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Alvenaria Estrutural x Paredes de Concreto na Construção de Habitações de Interesse
Social: Habitações de Interesse Social: As Influências do Método Construtivo na Liberdade
Projetual Julho/2016
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ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 11 Vol. 01/ 2016 julho/2016
Alvenaria Estrutural x Paredes de Concreto na Construção de
Habitações de Interesse Social:
As Influências do Método Construtivo na Liberdade Projetual
Vanessa Ferreira Spina - [email protected]
MBA Gerenciamento de Obras, Tecnologia e Qualidade da Construção
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Uberlândia, MG, 15 de junho de 2015.
Resumo
A escolha do método construtivo mais adequado para a construção de habitações de
interesse social é um fator que influencia diretamente as etapas de planejamento da obra, em
especial a concepção do Projeto Arquitetônico. Em um contexto onde a racionalização, a
economia e a produtividade do processo se comportam como premissas para a viabilização
da obra, o Projeto Arquitetônico deve ser desenvolvido com base nas particularidades do
método construtivo escolhido. Esta pesquisa caracteriza-se pela análise das influências
causadas pelo processo construtivo na concepção do Projeto Arquitetônico, baseando-se nos
dois processos atualmente mais utilizados no setor de habitações de interesse social no
Brasil: a Alvenaria Estrutural e as Paredes de Concreto. Com o intuito contrapor as
principais restrições projetuais dos dois sistemas em questão, foi desenvolvido um estudo -
através de pesquisas bibliográficas e experiência pessoal do autor - para expor comparações
pontuais entre os métodos construtivos, que serão o primeiro passo para a construção de um
quadro comparativo mais completo. Assim como outros fatores, esse quadro comparativo
deve ser considerado no momento de escolha do método construtivo para a consrução de
habitações de interesse social, frisando a importância da liberdade projetual do arquiteto na
busca por habitações mais dignas.
Palavras-chave: Método construtivo. Alvenaria Estrutural. Paredes de Concreto. Liberdade
projetual. Habitação social.
1. Introdução
O desenvolvimento de programas governamentais de incentivo à moradia no Brasil provocou
um significativo aumento na construção de conjuntos habitacionais de interesse social nos
últimos anos. A partir desse cenário, os empresários do setor da construção civil encontraram
uma rara oportunidade e um grande desafio, diante de uma demanda jamais vista no país. Eles
puderam abrir um imenso mercado, criando produtos com qualidade para a população de menor
poder aquisitivo.
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Como conseqüência, percebe-se um esforço crescente das construtoras em encontrar soluções
e métodos construtivos que possam contribuir para a redução de custos e o aumento da
racionalização de suas obras. Para viabilizar os sistemas, as construtoras têm adotado, ainda,
algumas ações como a padronização dos projetos e a preferência pelas construções em escala,
artifícios que permitem melhor aproveitamento da mão de obra, facilitam a contratação de
serviços e compra de insumos e culminam na redução do tempo de obra.
Nesse contexto, muitas construtoras brasileiras, com forte concentração no interior do estado
de São Paulo, têm percebido a vantagem do sistema construtivo de Alvenaria Estrutural. A
redução de fôrmas, armação e revestimentos, a possibilidade de pré-fabricação de muitos
componentes estruturais, a limpeza do canteiro de obras, a redução de desperdícios e a
diminuição dos procedimentos em obra, notadamente quando do emprego da alvenaria não-
armada, têm incentivado tal procura.
É crescente o interesse de projetistas, construtores e proprietários. Mesmo sem o domínio da
tecnologia necessária, as iniciativas privada e estatal vêm, ao longo dos anos, descobrindo na
alvenaria estrutural uma alternativa muito competitiva para a construção de habitações.
Segundo a Caixa Econômica Federal, o emprego da alvenaria como elemento estrutural de
suporte em edificações vem sendo largamente ampliado, em especial por possibilitar uma
redução nos custos de produção das unidades habitacionais, podendo chegar a uma economia
de até 30% em relação ao sistema convencional.
No entanto, outros métodos construtivos têm conquistado espaço nesse setor da engenharia,
trazendo benefícios muitas vezes não alcançados pela alvenaria estrutural. Muito utilizado em
países como Chile, Colômbia e México, o sistema construtivo de Paredes de Concreto se
mostra como uma opção viável, apresentando inúmeras vantagens em termos de velocidade
de execução e otimização da mão de obra para a produção de residências em massa. O sistema de Paredes de Concreto é um método de construção racionalizado que oferece
padronização, produtividade, qualidade e economia de escala. Esse sistema construtivo é o que
podemos chamar de construção industrializada, pois garante a construção de casas com
velocidade e precisão. De acordo com Téchne (maio, 2010), o sistema permite a construção
de uma casa popular de 60m² por dia, com um jogo de fôrmas e nove homens que deixam a
casa concretada e com as tubulações embutidas.
Embora possuam vantagens semelhantes na busca pela otimização das construções de
interesse social, os métodos construtivos de Alvenaria Estrutural e de Paredes de Concreto
possuem particularidades que influenciam diretamente no planejamento e na execução das
obras. Como ponto de partida, o Projeto Arquitetônico é a primeira etapa influenciada pela
escolha do sistema construtivo.
