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Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Leonardo Boff pontos de vista

Caderno Opiniao 2008

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Caderno Opinião 2008 Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro

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Page 1: Caderno Opiniao 2008

Todo ponto de vista é a vista de um ponto.

Leonardo Boff

pontos de vista

Page 2: Caderno Opiniao 2008

Cenpec

Fundação Itaú Social

Ministério da Educação

Page 3: Caderno Opiniao 2008

Cenpec Fundação Itaú Social Ministério da Educação

ApresentaçãoBem-vindo à Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro!

Ela é resultado da parceria entre o Ministério da Educação (MEC), a Fundação Itaú Social e o Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec).

A união de esforços do poder público com a iniciativa privada e a sociedade civil visa um objetivo comum: proporcionar ensino de qualidade para todos.

O MEC encontrou no Programa Escrevendo o Futuro a metodologia adequada para realizar a Olimpíada — uma das ações do Plano de Desenvolvimento da Educação, idealizado para fortalecer a educação no país.

Este Caderno do Professor vai ajudá-lo na preparação dos seus alunos para a Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro. É uma ferramenta que poderá ser incorporada ao dia-a-dia escolar, contribuindo para que os alunos escrevam textos cada vez melhores e ampliem o domínio da leitura e da escrita.

O tema proposto para o concurso é “O lugar onde vivo”. Escrever sobre a comuni-dade onde se vive estimula novas leituras, pesquisas e estudos, proporcionando um outro olhar sobre a realidade e uma perspectiva de transformação social.

O envolvimento de todos na Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro é fundamental para ampliar e enriquecer o trabalho nas nossas escolas e para que sejam produzidos melhores textos por crianças e jovens dos vários cantos do Brasil.

Desejamos a você um ótimo trabalho!

Page 4: Caderno Opiniao 2008

Créditos da publiCação

Coordenação Sonia Madi

Texto base e consultoria Eliana GagliardiHeloisa Amaral

Texto final Beatriz Cortese Maria Antonieta A. R. de Oliveira Maria Aparecida Laginestra Maria Tereza A. CardiaRegina Andrade Clara

Colaboradora Zoraide Faustinoni Silva

Leitura críticaDileta DelmantoIsabel Cristina Santana

Edição Adriano Quadrado

Organização da publicação Alice Lanalice

Projeto gráfico e capa Criss de Paulo e Walter Mazzuchelli

Ilustração Criss de Paulo

Editoração e revisão AGWM Editora e Produções Editoriais

Copyright © 2008 by Cenpec e Fundação Itaú Social

Coordenação téCniCa

Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária – CENPEC

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Gagliardi, Eliana Pontos de vista / Eliana Gagliardi, Heloisa Amaral — São Paulo : Cenpec : Fundação Itaú Social ; Brasília, DF : MEC, 2008.

Bibliografia.

ISBN 978-85-85786-67-0

1. Artigos de opinião 2. Olimpíada de Língua Portuguesa 3. Ponto de vista (Literatura) 4. Textos I. Amaral, Heloisa. II. Título.

08-00404 CDD-371.0079

Índices para catálogo sistemático:

1. Olimpíada de Língua Portuguesa : Escolas : Educação 371.0079

ContatoRua Dante Carraro, 68 05422-060 — São Paulo — SPTelefone: 0800-7719310e-mail: [email protected]

Page 5: Caderno Opiniao 2008

Professor,Você está recebendo este Caderno do Professor — Orientação para produção de

textos porque se inscreveu na Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro. O conjunto de cadernos é composto por Poetas da escola (4a e 5a séries do Ensino Funda-mental ou 5o e 6o anos do Ensino Fundamental de Nove anos — Categoria I), Se bem me lembro... (7a e 8a séries ou 8o e 9o anos do Ensino Fundamental de Nove anos — Categoria II) e Pontos de vista (2o e 3o anos do Ensino Médio — Categoria III).

Aparentemente é apenas um concurso de textos, mas, na realidade, a Olimpíada consti-tui uma estratégia de mobilização que oferece aos professores oportunidade de formação. Apostamos na idéia de que os professores possam vivenciar uma metodologia de ensino de língua que trabalha com gêneros textuais por meio de seqüências didáticas.

Essa metodologia, anteriormente adotada pelo Programa Escrevendo o Futuro, tem despertado o interesse dos alunos e melhorado os textos que eles escrevem, tornando evi-dentes sua evolução e conquistas.

A Olimpíada inclui os participantes numa rede de conhecimento, oferecendo publica-ções periódicas com análise e divulgação dos textos dos alunos e dos relatórios dos profes-sores. A rede também inclui uma comunidade virtual de aprendizagem e cursos on-line.

O ponto de partida é o roteiro de atividades deste Caderno. Ele foi preparado com muito cuidado e utilizado por milhares de professores e alunos de todo o país.

Convidamos você a mergulhar neste material e a preparar a realização das oficinas que se seguem. Explore bem o Caderno antes de iniciá-las. Veja quanto tempo você vai precisar para realizar cada uma delas. Faça um plano de trabalho.

Você ficará satisfeito em descobrir que muitos dos conteúdos didáticos abordados nas oficinas estão contidos no seu planejamento anual. Portanto, é importante desenvolver as atividades com todos os alunos da classe.

Poderão ser incluídas atividades e feitas adaptações de acordo com as necessidades e oportunidades que surgirem. Mas recomendamos que a ordem das oficinas seja mantida, porque elas estão organizadas numa seqüência didática.

Nessa Olimpíada, não estamos em busca de talentos, nosso propósito é contribuir para a melhoria da escrita de todos os alunos das turmas participantes.

O que importa é que cheguem ao final dessa caminhada sabendo se expressar no gê-nero estudado. Isso fará do aluno um cidadão mais bem preparado.

E é você, professor, que possibilitará essa conquista.

Antes de começarmos, mais um recadinho: no final deste Caderno há um texto chamado “Para saber mais ainda”, no qual você pode encontrar as concepções de língua, ensino e aprendizagem em que este trabalho se apóia.

Bem-vindo à Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro. Um ótimo trabalho para você e sua turma!

Equipe da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro

Page 6: Caderno Opiniao 2008

Sumário Introdução 8 Oartigoeoarticulista

1 Artigo de opinião 11 • T omar contato com o artigo de opinião e com a proposta de trabalho.

2 A notícia em debate 15 •������Relacionar�notícia�com�artigo�de�opinião�� � � e�diferenciar�um�do�outro.

3 Polêmica 21 •Identificarquestõespolêmicaslocais.

•Reconhecerbonsargumentos.

•Escolherumaquestãopolêmica.

•Produzirotextoinicialindividual.

4 Por dentro do artigo 27 •Lerumartigodeopiniãopara reconhecerascaracterísticaspróprias dessegênerotextual.

5 Questão, posição e argumentos 31 •Identificarquestõespolêmicas, posiçãodoautoreseusargumentos.

•Anteciparargumentoscontrários.

6 Sustentação de uma posição 35 •Construirargumentosparadefender

umaposição.

Page 7: Caderno Opiniao 2008

7 Como articular 39 •Conhecereusarexpressõesque articulamoartigodeopinião.

8 Vozes no artigo de opinião 43 •Identificarasvozescomas quaisoautordialoga.

9 Pesquisar para escrever 49 • Buscar informações sobre o assunto polêmico.

• Relacionar informações gerais com locais.

• Socializar os resultados das pesquisas.

10 Assim fica melhor 53 •Analisarereescreverumartigode opiniãoproduzidoporumaluno.

11 Produção de artigos 59 •Produzirotextoindividual.

Critérios de avaliação 64

Textos recomendados 66

Recado final 82

Para saber mais ainda 83

Referências bibliográficas 88

12 Últimos retoques 61 •Revisaremelhorarotextoindividual.

Page 8: Caderno Opiniao 2008

8 o p i n i ã o

Introdução

O artigo e o articulistaEm nossa vida estamos sempre partilhando, conversando com as pes-

soas sobre os acontecimentos do cotidiano. Freqüentemente damos nossa

opinião, defendendo-as com bons argumentos. Isso ocorre no bate-papo

após um jogo de futebol, na discussão durante um noticiário da TV, na

conversa sobre um programa de fim de semana ou algum evento que está

para se realizar na cidade.

Dar opinião oralmente sobre os mais diversos assuntos em situações

informais é algo corriqueiro, que fazemos quase sem sentir ou pensar. Há

situações de comunicação, porém, que são mais formais. Um exemplo são

os debates, na televisão, entre candidatos a cargos públicos, sobre seus

projetos de governo em época de campanha eleitoral. Esses debates devem

ser cuidadosamente planejados, pois argumentos mal sustentados podem

significar até mesmo a derrota em eleições.

Mas as opiniões não se restringem à fala — elas também podem

ser dadas por escrito. Jornais e revistas publicam artigos de opinião, edito-

riais, cartas de leitores. Editoriais são textos argumentativos: exprimem

a posição de um órgão de imprensa diante de um assunto e seus argu-

mentos, a favor ou contra. A seção de cartas de leitores constitui um

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9o p i n i ã o

veículo para a expressão da opinião dos cidadãos sobre questões que

os afetem de alguma maneira.

A proposta deste Caderno é trabalhar com um dos gêneros jornalísti-

cos argumentativos escritos: o artigo de opinião. Ele é publicado em

jornais, revistas e na internet, sempre assinado por um articulista, que é

uma autoridade no assunto ou uma pessoa de representatividade social.

Ao escrever um artigo, o articulista parte de uma questão polêmica

de relevância social, criada em torno de um fato que foi notícia. Sem

questão polêmica não existe artigo de opinião. A questão gera discussões

porque há pontos de vista opostos sobre o assunto. Por isso, o articulista,

ao escrever, assume uma posição, defende-a com argumentos e dialoga

com diferentes pontos de vista que circularam sobre a polêmica.

Os artigos de opinião são importantes instrumentos para a formação

do cidadão. Aprender a ler e a escrever esse gênero na escola contribui

para desenvolver a capacidade de participar, com argumentos convin-

centes, das discussões sobre as questões do lugar onde se vive e, mais

do que isso, de formar opinião sobre elas, contribuir para resolvê-las,

praticar a cidadania.

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10 o p i n i ã o10 o p i n i ã o

O tempo das OficinasCada oficina foi organizada para tratar de um tema, de um assunto; algumas poderão ser feitas em trinta ou quarenta minutos e outras levarão três ou quatro aulas. Por isso, é essencial que você, professor, leia todas as atividades com calma. Aproprie-se dos objetivos e estratégias de ensino, providencie o material e estime o tempo necessá-rio para que sua turma faça o que foi proposto. Enfim, é preciso planejar cada passo, pois só você, que conhece seus alunos, conseguirá determinar qual a forma mais eficiente de trabalhar com eles.

Page 11: Caderno Opiniao 2008

ObjEtIvO

• tomar contato com o artigo de opinião e com a proposta de trabalho.

Artigo de opiniãoo

fici

na

1111o p i n i ã o

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Atividades1ª- etapa

Providencie algumas cópias dos artigos que se encontram em “Textos recomendados”. Reproduza aqueles que estão entre as páginas 72 e 81. Divida a turma em grupos e peça-lhes que observem qual é a situação de comunicação:• Onde o texto foi publicado?• Quem o escreveu? Além do nome, há mais informações sobre o autor?• Para quem ler?• Com que finalidade?

Mostre a eles que os artigos de opinião costumam circular em jornais ou revistas e geralmente são escritos por especialistas no assunto, ou pessoas reconhecidas na comunidade, que tomam uma posição sobre uma questão polêmica. Dessa forma, os articulistas assumem um pon-to de vista.

12 o p i n i ã o

ArticulistasSão especialistas que escrevem artigos de opinião sobre algum assunto que está sendo dis-cutido na mídia impressa, internet ou televisão. No caso particular do artigo de opinião, o articulista é convidado por uma empresa jornalística para escrever porque é reconhecido tanto por ela como pelos futuros leitores como autoridade no tema tratado.

Se ele não for um funcionário do jornal, precisa assinar o artigo e se responsabilizar sobre o que escreve. A assinatura revela sua identidade, que se completa com a nota de rodapé.

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2ª- etapa

Você também deverá levar para a aula pelo menos um jornal que te-nha coluna de opinião. Peça à turma que procure em que parte do jornal encontra-se o artigo de opinião. É importante fazer isso para que os alunos possam identificar o gênero em seu portador usual — o próprio jornal.

Leia, com a classe, o artigo encontrado e retome a conversa sobre a situa-ção de comunicação própria do artigo de opinião tal como fizeram na etapa anterior.

O gênero escrito pelo articulista — o artigo de opinião — discute uma questão polêmica, com base no ponto de vista que ele assumiu. O obje-tivo do artigo de opinião é apresentar uma posição e argumentar, mos-trando aos leitores porque devem concordar com o autor; por isso, o tom é de convencimento.

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Registrar é importante O registro é muito importante para você, professor, aperfeiçoar seu trabalho. No entanto, muitas vezes precisamos desenvolver esse hábito e vencer a falta de tempo. Mas tomar nota ajuda a fa-zer questionamentos e a descobrir soluções que nos fazem crescer.

Registre as oficinas. Escreva sobre as atividades desenvolvidas, suas impressões, as dificuldades e as reações do grupo. Como nos diz a educadora Madalena Freire (1996): “O registrar de sua reflexão cotidia-na significa abrir-se para seu processo de aprendizagem”.

Lembre-se de que cada professor de aluno semifinalista da Olimpíada deverá, com base em seus registros, escrever um “relato de experiência” e com ele concorrerá a prêmios. Esse é mais um motivo para você regis-trar o percurso vivido em sala de aula!

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3ª- etapa

Converse com a turma a respeito da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro. Explique como vai ser o concurso. Diga a eles que não vão escrever apenas um texto argumentativo qualquer, mas um artigo de opinião. Esse texto será produzido com base em uma ques-tão polêmica que interessa às pessoas do lugar onde vivem.

Explique-lhes que, para escrever um bom artigo e ter chance de con-correr aos prêmios, eles farão uma série de oficinas, com as quais vão aprender muitas coisas que os ajudarão a escrever o texto. Os conhe-cimentos adquiridos contribuirão para que tenham o que dizer e como dizer, com autoridade suficiente para ocupar a posição de autor e pro-duzir textos que se aproximem do gênero “artigo de opinião”.

Lembre-se de que as atividades deste Caderno foram planejadas para abordar parte dos conteúdos de ensino de língua portuguesa para o Ensino Médio. Assim, todos os alunos devem participar das oficinas preparatórias para a Olimpíada. Além dos prêmios para as melhores produções, todos poderão aprimorar a escrita e se tornarem pessoas mais bem preparadas.

14 o p i n i ã o

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ObjEtIvO

• Relacionar notícia com artigo de opinião e diferenciar um do outro.

A notícia em debate

o f i c i n a

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Atividades1ª- etapa

Providencie cópias para toda a classe da notícia “Brasileiro ‘ganha’ 5 meses de vida em 1 ano”, e do artigo “Violência não, educação sim” que se encon-tram em “Textos recomendados”.

Peça ao alunos que leiam silenciosamente a notícia e comece a conversa fazendo as mesmas perguntas da Oficina 1: • Onde o texto está publicado? Quem escreve? Além do nome, há mais infor-

mações sobre o autor? Para quem? O que escreve? Com que finalidade?

A seguir, faça mais uma leitura em voz alta e comentada e ajude seus alu-nos a perceber a amplitude do tema — o aumento da expectativa de vida do brasileiro e seus desdobramentos sociais. Alimente a conversa com per-guntas. E vocês, o que pensam sobre esse assunto? A que se deve o au-mento da expectativa de vida? Por que a expectativa de vida não é a mesma para cidadãos de diferentes Estados Brasileiros?

Notícia“Matéria-prima” dos jornais, a notícia relata fatos que estão ocorrendo na cidade, no país, no mundo. A intenção da notícia é informar o leitor com exatidão. Mesmo tendo a pretensão de ser “neutra”, confiável, ela traz em si concepções, princípios, ideologia de quem a escreve.

