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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ANTÔNIO PEDRO MESTRADO EM SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE GILMAR DOS SANTOS STULZER BEXIGA NEUROGÊNICA NA MIELOMENINGOCELE: ESTUDO DESCRITIVO EM UM SERVIÇO DE REFERÊNCIA Niterói 2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ANTÔNIO PEDRO MESTRADO EM SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

GILMAR DOS SANTOS STULZER

BEXIGA NEUROGÊNICA NA MIELOMENINGOCELE: ESTUDO DESCRITIVO EM UM SERVIÇO DE REFERÊNCIA

Niterói

2009

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GILMAR DOS SANTOS STULZER

BEXIGA NEUROGÊNICA NA MIELOMENINGOCELE:

ESTUDO DESCRITIVO EM UM SERVIÇO DE REFERÊNCIA

Dissertação apresentada à Coordenação do Mestrado em Saúde da Criança e do Adolescente da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. Marcio Moacyr Vasconcelos

Co-orientador: Prof. Francisco Nicanor A. Macedo

Niterói

2009

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GILMAR DOS SANTOS STULZER

BEXIGA NEUROGÊNICA NA MIELOMENINGOCELE: ESTUDO DESCRITIVO EM UM SERVIÇO DE REFERÊNCIA

Dissertação apresentada à Coordenação do Mestrado em Saúde da Criança e do Adolescente da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre.

Aprovada em janeiro de 2009.

BANCA EXAMINADORA

________________________________ Profa. Dra. GESMAR VOLGA HADDAD

_________________________________ Prof. Dr. HEBER DE SOUZA MAIA FILHO

__________________________________________________ Profa. Dra. ELIANE MARIA GARCEZ OLIVEIRA DA FONSECA

Niterói 2009

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S593

Stulzer, Gilmar dos Santos

Bexiga neurogênica na mielomeningocele: estudo descritivo

em um serviço de referência / Gilmar dos Santos Stulzer. –

Niterói: [s.n.], 2009.

76 f.:il., 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Saúde da Criança e do

Adolescente)-Universidade Federal Fluminense, 2009.

1. Meningomielocele. 2. Bexiga urinária neurogênica-Crianças. 3. Urodinâmica I. Título.

CDD 616.8

Aos meus pais pela dedicação e amor, sem os quais

eu não teria chegado até aqui.

À minha esposa Luciene e minha filha Luiza,

pelo amor e compreensão, essenciais na minha vida.

Aos nossos pacientes.

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AGRADECIMENTOS

À Direção do Hospital Jesus pelo apoio na realização desta pesquisa.

À Dra. Glaura Nisya, responsável pelo Serviço de Nefrologia Pediátrica do Hospital

Jesus, pelas valiosas contribuições.

Às enfermeiras Marilda Brasil Silva e Maria Emília de Jesus Gomes, responsáveis

pelo Programa de Educação e Treinamento do cateterismo, pelo carinho e

dedicação ao trabalho que desenvolvem junto às crianças com mielomeningocele de

nossa instituição.

Aos companheiros da Clínica de Cirurgia e Urologia Pediátrica, especialmente às

Dras. Deborah Nunes e Andréia Baptista pelo incentivo e colaboração.

Aos nossos Médicos Residentes, pelo apoio e colaboração.

Aos amigos e Profs. Arovel Moura Junior e José Firmino da Rocha pelo apoio e

incentivo.

Ao Prof. Luiz Jairo, pelos ensinamentos e colaboração na produção visual deste

trabalho.

AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

Ao Dr. Marcio Moacyr Vasconcelos, incansável pesquisador,

profissional dedicado, que tanto nos orgulha pelas inestimáveis contribuições.

Agradeço imensamente pelos ensinamentos, pela paciência e pela amizade.

Ao Dr. Francisco Nicanor, mentor desta pesquisa, amigo e companheiro fiel nesta e

em outras tantas jornadas.

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EPÍGRAFE

“Não quero mal às ficções, amo-as, acredito nelas, acho-as preferíveis às

realidades; nem por isso deixo de filosofar sobre o destino das coisas tangíveis em

comparação às imaginárias. Grande sabedoria é inventar um pássaro sem asas,

descrevê-lo, fazê-lo ver a todos, e acabar acreditando que não há pássaros sem

asas...”

Machado de Assis

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RESUMO

Introdução: A mielomeningocele (MMC) é a causa mais comum de disfunção vesicoesfincteriana neurogênica em crianças. O comprometimento da inervação vesical e esfincteriana leva a alterações de risco para a função renal, como elevação da pressão intravesical, refluxo vesicoureteral, obstrução e infecções. A identificação dos problemas e tratamento precoce previne os danos renais, alterações neurológicas, deformidades ortopédicas e problemas intestinais, frequentes nestes pacientes. A atuação multidisciplinar é fundamental para otimização do tratamento. Objetivos: O objetivo deste estudo foi descrever o perfil das alterações neurológicas e nefro-urológicas de uma população de pacientes portadores de bexiga neurogênica associada à MMC. Pacientes e Métodos: Estudo retrospectivo, descritivo e analítico, envolvendo 94 pacientes com MMC e bexiga neurogênica acompanhados de 1998 a 2008, em um centro de referência para atendimento de espina bífida no Hospital Municipal Jesus - Rio de Janeiro - Brasil. Foram coletados dados sobre a MMC, aspectos neurológicos e ortopédicos, avaliações urodinâmicas, ultra-sonografias, uretrocistografias (UCM), cintilografia com DMSA e infecções do trato urinário. Com base na avaliação urodinâmica, foram definidos dois grupos de pacientes: aqueles com baixa complacência, pressão de perda > 40 cm H2O ou dissinergia constituíram o grupo de risco, e os demais formaram o grupo controle, que apresentavam complacência normal com hipo ou hiperatividade. Os dois grupos foram comparados quanto à evolução, tratamento e complicações. A análise estatística foi feita pelo teste do qui-quadrado de Pearson com significância estatística para p < 0,05 e odds-ratio com IC de 95%. Resultados: Foram estudadas 94 crianças, 49 (52,1%) de meninas e 45 (47,9%) de meninos. A média de idade foi de 8,8 anos (faixa, 1-14 anos). A localização da MMC foi: lombossacral em 57 (60,6%), lombar em 18 (19,1%), tóraco-lombar em 14 (14,9%) e torácica (5,3%). Derivação ventrículo-peritoneal foi realizada em 90,5% dos casos. Os achados urodinâmicos foram: complacência normal associada a hiperatividade do detrusor em 23 (28,8%) e associada a hipoatividade em 4 (5%), baixa complacência em 18 (22,5%) e pressão de perda > 40 cm H2O em 35 (43,8%). O grupo de risco compôs-se de 53 pacientes, enquanto o grupo controle incluiu 27 pacientes. Os aspectos clínicos relevantes foram: 58,5% dos pacientes tiveram a primeira consulta na nefrologia após 1 ano de idade; o cateterismo intermitente limpo foi iniciado após o primeiro ano de idade em 76,6% das crianças; e infecções urinárias ocorreram em 70,2%. Tratamento cirúrgico foi indicado em 9/53 (17,0%) pacientes do grupo de risco e em 3/27 (11,1%) do grupo controle (p = 0,487). Lesões graves foram detectadas pelo DMSA em 11/25 (44%) avaliações do grupo de risco e 4/13 (30,8%) avaliações do grupo controle. As crianças do grupo de risco apresentaram maior taxa de ITU (79,3% versus 59,3% no grupo controle), dado que revelou significância estatística (p=0,04) com odds-ratio de 2,8 (IC 95%, 1,029 a 8,104). Conclusões: As crianças do grupo de risco tiveram probabilidade 2,8 vezes mais alta de sofrer ITU recorrente.

Palavras-chave: Meningomielocele, Bexiga urinária neurogênica, Crianças, Urodinâmica

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ABSTRACT

Background: Myelomeningocele (MMC) is the most common cause of neurogenic sphincter-bladder dysfunction in children. Abnormal innervation of the bladder is at risk for damaging renal function because of increased intravesical pressure, vesicoureteral reflux, obstruction, and urinary tract infection (UTI). Early recognition of neurovesical abnormalities enables prompt intervention and usually prevents damage to the kidneys, neurologic abnormalities, orthopedic deformities and intestinal problems also are present in this group of patients. A multidisciplinary team is necessary to achieve an optimized therapy in each individual patient. Purpose: The aim of this study was descriptive the neurological and nephro-urologic alterations in patients with myelomeningocele an neurogenic bladder. Patients and Methods: Cross-sectional study based on the clinical and radiographic records of 94 patients treated and followed-up from 1998-2008. The setting was a multidisciplinary spina bifida unit within a third-level hospital, which serves as the referral centre for these patients in Rio de Janeiro (Brazil). We collected information on diagnosis, clinical aspects, urodynamics, voiding cystourethrogram (VCUG), DMSA scan, ultra-sound, culture of urine, central nervous system and musculoskeletal system in each patient. We selected a high-risk group based on the following features urodynamic findings (low compliance, dyssynergia, intravesical high-pressure)To study relationships among the variables, the Chi-squared tests were applied, considered to be statistically significant when p < 0.05 and odds-ratio with IC 95%. Results: There were 94 children, 49 (52.1%) were female and 45 (48%) male. Mean age was 8.8 years. The MMC level was: lumbosacral in 57 (60.6%), lumbar in 18 (19.1%), low thoracic in 14 (14.9%) and high thoracic in 5 (5.3%). Ventricle peritoneal shunt was performed in 90.5%. Urodynamic findings were: normal compliance with hyperactivity in 23 (28.8%) and with hypo activity in 4 (5%); low compliance in 18 (22.5%) and leak point pressure > 40 cm H2O in 35 (43.8%). The high risk group had 53 patients and the control group had 27 patients. The patients were treated with clean intermittent catheterization (CIC), anticholinergics and prophylactic antimicrobian. The clinical relevant aspects were: 58.5% of the patients had the first outpatient consult in nephrology after 1 year of age; clean intermittent catheterization was started after 1 year of age in 76.6%; anticholinergic was used in selected patients and UTI was observed in 70.2%. Surgical treatment was necessary in 9/53 (17%) patients of the risk group and 3/27 (11.1%) of the control group (p=0.487). DMSA scan in 38 patients showed diffuse bilateral abnormality or renal exclusion in 11/25 (44%) in the risk group and 4/13 (30.8%) in the control group. We compared the risk group with the other patients (control group) and bivariate analysis showed statistically significant relationship between the risk group and UTI recurrence (p=0,04) and odds-ratio = 2,8 (IC 95%, 1,029 a 8,104). Conclusions: Children with MMC considered to be at high-risk for unfavorable clinical course had probability 2.8 time of the urinary tract infection recurrence. Keywords: Meningomyelocele, Neurogenic bladder, Children, Urodynamics

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LISTA DE FIGURAS

Fig. 1 Mielomeningocele lombossacral rota 19

Fig. 2 Inervação vesical 24

Fig. 3 Uretrocistografia miccional 28

Fig. 4 Cintilografia renal com DMSA 28

Fig. 5 Ampliação vesical (ileocistoplastia) 37

Fig. 6 Princípio de Mitrofanoff 38

Fig. 7 Evolução representativa de caso 40

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 Classificação da International Continence Society baseada

na disfunção em uma área especifica da estrutura vesicoesfincteriana 31

QUADRO 2 Classificação da bexiga neurogênica com 4 subtipos 35

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 Distribuição entre os grupos de risco e controle segundo o gênero, localização anatômica da MMC, hidrocefalia e DVP 51

TABELA 2 Resultados da avaliação urodinâmica. Distribuição dos pacientes do grupo de risco de acordo com o tipo de disfunção encontrada na primeira avaliação 52

TABELA 3 Dados da avaliação ultra-sonográfica inicial 53

TABELA 4 Comparação das alterações da UCM em cada grupo 54

TABELA 5 Diferenças entre o grupo de risco e grupo controle na cintilografia

renal com DMSA 55 TABELA 6 Relação entre a idade do inicio do tratamento 56 TABELA 7 Taxas de ITU, IRC e evolução desfavorável 56 TABELA 8 Análise comparativa das taxas de intervenções cirúrgicas 57

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

DMSA Ácido Dimercaptossuccínico

DVP Derivação Ventrículo-peritoneal

EAS Elementos Anormais de Sedimentação

CIL Cateterismo Intermitente Limpo

GAMJE Grupo de Apoio aos Portadores de Mielomeningocele do Hospital Jesus

HN Hidronefrose

ICS International Continence Society

ITU Infecções do Trato Urinário

MEDLINE Medical Literature Analysis and Retrieval System Online

MMC Mielomeningocele

RVU Refluxo Vesicoureteral

SNC Sistema Nervoso Central

TUI Trato Urinário Inferior

TUS Trato Urinário Superior

UCM Uretrocistografia Miccional

UHN Uretero-hidronefrose

USG Ultra-sonografia

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................... 15

2 ASPECTOS GERAIS DA MIELOMENINGOCELE............................... 17

2.1 EPIDEMIOLOGIA.................................................................................. 17

2.2 ETIOLOGIA........................................................................................... 18

2.3 ALTERAÇÕES NEUROLÓGICAS........................................................ 18

2.4 ALTERAÇÕES ORTOPÉDICAS........................................................... 20

2.5 CONTINÊNCIA..................................................................................... 20

2.6 ALERGIA AO LÁTEX............................................................................ 21

2.7 DESENVOLVIMENTO SEXUAL E FERTILIDADE............................... 21

3 A BEXIGA NEUROGÊNICA.................................................................. 22

3.1 BASES NEUROLÓGICAS.................................................................... 22

3.2 PATOGENIA......................................................................................... 23

3.3 ASPECTOS CLÍNICOS........................................................................ 25

3.4 AVALIAÇÃO LABORATORIAL............................................................. 27

3.5 ASPECTOS URODINÂMICOS............................................................. 29

3.6 TRATAMENTO CLÍNICO...................................................................... 33

3.7 TRATAMENTO CIRÚRGICO................................................................ 36

3.8 ACOMPANHAMENTO.......................................................................... 39

4 OBJETIVOS .......................................................................................... 41

5 METODOLOGIA.................................................................................... 42

5.1 TIPO DE ESTUDO................................................................................ 42

5.2 PERÍODO.............................................................................................. 42

5.3 ESTRATÉGIA DE BUSCA E IDENTIFICAÇÃO DOS CASOS.............. 42

5.4 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO......................................... 42