Num setor onde as pressões acerca da produtividade e das reduções de custo são
constantes, o uso de ferramentas que auxiliem o processo de planejamento e
contribuam para a racionalização da produção tornam-se essenciais, para que as
potencialidades do sistemas utilizados sejam exploradas. Nesse sentido, o
desenvolvimento de Projetos voltados para as peculiaridades da produção de casa
sistema é um fator importante, tanto no que se refere à racionalização de custos e
processos, quanto à melhoria da qualidade, com redução de patologias decorrentes
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de erros de construção (SIQUEIRA, 2010:12).
Isso quer dizer que, para obtermos o máximo desempenho e competitividade do sistema
escolhido, é fundamental que o Projeto Arquitetônico seja concebido tendo como base as
variáveis e condições intrínsecas ao sistema construtivo. Verifica-se que existem diversos
estudos sobre o projeto da habitação social, embora com pouco esforço quanto ao impacto das
decisões arquitetônicas no uso e no custo final destes empreendimentos. O mesmo vale para o
inverso: pouco se fala sobre as possibilidades de projeto oferecidas por cada sistema
construtivo como fator de importância para o desenvolvimento de habitações mais dignas.
Qualquer que seja o sistema construtivo adotado, para que seja possível
experimentar plenamente suas vantagens é necessário que o projeto seja concebido
para este sistema. Na etapa de projeto, deve-se buscar a maximização de suas
potencialidades, agregando eficiência através do emprego de todos os recursos
técnicos possíveis. (RAUBER, 2005)
O presente trabalho tem como objetivo a discussão sobre a influência da escolha do processo
construtivo na liberdade projetual do arquiteto e, consequentemente, na qualidade espacial do
produto final. Dessa forma, serão apresentadas comparações entre os processos construtivos
de Alvenaria Estrutural e de Paredes de Concreto, relacionando as possibilidades projetuais
que cada um deles oferece em diversos âmbitos, dentro do contexto da construção de
Habitações de Interesse Social.
2. Método de Pesquisa
O método escolhido para nortear essa pesquisa foi o método bibliográfico. Foram estudadas
as características intrínsecas aos sistemas construtivos em questão através da leitura de
diversos textos, monografias e livros publicados, que serão relacionados para conhecimento
no final deste artigo.
A partir desse levantamento de informações a respeito dos sistemas construtivos, será possível
analisar a influência das particularidades de cada um no momento da criação do Projeto
Arquitetônico, analisando as possibilidades projetuais oferecidas. Para isso, serão
considerados diversos fatores de comparação, possibilitando o confronto dos métodos
construtivos através de contraposições pontuais. São eles: modulação, formas e volumes,
simetria, flexibilidade, repetição horizontal, repetição vertical e passagem de dutos.
No entanto, antes de começarmos, é importante a compreensão da essência dos sistemas
construtivos estudados. Dessa forma, serão apresentadas as definições básicas dos sistemas de
Alvenaria Estutural e de Paredes de Concreto, suas aplicações práticas e principais
características, a fim de contextualizar as análises que seguem.
3. Definição dos Sistemas Construtivos
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3.1. Alvenaria Estrutural
A alvenaria é um sistema construtivo que utiliza peças industrializadas de dimensões e peso
que as fazem manuseáveis, ligadas por argamassa, tornando o conjunto monolítico. Estas
peças industrializadas podem ser moldadas em cerâmica, concreto ou sílico-calcáreo.
A alvenaria estrutural ou autoportante é a alvenaria com função estrutural onde, em uma
edificação, dispensa-se a confecção de vigas e pilares, sendo a parede o elemento estrutural
que irá receber os esforços. O Sistema em Alvenaria Estrutural utiliza paredes não apenas
como elementos de vedação, mas também como elementos resistentes às cargas verticais de
lajes, ocupação e peso próprio e às cargas laterais resultantes da ação do vento sobre a
edificação e de desvios de prumo.
Resumidamente, são edificações de paredes estruturais, capazes de resistir a grandes
cargas verticais e, desde que não surjam tensões de tração ou se surgirem, que sejam
determinados os reforços com barras de aço, também são capazes de apresentar
considerável resistência às ações horizontais. Essas importantes considerações
indicam o uso da alvenaria não armada preponderantemente nas regiões geográficas
mais estáveis, onde não haja a possibilidade de ocorrência de abalos sísmicos, como
é o caso do Brasil (NASCIMENTO NETO, 1999).
Trata-se de um sistema construtivo tradicional, muito utilizado desde o início da atividade
humana de construção. Utilizando blocos de diversos materiais, como argila, pedra e muitos
outros, foram produzidas obras que desafiaram o tempo, atravessando séculos e chegando até
nossos dias como verdadeiros monumentos à engenhosidade humana.
A Alvenaria Estrutural é um processo construtivo que pode ser empregado tanto em casas
como em edifícios de múltiplos pavimentos. Há dois tipos de alvenaria estrutural: não armada
e armada. Segundo a ABNT (NBR-10837), alvenaria estrutural não-armada de blocos
vazados de concreto é “aquela construída com blocos vazados de concreto, assentados com
argamassa, e que contém armaduras com finalidade construtiva ou de amarração, não sendo
esta última considerada na absorção dos esforços calculados”. Já alvenaria estrutural armada
de blocos vazados de concreto, segundo a mesma referência, é “aquela construída com blocos
vazados de concreto, assentados com argamassa, na qual certas cavidades são preenchidas
continuamente com graute, contendo armaduras envolvidas o suficiente para absorver os
esforços calculados, além daquelas armaduras com finalidade construtiva ou de amarração”.
