Upload
dyegu1
View
221
Download
0
Embed Size (px)
DESCRIPTION
notas 03
Citation preview
Capıtulo 6
Oscilador Harmonico
6.1 Solucao pelo Metodo Algebrico
Considere o oscilador harmonico quantico que corresponde ao Hamiltoniano:
H =P 2
2m+
1
2mω2X2,
onde [X,P ] = i~.O problema com o hamiltoniano acima e que ele nao comuta nem com P, nem com X :
[X,H ] 6= 0 e [P,H ] 6= 0.
Logo, nem os autokets |x〉 de X nem os autokets |p〉 de P sao autokets de H , nao sendo obviocomo construir os autoestados |E〉 do operador H e obter os autoenergias E correspondentes.Para resolver o problema vamos reescrever o hamiltoniano H em termos de novos operadoresmais convenientes.
6.1.1 Algebra dos operadores de levantamento e abaixamento
A ideia aqui, essencialmente, e “completar os quadrados” na expressao de H de modo areduzi-lo a um produto de dois operadores. Para isso vamos introduzir os operadores
a− =
√mω
2~X + i
√1
2mω~P
a+ =
√mω
2~X − i
√1
2mω~P.
(A justificativa para a escolha dos subscritos ± ficara evidente mais adiante.) Note que osoperadores a± sao conjugados hermiteanos um do outro: (a−)
† = a+. Considere agora oseguinte operador
N = a+a−,
1
2 CAPITULO 6. OSCILADOR HARMONICO
que obviamente e hermiteano, pois
N † = (a+a−)† = (a−)
†(a+)† = a+a = N.
Em termos de X e P, o operador N e
N =
[√mω
2~X − i
√1
2mω~P
][√mω
2~X + i
√1
2mω~P
]
=mω
2~X2 +
1
2mω~P 2 +
i
2~(XP − PX)
=1
ω~
(P 2
2m+
1
2mω2X2
)+
i
2~[X,P ]
=1
~ωH − 1
2.
Logo
H =
(N +
1
2
)~ω
ou
H =
(a+a− +
1
2
)~ω.
E conveniente definir um operador hamiltoniano adimensional da forma
H =H
~ω,
logo
H = N +1
2.
Vemos assim que podemos descrever o oscilador harmonico quantico tanto atraves daalgebra definida pelos operadores X,P,H quanto pelos operadores a−, a+, N. Paracompletar a especificacao do problema em termos desses novos operadores devemos encontraras relacoes de comutacao entre eles. Primeiramente temos
[a−, a+] =i
2~[P,X ]− i
2~[X,P ] = 1.
Alem disso[a−, N ] = [a−, a+a−] = [a−, a+]a = a−
[a+, N ] = [a+, a+a−] = a+[a+, a−] = −a+.Vamos agora denotar por |n〉 os autovetores do operador N :
N |n〉 = n |n〉 .
6.1. SOLUCAO PELO METODO ALGEBRICO 3
Da relacao entre H e N , vemos que os autovetores de N tambem sao autovetores de H :
H |n〉 =(N +
1
2
)|n〉 = (n+ 1/2) |n〉 .
Assim definindo a energia adimensional ε atraves da relacao
ε =E
~ω,
temosH |n〉 = εn |n〉 , com εn = n+ 1/2.
Logo para conhecer as autonergias εn e autoestados |n〉 do hamiltoniano H, basta determinaro espectro e respectivos autovetores do operador N .
Para resolver esse problema, precisamos saber como a− e a+ atuam sobre os autovetores|n〉 de N . Considere o ket a− |ε〉 e vejamos a acao de N sobre ele. Usando a relacao decomutacao entre a− e N , obtemos
N(a− |n〉) = (a−N − a−) |n〉 = a−N |n〉 − a− |n〉 = (n− 1)a− |n〉 .
Logo a− |n〉 e um autovetor de N com autovalor n− 1, ou seja
a− |n〉 = Cn |n− 1〉 ,
onde Cn e uma constante a ser determinada. Da mesma forma, temos
N(a+ |n〉) = (a+N + a+) |n〉 = a+N |n〉+ a+ |n〉 = (n+ 1) |n〉
Logo a+ |n〉 e um autovetor de N com autovalor n+ 1, ou seja,
a+ |n〉 = Cn+1 |n + 1〉 .
