Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    1/245

    Cultura

    de paz:da reflexãoà ação

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    2/245

    Balanço da D écada Internacional

    da Prom oção da Cultura de Paz

    e N ão Violência em Benefício

    das C rianças do M undo

    Brasília, n ovembro de 20 10

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    3/245

    Todos os palestrantes nacionais e internacionais dos 85 fóruns realizados entre os anos 2000 e 2010, bem

    com o os voluntários envolvidos na recepção e organização dos eventos, cederam e com partilharam

    gentilm ente seu tem po e seu conhecim ento.

    Fóruns transcritos e editados para esta publicação:

    Augusto de Franco -Uma nova visão sobre as redes sociais: explorações sobre o espaço-tempo dos fluxos ;Bellur Prakash,O legado vivo do Mahatma ;

    C arm em Silva Junqueira –Povos indígenas do Brasil ;

    Edgard de Assis Carvalho –Evolucionismo e política de civilização ;

    Edson Am aro Júnior –Neurociência e a compreensão do humano ;

    Flávia Piovesan –Direitos humanos, desafios e perspectivas contemporâneas ;

    H élio M attar –Sociedade de consumo, qual o próximo passo? ;

    Jean-M arie M uller –A atualidade de Gandhi: filosofia em ação ;

    Kabenguelê M unanga –África, um cont inente em busca do equilíbrio para a paz ;

    Laís Fontenelle Pereira e Isabella Vieira M achado H enriques –Mercantilização da infância, um problema de todos 

    ;

    Leoberto Brancher –Justiça restaurativa: para além do perdão e da vingança ;

    D ulce C ritelli e M árcia Tiburi –Mulheres na filosofia: uma história de exclusão deliberada ;

    M arilene G randesso –Terapia comunitária: prática sustentável a serviço da saúde e dignidade da pessoa ;

    Alicia C abezudo, D avid Adam s, Eduardo Jorge M artins Alves Sobrinho, H am ilton Faria, José G regori,

    M agnus H aavelsrud, M aurílio M aldonado, Rose M arie Inojosa e U biratan D ’Am brósio, X esús Rodrigues

    Jares (in memoriam ) –Fórum internacional cultura de paz e pedagogia da convivência .

    O s autores são responsáveis pela escolha e apresentação dos fatos contidos neste livro, bem com o pelas

    opiniões nele expressas, que não são necessariam ente as da U N ESC O , nem com prom etem a O rganização.

    As indicações de nom es e a apresentação do m aterial ao longo deste livro não im plicam a m anifestação de qual-

    quer opinião por parte da U N ESC O a respeito da condição jurídica de qualquer país, território, cidade, região

    ou de suas autoridades, tam pouco da delim itação de suas fronteiras ou lim ites.

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    4/245

    Balanço da D écada Internacional

    da Prom oção da Cultura de Paz

    e N ão Violência em Benefício

    das C rianças do M undo

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    5/245

    © 2010 O rganização das N ações U nidas para a Educação, a Ciência e a C ultura (U N ESC O ) e

    Associação Palas Athena

    C oordenação G eral:Lia Diskin e Marlova Jovchelovitch Noleto 

    Revisão técnica:Beatriz Coelho, Lucia Benfatti e Tonia Van Acker

    Transcrições:Douglas Paes Aranão e Ivan Nascimento

    Tradução: Inês Polegato

    Edição:Elisabete Santana, MTb 16.435 (Soma.CP Comunicação ) 

    Assistente de pré-edição:Vany Laubé, MTb 15.594/RJ

    Revisão gram atical e atualização ortográfica:B&C Textos 

    C apa e projeto gráfico:Edson Fogaça 

    Fotos:Cristina Canto, Douglas Paes Aranão, Flávia Faria 

    C ultura de paz: da reflexão à ação; balanço da D écada Internacional daProm oção da C ultura de Paz e N ão Violência em Benefício das Crianças doM undo. –Brasília: U N ESC O ; São Paulo: Associação Palas Athena, 2010.256 p.

    ISBN : 978-85-7652-133-4

    1. C ultura de paz 2. N ão violência 3. Brasil I. U N ESC O II. Associação PalasAthena

    SAU S, Q uadra 5, Bloco H , Lote 6,Ed. C N Pq/IBIC T/U N ESC O , 9º andar70070-912 - Brasília - D F - BrasilTel.: (55 61) 2106-3500Fax: (55 61) 2106-3967Site:w w w.unesco.org/brasiliaE-m ail:grupoeditorial@ unesco.org.br

    Associação Palas AthenaRua Leôncio de C arvalho,99ParaísoSão Paulo, SP 04003-010Site:w w w.palasathena.org.brE-m ail:contatocef@ palasathena.org.br

    M inistério da JustiçaEsplanada dos M inistériosBloco T - Ed. Sede70.064-900w w w.m j.gov.brE-m ail: aci.pronasci@ m j.gov.br

    http://www.unesco.org/brasiliamailto:[email protected]://www.palasathena.org.br/mailto:[email protected]://www.mj.gov.br/mailto:[email protected]:[email protected]://www.mj.gov.br/mailto:[email protected]://www.palasathena.org.br/mailto:[email protected]://www.unesco.org/brasilia

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    6/245

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    7/245

    7

       C

      u   l   t  u   r   a

       d   e

       p   a  z  :

      d a

     r e  f  l e x  ã o 

      à

     a ç  ã o

    Agradec imen tos

    Em 1987, tive a alegria e o privilégio de, a convite da Fundação Birla H ouse, estudar na Índiapor três m eses. C onheci um pouco m ais sobre ahimsa (não violência) e sobre a filosofiagandhiana. U m dos m uitos aprendizados significativos que tive com M ahatm a G andhi, é quedevem os exercitar o desapego, aprendendo a alegrar nosso coração e não o nosso ego.

    Anos depois, em 1999, já na U N ESC O , o convite para coordenar o program a Culturade Paz foi recebido por m im com o um presente. Tive a parceria de m uitos e seria quaseim possível lem brar de todos os que perm itiram o sucesso alcançado na D écada Internacionalpara a Prom oção da C ultura de Paz e N ão Violência em Benefício das C rianças do M undo.

    Prim eiram ente, agradeço ao Representante da UN ESC O no Brasil, Vincent D efourny, porm e perm itir dar continuidade a este valioso tem a, cerne da constituição da O rganização.

    Agradeço, ainda, aos parceiros, cujos corações se alegraram conosco ao longo dos anos,entre eles: os am igos do C om itê Paulista para a D écada da C ultura de Paz, lem brando sem prede Eduardo Jorge M artins Alves Sobrinho e W alter Feldm an; da C om unidade Bahá’í do Brasil,em especial Iradj Eghrari; da O rganização Brahm a Kum aris, em especial Luciana Ferraz e KenO ’D onnel; da Fundação Peirópolis, especialm ente Regina M igliori; daUnited Religions Initiative (U RI); do M ovim ento D iálogos pela Paz; do G eledés; da U niversidade Internacional da Paz(U N IPAZ), e a seu saudoso fundador, Pierre W eil; do Instituto Ayrton Senna; do C om itê paraa D em ocratização da Inform ática (C D I); da Escola de D ança e Integração Social para a C riança eo Adolescente (ED ISC A); do G rupo de Institutos, Fundações e Em presas (G IFE); do G rupoC ultural AfroReggae; do Instituto Sou da Paz; do Viva Rio; da Associação de Juízes do Rio G randedo Sul (AJU RIS); da C entral Ú nica das Favelas (C U FA); do M inistério da Educação (M EC ); doProgram a N acional de Segurança Pública com C idadania (Pronasci) e da Rede G lobo de Televisão.

    Agradeço, tam bém ,ao ex-Representante da U N ESC O no Brasil, Jorge W erthein, pelaestratégia de m obilização inovadora que ele iniciou em 2000, para difundir a cultura de pazpor todo o país. M erecem registro os governos estaduais do Rio de Janeiro, Pernam buco,Bahia, Rio G rande do Sul e São Paulo, que logo aderiram à estratégia por m eio do Program aAbrindo Espaços: Educação e C ultura para a Paz.

    U m agradecim ento especial à equipe de C iências H um anas e Sociais da U N ESC O noBrasil, que não m ediu esforços em viabilizar os arranjos necessários para prom over os valores

    de cultura de paz. Em particular, agradeço à colega Beatriz M aria G odinho Barros Coelho,parceira de prim eira hora ao levar este ideário adiante. Tam bém não posso deixar de agradecera Roberta M acêdo M artins G uaragna, responsável por iniciar os trabalhos do program aC ultura de Paz nesta Representação.

    Por fim , Lia D iskin –que encontrei em 1999, antes ainda do Ano Internacional da C ulturade Paz –foi e tem sido parceira solidária e generosa, inspiradora de m uitas iniciativas ao longodos anos. D edico a ela este livro e todo o sucesso do nosso trabalho conjunto. A você, Liaque, com sua hum ildade e sabedoria tanto nos ensina, o nosso carinho.

    M arlova Jovchelovitch N oleto

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    8/245

    8

    Prefácio

    H oje pode soar evidente que a paz e a prosperidade não se conquistam unicam ente combase em arranjos políticos e econôm icos. M as duas guerras m undiais, intolerância epreconceitos de toda ordem testem unharam o contrário e provaram que a solidariedadeintelectual e m oral da hum anidade são indissociáveis do desenvolvim ento hum ano em sentidopleno. Foram justam ente estes valores que fundaram a U N ESC O e a m otivaram a prom over,ao longo de m ais de 60 anos, a educação e a cultura com o alavancas para a construção dapaz e entendim ento entre os povos.

    C onstruir a noção de cultura de paz certam ente não foi tarefa fácil, m as nos brindou comavanços im portantes. O fim da D écada Internacional da Prom oção da C ultura de Paz e N ãoViolência em Benefício das C rianças do M undo (2001-2010) traz reflexões sobre o que

    conquistam os e o que ainda há por vir, no tocante ao conceito de cultura de paz. É nessesentido e, face ao m undo globalizado e fundado na sociedade do conhecim ento, que m aisrecentem ente a D iretora-geral da U N ESC O , Irina Bokova, tem proposto a construção doque ela cham ou "novo hum anism o".