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Figura 1 – Obra em Alvenaria Estrutural
Fonte: www.techne.pini.com.br (Acesso em 02/08/15)
3.2. Paredes de Concreto
Paredes de Concreto é um sistema construtivo em que a estrutura e a vedação são formadas
por um único elemento: a parede de concreto, que é moldada in loco. A principal
característica do sistema é que a vedação e a estrutura constituem um único elemento. Todas
as paredes de cada ciclo construtivo de uma habitação são moldadas em uma única etapa de
concretagem, permitindo que, após a desforma, as paredes já contenham em seu interior todos
os elementos embutidos: caixilhos de portas e janelas, tubulações, elementos de fixação para
cobertura, etc.
O sistema de alvenaria convencional que é bastante utilizado para construção de
conjuntos habitacionais no Brasil é marcado pelo tempo de execução lento,
atividades artesanais que demandam índices de mão-de-obra elevados e onde se
predomina o desperdício. Já o sistema construtivo parede de concreto é totalmente
sistematizado, pois é baseado inteiramente em conceitos de industrialização de
materiais e equipamentos, mecanização, modulação, controle tecnológico e
multifuncionalidade. Por esses fatos a obra se transforma em uma linha de
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montagem, como na indústria automobilística. (PINHO, 2010:6)
As fôrmas utilizadas devem ser estanques e favorecer rigorosamente a geometria das peças
que estão sendo moldadas. Podem ser metálicas – utilizando quadros e chapas metálicas tanto
para estruturação de seus painéis como para dar acabamento à peça concretada –, mistas –
utilizando quadros em peças metálicas e chapas de madeira compensada – ou plásticas –
utilizando quadros e chapas feitos em plástico reciclável, contraventados por estruturas
metálicas.
O sistema pode ser utilizado em obras de pequeno, médio ou alto padrão, devido à sua grande
versatilidade. Além disso, pode ser empregado em diferentes tipos de edificações: casas
térreas, sobrados, edifícios de até seis pavimentos, edifícios de até nove pavimentos com
apenas esforços de compressão, tendo inclusive exemplos de utilização em edifícios de até 30
pavimentos.
Figura 2 – Obra em Paredes de Concreto
Fonte: www.nucleoparededeconcreto.com.br (Acesso em 02/08/15)
4. Análise das Influências Projetuais
4.1. Modulação do Projeto
O conceito de Modulação parte da utilização de espaçamentos ideais na concepção do projeto
arquitetônico, que podem ser definidos através de diversos fatores, dependendo do material
utilizado e do sistema construtivo escolhido. No sistema convencional, onde a estrutura e
vedação são consideradas separadamente, a modulação aparece como um fator opcional que
influencia na agilidade da obra. No entanto, alguns outros sistemas costrutivos possuem uma
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relação muito mais íntima com a necessidade de modulação, tornando-a fator essencial para a
viabilidade da construção.
Ao analisar o sistema construtivo de Alvenaria Estrututal, percebemos que, de acordo com as
definições apresentadas anteriormente, alvenaria é um conjunto de blocos ou tijolos unidos
entre si, em obra, por argamassa, gerando um conjunto coeso e estável. Portanto, a unidade
básica da alvenaria é o bloco ou o tijolo. Esta unidade possui dimensões fixas de altura,
largura e comprimento. Em um projeto para Alvenaria Estrutural, é recomendável que as
dimensões dos espaços sejam múltiplos destas dimensões fixas. Isto é, devem obedecer ao
módulo do bloco escolhido.
Dessa forma, a modulação torna-se fundamental para a economia e a racionalização da
edificação em Alvenaria Estrutural. Nesse caso, modular o arranjo arquitetônico significa
acertar suas dimensões em planta e também o pé-direito da edificação, através das dimensões
das unidades, com o objetivo de reduzir ao máximo os cortes e ajustes na execução das
paredes.
A tabela seguinte mostra os tipos de blocos de concreto mais utilizados nas construçãoes em
Alvenaria Estrutural e as dimensões da malha a ser aplicada na planta baixa.
Tabela 1: Medidas dos módulos e da malha de projeto a partir das medidas dos blocos padronizados
Fonte: RAUBER, 2005.
Há dois tipos de modulação: a horizontal e a vertical. O comprimento e a largura do bloco
definem o módulo horizontal ou módulo em planta. Já a altura da unidade define o módulo
vertical, adotado nas elevações. É muito importante que o comprimento e a largura sejam
iguais ou múltiplos, assim podemos ter um único módulo em planta, simplificando a
amarração entre as paredes e resultando em uma melhor racionalização do sistema
construtivo.
Em suma, o sucesso de um projeto para Alvenaria Estrutural depende da definição dos
elementos estruturais, da modulação da alvenaria em função da Arquitetura e da adequação
desta às dimensões modulares dos componentes.
"A modulacão é fundamental para garantir a racionalização possibilitada pelo uso da
alvenaria estrutural. Caso isto não seja relevado na elaboração do projeto, serão
necessários cortes nos blocos e enchimentos nas paredes que resultam,
automaticamente, em perda econômica e de agilidade de construção. Isto sem
mencionar a perda da coesão estrutural das paredes, que leva ao
hiperdimensionamento dos blocos e consequente aumento dos custos. O beneficio
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mais evidente, portanto, da adoção da coordenação modular e a diminuição das
perdas materiais oriundas do corte dos blocos e no aumento da produtividade.”
