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CULTURA LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 1986. Segunda parte: como opera a cultura.

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CULTURA

LARAIA, Roque de Barros. Cultura:um conceito antropológico. Rio deJaneiro: Jorge Zahar ed., 1986.Segunda parte: como opera acultura.

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“A cultura é como uma lente através da qual o homem vê o

mundo” (Ruth Benedict, O Crisântemo e a Espada, 1972).

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Indivíduos de culturas diferentes vêem o mundo de

maneiras diferentes

Exemplo: visões da floresta amazônica

para um antropólogo e para um índio Tupi.

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A cultura condiciona a visão de mundo do homem

• Etnocentrismo: a nossa herança cultural, desenvolvida através de inúmeras gerações, sempre nos condicionou a reagir depreciativamente em relação ao comportamento daqueles que agem fora dos padrões aceitos pela maioria da comunidade.

Por isto, discriminamos o comportamento desviante.

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A cultura condiciona a visão de mundo do homem

• O modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são produtos de uma herança cultural, ou seja, resultado da operação de uma determinada cultura.

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Exemplos de padrões culturais:– Riso: Todos os homens riem, mas o fazem de

maneira diferente por motivos diversos. Pessoas de culturas diferentes riem de coisas diversas. O riso é totalmente condicionado pelos padrões culturais, apesar de toda a sua fisiologia.

– Técnicas do nascimento: Na Índia as mulheres dão à luz em pé; no mundo ocidental, deitadas sobre as costas; entre os Tupis e outros índios brasileiros, a posição é de cócoras; em algumas regiões do meio rural existiam cadeiras especiais para o parto sentado.

– Diversidade gastronômica: Pessoas comem coisas diferentes e agem à mesa de forma diversa (uso de talheres, palitos, mãos; arroto como forma de demonstrar agrado ou como falta de educação; etc.).

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A cultura condiciona a visão de mundo do homem

• O fato de que o homem vê o mundo através de sua cultura tem como conseqüência a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural.

• Tal tendência, denominada de etnocentrismo, é responsável em seus casos mais extremos pela ocorrência de numerosos conflitos sociais.

• O etnocentrismo, de fato, é um fenômeno universal. É comum a crença de que a própria sociedade é o centro da humanidade, ou mesmo a sua única expressão.

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A cultura condiciona a visão de mundo do homem

• Tais crenças contêm o germe do racismo, da intolerância, e, freqüentemente, são utilizadas para justificar a violência praticada contra os outros.

• Para o etnocentrismo, o ponto fundamental de referência não é a humanidade, mas o grupo.

• Comportamentos etnocêntricos resultam também em apreciações negativas dos padrões culturais de povos diferentes Práticas de outros sistemas culturais são catalogadas como absurdas, deprimentes, imorais.

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Etnocentrismo: Plano intelectual

Dificuldade de pensar a diferença

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Etnocentrismo: Plano afetivo

Estranheza

Nas culturas japonesa e islâmica, a mulher é submissa a um sistema em que o homem detém o papel dominante.

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Etnocentrismo: Plano intelectual

Hostilidade

Cultura gótica: cultivo deum modo melancólico esombrio de vestimenta,comportamento e análise do mundo.

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A cultura interfere no plano biológico

Apatia: reação oposta ao etnocentrismo. Exemplos: banzo africano; crença de que se a pessoa vê um fantasma ela logo morrerá; mortes causadas por feitiçaria.

Doenças psicossomáticas: influenciadas pelos padrões culturais. Exemplos: mal-estar provocado pela ingestão combinada de alimentos; sensação de fome condicionada a determinado horário.

Cura de doenças reais ou imaginárias. Exemplo: xamãs (ou pajés) das sociedades tribais.

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Os indivíduos participam diferentemente de sua

cultura• Ninguém é capaz de participar de todos os

elementos de sua cultura. Entretanto, a convivência entre os membros de uma sociedade só é possível desde que todos possuam um conhecimento mínimo a ser partilhado.