Assim, se aplicarmos sucessivamente o operador a− a um autovetor |n〉 com autovalor n,
obtemos uma sucessao de autovetores de N , e portanto de H , com autovalores decrescentesde uma unidade, ou seja
a− |n〉 ∝ |n− 1〉 , ε = n− 1
2
a2− |n〉 ∝ a− |n− 1〉 ∝ |n− 2〉 , ε = n− 3
2
...
am− |n〉 ∝ a− |n−m〉 ∝ |n− 2〉 , ε = n− 2m+ 1
2
4 CAPITULO 6. OSCILADOR HARMONICO
Entretanto, como veremos a seguir os autovalores ε de H sao sempre positivos, logo paraalgum m devemos ter
am− |n〉 = 0,
ou seja existe um vetor |n0〉 tal que
a− |n0〉 = 0.
Antes porem vamos mostrar que E > 0.
Lema 6.1. Os autovalores E de H = P 2/2m+mω2X/2 nao podem ser negativos.
Demonstracao. Para qualquer |ψ〉 temos
〈H〉ψ = 〈ψ|H|ψ〉 = 1
2m
⟨ψ|P 2|ψ
⟩+
1
2mω2
⟨ψ|X2|ψ
⟩
=1
2m
⟨ψ|P †P |ψ
⟩+
1
2mω2
⟨ψ|X†X|ψ
⟩
=1
2m|Pψ|2 + 1
2mω2|Xψ|2 > 0.
Em particular, se |ψ〉 = |E〉 ⇒ 〈H〉E = E > 0.Retomando a discussao anterior, vimos que em face do lema acima concluimos que deve
haver um estado |n0〉 tal que aplicacoes sucessivas de a− nada resultam:
a− |n0〉 = 0.
Para obter o valor de n0, apliquemos N a |n0〉 :
N |n0〉 = a+a− |n0〉 = a+(a− |n0〉) = 0
logo n0 = 0. Donde concluimos que a energia do estado fundamental e ε0 = 1/2 ou em formadimensional E0 =
12~ω.
Por aplicacoes sucessivas de a+ obtemos as demais autoenergias εn:
a+ |0〉 ∝ |1〉 , ε1 = 1 + 1/2
a+2 |0〉 ∝ |2〉 , ε2 = 2 + 1/2
...
(a+)n |0〉 ∝ |n〉 , εn = n + 1/2
Concluimos entao que os possıveis autovalores de H sao
εn = n +1
2, n = 0, 1, 2, . . .
6.1. SOLUCAO PELO METODO ALGEBRICO 5
logo as possıveis autoenergias sao
En =
(n +
1
2
)~ω, n = 0, 1, 2, . . .
Para obter os respectivos autoestados |n〉 basta aplicar a+ n vezes ao estado fundamental|0〉 . Vimos acima que
a− |n〉 = Cn |n− 1〉 ⇔ 〈n| a+ = 〈n− 1|C∗n
ea+ |n〉 = C ′
n |n+ 1〉 ⇔ 〈n| a = a+ 〈n+ 1|C ′∗n+1.
Para determinar a constante Cn e C ′n , consideremos o sanduıche de N em um estado |n〉:
〈n|N |n〉 = n 〈n|n〉 ⇒ 〈n|a+a−|n〉 = n, pois assumimos 〈n|n〉 = 1.
C∗nCn 〈n− 1|n− 1〉 = n ⇒ |Cn|2 = n ⇒ Cn =
√neiφ, tome φ = 0.
Logoa− |n〉 = √
n |n− 1〉 .Da mesma forma
〈n|a−a+|n〉 = 〈n|a+a− + 1|n〉 = 〈n|N |n〉+ 1
C ′∗n+1C
′n+1 〈n + 1|n+ 1〉 = n + 1 ⇒ |C ′
n+1|2 = n + 1 ⇒ C ′n+1 =
√n+ 1.
Logoa+ |n〉 =
√n + 1 |n+ 1〉 .
Ou seja,
|n+ 1〉 = 1√n+ 1
a+ |n〉 .
Assim temos|1〉 = a+ |0〉
|2〉 = 1√2a+ |1〉 = a+
2
√2|0〉
|3〉 = 1√3a+ |2〉 = 1√
3 · 2(a+)
3 |0〉
...
|n〉 = 1√n!(a+)
n |0〉
Alem disso:a− |0〉 = 0 (lembre-se que |0〉 6= 0).
6 CAPITULO 6. OSCILADOR HARMONICO
Vimos tambem que
H |n〉 =(n+
1
2
)|n〉 e H |n〉 = ~ω
(n +
1
2
)|n〉 .
