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ABORDAGEM HISTÓRICA DAS FORMAÇÕES EM SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO NO BRASIL Fernando Jose Fernandes Goncalves (IFSC ) [email protected] Angela Regina Poletto (IFSC ) [email protected] Francisco Soares Masculo (UFPB ) [email protected] O objetivo do artigo é resgatar os fatos históricos e as reflexões da educação sobre a Saúde e Segurança no Trabalho (SST), os subsídios para a compreensão das necessidades e das possibilidades para o desenvolvimento da cultura da prevenção dos riscos profissionais nos processos educativos escolares. Os procedimentos metodológicos utilizados foram a análise documental e análise textual discursiva. Os dados foram obtidos a partir da análise documental de materiais didáticos de experiências formativas e de publicações técnicas em SST. As formações de profissionais para SST iniciam em 1974 e o projeto-piloto no ensino fundamental ocorrem dois anos depois, no estado do Rio Grande do Sul. Na década de 1980, esse projeto-piloto abrange mais estados. O estado do Rio de Janeiro, já em meados da década de 1990, também propõe um outro projeto educativo para tratar da temática da segurança e saúde dos estudantes. Palavras-chaves: Saúde e Segurança no Trabalho, história, educação XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10 Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

ABORDAGEM HISTÓRICA DAS FORMAÇÕES EM … · na área de SST, entre eles o Curso Técnico de Segurança do Trabalho, desde 1990, e o Curso Técnico de Enfermagem do Trabalho, que

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ABORDAGEM HISTÓRICA DAS FORMAÇÕES

EM SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO NO

BRASIL

Fernando Jose Fernandes Goncalves (IFSC )

[email protected]

Angela Regina Poletto (IFSC )

[email protected]

Francisco Soares Masculo (UFPB )

[email protected]

O objetivo do artigo é resgatar os fatos históricos e as reflexões da educação

sobre a Saúde e Segurança no Trabalho (SST), os subsídios para a

compreensão das necessidades e das possibilidades para o desenvolvimento

da cultura da prevenção dos riscos profissionais nos processos educativos

escolares. Os procedimentos metodológicos utilizados foram a análise

documental e análise textual discursiva. Os dados foram obtidos a partir da

análise documental de materiais didáticos de experiências formativas e de

publicações técnicas em SST. As formações de profissionais para SST iniciam

em 1974 e o projeto-piloto no ensino fundamental ocorrem dois anos depois,

no estado do Rio Grande do Sul. Na década de 1980, esse projeto-piloto

abrange mais estados. O estado do Rio de Janeiro, já em meados da década

de 1990, também propõe um outro projeto educativo para tratar da temática

da segurança e saúde dos estudantes.

Palavras-chaves: Saúde e Segurança no Trabalho, história, educação

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Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10

Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

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1. Introdução

As experiências formativas em segurança e saúde do trabalho (SST) estão presentes na

história da educação pública brasileira. Este artigo apresenta alguns desses processos

experimentais no âmbito da educação básica e profissional. As abordagens focam na

formação de profissionais para atuarem na área de SST, e nas formações docente e discente

para a integração da prevenção dos riscos profissionais nos currículos escolares e,

consequentemente, na cultura cidadã laboral.

Este estudo sobre a história das formações em SST está em consonância com a importância do

desenvolvimento da cidadania promovido pela educação, por meio do movimento de

conhecimentos sobre temáticas fulcrais para a conquista de uma vida digna para todos os

brasileiros, como por exemplo, os fatores que causam os acidentes e as doenças profissionais.

A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) para educação no país estabelece como metas educativas a

formação para a cidadania e a preparação para o trabalho (Brasil, 1996). Porém, a explicitação

obrigatória para os processos escolares desenvolverem a prevenção dos riscos profissionais

está ausente. Apesar da inexistência da obrigatoriedade legislativa no sistema educativo,

iniciou-se muitas tentativas para abordagem dessa temática na educação formal nos últimos

40 anos.

O resgate temporal, dessas iniciativas destacam o período ditatorial e o retorno do estado

democrático, período conturbado e doloroso vivido pela maioria dos brasileiros. Nos tempos

de turbulência política, alguns gestores, educadores e profissionais da área da educação e da

SST transpuseram os obstáculos autoritários para tratarem de forma mais profícua a educação

para a prevenção dos riscos profissionais.

O objetivo do artigo é resgatar os fatos históricos e as reflexões da educação sobre a SST, os

subsídios para a compreensão das necessidades e das possibilidades para o desenvolvimento

da cultura da prevenção dos riscos profissionais nos processos educativos escolares.