(GREGÓRIO, 2010:34)
Devido a essa necessidade de modulação vinculada ao bloco estrutural, no processo criativo
de uma edificação em Alvenaria Estrutural é fundamental a perfeita integração entre o
arquiteto e o projetista estrutural, objetivando a obtenção de uma estrutura economicamente
competente para suportar todos os esforços previstos sem prejuízo das demais funções:
compartimentação, vedação, isolamento termo-acústico, instalações hidráulicas, elétricas,
telefônicas e função estética. Dessa forma, percebe-se que, neste sistema construtivo, não
cabe ao arquiteto definir as dimensões finais dos cômodos, devido ao fato de que a estrutura é
a própria parede e os blocos não devem ser cortados, ficando esta função a cargo do projetista
estrutural.
Quando há necessidade de adaptações no projeto, onde a medida interna não é múltipla da
dimensão dos blocos, podemos utilizar peças de pequena espessura, chamadas de
compensadores, pastilhas ou bolachas. No entanto, é importante salientar que qualquer
adaptação que precise ser feita em alvenaria estrutural causará uma perda da racionalidade, do
tempo e do ritmo da construção.
Já no caso do sistema construtivo de Paredes de Concreto, percebe-se que, embora a estrutura
e a vedação sejam formadas por um único elemento, esse elemento se comporta como uma
estrutura monolítica, rígida e indivisível. Sendo assim, o sistema não baseia-se em nenhum
sub-elemento que determine a modulação do projeto arquitetônico, garantindo uma maior
liberdade de criação ao arquiteto, que pode dimensionar os cômodos da edificação de acordo
com a utilização do mesmo, sem necessariamente considerar outros elementos dimensionais.
No entanto, como em qualquer sistema industrializado, as paredes de concreto amplificam o
seu potencial de desempenho quando adotamos os princípios de coordenação modular desde a
concepção do produto. Um dos principais itens na execução de paredes de concreto, as fôrmas
(ou moldes) são os principais elementos que irão se beneficiar de um projeto modulado. Ao
adotarmos medidas de projeto modulares e consequentemente compatíveis com a modulação
dos painéis de fôrmas, eliminamos a necessidade de peças específicas e não padronizadas,
diminuindo o custo das fôrmas e facilitando a sua adoção em projetos diferentes.
Baseando-se nas possibilidades de modulação, o site Comunidade da Construção listou as
principais recomendações de projeto para a máxima eficiência do sistema de fôrmas:
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1. Adotar espessura de 10 cm em
todas as paredes. O uso de paredes
com espessuras diferentes implica
na necessidade de peças especiais
ou não moduladas.
2. Usar “bonecas” de portas ou
janelas de 10 cm ou, se possível,
“eliminar” essas bonecas.
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3. As esquadrias deverão ter
medidas nominais que considerem
as folgas necessárias para
instalações, permitindo que os
vãos deixados pelas fôrmas sejam
múltiplos de 10 cm.
4. As lajes também devem ter
espessura de 10 cm, permitindo o
uso de painéis internos e externos
padronizados.
Tabela 2: Principais recomendações de projeto para a máxima eficiência do sistema de fôrmas
Fonte: www.comunidadedaconstrucao.com.br (Acesso em 30/08/15)
Mais do que um instrumento que facilita a coordenação entre o projeto e a sua execução, a
modulação elimina adaptações locais, minimiza perdas de materiais, aumenta a produtividade
e, em consequencia disto, traz ganhos financeiros tangíveis. Uma vez que estamos analisando
a utilização dos sistemas estruturais no contexto de Habitações de Interesse Social, não
podemos deixar de considerar a importância da economia financeira e da redução de prazos
dos sistemas analisados.
4.2. Formas e Volumes
Tão importantes quanto o dimensionamento dos cômodos de uma habitação, a conformação
(interna ou externa) e a volumetria são fatores de preocupação para os arquitetos, uma vez que
definem o formato final da edificação. No entanto, muitas vezes, o sistema construtivo
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escolhido pode estabelecer algumas limitações na concepção do projeto, restringindo a
liberdade projetual do arquiteto.
Tratando-se de volumetria, o sistema construtivo de Alvenaria Estrutural nos traz um grande
limitador em sua essência. Uma vez que os blocos estruturais que formam as paredes devem
ser intertravados e a distribuição de cargas o mais uniforme possível, os formatos
arredondados se tornam inviáveis nesse tipo de construção, principalmente se tratando dos
planos que formam a fachada do edifício, dentro do conceito de economia intrínseco à
construção de Habitações de Interesse Social.
Os balanços na estrutura também são uma escolha que se deve evitar quando o sistema
construtivo é a Alvenaria Estrutural, visto que é importante que as paredes estejam apoiadas
umas sobre as outras, garantindo a estabilidade do sistema. Isso faz com que as sacadas dos
edifícios sejam, em sua maioria, embutidas no corpo do edifício, limitando o formato da
fachada.
Além disso, em Alvenaria Estrutural, é recomendável considerar o conceito de esbeltez do
conjunto, tendo em vista que é esta característica que garante maior resistência aos esforços
horizontais. A esbeltez é a medida que relaciona a altura da edificação com suas dimensoes de
base. Edificações excessivamente esbeltas nao são adequadas ao uso da Alvenaria Estrutural.
Figura 3 – Análise das proporções ideais, aceitáveis ou ruins para uma edificação em alvenaria estrutural
Fonte: Alvenaria Estrutural. PUCRS - Profa Sílvia Maria Baptista Kalil (página 66)
Por fim, os estudos de MASCARÓ (2006) ressaltam que os planos envoltórios de um edificio
são mais caros que os seus equivalentes interiores. Isto leva a concluir que recursos
geométricos para reduzir a superfície do edifício em contato com o exterior podem ser
utilizados com a intenção de redução de custos. Cabe ressaltar que o excesso de recortes na
planta, gerando avanços e recuos na fachada, aumentam o perímetro exposto ao exterior,
aumentando consequentemente os custos.
