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LÍNGUA PORTUGUESA

comunicaçao musical

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LÍNGUA PORTUGUESA

CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD

Língua Portuguesa – Profª. Ms. Silvana Zamproneo e Prof. Felipe Aleixo

Meu nome é Silvana Zamproneo. Sou graduada em Letras pela Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Araraquara e mestre em Linguística e Língua Portuguesa pela mesma instituição. Antes de ingressar no mestrado, fui bolsista do CNPq em nível de aperfeiçoamento por dois anos. Atualmente, dedico-me à pesquisa em estudos da linguagem e leciono Linguística e Língua Portuguesa em

cursos de Letras nas modalidades presencial e a distância, além de Língua Portuguesa em outros cursos de graduação. Será uma satisfação trabalhar com você e espero contribuir para a sua formação profissional.E-mail: [email protected]

A autora agradece a colaboração do Prof. Felipe Aleixo, pelas suas contribuições aos temas desenvolvidos, bem como pela revisão técnica dos conteúdos abordados.

Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação

LÍNGUA PORTUGUESACaderno de Referência de Conteúdo

Silvana Zamproneo

Felipe Aleixo

BatataisClaretiano

2013

Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação

© Ação Educacional Claretiana, 2010 – Batatais (SP)Versão: dez./2013

 

 

 

469 Z29l

Zamproneo, Silvana Língua portuguesa / Silvana Zamproneo, Felipe Aleixo – Batatais, SP : Claretiano, 2013. 208 p.

ISBN: 978-85-67425-82-5

1. Comunicação. 2. Linguagem. 3. Gramática. 4. Texto. 5. Leitura crítica. 6. Produção de Texto. I. Aleixo, Felipe. II. Língua portuguesa.

CDD 469

Corpo Técnico Editorial do Material Didático MediacionalCoordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves

Preparação Aline de Fátima Guedes

Camila Maria Nardi Matos Carolina de Andrade Baviera

Cátia Aparecida RibeiroDandara Louise Vieira Matavelli

Elaine Aparecida de Lima MoraesJosiane Marchiori Martins

Lidiane Maria MagaliniLuciana A. Mani Adami

Luciana dos Santos Sançana de MeloLuis Henrique de Souza

Patrícia Alves Veronez MonteraRita Cristina Bartolomeu

Rosemeire Cristina Astolphi BuzzelliSimone Rodrigues de Oliveira

Bibliotecária Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11

RevisãoCecília Beatriz Alves TeixeiraFelipe AleixoFilipi Andrade de Deus SilveiraPaulo Roberto F. M. Sposati OrtizRodrigo Ferreira DaverniSônia Galindo MeloTalita Cristina BartolomeuVanessa Vergani Machado

Projeto gráfico, diagramação e capa Eduardo de Oliveira AzevedoJoice Cristina Micai Lúcia Maria de Sousa FerrãoLuis Antônio Guimarães Toloi Raphael Fantacini de OliveiraTamires Botta Murakami de SouzaWagner Segato dos Santos

Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana.

Claretiano - Centro UniversitárioRua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP 14.300-000

[email protected]: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006

www.claretianobt.com.br

SUMÁRIO

CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 92 ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO ............................................................................ 11

UNIDADE 1 – COMUNICAÇÃO HUMANA: ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO, FUNÇÕES DA LINGUAGEM, FALA E ESCRITA

1 OBJETIVOS .......................................................................................................... 392 CONTEÚDOS ....................................................................................................... 393 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE .................................................... 404 INTRODUÇÃO À UNIDADE .................................................................................. 415 ESQUEMA DE COMUNICAÇÃO ........................................................................... 446 FUNÇÕES DA LINGUAGEM ................................................................................. 477 FALA E ESCRITA ................................................................................................... 578 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ............................................................................ 609 CONSIDERAÇÕES ................................................................................................ 6310 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 63

UNIDADE 2 – TEXTO, COERÊNCIA E COESÃO

1 OBJETIVOS .......................................................................................................... 652 CONTEÚDOS ....................................................................................................... 653 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE .................................................... 664 INTRODUÇÃO À UNIDADE .................................................................................. 675 CONCEITO DE TEXTO E FATORES DE TEXTUALIDADE .......................................... 706 COERÊNCIA......................................................................................................... 787 COESÃO .............................................................................................................. 808 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ............................................................................ 1029 CONSIDERAÇÕES ................................................................................................ 10910 SUGESTÕES DE LEITURA ..................................................................................... 10911 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 109

UNIDADE 3 – SUBSÍDIOS GRAMATICAIS

1 OBJETIVOS .......................................................................................................... 1112 CONTEÚDOS ....................................................................................................... 1113 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE .................................................... 1124 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1135 CRASE ................................................................................................................. 1136 COLOCAÇÃO DOS PRONOMES PESSOAIS OBLÍQUOS ÁTONOS ........................... 1197 PONTUAÇÃO: USO DA VÍRGULA ......................................................................... 1258 CONCORDÂNCIA VERBAL ................................................................................... 130

9 CONCORDÂNCIA NOMINAL ............................................................................... 13410 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ............................................................................ 13511 CONSIDERAÇÕES ................................................................................................ 14312 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 143

UNIDADE 4 – INTERPRETAÇÃO, ANÁLISE E PRODUÇÃO TEXTUAL: TÓPICOS DO TEXTO E DO PARÁGRAFO

1 OBJETIVOS .......................................................................................................... 1452 CONTEÚDOS ....................................................................................................... 1453 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE .................................................... 1464 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1465 LEITURA DE TEXTO ............................................................................................. 1476 OS TÓPICOS DO TEXTO ....................................................................................... 1497 O TÓPICO E A ESTRUTURA DO PARÁGRAFO ....................................................... 1578 QUESTÃO AUTOAVALIATIVA ............................................................................... 1639 CONSIDERAÇÕES ................................................................................................ 16410 SUGESTÕES DE LEITURA ..................................................................................... 16411 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 164

UNIDADE 5 – ESTRUTURAS DISCURSIVAS: DESCRITIVA, NARRATIVA E PROCEDURAL

1 OBJETIVOS .......................................................................................................... 1672 CONTEÚDOS ....................................................................................................... 1673 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE .................................................... 1684 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1685 ESTRUTURA DESCRITIVA .................................................................................... 1696 ESTRUTURA NARRATIVA ..................................................................................... 1757 ESTRUTURA PROCEDURAL ................................................................................. 1788 QUESTÃO AUTOAVALIATIVA ............................................................................... 1799 CONSIDERAÇÕES ................................................................................................ 18010 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 180

UNIDADE 6 – GÊNEROS DISCURSIVOS: RESUMO E DISSERTAÇÃO

1 OBJETIVOS .......................................................................................................... 1832 CONTEÚDOS ....................................................................................................... 1843 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE .................................................... 1844 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1845 RESUMO ............................................................................................................. 1856 DISSERTAÇÃO ..................................................................................................... 1927 QUESTÃO AUTOAVALIATIVA ............................................................................... 2068 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................... 2069 SUGESTÕES DE LEITURA ..................................................................................... 20710 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 207

Claretiano - Centro Universitário

CRC

Caderno de Referência de Conteúdo

Conteúdo –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––Comunicação e linguagem. Texto: conceito, tipologia e estruturação. Fatores de textualidade: coerência e coesão. Aspectos gramaticais relevantes à produção textual. Dissertação, resumo e resenha. Leitura crítica, interpretativa e analítica. Produção de textos.–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

1. INTRODUÇÃO

Seja bem-vindo ao estudo de Língua Portuguesa. Neste Ca-derno de Referência de Conteúdo, você encontrará o conteúdo bá-sico das seis unidades.

Esperamos que você amplie seus conhecimentos de língua portuguesa e aperfeiçoe sua habilidade de comunicação oral e es-crita, de forma a dominar as condições de recepção e produção textual. Além disso, tomará contato com teorias sobre os gêneros e as estruturas de discurso que lhe auxiliarão a produzir diferen-

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tes tipos de texto, de acordo com as exigências das diferentes si-tuações comunicativas. Nosso objeto central de estudo, portanto, será o texto.

Em seu cotidiano de estudante de Graduação e em sua futura prática profissional, é importante que você tenha desenvolvido as capacidades de: produzir textos claros, lógicos, coerentes e coesos, respeitando as diferentes estruturas discursivas; ler e analisar tex-tos, relacionando-os ao contexto sociocultural; comparar diferentes gêneros discursivos, observando sua organização e sua estrutura, bem como os recursos linguísticos utilizados; reconhecer estraté-gias argumentativas utilizadas por um autor e saber utilizá-las na sua produção textual; relacionar as informações explícitas no texto às implícitas; analisar criticamente diferentes temas presentes em textos e seus enfoques.

Para cumprir tais objetivos, selecionamos alguns assuntos que serão abordados neste material. Iniciaremos a primeira uni-dade com uma discussão acerca das características da linguagem humana e da comunicação animal. Em seguida, apresentaremos os seis elementos envolvidos no esquema de comunicação, quais sejam: remetente, destinatário, contexto, mensagem, contato e código, e as funções da linguagem a eles relacionadas (emotiva, conativa, referencial, poética, fática e metalinguística, respectiva-mente). Encerraremos a unidade com a abordagem dos fatores que diferenciam a fala da escrita.

Após a apresentação das noções básicas da Teoria da Comu-nicação, na segunda unidade, iniciaremos o estudo do texto, to-mando como ponto de partida o conceito de discurso e de texto, os fatores de textualidade, sobretudo a coerência e a coesão.

Na terceira unidade, abordaremos alguns assuntos de gra-mática normativa que são relevantes para a produção de um texto coeso e de acordo com a norma padrão da língua.

Na quarta unidade, daremos atenção à interpretação textual. Para isso, analisaremos os chamados tópicos discursivos, ou seja,

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os assuntos abordados em um texto. Verificaremos que ao assunto central há outros relacionados, compondo-se, assim, uma estrutu-ra hierárquica de tópicos. Na sequência, estudaremos o tópico e a estrutura do parágrafo, com ênfase no parágrafo dissertativo.

As duas unidades finais têm como assunto, respectivamente, as estruturas e os gêneros de discurso. Destacaremos, na quinta unidade, as estruturas descritiva, narrativa e procedural, esta úl-tima típica de textos instrucionais, como bulas de medicamento, manuais de eletrodoméstico etc. Encerrando o Caderno de Refe-rência de Conteúdo, apresentaremos, na sexta unidade, algumas estratégias de elaboração de resumo e de dissertação argumen-tativa.

Após esta introdução apresentaremos, a seguir, na seção Orientações para estudo, algumas orientações de caráter motiva-cional, dicas e estratégias de aprendizagem que poderão facilitar o seu estudo.

2. ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO

Abordagem Geral Prof. Felipe Aleixo

Neste tópico, apresentar-se-á uma visão geral do que será estudado. Aqui, você entrará em contato com os assuntos princi-pais deste livro-texto de forma breve e geral e terá a oportunida-de de aprofundar essas questões no estudo de cada unidade. No entanto, essa Abordagem Geral visa fornecer-lhe o conhecimento básico necessário a partir do qual você possa construir um referen-cial teórico com base sólida – científica e cultural – para que, no futuro exercício de sua profissão, você a exerça com competência cognitiva, com ética e com responsabilidade social.

Inicialmente, é preciso que você entenda o porquê de es-tar estudando Língua Portuguesa no seu curso de Graduação. Será que você, ao longo de, aproximadamente, 12 anos de estudo na

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Educação Básica, ainda não aprendeu português? Será que você não sabe a língua portuguesa? Ora, se isso está passando pela sua cabeça, pare de pensar nisso já!

Toda pessoa que tem uma língua materna (no seu caso, mui-to provavelmente, o português) e que a utiliza para comunicar-se com outra pessoa, fazendo-se entender, sabe essa língua. Quando nascemos, adquirimos a língua das pessoas que estão ao nosso re-dor, criando, no nosso cérebro, uma gramática particular, que nos permite selecionar palavras e combiná-las a fim de transmitir uma mensagem ao nosso semelhante. Portanto, você, ao falar a língua portuguesa, sabe, inconscientemente, utilizá-la e, assim, domina, ao menos, uma variante dela.

Entretanto, não há apenas uma forma de se utilizar a língua a que pertencemos. É aí que entram em questão os níveis de lin-guagem.

Imagine a seguinte situação: você está em um barzinho, quando, de repente, chega alguém e diz: "Por obséquio, o senhor poderia trazer-me uma garrafa de água?". Certamente, a sua rea-ção seria de estranhamento.

