográfico.

Em relação ao posicionamento amplamente ambiental inserido na

Constituição de 1988, Rafael Garabed Moundjian 82 afirma que:

Com o advento da Constituição Federal Brasileira de 1988, o meio ambiente passou a ser formalmente considerado um bem jurídico. Trouxe grandes inovações na esfera ambiental, sendo tratada por alguns como Constituição Verde, de forma totalmente diferenciada trazida pelas constituições anteriores [...].

Quanto à inovação contida na CRFB/88, Paulo de Bessa Antunes

83 aponta que:

O legislador constituinte, ao atribuir ao meio ambiente a condição de um direito a ser desfrutado pelo Ser Humano, desta e de outras gerações, efetivamente deu-lhe uma conotação essencialmente política e, portanto, cultural. Diante da constitucionalização do termo, qualquer outra definição que exclua dele o caráter de um direito fundamental, a ser desfrutado pelos indivíduos, não encontra amparo em nossa Norma Fundamental.

Para José Renato Nalini 84:

80

ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p. 61.

81 PRADO, Alessandra Rapassi Mascarenhas. Proteção Penal do Meio Ambiente. p. 50.

82 MOUNDJIAN, Rafael Garabed. Direito Ambiental. p. 35.

83 ANTUNES, Paulo de Bessa. Dano Ambiental: Uma Abordagem Conceitual. 1ª ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2002, p. 156.

35

Foi à resposta ao clamor de uma comunidade desperta para novos calores e ávida por recuperar o tempo perdido. Uma cidadania consciente e atenta não teria permitido a perseverança nos atentados contra a natureza. O descalabro não teria atingido os níveis catastróficos hoje registrados.

É importante ressaltar que não se deve julgar a forma de pensar o

MA dos constituintes passados, com base na percepção que teve o constituinte de

1988. Tratam-se de épocas completamente distintas e com formas de pensar

completamente diferentes. No século XIX, a humanidade, como um todo, pensava

“modernamente”. Pensava-se de forma linear, retilínea, progressiva, e com o

crescimento sem precedentes da economia mundial, acreditava-se que os recursos

naturais do planeta, como já dito, jamais teriam fim.

Passado um lapso temporal considerável, no qual ocorreram

vários reformas nas estruturas políticas e sociais, é que, por meio dos discursos,

convenções e conferências internacionais teve-se conhecimento que os recursos

naturais do planeta não eram ilimitados e não poderiam ser utilizados para alimentar a

demanda do progresso eternamente.

Assim verificou-se que o pensamento “moderno” estava

equivocado, surgindo então uma nova forma de pensar, sendo este o “pensamento

sustentável”, no qual é cediço que se deve proteger o MA e utilizá-lo de forma

responsável, já que seus recursos são indispensáveis para a manutenção e

crescimento da economia, garantindo que as futuras gerações também possam colher

seus frutos.

Sabiamente, a constituição de 1988 não desconsiderou o MA

como elemento indispensável e que serviria de base para o desenvolvimento da

atividade de infra-estrutura econômica. Pelo contrário, com a promulgação da

Constituição de 1988, houve um aprofundamento das relações entre o MA e a ordem

econômica, pois ela reconhece que se faz necessária a proteção ambiental de forma

84

Apud, COSTA JR, Paulo José da; MILARÉ, Édis. Direito Penal Ambiental. p. XVIII.

36

que se possa assegurar uma adequada fruição dos recursos necessários à demanda

econômica, garantindo um nível elevado de qualidade de vida às populações. 85

Corroborando tal entendimento, têm-se os ensinamentos de

Cristiane Derani 86:

Essa via de mão dupla é vislumbrada na agudeza do inter-relacionamento do capítulo de meio ambiente com os princípios da ordem econômica fundamentalmente. Essa comunhão emerge, seja na formulação de uma política macroeconômica, seja na orientação de normas do direito econômico e de normas de direito ambiental.

A adequada compreensão do capítulo e dos dispositivos

constitucionais voltados para o MA é essencial e exige uma atenção toda especial para

disciplinas que não são jurídicas. Conceitos pertencentes à Geografia, a Ecologia, a

Mineralogia e a Economia, por exemplo, “passam a desempenhar um papel na

interpretação da norma constitucional que era completamente impensável antes da

promulgação da Constituição de 1988”. 87

A Lei fundamental reconhece que a proteção ambiental é de vital

importância e deve ser tratada com toda a atenção pela sociedade, pois os recursos

ambientais são necessários para a sustentação da economia, e sua depredação de

forma exasperada poderia resultar em uma escassez não desejada. Vê-se, com

clareza, que há, no contexto constitucional, um sistema de proteção ao MA que

ultrapassa as meras disposições esparsas, e é nesse ponto que se percebe a diferença

entra a CRFB/88 e as demais que a precederam. 88

Nas palavras de Paulo de Bessa Antunes 89:

Em 1988, buscou-se estabelecer uma harmonia entre diferentes dispositivos voltados para a defesa do Meio Ambiente. A norma

85

ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p. 61.

86 DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. p. 68.

87 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p. 61.

88 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p. 61.

89 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p. 61.

37

constitucional ambiental é parte integrante de um complexo mais amplo e podemos dizes, sem risco de errar, que ela faz a inserção entre as normas de natureza econômica e aquelas destinadas à proteção dos direitos individuais.

Além de ser dotada de um capítulo próprio para as questões

ambientais, a CRFB/88, ao longo de diversos outros artigos, trata das obrigações da

sociedade e do Estado brasileiro com o MA. Tais normas do ponto de vista do Direito

Constitucional, podem ser agrupadas como normas de: garantia, competência, gerais e

específicas. 90

Nesse mister é o entendimento de José Afonso da Silva 91, senão

vejamos:

Pode-se dizer que ela é uma Constituição eminentemente ambientalista. Assumiu o tratamento da matéria em tempos amplos e modernos. Traz um capítulo específico sobre o meio ambiente, inserido o título “Ordem Social” (Capítulo VI do Título VIII). Mas a questão permeia todo o seu texto, correlacionada com os temas fundamentais da ordem constitucional.

Em sede Constitucional, são encontráveis os Art. 5º, incisos XXIII,

LXXI, LXXIII; Art. 20, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII, IX, X, XI, e §§ 1º e 2º; Art. 21, incisos

XIX, XX, XXIII, alienas a, b, e c, XXV; Art. 22, incisos IV, XII, XXVI; Art. 23, incisos I, III,

IV, VI, VII, IX, XI; Art. 24, incisos VI, VII, VIII; Art. 49, incisos XIV, XVI; Art. 91, §1º,

inciso III; Art. 129, inciso III; Art. 170, inciso VI; Art. 174, §§ 3º e 4º; Art. 176 e §§; Art.

182 e §§; Art. 186; Art. 200, incisos VII, VIII; Art. 216, inciso V e §§ 1º a 4º; Art. 225; Art.

231; Art. 232 e no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, os art. 43, 44 e

respectivos parágrafos, vinculados direta ou indiretamente ao MA.

Os supracitados artigos constitucionais contemplam normas de

natureza processual, penal, econômica, sanitária, tutelar administrativa e, ainda,

normas e repartição de competência legislativa e administrativa. É uma gama tão ampla

90

ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p. 61.

91 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. p. 46.

38

que para Paulo de Bessa Antunes “não foi desenvolvida em todas as sua

potencialidades”. 92

1.4.3 O art. 225 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

O art. 225 da CRFB/88 é considerado o centro nevrálgico do

sistema constitucional de proteção ao MA. É nele que está inserido a proteção do meio

ambiente como um elemento de inserção entre a ordem econômica e os direitos

individuais.

Dispõe o art. 225, caput, da CRFB/88, in verbis:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. 93

Sobre o referido dispositivo constitucional, Paulo de Bessa

Antunes 94 perfaz algumas imperiosas considerações:

O primeiro destaque que merece abordagem é o vocábulo „todos‟, que dá inicio ao capítulo. „Todos‟, tal como presente no art. 225, tem o sentido de qualquer indivíduo que se encontre em território nacional, independentemente de sua condição jurídica perante nosso ordenamento jurídico. „Todos‟ quer dizer todos os seres humanos. Aqui há uma evidente ampliação do rol de direitos constitucionalmente garantidos, pois, diferentemente dos direitos eleitorais e os de controle da probidade administrativa, não se exige a condição de cidadão. [...] O artigo 225, ao se utilizar da expressão „todos‟, buscou estabelecer que mesmo os estrangeiros não residentes no País e outros que, por motivos diversos, tenham sido suspensos os seus direitos de cidadania, ainda que parcialmente, não destinatários da norma atributiva de direito ao MA ecologicamente equilibrado.

Como se pode bem observar, no referido artigo, encontram-se

inseridos os conceitos e princípios que tornam o MA um bem jurídico da coletividade,

92

ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p. 62.

93 MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil Interpretada e Legislação Constitucional. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 2.193.

94 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p. 63.

39

um direito difuso, em razão da relação de seu titular com o lugar que caracteriza o MA,

pois poderá envolver um determinado grupo de pessoas nele interessado, quer

exploradores para a própria subsistência, quer porque dele obtêm recursos naturais

para o desenvolvimento de uma atividade econômica. 95

Rafael Garabed Moundjian 96, interpreta o art. 225, caput, da

CFRF/88, com uma conotação mais didática, separando-o em quatro diferentes

aspectos, senão vejamos:

O caput do art. 225 comporta determinados aspectos que podem ser desmembrados para fins didáticos, tratando-se dos elementos: (a) material; (b) qualitativo; (c) subjetivo; e (d) finalístico. [...]. O elemento material é encontrado no predicado da frase inicial, informando onde todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, no qual a noção de meio ambiente está totalmente ligado ao conceito de desenvolvimento sustentável. [...]. No caso em tela, o elemento qualitativo é o que se encarrega de estabelecer as qualidades formais de como o meio ambiente, enquanto bem jurídico, deve ser entendido pelos destinatários da norma constitucional. [...]. No tocante ao elemento subjetivo, destaca-se que ele está presente em dois períodos da redação do art. 225; primeiramente, quando a Constituição se refere a todos como titulares de um meio ambiente ecologicamente equilibrado e o outro momento reside na imposição feita pela norma de que o Poder Público e a coletividade terão o dever de defender o meio ambiente. [...]. No Direito Ambiental Brasileiro, o elemento finalístico é encontrado na parte final do ordenamento constitucional, quando expressa de forma clara e objetiva que é imposto ao Poder Público e à coletividade o dever de defender e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações.

É notório que, ao criar o art. 225 da CRFB/88, o legislador visou,

de forma conjunta, garantir que todos possam ter direito a um MA ecologicamente

equilibrado. Destarte o gozo ao meio ambiente é um direito fundamental em nosso

regime constitucional, bem como protegê-lo é um dever do Poder Público em conjunto

com a coletividade.

95

MOUNDJIAN, Rafael Garabed. Direito Ambiental. p. 38.

96 MOUNDJIAN, Rafael Garabed. Direito Ambiental. p. 36-40.

40

Tais fundamentos encontram-se igualmente assegurados nos

instrumentos de garantia que a Lei Fundamental da República criou para garantir a sua

fruição a todos. Tais instrumentos são de natureza processual e administrativa.

Dentre os de natureza processual, destacam-se a Ação Popular 97

e a Ação Civil Pública. 98 Em relação aos instrumentos administrativos de proteção,

existem os Direitos de Petição e de Representação 99 aos poderes públicos.

Passados mais de 20 anos da vigência da Constituição brasileira,

é possível afirmar que ela alterou o tratamento dado ao MA de forma considerável. Foi

inserido em seu texto, princípios constitucionais norteadores que influenciaram na

elaboração de novas leis protetoras ao MA. 100 Os principais princípios constitucionais

relativos à proteção do meio ambiente, serão apresentados a seguir.

1.5 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS INERENTES À PROTEÇÃO AMBIENTAL

Pode-se dizer que os princípios são à base do mundo jurídico.

Rafael Garabed Moundjian 101, valendo-se dos ensinamentos de Geraldo Ataliba,

dispõe esplendidamente sobre o assunto:

97

Art. 5º CRFB/88 - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;

98 Art. 129º CRFB/88 - Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;

99 Art. 5º CRFB/88 XXXIV - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder; b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal;

100 FREITAS, Vladimir Passos de; FREITAS, Gilberto Passos de. Crimes contra a natureza: de acordo com a Lei 9.605/98. 8ª ed, rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 22/23.

101 MOUNDJIAN, Rafael Garabed. Direito Ambiental. p. 41.

41

[...] Princípios são linhas mestras, os grandes nortes, as diretrizes magnas do sistema jurídico. Elas expressam a substancia última do querer popular, seus objetivos e desígnios, as linhas mestras da administração e jurisdição. Por estes não poderem ser contrariados, tem que ser prestigiados até a última conseqüência.

Assim sendo, necessário realizar uma análise dos princípios

ambientais que regem a proteção do meio ambiente no direito brasileiro.

1.5.1 Natureza dos Princípios do Direito Ambiental

Os princípios jurídicos podem ser implícitos ou explícitos.

Explícitos são aqueles que estão claramente escritos nos textos legais, e

fundamentalmente, na CRFB. Por sua vez, implícitos são os princípios que decorrem do

sistema constitucional, ainda que não se encontrem escritos. 102

É importante frisar que tanto os princípios explícitos como os

princípios implícitos são dotados de positividade e, portanto, devem ser levados em

conta pelo aplicador da norma jurídica, tanto no âmbito do Poder Judiciário, como no

âmbito do Executivo ou do Legislativo.

Paulo de Bessa Antunes 103 ressalta que:

[...] os princípios jurídicos ambientais devem ser buscados, no caso do ordenamento jurídico brasileiro, em nossa Constituição e nos fundamentos éticos que iluminam as relações entre os seres humanos.

Dentro da perspectiva acima apontada, considero que é possível

destacar como fundamentais os seguintes princípios relativos à proteção do MA que

trafegam pelas vias do ordenamento jurídico pátrio constitucional.

102

ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p. 22.

103 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p. 27.

42

1.5.2 Princípio da Precaução

É, dentre os princípios do Direito Ambiental, objeto das mais

acirradas polêmicas e debates, com grande repercussão nos foros judiciais, na

imprensa e em toda a sociedade. 104

Teve origem no Direito Alemão e foi uma das principais

contribuições ao DA. Foi na década de 70, do século XX, que o Direito Alemão

começou a se preocupar com a necessidade de avaliação prévia de consequências

sobre o MA dos diferentes projetos e empreendimentos que encontravam em curso ou

em vias de implantação. Daí surgiu à idéia de precaução. 105

O grande lançamento internacional do Princípio da Precaução

ocorreu com a Conferencia das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento (CNUMAD), que ficou conhecida como Rio 92. Na oportunidade, foi

proclamada a Declaração do Rio, sendo o princípio da precaução redigido como o

princípio de nº 15 da Declaração do Rio da seguinte maneira:

De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão de postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental. 106

O principio da precaução se resume na busca do afastamento, no

tempo e no espaço, do perigo. Na busca também da proteção contra o próprio risco e

na análise do potencial danoso oriundo do conjunto de atividades. Atua basicamente,

na formação de políticas públicas ambientais, onde a exigência de utilização da melhor

tecnologia disponível é necessariamente obrigatória. 107

104

ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p. 28.

105 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p. 28.

106 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p. 33.

107 DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. p. 151.

43

Acerca da essência do aludido príncipio, Cristiane Derani 108

discorre que:

Precaução é cuidado (in dubio pro securitate). O princípio da precaução está ligado aos conceitos de afastamento de perigo e segurança das gerações futuras, como também de sustentabilidade ambiental das atividades humanas. Este princípio é a tradução da busca da proteção da existência humana, seja pela proteção de seu ambiente, seja pelo asseguramento da integridade da vida humana. A partir dessa premissa, deve-se também considerar não só o risco iminente de determinada atividade, como também os riscos futuros decorrentes de empreendimentos humanos, os quais nossa compreensão e o atual estágio de desenvolvimento da ciência jamais conseguem captar em toda densidade.

Nessa perspectiva, pode-se dizer que a incerteza científica, à luz

do princípio da precaução, milita em prol da proteção do meio ambiente. 109 Na dúvida

sobre a periculosidade de certa atividade para o meio ambiente, decide-se em favor

deste e contra o potencial poluidor. Caberá ao potencial poluidor provar que a atividade

que pretende realizar não causara danos ao meio ambiente, ou seja, ocorre à inversão

do ônus da prova que é transferido do Estado para o potencial poluidor. 110

Mas como poderá o Estado, exigir que o potencial poluidor

comprove que sua atividade não causará riscos ao MA? A resposta para esta pergunta

encontra-se no art. 225, §1º, inciso IV, da CRFB/88, que dispõe in verbis:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

[...]

108

DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. p. 152.

109 IRIGARAY, Carlos Teodoro Hugueney; RIOS, Aurélio Virgílio Veiga. (orgs.). O Direito e o Desenvolvimento Sustentável: Curso de Direito Ambiental. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 100.

110 CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato. (orgs.). Direito Constitucional Ambiental Brasileiro. 1ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 41.

44

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; 111

Portanto, o Estado poderá exigir do possível poluidor que deseje

instalar atividades causadoras de riscos ao meio ambiente, a elaboração do Estudo

Prévio de Impacto Ambiental (EIA) 112. Por meio deste estudo, o potencial poluidor irá

demonstrar, ou não, que sua atividade não gerará danos ao MA.

Como se vê, a exigência constitucional de realização de estudo

prévio de impacto ambiental como condição para instalação de atividade

potencialmente lesiva ao MA, está intimamente ligada ao princípio da precaução. Para

Aurélio Vergílio Veiga dos Rios, está previsão constitucional da necessidade do Estudo

de Impacto Ambiental “funciona como cola mestra do princípio da precaução e do

desenvolvimento sustentável”. 113

Por tal motivo, o princípio da precaução tem sido prestigiado pelo

legislador brasileiro que, em muitas normas positivadas, determina uma série de

medidas com vistas à avaliação dos impactos ambientais reais e potenciais gerados

pelos diferentes empreendimentos.

