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7/24/2019 Assdio Moral Luz Do Direito Militar
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UNIVERSIDADE CASTELO BRANCOEXRCITO BRASILEIRO
DEPARTAMENTO DE EDUCAO E CULTURACENTRO DE ESTUDOS DE PESSOAL
CENTRO DE ESTUDOS DE DIREITO MILITARESPECIALIZAO EM DIREITO MILITAR
YURI DA SILVA GUIMARES
ASSDIO MORAL LUZ DO DIREITO MILITAR:FORAS ARMADAS
RIO DE JANEIRO-RJ2009
http://www.exercito.gov.br/7/24/2019 Assdio Moral Luz Do Direito Militar
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YURI DA SILVA GUIMARES
ASSDIO MORAL LUZ DO DIREITO MILITAR:FORAS ARMADAS
Trabalho Final de Curso apresentadocomo requisito, para a obteno do graude especialista em Direito Militar pelaUniversidade Castelo Branco.
Orientador: Professor Doutor Afranio Faustino de Paula Filho
RIO DE JANEIRO-RJ2009
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Guimares, Yuri Silva. Assdio Moral a Luz do Direito Militar: DireitoMilitar.Yuri da Silva Guimares. -2009.
69fls.Orientador: Afranio Faustino de Paula Filho
Trabalho Final de Curso Universidade Castelo Branco.
1 dignidade.. 2. Direitos da personalidade. 3. tica, moral. 4. Terrorpsicolgico. 5. Abuso de poder. 6. Arbitrariedade. 7. Coao. 8.Humilhao. 9. Assdio moral. 10. Foras Armadas. 11. Militar. 12.Hierarquia. 13. Disciplina.
I. Paula Filho, Afrnio Faustino de II. Exrcito Brasileiro/UniversidadeCastelo Branco. III. Ttulo.
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YURI DA SILVA GUIMARES
ASSDIO MORAL LUZ DO DIREITO MILITAR:FORAS ARMADAS
Trabalho Final de Curso apresentado como requisito para a obteno do grau deespecialista em Direito Militar pela Universidade Castelo Branco.
Obteve o grau_________ Em__________/_________/_________
Professor .......................................................Orientador
Professor ....................................................
Avaliador
Professor ....................................................Coordenador
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Aos meus pais, Eirton e Ieda quesempre me deram apoio, a minhaesposa Alessandra pela pacincia
e dedicao a mim prestada.
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Foram muitos, os que me ajudaram a concluir este trabalho.Meus sinceros agradecimentos...
...a Deus, pois, sem sua ajuda, nada teria sido possvel;... minha famlia, pela confiana e pelo apoio;...a minha esposa, por sua fora, conhecimento e disposio,
diante das minhas limitaes;... banca examinadora pela confiana e qualificao;
... direo, aos professores e aos colegas que participaram deste trabalho;...ao Prof. Dr. Porto, por aceitar a orientao deste estudo e conduzir seu
desenvolvimento com muita sabedoria e pacincia.
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Acordemos
sempre fcil
examinar as conscincias alheias,
identificar os erros do prximo,
opinar em questes que no nos dizem respeito,
indicar as fraquezas dos semelhantes,
educar os filhos dos vizinhos,
reprovar as deficincias dos companheiros,
corrigir os defeitos dos outros,
aconselhar o caminho reto a quem passa,
receitar pacincia a quem sofre
e retificar as ms qualidades de quem segue conosco...
(Francisco Candido Xavier)
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RESUMO
As arbitrariedades cometidas no intuito de depreciar a dignidade do funcionrio,
causando-lhe danos, podem ser entendidas como assdio moral, dependendo docontexto. O escopo deste trabalho mostrar como esse fenmeno pode vir a ocorrer
dentro da administrao militar luz de estudos baseados na doutrina,
jurisprudncia, legislao, entre outros, bem como esclarecer as principais
caractersticas do assdio moral e os cuidados que o intrprete deve tomar antes de
afirmar se houve ou no a caracterizao do psicoterror, alm de demonstrar quais
os direitos do trabalhador que so atingidos e as repercusses que o assdio moral
causa.
PALAVRAS-CHAVE: dignidade, direitos da personalidade, tica, moral, terror
psicolgico, abuso de poder, arbitrariedade, coao, humilhao, assdio moral,
Foras Armadas, militar, hierarquia, disciplina.
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SUMRIO
I INTRODUO..................................................................................................101.1 O Princpio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana como PrincpioFundamental ......................................................................................................121.2 Conceitos de Dignidade ...............................................................................131.3 O princpio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana e seus Reflexosno Sistema Jurdico Brasileiro............................................................................13
II DIREITOS DA PERSONALIDADE ..................................................................152.1 Conceitos de Dignidade ...............................................................................15
III - DIREITOS DA PERSONALIDADE ..................................................................18
3.1 Tutelas dos direitos da personalidade..........................................................203.2 Direitos da personalidade e sua relao com o princpio constitucional dadignidade da pessoa humana ............................................................................22
IV ASSDIO MORAL..........................................................................................254.1 Atos e Comportamentos que Podem Desencadear o Assdio Moral ..........264.2 - Caractersticas do Agressor.......................................................................284.3 Caractersticas da Vtima .............................................................................294.4 Dignidades da pessoa humana, direitos de personalidade e o assdio moral...........................................................................................................................304.5 Os diferentes nomes dados ao assdio moral .............................................304.6 Conseqncias do assdio moral ................................................................32
4.7 Conseqncias para a vtima.......................................................................334.8 Conseqncias para o empregador .............................................................354.9 Conseqncias para o Estado .....................................................................37
V - O ASSDIO MORAL E AS FORAS ARMADAS ............................................415.1 Limites na disciplina militar...........................................................................435.2 Assdio moral nas Foras Armadas.............................................................455.3 Crimes militares que podem caracterizar-se como processo de assdiomoral ..................................................................................................................505.4 A provocao indireta do suicdio ................................................................555.5 Maneiras de Preveno Contra os Abusos..................................................565.6 A responsabilidade civil do Estado proveniente do assdio moral nas Foras
Armadas.............................................................................................................615.7 Competncias para examinar o assdio moral nas Foras Armadas ..........635.8 Prescrio para vtima ajuizar ao contra o Estado ...................................64
VI CONCLUSO.................................................................................................65VII REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ..............................................................67
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I INTRODUO
O assdio moral , de fato, prtica muito antiga que aflige a dignidade dohomem, trazendo-lhe diversos transtornos. Contudo, s recentemente que algumas
reas profissionais (psicologia, direito e medicina, entre outras) comearam a
estudar o tema e dar-lhe a importncia que merece, j que engloba muitos detalhes
sutis e complexos.
Esta pesquisa tem a finalidade de mostrar que o assdio moral atinge a
dignidade da pessoa humana, perturbando seriamente a integridade psicofsica da
vtima, alm de poder abalar tambm a famlia do assediado e pessoas prximas do
mesmo. E isso no s nas relaes de trabalho privado, mas tambm no servio
pblico e, conseqentemente, alcanando os militares. O ambiente militar, por sua
estrutura rigidamente hierarquizada, permite desvios de conduta por parte de uma
minoria de superiores hierrquicos. No entanto, ao analisar um caso concreto do
fenmeno, o intrprete tem de ter o cuidado necessrio para no cometer equvoco,
sendo objetivo deste trabalho, tambm, mostrar as principais facetas e
caractersticas do assdio moral. Dessa maneira, sero feitas anlises concisas
luz da doutrina, jurisprudncia e legislao no intuito de esclarecer o tema.
Assim, no primeiro captulo desta obra, mostrar-se- a importncia dos
princpios fundamentais no sistema jurdico ptrio. Verificar-se- como os mesmos
devem vincular a atuao do Estado e seus componentes de um modo geral.
Por conseguinte, sero feitas consideraes sobre o princpio da dignidade da
pessoa humana e como esse princpio fundamental tem sido encarado pelos
juristas.
No segundo captulo, discorrer-se- a respeito dos direitos da personalidade,
de forma que ser feita uma anlise detalhada quanto personalidade civil
mostrando seu incio e fim, alm da apreciao da questo da tutela alcanada por
esses direitos. Verificar-se-, tambm, os laos existentes entre os direitos da
personalidade e o princpio constitucional da dignidade da pessoa humana.
J no terceiro captulo, estudar-se- de maneira aprofundada o assdio moral,
com anlise dos tipos de comportamentos que podem compor o processo de
psicoterror, bem como as principais caractersticas do sujeito passivo e ativo.
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Posteriormente, examinar-se- como o assdio moral afeta diretamente os
direitos da personalidade alm de ser prtica inconstitucional. Ser feita tambm
uma anlise do fenmeno no contexto mundial. Logo aps, estudar-se-o as
conseqncias causadas pelo psicoterror para a vtima, para o empregador e para o
Estado, de maneira geral. Adiante, o exame da questo da legislao no estrangeiro
e no Brasil. Mais frente, abordar-se-o as melhores formas de prevenir e amenizar
o problema.
E finalmente, no ltimo captulo, analisar-se-o os princpios que regem a vida
militar e os seus limites. Em seguida, a apreciao do momento em que o assdio
moral pode ocorrer nas Foras Armadas, assim como os crimes que podem fazer
parte desse processo. Por conseguinte, enfocar-se- como a vtima pode prevenir-se do assdio moral na caserna.
Posteriormente, examinar-se- a responsabilidade civil do Estado proveniente
do assdio moral e, aps, a questo da competncia para estudar o pleito de
assdio moral nas Foras Armadas, alm do prazo prescricional para o assediado
ajuizar ao contra o Estado.
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1.1 O Princpio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana como PrincpioFundamental
Neste incio de trabalho, enfocar-se- algumas consideraes sobre oprincpio constitucional da dignidade da pessoa humana e os reflexos que o mesmo
causa no ordenamento jurdico brasileiro
Por primeiro, importante ressaltar o conceito de princpio, a fim de enfatizar
melhor o princpio da dignidade da pessoa humana posteriormente. Segundo De
Plcido e Silva, princpio significa as normas elementares ou os requisitos
primordiais institudos como base, como alicerce de alguma coisa. [...] exprimem
sentido mais relevante que o da prpria norma ou regra jurdica. O autor destaca
ainda: Princpios jurdicos, sem dvida, significam os pontos bsicos, que servem
de ponto de partida ou de elementos vitais do prprio Direito. Indicam o alicerce do
Direito. [grifo do autor] Nesse sentido, apreende-se que os princpios so o
fundamento e a base principais do direito, visto que toda e qualquer ao jurdica se
nos originam mesmos.