5.5 VARIÁVEIS ESTUDADAS.................................................................... 43

5.6 CLASSIFICAÇÃO DOS CASOS........................................................... 43

5.7 COLETA DOS DADOS E ANÁLISE ESTATÍSTICA............................. 44

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5.8 ASPECTOS ÉTICOS............................................................................ 44

6 RESULTADOS....................................................................................... 45

6.1 DADOS DEMOGRÁFICOS.................................................................... 45

6.2 AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA.............................................................. 45

6.3 AVALIAÇÃO URODINÂMICA................................................................ 46

6.4 AVALIAÇÃO ULTRA-SONOGRÁFICA.................................................. 46

6.5 AVALIAÇÃO CINTILOGRÁFICA........................................................... 47

6.6 URETROCISTOGRAFIA MICCIONAL.................................................. 47

6.7 TRATAMENTO CLÍNICO....................................................................... 47

6.8 TRATAMENTO CIRÚRGICO................................................................ 48

6.9 SELEÇÃO DOS GRUPOS..................................................................... 48

6.9.1 Grupo de Risco................................................................................. 48

6.9.2 Grupo Controle..................................................................................50 7 DISCUSSÃO........................................................................................... 58 8 CONCLUSÕES....................................................................................... 63 9 SUGESTÕES.......................................................................................... 64

10 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................... 65

REFERÊNCIAS..................................................................................... 66 ANEXO................................................................................................ 74

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1 INTRODUÇÃO

A mielomeningocele (MMC) está inserida no contexto das malformações

congênitas do sistema nervoso central (SNC) denominadas disrafismos espinais, e

representa a forma mais grave destas malformações.

As mielodisplasias são as causas mais freqüentes de distúrbios neurogênicos

da micção na infância, sendo a MMC responsável por cerca de 90% dos casos.

Parece haver forte relação com as condições sócio-econômicas da população. 1,2

O diagnóstico intra-uterino da MMC é realizado por ultra-sonografia

morfológica fetal e dosagens maternas e fetais da alfa-fetoproteína, o que permite a

interrupção da gravidez em alguns países, ou a tentativa de minimizar as alterações

neurológicas através da cirurgia fetal. Atualmente, cerca de 1.500 abortos são

realizados a cada ano nos EUA baseados nesta propedêutica. 3

O tratamento inicial consiste no reparo cirúrgico do defeito congênito, com o

principal objetivo de preservar a função neurológica remanescente e evitar infecções

do sistema nervoso central. 1

A MMC determina na criança alterações neurológicas relacionadas às

funções da medula espinal. Portanto, dependendo do nível, isto é, se torácico ou

lombar, a intensidade do comprometimento neurológico será maior ou menor,

respectivamente. Assim, a maioria dos pacientes apresenta déficits motores com

redução total ou parcial da sensibilidade dos membros inferiores e distúrbios do

controle urinário e fecal. 1

O tratamento urológico deve ser iniciado no período neonatal, identificando

através do estudo urodinâmico as crianças sob risco de lesão do trato urinário

superior, nas quais se institui tratamento precoce. Alguns autores têm sugerido que

a realização deste estudo logo após o fechamento da MMC pode ter valor preditivo

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na determinação da função vesical em longo prazo, selecionando os grupos de

maior risco para deterioração da função vesical e do trato urinário superior. 4-6

O acompanhamento urológico desde o período neonatal é recomendado e

deve ser realizado por nefrologistas e urologistas com experiência nesta patologia. O

tratamento da MMC e de suas consequências neurológicas deve ser feito por equipe

multidisciplinar.

O aspecto psicossocial da doença também deve ser considerado, pois muitas

crianças em idade escolar vão enfrentar problemas relacionados à incontinência

urinária e as diversas formas de tratamento.

Visando o tratamento global da MMC, foi iniciado em 1998 no Hospital

Municipal Jesus – Rio de Janeiro, um projeto de apoio aos pacientes portadores de

MMC denominado GAMJE, com foco multidisciplinar constituído por neurocirurgiões,

ortopedistas, nefrologistas, urologistas, enfermagem especializada, fisioterapeutas,

psicólogos e assistentes sociais.

Este autor teve sua atenção despertada para a MMC durante sua atuação

como cirurgião pediátrico no Hospital Jesus, instituição de referência para

especialidades pediátricas clínicas e cirúrgicas no Rio de Janeiro. Ao atuar na

assistência de grande número de crianças acometidas com disrafismo espinal, foi

possível vislumbrar uma oportunidade para aprofundar o conhecimento e aprimorar

a assistência desse grupo especial de crianças com problemas nefro-urológicos

graves.

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2 ASPECTOS GERAIS DA MIELOMENINGOCELE

2.1 EPIDEMIOLOGIA

A incidência da MMC é bastante variável, ocorrendo em 1 para cada 1.000

nascidos vivos nos Estados Unidos da América e em 5 para cada 1.000 na maioria

dos países europeus. É notável a variabilidade geográfica e étnica da doença.

Observa-se alta prevalência nas Ilhas Britânicas e baixa prevalência nos países

asiáticos. Em Dublin, Irlanda do Norte, a prevalência caiu de 3,4 por 1.000 em 1953

para 2,6 por 1.000 em 1962 e 1,55 por 1.000 em 1982. Fatores genéticos parecem

interferir na gênese do processo, mas ainda não foram identificados. 7

O mais significante achado epidemiológico observado nas últimas décadas é

o declínio da prevalência da doença. 8,9 As razões para este fato permanecem

obscuras. É evidente, entretanto, que este declínio coincide com a maior utilização

dos métodos de rastreamento pré-natal, através da dosagem de alfafetoproteína e

ultra-sonografia gestacional. De fato, na Inglaterra, País de Gales, Canadá e em

alguns estados americanos é permitida a interrupção da gestação com suspeita de

anomalias do sistema nervoso central, fato que contribuiu para o declínio da

prevalência de MMC. 10 Dados mais recentes de um estudo realizado em Atlanta em

1990-1991 mostram que 32% das gestações afetadas foram detectadas e

interrompidas. Aproximadamente 23% do declínio mundial na prevalência da MMC

resultam da interrupção seletiva da gestação. 11

Considera-se que uma criança afetada tenha 2 a 5% de chance de ter um

irmão com o mesmo defeito. 12

Apresenta predomínio no sexo feminino, o que foi demonstrado por uma

relação entre os sexos feminino e masculino de 1,1:1,0 na série de 4.830 casos

descrita por Källén et al.

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2.2 ETIOLOGIA

As mielodisplasias correspondem a malformações envolvendo a coluna

vertebral, a medula espinal, suas meninges e os nervos. Originam-se da falta de

fusão adequada do tubo neural, podendo ocorrer em qualquer nível ao longo do eixo

neural, predominando na região lombossacral. A concomitância de meninge e

estruturas nervosas como a medula ou nervos sacrais se insinuando no defeito

constitui a mielomeningocele (figura 1). O desenvolvimento do canal medular e da

medula inicia-se por volta do 18º dia de gestação e o fechamento do canal se

completa em direção céfalo-caudal por volta do 35º dia. O exato mecanismo que

envolve o fechamento e que produz o disrafismo não está completamente elucidado,

no entanto, vários fatores têm sido implicados na sua gênese.

A etiologia da MMC é heterogênea e multifatorial. Fatores genéticos e

ambientais parecem ser responsáveis por esta malformação. 13-16 Os fatores

ambientais mais encontrados foram: a baixa condição sócio-econômica, hipertermia

materna, medicações como a carbamazepina, ácido valpróico, diuréticos, anti-

histamínicos, sulfonamidas, hiperzincinemia, e a deficiência de nutrientes e folato. 17-

21 De todos estes fatores, a carbamazepina, o ácido valpróico e a deficiência de

folato têm sido os mais fortemente relacionados com espina bífida. Há conclusivas

evidências de que o suplemento de ácido fólico iniciado no período pré-gestacional e

mantido no primeiro mês de gravidez reduz não só a incidência, como também a

recorrência de MMC. Recomenda-se iniciar o seu uso dois meses antes da gestação

na dose de quatro mg/dia, por via oral. Foi estimada uma redução de

aproximadamente 48% dos defeitos do tubo neural após a adoção desta prática. 22

2.3 ALTERAÇÕES NEUROLÓGICAS

A MMC representa a principal forma de mielodisplasia, respondendo por mais de

90% de todos os disrafismos espinais. 23 Ocorre quando as meninges e os

elementos neurais, incluindo troncos nervosos ou porções da medula espinhal,

encontram-se herniados através de um defeito do canal vertebral. A maioria desses

defeitos ocorre na região lombossacral seguido pela região torácica e cervical

(Figura 1).

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Figura 1: Mielomeningocele lombossacral rota. Fonte: Arquivo pessoal do autor

Usualmente projeta-se posteriormente e é representado por uma fina camada

de tecido transparente ou encontra-se aberto com saída de líquido

cefalorraquidiano. Por esta razão, devem ser tomados cuidados voltados para a

prevenção de infecções no intervalo entre o nascimento e a correção cirúrgica. Nos

últimos anos, diversos centros nos EUA realizaram o fechamento do defeito em

fetos entre a 19ª e 25ª semana de gestação, com o objetivo de diminuir as

alterações neurológicas após o nascimento. Até o momento este procedimento não

alterou a incidência de déficit dos membros inferiores ou nos achados urodinâmicos

no período pós-natal, porém houve uma diminuição na incidência e extensão da

hidrocefalia neste grupo. É possível que a perda de líquido cefalorraquidiano pelo

defeito contribua para a herniação do tronco cerebral através do forame magno com

conseqüente desenvolvimento da hidrocefalia. 24

As hipóteses causais das alterações neurológicas que acompanham a MMC

são múltiplas, variando desde a exposição da medula ao líquido amniótico com

alterações mecânicas, a lesões traumáticas no parto e durante o fechamento do

defeito. A concomitância com a malformação de Arnold Chiari Tipo II e hidrocefalia

leva a alterações neurológicas outras, numa variação considerável de

comprometimentos, independentes do nível de lesão óssea. A principal causa de

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hidrocefalia no neonato com MMC é a obstrução do quarto ventrículo e distúrbios na

absorção do líquido cefalorraquidiano. A incidência de hidrocefalia associada varia

entre 83 a 92%, sendo que 84 a 89% dos casos necessitam de derivação liquórica

para controle de hidrocefalia progressiva. 1,24

2.4 ALTERAÇÕES ORTOPÉDICAS

A diferença na taxa de crescimento entre a medula espinhal e os corpos

vertebrais, já nas primeiras semanas de gravidez e perdurando nos primeiros anos

de vida, faz com que não exista correspondência absoluta entre o nível do defeito

vertebral e da lesão neurológica. Este fato faz com que se individualizem as

características das disfunções motoras e vesicoesfincterianas de cada paciente,

apesar de lesões aparentemente semelhantes. 25

As deformidades do tronco e dos membros estão quase sempre presentes na

MMC. Algumas são congênitas e outras adquiridas, em função da má postura e do

desequilíbrio entre músculos agonistas e antagonistas. A capacidade de

deambulação pode ser dividida em: a) deambuladores funcionais (domiciliares ou

comunitários); b) deambuladores terapêuticos (deambulam apenas nas sessões de

fisioterapia; c) não deambuladores (cadeirantes). 24,26

A tendência das alterações motoras é piorar na vida adulta, sendo de

fundamental importância a participação precoce do ortopedista no tratamento desta

doença, otimizando assim suas possibilidades futuras. 27

2.5 CONTINÊNCIA

Apenas 6 a 17% dos mielodisplásicos são continentes para urina. Os demais

pacientes, se não tratados, evoluirão com incontinência urinária ou fecal. Em

crianças a MMC representa a causa mais comum de disfunção neurogênica da

bexiga e da uretra. 28 O cateterismo intermitente limpo (CIL), introduzido por Lapides

em 1972, revolucionou o tratamento urológico dos pacientes portadores de

mielodisplasias. 29 A utilização do CIL associado ao uso de drogas anticolinérgicas

tem possibilitado que 75% a 90% destes pacientes adquiram “continência social”,

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além de contribuir para o declínio das taxas de infecções do trato urinário (ITU) e

conseqüente preservação da função renal. 1, 6, 27, 29

2.6 ALERGIA AO LÁTEX

Estima-se que 18 a 47% dos pacientes com espina bífida apresentem

sensibilidade ao látex, podendo manifestar desde reações cutâneas discretas até

episódios graves de anafilaxia. 30-32 Aproximadamente um terço dos pacientes

apresentarão reação alérgica a produtos derivados do látex. 33 Ellsworth et al

encontraram incidência de 60% num grupo de 50 crianças com espina bífida. Não

houve diferença na idade das crianças, no número de anos que haviam sido

submetidos a cateterismo intermitente ou no número de cirurgias abdominais a que

haviam sido submetidos. Com base neste conhecimento, muitos serviços adotam

uma estratégia preventiva, utilizando material isento de látex desde as primeiras

intervenções. 34

2.7 DESENVOLVIMENTO SEXUAL E FERTILIDADE

O desenvolvimento sexual destes pacientes normalmente é subestimado. A

função sexual, em ambos os sexos, é definida pela sensação sexual e orgasmo e

depende do nível neurológico da lesão. Muitos pacientes com níveis abaixo de L2

podem ter sensibilidade sexual preservada, muitos com possibilidade de continência

urinária. Em contrapartida, apenas 20% dos que apresentam níveis mais altos ou

incontinência urinária tem a função sexual preservada. A hidrocefalia parece

contribuir de forma negativa neste aspecto. 28A fertilidade em mulheres tende a ser

normal. O principal problema é o elevado risco de defeitos do tubo neural na prole. 2