Todavia, no tocante à aplicação do referido princípio, Paulo de

Bessa Antunes 114 alerta que:

Ainda que extremamente relevante – o que é reconhecido por toda a doutrina brasileira e pelo nosso ordenamento jurídico –, o princípio da precaução não é dotado de normatividade capaz de fazer com que ele se sobreponha aos princípios da legalidade (um dos princípios setoriais reitores da administração pública) e, especialmente, aos princípios fundamentais da República, repita-se. A aplicação do princípio da

111

VADEMECUM. Constituição da República Federativa do Brasil. 7ª ed. atual. ampl. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 70.

112 IRIGARAY, Carlos Teodoro Hugueney; RIOS, Aurélio Virgílio Veiga. (orgs.). O Direito e o Desenvolvimento Sustentável. p. 100.

113 IRIGARAY, Carlos Teodoro Hugueney; RIOS, Aurélio Virgílio Veiga. (orgs.). O Direito e o Desenvolvimento Sustentável. p. 100.

114 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p. 37-38.

45

precaução somente se justifica constitucionalmente quando observados os princípios fundamentais da República e ante a inexistência de norma capaz determinar a adequado avaliação dos impactos ambientais. Fora de tais limites, à aplicação do principio da precaução degenera um simples arbítrio.

Em suma, diante de uma situação de dúvida em relação à

iminência de perigo ao MA, a utilização do princípio da precaução é fundamental a fim

de evitar possíveis danos ao equilíbrio daquele ecossistema que possa sofrer com uma

exploração industrial.

1.5.3 Princípio da Prevenção

É o princípio próximo ao princípio da precaução, embora não se

confunda com aquele. O princípio da prevenção aplica-se a impactos ambientais já

conhecidos e dos quais se possa, com segurança, estabelecer um conjunto de nexos

de causalidade que seja suficiente para a identificação dos impactos futuros mais

prováveis. 115

Sobre o aludido princípio, Paulo de Bessa Antunes 116, discorre o

seguinte:

Com base no princípio da prevenção o licenciamento ambiental e, até mesmo, os estudos de impacto ambiental podem ser realizados e são solicitados pelas autoridades públicas. Pois, tando o licenciamento quanto os estudos prévios de impacto ambiental são realizados com base em conhecimentos acumulados sobre o MA.

O licenciamento ambiental, na qualidade de principal instrumento

apto a prevenir danos ambientais, age de forma a evitar e, especialmente, minimizar e

mitigar os danos que uma determinada atividade causaria ao MA, caso não fosse

submetida ao licenciamento ambiental. 117

115

ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p. 45.

116 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p. 45.

117 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p. 45.

46

Entretanto, como bem ressalta o referido doutrinador, “é

importante deixar consignado que a prevenção de danos, tal como presente no

princípio ora examinado, não significa a eliminação de danos”. 118

O Poder Judiciário tem decidido matérias que são claramente a

aplicação do princípio da prevenção 119, muito embora dele se tratado sob o

nomenclatura de princípio da precaução. Como afirma Paulo de Bessa Antunes 120:

[...] é uma confusão justificável, tendo em vista a novidade da matéria, contudo, é importante que se alerte para os efeitos negativos que tal troca de denominação possa vir a causar para uma adequada aplicação do Direito.

Em defesa ao equivoco invocado, diga-se que a própria doutrina

nacional ainda não se estabilizou no sentido de reconhecer a diferença entre ambos os

princípios.

1.5.4 Princípio do Poluidor-Pagador

O reconhecimento de que o mercado nem sempre age tão

livremente como supõe a teoria econômica, principalmente pela ampla utilização de

subsídios ambientais, a saber, por práticas econômicas que são utilizadas em

detrimento da qualidade ambiental e que diminuem artificialmente preços de produtos e

serviços, fez com que se estabelecesse o chamado Princípio do Poluidor Pagador.

118

ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p. 45.

119 Nesse sentido: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL. ANTECIPAÇÃO DA TUTELA. 1. A ocupação e contrução em terras públicas por parte de particulares e a visível ocorrência de dano ambiental, por si só, justificam o reconhecimento da verossimilhança do direito autorizadora da antecipação da tutela concedida na ação civil pública e afastam, em consequuência, a pretensão da agravante de que seja concedido efeito suspensivo ao agravo de instrumento. 2. A irreversibilidade da medida é relativa, porque no caso de os atingidos resultarem vencedores na ação, certamente, em procedimento poróprio, serão indenizados. Em se tratando de meio ambiente, pondo-se em confronto uma relativa irreversibilidade com o princípio da precaução, esse princípio deve prevalecer. De mais a mais, não são irreversíveis medidas que possam ser financeiramente reparadas [...]. (Agravo Regimental no Agravo de Instrumento nº 77201, Processo nº 200104010122933/PR, Julgado pela 3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região em 30 de maio de 2001, Rel.a: Juíza Luiza Dias CAssales).

120 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p. 46.

47

Oriundo das instruções da Organização da Cooperação e

Desenvolvimento Econômico (OCDE) 121 que, em 1972, o publicou através da

Recomendação C(72) 128, foi em seguida recepcionado pelo Ato Único Europeu,

encontrando assim nas obrigações convencionais internacionais, espaço para o

desenvolvimento dogmático de seu conteúdo, terminando por encontrar previsão

expressa na forma do art. 16 da Declaração sobre Meio ambiente e Desenvolvimento

(Rio 92), que dispõe o seguinte:

Tendo em vista que o poluidor deve, em princípio, arcar com, o custo corrente da poluição, as autoridades nacionais devem promover a internacionalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, cevando na devida conta o interesse público, sem distorcer o comércio e os investimentos internacionais. 122

Basicamente, pelo princípio do poluidor pagador, doravante

denominado PPP, arca o causador da poluição com os custos necessários à

diminuição, eliminação ou neutralização deste dano. Ou seja, impõe-se ao sujeito

econômico (produtor, consumidor, transportador), que nesta relação possa causar um

problema ambiental, arcar com os custos da diminuição ou afastamento do dano. 123

Em que pese parecer semelhante ao princípio da

responsabilidade, o fundamento deste é inteiramente diferente do fundamento daquele.

O seu objetivo é evitar dano ao MA ou, pelo menos, diminuir-lhe o impacto e faz isto por

meio da imposição de um custo ambiental.

121

OCDE. Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico é uma organização internacional dos países comprometidos com os princípios da democracia representativa e da economia de livre mercado. A sede da organização fica em Paris, na França. Também é chamado de Grupo de Ricos. Juntos, os 30 países participantes produzem mais da metade de toda a riqueza do mundo. A OCDE influencia a política econômica e social de seus membros. Entre os objetivos está o de ajudar o desenvolvimento econômico e social do mundo inteiro, estimulando investimentos nos países desenvolvidos.

122 AYALA, Patryck de Araújo; LEITE Rubens Morato. Direito Ambiental na Sociedade de Risco. 2ª ed. rev. atual. ampl. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004, p. 96.

123 DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. p. 143.

48

A delimitação e a cobrança de um preço pela utilização do recurso

ambiental objetiva onerar o agente econômico, na proporção em que ele se utilize de

maior ou menor quantidade de recursos.

Paulo de Bessa Antunes 124 bem discorre sobre o assunto

declarando que:

A idéia básica que norteia o PPP é que a sociedade não pode arcar com os custos de uma atividade que beneficia um único individuo ou um grupo de indivíduos. Busca-se, portanto, a aplicação de uma medida de justiça que se funde não na responsabilidade, mas, isto sim, na solidariedade. A solidariedade, no caso concreto da aplicação do PPP, está alicerçada sobre a atuação preventiva e sobre a identificação clara do custo ambiental.

O referido autor vem novamente em auxílio, esclarecendo que:

A atuação preventiva se faz na medida em que o estabelecimento de um custo ambiental, como parte importante dos custos gerais da atividade, tem a capacidade de acrescentar mais uma variável, a ser examinada pelo empreendedor, que com isso, analisa a possibilidade de não utilizar o recurso. Passa a ser importante, também, a maior eficiência ambiental, pois as empresas ambientalmente mais eficientes têm custos menores. Este conjunto de atividades, efetivamente, ao diminuírem a utilização de recursos ambientais, atuam na prevenção de danos futuros. A identificação clara dos custos é também importante, porque os consumidores e concorrentes podem ter a precisa noção do nível de cuidados ambientais e da existência ou não de algum subsídio à atividade. 125

Dessa forma, equivocam-se aqueles que insistem em aproximar o

princípio da responsabilidade do PPP, ao atribuir-lhe necessariamente uma conotação

repressiva. É bem verdade que o princípio, de fato, detém certa atribuição repressiva ao

instituir as tentativas de recomposição do bem ambiental degradado, e admitindo, em

sua impossibilidade, a solução ressarcitória. No entanto, sua essência é eminentemente

124

ANTUNES, Paulo de Bessa. Dano Ambiental. p. 222-223

125 ANTUNES, Paulo de Bessa. Dano Ambiental. p. 222-223

49

preventiva, comportando uma tríplice dimensão, quão seja, a prevenção,

posteriormente, a reparação e por último a repressão. 126

1.5.5 Princípio da Responsabilidade

O princípio da responsabilização ou princípio da reparação, assim

como o PPP, também, encontra previsão expressa no texto da Declaração sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92), afirmando no princípio nº. 13 que:

[...] os Estados devem desenvolver legislação nacional relativa à responsabilidade e indenização das vítimas de poluição e de outros danos ambientais. Os Estados devem ainda cooperar de forma expeditiva e determinada para o desenvolvimento de normas de Direito Ambiental internacional relativas a responsabilização e indenização por efeitos adversos de danos ambientais causados, em áreas fora de sua jurisdição, por atividades dentro de sua jurisdição ou sob seu controle. 127

Assim, o legislador estabeleceu no art. 225, §3º da CRFB/88 a

responsabilidade por danos ambientais, que reza:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

[...]

§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos

causados. 128

Embora a CRFB/88 não defina se a responsabilidade ambiental

possua caráter subjetivo ou objetivo, esta questão restou delegada para a legislação

126

AYALA, Patryck de Araújo; LEITE Rubens Morato. Direito Ambiental na Sociedade de Risco. p. 99.

127 AYALA, Patryck de Araújo; LEITE Rubens Morato. Direito Ambiental na Sociedade de Risco. p. 100.

128 VADEMECUM. Constituição da República Federativa do Brasil. p. 70.

50

ordinária que, por sua vez, definiu a responsabilidade ambiental como sendo objetiva.

129

Um ponto que merece ser destacado é que a responsabilidade, no

sistema jurídico brasileiro, decorre de lei, contrato ou ato ilícito. 130

Não obstante, os pormenores referentes à pessoa jurídica, os

tipos de responsabilidade a que esta sujeita em matéria ambiental será tema do

segundo capítulo deste trabalho monográfico, que se apresenta a seguir.

129

ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p. 48.

130 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p. 65.

51

CAPÍTULO 2

DISPOSIÇÕES GERAIS SOBRE A PESSOA JURÍDICA E SUA

RESPONSABILIDADE EM MATÉRIA AMBIENTAL.

Neste segundo capítulo serão analisados os aspectos gerais da

pessoa jurídica, sua desconsideração, e os tipos de responsabilidade a que está

sujeita, com maior ênfase à responsabilidade penal.

2.1 ASPECTOS GERAIS DA PESSOA JURÍDICA: ORIGEM E CONCEITO

Sílvio de Sálvio Venosa 131 determina que, as pessoas jurídicas

surgem do seguinte contexto:

O homem, ser humano, é dotado de capacidade jurídica. No entanto, isoladamente é pequeno demais para a realização de grandes empreendimentos. Desde cedo percebeu a necessidade de conjugar esforços, de unir-se a outros homens, para realizar determinados empreendimentos, conseguindo, por meio dessa união, uma polarização de atividades em torno do grupo reunido. Daí decorre a atribuição de capacidade jurídica aos entes abstratos assim constituídos, gerados pela vontade e necessidade do homem. Surgem, portanto, as pessoas jurídicas, ora como conjunto de pessoas, ora como destinação patrimonial, aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações. Porém não basta a simples aglomeração de pessoas para que surja uma pessoa desvinculada da vontade e da autonomia de seus próprios membros. É imprescindível a vinculação psíquica entre os que constituem a pessoa jurídica para que esta seja considerada. Para a constituição de uma pessoa jurídica exigem-se três requisitos básicos: a vontade humana criadora, observância das condições legais para a sua formação e liceidade de finalidade. No que diz respeito à vontade humana, o animus de constituir um corpo social diferente dos membros integrantes é fundamental. Há um direcionamento da vontade de várias pessoas em torno de uma finalidade comum e de um organismo, em sendo assim, a pessoa jurídica tem como nascimento a vontade criadora. Ainda, para que a pessoa jurídica possa gozar de suas prerrogativas na vida civil, cumpre observar o segundo requisito, qual

131

VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Parte Geral. 4ª ed. vol. 1. São Paulo: Atlas, 2004, p. 253-257.

52

seja a observância das determinações legais e finalmente, que a atividade do novo ente deve dirigir-se para um fim lícito.

Nesse norte, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho

conceituam a pessoa jurídica como sendo “o grupo humano, criado na forma da lei, e

dotado de personalidade jurídica própria, para a realização de fins comuns”.132

Já para Maria Helena Diniz, pessoa jurídica é “a unidade de

pessoas naturais ou de patrimônios que visa à obtenção de certas finalidades

reconhecida pela ordem jurídica como sujeito de direitos e obrigações”. 133

Afirma ainda que, pela “teoria da realidade das instituições

jurídicas de Hauriou, a pessoa jurídica é uma instituição jurídica. A personalidade

jurídica é um atributo que a ordem jurídica estatal outorga a entes que o merecem”. 134

Portanto, pode-se dizer que pessoas jurídicas são organizações

constituídas por um agrupamento de pessoas ou por um complexo patrimonial (massa

de bens), tendo em vista a persecução de um interesse comum determinado, e às quais

a ordem jurídica atribui a qualidade de sujeito de direito, isto é, reconhece como centros

autônomos de relações jurídicas. 135

2.1.1 Classificação das pessoas jurídicas

Quanto às funções e capacidade, as pessoas jurídicas são de

direito público e de direito privado. As pessoas jurídicas de direito público podem ser

pessoas jurídicas de direito público interno ou externo. São assim classificadas, de

acordo com o disposto no art. 40 do CC

132

GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA Filho, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. p. 205.

133 DINIZ; Maria Helena. Código Civil Anotado. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 48.

134 DINIZ; Maria Helena. Código Civil Anotado. p. 48.

135 NERY JR, Nelson; NERY,Rosa Maria de Andrade. Código Civil Comentado. 4ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 200.

53

2.1.1.1 Pessoas jurídicas de direito privado

O atual CC Brasileiro enuncia as pessoas jurídicas de direito

privado em seu art. 44, sendo elas: as associações; as sociedades e as fundações.136

No entendimento de Silvio de Salvo Venosa, as pessoas jurídicas

de direito privado “originam-se da vontade individual, propondo-se à realização de

interesses e fins privados, em benefício dos próprios instituidores ou de determinada

parcela da coletividade”. 137

As pessoas jurídicas de direito privado, são instituídas por

iniciativa de particulares, conforme o art. 44, I a III, e dividem-se em associações,

sociedades simples e empresárias, fundações particulares, e ainda partidos políticos

(Lei nº 9.096/95, art. 1°; CF/88, art. 17, §2°). 138

2.1.1.2 Pessoas jurídicas de direito público

Os romanos compreendiam o Estado como pessoa que tinha

patrimônio, dava liberdade para os escravos, recolhia a herança e o legado etc. O

aerarium era a caixa pública, a personificação econômica do povo romano. Depois

aparece a expressão fiscus para significar o conjunto dos órgãos da administração

financeira do Estado. 139

As pessoas jurídicas de direito público nascem da iniciativa e

vontade pública, diferentemente das pessoas jurídicas de direito privado que são

caracterizadas pela iniciativa particular. São divididas em duas subespécies: direito

público interno e direito público externo.

136

VADEMECUM. Código Civil: Lei nº 10.406/2002. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 147.

137 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. p. 268

138 DINIZ; Maria Helena. Código Civil Anotado. p. 49.

139 NERY JR, Nelson; NERY,Rosa Maria de Andrade. Código Civil Comentado. p. 201.

54

2.1.1.2.1 Pessoas jurídicas de direito público interno

O art. 41 do CC, divide as pessoas jurídicas de direito público

interno, da seguinte maneira: União; Estados, Distrito Federal e Territórios; Municípios;

autarquias e demais entidades de caráter público criadas por lei. 140

2.1.1.2.2 Pessoas jurídicas de direito público externo

Ainda no referido diploma legal, remetendo ao disposto no art. 42

e seu parágrafo único, encontra-se a definição de pessoa jurídica de Direito Público

Externo:

Art. 42. São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional público.

Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as pessoas jurídicas de direito público, a que se tenha dado estrutura de direito privado, regem-se, no que couber, quanto ao seu funcionamento, pelas normas deste Código.141

São regulamentadas pelo direito internacional público,

abrangendo: nações estrangeiras, Santa Sé e organismos internacionais (ONU, OEA,

UNESCO, FAO etc.). 142

Para Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery, “um

sujeito de Direito Internacional é uma entidade com capacidade para possuir direitos e

deveres internacionais para defender seus direitos através de reclamações

internacionais”. 143

140

VADEMECUM. Código Civil: Lei nº 10.406/2002. p. 147.