O reflexo no ordenamento jurdico brasileiro dos princpios constitucionais
fundamentais Os princpios constitucionais fundamentais esto dispostos no artigo
1 da Constituio Federal de 1988. So eles: a soberania, a cidadania, a dignidade
da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo
poltico. Sobre tais princpios, Manoel Messias Peixinho assim aborda: Os princpios
constitucionais fundamentais ocupam o mais alto posto na escala normativa. [...] Os
princpios fundamentais se identificam com os valores supremos previstos em todas
as Constituies, expressos em valores culturais, poticos que se traduzem nas
intenes que formam o ncleo material da Constituio.
Esses princpios fundamentais esto, sem dvida, numa posio
hierarquicamente superior s outras normas constitucionais [...].
Nessa mesma direo, Manoel Jorge e Silva Neto explicam que os Princpios
Fundamentais, na condio de postulados constitucionais vinculativos, conformam
de modo absoluto o atuar da Administrao Pblica.
Portanto os princpios fundamentais previstos na Constituio concebem o
arcabouo jurdico que deve servir de norte e orientao aos operadores do direito
em nome da prpria segurana jurdica. Eles representam a manifestao primeirados valores constitucionais, de modo que, ignor-los seria desconsiderar a
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importncia simblica da Constituio e seu significado histrico enquanto reflexo de
expectativas da comunidade.
1.2 Conceitos de Dignidade
Por dignidade, Aurlio Buarque de Holanda Ferreira entende como sendo
Decncia, decoro. Para De Plcido e Silva dignidade consiste no seguinte: [...] em
regra se entende a qualidade moral, que, possuda por uma pessoa, serve de base
ao prprio respeito em que tida.
Compreende-se tambm como o prprio procedimento da pessoa, pelo qual se faz
merecedor do conceito pblico.
Orlando Teixeira da Costa explana sobre o significado de dignidade da
seguinte forma: A palavra dignidade provm do latim dignitas, dignitatis e
significa, entre outras coisas, a qualidade moral que infunde respeito, a conscincia
do prprio valor. Ao falar-se em dignidade da pessoa humana quer-se significar a
excelncia que esta possui em razo da sua prpria natureza. Se for digna qualquer
pessoa humana, tambm o o trabalhador, por ser uma pessoa humana. a
dignidade da pessoa humana do trabalhador que faz prevalecer os seus direitos
estigmatizando toda manobra tendente a desrespeitar ou corromper de qualquer
forma que seja esse instrumento valioso, feito imagem de Deus.
Logo, a dignidade atributo intrnseco, da essncia, da pessoa humana,
sendo que todo ser humano tem dignidade s pelo fato de ser pessoa.
Assim, percebe-se que dignidade consiste num conjunto de atribuies
morais protegidas pelo direito e inatos ao homem para direcionar sua vida enquanto
ser social, visando no s o prprio bem-estar como o da sociedade num todo.
1.3 O princpio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana e seusReflexos no Sistema Jurdico Brasileiro
luz do exposto, pode-se inferir que o motivo pelo qual a Repblica
Federativa do Brasil adotou como um de seus fundamentos o princpio da dignidade
da pessoa humana, conforme disposto no inciso III do artigo 1 da Carta Magna de
1988, deve-se ao fato de os princpios serem base do ordenamento jurdico ptrio
e a dignidade representa o valor intrnseco da pessoa e diz respeito prpria razode existir do ser humano.
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Por essa ptica, fica claro por que o princpio da dignidade da pessoa humana
encontra-se num patamar merecedor de respeito, visto que um princpio
fundamental e que o mesmo deve estear as operaes jurdicas. Manoel Jorge e
Silva Neto apontam o supracitado princpio como o fundamento de maior essncia
do Estado brasileiro, adiante:
A dignidade da pessoa humana o fim supremo de todo o direito; logo,
expande os seus efeitos nos mais distintos domnios normativos para fundamentar
toda e qualquer interpretao. o fundamento maior do Estado brasileiro.
O autor salienta ainda:
Sendo a dignidade da pessoa humana o valor fonte
de todos os valores constitucionalmente postos, deve serutilizada como balizamento para eventual declarao de
inconstitucionalidade de lei ou ato do Poder Pblico, ou
mesmo para conformar o comportamento de quem quer que
esteja, no caso concreto, ofendendo o Princpio Fundamental
em questo.
Na opinio de Eduardo Vera-Cruz, a dignidade da pessoa humana um
superprincpio, avante:
o valor da dignidade humana que a ordem jurdica
encontra seu prprio sentido, sendo seu ponto de partida e
seu ponto de chegada, na tarefa de interpretao normativa.
Consagra-se, assim, a dignidade humana como verdadeiro
superprincpio a orientar o Direito Internacional e Interno.
Luiz Antnio Rizzatto Nunes faz a seguinte considerao: sem sombra de
dvida, a luz fundamental, a estrela mxima do universo principio lgico, a
dignidade da pessoa humana.
Logo, conclui-se que o princpio da dignidade da pessoa humana o princpio
fundamental mais sublime elencado pela Constituio Federal de 1988, sendo o
mesmo o principal guia principio lgico no s para os operadores do direito como
tambm para o Estado e seus componentes, devendo nortear o modo de atuao do
ente pblico.
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II DIREITOS DA PERSONALIDADE
Neste captulo trabalhar-se- o conceito de personalidade, alm de fixar a
definio e a tutela dos direitos da personalidade e sua ligao com o princpio da
dignidade da pessoa humana no sistema jurdico brasileiro.
Consoante De Plcido e Silva podem conceituar personalidade como sendo
o conjunto de elementos, que se mostram prprios ou inerentes pessoa, formando
ou constituindo um indivduo que, em tudo, morfolgica, fisiolgica e
psicologicamente se diferencia de qualquer outro. [...] a qualidade de pessoa. O
educador conclui dizendo que A personalidade, portanto, exprime o carter prprio,
e designa a vida com independncia, a vida autnoma.
Assim sendo, pode-se dizer, genericamente, que personalidade uma srie
de fatores que determina a individualidade duma pessoa moral. um conjunto de
caracteres prprios da pessoa. , portanto, objeto de direito.
2.1 Conceitos de Dignidade
Por dignidade, Aurlio Buarque de Holanda Ferreira entende como sendoDecncia, decoro. Para De Plcido e Silva dignidade consiste no seguinte:
[...] em regra se entende a qualidade moral, que, possuda
por uma pessoa, serve de base ao prprio respeito em que
tida. Compreende-se tambm como o prprio procedimento
da pessoa, pelo qual se faz merecedor do conceito pblico.
Orlando Teixeira da Costa explana sobre o significado de dignidade daseguinte forma:
A palavra dignidade provm do latim dignitas,
dignitatis e significa, entre outras coisas, a qualidade moral
que infunde respeito, a conscincia do prprio valor. Ao falar-
se em dignidade da pessoa humana quer-se significar a
excelncia que esta possui em razo da sua prpria natureza.
Se for digna qualquer pessoa humana, tambm o o
trabalhador, por ser uma pessoa humana. a dignidade da
pessoa humana do trabalhador que faz prevalecer os seus
direitos estigmatizando toda manobra tendente a desrespeitar
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ou corromper de qualquer forma que seja esse instrumento
valioso, feito imagem de Deus.
Logo, a dignidade atributo intrnseco, da essncia, da pessoa humana,sendo que todo ser humano tem dignidade s pelo fato de ser pessoa. Assim,
percebe-se que dignidade consiste num conjunto de atribuies morais protegidas
pelo direito e inatos ao homem para direcionar sua vida enquanto ser social, visando
no s o prprio bem-estar como o da sociedade num todo.
luz do exposto, pode-se inferir que o motivo pelo qual a Repblica
Federativa do Brasil adotou como um de seus fundamentos o princpio da dignidade
da pessoa humana, conforme disposto no inciso III do artigo 1 da Carta Magna de
1988, deve-se ao fato de os princpios serem base do ordenamento jurdico ptrio
e a dignidade representa o valor intrnseco da pessoa e diz respeito prpria razo
de existir do ser humano.
Por essa ptica, fica claro por que o princpio da dignidade da pessoa humana
encontra-se num patamar merecedor de respeito, visto que um princpio
fundamental e que o mesmo deve estear as operaes jurdicas. Manoel Jorge e
Silva Neto aponta o supracitado princpio como o fundamento de maior essncia do
Estado brasileiro, adiante: A dignidade da pessoa humana o fim supremo de todo
o direito; logo, expande os seus efeitos nos mais distintos domnios normativos para
fundamentar toda e qualquer interpretao. o fundamento maior do Estado
brasileiro.
O autor salienta ainda:
Sendo a dignidade da pessoa humana o valor fonte
de todos os valores constitucionalmente postos, deve serutilizada como balizamento para eventual declarao de
inconstitucionalidade de lei ou ato do Poder Pblico, ou
mesmo para conformar o comportamento de quem quer que
esteja, no caso concreto, ofendendo o Princpio Fundamental
em questo.
Na opinio de Eduardo Vera-Cruz, a dignidade da pessoa humana um
superprincpio, avante:
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o valor da dignidade humana que a ordem jurdica encontra seu prprio
sentido, sendo seu ponto de partida e seu ponto de chegada, na tarefa de
interpretao normativa. Consagra-se, assim, a dignidade humana como verdadeiro
superprincpio a orientar o Direito Internacional e Interno.
Luiz Antnio Rizzatto Nunes faz a seguinte considerao: sem sombra de
dvida, a luz fundamental, a estrela mxima do universo principio lgico, a
dignidade da pessoa humana.
Logo, conclui-se que o princpio da dignidade da pessoa humana o princpio
fundamental mais sublime elencado pela Constituio Federal de 1988, sendo o
mesmo o principal guia principio lgico no s para os operadores do direito como
tambm para o Estado e seus componentes, devendo nortear o modo de atuao doente pblico.