Na base B = |n〉n=0,1,2,... os operadores a+ e a− sao representados por matrizes infinitas,as quais podem ser facilmente obtidas. Por exemplo, os elementos de matriz de a+ nessabase sao
(a+)n′n = 〈n′|a+|n〉 =√n + 1 〈n′|n+ 1〉 =
√n+ 1δn′,n+1 =
√n′δn′,n+1,
donde concluimos que
a+ =
0 0 0 · · ·√1 0 0 · · ·0
√2 0 · · ·
......
.... . .
Da mesma forma
(a−)n′n = 〈n′|a|n〉 =√n− 1 〈n′|n− 1〉 =
√n′δn′,n−1,
logo
a− =
0√1 0 0 · · ·
0 0√2 0 · · ·
0 0 0√3 · · ·
......
......
. . .
.
E como H = ~ω(a+a− + 1/2), podemos facilmente mostrar que
H = ~ω
1/2 0 0 0 · · ·0 3/2 0 0 · · ·0 0 5/2 0 · · ·0 0 0 7/2 · · ·...
......
.... . .
,
confirmando o resultado de que na base dos seus autovetores o operador H e representadopor uma matriz diagonal, com os respectivos autovalores En = (n+ 1/2) ~ω na diagonal.
Os operadores X e P por sua vez sao dados em termos de a− e a+ por
X =
√~
2mω(a− + a+),
P = i
√m~ω
2(a+ − a−),
6.1. SOLUCAO PELO METODO ALGEBRICO 7
logo
X =
√~
2mω
0√1 0 0 · · ·√
1 0√2 0 · · ·
0√2 0
√3 · · ·
0 0√3 0 · · ·
......
......
. . .
e
P = i
√mω~
2
0 −√1 0 0 · · ·√
1 0 −√2 0 · · ·
0√2 0 −
√3 · · ·
0 0√3 0 · · ·
......
......
. . .
.
Pode-se verificar ainda que as matrizes acima satisfazem a relacao de comutacao [X,P ] = i~,como deveria ser.
Considere agora o espaco de Hilbert H gerado pelos vetores |n〉 , ou seja |ψ〉 ∈ H se
|ψ〉 =∞∑
n=0
αn |n〉 ,∞∑
n=0
|αn|2 <∞.
Um vetor |ψ〉 assim arbitrario pode nao representar um estado fısico, pois a acao de umoperador da algebra do oscilador harmonico a−, a+, N pode produzir um vetor fora de H.Por exemplo
a+ |ψ〉 =∞∑
n=0
αn√n + 1 |n+ 1〉 .
Contudo, se∑∞
n=0 |αn|2(n+1) nao convergir o estado acima nao tera modulo finito, logo naosera elemento de H. Concluimos entao que o espaco Φ dos estados fisicamente aceitaveis eaquele formado por vetores |ψ〉 da forma acima, onde as constantes αn satisfazem a condicao
∞∑
n=0
|αn|2(n+ 1)p <∞, ∀ p = 0, 1, 2, 3, . . .
Isso garante que a acao de a− e a+ em Φ permanece em Φ!
6.1.2 Calculo das Autofuncoes
Nosso objetivo agora e obter as autofuncoes ψn(x) correspondendo a projecao dos auto-estados |n〉 na base de coordenadas |x〉:
ψn(x) ≡ 〈x|n〉 .
8 CAPITULO 6. OSCILADOR HARMONICO
Nossa estrategia sera obter inicialmente o estado fundamental ψ0(x) e em seguida usar ooperador de levantamento a+ para gerar as demais funcoes de onda. Vimos acima que oestado fundamental |0〉 e definido pela equacao
a |0〉 = 0,
que projetada na base |x〉 resukta〈x|a|0〉 = 0
√mω
2~〈x|X|0〉+ i
1
2m~ω〈x|P |0〉 = 0
√mω
2~x 〈x|0〉+ i
1
2m~ω
~
i
d
dx〈x|0〉 = 0
√mω
2~xψ0(x) + i
~
2mω
d
dxψ0(x) = 0
oudψ0
dx= −mω
~xψ(x),
que pode ser facilmente integrada:
dψ0
ψ0
= −mω~xdx
∫dψ0
ψ0
= −mω~
∫xdx ⇒ lnψ0 = −mω
~
x2
2+ C
⇒ ψ0(x) = A exp−mω
2~x2
A constante de normalizacao A e escolhida para garantir norma unitaria
||ψ0||2 =∫ ∞
−∞
|ψ0(x)|2dx = 1
A2
∫ ∞
−∞
e−mωx2/~dx = 1
A2
√π~
mω= 1 ⇒ A =
(mωπ~
)1/4
∴
ψ0(x) =(mωπ~
)1/4
e−mωx2/2~
Para o calculo das autofuncoes dos estados excitados n = 1, 2, . . . , usamos a relacao
|n〉 = 1√na+ |n− 1〉
6.1. SOLUCAO PELO METODO ALGEBRICO 9
que na base |x〉 le-se
〈x|n〉 =1√n〈x|a+|n− 1〉
ψn(x) =1√n
mω
2π~〈x|X|n− 1〉 − i
1√2m~ω
〈x|P |n− 1〉
=1√n
mω
2π~xψn−1(x)−
√~
2mω
d
dxψn−1(x)
.
