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5 RISCO E RETORNO Quando os proprietários ou os acionistas ingressam com algum capital, eles esperam um determinado retorno e assumem certo risco. Da mesma maneira, os terceiros (como fornecedores, bancos e financeiras) também fornecem algum capital para a empresa esperando um determinado retorno e correndo algum risco. As decisões financeiras podem ser vistas em termos de retorno esperado, de risco esperado e do impacto combinado dessas duas variáveis sobre o preço da ação. 5.1 DEFINIÇÃO DE RISCO Risco é a possibilidade de perda ou instabilidade dos possíveis retornos de um projeto de investimento. Em outras palavras, em finanças, risco é a possibilidade de perda financeira. 5.1.1 Investimento É o capital aplicado em atividades relativas à produção, à distribuição e ao consumo de bens e serviços com objetivo de lucro. Todo investimento pode ser entendido como um ativo possuído por alguém que tenha expectativa de retornos futuros. Os investimentos financeiros são também denominados títulos, que podem representar dívidas (títulos de dívida), propriedades (ações) ou direito legal de adquirir ou vender uma propriedade (opções de compra de ações). O investimento de propriedade consiste em investimento em bens imóveis (terrenos, edifícios) e bens pessoais tangíveis (ouro, obras de arte). Os ativos financeiros são direitos provenientes de obrigações emitidas por agentes econômicos no âmbito do mercado financeiro. Exemplos: títulos públicos, debêntures, ações etc. Debênture: Quando uma empresa quer captar recursos (conseguir dinheiro) para investir e/ou pagar dívidas, pode emitir títulos denominados debêntures. Os investidores que compram as debêntures, em troca, recebem uma taxa de juros fixa ou variável sobre o valor emprestado. A garantia da debênture é o patrimônio da empresa emissora. 5.2 DEFINIÇÃO DE RETORNO

Aula 6 - Risco e Retorno

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5 RISCO E RETORNO

Quando os proprietários ou os acionistas ingressam com algum capital, eles esperam um determinado retorno e assumem certo risco. Da mesma maneira, os terceiros (como fornecedores, bancos e financeiras) também fornecem algum capital para a empresa esperando um determinado retorno e correndo algum risco.

As decisões financeiras podem ser vistas em termos de retorno esperado, de risco esperado e do impacto combinado dessas duas variáveis sobre o preço da ação.

5.1 DEFINIÇÃO DE RISCO

Risco é a possibilidade de perda ou instabilidade dos possíveis retornos de um projeto de investimento. Em outras palavras, em finanças, risco é a possibilidade de perda financeira.

5.1.1 Investimento

É o capital aplicado em atividades relativas à produção, à distribuição e ao consumo de bens e serviços com objetivo de lucro. Todo investimento pode ser entendido como um ativo possuído por alguém que tenha expectativa de retornos futuros.

Os investimentos financeiros são também denominados títulos, que podem representar dívidas (títulos de dívida), propriedades (ações) ou direito legal de adquirir ou vender uma propriedade (opções de compra de ações).

O investimento de propriedade consiste em investimento em bens imóveis (terrenos, edifícios) e bens pessoais tangíveis (ouro, obras de arte).

Os ativos financeiros são direitos provenientes de obrigações emitidas por agentes econômicos no âmbito do mercado financeiro. Exemplos: títulos públicos, debêntures, ações etc.

Debênture: Quando uma empresa quer captar recursos (conseguir dinheiro) para investir e/ou pagar dívidas, pode emitir títulos denominados debêntures. Os investidores que compram as debêntures, em troca, recebem uma taxa de juros fixa ou variável sobre o valor emprestado. A garantia da debênture é o patrimônio da empresa emissora.

5.2 DEFINIÇÃO DE RETORNO

É o ganho ou perda total sofrido por um investimento em certo período. O retorno de um investimento realizado no ativo de uma empresa é avaliado pelo seu fluxo de caixa. O fluxo de caixa de uma empresa é a diferença entre a entrada e a saída de dinheiro. O retorno que exigimos de um investimento real proposto deve ser tão rentável quanto aquele que poderíamos conseguir adquirindo ativos financeiros de igual risco.

Podemos expressar o retorno de duas maneiras: em unidades monetárias (retorno monetário) ou em termos percentuais (retornos percentuais).

5.2.1 Retornos monetários

É o total de recursos recebidos pelo investimento menos a quantia investida.