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III - DIREITOS DA PERSONALIDADE
Neste captulo trabalhar-se- o conceito de personalidade, alm de fixar a
definio e a tutela dos direitos da personalidade e sua ligao com o princpio da
dignidade da pessoa humana no sistema jurdico brasileiro.
Consoante De Plcido e Silva podem conceituar personalidade como sendo
o conjunto de elementos, que se mostram prprios ou inerentes pessoa, formando
ou constituindo um indivduo que, em tudo, morfolgica, fisiolgica e
psicologicamente se diferencia de qualquer outro. [...] a qualidade de pessoa. O
educador conclui dizendo que A personalidade, portanto, exprime o carter prprio,
e designa a vida com independncia, a vida autnoma.
Assim sendo, pode-se dizer, genericamente, que personalidade uma srie
de fatores que determina a individualidade duma pessoa moral. um conjunto de
caracteres prprios da pessoa. , portanto, objeto de direito.
A personalidade civil atribuda ao homem desde o seu nascimento com
vida, estando intimamente ligada pessoa, pois exprime a aptido genrica para
adquirir direitos e contrair obrigaes. Nos dizeres de Caio Mrio da Silva Pereira A
personalidade, como atributo da pessoa humana, est a ela indissoluvelmenteligada. Sua durao a da vida. Desde que vive e enquanto vive, o homem dotado
de personalidade. Assim, fica transparente que o simples fato do homem existir, j o
faz ter personalidade, ou seja, a personalidade j nasce e inerente pessoa
estando ligada a ela perpetuamente e, por isso, no um direito, mas, sim, objeto
de direito. Com esse raciocnio, Maria Helena Diniz:
A personalidade no um direito, de modo que seria errneo afirmar que o
ser humano tem direito personalidade. A personalidade que apia os direitos edeveres que dela irradiam, objeto de direito, o primeiro bem da pessoa, que lhe
pertence como primeira utilidade, para que ela possa ser o que , para sobreviver e
se adaptar s condies do ambiente em que se encontra, servindo-lhe de critrio
para aferir, adquirir e ordenar outros bens.
Corroborando a idia da autora, Slvio de Salvo Venosa afirma: A
personalidade no exatamente um direito; um conceito bsico sobre o qual se
apiam os direitos. No mesmo sentido, Pietro Perlingieri: A personalidade ,
portanto, no um direito, mas um valor (o valor fundamental do ordenamento) e est
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na base de uma srie aberta de situaes existenciais, nas quais se traduz a sua
incessantemente mutvel exigncia de tutela.
A personalidade civil s se encerra com a morte do indivduo, sendo que
qualquer ameaa ou leso sofrida por seu titular, passa a ser requerida por seu
cnjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral at o quarto
grau, conforme dispe o pargrafo nico do artigo 12 do Cdigo Civil vigente.
Explicando sobre a definio dos direitos da personalidade, Silvio Rodrigues
esclarece:
[...] so inerentes pessoa humana e portanto a ela ligados
de maneira perptua e permanente, no se podendo mesmoconceber um indivduo que no tenha direito vida,
liberdade fsica ou intelectual, ao seu nome, ao seu corpo,
sua imagem e quilo que ele cr ser sua honra.
Nas anotaes feitas por Maria Helena Diniz tem-se a seguinte considerao
sobre direitos da personalidade:
So direitos subjetivos da pessoa de defender o que
lhe prprio, ou seja, a sua integridade fsica (vida,alimentos, prprio corpo vivo ou morto, corpo alheio vivo ou
morto, partes separadas do corpo vivo ou morto); a sua
integridade intelectual (liberdade de pensamento, autoria
cientfica, artstica e literria) e sua integridade moral (honra,
recato, segredo pessoal, profissional e domstico, imagem,
identidade pessoal, familiar e social).
Os direitos da personalidade so da prpria essncia humana, e eles so
fundamentais ao desenvolvimento do ser humano como explicita Orlando Gomes:
Sob a denominao de direitos da personalidade, compreendem-se direitos
considerados essenciais pessoa humana, que a doutrina moderna preconiza e
disciplina, a fim de resguardar a sua dignidade. Seguindo essa inteligncia, Silvio
Romero Beltro define os direitos da personalidade como categoria especial de
direitos subjetivos que, fundados na dignidade da pessoa humana, garantem o gozo
e o respeito ao seu prprio ser, em todas as suas manifestaes. Autor salienta
ainda: [...] sendo a pessoa o fim do direito, a pessoa representa o valor a tutelar na
proteo de seu interesse moral e material e no desenvolvimento de sua
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[...] os direitos da personalidade distribuem-se em duas categorias gerais: adquiridos
por um lado, e inatos por outro lado. Os adquiridos (como decorrncia do status
individual) existem nos termos e na extenso de como o direito positivo os disciplina.
Os inatos (como o direito vida, o direito integridade fsica e moral),
sobrepostos a qualquer condio legislativa, so absolutos, irrenunciveis,
intransmissveis, imprescritveis: absolutos, porque oponveis erga omnes;
irrenunciveis, porque esto vinculados pessoa de seu titular. Intimamente
vinculados pessoa, no pode esta abdicar deles, ainda que para subsistir;
intransmissveis, porque o indivduo goza de seus atributos, sendo invlida toda
tentativa de sua cesso a outrem, por ato gratuito como oneroso; imprescritveis,
porque sempre poder o titular invoc-los, mesmo que por largo tempo deixe deutiliz-los.
Desse modo, compreende-se que os direitos da personalidade tutelam a
integridade fsica, alm da integridade intelectual e moral da pessoa humana.
A grande gama doutrinria separa a integridade do indivduo por tipos (integridade
fsica e moral/psquica ou ainda intelectual). Outro grupo defende que o ser humano
tem de ser analisado como um todo, atravs de um conceito unitrio de
personalidade. Com esse pensamento, leciona Elimar Szaniawski:
A doutrina predominante, praticamente no adota a
concepo unitria do direito integridade do homem,
possuidor de um direito integridade psicofsica, preferindo
dar tratamento separado por intermdio de duas tipificaes,
tutelando um direito integridade fsica e um direito
integridade psquica, possuindo, ambos os direitos, a
natureza de um direito de personalidade.
Parece-nos que essa dicotomia tradicional no consegue alcanar a ampla e
verdadeira tutela que se deve outorgar pessoa humana, pois nenhum dos dois
direitos, isoladamente, protege o direito integridade do corpo humano, o direito
sade, de um modo geral, e um direito ao pudor, estando nesses inseridos o direito
integridade psquica e o direito integridade fsica. J o direito integridade
psicofsica, visto de um modo unitrio, abrange todos esses tipos e subtipos sob a
mesma denominao, tutelando esses direitos de uma vez s, j que a psique
pertence estrutura do indivduo, compe a pessoa, integrando-se prpria
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personalidade e a tutela do indivduo deve-se fazer por inteiro como um todo. Por
isso, damos preferncia ao conceito unitrio de personalidade.
O Cdigo Civil, no captulo destinado aos direitos da personalidade, s se
refere expressamente integridade fsica. Porm, em seu artigo 12 consolida que
Pode-se exigir que cesse a ameaa, ou a leso, a direito da personalidade, e
reclamar perdas e danos, sem prejuzo de outras sanes previstas em lei. Aqui o
Cdigo no fez distino entre integridade fsica, intelectual ou psquica. Menciona
apenas direito da personalidade, ou seja, a finalidade da tutela dos direitos da
personalidade proteger a integridade do homem por inteiro, quer fisicamente, quer
psicologicamente. O objetivo do citado diploma legal mostrar que
independentemente do tipo de integridade, esse direito da personalidade e, porisso, tem de ser protegido. Ademais, uma pessoa que no tem seu direito
integridade moral (honra pessoal, o bom nome, a boa fama, a reputao,...)
protegido, fica reduzida a condio de animal de pequena significao, motivo pelo
qual o respeito incolumidade moral do indivduo assume feio de direito
fundamental.
Para Pietro Perlingieri a tutela da integridade psquica atuvel tambm
onde a norma se limitou a tutelar a integridade fsica.Agora se o correto utilizar um conceito unitrio de personalidade ou uma
dicotomia, no o objetivo deste trabalho. Certo que a integridade da
personalidade humana tem de ser preservada, seja fsica, seja moral, e a legislao
em vigor assim o faz. Outrossim, no existe um nmero fechado de hipteses
tuteladas: tutelado o valor da pessoa sem limites.
3.2 Direitos da personalidade e sua relao com o princpio constitucional da
dignidade da pessoa humana
Segundo Renan Lotufo, os direitos da personalidade so o mnimo
imprescindvel para o ser humano desenvolver-se dignamente. Assim, evidente
que os direitos da personalidade esto diretamente entrelaados com o princpio da
dignidade da pessoa humana. O valor da pessoa humana o maior em nossos
pilares jurdicos e nesse sentimento de valor que se fundamenta o direito da
personalidade como projeo da personalidade humana. A observncia das
conseqncias jurdicas decorrentes dos direitos da personalidade imprescindvel
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ao respeito da dignidade do ser humano. Carlos Henrique Bezerra Leite assim
enfatiza:
A Carta de 1988 consagrou a dignidade da pessoa humana
como princpio fundamental do Estado Democrtico de Direito
(art. 1, III), o que permitiu a positivao dos direitos de
inviolabilidade vida, intimidade, vida privada, imagem
e honra das pessoas, assegurando indenizao por danos
materiais e morais decorrentes de sua violao. E conclui
dizendo que Os direitos de personalidade so espcies de
direitos inerentes dignidade humana que tm por objeto a
proteo da incolumidade fsica, psquica e moral da prpria
pessoa.
Jos Afonso da Silva aclara que a dignidade da pessoa humana um valor
supremo que atrai o contedo de todos os direitos fundamentais do homem, desde o
direito vida.
Baseando-se nisso, Sandra Lia Simn conclui da seguinte maneira:
[...] como valor supremo, no pode incidir apenas nos clssicos direitos sociais,
imprescindveis para o desenvolvimento das potencialidades do homem. [...]Logo, como os direitos da personalidade so manifestaes concretas do princpio
da dignidade da pessoa humana, nunca se dissociam do indivduo e o acompanham
em todas as suas atividades.