Temos entao a seguinte relacao de recorrencia:
√nψn =
mω
2~xψn−1 −
√~
2mωψ′n−1.
Em particular, para n = 1 temos
ψ1(x) =mω
2~xψ0 −
√~
2mωψ′0
=mω
2~xψ0 −
√~
2mω
(−mω
~x)ψ0
=
√2mω
~xψ0.
Ou seja
ψ1(x) =
√2mω
~xψ0 =
√2
π
(mω~
)3/4
x exp−mω
2~x2
Continuando esse processo, podemos determinar ψ2(x), ψ3(x), etc. Entretanto, ha umaformula mais direta para o calculo recursivo dessas funcoes de onda. Para isso, lembre que
X =
√~
2mω(a− + a+) ,
e fazendo o sanduiche com |n〉 e |x〉 , temos
〈x|X|n〉 =√
~
2mω(〈x|a−|n〉+ 〈x|a+|n〉)
x 〈x|n〉 =√
~
2mω
(√n 〈x|n− 1〉+
√n+ 1 〈x|n + 1〉
),
logo
xψn(x) =
√~
2mω
[√nψn−1(x) +
√n + 1ψn+1(x)
].
10 CAPITULO 6. OSCILADOR HARMONICO
Fazendo agora n + 1 = m e depois m→ n, obtemos
√nψn(x) =
√2mω
~xψn−1(x)−
√n− 1ψn−2(x), n = 2, 3, 4, . . .
Assim, com ψ0(x) e ψ1(x) conhecidos, podemos determinar os demais ψn(x). Por exemplo,para n = 2:
√2ψ2(x) =
√2mω
~xψ1(x)− ψ0(x) =
√2mω
~
√2mω
~x2ψ0 − ψ0,
donde
ψ2(x) =1√2
(2mω
~x2 − 1
)ψ0(x).
Note que se fizermos uma mudanca de variavel
y =
√mω
~x
temos que ψ1(y) e ψ2(y) podem ser escritos como
ψ1(y) =√2yψ0(y)
ψ2(y) =√2(2y2 − 1)ψ0(y).
Alem disso a relacao de recorrencia acima torna-se
√nψn(y) =
√2yψn−1(y)−
√n− 1ψn−2(y).
Em face do resultado acima, podemos prever que a solucao para ψn(y) sera da forma
ψn(y) = un(y)ψ0(y),
onde un(y) sera um polinomio de ordem n. Torna-se conveniente, portanto, definirmos afuncao
fn(y) =√2nn!
ψn(y)
ψ0(y).
(A escolha do pre-fator acima e uma questao de conveniencia.) A relacao de recorrencia paraψn(y) resulta na seguinte relacao para fn(y):
√n√
2nn!fn(y) =
√2√
2n−1(n− 1)!yfn−1(y)−
√n− 1√
2n−2(n− 2)!fn−2(y)
∴
fn(y) = 2yfn−1(y)− 2(n− 1)fn−2(y).
6.2. SOLUCAO DA EQUACAO DE SCHRODINGER 11
Pela definicao de fn(y) acima, temos que
f0(y) = 1
f1(y) =√2ψ1(x)
ψ0(x)=
√2√2y ⇒ f1(y) = 2y.
A partir de f0(y) e f1(y) podemos determinar todas as demais funcoes fn(y). A solucao darecorrencia acima e dada pelos polinomios de Hermite
fn(y) = Hn(y) = (−1)ney2 dn
dyne−y
2
,
cujos primeiros termos saoH0(y) = 1
H1(y) = 2y
H2(y) = −2(1− 2y2)
H3(y) = −12(y − 2y3/3)
Substituindo fn(y) de volta, obtemos as funcoes de onda ψn(y)
ψn(y) =ψ0(y)√2nn!