As notícias são impressas no jornal de acordo com o grau de relevância (das mais impor-tantes para as menos importantes). Para chamar a atenção dos leitores, o texto se inicia com uma manchete bem objetiva, com verbo sempre no presente. Em seguida, vem o lead, ou primeiro parágrafo, que contém as informações básicas sobre o fato noticiado. O lead não se inicia pelo verbo; ele começa pela indicação do fato e pela descrição das circunstâncias mais importantes em que o fato ocorreu, isto é, o que ocorreu, como, quando e onde. O uso mais comum dessa palavra é em inglês, lead.

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Deixe evidente que essa notícia pode provocar reações diversas: algumas pessoas ficam animadas com a possibilidade de os brasi-leiros viverem mais, outras se preocupam com a diferença da qua-lidade de vida entre os idosos de diferentes localidades; e outras ainda podem refletir sobre os desafios do país, no que se refere à manutenção da Previdência Social com o número crescente de aposentados e, portanto, dependentes desse sistema. Contudo, na notícia, o autor não toma posição — o objetivo, nesse caso, é apresentar fatos e dados.

2ª- etapa

Agora, entregue a cada aluno uma cópia do artigo “Violência não, educação sim”. Atenção, professor: não tire cópias do texto da página 18, pois, ele contém as sinalizações que deverão ser feitas pelos alunos. O texto para cópias está reproduzido na página 67.

Peça-lhes que leiam silenciosamente. É importante que identifi-quem a relação entre o fato noticiado e a questão abordada no artigo. A notícia parece ter mobilizado o empresário — convidado pelo jornal — a partilhar com os leitores sua posição sobre o as-sunto, escrevendo um artigo de opinião.

Uma estratégia de leituraExistem alguns modos de mostrar aos alunos como podem proceder em relação à proposta acima. Um deles é solicitar-lhes que destaquem as informações pedidas. Grifar, sublinhar ou circular — de diferentes cores — os elementos (palavras, expressões, sinais de pontuação) que se quer destacar é uma forma simples e produtiva de fazer isso. Ao longo das oficinas esse recurso será usado outras vezes, mas fizemos os grifos apenas aqui para exemplificar. Nos demais casos, você e seus alunos decidirão o que merece ser destacado.

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Violência não, educação sim Antônio Ermírio de Moraes

O IBGE acaba de publicar a nova estatística de mortalidade da população. Ela mostra que o Brasil envelheceu, mas, lamentavelmente, ficou mais violento. O envelhecimento traduz a marca das nações desenvolvidas, nas quais as pessoas estão vivendo mais e com mais qualidade. O Brasil está nessa trajetória.

Em 1960, a esperança de vida era de 55 anos. Hoje é de 72 anos — feito que traduz a melhoria dos sistemas de prevenção e tratamento de doenças, entre outros fatores. É inacei-tável, porém, verificar que a violência cresceu 100% nesse período, tendo chegado a um patamar horripilante. Em 2005, 12,5% do total de óbitos foram devidos a homicídios, suicí-dios e acidentes de trânsito. Essa é marca do antidesenvolvimento.

Não sou especialista no assunto, mas leio que o problema tem muitas causas: desarranjos fami-liares, falta de emprego, baixa renda, habitação precária, educação de má qualidade etc.

Álcool e droga são componentes de muita importância. A redução dos exageros no álcool e a eliminação do uso de entorpecentes ajudariam muito na diminuição das mortes violentas. Isso, por sua vez, requer uma série de medidas nas famílias, escolas, igrejas, no trabalho e nos fatores de potencialização de uso — bares e casas noturnas, por exemplo.

Nesse aspecto, há boas promessas. Vários municípios estão proibindo o funcionamento dos bares nas madrugadas. Na capital de São Paulo, com o esforço de apenas 30 fiscais, a lei está sen-do respeitada de forma crescente. Os repórteres do caderno Metrópole de “O Estado de S. Paulo” observaram que, às 2h, o único ser vivo que perambulava no bairro boêmio de Vila Madalena na noite de sexta feira, 23 de novembro, era um cachorro vira-lata. A grande maioria dos bares esta-va de portas fechadas. Assim ocorria em vários outros bairros da cidade. Calma na cidade.

O fechamento desses estabelecimentos em horários civilizados ajudou a reduzir os ruídos provocados por bares, restaurantes, danceterias e casas noturnas. Pode-se dizer que os paulistanos passaram a dormir, finalmente, um sono melhor, mais do que merecido, depois de um dia de trabalho estafante.

Sei que isso é uma gota d’água no combate à criminalidade e à violência urbanas. Mas, se cada um fizer sua parte — por menor que seja —, poderemos ter dias melhores.

Não podemos continuar perdendo tantos jovens em atos desvairados e por violência. Os mais atingidos são os rapazes de 20 a 29 anos, que estão na flor da idade e têm pela frente uma vida a ser construída em benefício próprio e do Brasil.

Oxalá a próxima pesquisa do IBGE mostre que os brasileiros vivem mais, melhor e em paz!

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Solicite a eles que grifem no texto algumas palavras, expres-sões ou frases que demonstram a opinião do autor (em itálico no texto da página anterior). Mostre de que forma esse artigo se relaciona com a notícia discutida na 1a etapa desta ativida-de. Peça-lhes que grifem de outro modo os trechos que indi-cam que Antônio Ermírio teve contato com a notícia antes de escrever o seu artigo (em negrito no texto).

Cada um dos textos — notícia e artigo — tem uma finalidade específica: na notícia, o jornalista traz informações sobre um fato e, no artigo, o articulista opina sobre a questão polêmica que uma notícia pode despertar.

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PolêmicaObjEtIvOS

• Identificar questões polêmicas locais.• Reconhecer bons argumentos.• Escolher uma questão polêmica.• Produzir o texto inicial individual.

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Atividades1ª- etapa

Seus alunos vão escrever o primeiro artigo de opinião. Mas, antes disso, terão de encontrar uma questão polêmica que os mobilize e mereça ser discutida por sua relevância social. Para isso, faça um levantamento, junto com a turma, de assuntos polêmicos que estão circulando no rádio, na TV ou na imprensa.

Questões polêmicas geram discussão, controvérsia, diferentes pontos de vista sobre o tema. Veja alguns exemplos:• O desarmamento da população diminuiria ou não a violência?• A pena de morte ajuda a diminuir a criminalidade? A sociedade tem o direito

de tirar a vida de um criminoso?• A transposição do rio São Francisco resolveria o problema da seca no Nordeste?

Esses questionamentos são importantes para que os alunos percebam que uma polêmica relaciona-se a algo que não tem uma única resposta; cada pes-soa pode concordar ou discordar dela por diferentes razões. Contudo, essas perguntas não devem ser usadas como o tema do texto que eles irão escrever, pois apenas eventualmente tratam de questões locais. Como no caso da trans-posição do rio São Francisco, que pode ser de extrema relevância para as po-pulações que moram nas imediações dele e bastante distante de quem mora no sul ou sudeste do país.

Polêmica na escola Se as questões apontadas não despertarem o interesse de seus alunos, você poderá propor que escrevam sobre polêmicas que estejam vivendo na escola. Por exemplo:• Usar boné atrapalha a aula?• Deveria ser permitida a troca de beijos e carícias no pátio da escola?• Deve-se proibir o uso de celular em sala de aula?• O aluno pode entrar na aula a qualquer hora?

Assim como as anteriores, essas perguntas apenas aquecem o debate e facilitam a escrita, pois sobre elas os alunos têm o que dizer. No entanto, no decorrer das oficinas, deverão iden-tificar questões polêmicas sobre “ O lugar onde vivo”, tema da Olimpíada.

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Depois, identifique com o grupo questões locais, da comunidade, que recentemente provocaram discussões e podem estar ligadas a polêmi-cas mais amplas. O meio ambiente, por exemplo, é um assunto que pode envolver essas questões locais: “A canalização do córrego de nossa cidade resolve o problema das enchentes?” , “A construção de habitação em área de mananciais deve ser proibida?”.

2a etapa

Depois de escolhida a questão polêmica pela classe na etapa anterior, proponha a realização de um debate. Divida a turma em dois grupos. De um lado, ficam os que irão argumentar a favor da questão polêmica es-colhida e, de outro, os que irão argumentar contra. Depois de algum tempo, quando a discussão estiver animada, interrompa e diga aos alu-nos que deverão inverter a posição: quem argumentava a favor passará a argumentar contra, e vice-versa.

Argumentar para justificar a opiniãoArgumentar é explicitar um raciocínio, prova ou indício do qual se tira uma conseqüência ou dedução, ou seja, para argumentar é preciso esclarecer as causas, as razões, os motivos que levam a determinada opinião. Pode-se fazer isso por meio de dados estatísticos, provas, re-sultados de pesquisas e experiências científicas, informações obtidas com especialistas na área, observações, entre outras coisas.

Seu papel será o de mediador; por isso, você não deverá tomar partido, mas ajudar os alunos a se posicionarem, isto é, a dizerem se são contra ou a favor. Estimule-os a fundamentarem suas posições com perguntas. Por que você pensa assim? Você tem algum dado estatístico que com-prove o que diz? Já leu sobre esse assunto? O que falava o texto (artigo, notícia, livro, editorial, cartaz)? Conhece situações similares? Se sim, o que aconteceu?

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Ao final, tente mostrar a eles quais dos argumentos elaborados são confiáveis, porque apresentam mais claramente o que justifica deter-minada opinião, ou seja, vão além de “porque eu sei”, “porque eu acho”, “porque é melhor assim”, “porque todo mundo concorda”.

Com isso, você e seus alunos poderão identificar o que já têm que dizer sobre a questão e o que ainda precisam conhecer para justificar solida-mente a posição assumida.

Feito esse levantamento, você terá melhores condições de orientá-los na pesquisa que será realizada posteriormente.

DebateO debate é um gênero que se aproxima da discussão. Durante o debate os participantes usam a palavra para expressar o que sabem e pensam sobre o assunto em questão. Retomam o discurso do outro, fazem críti-cas, se situam, tomam posição e devem rebater o ponto de vista contrá-rio com respeito e civilidade.

O debate é uma situação de comunicação privilegiada para desenvolver capacidades de linguagem argumentativa nos alunos, pois aprofunda conhecimentos, possibilita a concentração no foco da discussão e a transformação de valores e normas de interação social.

É fundamental que os debatedores, no decorrer do processo, tragam para suas falas as diferentes vozes que circulam acerca da questão discu-tida. Essa é uma boa oportunidade para perceber a importância da flexi-bilidade de pensamento e tomar consciência da pluralidade de opiniões como um valor que deve ser respeitado.

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3a etapa

Finalizado o debate, proponha aos alunos a escrita de um artigo de opi-nião com base na questão polêmica levantada por eles. Peça-lhes que se coloquem no lugar do articulista que vai publicar um artigo no jornal local sobre o assunto debatido em sala de aula.

Ressalte que esse texto servirá para que você possa fazer uma avaliação inicial do que eles já sabem e do que precisam aprender sobre artigo de opinião.

Ao ler essas escritas iniciais, avalie se: • trazem uma questão polêmica;• localizam o leitor em relação à questão;• deixam clara a posição assumida;• apresentam o pensamento de opositores sobre o assunto;• trazem argumentos convincentes e confiáveis;• há erros de ortografia ou gramática e outras dificuldades.

Explique aos alunos que essa primeira escrita não concorrerá à Olimpíada, mas você terá que guardá-las, pois, se um deles for classificado como semifi-nalista, será necessário levar esse primeiro texto para o encontro regional.

Primeira escrita A produção inicial aponta o que os alunos já sabem sobre o gênero e dá pistas para que o pro-fessor possa melhor intervir no processo de aprendizagem.

Esse primeiro texto também é importante para que os alunos avaliem a própria escrita. Com sua ajuda, eles serão capazes de perceber o que é preciso melhorar e poderão envolver-se mais nas atividades das oficinas. Além disso, será possível comparar essa produção com o texto final e identificar os avanços, constituindo um processo de avaliação continuada.

Atenção: se você for semifinalista da Olimpíada, precisará levar a primeira produção para o encontro regional.

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Por dentro do artigoObjEtIvO

• Ler um artigo de opinião para reconhecer as características próprias desse gênero textual.o

fici

na

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Atividades1ª- etapa

A turma agora lerá com você um artigo sobre a maioridade penal, escri-to por Renato Roseno, que se encontra em “Textos recomendados”, na página 68. Como os alunos farão anotações no texto, providencie mate-rial para todos ou solicite-lhes que trabalhem em duplas ou trios.

Peça a eles que observem, durante a leitura, como o articulista vai te-cendo seus argumentos e escrevendo o artigo de opinião com elemen-tos próprios do gênero, sem tomá-los numa ordem estrita:• baseia-se em uma questão polêmica que circula na imprensa, na mídia

ou na sociedade;• toma uma posição em relação ao que já foi dito sobre o assunto con-

troverso;• apresenta argumentos ou razões que sustentam a posição assumida;• antecipa e contesta os argumentos dos oponentes;• articula o texto e o finaliza com uma conclusão.

Peça aos alunos que leiam novamente e grifem os trechos que respon-dem às questões que você escreveu na lousa. Se possível, solicite que destaquem cada informação com uma cor, combinada com toda a classe, como foi feito na Oficina 2. Depois de discutir os trechos que foram sinali-zados pelos alunos, determine com a classe quais as respostas mais ade-quadas e as registrem. Para facilitar seu trabalho, sugerimos algumas questões.

1. Quem é o autor do texto? Em que esse autor é especialista? Renato Roseno, advogado, coordenador do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca — Ceará) e da Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente (Anced).

2. Onde o texto foi publicado?Na internet, em <www.cedecaceara.org.br/maioridadena.htm>.

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3. Qual a questão polêmica? Se a redução da maioridade penal é ou não uma solução para impedir os crimes praticados por jovens.

4. O autor refere-se a um acontecimento que o levou a escrever esse artigo. Que acontecimento foi esse? A brutalidade cometida contra dois jovens em São Paulo.

5. Qual a posição do autor a respeito da polêmica? Ele é contra a redução da maioridade penal.

6. Que argumentos ele usa para justificar sua posição?Ele diz que medidas repressivas dão a falsa sensação de que algo está sen-do feito. Que em nenhum lugar do mundo houve experiência positiva de adolescentes e adultos confinados no mesmo sistema penal. Que nosso sistema penal, como está, não melhora as pessoas.

7. No texto, o autor apresenta argumentos de pessoas que discordam dele. Que argumentos são esses? Essas pessoas acreditam que a violência pode estar aumentando porque as penas previstas em lei — ou a aplicação delas — são muito suaves para os menores de idade.

8. O autor propõe alguma alternativa de tratamento para os jovens infrato-res, ou seja, reflete a respeito de uma solução para a polêmica?Para Renato, a possibilidade de transformação desses adolescentes está na aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente.

As duas questões seguintes podem ser inferidas durante a discussão com os alunos; contudo, as respostas não estão explicitadas no texto.

9. Qual o objetivo do autor?Convencer seus leitores de que a redução da maioridade penal não é a solução. Ele acredita que reduzir a maioridade penal não resolve o proble-ma e também quer defender a boa aplicação do ECA.

10. Quem é o público leitor?Pessoas que se interessam pela questão da maioridade penal e querem conhecer a opinião do articulista.

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2ª- etapa

Para ampliar o trabalho, escolha artigos para leitura em “Textos recomen-dados”. As cópias feitas para a Oficina 1 poderão ser novamente utiliza-das aqui. Você também pode sugerir aos alunos que procurem em jor-nais, revistas ou na internet outros artigos de opinião.

Ao longo das oficinas, leia com os alunos diversos artigos. A leitura deve começar pela exploração do título. Do que trata o texto? Como imagi-nam que o autor vai abordar o assunto?