Nesse sentido, indiscutvel que os direitos da personalidade so um
reconhecimento da dignidade do homem, preservando-o dos atentados que pode
sofrer por parte do outros indivduos. Com o fito de ressaltar a relao de
proximidade entre direitos da personalidade e a dignidade humana, segue asafirmaes de Silvio Beltro:
No possvel compreender a pessoa simplesmente
como um sujeito de uma relao jurdica; [...] Assim,
essencialmente, o que destaca a categoria dos direitos da
personalidade a sua fundamentao no respeito e na
proteo da dignidade da pessoa humana, como elemento
essencial prpria existncia da pessoa [...]. Assim, o direitoda personalidade est sempre diante da necessidade de uma
valorao tica fundada na dignidade da pessoa humana [...].
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Por conseguinte, resta de forma explcita que os direitos da personalidade so
o reflexo claro do princpio da dignidade da pessoa humana, como vislumbra Slvio
de Salvo Venosa: Os direitos da personalidade so os que resguardam a dignidade
humana. Maria Helena Diniz segue esse mesmo pensamento.
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IV ASSDIO MORAL
Embora o assdio moral seja to antigo quanto o prprio trabalho, s
recentemente que estudiosos passaram a se preocupar com a questo, visto que
esse fenmeno no pode mais ser encarado com descrdito, principalmente pelas
repercusses que causa ou pode vir a causar na atual conjuntura.
O problema mundial. S na Unio Europia 8% dos trabalhadores, ou seja,
12 milhes de pessoas sofrem desse drama, segundo pesquisa de 1996 da OIT
(Organizao Internacional do Trabalho). Isso repercute no apenas na vtima,
como tambm nas pessoas prximas a ela, nas empresas, no Estado e na
sociedade de um modo geral.
Para Mrcia Novaes Guedes O terror psicolgico o projeto de destruio
individualizada da pessoa no ambiente de trabalho, que guarda estreita proximidade
com o genocdio enquanto processo destinado a descartar seres humanos.
Hdassa Dolores Bonilha Ferreira define assdio moral como sendo:
[...] um processo composto por ataques repetitivos
que se prolongam no tempo, permeado por artifciospsicolgicos que atingem a dignidade do trabalhador,
consistindo em humilhaes verbais, psicolgicas, pblicas,
tais como o isolamento, a no-comunicao ou a
comunicao hostil, o que acarreta sofrimento ao trabalhador,
refletindo-se na perda da sua sade fsica e psicolgica.
Marie-France Hirigoyen assim entende:
[..] o assdio moral no trabalho definido como
qualquer conduta abusiva (gesto, palavra, comportamento,
atitude...) que atente, por sua repetio ou sistematizao,
contra a dignidade ou integridade psquica ou fsica de uma
pessoa, ameaando seu emprego ou degradando o clima de
trabalho.
Jos Roberto Dias Leite expe o conceito de assdio moral como o resultado
da ao de uma chefia, que no uso de suas prerrogativas, literalmente, tortura osubordinado, seja no campo de trabalho privado ou pblico. Percebe-se, assim, que
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no h um conceito comum entre os apreciadores do tema, no entanto, seguem
certa linha de raciocnio com o mesmo norte no que se refere ao objeto atingido pelo
assdio moral: a integridade (fsica e/ou psquica) humana. Dessa maneira
dessume-se que o assdio moral um conjunto de ilegalidades e abusos que visam
atingir a dignidade da pessoa causando-lhe prejuzos psicofsicos. Participam do
processo no mnimo duas pessoas: o agressor e a vtima, sendo que aquele sempre
age de maneira consciente e destinada a inibir esse.
4.1 Atos e Comportamentos que Podem Desencadear o Assdio Moral
importante frisar que no qualquer ato que pode ser considerado como
assdio moral, da mesma maneira que no h um nmero taxativo de hipteses
desencadeadoras desse processo. Consoante Marie-France Hirigoyen, para que o
assdio moral exista necessita-se do acontecimento de dois fenmenos: o abuso de
poder e a manipulao perversa. A autora esclarece que o assdio moral sempre
precedido da dominao psicolgica do agressor e da submisso forada da vtima.
O outro ridicularizado, a priori, por ser o que , por gnero sexual, alguma
deficincia ou por sua posio hierrquica. Considera ainda que no assdio moral
haja uma relao de dominante-dominado, na qual o agressor submete a vtima a
perder a identidade e quando isso ocorre numa relao de subordinao,
transforma-se em abuso de poder hierrquico. Com isso pode-se dizer que o poder
exercido dentro de ditames legais e legtimos no pode ser encarado como assdio
moral, assim como se no for vislumbrada a vontade de assediar do agressor, o ato
no deve ser enfrentado como processo vitimizador, isto , o assediador tem de
manifestar seu comportamento arbitrrio, ilegal e ilegtimo com a finalidade de atingir
a dignidade da vtima. O que decisivo para a visualizao do assdio moral aconduta inconveniente e destinada a humilhar expor ao ridculo, menosprezar
subordinado ou colega de trabalho. H necessidade de violao da dignidade do
trabalhador por condutas abusivas desenvolvidas dentro do contexto profissional.
Saliente-se o pensamento de Maria urea Baroni Cecato:
O assdio moral nas relaes de trabalho subordinado ultrapassa as medidas
sensatas e aceitveis no tratamento dispensado ao empregado: febril, excessivo,
discriminatrio e degradante atentado contra os direitos humanos. Para, alm disso,
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deturpa o exerccio do poder disciplinar. Altera-lhe o destino, desloca-lhe o objetivo.
H nele um abuso da prerrogativa que o direito reconheceu ao empregador.
A autora diz ainda:
O assdio moral no ambiente de trabalho tem
caractersticas especficas: dirigido pelo empregador ou
superior hierrquico ao subordinado e costuma ser repetitivo
e duradouro. Manifesta-se pela coao ou pela discriminao,
provocando no assediado sentimento de humilhao,
frustrao e inferioridade em relao aos demais integrantes
da organizao.
Note que a educadora aclama veementemente que Existe, necessariamente,uma relao de poder entre autor e vtima no processo de assdio moral.
Corroborando essa idia, Jos Roberto Dias Leite assegura que o agente ativo ser
sempre o superior hierrquico do agente passivo, vtima do dano. Porm, o assdio
moral no trabalho no ocorre apenas verticalmente, apesar de ser a maneira mais
comum. Ele tambm pode ser horizontal (entre colegas de trabalho
hierarquicamente iguais) e, raramente, ascendente (violncia moral que vem de
colegas de trabalho de escalas inferiores).
As hipteses mais habituais de atos de assdio moral consoante alguns
doutrinadores so: atribuir vtima problemas psicolgicos; zombar de suas
deficincias ou aspectos fsicos (imitando-a,...); injuri-la com termos obscenos ou
degradantes; falar com a vtima aos gritos; fragilizar, ridicularizar, inferiorizar,
humilhar publicamente a vtima; divulgar boatos sobre sua moral; desqualificar e
destruir a auto-estima da vtima; entre outras. No tocante destruio da auto-
estima, segue a posio de Mrcia Novaes Guedes:
O objetivo atingir o mago da intimidade da vtima,
lev-la a desacreditar de si mesma. Tudo pode comear com
brincadeiras de mau gosto, pequenas insinuaes malvolas,
evoluindo para a difuso de um mal-entendido. Fala-se mal
da vtima pelas costas. Quando esta aparece em meio ao
grupo, cai em silncio fnebre. Para derrubar a imagem
social, a vtima ridicularizada, humilhada e coberta de
sarcasmos, at que perca toda autoconfiana. Coloca-se-lheum apelido ridculo, caoa-se de uma limitao fsica, do seu
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modo de andar, de falar, de vestir-se. So atacadas suas
opinies, a vida privada e a maneira de viver.
4.2 - Caractersticas do Agressor
Em sntese, pode-se dizer que o assdio moral comea freqentemente pela
recusa de uma diferena, sendo que o assediador incapaz de conviver com essa
diferena nascendo, assim, um agressor em potencial. Conforme Jorge Luiz de
Oliveira da Silva o assediador essencialmente um indivduo destitudo de tica,
agindo por impulsos negativos e sem nenhuma nobreza de carter, revelando seu
lado perverso ao verificar sua vtima sucumbir aos poucos diante do
desenvolvimento de processo de assdio moral. E o autor conclui:
Ora, uma vez definido que o assediador um ser humano infeliz, que utiliza o
assdio moral para suprir carncias da alma, provocadas por experincias
traumticas, preconceitos ou ambies desmedidas, podemos concluir ainda que o
assediador fraco, pois no utilizou as experincias negativas em sua vida como
instrumento solidificador de seu carter, mas sim se deixou corromper e dominar por
suas fraquezas e pela prepotncia.
Existe um conjunto de sentimentos inconfessveis (inveja, cime, rivalidade,medo, insegurana, busca pelo poder, preconceito, discriminao,...) que surge no
agressor na origem dos procedimentos de assdio.
Hdassa Dolores Bonilha Ferreira, referindo-se a Marie-France Hirigoyen,
menciona o seguinte:
Um dos elementos que a psicloga enfatiza como
inerente perversidade a incapacidade do agente
assediador em considerar os outros como seres humanos.
Tal constatao induz ao pensamento de que quando uma
pessoa no tratada como ser humano resta somente duas
possibilidades: ou ela tratada como coisa, uma propriedade
de algum, ou como animal. Em ambos os casos, o agente
assediador estaria violando o terceiro princpio fundamental
da Repblica Federativa do Brasil elencado no art. 1 da
Constituio Federal de 1988, a saber, a dignidade da pessoa
humana.
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Concordando com o tino acima, Jos Roberto Dias Leite aponta que aparentemente,
o agressor uma pessoa que est muito satisfeita com ela mesma e raramente se
questiona sobre suas atitudes. incapaz de sentir empatia, considerada como a
capacidade de colocar-se no lugar do outro, porque no estar altura de sentir o
mal que seus ataques podem fazer ao seu prximo. Mas enquanto no descoberto
os seus meios de agir, o agressor persegue seu objetivo.