Hn(y),
e retornando para a variavel x temos finalmente
ψn(x) =
(mω
π~22n(n!)2
)1/4
e−mωx2/2~Hn
(√mω
~x
)
6.2 Solucao da Equacao de Schrodinger
A equacao de autovalor para o operador hamiltoniano H do oscilador harmonico e
H |E〉 = E |E〉 ⇒(P 2
2m+
1
2mω2X2
)|E〉 = E |E〉 .
Projetando na base |x〉 obtemos
⟨x|
(P 2/2m+mω2X2/2
)|E
⟩= E 〈x|E〉 .
(P 2
2m+
1
2mω2x2
)ψE(x) = EψE(x).
12 CAPITULO 6. OSCILADOR HARMONICO
onde
ψE(x) ≡ 〈x|E〉 e P =~
i
d
dx,
Logo a equacao de autovalor acima resulta na equacao de Schrodinger para o osciladorharmonico:
− ~2
2m
d2ψ
dx2+
1
2mω2x2ψ = Eψ
que pode ser rearranjada da forma
d2ψ
dx2+
2m
~2
(E − 1
2mω2x2
)ψ = 0.
Temos, portanto, uma equacao diferencial ordinaria (EDO) de segunda ordem com coefici-entes nao constantes.
Para simplificar a EDO acima e conveniente introduzir variaveis adimensionais. Primei-ramente introduzimos uma variavel adimensional y associada a posicao x:
y =x
b,
onde b e um parametro com dimensao de comprimento, a ser determinado de forma a sim-plificar a EDO o maximo possıvel. Em funcao de y temos:
x = by e dx = bdy.
Assim
d2ψ
dx2+
2m
~2
(E − 1
2mω2x2
)ψ =
1
b2d2ψ
dy2+
2m
~2
(E − 1
2mω2b2y2
)ψ = 0.
⇒ d2ψ
dy2+m2ω2
~2b4(
2E
mω2b2− y2
)ψ = 0
Como ψ e y sao adimensionais, entao naturalmente o pre-fator antes do segundo termo acimadeve ser adimensional. Por conveniencia vamos faze-lo igual a 1 :
m2ω2
~2b4 = 1 ⇒ b =
√~
mω.
E se definirmos um parametro de energia adimensional
ε ≡ E
mω2b2=
E
~ω,
entao a EDO acima torna-se simplesmente
d2ψ
dy2+ (2ε− y2)ψ = 0. (6.1)
6.2. SOLUCAO DA EQUACAO DE SCHRODINGER 13
Podemos simplificar essa EDO ainda mais introduzindo um especie de “fator integrante”para eliminar o termo y2. Para tanto, fazemos a seguinte mudanca de variavel
ψ(y) = e−y2/2u(y).
Agora
ψ′ = −yψ + e−y2/2u′
ψ′′ = −ψ − y2ψ − ye−y2/2u′ + e−y
2/2u′′,
ou sejaψ′′
ψ= −1− y2 − 2y
u′
u+u′′
u
que substituida em (6.1) nos da
ψ′′
ψ= −1− y2 − 2ε ⇒ −1− y2 − 2y
u′
u+u′′
u= y2 − 2ε,
e apos simplificacoes
u′′ − 2yu′ + (2ε− 1)u = 0.
A EDO acima possui coeficientes analıticos (em todo plano exceto o infinito) logo admiteuma solucao em serie de potencia:
u(y) =∞∑
n=0
Cnyn.
Entao
u′ =
∞∑
n=0
nCnyn−1 =
∞∑
n=1
nCnyn−1
u′′ =
∞∑
n=0
n(n− 1)Cnyn−2 =
∞∑
n=2
n(n− 1)Cnyn−2
que substituidos na EDO acima resulta
∞∑
n=2
n(n− 1)Cnyn−2 − 2
∞∑
n=0
nCnyn +
∞∑
n=0
(2ε− 1)Cnyn = 0.
Fazendo m = n− 2 na primeira serie e depois renomeando m→ n, temos
∞∑
n=0
[(n+ 1)(n+ 2)Cn+2 + (2ε− 1− 2n)Cn] yn = 0.