    Indo além do hum anism o preconizado pela Renascença, fincado de form a clara naracionalidade, livre-arbítrio e dignidade do hom em , o "novo hum anism o" im plica que o serhum ano tem sim suas diferenças, m as que as m esm as devem ser respeitadas e valorizadas.Isto envolveria, segundo Irina Bokova, superar os entraves entre N orte, Sul, Leste e O estee abraçar a coexistência e a igualdade com o valores fundam entais da hum anidade. A tolerânciae o diálogo cultural e inter-religioso constituem , assim , facetas m arcantes deste "novohum anism o" calcado de m aneira evidente na ideia de cultura de paz.

    Q uerem os registrar um agradecim ento especial ao Program a N acional de SegurançaPública com C idadania (Pronasci) e à Associação Palas Athenas, coordenados respectivam entepelo secretário executivo Ronaldo Teixeira e pela professora Lia D iskin. Am bos têmcontribuído decisivam ente para a valorização do ser hum ano e construção de um novoparadigm a de segurança com base na prevenção da violência e resgate da cidadania.

    É com m uita satisfação, portanto, que ora lançam os o livro: "C ultura de Paz: da reflexão àação". C om o país que se engajou fortem ente em popularizar estes valores, seria umdesrespeito não resgatar a m em ória deste processo no Brasil e não elencar alguns dos atores

    que tornaram essa ideia possível. Esta publicação retom a algum as das iniciativas que m arcarama últim a década no que tange o respeito à vida e a prática da não violência por m eio daeducação, do diálogo e da cooperação.

    Vincent D efourny

    Representante da U N ESC O no Brasil

    8

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    9/245

    Segur ança e Cidad ania: ant es, Cult ur a de Paz!

    A m udança de paradigm a no tem a da segurança, iniciada no segundo m andato doPresidente Lula (2006-2010), por m eio do Program a N acional de Segurança Pública (Pronasci)com C idadania, deve-se ao desenvolvim ento da cultura de paz, acúm ulo resultante doperíodo de consolidação dem ocrática do Brasil. A D écada Internacional da Prom oção daC ultura de Paz e N ão Violência em Benefício das C rianças do M undo coincide, no país, comavanços significativos na ordem econôm ica, social e política da vida brasileira.

    Em lugar da cultura da solidão, hegem ônica em um país que prim ava pela concentraçãode renda, taxas elevadas de desem prego, baixo poder aquisitivo do seu povo e privilégios daclasse política, inseriu-se na consciência do cidadão a cultura da solidariedade. N o lugar dacom petição que prem ia o indivíduo, a solidariedade que divide responsabilidades e partilha

    conquistas. C om distribuição de renda, am pliação de oportunidades, m ais recursos àpopulação e exigência aos seus representantes, o povo brasileiro participa efetivam ente com oIl Condottiere de sua história e de seu destino. A cultura de paz, assim , ao m esm o tem po,induz consciências e as influencia em direção a um m undo m ais tolerante e, nesse caso, aum a nação m ais solidária.

    N o contexto da paz com o cultura, inovações são perm itidas e ideias surgem pararesponder ao novo m om ento em todas as áreas do saber popular e do conhecim entocientífico. Aqui, referir à segurança é, necessariam ente, referir à segurança e cidadania. OPronasci é o nascim ento para, é o que nasce pro (para o), é , à sociedade, a alternativa deinstauração de um a nova am biência nos territórios de m aior conflito entre iguais,hierarquizados apenas pelo critério da força e pela ausência da lei.

    E essa nova am biência em construção cham a-se território de paz: a zona opaca, ondevivem os fracos em seu tem po lento, interage, por indução do Estado, com a zona lum inosa,onde vivem os fortes no seu tem po rápido; m eio natural e m eio técnico, com o quer M iltonSantos, revitalizam o espaço que só é possível transform ar-se pelo engajam ento do cidadãoe por sua cultura. A chegada sim ultânea, portanto, do acesso à justiça, do policiam ento deproxim idade –polícia que dialoga e se enraíza na com unidade, dela fazendo parte –, datecnologia aos policiais e da inclusão digital aos cidadãos, da participação das m ulheres e dainserção dos jovens em oficinas de educação, cultura, esporte é que pode jogar luz à

    integração de todos em direção a um a política de prevenção, prom otora da não violência.A política de segurança e cidadania, então, é antecedida pela cultura da paz que subm ete

    a solidão, o conflito e o privilégio à solidariedade, à justiça e à dem ocracia.

    É com alegria, portanto, que o Pronasci se associa à U N ESC O para lançar o livro “C ulturade Paz: da reflexão à ação”, celebrando um Brasil m ais igual, justo e seguro.

    Ronaldo Teixeira da Silva

    Secretário Executivo do Pronasci    C  u   l   t  u   r   a

       d   e

       p   a  z  :

      d a

     r e  f  l e x  ã o 

      à

     a ç  ã o

    9

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    10/245

    A CO N STRU Ç ÃO D A CU LTU RA D E PAZ:

    dez anos de históriaMarlova Jovchelovitch Noleto1

    A U N ESC O tem com o m issão prim ordial a construção da paz. O preâm bulo de sua

    C onstituição rege: “C om o as guerras se iniciam nas m entes dos hom ens, é na m ente dos

    hom ens que as defesas da paz devem ser construídas”. E ainda:

    “ O propósito da O rganização é contribuir para a paz e a segurança, prom ovendo cooperaçãoentre as nações por m eio da educação, da ciência e da cultura, visando a favorecer o respeito

    universal à justiça, ao estado de direito e aos direitos hum anos e liberdades fundam entaisafirm ados aos povos do m undo” .

    Tal pensam ento é fundado em um a análise acurada dos processos pelos quais a paz e a

    guerra podem ser alcançadas e refere-se ao ideal dem ocrático de

    “que a paz baseada exclusivam ente nos arranjos políticos e econôm icos dos governos não seriaum a paz que pudesse assegurar o apoio sincero, unânim e e duradouro dos povos do m undo,

    e que a paz, para que perdure, deve, por esse m otivo, ser fundada sobre a solidariedade m orale intelectual da hum anidade”.

    Em 20 de novem bro de 1997, as N ações U nidas proclam aram o ano 2000 com o o Ano

    Internacional da C ultura de Paz2

    , m arcando o início de um a m obilização m undial e de um aaliança global de m ovim entos existentes, para juntos transform ar os princípios norteadores

    da cultura de paz em ações concretas. Em 10 de novem bro de 1998, por m eio de nova

    resolução, as N ações U nidas proclam am a década 2001-2010, com o a D écada Internacional

    da Prom oção da C ultura de Paz e N ão Violência em Benefício das C rianças do M undo3 a fim

    de reforçar o m ovim ento global form ado e apontando a U N ESC O com o agência líder para

    a D écada, responsável por coordenar as atividades do sistem a O N U e de outras organizações.

    Foi um a honra e um privilégio para m im ter podido fazer parte da coordenação dos

    program as, projetos, ações e atividades desenvolvidos pela U N ESC O no âm bito do program a

    C ultura de Paz ao longo desta década. E é com im ensa satisfação que vam os contar a seguirum pouco dessa história.

    A cultura de paz está intrinsecam ente relacionada à prevenção e à resolução não violenta

    dos conflitos. É um a cultura baseada em tolerância e solidariedade, um a cultura que respeita

    todos os direitos individuais, que assegura e sustenta a liberdade de opinião e que se em penha

    em prevenir conflitos, resolvendo-os em suas fontes, que englobam novas am eaças não

    m ilitares para a paz e para a segurança, com o a exclusão, a pobreza extrem a e a degradação

    1. C oordenadora de C iências H um anas e Sociais da U N ESC O no Brasil.

    2. U N Resolution A /RES/52/15.

    3. U N Resolution A/RES/53/25.

       C

      u   l   t  u   r   a

       d   e

       p   a  z  :

      d a

     r e  f  l e x  ã o 

      à

     a ç  ã o

    11

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    11/245

    am biental. A cultura de paz procura resolver os problem as por m eio do diálogo, da

    negociação e da m ediação, de form a a tornar a guerra e a violência inviáveis.

    N a atualidade, continuam os com inúm eros conflitos arm ados e lutas civis, que sacrificam

    vidas hum anas em m ais de 40 países. O utras fontes de tensão têm sua origem na deterioração

    do m eio am biente, no excesso de população, na com petição por recursos de água doce,cada vez m ais escassos, na desnutrição e na flagrante desigualdade econôm ica e social não

    só entre os países, com o tam bém internam ente a estes, devido a em m odelos de

    desenvolvim ento concentradores de renda e excludentes.

    Substituir a secular cultura de guerra por um a cultura de paz requer um esforço educativo

    prolongado para m odificar as reações à adversidade e construir um m odelo de

    desenvolvim ento que possa suprim ir as causas de conflito.N o cam po do desenvolvim ento

    econôm ico é preciso passar da econom ia com petitiva de m ercado para um m odelo de

    desenvolvim ento m útuo e sustentável, sem o qual é im possível alcançar um a paz duradoura.

    É preciso revisar o conceito de adotar m odelos de desenvolvim ento de outros países para

    respeitar cada país, suas tradições e diversidade, incorporando um a dim ensão hum ana e social

    e de participação, que, necessariam ente, deve significar dem ocracia.

    E falar em cultura de paz é falar dos valores essenciais à vida dem ocrática. Valores com o

    igualdade, respeito aos direitos hum anos, respeito à diversidade cultural, justiça, liberdade,

    tolerância, diálogo, reconciliação, solidariedade, desenvolvim ento e justiça social.

    N as palavras de Irina Bokova, D iretora-geral da U N ESC O ,

    “ tenho a convicção de que todos estam os naturalm ente ligados por nossa condição de

    seres hum anos. Q ue todos tem os os m esm os sonhos de prosperidade e felicidade. E todossabem os m uito bem que esses sonhos só se podem realizar em um clim a de paz. Adiversidade cultural e o diálogo entre as culturas contribuem para o surgim ento de um novohum anism o, no qual se reconciliam o universal e o local, e m ediante o qual reaprendem osa construir o m undo...Respeito aos direitos fundam entais, à dignidade de cada ser hum ano,à diversidade, de um a hum anidade solidária e responsável... esta é a m ensagem da

    U N ESC O , cuja função consiste em dar um novo im pulso à solidariedade, congregando edespertando consciências.” 

    N a busca e dissem inação da paz, a U N ESC O parte do princípio de que a violência persiste

    com um a nova face. Apesar de as form as tradicionais de conflito e guerra terem dim inuído,

    os orçam entos para segurança da m aioria dos países perm anecem elevados, especialm entepara o desenvolvim ento de arm am entos inteligentes de alta tecnologia, enquanto os

    orçam entos destinados a políticas e program as de desenvolvim ento social são constantem ente

    reduzidos.