Agora, imagine outra situação: você está assistindo a um jul-gamento, e o juiz diz ao réu: "Como nóis decidiu, 'ocê' 'tá' conde-nado 'pelos crime' que cometeu". Você também estranharia um juiz falando dessa forma em um tribunal, não estranharia?

Pois bem, como você pode perceber, há várias maneiras de se dizer algo, seja de modo mais formal, seja de modo mais informal. Assim, em um ambiente em que não se exija tamanha formalidade, não é preciso tomar tanto cuidado com a sua língua falada (tal como em um barzinho); da mesma forma, em um lugar em que se exija tal formalidade, assim devemos proceder também (tal como em uma sessão de julgamento). Devemos optar, então, pelo uso da variante padrão da língua ou da variante não padrão. Nesse sentido, cumpre destacar que se entende por língua padrão as normas eleitas como modelo, consagradas dentro das possibilidades de realização em um sistema linguístico (CUNHA; CINTRA, 2007).

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Da mesma maneira em que há diferença entre a forma de se falar, há, também, diferença entre usar as duas modalidades em que a língua se apresenta: fala e escrita.

Na fala, tem-se mais liberdade para se produzir aquilo que o falante quer exteriorizar, uma vez que é ela dinâmica. Já na escrita, é preciso maior cuidado com o modo de se expressar, a fim de que haja sucesso na compreensão das ideias transcritas no papel (ou em qualquer lugar em que se consiga escrever, como, por exem-plo, nos meios digitais). Dessa forma, para escrever, precisamos ter conhecimento de um sistema padronizado estabelecido por convenção, o qual é chamado de ortografia. Por meio desta, con-seguimos representar, graficamente, a linguagem verbal humana.

É assim que explicamos o porquê de você aprender língua portuguesa no seu curso de Graduação: aprender a colocar "no papel" as suas ideias, obedecendo à norma padrão da língua, de maneira que outras pessoas consigam entender aquilo que você escreveu. Logo, objetivamos aperfeiçoar a sua habilidade em es-crever textos.

Você deve ter percebido que ora nos referenciamos à pala-vra "língua", ora fazemos uso do vocábulo "linguagem". Há dife-rença entre ambos?

Alguns estudiosos da linguagem não fazem essa diferenciação. Contudo, há aqueles que dizem que cada um desses conceitos se refere a uma "coisa" diferente (Saussure e Chomsky, por exemplo).

Para Cunha e Cintra (2007, p. 1), linguagem:[...] é um conjunto complexo de processos – resultado de uma certa atividade psíquica profundamente determinada pela vida social – que torna possível a aquisição e o emprego concreto de uma LÍN-GUA qualquer.

De acordo com os autores, usa-se esse termo, também, para designar-se o sistema de sinais utilizado para estabelecer comuni-cação entre as pessoas. Assim, segundo esses estudiosos, "desde

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que se atribua valor convencional a determinado sinal, existe uma linguagem" (2007, p. 1).

Já a língua, para os gramáticos:É um sistema gramatical pertencente a um grupo de indivíduos. Ex-pressão da consciência de uma coletividade, a LÍNGUA é o meio por que ela concebe o mundo que a cerca e sobre ele age. Utilização so-cial da faculdade da linguagem, criação da sociedade, não pode ser imutável; ao contrário, tem de viver em perpétua evolução, parale-la à do organismo social que a criou (CUNHA; CINTRA, 2007, p. 1).

Em síntese, ambos os conceitos estão relacionados à comu-nicação humana. Na linguagem, pensada num sentido macro, es-tão inseridas todas as formas de que o homem se utiliza para se comunicar, seja por meio da pintura, da dança, da mímica, entre outras. Já a língua está relacionada à forma verbal de interação entre as pessoas. Esta se apresenta, como mencionamos, nas mo-dalidades escrita e falada.

Passemos, então, a partir de agora, a estudar a linguagem verbal humana, utilizada, sobretudo, para estabelecer comunica-ção.

Para que tenhamos em mente como se dá o processo de co-municação, observe o diálogo a seguir:

— Luís, você pode me emprestar o seu carro hoje à noite?

— Infelizmente, não, porque ele está quebrado.

Como você pode perceber, nesse exemplo estão em tela dois interlocutores, ou seja, dois indivíduos que estão participando de uma conversa. Nesse diálogo, há alguém que precisa de um favor do seu amigo e, por essa razão, pede a ele algo por meio de uma manifestação verbal. Nesse caso, o primeiro interlocutor é o emis-sor de uma mensagem; e Luís, o segundo interlocutor, é o recep-tor (ou destinatário) dessa mensagem, a qual contém em si o con-teúdo da informação. Para transmiti-la de forma bem-sucedida, foi preciso que ambos falassem uma mesma língua, ou seja, dominas-sem o mesmo código de comunicação. Além disso, foi necessário

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que os dois falantes estivessem inseridos num mesmo contexto para saber que essa mensagem se referia a determinada entida-de, a um determinado referente. A mensagem, que estabelece a interação entre eles, foi transmitida graças ao fato de se ter usado um canal, isto é, de o emissor ter transformado a sua ideia em material sonoro (por meio de seu aparelho fonador) e transmiti-lo ao seu receptor por intermédio do ar. Cada um desses elementos (emissor, mensagem, receptor, código, referente e canal) é utiliza-do, pois, para se estabelecer comunicação.

Já dissemos que, na comunicação, emitimos mensagens, as quais são codificadas pelos sistemas de signos. Essas mensagens, por sua vez, são estruturadas, concretizadas, em textos (falados ou escritos), que são, em última instância, o produto concreto de uma codificação linguística.

Assim, o texto é a manifestação concreta, estática, de uma atividade discursiva realizada por um emissor e por um receptor, que têm determinados propósitos comunicativos e que estão in-seridos no mesmo contexto. Emissor e receptor são os sujeitos do discurso. Pertencem a uma sociedade, têm determinada cultura e estão inseridos em algum momento da história. No discurso, ao contrário do texto (que, como dissemos, é estático), há uma di-namicidade no processo de enunciação, iniciando-se quando da sua codificação pelo emissor e encerrando-se na decodificação do receptor.

Segundo Halliday e Hassan (1976), o texto é uma passagem, falada ou escrita e de tamanho qualquer, que forma um todo uni-ficado. Em outras palavras, ele não é apenas uma sequência de vocábulos; é, sobretudo, uma "unidade semântica", ou seja, uma unidade não só de forma, mas também de significado, que con-tém um sentido no contexto, uma textura (ou textualidade).

Então, se o texto é considerado como uma unidade, pode-se inferir que ele não é formado por palavras isoladas ou frases desar-

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ticuladas. O texto é um conjunto cujas partes estão ligadas umas às outras, de tal forma que se percebe claramente o seu sentido, havendo um arranjamento ordenado de ideias.

Para compreender melhor, observe o trecho a seguir:Hoje trabalhei demais. Maria usa saias. Os meninos me disseram que brincaram na praia. Saudade! Empresta-me o seu lápis? Brigou comigo, entretanto vai fazer frio. Queremos água, por isso ele quer saber se há ferramentas para consertar o carro.

Você consegue apreender uma unidade de sentido nesse exemplo? Há uma lógica no ordenamento das frases? Consegue perceber esse trecho como uma situação possível de comunica-ção? Você o consideraria como um texto?

Muito provavelmente, você respondeu "não" a todas essas questões – e com razão. Temos, no exemplo anterior, uma sequên-cia desordenada de frases, um amontoado de ideias "jogado" no papel, sem lógica alguma – enfim, um caos linguístico.

Agora, compare esse trecho com o excerto a seguir:Quaresma era considerado no arsenal: a sua idade, a sua ilustração, a modéstia e honestidade de seu viver impunham-no ao respeito de todos. Sentindo que a alcunha lhe era dirigida, não perdeu a dig-nidade, não prorrompeu em doestos e insultos. Endireitou-se, con-certou o pince-nez, levantou o dedo indicador no ar e respondeu:

—Senhor Azevedo, não seja leviano. Não queira levar ao ridículo aqueles que trabalham em silêncio, para a grandeza e a emanci-pação da Pátria (BARRETO, L. O triste fim de Policarpo Quaresma. Disponível em: <http://www.culturatura.com.br/obras/Triste%20Fim%20de%20Policarpo%20Quaresma.pdf >. Acesso em: 29 jun. 2010).

Conseguiu perceber a diferença entre ambos? No excerto da obra O triste fim de Policarpo Quaresma, conseguimos, por meio da ordenação dos vocábulos, das orações e das frases, compreen-der o que o narrador deseja transmitir ao seu leitor; em outras palavras, conseguimos entender o sentido do que está escrito.

Obviamente, podemos, então, considerar o segundo trecho como um texto, uma vez que nele estão claras as intenções comu-

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nicativas de seu produtor. É em virtude de esse trecho ter textuali-dade que conseguimos notar a diferença entre um texto e um não texto. A textualidade é conferida ao texto por meio de sete fatores facilmente identificados, a saber:

a) intencionalidade;b) aceitabilidade;c) situacionalidade;d) intertextualidade;e) informatividade;f) coesão;g) coerência.

Na Unidade 2, você estudará cada um desses fatores de tex-tualidade. No entanto, dois desses fatores serão estudados com mais detalhes: a coesão e a coerência textuais. Esses são os fato-res que estão mais centrados no próprio texto.

A coesão, segundo Fiorin e Savioli (2004), é o nome que se dá à conexão interna entre os vários enunciados presentes no tex-to. É por meio dela que as ideias apresentadas em uma produção escrita são interligadas.

Para Koch (1999), a coesão constitui um fator de textualida-de altamente desejável, tendo em vista o fato de ela configurar um mecanismo de manifestação superficial da coerência. Assim, para a linguista, o conceito de coesão textual (dividida por ela em dois grandes grupos, quais sejam, a coesão referencial e a coesão se-quencial) relaciona-se a "todos os processos de sequencialização que asseguram [...] uma ligação linguística significativa entre os ele-mentos que ocorrem na superfície textual" (KOCH, 1999, p. 19).

Portanto, é muito importante que, na construção de seus textos, você se atente aos mecanismos que utilizará para conectar as suas sentenças, ou seja, aos mecanismos de coesão textual.

Muito importante é, também, atentar-se à coerência do tex-to, a qual, para muitos estudiosos, se trata de um fator extrema-mente vinculado à coesão.

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De acordo com Antunes (2005, p. 176) "[...] coerência é uma propriedade que tem a ver com as possibilidades de o texto funcionar como uma peça comunicativa, como um meio de interação verbal".

Grosso modo, a coerência está ligada à lógica do texto, ou seja, à não contradição dos fatos apresentados; ela é a proprieda-de de dizer-se que um texto faz sentido.

Mas como assegurar a coesão e a coerência nos textos cons-truídos por você? Para isso, é importante que você tenha, inicial-mente, alguns conhecimentos de gramática.

Há diversos tipos de gramática, mas, aqui, estudaremos al-guns subsídios relacionados à Gramática Normativa, que é aquela que estabelece regras para a língua, defendendo que existe um padrão linguístico que deve (ou deveria) ser seguido por todos.

Pois bem, nos textos escritos, devemos nos atentar quan-to à forma que escrevemos, pois não podemos transgredir as re-gras prescritas pela gramática. É por essa razão que, na Unidade 3, apresentamos alguns subsídios gramaticais.

Inicialmente, apresentamos um conceito que é incompreen-dido por muitos, mas que não carrega tanta dificuldade assim. Es-tamos falando da crase.

Em síntese, crase nada mais é do que a fusão de duas vogais. Para ser mais preciso, ela ocorre quando "juntamos" um "a" arti-go definido feminino e um "a" preposição. Por exemplo, quando temos um verbo que exige a preposição "a" e, em seguida, um substantivo feminino que pode ser determinado pelo artigo "a", teremos crase. Observe a frase seguinte:

Eu vou à escola hoje.

Para verificarmos se nessa situação realmente ocorre crase, devemos tomar, inicialmente, o verbo da oração, que, no caso, é "ir", conjugado na 1ª pessoa do singular (eu) no Presente do Indi-cativo. Agora, veja: quem "vai", vai a algum lugar. Obrigatoriamen-

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te, devemos utilizar, em virtude do uso do verbo "ir", a preposição "a" para continuar o que estamos dizendo ou escrevendo. Uma vez confirmado o uso dessa preposição, necessitamos observar o substantivo que vem na sequência. No exemplo, temos o subs-tantivo "escola", que é feminino. Sabe-se que um substantivo é feminino se se conseguir colocar um artigo feminino ("a", "as") an-tes dele. Inferimos, pois, que "escola" admite o uso do artigo "a", pois poderíamos dizer perfeitamente, por exemplo, que "a escola é moderna" (perceba que esse "a" artigo é diferente do "a" prepo-sição!). Logo, se o verbo exige preposição e o substantivo admite o artigo feminino, ficaria estranho escrevermos:

Eu vou a a escola hoje.