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3 A BEXIGA NEUROGÊNICA 3.1 BASES NEUROLÓGICAS

Estima-se que aproximadamente 25% dos problemas vistos em urologia

pediátrica sejam decorrentes de lesões neurológicas que afetam as funções do trato

urinário inferior (TUI), as chamadas mielodisplasias. O acometimento do trato

urinário inferior ocorre em diferentes graus de intensidade e não apresenta nenhuma

correlação com a função neurológica dos membros inferiores. 24 Tarcan et al, em

uma avaliação de 204 recém-nascidos portadores de mielodisplasia, encontraram

apenas 25 pacientes (12%) sem alterações urológicas. 35

A lesão neurológica produzida pela MMC pode ser variável, dependendo dos

elementos neurais envolvidos. A altura exata do defeito vertebral frequentemente

oferece pouco subsídio para traduzir o nível neurológico da lesão ou o tipo de lesão

produzida. O nível da lesão neurológica pode se entender de 1 a 3 vértebras, assim

como podemos ter alterações assimétricas nos membros inferiores decorrentes de

maior ou menor envolvimento dos elementos neurais afetados de cada lado do

defeito. Acredita-se que 20% das crianças afetadas tenham anormalidade intra-

espinal acima do defeito vertebral. Crianças com MMC torácica ou lombar alta

frequentemente tem completa reconstituição da medula na região sacral e

frequentemente tem a função do arco reflexo sacral intacto, que envolve as raízes

sacro-espinais. Crianças com déficit neurológico em S1 ou mais baixo podem ter

uma variabilidade de achados no estudo urodinâmico, desde uma função normal do

neurônio motor superior e/ou inferior até lesões envolvendo a bexiga e/ou esfíncter

uretral externo. Apenas 10% dos neonatos com MMC não apresentam alterações no

estudo urodinâmico. 35,36

Finalmente, a diferença entre o crescimento dos corpos vertebrais e o

alongamento da medula constitui um fator dinâmico que pode futuramente confundir

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o quadro. 37 Vinte e quatro por cento das crianças com função normal do trato

urinário inferior ao nascimento desenvolveram alterações do neurônio motor superior

depois de algum tempo. 35 Entretanto, as lesões produzidas por esta condição

influenciam nas funções do TUI de forma variada e não pode ser prevista apenas

com base no local da lesão ou nas alterações dos membros inferiores. Acrescenta-

se a todos estes eventos, a malformação de Arnold Chiari tipo II que pode afetar

profundamente as funções neurológicas dos centros envolvidos no controle das

funções do trato urinário inferior. Desta forma, a avaliação urodinâmica no período

neonatal tem sido realizada na maioria dos centros, fornecendo assim informações

sobre a função do TUI após o nascimento, além de ter valor preditivo para crianças

com risco futuro de deterioração do TUI. 4,38-40

A criação de índices de prognóstico reservado e a confiabilidade dos fatores

de risco urodinâmicos têm levado vários autores a iniciar tratamento precoce da

bexiga neurogênica nos neonatos considerados de alto risco. Há alguns, entretanto

que não consideram o estudo urodinâmico importante, mas contam somente com o

exame físico e avaliação radiológica para orientar suas decisões, 41 um conceito não

compartilhado por muitos.

3.2 PATOGENIA

O trato urinário inferior (bexiga, colo vesical e uretra) realiza a função

fundamental de armazenamento e eliminação periódica da urina. Tanto as estruturas

da bexiga quanto as uretrais permitem a veiculação da urina ao meio externo de

forma intermitente, mediante dois tempos diferenciados: 1) fase de enchimento ou

continência e 2) fase de esvaziamento ou miccional. Ambas as fases dependem de

um sincronismo entre o reservatório vesical propriamente dito (músculo detrusor) e o

mecanismo esfincteriano da uretra. 42

O músculo liso da bexiga é conhecido como detrusor. A inervação do detrusor

é fundamentalmente de dois tipos: a) parassimpática (a mais importante), com seus

núcleos medulares ao nível dos segmentos S2, S3 e S4 e receptores colinérgicos no

corpo da bexiga, cuja estimulação provoca contração do detrusor e; b) Simpática,

que depende do nervo hipogástrico, com seus núcleos medulares ao nível dos

segmentos T11, T12, L1 e L2 e receptores beta-adrenérgicos no corpo da bexiga, cuja

estimulação provoca relaxamento do detrusor (Figura 2). 42

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Figura 2: Inervação vesical: Parassimpática ao nível dos segmentos S2, S3 e S4 e receptores colinérgicos no corpo da bexiga, cuja estimulação provoca contração do detrusor e Simpática, que depende do nervo hipogástrico, com seus núcleos medulares ao nível dos segmentos T11, T12, L1 e L2 e receptores beta-adrenérgicos no corpo da bexiga, cuja estimulação provoca relaxamento do detrusor. A uretra distal apresenta uma inervação mista: vegetativa (involuntária, simpática) e; somática (voluntária, a cargo do nervo pudendo interno) com seus núcleos medulares ao nível dos segmentos S2, S3 e S4. Fonte: Guyton (1991)

O mecanismo esfincteriano compõe-se de duas partes, com variações

segundo o sexo. A uretra proximal junto ao colo vesical é constituída por

musculatura lisa representada por um prolongamento do detrusor e, por conseguinte

inervada pelo sistema nervoso vegetativo, sem controle voluntário e a cargo

fundamentalmente do sistema simpático (n.hipogástrico) com receptores alfa-

adrenérgicos, cuja estimulação provoca contração deste segmento uretral. 42

A uretra distal consiste de uma camada interna de musculatura lisa que vai

diminuindo distalmente e uma camada de musculatura estriada que vai aumentando

até o assoalho pélvico. A inervação será consequentemente mista: 1) vegetativa

(involuntária, simpática) e; 2) somática (voluntária, a cargo do nervo pudendo

interno) com seus núcleos medulares ao nível dos segmentos S2, S3 e S4. A fase de

continência é fundamentalmente simpática, quando ocorre inibição da inervação

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colinérgica e estimulação dos receptores beta-adrenérgicos (relaxadores) em nível

do detrusor. Na uretra ocorre estimulação dos receptores alfa-adrenérgicos. 42

Na fase de micção, os gradientes de pressão entre a bexiga e o sistema

esfincteriano se invertem e a pressão intravesical supera a esfincteriana. Esta fase é

fundamentalmente parassimpática e atua ao nível do detrusor, estimulando os

receptores colinérgicos e inibindo os receptores beta-adrenérgicos, e ao nível da

uretra, inibindo os receptores alfa-adrenérgicos. Durante a micção se produz um

relaxamento coordenado da musculatura estriada periuretral. 42

Em condições normais, todas as porções do trato urinário inferior funcionam

como uma unidade coordenada para um adequado armazenamento e esvaziamento

vesicais. A lesão neurológica ocasionada pela MMC afeta a inervação simpática,

parassimpática e o sistema nervoso somático sacral, determinando alterações

variáveis deste mecanismo. 43

As alterações da capacidade vesical podem estar relacionadas com distúrbios

na função do detrusor ou do mecanismo esfincteriano uretral. A bexiga pode ter

aumento do tônus secundário à diminuição da elasticidade ou hiperatividade do

detrusor. A incontinência pode ocorrer em vigência de tônus esfincteriano alterado

ou não. O incompleto esvaziamento vesical pode ser devido à hipoatividade ou

arreflexia do músculo detrusor, que parece ter relação com o comprometimento de

fibras eferentes parassimpáticas. Entretanto a ausência de relaxamento do colo

vesical ou do esfíncter externo no momento do esvaziamento pode ocorrer,

caracterizando assim a dissinergia vesicoesfincteriana. A lesão neurológica acima da

medula sacral, como por exemplo, no centro pontino ou córtex cerebral, pode causar

efeitos semelhantes. A falência muscular ocorre por hipertrofia do detrusor como

resultado de um funcionamento em regime de alta resistência. 43

3.3 ASPECTOS CLÍNICOS

A propedêutica de crianças com MMC deve iniciar com uma anamnese e

exame físico cautelosos. É fundamental saber se a micção acontece de forma

voluntária, espontaneamente ou através de manobras de Credé (compressão

manual da região suprapúbica). Devem ser coletadas informações sobre a presença

ou não de jato urinário, ou seja, se a urina apenas goteja ou existe um fluxo

contínuo; de perda urinária com o choro ou tosse; intervalo de tempo que a criança

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permanece sem molhar a fralda; ritmo de evacuações e controle fecal; e referência a

sensações próximas da micção.

Também é fundamental saber sobre a história de infecções do trato urinário

(ITU). As infecções recorrentes do trato urinário, devido ao resíduo urinário

persistente, podem causar dano renal através de reação inflamatória transmural e

conseqüente fibrose. 43

O exame da região perineal e perianal deve ser cuidadoso e incluir a pesquisa

da sensibilidade, assim como do tônus esfincteriano anal e a presença de reflexo

bulbocavernoso e anocutâneo. O reflexo bulbocavernoso pode ser avaliado

posicionando o dedo próximo do esfíncter anal externo enquanto se pressiona

rapidamente a glande ou o clitóris. Se o reflexo está presente, o esfíncter anal

externo contrairá. O reflexo anocutâneo é avaliado “arranhando” a pele pigmentada

adjacente ao orifício anal, que deve resultar em contração da musculatura perianal

quando presente. A inspeção do esfíncter anal, se aberto ou fechado, pode fornecer

dados para traduzir a função do assoalho pélvico, se hiperativo ou paralisado. É

importante saber que após o fechamento da MMC a musculatura do assoalho

pélvico e o músculo detrusor podem mudar de comportamento funcional, de

paralisado para hiperativo, nos dois primeiros meses de vida, razão pela qual exame

urodinâmico deve ser adiado para a idade de 2 meses. 43

A lesão neurológica nas mielodisplasias é um processo dinâmico e pode

sofrer mudanças durante a infância. 49 Se no decorrer do acompanhamento for

notada qualquer modificação do quadro neurológico, ortopédico ou nos achados

urodinâmicos, a reavaliação radiológica do SNC deve ser realizada. São causas

frequentes de piora: a) medula ancorada; b) seringo ou hidromielia; c) aumento da

hidrocefalia devido a distúrbios no funcionamento da derivação; d) herniação do

tronco cerebral e cerebelo. 53 Bowman, ao estudar um grupo de 71 pacientes

acompanhados prospectivamente, observou que 95% dos pacientes necessitaram

de pelo menos uma revisão da DVP, e 32% foram submetidos à cirurgia para

tratamento de medula ancorada, resultando em melhora ou estabilização dos

sintomas. 35

O esvaziamento incompleto da bexiga é um problema grave na bexiga

neurogênica. A urina residual predispõe à contaminação pela floral fecal,

aumentando as chances para infecção. As infecções do trato urinário podem ter o

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diagnóstico dificultado na MMC pela ausência de sinais clínicos como disúria ou

alterações da freqüência urinária.

3.4 AVALIAÇÃO LABORATORIAL

A avaliação anatômica e funcional do trato urinário é feita através da ultra-

sonografia, renogramas isotópicos, uretrocistografia miccional, exame urodinâmico,

e excepcionalmente por urografia excretora.

A ultra-sonografia (USG) do aparelho urinário com avaliação do resíduo pós-

miccional deve ser realizada tão precocemente quanto possível após o nascimento.

A capacidade vesical normal no período neonatal varia entre 10 a 15 mL e um

resíduo pós-miccional menor que 5 mL é aceitável. Além de fornecer as informações

iniciais sobre as alterações do trato urinário, sobretudo o superior, também serve

como parâmetro de comparação com avaliações subseqüentes fornecendo dados

para detecção precoce dos sinais de deterioração.

O exame urodinâmico é fundamental para o reconhecimento do

comportamento vesicoesfincteriano, podendo identificar as crianças com maior risco

para deterioração do trato urinário, assunto que terá destaque em sessão específica

na página 29.