Exemplo: Suponha que Maria tenha comprado 50 ações da empresa Alpha por R$ 40,00 cada uma. O investimento total de Maria foi, portanto, igual a R$ 2.000,00. No final do ano, Maria vende as ações por R$ 44,00 cada uma, num total de R$ 2.200,00.

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50 ações Preço inicial = R$40,00Preço final = R$44,00

Total aplicado= 50 ações x R$ 40,00 = R$ 2.000,00Total recebido= 50 ações x R$ 44,00 = R$ 2.200,00

Retorno em unidade monetária = Quantia recebida – Quantia aplicada$ 2.200,00 - $ 2.000,00 = $ 200,00.

Assim, Maria, ao vender as ações da empresa Alpha, teve um retorno monetário de $ 200,00.

Supondo que, no final do ano, Maria tivesse vendido suas 50 ações a $ 36,00:

50 ações Preço inicial = R$ 40,00Preço final = R$ 36,00Total aplicado= 50 ações x R$ 40,00 = R$ 2.000,00Total recebido= 50 ações x R$ 36,00 = R$ 1.800,00R$ 1.800,00 - R$ 2.000,00 = - R$ 200,00.

5.2.2 Retornos percentuais

Retorno percentual é, em termos percentuais, o valor do rendimento em relação à quantia investida. É uma medida relativa do crescimento da riqueza que resultou daquele investimento. Essa medida de crescimento, ao ser expressa em termos de percentagem, torna-se comparável para investimentos pequenos e grandes.

A vantagem de medir o retorno em termos percentuais é que o resultado obtido pode ser aplicado para qualquer volume de recurso aplicado, não ficando preso ao valor aplicado. O que se obtém é o resultado obtido por $1,00 aplicado.

Cálculo do retorno percentual: Quantia recebida – quantia investidaQuantia investida

Utilizando os exemplos anteriores:

Taxa de retorno = R$ 2.200,00 - R$ 2.000,00 = 0,10 = 10%R$ 2.000,00

Taxa de retorno = R$ 1.800,00 - R$ 2.000,00 = - 0,10 = -10%R$ 2.000,00

O retorno é calculado pela soma dos pagamentos periódicos (dividendos ou juros) e pela valorização do valor do ativo entre a da ta de aquisição e a de venda (ex: o preço das ações).

Essas duas fontes de retorno são denominadas rendimento corrente e ganho de capital, respectivamente.

Retorno total = Rendimentos correntes + Ganhos (ou Perdas) de capital

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Exemplo: Suponha que você tivesse comprado, no início do ano, 100 ações de uma empresa de petróleo ao preço de $ 46,50 a unidade e que, ao final desse ano, essa ação esteja valendo $ 50,22 e rendeu um dividendo de R$ 1,86. Qual o retorno total do seu investimento?

Quantidade de ações - 100 açõesPreço final da ação - $ 50,22Preço inicial da ação - $ 46,50Remuneração por ação - $ 1,86Rendimento corrente - $ 1,86 × 100 ações = $ 186,00Total aplicado - $ 46,50 × 100 ações = $ 4.650,00Total recebido pela venda das ações - $ 50,22 × 100 ações = $ 5.022,00

Rendimentos correntes + ganho de capital = Retorno totalR$ 1,86 x 100 ações + (R$ 50,22 – R$ 46,50) x 100 = R$ 558,00

5.2.2.1 Modelo básico para calcular o retorno percentual de qualquer ativo.

kt = Ct + Pt – Pt – 1 Pt – 1

Onde:Kt = Taxa total observada, esperada ou exigida de retorno durante o período tCt = fluxo de caixa recebido com o investimento no ativo no período t – 1 a t Pt = preço do ativo na data t ; valor do ativo no final do período (t)Pt-1 = preço do ativo na data t – 1 ; valor do ativo no início do período (t-1)

Utilizando o exemplo anterior:

kt = R$ 186,00 + R$ 5.022,00 – R$ 4.650,00 = 0,12 = 12%R$ 4.650,00

Ou

kt = R$ 1,86 + R$ 50,22 – R$ 46,50 = 0,12 = 12%R$ 46,50

EXERCÍCIOS :

1) Há um ano, você comprou 100 ações da Vale do Rio Bonito por $ 51,92 cada uma. Durante o ano, recebeu dividendos no valor de $ 172. A ação da Vale está sendo cotada atualmente por $ 71,81. (CEDERJ)

a) Qual foi seu ganho corrente?b) Qual foi seu ganho de capital?c) Qual foi seu retorno absoluto?d) Qual foi seu retorno percentual?