Os procedimentos metodológicos utilizados no estudo foram a análise documental e análise

textual discursiva. Nessa comunicação os dados foram obtidos a partir da análise documental

de materiais didáticos de experiências formativas e de publicações técnicas em SST.

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2 . Contexto histórico de formações em SST

A industrialização no Brasil intensificou-se a partir das décadas de 1950 e 1960, e fez emergir

um problema para o setor produtivo, a mão-de-obra, ou a formação inexistente ou ineficiente

dos recursos humanos disponíveis para atender à demanda das empresas. A formação escolar

fragilizada e os poucos conhecimentos sobre a SST dos trabalhadores dessa época foram dois

dos fatores que contribuíram fortemente para os quantitativos crescentes de acidentes e

doenças profissionais no país. Essa realidade intensificou-se na década de 1970 com os

índices de acidentes notificados, que atingiram valores preocupantes. Por pressões

internacionais, principalmente da OIT, ações governamentais passaram a ser desenvolvidas

para a prevenção dos riscos profissionais, entre elas a formação acadêmica.

A primeira ação efetiva ocorreu em 1966, com a criação da FUNDACENTRO, um centro de

pesquisas e estudos para a SST. A entidade auxiliou na introdução de currículos profissionais

com o foco na prevenção e, ainda, desenvolveu e continua produzindo material didático,

publicações, cursos e outras ações no campo formativo para SST.

Ainda em 1966, o primeiro periódico específico para a área de prevenção de acidentes e

doenças profissionais, a revista Saúde Ocupacional e Segurança SOS, foi publicado no país

(SOS, 1966). No editorial da revista, volume IV, de janeiro e fevereiro de 1969, foram

encontradas algumas informações que representam o discurso desenvolvido pela imprensa

técnica brasileira referente à SST (SIMONSEN, 1969).

No editorial “Educação Antes de Tudo”, o autor enaltece a educação como elemento

fundamental para a prevenção de acidentes (SIMONSEN, 1969). Entretanto, o texto remete a

um discurso militarizado sobre o acidente de trabalho, característica devido ao Brasil viver

uma ditadura militar, extremamente autoritária e com rígido controle na censura de

publicações.

O editorial invoca “A luta contra o subdesenvolvimento [...]” para tornar o Brasil um país

industrializado. E faz um paralelo com países já industrializados, no sentido de que esse

processo considerado natural encontrasse nesses exemplos o “desenvolvimento normal”. Para

o autor, os países industrializados apresentavam uma evolução da industrialização de forma

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linear e exemplar, enquanto no Brasil houve um salto sem precedentes nas atividades

relacionadas à industrialização (SIMONSEN, 1969).

O editorial afirma que “Associação Brasileira para Prevenção de Acidentes – Conselho

Regional do Estado de São Paulo declarou guerra sem quartel ao acidente de trabalho”. Mais

de uma vez o termo “guerra” é utilizado no texto e indica que o preparo psicológico de

profissionais de saúde e segurança ocupacionais representa “na realidade a infraestrutura e a

retaguarda da luta”. O texto expõe a faceta do sistema econômico sobre os acidentes do

trabalho por meio do “convencimento de certo número de cúpulas das empresas de que a

prevenção de acidentes é um investimento de alta rentabilidade” (SIMONSEN, 1969).

O autor destaca que na formação de profissionais, a aplicação de métodos modernos para o

treinamento sobre a prevenção de acidentes são ferramentas transformadoras da educação.

Embora essas ferramentas de confronto objetivem preparar “as tropas de combate ao acidente

de trabalho dentro dos próprios núcleos de resistências”, a ponto de “A eficiência desses

elementos já se fizera sentir pelo recuo precipitado do inimigo”, não é o que se verifica, pois o

número de acidentes não recuou como previsto; ao contrário, intensificou-se a partir da

década de 1970 (SIMONSEN, 1969).

A luz do editorial está na afirmação que o encerra: “educar os nossos trabalhadores para a

mentalidade de pensar, conhecer e praticar a segurança do trabalho, antes de tudo”. Considera

a necessidade do cidadão produtivo exercitar a reflexão, a identificação e a práxis sobre os

conhecimentos da SST (SIMONSEN, 1969).