Antecipando as possíveis dificuldades quanto aos assuntos e ao voca-bulário, você poderá preparar a leitura levando informações sobre o tema. Isso facilitará a leitura e a compreensão do sentido do texto.

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Questão, posição e argumentosObjEtIvOS

• Identificar questões polêmicas, posição do autor e seus argumentos.

• Antecipar argumentos contrários.ofi

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Atividades1ª- etapa

Vamos trabalhar com o texto “Deficientes, feios e po-bres”, escrito por Jessé Souza (está em “Textos reco-mendados”), para explorar algumas das características do artigo de opinião. Essa atividade visa identificar, no artigo, a questão polêmica, a posição do autor (a favor ou contra), os argumentos por ele utilizados para de-fender o seu ponto de vista.

Providencie cópias do texto para os alunos. Organize-os em grupos e peça-lhes que leiam atentamente o texto, identificando: • a questão polêmica; • a posição que o autor tomou; • os argumentos utilizados por ele.

Solicite aos alunos que grifem essas informações no tex-to, como fizeram na Oficina 2. A análise que apresenta-mos a seguir é dirigida a você, professor. Ela poderá aju-dá-lo a mediar o estudo que será feito por seus alunos.

Vale enfatizar que neste artigo o autor, embora cite, não traz a voz de profissionais envolvidos nessa questão: enge-nheiros, motoristas, representantes do poder público.

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Deficientes, feios e pobres Jessé Souza

Esse mundinho de criar frase politicamente correta para os excluídos ou injustiça-dos é mais que hipocrisia. É idiotizante. Querem transformar negros em afro-descenden-tes. Índios em nativos. Deficientes físicos em portadores de necessidades especiais.

Tudo isto não passa de uma forma que os politicamente corretos acharam para tentar esconder que — mesmo com o pomposo nome de portadores de necessidades especiais — os deficientes físicos continuam sem acesso, sem respeito e sem poder exercer plenamente sua cidadania.

Tenho um irmão cadeirante (que anda de cadeira de roda, um paraplé-gico T-4) — aviso logo, antes que digam que estou comentando algo que eu não entendo. E não é uma terminologia pomposa que o vai dignificar ou mudar a situa-ção de exclusão em que vive, mesmo rodeado de pessoas que o apóiam e o ajudam a ultrapassar obstáculos tanto físicos quanto psíquicos.

Os prédios não dão acessibilidade, os taxistas fazem cara feia e não param, os ônibus não estão adaptados e as pessoas, em vez de tratarem o deficiente físico como um cidadão, acabam os classificando como coitadinhos ou os rodeando de uma pena irritante.

Entre eles mesmos, os cadeirantes se divertem os colocando apelidos e chaman-do sem arrodeios ou hipocrisia por suas deficiências. E nós, tendo um em nossa fa-mília, aprendemos que essa história de palavras politicamente corretas não passam de uma cortina para esconder as graves falhas da sociedade com quem é diferente, feio, aleijado, pobre, de cor...

Não importa se chamamos de puta, garota de programa, mulher da vida ou qual-quer terminologia politicamente correta. O que importa é se este politicamente correto é só da boca para fora ou estamos carregados de preconceito ou exclusão.

Não interessa se o cadeirante é paraplégico, aleijado, deficiente ou portador de necessidades especiais. Importa é o engenheiro construir rampas, o taxista parar e dobrar sua cadeira no porta-malas, o prédio público ter banheiros adaptados e os meios-fios adaptados.

Jamais iremos construir um mundo sem exclusão achando que buscando pala-vras politicamente corretas estamos acionando uma varinha de condão para incluir e dar acessibilidade aos deficientes ou mudando a mentalidade de quem discrimina e exclui.

Só vamos mudar a realidade de quem está em desvantagem em relação aos que se acham normais permitindo que os portadores ou deficientes de toda espécie exerçam sozinhos seu direito de ir e vir, sintam-se cidadãos plenos e possam viver sem ser tratados como coitadinhos, que precisam de pena e dó para que as leis sejam respeitadas.

Nos primeiros parágrafos o autor localiza o leitor em relação à situação dos grupos discriminados socialmente.

Com essa frase, o autor ressalta que fala com conhecimento de causa.

Neste trecho o autor focaliza a questão a ser discutida no artigo: o descuido com os direitos dos deficientes físicos

No quinto parágrafo, o autor evidencia que o uso de expressões politicamente corretas não garante a melhoria das condições de vida do deficiente físico.

O autor conclui o artigo reafirmando sua posição: cumprimento da legislação para que os deficientes físicos usufruam seu direito de cidadão.

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2ª- etapa

Na 1a etapa desta oficina foi trabalhada a argumentação. Agora você irá ajudar seus alunos a identificarem a importância da contra-argumenta-ção. Convide-os a representarem o papel dos profissionais citados no texto “Deficientes, feios e pobres” — engenheiro, representante do po-der público, motorista — e dialogarem com o articulista, dando respos-tas, explicações, fazendo perguntas.

Divida a turma em pequenos grupos. Peça-lhes que se coloquem no lugar desses profissionais e conversem sobre os possíveis argumentos que utilizariam. Os alunos devem registrar os argumentos para depois apresentá-los à classe. Lance questões para ajudá-los nesse desafio.

• Há alguma razão que justifique o não cumprimento da legislação em vigor, que assegura o direito de ir e vir e trafegar por lugares públicos (§20 do artigo 227 da Lei Federal 7. 853, de 24/10/1989)? Dizer que as pessoas não cumprem a lei justifica o fato de ela não ser cumprida? Nesse caso, a questão que se coloca é: por que não a cumprem? Lem-bre-se disso ao comentar a argumentação feita pelos alunos.

• A sociedade civil e o governo estão empenhados em garantir os direi-tos da pessoa portadora de deficiência física? Quem é responsável por fazer isso? Como isso é feito?

• Há, nos planos orçamentários municipais e estaduais, verbas específicas para programas e ações destinados às pessoas portadoras de deficiên-cia física? Qual o motivo, apontado pelas autoridades, para a existência, ou não, dessa verba?

Aquecidos pela discussão, os alunos vão reescrever o texto, como se fossem o próprio autor, incluindo as vozes dos profissionais citados pelo articulista, imaginando os motivos de não se efetivarem as alterações necessárias ao acesso de todos em edifícios, nos meios de transporte e em outros espaços públicos.

Lembre aos alunos que ao escrever um artigo o autor deve conhecer os argumentos dos opositores e dialogar com eles, antecipando possíveis críticas. Dessa forma, o articulista pode contestar de modo mais eficaz os pontos de vista contrários aos seus, convencendo o leitor de sua posição.

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Sustentação de uma posiçãoObjEtIvO

• Construir argumentos para defender uma posição.o

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Atividades1ª - etapa

Explique aos alunos que, ao escrever um artigo de opinião, devem procurar utilizar argumentos consistentes e bem fundamentados, pois são mais fortes e convincentes. Devem explicar ao leitor quais as razões que os levaram a tomar determinada posição, evitando motivos superficiais ou sem justificativa do tipo: porque ninguém que eu conheço discorda, porque ouvi dizer, porque todo mundo pensa as-sim, porque na vizinhança todos dizem, pois são motivos frágeis.

O autor precisa escolher os argumentos de acordo com o público para quem escreve. Um artigo para um jornal de economia, por exemplo, deverá conter dados estatísticos; um articulista, para de-fender uma lei que está sendo criada, precisa apresentar situações em que a sua aplicação trouxe melhorias, e assim por diante.

Providencie para os alunos cópias da página seguinte. Faça uma lei-tura comentada do quadro para que seus alunos conheçam os dife-rentes tipos de argumento. Em seguida, organize a classe em duplas e peça-lhes que identifiquem, nas frases, os tipos de argumento, consultando o quadro.

Você pode ajudá-los fazendo perguntas. Qual é o trecho que traz um argumento de autoridade? Como vocês chegaram a essa conclu-são? Há alguma indicação no texto que os levou à resposta?

Para finalizar, você deve ler com a turma qualquer um dos artigos que estão em “Textos recomendados”, identificando os diversos ti-pos de argumento utilizados pelo autor.

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Frases argumentativas1. “ A saúde do município anda mal cuidada. Muitos cidadãos relatam que fo-

ram aos postos de saúde e não havia médicos para atendê-los.”

2. “ Para a antropóloga Yvonne Maggie, professora da Universidade Federal do Rio de janeiro (UFRj), instituir o conceito de raça só traz sofrimento” (Folha de S. Paulo, 7/7/2006).

3. “ Em blumenau, 114.000 residências têm acesso à água tratada, mas apenas 1.014 possuem tratamento de esgoto” (Ivan Naatz. Saneamento básico. Florianópolis, 4 de setembro, ed. 7. 816).

4. “ Atualmente, são 4,5 milhões de brasileiros com idade entre 15 e 29 anos que estão fora da escola e do mercado de trabalho. totalmente vulneráveis a ingressar na vida fácil do crime, esses jovens tiveram vários motivos para estarem nessa situação, entre eles, o desleixo do poder público” (Jornal clicabrasília, 6/9/2007).

5. “ Como já afirmei, sou contra o aborto. Além de tudo que disse anterior-mente, a vida é um dom de Deus e nenhum homem tem o direito de tirá-la.”

Tipos de argumento

Argumentos Explicação

de autoridade

Ajuda a sustentar sua posição, lançando mão da voz de um especialista, uma pessoa respeitável (líder, artista, político), uma instituição de pesquisa considerada autoridade no assunto.

de exemplificaçãoRelata um fato ocorrido com ele ou com alguém para dar um exemplo de como aquilo que ele defende é válido.

de provasComprova seus argumentos com informações incontestáveis: dados estatísticos, fatos históricos, acontecimentos notórios.

de princípio ou crença pessoal Refere-se a valores éticos ou morais supostamente irrefutáveis.

de causa e conseqüência Afirma que um fato ocorre em decorrência de outro.

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2ª - etapa

Escreva na lousa, ou em tiras de papel, as situações abaixo — ou outras, criadas por você — e peça aos alunos que elaborem pelo menos três argumentos de diferentes tipos para defender a posição deles. Se possível, solicite-lhes que se preparem para essa atividade em período extra-es-colar, pesquisando em jornais, em revistas e na internet a argumentação que será utilizada na aula.

Divida a classe em dois grupos. De um lado, ficam os alunos que deverão tomar posição favorável às situações apresentadas, do outro, ficam aque-les que assumirão posição contrária. Ao final, representantes de ambos os lados lerão a posição assumida diante de cada situação e os argumentos construídos para defender a posição deles e refutar a contrária.

Diga aos alunos que, para desenvolver argumentos consistentes, pode-rão utilizar vários recursos: trazer as idéias de um especialista no assunto; exemplificar fatos ocorridos que se relacionem diretamente com a ques-tão colocada; apresentar provas; referir-se conscientemente a valores éticos ou morais envolvidos na questão; explicitar a relação de causa e conseqüência.

Situação 1Um adolescente, para resolver um problema econômico da família, resolveu fazer cópias de CDs para vender. Ele vendeu todos os CDs e pagou a dívida. Questão polêmica: o jovem tem ou não o direito de reproduzir CDs para vender, desconside-rando a lei dos direitos autorais?

Situação 2Novas pesquisas indicam que os adolescentes começam a beber cada vez mais cedo e de forma abusiva. Preocupado com esse consumo de álcool, o prefeito de uma cidade proibiu a venda de bebidas alcoólicas em bares próximos às escolas. Questão polêmica: essa medida pode diminuir o consumo de bebidas alcoólicas pelos ado-lescentes?

Situação 3Uma diretora de escola proibiu a entrada de alunos com piercings em sala de aula.Questão polêmica: a diretora tem o direito de proibir a entrada de alunos que usam piercings?

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ObjEtIvO

• Conhecer e usar expressões que articulam o artigo de opinião.

Como articularo

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AtividadesAté aqui levantamos alguns aspectos do texto de opinião: a identifica-ção de uma questão polêmica, a tomada de posição favorável ou con-trária e os argumentos. Eles estão vinculados entre si, ao longo do artigo, por elementos articuladores.

Esses elementos podem aparecer em uma única oração que apresente idéias complementares ou contraditórias. É possível também encontrá-los em frases ou em parágrafos diferentes.

As próximas atividades têm como objetivo orientar os alunos a identifi-car esses elementos e a usá-los apropriadamente. É preciso reproduzir para grupos de dois ou três alunos a tabela da página 41 e o quadro da página 42.

Faça cópias da tabela e recorte nas linhas pontilhadas. Coloque um conjunto completo em cada envelope. Divida a classe em duplas ou trios e proponha um jogo. Distribua os envelopes e peça aos alunos que montem as frases e as escrevam no caderno.

Se os alunos tiverem dificuldade, você pode complementar a orienta-ção, dizendo que os trechos são compostos de três partes, ficando o elemento articulador no meio. Outra dica é sugerir que fiquem atentos à pontuação. Quando todos tiverem terminado, solicite-lhes que leiam em voz alta as frases montadas.

Entregue o quadro “Elementos articuladores” e discuta-o com seus alu-nos. Na seqüência, em pequenos grupos, eles irão escrever um breve texto com base em uma questão polêmica, como, por exemplo: “Deve ou não existir uma lei que proíba as pessoas de fumar em lugares pú-blicos?”. Proponha aos grupos que discutam a questão, tomem uma posição e escrevam um texto usando os elementos articuladores.

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Tabela para atividade

Devemos ajudar nossos pais, pois, sem dúvida, a cooperação é um valor fundamental para a convivência familiar.

As propagandas mostram produtos atraentes indispensáveis para a nossa vida, mas

cabe ao consumidor analisar aquilo de que realmente necessita e selecionar o que é bom.

O fumo faz mal à saúde. Portanto, as pessoas deveriam parar de fumar.

A água doce, por causa dos abusos cometidos, poderá acabar em nosso planeta. Assim, é preciso definir algumas regras para

o uso racional da água.

A limpeza de terrenos e casas é necessária para impedir a propagação do mosquito da dengue.

Além disso,

é importante que se faça uma campanha de conscientização para que as pessoas não deixem que a água se acumule em vasos e outros recipientes.

Se o desmatamento não diminuir, é provável que a Amazônia se transforme em um imenso deserto.

É indispensável que se intensifiquem campanhas de coleta seletiva de lixo nas escolas, famílias e comunidade,

pois dessa forma a responsabilidade cidadã crescerá entre os moradores.

A pena de morte não é solução para a criminalidade. Primeiramente,

está comprovado que os crimes hediondos não deixaram de ocorrer nos países que a adotaram.

A pena de morte não é solução para a criminalidade. Em segundo lugar,

porque muitos dos que foram xecutados tiveram, posteriormente, sua inocência comprovada.

A pena de morte não é solução para a criminalidade.

Finalmente, não matar os semelhantes é um princípio ético fundamental.

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Elementos articuladores

Uso Expressões

Tomada de posição Do meu ponto de vista / na minha opinião / pensamos que / pessoalmente acho

Indicação de certeza Sem dúvida / está claro que / com certeza / é indiscutível

Indicação de probabilidade Provavelmente / me parece que / ao que tudo indica / é possível que

Relação de causa e conseqüência Porque / pois / então / logo / portanto / consequentemente

Acréscimo de argumentos Além disso / também / ademais

Indicação de restrição Mas / porém / todavia / contudo / entretanto / apesar de / não obstante

Organização geral do texto Inicialmente / primeiramente / em segundo lugar / por um lado / por outro lado / por fim

Introdução de conclusão Assim / finalmente / para finalizar / concluindo / enfim / em resumo

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aObjetivO

• identificar as vozes com as quais o autor dialoga.

Vozes no artigo de opinião

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AtividadesNesta oficina vamos trabalhar com o texto “Futura gestão dos recursos hídricos”. Faça cópias do artigo, que se encontra em “Textos recomenda-dos”, para grupos de alunos. No texto, a polêmica é sobre as vantagens e desvantagens da construção de uma rede que integrará o rio São Francisco às bacias hidrográficas do Semi-Árido nordestino. Como co-mentado anteriormente, essa questão pode ser pouco familiar para os que moram em outras regiões, mas é muito importante para quem vive no Semi-Árido.