    Em face desse inaceitável estado dos fatos, devem os nos m obilizar em favor da paz e da

    não violência, as quais devem tornar-se realidade cotidiana para todos.

    M as com o fazer da cultura de paz um a realidade concreta e duradoura? C om o fortalecer

    a consciência sobre a urgência de se prom over a transição de um a cultura de guerra para

    um a cultura da paz? C om o encontrar os cam inhos e m eios para alterar os valores, atitudes,

    crenças e com portam entos do tem po presente?12

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    12/245

    N o m undo interativo, tudo é um a questão de conscientização, m obilização, educação,

    prevenção e inform ação de todos os níveis sociais em todos os países. A elaboração e o

    estabelecim ento de um a cultura de paz requer profunda participação de todos, tendo com o

    pano de fundo de qualquer m obilização a tolerância, a dem ocracia e os direitos hum anos –

    em outras palavras, a observância desses direitos e o respeito pelo próxim o, valores carospara a cultura de paz. Em todo esse processo, cabe aos cidadãos organizarem -se e assum irem

    sua parcela de responsabilidade participando inteiram ente no desenvolvim ento de suas

    sociedades; aos países cabe a cooperação m ultilateral; às organizações internacionais, a

    coordenação de suas diferentes ações.

    A cultura de paz é um a iniciativa de longo prazo que leva em conta os contextos histórico,

    político, econôm ico, social e cultural de cada ser hum ano e sociedade. É necessário aprendê-

    la, desenvolvê-la e colocá-la em prática no dia a dia fam iliar, regional ou nacional. É um

    processo que, sem dúvida, tem um com eço, m as nunca pode ter um fim . A paz é um

    processo constante, cotidiano, m as não passivo. A hum anidade deve esforçar-se paraprom ovê-la e adm inistrá-la.

    Para a U N ESC O , paz não é m eram ente ausência de guerra. Por assim entender, prom ove

    esforços em favor da paz e tem se caracterizado fundam entalm ente por um a incessante luta

    pela dem ocratização dos conhecim entos produzidos pela hum anidade.

    O seu cam po de abrangência, com preendendo as áreas de Educação, C iências N aturais,

    C iências H um anas e Sociais, C ultura e C om unicação e Inform ação indica que, por interm édio

    da dem ocratização do conhecim ento, a hum anidade poderá atingir padrões de convivência

    hum ana e de solidariedade. Esta concepção e perspectiva estão na origem dos atos

    constitutivos da O rganização, datados de 1946 –logo após a Segunda G uerra M undial.

    Essa m issão não poderia ser cum prida sem que se colocasse com o pressuposto orientador

    da política dos Estados-m em bros que integram a O rganização a universalização do acesso

    de todos ao conhecim ento disponível.

    D esse m odo, quando a U N ESC O investe em um a cultura de paz, a âncora dessa busca

    é a educação com o um direito intim am ente relacionado com a conquista da paz. É tam bém

    por interm édio da educação que se form am m entalidades m ais dem ocráticas. A D eclaração

    U niversal dos D ireitos H um anos, assinada em 1948, em seu Art. 26, estabelece que todo o

    ser hum ano tem direito à educação, que deve ter com o objetivo o pleno desenvolvim ento

    da pessoa. Tal direito colabora para o fortalecim ento do respeito ao conjunto de diversos

    direitos hum anos e das liberdades fundam entais. A educação voltada para a cultura de paz

    inclui a prom oção da com preensão, da tolerância, da solidariedade e do respeito às

    identidades nacionais, raciais, religiosas, por gênero e geração, entre outras, enfatizando a

    im portância da diversidade cultural.

    U m de nossos desafios consiste em repensar a educação e a cultura para este século,

    apontando que am bas podem dar respostas à inquietação pela universalização e dem ocra-

    tização do conhecim ento. Para dar resposta à esperança que todos tem os de um a nova

    educação para este m ilênio, a Com issão presidida por Jacques D elors4 ressalta que a educação

       C

      u   l   t  u   r   a

       d   e

       p   a  z  :

      d a

     r e  f  l e x  ã o 

      à

     a ç  ã o

    13

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    13/245

    deve ser organizada com base em quatro princípios-pilares do conhecim ento, a saber:

    Aprender a C onhecer, Aprender a Viver Juntos, Aprender a Fazer e Aprender a Ser. Esses

    cam inhos, propostos pelo Relatório D elors, a rigor, possuem um im bricam ento lógico de

    form a que não é possível pensá-los isoladam ente. N a prática, eles interagem , são

    interdependentes e se fundam entam num a concepção de totalidade dialética do sujeito. O spilares do conhecim ento foram caracterizados pelo Relatório D elors da seguinte form a:

    Aprender a Conhecer: Trata-se daquele tipo de aprendizagem objetiva, sobretudo o

    dom ínio dos instrum entos do conhecim ento. C om o o conhecim ento é m últiplo e

    evolui em ritm o incessante, torna-se cada vez m ais inútil tentar conhecer tudo. Além

    disso, os tem pos presentes dem andam um a cultura geral, cuja aquisição poderá ser

    facilitada pela apropriação de um a m etodologia do aprender. C om o disse Laurent

    Schw artz, um espírito verdadeiram ente form ado, hoje em dia, tem necessidade de

    um a cultura geral vasta e da possibilidade de trabalhar em profundidade determ inado

    núm ero de assuntos. D eve-se, do princípio ao fim do ensino, cultivar sim ultaneam enteestas duas tendências.5 D aí a im portância dos prim eiros anos da educação que, se bem -

    sucedidos, podem transm itir às pessoas a força e as bases que façam com que

    continuem a aprender ao longo de toda a vida.

    Aprender a Fazer: Aprender a conhecer e aprender a fazer são, em larga m edida,

    indissociáveis. O aprender a fazer está m ais ligado à educação profissional. Todavia,

    devido às transform ações que se operam no m undo do trabalho, o aprender a fazer

    não pode continuar a ter o m esm o significado de preparar um a determ inada pessoa

    para um a tarefa específica. O avanço tecnológico está m odificando as qualificações. As

    tarefas puram ente físicas estão sendo gradualm ente substituídas por tarefas de produçãom ais intelectuais, m ais m entais, com o o com ando de m áquinas, por exem plo. À m edida

    que as m áquinas se tornam m ais “inteligentes”, o trabalho se “desm aterializa”. Além da

    com petência técnica e profissional, a disposição para o trabalho em equipe, o gosto

    pelo risco e a capacidade de tom ar iniciativas constituem fatores im portantes no m undo

    do trabalho. Acrescente-se ainda que a criação do futuro exige um a polivalência para

    o que o desenvolvim ento da capacidade de aprender é vital.

    Aprender a Viver Juntos: Trata-se de um dos m aiores desafios da educação para o século

    X X I. C om o diz o Relatório D elors, a história hum ana sem pre foi conflituosa. H á, no

    entanto, elem entos novos que acentuam o perigo e deixam à vista o extraordináriopotencial de autodestruição criado pela hum anidade no decorrer do século X X . Será

    possível conceber um a educação capaz de evitar os conflitos, ou de os resolver, de

    m aneira pacífica, desenvolvendo o conhecim ento dos outros, das suas culturas, da sua

    espiritualidade? O bservem o quadro atual de violência na escola. C om o com batê-la?

    4. A C om issão Internacional de Educação para o século X X I, presidida por Jacques D elors, foi form alm ente estabelecida no início de1993, com os objetivos de refletir sobre os desafios que a educação enfrentaria nos anos subsequentes. Produziu o cham ado RelatórioD elors, com sugestões e recom endações que serviriam com o um a agenda para políticas públicas, atingindo autoridades nos níveis m aiselevados. D ELO RS, J. et al. (O rg.).Educação : um tesouro a descobrir. 8.ed. São Paulo: U N ESC O , C ortez, 2003. SC H W ATZ, L.L’enseignement Scientifique . Paris: Flam arion, 1993. Apud D ELO RS, J. (2003) O p. cit. p. 91.

    5. SCH W ATZ , L.L’enseignement Scientifique . Paris: Flam arion, 1993. Apud D ELO RS, J. (2003) O p. cit. p. 91.14

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    14/245

    A tarefa é árdua, diz o Relatório, porque os seres hum anos têm tendência para

    sobrevalorizar as suas qualidades e as do grupo a que pertencem e a alim entar

    preconceitos desfavoráveis em relação aos outros. D a m esm a form a, o clim a de elevada

    com petição que se apoderou dos países agrava a tensão entre os m ais favorecidos e

    os pobres. A própria educação para a com petitividade tem contribuído para aum entaresse clim a de tensão, devido a um a m á interpretação da ideia de em ulação. Para reduzir

    o risco, a educação deve utilizar duas vias com plem entares –a descoberta progressiva

    do outro e o seu reconhecim ento e a participação em projetos com uns (educação

    para a solidariedade).

    Aprender a Ser: O Relatório D elors não apenas reafirm a um a das principais linhas e

    princípios do Relatório Faure6, com o am plia a im portância desse postulado. Todo ser

    hum ano deve ser preparado para a autonom ia intelectual e para um a visão crítica da

    vida, de m odo a poder form ular seus próprios juízos de valor, desenvolver a capacidade

    de discernim ento e de com o agir em diferentes circunstâncias da vida. A educaçãoprecisa fornecer a todos capacidades e referências intelectuais que lhes perm itam

    conhecer o m undo que os rodeia e agir com o atores responsáveis e justos. Para tanto,

    é im prescindível um a concepção de desenvolvim ento hum ano que tenha por objetivo

    a realização plena das pessoas, do nascim ento até a m orte, definindo-se com o um

    processo dialético que com eça pelo conhecim ento de si m esm o para se abrir, em seguida,

    à relação com o outro. N esse sentido, a educação é, antes de tudo, um a viagem interior,

    cujas etapas correspondem às da m aturação contínua da personalidade. É urgente que

    esta concepção de educação seja trabalhada por todos, pela escola, pela fam ília e pela

    sociedade civil que, juntos, disponham -se a explorar e a descobrir as ricas potencialidadesque se escondem em todas as pessoas (D ELO RS, 1998, p. 90).