A fim de não causar esse estranhamento, unem-se os dois "as” e acrescenta-se um acento grave (`). Como resultado final, temos: à – eu vou à escola hoje.

Viu só? Não é tão difícil como você imaginava! Há, ainda, algumas outras regras para determinar o uso ou não da crase, as quais você estudará na Unidade 3.

Assim como a crase, que é marcada na escrita, devemos tomar cuidado, também, com relação à colocação dos pronomes oblíquos quando estão ligados a verbos, os quais são átonos (não são tônicos). Os pronomes oblíquos átonos são os seguintes: "me", "te", "se", "nos", "vos", "o", "a", "os", "as", "lhe" e "lhes"; eles são excelentes mecanismos de coesão textual, pois fazem referência a substantivos do texto, impedindo, assim, que haja uma repetição vocabular exagerada. Assim, o pronome é aquele que serve para representar um nome (substantivo e adjetivo).

Com relação à posição dos pronomes oblíquos átonos diante de um verbo, podemos ter:

• Próclise: ocorre quando o pronome está anteposto ao verbo. Exemplo: "Ele te contou a novidade?”.

• Ênclise: ocorre quando o pronome está posposto ao ver-bo, ligado a ele por hífen (-). Exemplo: "Empresta-me o seu livro?”.

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• Mesóclise: ocorre quando o pronome está inserido no verbo. Exemplo: "Arrepender-me-ei de ter dito isso?”.

No Brasil, a próclise é preferida na língua falada, ao contrário de Portugal, que prefere a ênclise. A mesóclise, na fala, está prati-camente extinta.

Porém, como você já sabe, a língua escrita é uma modali-dade diferente da língua falada. Nela, não importam as preferên-cias deste ou daquele país; é preciso seguir as regras estabelecidas pela gramática.

Para saber, então, quando devemos utilizar próclise, êncli-se ou mesóclise, precisamos identificar alguns elementos que são atrativos de pronome oblíquo, bem como reconhecer situações em que se deve usá-lo ora antes, ora depois, ora no meio dos ver-bos.

Cada uma dessas situações também será apresentada a você na Unidade 3.

Outro mecanismo obrigatório utilizado na língua escrita é a pontuação. O ponto-final (.), a vírgula (,), o ponto e vírgula (;), os dois-pontos (:), o ponto de interrogação (?), o ponto de exclama-ção (!), as reticências (...), as aspas (" "), os parênteses ( ), os col-chetes ([ ]) e o travessão (–) são os sinais de pontuação que usa-mos em nossos textos. Cada um deles tem uma função específica e deve ser usado nos locais adequados.

Em meio a todos esses sinais de pontuação, um dos mais complexos é a vírgula. Nas séries iniciais da Educação Básica, aprendíamos que a vírgula era utilizada para marcar os locais em que a pessoa deveria "respirar" quando fosse ler um texto. Infe-lizmente (ou muito felizmente), a vírgula não tem nada a ver com respiração. Ela é um marcador textual ligado, sobretudo, à sinta-xe da língua escrita. Para dominá-la, é preciso, por exemplo, ter conhecimentos acerca de sujeito e predicado, conjunção, objetos direto e indireto, entre tantos outros.

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É por ser tão complexa que, para este estudo, a vírgula foi eleita, dentre os sinais de pontuação, para ser estudada e bem compreendida.

Encerrando os estudos de subsídios gramaticais, apresenta-dos na Unidade 3, apresentaremos a você a relação de concordân-cia estabelecida entre sujeito e verbo e entre dois nomes. Estamos falando, respectivamente, de concordância verbal e de concor-dância nominal. Utilizar-se desses conhecimentos na hora de pro-duzir um texto escrito é de fundamental importância.

Segundo Abreu (2003, p. 157), a concordância:[...] é um processo pelo qual as marcas de número e pessoa de substantivos ou pronomes são assumidas por verbos e as marcas de gênero e número de substantivos são assumidas por adjetivos, artigos, pronomes e alguns numerais (grifo do autor).

De forma mais específica, o estudioso afirma que a "[...] concordância que envolve adjetivos, artigos, pronomes e alguns numerais é chamada de concordância nominal [...]" e que "[...] a concordância que envolve o verbo é chamada de concordância verbal” (ABREU, 2003, p. 157, grifos do autor).

É importante deixar claro que a concordância facilita ao lei-tor a compreensão do texto, pois, por intermédio dela, consegui-mos seguir, inconscientemente, as ideias apresentadas, bem como estabelecer conexão entre as várias sentenças elencadas. Por isso, a concordância também é considerada um mecanismo responsá-vel por realizar coesão textual.

Como você pode perceber, todo o conteúdo tratado tem como objeto de estudo central o texto. Para dar continuidade a esse estudo, é preciso, ainda, saber que um texto escrito envolve dois aspectos: a produção, que é o processo de elaboração, e a leitura e interpretação, que estão relacionadas à forma como se apreende o texto.

No seu dia a dia de estudante, você precisa ler, interpretar, analisar e discutir muitos textos, sobretudo nesta modalidade de

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ensino, a Educação a Distância. Será que, para realizar os seus es-tudos, você está lendo e interpretando adequadamente os con-teúdos disponibilizados nos materiais instrucionais? É disso que trata a Unidade 4. Nela, você aprenderá como realizar de forma bem-sucedida a leitura de um texto.

Muitas pessoas têm o hábito de, nos seus estudos, "correr os olhos" no material, lendo-o apenas uma vez. Essa não é uma maneira satisfatória de adquirir conhecimento por meio da leitura. Para entendermos bem um texto, é necessário lê-lo várias vezes. Inicialmente, devemos realizar uma leitura rápida, a fim de que entremos em contato com o assunto e tenhamos uma noção geral do todo que ele compreende. Feito isso, é hora de buscar no dicio-nário o significado das palavras desconhecidas e de anotar as per-guntas suscitadas pelo texto. Além disso, devem-se identificar as partes principais que o compõem, o tema de que ele trata, a tese defendida, as estratégias argumentadas, bem como os significados e os sentidos veiculados.

Procedendo dessa forma, faz-se uma análise da produção escrita, permitindo que se decodifiquem adequadamente todas as informações nela contidas.

O primeiro passo para a leitura de um texto é perceber de que assunto ele está tratando, ou seja, o tópico textual. A partir disso, começa-se a análise. Por meio da Unidade 4, então, você vai descobrir, também, como interpretar e analisar um texto, partindo do seu tópico central. Além disso, você aprenderá qual é a estru-tura ideal de um parágrafo e perceberá que ele possui, também, um tópico.

Na sequência, abordaremos, na Unidade 5, algumas das di-ferentes estruturas discursivas em que o texto pode se edificar: a descritiva, a narrativa e a procedural.

A estrutura descritiva é aquela em que apresentamos as ca-racterísticas de lugares, objetos, pessoas (física e psicologicamen-

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te), animais, situações, entre outros. Como o próprio nome indica, é o tipo de texto em que descrevemos algo. Segundo Fiorin e Sa-violi (2000, p. 298), na descrição, não se relatam:

[...] as transformações de estado que vão ocorrendo progressiva-mente com pessoas ou coisas, mas as propriedades e aspectos des-ses elementos num certo estado, considerado como se estivesse parado no tempo.

Assim, o fundamental em uma descrição é que não haja re-lação de anterioridade e/ou posterioridade, ou seja, não se deve ter uma progressão temporal, tendo em vista que é essencial ha-ver uma relação de simultaneidade entre os enunciados elencados nesse tipo de produção.

Observe, a seguir, um exemplo de texto descritivo apresen-tado por Fiorin e Savioli (2000, p. 297):

Luzes de tons pálidos incidem sobre o cinza dos prédios. Nos bares, bocas cansadas conversam, mastigam e bebem em volta das me-sas. Nas ruas, pedestres apressados se atropelam. O trânsito cami-nha lento e nervoso. Eis São Paulo às sete da noite.

Nesse trecho, são descritos alguns aspectos de determinado momento de determinado lugar. Nele, realizam-se descrições simul-tâneas, ou seja, não se pode dizer que uma coisa ocorre cronologi-camente anterior à outra; poder-se-ia até inverter a sequência dos enunciados sem que se alterasse a relação cronológica entre eles.

Na narração, porém, há essa relação de anterioridade e pos-terioridade, uma vez que uma das condições para ter-se uma nar-ração é haver um tempo definido para o discurso.

De acordo com Fiorin e Savioli (2000, p. 289), "texto narrati-vo é aquele que relata as mudanças progressivas de estado e que vão ocorrendo com as pessoas e as coisas através do tempo". Ao contrário do texto descritivo, na narração, não se consegue alterar a sequência dos enunciados sem se interferir radicalmente no sen-tido da produção escrita.

Fiorin e Savioli (2000, p. 300) apresentam o mesmo exemplo apresentado anteriormente, mas adequando-o a uma estrutura narrativa:

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Eram sete horas da noite em São Paulo e a cidade toda se agitava naquele clima de quase tumulto típico dessa hora. De repente, uma escuridão total caiu sobre todos como uma espessa lona opaca de um grande circo. Os veículos acenderam os faróis altos, insuficien-tes para substituir a iluminação anterior.

Você conseguiu perceber a diferença entre os dois textos? No narrativo, apresentam-se fatos concretos, tal como no descri-tivo; porém, esses fatos estão compreendidos em um tempo de-finido, havendo, assim, uma relação explícita de anterioridade e posterioridade.

As estruturas procedurais são as que ocorrem nos gêneros discursivos instrucionais, ou seja, nos textos em que se apresenta o "passo a passo" para se realizar alguma ação. Em outras pala-vras, esse texto, como o próprio nome indica, revela procedimen-tos que devem ser obedecidos para que determinada ação seja executada. Observe o exemplo a seguir:

Bolo nega malucaIngredientes• 3 xícaras de farinha de trigo;• 1 xícara e 1/2 de açúcar;• 2 xícaras de chocolate (ou achocolatado) em pó;• 1 xícara de óleo;• 1 xícara de água fervente;• 3 ovos;• 1 colher de fermento em pó.

Cobertura:• 1/2 lata de leite condensado;• 1/2 xícara de leite;• 1 colher de manteiga;• 5 colheres de achocolatado em pó.

Modo de PreparoMassa:1. Em um recipiente misture todos os ingredientes, menos a água

fervente e o fermento.2. Quando essa mistura estiver homogênea, adicione os outros

ingredientes.3. Despeje em uma forma untada, e leve ao forno médio por 30

minutos aproximadamente.

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Cobertura:1. Derreta a manteiga na panela e adicione o leite condensado, a

manteiga e o achocolatado.2. Mexa até desgrudar do fundo da panela (ponto de brigadeiro).3. Cubra e recheie o bolo depois de assado (TUDO GOSTOSO.

Nega Maluca. Disponível em: <http://tudogostoso.uol.com.br/receita/19132-bolo-nega-maluca.html>. Acesso em: 28 jun. 2010).

Como você pode perceber, nesse texto, que é a receita de um bolo, indicam-se os procedimentos para realizar uma tarefa. Outros exemplos de textos que se utilizam de estruturas proce-durais são: manuais em geral (de carro, de eletrodoméstico etc.), bulas de medicamento, receitas culinárias, regras de jogo etc.

Por fim, na última unidade, você aperfeiçoará o seu racio-cínio lógico e a sua capacidade de abstração e de articulação do pensamento. Mas como vai fazer isso? Ora, com a leitura, inter-pretação, análise e discussão de textos. É nessa unidade que você treinará, ainda, a sua capacidade de síntese, aprendendo a elabo-rar resumos. Finalmente, estudará a dissertação, que é o tipo de texto mais utilizado nos meios acadêmicos.

É importante que você se atente bem a essa seção sobre os textos dissertativos, uma vez que é por meio desse gênero discursi-vo que você deverá elaborar o seu Trabalho de Conclusão de Curso.

Esperamos que, com o estudo de Língua Portuguesa, você consiga aperfeiçoar as suas habilidades relacionadas à língua escri-ta e, assim, obtenha sucesso em sua vida acadêmica e profissional. Lembre-se de que manter contato contínuo com o texto é uma das melhores alternativas para compreendê-lo; para isso, basta que você leia constantemente!