Em seu artigo, o autor assume uma posição a favor da integração dos açudes ao rio São Francisco. Traz as vozes que participam da discussão e procura desacreditar os argumentos daqueles que são contrários. Cita, por exemplo, a entrevista “Para opositores, projeto é chover no molhado”, publicada em um jornal. Por outro lado, inclui a voz favorável do ministro Ciro Gomes, que, de acordo com o articulista, tem experiência com os problemas das secas no Nordeste.

A proposta é que os alunos percebam que um artigo de opinião costu-ma trazer diversas “vozes”, isto é, a posição favorável de pessoas que o autor inclui no artigo para sustentar a própria opinião, ou a posição con-trária, de outros, à qual se refere porque deseja rebatê-la. Lembre-se de que, nesse caso, são os contra-argumentos, como visto na Oficina 5.

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1ª - etapa

Antes de iniciar a leitura, é importante que você ofereça aos alunos algumas pistas sobre o texto que irão ler, de modo que possam fazer inferências e, ao ler, verificar suas hipóteses. Quanto mais um leitor conhece o assun-to que vai ler, melhor condição terá para construir os sen-tidos do texto.

• Inicie dizendo qual será a finalidade dessa leitura: des-cobrir as diferentes vozes presentes no texto. Explique aos alunos o que são as “vozes” que deverão buscar.

• Faça perguntas sobre o título do artigo. Veja se sabem o que é gestão e recursos hídricos. Antes de dar respos-tas, deixe que tentem descobrir o sentido pelas rela-ções com outras palavras conhecidas. Pergunte tam-bém se, pelo título, dá para saber o assunto que será tratado.

• Faça perguntas sobre o gênero. Como vocês já estão trabalhando com o artigo de opinião, é provável que seus alunos antecipem, dizendo que o texto trará uma questão polêmica e diferentes argumentos. Qual pode ser a questão polêmica?

• Será que os alunos já ouviram falar do autor? Diga-lhes que é um engenheiro civil, do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (DNOCS). Pergunte se, com essas informações, conseguem antecipar o assunto.

Depois dessa preparação para a leitura, divida a classe em grupos e entregue as cópias do texto. Leia o artigo para a turma e volte a perguntar sobre as características do gênero e a questão polêmica.

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2ª - etapa

A seguir encontram-se algumas perguntas que você pode fazer para que os alunos percebam, neste texto, as diferentes vozes; você poderá ampliá-las ou fazer outras, conforme as necessidades de sua classe.

Escreva na lousa as questões e peça aos alunos que, em pequenos grupos, releiam o texto, discutam e localizem as respostas. Grifar os trechos que res-pondem às perguntas é uma boa estratégia de aprendizagem.

1. Qual a posição do autor sobre a questão?

2. Para constituir seus argumentos, o autor assume em diversos momentos a “voz da ciência”, que, para ele, não pode ser contestada. Encontrem dois trechos no artigo que comprovam essa afirmação.

3. O articulista usa dados estatísticos para fundamentar sua posição. Em que trecho isso ocorre?

4. A “voz” de uma autoridade política é trazida pelo autor para reforçar sua posição. Qual é o trecho em que isso aparece?

5. Para desacreditar os argumentos dos opositores (contra-argumentos), o ar-ticulista afirma que eles não são representantes da ciência. Em que trecho do artigo ele desconsidera os opositores?

6. Por que vocês acham que o jornal convidou o autor para escrever sobre o assunto?

Para finalizar, um representante de cada grupo lerá para a classe as respostas encontradas.

Na página ao lado reproduzimos o texto desta oficina com alguns comentá-rios para ajudar o seu trabalho.

Mais sobre vozesA expressão “voz” não se refere apenas à palavra dos indivíduos. Números, estatísticas, dados quantitativos ou qualitativos de diferentes ciências também são considerados vozes.

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No semi-árido nordestino, a irregularidade das chuvas tem oca-sionado “ciclos secos” de até oito anos seguidos, como o que foi constatado entre os anos de 1950 e 1958. Mais recentemente, tive-mos “um ciclo seco desfavorável” de cinco anos entre os anos de 1979 e 1983, tendo a sua abrangência atingido até mesmo o Estado do Maranhão. A existência desses “períodos críticos”, já há tempos constatada pelo Dnocs, acarreta a redução do aporte de água fluvial para os reservatórios, o que, por deficiência de recarga e por medida de precaução, impossibilita a utilização plena do volume de água armazenado nos açudes e, em conseqüência, boa parte dele se perde pela elevada evaporação.

Ao integrar os grandes açudes da região a uma fonte perene exter-na como o Rio São Francisco, os recursos hídricos locais se potencia-lizarão, possibilitando a gestão de um volume bem maior da água ar-mazenada, estimulando o desenvolvimento social e econômico, tanto na agricultura irrigada, na pecuária, como na indústria, gerando em-prego, renda e produzindo alimentos, o que é de interesse nacional. Com a garantia dessa fonte externa, intensificando-se a utilização das águas acumuladas nos reservatórios, diminuirá a superfície exposta à evaporação e esta se reduzirá, aumentando de forma substancial a disponibilidade hídrica realmente utilizável. Em outras palavras, o de-senvolvimento social e econômico se dará de forma mais abrangente não pela água do Rio São Francisco que estará chegando, mas pela intensiva utilização das águas locais que seriam perdidas para a atmos-fera pelo efeito incontrolável da evaporação. Desta forma, as águas advindas da transposição serão reservadas, exclusivamente, ao abaste-cimento humano e animal sempre que os açudes estiverem secos, ou na iminência de secar.

Como exemplo, o açude Castanhão, localizado no Ceará, que per-de por evaporação, em média, cerca de 25 m3/s, enquanto o aprovei-tamento regular de sua água é de apenas 19 m3/s. Essa perda poderia ser reduzida para até menos da metade, gerando virtualmente um novo reservatório e aumentando significativamente o aproveitamento de suas águas. Pois esse açude acumula 4,2 bilhões de m3 na sua cota de regularização. Desse volume, 30% são, em média, evaporados anualmente, restando, portanto, 3 bilhões. Destes, apenas é utilizável

O autor inicia o artigo esclarecendo sobre a situação dos recursos hídricos no Semi-Árido nordestino. Ele chama a atenção para o fenômeno da evaporação, responsável pela perda de grandes volumes de água.

Neste trecho o autor utiliza um argumento apoiado em conhecimentos científicos ao referir-se à evaporação (questão 2).

O autor, no terceiro parágrafo, se respalda em dados de pesquisa para fundamentar sua argumentação (questão 3).

A futura gestão dos recursos hídricos Cássio Borges

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um volume da ordem de 600 milhões de m3 (19 m3/s), pois os res-tantes 2,4 bilhões de m3 deixam de ser utilizados justamente para “guardar a água’’ para vencer uma possível futura seca prolongada, ou um “trem de anos secos”, no vocabulário do Dnocs. Não mais será necessária essa precaução de “guardar água’’ após a concretiza-ção da transposição, ou como quer o ministro Ciro Gomes, do Pro-jeto de Interligação de Bacias.

Como acima foi explicado, desaparecerá completamente o mais recente argumento dos opositores: “a água vinda do Rio São Francis-co é muito cara’’ ou, ainda, “é chover no molhado’’ (ver Folha de S. Paulo, do dia 17/10/2005, na entrevista dada pelo pesquisador João Suassuna na matéria sob o título: “Para opositores, projeto é chover no molhado’’). Mas esse tipo de declaração só se pode atribuir à completa ignorância do que seja o semi-árido e aí incluo muitos dos que dizem ser cientistas (em que área da ciência?) e, por isso, se acham com o direito de falar sobre esse tema nordestino, delicado e complexo, que desconhecem.

Não pode deixar de ser salientado que, pelo acima exposto, o custo da água trazida pela transposição será diluído no uso mais in-tenso e eficaz da água acumulada nos açudes. Ou seja, na realidade, cada m3 transposto irá representar um volume maior utilizável. Pelo que, inegavelmente, não é o custo do m3 da água bombeada do Rio São Francisco que deve ser considerado na análise do custo benefício

da transposição, mas sim sua eficiência hídrica.

Cássio Borges é engenheiro civil, ex-diretor regional do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS).

Aqui é ressaltada a especialidade do autor, que lhe confere autoridade para discutir o assunto (questão 6).

O autor desvaloriza os opositores dizendo que as declarações deles demonstram completa ignorância do assunto. Escreve que os opositores “se dizem” cientistas, mas de fato não o são (questão 5).

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A voz de uma autoridade (questão 4)

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aObjEtIvOS

• buscar informações sobre o assunto polêmico. • Relacionar informações gerais com locais.• Socializar os resultados das pesquisas.

Pesquisar para escrever

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Atividades1ª - etapa

Retome com seus alunos as questões polêmicas locais anteriormente levanta-das. Proponha-lhes que façam uma pesquisa sobre o assunto que irão escre-ver, de modo que possa embasar a construção de argumentos. Ajude-os a providenciar o material necessário à pesquisa, a organizar entrevistas ou en-quetes, a encontrar e selecionar as fontes de informação.

Divida a classe em grupos de pesquisa. Cada grupo terá que buscar informa-ções sobre um dos aspectos da questão polêmica. Solicite que organizem os dados coletados, registrando-os numa síntese que ajudará a sustentar a argu-mentação na escrita individual. Pode-se recorrer a diferentes fontes, como: • jornais, livros, internet e vídeos informativos;• universidades, prefeituras, secretarias, delegacias, ONGs etc.;• entrevistas com pessoas que sejam autoridades no assunto;• enquete/pesquisa de opinião com moradores do município.

De acordo com a polêmica escolhida, devem-se buscar diferentes informa-ções sobre o assunto para que os argumentos utilizados sejam confiáveis:• dados histórico-culturais;• estatísticas;• pontos de vista de diferentes autoridades; • leis ou projetos de lei;• causas e conseqüências;• exemplos de acontecimentos.

Os alunos podem e devem colher informações e opiniões de âmbito nacional, mas precisam trazer o problema para a sua comunidade, dando dimensão local a ele.

O texto “Doce Içara com sabor amargo”, que se encontra em “Textos recomen-dados”, exemplifica como os alunos de uma classe que participou da terceira edição do Prêmio Escrevendo o Futuro coletaram informações.

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2ª - etapa

Para socializar a pesquisa sobre os diferentes aspectos da questão polêmica, cada grupo deverá ter em mãos sua síntese. Nessa socialização, todos devem participar ativamente. Os alunos anotarão os resultados obtidos e você fará a síntese geral.

Registre na lousa ou em uma grande folha só os resultados relevantes das pesquisas, aqueles que poderão ser transformados em argumentos de dife-rentes tipos.

Para ficar mais fácil, reveja o quadro “Tipos de Argumentos”, da Oficina 6: argu-mentos de autoridade, de exemplificação, de provas, de princípio/crença pes-soal, de causa e conseqüência.

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ObjEtIvO

• Analisar e reescrever um artigo de opinião produzido por um aluno.

Assim fica melhor

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AtividadesNesta atividade os alunos, coletivamente, deverão reescrever o texto “O lugar onde eu vivo”, da página ao lado, com o objetivo de melhorá-lo, aproximá-lo do gênero “artigo de opinião”. Isso os ajudará a organizar uma síntese das principais informações aprendidas nas oficinas anteriores. Por ser uma reflexão coletiva, é um trabalho que favorece a criação de “zona proximal” de desenvolvimento. A troca de informações entre estudantes de uma mesma turma permite que os colegas que estão em um estágio mais avançado do conhecimento auxiliem o processo de aprendizagem dos demais e o seu próprio, pois aquele que ensina

sempre aprende.

Faça cópias do texto “O lugar onde eu vivo” para seus alunos. Diga-lhes que pre-cisam ser feitas alterações para melhorá-lo. Conversem sobre as possíveis modi-ficações. Para isso, pergunte-lhes:• O título é adequado para um artigo de opinião? Por quê?• O autor indica claramente a questão polêmica?• Há diferentes vozes no texto? De quem são essas vozes?• Os argumentos apresentados são convincentes? Mostram dados, exemplos,

referem-se explicitamente a valores éticos ou morais; revelam a relação de causa e conseqüência?

• O autor usa elementos articuladores?

Zona proximalA expressão “zona proximal” foi criada por Lev vygotsky (1896-1934), psicólogo bielo-russo (nascido na bielo-Rússia, país da Europa oriental que faz divisa com Polônia, Rússia, Letônia e Ucrânia).

Zona proximal nomeia o espaço de trocas e interações em que os alunos realizam tarefas com a ajuda de colegas e do professor. A zona real do conhecimento é quando o aluno con-segue fazer a tarefa sozinho, sem ajuda.

No nosso caso, o texto individual deverá ser produzido na zona real do conhecimento. Mas antes você deve orientar a reescrita coletiva.

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O lugar onde eu vivoA cidade de Samambaia do Leste tem muitas belezas naturais, um clima agradável, e não pos-

so deixar de dizer que o povo também é muito bom. O que está acontecendo ultimamente é que apareceram muitas fábricas. Elas trouxeram emprego, mas trouxeram também problemas.

A cidade cresceu muito, abriu muito campo de trabalho para as pessoas. As fábricas empre-gam jovens sem experiência e que não têm estudo para conseguir trabalho em outros setores que requerem nível de escolaridade, pessoas com deficiência física, outros que não suportavam o tra-balho rural pelo peso da idade. Outra coisa que posso dizer é que trabalhando num emprego com carteira assinada é possível conseguir assistência do INSS e aposentadoria.

Mas a criação de empregos trouxe o aumento da migração. Muitas pessoas desconhecidas vieram de outros estados e outras regiões e passaram a viver em nossa cidade, trazendo muitos problemas. Com isso, Samambaia do Leste não é mais uma família samambaiense.

Também por causa da migração, estamos enfrentando um custo de vida mais alto, com far-mácia, com mercado, aluguel e falta de segurança, pois a cidade não está preparada para receber tanta gente e, às vezes, se aproveitam da situação.

Enfim, vamos pedir a Jesus que olhe por esta cidade que acolheu tantos outros seus filhos, para que eles consigam conviver com os moradores antigos desta terra que amamos muito.

Valorize a participação de todos, mas interfira com suas contribuições. Por meio de perguntas, você pode auxiliar os alunos a pensar sobre possíveis mudanças. Defina alguém para reescrever o texto na lousa e peça a todos que copiem a reescrita.

O quadro da página seguinte pode auxiliá-lo a orientar seus alunos nessa ati-vidade. Ele contém, além dos trechos que devem ser reelaborados, algumas perguntas e comentários.

Vale lembrar aos grupos que o texto resultante dessa reelaboração é uma pos-sibilidade, entre outras. Veja na página 58, um exemplo do texto reformulado.

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Texto Perguntas ComentáriosTí

tulo

O lugar onde eu vivo

Esse título suscita curiosidade?

Anuncia a questão polêmica?

Convida o leitor a conhecer o texto?

O título não é apropriado, pois o aluno intitulou seu texto com o tema do concurso.

1

A cidade de Samambaia do Leste tem muitas belezas naturais, um clima agradá-vel, e não posso deixar de dizer que o povo também é muito bom. O que está acontecendo ultimamente é que apareceram muitas fábricas. Elas trouxeram emprego, mas trouxeram também problemas

O autor indica claramente a questão polêmica?

Usa linguagem própria ao artigo de opinião?

Relaciona os problemas locais com situações nacionais ou até mesmo internacionais?

Este parágrafo inicial poderia ser melhorado se o aluno usasse uma linguagem mais próxima da jornalística. Em sua descrição, ele poderia relacionar sua cidade com outras que enfrentam problemas semelhantes, explicitar os motivos que levaram as fábricas a se estabelecerem no local, formular mais claramente a questão polêmica e relacionar a industrialização com a urbanização acelerada.