    C om base nesses quatro pilares, podem os pensar num a educação que efetivam ente

    contribua para a construção de um a cultura de paz. Além deles, o pluralism o cultural é outra

    força diretriz para a paz e a solidariedade internacionais. A paz não pressupõe de form a algum a

    hom ogeneidade. Ela deve estar baseada no pluralism o e no desenvolvim ento sustentável.

    D e acordo com essa abordagem positiva da diversidade cultural, a sociedade civil (O N G s,

    círculos econôm icos, redes de associações e com unidades) deve agir tendo em m ente que

    cada país e cada sociedade devem planejar suas estratégias de acordo com suas características

    específicas.Sabem os que para alcançar a cultura de paz é necessário que exista cooperação em todos

    os níveis e países e coordenação entre as organizações internacionais com com petência e

    recursos indispensáveis que podem ajudar os indivíduos a ajudarem a si m esm os. Esse

    m ovim ento m ultidim ensional requer o apoio ativo e a participação contínua de um a rede

    sólida de indivíduos e de organizações, governam entais e não governam entais, que atuem

    em prol da paz.

    6. Relatório coordenado por Edgar Faure em 1972. FAU RE, E. et al.Learning to be: the world of education today and tomorrow . Paris,U N ESC O ; London, H arrap, 1972. D isponível em : < http://unesdoc.unesco.org/im ages/0000/000018/001801e.pdf> . (Publicado em

    português em 1974: FAU RE, E.Aprender a ser . Lisboa: Livraria Bertrand; São Paulo: D ifusão Europeia do Livro, 1974).

       C

      u   l   t  u   r   a

       d   e

       p   a  z  :

      d a

     r e  f  l e x  ã o 

      à

     a ç  ã o

    15

    http://unesdoc.unesco.org/images/0000/000018/001801e.pdfhttp://unesdoc.unesco.org/images/0000/000018/001801e.pdf

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    15/245

    O m ovim ento m undial pela cultura de paz deve então ser “um a grande aliança de

    m ovim entos existentes”, um processo que unifique todos aqueles que já trabalharam e que

    estão trabalhando a favor desta transform ação fundam ental de nossas sociedades. O objetivo

    é perm itir que toda pessoa ou organização contribua para esse processo de transform ação

    de um a cultura de violência para um a cultura de paz, em term os de valores, atitudes ecom portam ento individual, bem com o em term os de estruturas e funcionam entos

    institucionais.

    Em cada país, em cada cidade e em cada bairro, a cultura de paz pode ser instituída de

    diferentes m aneiras, trabalhando para erradicar as profundas causas culturais da violência e

    da guerra, tais com o a pobreza, a exclusão, a ignorância ou a exploração.

    O s diversos grupos e organizações sociais, ao trabalharem no nível local e em dom ínios

    específicos (com o a proteção am biental ou a prom oção da diversidade cultural), nem sem pre

    têm consciência de que estão ajudando a estabelecer a cultura de paz em escala global.

    Tom ando parte no m ovim ento m undial pela cultura de paz, estes evitam o isolam ento eganham m aior reconhecim ento de suas ações, o que estim ula outros indivíduos a se

    juntarem a eles.

    Colocando princípios em ação 

    Falar em cultura de paz, m uitas vezes, pode

    ser visto com o algo filosófico, distante da reali-

    dade, etéreo ou com pouco senso prático m as,

    para nós da U N ESC O , as com em orações doAno Internacional da C ultura de Paz precisavam

    ser m arcadas por ações concretas e que

    colocassem na vida cotidiana os princípios da

    cultura de paz em ação.

    C om isso em m ente, um a das prim eiras

    ações da U N ESC O no Brasil, para dar início às

    atividades concretas em prol da cultura de paz

    foi a de firm ar term os de parceria com quatro

    entidades com atuação notável nessa área.Foram elas: Associação Palas Athena, O rgani-

    zação Brahm a Kum aris, C om unidade Bahá’í e Fundação Peirópolis.

    Por m eio desse term o de parceria a U N ESC O no Brasil desenvolveu inúm eras ações,

    com preendendo desde a divulgação do M anifesto 2000 –instrum ento que apela à

    participação individual em direção a um a cultura de paz –coleta de 15 m ilhões de

    assinaturas para o referido M anifesto, eventos, sem inários,workshops e publicações para

    adicionar e discutir os conteúdos da cultura de paz, até a confecção de cam isetas,

    panfletos, calendários e banners .

    16

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    16/245

    O s seis princípios do Manifesto 2000:

    • respeitar a vida;

    • rejeitar a violência;

    • ser generoso;

    • ouvir para compreender;• preservar o planeta;

    • redescobrir a solidariedade.

    Via de regra, os projetos no âm bito do program a C ultura de Paz apoiados pelo setor de

    C iências H um anas e Sociais da U N ESC O no Brasil procuram m apear e valorizar talentos

    locais e em poderar jovens. A ideia é torná-los protagonistas de suas próprias vidas, de seu

    futuro e ajudá-los a perceber que eles têm potencial e um papel prim ordial nas suas

    com unidades. Esses projetos seguem um ou m ais dos seguintes critérios:

    • Abordagem bottom-up em relação às dem andas e necessidades da com unidade;

    • D e preferência, provenientes de O N G s de base com unitária;

    • Im plem entados por m eio de acordos com m últiplos parceiros;

    • Aplicação prática dos conceitos e valores da cultura de paz;

    • M etodologias inovadoras para a resolução pacífica de conflitos.

    A seguir, nos debruçarem os um pouco m ais sobre algum as instituições e projetos que ao

    longo dessa D écada da C ultura de Paz foram apoiados pelo setor de C iências H um anas e

    Sociais da U N ESC O no Brasil e que apresentam essas características:

    Abrindo Espaços:educação e cultura para a paz 

    Program a pioneiro de grande im portância, labora-

    tório de ideias, o program aAbrindo Espaços: educação 

    e cultura para a paz originou-se na U N ESC O do Brasil

    e tem sido por ela coordenado ao longo dos anos. É

    um dos poucos program as da U N ESCO , se não o

    único no m undo, a ter-se tornado política pública.

    Assum ido pelo M inistério da Educação, é m aisam plam ente conhecido pelo nom e Escola Aberta .

    N o ano 2000, no conjunto de ações com em o-

    rativas ao Ano Internacional para um a C ultura de Paz,

    a U N ESC O lançou o protótipo do Program a, propondo um a estratégia de inclusão social

    por m eio da abertura das escolas públicas nos fins de sem ana e com a realização de atividades

    de esporte, arte, cultura e lazer, num a perspectiva de dissem inação de um a cultura de paz e

    não violência e de prom oção da cidadania e do desenvolvim ento hum ano e social de

    adolescentes, de jovens e de suas com unidades, sobretudo daqueles em situação de

    vulnerabilidade social.

       C

      u   l   t  u   r   a

       d   e

       p   a  z  :

      d a

     r e  f  l e x  ã o 

      à

     a ç  ã o

    17

      F o  t o  :  M

      i  l a

      P e  t r  i  l  l o

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    17/245

    O Program a foi um a resposta a dados de pesquisa sobre a juventude brasileira que indicavam

    os jovens entre os grupos sociais m ais vulneráveis, apresentando taxas elevadas de evasão

    escolar, desem prego e subem prego e um aum ento significativo de crim es violentos, praticados

    por ou contra os jovens, nas duas últim as décadas, especialm ente durante os fins de sem ana.

    Ao m esm o tem po em que enfoca a educação, em que busca suas referências no RelatórioD elors, o Program a tem com o alvo a dissem inação de valores com o a igualdade, o respeito

    aos direitos hum anos, o respeito à diversidade cultural, a tolerância, o diálogo, a reconciliação

    e a solidariedade, o com bate à exclusão social, o incentivo à participação cultural, o cuidado

    com o m eio am biente, contribuindo tanto para a dim inuição da violência e da vulnerabilidade

    socioeconôm ica com o para a prom oção da cultura de paz e do desenvolvim ento social.

    O Program a tem com o focos o jovem , a escola e a com unidade. A natureza do trabalho

    é educativa e transform adora, pretendendo m odificar as relações jovem -escola, jovem -jovem

    e jovem -com unidade, oferecendo-lhes novas oportunidades de inclusão sociocultural. Além

    de integrar jovens e com unidades, a oferta de atividades esportivas, artísticas e culturais ajudana socialização e contribui para a reconstrução da cidadania.

    O Program a cristaliza um dos elem entos definidores da vida social: a participação. O s

    jovens m anifestam vontade de estabelecer um a relação m ais próxim a com a escola de perfil

    m ais atuante e presente em suas vidas, expressando desejo de ser sujeito desse processo.

    O utra ideia que norteou a concepção do program a foi o envolvim ento das com unidades

    locais. H oje se reconhece am plam ente o papel im prescindível desem penhado por agentes

    da sociedade civil no nível local7.

    A escola foi escolhida por ser m uitas vezes o único equipam ento público presente nacom unidade, além de ser um lugar privilegiado para a form ação e a socialização dos jovens.

    Além disso, a m agnitude do seu aparato institucional –m ais de 200 m il escolas espalhadas

    pelo país e pelo m enos um a secretaria de educação em cada m unicípio –perm itiria a

    capilaridade e a institucionalização do Program a. Além disso, entende-se que o program a

    agrega novo significado ao papel da escola com o escola-função e não apenas escola-endereço,

    pelo fato de ser local de acesso a todos os m em bros da com unidade, independente de

    estarem form alm ente a ela vinculados; pela condição potencial que tem de se configurar

    com o via inform al de aproxim ação entre a juventude, a fam ília e a com unidade.

    O Program a é operacionalizado com a abertura de escolas nos sábados e dom ingos, porm eio da realização de oficinas e ações diversas, selecionadas a partir de consulta à juventude

    local e de m apeam ento prévio de talentos nas escolas e nas com unidades.

    As oficinas são m inistradas por voluntários, professores, supervisores, m em bros da

    com unidade, O N G s parceiras do Program a, evidenciando a vontade coletiva de m udança

    da realidade em que estão inseridos.