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Figura 4 – Residencial Green Park Life (Juiz de Fora-MG): Exemplo de edifícação de interesse
social em alvenaria estrutural, ilustrando a volumetria retilínea, as varandas embutidas no corpo
da construção e o formato pouco esbelto e carente de recortes
Fonte: www.blogdopetcivil.com (Acesso em 30/08/15)
Ao contrário da Alvenaria Estrutural, as possibilidades de volumetria oferecidas pelo sistema
de Paredes de Concreto são diretamente relacionadas com as limitações de formato das
fôrmas utilizadas na construção.
Uma vez que as fôrmas, sejam elas metálicas ou plásticas, possuem uma grande flexibilidade
de formatos, o mesmo acontece com o formato final da edificação. Formas arredondadas,
triangulares e assimétricas são facilmente moldadas no sistema de Paredes de Concreto,
oferecendo um leque maior de possibilidades quando se trata da volumetria do edifício. No
entanto, é válido ressaltar que as fôrmas retilíneas e modulares possuem um custo menor
quando comparadas às fôrmas arredondadas ou assimétricas, fator que deve ser considerado
na concepção de uma Habitação de Interesse Social.
Além disso, as fôrmas também permitem a inserção de detalhes de fachada em sua estrutura,
como frisos, avanços e desenhos diversos que podem proporcionar uma fachada diferenciada
para a edificação. Esses detalhes são anexos à fôrma na etapa de produção, permitindo que
sejam moldados juntamente com a estrutura, ao invés de serem moldados posteriormente,
como acontece com a maioria dos sistemas construtivos.
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Figura 5 – Residenciais Bairro Novo (Salvador-BA) e Brisa (México): Exemplos de edificações de interesse
social em parede de concreto, ilustrando a utilização de formatos arredondados e detalhes de fachada
Fonte: www.forsa.com.co (Acesso em 30/08/15)
Os balanços também são bem aceitos quando se trata do sistema de paredes de concreto, uma
vez que as lajes possuem comportamento similar às estruturas de concreto convencionais. No
entanto, mais uma vez, as armações necessárias para as estruturas em balanço podem
encarecer o custo da edificação, sendo necessária uma análise do custo-benefício da utilização
do artifício.
Por outro lado, nesse sistema, as fôrmas das paredes são compostas por painéis individuais,
que podem ser pequenos e leves ou grandes e pesados. Nos dois casos, o menor número de
eixos a serem lançados facilita o posicionamento e alinhamento desses painéis, daí a
importância de termos o maior número de paredes alinhadas, principalmente as paredes
internas, o que pode limitar a conformação projetual dos ambientes da edificação.
4.3. Simetria
A necessidade de manter a simetria da edificação é também um fator que possui uma
influência direta na volumetria final do edifício. Principalmente quando falamos em edifícios
multifamiliares, a repetição de um apartamento tipo de forma regular no pavimento resulta em
uma fachada completamente simétrica, descartando a possibilidade de criação de uma
volumetria excêntrica.
Uma característica básica dos projetos em Alvenaria Estrutural é a simetria. A distribuição
racional das paredes resistentes por toda a área da planta garante uma distribuição de
carregamentos uniforme, sem a necessidade de utilização de matérias com resistências
diferentes nas paredes de um mesmo pavimento. Uma distribuição simétrica em ambas as
direções da edificação garante a estabilidade global do prédio em relação a carregamentos
horizontais e tensões devido a torção.
“Na realização do projeto deve-se sempre procurar um equilíbrio entre a distribuição
das paredes resistentes com a área da planta, afim de se obter uma simetria externa
da edificação. Deve-se distribuir as paredes estruturais em ambas as direções com o
intuito de garantir a estabilidade do edifício em relação às cargas horizontais,
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diminuindo o surgimento de esforços de torção na edificação. Não deve-se utilizar
formas em planta L, U, T e X, pois encarecem a estrutura e dificultam os cálculos.
No caso de elevações a premissa também é válida, o ideal seria o mais simétrico
possível, evitando formas complexas.” (KALIL, 2003:29)
Assim, o formato da edificação deve ser preferencialmente simétrico, contínuo e robusto.
Além disso, a utilização de um “núcleo rígido” (caixa de escadas, elevadores, etc) pode
fornecer o contraventamento necessário à estabilidade da estrutura. A simetria externa da
edificação em planta também é importante para a diminuição dos esforços de torção no
prédio.
No entanto, as aberturas necessárias para a circulação vertical assim como escadas,
elevadores, poços de luz e ventilação enfraquecem a rigidez da laje. A solução ideal seria a de
localizar estes elementos externos ao bloco da edificação, sendo aceitáveis aqueles que
mantém a simetria da laje.
Figura 6 – Exemplos de configurações da circulação vertical em edifícios de alvenaria estrutural
Fonte: Alvenaria Estrutural. PUCRS - Profa Sílvia Maria Baptista Kalil (página 66)
Em geral, o que se faz em edifícios de planta simétrica é modular metade do pavimento e
rebatê-la no outro lado, ajustando os pontos de encontro das duas partes. No caso bastante
usual dos edifícios de 4 apartamentos por andar, pode-se fazer a modulação de apenas um
deles e rebatê-la duas vezes para obter os demais, fazendo pequenos ajustes nas regiões de
escada, elevadores e hall.