2

A cidade cresceu muito, abriu muito campo de trabalho para as pessoas. As fábri-cas empregam jovens sem experiência e que não têm estudo para conseguir trabalho em outros setores que requerem nível de escolaridade, pessoas com deficiência física, outros que não suportavam o trabalho rural pelo peso da idade. Outra coisa que posso dizer é que trabalhando num emprego com carteira assi-nada é possível conseguir assistência do INSS e aposentadoria.

Que assunto é tratado no segundo parágrafo?

Que autoridade poderia ser citada para fundamentar o argumento de que a vinda das fábricas é uma vantagem?

Como as vantagens poderiam ser comprovadas?

Neste trecho, o aluno faz, adequadamente, uma enumeração das vantagens que o estabelecimento das fábricas trouxe, mas não funda-menta com dados aquilo que escreve, nem indica a voz que, por trás da sua, valoriza a vinda das fábricas como fonte de benefícios incon-testáveis.

3Mas a criação de empregos trouxe o aumento da migração. Muitas pessoas des-conhecidas vieram de outros estados e outras regiões e passaram a viver em nossa cidade, trazendo muitos problemas. Com isso, Samambaia do Leste não é mais uma família samambaiense.

O autor assume uma posição?

Utiliza bons argumentos para sustentá-la, ou seja, bem fundamentados, coerentes e consistentes?

Neste trecho, o aluno comenta que atualmente a cidade tem problemas. As possibilidades de emprego atraíram migrantes, o que, para os antigos moradores, até mesmo ele, quebrou a harmonia da família samambaiense, aumentou o custo de vida e a violência. Se, por um lado, o autor assume uma posição, por outro não a justifica. Quais argumentos podem sustentar que a migração é a causa dos problemas apontados?

Provavelmente, se o aluno tivesse pesquisado mais, tivesse lido alguns artigos de especialistas sobre o assunto, poderia ampliar sua visão sobre a relação entre industrialização, migração e urbanização acelerada, teria abandonado sua posição simplista de analisar o problema. Da forma como está, parece que há uma luta do bem (a família samambaiense) contra o mal (os migrantes). 4

Também por causa da migração, estamos enfrentando um custo de vida mais alto, com farmácia, com mercado, aluguel e falta de segurança, pois a cidade não está preparada para receber tanta gente e, às vezes, se aproveitam da situação.

Será que todos os moradores pensam da mesma forma?

Há pessoas que não acreditam que a migração seja a causa dos problemas?

Quais seriam outras possíveis causas dos problemas apontados?

5Enfim, vamos pedir a Jesus que olhe por esta cidade que acolheu tantos outros seus filhos, para que eles consigam conviver com os moradores antigos desta terra que amamos muito.

Como leitor, você ficou convencido dos argumentos do autor?

Conclui o texto enfatizando a posição dele?

Este último trecho é iniciado com a expressão “enfim”, indicadora de conclusão. Não basta, porém, usar uma expressão articuladora corre-ta. O modo como o aluno fecha o texto indica que ele não vê um possível encaminhamento para os problemas. Como faltou uma análise mais profunda da situação atual da cidade, também faltam sugestões práticas para resolver os problemas existentes.

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Texto Perguntas Comentários

Títu

lo

O lugar onde eu vivo

Esse título suscita curiosidade?

Anuncia a questão polêmica?

Convida o leitor a conhecer o texto?

O título não é apropriado, pois o aluno intitulou seu texto com o tema do concurso.

1

A cidade de Samambaia do Leste tem muitas belezas naturais, um clima agradá-vel, e não posso deixar de dizer que o povo também é muito bom. O que está acontecendo ultimamente é que apareceram muitas fábricas. Elas trouxeram emprego, mas trouxeram também problemas

O autor indica claramente a questão polêmica?

Usa linguagem própria ao artigo de opinião?

Relaciona os problemas locais com situações nacionais ou até mesmo internacionais?

Este parágrafo inicial poderia ser melhorado se o aluno usasse uma linguagem mais próxima da jornalística. Em sua descrição, ele poderia relacionar sua cidade com outras que enfrentam problemas semelhantes, explicitar os motivos que levaram as fábricas a se estabelecerem no local, formular mais claramente a questão polêmica e relacionar a industrialização com a urbanização acelerada.

2

A cidade cresceu muito, abriu muito campo de trabalho para as pessoas. As fábri-cas empregam jovens sem experiência e que não têm estudo para conseguir trabalho em outros setores que requerem nível de escolaridade, pessoas com deficiência física, outros que não suportavam o trabalho rural pelo peso da idade. Outra coisa que posso dizer é que trabalhando num emprego com carteira assi-nada é possível conseguir assistência do INSS e aposentadoria.

Que assunto é tratado no segundo parágrafo?

Que autoridade poderia ser citada para fundamentar o argumento de que a vinda das fábricas é uma vantagem?

Como as vantagens poderiam ser comprovadas?

Neste trecho, o aluno faz, adequadamente, uma enumeração das vantagens que o estabelecimento das fábricas trouxe, mas não funda-menta com dados aquilo que escreve, nem indica a voz que, por trás da sua, valoriza a vinda das fábricas como fonte de benefícios incon-testáveis.

3Mas a criação de empregos trouxe o aumento da migração. Muitas pessoas des-conhecidas vieram de outros estados e outras regiões e passaram a viver em nossa cidade, trazendo muitos problemas. Com isso, Samambaia do Leste não é mais uma família samambaiense.

O autor assume uma posição?

Utiliza bons argumentos para sustentá-la, ou seja, bem fundamentados, coerentes e consistentes?

Neste trecho, o aluno comenta que atualmente a cidade tem problemas. As possibilidades de emprego atraíram migrantes, o que, para os antigos moradores, até mesmo ele, quebrou a harmonia da família samambaiense, aumentou o custo de vida e a violência. Se, por um lado, o autor assume uma posição, por outro não a justifica. Quais argumentos podem sustentar que a migração é a causa dos problemas apontados?

Provavelmente, se o aluno tivesse pesquisado mais, tivesse lido alguns artigos de especialistas sobre o assunto, poderia ampliar sua visão sobre a relação entre industrialização, migração e urbanização acelerada, teria abandonado sua posição simplista de analisar o problema. Da forma como está, parece que há uma luta do bem (a família samambaiense) contra o mal (os migrantes). 4

Também por causa da migração, estamos enfrentando um custo de vida mais alto, com farmácia, com mercado, aluguel e falta de segurança, pois a cidade não está preparada para receber tanta gente e, às vezes, se aproveitam da situação.

Será que todos os moradores pensam da mesma forma?

Há pessoas que não acreditam que a migração seja a causa dos problemas?

Quais seriam outras possíveis causas dos problemas apontados?

5Enfim, vamos pedir a Jesus que olhe por esta cidade que acolheu tantos outros seus filhos, para que eles consigam conviver com os moradores antigos desta terra que amamos muito.

Como leitor, você ficou convencido dos argumentos do autor?

Conclui o texto enfatizando a posição dele?

Este último trecho é iniciado com a expressão “enfim”, indicadora de conclusão. Não basta, porém, usar uma expressão articuladora corre-ta. O modo como o aluno fecha o texto indica que ele não vê um possível encaminhamento para os problemas. Como faltou uma análise mais profunda da situação atual da cidade, também faltam sugestões práticas para resolver os problemas existentes.

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“Os problemas de Samambaia do Leste têm solução?”

Como várias cidades brasileiras, Samambaia do Leste tem muitas belezas naturais, boa quali-dade ambiental e poucas oportunidades de trabalho. Recentemente, por conta dos incentivos fiscais instituídos pela atual gestão municipal, algumas fábricas se estabeleceram no entorno da cidade. Este fato provocou um confronto de opiniões. Há aqueles que consideram a chegada das fábricas uma solução para o desemprego e aqueles que a vêem como uma abertura para a urbani-zação acelerada, com todas as questões que isso acarreta.

A administração municipal aponta dados a favor da industrialização local. A cidade cresceu muito e o campo de trabalho também foi ampliado, com a criação de centenas de postos de ocu-pação. As fábricas empregam jovens sem experiência e sem estudo, que teriam dificuldade para conseguir trabalho em setores que requerem maior nível de escolaridade. As fábricas seguem a obrigatoriedade legal de contratação de um certo percentual de pessoas com deficiência física. Têm sido até contratadas pessoas que não suportavam o trabalho rural pelo peso da idade. A ges-tão municipal também divulga dados estatísticos que demonstram que aumentou em 27,3% o número de trabalhadores com carteira assinada. Sem dúvida, é benéfico ter assistência do INSS e aposentadoria.

No entanto, se a criação de empregos trouxe benefícios, trouxe também um aumento do fluxo migratório. É sabido que em todos os lugares do mundo onde há oportunidades de trabalho o fluxo migratório torna-se intenso. É só observar o caso das grandes cidades brasileiras que cresce-ram com a industrialização. Muitas pessoas vieram de outros estados e regiões e passaram a viver nelas. Com isso, a falta de moradia, de infra-estrutura em geral e a violência aumentaram desme-didamente. Mas pergunto: é necessário que nossa cidade enfrente os mesmos problemas?

A atual gestão, conhecedora das dificuldades típicas das grandes cidades, não poderia ter feito algum planejamento econômico, urbanístico e ambiental?

O incentivo à vinda de mais comerciantes, por exemplo, aumentaria a concorrência entre eles e forçaria uma queda de preços. Afinal, como dizem os economistas, quanto maior a oferta, me-nores os preços.

Outras possibilidades de ação por parte da prefeitura poderiam amenizar a falta de planeja-mento anterior e até mesmo a violência. Se a população fosse incentivada a se unir e formar coo-perativas para a construção de casas próprias, se a gestão municipal criasse associações culturais que proporcionassem atividades para a integração dos migrantes à família samambaiense, muitos dos problemas poderiam ser resolvidos.

Dessa maneira, a convivência entre antigos e novos moradores seria mais fácil e a comunidade samambaiense demonstraria o apreço ao princípio de que todo cidadão brasileiro tem o direito de ir, vir e estabelecer-se em locais onde sua qualidade de vida possa ser melhor.

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Produção deartigosObjEtIvO

• Produzir o texto individual.o

fici

na

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Retome com seus alunos o percurso feito até agora. Nas oficinas anteriores, eles escolheram uma questão polêmica que afeta a comunidade onde vivem. Fizeram entrevistas, pesquisas em jornais e revistas, colheram dados para me-lhor fundamentar sua posição.

Cada aluno vai produzir um texto individual com base na questão polêmica escolhida anteriormente ou numa nova questão que esteja circulando na co-munidade e que tenha relação com a pesquisa feita para que os alunos te-nham o que dizer e possam fundamentar a posição assumida.

Antes de começarem, lembre a seus alunos que, como articulistas, devem:

1. Partir de uma questão polêmica local e situar o leitor em relação a ela.

2. Tomar posição em relação à questão polêmica e afirmar seu ponto de vista como o melhor. Para isso, trazer argumentos, ora de autoridade, ora por exemplificação, ora baseados em princípios, dados de pesquisa ou em rela-ções de causa e conseqüência.

3. incluir opiniões de adversários para contestá-las com seus argumentos, ou desacreditá-las pelas fragilidades deles. É preciso tomar cuidado para que não seja feita uma depreciação preconceituosa, até porque isso não pode ser considerado um bom argumento.

4. Concluir o texto reforçando a posição tomada.

5. Usar elementos articuladores como os que:

• anunciam a posição do autor: “do nosso ponto de vista”, “penso que”, “pes-soalmente”, “acho que”.

• indicam certeza: “sem dúvida”, “está claro que”, “com certeza”, “é indiscutível”.

• introduzem argumentos: “porque”, “pois”, “mas”.

• chegam à conclusão: “então”, “conseqüentemente”, “por isso”, “assim”.

• marcam as diferentes vozes presentes no artigo: “como dizem os econo-mistas”, “segundo alguns empresários…”, “muitas pessoas dizem que...”, “há pessoas que negam...”, “alguns afirmam...”, “para muitos é impor-tante... para outros...”

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ObjEtIvO

• Revisar e melhorar o texto individual.

Últimos retoques

o f i c i n a

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AtividadesPrepare um cartaz com o roteiro descrito abaixo. Distribua aos alunos as próprias produções para que eles possam revisar e melhorar o texto.

Explique-lhes que o roteiro não representa um conjunto de regras a se-rem cumpridas à risca; ele serve para orientar a revisão do texto e pode ajudá-los a identificar o que pode ser melhorado.

Roteiro

1. Seu artigo se baseia em uma questão polêmica?

2. Você informa ao leitor a origem dessa questão?

3. Tomou uma posição?

4. Introduziu sua opinião com expressões como “penso que”, “na mi-nha opinião”?

5. Levou em consideração os pontos de vista de opositores para cons-truir seus argumentos? Por exemplo: “Para fulano de tal, a questão é sem solução. Ele exagera, pois...”

6. Usou expressões que introduzem os argumentos, como “pois”, “por-que”?

7. Usou argumentos de autoridade, de exemplificação, de provas, de princípio/crença pessoal, de causa e conseqüência?

8. Usou expressões para introduzir a conclusão, como: “então”, “assim”, “portanto”?

9. Concluiu o texto reforçando sua posição?

10. Verificou se a pontuação está correta?

11. Corrigiu os erros de ortografia?

12. Substituiu palavras desnecessariamente repetidas?

13. Escreveu com letra legível para que todos possam entender?

14. Encontrou um bom título para o artigo?

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Os alunos poderão ter dúvidas quanto à grafia de algumas palavras. Costuma ocorrer, por exemplo, com fonemas de mesmo som e grafia diferentes (caso de ss/ç, z/s). Também com palavras que eles não sabem se são escritas junto ou separado: “porque”, “por isso”, “embora”.

À medida que as dúvidas surgirem, escreva a forma correta no quadro para que todos possam conhecer a ortografia ou faça um cartaz com as respostas às dúvidas mais freqüentes, afixando-o na sala de aula. Este pode ser um bom momento para ampliar ou consolidar o hábito de consultar o dicionário.

Ajude também com a pontuação e no uso de sinônimos e pronomes para evitar repetição excessiva de palavras.

Para terminar, faça mais uma revisão do texto de seus alunos e peça-lhes que escrevam, com base nessa correção, a versão definitiva.

Escolha, junto com a classe, de cinco a dez textos que serão encaminha-dos para a comissão julgadora escolar — ela é que decidirá qual o artigo de opinião (apenas um por escola) será enviado para participar da pró-xima etapa da Olimpíada.

Pronto! O trabalho está feito. Agora é só esperar pelos resultados.

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Critérios de avaliação

Para a comissão julgadora

É importante que os avaliadores leiam este Caderno.

A comissão julgadora deve manter a coerência e valo-rizar os mesmos critérios usados pelos professores nas oficinas. Deve considerar, sobretudo, se o texto apre-senta uma polêmica local e busca persuadir o leitor utilizando argumentos convincentes.

A tabela ao lado deve ser utilizada pelos avaliadores individualmente, pois ela orientará na atribuição dos pontos.

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Categoria III — Gênero Artigo de opinião(2o e 3o anos do Ensino Médio)

Dez pontos (no máximo) deverão ser atribuídos aos trabalhos de acordo com os critérios descritos abaixo.

Os 7 pontos atribuídos aos aspectos próprios do gênero estão divididos em:

Pertinência ao tema proposto 1,0

• O texto está apropriado ao tema estabelecido – “O lugar onde vivo” – compreendendo não só a cidade, mas o bairro, a rua e os acontecimentos que envolvam seus moradores.

Presença de elementos do gênero “artigo de opinião”

3,0

• Traz uma questão polêmica relevante e atual.

• Explicita tomada de posição do autor.

• Apresenta dois ou mais argumentos para convencer o leitor.

• Leva em consideração o ponto de vista dos opositores, apre-sentando contra-argumentos.

• Apresenta conclusão com reforço da posição tomada.