    7. Pesquisas realizadas por distintas instituições, com o por exem plo, pelo Banco Interam ericano de D esenvolvim ento (BID ) m ostramque os program as realizados com m aior sucesso são geralm ente aqueles adm inistrados em nível local, envolvendo parceiros de todos os

    setores da sociedade, com o em presas, instituições públicas, organizações com unitárias, polícias e sistem a judiciário.18

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    18/245

       C

      u   l   t  u   r   a

       d   e

       p   a  z  :

      d a

     r e  f  l e x  ã o 

      à

     a ç  ã o

    19

    A im portância das iniciativas do Program a se deve ao fato de se acreditar que a solução

    para os problem as de exclusão social e de violências que enfrentam os jovens passa tam bém

    por criar espaços privilegiados de exercício e de desenvolvim ento de lideranças juvenis, por

    m eio da participação e da cooperação institucional para tal exercício, via disposição de recursos

    e conhecim entos vários, sem im posição de saberes e hierarquias.O jovem e sua com unidade sentem -se valorizados à m edida que dem andas locais são

    atendidas e que as expressões juvenis são fortalecidas. Isso possibilita m aior integração entre

    a escola e a com unidade e favorece a descoberta de novas form as de relação capazes de

    gerar o sentim ento de pertencim ento tão necessário para o exercício do protagonism o juvenil.

    Por m eio de iniciativas dessa natureza e, em particular, pela definição do Program a com o

    política pública, torna-se possível influenciar outras políticas e contribuir para m udanças

    positivas tanto nas várias juventudes com o na escola.

    Avaliações realizadas pela U N ESC O e pelos parceiros do program a Abrindo Espaços

    com provaram o seu êxito, que, entre outros, apresenta resultados consideráveis no que se

    refere à redução de índices de violência com participação de adolescentes e jovens, os

    m aiores envolvidos, com o agentes e vítim as, em situações de violência. As avaliações

    confirm am a eficácia do program a Abrindo Espaços enquanto política pública que contem pla

    a juventude, cum prindo com o papel inovador e difusor de um a cultura de paz e prom ovendo

    um a transform ação da prática pedagógica.

    C om o Abrindo Espaços, a U N ESC O e seus parceiros estão colaborando de form a

    estratégica para a definição e a im plem entação de políticas públicas que contribuam para

    m elhorar a qualidade de vida dos jovens e de suas com unidades, especialm ente dos jovens

    m ais afetados pela exclusão e expostos a situações de vulnerabilidade social.

    Em 2004, o G overno Federal, por m eio do M inistério da Educação, em parceria com a

    U N ESC O , assum iu o Program a, instituindo-o com o política em âm bito nacional, pautado no

    conceito e na m etodologia desenvolvida pela U N ESC O no ano 2000, durante a com e-

    m oração do Ano Internacional da C ultura de Paz, e que já havia sido im plem entada, com

    sucesso, nos estados do Rio de Janeiro, Pernam buco, Bahia, São Paulo e Rio G rande do Sul.

    Em dezem bro de 2008 foi realizado o prim eiro exercício de sistem atização de experiên-

    cias do program a, publicada em um a coleção de oito livros que, além de referências

    m etodológicas e conceituais, contêm tam bém um guia passo a passo para a sua im plantaçãoe para professores convidando a cultivar a paz em sala de aula.

    O desenho do programa Escola Aberta parte de estratégias que perm item a sua

    replicabilidade. Flexibilidade, autonom ia e gestão local possibilitam que estados, m unicípios e

    escolas possam adequá-lo às necessidades e aos recursos locais. Trata-se de um program a

    único, orientado por um a m etodologia de referência com um , m as há que se ressaltar a

    flexibilidade para adequá-lo à realidade local. Essa flexibilidade está expressa nas oficinas, no

    estabelecim ento de parcerias e na form ação das equipes, por exem plo.

    Alguns resultados são com uns a todas as experiências, tanto do Abrindo Espaços quanto

    do Escola Aberta , com o a m elhoria no clim a interno da escola, entre os alunos e entre alunos

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    19/245

    20

    e professores; a redução da violência intraescolar e de atos de vandalism o; o estreitam ento

    das relações entre a escola e a com unidade. C onsidera-se que esses elem entos, em seu

    conjunto, refletem -se positivam ente na m otivação e desem penho de alunos e professores.

    O programa Escola Aberta é um a iniciativa de sucesso. Foi im plantado em vários estados

    do Brasil e atravessou fronteiras, com iniciativas de cooperação Sul-Sul sendo replicadas naAm érica Central, em H onduras, na N icarágua, na G uatem ala, em C osta Rica e em El Salvador.

    Em parceria com o G overno brasileiro, estam os im plantando o program a na G uiné-Bissau.

    O s resultados já alcançados reforçam a convicção da UN ESC O de que este Program a deve

    ser considerado prioritário e referência para a construção de um a cultura de paz, para

    parâm etros de qualificação da escola e para a prom oção do desenvolvim ento hum ano e

    social, sobretudo, nos países e regiões em desenvolvim ento.

    Criança Esperança Em 2003, quando a TV G lobo convidou a U N ESCO

    para ser parceira na gestão do program a C riança

    Esperança, abriu-se um a oportunidade ím par de am pliar

    o escopo da atuação da O rganização no país, onde, há

    m ais de 40 anos, a U N ESC O trabalha pela construção

    de um a cultura de paz, pelo exercício do respeito à

    diversidade e pela redução das desigualdades sociais.

    D esde então, participar da gestão do C riança Espe-

    rança tem sido m otivo de orgulho para a U N ESC O . AO rganização contribui com sua expertise program ática para o Program a, por m eio da

    cooperação técnica, sendo responsável pelo conteúdo social, educacional e pedagógico de

    todas as atividades desenvolvidas no âm bito do C riança Esperança.

    Trata-se de um program a inovador que prom ove a cooperação de m últiplos atores da

    sociedade brasileira: organizações não governam entais, a iniciativa privada e um organism o

    internacional trabalham juntos, construindo m ais do que um a relação de parceria, um a aliança

    estratégica. Esta aliança estratégica perm ite dem onstrar a grande capacidade de resposta que

    iniciativas desta natureza representam e o quanto podem contribuir para encontrar soluções

    inovadoras para o cenário de desigualdade social e a m elhoria de indicadores nas áreas deeducação, cultura, m eio am biente, entre outras. U m exem plo com o este precisa e deve ser

    dissem inado não apenas no Brasil, m as tam bém em outros países.

    O C riança Esperança é tam bém um m odelo em term os de m obilização social em favor

    do desenvolvim ento de m ilhares de crianças, adolescentes e jovens em situação de

    vulnerabilidade social: ao m esm o tem po em que m obiliza a sociedade para doar, tam bém

    perm ite cham ar a atenção da população brasileira para os problem as sociais que estes setores

    da população enfrentam . Isto se reflete tam bém nas ações de merchandising social

    desenvolvidas pela em issora que tratam de im portantes tem as com o educação, cultura,

    com bate a discrim inação, entre outros.

      F o  t o  :  M

      i  l a

      P e  t r  i  l  l o

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    20/245

    E, nesse sentido, o Program a perm ite ainda que a U N ESC O atue com o catalisadora da

    cooperação técnica internacional, quando favorece a replicação dessa experiência de m obili-

    zação social e arrecadação de recursos do C riança Esperança em outros países. D a m esm a

    form a, os Espaços Criança Esperança funcionam com o show cases, com alto potencial de

    replicabilidade.O s Espaços Criança Esperança localizam -se em regiões vulneráveis de quatro cidades

    brasileiras: Rio de Janeiro, São Paulo, Belo H orizonte e, a partir de 2011, em Jaboatão dos

    G uararapes, região de Recife. São centros de referência no atendim ento a crianças, adoles-

    centes, jovens e suas fam ílias, que contribuem para prom over a educação, a cultura, a inclusão

    e o desenvolvim ento social no Brasil, respeitando e ouvindo a com unidade local. O s Espaços

    C riança Esperança são “ilhas de paz”onde é possível concretizar os princípios da cultura de

    paz, em regiões m arcadas pela exclusão social e violência urbana.

    O C riança Esperança apoia tam bém um projeto nacional dedicado à prim eira infância e

    educação preventiva desenvolvido pela Pastoral da C riança e que tem por objetivo desen-volver trabalhos educativos e de prevenção, em com unidades em situação de risco no Brasil,

    com ações nas áreas de saúde, nutrição e educação da criança e m aterna e com a prevenção

    da violência no am biente fam iliar, envolvendo fam ílias e com unidades.

    N estes anos de parceria, por m eio da construção de rigorosos critérios técnicos e do

    desenvolvim ento da m etodologia de seleção de projetos, a U N ESC O trabalhou para que a

    capilaridade territorial do Program a fosse am pliada, tendo hoje projetos apoiados em 26 dos

    27 Estados brasileiros.

    C om esta am pliação da presença em todo país, o Program a C riança Esperança está contri-

    buindo para que U N ESC O e TV G lobo contribuam para m elhorar a situação concreta de vidadas crianças e jovens, atuando em m unicípios e regiões brasileiras que têm indicadores sociais

    com o o Índice de D esenvolvim ento H um ano (ID H ) e do Índice de D esenvolvim ento da

    Educação Básica (ID EB), m uito baixos. São regiões em pobrecidas, distantes dos principais

    centros urbanos, onde a presença do Program a Criança Esperança tem grande im pacto,

    contribuindo, inclusive, para otim izar investim entos públicos e privados no financiam ento de

    ações sociais.

    Se considerado da perspectiva do valor agregado que a parceria adquiriu a partir de 2004

    com a entrada da U N ESC O , o Program a C riança Esperança passou a reunir condições para

    influenciar tam bém a elaboração de políticas públicas para a juventude no Brasil (a exem plodo que aconteceu com a infância), sobretudo para os jovens em situação de risco e

    vulnerabilidade social. A juventude brasileira sem pre foi m otivo de preocupação para a

    U N ESC O no Brasil, m as foi som ente no final da década de 1990 que a O rganização passou

    a dedicar m ais esforços para com preender e conhecer m elhor esse segm ento, ouvir suas

    dem andas e seus anseios e produzir conhecim ento para subsidiar gestores públicos na

    form ulação de políticas públicas específicas.

    O program a Criança Esperança possibilita ainda que a U N ESC O cum pra com suas funções

    de laboratório de ideias e de capacity building, transferindo conhecim ento para as organizações

    sociais apoiadas pelo Program a, fortalecendo-as com o experiências sociais m odelares capazes

       C

      u   l   t  u   r   a

       d   e

       p   a  z  :

      d a

     r e  f  l e x  ã o 

      à

     a ç  ã o

    21

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    21/245

    de inspirar o desenvolvim ento de políticas públicas e em poderar grupos vulneráveis

    (afrodescendentes, índios, m eninas e jovens etc).