Glossário de Conceitos

O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rápi-da e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de conhe-cimento dos temas tratados em Língua Portuguesa. Veja, a seguir, a definição de seus principais conceitos:

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1) Adjetivo: segundo Cunha e Cintra (2007, p. 259), o adje-tivo é "essencialmente um modificador do substantivo". Para Neves (2000, p. 173), os adjetivos "são usados para atribuir uma propriedade singular a uma categoria (que já é um conjunto de propriedades) denominada por um substantivo". Para a autora, o adjetivo pode servir tanto para qualificar um substantivo, quanto para subcategori-zá-lo.

2) Advérbio: o advérbio é um modificador do verbo; en-tretanto, pode reforçar o sentido de adjetivos, de outro advérbio, ou, ainda, pode modificar toda a oração. Pode ser classificado em: modo, lugar, tempo, intensidade, negação, afirmação, dúvida, interrogação, ordem, exclu-são e designação (CUNHA; CINTRA, 2007).

3) Aliteração: de acordo com Fiorin e Savioli (2004, p. 332), aliteração é a “repetição da mesma consoante ou de consoantes similares ao longo da frase”. Veja um exem-plo de aliteração na estrofe inicial do poema Um sonho, de Eugênio de Castro:

Na messe, que enlouquece, estremece a quermesse...O sol, o celestial girassol, esmorece...E as cantilenas de serenos sons amenosFogem fluidas, fluindo à fina flor dos fenos...

Nessa estrofe, há uma repetição exagerada do fonema /s/; temos aí, portanto, uma aliteração.

4) Antítese: figura pela qual se opõem, numa mesma frase, duas palavras ou dois pensamentos de sentido contrário (p. ex.: com luz no olhar e trevas no peito) [...] (HOUAISS, 2009, grifo nosso).

5) Aparelho fonador: conjunto de órgãos localizados na cabeça, pescoço e cavidade torá-cica, cuja função primária está ligada aos aparelhos digestivo e res-piratório, e que são secundariamente usados para a produção dos sons da fala; compõe-se dos articuladores (lábios, dentes, alvéolos, palato duro, palato mole, úvula e língua), dos ressoadores (cavida-de bucal, faringe, laringe, cavidades nasais), do órgão produtor da voz (pregas vocais), dos fornecedores da corrente aérea (traqueia, brônquios, bronquíolos, pulmões, diafragma e músculos intercos-tais) (HOUAISS, 2009).

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6) Aposto: segundo Cunha e Cintra (2007, p. 169), o aposto é o "termo de caráter nominal que se junta a um subs-tantivo, a um pronome, ou a um equivalente destes, a título de explicação ou de apreciação". Veja o exemplo a seguir:Ele, um pobre coitado, está sozinho no mundo.

7) Assonância: na assonância, ao contrário da aliteração, há uma repetição da mesma vogal na sentença (ou verso).

8) Codificação: é o processo de formular um enunciado linguístico de acordo com a estrutura de uma língua. Por exemplo, quando um falante deseja transmitir uma mensagem que, a princípio, está na sua cabeça, ele a transforma em material sonoro por meio de uma codi-ficação. Está ligada, pois, ao emissor/produtor de uma mensagem.

9) Comunicação: processo de interação estabelecido entre um emissor (codificador de uma mensagem) e um re-ceptor (decodificador dessa mensagem), no qual infor-mações são transmitidas por intermédio de recursos físi-cos (fala, audição, visão etc.) ou aparelhos e dispositivos técnicos (HOUAISS, 2009).

10) Conhecimento de mundo: é o conhecimento prévio que uma pessoa tem sobre determinado assunto, adquirido por meio de sua vivência.

11) Conjunção: segundo Cunha e Cintra (2007, p. 593), as conjunções são os "vocábulos gramaticais que servem para relacionar duas orações ou dois termos semelhan-tes da mesma oração". São conjunções: "e", "ou", "mas", "nem", "quando", "como", "porque", "que" (diferente do "que" pronome relativo), entre outras.

12) Conotativo: quando um termo tem valor conotativo, significa que ele está evocando um sentido diferente do conceito literal.

13) Consoante: som da fala que, do ponto de vista articula-tório, encontra na cavidade bucal algum obstáculo (seja total, seja parcial) quando da sua produção.

14) Conto: narrativa breve e concisa, contendo um só conflito, uma única ação (com espaço geralmente limitado a um ambiente), unidade de tem-po, e número restrito de personagens (HOUAISS, 2009).

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15) Coordenação: é o processo ou construção em que palavras, frases, sintagmas e períodos com funções equivalentes são ligados numa sequência. Os termos coordenados podem ser justapostos e, na escrita, se-parados por vírgula ou ligados por conjunção coorde-nativa (HOUAISS, 2009).

16) Crônica: a crônica é um texto literário em prosa relati-vamente breve que narra algum fato do cotidiano e de trama quase sempre pouco definida. Para que você en-tre em contato com esse tipo de texto, indicamos a obra: SANTOS, Joaquim Ferreira dos. (Org.). As cem melhores crônicas brasileiras. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. Nes-sa obra, você faz uma viagem histórica do Brasil por meio das crônicas de autores consagrados, indo de 1850, com Machado de Assis, aos anos 2000, com Carlos Heitor Cony, Marcelo Rubens Paiva e Antonio Prata.

17) Decodificação: ao contrário da codificação, a decodifica-ção é o processo de interpretar um enunciado linguístico produzido por um emissor. Logo, quando alguém trans-mite uma mensagem, aquele que a recebe, ou seja, o receptor (ou destinatário) tem de decodificá-la, a fim de que consiga apreender o seu significado.

18) Denotativo: um termo (expressão, frase, texto etc.) com valor denotativo é aquele que designa o sentido literal das palavras. Costuma-se dizer que, ao contrário da co-notação, traz o sentido que o dicionário determina para os vocábulos.

19) Diálogo: é uma conversa ou discussão entre duas pes-soas; em outras palavras, é a fala em que há a interação entre dois ou mais interlocutores (indivíduos).

20) Estrangeirismo: é o processo em que palavras de outros idiomas (tais como o inglês, o francês, o árabe etc.) são incorporadas ao uso da língua portuguesa (no caso do Brasil, especificamente). Se você quiser aprender um pouco mais sobre os estrangeirismos, indicamos a lei-tura da seguinte obra: FARACO, Carlos Alberto (Org.). Estrangeirismos: guerras em torno da língua. São Paulo: Parábola, 2001.

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21) Estrofe: a estrofe é um conjunto de versos; por sua vez, um conjunto de estrofes forma um poema. No caso de poemas longos, um conjunto de estrofes forma um can-to; o conjunto deste é que forma, então, essa produção literária.

22) Frase: de acordo com Cunha e Cintra (2007, p. 133), a frase é "[...] um enunciado de sentido completo, a uni-dade mínima de comunicação". Segundo os autores, a frase pode ser constituída de uma só palavra (como, por exemplo, em "Socorro!"), de várias palavras, em que pode ou não haver um verbo (como em "Eu nasci na Ba-hia." ou em "Quanta inocência!").

23) Interlocutor: cada uma das pessoas que faz parte de um diálogo, de uma conversa.

24) Linguista: é o especialista em Linguística; aquele que es-tuda tudo que está ligado à linguagem e à língua.

25) Locução verbal: é a combinação de um verbo auxiliar conjugado (ou não) mais um verbo no infinitivo, no ge-rúndio ou no particípio. Exemplo: “tinha falado”.

26) Metáfora: de acordo com Fiorin e Savioli (2004, p. 122), metáfora é "[...] a alteração do sentido de uma palavra ou expressão quando entre o sentido que o termo tem e o que ele adquire existe uma intersecção". Percebe-se que se está usando uma palavra no sentido metafórico quan-do o seu sentido literal fica inadequado ao contexto.

27) Morfologia: é a parte da gramática que se dedica ao es-tudo das classes de palavras, bem como os seus para-digmas de flexões e suas exceções. É, ainda, o estudo da constituição das palavras e dos processos pelos quais elas são construídas, cujo foco está voltado aos morfe-mas, que são a unidade mínima linguística que possui significado.

28) Período: existem períodos simples ou compostos. Os períodos simples são os formados por apenas uma ora-ção. Já os períodos compostos são aqueles formados por duas ou mais orações.

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29) Poema: é uma composição literária em que o texto se dispõe em versos, estrofes e, até, cantos.

30) Pragmática: de forma geral, pragmática é a área da Lin-guística que estuda a língua no contexto de seu uso, as-sim como a relação entre a linguagem e seus usuários.

31) Predicado: segundo Abreu (2003, p. 87), predicado é "[...] aquilo que resta de uma oração, uma vez separa-do o seu sujeito". Em outras palavras, tendo sido iden-tificado o sujeito de uma oração, tudo aquilo que restar (verbo, complementos, elementos circunstanciais) será o predicado.

32) Pronome: os pronomes desempenham, na oração, a função de representar um substantivo ou de acompa-nhá-lo determinando a extensão do seu significado. Na classe dos pronomes, estão os retos, os oblíquos, os pos-sessivos, os demonstrativos, os reflexivos, entre outros.

33) Proposição: uma proposição, segundo Houaiss (2009), é uma:

realidade psíquica, emocional e cognitiva do ser humano, passível de manifestar-se simultaneamente nos âmbitos individual e cole-tivo, e comprometida com a apropriação intelectual dos objetos externos.

34) Radical: para Cunha e Cintra (2007, p. 92), o radical é aquele que "[...] irmana as palavras da mesma família e lhes transmite uma base comum de significação". Assim, nas palavras "livro", "livros", ""livreiro" e "livraria", o ra-dical é a partícula "livr-".

35) Regência: [...] relação de dependência entre duas palavras numa construção, na qual uma (a regida) complementa a outra (a regente); por exem-plo, o verbo rege os sintagmas nominais completivos (objeto direto ou indireto e complementos adverbiais) (HOUAISS, 2009).

36) Rima: um vocábulo rima com outro quando ambos têm uma terminação similar ou idêntica, havendo uma uni-formidade dos sons. Logo, "tanto" rima com "pranto", e "mágica" rima com "trágica".

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37) Ritmo: segundo Fiorin e Savioli (2004, p. 330), "o ritmo de um poema é dado principalmente pela alternância regular de sílabas fortes (tônicas) e fracas (átonas)".

38) Romance: de acordo com o dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa (2009), o romance é uma:

prosa, mais ou menos longa, na qual se narram fatos imaginários, às vezes inspirados em histórias reais, cujo centro de interesse pode estar no relato de aventuras, no estudo de costumes ou tipos psicológicos, na crítica social etc.

39) Semântica: refere-se ao estudo do sentido das palavras de uma língua.

40) Signo: segundo Saussure (2000), o signo é a combina-ção da imagem acústica com o conceito. Por exemplo, quando pronunciamos a palavra "casa”, você, ouvinte, apreenderá esse conjunto de sons, formará em sua ca-beça a imagem acústica /'kaza/ e a associará ao concei-to que tem de uma casa. À imagem acústica, Saussurre (2000) dá o nome de significante; ao conceito, ele o cha-ma de significado. Assim, o signo é a junção de signifi-cante e significado.

41) Sinestesia:[...] mecanismo de construção textual que consiste em reunir, numa só unidade, elementos designativos de sensações relativas a diferentes órgãos dos sentidos. [...] A funcionalidade da sinestesia está no efeito curioso e vivo que brota da associação de sons, cores, cheiros, gostos, texturas e múltiplos estados de espírito (FIORIN; SAVIOLI, 2004, p. 132).

Exemplo de sinestesia: “ouviu o cheiro da saudade de longe”.

42) Sintaxe: é a parte da gramática que estuda as palavras na condição de elementos de uma frase, bem como as suas relações de concordância, de ordem e de subordi-nação (HOUAISS, 2009).

43) Subjetividade: de acordo com o dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa (2009), subjetividade é:

expressão linguística de uma operação mental (o juízo), composta de sujeito, verbo (sempre redutível ao verbo ser) e atributo, e pas-sível de ser verdadeira ou falsa.

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A palavra "subjetividade" está relacionada ao termo "subjetivo", que é o oposto de "objetivo".

44) Subordinação: é processo de dependência sintática en-tre unidades linguísticas com funções diferentes. Usual-mente, estuda-se o processo de subordinação existente entre duas orações, em que uma delas é a oração princi-pal, e a outra, a subordinada.