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2) A ação da Continental S.A. tinha um preço inicial igual à $ 42,50. Durante o ano, deu um dividendo de $ 2,40. Ao final do ano, estava cotada a $ 57,50. Qual foi a taxa de retorno dessa ação? CEDERJ)

3) A Robin’s Gameroom, um centro de diversões eletrônicas muito frequentado, deseja determinar a taxa de retorno de duas de suas máquinas de videogame, Conqueror e Demolition. A Conqueror foi comprada há um ano por $ 20.000 e tem atualmente valor de mercado de $ 21.500; durante o ano, gerou receitas de $ 800. A Demolition foi adquirida quatro anos atrás e seu valor, no ano que acaba de terminar, caiu de $ 12.000 para $ 11.800; durante o ano, gerou $ 1.700 de receitas. Calcule a taxa anual de retorno, kt, para cada uma das máquinas. (Gitman)

5.2.3 Retorno histórico

Medida que expressa o desempenho passado de um determinado ativo. A medida que melhor expressa esse retorno passado é o retorno médio. Essa avaliação

histórica também serve de base para projetarmos os retornos futuros.Exemplo: Dados de retornos históricos de um investimento hipotético em caderneta de poupança e em ações. (CEDERJ)

Retornos totais anuais (em percentual)

Logo, podemos expressar o retorno médio da seguinte forma:

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5.2.3.1 Retorno Médio da caderneta de poupança

5.2.3.2 Retorno Médio das Ações:

Retorno esperado: é o retorno que um investidor tem expectativa de receber no futuro. É comum observar a média de rentabilidade do retorno passado de um ativo para inferir qual sua tendência de retorno futuro.

Retorno exigido: é o retorno que o investidor espera receber de um investimento, para ser compensado pelo risco desse investimento.

5.3 PREFERÊNCIAS EM RELAÇÃO AO RISCO

Em relação ao risco, existem três comportamentos básicos: Aversão, indiferença e propensão.

- Indiferente: o retorno exigido não varia quando o risco do ativo aumenta.- Avesso ao risco: o retorno exigido aumenta quando o risco se eleva.- Propenso ao risco: o retorno exigido cai se o risco aumenta.

Em sua maioria, os investidores são avessos ao risco, exigem aumento do retorno para aumento do risco.

5.3.1 Risco de um ativo individual

O objetivo do administrador financeiro é investir o dinheiro dos sócios da empresas em alternativas que tragam maior retorno, correndo o menor risco possível.

O risco será calculado em função dos retornos esperados de um ativo individual (o que vamos estudar agora) ou de uma carteira de ativos.

As informações que iremos trabalhar podem ser do passado ou do futuro.

5.3.2 Avaliação de risco

Geralmente, usamos duas abordagens para avaliar o nível de risco associado a um ativo: Análise de sensibilidade e as distribuições de probabilidade.

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5.3.3 Análise de sensibilidade

Consiste em avaliar resultados possíveis na avaliação de um projeto de investimento. Utilizando os retornos associados ao ativo, podemos fazer uma estimativa pessimista (pior), mais provável (esperada) e otimista (melhor). O risco do ativo será refletido subtraindo-se o retorno pessimista do retorno otimista. Este resultado é conhecido como amplitude. Quanto maior a amplitude, maior a variabilidade, ou seja, maior o risco do ativo.

EX: A empresa Matrix tenta escolher o melhor investimento entre duas opções disponíveis, mutuamente excludentes, A e B, sendo que cada um deles requer um investimento inicial de R$ 10.000,00 e ambos têm a taxa de retorno mais provável de 15%. A empresa exige um retorno de 12% para investimentos deste tipo. Para avaliar o risco destes ativos, a administração fez estimativas pessimistas e otimistas em relação aos retornos associados a cada ativo:

Ativo A Ativo BInvestimento inicial 10.000 10.000Taxa anual de retorno Pessimista Mais provável Otimista

13%15%17%

7%15%23%

Amplitude 4% 16%

O ativo A parece ser menos arriscado, pois apresenta uma amplitude (variação nos retornos) menor que o ativo B, com o mesmo retorno provável.