    N a seleção desses projetos, a U N ESC O , em sintonia com a TV G lobo, prioriza aqueles

    que prom ovem grandes tem as defendidos pela O rganização, com o o desenvolvim ento

    hum ano e social, o respeito à diversidade cultural, a prom oção da inclusão digital, o acesso àinform ação, ao conhecim ento e ao uso de novas tecnologias, o reforço escolar, o ensino

    técnico e profissionalizante, a educação preventiva para H IV/Aids, a educação para o

    desenvolvim ento sustentável, o ensino da ciência, do esporte e da cultura com o instrum entos

    de inclusão social, entre outros.

    Em seus 25 anos de existência transform ando vidas, o C riança Esperança já apoiou m ais

    de cinco m il projetos sociais, beneficiando quase quatro m ilhões de crianças, adolescentes e

    jovens, em todas as regiões do país.

    22

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    22/245

    Construindo a Década da Cultura de Paz

    Associação Palas Athena

    A Associação Palas Athena tem sido, ao longo da

    Década Internacional da Promoção da Cultura de Paz e 

    Não Violência em Beneficio das Crianças do Mundo ,

    parceira fundam ental da U N ESC O no Brasil. Em parceria

    com a Associação, a U N ESC O tem lançado publicações

    de am pla dissem inação no âm bito do program a Cultura

    de Paz, caso dos m anuais “Paz, com o se faz? Sem eando

    a C ultura de Paz nas Escolas”e “Vam os U buntar? U m

    convite para C ultivar a Paz”.

    Tam bém com a Palas Athena tivem os a oportunidade

    de criar o C om itê Paulista para a D écada da C ultura de

    Paz, ideia inspirada de sua cofundadora, Lia D iskin, agraciada

    com o Prêm io U N ESC O de D ireitos H um anos em

    2006, e um exem plo vivo de todos os valores que a

    Associação, a UN ESC O e o C om itê dissem inam .

    A Palas Athena prom ove, agencia e incuba program as e projetos nas áreas de Educação,

    Saúde, D ireitos H um anos, M eio Am biente e Prom oção Social, com a finalidade de aprim orar

    a convivência hum ana por m eio da aproxim ação das culturas e articulação dos saberes. É

    um a organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, fundada em 1972, declarada de

    utilidade pública m unicipal, estadual e federal, com C ertificado de Fins Filantrópicos. Todas as

    suas ações têm por eixo o program a Educação Perm anente para o Pensar e Agir, que patentiza

    a vocação institucional da Palas Athena em m anter um diálogo constante entre povos, culturas

    e saberes.

    D esde sua fundação, a instituição desenvolve atividades e projetos m ediante recursos

    provindos da sua autogestão. C onta, nas suas quatro unidades físicas, com 101 funcionários,

    e com m ais de um a centena de colaboradores voluntários e um a rede de parcerias com

    organizações governam entais, da sociedade civil, m ovim entos sociais e em presas.

    Tem com o m issão aprim orar a convivência hum ana desenvolvendo ações educativas por

    m eio da aproxim ação das culturas e a integração dos saberes, além de buscar contribuir na

    geração e articulação de conhecim entos e práticas que prom ovam a cultura da convivência.

    Baseia-se nos princípios da ética da responsabilidade (propiciar o cultivo do desenvolvim ento

    pessoal, fundado na autonom ia e na responsabilidade individual, voltado para a participação

    com unitária), da m ulticulturalidade (prom over o diálogo e o entendim ento para a coexistência

    das diversas tradições culturais e espirituais, e a capacidade hum ana de acolher outras visões

    de m undo sem rejeitar ou negar sua cultura original), e da transdisciplinaridade (desenvolver

    um a educação fundada na com preensão da natureza hum ana, de suas atividades e

       C

      u   l   t  u   r   a

       d   e

       p   a  z  :

      d a

     r e  f  l e x  ã o 

      à

     a ç  ã o

    23

      F o  t o  :  A s s o c  i a ç  ã o 

      P a  l a s  A

      t  h e n a

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    23/245

    expressões, na interdependência dos m eios nos quais nasce e se insere: biológico, geográfico,

    histórico-cultural e espiritual).

    Entre as ações que desenvolve está a de capacitação de jovens para a inclusão no trabalho

    e para o exercício da cultura de paz na vida cotidiana. O program a Adolescente da Paz é m ais

    um dos diversos projetos desenvolvidos pela entidade no Brasil, capacitando jovens da faixaetária de 14 a 17 anos, fornecendo-lhes não apenas instrum entos de inclusão no trabalho –

    em instituições do setor privado –m as tam bém adequado treinam ento e capacitação para

    sua continuidade na vida profissional. Entre as atividades a serem desenvolvidas estão o reforço

    escolar, a inclusão digital, a capacitação técnica, debates sobre ética profissional, resolução

    pacífica de conflitos, princípios da adm inistração do tem po etc.

    Além das ações voltadas para a dissem inação dos princípios e valores da cultura de paz, a

    U N ESC O no Brasil e a Palas Athena vem trabalhando em conjunto no D ia da Filosofia desde

    2004, visando a destacar a relevância da Filosofia com o disciplina e com o orientação de vida

    na form ação de aspirações coletivas que criam o perfil de culturas, ideologias, m ovim entossociais e com unidades de pensam ento, dado que cabe à Filosofia instrum entar as pessoas a

    fim de com preenderem as m udanças e consequentes resistências que se verificam dia a dia

    no convívio local e internacional. Igualm ente, capacitar para encarar o m undo e a própria vida

    com m aior lucidez, m inim izando as distâncias entre os valores da razão e as necessidades da

    vida, entre as teorias e suas aplicações práticas. Para atingir os objetivos propostos diversas abor-

    dagens foram utilizadas ao longo desses anos, tais com o palestras expositivas, m esas redondas,

    apresentações teatrais ou perform áticas, e a exibição e discussão de film es e/ou docu-

    m entários, sem pre com excelentes resultados e am pla divulgação e participação da sociedade.

    ComitêPaulista para a Década da Cultura de Paz 

    C riado em 2000, o C om itê Paulista para a D écada da C ultura de Paz representa iniciativa

    singular, que inspirou outros sem elhantes no interior de São Paulo e no Brasil, com o objetivo

    de trabalhar os princípios e valores da cultura de paz. A cada 15 dias, sem pre às terças-feiras,

    os m em bros do C om itê reúnem -se para traçar linhas de ação e realizar fóruns tem áticos,

    com especialistas nas m ais diversas áreas que estejam trabalhando efetivam ente na construção

    de um a cultura de paz.

    Ao longo desses anos, o C om itê teve o im portante m érito de reunir representantes da

    Assem bleia Legislativa, de instituições governam entais, entidades não governam entais,

    ordens religiosas, associações de bairro, representantes de m ovim entos e pessoas físicas,

    aprofundando tem as e levantando questões orientadas ao bem com um .

    24

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    24/245

    Comunidade Bahá’í 

    A fé Bahá’í é um a religião m undial,

    independente, com suas próprias leis e

    escrituras sagradas, surgida na antigaPérsia, atual Irã em 1844. Ela prega

    todos os valores inerentes à Cultura de

    Paz e ao m andato da U N ESC O em

    term os de educação para todos, direitos

    hum anos, igualdade de gênero e discri-

    m inação racial, tais com o:

    • A unidade da hum anidade;

    • A livre e independente busca da verdade;

    • A elim inação de todas as form as de preconceitos e discrim inação;

    • A igualdade de direitos e oportunidades para o hom em e a m ulher;

    • A harm onia essencial entre religião, a razão e a ciência;

    • Educação com pulsória universal.

    Além disso, a C om unidade Bahá’í é reconhecida no Brasil por estabelecer projetos de

    desenvolvim ento econôm ico e social em diversas regiões do país.

    Por isso, a U N ESC O , no âm bito do program a Cultura de Paz, desenvolveu inúm eras

    parcerias com a C om unidade Bahá’í em prol dos direitos hum anos –incluindo apoio ao

    Fórum N acional de Educação em D ireitos H um anos –da não violência, da unidade nadiversidade e do desenvolvim ento social.

    Organização Brahma Kumaris 

    A O rganização Brahm a Kum aris no

    Brasil iniciou suas atividades em 1979 e,

    desde então, não só diversificou seu

    portfólio, m as espalhou-se pelas princi-pais capitais e cidades do interior do Brasil.

    Atua em três áreas principais:

    • Trabalho de desenvolvim ento do

    potencial do ser hum ano;

    • Atividades dos cursos de Q ualidade de Vida em organizações, em presas, hospitais;

    • N a com unidade, através do trabalho de valores hum anos, com o program a Vivendo

    Valores na Educação; Im agens e Vozes de Esperança (na área da m ídia); Valores na Saúde; e

    Vivendo Valores nas O rganizações.

       C

      u   l   t  u   r   a

       d   e

       p   a  z  :

      d a

     r e  f  l e x  ã o 

      à

     a ç  ã o

    25

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    25/245

    Ao longo da D écada, a U N ESC O sem pre apoiou e reconheceu as atividades da Brahm a

    Kum aris e de suas escolas por seus trabalhos em prol da paz e do crescim ento interior do

    ser hum ano.

    Fundação Peirópolis 

    A Fundação Peirópolis elabora program as e projetos, em âm bito nacional, de educação

    em valores hum anos. A Fundação iniciou suas atividades em 1995 e, desde então, se dedica

    a form ar pessoas de caráter, ensinando a reconhecer e viver o am or, a verdade, a paz, a ação

    correta e a não violência. Todos os seus projetos se baseiam nesses princípios, visando o

    desenvolvim ento hum ano e a cultura de paz.

    A U N ESC O estabeleceu parceria com a Fundação Peirópolis no ano 2000 e desenvolveu

    diversas atividades que contribuíram para resgatar a cooperação, a solidariedade e o respeito

    ao diferente, levando em conta todas as culturas e tradições.

    A Fundação prom ove a construção do desenvolvim ento hum ano com consciência e ética.

    Para realizar seus program as e projetos, a Fundação conta com um a grande equipe de

    professores e profissionais, bem com o um a rede de voluntários entusiasm ados para a

    realização de um sonho: a contribuição brasileira e latino-am ericana para a vivência de valores

    hum anos universais e para a criação de referenciais efetivos de um a cultura de paz.