A uretrocistografia miccional (UCM) faz parte da avaliação, sobretudo se a

USG mostrar hidronefrose, e quando o exame urodinâmico revela pressão

intravesical ou esfincteriana elevada. O exame mostra detalhes da forma, do

contorno e da capacidade vesicais, assim como detalhes da parede vesical,

presença de refluxo vesicoureteral (RVU) e resíduo pós-miccional, que é

considerado normal para volumes de até 10% da capacidade vesical estimada

(Figura 3). Urinocultura negativa deve preceder a realização deste exame.

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Figura 3: Uretrocistografia miccional. A) Bexiga alongada com irregularidades do contorno onde se observam trabeculações e pseudodivertículo e ausência de RVU. B) Bexiga de parede trabeculada com pseudodivertículos, com aspecto em “pinheiro” e RVU à esquerda. Fonte: Arquivo pessoal do autor

O estudo da função renal com radioisótopo ligado ao ácido

dimercaptossuccínico (DMSA) é um excelente exame para avaliar a função relativa

dos rins e detectar cicatrizes renais decorrentes de ITUs (Figura 4). Deve ser

realizada no início do acompanhamento para avaliação da função renal como

parâmetro para avaliações subsequentes.

Figura 4: Cintilografia renal com DMSA (vista posterior): A) Presença de hipocaptação difusa no rim esquerdo e rim direito com aspecto normal; B) Rim esquerdo com cicatriz no pólo superior e rim direito normal. Fonte: Arquivo pessoal do autor

A B

A B

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A dosagem de creatinina sérica deve ser solicitada a partir do sétimo dia de

vida. 2 O acompanhamento também deve incluir a uroanálise e urinocultura. É

importante ressaltar que bacteriúria assintomática é encontrada em 60 a 80% das

crianças, especialmente naqueles que fazem uso de CIL. Tipicamente esses

pacientes são assintomáticos e não necessitam tratamento com antibióticos. 45

3.5 ASPECTOS URODINÂMICOS

A realização do exame urodinâmico tem valor fundamental na avaliação da

função vesical, determinando assim o grupo de maior risco para deterioração do

trato urinário. 4, 38, 44 O exame deve ser realizado tão logo cesse o “choque medular”

que acontece após o fechamento do defeito, normalmente por volta da sexta

semana de vida. 45 É fundamental que a família e a criança recebam

antecipadamente todas as informações sobre os detalhes do procedimento.

A avaliação urodinâmica possibilita o conhecimento das funções vesicais e

esfincterianas descrevendo os parâmetros pressóricos e volumétricos nas fases de

enchimento e esvaziamento vesicais. Permite também avaliar a coordenação entre a

bexiga, a uretra e o mecanismo esfincteriano.

O exame é realizado através da passagem de um cateter transuretral

conectado a um transdutor de pressão que decodifica e registra digitalmente em um

microcomputador. O exame ideal é a cistometria de água e a eletromiografia do

esfíncter uretral externo. O termo cistometria é comumente usado para descrever a

investigação urodinâmica durante a fase de enchimento vesical. Obtêm-se então

informações sobre a atividade do músculo detrusor, a sensibilidade, complacência e

capacidade vesicais e pressão de perda vesical. A capacidade vesical estimada

pode ser calculada por diversas fórmulas. Seguimos a fórmula proposta por Koff,

que propõe para crianças com idade entre 2 e 11 anos [(idade em anos + 2) x 30],

expressa em mililitros e abaixo de 2 anos multiplica-se por 7 o peso do paciente em

kg. 46 Palmer et al sugerem que em crianças com mielodisplasia a capacidade

vesical é aproximadamente 25% menor do que nas crianças neurologicamente

normais em idade semelhante e pode ser calculada pela seguinte fórmula: [(24,5 x

idade em anos) + 62], expressa em mL. 47

A função normal do detrusor acompanha o enchimento vesical com pouca ou

nenhuma alteração da pressão vesical e sem contrações involuntárias. A

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hiperatividade do detrusor é caracterizada por contrações involuntárias envolvendo

elevação da pressão detrusora acima de 10 cm H2O. A complacência vesical

descreve a relação entre o volume vesical e a pressão do detrusor, sendo expressa

em mL/cm H2O. A eletromiografia é a parte do exame utilizada para avaliar o

esfíncter uretral externo e a musculatura do assoalho pélvico. Informa a atividade

esfincteriana e, portanto, possibilita verificar se há sinergia ou dissinergia entre o

complexo esfincteriano periuretral e a atividade do músculo detrusor.

O sistema de classificação proposto pela International Continence Society

(ICS) é, em essência, uma extensão do sistema da classificação urodinâmica. As

fases de enchimento e esvaziamento vesicais são descritos separadamente, e desta

forma, as diversas designações são aplicadas para descrever disfunções em áreas

específicas do mecanismo vesicoesfincteriano (Quadro 1). 48,49

O exame é considerado normal quando revela enchimento vesical sob baixa

pressão (até 10 cm H2O) com aumento temporário da pressão intravesical durante a

fase de esvaziamento e relaxamento da atividade do complexo esfincteriano uretral,

desencadeando micção e esvaziamento vesical completo. A hiperatividade do

detrusor durante a fase de enchimento pode ser espontânea ou provocada. Se esta

condição for causada por uma doença neurológica, o termo hiperatividade

neurogênica do detrusor é usado (previamente chamado hiperreflexia), se não,

hiperatividade idiopática é o termo aplicado. A bexiga é considerada hiperativa quando o padrão urodinâmico revela

contrações do detrusor durante a fase de enchimento, gerando aumento da pressão

detrusora acima de 15 cmH2O. A hipoatividade do detrusor é definida como uma

contração de magnitude ou duração inadequada. O incompleto esvaziamento vesical

pode ser devido a hipoatividade ou arreflexia do detrusor. Entretanto, o relaxamento

não sincrônico do colo vesical e esfíncter uretral externo pode produzir efeito

semelhante. A bexiga pode apresentar baixa complacência, quando perde a sua

capacidade de acomodação e a pressão intravesical se eleva com o aumento do

volume, ainda durante a fase de enchimento. Com isso, o trato urinário superior

(TUS) fica submetido a níveis pressóricos elevados por longo tempo. 43

A função uretral normal permite estimular o esfíncter voluntariamente para

interromper a micção. A bexiga pode ter aumento do tônus secundário à perda da

elasticidade do músculo detrusor (baixa complacência), hiperatividade por excessiva

estimulação ou estimulação não inibida do simpático, ou hiperatividade devido a

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lesões acima do segmento sacral, tronco cerebral ou córtex, que influenciam no arco

reflexo sacral.

Quadro 1: Classificação da International Continence Society baseada na disfunção em uma área especifica da estrutura vesicoesfincteriana. [Adaptado de Wein AJ] 49

FASES FUNÇÃO VESICAL FUNÇÃO URETRAL

ENCHIMENTO

Atividade do detrusor

• Normal ou estável • Hiperatividade

- Neurogênico - Idiopático

Sensibilidade vesical • Normal • Aumentada • Diminuída • Ausente

Capacidade vesical • Normal • Aumentada • Baixa

• Esfíncter normal • Esfíncter

incompetente

ESVAZIAMENTO

Atividade do detrusor

• Normal • Hipoativo • Arreflexo • Não contrátil

• Normal • Disfuncional

- Obstrução mecânica - Hiperatividade - Esvaziamento disfuncional - Dissinergia - Não relaxamento

Fonte: Wein (2007)

A incontinência pode ocorrer em qualquer destas condições, a despeito de um

nível normal de resistência do colo vesical e uretra. 43

Quanto à atividade esfincteriana, o mecanismo uretral pode ser hiperativo,

quando não há relaxamento durante a micção, ou incompetente quando está

ausente ou diminuída.

Quando estudadas a contratilidade vesical e a atividade do esfíncter externo,

descreveram-se três categorias de comportamento: sinergia, dissinergia com ou sem

hipertonicidade do detrusor e desnervação total. Sinergia é caracterizada por

completo “silêncio” do esfíncter externo durante a contração do detrusor ou quando

a bexiga alcança o final da fase de enchimento. A pressão de micção normalmente

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encontra-se em valores normais. A dissinergia ocorre quando o esfíncter externo

aumenta a sua atividade durante a contração do detrusor. Frequentemente

observam-se baixa complacência vesical, alta pressão intravesical e dissinergia

vesicoesfincteriana, resultando em uma bexiga que esvazia somente como resultado

de elevação da pressão intravesical. A desnervação total é vista quando se detecta

ausência de potencial bioelétrico na região do esfíncter externo em algum tempo

durante o ciclo miccional. 43

Dentro deste contexto, a distribuição dos pacientes em uma dessas

categorias tem sido útil para definir quais crianças apresentam risco elevado para

deterioração do trato urinário e que deveriam ser tratadas profilaticamente, as que

mereceriam vigilância mais rígida e as que poderiam ser acompanhados em

intervalos mais longos, sem risco para deterioração. 43

Estudos mostraram que 71% das crianças que apresentaram dissinergia

tiveram deterioração do trato urinário nos primeiros 3 anos de vida, enquanto apenas

17% dos que apresentaram sinergia e 23% dos casos de arreflexia apresentaram

achados semelhantes. 43 Em 1981, McGuire et al mostraram que a elevação da

pressão de perda acima de 40 cm H2O mostrou ser um preditor para deterioração do

trato urinário superior, dado que tem sido referido como parâmetro urodinâmico para

selecionar os grupos de alto e baixo risco. 38 Quando a pressão vesical é mantida

acima 40 cm H2O, a taxa de filtração glomerular diminui e a drenagem pieloureteral

deteriora, com consequente hidronefrose obstrutiva e/ou refluxo vesicoureteral

(RVU), aumentando assim o risco de ITU e falência renal. 50 Bauer em 1984,

identificou a dissinergia vesicoesfincteriana como importante fator de obstrução

vesical funcional e conseqüente deterioração do TUS. 4 A associação de

hiperatividade do detrusor com pressões acima de 40 cm H2O durante longo prazo

pode resultar em falência miogênica do detrusor (arreflexia) ou hipertrofia do

detrusor com formação de trabeculações e pseudodivertículos. 50

Atualmente, a forma mais sofisticada de avaliação dos pacientes com

disfunção miccional é a videourodinâmica, que envolve as bases do exame

urodinâmico aliado à visualização simultânea do trato urinário inferior através da

fluoroscopia. A videourodinâmica é indicada quando o diagnóstico da disfunção não

pode ser feito com precisão sem a simultânea avaliação da estrutura e

funcionamento do TUI. Com a utilização desta técnica, o examinador é capaz de

obter informações sobre o aspecto e função vesicais. O refluxo vesicoureteral e a

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condição funcional do colo vesical e esfíncter uretral podem ser identificas através

desta avaliação, assim como detalhes da anatomia da bexiga, incluindo

trabeculações, divertículos, forma da bexiga e colo vesical. É possível também

determinar com precisão as formas de dissinergia vesicoesfincteriana, se distal ou

proximal. 51

3.6 TRATAMENTO CLÍNICO

As prioridades do tratamento são a preservação do trato urinário e a

obtenção da continência urinária em idade apropriada. O tratamento precoce,

iniciado desde o nascimento, sobretudo nos pacientes considerados de alto risco, é

fundamental para a preservação das funções do trato urinário. 4,37,39,44,45

É consensual que o estudo urodinâmico pode identificar precocemente os

pacientes que apresentam maior risco de deterioração do trato urinário superior, nos

quais o tratamento instituído pode modificar a evolução da doença. 4,39,40,45

Em 1971, Lapides et al anunciaram o uso do cateterismo intermitente em

condições limpas, não estéreis, com a finalidade de promover o esvaziamento

periódico da bexiga. 29 Atualmente, constituem o principal instrumento no manuseio

clínico do trato urinário das crianças portadoras de MMC.

O tratamento clássico para os pacientes considerados de alto risco inclui a

associação do CIL para esvaziamento vesical periódico (a cada 3 horas) e o uso de

drogas anticolinérgicas. Esta conduta tem a finalidade de minimizar os efeitos

deletérios da elevada pressão intravesical como foi observado em mais de 50% de

pacientes que evoluíram com ITUs febris, cicatrizes renais, hidronefrose e refluxo

vesicoureteral antes dos 3 anos de idade. 41

A utilização de antimicrobianos profiláticos em baixas doses tem sido a rotina

em alguns serviços. Para lactentes até 3 meses de idade pode-se utilizar a

cefalexina na dose de 25mg/kg/dia, em dose única noturna. Após os 3 meses a

nitrofurantoína oferece boa proteção (1mg/kg/dia). Outra opção é a associação de

sulfametoxazol + trimetropim, na dose de 2mg de trimetropim e 10 mg de

sulfametoxazol /kg/dia, no entanto resistência bacteriana tem sido relatada. Em caso

de ITU febril o tratamento deve ser iniciado pela via intravenosa. O esvaziamento

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periódico da bexiga através de CIL constitui importante aliado na prevenção de ITU,

evitando a permanência de urina residual.

