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PLANTA DANINHA V (1): 45-56, 1982 CONTROLE DE MONO E DICOTILEDÔNEAS NA CULTURA DE SOJA EM PÓS-EMERGÊNCIA, ATRAVÉS DA COMBINAÇÃO DE MEFLUIDIDE E BENTAZON RESUMO O presente trabalho buscou uma alternativa de solução para o problema através da mistura, no tanque, dos agroquímicos mefluidide e ben- tazon, aplicada após a emergência total da cul- tura e das plantas infestantes. As doses dos componentes usados no experimento em kg/ha, foram, para o mefluidide, 0,000 — 0,144 — 0,288 e 0,480 e, para o bentazon, 0,000 — 0576 — 0,864 e 1,152 combinadas entre si. O delineamento esta- tístico foi o de blocos ao acaso. No momento da aplicação a soja iniciava o seu terceiro trifólio e as principais plantas da- ninhas presentes no experimento, carurú (Ama- ranthus spp), carrapicho-de-carneiro (Acanthos- permum hispidum DC), guanxuma (Sida spp), quenopólio (Chenopodium album L.), da classe das dicotiledôneas, e capim-marmela- da (Brachiaria plantaginea (Link) Hitcl), capim- pé-de-galinha (Eleusine indica (L.) Gaertm), da classe das monocotiledôneas, estavam em diferentes estádios de desenvolvimento. Os resultados obtidos confirmaram a ação definida dos componentes na calda, mefluidide, sobre o grupo das monocotiledôneas e bentazon sobre o grupo das dicotiledôneas. Misturados, entretanto, a adição de um melhorou a ativida- de do outro sobre o grupo de plantas que con- trola. Sintomas fitotóxicos somente foram obser- vados nos tratamentos com mefluidide solitário. Os tratamentos, quanto à produção, não diferiram estatisticamente da testemunha capi- nada. No controle total das plantas infestantes as misturas não diferiram estatisticamente en- tre si. A extensão numérica no controle de dicoti- ledôneas, bem como a interação estatística entre os compostos indica a existência de ação sinér- gica da mistura. PALAVRAS-CHAVE: plantas daninhas, soja, me- fluidide, bentazon, mistura de tanque. SUMMARY CONTROL OF GRASSES AND BROADLEA- VES IN SOYBEAN CROP WITH MEFLUI- DIDE AND BENTAZON TANKMIX. The tankmix of mefluidide and bentazon offers a possibility for solution of the mixed weed population in soybean crop. The mefluidi- de rates applied in the experiment were 0.000 — 0.144 — 0.288 — 0.480 kg i.a./ha, and for benta- zon 0.000 — 0.576 — 0.864 — 1.152 isolated or mixed in a randomized blocks design experi- ment. At spraying time soybean were at the leaves stage and the predominant weeds were Amaran- thus sp., Acanthospermum hispidum, Sida sp., Chenopodium album, Brachiaria plantaginea, Digitaria sanguinalis, Eleusine indica. The tankmixed spray showed a wide herbi- cide activity, more effective than the control of

CONTROLE DE MONO E DICOTILEDÔNEAS NA CULTURA DE … · planta daninha v (1): 45-56, 1982 controle de mono e dicotiledÔneas na cultura de soja em pÓs-emergÊncia, atravÉs da combinaÇÃo

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PLANTA DANINHA V (1): 45-56, 1982

CONTR OLE DE MON O E DICOTIL EDÔNE ASNA CULTURA DE SOJA EM PÓS-EMERGÊNCIA,

ATRAVÉS DA COMBINAÇÃO DEMEFLUIDIDE E BENTAZON

RESUMO

O presente trabalho buscou uma alternativade solução para o problema através da mistura,no tanque , dos agroquímicos mefluidide e ben -tazon, aplicada após a emergência total da cul-tura e das plantas infestantes. As doses doscomponentes usados no experimento em kg/ha,foram, para o mefluidide, 0,000 — 0,144 — 0,288 e0,480 e, para o bentazon, 0,000 — 0576 — 0,864 e1,152 combinadas entre si. O delineamento esta-tístico foi o de blocos ao acaso.