45) Substantivo: segundo Neves (2000, p. 67), os substanti-vos "são usados para referir-se às diferentes entidades (coisas, pessoas, fatos etc.) denominando-as". De forma mais simples, o substantivo faz parte da classe de pala-vras que dá nome às coisas dos mundos real e fictício (sejam elas seres concretos ou abstratos, animados ou inanimados, estados, qualidades etc.).

46) Sujeito: para Abreu (2003, p. 83), "sujeito é o termo com o qual o verbo concorda". Ainda de acordo com o estu-dioso, o sujeito prototípico em português, ou seja, aque-le que é mais utilizado, é agente (ou seja, pratica uma ação), humano e determinado.

47) Tema: é o assunto principal que se quer provar ou de-senvolver. Em outras palavras, é aquilo sobre o que se conversa ou discorre.

48) Tese: de acordo com o sentido utilizado na Unidade 4, a palavra "tese" refere-se a uma proposição apresentada para ser defendida. Grosso modo, é o ponto de vista do enunciador, que, por meio de argumentos, tenta provar aquilo que defende acerca de um tema. Segundo Abreu (2002), "tese" é a hipótese eleita como a melhor para se defender um ponto de vista sobre algo.

49) Verbo: para Cunha e Cintra (2007, p. 393), "verbo é uma palavra de forma variável que exprime o que se passa, isto é, um acontecimento representado no tempo [...]". Houaiss (2009) assim designa o verbo:

classe de palavras que, do ponto de vista semântico, contêm as no-ções de ação, processo ou estado, e, do ponto de vista sintático, exercem a função de núcleo do predicado das sentenças.

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50) Verso: os versos são cada uma das linhas de um poema, que podem conter uma linha melódica (efeitos sonoros), bem como representar determinado sentido.

51) Vocativo: segundo Abreu (2003, p. 115), o vocativo "[...] é um termo que se situa fora da oração. Não pertence, portanto, à rede argumental do verbo ou do predicativo [...]". É mais utilizado na língua falada; na escrita, vem separado da oração por meio de vírgulas. Exemplos: "Deus, tenha piedade de mim!", "Por isso, digo a você, Aninha, que não grite mais comigo.". Segundo Houaiss (2009), o vocativo é usado "[...] para chamamento ou interpelação ao interlocutor no discurso direto, expres-sando-se por meio do apelativo, ou, em certas línguas, da flexão casual”.

52) Vogal: som da fala em que não há nenhuma obstrução da corrente expiratória do ar.

Esquema dos Conceitos-chave

Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais importantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um Esquema dos Conceitos-chave. O mais aconselhável é que você mesmo faça o seu esquema de conceitos-chave ou até mesmo o seu mapa mental. Esse exercício é uma forma de você construir o seu conhecimento, ressignificando as informações a partir de suas próprias percepções.

É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações en-tre os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais complexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você na ordenação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos de ensino.

Com base na teoria de aprendizagem significativa, entende-se que, por meio da organização das ideias e dos princípios em esque-mas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu conhecimen-to de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos pedagógicos

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significativos no seu processo de ensino e aprendizagem.

Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem es-colar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda, na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que es-tabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno. Assim, novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem pontos de ancoragem.

Tem-se de destacar que “aprendizagem” não significa, ape-nas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é preci-so, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se configure como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante con-siderar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiais de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos concei-tos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vez que, ao fixar esses conceitos nas suas já existentes estruturas cog-nitivas, outros serão também relembrados.

Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é você o principal agente da construção do próprio conhecimento, por meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações inter-nas e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por objetivo tornar significativa a sua aprendizagem, transformando o seu co-nhecimento sistematizado em conteúdo curricular, ou seja, esta-belecendo uma relação entre aquilo que você acabou de conhecer com o que já fazia parte do seu conhecimento de mundo (adap-tado do site disponível em: <http://penta2.ufrgs.br/edutools/mapasconceituais/utilizamapasconceituais.html>. Acesso em: 11 mar. 2010).

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Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave de Língua Portuguesa.

Como você pode observar, esse Esquema dá a você, como dissemos anteriormente, uma visão geral dos conceitos mais im-portantes deste estudo. Ao segui-lo, você poderá transitar entre um e outro conceito e descobrir o caminho para construir o seu processo de ensino-aprendizagem.

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O Esquema dos Conceitos-chave é mais um dos recursos de aprendizagem que vem se somar àqueles disponíveis no ambien-te virtual, por meio de suas ferramentas interativas, bem como àqueles relacionados às atividades didático-pedagógicas realiza-das presencialmente no polo. Lembre-se de que você, aluno EAD, deve valer-se da sua autonomia na construção de seu próprio co-nhecimento.

Questões Autoavaliativas

No final de cada unidade, você encontrará algumas questões autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser de múltipla escolha ou abertas com respostas objetivas ou dis-sertativas. Vale ressaltar que se entendem as respostas objetivas como as que se referem aos conteúdos matemáticos ou àqueles que exigem uma resposta determinada, inalterada.

Responder, discutir e comentar essas questões, bem como relacioná-las com o estudo de Língua Portuguesa pode ser uma forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a re-solução de questões pertinentes ao assunto tratado, você estará se preparando para a avaliação final, que será dissertativa. Além disso, essa é uma maneira privilegiada de você testar seus conhe-cimentos e adquirir uma formação sólida para a sua prática profis-sional.

Você encontrará, ainda, no final de cada unidade, um gabari-to, que lhe permitirá conferir as suas respostas sobre as questões autoavaliativas (as de múltipla escolha e as abertas objetivas).

As questões dissertativas obtêm por resposta uma interpretação pessoal sobre o tema tratado. Por isso, não há nada relacionado a elas no item Gabarito. Você pode comentar suas respostas com o seu tutor ou com seus colegas de turma.

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Bibliografia Básica

É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-grafias complementares.

Figuras (ilustrações, quadros...)

Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte inte-grante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustra-tivas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os con-teúdos estudados, pois relacionar aquilo que está no campo visual com o conceitual faz parte de uma boa formação intelectual.

Dicas (motivacionais)

O estudo deste Caderno de Referência de Conteúdo convida você a olhar, de forma mais apurada, a Educação como processo de emancipação do ser humano. É importante que você se atente às explicações teóricas, práticas e científicas que estão presentes nos meios de comunicação, bem como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao compartilhar com outras pessoas aquilo que você observa, permite-se descobrir algo que ainda não conhe-ce, aprendendo a ver e a notar o que não havia sido percebido antes. Observar é, portanto, uma capacidade que nos impele à maturidade.

Você, como aluno dos cursos de Graduação na modalidade EAD, necessita de uma formação conceitual sólida e consistente. Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. Sugeri-mos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades nas datas estipuladas.

É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas poderão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produções científicas.

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Leia os livros da bibliografia indicada para que você amplie seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discuta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoaulas.

No final de cada unidade, você encontrará algumas questões autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas, pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure-cimento intelectual.

Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurando sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores.

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EAD

Comunicação Humana: Elementos da Comunicação, Funções da Linguagem, Fala e Escrita

1. OBJETIVOS

• Conhecer os princípios básicos que regem a comunicação verbal humana.

• Compreender a relação entre linguagem, sociedade e cultura.

• Conhecer os elementos da comunicação humana. • Conhecer as funções da linguagem e identificá-las em di-

ferentes tipos de texto.• Saber utilizar a linguagem de acordo com as intenções co-

municativas.• Estabelecer distinções entre fala e escrita e reconhecer as

características de cada uma.

2. CONTEÚDOS

• Diferenças entre linguagem humana e comunicação animal.

• Esquema da comunicação.

• Funções da linguagem.

• Características da fala e da escrita.

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3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE

Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a seguir:

1) Tenha sempre à mão o significado dos conceitos expli-citados no Glossário e suas ligações pelo Esquema de Conceitos-chave para o estudo de todas as unidades deste CRC. Isso poderá facilitar sua aprendizagem e seu desempenho.

2) Nesta unidade, você aprenderá o que são as funções de linguagem propostas segundo a concepção do linguista russo Roman Jakobson, o qual fez parte do Círculo Lin-guístico de Praga, ou Escola Linguística de Praga. Essa escola desenvolveu-se a partir de 1920 e era formada por um grupo de linguistas russos e tchecos que escre-veram importantes trabalhos sobre o funcionamento da linguagem e na área da Teoria da Literatura.

3) Você encontrará, no decorrer desta unidade, alguns tre-chos de texto que, a princípio, causarão estranhamento. Isso ocorrerá em virtude de esses trechos representa-rem situações de língua falada, ou seja, eles são transcri-ções dessa modalidade de língua.

4) Nesses trechos de língua falada, são utilizados alguns "si-nais" de pontuação para denotar as marcas de oralidade expressadas pelos falantes. Esses "sinais" são utilizados de acordo com as normas para transcrição usadas pelo Projeto Norma Urbana Culta (NURC). Para saber mais so-bre o Projeto NURC, acesse o site disponível em: <http://www.fflch.usp.br/dlcv/nurc/historico.htm>. Acesso em: 10 jun. 2010.

5) Apesar de o objetivo deste material estar relacionado ao seu aperfeiçoamento da produção de texto escrito, é importante que você perceba a diferença entre língua falada e língua escrita. Ao entrar em contato com textos de língua falada e identificá-la como uma modalidade distinta da escrita, você notará a importância de se evi-tar o uso de marcas de oralidade em seus textos escritos.

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6) É importante que você se atente a todos os exemplos dados no decorrer desta unidade. Compreender cada um deles é de fundamental importância para perceber como se distinguem as funções de linguagem.

7) Caso você tenha dúvida quanto ao sentido de alguma palavra desconhecida usada nesta unidade e não tenha acesso a um dicionário impresso, você pode acessar o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, o qual está disponível on-line no endereço: <http://www.priberam.pt/dlpo/>. Acesso em: 10 jun. 2010.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE

Iniciaremos nossos estudos em Língua Portuguesa com os seguintes tópicos:

• Processo de comunicação.

• Funções da linguagem.

• Diferenças entre fala e escrita.

Todo ser que vive em sociedade, seja um animal, seja o ser humano, tem necessidade de comunicar-se com os outros mem-bros da comunidade de que faz parte. A comunicação é, pois, um dos fatores essenciais à vida desses seres.

O ser humano, para comunicar-se, faz uso da linguagem. Em sentido lato, o termo "linguagem" é utilizado em referência tanto à comunicação animal como às diferentes formas de comunicação humana: língua falada, língua escrita, artes em geral (dança, músi-ca, cinema, teatro, pintura, escultura etc.), mímica, gestos, língua dos surdos-mudos etc. [...]

Os linguistas, entretanto, têm discutido a seguinte questão: a comunicação animal pode ser considerada linguagem?

O zoólogo alemão Karl von Frisch (apud Benveniste, 1995) estudou, durante muitos anos, a comunicação das abelhas. Ele descobriu que uma abelha operária, após descobrir um local onde

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há alimento, volta à colmeia. Suas companheiras dela se aproxi-mam e sorvem o néctar que ela vomita. Em seguida, a operária realiza dois tipos de dança:

• Uma dança circular, com a qual informa às demais abe-lhas que o alimento se encontra a, aproximadamente, cem metros da colmeia.

• Uma dança em oito acompanhada de vibrações do abdô-men, com a qual informa que o alimento se encontra a uma distância superior a cem metros, mas até seis quilô-metros.

Quanto mais distante estiver o alimento, mais lenta será a dança e menos "oitos" a abelha realizará em quinze segundos. A direção é indicada pela inclinação do eixo do oito em relação à posição do sol.

Após a dança da operária, as outras abelhas conseguem che-gar ao local exato onde se encontra o alimento.

Segundo o linguista francês Benveniste (1995), as abelhas são capazes de produzir mensagens simbólicas – os dois tipos de dança representam a localização do alimento – e são capazes de compreender tais mensagens, das quais conseguem memorizar as informações distância e direção em que se encontra o alimento. Entretanto, isso é suficiente para caracterizar a comunicação das abelhas, bem como a de outros animais, como linguagem?

Benveniste (1995) e Lopes (1985) estabelecem comparações entre as características da comunicação das abelhas e as carac-terísticas da comunicação humana e chegam à conclusão de que aquela, assim como o sistema de comunicação de outros animais, embora bastante complexa, não é linguagem, mas apenas um có-digo de sinais. Apenas o ser humano é capaz de fazer uso da lin-guagem.

Veja, no quadro a seguir, as características de ambas.

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Quadro 1 Características da comunicação das abelhas e da lingua-gem humana segundo Benveniste (1995) e Lopes (1985).