2.1. O início da formação de profissionais para SST no Brasil em 1974

Os primeiros movimentos para formações com o foco na segurança e na saúde do trabalho

iniciaram-se com a criação da Fundacentro. Entretanto, a efetivação da formação de

profissionais técnicos para prevenção laboral ocorreu apenas em 1974, com o II Plano

Nacional de Desenvolvimento (PND), instituído pela Lei nº 6.151 (BRASIL, 1974). A

necessidade era de ações relevantes para reduzir o expressivo quantitativo de acidentes e

doenças do trabalho. Então, as medidas foram formar profissionais em segurança, higiene e

medicina do trabalho, com o objetivo de contribuir para a redução dos altos índices de

acidentes profissionais.

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Tabela 1 – Formação de profissionais em SST – Período 1974/1978

Especialistas em SST Número de Formados

1974 1975 1976 1977 1978 TOTAL

Médicos do Trabalho 2.643 4.306 1.723 1.196 849 10.717

Engenheiros de Segurança 1.748 5.215 1.613 1.702 1.111 11.389

Supervisores de Segurança 7.779 14.483 2.032 1.695 2.353 28.342

Auxiliares de Enfermagem 1.215 1.689 1.316 1.012 831 6.063

Enfermeiros 38 282 162 138 142 762

TOTAL 13.423 25.975 6.846 5.743 5.286 57.273

Fonte: BRASIL (1979).

Os profissionais, segundo a legislação, eram engenheiros e supervisores de segurança do

trabalho, e médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem do trabalho. O programa de

formação de profissionais para a área de SST foi custeado pelo Ministério do Trabalho, por

meio de convênios da FUNDACENTRO com universidades, escolas técnicas e entidades

especializadas, posteriormente incorporados como processos formativos por essas

instituições. Inicialmente, tal formação tinha caráter emergencial, com cursos de curta

duração, alguns dados podem ser observados na Tabela 1 (BRASIL, 1979).

Um dos profissionais da área de Segurança e Medicina do Trabalho que teve os aspectos

formativos modificados ao longo do tempo foi o Supervisor de Segurança do Trabalho.

Inclusive, o nome da função, que passou a ser Técnico de Segurança do Trabalho, infausta

escolha porque todos os profissionais de SST são também técnicos dessa área de

conhecimento.

Entre as instituições que protagonizaram o papel de difundir a educação profissionalizante no

país, estavam as escolas técnicas, transformadas em institutos federais de educação, ciência e

tecnologia. Essas instituições foram as pioneiras em implementar em seus currículos, a

unidade de segurança e higiene do trabalho para os cursos técnicos integrados. Como

exemplo, o estudo destaca fatos da história da SST na Escola Técnica Federal de Santa

Catarina (ETFSC), atual Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa

Catarina (IFSC).

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2.2. Aspectos históricos das formações em SST no IFSC

O registro da primeira unidade curricular de Segurança e Higiene do Trabalho (SHT) na

ETFSC, atual Campus Florianópolis, do IFSC, ocorreu em 1976, iniciativa do Engenheiro de

Segurança do Trabalho e Professor Lício Mauro da Silveira. Os cursos técnicos de mecânica,

eletrotécnica e construção civil implementaram, em seu currículo, essa unidade, com carga

horária de aproximadamente 30 horas, para abordar a prevenção dos riscos profissionais.

Entre os conhecimentos gerais abordados nessa unidade curricular, estão: aspectos humanos,

sociais, econômicos e ambientais da SST; noções de higiene ocupacional; acidente do

trabalho: conceito, causas, comunicação de acidente do trabalho, estatísticas; sistemas de

proteção: equipamento de proteção individual e coletiva; prevenção e combate a incêndios;

noções de primeiros socorros; e normas regulamentadoras para segurança e saúde do trabalho

(IFSC, 2013).

Hoje, além de ministrar a unidade curricular de SHT na maioria dos cursos técnicos e também

em alguns cursos superiores, o IFSC também oferece cursos para formação de profissionais

na área de SST, entre eles o Curso Técnico de Segurança do Trabalho, desde 1990, e o Curso

Técnico de Enfermagem do Trabalho, que não está sendo ofertado atualmente (IFSC, 2013).

Por outro lado, destaca-se que algumas engenharias dispensam essa unidade em sua matriz

curricular.

As unidades curriculares e os cursos são orientados pelas legislações em vigor, com

fundamento também nos Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Profissional de

Nível Técnico. Por exemplo, na área profissional Indústria, os estudantes formados em cursos

técnicos devem ter competência para “aplicar normas técnicas de saúde e segurança no

trabalho e de controle de qualidade no processo industrial” (BRASIL, 2000).