No momento da aplicação a soja iniciava oseu terceiro tr ifól io e as princ ipais plantas da -ninhas presentes no experimento, carurú (Ama-ranthus spp), carrapicho-de-carneiro (Acanthos-permum hispidum DC), guanxuma (Sida spp),quenopó l io (Chenopodium album L.) , daclasse das dicotiledône as, e capim-marmela-da (Brachiaria plantaginea (Link) Hitcl), capim-pé-de-galinha (Eleusine indica (L.) Gaertm), daclasse das monocotiledôneas, estavam em diferentesestádios de desenvolvimento.

Os resultados obtidos confirmaram a açãodefinida dos componentes na calda, mefluidide,sobre o grupo das monocotiledôneas e bentazonsobre o grupo das dicotiledôneas. Misturados,entretanto, a adição de um melhorou a ativida -de do outro sobre o grupo de plantas que con-trola.Sintomas fi totóxicos somente foram obser -vados nos tratamentos com mefluidide solitário.

Os tratamentos, quanto à produção, não

di feriram estatist icamente da testemunha capi -nada. No controle total das plantas infestantesas misturas não di feriram estatisticamente en -tre si.

A extensão numérica no contro le de dicoti-ledôneas, bem como a interação estatística entreos compostos indica a existência de ação sinér -gica da mistura.PALAVRAS-CHAVE: plantas daninhas, soja, me-

fluidide, bentazon, misturade tanque.

SUMMARY

CONTROL OF GRASSES AND BROADLEA-VES IN SOYBEAN CROP WITH MEFLUI -DIDE AND BENTAZON TANKMIX.

The tankmix of mefluidide and bentazonoffers a possibility for solution of the mixedweed population in soybean crop. The meflu idi -de rates applied in the experiment were 0.000 —0.144 — 0.288 — 0.480 kg i.a./ha, and for benta-zon 0.000 — 0.576 — 0.864 — 1.152 isolated ormixed in a randomize d blo cks design experi-ment.

At spraying time soybean were at the leavesstage and the predominant weeds were Amaran-thus sp., Acanthospermum hispidum, Sida sp.,Chenopodium album, Brachiaria plantaginea,Digitaria sanguinalis, Eleusine indica.

The tankmixed spray showed a wide herbi-cide activity, more effective than the control of

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any of the he rb icides applied alone due to asinergistic action.

KEYWORDS: weeds, Glycine max, mefluidide,bentazon, tankmix.

INTRODUÇÃO

A tecnologia da cultura da soja (Glycinemax (L) Merrill) j á adotou, como práticaconsagrada, o uso de herbicidas nocontrole das plantas daninhas.

Estudos com agroquímicos, para essafinalidade, têm sido realizados comaplicação anterior ao plantio, seguida desua incorporação do solo, ou a pré-emer-gência da soja (5, 6, 12, 17 ). Resultadospositivos também são encontrados comcompostos pulverizados após a emergênciada cultura (4, 11, 15, 16, 20, 21, 22).

Os herbicidas experimentados, entre-tanto, mostram uma ação mais acentuadaou sobre as monocotiledôneas ou sobre asdicotiledôneas, carecendo, ainda a soja,para o controle conjunto de ambos osgrupos de infestantes, de solução sa-tisfatória através de um único composto.Havendo presença de ambos os grupos nasáreas cultiváveis, em número limitante àprodutividade, existe a necessidade de secombinar compostos, com aplicaçãoassociada ou simultânea (3, 7, 8, 13, 23 ),para que se processe o pleno controle dasinvasoras.

As associações que requerem sua in-corporação ao solo têm revelado maiorsegurança do que as aplicadas à pré-emer-gência posto que, por vezes, estas apre-sentam ação injuriosa à soja (7, 8, 13).

Tentativas de combinações, aspergidassobre a população de soja e plantasdaninhas, demonstraram ocorrer queda,na eficiência de um dos componentes, so-bre o grupo de plantas que controla (21).

As aplicações simultâneas de herbi-cidas (3, 8, 21), apesar de atenderem sa-tisfatoriamente às necessidades de con-trole, como também aquelas que exigemincorporação ao solo, contam com o in-conveniente de onerarem os custos deprodução, por exigirem uma operaçãoagrícola adicional.

O bentazon pela sua alta eficiência

no controle das dicotiledõneas (3, 15, 19,23) tem se destacado como herbicida depós-emergência para a soja. O mefluidide,regulador de crescimento para a culturada cana, apresenta resultados de se-letividade à soja e de atividade sensibili -zadora nas garmíneas quando aspergidoapós a emergência (1, 2).