• Utiliza expressões que introduzem argumentos e evidenciam a posição tomada pelo autor e a conclusão.

Busca de informações sobre o tema 2,0 • O texto deixa transparecer que o autor buscou informações para

produzi-lo e elas são pertinentes e diversificadas.

Originalidade 1,0• O texto surpreende o leitor por trazer inovação.

• O autor usou recursos que o tornam interessante.

Os 3 pontos atribuídos aos aspectos mais gerais do texto estão divididos em:

Aspectos gerais de gramática e ortografia 3,0

• Concordância verbal.

• Concordância nominal.

• Uso do pronome.

• Pontuação.

• Uso de maiúscula.

• Uso de parágrafo.

• Correção ortográfica.

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Textos recomendados

Pedro SoaresDa sucursal do Rio

Quem nasceu no ano passado “ganhou” mais 4 meses e 26 dias de vida em relação aos que nas-ceram em 2005. Foi quanto aumentou a expectativa de vida do brasileiro de 2005 a 2006 — ano em que o indicador chegou a 72,3 anos, segundo a Tábua de Mortalidade de 2006, divulgada ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em 2005, a média era de 71,9 anos. Em 1960, a expectativa de vida era de 54,6 anos. De 1960 a 2006, aumentou em 17 anos, 8 meses e um dia. De 2001 a 2006, o ganho ficou em três meses e 27 dias por ano, na média do período.

Pelos dados do IBGE, o Distrito Federal teve a maior expectativa de vida em 2006: 75,1 anos. Alagoas ficou em último — 66,4 anos. A disparidade — como já havia sido verificado em anos anteriores — se manteve elevada: 8,8 anos.

Persiste ainda, segundo o IBGE, a diferença entre a expectativa masculina e a feminina. En-quanto os homens viverão, em média, 68,5 anos, as mulheres têm uma esperança de vida de 76,1 anos. Ou seja, viverão mais 7,6 anos. O principal motivo é o fato de os homens estarem mais ex-postos às mortes violentas, afirma o instituto.

Segundo o IBGE, a melhoria no acesso à saúde, as campanhas de vacinação, a maior escolari-dade, a prevenção de doenças e os avanços da medicina contribuíram para o aumento da expec-tativa de vida. No ranking mundial, o Brasil aparece, porém, na 114a posição, atrás de outros emergentes como China e Turquia e de países latino-americanos como Venezuela e Colômbia. O ranking é da CIA (agência de inteligência norte-americana).

Encabeçam a lista Andorra (83,5 anos), Macau (82,3 anos) e Japão (82 anos). Já as piores marcas são de Angola (37,6 anos) e Suazilândia (32,2 anos).

Juarez Oliveira, técnico do IBGE, diz que a tendência histórica é de aumento da expectativa de vida em razão especialmente da melhora das condições de saúde e saneamento. Ele ressalta, porém, que o Brasil vive uma “crônica” e “grave” desigualdade entre os Estados. “Há muito o que se fazer para reduzir essa desigualdade regional crônica, que tende a se perpetuar neste século se nada for feito”, diz.

Segundo o IBGE, pouco mudou no retrato da desigualdade regional nos últimos 26 anos. A diferença entre a mais alta expectativa de vida — a das mulheres do Distrito Federal — e a mais baixa — a dos homens de Alagoas — cedeu de 18,3 anos em 1980 para 16,5 anos em 2006. “Isso mostra que o grave quadro de desigualdade persiste.” Em São Paulo, a expectativa de vida foi de 73,9 anos em 2006, com um crescimento de 12,3% em relação à marca de 1980 (65,9 anos).

Folha de S. Paulo, Cotidiano, 4/12/2007.

Brasileiro “ganha”5 meses de vida em 1 ano De acordo com dados do IBGE, expectativa de vida no Brasil chegou a 72,3 anos

em 2006, contra 71,9 anos em 2005. No ranking mundial, o Brasil aparece só na 114a posição, atrás de China e Turquia

e de países latino-americanos como Venezuela e Colômbia

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Violência não, educação sim Antônio Ermírio de Moraes

O IBGE acaba de publicar a nova estatística de mortalidade da população. Ela mostra que o Brasil envelheceu, mas, lamentavelmente, ficou mais violento. O envelhecimento traduz a marca das nações desenvolvidas, nas quais as pessoas estão vivendo mais e com mais qualidade. O Brasil está nessa trajetória.

Em 1960, a esperança de vida era de 55 anos. Hoje é de 72 anos — feito que traduz a melhoria dos sistemas de prevenção e tratamento de doenças, entre outros fatores.

É inaceitável, porém, verificar que a violência cresceu 100% nesse período, tendo chegado a um patamar horripilante. Em 2005, 12,5% do total de óbitos foram devidos a homicídios, suicí-dios e acidentes de trânsito. Essa é marca do antidesenvolvimento.

Não sou especialista no assunto, mas leio que o problema tem muitas causas: desarranjos fa-miliares, falta de emprego, baixa renda, habitação precária, educação de má qualidade etc.

Álcool e droga são componentes de muita importância. A redução dos exageros no álcool e a eliminação do uso de entorpecentes ajudariam muito na diminuição das mortes violentas. Isso, por sua vez, requer uma série de medidas nas famílias, escolas, igrejas, no trabalho e nos fatores de potencialização de uso — bares e casas noturnas, por exemplo.

Nesse aspecto, há boas promessas. Vários municípios estão proibindo o funcionamento dos bares nas madrugadas. Na capital de São Paulo, com o esforço de apenas 30 fiscais, a lei está sen-do respeitada de forma crescente. Os repórteres do caderno Metrópole de “O Estado de S. Paulo” observaram que, às 2h, o único ser vivo que perambulava no bairro boêmio de Vila Madalena na noite de sexta feira, 23 de novembro, era um cachorro vira-lata. A grande maioria dos bares estava de portas fechadas. Assim ocorria em vários outros bairros da cidade. Calma na cidade.

O fechamento desses estabelecimentos em horários civilizados ajudou a reduzir os ruídos provocados por bares, restaurantes, danceterias e casas noturnas. Pode-se dizer que os paulista-nos passaram a dormir, finalmente, um sono melhor, mais do que merecido, depois de um dia de trabalho estafante.

Sei que isso é uma gota d’água no combate à criminalidade e à violência urbanas. Mas, se cada um fizer sua parte — por menor que seja —, poderemos ter dias melhores.

Não podemos continuar perdendo tantos jovens em atos desvairados e por violência. Os mais atingidos são os rapazes de 20 a 29 anos, que estão na flor da idade e têm pela frente uma vida a ser construída em benefício próprio e do Brasil.

Oxalá a próxima pesquisa do IBGE mostre que os brasileiros vivem mais, melhor e em paz!

Folha de S. Paulo, 9/12/2007.

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Sou contra a redução da maioridade penalRenato Roseno

A brutalidade cometida contra dois jovens em São Paulo reacendeu uma fogueira: a redução da idade penal. Algumas pessoas defendem a idéia de que a partir dos dezesseis anos os jovens que cometem crimes devem cumprir pena em prisão. Acreditam que a violência pode estar au-mentando porque as penas que estão previstas em lei, ou a aplicação delas, são muito suaves para os menores de idade. Mas é necessário pensar nos porquês da violência, já que não há um único tipo de crime.

Vivemos em um sistema socioeconômico historicamente desigual e violento, que só pode gerar mais violência. Então, medidas mais repressivas nos dão a falsa sensação de que algo está sendo feito, mas o problema só piora. Por isso, temos que fazer as opções mais eficientes e mais condizentes com os valores que defendemos.

Defendo uma sociedade que cometa menos crimes e não que puna mais. Em nenhum lugar do mundo houve experiência positiva de adolescentes e adultos juntos no mesmo sistema penal. Fazer isso não diminuirá a violência. Nosso sistema penal como está não melhora as pessoas.

O problema não está só na lei, mas na capacidade para aplicá-la. Sou contra porque a possibilidade de sobrevivência e transformação destes adolescentes está

na correta aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Lá estão previstas seis medi-das diferentes para a responsabilização de adolescentes que violaram a lei. Para fazer bom uso do ECA é necessário dinheiro, competência e vontade.

Sou contra toda e qualquer forma de impunidade. Quem fere a lei deve ser responsabilizado. Mas reduzir a idade penal é ineficiente para atacar o problema. Problemas complexos não serão superados de modo simplório e imediatista. Precisamos de inteligência, orçamento e, sobretudo, de um projeto ético e político de sociedade que valorize a vida em todas as suas formas. Nossos jovens não precisam ir para a cadeia. Precisam sair do caminho que os leva até lá. A decisão agora é nossa: se queremos construir um país com mais prisões ou com mais parques e escolas.

Renato Roseno é advogado, coordenador do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca — Ceará) e da

Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente (Anced).

Fonte: <www.cedecaceara.org.br/maioridadena.htm>.

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Deficientes, feios e pobres Jessé Souza

Esse mundinho de criar frase politicamente correta para os excluídos ou injustiçados é mais que hipocrisia. É idiotizante. Querem transformar negros em afro-descendentes. Índios em nati-vos. Deficientes físicos em portadores de necessidades especiais.

Tudo isto não passa de uma forma que os politicamente corretos acharam para tentar esconder que — mesmo com o pomposo nome de portadores de necessidades especiais — os deficientes físicos continuam sem acesso, sem respeito e sem poder exercer plenamente sua cidadania.

Tenho um irmão cadeirante (que anda de cadeira de rodas, um paraplégico T-4) — aviso logo, antes que digam que estou comentando algo que eu não entendo. E não é uma terminologia pomposa que o vai dignificar ou mudar a situação de exclusão em que vive, mesmo rodeado de pessoas que o apóiam e o ajudam a ultrapassar obstáculos tanto físicos quanto psíquicos.

Os prédios não dão acessibilidade, os taxistas fazem cara feia e não param, os ônibus não estão adaptados e as pessoas, em vez de tratarem o deficiente físico como um cidadão, acabam os classificando como coitadinhos ou os rodeando de uma pena irritante.

Entre eles mesmos, os cadeirantes se divertem os colocando apelidos e chamando sem arro-deios ou hipocrisia por suas deficiências. E nós, tendo um em nossa família, aprendemos que essa história de palavras politicamente corretas não passam de uma cortina para esconder as graves falhas da sociedade com quem é diferente, feio, aleijado, pobre, de cor...

Não importa se chamamos de puta, garota de programa, mulher da vida ou qualquer termino-logia politicamente correta. O que importa é se este politicamente correto é só da boca para fora ou estamos carregados de preconceito ou exclusão.

Não interessa se o cadeirante é paraplégico, aleijado, deficiente ou portador de necessidades especiais. Importa é o engenheiro construir rampas, o taxista parar e dobrar sua cadeira no porta-malas, o prédio público ter banheiros adaptados e os meios-fios adaptados.

Jamais iremos construir um mundo sem exclusão achando que buscando palavras politica-mente corretas estamos acionando uma varinha de condão para incluir e dar acessibilidade aos deficientes ou mudando a mentalidade de quem discrimina e exclui.

Só vamos mudar a realidade de quem está em desvantagem em relação aos que se acham normais permitindo que os portadores ou deficientes de toda espécie exerçam sozinhos seu direi-to de ir e vir, sintam-se cidadãos plenos e possam viver sem ser tratados como coitadinhos, que precisam de pena e dó para que as leis sejam respeitadas.

Jessé de Souza é jornalista.e-mail: [email protected]

Fonte: Folha da Boa Vista, 19/9/2007.

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A futura gestão dos recursos hídricos Cássio Borges

No semi-árido nordestino, a irregularidade das chuvas tem ocasionado “ciclos secos” de até oito anos seguidos, como o que foi constatado entre os anos de 1950 e 1958. Mais recentemente, tivemos “um ciclo seco desfavorável” de cinco anos entre os anos de 1979 e 1983, tendo a sua abrangência atingido até mesmo o Estado do Maranhão. A existência desses “períodos críticos”, já há tempos constatada pelo Dnocs, acarreta a redução do aporte de água fluvial para os reser-vatórios, o que, por deficiência de recarga e por medida de precaução, impossibilita a utilização plena do volume de água armazenado nos açudes e, em conseqüência, boa parte dele se perde pela elevada evaporação.

Ao integrar os grandes açudes da região a uma fonte perene externa como o Rio São Francisco, os recursos hídricos locais se potencializarão, possibilitando a gestão de um volume bem maior da água armazenada, estimulando o desenvolvimento social e econômico, tanto na agricultura ir-rigada, na pecuária, como na indústria, gerando emprego, renda e produzindo alimentos, o que é de interesse nacional. Com a garantia dessa fonte externa, intensificando-se a utilização das águas acumuladas nos reservatórios, diminuirá a superfície exposta à evaporação e esta se reduzirá, aumentando de forma substancial a disponibilidade hídrica realmente utilizável. Em outras pala-vras, o desenvolvimento social e econômico se dará de forma mais abrangente não pela água do Rio São Francisco que estará chegando, mas pela intensiva utilização das águas locais que seriam perdidas para a atmosfera pelo efeito incontrolável da evaporação. Desta forma, as águas advindas da transposição serão reservadas, exclusivamente, ao abastecimento humano e animal sempre que os açudes estiverem secos, ou na iminência de secar.

Como exemplo, o açude Castanhão, localizado no Ceará, que perde por evaporação, em média, cerca de 25 m3/s, enquanto o aproveitamento regular de sua água é de apenas 19 m3/s. Essa perda

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poderia ser reduzida para até menos da metade, gerando virtualmente um novo reservatório e aumentando significativamente o aproveitamento de suas águas. Pois esse açude acumula 4,2 bilhões de m3 na sua cota de regularização. Desse volume, 30% são, em média, evaporados anualmente, restando, portanto, 3 bilhões. Destes, apenas é utilizável um volume da ordem de 600 milhões de m3 (19 m3/s), pois os restantes 2,4 bilhões de m3 deixam de ser utilizados justamente para “guardar a água’’ para vencer uma possível futura seca prolongada, ou um “trem de anos secos”, no vocabulário do Dnocs. Não mais será necessária essa precaução de “guardar água’’ após a concretização da trans-posição, ou como quer o ministro Ciro Gomes, do Projeto de Interligação de Bacias.

Como acima foi explicado, desaparecerá completamente o mais recente argumento dos opo-sitores: “a água vinda do Rio São Francisco é muito cara” ou, ainda, “é chover no molhado” (ver Folha de S. Paulo, do dia 17/10/2005, na entrevista dada pelo pesquisador João Suassuna na ma-téria sob o título: “Para opositores, projeto é chover no molhado’’). Mas esse tipo de declaração só se pode atribuir à completa ignorância do que seja o semi-árido e aí incluo muitos dos que dizem ser cientistas (em que área da ciência?) e, por isso, se acham com o direito de falar sobre esse tema nordestino, delicado e complexo, que desconhecem.

Não pode deixar de ser salientado que, pelo acima exposto, o custo da água trazida pela trans-posição será diluído no uso mais intenso e eficaz da água acumulada nos açudes. Ou seja, na rea-lidade, cada m3 transposto irá representar um volume maior utilizável. Pelo que, inegavelmente, não é o custo do m3 da água bombeada do Rio São Francisco que deve ser considerado na análise do custo benefício da transposição, mas sim sua eficiência hídrica.

Cássio Borges é engenheiro civil, ex-diretor regional do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS).

Fonte: O Povo, de Fortaleza (CE).

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Trabalho infantil consome futuro de muitas crianças

Jô Azevedo

Estatísticas recentes apontam a existência de cerca de 3,1 milhões de crianças trabalhadoras entre 5 e 15 anos no País. A maior parte na agricultura, nas culturas de tomate, café, algodão, sisal, frutas e outras. Também em atividades como fabricar tijolos ou blocos, quebrar pedras ou produzir carvão vegetal. Nas cidades, trabalham como empregadas domésticas, nos lixões catan-do material reciclável, como office-boys, vendedores de doces nos semáforos e “aviões” para o tráfico de drogas.