Comunicação das abelhas Linguagem humana1. A dança das abelhas transmite uma única mensagem que contém apenas estas informações invariáveis: existência e localização do alimento.

1. Por meio da linguagem, o ser humano pode produzir um número ilimitado de mensagens que veiculam diferentes informações.

2. A mensagem das abelhas não é produzida por um aparelho fonador.

2. As inúmeras mensagens humanas são produzidas pelo aparelho fonador, responsável pela emissão de vogais e consoantes, que são os fonemas da língua.

3. As abelhas reagem à mensagem com um comportamento (ida ao local do alimento) e não com uma resposta verbal.

3. Os seres humanos reagem às mensagens com respostas verbais, em um circuito comunicativo, como é o caso, por exemplo, dos diálogos.

4. A mensagem das abelhas não é suscetível de análise, não é decomponível em unidades menores.

4. A linguagem humana é articulada. Os fonemas (vogais e consoantes) ligam-se, formando os morfemas (em “infelizmente”, são morfemas {in-}, {feliz} e {-mente}), que se unem, formando as palavras, as quais, por sua vez, se conectam, formando os enunciados que constituem uma mensagem.

5. A comunicação das abelhas não é um produto cultural, mas um componente do seu código genético.

5. Embora alguns linguistas, como Noam Chomsky, acreditem que a capacidade humana de linguagem seja inata, a língua, um produto da cultura, é aprendida. Quando entramos em contato com uma língua, ativamos essa capacidade inata e, então, aprendemos a falar a língua.

6. A comunicação das abelhas é invariável no tempo e no espaço. Por exemplo, uma abelha, há 2.500 anos na Grécia, realizava a mesma dança, com a mesma mensagem e o mesmo conteúdo, efetuada por uma abelha nos dias atuais no Brasil.

6. A linguagem humana varia no tempo e no espaço. Por exemplo, a língua falada há 2.000 anos em Roma era muito diferente da língua portuguesa falada no Brasil atualmente.

Em sentido estrito, os linguistas consideram linguagem aquela em que associamos nossos pensamentos aos fonemas (vo-gais e consoantes) produzidos pelo nosso aparelho fonador. Essa linguagem resultante da associação de pensamentos e sons é cha-mada linguagem verbal humana, que se concretiza por meio das chamadas línguas naturais (português, inglês etc.). Tente pensar sem fazer uso de palavras. Você consegue? Não consegue porque

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o pensamento reclama a linguagem e vice-versa. Ambos estão muito ligados. Abordaremos alguns dos aspectos da língua portu-guesa, por meio da qual a linguagem se manifesta.

Quando nos comunicamos, interagimos com o outro, o nos-so interlocutor (ouvinte ou leitor), que reage, de alguma forma, à mensagem recebida.

Você deve perguntar-se: o que é necessário para haver efeti-va comunicação entre duas ou mais pessoas? O que está envolvido em um ato de comunicação? É disso que trataremos na próxima seção desta unidade.

5. ESQUEMA DE COMUNICAÇÃO

O processo de comunicação, estudado pela Teoria da Comu-nicação e pela Teoria da Informação, compreende seis elementos: uma pessoa, ou um grupo de pessoas, envia uma mensagem que remete a um determinado referente a uma outra pessoa, ou um outro grupo de pessoas, por meio de um canal e de um código com o qual elabora a mensagem.

Um pequeno diálogo é um ato de comunicação e envolve os seis elementos mencionados. Vejamos, a seguir, um trecho de conversa real entre um documentador (Doc.), ou seja, uma pessoa que instiga e documenta o diálogo, um primeiro locutor (L1) e um segundo locutor (L2):

Doc. gostaríamos que vocês falassem a respeito da cidade e do comércio...L1 tem saído ultimamente... de carro?

L2 ((risos)) tenho mas você diz sair... fora... sair normalmente para a escola essas coisas?

L1 pegar a cidade ( )

L2tenho se bem que eu acho que eu conheço pouco a cidade né?... por exemplo se eu for comparar com... (CASTILHO; PRETI, 1987, p. 17, linhas 1-7).

A comunicação acompanha o homem desde tenra idade até sua morte. Por isso, comunicarmo-nos parece um ato banal e mui-

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to simples. No entanto, como já vimos, a comunicação humana, que se estabelece por meio da linguagem, sobretudo a verbal, é muito complexa.

Esse pequeno trecho de conversa real entre o documenta-dor e os dois locutores, embora, à primeira vista, pareça confuso, já que se trata de língua falada, envolve diferentes e complexas operações mentais, conhecimento de mundo e informações parti-lhadas pelos interlocutores. Nesse diálogo, os falantes conseguem estabelecer comunicação. Trata-se, pois, de um ato comunicativo em que as pessoas se compreendem e em que os seis elementos estão presentes. Veja, na sequência, quais são tais elementos e como são caracterizados:

A. O documentador, quando solicita aos interlocutores que falem a respeito da cidade e do comércio, é o emissor (remetente ou destinador). Emissor é aquele que pro-duz e envia a mensagem.

B. Quando o documentador tem a posse da palavra, ou seja, quando ele é o emissor, os dois locutores são os destinatários (ou receptores). Destinatário é aquele a quem a mensagem é enviada.

Você deve observar que, quando o documentador transfere a posse da palavra aos dois locutores, ambos começam a estabe-lecer um diálogo em que o primeiro locutor e o segundo locutor alternam seus papéis de emissor e destinatário. Essa troca de fun-ções é bastante comum em conversações face a face, como é o caso do diálogo analisado.

Nesse tipo de interação verbal em que há alternância de pa-péis, o falante envia uma mensagem, o ouvinte capta-a e, em se-guida, envia sua resposta, estabelecendo-se, assim, o circuito da comunicação, em um contínuo processo interativo.

C. A mensagem, por sua vez, é o resultado da codificação das informações que o emissor quer veicular. Segundo Vanoye (2003), ela compreende o conteúdo das informações.

D. O emissor, para elaborar sua mensagem, utiliza um có-digo, que é o sistema de signos linguísticos ou verbais

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(as línguas portuguesa, inglesa, francesa etc.) ou não linguísticos (código Morse, conjunto de sinais, símbolos etc.) utilizado para produzir a mensagem. No diálogo em tela, o documentador e os dois locutores codificam suas mensagens por meio da língua portuguesa na modalida-de falada.

Se emissor e destinatário não dominarem o mesmo código, não haverá comunicação (por exemplo, um falante de japonês ten-tando conversar com um falante de grego); se ambos dominarem o código parcialmente, não haverá eficácia na comunicação (por exemplo, um médico utilizando o jargão técnico de sua área com um leigo).

Como lembra Barros (2003), os ruídos – problemas relacio-nados ao domínio do código, problemas com o canal, problemas na produção da mensagem, desatenção e desinteresse do destina-tário, barulhos etc. – podem comprometer a qualidade da comu-nicação.

E. A mensagem diz respeito a um referente. O referente é o objeto, o ser, a entidade, enfim, os elementos de que o emissor está falando. Compreende o contexto, ou seja, toda a situação de comunicação e todos os objetos e se-res aos quais a mensagem remete.

No diálogo que estamos analisando, o referente compreen-de os elementos a que a mensagem remete – a cidade, o comércio e as saídas de carro pela cidade – e todo o contexto que envolve a comunicação: uma situação de conversa gravada, não espontânea, em que o documentador solicita aos dois locutores que discorram sobre o tema proposto. Nas conversas face a face, a comunicação não se efetua somente pelo que está explícito na mensagem, mas também pelas informações implícitas partilhadas pelos interlocu-tores. Além disso, os elementos do contexto contribuem para a co-dificação (pelo emissor) e para a decodificação (pelo destinatário) da mensagem.

F. F. Para enviar a mensagem, o emissor utiliza um canal de comunicação. Os emissores do diálogo analisado, utili-

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zando como código a língua portuguesa falada, veicula-ram suas mensagens graças ao ar, às ondas sonoras, às suas vozes produzidas pelo aparelho vocal e ao aparelho auditivo dos destinatários. O canal é, pois, o meio físico, o veículo, utilizado para transmitir a mensagem.

Pelo que acabamos de expor, você pôde verificar que o pro-cesso de comunicação envolve um emissor (aquele que elabora e transmite a mensagem), um destinatário (aquele que recebe a mensagem), uma mensagem (conteúdo da informação), um códi-go (sistema de signos que codificam a mensagem), um referente (elemento(s) de que o emissor está falando e ao(s) qual(is) a men-sagem remete) e um canal (meio físico que propaga a mensagem).

Na próxima seção, abordaremos o segundo tópico desta uni-dade: as funções da linguagem.

6. FUNÇÕES DA LINGUAGEM

Você sabia que o seu sucesso profissional, independente-mente da área de atuação, depende, entre outros fatores, da boa leitura e da correta interpretação de diferentes tipos de texto? Além disso, é importante que você saiba usar a língua portuguesa com habilidade em diversas situações comunicativas.

Se você tiver de apresentar-se em público, como, por exem-plo, em um seminário, é importante que saiba expor suas ideias em um texto falado bem estruturado. Da mesma forma, caso ne-cessite apresentar suas ideias por escrito, como em uma prova ou em um concurso, terá de produzir um bom texto.

Relacionadas aos diferentes gêneros de discurso (resumo, resenha, romance, conto, poema, dissertação científica, piada etc.) estão as funções da linguagem, por meio das quais, entre ou-tras atividades, informamos, convencemos, persuadimos, encan-tamos, divertimos alguém. Vejamos quais são elas.

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A linguagem cumpre duas funções básicas: estabelecer a interação entre os membros de uma sociedade e expressar pen-samentos, ideias, emoções, sentimentos, sensações e impressões dos seres humanos. É pela linguagem que o homem representa sua concepção da realidade.

O linguista Jakobson (2003), que foi um dos expoentes do Círculo Linguístico de Praga, relacionou seis funções da linguagem aos seis elementos que constituem o esquema de comunicação (apresentados anteriormente). Observe o quadro seguinte:

Quadro 2 Funções da linguagem de Jakobson (2003) e elementos da comunicação.

Elementos de comunicação Funções da linguagemEmissor ou destinadorReceptor ou destinatárioMensagemCódigoCanalReferente

Emotiva (ou expressiva)Conativa (ou apelativa)PoéticaMetalinguísticaFáticaReferencial (denotativa, informativa ou representativa)

Vejamos, a seguir, as características de cada uma dessas fun-ções e exemplos que as ilustram.

Função emotiva

A função emotiva ou expressiva está centrada no emissor. Nas mensagens em que predomina tal função, ele expressa suas emoções, seus sentimentos, seus julgamentos e suas atitudes em relação ao que diz e ao contexto. O texto em que é predominante a função emotiva geralmente é impregnado de subjetividade. Esta função é típica de poemas, romances, contos, crônicas, cartas pes-soais, autobiografias, discursos em geral etc.

Observe, a seguir, um poema e trechos de textos em que está presente a função emotiva.

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Tudo quanto pensoTudo quanto penso,Tudo quanto souÉ um deserto imensoOnde nem eu estou.Extensão paradaSem nada a estar ali,Areia peneiradaVou dar-lhe a ferroadaDa vida que vivi(PESSOA. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/jp000001.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2008).

Observe, nesse poema, a presença da primeira pessoa do discurso (eu) em “penso”, “sou”, “estou”, “vou” e “vivi”. O eu-lírico

fala, de forma subjetiva, de seu estado de alma. Lembre-se de que o eu-lírico não é o autor do poema, mas a voz que fala no poema. Trata-se de um eu fictício que expressa a subjetividade.

Leia o primeiro parágrafo de uma carta pessoal:Segunda Carta a Clara

Meu amor.

Ainda há poucos instantes (dez instantes, dez minutos, que tanto gastei num desolador desde a nossa Torre de Marfim), eu senti o rumor do teu coração junto ao meu, sem que nada os separasse senão uma pouca de argila mortal, em ti tão bela, em ti tão rude – e já estou tentando reconfigurar ansiosamente, por meio deste papel inerte, esse inefável estar contigo que é hoje todo o fim da minha vida, a minha suprema e única vida. É que, longe da tua presen-ça, cesso de viver, as coisas para mim cessam de ser – e fico como um morto jazendo no meio de um mundo morto. Apenas, pois, me finda esse perfeito e curto momento de vida que me dás, só com pousar junto de mim e murmurar o meu nome – recomeço a aspi-rar desesperadamente para ti, como uma ressurreição! (QUEIRÓS. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000080.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2008).