14 CAPITULO 6. OSCILADOR HARMONICO
Logo a serie deve se anular termo a termo
(n+ 1)(n+ 2)Cn+2 + [2ε− 1− 2n]Cn = 0
que resulta na seguinte relacao de recorrencia para os coeficientes Cn:
Cn+2 =2n+ 1− 2ε
(n+ 1)(n+ 2)Cn. (6.2)
Note que se C0 6= 0 e C1 = 0 entao todos os coeficientes ımpares se anulam, restandoapenas coeficientes pares. De modo analogo, se C0 = 0 e C1 6= 0 entao todos os coeficientespares se anulam e a recorrencia comeca em n = 1, gerando apenas coeficientes ımpares.Ou seja, para um dado ε, terıamos em princıpio duas possıveis solucoes independentes: i)uma solucao par correspondendo a C0 6= 0 e C1 = 0, e ii) uma solucao ımpar com C0 = 0e C1 6= 0. Veremos, contudo, que a grandeza ε nao pode assumir valores arbitrarios, casoqueiramos que a funcao de onda ψ(x) seja normalizavel. Como consequencia, veremos quepara um dado ε existira apenas uma solucao possivel, ou par ou ımpar. Para ver isso observeinicialmente que no limite n→ ∞ temos
Cn+2
Cn≈ 2n
n2=
2
n,
comportamento esse que e semelhante ao da serie de Taylor da funcao ex2:
ex2
= 1 + x2 +x4
2!+x6
3!+ · · · =
∞∑
n=0
anxn, com an =
1
(n/2)!, n par,
donde tem-se que
an+2
an=
(n2)!
(n2+ 1)!
=1
n2+ 1
≈ 2
n, para n→ ∞.
Logo, se a serie de u(y) nao terminasse, ela divergeria da forma ey2. Isso, por sua vez, faria
com que ψ(y) divergisse no infinito, pois terıamos ψ(y) = e−y2/2u(y) ∝ ey
2/2. Para evitar ocrescimento exponencial no infinito e garantir que ψ(x) seja de quadrado integravel, devemosfazer com que a serie para u(y) termine. Ou seja, deve existir um m tal que
Cm+2 =2m+ 1− 2ε
(m+ 1)(m+ 2)Cm = 0, Cm 6= 0.
Isso impoe que a energia ε deve ser da forma
ε =2m+ 1
2,
6.2. SOLUCAO DA EQUACAO DE SCHRODINGER 15
ou seja,
ε = m+1
2, m = 0, 1, 2, · · · .
Passando de m → n temos
ε = n+1
2, n = 0, 1, 2, · · · , (6.3)
e em forma dimensional
E = ε~ω =
(n+
1
2
)~ω, n = 0, 1, 2, · · · .
Inserindo a forma de ε dada em (6.3) na relacao de recorrencia (6.2), obtemos
Cj+2 =2(j − n)
(j + 1)(j + 2)Cj, (6.4)
onde usamos j como ındice mudo para evitar confusao com o valor de n que e fixo. Noteque o valor de n e determinado pela energia ε, vide (6.3), sendo que n corresponde tambema ordem do polinomio resultante para un(y). A partir de (6.4) podemos facilmente gerar ospolinomios un(y), como indicado abaixo.
• n = 0 : u0(y) = C0.• n = 1 : u1(y) = C1y.• n = 2 : u2(y) = C0(1− 2y2).• n = 3 : u3(y) = C1(y − 2
3y3).
• n = 4 : u4(y) = C0(1− 4y2 − 43y4).
Os polinomios un(y) acima sao conhecidos como os polinomios de Hermite, denotadospor Hn(y). A padronizacao e feita escolhendo-se o coeficiente Cn = 2n (para o coeficiente domaior termo). Com essa escolha obtemos os primeiros polinomios de Hermite:
H0(y) = 1
H1(y) = 2y
H2(y) = −(2− 4y2)
H3(y) = −(12− 8y3)
H4(y) = (12− 48y2 + 16y4)
A solucao para ψ(y) sera agora
ψn(y) = Ane−y2/2Hn(y)
16 CAPITULO 6. OSCILADOR HARMONICO
e retornando a variavel x :
ψn(x) = An exp−mωx2/2~Hn
(√mω
~x
),
onde a constante An deve ser escolhida de modo que
∫ ∞
−∞
|ψn|2dx = 1
O calculo de An a partir da expressao acima seria bastante complicado. Entretanto, vimosna secao anterior como encontrar An a partir da constante de normalizacao A0 (para n = 0)que e bastante simples de obter. Vimos entao que
An =
(mω
π~22n(n!)2
)1/4
.