141 VADEMECUM. Código Civil: Lei nº 10.406/2002. p. 147.

142 DINIZ; Maria Helena. Código Civil Anotado. p. 40.

143 NERY JR, Nelson; NERY,Rosa Maria de Andrade. Código Civil Comentado. p. 202.

55

2.1.1.3 Diferenças entre pessoas jurídicas de direito privado e de direito público.

Sobre as diferenças entre as duas supracitadas modalidades de

pessoa jurídica de direito público, Silvio de Sálvio Venosa 144 estabelece que:

O Estado, pessoa jurídica fundamental, tem sua origem na Constituição, é pessoa jurídica que surge, espontaneamente, de uma elaboração social, como necessidade para ordenar a vida de determinada comunidade. [...] Em síntese, a pessoa jurídica de direito público é criada por lei. Já as pessoas jurídicas de direito privado obedecem a um processo diverso de criação. [...] Em nosso direito, há duas fases distintas a se examinar: primeiramente, o ato constitutivo, e, posteriormente, a formalidade do registro.

Em um primeiro momento, há constituição da pessoa jurídica por

um ato unilateral intervivos ou causa mortis nas fundações. Nas corporações, tal fato se

dá por um ato bilateral ou plurilateral. 145

Após a existência do ato escrito e da autorização, caso seja ela

necessária, passa-se à fase do registro. O art. 46, do CC especifica o que,

necessariamente, o registro declarará. 146

2.1.2 Nascimento e extinção da pessoa jurídica

A pessoa jurídica inicia-se de acordo com atos jurídicos ou

decorrentes de normas. 147

A inscrição do ato constitutivo ou do contrato social no registro

competente – junta comercial, para as sociedades mercantis em geral; e cartório de

registro civil de pessoas jurídicas, para as fundações, associações e sociedades civis –

é condição indispensável para a atribuição de personalidade jurídica, cabendo ainda

salientar que o registro da pessoa jurídica tem natureza constitutiva, por ser atributivo

de sua personalidade, diferentemente do registro civil de nascimento da pessoa natural,

144

VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Parte Geral. p. 285-287.

145 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Parte Geral. p. 285-287.

146 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Parte Geral. p. 285-287.

147 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro.: Teoria Geral do direito Civil. 19ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 229.

56

eminentemente declaratório da condição da pessoa, já adquirida no instante do

nascimento com vida. 148

Entretanto, como não possui caráter ad eternum, a pessoa

jurídica, assim como a pessoa física, também completa seu ciclo existencial

extinguindo-se. Conforme Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho 149, a

extinção da pessoa poderá ser:

A) Convencional - é aquela deliberada entre os próprios sócios, respeitado o estatuto ou o contrato social;

B) Administrativa - resulta da cassação da autorização de funcionamento, exigida para determinadas sociedades se constituírem e funcionarem [...].

C) Judicial – nesse caso, observada uma das hipóteses de dissolução previstas em lei ou no estatuto, o juiz, por iniciativa de qualquer dos sócios, poderá, por sentença, determinar a sua extinção. Vale lembrar que, segundo o art. 1.218 do Código de Processo Civil, continua em vigor o procedimento regulado pelo CPC de 1939, concernente à dissolução e liquidação das sociedades (arts. 655 a 674).

O CC, em seu art. 51, dispõe que nos casos de dissolução da

pessoa jurídica ou cassada à autorização para seu funcionamento, ela subsistirá para

fins de liquidação, até que esta se conclua.

Finda a liquidação, inclusive com a satisfação das obrigações

tributárias, “promover-se-á o cancelamento da inscrição da pessoa jurídica, o que será

averbado no mesmo registro onde originalmente inscrita”. 150

2.1.3 Desconsideração da pessoa jurídica

A teoria da desconsideração da pessoa jurídica foi desenvolvida

pelos tribunais norte americanos para impedir o uso da pessoa jurídica para possibilitar

fraudes e abusos de direito, e para que se possa alcançar os bens de seus sócios. 151

148

GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA Filho, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. p. 211-212.

149 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA Filho, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. p. 211-212.

150 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA Filho, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. p. 270.

57

De acordo com a referida teoria, existe a possibilidade de se

ignorar a personalidade jurídica autônoma da entidade moral sempre que esta vinha a

ser utilizada para fins fraudulentos ou diversos daqueles para os quais foi constituída,

permitindo que o credor de obrigação assumida pela pessoa jurídica alcance o

patrimônio particular de seus sócios ou administradores para a satisfação de seus

créditos. 152.

Em princípio, a pessoa jurídica tem personalidade distinta de seus

membros e seu patrimônio não se confunde com o de seus sócios. Por meio do instituto

da desconsideração da pessoa jurídica, ignora-se a sua autonomia patrimonial, para

atingir bens particulares de seus sócios, de forma que impeça a concretização de

fraudes à lei ou contra terceiros.

Assim, com o intuito de evitar o uso indevido da pessoa jurídica,

foi incorporada ao ordenamento jurídico pátrio à teoria da desconsideração da pessoa

jurídica, que se encontra prevista no art. 50 do CC, que dispõe, in verbis:

Art. 50 - Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. 153

Sobre o tema, discorre Maria Helena Diniz 154:

A pessoa jurídica é uma realidade autônoma, capaz de direitos e obrigações, independentemente de seus membros, pois efetua negócios sem qualquer ligação com a vontade deles, e, além disso, se a pessoa jurídica não se confunde com as pessoas naturais que a compõem, se o patrimônio da sociedade não se identifica com o dos sócios, fácil será lesar os credores, mediante abuso de direito, caracterizado por desvio de finalidade, tendo-se em vista que os bens particulares dos sócios não podem ser executados antes dos bens sociais, havendo dívida da

151

IRIGARAY, Carlos Teodoro Hugueney; RIOS, Aurélio Virgílio Veiga. (orgs). O Direito e o Desenvolvimento Sustentável. p. 389.

152 NERY JR, Nelson; NERY,Rosa Maria de Andrade. Código Civil Comentado. p. 208.

153 VADEMECUM. Código Civil: Lei nº 10.406/2002. p. 148.

154 DINIZ; Maria Helena. Código Civil Anotado. p. 57.

58

sociedade. Por isso o Código Civil pretende que, quando a pessoa jurídica se desviar dos fins determinados se sua constituição, ou quando houver confusão patrimonial, em razão de abuso da personalidade jurídica, órgão judicante, a requerimento da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo, está autorizado a desconsiderar, episodicamente, a personalidade jurídica, para coibir fraudes de sócios que dela se valeram como escudo, sem importar essa medida numa dissolução da pessoa jurídica.

Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery ressaltam que

155:

A identificação do desvio de finalidade nas atividades da pessoa jurídica deve partir da constatação da efetiva desenvoltura com que a pessoa produz a circulação de serviços ou de mercadorias por atividade lícita, cumprindo ou não seu papel social, nos termos de sua personalidade jurídica.

Por sua vez, Sílvio de Salvo Venosa 156, manifesta-se nesse

sentido:

[...] A aplicação da desconsideração possui gradação. Por vezes, a simples desconsideração no caso concreto é suficiente para restabelecer o equilíbrio jurídico. Outras vezes, será necessário ato mais abrangente, como a própria decretação da extinção da pessoa jurídica. Ainda, a gradação da desconsideração estará na medida da prática de um ato isolado abusivo ou fraudulento, ou de uma série de atos, o que permitirá a desconsideração equivalente. Como se denota, o tema é vasto, de difícil enumeração teórica.

No entanto, como bem destaca Juliana Santilli, “os bens dos

sócios só serão atingidos quando a pessoa jurídica responsável mostrar-se desprovida

de bens suficientes para a satisfação do débito”. 157

Tem-se ainda que a mencionada desconsideração, só será

juridicamente admissível quando, por meio do conjunto probatório, for possível denotar-

se a presença de elementos que levem à conclusão de terem os sócios agido com

155

NERY JR, Nelson; NERY,Rosa Maria de Andrade. Código Civil Comentado.p. 208-209.

156 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. p. 312.

157 IRIGARAY, Carlos Teodoro Hugueney; RIOS, Aurélio Virgílio Veiga. (orgs.). O Direito e o Desenvolvimento Sustentável. p. 389.

59

intenção dolosa, infringindo preceitos legais, ou se ficar comprovada a extinção irregular

da empresa, a não integralização do capital ou ainda nas hipóteses em que houver

confusão entre a pessoa jurídica e a pessoa física dos sócios. 158

Por sua importância, a teoria da desconsideração da pessoa

jurídica também foi recepcionada pela Lei nº 9.605/98 que dispõe sobre os crimes

ambientais, como forma de coibir a ocorrência de fraudes, de abusos ou de quaisquer

atos que de alguma forma obstaculizem o necessário ressarcimento de prejuízos que

forem causados ao MA 159, senão vejamos:

Art. 4º Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente.

Portanto, a teoria da desconsideração da pessoa jurídica é um

remédio jurídico que possibilita aos magistrados prescindirem da estrutura formal da

pessoa jurídica para tornar a sua existência autônoma, como sujeito de direitos, ineficaz

em uma situação particular. Entretanto deve ser utilizado em casos excepcionais, em

razão do princípio segundo o qual as pessoas jurídicas não se confundem com as

pessoas físicas que são suas proprietárias. 160

2.2 ASPECTOS GERAIS SOBRE A RESPONSABILIDADE DA PESSOA JURÍDICA

EM MATÉRIA AMBIENTAL

A primeira idéia que deve ser associada à de responsabilidade é a

de compensação pelo dano causado. Tal compensação, contudo, tem passado por

diferentes etapas e concepções, e por isso sua evolução não é linear. 161

158

IRIGARAY, Carlos Teodoro Hugueney; RIOS, Aurélio Virgílio Veiga. (orgs.). O Direito e o Desenvolvimento Sustentável. p. 389.

159 COPOLA, Gina. A Lei dos Crimes Ambientais Comentada Artigo por Artigo: Jurisprudência Sobre a Matéria. Belo Horizonte: Fórum, 2008, p. 42.

160 CEOLINI, Ana Caroline Santos. Abusos na aplicação da teoria da desconsideração da pessoa jurídica. p. 1/2.

161 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p. 202-203.

60

Juridicamente, define-se como responsabilidade, a obrigação

geral de responder pelas consequências dos próprios ou de outros perante um terceiro

que foi lesionado por tais atos. Deriva etimologicamente do latim responsus do verbo

respondare (responder, afiançar, prometer, pagar), que transmite a idéia de alguém

reparar, recuperar, compensar, ou pagar pelo que fez. 162

Em matéria ambiental, o agressor poderá incorrer em três

espécies de responsabilidades admitidas em nosso ordenamento jurídico:

administrativa, penal e civil. 163

Neste estudo, nos interessa especificamente as minúcias relativas

à responsabilidade penal da pessoa jurídica. Entretanto, necessário se faz realizar uma

breve análise das responsabilidades civil e administrativa da pessoa jurídica no tocante

ao MA.

2.2.1 Responsabilidade administrativa

O art. 225 da CRFB/88, em seu art. § 1º, destaca várias medidas

administrativas de proteção ao meio ambiente, dentre as quais se destacam a

preservação e restauração dos processos ecológicos essenciais; a preservação da

diversidade e da integridade do patrimônio genético e fiscalização das entidades

dedicadas à pesquisa e à manipulação de material genético; a exigência de estudo

prévia de impacto ambiental; o controle de vida e do MA; proteção à fauna e flora, e

outros mais. 164

Édis Milaré ressalta que “a aplicação de sanções administrativas

figura entre as mais importantes expressões do poder de polícia conferido a

Administração Pública”. 165

162

ARAÚJO, Gisele Ferreira (Org.). Direito Ambiental. p. 118.

163 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p. 65.

164 MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil Interpretada. p. 2.202.

165 COSTA JR, Paulo José da; MILARÉ, Édis, Direito Penal Ambiental. p. 200

61

Pela Lei nº 11.105/2005, toda ação ou omissão que viole as

normas previstas na referida norma e demais disposições legais pertinentes constitui

infração administrativa ou ilícito administrativo. Destarte, é mais abrangente que as

infrações penais, pois haverá punição por qualquer ação ou omissão contrária a

quaisquer preceitos constantes de lei, regulamento ou condições de licença ambiental.

Por sua vez, o art. 2º do Decreto nº 6.514/2008, dispõe que se

entende por infração administrativa ambiental, toda ação ou omissão que viole as

regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente.

Notadamente que, para tanto, é preciso que haja uma autoria, ou

uma imputação do fato infracional a uma pessoa, física ou jurídica. A lei exige um

comportamento omissivo ou comissivo de alguém que, de qualquer forma, concorra na

prática da infração, do mesmo modo como acontece no campo penal.

São pressupostos da responsabilidade administrativa: a

configuração de fato e de direito de conduta contrária a qualquer preceito legal, em

sentido amplo; um nexo direto entre o agente autuado e a conduta descrita no auto da

infração. 166

Nos termos do art. 3º ainda do Decreto nº 6.514/2008, as

infrações administrativas são punidas com s seguintes sanções: advertência; multa

simples; e multa diária, além daquelas previstas no art. 72 da 9.605/98 (Lei de Crimes

Ambientais).

2.2.2 Responsabilidade civil

Refere-se a uma cidadania consciente que resume e amplia o

conceito de educação social e cívica, uma cultura de boa convivência em sociedade e

com a natureza, resultado de uma educação social orientada pelas famílias, pela

comunidade e pelo Estado. 167

166

MOUNDJIAN, Rafael Garabed (Org.). Direito Ambiental. p. 119.

167 MOUNDJIAN, Rafael Garabed (Org.). Direito Ambiental. p. 120.

62

Do latim, “Civis, civitatis = civil, cidade, está diretamente

relacionado ao exercício da cidadania, ligada às virtudes cívicas”. 168

A observância das regras morais de bem viver em comunidade

implica nos respeito pelo próximo (indivíduo ou cidadão) e pelo MA, ou meio ecológico

em que vivemos. A inobservância destas regras, tanto morais como jurídicas,

caracteriza ato ilícito contrário à lei, ou seja, um dano que deverá ser reparado. 169

Sobre o ato ilícito, dita o art. 186 do CC:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 170

Por sua vez, o art. 187 do CC estabelece regra ética sobre a boa-

fé e sociabilidade:

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. 171

Sobre a obrigação de reparar o dano, tem-se o disposto no art.

927 do referido Diploma Legal:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. 172

A responsabilidade civil ambiental segue três princípios básicos,

sendo eles: o da prevenção, a do poluidor pagador e o da reparação integral. Seus

pressupostos são os eventos danosos e o nexo de causalidade, sendo a

168

MOUNDJIAN, Rafael Garabed (Org.). Direito Ambiental. p. 120.

169 MOUNDJIAN, Rafael Garabed (Org.). Direito Ambiental. p. 120.

170 LUZ, Valdemar P. da; TONIAZZO, Paulo Roberto Froes. Código Civil, Código de Processo Civil, Constituição Federal, Estatuto da OAB e Legislação Complementar. Florianópolis: Conceito, 2008, p. 178.

171 LUZ, Valdemar p da; TONIAZZO, Paulo Roberto Froes. Código Civil, Código de Processo Civil, Constituição Federal, Estatuto da OAB. p. 178.

172 LUZ, Valdemar p da; TONIAZZO, Paulo Roberto Froes. Código Civil, Código de Processo Civil, Constituição Federal, Estatuto da OAB. p. 931.

63

responsabilidade civil em matéria ambiental, via de regra considerada como sendo

objetiva. 173

Para melhor explanar o tema, necessário utilizar-se dos

ensinamentos de Paulo Affonso Leme Machado 174:

A responsabilidade objetiva ambiental significa que quem danificar o ambiente tem o dever jurídico de repará-lo. Presente, pois, o binômio dano/reparação. Não se pergunta a razão da degradação para quem haja o dever de indenizar e/ou reparar. A responsabilidade sem culpa tem incidência na indenização ou na reparação dos „danos causados ao meio ambiente e aos terceiros afetados por sua atividade‟ (Art. 14, §1º, da Lei 6.938/81). Não importa que tipo de obra ou atividade seja exercida pelo que degrada, pois não há necessidade de que ela apresente risco ou seja perigosa. Procura-se quem foi atingido e, se for o meio ambiente e o homem, inicia-se o processo lógico –jurídico da imputação civil objetiva ambiental. Só depois é que entrará na fase do estabelecimento do nexo de causalidade entre a ação ou omissão e o dano. É contra o Direito enriquecer-se ou ter lucro à custa da degradação do meio ambiente.

Assim, a ação reparatória por um eventual dano ambiental

obedece ao sistema da responsabilidade objetiva, fundada no risco próprio de qualquer

atividade. 175

O responsável pagará pelo dano, como poluidor direto, por

condenação em ação civil pública. Se houver outros agentes, aplica-se a

responsabilidade solidária. Se apenas um pagar, poderá cobrar dos demais por ação de

regresso, pela responsabilidade subjetiva segundo a parcela de culpa de cada um. 176

A indenização ou reparação dever ser integral. Mesmo se for

insuficiente, pois o MA alterado, na grande maioria das vezes, jamais voltará a ter a

173

MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 16ª ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Malheiros, 2008, p. 347.

174 MOUNDJIAN, Rafael Garabed (Org.). Direito Ambiental. p 122.

175 MOUNDJIAN, Rafael Garabed (Org.). Direito Ambiental. p 122.

176 MOUNDJIAN, Rafael Garabed (Org.). Direito Ambiental. p 122.

64

mesma qualidade do valor intrínseco da biodiversidade, do equilíbrio ecológico ou da

plena qualidade de vida, que detinha antes de ser danificado. 177

Importante ressaltar que em relação à pessoa jurídica de direito

público interno, em que atue como co-autor do dano, a responsabilidade será subjetiva

e não objetiva. É prescindível a investigação de culpa, sendo irrelevante a licitude da

atividade, não se aplicando excludentes ou cláusula de não indenizar. 178

2.2.3 Responsabilidade penal

Passamos doravante, a analisar a responsabilidade penal da

pessoa jurídica, sua previsão constitucional, finalidade, requisitos para sua

caracterização, bem como as teorias favoráveis e contrárias a sua aplicação.