Os institutos federais são os estabelecimentos de ensino, que estão entre as instituições que

apresentam uma nucleação epistemológica formativa dos conhecimentos e habilidades para a

prevenção dos riscos profissionais, com uma práxis educativa consistente. A necessidade do

estudante nas atividades de aprendizagem se expor a condições insalubres, perigosas e

penosas contribuem para formar cidadãos sensibilizados da necessidade da prevenção na

rotina laboral.

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Esse movimento de conhecimentos na educação científica e tecnológica apresentaria melhores

resultados se iniciasse no ensino fundamental. Houve tentativas pontuais para implementar

nessa modalidade educativa os conhecimentos sobre a prevenção dos riscos profissionais,

porém sem continuidade. A primeira experiência a ser relatada, concatenava a formação

docente e discente concomitantemente, e esteve na vanguarda das experiências educativas

escolares dos países do ocidente para a SST.

3. Experiência educativa no ensino fundamental de 1976

Em meados da década de 1970, no Estado do Rio Grande do Sul, foi implementado o

primeiro projeto educativo para a rede pública escolar, que contou com as parcerias entre o

Ministério do Trabalho, a Fundação Gaúcha do Trabalho (FGT) e a Secretária de Educação e

Cultura do Estado, para inserir na educação básica, especificamente no ensino fundamental, a

temática da Prevenção de Acidentes do Trabalho (BRASIL, 1979).

Nos documentos do Ministério do Trabalho que se referem ao projeto, a justificativa da

introdução da temática no ensino de 1º grau de maior relevância foi de que “ a infância e a

adolescência formam os conceitos básicos para a vida, portanto, nada mais justificável que

partindo do ensinamento da criança, dotar o homem adulto de uma consciência responsável

pela Prevenção de Acidentes”. Em 1976, início do projeto, foram registradas as seguintes

informações obtidas nas atividades formativas (BRASIL, 1979, p. 89): formação de 363

professores no ensino fundamental/básico; e produção de 263 planos de trabalho e 150

relatórios.

O objetivo da formação docente era qualificar os professores para atuar como multiplicadores

da temática de SST na rede escolar estadual. Os conteúdos abordados na formação eram

referentes à prevenção de acidentes e continham informações de como desenvolvê-la em sala

de aula. O acompanhamento foi realizado pela Secretaria de Educação e Cultura, e o processo

de avaliação foi por meio dos planos de trabalho, relatórios e feedback dos professores. Os

documentos demonstram que os resultados alcançados nessa etapa foram enriquecedores para

a formação docente. Os participantes da formação, a partir dos planos de trabalho elaborados

e dos relatórios, subsidiaram os trabalhos da equipe que ministrou a formação e, diante da

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necessidade de desenvolver materiais didáticos, optou-se pela elaboração de livros de

referência para os professores com temas de SST. (BRASIL, 1979, p. 89).

3.1. Material didático sobre SST

A experiência educativa de 1976 resultou na elaboração de materiais didáticos para os

estudantes e professores, a Tabela 2 apresenta informações desses livros, que foram obtidos

com profissionais da FUNDACENTRO no Rio Grande do Sul e São Paulo.

Tabela 2 – Material didático sobre SST da década de 1970

Quantidade de livros Estrutura escolar para aplicação do material didático

Público

pretendido

Quantidade de

livros

Centro Urbano Zona Rural

4ª e 5ª 6ª, 7ª e 8ª a partir da 4ª série

Estudantes 3 1(1981)* 1(1981)* 1(1981)*

Professores 3 1(1979)* 1(1979)* 1(1980)*

*Ano de publicação.

O material foi publicado a partir de 1979 e reeditado pelo menos nos três anos seguintes. A

Figura 1 são referentes as ilustrações das capas dos livros.

Figura 1 – Capas dos livros do professor e de estudante para as escolas urbanas e rurais

Fonte: Lapa, Iost & Elias (1979a, 1979b, 1981a, 1981b, 1980a, 1980b).

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Os textos e exercícios dos volumes são os mesmos tanto no livro dos estudantes como nos

livros do professor. Neste último acrescentam-se conhecimentos técnico-científicos e

orientações de como utilizar o material didático.

Os livros dos professores contêm uma breve nota textual de justificativa da temática e

considerações sobre a metodologia a ser aplicada, além de informações após os exercícios

sobre as possibilidades de movimentar os conhecimentos para a aprendizagem dos estudantes.