A atuação, praticamente definida, decada um destes compostos sobre as monoe dicotiledõneas, bem como a transloca-ção similar de ambos os produtos nasplantas (2, 18) foram indicativas de umaassociação eficiente.

O presente trabalho buscou,através da mistura de bentazon emefluidide, no tanque, uma alternativa desolução para o controle das plantasdaninhas na cultura da soja.

O experimento foi instalado no CentroExperimental de Campinas, em umLatossolo Roxo, cujas características quí-micas são mostradas no quadro 1.

O delineamento estatístico adotado foi o deblocos ao acaso, com três repetições,utilizando-se quatro níveis de cadaherbicida, obtendo-se um experimentofatorial 4 x 4.

Os tratamentos estudados foram:mefluidide (1) = (N-2,4-dimetil-5-(trifluo-rometi l) su lfon il ) amino) feni l) aceta -mida) e bentazon (2) = (3-isopropil-2,1,3-benzotiadiazinona-( 4 )-2,2 - dióxido ), nasdoses, em kg/ha : 0,144(E1) - 0,288(E2) -0,480(E3) e 0,576(B1) - 0,864(B2) - 1,152(B3), respectivamente, com aplicaçõesisoladas e combinadas entre si, exceto acombinação E1Bo, uma testemunha capi-nada e outra infestada com plantas da-ninhas.

A semeadura da soja, cultivar IAC-2,foi realizada no dia 30/01/79, em sulcosespaçados de 1,0m dispostos no sentidolongitudinal das parcelas, as quais pos-suiam as dimensões de 2,5m de largura e5,0m de comprimento.

(1) Usado na formulação comercial de Embark.

(2) Usado na formulação come rc ial de Basa -gran.

MATERIAL E MÉTODOS

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A adubação, potássica e fosfatada,sob recomendação baseada na análise dosolo (Quadro 1), bem como os tratamen-

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tos fitossanitários, estiveram dentro danormalidade para a cultura.

A soja, na sua totalidade, emergiuem 07/02/79, sendo processada a aplica-ção 16 dias após, no intervalo das 15 :20às 16 :20 horas (10 ), com nebulosidadeestimada em 40%, boa umidade no soloe sem presença de ventos intervenientes.Nessa operação, as caldas agroquímicasforam asperg idas à pressão de 3,164kg/cm2, mantida constante por meio deinjeção de CO2 no tanque de um pulveri-zador costal com capacidade volumétricapara 5,0 1 de líquido. O pulverizador es-

tava munido com uma barra metálicaequipada com cinco bicos 80.02,distanciados 0,5m um do outro. O gastode água na aspersão de cada tratamentofoi equivalente a 660 1/ha.

No momento da apli cação, a so jaemitia o seu terceiro tri fólio e apresen-tava porte médio de 0,18m. As plantasdaninhas, presentes nas unidades experi-mentais, estavam em diferentes estádiosde desenvolvimento (Quadro 2).

A primeira precipitação pluviométricasomente ocorreu 144 horas depois deaplicados os tratamentos (9).

A avaliação da eficiência herbicidados compostos, e suas diferentes mistu-ras, foi realizada no dia 23/03utilizando-se o método da contagem eclassificação das plantas daninhasremanescentes (Quadro 3), tomando-se,ao acaso, três amostras de 0,2m2 nointerior das parcelas (14) .

Todas as parcelas receberam capinaem 26/03.

Acolheita e a contagem da popula-ção de soja foram processadas no dia06/06/79.

Foram analisadas estatisticamente aprodução, a população final de soja e demonocotiledôneas e dicotiledôneasseparadamente e somadas.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

1. Controle de dicotiledôneas

O número de plantas daninhas dico-tiledôneas remanescentes às aplicaçõesdas ca ldas herb ic idas é most rado noquadro 3 onde se observa a ação distintado mefluidide e do bentazon, quandoaplicados isoladamente sobre este grupode plantas daninhas. Esse fato é compro-vado através da diferenciação estatísticaverificada entre os tratamentos. Nestacondição, o mefluidide mostrou não re-duzir numericamente estas invasoras, sebem que o caruru tenha acusado susce-tibilidade a este herbicida, apresentando,como sintomatologia fitotóxica, reduçãono porte e soldamento da folha. O benta-zon, por sua vez, demonstrou atividade,embora o aumento da dose não tenhaproporcionado melhora na eficiência decontrole. Os resultados de controle en-contrados para este herbicida concordamcom os de outros autores (3, 15, 23 ).