A partir da EDO que define os polinomios de Hermite e possıvel mostrar as seguintesrelacoes de recorrencia:
H ′n = 2nHn−1
Hn = 2yHn−1 − 2(n− 1)Hn−2
Podemos verificar tambem a seguinte relacao de ortogonalidade:
〈Hn|Hn′〉 ≡∫ ∞
−∞
Hn(y)Hn′(y)e−y2
dy = (√π2nn)δnn′.
6.3 Exercıcios
1. a) Suponha que dois operadores Ω e Λ satisfacam a seguinte relacao de comutacao
[Ω,Λ] = cΛ.
Denote por |ω〉 os autovetores de Ω, ou seja, Ω |ω〉 = ω |ω〉. Mostre entao que Λatuando em um autovetor |ω〉 de Ω gera um novo autovetor com autovalor ω + c, ouseja,
Λ |ω〉 ∝ |ω + c〉 .
b) Use o resultado acima para verificar, sem ter de repetir os calculos, que os operadoresa± sao operadores de levantamento e abaixamento do numero quantico n, ou seja,a± |n〉 ∝ |n± 1〉.
6.3. EXERCICIOS 17
2. a) Mostre que os operadores X e P em termos dos operadores a± sao da forma
X =
√~
2mω(a+ + a−), P = i
√m~ω
2(a+ − a−)
b) Mostre que na base de energia |n〉, os operadores X e P sao representados pelasmatrizes infinitas abaixo
X =
√~
2mω
0√1 0 0 ...√
1 0√2 0 ...
0√2 0
√3 ...
0 0√3 0 ...
......
......
. . .
, P = −i
√mω~
2
0√1 0 0 ...
−√1 0
√2 0 ...
0 −√2 0
√3 ...
0 0 −√3 0 ...
......
......
. . .
c) Verifique que matrizes acima satisfazem a relacao de comutacao [X,P ] = i~.d) Calcule X2 e P 2, e mostre que o operador hamiltoniano H = 1
2mP 2 + 1
2mω2X2
corresponde a uma matriz diagonal, cujos elementos da diagonal sao exatamente asautoenergias En do sistema.
3. Exercıcio 7.3.5 (Shankar).
4. Exercıcio 7.3.6 (Shankar).
5. a) Escreva a equacao de Schrodinger na base |p〉 para o oscilador harmonico. Compare-a com a equacao equivalente na base |x〉 e mostre que a primeira pode ser obtida dasegunda atraves das substituicoes: x→ p e mω → 1/mω. Em particular, obtenha poressa via o estado fundamental ψ0(p) na base dos momentos. Determine ainda por essemetodo a incerteza ∆P no estado fundamental a partir de ∆X .b) Calcule a transformada de Fourier do estado fundamental ψ0(x) e determine assim,por via direta, a funcao de onda ψ0(p) correspondente na base dos momentos. Comparecom a solucao obtida no item anterior.
6. Distribuicao normal ou gaussiana. Considere uma variavel aleatoria X com distri-buicao normal (ou gaussiana) com media µ e desvio padrao σ, denotada por N (µ, σ),e cuja densidade de probabilidade e
p(x) =1√2πσ2
e−(x−µ)2
2σ2 .
a) Mostre que a variancia dessa distribuicao e dada por
var[X ] = (∆X)2 =⟨(X − 〈X〉)2
⟩= σ2.
18 CAPITULO 6. OSCILADOR HARMONICO
Obs.: Sem perda de generalidade pode-se fazer µ = 0.b) Generalize o resultado acima e mostre que os momentos de ordem ımpar da distri-buicao sao nulos ao passo que os momentos de ordem par sao dados por
⟨X2n
⟩= 1 · 3 · 5 · ... · (2n− 1) σ2n.
7. a) Exercıcio 7.4.2 (Shankar).b) Calcule os valores medios 〈T 〉 e 〈V 〉 no estado |n〉 do oscilador harmonico e verifiquediretamente o teorema do virial.
8. Considere os autovetores do operador de abaixamento a−:
a− |α〉 = α |α〉 ,
onde α ∈ C e 〈α|α〉 = 1.a) Partindo da expansao de |α〉 na base dos autoestados |n〉, |α〉 = ∑∞
n=0Cn |n〉, calculeos coeficientes Cn e mostre que |α〉 e da forma
|α〉 = e−|α|2/2
∞∑
n=0
αn√n!
|n〉.
b) Por completeza, aplique operador a− no estado |α〉 acima e mostre que o mesmo e,de fato, um autovetor do operador de abaixamento a− com autovalor α.