Assim, conclui-se que as principais caractersticas do assediador que um
ser humano inapto a superar ou, ao menos, suportar as diversidades existentes no
convvio social e, freqentemente, algum com certo distrbio de personalidade
que busca descarregar sua negatividade nas pessoas que, de alguma maneira,
tornaram-se incmodas em seu meio.
4.3 Caractersticas da Vtima
No h uma classificao ideal daqueles que podem vir a serem vtimas de
assdio moral. No entanto, existem estudos que mostram que tipos de pessoas so
mais suscetveis ao terror psicolgico, como ensina Mrcia Novaes Guedes:
A vtima do terror psicolgico no trabalho no o empregado desidioso,
negligente. Ao contrrio, os pesquisadores encontraram como vtimas justamente os
empregados com um senso de responsabilidade quase patolgico; so pessoas
genunas, de boa-f, a ponto de serem consideradas ingnuas no sentido de que
nos acreditam outros e naquilo que fazem; geralmente so pessoas bem-educadas
e possuidoras de valiosas qualidades profissionais e morais. De um modo geral, a
vtima escolhida justamente por ter algo mais. E esse algo mais que o perverso
busca roubar [...].
A maior parte das vtimas apresenta um perfil bem especfico, mostrando-secomo indivduos com elevada tica, honradez, retido e sentido de justia, alm de
sua capacidade de autonomia e independncia, iniciativa, capacitao pela
inteligncia e atitudes, popularidade, carisma e liderana naturais, alto sentido
cooperativo e de trabalho em equipe. Todavia, a vtima tambm pode ser pessoa
humilde, com problemas existenciais ou com determinadas limitaes. O assediado
escolhido por despertar no agressor o medo, a inveja, a insegurana, enfim,
diferenas que o assediador no suporta nem supera, podendo acontecer com
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qualquer pessoa pelo simples fato da vtima tornar-se algum incmodo para o
agressor.
4.4 Dignidades da pessoa humana, direitos de personalidade e o assdio moral
Anteriormente, discorreu-se a questo de os direitos de personalidade estar,
definitivamente, atrelados ao princpio constitucional da dignidade da pessoa
humana. Isso um ponto praticamente unnime entre os doutrinadores. Muitos
chegam a considerar tal princpio como sendo o mais importante dentre os princpios
constitucionais o que, de fato, plausvel.
Ao examinar-se com cautela o assdio moral, fica transparente que o mesmo
atinge de maneira explcita os direitos da personalidade, os quais esto protegidos
constitucionalmente pelo princpio da dignidade da pessoa humana, isto , o assdio
moral ofende diretamente a Constituio Federal. Com essa inteligncia, Jorge Luiz
de Oliveira da Silva elucida: o assdio moral praticado no servio pblico brasileiro,
dentre outras conotaes, prtica inconstitucional, tendo em vista os princpios
vetores da Administrao Pblica consagrados na Carta Magna. Ora, O assdio
moral deve ser considerado como manifesto atentado dignidade do trabalhador.
Reforando a tese aqui defendida, segue a manifestao de Luciany Michelli Pereira
Santos:
Uma breve noo do conceito e caracterizao do assdio moral j
suficiente para se chegar concluso que o assdio moral, seja nas relaes
familiares, seja nas relaes de trabalho, se consubstancia em um autntico dano
integridade psquica e moral da pessoa humana, e, assim o sendo, toda vez que
esta situao ocorrer tambm estar ocorrendo um dano a um direito da
personalidade.Em suma, inegvel que o assdio moral atinge a integridade psicofsica do
ser humano, culminando com uma afronta aos preceitos normativos constitucionais,
em especial no que diz respeito dignidade humana.
4.5 Os diferentes nomes dados ao assdio moral
O assdio moral encontra-se em todo o mundo, mas com diferentes nomes
dependendo da cultura e do contexto;
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O mobbing - refere-se unio de foras desferida contra um empregado, sujeitando-
o a um assdio psicolgico, mediante reiteradas crticas ou chamadas de ateno,
isolamento no local de trabalho, afastamento do convvio social, difuso de rumores
e at mesmo ridiculizao da sua pessoa. Nos Estados Unidos da Amrica calcula-
se que cerca de 3.000 suicdios anuais estejam ligados ao mobbing.
O conceito de mobbing se difundiu durante os anos 90 essencialmente nos
pases escandinavos e, em seguida, nos pases de lngua alem e, atualmente, nos
pases nrdicos (Sucia, Dinamarca, Finlndia), na Sua e na Alemanha. O termo
ainda prevalece e continua sendo estudado.
O bullying - seria o comportamento ofensivo, consubstanciado na prtica de atos
vingativos, cruis, maliciosos ou humilhantes, com o objetivo de detonar umindivduo ou grupo de trabalhadores por meio de ataques negativos e persistentes
aos desempenhos profissionais e pessoais.
O termo bullying surgiu na Inglaterra e inicialmente servia para descrever as
humilhaes, os vexames ou ameaas que certas crianas ou grupos de crianas
infligiam nas outras e, logo aps, a expresso se estendeu s agresses observadas
no exrcito, nas atividades esportivas, na vida familiar (especialmente com relao a
pessoas de idade) e, conseqentemente, no mundo do trabalho.A nomenclatura bullying um pouco mais ampla que mobbing, j que este
mais relacionado com o ambiente de trabalho, ao passo que aquele, guarda relao
no somente com o ambiente de trabalho, mas tambm com as relaes entre
grupos de crianas, vida familiar, entre outras.
O harassment - Nos Estados Unidos, essa terminologia foi introduzida em 1990 por
um artigo de Heinz Leymann na revista americana Violence and Victims. Contudo, o
fenmeno vem sendo estudado desde 1976, pelo americano Carroll Brodsky.Segundo ele o assdio consiste em ataques repetidos e voluntrios de uma pessoa
a outra, para atorment-la, min-la, enfim, provoc-la; assinalando os efeitos nocivos
sade.
Os whistleblowers - Consoante Luciany Michelli Pereira Santos os whistleblowers
seriam caracterizados por uma forma especial de bullying ou mobbing ou assdio
moral, especificamente dirigida contra pessoas que tenham denunciado ou se
rebelado contra um sistema ou microssistema, previamente imposto. Marie-France
Hirigoyen afirma que Trata-se de uma forma especfica de assdio moral, destinada
a silenciar quem no obedece s regras do jogo.
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O ijime - O vocbulo ijime empregado no Japo e tambm significa assdio.
Conforme Marie-France Hirigoyen utilizado no s para descrever as ofensas e
humilhaes infligidas s crianas no colgio, mas tambm para descrever, nas
empresas nipnicas, as presses de um grupo com o objetivo de formar os jovens
recm-contratados ou reprimir os elementos perturbadores.
O sistema educativo japons baseado em avaliaes permanentes com o
objetivo de determinar os melhores elementos e orientar as crianas rumo s
carreiras mais promissoras. Essa presso psicolgica transcendeu o ambiente
escolar e o ijime nos anos 90 tornou-se uma verdadeira chaga social, fazendo com
que vrias crianas cometessem suicdio ou abandonassem a escola.
4.6 Conseqncias do assdio moral
Nos dizeres de Jorge Luiz de Oliveira da Silva o assdio moral um cncer
social, que se alastra por todas as direes, ocasionando perdas substanciais que
transcendem pessoa da vtima, gerando danos significativos sade financeira da
empresa e do Estado. O autor considera tambm que o assdio moral no ambiente
de trabalho um processo altamente vitimizador, cujas conseqncias ultrapassam
as demarcaes ticas aceitveis em uma sociedade civilizada, onde o trabalho
considerado um dos direitos sagrados atribudos ao ser humano. O assdio moral
uma violncia devastadora e que atinge no s a vtima, como tambm o Estado, as
empresas e toda a sociedade. Para melhor esclarecer o reportado, Jos Carlos
Ferreira assim apregoa:
A violncia no local de trabalho pode ser fsica, moral ou psicolgica e,
dependendo da gravidade, intensidade e freqncia, de efeitos traumatizantes e
dramticos para os trabalhadores e suas famlias, as empresas onde prestamservios e para a sociedade como um todo. Ressalte-se que o autor entende como
local de trabalho qualquer espao fsico (a prpria casa, as ruas e becos patrulhados
por policiais, os quartis, os veculos conduzidos por taxistas, as salas de aula, os
presdios, os hospitais,...).
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4.7 Conseqncias para a vtima
Incontestavelmente so poucas as agresses que causam distrbios
psicolgicos to graves a curto prazo e conseqncias a longo prazo todesestruturantes como as causadas pelo assdio moral. Marie-France Hirigoyen
salienta que No se morre diariamente de todas essas agresses, mas perde-se
uma parte de si mesmo. Volta-se para casa, a cada noite, exausto, humilhado,
deprimido.
Os danos do assdio moral ultrapassam a esfera psquica, alcanando muitas
vezes a vtima em sua estrutura fsica, familiar e social. Em relao famlia da
vtima o assdio moral pode ocasionar reflexos destrutivos de grande relevncia,repercutindo na sade fsica e mental dos familiares mais prximos, principalmente
nos filhos e inclusive no contexto do relacionamento sexual entre o casal. Nessa
linha de pensamento, Mrcia Novaes Guedes:
Os efeitos nefastos para o organismo submetido ao assdio moral no trabalho no
se limitam ao aspecto psquico, mas atingem o corpo fsico, fazendo com que todo o
organismo se ressinta das agresses. Os distrbios podem recair sobre o aparelho
digestivo, ocasionando bulimia, problemas gstricos diversos e lcera. Sobre oaparelho respiratrio a queixa mais freqente a falta de ar e sensao de
sufocamento. Sobre as articulaes podem ocorrer dores musculares, sensao de
fraqueza nas pernas, sudorizao, tremores, como tambm dores nas costas e
problemas de coluna. Sobre o crebro verificam-se nsia, ataques de pnico,
depresso, dificuldade de concentrao, insnia, perda de memria e vertigens.
Sobre o corao os problemas podem evoluir de simples palpitaes e taquicardias
para o infarto do miocrdio. E o enfraquecimento do sistema imunolgico reduz as
defesas e abre as portas para diversos tipos de infeces e viroses.