Já nos edifícios projetados para utilização do sistema de Paredes de Concreto, podemos
perceber que a simetria da edificação está mais ligada ao processo de execução. Isso acontece
porque, a fim de podermos criar equipes de montadores de fôrmas independentes das equipes
de armação e instalações, é importante que a montagem/concretagem seja dividida em trechos
de 1/2 ou até 1/4 da laje.
Nesse contexto, a simetria do projeto permite girar as fôrmas sem a necessidade de retirarmos
painéis de fôrmas ou acrescentarmos os chamados "painéis de ciclo", maximizando a
produtividade e garantindo o ciclo. Uma vez que a rapidez e a racionalização são aspectos
essenciais do sistema de paredes de concreto, a simetria se torna necessária para a viabilidade
da construção. Além disso, apartamentos diferentes tornam necessária a compra de fôrmas
diferentes, o que aumentaria consideravelmente o custo da construção.
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4.4. Flexibilidade do Projeto
Uma vez que as Habitações de Interesse Social são projetadas para abrigar uma gama variada
de tipologias familiares, é importante que as mesmas ofereçam possibilidades de adaptação
para melhor atender às necessidades específicas de cada família. Nesse sentido, a criação de
um projeto flexível se mostra como um fator interessante no sentido de promover uma maior
qualidade espacial às edificações. No entanto, muitas vezes, o sistema construtivo escolhido
pode limitar a adaptabilidade dos ambientes, prejudicando o processo de apropriação do
morador com o imóvel.
É o caso do sistema construtivo de Alvenaria Estrutural. Neste tipo de estrutura, a alvenaria
tem a finalidade de resistir ao carregamento da edificação, tendo as paredes função resistente.
Dessa forma, a remoção de qualquer parede fica sujeita à análise e execução de reforços,
tornando inviável qualquer modificação nos ambientes.
“A concepção estrutural inibe a destinação do edifício e condiciona o projeto
arquitetônico à necessidade de paredes internas enrijecedoras, subdividindo o espaço
em cômodos de dimensões relativamente pequenas. Porém o usuário não tem a
mesma flexibilidade para remover paredes a fim de se aumentar um determinado
ambiente, como no caso de uma estrutura reticulada, pois as paredes têm a função de
manter estável a estrutura. Seus vãos livres são limitados e deve apresentar junta de
controle e dilatação a cada 15m.” (TAVARES, 2011:24)
No entanto, a distribuição adequada dos elementos com função estrutural, por exemplo, pode
trazer ganhos significativos quanto à flexibilidade, que é um dos aspectos limitadores da
Alvenaria Estrutural. Em um projeto para uma construção em Alvenaria Estrutural, podemos
identificar três tipos de paredes, com funções diferentes e que, conseqüentemente, oferecem
possibilidades diferentes de adaptação do ambiente.
As primeiras são as paredes estruturais ou portantes, que têm a finalidade de resistir ao seu
peso próprio e outras cargas advindas de outros elementos estruturais tais como lajes, vigas,
paredes de pavimentos superiores, carga de telhado, etc. Existem também as paredes de
contraventamento ou enrijecedoras, que são paredes projetadas para enrijecer o conjunto,
tornando-o capaz de resistir também a cargas horizontais como por exemplo o vento. Por fim,
existem ainda as paredes de vedação, que são aquelas que resistem apenas ao seu próprio
peso, e tem como função separar ambientes ou fechamento externo, sem responsabilidade
estrutural.
A definição de quais paredes terão função estrutural e quais cumprirão apenas a função de
vedação é fundamental para se garantir a um projeto em Alvenaria Estrutural um mínimo de
flexibilidade quanto à organização interna dos espaços. Dessa forma, o arquiteto pode prever
o posicionamento estratégico de paredes de vedação dentro da compartimentação dos
ambientes, garantindo uma certa flexibilidade ao espaço.
A mesma limitação é encontrada em construções de parede de concreto. Nesse caso, embora
algumas paredes possuam mais responsabilidade estrutural que as outras, a rigidez do
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conjunto torna impossível que o morador elimine uma das paredes, a fim de modificar a
ambiência do apartamento.
Para que seja possível a flexibilização de um projeto para uma construção em paredes de
concreto, é necessário que o arquiteto insira, no processo de compartimentação, paredes
advindas de processos construtivos diferentes e que garantam a possibilidade de remoção,
como paredes de alvenaria convencional ou paredes de gesso (dry-wall).
Em ambos os casos, o inconveniente de se executarem paredes não-estruturais é a perda de
racionalidade do processo, pois isto implica em duplo trabalho, desperdício, maior consumo
de material e de mão-de-obra. O processo construtivo das mesmas é diferente do utilizado, o
que pode causar uma grande perda na essência do sistema.
4.5. Repetição Horizontal
A repetição horizontal de unidades habitacionais idênticas é um artifício freqüentemente
percebido em conjuntos habitacionais de interesse social, principalmente quando se trata de
habitações unifamiliares. Esse fenômeno está mais ligado à natureza do empreendimento do
que ao sistema construtivo utilizado, mas em alguns casos podemos ainda encontrar sistemas
que possuem limitações nesse sentido, tornando impossível uma diversidade de unidades que
antes era apenas improvável.