O CIL é necessário não só para preservação do trato urinário como também

para a obtenção da continência urinária social. A fase de treinamento dos pais é

fundamental na adesão e manutenção do tratamento, e deve ser feito por equipe

treinada. A sua utilização precoce aumenta o entendimento e a aceitação do

método pela família e o paciente. 4,44,45

O uso de drogas anticolinérgicas tem como finalidade aumentar a capacidade

funcional da bexiga. 4,45,51 A oxibutinina, o brometo de propantelina e o tartarato de

tolterodina são as drogas mais utilizadas. A oxibutinina é a mais utilizada em nosso

meio, habitualmente na dose de 0,2 a 0,4 mg/kg/dia, dividido em 3 doses. Nos casos

de intolerância gastrintestinal ou de efeitos colaterais importantes, tem a vantagem

de poder ser utilizada por via intravesical, com efeitos colaterais mínimos e boa

eficácia. 55,56

O tratamento farmacológico com anticolinérgicos é a primeira opção nos

casos de hiperatividade do detrusor ou baixa complacência vesical. Nos casos em

que o estudo urodinâmico demonstra graus variáveis de alteração da complacência

e esvaziamento vesical, medidas como esvaziamento vesical periódico por meio de

CIL, drogas anticolinérgicas e antimicrobianos profiláticos em casos selecionados,

geralmente são necessários para o controle e preservação da função renal.

Aproximadamente 90% dos pacientes apresentam bons resultados com a

associação do CIL e oxibutinina. 50

Koff et al estudaram um grupo de pacientes poliúricos que apresentou

deterioração do trato urinário mesmo após o uso regular do CIL e anticolinérgicos e

advogaram a hipótese de uma entidade que chamaram de “síndrome da

hiperdistensão noturna da bexiga”, que ocasionaria aumento da pressão intravesical

e que pode levar a ITUs, piora da incontinência, diminuição da complacência e

capacidade vesicais e persistência da hidronefrose. A utilização do cateterismo

noturno contínuo mostrou-se seguro e eficaz no controle da deterioração na maioria

dos pacientes estudados. 57

Nos pacientes que apresentam bexiga com baixa pressão e esvaziamento

vesical satisfatório, com resíduo pós-miccional reduzido, o trato urinário superior

raramente apresenta alterações significativas e poucas medidas terapêuticas

adicionais são necessárias com o intuito de preservá-lo. Os pacientes que

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apresentam estudo urodinâmico normal podem ser mantidos em observação e

seguidos com ultra-sonografia e estudo urodinâmico. 50

Do ponto de vista prático, quatro subtipos de maior importância podem ser

utilizados para descrever o comportamento vesicoesfincteriano: hiperatividade

esfincteriana combinada com hipoatividade do detrusor (tipo a) ou hiperatividade

(tipo b) e hipoatividade esfincteriana combinada com hipoatividade do detrusor (tipo

c) ou hiperatividade (tipo d) (Quadro 2). 50

Quadro 2: Classificação da bexiga neurogênica com 4 subtipos (a-d) de acordo com a atividade disfuncional do esfíncter e detrusor. Para cada subtipo são descritas resumidamente as implicações clínicas, na ausência de tratamento, e os princípios da terapêutica. 50

TIPO

DISFUNÇÃO

CONSEQUÊNCIAS

TRATAMENTO

Hiperatividade esfincteriana +

Hipoatividade do detrusor

Risco para o TUS ITU Incontinência

CIL

Hiperatividade esfincteriana +

Hiperatividade do detrusor

(Dissinergia)

Risco para o TUS ITU RVU

CIL +

Oxibutinina

Hipoatividade esfincteriana +

Hipoatividade do detrusor

Sem risco para o TUS Incontinência

CIL +

Cirurgia de colo vesical

Hipoatividade esfincteriana +

Hiperatividade do detrusor

Risco para o TUS Incontinência

CIL +

Oxibutinina +

Cirurgia de colo vesical

Abreviaturas: TUS - trato urinário superior. CIL – cateterismo intermitente limpo. ITU – infecção do trato urinário. RVU – refluxo vesicoureteral. Fonte: Verpoorten (2008). 50

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3.7 TRATAMENTO CIRÚRGICO

O tratamento cirúrgico fica reservado para os casos com alterações graves do

trato urinário, os refratários ao tratamento clínico ou com finalidade de promover a

continência urinária.

A injeção de toxina botulínica no músculo detrusor tem se mostrado eficaz

nos casos que não responderam satisfatoriamente ao tratamento. Esta alternativa

deve ser considerada no sentido de postergar ou evitar um procedimento cirúrgico. 58,59

Nos casos em que o exame urodinâmico mostrou alterações relevantes ou

na persistência de evolução desfavorável com as medidas previamente descritas,

podem ser necessárias derivações urinárias temporárias por meio de vesicostomia

ou pielostomia.

A reconstrução urinária tem sido cada vez mais empregada nos casos em que

a disfunção miccional representa a causa da deterioração progressiva da função

renal. Por outro lado, a dificuldade em acessar a uretra nas meninas, o desconforto

causado pelo cateterismo transuretral, principalmente em meninos com sensibilidade

preservada, e a incontinência urinária constituem indicações para cirurgias de

ampliação vesical e confecção de derivações urinárias continentes, com a finalidade

de criar um reservatório de adequada capacidade e pressão e promover o

esvaziamento periódico da bexiga.

O fator mais importante que influencia nos resultados das reconstruções do

trato urinário é reconhecer que cada paciente apresenta necessidades terapêuticas

individuais. A família e o paciente devem estar conscientes dos benefícios e riscos

do procedimento e serem capazes de realizar os cuidados necessários.

Diversas técnicas cirúrgicas são empregadas com o intuito de aumentar a

capacidade e diminuir a pressão vesical. Os segmentos intestinais constituem uma

excelente alternativa para a realização de ampliações vesicais, as chamadas

enterocistoplastias. Segmentos de íleo e sigmóide detubulizados são os mais

empregados, com resultados satisfatórios (Figura 5). 60,61

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Figura 5: Ampliação vesical (ileocistoplastia). A) Segmento ileal de 20 a 40 cm é preparado com

preservação do pedículo vascular, 15 cm acima da válvula ileocecal, seguido por reconstituição do

trânsito. B) Abertura do segmento ileal que poderá ser reconfigurado em U, S ou W. C) O segmento

ileal reconfigurado é anastomosado à cúpula vesical previamente aberta. Fonte: Adams (2007) 62

Nas crianças que apresentam baixa resistência uretral pode ser necessária a

associação de um procedimento de aumento desta resistência com a finalidade de

alcançar a continência. Existem várias técnicas com esta finalidade, que incluem o

implante de esfíncter artificial e diversas técnicas cirúrgicas de plástica do colo

vesical. 63,64

A descrição feita pelo urologista francês Paul Mitrofanoff de que o apêndice

poderia ser utilizado como canal de cateterização, permitindo um estoma cutâneo

continente, revolucionou a urologia reconstrutiva do trato urinário inferior. Levou ao

desenvolvimento de um principio que passou a receber o seu próprio nome (Figura

6). 65 Quando o apêndice não estiver disponível, podem-se utilizar outras propostas

com o ureter, a trompa de Falópio e segmento de íleo tubularizado. 66-68

Contribuição semelhante pode ser atribuída à criação do estoma continente

proposta por Malone. A estratégia de construir um conduto cutâneo cateterizável no

cólon direito, com a utilização do apêndice, proporcionou uma excelente opção para

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aplicação de enemas anterógrados, permitindo períodos maiores sem perdas fecais

e melhor controle da constipação grave observada em alguns casos. 69 Com base

neste princípio, alternativas semelhantes com esta finalidade foram desenvolvidas

para criação de estomas continentes no cólon esquerdo, objetivando assim a

redução do tempo e volume de solução para a realização dos enemas. 65,66,70

Figura 6: Principio de Mitrofanoff. Estoma vesico-cutâneo para cateterização da bexiga. O apêndice é interposto entre a cúpula da bexiga e a cicatriz umbilical, facilitando assim o auto-cateterismo. Fonte: Arquivo pessoal do autor

Diversas alternativas foram desenvolvidas na tentativa de minimizar os efeitos

deletérios ocasionados pela mucosa intestinal secretiva. A utilização de retalhos

desprovidos de mucosa intestinal tem sido utilizada por alguns autores, porém ainda

necessitam estudos controlados de longo prazo. 73,74 Apesar da vasta experiência

publicada na literatura, o uso de segmentos do trato digestivo tem demonstrado

estar longe de representar o material ideal para ampliação vesical. Diversos estudos

têm demonstrado complicações precoces e a médio e longo prazo. Considerações

devem ser feitas para a possibilidade de distúrbios hidreletrolíticos, sobretudo em

pacientes com função renal comprometida. Em médio e longo prazo têm sido

observadas complicações relacionadas a infecções, formação de cálculos e tumores. 71-75

A utilização do cateterismo intermitente limpo e a ampliação vesical com alça

intestinal promoveram a continência urinária e evitaram a progressão da lesão renal,

melhorando assim a qualidade e expectativa de vida destes pacientes.

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3.8 ACOMPANHAMENTO

Uma vez iniciado o tratamento da bexiga neurogênica, é importante o

acompanhamento multidisciplinar periódico, que deve ser feito a cada três meses.

Estudos mostraram que 71% das crianças que apresentaram dissinergia

tiveram deterioração do trato urinário nos primeiros 3 anos de vida, enquanto apenas

17% dos que apresentaram sinergia e 23% dos casos de arreflexia apresentaram

achados semelhantes. 43

Em 1981, McGuire et al mostraram que a elevação da pressão de perda

acima de 40 cm H2O revelou ser um preditor para deterioração do trato urinário

superior, dado que tem sido referido como parâmetro urodinâmico para selecionar os

grupos de alto e baixo risco. 38 Quando a pressão intravesical excede 40 cm H2O, a

taxa de filtração glomerular diminui e a drenagem pieloureteral deteriora, com

conseqüente hidronefrose obstrutiva ou RVU , aumentando assim o risco de ITU e

falência renal. 50

Em 1984, Bauer et al apontaram a dissinergia vesicoesfincteriana como

importante fator de obstrução vesical funcional e conseqüente deterioração do TUS.4

A associação de hiperatividade do detrusor, com pressões intravesicais acima de 40

cm H2O pode resultar em falência miogênica (arreflexia) ou hipertrofia do detrusor

com formação de trabeculações e pseudodivertículos. 50

Durante o seguimento ambulatorial devem ser solicitadas dosagens séricas

de uréia e creatinina, exames de urina (Elementos anormais de sedimentação - EAS

e urinocultura) e USG do trato urinário em todas as consultas. A deterioração ou

proteção da função renal pode ser avaliada radiologicamente por USG e UCM, pela

cintilografia com DMSA e pela taxa de filtração glomerular. Mais tardiamente, o

clearance da creatinina pode ser utilizado para pacientes socialmente continentes. 47

Diante de ITUs recorrentes, a UCM deve ser repetida para afastar

possibilidade de aparecimento ou piora de RVU. A avaliação urodinâmica deve ser

repetida periodicamente para verificar os resultados do tratamento instituído (Figura

7).

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Figura 7: Evolução representativa de caso. A) Pressão intravesical elevada e RVU grau IV à esquerda + trabeculações vesicais. B e C) resultados após tratamento com CIL e oxibutinina. Observar a melhora do padrão urodinâmico e da capacidade vesical e o controle do RVU. Fonte: Verpoorten (2008). 47

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4 OBJETIVOS

O objetivo geral desta pesquisa foi estudar os aspectos clínicos, cirúrgicos e o

seguimento de um grupo de crianças portadoras de bexiga neurogênica decorrente

de MMC, acompanhados nos serviços de Neurocirurgia, Ortopedia, Nefrologia,

Urologia e enfermagem especializada do Hospital Municipal Jesus.

Os objetivos específicos foram:

1. Descrever a distribuição etária e de gênero;

2. Descrever a MMC quanto à localização anatômica e associação com

hidrocefalia e derivação ventrículo-peritoneal;

3. Descrever os resultados dos exames urodinâmicos, ultra-sonografias,

uretrocistografias miccionais e cintilografias renais;

4. Descrever os aspectos clínicos (infecções urinárias, insuficiência renal);

5. Dividir a amostra em 2 grupos de acordo com o risco de deterioração do trato

urinário;

6. Correlacionar os aspectos clínicos, laboratoriais e terapêuticos entre os dois

grupos.

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5 METODOLOGIA

5.1 TIPO DE ESTUDO Trata-se de um estudo descritivo, retrospectivo realizado através da busca

ativa de prontuários de crianças portadoras de bexiga neurogênica associada à

MMC, acompanhados nos Serviços de Neurocirurgia, Ortopedia, Nefrologia e

Urologia Pediátrica do Hospital Municipal Jesus – Rio de Janeiro.

5.2 PERÍODO

Crianças acompanhados no serviço multidisciplinar no período de janeiro de

1998 a julho de 2008.

5.3 ESTRATÉGIA DE BUSCA E IDENTIFICAÇÃO DOS PACIENTES

Os pacientes foram identificados através da busca ativa do CID de bexiga

neurogênica em atendimentos ambulatoriais e através do arquivo do Serviço de

Educação e Treinamento em cateterismo vesical .

5.4 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO

Os critérios de inclusão para o recrutamento dos pacientes foram:

a) Crianças com idade entre 1 a 14 anos, portadoras de bexiga neurogênica

decorrente de MMC;

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b) Pacientes em acompanhamento no programa multidisciplinar de tratamento

da MMC e bexiga neurogênica no Hospital Municipal Jesus.