2.2.3.1 A CRFB/88 e a responsabilidade penal ambiental

Cabe à Constituição, como lei fundamental, traçar o conteúdo

inerente à responsabilidade penal ambiental. É por isso que será localizado na norma

constitucional referente a essa modalidade de responsabilidade.

As constituições anteriores nada dispuseram nesse mister,

inovando assim a CRFB/88, que abordou a responsabilidade penal da pessoa jurídica,

tendo previsão nos arts. 173, § 5º e 225, § 3º, que dispõe:

Art. 173 – Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.

[...]

§ 5º - A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às punições compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular.

177

MOUNDJIAN, Rafael Garabed (Org.). Direito Ambiental. p 122.

178 MOUNDJIAN, Rafael Garabed (Org.). Direito Ambiental. p 122.

65

Art. 225 – Todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

[...]

§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão aos infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos.179

Passados mais de 20 anos da vigência da Constituição brasileira,

é possível afirmar que ela alterou o tratamento dado ao MA no Brasil. Ela colaborou na

conscientização das pessoas e influenciou diretamente na elaboração de novas leis

protetoras do ambiente, como por exemplo, a Lei 9.605/98.180

Dos ensinamentos de Sérgio Salomão Shecaira 181 extrai-se que:

A responsabilidade penal da pessoa jurídica continua sendo tema polêmico e candente em direito penal, particularmente na doutrina brasileira. O legislador constituinte reavivou a discussão do assunto ao editar os dois dispositivos acima citados. Não obstante existirem opiniões contrárias – de juristas de nomeada -, a nosso juízo não há dúvida de que a Constituição estabeleceu a responsabilidade penal da pessoa jurídica.

Diante dos dispositivos constitucionais acima citados, ficou

expressa a responsabilidade penal da pessoa jurídica frente aos crimes ambientais,

porém como Shecaira mencionou, tal assunto continua sendo palco de muito polêmico

em direito penal, particularmente na doutrina brasileira. A seguir, tratar-se-á da

finalidade de proteção do penal do MA.

179

VANDEMECUM. Constituição da República Federativa do Brasil. p. 69-70.

180 FREITAS, Vladimir Passos de; FREITAS, Gilberto Passos de. Crimes contra a natureza p. 22-23.

181 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica. 2ª ed. São Paulo: Método, 2002, p. 132.

66

2.2.3.2 Finalidade da proteção: Tutela penal

A grande maioria dos crimes praticados contra o MA tem como

sujeito as pessoas jurídicas que, na sua busca constante de riqueza, lucro,

crescimento, não respeitam as questões ambientais, gerando poluição em mares e rios

e causando um desequilíbrio ambiental imenso.

Destarte, a proteção do MA se faz necessária, pois esta não se

resume apenas à conservação, mas, “à coordenação e racionalização do uso dos

recursos, com a finalidade de preservar o futuro do homem”. 182

Essa idéia vai ao encontro dos ensinamentos de Luiz Régis Prado

183, que cita:

O desenvolvimento industrial, o processo tecnológico, a urbanização desenfreada, a explosão demográfica e a sociedade de consumo, entre outros fatores, têm tornado atual e dramático o problema da limitação dos recursos do nosso planeta e da degradação do ambiente natural. Todavia os acontecimentos na esfera ambiental, data de época recente o reconhecimento da importância da conservação do ambiente. E assim sendo toda a política ambiental deve procurar equilibrar e compatibilizar as necessidades de industrialização e desenvolvimento com as de proteção, restauração e melhora do ambiente, tratando-se, portanto, de optar por um desenvolvimento econômico qualitativo, único, capaz de propiciar uma real elevação da qualidade de vida e do bem-estar social, isso vale dizer: desenvolvimento sustentável, como desenvolvimento racional do ponto de vista ecológico (utilização racional e equilibrada dos recursos naturais), acompanhado de uma gestão judiciosa do meio.

Tal desenvolvimento sustentável, busca a satisfação das

necessidades do presente sem comprometer os recursos que as gerações futuras

necessitarão no futuro.

182

GOMES, Celeste Leite dos Santos Pereira, Crimes Contra o Meio Ambiente: Responsabilidade e Sanção Penal. 2ª ed. atual. ampl. São Paulo: Juarez de Oliveira, 1999. p. 1.

183 PRADO, Luiz Régis. Direito Penal do Ambiente: Meio ambiente, patrimônio cultural, ordenação do território e biossegurança (com a análise da Lei 11.105/2005) São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 63-68.

67

Como bem destacam Vladimir Passos de Freitas e Gilberto

Passos de Freitas 184, a luta na defesa do MA tem encontrado no Direito Penal um de

seus mais significativos instrumentos, dês que:

[...] muitas são as sanções administrativas ou civis que não se mostram suficientes para a repressão das agressões ao MA e o processo penal gera efeitos que as demais formas de repressão não alcançam.

Nessa perspectiva, pode-se concluir que o emprego de sanções

penais para a proteção do MA em determinadas ocasiões se tem revelado como

indispensável, não só em função da própria relevância dos bens protegidos e da

gravidade das condutas a perseguir, senão também pela maior eficácia dissuasória que

a sanção penal possui. 185

Luís Paulo Sirvinskas 186, com maestria explana sobre o bem

jurídico tutelado, em matéria ambiental:

É na Constituição que estão fundados os valores básicos da comunidade. Assim, o conceito de bem jurídico implica na realização de um valor acerca de determinado objeto ou situação social e de sua relevância para o desenvolvimento humano. É também na Constituição que se busca o fundamento jurídico-político para a tipificação do delito e a fixação da pena. [...] Bem jurídico tutelado, nesse mister, em outras palavras, é o meio ambiente natural, cultural, artificial e do trabalho. Não há dúvidas que a educação ambiental é o melhor caminho para se tutelar o meio ambiente, mas enquanto isso não se concretiza, deve-se protegê-lo utilizando-se de todos os meios permitidos legalmente para garantir a sobrevivência das presentes e futuras gerações.

Como já demonstrado no primeiro capítulo desde trabalho

monográfico, a CRFB/88, em seu art. 225, garante a todos a proteção e o bom uso do

MA, pois todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, sendo um

bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao

Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e

futuras gerações.

184

FREITAS, Vladimir Passos de; FREITAS, Gilberto Passos de. Crimes contra a natureza. p. 31- 32.

185 FREITAS, Vladimir Passos de; FREITAS, Gilberto Passos de. Crimes contra a natureza. p. 31- 32.

186 SIRVINSKAS, Luís Paulo. Tutela Penal do Meio Ambiente. p.15-18.

68

Traz ainda no § 3º do referido artigo, que as condutas e atividades

que forem consideradas lesivas ao MA sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou

jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de

reparar os danos.

Assim, a relação estabelecida entre esse preceito constitucional e

o conceito de bem jurídico-penal ambiental é direta e explícita (art. 225, § 3º, da CF),

bem como o dever do Poder Público e da coletividade de defender e preservar o MA,

como bem diz Luis Régis Prado 187:

A última inovação vem gizada no parágrafo 3º do artigo 225 como uma determinação particular, em que se prevê explicitamente a cominação de sanções penais e administrativas, conforme o caso, aos sujeitos (pessoas físicas ou jurídicas) que eventualmente causem lesão ao citado bem. Desse modo não se limita simplesmente a fazer uma declaração formal de tutela do ambiente, mas, na esteira da melhor doutrina e legislação internacional, estabelece a imposição de medidas coercitivas aos transgressores do mandamento constitucional. Assinala-se a necessidade de proteção jurídico-penal, com a obrigação ou mandato expresso de criminalização.

Reina entre os autores uma confusão ao definir a

responsabilidade penal, uma vez que a lei brasileira não a define, a não ser

indiretamente ao enunciar as circunstâncias que a excluem. Alguns vêem na

responsabilidade um mero pressuposto de culpabilidade, para outros ela a engloba.

Analisando a terminologia da palavra responsabilidade vislumbra-

se que se forma do vocábulo responsável, de responder, do latim respondere. Em

sentido geral, a responsabilidade exprime uma obrigação de responder por alguma

coisa, tendo assim uma ampla significação, revelando o dever jurídico em que se coloca

a pessoa em virtude de um contrato, seja em face de fato ou omissão, que lhe seja

187

PRADO, Luiz Régis. Direito Penal do Ambiente: Meio ambiente, patrimônio cultural, ordenação do território e biossegurança (com a análise da Lei 11.105/2005) São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 80.

69

imputado, para satisfazer a prestação convencionada ou para suportar as sanções

legais, que lhe são impostas.188

De Plácido e Silva 189 traz que:

Entende-se a obrigação de sofrer o castigo ou incorrer nas sanções penais imposta ao agente do fato ou da omissão criminosa. A responsabilidade criminal ou penal funda-se na imputabilidade do ato criminoso. Embora responsabilidade e imputabilidade empreguem-se como expressões equivalentes, exprimem sentidos diferentes. A imputabilidade mostra, indica, põe a descoberto pelo autor do ato ilícito. A responsabilidade advém da evidência de que ele responde ou deve sofrear as sanções impostas por seu ato. Daí porque pode haver imputabilidade sem responsabilidade. E não pode haver responsabilidade sem imputabilidade, visto que esta é que determina a autoria, de que se deriva a obrigação de reparar o mal.

Celeste Leite dos Santos Pereira Gomes realizou um estudo sobre

a responsabilidade penal conectando-a com a ontologia e a axiologia, trazendo que a

ontologia é a diretriz básica do direito, haja vista que, ao cuidar do ser do direito, ajusta

esse à realidade das coisas e aos verdadeiros sentidos da vida de inter-relação. 190

A ontologia tem por característica vincular o sujeito da ação ao

resultado por este produzido, passando o autor da conduta a responder pelo ato gerado

através de sua ação. 191

Já a teoria dos valores – axiologia – é um instrumento de

embasamento do ordenamento jurídico, para a consecução do bem comum. Assim

sendo, a responsabilidade penal é, em última análise, a síntese das valorações

desenvolvidas sobre os dados de natureza ôntica. 192

188

SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 22ª ed. atual. por Nagib Slaibi Filho e Gláucia Carvalho Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 1.222.

189 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p. 1.223.

190 GOMES, Celeste Leite dos Santos Pereira, Crimes Contra o Meio Ambiente. p. 16-17.

191 GOMES, Celeste Leite dos Santos Pereira, Crimes Contra o Meio Ambiente. p. 16-17.

192 GOMES, Celeste Leite dos Santos Pereira, Crimes Contra o Meio Ambiente. p. 16-17.

70

A ontologia e a axiologia se complementam na formação da ordem

jurídica e consequentemente da responsabilidade penal no mundo do Direito. Constata-

se que o sistema jurídico é produto da conjugação do ser por si considerado, e dos

valores fundamentais da sociedade na qual está inserido. 193

Dessa forma, do ponto de vista penal, a culpabilidade é um dos

elementos fundamentais na determinação da responsabilidade penal do agente e, como

já estudado anteriormente, a culpabilidade é elemento do crime, já que sem ela

acarreta a inexistência do fato típico. 194

Da responsabilidade penal, ou seja, a obrigação de sofrer um

castigo ou incorrer nas sanções penais imposta ao agente do fato ou da omissão

criminosa, Celeste Leite dos Santos Pereira Gomes 195, cita que:

O conceito de ação de reparação supõe regra geral que um dano tenha acontecido. No entanto, a violação de uma obrigação prescrita pela legislação conduz a aplicação de sanções, mesmo que não se trate de um prejuízo mensurável, como por exemplo, a infração das regras limitativas de velocidade em uma estrada, mesmo que nenhum acidente tenha sido produzido. Assim, a responsabilidade se funda em um risco de dano. [...] Aqueles que causam dano ao meio ambiente são considerados responsáveis e passíveis de sanções administrativas e penais.

Como já exposto, a responsabilidade penal funda-se na

imputabilidade do ato criminoso. Embora responsabilidade e imputabilidade

empreguem-se como expressões equivalentes, exprimem sentidos diferentes, como

será demonstrado a seguir.

Cabe salientar que não pode haver responsabilidade penal sem

imputabilidade, visto que esta é que determina a autoria, de que se deriva a obrigação

de reparar o mal.

193

GOMES, Celeste Leite dos Santos Pereira, Crimes Contra o Meio Ambiente. p. 14-15.

194 GOMES, Celeste Leite dos Santos Pereira, Crimes Contra o Meio Ambiente. p. 16-17.

195 GOMES, Celeste Leite dos Santos Pereira, Crimes Contra o Meio Ambiente. p. 16-17.

71

A imputabilidade em sua terminologia, consoante De Plácido e

Silva 196, significa que:

Derivado de imputar, do latim imputare (levar em conta, atribuir, aplicar), exprime a qualidade do que é imputável. Nestas condições, seja nos domínios do Direito Civil ou Penal, a imputabilidade revela a indicação da pessoa ou do agente, a quem se deve atribuir ou impor a responsabilidade, ou a autoria de alguma coisa, em virtude de fato verdadeiro que lhe seja atribuído, ou de cujas conseqüências seja responsável. Desse modo, a imputabilidade mostra a pessoa para que se lhe imponha a responsabilidade. E, assim, é condição essencial para evidência da responsabilidade, pois que não haverá esta quando não se possa imputar à pessoa o fato de que resultou a obrigação de ressarcir o dano ou responder pela sanção penal. A imputabilidade, portanto, antecede à responsabilidade. Por ela, então é que se chega a conclusão da responsabilidade, para aplicação da pena ou imposição da obrigação.

Neste norte, igualmente entende Flávio Augusto Monteiro de

Barros 197:

A imputabilidade torna o agente responsável pela prática do crime, sujeitando-o à imposição da pena, desde que presentes os elementos da culpabilidade. No direito penal, o fundamento da imputabilidade é a capacidade de entender e de querer. [...] O seu reconhecimento depende da aptidão para conhecer a ilicitude do fato e determinar-se segundo esse entendimento. A capacidade de entender o caráter criminoso traduz-se apenas na possibilidade de o agente compreender que a sua conduta viola a ordem jurídica. Não é preciso o conhecimento técnico do jurista, nem que o agente saiba que seu comportamento constitui crime. Urge, no entanto, que tenha possibilidade de saber que sua conduta é reprovada pelo direito. [...] Imputabilidade é a capacidade de entender e de querer. Responsabilidade é a obrigação que a pessoa tem de sofrer as conseqüências penais da conduta. O indivíduo pode ser imputável e não sofrer as conseqüências penais. Tal ocorre, por exemplo, quando ele age em legítima defesa ou sob coação moral irresistível. Concluindo: todo responsável é imputável, mas nem todo imputável é responsável.

Acrescenta João José Leal 198:

O que fundamenta a imputabilidade é a idéia e que o homem, ao atingir certo grau de desenvolvimento inteletivo, adquire a necessária

196

SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p. 717.

197 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito Penal. p. 291.

198 LEAL, João Leal. Direito Penal Geral. p. 313.

72

capacidade de compreensão do caráter ilícito do fato típico, e, por isso, deve suportar a reprovação jurídico-penal, se decidiu escolher a prática do crime.

O CP Brasileiro não conceitua o que vem a ser imputabilidade,

apenas traz previsões de inimputabilidade nos arts. 26, 27 e 28, §1º.

Logo, para se saber se o agente do fato típico e ilícito era

imputável, é necessário verificar se não era inimputável com base nas normas penais

permissivas excludentes, abaixo transcritas:

Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial.

Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal:

[...]

§ 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Para o presente estudo monográfico, as causas de

inimputabilidade, em que pese sua importância, não serão delineadas. Isto posto,

passa-se a apreciar os pormenores referentes à responsabilidade penal da pessoa

coletiva.

2.2.3.3 A responsabilidade penal coletiva

Como já delineado anteriormente, a responsabilidade penal da

pessoa jurídica está expressamente prevista na CRFB/88, no Título VIII – Da Ordem

Social, Capítulo VI – Do Meio Ambiente, no art. 225, § 3º. Dez anos após a

promulgação da CRFB/88, tal dispositivo foi regulamentado pela Lei nº 9.605/98.

73

Tornando a CRFB/88, explícita à responsabilidade penal da

pessoa jurídica, coube à legislação infraconstitucional torná-la plausível de aplicação.

A indagação sobre os fundamentos que justificam a

responsabilidade penal da pessoa jurídica, nos força ao retorno de uma discussão, em

grande parte travada no século passado. Diz respeito à natureza das pessoas coletivas,

uma vez que, não raro os argumentos hoje utilizados para a adoção desse princípio,

são fundamentos basicamente em teorias originadas do pensamento de Savigny e

Gierke, que serão objeto dos próximos tópicos. 199

2.2.3.3.1 Teoria da ficção: Savigny

A teoria da ficção originou-se do Direito Romano, surgida na Idade

Média, preconiza que as pessoas jurídicas têm existência fictícia, faltando-lhes, assim,

a capacidade de aturar. Savigny e seus adeptos as consideram pessoas artificiais, não

podendo, desta feita, serem responsabilizados criminalmente. Sua idéia central é de

que somente o homem é capaz de ser sujeito de direitos. 200

Nos dizeres de Luiz Régis Prado 201, a teoria da ficção defendida

por Savigny, entende que:

Essa teoria, criada por Savigny, afirma que as pessoas jurídicas têm existência fictícia, irreal ou de pura abstração – devido a um privilégio lícito da autoridade soberana -, sendo, portanto, incapazes de delinqüir (carecem de vontade e de ação). O Direito Penal considera o homem natural, quer dizer, um ser livre, inteligente e sensível: a pessoa jurídica, ao contrário, encontra-se despojada dessas características, sendo só um ser abstrato. A realidade de sua existência se funda sobre as decisões de certo número de representantes que, em virtude de uma ficção, são consideradas como suas; e uma representação semelhante, que exclui a vontade propriamente dita, pode ter efeito em matéria civil, mas nunca em relação à ordem penal. Os delitos que podem ser imputados à pessoa jurídica são praticados sempre por seus membros ou diretores, isto é, por pessoas naturais, e pouco importa que o interessa da corporação tenha servido de motivo ou de fim para o delito.