As construções em Alvenaria Estrutural não possuem grandes restrições à projeção de
conjuntos habitacionais de diferentes tipologias, uma vez que o processo resulta em unidades
completamente independentes. Isso torna possível que, em um mesmo conjunto, o arquiteto
proponha a realocação de aberturas em algumas unidades para melhor aproveitamento dos
recursos naturais, ou até mesmo a proposição de tipologias diferentes que atendam a núcleos
familiares distintos.
Figura 7 – Residencial Anayde Beiriz: Exemplo de conjunto habitacional em alvenaria estrutural que
oferece diferentes tipologias projetuais, em João Pessoa-PB.
Fonte: www.archdaily.com.br (Acesso em 31/08/15)
No entanto, a principal vantagem obtida com o uso da Alvenaria Estrutural é a redução de
custos, principalmente em função das possibilidades de racionalização da obra oferecida pelo
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sistema. A modulação torna-se um fator econômico importante quando, ao inserir uma série
de componentes idênticos, reduz o trabalho, tanto estrutural quanto de acabamento. Além
disso, não podemos deixar de considerar as etapas de planejamento, que se simplificam
notoriamente com a adoção de apenas uma tipologia de edificação, promovendo uma redução
de custo e tempo.
Por outro lado, a grande vantagem do sistema de paredes de concreto é o ganho em escala. O
valor das fôrmas utilizadas torna inviável a utilização do sistema de Paredes de Concreto em
conjuntos habitacionais de unidades distintas, fazendo com que a repetição se mostre como
um artifício intrínseco ao sistema. Além do valor das fôrmas, o própro ciclo de execução das
habitações em parede de concreto impedem a utilização de diferentes tipologias, fator que
poderia prejudicar a racionalização do processo. As habitações de Paredes de Concreto
ganham em competitividade apenas quando adotadas em larga escala, com rapidez de
execução e alta repetividade.
Figura 8 – Residencial Córrego do Óleo: Exemplo de conjunto habitacional em paredes de concreto
com a repetição de apenas uma tipologia projetual, em Uberlândia-MG.
Fonte: Acervo pessoal do autor.
4.6. Repetição Vertical
Além da repetição horizontal de unidades idênticas, quando se trata de habitações de interesse
social o mesmo ocorre verticalmente em edifícios de múltiplos pavimentos, quando um
mesmo pavimento tipo se repete em toda a edificação. Novamente, um artifício referente à
natureza do empreendimento, mas que pode ser agravado pelas limitações do sistema
construtivo escolhido.
O princípio fundamental para a organização das paredes em edificações de multiplos andares
em Alvenaria Estrutural é a sobreposição das paredes estruturais. Ou seja, é recomendável
que as paredes de um pavimento estejam apoiadas sobre as paredes do pavimento inferior e
assim sucessivamente. Alterações na arquitetura do pavimento tipo são possíveis, mas podem
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gerar esforcos indesejáveis na estrutura global, resultando em vigas de reforço, cuja existência
pode se opor a filosofia de racionalização do sistema.
Quanto maior for a uniformização das cargas verticais ao longo da altura da edificação, maior
a economia obtida, pois haverá uma tendência à redução das resistências dos blocos a serem
especificados. Dessa forma, um projeto arquitetônico em Alvenaria Estrutural será mais
econômico na medida em que for mais repetitivo e tiver paredes coincidentes nos diversos
pavimentos, dispensando elementos auxiliares ou estrutura de transição. Além disso, os vãos
para janelas e portas deverão manter a mesma posição em todos os pavimentos, pois
desencontros de aberturas podem provocar diminuição de rigidez e de resistência nas paredes.
O sistema de Paredes de Concreto também beneficia-se da padronização e da repetitividade
das estruturas. Embora o fato não esteja tão ligado à natureza do sistema como na Alvenaria
Estrutural, nesse caso, quanto mais estruturas e pavimentos iguais, mais rápidos e regulares
serão os ciclos de concretagem.
Além disso, podemos citar novamente a problemática do valor das fôrmas, que inviabiliza a
proposição de pavimentos diversos em um só empreendimento.
4.7. Passagem de Dutos
Embora sejam definidas por projetos complementares distintos do Projeto Arquitetônico, em
alguns sistemas construtivos a passagem dos dutos pode interferir diretamente na arquitetura
da edificação, se tornando um fator de análise para compreensão das limitações projetuais de
cada processo.
No caso do sistema construtivo de Alvenaria Estrutural, as instalações elétricas, de telefone,
de TV e de interfone passam, em sua maioria, dentro dos vazados verticais dos blocos
estruturais e pelas lajes. O grande problema de passagem das tubulações em Alvenaria
Estrutural são as instalações hidro-sanitárias, pelo fato de possuírem diâmetros maiores e
poderem apresentar problemas de vazamento ou qualquer outro que requeira manutenção.
É importante salientar que, nesse caso, eventuais necessidades de cortes para manutenção em
caso de vazamento poderá atingir a integridade das paredes e alterar sua função estrutural.
Portanto, o projeto das instalações hidro-sanitárias deve prever o embutimento da forma mais
racionalizada possível, podendo empregar uma das seguintes soluções para sua localização:
paredes não estruturais, “shafts” hidráulicos, enchimentos, sancas, forros falsos, etc. A melhor
alternativa seria a utilização de “shafts”, contudo devem ser tomados alguns cuidados no
projeto arquitetônico, como projetar cozinhas e banheiros o mais próximo possível, para
agrupar ao máximo as instalações.