Foram excluídos os pacientes portadores de bexiga neurogênica decorrente

de outras causas e crianças cujos prontuários não apresentavam informações

suficientes.

5.5 VARIÁVEIS ESTUDADAS

As variáveis estudadas foram divididas em dados da avaliação neurológica e

nefro-urológica.

Na avaliação neurológica os seguintes dados foram descritos:

1. Localização anatômica da MMC. 2. Presença de hidrocefalia e DVP. 3. Função motora dos membros inferiores.

Na avaliação nefro-urológica os seguintes dados foram descritos:

1. Idade em que se iniciou o tratamento nefro-urológico.

2. Resultados do exame urodinâmico e idade no momento da primeira

avaliação.

3. Avaliação ultra-sonográfica do trato urinário.

4. Avaliação da função renal pela cintilografia com DMSA.

5. Resultados da uretrocistografia miccional.

6. Recorrência de ITU.

7. Medidas terapêuticas empregadas (antibióticos profiláticos,

cateterismo intermitente limpo, drogas anticolinérgicas e

procedimentos cirúrgicos).

5.6 CLASSIFICAÇÃO DOS CASOS

Após levantamento global dos dados disponíveis sobre a evolução clínica e

exames complementares, identificamos um grupo de pacientes com achados

urodinâmicos compatíveis com evolução desfavorável de acordo com a literatura

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previamente apresentada. Os pacientes enquadrados neste grupo, aqui

denominados “grupo de risco”, apresentavam pelo menos um dos achados descritos

abaixo na avaliação urodinâmica.

1. Pressão de perda maior que 40 cm H2O.

2. Baixa complacência vesical.

3. Dissinergia vesicoesfincteriana.

Os demais pacientes que não apresentaram nenhum destes parâmetros foi

denominado “grupo controle” que incluiu crianças com complacência vesical normal,

associada a hiper ou hipoatividade do detrusor.

5.7 COLETA DE DADOS E ANÁLISE ESTATÍSTICA

Foi elaborado um protocolo de estudo previamente apreciado e aprovado pelo

Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro.

Todos os prontuários foram analisados pelo pesquisador.

A análise estatística dos dados foi realizada através do programa SPSS, versão

11.0. Utilizou-se como nível de significância estatística um p < 0,05. Os seguintes

testes estatísticos foram calculados: teste do qui-quadrado de Pearson e odds ratio

com intervalo de confiança de 95%.

5.8 ASPECTOS ÉTICOS

O presente estudo foi submetido a avaliação pela Comissão de Ética em

Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (CEP SMS-RJ)

constituído nos Termos da Resolução CNS no 196/96, devidamente registrado na

Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), tendo sido aprovado sob o

protocolo de pesquisa no 210/07.

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6 RESULTADOS

Durante a fase de coleta dos dados, houve dificuldade em obtermos todas as

informações previstas no protocolo de pesquisa. Dados sobre a condição motora dos

membros inferiores e realização de DVP não foram mencionados em muitos

prontuários, que frequentemente continham apenas relatos sucintos de

acompanhamento em outros serviços. Os exames laboratoriais, sobretudo a

urodinâmica e cintilografia renal, foram realizados em outras instituições, o que

talvez justificasse a ausência deste dado em alguns prontuários. Durante a fase de

coleta de dados notamos ainda que, em muitos pacientes, o acompanhamento

nefro-urológico foi irregular.

6.1 DADOS DEMOGRÁFICOS

Foram analisados os prontuários de 105 crianças tratadas no período de

janeiro de 1998 a julho de 2008. Foram excluídos 11 pacientes por insuficiência de

dados; desse modo, esta série conta com 94 crianças. A distribuição por gênero

mostrou 49 (52,1%) meninas e 45 (47,9%) meninos. No momento da análise dos

dados, a idade média dos pacientes foi de 8,8 anos e a mediana de 9 anos, com

faixa de 1 a 14 anos. O desvio padrão foi de 3,52.

6.2 AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA

A localização anatômica dos casos estudados mostrou: lombossacral em 57

(60,6%), lombar em 18 (19,1%), tóraco-lombar em 14 (14,9%) e torácica em 5

(5,3%). A idade média no momento da cirurgia da correção da MMC foi de 7,3 dias e

a mediana de 5 dias (faixa,1 a 60 dias de vida).

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Hidrocefalia foi mencionada em 75 (79,8%) prontuários, dos quais 68 (90,7%)

pacientes foram submetidos à DVP e 7 (9,3%) não necessitaram de DVP. Em 19

(20,2%) prontuários este dado não foi mencionado.

A função motora dos membros inferiores foi avaliada no momento da

correção cirúrgica da MMC em 58 (61,7%) pacientes e revelou: paraplegia em 38

(65,5%) e paraparesia em 20 (34,5%). Em 36 (38,3%) prontuários este dado não foi

detalhado. Em avaliação ortopédica posterior havia relato de deambulação com

auxilio de órteses em 10 (10,6%) e 18 (19,1%) cadeirantes. Os demais pacientes

(66/94) faziam acompanhamento ortopédico em outros serviços e não constavam

informações sobre as habilidades motoras dos pacientes.

6.3 AVALIAÇÃO URODINÂMICA

O primeiro exame urodinâmico foi realizado em média aos 43,8 meses de

idade (faixa de 1 mês a 120 meses). Os resultados do exame foram documentados

no prontuário em 80 (85,1%) pacientes. Os exames mostraram: pressão de perda

maior que 40 cm H2O em 35 (43,8%) pacientes, baixa complacência vesical em 18

(22,5%), complacência vesical normal associada à hiperatividade do detrusor em 23

(28,8%) e associada à hipoatividade em 4 (5,0%). Dissinergia vesicoesfincteriana foi

mencionada em apenas 4 casos.

6.4 AVALIAÇÃO ULTRA-SONOGRÁFICA

A USG inicial revelou exame normal em 44/94 casos (46,8%), bexiga de

parede espessada em 21 (22,3%), hidronefrose unilateral em 10 (10,6%),

hidronefrose bilateral em 10 (10,6%), uretero-hidronefrose bilateral em 4 (4,3%),

uretero-hidronefrose unilateral em 1 (1,1%), redução do parênquima renal em 1 (1,1

%), pseudodivertículo vesical e parede vesical trabeculada em 2 (2,1%) e elevado

resíduo pós-miccional em 3 (3,3%).

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6.5 AVALIAÇÃO CINTILOGRÁFICA

Cintilografias renais com DMSA foram documentadas em 44 (46,8%)

pacientes, com as seguintes características: 18 (40,9%) exames normais,

hipocaptação focal/difusa bilateral em 16 (36,4%), hipocaptação focal/difusa

unilateral em 7 (15,9%) e exclusão funcional unilateral em 3 (6,8%).

6.6 URETROCISTOGRAFIA MICCIONAL

Durante o seguimento, foram realizadas UCM em 85 (90,4%) pacientes, que

mostraram os seguintes resultados: exame normal em 24 pacientes (28,3%),

elevado resíduo pós-miccional em 15 (17,6%), bexiga de parede trabeculada em 14

(16,5%), pseudodivertículos em 11 (13,0%), RVU unilateral em 13 (15,3%), bilateral

em 6 (7,0 %) e bexiga hipotônica em 5 (5,9%).

6.7 TRATAMENTO CLÍNICO

A análise dos prontuários médicos permitiu deduzir que muitos dos pacientes

não freqüentavam os ambulatórios com a regularidade esperada.

A idade da primeira consulta na nefrologia foi realizada no primeiro ano de

idade em 55 (58,5%) crianças e após 1 ano em 39 (41,5%).

O tratamento clínico foi baseado nos seguintes aspectos: esvaziamento

periódico da bexiga através de cateterismo intermitente limpo (CIL) a cada 3 horas,

anticolinérgicos e antimicrobianos profiláticos por via oral. A oxibutinina foi indicada

nos pacientes que apresentaram hiperatividade do detrusor e baixa complacência

vesical.

O CIL foi iniciado no primeiro ano de vida em apenas 14 (14,9%) pacientes e

após 1 ano em 72 (76,6%), 47 dos quais após os 3 anos. Não havia relato do uso de

CIL em 8 (8,5%) pacientes. Todos os pacientes receberam antimicrobianos

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profiláticos. O esquema profilático com sulfametoxazol + trimetropim foi utilizado na

maioria dos pacientes, por ser o antibiótico mais acessível em nosso meio.

Encontramos ITU recorrente em 66 (70,2%) pacientes.

6.8 TRATAMENTO CIRÚRGICO

Dos 94 pacientes acompanhados, 13 (13,8%) necessitaram de um ou mais

procedimentos cirúrgicos: 5 vesicostomias, 7 ampliações vesicais, 5 procedimentos

de Mitrofanoff, 1 pielostomia, 1 reimplante ureteral, 2 procedimentos de Malone e 1

cirurgia para correção do colo vesical.

6.9 CLASSIFICAÇÃO DOS CASOS

Após levantamento global dos dados urodinâmicos disponíveis em 80 casos,

identificamos um grupo de pacientes com parâmetros de risco para o trato urinário

superior, de acordo com a literatura previamente apresentada, denominado “grupo

de risco” neste estudo, que apresentavam pressão de perda > 40 cm H2O, baixa

complacência vesical ou dissinergia vesicoesfincteriana.

Os demais pacientes que não apresentaram nenhum destes parâmetros foi

denominado “grupo controle”, que apresentavam complacência vesical normal

associada a hiperatividade ou hipoatividade do detrusor.

6.9.1 Grupo de risco

Os pacientes enquadrados neste grupo apresentavam pelo menos um dos

seguintes achados urodinâmicos: pressão de perda maior que 40 cm H2O, baixa

complacência vesical ou dissinergia vesicoesfincteriana.

Este grupo incluiu 53/80 (66,2%) crianças, 28/53 (52,8%) meninos e 25

(47,2%) meninas. A distribuição com base na localização anatômica da MMC foi:

lombossacral em 28 (52,8%), lombar em 11 (20,8%), tóraco-lombar em 10 (18,8%)

e torácica em 4 (7,6%).

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Hidrocefalia foi mencionada em 42/53 prontuários, 37 (88,0%) pacientes

foram submetidos à DVP e 5 (12%) não necessitaram de DVP. Em 11/53 (20,8%)

prontuários este dado não foi mencionado (Tabela 1).

A primeira consulta na nefrologia foi realizada nos primeiros 6 meses de vida

em 28/53 (52,7%) crianças, entre 6 meses e 1 ano em 5 (9,5%) e após 1 ano de

idade em 20 (37,8%).

A avaliação urodinâmica revelou: baixa complacência vesical em 18 (34,0%)

pacientes e pressão de perda >40 cm H2O em 35 (66,0%) pacientes. Dissinergia

vesicoesfincteriana foi mencionada em apenas 4 casos, não excludentes.

A USG no início do acompanhamento revelou os seguintes resultados: exame

normal em 24 (45,3%) pacientes; hidronefrose unilateral em 4 (7,5%), e bilateral em

6 (11,3%); uretero-hidronefrose unilateral em 1 (1,9%), e bilateral em 2 (3,8%);

bexiga de parede espessada em 15 (28,3%), pseudodivertículos e/ou trabeculações

em 1 (1,9%), e elevado resíduo pós-miccional em 1 (1,9%), não excludentes.

A avaliação pela UCM foi mencionada em 46/53 casos e revelou: exame

normal em 14 (30,5%) pacientes; bexiga de parede trabeculada ou

pseudodivertículos em 17 (37,0%); RVU unilateral em 9 (19,6%); RVU bilateral em 3

(6,5%); bexiga hipotônica em 2 (4,4%); e resíduo pós-miccional elevado em 6

(13,0%). Em alguns pacientes havia associação de uma ou mais alterações (Tabela

4).

A cintilografia renal com DMSA foi mencionada em 25/53 (47,2%) prontuários

e revelou: exame normal em 11/25 (44,0%); hipocaptação focal/difusa unilateral em

3 (12,0%) e bilateral em 8 (32,0%), e exclusão renal funcional unilateral em 3

(12,0%) (Tabela 5).

O CIL foi iniciado no primeiro ano de vida em 9/53 (17,0%) pacientes e após

1 ano de idade em 42 (79,0%) pacientes, 31 dos quais após os 3 anos de idade.

Não havia relato do uso do CIL em 2 (4%) pacientes (Tabela 6).

Avaliações com USG, DMSA, exame urodinâmico e dosagens de creatinina

sérica foram realizadas ao longo do seguimento.

Todos os pacientes fizeram uso de antimicrobianos profiláticos; 32 (60,4%)

pacientes iniciaram o uso no primeiro ano de vida e 21 (39,6%) após este período.

Infecção do trato urinário recorrente foi observada em 42/53 (79,3%) pacientes

(Tabela 7).

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No grupo de risco, 9/53 (17,0%) pacientes necessitaram de um ou mais

procedimentos cirúrgicos. Foram realizadas: ampliação vesical + procedimento de

Mitrofanoff em 3 pacientes, ampliação vesical em 2, vesicostomia em 5, pielostomia

em 1, cirurgia de colo vesical em 1, reimplante ureteral em 1 e procedimento de

Malone em 1 (Tabela 8).

Observamos que, de 25 casos avaliados pelo DMSA neste grupo, 11 (44,0%)

apresentavam lesões renais bilaterais graves (Tabela 7).