199

GOMES, Celeste Leite dos Santos Pereira, Crimes Contra o Meio Ambiente. p. 25.

200 GOMES, Celeste Leite dos Santos Pereira, Crimes Contra o Meio Ambiente. p. 25.

201 PRADO, Luiz Régis. Direito Penal do Ambiente. p. 145.

74

De acordo com Celeste Leite dos Santos 202, algumas escolas

basearam-se na teoria da ficção, tais como: a escola clássica, escola positiva, terceira

escola e tecnicismo jurídico203. A seguir algumas informações acerca destas escolas e

seus fundamentos em relação à responsabilidade penal da pessoa jurídica:

Escola clássica: - unanimemente sustenta a incapacidade das pessoas jurídicas. Para Carrara o único sujeito ativo do delito é o homem, pois é dotado de vontade inteligente. Péssima comparte desse entendimento dado que as pessoas morais carecem de consciência e vontade. As únicas medidas que pode tomar o Estado contra aqueles que violem seus deveres jurídicos será a dissolução ou o seu desconhecimento, porém não poderá responsabilizar-se penalmente.

Escola positiva – adere à mesma tese que a anterior. Ferri considera a pessoa jurídica como abstração e, como tal, somente pode ser delinqüente em sentido legal, porém não no natural. Admite, sem embargo, que pode ser submetido ao Direito Penal Administrativo, se esta comete um delito coletivo por meio de seus órgãos; somente as pessoas físicas podem ser responsabilizadas no direito penal comum.

[...] Terceira escola: Alimena menciona que a tese da responsabilidade penal da pessoa jurídica é contraditória pelas diferenças entre o organismo animal do homem, o organismo social da corporação, e a vontade destas e a do homem. Garrand considera que a ação da pessoa jurídica está limitada a direitos e obrigações patrimoniais, porque não se enquadram na lei penal. O delito que cometem são praticados pelas pessoas físicas que a compõem, sendo que a pena recairá sempre sobre elas.

Tecnicismo jurídico: Manzini estabelece que o sujeito ativo do delito supõe uma potencialidade volitiva própria, que somente o homem possui. A pessoa jurídica carece de consciência unitária que requerem a responsabilidade e a imputabilidade penal. Os delitos cometidos em nome ou interesse da pessoa jurídica são imputados e infringidas nas penas dos seus autores.

Sobre o tema, importante registrar os ensinamentos de Sérgio

Salomão Shecaira 204 que cita:

202

GOMES, Celeste Leite dos Santos Pereira, Crimes Contra o Meio Ambiente. p. 25-27.

203 GOMES, Celeste Leite dos Santos Pereira, Crimes Contra o Meio Ambiente. p. 26.

204 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica. p. 101.

75

A pessoa jurídica poderia ser equiparada a um menor impúbere que exerce seu direito sempre através de um tutor, sendo a pessoa jurídica uma criação artificial da lei para exercer direitos patrimoniais. Conseqüentemente, a realidade da existência da pessoa jurídica se funda sobre as decisões de um certo número de representantes que, em virtude de uma ficção, são consideradas como suas; e uma representação de tal forma, que exclui a vontade propriamente dita, pode ter efeito em matéria civil, mas nunca em relação ao direito penal. Ora os delitos que são imputados à pessoa jurídica são praticados sempre pelas pessoas físicas que a compõe (diretores, membros, funcionários) e pouco importa que o interesse da corporação tenha servido de motivo ou de fim para o delito, já que a pessoa jurídica é um ser abstrato que o direito penal não pode atingir.

Para a teoria da ficção, a pessoa jurídica não pode cometer delito,

pois é destituída de consciência e de vontade. Os delitos praticados pela pessoa

jurídica são de responsabilidade de seus dirigentes. São estes os responsáveis pelos

crimes praticados pela pessoa jurídica. 205

2.2.3.3.2 Teoria da realidade: Gierke

A teoria da realidade, da personalidade real ou orgânica teve

como precursor mais ilustre Otto Gierke. Tal teoria parte de base diametralmente

oposta à ficção. 206

Nas palavras de Luiz Régis Prado 207:

A pessoa moral não é um ser artificial, criado pelo Estado, mas sim um ente real (vivo e ativo), independentemente dos indivíduos que a compõem. Do mesmo modo que uma pessoa física, atua como o indivíduo, ainda que mediante procedimentos diferentes, e pode, por conseguinte, atuar mal, delinqüir e ser punida. A pessoa coletiva tem uma personalidade real, dotada de vontade própria, com capacidade de agir e de praticar ilícitos penais. O ente corporativo existe, é uma realidade social é sujeito de direitos e deveres; em conseqüência, é capaz de dupla responsabilidade: civil e penal. Essa responsabilidade é pessoal, identificando-se com a da pessoa natural. As pessoas jurídicas aparecem, pois, como seres coletivos, dotados de vontade real, que podem exercitar em diversos sentidos; e nada impede, em princípio, que seja ela dirigida a fins proibidos, especialmente pela lei penal. Na

205

SIRVINSKAS, Luís Paulo. Tutela Penal do Meio Ambiente. p.59.

206 GOMES, Celeste Leite dos Santos Pereira, Crimes Contra o Meio Ambiente. p. 27.

207 PRADO, Luiz Régis. Direito Penal do Ambiente. p. 145-146.

76

atualidade, prepondera na doutrina o entendimento de que as pessoas jurídicas não são mera ficção; mas têm realidade própria, embora totalmente diversa das pessoas físicas ou naturais.

Ainda, nesses mesmos termos, Luís Paulo Sirvinskas cita que a

pessoa jurídica pode delinqüir, pois possui vontade que pode se exteriorizar pelas

somas das vontades dos seus sócios ou dirigentes. Por ser um organismo, uma

estrutura, sua vontade se expressa através de uma conduta ou de um ato lesivo ao MA.

Para essa teoria, pessoa não é somente homem, mas todos os entes possuidores de

existência real, abrangendo aí a pessoa física e jurídica. 208

Sérgio Salomão Shecaira 209 com grande maestria, traz sobre o

tema que:

Pessoa não é somente o homem, mas todos os entes dotados de existência real. [...] Gierke e Zitelman, sustentam que as pessoas jurídicas são pessoas reais, dotadas de uma real vontade coletiva, devendo ser equiparáveis, como seres sociais que são, às pessoas físicas. [...] Ela tem capacidade de querer e de agir, o que faz por meio de seus órgãos, da mesma forma que o ser humano comanda com sua cabeça seus membros para executar suas ações. [...] Seres coletivos dotados de uma vontade real, nada impedindo que tais entes dirijam suas finalidades contra normas proibitivas da lei penal. Na realidade, embora tal teoria tenha sofrido certa erosão pelas críticas a que foi submetida, é inescondível que a pessoa jurídica não é uma ficção, mas um verdadeiro ente social que surge da realidade concreta e que não pode ser desconhecido pela realidade jurídica. O Estado, pois, defere a certos entes uma forma, uma investidura e um atributo, tornando juridicamente real a existência desses seres pessoais. Não é por outra razão que a maior parte da doutrina nacional reconhece que as pessoas morais têm o mesmo subjetivismo outorgado às pessoas físicas. Aplicando tais conceitos ao direito penal pode-se dizer que, ao adotar-se tal pensamento, há de se constatar que a pessoa coletiva é perfeitamente capaz de vontade. Ela não é um mito, pois se concretiza em cada etapa importante de sua vida pela reunião, deliberação e voto da assembléia geral de seus membros, ou mesmo através de sua administração ou gerência.

Sob a mesma ótica manifesta-se Celeste Leite dos Santos Pereira

Gomes 210:

208

SIRVINSKAS, Luís Paulo. Tutela Penal do Meio Ambiente. p.60.

209 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica. p. 125.

77

Estabelece que a pessoa jurídica é um ser real, um verdadeiro organismo, cuja vontade é a soma de vontades de seus associados, diretores ou administradores. Disso decorre que a pessoa jurídica possui vontade própria. O ato praticado por seus integrantes é distinto destes. Vale dizer, as pessoas coletivas (seres imateriais) se valem de pessoas físicas ou grupo delas para atuar e expressar sua vontade no mundo exterior. Para que lhes seja atribuído um delito, deve haver sido cometido por um órgão dela atuando dentro da competência que lhe atribuem seus estatutos. [...] Logo, baseando-se em Gierke, Aquiles Mestre admite o delito corporativo, segundo condições claramente definidas: 1) o delito deve ter sido cometido por um órgão desta; 2) o órgão deve ser atuado dentro de sua competência segundo requisitos estabelecidos na lei ou estatutos; 3) o delito deve ter sido querido pelo órgão. [...] As pessoas jurídicas podem cometer delitos e serem responsáveis por eles, como autores ou partícipes. Os sócios inocentes somente sofrem penas impostas à corporação e, os não inocentes sofrem uma pena de acordo com a culpabilidade individual provada.

Atualmente vem predominando na doutrina o entendimento de que

as pessoas jurídicas não são mera ficção, mas sim que têm capacidade e

personalidade própria, porém, por óbvio, diversa das pessoas naturais. Até porque o

próprio CC, em seu art. 20 contempla essa máxima ao dispor que as pessoas jurídicas

têm existência distinta da de seus membros. 211

Referido posicionamento, que vem admitindo a possibilidade de

responsabilizar criminalmente a pessoa jurídica, surgiu da necessidade de punir aquela

vantagem auferida da atividade ilícita desenvolvida pela empresa e em seu benefício, já

que punir o empresário ou o administrador, nos dias de hoje, não se torna suficiente. 212

Assim, não obstante existirem opiniões contrárias, não há dúvidas

de que a CRFB/88 estabeleceu a responsabilidade penal da pessoa jurídica, o que é

reconhecido pela maioria dos constitucionalistas e penalistas brasileiros 213, que foi

devidamente regulamentada pela Lei 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais), tema do

terceiro capítulo deste trabalho monográfico.

210

GOMES, Celeste Leite dos Santos Pereira, Crimes Contra o Meio Ambiente. p. 27.

211 GOMES, Celeste Leite dos Santos Pereira, Crimes Contra o Meio Ambiente. p. 28.

212 GOMES, Celeste Leite dos Santos Pereira, Crimes Contra o Meio Ambiente: Responsabilidade e Sanção Penal. 2ª ed. atual. ampl. São Paulo: Juarez de Oliveira, 1999. p. 28.

213 SIRVINSKAS, Luís Paulo. Tutela Penal do Meio Ambiente. 3ª ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 26.

78

CAPÍTULO 3

RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA E A LEI DE

CRIMES AMBIENTAIS – 9.605/98

Como já visto no primeiro capítulo deste trabalho monográfico, a

proteção penal ao ambiente era praticamente nula no final da década de oitenta. A

legislação era dispersa e pouco conhecida. A sociedade não tinha consciência do

problema e os precedentes dos tribunais refletiam descaso, na maioria das vezes, sem

compromisso com a questão ambiental.

Com a promulgação da CRFB/88, a perspectiva em relação à

proteção ambiental tomou novos rumos, pois a aludida Carta Magna, elevou o MA a

bem de uso comum do povo, direito fundamental, constitucionalmente protegido,

inclusive pela esfera penal.

Assim, os juízes mais atentos à importância do tema passaram a

julgar mais e melhor as questões ambientais e estas modificações legislativas

acabaram por culminar na edição da Lei 9.605, de 12.02.1998, que reformulou

totalmente a proteção ao MA, regulamentando aquilo que já era previsto na CRFB/88.

Neste capítulo, portanto, analisar-se-á o que dispõe a Lei 9.605/98

em relação à responsabilização da pessoa jurídica nos crimes ambientais, os tipos de

penas que são impostas ao ente coletivo e, por fim, será abordado os posicionamentos

doutrinários contrários e favoráveis à responsabilidade penal da pessoa jurídica, bem

como o posicionamento jurisprudencial acerca do tema.

79

3.1 RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA E A LEI DE CRIMES

AMBIENTAIS - 9.605/98.

Esta lei nasceu de projeto enviado pelo Poder Executivo Federal,

sendo a Exposição de Motivos 42, datada de 22 de abril de 1991, e de titularidade do

Secretário do Meio Ambiente à época.

Inicialmente, o projeto tinha o objetivo de sistematizar as

penalidades administrativas e unificar os valores das multas. Após amplo debate no

Congresso Nacional, optou-se pela tentativa de consolidar a legislação relativa ao MA

no que diz respeito à matéria penal. Assim, a Lei de Crimes Ambientais, como ficou

popularmente conhecida, trata especialmente dos crimes contra o meio ambiente e das

infrações administrativas ambientais.

Como inovações marcantes, a Lei 9.605/98 tem a não utilização

do encarceramento como norma geral para as pessoas físicas criminosas, a valorização

da intervenção da Administração Pública, através de autorizações, licenças e

permissões e a responsabilização penal das pessoas jurídicas, tema do presente

trabalho monográfico.

3.1.1 Requisitos legais para o reconhecimento da responsabilidade penal da

pessoa jurídica

Nas palavras de Édis Milaré, a teor do art. 3º da Lei 9.605/98, “a

responsabilidade penal da pessoa jurídica fica condicionada: (i) a que a infração tenha

sido cometida em seu interesse ou benefício, (ii) por decisão de seu representante legal

ou contratual, ou por seu órgão colegiado”. 214

Ainda cita que:

Não mais se considera a pessoa jurídica apenas uma pessoa estranha aos membros que a compõem, como os dirigentes. Também se atribuiu a essa pessoa a autoria da conduta que intelectualmente foi dispensada

214

MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: A gestão ambiental em foco. 5ª ed. ref. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 929.

80

por seu representante e materialmente executada por seus agentes, apenas com a condicionante de ter sido o ato praticado no interesse ou benefício da entidade 215.

É importante ressaltar que se o ato praticado, mesmo através da

pessoa jurídica, apenas visou satisfazer os interesses do dirigente, sem qualquer

vantagem ou benefício para a pessoa jurídica, essa deixa de ser o agente do tipo penal

e passa a ser meio utilizado para a realização da conduta criminosa. Ao contrário,

quando a conduta visa à satisfação dos interesses da sociedade, essa deixa de ser

meio e passa a ser agente. 216

Partindo desta avaliação, entende-se que se para verificar a

existência, ou não, da responsabilidade penal do ente coletivo, primeiro deve-se

analisar o elemento subjetivo do tipo, visto que a conduta executiva, material, será

sempre exercida a mando do representante legal ou contratual do órgão colegiado. 217

Num segundo momento, deve-se considerar o elemento subjetivo

do dolo ou da culpa, quando da execução ou da determinação do ato gerador do delito,

transferindo, num ato de ficção, à vontade do dirigente à pessoa jurídica. 218

Assim, a responsabilização penal da pessoa jurídica dar-se-ia

segundo dupla categoria de critérios, sendo a primeira relacionada a critérios explícitos

na lei e a segunda relacionada a critérios implícitos na lei, é o que estabelece Édis

Milaré 219:

Critérios explícitos na lei são: a) a violação a norma ambiental decorra de deliberação do ente coletivo; b) o autor material do delito seja vinculado à sociedade; e c) a infração seja praticada no interesse ou benefício da pessoa jurídica.

215

MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. p. 929.

216 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. p. 929.

217 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. p. 929.

218 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. p. 929.

219 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. p. 929.

81

Por sua vez, no entendimento do referido doutrinador, os critérios

implícitos na lei podem ser observados quando: o autor tenha agido com o beneplácito

da pessoa jurídica; a ação ocorra no âmbito de atividades da empresa e a pessoa

jurídica seja de direito privado. 220

Quanto à passagem em que Édis Milaré cita que a pessoa jurídica

deva ser de direito privado, ocorre devido ao fato de que a pessoa jurídica de Direito

Público (União, Estados, Distrito Federal, Municípios, autarquias e fundações públicas)

não pode cometer ilícito penal no seu interesse ou benefício. 221 Elas, ao contrário das

pessoas de natureza privada, só podem perseguir fins que alcancem o interesse

público.222

Todavia, o que impede que a pessoa jurídica de direito público

venha a ser responsabilizada criminalmente em face de um delito por ela cometido

contra o meio ambiente? A resposta para tal questionamento será demonstrada no item

que segue.

3.1.2 Responsabilidade penal das pessoas jurídicas de direito público

O art. 225, §3º da CRFB/88, observa que as condutas e atividades

consideradas lesivas ao MA sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a

sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os

danos causados.

Nesse norte, também dispõe o art. 3º da Lei 9.605/98, quando

reza que as pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e

penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida

por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no

interesse ou benefício da sua entidade.

220

MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. p. 929.

221 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. p. 929.

222 FREITAS, Vladimir Passos de; FREITAS, Gilberto Passos de. Crimes contra a natureza. p. 70.

82

Como se pode notar, tanto a CRFB/88 quanto a Lei de Crimes

Ambientais não fazem distinção entre as pessoas físicas de direito público e de direito

privado, e, portanto, subentende-se que ambas podem ser responsabilizadas

penalmente.

Entretanto, a responsabilidade da pessoa jurídica de direito

público é uma questão bastante controvertida no meio doutrinário. Há uma grande

discussão sobre que envolve a possibilidade, ou não, da condenação dos entes

públicos. Apresentarei a seguir, de forma sucinta, as principais posições em relação ao

tema.

O Estado tem como uma de suas funções promover o bem estar e

a pacificação social, devendo garantir um desenvolvimento sustentável e resguardar um

meio ambiente equilibrado, sendo fomentador de políticas públicas ambientais,

conforme dispõe os arts. 23, incisos VI, VII e 225 da CRFB/88.