    Diálogos pela Paz no

    Fórum Social Mundial 2003Em 2003, durante o III Fórum Social

    M undial, que foi realizado em Porto Alegre,

    as com unidades israelense e palestina, por

    m eio do M ovim ento D iálogos pela Paz, com

    o apoio da U N ESC O e da Prefeitura de

    Porto Alegre, uniram -se num belíssim o ato

    de paz e solidariedade, para assinar a seguinte

    declaração em prol da não violência:

    Nós, pacifistas israelenses e palestinos, estamos determinados a buscar: 

    • a paz, a justiça e a soberania para nossos povos e um fim àocupação israelense nos 

    territórios ocupados em 1967.

    • a criação de um estado palestino independente, lado a lado com Israel, ao longo das 

    linhas de junho de 1967; Jerusalém como uma cidade aberta, com capital independente 

    para os dois estados.

    • uma solução acordada e justa para a questão dos refugiados palestinos, conforme a 

    Resolução 194 das Nações Unidas.

    Clamamos a comunidade internacional e as Nações Unidas, em particular, para,

    urgentemente, intervir para: 26

      F o  t o  :  M

     a u r o 

      V  i e  i r a

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    26/245

    • dar fim a esta situação trágica e àviolência em ambos os lados,

    • o imediato encaminhamento de negociações de paz a fim de possibilitar uma paz 

     justa e duradoura.

    Shulamit Aloni, Zyad Abu Zyad, Galia Golan, Alam Jarar, Ely Ben Gal, Lana Nusseibeh 

    Porto Alegre, 27 de janeiro de 2003.

    Projeto Geração XXI 

    U m dos prim eiros projetos apoiados pela U N ESC O no Ano Internacional da C ultura de

    Paz foi o Projeto G eração X X I, um projeto da Fundação Bank Boston, em parceria com o

    G eledés - Instituto da M ulher N egra e com a Fundação C ultural Palm ares, que tinha por

    objetivo garantir a jovens negros pobres (na faixa etária de 12 a 13 anos), da cidade de São

    Paulo, educação e oportunidades culturais (com o visitas a m useus, cursos com plem entares

    e viagens de férias), na perspectiva do desenvolvim ento hum ano e de um a cultura de paz,até com pletarem a universidade.

    A finalidade do G eração X X I foi ser um a ação afirm ativa para jovens afrodescendentes,

    com atividades que lhes perm itissem o desenvolvim ento de talentos, o aprendizado de

    tecnologia, de outras línguas e linguagens, a frequência a eventos culturais e conhecim entos

    sobre a história dos povos afro-brasileiros e da diáspora africana. N o dia 13 de julho de 1999,

    no M em orial da Am érica Latina, em São Paulo, o projeto recebeu o prêm io TO P SO C IAL -

    1999 da AD VB, Associação dos D irigentes de Vendas e Marketing do Brasil.

    UNIPAZ 

    A U niversidade Internacional da Paz

    (U N IPAZ) é um m ovim ento sem fins lucrativos,

    cujo objetivo m aior é a introdução de um a nova

    consciência. Iniciou suas atividades em 1987

    quando o saudoso professor Pierre W eil foi

    convidado pelo então governador do D istrito

    Federal para integrar um a com issão do governo

    e, posteriorm ente, presidir a Fundação C idadeda Paz. H oje a U N IPAZ atua em diversos países

    com program ações locais bastante diversificadas e se tornou um a Rede Internacional para

    dissem inar um a cultura de paz, prom ovendo a inteireza do ser a partir de um paradigm a

    transdisciplinar e holístico.

    A U N IPAZ sem pre trabalhou com a Form ação H olística de Base com o um poderoso

    m étodo de transform ação, no sentido de despertar um a nova consciência para o terceiro

    m ilênio. O s estudantes ganham um a m aior com preensão de si m esm os, dos outros e,

    sobretudo, do significado de sua existência: m aior tolerância, paciência e am or.   C

      u   l   t  u   r   a

       d   e

       p   a  z  :

      d a

     r e  f  l e x  ã o 

      à

     a ç  ã o

    27

      F o  t o  :  J o s e  f  i n a  /  M

      G

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    27/245

    28

    A U N ESC O , por acreditar no trabalho transform ador dessas ações, sem pre trabalhou em

    estreita parceria com a U niversidade, apoiando, entre outras atividades, as form ações e os

    Festivais M undiais da Paz.

    Gente que Faz a Paz

    O program a G ente que Faz a Paz foi criado com

    o objetivo de capacitar voluntários e profissionais

    que atuam em projetos sociais, educacionais e

    am bientais para o com prom etim ento e prom oção

    da cultura de paz. N os sem inários de autoria das

    instituições parceiras do program a, são fornecidas

    m etodologias, ferram entas e um am plo repertório

    de reflexões e experiências voltadas para a vivênciada cultura de paz.

    O Kit da Paz, um a coleção m ultim ídia, reúne instrum entos valiosos para o estudo e

    aperfeiçoam ento dos participantes. A Rede da Paz é m ais um a possibilidade da qual os

    participantes poderão usufruir, através de um intercâm bio de experiências pela Internet e em

    eventos específicos.

    G ente que Faz a Paz é o resultado de diversas parcerias desenvolvidas entre a U N IPAZ,

    a Associação Palas Athena, a Iniciativa das Religiões U nidas (U RI), o Viva Rio, o G rupo C ultural

    Afro Reggae e a U N ESC O nos cam pos em que atuam : educação para a paz, projetos sociais,

    cam panhas de cidadania, m ediação de conflitos, diálogo inter-religioso, direitos hum anos eprom oção cultural. A experiência acum ulada destas instituições foi reunida e sistem atizada

    para utilização nas capacitações dos Agentes da Paz.

    Inst ituto Ayrton Senna 

    Atuando desde 1994, o Instituto desenvolve

    soluções para com bater os m ales da educação

    pública, que im pedem m ilhões de crianças e de

    jovens de seguirem com sucesso seus estudos. Sãoprogram as educacionais que colocam na m esm a

    equação quantidade e qualidade, ou seja, são

    reaplicáveis em grande escala, de baixo custo e

    apresentam resultados eficazes.

    Em 2004, o Instituto Ayrton Senna recebeu a

    chancela da U N ESC O para a C átedra de Educação e D esenvolvim ento H um ano, por ser

    um a referência m undial nessa área com o um centro de reflexão, de pesquisa e de produção

    de conhecim ento. O título é inédito para organizações não governam entais.

      F o  t o  :  A r q u  i v o  p e s s o a  l

      F o  t o  :  F  á  b  i o   C

     o r r  ê a

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    28/245

    O objetivo da C átedra de Educação e D esenvolvim ento H um ano é prom over um sistem a

    integrado de atividades de pesquisa, form ação, inform ação e docum entação sobre o tem a.

    Participando da rede U nitw in de C átedras U N ESC O , o Instituto tem acesso ao intercâm bio

    de experiências entre pesquisadores e professores de universidades e instituições do Brasil,

    da Am érica Latina e do C aribe e de outras regiões do m undo.

    CDI

    O C om itê para a D em ocratização da Inform ática (C D I)

    utiliza a tecnologia com o ferram enta para com bater a

    pobreza e a desigualdade, estim ular o em preendedorism o

    e criar novas gerações de em preendedores sociais. Trata-

    se de um a rede com 816 espaços de atuação, cham ados

    C D Is C om unidade, espalhados pelo Brasil, Argentina,Bolívia, C hile, C olôm bia, Equador, M éxico, Peru e U ruguai,

    além de escritórios de representação nos Estados U nidos,

    na Inglaterra e na Jordânia. Essa rede é coordenada e

    m onitorada por 24 escritórios Regionais e Internacionais

    do C D I.

    O C D I atua em com unidades de baixa renda,

    penitenciárias, instituições psiquiátricas e de atendim ento a portadores de deficiência, aldeias

    indígenas e ribeirinhas, centros de ressocialização de jovens privados de liberdade, hospitais

    e em presas, entre outros locais, seja na cidade ou em zonas rurais. A Rede C D I estende-seaos lugares m ais rem otos da Am érica Latina e do Brasil, com o a Am azônia, beneficiando

    pessoas de diferentes faixas etárias, culturas, raças e etnias, capacitando indivíduos de diversas

    idades, pertencentes a grupos desfavorecidos, a extrair o m elhor das tecnologias da

    inform ação e com unicação. Eles se apropriam da ferram enta tecnológica para exercer

    plenam ente suas capacidades, criar novas oportunidades e enfrentar os desafios que afetam

    seu dia a dia e suas com unidades.

    O s C D Is C om unidade são centros de excelência no ensino da inform ática e de outros

    conteúdos, com o a cidadania e o em preendedorism o, que contribuem para a autonom ia e

    a form ação crítica do educador e do aluno. C ada um dos espaços C D I resulta de parceriacom um a organização de base popular, reconhecida e respeitada no local onde funciona.

    As organizações com unitárias parceiras fornecem a infraestrutura necessária e o C D I

    disponibiliza os com putadores e program as de softw are para as aulas, além de im plem entar

    sua proposta pedagógica nos cursos, acom panhar o desem penho das turm as e avaliar os

    resultados.

    Ao longo dos seus 15 anos de atuação o C D I já capacitou 1 m ilhão e 300 m il pessoas em

    treze países. A U N ESC O sem pre apoiou o C om itê e o faz, atualm ente, por m eio do program a

    C riança Esperança, um projeto da TV G lobo em parceria com a U N ESC O .   C

      u   l   t  u   r   a

       d   e

       p   a  z  :

      d a

     r e  f  l e x  ã o 

      à

     a ç  ã o

    29

      F o  t o  :  M

      i  l a

      P e  t r  i  l  l o

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    29/245

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    30/245

    Grupo Cultural AfroReggae 

    O AfroReggae surgiu no Rio

    de Janeiro em janeiro de 1993,

    inicialm ente em torno do jornalAfro Reggae N otícias que visava à

    valorização e a divulgação da

    cultura negra, voltado, sobretudo,

    para jovens ligados ao reggae, soul 

    e hip-hop .

    Em 1993 foi inaugurado em

    Vigário G eral o prim eiro N úcleo

    C om unitário de C ultura, iniciando, assim , o desenvolvim ento dos projetos sociais do G rupo.

    Em pouco tem po, esse núcleo se consolidou a partir das prim eiras oficinas –de dança,percussão, reciclagem de lixo, futebol e capoeira –e preparou o terreno para novas iniciativas.