• Participação de um indivíduo em sua cultura pode depender de fatores como:

– Gênero: atribuições sociais diferenciadas para homens e mulheres em diversas culturas

– Idade: limitações de ordem cronológica e outras de ordem estritamente cultural.

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A cultura tem uma lógica própria

• Todo sistema cultural tem a sua própria lógica e não passa de um ato primário de etnocentrismo tentar transferir a lógica de um sistema para outro.

• A coerência de um hábito cultural somente pode ser analisada a partir do sistema a que pertence.

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• “O sábio nunca dialoga com a natureza pura, senão com um determinado estado de relação entre a natureza e a cultura, definida por um período da história em que vive, a civilização que é sua e os meios materiais de que dispõe” (Lévi-Strauss).

– Sem esses meios, o homem tem que tirar conclusões a partir de sua observação direta, valendo-se apenas do instrumental sensorial de que dispõe.

– Não seria ilógico, nesse caso, supor que o Sol gira em torno da Terra, ou, como afirmou um caipira paulista, o Sol morre todos os dias no oeste e nasce no leste porque “ele volta apagado durante a noite”.

– Sem o auxílio do microscópio é impossível imaginar a existência de germes e parece lógico admitir que as doenças sejam decorrentes da intromissão de seres sobrenaturais malignos.

A cultura tem uma lógica própria

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• • Talvez seja mais fácil entender a lógica e a coerência Talvez seja mais fácil entender a lógica e a coerência de um sistema cultural tratando-o como uma forma de de um sistema cultural tratando-o como uma forma de classificação. Muito do que supomos ser uma ordem classificação. Muito do que supomos ser uma ordem inerente da natureza não passa, na verdade, de uma inerente da natureza não passa, na verdade, de uma ordenação que é fruto de um procedimento cultural, ordenação que é fruto de um procedimento cultural, mas que nada tem a ver com uma ordem objetiva.mas que nada tem a ver com uma ordem objetiva.

• • Analogia entre o cego de nascimento que ganha a Analogia entre o cego de nascimento que ganha a visão através de uma cirurgia (“apenas visão através de uma cirurgia (“apenas vagarosamente e com um intenso esforço pode vagarosamente e com um intenso esforço pode apreender que esta confusão manifesta uma ordem, e apreender que esta confusão manifesta uma ordem, e somente com uma aplicação resoluta é capaz de somente com uma aplicação resoluta é capaz de distinguir e classificar objetos e adquirir o significado distinguir e classificar objetos e adquirir o significado de termos tais como espaço e forma”) e o etnólogo de termos tais como espaço e forma”) e o etnólogo que inicia o seu estudo de um povo estranho.que inicia o seu estudo de um povo estranho.

A cultura tem uma lógica própria

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• Cada cultura ordenou a seu modo o mundo que a circunscreve e esta ordenação dá um sentido cultural à aparente confusão das coisas naturais. É este procedimento que consiste em um sistema de classificação. (Exemplo da floresta)

• Entender a lógica de um sistema cultural depende da compreensão das categorias constituídas pelo mesmo.

A cultura tem uma lógica própria

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A cultura é dinâmica • Qualquer sistema cultural está num contínuo

processo de modificação.

• Nota-se a existência de dois tipos de mudança cultural:– A primeira é interna, lenta, resultante da dinâmica do próprio sistema cultural.– A segunda pode ser mais rápida, resultante do contato de um sistema cultural com outro.

• O tempo constitui um elemento importante na análise de uma cultura:– Fosso entre gerações– Mudanças de costumes– Tendências conservadoras versus inovadoras– Ideal versus real

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Concluindo, cada sistema cultural está sempre em mudança. Entender esta dinâmica é importante para atenuar o choque entre as gerações e evitar comportamentos preconceituosos. Da mesma forma que é fundamental para a humanidade a compreensão das diferenças entre povos de culturas diferentes, é necessário saber entender as diferenças que ocorrem dentro do mesmo sistema. Este é o único procedimento que prepara o homem para enfrentar serenamente este constante e admirável mundo novo do porvir.

A cultura é dinâmica