Mesmo com a determinação constitucional supramencionada, os

entes coletivos públicos muitas vezes são os grandes poluidores e devastadores do

MA, conforme explicita o Procurador Federal Marcos André Couto Santos:

Tal visão de um Estado Paternalista é totalmente equivocada, o Estado comete também arbitrariedades, agredindo direitos individuais e coletivos que deveria a rigor proteger. Na esfera ambiental, é mesmo um dos seus maiores poluidores.223

A posição de agressor ambiental se origina em práticas, tanto

comissivas como omissivas, quando, por ex., realiza obras sem o estudo do impacto

que a mesma vai causar ao ambiente, na concessão de licenças com base em

informações inseguras, permitindo que particulares produzam degradações ambientais

entre outras formas. 224

223

SANTOS, Marcos André Couto Santos. Responsabilidade Penal das Pessoas Jurídicas de Direito Público por Dano Ambiental, Revista Direito Ambiental, ano 6, vol. 24, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 124.

224 SANTOS, Marcos André Couto Santos. Responsabilidade Penal das Pessoas Jurídicas de Direito Público por Dano Ambiental. p. 128.

83

Quanto à responsabilização dos entes coletivos públicos na esfera

administrativa e civil, o entendimento é pacificado pela sua responsabilização, pois,

causando um eventual dano ambiental, ferem um direito fundamental de 3ª geração,

que vem a ser da coletividade viver em um ambiente equilibrado e sadio. Tal

responsabilidade é classificada ainda como sendo objetiva 225.

Os argumentos a favor da responsabilização criminal dos entes

públicos estão diretamente relacionados à Constituição, sendo observado que o

legislador, ao editar o art. 225 § 3º da CRFB/88 e o art. 3º da Lei 9605/98 não excluiu

as pessoas de direito público da responsabilidade criminal em se tratado de dano

ambiental.

Diante desta não exclusão das pessoas jurídicas de direito público

da responsabilidade penal, não cabe ao intérprete distinguir arbitrariamente, conforme

leciona Renato de Lima Castro 226:

O legislador brasileiro não diferenciou, entre as variadas vestes de uma pessoa jurídica, a qual espécie se aplicaria a nova legislação. Onde este não distingue, não compete ao intérprete distinguir, segundo os postulados básicos de hermenêutica jurídica. Neste diapasão, todas as pessoas jurídicas, públicas ou privadas, que eventualmente venham a

225

Nesse sentido: AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO CAUSADO AO MEIO AMBIENTE. LEGITIMIDADE PASSIVA DO ENTE ESTATAL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. RESPONSÁVEL DIRETO E INDIRETO. SOLIDARIEDADE. LITISCONSÓRCIO FACULTATIVO. ART. 267, IV, DO CPC. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULAS 282 2 356 DO STF. [...].

3. O estado recorrente tem o dever de preservar e fiscalizar a preservação do meio ambiente. Na hipótese, o Estado, no seu dever de fiscalização, deveria ter requerido o Estudo de Impacto Ambiental e seu respectivo relatório, bem como a realização de audiências públicas acerca do tema, ou até mesmo a paralisação da obra que causou o dano ambiental.

4. O repasse das verbas pelo Estado do Paraná ao Município de Foz de Iguaçu (ação), a ausência das cautelas fiscalizatórias no que se refere às licenças concedidas e as que deveriam ter sido confeccionadas pelo ente estatal (omissão) concorrem para a produção do dano ambiental. Tais circunstâncias, pois, são aptas a caracterizar o nexo de causalidade do evento e, assim, legitimar a responsabilização objetiva do recorrente.

5. Assim, independentemente da existência de culpa, o poluidor, ainda que indireto (Estado-recorrente) (art. 3º da Lei nº 6.938\81), é obrigado a indenizar e reparar o dano causado ao meio ambiente (responsabilidade objetiva). [...].

(Recurso Especial nº 604725/PR, Julgado pela 2ª Turma do Tribunal Superior de Justiça em 22 de agosto de 2005, Rel.: Ministro Castro Meira).

226 CASTRO, Renato de Lima Castro. Alguns aspectos da responsabilidade penal da pessoa jurídica na lei ambiental brasileira. Disponível http://www.jus.com.br/doutrina/respppj2.html, em 04/10/2009.

84

praticar factos delituosos previstos na Legislação Ambiental, através de seus órgãos, poderão integrar no pólo passivo de uma relação jurídica processual-penal.

Nesse sentido também é o entendimento de Guilherme de Souza

Nucci ao declarar que não vê “nenhum óbice à responsabilidade penal da pessoa

jurídica de direito público (União, Estados Municípios, Distrito Federal, Municípios,

autarquias e fundações públicas)”. 227

Outro argumento é que tanto as pessoas jurídicas de direito

privados quanto às de direito público devem ser tratadas e assim penalizadas de

formas iguais em conformidade com o princípio da isonomia, independentes de sua

natureza jurídica, caso contrario estaria afrontado o princípio supracitado.228

Por sua vez, a corrente doutrinária contrária a responsabilização

criminal dos entes coletivos públicos utiliza-se de diversos argumentos em favor de sua

tese. Não obstante, sua defesa é consubstanciada basicamente no argumento de que,

tanto a legislação ordinária (Lei 9605/98), quanto a CRFB/88 devem ser interpretadas

de forma harmônica com os princípios constitucionais e do Direito em geral. 229

Assim, não haveria a necessidade da ressalva dos entes públicos

nos art. 225, §3º da CRFB/88 e nem no art. 3º da Lei 9605/98, porque a aplicação das

sanções criminais aos entes públicos seria inviável, haja vista que as pessoas jurídicas

de direito público são desiguais em relação às de direito privado, pois suas naturezas

jurídicas, seus objetivos e elementos são diferentes. Destarte, devem elas receber

tratamento diferenciado de seus desiguais.

A não observância deste preceito é que incorre em verdadeira

afronta ao principio da isonomia e poderia trazer grandes prejuízos à própria

227

NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. p. 842.

228 SANTOS, Marcos André Couto Santos. Responsabilidade Penal das Pessoas Jurídicas de Direito Público por Dano Ambiental. p. 130.

229 SANTOS, Marcos André Couto Santos. Responsabilidade Penal das Pessoas Jurídicas de Direito Público por Dano Ambiental. p. 130.

85

coletividade. 230 Com base nesse entendimento, Marlusse Daher 231, levanta os

seguintes questionamentos:

Como se multará a pessoa jurídica de direito público? Do orçamento viria a constar uma nova rubrica destinada a tanto? Que destino se dará à multa, será revertida ao fundo de reparação dos interesses difusos? Em que consistiria restringir direitos da pessoa jurídica de direito público? E que outro serviço se imporia a ela se já é inerente à sua essência, a prestação de serviços a comunidade?

Outro argumento de certa relevância defendido pela corrente

contrária a responsabilização penal do ente coletivo em matéria ambiental, é de que os

entes públicos não se beneficiam ou tem interesse com o dano ambiental, pois seus

objetivos são exatamente contrários, tendo em vista que a CRFB/88 disciplinou de

forma límpida em seu art. 23, incisos VI, VII, a competência para proteger e preservar o

MA. 232

Conforme transcrito o pensamento de Vladimir Passos de Freitas

e Gilberto Passos de Freitas 233:

Elas, ao contrário das pessoas de natureza privada, só podem perseguir fins que alcancem o interesse público. Quando isso não acontece é porque o administrador público agiu com desvio de poder. Em tal hipótese só a pessoa natural pode ser responsabilizada penalmente.

Como se verifica, o tema concernente a responsabilização da

pessoa jurídica de direito público é bastante complexo, necessitando um estudo em

específico para se dirimir os questionamentos existentes acerca de tal controvérsia.

230

SANTOS, Marcos André Couto Santos. Responsabilidade Penal das Pessoas Jurídicas de Direito Público por Dano Ambiental. p. 130.

231 DANHER, Marlusse Pestana. Pessoa Jurídica Criminosa. Disponível em: <http://www.direitopenal.adv.br/artigo29.htm>. Acesso em: 15, out. 2009.

232 DANHER, Marlusse Pestana. Pessoa Jurídica Criminosa. Disponível em: <http://www.direitopenal.adv.br/artigo29.htm>. Acesso em: 15, out. 2009.

233 FREITAS, Vladimir Passos e Gilberto Passos Freitas. Crimes contra a natureza. p. 66.

86

3.2 DAS PENAS SOBREPOSTAS À PESSOA JURÍDICA EM FACE DE UMA

TRANSGRESSÂO PENAL AMBIENTAL

Deste ponto, serão analisados os tipos de pena sobrepostos à

pessoa jurídica, fazendo uma ressalva em relação finalidade de cada tipo de pena.

3.2.1 Conceito de pena

De Plácido e Silva traz que pena deriva do latim poena, é o

vocábulo, no sentido técnico do Direito, empregado em acepção ampla e restrita. [...]

Desse modo, tanto exprime a correção que se impõe, como castigo, à falta cometida

pela transgressão a um dever de ordem civil, como a um dever de ordem penal. 234

A partir do momento em que um indivíduo incide em um tipo

penal, de forma antijurídica e culpável, cria-se para o Estado o direito e ao mesmo

tempo a obrigação de sancionar essa conduta ilícita e reprovável com uma medida

repressiva. A sanção é, portanto, uma resposta do poder estatal à transgressão de uma

norma ou conduta promulgada para tutelar bens e interesses, tanto públicos, quanto

privados. 235

A pena criminal tem sido, em todas as épocas, um permanente e

severo mecanismo de controle das condutas individuais e coletivas, utilizado pelo

Estado com o objetivo de manter a convivência social e de proteger valores morais e

interesses das classes sociais, é o que se extrai dos ensinamentos de João José

Leal.236

De acordo com Julio Fabbrini, a pena pode ser analisada sobre

três aspectos: substancialmente, formalmente e teleologicamente. A primeira consiste

na perda ou privação de exercício do direito relativo a um objeto jurídico. A segunda

está vinculada ao princípio da reserva legal, e somente é aplicada pelo Poder

234

SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p. 1.020.

235 LEAL, João Leal. Direito Penal Geral. p. 313.

236 LEAL, João Leal. Direito Penal Geral. p. 313.

87

Judiciário, respeitado o princípio do contraditório. Por último, teleologicamente mostra-

se, concomitantemente, castigo e defesa social. 237

O apontado doutrinador aduz ainda, que:

[...] a pena é uma sanção aflitiva imposta pelo Estado, através da ação penal, ao autor de uma infração (penal), como retribuição de seu ato ilícito, consistente na diminuição de um bem jurídico e cujo fim é evitar novos delitos.238

Atualmente a pena tem um propósito retributivo, na forma do

castigo pelo mal praticado, como também possui um caráter preventivo, ou seja,

objetiva além castigar o agente transgressor pelo mal praticado, inviabilizar pelo receio

da sanção, novas práticas delituosas. Nesse sentido é o entendimento de Flávio

Augusto Monteiro de Barros 239:

A prevenção geral atua antes mesmo da prática de qualquer infração penal, pois a simples cominação da pena conscientiza a coletividade do valor que o direito atribui ao bem jurídico tutelado. A prevenção especial e o caráter retributivo atuam durante as fases de imposição e execução da pena. Finalmente, o caráter reeducativo atua somente na fase de execução. Nesse momento, o escopo da pena é a ressocialização do condenado, isto é, reeducá-lo para que, no futuro, possa reintegrar ao convívio social, prevenindo, assim, a prática de novos crimes.

Na CRFB/88, as espécies de pena que poderão ser aplicadas

estão previstas no art. 5º, inciso XLVI, que traz:

Art. 5º - XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:

a) privação ou restrição da liberdade;

b) perda de bens;

c) multa;

237

MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. p. 246.

238 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. p. 246.

239 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito Penal. p. 365.

88

d) prestação social alternativa;

e) suspensão ou interdição de direitos.240

Tais penas, no entanto, não serão abordadas neste trabalho

monográfico, haja vista que, no momento, apenas as espécies de sanções cominadas

exclusivamente à pessoa jurídica é que possuem relevância.

3.2.2 Aspectos gerais das penas aplicáveis à pessoa jurídica

Como visto a resposta estatal aplicável às empresas que cometem

delitos ambientais é a deflagração da ação penal, fundamentada nas previsões

constitucionais e infraconstitucionais, bem como na teoria que admite a

responsabilidade penal da pessoa jurídica. Ressalvado o contraditório e a ampla

defesa, caso a pessoa jurídica seja condenada, estará sujeita ao cumprimento de uma

pena. 241

Assim no entender do Estado, quando constatada uma lesão a

certo bem jurídico protegido pelo Estado, a consequência natural é a intervenção

estatal através da pena. A pena há de se aplicar para reprovação de uma conduta em

dissenso com a maioria do grupo social, por parte da minoria. Esta pena só pode ter

como objetivo sua relevância pública e não mais objetivos privados ou pessoais. 242

Para Sérgio Salomão Shecaira a melhor resposta a um ente

coletivo que comete um dano ambiental é sem dúvida alguma a imposição de pena [...].

Sob sua ótica “as respostas administrativas e civis são insuficientes em face da

moderna criminalidade, praticada através do poderio das empresas”. 243

As penas aplicáveis à pessoa jurídica, na forma da Lei nº 9.605/98

(Lei de Crimes Ambientais) podem ser aplicadas isolada, cumulativa ou

240

VADEMECUM. Constituição da República Federativa do Brasil. p. 9.

241 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica. p. 123.

242 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica. p. 123.

243 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica. p. 124.

89

alternativamente. A seguir serão demonstrados os tipos de pena aplicáveis

especificamente à pessoa jurídica em questão ambiental. 244

3.2.3 Tipos de pena aplicáveis a pessoa jurídica na esfera ambiental

De acordo com o disposto no art. 3º Lei de Crimes Ambientais, as

penas sobrepostas à pessoa jurídica são delineadas no art. 21 do referido estatuto

repressivo ambiental sendo elas: I - multa; II - restritivas de direitos e III - prestação de

serviços à comunidade.

A seguir far-se-á uma análise de cada um tos tipos de pena que

se aplicam as pessoas jurídicas separadamente.

3.2.3.1 A pena de multa cominada à pessoa jurídica

A pena de multa é a mais comum. É adotada em todas as

legislações que aderem à responsabilidade penal da pessoa jurídica.

Sobre a pena de multa Paulo Affonso Leme Machado 245 afirma

que:

[...] a pena de multa consiste na obrigação de uma prestação pecuniária, quando revelada ineficaz para o ressarcimento do dano, ainda que aplicada ao máximo, deve ser acrescida três vezes, tendo em vista o valor da vantagem econômica auferida.

A multa deverá ser calculada de acordo com os critérios

estabelecidos no art. 18, da Lei 9.605/98 e art. 49, do CP Brasileiro, que dispõem,

respectivamente:

Art. 18 da Lei 9.605/98 - A multa será calculada segundo os critérios do Código Penal; se revelar-se ineficaz, ainda que aplicada no valor

244

MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. p. 706.

245 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. p. 595.

90

máximo, poderá ser aumentada até três vezes, tendo em vista o valor da vantagem econômica auferida. 246

Art. 49 do CP - A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa.

§ 1º - O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a um trigésimo do maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5 (cinco) vezes esse salário.

§ 2º - O valor da multa será atualizado, quando da execução, pelos índices de correção monetária. 247

Inicialmente, o juiz deve fixar o número de dias-multa (entre 10 e

360 dias-multa), com base nos elementos fornecidos pelo art. 59 do CP. Em seguida,

elege o valor do dia-multa, em quantia variável entre um trigésimo e cinco vezes o

salário mínimo.248

Serão levados em conta a gravidade do delito, o grau de

reprovação da conduta, a condição econômica da empresa e o montante do dano

ambiental para fixar a pena de multa, que poderá ser aumentada até três vezes,

considerando-se a vantagem econômica auferida.249

Sobre o disposto no art. 18 da Lei 9.605/98, Guilherme de Souza

Nucci 250, afirma que:

O art.18 apresenta somente uma inovação: determina que o aumento (até triplo) se faça com base no valor da vantagem econômica auferida pela prática do crime ambiental e não com fundamento na situação econômica do réu”. Imagina-se que o agente criminoso, se muito lucrou com o delito contra o meio ambiente, não pode ser apenado com pena de multa ínfima.

246

VADEMECUM. Lei de Crimes Ambientais: Lei nº 9.605/98. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 1.635.

247 VADEMECUM. Código Penal: Decreto-Lei nº 2.848/40. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 544.

248 NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. p. 860.

249 COSTA JR, Paulo José da; MILARÉ, Édis. Direito Penal Ambiental. p. 64.

250 NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. p. 860.

91

Para a constatação da gravidade do delito, deverá ser realizada

uma perícia, em conformidade com o disposto no art. 19 da Lei 9.605/98:

Art. 19. A perícia de constatação do dano ambiental, sempre que possível, fixará o montante do prejuízo causado para efeitos de prestação de fiança e cálculo de multa.

Parágrafo único. A perícia produzida no inquérito civil ou no juízo cível poderá ser aproveitada no processo penal, instaurando-se o contraditório. 251

Somente após que concluída da perícia, o juiz analisará o grau de

reprovação da conduta, levando em consideração a condição econômica da empresa e

o resultado do dano ambiental, por fim fixando a multa.

Como se pode denotar, a pena de multa não recebeu uma

disciplina própria, para a aplicação às pessoas jurídicas, aplicando a regra do CP tanto

para as pessoas físicas como as jurídicas, da forma do art. 18 da Lei 9605/98.

Assim puni-se da mesma forma a pessoa física como a jurídica,

tornando muitas vezes a penas de multa para a segunda inocula em relação aos seus

faturamentos, a Lei 9605/98 deveria ter diferenciado a multa das pessoas físicas das

jurídicas, conforme fica demonstrado na citação feita por Fernando Capez das críticas

de Sergio Salomão Shecaira 252, em sua obra:

Melhor seria se o legislador houvesse transplantado o sistema de dias-multa do Código Penal para legislação protetiva do meio ambiente, com as devidas adaptações, de modo a fixar uma unidade específica que correspondesse a um dia de faturamento da empresa e não padrão de dias-multa contidos na Parte Geral do Código Penal.