    N essa época o objetivo do G rupo já estava consolidado: oferecer form ação cultural e

    artística para jovens m oradores de favelas do Rio de Janeiro, oferecendo-lhes m eios de

    construir sua cidadania para poderem escapar do cam inho do narcotráfico e do subem prego,

    transform ando-se em m ultiplicadores para outros jovens.

    Parceiro da U N ESC O há m uitos anos –atualm ente é apoiado pelo C riança Esperança,

    um projeto da TV G lobo em parceria da U N ESC O –o Afroreggae desenvolve um am plo

    conjunto de ações nas com unidades do C antagalo, C om plexo do Alem ão, Parada de Lucas

    e Vigário G eral, todas situadas em regiões de alta vulnerabilidade social. Através da arte e dacultura, o G rupo tem conseguido m udar a realidade das crianças, jovens e adultos. Entre

    essas diversas ações, tem destaque o projeto Juventude e Polícia.

    As relações entre a polícia e os jovens, sobretudo a dos jovens das favelas e das periferias

    das grandes cidades, quase sem pre são baseadas em estereótipos, de parte a parte. Falar de

    polícia chega a ser um tabu para alguns jovens. D a m esm a form a, raram ente policiais têm a

    oportunidade de se relacionar com jovens fora do contexto crim inal. O objetivo do Projeto

    é dim inuir estas barreiras. Através de apresentações m usicais e oficinas culturais de percussão,

    vídeo, circo e teatro, a iniciativa pretende estabelecer um diálogo entre a cultura policial e a

    dos jovens. U m a experiência pioneira e exem plo de sucesso está acontecendo com a PolíticaM ilitar de M inas G erais, em parceria com a Secretaria Estadual de D efesa Social. A ação, que

    com eça com um piloto em batalhões de Belo H orizonte, vai resultar em um docum entário,

    um a exposição de fotos e um livro, que poderão servir de m odelo para iniciativas

    sem elhantes.

    Além dos projetos sociais diretos, o AfroReggae criou um a produtora –a ARPA,

    AfroReggae Produções Artísticas –para dar sustentação com ercial à carreira dos subgrupos

    criados a partir dos projetos sociais, em especial a Banda Afro Reggae, e contribuir com a

    O N G , já que 30% dos recursos obtidos com os eventos produzidos são revertidos para

    o G rupo.

       C

      u   l   t  u   r   a

       d   e

       p   a  z  :

      d a

     r e  f  l e x  ã o 

      à

     a ç  ã o

    31

      F o  t o  :  M

      i  l a

      P e  t r  i  l  l o

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    31/245

    O Afroreggae tem sido convidado a contar a sua história e passar sua experiência para

    diversos países, a exem plo do que aconteceu recentem ente com o convite para participar

    de palestras e m esas de debates na London School of Econom ics (LSE), na Inglaterra.

    Instit uto Sou da Paz

    A necessidade de cham ar a atenção da sociedade

    para o tem a do desarm am ento levou jovens

    estudantes de direito a criarem , em 1997, a C am panha

    Sou da Paz pelo D esarm am ento e C ontra a Violência.

    D esde então, e até a sua transform ação em Instituto

    Sou da Paz, o desarm am ento é um dos principais

    norteadores das iniciativas do Instituto, cujo objetivo é

    influenciar a atuação do poder público e de toda asociedade frente à violência. Por isso, trabalha em

    quatro áreas: Adolescência e Juventude, C ontrole de

    Arm as, G estão Local da Segurança Pública e Polícia,

    desenvolvendo m etodologias inovadoras e ações de

    m obilização da sociedade para que esta pressione o

    poder público em busca de resultados e de políticas

    públicas de segurança.

    O s projetos acontecem principalm ente na região m etropolitana de São Paulo, e os

    trabalhos de assessoria e m obilização têm abrangência nacional e global. Para desenvolverseu trabalho, o Instituto Sou da Paz conta com um a equipe de m ais de 60 funcionários e

    dezenas de voluntários.

    Vale ressaltar um projeto de grande visibilidade e im portância, gerido pelo Instituto Sou

    da Paz, em parceria com a TV G lobo e a U N ESC O , que é o Espaço C riança Esperança São

    Paulo, im plem entado desde novem bro de 2005 em um centro esportivo m unicipal na

    Brasilândia, zona norte da cidade. O Espaço é um centro de referência no atendim ento a

    crianças, adolescentes, jovens e suas fam ílias, que contribui para prom over a educação, a

    cultura, a inclusão e o desenvolvim ento social, respeitando e ouvindo a com unidade local.

    D esde 2000 durante a C am panha Basta! Eu Q uero Paz, que m obilizou m ilhares depessoas em 18 estados do país, a U N ESC O trabalha em estreita parceria com o Sou da Paz

    e apoia suas atividades em prol da não violência, do fortalecim ento e da dissem inação da

    cultura de paz.

    32

      F o  t o  :  R o g e r  i o   V

      i  l  l a s  B o a s

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    32/245

    Viva Rio

    O Viva Rio é um a organização

    não governam ental, com sede no

    Rio de Janeiro, engajada notrabalho de cam po, na pesquisa e

    na form ulação de políticas pú-

    blicas com o objetivo de prom o-

    ver a cultura de paz e o desen-

    volvim ento social.

    Fundado em dezem bro de

    1993, por representantes de vários

    setores da sociedade civil, com o resposta à crescente violência no Rio de Janeiro, o Viva Rio

    desenvolveu e consolidou um a am pla gam a de atividades e estratégias bem -sucedidas.O Viva Rio desenvolve o seu trabalho em três áreas: ações com unitárias, com unicação e

    segurança hum ana –com os objetivos em com um de incluir socialm ente os jovens em

    situação de risco, reform ar o setor de segurançae controlar a oferta e dem anda de arm as de

    fogo pequenas e leves.

    A U N ESC O trabalha em parceria com o Viva Rio e apoia suas iniciativas desde as prim eiras

    cam panhas em prol do desarm am ento, culm inando com o Referendo sobre a proibição da

    com ercialização de arm as de fogo e m unições.

    O utra atividade im portante desenvolvida pelo Viva Rio é o Espaço C riança Esperança do

    Rio de Janeiro, em parceria com a TV G lobo e a U N ESC O . O Espaço é um centro deatenção em tem po integral para crianças, adolescentes e jovens que oferece atividades

    com plem entares à escola, contribuindo para prom over à educação, a cultura, a inclusão e o

    desenvolvim ento social no Brasil. C riado em 2001, está localizado no m orro do C antagalo,

    em C opacabana. São m ais de oito m il beneficiados, representando cerca de 70% dos

    m oradores na faixa etária prioritária do Projeto, 3 a 29 anos. Atende m oradores das

    com unidades do C antagalo e Pavão/Pavãozinho bem com o alunos m atriculados em 36

    escolas, parceiras, da rede pública do entorno.

    Justiça Restaurat iva 

    A Justiça Restaurativa é um a nova m aneira de

    abordar a justiça penal. Ela visa à reparação dos

    danos causados às pessoas e relacionam entos,

    em vez de punir os transgressores, ou seja, no

    lugar do castigo, o diálogo. Trata-se de um

    processo no qual as pessoas afetadas m ais

    diretam ente por um crim e, são cham adas para

    determ inar qual a m elhor form a de reparar o dano. É o círculo que restaura.

       C

      u   l   t  u   r   a

       d   e

       p   a  z  :

      d a

     r e  f  l e x  ã o 

      à

     a ç  ã o

    33

      F o  t o  :  M

      i  l a

      P e  t r  i  l  l o

      F o  t o  :  K  i  t a

      P e  d r o z a

  • 8/15/2019 Cultura de Paz Da Acao a Reflexao

    33/245

    A resolução 2002/12 do C onselho Econôm ico e Social das N ações U nidas diz que esses

    processos restaurativos são quaisquer processos onde vítim a e ofensor, bem com o dem ais

    outros indivíduos ou m em bros da com unidade que foram afetados pelo conflito em questão,

    participam ativam ente na resolução das questões oriundas desse conflito, geralm ente com a

    ajuda de um facilitador.Enquanto as práticas tradicionais da justiça enfatizam a apuração de culpados e a im posição

    de punições, legitim ando um a espécie de vingança pública, a justiça restaurativa considera os

    danos, os responsáveis e os prejudicados pela infração. Valoriza a autonom ia dos envolvidos

    e o diálogo entre eles, criando espaços protegidos para que todos falem –transgressor, vítim a,

    parentes e pessoas das com unidades –em busca de opções de responsabilização,

    reconhecim ento e reparação das consequências.

    N o Brasil o conceito vem sendo posto em prática em Porto Alegre, por m eio do Projeto

    Justiça para o Século X X I, da Associação de Juízes do Rio G rande do Sul (AJU RIS) e representa

    um a revolução no tratam ento do adolescente infrator no Brasil, cujas iniciativas de m ediaçãode conflitos por m eio da justiça restaurativa, a U N ESC O apoia.

    CUFA

    A C entral Ú nica das Favelas nasceu de

    reuniões de jovens de favelas do Rio de

    Janeiro –do m ovim ento hip hop , presidentes

    de associações de m oradores, lideranças

    com unitárias, sam bistas, artistas e trabalha-dores, em geral negros –que buscavam

    espaço na cidade para expressar suas atitu-

    des,questionam entos ou, sim plesm ente, sua

    vontade de viver.

    D esde 1998, a CU FA funciona com o um pólo de produção cultural e, por m eio de

    parcerias, apoios e patrocínios, form a e inform a jovens, oferecendo perspectivas de inclusão

    social, tais com o, atividades nas áreas da educação, lazer, esportes, cultura e cidadania, além

    dos oito elem entos do hip hop :graffiti ; D J;break; rap ; audiovisual; basquete de rua; literatura

    e projetos sociais. A C U FA tam bém prom ove e veicula a cultura hip hop por m eio depublicações, discos, vídeos, program as de rádio,shows , concursos, festivais de m úsica, cinem a,

    oficinas, exposições, debates, sem inários e outros m eios.

    A C U FA, ao longo destes anos, tornou-se um referencial para com unidades e possui hoje

    bases de trabalho em vários estados do Brasil, sendo apoiada pela U N ESC O desde o início

    de suas principais atividades, com o o prêm io H utúz, e, atualm ente, no âm bito do C riança

    Esperança, um projeto da TV G lobo em parceria com a U N ESC O .

    3434

      F o  t o  :  M

      i  l a