Os danos na esfera emocional atingem em cheio a vida familiar e social da
vtima, desencadeando crise existencial, crise de relacionamento e crise econmica.
[...] A relao familiar arruna-se na medida em que esta a vlvula de escape da
vtima, que passa a descarregar sua frustrao nos membros da famlia.
Quase como uma regra, a vtima que casada acaba por ter seu
relacionamento finalizado, devido ao processo de psicoterror. Nesse sentido,
Hdassa Dolores Bonilha Ferreira:
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[...] quase sempre o assdio moral acarreta a desestruturao familiar. A famlia,
assim como a vtima, desconhece as razes do conflito, repassando ento as
mesmas condies do assdio moral praticado no trabalho. No raro os processos
de assdio moral culminam com o fim do casamento daqueles que foram vtimas.
Em recente pesquisa realizada por Margarida Maria Silveira Barreto, foram
entrevistados 2.072 trabalhadores (1.311 homens e 761 mulheres), sendo que 42%,
870 trabalhadores (494 mulheres e 376 homens), relataram j terem sido vtimas de
assdio moral no ambiente de trabalho. O que mais impressiona que 100% das
vtimas masculinas tiveram sentimentos de revolta, vergonha dos filhos, indignao
e pensamentos suicidas, sendo que 18,3% efetivamente tentaram o suicdio. Quanto
s mulheres, 17% tiveram sentimentos de revolta, 10,7% vergonha dos filhos, 7%indignao e 16,2% pensamentos suicidas. Dessa maneira apreende-se como so
arrasadores os reflexos ocasionados pelo assdio moral sob o ser humano.
Infelizmente, dependendo do grau de perturbao do agredido (geralmente j
no estgio de depresso profunda), o assdio moral pode lev-lo ao suicdio. Nessa
inteligncia, Jos Roberto Dias Leite:
As agresses sofridas pelas vtimas no ambiente de trabalho desencadeiam
distrbios fsicos e psquicos e desenvolvimento de vrias patologias. Esse processopode lev-la incapacidade permanente e at mat-la durante o expediente de
trabalho e ou lev-la ao suicdio.
Embasando essa tese, Manoel Jorge e Silva Neto:
O assdio moral produz efeitos extremamente danosos para quem o sofre.
habitual que, em face da conduta assediante, o trabalhador resolva pela sada da
empresa ou, em situao mais extrema se bem que possvel -, tente ou chegue
at a consumar suicdio.Importante tambm mostrar a viso de Jos Carlos Ferreira:
O trabalhador que sofre agresso moral comfreqncia tem sua auto-estima deteriorada, apresentando-sedeprimido, desestimulado e, por conseguinte, com menorrendimento no trabalho. Referidos estados de nimo acabampor afetar seus familiares, em especial o relacionamento como cnjuge e os filhos. Muitos se deixam levar, num passoseguinte, pelo consumo de lcool, tabaco e at mesmo dedrogas, na iluso de se reequilibrarem emocionalmente,
dentro e fora do ambiente de trabalho. As alternativas que selhe apresentam, entretanto, so a demisso voluntria ou adispensa por justa causa, a dificultar-lhes a reinsero nomercado de trabalho
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O assdio moral deixa seqelas marcantes que podem evoluir do estresse
ps-traumtico (depois de findo o assdio moral) at uma sensao de vergonha
recorrente ou mesmo modificaes duradouras de personalidade afirmando que
todas as vtimas, com rarssimas excees, experimentam uma desestabilizao
permanente. A pessoa se torna refm de uma cicatriz psicolgica que a deixa frgil,
medrosa e descrente de tudo e de todos. Marie-France Hirigoyen enfatiza que Tal
qual o assalto mo armada ou o estupro, o assdio moral constitui
incontestavelmente um traumatismo. E afirma: Trata-se de uma verdadeira
alienao, no sentido de que a pessoa perde o prprio domnio e se sente afastada
de si mesma.
Jorge Luiz de Oliveira da Silva menciona inclusive os danos sofridos aopatrimnio da vtima:
No h dvidas, por todas as nuances inerentes ao assdio moral, que este um
processo que se direciona frontalmente dignidade do trabalhador, aniquilando sua
auto-estima, debilitando sua sade fsica e mental, degradando suas relaes
interpessoais e atingindo seu patrimnio.
O autor considera que os danos devem ser contabilizados conjuntamente,
incorporando-se no s os danos sade, como tambm os danos patrimoniais;revelando, assim, a real faceta destruidora do fenmeno.
No setor pblico os abusos de poder so mais freqentes e o assdio moral
pode ser mais duradouro, pois, em princpio, as pessoas so protegidas e no
podem ser demitidas, a no ser devido a uma falta grave. Por isso, os meios de
assdio so, neste caso, mais perniciosos e produzem resultados dramticos sobre
a sade, bem como sobre a personalidade das vtimas.
4.8 Conseqncias para o empregador
Os efeitos do assdio moral no se restringem apenas vtima, mas
espraiam-se tambm para os empregadores. O atentado dignidade do trabalhador
gera obrigaes para o empregador, oriundas da configurao de responsabilidade
civil e trabalhista. S na Alemanha, o custo total relacionado a atos de mobbing de
2,5 bilhes de marcos por ano.
A pessoa que sofre assdio moral no tem a mesma capacidade laboral quedispunha antes do fenmeno iniciar-se. Com isso os impactos negativos, sejam no
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setor pblico, sejam no setor privado, so certos. Ademais, est provado que um
trabalhador submetido violncia psicolgica tem um rendimento inferior a 60% em
termos de produtividade e eficincia, em relao a outros trabalhadores, e o seu
custo para o empregador de 180% a mais.
Por fim, Marie-France Hirigoyen, durante o I Seminrio Internacional de
Assdio Moral no Trabalho, realizado na cidade de So Paulo, em 30 de abril de
2002, afirmou as seguintes palavras:
O assdio moral um pssimo negcio para as
empresas, pois no um mtodo eficiente na medida em que
causa perda de produtividade. Para que as pessoas
trabalhem bem e produzam bastante elas precisam ter boas
condies e ambiente de trabalho saudvel. As pessoas
precisam estar bem para produzir bem. Serem respeitadas
como seres humanos. Estamos num sistema que perdeu
sentido, num sistema louco. Desestruturam-se as pessoas
deixando-as totalmente desmotivadas e depois se reclama
que no so suficientemente eficientes, que no produzem de
forma satisfatria. Isso no tem sentido! Seria necessrio,
pelo contrrio, melhorar sempre as condies de trabalho,
fazer com que as pessoas tenham vontade de trabalhar,reconhecendo e respeitando seus esforos, o que
certamente, levaria a empresa a obter melhores resultados.
Um dos argumentos que utilizo, atualmente, para ser ouvida,
que dei para os polticos na Frana e que agora dou para as
empresas, para que sejam vigilantes e para que faam uma
poltica de preveno do assdio moral, que o assdio
moral no produtivo, pssimo, e custa caro. Custa caro
para as vtimas porque so obrigadas a se tratar, s vezes
perdem seus empregos, so, s vezes, obrigadas a recorrer a
um advogado para se defender, portanto, custa caro para as
vtimas. Isto tambm custa caro para a sociedade porque as
pessoas ficam doentes e impedidas de trabalhar. Custa caro
tambm para as empresas porque h efetivamente, o
problema do absentesmo associado a uma grande
desmotivao e perda de produtividade. [...].
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4.9 Conseqncias para o Estado
O processo vitimizador provocado pelo assdio moral acarreta enormes
prejuzos s finanas do Estado, visto que os assediados so muitas vezesremetidos aos servios previdencirios e de sade, gerando um universo de
trabalhadores que estariam na plenitude da capacidade laboral, mas que acabam
alijados do sistema em virtude das diversas patologias acarretadas pelo psicoterror
em seu ambiente de trabalho. O poder pblico acaba por ter que arcar com a
recuperao da sade e a responsabilidade dos salrios das vtimas de assdio
moral, que no raramente, tm de se aposentarem precocemente.
Na Inglaterra, as doenas provocadas pelo assdio moral causam umprejuzo ao governo de cerca de 24 milhes de dlares por ano.
A Legislao em alguns pases estrangeiros j possui legislao especfica para
combater o assdio moral enquanto outros adotaram medidas com a finalidade de
coibir o fenmeno. No Brasil j existe legislao no mbito municipal e estadual
contra o assdio moral e, atualmente, encontram-se junto ao Congresso Nacional
alguns projetos de lei com o objetivo de combater o assdio moral em nvel nacional.
A Legislao no estrangeiro Na Sucia (primeiro pas a deliberar sobre o assdiomoral) o mobbing considerado crime. Alm disso, o Ministrio da Sade e
Segurana publicou uma Resoluo que entrou em vigor a partir de 31 de maro de
1994 semelhante a um verdadeiro cdigo de comportamento para a gesto das
relaes sociais no local de trabalho.
A Noruega desde 1977 j dispunha de tutela jurdica genrica contra toda e
qualquer forma de assdio e comportamento imprprio, estendida tambm aos
trabalhadores.
A Alemanha ainda no possui norma especfica de proteo de vtima do
mobbing, mas o agredido goza de proteo por meio de aplicao de normas de
carter geral que lhe garantem a sade e segurana no trabalho.
O direito austraco faz expressa meno ao termo mobbing num plano de
ao interna sobre a igualdade entre homens e mulheres, aprovado em 1998. Tal
plano tutela a dignidade no local do trabalho.
A Espanha, por sua vez, ainda no possui uma lei especfica para coibir o
assdio moral, mas tanto a doutrina quanto a jurisprudncia utilizam indistintamente
os termos acoso moral e mobbing para definir o terror psicolgico no trabalho. O
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Cdigo Penal Militar espanhol tambm apresenta normas de carter genrico, cuja
tipicidade est plenamente adequada ao sistema de condutas que delineiam o
psicoterror laboral. Saliente-se que a jurisprudncia penal militar espanhola est
punindo severamente os agressores no que concerne constatao de maltrato
psicolgico em ambiente militar.