Nele, há, também, a presença da primeira pessoa. O ponto de exclamação é utilizado para marcar a emoção e a subjetividade. O remetente da carta expressa à amada – o destinatário – seus sentimentos por ela.

Leia, agora, um trecho de texto de língua falada:

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Inf.

... olha profissão... eu acho que dePENde do indivíduo entende?... e::... eu acho que é aquilo que ele quer fazer a gente pode orienTAR... a profissão... mostrando o mercado de trabalho a forma que ele pode chegar àquela profissão... mas acho que... (o) aconselhar a profissão eu acho que não se deve entende? [...] (PRETI; URBANO, p. 59, linhas 10-15, grifos nossos).

Observe que o falante expressa sua atitude e sua avaliação pessoal acerca do que diz. Ele não se compromete totalmente com suas afirmações, o que se verifica pelo uso da expressão modal "eu acho", que indica não certeza e menor envolvimento com a informação dada.

Função conativa

A função conativa ou apelativa está centrada no destinatá-rio. O emissor tenta exercer alguma influência sobre o destinatá-rio, tenta conduzi-lo a um comportamento específico.

Por meio de apelo, ordem, pedido ou conselho, o emissor objetiva convencer ou persuadir o receptor. A função conativa nor-malmente está presente em textos publicitários, discursos políti-cos, sermões etc.

Preste atenção em propagandas na televisão, na internet e em revistas. Você verificará que é bastante usual verbo no impe-rativo ("experimente", "aproveite", "compre", "beba" etc.) e na segunda pessoa do discurso (“tu” ou “você”). Os textos publicitá-rios objetivam estabelecer interação com os potenciais consumi-dores na tentativa de convencê-los de que o produto anunciado é o melhor.

Observe os enunciados seguintes:

• Feche a porta quando sair. (ordem)

• Você deve agir com ética sempre. (obrigação)

• Você deveria estudar para a prova. (conselho)

Neles, verificamos a tentativa do emissor de influenciar a ati-tude e o comportamento do destinatário (você).

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Função poética

A função poética centra-se na mensagem. Há a preocupação com a organização e a elaboração do texto. O emissor elabora a mensagem de forma peculiar, pois realiza um cuidadoso trabalho de seleção e combinação de palavras e utiliza a linguagem trópica (conotativa), com figuras de linguagem (metáforas, sinestesias, an-títeses etc.), criando, assim, efeitos de sentido e provocando, pela linguagem inusitada, o estranhamento.

Na poesia, há o predomínio desta função, já que se utilizam rima, ritmo, sonoridade, aliterações, assonâncias, metáforas etc. Ela também está presente em letras de música e pode, ainda, ocorrer na oratória, na publicidade, em textos religiosos, em tex-tos jornalísticos etc.

Leia atentamente as três primeiras estrofes do Canto I, Infer-no, de A divina Comédia, de Dante Alighieri:

Da nossa vida, em meio da jornada,Achei-me numa selva tenebrosa,Tendo perdido a verdadeira estrada.

Dizer qual era é cousa tão penosa,Desta brava espessura a asperidade,Que a memória a relembra inda curiosa.Na morte há pouco mais de acerbidade,

Mas para o bem narrar lá deparadoDe outras cousas que vi, direi verdade(ALIGHIERI. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/eb00002a.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2008).

Podemos verificar que o escritor constrói o texto em estrofes de três versos decassílabos (dez sílabas poéticas). Há, também, a rima, como nas palavras: jornada/estrada, tenebrosa/penosa, as-peridade/acerbidade.

Função metalinguística

A função metalinguística está centrada no código. Com ela, o emissor define, conceitua, caracteriza, detalha, explica ou pre-

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cisa termos do código utilizado. Em outras palavras, ele utiliza a linguagem para falar da própria linguagem (LOPES, 1985). Vanoye (2003) lembra que, em palavras cruzadas, se faz uso desta função.

Veja um exemplo de texto em que predomina a função me-talinguística:

Doc. o senhor está lidando com gente ignorante de cidade... o senhor falou que enxada é diferente do enxadão por quê

Inf.

e... porque a enxada ela é:: é mais ( ) na parte que entra na terra... é uma parte mais larga... e é como vamos dizer um triângulo... enquanto que o enxadão... ele é mais estreito... e é como se fosse um retângulo... (PRETI; URBANO, 1988, p. 19, linhas 90-96).

Nesse trecho de diálogo real entre documentador e informan-te, aquele solicita a este que dê a diferença entre enxada e enxadão. O informante, então, explica como são esses instrumentos.

Veja outro trecho do mesmo diálogo em que o documen-tador faz uma pergunta sobre o que caracteriza o cavalo Manga--larga e o informante responde:

Doc. o que que caracteriza o Manga-larga?

Inf.

o Manga-larga é um tipo de cavalo... não muito grande... que tem um tipo de andar chamado marcha... e tem outras características mas eu não sei... eu saberia distinguir se eu visse um Manga-larga e outros cavalos mas a assim::... dar as características como::... estudioso de animal eu não saberia... eu acho que o peito um pouco largo... esse tipo de andar que é a marcha... o formato da cabeça... (PRETI; URBANO, 1988, p. 32, linhas 656-664).

Observe nos dois trechos do diálogo entre documentador e informante a presença, em várias passagens, do verbo "ser", utili-zado em conceituações, definições, caracterizações etc.

Nesses dois trechos de diálogo, temos a função metalinguís-tica em seu uso cotidiano, no caso, em uma conversa. Observe que o informante diz que ele não é um estudioso de cavalos, portanto suas informações não são científicas, mas fruto de um conheci-mento que adquiriu com a prática, com a simples observação. Leia atentamente estas palavras de Barros (2003, p. 38):

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Não se deve confundir a função metalingüística de Jakobson com a metalinguagem científica. Metalinguagem científica e função me-talingüística ordinária caracterizam-se ambas como uma linguagem definidora de outra linguagem, ou seja, como uma linguagem que fala de outra linguagem. Diferenciam-se, porém, pelo fato de a me-talinguagem científica ser, por sua vez, definida por outra, uma ter-ceira linguagem, a metalinguagem metodológica, o que não acon-tece com a função metalingüística ordinária.

As gramáticas e os dicionários fazem uso da metalinguagem, pois, nos termos de Lopes (1985, p. 65), utilizam uma metalíngua – que é aquela com que se conceitua, define etc. – para falar de uma língua-objeto – que é aquela cujos termos são explicados, conceituados, definidos etc. Em dicionários de língua portuguesa, por exemplo, utiliza-se a própria língua portuguesa (metalíngua) para definir ou conceituar termos dela mesma (língua-objeto). Veja as definições seguintes do dicionário Aurélio:

acerbidade. [Do lat. acerbitate.] S. f. Qualidade de acerbo.

acerbo. [Do lat. acerbu.] Adj. 1. V. azedo (1 e 2): fruto acerbo. 2. V. amargo (1 e 2). 3. Duro, difícil, árduo: trabalho acerbo. 4. Duro, áspero: Suas críticas foram por demais acerbas. 5. Cruel, doloro-so: Dor acerba pungia-o com a morte do pai. 6. Mordaz, maldoso, amargo: comentário acerbo. 7. Rude, insolente, desabrido (FERREI-RA, 1999, p. 29).

Poemas que falam sobre o que é poesia, sobre o fazer poé-tico, ou seja, o ato de criação poética, ou sobre a condição de ser poeta são exemplos de textos metalinguísticos.

Em textos científicos de diversas áreas, utiliza-se a metalin-guagem científica quando se apresentam conceitos.

Em textos filosóficos, também se faz uso da metalinguagem. O filósofo alemão Martin Heidegger publicou um texto oriundo de uma de suas conferências intitulado Qu’est-ce que la Philosophie!

(Que é isto – a Filosofia?). Nesse texto, está presente a metalin-guagem: o pensador, por meio de um texto filosófico, conceitua e caracteriza a Filosofia.

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Função fática

A função fática está centrada no canal de comunicação. Com ela, o emissor estabelece, mantém e encerra a interação com o destinatário. Os cumprimentos iniciais ("oi", "olá", "tudo bem?", "bom dia") e os cumprimentos finais ("tchau", "adeus", "até logo", "beijos", "um abraço") são recursos utilizados, respectivamente, para iniciar e finalizar o contato. Esta função é também utilizada para testar o canal ("você está me ouvindo?") ou para verificar se o destinatário está atento ("compreendeu?", "você está entenden-do?", "não é?"). Tal função aparece com muita frequência em con-versas face a face, conversas telefônicas, início e fim de encontros etc.

Leia, a seguir, o pequeno diálogo ao telefone já apresentado e observe as expressões destacadas, as quais são utilizadas para iniciar e encerrar a conversa e para testar o canal:

• Alô!

• Alô! Quem fala?

• É o Luís.

• Oi, Luís! Tudo em ordem? É o Pedro da oficina quem está falando.

• Oi, Pedro! Vamos indo. E você?

• Joia! Luís, seu carro ficou pronto. Está uma beleza!

• Oi? Não entendi. Minha esposa está usando o aspirador de pó aqui na sala. Está muito barulho.

• Você não está ouvindo? Eu disse que seu carro ficou pron-to.

• Ah! Agora ouvi. Ela desconfiou e desligou o aparelho. Irei buscá-lo à tarde.

• Ok. Um abraço.

• Outro.

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Observe, agora, uma conversa real:

L1 ... violenta né?L2 oi?L1 por exemplo... você estava falando da tribo...L2 uhnL1 Então na tribo o cara... que era cacique era porque caçava maisL2 uhn

L1 agora o filho do cacique era a mesma coisa que o filho de... qualquer um que não fazia nada...

L2 uhn uhn... um valor cultural daquela tribo (CASTILHO; PRETI, 1987, p. 44, linhas 1105-1114, grifos nossos).

Nesse diálogo, as expressões destacadas são utilizadas para:

• L1 testar a atenção de L2 e verificar se ele aprova o que está sendo dito ("né");

• para L2 indicar que estava desatento, mas agora retomou a atenção, ou, então, não estava compreendendo ("oi?");

• para L2 manter o diálogo ("uhn").

Função Referencial

A função referencial (denotativa, informativa ou represen-tativa) está centrada no referente da mensagem. Segundo Barros (2003, p. 33), "os textos com função referencial ou informativa são, portanto, aqueles que têm por fim, na comunicação, a transmissão objetiva de informação sobre o contexto ou referente [...]".

Trata-se de discursos em que há um distanciamento do su-jeito enunciador, que é aquele responsável pelo discurso, ou seja, com o uso da terceira pessoa, o sujeito enunciador apaga suas marcas, o que produz o efeito de objetividade e de imparcialidade. Em textos em que predomina esta função, faz-se uso de argumen-tos e do raciocínio lógico.

Em textos em que é predominante a função referencial, o emissor apresenta fatos ou transmite informações de maneira clara e precisa, sem comentários subjetivos. Tal função ocorre em

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textos científicos, didáticos e técnicos, em sínteses, em resumos, em documentos oficiais, em avisos, em comunicados, em textos jornalísticos etc.

O texto seguinte, em que predomina a função referencial, tem por finalidade informar, de maneira objetiva, a mudança do dia da reunião:

Prezados condôminos

Devido à impossibilidade de muitos participarem da reunião mensal marcada para o dia 15, próxima sexta-feira, às 19h, transferimo-la para o dia 18, segunda-feira, no mesmo horário.

Atenciosamente

José Augusto de Albuquerque Silva

Síndico do Edifício Marrocos

De acordo com Vanoye (2003, p. 56), "a função expressiva [ou emotiva] está centrada sobre o eu, a função conativa sobre o tu, a função referencial sobre o ele (sendo o ele, gramaticalmente neutro, equivalente a um isso)”.

Pelo que foi exposto, você pôde verificar que, toda vez que o emissor produz uma mensagem, tem em mente alguns objetivos, quais sejam:

• Expressar emoções, sentimentos, sensações ou atitudes subjetivas em relação ao referente, ao contexto ou até ao destinatário (função emotiva).

• Convencer o destinatário de algo ou persuadi-lo a crer em algo, a fazer ou a desistir de fazer algo (função conativa).

• Organizar o texto da mensagem de forma especial (fun-ção poética).

• Definir, conceituar, caracterizar, explicar algo ou usar a lin-guagem para falar da linguagem (função metalinguística).

• Estabelecer, manter e interromper a comunicação ou tes-tar o canal ou a atenção do destinatário (função fática).

• Informar o destinatário sobre algo (função referencial).