Os textos explorados no material didático referem-se a uma profissão ou sobre as

condicionantes que envolvem as atividades profissionais, seguidas de exercícios.

A abordagem escolhida nesses materiais didáticos afasta-se da proposta da educação cidadã,

de tratar os conhecimentos em sua totalidade. Os livros utilizam-se de relatos textuais

descontextualizados da realidade dos estudantes, da influência socioeconômica e política nas

questões laborais e do cotidiano dos homens. Embora o material estruture-se numa linguagem

adequada ao público-alvo, trata-se de um pacote educativo que muitas vezes não contemplam

as situações-problemas de cada comunidade relativas à prevenção.

Além de fornecer os livros de professor e de estudante, foram planejadas formações para

esclarecimentos, aprofundamento dos professores, na qual os técnicos da FUNDACENTRO e

pedagogos apresentavam o vocabulário da área e informações sobre os materiais didáticos. O

projeto não teve continuidade (MUCCILLO, 2012).

4. Projetos da década de 1980

Para dinamizar o processo educativo da SST, a FUNDACENTRO, a partir de 1980, elaborou

outro projeto, “Formação da Consciência Prevencionista dos Escolares de 1º Grau no País”,

que utilizou o mesmo material didático do projeto anterior. A meta era a transmissão de

conhecimentos elementares de SST a estudantes de 4ª a 8ª série de instituições escolares

públicas, de forma a movimentar a sensibilização e a consciência sobre a prevenção (SANTI:

MOTTI, 1988, p. 4).

Participaram da formação, em 1981 e 1982, cerca de 92 mil estudantes. Inicialmente, o

projeto foi desenvolvido em dez Estados brasileiros, em parceria com as secretarias de

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educação. Segundo Santi & Motti (1988, p. 4), a fundamentação do projeto estruturou-se nas

premissas da formação para a prevenção no cotidiano laboral:

[...] a Educação dos escolares, nos dias atuais, tem por objetivo preparar o

aluno que, em pouco tempo, estará integrando a força de trabalho e

defrontando-se com novas tecnologias de produção, das quais ele tem

completo desconhecimento. Não obstante a necessidade vital de auxiliar a

criança a construir seu meio social, preservando sua integridade física e

psicológica, vamos descobrir que os educandos possuem vaga noção de o

que seja seu futuro mundo de trabalho, com suas variadas profissões e os

riscos a elas inerentes. (SANTI; MOTTI, 1988, p. 4).

A ideia de formar nas séries iniciais os estudantes para a prevenção contribuiria efetivamente

para um futuro mais seguro e saudável para todos os brasileiros. Porém, este projeto não teve

continuidade, e as respectivas práticas educativas foram esquecidas.

Esse segundo projeto foi a base para que a FUNDACENTRO desenvolvesse outras formações

para prevenção. Em 1988, estruturou-se outra formação, “Projeto Saúde, Segurança, Trabalho

e Educação – Preparação para o Trabalho”, este em parceria com a Secretaria de Educação do

Estado de São Paulo e a Prefeitura Municipal de São Paulo, tendo contado, ainda, com a

colaboração de escolas particulares e de outras instituições. Foi direcionado a

cidadãos/estudantes da 7ª e 8ª séries do 1º grau e da 1ª série do 2º grau, e teve como meta

sensibilizá-los diante dos fatores de perigo, de insalubridade e de penosidade dos ambientes

laborais. Os conhecimentos relativos às normas de saúde e segurança também seriam

movimentados nessa formação, mas o projeto não passou da fase piloto (SANTI; MOTTI,

1988, p. 4).

5 . Projetos da década de 1990

Na década de 1990 são registradas novas experiências educativas para a SST. O estudo

levantou informações sobre essas experiências no Estados do Rio Grande do Sul e Rio de

Janeiro.

5.1. Projeto no Estado do Rio Grande do Sul

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O relato a seguir foca experiência do Rio Grande do Sul da década de 1990, proferido pela

pedagoga e especialista em SST, a senhora Maria Muccillo que trabalhou no projeto:

“ A experiência no trabalho educativo em segurança e saúde no ensino de 1º grau ocorreu, na

década de 1990, no interior do Rio Grande do Sul, nos municípios de Encantado e Lageado, e

abrangeu mais de 50 escolas. A subdelegacia de ensino da região apoiou o trabalho, e o foco

foram os orientadores e supervisores educacionais, e principalmente na formação docente de

1º e 2º grau.