Para Paulo Affonso Leme Machado, “a pena de multa é uma

sanção penal que deve merecer prioridade no combate à delinqüência ambiental

praticada pelas corporações”. 253

251

VADEMECUM. Lei de Crimes Ambientais. p. 1.635.

252 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. p. 61

253 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. p. 656.

92

3.2.3.2 As penas restritivas de direitos cominada à pessoa jurídica

De acordo com o art. 22 da Lei de Crimes Ambientais, as penas

restritivas de direitos da pessoa jurídica são: a) suspensão parcial ou total de atividades

(inciso I); b) interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade (inciso II) e c)

proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios,

subvenções ou doações (inciso III). 254

3.2.3.2.1 Suspensão parcial ou total das atividades

A aplicabilidade da pena de suspensão parcial ou total das

atividades da pessoa jurídica é regulamentada pelo art. 22, § 1º da Lei de Crimes

Ambientais, que versa:

Art. 22 - § 1º A suspensão de atividades será aplicada quando estas não estiverem obedecendo às disposições legais ou regulamentares, relativas à proteção do meio ambiente. 255

Sobre o referido artigo, Paulo Affonso Leme Machado 256, ensina

que:

A suspensão das atividades de ma entidade revela-se necessária quando a mesma age intensamente contra a saúde humana e contra a incolumidade da vida vegetal e animal. É pena que tem inegável reflexo na vida econômica de uma empresa. [...] Conforme a potencialidade do dano ou sua origem, uma empresa poderá ter suas atividades suspensas num setor, ou seja de forma parcial. [...] A lei não fixou o prazo para a duração mínima ou máxima para a suspensão, destarte, diante desta ausência fica a critério do juiz, conforme o caso, fixar em horas, em dias, semanas a suspensão das atividades.

Para Guilherme de Souza Nucci 257:

É a pena restritiva ideal para a pessoa jurídica que, ao cometer o crime, conforme constatação feita pelo juiz, já não vinha obedecendo as disposições legais ou regulamentadas em relação à proteção do meio

254

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. p. 60

255 VADEMECUM. Lei de Crimes Ambientais. p. 1.635.

256 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. p. 596.

257 NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. p. 864.

93

ambiente. É substitutiva da pena prevista nos tipos penais incriminadores, tanto que não tem valor próprio. Se o delito possuir, em tese, pena de seis meses a um ano de detenção, o magistrado deve suspender, parcial ou totalmente, as atividades da empresa pelo período que elegeu – dentro do mínimo de seis meses ao máximo de um ano, conforme os critérios gerais de aplicação da pena.

Édis Milaré e Paulo José da Costa Jr., citando Gilberto Passos de

Freitas e Vladimir Freitas, afirmam que “o juiz deve agir com cautela e impor tais

sanções com equidade”, impondo por primeiro a suspensão parcial das atividades e

somente depois a total”. 258

Quanto, a não disposição de prazo para a duração mínima ou

máxima para a suspensão, parcial ou total das atividades, entende-se que esta ficará

condicionada há efetiva extinção da ação ou omissão causadora do dano ambiental

praticado.

3.2.3.2.2 Interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade

A segunda espécie da pena restritiva de direito aplicada a pessoa

jurídica consiste na interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade. É

disciplinada pelo art. 22, § 2º da Lei de Crimes Ambientais, que diz:

Art. 22 - § 2º A interdição será aplicada quando o estabelecimento, obra ou atividade estiver funcionando sem a devida autorização, ou em desacordo com a concedida, ou com violação de disposição legal ou regulamentar. 259

A interdição temporária do estabelecimento, obra ou atividade tem

lugar quando houver funcionamento sem autorização ou em desacordo com aquela que

foi concedida, e também quando houver violação de disposição legal ou regulamentar.

260

Nesse caso, não se suspende a atividade da pessoa jurídica total

ou parcialmente, como previsto no inciso I, mas pode o juiz interditar um dos

258

COSTA JR, Paulo José da; MILARÉ, Édis. Direito Penal Ambiental. p. 67.

259 VADEMECUM. Lei de Crimes Ambientais. p. 1.635.

260 COSTA JR, Paulo José da; MILARÉ, Édis. Direito Penal Ambiental. p. 67.

94

estabelecimentos da pessoa jurídica, ou uma das obras que venha conduzindo, ou

ainda, uma das suas atividades e não o conjunto delas. 261

Guilherme de Souza Nucci 262 ilustra a supramencionada

afirmação da seguinte forma:

Uma grande empresa, com vários ramos de atividades na área ambiental, pode ter a sua atividade global suspensa total ou parcialmente, por um certo tempo (inciso I), como pode ter uma de suas filiais interditada por determinado tempo (inciso II). Esse tempo de interdição equivale ao que advier do preceito secundário dos tipos penais (ex.: de dois a quatro anos; de três meses a um ano etc.)

Paulo Affonso Leme Machado diz que “a interdição é temporária,

sua aplicação visa assegurar que a empresa possa adaptar-se à legislação ambiental,

devendo iniciar a sua obra apenas quando da devida autorização”. 263

Ainda aduz que:

A pena de interdição temporárias de direitos aplicada à pessoa física tem outra redação (art. 10 da Lei n.º 9.605/98). Parece-nos que diante do silêncio da lei quanto ao prazo da vigência da interdição temporária de direitos para a pessoa jurídica, é razoável aplicar-se os prazos do referido artigo 10. 264

O conceito da interdição temporária de direito e os prazos de tal

interdição são disciplinados pelo art. 10 da Lei de Crimes Ambientais, que reza:

Art. 10. As penas de interdição temporária de direito são a proibição de o condenado contratar com o Poder Público, de receber incentivos fiscais ou quaisquer outros benefícios, bem como de participar de licitações, pelo prazo de cinco anos, no caso de crimes dolosos, e de três anos, no de crimes culposos. 265

261

NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. p. 864.

262 NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. p. 864.

263 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. p. 597.

264 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. p. 597.

265 VADEMECUM. Lei de Crimes Ambientais. p. 1.634.

95

Essa interdição é equivalente ao embargo, ou a paralisação da

obra, do estabelecimento ou de sua atividade, todavia a pena é medida judicial,

enquanto o embargo poderá feito pela administração pública, em seu poder de polícia,

mediante ato discricionário ou vinculado.

3.2.3.2.3 Proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios,

subvenções ou doações

Por fim, a última espécie da pena restritiva de direito aplicada à

pessoa jurídica é estipulada pelo art. 22, § 3º da Lei dos Crimes Ambientais, e

estabelece que:

Art. 22 - § 3º A proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios, subvenções ou doações não poderá exceder o prazo de dez anos. 266

Este espécie de pena tem por objetivo impedir que as empresas

penalizadas participem dos processos licitatórios. Nesse sentido é o entendimento de

Paulo Affonso Leme Machado 267:

Com relação à proibição de contratar o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações, definidos no artigo 22, § 3º, da Lei n. 9.605/98, visa esta lei impedir que as empresas participem dos processos licitatórios, mesmo que a licitação tenha sido anterior ao contrato com o poder público [...].

Várias empresas têm interesse em celebrar contratos com o Poder

Público, nas mais variadas áreas, pois, como regra, envolvem altas somas de dinheiro e

grandes obras. O contrato pode advir de uma licitação ou não, mas a pena prevista no

inciso III proíbe qualquer deles. O tempo será o da pena privativa de liberdade; prevista

no tipo incriminador, a ser devidamente mensurada e depois substituída pela restritiva

de direito. 268

266

VADEMECUM. Lei de Crimes Ambientais. p. 1.635.

267 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. p. 597.

268 NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. p. 865.

96

Édis Milaré e Paulo da Costa Júnior adverte que “a pena restritiva

enumerada no Inciso III, contudo, não poderá jamais superar o limite legal, estabelecido

em dez anos pelo §3º”. 269

Outro ponto que pode afetar a pessoa jurídica é a perda de

subsídios, subvenções ou doações governamentais, afinal, muitas somente sobrevivem

no mercado graças a esses incentivos. O mínimo que devem fazer é respeitar as leis

editadas pelo Estado que, de um modo ou de outro, as sustenta. 270

3.2.3.3 A pena de prestação de serviços à comunidade cominada à pessoa

jurídica

A pena de prestação de serviços à comunidade cominada à

pessoa jurídica está prevista no art. 23 da Lei de Crimes ambiental, e reza:

Art. 23. A prestação de serviços à comunidade pela pessoa jurídica consistirá em:

I - custeio de programas e de projetos ambientais;

II - execução de obras de recuperação de áreas degradadas;

III - manutenção de espaços públicos;

No entendimento de Édis Milaré e Paulo José da Costa Júnior,

“referida modalidade apresenta a vantagem de não suspender ou interditar as

atividades da pessoa jurídica, penas que, inexoravelmente, conduzem a perdas sociais

e econômicas (empregos, produção, etc.)”. 271

Para Guilherme de Souza Nucci, a prestação de serviços à

comunidade pela pessoa jurídica não deveria ter sido colocada em plano autônomo das

269

COSTA JR, Paulo José da; MILARÉ, Édis. Direito Penal Ambiental. p. 67.

270 NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. p. 865.

271 COSTA JR, Paulo José da; MILARÉ, Édis. Direito Penal Ambiental. p. 68.

97

penas restritivas de direitos, como feito no art. 21, III. “É a mais adequada de todas as

restrições de direitos, pois confere reais benefícios à sociedade em geral”. 272

Já Sérgio Salomão Shecaira 273 explana seu entendimento sobre o

assunto da seguinte forma:

Trata-se de uma moderna resposta penal que atende perfeitamente aos princípios penais da proporcionalidade no que concerne à retribuição jurídica, e à prevenção geral positiva, como medida de incentivo ao cumprimento da norma.

Poderá o Ministério Público, pleitear ao juiz, a aplicação de uma

das subespécies de prestação de serviço à comunidade acima apontadas, no caso de

incidência dessa modalidade de pena à pessoa jurídica.

Sobre a assertiva, Paulo Affonso Leme Machado 274 manifesta-se

no seguinte sentido:

O ministério Público ou a própria entidade ré poderão apresentar proposição ao juiz, solicitando a cominação de qualquer desses tipos de pena de prestação de serviço. Será oportuno que se levantem os custos dos serviços previstos no art. 23 para que haja proporcionalidade entre o crime cometido, as vantagens auferidas do mesmo e os recursos econômicos e financeiros da entidade condenada. O Justo equilíbrio haverá de conduzir o juiz na fixação da duração da prestação de serviços e do quantum a ser despendido.

Os custos do serviço devem ser levantados para que haja uma

proporcionalidade entre o crime cometido, as vantagens auferidas por este e os

recursos econômicos e financeiros da entidade condenada; assim o juiz determinará o

quantum a ser despendido e o tempo de duração da referida prestação. 275

272

NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. p. 865.

273 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica. p. 128.

274 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. p. 598.

275 CÔRREA, Daniele Pereira. Tutela penal do meio ambiente (Lei Federal nº 9.605/98). Escritório On-line 07/12/2002. Disponível em: <http://www.escritorioonline.com/webnews/noticia.php?id_noticia=2457&>. Acesso em: 15, jun. 2009.

98

3.2.3.4 A perda de bens e valores cominada à pessoa jurídica

Resta, finalmente, analisar o art. 24 da Lei 9.605/98, que prevê a

possibilidade de liquidação forçada do patrimônio da pessoa jurídica, que por sua vez,

for constituída ou utilizada, com a finalidade de permitir, facilitar ou ocultar a prática de

crime definido pela Lei de Crimes Ambientais.

O art. 24 da Lei 9.605/98 determina que:

Art. 24. A pessoa jurídica constituída ou utilizada, preponderantemente, com o fim de permitir, facilitar ou ocultar a prática de crime definido nesta Lei terá decretada sua liquidação forçada, seu patrimônio será considerado instrumento do crime e como tal perdido em favor do Fundo Penitenciário Nacional 276

A liquidação se apresenta como espécie de morte civil da pessoa

jurídica. É fase posterior à declaração de dissolução da companhia. 277

Daniela Pereira Côrrea 278, em sua concepção, alega que:

A pena de perda de bens e valores, constitui a mais grave sanção aplicada à pessoa jurídica, trata-se da liquidação forçada do ente coletivo que, em termos comparativos, assemelha-se à pena de morte da pessoa física que é permitida em alguns países.

Para Guilherme de Souza Nucci 279:

A liquidação é uma autentica pena acessória e deverá, por isso mesmo, ser objeto de expresso pedido na denúncia. Se assim não o for, não poderá o juiz impô-lo na sentença, pois estaria sacrificando o direito de ampla defesa da ré. Portanto na inicial acusatória deverá ficar explícita a acusação do desvio de finalidade da pessoa jurídica, e o pedido de sua liquidação final.

276

VADEMECUM. Lei de Crimes Ambientais. p. 1.635.

277 COSTA JR, Paulo José da; MILARÉ, Édis. Direito Penal Ambiental. p. 68.

278 CÔRREA, Daniele Pereira. Tutela penal do meio ambiente (Lei Federal nº 9.605/98). Escritório On-line 07/12/2002. Disponível em: <http://www.escritorioonline.com/webnews/noticia.php?id_noticia=2457&>. Acesso em: 15, jun. 2009.

279 NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. p. 866.

99

Caberá também ação civil pública proposta pelo Ministério Público

com base no art. 1.218, VII, do CPC, visando à dissolução judicial e ao cancelamento

do registro e atos constitutivos da pessoa jurídica em questão, se a sua recusa em

cooperar implicar ofensa à lei, à moralidade, à segurança e à ordem pública e social,

nos termos do art. 115 da Lei de registros Públicos. Nessa mesma hipótese,

independentemente de ação civil pública ser proposta, o Presidente da República

poderá determinar a suspensão temporária das atividades da empresa que se recusar a

cooperar (Decreto-Lei nº 9.085/46). 280

3.3 POSICIONAMENTOS DOUTRINÁRIOS E JURISPUDENCIAIS ACERCA DA

RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA

3.3.1 Posicionamentos doutrinários

A responsabilidade penal da pessoa jurídica é um tema muito

polêmico em sede de direito penal e, desta feita, diante de todo o trabalho exposto,

esse item tem por finalidade apenas demonstrar posicionamentos de diversos

estudiosos da matéria.

Os aspectos favoráveis da responsabilidade penal, firmam que as

infrações contra o MA atentam contra interesses difusos e coletivos, e não só contra

bens individuais. Para esta corrente favorável, a responsabilidade penal das pessoas

jurídicas não pode ser entendida conforme a responsabilidade penal baseada na culpa,

mas sim deve ser estendida conforme à uma responsabilidade social. Assim esta

responsabilização seria impossível de ser admitida dentro de um CP pautado ao

princípio da responsabilidade penal individual, devendo ser realizado através de leis

penais extravagantes.

Dessa forma os constitucionalistas, na sua maioria, reconhecem a

consagração à responsabilidade da pessoa jurídica na Carta Magna de 1988, pois

acreditam que as pessoas jurídicas em sua maioria são as grandes agressoras do MA,

devido seu poder econômico, bem como distinguem o grande potencial destrutivo que

280

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. p. 60.

100

podem causar, o que justifica a necessidade da penalizar esses entes coletivos, em

caso de transgressão ao meio ambiente.

Como dito devido ao elevado potencial de destruição, ficaria

impossível, para a pessoa física reparar estragos causando com o auxílio das

estruturas organizadas das pessoas jurídicas. Assim o ordenamento constitucional não

pode deixar de prever a punição penal da pessoa jurídica, tendo como argumento a

ausência de culpabilidade. Dentre eles destacam-se:

A) Marcos André Couto Santos 281 que defende:

É assim iniludível cometerem as pessoas jurídicas, na atualidade, crimes que afetam valiosos bens de cunho econômico e ambiental principalmente, causando danos incalculáveis dentro de sua potencialidade destrutiva. Por isso, não pode o ordenamento jurídico se omitir em responsabilizá-las penalmente sob o manto de que não têm culpabilidade; as penas são pessoais e não se adequam aos entes morais, entre outros argumentos distanciados dos fatos sociais.

B) José Afonso da Silva 282, sobre o tema, afirma taxativamente:

Relevante é o art. 170, VI, que reputa a defesa do meio ambiente como um dos princípios da ordem econômica, o que envolve a consideração que toda atividade econômica só pode se desenvolver-se legitimamente enquanto atende a tal princípio, entre os demais relacionados no mesmo art. 170, convocando, no caso de inatendimento, a aplicação da responsabilidade da empresa e de seus dirigentes, na forma prevista no art. 173, 5º.

C) Celso José Roberto Marques 283, o qual aduz que designando

como infratores ecológicos pessoas físicas ou jurídicas o legislador, abriu caminho a um

novo posicionamento do direito penal no futuro:

281

SANTOS, Marcos André Couto Santos. Responsabilidade Penal das Pessoas Jurídicas de Direito Público por Dano Ambiental, Revista Direito Ambiental, ano 6, vol. 24, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 121.

282 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 6ª ed. atual. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 43

283 MARQUES, José Roberto. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica, Revista de Direito Ambiental, ano 6, vol. 22, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001.p. 105.

101

O Código Penal, ajustado ao tempo em que foi criado, não pode servir de bandeira para se opor à aplicação do texto constitucional, mesmo porque naquela época não havia disposição no mesmo sentido. Hoje já há dispositivo expresso e lei regulando a matéria, modo que fica vencido qualquer argumento que negue responsabilidade penal à pessoa jurídica, a menos que negue vigência à Constituição ou se sobreponha a ela o Código Penal, duas hipóteses integralmente descartadas.