O direito australiano possui uma lei que dispe especificamente sobre
bullying. Essa lei prev que o empregador deve garantir um local de trabalho sadio e
seguro e responsvel por proteger os trabalhadores do assdio moral no ambiente
de trabalho.
Nos EUA no existe legislao especfica que venha a fazer previso de
meios preventivos e repressivos em relao ao terror psicolgico. No entanto, osEstados norte-americanos desenvolvem polticas internas tendentes a combater os
abusos e as perseguies.
Legislao no Brasil foi o que mais produziu leis sobre assdio moral, at o
momento. Contudo, todas as leis esto voltadas para a Administrao Pblica
Estadual e Municipal.
O municpio paulista de Iracempolis foi o que primeiro produziu lei especfica
sobre assdio moral. Hoje j existem legislaes especficas nos municpios deCampinas/SP, Cascavel/PR, Sindrolndia/MS, entre outros.
No mbito federal, h apenas projetos de lei que esto tramitando no
Congresso, como por exemplo, o Projeto de Lei n 33/2007 do Deputado Dr.
Rosinha e o Projeto de Lei n 2369/2003 do Deputado Mauro Passos, ambos
dispondo sobre o assdio moral nas relaes de trabalho. H tambm o Projeto de
Lei n 4.742/2001 do Deputado Marcos de Jesus, o qual visa fixar no Cdigo Penal a
previso de crime para aqueles que forem sujeitos ativos do assdio moral.Maria urea Baroni Cecato analisa a questo da legislao sobre assdio
moral de forma diferente. Consoante ela No h carncia, a priori, de lei que
regulamente os princpios contidos no texto constitucional. Por si, eles so
suficientes, at porque tm aplicao imediata.
A preveno contra o assdio moral seria utpica afirmar que o assdio moral
pode ser erradicado, porm existem instrumentos adequados que podem ser
utilizados com o fito de abrandar o problema. Segundo Mrcia Novaes Guedes A
melhor forma de combater o terror psicolgico no trabalho a preveno. E a
preveno tem de ocorrer globalmente, isto , atravs de medidas adotadas pelo
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governo, pelas empresas, pela vtima e pela sociedade. No entanto, sem o
conhecimento prvio dos envolvidos no fenmeno, quanto ao que diz respeito s
facetas do assdio moral, tal preveno no tem eficcia. Por isso, o primeiro passo
a veiculao da informao daqueles ligados ao terror psicolgico, como mostra
Jorge Luiz de Oliveira da Silva:
[...] o implemento de campanhas elucidativas desponta como de vital importncia,
possibilitando a disseminao da visibilidade social do assdio moral, o que
possibilitar uma maior eficcia das polticas de preveno. Uma vez conhecendo e
percebendo o assdio moral, suas conseqncias e suas peculiaridades, os
trabalhadores e empregadores estaro mais suscetveis a colaborar com as polticas
de preveno. Chegando-se a este nvel, o trabalhador vitimado poder implementaraes mais imediatas tendentes a fazer cessar o processo de psicoterror, o que
certamente resultar na mitigao das conseqncias. J o empregador, ciente da
magnitude das conseqncias do assdio moral, poder destinar especial ateno
preveno da violncia no mbito interno da organizao.
Alguns doutrinadores defendem que o governo tem de dimanar normas sobre
o assdio moral. Mas essa corrente no unnime. Maria urea Baroni Cecato,
citada no subcaptulo anterior, assegura que os prprios preceitos constitucionais jso suficientes, no havendo necessidade de emanao de regras sobre o
fenmeno, a priori. Jorge Luiz de Oliveira da Silva expe da seguinte forma:
Muito mais importante que uma lei tratando de assdio moral desenvolver a
conscincia dos envolvidos no processo, alertando-os e demonstrando-os acerca
das conseqncias danosas que podem advir das condutas assediadoras. A lei
bem vinda, porm, a visualizao das conseqncias que se direcionam a todos os
envolvidos (vtima, organizao, Estado e assediador) de suma relevncia para aconsolidao de uma poltica preventiva em relao ao assdio moral. Neste ponto,
desenvolver o sentido tico daqueles que integram ou possa a vir integrar o
processo passa a ser o principal instrumento para atingir os objetivos desejados.
Portanto, o autor deixa claro que se no houver uma conscientizao tica
acerca dos problemas que envolvem o fenmeno, o mero regramento legal no ser
suficiente para deter a escalada da violncia silenciosa no ambiente de trabalho.
Note que o autor no contra a difuso de normas a respeito do assdio moral. Ele
apenas afirma que s a lei sem a conscientizao no ter a eficcia desejada. Isso
fica evidente em sua fundamentao ora ementada:
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Ressalte-se que no estamos afirmando que uma lei disciplinando a preveno e o
sancionamento para o assdio moral venha a provocar injustias. No, no esta a
abordagem. No entanto, o que se constata que a arma mais poderosa contra o
assdio moral a conscientizao de todos sobre a iniqidade de tal prtica e suas
conseqncias danosas.
Existindo tal conscientizao, com o apoio de uma legislao especfica, um
futuro mais positivo poder ser vislumbrado nas relaes interpessoais no ambiente
de trabalho. Para isto, essencial que seja desenvolvida uma ampla poltica, tanto no
mbito interno da organizao quanto em mbito geral, com esforos neste sentido
por parte do empresariado, do Estado e das entidades sindicais. No entanto, para
que o resultado destas polticas seja positivo, essencial que o fenmeno tratadotenha visibilidade, que seja conhecido por todos os envolvidos e que o mesmo no
seja manipulado de forma oportunista, evitando, assim, prejuzos e dvidas no
momento de se implementar as medidas punitivas devidas.
Destarte, veicular a informao das facetas do assdio moral queles que
fazem parte do processo de psicoterror torna a lei muito mais eficaz e eficiente,
sendo uma tima maneira de auxiliar na preveno deste cncer social.
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V - O ASSDIO MORAL E AS FORAS ARMADAS
A Constituio Federal de 1988, em seu artigo 142, caput, preconiza, que as
Foras Armadas, constitudas pela Marinha, pelo Exrcito e pela Aeronutica, so
instituies nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia
e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da Repblica, e destinam-
se defesa da Ptria, garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de
qualquer destes, da lei e da ordem.
Logo, esto na Carta Suprema os princpios norteadores da vida militar, ou
seja, a hierarquia e a disciplina.
A Lei Federal n 6.880, de 09 de dezembro de 1980, publicada no Dirio
Oficial da Unio de 11 de dezembro de 1980, que dispe sobre o Estatuto dos
Militares, em seu artigo 14 afirma que A hierarquia e a disciplina so a base
institucional das Foras Armadas. Tais preceitos so conceituados nos pargrafos
desse mesmo artigo, adiante:
1 A hierarquia militar a ordenao da autoridade, em nveis diferentes, dentro da
estrutura das Foras Armadas. [...]. O respeito hierarquia consubstanciado no
esprito de acatamento seqncia de autoridade. 2 Disciplina a rigorosa observncia e o acatamento integral das leis,
regulamentos, normas e disposies que fundamentam o organismo militar e
coordenam seu funcionamento regular e harmnico, traduzindo-se pelo perfeito
cumprimento do dever por parte de todos e de cada um dos componentes desse
organismo.
Nesse sentido, Jos Afonso da Silva esclarece que no se confundem
hierarquia e disciplina, mas so termos correlatos, no entendimento de que adisciplina pressupe relao hierrquica, juridicamente falando, a quem tem poder
hierrquico. E ainda o pargrafo 3 do artigo 14 do Estatuto dos Militares assevera
que A disciplina e o respeito hierarquia devem ser mantidos em todas as
circunstncias da vida entre militares da ativa, da reserva remunerada e
reformados.
Consoante De Plcido e Silva, podemos conceituar a disciplina militar como
sendo a soma de preceitos que devem ser obedecidos por todos os componentes
de uma corporao militar, em virtude dos quais todos devem respeito aos modos de
conduta que deles decorrem
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Segundo Clio Lobo a disciplina militar, sustentculo maior da hierarquia,
constitui um sistema rgido de relacionamento entre os integrantes da organizao
castrense, com a finalidade precpua de zelar pela manuteno deste segmento
hierarquizado da estrutura social do pas.
De modo semelhante, Elizer Rizzo de Oliveira instrui que A disciplina
condiciona o militar a no contestar ordens, a aceit-las, a associar-se at
efetivamente ao superior que o comanda no interior da estrutura militar.
A respeito da hierarquia militar, De Plcido e Silva define como ordem
disciplinar que se estabelece nas foras armadas decorrente da subordinao e
obedincia em que se encontram em relao aos de categoria mais elevada.
Portanto, transparece que so essenciais doutrina militar a hierarquia e adisciplina, a fim de prevalecer a ordem e o decoro na vida castrense.
Achibaldo Nunes dos Santos contempla que A preservao da hierarquia e
disciplina no seio das Foras Armadas brasileiras, imprescindvel e at salutar nos
limites da lei. O autor manifesta tambm: A hierarquia no forja o carter do militar.
A disciplina no o modela. Simplesmente, hierarquiza e disciplina a atividade
castrense.
Segundo Antnio Pereira Duarteos usos e costumes militares fizeram nasceroutro princpio regedor da vida castrense; o companheirismo e a camaradagem nas
relaes de servio e nas relaes sociais dos militares.
Trata-se, outrossim, de preceito tico-militar, necessrio para sanear a boa
relao entre militares.
Ressalve-se que a camaradagem est prevista no artigo 3 do Regulamento
Disciplinar do Exrcito-RDE, aprovado pelo Decreto n 4.346, de 26 de agosto de
2002, publicado no Dirio Oficial da Unio de 27 de agosto de 2002, assimdispondo: A camaradagem indispensvel formao e ao convvio da famlia
militar, contribuindo para as melhores relaes sociais entre os militares.
Ainda quanto s consideraes sobre o princpio do companheirismo o citado
doutrinador faz o seguinte deslinde:
Tal princpio de base costumeira de suma importncia para a boa consecuo dos
objetivos traados pelas foras militarizadas, sendo tambm mola propulsora da
unio em torno do sentimento magno de amor Ptria e da conscincia de defesa
das instituies organizadas e da soberania nacional.