A racionalização da Alvenaria Estrutural e os ganhos de produtividade são obtidos não só pela
simples utilização dos blocos, mas pela racionalidade e compatibilização dos projetos. Dessa
forma, as interferências das instalações na Alvenaria Estrutural constituem um item que
merece uma atenção especial. As caixas, quadros, tubos e eletrodutos devem ser inseridos na
alvenaria no momento da execução. Falhas nesse procedimento podem levar à necessidade de
quebra da alvenaria para inserção das instalações, o que poderia prejudicar não só seu
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desempenho estrutural, mas também todos os esforços visando a racionalização, o aumento de
produtividade e a economia.
Figura 9 – Exemplo de projeto para alvenaria estrutural com a criação de apenas um shaft
hidráulico para atendimento dos banheiros, cozinha e área de serviço
Fonte: www.selectablocos.com.br (Acesso em 31/08/15)
No caso do sistema de Paredes de Concreto, não existe nenhuma questão estrutural
ocasionada pela passagem da tubulação no interior das paredes. No entanto, a rigidez das
paredes torna impossível a manutenção dessas tubulações, fazendo necessária a utilização dos
mesmos artifícios para tubulações hidráulicas, como shafts e forros.
Como os processos industriais como as Paredes de Concreto buscam isolar atividades, a fim
de aumentar o controle sobre cada uma e, consequentemente, sobre a qualidade final do
produto, deve-se procurar retirar o máximo de atividades complementares do momento de
montagem e concretagem das paredes. O posicionamento dos eletrodutos não interfere na
montagem das paredes, pois é feito por equipes independentes e antes do início desta
operação.
No caso das lajes, porém, os eletrodutos devem ser posicionados logo após a montagem das
fôrmas de lajes e antes da concretagem, daí a importância de termos o menor número possível
de eletrodutos, a fim de agilizarmos esta tarefa. Além disto, ao evitar o cruzamento desses
eletrodutos, são reduzidos o risco de serem amassados durante a montagem e a concretagem.
Nas instalações hidrossanitárias, o agrupamento das áreas molhadas reduz a quantidade de
tubulações que necessitam correr pelos forros até os shafts, administrando o custo das
instalações.
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5. Conclusão
Feitas as análises e contraposições pontuais a respeito da influência dos sistemas construtivos
de Alvenaria Estrutural e Paredes de Concreto na liberdade projetual do arquiteto, podemos
chegar a conclusões isoladas a respeito de cada critério de comparação utilizado, assim como
conclusões gerais a respeito do comportamento de ambos os sistemas.
De forma pontual, as análises nos levam a concluir que, em termos de modulação dos
ambientes, o sistema construtivo de Paredes de Concreto permite uma maior liberdade
projetual do que o sistema de Alvenaria Estrutural, uma vez que a modulação é uma técnica
intrínseca a este último e opcional ao primeiro. O mesmo acontece nos critérios que dizem
respeito às formas e volumes da edificação. Nesse quesito, o método de Alvenaria Estrutural
possui limitações relativas à técnica e ao processo, enquanto as limitações observadas na
utilização do sistema de Paredes de Concreto estão mais ligadas ao custo.
No entanto, o sistema construtivo de Alvenaria Estrutural se mostra mais interessante em
análises relativas à repetição horizontal de unidades idênticas. Nesse caso, embora a repetição
seja economicamente interessante em ambos os casos, nos empreendimentos desenvolvidos
em Paredes de Concreto a repetição se torna obrigatória, limitando as possibilidades do
arquiteto. Já em relação à repetição vertical, ambos os sistemas apresentam impedimentos à
criação de pavimentos diferentes entre si, ainda que por questões diferentes. No caso da
Alvenaria Estrutural, a limitação é estrutural, enquanto no caso do sistema de Paredes de
Concreto, a limitação é processual.
No que se diz respeito à flexibilidade do projeto, bem como à simetria do mesmo, as análises
nos levam a concluir que os dois sistemas construtivos envolvidos apresentam limitações que
influenciam diretamente na falta de flexibilidade e no excesso de simetria. No entanto,
enquanto a inflexibilidade do projeto pode ser solucionada através da utilização de outros
sistemas construtivos de forma simultânea, a simetria se mostra como um fator intrínseco aos
métodos avaliados.
Por fim, percebemos que as técnicas de passagem de dutos de ambos os sistemas são similares
e resultam na mesma solução quando se diz respeito às tubulações hidráulicas: a proximidade
entre as áreas molhadas da edificação. No entanto, essa proximidade é opcional e pode ser
ajustada de acordo com as necessidades do projeto, não se tratando de uma imposição dos
sistemas.
É importante frisar que este trabalho tem como objetivo a análise do comportamento dos
sistemas estruturais citados em um contexto pré-definido, sendo este o de aplicação em
Habitações de Interesse Social. Nesse caso específico, questões relativas ao planejamento da
obra, à otimização do projeto e ao custo final da construção são tão importantes quanto as
limitações técnicas dos processos, devendo ser consideradas em um comparativo geral.
Nesse sentido, percebemos que, dentro do contexto estabelecido, as limitações de ambos os
sistemas se agravam, dificultando o trabalho do arquiteto na busca por habitações
arquitetonicamente melhor trabalhadas. O contexto torna a comparação ineficaz, uma vez que
muitos dos critérios estão sujeitos a análises que ultrapassam os limites das particularidades
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dos sistemas construtivos em si, considerando fatores que devem fazer parte de um quadro
comparativo mais complexo.
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