A proposta era que cada escola desenvolvesse um projeto de segurança e saúde, com aporte

de recursos disponibilizados pela subdelegacia de ensino. A maioria das modificações

estruturais nas escolas relativas à segurança e saúde foram concluídas, como por exemplo:

adequação as normas de segurança dos locais de armazenamento de materiais inflamáveis;

adequação das entradas e saídas dos ambientes escolares segundo requisitos de segurança para

a mobilidade dos estudantes.

As atividades se concentraram, principalmente, nas escolas de formação de professores de

séries iniciais, na qual os estagiários e futuros professores ao participarem do projeto,

exercitassem e desenvolvessem a sua prática educativa com os princípios preventivos e

salubres em relação aos riscos profissionais. O projeto encerrou com a mudança das

lideranças políticas.”

Alguns dos pontos positivos de êxito do projeto foram o fato de a necessidade emergir da

comunidade, o envolvimento de todos, governo, empresas e comunidade. Enquanto o governo

ofertou recursos materiais e humanos, as empresas abriram suas portas para eventos relativos

aos acidentes e doenças ocupacionais e propuseram-se a divulgar informações acerca da SST.

Entretanto, o projeto não teve continuidade, não conseguiu estabelecer raízes estruturais

independentes. Aliás, a autonomia de uma comunidade em gerir a educação para prevenção,

ou de desenvolver a cultura para prevenção, é uma condição essencial para o tratamento

educativo desse direito e dever para a cidadania. Os estudos da educação para a prevenção

podem contribuir para a instauração de processos educativos autônomos, nos quais as

comunidades e os cidadãos sejam construtores permanentes da cultura da prevenção.

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5.2. Projeto do Estado do Rio de Janeiro

Pesquisadores e profissionais da educação do Estado do Rio de Janeiro estruturaram um

projeto para a formação sobre SST na educação escolar.

Em 1996, foi desenvolvido no Laboratório de Qualidade, Segurança e Produtividade, da

Universidade Federal Fluminense, um projeto intitulado “Criança – Meta Educação em

Segurança e Meio Ambiente”. A justificativa para o projeto era o alto quantitativo de

acidentes com crianças. Escolheu-se uma turma de 30 estudantes, entre 9 e 12 anos, da Escola

Santos Dumont, do município de Niterói, no Estado do Rio de Janeiro. O trabalho partiu da

formação de uma equipe composta de engenheiros de segurança e pedagogos. A escola

escolhida foi estratégica para a divulgação do projeto, por atender crianças e jovens de uma

comunidade fragilizada economicamente (favela), sem acesso a direitos e responsabilidades

para a cidadania (QUELHAS, 1996).

A concepção do projeto centrou-se na importância de sensibilizar as crianças para a prevenção

em casa, no estabelecimento escolar, nas atividades laborais, e para os cuidados referentes à

mobilidade; por exemplo, atravessar uma rodovia. A pesquisa evidenciou que os direitos das

crianças não são respeitados, ou seja, seus direitos estão expostos em documentos

internacionais e nacionais, de declaração de boas intenções, mas só “no papel” (QUELHAS,

1996).

Esse projeto também não teve continuidade, e certamente outros projetos foram idealizados e

realizados em Estados e municípios brasileiros. Tanto os avanços quanto os insucessos desses

projetos são informações relevantes para o desenvolvimento da educação cidadã para a

prevenção de riscos profissionais, e consequentemente para a promoção da cultura cidadã

laboral.

6. Considerações finais

As experiências e projetos abordados nesse artigo apresentam características de serem

fragmentadas, pontuais, sem continuidade e remetem a um legado histórico de fragilidade

educativa em nosso país. Demarcadas naqueles tempos pelas ações da ditadura militar para os

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brasileiros, pela imposição de uma pseudocidadania, e depois reproduzidas pelos ditames do

sistema econômico.

O desenvolvimento educativo escolar para a SST, depende de um alinhamento político,

econômico e social para a conquista de mais segurança e saúde nas atividades laborais. Uma

ação importante é tornar obrigatório para a educação em nosso país o desenvolvimento da

cultura da prevenção dos riscos profissionais, e dos demais riscos que continuam distanciando

a maioria dos brasileiros de exercerem a cidadania sustentável produtiva.

REFERÊNCIAS

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Consultado em 19 de abril de 2013, em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1970-1979/L6151.htm.

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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm.

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http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf/introduc.pdf. Acesso;

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