Na associação dos compostos, as di-cotiledôneas, para uma mesma dose demefluidide, diminuiram seguindo o au-mento das quantidades de bentazon in-cluidas à calda ; mostrando-se o controletão mais eficiente quanto maior a dosedos componentes misturados.

Observando-se a figura 1 percebe-seque o mefluidide, quando em mistura,promove a diminuição das plantas dani-nhas dicotiledôneas linearmente e o ben-tazon conforme uma curva, de acordocom o aumento das doses, ocorrendo in-teração significativa entre os dois herbi-cidas.

3. Controle de monocotiledôneasObservando-se a figura 2, que repre-

senta o número de monocotiledôneas re-manescentes aos tratamentos, nota-se anão atividade do bentazon sobre este gru-po de plantas e que mesmo quantidadescrescentes desse composto, aplicadas naausência do mefluidide, favorecem o sur-gimento destas espécies daninhas nasunidades experimentais. O maior apare-cimento de gramíneas, neste caso, possi-velmente é devido ao controle de dicoti-ledôneas exercido pelo bentazon, elimi-

nando assim, a competição destas espé-cies com as monocotiledôneas por água,luz, nutrientes, e espaço.

As monocotiledôneas apresentaramdiminuição nos tratamentos de meflui -dide, em aplicação isolada sendo menoro número destas plantas daninhas namaior dose aplicada.

Nos tratamentos com misturas doscompostos, o número de gramíneas ten-deu a diminuir quando, para uma mesmadose de mefluidide, incluiram-se dosescrescentes de bentazon. Exceção ocorreuna dose B1 de bentazon associada às demefluidide, para as quais houve um au-mento no número de gramíneas com oaumento da dose deste último.

O melhor controle verificado aconteceuna combinação de 0,480 kg/ha de me-fluidide com 1,152 kg/ha de bentazon.

O alto coeficiente de variação obtidopela análise estatística e o baixo númerode plantas daninhas monocotiledôneaspresentes nas parcelas testemunhas,podem ter concorrido para o não apare-cimento de diferenças estatisticamentesignificativas entre os tratamentos ao ní-vel de 5% de probabilidade (Quadro 3).

3. Controle total

O quadro 3 mostra a soma de mono-cotiledôneas e dicotiledôneas remanes-centes às aplicações dos herbicidas, ondese ver ifica que todas as misturastestadas diferiram significativamente datestemunha sem capina.

Na figura 3 percebe -se que o núme-ro de plantas daninhas decresceu com oaumento das quantidades pulverizadasde ambos os agroquímicos sendo estaqueda linear para o mefluidide e quadrá-tica para o bentazon.

Este resultado é similar ao encontradopara as dicotiledôneas visto que estegrupo de plantas foi o que prevaleceu noexperimento, sem ser entretanto, estatis-ticamente significativa a interação entreos dois compostos ao nível de 5% deprobabilidade.

4. Andamento da cultura e resultados deprodução

A soja, no estádio em que recebeu a

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aplicação das diferentes doses de benta-zon e suas misturas com mefluidide nãoapresentou sintomas de fito toxicidade.

Injúrias à cultura foram verificadaspara o mefluidide aplicado isoladamente,sendo sua agressividade proporcional àdose pulverizada, sem entretanto, reduzira população de plantas (Quadro 4). Talfato explica a menor produção que foiobservada na combinação E3Bo(Quadro 4 ).

Verifica-se ainda que as melhoresproduções foram alcançadas com amenor dose desse agroquímicopulverizada em associação com obentazon.

Apesar da anál ise estatíst ica nãoacusar dif erenças entre a testemunhasem capina e a testemunha capinada, es-

ta apresentou uma produção superior,de pratilamente duas vezes, o mesmo sedando para os tratamentos de bentazonem aplicação isolada (Quadro 4 ).

Observando-se a figura 4, nota-seque a produção decresceu linearmente àmedida que quantidades maiores dosagroquímicos foram combinadas,exceção para a dose E2 onde houve umleve aumento para doses crescentes debentazon.

Analisando-se os componenteslineares da análise estatística, E' e B' dafigu ra 4, percebe-se que, em mistura, odecréscimo na produção é provocadomais pelo mefluidide do que pelobentazon, visto que ele possui ocomponente linear, que é negativo,maior.

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Quadro 4 — Resultados estatísticos da produção, média de três repetições, e da população de sojapor tratamento.

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