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Logo, segundo o autor, o companheirismo seria mais um fundamento da vida
militar, ou seja, as bases que regem o militarismo seriam a hierarquia, a disciplina e
o companheirismo.
No entanto, como se averiguar, essa indagao no to verdadeira na
prtica e, muitas vezes, sequer h relao de companheirismo, principalmente dos
superiores junto aos seus subordinados.
5.1 Limites na disciplina militar
Os militares tm por finalidade manter a ordem e a paz social e essas
comeam, por primeiro, dentro da prpria caserna. Quando ocorre alguma
anormalidade na vida militar dever dos prprios integrantes de cada Fora,
geralmente os superiores hierrquicos, tomarem as medidas adequadas e cabveis
para cada caso. Todavia, existem limites que devem ser respeitados no tocante aos
feitos impostos aos subordinados, e quando esses infringem alguma regra, a
autoridade competente deve julg-los com iseno de nimo, justia, sem
condescendncia nem rigor excessivo, conforme preconiza o artigo 35 do
Regulamento Disciplinar da Aeronutica RDAer (Decreto n 76.322, de 22 de
setembro de 1975).
Segundo Clio Lobo aponta ao exercitar o poder legal de punir o
subordinado que transgridem os regulamentos militares, o superior hierrquico deve
faz-lo com estrita observncia das normas pertinentes [...].
Corroborando tal pensamento, Achibaldo Nunes dos Santos assinala: A
transgresso disciplinar contingncia do servio militar, porm, saber aplicar o
corretivo correspondente, exige imparcialidade e equilbrio do superior hierrquico.
Outrossim, os direitos e garantias fundamentais previstos na Constituio Federal de1988 devem ser resguardados por serem regras de aplicao imediata.
Assim como mostra Paulo Tadeu Rodrigues Rosa a hierarquia e a disciplina
devem ser preservadas por serem princpios essenciais das Corporaes Militares,
mas os direitos e garantias fundamentais previstos no art. 5 da CF so normas de
aplicao imediata (art. 5, 1, da CF), que devem ser asseguradas a todos os
cidados (civis ou militares, brasileiros ou estrangeiros), sem qualquer distino, na
busca do fortalecimento do Estado de Direito.
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A justia elemento essencial de qualquer instituio, pois somente com a
observncia do devido processo legal e das garantias constitucionais que se
podem alcanar os objetivos do Estado Democrtico de Direito. O respeito lei em
todos os seus aspectos condio essencial para a construo de uma sociedade
justa, fraterna e livre da violncia e das desigualdades sociais.
Portanto, ao aplicar punio e/ou dar alguma ordem, o superior hierrquico
tem de observar o pronto atendimento aos limites permitidos na lei e aos princpios
de justia com a finalidade de o ato administrativo militar ser vlido, ter eficcia e
estar de acordo com o texto e o esprito das normas constitucionais, a fim de evitar o
excesso e o arbtrio nas suas aes.
Jos Roberto Dias Leite segue esse entendimento, chegando a certificar queo poder de chefia extingue-se na prpria ao administrativa, normatizada, que
dosa sanes e determina limites. Assim tambm explica Elizer Rizzo de Oliveira:
Haver limites para a obedincia? Certamente o limite a legalidade de uma ordem.
[...] o militar s obrigado a obedecer s ordens fundadas na lei e nos regulamentos
militares, desde que no confrontem direitos constitucionais e, no limite, padres
ticos de sua prpria conscincia.
Nesse sentido, Antnio Pereira Duarte, diz que a conduta moral e profissionaldo militar deve estar gizada pelo acatamento aos preceitos maiores da tica militar
espelhados no amor verdade, na dignidade do exerccio das funes atribudas, no
respeito dignidade da pessoa humana, no cumprimento das leis, regulamentos,
instrues e ordens das autoridades competentes, na ao justa e imparcial para
com os outros, no exerccio do companheirismo e da camaradagem e tantos outros
parmetros da conduta tico-milita.
O caput do artigo 4 do Regulamento Disciplinar do Exrcito - RDE exibe queA civilidade, sendo parte da educao militar, de interesse vital para a disciplina
consciente. E em seu pargrafo 1 conclui: dever do superior tratar os
subordinados em geral, e os recrutas em particular, com interesse e bondade. E
ainda, os pargrafos do artigo 3 do aludido diploma enfocam que as demonstraes
de camaradagem, cortesia e considerao so obrigatrias entre os militares
brasileiros, incumbindo aos mesmos incentivar a harmonia e a amizade entre seus
pares e subordinados.
Destarte, a sano administrativa militar prevista e deve ser imposta
queles que no se adequam aos preceitos tico-militares cabendo autoridade
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observar os limites situados no direito, sob pena de cometer arbtrio. Contudo, antes
de punir deve-se priorizar pelo pundonor militar, entendido como o dever de o militar
pautar a sua conduta como a de um profissional correto. Exige dele, em qualquer
ocasio, alto padro de comportamento tico que refletir no seu desempenho
perante a Instituio a que serve e no grau de respeito que lhe devido (artigo 6,
II, do Regulamento Disciplinar do Exrcito -RDE), pois A autoridade impe-se pela
ascendncia, pelo tratamento enrgico, porm justo, com o respeito devido pessoa
humana [...]. Ademais, A disciplina ser tanto mais eficiente quanto mais ela
expressar valores e afeto.
Segundo Paulo Tadeu Rodrigues Rosa, a construo de um Estado
Democrtico de Direito tem como fundamento o respeito aos direitos previstos naCF, que a norma fundamental de uma nao. Desrespeitar a Constituio negar
o prprio Estado de Direito e se afastar da Justia e do prprio conceito de
civilizao. Os infratores devem ser punidos para se evitar o sentimento de
impunidade, mas o exerccio do jus puniendi deve ocorrer em conformidade com a
lei.
Em sntese, A Constituio Federal deve ser o vade-mecum das autoridades
militares, sendo imprescindvel sua leitura e meditao diria, devocional, se no,obrigatria.
5.2 Assdio moral nas Foras Armadas
De maneira j bem salientada em estudo preliminar, deve-se atentar que no
todo comportamento e atitude que podem ser encarados como assdio moral. H
de se ter o cuidado necessrio em cada caso, assim como expe Jorge Luiz de
Oliveira da Silva, [...] os militares, categoria peculiar de trabalhadores pblicos, noesto imunes submisso a um processo de assdio moral [...]. Ao analisar o
fenmeno do assdio moral aplicado aos militares, no h dvida acerca dos
cuidados extremos que se deve adotar, tendo em vista a estrutura personalssima da
carreira militar, fundamentada nos pilares constitucionais da hierarquia e disciplina.
Portanto, um alerta preliminar: no devemos confundir submisso hierarquia
e disciplina, exercidas dentro dos legtimos limites, com submisso ao processo de
assdio moral.
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Posio tambm adotada por Marie-France Hirigoyen ao certificar que O
assdio moral um abuso e no pode ser confundido com decises legtimas [...].
Por conseguinte, depreende-se que quando as decises do superior esto de
acordo com as normas de direito e pautadas nos legtimos limites, isto , nos liames
da lei e de forma a no causar constrangimentos e humilhaes injustificadas nos
subordinados, no h de se falar em assdio moral.
Outro detalhe que tambm merece ateno no concernente aos tipos de
assdio moral. Como j analisado, existem tipos de assdio moral (ascendente,
horizontal, misto e vertical descendente), embora essa no seja uma classificao
universal e alguns doutrinadores chegam a considerar que s h assdio moral
numa relao de subordinao tendo de existir, necessariamente, relao de poderentre os agentes envolvidos no processo. Este trabalho ir se ater apenas ao
assdio moral vertical descendente, at mesmo porque no militarismo dificilmente
verificar-se- outra forma do fenmeno. E na vida militar certamente o exemplo de
assediador mais encontrado ser o do tirano, figura de agressor bem explicado por
Mrcia Novaes Guedes:
certamente o pior tipo de agressor moral. Pratica o assdio moral apenas
pelo gosto de rebaixar, humilhar e submeter a vtima. Seus mtodos sofreqentemente muito cruis. um ditador que sente prazer em escravizar os
outros. Geralmente um tirano sofre fraqueza, mantm distncia dos outros pelo
autoritarismo. Acusa os outros e impede que estes possam demonstrar os erros
dele, agressor, que ele procura to bem ocultar.
Nesse caso, as possibilidades dos assediados serem recrutas ou praas
especiais so maiores, em virtude da falsa alegao de se adequarem vida militar,
conforme se demonstrar mais frente. Atente-se, como bem explica a autora, queessa caracterstica no absoluta, ou seja, dizer que algum tirano no
necessariamente significa que essa pessoa perversa, mas indica uma
probabilidade desse indivduo ser ou se tornar um agressor em potencial.
E finalmente, antes de continuar esta obra monogrfica, deve-se observar a
questo da legislao. Na esfera federal ainda no existe uma sano para aqueles
que vierem a cometer o assdio moral, enquanto processo complexo, embora haja
comportamentos do assediador que podem se amoldar perfeitamente aos tipos
previstos no Cdigo Penal Militar (a exemplo dos artigos 174 a 176, 205, 207, 209,
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213, 215 a 217, 333, entre outros), dependendo dos mtodos utilizados pelo
assediador.
Essas so as consideraes preliminares a serem feitas.
O artigo 35 do Estatuto dos Militares apregoa que A subordinao no afeta,
de modo algum, a dignidade pessoal do militar e decorre, exclusivamente, da
estrutura hierarquizada das Foras Armadas. Ratificando esse entendimento,
Antnio Pereira Duarte explica: A subordinao, conforme j asseverado,
decorrente do prprio sistema hierarquizado das Foras Armadas, no sendo fator
de violao da dignidade do subordinado.
Todavia, segundo Ney da Silva Oliveira, o hbito de vida de caserna, onde a
hierarquia e a disciplina so absolutas, onde no se discutem ordens e onde o usoda inteligncia crtica torna-se suprfluo, conduz ao autoritarismo [...] e essa
estrutura militar, fortemente verticalizada e fundada no binmio constitucional
hierarquia e disciplina, propicia ambiente prprio para o de