5.3.4 Distribuições de probabilidades

As distribuições de probabilidades oferecem uma visão mais quantitativa do risco de um ativo. A probabilidade de um evento é a chance de ele acorrer. É um modelo que associa probabilidades aos eventos correspondentes. O tipo mais simples é o Gráfico de barras, que mostra somente um número limitado de eventos e probabilidades.

Exemplo: As estimativas passadas, na empresa Matrix, indicam que em 50 de 100 vezes ocorreu o resultado “mais provável”, em 25 de 100 vezes ocorreu o resultado “pessimista”, e também, em 25 de 100 vezes ocorreu o resultado “otimista”.

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5.3.5 Mensuração de risco

O risco de um ativo pode ser medido estatisticamente, isto é, além da amplitude, podemos medir quantitativamente o risco. Vamos considerar em nossa mensuração duas estatísticas: o desvio-padrão e o coeficiente de variação. Estas medidas serão usadas para medir a variabilidade dos retornos dos ativos.

5.3.6 Desvio-padrão

Indicador que mede a dispersão em torno do valor esperado, ou seja, do retorno mais provável de um ativo.

Antes de calcularmos o desvio-padrão de um ativo, precisamos de outras informações sobre os retornos esperados.

O retorno de um ativo já existente é calculado usando a fórmula já estudada anteriormente, ou seja, kt = Ct + Pt – Pt – 1

Pt – 1

Exemplo: Empresa Parafusos

Como são vários períodos, o retorno esperado será o retorno médio esperado, encontrado utilizando fórmula já apresentada anteriormente.

8+10+15+20+22+17 = 15,3% 6

Já no caso de adquirir um ativo novo, sem retornos passados, teríamos de fazer estimativas de retornos futuros baseados em condições do mercado. Neste caso, para se encontrar o retorno esperado temos que utilizar a seguinte fórmula:

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Utilizando um exemplo anterior, da empresa Matrix, podemos encontrar o retorno esperado da seguinte forma:

A = (13 x 0,25) + (15 x 0,5) + (17 x 0,25) = 15%B = (7 x 0,25) + (15 x 0,5) + (23 x 0,25) = 15%

No caso de existir mais de um período de retorno por ativo, também teremos de calcular o retorno médio esperado.

5.3.6.1 As expressões de cálculo do desvio-padrão dos retornos:

Será utilizada quando conhecemos os retornos do ativo durante um determinado período, como no caso do exemplo da Empresa Parafusos:

k = √ (8-15,3) 2 + (10-15,3) 2 + (15-15,3) 2 + (20-15,3) 2 + (22-15,3) 2 + (17-15,3) 2 6-1

k =√ (-7,3) 2 + (-5,3) 2 + (-0,3) 2 + (4,7) 2 + (6,7) 2 + (1,7) 2 5

k =√ 53,29 + 28,09 + 0,09 + 22,09 + 44,89 + 2,895

k = 5,50%

Utilizado no caso de probabilidades, como no exemplo da empresa Matrix.

A = √ (13-15)2 x 0,25 + (15-15)2 x 0,5 + (17-15)2 x 0,25A = √ 2A = 1,41%

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B = √ (7-15)2 x 0,25 + (15-15)2 x 0,5 + (23-15)2 x 0,25B = √ 32B = 5,66%

Quanto maior o Desvio-padrão, maior será o risco do ativo.

5.3.7 Coeficiente de variação

No caso de comparações de ativos com retornos esperados iguais basta calcular o desvio- padrão e tomar a decisão. Contudo, para retornos esperados diferentes devemos encontrar o coeficiente de variação, uma medida relativa de risco, utilizando a seguinte fórmula:

Quanto maior o coeficiente de variação, maior será o risco do ativo.

Exemplo da empresa Matrix: CVA= 1,41% = 0,094 CVB= 5,66% = 0,377 15% 15%

EXERCÍCIOS:

I)

(CEDERJ)

II) Com as informações sobre os retornos esperados em cada ano, para cada empilhadeira, obtidas na Atividade anterior, calcule a amplitude e o desvio padrão. Você já pode decidir qual máquina comprar? Explique. (CEDERJ)

Page 10: Aula 6 - Risco e Retorno

III) Na Atividade II, você encontrou a amplitude e o desvio padrão dos retornos das empilhadeiras Clerck e Titan. Calcule, agora, o coeficiente de variação e faça a escolha, levando em conta que você é avesso ao risco. (CEDERJ)Estudo de Caso

(CEDERJ)