Muitas atividades têm na sua rotina as mãozinhas de muitas crianças e a gente nem sabe disso. Mas por que isso acontece? O costume, os hábitos da comunidade, a pobreza familiar, a falta de estudo dos pais, a ausência de escolas, políticas públicas e formas adequadas de geração de renda, além da natureza do mercado de trabalho são alguns dos motivos que levam milhares de pequenos brasileiros a trabalhar.

Criança que vai trabalhar cedo consome seu futuro nas jornadas de trabalho. Não consegue conciliar escola e trabalho, abandonando muito cedo as aulas. E hoje o exigente mercado de tra-balho já não se contenta com a escola fundamental. Uma escolarização com tempo mais longo é uma exigência das atividades mais bem remuneradas. Se não há preparo adequado, o círculo de pobreza em que suas famílias estão mergulhadas vai continuar. Então, trabalho infantil é um grande ceifador de futuros brilhantes. Tem mais: o Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990, uma conquista da sociedade brasileira, proíbe o trabalho de crianças até os 15 anos, salvo na con-dição assistida de aprendiz.

Se buscamos uma sociedade menos desigual, em que a distância entre ricos e pobres não seja tão grande como agora, temos de acabar com o trabalho infantil. Ele é um dos motivos para a continuidade do ciclo da miséria em muitas regiões brasileiras. É preciso quebrar esse ciclo, ofe-recendo outras formas de socialização para essas crianças. Se a educação é um direito de todos,

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precisamos lutar para que ela seja estendida de fato e com a qualidade exigida a todas as crianças, para que todas possam desenvolver habilidades mínimas, senso crítico, visão de mundo e se pre-parem para a cidadania plena.

Muita gente acredita que o trabalho infantil é solução. Mesmo os pais dessas crianças pensam dessa forma, pois não têm alternativa. Esta é uma estratégia de sobrevivência que adotam para amenizar os efeitos do desemprego e dos salários baixos e aumentar a renda minguada da família. Também encaram o trabalho como forma de treinar os jovens para o mercado, diante da preca-riedade da escola pública. Não enxergam que, assim, ao invés de expandir, limitam o desenvolvi-mento possível de seus filhos.

Outro argumento a favor do trabalho infantil o contrapõe à vadiagem. Ele seria uma alternati-va para que a criança não vá para a rua e caia na marginalidade. Mas esse entendimento não mas-cara a falta de alternativas para socializar essas crianças? Esportes, ações complementares à escola, cultura e atividades de lazer, práticas comuns para as crianças de classe média, não deveriam ser estendidas a todos os jovens, por meio de políticas públicas adequadas?

Todas essas questões estão na preocupação de muita gente: educadores, gestores de organis-mos internacionais, governantes, legisladores, juízes. Há mais de uma década o País se movimenta para enfrentar o problema. Primeiro, apontando as situações do trabalho infantil. Depois, por meio de governos e setores da sociedade, propondo programas para dar conta dele. Assim surgi-ram as bolsas para garantir a freqüência à escola, as programações de atividades complementares à jornada escolar, os cursos profissionalizantes, a assistência às famílias em situação de risco, os programas emergenciais de geração de renda, etc. Mesmo assim, é pouco. É preciso uma política pública para acabar com essa praga. Por isso, nosso papel é muito importante. A fase de combate ao trabalho infantil que se inicia no novo milênio precisa ser pautada pela forte exigência de todos os setores sociais para que políticas públicas mais abrangentes sejam implementadas.

Jô Azevedo é jornalista, co-autora dos livros Crianças de fibra (Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1994);

Serafina e a criança que trabalha (São Paulo, Ática, 1996); Trabalho infantil — O difícil sonho de ser criança

(São Paulo, Ática, 2003).

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Uma polêmica brasileira Dirceu de Souza Cetto

Através de um projeto que já vinha há muito tempo em tramitação no legislativo e foi final-mente acordado, a população brasileira, no próximo mês de outubro, decidirá sobre uma questão polêmica: o comércio de armas de fogo e munição no Brasil. Um assunto que divide opiniões.

Muitas pessoas acreditam que a proibição não vai resolver as questões de violência que atin-ge o Brasil, pois crêem que a violência gerada com tais artefatos é cometida por criminosos, que com ou sem lei, irão adquirir, na ilegalidade. Entretanto, as pesquisas mostram que países como a Inglaterra Austrália, após a redução do número de armas na comunidade, houve aumento da criminalidade.

Já os defensores que proíbem a comercialização de armas de fogo alegam que o Brasil só vai ganhar com o “sim” final no referendo. Segundo esses defensores, o Brasil é campeão em mortes por armas de fogo, pois, segundo estatísticas, morrem, vitimadas por elas, 14 pessoas por minuto no país.

O referendo vai ser a ferramenta capaz de processar a manifestação pública, favor ou contra o armamento. Cabe a cada um defender a sua opinião com argumentos verídicos e lutar por um país sem violência, onde possamos andar tranqüilamente pelas ruas, seja qual for a decisão final.

Utopia ou realidade, as opiniões devem estar em consonância com a segurança de cada brasileiro.

Dirceu de Souza Cetto, Alfredo Chaves (ES)Estudante de comunicação social, com habilitação em relações públicas.

Fonte: O Jornal, 26/8/2005.

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R$ 14,53 para viver o diaSylvia Romano

 “O salário mínimo surgiu no Brasil em meados da década de 30. A Lei no 185 de janeiro de 1936 e o Decreto-Lei no 399 de abril de 1936 regulamentaram a instituição do salário mínimo co-mo, a remuneração mínima devida a todo trabalhador adulto, sem distinção de sexo, por dia normal de serviço, e capaz de satisfazer, em determinada época e região do país, às necessidades normais de alimentação, habitação,vestuário, higiene e transporte. O Decreto-Lei no 2126 de 1o de maio de 1940 fixou os valores do salário mínimo, que passaram a vigorar a partir do mesmo ano.”

  Quando o então presidente Getúlio Vargas anunciou a  implantação do  salário mínimo, a notícia foi recebida com euforia e, de imediato, milhões de trabalhadores foram beneficiados com a nova medida, já que na época ganhavam abaixo desse valor.

 Agora, acaba de ser divulgado em nossos principais veículos de comunicação que o brasileiro passará a ter em 2008 um reajuste do salário mínimo e que o mesmo será elevado para R$ 408,00 (quatrocentos e oito reais) mensais.

Fazendo um cálculo primário, multiplicando a importância por 13 meses, somando-se o 13o salá-rio e dividindo-se o total por 365 dias do ano, chegaremos ao valor de R$ 14,53 (quatorze reais e cinqüenta e três centavos) para sobreviver um dia. Com esta importância o brasileiro, se for sozi-nho,  sem mulher,  filhos  e agregados,  terá de pagar  transporte, moradia,  alimentação,  serviços básicos, impostos, vestuário e outras necessidades prementes como, saúde e educação, ou seja, o básico que uma vida digna exige.

Levando-se em conta que a grande parcela de salários é exatamente o salário mínimo, surge uma questão: Como essa enorme população viverá? Será que os economistas do governo já fize-ram essa conta simplista? Não saberia calcular o mínimo necessário para se ter a dignidade da independência financeira, até porque ela varia muito de pessoa para pessoa, de região para região e de referencial para referencial. Mas tenho certeza que, com o novo salário mínimo que se pre-tende para 2008, vamos continuar a ver a pobreza florescendo dia a dia e, com ela, a violência crescendo cada vez mais, pois frente as necessidades da miséria, não restará ao cidadão menos favorecido outra alternativa senão a deliqüência e a violência, únicas saídas para a sobrevivência.

 O salário mínimo foi criado para atender às necessidades básicas do trabalhador. Seria bom que os nossos atuais governantes se inteirassem da realidade e revissem, junto aos seus economis-tas, a situação financeira da nossa população. 

Sylvia Romano é advogada trabalhista, responsável pelo Sylvia Romano Consultores Associados, de São Paulo. 

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A cobrança da águaSebastião Almeida

Após mais de cinco anos de discussão, a Assembléia Legislativa aprovou um projeto muito importante do ponto de vista social e ambiental: o que estabelece a cobrança pelo uso da água no Estado de São Paulo. Polêmico, o projeto foi aprovado após inúmeras discussões entre ambienta-listas e na própria Assembléia. Pela nova lei, o Estado vai passar a cobrar também pela captação de água nos rios, aqüíferos e reservatórios. Hoje, a cobrança recai apenas sobre a distribuição e o tratamento.

O ponto mais polêmico refere-se ao suposto impacto na conta final do consumidor. Aqueles que são contra a cobrança afirmam que a população será penalizada com mais um encargo. É bom que se esclareça que essa afirmação é totalmente falsa. O preço fixado é de, no máximo, um cen-tavo para cada mil litros consumidos. Levando-se em consideração que o consumo médio de uma pessoa em casa é de cinco mil litros por mês, um casal deve pagar cerca de 10 centavos a mais na sua conta de água. Além disso, cerca de 500 mil consumidores estarão isentos da nova taxa, pois pagam a tarifa social destinada à população de baixa renda.

O maior impacto será sentido, na verdade, pelas grandes indústrias e empresas, que utilizam muita água. Mesmo assim, os benefícios são incontáveis para toda a sociedade. Todos nós sabe-mos que a exploração racional da água é vital para a sobrevivência da humanidade. Atualmente, mais de 30% da água retirada dos rios é desperdiçada na distribuição à população. Com a cobran-ça, as empresas de distribuição e tratamento terão mais recursos e vão querer investir em medidas para combater as perdas.

Outro ponto refere-se ao controle ambiental. A nova taxa deve gerar cerca de R$ 300 milhões para serem investidos nas bacias e ações de proteção ao meio ambiente. As hidrelétricas também devem ser taxadas, mas devem repassar o custo ao consumidor final, pois elas já pagam royalties

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federais. O setor agrícola vai ter tempo para se adaptar à nova taxa, pois a tarifa para os agriculto­res só será cobrada a partir de 2010.

A cobrança pela captação de água não chega a ser novidade. Nos Estados Unidos e em diver­sos países da Europa ela é praticada há muitos anos. Aqui no Estado de São Paulo, desde 2003 a água é cobrada na bacia do Rio Paraíba do Sul, no Vale do Paraíba. A medida garante uma receita anual de mais de R$ 7 milhões, que são investidos em projetos de controle ambiental na bacia, que envolve 180 municípios nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. E a experiên­cia do Paraíba do Sul está muito longe de pesar no bolso dos consumidores.

Agora, o que é necessário é fiscalizar muito bem como serão aplicados os recursos captados com a taxa. Aqui no Brasil é muito comum criarem taxas e mais taxas para fins específicos e o dinheiro simplesmente sumir em meio à burocracia da máquina pública, em todas as esferas. Os mais velhos certamente se lembrarão da desastrosa cobrança do selo­pedágio, na década de 80, cuja finalidade era recuperar a malha rodoviária do País. E todos nós sabemos a situação em que se encontram nossas rodovias.

A sociedade civil, as organizações ambientais e os comitês de bacia têm um papel muito im­portante a executar. Cabe a toda a sociedade auxiliar no planejamento das ações e controle dos recursos oriundos da nova taxa. Ao governo estadual cabe democratizar as discussões e ouvir a população e os comitês para definir as prioridades em todo o Estado. A cobrança já está autoriza­da, não vai pesar no bolso dos consumidores e certamente será apoiada por toda a sociedade. Desde que haja responsabilidade do poder público em gerir bem esses recursos para garantir a preservação dos nossos recursos hídricos. Dessa vez, não estamos falando de recuperação de ro­dovias. Estamos falando da preservação de um bem essencial para toda a humanidade.

Sebastião Almeida é presidente da Comissão de Meio Ambiente da Assembléia e coordenador da Frente Parlamentar em Defesa da Água.

Fonte: Diário on-line, Marília, 21/12/2005.

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Carne, um vilão ecológico Jair Donato

Há duas maneiras de olhar o mundo e os impactos que o homem provoca nele. A primeira, capitalista, por ser uma visão míope e devastadora, impede de ver que os recursos naturais são destruídos em curto prazo, como se não houvesse futuro. A segunda visão, essa merece uma refle-xão mais profunda, é a longo prazo, onde se percebe que o resultado da primeira, na maior parte das vezes, é irreversível.

É fato que as atividades humanas, principalmente no século XX, foram responsáveis pelas alterações do clima no planeta, e provocam o superaquecimento da Terra. Segundo estudos publi-cados pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a comida atual da humanidade, à base de carne, se tornou uma das grandes fontes depreciativas e poluidoras do meio ambiente.

Todo o processo de produção e consumo de carne de boi, peixe, frango ou porco, dentre outras, é responsável pela poluição do ar, do solo e da água, quando aplicado sem respeito ao meio ambiente. Os animais são grandes emissores de gases poluentes, além das áreas de recursos naturais que são devastadas para criá-los.

É inegável que a maior parte do crescimento da criação bovina no Brasil se dá à custa da des-truição das florestas. O especialista em ecoturismo, João Meirelles Filho, autor de “O livro de Ouro da Amazônia” diz que o boi é a principal razão da destruição dos ecossistemas brasileiros. Foram 93% da Mata Atlântica, 80% da Caatinga, 50% do Cerrado e 18% da Amazônia, devastados para essa função.

Além de poucas vantagens coletivas na atividade bovina, é um péssimo empregador. Poucos cuidam de milhares de cabeças de gado, altamente lucrativas para um segmento, e prejuízo para a natureza. Anualmente, mais de 20 bilhões de metros quadrados da Floresta Amazônica são der-rubados para plantio de grãos, seguido da criação de pasto.

Segundo dados do IBGE (2000), no Brasil o número de cabeças de gado ultrapassa a popu-lação, são quase 200 milhões de bovinos. Quase 70% da pecuária é representada por bovinos, a maioria para corte, outra parte, para leite. Foi estimada uma emissão em torno de 9,2 milhões de toneladas de metano, gás liberado pelos animais, que polui até 21 vezes mais do que o gás carbô-nico, provenientes da pecuária.

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Dos gases que formam a camada do efeito estufa, 18%, vêm da criação bovina e suína. Segun-do a FAO, cerca de 37% das emissões globais de metano e 65% de óxido nitroso, gases poluentes dezenas de vezes superior ao gás carbônico, surgem dessas atividades. Uma vaca chega a produzir 600 litros/dia de metano. Há país que esse número chega até 700 litros, devido à fermentação do alimento recebido.

Atualmente, a questão ética se passa, fundamentalmente, pela postura do consumidor ao adquirir produtos ecologicamente corretos. Ambientalistas, ecologistas e climatólogos apontam a importância do consumo consciente na alimentação à base de carne, como forma de poluir e degradar menos.

Quase metade das terras propícias para agricultura, no planeta, já virou pasto. Cerca de 35% de todos os grãos produzidos mundialmente são destinados à ração bovina, quantia que supriria a fome nos países pouco desenvolvidos, carentes de alimentos. Mas parece que é a fome que é ilícita e ignorada, em detrimento do delírio mercantilista de poucos.

Mato Grosso, econômica e politicamente, tem títulos internacionais como maior parque pe-cuário do país e grande produtor de grãos. Na primeira visão, a do velho paradigma de ganho, isso pode ser sinônimo de riqueza e desenvolvimento. Mas para quem? Para quantos? Por quanto tempo? Talvez seja o momento de uma profunda reflexão a longo prazo, preservar e conservar mais, sem poluir tanto.

Pense no impacto dos próximos anos em que o planeta terá de suportar 9 bilhões de pessoas, se não houver uma mudança ecológica nos hábitos alimentares. Sem radicalismos, mas isso mere-ce um repensar individual e coletivo. Mais que uma questão de saúde, é uma atitude ambiental-mente correta. Qual a sua visão? É em curto ou em longo prazo? Isso é o que pode fazer você agir diferente, e seus filhos viverem melhor.