Observamos que 3 (5,7%) pacientes evoluíram para insuficiência renal

crônica e um deles encontra-se em programa de hemodiálise (Tabela 7).

6.9.2 Grupo controle No grupo controle havia 27 pacientes, sendo 13 (48,2%) meninos e 14

(51,8%) meninas.

A localização anatômica da MMC foi lombossacral em 17 (63,0%), lombar em

7 (25,9%), tóraco-lombar em 2 (7,4%) e torácica em 1 (3,7%). Hidrocefalia foi

notificada em 19/27 prontuários; 17 (89,5%) pacientes foram submetidos a DVP e 2

(10,5%) não foram submetidos. Em 5/27 (18,5%) prontuários este dado não foi

mencionado (Tabela 1).

A primeira consulta no serviço de nefro-urologia ocorreu nos primeiros 6

meses em 9/27 (33,4%) pacientes e entre 6 meses e 1 ano em 5 (18,5%). Em 13

(48,1%) pacientes, a primeira consulta ocorreu após 1 ano de idade.

A avaliação ultra-sonográfica feita antes do início do tratamento revelou:

exame normal em 14 (51,9%) pacientes, hidronefrose unilateral em 5 (18,5%),

uretero-hidronefrose bilateral em 1 (3,7%) e bexiga de parede espessada em 7

(25,9%).

A avaliação pela UCM foi mencionada em 26 casos e revelou: exame normal

em 9 pacientes (34,6%), trabeculações vesicais e pseudodivertículos em 7 (26,9%),

RVU unilateral em 1 (3,8%) e bilateral em 2 (7,6%): bexiga hipotônica em 1 (3,8%) e

resíduo pós-miccional elevado em 6 (23,0%), achados não excludentes.

Cintilografia renal com DMSA foi mencionada em 13/27 (48,2%) casos e

revelou: exame normal em 6 (46,2%) pacientes, hipocaptação focal ou difusa

unilateral em 3 (23,0%) e bilateral em 4 (30,8%).

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O CIL foi iniciado no primeiro ano de vida em 3 (11,1%) pacientes apenas e

após o primeiro ano em 19 (70,4%) pacientes, 17 dos quais iniciaram o CIL após os

3 anos de idade. Cinco pacientes (18,5%) não faziam uso do CIL.

ITU recorrente foi observada em 16/27 (59,3%) pacientes.

Três (11,1%) pacientes foram submetidos a procedimentos cirúrgicos. Foram

realizadas 1 vesicostomia, 2 cirurgias de ampliação vesical, uma delas com

procedimento de Mitrofanoff (Tabela 8).

Houve apenas 1 (3,7%) caso de insuficiência renal crônica até o final deste

estudo. Na avaliação cintilográfica da função renal pelo DMSA identificamos 4/13

(30,8%) pacientes com lesão renal grave neste grupo (Tabela 7).

A tabela 1 mostra a distribuição proporcional entre os grupos de risco e

controle segundo o gênero, localização anatômica da MMC, presença de

hidrocefalia e realização de DVP.

Tabela 1: Distribuição entre os grupos de risco e controle segundo o gênero, localização anatômica da MMC, hidrocefalia e DVP.

Grupo de

Risco (n=53)

Grupo

Controle (n=27)

Total (n=80)

Gênero

Masculino

Feminino

28 (48,4%)

25 (51,6%)

13 (48,2%)

14 (51,8%)

41 (51,3%)

39 (48,7%)

Localização anatômica da MMC

Lombossacral

Lombar

Tóraco-lombar

Torácica

28 (52,8%)

11 (20,8%)

10 (18,8%)

4 (7,6%)

17(63,0%)

7 (25,9%)

2 ( 7,4%)

1 (3,7%)

45 (56,2%)

18 (22,5%)

12 (15,0%)

5 (6,3%)

Hidrocefalia

+ DVP

Sim

Não

Não informado

37 (88,0%)

5 (12,0%)

11 (20,8%)

17 (89,5 %)

2 (10,5%)

8 (29,6%)

54 (88,5%)

7 (11,5%)

19 (23,8%)

Fonte: Resultados da pesquisa

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Tabela 2: Resultados da avaliação urodinâmica relatada em 80 casos. Distribuição dos grupos de acordo com o tipo de disfunção encontrada na primeira avaliação.

Disfunção

Grupo de risco

n=53

Grupo controle

n=27

Complacência normal + Hiperatividade do

detrusor

0

23 (28,8%)

Complacência normal +

Hipoatividade do detrusor

0

4 (5,0%)

Baixa complacência

vesical

18 (22,5%)

0

Pressão de perda

> 40 cm H2O

35 (43,8%)

0

Total de exames

53

27

Fonte: Resultados da pesquisa

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Tabela 3: Dados da avaliação ultra-sonográfica inicial. Total de 80 casos distribuídos entre os grupos de risco e controle.

Resultados

Grupo de Risco

n=53

Grupo Controle

n=27

Normal

24 (45,3%)

14 (51,9%)

HN unilateral

4 (7,6%)

5 (18,5%)

HN bilateral

6 (11,3%)

0

UHN unilateral

1 (1,9%)

0

UHN bilateral

2 (3,8%)

1 (3,7%)

Bexiga com parede espessada

15 (28,3%)

7 (25,9%)

Trabeculações/pseudodivertículos

1 (1,9%)

0

Elevação do resíduo pós-miccional

1 (1,9%)

0

Total de exames

53

27

Abreviaturas: HN – hidronefrose. UHN - uretero-hidronefrose. Fonte: Resultados da pesquisa

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Tabela 4: Comparação das alterações da UCM em cada grupo. Total de 72 pacientes examinados.

Resultados

Grupo de Risco

n=53

Grupo Controle

n=27

Normal

14 (30,5%)

9 (34,6%)

RVU unilateral

9 (19,6%)

1 (3,8%)

RVU bilateral

3 (6,5%)

2 (7,6%)

Trabeculações vesicais e

Pseudodivertículos

17(37,0%)

7 (26,9%)

Resíduo pós-miccional elevado

6(13,0%)

6 (23,0%)

Bexiga Hipotônica

2 (4,4%)

1 (3,8%)

Total de pacientes examinados

46

26

Abreviatura: RVU = Refluxo vesicoureteral Fonte: Resultados da pesquisa

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Tabela 5: Diferenças entre o grupo de risco e grupo controle na cintilografia renal com DMSA. Total de 38 exames.

Resultados

Grupo de Risco

n=53

Grupo Controle

n=27

Normal

11 (44,0%)

6 (46,2%)

Hipocaptação focal/difusa

unilateral

3 (12,0%)

3 (23,0%)

Hipocaptação focal/difusa

bilateral

8 (32,0%)

4 (30,8%)

Exclusão Renal unilateral

3 (12,0%)

0

Total de exames

25

13

Fonte: Resultados da pesquisa

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Tabela 6: Distribuição entre os grupos: idade do inicio do tratamento.

Grupo de

Risco n=53

Grupo

Controle n=27

Início do

tratamento: CIL +

Oxibutinina + antimicrobianos

1º ano de vida

Após 1º ano

Não relatado

9 (17,0%)

42 (79,0%)

2 (4,0%)

3 (11,1%)

19 (70,4%)

5 (18,5%)

Abreviaturas: CIL: cateterismo intermitente limpo Fonte: Resultados da pesquisa Tabela 7: Distribuição entre os grupos: Taxas de recorrência de ITU, IRC e evolução desfavorável.

Grupo de

Risco n=53

Grupo

Controle n=27

p *

Recorrência de

ITU

42 (79,3%)

16 (59,3%)

0,040

Insuficiência renal crônica

3 (5,7%)

1 (3,7%)

0,704

Prognóstico desfavorável

DMSA

Lesões graves

11/25 (44,0%)

4/13 (30,8%)

0,429

* p obtido pelo teste do Qui-quadrado de Pearson. Abreviaturas: ITU – infecções do trato urinário. IRC – insuficiência renal crônica. Fonte: Resultados da pesquisa

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Tabela 8: Análise comparativa das taxas de intervenções cirúrgicas.

Procedimento

Grupo de Risco

n=53

Grupo Controle

n=27

p *

Vesicostomia

5

1

Pielostomia

1

0

Ampliação Vesical

2

1

Ampliação vesical +

Mitrofanoff

3

0

Mitrofanoff

0

1

Malone

1

0

Reimplante ureteral

1

0

Procedimento para

colo vesical

1

0

Total de pacientes

9 (17,0 %)

3 (11,1%)

0,487 *

* p obtido pelo teste do Qui-quadrado de Pearson. Fonte: Resultados da pesquisa

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7 DISCUSSÃO

Uma pesquisa no banco de dados Medline em 09/01/2009 encontrou um

único artigo de revisão brasileiro contendo série de casos de disrafismo espinal e

nenhum artigo brasileiro sobre bexiga neurogênica. 81,82 Assim, acreditamos que

esta pesquisa representa a segunda série brasileira e a primeira no estado do Rio de

Janeiro.

A sobrevida em portadores de MMC melhorou bastante nos últimos anos, no

entanto, mesmo em países desenvolvidos somente 50% das crianças chegarão aos

35 anos de idade. Todos os aspectos físicos deterioram com a idade. 77

Em qualquer idade, insuficiência renal é a principal causa de morte. Em

crianças, o risco de insuficiência renal é diretamente relacionado ao nível sensitivo

da lesão, sendo raro em níveis sensoriais abaixo de L4 e comum acima de T10. 80 Em

um estudo realizado no Reino Unido envolvendo 695 adultos portadores de MMC

observou-se que um terço dos pacientes havia morrido de insuficiência renal. 79

Em contundente publicação, Woodhouse revela a realidade sombria das

crianças portadoras de MMC que chegam à adolescência e à idade adulta. A

maioria dos pacientes é confrontada com saúde precária, que se reflete em alta taxa

de mortalidade por doenças renais, cardiovasculares e pulmonares; deficiência de

habilidades ocupacionais, profissionais e no desempenho escolar; integração social

insatisfatória e uma série de questionamentos a respeito de aspectos relacionados à

sexualidade e fertilidade. As funções do trato urinário tendem a piorar com o tempo e

as intervenções cirúrgicas tornam-se progressivamente mais difíceis na vida adulta.

Em muitos casos o nefrologista pediátrico é convocado em uma fase muito tardia,

quando as lesões renais já estão instaladas, condição esta inaceitável nos dias

atuais. Portanto, é essencial que os pais do paciente portador de MMC recebam

todas as informações a respeito do manuseio da bexiga neurogênica, e o paciente

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inicie acompanhamento multidisciplinar especializada desde os primeiros meses de

vida. 28

Na série estudada, a distribuição dos pacientes em relação ao gênero

mostrou discreto aumento da prevalência no sexo feminino (52,1%), semelhante às

taxas reportadas pela literatura, que mostram preponderância no sexo feminino na

ordem de 1,1:1. 9

Em relação à localização anatômica da MMC observamos uma distribuição de

60,6% de lesões lombossacrais, 19,1% lombares, 14,9% tóraco-lombares e 5,3%

torácicas, semelhante a outras séries. 2

A taxa de DVP observada, de 67/74 (90,5%) pacientes, encontra-se dentro da

faixa esperada (83 a 92%). Não houve diferença estatisticamente significativa entre

os grupos controle e de risco (0,876, pelo teste do Qui-quadrado de Pearson). 25

A idade da primeira consulta na nefrologia foi realizada no primeiro ano de

vida em 55 (58,5%) crianças e após 1 ano em 39 (41,5%). Notamos, durante a fase

de coleta de dados, que muitos pacientes tinham acompanhamento nefro-urológico

irregular, fato que compromete os resultados terapêuticos.

O primeiro exame urodinâmico foi realizado em média aos 43,8 meses de

idade, enquanto a recomendação é de que este exame seja realizado por volta dos

2 meses de idade. 45 Fatores como intercorrências clínicas, sobretudo ITU, e o fato

de não dispormos do exame em nossa instituição devem ser considerados.