Nesse norte, também é o entendimento de alguns dos

consagrados penalistas e ambientalistas que asseveram com firmeza o fato da

Constituição de 1988 ter consagrado a responsabilidade criminal da pessoa jurídica:

A) Fernando Capez 284 traz que diante do art. 225, § 3º da

CRFB/88, não há o que se discutir a respeito da validade da responsabilidade penal da

pessoa jurídica, senão vejamos:

A Constituição Federal de 1988, além de elevar a proteção do meio ambiente a status constitucional, concebendo-o como direito social, passou a prever expressamente a tutela penal desse bem jurídico em seu art. 225, §3º o qual dispõe que: As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

B) Por sua vez, Damásio E. de Jesus 285 afirma que:

[...], hoje, em vez de criticar, devemos reconhecer que a legislação penal brasileira admite a responsabilidade criminal de pessoas jurídica e procurar melhorar a nova sistemática. Em suma, alterando a posição anterior, hoje reconhecemos invencível a tendência de incriminar-se a pessoa jurídica como mais uma forma de reprimir a criminalidade.

C) Édis Milaré Milaré e Paulo José da Costa Junior 286 entendem

que:

No que tange à objeção da doutrina tradicional quanto à impossibilidade de aplicação de penas às pessoas jurídicas, quer-nos parecer que o argumento possa ser facilmente vencido. Evidente que seria impossível à aplicação da pena privativa de liberdade. Entretanto há muitas outras

284

CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. p. 47.

285 JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal. p. 169.

286 COSTA JR, Paulo José da; MILARÉ, Édis. Direito Penal Ambiental. p. 13-14.

102

modalidades de pena que se ajustam À pessoa jurídica, tais como a pecuniária, as penas restritivas de direito. [...]. O perdimento de bens é outra modalidade de pena aplicável à pessoa prevista no texto constitucional. [...]. Não raro, são exatamente as empresas que têm as mais graves responsabilidades na produção de danos ao ambiente.

D) Cezar Roberto Bittencout 287 sustenta que alguns penalistas,

por conta do art. 225 §3º da CRFB/88, entendem de forma equivocada a consagração

da responsabilidade penal da pessoa jurídica, sem se dar conta de que tal

responsabilidade encontra-se limitada à subjetiva e individual. Em suas palavras, “não

há que se falar em penas privativas de liberdade, mas sim em sanções pecuniárias

assim como não se pode falar em inabilitações, mas em suspensão de atividades, ou

dissolução ou intervenção estatal”. 288

Alguns importantes autores, no entanto, entendem que a

Constituição de forma alguma consagrou a responsabilidade penal da pessoa jurídica.

Seguem esta corrente, acreditando nos aspectos desfavoráveis a

responsabilidade penal das pessoas jurídicas e, assim apontam diversas contradições

em torno do tema, fazendo uma demonstração pontual dos principais argumentos:

1) É difícil investigar e individualizar as condutas nos crimes de

autoria coletiva, principalmente na esfera processual, tornando difícil a caracterização

da culpa e a conseqüente aplicação da pena;

2) O princípio da isonomia seria violado porque a partir da

identificação da pessoa jurídica como autora e responsável, os demais partícipes, ou

seja, os instigadores ou cúmplice, poderiam ser beneficiados com o relaxamento dos

trabalhos de investigação;

287

BITTENCOURT, Cezar Roberto; GOMES Luiz Flávio. (coord.) Reflexões sobre a responsabilidade penal da pessoa jurídica. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 68.

288 BITTENCOURT, Cezar Roberto; GOMES Luiz Flávio. (coord.) Reflexões sobre a responsabilidade

penal da pessoa jurídica. p. 68.

103

3) O princípio da humanização das sanções seria violado também,

já que quando a CRFB/88 trata da aplicação da pena, refere-se sempre às pessoas

físicas e não aos entes morais/coletivos;

4) O princípio da personalização da pena seria violado porque

referir-se-ia à pessoa, à conduta humana de cada pessoa;

5) O tempo do crime quando o legislador definiu o momento do

crime com base em uma ação humana, ou seja, uma atividade final peculiar às pessoas

naturais, não previu a possibilidade de pessoas jurídicas cometerem crimes;

6) O lugar do crime não é possível estabelecer o local da atividade

em relação às pessoas jurídicas que têm diretoria e administração em várias partes do

território pátrio;

7) Ofensa a princípios relativos à teoria do crime, em especial na

caracterização da culpabilidade; imputabilidade; tipicidade.

Em relação às normas constitucionais que prevêem a

responsabilidade penal das pessoas jurídicas, Luiz Vicente Cernicchiaro, considerando

que estas somente desenvolvem sua personalidade jurídica por meio de pessoas

físicas, afirma que o legislador constituinte, caso quisesse resolver a polêmica questão,

teria sido expresso no capítulo em que definiu os princípios acerca do Direito Penal.

Portanto, "(…) a constituição brasileira não afirmou a responsabilidade penal da pessoa

jurídica, na esteira das congêneres contemporâneas" 289, somente possibilitando a

aplicação das demais sanções jurídicas que lhe são compatíveis.

No mesmo sentido manifestam-se Zaffaroni e Pierangeli 290:

[…] Não se pode falar de uma vontade em sentido psicológico no ato da pessoa jurídica, o que exclui qualquer possibilidade de admitir a existência de uma conduta humana. A pessoa jurídica não pode ser

289

CERNICCHIARO, Luiz Vicente. Direito Penal na Constituição. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991, p. 65.

290 ZAFFARONI, Eugênio Raul; PIERANGELI, José Henrique. Manual de direito penal brasileiro: parte geral. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 85.

104

autora de delito, porque não tem capacidade de conduta humana no seu sentido ontológico.

Existem ainda, manifestações sobre a inconstitucionalidade do

artigo 3º da Lei dos Crimes Ambientais, em que, positivamente, quebra-se o axioma

societas delinquere non potest. Conforme ensina Luiz Régis Prado 291:

[...] em rigor, diante da configuração do ordenamento jurídico brasileiro – em especial do subsistema penal – e dos princípios constitucionais penais (v.g., princípios da personalidade das penas, da culpabilidade, da intervenção mínima), que regem e que são reafirmados pela vigência daquele, fica extremamente difícil não admitir a inconstitucionalidade desse artigo, exemplo claro de responsabilidade penal objetiva.

Em suma, para a corrente contrária à responsabilidade penal da

pessoa jurídica, existe à idéia de que sem culpabilidade não existe pena, dogma de

segurança individual, garantido pelo sistema penal brasileiro e haurido do Iluminismo;

além disso, a pena passaria da pessoa do condenado, atingindo terceiros que não

houvessem praticado qualquer conduta delituosa, ou que nem mesmo tivessem dado

alguma contribuição nesse sentido.

Com base nessas idéias, sustentam que à vontade do legislador

constituinte não foi a de implantar, entre nós, a responsabilidade penal da pessoa

jurídica, em face de todas as particularidades acima relacionadas.

3.3.2 Posicionamentos jurisprudenciais

O poder judiciário já repudiou a responsabilidade penal das

pessoas jurídicas por crimes ambientais. Porém, a atual tendência é no sentido de

responsabilizar as pessoas jurídicas por ilícitos penais atentatórios ao MA, com

expresso fundamento na CRFB/88 e na Lei de Crimes Ambientais.

291

PRADO, Luiz Régis. Crime Ambiental: Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica. São Paulo: Boletim IBCCRIM, nº 65, 1998.

105

Com efeito, assim já decidiu o e. Tribunal de Justiça de Santa

Catarina, Recurso Criminal nº 00.7862-0, de Joaçaba, 1ª Câmara Criminal, rel. Dês,

Sólon d‟Eça Neves, julgado em 10.05.05, com a seguinte ementa:

RECURSO CRIMINAL - CRIME AMBIENTAL - REJEIÇÃO DA DENÚNCIA NA PARTE EM QUE FIGURAVA PESSOA JURÍDICA COMO SUJEITO PASSIVO DE DELITO PENAL - LEI DOS CRIMES AMBIENTAIS (LEI Nº 9.605/98) QUE ADMITE EXPRESSAMENTE A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA - RECURSO PROVIDO. A Lei dos Crimes Ambientais inovou o Direito Brasileiro quando admitiu, expressamente, a responsabilidade penal da pessoa jurídica para coibir e penalizar os chamados crimes de dano ao meio ambiente cometido por empresas. Necessário atender ao rigorismo pretendido pela legislação em relação ao infrator que provoca danos ao meio ambiente, seja pessoa física ou jurídica, resguardando, com isso, o direito constitucional que garante qualidade de vida ambiental a todos.

No mesmo sentido, decidiu, posteriormente, o e. TRF da 4ª

Região, 7ª Turma, MS nº 2005.04.01.006368-5/SC, rel. Dês. Federal Tadaaqui Hirose,

julgado em 25.05.05, com a seguinte ementa:

PROCESSO PENAL. CRIME AMBIENTAL. ARTS. 40 E 48 DA LEI Nº 9.605/98. PESSOA JURÍDICA. RESPONSABILIDADE PENAL. PARTE PASSIVA LEGÍTIMA. INÉPCIA DA DENÚNCIA. ART. 41, CPP. JUSTA CAUSA PARA AÇÃO PENAL. ART. 43, CPP. MATÉRIA DE FATO. EXAME EM SEDE DE MANDADO DE SEGURANÇA. IMPOSSIBILIDADE. 1. A responsabilidade penal das pessoas jurídicas está prevista no art. 225, § 3º, da CF bem como no art. 3º da Lei 9.605/98. Assim, podem figurar no polo passivo de ação penal pela prática de crime ambiental, por ação ou omissão decorrente de decisão de seu representante legal ou contratual. 2. Em sede de Mandado de Segurança só cabe o trancamento da ação penal por ausência de justa causa em situações especiais, ou seja, quando a negativa de autoria é evidente ou quando o fato narrado não constitui crime, ao menos em tese, ou mesmo em situações em que não é necessária a instrução criminal para tal percepção.

No mesmo diapasão, também o e. Superior Tribunal de Justiça

tem entendido que as pessoas jurídicas devem responder por ilícitos criminais

106

praticados contra o MA. É o que se lê do r. acórdão proferido no proferido em Recurso

Especial nº 564.960/SC, 5ª Turma, rel. Min. Gilson Dipp, julgado em 02.6.05:

CRIMINAL. CRIME AMBIENTAL PRATICADO POR PESSOA JURÍDICA. RESPONSABILIZAÇÃO PENAL DO ENTE COLETIVO. POSSIBILIDADE. PREVISÃO CONSTITUCIONAL REGULAMENTADA POR LEI FEDERAL. OPÇÃO POLÍTICA DO LEGISLADOR. FORMA DE PREVENÇÃO DE DANOS AO MEIO-AMBIENTE. CAPACIDADE DE AÇÃO. EXISTÊNCIA JURÍDICA. ATUAÇÃO DOS ADMINISTRADORES EM NOME E PROVEITO DA PESSOA JURÍDICA. CULPABILIDADE COMO RESPONSABILIDADE SOCIAL. CO-RESPONSABILIDADE. PENAS ADAPTADAS À NATUREZA JURÍDICA DO ENTE COLETIVO. RECURSO PROVIDO.

Citemos, ainda, no mesmo sentido, r. acórdão do e. STF, em 2ª

Turma, HC nº 97484, de São Paulo/SP, rel.(a) Min. Ellen Gracie, julgado em

23.06.2009, que decreta a responsabilização penal dos dirigentes da pessoa jurídica,

em razão de expressa previsão legal contida na Lei dos Crimes Ambientais, cuja

ementa é a seguinte:

HABEAS CORPUS. CRIME AMBIENTAL. PEDIDO DE TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL POR INÉPCIA DA DENÚNCIA E FALTA DE JUSTA CAUSA. ATENDIMENTO ÀS EXIGÊNCIAS DO ART. 41 DO CPP. RESPONSABILIDADE DO ADMINISTRADOR DA PESSOA JURÍDICA. ART. 2º DA LEI 9.605/98. PRECEDENTES DO STF. ORDEM DENEGADA. 1. Entendo que a conduta do paciente foi suficientemente individualizada, ao menos para o fim de se concluir no sentido do juízo positivo de admissibilidade da imputação feita na denúncia. 2. Houve, pois, atendimento às exigências formais e materiais contidas no art. 41, do Código de Processo Penal, não se podendo atribuir a peça exordial os qualificativos de ser "denúncia genérica" ou "denúncia arbitrária". Existe perfeita plausibilidade (viabilidade) na ação penal pública ajuizada pelo órgão do Parquet. 3. O art. 2º da Lei nº 9.605/98 prevê expressamente a responsabilidade do administrador da empresa que de qualquer forma concorre para a prática de crimes ambientais, ou, se omite para tentar evitá-los. 4. Habeas corpus denegado.

107

Portanto, percebe-se que a responsabilidade penal da pessoa

jurídica veio para consagrar um novo direito, o direito ao ambiente sadio e equilibrado,

para as presentes e futuras gerações. 292

O pensamento do legislador ao atribuir responsabilidade penal à

pessoa jurídica teve por finalidade impor maior respeito ao meio ambiente em face da

ineficácia da aplicação das sanções administrativas, axioma comum à parte da doutrina,

bem como aos julgadores.

O objetivo da nova legislação é intimidar os responsáveis pelas

pessoas jurídicas com penas mais duras para impedir que catástrofes e danos

ambientais causados direta ou indiretamente por pessoas jurídicas não se proliferem

em face da impunidade.

292

SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica. p. 115-120.

108

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo investigar, à luz da

legislação nacional e da doutrina brasileira, a responsabilidade penal da pessoa jurídica

frente aos crimes ambientais, devidamente prevista no art. 225, §3º da CRFB/88 e

regulamentados pela Lei 9.605/98.

O interesse no tema abordado deu-se em razão da questão

ambiental que tem sido palco de diversas discussões, haja vista os entes coletivos

figurarem cada vez mais como principais agentes causadores de danos ambientais.

A ganância e o lucro fácil têm levado o homem, sob o escudo de

um ente fictício, denominado pessoa jurídica, a cometer verdadeiras atrocidades contra

o meio ambiente, colocando, na maioria das vezes, em risco a saúde das pessoas e

atingindo diretamente o direito de todos de gozar de um meio ambiente ecologicamente

equilibrado, bem de uso comum do povo e que deve ser preservado para as presentes

e futuras gerações.

Da complexidade e diversidade das disputas que se estabeleceu

entre as duas principais correntes, que defendem a punição em termos de direito penal

para a pessoa jurídica e aquela que não a concebe por entender impossível a punição

de um ser meramente fictício, estimulou a criação deste trabalho que, dividido em três

capítulos, permite algumas considerações merecendo atenção especial.

No primeiro capítulo, extraiu-se o conceito de meio ambiente, o

surgimento da tão popular expressão, sua classificação no meio doutrinário, que pode

ser divido em três aspectos, o natural, o artificial e o cultural, a evolução normativa da

proteção penal ambiental no direito brasileiro, que se deu de forma gradativa e

aprazada, somente tomando fôlego após as grandes conferencias internacionais do

século XX. E neste último enfoque que se extraiu a proteção dada pela CRFB/88 ao

meio ambiente bem como os princípios que norteiam sua proteção.

109

No segundo capítulo, tratou-se da pessoa jurídica, seu

nascimento, suas características, seu desenvolvimento e sua extinção.

Verificou-se ainda sua subdivisão em pessoa jurídica de direito

público e de direito privado. No entanto, o ponto principal deste capítulo foi à

desconsideração da pessoa jurídica, quando esta desvia a sua finalidade, para então,

permitir ao judiciário sua punição em termos penais.

Por derradeiro, o segundo capítulo abordou os pressuposto

inerentes à responsabilidade da pessoa jurídica que se divide em administrativa, civil e

penal, sendo o enfoque mais privilegiado dada no que concerne a responsabilidade

penal.

No Capítulo 3 a pesquisa centrou-se na responsabilidade penal da

pessoa jurídica, cuja previsão para a punição institucionaliza-se no dispositivo

constitucional do artigo 225, § 3º, regulamentada pela lei federal 9.605/98.

Nesta lei é que encontra-se devidamente regulamentada a

possibilidade de responsabilizar-se a pessoa jurídica, no âmbito do direito penal,

conforme estabelece o artigo 3º com a seguinte rubrica: Art. 3º As pessoas jurídicas

serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta

Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal

ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.

Da pesquisa realizada sobre os entendimentos que resultou deste

artigo 3º da lei 9.605/98, sobressai aquele de que a pessoa jurídica pode sim, sofrer

sanções penais quando desvia a sua finalidade legal para a prática de atos ilegais

tipificados na lei especial como condutas criminosas. Deu-se um especial para a

responsabilidade penal da pessoa jurídica de direito público interno, pois estas, em

hipótese alguma, podem colocar em risco o meio ambiente em face de sua origem e

objetivo.

110

Assim retornando-se as hipóteses básica desta pesquisa verifica-

se que elas foram parcialmente confirmadas, haja vista que o assunto ainda é bastante

controvertido.

Por outro lado, as exigências de parte da sociedade em face de

tão grave problema, leva a doutrina penal a voltar-se cada vez mais no sentido da

punição penal da pessoa jurídica, embora seja ela um ente fictício, sem alma e sem

sentimento.

Por derradeiro, deixar de punir a pessoa jurídica, sob a afirmação

de que não pode a pena passar da pessoa do infrator, é permitir que criminosos da pior

espécie utilizem a organização legal da pessoa jurídica para se esquivar do alcance da

lei penal e permanecer na impunidade.

Colocar em risco a saúde e a vida de milhares de pessoas e

deixá-los impunes sob o pretexto de que a pena não pode passar da pessoa do infrator

eis que sob o manto ou escudo do ente fictício é menosprezar a capacidade de

entendimento das pessoas.

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