Jornalista em Cuiabá, consultor — life coach —, professor universitário, especialista em gestão de pessoas e qualidade de vida.

e-mail: [email protected]

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Café na avenida: certo ou errado?Angélica Larissa Ferreira

Um fato estranho aconteceu em minha cidade. O prefeito interditou a avenida principal para secagem de café, provocando muita polêmica.

Um cafeicultor pediu um espaço ao prefeito alegando que a colheita estava atrasada por causa da chuva, como a safra foi muito grande ele já não possuía espaço suficiente para secar café. Se-gundo ele, se o prefeito não cedesse um espaço, ele teria que parar com a safra e demitir duzentos trabalhadores rurais.

Algumas pessoas estão revoltadas com a atitude do prefeito, mas outras consideram que ele está certo.

Os que são contra dizem que o prefeito agiu com intenções políticas, porque é candidato à reeleição; dizem ainda que a medida atrapalhou o trânsito; que a população não foi avisada com antecedência e que essa atitude abre precedentes para outros produtores solicitarem o mesmo benefício, caso fiquem em dificuldades.

Os que são favoráveis dizem que a medida impediu a demissão dos trabalhadores, que a avenida é larga o suficiente para ser usada em mão dupla e que será utilizada por pouco tempo, aproximadamente trinta dias.

Eu penso que com a pista interditada havia a possibilidade de acontecer acidentes, visto que a interdição da avenida não foi mesmo comunicada com antecedência à população. Esta avenida é uma das mais movimentadas de minha cidade, pois dá acesso ao distrito industrial, à usina de açúcar e álcool e à rodovia estadual próxima, portanto não deveria estar sendo usada dessa forma.

Penso ainda que o fazendeiro deveria ter construído outros terreiros para secar o café ou tentar encontrar outra solução sem incomodar os cidadãos, pois acredito que dinheiro não é problema para ele, já que como foi publicado no jornal da cidade o cafeicultor é o maior pro-dutor da região.

Apesar de algumas pessoas garantirem que o decreto do prefeito é legal, porque está previsto na lei orgânica do município em seu artigo 94, o promotor de justiça afirmou que “a medida é juridicamente discutível”.

Portanto, sou contra a colocação do café na avenida porque privilegia alguns em detrimento de outros, abre precedentes e atrapalha o trânsito da cidade.

Angélica Larissa Ferreira, aluna da professora Maria Ângela Tidei, da E. E. Professora Laura Rebouças de Abreu, participante do Prêmio Escrevendo o Futuro.

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Doce Içara com sabor amargoJoice Zilli da Silva

Içara é a capital do mel, cidade mais doce do Brasil. Agora, com um sabor diferente, amargo, que vem preocupando seus moradores.

Numa localidade vizinha, na zona rural de Santa Cruz, há um projeto para instalação de uma mina de carvão. Com a abertura da mina, os moradores descontentes acabarão abandonando suas terras, vendendo-as e deixando para trás toda uma vida dedicada ao campo, especialmente à apicultura.

Durante a entrevista realizada na Câmara Municipal de Vereadores, um vereador informou que os projetos foram discutidos e aprovados. A polêmica continua, no entanto a decisão caberá ao Poder Judiciário.

Penso que a população deveria ser consultada sobre o assunto. Os agricultores e a empresa mineradora deveriam ter a preocupação com o meio ambiente, cumprindo a Constituição Brasi-leira que prevê que a agressão ao meio ambiente é crime.

Segundo pesquisa realizada pela 4ª- série, turma 43 da E. E. B. “Antonio Colonette”, das 819 pessoas ouvidas de várias localidades do município de Içara, constatamos que 70% são contra a instalação da mina, porque prejudica o meio ambiente, o solo, a água, o ar, a vida dos seres vivos, com risco de morte, além do cheiro insuportável da perita. Elas têm consciência de que a mina vai acabar com a atividade agrícola, vai prejudicar a terra. Porém, 30% são a favor, pois a abertura da mina de carvão trará novos empregos, lucro ao município, com aumento de arrecadações dos impostos, crescimento, novas tecnologias, modernidade, além da fabricação do cimento, energia, aço etc.

Na minha opinião, a localidade de Santa Cruz tem muitas famílias que vivem lá há anos, trabalhando na terra, tirando o seu e o nosso sustento, e precisam permanecer na terra, sem que haja a instalação da mina. Continuar com a terra fértil, cheia de plantações, água pura, potável, com pessoas que a amam será a melhor solução.

Afinal, este “sabor amargo” do carvão precisa ser conhecido por todos, adoçado com um pouquinho de mel, preservando a vida.

Joice Zilli da Silva, 11 anos, aluna da professora Edina da Silva de Freitas, da E. E. B. Antonio Colonetti, Içara (SC), participante do Prêmio Escrevendo o Futuro.

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Um dedo de prosa sobre a conversa que não acaba aquiPois é, professor... encerramos as atividades sobre artigo de opinião.

Mas o trabalho com leitura e escrita continua. Um texto

vai puxando outro, como uma conversa sem fim.

Neste Caderno falamos diretamente com você, que está

na sala de aula “com a mão na massa”. Para preparar estas

oficinas, também conversamos com outras pessoas que

discutem ou discutiram a escrita e seu ensino.

Você talvez queira conhecer algumas de suas idéias.

No “Para saber mais ainda” há um resumo de algumas delas.

Em “Referências bibliográficas” encontra-se uma relação

de textos e livros que foram consultados para a elaboração

deste Caderno.

Recado final

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Para saber mais ainda

Por dentro da proposta.Para cada lugar, um jeito de falar.

Língua, discurso e gêneroPela manhã, a mãe deixa um bilhete para o filho e faz a lista de compras. Chegando

ao trabalho, prepara o material para a discussão com sua equipe. Na hora do almoço, telefona para o filho para saber se ele está bem. À tarde, antes de sair, anota os com-promissos do dia seguinte. Após o trabalho vai ao mercado e preenche o cupom para o sorteio de um carro. Na volta para casa, encontra um amigo e conversam durante alguns instantes. À noite, ao ler o jornal, depara-se com um artigo do qual discorda e resolve escrever uma carta para a coluna do leitor.

No decorrer do dia, essa pessoa produziu diversos textos orais e escritos: telefo-nema, conversa, bilhete, lista de compras, mensagens, lembretes...

Todos nós produzimos diversos textos que se dão em diferentes gêneros — orais ou escritos, formais ou informais. Cada situação exige o uso de uma forma particular de comunicação.

Afinal, não nos expressamos da mesma maneira quando escrevemos uma carta reclamando de um produto defeituoso ou quando comentamos o mesmo assunto com um amigo. As finalidades são distintas, os interlocutores são diferentes e os meios de circulação do texto não são os mesmos.

Muitos gêneros são aprendidos informalmente, nas relações sociais, com familiares ou amigos. Para ler ou escrever uma lista de compras ou um bilhete, por exemplo, basta ser alfabetizado e compartilhar com pessoas essa prática.

Outros gêneros, porém, exigem aprendizagem sistematizada, como os textos literários, científicos e jornalísticos. A escola é responsável pelo ensino dos gêneros formais. Essa aprendizagem amplia nossa competência lingüística e discursiva e nos dá mais possibilidade de participação social.

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O papel da escolaA escola não tem condições de ensinar todos os gêneros existentes, nem pode

prever todos aqueles que os alunos utilizarão em sua vida futura. Ainda assim, o traba-lho escolar é muito importante. Até mesmo para que o aluno se torne autônomo, ca-paz de aprender sozinho os gêneros de que vai necessitar no futuro.

É preciso garantir a todos os alunos os saberes lingüísticos necessários para o exercício da cidadania. Isso porque uma vida digna em sociedade pressupõe o domí-nio das competências de ler, escrever e refletir sobre a língua escrita.

A pessoa que fala, lê ou escreve está imersa numa história, numa cultura e em di-ferentes grupos sociais nos quais exerce papéis variados. Trata-se de um processo de construção de sentido que ocorre na relação entre os interlocutores e o contexto em que atuam.

Uma reflexão sobre a concepção de língua e de ensino e aprendizagem que fun-damentam as práticas escolares pode ser um bom começo para uma ação pedagógica mais sintonizada com as necessidades dos sujeitos no mundo.

A escola precisa identificar situações autênticas de comunicação. Por exemplo, os alunos de determinada escola recebem uma revista feita para jovens, mas comentam com a professora que os assuntos não são de seu interesse. Surge a oportunidade. A professora pergunta o que eles poderiam fazer para que a revista tratasse de no-vos temas. Como os alunos podem não ter idéia de que é possível usar a escrita para isso, a professora propõe que escrevam uma carta à redação da revista. Cria-se uma situação autêntica de produção de texto.

Provavelmente os alunos já tiveram contato com cartas pessoais, mas essa nova situação exige linguagem formal. Torna-se necessário, portanto, ensinar como escrever a carta. Está criada uma situação de produção de texto com base numa necessidade efetiva — a carta tem uma finalidade definida e será, de fato, enviada ao destinatário.

Quanto mais a escola estiver sintonizada com seus alunos, mais condições terá de identificar e, mesmo, provocar situações em que eles tenham real necessidade de ler e produzir textos.

Como promover situações semelhantes a essa? Por exemplo, a simulação de júris em que alunos assumem os papéis de réu, de juiz, de promotor, de jurados. Ou de uma redação de jornal, em que os alunos representarão as diferentes funções nela existentes: repórter, redator, editor, revisor.

Também há os textos escritos em situações de provas, concursos, olimpíadas. Nesse caso, o aluno precisa demonstrar domínio na produção de determinado gênero.

Seja qual for a situação, é necessário dar instrumentos para o aluno escrever da melhor forma possível. Na sala de aula o texto, além de ser a materialização de práticas reais de linguagem, torna-se também objeto de ensino e aprendizagem. E isso requer um trabalho planejado, contínuo, em que a atuação do professor é crucial.

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É importante acolher os conhecimentos que os alunos trazem, introduzir novos conteúdos e valores por meio de situações desafiadoras e fazer a mediação entre os discursos dos alunos — geralmente construídos em esferas cotidianas de interação, como a família e a vizinhança — e os discursos produzidos em outras esferas, como as da ciência, da política e da mídia.

O ensino de leitura e produção de texto torna mais claro ao aluno o que dele se espera. Isso ocorre, sobretudo, quando dizemos exatamente qual é a proposta: com que finalidade o aluno vai escrever, para quem, sobre qual assunto, em que gênero.

Seqüência didáticaSeqüência didática é um conjunto de atividades ligadas entre si, planejadas para

ensinar um conteúdo etapa por etapa. Essa seqüência de atividades permite que os alunos cheguem gradualmente ao domínio de determinado conteúdo ou competência.

Ao organizar a seqüência didática para o ensino de gêneros textuais (orais ou escri-tos), o professor planeja seu trabalho para orientar seus alunos a ler, escrever e escutar ativamente, a explorar diversos exemplares do gênero escolhido. Assim, eles domina-rão pouco a pouco suas características e produzirão textos dos gêneros estudados.

O trabalho com seqüências didáticas supõe um rico processo de interação em aula — com a participação e orientação do professor como parceiro mais experiente e conhecedor do conteúdo que ensina —, cria um campo que favorece a apropriação, por parte dos alunos, de um dos instrumentos culturais elaborados historicamente pelo homem — os gêneros textuais.

É importante enfatizar que a idéia central do trabalho com seqüências didáticas “é a de que se devem criar situações com contextos que permitam reproduzir em grandes linhas e no detalhe a situação concreta de produção textual, incluindo sua circulação, ou seja, com atenção para o processo de relação entre produtores e receptores” (Marcuschi, 2002).

No Caderno do Professor — Orientação para produção de textos, a seqüência didá-tica apresenta o seguinte passo-a-passo para o ensino dos gêneros textuais.

Passo 1Apresentação do projeto de escrita e da situação de produção

O professor inicia a seqüência didática apresentando o gênero a ser estudado, ressal-tando a importância de ler e produzir textos daquele gênero. Aqui há uma boa oportuni-dade para verificar se os alunos sabem em que situações sociais esses textos são produzidos, com que finalidade, para quem ler, e em que suportes textuais são encontrados.

O professor também apresenta o plano de estudo do gênero, o objetivo da pro-posta e cada uma das etapas de trabalho, que ele deve registrar num cartaz para que todos possam consultá-las quando necessário.

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Passo 2Diagnóstico inicial

O diagnóstico inicial tem por objetivo verificar o que a turma já sabe do gênero que será estudado. O professor deve avaliar se eles sabem em que situações sociais esse gê-nero é utilizado, se eles já leram ou escreveram algum texto desse gênero e em que contextos o fizeram.

O professor pede à turma que escreva o texto, indicando os elementos da situa-ção de produção: a quem se destina o texto (pais, colegas, pessoas da comunidade), qual é a sua finalidade (convencer, divertir, informar), onde será publicado (coletânea, jornal da escola ou da cidade, mural).

Como as turmas são heterogêneas, a avaliação inicial favorece o planejamento de intervenções diferenciadas, possibilitando que todos cheguem ao final da seqüência didática proposta com maior domínio do gênero.

Passo 3Leitura de textos

Para que os alunos ampliem seu repertório e se aproximem do gênero estudado, eles precisam ler bons e variados textos.

O professor deve atuar como mediador entre os estudantes e o texto, incentivando, questionando, dando informações sobre o autor, seu tempo, suas fontes, sua obra, seus interlocutores, seu estilo etc.

Passo 4Estudo das características do gênero

Para o estudo do gênero, são propostas várias atividades de oralidade, leitura, escrita e reflexão sobre a língua. Elas levam o aluno a identificar as características peculiares do gê-nero, como formas de composição, expressões próprias e tempos verbais utilizados.

Passo 5Pesquisa sobre o tema

Em qualquer situação comunicativa, é preciso conhecer o assunto sobre o qual se escreve ou fala. A pesquisa é fundamental — consultar diferentes fontes, entrevistar pessoas, analisar documentos e coletar dados da cultura local. Essas informações são organizadas em uma síntese (cartaz ou quadro) para serem compartilhadas com o grupo e consultadas sempre que necessário.

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Passo 6Produção coletiva do texto

Na produção coletiva do texto, orientada pelo professor, os alunos organizam e sintetizam o que foi aprendido. A troca de informações entre colegas permite ao aluno que está em uma etapa mais avançada de conhecimento auxiliar no processo de aprendizagem dos demais.

Durante as discussões, aparecem diferentes pontos de vista, e os alunos podem compreender que há vários modos de dar tom ao texto. Na negociação sobre o que deve ser escrito, de que maneira e em que ordem, há a possibilidade de autoria cole-tiva. Além de incentivar a participação de todos, essa produção oferece um modelo para a escrita do texto individual.

Passo 7Produção individual

O desafio dessa etapa é a escrita individual do texto, tendo em mãos o roteiro que orienta a produção do gênero estudado. Para mobilizar os alunos, o professor pode relembrar a situação de comunicação proposta no início da seqüência didática. Além disso, deve rever as aprendizagens sobre elementos do gênero feitas ao longo da se-qüência didática. Espera-se, nessa produção final, que o aluno ponha em prática grande parte do que foi ensinado.

Passo 8Aprimoramento e reescrita do texto

Depois da escrita individual, o aluno — de posse de um roteiro e com auxílio do professor — fará a revisão e as reformulações necessárias para o aprimoramento de seu texto.

Passo 9 Publicação do texto produzido

Para finalizar o trabalho, o professor prepara os textos produzidos pelos alunos para publicação. Por exemplo, se trabalhou com artigos de opinião, pode publicá-los no jornal local, jornal mural ou na internet. No caso dos poemas, pode apresentá-los em um sarau ou organizá-los em uma coletânea. Se o gênero foi memórias literárias, pode transformar os textos elaborados em um livro de memórias.

Por fim, para valorizar a conquista dos alunos, o professor pode promover uma cerimônia especial de lançamento da publicação ou de inauguração do mural. Pode ainda realizar um sarau com a participação das famílias dos alunos.

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