Estudos urodinâmicos em MMC revelaram que 63% dos pacientes

apresentavam hiperatividade do detrusor, 37% apresentaram detrusor não contrátil,

associado à complacência vesical adequada em 20% e à baixa complacência em

17%. 4,75 Hiperatividade do detrusor associada à hiperatividade do mecanismo

esfincteriano (dissinergia vesicoesfincteriana) foi observado em aproximadamente

40% das crianças com MMC, fato que reforça o conceito da obstrução infravesical

funcional neste grupo de pacientes. 23 Na casuística descrita encontramos um

número inexpressivo de pacientes com diagnóstico de dissinergia

vesicoesfincteriana (4 pacientes) comparado à alta taxa relatada na literatura,

sugerindo que a ausência deste dado tenha relação com a não realização da

eletromiografia para estudo do esfíncter. 23, 80

Bruschini estudou as alterações estruturais do trato urinário e distúrbios

vesicoesfincterianos em 104 pacientes com MMC não submetidos a tratamento

prévio da disfunção urinária e encontrou 29% dos pacientes com RVU (versus

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22,4% neste estudo) , 21% com uretero-hidronefrose unilateral ou bilateral (versus

5,4%) e 6% com lesões renais graves, versus 39,5% (15/38) neste estudo,

representadas por lesões renais bilaterais. 76

No grupo de risco, o CIL foi iniciado após 1 ano de idade em 42/53 (79,0%) e

2 (4%) pacientes não faziam CIL. No grupo controle o CIL foi iniciado após o

primeiro ano em 19/27 (70,4%) pacientes, 17 dos quais iniciaram o CIL após os 3

anos de idade. Cinco pacientes (18,5%) não faziam uso do CIL. Os pacientes que

iniciaram o CIL tardiamente tiveram maior número de indicações cirúrgicas, dado

que demonstrou significância estatística (p=0,005, pelo teste do Qui-quadrado de

Pearson). O início tardio do tratamento, observado na maioria destes pacientes,

acrescenta um fator deletério a um grupo de pacientes cujo prognóstico pode

melhorar muito quando iniciam o tratamento precocemente. Alguns autores tem

recomendado o início do CIL após o nascimento, mesmo antes da avaliação

urodinâmica. 4,39,40,45 A abordagem ideal envolve inicialmente o diagnóstico precoce

da bexiga neurogênica, incluindo o reconhecimento dos subtipos de risco para

deterioração do trato urinário e a instituição de tratamento adequado. Para crianças

incluídas na categoria de alto risco, a associação do CIL com anticolinérgicos é a

conduta padrão. Tem como finalidade minimizar os efeitos deletérios da elevada

pressão intravesical, como foi observado em mais de 50% de pacientes que

evoluíram com ITU febris, cicatrizes renais, hidronefrose e refluxo vesicoureteral

antes dos 3 anos de idade. 4,41,44,45

No grupo de risco observamos uma taxa de RVU de 26,0% e no grupo

controle de 11,5%, porém este dado não foi estatisticamente significativo (p= 0,144,

pelo teste do Qui-quadrado de Pearson ). McGuire et al mostraram, em estudo

prospectivo, que pacientes com pressão de perda maior que 40 cm H2O tiveram

elevada taxa de alterações do trato urinário, como RVU e uretero-hidronefrose,

comparados aos que apresentavam pressão de perda menor que 40 cmH2O.

Postulou ainda que o RVU aconteça quase que exclusivamente em pacientes com

pressão de perda maior que 40 cm H2O. 38 Em crianças com inatividade da

musculatura do assoalho pélvico, o RVU tende a ser de baixo grau e com grande

chance de resolução espontânea. A dissinergia vesicoesfincteriana muda

completamente estas características, onde o RVU está relacionado com altas

pressões vesicais. Nestas crianças há uma evidente relação entre RVU e cicatrizes

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renais. Diagnóstico e tratamento precoces são fundamentais para prevenir a

progressiva evolução da nefropatia. 78,50

Todos os pacientes fizeram uso de antimicrobianos profiláticos, iniciados na

primeira consulta. ITU recorrente foi observada em 42/53 (79,3%) nos pacientes do

grupo de risco e 16/27 (59,3%) nos pacientes do grupo controle. Em ambos os

grupos, observamos uma elevada taxa de ITU, apesar da profilaxia adotada. A

comparação das taxas de ITU revelou significância estatística entre os dois grupos

(p= 0,04, pelo teste do Qui-quadrado de Pearson) e risco 2,8 vezes maior de

apresentar ITU recorrente no grupo de risco (IC 95%, 1,029 a 8,104) O adequado

tratamento da disfunção miccional resulta em elevada taxa de resolução do RVU e

significante redução nas recorrências de ITU. A recorrência de ITU pode ser um

indício de inadequado controle da disfunção vesicoesfincteriana e devem ser

investigados os motivos. As principais causas são a inadequada realização do CIL

com persistência de resíduo urinário, resistência bacteriana ao antimicrobiano

profilático utilizado, RVU e mudanças do padrão neurológico. 35,52,50, 78,80

Identificamos 15 pacientes com lesão renal grave em 38 exames

cintilográficos realizados. No grupo de risco encontramos 11 (44,0%), em 25

exames realizados, com lesão renal grave, versus 4 (14,8%) em 13 avaliações no

grupo controle. Este dado não se mostrou estatisticamente significativo (p=0,429,

pelo teste do Qui-quadrado de Pearson).

No grupo de risco, 9 (17%) pacientes foram submetidos a um ou mais

procedimentos cirúrgicos, enquanto 3 (11,1%) pacientes do grupo controle foram

operados. As crianças do grupo de risco correram risco 1,63 mais alto de necessitar

de cirurgia (IC 95%, 0,404 a 6,623), porém este dado não foi estatisticamente

significativo (p=0,487, pelo teste do Qui-quadrado de Pearson). Estudos sugerem

que o tratamento precoce da bexiga neurogênica protege não somente o trato

urinário superior, mas também a função vesical, diminuindo uma eventual

necessidade para ampliação vesical. Kaefer et al comparando pacientes de alto

risco seguidos expectantemente com um subseqüente grupo que sofreu intervenção

precoce, observou que a taxa de ampliação vesical caiu de 41% para 17%. 41 Wu et

al, da mesma forma, observaram diminuição semelhante num grupo de pacientes

com pressão de perda elevada que iniciou tratamento no primeiro ano de vida. 44

Quando comparamos os grupos em relação à evolução para insuficiência

renal crônica, observamos que 3 (5,7%) pacientes do grupo de risco tiveram este

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desfecho e 1 (3,7%) paciente do grupo controle, porém este dado não foi

estatisticamente significativo (p= 0,704, pelo teste do Qui-quadrado de Pearson).

Esta pesquisa fornece dados que reforçam a importância do tratamento

clínico precoce, baseado no cateterismo intermitente limpo, anticolinérgicos e

avaliação laboratorial seriada.

Acreditamos que a estratificação dos pacientes de acordo com o risco de

complicações nefro-urológicas, baseada nos achados urodinâmicos favorece a

identificação dos pacientes que devem ser acompanhados sob vigilância mais rígida,

evitando assim um desfecho desfavorável, previsível na maioria das vezes.

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8 CONCLUSÕES As crianças do grupo de risco apresentaram maior taxa de ITU (79,3% versus

59,3% no grupo controle), dado que revelou significância estatística (p=0,04). O risco

de apresentarem ITU recorrente foi 2,8 vezes maior no grupo de risco (IC 95%,

1,029 a 8,104).

No grupo de risco encontramos 11/25 (44,0%) pacientes com lesão renal

grave versus 4/13 (14,8%) no grupo controle. Este dado não se mostrou

estatisticamente significativo (p=0,429).

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9 SUGESTÕES

A documentação dos prontuários em sistema informatizado, além de tornar

as informações claras e legíveis, permite acesso dinâmico entre as diversas clínicas

melhorando assim a integração entre os profissionais, o que resultará em qualidade

de atendimento aos nossos pacientes. Esta pesquisa se ressentiu da falta de

informações pontuais sobre determinados dados da avaliação clínica e laboratorial,

assim como de uma melhor compreensão gráfica das evoluções.

Sugerimos, até que isso seja possível, a realização de uma ficha específica

contendo dados relevantes do diagnóstico e evolução clínico-laboratorial, no sentido

de facilitar o acesso aos diversos profissionais envolvidos (Anexo 1).

Não tivemos notícia, até o momento, de qualquer iniciativa governamental

concreta para estruturar de maneira sistemática a assistência em saúde dos

pacientes com MMC em nosso serviço. Há que se ressaltar que o Hospital Jesus

tem sido pioneiro nesse sentido, ao criar um serviço dedicado às crianças com MMC

e não medir esforços para promover a qualidade da nossa assistência.

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10 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Acreditamos que este estudo cumpriu os objetivos propostos no sentido de

conhecer o perfil da população de portadores de MMC e bexiga neurogênica tratada

em nossa instituição, permitindo desta forma planejar estratégias para melhoria no

atendimento e acompanhamento desses pacientes.

Há fortes evidências de que as decisões terapêuticas tomadas durante a

infância previnem potenciais riscos de deterioração do trato urinário, sendo de

fundamental importância o reconhecimento e tratamento precoces, que devem ser

iniciados logo após a correção da MMC.

O CIL combinado com uso de anticolinérgicos constitui a base para o

tratamento clínico, e a sua instituição precoce tem se mostrado eficaz tanto na

prevenção de danos renais quanto na preservação da função vesical.

A incontinência urinária é o principal problema que dificulta a reintegração dos

pacientes na sociedade, e compromete sua qualidade de vida. Desta forma, todas

as medidas empregadas com esta finalidade, sobretudo as cirúrgicas, não devem

ser adiadas para a vida adulta.

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ANEXO 1

FICHA DE COLETA DE DADOS

Paciente : _______________________________________________________ Gênero: Masculino ( ) Feminino ( ) Registro: _________________ Endereço: _______________________________________________________ Bairro: _________________ Cidade: _____________ CEP: _____________ Contatos:_________________________________________________________ DADOS NEUROLÓGICOS Localização anatômica da lesão Lombossacral ( ) Lombar ( ) Tóraco-lombar ( ) Torácica ( ) Cervical ( ) Data correção da mielomeningocele: ___/___/____ Idade (em dias): ______ Hidrocefalia: sim ( ) não ( ) Derivação ventrículo-peritoneal: sim ( ) não ( ) Data: ___/___/___ Infecção cirúrgica: sim( ) não ( ) Nível sensitivo: ______________ Nível motor: ________________ Cognição: __________________ DADOS NEFRO-UROLÓGICOS Idade da primeira consulta na Nefrologia ou Urologia - No primeiro mês de vida ( ) - Entre 2 e 6 meses ( ) - Entre 6 meses e 1 ano ( ) - Após 1 ano ( ) - Nunca fez consulta com a Nefrologia ( ) Antimicrobianos profiláticos - Iniciados no primeiro mês de vida ( ) - Iniciados entre 2 e 6 meses ( ) - Iniciados entre 6 meses e 1 ano ( ) - Iniciados após 1 ano ( ) Cateterismo Intermitente: - Iniciado no primeiro mês de vida ( ) - Iniciado entre 3 e 6 meses de vida ( ) - Iniciado entre 6 meses e 1 ano ( ) - Iniciado após 1 ano ( ) - Nunca fez cateterismo ( )

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Primeiro estudo urodinâmico: Data: ___/___/___ Idade (em meses): _____ - Baixa complacência vesical ( ) - Hiperatividade do detrusor ( ) - Dissinergia vesicoesfincteriana ( ) - Pressão intravesical > 40 cm de água ( ) Estudo urodinâmico: Data: ___/___/___ - Baixa complacência vesical ( ) - Hiperatividade do detrusor ( ) - Dissinergia vesicoesfincteriana ( ) - Pressão intravesical > 40 cm de água ( ) Estudo urodinâmico: Data: ___/___/___ - Baixa complacência vesical ( ) - Hiperatividade do detrusor ( ) - Dissinergia vesicoesfincteriana ( ) - Pressão intravesical > 40 cm de água ( ) Uretrocistografia miccional: Data: ___/___/___ - Refluxo vesicoureteral unilateral ( ) - Refluxo vesicoureteral bilateral ( ) - Pseudodivertículo da bexiga ( ) - Bexiga de parede trabeculada ( ) Ultra-sonografia inicial: Data: ___/___/___ - Hidronefrose unilateral ( ) - Hidronefrose bilateral ( ) - Uretero-hidronefrose unilateral ( ) - Uretero-hidronefrose unilateral ( ) - Bexiga de parede espessada ( ) - Elevado resíduo pós-miccional ( ) Ultra-sonografia controle: Data: ___/___/___ - Hidronefrose unilateral ( ) - Hidronefrose bilateral ( ) - Uretero-hidronefrose unilateral ( ) - Uretero-hidronefrose unilateral ( ) - Bexiga de parede espessada ( ) - Elevado resíduo pós-miccional ( ) Ultra-sonografia controle: Data: ___/___/___ - Hidronefrose unilateral ( ) - Hidronefrose bilateral ( ) - Uretero-hidronefrose unilateral ( ) - Uretero-hidronefrose unilateral ( ) - Bexiga de parede espessada ( ) - Elevado resíduo pós-miccional ( )

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Cintilografia renal com DMSA - Cicatriz renal unilateral ( ) - Cicatriz renal bilateral ( ) - Hipocaptação focal ou difusa unilateral ( ) - Hipocaptação focal ou difusa bilateral ( ) - Exclusão renal unilateral ( ) Uso de Medicamentos - Brometo de propantelina ( ) - Oxibutinina ( ) - Outros: _______________________________________________________ Procedimentos Cirúrgicos ( ) Vesicostomia - Data ___/___/___ ( ) Pielostomia - Data ___/___/___ ( ) Reimplante ureteral - Data: ___/___/___ ( ) Nefrectomia unilateral- Data: ___/___/___ ( ) Ampliação vesical – Data: ___/___/___ ( ) Cirurgia para colo vesical – Data: ___/___/___ ( ) Mitrofanoff – Data: ___/___/___ ( ) Malone – Data: ___ / ___ / ___ Infecções urinárias de repetição Data: ___/___/___ Data: ___/___/___ Data: ___/___/___ Data: ___/___/___ Data: ___/___/___ Data: ___/___/___ Dosagem da Uréia e Creatinina - Até 6 meses: - Uréia ________ Data: ___/___/___ - Creatinina _____Data: ___/___/___ - Entre 1 e 2 anos: - Uréia _______ Data: ___/___/___ - Creatinina _____ Data: ___/___/___ -Após os 5 anos: - Uréia ________ Data: ___/___/___ - Creatinina _____Data: ___/___/___ Transplante renal: Data: ___/___/___

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