Você também pôde verificar que, no circuito da comunica-

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ção, é comum emissor e destinatário trocarem não só mensagens, mas também suas funções. As mensagens são organizadas em tex-tos falados ou escritos.

Na próxima seção, você estudará as diferenças entre fala e escrita.

7. FALA E ESCRITA

Você observou que, nas seções anteriores, utilizamos como exemplos ilustrativos tanto textos da língua falada como textos da língua escrita? Por eles, você conseguiu perceber que fala e escrita têm características próprias? Esperamos que tenha conseguido. É exatamente a diferença entre essas duas modalidades da língua que abordaremos agora.

Você deve estar perguntando por que estudar também a fala, nesta unidade, e não apenas a escrita, já que o objetivo deste Ca-derno de Referência de Conteúdo deve ser aperfeiçoar a produção do texto escrito do aluno, vale dizer, a sua competência textual.

Nosso foco, é óbvio, é o estudo da língua escrita. Entretanto, conhecer as características da língua falada e as diferenças entre ela e a escrita pode ajudar-nos a evitar transpor para o texto escri-to as chamadas marcas da oralidade.

Prossigamos, então.

Iniciemos com a leitura de um texto de língua falada e um de língua escrita.

L1 não é bem comunicação é transporteL2 pra mim é:: ainda...L2

L1

você comunica diferentes pontos da cidade quando você::... sabe? Faz com que pessoas que:: antes teriam acesso ou mais difícil ou não teriam... de um ponto

para outro

não (mas vem daí) conotação de comunicação hein?L2 ahn ahn

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L1 isso aí seria umL2 é mercúrio ((ri))L1 é::... diferente... certo?...L2

L1

mas em suma acho que... sabe está ligado a todo um contexto

de::... que...

tira tira tira o contexto de humano essa comunicação... comunicação de transporte é comunicação não humana né?... (por exemplo) você está em guerra o importante é você acabar com as comunicações... né? Então você... destrói uma ponte e:: fica isolado assim da::

L2

L1

uhn uhn

é diferente da comunicação... tipo humana né? tipo linguagem... sai do contexto de linguagem...

L2

mas você vê que::... (quer dizer) uma visão que o::... que o papai tem né? Que ele diz que vai chegar uma hora que para/ que a cidade vai ficar paralisada… então acho que é assim né?… fantasiando você pode dizer… sabe chega imigrante chega imigrante chega imigran::te e… cresce e cresce e cresce e… e:: ao mesmo tempo (houve) o crescimento das… digamos das vias… ou::… né? De::… circulação… dentro da cidade não acompanha esse crescimento… de população né?

L1

uhn uhn… eu não sei… o que se o que… gostaria de ver:: o:: que já aconteceu de análogo… mas me parece que não não deve paralisar porque não tem… caso análogo (na história)… você tem por exemplo (Tóquio) para fazer você conforme… o azar teu você fica quatro horas paralisado num trânsito… (lá:: qualquer)

L2Mas nem por isso deixa de ir ( )

(CASTILHO, PRETI, 1998, p. 27-28, linhas 427-464).

E Luísa tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um cor-po ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acrésci-mo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo conduzia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações! (QUEIRÓS. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bi000143.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2008).

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Comparando os dois textos, podemos chegar a algumas constatações, apresentadas no quadro seguinte:

Quadro 3 Características do texto falado e do texto escrito.Texto falado Texto escrito

1. O texto falado, como o exemplo dado de conversa face a face, é organizado em turnos conversacionais (produção linguística do falante no momento em que ele tem a palavra). Os interlocutores alternam seus papéis de emissor e receptor.

1. O texto escrito, como o exemplo dado, é organizado em parágrafos. Em um texto bem estruturado, os parágrafos são construídos em torno de um tópico central (uma ideia central) ao qual podem ligar-se tópicos secundários.

2. O texto falado é produzido por duas ou mais pessoas que participam do processo de interação verbal.

2. O texto escrito, embora possa ser elaborado por mais de uma pessoa, não apresenta as marcas de seus produtores.

3. A sintaxe dos enunciados do texto falado é truncada, as frases são fragmentadas, já que o tempo de produção é curto e o falante deixa implícitas muitas informações.

3. A sintaxe dos enunciados do texto escrito não pode ser truncada, já que a falta de completude sintática compromete a compreensão do texto.

4. O texto falado é marcado por hesitações, pausas, repetição de palavras, sobreposição de vozes etc. São comuns desvios gramaticais, como, por exemplo, uso de concordância verbal e nominal não padrão.

4. Como o escritor tem tempo para elaborar e reelaborar o texto, não aparecem marcas de hesitação, pausas, repetição de palavras etc.

Observe, a seguir, algumas das marcas que caracterizam a fala e que são transcritas quando se reproduz um texto falado:

pra mim é:: ainda

O sinal “::”, de acordo com Castilho e Preti (1987, p. 9-10), indica “alongamento de vogal ou consoante”, e “…” indica pausa.

uhn uhn

é diferente

O colchete indica que os interlocutores falaram ao mesmo tempo, havendo, pois, sobreposição de vozes.

(mas vem daí)

© Comunicação e Linguagem60

O que vem entre parênteses é uma hipótese do que foi ouvi-do pela pessoa que transcreveu a fala.

((ri))

O que vem entre parênteses duplos é comentário da pessoa que transcreveu a fala.

Como afirma Rodrigues (2003), a escrita não pode ser vista como mera transcrição da fala. Trata-se de duas modalidades de língua distintas. Podemos, pois, perceber algumas diferenças bási-cas entre ambas. Veja o quadro a seguir:

Quadro 4 Diferenças básicas entre fala e escrita.Fala Escrita

1. De acordo com Barros (2001), a matéria que constitui a expressão da fala é sonora.

1. De acordo com Barros (2001), a matéria que constitui a expressão da escrita é visual (sinais gráficos, como as letras, os acentos gráficos, os sinais de pontuação etc.).

2. Na fala, os interlocutores dispõem de pouco tempo para organizar o discurso. O planejamento é simultâneo à produção textual.

2. Na escrita, o escritor dispõe de tempo para elaborar e reelaborar seu texto, que chega ao leitor sem as marcas do processo de construção textual.

3. Na fala, o texto é resultado de um trabalho conjunto em que os interlocutores planejam e constroem o texto.

3. Na escrita, o texto é resultado de um trabalho solitário, pois o leitor somente mais tarde irá receber o texto pronto, decodificá-lo e atribuir-lhe possíveis novos sentidos.

8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS1) Para verificar se você compreendeu o processo de co-

municação, leia atentamente o texto de conversa ao te-lefone que criamos e, em seguida, identifique e analise os seis elementos envolvidos neste ato comunicativo:

• Alô!

• Alô! Quem fala?

• É o Luís.

• Oi, Luís! Tudo em ordem? É o Pedro da oficina quem está falando.

• Oi, Pedro! Vamos indo. E você?

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• Joia! Luís, seu carro ficou pronto. Está uma beleza!

• Oi? Não entendi. Minha esposa está usando o aspira-dor de pó aqui na sala. Está muito barulho.

• Você não está ouvindo? Eu disse que seu carro ficou pronto.

• Ah! Agora ouvi. Ela desconfiou e desligou o aparelho. Irei buscá-lo à tarde.

• Ok. Um abraço.

• Outro.

2) Você estudou as funções da linguagem relacionadas aos seis elementos da comunicação. É hora de você realizar mais um exercício para verificar se apreendeu o conteú-do desta seção. Vamos lá?

No poema seguinte, quais funções da linguagem estão presentes? Justifique sua resposta.

Cessa o teu canto!Cessa o teu canto!Cessa, que, enquantoO ouvi, ouviaUma outra vozCom que vindoNos interstíciosDo brando encantoCom que o teu cantoVinha até nós.Ouvi-te e ouvi-aNo mesmo tempoE diferentesJuntas cantar.E a melodiaQue não havia.Se agora a lembro,Faz-me chorar(PESSOA. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ph000003.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2008).

© Comunicação e Linguagem62

Gabarito

Depois de responder às questões autoavaliativas, é impor-tante que você confira o seu desempenho, a fim de que possa sa-ber se é preciso retomar o estudo desta unidade. Assim, confira, a seguir, as respostas corretas para as questões autoavaliativas pro-postas anteriormente.

Questão n. 1

Como se trata de um ato de comunicação, estão presentes os seis elementos. Quando Pedro fala, ele é o emissor e Luís é o destinatário. Em contrapartida, quando Luís tem a palavra, ele torna-se o emissor e Pedro, o destinatário. Por ser um diálogo, os locutores alternam seus papéis.

A mensagem é o conteúdo das informações contidas na con-versa. Compreende as saudações inicial e final, a informação de que o carro está pronto e a informação de que Luís irá buscá-lo à tarde. O diálogo é estruturado em turnos conversacionais, com-preendidos como os enunciados produzidos pelos falantes no mo-mento em que eles têm a palavra.

O referente da mensagem é aquilo de que Luís e Pedro fa-lam: o carro de Luís. Além disso, o referente concerne a todo o contexto de comunicação no qual os falantes estão inseridos. Ob-serve que a esposa de Luís também faz parte desse contexto, e é ela quem provoca o ruído que, em determinado momento do diálogo, prejudica a boa comunicação.

O código utilizado para elaborar a mensagem é a língua por-tuguesa falada. O canal de comunicação utilizado para transmitir a mensagem compreende os aparelhos telefônicos dos dois interlo-cutores e o fio que liga os dois fones à central telefônica.

Questão n. 2

No poema apresentado, predomina a função poética, já que há um cuidado especial com a linguagem. O texto estrutura-se

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em versos e são utilizados recursos do plano da expressão, como ritmo e entonação exclamativa. Ocorrem, ainda, duas outras fun-ções: a emotiva, já que há a presença do eu (primeira pessoa do discurso), por exemplo, em "Se agora a lembro, / Faz-me chorar" e o eu-lírico expressa seus sentimentos e emoções, o que confere ao texto o efeito de subjetividade; e a conativa, pois se faz um apelo ao destinatário, como, por exemplo, em "Cessa o teu canto!".

9. CONSIDERAÇÕES

Chegamos ao fim da primeira unidade. Esperamos que você tenha compreendido os conteúdos abordados. Caso haja quais-quer dúvidas, entre em contato conosco. É interessante que você faça uma leitura dos textos das referências bibliográficas.

Nas unidades seguintes, concentrar-nos-emos no estudo do texto escrito, o qual deve ser nosso legítimo objeto de análise.

Assim, na Unidade 2, especificamente, estudaremos o con-ceito de "texto" e os fatores de textualidade, dando especial aten-ção a dois desses fatores, quais sejam, a coerência e a coesão.

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARROS, D. L. P. Entre a fala e a escrita: algumas reflexões sobre as posições intermediárias. In: PRETI, D. (Org.). Fala e escrita em questão. 2. ed. São Paulo: Humanitas Publicações FFLCH/USP, 2001, p. 57-77.

______. A comunicação humana. In: FIORIN, J. L. (Org.). Introdução à lingüística. I. Objetos teóricos. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2003, p. 25-53.

BENVENISTE, É. Problemas de lingüística geral I. 4. ed. Tradução de Maria da Glória Novak e Maria Luísa Néri. Campinas: Pontes, 1995.

CASTILHO, A. T.; PRETI, D. (Org.). A linguagem falada culta na cidade de São Paulo. Diálogos entre dois informantes. São Paulo: T. A. Queiroz/FAPESP, 1987, v. 2.

FERREIRA, A. B. H. Aurélio século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

JAKOBSON, R. Lingüística e comunicação. Tradução de Izidoro Blikstein e José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 2003.

LOPES, E. Fundamentos da lingüística contemporânea. São Paulo: Cultrix, 1985.

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RODRIGUES, Â. C. S. Língua falada e língua escrita. In: PRETI, D. (Org.). Análise de textos orais. 6. ed. São Paulo: Humanitas Publicações FFLCH/USP, 2003, p. 15-37.

VANOYE, F. Usos da linguagem: problemas e técnicas na produção oral e escrita. Tradução de Clarice Madureira Sabóia et al. 12. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

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PESSOA, Fernando. Cancioneiro. Ciberfil Literatura Digital, 2002, p. 33. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ph000003.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2008.

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QUEIRÓS Eça de. Cartas d'Amor – O Efêmero Feminino. Rio de Janeiro: Garamond, 2001. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000080.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2008.

QUEIRÓS, Eça de. O primo Basílio. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bi000143.pdf>. Acesso em 10 jul. 2008.