9. Alternativamente, o estado |α〉 definido na questao anterior pode ser obtido pela acaodo operador de deslocamento D(α) sobre o estado fundamental |0〉:
|α〉 = D(α) |0〉 ,
ondeD(α) = e(αa
†−α∗a).
Para mostrar isso considere os passos abaixo.a) Mostre que D(α) e unitario, logo 〈α|α〉 = 〈0|0〉 = 1. Dado: eA+B = eAeBe−
12[A,B].
b) Verifique quee−α
∗a− |0〉 = |0〉e use esse resultado para mostrar que
D(α)|0〉 = e−|α|2/2∞∑
n=0
αn√n!|n〉,
logo |α〉 = D(α) |0〉, como desejado.
6.3. EXERCICIOS 19
10. Considere os estados |α〉 discutidos nas duas questoes anteriores. Suponha que emt = 0 o sistema foi preparado no estado
|ψ(0)〉 = |α〉 ,
para um dado α.a) Determine o estado |ψ(t)〉, para t > 0, e mostre que ele permanece um autovetor dooperador a− com autovalor α(t) = αe−iωt, ou seja, podemos escrever |ψ(t)〉 = |α(t)〉 =|αe−iωt〉.b) Calcule o valor medio do operador X no estado |α(t)〉 e mostre que
〈X〉 =√
2~
mω|α| cos(ωt− δ),
onde α = |α|eiδ. Note que o centro do pacote de onda nesse caso move-se como se fosseuma partıcula classica. Por essa e outras razoes o estado |z〉 e chamado de um estado
coerente.
11. Considere um oscilador harmonico em que a partıcula de massa m possui carga eletricaq e move-se na presenca de um campo eletrico E(t) espacialmente uniforme na direcaox (mas que pode variar no tempo), o qual prove um potencial adicional
VE = −qE(t)X.
a) Calcule o comutador dos operadores a− e a+ com o hamiltoniano H(t) do sistema.b) Considere o valor medio de a−
α(t) ≡ 〈a〉 = 〈ψ(t)|a|ψ(t)〉 ,
onde |ψ(t)〉 e um estado normalizado do sistema acima. Mostre que
d
dtα(t) = −iωα(t) + iλ(t),
onde λ(t) = qE(t)/√2m~ω. Resolva essa EDO e determine os valores medios de X e
P em funcao do tempo t.c) Considere o ket |ϕ(t)〉 definido por
|ϕ(t)〉 = [a− 〈a〉] |ψ(t)〉 .
Obtenha a equacao para a evolucao temporal de |ϕ(t)〉 e discuta como a norma de|ϕ(t)〉 varia com o tempo.d) Assuma que para t < 0 o oscilador hamonico estava no estado fundamental, sendoo campo eletrico ligado em t = 0 e desligado em t = T . Para t > T qual e a evolucao
20 CAPITULO 6. OSCILADOR HARMONICO
do valores medios 〈X〉 (t) e 〈P 〉 (t)?e) Considere que no item anterior o campo eletrico e da forma E(t) = Eo cos(ω′t).Discuta o fenomeno de ressonancia que e observado em funcao do parametro ∆ω =ω′ − ω. Se para t > T a energia for medida, que resultados podem ser obtidos e comque probabilidades?
12. Vimos na nossa discussao do postulado da medida que a probabilidade de encontrarmosum oscilador entre x e x+ dx e dada por
pclass(x) =1
2π
1√x20 − x2
,
onde x0 e a amplitude maxima do oscilador que possui um mınimo na origem e maximonas extremidades x = ±x0. Vimos que para os primeiros modos do oscilador quantico,a densidade de probabilidade tem picos proximo da origem e decai a zero rapidamente.Mostre entretanto que para n grande a densidade de probabilidade tende a se asse-melhar com o resultado classico, com os maximos globais nas “extremidades”; videlivro-texto p. 202.
13. (Opcional) Em conexao com o exercıcio anterior tente provar que a densidade de pro-babilidade do oscilador qantico converge para o resultado classico no limite n ⇒ ∞.Para isso reescale o eixo horizontal fazendo:
y =x
x0n,
onde x0n e o maior maximo de ψn(x). Faca um grafico de Pn(x) = |ψn(x)|2 em termodessas variaveis reescaladas e analise o comportamento para n grande.